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Meditação Vipassana
Não existe concentração (jhana) sem sabedoria (pañña),
não existe sabedoria sem concentração.
Natthi jhanam apaññasa, pañña natthi ajjhayato,
Aquele que tem ambos, concentração e sabedoria,
está mais próximo de Nibbana.- Dhp 372
Yamhi jhanam ca pañña ca sa ve nibbanasantike.

O Buda disse: ‘Bhikkhus, existem dois tipos de enfermidades.Quais são as


duas? Enfermidade física e enfermidade mental. Parece que existem pessoas
que desfrutam o estar livre da enfermidade física por um ano ou dois...até
mesmo por cem anos. Mas, bhikkhus, é raro neste mundo alguém que desfrute
o estar livre da enfermidade mental nem que seja por um momento apenas,
exceto aqueles que se libertaram das impurezas mentais.’
Os ensinamentos do Buda, e em particular o método de meditação ensinado
por ele, tem como objetivo produzir um estado de saúde mental perfeita,
equilíbrio e tranqüilidade. A palavra meditação é na verdade um pobre
substituto para o termo original em Pali – bhavana, que significa ‘cultura’ ou
‘desenvolvimento’ isto é, cultura mental ou desenvolvimento mental. A
meditação Budista ou bhavana, representa o desenvolvimento mental no
sentido mais amplo da palavra. Seu objetivo é purificar a mente das impurezas
e perturbações, tais como os desejos sensuais, raiva, má vontade, indolência,
preocupações, inquietações e dúvidas, e cultivar qualidades como a
concentração, atenção, inteligência, energia, a faculdade de análise, confiança,
alegria, tranqüilidade e finalmente conduzir ao alcance da sabedoria máxima
que é ver e compreender a natureza das coisas tal como elas na verdade são e
realizar a verdade última, Nibbana.
Existem dois tipos de meditação. Uma é o desenvolvimento da concentração
mental (samma samadhi). Este tipo de meditação já existia antes do Buda.
Portanto não é puramente Budista, mas não está excluída do campo da
meditação Budista. A outra forma de meditação é conhecida como vipassana
ou insight sobre a verdadeira natureza das coisas. Esse é um tipo de
meditação essencialmente Budista. É um método analítico baseado na atenção
plena, plena consciência e investigação.
(Walpola Rahula – What the Buddha Taught, 1974)
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Faça Você Mesmo


Por
Bhante Henepola Gunaratana
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O Venerável Ananda foi o ajudante pesssoal do Buda e passou vinte cinco anos
servindo-o. O Buda pediu várias vezes que ele se empenhasse com afinco e alcançasse a
iluminação. Ele conhecia todo o Dhamma e as teorias de meditação. No entanto, como
ele desfrutava acompanhar o Buda e outros bhikkhus, ele negligenciou alcançar a sua
própria iluminação até que por fim uma grande pressão foi exercida pelos 499 arahants
que se reuniram no primeiro concílio Budista. Eles insistiram que Ananda deveria
alcançar a iluminação antes da data designada para o concílio que estava previsto para o
terceiro mês após a morte do Buda.
O Buda sempre disse: “Bhikkhus, meditem. Não sejam negligentes. Não permitam que
as suas mentes fiquem cheias de impurezas. Não fiquem chorando e lamentando
dizendo: ‘Esta vida é cheia de problemas, cheia de miséria, cheia de dor, cheia de
agonia.’” A mente que não é desenvolvida através da prática da meditação da atenção
plena cria tensões, ansiedades e preocupações. Não fique se lamentando e repetindo os
mesmos erros. Você não poderá fugir da realidade. A vida não é cor de rosa. Ela possui
os seus altos e baixos e obstáculos a todo momento. Esse são fatos com os quais nos
defrontamos todos os dias.
A prática da meditação da atenção plena é parecida com os amortecedores de um carro.
Se os amortecedores não forem bons, você irá notar a dificuldade ao dirigir. Este nosso
veículo – a combinação mente e corpo – está repleto de momentos difíceis semelhantes.
Não há como escapar deles. Até mesmo se você for para a Lua (o que não é impossível
nos dias de hoje), ainda assim você irá com o seu corpo e mente repletos de todos os
impedimentos que ainda estarão presentes na sua mente. Você não conseguiria deixá-los
aqui para ir até lá. Eles lhe seguem com persistência e teimosia aonde quer que você vá
e ficam lhe importunando dia e noite. A maioria das pessoas experimenta três soluções.
Com a percepção de que o problema “está lá, no mundo”, elas pensam que ao corrigir o
mundo, tentando solucionar os males da sociedade, elas poderão solucionar os seus
próprios problemas. Elas desejam tornar o ambiente “adequado, belo” e isento de
problemas. E só então poderão viver felizes. Assim, elas se interessam e algumas vezes
até ficam obcecadas pela idéia de tentar corrigir a nossa sociedade. É claro que o desejo
de melhorar os defeitos da sociedade é em si algo muito louvável. Elas vêm o
sofrimento, sentem compaixão e agem.. Elas podem manter-se totalmente ocupadas
tentando corrigir os problemas da sociedade. Elas podem pensar que assim estarão
evitando problemas para si mesmas, sem se dar conta que na verdade elas estão se
esquecendo dos problemas que as incomodam. Elas seguem sem dar atenção para as
suas dores e sofrimentos principalmente pela falta de tempo para si mesmas. Essas
pessoas são muito compassivas, compreensivas, prontas para servir a sociedade de
forma despojada ou sem obter qualquer recompensa. Lemos muitos relatos
maravilhosos sobre muitas pessoas nobres como essas, que, à custa da sua própria
iluminação, dedicam suas vidas para a sociedade. As atividades externas podem
dificultar a solução dos nossos próprios problemas.
Embora vivamos em sociedade com outras pessoas, cada um de nós possui o seu mundo
particular, as suas idéias, percepções e compreensão do mundo. Cada um segue as suas
próprias percepções e idéias sobre o mundo. Algumas vezes podemos crer que todos os
problemas que enfrentamos são gerados pelo mundo exterior. Dessa forma, voltamos as
nossas energias para o mundo, acreditando que o fato de fazermos algo para corrigir a
sociedade irá solucionar os nossos problemas.
A segunda linha de raciocínio que as pessoas adotam para solucionar os seus problemas
é pensar que na verdade não existe nenhum problema. Elas acreditam que tudo é criado
pela imaginação. Elas pensam: “Eu sou independente, eu sou mais importante, eu estou
completamente só e nada mais importa para mim.” E a terceira forma de solucionar os
problemas é fugir deles.
Podemos obter um consolo temporário, um conforto temporário, em pensar que o
problema existe lá, no mundo exterior, ou que o problema não existe, ou desviando a
nossa atenção para alguma outra coisa, ou ignorando que o problema exista, ou fugindo
do problema.
A verdadeira solução não se encontra em nenhum desses métodos. A verdadeira
solução, de acordo com os ensinamentos do Buda, é descobrir uma forma de purificar o
instrumento, o agente, que faz com que o mundo seja feliz ou infeliz, calmo ou
deprimente, prazeroso ou doloroso. Aquilo que cria problemas e sofrimento para todas
as pessoas. Esse instrumento é a nossa mente. A purificação dessa mente é um dos
propósitos da meditação da atenção plena.
Como todos sabemos, todos os nossos pensamentos, palavras e ações se originam na
mente. A mente é a precursora. Todas as situações que experimentamos são fabricadas
pela mente. Elas são criadas na mente, dirigidas e comandadas pela mente. A mente as
coloca em ação. “Todas as ações são comandadas pela mente: a mente é o senhor delas,
a mente é quem as fabrica. Aja ou fale com um estado mental impuro que o sofrimento
virá em seguida da mesma forma como a roda da carroça segue as pegadas do boi.
