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Ensino de Filosofia
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setembro/2014
Ficha Catalografica
Sumário
Prefácio������������������������������������������������������������������������������������������������������� 9
Ensino de Filosofia 11
oferece sugestões de questões e abordagens que podem ser re-
alizadas pelo professor de filosofia. É um texto que cumpre um
objetivo fundamental: estabelecer o diálogo entre a universida-
de e a escola básica; entre a formação universitária e o exercício
da docência de filosofia na escola contemporânea.
Elisete M. Tomazetti
Centro de Educação
Dezembro de 2013
Ensino de Filosofia 13
OS DESAFIOS DO ENSINO DE
FILOSOFIA: PENSAR-SE A SI MESMO
Altair Alberto Fávero1
1. INTRODUÇÃO
Ensino de Filosofia 17
Já a filosofia como questão ou processo, sem negar ou
contestar a validade da postura anterior, ressalta outro ângulo:
parece-se como um “aprender a pensar”2. Esse é entendido não
como a capacitação lógica, como domínio do uso de um instru-
mento que ordena o pensamento, mas como o desenvolvimento
da capacidade de questionar, de rejeitar como dado inequívoco e
evidência imediata, que convence o senso comum e fundamenta
grande parte dos pensamentos. Tal abordagem da filosofia apre-
senta-a como uma disciplina que coloca o ato de filosofar, de
questionar e de retomar questões abandonadas, ou dadas como
resolvidas, acima da própria filosofia como teoria. O importante
não é conhecer as respostas que outros deram, mas tentar al-
cançar, por meio da questão posta por eles, uma nova resposta,
a qual, por sua vez, abrirá o caminho a novas questões.
2 Vários livros já foram lançados com essa finalidade. A título de exemplo, poderíamos citar
o livro de Leopoldo Justino Girardi e Odone José Quadros (1998), Filosofia: aprendendo a pensar;
de Cipriano Luckesi e Elizete Passos (1998), Introdução à filosofia: aprendendo a pensar; de
Pascal Ide (1995), A arte de pensar. Heidegger (1964, p.14), ao falar sobre isso, assim se expres-
sa: “Conquistamos o sentido da palavra pensar quando nós mesmos pensamos. Para que um
tal ensaio aconteça, devemos estar preparados a aprender a pensar”.
3 Em 1970, valendose dos estudos de Piaget, Lipman realizou uma experiência de campo
com dois grupos de crianças selecionadas por acaso. Cada grupo tinha cerca de 15 crianças,
que tinham duas aulas por semana durante nove semanas, tendo sido cada um deles sub-
metido a um préteste e pósteste. No fim do período experimental, a pontuação do grupo de
controle em raciocínio lógico permaneceu imutável, ao passo que a do grupo experimental
tinha dado um salto de 27 meses. Posteriormente, em 1975, o experimento foi ampliado
para 200 crianças. Desse experimento a melhora na leitura foi substancial e surpreendente.
Ensino de Filosofia 19
mas que não são abertamente examinados por nenhuma delas.
A filosofia oferece um fórum no qual as crianças e jovens podem
descobrir, por si mesmas, a relevância, para suas vidas, dos ide-
ais que norteiam a vida de todas as pessoas.
Alguns poderão dizer que pode não ser muito útil adicio-
nar mais uma disciplina (a filosofia) a um currículo já abarro-
tado e cujos componentes os alunos recebem de maneira frag-
mentada e desarticulada. Mas a adição da filosofia aliviaria mais
do que exacerbaria essa situação. As principais divisões ou sub-
disciplinas da filosofia representam abordagens que se cruzam
em ângulos retos com as matérias já existentes no currículo e as
fundem em um conjunto conexo. Os alunos poderão, por exem-
plo, perceber a lógica, a metafísica, a estética, a epistemologia, a
filosofia social que existe nos conteúdos de português, ciências,
matemática, história, artes, geografia, educação física, etc. No
Ensino de Filosofia 21
entanto, é importante que haja a disciplina de filosofia, e não
simplesmente dizer que ela acontece em todas as disciplinas.
No dizer de Lipman (1995), “é evidente que há necessidade de
cursos de Filosofia no decorrer de todos os anos escolares, desde
o jardim da infância até o 2º grau. 0 cultivo do raciocínio não
pode ser levado a cabo a não ser que haja um critério para se
distinguir entre bom e mau raciocínio e somente a Filosofia pode
fornecer tal critério”(p. 28).
