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MECÂNICA EM
PEDIATRIA
COORDENAÇÃO DO CURSO
Dr. Mário Ferreira Carpi - SP
CURSO DE VENTILAÇÃO
MECÂNICA EM
PEDIATRIA
DIRETORIA EXECUTIVA
BIÊNIO 2018-2019
Presidente
Dr. Ciro Leite Mendes – PB
Vice-Presidente
Dr. José Roberto Fioretto – SP SUMÁRIO
Diretor Secretário-Geral
Dr. Marcelo de Oliveira Maia – DF 1 Fisiologia Respiratória: aspectos peculiares da criança.....................................5
Diretor Tesoureiro
2 Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória...........................................................9
Dr. Cristiano Franke – RS
Diretora Científica 3 Bases Físicas da Ventilação Mecânica....................................................................17
Dra. Flávia Ribeiro Machado – SP
4 Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica...................................................21
Diretora Presidente - Futura
Dra. Suzana Margareth Ajeje Lobo – 5 Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros
SP da ventilação mecânica? Quais as complicações da ventilação
mecânica? Como evitá-las?.......................................................................................29
Diretora Presidente - Passada
Dra. Mirella Cristine Oliveira – PR 6 Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do
Desconforto Respiratório...........................................................................................37
12 Interpretação de Gasometrias.................................................................................87
14 Desmame ......................................................................................................................101
AMIB
Associação de Medicina Intensiva Brasileira
Rua Arminda, 93 - 7º andar
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Fisiologia Respiratória: 1
aspectos peculiares da criança
Existem alguns itens indispensáveis para que a ventilação mecânica seja rea-
lizada de maneira segura e eficaz no paciente pediátrico:
que se compreenda a doença específica que está sendo tratada, bem
como seu curso usual e mecanismos fisiopatológicos envolvidos;
compreensão de alguns conceitos elementares de fisiologia pulmonar e
fisiopatologia;
a apreciação das vantagens e desvantagens dos vários modos de venti-
lação mecânica, além do conhecimento do aparelho e do circuito a serem
Objetivos utilizados para se fornecer o modo de ventilação escolhido;
conhecimento dos possíveis efeitos decorrentes das alterações de cada pa-
râmetro ventilatório na troca gasosa;
conhecimento dos principais efeitos da ventilação mecânica sobre a fun-
ção cardiopulmonar.
Neste capítulo, discutiremos alguns aspectos peculiares do sistema respira-
tório da criança e os principais conceitos de fisiologia pulmonar.
Alvéolo
Após o nascimento, ocorre um aumento signifi-
cativo do número de alvéolos. Ao nascimento, a criança
tem cerca de 20 milhões de unidades alveolares e aos 8
anos de idade esse número chega a 300 milhões. A ve-
locidade de crescimento é de um alvéolo por segundo
nos primeiros oito anos de vida. O fato de ter um menor
número de alvéolos faz com que a criança tenha uma
menor reserva de troca gasosa, constituindo outro fator
predisponente para o desenvolvimento da insuficiência
respiratória aguda. Por outro lado, essa elevada veloci-
dade de crescimento proporciona à criança um maior Figura 1.2: Contorno da caixa torácica em diferentes faixas
potencial de recuperação mesmo em lesões pulmona- etárias.
res graves.
Todos esses fatores acabam anulando o meca-
nismo de alça de balde, importante para a respiração
Ventilação colateral torácica, aumentando a importância do diafragma na
No pulmão adulto, a ventilação colateral é bem ventilação espontânea da criança. Se avaliarmos o dia-
desenvolvida, de modo que é fácil ventilar o parênqui- fragma de uma criança podemos observar o predomí-
ma mesmo com algum grau de obstrução na via aérea. nio das fibras musculares do tipo II (fibras de contração
Nos lactentes, os poros de Kohn (interalveolares) e os rápida), porém menos resistentes à fadiga. O recém-
canais de Lambert (bronquioloalveolares) estão ausen- -nascido prematuro tem 20% de fibras do tipo I e 80%
tes, ou em menor número e tamanho: assim, a ventila- de fibras do tipo II, enquanto o adulto tem 60% de fibras
ção pulmonar através de unidades obstruídas é mais do tipo I e 40% de fibras do tipo II. Assim, nos recém-
difícil em crianças menores, dificultando a troca gasosa -nascidos e lactentes jovens, um aumento do trabalho
(Figura 1.1). respiratório causa mais precocemente fadiga da muscu-
latura respiratória.
Durante a fase REM do sono ocorre uma incoor-
denação entre a respiração torácica e a diafragmáti-
ca, com gasto energético perdido numa respiração
muitas vezes insuficiente. Esse fator assume uma
importância maior porque o recém-nascido passa a
maior parte do dia dormindo e o seu estado de sono
predominante é REM.
Complacência
A complacência é expressa por uma variação de
volume para uma determinada variação de pressão. A
complacência estática (medida quando não há fluxo na
via aérea) é determinada utilizando-se a pressão de pla-
Figura 1.1: Ventilação colateral. tô (Ps), enquanto a complacência dinâmica utiliza o pico
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Fisiologia Respiratória: aspectos peculiares da criança
de pressão inspiratória (que inclui também a pressão crítico de fechamento, que é definido como o volume
resistiva da via aérea). Para uma melhor compreensão, pulmonar a partir do qual a via aérea terminal começa
recorra ao capítulo de monitorização respiratória. a colapsar, gerando uma descontinuidade entre a via
aérea de condução e o alvéolo, podendo levar a ate-
Cest = Volume Corrente / Ps - PEEP total lectasia e shunt. Acredita-se que o volume crítico de
Cdin = Volume Corrente / Pd - PEEP total fechamento é determinado pela quantidade de tecido
elástico presente nas pequenas vias aéreas. No adul-
to, o tecido elástico mantém as pequenas vias aéreas
A complacência depende do volume corrente, abertas. Como a criança e o idoso têm uma menor
que, por sua vez, depende do volume pulmonar, ou quantidade de elastina, essas duas populações pos-
seja, do tamanho da criança. Assim, quanto menor a suem um volume crítico de fechamento maior e uma
criança, menor a complacência. maior tendência ao colapso das pequenas vias aéreas.
A complacência do parênquima pulmonar é de- No adulto esse volume é menor que a capacidade resi-
terminada pela anatomia alveolar, pelas qualidades dual funcional, o que possibilita que durante uma ex-
elásticas do pulmão e pelo surfactante. No período pe- piração normal as vias aéreas permaneçam abertas e
rinatal, a anatomia alveolar é imatura, com a presença pérvias, porém durante uma expiração forçada ocorre
de sacos alveolares com suas paredes espessadas. Além fechamento das vias aéreas menores (em geral peri-
disso, o interstício pulmonar tem uma menor quantida- diafragmáticas). Por outro lado, na criança esse volu-
de de elastina, o que produz uma menor capacidade me é maior que a capacidade residual funcional, o que
de recolhimento elástico e uma tendência ao colapso significa que mesmo na expiração normal ocorre o fe-
alveolar. Durante toda a infância, a complacência do pa- chamento dessas vias aéreas. (Figura 1.3)
rênquima pulmonar permanece relativamente menor Quando a criança fica submetida a uma FiO2 =
que a do adulto. 100% durante algum tempo (3 a 5 min), nas áreas em
que há fechamento da via aérea ocorre substituição do
Volumes pulmonares nitrogênio (gás não absorvido) pelo O2. O O2 alveolar é
prontamente absorvido, acarretando colapso alveolar.
A diminuição da complacência do parênqui- Na figura a seguir observamos uma tomografia compu-
ma pulmonar e o aumento da complacência da caixa tadorizada de uma criança em que foi mantido o nível
torácica contribuem para a redução da capacidade de pressão e apenas alterado o valor da FiO2 (a direita
residual funcional (CRF), favorecendo a formação de FiO2 = 21% e a esquerda FiO2=100%). Observe o colapso
atelectasias. Lembremos que quando medida passiva- na base direita (em FiO2 = 100%). Essa área corresponde
mente a CRF é muito menor na criança, porém quando a uma área com fechamento da via aérea que em FiO2 =
avaliada dinamicamente ela se aproxima dos valores 21% não estava colapsada devido à presença de nitro-
do adulto. Outro conceito importante é o do volume gênio dentro do alvéolo (Figura 1.4).
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
Figura 1.4: Tomografia realizada com mesmos parâmetros de ventilação mecânica nas duas fotos acima, apenas se variou a
FiO2.
CT = resistência x complacência
8
Fisiopatologia da 2
Insuficiência Respiratória
Para facilitar a análise da fisiopatologia da insu- normal o nível de PCO2 arterial. A consequência pas-
ficiência respiratória aguda, podemos dividir didatica- siva da excreção de CO2 é o suprimento de O2 para os
mente o processo da respiração em três fases: alvéolos.
respiração externa A hipoventilação é definida como uma ventilação
transporte gasoso incapaz de manter a PaCO2 dentro dos limites normais
para uma determinada demanda metabólica. A ventila-
respiração interna
ção minuto é o produto da frequência respiratória pelo
volume corrente, também chamado volume minuto.
Para que a respiração externa ocorra normalmen-
te são necessários três passos: ventilação, adequação VM= VC × FR
entre a ventilação e perfusão e difusão (Figura 2.1).
VC= VEM + VA
VA = (VC - VEM) × FR
A constante 0,865 é necessária, pois a VCO2 é Tabela 2.1: Relação entre PaCO2, PAO2 e PaO2 (todos em
convencionalmente expressa nas condições-padrão de mmHg) na hipoventilação pura
temperatura, umidade e pressão (STPD) e a VA é expres-
sa em condições de temperatura corpórea, pressão am- PaCO2 PAO2 PaO2
biente e saturação (BTPS). A fórmula também assume 40 97 82
que a PaCO2 (pressão arterial de CO2) é igual à PACO2 64 67 52
(pressão alveolar de CO2) e corresponde a uma média e 80 47 32
não a um valor por unidade alveolar.
Essa equação indica que se a ventilação alveolar
for reduzida pela metade a PaCO2 dobrará (assumin- Distúrbios Ventilação/perfusão
do que a produção de CO2 não se altere). O aumento Os distúrbios ventilação/perfusão (V/Q) são a
da PACO2 leva a uma queda secundária da PAO2 (pres- causa mais comum de hipoxemia tanto nas crianças
são alveolar de O2), que se baseia na equação do gás quanto nos adultos. O pulmão não é constituído por
alveolar. uma única unidade de troca gasosa, mas por milhões de
unidades, perfundidas em paralelo e ventiladas tanto
Equação do gás alveolar → PAO2 = PiO2 – PACO2/R em paralelo como em série. Assim, existe um desbalan-
ço V/Q mesmo em indivíduos normais. Essa complexa
distribuição de ventilação e fluxo sanguíneo varia com
em que PiO2 corresponde à pressão inspirada de as influências gravitacionais, alterações na posição do
oxigênio e R, ao coeficiente respiratório = 0,8. corpo e alterações nos volumes pulmonares.
A pressão inspirada de O2 é calculada pela A relação V/Q pode variar de zero (unidade per-
fórmula: fundida mas não ventilada, ou shunt) a infinito (unidade
ventilada mas não perfundida, ou espaço morto). A com-
PiO2 = (PB – PH2O) x FiO2 posição de O2 e CO2 no final do capilar pulmonar, em uma
unidade pulmonar, é determinada pela relação V/Q.
Nos indivíduos normais a relação V/Q do pulmão
em que PB é pressão barométrica (760 mmHg
em repouso pode variar de 0,6 a 3,3, com uma média
ao nível do mar), PH O é a pressão de vapor d’água
2 em torno de 0,8. Nos extremos de idade a relação V/Q
(47 mmHg) e FiO2 é a fração inspirada de oxigênio.
aumenta, ou seja, há um aumento no grau de desbalan-
ço V/Q. Nas crianças com doença pulmonar, o grau de
A hipoxemia associada à hipoventilação não é desbalanço V/Q pode ser dramático, com predomínio
resultado de uma troca gasosa ineficiente, mas de uma de relação V/Q muito baixa (shunt) ou muito alta (espa-
bomba ventilatória inadequada (distúrbios de caixa to- ço morto).
rácica ou de conexões neuromusculares) ou uma anor- As principais causas de uma relação V/Q baixa
malidade do padrão ventilatório (distúrbios do SNC). A são: doenças obstrutivas das vias aéreas (asma, bron-
diferenciação entre hipoxemia por hipoventilação pura quiolite), ou patologias com diminuição do volume
e outros mecanismos fisiopatológicos que afetam os alveolar (preenchimento por exsudato inflamatório ou
gases sanguíneos se faz pela diferença alveoloarterial água, como ocorre nas pneumonias e no edema pul-
de oxigênio. Na hipoventilação pura a diferença alveo- monar), e também situações envolvendo um excesso
loarterial de O2 é normal. de perfusão (tromboembolismo pulmonar, no qual o
fluxo sanguíneo é desviado dos vasos embolizados para
Diferença Alveoloarterial de O2= PAO2 – PaO2 os vasos não embolizados, causando um aumento da
perfusão em relação à ventilação (efeito shunt ou shunt
relativo). Denomina-se shunt anatômico a porcentagem
em que PAO2 é a pressão alveolar de O2 e PaO2 é do débito cardíaco que não participa da troca gasosa.
a pressão arterial de O2. Em ar ambiente, essa diferença Em situações fisiológicas, essa porcentagem equivale
é normalmente de 5 a 15 mmHg em adultos jovens e a 3% do débito cardíaco e corresponde ao fluxo que
de até 30 mmHg em recém-nascidos e idosos. Essa di- perfunde as veias brônquicas, pleurais e os vasos de
ferença também varia com a FiO2. Em FiO2 de 100% ela Thebesius, o qual não participa da troca gasosa. As ano-
aumenta para 50 a 100 mmHg. malias congênitas do sistema cardiovascular podem
Como a PaO2 e a PaCO2 se alteram de modo in- contribuir substancialmente para o aumento no shunt
versamente proporcional e com variações semelhan- anatômico. Chama-se de shunt absoluto ou capilar a
tes durante a hipoventilação, podemos utilizar os unidade alveolocapilar na qual não há ventilação alveo-
valores da Tabela 2.1 para o diagnóstico de hipoven- lar. Na Figura 2.2 pode-se observar uma ilustração de
tilação pura. todos os tipos de shunt descritos.
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Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória
11
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
12
Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória
Transporte gasoso
Figura 2.7: Difusão de O através da membrana O oxigênio é transportado para a célula ligado à
alveolocapilar. hemoglobina e dissolvido no plasma, e é impulsionado
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
pelo fluxo sanguíneo decorrente do débito cardíaco. A para manter adequada a oferta tecidual de oxigênio.
oferta de oxigênio (DO2) para os tecidos pode ser esti- Entretanto, há situações em que a insuficiência respi-
mada por meio da seguinte fórmula: ratória está associada a um débito cardíaco diminuído
(p. ex.: depressão miocárdica por infecção, hipovolemia
DO2 = CaO2 x DC x 10 ou mesmo um efeito colateral da ventilação mecânica).
Nessa situação, a queda do débito cardíaco acarreta
uma diminuição da oferta de oxigênio para os tecidos,
em que CaO2 é o conteúdo arterial de oxigênio, e no nível celular ocorre aumento da extração de O2
DC é o débito cardíaco, e esse produto é multiplicado para manter o metabolismo basal, resultando conse-
por 10 para acerto de unidades (CaO2 é medido em mL quentemente em uma diminuição da pressão venosa
de O2 / dL, enquanto DC é medido em L/min). O conteú- mista de oxigênio (PvO2). Essa diminuição na PvO2 vai
do arterial de oxigênio é calculado da seguinte maneira: se refletir em diminuição na PaO2 dependendo da por-
centagem de shunt pulmonar presente (áreas de baixo
CaO2 = 1,34 x Hb x SaO2 + 0,0031 x PaO2 V/Q). Quanto maior a porcentagem de shunt, maior a
quantidade de sangue venoso misto com PvO2 baixa
que não será oxigenado e maior o efeito na PaO2. A
em que 1,34 é a quantidade de O2 em mL carre- queda da PvO2 em um pulmão normal leva a peque-
gado por 1 g de hemoglobina, Hb é a quantidade de na variação na PaO2, pois o sangue venoso misto com
hemoglobina no sangue e SaO2 é a saturação de O2 no PvO2 baixa passando por unidades alveolocapilares
sangue arterial; 0,0031 é o coeficiente de solubilidade com relação V/Q normal é totalmente oxigenado, ge-
do oxigênio no sangue (mL de O2/ 100 mL de sangue/ rando uma pressão arterial de oxigênio normal.
mmHg). Cerca de 98% do oxigênio está ligado à hemo-
globina, justificando a importância de se manter uma
hemoglobina adequada nos casos de insuficiência res- Respiração interna
piratória e também de se monitorizar a saturação de
oxigênio de maneira contínua. O conteúdo arterial de O ponto final do transporte de oxigênio da
O2 normal é de cerca de 20 vol%. Essa mesma fórmula atmosfera até a célula é referido como respiração
pode ser utilizada para o cálculo do conteúdo venoso interna. A respiração interna tem sido definida espe-
de oxigênio, substituindo-se a SaO2 por SvO2 e a PaO2 cificamente como a troca de gases entre os capilares
pela PvO2 e o conteúdo capilar pulmonar de oxigê- sistêmicos e as células. Dos tipos de hipóxia que po-
nio substituindo a SaO2 pela FiO2 e a PaO2 pela PAO2, dem acometer os tecidos, três se relacionam a meca-
respectivamente. nismos já descritos acima: hipóxia hipoxêmica (falta de
captação de oxigênio pelos pulmões), hipóxia anêmi-
Os fatores que alteram a curva de dissociação da ca (falta de hemoglobina para transportar oxigênio),
hemoglobina alteram também o transporte de oxigê- hipóxia isquêmica (diminuição do fluxo sanguíneo por
nio (Tabela 2.2). diminuição do débito cardíaco ou obstrução arterial);
Em vigência de hipoxemia e queda de satura- e um mecanismo se relaciona à respiração celular pro-
ção de O2, geralmente se observa um aumento do priamente dita, a hipóxia histotóxica (intoxicação cia-
débito cardíaco como um mecanismo compensatório nídrica, choque séptico).
Fatores que desviam a curva para a direita - Fatores que desviam a curva para a esquerda -
diminuem a afinidade do O2 pela Hb aumentam a afinidade do O2 pela Hb
Aumento da temperatura Diminuição da temperatura
Diminuição do pH/aumento da PCO2 Aumento do pH/diminuição da PCO2
Aumento do 2,3 DPG Diminuição do 2,3 DPG
Hemoglobina fetal
14
Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória
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15
Bases Físicas da 3
Ventilação Mecânica
A insuficiência respiratória aguda, na faixa etária conectada a uma complacência. O comportamento me-
pediátrica, é uma das principais causas de internação cânico é chamado de equação do movimento.
em centros de terapia intensiva. Independentemente Na equação do movimento, pode-se calcular
da etiologia, contribui de maneira significativa na mor- uma das três variáveis (pressão, volume ou fluxo), esta-
bidade e na mortalidade da população pediátrica. belecendo uma variável como independente e as outras
A terapia intensiva pediátrica tem suas raízes duas como dependentes. Por exemplo, durante a venti-
nos centros de tratamento de adultos, mas o seu sur- lação com pressão controlada, esta se torna a variável
gimento ocorreu na Escandinávia, no início dos anos independente. O fluxo e o volume passam a depender
1950, durante a epidemia de poliomielite, devido à da pressão, bem como da complacência e da resistência
necessidade de ventilação mecânica. O sucesso dessa do sistema respiratório.
abordagem marcou a introdução da ventilação com Durante a respiração espontânea, a contração
pressão positiva intermitente no tratamento da insu- da musculatura torácica e diafragmática leva a uma
ficiência respiratória. alteração da conformação da caixa torácica, gerando
Os avanços nos conhecimentos sobre a fisiolo- uma pressão negativa intratorácica. O gradiente de
gia e a fisiopatologia respiratória, os progressos tec- pressão gera um fluxo de ar que determina um volume
nológicos e os métodos de monitorização contribuem corrente. O volume corrente a ser determinado depen-
para a melhora da sobrevida de crianças com insufi- derá da resistência da via aérea e da complacência do
ciência respiratória. parênquima pulmonar, caso o gradiente de pressão se
mantenha constante.
A ventilação mecânica se faz por meio de apa-
A compreensão da equação do movimento au-
relhos que, intermitentemente, insuflam as vias aéreas
xilia no entendimento dos diferentes modos de ven-
com volumes de ar (volume corrente), a uma determi-
tilação que serão descritos no decorrer deste capítulo
nada velocidade (fluxo inspiratório), gerando pressões
(Figura 3.1).
positivas (pressão inspiratória e pressão expiratória). A
interação entre o sistema respiratório que recebe a ven-
tilação mecânica e o aparelho que a fornece é que de-
termina a eficácia da ventilação mecânica.