Todas as ações são comandadas pela mente: a mente é o senhor delas, a mente é quem
as fabrica. Aja ou fale com um estado mental puro que a felicidade virá em seguida, da
mesma forma que a sombra acompanha o seu objeto por toda a parte, sem nunca
abandoná-lo.” (Dhammapada 1-2)
A analogia do boi puxando a carroça é bastante apropriada para ilustrar os nossos
problemas. O boi ao puxar a carroça não desfruta da sua tarefa. Ele não está satisfeito
com a sua carga; isso não é um prazer. Esse pobre animal puxando a carroça sofre
muito. Todo o peso da carroça está sobre os seus ombros e ele sente muita dor. Teria
sido melhor para o boi se ele não tivesse nascido um boi. A condição do boi é
comparada com a ignorância, a estupidez – não ver a verdade como ela é. Uma vida sem
iluminação é repleta de ignorância e dada a todo tipo de impurezas. Portanto, uma
pessoa não iluminada com pensamentos, palavras e atos com a mente impura sofre
como o boi ao puxar a carroça pesada. Por outro lado, quando falamos ou fazemos algo
com a mente pura nos sentimos felizes e não temos pesar, dor ou sofrimento nos
seguindo.
Nosso objetivo na vida é nos aprimorarmos mais a cada dia e sermos felizes. Fazemos
muitas coisas para sermos felizes. No entanto, muitas das coisas que fazemos para
sermos felizes podem gerar infelicidade, dor, sofrimento e dificuldades porque as nossas
mentes não são puras. É a mente pura que é capaz de gerar a felicidade, não a mente
impura. Portanto, o primeiro objetivo ao praticar a meditação é de purificar a mente;
isso irá gerar paz e felicidade.
O segundo objetivo da meditação é de superar a tristeza e a lamentação. Quando o
meditador começa a ver a verdade, ele ou ela consegue suportar e derrotar a tristeza e a
lamentação causadas pela impermanência.
O terceiro objetivo é superar o sofrimento e a decepção causadas pela cobiça e pela
raiva.
O quarto objetivo da meditação é percorrer o caminho dos sábios, o caminho correto
que conduz à libertação da angústia, tristeza, desapontamento, dor e lamentação. Esse é
o caminho da atenção plena – o único caminho que nos liberta do sofrimento.
O quinto objetivo da meditação é de nos libertarmos completa e totalmente da dor
mental e das impurezas e de libertar a nossa mente do desejo, raiva e delusão.
Esses cinco objetivos são propósitos muito nobres. Todos os demais objetivos da
meditação podem ser deixados de lado porque nenhum deles será capaz de gerar os
mesmos resultados e fazer com que tenhamos realmente a paz e a felicidade através da
eliminação de todos os nossos problemas. Nós não tentamos ignorar ou evitar os nossos
problemas mas, através da atenção plena nós os enfrentamos e lidamos com eles à
medida que surjam nas nossas mentes.
Algumas pessoas querem simplesmente meditar sem ter qualquer conhecimento básico
de meditação. Elas pensam que o conhecimento da teoria de meditação é um obstáculo.
Essa atitude pode ser comparada à atitude de um viajante que quer alcançar um destino
definido – digamos a cidade de Washington. O viajante possui grande confiança na sua
habilidade e acredita que apenas a sua confiança é suficiente para levá-lo até o seu
destino. Pode ser que essa pessoa possua um meio de transporte, um carro. Então,
entrando no carro, ela começa a dirigir. No entanto, não houve nenhuma preparação
para a viagem. Ela desconhece as estradas ou as condições em que as estradas se
encontram ou a previsão do tempo. Ela nem mesmo consultou um mapa. Tudo que ela
possui é um carro e a sua confiança, e alguma experiência em dirigir. O carro pode estar
em ordem e com o tanque cheio, a pessoa entra no carro e começa a dirigir. Ela pode
permanecer na estrada por um bom tempo, gastando uma grande quantia em dinheiro
com gasolina, gastando tempo e energia. De fato, dirigindo ela chegará em algum lugar,
mas não necessariamente ao seu destino. Um motorista sábio por outro lado, estuda o
mapa em detalhe, determina quais são os desvios e indaga de outras pessoas que são
mais experientes.
Se o motorista desejar ir para Washington e se houver um lugar chamado Washington, o
motorista irá encontrar esse lugar. De forma semelhante, precisamos ter um objetivo na
meditação. Queremos alcançar esse objetivo e realizar o nosso intento. E necessitamos
de algum tipo de orientação. Não necessitamos necessariamente receber uma grande
dose de teoria filosófica e especulativa. A orientação funciona como placas na estrada,
que devemos seguir de forma a sabermos (sem ter que adivinhar) se estamos indo na
direção correta. Certamente, a confiança é necessária, mas, só ela não é suficiente. Além
disso, precisamos ter a compreensão e o entendimento da teoria.
Mas então o que é a meditação? Como alcançamos esse objetivo de purificar a mente,
superando a tristeza e a lamentação, superando a dor e o desapontamento, como
percorremos o caminho que conduz à libertação da dor, sofrimento e samsara – este
mundo de nascimento e morte?
Existe uma forma de realizar isso. Quando nos referimos ao “caminho”, pode ser que
muitas pessoas percam o interesse. Pode ser que elas pensem que o orador esteja
tentando vender algo e tentando depreciar todo o restante do mundo e digam, “Se esse é
o único caminho, nós não estamos dispostos a comprá-lo.” Agora, quando você quer ir
para Washington, existem várias formas de chegar lá. Voar, é claro, é a maneira mais
rápida nos dias de hoje. Em outras épocas usaríamos um carro ou um barco ou os nossos
próprios pés. Qualquer que seja o meio de transporte, teremos de percorrer uma
distância específica para chegar em Washington. O essencial é que cheguemos lá – quer
seja por meios lentos ou ligeiros. Portanto, o “caminho” significa o “caminho da
atenção plena” que percorre uma certa distância para que cumpramos o nosso objetivo.
Esse caminho da atenção plena, no entanto, não está localizado em uma área geográfica
ou no espaço. Ele se encontra na nossa mente. Temos que fazer certas coisas. Esse
“fazer” também é o “caminho” – a forma como cultivamos as nossas mentes para
completar essa jornada. Cultivar a mente significa praticar a atenção plena. Quando a
atenção plena não está presente, quando estamos desatentos o tempo todo, estamos
aprisionados em um embuste. Estamos presos a todo tipo de confusão. Não
compreendemos as coisas como na verdade elas são. Para fazer com que cheguemos ao
nosso destino necessitamos um entendimento claro de onde nos encontramos. O claro
entendimento nasce através da atenção plena. Não importa as outras coisas que façamos
ou as outras práticas às quais nos dediquemos, elas possuem os seus próprios objetos e
propósitos. Aprendemos que elas não purificam a mente.
A própria palavra meditação significa cultivo. Sabemos o que se quer dizer com “nós
cultivamos a terra.” Sabemos que tem que haver um pedaço de terra e meios de
cultivá-la. Precisamos fazer certas coisas, tal como cortar as árvores para limpar a terra,
remover as ervas daninhas e outras coisas mais, ará-la repetidas vezes e fertilizá-la.
Depois podemos plantar as sementes e alimentá-las para que as plantas se desenvolvam.
