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416 ARTIGO ARTICLE

Adaptação transcultural do Female Sexual


Function Index

Cross-cultural adaptation of the Female Sexual


Function Index

Rodolfo de Carvalho Pacagnella 1


Elisabeth Meloni Vieira 1
Oswaldo Martins Rodrigues Jr. 2
Claudecy de Souza 3

Abstract Introdução

1 Faculdade de Medicina de
The epidemiology of female sexual dysfunctions No século XX, o comportamento sexual tornou-
Ribeirão Preto, Universidade
de São Paulo, Ribeirão Preto, is still not well known. The Female Sexual Func- se objeto de estudo empírico, afastando-se da
Brasil. tion Index (FSFI) is a short questionnaire spe- classificação nosológica médica de crimes e
2 Instituto Paulista de
cially designed to assess female sexual response. perversões sexuais que abundaram no século
Sexualidade, São Paulo,
Brasil. This study aimed to evaluate the cross-cultural anterior. Um desses marcos são os estudos de
3 Centro de Estudos e equivalence of the Portuguese version of the Kinsey, que na década de 1950 promovem essa
Pesquisas do Comportamento
FSFI. The cross-cultural adaptation involved ruptura ao desenvolver inquéritos populacio-
e Sexualidade, São Paulo,
Brasil. five steps: translation, back-translation, formal nais sobre comportamento sexual na população
equivalence assessment, review by specialists geral, deixando assim de lado a idéia de “desvios
Correspondência
in sexuality, and pre-testing. After identifica- sexuais” 1. No Brasil, as pesquisas sobre com-
E. M. Vieira
Departamento de Medicina tion of semantic problems, agreements, and portamento sexual sofrem um incremento e in-
Social, Faculdade de disagreements, a brief version was proposed, teresse especialmente após o advento da AIDS.
Medicina de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo.
selecting and incorporating items from one of As mudanças sociais advindas após essa epide-
Av. dos Bandeirantes 3900, the two Portuguese versions. Some changes were mia mobilizaram a comunidade acadêmica e
2 o andar, Ribeirão Preto, SP made after pre-testing the questionnaire, most se tornaram prioridade de pesquisa no campo
14049-900, Brasil.
bmeloni@fmrp.usp.br
of which to make the Portuguese version more sócio-antropológico 2.
readily comprehensible and acceptable for the Nesse aumento do interesse pelo tema, po-
target population, using ordinary words as op- rém, prevaleceu, até o momento, o enfoque na
tions or to complement the scientific language. sexualidade masculina 3. A maior disponibilida-
Comparing more than one version of the instru- de de tratamentos para disfunção erétil com in-
ment in the process of cross-cultural equivalence tensa exposição da disfunção sexual masculina
allowed detecting problems and difficulties in aumentou a procura de homens por consulta e
adapting the language, which would not have tratamento, o que abriu caminho também para
been observed otherwise. discussão da sexualidade feminina 4. Contudo,
embora haja cada vez mais estudos, ainda ho-
Physiological Sexual Dysfunction; Women’s je pouco se conhece sobre a epidemiologia das
Health; Questionnaires disfunções sexuais femininas 5,6, e poucos trata-
mentos estão disponíveis para as mulheres em
comparação com os homens 7.

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ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO ÍNDICE DE FUNÇÃO SEXUAL FEMININA 417

Uma das barreiras para o desenvolvimen- Atualmente, grande variedade de questioná-


