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Revista Semioses | Rio de Janeiro | Vol. 01 | N.

07 | Agosto de 2010 | Semestral Artigos

Mensagem: a casa fantástica de Clarice


Aline Brustello Pereira
Mestranda – Curso de Pós-Graduação em Letras
Mestrado em Teoria Literária - UFU

RESUMO: O objeto deste trabalho é o conto Mensagem de Clarice Lispector. O


objetivo deste artigo foi efetuar uma análise dos personagens principais da narrativa
clariceana fazendo uma correlação simbólica com o mito do Andrógino de Platão e as
diferentes interpretações da incompletude humana relacionando-o com a simbologia
do espaço da casa fantástica do conto. Em um primeiro momento, ter-se-á a explana-
ção sobre o mito referido, posteriormente a análise do fantástico da casa.

Palavras-chave: eincompletude, símbolo, espaço, fantástico.

ABSTRACT: The object of this work is the short story Message by Clarice Lispector.
The purpose of this article was to present an analysis of the main characters of this
narrative by making a symbolic correlation with Plato’s androgynous myth and the
different interpretations of the non complete human being relating it with the symbol-
ogy of the space of the fantastic caused by the house of the story. At a first moment,
there will be and explanation about the related myth, later the analysis of fantastic
space of the house.

Keywords: non complete, symbol, space, fantastic.

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Mensagem: a casa fantástica de Clarice

INTRODUÇÃO É exatamente assim que acontece no conto


Mensagem, objeto deste artigo. Dois jovens se
Com quem a dor partilharei? encontram possuindo em comum a angústia,
o que faz ambos tornarem-se parceiros. A re-
(Tchékhov, 2005) lação entre os dois, boa quando do encontro
e da parceria por afinidade de sentimento, é
O conto Mensagem de Clarice Lispector efetivada através do discurso, os dois possuem
faz parte do livro A Legião Estrangeira, que os mesmos assuntos, os mesmos objetivos de
foi lançado pela primeira vez em 1964, pos- vida, ainda que o jovem seja machista, com
suindo contos que a autora escrevera ainda na o mesmo sentimento doído de angústia, que
adolescência, por volta de seus catorze anos pode ser entendida como sentimento de in-
de idade. Os treze contos abordam diversos completude de ambos, inerente ao ser humano,
temas desde o cotidiano familiar, como em A partem ao encontro de algo, inesperadamente
Repartição dos Pães, que narra a refeição de encontram uma casa, que lhes mostrará o pas-
uma família em semelhança ao mito católico; sado, entre vários outros sentidos, carregando
a solidão, como em Viagem a Petrópolis, em a "mensagem", ou a suposta verdade.
que uma velhinha, sem lugar para morar é em-
purrada de uma casa pra outra; a perversidade Nesse sentido, esse conto pode ser ana-
infantil, como no conto Os Desastres de So- lisado sob vários aspectos, como o social,
fia, que narra o relacionamento de uma aluna psicanalítico, hesitação fantástica, mitologia,
com seu professor; os animais com relação espacial, temporal, etc. Este artigo tratará, em
vulnerável com os homens são retratados em especial, da análise mitológica, do espaço e do
A Quinta História, Macacos e ainda em A Le- fantástico.
gião Estrangeira, este último dá título ao livro.
Nesse livro, a precoce escritora não se importa Os personagens principais do conto em es-
em retratar tipo de personagens heróicos en- tudo encontram um no outro uma coincidência:
volvidos em situações misteriosas, mas o que ambos são angustiados. Essa angústia pode ser
importa é a geografia interior, causada pela retratada como metáfora para a completude do
tensão na oposição Eu x Outro, que pode ser ser, pois de acordo com a mítica ocidental an-
um animal, uma criança, ou uma coisa (como tiga, originariamente os seres humanos eram
uma estranha casa do conto Mensagem), como duplos e de três espécies: machos, fêmeas e
diz Affonso Romano de Sant’Anna na intro- andróginos. Por ameaçar os deuses por saber
dução do livro da edição de 1967 da editora de sua força, Zeus decide puni-los cortando-
Nova Fronteira: os ao meio; desde então, cada qual vive em
busca da sua metade perdida, na esperança de
Ao invés de tipos épicos e dramáticos, encontrar a plenitude tida outrora.
temos figuras situadas numa aura de mis-
tério, vivendo relações profundas dentro Os jovens protagonistas dessa história
do mais ordinário cotidiano. Mais do que fantástica criada por Clarice são assim, procu-
as aventuras, interessa-se por descrever a rando por sua metade angustiada, acabam se
solidão dos homens diante dos animais e encontrando por ter o mesmo sentimento de
objetos. Dessa tensão é que surge a epi- angústia, mas a plenitude era apenas uma es-
fania, a revelação de uma certa verdade. perança, pois a união implica o aniquilamento
(1967,p. 03) de ambos.