Ensino de Filosofia 23
Uma primeira tarefa da filosofia é recuperar a dimensão
humanista da sociedade. Trata-se de colocar em pauta de dis-
cussão a antropologia que norteou a humanidade no período
moderno, a qual manifestou um antropocentrismo desequili-
brado que provocou uma cisão inconciliável entre o homem e a
natureza. Revisar essa posição implica refazer o caminho da tec-
nologia, das relações de produção, das finalidades do domínio
do homem sobre o próprio homem e sobre a natureza. Trata-se
de definir que antropologia norteará a humanidade, que pres-
supostos sustentam essa antropologia e que processos educa-
tivos iremos desenvolver para fundamentar essa compreensão
de ser humano. “Se o termo ‘humanidade’ quer dizer alguma
coisa”, ressalta Ernest Cassirer (2001, p. 119) em seu belo livro
Ensaio sobre o homem, “quer dizer que, a despeito de todas as dife-
renças e oposições que existem entre suas várias formas, todas
elas estão, mesmo assim, trabalhando para um fim comum”. Na
análise de Cassirer a filosofia tem um “audível e compreensível”
papel de trabalhar para esse fim.
Referências
CASSIRER, Ernest. Ensaio sobre o homem: introdução a uma
filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Ensino de Filosofia 29
Não é difícil, para um grupo editorial, encomendar e
apresentar ao governo livros didáticos que tenham essa natu-
reza integrada. Mas não é esse o modo de funcionamento das
licenciaturas. Não há nelas tradição e cultura prontas para
começar a formação que é suposta pelas propostas governa-
mentais.
Ensino de Filosofia 31
sua vida; os professores e as disciplinas não compõem
um tecido, um contínuo; ao contrário, cada disciplina é
uma mônada perfeitamente isolada das demais; segue-
se a isso um sentimento de não aprendizagem e, com
isso, a presença branca, prima irmã da evasão escolar.
3. A FILOSOFIA E A INTERDISCIPLINARIEDADE.
ALGUMAS PROPOSTAS PARA REFLEXÃO
Ensino de Filosofia 33
específica, inter e trans; ela está entre as disciplinas, dentro das
disciplinas, atravessando as disciplinas. Na filosofia, a interdisci-
plinaridade e a transdisciplinaridade (transversalidade) são sua
própria natureza.
Ensino de Filosofia 35
O ENSINO DA FILOSOFIA: Um
possível modo de situá-lo no
currículo da educação básica
Odair Neitzel1
José Pedro Boufleuer 2
1. INTRODUÇÃO
Ensino de Filosofia 39
fatias do currículo, que ainda há os que imaginam contar com
uma objetividade essencial do seu conhecimento, acreditando
que “é assim que as coisas são”...
Ensino de Filosofia 41
filosofia, em sentido bem amplo, ocupa-se da condição humana
e das possibilidades de estabelecer um modo de ser e de inte-
ragir passível de ser predicado de razoável. Embora essa noção
remeta ao tema da racionalidade, não se trata aqui de referência
a qualquer modo específico de como se estabeleceu sua com-
preensão ao longo dos séculos, mas de uma referência antro-
pológica, ou seja, como indicativo de um modo especificamente
humano de ser enquanto necessitado de fazer-se, já que não de
todo determinado pela sua constituição biológica.
3 Jürgen Habermas (1929), filósofo e sociólogo alemão, filiado à tradição da teoria crítica, é
autor da Teoria da ação comunicativa, obra em que apresenta a concepção de racionalidade
comunicativa sustentada na ação orientada ao entendimento e ao consenso, configurando
um modelo de razão que, segundo o autor, é capaz de resgatar o potencial emancipatória do
agir humano, esgotado no modelo moderno de racionalidade instrumental.
Ensino de Filosofia 43
com a natureza) ao interpretar a razão humana como capacida-
de de construir entendimentos compartilhados, construídos e
legitimados em processos intersubjetivos de argumentação. Tra-
ta-se da racionalidade comunicativa que, na perspectiva do seu
projeto filosófico, resulta em parâmetro que permite sustentar
uma teoria crítica da sociedade, capaz de identificar as patolo-
gias do mundo humano contemporâneo4.
