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Muitas vezes penso que chorar nos torna uma pessoa menos ridícula
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estrela e decide que é aquela noite a grande noite de seu suicídio. Uma menina
pequena, em desespero, pede que a ajude com sua mãe doente, mas ele a
empurra para o lado e segue para o seu glorioso suicídio. Chegando à casa,
quando finalmente vai se matar, ele adormece e sonha. Em seu sonho, é levado
a um paraíso onde as pessoas vivem sem sofrimento, sem mentira, sem agonia.
De tamanha perfeição, elas nem falam, vivendo num eterno estado de torpor
feliz.
O que de início será um encantamento com toda aquela beleza sem
desespero logo se transformará num desespero pelo vazio que sente em si
mesmo diante de tanta plenitude. Nosso homem ridículo descobre que não há
amor onde não há sofrimento. Chora pela agonia do mundo (nosso mundo) e
percebe que sua vida só tem sentido na medida em que é parte dessa agonia.
Quando finalmente consegue trazer aqueles "perfeitos" para uma relação
consigo, invejas e ódios se instalam entre os "perfeitos do segundo paraíso" por
culpa de nosso herói ridículo e suicida, que passa a ser disputado como troféu.
Agora, finalmente, ele os amava.
Acorda. Olha em volta. O desejo de se matar desaparecera. Vasculha o
fundo da sua alma e já não é mais a mesma pessoa. O que havia mudado? O
que havia mudado era que agora tinha consciência de que fora ele que destruíra
aquele paraíso. Ele era a serpente. Nunca reconhecera sua face na narrativa
bíblica de sua conversa com Eva. Essa descoberta o lança de volta ao desejo
pelo mundo, em vez de paralisá-lo.
Levanta-se e, olhando nos seus olhos, leitor, ele afirma: vou continuar!
Abre a porta e sai de casa em busca da menina.