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CURSO DE VENTILAÇÃO

MECÂNICA EM
PEDIATRIA
COORDENAÇÃO DO CURSO
Dr. Mário Ferreira Carpi - SP

COLABORADORES DA APOSTILA DO CURSO DE


VENTILAÇÃO MECÂNICA PEDIÁTRICA
Albert Bousso
Ana Paula Carlotti
Celso de Moura Rebello
Eduardo Juan Troster
Felipe Souza Rossi
Flávia Feijó Pânico
Flavio Roberto Nogueira de Sá
Jefferson Pedro Piva
José Oliva Proenas Filho
José Roberto Fioretto
Júlio Farias
Katiaci Janice de Araújo
Lucilia Santana de Faria
Mário Ferreira Carpi
Nilzete Liberato Bresolin
Norberto Antonio Freddi
Olberes Vitor Braga de Andrade
Patrícia Miranda Lago
Paulo Ramos David João
Raquel Ribeiro Romani
Roberto Sapolnik
Rodrigo de Freitas Nóbrega
Vera Regina Fernandes
Werther Brunow de Carvalho
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

CURSO DE VENTILAÇÃO
MECÂNICA EM
PEDIATRIA
DIRETORIA EXECUTIVA
BIÊNIO 2018-2019

Presidente
Dr. Ciro Leite Mendes – PB
Vice-Presidente
Dr. José Roberto Fioretto – SP SUMÁRIO
Diretor Secretário-Geral
Dr. Marcelo de Oliveira Maia – DF 1 Fisiologia Respiratória: aspectos peculiares da criança.....................................5
Diretor Tesoureiro
2 Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória...........................................................9
Dr. Cristiano Franke – RS
Diretora Científica 3 Bases Físicas da Ventilação Mecânica....................................................................17
Dra. Flávia Ribeiro Machado – SP
4 Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica...................................................21
Diretora Presidente - Futura
Dra. Suzana Margareth Ajeje Lobo – 5 Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros
SP da ventilação mecânica? Quais as complicações da ventilação
mecânica? Como evitá-las?.......................................................................................29
Diretora Presidente - Passada
Dra. Mirella Cristine Oliveira – PR 6 Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do
Desconforto Respiratório...........................................................................................37

7 Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar.......................47

8 Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?.........................................57

9 Ventilação Mecânica na Síndrome do Desconforto


Respiratório Agudo......................................................................................................65

10 A Utilização da Ventilação Não Invasiva na UTI Pediátrica............................69

11 Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica .....................................75

12 Interpretação de Gasometrias.................................................................................87

13 Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares..................................93

14 Desmame ......................................................................................................................101

AMIB
Associação de Medicina Intensiva Brasileira
Rua Arminda, 93 - 7º andar
CEP 04545-100 - Vila Olímpia - São Paulo - SP
(11)5089-2642
www.amib.org.br

3
Fisiologia Respiratória: 1
aspectos peculiares da criança

Existem alguns itens indispensáveis para que a ventilação mecânica seja rea-
lizada de maneira segura e eficaz no paciente pediátrico:
„„ que se compreenda a doença específica que está sendo tratada, bem
como seu curso usual e mecanismos fisiopatológicos envolvidos;
„„ compreensão de alguns conceitos elementares de fisiologia pulmonar e
fisiopatologia;
„„ a apreciação das vantagens e desvantagens dos vários modos de venti-
lação mecânica, além do conhecimento do aparelho e do circuito a serem
Objetivos utilizados para se fornecer o modo de ventilação escolhido;
„„ conhecimento dos possíveis efeitos decorrentes das alterações de cada pa-
râmetro ventilatório na troca gasosa;
„„ conhecimento dos principais efeitos da ventilação mecânica sobre a fun-
ção cardiopulmonar.
Neste capítulo, discutiremos alguns aspectos peculiares do sistema respira-
tório da criança e os principais conceitos de fisiologia pulmonar.

Vias aéreas nascimento, essa cartilagem aumenta em número até


os 2 meses de idade e em área total durante toda a in-
A via aérea da criança é relativamente maior fância. Essa relativa fraqueza do suporte cartilaginoso
comparada à via aérea de um adulto. O diâmetro da nos lactentes comparado ao dos adultos pode levar a
traqueia de um recém-nascido é um terço do diâmetro compressão dinâmica da traqueia em situações associa-
da traqueia de um adulto vinte vezes maior do que ele. das a um alto fluxo expiratório e aumento da resistência
Entretanto, como a resistência ao fluxo aéreo é inversa- da via aérea, tais como bronquiolite, asma, ou mesmo
mente proporcional à quarta potência do raio, peque- durante o choro. Portanto, essas condições físicas pe-
nos espessamentos da mucosa na via aérea da criança culiares contribuem para a predisposição dos pacien-
levam a grandes aumentos na resistência ao fluxo aé- tes pediátricos ao desenvolvimento de insuficiência
reo. Exemplificando: um espessamento de 1 mm em ní- respiratória. A resistência corresponde a uma variação
vel subglótico leva a uma diminuição da área de secção de pressão para uma determinada variação de fluxo. A
transversal a esse nível de 75% no recém-nascido e de resistência ao fluxo de gás depende do raio, do compri-
20% no adulto, resultando num aumento muito maior mento e do número de divisões da árvore brônquica.
da resistência ao fluxo aéreo no recém-nascido, com Na criança em ventilação, o tubo endotraqueal repre-
consequente aumento do trabalho respiratório. Além senta uma resistência dependente do seu diâmetro e
disso, a via aérea distal é relativamente mais estreita e comprimento. A utilização de um volume corrente alto
não está totalmente formada na criança até 5 anos de com uma frequência alta levará a um fluxo alto e a uma
idade, levando a um grande aumento na resistência da maior resistência secundário ao impacto de uma massa
via aérea periférica nessa faixa etária. Assim, patologias gasosa maior num sistema com um raio relativamente
de vias aéreas como laringite, laringotraqueobronquite fixo. Lembramos também que a árvore respiratória não
e bronquiolite, de pouca importância no adulto, po- é uma estrutura rígida, e, portanto, pode haver varia-
dem acarretar insuficiência respiratória grave nos pa- ções na sua resistência durante o ciclo respiratório. Na
cientes pediátricos. inspiração ocorre uma dilatação das vias aéreas e con-
O suporte cartilaginoso da traqueia é essencial sequentemente a resistência é sempre menor do que
para a estabilidade da via aérea de condução. Após o na expiração.
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

O tipo de fluxo também influencia a resistência


da via aérea, sendo menor durante um fluxo laminar e
Caixa torácica
maior durante um fluxo turbulento. O esterno da criança é mais maleável, constituin-
Por todos esses fatores, a resistência da via aérea do-se uma base instável para as costelas. Na infância as
no RN e na criança é maior que no adulto. costelas são muito complacentes e horizontalizadas, a
musculatura intercostal é pouco desenvolvida, e con-
sequentemente a complacência da caixa torácica na
Resistência  RN extubado = 30 a 50 L/seg/cmH2O criança é muito maior do que no adulto. O diâmetro
RN intubado = 100 a 150 L/seg/cmH2O anteroposterior do tórax é relativamente maior do que
Adulto extubado = 1,5 L/seg/cmH2O no adulto, fazendo com que a caixa torácica seja mais
Adulto intubado = 4,5 a 6 L/seg/cmH2O ovalada (Figura 1.2).

Alvéolo
Após o nascimento, ocorre um aumento signifi-
cativo do número de alvéolos. Ao nascimento, a criança
tem cerca de 20 milhões de unidades alveolares e aos 8
anos de idade esse número chega a 300 milhões. A ve-
locidade de crescimento é de um alvéolo por segundo
nos primeiros oito anos de vida. O fato de ter um menor
número de alvéolos faz com que a criança tenha uma
menor reserva de troca gasosa, constituindo outro fator
predisponente para o desenvolvimento da insuficiência
respiratória aguda. Por outro lado, essa elevada veloci-
dade de crescimento proporciona à criança um maior Figura 1.2: Contorno da caixa torácica em diferentes faixas
potencial de recuperação mesmo em lesões pulmona- etárias.
res graves.
Todos esses fatores acabam anulando o meca-
nismo de alça de balde, importante para a respiração
Ventilação colateral torácica, aumentando a importância do diafragma na
No pulmão adulto, a ventilação colateral é bem ventilação espontânea da criança. Se avaliarmos o dia-
desenvolvida, de modo que é fácil ventilar o parênqui- fragma de uma criança podemos observar o predomí-
ma mesmo com algum grau de obstrução na via aérea. nio das fibras musculares do tipo II (fibras de contração
Nos lactentes, os poros de Kohn (interalveolares) e os rápida), porém menos resistentes à fadiga. O recém-
canais de Lambert (bronquioloalveolares) estão ausen- -nascido prematuro tem 20% de fibras do tipo I e 80%
tes, ou em menor número e tamanho: assim, a ventila- de fibras do tipo II, enquanto o adulto tem 60% de fibras
ção pulmonar através de unidades obstruídas é mais do tipo I e 40% de fibras do tipo II. Assim, nos recém-
difícil em crianças menores, dificultando a troca gasosa -nascidos e lactentes jovens, um aumento do trabalho
(Figura 1.1). respiratório causa mais precocemente fadiga da muscu-
latura respiratória.
Durante a fase REM do sono ocorre uma incoor-
denação entre a respiração torácica e a diafragmáti-
ca, com gasto energético perdido numa respiração
muitas vezes insuficiente. Esse fator assume uma
importância maior porque o recém-nascido passa a
maior parte do dia dormindo e o seu estado de sono
predominante é REM.

Complacência
A complacência é expressa por uma variação de
volume para uma determinada variação de pressão. A
complacência estática (medida quando não há fluxo na
via aérea) é determinada utilizando-se a pressão de pla-
Figura 1.1: Ventilação colateral. tô (Ps), enquanto a complacência dinâmica utiliza o pico

6
Fisiologia Respiratória: aspectos peculiares da criança

de pressão inspiratória (que inclui também a pressão crítico de fechamento, que é definido como o volume
resistiva da via aérea). Para uma melhor compreensão, pulmonar a partir do qual a via aérea terminal começa
recorra ao capítulo de monitorização respiratória. a colapsar, gerando uma descontinuidade entre a via
aérea de condução e o alvéolo, podendo levar a ate-
Cest = Volume Corrente / Ps - PEEP total lectasia e shunt. Acredita-se que o volume crítico de
Cdin = Volume Corrente / Pd - PEEP total fechamento é determinado pela quantidade de tecido
elástico presente nas pequenas vias aéreas. No adul-
to, o tecido elástico mantém as pequenas vias aéreas
A complacência depende do volume corrente, abertas. Como a criança e o idoso têm uma menor
que, por sua vez, depende do volume pulmonar, ou quantidade de elastina, essas duas populações pos-
seja, do tamanho da criança. Assim, quanto menor a suem um volume crítico de fechamento maior e uma
criança, menor a complacência. maior tendência ao colapso das pequenas vias aéreas.
A complacência do parênquima pulmonar é de- No adulto esse volume é menor que a capacidade resi-
terminada pela anatomia alveolar, pelas qualidades dual funcional, o que possibilita que durante uma ex-
elásticas do pulmão e pelo surfactante. No período pe- piração normal as vias aéreas permaneçam abertas e
rinatal, a anatomia alveolar é imatura, com a presença pérvias, porém durante uma expiração forçada ocorre
de sacos alveolares com suas paredes espessadas. Além fechamento das vias aéreas menores (em geral peri-
disso, o interstício pulmonar tem uma menor quantida- diafragmáticas). Por outro lado, na criança esse volu-
de de elastina, o que produz uma menor capacidade me é maior que a capacidade residual funcional, o que
de recolhimento elástico e uma tendência ao colapso significa que mesmo na expiração normal ocorre o fe-
alveolar. Durante toda a infância, a complacência do pa- chamento dessas vias aéreas. (Figura 1.3)
rênquima pulmonar permanece relativamente menor Quando a criança fica submetida a uma FiO2 =
que a do adulto. 100% durante algum tempo (3 a 5 min), nas áreas em
que há fechamento da via aérea ocorre substituição do
Volumes pulmonares nitrogênio (gás não absorvido) pelo O2. O O2 alveolar é
prontamente absorvido, acarretando colapso alveolar.
A diminuição da complacência do parênqui- Na figura a seguir observamos uma tomografia compu-
ma pulmonar e o aumento da complacência da caixa tadorizada de uma criança em que foi mantido o nível
torácica contribuem para a redução da capacidade de pressão e apenas alterado o valor da FiO2 (a direita
residual funcional (CRF), favorecendo a formação de FiO2 = 21% e a esquerda FiO2=100%). Observe o colapso
atelectasias. Lembremos que quando medida passiva- na base direita (em FiO2 = 100%). Essa área corresponde
mente a CRF é muito menor na criança, porém quando a uma área com fechamento da via aérea que em FiO2 =
avaliada dinamicamente ela se aproxima dos valores 21% não estava colapsada devido à presença de nitro-
do adulto. Outro conceito importante é o do volume gênio dentro do alvéolo (Figura 1.4).

Figura 1.3: Volumes pulmonares na criança e no adulto .

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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Figura 1.4: Tomografia realizada com mesmos parâmetros de ventilação mecânica nas duas fotos acima, apenas se variou a
FiO2.

Constante de tempo Uma constante de tempo é igual ao produto da


resistência pela complacência.
A constante de tempo do sistema respiratório Em um RN normal uma constante de tem-
equivale ao tempo necessário para que ocorra um equi- po é igual a 0,15 s (Resistência = 30 a 50 cmH2O L/s e
líbrio das pressões na via aérea e nos pulmões e para Complacência= 0,003 a 0,005 L/ cmH2O), e no adulto
que se processem as trocas gasosas. O conceito pode normal chega a 0,3 s. O tempo inspiratório adequado
ser aplicado tanto na inspiração como na expiração. Ou para um RN com a complacência normal seria então:
seja, a constante de tempo, em outras palavras, é o tem- 0,45-0,75 s. Já para um adulto seria: 0,9-1,5 s (Figura 1.5).
po necessário para encher ou esvaziar os pulmões. Com
uma constante de tempo se atinge o equilíbrio pressó-
rico de 63%, com três constantes de tempo, 95%, e com
cinco constantes de tempo, 99% (Figura 1.5). O tempo
inspiratório adequado seria, portanto, o equivalente
a no mínimo três constantes de tempo e de até cinco
constantes de tempo.

CT = resistência x complacência

Figura 1.5: Gráfico do equilíbrio de pressões na via aérea


em relação às constantes de tempo.

8
Fisiopatologia da 2
Insuficiência Respiratória

Para facilitar a análise da fisiopatologia da insu- normal o nível de PCO2 arterial. A consequência pas-
ficiência respiratória aguda, podemos dividir didatica- siva da excreção de CO2 é o suprimento de O2 para os
mente o processo da respiração em três fases: alvéolos.
„„ respiração externa A hipoventilação é definida como uma ventilação
„„ transporte gasoso incapaz de manter a PaCO2 dentro dos limites normais
para uma determinada demanda metabólica. A ventila-
„„ respiração interna
ção minuto é o produto da frequência respiratória pelo
volume corrente, também chamado volume minuto.
Para que a respiração externa ocorra normalmen-
te são necessários três passos: ventilação, adequação VM= VC × FR
entre a ventilação e perfusão e difusão (Figura 2.1).

em que VM é volume minuto, VC é volume cor-


rente e FR é frequência respiratória. O volume corrente
(VC) é composto pela soma do volume do espaço mor-
to anatômico (VEM) e do volume alveolar (VA).

VC= VEM + VA

Assim, considera-se ventilação alveolar (VA):

VA = (VC - VEM) × FR

Tomando o espaço morto anatômico como


constante, uma diminuição no VC corresponde a uma
Figura 2.1: Respiração externa . diminuição no volume alveolar (VA) porém não necessa-
riamente na ventilação alveolar, pois pode ocorrer um
O primeiro passo, a ventilação, corresponde ao aumento na frequência respiratória.
movimento do ar para dentro e para fora dos pulmões. Em estado de repouso a produção de CO2 (VCO2)
O processo de exposição do oxigênio alveolar ao san- em mL/min é igual ao CO2 total expirado. A quantidade
gue do capilar pulmonar é chamado de adequação en- de CO2 eliminado depende da VA e da fração de CO2 no
tre a ventilação e a perfusão. Finalmente, a membrana gás alveolar (FACO2), pois o espaço morto não participa
alveolocapilar deve permitir que ocorra uma completa da troca gasosa. Assim:
difusão de oxigênio entre o alvéolo e o capilar pulmonar.
Discutiremos a seguir os mecanismos fisiopato-
VCO2= VA × FACO2
lógicos envolvidos na insuficiência respiratória aguda.
Essa equação pode ser rearranjada e expressa em
Hipoventilação unidades comuns de medida:

A ventilação é mediada de minuto a minuto pelo VA (L/min)


VCO2
nível arterial de CO2. Os quimiorreceptores, situados nos VA   0, 865 VCO2 (mL/min)
PaCO2
seios carotídeos e no sistema nervoso central, regulam
PaCO2 (mmHg)
a amplitude e a frequência da respiração para manter
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

A constante 0,865 é necessária, pois a VCO2 é Tabela 2.1: Relação entre PaCO2, PAO2 e PaO2 (todos em
convencionalmente expressa nas condições-padrão de mmHg) na hipoventilação pura
temperatura, umidade e pressão (STPD) e a VA é expres-
sa em condições de temperatura corpórea, pressão am- PaCO2 PAO2 PaO2
biente e saturação (BTPS). A fórmula também assume 40 97 82
que a PaCO2 (pressão arterial de CO2) é igual à PACO2 64 67 52
(pressão alveolar de CO2) e corresponde a uma média e 80 47 32
não a um valor por unidade alveolar.
Essa equação indica que se a ventilação alveolar
for reduzida pela metade a PaCO2 dobrará (assumin- Distúrbios Ventilação/perfusão
do que a produção de CO2 não se altere). O aumento Os distúrbios ventilação/perfusão (V/Q) são a
da PACO2 leva a uma queda secundária da PAO2 (pres- causa mais comum de hipoxemia tanto nas crianças
são alveolar de O2), que se baseia na equação do gás quanto nos adultos. O pulmão não é constituído por
alveolar. uma única unidade de troca gasosa, mas por milhões de
unidades, perfundidas em paralelo e ventiladas tanto
Equação do gás alveolar → PAO2 = PiO2 – PACO2/R em paralelo como em série. Assim, existe um desbalan-
ço V/Q mesmo em indivíduos normais. Essa complexa
distribuição de ventilação e fluxo sanguíneo varia com
em que PiO2 corresponde à pressão inspirada de as influências gravitacionais, alterações na posição do
oxigênio e R, ao coeficiente respiratório = 0,8. corpo e alterações nos volumes pulmonares.
A pressão inspirada de O2 é calculada pela A relação V/Q pode variar de zero (unidade per-
fórmula: fundida mas não ventilada, ou shunt) a infinito (unidade
ventilada mas não perfundida, ou espaço morto). A com-
PiO2 = (PB – PH2O) x FiO2 posição de O2 e CO2 no final do capilar pulmonar, em uma
unidade pulmonar, é determinada pela relação V/Q.
Nos indivíduos normais a relação V/Q do pulmão
em que PB é pressão barométrica (760 mmHg
em repouso pode variar de 0,6 a 3,3, com uma média
ao nível do mar), PH O é a pressão de vapor d’água
2 em torno de 0,8. Nos extremos de idade a relação V/Q
(47 mmHg) e FiO2 é a fração inspirada de oxigênio.
aumenta, ou seja, há um aumento no grau de desbalan-
ço V/Q. Nas crianças com doença pulmonar, o grau de
A hipoxemia associada à hipoventilação não é desbalanço V/Q pode ser dramático, com predomínio
resultado de uma troca gasosa ineficiente, mas de uma de relação V/Q muito baixa (shunt) ou muito alta (espa-
bomba ventilatória inadequada (distúrbios de caixa to- ço morto).
rácica ou de conexões neuromusculares) ou uma anor- As principais causas de uma relação V/Q baixa
malidade do padrão ventilatório (distúrbios do SNC). A são: doenças obstrutivas das vias aéreas (asma, bron-
diferenciação entre hipoxemia por hipoventilação pura quiolite), ou patologias com diminuição do volume
e outros mecanismos fisiopatológicos que afetam os alveolar (preenchimento por exsudato inflamatório ou
gases sanguíneos se faz pela diferença alveoloarterial água, como ocorre nas pneumonias e no edema pul-
de oxigênio. Na hipoventilação pura a diferença alveo- monar), e também situações envolvendo um excesso
loarterial de O2 é normal. de perfusão (tromboembolismo pulmonar, no qual o
fluxo sanguíneo é desviado dos vasos embolizados para
Diferença Alveoloarterial de O2= PAO2 – PaO2 os vasos não embolizados, causando um aumento da
perfusão em relação à ventilação (efeito shunt ou shunt
relativo). Denomina-se shunt anatômico a porcentagem
em que PAO2 é a pressão alveolar de O2 e PaO2 é do débito cardíaco que não participa da troca gasosa.
a pressão arterial de O2. Em ar ambiente, essa diferença Em situações fisiológicas, essa porcentagem equivale
é normalmente de 5 a 15 mmHg em adultos jovens e a 3% do débito cardíaco e corresponde ao fluxo que
de até 30 mmHg em recém-nascidos e idosos. Essa di- perfunde as veias brônquicas, pleurais e os vasos de
ferença também varia com a FiO2. Em FiO2 de 100% ela Thebesius, o qual não participa da troca gasosa. As ano-
aumenta para 50 a 100 mmHg. malias congênitas do sistema cardiovascular podem
Como a PaO2 e a PaCO2 se alteram de modo in- contribuir substancialmente para o aumento no shunt
versamente proporcional e com variações semelhan- anatômico. Chama-se de shunt absoluto ou capilar a
tes durante a hipoventilação, podemos utilizar os unidade alveolocapilar na qual não há ventilação alveo-
valores da Tabela 2.1 para o diagnóstico de hipoven- lar. Na Figura 2.2 pode-se observar uma ilustração de
tilação pura. todos os tipos de shunt descritos.

10
Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória

As situações de alto V/Q decorrem de uma redu-


ção na perfusão pulmonar ou de um excesso de ven- Espaço morto = Vd/Vt = PaCO2 - EtCO2/PaCO2
tilação em relação à perfusão (efeito espaço morto ou
espaço morto relativo). Nas crianças as situações clí- em que PaCO2 é pressão arterial de CO2 e EtCO2 é
nicas que cursam com alto V/Q por redução da perfu- o CO2 medido ao final da expiração (por capnometria).
são pulmonar são a hipertensão pulmonar primária ou Há reflexos presentes no pulmão para minimizar
secundária e o tromboembolismo pulmonar (menos o desbalanço ventilação/perfusão, entre eles o da vaso-
comum na criança do que no adulto, mas pode ocor- constrição hipóxica (Figura 2.3). Uma queda na relação
rer na anemia falciforme e em síndromes de hipervis- V/Q leva ao desenvolvimento de uma hipóxia alveolar,
cosidade como na síndrome nefrótica). O predomínio que resulta em uma vasoconstrição nessa região, e a
da ventilação em relação à perfusão por excesso de melhora da perfusão em áreas mais ventiladas, levan-
ventilação ocorre no enfisema e durante a ventilação do a uma correção parcial do desbalanço V/Q regional e
mecânica com hiperdistensão alveolar. Existe também melhora da hipoxemia. A vasoconstrição hipóxica ocor-
o espaço morto anatômico, que corresponde às vias re dentro de uma variação de PAO2 (pressão alveolar de
aéreas e equivale a aproximadamente um terço do O2) de 30 a 150 mmHg. Os mecanismos que desenca-
volume corrente. O espaço morto absoluto, ou espa- deiam esse reflexo ainda estão em investigação, mas
ço morto alveolar verdadeiro, é definido como a uni- provavelmente incluem um ou mais fatores humorais.
dade alveolar com ventilação normal e perfusão zero Muitos fatores podem abolir ou interferir signi-
(Figura 2.2). ficativamente na vasoconstrição hipóxica. Certas dro-
Podemos calcular o shunt e o espaço morto utili- gas como o nitroprussiato de sódio, a nitroglicerina, os
zando as seguintes fórmulas: bloqueadores de canal de cálcio, os beta-agonistas e
os agentes anestésicos inalatórios podem interferir na
vasoconstrição hipóxica. O uso de FiO2 elevadas em si-
shunt = Qs/Qt = CcpO2 - CaO2 / CcpO2 - CvO2
tuação de shunt relativo grave ou absoluto leva a um
aumento da PAO2, com perda da vasoconstrição local,
em que CcpO2 é o conteúdo capilar pulmonar o que causa uma piora no desequilíbrio V/Q e piora
de O2, CaO2 é o conteúdo arterial de O2 e CvO2 é o con- da hipoxemia.
teúdo venoso misto de O2. O cálculo do conteúdo é Esse é um dos fatores que restringem a correção
descrito a seguir, quando se discute transporte de oxi- da hipoxemia do shunt por meio do aumento da FiO2.
gênio. Em geral, preconiza-se a coleta de sangue veno- Quando o shunt é pequeno, a PaO2 aumenta com o au-
so misto, por cateter de Swan-Ganz, para o cálculo do mento da FiO2 e do conteúdo de O2 no sangue capilar
CvO2. Na prática pediátrica tem-se utilizado sangue do dos alvéolos ventilados. Entretanto, quando o shunt
átrio direito. chega a valores próximos a 30% ou mais (equivalem a

Figura 2.2: Componentes do shunt e do espaço morto.

11
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

uma PaO2 menor que 60 em FiO2 maior que 60%), o au-


mento na FiO2 não leva a aumento significativo na PaO2.
Nesses casos está indicado o uso de ventilação mecâni-
ca para reversão do shunt.
Existe também o reflexo de broncoconstrição de-
corrente da queda da pressão alveolar de CO2 secundá-
ria a uma hipoperfusão regional (Figura 2.3).

Figura 2.5: Distribuição normal da ventilação.

conteúdo de O2 e de CO2 em uma região depende da


relação V/Q nessa região, a PAO2,, a PACO2 e consequen-
temente a PaO2 e a PaCO variam nas diferentes regiões
do pulmão. Nos ápices pulmonares, onde predomina
a ventilação, observa-se uma PaO2 maior e uma PaCO2
menor em comparação às bases, onde predomina a
perfusão (Figura 2.6).

Figura 2.3: Alterações compensatórias na distribuição da


ventilação e da perfusão.

As relações V/Q variam nas diferentes regiões do


pulmão. Nos ápices pulmonares predomina a ventila-
ção em relação à perfusão, embora de forma absoluta Figura 2.6: Troca gasosa regional no pulmão normal.
ambas sejam menores do que nas bases. A perfusão
pulmonar é dependente da gravidade (Figura 2.4). A
ventilação pulmonar de forma absoluta é maior nas
O aparecimento de distúrbios V/Q durante uma
bases, onde os alvéolos são de menor tamanho e so-
doença pulmonar acarreta alterações substanciais na
frem maior variação do seu volume quando submeti-
troca gasosa. Assim, a hipoxemia e a hipercapnia deve-
dos a uma determinada pressão (Figura 2.5). Como o
riam ser achados constantes nessa situação. Entretanto,
a hipercapnia é um achado relativamente
A B incomum, pois mesmo aumentos pequenos na
PaCO2 levam a estimulação do centro respiratório, com
subsequente aumento da ventilação que se distribui
para unidades alveolares mais bem ventiladas, levan-
do a sua relação V/Q a valores acima do normal. Porém,
pelas características da curva de dissociação da oxie-
C moglobina, o sangue que deixa essas unidades já é to-
talmente saturado, e um aumento na PAO2 não é capaz
de aumentar o conteúdo de O2 sanguíneo de maneira
significativa.
À medida que piora a relação V/Q, ocorrem au-
Figura 2.4: Distribuição normal da perfusão. mento da ventilação para manter o PaCO2 normal e,

12
Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória

consequentemente, aumento no trabalho respiratório, A velocidade na difusão depende de vários


no consumo de oxigênio e na produção de CO2, poden- aspectos:
do levar a fadiga da musculatura respiratória. A fadiga, „„ o tamanho da molécula O2 tem peso molecu-
por sua vez, leva a uma piora da hipoxemia, hipercap- lar menor que o CO2 e portanto sua difusão é
nia com acidose respiratória e, caso não se intervenha mais rápida na fase gasosa;
nessa situação, acidose mista. Na criança a fadiga ocorre
„„ coeficiente de solubilidade - os gases que são
mais precocemente do que no adulto, pelas característi-
mais solúveis em um meio líquido se difun-
cas da musculatura intercostal e diafragmática descritas
dem mais rapidamente através da membrana
anteriormente, justificando a necessidade de interven-
alveolocapilar (meio essencialmente líquido).
ção mais precoce.
É por isso que a molécula de CO2, apesar de ser
Nas situações clínicas em que os distúrbios V/Q maior que o O2, se difunde cerca de 20 vezes
estão presentes, a diferença alveoloarterial de O2 está mais rapidamente que o O2 pela membrana
aumentada. alveolocapilar;
„„ lei de Graham - a difusão de um gás no meio
Distúrbios de difusão líquido é diretamente proporcional ao seu
coeficiente de solubilidade e inversamente
O sangue normalmente permanece, em média, proporcional à raiz quadrada de sua densidade;
0,75 segundos no capilar pulmonar, e durante esse „„ gradiente de pressão - a administração de O2
período se equilibra com o gás alveolar. Esse é um pro- suplementar aumenta o gradiente de pres-
cesso passive, no qual o O2 e o CO2 se movem através são e a velocidade de difusão. A diminuição
da membrana alveolocapilar por gradiente de pressão da pressão inspirada de O2, por exemplo, em
parcial, com o O2 se movendo do alvéolo para o sangue grandes altitudes, diminui o gradiente de pres-
e o CO2 se movendo na direção oposta. Em um pulmão são e portanto a velocidade de difusão;
normal, o equilíbrio completo ocorre em cerca de 0,25 „„ barreiras à difusão - qualquer acúmulo de
segundos, o que garante uma grande margem de segu- substâncias na membrana alveolar, no líquido
rança para garantir o equilíbrio entre o gás alveolar e o intersticial, na membrana do capilar, no plas-
sangue do capilar pulmonar (Figura 2.7). ma ou na hemácia leva a uma diminuição na
Para que a difusão ocorra satisfatoriamente deve velocidade de difusão. A membrana alveolo-
haver tempo suficiente para se atingir o equilíbrio com- capilar (excluindo o plasma e a hemácia) tem
plete, além de número suficiente de unidades alveo- cerca de 1 mícron. Caso ocorra aumento da
locapilares que permita um volume de troca gasosa espessura dessa membrana (2x) ocorrerá tam-
adequada. bém aumento correspondente do tempo de
equilíbrio (2x), porém, como há um bom tem-
po de reserva (0,25 s para o equilíbrio em 0,75
s de trânsito), em geral não se observa hipo-
xemia nessa situação. A hipoxemia será obser-
vada somente se a velocidade de trânsito da
hemácia pelo capilar pulmonar também esti-
ver aumentada (p. ex., exercício físico).
Assim, os pacientes com distúrbio de difusão
em geral apresentam hipoxemia quando submetidos a
exercício. Quando o paciente apresenta hipoxemia em
repouso, o mecanismo fisiopatológico que mais prova-
velmente está envolvido é o aumento no shunt fisioló-
gico devido ao preenchimento do espaço alveolar com
diminuição da ventilação e, consequentemente, efeito
shunt.
Como nos distúrbios de V/Q, nas alterações de di-
fusão a diferença alveoloarterial de oxigênio também se
encontra aumentada.

Transporte gasoso
Figura 2.7: Difusão de O através da membrana O oxigênio é transportado para a célula ligado à
alveolocapilar. hemoglobina e dissolvido no plasma, e é impulsionado

13
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

pelo fluxo sanguíneo decorrente do débito cardíaco. A para manter adequada a oferta tecidual de oxigênio.
oferta de oxigênio (DO2) para os tecidos pode ser esti- Entretanto, há situações em que a insuficiência respi-
mada por meio da seguinte fórmula: ratória está associada a um débito cardíaco diminuído
(p. ex.: depressão miocárdica por infecção, hipovolemia
DO2 = CaO2 x DC x 10 ou mesmo um efeito colateral da ventilação mecânica).
Nessa situação, a queda do débito cardíaco acarreta
uma diminuição da oferta de oxigênio para os tecidos,
em que CaO2 é o conteúdo arterial de oxigênio, e no nível celular ocorre aumento da extração de O2
DC é o débito cardíaco, e esse produto é multiplicado para manter o metabolismo basal, resultando conse-
por 10 para acerto de unidades (CaO2 é medido em mL quentemente em uma diminuição da pressão venosa
de O2 / dL, enquanto DC é medido em L/min). O conteú- mista de oxigênio (PvO2). Essa diminuição na PvO2 vai
do arterial de oxigênio é calculado da seguinte maneira: se refletir em diminuição na PaO2 dependendo da por-
centagem de shunt pulmonar presente (áreas de baixo
CaO2 = 1,34 x Hb x SaO2 + 0,0031 x PaO2 V/Q). Quanto maior a porcentagem de shunt, maior a
quantidade de sangue venoso misto com PvO2 baixa
que não será oxigenado e maior o efeito na PaO2. A
em que 1,34 é a quantidade de O2 em mL carre- queda da PvO2 em um pulmão normal leva a peque-
gado por 1 g de hemoglobina, Hb é a quantidade de na variação na PaO2, pois o sangue venoso misto com
hemoglobina no sangue e SaO2 é a saturação de O2 no PvO2 baixa passando por unidades alveolocapilares
sangue arterial; 0,0031 é o coeficiente de solubilidade com relação V/Q normal é totalmente oxigenado, ge-
do oxigênio no sangue (mL de O2/ 100 mL de sangue/ rando uma pressão arterial de oxigênio normal.
mmHg). Cerca de 98% do oxigênio está ligado à hemo-
globina, justificando a importância de se manter uma
hemoglobina adequada nos casos de insuficiência res- Respiração interna
piratória e também de se monitorizar a saturação de
oxigênio de maneira contínua. O conteúdo arterial de O ponto final do transporte de oxigênio da
O2 normal é de cerca de 20 vol%. Essa mesma fórmula atmosfera até a célula é referido como respiração
pode ser utilizada para o cálculo do conteúdo venoso interna. A respiração interna tem sido definida espe-
de oxigênio, substituindo-se a SaO2 por SvO2 e a PaO2 cificamente como a troca de gases entre os capilares
pela PvO2 e o conteúdo capilar pulmonar de oxigê- sistêmicos e as células. Dos tipos de hipóxia que po-
nio substituindo a SaO2 pela FiO2 e a PaO2 pela PAO2, dem acometer os tecidos, três se relacionam a meca-
respectivamente. nismos já descritos acima: hipóxia hipoxêmica (falta de
captação de oxigênio pelos pulmões), hipóxia anêmi-
Os fatores que alteram a curva de dissociação da ca (falta de hemoglobina para transportar oxigênio),
hemoglobina alteram também o transporte de oxigê- hipóxia isquêmica (diminuição do fluxo sanguíneo por
nio (Tabela 2.2). diminuição do débito cardíaco ou obstrução arterial);
Em vigência de hipoxemia e queda de satura- e um mecanismo se relaciona à respiração celular pro-
ção de O2, geralmente se observa um aumento do priamente dita, a hipóxia histotóxica (intoxicação cia-
débito cardíaco como um mecanismo compensatório nídrica, choque séptico).

Tabela 2.2: Fatores que afetam a curva de disssociação da hemoglobina

Fatores que desviam a curva para a direita - Fatores que desviam a curva para a esquerda -
diminuem a afinidade do O2 pela Hb aumentam a afinidade do O2 pela Hb
Aumento da temperatura Diminuição da temperatura
Diminuição do pH/aumento da PCO2 Aumento do pH/diminuição da PCO2
Aumento do 2,3 DPG Diminuição do 2,3 DPG
Hemoglobina fetal

14
Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória

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15
Bases Físicas da 3
Ventilação Mecânica

A insuficiência respiratória aguda, na faixa etária conectada a uma complacência. O comportamento me-
pediátrica, é uma das principais causas de internação cânico é chamado de equação do movimento.
em centros de terapia intensiva. Independentemente Na equação do movimento, pode-se calcular
da etiologia, contribui de maneira significativa na mor- uma das três variáveis (pressão, volume ou fluxo), esta-
bidade e na mortalidade da população pediátrica. belecendo uma variável como independente e as outras
A terapia intensiva pediátrica tem suas raízes duas como dependentes. Por exemplo, durante a venti-
nos centros de tratamento de adultos, mas o seu sur- lação com pressão controlada, esta se torna a variável
gimento ocorreu na Escandinávia, no início dos anos independente. O fluxo e o volume passam a depender
1950, durante a epidemia de poliomielite, devido à da pressão, bem como da complacência e da resistência
necessidade de ventilação mecânica. O sucesso dessa do sistema respiratório.
abordagem marcou a introdução da ventilação com Durante a respiração espontânea, a contração
pressão positiva intermitente no tratamento da insu- da musculatura torácica e diafragmática leva a uma
ficiência respiratória. alteração da conformação da caixa torácica, gerando
Os avanços nos conhecimentos sobre a fisiolo- uma pressão negativa intratorácica. O gradiente de
gia e a fisiopatologia respiratória, os progressos tec- pressão gera um fluxo de ar que determina um volume
nológicos e os métodos de monitorização contribuem corrente. O volume corrente a ser determinado depen-
para a melhora da sobrevida de crianças com insufi- derá da resistência da via aérea e da complacência do
ciência respiratória. parênquima pulmonar, caso o gradiente de pressão se
mantenha constante.
A ventilação mecânica se faz por meio de apa-
A compreensão da equação do movimento au-
relhos que, intermitentemente, insuflam as vias aéreas
xilia no entendimento dos diferentes modos de ven-
com volumes de ar (volume corrente), a uma determi-
tilação que serão descritos no decorrer deste capítulo
nada velocidade (fluxo inspiratório), gerando pressões
(Figura 3.1).
positivas (pressão inspiratória e pressão expiratória). A
interação entre o sistema respiratório que recebe a ven-
tilação mecânica e o aparelho que a fornece é que de-
termina a eficácia da ventilação mecânica.
Considerações gerais
O estudo do sistema respiratório é baseado em um A maior parte dos aparelhos comercialmen-
modelo matemático, concebido como uma resistência te disponíveis, no nosso meio, para a ventilação em

Figura 3.1: Equação do movimento.


Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

crianças (Sechrist, Inter3, Servo900C, Servo300, Newport


e VIPBird) permite a realização de ventilação ciclada a
tempo e limitada a pressão, que é a forma mais frequen-
temente usada em pediatria.
Na ventilação ciclada a tempo com pressão limi-
tada as taxas de fluxo inspiratório são altas [três a quatro
vezes o volume minuto (volume corrente X frequência
respiratória) ou, para alguns autores, 1 a 3 L/kg/min],
para permitir que o pico de pressão inspiratória atinja
um limite predeterminado antes do final da inspiração e
este é mantido nesse nível até o início da expiração. O Figura 3.2: Esquema de um ventilador limitado a pressão e
excesso de fluxo escapa pela válvula de limite de pres- ciclado a tempo (curva de fluxo e pressão).
são (Figura 3.2). A maioria desses aparelhos dispõe de
um sistema de fluxo contínuo de gases que permite à
criança respirar espontaneamente sem a necessidade da
abertura de uma válvula de demanda (Figura 3.3), evi-
tando a assincronia e a fadiga secundárias ao aumento
do trabalho respiratório nos casos de resposta demorada
ou dificuldade da abertura dessa válvula. Os aparelhos
da Newport permitem ventilar desde recém-nascidos
até adultos e possuem um sistema de fluxo contínuo op-
cional. Os Servo 900C e 300 também permitem ventilar
desde RN até adultos, e fazem uma ventilação ciclada a
tempo e limitada a pressão no modo pressão controlada,
sem fluxo contínuo. O Servo 300 e o Newport Wave têm
um sistema de flow by que mantém a válvula de deman-
da parcialmente aberta, reduzindo o tempo de resposta
e esforço necessário para abri-la durante a respiração es-
pontânea da criança. Nos aparelhos Servo 900C e 300 o
fluxo não é predeterminado, a válvula inspiratória se fe- Figura 3.3: Representação esquemática de um ventilador
cha quando o pico de pressão predeterminado é atingi- pediátrico de fluxo contínuo: (A) válvula exalatória aberta,
do. O pico é mantido pelo restante do tempo inspiratório. fluxo contínuo passando pelo circuito; (B) válvula exalatória
A vantagem da utilização da ventilação ciclada a fechada, o fluxo da mandatória vai todo para o paciente; (C)
tempo com pressão limitada, desde que se limite a pres- no ramo inspiratório há a válvula Popoff, que, uma vez atingido
são a valores não muito elevados, é a menor ocorrência o limite de pressão, deixa o fluxo excessivo escapar.
de barotrauma e volutrauma. Uma desvantagem é o vo-
lume corrente variável. pediátricos. Entretanto, a ventilação com pressão contro-
A maior parte dos aparelhos citados acima per- lada é a mais frequentemente utilizada em pediatria.
mite a realização de ventilação com volume controlado; Idealmente, os aparelhos de ventilação mecânica
em alguns o volume corrente é regulado pelo fluxo ins- pediátricos devem ter as seguintes características:
piratório e pelo tempo inspiratório, sem que se limite
1. tamanho pequeno, silencioso e de baixo custo;
o pico de pressão inspiratória (Newport, por exemplo).
Nos aparelhos Servo 900C, Servo 300 e no VIPBird, o 2. a complacência e resistência do sistema de-
volume corrente é ajustado diretamente nos modos vem ser mínimas (a criança tem uma maior
de ventilação com volume controlado. Esses aparelhos resistência das vias aéreas, e a utilização de
permitem a utilização segura de volumes correntes um circuito de alta complacência pode levar a
bem baixos, de até 10 mL. uma grande perda de volume de compressão);
A vantagem da utilização de ventilação com 3. sistemas de alarme audíveis e visíveis;
volume controlado é a administração de um volume 4. sistemas de disparo (trigger) rápidos e
corrente constante, independentemente das variações sensíveis;
de complacência e resistência pulmonares. Contudo, o 5. capacitação para realizar diferentes modos ven-
pico de pressão inspiratória é variável, com maior risco tilatórios: ventilação com pressão positiva inter-
de barotrauma. mitente, ventilação mandatória intermitente,
Não há dados científicos suficientes para compro- CPAP ou PEEP, e atualmente, pressão de suporte;
var que a ventilação com pressão controlada seja superior 6. dispor de frequências respiratórias de até 150
à ventilação com volume controlado para os pacientes mov/min;

18
Bases Físicas da Ventilação Mecânica

7. capacidade de fornecer volumes correntes um limite predeterminado antes do final da inspiração,


com grandes variações (10 mL – 500 mL). e este é mantido nesse nível até o início da expiração. O
excesso de fluxo escapa pela válvula de limite de pres-
são, mantendo-se um patamar fixo de pressão inspira-
Princípios básicos de tória até o final do tempo inspiratório programado. O
padrão de fluxo resultante é constante no início e desa-
funcionamento dos ventiladores celerante no final (Figura 3.2).
Didaticamente, a ventilação com pressão positi- Também tem-se utilizado em pediatria a venti-
va nas vias aéreas pode ser dividida em quatro fases: lação com pressão controlada, na qual os ventiladores
geram uma pressão constante (Servo 300 e Servo 900).
1. fase inspiratória – o ventilador insufla os pul-
Nesse caso, um fluxo desacelerante desde o início da
mões da criança, vencendo as propriedades
fase inspiratória mantém a pressão constante na via aé-
elásticas e resistivas do sistema respiratório;
rea (Figura 3.4).
2. mudança da fase inspiratória para a fase expi-
ratória – o ventilador interrompe a fase inspi-
ratória e permite o início da fase expiratória, Mudança da inspiração para
processo denominado ciclagem; a expiração
3. fase expiratória – o ventilador permite o esva- Os ventiladores são classificados pelo mecanis-
ziamento dos pulmões, geralmente de modo mo ou processo que provoca a ciclagem do aparelho,
passivo; isto é, a mudança da fase inspiratória para a expiratória.
4. mudança da fase expiratória para a fase inspi- Atualmente, a maioria dos respiradores dispõe de até
ratória – essa transição pode ser desencadeada três dos quatro mecanismos de ciclagem: volume, fluxo,
pelo ventilador ou pelo paciente, e denomina- tempo e pressão.
mos “disparo” do ciclo respiratório. Obviamente, existe uma inter-relação entre essas
quatro variáveis durante a ventilação mecânica. Um dos
fatores é controlado e portanto funciona como variável
Fase inspiratória independente. Os outros fatores são variáveis depen-
A fase inspiratória se inicia com a movimentação dentes que devem ser ajustados adequadamente.
de gás do ventilador para o interior das vias aéreas da
criança. A pressão positiva do ventilador, maior que a Ventilação a volume controlada
pressão na via aérea da criança, gera um fluxo de ar. Este
Na ventilação a volume controlada, o ciclo ven-
fluxo é diretamente proporcional ao gradiente de pres- tilatório termina a inspiração quando um determinado
são e inversamente proporcional à soma da resistência volume preestabelecido é liberado no circuito do ven-
interna do ventilador e a resistência do sistema respira- tilador. O tempo necessário para liberar esse volume
tório do paciente. Os ventiladores, quanto à fase inspira- corrente, o fluxo inspiratório e a pressão são dependen-
tória, podem ser classificados em geradores de pressão tes desse volume. Uma vez que o volume corrente e a
ou geradores de fluxo. frequência respiratória foram ajustados no ventilador, o
Em pediatria, frequentemente se utilizam venti- fluxo inspiratório deve ser ajustado para que o volume
ladores geradores de pressão não constante, em uma corrente seja administrado num tempo inspiratório de-
forma de ventilação com limitação de pressão e ciclada sejado. A pressão necessária para liberar o volume cor-
a tempo (Sechrist, Inter3, Newport). Na ventilação limi- rente estabelecido é o pico de pressão inspiratório, que
tada a pressão as taxas de fluxo inspiratório são fixas, vai variar dependendo da complacência e da resistência
para permitir que o pico de pressão inspiratória atinja do pulmão (Figura 3.5).

Figura 3.4: Representação das curvas de pressão e fluxo na pressão controlada (pressão quadrada e fluxo desacelerante).

19
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Figura 3.5: Representação da ventilação a volume


controlada. Acima, gráfico fluxo/tempo com fluxo constante, no
meio, gráfico volume tempo e abaixo gráfico pressão tempo. Figura 3.6: Ventilação com pressão de suporte.
A inspiração termina quando o volume predeterminado é
atingido. Fase expiratória
o esvaziamento do pulmão se faz normalmente
pela abertura de uma válvula que libera o fluxo expira-
Ventilação ciclada a tempo tório, ou seja, põe o pulmão em contato com a atmosfe-
Na ventilação ciclada a tempo, a inspiração ter- ra. O fluxo expiratório é consequência do gradiente de
mina e a expiração começa após um determinado inter- pressão entre os alvéolos e a atmosfera. A manutenção
valo de tempo. Pode-se limitar a pressão ou deixar que de uma pressão expiratória positiva ao final da expira-
o volume corrente seja determinado pelo fornecimento ção se faz por meio da incorporação de mecanismos
do fluxo inspiratório por um determinado tempo. que fazem com que o esvaziamento pulmonar ocorra
Em crianças, frequentemente utiliza-se ventilação contra uma pressão constante acima da atmosférica.
limitada a pressão e ciclada a tempo, ou seja, o aparelho
passa da fase inspiratória para a fase expiratória ao térmi-
no do tempo inspiratório predeterminado (Figura 3.2). Mudança da expiração para a
inspiração (disparo do aparelho)
Ventilação pressão controlada O ventilador deverá interromper a fase expiratória
Na ventilação ciclada a pressão a inspiração ter- e permitir o início da fase inspiratória do ciclo seguinte. O
mina e a expiração começa quando um limite pressórico modo seré controlado quando o início da inspiração se
máximo nas vias aéreas é atingido. O volume corrente é faz após um determinado espaço de tempo preestabe-
determinado pela pressão preestabelecida, fluxo, com- lecido (disparo por tempo).
placência pulmonar do paciente, resistência do circuito Nas modalidades sincronizadas, assistidas ou
e das vias aéreas e integridade do circuito do ventila- de suporte o disparo pode ser desencadeado por uma
dor. Inicialmente escolhe-se uma pressão enquanto o variação de pressão, fluxo, por variação da impedância
volume corrente expiratório é monitorizado. Ajusta-se torácica (constatação da contração muscular) ou ainda
a pressão até se conseguir o volume corrente desejado. por movimentação abdominal. O tipo de disparo do res-
pirador é muito importante na criança. Como o esforço
Ventilação ciclada a fluxo inspiratório na criança é menor, o sistema de detecção
Na ventilação ciclada a fluxo a inspiração termina da respiração da criança deve ser muito sensível, e a
e a expiração começa quando o fluxo cai a uma percen- resposta do aparelho deve ser muito rápida, para evitar
tagem predeterminada do pico do fluxo. O volume cor- um aumento do trabalho respiratório. É em decorrência
rente e o tempo inspiratório variam de ciclo para ciclo. disso que se desenvolveram os sistemas de detecção
Nesse tipo de ventilação também se limita o pico de por impedância torácica (SAVI) e por movimentação
pressão a ser atingido. O volume liberado aos pulmões abdominal (Infant Star) usados em neonatologia, que
é determinado pela pressão escolhida e pela compla- visam detectar a respiração no momento da contração
cência e resistência da criança. da musculatura, antes mesmo que ocorra variação de
pressão ou de fluxo na via aérea.
O sistema de ciclagem a fluxo é mais confortável
do que o de ciclagem a pressão, pois no primeiro o pa- Em pediatria utilizam-se frequentemente siste-
ciente tem maior controle sobre o ciclo respiratório. Um mas de disparo por pressão ou por fluxo. Estes últimos
exemplo desse modo de ventilação é o de pressão de têm se mostrado melhores por desencadearem um me-
suporte (Figura 3.6). nor trabalho respiratório.

20
Modalidades Básicas de 4
Ventilação Mecânica

Modo controlado Modo assistido/controlado


É uma modalidade de ventilação na qual todas É uma modalidade de ventilação na qual as res-
as respirações são fornecidas pelo aparelho de ventila- pirações mandatórias são fornecidas a uma frequência,
ção, a uma frequência, pressão (ou volume), fluxo ins- pressão (ou volume), fluxo e tempo inspiratório prees-
piratório e tempo inspiratório predeterminados. Está tabelecidos, porém entre as respirações iniciadas pelo
indicada em situações em que a criança não tenha es- aparelho a criança pode desencadear uma resposta do
forço inspiratório, como em lesões do SNC (polirradi- aparelho de ventilação e receber uma respiração man-
culoneurite, secções de medula, intoxicações agudas datória com os mesmos parâmetros dos ciclos iniciados
ou traumatismo cranioencefálico), durante anestesia pelo aparelho de ventilação, exceto pela frequência,
ou no pós-operatório imediato, ou em situações em que é determinada pelo paciente. Está indicada em si-
que a criança precise de sedação rigorosa ou curari- tuações em que a criança tenha um esforço inspirató-
zação. Pode levar a fraqueza da musculatura respira- rio normal, contudo com uma musculatura respiratória
tória e atrofia, se usada por tempo prolongado. Como incapaz de realizar todo o trabalho respiratório para
o controle é totalmente realizado pelo médico, a mo- manter uma ventilação adequada. Permite ao pacien-
nitorização gasométrica deve ser rigorosa para que te controlar a sua frequência respiratória. Para que esse
sejam corrigidos os distúrbios acidobásicos que nor- tipo de ventilação possa ser realizado na criança, o sis-
malmente seriam corrigidos pela respiração espontâ- tema de disparo (trigger) deve ser bastante sensível e
nea do paciente (Figura 4.1). a válvula de demanda deve ter resposta rápida. Tem
como desvantagem a possibilidade da hiperventilação
por dor, ansiedade ou fatores neurológicos, levando a
alcalose respiratória (Figura 4.2 e 4.3).

Figura 4.2: Representação esquemática da VM assistido/


controlada.
Fluxo
Fluxo
10
10
0 Fluxo
0
10
-40
0
-40 2
2 4
4 6
6 8
8 10
10 12
12 14
14
-60
-60
-40 2 4 6 8 10 12 14
-60
40
40 Pressão
Pressão (cmH
(cmH22O)
O)
30
30
40
20 Pressão (cmH2O)
20
30
10
10
20
0
0
10
0 2
2 4
4 6
6 8
8 10
10 12
12 14
14
2 4 6 Volume
8
Volume 10 12 14
800
800 Volume
100 Tempo
Tempo
800
100
0 (segundos)
Tempo
(segundos)
100
0
Figura 4.1: Representação esquemática da ventilação 0 2
2 4
4 6
6 8
8 10
10 12 (segundos)
12 14
14
controlada (volume controlado à esquerda e pressão Figura 4.3: Curvas de ventilação assistido/controlada (v.
2 4 6 8 10 12 14

controlada à direita). Não se observa deflexão negativa no pressão controlada). Ventilação mandatória intermitente (IMV)
início da curva de pressão (controlada). e ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV).
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

A ventilação mandatória intermitente é o modo de porém sua musculatura respiratória é incapaz de realizar
ventilação mais usado em pediatria. Nessa modalidade todo o trabalho respiratório para manter uma ventilação
as respirações mandatórias são fornecidas ao paciente a adequada, e constitui também uma forma de desmame
uma frequência, pressão (ou volume), fluxo e tempo ins- da ventilação mecânica. Os efeitos cardiovasculares da
piratório predeterminados, porém entre as respirações ventilação mecânica são menos evidentes nesse tipo de
mandatórias o paciente pode respirar espontaneamente, ventilação do que na ventilação controlada ou assisto-
com frequência, pressão, volume e tempo inspiratório controlada, pois a pressão média das vias aéreas (MAP) é
determinados por ele (Figura 4.4). Isso é possível pela muito menor durante a respiração espontânea, levando
existência de um fluxo contínuo entre as respirações
portanto a uma queda da MAP no decorrer do tempo.
mandatórias, ou de um fluxo de demanda desencadea-
Como o paciente participa mais da ventilação, há uma
do pela detecção do esforço inspiratório do paciente. A
menor ocorrência de atrofia da musculatura respiratória.
SIMV (ventilação mecânica intermitente sincronizada) faz
com que a respiração mandatória ocorra concomitante-
mente ao esforço inspiratório do paciente (Figura 4.4).
Está indicada quando a criança tem um drive respiratório Pressão de suporte
É um modo de ventilação no qual o esforço ins-
piratório da criança é assistido pelo ventilador para
se atingir um nível de pressão preestabelecido. A
inspiração termina quando o fluxo inspiratório atin-
ge um nível mínimo, ou uma porcentagem do pico
de fluxo atingido. A criança determina sua frequên-
cia respiratória, e a interação do sistema respiratório
da criança com o aparelho determina o tempo ins-
piratório e o volume corrente, que são variáveis de
uma respiração para a outra. Tem sido indicado para
o desmame da criança em ventilação mecânica ou
como forma de ventilação, associado ao SIMV, para
as crianças que apresentam um esforço inspiratório
adequado porém com musculatura respiratória inca-
paz de manter um trabalho adequado para a sua ne-
cessidade ventilatória. Essa modalidade permite uma
melhor sincronia entre a criança e o ventilador. Na
criança a realização desse modo de ventilação pode
ser dificultada pela utilização de cânulas muito peque-
nas, cuja resistência inspiratória elevada pode fazer
com que o pico de pressão seja atingido muito rapi-
damente, com um volume corrente baixo. Ou, ainda,
Figura 4.4: Representação esquemática da IMV (acima) e o escape da cânula sem cuff pode dificultar a ciclagem
da SIMV (abaixo). nessa modalidade (Figura 4.5).
Limite de
Pressão pressão Nível de
superior pressão de
suporte

PEEP

Fluxo Sensibilidade
de disparo

Controle de
uxo

Figura 4.5: Pressão de suporte.

22
Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica

SIMV + Pressão de suporte CPAP


Associa a ventilação mandatória intermitente sin- A criança respira espontaneamente sob uma
cronizada à pressão de suporte. Ou seja, mantém-se uma pressão de distensão contínua mantida na via aérea.
frequência de mandatória, com os parâmetros predeter- Hoje em dia é raramente utilizada como modalidade
minados; entre as mandatórias a criança tem respiração de ventilação em crianças intubadas. É mais usada em
espontânea, e esta é assistida com um suporte pressó- ventilação não invasiva (duplo tubo nasal ou máscara)
rico. Alguns aparelhos, como o Servo 900, por exemplo, (Figura 4.7).
trabalham com SIMV volume controlado + pressão de
suporte. Outros, como o Servo 300 e o Newport Wave,
trabalham com SIMV volume controlado ou pressão
controlada + pressão de suporte (Figura 4.6).

Curvas de pressão e fluxo no SIMV (volume controlado + pressão do suporte) - observe que na SIMV a onda de fluxo é quadrada
(característica do modo volume controlado) e na pressão de suporte a onda de fluxo é desacelerante.

Curva de pressão e fluxo da SIMV (pressão controlada) + pressão de suporte. Note as curvas de fluxo com padrão desacelerante
tanto na SIMV como na PS.

Figura 4.6: Acima: SIMV volume controlado + pressão de suporte e abaixo: SIMV pressão controlada + pressão de suporte.

Figura 4.7: CPAP de 2 cmH2O.

23
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Modalidades básicas e novas Esquema de controle2


A pressão, o volume e o fluxo mudam com o tem-
e ventilação mecânica po e são variáveis. A complacência e a resistência são
Eduardo Juan Troster parâmetros que combinados constituem a sobrecarga
aos músculos respiratórios e ao ventilador.
„„ Equação do movimento
Um detalhe importante a ser lembrado é que
„„ Esquema de controle pressão, volume e fluxo são medidos em relação a seus
„„ Variáveis das fases valores basais, isto é, os valores no fim da expiração.
desencadeamento (trigger) A pressão inspiratória é medida como mudança das
limite pressões nas vias aéreas acima do PEEP. O volume é
medido como mudança do volume pulmonar acima
ciclagem
da capacidade residual funcional (CRF). A mudança do
expiração volume pulmonar durante o período de inspiração é
„„ Modos de ventilação definida como volume corrente. O fluxo é medido em
ventilação mecânica controlada relação ao seu valor no fim da expiração (geralmente
zero). O algoritmo para determinar a variável indepen-
assistocontrolada
dente e que controla a ventilação é o que vemos na
IMV/SIMV Figura 4.8.
Pressão suporte Os ventiladores podem ser classificados como
„„ Bibliografia controlados a pressão, a volume e a fluxo.

Equação do movimento Variáveis das fases


O sistema de controle é baseado na equação do Uma vez identificadas as variáveis de controle e
movimento do sistema respiratório. O objetivo da ven- as formas das ondas associadas, deve-se examinar os
tilação mecânica é gerar uma pressão necessária para eventos durante o ciclo ventilatório, isto é, o período
resultar num fluxo de gás que entra nas vias aéreas e de tempo entre o início de uma respiração e o início
aumenta o volume pulmonar. da próxima.
A equação do movimento foi descrita por Mapleson3 propôs que esse período de tempo
Chatburn em 1988.1 fosse dividido em quatro fases: a mudança da expiração
para a inspiração, a inspiração, a mudança da inspira-
volume resistência fluxo ção para a expiração e a expiração. Essa convenção é
Gradiente de pressão útil para examinar como um ventilador inicia, mantém
complacência
e suspende uma inspiração e a expiração.
(musculatura respiratória aparelho)
Desencadeamento (Trigger)
O gradiente de pressão da musculatura res- Os ventiladores medem as variáveis associadas
piratória resulta na expansão da caixa torácica e com a equação do movimento (pressão, volume, fluxo
dos pulmões. ou tempo).

Figura 4.8:

24
Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica

A inspiração se inicia quando uma das variáveis Modos de ventilação


atinge um valor preestabelecido. As possibilidades são Modo de ventilação pode ser definido como um
tempo, pressão e fluxo. Quando o trigger é tempo, o conjunto particular de variáveis de controle, variáveis
ventilador inicia a respiração de acordo com uma fre- de fase e variáveis condicionais.
quência preestabelecida, independente do esforço es-
O ventilador ideal sentiria as necessidades fisio-
pontâneo do paciente. Quando o trigger é pressão, o
lógicas de trocas gasosas, como o SNC faz, e daria uma
ventilador sente o esforço inspiratório na forma de uma
assistência proporcional ao déficit em desencadeamen-
queda da pressão na expiração e inicia uma inspiração to (trigger), limite e ciclagem.
independente da frequência preestabelecida.
A insuficiência ventilatória pode ser parcial ou
Limite completa, resultando na necessidade de suporte parcial
ou completo.
Tempo inspiratório é definido como o intervalo
Na insuficiência ventilatória parcial, o organis-
de tempo do início do fluxo inspiratório ao início do
mo geralmente mantém um esforço regular de desen-
fluxo expiratório. Durante a inspiração, pressão, volume
cadear a inspiração, porém perdeu a capacidade de
e fluxo aumentam acima dos valores do fim da expira-
manter valores adequados de limite de ciclagem (pico
ção. Se uma das variáveis não sobe acima de um valor
inspiratório de fluxo e volume corrente).1 O organismo
preestabelecido, é referida como variável de limite. Não
tenta respirar espontaneamente, e o ventilador dá o li-
confundir variável de limite com a variável usada para
mite e a ciclagem.
terminar a inspiração, chamada de variável de ciclagem.
A inspiração não termina quando a variável de limite Na insuficiência ventilatória total, o organismo não
consegue dar o trigger, e o ventilador acaba fazendo isso.
atingiu seu valor preestabelecido.
Respiração espontânea é aquela iniciada e termi-
Um fator adicional de confusão é que, por con-
nada pelo paciente. Se o ventilador determina o início
venção, o pico de pressão inspiratória e a pressão
ou o fim da inspiração, a respiração é mandatória.
expiratória são medidos em relação à pressão atmos-
férica, enquanto o limite de pressão pode ser medido Uma maneira simplificada de organizar e hierar-
em relação à pressão expiratória (por exemplo, Servo quizar os modos de ventilação é:
Siemens 900C). a. pressão controlada (PA)
A falta de padronização entre os aparelhos enfa- b. volume/fluxo controlado (VC)
tiza a importância de o clínico entender os conceitos. c. tempo controlado (TC)

Ciclagem A organização hierarquizada pode ser dividida


assim:
A inspiração termina pois uma variável atingiu
um valor preestabelecido. A variável que é medida e 1. raiz do padrão da variável de controle: pressão,
utilizada para terminar a inspiração é chamada de variá- volume/fluxo, tempo;
vel de ciclagem. A inspiração pode ser ciclada a tempo, 2. padrão mandatório da respiração: contínuo,
pressão, volume ou fluxo. intermitente, ausente;
3. padrão da variável de trigger;
Expiração 4. respiração espontânea assistida (sim, não);
A pressão transrespiratória expiratória é a dife- 5. assistência na expiração (sim, não).
rença entre a pressão das vias aéreas e a pressão de su-
perfície corpórea. Ventilação Mecânica Controlada (VMC)5
Pode ser desejável aplicar uma alteração de Durante a VMC, o paciente não tem esforço
pressão transrespiratória negativa para facilitar a expi- inspiratório e não contribui para o trabalho respira-
ração na vigência de aumento da resistência das vias tório. Todas as respirações são desencadeadas pelo
aéreas. Schulze et al.4 descreveram a técnica como re- aparelho. As características do ciclo são determinadas
dução da sobrecarga resistiva. É como a utilização da pelo ventilador.
pressão de suporte para reduzir o trabalho resistivo O esforço da musculatura respiratória e sua con-
na inspiração. tribuição para o consumo de oxigênio podem ser elimi-
É ajustado um fluxo expiratório auxiliar e pos- nados. O relaxamento subsequente da musculatura da
teriormente uma pressão, quando o fluxo expiratório parede torácica pode aumentar o recrutamento pulmo-
termina, para restaurar a capacidade residual funcio- nar. A eliminação do esforço do paciente pode aliviar o
nal. Isso previne a PEEP inadvertida, sem o risco de desconforto e a agitação do paciente.
colapso alveolar associado com a NEEP (pressão expi- As desvantagens da ventilação mecânica contro-
ratória final negativa). lada são:

25
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Estabelecimento do controle ventilatório Ocorrem o desenvolvimento de infiltrado pro-


Para o controle completo da ventilação, os es- gressivo e de microatelectasias nas áreas dependentes
forços respiratórios do paciente devem ser suprimidos dos pulmões e, pela redistribuição gravitacional dos
por hipoventilação intencional ou sedação e eventual fluidos, prejuízo da depuração de secreções e insufla-
suplementação com bloqueadores neuromusculares. ção inadequada.
A hiperventilação intencional por ventilação me- A posição prona melhora a oxigenação, aumenta
cânica controlada é uma técnica empregada nos pa- a capacidade residual funcional e reduz a lesão pulmo-
cientes com hipertensão intracraniana. A indução de nar do barotrauma.
apneia por hiperventilação intencional é inadequada,
Atrofia da musculatura respiratória
com risco de efeitos adversos hemodinâmicos e de ba-
rotrauma e volutrauma. A atrofia pode ser acentuada pela administração
de corticosteroides e estados catabólicos. Entretanto, se
O uso dos sedativos para limitar os esforços ven-
o paciente está fazendo esforço inspiratório para desen-
tilatórios espontâneos pode ser obtido com:
cadear respirações assistidas, isso previne ou diminui o
„„ Opioides: a morfina em doses baixas tem ex- risco de atrofia.
celente propriedade analgésica e reduz o dri-
ve ventilatório central, porém são necessárias Alcalose respiratória
altas doses para a supressão completa dos Uma alcalemia pode ocorrer durante a ventilação
esforços ventilatórios. As doses maiores resul- mecânica em pacientes com uma ventilação minuto
tam em hipotensão arterial e hipomotilidade elevada secundária a cirrose, intoxicação por aspirina,
gastrointestinal. sepse ou agitação.
„„ Benzodiazepínicos: têm propriedades ansio-
líticas, de amnésia e relaxante muscular com Assistocontrolada6
efeitos cardiovasculares mínimos nas doses Com o modo de ventilação asistocontrolada
habituais. Os benzodiazepínicos não têm efei- toda respiração é suportada pelo ventilador e todas as
to analgésico. respirações são semelhantes em fluxo, tempo e volu-
„„ Paralisia neuromuscular: pancurônio, embo- me preestabelecidos. Uma frequência mínima é esta-
ra seja barato e eficaz, pode liberar histamina belecida, porém o paciente pode escolher qualquer FR
e tem efeitos vagolíticos, que podem causar acima dessa.
taquicardia e hipotensão. Metabólitos ativos Marini et al.7 mostraram a influência da sensi-
acumulam em insuficiência hepática e renal. bilidade do trigger e do pico de fluxo em indivíduos
Vecurônio tem menor incidência de efeitos car- normais com diferentes níves de ventilação minuto.
diovasculares, porém ocorre acúmulo de meta- Aumentar o pico de fluxo reduz o trabalho respiratório
bólitos ativos na insuficiência renal e hepática. para o mesmo volume corrente.
O uso prolongado dos agentes bloqueadores As três vantagens do suporte parcial são:
neuromusculares pode resultar em disfunção neuro- „„ permitir e melhorar a sincronia entre o pacien-
muscular persistente, particularmente quando associa- te e o aparelho;
dos aos corticosteroides. Deve-se suspender os agentes
„„ reduzir o esforço do paciente e otimizar o
bloqueadores neuromusculares a cada 24 horas para o
conforto;
retorno da função muscular.
„„ facilitar o desmame.
A sedação profunda e a paralisia podem levar
a atrofia muscular, depleção de eletrólitos e retenção IMV/SIMV8
de água.
Em 1971, foi desenvolvido por Kirby o protótipo
A inconsciência prolongada pode resultar nas se-
do ventilador que incorporou a IMV (ventilação manda-
guintes complicações:
tória intermitente). Desse modo, um fluxo contínuo de
„„ úlceras de decúbito; gases permite a respiração espontânea do paciente. O
„„ síndromes de compressão dos nervos; fechamento da válvula (ciclada a tempo) ocorre de uma
„„ tromboembolismo. maneira semelhante ao polegar do anestesiologista no
tubo T de Ayre.
Redução do esforço respiratório espontâneo O fluxo necessário para uma criança é muito me-
Atelectasia progressiva nor do que para um adulto.
Durante a ventilação com pressão positiva num Posteriormente, foi sincronizada a respiração
paciente há uma preferência do gás em distribuir-se nas mandatória liberada pelo aparelho com o esforço inspi-
porções mais complacentes dos pulmões (na posição ratório do paciente (SIMV: ventilação mandatória inter-
supina, são as partes anteriores). mitente sincronizada).

26
Modalidades Básicas de Ventilação Mecânica

Os objetivos de qualquer modo de ventilação são Quando o diafragma é paralisado pelos relaxan-
ajudar na ventilação (eliminação de CO2) e/ou na oxige- tes neuromusculares ou não se contrai para eliminação
nação e diminuir o trabalho respiratório sem piorar as da respiração espontânea, a relação V/Q é dramatica-
condições clínicas do paciente. mente alterada, visto que a ventilação ocorre predomi-
As vantagens do IMV/SIMV são: nantemente nas regiões não dependentes e a perfusão
permanece nas dependentes. Por causa disso, há um
Evita a alcalose respiratória aumento do espaço morto anteriormente (V > Q) e au-
Não há dúvida de que IMV/SIMV reduzem a in- mento do shunt posteriormente (V < Q).
cidência e a gravidade de alcalose respiratória. Isso IMV/SIMV, por diminuir as respirações mecânicas
é devido ao fato de que é o paciente que determina e aumentar os esforços espontâneos, tendem a reduzir
sua frequência respiratória e seu volume corrente para esse desbalanço V/Q.
suas necessidades fisiológicas. O aparelho é utilizado
para suprir a insuficiência ventilatória e normalizar a Desmame acelerado
PaCO2 e o pH. Os eventos adversos da alcalose respi- Essa vantagem é controversa. Nessa modalida-
ratória são: de de ventilação a frequência respiratória mandatória
„„ redução do débito cardíaco; pode ser reduzida desde a intubação. Inicialmente
esse modo de ventilação (IMV/SIMV) era utilizado
„„ redução do fluxo sanguíneo cerebral;
como desmame.
„„ redução do cálcio ionizável;
„„ desvio para a esquerda, isto é, maior afinidade Prevenção de atrofia da musculatura respiratória
da hemoglobina pelo oxigênio, diminuindo O desuso da musculatura respiratória leva a atro-
sua liberação aos tecidos. fia e a descoordenação da contração do diafragma e da
musculatura acessória.
Diminuição da necessidade de sedação e do uso IMV/SIMV minimizam o problema, pois a respira-
de relaxantes musculares ção espontânea exercita a musculatura.
A utilização dos relaxantes musculares transfor- Forçar o paciente a respirar além de sua capa-
ma IMV/SIMV em ventilação controlada. cidade pode resultar em fadiga e no desenvolvimen-
Os sedativos/analgésicos, na IMV/SIMV, têm to de descoordenação da musculatura respiratória
como objetivos indução do sono e atuar como ansiolíti- toracoabdominal.
cos e analgésicos.
Seu uso não tem como objetivo a supressão da Redução da descompensação cardíaca
respiração espontânea. Na IMV/SIMV, com a respiração espontânea há
uma diminuição da pressão intrapleural e um aumento
Redução da pressão média nas vias aéreas do retorno venoso e do débito cardíaco. Os ciclos man-
A respiração espontânea diminui a pressão mé- datórios aumentam a pós-carga do ventrículo direito,
dia nas vias aéreas, enquanto a ventilação mecânica a reduzindo o débito cardíaco do ventrículo direito.
aumenta.
Utilizar uma técnica que combina as duas for-
Pressão suporte9
mas de ventilação irá reduzir a pressão média das vias A ventilação com pressão suporte (PS) é uma forma
aéreas. Com isso, há um menor risco de barotrauma e de suporte ventilatório que assiste o paciente intubado
das repercussões hemodinâmicas da pressão positiva com esforço inspiratório espontâneo com uma quantida-
intratorácica. de de pressão positiva nas vias aéreas preestabelecida.
Assim, podemos ser mais generosos com a PEEP Um fluxo de gases é liberado para prover uma
(pressão expiratória final positiva), que melhora a eficá- pressão preestabelecida, e a inspiração termina quando
cia da oxigenação, particularmente nas doenças pulmo- um fluxo mínimo é atingido.
nares restritivas. Na pressão de suporte o aparelho apenas deter-
mina o nível de pressão e o paciente controla a frequên-
Melhora da relação ventilação/perfusão (V/Q) cia respiratória.
A maioria dos pacientes em ventilação mecânica
fica na posição supina. Com isso, há uma redução da ca-
Dois efeitos fisiológicos da PS
pacidade residual funcional. Na respiração espontânea, Efeitos da musculatura ventilatória
a maioria da ventilação ocorre nas áreas pulmonares A fadiga da musculatura ventilatória frequente-
dependentes (posteriores), onde acontece a maior per- mente é a causa precipitante da insuficiência respira-
fusão pulmonar. tória aguda. A disfunção da musculatura ventilatória

27
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

persistente é um fator contribuinte para a incapacida- A dispneia ocorre quando essa relação não é
de de desmame dos pacientes em ventilação mecânica adequada.
prolongada. A pressão de suporte permite manipulação O ideal é que o suporte ventilatório ajude na
do trabalho respiratório. troca gasosa de uma maneira que interaja com os
receptores mecânicos para produzir uma sincronia
Reflexos do padrão ventilatório do paciente com o aparelho e minimize a dispneia.
Os pulmões e a caixa torácica têm receptores de Quando o aparelho determina o fluxo, isso pode não
estiramento e irritativos que suprem o sistema nervo- ocorrer. Por outro lado, a PS dá ao paciente maior con-
so central com informações sobre aspectos mecânicos trole sobre o fluxo inspiratório, o tempo inspiratório e
da ventilação. o volume corrente.
O controle ventilatório pelo SNC utiliza essas in- Com a OS há uma interação melhor com os re-
formações, bem como a troca gasosa, para determinar o ceptores mecânicos com o paciente em respiração
padrão ventilatório (FR, volume corrente e fluxo inspira- espontânea e, portanto, melhora da sincronia do pa-
tório), que resulta na melhor troca gasosa com a menor ciente-aparelho. Além disso, há um aumento do confor-
quantidade de trabalho respiratório. to do paciente com PS.

Bibliografia
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9. MacIntyre, NR. Pressure support ventilation. In: Perel A; Stock MC. Handbook of Mechanical Ventilatory Support.
Baltimore: Williams & Wilkins, 1992. pp. 129-35.

28
Como iniciar a ventilação 5
mecânica?
Como regular os parâmetros da
ventilação mecânica? Quais as
complicações da ventilação
mecânica? Como evitá-las?
Assistência ventilatória invasiva outros (cetamina – 1 a 2 mg/kg)
„„ atropina – 0,02 mg/kg;
Para que a assistência ventilatória mecânica seja „„ curare de ação rápida, succinilcolina (0,5 a 1,0
bem-sucedida, devemos levar em consideração os se- mg/kg, evitar em TCE ou na presença de hiper-
guintes aspectos:
calemia, hepatopatia, cardiopatia] ou atracú-
rio (0,5 mg/kg/ dose).
A indicação deve ser precisa e precoce
Parâmetros clínicos Laringoscópio adequado
Indicação formal: „„ lâmina:
„„ PCR
Tipo Número
„„ Apneia
RN reta 0
Indicação relativa:
„„ Fadiga Lactentes (1m-2a) reta 1
„„ Coma – Glasgow < 8 Pré-escolares (2a-7a) reta 2
Escolares (7-14a) curva 2 ou 3
Parâmetros gasométricos Adolescentes (> 14a) curva 3
Na insuficiência respiratória aguda
(Dica: o tamanho mais adequado seria aquele mais pró-
„„ PaO2 < 50 em FiO2 > 60%
ximo da distância da comissura labial até a implantação
„„ PaCO2 > 60 ou subindo 5-10 mmHg/ hora superior da orelha.)