to desses estudos é a falta de consenso sobre o rios tem sido desenvolvida para avaliar a função
modelo ou paradigma para a compreensão da sexual de homens e mulheres. Questionários
resposta sexual feminina 4. Novos modelos não breves e auto-aplicados 18,19,20,21, assim como
lineares recentemente propostos contestam o diários e registros de eventos 18,20,21, são usados
modelo de Masters & Johnson 8, que propunham em larga escala em estudos clínicos. Para Althof
um ciclo de resposta sexual em seqüência defini- et al. 4, os homens têm a capacidade de relatar
da e linear constituído por quatro fases comuns com facilidade a ocorrência e a característica
para ambos os sexos: o estímulo sexual provoca- da ereção, e isso seria a base dos estudos que
ria excitação fisiológica e, havendo continuida- utilizam essa metodologia de registrar os even-
de na estimulação, o nível de tensão aumentaria tos sexuais diariamente. Porém, segundo esse
atingindo-se um platô da excitação podendo-se autor, isso não pode ser considerado em relação
em seguida chegar à fase de orgasmo, após o qual à excitação feminina, que é de difícil caracte-
haveria um período de resolução, refratário a um rização e apresenta importante componente
novo estímulo sexual, com retorno do corpo a subjetivo.
uma fase pré-excitatória. Para alguns autores 17, os instrumentos mais
Os novos modelos sugerem que possivel- adequados para se avaliar a função sexual femi-
mente a resposta sexual não seja comum a am- nina, considerando-se a característica subjetiva
bos os sexos 9, pois para a mulher haveria um da resposta sexual feminina seriam os questio-
componente subjetivo. Se o estímulo é visto nários auto-aplicados, que avaliam vários domí-
potencialmente como positivo, a estimulação é nios no campo da sexualidade e apresentam alto
desfrutada; se é visto potencialmente como ne- grau de confiabilidade e validade. Dentre os mais
gativo, culpa, vergonha, embaraço ou medo são estudados atualmente estão o Brief Sexual Func-
disparados. De fato, essas inter-relações foram tion Index for Women e o Female Sexual Function
observadas em estudos de validação de questio- Index (FSFI; http://www.fsfi.questionnaire.com)
nários e podem ser tomadas como evidência da [Índice de Função Sexual Feminina]. Tais instru-
natureza multifatorial das disfunções sexuais fe- mentos seriam também sensíveis para avaliar
mininas 10. Além disso, não há uma classificação intervenções 6. Alguns autores 21, comparando
diagnóstica amplamente aceita e as que existem a pletismografia vaginal, registro de eventos e
atualmente não avaliam conjuntamente os as- o FSFI concluíram que este último foi o único
pectos subjetivos e objetivos da resposta sexual instrumento capaz de predizer melhora após o
das mulheres 4, mas há alguns anos o refinamen- tratamento.
to da classificação diagnóstica das disfunções se- Outra característica importante dos questio-
xuais femininas vem sendo objeto de estudo 7,11. nários auto-aplicados refere-se à escala de res-
Até então, as medidas das alterações fisio- posta que utilizam, pois são delineados para uti-
lógicas desempenharam importante papel na lizar a escala ordinal e de intervalo, com a capa-
avaliação da função sexual 6. Os métodos diretos cidade de detectar diferenças sutis em um nível
de medida da resposta sexual humana, no en- sofisticado de medida. Ao contrário, os diários e
tanto, perdem em praticidade e não são capazes calendários de eventos utilizam uma escala no-
de avaliar as questões subjetivas envolvidas 12,13. minal que não permite obter nuances sutis nas
Ademais, as sensações físicas da resposta sexual informações sobre o objeto de estudo 4.
feminina, mesmo quando conscientemente per- No Brasil, alguns autores 22 desenvolveram
cebidas, nem sempre se traduzem em experiên- um instrumento com o objetivo de avaliar ampla
cia sexual subjetiva 14,15. e detalhadamente hábitos, tendências e práticas
Na prática clínica, as entrevistas estrutura- sexuais da população brasileira. Eles propõem
das e abertas e inventários 16 oferecem o melhor um questionário simplificado para detectar
instrumento e método de avaliação dos compo- possíveis portadores de dificuldades sexuais de
nentes da função sexual. Todavia, para alguns diferentes níveis, entretanto o instrumento não
autores 17, a forma mais adequada de se avaliar a se restringe à avaliação dos domínios da função
função sexual em mulheres seria no contexto na- sexual, mas pesquisa outros aspectos do com-
tural com questionários desenvolvidos particu- portamento sexual.
larmente para essa finalidade. Para Ciconelli 18, Para Rosen et al. 17, problemas que afetam
os questionários transformam medidas subjeti- um domínio da resposta sexual humana podem
vas em dados objetivos, quantificáveis e analisá- interagir com outras desordens de uma forma
veis de forma global ou específica. Recente con- complexa, resultando potencial viés na categori-
senso recomenda o processo de padronização e zação das disfunções. Assim, há necessidade de
validação de questionários para a avaliação da instrumentos capazes de avaliar a relativa força
função e resposta sexual feminina 7. da disfunção em cada domínio.