De forma semelhante com a prática de meditação, necessitamos intencionalmente
cultivar a mente. Nós não nos sentamos em um lugar apenas esperando que algo
aconteça. Podemos esperar indefinidamente ou por um longo período de tempo, sem
que nada aconteça. Poderemos dizer que passamos um certo tempo meditando. Ficar
sentado em um lugar sem fazer nada não é meditar. E, da mesma forma, ficar
observando a nossa respiração todo o tempo é inadequado e insuficiente. É evidente que
a atenção plena na respiração é uma parte importante da meditação. A simples
observação da respiração sem a aplicação da atenção plena pode ser caracterizada como
a prática da meditação da tranqüilidade, mas, se não houver atenção plena não é a
Concentração Correta. Começamos, no entanto, observando a nossa respiração. Essa
meditação que é absolutamente particular ao Budismo é denominada meditação
Vipassana ou Insight. A orientação para a prática da meditação Vipassana está
disponível no Satipatthana Sutta (Os Fundamentos da Atenção Plena).
Os quatro fundamentos da atenção plena são: a atenção plena no corpo, a atenção plena
nas sensações, a atenção plena na mente e a atenção plena nos objetos
mentais.Explicaremos um por um.
Vejamos a primeira parte – a atenção plena no corpo. A atenção plena no corpo está
dividida em seis seções. A primeira delas é a atenção plena na respiração. Agora,
porque a respiração é incluída como parte da atenção plena no corpo? A respiração é
parte do corpo. Este corpo, da forma como o conhecemos, é composto de quatro
elementos básicos: o elemento da extensão (partes sólidas), o elemento da coesão
(partes líquidas), o elemento do calor (irradiação) e o elemento do ar (oscilação ou
movimento). Portanto, quando tentamos praticar a atenção plena no corpo começamos
com a atenção plena na respiração que é o elemento do ar.
Nessa meditação, não nos colocamos em uma terra da fantasia imaginária. Não
tentamos induzir a auto-hipnose. Não tentamos descobrir os elementos místicos ocultos
do universo. Não tentamos ser absorvidos pelo universo. Não tentamos ser “um” com
todo o universo. Tudo isso são apenas palavras interessantes. Tentamos usar a nossa
própria identidade: nosso corpo e mente. Observamos com atenção plena este corpo e
mente e as suas atividades, investigamo-los porque são eles que carregamos conosco
por toda parte. Este corpo e mente são o nosso laboratório. Tudo que necessitamos para
o nosso trabalho se encontra aqui – a matéria prima, a substância química, os gases,
calor, ar, água, expansão – está tudo aqui. É neste corpo, nesta identidade, que
encontramos tudo isso. Meu laboratório é a minha mente e meu corpo. Sempre tento
observá-los. Não posso realizar o meu trabalho no seu laboratório. Você deve trabalhar
no seu laboratório. Muitos de nós esquecemos dos nossos laboratórios e tentamos
trabalhar no laboratório de outrem. Tentamos descobrir o que tal pessoa está fazendo, o
que ela está comendo, com quem ela está se associando, aonde ela está indo, o que ela
está lendo, quanto dinheiro ela tem, etc.. Sempre nos esquecemos dos nossos
laboratórios. Pode ser que nunca venhamos a saber o que se encontra nesse nosso
laboratório. Nós, nessa prática de meditação Vipassana, nos tornamos introspectivos,
atentos e cuidadosos ao observar o que está acontecendo aqui nesta mente e corpo no
momento presente. Isso é a meditação Vipassana; a observação metódica neste nosso
laboratório.
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/todos_nos.php#T8

VIII. Isolamento Ideal


No Sutta Nipata encontramos um discurso do Buda intitulado “O Chifre do
Rinoceronte” onde ele compara o isolamento do sábio ao rinoceronte indiano. O Buda
elogia o estar só e o refrão em cada estrofe do sutta é: “Viva só como um rinoceronte.”
Existem dois tipos de isolamento, o mental, (citta-viveka), e o corporal, (kaya-viveka).
Todos estão familiarizados com o isolamento corporal. Afastamo-nos e sentamos
sozinhos num cômodo ou caverna, ou dizemos para as pessoas com as quais estamos
vivendo, que queremos ficar a sós. As pessoas em geral apreciam esse tipo de
isolamento por períodos curtos de tempo. Se esse isolamento é mantido, em geral é
porque essa pessoa não é capaz de se relacionar com os outros ou sente medo em
relação a eles, porque não existe amor suficiente no seu próprio coração. Muito
frequentemente há uma sensação de solidão, que é prejudicial ao isolamento. A solidão
é um estado mental negativo no qual a pessoa se sente despojada de amizades.
Quando se vive em família ou numa comunidade, algumas vezes é difícil obter o
isolamento físico, pode até nem ser muito prático. Mas o isolamento físico não é o único
tipo de isolamento que existe. O isolamento mental é um fator importante para a prática.
A menos que a pessoa seja capaz de despertar em si mesma o isolamento mental, ela
não será capaz de introspecção, de descobrir que mudanças dentro de si ela necessita
fazer.
O isolamento mental significa antes de mais nada e principalmente não ser dependente
da aprovação de terceiros, da conversa social, de um relacionamento. Não significa que
a pessoa irá demonstrar inimizade em relação aos outros, apenas que a pessoa possui
independência mental. Se uma pessoa for gentil conosco, muito bem. Se não for esse o
caso, isso também está bem e tanto faz.
O chifre do rinoceronte é reto e tão forte que não somos capazes de curvá-lo. Será que
as nossas mentes podem ser assim? O isolamento mental elimina a conversa fútil que é
prejudicial ao desenvolvimento espiritual. Conversar sobre absolutamente nada, apenas
para soltar vapor. Se permitirmos que o vapor escape de uma panela não seremos
capazes de cozinhar a comida. A nossa prática pode ser comparada com a colocação de
calor em nós mesmos. Se deixarmos o vapor escapar repetidamente, esse processo
interno será interrompido. É muito melhor deixar que o vapor acumule e descobrir o que
está cozinhando. Essa é a tarefa mais importante que podemos realizar.
Todos deveriam ter a oportunidade, todos os dias, de estar fisicamente sós por algum
tempo, para que possam se sentir realmente sós, totalmente isolados. Algumas vezes
poderemos pensar: “As pessoas estão falando a meu respeito.” Isso não importa, nós
somos os donos do nosso kamma. Se falarem a nosso respeito é o kamma deles. Mas se
ficamos preocupados, esse é o nosso kamma. Ter interesse naquilo que está sendo dito é
o suficiente para demonstrar que dependemos da aprovação de outras pessoas. Quem
está aprovando quem? Talvez os cinco khandhas, (corpo, sensação, percepção,
formações mentais e consciência), estejam aprovando. Ou quiçá, os cabelos, os pelos do
corpo, unhas, dentes e pele? Qual “eu” está aprovando, o bom, o mau, o medíocre ou
talvez o não-eu?
A menos que possamos encontrar dentro de nós mesmos uma sensação de solidez, do
centro onde não há movimento, sempre haverá a sensação de insegurança. Ninguém
pode ser apreciado por todos, nem mesmo o Buda. Como estamos tomados pelas
contaminações, sempre estamos vigiando as contaminações dos outros. Nada disso
importa, e tudo isso não tem a menor importância. A única coisa importante é ter
atenção plena; estar totalmente atento a cada passo do caminho, às ações praticadas,
sensações e pensamentos. É tão fácil esquecer isso. Sempre há uma outra pessoa com
quem conversar ou um outro café para beber. Assim é como o mundo vive, e no entanto
os seus habitantes são muito infelizes. Mas o caminho do Buda conduz para além do
mundo, para a felicidade independente.