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A casa fantástica surge inesperadamente como “camarada” (como também o machismo


quando os dois partem à busca de “algo”, uma desse personagem que, não será assunto deste
vez que não se satisfaziam. Essa casa pode ser artigo) quando a moça já não possuía sexo
vista simbolicamente como a união de ambos para ele.
no passado, trazendo seu espaço interno cheio
de ressignificações. A fusão do casal com o Porém, com o tempo, a palavra angústia foi
encontro da casa pode demonstrar a “mensa- “secando” entre os dois, o que para eles mos-
gem” que o conto pretende retratar. trou “como a linguagem falada mentia” LIS-
PECTOR, 1967, P126). Contudo, se a palavra
Nessa via, primeiramente analisar-se-á o secara, não significara que não possuíam mais
mito do conto, por conseguinte, uma análise esse sentimento, tanto possuíam que partiram,
simbólica espacial da fantástica casa presente os dois, juntos, em busca de “algo” para suprir
no conto Mensagem. essa “angústia” (ou seria de fato carência, falta
de algo, alguma coisa, ou alguém).Essa rela-
A imcompletude do ser e o jovem casal ção do casal de falta de algo, de incompletude,
é de extrema relevância para se compreender a
No primeiro parágrafo do conto já se en- “mensagem” do texto.
contra o tema central que irá ser retratado:
angústia. O rapaz e a moça se encontram e Nesse sentido, é relevante discutirmos so-
ele se surpreende quando ela disse que sentira bre a condição do Eu que se reconhece incom-
angústia, corado, com o coração palpitando, pleto e solitário, porém tem como instrumento
ele muda de assunto. O menino não acredita de continuidade a busca pelo Outro. Logo con-
ser uma coincidência, pois pra ele esse termo duziremos a exposição para a maneira como
era apenas um ludibrio, o que a principio determinados mitos de incompletude amorosa
evoca a magia do conto, com uma explicação fazem, por afinidade temática, referência la-
irracional para o encontro do casal, não era tente na composição clariceana do conto. Isso
uma simples real coincidência, mas uma coisa porque os mitos são alegorias arquetípicas que
transcendental, era o destino de ambos. Ele, traduzem, de modo simbólico, uma realidade
apesar da afinidade, trazia de antemão o ma- inerente à psique humana, a qual abarca o sen-
chismo que caracteriza sua tradição cultural: timento de falta de complemento, só superado
quando este forma com o Eu uma totalidade.
Viu-se conversando com ela, escondendo
com secura o maravilhamento de enfim Éramos contínuos enquanto zigotos, pois
poder falar sobre coisas que realmente simbolizávamos a passagem à continuidade.
importavam; e logo com uma moça! Platão (interpretado por PESSANHA, 1991)
Conversavam também sobre livros, mal assim descreve a busca amorosa:
podiam esconder a urgência que tinham
de pôr em dia tudo em que nunca antes Em primeiro lugar, três eram os gêneros
haviam falado. LISPECTOR, 1967, P. da humanidade, não dois como agora,
125). o masculino e o feminino, mas também
havia a mais um terceiro, comum a estes
Foi justamente o maravilhamento dele e a dois, do qual resta agora um nome, de-
urgência, ou, poderia se dizer mais diretamen- saparecida a coisa; andrógino era então
te, a carência de ter alguém que tivesse “afi- um gênero distinto, tanto na forma como
nidade” para conversar que o levou a tratá-la no nome comum aos dois, ao masculino