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Um instrumento que congrega as caracterís- das questões, multiplicar essa soma pelo fator
ticas de ser prático para aplicação em estudos de correção e, então, somar os valores de cada
de campo, avaliar a força relativa de cada domí- domínio. No desenvolvimento do instrumen-
nio da resposta sexual feminina e transformar to original, os autores propuseram essa forma
medidas subjetivas em dados objetivos, quanti- de homogeneizar a influência de cada domínio
ficáveis e analisáveis, é o FSFI 17, validado para no escore total, baseando-se em um algoritmo
a população de língua inglesa 10,23 e projetado computacional simples 17. Caso não houvesse
para ser um instrumento de avaliação em estu- o fator de multiplicação, os domínios partici-
dos epidemiológicos que respeitam a natureza pariam com pesos diferentes na composição do
multidimensional da função sexual feminina. escore total.
O objetivo do instrumento é ser sumário, válido Com base no valor do escore total, seria
e seguro na avaliação da função sexual femini- possível discriminar entre as populações com
na 17. Alguns ainda apóiam o uso do FSFI como maior e menor risco de apresentar disfunção
uma ferramenta de triagem: poucos questioná- sexual 10.
rios foram validados em amostras de múltiplas O presente estudo teve por objetivo avaliar
disfunções e, além disso, nenhum ponto de cor- a equivalência semântica entre os itens consti-
te foi desenvolvido ou validado para qualquer tuintes do instrumento e o FSFI original em in-
dos questionários existentes 10,23. glês e propor uma versão final. Além disso, foram
O FSFI é um questionário desenvolvido pa- avaliados outros aspectos da adaptação trans-
ra ser auto-aplicado, e que se propõe avaliar a cultural como equivalência idiomática, cultural,
resposta sexual feminina nos domínios (fases conceitual e de pontuação entre a versão original
ou componentes da resposta sexual): desejo se- e a versão final.
xual, excitação sexual, lubrificação vaginal, or-
gasmo, satisfação sexual e dor 6,17. Para isso, são
apresentadas dezenove questões que avaliam Método
a função sexual nas últimas quatro semanas e
apresentam escores em cada componente. Para Antes da adaptação transcultural obteve-se a
cada questão existe um padrão de resposta. As autorização do pesquisador principal que ela-
opções de respostas recebem pontuação entre borou o instrumento 17. O processo de avalia-
0 a 5 de forma crescente em relação à presen- ção de equivalência semântica foi desenvolvido
ça da função questionada. Apenas nas questões segundo Guillemin et al. 24 e estudos similares
sobre dor a pontuação é definida de forma in- 25,26,27,28,29,30 . A este modelo acrescentou-se

vertida. Deve-se notar que, se o escore de algum a etapa de apreciação formal de equivalência
domínio for igual a zero, isso significa que não semântica realizada por Reicheinhem et al. 26.
foi referida pela entrevistada relação sexual nas O estudo envolveu cinco etapas: tradução, re-
últimas quatro semanas. Ao final é apresentado trotradução, apreciação formal de equivalência
um escore total, resultado da soma dos escores semântica, crítica final por especialistas com
de cada domínio multiplicada por um fator que avaliação de outros aspectos além da questão
homogeneíza a influência de cada domínio no semântica e pré-teste do instrumento com in-
escore total (Tabela 1). Assim, para se chegar ao corporação de pequenas modificações.
escore total deve-se proceder à soma dos valores

Tabela 1

Escores de avaliação do Female Sexual Function Index.

Domínio Questões Variação do escore Fator de multiplicação Escore mínimo Escore máximo

Desejo 1, 2 1-5 0,6 1,2 6


Excitação 3, 4, 5, 6 0-5 0,3 0 6
Lubrificação 7, 8, 9 ,10 0-5 0,3 0 6
Orgasmo 11, 12, 13 0-5 0,4 0 6
Satisfação 14, 15, 16 0 (ou 1)-5 * 0,4 0,8 6
Dor 17, 18, 19 0-5 0,4 0 6

* Questão 14 varia de 0,0 a 5,0. Questões 15 e 16 variam de 1,0 a 5,0.

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ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO ÍNDICE DE FUNÇÃO SEXUAL FEMININA 419