Soltar o vapor, as conversas fúteis e a busca por amizades, essas são as coisas erradas
que não devem ser feitas. Tentar descobrir o que as pessoas pensam a seu respeito é
insignificante e irrelevante e não tem nada a ver com o caminho espiritual. O isolamento
mental significa que a pessoa é capaz de estar só, ainda que no meio da multidão.
Mesmo no meio de uma grande multidão de pessoas agitadas, a pessoa ainda é capaz de
operar a partir do próprio centro, distribuindo amor e compaixão sem ser influenciada
por aquilo que está acontecendo à sua volta.
Isso pode ser chamado de isolamento ideal e significa que a pessoa se afastou do futuro
e do passado, o que é necessário para permanecer só e íntegra. Se houver apego ao
futuro, então existe a preocupação, e se houver anseio pelo passado, então haverá ou
desejo, ou rejeição. Essa é a tagarelice constante da mente, que não conduz ao
isolamento mental.
O isolamento só pode ser experimentado plenamente quando há paz interior. De outro
modo a solidão irá empurrar a pessoa para tentar remediar a sua sensação de vazio e
perda. “Onde estão todos? Como posso permanecer sem amizades? Preciso conversar
sobre os meus problemas.” A atenção plena é capaz de tomar conta disso tudo porque
ela tem que surgir no momento presente e não tem nada a ver com o futuro nem com o
passado. Ela nos mantém totalmente ocupados e evita que cometamos erros que fazem
parte da natureza dos seres humanos. E quanto mais acurada for a atenção plena, menos
freqüentes serão os erros. Erros no plano mundano também têm repercussões no
caminho supramundano, porque eles ocorrem devido à falta de atenção plena, o que não
permite que superemos o dukkha que nós mesmos nos causamos. Tentaremos
repetidamente encontrar alguém a quem possamos culpar, ou alguém que nos possa
entreter.
O isolamento ideal surge quando uma pessoa pode estar só ou com outros e permanecer
íntegra, sem ser capturada pelos problemas dos outros. Poderemos responder da maneira
apropriada, mas não seremos afetados. Todos temos a nossa vida interior e só
poderemos conhecê-la bem quando a tagarelice mental for interrompida e pudermos nos
ocupar com as nossas emoções mais íntimas. Uma vez que tenhamos testemunhado o
que ocorre no nosso íntimo, vamos querer mudar isso. Apenas o Perfeitamente
Desperto, (Arahant), possui uma vida interior que não necessita mudança. O nosso
estresse interior e a falta de paz nos empurram para fora para encontrar alguém que
possa remover aquele momento de dukkha, mas só nós, nós mesmos, podemos fazer
isso.
O isolamento pode ser físico, mas essa não é a sua função principal. A mente em
isolamento é aquela que é capaz de ter pensamentos profundos e originais. Uma mente
dependente pensa de modo rotineiro, como todos pensam, porque ela anseia aprovação.
Esse tipo de mente compreende de modo superficial, da mesma maneira que o mundo
compreende, e não é capaz de captar a profundidade dos ensinamentos do Buda. A
mente em isolamento está tranqüila porque não é influenciada.
É interessante que uma mente tranqüila, que só depende de si mesma, também é capaz
de memorizar. Como uma mente assim não está repleta do desejo de eliminar dukkha,
ela pode relembrar sem muita dificuldade. Esse é um dos benefícios adicionais. O
principal benefício de uma mente em isolamento é a sua imperturbabilidade. Ela não é
abalada e se mantém sem nenhum apoio, como uma árvore sólida que não necessita de
suporte. Porque ela é poderosa por seus próprios méritos. Se a mente não possuir vigor
suficiente para depender apenas de si mesma, ela não terá a força e determinação para
realizar o Dhamma.
A nossa prática deve incluir o estar a sós durante algum tempo todos os dias para a
introspecção e contemplação. Ler, ouvir e conversar diz respeito à comunicação com os
outros, que em certas ocasiões é necessário. Mas é essencial ter tempo para a auto-
investigação: “O que está ocorrendo no meu íntimo? O que estou sentindo? Isso é
benéfico ou não? Estou plenamente satisfeito sozinho? Quanta preocupação tenho com
o ego? O Dhamma é o meu guia ou estou confuso?” Se houver alguma névoa na mente,
tudo que precisamos é de uma lanterna para penetrá-la. E essa lanterna é a concentração.
Saúde, riqueza e juventude não significam não-dukkha. Elas são um disfarce. A
enfermidade, pobreza e velhice facilitam a compreensão da insatisfação na nossa
existência. Quando estamos sós, esse é o momento de nos conhecermos. Podemos
investigar o significado do Dhamma que ouvimos e sermos capazes de concretizá-lo nas
nossas vidas. Podemos utilizar aqueles aspectos do Dhamma com os quais nos
identificamos mais.
A mente solitária é uma mente poderosa, porque ela sabe como permanecer imóvel. Isso
não significa deixar completamente de se associar com as pessoas, isso seria falta de
amor bondade, (metta). Uma mente solitária é capaz de estar sozinha e introspectiva e
também de amar os outros. Viver numa comunidade do Dhamma é o ideal para a
prática.
A meditação é o meio de obter a concentração, que é a ferramenta para dissipar a névoa
que envolve a todos que não são um Arahant. Certas vezes, na vida em comunidade,
existe a união, o amor e a assistência. Isso deveria ser o resultado de metta e não da
tentativa de evadir dukkha. Na próxima vez que iniciarmos uma conversa, deveríamos
investigar primeiro: “Porque estou tendo esta discussão? Ela é necessária ou estou
entediado e quero fugir dos meus problemas?”
A plena consciência é o fator mental que se une com a atenção plena proporcionando
direção e objetivo. Examinamos se a nossa linguagem e ações possuem o propósito
correto, se estamos empregando meios hábeis e se o objetivo inicial foi alcançado. Se
não tivermos um rumo bem definido, a conversa fútil surgirá como conseqüência. Até
mesmo na meditação a mente faz isso, devido à falta de treinamento. Quando
praticamos a plena consciência, precisamos parar por um momento e examinar a
situação completa antes de seguir adiante. Esse poderá vir a ser um dos nossos hábitos
hábeis, nem sempre encontrado no mundo.
Um importante aspecto dos ensinamentos do Buda é a combinação da plena consciência
com a atenção plena. O Buda com freqüência os recomenda como o caminho para o fim
do sofrimento e nós precisamos praticá-los nos nossos miúdos esforços diários. Eles
podem consistir em aprender algo novo, memorizar uma sentença do Dhamma,
memorizar uma estrofe de um sutta, um novo insight acerca de si mesmo, a
compreensão de um aspecto da realidade. Uma mente como essa obtém força e
autoconfiança.
A renúncia é a maior ajuda para conquistar a autoconfiança. A pessoa se dá conta de
que é capaz de lidar com praticamente tudo, por exemplo a comida, por um bom tempo.
Certa vez o Buda foi a um vilarejo no qual ninguém depositava fé nele. Ele não recebeu
nenhum alimento, ninguém no vilarejo deu a ele qualquer atenção. Ele foi para os
arredores e sentou sobre um pouco de palha e meditou. Um outro asceta que passou por
ali e viu que o Buda não havia recebido nenhum alimento se condoeu dele: “Você deve
estar se sentindo muito mal sem ter o que comer. Eu sinto muito. Você nem mesmo tem
um lugar adequado para dormir, apenas palha.” O Buda respondeu: “Alimentamo-nos
de felicidade. A felicidade interior pode alimentar-nos por vários dias.”