Ensino de Filosofia 47
a ocorrer no interior de minha subjetividade, mas um feito “nos-
so”, intersubjetivo e social. Não se trata, portanto, de “uma ca-
pacidade desligada e, de alguma maneira, sobrenatural (...), mas
consiste simplesmente em poder perguntar por razões” (p. 190).
6 Sob essa perspectiva, caberia à filosofia um papel prévio de indicação das condições de
possibilidade de toda e qualquer ciência, com o que ela assumiria o lugar de juiz supremo
de toda a cultura científica.
Ensino de Filosofia 49
o sonho de emancipar o ser humano e torná-lo independente
dos determinismos de toda espécie perpassa, de alguma forma,
a história da filosofia.
Ensino de Filosofia 51
educar mediante o exercício do filosofar, é oportunizar aos edu-
candos uma melhor percepção de si pela tematização e explici-
tação de componentes da tradição filosófica que de modo deci-
sivo contribuem na articulação da teia de interações simbólicas
em que se funda a vida humana em sociedade.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
Ensino de Filosofia 53
GUIMARÃES, Alissa. A. Filosofia e educação na formação con-
temporânea. Revista Princípios, Natal, v. 8 n.9, p. 5-17, jan./jun.
2001.
1. INTRODUÇÃO
Mas será que é assim tão simples aceitar essa ideia? Mui-
tos dos críticos do ensino a distância usualmente se esquecem
de que a questão sobre a possibilidade de educar a distância
não é diferente da questão mais ampla sobre a possibilidade do
educar em geral, a distância ou não. O ponto de vista que dese-
jamos apresentar neste artigo é que, no que diz respeito especi-
ficamente ao conhecimento filosófico, essas duas questões não
estão necessariamente separadas. A filosofia, segundo alguns
pensadores ao longo da história da filosofia, tem a peculiaridade
1 Doutor em filosofia pela University of London. Professor do departamento de filosofia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
de encorajar no indivíduo, antes de tudo, a buscar certa habili-
dade, unicamente a partir da qual a apreensão do conhecimento
é possível. Desse modo, a noção tradicional da educação como
“transmissão de conhecimento” é questionada e as supostas
desvantagens do ensino a distância – principalmente aquela so-
bre a ausência física do professor – são tornadas irrelevantes.
2. O EDUCAR PLATÔNICO
Ensino de Filosofia 57
Ora, a questão que se coloca aqui é: como fazer lembrar?
No diálogo Ménon, Sócrates consegue fazer um escravo deduzir
o teorema de Pitágoras. Ele o faz submetendo-o a uma bateria
de questões, que se seguiam a cada resposta obtida. Este é o
outro belíssimo aspecto da visão pedagógica de Platão: o conhe-
cimento é para todas as almas, independente da posição social,
do gênero, do credo, etc. O conhecimento é acessível a todos,
basta fazer duas coisas essenciais: dar as costas aos sentidos, às
sensações, à percepção – pois eles só nos dão informações prove-
nientes do interior da caverna, que é povoada por ilusões – e, ao
mesmo tempo, engajar-se numa atitude reflexiva sistemática,
procurando esclarecer os conceitos através do método dialético.
Referências
Ensino de Filosofia 61
os Alunos como Protagonistas na Educação Aberta e a Distância
mediada por Computador’, http://calvados.c3sl.ufpr.br/ ojs2/
index.php/educar/article/viewFile/2121/1773, 2003.
1. INTRODUÇÃO
1 Doutor em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
foi o primeiro a tratar sistematicamente do assunto, colocando
as bases clássicas das discussões sobre ética. Numa perspectiva
tipicamente metafísica, ele parte da pergunta sobre a finalida-
de da vida humana e de como o ser humano poderia atingi-la.
Emmanuel Kant ocupou-se especificamente das mesmas ques-
tões, principalmente na sua reflexão Sobre a pedagogia, embora
tenha formulado as bases antropológicas de sua filosofia prática
na Fundamentação metafísica dos costumes e na crítica da razão prá-
tica. Quanto aos autores contemporâneos, optei pelo livro sobre
ética por razões metodológicas. Embora muitos autores tratem
das questões, Cortina e Martinez elaboraram um capítulo didá-
tico sobre o tema e o tratam no e para o contexto de uma socie-
dade democrática, na perspectiva teórica atual e produtiva da
Teoria do Agir Comunicativo, de Jürgen Habermas.