Etapa 1 Etapa 4

Consistiu de duas traduções independentes do Três juízes com fluência nos dois idiomas e ex-
instrumento original (inglês) para o português. periência na área temática participaram do pro-
A primeira tradução (T1) foi feita por um gru- cesso no qual se realizou uma crítica das etapas
po de profissionais com experiência na área de anteriores. A partir da identificação dos proble-
sexualidade humana e fluência em inglês. Um mas e discordâncias entre as duas retrotraduções
profissional de nível superior formado em tradu- foi proposta uma versão sintética, escolhendo e
ção (tradutor juramentado) procedeu à segunda incorporando itens de cada uma. O objetivo da
tradução (T2). equipe foi escolher a melhor forma de se expres-
sar o mesmo conceito de cada sentença simulta-
Etapa 2 neamente nas duas línguas. Além do mais, pro-
curou-se eliminar ambigüidades e redundâncias.
As traduções T1 e T2 foram retrotraduzidas para Essa etapa foi também responsável por avaliar
o inglês de forma independente por dois traduto- outros aspectos além da equivalência semântica.
res juramentados (R1 e R2). Foram verificadas ainda a equivalência idiomá-
tica – relativa às expressões próprias do idioma
Etapa 3 e coloquiais –, a equivalência cultural ou experi-
mental – se as situações evocadas na cultura de
A avaliação da equivalência semântica foi rea- origem do instrumento têm a mesma referência
lizada por um profissional com formação em na cultura de destino –, a equivalência conceitual
Letras e especialização em inglês, diferente dos – a manutenção da validade na versão final do
envolvidos nas Etapas 1 e 2. Duas questões foram mesmo conceito explorado na versão original –,
apreciadas: e a equivalência de pontuação – da forma de
• O significado referencial dos termos/palavras pontuação da versão final em comparação com
constituintes: representa as idéias ou objetos do a versão original.
mundo a que uma única palavra ou um conjunto
de palavras se refere. Assume-se que existe uma Etapa 5
correspondência literal entre os termos e se o sig-
nificado referencial é o mesmo no original e na Pré-teste do instrumento: foram entrevistadas
respectiva versão 28. dez mulheres com idade entre 20 e 44 anos (me-
• O significado geral de cada pergunta, instrução diana 32 anos) recrutadas no ambulatório de gi-
ou opção de resposta. Esta correspondência vai necologia de uma unidade básica de saúde. As
além do significado literal de termos e leva em entrevistas ocorreram ao final da consulta médica
consideração seu impacto no contexto cultural de retorno, cuja anamnese contempla questões
da população-alvo 28. A avaliação é importante sobre a função sexual das pacientes. Após a abor-
porque, mesmo que haja correspondência literal, dagem, o questionário foi aplicado face a face
não significa que haja uma mesma significação no consultório médico por ginecologista àquelas
subjetiva em culturas diferentes. que aceitaram participar da entrevista. Ao final
Os três formulários foram submetidos à apre- da entrevista, as mulheres foram perguntadas
ciação; dois formulários continham perguntas, sobre a clareza das perguntas do questionário da
instruções ou opções de resposta do original, seguinte forma: “Existe alguma palavra ou ques-
posicionadas lado a lado das duas versões. Um tão que eu lhe disse e que você não entendeu, não
terceiro formulário continha pares com as asser- conhece ou gostaria de perguntar?”. Além dessa
tivas das retrotraduções, que serviu como estra- resposta foi anotado o tempo de duração da en-
tégia de mascaramento. trevista – que variou entre 8 e 23 minutos (média
Na parte usada para apreciar o significado re- 14,2 minutos).
ferencial, a equivalência entre pares de assertivas Após o pré-teste do questionário, outras mo-
foi avaliada numa escala analógico-visual, con- dificações foram realizadas. A maioria pretendeu
tínua, entre 0% e 100%. Na avaliação do signifi- tornar a versão em português mais coloquial
cado geral, utilizou-se uma avaliação qualitativa e aceitável para a população alvo e envolveu a
em quatro níveis: inalterado (IN), pouco alterado substituição de pronomes e a utilização de ter-
(PA), muito alterado (MA) ou completamente al- mos mais corriqueiros em nosso meio. Em algu-
terado (CA). mas situações, as modificações visaram ampliar
a equivalência de significado geral dos termos.

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420 Pacagnella RC et al.