Uma pessoa pode estar bem sem muitas coisas, desde que elas tenham sido
abandonadas voluntariamente. Se alguém tomar as nossas posses e resistirmos, é
dukkha. Mas quando praticamos a renúncia, ganhamos força e criamos as condições
para que a mente seja auto-suficiente. A autoconfiança surge e cria uma espinha dorsal
realmente forte. A renúncia ao companheirismo mostra se somos auto-suficientes.
O Buda não advogava práticas ascéticas exageradas e prejudiciais. Mas nós poderíamos
abrir mão, por exemplo, das conversas à tarde e ao invés disso meditar. Depois disso, a
mente irá se sentir satisfeita com o seu próprio esforço. Quanto mais esforço puder ser
feito, mais satisfação surgirá.
Nós precisamos de uma mente solitária para a meditação, portanto precisamos praticá-la
durante algum tempo a cada dia. A mente em isolamento possui dois atributos; um é a
atenção plena e a plena consciência e o outro é a introspecção e a contemplação. Ambos
fazem com que a mente se unifique. Só a união produz a força e a unificação traz o
poder.
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Itinerário para os Quatro Jhanas


Por
Ajaan Brahmavamso
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Esta manhã, a palestra será sobre a Concentração Correta, Samma Samadhi,


sobre os quatro jhanas, sobre os quais prometi discursar no começo desta
semana, sobre exatamente o que são, como obtê-los, para que se possa
reconhecê-los quando surgirem e também compreender o seu lugar no
esquema das coisas. Se vocês analisarem os ensinamentos do Buda – os
Suttas – irão observar que a palavra ‘jhana’ é mencionada com muita, muita
freqüência. É um tema comum, que está presente em quase todos os
ensinamentos do Buda e que faz parte do caminho óctuplo - Samma Samadhi
– Concentração Correta, que é sempre definida como ‘o cultivo dos quatro
jhanas.’ Neste retiro de meditação, se formos realmente falar de meditação e
se quisermos cultivar a meditação, não há razão porque não deveríamos ter
como meta o cultivo dos estados de jhana, porque estes dão à meditação uma
profundidade que pode ser experimentada como algo bem especial, e também
porque pode-se experimentar o poder e a felicidade desses estados. É essa
qualidade de felicidade e poder que mais tarde vocês poderão usar para
realmente desenvolver os poderosos insights em relação à natureza das suas
mentes e à natureza de todos os fenômenos.
Eu começarei falando sobre a própria história do Buda que está contada nos
suttas. Ele alcançou jhana quase que por acaso, quando menino, sentado sob
uma árvore jambo-rosa, enquanto observava seu pai realizar uma certa
cerimônia. Foi uma experiência muito prazerosa e o que o Buda, ou o
Bodisatva, se lembrava era justamente o prazer daquela experiência e um
pouco sobre o seu poder. Mas como muitas pessoas, como muitos
meditadores, muitos praticantes, ele criou a idéia equivocada de que algo
assim tão prazeroso não poderia ter nada a ver com o fim do sofrimento e com
a iluminação, que algo assim tão prazeroso deveria ser motivo para mais
apego a este mundo. Foi devido a esse tipo de idéia que por seis anos o Buda
perambulou pelas florestas da Índia realizando todo tipo de práticas ascéticas.
Em outras palavras, quase que buscando o sofrimento, como se por meio do
sofrimento ele pudesse encontrar o fim do sofrimento. Foi apenas depois de
seis anos de futilidade, e é dessa forma como de fato os Suttas descrevem,
que depois de ter se alimentado o Buda se recordou da experiência prazerosa
do primeiro jhana quando ainda menino, talvez, ele pensou, “este possa ser o
caminho para a iluminação” e o insight surgiu nele, “este é o caminho para a
iluminação.” Devido a esse insight, o Buda, como todos sabemos, sentou-se
sob a Figueira-dos-Pagodes, desenvolveu os jhanas e com base no poder dos
jhanas, na clareza dos jhanas, ele desenvolveu os três conhecimentos
verdadeiros: primeiro a recordação das vidas passadas, depois o processo do
kamma, a profundidade do kamma, como este direciona os seres para vários
renascimentos e por fim as Quatro Nobres Verdades.
Foi só devido ao poder desse estado mental que ele foi capaz de penetrar um
nível tão profundamente sutil e descobrir coisas que estavam completamente
obscurecidas. Desde então, ele sempre se esforçou por ensinar e encorajar a
prática de jhana como um ingrediente essencial do Caminho Óctuplo, um
elemento essencial para a iluminação. Se alguém desejar usar o Budismo não
só como uma prática perfunctória, mas visando a sua plena realização, tendo
como meta a iluminação, então, cedo ou tarde o praticante terá que se deparar
com os jhanas, terá que cultivá-los, conhecê-los e usar o seu poder fazendo
exatamente o mesmo que o Buda fez e tornar-se plenamente iluminado.
Muitas palestras que os bhikkhus dão, descrevem o problema do sofrimento na
vida, relatam as dificuldades da vida e os problemas do renascimento e das
muitas mortes; mas eu penso que se vamos falar sobre um problema, é nossa
responsabilidade, também, contar a solução relatando-a em todos os seus
detalhes, sem omitir nada. Parte dessa solução, uma parte essencial dessa
solução, é o desenvolvimento dessas coisas que chamamos de jhana.
Agora, o que na verdade esses jhanas são– eu só falarei sobre os quatro
jhanas esta manhã, e irei começar a partir do que poderia ser chamado de
plataforma de lançamento do segundo estágio de meditação, ao qual tenho me
referido bastante durante as minhas instruções de meditação ao longo deste
retiro. O segundo estágio de meditação, no meu esquema das coisas, é aquele
em que você tem plena e contínua atenção na respiração. Portanto, a mente
não tem qualquer tipo de distração, a cada momento a respiração está
presente na mente e esse estado foi estabilizado por meio da atenção plena
contínua, até que a respiração esteja continuamente presente na mente, sem
distrações por muitos minutos, ininterruptamente. Esse é o segundo estágio
nesta meditação e coincide com o terceiro estágio no Anapanasati Sutta em
que o meditador experimenta todo o corpo da respiração, sendo que neste
caso, corpo é apenas uma palavra para a acumulação de todas as partes de
uma inspiração, todas as partes de uma expiração e a sucessiva consciência
de todas essas sensações físicas. O estágio seguinte, o terceiro estágio no
meu esquema, que corresponde ao quarto estágio no Anapanasati Sutta, é
aquele em que, tendo alcançado o segundo estágio e sem deixá-lo ir, isto é,
sem abandonar a consciência e a atenção na respiração por nenhum
momento, o praticante tranqüiliza e acalma a respiração.