Considerações gerais
O estudo do sistema respiratório é baseado em um A maior parte dos aparelhos comercialmen-
modelo matemático, concebido como uma resistência te disponíveis, no nosso meio, para a ventilação em
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Bases Físicas da Ventilação Mecânica
Figura 3.4: Representação das curvas de pressão e fluxo na pressão controlada (pressão quadrada e fluxo desacelerante).
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
20
Modalidades Básicas de 4
Ventilação Mecânica
controlada à direita). Não se observa deflexão negativa no pressão controlada). Ventilação mandatória intermitente (IMV)
início da curva de pressão (controlada). e ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV).
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
A ventilação mandatória intermitente é o modo de porém sua musculatura respiratória é incapaz de realizar
ventilação mais usado em pediatria. Nessa modalidade todo o trabalho respiratório para manter uma ventilação
as respirações mandatórias são fornecidas ao paciente a adequada, e constitui também uma forma de desmame
uma frequência, pressão (ou volume), fluxo e tempo ins- da ventilação mecânica. Os efeitos cardiovasculares da
piratório predeterminados, porém entre as respirações ventilação mecânica são menos evidentes nesse tipo de
mandatórias o paciente pode respirar espontaneamente, ventilação do que na ventilação controlada ou assisto-
com frequência, pressão, volume e tempo inspiratório controlada, pois a pressão média das vias aéreas (MAP) é
determinados por ele (Figura 4.4). Isso é possível pela muito menor durante a respiração espontânea, levando
existência de um fluxo contínuo entre as respirações
portanto a uma queda da MAP no decorrer do tempo.
mandatórias, ou de um fluxo de demanda desencadea-
Como o paciente participa mais da ventilação, há uma
do pela detecção do esforço inspiratório do paciente. A
menor ocorrência de atrofia da musculatura respiratória.
SIMV (ventilação mecânica intermitente sincronizada) faz
com que a respiração mandatória ocorra concomitante-
mente ao esforço inspiratório do paciente (Figura 4.4).
Está indicada quando a criança tem um drive respiratório Pressão de suporte
É um modo de ventilação no qual o esforço ins-
piratório da criança é assistido pelo ventilador para
se atingir um nível de pressão preestabelecido. A
inspiração termina quando o fluxo inspiratório atin-
ge um nível mínimo, ou uma porcentagem do pico
de fluxo atingido. A criança determina sua frequên-
cia respiratória, e a interação do sistema respiratório
da criança com o aparelho determina o tempo ins-
piratório e o volume corrente, que são variáveis de
uma respiração para a outra. Tem sido indicado para
o desmame da criança em ventilação mecânica ou
como forma de ventilação, associado ao SIMV, para
as crianças que apresentam um esforço inspiratório
adequado porém com musculatura respiratória inca-
paz de manter um trabalho adequado para a sua ne-
cessidade ventilatória. Essa modalidade permite uma
melhor sincronia entre a criança e o ventilador. Na
criança a realização desse modo de ventilação pode
ser dificultada pela utilização de cânulas muito peque-
nas, cuja resistência inspiratória elevada pode fazer
com que o pico de pressão seja atingido muito rapi-
damente, com um volume corrente baixo. Ou, ainda,
Figura 4.4: Representação esquemática da IMV (acima) e o escape da cânula sem cuff pode dificultar a ciclagem
da SIMV (abaixo). nessa modalidade (Figura 4.5).
Limite de
Pressão pressão Nível de
superior pressão de
suporte
PEEP
Fluxo Sensibilidade
de disparo
Controle de
uxo
22
Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica
Curvas de pressão e fluxo no SIMV (volume controlado + pressão do suporte) - observe que na SIMV a onda de fluxo é quadrada
(característica do modo volume controlado) e na pressão de suporte a onda de fluxo é desacelerante.
Curva de pressão e fluxo da SIMV (pressão controlada) + pressão de suporte. Note as curvas de fluxo com padrão desacelerante
tanto na SIMV como na PS.
Figura 4.6: Acima: SIMV volume controlado + pressão de suporte e abaixo: SIMV pressão controlada + pressão de suporte.
23
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
Figura 4.8:
24
Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica
25
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
26
Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica
Os objetivos de qualquer modo de ventilação são Quando o diafragma é paralisado pelos relaxan-
ajudar na ventilação (eliminação de CO2) e/ou na oxige- tes neuromusculares ou não se contrai para eliminação
nação e diminuir o trabalho respiratório sem piorar as da respiração espontânea, a relação V/Q é dramatica-
condições clínicas do paciente. mente alterada, visto que a ventilação ocorre predomi-
As vantagens do IMV/SIMV são: nantemente nas regiões não dependentes e a perfusão
permanece nas dependentes. Por causa disso, há um
Evita a alcalose respiratória aumento do espaço morto anteriormente (V > Q) e au-
Não há dúvida de que IMV/SIMV reduzem a in- mento do shunt posteriormente (V < Q).
cidência e a gravidade de alcalose respiratória. Isso IMV/SIMV, por diminuir as respirações mecânicas
é devido ao fato de que é o paciente que determina e aumentar os esforços espontâneos, tendem a reduzir
sua frequência respiratória e seu volume corrente para esse desbalanço V/Q.
suas necessidades fisiológicas. O aparelho é utilizado
para suprir a insuficiência ventilatória e normalizar a Desmame acelerado
PaCO2 e o pH. Os eventos adversos da alcalose respi- Essa vantagem é controversa. Nessa modalida-
ratória são: de de ventilação a frequência respiratória mandatória
redução do débito cardíaco; pode ser reduzida desde a intubação. Inicialmente
esse modo de ventilação (IMV/SIMV) era utilizado
redução do fluxo sanguíneo cerebral;
como desmame.
redução do cálcio ionizável;
desvio para a esquerda, isto é, maior afinidade Prevenção de atrofia da musculatura respiratória
da hemoglobina pelo oxigênio, diminuindo O desuso da musculatura respiratória leva a atro-
sua liberação aos tecidos. fia e a descoordenação da contração do diafragma e da
musculatura acessória.
Diminuição da necessidade de sedação e do uso IMV/SIMV minimizam o problema, pois a respira-
de relaxantes musculares ção espontânea exercita a musculatura.
A utilização dos relaxantes musculares transfor- Forçar o paciente a respirar além de sua capa-
ma IMV/SIMV em ventilação controlada. cidade pode resultar em fadiga e no desenvolvimen-
Os sedativos/analgésicos, na IMV/SIMV, têm to de descoordenação da musculatura respiratória
como objetivos indução do sono e atuar como ansiolíti- toracoabdominal.
cos e analgésicos.
Seu uso não tem como objetivo a supressão da Redução da descompensação cardíaca
respiração espontânea. Na IMV/SIMV, com a respiração espontânea há
uma diminuição da pressão intrapleural e um aumento
Redução da pressão média nas vias aéreas do retorno venoso e do débito cardíaco. Os ciclos man-
A respiração espontânea diminui a pressão mé- datórios aumentam a pós-carga do ventrículo direito,
dia nas vias aéreas, enquanto a ventilação mecânica a reduzindo o débito cardíaco do ventrículo direito.
aumenta.
Utilizar uma técnica que combina as duas for-
Pressão suporte9
mas de ventilação irá reduzir a pressão média das vias A ventilação com pressão suporte (PS) é uma forma
aéreas. Com isso, há um menor risco de barotrauma e de suporte ventilatório que assiste o paciente intubado
das repercussões hemodinâmicas da pressão positiva com esforço inspiratório espontâneo com uma quantida-
intratorácica. de de pressão positiva nas vias aéreas preestabelecida.
Assim, podemos ser mais generosos com a PEEP Um fluxo de gases é liberado para prover uma
(pressão expiratória final positiva), que melhora a eficá- pressão preestabelecida, e a inspiração termina quando
cia da oxigenação, particularmente nas doenças pulmo- um fluxo mínimo é atingido.
nares restritivas. Na pressão de suporte o aparelho apenas deter-
mina o nível de pressão e o paciente controla a frequên-
Melhora da relação ventilação/perfusão (V/Q) cia respiratória.
A maioria dos pacientes em ventilação mecânica
fica na posição supina. Com isso, há uma redução da ca-
Dois efeitos fisiológicos da PS
pacidade residual funcional. Na respiração espontânea, Efeitos da musculatura ventilatória
a maioria da ventilação ocorre nas áreas pulmonares A fadiga da musculatura ventilatória frequente-
dependentes (posteriores), onde acontece a maior per- mente é a causa precipitante da insuficiência respira-
fusão pulmonar. tória aguda. A disfunção da musculatura ventilatória
27
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
persistente é um fator contribuinte para a incapacida- A dispneia ocorre quando essa relação não é
de de desmame dos pacientes em ventilação mecânica adequada.
prolongada. A pressão de suporte permite manipulação O ideal é que o suporte ventilatório ajude na
do trabalho respiratório. troca gasosa de uma maneira que interaja com os
receptores mecânicos para produzir uma sincronia
Reflexos do padrão ventilatório do paciente com o aparelho e minimize a dispneia.
Os pulmões e a caixa torácica têm receptores de Quando o aparelho determina o fluxo, isso pode não
estiramento e irritativos que suprem o sistema nervo- ocorrer. Por outro lado, a PS dá ao paciente maior con-
so central com informações sobre aspectos mecânicos trole sobre o fluxo inspiratório, o tempo inspiratório e
da ventilação. o volume corrente.
O controle ventilatório pelo SNC utiliza essas in- Com a OS há uma interação melhor com os re-
formações, bem como a troca gasosa, para determinar o ceptores mecânicos com o paciente em respiração
padrão ventilatório (FR, volume corrente e fluxo inspira- espontânea e, portanto, melhora da sincronia do pa-
tório), que resulta na melhor troca gasosa com a menor ciente-aparelho. Além disso, há um aumento do confor-
quantidade de trabalho respiratório. to do paciente com PS.
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28
Como iniciar a ventilação 5
mecânica?
Como regular os parâmetros da
ventilação mecânica? Quais as
complicações da ventilação
mecânica? Como evitá-las?
Assistência ventilatória invasiva outros (cetamina – 1 a 2 mg/kg)
atropina – 0,02 mg/kg;
Para que a assistência ventilatória mecânica seja curare de ação rápida, succinilcolina (0,5 a 1,0
bem-sucedida, devemos levar em consideração os se- mg/kg, evitar em TCE ou na presença de hiper-
guintes aspectos:
calemia, hepatopatia, cardiopatia] ou atracú-
rio (0,5 mg/kg/ dose).
A indicação deve ser precisa e precoce
Parâmetros clínicos Laringoscópio adequado
Indicação formal: lâmina:
PCR
Tipo Número
Apneia
RN reta 0
Indicação relativa:
Fadiga Lactentes (1m-2a) reta 1
Coma – Glasgow < 8 Pré-escolares (2a-7a) reta 2
Escolares (7-14a) curva 2 ou 3
Parâmetros gasométricos Adolescentes (> 14a) curva 3
Na insuficiência respiratória aguda
(Dica: o tamanho mais adequado seria aquele mais pró-
PaO2 < 50 em FiO2 > 60%
ximo da distância da comissura labial até a implantação
PaCO2 > 60 ou subindo 5-10 mmHg/ hora superior da orelha.)
30
Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros da ventilação mecânica?
Quais as complicações da ventilação mecânica? Como evitá-las?
31
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
tentando atingir um objetivo clínico aceitável (PaO2 > PEEP – pressão expiratória final positive. A
60 mmHg) com uma FiO2 de 50% para minimizar a to- PEEP gera uma pressão de distensão que man-
xicidade pelo O2. Se uma FiO2 > 60% é necessária para tém o alvéolo aberto no final da expiração.
manter uma boa oxigenação, deve- se considerar a A PEEP recupera alvéolos pérvios, evita cola-
adição de PEEP. bamento das vias aéreas na expiração e redistribui a
A MAP é a medida da pressão à qual os pulmões água pulmonar. A PEEP redistribui a água pulmonar
estão expostos durante o ciclo respiratório. extravascular do alvéolo para o espaço perivascular,
onde o impacto do excesso de água no pulmão na
troca gasosa é menor. Por meio desses mecanismos,
K (Pinsp PEEP) . (Tinsp) PEEP a PEEP diminui o shunt intrapulmonar, aumenta a ca-
MAP
Tinsp T exp pacidade residual funcional (CRF) e melhora a compla-
cência e a oxigenação.
A aplicação clínica básica da PEEP é a prevenção
A MAP deverá aumentar segundo o aumento dos
e o tratamento do colapso pulmonar. Em pacientes com
seguintes itens:
a PaO2< 60 mmHg – (Sat O2 < 90%) numa FiO2 > 0,5 a
Fluxo inspiratório – aumenta a constante K. PEEP está indicada para melhorar a oxigenação. Com
O fluxo tem relação direta com o tempo ins- a utilização da PEEP, é possível aumentar a eficácia da
piratório e a pressão inspiratória, já que com oxigenação com uma FiO2 menor, reduzindo o risco de
o fluxo alto rapidamente atingimos a pressão toxicidade pulmonar pelo oxigênio.
determinada. Com fluxos baixos geralmen-
PEEP fisiológica: 3 a 5 cmH2O.
te obtemos uma onda de pressão tipo “sino”
(mais fisiológica, indicada em situações com Em patologias com diminuição da complacência
mínimo comprometimento pulmonar), e com pode-se ocasionalmente atingir 15 a 20 cmH2O.
fluxos altos associado a Tinsp altos consegui-
mos uma onda “quadrada” (embora menos
fisiológica, estaria indicada em situações em Manutenção do paciente em
que ocorrem comprometimento pulmonar de ventilação mecânica
resistência e/ou complacência, pois fornece
um maior volume corrente, uma melhor distri- Medidas gerais
buição do fluxo e uma elevação da MAP). Necessidades hídricas – em geral administra-
O fluxo necessário para uma ventilação adequa- mos volume correspondente a cerca de 80%
da seria três a quatro vezes o volume minuto (VM). das necessidades hídricas basais. O umidifi-
cador fornece cerca de 20 mL/kg de volume ao
VM = VC x FR paciente.
Aporte nutritivo – estabilizado o paciente e
Em geral o fluxo é dado em L/min. caso não haja contraindicações ao uso do tra-
Podemos elevar o fluxo na dependência da pato- to gastrointestinal, iniciar nutrição enteral o
logia pulmonar. mais precocemente possível, associada ou não
Pinsp – o pico de pressão inspiratória é o pri- a nutrição parenteral.
meiro parâmetro a ser ajustado. Varia em fun-
ção da patologia de base. A pressão ideal deve
promover expansão torácica adequada. Em Profilaxia de sangramento digestivo:
situações em que não haja comprometimen- Cimetidina e/ou antiácido e/ou sucralfato.
to pulmonar em geral se utiliza Pinsp de 15 a
20 cmH2O. Em doenças obstrutivas e em situa- Sedação
ções com diminuição de complacência se ne-
A agitação é um dos sinais de hipoventila-
cessita de pressões mais elevadas, sendo que
ção. Antes de sedar o paciente, checar parâ-
nesta última, em geral, se utilizam pressões al-
metros inadequados, obstrução da cânula,
tas (acima de 30 cmH2O), aumentando o risco
extubação, barotrauma, funcionamento do
de barotrauma e volutrauma.
aparelho.
Tinsp – tempo inspiratório. O aumento no Tinsp
Drogas:
aumenta a MAP, portanto aumenta a oxigena-
ção. O uso de Tinsp prolongado entre 1,5 e 2 Diazepam – 0,3 mg/kg, EV, a cada 4 a 6 horas;
segundos aumenta o risco de barotrauma, par- Midazolam µg – 0,2 mg/kg, EV, a cada 4 a 6
ticularmente quando associado a inversão da horas ou EV contínuo 2-8 µg/kg/min (há rela-
relação I:E, pela ocorrência de PEEP inadvertida. tos de infusão de 10-20 µg/Kg/min);
32
Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros da ventilação mecânica?
Quais as complicações da ventilação mecânica? Como evitá-las?
33
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
A hipovolemia está associada a uma maior predispo- uma redução da FC e vasodilatação arterial reflexa me-
sição ao barotrauma pelo aumento do gradiente de diadas, ao menos em parte, pela ativação de fibras afe-
pressão entre o alvéolo e o espaço perivascular. Outros rentes vagais.
fatores predisponentes incluem patologias que des- O retorno venoso (RV) para o coração direito
troem o parênquima pulmonar, tais como doença pul- depende do gradiente de pressão entre as veias intra-
monar obstrutiva crônica (DPOC), asma e pneumonia torácicas e extratorácicas. Durante a inspiração com
necrosante. pressão positiva ocorre uma descida do diafragma
O diagnóstico do barotrauma é fundamental. que comprime o conteúdo abdominal, aumentando a
Enfisema intersticial pulmonar é a primeira manifestação pressão intra-abdominal, e ainda aumenta a resistên-
em pacientes sob ventilação mecânica. Quando detecta- cia vascular intra-hepática. Esses efeitos vão favorecer
do, devem-se tomar medidas para evitar pneumotórax. o aumento do RV para o átrio direito (AD). Por outro
O pneumotórax, em ventilação mecânica, pode tornar-se lado, a pressão positiva intratorácica aumenta a pres-
rapidamente hipertensivo. Daí a necessidade de drena- são em AD, que se contrapõe ao aumento da pressão
gem imediata. Os sinais precursores de pnemotórax são: abdominal, de modo a reduzir o RV. O efeito final seria
enfisema intersticial pulmonar, enfisema subcutâneo e redução do RV para o AD. Em situações de hipovole-
enfisema mediastinal. Na radiografia pode-se observar mia, doenças obstrutivas com armazenamento de ar
uma linha pleural. Nos pneumotórax maiores, na auscul- nos pulmões e doenças obstrutivas do coração direito,
ta verifica-se uma diminuição do murmúrio vesicular. Na esse efeito pode ser potencializado.
vigência de pneumotórax hipertensivo ocorrem desvio A resistência vascular pulmonar (RVP) é o princi-
do mediastino e de traqueia, distensão das veias cervi- pal determinante da pós-carga do VD e é diretamente
cais, hipotensão arterial e colapso cardiovascular. afetada pelos volumes pulmonares. Durante a insufla-
Qualquer medida para diminuir a pressão em ção pulmonar, a distensão alveolar determina compres-
vias aéreas teoricamente reduz a incidência de baro- são dos vasos alveolares graças ao aumento na pressão
trauma pulmonar. PPI, PEEP e volume corrente devem transpulmonar. Desse modo, a resistência aumenta e a
ser monitorizados e mantidos nos seus limites inferio- capacitância diminui nesses vasos. À medida que ocorre
res necessários para prover uma ventilação satisfatória. a insuflação pulmonar, as pressões intersticiais reduzem
A ventilação espontânea deve ser encorajada sempre em decorrência do aumento do recolhimento elástico do
que possível, visto que diminui a necessidade de pres- intestício pulmonar. De modo que os vasos extra-alveo-
são nas vias aéreas. Os modos de ventilação, tais como lares são abertos, a sua resistência diminui e a capacitân-
ventilação intermitente sincronizada (SIMV), que permi- cia aumenta. O resultado final é um aumento da RVP. A
tem ventilação espontânea, devem ser preferidos à ven- RVP pode se elevar em ambos os extremos dos volumes
tilação mecânica controlada (VMC), assim como tentar pulmonares. A insuflação pulmonar acima da CRF resulta
reduzir tosse e briga com o aparelho, e utilizar paralisia em superdistensão alveolar e compressão dos vasos al-
muscular e sedação apenas quando as tentativas de veolares. A queda dos volumes pulmonares para valores
ajustar o ventilador falharem. próximos do VR causa colapso dos vasos extra-alveolares,
Durante a reanimação cardiopulmonar, parti- e o colapso das vias aéreas terminais acarreta hipóxia al-
cularmente durante compressão torácica e insuflação veolar e consequente vasoconstrição pulmonar hipóxica.
pulmonar simultânea, podem resultar pressões nas vias Os aumentos da RVP elevam a pós-carga do VD.
aéreas de 90 a 100 cmH2O ou mais. Esse efeito sinérgi- Portanto, no nível de coração direito, observa-
co pode explicar a ocorrência frequente de barotrauma mos uma redução da pré-carga e aumento da pós-car-
pulmonar após reanimação cardiopulmonar. ga, com subsequente redução do volume de ejeção
Após o desenvolvimento do pneumotórax, os es- sistólico e do débito cardíaco (DC). Em pacientes nor-
forços devem ser dirigidos para minimizar PPI, além de movolêmicos, esses efeitos são habitualmente pouco
drenagem imediata. significativos. A hipovolemia prévia pode agravar os
efeitos hemodinâmicos da VM.
Alterações cardiovasculares No nível do coração esquerdo o aumento no vo-
As pressões inspiratória e expiratória positivas lume diastólico final do VD vai afetar a complacência
vão determinar aumentos da pressão intratorácica e do ventrículo esquerdo (VE), uma vez que as cavidades
alterações nos volumes pulmonares, que podem exer- partilham o septo intraventricular (interdependência
cer efeitos sobre os principais determinantes da função ventricular). E durante a inspiração ocorre ainda um au-
cardíaca: frequência cardíaca, o enchimento atrial ou mento da pressão pericárdica, que é transmitida para
pré-carga, contratilidade e a impedância ventricular ou o VE, dificultando o RV pulmonar. A resposta inicial do
pós-carga. coração íntegro à diminuição de sua complacência é
À medida que os volumes pulmonares aumen- aumentar a força de contração mantendo o volume sis-
tam até situações de superdistensão alveolar, ocorrem tólico (mecanismo de Frank-Starling).