Resultados amorosos preliminares, visto que este último po-


de não ser entendido como estimulação erótica.
A avaliação do processo e a revisão bibliográfi- Na definição de estímulos sexuais, optou-se por
ca sugerem que os conceitos utilizados na ver- modificar a tradução feita pelo tradutor (T2) e in-
são original do instrumento eram adequados ao troduzir a palavra pensamentos entre parênteses
contexto cultural brasileiro. Porém, optou-se por a fim de diferenciar o termo fantasia sexual de
adaptar algumas palavras para oferecer mais cla- objeto de fetiche sexual.
reza dos termos utilizados. Na definição de desejo sexual, a compara-
De forma geral, as duas versões mostraram- ção semântica mostrou-se mais adequada na
se semelhantes. De 32 itens de assertivas (ins- tradução realizada pelos profissionais da área
truções, questões e respostas), 20 eram similares (T1), entretanto a definição foi adaptada ao se
segundo a Etapa 3 do processo. Dos 12 itens que substituírem os termos do parceiro por de um
apresentaram divergências na avaliação do signi- parceiro(a). A modificação foi proposta por se
ficado geral e referencial, alguns pares de asser- observar que na língua inglesa não há definição
tivas apresentaram grande divergência. Nas ins- de gênero na palavra partner, dessa forma, tra-
truções, ambas retrotraduções da definição de duzindo-se apenas por parceiro poderíamos ex-
ato sexual (sexual intercourse) receberam pontu- cluir da definição os estímulos homossexuais.
ação MA e 40 na avaliação do significado geral e Sobre a definição de excitação sexual, a tra-
referencial, respectivamente. A mesma situação dução literal de tingling por formigamento ofe-
ocorreu na comparação da opção de resposta da recia uma idéia de parestesia ou dormência nos
Questão 1. Outros pares de assertivas que apre- genitais, o que não era a intenção original do ins-
sentaram divergência na comparação foram: trumento, assim foi proposta a substituição pela
Questão 2, que recebeu notas MA e 60 na R2 e IN palavra swelling (inchaço).
e 100 na R1; Questão 4, com notas MA e 60 na R1
e IN e 100 na R2; opção de resposta da Questão 5, Nas perguntas
com notas CA e 0 na R2 e IN e 100 na R1; opção
de resposta da Questão 13 com notas PA e 80 na Substituições semelhantes às realizadas nos ter-
avaliação dos significados geral e referencial na mos da introdução foram realizadas nas pergun-
R1 e IN e 100 na R2. tas, assim, o termo sexual intercourse foi substi-
Os demais pares receberam notas PA para tuído pelo termo ato sexual nas Questões 3, 4, 5,
significado geral e notas entre 60 e 80 no signi- 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13. A modificação dos termos
ficado referencial. Quando houve discordância parceiro por parceiro(a) também foi proposta nas
entre as retrotraduções quanto ao significado Questões 14 e 15.
referencial ou geral, optou-se pela de maior Notou-se inicialmente que a escala de freqüên-
pontuação. No entanto, quando não houve dis- cia de respostas utilizadas nas Questões 1, 3, 6, 7,
cordância, essa escolha foi feita segundo julga- 11, 17 e 18 apresentava algumas dificuldades nas
mento dos juízes, levando-se em conta aspectos traduções. A dificuldade principal foi combinar
estilísticos e de clareza dos termos, optando-se a noção de quantas vezes (ocasiões individuais)
ora por uma tradução, ora por outra e ora se mo- com a noção de tempo (período global). Para fa-
dificando ou mesclando termos similares nas cilitar a compreensão, optou-se por introduzir
duas traduções. entre parênteses a expressão quantas vezes após
A avaliação da Etapa 4 objetivou ainda, con- a palavra freqüência.
forme sugerem Guillemin et al. 28, avaliar as equi- Para a tradução da palavra level, optou-se por
valências idiomática, cultural, conceitual e de grau, pois esta palavra oferece melhor significa-
pontuação entre a versão original e a versão final do de divisões de uma escala de medidas que a
para montar a versão final com sentenças curtas, palavra nível. Essa modificação foi proposta nas
evitando-se o uso de pronomes, voz passiva, me- Questões 2, 4, 5 e 19.
táforas e palavras de significado amplo ou vago. Na Questão 5, a palavra confident foi mais
Como no caso da tradução de sexual intercourse, bem traduzida por segurança do que por con-
em que se optou pelo termo ato sexual. Enten- vicção. Tal escolha se originou da comparação
de-se que “relação sexual” seja percebida pelos entre as retrotraduções em inglês, mas a palavra
brasileiros como algo além do ato da penetração segurança também oferece idéia de confiança
vaginal. Assim, ato sexual seria o mais próximo em si mesmo, o que se aproxima mais da idéia
da definição utilizada pelo instrumento original, proposta pelo texto original.
que o define como: quando há penetração do pê- Nas Questões 8, 10, 12, 13, 14, 15 e 16, optou-
nis na vagina. se por não utilizar a palavra quão, que por ser
Da mesma forma, a expressão carícias preli- menos coloquial e poderia ser de difícil enten-
minares foi preferida em relação ao termo jogos dimento para as camadas menos instruídas da

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ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO ÍNDICE DE FUNÇÃO SEXUAL FEMININA 421