Ensino de Filosofia 65
blicado somente em 1803. Principalmente no Sobre a pedagogia
ele apresenta uma série de argumentos que justificam a neces-
sidade da educação moral das crianças. Pode-se interpretar essa
preocupação também nos Fundamentos, quando, na primeira se-
ção, trata da necessidade da boa vontade como condição para
a moralidade, uma vez que as qualidades humanas que mais
estimamos podem ser utilizadas para praticar o mal. Por exem-
plo, a inteligência e a faculdade de julgar, a coragem, a decisão,
a perseverança nos propósitos, bem como as qualidades do tem-
peramento, que são consideradas como coisas boas sob muitos
aspectos, podem tornar-se extremamente más e prejudiciais se
a vontade que delas fizer uso não for boa. Um ser humano sem
caráter usaria essas qualidades para praticar atos vis. Isso vale
igualmente com relação ao poder, à riqueza, à honra, à saúde e
ao bem-estar, porque podem resultar em excesso de confiança
em si mesmo e converter-se em presunção, se faltar a boa vonta-
de para moderar e fazer com que as decisões e ações convirjam
para fins universalizáveis.
3. O QUE ENSINAR/APRENDER?
Ensino de Filosofia 71
7996b, p. 80), é que as crianças precisam, desde cedo, aprender a
pensar por si mesmas (idem, p. 28). A disciplina é necessária de
início, mas apenas como meio que prepara para o uso da razão,
indispensável para que sejam cada vez mais habilitadas a com-
preender, aceitar e formular as máximas morais.
Ensino de Filosofia 73
A sociabilidade, por sua vez, envolve a disposição de ten-
tar entender os outros e de se colocar em seu lugar. Isso impli-
ca em não confundir a autonomia com a autossuficiência, tal
como está pressuposto na primeira fórmula do imperativo. Ao
afirmar que devo agir somente movido por máximas tais que
possam “tornar-se, através da minha vontade, em lei universal”,
ou como se a máxima da minha ação tivesse a universalidade
que se espera das leis da natureza, estou fazendo o exercício de
considerar hipoteticamente os outros. No sentido psicológico, a
sociabilidade implica a sensibilidade social e a capacidade da
empatia com os outros seres humanos.
Ensino de Filosofia 77
Segundo Aristóteles, a “sabedoria prática” (phronesis) é
aquela que os indivíduos vão adquirindo na vida prática. Con-
forme o dito popular: “vivendo e aprendendo”. Mas isso não sig-
nifica que existe relação automática entre as vivências do coti-
diano e a sabedoria prática. Se fosse desse modo certamente os
mais velhos teriam necessariamente mais sabedoria. Então já
estamos diante de uma primeira questão: não basta ter passa-
do por um acontecimento para “saber”. Tem que ter vivido com
intensidade e, na perspectiva aristotélica, com uma atitude re-
flexiva também, que ele denominou de contemplação. Isso por-
que a vida não ensina sem mais, ou “de graça”. A gente é que
aprende, ou não aprende. E a aprendizagem, a sabedoria prática,
implica a vivência intensa e profunda e a atitude reflexiva para
poder tirar as lições das vivências.
Por outro lado, se “para saber tem que viver”, não há como
ensinar a sabedoria prática para os outros, assim de modo abs-
trato, como é o caso das “lições de moral”, dos conselhos dos
mais vividos e dos sermões de pastores, padres e afins. Se muito,
os ensinamentos alheios podem fornecer alguns elementos para
qualificar a reflexão, mas para quem falta a vivência eles serão
palavras sem sentido, porque os que não têm experiência dos
fatos da vida são sequer bons ouvintes no assunto em questão.
Ensino de Filosofia 79
certa quando, onde e como deve fazê-la. Crianças não cuidam
de si, é preciso que adultos o façam, por exemplo, com relação
à nutrição, a higiene e até para se mover, atravessar uma rua,
etc. Mas aos poucos a criança deve desenvolver sua capacidade
de pensar por si mesma, até que esteja habilitada a obedecer
somente ao que ela reconhece como sendo racional e bom, isto
é, obedecer à própria vontade (Kant, 1996, p. 82).
Ensino de Filosofia 81
preparada para a autonomia no convívio com seres também au-
tônomos e numa sociedade que não precisa cercear a liberdade
de pensar e de se expressar.