Existem vários modos de fazer isso. Talvez, o mais eficaz seja o simples
desenvolvimento de uma atitude de desapego, porque a respiração irá se
acalmar naturalmente se você deixá-la por conta própria. No entanto, algumas
vezes alguns meditadores têm dificuldade de se desapegar dessa maneira,
então, um outro método que pode ser bastante efetivo é o uso da auto-
sugestão (a intenção isenta do pensamento discursivo ou de qualquer
verbalização mental.) de calma, calma, calma. Ou da auto-sugestão do
desapego, do soltar-se. Há uma grande diferença entre a atitude de desapego
e a auto-sugestão do desapego. Ao sugerir o desapego, você na verdade ainda
está controlando as coisas, você está envolvido nisso, mas pelo menos o
envolvimento está ligado com o direcionamento na direção correta, mandando-
o para o lugar onde a atitude de desapego estará acontecendo, sem a
necessidade de empregar palavras ou dar ordens, ou instruções. Você está
programando a mente na direção correta. Mas eu uso tanto o simples
desapego como uma atitude mental, ou a auto-sugestão de calma, calma,
calma, sentindo o objeto da atenção, que neste caso é a sensação da
respiração, tornando-se cada vez mais refinada, mais sutil. A dificuldade ou o
problema neste caso será manter sempre a sua atenção claramente na
respiração. Em outras palavras, sem abandonar o segundo estágio enquanto
estiver desenvolvendo o terceiro estágio. Mantenha a plena atenção e a
consciência da respiração e faça com que a respiração se torne cada vez mais
suave, mais e mais sutil, mais e mais refinada, mas sem nunca abandoná-la. À
medida que a respiração for ficando mais e mais refinada, a única maneira de
não soltá-la é tratando-a de modo muito, muito gentil. Você estará indo na
direção de uma atenção na respiração sem esforço, uma consciência da
respiração sem esforço, onde a respiração apenas está presente.
Muitos meditadores neste ponto se vêem com um problema, é que eles não se
sentem muito seguros quanto à forma correta de perceber a respiração neste
estado. Há um tipo de percepção que é apenas percepção, estar plenamente
atento, sem dar nomes, sem pensar, sem analisar, um tipo de percepção que
não gera pensamentos discursivos. Você tem que se sentir seguro de que está
verdadeiramente observando a respiração. Algumas vezes, você poderá não
ter a amplitude mental para saber exatamente que tipo de respiração você está
observando, mas você saberá que está observando a respiração. A questão é
que este é um tipo de percepção que vai se tornando cada vez mais refinada.
Nossa percepção usual é muito ampla e cheia de muitos detalhes. Aqui, os
detalhes vão diminuindo até chegarmos a um ponto em que teremos tão
poucos detalhes que algumas vezes não saberemos verdadeiramente se nós a
estamos percebendo, é um tipo distinto de percepção, uma percepção muito
mais refinada. Portanto, o discernimento precisa ser muito firme e a confiança
precisa ser muito forte, para compreender que ainda estamos com a
respiração. A respiração não desapareceu de forma nenhuma e você não
precisa, por assim dizer, alargar a amplitude da percepção através da vontade,
essa vontade só irá perturbar a mente. Deixe apenas que tudo se acalme. O
objeto se acalmará e assim também a percepção começará a se acalmar. É
nesse ponto que começa a surgir o nimitta,(sinal), de samadhi. Eu chamo essa
parte de terceiro estágio.
Se você tranqüilizar a sensação física da respiração, a sensação mental da
respiração começará a surgir - o nimitta de samadhi – em geral, uma luz que
surge na mente. No entanto, algumas vezes esse sinal pode parecer uma
sensação física. Pode ser uma paz profunda; pode até mesmo ser como um
negrume. A descrição desse sinal é bastante ampla simplesmente porque a
descrição é aquilo que cada um adiciona a uma experiência que no seu núcleo
é uma experiência mental. Quando esta começa a surgir você simplesmente
não tem palavras para descrevê-la. E aquilo que adicionamos, em geral, é
como nós a entendemos pessoalmente. Negrume, paz, silêncio profundo,
vacuidade, uma bela luz ou qualquer outra coisa. Não se preocupe com que
tipo específico de nimitta está presente.
Se você quiser aprender como desenvolver esse nimitta, então este quarto
estágio, do desenvolvimento dos quatro jhanas, se resume em prestar atenção
a este aspecto do nimitta que é belo, que é atraente, que é pleno de felicidade,
o seu aspecto prazeroso. E mais uma vez, é neste estágio que você tem que
se sentir à vontade com o prazer e não temê-lo, sem temer que ele irá levar a
alguma forma de apego, porque em algumas ocasiões o prazer destes estágios
pode ser muito intenso, literalmente, avassalador: subjugando a sua noção de
‘eu’, subjugando o seu controle, subjugando a sua sensibilidade em relação ao
seu corpo físico. Portanto, você tem que buscar esse prazer e felicidade que se
encontram no nimitta, e esse se torna o quarto estágio porque, uma vez que a
mente tenha percebido o prazer e felicidade no nimitta, eles atuarão como
aquilo que eu chamo de imã ou cola. É isso que irá atrair a atenção, não é a
vontade ou escolha, ou decisão, que irá tomar a atenção e colocá-la no nimitta
de samadhi. Na verdade, sempre que a escolha, a intenção, os comandos
surgirem dentro de você, eles efetivamente o afastarão desse estágio. Você
tem que deixar que todo o processo opere, porque neste estágio o nimitta de
samadhi é muito prazeroso; ele literalmente puxa a mente para si. Muitos
meditadores quando experimentam jhana pela primeira vez, sentem a mente
como que caindo num buraco que é belo. E isso é exatamente o que acontece.
É a alegria, a felicidade, a beleza desse nimitta que está diante da mente, que
na verdade puxam a mente para si. Portanto, você não precisa empurrar, você
não tem que fazer esforço. Neste estágio, isso se torna um processo natural da
mente. A sua tarefa é só alcançar aquele segundo estágio, acalmar a
respiração, permitindo que o nimitta de samadhi surja. Uma vez que o nimitta
de samadhi tenha surgido com força, então o jhana ocorrerá por si mesmo.
Outra vez, visto que a qualidade da percepção é muito intensa, porém muito
estreita nestes estados, enquanto você estiver nesses estados, não lhe será
possível determinar exatamente onde você se encontra e o que está
acontecendo. A habilidade de compreender através do raciocínio e da análise é
retirada da pessoa nestes estados. Em geral, você tem que esperar até emergir
desses estados para que o seu processo de raciocínio normal regresse
novamente, para que você possa olhar e analisar aquilo que aconteceu.
Qualquer desses estados de jhana é uma experiência poderosa e como tal
deixa uma marca profunda na sua mente.
Infelizmente, não há uma palavra que corresponda a um trauma positivo. A
palavra ‘trauma’ equivale a uma forte experiência negativa, uma experiência
dolorosa que deixará marcas. Os estados de jhana são similares a um trauma
em força e resultado, e você se lembrará deles com clareza porque causam um
forte impacto na sua memória. No entanto, são experiências puramente
prazerosas, como um trauma prazeroso e como tal, você poderá se recordar
delas com facilidade. Assim, depois de emergir de um jhana, geralmente não
há nenhum problema em olhar para aquela experiência e perguntar, “o que foi
isso?” e de ser capaz de enxergar com clareza o tipo de experiência, o objeto,
do qual você esteve consciente durante todo o tempo e que poderá então ser
analisado. É neste ponto que você pode descobrir exatamente onde esteve e o
que aconteceu, mas durante o jhana você não é capaz de fazer isso.
Depois do jhana, ele pode ser reconhecido por aquilo que o Buda chamava de
‘os fatores de jhana.’ Esses são os principais indicadores que lhe dizem em
quais estados você esteve especificamente. É bom conhecer esses
indicadores, mas lembre-se, eles são apenas indicadores desses estados, eles
são as principais características desses estados e no primeiro jhana existem
muitos aspectos secundários. Na verdade, o primeiro jhana é bastante amplo.