população; desse modo, nessas questões foram Discussão


utilizadas expressões equivalentes (qual foi, o
quanto). No campo da sexualidade busca-se desenvolver
A substituição da expressão estimulação se- instrumentos para avaliação da função sexual
xual por estímulo sexual foi realizada nas Ques- com finalidade de transformar medidas subje-
tões 11 e 12 por oferecer a forma mais adequada tivas em dados objetivos 18. Basson et al. 7, em
em relação às instruções iniciais. recente consenso sobre disfunção sexual femi-
Na Questão 19, a palavra rate traduzida por nina, recomendam a padronização e a validação
classificar ofereceu a melhor comparação entre desses instrumentos. Entretanto, a maior parte
as traduções e o texto original. dos questionários desenvolvidos para avaliação
da função sexual foi formulada na língua ingle-
Nas respostas sa e direcionada para a população que fala esse
idioma.
Da mesma forma que nas Questões 1, 3, 6, 7, Em virtude do crescente número de ensaios
11, 17 e 18, um grupo de respostas apresentava multicêntricos, faz-se necessária a padronização
algumas dificuldades nas traduções referentes e tradução desses instrumentos para sua aplica-
à escala de freqüência. No original, a palavra ção em outras populações cujo idioma não seja o
times é colocada na sentença (o que pode ser inglês. O processo, porém, vai além de uma sim-
traduzido por vezes) e time entre parênteses (o ples tradução, é necessário um rigoroso processo
que pode ser traduzido por tempo). Como ne- de adaptação cultural do instrumento para que
nhuma das versões contemplou essa nuance, ele possa reproduzir suas características em uma
modificou-se a versão final e se incluiu a palavra cultura diferente. Ainda que seja possível argu-
“tempo”, já que nas questões relativas ao desejo mentar que o questionário apresente conceitos
sexual não se avalia o desejo em relação a um genuinamente universais para a sociedade oci-
evento específico, mas em relação ao tempo. dental, há nuances e características peculiares a
No grupo de respostas da Questão 5, mante- cada população que devem ser respeitadas 25.
ve-se o mesmo padrão da pergunta ao se tradu- Nesse sentido, existe grande discussão na li-
zir confident por segurança, e da mesma forma, teratura sobre os métodos apropriados para se
a tradução da palavra slightly por ligeiramente realizar adaptações transculturais de instrumen-
foi a melhor opção encontrada no grupo de res- tos de avaliação da qualidade de vida. Alguns au-
postas das Questões 8,10 e 12. tores 24,27,28 iniciaram essa discussão e trouxeram
à baila questões sobre a confusão terminológica
Inclusão de termos corriqueiros da e uma real carência de sistemática na avaliação
linguagem popular de equivalência transcultural entre instrumentos
desenvolvidos em determinado idioma e sua(s)
A partir do pré-teste do questionário, alguns versão(ões) 27. O grande questionamento seria
termos corriqueiros da linguagem foram incluí- quanto ao comprometimento da validade da in-
dos na versão final com a pretensão de facilitar formação, fato que levaria à perda das caracte-
o entendimento. Essa inclusão se fundamentou rísticas originais do instrumento. Por isso alguns
em outros estudos 22 e não substitui a linguagem autores oferecem instruções padronizadas que
técnico-científica, mas coloca no questionário tentam minimizar essas perdas decorrentes da
uma opção para substituir o termo técnico pe- mudança do idioma 24,25,26,27,28,29.
la linguagem popular em caso de não-entendi- Assim, o presente trabalho considerou esses
mento do primeiro. Para masturbação, incluiu-se aspectos e se orientou pelo modelo sugerido por
a sinonímia popular “punheta” ou “siririca”. Da Guillemim et al. 28 no desenvolvimento da versão
mesma forma, para lubrificação vaginal foram em português do FSFI. Nesse processo, algumas
acrescentados os sinônimos “vagina molhada” das dificuldades foram semelhantes às encon-
e “tesão vaginal”, e para orgasmo foi incluída a tradas na tradução para o português do Inter-
expressão “gozar”. O uso da palavra “tesão” foi national Index of Erectile Function 29, sobretudo
evitado, pois poderia ter como sinônimos, tanto em relação à escala de freqüências utilizada em
desejo como excitação ou prazer sexual, o que algumas questões com a inclusão da expressão
poderia trazer mais confusão que clareza. A ver- “quantas vezes” após a expressão “com que fre-
são finalizada da tradução para o português en- qüência” a fim de facilitar a compreensão.
contra-se apresentada na Tabela 2. À guisa do observado por outros autores
25,26,30, foi grande a importância da etapa de jul-

gamento por comitê na elaboração da versão-


síntese. Nessa etapa, verificou-se que, ao se con-
frontar mais de uma versão do instrumento, foi

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422 Pacagnella RC et al.

Tabela 2

Versão final do Female Sexual Function Index em português.

Perguntas Opções de respostas e


pontuação

1- Nas últimas 4 semanas com que freqüência (quantas vezes) você 5 = Quase sempre ou sempre
sentiu desejo ou interesse sexual? 4 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
2 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
1 = Quase nunca ou nunca

2- Nas últimas 4 semanas como você avalia o seu grau de desejo 5 = Muito alto
ou interesse sexual? 4 = Alto
3 = Moderado
2 = Baixo
1 = Muito baixo ou absolutamente nenhum

3- Nas últimas 4 semanas, com que freqüência (quantas vezes) 0 = Sem atividade sexual
você se sentiu sexualmente excitada durante a atividade sexual 5 = Quase sempre ou sempre
ou ato sexual? 4 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
2 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
1 = Quase nunca ou nunca

4- Nas últimas 4 semanas, como você classificaria seu grau de 0 = Sem atividade sexual
excitação sexual durante a atividade ou ato sexual? 5 = Muito alto
4 = Alto
3 = Moderado
2 = Baixo
1 = Muito baixo ou absolutamente nenhum

5- Nas últimas 4 semanas, como você avalia o seu grau de 0 = Sem atividade sexual
segurança para ficar sexualmente excitada durante a atividade 5 = Segurança muito alta
sexual ou ato sexual? 4 = Segurança alta
3 = Segurança moderada
2 = Segurança baixa
1 = Segurança muito baixa ou Sem segurança

6- Nas últimas 4 semanas, com que freqüência (quantas vezes) 0 = Sem atividade sexual
você ficou satisfeita com sua excitação sexual durante a atividade 5 = Quase sempre ou sempre
sexual ou ato sexual? 4 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
2 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
1 = Quase nunca ou nunca

7- Nas últimas 4 semanas, com que freqüência (quantas vezes) você 0 = Sem atividade sexual
teve lubrificação vaginal (ficou com a “vagina molhada”) durante a 5 = Quase sempre ou sempre
atividade sexual ou ato sexual? 4 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
2 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
1 = Quase nunca ou nunca