Escolha da cânula endotraqueal Cânula traqueal


e intubação Diâmetro da cânula: deve-se utilizar o diâmetro
Para a realização da intubação, devemos ter à máximo que não provoque trauma laríngeo.
disposição:
Prematuro 2,5 a 3,0 mm;
Drogas RN 3,0 a 3,5 mm;
„„ anestésico tópico crianças menores que 10 kg até 6 meses 3,5 a 4,0 mm;
- Xilocaína
6 a 12 meses 4,0 a 4,5 mm;
solução 2% – 1 mL diluído em 1 mL de água
destilada ou SF ou crianças maiores de 10 kg 12 a 18 meses 4,5 a 5,0 mm;
- 1 borrifada de Xilocaína spray. 18 a 24 meses 5,0 a 5,5 mm;
„„ sedativo – benzodiazepínicos (diazepam – 0,3 2 a 4 anos 5,5 a 6,0 mm;
mg/kg ou midazolam – 0,2 mg/kg);
4 a 7 anos 6,0 a 6,5 mm;
opiáceos (fentanil – 1-3 mcg/kg)
7 a 10 anos 6,5 a 7,0 mm.
barbitúricos (tionembutal – 2 a 5 mg/kg)
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

c. Para minimizar os efeitos adversos, os objeti-


idade vos fisiológicos não devem ser atingir a nor-
Acima de 2 anos   4  0, 5 mm
4 malidade gasométrica. Por exemplo, muitas
vezes é benéfico permitir o aumento da PaCO2
(hipoventilação controlada, hipercapnia per-
Em geral, não se deve utilizar cânula com cuff em missiva) para evitar os riscos da hiperinsufla-
crianças menores que 7-8 anos. Quando se utiliza cuff, ção pulmonar.
deve-se insuflá-lo até que não haja escape, sendo a pres-
d. A hiperdistensão alveolar pode causar lesões
são máxima de 20 mmHg. Os melhores cuffs são os de
do parênquima pulmonar, portanto medidas
alta complacência (baixa pressão para maiores volumes).
para evitar uma pressão alveolar excessiva
A indicação de cuff para crianças menores que 7 devem ser instituídas sempre que possível. A
a 8 anos é: presença de escape e necessidade de parâ- pressão inspiratória de oclusão final (pressão
metros máximos de VM. Intubar com cuff e, se não for de platô) é clinicamente a que melhor estima a
necessário, não insuflar. pressão média de pico alveolar. A maioria dos
autores concorda que uma pressão de platô
Via de escolha superior a 35 cm H2O pode ser mais lesiva ao
Orotraqueal ou nasotraqueal. A melhor via é pulmão do que altos valores de FiO2.
aquela à qual se está mais habituado. Em geral, na ur- e. A hiperinsuflação dinâmica (aprisionamen-
gência, a via mais rápida é a orotraqueal. to de ar, auto-PEEP, PEEP intrínseca) deve ser
Em caso de intubação eletiva por tempo mais medida ou estimada, especialmente em pa-
prolongado ou na presença de laringite pós-extubação cientes com obstrução das vias aéreas. Essa
pode-se dar preferência à via nasotraqueal, que possibi- monitorização tem por objetivo limitar o de-
lita melhor fixação da cânula. senvolvimento da hiperinsuflação dinâmica
para evitar seus efeitos adversos.
Antes de iniciar o procedimento, checar:
„„ aspirador Objetivos fisiológicos da
„„ ambu
ventilação mecânica
„„ máscara
„„ fonte de oxigênio Suporte à troca gasosa
„„ monitor (FC e Sat O2) „„ Ventilação alveolar (PaCO2 e pH) – em algu-
mas circunstâncias o objetivo pode ser uma
Esvaziamento gástrico pré-intubação e manobra ventilação alveolar maior do que o normal
de Sellick (hiperventilação para reduzir pressão intracra-
niana), mas em outras pode ser uma ventila-
Compressão da cricoide que leva a uma com- ção adequada porém menor do que o normal
pressão do esôfago e diminuição do risco de aspiração. (como na hipercapnia permissiva ou na falên-
cia aguda do paciente crônico).
Checar posição da cânula:
„„ Oxigenação arterial (PaO2, SaO2 e CaO2) – o
„„ ausculta pulmonar infraxilar objetivo crítico da ventilação mecânica é atin-
„„ RX de tórax: deixá-la a nível de T3 ou 2 a 2,5 cm gir e manter um nível de oxigenação arterial
acima da bifurcação da traqueia. aceitável usando uma concentração de oxigê-
nio inspirado também aceitável, o que signifi-
ca na maior parte das situações clínicas uma
Princípios que devem nortear a SaO2 em torno de 90% (equivale a uma PaO2
= 60 mmHg, assumindo uma posição normal
ventilação mecânica da curva de dissociação da hemoglobina).
a. As alterações fisiopatológicas das diversas Como a oferta de oxigênio para o tecido de-
doenças modificam-se durante sua evolução pende também da hemoglobina e do débito
temporal, e assim o modo, ajustes e inten- cardíaco, esses fatores devem ser considera-
sidade da ventilação devem ser reavaliados dos nessa terapêutica que visa uma melhora
repetidamente. da oxigenação tissular.
b. A ventilação mecânica se associa a um grande
número de efeitos adversos. Assim, medidas Aumento do volume pulmonar
para minimizar tais complicações devem ser „„ Insuflação pulmonar ao final da inspira-
implementadas sempre que possível. ção – deve permitir uma expansão pulmonar

30
Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros da ventilação mecânica?
Quais as complicações da ventilação mecânica? Como evitá-las?

suficiente porém não excessiva (a cada respi-


ração ou intermitentemente) para prevenir Ventilação Alveolar = (VC - EM) x FR
ou tratar atelectasias, melhorar a oxigenação,
a complacência e os mecanismos de defesa Portanto a ventilação alveolar (eliminação de
pulmonar. CO2) pode ser alterada com a avaliação dos seguintes
„„ Capacidade residual funcional (CRF) – atin- itens:
gir e manter uma capacidade residual aumen- „„ Frequência respiratória (FR) – aumentando-
tada utilizando PEEP é extremamente útil em -se a FR se aumenta a eliminação de CO2, lem-
situações em que a redução da CRF pode ser brando que sempre que se altera a FR alteramos
deletéria (diminuição da PaO2, lesão pulmo- a relação I:E. Se mantivermos um tempo inspira-
nar aumentando), como na síndrome do des- tório (Tinsp) constante à medida que aumenta
conforto respiratório do adulto e na dor do a FR diminuímos o tempo expiratório (Texp) e
pós-operatório. podemos por fim ter um tempo expiratório tão
curto que não damos tempo para que o ar saia
dos pulmões, levando a um aprisionamento de
Reduzir o trabalho respiratório gás e à formação da chamada PEEP inadverti-
Para a redução do trabalho respiratório nos pa- da. Nesses casos, entre outras consequências,
cientes em que este está aumentado, seja por um observaremos um aumento da PaCO2. Assim, o
aumento da resistência das vias aéreas ou por uma mínimo de tempo expiratório que devemos uti-
redução da complacência, com esforços espontâneos lizar seria o equivalente a 3 constantes de tem-
ineficazes ou incapazes de serem mantidos, o suporte po (≅ 0,45 segundos), porém em patologias nas
ventilatório deve ser utilizado até que medidas terapêu- quais a resistência da VA está aumentada esse
ticas específicas revertam a condição que levou ao au- tempo pode ser insuficiente.
mento no trabalho respiratório. Constante de tempo é o tempo necessário para
que ocorra um equilíbrio de pressões no pulmão e não
haja mais fluxo aéreo tanto na inspiração quanto na
Objetivos clínicos expiração.
„„ Reverter a hipoxemia – SaO2 > 90%. A constante de tempo é um produto da resistên-
„„ Reverter a acidose respiratória aguda – corrigir cia pela complacência.
uma acidemia grave (pH< 7,20), sem necessa-
riamente atingir uma PaCO2 normal. 1 CT = 0,15 segundos
„„ Aliviar o desconforto respiratório. (valor normal para RN)
„„ Prevenir ou reverter atelectasias.
Em geral calculamos o Tinsp e o Texp com base
„„ Reverter a fadiga da musculatura respiratória. no conceito de constante de tempo e supondo que em
„„ Permitir sedação e/ou bloqueio neuromus- situacões normais sejam necessárias entre 3 e 5 cons-
cular. tantes de tempo para que haja uma boa distribuiçao de
„„ Diminuir o consumo de oxigênio sistêmico ou ar nos pulmões durante a inspiração (Tinsp- 0,4 a 0,8 s).
miocárdico. A relação entre inspiração e expiração ideal para iniciar
„„ Reduzir a pressão intracraniana. a ventilação mecânica é 1:2.
„„ Estabilizar a caixa torácica. „„ Volume corrente (VC) – O volume corrente
depende da complacência pulmonar, do gra-
diente de pressão (Pinsp - PEEP) e por fim do
Ajustes dos aparelhos tempo inspiratório. A diminuição do volume
corrente leva a uma retenção de CO2. Em geral
Um dos principais objetivos da ventilação me- utilizamos volume corrente de 6-8 mL/kg.
cânica (VM) é efetuar um intercâmbio gasoso eficaz,
promovendo a eliminação de gás carbônico (CO2) e a
captação de oxigênio.
Oxigenação
A oxigenação depende da FiO2 e da pressão mé-
dia das vias aéreas (MAP).
Eliminação de CO2 Logo após a intubação devemos utilizar uma
Como o CO2 se difunde facilmente do sangue FiO2 elevada, pois o procedimento de intubação é bas-
para dentro dos alvéolos, sua eliminação depende em tante hipoemiante. Entretanto, logo após devemos
grande parte da quantidade total de ar que passa para baixar a FiO2 o mais rápido possível e se puder basea-
dentro e para fora dos alvéolos. da em oximetria de pulso. A FiO2 deve ser reduzida,

31
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

tentando atingir um objetivo clínico aceitável (PaO2 > „„ PEEP – pressão expiratória final positive. A
60 mmHg) com uma FiO2 de 50% para minimizar a to- PEEP gera uma pressão de distensão que man-
xicidade pelo O2. Se uma FiO2 > 60% é necessária para tém o alvéolo aberto no final da expiração.
manter uma boa oxigenação, deve- se considerar a A PEEP recupera alvéolos pérvios, evita cola-
adição de PEEP. bamento das vias aéreas na expiração e redistribui a
A MAP é a medida da pressão à qual os pulmões água pulmonar. A PEEP redistribui a água pulmonar
estão expostos durante o ciclo respiratório. extravascular do alvéolo para o espaço perivascular,
onde o impacto do excesso de água no pulmão na
troca gasosa é menor. Por meio desses mecanismos,
K (Pinsp  PEEP) . (Tinsp)  PEEP a PEEP diminui o shunt intrapulmonar, aumenta a ca-
MAP 
Tinsp  T exp pacidade residual funcional (CRF) e melhora a compla-
cência e a oxigenação.
A aplicação clínica básica da PEEP é a prevenção
A MAP deverá aumentar segundo o aumento dos
e o tratamento do colapso pulmonar. Em pacientes com
seguintes itens:
a PaO2< 60 mmHg – (Sat O2 < 90%) numa FiO2 > 0,5 a
„„ Fluxo inspiratório – aumenta a constante K. PEEP está indicada para melhorar a oxigenação. Com
O fluxo tem relação direta com o tempo ins- a utilização da PEEP, é possível aumentar a eficácia da
piratório e a pressão inspiratória, já que com oxigenação com uma FiO2 menor, reduzindo o risco de
o fluxo alto rapidamente atingimos a pressão toxicidade pulmonar pelo oxigênio.
determinada. Com fluxos baixos geralmen-
PEEP fisiológica: 3 a 5 cmH2O.
te obtemos uma onda de pressão tipo “sino”
(mais fisiológica, indicada em situações com Em patologias com diminuição da complacência
mínimo comprometimento pulmonar), e com pode-se ocasionalmente atingir 15 a 20 cmH2O.
fluxos altos associado a Tinsp altos consegui-
mos uma onda “quadrada” (embora menos
fisiológica, estaria indicada em situações em Manutenção do paciente em
que ocorrem comprometimento pulmonar de ventilação mecânica
resistência e/ou complacência, pois fornece
um maior volume corrente, uma melhor distri- Medidas gerais
buição do fluxo e uma elevação da MAP). „„ Necessidades hídricas – em geral administra-
O fluxo necessário para uma ventilação adequa- mos volume correspondente a cerca de 80%
da seria três a quatro vezes o volume minuto (VM). das necessidades hídricas basais. O umidifi-
cador fornece cerca de 20 mL/kg de volume ao
VM = VC x FR paciente.
„„ Aporte nutritivo – estabilizado o paciente e
Em geral o fluxo é dado em L/min. caso não haja contraindicações ao uso do tra-
Podemos elevar o fluxo na dependência da pato- to gastrointestinal, iniciar nutrição enteral o
logia pulmonar. mais precocemente possível, associada ou não
„„ Pinsp – o pico de pressão inspiratória é o pri- a nutrição parenteral.
meiro parâmetro a ser ajustado. Varia em fun-
ção da patologia de base. A pressão ideal deve
promover expansão torácica adequada. Em Profilaxia de sangramento digestivo:
situações em que não haja comprometimen- „„ Cimetidina e/ou antiácido e/ou sucralfato.
to pulmonar em geral se utiliza Pinsp de 15 a
20 cmH2O. Em doenças obstrutivas e em situa- Sedação
ções com diminuição de complacência se ne-
„„ A agitação é um dos sinais de hipoventila-
cessita de pressões mais elevadas, sendo que
ção. Antes de sedar o paciente, checar parâ-
nesta última, em geral, se utilizam pressões al-
metros inadequados, obstrução da cânula,
tas (acima de 30 cmH2O), aumentando o risco
extubação, barotrauma, funcionamento do
de barotrauma e volutrauma.
aparelho.
„„ Tinsp – tempo inspiratório. O aumento no Tinsp
„„ Drogas:
aumenta a MAP, portanto aumenta a oxigena-
ção. O uso de Tinsp prolongado entre 1,5 e 2 Diazepam – 0,3 mg/kg, EV, a cada 4 a 6 horas;
segundos aumenta o risco de barotrauma, par- Midazolam µg – 0,2 mg/kg, EV, a cada 4 a 6
ticularmente quando associado a inversão da horas ou EV contínuo 2-8 µg/kg/min (há rela-
relação I:E, pela ocorrência de PEEP inadvertida. tos de infusão de 10-20 µg/Kg/min);

32
Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros da ventilação mecânica?
Quais as complicações da ventilação mecânica? Como evitá-las?

Meperidina – 1-2 mg/kg/dose, EV, a cada 4 Complicações pulmonares


a 6 horas.
Lesão pulmonar induzida pela
Fentanil µg 1-5 µg/kg/dose, EV, ou EV contí-
nuo 2-8 µg/kg/hora; ventilação mecânica
Hidrato de cloral – 20-50 mg/kg/dose, VO ou Apesar de a ventilação mecânica salvar vidas,
VR, a cada 4 a 6 horas; nos últimos 10 a 15 anos diversos estudos demonstra-
ram que a ventilação mecânica pode induzir uma lesão
Cetamina – 1-4 mg/kg/dose, EV, a cada 4 a 6
muito semelhante à SDRA. Mais recentemente, estudos
horas, ou EV contínuo 10-15 µg/kg/min (não identificaram o potencial da ventilação mecânica em
se deve utilizar em HIC ou muita secreção causar ou estender a disfunção orgânica múltipla.
ou, mesmo, em utilização prolongada). Pode
levar a alucinação (diminui com a associação O uso de volumes correntes altos ou pico de pres-
de benzodiazepínicos). Utilizar apenas em são inspiratória elevados (que geram volumes correntes
pacientes chocados que dificultam a utiliza- altos) com volumes expiratórios baixos leva a uma le-
ção dos opiáceos. são pulmonar induzida pela ventilação mecânica que
se caracteriza por formação de infiltrado granulocítico
ao nível dos alvéolos, aumento da permeabilidade vas-
Curarização cular pulmonar, formação de membrana hialina e he-
Só deve ser utilizado quando não consegui- morragias intra-alveolares, ou seja, a própria ventilação
mos sedar um paciente que está “brigando” com a mecânica leva a um dano do parênquima pulmonar se-
ventilação e necessitando de parâmetros altos melhante à SDRA, e, no caso de uma lesão preexistente,
do VM. a um agravamento da mesma. A lesão pulmonar indu-
zida pelo ventilador pode ser iniciada se o volume final
„„ Pavulon – (pancurônio):
expiratório é muito baixo e o recrutamento alveolar e/
ataque – 0,1 mg/kg; ou a hiperdistensão alveolar ocorrem repetidamente.
manutenção – 0,02 mg/kg, repetido quantas Parece ideal, portanto, tentar individualizar o volume
vezes necessário; pulmonar ótimo em cada paciente com lesão pulmo-
não se deve utilizar curare de longa duração nar, idealmente mantendo o pulmão tão aberto quanto
em infusão contínua; possível ao final da expiração para evitar o trauma cícli-
co de recrutamento e colapso.
duração – 40-70 minutos.
Por essas razões, muitos autores têm recomenda-
„„ Aloferine – (alcurônio):
do o uso de uma estratégia ventilatória de proteção pul-
ataque – 0,5 mg/kg; monar. A estratégia ventilatória de proteção pulmonar
manutenção – 0,25 mg/kg. pode ser definida como uma ventilação que minimiza
„„ Tracrium – (atracúrio): o volume corrente, mantém o pico inspiratório de pres-
são baixo e aplica pressão expiratória final positiva sufi-
ataque – 0,3-0,5 mg/kg;
ciente para evitar abertura e fechamento das unidades
infusão contínua – 0,2-0,5 mg/kg/hora (pre- pulmonares instáveis.
parar para no máximo 4 horas);
efeito – 25 a 40 minutos. Síndrome do escape aéreo
„„ Vercurônio: Quando o gás é detectado radiograficamente
ataque – 0,07-0,1 mg/kg; nas camadas perivasculares, é denominado enfise-
ma intersticial pulmonar. Isso geralmente precede o
infusão contínua – 0,075 mg/kg/hora;
pneumotórax.
efeito – 25 a 40 minutos;
A incidência de barotrauma correlaciona-se com
sempre associar sedação. o pico de pressão inspiratória (PPI). A magnitude é mais
importante do que a duração da pressão, e o barotrau-
ma é raro quando o PPI é menor do que 25 mmHg. A
Complicações da ventilação hipodistensão alveolar geralmente está associada a
PPI elevado, maior volume corrente ou distribuição de
mecânica um volume corrente normal em poucos alvéolos, como
A abordagem ventilatória que envolve pressão pode ocorrer na intubação brônquica seletiva ou na
positiva ao invés de negativa pode resultar em com- atelectasia maciça.
plicações pulmonares como a lesão induzida pela ven- O papel da PEEP ou da CPAP é controvertido.
tilação mecânica e os escapes aéreos (barotrauma), Foi notada uma correlação entre o nível de PEEP e a
depressão cardiovascular e efeitos deletérios em ou- incidência de barotrauma, porém valores elevados
tros órgãos. de PEEP normalmente estão associados a PPI altos.

33
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

A hipovolemia está associada a uma maior predispo- uma redução da FC e vasodilatação arterial reflexa me-
sição ao barotrauma pelo aumento do gradiente de diadas, ao menos em parte, pela ativação de fibras afe-
pressão entre o alvéolo e o espaço perivascular. Outros rentes vagais.
fatores predisponentes incluem patologias que des- O retorno venoso (RV) para o coração direito
troem o parênquima pulmonar, tais como doença pul- depende do gradiente de pressão entre as veias intra-
monar obstrutiva crônica (DPOC), asma e pneumonia torácicas e extratorácicas. Durante a inspiração com
necrosante. pressão positiva ocorre uma descida do diafragma
O diagnóstico do barotrauma é fundamental. que comprime o conteúdo abdominal, aumentando a
Enfisema intersticial pulmonar é a primeira manifestação pressão intra-abdominal, e ainda aumenta a resistên-
em pacientes sob ventilação mecânica. Quando detecta- cia vascular intra-hepática. Esses efeitos vão favorecer
do, devem-se tomar medidas para evitar pneumotórax. o aumento do RV para o átrio direito (AD). Por outro
O pneumotórax, em ventilação mecânica, pode tornar-se lado, a pressão positiva intratorácica aumenta a pres-
rapidamente hipertensivo. Daí a necessidade de drena- são em AD, que se contrapõe ao aumento da pressão
gem imediata. Os sinais precursores de pnemotórax são: abdominal, de modo a reduzir o RV. O efeito final seria
enfisema intersticial pulmonar, enfisema subcutâneo e redução do RV para o AD. Em situações de hipovole-
enfisema mediastinal. Na radiografia pode-se observar mia, doenças obstrutivas com armazenamento de ar
uma linha pleural. Nos pneumotórax maiores, na auscul- nos pulmões e doenças obstrutivas do coração direito,
ta verifica-se uma diminuição do murmúrio vesicular. Na esse efeito pode ser potencializado.
vigência de pneumotórax hipertensivo ocorrem desvio A resistência vascular pulmonar (RVP) é o princi-
do mediastino e de traqueia, distensão das veias cervi- pal determinante da pós-carga do VD e é diretamente
cais, hipotensão arterial e colapso cardiovascular. afetada pelos volumes pulmonares. Durante a insufla-
Qualquer medida para diminuir a pressão em ção pulmonar, a distensão alveolar determina compres-
vias aéreas teoricamente reduz a incidência de baro- são dos vasos alveolares graças ao aumento na pressão
trauma pulmonar. PPI, PEEP e volume corrente devem transpulmonar. Desse modo, a resistência aumenta e a
ser monitorizados e mantidos nos seus limites inferio- capacitância diminui nesses vasos. À medida que ocorre
res necessários para prover uma ventilação satisfatória. a insuflação pulmonar, as pressões intersticiais reduzem
A ventilação espontânea deve ser encorajada sempre em decorrência do aumento do recolhimento elástico do
que possível, visto que diminui a necessidade de pres- intestício pulmonar. De modo que os vasos extra-alveo-
são nas vias aéreas. Os modos de ventilação, tais como lares são abertos, a sua resistência diminui e a capacitân-
ventilação intermitente sincronizada (SIMV), que permi- cia aumenta. O resultado final é um aumento da RVP. A
tem ventilação espontânea, devem ser preferidos à ven- RVP pode se elevar em ambos os extremos dos volumes
tilação mecânica controlada (VMC), assim como tentar pulmonares. A insuflação pulmonar acima da CRF resulta
reduzir tosse e briga com o aparelho, e utilizar paralisia em superdistensão alveolar e compressão dos vasos al-
muscular e sedação apenas quando as tentativas de veolares. A queda dos volumes pulmonares para valores
ajustar o ventilador falharem. próximos do VR causa colapso dos vasos extra-alveolares,
Durante a reanimação cardiopulmonar, parti- e o colapso das vias aéreas terminais acarreta hipóxia al-
cularmente durante compressão torácica e insuflação veolar e consequente vasoconstrição pulmonar hipóxica.
pulmonar simultânea, podem resultar pressões nas vias Os aumentos da RVP elevam a pós-carga do VD.
aéreas de 90 a 100 cmH2O ou mais. Esse efeito sinérgi- Portanto, no nível de coração direito, observa-
co pode explicar a ocorrência frequente de barotrauma mos uma redução da pré-carga e aumento da pós-car-
pulmonar após reanimação cardiopulmonar. ga, com subsequente redução do volume de ejeção
Após o desenvolvimento do pneumotórax, os es- sistólico e do débito cardíaco (DC). Em pacientes nor-
forços devem ser dirigidos para minimizar PPI, além de movolêmicos, esses efeitos são habitualmente pouco
drenagem imediata. significativos. A hipovolemia prévia pode agravar os
efeitos hemodinâmicos da VM.
Alterações cardiovasculares No nível do coração esquerdo o aumento no vo-
As pressões inspiratória e expiratória positivas lume diastólico final do VD vai afetar a complacência
vão determinar aumentos da pressão intratorácica e do ventrículo esquerdo (VE), uma vez que as cavidades
alterações nos volumes pulmonares, que podem exer- partilham o septo intraventricular (interdependência
cer efeitos sobre os principais determinantes da função ventricular). E durante a inspiração ocorre ainda um au-
cardíaca: frequência cardíaca, o enchimento atrial ou mento da pressão pericárdica, que é transmitida para
pré-carga, contratilidade e a impedância ventricular ou o VE, dificultando o RV pulmonar. A resposta inicial do
pós-carga. coração íntegro à diminuição de sua complacência é
À medida que os volumes pulmonares aumen- aumentar a força de contração mantendo o volume sis-
tam até situações de superdistensão alveolar, ocorrem tólico (mecanismo de Frank-Starling).

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Como iniciar a ventilação mecânica? Como regular os parâmetros da ventilação mecânica?
Quais as complicações da ventilação mecânica? Como evitá-las?

Em vigência de depressão miocárdica (hipó- volemia intracraniana. A redução da pressão arterial


xia, acidose, doença de base) a redução do DC pode média e a elevação da pressão intracraniana diminui-
ser potencializada. A contratilidade miocárdica pode rão a pressão de perfusão cerebral e o fluxo sanguíneo
ainda ser afetada quando pressões intratorácicas ele- cerebral. A sucção traqueal está associada a aumento
vadas exercem uma compressão sobre a superfície da pressão intracraniana.
do coração. Esse efeito auxilia no esvaziamento da
câmara cardíaca na sístole, porém reduz o gradiente Toxicidade pelo oxigênio
pressórico entre as artérias coronárias e a aorta duran- A exposição a pressões parciais elevadas de oxi-
te a diastole, podendo afetar a perfusão miocárdica e gênio causa lesão celular pulmonar. O oxigênio gera
sua contratilidade. duas espécies de radicais livres: superóxido (O2-) e ra-
A insuflação pulmonar pode ainda induzir a libe- dical hidroxil ativado (OH–). O radical hidroxil é instável
ração de fatores humorais a partir das células endote- e provavelmente não tem papel importente no desen-
liais pulmonares, com efeitos miocárdio-depressores volvimento da toxicidade pelo oxigênio. Entretanto, o
(provavelmente prostaglandinas). superóxido pode ser muito destrutivo e provavelmente
é o responsável pelas alterações bioquímicas que cau-
sam alterações morfológicas. As disfunções decorren-
Sistema renal tes incluem: atelectasia e troca gasosa prejudicada e
A ventilação com pressão positiva resulta em re- aumento da mistura venosa pulmonar. O oxigênio irrita
dução do débito urinário e retenção hidrossalina por a traqueia, causando traqueobronquite, e inibe o movi-
vários mecanismos interativos. Um aumento da pressão mento ciliar e a depuração de muco.
intrapleural durante a ventilação mecânica reduz o re- O limite superior de oxigênio que pode ser ad-
torno venoso ao coração e deprime o débito cardíaco, ministrado com segurança é incerto. O valor de 40 a
tendo como resultado uma descarga do sistema nervo- 50% de FiO2 geralmente é aceito e pode ser adminis-
so simpático. As catecolaminas resultam em constrição trado por alguns dias sem efeitos adversos. Certamente
das arteríolas renais aferentes, reduzindo o fluxo san- essa concentração não resulta em alterações estrutu-
guíneo renal e causando sua redistribuição dos néfrons rais grosseiras que culminam em fibrose pulmonar. No
corticais para os justamedulares. entanto, essa concentração “segura” pode ocasionar
Também há um aumento da vasopressina, de- anormalidades sutis tais como atelectasia em alvéolos
vido tanto a uma descarga dos barorreceptores após pouco ventilados, mas bem perfurados.
redução da pressão aórtica transmural durante a ven-
tilação com pressão positiva quanto como resposta Infecção hospitalar
ao estiramento dos receptores do átrio esquerdo pela
A infecção nosocomial das vias aéreas superio-
redução da volemia torácica. A vasopressina atua tan-
res e inferiores ocorre com frequência em pacientes
to como vasoconstritor quanto como agente antidiu-
sob ventilação mecânica. A infecção pode compro-
rético. Promove a reabsorção tubular distal de água e
meter os seios paranasais, a faringe, a árvore traqueo-
reduz a depuração de água. Há uma inibição da libera-
brônquica ou o parênquima pulmonar. O uso empírico
ção do hormônio natriurético atrial, que normalmente
e profilático de antibióticos de amplo espectro promo-
antagoniza os efeitos da vasopressina e do sistema reni-
ve o supercrescimento de microrganismos oportunis-
na-angiotensina-aldosterona. Essa inibição exacerba as
tas e patogênicos.
reduções do fluxo sanguíneo renal, o ritmo de filtração
glomerular e a excreção de sódio. Em pacientes criticamente doentes, a flora bac-
teriana normal da orofaringe é rapidamente substituída
por bacilos entéricos gram-negativos, e o grau de colo-
Fígado nização depende da gravidade da doença.
Durante a ventilação mecânica, o diafragma des-
As medidas profiláticas para evitar infecção hos-
ce, podendo aumentar as pressões intra-abdominais e
pitalar incluem:
das veias porta e hepática, resultando em redução do
fluxo venoso. Na presença de diminuição do débito car- „„ evitar o uso indiscriminado de antibióticos;
díaco e da pressão média, a redução da veia porta dei- „„ trocar o circuito a cada 7 dias e promover sua
xa o fígado mais vulnerável à isquemia, podendo haver esterilização com óxido de etileno ou desin-
elevação das transminases e bilirrubinas. fecção com hipoclorito de sódio;
„„ realizar aspirações com medidas rigorosas de
Sistema nervoso central assepsia;
A hipertensão intracraniana pode ser agrava- „„ evitar a utilização de antiácidos e anti-his-
da pela ventilação mecânica quando a pressão pleu- tamínicos H2, pois favorecem pneumonia
ral impede o retorno venoso da cabeça e aumenta a aspirativa.

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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Bibliografia
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1004.

36
Como Ventilar 6
Recém-nascidos com a
Síndrome do
Desconforto Respiratório Katiací Araújo
Lídia Menezes

A síndrome do desconforto respiratório do re- Na dependência do percentual de shunt existen-


cém-nascido (SDR) é a doença respiratória mais co- te não será possível corrigir a hipoxemia com aumento
mum e a principal causa de morbidade e mortalidade da fração de oxigênio inspirado (FiO2). Quando o per-
nos prematuros.1 centual de shunt é pequeno (<15%) a PaO2 aumenta
A incidência nos EUA é de 0,5 a 1% dos nascidos com o aumento da FiO2 e do conteúdo de O2 no san-
vivos. É inversamente relacionada à idade gestacional gue capilar dos alvéolos ventilados. Quando o shunt se
(IG), ocorrendo em 50% dos recém-nascidos com IG en- aproxima de 30% ou mais, o aumento da FiO2 não leva a
tre 26 e 28 semanas, e em 20 a 30% daqueles com IG aumento significativo da PaO2, sendo necessário iniciar
entre 30 a 31 semanas. É uma condição típica de pre- a ventilação pulmonar mecânica.5
maturos com IG menor do que 35 semanas, embora A SDR é uma doença pulmonar primária, atelec-
recém-nascidos com idades gestacionais maiores que tásica, caracterizada por redução do volume pulmonar,
apresentam atraso na maturidade pulmonar de diferen- da capacidade residual funcional, da constante de tem-
tes etiologias também possam ser acometidos. Outros po e da complacência pulmonar, em que a insuficiência
fatores de risco associados incluem: sexo masculino, respiratória é secundária ao comprometimento das tro-
grupo étnico branco, hipotermia, gemelaridade, parto cas gasosas pulmonares.
cesáreo, asfixia perinatal, diabetes materno.2,3 Em rela- O recém-nascido com SDR ao nascer, ou logo
ção ao peso ao nascer a incidência é de 86% entre 501 e após, apresenta taquipneia, gemido expiratório, retra-
750 g; de 79% entre 751 e 1000 g; de 48% entre 1001 e ções intercostais, batimento de asas de nariz, cianose,
1250 g; e de 27% entre 1250 e 1500 g.4 aumento do trabalho respiratório e da necessidade de
Na SDR o mecanismo fisiopatológico envolvido é oxigênio associado a murmúrio vesicular diminuído bi-
o shunt intrapulmonar. O pulmão estruturalmente ima- lateralmente. Esses pacientes, se não tratados, mostram
turo e deficiente em surfactante, a baixa complacência progressão dos sintomas e podem evoluir para fadiga,
pulmonar e a alta complacência da caixa torácica con- apneia e hipóxia. Hipoxemia e hipercarbia, associadas
tribuem para o colapso alveolar. A presença de áreas a vários graus de acidose metabólica e respiratória, são
pouco ventiladas e relativamente bem perfundidas e achados típicos da análise dos gases sanguíneos arte-
consequente distúrbio da relação ventilação-perfusão riais desses pacientes. O tratamento da insuficiência
(V/Q) levam a hipoxemia e hipercarbia. respiratória pode necessitar de ventilação pulmonar
Existem reflexos no pulmão que tentam minimi- mecânica com alta pressão média das vias aéreas para
zar o desequilíbrio V/Q, entre eles o da vasoconstrição ventilar os pulmões não complacentes, aumentando o
hipóxica, que consiste na vasoconstrição da região onde risco de complicações respiratórias agudas, tais como
está ocorrendo a hipóxia alveolar, e o aumento da per- síndromes de escape de ar. Os achados radiológicos
fusão nas áreas mais ventiladas, com correção parcial característicos são campos pulmonares homogêneos,
do desequilíbrio V/Q regional e melhora da hipoxemia. com aparência de vidro fosco bilateralmente, hipoin-
A vasoconstrição hipóxica ocorre dentro de uma varia- suflados, com broncogramas aéreos. Em recém-nasci-
ção de pressão alveolar de O2 (PAO2) de 30-150 mmHg. dos com doença mais grave observam-se no raio X de
Muitos fatores podem abolir ou interferir significativa- tórax campos pulmonares completamente brancos. O
mente nesse mecanismo reflexo. O uso de FiO2 elevada quadro clínico e radiológico é modificado em muitos
em situação de shunt relativo grave ou absoluto leva recém-nascidos como resultado da administração de
a um aumento na PAO2 com perda da vasoconstrição surfactante e assistência respiratória precoce.
local e piora da hipoxemia. Esse é um dos fatores que O tratamento desses recém-nascidos é comple-
restringem a correção da hipoxemia do shunt por meio xo e requer uma abordagem multidisciplinar. Cuidados
do aumento da FiO2. neonatais, tais como controle térmico, suporte
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

nutricional e cardiovascular, correção dos distúrbios hi- alta frequência oscilatória (VAFO) com pressão média
droeletrolíticos, metabólicos e acidobásicos, tratamento de vias aéreas alta reduz a lesão pulmonar e melhora a
de infecção neonatal precoce e prevenção de infecção eficácia do surfactante. Muitos estudos têm mostrado
nosocomial são cruciais para se alcançar os objetivos que a otimização do recrutamento alveolar com PEEP,
terapêuticos. A terapia de substituição de surfactante surfactante, ventilação líquida ou VAFO minimizam o
pulmonar, a pressão aérea positiva contínua em vias aé- processo inflamatório pulmonar, melhoram a função do
reas (CPAP) e a ventilação mecânica em suas diferentes surfactante e reduzem a lesão pulmonar.
modalidades são o suporte respiratório principal para
esses pacientes.
Em alguns pacientes a vasoconstrição pulmonar
Volutrauma (lesão por volume
leva a hipertensão pulmonar persistente e shunt direi- pulmonar excessivo) e barotrauma
ta-esquerda via canal arterial patente e/ou forame oval, (lesão por uso de pressão elevada)
resultando em hipoxemia mais grave. Esse fenômeno, A principal causa de lesão pulmonar induzida
inicialmente pensado ser exclusivo do recém-nascido a pelo aparelho de ventilação mecânica é a hiperdisten-
termo, é frequentemente observado no recém-nascido
são regional do alvéolo e das vias aéreas. Volume pul-
prematuro com SDR e tem levado alguns clínicos a con-
monar aumentado (pulmão esticado) promove lesão
siderarem o uso do óxido nítrico via inalatória em pre-
pulmonar. Em adultos saudáveis e em animais recém-
maturos com hipoxemia que não respondem a suporte
-nascidos, respirações com grandes volumes correntes
adequado com ventilação mecânica.
causam lesão do endotélio capilar pulmonar, do epité-
Na última década, os avanços nos cuidados neo- lio das vias aéreas dos alvéolos e das membranas ba-
natais, o aumento do uso de esteroides no período an- sais. Esse mecanismo de lesão leva a escape de líquidos,
tenatal e a terapêutica de substituição do surfactante proteínas e sangue para as vias aéreas, alvéolo e inters-
reduziram substancialmente a mortalidade secundária tício pulmonar, interferindo com a mecânica pulmonar,
a SDR. Entretanto, a morbidade, especialmente a displa- inibindo a função do surfactante e promovendo infla-
sia broncopulmonar (DPC) ou a doença pulmonar crôni- mação pulmonar.7
ca (DPC), permanece inaceitavelmente elevada.1
Em prematuros, numerosos fatores (p.ex.: infec-
O principal desafio no tratamento da SDR é iden- ção, exposição antenatal a mediadores inflamatórios,
tificar estratégias ventilatórias que maximizem os efei- disfunção do surfactante, alta complacência da caixa
tos benéficos da terapia de substituição do surfactante torácica, deficiência de antioxidantes e desnutrição) au-
alveolar e reduzam a lesão pulmonar. mentam a suscetibilidade para volutrauma pulmonar
e limitam a habilidade de reparar a lesão. Em adição,
a imaturidade pulmonar, as atelectasias alveolares e o
Quais as causas de lesão edema diminuem o volume de gás. Em pacientes com
pulmonar? SDR, a distribuição heterogênea da doença de base
ocorre de tal modo que apenas uma pequena porção
do pulmão pode ser recrutada e se tornar disponível
Atelectrauma (lesão por volume
para a ventilação. Se somente um terço do pulmão está
pulmonar baixo) sendo ventilado, então um volume corrente de 6 mL/
Atelectasia, estabilidade alveolar inadequada kg liberado para a porção ventilada do pulmão pode
e perda do recrutamento alveolar são consequência e ser equivalente a 12 a 18 mL/kg e resultar em volutrau-
causa de lesão pulmonar. ma. Em ovelhas, o tratamento com surfactante antes
As unidades alveolares estão propensas ao co- de iniciar a ventilação assistida reduz o grau de lesão
lapso em pacientes com SDRA ou na SDR na qual existe pulmonar, presumivelmente por promover insuflação
disfunção do surfactante.6 A repetição cíclica de aber- pulmonar mais uniforme.
tura e fechamento das vias aéreas terminais e/ou a hi- O uso de altas pressões durante a ventilação me-
perdistensão dos espaços aéreos, envoltos por áreas cânica, atualmente menos utilizada, lesa os pulmões
colabadas, seriam responsáveis por uma cascata de (barotrauma) devido ao elevado volume pulmonar
reações inflamatórias levando à formação de DPC. Esse secundário.
mecanismo de lesão explica a observação de que o re-
crutamento de volumes pulmonares para aumentar a
capacidade residual funcional (CRF) protege contra a le- Toxicidade pelo oxigênio
são induzida pelo aparelho de ventilação e diminui a ne- A lesão pulmonar induzida pelo oxigênio é causa-
cessidade de altas concentrações de oxigênio inspirado. da por produção excessiva de superóxido, peróxido de
Estratégias ventilatórias associadas a perda da CRF (pul- hidrogênio e radicais per-hidroxil. O prematuro extremo
mão colabado) aumentam a lesão pulmonar e reduzem é particularmente vulnerável a lesão pulmonar induzida
a eficácia do tratamento com surfactante. Ventilação de por radicais livres porque os sistemas antioxidantes se

38
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório

desenvolvem no último trimestre. Metabólitos reativos Quais as estratégias para evitar


do oxigênio podem superar o sistema antioxidante e lesão pulmonar?
oxidar enzimas, inibir proteínas e a síntese de DNA, re-
1. A melhor estratégia para evitar lesão pulmo-
duzir a síntese de surfactante e causar peroxidação li-
nar é, se possível, não intubar e não ventilar
pídica. Hiperoxia prolongada inicia uma sequência de
nenhum recém-nascido. Essa conduta pode
lesão pulmonar que pode levar a inflamação, lesão al-
ser aplicada em muitos recém-nascidos re-
veolar difusa, disfunção pulmonar progressiva e morte.
lativamente maiores (PN > 1.500 g) com
SDR leve.10
Efeitos da combinação de atelectrauma 2. Estando indicada a VM, é fundamental definir
e volutrauma qual o volume pulmonar ótimo, ou seja, qual o
volume pulmonar no qual o pulmão recrutável
A combinação de colapso pulmonar (atelectrau-
é aberto, mas não hiperinsuflado, o que signi-
ma) e grandes volumes correntes (volutrauma) aumen-
fica que o shunt intrapulmonar é reduzido, os
ta a lesão pulmonar. O recrutamento pulmonar reduz
efeitos do volume pulmonar no débito cardía-
a lesão causada pelo volutrauma. Em modelos animais
co são mínimos e a liberação de oxigênio é oti-
com lesão pulmonar aguda, o uso de pressão expirató-
mizada. Volume pulmonar ótimo é o volume
ria final positiva (PEEP) associada a volume corrente bai-
corrente que cria uma liberação homogênea
xo (9 mL/ kg) melhora a sobrevida quando comparado
em cada respiração para abrir unidades pul-
ao uso de pressão expiratória final (PEF) zero. O uso de
monares sem criar volutrauma. Volume cor-
PEEP associada ao uso de suporte com grandes volu-
rente e CRF influenciam o volume pulmonar
mes correntes (16 mL/kg) reduz a elevação dos níveis de
médio, e o volume mais importante para ser
séricos de citocinas. A associação de volume corrente
otimizado é a CRF. Um pulmão aberto permite
alto e PEF zero causou grave lesão pulmonar e aumento
distribuição mais uniforme do volume corren-
importante do fator de necrose tumoral e de proteínas
te de cada respiração e reduz o potencial para
inflamatórias circulantes.8
volutrauma.