34
Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros da ventilação mecânica?
Quais as complicações da ventilação mecânica? Como evitá-las?
35
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
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1004.
36
Como Ventilar 6
Recém-nascidos com a
Síndrome do
Desconforto Respiratório Katiací Araújo
Lídia Menezes
nutricional e cardiovascular, correção dos distúrbios hi- alta frequência oscilatória (VAFO) com pressão média
droeletrolíticos, metabólicos e acidobásicos, tratamento de vias aéreas alta reduz a lesão pulmonar e melhora a
de infecção neonatal precoce e prevenção de infecção eficácia do surfactante. Muitos estudos têm mostrado
nosocomial são cruciais para se alcançar os objetivos que a otimização do recrutamento alveolar com PEEP,
terapêuticos. A terapia de substituição de surfactante surfactante, ventilação líquida ou VAFO minimizam o
pulmonar, a pressão aérea positiva contínua em vias aé- processo inflamatório pulmonar, melhoram a função do
reas (CPAP) e a ventilação mecânica em suas diferentes surfactante e reduzem a lesão pulmonar.
modalidades são o suporte respiratório principal para
esses pacientes.
Em alguns pacientes a vasoconstrição pulmonar
Volutrauma (lesão por volume
leva a hipertensão pulmonar persistente e shunt direi- pulmonar excessivo) e barotrauma
ta-esquerda via canal arterial patente e/ou forame oval, (lesão por uso de pressão elevada)
resultando em hipoxemia mais grave. Esse fenômeno, A principal causa de lesão pulmonar induzida
inicialmente pensado ser exclusivo do recém-nascido a pelo aparelho de ventilação mecânica é a hiperdisten-
termo, é frequentemente observado no recém-nascido
são regional do alvéolo e das vias aéreas. Volume pul-
prematuro com SDR e tem levado alguns clínicos a con-
monar aumentado (pulmão esticado) promove lesão
siderarem o uso do óxido nítrico via inalatória em pre-
pulmonar. Em adultos saudáveis e em animais recém-
maturos com hipoxemia que não respondem a suporte
-nascidos, respirações com grandes volumes correntes
adequado com ventilação mecânica.
causam lesão do endotélio capilar pulmonar, do epité-
Na última década, os avanços nos cuidados neo- lio das vias aéreas dos alvéolos e das membranas ba-
natais, o aumento do uso de esteroides no período an- sais. Esse mecanismo de lesão leva a escape de líquidos,
tenatal e a terapêutica de substituição do surfactante proteínas e sangue para as vias aéreas, alvéolo e inters-
reduziram substancialmente a mortalidade secundária tício pulmonar, interferindo com a mecânica pulmonar,
a SDR. Entretanto, a morbidade, especialmente a displa- inibindo a função do surfactante e promovendo infla-
sia broncopulmonar (DPC) ou a doença pulmonar crôni- mação pulmonar.7
ca (DPC), permanece inaceitavelmente elevada.1
Em prematuros, numerosos fatores (p.ex.: infec-
O principal desafio no tratamento da SDR é iden- ção, exposição antenatal a mediadores inflamatórios,
tificar estratégias ventilatórias que maximizem os efei- disfunção do surfactante, alta complacência da caixa
tos benéficos da terapia de substituição do surfactante torácica, deficiência de antioxidantes e desnutrição) au-
alveolar e reduzam a lesão pulmonar. mentam a suscetibilidade para volutrauma pulmonar
e limitam a habilidade de reparar a lesão. Em adição,
a imaturidade pulmonar, as atelectasias alveolares e o
Quais as causas de lesão edema diminuem o volume de gás. Em pacientes com
pulmonar? SDR, a distribuição heterogênea da doença de base
ocorre de tal modo que apenas uma pequena porção
do pulmão pode ser recrutada e se tornar disponível
Atelectrauma (lesão por volume
para a ventilação. Se somente um terço do pulmão está
pulmonar baixo) sendo ventilado, então um volume corrente de 6 mL/
Atelectasia, estabilidade alveolar inadequada kg liberado para a porção ventilada do pulmão pode
e perda do recrutamento alveolar são consequência e ser equivalente a 12 a 18 mL/kg e resultar em volutrau-
causa de lesão pulmonar. ma. Em ovelhas, o tratamento com surfactante antes
As unidades alveolares estão propensas ao co- de iniciar a ventilação assistida reduz o grau de lesão
lapso em pacientes com SDRA ou na SDR na qual existe pulmonar, presumivelmente por promover insuflação
disfunção do surfactante.6 A repetição cíclica de aber- pulmonar mais uniforme.
tura e fechamento das vias aéreas terminais e/ou a hi- O uso de altas pressões durante a ventilação me-
perdistensão dos espaços aéreos, envoltos por áreas cânica, atualmente menos utilizada, lesa os pulmões
colabadas, seriam responsáveis por uma cascata de (barotrauma) devido ao elevado volume pulmonar
reações inflamatórias levando à formação de DPC. Esse secundário.
mecanismo de lesão explica a observação de que o re-
crutamento de volumes pulmonares para aumentar a
capacidade residual funcional (CRF) protege contra a le- Toxicidade pelo oxigênio
são induzida pelo aparelho de ventilação e diminui a ne- A lesão pulmonar induzida pelo oxigênio é causa-
cessidade de altas concentrações de oxigênio inspirado. da por produção excessiva de superóxido, peróxido de
Estratégias ventilatórias associadas a perda da CRF (pul- hidrogênio e radicais per-hidroxil. O prematuro extremo
mão colabado) aumentam a lesão pulmonar e reduzem é particularmente vulnerável a lesão pulmonar induzida
a eficácia do tratamento com surfactante. Ventilação de por radicais livres porque os sistemas antioxidantes se
38
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório
39
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
volutrauma, podendo também ser utilizada como mais semelhante à associada com VAF. Quando comparada
um critério de avaliação do volume pulmonar. a CPAP derivada de aparelho de ventilação mecânica, a
Volume pulmonar ótimo seria uma situação in- CPAP em selo d’água reduz o volume minuto em 39% (P
termediária entre duas situações descritas, com dimi- < 0,001) e a frequência respiratória em 7% (P < 0,004).12
nuição do shunt intrapulmonar, redução do efeito do Estudos de coorte têm mostrado que o uso pre-
volume pulmonar elevado sobre o débito cardíaco e coce do CPAPn em prematuros com SDR pode reduzir
melhora na oxigenação. a necessidade de intubação endotraqueal para venti-
Os aparelhos de ventilação mecânica mais mo- lação por pressão positiva (VPP). Entretanto, a evidên-
dernos calculam o volume corrente, e os mais anti- cia disponível no momento não define qual a melhor
gos podem ser acoplados a pneumotacógrafos que técnica para uso da CPAP e quando deve ser iniciada a
determinam o volume corrente. Atualmente, a opção ventilação mecânica. São necessários estudos contro-
é pelo emprego de volumes correntes em torno de 4-6 lados, randomizados, comparando a CPAP à intubação
mL/kg, particularmente em recém-nascidos prematu- precoce, para determinar os riscos e benefícios relativos
ros extremos. da CPAPn profilática, a duração do uso, a PEF ótima e
o melhor dispositivo para recrutar a CRF e minimizar o
Do ponto de vista clínico, como podemos trabalho respiratório. Esses estudos devem também ex-
evitar o atelectrauma? Como podemos plorar os efeitos da administração do surfactante exó-
geno em associação com CPAPn. Dados de estudos em
com segurança normalizar a CRF em animais e dados preliminares de um estudo controlado
neonatos com pulmões imaturos e randomizado têm mostrado alguma evidência de que
predispostos ao colapso? CPAPn combinada a surfactante profilático pode redu-
Três técnicas podem ajudar a promover o recru- zir a necessidade de intubação e de VPP.
tamento pulmonar. A mais antiga e mais comumente O Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH) está
usada é a CPAP. A terapia de substituição do surfactan- desenvolvendo, no momento, um estudo randomizado
te exógeno tem se mostrado bastante efetiva. A VAF é para definir melhor o uso da CPAP profilática (CPAPn P)
uma abordagem mais recentemente estudada. Outras iniciado em sala de parto em RNPT com IG < 28 semanas.
estratégias incluem a posição prona, ventilação líquida Parâmetros do CPAP: 4-6 cmH2O para manter
e manobras de insuflação sustentada. PaCO2 de 45-60 mmHg e a FiO2 ajustada para manter a
PaO2 entre 50-70 mmHg.
Ventilação pulmonar não invasiva: Pressão
Usar com fluxo de ar umidificado e aquecido e,
aérea positiva contínua nasal (CPAPn) também, monitorização contínua do circuito.
Na CPAP aplica-se uma pressão de distensão final
constante durante todo o ciclo respiratório para manter Terapia de substituição com
o recrutamento alveolar, evitar o colapso dos alvéolos,
surfactante exógeno
permitir uma respiração mais homogênea e melhorar as
trocas gasosas. O surfactante é uma ferramenta de recrutamen-
to pulmonar que quando usada precocemente reduz a
CPAPn com ou sem administração de surfac-
lesão pulmonar.
tante profilático para recém-nascidos com IG entre
28 e 31 semanas (PN = 1000 - 1500 g) tem sido uma Consiste em uma mistura complexa de fosfo-
estratégia sugerida em alguns estudos para minimizar lipídeos e proteínas que reduz a tensão da superfície
a lesão pulmonar. alveolar e mantém a estabilidade alveolar. A maior
parte do surfactante é produzida após a 30-32ª sema-
Decisões específicas sobre as práticas de cuidados
nas de gestação:
respiratórios durante o primeiro dia de vida influenciam
a evolução de recém-nascidos de muito baixo peso.12 Ação: diminui a tensão superficial; aumen-
Comparando berçários que mais comumente usam ven- ta a CRF; recruta alvéolos e evita atelectasias,
tilação assistida com berçários que usam CPAP no trata- levando a alterações agudas no volume pul-
mento inicial de recém-nascidos de muito baixo peso, monar com aumento das áreas de superfície
Van Marter et al. mostraram que a DPC foi mais associada disponíveis para troca gasosa; estabiliza o vo-
ao uso inicial de VM. Estudos descritivos e observacionais lume pulmonar recrutado; repõe os precurso-
têm sido publicados antes do uso de surfactante, nos EUA res para a neossíntese de surfactante;
e na Europa, sugerindo que o uso de CPAPn, profilático Efeitos: melhora rápida da oxigenação associa-
ou precoce, e a baixa frequência de intubação em sala de da a aumento da CRF, melhora a relação venti-
parto e de ventilação mecânica são estratégias associa- lação-perfusão e reduz o shunt intrapulmonar.
das a menor incidência de DPC. As técnicas para aplicar a Melhora mais lentamente a complacência pul-
CPAP não são equivalentes. Recém-nascidos recebendo monar e diminui o tempo de ventilação mecâni-
CPAP em selo d’água têm vibração da parede torácica ca. Conhecer essas características é fundamental
40
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório
para a orientação terapêutica, sendo necessário Drew et al. demonstraram em um estudo rando-
reduzir rapidamente a concentração de oxigê- mizado que os recém-nascidos com menos de 1500 g
nio inspirado (FiO2) e o suporte ventilatório para intubados eletivamente e que receberam suporte res-
evitar lesão pulmonar. piratório após o nascimento apresentaram melhor evo-
O uso de surfactante está relacionado a me- lução e maior sobrevida do que os intubados apenas
nor ocorrência de SDR e parece amenizar a gravidade quando necessário. Outros estudos apontam desvanta-
da DPC. Não há redução da incidência de DPC ou HIC. gens da intubação eletiva, demonstrando que a lesão
Melhor ação se combinado ao uso materno de corticos- pulmonar aguda induzida pelo aparelho de ventilação
teroide no pré-natal. mecânica logo após o nascimento pode levar a doença
Surfactante exógeno administrado via endotra- pulmonar crônica.15
queal para profilaxia ou tratamento da SDR está asso-
ciado a 40% de redução na mortalidade neonatal e a 30 Tipos de ventilação mecânica
a 65% de redução no risco de pneumotórax.13
1. Ventilação convencional = Ventilação manda-
Em recém-nascidos com risco de desenvolver SDR, tória intermitente (VMI);
surfactante exógeno é mais efetivo quando administrado
2. Ventilação mecânica “tradicional” = Ventilação
no momento do nascimento (profilático), do que quando
mandatória intermitente sincronizada (SIMV);
os sintomas da doença se iniciam. O uso profilático em
Ventilação assistida/controlada (A/C); Pressão
recém-nascidos com IG menor do que 30 semanas, em
de suporte; Pressão regulada e volume contro-
sala de parto, antes ou após VPP, apresenta distribuição
lado PRVC (Servo 300); Volume garantido (VG)
mais uniforme e homogênea no pulmão com líquido,
(Babylog 8000 plus);
diminui a lesão pulmonar aguda, reduz a incidência de
pneumotórax e de enfisema intersticial (EIP) e reduz a 3. Ventilação de alta frequência.
mortalidade; assim os benefícios do uso profilático exce- Estudos randomizados comparando as moda-
dem os riscos potenciais de intubação e os custos. lidades convencional e tradicional têm demonstrado
O tratamento de recém-nascidos que evoluem benefícios a curto prazo, como menor tempo em ven-
com SDR e necessitam de doses repetidas de surfactan- tilação, menor necessidade de sedação quando a venti-
te melhora a sobrevida e reduz o risco de pneumotórax, lação tradicional tem sido usada. Esses estudos não têm
quando comparados aos recém-nascidos que recebe- poder estatístico para demonstrar redução na DPC.
ram dose única. A ventilação convencional, primariamente ci-
Estudos comparativos têm também mostrado clada a tempo, limitada a pressão, tem sido tradicio-
que o uso de extrato de surfactante natural, geralmente nalmente usada nas unidades de terapia intensiva
porcino ou bovino, está associado a menores taxas de neonatal para o tratamento da SDR. As ventilações
mortalidade do que o uso de surfactantes sintéticos. por pressão positiva são liberadas para o paciente a
uma frequência predeterminada independente dos
Corticosteroides antenatais esforços respiratórios do paciente, podendo ocorrer
Corticosteroídes que atravessam a placenta (dexa- falta de sincronia entre as ventilações liberadas pelo
metasona ou betametasona) administrados a gestantes aparelho e as respirações espontâneas do paciente. A
de risco para parto prematuro aceleram a produção de falta de sincronia resulta em trocas gasosa ineficien-
surfactante e a maturação pulmonar. Os efeitos benéfi- tes, aprisionamento e escape de ar, lesão pulmonar,
cos para os prematuros incluem a redução em 40% do irregularidades na pressão arterial, aumento do fluxo
risco de mortalidade, SDR e hemorragia intraventricular.14 sanguíneo cerebral e HIC, além de aumento do tempo
de ventilação. Prematuros ventilados com frequências
Ventilação pulmonar mecânica invasiva mais elevadas (> 40 respirações por minuto) e com
tempo inspiratório mais curto (< 0,4 s) têm melhor
Desafios: tratar a hipoxemia e a hipercapnia asso- evolução, incluindo redução do risco de pneumotórax,
ciadas à SDR enquanto se minimizam a lesão induzida do que os recém-nascidos ventilados com frequência
pelo aparelho de ventilação mecânica e a toxicidade mais baixa e tempo inspiratório mais prolongado.
pelo oxigênio; reduzir o trabalho respiratório do pacien-
te; otimizar o conforto do paciente. Os aparelhos de ventilação mecânica mais mo-
dernos podem ser programados para disparar ou para
se integrar com os esforços inspiratórios do recém-nas-
Recém-nascidos prematuros devem ser cido (ventilação disparada pelo paciente).
intubados eletivamente ou apenas quando Revisão da Cochrane publicada em 2000 compa-
há sinais de insuficiência respiratória? rando a VMI com a ventilação disparada pelo paciente,
A lesão pulmonar pode ser induzida nas primei- em que a pressão aérea positiva e a inspiração espon-
ras ventilações manuais iniciadas em sala de parto du- tânea coincidem, melhorando o volume corrente, favo-
rante a reanimação neonatal. recendo adequada troca de gases em baixos picos de
41
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
pressão, reduzindo escapes de ar e doença pulmonar que foram mantidos com saturação entre 89-94%. A
crônica, concluiu que com a ventilação disparada pelo escolha dos valores de oximetria de pulso pode influen-
paciente houve redução da incidência de síndromes de ciar a incidência de lesão pulmonar. A FiO2 escolhida
escape de ar e da duração da ventilação mecânica. deve ser aquela que permita uma saturação entre 90-
Atualmente as modalidades de ventilação sincro- 94% e PaO2 entre 50-70 mmHg.
nizadas mostram-se eficazes. Outras vantagens da ven-
tilação sincronizada sobre a ventilação convencional Quais os valores aceitáveis da PaCO2
são: redução da variação do fluxo sanguíneo cerebral, para o recém-nascido?
conforto para o paciente e desmame mais rápido. Definir o valor seguro do nível de PaCO2 pode ser
Geralmente, no início da ventilação mecânica o tão importante quanto definir o volume corrente ótimo.
nível de PIP é estabelecido primeiro, dependendo da Estudos em modelos animais demonstraram que hiper-
necessidade do recém-nascido, e o volume corrente capnia moderada protege o cérebro de lesão hipóxico-
é calculado. Inicia-se com PIP entre 16-18 cmH2O para -isquêmica e que hipocapnia aumenta a lesão. Estudos
atingir um volume corrente entre 4-6 mL/kg em pre- animais também demonstram que hipoventilação e
maturos com SDR. A PIP é modificada dependendo acidose respiratória podem proteger o pulmão de lesão
dos resultados das gasometrias. Evitar PIP > 20 cmH2O. aguda. Entretanto, é igualmente importante notar que
Escolher um volume corrente sem perder volume pul- hipercapnia aumenta o fluxo sanguíneo cerebral, reduz o
monar ou promover atelectasia. pH sistêmico e, em animais, tem sido associada a aumen-
A PEF zero ou muito elevada e tempo inspirató- to da retinopatia. Níveis mais elevados de PaCO2 estão as-
rio (Ti) longo estão associados a lesão pulmonar. O valor sociados a parâmetros baixos do aparelho de ventilação
inicial está entre 4 e 6 cmH2O. PEEP > 4 cmH2O não deve mecânica e a menor possibilidade de lesão pulmonar.
ser usada em neonatos com shunt direita-esquerda e Estudos sugerem que a DPC ocorre mais frequentemen-
hipotensão arterial. Ti longo está associado a maior inci- te nos recém-nascidos com hipocapnia. Prematuros
dência de síndromes de escape de ar. Na SDR usar Ti em extremos com PaCO2 < 40 mmHg apresentam um risco
torno de 0,3 a 0,4 segundo. relativo de 1,45 de desenvolverem DPC, comparados aos
Um tempo expiratório muito curto, uma cons- recém-nascidos com PaCO2 > 50 mmHg.17,18
tante de tempo muito longa e um VC elevado podem Hipercapnia permissiva, definida como PaCO2
resultar em sequestro de ar no pulmão. Isso se manifes- entre 45 e 65 mmHg e pH > 7,20, tem por objetivo mi-
ta clinicamente como retenção de CO2 e hiperexpansão nimizar a lesão pulmonar induzida pelo aparelho de
pulmonar. Uma observação cuidadosa da movimen- ventilação mecânica, com a vantagem potencial de pro-
tação da parede torácica pode ser útil para avaliar a teger da lesão pulmonar e de lesão hipóxico-isquêmica,
constante de tempo da inspiração e da expiração. A com menos volutrauma, menos efeitos adversos da hi-
PaO2 pode estar adequada durante o sequestro de ar, pocapnia e aumento da liberação do O2 para os tecidos.
porém o retorno venoso e o débito cardíaco podem es- Revisão da Cochrane de 2001 comparando hiper-
tar prejudicados, comprometendo a liberação de O2 aos capnia permissiva (PaCO2 > 55 mmHg) para prevenção
tecidos. Achados clínicos que sugerem a presença de de morbidade e mortalidade em RN em VPM não de-
sequestro de ar incluem: monstrou nenhum benefício significativo da estratégia
1. uso de FR alta; hipercapnia/ventilação mínima comparada à estratégia
2. constante de tempo prolongada; ventilatória rotineira.