8- Nas últimas 4 semanas, como você avalia sua dificuldade em ter 0 = Sem atividade sexual
lubrificação vaginal (ficar com a “vagina molhada”) durante o ato 1 = Extremamente difícil ou impossível
sexual ou atividades sexuais? 2 = Muito difícil
3 = Difícil
4 = Ligeiramente difícil
5 = Nada difícil

(continua)

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ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO ÍNDICE DE FUNÇÃO SEXUAL FEMININA 423

Tabela 2 (continuação)

Perguntas Opções de respostas e


pontuação

9- Nas últimas 4 semanas, com que freqüência (quantas vezes) 0 = Sem atividade sexual
você manteve a lubrificação vaginal (ficou com a “vagina molhada”) 5 = Quase sempre ou sempre
até o final da atividade ou ato sexual? 4 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
2 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
1 = Quase nunca ou nunca

10- Nas últimas 4 semanas, qual foi sua dificuldade em manter a 0 = Sem atividade sexual
lubrificação vaginal (“vagina molhada”) até o final da atividade ou 1 = Extremamente difícil ou impossível
ato sexual? 2 = Muito difícil
3 = Difícil
4 = Ligeiramente difícil
5 = Nada difícil

11- Nas últimas 4 semanas, quando teve estímulo sexual ou ato 0 = Sem atividade sexual
sexual, com que freqüência (quantas vezes) você atingiu o 5 = Quase sempre ou sempre
orgasmo (“gozou”)? 4 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
2 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
1 = Quase nunca ou nunca

12 - Nas últimas 4 semanas, quando você teve estímulo sexual 0 = Sem atividade sexual
ou ato sexual, qual foi sua dificuldade em você atingir o orgasmo 1 = Extremamente difícil ou impossível
(“clímax/gozou”)? 2 = Muito difícil
3 = Difícil
4 = Ligeiramente difícil
5 = Nada difícil

13- Nas últimas 4 semanas, o quanto você ficou satisfeita com 0 = Sem atividade sexual
sua capacidade de atingir o orgasmo (“gozar”) durante atividade 5 = Muito satisfeita
ou ato sexual? 4 = Moderadamente satisfeita
3 = Quase igualmente satisfeita e insatisfeita
2 = Moderadamente insatisfeita
1 = Muito insatisfeita

14- Nas últimas 4 semanas, o quanto você esteve satisfeita 0 = Sem atividade sexual
com a proximidade emocional entre você e seu parceiro(a) 5 = Muito satisfeita
durante a atividade sexual? 4 = Moderadamente satisfeita
3 = Quase igualmente satisfeita e insatisfeita
2 = Moderadamente insatisfeita
1 = Muito insatisfeita

15- Nas últimas 4 semanas, o quanto você esteve satisfeita com 5 = Muito satisfeita
o relacionamento sexual entre você e seu parceiro(a)? 4 = Moderadamente satisfeita
3 = Quase igualmente satisfeita e insatisfeita
2 = Moderadamente insatisfeita
1 = Muito insatisfeita

16- Nas últimas 4 semanas, o quanto você esteve satisfeita com 5 = Muito satisfeita
sua vida sexual de um modo geral? 4 = Moderadamente satisfeita
3 = Quase igualmente satisfeita e insatisfeita
2 = Moderadamente insatisfeita
1 = Muito insatisfeita

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(2):416-426, fev, 2008


424 Pacagnella RC et al.

Tabela 2 (continuação)

Perguntas Opções de respostas e


pontuação

17- Nas últimas 4 semanas, com que freqüência (quantas vezes) 0 = Não tentei ter relação
você sentiu desconforto ou dor durante a penetração vaginal? I = Quase sempre ou sempre
2 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
4 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
5 = Quase nunca ou nunca

18- Nas últimas 4 semanas, com que freqüência (quantas vezes) 0 = Não tentei ter relação
você sentiu desconforto ou dor após a penetração vaginal? 1 = Quase sempre ou sempre
2 = A maioria das vezes (mais do que a metade
do tempo)
3 = Algumas vezes (cerca de metade do tempo)
4 = Poucas vezes (menos da metade do tempo)
5 = Quase nunca ou nunca

19- Nas últimas 4 semanas, como você classificaria seu grau de 0 = Não tentei ter relação
desconforto ou dor durante ou após a penetração vaginal? 1 = Muito alto
2 = Alto
3 = Moderado
4 = Baixo
5 = Muito baixo ou absolutamente nenhum