Resposta inflamatória sistêmica e Clinicamente, como mensurar o volume


pulmonar a lesão pulmonar aguda pulmonar ótimo? Como determinar qual a
A ventilação mecânica (VM) pode comprometer pressão média ideal em vias aéreas?
a função de órgãos vitais distais por meio dos efeitos no O uso de raio X de tórax para determinar o vo-
débito cardíaco, prejudicando a oxigenação e a distri- lume pulmonar ótimo tem sido questionado. Kinsella
buição de fluxo sanguíneo para os vários órgãos e siste- et al. usaram o raio X de tórax e a relação PaO2/PAO2
mas (perfusão mesentérica, renal e hepática). para estimar a insuflação pulmonar adequada, em mo-
A VM inicia uma cascata inflamatória dentro dos delos animais.11
pulmões e pode lesar a barreira alveolocapilar, permi- A relação PaO2/PAO2 pode ser usada para estimar
tindo a saída de mediadores inflamatórios do espaço as alterações na insuflação pulmonar. Aumento do vo-
alveolar para a circulação sistêmica. Uma resposta in- lume pulmonar até atingir a capacidade pulmonar total
flamatória sistêmica pode também ser promovida por está associado a redução do shunt intrapulmonar, au-
translocação bacteriana e translocação de endotoxina mento na superfície alveolar e da PaO2, porém o débito
do espaço aéreo para a circulação. A estratégia de VM cardíaco (DC) pode ser comprometido. Assim a relação
altera a função dos neutrófilos pulmonares e circu- PaO2/PAO2 pode ser alta quando o oxigênio liberado é
lantes, tem impacto nas citocinas sistêmicas e pulmo- baixo em consequência de hiperinsuflação pulmonar
nares, e essas alterações estão associadas a falência e comprometimento do DC. A relação PaO2/PAO2 tem
orgânica multissistêmica. sido usada em adultos para ajustar a PEEP, em conjun-
Forças mecânicas anormais produzidas duran- to com medidas da função cardíaca. Nenhuma medida
te a insuficiência respiratória aguda (não necessaria- semelhante tem sido feita em neonatos. Quando o raio
mente sob VM) são agentes importantes da DPC e da X de tórax mostra pulmões hiperinsuflados e existem
síndrome de escape de ar encontrados em adultos e sinais clínicos de redução do DC, então o volume pul-
crianças. Os vetores dessas forças mecânicas são as monar está muito alto.
altas tensões superficiais, colabamento persistente No momento os melhores determinantes de vo-
ou cíclico e as altas pressões transpulmonares agin- lume pulmonar baixo são o raio X de tórax mostrando
do contra uma estrutura tecidual comprometida por atelectasia e a relação PaO2/PAO2 demonstrando oxige-
processo inflamatório. A toxicidade pelo oxigênio seria nação ineficaz.
um fator modulador, assim como os fatores genéticos Hipercapnia permissive, definida como PaCO2 en-
e a suscetibilidade individual.9 tre 45 e 65 mmHg e pH > 7,20, está associada a menos

39
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

volutrauma, podendo também ser utilizada como mais semelhante à associada com VAF. Quando comparada
um critério de avaliação do volume pulmonar. a CPAP derivada de aparelho de ventilação mecânica, a
Volume pulmonar ótimo seria uma situação in- CPAP em selo d’água reduz o volume minuto em 39% (P
termediária entre duas situações descritas, com dimi- < 0,001) e a frequência respiratória em 7% (P < 0,004).12
nuição do shunt intrapulmonar, redução do efeito do Estudos de coorte têm mostrado que o uso pre-
volume pulmonar elevado sobre o débito cardíaco e coce do CPAPn em prematuros com SDR pode reduzir
melhora na oxigenação. a necessidade de intubação endotraqueal para venti-
Os aparelhos de ventilação mecânica mais mo- lação por pressão positiva (VPP). Entretanto, a evidên-
dernos calculam o volume corrente, e os mais anti- cia disponível no momento não define qual a melhor
gos podem ser acoplados a pneumotacógrafos que técnica para uso da CPAP e quando deve ser iniciada a
determinam o volume corrente. Atualmente, a opção ventilação mecânica. São necessários estudos contro-
é pelo emprego de volumes correntes em torno de 4-6 lados, randomizados, comparando a CPAP à intubação
mL/kg, particularmente em recém-nascidos prematu- precoce, para determinar os riscos e benefícios relativos
ros extremos. da CPAPn profilática, a duração do uso, a PEF ótima e
o melhor dispositivo para recrutar a CRF e minimizar o
Do ponto de vista clínico, como podemos trabalho respiratório. Esses estudos devem também ex-
evitar o atelectrauma? Como podemos plorar os efeitos da administração do surfactante exó-
geno em associação com CPAPn. Dados de estudos em
com segurança normalizar a CRF em animais e dados preliminares de um estudo controlado
neonatos com pulmões imaturos e randomizado têm mostrado alguma evidência de que
predispostos ao colapso? CPAPn combinada a surfactante profilático pode redu-
Três técnicas podem ajudar a promover o recru- zir a necessidade de intubação e de VPP.
tamento pulmonar. A mais antiga e mais comumente O Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH) está
usada é a CPAP. A terapia de substituição do surfactan- desenvolvendo, no momento, um estudo randomizado
te exógeno tem se mostrado bastante efetiva. A VAF é para definir melhor o uso da CPAP profilática (CPAPn P)
uma abordagem mais recentemente estudada. Outras iniciado em sala de parto em RNPT com IG < 28 semanas.
estratégias incluem a posição prona, ventilação líquida Parâmetros do CPAP: 4-6 cmH2O para manter
e manobras de insuflação sustentada. PaCO2 de 45-60 mmHg e a FiO2 ajustada para manter a
PaO2 entre 50-70 mmHg.
Ventilação pulmonar não invasiva: Pressão
Usar com fluxo de ar umidificado e aquecido e,
aérea positiva contínua nasal (CPAPn) também, monitorização contínua do circuito.
Na CPAP aplica-se uma pressão de distensão final
constante durante todo o ciclo respiratório para manter Terapia de substituição com
o recrutamento alveolar, evitar o colapso dos alvéolos,
surfactante exógeno
permitir uma respiração mais homogênea e melhorar as
trocas gasosas. O surfactante é uma ferramenta de recrutamen-
to pulmonar que quando usada precocemente reduz a
CPAPn com ou sem administração de surfac-
lesão pulmonar.
tante profilático para recém-nascidos com IG entre
28 e 31 semanas (PN = 1000 - 1500 g) tem sido uma Consiste em uma mistura complexa de fosfo-
estratégia sugerida em alguns estudos para minimizar lipídeos e proteínas que reduz a tensão da superfície
a lesão pulmonar. alveolar e mantém a estabilidade alveolar. A maior
parte do surfactante é produzida após a 30-32ª sema-
Decisões específicas sobre as práticas de cuidados
nas de gestação:
respiratórios durante o primeiro dia de vida influenciam
a evolução de recém-nascidos de muito baixo peso.12 „„ Ação: diminui a tensão superficial; aumen-
Comparando berçários que mais comumente usam ven- ta a CRF; recruta alvéolos e evita atelectasias,
tilação assistida com berçários que usam CPAP no trata- levando a alterações agudas no volume pul-
mento inicial de recém-nascidos de muito baixo peso, monar com aumento das áreas de superfície
Van Marter et al. mostraram que a DPC foi mais associada disponíveis para troca gasosa; estabiliza o vo-
ao uso inicial de VM. Estudos descritivos e observacionais lume pulmonar recrutado; repõe os precurso-
têm sido publicados antes do uso de surfactante, nos EUA res para a neossíntese de surfactante;
e na Europa, sugerindo que o uso de CPAPn, profilático „„ Efeitos: melhora rápida da oxigenação associa-
ou precoce, e a baixa frequência de intubação em sala de da a aumento da CRF, melhora a relação venti-
parto e de ventilação mecânica são estratégias associa- lação-perfusão e reduz o shunt intrapulmonar.
das a menor incidência de DPC. As técnicas para aplicar a Melhora mais lentamente a complacência pul-
CPAP não são equivalentes. Recém-nascidos recebendo monar e diminui o tempo de ventilação mecâni-
CPAP em selo d’água têm vibração da parede torácica ca. Conhecer essas características é fundamental

40
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório

para a orientação terapêutica, sendo necessário Drew et al. demonstraram em um estudo rando-
reduzir rapidamente a concentração de oxigê- mizado que os recém-nascidos com menos de 1500 g
nio inspirado (FiO2) e o suporte ventilatório para intubados eletivamente e que receberam suporte res-
evitar lesão pulmonar. piratório após o nascimento apresentaram melhor evo-
O uso de surfactante está relacionado a me- lução e maior sobrevida do que os intubados apenas
nor ocorrência de SDR e parece amenizar a gravidade quando necessário. Outros estudos apontam desvanta-
da DPC. Não há redução da incidência de DPC ou HIC. gens da intubação eletiva, demonstrando que a lesão
Melhor ação se combinado ao uso materno de corticos- pulmonar aguda induzida pelo aparelho de ventilação
teroide no pré-natal. mecânica logo após o nascimento pode levar a doença
Surfactante exógeno administrado via endotra- pulmonar crônica.15
queal para profilaxia ou tratamento da SDR está asso-
ciado a 40% de redução na mortalidade neonatal e a 30 Tipos de ventilação mecânica
a 65% de redução no risco de pneumotórax.13
1. Ventilação convencional = Ventilação manda-
Em recém-nascidos com risco de desenvolver SDR, tória intermitente (VMI);
surfactante exógeno é mais efetivo quando administrado
2. Ventilação mecânica “tradicional” = Ventilação
no momento do nascimento (profilático), do que quando
mandatória intermitente sincronizada (SIMV);
os sintomas da doença se iniciam. O uso profilático em
Ventilação assistida/controlada (A/C); Pressão
recém-nascidos com IG menor do que 30 semanas, em
de suporte; Pressão regulada e volume contro-
sala de parto, antes ou após VPP, apresenta distribuição
lado PRVC (Servo 300); Volume garantido (VG)
mais uniforme e homogênea no pulmão com líquido,
(Babylog 8000 plus);
diminui a lesão pulmonar aguda, reduz a incidência de
pneumotórax e de enfisema intersticial (EIP) e reduz a 3. Ventilação de alta frequência.
mortalidade; assim os benefícios do uso profilático exce- Estudos randomizados comparando as moda-
dem os riscos potenciais de intubação e os custos. lidades convencional e tradicional têm demonstrado
O tratamento de recém-nascidos que evoluem benefícios a curto prazo, como menor tempo em ven-
com SDR e necessitam de doses repetidas de surfactan- tilação, menor necessidade de sedação quando a venti-
te melhora a sobrevida e reduz o risco de pneumotórax, lação tradicional tem sido usada. Esses estudos não têm
quando comparados aos recém-nascidos que recebe- poder estatístico para demonstrar redução na DPC.
ram dose única. A ventilação convencional, primariamente ci-
Estudos comparativos têm também mostrado clada a tempo, limitada a pressão, tem sido tradicio-
que o uso de extrato de surfactante natural, geralmente nalmente usada nas unidades de terapia intensiva
porcino ou bovino, está associado a menores taxas de neonatal para o tratamento da SDR. As ventilações
mortalidade do que o uso de surfactantes sintéticos. por pressão positiva são liberadas para o paciente a
uma frequência predeterminada independente dos
Corticosteroides antenatais esforços respiratórios do paciente, podendo ocorrer
Corticosteroídes que atravessam a placenta (dexa- falta de sincronia entre as ventilações liberadas pelo
metasona ou betametasona) administrados a gestantes aparelho e as respirações espontâneas do paciente. A
de risco para parto prematuro aceleram a produção de falta de sincronia resulta em trocas gasosa ineficien-
surfactante e a maturação pulmonar. Os efeitos benéfi- tes, aprisionamento e escape de ar, lesão pulmonar,
cos para os prematuros incluem a redução em 40% do irregularidades na pressão arterial, aumento do fluxo
risco de mortalidade, SDR e hemorragia intraventricular.14 sanguíneo cerebral e HIC, além de aumento do tempo
de ventilação. Prematuros ventilados com frequências
Ventilação pulmonar mecânica invasiva mais elevadas (> 40 respirações por minuto) e com
tempo inspiratório mais curto (< 0,4 s) têm melhor
Desafios: tratar a hipoxemia e a hipercapnia asso- evolução, incluindo redução do risco de pneumotórax,
ciadas à SDR enquanto se minimizam a lesão induzida do que os recém-nascidos ventilados com frequência
pelo aparelho de ventilação mecânica e a toxicidade mais baixa e tempo inspiratório mais prolongado.
pelo oxigênio; reduzir o trabalho respiratório do pacien-
te; otimizar o conforto do paciente. Os aparelhos de ventilação mecânica mais mo-
dernos podem ser programados para disparar ou para
se integrar com os esforços inspiratórios do recém-nas-
Recém-nascidos prematuros devem ser cido (ventilação disparada pelo paciente).
intubados eletivamente ou apenas quando Revisão da Cochrane publicada em 2000 compa-
há sinais de insuficiência respiratória? rando a VMI com a ventilação disparada pelo paciente,
A lesão pulmonar pode ser induzida nas primei- em que a pressão aérea positiva e a inspiração espon-
ras ventilações manuais iniciadas em sala de parto du- tânea coincidem, melhorando o volume corrente, favo-
rante a reanimação neonatal. recendo adequada troca de gases em baixos picos de

41
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

pressão, reduzindo escapes de ar e doença pulmonar que foram mantidos com saturação entre 89-94%. A
crônica, concluiu que com a ventilação disparada pelo escolha dos valores de oximetria de pulso pode influen-
paciente houve redução da incidência de síndromes de ciar a incidência de lesão pulmonar. A FiO2 escolhida
escape de ar e da duração da ventilação mecânica. deve ser aquela que permita uma saturação entre 90-
Atualmente as modalidades de ventilação sincro- 94% e PaO2 entre 50-70 mmHg.
nizadas mostram-se eficazes. Outras vantagens da ven-
tilação sincronizada sobre a ventilação convencional Quais os valores aceitáveis da PaCO2
são: redução da variação do fluxo sanguíneo cerebral, para o recém-nascido?
conforto para o paciente e desmame mais rápido. Definir o valor seguro do nível de PaCO2 pode ser
Geralmente, no início da ventilação mecânica o tão importante quanto definir o volume corrente ótimo.
nível de PIP é estabelecido primeiro, dependendo da Estudos em modelos animais demonstraram que hiper-
necessidade do recém-nascido, e o volume corrente capnia moderada protege o cérebro de lesão hipóxico-
é calculado. Inicia-se com PIP entre 16-18 cmH2O para -isquêmica e que hipocapnia aumenta a lesão. Estudos
atingir um volume corrente entre 4-6 mL/kg em pre- animais também demonstram que hipoventilação e
maturos com SDR. A PIP é modificada dependendo acidose respiratória podem proteger o pulmão de lesão
dos resultados das gasometrias. Evitar PIP > 20 cmH2O. aguda. Entretanto, é igualmente importante notar que
Escolher um volume corrente sem perder volume pul- hipercapnia aumenta o fluxo sanguíneo cerebral, reduz o
monar ou promover atelectasia. pH sistêmico e, em animais, tem sido associada a aumen-
A PEF zero ou muito elevada e tempo inspirató- to da retinopatia. Níveis mais elevados de PaCO2 estão as-
rio (Ti) longo estão associados a lesão pulmonar. O valor sociados a parâmetros baixos do aparelho de ventilação
inicial está entre 4 e 6 cmH2O. PEEP > 4 cmH2O não deve mecânica e a menor possibilidade de lesão pulmonar.
ser usada em neonatos com shunt direita-esquerda e Estudos sugerem que a DPC ocorre mais frequentemen-
hipotensão arterial. Ti longo está associado a maior inci- te nos recém-nascidos com hipocapnia. Prematuros
dência de síndromes de escape de ar. Na SDR usar Ti em extremos com PaCO2 < 40 mmHg apresentam um risco
torno de 0,3 a 0,4 segundo. relativo de 1,45 de desenvolverem DPC, comparados aos
Um tempo expiratório muito curto, uma cons- recém-nascidos com PaCO2 > 50 mmHg.17,18
tante de tempo muito longa e um VC elevado podem Hipercapnia permissiva, definida como PaCO2
resultar em sequestro de ar no pulmão. Isso se manifes- entre 45 e 65 mmHg e pH > 7,20, tem por objetivo mi-
ta clinicamente como retenção de CO2 e hiperexpansão nimizar a lesão pulmonar induzida pelo aparelho de
pulmonar. Uma observação cuidadosa da movimen- ventilação mecânica, com a vantagem potencial de pro-
tação da parede torácica pode ser útil para avaliar a teger da lesão pulmonar e de lesão hipóxico-isquêmica,
constante de tempo da inspiração e da expiração. A com menos volutrauma, menos efeitos adversos da hi-
PaO2 pode estar adequada durante o sequestro de ar, pocapnia e aumento da liberação do O2 para os tecidos.
porém o retorno venoso e o débito cardíaco podem es- Revisão da Cochrane de 2001 comparando hiper-
tar prejudicados, comprometendo a liberação de O2 aos capnia permissiva (PaCO2 > 55 mmHg) para prevenção
tecidos. Achados clínicos que sugerem a presença de de morbidade e mortalidade em RN em VPM não de-
sequestro de ar incluem: monstrou nenhum benefício significativo da estratégia
1. uso de FR alta; hipercapnia/ventilação mínima comparada à estratégia
2. constante de tempo prolongada; ventilatória rotineira.
3. hiperinsuflação pulmonar ao raio X de tórax; Até o momento, manter a PaCO2 > 55 mmHg só
está recomendado em estudos controlados.19
4. redução da movimentação da parede torácica;
O Instituto Nacional de Saúde dos EUA refere que
5. disfunção cardiovascular – aumento da pres-
a média nacional da incidência de DPC em neonatos
são venosa central, redução da pressão arte-
com peso entre 500-1000 g é de 43%. Na unidade neo-
rial, acidose metabólica, edema periférico e
natal do Jackson Memorial Hospital, da Universidade
redução da diurese.17
de Miami, a incidência de DPC ocorre em torno de 23%
dos prematuros extremos. A estratégia ventilatória uti-
Qual a FiO2, a PaO2 e a saturação seguras? lizada na referida unidade consiste em realizar intuba-
A oferta de oxigênio deve objetivar a prevenção ção e ventilação precoce com gentle ventilation, ou seja,
da lesão pulmonar induzida pelo oxigênio. O grupo de utilização de VC baixo, controle da oferta de oxigênio e
pesquisa STOP ROP (Supplemental Therapeutic Oxygen tolerância de níveis mais elevados de PaCO2.
for Prethreshold Retinopathy of Prematurity) mostrou
que os recém-nascidos que receberam suplemento de
O2 para manter saturação entre 96 a 99% apresentaram Ventilação de alta frequência
mais pneumonia e maior incidência de doença pulmo- Ventilação mecânica com FR até 3600/min que
nar crônica quando comparados aos recém-nascidos utiliza VC muito baixo, menor do que o volume do

42
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório

espaço morto anatômico = 2 a 2,5 mL/kg, mantendo Óxido nítrico para recém-nascidos com SDR
constante a PMVA. Os conceitos clássicos de ventilação Prematuros com SDR grave, que desenvolvem
não explicam a troca resultante de gases. Teoricamente hipoxemia persistente secundária a vasoconstrição pul-
reduz o trauma causado aos pulmões por altos volu- monar, podem se beneficiar do óxido nítrico inalatório
mes correntes e expõe os alvéolos a menor variação de (NOi). Alguns estudos têm avaliado a resposta aguda de
pressão, reduzindo o risco de distensão (volutrauma) ou prematuros ao NOi e demonstrado melhora significa-
colapso (atelectrauma). As oscilações são sobrepostas a tiva na oxigenação, sem diferença na mortalidade. Os
um volume pulmonar relativamente constante. Evita efeitos adversos são desconhecidos. Efeitos benéficos
mudanças cíclicas no volume entre expansão e retra- para prevenir doença crônica estão sendo avaliados.
ção. As duas principais vantagens sobre a ventilação
Razões para se considerar o uso do óxido nítrico
convencional são a melhora da oxigenação e a redução
no tratamento de prematuros com SDR:
mais eficaz da PaCO2.
a. Melhora a relação V/Q;
Estudos publicados em 2002, controlados, rando-
mizados, avaliaram a eficácia da VAFO como tratamento b. Está envolvido no crescimento do parênquima
primário da SDR: pulmonar e na redução da lesão pulmonar e
da doença crônica em babuínos prematuros
1. UKOS – United Kingdom Oscillation Study com SDR;
Group: avaliou três diferentes ventiladores de
VAFO e não encontrou diferença na incidência c. Reduz o influxo de células inflamatórias e a
de DPC, morte ou outras complicações. produção de citocinas em ovelhas prematuras.
Preocupações em relação ao uso de NOi em
2. Courtney et al., EUA, compararam VAFO com
prematuros: potencial inibidor da agregação pla-
SIMV, observando um modesto benefício
quetária (o risco de hemorragia intraventricular em
na evolução respiratória, sem diferença na
prematuros é maior); menor defesa antioxidante (vul-
evolução neurológica (HIV ou leucomalacia
nerável ao estresse oxidante do óxido nitroso e outros
periventricular).
óxidos de nitrogênio); apresenta potencial para au-
Como tratamento inicial após surfactante, alguns mentar o shunt E-D através do DA com a rápida vaso-
estudos apontam tendência a redução da incidência de dilatação pulmonar.
DPC, sem diferenças entre outras variáveis (PCA, infec-
Atualmente estão sendo realizados três estudos
ção) e sem impacto sobre a mortalidade.
multicêntricos randomizados avaliando o uso do óxi-
A nova geração de aparelhos de ventilação tem do nítrico inalatório no tratamento de prematuros com
permitido uma melhor monitorização e controle do vo- SDR e DPC. Esses estudos poderão dar respostas mais
lume corrente liberado, minimizando volutrauma e evi- definitivas sobre a segurança e o impacto na doença
tando atelectasia. crônica e na mortalidade nesses pacientes.
Dados recentes não demonstram diferença
significativa na evolução entre ventilação tradicio- Práticas com melhor potencial
nal e de alta frequência para tratamento da SDR. para reduzir DPC
Assim, no momento a VAFO tem sido utilizada para
Lista de Práticas com Melhor Potencial (Potential
tratamento de resgate nos casos de insuficiência
Better Practices = PBP) para reduzir DPC, criada pelo
respiratória grave, que não respondem à ventilação
Vermont Oxford Network Reduced Lung Injury Group
tradicional.
utilizando pesquisa através da Medline e da Cochrane
As principais indicações são o insucesso com a Database of Clinical Trials and Systemic Reviews e suge-
ventilação convencional e tradicional, nas síndromes de rida para aplicação combinada em unidades neonatais
escape de ar (enfisema Intersticial, pneumotórax e fístu- da rede, para tratamento de recém-nascidos de extre-
la broncopleural). mo baixo peso ao nascer, com o objetivo de reduzir a
VAF efetiva depende da otimização do volume DPC. Os dados finais ainda não estão disponíveis.10
pulmonar e da manutenção da capacidade residual „„ PBP I: Gentle ventilation na sala de parto – Nível
funcional. Em modelos animais de SDR, o uso de VAFO de evidência (Classificação de Muir Gray) 2-3.
com PMVA mais baixa do que na ventilação convencio- Apenas poucas ventilações manuais não con-
nal resultou em perda progressiva de volume pulmonar troladas no momento do nascimento em pul-
e hipoxemia grave. Manter a insuflação pulmonar ótima mões deficientes em surfactante causam lesão
por meio do uso de PMVA alta melhora as trocas gaso- pulmonar irreversível. O grau de lesão está re-
sas, normaliza o padrão de insuflação pulmonar e reduz lacionado à magnitude da insuflação pulmo-
a lesão pulmonar. O objetivo é manter o volume pulmo- nar. É recomendado um balão de reanimação
nar médio ótimo. Estudos recentes estão preconizando neonatal manual (Neopuff – Fisher & Paykes)
a utilização de VAFO como modo primário de ventilação com PIP e PEEP controlados sem risco associa-
em RNEBP. do de hipo ou hiperventilação.

43
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

„„ PBP II: Surfactante profilático o mais cedo pos- gasometria sem hipocapnia e com normo/hi-
sível após o nascimento para RN com PN < 1000 percapnia permissiva a imagem de Rx de tórax
g: Nível de evidência 1. É possível administrar ou, se possível, TC de tórax.
surfactante antes dos primeiros movimentos 8. Pinsp sem gerar hiperventilação (clinicamen-
respiratórios em 1/3 dos recém-nascidos com te, gasometria sem hipocapnia, com normo/
IG ≤ 27 semanas ou PN < 1.000 g. hipercapnia permissiva, relação PaO2/PAO2, Rx
„„ PBP III: CPAPn profilática ou o mais precoce de tórax ou, se possível, TC de tórax).
possível após o nascimento. Nível de evidên- 9. Hipercapnia permissiva (PaCO2 até 60 mmHg).
cia 4-5. Necessita de mais dados. Nenhuma
evidência no momento. O centro de refe- 10. Respeitar as constantes de tempo e FR.
rência é a unidade de terapia intensiva neo- 11. Monitorizar e evitar repercussões hemodinâ-
natal do hospital da Columbia University, micas negativas da ventilação.
que considera a prática de CPAPn precoce e 12. Alta frequência é uma alternativa para casos
evitar VM as razões principais para a baixa in- graves, mas pode ser usada como abordagem
cidência de DPC. primária em RNEBP.
„„ PBP IV: VAFO (ventilação de alta frequência os- 13. Reduzir a administração de líquidos.
cilatória) ou ventilação com volume corrente 14. Suplementação da vitamina A.
baixo: Nível de evidência 1-2. Evidências re-
centes suportam o uso de VAFO como modo 15. Uso reduzido de esteroides no pós-natal.
primário de ventilação em RNEBP. 16. Redução dos dias de VM por meio de desma-
„„ PBP V: Hipercapnia permissiva: Nível de evi- me precoce.
dência: 2. A PaCO2 é tolerada em até 60 mmHg.
„„ PBP VI: Reduzir a administração de líquidos - Questões
Nível de evidência 3.
1. Em relação a SDR, assinale a alternativa falsa:
„„ PBP VII: Suplementação da vitamina A - Nível
de evidência 1. A. O mecanismo fisiopatológico envolvido é o
shunt pulmonary.
„„ PBP VIII: Redução dos dias de VM por meio de
desmame precoce - Nível de evidência: 2-5. B. A baixa complacência pulmonar e a alta com-
„„ PBP IX: CPAPn precoce pós-extubação - Nível placência da caixa torácica contribuem para o
de evidência: 1. colapso alveolar.
„„ PBP X: Uso reduzido de esteroides pós-natal - C. A presença de áreas mal ventiladas e mal
Nível de evidência: 1-2. perfundidas leva a distúrbio V/P, hipoxemia e
hipocapnia.
D. A SDR é uma doença atelectásica que se carac-
Conclusão teriza por diminuição do volume pulmonar, da
CRF, CT e complacência pulmonar.
Recomendações para abordagem tera-
2. A vasoconstrição hipoxica:
pêutica do recém-nascido com SDR A. É um reflexo pulmonar que piora o desequilí-
1. Uso de corticosteroide materno em trabalho brio V/P.
de parto prematuro.
B. É um mecanismo reflexo que causa vasodila-
2. Gentle ventilation em sala de parto. tação pulmonar nas áreas de hipóxia alveo-
3. Uso PROFILÁTICO de surfactante para recém- lar, à custa de vasoconstrição nas áreas mais
-nascidos com IG ≤ 27 semanas. ventiladas.
4. Uso da CPAPn: PRECOCE e após extubação. C. FIO2 elevada, em caso de shunt absoluto, pode
5. Uso de ventilação com sincronização e volume abolir o reflexo de vasocontrição hipóxica.
corrente baixo ou ventilação de alta frequên- D. Cursa com aumento de ventilação nas áreas
cia oscilatória como tratamento primário ou vasoconstritas.
alta frequência oscilatória para tratamento de
3. O aumento da FIO2 não leva a aumento significativo
insuficiência respiratória grave que não res-
da PaO2 quando o shunt pulmonar é maior que:
ponde à ventilação tradicional.
A. 50%
6. FiO2 para manter saturação entre 90-94%, PaO2
entre 50-70 mmHg. B. 30%
7. PEEP que garanta uso de FiO2 <0,50. C. 80%
Associar avaliação clínica, relação PaO2/PAO2, D. 40%

44
Como Ventilar Recém-nascidos com a Síndrome do Desconforto Respiratório

4. O atelectrauma 10. Na ventilação mecânica do paciente com SDR deve-


A. É uma lesão pulmonar causada pelo uso de mos utilizar:
alto volume corrente. A. TI 0,3-0,4 s; PIP 25 –30 mmHg.
B. Está associado a estratégias ventilatórias que B. TI 0,7; VC de 4 a 6 mL/kg.
causam perda da CRF. C. PIP < 20; VC > 10 mL/kg.
C. Pode ser evitado com o uso de técnicas ven- D. TI 0,3 a 0,4, VC de 4 a 6 mL/kg.
tilatórias que causem a repetição cíclica de
11. TI curto, com CT e VC elevados, pode levar a:
abertura e fechamento das vias aéreas a cada
respiração. A. Melhora da hipoxemia.
D. É menos lesivo para o pulmão do que o B. Sequestro pulmonary.
barotrauma. C. Atelectasias.
5. Protege contra lesão pulmonar: D. Aumento do volume pulmonar.
A. PIP baixo associado a alto VC. 12. Para evitar lesão pulmonar induzida pelo oxigênio,
B. PIP baixo, VC baixo, sem PEEP. devemos usar FIO2 para manter:
C. Uso de PEEP associado a VC baixo. A. Sat 96/ 97%; PaO2 50 a 80 mmHg.
D. Uso de PEEP associado a VC alto. B. Sat 89/ 94%; PaO2 50 a 70 mmHg.
6. Em relação ao volume pulmonar ótimo, é falso: C. Sat 98/ 100%; PaO2 80 a 90 mmHg.
A. O pulmão recrutável é aberto, mas não D. Sat 89/ 94%; PaO2 40 a 60 mmHg.
hiperestendido. 13. Hipercapnia permissiva é:
B. Há diminuição do espaço morto e melhora da A. PaCO2 entre 45 a 65 mmHg com pH > 7,2.
oxigenação. B. PaCO2 entre 60 a 70 mmHg com pH > 7,2.
C. O aumento do volume pulmonar até atingir a C. PaCO2 entre 45 a 65 mmHg com pH > 7,4.
capacidade pulmonar total está associado a al- D. PaCO2 entre 60 a 70 mmHg com pH > 7,1.
terações do débito cardíaco.
14. Em relação à VAFO, é falso que:
D. O volume mais importante a ser otimizado é
A. Tem sido utilizada em paises do primeiro mun-
a CRF.
do, sempre como a primeira escolha para ven-
7. Para avaliação do volume pulmonar ótimo se utili- tilar pacientes com SDR.
zam principalmente:
B. Está indicada em casos de PTX e enfisema
A. Rx de tórax, PaO2/PAO2. intersticial.
B. PaO2 e cálculo do espaço morto anatômico. C. Está indicada como resgate nos casos de in-
C. Avaliação do débito cardíaco e FIO2 utilizada. suficiência respiratória grave que não respon-
D. PMVA, Rx de tórax. dem à ventilação tradicional.
8. Quando se usa surfactante pulmonar é falso afirmar D. Permite o uso de PMVA mais baixa do que a
que: ventilação convencional.
A. Há melhora mais rápida da complacência do 15. Parece reduzir a incidência de DPC, exceto:
que da CRF. A. Surfactante profilático, o mais cedo possível
B. Há redução do shunt pulmonar. para RN < 1000 g.
C. A melhora rápida da CRF faz com que seja pos- B. Suplementação de vitamina A.
sível diminuir inicialmente a FIO2. C. Insuflação pulmonar com alta PEEP, antes
D. Há estabilização do volume pulmonar do uso do surfactante, para evitar o atelec-
recrutado. totrauma e permitir melhor distribuição do
9. Em relação ao surfactante exógeno, todas são verda- surfactante.
deiras, exceto: D. Hipercapnia permissiva.
A. Diminui a gravidade da DPC.
B. Diminui a incidência de pneumotórax.
C. Diminui a incidência de DPC e HIC.
D. Tem melhor ação se combinado ao uso mater-
no de corticosteroide antenatal.