3. hiperinsuflação pulmonar ao raio X de tórax; Até o momento, manter a PaCO2 > 55 mmHg só
está recomendado em estudos controlados.19
4. redução da movimentação da parede torácica;
O Instituto Nacional de Saúde dos EUA refere que
5. disfunção cardiovascular – aumento da pres-
a média nacional da incidência de DPC em neonatos
são venosa central, redução da pressão arte-
com peso entre 500-1000 g é de 43%. Na unidade neo-
rial, acidose metabólica, edema periférico e
natal do Jackson Memorial Hospital, da Universidade
redução da diurese.17
de Miami, a incidência de DPC ocorre em torno de 23%
dos prematuros extremos. A estratégia ventilatória uti-
Qual a FiO2, a PaO2 e a saturação seguras? lizada na referida unidade consiste em realizar intuba-
A oferta de oxigênio deve objetivar a prevenção ção e ventilação precoce com gentle ventilation, ou seja,
da lesão pulmonar induzida pelo oxigênio. O grupo de utilização de VC baixo, controle da oferta de oxigênio e
pesquisa STOP ROP (Supplemental Therapeutic Oxygen tolerância de níveis mais elevados de PaCO2.
for Prethreshold Retinopathy of Prematurity) mostrou
que os recém-nascidos que receberam suplemento de
O2 para manter saturação entre 96 a 99% apresentaram Ventilação de alta frequência
mais pneumonia e maior incidência de doença pulmo- Ventilação mecânica com FR até 3600/min que
nar crônica quando comparados aos recém-nascidos utiliza VC muito baixo, menor do que o volume do
42
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório
espaço morto anatômico = 2 a 2,5 mL/kg, mantendo Óxido nítrico para recém-nascidos com SDR
constante a PMVA. Os conceitos clássicos de ventilação Prematuros com SDR grave, que desenvolvem
não explicam a troca resultante de gases. Teoricamente hipoxemia persistente secundária a vasoconstrição pul-
reduz o trauma causado aos pulmões por altos volu- monar, podem se beneficiar do óxido nítrico inalatório
mes correntes e expõe os alvéolos a menor variação de (NOi). Alguns estudos têm avaliado a resposta aguda de
pressão, reduzindo o risco de distensão (volutrauma) ou prematuros ao NOi e demonstrado melhora significa-
colapso (atelectrauma). As oscilações são sobrepostas a tiva na oxigenação, sem diferença na mortalidade. Os
um volume pulmonar relativamente constante. Evita efeitos adversos são desconhecidos. Efeitos benéficos
mudanças cíclicas no volume entre expansão e retra- para prevenir doença crônica estão sendo avaliados.
ção. As duas principais vantagens sobre a ventilação
Razões para se considerar o uso do óxido nítrico
convencional são a melhora da oxigenação e a redução
no tratamento de prematuros com SDR:
mais eficaz da PaCO2.
a. Melhora a relação V/Q;
Estudos publicados em 2002, controlados, rando-
mizados, avaliaram a eficácia da VAFO como tratamento b. Está envolvido no crescimento do parênquima
primário da SDR: pulmonar e na redução da lesão pulmonar e
da doença crônica em babuínos prematuros
1. UKOS – United Kingdom Oscillation Study com SDR;
Group: avaliou três diferentes ventiladores de
VAFO e não encontrou diferença na incidência c. Reduz o influxo de células inflamatórias e a
de DPC, morte ou outras complicações. produção de citocinas em ovelhas prematuras.
Preocupações em relação ao uso de NOi em
2. Courtney et al., EUA, compararam VAFO com
prematuros: potencial inibidor da agregação pla-
SIMV, observando um modesto benefício
quetária (o risco de hemorragia intraventricular em
na evolução respiratória, sem diferença na
prematuros é maior); menor defesa antioxidante (vul-
evolução neurológica (HIV ou leucomalacia
nerável ao estresse oxidante do óxido nitroso e outros
periventricular).
óxidos de nitrogênio); apresenta potencial para au-
Como tratamento inicial após surfactante, alguns mentar o shunt E-D através do DA com a rápida vaso-
estudos apontam tendência a redução da incidência de dilatação pulmonar.
DPC, sem diferenças entre outras variáveis (PCA, infec-
Atualmente estão sendo realizados três estudos
ção) e sem impacto sobre a mortalidade.
multicêntricos randomizados avaliando o uso do óxi-
A nova geração de aparelhos de ventilação tem do nítrico inalatório no tratamento de prematuros com
permitido uma melhor monitorização e controle do vo- SDR e DPC. Esses estudos poderão dar respostas mais
lume corrente liberado, minimizando volutrauma e evi- definitivas sobre a segurança e o impacto na doença
tando atelectasia. crônica e na mortalidade nesses pacientes.
Dados recentes não demonstram diferença
significativa na evolução entre ventilação tradicio- Práticas com melhor potencial
nal e de alta frequência para tratamento da SDR. para reduzir DPC
Assim, no momento a VAFO tem sido utilizada para
Lista de Práticas com Melhor Potencial (Potential
tratamento de resgate nos casos de insuficiência
Better Practices = PBP) para reduzir DPC, criada pelo
respiratória grave, que não respondem à ventilação
Vermont Oxford Network Reduced Lung Injury Group
tradicional.
utilizando pesquisa através da Medline e da Cochrane
As principais indicações são o insucesso com a Database of Clinical Trials and Systemic Reviews e suge-
ventilação convencional e tradicional, nas síndromes de rida para aplicação combinada em unidades neonatais
escape de ar (enfisema Intersticial, pneumotórax e fístu- da rede, para tratamento de recém-nascidos de extre-
la broncopleural). mo baixo peso ao nascer, com o objetivo de reduzir a
VAF efetiva depende da otimização do volume DPC. Os dados finais ainda não estão disponíveis.10
pulmonar e da manutenção da capacidade residual PBP I: Gentle ventilation na sala de parto – Nível
funcional. Em modelos animais de SDR, o uso de VAFO de evidência (Classificação de Muir Gray) 2-3.
com PMVA mais baixa do que na ventilação convencio- Apenas poucas ventilações manuais não con-
nal resultou em perda progressiva de volume pulmonar troladas no momento do nascimento em pul-
e hipoxemia grave. Manter a insuflação pulmonar ótima mões deficientes em surfactante causam lesão
por meio do uso de PMVA alta melhora as trocas gaso- pulmonar irreversível. O grau de lesão está re-
sas, normaliza o padrão de insuflação pulmonar e reduz lacionado à magnitude da insuflação pulmo-
a lesão pulmonar. O objetivo é manter o volume pulmo- nar. É recomendado um balão de reanimação
nar médio ótimo. Estudos recentes estão preconizando neonatal manual (Neopuff – Fisher & Paykes)
a utilização de VAFO como modo primário de ventilação com PIP e PEEP controlados sem risco associa-
em RNEBP. do de hipo ou hiperventilação.
43
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
PBP II: Surfactante profilático o mais cedo pos- gasometria sem hipocapnia e com normo/hi-
sível após o nascimento para RN com PN < 1000 percapnia permissiva a imagem de Rx de tórax
g: Nível de evidência 1. É possível administrar ou, se possível, TC de tórax.
surfactante antes dos primeiros movimentos 8. Pinsp sem gerar hiperventilação (clinicamen-
respiratórios em 1/3 dos recém-nascidos com te, gasometria sem hipocapnia, com normo/
IG ≤ 27 semanas ou PN < 1.000 g. hipercapnia permissiva, relação PaO2/PAO2, Rx
PBP III: CPAPn profilática ou o mais precoce de tórax ou, se possível, TC de tórax).
possível após o nascimento. Nível de evidên- 9. Hipercapnia permissiva (PaCO2 até 60 mmHg).
cia 4-5. Necessita de mais dados. Nenhuma
evidência no momento. O centro de refe- 10. Respeitar as constantes de tempo e FR.
rência é a unidade de terapia intensiva neo- 11. Monitorizar e evitar repercussões hemodinâ-
natal do hospital da Columbia University, micas negativas da ventilação.
que considera a prática de CPAPn precoce e 12. Alta frequência é uma alternativa para casos
evitar VM as razões principais para a baixa in- graves, mas pode ser usada como abordagem
cidência de DPC. primária em RNEBP.
PBP IV: VAFO (ventilação de alta frequência os- 13. Reduzir a administração de líquidos.
cilatória) ou ventilação com volume corrente 14. Suplementação da vitamina A.
baixo: Nível de evidência 1-2. Evidências re-
centes suportam o uso de VAFO como modo 15. Uso reduzido de esteroides no pós-natal.
primário de ventilação em RNEBP. 16. Redução dos dias de VM por meio de desma-
PBP V: Hipercapnia permissiva: Nível de evi- me precoce.
dência: 2. A PaCO2 é tolerada em até 60 mmHg.
PBP VI: Reduzir a administração de líquidos - Questões
Nível de evidência 3.
1. Em relação a SDR, assinale a alternativa falsa:
PBP VII: Suplementação da vitamina A - Nível
de evidência 1. A. O mecanismo fisiopatológico envolvido é o
shunt pulmonary.
PBP VIII: Redução dos dias de VM por meio de
desmame precoce - Nível de evidência: 2-5. B. A baixa complacência pulmonar e a alta com-
PBP IX: CPAPn precoce pós-extubação - Nível placência da caixa torácica contribuem para o
de evidência: 1. colapso alveolar.
PBP X: Uso reduzido de esteroides pós-natal - C. A presença de áreas mal ventiladas e mal
Nível de evidência: 1-2. perfundidas leva a distúrbio V/P, hipoxemia e
hipocapnia.
D. A SDR é uma doença atelectásica que se carac-
Conclusão teriza por diminuição do volume pulmonar, da
CRF, CT e complacência pulmonar.
Recomendações para abordagem tera-
2. A vasoconstrição hipoxica:
pêutica do recém-nascido com SDR A. É um reflexo pulmonar que piora o desequilí-
1. Uso de corticosteroide materno em trabalho brio V/P.
de parto prematuro.
B. É um mecanismo reflexo que causa vasodila-
2. Gentle ventilation em sala de parto. tação pulmonar nas áreas de hipóxia alveo-
3. Uso PROFILÁTICO de surfactante para recém- lar, à custa de vasoconstrição nas áreas mais
-nascidos com IG ≤ 27 semanas. ventiladas.
4. Uso da CPAPn: PRECOCE e após extubação. C. FIO2 elevada, em caso de shunt absoluto, pode
5. Uso de ventilação com sincronização e volume abolir o reflexo de vasocontrição hipóxica.
corrente baixo ou ventilação de alta frequên- D. Cursa com aumento de ventilação nas áreas
cia oscilatória como tratamento primário ou vasoconstritas.
alta frequência oscilatória para tratamento de
3. O aumento da FIO2 não leva a aumento significativo
insuficiência respiratória grave que não res-
da PaO2 quando o shunt pulmonar é maior que:
ponde à ventilação tradicional.
A. 50%
6. FiO2 para manter saturação entre 90-94%, PaO2
entre 50-70 mmHg. B. 30%
7. PEEP que garanta uso de FiO2 <0,50. C. 80%
Associar avaliação clínica, relação PaO2/PAO2, D. 40%
44
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório
45
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
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46
Como Ventilar 7
Recém-nascidos com
Hipertensão Pulmonar
Felipe de Souza Rossi
enzimático, quando comparados aos adul- sangue arterializado, fornecendo à circulação sistêmica
tos. É interessante o encontro de baixos uma menor quantidade de sangue oxigenado.
níveis de L-arginina (precursora da síntese A pós-carga aumentada para o coração direito
de óxido nítrico pelas células endoteliais) provoca disfunção do ventrículo direito e regurgitação
e de metabólitos do óxido nítrico em RN de valva tricúspide, achado clássico na hipertensão
com SHPPN, possivelmente secundário a pulmonar do RN, podendo evoluir para insuficiência
baixa atividade da carbamoil-fosfato sin- de ventrículo direito, particularmente se houve asfixia
tetase. Estudos genéticos tentam eviden- e sofrimento miocárdico associados ao quadro, tor-
ciar genótipos mais associados a SHPPN nando ainda mais difícil vencer a elevada resistência
(Pearson, 2001). ao fluxo pulmonar.
A acidemia e/ou hipoxemia não corrigidas, A baixa oferta de oxigênio predispõe à persis-
mantendo o estímulo para a constrição do lei- tência da patência do canal arterial, com fluxo da di-
to pulmonar e a persistência do canal arterial. reita para a esquerda, assim como a hiper-resistência
A anormalidades cardiovasculares antena- pulmonar. O gradiente de pressão, com pressão pul-
tais, que podem gerar hiperfluxo pulmonar monar suprassistêmica, mantém o fluxo também da
– e consequente hipermuscularização das direita para a esquerda pelo forame oval, gerando,
artérias e arteríolas pulmonares –, como o em conjunto com o canal arterial, um ciclo vicioso, em
fechamento intrauterino do canal arterial que o sangue que retorna ao coração direito atravessa
(que pode ser causado pelo uso, pela ges- para a circulação sistêmica sem ser oxigenado pelos
tante, de anti-inflamatórios não hormonais), pulmões. Assim, surgem dois locais de shunt extrapul-
drenagem anômala parcial ou total das veias monar, um intra e outro extracardíaco, que mantêm
pulmonares. uma menor oferta de oxigênio aos tecidos, predispon-
Ao não alinhamento alveolocapilar, impe- do a acidose mista e fechando o ciclo, que tende a se
dindo a adequação das trocas gasosas. autoperpetuar.
Ao pós-operatório de cardiopatias congê- Ao mesmo tempo que a falha na adaptação pós-
nitas, tema que não será explorado neste -natal gera hipoxemia e acidemia ao RN, ela permite que
capítulo. não ocorra, ao menos de imediato, um colapso cardio-
circulatório, que poderia ser mais letal. Isso aconteceria
Outra maneira de se caracterizar a SHPPN é ba- se, numa redução inadequada da pressão pulmonar
seada em suas bases estruturais e nas possibilidades após o nascimento, todo o sangue que retorna ao co-
anatômicas das artérias pulmonares (Geggel, 1984). ração direito tivesse que ser bombeado pelo ventrículo
1. Má adaptação pós-natal: ocorre manuten- direito contra a elevada resistência pulmonar, sem se
ção da elevada resistência vascular, embora as valer dos escapes propiciados pelo canal arterial e fo-
estruturas sejam normais, não ocorrendo o au- rame oval. A pós-carga excessiva ao ventrículo direito
mento da complacência das artérias conforme poderia predispô-lo a sua falência, e por sua vez a baixa
o esperado. pré-carga para o coração esquerdo poderia gerar hipo-
2. Aumento da muscularização: ocorre mus- tensão sistêmica e choque.
cularização precoce, intrauterina, das artérias
intra-acinares que, normalmente, seriam livres
de camada muscular. Esses quadros se asso- Quadro clínico
ciam, também, a um aumento da espessura
A manutenção do padrão fetal pode ter manifes-
das artérias pré-acinares.
tações clínicas bastante variáveis, sendo importante o
3. Subdesenvolvimento: As situações de hi- quadro de base determinante, uma vez que os quadros
poplasia estão associadas a uma redução secundários, além de bastante distintos, são os mais
do tamanho e/ou do número de artérias do frequentes.
leito pulmonar.
Também o grau de hipertensão da circulação
pulmonar é variável, podendo ser mais ou menos sin-
Patogenia tomático, ainda quando a patologia de base é a mesma.
As manifestações podem ser desde praticamente
A não transição da circulação fetal para a do tipo assintomáticas, sugerindo um período um pouco mais
adulto determina o quadro de hipertensão pulmonar prolongado que o habitual para a estabilização do RN,
no RN. Assim, a elevada pressão em artérias pulmona- com leve taquidispneia e baixas necessidades de supor-
res mantém a passagem de fluxo sanguíneo de sangue te de oxigênio, até quadros de grave insuficiência res-
pobre em oxigênio, através do forame oval e do canal piratória e colapso hemodinâmico, acompanhado de
arterial, gerando uma mistura de sangue venoso com elevada morbimortalidade.
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Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar
Como com a proximidade do termo há um au- pulmonares bem aerados e pobres em iden-
mento fisiológico da muscularização das arteríolas tificação de vasos, além de eventual aumen-
pulmonares, esses quadros são mais comuns em RN a to do contorno cardíaco direito. Porém, são
termo ou próximo ao termo, principalmente quando se os quadros secundários os mais frequentes,
consideram os processos primários. Porém, como vere- nos quais encontraremos os mais diversos pa-
mos no diagnóstico, o encontro de elevadas pressões drões radiológicos, associados a deficiência de
de artéria pulmonar também pode estar presente mes- surfactante, síndrome de aspiração meconial,
mo em RN pré-termo mais extremos, confirmado por hérnia diafragmática, entre outros (ver etiolo-
ecocardiograma. Esse fato se associa, frequentemente, gia). Assim, embora seja um exame presente
a uma expansão pulmonar inadequada e consequente na avaliação inicial de toda insuficiência respi-
hiper-resistência pulmonar. ratória, e podendo ajudar a determinar o seu
Graus variáveis de desconforto respiratório, ta- fator etiológico, o raio X não fará o diagnóstico
quipneia, cianose, que se tornam mais intensos com dor da SHPPN.
ou manipulação do RN, devido a elevação da resistência 3. Saturometria ou diferenças de PaO2 por ga-
pulmonar nesses momentos, são achados comuns. simetria: a avaliação da saturação de hemo-
A circulação pulmonar é bastante sensível a estí- globina, feita de maneira não invasiva, pode
mulos agressores, como hipotermia, dor, hipóxia, acide- ser útil no diagnóstico da SHPPN. Quando
mia, alterações metabólicas, podendo responder aguda ocorre shunt importante pelo canal arterial,
e intensamente com espasmo da musculatura arterio- a comparação dos valores obtidos em região
lar, elevando a pressão pulmonar, cuja normalização pré-desembocadura do canal na artéria aorta
pode levar horas ou dias. (pré-ductal), por exemplo a mão direita, com
regiões pós-ductais, por exemplo os pés, pode
A ausculta cardíaca evidencia uma 2ª bulha úni- encontrar diferenças de 10 a 15% nas medidas
ca, hiperfonética, que deve retornar a uma bulha des- de saturação, mais altas na região pré-ductal,
dobrada conforme há queda da pressão pulmonar. sugerindo a presença de SHPPN. Porém, quan-
Na presença de hérnia diafragmática, abdome do o fluxo é predominante pelo forame oval,
escavado e ausculta torácica com presença de borbo- essa diferença não será evidenciada, embora
rigmos podem ser encontrados. a situação de persistência da circulação fetal
Em situações de hipoplasia pulmonar associada esteja presente. O mesmo vale para as coletas
a oligoâmnio, a presença de fácies característica sugere de gasimetria e avaliação da PaO2, comparan-
o diagnóstico. do-se regiões pré e pós-ductais. São conside-
A manutenção do fluxo pelo canal arterial de rados significativos gradientes > 20 mmHg,
sangue pobre em oxigênio em elevadas pressões não existindo a dificuldade técnica para a obten-
permite o seu fechamento. Dependendo da posição ção das amostras a um mesmo momento, e
da saída do canal arterial na artéria aorta (em relação sem provocar dor ao RN.
à emergência do tronco braquiocefálico e das artérias 4. Teste de hiperoxia: consiste em oferecer, por
carótida e subclávia esquerdas), pode ocorrer o “bebê 5 a 10 minutos, 100% de oxigênio ao pacien-
arlequim”, com aparecimento de cianose mais acen- te, colhendo-se gasimetria a seguir. Aumento
tuada nas regiões irrigadas por sangue que sofreu mis- da PaO2>150 mmHg serve para reforçar a hi-
tura de sangue pobre em oxigênio oriundo do canal pótese de SHPPN, tornando improvável a cia-
arterial. Diferença de saturação pré e pós-ductal pode nose por cardiopatia congênita. Porém, um
estar presente, particularmente se o principal local de resultado negativo do teste, isto é, PaO2 persis-
shunt direita-esquerda for o canal arterial, e não o fo- tentemente < 150 mmHg, não é capaz de dife-
rame oval. renciar entre cardiopatia cianogênica e SHPPN
(Fox, 1983).