Instruções:
Este questionário pergunta sobre sua vida sexual durante as últimas 4 semanas. Por favor, responda às questões de forma
mais honesta e clara possível. Suas respostas serão mantidas em absoluto sigilo.
Assinale apenas uma alternativa por pergunta.
Para responder às questões use as seguintes definições: atividade sexual pode incluir afagos, carícias preliminares, mas-
turbação (“punheta”/“siririca”) e ato sexual; ato sexual é definido quando há penetração (entrada) do pênis na vagina; es-
tímulo sexual inclui situações como carícias preliminares com um parceiro, auto-estimulação (masturbação) ou fantasia sexual
(pensamentos); desejo sexual ou interesse sexual é um sentimento que inclui querer ter atividade sexual, sentir-se receptiva
a uma iniciativa sexual de um parceiro(a) e pensar ou fantasiar sobre sexo; excitação sexual é uma sensação que inclui aspec-
tos físicos e mentais (pode incluir sensações como calor ou inchaço dos genitais, lubrificação – sentir-se molhada/“vagina
molhada”/“tesão vaginal” –, ou contrações musculares).

possível detectar problemas e dificuldades que Quanto ao modo de aplicação, estudos pos-
poderiam ter sido minimizados caso não se ob- teriores poderão demonstrar se há equivalência.
servassem todas as fases do processo. Originalmente o instrumento propõe que seja
Quanto à avaliação das equivalências idio- auto-aplicado; no entanto, em estudos popula-
mática, cultural e conceitual, na Etapa 4, foram cionais, essa forma de aplicação do instrumento
julgadas adequadas para a equivalência das ver- pode trazer viés de resposta, já que parte consi-
sões as modificações propostas de forma que se derável de nossa população pode ter dificuldade
procurou preservar e adequar tanto equivalência de leitura dos enunciados. Assim, o modo de apli-
no significado das palavras, quanto na equiva- cação utilizando entrevistas pode ser preferível.
lência de expressões, situações culturalmente Muito embora as propriedades psicométricas
evocadas pelos termos e manutenção do concei- do instrumento original já tenham sido estabele-
to do instrumento original. Com base nisso, em cidas, é necessário determiná-las na versão em
relação à equivalência de pontuação, o comitê português. Embora haja controvérsia a respeito
de juízes considerou adequada a conservação da da manutenção das propriedades de medida do
mesma escala de pontuação do instrumento ori- instrumento adaptado, visto que alguns autores
ginal, dado que não houve inclusão ou retirada pressupõem que a adequada adaptação trans-
de itens presentes no questionário em inglês. cultural de um instrumento possa trazer consi-

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(2):416-426, fev, 2008


ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO ÍNDICE DE FUNÇÃO SEXUAL FEMININA 425

go as propriedades de medida do instrumento pesquisas só deverá ser feita após a apresentação


original, outros autores argumentam que a pró- da análise de suas qualidades de medidas para o
pria tradução para outro contexto confere pro- Brasil, o que inclui a distribuição dos domínios
priedades desconhecidas ao instrumento. Nesse da resposta sexual. Isso deve ser objeto de estu-
sentido, a disponibilização do instrumento para dos próximos.

Resumo Colaboradores

Ainda hoje pouco se conhece sobre a epidemiologia das R. C. Pacagnella revisou a literatura, participou do de-
disfunções sexuais femininas. O Female Sexual Func- senho do estudo, do pré-teste do questionário, da aná-
tion Index (FSFI) [Índice de Função Sexual Feminina] lise dos dados e da elaboração deste artigo. E. M. Vieira
é um questionário breve, que pode ser auto-aplicado, e orientou o desenho do estudo, a análise de dados, o pré-
que se propõe avaliar a resposta sexual feminina. Este teste do instrumento, fez revisão crítica dos resultados
estudo teve por objetivo avaliar a adaptação trans- e elaboração deste artigo. O. M. Rodrigues Jr. e C. Souza
cultural da versão em português do FSFI. O processo participaram da discussão dos resultados na análise dos
envolveu cinco etapas: tradução, versão, apreciação dados e da elaboração deste artigo.
formal de equivalência, revisão crítica por especialis-
tas em sexualidade e pré-teste do instrumento. Após a
identificação de problemas semânticos, concordâncias
e discordâncias, foi possível propor uma versão sinté-
tica, escolhendo e incorporando itens de uma das duas
versões em português. Algumas mudanças foram rea-
lizadas após o pré-teste do questionário, para tornar a
versão em português mais coloquial e aceitável para a
população-alvo ao utilizar termos mais corriqueiros,
como opção ou complemento à linguagem científica.
Ao se comparar mais de uma versão do instrumento,
no processo de equivalência transcultural, foi possível
detectar problemas e dificuldades na adaptação da
linguagem que poderiam ter passado despercebidos,
caso não se observassem todas as fases do processo.

Disfunção Sexual Fisiológica; Saúde da Mulher; Ques-


tionários

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(2):416-426, fev, 2008


426 Pacagnella RC et al.

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Recebido em 20/Out/2006
Versão final reapresentada em 11/Jul/2007
Aprovado em 24/Ago/2007

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(2):416-426, fev, 2008

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