45
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

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46
Como Ventilar 7
Recém-nascidos com
Hipertensão Pulmonar
Felipe de Souza Rossi

Conceito A falha nessa adaptação pós-natal, que a mui-


tos parece absolutamente óbvia, apesar da comple-
Durante sua vida intrauterina, o feto apresenta xidade das adequações cardiorrespiratórias que são
elevada resistência de suas artérias pulmonares, de- necessárias, acompanha-se de uma vasodilatação pul-
corrente da acidemia e hipoxemia relativas a que está monar incompleta, permanecendo a dificuldade para
submetido e, principalmente, do fato de os pulmões es- perfusão pulmonar. Gersony descreveu e denominou
tarem preenchidos de líquido, com elevada tensão su- essa síndrome como persistência da circulação fetal.
perficial e colabados. Essa condição é interessante para Usaremos como sinônimo da denominação anterior a
o feto, garantindo que o sangue mais rico em oxigênio, expressão “síndrome da hipertensão pulmonar persis-
que chega pelas artérias umbilicais, possa ser dirigido tente do RN” (SHPPN).
diretamente para sua circulação sistêmica, através do
forame oval e do canal arterial.
Ao nascimento, diversos fatores contribuem para Etiologia
a queda da resistência pulmonar, tais como: A síndrome da persistência da circulação fetal
„„ A expansão pulmonar, propiciada pelos pode ser classificada, quanto ao seu evento determinan-
primeiros movimentos respiratórios, tra- te, de várias maneiras. Pode ser primária ou secundária
zendo, consequentemente, uma abertura as situações clínicas diversas e bastante heterogêneas.
mecânica dos vasos pulmonares e iniciando o A seguir, descreveremos resumidamente como se expli-
processo de reabsorção do líquido que inun- cam a associação das distintas etiologias e a não adap-
dava os alvéolos; tação da circulação no período pós-natal.
„„ O aumento de prostaglandinas vasodilatado- Um grande número de situações clínicas pode
ras circulantes e a liberação de óxido nítrico gerar a manutenção do padrão de circulação fetal.
pelo endotélio vascular; Poderíamos destacar:
„„ Maior oxigenação, garantida pelo início do uso „„ Hipertensão pulmonar primária, em que ocor-
do pulmão como órgão responsável pela cap- re, sem causa identificável, um aumento da
tação de oxigênio diretamente do ambiente, muscularização das arteríolas pulmonares;
em lugar da placenta; „„ Hipertensão pulmonar secundária:
„„ Reversão da acidose antenatal, à custa de me- À não expansão pulmonar, que pode ser se-
lhor oferta de oxigênio aos tecidos e da venti- cundária a uma asfixia perinatal e depressão
lação pulmonar; respiratória, a hipoplasia pulmonar (primária
„„ Adaptação cardiocirculatória, com aumento ou secundária, por exemplo, a hérnia dia-
da pressão arterial sistêmica devido à retirada fragmática, doença adenomatoide ou cistos
da placenta, um sistema de alta capacitância pulmonares), a deficiência primária ou se-
e baixa resistência, favorecendo o fechamento cundária de surfactante;
do forame oval e a inversão do fluxo pelo ca- Ao desbalanço na relação entre prostaglan-
nal arterial, que passa a ser da esquerda para dinas vasodilatadoras e vasoconstritoras,
a direita. com predomínio destas últimas, mantendo
Esses mecanismos permitem que ocorra uma a circulação pulmonar “fechada”.
transição da circulação dita “fetal” para a circulação do Recentemente, alterações associadas a
tipo “adulto”, caracterizada por pressões de artérias pul- deficiências enzimáticas ligadas ao ciclo
monares inferiores à sistêmica, passagem do sangue ve- da ureia demonstram que RN próximo ao
noso do coração direito pelo leito vascular pulmonar e termo teriam um maior risco de desenvol-
retorno deste, já oxigenado, ao coração esquerdo, para verem SHPPN, pois possuem apenas 40-
que seja oferecido aos diversos órgãos e sistemas. 90% da atividade normal desse sistema
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

enzimático, quando comparados aos adul- sangue arterializado, fornecendo à circulação sistêmica
tos. É interessante o encontro de baixos uma menor quantidade de sangue oxigenado.
níveis de L-arginina (precursora da síntese A pós-carga aumentada para o coração direito
de óxido nítrico pelas células endoteliais) provoca disfunção do ventrículo direito e regurgitação
e de metabólitos do óxido nítrico em RN de valva tricúspide, achado clássico na hipertensão
com SHPPN, possivelmente secundário a pulmonar do RN, podendo evoluir para insuficiência
baixa atividade da carbamoil-fosfato sin- de ventrículo direito, particularmente se houve asfixia
tetase. Estudos genéticos tentam eviden- e sofrimento miocárdico associados ao quadro, tor-
ciar genótipos mais associados a SHPPN nando ainda mais difícil vencer a elevada resistência
(Pearson, 2001). ao fluxo pulmonar.
A acidemia e/ou hipoxemia não corrigidas, A baixa oferta de oxigênio predispõe à persis-
mantendo o estímulo para a constrição do lei- tência da patência do canal arterial, com fluxo da di-
to pulmonar e a persistência do canal arterial. reita para a esquerda, assim como a hiper-resistência
A anormalidades cardiovasculares antena- pulmonar. O gradiente de pressão, com pressão pul-
tais, que podem gerar hiperfluxo pulmonar monar suprassistêmica, mantém o fluxo também da
– e consequente hipermuscularização das direita para a esquerda pelo forame oval, gerando,
artérias e arteríolas pulmonares –, como o em conjunto com o canal arterial, um ciclo vicioso, em
fechamento intrauterino do canal arterial que o sangue que retorna ao coração direito atravessa
(que pode ser causado pelo uso, pela ges- para a circulação sistêmica sem ser oxigenado pelos
tante, de anti-inflamatórios não hormonais), pulmões. Assim, surgem dois locais de shunt extrapul-
drenagem anômala parcial ou total das veias monar, um intra e outro extracardíaco, que mantêm
pulmonares. uma menor oferta de oxigênio aos tecidos, predispon-
Ao não alinhamento alveolocapilar, impe- do a acidose mista e fechando o ciclo, que tende a se
dindo a adequação das trocas gasosas. autoperpetuar.
Ao pós-operatório de cardiopatias congê- Ao mesmo tempo que a falha na adaptação pós-
nitas, tema que não será explorado neste -natal gera hipoxemia e acidemia ao RN, ela permite que
capítulo. não ocorra, ao menos de imediato, um colapso cardio-
circulatório, que poderia ser mais letal. Isso aconteceria
Outra maneira de se caracterizar a SHPPN é ba- se, numa redução inadequada da pressão pulmonar
seada em suas bases estruturais e nas possibilidades após o nascimento, todo o sangue que retorna ao co-
anatômicas das artérias pulmonares (Geggel, 1984). ração direito tivesse que ser bombeado pelo ventrículo
1. Má adaptação pós-natal: ocorre manuten- direito contra a elevada resistência pulmonar, sem se
ção da elevada resistência vascular, embora as valer dos escapes propiciados pelo canal arterial e fo-
estruturas sejam normais, não ocorrendo o au- rame oval. A pós-carga excessiva ao ventrículo direito
mento da complacência das artérias conforme poderia predispô-lo a sua falência, e por sua vez a baixa
o esperado. pré-carga para o coração esquerdo poderia gerar hipo-
2. Aumento da muscularização: ocorre mus- tensão sistêmica e choque.
cularização precoce, intrauterina, das artérias
intra-acinares que, normalmente, seriam livres
de camada muscular. Esses quadros se asso- Quadro clínico
ciam, também, a um aumento da espessura
A manutenção do padrão fetal pode ter manifes-
das artérias pré-acinares.
tações clínicas bastante variáveis, sendo importante o
3. Subdesenvolvimento: As situações de hi- quadro de base determinante, uma vez que os quadros
poplasia estão associadas a uma redução secundários, além de bastante distintos, são os mais
do tamanho e/ou do número de artérias do frequentes.
leito pulmonar.
Também o grau de hipertensão da circulação
pulmonar é variável, podendo ser mais ou menos sin-
Patogenia tomático, ainda quando a patologia de base é a mesma.
As manifestações podem ser desde praticamente
A não transição da circulação fetal para a do tipo assintomáticas, sugerindo um período um pouco mais
adulto determina o quadro de hipertensão pulmonar prolongado que o habitual para a estabilização do RN,
no RN. Assim, a elevada pressão em artérias pulmona- com leve taquidispneia e baixas necessidades de supor-
res mantém a passagem de fluxo sanguíneo de sangue te de oxigênio, até quadros de grave insuficiência res-
pobre em oxigênio, através do forame oval e do canal piratória e colapso hemodinâmico, acompanhado de
arterial, gerando uma mistura de sangue venoso com elevada morbimortalidade.

48
Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar

Como com a proximidade do termo há um au- pulmonares bem aerados e pobres em iden-
mento fisiológico da muscularização das arteríolas tificação de vasos, além de eventual aumen-
pulmonares, esses quadros são mais comuns em RN a to do contorno cardíaco direito. Porém, são
termo ou próximo ao termo, principalmente quando se os quadros secundários os mais frequentes,
consideram os processos primários. Porém, como vere- nos quais encontraremos os mais diversos pa-
mos no diagnóstico, o encontro de elevadas pressões drões radiológicos, associados a deficiência de
de artéria pulmonar também pode estar presente mes- surfactante, síndrome de aspiração meconial,
mo em RN pré-termo mais extremos, confirmado por hérnia diafragmática, entre outros (ver etiolo-
ecocardiograma. Esse fato se associa, frequentemente, gia). Assim, embora seja um exame presente
a uma expansão pulmonar inadequada e consequente na avaliação inicial de toda insuficiência respi-
hiper-resistência pulmonar. ratória, e podendo ajudar a determinar o seu
Graus variáveis de desconforto respiratório, ta- fator etiológico, o raio X não fará o diagnóstico
quipneia, cianose, que se tornam mais intensos com dor da SHPPN.
ou manipulação do RN, devido a elevação da resistência 3. Saturometria ou diferenças de PaO2 por ga-
pulmonar nesses momentos, são achados comuns. simetria: a avaliação da saturação de hemo-
A circulação pulmonar é bastante sensível a estí- globina, feita de maneira não invasiva, pode
mulos agressores, como hipotermia, dor, hipóxia, acide- ser útil no diagnóstico da SHPPN. Quando
mia, alterações metabólicas, podendo responder aguda ocorre shunt importante pelo canal arterial,
e intensamente com espasmo da musculatura arterio- a comparação dos valores obtidos em região
lar, elevando a pressão pulmonar, cuja normalização pré-desembocadura do canal na artéria aorta
pode levar horas ou dias. (pré-ductal), por exemplo a mão direita, com
regiões pós-ductais, por exemplo os pés, pode
A ausculta cardíaca evidencia uma 2ª bulha úni- encontrar diferenças de 10 a 15% nas medidas
ca, hiperfonética, que deve retornar a uma bulha des- de saturação, mais altas na região pré-ductal,
dobrada conforme há queda da pressão pulmonar. sugerindo a presença de SHPPN. Porém, quan-
Na presença de hérnia diafragmática, abdome do o fluxo é predominante pelo forame oval,
escavado e ausculta torácica com presença de borbo- essa diferença não será evidenciada, embora
rigmos podem ser encontrados. a situação de persistência da circulação fetal
Em situações de hipoplasia pulmonar associada esteja presente. O mesmo vale para as coletas
a oligoâmnio, a presença de fácies característica sugere de gasimetria e avaliação da PaO2, comparan-
o diagnóstico. do-se regiões pré e pós-ductais. São conside-
A manutenção do fluxo pelo canal arterial de rados significativos gradientes > 20 mmHg,
sangue pobre em oxigênio em elevadas pressões não existindo a dificuldade técnica para a obten-
permite o seu fechamento. Dependendo da posição ção das amostras a um mesmo momento, e
da saída do canal arterial na artéria aorta (em relação sem provocar dor ao RN.
à emergência do tronco braquiocefálico e das artérias 4. Teste de hiperoxia: consiste em oferecer, por
carótida e subclávia esquerdas), pode ocorrer o “bebê 5 a 10 minutos, 100% de oxigênio ao pacien-
arlequim”, com aparecimento de cianose mais acen- te, colhendo-se gasimetria a seguir. Aumento
tuada nas regiões irrigadas por sangue que sofreu mis- da PaO2>150 mmHg serve para reforçar a hi-
tura de sangue pobre em oxigênio oriundo do canal pótese de SHPPN, tornando improvável a cia-
arterial. Diferença de saturação pré e pós-ductal pode nose por cardiopatia congênita. Porém, um
estar presente, particularmente se o principal local de resultado negativo do teste, isto é, PaO2 persis-
shunt direita-esquerda for o canal arterial, e não o fo- tentemente < 150 mmHg, não é capaz de dife-
rame oval. renciar entre cardiopatia cianogênica e SHPPN
(Fox, 1983).
5. Teste da hiperoxia-hiperventilação: em pa-
Diagnóstico ciente intubado, utilizam-se 100% de oxigê-
nio e frequências respiratórias acima de 100
Embora as etiologias sejam muito distintas, os
ciclos/minuto, por 5 a 10 minutos, buscando
passos na suspeita e confirmação da persistência da cir-
hiperventilação e uma PaCO2 < 30 mmHg,
culação fetal são:
ocorrendo uma reversão da hipertensão pul-
1. Quadro clínico: ver acima. monar e consequente melhora da oxigenação.
2. Exame radiológico simples de tórax – raio Embora mencionados neste capítulo, talvez
X simples: nos casos de SHPPN primária, a mais por questões históricas, os testes de hi-
elevada resistência ao fluxo sanguíneo pul- peroxia e de hiperoxia-hiperventilação devem
monar aliada a pulmões sem patologias de ser evitados como métodos de diferenciação
base poderia nos levar a encontrar campos entre cardiopatias congênitas cianóticas e

49
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

SHPPN. O uso de 100% de oxigênio, em car- décadas, várias são as evidências de que, ao se buscar
diopatias cianogênicas canal dependentes intempestivamente a normalização da circulação pul-
(por ex: atresia severa pulmonar, transposição monar, lesões pulmonares, auditivas, cerebrais, e até
das grandes artérias com CIA restritiva) pode maior mortalidade, ocorreramu em pacientes submeti-
predispor ao fechamento do canal arterial e dos a ventilação pulmonar mais agressiva (Clark, 2000,
determinar evento fatal para o RN. Por sua vez, 2001; Gannon, 1998; Kornhauser, 1994; Wung, 1985).
técnicas de hiperventilação estão bastante Podemos citar, desde já, o título de dois artigos
associadas a lesão pulmonar e sequelas neu- sobre a persistência da circulação fetal: “a caixa-preta re-
rológicas. Assim, atualmente, o acesso e uso visitada” e “controlando o incontrolável” (Hammerman,
do ecocardiograma são fundamentais na UTI 1989; Walsh- Sukys, 1993), que demonstram a dificulda-
neonatal, sendo o melhor exame subsidiário, de no conhecimento e no tratamento dessa síndrome.
não invasivo que podemos utilizar para a con- Com exceção do uso do óxido nítrico, que passou por
firmação do diagnóstico da SHPPN. estudos prospectivos e randomizados antes de sua utili-
6. Ecocardiografia: o uso da ecocardiografia zação mais rotineira, as demais estratégias terapêuticas
bidimensional, aliado ao doppler, permite a estão baseadas em experiências individuais de autores,
avaliação, à beira do leito e com mínima ma- com pequenos grupos de pacientes e relatos de caso,
nipulação do RN, das estruturas do coração além de abordagens extrapoladas de estudos labora-
e seus vasos, bem como a direção dos fluxos toriais, com tradução clínica criticável. Desdobrando o
intracavitários e através de estruturas como o tratamento da SHPPN, de maneira didática, podermos
canal arterial e do forame oval. Assim, pode- descrevê-lo em etapas, como a seguir:
-se visualizar a presença de shuntsda direita 1. Aumento da pressão arterial sistêmica.
para a esquerda, estimar a pressão da artéria
pulmonar, afastar ou identificar anormalida- 2. Redução da pressão de artérias pulmonares
des anatômicas que possam ser causa (p. ex.: Secundária a alcalose induzida.
drenagem anômala parcial ou total de veias Com uso de vasodilatadores inespecíficos.
pulmonares) ou diagnósticos diferenciais da Com uso de óxido nítrico inalatório.
SHPPN (p. ex.: transposição das grandes ar-
3. Suporte inotrópico.
térias). É achado associado à persistência da
circulação fetal o encontro de regurgitação 4. Suporte ventilatório.
tricúspide. O exame também pode ser usado 5. Oxigenador de membrana extracorpórea
evolutivamente, evidenciando, em fase de (ECMO).
resolução, a inversão dos fluxos (da esquerda
para a direita) e o fechamento do forame oval,
do canal arterial e a queda da pressão pulmo- Aumento da pressão arterial sistêmica
nar. É interessante ressaltar que os achados Buscar uma pressão arterial mais elevada e que
associados a SHPPN secundária a patologias ultrapasse a pressão pulmonar é uma estratégia lógica,
com baixa complacência pulmonar apresen- facilitando a perfusão pulmonar e tornando o fluxo de
tam sensíveis melhoras com a reversão do co- canal arterial da “esquerda para a direita”. Porém, não
lapso alveolar. existem estudos clínicos que comprovem essa teoria.
7. Cateterismo: quando persiste a dúvida diag- Na prática, busca-se manter pressão sistêmica suprapul-
nóstica, apesar dos meios anteriormente monar à custa de um aumento no volume endovenoso
listados, este método invasivo pode ser o de- diário infundido e utilizando expansores de volume,
terminante entre persistir com tratamento podendo-se associar o uso de aminas vasoativas, mais
clínico ou identificar cardiopatia passível de comumente a dopamina, em doses superiores a 5 mcg/
correção cirúrgica. kg/min. Essas doses têm efeito vasoconstritor e de es-
tímulo direto sobre as fibras miocárdicas (α e β-1). Esse
efeito sobre os vasos, porém, não é específico para a
Tratamento circulação sistêmica, devendo ter-se atenção para efei-
tos indesejados sobre a circulação pulmonar – embora
Em se tratando de uma síndrome com etiologias estes não sejam muito relatados (Keeley, 1988). Alguns
tão heterogêneas e manifestações clínicas tão diversas, estudos indicam que em RN pré-termo doses inter-
é impossível propor uma única abordagem terapêutica mediárias de dopamina podem ser mais efetivas para
que se aplique a todas as situações. o tratamento da hipotensão do que a combinação de
Deve-se buscar, em princípio, a reversão do expansores de volume associados a dobutamina, su-
quadro de hipertensão pulmonar – restabelecendo a gerindo que, nessa população, um mau vasocontrole é
adequada oxigenação do paciente –, evitando ao má- mais frequente que a depleção de volume ou disfunção
ximo sequelas pulmonares e neurológicas. Nas últimas miocárdica (Greenough, 1993; Seri, 1995).

50
Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar

Redução da pressão de artérias todos sem resultados consistentes. Podemos


incluir nesse grupo as prostaciclinas, os blo-
pulmonares queadores de canais de cálcio, o nitroprussia-
„„ Secundária a alcalose induzida: Embora to, a nitroglicerina, o captopril, entre outros
seja uma das práticas mais utilizadas em UTIs (Hammermann,1989; Walsh-Sukys, 1993).
neonatais em todo o mundo, a promoção Historicamente, após o reconhecimento do
da alcalose, metabólica e/ou respiratória, é papel do óxido nítrico e suas possibilidades de
respaldada apenas por estudos experimen- uso na SHPPN, as demais drogas praticamente
tais, em ovelhas e coelhos recém-nascidos. deixaram de ser utilizadas.
Demonstrou-se que, em situação de hipóxia
„„ Com uso de óxido nítrico inalatório (NO):
induzindo a vasoconstrição pulmonar, esta
Divergindo das outras formas de terapêutica
última é minimizada quando se promove
propostas para a SHPPN, o NO foi submetido
alcalemia (pH 7,5-7,65), tanto respiratória
a diversos estudos laboratoriais e clínicos, com
como metabólica (Fike, 1989; Lyrene, 1985;
grupo controle, prospectivos e randomizados,
Schreiber, 1986). Em sua estratégia para tra-
permitindo conclusões mais seguras em rela-
tamento da SHPPN, Fox (1983) sugere a busca
ção ao seu efeito na SHPPN.
de uma PaCO2 alvo, que induziria a uma vaso-
dilatação pulmonar. O uso de bicarbonato de Identificado como o potente “fator relaxador de-
sódio (com doses preconizadas que variam de rivado do endotélio”, o NO possui as propriedades de
0,1 a 1 mEq/kg/hora, em infusão contínua por causar vasodilatação agindo via aumento do GMPc’,
período variável, controlado pelo pH sérico), trazendo redução do cálcio intracelular disponível e re-
por sua vez, está associado a distúrbios meta- laxamento da musculatura das artérias e arteríolas pul-
bólicos, como hipernatremia e hipocalcemia. monares (ver capítulo correspondente). Quando usado
Lembramos ainda que o pH alcalino dificulta a por via inalatória, apresenta características importantes
liberação de oxigênio aos tecidos, pois aumen- para o tratamento da SHPPN:
ta a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio. „„ É rapidamente inativado ao combinar-se com
„„ Com uso de vasodilatadores inespecíficos: a hemoglobina, presente nas hemácias que
Chamaremos de inespecíficos os vasodilata- atravessam a circulação pulmonar. Assim, não
dores que têm ação também na circulação tem efeito sobre a musculatura dos vasos sis-
sistêmica, apesar de serem utilizados buscan- têmicos, permitindo a vasodilatação seletiva
do-se a redução da pressão de artérias pulmo- do território pulmonar;
nares. A tolazolina foi a droga mais utilizada, „„ Atua apenas nos vasos contíguos a alvéolos
com relatos de sucesso em até 80% dos pa- efetivamente ventilados, reduzindo efeito
cientes sem doença pulmonar associada e shunt que poderia ser gerado por drogas que
em 58% em pacientes com doença parenqui- trouxessem vasodilatação de todo o território
matosa (Stevenson, 1979). Posteriormente, pulmonar;
análise retrospectiva evidenciou sucesso em „„ Possui dose tóxica bastante superior à tera-
apenas 49% dos casos (Goetzman, 1976). Seu pêutica habitualmente empregada, reduzindo
uso inclui dose de ataque de 1-2 mg/kg em os efeitos indesejados, sendo de fácil adminis-
10 minutos, quando deve-se ater a possíveis tração e com efeitos quase imediatos.
efeitos colaterais. Após, a dose de manuten-
„„ Sua deficiência é um dos mecanismos propos-
ção é de 1-2 mg/kg/hora, utilizando-se, pre-
tos na fisiopatologia da SHPPN, tornando inte-
ferencialmente, veias tributárias da veia cava
ressante sua oferta a esses pacientes.
superior – visando um aumento do efeito pul-
monar (Hammerman, 1989). Incluem-se entre Existem dezenas de estudos na literatura contan-
os efeitos indesejados a hipotensão sistêmica do com diferentes estratégias de uso, incluindo dose
– citada como significativa (redução em mais inicial, dose de manutenção, tempo e parâmetros que
de 25% da pressão arterial média) em até 67% indiquem sua retirada e estratégia ventilatória associa-
dos tratados (Stevenson, 1979) –, sangramento da. Há consenso de que o NO melhora a oxigenação e
gástrico e alcalose metabólica hipoclorêmica. reduz a necessidade de oxigenação extracorpórea por
Não existem dados populacionais que sugiram membrana (ECMO) entre os pacientes que apresentam
quais pacientes terão uma boa resposta à to- SHPPN, sem hérnia diafragmática associada.
lazolina, e os parâmetros considerados como Como já citamos, a SHPPN possui um vasto nú-
melhora, nos diferentes estudos, são variáveis. mero de doenças de base a ela associadas. As doenças
A tolazolina não melhorou a sobrevida a longo em que ocorre shunt direita-esquerda extrapulmo-
prazo dos RN com SHPPN (Ward, 1984). Uma nar apresentam melhores respostas que as que têm
série de outros vasodilatadores é citada, mas shunt intrapulmonar, sugerindo que o uso isolado de

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Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

vasodilatador em pulmões com parênquima mal ex- a suspensão do NO, deve-se ter cautela para evitar o
pandido (seja por atelectasias, consolidações ou hiper- efeito rebote, isto é, o aumento da pressão de artéria
distensões alveolares) é ineficaz para reverter a SHPPN pulmonar na retirada do NO. Acredita-se que o rebote
(Kinsella, 2000). Assim, mesmo quando falamos em óxi- seja facilitado pela inibição da NO sintetase endógena,
do nítrico, ajustar a ventilação mecânica, de acordo com após a administração exógena do NO, principalmente
a patologia de base, é fator fundamental para o sucesso se em doses mais elevadas e por períodos mais pro-
do tratamento. longados (Kinsella, 1997, 1999; NINOS, 2000; Roberts,
Os candidatos preferenciais ao uso do NO são os 1997; Davidson, 1998, 1999; The Franco-Belgium, 1999;
RN maiores que 34 semanas. Os mais pré-termo ainda Hoffman, 1997; Clark, 2000; Day, 1996). Alguns autores
estão sob investigação, com estudos indicando res- estudam a terapêutica combinada com o dipiridamol,
postas variáveis ao NO, sem aumento de hemorragia que aumenta a disponibilidade do NO por diminuir
intracraniana que poderia ser favorecida pelo efeito a degradação da GMPc’, potencializando o efeito do
de antiagregação plaquetária do NO (Kinsella, 1999; NO e reduzindo o risco do rebote após sua suspensão
Mercier, Skimming, 1997). (Channick, 2000; Kinsella, 1997).
São os modos mais citados para a indicação do Durante o uso do NO inalatório, deve-se proce-
NO: der ao controle dos níveis séricos de meta-hemoglo-
bina e do NO2 inalado. A meta-hemoglobina não deve
„„ Índice de oxigenação (IO) > 25, em que:
ultrapassar 7%, e o NO2 inalado, 3ppm. Caso sejam atin-
MAP  FiO 2  100 gidos quaisquer dos valores anteriores, o NO deve ser
(IO)  reduzido à metade, e, se não houver reversão das doses
PaO 2
tóxicas, suspenso.
Sendo: Ao concluir a abordagem de redução da pressão
MAP = pressão média de vias aéreas; de artérias pulmonares, é importante lembrar que es-
FiO2 = fração inspirada de oxigênio; ses RN devem estar submetidos a mínima manipulação,
PaO2 = pressão parcial arterial de oxigênio (Clark, com as menores ofertas possíveis de luz e som, sendo
2000; Day, 1996; The Franco-Belgium, 1999; habituais os empregos de sedação e analgesia, em do-
Hoffman, 1997; NINOS, 2000). ses habituais, intermitentes ou contínuas, de midazo-
lam ou fentanil.
„„ Hipoxemia em duas gasometrias arteriais
pós-ductais, em vigência de elevadas frações
inspiratórias de oxigênio (PaO2 <55-80 mmHg; Suporte inotrópico
FiO2 100%); Kinsella, 1997; Roberts, 1997; É habitual o uso de drogas inotrópicas nas situa-
INOSG ções de SHPPN. Como ocorrem sobrecarga ao coração
„„ PaO2 > 40 e < 100 mmHg, pós-ductal, com direito e sua insuficiência secundária – demonstrável
MAP > 10 e FiO2 = 1,0 (Davidson, 1998, 1999). pelos achados ecocardigráficos –, muitos defendem o
A dose a ser iniciada é variável entre os estu- uso da dobutamina para esses pacientes. Não há, con-
dos, sendo quantificada em partes por milhão (ppm). tudo, em literatura, dados objetivos que corroborem tal
Inicialmente, doses de até 80 ppm foram utilizadas, sem teoria. Se disponível, o ecocardiograma seriado, com os
melhora na eficácia e com aumento dos riscos de efeitos cálculos de desempenho miocárdico evolutivos, pode-
colaterais (aumento de meta-hemoglobinemia e inala- ria ser útil na indicação, definição de dose ideal e sus-
ção de níveis mais elevados de NO2). Posteriormente, pensão de drogas inotrópicas na SHPPN.
as doses consideradas mais baixas, iguais ou inferio-
res a 20 ppm mostraram-se eficazes (Finer, Davidson,
1998; Skimming, 1997). Após iniciar-se o uso com 5 a
Suporte ventilatório
20 ppm, existem parâmetros diferentes que permitem Existem duas linhas básicas quanto à estratégia
a redução da dose inalada de NO (redução da fração ventilatória, em ventiladores convencionais, a serem
inspirada de oxigênio, aumento da PaO2, queda do ín- empregadas a esses pacientes. Estas nunca foram es-
dice de oxigenação), assim como pode ser diferente o tudadas aprofundadamente, tampouco confrontadas
tempo de intervalo de uso de cada dose, até a redução entre si.
posterior (Kinsella, 1997, 1999; NINOS, 2000; Roberts, 1. Fox, em 1983, baseado em estudos animais e
1997; Davidson, 1998, 1999; The Franco-Belgium, 1999; em breve experiência clínica (Peckham, 1978;
Hoffman, 1997; Clark, 2000; Day, 1996). Usualmente, e Rudolph, 1966), propôs ser a hiperventilação
sobretudo se não há hipoplasia pulmonar associada, a base da estratégia de tratamento da SHPPN.
o tempo de uso do NO não supera 5 dias, quando já Defendia a busca de uma alcalose respirató-
ocorreu a reversão da SHPPN. O que é consenso é que, ria e de uma PaCO2 alvo tão baixa quanto 16
a partir do uso de doses inferiores a 5 ppm, principal- mmHg. Para tanto, utilizava ventiladores con-
mente ao atingir-se doses de 1 a 2 ppm, que precedem vencionais em frequências suprafisiológicas,

52
Como Ventilar Recém-nascidos com Hipertensão Pulmonar

para as quais os mesmos não estão adaptados agudas ou crônicas (Carlo, 1989). Posteriormente, ou-
(Boros, 1984). Atualmente, muitas são as evi- tros estudos usando a ventilação “oscilatória” como
dências de lesões em SNC, auditivas e pulmo- resgate em pacientes com critérios para ECMO tam-
nares induzidas por ventilação mecânica mais bém demonstraram bons resultados (Kinsella 1997;
agressiva (Clark, 2000, 2001; Gannon, 1998); Kohelet, 1988). A associação de NO com alta frequên-
Kornhauser, 1994; Wung, 1985). cia oscilatória também foi avaliada em SHPPN grave,
2. Em 1985, Wung relata uma série de casos em mostrando-se estratégia interessante, com resultado
que limitava a pressão inspiratória e permitia da asociação superior ao uso isolado de qualquer das
níveis mais elevados de PaCO2 em pacientes terapêuticas. O autor enfatiza que a eficácia do NO
com SHPPN. Nessa série, 14 dos 15 pacientes está relacionada com a maneira com que se aborda a
apresentavam grave insuficiência respiratória, doença pulmonar de base, possibilitando aumento da
com risco de morte de 100%. Todos os pacien- oferta do NO ao seu local de ação (Kinsella, 1997).
tes sobreviveram, apenas um com doença pul-
monar crônica. Posteriormente, houve relato Oxigenador de membrana
semelhante, com bons resultados com trata- extracorpórea (ECMO)
mento conservador (Dworetz, 1989).
O primeiro relato de sucesso com uso de ECMO
Assim, parece razoável que, embora não existam em RN foi publicado em 1976, pelo grupo do Dr. Bartlett
trabalhos que verdadeiramente confrontem os dois mo- (1976). Desde então, mais de 13.000 RN foram tratados
dos ventilatórios propostos para tratamento da SHPPN, com ECMO, com uma sobrevida acima de 80%, com os
a abordagem inicial minimize agressão ao paciente. melhores resultados obtidos nos grupos de S. Aspiração
Portanto, o uso de ventilação conservadora, além da meconial e SHPPN idiopática – dados de 1998, Neonatal
correção dos distúrbios associados, é a estratégia por ECMO registry. RN com peso > 2 kg e > 35 semanas, por-
nós defendida na abordagem inicial da SHPPN. Quando
tador de doença pulmonar potencialmente reversível,
esta não é suficiente, podemos associar o uso do NO
sem diátese hemorrágica, após ausência de resposta sa-
e/ou associar modo de ventilação não convencional –
tisfatória ao uso máximo de inotrópicos, vasodilatado-
ver abaixo –, utilizando ainda as formas terapêuticas
res e de ventilação mecânica, são candidatos a ECMO.
discutíveis citadas anteriormente, como a alcalose me-
tabólica e aminas vasoativas. Por outro lado, em 1991, A ventilação durante a ECMO é mínima, apenas
um estudo realizado entre médicos norte-americanos visando evitar o total colapso pulmonar. Porém, du-
que exerciam neonatologia apontou a hiperventilação rante a ECMO, são grandes os riscos de complicações,
como base do tratamento da SHPPN (utilizada por 81% incluindo formação de trombos e êmbolos de ar no cir-
dos respondentes), sendo também frequentes o uso cuito, além dos riscos de sangramentos secundários à
de alcalinização, suporte inotrópico e paralisia. Poucos heparinização. A via para realização da ECMO pode ser
eram os neonatologistas que utilizavam a técnica con- a venovenosa (de uso mais recente, atualmente factível
servadora descrita por Wung, 1985; Walsh-Sukys, 1992). com implantação de um único cateter de duplo lúmen,
Assim, fica claro como permanecem variáveis as estra- parecendo mais segura, por não realizar a ligadura da
tégias de tratamento no manuseio clínico dos pacientes carótida, reduzindo os riscos de isquemia cerbral) ou
com SHPPN. a venoarterial (a mais utilizada ao longo dos anos).
Permanecem as dúvidas quanto às lesões neurológicas
Ventilação de alta frequência associadas à ECMO, embora seja difícil caracterizar se as
Em se tratando de um modo de ventilação que lesões surgiram em momento anterior ou durante a rea-
utiliza baixíssimos volumes correntes, minimizando os lização da ECMO.
riscos de volutrauma, o uso da ventilação de alta fre- Por se tratar de um tratamento caro e invasivo,
quência é bastante pertinente em situações de doen- com riscos potenciais, o critério para seu uso inclui ris-
ças pulmonares graves. Tanto a ventilação por “jato” co de mortalidade acima de 80% (usualmente, índice
como a “oscilatória” foram utilizadas para tratamento de oxigenação > 40). Ainda hoje, porém, a grande per-
da SHPPN, associando-se ou não o NO. Novamente, gunta a ser respondida é: qual o grupo que realmente
porém, esses estudos têm limitações em seus dese- se beneficia do uso da ECMO, principalmente após o
nhos, embora traduzam o mesmo conceito que se apli- surgimento de novos modos terapêuticos (p.ex.:NO) e
ca à ventilação convencional, em que em patologias de ventilação. Assim, um dos pontos mais controversos
que cursam com comprometimento parenquimatoso tem sido definir o parâmetro clínico que decida pelo
importante a melhora do quadro de SHPPN só ocorre seu uso (Beck, 1986; Cole, 1988; Marsh, 1988). Também
quando há recrutamento alveolar e redução do shunt ainda será estabelecido o momento de indicação da
intrapulmonar. Assim, um estudo retrospectivo com- ECMO, se mais precoce ou apenas tardio, como resgate,
parou a ventilação a “jato”, como estratégia de resgate, principalmente com a experiência que será adquirida
com a ventilação convencional, sem que houvesse di- no seguimento de RN que foram submetidos a ECMO
ferença na mortalidade ou nas de lesões pulmonares, versus outras formas de abordagem terapêutica. Alguns

53
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

estudos prospectivos e randomizados foram publica- Do ponto de vista pulmonar, há evidência de


dos. Dois deles, realizados nos EUA, foram criticados que, em pacientes com grave insuficiência respiratória,
pois utilizaram modificações de recursos estatísticos com IO > 40 (não necessariamente SHPPN) ou que não
(Bartlett, 1985; O’Rourke, 1989). O estudo realizado apresentam melhora clínica em até 96 horas de vida, a
no Reino Unido, o mais recente, demonstrou efetivi- indicação de ECMO reduz em até 11,5 vezes o risco de
dade no uso da ECMO para o tratamento de RN com desenvolvimento de displasia broncopulmonar, suge-
SHPPNUKCollab. rindo que a agressão contínua da ventilação mecânica
Atualmente, a sigla ECMO vem sendo substituída piora a evolução pulmonar a longo prazo, mesmo em
pela ECLS (“extra-corporeal life support”). RN mais maduros (Kornhauser, 1994).
Mais recentemente, estudos que avaliam o segui-
mento de RN após a introdução do óxido nítrico para
Prognóstico tratamento da SHPPN não demonstram aumento da
morbidade dos pacientes que receberam NO no perío-
A evolução a longo prazo dos pacientes que apre- do neonatal. Esses estudos têm tempos de acompanha-
sentaram SHPPN é uma preocupação apenas recente. É mento após a alta variáveis, com parâmetros iniciais de
óbvio que a expectativa em termos de sequelas, princi- IO distintos (o que pode sugerir gravidade inicial dife-
palmente neurológicas e pulmonares, estará associada rente entre os pacientes), não estando claras as estra-
ao processo de base que gerou a SHPPN, além da gravi- tégias ventilatórias iniciais adotadas pelos diferentes
dade e necessidade de intervenções iniciais a que o RN grupos. São referidas alterações neurológicas em cerca
foi submetido. São grandes as dificuldades em se traçar de 15-46% dos pacientes, incluindo paralisia cerebral,
prognósticos claros, pois temos estratégias terapêuticas alterações motoras mais leves, valor < 70 na escala de
não padronizadas e grupos com amostras insuficientes Bailey, alterações de comportamento e perdas auditivas
para conclusões definitivas. neurossensoriais.
Dois estudos publicados em 1988 condenam a Reinternações, principalmente por problemas res-
prática da hiperventilação como determinante de retar- piratórios, ocorrem em cerca de 30% dos pacientes no 1º
do mental, de moderado a grave (Bifano, 1988), e de as- ano de vida. Outras limitações menos frequentes incluem
sociar-se a risco de 53% de comprometimento auditivo a necessidade de uso de sonda gástrica para alimentação
(Hendricks-Munoz, 1988). Existem relatos, também, de enteral domiciliar, uso de oxigênio e monitores de ap-
elevados índices de infarto cerebral (Klesh, 1987) e até neia após a alta hospitalar (The Neonatal Inhaled, 2000;
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56
Como Ventilar Crianças com 8
Patologia Obstrutiva?