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e ao feminino (...)Eram por conseguinte Soarees (SOARES, 1999, P.23) traduz


de uma força e de um vigor terríveis, e muito bem a problemática da busca Eu-Outro,
uma grande presunção eles tinham; mas segundo a previsão de Freud: “o desejo de cul-
voltaram-se contra os deuses, e o que diz minação da completude na fusão com o outro,
Homero de Efialtes e de Otes a eles que enquanto fusão, implica um desejo de aniqui-
se refere, a tentativa de fazer uma escala- lamento de si próprio bem como do outro”.
da ao céu, para investir contra.os deuses.
Zeus então e os demais deuses puseram- Todavia, no conto de Clarice, fica evidente
se a deliberar sobre o que se devia fazer que os dois jovens se completam apenas tem-
com eles, e embaraçavam-se; não podiam porariamente, a angústia dos dois é sanada
nem matá-los e, após fulminá-los como quando estão junto apenas por um curto perío-
aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a do de tempo, como fica evidente:
raça — pois as honras e os templos que
lhes vinham dos homens desapareceriam Que é afinal que eles queriam? Eles não
— nem permitir-lhes que continuassem sabiam, e usavam-se como quem se agar-
na impiedade. Depois de laboriosa refle- ra em rochas menores até poder sozinho
xão, diz Zeus: “Acho que tenho um meio galgar a maior, a difícil e a impossível;
de fazer com que os homens possam usavam-se para se exercitarem na inicia-
existir, mas parem com a intemperança, ção; usavam-se impacientes, ensaiando
tornados mais fracos. Agora com efeito, um com o outro o modo de bater asas
continuou, eu os cortarei a cada um em para que enfim – cada um sozinho e
dois, e ao mesmo tempo eles serão mais liberto – pudesse dar o grande vôo soli-
fracos e também mais úteis para nós tário que também significaria o adeus um
(...)Por conseguinte, desde que a nossa do outro. Era isso? Eles se precisavam
natureza se mutilou em duas, ansiava temporariamente. (LISPECTOR, 1967,
cada um por sua própria metade e a ela P. 128-129).
se unia, e envolvendo-se com as mãos e
enlaçando-se um ao outro, no ardor de Ora, como diz Platão, os seres são incom-
se confundirem, morriam de fome e de pletos por natureza, o Amor evidencia a busca
inércia em geral, por nada quererem fazer do complemento, e ele seria então a união
longe um do outro. E sempre que morria entre duas metades. No entanto, a busca do
uma das metades e a outra ficava, a que Eu no Outro, como pode ser vista no conto,
ficava procurava outra e com ela se enla- é impossível, possível apenas se saciar essa
çava, quer se encontrasse com a metade angústia do ser apenas temporariamente e não
do todo que era mulher — o que agora eternamente. O Homem sempre será único,
chamamos mulher — quer com a de um singular.
homem; e assim iam-se destruindo.
Nesse sentido, a busca desesperada e
Ao nascermos, nos tornamos descontínu- avassaladora do Eu delineia a impossibilidade
os, pois perdemos a continuidade de zigotos. de união do Eu a seu complemento. Segundo
Devido a isso, temos uma nostalgia dessa Sartre (interpretado por SCHOEPFLIN, 2004,
continuidade perdida, e a buscamos de manei- P.48) o exercício do amor impossibilita o
ra obsessiva, na forma do que chamamos de alcance da completude plena. Para ele, este
Amor. sentimento evidencia uma relação humana
inautêntica e, portanto, passível de fracasso. É