Referências
Ensino de Filosofia 83
HOMENS, DEUSES E MÁQUINAS: O
CONFLITO ENTRE MITO E CIÊNCIA
Ediovani Antônio Gaboardi 1
1. INTRODUÇÃO
2 Supostamente por isso a perdiz não alça voos com grande altitude. O “trauma” da queda
faz com que ela prefira os lugares baixos. O mito, assim, explicaria a origem e a natureza
própria da perdiz.
3 Importante lembrar que na época de Galileu as ciências como conhecemos hoje não exis-
tiam. Quem estudasse problemas de física, química, biologia, etc. era chamado de filósofo.
Ou seja, quando ele fala de filosofia, na verdade ele está se referindo ao que definimos hoje
como ciência. O que ele está dizendo, então, é que para investigar questões como a origem
do universo, a mecânica do movimento, a causa dos eclipses, etc. não adianta estudar os
textos de Aristóteles ou a Bíblia. É preciso tentar “ler” o universo, a natureza.
Ensino de Filosofia 89
científico. Elas se baseiam na tradição e em algum tipo de inter-
pretação criativa dos fatos, mas não na observação e no racio-
cínio matemático. Não vemos os deuses. Sabemos deles porque
existem livros que falam sobre eles. Ou então concebemos di-
vindades porque interpretamos os fatos imaginativamente, indo
além daquilo que é visto. Também não usamos uma linguagem
científica (matemática) para falar dos deuses e de seus atos. A
linguagem mítica é sempre repleta de metáforas, imagens, sen-
timentos, relações arbitrárias, definições imprecisas, etc. A ciên-
cia que nasce com Galileu desqualifica totalmente esse tipo de
conhecimento.
Ensino de Filosofia 91
Uma vez alcançado um impulso biológico suficiente para a se-
creção do hormônio B, outras influências, incluindo o feedback
negativo, reduzirão a resposta do hormônio A de forma a dei-
xá-la adequada ao propósito biológico final. (BERNE; LEVY,
2000, p. 738).
Mas, no dia a dia, você precisa dar sentido à sua vida, esta-
belecendo preferências, tomando decisões, colocando objetivos
em prática etc. Mas com que critérios você faz isso? A ciência,
o estudo da natureza, não pode fornecer referência nenhuma.
O máximo que a ciência faz é indicar os meios para alcançar os
fins que você estabelece, mas ela não diz quais são esses fins. Se
você quer emagrecer, um nutricionista pode receitar a melhor
dieta. Mas ele não pode dizer que é melhor ser magro do que ser
gordo. Tudo bem que a obesidade traz problemas à saúde. Mas
alguém pode decidir viver menos tempo e aproveitar o prazer de
uma alimentação farta. Aos olhos da ciência, essa é uma decisão
subjetiva. Não há o que dizer.
Ensino de Filosofia 95
como um todo. Sócrates, considerado o pai da filosofia, foi quem
percebeu isso primeiro. Na sua época (séc. VI a. C.), já existiam
explicações parecidas com as de Galileu. No diálogo intitulado
Fédon, existe a narração de sua última conversa com seus ami-
gos. Ele tinha sido condenado à morte e aguardava a execução.
Seus amigos arranjaram uma forma de ele fugir, mas ele não
quis. Então, ele se pergunta: por que permaneci aqui sentado
ao invés de fugir? A explicação mecanicista da época seria a se-
guinte: “(...) me acho sentado aqui porque meu corpo é formado
de ossos e tendões (...) Articulando-se os ossos em suas articu-
lações, e estendendo-se e contraindo-se, sou capaz de flexionar
os meus membros, e por esse motivo é que estou sentado aqui
(...)” (PLATÃO, 1979, p. 104-5, 98c). Sócrates considera esse tipo de
explicação ridícula. Nas suas palavras, “(...) estou aqui porque os
atenienses julgaram melhor condenar-me à morte, e por isso pa-
receu-me melhor ficar aqui, e mais justo aceitar a punição por
eles decretada” (1979, p. 105, 98e). Sócrates não desconsidera as
condições físicas que permitem a ele sentar-se. Mas ele defende
que conhecê-las não é suficiente para compreender seu ato. Sua
situação depende de uma avaliação moral dos atenienses e sua.
Os atenienses acharam justo condená-lo, e ele achou justo acei-
tar a punição. Mas a pergunta que logo surge é: o julgamento
dos atenienses foi correto? E a decisão de Sócrates? O proble-
ma é que a abordagem científica não pode responder a essas
questões. Mas, ao mesmo tempo, essas são as questões mais im-
portantes, pois conduzem nossa vida. Tão importantes que não
podemos nos contentar em dizer apenas que são subjetivas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
Ensino de Filosofia 97
BRANDÃO, J. D. S. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1987.