Ventilação mecânica nas terminais abertas. Assim, em algumas situações pode


ser necessário o uso de PEEP alto, mas nesse caso são
patologias obstrutivas importantes a monitorização da auto-PEEP e a obser-
vação rigorosa de possíveis alterações hemodinâmicas.
A bronquiolite e a asma são as patologias respira-
tórias que mais frequentemente cursam com obstrução
da via aérea em crianças. Ventilação mecânica na asma
O suporte ventilatório nas doenças obstrutivas em
crianças é geralmente realizado com ventilação limitada Rodrigo de Freitas Nóbrega
a pressão e ciclada a tempo. Como nessa situação as al- Raquel Elizabete Ribeiro Romani
terações frequentes na resistência da via aérea podem
levar a grandes variações do volume corrente, é impor-
tante que se monitorize o volume corrente e o volume
Objetivo
minuto obtidos com a limitação da pressão para que se Discutir os parâmetros e modos ventilatórios uti-
possa atuar prontamente em caso de redução desses vo- lizados em pacientes com asma grave que necessitam
lumes. Para alguns autores, essa é uma condição em que de ventilação mecânica, bem como a monitorização
se deveria utilizar ventilação com volume controlado, respiratória para promover os ajustes necessários.
para se garantir um volume corrente constante indepen-
dentemente das variações de resistência na via aérea.
Ventilação na asma – pontos chave
A frequência respiratória inicial a ser utilizada
„„ Aumento da resistência de vias aéreas
deve ser baixa, 8 a 16 resp/min, com tempo inspiratório
normal ou alto (até 1 s) e tempo expiratório bem maior, „„ Risco de falência respiratória
pelo menos duas a três vezes o tempo inspiratório, pois „„ Possibilidade de uso de ventilação não invasiva
devido ao aumento da resistência, predominantemen- „„ Evitar ao máximo intubação e ventilação
te expiratória, ocorre um aumento da constante de invasiva
tempo, ou seja, é necessário um tempo maior para o „„ Cuidado com hiperinsuflação dinâmica e
esvaziamento do pulmão. Assim, preconiza-se o uso de auto-PEEP
relação I:E de no mínimo 1:2, em geral 1:3 ou mais, para
se permitir uma expiração adequada e reduzir o aprisio- „„ Utilizar FR baixa e TE elevado
namento de ar (auto-PEEP). Para se conseguir ventilar „„ Evitar VC ou PI elevados
com frequência respiratória baixa é necessário que a „„ Tolerar hipercapnia
criança esteja bem sedada e nos casos mais graves até „„ Sedação e BNM
mesmo curarizada. Para sedação nos quadros obstruti-
„„ Monitorização adequada
vos, a cetamina em infusão contínua é uma boa opção
devido aos seus efeitos broncodilatadores. „„ Ajustes guiados pela monitorização e pelo ra-
ciocínio fisiopatológico
A hipoventilação com hipercapnia permissiva
poderá ser realizada para que se possa limitar o pico „„ Desmame o mais precoce possível
inspiratório de pressão a níveis inferiores a 40 cmH2O,
reduzindo-se assim o risco de barotrauma.
O uso de PEEP elevada nos quadros obstrutivos
Introdução
é controverso. A adição de PEEP a um pulmão já hipe- A asma aguda grave, ou estado de mal asmáti-
rinsuflado, à primeira vista, parece contraprodutiva. O co, em termos clínicos, pode ser definida como a pro-
uso da PEEP, entretanto, parece ser útil na resolução de gressão da insuficiência respiratória devido à asma, por
atelectasias, melhorando a relação ventilação/perfu- ausência de resposta às doses iniciais dos agentes bron-
são em áreas hipoventiladas e mantendo as vias aéreas codilatadores nebulizados. Coloca a criança sob risco
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

de desenvolver falência respiratória, necessitando de Algumas desvantagens do suporte ventilatório


internação em UTI pediátrica e por vezes de intubação não invasivo são: sensação de claustrofobia, risco de
e ventilação mecânica, levando a sério risco de vida. aspiração do conteúdo gástrico e necrose da pele por
Estima-se que a prevalência da asma na popula- pressão da máscara facial.
ção pediátrica seja de 5 a 12%. Todos os pacientes têm Na asma aguda grave com utilização de pressão
risco de desenvolver crises agudas, que são muito variá- positiva contínua de vias aéreas por meio de máscara
veis em intensidade. A piora do quadro pode ser lenta facial ocorrem: redução do trabalho respiratório, bron-
ou súbita, estando esta mais frequentemente associada codilatação, diminuição da resistência das vias aéreas,
a casos graves (asma aguda asfíxica). reexpansão de atelectasias, possibilidade de remoção
A exposição a alérgenos, infecções virais ou ou- de secreções, repouso dos músculos inspiratórios e do
tros fatores desencadeantes (como exercício físico, me- diafragma e redução dos efeitos hemodinâmicos de
dicamentos e fatores emocionais) leva a espasmo da uma pressão pleural inspiratória negativa.
musculatura brônquica, inflamação e edema de vias aé- Assim, alguns pacientes podem se beneficiar
reas, além de aumento da produção de muco, cursando com o uso de pressão positiva em vias aéreas durante
com significativo aumento da resistência das vias aé- uma crise de asma aguda grave.
reas inferiores com marcadas alterações na mecânica e A não melhora do quadro após 1 a 2 horas de
volume pulmonares. suporte não invasivo, ou a piora abrupta a qualquer
O tratamento farmacológico da asma grave con- momento, podem indicar a necessidade de intubação
siste em uso de broncodilatadores beta-adrenérgicos e ventilação invasiva.
(pela via inalatória ou endovenosa) e corticosteroides.
Pode-se ainda cogitar o uso de teofilina.
Em pacientes com falência respiratória, mas com Indicações para intubação e
condições de manutenção da permeabilidade de vias
aéreas, pode-se cogitar a ventilação não invasiva. ventilação mecânica na asma
A decisão de intubar uma criança asmática não
é fácil por estar frequentemente associada a complica-
Ventilação não invasiva ções (agravo do broncoespasmo, barotrauma, depres-
A ventilação não-invasiva com pressão positiva são cardiocirculatória) e consequente piora clínica,
(VNIPP) é efetiva em várias condições como ICC com devendo ser evitada o máximo possível. Com o adven-
edema pulmonar e exacerbações de DPOC. Na asma to da terapêutica mais agressiva com agentes β2 ina-
aguda grave, à semelhança da DPOC, ocorre obstrução lados e injetáveis e corticosteroides injetáveis, menos
ao fluxo de ar acompanhada de hiperinsuflação dinâ- de 1% das crianças asmáticas admitidas em hospitais
mica e geração de uma pressão pleural negativa. O de- e entre 5 a 10% das crianças asmáticas admitidas em
clínio progressivo do FEV1 durante uma crise de asma Unidades de Terapia Intensiva Pediátricas necessi-
grave está relacionado a um trabalho inspiratório maior, tam de intubação para ventilação mecânica invasiva
contribuindo com a fadiga muscular. (Fluxograma 8.1).
A VNIPP pode ser realizada por meio de aparelho Parada cardiorrespiratória, hipóxia grave e rápida
de ventilação mecânica convencional (capaz de prover deterioração do nível de consciência constituem indi-
CPAP e ventilação assistida) ou de aparelhos de ventila- cações absolutas para intubação e ventilação mecâni-
ção não invasiva (BIPAP), podendo ser provida por meio ca invasiva. A piora progressiva do padrão respiratório,
de uma pronga nasal ou de uma máscara nasal ou facial mesmo com terapêutica medicamentosa agressiva ins-
(boca-nariz) bem ajustada. Os ventiladores ciclados a tituída, constitui indicação relativa de intubação.
pressão são preferidos porque compensam os possíveis A decisão de intubação não deve se basear ape-
escapes ao redor da pronga nasal ou da máscara. nas na gasometria arterial. Alguns pacientes hipercáp-
A VNIPP com máscara facial é uma opção terapêu- nicos podem evoluir bem apenas com o tratamento
tica para suporte ventilatório de curto prazo na criança medicamentoso, enquanto outros pacientes sem hiper-
com falência ventilatória hipercápnica mas ainda com capnia necessitam de intubação por exaustão.
condições de manutenção das vias aéreas permeáveis. Em termos práticos, podemos seguir o fluxogra-
Tem como objetivo dar tempo aos agentes medicamen- ma abaixo:
tosos usados na asma aguda grave.
Tratamento da Asma Grave
O suporte ventilatório não invasivo tem como
vantagens: reduzir a necessidade de sedação, diminuir „„ Oxigênio: FiO2 necessária para manter a SatO2
o risco de infecção nosocomial, melhorar o desconfor- ≥95%;
to do paciente e evitar as complicações da intubação „„ Salbutamol inalado (0,15mg/kg a cada 20min
intratraqueal. durante 1h);

58
Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?

„„ Metilprednisolona EV: iniciar na 2ª inalação de 2. Pré-medicação: a) Atropina: 0,01 a 0,02 mg/


salbutamol com bolo de 2 mg/kg e manuten- kg EV (dose mínima de 0,1 mg e máxima de
ção de 0,5 a 1,0mg/kg a cada 4 a 6 horas; 0,5 mg) para evitar reflexo vagal (bradicardia
„„ Brometo de ipratrópio nebulizado: 0,5mg a e vômitos);
cada 4 a 6 horas; 3. Sedoanalgesia: Midazolam (0,1 a 0,3 mg/kg)
⇓ associado a cetamina (1 a 2 mg/kg) (é indicado
por seus efeitos broncodilatador/analgésico/
Má Evolução
sedativo);
„„ Teofilina EV (uso ainda controverso);
4. Manobra de Sellick (compressão da cartilagem
„„ Salbutamol inalado contínuo (0,5mg/kg/h; no cricoide)
máximo 15mg/h);
5. Bloqueio neuromuscular: Vecurônio (0,08 a 0,1
⇓ mg/kg), pancurônio (0,06 a 0,1 mg/kg) ou atra-
PaCO2 > 45 mmHg cúrio (0,3 mg/kg)
⇓ 6. Se necessário, ventilação manual com bolsa-
-válvula-máscara e O2 a 100%, com a frequên-
„„ β2-agonistas EV contínuo (suspender os β2
cia mais baixa possível, dando tempo para a
inalados)
expiração completa;
1. Salbutamol: 0,2-4 mcg/kg/min (dose de ata-
7. Intubação orotraqueal com tubo calibroso
que: 10 mcg/kg-10’)
para reduzir a resistência ao fluxo expiratório;
2. Terbutalina: 0,4-10 mcg/kg/min (dose de
8. Expansão volêmica: pode ser realizada antes
ataque: 10 mcg/kg em 10 min); dose usual:
da indução anestésica para a intubação, uma
3-6 mcg/kg/min
vez que é frequente a hipotensão, pela com-
Ajustar a dose de acordo com a resposta clínica binação de efeitos dos sedativos e aprisiona-
de taquicardia e tremores; vigiar hipopotassemia. mento de ar. Pode-se realizar expansão com 10
⇓ a 20 mL/kg de solução cristaloide em 20 min.
PaCO2 > 60 mmHg com pH < 7,25 e/ou PaO2 < 60 Uma vez intubado, deve-se realizar sedoanal-
com FiO2 > 0,5 gesia contínua e adequada do paciente, e, muitas ve-
⇓ zes, haverá a necessidade de bloqueio neuromuscular
(BNM) para se manter uma ventilação efetiva.
Ventilação Mecânica anti-hiperinsuflação dinâmica

Intubação da criança asmática Sedoanalgesia e bloqueio


A intubação da criança asmática deve seguir al-
neuromuscular
guns passos importantes: A sedoanalgesia diminui o consumo de oxigê-
1. Pré-oxigenação com O2 a 100%, sucção de se- nio e a produção de CO2, assegura sincronia paciente-
creções da orofaringe e descompressão gástri- -ventilador, reduz a ansiedade e a hiperestimulação do
ca via sonda nasogástrica; centro respiratório pela acidose respiratória e elimina

Fluxograma 8.1: Ventilação na asma.

59
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

o esforço muscular durante a expiração, reduzindo Pode-se ventilar a criança com asma gra-
o aprisionamento de ar. O nível de sedação deseja- ve com volume controlado ou pressão controlada.
do é Escala de Ramsay 4 a 6 (se não houver bloqueio Tradicionalmente, utiliza-se com maior frequência o
neuromuscular). controle a volume; entretanto, a pressão controlada po-
Os fármacos mais utilizados são: deria, teoricamente, ser vantajosa, pois frequentes mu-
danças na resistência das vias aéreas não interfeririam
1. Midazolam: em infusão contínua de 0,1-0,5
na pressão aplicada.
mg/ kg/h (em associação ao fentanyl, pode ha-
ver potencialização da ação de ambos e causar Inicialmente, deve-se optar pelo modo de venti-
hipotensão grave); lação controlada, que permite a recuperação da fadiga
da musculatura respiratória e evita volume minuto ou
2. Fentanil: em infusão contínua de 1-10 mcg/
frequência respiratória elevados por conta de respira-
kg/h.
ções do paciente (que poderia levar a hiperinsulflação
3. Pode ser utilizado por ser um opioide não li- dinâmica).
berador de histamina. Observar hipotensão e
Por cursar com aumento significativo de resis-
rigidez torácica quando em altas doses;
tência de vias aéreas, o asmático deve ser ventilado
4. Cetamina: em infusão contínua de 0,5-2,0 mg/ com tempo inspiratório relativamente alto para permi-
kg/h; tem efeitos analgésico, sedativo, amné- tir a entrada de ar. O tempo expiratório deve ser bem
sico, de relaxamento da musculatura lisa das maior, visto que na ventilação mecânica convencional
vias aéreas, de elevação da frequência cardía- a inspiração ocorre de maneira ativa, enquanto a expi-
ca e da pressão arterial; deve ser utilizada em ração acontece de maneira passiva. O tempo expira-
associação a um benzodiazepínico para pre- tório prolongado, de pelo menos três vezes o tempo
venção de seus efeitos indesejáveis (alucina- inspiratório permite a adequada saída do gás inala-
ções/delírios/sonhos animados); do, diminuindo o risco de hiperinsulflação dinâmica.
5. Propofol: em infusão contínua de 25-100 mcg/ Para que se tenha um tempo expiratório prolongado,
kg/ min. Não deve ser utilizado por mais de sem encurtar o tempo inspiratório, deve-se utilizar
48h, pela possibilidade de síndrome de infu- frequência respiratória baixa, inicialmente de 15 a 20
são do propofol. ventilações por minuto.
O bloqueio neuromuscular está indicado em pa- O volume corrente utilizado (em caso de venti-
cientes que, apesar da sedação profunda, se mantêm lação com volume controlado) também deve ser baixo
desacoplados do respirador com risco de extubação e para se evitar aprisionamento de ar. Geralmente, inicia-
de gerar altas pressões nas vias aéreas. O fármaco de -se com volume corrente de 6 mL/kg.
escolha é o vecurônio, por ser praticamente isento de Com frequência respiratória e volume corrente
efeitos cardiovasculares e por ser o que menos libera baixos, temos um volume minuto diminuído (VM = VC x
histamina. Deve ser infundido continuamente, em dose FR), o que pode levar à retenção de CO2. Toleram-se tais
de 1-10 mcg/kg/ min. A monitorização do BNM deve ser valores aumentados de CO2, desde que o pH se mante-
feita com o método TOF (train-of-four). nha acima de 7,25. Tal estratégia é denominada hiper-
capnia permissiva.
Quando optamos por utilizar ventilação com
Princípios da ventilação pressão controlada, devemos evitar níveis elevados de
pressão inspiratória, limitando assim o volume corrente
mecânica na asma
(que é diretamente proporcional à pressão) e evitando
O paciente asmático apresenta significativa risco de iatrogenias. Sugere-se evitar pressão inspirató-
obstrução ao fluxo aéreo inspiratório e expiratório, ria superior a 40 cm de água.
devido ao aumento da resistência das vias aéreas. Recordemos agora que a pressão inspiratória
Se não houver tempo suficiente para se expirar o ar possui dois componentes: pressão resistiva e pressão
inspirado, ocorrerá um esvaziamento alveolar incom- alveolar. O aumento da resistência de vias aéreas (cau-
pleto, chamado de hiperinsulflação dinâmica. O apri- sada pela asma) leva a incremento da pressão resistiva.
sionamento desse ar gera uma pressão positiva ao Se for possível monitorizar a pressão de platô (pressão
final da expiração, denominada auto-PEEP. Essa con- alveolar + PEEP), através de pausa inspiratória, devere-
dição pode favorecer a instalação de pneumotórax e mos mantê-la em níveis inferiores a 30-35 cm H2O.
choque cardiogênico, com significativo aumento da Com relação ao PEEP, devemos utilizar PEEPs de 3
morbimortalidade. a 5 cm H2O; com isso, possibilitamos a abertura de vias
Dessa maneira, a ventilação mecânica deve ser aéreas de pequeno calibre que podem estar colabadas
direcionada no sentido de se evitar a hiperinsulflação no mal asmático. Níveis elevados de PEEP devem ser
dinâmica. evitados, devido à tendência de formação de auto-PEEP

60
Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?

ou PEEP Intrínseca pelo aprisionamento de ar. Caso seja


possível medir a auto-PEEP; devemos evitar que a PEEP
Monitorização do oxigênio e
total ultrapasse 10 cm H2O, evitando-se assim possíveis do gás carbônico
complicações.
Deve-se utilizar FiO2 suficiente para manter SatO2 Deve ser feita periodicamente, por meio de gaso-
acima de 90%. metria arterial. Níveis de PaO2 acima de 60 e SatO2 maior
que 90% são considerados adequados. Na asma grave
ventilada, não se objetiva manter CO2 normal (35-45)
Monitorização através de aumento de parâmetros ventilatórios. Para
se evitar parâmetros que possam levar a hiperinsufla-
A monitorização da criança com asma grave em ção dinâmica, toleram-se elevações de CO2 desde que o
ventilação mecânica tem por objetivos: pH se mantenha acima de 7,20-7,25.
„„ Evitar hiperinsulflação dinâmica e auto-PEEP, A oximetria de pulso que monitoriza continua-
prevenindo o desenvolvimento de pneumotó- mente a SatO2 deve ser rotineiramente utilizada. A capno-
rax e choque cardiogênico; grafia avalia o CO2 e auxilia na monitorização; entretanto,
„„ Detectar hipoxemia e/ou hipercapnia que leve devido a alterações na relação ventilação-perfusão, pode
a acidose significativa (pH < 7,25); não expressar com exatidão o CO2 sanguíneo.
„„ Orientar os ajustes da ventilação mecânica
para resolver os problemas acima citados;
„„ Definir o momento de se iniciar o desmame da Ajustes dos parâmetros
VPM, bem como orientar sua execução.
ventilatórios
Devem ser feitos de acordo com os resultados
Monitorização da hiperinsulflação de gasometrias e os indícios de hiperinsuflação dinâ-
dinâmica e da auto-PEEP
mica. Devem-se evitar aumentos na pressão inspirató-
ria acima de 40 mm H2O ou de pressão de platô acima
„„ Prova de Apneia: Diante de uma criança as- de 30-35. Ajustes na frequência respiratória devem ser
mática, ventilada; se ocorrer hipotensão ar- feitos, visando corrigir acidose respiratória não com-
terial, devemos suspeitar de hiperinsuflação pensada, mas sempre estando atento a evitar hiperin-
dinâmica. Se houver normalização da PA du- suflação dinâmica.
rante um período de apneia de 40 s, confirma- Sugere-se que se a pressão de platô for menor
mos essa suspeita. que 30-35 e o pH maior que 7,20-7,25 se mantenham
„„ Curvas fluxo tempo e fluxo volume: O não os parâmetros.
retorno do fluxo à linha de base, no final da ex- Se a pressão de platô for inferior a 30-35, com re-
piração, indica aprisionamento de ar. tenção de CO2 que leve o pH a ficar abaixo de 7,20-7,25,
„„ Volume pulmonar ao final da expiração: Por há espaço para se aumentar a frequência respiratória.
meio do espirômetro do ventilador, pode-se Entretanto, se a pressão de platô for superior a 30-
medir, por uma apneia de 20 a 60 s, o volume 35, sem acidose respiratória, indica-se reduzir a frequên-
pulmonar ao final da expiração. Subtraindo cia respiratória, evitando hiperinsuflação dinâmica.
deste o volume corrente inspirado, tem-se
como resultado o volume de gás aprisionado, Quando temos pH menor que 7,20-7,25 com
que se for superior a 20 mL/kg prediz risco de pressão de platô elevada devemos considerar outras
complicações. medidas, como infusão de bicarbonato, uso de heliox,
sulfato de magnésio e anestésicos inalatórios (halotano
„„ Pressão de platô: Mede-se a pressão de platô
ou isoflorano).
ao se produzir uma pausa inspiratória de 1 a 5
s. Neste momento, em que o fluxo é zerado, a
pressão ressistiva cai a zero, sendo a pressão
resultante a somatória da pressão alveolar e da Desmame da ventilação mecânica
PEEP. Pressão de platô inferior a 30-35 cm H2O Deve ser iniciado assim que a criança apresen-
tem boa correlação com níveis aceitáveis de te melhora do quadro asmático. Tal melhora pode
volume de gás aprisionado. ser notada por meio de dados clínicos como a aus-
A pressão arterial deve ser monitorizada, pois a culta pulmonar, dados gasométricos e de monito-
hiperinsuflação pulmonar pode levar a choque cardio- rização. A diminuição da pressão resistiva (pressão
gênico, com queda de PA. inspiratória menos pressão de platô) é um bom indício

61
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

de melhora da resistência de vias aéreas, sugerindo o B. Paciente em UTI Pediátrica, consciente, com
início do desmame. terbutalina EV contínua, FiO2=0,5 em máscara
Neste momento, deve-se diminuir a sedação e de Venturi;
se iniciar modos ventilatórios assistidos (nos quais o C. Paciente em UTI Pediátrica, sonolento mas com
paciente participa da ventilação). Podemos utilizar ven- vias aéreas pérvias, com desconforto respira-
tilação assisto-controlada, mandatória intermitente ou tório progressivo, em nebulização contínua
suporte de pressão. A ventilação com suporte de pres- com salbutamol e necessidade de FiO2=0,5;
são constitui excelente método de desmame, por ser D. Paciente em UTI Pediátrica, sonolento, em
bastante confortável para o paciente. uso de terbutalina EV contínua, FiO2=0,5
Com a melhora da asma, o desmame deve ser em máscara de Venturi e com vômitos volu-
rápido, objetivando-se manter a VPM o menor tempo mosos e frequentes.
possível. 6. Na ventilação limtada a volume de uma criança asmá-
tica, o aumento da pressão de platô pode significar:

Ventilação na asma – Questões A. Aumento da auto-PEEP


B. Diminuição da resistência de vias aéreas
1. Quais os parâmetros mais adequados para se iniciar a C. Retenção de CO2
ventilação mecânica em um paciente de 5 anos com D. Redução da hiperinsuflação dinâmica
asma grave?
A. TI = 0,5 s; TE = 0,5 s; FR = 60 7. Qual o significado da diminuição entre a diferença da
pressão de pico inspiratório e a pressão de platô?
B. TI = 0,75 s; TE = 2,25 s; FR = 20
A. Aumento da complacência
C. TI = 1,2 s; TE = 1,8 s; FR = 20
B. Diminuição da complacência
D. TI = 2 s; TE = 1 s; FR = 20
C. Diminuição da resistência
2. Qual o modo de ventilação mecânica de escolha para
o tratamento inicial de uma criança com asma grave D. Aumento da resistência
intubada? 8. Qual esquema farmacológico melhor se aplicaria
A. Assistida/controlada para um paciente intubado por asma aguda grave?
B. Pressão de suporte A. Sedoanalgesia com morfina e propofol contí-
C. CPAP nuos e bloqueio neuromuscular com succinil-
D. Controlada colina em bolo.
B. Sedoanalgesia com midazolam e cetamina
3. Em uma criança de 8 anos com 30 kg de peso, qual contínuos e bloqueio neuromuscular com
estratégia ventilatória apresenta menor risco de de- vecurônio contínuo.
senvolver hiperinsuflação dinâmica?
C. Sedoanalgesia com midazolam e fentanil con-
A. VC = 6 mL/kg; FR = 15; TI = 0,8; PEEP = 3 tínuos e bloqueio neuromuscular com pan-
B. VC = 10 mL/kg; FR = 30; TI = 0,8; PEEP = 3 curônio em bolo.
C. VC = 5 ml/kg; FR = 30; TI = 1; PEEP = 0 D. Sedação com propofol contínuo por tempo
D. VC = 12 mL/kg; FR = 15; TI = 0,8 PEEP = 0 prolongado, fentanil em bolo e bloqueio neu-
romuscular se necessário.
4. Qual é uma possível complicação da hiperinsuflação
dinâmica? 9. Qual a sequência que melhor se aplica para o pro-
cedimento de intubação de um paciente com asma
A. Edema cerebral
aguda grave?
B. Distúrbios de sódio e potássio
A. Pré-oxigenação, atropina, sedoanalgesia, ma-
C. Hipertensão arterial nobra de Selick, curarização, intubação com
D. Pneumotórax COT bem fina (para evitar barotrauma).
5. Em qual situação seria desaconselhável a tentativa B. Pré-oxigenação, atropina, sedoanalgesia,
de ventilação não invasiva com pressão positiva em manobra de Selick, curarização, intubação
um paciente com asma aguda grave? com COT calibrosa (para reduzir a resistên-
A. Paciente no pronto atendimento com neces- cia ao fluxo expiratório).
sidade de FiO2=0,4, com nebulização contínua C. Pré-oxigenação, atropina, curarização, sedoa-
com salbutamol, metilprednisolona EV e bem nalgesia, expansão volêmica, intubação com
consciente; COT calibrosa.

62
Como Ventilar Crianças com Patologia Obstrutiva?

D. Expansão volêmica, pré-oxigenação, B. Hipóxia grave.


sedoanalgesia, C. Piora progressiva do padrão respiratório.
E. intubação com COT fina (para evitar D. Deterioração rápida do nível de consciência.
barotrauma).
10. São indicações absolutas de intubação de um pa- Obs: As alternativas corretas estão em negrito.
ciente com asma aguda grave, exceto:
A. Parada cardiorrespiratória.

Bibliografia
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63
Ventilação Mecânica na 9
Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo

José Roberto Fioretto

A síndrome do desconforto respiratório agudo da resistência vascular pulmonar (RVP) causado por uma
(SDRA) caracteriza-se por processo inflamatório extenso combinação complexa de lesão pulmonar primária, em
que leva a quebra da barreira alveolocapilar com desen- consequência de resposta inflamatória à agressão pul-
volvimento de edema intersticial e alveolar, diminuição monar, e de complicações do tratamento, principalmen-
da complacência pulmonar, desequilíbrio da relação te a lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica
ventilação/perfusão (relação V/Q) e hipoxemia refratária (LPIVM). A hipertensão pulmonar impõe carga adicional
à administração de oxigênio. A doença é causada por ao ventrículo direito, limitando o débito cardíaco.
agressão pulmonar direta ou por lesão sistêmica. A le- A definição da SDRA passou por revisão recente.
são dos pneumócitos tipo II produtores de surfactante Foram estabelecidos critérios para definir o tempo da
e a inativação do surfactante pelo processo inflamatório doença, eliminado o termo lesão pulmonar aguda, e a
também contribuem para o colabamento expiratório de SDRA foi classificada em leve, moderada ou grave de
unidades alveolares, com consequente redução da ca- acordo com os níveis do índice de oxigenação e índice
pacidade residual funcional. Além disso, existe aumento de saturação de oxigênio, conforme ilustra a Tabela 9.1.

Tabela 9.1: Definição da síndrome do desconforto respiratório em Pediatria

Idade Excluir pacientes perinatais com doença pulmonar


Tempo Dentro de 7 dias de um insulto conhecido
RX tórax Novo(s) infiltrado(s) consistente(s) com doença pulmonar parequimatosa aguda
Oxigenação VNI VM invasiva
P SDRA (sem estratificação de Leve Moderada Grave
gravidade)
Máscara facial com dois níveis de ≤ IO < 8 8 ≤ IO < 16 IO ≥ 16
pressão ou CPAP
Ou Ou Ou
PF (PaO2/FiO2) ≤ 300
5 ≤ ISO < 7,5 ISO: Índice 7,5 ≤ ISO < 12,3 ISO ≥ 12,3
SF (SaO2/FiO2) ≤ 264 de Sat. de oxigênio
Condições especiais
Doença cardíaca Critério padrão acima para idade, tempo, origem do edema e RX com deterioração aguda da
congênita oxigenação não explicada por doença cardíaca
Doença Critério padrão acima para idade, tempo, origem do edema e RX consistente com novo infiltrado e
pulmonar crônica deterioração aguda da oxigenação do basal, que preenche os critérios acima
Disfunção VE Critério padrão acima para idade, tempo, origem do edema e RX consistente com novo infiltrado e dete-
rioração aguda da oxigenação que preenche o critério acima não explicado por disfunção VE esquerda.
Adaptado de Khemani RG et al. Pediatric acute respiratory distress syndrome: definition, incidence, and epidemiology:
proceedings from the Pediatric Acute Lung Injury Consensus Conference. Pediatr Crit Care Med 2015 Jun;16(5 Suppl 1):S23-40.
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Tratamento ventilatório da SDRA recomendados para crianças, isto é, limitação do VC


para valores (6-8 mL/kg), limitação da pressão de pla-
tô entre 29 e 32 cmH2O /ou pressão de pico de até 35
Volume corrente, Pressão de Platô e
cmH2O e a utilização de PEEP de moderada a alta (8 a 20
Modos Ventilatórios cmH2O). A SaO2 deve ficar entre 85% e 95% e a FiO2 em
A ventilação mecânica (VM) constitui um dos pila- valores menores ou iguais a 60%, considerando-se taxas
res do tratamento da SDRA na medida em que melhora metabólicas reduzidas e estabilidade hemodinâmica.
a oxigenação por recrutamento alveolar, com restabe- Quanto aos modos ventilatórios empregados,
lecimento da relação V/Q. Estudo tomográfico de pul- não foi observada vantagem de nenhum modo de ven-
mões de pacientes com SDRA contribuiu decisivamente tilação sobre outro (pressão ou volume controlado),
para o entendimento da doença. Foi demonstrado que quando esses são utilizados em conjunto com a estra-
o comprometimento do parênquima pulmonar não é tégia ventilatória protetora.
homogêneo, havendo áreas pulmonares com relação
V/Q relativamente normal que coexistem com áreas
totalmente consolidadas e regiões hiperdistendidas. Pressão positiva ao final da expiração
Paralelamente, foi demonstrado que a VM pode lesar as Apesar de não haver em Pediatria estudos rando-
áreas de pulmão normal ou aumentar a lesão daquelas mizados e controlados que tenham avaliado níveis da
já comprometidas, introduzindo o conceito de LPIVM. PEEP, sabe-se que na estratégia ventilatória para o trata-
Extensas áreas alveolares tornam-se consolidadas, com mento da SDRA a PEEP deverá ser sempre utilizada para
diminuição de alvéolos disponíveis para as trocas ga- manter aberto o maior número de unidades alveolares
sosas, tornando o pulmão funcionalmente análogo e prevenir seu colapso no final da expiração, possibili-
ao baby lung, quanto ao seu tamanho. O emprego de tando redução da FiO2 a níveis menores do que 60%. Tal
volume corrente (VC) elevado dentro desse “pequeno” medida otimiza o recrutamento alveolar, com melhora
pulmão pode levar a hiperdistensão dos alvéolos que da hipoxemia. Além disso, a PEEP estabiliza alvéolos e
estão abertos. reduz a hiperdistensão cíclica e as forças de cisalhamen-
A partir desse conhecimento, foi introduzida a to que atuam nos alvéolos. A titulação da “PEEP ideal”
estratégia ventilatória chamada de ventilação mecânica deve ser individualizada, baseando-se na monitoriza-
protetora, utilizada em conjunto com a estratégia para ção hemodinâmica (frequência cardíaca, pressão ar-
manter os alvéolos abertos (open lung approach). Esses terial, tempo de enchimento capilar e débito cardíaco,
métodos objetivam proteger o pulmão contra a lesão quando disponível), nível de oxigenação e de compla-
induzida pela VM, limitando o VC (< 6 mL/kg), ofertan- cência pulmonar (preferencialmente estática). Níveis
do nível adequado de PEEP (acima do ponto de inflexão de PEEP entre 10 e 15 cmH2O ou mesmo mais elevados
inferior na curva estática pressão-volume) com pressão podem ser necessários. Entretanto, níveis acima de 12-
de platô < 20 mmHg acima da PEEP, permitindo hiper- 15 cm H2O podem comprometer o débito cardíaco por
capnia e hipoxemia (SaO2 entre 88% e 90%). O valor diminuição do retorno venoso, sendo fundamental mo-
clínico da VM protetora em adultos com SDRA foi pri- nitorização rigorosa do estado volêmico. O ponto de
meiramente demonstrado por Amato et al. Os autores inflexão inferior do ramo inspiratório da curva pressão/
observaram redução significativa da taxa de mortalida- volume (P/V) tem sido proposto como ponto de refe-
de dos pacientes tratados com VC, menor do que 6 mL/ rência para se encontrar a PEEP ideal, ou seja, aquela
kg, e pressão de platô de menos de 20 mmHg acima da que permite oxigenação adequada com níveis seguros
PEEP, na comparação com pacientes tratados com VM de FiO2. No entanto, esse nível ainda é controverso, as-
convencional controlada a volume. Esses resultados fo- sim como seu efeito sobre a mortalidade. Na prática clí-
ram posteriormente confirmados pelo estudo da ARDS nica, entretanto, o nível ideal da PEEP tem sido obtido,
Network, que avaliou 861 adultos e demonstrou redu- à beira do leito, aumentando-se a PEEP em 2 a 3 cmH2O
ção absoluta de 9% na mortalidade com VC mais baixo gradualmente e acompanhando o efeito sobre a SaO2.
(≤ 6 mL/kg) comparado com o tradicional (12 mL/kg).
Estudo semelhante ainda não foi realizado em
crianças. Entretanto, a dramática modificação do prog- Hipercapnia permissiva
nóstico de adultos com SDRA, demonstrada por esses Hipercapnia permissiva é a presença de hiper-
estudos, provocou importante impacto no tratamento capnia em paciente sob VM em que, com o objetivo de
da falência respiratória de crianças. A Surviving Sepsis reduzir a lesão pulmonar induzida pela VM, a pressão de
Campaign recomenda a utilização da estratégia ven- platô e o VC são limitados. O aumento do nível da PaCO2
tilatória protetora em crianças. Também, a Diretriz de seria consequência dessa estratégia ventilatória. A es-
Ventilação Mecânica em Pediatria e Neonatologia da tratégia ventilatória protetora que inclui a hipercapnia
Associação de Medicina Intensiva Brasileira, quanto permissiva não foi ainda sistematicamente estudada
à SDRA, relata que os princípios da estratégia pro- em crianças com SDRA, mas podemos concluir que ela
tetora, aplicados e validados para os adultos, são os é útil a partir de estudos em pacientes adultos.