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exatamente por ser uma relação humana que o de baixo não têm as mesmas vozes nem
amor leva os amantes a “jamais poder escapar as mesmas sombras. A tonalidade da
da lógica da posse e da sujeição”. angústia varia de um lugar a outro. E é
bastante raro encontrar uma criança que
A culminante hostilidade entre o casal de- seja corajosa frente a ambos. Porão e
pois de algum tempo, e a perda da angústia sótão podem ser detectores de infelici-
entre ambos, demonstram o fracasso da com- dades imaginadas, dessas infelicidades
pletude entre os seres. Além disso, eles, juntos, que muitas vezes marcam, para o resto da
partem ao encontro de algo, de outra coisa que vida, um inconsciente. (BACHELARD,
possa fazê-los voltar à sensação de excitação 2001, p.83)
quando do encontro entre ambos; assim é que
juntos, encontram a casa. A casa e seu espaço, “Eles olharam a casa como crianças dian-
nessa via, ao mesmo tempo em que represen- te de uma escadaria.” (LISPECTOR, p. 131,
tará o passado para os jovens, lhes mostrará o 1998). A escada segundo Bachelar (2001, p.86),
que os dois significam um para o outro, que se simboliza a mistura entre o devaneio e a lem-
tornam, fantasticamente, assim como é a casa, brança:
homem e mulher, conforme explanaremos a
seguir. E as escadas são lembranças imperecíveis.
[...] Às vezes alguns degraus bastam para
A fantástica casa e seu espaço escavar (grifo nosso) oniricamente uma casa,
para dar um ar de gravidade a um quarto para
A casa para os dois jovens é um aconte- convidar o inconsciente a sonhos de profun-
cimento repentino. Uma casa abandonada didade.
que nos remete “à brevidade de nossa vida”
(PERRONE-MOISÉS, p. 168, 1990). Ao A repentinidade da casa faz surgir o “ar”
descrevê-la, o narrador do conto de Lispector hesitante do conto, será que realmente essa
retoma este arquétipo no que se refere a sua casa existia? Vale a pena relembrar, nesse mo-
verticalidade e sua mutabilidade: “Era gran- mento, que a hesitação, no ponto de vista de
de, larga e alta como as casas ensobradadas Todorov (2004, p.23) é condição fundamental
do Rio antigo. Uma grande casa enraizada”. para o fantástico. Adentrando ainda mais no
(LISPECTOR, p. 133, 1998). estranho, o espaço da recorrência da casa é a
Rua do Cemitério São João Batista, o que pro-
Como afirma Bachelard “A casa é uma voca ainda mais sombridade. Dessa maneira,
arquétipo sintético, um arquétipo que evolui. a casa se coloca como um acontecimento es-
Em seu porão está a caverna, em seu sótão está tranho no conto, dando o ar de fantástico, que
o ninho, ela tem raiz e folhagem.” Para ele, a terminará com a recolocação racional, como
casa também é o arquétipo de nossa primeira um típico conto fantástico-estranho. A casa de
morada (o útero materno), e representa nosso Clarice se assemelha, assim como no gênero,
desejo de retorno a intimidade do regaço ma- a outras casas de autores como Lovecraft e
terno. Edgar Allan Poe. Ela é, como nesses contos,
um casarão antigo que surge do nada, como
A casa é todo um universo psicológico, um a imagem da casa existente nestes contos de
refúgio: horror, mas, não é por acaso.