5. Teste da hiperoxia-hiperventilação: em pa-
Diagnóstico ciente intubado, utilizam-se 100% de oxigê-
nio e frequências respiratórias acima de 100
Embora as etiologias sejam muito distintas, os
ciclos/minuto, por 5 a 10 minutos, buscando
passos na suspeita e confirmação da persistência da cir-
hiperventilação e uma PaCO2 < 30 mmHg,
culação fetal são:
ocorrendo uma reversão da hipertensão pul-
1. Quadro clínico: ver acima. monar e consequente melhora da oxigenação.
2. Exame radiológico simples de tórax – raio Embora mencionados neste capítulo, talvez
X simples: nos casos de SHPPN primária, a mais por questões históricas, os testes de hi-
elevada resistência ao fluxo sanguíneo pul- peroxia e de hiperoxia-hiperventilação devem
monar aliada a pulmões sem patologias de ser evitados como métodos de diferenciação
base poderia nos levar a encontrar campos entre cardiopatias congênitas cianóticas e
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
SHPPN. O uso de 100% de oxigênio, em car- décadas, várias são as evidências de que, ao se buscar
diopatias cianogênicas canal dependentes intempestivamente a normalização da circulação pul-
(por ex: atresia severa pulmonar, transposição monar, lesões pulmonares, auditivas, cerebrais, e até
das grandes artérias com CIA restritiva) pode maior mortalidade, ocorreramu em pacientes submeti-
predispor ao fechamento do canal arterial e dos a ventilação pulmonar mais agressiva (Clark, 2000,
determinar evento fatal para o RN. Por sua vez, 2001; Gannon, 1998; Kornhauser, 1994; Wung, 1985).
técnicas de hiperventilação estão bastante Podemos citar, desde já, o título de dois artigos
associadas a lesão pulmonar e sequelas neu- sobre a persistência da circulação fetal: “a caixa-preta re-
rológicas. Assim, atualmente, o acesso e uso visitada” e “controlando o incontrolável” (Hammerman,
do ecocardiograma são fundamentais na UTI 1989; Walsh- Sukys, 1993), que demonstram a dificulda-
neonatal, sendo o melhor exame subsidiário, de no conhecimento e no tratamento dessa síndrome.
não invasivo que podemos utilizar para a con- Com exceção do uso do óxido nítrico, que passou por
firmação do diagnóstico da SHPPN. estudos prospectivos e randomizados antes de sua utili-
6. Ecocardiografia: o uso da ecocardiografia zação mais rotineira, as demais estratégias terapêuticas
bidimensional, aliado ao doppler, permite a estão baseadas em experiências individuais de autores,
avaliação, à beira do leito e com mínima ma- com pequenos grupos de pacientes e relatos de caso,
nipulação do RN, das estruturas do coração além de abordagens extrapoladas de estudos labora-
e seus vasos, bem como a direção dos fluxos toriais, com tradução clínica criticável. Desdobrando o
intracavitários e através de estruturas como o tratamento da SHPPN, de maneira didática, podermos
canal arterial e do forame oval. Assim, pode- descrevê-lo em etapas, como a seguir:
-se visualizar a presença de shuntsda direita 1. Aumento da pressão arterial sistêmica.
para a esquerda, estimar a pressão da artéria
pulmonar, afastar ou identificar anormalida- 2. Redução da pressão de artérias pulmonares
des anatômicas que possam ser causa (p. ex.: Secundária a alcalose induzida.
drenagem anômala parcial ou total de veias Com uso de vasodilatadores inespecíficos.
pulmonares) ou diagnósticos diferenciais da Com uso de óxido nítrico inalatório.
SHPPN (p. ex.: transposição das grandes ar-
3. Suporte inotrópico.
térias). É achado associado à persistência da
circulação fetal o encontro de regurgitação 4. Suporte ventilatório.
tricúspide. O exame também pode ser usado 5. Oxigenador de membrana extracorpórea
evolutivamente, evidenciando, em fase de (ECMO).
resolução, a inversão dos fluxos (da esquerda
para a direita) e o fechamento do forame oval,
do canal arterial e a queda da pressão pulmo- Aumento da pressão arterial sistêmica
nar. É interessante ressaltar que os achados Buscar uma pressão arterial mais elevada e que
associados a SHPPN secundária a patologias ultrapasse a pressão pulmonar é uma estratégia lógica,
com baixa complacência pulmonar apresen- facilitando a perfusão pulmonar e tornando o fluxo de
tam sensíveis melhoras com a reversão do co- canal arterial da “esquerda para a direita”. Porém, não
lapso alveolar. existem estudos clínicos que comprovem essa teoria.
7. Cateterismo: quando persiste a dúvida diag- Na prática, busca-se manter pressão sistêmica suprapul-
nóstica, apesar dos meios anteriormente monar à custa de um aumento no volume endovenoso
listados, este método invasivo pode ser o de- diário infundido e utilizando expansores de volume,
terminante entre persistir com tratamento podendo-se associar o uso de aminas vasoativas, mais
clínico ou identificar cardiopatia passível de comumente a dopamina, em doses superiores a 5 mcg/
correção cirúrgica. kg/min. Essas doses têm efeito vasoconstritor e de es-
tímulo direto sobre as fibras miocárdicas (α e β-1). Esse
efeito sobre os vasos, porém, não é específico para a
Tratamento circulação sistêmica, devendo ter-se atenção para efei-
tos indesejados sobre a circulação pulmonar – embora
Em se tratando de uma síndrome com etiologias estes não sejam muito relatados (Keeley, 1988). Alguns
tão heterogêneas e manifestações clínicas tão diversas, estudos indicam que em RN pré-termo doses inter-
é impossível propor uma única abordagem terapêutica mediárias de dopamina podem ser mais efetivas para
que se aplique a todas as situações. o tratamento da hipotensão do que a combinação de
Deve-se buscar, em princípio, a reversão do expansores de volume associados a dobutamina, su-
quadro de hipertensão pulmonar – restabelecendo a gerindo que, nessa população, um mau vasocontrole é
adequada oxigenação do paciente –, evitando ao má- mais frequente que a depleção de volume ou disfunção
ximo sequelas pulmonares e neurológicas. Nas últimas miocárdica (Greenough, 1993; Seri, 1995).
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Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
vasodilatador em pulmões com parênquima mal ex- a suspensão do NO, deve-se ter cautela para evitar o
pandido (seja por atelectasias, consolidações ou hiper- efeito rebote, isto é, o aumento da pressão de artéria
distensões alveolares) é ineficaz para reverter a SHPPN pulmonar na retirada do NO. Acredita-se que o rebote
(Kinsella, 2000). Assim, mesmo quando falamos em óxi- seja facilitado pela inibição da NO sintetase endógena,
do nítrico, ajustar a ventilação mecânica, de acordo com após a administração exógena do NO, principalmente
a patologia de base, é fator fundamental para o sucesso se em doses mais elevadas e por períodos mais pro-
do tratamento. longados (Kinsella, 1997, 1999; NINOS, 2000; Roberts,
Os candidatos preferenciais ao uso do NO são os 1997; Davidson, 1998, 1999; The Franco-Belgium, 1999;
RN maiores que 34 semanas. Os mais pré-termo ainda Hoffman, 1997; Clark, 2000; Day, 1996). Alguns autores
estão sob investigação, com estudos indicando res- estudam a terapêutica combinada com o dipiridamol,
postas variáveis ao NO, sem aumento de hemorragia que aumenta a disponibilidade do NO por diminuir
intracraniana que poderia ser favorecida pelo efeito a degradação da GMPc’, potencializando o efeito do
de antiagregação plaquetária do NO (Kinsella, 1999; NO e reduzindo o risco do rebote após sua suspensão
Mercier, Skimming, 1997). (Channick, 2000; Kinsella, 1997).
São os modos mais citados para a indicação do Durante o uso do NO inalatório, deve-se proce-
NO: der ao controle dos níveis séricos de meta-hemoglo-
bina e do NO2 inalado. A meta-hemoglobina não deve
Índice de oxigenação (IO) > 25, em que:
ultrapassar 7%, e o NO2 inalado, 3ppm. Caso sejam atin-
MAP FiO 2 100 gidos quaisquer dos valores anteriores, o NO deve ser
(IO) reduzido à metade, e, se não houver reversão das doses
PaO 2
tóxicas, suspenso.
Sendo: Ao concluir a abordagem de redução da pressão
MAP = pressão média de vias aéreas; de artérias pulmonares, é importante lembrar que es-
FiO2 = fração inspirada de oxigênio; ses RN devem estar submetidos a mínima manipulação,
PaO2 = pressão parcial arterial de oxigênio (Clark, com as menores ofertas possíveis de luz e som, sendo
2000; Day, 1996; The Franco-Belgium, 1999; habituais os empregos de sedação e analgesia, em do-
Hoffman, 1997; NINOS, 2000). ses habituais, intermitentes ou contínuas, de midazo-
lam ou fentanil.
Hipoxemia em duas gasometrias arteriais
pós-ductais, em vigência de elevadas frações
inspiratórias de oxigênio (PaO2 <55-80 mmHg; Suporte inotrópico
FiO2 100%); Kinsella, 1997; Roberts, 1997; É habitual o uso de drogas inotrópicas nas situa-
INOSG ções de SHPPN. Como ocorrem sobrecarga ao coração
PaO2 > 40 e < 100 mmHg, pós-ductal, com direito e sua insuficiência secundária – demonstrável
MAP > 10 e FiO2 = 1,0 (Davidson, 1998, 1999). pelos achados ecocardigráficos –, muitos defendem o
A dose a ser iniciada é variável entre os estu- uso da dobutamina para esses pacientes. Não há, con-
dos, sendo quantificada em partes por milhão (ppm). tudo, em literatura, dados objetivos que corroborem tal
Inicialmente, doses de até 80 ppm foram utilizadas, sem teoria. Se disponível, o ecocardiograma seriado, com os
melhora na eficácia e com aumento dos riscos de efeitos cálculos de desempenho miocárdico evolutivos, pode-
colaterais (aumento de meta-hemoglobinemia e inala- ria ser útil na indicação, definição de dose ideal e sus-
ção de níveis mais elevados de NO2). Posteriormente, pensão de drogas inotrópicas na SHPPN.
as doses consideradas mais baixas, iguais ou inferio-
res a 20 ppm mostraram-se eficazes (Finer, Davidson,
1998; Skimming, 1997). Após iniciar-se o uso com 5 a
Suporte ventilatório
20 ppm, existem parâmetros diferentes que permitem Existem duas linhas básicas quanto à estratégia
a redução da dose inalada de NO (redução da fração ventilatória, em ventiladores convencionais, a serem
inspirada de oxigênio, aumento da PaO2, queda do ín- empregadas a esses pacientes. Estas nunca foram es-
dice de oxigenação), assim como pode ser diferente o tudadas aprofundadamente, tampouco confrontadas
tempo de intervalo de uso de cada dose, até a redução entre si.
posterior (Kinsella, 1997, 1999; NINOS, 2000; Roberts, 1. Fox, em 1983, baseado em estudos animais e
1997; Davidson, 1998, 1999; The Franco-Belgium, 1999; em breve experiência clínica (Peckham, 1978;
Hoffman, 1997; Clark, 2000; Day, 1996). Usualmente, e Rudolph, 1966), propôs ser a hiperventilação
sobretudo se não há hipoplasia pulmonar associada, a base da estratégia de tratamento da SHPPN.
o tempo de uso do NO não supera 5 dias, quando já Defendia a busca de uma alcalose respirató-
ocorreu a reversão da SHPPN. O que é consenso é que, ria e de uma PaCO2 alvo tão baixa quanto 16
a partir do uso de doses inferiores a 5 ppm, principal- mmHg. Para tanto, utilizava ventiladores con-
mente ao atingir-se doses de 1 a 2 ppm, que precedem vencionais em frequências suprafisiológicas,
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Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar
para as quais os mesmos não estão adaptados agudas ou crônicas (Carlo, 1989). Posteriormente, ou-
(Boros, 1984). Atualmente, muitas são as evi- tros estudos usando a ventilação “oscilatória” como
dências de lesões em SNC, auditivas e pulmo- resgate em pacientes com critérios para ECMO tam-
nares induzidas por ventilação mecânica mais bém demonstraram bons resultados (Kinsella 1997;
agressiva (Clark, 2000, 2001; Gannon, 1998); Kohelet, 1988). A associação de NO com alta frequên-
Kornhauser, 1994; Wung, 1985). cia oscilatória também foi avaliada em SHPPN grave,
2. Em 1985, Wung relata uma série de casos em mostrando-se estratégia interessante, com resultado
que limitava a pressão inspiratória e permitia da asociação superior ao uso isolado de qualquer das
níveis mais elevados de PaCO2 em pacientes terapêuticas. O autor enfatiza que a eficácia do NO
com SHPPN. Nessa série, 14 dos 15 pacientes está relacionada com a maneira com que se aborda a
apresentavam grave insuficiência respiratória, doença pulmonar de base, possibilitando aumento da
com risco de morte de 100%. Todos os pacien- oferta do NO ao seu local de ação (Kinsella, 1997).
tes sobreviveram, apenas um com doença pul-
monar crônica. Posteriormente, houve relato Oxigenador de membrana
semelhante, com bons resultados com trata- extracorpórea (ECMO)
mento conservador (Dworetz, 1989).
O primeiro relato de sucesso com uso de ECMO
Assim, parece razoável que, embora não existam em RN foi publicado em 1976, pelo grupo do Dr. Bartlett
trabalhos que verdadeiramente confrontem os dois mo- (1976). Desde então, mais de 13.000 RN foram tratados
dos ventilatórios propostos para tratamento da SHPPN, com ECMO, com uma sobrevida acima de 80%, com os
a abordagem inicial minimize agressão ao paciente. melhores resultados obtidos nos grupos de S. Aspiração
Portanto, o uso de ventilação conservadora, além da meconial e SHPPN idiopática – dados de 1998, Neonatal
correção dos distúrbios associados, é a estratégia por ECMO registry. RN com peso > 2 kg e > 35 semanas, por-
nós defendida na abordagem inicial da SHPPN. Quando
tador de doença pulmonar potencialmente reversível,
esta não é suficiente, podemos associar o uso do NO
sem diátese hemorrágica, após ausência de resposta sa-
e/ou associar modo de ventilação não convencional –
tisfatória ao uso máximo de inotrópicos, vasodilatado-
ver abaixo –, utilizando ainda as formas terapêuticas
res e de ventilação mecânica, são candidatos a ECMO.
discutíveis citadas anteriormente, como a alcalose me-
tabólica e aminas vasoativas. Por outro lado, em 1991, A ventilação durante a ECMO é mínima, apenas
um estudo realizado entre médicos norte-americanos visando evitar o total colapso pulmonar. Porém, du-
que exerciam neonatologia apontou a hiperventilação rante a ECMO, são grandes os riscos de complicações,
como base do tratamento da SHPPN (utilizada por 81% incluindo formação de trombos e êmbolos de ar no cir-
dos respondentes), sendo também frequentes o uso cuito, além dos riscos de sangramentos secundários à
de alcalinização, suporte inotrópico e paralisia. Poucos heparinização. A via para realização da ECMO pode ser
eram os neonatologistas que utilizavam a técnica con- a venovenosa (de uso mais recente, atualmente factível
servadora descrita por Wung, 1985; Walsh-Sukys, 1992). com implantação de um único cateter de duplo lúmen,
Assim, fica claro como permanecem variáveis as estra- parecendo mais segura, por não realizar a ligadura da
tégias de tratamento no manuseio clínico dos pacientes carótida, reduzindo os riscos de isquemia cerbral) ou
com SHPPN. a venoarterial (a mais utilizada ao longo dos anos).
Permanecem as dúvidas quanto às lesões neurológicas
Ventilação de alta frequência associadas à ECMO, embora seja difícil caracterizar se as
Em se tratando de um modo de ventilação que lesões surgiram em momento anterior ou durante a rea-
utiliza baixíssimos volumes correntes, minimizando os lização da ECMO.
riscos de volutrauma, o uso da ventilação de alta fre- Por se tratar de um tratamento caro e invasivo,
quência é bastante pertinente em situações de doen- com riscos potenciais, o critério para seu uso inclui ris-
ças pulmonares graves. Tanto a ventilação por “jato” co de mortalidade acima de 80% (usualmente, índice
como a “oscilatória” foram utilizadas para tratamento de oxigenação > 40). Ainda hoje, porém, a grande per-
da SHPPN, associando-se ou não o NO. Novamente, gunta a ser respondida é: qual o grupo que realmente
porém, esses estudos têm limitações em seus dese- se beneficia do uso da ECMO, principalmente após o
nhos, embora traduzam o mesmo conceito que se apli- surgimento de novos modos terapêuticos (p.ex.:NO) e
ca à ventilação convencional, em que em patologias de ventilação. Assim, um dos pontos mais controversos
que cursam com comprometimento parenquimatoso tem sido definir o parâmetro clínico que decida pelo
importante a melhora do quadro de SHPPN só ocorre seu uso (Beck, 1986; Cole, 1988; Marsh, 1988). Também
quando há recrutamento alveolar e redução do shunt ainda será estabelecido o momento de indicação da
intrapulmonar. Assim, um estudo retrospectivo com- ECMO, se mais precoce ou apenas tardio, como resgate,
parou a ventilação a “jato”, como estratégia de resgate, principalmente com a experiência que será adquirida
com a ventilação convencional, sem que houvesse di- no seguimento de RN que foram submetidos a ECMO
ferença na mortalidade ou nas de lesões pulmonares, versus outras formas de abordagem terapêutica. Alguns
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Como Ventilar Crianças com 8
Patologia Obstrutiva?
58
Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?
59
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
o esforço muscular durante a expiração, reduzindo Pode-se ventilar a criança com asma gra-
o aprisionamento de ar. O nível de sedação deseja- ve com volume controlado ou pressão controlada.
do é Escala de Ramsay 4 a 6 (se não houver bloqueio Tradicionalmente, utiliza-se com maior frequência o
neuromuscular). controle a volume; entretanto, a pressão controlada po-
Os fármacos mais utilizados são: deria, teoricamente, ser vantajosa, pois frequentes mu-
danças na resistência das vias aéreas não interfeririam
1. Midazolam: em infusão contínua de 0,1-0,5
na pressão aplicada.
mg/ kg/h (em associação ao fentanyl, pode ha-
ver potencialização da ação de ambos e causar Inicialmente, deve-se optar pelo modo de venti-
hipotensão grave); lação controlada, que permite a recuperação da fadiga
da musculatura respiratória e evita volume minuto ou
2. Fentanil: em infusão contínua de 1-10 mcg/
frequência respiratória elevados por conta de respira-
kg/h.
ções do paciente (que poderia levar a hiperinsulflação
3. Pode ser utilizado por ser um opioide não li- dinâmica).
berador de histamina. Observar hipotensão e
Por cursar com aumento significativo de resis-
rigidez torácica quando em altas doses;
tência de vias aéreas, o asmático deve ser ventilado
4. Cetamina: em infusão contínua de 0,5-2,0 mg/ com tempo inspiratório relativamente alto para permi-
kg/h; tem efeitos analgésico, sedativo, amné- tir a entrada de ar. O tempo expiratório deve ser bem
sico, de relaxamento da musculatura lisa das maior, visto que na ventilação mecânica convencional
vias aéreas, de elevação da frequência cardía- a inspiração ocorre de maneira ativa, enquanto a expi-
ca e da pressão arterial; deve ser utilizada em ração acontece de maneira passiva. O tempo expira-
associação a um benzodiazepínico para pre- tório prolongado, de pelo menos três vezes o tempo
venção de seus efeitos indesejáveis (alucina- inspiratório permite a adequada saída do gás inala-
ções/delírios/sonhos animados); do, diminuindo o risco de hiperinsulflação dinâmica.
5. Propofol: em infusão contínua de 25-100 mcg/ Para que se tenha um tempo expiratório prolongado,
kg/ min. Não deve ser utilizado por mais de sem encurtar o tempo inspiratório, deve-se utilizar
48h, pela possibilidade de síndrome de infu- frequência respiratória baixa, inicialmente de 15 a 20
são do propofol. ventilações por minuto.
O bloqueio neuromuscular está indicado em pa- O volume corrente utilizado (em caso de venti-
cientes que, apesar da sedação profunda, se mantêm lação com volume controlado) também deve ser baixo
desacoplados do respirador com risco de extubação e para se evitar aprisionamento de ar. Geralmente, inicia-
de gerar altas pressões nas vias aéreas. O fármaco de -se com volume corrente de 6 mL/kg.
escolha é o vecurônio, por ser praticamente isento de Com frequência respiratória e volume corrente
efeitos cardiovasculares e por ser o que menos libera baixos, temos um volume minuto diminuído (VM = VC x
histamina. Deve ser infundido continuamente, em dose FR), o que pode levar à retenção de CO2. Toleram-se tais
de 1-10 mcg/kg/ min. A monitorização do BNM deve ser valores aumentados de CO2, desde que o pH se mante-
feita com o método TOF (train-of-four). nha acima de 7,25. Tal estratégia é denominada hiper-
capnia permissiva.
Quando optamos por utilizar ventilação com
Princípios da ventilação pressão controlada, devemos evitar níveis elevados de
pressão inspiratória, limitando assim o volume corrente
mecânica na asma
(que é diretamente proporcional à pressão) e evitando
O paciente asmático apresenta significativa risco de iatrogenias. Sugere-se evitar pressão inspirató-
obstrução ao fluxo aéreo inspiratório e expiratório, ria superior a 40 cm de água.
devido ao aumento da resistência das vias aéreas. Recordemos agora que a pressão inspiratória
Se não houver tempo suficiente para se expirar o ar possui dois componentes: pressão resistiva e pressão
inspirado, ocorrerá um esvaziamento alveolar incom- alveolar. O aumento da resistência de vias aéreas (cau-
pleto, chamado de hiperinsulflação dinâmica. O apri- sada pela asma) leva a incremento da pressão resistiva.
sionamento desse ar gera uma pressão positiva ao Se for possível monitorizar a pressão de platô (pressão
final da expiração, denominada auto-PEEP. Essa con- alveolar + PEEP), através de pausa inspiratória, devere-
dição pode favorecer a instalação de pneumotórax e mos mantê-la em níveis inferiores a 30-35 cm H2O.
choque cardiogênico, com significativo aumento da Com relação ao PEEP, devemos utilizar PEEPs de 3
morbimortalidade. a 5 cm H2O; com isso, possibilitamos a abertura de vias
Dessa maneira, a ventilação mecânica deve ser aéreas de pequeno calibre que podem estar colabadas
direcionada no sentido de se evitar a hiperinsulflação no mal asmático. Níveis elevados de PEEP devem ser
dinâmica. evitados, devido à tendência de formação de auto-PEEP
60
Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?