66
Ventilação Mecânica na Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo

Pressão de Distensão „„ PCV = 15 cmH2O + PEEP = 30 cmH2O; FR = 10;


Ti = 3 s; por 2 min
Recentemente, foi publicado estudo de avaliação
post hoc que demonstrou que as reduções do VC e os „„ PCV = 15 cmH2O + PEEP = 35 cmH2O; FR = 10;
aumentos da PEEP foram benéficos apenas quando as- Ti = 3 s; por 2 min
sociados a redução da pressão de distensão (∆P= pres- A PEEP a ser utilizada depois da manobra de re-
são de platô - PEEP) para valores abaixo de 15 cmH2O. crutamento é aquela 2 cmH2O acima do ponto de infle-
Cabem as ressalvas de que não se trata de estudo pros- xão da curva P-V do sistema respiratório, ou um valor
pectivo e também que as conclusões são válidas apenas fixo, por exemplo, entre 12-15 cmH2O ou maior.
para ventilação na qual o paciente não está realizando
esforço respiratório.
Terapias adjuvantes não
Ventilação oscilatória de alta frequência ventilatórias na SDRA
(VOAF)
A VOAF é um modo ventilatório que utiliza VC
Óxido Nítrico Inalatório
menor do que o volume do espaço morto anatômico Não é recomendado de rotina. Uso opcional
(1-3 mL/kg) com frequência bem acima da fisiológica pode ser considerado em casos de resgate, particu-
(5-10 hertz, ou seja, 300-600 ciclos/minuto), com inspi- larmente em associação com outras medidas terapêu-
ração e expiração ativas. Essa forma de ventilação vem ticas. Também, se houver hipertensão pulmonar ou
sendo utilizada com sucesso para o tratamento de pa- grave disfunção ventricular direita. O benefício deve
cientes com insuficiência respiratória grave quando a ser avaliado rapidamente, e todos os esforços e nor-
VM convencional falha. Além disso, há relatos de que mas técnicas devem ser implementados para reduzir
quando a VOAF é utilizada precocemente, em conjunto a toxicidade.
com estratégia protetora, ocorre redução na lesão pul-
monar aguda e crônica em pacientes com SDRA.
Posição prona
Esse modo ventilatório e suas aplicações foram
Posição prona pode ser utilizada de maneira se-
descritos em outro capítulo.
gura em pacientes pediátricos com SDRA grave, por pe-
ríodos alternados com a posição supina nas 24 horas.
Manobras de Recrutamento Alveolar
Recomendação Surfactante exógeno
O uso de manobras de recrutamento pode ser Atualmente o surfactante não é recomendado de
implementado sob rigorosa monitorização e por pes- rotina. O uso opcional pode ser considerado em casos
soal experiente na presença de colapso manifestado de resgate, particularmente em associação com outras
pela necessidade de FiO2 acima de 60% para obter SaO2 medidas terapêuticas.
de 90% a 95%. A manobra mais utilizada é a manobra
da elevação gradual da PEEP com ventilação com pres-
são controlada (PCV) mantida: Bloqueadores neuromusculares
„„ PCV = 15 cmH2O + PEEP = 20 cmH2O; FR = 10; Estudos em adultos têm mostrado melhora da
Ti = 3 s; por 2 min oxigenação e diminuição da mortalidade. A recomen-
„„ PCV = 15 cmH2O + PEEP = 25 cmH2O; FR = 10; dação é de uso precoce e por curto período.
Ti = 3 s; por 2 min

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68
A Utilização da Ventilação 10
Não Invasiva na
UTI Pediátrica
Carolina Gonzaga

Introdução trabalho foi realizado numa unidade de emergência de


um hospital universitário.
A ventilação mecânica não invasiva é uma técni- Em pediatria, o número de estudos é reduzido.
ca de ventilação em que uma pressão positiva é apli- Em 2002, Olugbenga et al. publicaram um estudo de
cada à via aérea do paciente por meio de máscaras ou três casos de crianças com crise severa de asma e hiper-
interfaces sem a utilização da intubação traqueal. capnia associada que foram tratados com VNI via bile-
A partir da década de 1930 surgiram os trabalhos vel positive airway pressure (BIPAP). O tempo de uso da
pioneiros que descreveram a técnica e os benefícios do ventilação não invasiva ficou entre 12 e 17 horas, até a
uso da ventilação com pressão positiva oferecida por normalização de pH e redução da PCO2. Foram demons-
meio de uma máscara. tradas também redução da frequência respiratória e
A década de 1960 trouxe novos horizontes para melhora da oximetria de pulso, que foi continuamente
a ventilação mecânica não invasiva. A utilização dos monitorizada.
conhecimentos de mecânica desenvolvidos durante
a Segunda Guerra Mundial, os avanços tecnológicos,
principalmente da eletrônica, e a incorporação de mi- Breve Histórico da VNI
croprocessadores tornaram os ventiladores artificiais
mais sofisticados, confiáveis e acessíveis. em Pediatria
A experiência com o uso de cânulas de traqueos- „„ Década de 1970: Diversos trabalhos sobre
tomia e com tubos orotraqueais tornou a utilização CPAP em neonatos (Galvis e Benson, 1973);
dessas próteses o procedimento padrão para a ventila-
„„ 1990: Baydur et al. publicaram trabalho sobre
ção mecânica. Porém não tardaram a surgir as descri-
o uso da VNI em crianças com distrofia muscu-
ções de complicações diretamente relacionadas ao uso
lar de Duchenne;
das mesmas. Hoje o grande número de complicações
decorrentes da ventilação mecânica invasiva, como a „„ 1995: Fauroux et al. descreveram sobre VNI
pneumonia nosocomial e a lesão pulmonar induzida em crianças com mucoviscidose;
pela ventilação mecânica, determinou o principal im- „„ 1998: Padman et al. (Crit. Care) publicaram um
pulso para o desenvolvimento de estudos sobre o uso estudo de coorte prospectiva demonstrando
da ventilação não invasiva. benefícios da VNI em crianças com insuficiên-
A ventilação não invasiva promove diversos be- cia respiratória aguda;
nefícios e vantagens: menor custo para o tratamento „„ 2000: Schweiz et al. realizaram revisão assiste-
da insuficiência respiratória aguda, o uso intermitente mática sobre VNI em crianças com insuficiên-
possibilita maior interação paciente-família-equipe, fa- cia respiratória aguda.
cilita o desmame e reduz os riscos e complicações da
IOT como a pneumonia associada à ventilação mecâ-
nica (PAV) e a lesão pulmonar induzida pela ventilação
(LPIV).
Princípios fisiológicos
A ventilação não invasiva tem se mostrado efe-
tiva em pacientes com insuficiência respiratória aguda, Mecânica da ventilação
principalmente em casos de edema pulmonar e exacer- A ventilação normal é uma atividade cíclica que
bações agudas de doença pulmonar obstrutiva crônica. possui duas fases: inspiração e expiração. Durante cada
Em recente ensaio clínico randomizado Soroksky et al. ciclo um volume de gás se move para dentro e para
(2003) demonstraram que em determinados pacientes fora do trato respiratório. Esse volume, mensurado seja
com crise de asma grave a VNI melhora a função pulmo- durante a inspiração ou durante a expiração, é deno-
nar, promove alívio rápido do desconforto respiratório, minado volume corrente ou Vt. O Vt normal remove o
além de reduzir também o número de internações. Esse dióxido de carbono e fornece oxigênio para suprir as
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

necessidades metabólicas. Deve haver reservas sufi- a evolução da crise de asma, uma progressiva diminui-
cientes para responder aos aumentos das demandas ção do volume corrente. Nessa tentativa de compen-
ventilatórias, como durante o exercício. sação, visando manter o mesmo volume minuto, essas
A capacidade vital (CV) e suas subdivisões forne- crianças com crise de asma grave também aumentam
cem as reservas necessárias para a ventilação aumenta- sua frequência respiratória, hiperventilando áreas não
da (Tabela 10.1). obstruídas.
A complacência e a resistência pulmonar e torá- O comprometimento pulmonar de crianças com
cica criam a carga contra a qual os músculos respirató- crise de asma grave não se dá de maneira homogênea.
rios trabalham para ventilar os pulmões. Nos pulmões Existem áreas parcialmente obstruídas e, portanto, par-
sadios esse trabalho é realizado durante a fase inspira- cialmente ventiladas. Nessas áreas, durante a inspira-
tória, sendo a expiração uma manobra passiva. ção, por tração da caixa torácica, aumenta o diâmetro
da via aérea, permitindo uma pequena entrada de ar.
Entretanto, durante a expiração, quando cessa a tração
Diferenças de pressão durante a da caixa torácica, ocorre diminuição da via aérea, difi-
respiração cultando a saída de ar dos alvéolos e gerando aumento
da capacidade residual funcional e enfisema (áreas de
A ventilação ocorre em resposta aos gradientes
hipoventilação). São vistas ainda áreas com obstrução
de pressão criados pela expansão e contração torácicas.
completa (atelectásicas), que não são ventiladas e apre-
A diferença entre duas pressões é denominada gra-
sentam efeito shunt. Por outro lado, existem áreas ainda
diente de pressão. Existem três gradientes de pressão
não comprometidas que são hiperventiladas e que são
importantes envolvidos na ventilação: (1) transrespira-
comprometidas no sentido de compensar a hipoxemia
tório, (2) transpulmonar e (3) transtorácico. O gradiente
e tentar manter o volume minuto. O produto final desse
transrespiratório faz com que o gás flua para dentro e
desarranjo na relação ventilação/perfusão manifesta-se
para fora dos alvéolos durante a respiração. O gradiente
por meio de hipoxemia acompanhada de níveis variá-
de pressão transpulmonar é a diferença de pressão que
veis de pCO2, dependendo da predominância de áreas
mantém a insuflação alveolar.
hipoventiladas ou de atelectasias.
À medida que progride a obstrução e piora a hi-
Alterações na relação V/Q na criança poxemia, ocorre um aumento progressivo do trabalho
com insuficiência respiratória aguda e a muscular, podendo ser observada acidose metabólica,
a qual poderá associar-se a possível retenção de CO2
ação da VNI (IRA Tipo II) e levar a acidose mista, que tem um prog-
Até os 5 anos de idade, a resistência das vias aé- nóstico pior e exige medidas mais agressivas.
reas está quase exclusivamente relacionada ao diminu- A ventilação não invasiva com pressão positiva
to diâmetro das pequenas vias aéreas inferiores. Assim, por meio de máscara age auxiliando a respiração, à me-
em situações de broncoespasmo, edema de mucosa e dida que diminui o trabalho respiratório e mantém tro-
hipersecreção há um aumento exagerado dessa resis- cas gasosas adequadas. Esse modo de ventilação vem
tência ao fluxo aéreo. Para manter o volume corrente é sendo cada vez mais utilizado, na tentativa de se reduzir
necessário que a criança produza uma grande pressão o número de intubações e suas graves complicações.
negativa intratorácica, por meio do aumento da utiliza-
ção da musculatura acessória. À medida que evolui o
quadro obstrutivo, ocorre uma progressiva diminuição
do volume corrente. Muitas vezes, apesar de todo o es-
Vantagens da VNI
forço da criança em gerar grandes pressões inspirató-
rias negativas e compensar a insuficiência respiratória, Não invasividade
esse mecanismo falha em razão da maior complacên- A ventilação por meio de uma máscara é fácil
cia torácica, da fadiga muscular ou do fluxo turbulento de se iniciar e suspender. Numa situação aguda, con-
nas vias aéreas. Como consequência, observa-se, com some menos tempo do que a intubação e evita as

Tabela 10.1:

Volume Inspiratório de
reserva (VIR) Capacidade inspiratória (CI) Capacidade vital (CV)
Capacidade Pulmonar Total Volume corrente (Vt)
(CPT) Volume expiratório de reserva
(VER) Capacidade residual funcional
Volume residual (VR)
(CRF)
Volume residual (VR)

70
A Utilização da Ventilação Não Invasiva na UTI Pediátrica

complicações associadas à colocação de um tubo en- para VNI, que são aparelhos muito mais baratos quando
dotraqueal. A natureza invasiva da intubação endo- comparados com os respiradores microprocessados de
traqueal é o motivo principal utilizado para justificar a ventilação mecânica invasiva.
postergação do início da ventilação mecânica até está-
gios mais avançados de insuficiência respiratória aguda.
Desvantagens e complicações
Diminuição do desconforto respiratório da VNI
A dor resultante da presença da sonda endotra-
queal na cavidade oral é a principal fonte de descon- Distensão gástrica
forto em pacientes intubados. Além disso, a intubação A distensão gástrica é uma ocorrência rara em
endotraqueal impede que o paciente fale. A falta de co- pacientes tratados com VNI. Isso acontece porque para
municação com parentes e profissionais da área de saú- abrir o esfíncter esofagiano inferior é necessária uma
de é frustrante pela incapacidade de verbalizar, o que pressão superior a 33 +/- 12 mmHg. As crianças teori-
prejudica a capacidade de cooperar. camente estariam protegidas de distensão gástrica im-
portante com pressões de até 25 mmHg.
Redução da incidência de complicações
Pneumonia nosocomial é uma complicação fre- Necrose de pele facial
quente de ventilação mecânica e fator importante de O desenvolvimento de necrose de pele no local
prognóstico de mortalidade. A intubação traqueal pro- de contato da máscara é a complicação mais comum de
voca um curto-circuito nas defesas de barreira das vias VNI, com uma incidência aproximada de 10%. Dentre os
aéreas, prejudica a depuração mucociliar, resulta em fatores que contribuem para necrose de pele se destaca
descamação das células epiteliais, levando a maior ade- a hipóxia tecidual pela pressão da máscara. A utilização
rência bacteriana e colonização traqueal. Além disso, de proteção no local de adaptação da máscara pode
serve como um caminho para os microrganismos entra- evitar a necrose.
rem na árvore traqueobrônquica.
Várias complicações laríngeas, faríngeas e tra-
queais são causadas pelas sondas endotraqueais. Essas Modos ventilatórios mais
complicações podem ocorrer no momento da intuba-
ção (tentativa prolongada de intubação do brônquio utilizados
fonte direito, hipotensão arterial, lesão das vias aéreas),
durante o período da intubação (disfunção mecânica BIPAP (Bilevel positive airway pressure)
do tubo endotraqueal, escape do cuff, ulceração larín- É um modo ventilatório que utiliza dois níveis
gea), e após remoção da sonda endotraqueal (estridor de pressão, uma pressão inspiratória (IPAP -inspiratory
pela obstrução das vias aéreas superiores, rouquidão, positive airway) e uma pressão expiratória (EPAP - ex-
dificuldade para deglutição na traqueia). piratory positive airway pressure), sendo IPAP > EPAP,
A sinusite é uma causa frequente de febre sem ocorrendo, entretanto, a pressão positiva nos dois ci-
foco aparente e de bacteremia em pacientes sob venti- clos da ventilação.
lação mecânica. O risco está relacionado com a presença Existem poucos estudos avaliando o uso da VNI
de tubos na nasofaringe e com a duração da ventilação, na população pediátrica, porém seu uso vem crescen-
podendo, então, ser minimizado pela VNI. do, e em 1995 Fortenberry publicou um estudo retros-
pectivo em que 28 crianças entre 4 meses e 17 anos,
idade média de 8 anos, foram submetidas a VNI no
Menor uso de sedação modo BIPAP por um período médio de 72 horas. Foram
Para que o paciente permaneça em VNI com más- avaliadas variáveis clínicas e laboratoriais, houve redu-
cara ou pronga nasal, muitas vezes ele nem precisa de ção significativa na frequência respiratória, melhora na
sedação. As crianças muito pequenas ou aquelas que oximetria de pulso e da hemogasometria. Apenas três
não colaboram precisam ser sedadas, porém a quanti- pacientes necessitaram de intubação.
dade de sedação necessária é menor do que a utilizada Em 1998 Padman publicou um estudo clínico
durante a ventilação invasiva. prospectivo no qual 34 pacientes com insuficiência res-
piratória, entre 6 meses e 20 anos, foram submetidos a
ventilação não invasiva via bilevel positive airway pres-
Menor custo para o tratamento da
sure. O trabalho demonstrou uma redução na frequên-
insuficiência respiratória cia respiratória, na frequência cardíaca e no escore de
Atualmente muitas empresas estão cada vez mais dispneia, além de melhorar a oxigenação e reduzir a fre-
investindo na produção de ventiladores específicos quência de intubação.

71
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

CPAP Pronga nasal


(Continuous positive airway pressure) Mais utilizada em neonatos, e lactentes peque-
Modalidade de VNI em que a pressão positiva nos. É importante estar atento à escolha do tamanho
na via aérea se mantém constante durante todo o ciclo adequado para evitar escapes e/ou lesão de septo na-
respiratório. sal. A boca da criança deve ser cuidadosamente manti-
da fechada para que não haja escape, impossibilitando
a ventilação adequada (Figura 10.3).
Interfaces
A escolha do tipo e do tamanho, bem como a
adaptação das interfaces, é de fundamental importân-
cia para o sucesso da ventilação não invasiva. Crianças
toleram melhor a máscara nasal. Tanto as máscaras
quanto as prongas são comercializadas em diversos
tamanhos. Os tipos de interfaces mais utilizados em
Pediatria são as máscaras facial e nasal e a pronga nasal.

Máscara facial
Tipo de máscara que envolve nariz e boca e ofe-
rece menor resistência ao fluxo de ar, permitindo uma
melhor ventilação. Tem a desvantagem de facilitar a dis- Figura 10.3: Pronga nasal.
tensão abdominal e aumentar o risco de broncoaspira-
ção (Figura 10.1).

Ventiladores
A ventilação não invasiva pode ser feita em qual-
quer tipo de ventilador artificial. Porém existem venti-
ladores exclusivos para VNI, que, além de serem mais
baratos, dispõem de mecanismos compensatórios ao
escape de ar pela máscara.
Existem limitações quanto ao uso dos ventilado-
res exclusivos para VNI. São elas:
„„ Circuito inspiratório e expiratório único pro-
porcionando reinalação de CO2.
„„ Imprecisão no ajuste da fração inspirada de
Figura 10.1: Máscara facial. oxigênio.
„„ Opções reduzidas de alarme.

Máscara Nasal
Mais confortável, facilita a fala e a comunicação. Cuidados e monitorização
Por não envolver cavidade oral, minimiza os riscos de
broncoaspiração (Figura 10.2). A monitorização constante da criança em ventila-
ção não invasiva é indispensável para o sucesso da mes-
ma, por isso toda a equipe deve estar integrada nesse
propósito.
É importante explicar ao paciente e/ou à família
em que consiste o tratamento, quais os objetivos que
se pretende atingir e sobretudo motivá-los a colaborar,
mostrando que a sua adaptação e tolerância são funda-
mentais para o sucesso terapêutico.
Antes de iniciar a VNI, devemos posicionar a crian-
ça confortavelmente, elevando sempre a cabeceira, a
fim de facilitar a expansão pulmonar. Iniciada a venti-
Figura 10.2: Máscara nasal. lação, dados devem ser constantemente monitorizados

72
A Utilização da Ventilação Não Invasiva na UTI Pediátrica

para que alterações sejam detectadas e complicações Os níveis de pressão devem ser progressivamen-
sejam prevenidas. Esses dados são: te ajustados de acordo com a adaptação, a tolerância
„„ Frequência respiratória e a monitorização da criança. Níveis mínimos de pres-
„„ Frequência cardíaca são devem ser considerados, e gradativamente eleva-
dos em 2 cm H2O até limites que promovam ventilação
„„ Consciência
adequada.
„„ Saturação de oxigênio (oximetria de pulso)
A IOT não deve ser retardada quando o suporte
„„ Ausculta pulmonar ventilatório não invasivo não estiver sendo efetivo.
„„ Expansibilidade torácica
„„ Padrão muscular ventilatório e uso de muscu-
latura acessória Exames de controle
„„ Volume corrente (quando possível)
„„ PAM RX de Tórax
De acordo com a rotina de cada serviço, e acima
Alguns cuidados mais específicos da equipe de de tudo de acordo com a necessidade e a clínica do pa-
enfermagem devem ser levados em consideração: ciente submetido à ventilação não invasiva, este deve
„„ Vigiar integridade da pele nas zonas de conta- ser submetido a exame de RX de tórax pelo menos a
to com a máscara cada 24 horas. Esse tempo deve ser reduzido em casos
de piora clínica, como aumento da frequência respirató-
„„ Aplicar protetores adesivos hidrocoloides
ria, taquicardia, dessaturação.
nos locais de maior pressão, normalmente no
nariz.
„„ Vigiar secura excessiva das mucosas, Hemogasometria
hidratando-as. Assim como o RX, o controle de gases sanguíneos
„„ Vigiar distensão gástrica e a necessidade de é de fundamental importância na avaliação e evolução
SNG. da criança em VNI. Uma coleta de hemogasometria
„„ Vigiar a quantidade de secreções e a capacida- deve ser feita a cada 12 horas, ou sempre que ocorra
de da criança em expeli-las. alteração do quadro clínico que indique piora súbita.

Bibliografia
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Anaesthesia 1996; 6:219-24.
4. Malinowski C; Wilson B. Terapia respiratória neonatal e pediátrica. In: Fundamentos da terapia respiratória de Egan.
7.ed. Manole: São Paulo, 2000. Cap.43, p.1043.
5. Olugbenga AA. Noninvasive positive-pressure ventilation in pediatric status asthmaticus. Pediatr Crit Care Med 2002;
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93(10):954-61.

73
Monitorização Respiratória 11
em Ventilação Mecânica

Jefferson P. Piva
Patrícia Miranda Lago
Celso Rebelo

Introdução complacência pulmonar dinâmica e resistência das vias


aéreas) e curvas fluxo-tempo, pressão-tempo, fluxo-vo-
O melhor método de monitorização da criança lume e pressão-volume, como veremos a seguir.
submetida a ventilação mecânica (VM) ainda é o con-
trole clínico. É fundamental identificar precocemente as
alterações da mecânica respiratória e, quando necessá- RX de Tórax
rio, corrigi-las. O intensivista pediátrico e neonatal deve O RX de tórax é o principal exame de imagem em-
estar atento a qualquer modificação na forma e simetria pregado na prática diária para avaliar crianças em ven-
do tórax e na presença de sinais de dificuldade respi- tilação mecânica. A alteração radiológica identificada
ratórias (cianose, tiragem, batimentos de asa de nariz, com mais frequência é a posição inadequada do tubo
utilização de musculatura acessória e retrações, entre endotraqueal. Além de definir a posição do tubo tra-
outras), utilizando muitas vezes os escores clínicos para queal, identifica precocemente complicações grosseiras
avaliação de gravidade.1 da ventilação mecânica como hiperexpansão/hipoex-
A inspeção e a ausculta pulmonar são ferramen- pansão pulmonar, pneumotórax, enfisema intersticial
tas importantes na avaliação do paciente em VM, pois e mediastinal, edema pulmonar, pneumonias, atelecta-
fornecem informações sobre a simetria da ventilação, sias e alterações (melhora ou piora) da doença respira-
a identificação e distribuição dos tempos respiratórios tória de base (p. ex.: reexpansão de área atelectásica).4
e a identificação de sinais sugestivos de afecções de A frequência com que se deve solicitar o RX de
vias aéreas, do parênquima pulmonar ou do espaço tórax, em pacientes submetidos a VM ainda permane-
pleural.1 Complementares ao exame clínico, as formas ce controversa. Vários estudos têm demonstrado que a
de monitorização mais frequentemente empregadas antiga prática de realizar rotineiramente radiografia diá-
em UTIP e UTINeo são o RX de tórax, a gasometria ar- ria não tem suporte científico e tampouco oferece reais
terial, a oximetria de pulso, a capnografia e a avalia- vantagem no tratamento do paciente em VM. Apesar
ção da mecânica respiratória por meio das curvas de de as alterações diagnosticadas pelo estudo radiológi-
fluxo-volume-pressão.2,3 co serem frequentes (ao redor de 25%), a necessidade
Na última década foi observado um intenso avan- de mudanças na conduta ocorre em menos de 5% dos
ço tecnológico nos ventiladores disponíveis para uso casos. Recomenda-se que o RX de tórax seja realizado
pediátrico e neonatal, baseado no desenvolvimento de imediatamente após a intubação e repetido de acor-
recursos eletrônicos e de computação que permitiram do com suspeitas clínicas ou após alguma intervenção
uma maior sensibilidade na determinação dos fluxos (retirada de dreno torácico, por exemplo), assim como
inspiratório e expiratório no circuito do ventilador. para confirmar a evolução da doença. Em pacientes
Esse fato não apenas permitiu o desenvolvimento com ventilação prolongada, sugere-se que o controle
de novos modos de ventilação iniciados ou modulados radiológico inclua, além da placa anteroposterior, uma
pelo paciente, como também resultou na possibilida- placa de perfil, onde será possível identificar atelecta-
de de se monitorizar a mecânica respiratória, mesmo sias, consolidações e/ou edema em áreas pulmonares
em prematuros pequenos. Hoje é comum a disponibi- dependentes (geralmente posteriores e basais). O RX no
lidade de ventiladores com informações sobre a me- leito é um exame de fácil execução, porém não comple-
cânica respiratória (volume corrente, volume minuto, tamente inócuo ao paciente.5,6,7 A exposição repetida a
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

radiação em crianças pode representar o equivalente a 3. A amostra deve ser etiquetada com a identi-
algumas sessões de radioterapia. ficação completa, a hora da coleta, a tempe-
ratura do paciente e a FiO2 que estava sendo
utilizada.
Gasometria e Equilíbrio acidobásico
4. A análise deve ser feita no máximo 10 minutos
A gasometria arterial é um exame fundamental
depois da coleta ou ser mantida resfriada a até
na monitorização do paciente em ventilação mecânica.
0-4 °C por não mais que 30 minutos.
Permite avaliar a eficácia das trocas gasosas e o seu efei-
to no metabolismo.8 Deve-se, porém, ressaltar que for- 5. Antes de aceitar o resultado como válido, es-
nece dados intermitentes, podendo induzir a erros na pecialmente no caso de não coincidir com a si-
presença de mudanças bruscas.2 tuação clínica do paciente, deve-se considerar
Os controles gasométricos podem ser realizados a possibilidade de algum erro na coleta ou na
de maneira intermitente (análise de amostras sanguí- técnica de realização do exame.
neas isoladas) ou contínua. A monitorização contínua
invasiva através de cateter arterial com sensor de fibra
óptica é menos empregada por ser onerosa e com dis- Interpretação da gasometria
cutível aplicabilidade em Pediatria. Teria como vanta- A interpretação da gasometria deve ser realiza-
gem a diminuição do número de coletas, sendo útil em da obedecendo a uma sequência (oxigenação, ventila-
situações que requerem coletas seriadas, como PO de
ção e equilíbrio acidobásico) e sabendo que os dados
cirurgia cardíaca, ECMO e SDRA.8
obtidos de uma amostra de sangue apenas refletem o
A artéria radial é a mais utilizada para coletas de estado do paciente no momento da coleta, já que es-
gasometria arterial, em razão de suas características ses valores podem mudar de maneira significativa em
anatômicas: ser superficial, ter um bom calibre e formar muito pouco tempo. Por essa razão, os resultados en-
um arco com a artéria cubital, o que evita fenômenos contrados nunca devem ser avaliados isoladamente,
de isquemia distal. Também, têm-se utilizado as artérias fora do contexto da situação clínica do paciente, dos
umbilical e temporal no recém-nascido e no lacten- parâmetros respiratórios, da situação circulatória e de
te pequeno, assim como a artéria femoral na criança outros dados de monitorização. É importante salientar
maior. As principais complicações da coleta são a dor, o
que os aparelhos analisadores de gases somente me-
vasoespasmo, a formação de trombos, a hemorragia e a
dem de maneira direta o pH, a PaO2 e a PaCO2, os outros
infecção local.1
parâmetros (saturação de oxigênio, HCO3 e excesso de
A coleta por capilares tem a vantagem de ser de bases) são calculados.8 (Tabela 11.1)
fácil obtenção, com retirada de pequeno volume de
sangue e com pequeno risco. Em algumas situações o
resultado pode diferir muito daquele obtido pela coleta Tabela 11.1: Interpretação da gasometria a partir do sangue
por punção, já que a compressão exercida para drenar Venosa Arterial Variação Acidose Alcalose
o sangue capilar pode produzir hemólise com elevação
do potássio. É útil em crianças pequenas, em situações pH 7,35-7,38 7,4 7,35-7,45 < 7,35 > 7,45
críticas, quando a coleta é extremamente difícil. pCO2
~45 40 35-45 > 45 < 35
(mmHg)
A amostra de sangue venoso periférico ser-
ve para avaliar o equilíbrio acidobásico e, de maneira HCO3
19-23 24 20-24 < 20 > 24
aproximada, o estado da ventilação, proporcionando (mEq/L)
pouca informação sobre a oxigenação. Por outro lado,
as amostras de sangue venoso misto obtidas na artéria
pulmonar ou no cateter venoso central podem ser úteis Avaliação da oxigenação
na avaliação dos quadros respiratório, metabólico e cir- A respiração se inicia no meio externo (entra-
culatório do paciente.2
da de ar nos pulmões), segue pela interface pulmonar
No momento da coleta de gasometria alguns cui- (trocas gasosas) e transporte de oxigênio aos tecidos
dados devem ser tomados:2 (dependente do débito cardíaco, da saturação da he-
1. As seringas para coleta devem ser hepariniza- moglobina, do oxigênio dissolvido e da perfusão teci-
das com heparina sólida, já que a líquida pode dual), vindo a finalizar nas mitocôndrias (extração de
diluir a amostra, levando a erros. oxigênio) para atender ao metabolismo celular. A ga-
2. Após a coleta sanguínea, devem ser elimina- sometria arterial permite avaliar parte desse processo.
das as bolhas da seringa e esta deve ser ve- Para avaliar a oferta de oxigênio aos tecidos é necessá-
dada e invertida várias vezes a fim de diluir a rio conhecer a oxigenação do sangue arterial e venosa
heparina, para tornar a mistura homogênea. mista, o gasto cardíaco e a perfusão orgânica específica.

76
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica

O estado de oxigenação pode ser avaliado pe- Imaginemos um paciente recebendo uma FiO2
los valores da pressão arterial de oxigênio (PaO2), que de 0,40 e que apresente uma gasometria com uma
refletem a captação de oxigênio pelos pulmões, e pela PaO2 de 100 mmHg. Nesse caso, aplicando a fórmula
saturação arterial da hemglobina (SatO2), que indica observa-se que sua PaO2 deveria situar-se ao redor de
a capacidade de transporte de oxigênio pela hemo- 235 mmHg [(0,4 x713)- (40/0,8)]. Logo, uma PaO2 de 100
globina. A PaO2 representa a pequena quantidade de mmHg representa um mau resultado, pois seu gradien-
oxigênio que está dissolvida no plasma (0,003 mL/ te alveoloarterial [D(A-a)O2] está muito elevado (ao re-
litro), sendo expressa em mmHg, enquanto a maior dor de 135 mmHg!).
parte do oxigênio é transportada através da hemoglo- Assim, pacientes em VM devem ter sua PaO2 ava-
bina (1,34 mL por grama de hemoglobina saturada a liada sempre levando em consideração a PaO2. Uma
100%). Respirando ar ambiente (FiO2 = 0,21) ao nível maneira aproximada (portanto não exata!) de estimar
do mar, a PaO2 oscila entre 60 e 100 mmHg. Hipoxemia a PaO2 é multiplicar por 5 a percentagem de oxigênio
é definida como uma PaO2 inferior a 60 mmHg ou uma inspirada e, a partir daí, estimar o gradiente.
saturação de hemoglobina inferior a 90%, indepen-
dentemente da FiO2.
Os parâmetros mais úteis para avaliar a oxigena-
Relação PaO2/FiO2
ção são: a PaO2, a saturação da hemoglobina, a diferen- Em condições normais essa relação deve ser su-
ça alveoloarterial de oxigênio [D(A-a)O2], a relação entre perior a 350 mmHg. Quando seu valor for inferior a 300
a PaO2 e a fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2), a mmHg é definido que há hipoxemia secundária a lesão
PaCO2 para analisar a ventilação, estimar o shunt pulmo- pulmonar; entretanto, se for inferior a 200 o comprome-
nar (Qs/ Qt) e o pH associado ao excesso de bases para timento pulmonar é considerado grave. A atual defini-
controlar o equilíbrio acidobásico.8 ção de SDRA requer uma relação igual ou inferior a 200.
É um parâmetro útil e sensível para avaliar a oxigena-
ção, porém tem o inconveniente de não valorizar a in-
PaO2 fluência de outros parâmetros utilizados na assistência
É o principal indicador da captação de oxigê- respiratória (PIP, PEEP, por exemplo).
nio nos pulmões. Seu valor normal está entre 60 e 100
mmHg, sendo cada vez mais aceitáveis valores ao re-
Índice de oxigenação
dor de 60 mmHg em pacientes submetidos a VM. A
hipoxemia é considerada moderada quando abaixo Uma maneira muito mais precisa e adequada de
de 60 mmHg e definida como crítica quando inferior a avaliar a PaO2 em pacientes submetidos a VM é relacio-
45 mmHg. A hipóxia (acidose lática resultante de me- ná-la com a pressão média de vias aéreas (MAP) e a FiO2.
tabolismo anaeróbico) é a complicação mais temida. Essas variáveis foram agrupadas na fórmula do índice
Assim, hipoxemia sem hipóxia associada pode ser tole- de oxigenação [(MAP x FiO2)/PaO2] x 100. Idealmente,
rada em pacientes submetidos a VM. O maior exemplo nesse grupo de pacientes, deveria haver uma fórmula
dessa eventualidade são os pacientes com cardiopa- que contemplasse também os valores da pressão expi-
tia cianótica que mantêm seu metabolismo aeróbico ratória positiva final (PEEP).
(sem acidose associada) mesmo com PaO2 muito bai-
xas. A leitura isolada da PaO2 não oferece grandes in- Saturação arterial de hemoglobina
formações, visto que existe uma relação direta entre
ela e a FiO2.
(Sat O2)
Mede a porcentagem de hemoglobina oxige-
nada (O2Hb) em relação com a hemoglobina total.
Gradiente alvéolo-arterial de oxigênio: Considera-se normal entre 95 e 99 %, sendo aceitável
D(A-a)O2 entre 90 e 95 %. Por definição, hipoxemia é referida
como valores inferiores a 90%, enquanto a hipoxemia
A D(A-a)O2 expressa a diferença de entre a PaO2 e
grave fica abaixo de 85%.
a pressão alveolar de oxigênio (PAO2), que oscila entre
5 e 20 mmHg. Essa diferença reflete a parcela de san- A maior quantidade de oxigênio é transportada
gue que retorna ao coração esquerdo e que não tomou ligada à hemoglobina (1,34 mL por grama de hemo-
parte na oxigenação capilar pulmonar. Conhecendo-se globina). A SatO2 depende da PaO2, da concentração
a FiO2 é possível estimar a PaO2 por meio da seguinte de hemoglobina, da presença de outras hemoglobinas
fórmula: não oxigenadas e da afinidade da hemoglobina pelo
oxigênio, avaliada por meio da curva de dissociação da
PAO2= FiO2 x (pressão atmosférica – pressão do
hemoglobina. Em condições normais uma saturação de
vapor de água) – pCO2 / 0,8
50% corresponde a uma PaO2 de 28 mmHg (ver Figura
em que PaO2= FiO2 x (760-47) – pCO2/0,8 11.1), enquanto uma saturação de 90% corresponde a
em que PaO2= FiO2 x (713) – pCO2/0,8 uma PaO2 de 60 mmHg, e uma saturação de 60%, a uma

77
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

PaO2 de 30 mmHg. Esses valores podem ser maiores ou =(Hb x1,36x SaO2) + PaO2 x 0,0031
menores dependendo da afinidade da hemoglobin, CvO2 = Conteúdo de O2 no sangue venoso, que
que se altera em função do pH, da PCO2 e da tempera- seria calculado por meio de:
tura corpórea, entre outros.
=(Hb x1,36x SvO2) + PvO2 x 0,0031
Deve-se ressaltar que a saturação da hemoglo-
No paciente submetido a VM o shunt intrapulmo-
bina é inadequada para avaliar e monitorizar PaO2 ele-
nar pode ser estimado utilizando FiO2 a 100%, durante
vadas. Uma diferença na saturação de 1% (de 98 para
20 minutos, com o emprego da seguinte fórmula:
99%) pode representar uma diferença superior a 150
mmHg na PaO2. Q’S/ Q’T = 100[(D(A-a)1O2 x 0,0031) / (CaO2 - CvO2)
+ D(A-a) 1O2 x 0,0031]
em que: D(A-a) 1O2 é a diferença alveoloarterial de
oxigênio a 100%.

Avaliação da Ventilação
A pressão arterial de CO2 (PaCO2) é o parâmetro
que melhor define a ventilação pulmonar, e depende
diretamente da produção de CO2 e inversamente da
ventilação alveolar. Quando a ventilação é normal, a
PaCO2 se mantém ao redor de 40 mmHg. Se a PaCO2
for inferior a 35 mmHg se considera hiperventilação
ou hipocapnia; por outro lado, quando supera os 45
mmHg chamamos de hipoventilação ou hipercap-
nia. A hipercapnia pode ser moderada (entre 45 e 60
mmHg), grave (entre 60 e 80 mmHg) ou crítica (acima
de 80 mmHg). A PaCO2 influencia o pH sanguíneo, pois
para cada aumento de 10 mmHg na PaCO2 ocorre uma
redução de 0,08 no pH (e vice-versa). Quando as altera-
ções na PaCO2 ocorrem de maneira lenta, o organismo
tem tempo de realizar a sua compensação (retendo ou
eliminando bicarbonato).
Em algumas doenças pulmonares, para minimi-
Figura 11.1: Representação esquemática da relação entre zar a agressão pulmonar induzida pela ventilação me-
a saturação arterial da hemoglobina, a respectiva PaO2 e os cânica, se admitem valores de PaCO2 superiores a 80
fatores que aumentam e diminuem a sua afinidade. mmHg (hipercapnia permissiva), mantendo um pH de
7,20-7,25.9
Além de avaliar a ventilação alveolar, a medida da
Curto-circuito arteriovenoso pulmonar PCO2 em pacientes submetidos a VM pode ser empre-
gada para avaliar o espaço morto fisiológico (VD / VT),
(shunt pulmonar Q’S / Q’T) utilizando a seguinte fórmula:
É a porcentagem de sangue venoso que não se
VD / VT = (PaCO2 – PECO2) / PaCO2
oxigena durante sua passagem através dos capilares
pulmonares. Para calcular são necessárias uma amostra em que PECO2 é a medida do CO2 no gás expirado.
de sangue arterial e outra de sangue venoso misto (de
artéria pulmonar). É calculada como a relação entre as
diferenças de conteúdo do oxigênio alveoloarterial e Equilibrio Acidobásico
do arteriovenoso. Normalmente o shunt intrapulmonar O pH é o logaritmo negativo da concentração
oscila entre 5% e 7%. Na SDRA observa-se um shunt su- de hidrogênio [H+] livre. Os três elementos principais
perior a 15%, considerado muito grave quando supe- do equilíbrio acidobásico são o pH, a PaCO2 (regulada
rior a 20%, e pode ser estimado por meio da seguinte pela ventilação pulmonar, componente respiratório) e
fórmula: a concentração de HCO no plasma (regulada pelo rim,
O Q’S/ Q’T = (Cideal – CaO2) / (Cideal – CvO2) componente metabólico). Para manter estável o pH, a
em que: Cideal= Conteúdo arterial ideal de O2 PaCO2 e o HCO3 devem estar compensados. Esses três
Cao2 = Conteúdo de O2 no sangue arterial, que elementos se inter-relacionam segundo a fórmula:
seria calculado por meio de: pH = 6,1 + log HCO3/PaCO2.

78
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica

O funcionamento normal de muitos processos de oxigênio das hemoglobinas funcionantes, utilizan-


metabólicos requer que o pH se encontre dentro de do dois emissores de luz como fontes luminosas e um
um limite relativamente pequeno. Apesar de o núme- detector de luz. Os sensores ficam localizados frente a
ro de hidrogênios líquidos corporais ser enorme, ele se frente nos dois lados de uma artéria.11
encontra neutralizado por tampões, sendo o bicarbo- As principais vantagens da oximetria de pul-
nato o mais importante. Esses tampões representam a so são a não invasividade da monitorização, o caráter
primeira linha de proteção contra as variações de pH. contínuo, possibilitando o registro gráfico, a simplicida-
Sem dúvida, quando se produzem alterações bruscas de do método e a rapidez de sua resposta diante das
na produção de H+ os tampões não são capazes de so- modificações na oxigenação. A introdução da oximetria
zinhos manter o pH em níveis normais por muito tem- de pulso permite alterar as concentrações de oxigênio
po, devendo-se complementar seu efeito, em primeiro oferecido seguindo as necessidades de cada paciente,
lugar, por ajustes fisiológicos compensadores e depois diminuindo o número de gasometrias arteriais e evitan-
por correções definitivas pulmonares e renais.2 do os efeitos deletérios pulmonares de concentrações
Os mecanismos de compensação do pH são mais elevadas de FiO2. As desvantagens do método estão em
lentos do que os conseguidos pelos tampões, porém são detectar indistintamente todas as formas de hemoglo-
mais eficazes. Quando ocorre um transtorno metabóli- bina e a lesão de pele causada pelo eletrodo, sugerin-
co, o sistema respiratório atua como compensador (au- do-se que o local da monitorização seja trocado com
mentando ou diminuindo a eliminação de CO2), e, por frequência.
outro lado, os rins compensam os transtornos respira- O conceito de oximetria é fundamentado em três
tórios. Essas compensações minimizam as variações no princípios:12
pH, porém não são definitivas. A partir desse momento,
serão os rins os encarregados de corrigir os transtornos 1. Espectrofotometria: cada substância tem
metabólicos (eliminando H+ e recuperando bicarbona- um único espectro de absorção. A oxi-he-
to) e os pulmões, os transtornos respiratórios.8 moglobina absorve menos a luz vermelha e
mais a infravermelha do que a hemoglobina
O pH normal oscila entre 7,35 e 7,45. Quando in-
reduzida.
ferior a 7,35 é definido como acidose e quando superior
a 7,45, como alcalose. Nunca ocorre a “supercompensa- 2. Lei de Beer-Lambert: a absorção da luz, quan-
ção”, ou seja, o organismo corrige o fenômeno primário do passa através de um solvente não ab-
até o pH chegar próximo a 7,4, porém nunca “cruzando” sorvente, é proporcional à concentração do
ou ultrapassando esse valor. Portanto, para determinar soluto e ao comprimento do trajeto que a luz
o fenômeno primário, basta avaliar o valor obtido do pH tem que percorrer.
em relação ao pH ideal de 7,4 (se inferior, o fenômeno 3. Pletismografia: A razão entre as amplitudes
primário era uma acidose; se superior a 7,4 o fenômeno pletismográficas, nos comprimentos de ondas
primário era uma alcalose). vermelha e infravermelha, é usada para deter-
A gasometria não mede diretamente o bicarbo- minar a saturação do oxigênio pelo oxímetro
nato. Este é estimado por meio de uma equação entre de pulso.
o pH e a concentração de PaCO2. O excesso de base (EB) Apesar de ser um método de monitorização
é medido pela quantidade de HCO3 ou de ácido neces- confiável, existe uma série de situações que podem
sário no sangue para que a 37 °C, com uma PaCO2 de comprometer os achados da oximetria de pulso. É fun-
40 mmHg, se alcance um pH de 7,40 (seu valor normal damental que seja sempre feita uma correlação entre o
é -2 a +2 mEq/L). Para cada 10 mmHg modificados da valor de saturação encontrado e as condições clínicas
PaCO2 há uma alteração de 0,08 no pH, enquanto para do paciente para evitar erros de avaliação e condutas
cada 10 mEq/L modificados no HCO3 há uma alteração inadequadas.
de 0,15 no pH.10 Principais fatores que interferem na leitura da sa-
turação pela oximetria de pulso:

Métodos de monitorização não 1. Colocação do sensor. O emissor e o receptor


devem estar situados um em frente ao outro.
invasivos Os lugares mais habituais para sua colocação
em crianças são os dedos das mãos e dos pés e
Oximetria de pulso o lóbulo da orelha.
A oximetria de pulso (ou pulsioximetria) é uma 2. Alterações de fluxo arterial. Deve-se evitar que
técnica não invasiva de avaliar a SatO2 com base nas o sensor do oxímetro fique próximo a um ca-
propriedades de absorção espectrofotométricas da he- teter arterial ou no membro onde estiver colo-
moglobina. Para valores superiores a 70 % a sensibili- cado o manguito (cuff) do medidor de pressão
dade da técnica é de 96 %. O sensor mede a saturação arterial (PA).