Os fantasmas de cima e os fantasmas Não obstante estar perto de um cemitério,

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a própria casa evoca a expressão de monstruo- gens de uma forma definitivamente insolúvel,
sidade: “Se recusassem seriam atingidos pelo desmentindo as leituras anteriores.
ônibus, se avançassem esbarrariam na mons-
truosa casa” (LISPECTOR, 1967, p. 134). Ela O tempo quando do aparecimento da casa
era ainda um boxeur sem pescoço, um sobrado se torna indefinido, e a casa com o seu pas-
que levava a mão na garganta, tinha olhos e sado, ressignifica na vida das personagens, ou
falava: “Eu sou a própria coisa que vocês pro- seja, o passado da casa mostra “algo” para o
curavam, disse a casa grande”. (LISPECTOR, casal que os fazem separar-se definitivamente
1967, p. 137). quando voltam à realidade, depois do aconte-
cimento da casa.
Mensagem torna-se um conto fantástico
estranho porque a todo o momento evoca no A narrativa então exclui qualquer possibi-
leitor a hesitação, mas ao mesmo tempo há lidade do sobrenatural. Entretanto, o que torna
explicações pacificadoras a respeito da casa, aterrorizador no conto de Clarice é exatamente
elemento causador da hesitação, como no a realidade:
trecho: “Tratava-se apenas de uma casa velha
e vazia”; “Apenas uma casa grossa, tosca” Sua história não é extraordinária, e sim
(LISPECTOR, 1967, 135-136). Porém, a aterradoramente comum e o comum não
construção da casa é contraditória, sendo ao pose ser superado, porque ele não com-
mesmo tempo frágil e sólida, a princípio era porta uma verdade, mas é a verdade. O
uma “casa quebrada”, se falassem a casa po- real sobre o qual se abre a casa da autora
deria desabar, era forte, uma potência antiga. permanece escancarado, a mensagem que
ela entrega não tem sentido contudo as
A escrita de Clarice, como se vê, é reche- personagens ( e o leitor ) a recebem assim
ada de elementos figurativos, tangenciando mesmo.(PERRONE-MOISÉS, 1990, p.
o que Todorov (2008, p.97) aponta sobre o 168)
sobrenatural usado “frequentemente do fato
de se tomar o sentido figurado ao pé da letra”. Pode-se ler a casa como o passado das per-
Mas, ao mesmo tempo, o rapaz, personagem sonagens, a visualização por eles desse passa-
principal do conto faz uma volta à realidade. A do, que mostra a eles que não são realmente
contradição perpetua, nesse sentido, não ape- complementos um do outro, que nada, nem a
nas na imagem da casa, mas na própria escrita casa que encontraram quando da procura de
clariceana: ambos, lhes complementará. A casa é a própria
angústia do casal, personagens principais da
Agarrando-se a primeira tábua, pôde vol- história.
tar cambaleante a tona, e como sempre
antes da moça. Voltou antes dela, e viu A MENSAGEM
uma casa de pé com o cartaz de “aluga-
se”. (LISPECTOR, 1967, P. 138) Dois jovens afinados na angústia de serem
incompletos se encontram pelo destino. Ma-
O conto joga com a hesitação, deixando ravilhados por terem o mesmo sentimento,
por momento a explicação estranha ao retomar unem-se e partem, de ônibus, em direção ao
a volta à realidade, mas ele não termina por aí. que procuravam, encontram uma monstruosa
A angústia renasce nos corações das persona- casa, que era o passado dos dois, juntos, eles
vivem no tempo inexistente do espaço de re-

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fúgio da casa e percebem-se como singulares, a dor de sermos eternamente angustiados? A


nem ele nem ela completaria um ao outro, a autora mesma responde em um de seus textos:
não ser por um período de tempo, foi o que “Que se há de fazer com a verdade que todo
aconteceu, depois da casa (ou seria casamen- mundo é um pouco triste e um pouco só?”
to), ambos partem em direção oposta. (1964, p. 89).

Seria essa a metáfora da casa criada por A mensagem contida na casa, símbolo
Clarice Lispector? Os jovens não tinham maior do conto, simbolizava para os persona-
Amor, afinal, quem o têm? O Amor não seria gens principais, assim como aos leitores, algu-
como a casa criada por Clarice, monstruosa, ma coisa que jamais se pode alcançar mesmo
sólida e frágil ao mesmo tempo, existindo com toda uma vida de procura e expressão,
de forma fantástica por um breve período de pois a mensagem estava esfarelada na poeira
tempo? O que fazer? Com quem compartilhar que o vento arrastava para as grades do esgoto.

REFERÊNCIAS

BACHELARD, Gaston. A Casa natal e a casa onírica. In: A Terra e os Devaneios do Repouso.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.

LISPECTOR, Clarice. A Legião Estrangeira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1967.

__________________A Paixão Segundo GH. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964

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PERRONE-MOISÉS, Leyla. A Fantástica Verdade de Clarice. In: _____ Flores da Escrivani-


nha: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

PESSANHA, José Américo Motta (org.). Diálogos / Platão. São Paulo, Nova Cultural: 1991.
(Os pensadores).

SCHOEPFLIN, Maurizio. O Amor Segundo os Filósofos. Tradução de Antonio Angonese.


Bauru: Edusc, 2004.

SOARES, Angélica. A Paixão Emancipatória: vozes femininas da liberação do erotismo na


poesia brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1999.

TCHÉKHOV, A. P. Angústia. In: ______. A dama do cachorrinho e outros contos. São


Paulo:Editora 34, 2005. Tradução de Boris Schnaiderman.

TODOROV, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica. São Paulo: Nova Fronteira, 2004.

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