O natal, mais que uma festa tradicional no meio cristão,
corresponde a um período de propagação da confraternização familiar, como requisito prévio para se comemorar o ritual do nascimento de cristo. Entretanto esse sentido natalino, no qual devem prevalecer os sentimentos de solidariedade, esperança e renovação, vem se esvaziando e dando lugar a um consumismo desenfreado que não apenas se opõe a proposta da tradição natalina, mas sobretudo, pode sustentar algumas formas de violência, especialmente contra pessoa idosa.
Afirmo isso, ao observar a dificuldade muito visível nas famílias
contemporâneas de acolher de maneira efetiva, a pessoa idosa nas festas natalinas. Tal acolhimento requer cuidados multidimensionais que envolvem algumas ações como: a inclusão da pessoa idosa na construção da festa, a preocupação com os alimentos servidos na ceia, os presentes e agrados que serão trocados entre os membros e os idosos, o respeito à crença da pessoa idosa e a própria concepção do ritual, que pode excluir o idoso que foi muitas vezes, o principal protagonista na organização desse evento. Temos ouvido e visto muitas histórias de idosos que agravam seus problemas emocionais e comportamentais com a chegada da festa natalina, por pura displicência, desinformação e até por carência de uma reflexão sobre o sentido atribuído a esse evento.
Pensando nisso, a Diretoria de Políticas para a pessoa Idosa da
Prefeitura de Belo horizonte, aproveita para trazer algumas dicas para que famílias que possuem idosos, especialmente em situação de fragilidade, possam incluí-los e mostrar a importância de cada um deles na festa natalina, tornando o banquete de natal não apenas festivo, mas sobretudo mais alegre e fraterno com a inclusão da pessoa idosa. Afinal, a política do cuidado se estabelece na relação consigo mesmo e com o outro.
No ambiente familiar, alguns cuidados podem trazer notas de gentileza
urbana e indicar o refinamento e a educação do grupo familiar para acolher a diversidade e a singularidade dos seus membros e demonstrar a atenção aos princípios de solidariedade intergeracional. Sugerimos então algumas proposições, como dispositivos que promovam a inclusão e a participação da pessoa idosa, no natal, de acordo com o contexto das famílias e ou instituições em que vivam a pessoa idosa em questão.
1 – construa um presépio coletivo, solicitando a ajuda da pessoa
idosa. Além de fazer frente a outros enfeites tão comuns e padronizados, na maioria das vezes, o idoso guarda a tradição dos presépios mineiros e poderá ensinar às gerações mais novas a manutenção deste hábito; 2- Transforme o seu natal num encontro intergeracional que valorize a pessoa idosa e a história da família; solicite fotografias, ou vídeos que poderão ser compilados e editados, ou, no caso de fotografias, fixadas num painel, que revele os melhores momentos em família; 3- Aproveite para criar um clima de integração construindo uma árvore genealógica para o natal, ou um grande álbum de família. Afinal, para pessoas cristãs poderia ser interessante que no dia em que se comemora o nascimento de cristo fosse comemorado também o nascimento de cada membro da família desde o mais velho até o mais novo; assim, todos se sentirão igualmente valorizados; 4- Tenha atenção e redobrado cuidado com a alimentação das pessoas idosas, prepare carinhosamente o prato do idoso, e, ainda que seja uma alimentação diferenciada, decore o prato, ou mesmo, o equipamento de suporte da sonda, com o mesmo capricho que os outros e, na medida do possível, traga-o para comer à mesa partilhando alegria com os outros. Evite expor as pessoas idosas horas seguidas ao barulho e a agitação, especialmente se estiverem num quadro moderado ou grave de depressão ou demência, pois comumente podem ficar inquietos e incomodados. Procure alternar o descanso com a atividade desenvolvida por eles nos momentos festivos; 6– Evite surpresas que acarretarão momentos eufóricos demasiados, como por exemplo trazer neste dia uma pessoa que o idoso não vê a muitos anos, sem avisá-lo antecipadamente. Tente fazer com que a emoção seja partilhada de forma mais suave... pois muitas vezes até aquilo que pode ser bom demais e carregado de boas intenções, dependendo da maneira como é feita, pode surtir um efeito contrário. Muitos idosos podem sofrer sérios danos. Além disso deve-se perguntar sempre sobre essa euforia exagerada que se deseja trazer ao outro, pois ela pode representar muito mais uma carência afetiva do doador, que o desejo sincero de doação em prol do bem-estar do outro. 7- Evite materiais elétricos distribuídos em demasia nos ambientes, adornos ou artigos de decoração muito pequenos, pontiagudos e de vidro. Ao contrário disso, opte por materiais mais adequados, como plásticos, emborrachados, e maiores em tamanho, de maneira que não possam ser engolidos. Não é incomum que um idoso com grau avançado de demência tente engolir objetos confundidos como alimentos. 8 - Dê um presente que produzirá alegria e autovalorização para quem recebe. Alguns idosos reclamam que não sabem mais o que fazer com tantos pijamas e utensílio domésticos, que ganham de presente. A nossa sugestão é de que você passe a conhecer melhor as demandas das pessoas, para fazer com que, por meio do seu presente, elas sejam atendidas ainda que parcialmente, com delicadeza. E, se é difícil para você saber mais sobre o idoso, busque informações com quem tenha um convívio mais próximo. Esforce-se para que o seu presente, seja, antes de mais nada, uma forma de dizer o quando você o ama. 9 - Embale presentes com caixas que sejam fáceis de abrir, e lembre- se de que seu presente também traduz a sua forma de conceber o envelhecimento e a pessoa idosa. 10-Convide a pessoa idosa para se pronunciar, seja ao fazer a oração na hora da ceia, recitar uma poesia, ou pronunciar algumas palavras, na hora de partilhar a alegria da festa no espaço coletivo. Ainda que as palavras sejam sem nexo, no caso da demência, ou que não pareça fazer sentido, será de suma importância para a auto-valorização da pessoa idosa. E para educar as gerações mais novas. 11- Se a pessoa idosa está acamada, num hospital, ou numa instituição, tente permissão para decorar um pouco o ambiente e tente fazer com que haja um clima próprio do ritual de natal. Ainda que ele esteja num estado comatoso, tente negociar isto com a equipe médica, que na medida das possibilidades estará sensibilizada para atender a esse pedido. Mais que respeitar o sujeito humano e pessoa idosa, podemos aproveitar a ocasião, para levar gotas de otimismo e de esperança e reforçar cada vez mais a mística do natal, independente do estado em que a pessoa se encontre. Esta é uma forma de dizer “estou aqui, ao seu lado”.
12 - Para além do contexto familiar, pense no que você pode fazer
para valorizar a pessoa idosa, e exerça a cidadania de forma espontânea e comprometida. A diretoria de Políticas Públicas, estará aberta a receber propostas de ações de valorização cuidado, respeito com a pessoa idosa, bem como recebendo grupos organizados que queiram enviar presentes à pessoas idosas, que estão em diversos equipamentos públicos, pelo telefone 3277-4460.
Lembre-se que neste dia, a gentileza, o cuidado e a compreensão com
o diferente, deve ser o prato mais saboreado, de cada mesa.
FAÇA DA SUA FESTA UM COMPROMISSO COM A PESSOA IDOSA!
Geisa Maria Emilia Lima Moreira,
Psicóloga, Mestre em Gerontologia e Diretora de Políticas Públicas para a pessoa Idosa na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.