61
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
de melhora da resistência de vias aéreas, sugerindo o B. Paciente em UTI Pediátrica, consciente, com
início do desmame. terbutalina EV contínua, FiO2=0,5 em máscara
Neste momento, deve-se diminuir a sedação e de Venturi;
se iniciar modos ventilatórios assistidos (nos quais o C. Paciente em UTI Pediátrica, sonolento mas com
paciente participa da ventilação). Podemos utilizar ven- vias aéreas pérvias, com desconforto respira-
tilação assisto-controlada, mandatória intermitente ou tório progressivo, em nebulização contínua
suporte de pressão. A ventilação com suporte de pres- com salbutamol e necessidade de FiO2=0,5;
são constitui excelente método de desmame, por ser D. Paciente em UTI Pediátrica, sonolento, em
bastante confortável para o paciente. uso de terbutalina EV contínua, FiO2=0,5
Com a melhora da asma, o desmame deve ser em máscara de Venturi e com vômitos volu-
rápido, objetivando-se manter a VPM o menor tempo mosos e frequentes.
possível. 6. Na ventilação limtada a volume de uma criança asmá-
tica, o aumento da pressão de platô pode significar:
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Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?
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63
Ventilação Mecânica na 9
Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo
A síndrome do desconforto respiratório agudo da resistência vascular pulmonar (RVP) causado por uma
(SDRA) caracteriza-se por processo inflamatório extenso combinação complexa de lesão pulmonar primária, em
que leva a quebra da barreira alveolocapilar com desen- consequência de resposta inflamatória à agressão pul-
volvimento de edema intersticial e alveolar, diminuição monar, e de complicações do tratamento, principalmen-
da complacência pulmonar, desequilíbrio da relação te a lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica
ventilação/perfusão (relação V/Q) e hipoxemia refratária (LPIVM). A hipertensão pulmonar impõe carga adicional
à administração de oxigênio. A doença é causada por ao ventrículo direito, limitando o débito cardíaco.
agressão pulmonar direta ou por lesão sistêmica. A le- A definição da SDRA passou por revisão recente.
são dos pneumócitos tipo II produtores de surfactante Foram estabelecidos critérios para definir o tempo da
e a inativação do surfactante pelo processo inflamatório doença, eliminado o termo lesão pulmonar aguda, e a
também contribuem para o colabamento expiratório de SDRA foi classificada em leve, moderada ou grave de
unidades alveolares, com consequente redução da ca- acordo com os níveis do índice de oxigenação e índice
pacidade residual funcional. Além disso, existe aumento de saturação de oxigênio, conforme ilustra a Tabela 9.1.
66
Ventilação Mecânica na Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
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68
A Utilização da Ventilação 10
Não Invasiva na
UTI Pediátrica
Carolina Gonzaga
necessidades metabólicas. Deve haver reservas sufi- a evolução da crise de asma, uma progressiva diminui-
cientes para responder aos aumentos das demandas ção do volume corrente. Nessa tentativa de compen-
ventilatórias, como durante o exercício. sação, visando manter o mesmo volume minuto, essas
A capacidade vital (CV) e suas subdivisões forne- crianças com crise de asma grave também aumentam
cem as reservas necessárias para a ventilação aumenta- sua frequência respiratória, hiperventilando áreas não
da (Tabela 10.1). obstruídas.
A complacência e a resistência pulmonar e torá- O comprometimento pulmonar de crianças com
cica criam a carga contra a qual os músculos respirató- crise de asma grave não se dá de maneira homogênea.
rios trabalham para ventilar os pulmões. Nos pulmões Existem áreas parcialmente obstruídas e, portanto, par-
sadios esse trabalho é realizado durante a fase inspira- cialmente ventiladas. Nessas áreas, durante a inspira-
tória, sendo a expiração uma manobra passiva. ção, por tração da caixa torácica, aumenta o diâmetro
da via aérea, permitindo uma pequena entrada de ar.
Entretanto, durante a expiração, quando cessa a tração
Diferenças de pressão durante a da caixa torácica, ocorre diminuição da via aérea, difi-
respiração cultando a saída de ar dos alvéolos e gerando aumento
da capacidade residual funcional e enfisema (áreas de
A ventilação ocorre em resposta aos gradientes
hipoventilação). São vistas ainda áreas com obstrução
de pressão criados pela expansão e contração torácicas.
completa (atelectásicas), que não são ventiladas e apre-
A diferença entre duas pressões é denominada gra-
sentam efeito shunt. Por outro lado, existem áreas ainda
diente de pressão. Existem três gradientes de pressão
não comprometidas que são hiperventiladas e que são
importantes envolvidos na ventilação: (1) transrespira-
comprometidas no sentido de compensar a hipoxemia
tório, (2) transpulmonar e (3) transtorácico. O gradiente
e tentar manter o volume minuto. O produto final desse
transrespiratório faz com que o gás flua para dentro e
desarranjo na relação ventilação/perfusão manifesta-se
para fora dos alvéolos durante a respiração. O gradiente
por meio de hipoxemia acompanhada de níveis variá-
de pressão transpulmonar é a diferença de pressão que
veis de pCO2, dependendo da predominância de áreas
mantém a insuflação alveolar.
hipoventiladas ou de atelectasias.
À medida que progride a obstrução e piora a hi-
Alterações na relação V/Q na criança poxemia, ocorre um aumento progressivo do trabalho
com insuficiência respiratória aguda e a muscular, podendo ser observada acidose metabólica,
a qual poderá associar-se a possível retenção de CO2
ação da VNI (IRA Tipo II) e levar a acidose mista, que tem um prog-
Até os 5 anos de idade, a resistência das vias aé- nóstico pior e exige medidas mais agressivas.
reas está quase exclusivamente relacionada ao diminu- A ventilação não invasiva com pressão positiva
to diâmetro das pequenas vias aéreas inferiores. Assim, por meio de máscara age auxiliando a respiração, à me-
em situações de broncoespasmo, edema de mucosa e dida que diminui o trabalho respiratório e mantém tro-
hipersecreção há um aumento exagerado dessa resis- cas gasosas adequadas. Esse modo de ventilação vem
tência ao fluxo aéreo. Para manter o volume corrente é sendo cada vez mais utilizado, na tentativa de se reduzir
necessário que a criança produza uma grande pressão o número de intubações e suas graves complicações.
negativa intratorácica, por meio do aumento da utiliza-
ção da musculatura acessória. À medida que evolui o
quadro obstrutivo, ocorre uma progressiva diminuição
do volume corrente. Muitas vezes, apesar de todo o es-
Vantagens da VNI
forço da criança em gerar grandes pressões inspirató-
rias negativas e compensar a insuficiência respiratória, Não invasividade
esse mecanismo falha em razão da maior complacên- A ventilação por meio de uma máscara é fácil
cia torácica, da fadiga muscular ou do fluxo turbulento de se iniciar e suspender. Numa situação aguda, con-
nas vias aéreas. Como consequência, observa-se, com some menos tempo do que a intubação e evita as
Tabela 10.1:
Volume Inspiratório de
reserva (VIR) Capacidade inspiratória (CI) Capacidade vital (CV)
Capacidade Pulmonar Total Volume corrente (Vt)
(CPT) Volume expiratório de reserva
(VER) Capacidade residual funcional
Volume residual (VR)
(CRF)
Volume residual (VR)
70
A Utilização da Ventilação Não Invasiva na UTI Pediátrica
complicações associadas à colocação de um tubo en- para VNI, que são aparelhos muito mais baratos quando
dotraqueal. A natureza invasiva da intubação endo- comparados com os respiradores microprocessados de
traqueal é o motivo principal utilizado para justificar a ventilação mecânica invasiva.
postergação do início da ventilação mecânica até está-
gios mais avançados de insuficiência respiratória aguda.
Desvantagens e complicações
Diminuição do desconforto respiratório da VNI
A dor resultante da presença da sonda endotra-
queal na cavidade oral é a principal fonte de descon- Distensão gástrica
forto em pacientes intubados. Além disso, a intubação A distensão gástrica é uma ocorrência rara em
endotraqueal impede que o paciente fale. A falta de co- pacientes tratados com VNI. Isso acontece porque para
municação com parentes e profissionais da área de saú- abrir o esfíncter esofagiano inferior é necessária uma
de é frustrante pela incapacidade de verbalizar, o que pressão superior a 33 +/- 12 mmHg. As crianças teori-
prejudica a capacidade de cooperar. camente estariam protegidas de distensão gástrica im-
portante com pressões de até 25 mmHg.
Redução da incidência de complicações
Pneumonia nosocomial é uma complicação fre- Necrose de pele facial
quente de ventilação mecânica e fator importante de O desenvolvimento de necrose de pele no local
prognóstico de mortalidade. A intubação traqueal pro- de contato da máscara é a complicação mais comum de
voca um curto-circuito nas defesas de barreira das vias VNI, com uma incidência aproximada de 10%. Dentre os
aéreas, prejudica a depuração mucociliar, resulta em fatores que contribuem para necrose de pele se destaca
descamação das células epiteliais, levando a maior ade- a hipóxia tecidual pela pressão da máscara. A utilização
rência bacteriana e colonização traqueal. Além disso, de proteção no local de adaptação da máscara pode
serve como um caminho para os microrganismos entra- evitar a necrose.
rem na árvore traqueobrônquica.
Várias complicações laríngeas, faríngeas e tra-
queais são causadas pelas sondas endotraqueais. Essas Modos ventilatórios mais
complicações podem ocorrer no momento da intuba-
ção (tentativa prolongada de intubação do brônquio utilizados
fonte direito, hipotensão arterial, lesão das vias aéreas),
durante o período da intubação (disfunção mecânica BIPAP (Bilevel positive airway pressure)
do tubo endotraqueal, escape do cuff, ulceração larín- É um modo ventilatório que utiliza dois níveis
gea), e após remoção da sonda endotraqueal (estridor de pressão, uma pressão inspiratória (IPAP -inspiratory
pela obstrução das vias aéreas superiores, rouquidão, positive airway) e uma pressão expiratória (EPAP - ex-
dificuldade para deglutição na traqueia). piratory positive airway pressure), sendo IPAP > EPAP,
A sinusite é uma causa frequente de febre sem ocorrendo, entretanto, a pressão positiva nos dois ci-
foco aparente e de bacteremia em pacientes sob venti- clos da ventilação.
lação mecânica. O risco está relacionado com a presença Existem poucos estudos avaliando o uso da VNI
de tubos na nasofaringe e com a duração da ventilação, na população pediátrica, porém seu uso vem crescen-
podendo, então, ser minimizado pela VNI. do, e em 1995 Fortenberry publicou um estudo retros-
pectivo em que 28 crianças entre 4 meses e 17 anos,
idade média de 8 anos, foram submetidas a VNI no
Menor uso de sedação modo BIPAP por um período médio de 72 horas. Foram
Para que o paciente permaneça em VNI com más- avaliadas variáveis clínicas e laboratoriais, houve redu-
cara ou pronga nasal, muitas vezes ele nem precisa de ção significativa na frequência respiratória, melhora na
sedação. As crianças muito pequenas ou aquelas que oximetria de pulso e da hemogasometria. Apenas três
não colaboram precisam ser sedadas, porém a quanti- pacientes necessitaram de intubação.
dade de sedação necessária é menor do que a utilizada Em 1998 Padman publicou um estudo clínico
durante a ventilação invasiva. prospectivo no qual 34 pacientes com insuficiência res-
piratória, entre 6 meses e 20 anos, foram submetidos a
ventilação não invasiva via bilevel positive airway pres-
Menor custo para o tratamento da
sure. O trabalho demonstrou uma redução na frequên-
insuficiência respiratória cia respiratória, na frequência cardíaca e no escore de
Atualmente muitas empresas estão cada vez mais dispneia, além de melhorar a oxigenação e reduzir a fre-
investindo na produção de ventiladores específicos quência de intubação.
71
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
Máscara facial
Tipo de máscara que envolve nariz e boca e ofe-
rece menor resistência ao fluxo de ar, permitindo uma
melhor ventilação. Tem a desvantagem de facilitar a dis- Figura 10.3: Pronga nasal.
tensão abdominal e aumentar o risco de broncoaspira-
ção (Figura 10.1).
Ventiladores
A ventilação não invasiva pode ser feita em qual-
quer tipo de ventilador artificial. Porém existem venti-
ladores exclusivos para VNI, que, além de serem mais
baratos, dispõem de mecanismos compensatórios ao
escape de ar pela máscara.
Existem limitações quanto ao uso dos ventilado-
res exclusivos para VNI. São elas:
Circuito inspiratório e expiratório único pro-
porcionando reinalação de CO2.
Imprecisão no ajuste da fração inspirada de
Figura 10.1: Máscara facial. oxigênio.
Opções reduzidas de alarme.
Máscara Nasal
Mais confortável, facilita a fala e a comunicação. Cuidados e monitorização
Por não envolver cavidade oral, minimiza os riscos de
broncoaspiração (Figura 10.2). A monitorização constante da criança em ventila-
ção não invasiva é indispensável para o sucesso da mes-
ma, por isso toda a equipe deve estar integrada nesse
propósito.
É importante explicar ao paciente e/ou à família
em que consiste o tratamento, quais os objetivos que
se pretende atingir e sobretudo motivá-los a colaborar,
mostrando que a sua adaptação e tolerância são funda-
mentais para o sucesso terapêutico.
Antes de iniciar a VNI, devemos posicionar a crian-
ça confortavelmente, elevando sempre a cabeceira, a
fim de facilitar a expansão pulmonar. Iniciada a venti-
Figura 10.2: Máscara nasal. lação, dados devem ser constantemente monitorizados
72
A Utilização da Ventilação Não Invasiva na UTI Pediátrica
para que alterações sejam detectadas e complicações Os níveis de pressão devem ser progressivamen-
sejam prevenidas. Esses dados são: te ajustados de acordo com a adaptação, a tolerância
Frequência respiratória e a monitorização da criança. Níveis mínimos de pres-
Frequência cardíaca são devem ser considerados, e gradativamente eleva-
dos em 2 cm H2O até limites que promovam ventilação
Consciência
adequada.
Saturação de oxigênio (oximetria de pulso)
A IOT não deve ser retardada quando o suporte
Ausculta pulmonar ventilatório não invasivo não estiver sendo efetivo.
Expansibilidade torácica
Padrão muscular ventilatório e uso de muscu-
latura acessória Exames de controle
Volume corrente (quando possível)
PAM RX de Tórax
De acordo com a rotina de cada serviço, e acima
Alguns cuidados mais específicos da equipe de de tudo de acordo com a necessidade e a clínica do pa-
enfermagem devem ser levados em consideração: ciente submetido à ventilação não invasiva, este deve
Vigiar integridade da pele nas zonas de conta- ser submetido a exame de RX de tórax pelo menos a
to com a máscara cada 24 horas. Esse tempo deve ser reduzido em casos
de piora clínica, como aumento da frequência respirató-
Aplicar protetores adesivos hidrocoloides
ria, taquicardia, dessaturação.
nos locais de maior pressão, normalmente no
nariz.
Vigiar secura excessiva das mucosas, Hemogasometria
hidratando-as. Assim como o RX, o controle de gases sanguíneos
Vigiar distensão gástrica e a necessidade de é de fundamental importância na avaliação e evolução
SNG. da criança em VNI. Uma coleta de hemogasometria
Vigiar a quantidade de secreções e a capacida- deve ser feita a cada 12 horas, ou sempre que ocorra
de da criança em expeli-las. alteração do quadro clínico que indique piora súbita.
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73
Monitorização Respiratória 11
em Ventilação Mecânica
Jefferson P. Piva
Patrícia Miranda Lago
Celso Rebelo
radiação em crianças pode representar o equivalente a 3. A amostra deve ser etiquetada com a identi-
algumas sessões de radioterapia. ficação completa, a hora da coleta, a tempe-
ratura do paciente e a FiO2 que estava sendo
utilizada.
Gasometria e Equilíbrio acidobásico
4. A análise deve ser feita no máximo 10 minutos
A gasometria arterial é um exame fundamental
depois da coleta ou ser mantida resfriada a até
na monitorização do paciente em ventilação mecânica.
0-4 °C por não mais que 30 minutos.
Permite avaliar a eficácia das trocas gasosas e o seu efei-
to no metabolismo.8 Deve-se, porém, ressaltar que for- 5. Antes de aceitar o resultado como válido, es-
nece dados intermitentes, podendo induzir a erros na pecialmente no caso de não coincidir com a si-
presença de mudanças bruscas.2 tuação clínica do paciente, deve-se considerar
Os controles gasométricos podem ser realizados a possibilidade de algum erro na coleta ou na
de maneira intermitente (análise de amostras sanguí- técnica de realização do exame.
neas isoladas) ou contínua. A monitorização contínua
invasiva através de cateter arterial com sensor de fibra
óptica é menos empregada por ser onerosa e com dis- Interpretação da gasometria
cutível aplicabilidade em Pediatria. Teria como vanta- A interpretação da gasometria deve ser realiza-
gem a diminuição do número de coletas, sendo útil em da obedecendo a uma sequência (oxigenação, ventila-
situações que requerem coletas seriadas, como PO de
ção e equilíbrio acidobásico) e sabendo que os dados
cirurgia cardíaca, ECMO e SDRA.8
obtidos de uma amostra de sangue apenas refletem o
A artéria radial é a mais utilizada para coletas de estado do paciente no momento da coleta, já que es-
gasometria arterial, em razão de suas características ses valores podem mudar de maneira significativa em
anatômicas: ser superficial, ter um bom calibre e formar muito pouco tempo. Por essa razão, os resultados en-
um arco com a artéria cubital, o que evita fenômenos contrados nunca devem ser avaliados isoladamente,
de isquemia distal. Também, têm-se utilizado as artérias fora do contexto da situação clínica do paciente, dos
umbilical e temporal no recém-nascido e no lacten- parâmetros respiratórios, da situação circulatória e de
te pequeno, assim como a artéria femoral na criança outros dados de monitorização. É importante salientar
maior. As principais complicações da coleta são a dor, o
que os aparelhos analisadores de gases somente me-
vasoespasmo, a formação de trombos, a hemorragia e a
dem de maneira direta o pH, a PaO2 e a PaCO2, os outros
infecção local.1
parâmetros (saturação de oxigênio, HCO3 e excesso de
A coleta por capilares tem a vantagem de ser de bases) são calculados.8 (Tabela 11.1)
fácil obtenção, com retirada de pequeno volume de
sangue e com pequeno risco. Em algumas situações o
resultado pode diferir muito daquele obtido pela coleta Tabela 11.1: Interpretação da gasometria a partir do sangue
por punção, já que a compressão exercida para drenar Venosa Arterial Variação Acidose Alcalose
o sangue capilar pode produzir hemólise com elevação
do potássio. É útil em crianças pequenas, em situações pH 7,35-7,38 7,4 7,35-7,45 < 7,35 > 7,45
críticas, quando a coleta é extremamente difícil. pCO2
~45 40 35-45 > 45 < 35
(mmHg)
A amostra de sangue venoso periférico ser-
ve para avaliar o equilíbrio acidobásico e, de maneira HCO3
19-23 24 20-24 < 20 > 24
aproximada, o estado da ventilação, proporcionando (mEq/L)
pouca informação sobre a oxigenação. Por outro lado,
as amostras de sangue venoso misto obtidas na artéria
pulmonar ou no cateter venoso central podem ser úteis Avaliação da oxigenação
na avaliação dos quadros respiratório, metabólico e cir- A respiração se inicia no meio externo (entra-
culatório do paciente.2
da de ar nos pulmões), segue pela interface pulmonar
No momento da coleta de gasometria alguns cui- (trocas gasosas) e transporte de oxigênio aos tecidos
dados devem ser tomados:2 (dependente do débito cardíaco, da saturação da he-
1. As seringas para coleta devem ser hepariniza- moglobina, do oxigênio dissolvido e da perfusão teci-
das com heparina sólida, já que a líquida pode dual), vindo a finalizar nas mitocôndrias (extração de
diluir a amostra, levando a erros. oxigênio) para atender ao metabolismo celular. A ga-
2. Após a coleta sanguínea, devem ser elimina- sometria arterial permite avaliar parte desse processo.
das as bolhas da seringa e esta deve ser ve- Para avaliar a oferta de oxigênio aos tecidos é necessá-
dada e invertida várias vezes a fim de diluir a rio conhecer a oxigenação do sangue arterial e venosa
heparina, para tornar a mistura homogênea. mista, o gasto cardíaco e a perfusão orgânica específica.