Ensino de Filosofia 99
sem ter contato com o texto em casa, para tornar a aula mais
dinâmica. Mas, se isso não for possível, a leitura pode ser feita
em sala de aula. Uma estratégia interessante é solicitar que um
aluno leia uma parte (alguns parágrafos) e ele mesmo, ao final
da leitura, indique outro aluno para fazer uma síntese oral do
trecho lido. O professor deve complementar essa síntese, inclu-
sive interrogando outros colegas e dialogando com a turma. Os
conceitos principais devem ser anotados no quadro e/ou no ca-
derno. Outros textos e informações da história da filosofia tam-
bém podem ser introduzidos e utilizados. A critério do professor,
na medida em que as diferenças entre as visões mítica e cien-
tífica forem sendo estabelecidas, é possível introduzir situações
reais sobre as quais tal capacidade de diferenciação poderia ser
exercitada. Aborto, livre arbítrio e amor são temas que podem
ser tomados como exemplos. Não se deve pretender convencer
a turma de uma determinada visão. O importante é que os alu-
nos se tornem capazes de identificar diferentes possibilidades. O
objetivo é formar uma “comunidade de investigação”, para usar
a expressão de Matthew Lipman (2001).
e) Avaliação
1. INTRODUÇÃO
3.1 DEMOCRACIA
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
Abelardo...
1. Ensino Schoupenhauer...
Gilson...
Tensão/Clima
Filosofia...
Kant
2. O que
ensinar
Hegel
Filosofar...
Esse não possuir pode significar duas coisas: que esse que
se declara filósofo não é sábio em nenhuma medida, mas perse-
gue essa sabedoria. Ou, ainda, que possui certo conhecimento,
sabedoria, mas não em sua totalidade, apenas parte dele, não
sendo, dessa maneira, um ignorante completo, mas, também,
nenhum sábio. Apesar de ser uma análise elucidadora e interes-
sante, em um primeiro momento, por diversos motivos, o prin-
cipal é que não ajuda a resolver a questão sobre a filosofia e sua
natureza. Isso significa que, infelizmente, a autodenominação
pitagórica não serve para uma determinação precisa da natu-
reza da filosofia enquanto um tipo de conhecimento, ou ciência
(como alguns podem preferir). Então, tentar delimitar de forma
suficiente a natureza da filosofia e dessa derivar o que pode ou
não ser ensinado recorrendo a história do surgimento de seu
nome não é suficiente, para não dizer inútil.
17 Lembra-se o leitor que a exposição não visa a uma avaliação dos elementos constituintes
da proposta de Obiols. Julga-se que tal modelo deve ser avaliado na prática e no dia a dia
escolar. Acrescenta-se – e isso não deixa de ser um julgamento – as novas tecnologias de
informação que deverão ser integradas àquela prática e que Obiols não chama à discussão.
Somente a título de lembrança lembra-se de P. Levy e sua posição com respeito as novas
tecnologias – sua obra Tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da in-
formática. Traduzido para o idioma português e publicado pela Editora 34 em 1995 é uma
leitura imprescindível para a compreensão das novas tecnologias e suas relações com a
educação. Entre muitas coisas que diz na obra citada destacamos a seguinte passagem “Não
existe apenas uma racionalidade, mas sim normas de raciocínio e processos de decisão
fortemente ligados ao uso de tecnologias intelectuais, que por sua vez são historicamente
varáveis” (LEVY, 1995, p.95 e seguintes) e que seriam, segundo ele, impossíveis de apreender
através da técnica de grafia – escrita - e de cálculos sobre o papel, como diz. Isso se torna
tão mais urgente para o ensino em geral e filosófico quando compreende-se a extensão da
seguinte afirmação feita na mesma obra: “A revolução contemporânea nas comunicações,
da qual a emergência do ciberespaço e a manifestação mais marcante, é apenas uma das
dimensões de uma mutação antropológica de grande amplitude” (LEVY, 1997, p. 37). Em
resumo, a filosofia e seu ensino não podem deixar de lado essas questões e comportar-se
como se estivesse em bolha.