No entanto, se for uma experiência de primeiro jhana tem que ter as cinco
características principais, os cinco principais fatores de jhana. O segundo jhana
é muito mais estreito, mais fácil de identificar se foi esse o estado em que você
esteve. O mesmo ocorre com o terceiro e quarto jhanas, estes são ainda mais
estreitos. A amplitude da descrição dessa experiência, que você poderá dar, irá
se estreitar à medida que você alcançar níveis mais profundos de desapego.
Mas para o primeiro jhana, o Buda indicou cinco fatores. Os principais fatores
são a dupla piti-sukka. Isto é, a felicidade. Pode ser que, se você pesquisar nos
livros o significado desses termos, eles tentem tratá-los como fatores
separados. Eles são coisas distintas, mas nos dois primeiros jhanas piti e
sukha estão entrelaçados de modo tão próximo que você não será capaz de
distinguir um do outro, e será mais produtivo não tentar e sim encarar esses
dois fatores apenas como ‘felicidade.’ Esta é a descrição mais precisa que a
maioria das pessoas poderá reconhecer: “Isto é felicidade.” O Buda chamava
isso de vivekaja piti-sukka, aquele tipo particular de felicidade que provém do
desapego, provém do distanciamento, provém do isolamento. Viveka é a
palavra para ‘isolamento,’ ‘distanciamento,’ ‘separação,’ e significa ‘separado
do mundo dos cinco sentidos.’ É disso que você se separou e é essa a
felicidade surgida dessa separação, que é, por sua vez, a causa dessa
felicidade e gozo. E esse tipo de felicidade possui um sabor peculiar que não é
compartilhado por outros tipos de felicidade, é a felicidade do isolamento. É por
isso que algumas vezes também é chamada de a felicidade da renúncia. Você
renunciou aquelas coisas, por conseguinte, está separado delas.
Existem outros dois fatores que com freqüência confundem as pessoas. Estes
são os dois termos ‘vitakka’ e ‘vicara’ – que têm sido traduzidos como
‘pensamento aplicado’ e ‘pensamento sustentado.’ No entanto, deve ser
observado que o pensamento, tal qual você normalmente o percebe, não está
presente nos jhanas de forma nenhuma. Aquilo que chamamos de pensamento
foi completamente apaziguado. Estes dois termos se referem a um último
vestígio de movimento na mente que, se fosse continuado, iria dar origem ao
pensamento. É aproximadamente aquilo que poderia ser chamado de
pensamento subverbal. É um movimento da mente em direção ao objeto de
meditação. Isso é chamado de vitakka. Mas tem de se apresentar num nível
subverbal, como um movimento, como uma intenção apenas, sem que a mente
irrompa em palavras e rótulos.
A mente se move na direção do objeto, e lembre-se que agora o ‘objeto’, aquilo
para o que você está dirigindo a atenção, é piti-sukha. Essa é a razão pela qual
esse é o principal fator deste jhana, porque você está consciente da felicidade.
Esse é o objeto da sua meditação e não a respiração o corpo ou qualquer
palavra, pois você tem consciência da felicidade. E você também terá
consciência, e esta é uma das características do primeiro jhana, de que a
mente ainda está vacilando um pouco. A felicidade, que é o objeto da sua
atenção, parecerá esvair-se ou retroceder e à medida que ela se esvai, que
retrocede e que perde força, a mente irá em busca dela novamente. Como se
estivesse atraída pelo seu poder, pelo seu gozo, a mente vai em busca dela;
isso é chamado de ‘vitakka,’ o movimento da mente em direção ao seu objeto.
Ao alcançar o objeto, a mente irá agarrá-lo e isso é chamado de ‘vicara,’ que é
um esforço mental, mas um esforço mental sutil. Esse é um esforço da mente e
não um esforço proveniente da vontade. Não é um esforço provindo de você, é
a mente agindo por si mesma. Ao longo de todo o processo você é um
observador passivo de tudo isso. E tendo agarrado o objeto, depois de algum
tempo, ela perderá a força e retrocederá daquele objeto novamente. Dessa
forma, o objeto parecerá estar vacilando, sem estar verdadeiramente firme. Em
vista disso, a mente parecerá ter uma pequena amplitude, sem estar realmente
firme. Portanto, essa amplitude é muito limitada e você não deve se afastar
dessa felicidade em nenhum momento, pois assim que você se afastar dela
ainda que só um pouco, ela retrocederá e imediatamente atrairá a mente de
volta novamente.
Como a amplitude é muito limitada isto é chamado de unicidade da mente: toda
a energia, o foco da mente está em um só ponto, tanto no que se refere ao
espaço como ao tempo. Esta experiência não se modifica durante muitos,
muitos, muitos minutos num primeiro jhana completo. Essa experiência é
mantida exclusivamente através do movimento da mente indo em direção
daquela felicidade e essa felicidade tendo uma longa duração. Mais uma vez,
assim é como você verá a experiência, mas só depois de emergir de jhana.
Você não será capaz de analisar a experiência composta de cinco fatores
enquanto a experiência estiver ocorrendo porque a mente não terá a amplitude,
a habilidade para pensar, a habilidade para analisar, enquanto você estiver
nesse estado. Enquanto você estiver nesse estado, a única coisa da qual você
estará consciente é dessa felicidade. Na verdade, você estará tomado pela
felicidade, sem saber exatamente a razão ou o que está acontecendo, mas
sentindo um tipo de sensação ou confiança de que isso vale a pena, que isso é
belo, que isso é profundo, que vale a pena ser feito, de modo que você pode
continuar nesses estados.
Em geral, a primeira experiência de jhana é o primeiro jhana. Depois de algum
tempo, a força de samadhi, aquilo que você trouxe consigo para aquele estado,
começará a declinar e a mente irá se afastar da felicidade, e vitakka não será
forte o suficiente para trazê-la de volta novamente e assim você irá emergir do
jhana. O jhana se dissolverá e você será capaz de pensar e analisar
novamente. Os pensamentos surgirão na mente e isso será provavelmente
uma das primeiras coisas que irá surgir depois da dissolução do jhana. A
mente ainda conterá muita felicidade e gozo, mas não terá mais a unicidade. O
corpo em geral não será identificado no início e só mais tarde a mente desejará
ver e observar o que esteve ocorrendo com o corpo durante todo esse tempo.
A mente estará muito poderosa neste estágio. No momento em que tiver
emergido de jhana, você ainda desfrutará de muita felicidade e gozo, e nas
palavras do Buda, a sua mente estará ‘maleável,’ a sua mente estará
‘trabalhável.’ Será como um pedaço de argila, que não está nem muito
molhada nem seca em demasia, que poderá ser facilmente convertida em
qualquer formato que você desejar devido ao poder que você investiu na
mente, e essa se torna a experiência do primeiro jhana. Uma vez que você
tenha experimentado isso pela primeira vez, é bom identificar o que fez com
que aquele jhana surgisse. O que você fez? Ou melhor dizendo, o que foi que
você abandonou e que causou o surgimento do jhana? Ao invés de o que você
fez, aquilo que você abandonou se torna um indicador muito mais poderoso
dos caminhos para alcançar esses estados. Em geral, você se dá conta de que
desenvolveu esse segundo estágio ao começar a se soltar do ‘controlador,’ ao
abandonar a mente vagante, ao abandonar o temor desses estados, e
especialmente, ao abandonar o controlador e permitir que a mente mostre a
sua cara quando você não está presente dando todos os comandos. E quando
você começar a compreender isso e começar a aprender os caminhos para
alcançar esses jhanas, você deverá fazer um esforço para começar a
desenvolvê-los, repetí-los com freqüência, pois você não só estará
desenvolvendo o insight, como também a habilidade de abandonar aquelas
coisas que são o motivo de profundos apegos.