76
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica
O estado de oxigenação pode ser avaliado pe- Imaginemos um paciente recebendo uma FiO2
los valores da pressão arterial de oxigênio (PaO2), que de 0,40 e que apresente uma gasometria com uma
refletem a captação de oxigênio pelos pulmões, e pela PaO2 de 100 mmHg. Nesse caso, aplicando a fórmula
saturação arterial da hemglobina (SatO2), que indica observa-se que sua PaO2 deveria situar-se ao redor de
a capacidade de transporte de oxigênio pela hemo- 235 mmHg [(0,4 x713)- (40/0,8)]. Logo, uma PaO2 de 100
globina. A PaO2 representa a pequena quantidade de mmHg representa um mau resultado, pois seu gradien-
oxigênio que está dissolvida no plasma (0,003 mL/ te alveoloarterial [D(A-a)O2] está muito elevado (ao re-
litro), sendo expressa em mmHg, enquanto a maior dor de 135 mmHg!).
parte do oxigênio é transportada através da hemoglo- Assim, pacientes em VM devem ter sua PaO2 ava-
bina (1,34 mL por grama de hemoglobina saturada a liada sempre levando em consideração a PaO2. Uma
100%). Respirando ar ambiente (FiO2 = 0,21) ao nível maneira aproximada (portanto não exata!) de estimar
do mar, a PaO2 oscila entre 60 e 100 mmHg. Hipoxemia a PaO2 é multiplicar por 5 a percentagem de oxigênio
é definida como uma PaO2 inferior a 60 mmHg ou uma inspirada e, a partir daí, estimar o gradiente.
saturação de hemoglobina inferior a 90%, indepen-
dentemente da FiO2.
Os parâmetros mais úteis para avaliar a oxigena-
Relação PaO2/FiO2
ção são: a PaO2, a saturação da hemoglobina, a diferen- Em condições normais essa relação deve ser su-
ça alveoloarterial de oxigênio [D(A-a)O2], a relação entre perior a 350 mmHg. Quando seu valor for inferior a 300
a PaO2 e a fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2), a mmHg é definido que há hipoxemia secundária a lesão
PaCO2 para analisar a ventilação, estimar o shunt pulmo- pulmonar; entretanto, se for inferior a 200 o comprome-
nar (Qs/ Qt) e o pH associado ao excesso de bases para timento pulmonar é considerado grave. A atual defini-
controlar o equilíbrio acidobásico.8 ção de SDRA requer uma relação igual ou inferior a 200.
É um parâmetro útil e sensível para avaliar a oxigena-
ção, porém tem o inconveniente de não valorizar a in-
PaO2 fluência de outros parâmetros utilizados na assistência
É o principal indicador da captação de oxigê- respiratória (PIP, PEEP, por exemplo).
nio nos pulmões. Seu valor normal está entre 60 e 100
mmHg, sendo cada vez mais aceitáveis valores ao re-
Índice de oxigenação
dor de 60 mmHg em pacientes submetidos a VM. A
hipoxemia é considerada moderada quando abaixo Uma maneira muito mais precisa e adequada de
de 60 mmHg e definida como crítica quando inferior a avaliar a PaO2 em pacientes submetidos a VM é relacio-
45 mmHg. A hipóxia (acidose lática resultante de me- ná-la com a pressão média de vias aéreas (MAP) e a FiO2.
tabolismo anaeróbico) é a complicação mais temida. Essas variáveis foram agrupadas na fórmula do índice
Assim, hipoxemia sem hipóxia associada pode ser tole- de oxigenação [(MAP x FiO2)/PaO2] x 100. Idealmente,
rada em pacientes submetidos a VM. O maior exemplo nesse grupo de pacientes, deveria haver uma fórmula
dessa eventualidade são os pacientes com cardiopa- que contemplasse também os valores da pressão expi-
tia cianótica que mantêm seu metabolismo aeróbico ratória positiva final (PEEP).
(sem acidose associada) mesmo com PaO2 muito bai-
xas. A leitura isolada da PaO2 não oferece grandes in- Saturação arterial de hemoglobina
formações, visto que existe uma relação direta entre
ela e a FiO2.
(Sat O2)
Mede a porcentagem de hemoglobina oxige-
nada (O2Hb) em relação com a hemoglobina total.
Gradiente alvéolo-arterial de oxigênio: Considera-se normal entre 95 e 99 %, sendo aceitável
D(A-a)O2 entre 90 e 95 %. Por definição, hipoxemia é referida
como valores inferiores a 90%, enquanto a hipoxemia
A D(A-a)O2 expressa a diferença de entre a PaO2 e
grave fica abaixo de 85%.
a pressão alveolar de oxigênio (PAO2), que oscila entre
5 e 20 mmHg. Essa diferença reflete a parcela de san- A maior quantidade de oxigênio é transportada
gue que retorna ao coração esquerdo e que não tomou ligada à hemoglobina (1,34 mL por grama de hemo-
parte na oxigenação capilar pulmonar. Conhecendo-se globina). A SatO2 depende da PaO2, da concentração
a FiO2 é possível estimar a PaO2 por meio da seguinte de hemoglobina, da presença de outras hemoglobinas
fórmula: não oxigenadas e da afinidade da hemoglobina pelo
oxigênio, avaliada por meio da curva de dissociação da
PAO2= FiO2 x (pressão atmosférica – pressão do
hemoglobina. Em condições normais uma saturação de
vapor de água) – pCO2 / 0,8
50% corresponde a uma PaO2 de 28 mmHg (ver Figura
em que PaO2= FiO2 x (760-47) – pCO2/0,8 11.1), enquanto uma saturação de 90% corresponde a
em que PaO2= FiO2 x (713) – pCO2/0,8 uma PaO2 de 60 mmHg, e uma saturação de 60%, a uma
77
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
PaO2 de 30 mmHg. Esses valores podem ser maiores ou =(Hb x1,36x SaO2) + PaO2 x 0,0031
menores dependendo da afinidade da hemoglobin, CvO2 = Conteúdo de O2 no sangue venoso, que
que se altera em função do pH, da PCO2 e da tempera- seria calculado por meio de:
tura corpórea, entre outros.
=(Hb x1,36x SvO2) + PvO2 x 0,0031
Deve-se ressaltar que a saturação da hemoglo-
No paciente submetido a VM o shunt intrapulmo-
bina é inadequada para avaliar e monitorizar PaO2 ele-
nar pode ser estimado utilizando FiO2 a 100%, durante
vadas. Uma diferença na saturação de 1% (de 98 para
20 minutos, com o emprego da seguinte fórmula:
99%) pode representar uma diferença superior a 150
mmHg na PaO2. Q’S/ Q’T = 100[(D(A-a)1O2 x 0,0031) / (CaO2 - CvO2)
+ D(A-a) 1O2 x 0,0031]
em que: D(A-a) 1O2 é a diferença alveoloarterial de
oxigênio a 100%.
Avaliação da Ventilação
A pressão arterial de CO2 (PaCO2) é o parâmetro
que melhor define a ventilação pulmonar, e depende
diretamente da produção de CO2 e inversamente da
ventilação alveolar. Quando a ventilação é normal, a
PaCO2 se mantém ao redor de 40 mmHg. Se a PaCO2
for inferior a 35 mmHg se considera hiperventilação
ou hipocapnia; por outro lado, quando supera os 45
mmHg chamamos de hipoventilação ou hipercap-
nia. A hipercapnia pode ser moderada (entre 45 e 60
mmHg), grave (entre 60 e 80 mmHg) ou crítica (acima
de 80 mmHg). A PaCO2 influencia o pH sanguíneo, pois
para cada aumento de 10 mmHg na PaCO2 ocorre uma
redução de 0,08 no pH (e vice-versa). Quando as altera-
ções na PaCO2 ocorrem de maneira lenta, o organismo
tem tempo de realizar a sua compensação (retendo ou
eliminando bicarbonato).
Em algumas doenças pulmonares, para minimi-
Figura 11.1: Representação esquemática da relação entre zar a agressão pulmonar induzida pela ventilação me-
a saturação arterial da hemoglobina, a respectiva PaO2 e os cânica, se admitem valores de PaCO2 superiores a 80
fatores que aumentam e diminuem a sua afinidade. mmHg (hipercapnia permissiva), mantendo um pH de
7,20-7,25.9
Além de avaliar a ventilação alveolar, a medida da
Curto-circuito arteriovenoso pulmonar PCO2 em pacientes submetidos a VM pode ser empre-
gada para avaliar o espaço morto fisiológico (VD / VT),
(shunt pulmonar Q’S / Q’T) utilizando a seguinte fórmula:
É a porcentagem de sangue venoso que não se
VD / VT = (PaCO2 – PECO2) / PaCO2
oxigena durante sua passagem através dos capilares
pulmonares. Para calcular são necessárias uma amostra em que PECO2 é a medida do CO2 no gás expirado.
de sangue arterial e outra de sangue venoso misto (de
artéria pulmonar). É calculada como a relação entre as
diferenças de conteúdo do oxigênio alveoloarterial e Equilibrio Acidobásico
do arteriovenoso. Normalmente o shunt intrapulmonar O pH é o logaritmo negativo da concentração
oscila entre 5% e 7%. Na SDRA observa-se um shunt su- de hidrogênio [H+] livre. Os três elementos principais
perior a 15%, considerado muito grave quando supe- do equilíbrio acidobásico são o pH, a PaCO2 (regulada
rior a 20%, e pode ser estimado por meio da seguinte pela ventilação pulmonar, componente respiratório) e
fórmula: a concentração de HCO no plasma (regulada pelo rim,
O Q’S/ Q’T = (Cideal – CaO2) / (Cideal – CvO2) componente metabólico). Para manter estável o pH, a
em que: Cideal= Conteúdo arterial ideal de O2 PaCO2 e o HCO3 devem estar compensados. Esses três
Cao2 = Conteúdo de O2 no sangue arterial, que elementos se inter-relacionam segundo a fórmula:
seria calculado por meio de: pH = 6,1 + log HCO3/PaCO2.
78
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
80
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica
alveolar, já que existem alvéolos ventilados porém não 1. Detectar respirações ineficazes e esforços ins-
perfundidos. A composição dos gases contidos nesses piratórios. Nas modalidades espontâneas, a
alvéolos será muito semelhante à do ar atmosférico, e capnografia pode detectar movimentos respi-
ao misturar-se com outros alvéolos que foram perfundi- ratórios que mobilizam unicamente o ar conti-
dos produzem uma concentração do CO2 total expirado do no espaço morto. Também pode identificar
muito inferior aos valores de CO2 arterial, aumentando o esforços respiratórios que não conseguem
gradiente PetCO2-PaCO2. O CO2 expirado pode chegar a abrir a válvula inspiratória e distinguir as ven-
zero em situações de parada cardíaca, e se houver uma tilações desencadeadas pelo ventilador das
reanimação efetiva a capnografia demonstrará um au- realizadas pela criança.
mento progressivo da PetCO2.15 2. Avaliar a frequência respiratória e o padrão
Tem sido sugerido que a capnografia pode ser ventilatório. Na ventilação espontânea serve
útil na escolha da melhor PEEP durante a ventilação para detectar a presença de pausas respirató-
mecânica. A hipótese é que a PEEP diminui o espaço rias prolongadas e/ou alterações de ritmo.
morto pelo recrutamento alveolar, enquanto a PEEP 3. Detectar situações de ventilação do espaço
elevada leva a hiperdistensão dos alvéolos, o que acar- morto ou shunt intrapulmonar mediante a
reta aumento do espaço morto. Portanto o gradiente é avaliação do PetCO2-PaCO2.
menor quando o recrutamento alveolar é máximo sem
hiperdistensão.11
Principais indicações da capnografia
1. Em situações normais do parênquima pulmo-
Ressuscitação Cardiopulmonar nar e de sua perfusão, se considera a PetCO2
A diminuição no débito cardíaco e do fluxo san- um reflexo fiel da arterial, o que permite dimi-
guíneo pulmonar durante a parada cardíaca resulta em nuir o número de gasometrias.
diminuição da eliminação do PetCO2 pelos pulmões e, 2. É muito útil na monitorização da intubação
consequentemente, em uma PetCO2 baixa. O sucesso da endotraqueal e no seguimento da retirada da
ressuscitação está em aumentar o débito cardíaco, que ventilação mecânica.
levará por sua vez a um aumento do PetCO2. A monito- 3. Na alteração da relação ventilação-perfusão
rização também serve para avaliar a eficácia das com- pode ser arriscado confiar apenas na pressão
pressões cardíacas externas durante a ressuscitação.15 de CO2 expirado como indicativa da arterial,
porém pode-se usar o gradiente e sua variação
como uma orientação evolutiva.
Shunt pulmonar
Em algumas doenças pulmonares (atelectasia,
bronconepumonia, síndrome do desconforto respi- OBTENÇÃO DE DADOS DA
ratório agudo, intubação bronquial seletiva) existem
alvéolos perfundidos, porém não ventilados. A ventila- MECÂNICA RESPIRATÓRIA
ção alveolar continua graças aos alvéolos saudáveis, os Todos os dados disponíveis na tela do ventilador
quais dão um valor médio de CO2 expirado ao redor de provêm de três variáveis básicas: fluxo, tempo e pressão
40 mmHg. A PetCO2, nessa situação é um reflexo apenas (Figura 11.2).
dos alvéolos que participam da troca gasosa mostrando
níveis normais, e o gradiente PetCO2-PaCO2 não aumen-
Fluxo Tempo Pressão
ta, podendo ser pequeno ou nulo.
Volume corrente
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
Calculando o fluxo a cada um desses intervalos e da ordem de 5 mL, se tornam inaceitáveis para a ava-
integrando o valor de todos os intervalos de cada fase, liação da mecânica respiratória no prematuro.
obtém-se o volume final tanto na fase inspiratória como Em resumo, na monitorização da mecânica res-
na fase expiratória do ciclo. Fica claro que o ponto críti- piratória de recém-nascidos, principalmente nos pre-
co desse processo é a obtenção precisa do valor do flu- maturos, deve-se preferencialmente trabalhar com
xo, uma vez que a obtenção dos valores de pressão e de equipamentos que possuam uma faixa de massa corpó-
tempo é bastante simples e precisa. rea de trabalho relativamente estreita, evitando utilizar
Vários métodos estão disponíveis para a determi- equipamentos que teoricamente seriam adequados
nação do fluxo de um gás, incluindo o pneumotacógra- para grandes faixas de massa corpórea, abrangendo do
fo e o anemômetro termocalibrado (fio aquecido). recém-nascido ao adulto (Figura 11.3).
O pneumotacógrafo consiste em um sistema de
interrupção parcial do fluxo, obtido geralmente pela
interposição de uma membrana multiperfurada, e de
duas câmaras, uma anterior e outra posterior à interrup-
ção. Com a passagem do gás, a pressão na câmara an-
terior à interrupção torna-se maior do que a pressão na
câmara posterior, sendo esse gradiente de pressão pro-
porcional ao fluxo. Se essa relação (fluxo/gradiente de
pressão) for linear, pode-se, depois da calibração inicial
do sistema com fluxos e pressões conhecidos, determi-
nar o fluxo a partir da diferença de pressão observada
entre as câmaras, esse sim um dado facilmente obtido
por meio de sensores de pressão.
De modo semelhante, a passagem do fluxo de
gás pelo anemômetro termocalibrado (fio aquecido)
leva a uma redução na temperatura do fio, haven-
do necessidade de um aumento da corrente elétrica
que aquece o fio para se retornar à temperatura ori-
ginal. Após uma calibração inicial do sistema pode-se
aferir o fluxo de gás por meio da variação de tempe-
ratura obtida, dado esse que é obtido sem maiores
dificuldades.
Figura 11.3: Relação entre a resistência e a somatória dos
diâmetros das vias aéreas.
Limitação dos métodos de medida de
mecânica respiratória
Variabilidade da massa corpórea do Local da determinação do fluxo
paciente Uma segunda crítica a esses equipamentos de
A crítica que deve ser feita a esses processos monitorização se refere ao local da medição. Quando
se refere à variabilidade de fluxos que se pretende esta é feita junto ao corpo do aparelho, parte do volu-
determinar, pois nos extremos de leitura os sistemas me medido reflete variações de volume do circuito do
perdem a sua linearidade e, portanto, a sua precisão. ventilador, tanto na fase inspiratória como na fase ex-
Por exemplo, um recém-nascido prematuro com mas- piratória. Essa variação de volume será função tanto do
sa corpórea de 600 g sendo ventilado com um volume comprimento do circuito como de sua complacência,
corrente de 8 mL/kg com um tempo inspiratório de devendo ser descontados da leitura final, o que pode
0,5 s determina um fluxo de gás da ordem de 0,576 L/ resultar em erros de avaliação.
min; já um adulto de 70 kg sendo ventilado com um De um modo geral, para a obtenção de valores
volume corrente de 600 mL em 1 s determina um fluxo mais precisos como na medição da mecânica respira-
de 36 L/min. Fica claro que um equipamento que se tória de prematuros extremos, em que os volumes cor-
disponha a medir fluxos tão diversos não terá precisão rentes absolutos são valores muito baixos (4 a 15 mL),
na avaliação dos extremos, levando a erros na leitura deve-se optar por equipamentos que façam as determi-
do fluxo (e portanto nos cálculos subsequentes de me- nações entre o circuito do ventilador e o intermediário
cânica respiratória) quando esse valor for muito baixo. da cânula traqueal, avaliando-se apenas o volume de
Assim, esses equipamentos podem incorrer em erros gás que entra e sai do paciente, não sendo necessário o
de medição que, mesmo sendo tão pequenos quanto desconto da complacência do circuito.
82
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica
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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
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Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica
E. Curva fluxo-volume: a curva fluxo-volume (Figura 11.9). É importante salientar que quan-
é útil para demonstrar limitações do fluxo do a criança apresenta respiração espontânea,
tanto inspiratório como expiratório. Quando particularmente quando ocorre assincronia
há limitação do fluxo expiratório ocorre um com o ventilador, ocorrem deformações da cur-
achatamento da fase descendente da curva, va fluxo-volume que não representam necessa-
enquanto limitações do fluxo inspiratório re- riamente limitação do fluxo nas vias aéreas, mas
sultam em achatamento da fase ascendente sim artefatos resultantes da assincronia.
Figura 11.9: Curvas fluxo-volume (fluxo na vertical) representando: situação normal; (B) fluxo restrito em um recém-nascido
prematuro sob ventilação mecânica; (C) obstrução parcial das vias aéreas; (D) resistência expiratória aumentada.
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85
Interpretação 12
de Gasometrias
Ana Carlotti
88
Interpretação de Gasometrias
89
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
Fluxograma 12.3: Abordagem diagnóstica do paciente com acidose respiratória. (Adaptado de Halperin & Goldstein, 1998.)
90
Interpretação de Gasometrias
Fluxograma 12.4: Abordagem diagnóstica do paciente com alcalose respiratória. (Adaptado de Halperin & Goldstein, 1998.)
91
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
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92
Sedação, Analgesia e 13
Bloqueadores
Neuromusculares Vera Regina Fernandes
Nilzete Liberato Bresoli
Flumazenil Cetamina
Antagonista puro, que atua competitivamente, É um anestésico dissociativo que produz sedação,
inibindo o complexo receptor GABA-benzodiazepínico amnésia e analgesia. Diminui o broncoespamo e a resis-
no sistema nervoso central. Reverte a depressão res- tência das vias aéreas em asmáticos, sendo considera-
piratória, a amnésia, os efeitos sedativos e também a da droga de escolha para a sedação desses pacientes.
reação excitatória paradoxal que ocorre em algumas Pode produzir alucinações, porém esse efeito é menos
incidente em crianças e pode ser reduzido com a admi-
crianças com o uso dos benzodiazepínicos. A meia-vida
nistração prévia e concomitante de benzodiazepínicos.
é geralmente mais curta que a dos benzodiazepínicos.
Pode ser usada como um suplemento em esquemas de
Será necessário observar o paciente por um período
sedação com opioides e benzodiazepínicos em crianças
prolongado para assegurar-se de que os efeitos inde- submetidas a VM. Tem metabolismo hepático. Embora
sejados dos sedativos não recorrerão. Dose inicial 0,01 tenha propriedades vasodilatadoras, preserva a esta-
a 0,02 mg/kg. Se a resposta for inadequada, pode ser bilidade hemodinâmica por seus efeitos simpáticos se-
repetido a cada 2 minutos até uma dose máxima de 1 cundários, com liberação de epinefrina e norepinefrina.
mg. Deve ser administrado com precaução em pacien- Ocasiona aumento da frequência cardíaca, da pressão
tes com história prévia de distúrbios convulsivos, pois arterial sistêmica, das secreções em vias aéreas e espas-
pode desencadear convulsões.4 mo laríngeo. Aumenta o consumo cerebral de oxigênio,
94
Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares
o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana, tiopental é um anestésico potente, com rápido início de
sendo contraindicada em pacientes com hipertensão ação. A dose anestésica de 2-5 mg/kg leva a depressão
intracraniana. Não deve ser utilizada em crianças me- respiratória, com necessidade de manutenção da via aé-
nores de 3 meses. A dose EV individual é de 1- 4 mg/ rea pérvia. Depressão miocárdica e hipotensão arterial
kg. Em infusão contínua, a dose inicial para pacientes dose-dependente são seus principais efeitos adversos
em VM é de 10 a 15 µ/kg/min, podendo ser aumenta- e, por isso, devem ser evitados em pacientes com insta-
da a até 60 µ/kg/min, de acordo com o efeito desejado. bilidade cardiocirculatória. Outros efeitos adversos são
A dose broncodilatadora oscila entre 20-40 µ /kg/min. depressão respiratória, tosse, laringoespasmo e anafila-
Analgesia pode ser obtida com doses tão baixas quanto xia. Em geral, os barbitúricos não devem ser adminis-
5 µ/kg/min. O pico de ação ocorre em 1 minuto, com trados a crianças com asma grave porque estimulam a
recuperação total do paciente em 1-2 horas. O uso pro- liberação de histamina.
longado pode induzir tolerância.5,6 Uma de suas indicações pode ser o manuseio
de crianças com estado de mal convulsivo refratário.