Aprender filosofia
e a filosofar
Conceitos Atitudes
Processo de
Aprendizagem
Parte inferior do
gráfico é a mais
importante 2º Obiols Processo de
Ensino Filosófico
Estratégias
Provocar perplexidade
Primeiro momento Fazerem ‘‘seu’’ o problema
Despertar o interesse
Inicio concreto
Usar todo tipo de recursos
adequados aos tipos de
alunos
Segundo momento:
Segundo momento
Diferentes abordagens
Compreender de forma
crítica as respostas
Desenvolvimento abstrato
Apresentar sua posição
e argumentos
Terceiro momento
Recapitular
Encerramento Síntese
Avaliação
caminho percorrido
Referências
1. INTRODUÇÃO
5. A INTERDISCIPLINARIDADE
OI “Aparência e essência”
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
1. INTRODUCCION
2. CIUDADANÍA Y EDUCACIÓN
4. ESTRATEGIAS EDUCATIVO-HERMENÉUTICAS:
LEER DETENIDAMENTE, VER CON REFLEXIÓN Y
HABLAR CON ARGUMENTACIÓN
Tabela 01.
EDUCACION PARA LA
EDUCACION PARA LA AUTONOMIA
OBEDIENCIA
1. se ofrece un compromiso 1. sopesar lo que está en juego en ciertas
para aceptar las tareas y los aceptaciones (pensar, reflexionar)…
métodos que se llevarán a
cabo; se presupone una
especie de obligación
contractual
2. se ofrecen unas normas 2. cuestionar lo incuestionable…
básicas que se presentan
incuestionables.
3. se altera la semántica de la 3. percatarse del uso/abuso de los lenguajes
acción: no “hacemos daño”,
sino que “ayudamos al
experimentador”, “ayudamos
al proceso”, etc.
4. se afirma que el sujeto está 4. desarrollar procesos imaginativos que nos
172 exento de responsabilidad,
Universidade Federal da Fronteira Sul
o hagan caer en la cuenta de nuestra
que los responsables son responsabilidad y en las consecuencias de
otros. nuestros actos.
5. se busca que el sujeto dé un 5. ejercicio de la precaución y la prudencia…
3. se altera la semántica de la 3. percatarse del uso/abuso de los lenguajes
acción: no “hacemos daño”,
sino que “ayudamos al
experimentador”, “ayudamos
al proceso”, etc.
4. se afirma que el sujeto está 4. desarrollar procesos imaginativos que nos
exento de responsabilidad, o hagan caer en la cuenta de nuestra
que los responsables son responsabilidad y en las consecuencias de
otros. nuestros actos.
5. se busca que el sujeto dé un 5. ejercicio de la precaución y la prudencia…
pequeño primer paso y luego
se le pide sólo un poco más.
6. se presentan los procesos 6. naturaleza abierta e histórica de los
sociales como opacos y procesos sociales
cerrados en sí mismo.
7. se hace que el coste de 7. estrategias para ayudar a decir “no”
salida del experimento (o de la
situación) sea duro y difícil
8. se ofrecen procesos de 8 . o f r e c e r e l e m e n t o s d e c o n t i n u a
d e s h u m a n i z a c i ó n y rehumanización y personificación
desindividualización (competencia narrativa)
9 . s e o f r e c e u n a g r a n 9. recursos para una crítica de las ideologías
ideología, una gran
explicación, una gran
mentira…
10. se nos enseña a que no 10 aprender que hay muchas cosas, más de
nos metamos en lo que no es las que pensamos, que son de nuestra
de nuestra incumbencia, “no incumbencia
te metas, que eso no es cosa
tuya”
Referências
1. INTRODUÇÃO
5 Ao contrário, a palavra não pode ser tomada como um meio ou instrumento do conhe��-
cimento, ou mesmo do pensamento, pois ela é própria expressão do pensamento, ou seja,
somente podemos pensar dentro de uma linguagem.
(...) tem a forma normal de não se ver, que não se vê esta incapa-
cidade em si mesma, mas no outro. Diz-se: “contigo não se pode
falar”. E o outro tem então a sensação ou também a experiência
de não ser compreendido. Isto faz a pessoa emudecer de antemão
ou até apertar os lábios com amargura. Neste sentido, a incapa-
cidade para o diálogo” é sempre, em última análise, o diagnóstico
feito por alguém que ele mesmo não se põe no diálogo, ou seja,
que não consegue chegar ao diálogo com o outro. A incapacidade
do outro é sempre, ao mesmo tempo, a incapacidade do primeiro.
Referências