À medida que você for desenvolvendo cada vez mais esses jhanas, eles se
tornarão estados muito agradáveis de serem desenvolvidos. Algumas pessoas
imaginam que a vida santa, uma prática espiritual, deve ser austera e severa.
Se você quiser fazer com que ela seja austera e severa, isso é com você, mas
se você quiser trilhar um caminho alegre, um caminho de felicidade, que ao
mesmo tempo conduzirá à iluminação, este é o processo. Muito embora estes
prazeres sejam muito intensos, prazeres mentais, o Buda disse que eles não
devem ser temidos. Ele disse isso em muitos Suttas, e num deles, no Digha
Nikaya, ele disse aos bhikkhus: se uma pessoa desenvolver estes jhanas, se
os tiver em grande estima, estiver quase apegado a eles, apegado ao seu
desenvolvimento, então há quatro conseqüências do apego a esse
desenvolvimento. A palavra que estou traduzindo como apego é anuyoga. A
palavra ‘jugo’, (em inglês ‘yoke’), provém da palavra ‘yoga’ que significa ‘atado
a’. Anu significa ‘junto com,’ então anuyoga equivale a ‘atado junto com,’
portanto, literalmente, o significado é ‘praticar com freqüência,’ repetindo outra
vez, outra vez e outra vez, o que algumas pessoas interpretariam como ‘estar
apegado a.’
Portanto, existem quatro resultados dessa prática de jhanas, não são cinco
resultados, nem três resultados, mas quatro resultados. E esses quatro
resultados da prática repetida dos jhanas, outra vez, outra vez e outra vez, são:
entrar na correnteza, retornar uma vez, não retornar e Arahant. O Buda
expressou isso de forma inequívoca. Os jhanas não levam a um maior apego
pelo mundo, eles na verdade conduzem a experiências de iluminação, à
separação do mundo. O caminho para desenvolvê-los é este: à medida que o
primeiro jhana for ficando mais e mais desenvolvido, você poderá ter como
meta os jhanas mais elevados. A única forma de apontar para os jhanas mais
elevados é fazer isso antes de entrar nessa área mental que chamamos de
mundo dos jhanas. Porque uma vez que você estiver em algum dos jhanas,
você estará preso ali e não poderá dar quaisquer ordens ou comandos, você
não poderá dirigir a sua mente quando esta estiver em qualquer uma dessas
absorções. O ato de objetivar, dirigir, dar instruções, tem que ser feito de
antemão.
É muito difícil encontrar símiles para isso. Um símile fraco, mas que já usei
antes, é como se alguém se precipitasse na direção de uma casa que tem
quatro cômodos sendo que o quarto cômodo se encontra bem ao fundo, o
terceiro um pouco antes deste, o segundo cômodo um pouco antes do terceiro
e o primeiro logo depois da porta. O piso é feito de uma camada muito, muito
escorregadia de gelo, de modo que você não consegue obter nenhuma
impulsão uma vez que tenha passado a porta de entrada. Todo o seu
momentum tem que ser criado do lado de fora, para que ao atacar a porta, se
você estiver indo muito rápido, poderá escorregar do primeiro cômodo para o
segundo cômodo. E se você estiver indo realmente muito rápido poderá até
mesmo alcançar o terceiro cômodo e se estiver indo realmente muito, muito
rápido no momento em que passar pela porta, poderá escorregar toda a
extensão até o quarto cômodo. Mas uma vez que você esteja em qualquer um
desses cômodos, você não poderá aumentar o impulso. Portanto, a única
forma de alcançar esses jhanas mais profundos é, antes de entrar em qualquer
um desses estados, assegurar-se de que os seus esforços para se soltar, que
a sua determinação de abandonar, que o seu desejo de acalmar todas as
perturbações seja tão forte que você consiga acalmar as perturbações dessa
mente ativa, e em seguida consiga estabilizar vitakka-vicara e muitas outras
coisas também. A mente se acalma, uma coisa após a outra à medida que ela
vai penetrando os jhanas mais profundos.
O segundo jhana é o primeiro verdadeiro estado de samadhi, porque neste
estado você acalmou as perturbações do primeiro jhana, a vacilação da mente,
vittaka-vicara foram abandonados. Portanto, agora a mente está firmemente
unificada com o objeto que é a felicidade, e este estado é um samadhi firme
como a rocha, onde existe apenas um objeto na mente, a felicidade, e não
resta qualquer espaço na mente. A mente está totalmente unificada num ponto,
firme e sólida como uma rocha e dominada pela felicidade, portanto, o objeto
não se move de forma nenhuma, ele está ali presente um momento após o
outro e após o outro e após o outro. Devido à solidez e estabilidade desse
estado, o segundo jhana irá durar muito mais, será mais longo do que o
primeiro jhana; os jhanas mais profundos durarão mais tempo e no caso do
segundo jhana, estamos falando de horas, simplesmente porque é um estado
muito firme. Enquanto o primeiro jhana pode estar presente por alguns minutos,
um bom segundo jhana deveria ser muito longo – e muito firme. Uma vez
nesse estado, não há modo de sair até que a energia daquele jhana tenha sido
consumida. Essa é a única forma, pois você não pode tomar a decisão, “agora
é hora de sair disto.” Se alguém chamá-lo, você simplesmente não o ouvirá, se
alguém tocar no seu ombro, você não sentirá nada, porque você estará
completamente isolado do mundo externo. Você, literalmente, estará
exatamente no centro da sua mente e não poderá ser contactado. Outra vez,
esse segundo jhana, uma vez que comece a se dissipar, irá se dissipar para
um estado que equivale ao primeiro jhana e depois se dissipará com o
pensamento discursivo. E aí você terá saído do estado de jhana.
Para aqueles que querem explorar esses estados com freqüência, uma coisa
importante que pode ser feita é, ao invés de deixar que o momentum da sua
energia acalme a energia de samadhi, tomar a decisão antes de entrar nesses
estados. Você apenas precisa dizer para si mesmo, “Eu entrarei em jhana por
meia hora ou por uma hora.” Como a mente estará muito purificada nesses
estados ela terá poder, a sua decisão funcionará como uma programação de
computador, e uma vez que o tempo tenha passado, a mente deixará os
jhanas. Eu não posso explicar exatamente como isso funciona, mas funciona.
Do mesmo modo você pode ir dormir e dizer, “Eu irei despertar às três horas” e
você se despertará às três horas, com uma variação de talvez uns cinco
minutos, sem o uso de um alarme. A mente, se você programá-la com atenção
plena, responderá. Portanto, esse é um método muito útil e essa é uma boa
instrução; empregar essas decisões para que você não gaste um tempo
demasiado longo nesses estados, se você tiver outras coisas que fazer ou
algum compromisso. Primeiro de tudo tome uma decisão. De qualquer
maneira, quando você estiver nos jhanas, você não poderá tomar uma decisão,
não poderá pensar e não poderá fazer análise. A única coisa da qual você terá
consciência é de estar tomado pela felicidade, você não terá muita certeza do
que está acontecendo e só depois que você tiver a oportunidade de emergir é
que poderá analisar e ver o que aconteceu e porque aconteceu.
Se uma pessoa quiser se aprofundar nos jhanas, então neste ponto, é
necessário compreender que aquela felicidade que compõe o segundo jhana,
proveniente de samadhi, nascida da completa unificação da mente, uma
felicidade com um sabor distinto, possui um aspecto que ainda perturba a
mente, e esse é o aspecto de piti. É quase como uma excitação mental e que
pode ser superada se a pessoa tomar como meta acalmar esse aspecto.

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