Clonidina Neste caso é administrado em infusão contínua de 1
Agonista central alfa-2 de adrenorreceptores a 5 mg/kg/h.
que resulta em diminuição dos níveis circulantes de O uso de infusão de tiopental pressupõe o uso
epinefrina e norepinefrina, e que previne muitos dos de vasopressores e suporte ventilatório. Em pacientes
sintomas da liberação excessiva de catecolaminas obesos ou com comprometimento hepático, e espe-
durante a retirada dos opioides. Induz hipotensão, cialmente após uso prolongado, pode-se observar um
analgesia e sedação. Pode provocar bradicardia. É ra- longo período de sedação, mesmo após a suspensão
pidamente absorvida por via oral e tem uma meia-vida da droga. O uso prolongado pode resultar em tolerân-
de 9 a 12 horas. Tem metabolismo hepático e renal. O cia e abstinência.2,6
uso de clonidina deve ser considerado quando o es-
quema padrão de sedativos analgésicos for insuficien-
te ou inadequado. Outras aplicações clínicas incluem Analgesia
o manejo das crises autonômicas após dano cerebral As crianças, principalmente as que estão em
grave ou síndrome de abstinência secundária à retira- VM, são frequentemente inábeis para comunicar ade-
da dos opioides e sedativos. A dose é de 1 a 2 µ/kg, via quadamente suas necessidades, incluindo o controle
oral, a cada 6 horas.2 da dor. O estresse provocado pela dor pode produzir
complicações pulmonares, gastrointestinais, cardio-
Hidrato de Cloral vasculares, hematológicas, psicológicas e metabólicas,
Sedativo e hipnótico, sem efeito analgésico, de agravando o quadro clínico. O paciente agitado que
uso oral ou retal. A dose hipnótica pode ser alcançada está “brigando” com o respirador pode estar sentindo
com 40 a 100 mg/kg com mínima possibilidade de de- uma dor significativa. A dor pode ocorrer por traumas,
pressão respiratória. Doses inferiors a 40 a 60 mg/kg/dia incisões cirúrgicas, procedimentos invasivos, infecções
são geralmente suficientes para o efeito sedativo. Sua localizadas, queimaduras, imobilização inadequada ou
metabolização é hepática, não devendo ser administra- mesmo pela simples presença do tubo endotraqueal e
do nos pacientes com insuficiência hepática. Pode cau- aspiração da via aérea. A analgesia adequada favorece
sar irritação gástrica. Seu uso em recém-nascidos deve o restabelecimento das funções vitais e a diminuição do
ser cauteloso, pela possibilidade de acúmulo de meta- tempo de VM.
bólitos ativos, podendo desenvolver acidose metabóli- A dor pode manifestar-se por aumento da fre-
ca e hiperbilirrubinemia indireta e/ou direta. Tem efeito quência cardíaca, aumento da pressão arterial, midría-
cumulativo, portanto, quando usado em doses intermi- se, lacrimejamento e agitação psicomotora. Muitas
tentes frequentes, pode induzir bradicardia, sedação intervenções não farmacológicas tais como: posição
profunda, depressão respiratória e cardíaca. Tem uso li- correta do paciente, redução e estabilização de fratu-
mitado nas UTIs, no entanto pode ser útil como indutor ras e eliminação de irritantes físicos podem evitar ou
do sono noturno ou como agente sedativo suplemen- diminuir a necessidade de analgesia. As terapias far-
tar na criança submetida a VM, especialmente quando macológicas fundamentam-se principalmente no uso
estas desenvolvem tolerância a outros sedativos.6 de opioides, porém analgésicos não opioides podem
ser utilizados como adjuvantes ou isoladamente, nas
Tiopental dores de menor intensidade.
Os barbituratos são agentes de segunda ou ter- Métodos para quantificar a dor deveriam ser
ceira escolha para uso em sedação prolongada na UTI, usados rotineiramente. Estudos de diferentes popula-
quando os opioides e benzodiazepínicos falham. O ções de pacientes indicam que médicos e enfermeiras
95
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
proporcionam alívio inadequado da dor. Estudos em so- utilizado com cautela quando sob a forma de infusão
breviventes de UTI indicam uma alta lembrança de dor.7 contínua ou em grandes doses. A taxa de metabolismo
é dependente do fluxo sanguíneo hepático, e sua elimi-
nação é mais rápida nas crianças do que nos adultos. A
Opioides tolerância se desenvolve rapidamente, necessitando de
As medicações opioides têm efeito sinérgico com aumento progressivo da dose. Doses cumulativas maio-
drogas sedativas, particularmente com os benzodia- res de 1,5 mg/kg e/ou uma duração de infusão superior
zepínicos. A combinação de analgésicos e sedativos fre- a 5 dias estão relacionadas a uma chance de indução de
quentemente resulta no uso de doses menores de cada tolerância de mais de 50%. Pode ocasionar rigidez da
um deles.,2,6 Em alguns pacientes o uso isolado de um parede torácica e/ou da glote, bradicardia e hipoten-
analgésico opioide poderá proporcionar alívio da dor e são arterial, principalmente quando utilizado em doses
tranquilidade. maiores de 5 µ/kg/hora ou quando administrado rapida-
Morfina e seus derivados são drogas que atuam mente, em doses individuais. A dose intermitente EV é
por meio da interação com receptores opioides, pro- de 1 a 5 µ/kg ou 1 a 10 µ/kg/hora em infusão contínua. A
porcionando analgesia e sedação, sem causar amné- rigidez de parede torácica pode ser revertida com o uso
sia, e por esse motivo são frequentemente utilizados de naloxona. Os bloqueadores neuromusculares tam-
em associação com benzodiazepínicos. Os opioides bém são úteis nessa situação, uma vez que o uso isolado
têm metabolização hepática e eliminação renal, com de naloxona pode não reverter rapidamente o quadro.2,6
possibilidade de sedação prolongada nos pacientes
com insuficiência renal. Podem desencadear depressão Meperidina
respiratória, o que aumenta a necessidade de monito- Opioide sintético com potência menor que a
rização sempre que forem utilizados. Podem induzir to- morfina. Pouco utilizada nas unidades de terapia in-
lerância após poucos dias de uso, e a redução da dose tensiva pediátricas, pois o seu uso frequente ou em
ou a suspensão abrupta pode levar aos sintomas de pacientes com insuficiência renal leva ao acúmulo do
abstinência. Na ocorrência de efeitos colaterais graves seu metabólito ativo, a normoperidina, resultando em
pode-se utilizar um antagonista opioide, sendo a nalo- efeito opioide prolongado bem como em neurotoxici-
xona o mais utilizado. dade, manifestada por delírios, tremores, mioclonias e
convulsões.1 É utilizada usualmente por via intravenosa,
Morfina e a dose recomendada é de 1-1,5 mg/kg/dose a cada
Pode induzir à liberação de histamina, causando 3-4 horas, com dose máxima de 100 mg/vez. Em altas
hipotensão, prurido, broncoespasmo e vermelhidão doses pode causar depressão miocárdica.
cutânea. Prurido, náuseas e retenção urinária são efei-
tos colaterais bastante comuns. Tem eliminação renal. O Metadona
início de ação é rápido, com pico em 20 minutos e dura- É muito utilizada na prevenção e no tratamento
ção aproximada de 60 minutos. Existe grande variação da abstinência e da dependência. Tem efeito cumula-
da resposta individual. Sua farmacocinética é influen- tive, que pode levar a uma sedação mais prolongada
ciada pela idade. Os recém-nascidos são mais suscetí- que a desejada. As doses e o regime de administração
veis à depressão respiratória provocada pela morfina devem ser individualizados. No entanto, usualmente se
do que as crianças maiores e os adultos. Doses elevadas inicia com doses de 0,05 a 0,2 mg/kg, VO ou EV, a cada
podem provocar bradicardia e depressão cardiovascu- 4 a 6 horas.
lar e respiratória. Hipotensão ortostática poderá ocorrer
mesmo em doses discretas. É útil para bloqueios locor- Tramadol
regionais. A dose para uso intermitente é de 0,05 - 0,2 Analgésico opioide sintético indicado no tra-
mg/kg/dose por via EV ou SC e em infusão contínua EV tamento da dor aguda de moderada intensidade. É
é de 0,025 - 2 mg/kg/hora.2,6 parcialmente antagonizado pela naloxona. Efeitos cola-
terais incluem: tontura, náuseas, boca seca, constipação,
Fentanil cefaleia, sudorese. Crises convulsivas podem ocorrer em
Opioide semissintético, com inicio de ação muito pacientes que usam inibidores da monoaminoxidase
rápido, o que facilita o seu uso para procedimentos inva- (IMAO). Tem menor possibilidade de causar depressão
sivos, na unidade de terapia intensiva. É cem vezes mais respiratória que outros opioides. Sintomas de tolerân-
potente que a morfina. Libera menos histamina que a cia, dependência e síndrome de abstinência poderão
morfina, proporcionando pouca instabilidade cardio- ocorrer com o uso prolongado. Vias de administração:
vascular, mesmo em doses elevadas, e por isso é muito oral, retal, subcutânea, intramuscular ou intravenosa.
utilizado nos pós-operatórios de cirurgias cardíacas. Por Possui restrições em Pediatria, porém tem sido utilizado
possuir uma meia-vida de eliminação prolongada (de em adolescentes em doses de 5 mg/kg/dia (máximo de
até 21 horas, após longo período de infusão), deve ser 400 mg/dia) ou de 50 a 100 mg a cada 4 a 6 horas.
96
Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares
97
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria
distais a ele, geralmente em nível celular. Quando ocor- meia-vida curta, como o fentanil ou o propofol, ou dias
re a tolerância farmacodinâmica os níveis plasmáticos após se o agente ou seus metabólitos têm uma meia-
da droga permanecem os mesmos, mas com um menor -vida longa, como o diazepam, por exemplo. Pacientes
efeito sedativo e/ou analgésico.5 Tem sido sugerido que com disfunção renal ou hepática também podem ter
tolerância se desenvolve mais rapidamente com a infu- sinais e sintomas mais tardios de retirada. Os sinais e
são contínua do que com a intermitente.1,5 sintomas incluem:
Ativação do sistema nervoso central: ansieda-
de, irritabilidade, cefaleia, insônia, tremores,
Dependência e Adição hiperatividade dos reflexos tendinosos profun-
A dependência física refere-se à necessidade do dos, dificuldade de concentração, mioclonias,
organismo em continuar a receber a droga para evitar espirros frequentes, delírios, hipertonicidade,
os sinais de abstinência.5 Dependência psicológica é a convulsões, alucinações visuais e auditivas,
necessidade de receber a substância devido aos seus choro forte, coreoatetose, parestesias.
efeitos eufóricos.5 Adição é um padrão complexo de Distúrbios gastrointestinais: vômitos, diarreia,
comportamento caracterizado pelo uso repetitivo e dificuldade de sucção, salivação, persistência
compulsivo da substância, com comportamento antis- de resíduo gástrico, cólicas.
social ou ilegal para obter a droga e uma alta incidência
Hiperatividade simpática: hipertensão arterial,
de reincidência após tratamento.
taquicardia, taquipneia, midríase, obstrução
Dependência psicológica e adição são extrema- nasal, rinorreia, lacrimejamento, febre, sudore-
mente raras após o uso de analgésicos e sedativos para se, piloereção.
alívio da dor e ansiedade nas UTIP. Essa rara possibilida-
de de ocorrência não deve limitar o uso desses agentes
na prevenção e no tratamento da dor e da ansiedade A incidência dos sintomas de retirada aumenta
em crianças e adolescentes. com o uso concomitante de BNM.1,5 Isso poderia ser
consequência da dificuldade em se prescrever uma
dose menor de sedativos e analgésicos, já que as esca-
Abstinência las de avaliação não podem ser aplicadas nos pacientes
É o aparecimento de sinais e sintomas quando a com BNM.
administração de sedativos ou analgésicos é desconti-
nuada em um paciente que é fisicamente tolerante. A Tratamento da Abstinência
sintomatologia varia de paciente para paciente e pode
ser afetada por fatores tais como: idade, agente envolvi- O primeiro passo para o tratamento da absti-
do, estado cognitivo e condição clínica. nência é a identificação dos pacientes em risco para
desenvolvê-la, utilizando estratégias para evitar a sua
A abstinência está relacionada principalmente ao ocorrência. A base da terapia para prevenir a abstinên-
uso prolongado e a doses altas, cumulativas. Os pacien- cia permanece a diminuição lenta da infusão. Isso pode
tes que desenvolvem tolerância apresentam um risco ser feito rapidamente, com reduções na dose de 10 a
aumentado para desenvolver abstinência quando da 15% a cada 6 a 8 horas, se o paciente estiver receben-
suspensão da medicação. Pacientes expostos a altas do- do analgésicos e sedativos por período menor do que
ses de opioides ou sedativos, por períodos superiores 5 dias. No entanto, após administração prolongada
a 5 dias, podem desenvolver dependência farmacológi- a suspensão total do medicamento poderá levar de 2
ca. A suspensão abrupta e intempestiva desses agentes a 4 semanas, com reduções diárias de até 10%. Se um
pode desencadear síndrome de abstinência. Estudos período de desmame mais prolongado é necessário, a
em Pediatria demonstram que a velocidade de retirada opção de trocar para um agente oral de longa duração
é o principal fator desencadeante. deve ser considerada. Isso pode incluir a metadona para
Embora menos comuns que os problemas rela- os opioides, o lorazepam para os benzodiazepínicos e o
cionados com os opioides, tolerância, abstinência e adi- fenobarbital para os barbituratos.5
ção podem ocorrer com os sedativos. Muitos dos sinais A clonidina, um agonista adrenérgico alfa-2 de
e sintomas de abstinência são semelhantes para os se- ação central, pode ser utilizada para controlar os sinto-
dativos e os analgésicos, com algumas sutis diferenças mas de abstinência. Devido ao seu efeito de ação pro-
dependendo do agente envolvido. O risco de abstinên- longada, pode ser usada uma a duas vezes ao dia, com
cia é de 50% com o uso de fentanil por mais de 5 dias doses iniciais de 3 a 5 µ/kg/dia.
ou numa dose cumulativa maior que 1,5 mg/kg. Para Como a tolerância se desenvolve em relação
o midazolam esse mesmo risco ocorre com uma dose à ocupação de receptores, teoricamente é possível
cumulativa superior a 60 mg/kg. atrasar ou evitar a sua ocorrência com um esquema
As manifestações podem ocorrer logo após a di- de rotatividade nos regimes de sedação, em interva-
minuição ou suspensão da droga, se o agente tem uma los específicos.5
98
Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares
A interrupção diária da sedação e analgesia contí- As principais escalas em uso atualmente são:
nua até que o paciente dê sinais de que está acordando escala de sedação de Ramsay, desenvolvida em 1974,
diminui o tempo de VM, porém essa prática ainda não é escala de agitação e sedação de Richmond, escala de
totalmente aceita para os pacientes pediátricos, que po- COMFORT.
dem ficar agitados e inconsoláveis após a interrupção, A escala de avaliação mais usada em Pediatria é a
necessitando reiniciar com doses maiores de sedativos. COMFORT, uma ferramenta observacional desenvolvida
especificamente para crianças em VM.10 Embora o uso
dessa ferramenta pareça oferecer uma medida objetiva
Monitorização da Sedação e Analgesia do nível de dor e agitação da criança, muitas das variá-
A monitorização da dor e da ansiedade nas veis avaliadas são relativamente subjetivas, tais como
crianças em VM é um desafio para os intensivistas devi- avaliação do tônus muscular e facial.9
do às dificuldades para determinar o ponto ideal entre
O índice biespectral (BIS – bispectral index) é um
a agitação e o coma droga-induzido. A avaliação entre
valor numérico que varia de zero (sedação profunda)
esses dois extremos é frequentemente imprecisa. A
a 100 (acordado) e que deriva de uma complexa aná-
farmacocinética das drogas em crianças criticamente
lise matemática do eletroencefalograma (EEG). Um BIS
enfermas está frequentemente alterada por ligação às
de 45 a 60 tem mostrado correlacionar-se a uma baixa
proteínas, distribuição da droga nos órgãos e tecidos,
probabilidade de resposta a estímulo verbal. O possível
imaturidade hepática e renal. Algumas das novas es-
papel do BIS em minimizar as complicações da sedação
tratégias de VM, tais como hipercapnia permissiva e as
ainda não está totalmente delineado.
altas pressões expiratórias finais com volume corrente
baixo, podem ser desconfortáveis, requerendo doses
maiores de sedativos.
Conclusões
Várias escalas para avaliar o nível de sedação
têm sido desenvolvidas. Todas essas escalas objetivam A necessidade de sedação e analgesia adequa-
ajustar a dose de sedativos e analgésicos para se obter das durante o período de VM tem resultado em novos
o melhor efeito sem uma sedação excessiva. O proble- desafios para os intensivistas pediátricos, tais como a
ma inerente a todas essas escalas, porém, é a natureza tolerância, dependência física e abstinência. Estratégias
subjetiva dessas medidas. A utilização de algum tipo são necessárias para que esses problemas não limitem a
de escala facilita a comunicação entre os profissionais utilização de sedação e analgesia eficientes para os pa-
e ajuda na titulação da dose de sedativos e analgésicos cientes em VM. Uma avaliação contínua da dor deve ser
com melhoria do conforto do paciente e diminuição da rotina em todas as UTIP.
incidência de abstinência após a retirada dos sedativos Quando o paciente está sendo liberado da sua
e analgésicos. No entanto, a maioria dos sistemas de medicação sedativa, deve ser assegurada avaliação cui-
avaliação não identifica se a agitação é provocada pela dadosa de sinais e sintomas de retirada de opioides e
dor ou pela ansiedade. Os sistemas de avaliação são ain- benzodiazepínicos. Os cuidados pós-UTI de pacientes
da mais limitados em pacientes em uso de BNM, uma submetidos a VM devem envolver monitorização cuida-
vez que estes não se movimentam espontaneamente dosa para sinais de depressão, abuso de drogas e trans-
ou aos estímulos. torno de estresse pós-traumático.1
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100
Desmame 14
vias aéreas ou a geração de um fluxo gasoso faz com Pinsp < 25 cmH2O;
que a válvula abra e permita que haja uma liberação de PEEP < 5 cmH2O (quando há necessidade de
um fluxo de gás durante a inspiração espontânea. Foi extubação com pressão expiratória maior re-
demonstrado repetidamente que a redução excessi- comenda-se a manutenção de pressão na via
va da pressão nas vias aéreas necessária para ativar a aérea após extubação, com ventilação não
válvula de demanda combinada com a liberação inade- invasiva);
quada de um fluxo de gás instantâneo pode duplicar
FR menor que 10 resp/minuto em lactentes
o trabalho respiratório e o consumo de oxigênio. Esse
e pré-escolares (não há necessidade de se
problema tem sido contrabalançado pela utilização do
manter o paciente em CPAP pré-extubação);
flow-by, que mantém a válvula de demanda parcialmen-
em crianças maiores e adolescentes, FR < 5
te aberta, reduzindo o trabalho necessário para abri-la e
resp/min;
reduzindo o tempo de resposta entre a percepção da
respiração espontânea e abertura da válvula. Relação PaO2/FiO2 > 200;
Pressão de suporte menor do que 10 (por
exemplo: 5 sobre PEEP de 5);
Pressão de suporte (PS)
Vários trabalhos mostram que a PS é capaz de Técnica
contrabalançar o trabalho respiratório imposto pela Jejum por 6 horas ou aspiração do conteúdo
cânula endotraqueal e pelo circuito ventilatório em gástrico;
adultos. É uma modalidade que tem sido utilizada com
A aspiração da traqueia e da orofaringe deve
sucesso no desmame de crianças, embora não haja
ser realizada imediatamente à pré-extubação;
comprovação científica de que seja superior à IMV.
Colocar o paciente em um ambiente com FiO2
Na prática, quando há a possibilidade de utilizar
10% maior do que o utilizado pré-extubação.
pressão de suporte, passamos de pressão controlada
para SIMV + pressão de suporte, depois para pressão de
suporte, e então procedemos à extubação. Pode-se manter o paciente com CPAP nasal pós-
-extubação, principalmente recém-nascidos e lactentes
Extubação jovens, ou em crianças maiores por meio da ventilação
A extubação pode ser realizada se: não invasiva com máscara.
FiO2 < 40%;
Bibliografia
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Missão da AMIB