79
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

3. Situações de má perfusão periférica, como em de gases sanguíneos e após correlacionar-se simulta-


hipotermia, hipotensão, baixo débito cardía- neamente ambos os valores e calcular seu gradiente.
co e vasoconstrição, prejudicam a leitura do Posteriormente pode utilizar-se apenas o CO2 expirado
aparelho. para efetuar o seguimento do paciente.
4. Os movimentos do paciente podem interferir Nos pacientes com um parênquima pulmonar
na leitura da oximetria. É importante assegu- normal e uma perfusão correta, a PetCO2 é um fiel refle-
rar-se que exista uma boa onda de pulso no xo da PaCO2, este gradiente normalmente é inferior a 5.
monitor para considerar que a medição da oxi- Nessas situações a capnografia diminui a necessidade
metria de pulso esteja correta. de gasometrias, é útil para diagnosticar hiperventilação
5. A meta-hemoglobina apresenta uma absorção ou hipoventilação e para detectar de maneira imediata
igual para a luz vermelha e a infravermelha; diversos problemas como extubação acidental ou tubo
com valores elevados de meta-hemoglobina a obstruído. Também pode ser utilizada para determinar
oximetria de pulso se situa em torno de 85%. a correta colocação do tubo endotraqueal após a intu-
bação endotraqueal.14
6. Modelos de aparelho: a exatidão dos diferen-
tes oxímetros de pulso pode variar segundo o Em pacientes com doenças pulmonares que têm
modelo utilizado. A aplicação de novas técni- uma distribuição desigual da ventilação o gradiente
cas, a utilização de filtros e o uso de diferentes aumenta de modo imprevisível para 10 a 20 mmHg ou
algoritmos de trabalho nos monitores atuais mais (refletindo troca gasosa ineficiente); por conse-
permitem minimizar os erros produzidos pelo guinte, a PetCO2 não reflete de modo confiável a PaCO2
movimento, frio ou situações de baixo débito, e mesmo quando aumentada pode estar subestimando
entre outras.13 a real situação do paciente. Nesses casos de alterações
extremas da relação ventilação perfusão a PetCO2 pode
ser utilizada apenas para detectar tendências.12
Capnografia A medida da PetCO2 é extremamente útil na clí-
O CO2 é produzido por metabolismo tissular e nica para orientar as modificações dos parâmetros de
transportado posteriormente pelo sangue aos pul- ventilação mecânica. É importante lembrar que:
mões, onde passa para o alvéolo, sendo depois exalado. 1. Uma PetCO2 baixa pode indicar hiperventila-
A concentração de CO2 ao final da expiração pode ser ção, hipotermia ou acidose metabólica.
considerada um fiel reflexo da PaCO2. A concentração
2. Uma PetCO2 alta pode indicar hipoventilação,
será invariavelmente menor que a arterial, apesar de
hipertermia ou alcalose metabólica.
que a diferença arterioalveolar de CO2 não é superior a
2-3 mmHg.11
O CO2 possui umas bandas de absorção caracte- Capnografia nas alterações ventilação-
rísticas, de grande intensidade, na região infraverme- perfusão
lha. Por essa razão é possível a sua medição contínua
Nas alterações da ventilação-perfusão secundá-
nos gases respiratórios. A medida do CO2 nos gases
rias a doença pulmonar (o ar não chega de maneira
respiratórios é um meio não invasivo que permite uma
correta aos alvéolos), da perfusão (o sangue não chega
monitorização contínua em tempo real da eliminação
adequadamente aos alvéolos para que os gases sejam
de CO2, porém necessita que os gases expirados não
trocados) ou em ambas simultaneamente, não se pro-
estejam contaminados, sendo mais útil nos pacientes
duz uma troca gasosa adequada. Nesse caso é arris-
intubados.
cado confiar apenas no CO2 expirado como reflexo da
A capnometria consiste na medida da concentra- PaCO2 arterial.11
ção do CO2 expirado. Atualmente dispomos de dois ti-
pos de medidores pelo método de raios infravermelhos:
os que medem o gás no mesmo circuito do respirador e Ventilação do espaço morto
os que aspiram a amostra para medi-la fora do circuito. Normalmente em cada inspiração existe uma
O segundo tipo tem o inconveniente de roubar parte parte do volume aéreo que não alcança as zonas de
dos volumes inspiratório e expiratório, o que pode ser troca gasosa: é o espaço morto anatômico. Este espa-
limitante no caso de bebês pequenos ou recém-nasci- ço é composto pelo gás que chega nas tubulações do
dos. Por outro lado, esse sistema tem a vantagem de po- respirador e nas vias aéreas. Nas alterações pulmonares
der ser utilizado com máscara ou diretamente no nariz. que produzem hipoperfusão pulmonar, como no trom-
Os sistemas para monitorização de CO2 que necessitam boembolismo pulmonar, na hipotensão grave, na para-
ser acoplados na saída do tubo podem acarretar um au- da cardíaca, na ventilação mecânica com pressões altas
mento no espaço morto.12 que produzem uma sobredistensão dos alvéolos com
No momento de iniciar a capnografia, deve-se compressão dos capilares adjacentes, ou no enfisema
realizar uma coleta de sangue arterial para medição grave, pode ocorrer o surgimento de um espaço morto

80
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica

alveolar, já que existem alvéolos ventilados porém não 1. Detectar respirações ineficazes e esforços ins-
perfundidos. A composição dos gases contidos nesses piratórios. Nas modalidades espontâneas, a
alvéolos será muito semelhante à do ar atmosférico, e capnografia pode detectar movimentos respi-
ao misturar-se com outros alvéolos que foram perfundi- ratórios que mobilizam unicamente o ar conti-
dos produzem uma concentração do CO2 total expirado do no espaço morto. Também pode identificar
muito inferior aos valores de CO2 arterial, aumentando o esforços respiratórios que não conseguem
gradiente PetCO2-PaCO2. O CO2 expirado pode chegar a abrir a válvula inspiratória e distinguir as ven-
zero em situações de parada cardíaca, e se houver uma tilações desencadeadas pelo ventilador das
reanimação efetiva a capnografia demonstrará um au- realizadas pela criança.
mento progressivo da PetCO2.15 2. Avaliar a frequência respiratória e o padrão
Tem sido sugerido que a capnografia pode ser ventilatório. Na ventilação espontânea serve
útil na escolha da melhor PEEP durante a ventilação para detectar a presença de pausas respirató-
mecânica. A hipótese é que a PEEP diminui o espaço rias prolongadas e/ou alterações de ritmo.
morto pelo recrutamento alveolar, enquanto a PEEP 3. Detectar situações de ventilação do espaço
elevada leva a hiperdistensão dos alvéolos, o que acar- morto ou shunt intrapulmonar mediante a
reta aumento do espaço morto. Portanto o gradiente é avaliação do PetCO2-PaCO2.
menor quando o recrutamento alveolar é máximo sem
hiperdistensão.11
Principais indicações da capnografia
1. Em situações normais do parênquima pulmo-
Ressuscitação Cardiopulmonar nar e de sua perfusão, se considera a PetCO2
A diminuição no débito cardíaco e do fluxo san- um reflexo fiel da arterial, o que permite dimi-
guíneo pulmonar durante a parada cardíaca resulta em nuir o número de gasometrias.
diminuição da eliminação do PetCO2 pelos pulmões e, 2. É muito útil na monitorização da intubação
consequentemente, em uma PetCO2 baixa. O sucesso da endotraqueal e no seguimento da retirada da
ressuscitação está em aumentar o débito cardíaco, que ventilação mecânica.
levará por sua vez a um aumento do PetCO2. A monito- 3. Na alteração da relação ventilação-perfusão
rização também serve para avaliar a eficácia das com- pode ser arriscado confiar apenas na pressão
pressões cardíacas externas durante a ressuscitação.15 de CO2 expirado como indicativa da arterial,
porém pode-se usar o gradiente e sua variação
como uma orientação evolutiva.
Shunt pulmonar
Em algumas doenças pulmonares (atelectasia,
bronconepumonia, síndrome do desconforto respi- OBTENÇÃO DE DADOS DA
ratório agudo, intubação bronquial seletiva) existem
alvéolos perfundidos, porém não ventilados. A ventila- MECÂNICA RESPIRATÓRIA
ção alveolar continua graças aos alvéolos saudáveis, os Todos os dados disponíveis na tela do ventilador
quais dão um valor médio de CO2 expirado ao redor de provêm de três variáveis básicas: fluxo, tempo e pressão
40 mmHg. A PetCO2, nessa situação é um reflexo apenas (Figura 11.2).
dos alvéolos que participam da troca gasosa mostrando
níveis normais, e o gradiente PetCO2-PaCO2 não aumen-
Fluxo Tempo Pressão
ta, podendo ser pequeno ou nulo.
Volume corrente

Capnografia no esvaziamento Complacência Resistência

incompleto Constante de tempo


Nas situações em que há dificuldade de esva-
ziamento pulmonar como na asma, nas alterações Figura 11.2: Representação esquemática da sequência de
obtenção de dados da mecânica respiratória .
obstrutivas crônicas ou na obstrução parcial do tubo
endotraqueal, também pode ocorrer um aumento do
gradiente PetCO2- PaCO2, com níveis de PetCO2 baixos. Se o fluxo for quantificado e o multiplicarmos
pelo tempo de avaliação, obtemos o volume de gás que
passou no período de tempo medido. Desse modo, tor-
Capnografia na retirada de assistência
na-se possível a obtenção do volume de gás. Com a aju-
respiratória da de um sistema computadorizado microprocessado
A capnografia pode ser útil na retirada da ventila- é muito simples dividir tanto a fase inspiratória como a
ção mecânica. Nesse processo pode servir para: fase expiratória em intervalos de tempo muito curtos.

81
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Calculando o fluxo a cada um desses intervalos e da ordem de 5 mL, se tornam inaceitáveis para a ava-
integrando o valor de todos os intervalos de cada fase, liação da mecânica respiratória no prematuro.
obtém-se o volume final tanto na fase inspiratória como Em resumo, na monitorização da mecânica res-
na fase expiratória do ciclo. Fica claro que o ponto críti- piratória de recém-nascidos, principalmente nos pre-
co desse processo é a obtenção precisa do valor do flu- maturos, deve-se preferencialmente trabalhar com
xo, uma vez que a obtenção dos valores de pressão e de equipamentos que possuam uma faixa de massa corpó-
tempo é bastante simples e precisa. rea de trabalho relativamente estreita, evitando utilizar
Vários métodos estão disponíveis para a determi- equipamentos que teoricamente seriam adequados
nação do fluxo de um gás, incluindo o pneumotacógra- para grandes faixas de massa corpórea, abrangendo do
fo e o anemômetro termocalibrado (fio aquecido). recém-nascido ao adulto (Figura 11.3).
O pneumotacógrafo consiste em um sistema de
interrupção parcial do fluxo, obtido geralmente pela
interposição de uma membrana multiperfurada, e de
duas câmaras, uma anterior e outra posterior à interrup-
ção. Com a passagem do gás, a pressão na câmara an-
terior à interrupção torna-se maior do que a pressão na
câmara posterior, sendo esse gradiente de pressão pro-
porcional ao fluxo. Se essa relação (fluxo/gradiente de
pressão) for linear, pode-se, depois da calibração inicial
do sistema com fluxos e pressões conhecidos, determi-
nar o fluxo a partir da diferença de pressão observada
entre as câmaras, esse sim um dado facilmente obtido
por meio de sensores de pressão.
De modo semelhante, a passagem do fluxo de
gás pelo anemômetro termocalibrado (fio aquecido)
leva a uma redução na temperatura do fio, haven-
do necessidade de um aumento da corrente elétrica
que aquece o fio para se retornar à temperatura ori-
ginal. Após uma calibração inicial do sistema pode-se
aferir o fluxo de gás por meio da variação de tempe-
ratura obtida, dado esse que é obtido sem maiores
dificuldades.
Figura 11.3: Relação entre a resistência e a somatória dos
diâmetros das vias aéreas.
Limitação dos métodos de medida de
mecânica respiratória
Variabilidade da massa corpórea do Local da determinação do fluxo
paciente Uma segunda crítica a esses equipamentos de
A crítica que deve ser feita a esses processos monitorização se refere ao local da medição. Quando
se refere à variabilidade de fluxos que se pretende esta é feita junto ao corpo do aparelho, parte do volu-
determinar, pois nos extremos de leitura os sistemas me medido reflete variações de volume do circuito do
perdem a sua linearidade e, portanto, a sua precisão. ventilador, tanto na fase inspiratória como na fase ex-
Por exemplo, um recém-nascido prematuro com mas- piratória. Essa variação de volume será função tanto do
sa corpórea de 600 g sendo ventilado com um volume comprimento do circuito como de sua complacência,
corrente de 8 mL/kg com um tempo inspiratório de devendo ser descontados da leitura final, o que pode
0,5 s determina um fluxo de gás da ordem de 0,576 L/ resultar em erros de avaliação.
min; já um adulto de 70 kg sendo ventilado com um De um modo geral, para a obtenção de valores
volume corrente de 600 mL em 1 s determina um fluxo mais precisos como na medição da mecânica respira-
de 36 L/min. Fica claro que um equipamento que se tória de prematuros extremos, em que os volumes cor-
disponha a medir fluxos tão diversos não terá precisão rentes absolutos são valores muito baixos (4 a 15 mL),
na avaliação dos extremos, levando a erros na leitura deve-se optar por equipamentos que façam as determi-
do fluxo (e portanto nos cálculos subsequentes de me- nações entre o circuito do ventilador e o intermediário
cânica respiratória) quando esse valor for muito baixo. da cânula traqueal, avaliando-se apenas o volume de
Assim, esses equipamentos podem incorrer em erros gás que entra e sai do paciente, não sendo necessário o
de medição que, mesmo sendo tão pequenos quanto desconto da complacência do circuito.

82
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica

Interpretação dos dados de função CDin = ∆Vc/ ∆PV


respiratória em que ∆Vc representa a variação do volume e
∆PV representa a variação da pressão nos pontos zero
Volume corrente, volume minuto, de fluxos inspiratório e expiratório. A complacência tem
complacência pulmonar dinâmica e grande utilidade quando empregada de modo sequen-
resistência das vias aéreas cial, sendo particularmente útil na determinação de
sobredistensão.
O volume corrente alvo ideal a ser utilizado se si-
tua na faixa de 6 a 10 mL/kg, portanto equipamentos A resistência (R) das vias aéreas é determinada
para uso em prematuros extremos devem ter precisão por meio de mudanças da PV e das mudanças de fluxo
na medição de valores tão baixos quanto 4 a 5 mL, com nas vias aéreas, através da fórmula:
erros de medida não superiores a 0,25 mL (5% do volu- R = ∆PV/∆Φ
me corrente desejado). em que ∆Φ representa a variação do fluxo.
De rotina deve-se observar a diferença entre os Na árvore respiratória normal o ponto de maior
volumes medidos na fase inspiratória e na fase expirató- resistência é a região da glote, podendo ser elevada
ria do ciclo, sendo que este último geralmente é menor de maneira anormal na via distal na presença de bron-
do que o primeiro, em decorrência da perda de volume quiconstrição. A maioria das doenças respiratórias nos
ao redor das cânulas fixadas sem cuff. Uma diferença recém-nascidos cursa sem elevação significativa da re-
de até 10% entre esses volumes é aceitável, e diferen- sistência das vias aéreas distais, diferentemente do que
ças maiores sugerem que a cânula traqueal em uso não ocorre na UTI Pediátrica.
está de tamanho adequado em relação ao diâmetro da
traqueia do paciente. A ausência de escape (volume
corrente inspiratório igual ao expiratório) sugere que o Monitorização da ventilação por meio
ajuste está adequado ou que já pode estar ocorrendo da curvas de volume, fluxo e pressão
algum grau de edema ao redor da cânula traqueal. A monitorização da ventilação por meio de curvas
O ajuste do volume corrente no ventilador se faz já está incorporada aos respiradores mais modernos, per-
por emio da amplitude da pressão ventilatória (PV), ou mitindo essa avaliação de maneira constante e em tem-
seja, a diferença entre o pico da pressão inspiratória po real. As principais curvas são de interesse clínico são:
(PIP) e a pressão expiratória final positiva (PEEP), de- A. Curvas tempo-volume: nessa modalidade é
pendendo também da complacência pulmonar. Dessa possível acompanhar o volume inspiratório
maneira, em pulmões colapsados (com baixa capacida- (alça ascendente), a duração de pausa inspi-
de residual funcional) ou excessivamente distendidos ratória (igualdade de pressão entre o respira-
(elevada capacidade residual funcional) os aumentos dor e os pulmões, sem haver deslocamento
da pressão ventilatória produzirão menos efeito sobre o de volume gasoso) e a fase expiratória (ramo
volume corrente do que em pulmões com complacên- descendente da curva) (Figura 11.4). Permite
cia próxima ao normal. diagnosticar escape gasoso (folga ao redor
O volume corrente tem influência direta na venti- do tubo, por exemplo); aprisionamento de ar
lação alveolar, e quando excessivo geralmente é acom- (não há exalação completa na fase expirató-
panhado de hipocapnia. Por isso, quando a gasometria ria); pausa expiratória excessive; entre outras.
revelar PaCO2 ≤ 40 mmHg, deve-se ter em mente que o
volume minuto excessivo pode não ser consequente a
uma elevada frequência respiratória, mas sim a um vo-
lume corrente muito elevado, facilmente corrigido pela
redução do pico de pressão inspiratória (reduzindo a
pressão ventilatória).
A monitorização contínua do volume minuto
propicia um bom acompanhamento da ventilação al-
veolar, permitindo uma redução na coleta de gaso-
metrias se os valores permenecerem estáveis. Como o
volume corrente, o volume minuto deve ser analisado
preferencialmente na fase expiratória, e é determinado
pelo cálculo:
Volume minuto expiratório = Frequência respira- Figura 11.4: Curva de volume e tempo, onde estão
tória X Volume corrente expiratório. representadas a fase inspiratória (ramo ascendente), a pausa
A determinação da complacência pulmonar di- respiratória (platô, com igualdade de pressões no sistema) e a
nâmica (CDin) é feita por meio do cálculo: fase expiratória (ramo descendente).

83
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

B. Curvas tempo-pressão: nessa modalidade


é possível acompanhar o efeito da pressão
durante as fases inspiratória e expiratória
(Figuras 11.5 e 11.6), assim como nos diver-
sos modos de ventilação (pressão ou volume
controlada, SIMV, pressão de suporte etc.).

Figura 11.7: Curva de pressão x volume. Na etapa inferior


da fase inspiratória, há incremento na pressão inspiratória
positiva sem grandes mudanças no volume ofertado
(hipoventilação e atelectasias), pois a PIP é inferior à pressão
de abertura das vias aérea e alveolar. Ao ultrapassar o ponto
Figura 11.5: Curva tempo-pressão, onde estão de inflexão inferior observa-se a melhor relação entre o
representados os valores pressóricos obtidos durante a aumento da PIP e o volume corrente ofertado (janela segura).
ventilação por pressão de suporte e durante os ciclos do Após ultrapassar o ponto de inflexão superior, aumentos na
respirador (SIMV). PIP geram pequenos aumentos no volume corrente, com
maior risco de volutrauma e barotrauma.

D. Curva fluxo-tempo: por meio da curva de


fluxo-tempo pode-se obter uma série de in-
formações, desde a presença de quantidade
excessiva de secreção nas vias aéreas (gráfico
irregular) até a falta de sincronia entre a crian-
ça e o ventilador (presença de fluxo espontâ-
Figura 11.6: Gráfico tempo-pressão mostrando: (A) o neo antes do final da fase inspiratória ou da
início do ciclo inspiratório até o final da ascensão da pressão fase expiratória). Uma grande utilidade prática
inspiratória máxima (PIP); (B) o platô da PIP; (C) o término da do gráfico fluxo-tempo é para a detecção de
fase inspiratória e queda da pressão até a PEEP. tempo inspiratório ou expiratório excessiva-
mente curto, este último causando auto-PEEP,
C. Curvas pressão-volume: nessa modalidade representados graficamente pela falta de fluxo
é possível acompanhar a interação da pressão zero no final da fase inspiratória ou expiratória,
ofertada com a mudança de volume pulmonar, respectivamente (Figura 11.8).
tanto na fase inspiratória como na expiratória.
É possível determinar o ponto de inflexão infe-
rior (Figura 11.7), onde se dão a abertura das
vias aéreas e pulmonar (recrutamento), a me-
lhor relação entre a PIP e o volume corrente,
assim como o ponto de inflexão superior e a
zona de hiperdistensão, onde grandes pres-
sões inspiratórias geram volumes correntes Figura 11.8: Gráfico fluxo-tempo mostrando fluxo zero no
diminutos. final dos ciclos inspiratórios.

84
Monitorização Respiratória em Ventilação Mecânica

E. Curva fluxo-volume: a curva fluxo-volume (Figura 11.9). É importante salientar que quan-
é útil para demonstrar limitações do fluxo do a criança apresenta respiração espontânea,
tanto inspiratório como expiratório. Quando particularmente quando ocorre assincronia
há limitação do fluxo expiratório ocorre um com o ventilador, ocorrem deformações da cur-
achatamento da fase descendente da curva, va fluxo-volume que não representam necessa-
enquanto limitações do fluxo inspiratório re- riamente limitação do fluxo nas vias aéreas, mas
sultam em achatamento da fase ascendente sim artefatos resultantes da assincronia.

Figura 11.9: Curvas fluxo-volume (fluxo na vertical) representando: situação normal; (B) fluxo restrito em um recém-nascido
prematuro sob ventilação mecânica; (C) obstrução parcial das vias aéreas; (D) resistência expiratória aumentada.

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85
Interpretação 12
de Gasometrias

Ana Carlotti

Alcalose metabólica Associadas ao aumento do volume extracelular


ƒƒ Ingestão de álcali na presença de redução importante da
Definição taxa de filtração glomerular
Alcalose metabólica é definida por um exces- ƒƒ Excesso de mineralocorticoide
so de álcali no organismo, acompanhado de aumento ƒƒ Hiperaldosteronismo primário
do pH e da concentração de HCO3- no compartimento ƒƒ Hiperaldosteronismo secundário
extracelular.
Hipomagnesemia
Respostas fisiológicas:
1. Compensação respiratória: para cada mEq/L Fisiopatologia
de elevação na concentração plasmática de
A alcalose metabólica ocorre quando há aumen-
HCO3- a PCO2 sobe 0,7 mmHg.
to da concentração plasmática de HCO3- e diminuição
2. Compensação renal: depende da causa. Se da concentração de íons H+ no fluido extracelular. O
houver deficiência de HCl, a concentração de aumento da concentração de HCO3- pode ser devido
cloro urinário será próxima de zero. Na pre- ao aumento do conteúdo de HCO3- no fluido extrace-
sença de contração do volume extracelular, as lular ou à diminuição do volume do compartimento
concentrações de sódio e cloro na urina serão extracelular. O aumento do conteúdo de HCO3- no flui-
baixas, exceto em situações de uso recente de do extracelular pode ocorrer pela adição de HCO3- ao
diurético. compartimento extracelular, secundária à perda de um
ânion, como o Cl-, ou à retenção de um cátion, como o
Etiologias (Tabela 12.1) Na+. No compartimento intracelular ocorrem eventos
importantes, como a perda de potássio e o ganho de só-
Tabela 12.1: Causas de alcalose metabólica dio e H+, e consequentemente sobrevêm acidose intra-
celular e depleção de potássio. A hipocalemia promove
Associadas à contração do volume extracelular aumento da concentração de HCO3- no extracelular pelo
Cloro urinário baixo aumento da produção e da excreção de NH4+. Além dis-
ƒƒ Perda de secreção gástrica (vômitos, drenagem gástrica) so, a hipocalemia diminui a excreção de HCO3- por cau-
ƒƒ Perda intestinal de NaCl (adenoma viloso do cólon, sa da diminuição da taxa de filtração glomerular e do
cloridorreia congênita) aumento da reabsorção de HCO3- pelo túbulo proximal
(Fluxograma 12.1).
ƒƒ Uso remoto de diuréticos
ƒƒ Pós-correção de hipercapnia crônica
ƒƒ Fibrose cística Diagnóstico
Cloro urinário alto Identificar a causa básica pela anamnese: história
ƒƒ Uso atual de diuréticos de vômito, diarreia, uso de diurético, hipertensão arte-
rial, doença pulmonar crônica, insuficiência renal, ante-
ƒƒ Síndrome de Bartter
cedentes familiares. Ao exame físico, avaliar o volume
ƒƒ Síndrome de Gitelman
extracelular: pacientes com história de vômitos ou uso
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Fluxograma 12.1: Bases fisiopatológicas da alcalose metabólica. (Adaptado de Halperin, 2004.)

de diuréticos apresentam contração do volume extra- Manifestações clínicas da alcalose


celular, enquanto hipertensão arterial e expansão do
volume extracelular sugerem excesso de mineralocorti-
metabólica
coide (Fluxograma 12.2). Os exames urinários úteis ao Diminuição do drive respiratório, hipóxia, hiper-
diagnóstico diferencial da alcalose metabólica estão na capnia, desvio da curva de dissociação da oxi-hemo-
Tabela 12.2. globina para a esquerda e diminuição da liberação de
oxigênio aos tecidos. (Fluxograma 12.2)

Tabela 12.2: Exames urinários úteis no diagnóstico de


alcalose metabólica Tratamento
Inicialmente deve-se identificar a base do déficit e
Causa [Na+] [Cl–] pH repor de acordo. Em pacientes com contração do volume
urinário
urinário urinário extracelular a administração de NaCl restaura o volume
Volume EC diminuído extracelular e diminui a concentração de HCO3- por dilui-
ção. Além disso, a expansão do volume extracelular leva a
vômito (recente) ↑ ↓ > 7* bicarbonatúria. A administração de potássio é necessária
vômito (remoto) ↓ ↓ <6 para a correção da acidose intracelular e do déficit de po-
tássio. Esse grupo é denominado “responsivo a cloreto”.
diurético (recente) ↑ ↑ <6 Ressalta-se que em situações de diminuição do volume
diurético (remoto) ↓ ↓ <6 circulante efetivo e expansão do extracelular, como em
pacientes com insuficiência cardíaca congestiva em uso
síndrome de Bartter ↑ ↑ 6-6,5
de diuréticos, devem-se administrar somente suplemen-
pós-hipercapnia ↓ ↓ <6 tos de KCl, sendo a administração de Na+ não recomen-
perda de Cl- em diarreia ↓ ↓ <6 dada, pois o K+ entra na célula e o Na+ sai, adicionando
Na+ extra ao compartimento extracelular, que deverá ser
Volume EC normal ou ↑ ↑ 5-8 eliminado pelo organismo.
aumentado
O outro grupo, denominado “resistente a clore-
Legenda: EC = extracelular; ↑ = > 20 mEq/L; ↓ = < 20 to”, não responde à administração de sais de cloro e não
mEq/L. * = urina alcalina devido a bicarbonatúria. apresenta contração do volume extracelular. Esse tipo

Fluxograma 12.2: Abordagem diagnóstica do paciente com alcalose metabólica .

88
Interpretação de Gasometrias

de alcalose metabólica ocorre mais comumente em pa- Distúrbios metabólicos


cientes com hiperaldosteronismo e requer o tratamen-
to específico da causa básica. Agentes que bloqueiam a ƒƒ Hipofosfatemia
+
reabsorção de Na no duto coletor, como a amilorida, e ƒƒ Hipomagnesemia
antagonistas da aldosterona, como a espironolactona, ƒƒ Hipopotassemia
Interpretação
podem ser úteis. O inibidor da anidrase carbônica ace- deƒGasometrias
ƒ Alcalose metabólica grave
tazolamida tem sido utilizado para melhorar a alcalemia Bloqueio neuromuscular por drogas
durante o desmame da ventilação mecânica, mas pode
agravar a depleção de potássio. Alguns autores reco- Patologias obstrutivas de vias aéreas
mendam a infusão de soluções ácidas de HCl ou NH4Cl. ƒƒ Obstrução de vias aéreas superiores
Em pacientes com insuficiência renal e alcalemia grave • Laringite
(pH > 7,7) pode ser necessária a realização de diálise,
• Epiglotite
com banhos contendo baixa concentração de HCO3-.
• Corpo estranho
ƒƒ Obstrução de vias aéreas inferiores
A cidose respiratória • Asma brônquica
• Bronquiolite
Definição • Compressão extrínseca
Acidose respiratória é definida por aumento da Patologias restritivas do parênquima
PaCO2 e da concentração de H+ no plasma, decorrente pulmonar
do desequilíbrio entre a produção de CO2 pelo metabo- ƒƒ Fibrose pulmonar
lismo e sua eliminação pelos pulmões.
ƒƒ Cifoescoliose
Diminuição da complacência pulmonar
[H+] = (24/[HCO3 ]) x PCO2

ƒƒ Edema pulmonar
ƒƒ Pneumonia
ƒƒ Síndrome do desconforto respiratório agudo
Respostas fisiológicas:
1. Acidose respiratória aguda: para cada mmHg Patologias abdominais
de aumento na PaCO2 acima de 40 mmHg a . Aumento da pressão intra-abdominal e
concentração de H+ sobe 0,8 nmol/L acima de elevação do diafragma
40 nmol/L. A concentração plasmática de HCO
ƒƒ Ascites volumosas
-
sobe 1 mEq/L para cada 10 mmHg de aumen-
to na PaCO2. ƒƒ Tumores abdominais
ƒƒ Hemorragia intra-abdominal
2. Acidose respiratória crônica: para cada mmHg
ƒƒ Obstrução do trato gastrintestinal
de aumento na PaCO2 acima de 40 mmHg a
concentração de H+ sobe 0,3 nmol/L acima de Diminuição do transporte de CO2
40 nmol/L. A concentração plasmática de ƒƒ Choque
HCO3- sobe 3 mEq/L para cada 10 mmHg de
aumento na PaCO2.
Fisiopatologia
Etiologias (Tabela 12.3) A acidose respiratória resulta de acúmulo
Tabela 12.3: Causas de acidose respiratória de CO2 e geração de H+ devido a falha dos pulmões
em remover o CO2 produzido pelo metabolismo.
Depressão do centro respiratório Consequentemente ocorre aumento da PCO2 alveolar
e da PaCO2. O aumento agudo da PaCO2 leva a um pe-
ƒƒ Drogas (sedativas, anestésicas) queno aumento da concentração plasmática de HCO3-,
ƒƒ Encefalopatia hipóxico-isquêmica devido ao tamponamento intracelular de H+ e à perda
ƒƒ Trauma cranioencefálico de HCO3- das células em troca por Cl-. Na acidose res-
ƒƒ Infecções (meningites, encefalites) piratória crônica a acidemia resultante da hipercapnia
Doenças neuromusculares prolongada leva ao aumento da excreção de NH4+ e da
reabsorção indireta de HCO3-. Além disso, ocorre au-
ƒƒ Síndrome de Guillain-Barré
mento da reabsorção proximal de HCO3-, que também
ƒƒ Miastenia grave contribui para a elevação da concentração plasmática
ƒƒ Esclerose lateral amiotrófica de bicarbonato.

89
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Diagnóstico 40 mmHg a concentração de H+ cai 0,2 nmol/L


abaixo de 40 nmol/L. A concentração plasmáti-
Pela anamnese e exame físico deve-se investigar
ca de HCO3– cai 5 mEq/L para cada 10 mmHg de
a presença de doença pulmonar crônica. Pela avaliação
queda na PaCO2.
da gasometria deve-se analisar o aumento da PaCO2
em relação ao estado acidobásico e à resposta fisioló-
gica esperada, determinando se o quadro está compen- Etiologias (Tabela 12.4)
sado ou não e a possibilidade de um distúrbio misto
(Fluxograma 12.3). Tabela 12.4: Causas de alcalose respiratória

Manifestações clínicas da acidose Estímulo dos quimiorreceptores periféricos


metabólica ƒƒ Hipóxia
Rubor facial e de extremidades, dispneia ou bra- ƒƒ Afecções do parênquima pulmonar
dipneia (em pacientes com depressão do centro respi- ƒƒ Exposição a grandes altitudes
ratório), ansiedade, delírio, tremores, crises convulsivas ƒƒ Anemia grave
e coma. ƒƒ Insuficiência cardíaca congestiva
ƒƒ Cardiopatia congênita cianosante
Tratamento Estímulo dos ramos aferentes pulmonares
Consiste na melhora da ventilação, se necessário ƒƒ Pneumonia
com a utilização de ventilação mecânica e o tratamento ƒƒ Edema pulmonar
da causa básica. ƒƒ Embolia pulmonar
ƒƒ Asma
Estímulo do centro respiratório
ALCALOSE RESPIRATÓRIA
ƒƒ Doenças do sistema nervoso central
Definição • Infecções
• Trauma
Alcalose respiratória é definida pela diminuição
• Hemorragia subaracnoide
da PaCO2 e da concentração de H+ no plasma, decor-
rente da eliminação excessiva de CO2 pelos pulmões, • Tumor
relativa à sua produção pelo metabolismo. ƒƒ Drogas
• Salicilatos
Respostas fisiológicas • Catecolaminas
1. Alcalose respiratória aguda: para cada • Teofilina
mmHg de redução na PaCO2 abaixo de 40 Miscelânea
mmHg a concentração de H+ cai 0,8 nmol/L
abaixo de 40 nmol/L. ƒƒ Febre
ƒƒ Ansiedade
A concentração plasmática de HCO3– cai 2 mE-
q/L para cada 10 mmHg de queda na PaCO2. ƒƒ Sepse
ƒƒ Recuperação de acidose metabólica
2. Alcalose respiratória crônica: para cada
mmHg de redução na PaCO2 abaixo de Ventilação pulmonar mecânica

Fluxograma 12.3: Abordagem diagnóstica do paciente com acidose respiratória. (Adaptado de Halperin & Goldstein, 1998.)

90
Interpretação de Gasometrias

Fisiopatologia glicemia 92 mg/dL. Urina: glicose negativa,


corpos cetônicos ++.
A alcalose metabólica resulta de hiperventilação,
com queda da PaCO2 e da concentração de H+ no plas- 1. Diagnóstico do distúrbio acidobásico:
ma. Consequentemente, ocorre queda da PCO2 alveo- [H+] = (24/19) x 24 = 30 nmol/L
lar e da PaCO2. A redução aguda da PaCO2 leva a uma ↑ pH, ↓ [H+] e ↓ PaCO2, sem história de alcalose
Interpretação de Gasometrias
pequena diminuição da concentração plasmática de respiratória crônica: Alcalose respiratória aguda.
HCO3-, devido à captação celular de HCO3- em troca por
↓ PaCO2 = 16 mmHg, ↓ [HCO3–] = 6 mEq/L
Cl-. Na alcalose respiratória crônica há inibição da reab- (> 2 mEq/L para cada 10 mmHg de queda na
sorção de bicarbonato pelo túbulo proximal, resultando PaCO2) e ↓ [H+] = 10 nmol/L (< 0,8 nmol/L por
em bicarbonatúria e diminuição da concentração plas- mmHg ↓ PaCO2): Alcalose respiratória aguda
mática de HCO3–. e acidose metabólica.
2. Causas: alcalose respiratória por hiperventila-
Diagnóstico ção secundária a sepse e ansiedade e acidose
Pela anamnese e exame físico deve-se investigar metabólica devido ao jejum prolongado (evi-
a presença de doença associada com alcalose respirató- denciado por cetonúria).
ria crônica. Pela avaliação da gasometria deve-se anali- 3. Tratamento: antibioticoterapia, remoção do
sar a queda da PaCO2 em relação ao estado acidobásico cateter contaminado, tranquilização da crian-
e à resposta fisiológica esperada, determinando se o ça e suporte nutricional.
quadro está compensado ou não e a possibilidade de „„ Caso II: Lactente de 6 meses de idade, bronco-
um distúrbio misto (Fluxograma 12.4). displásico, é internado no CTI Pediátrico com
pneumonia, e os exames laboratoriais revelam:
Manifestações clínicas da alcalose Sangue arterial: pH 7,34, PO2 54 mmHg, PCO2
85 mmHg, HCO3- 44 mEq/L, BE 14, Na+ 133 mE-
metabólica q/L, K+ 3,0 mEq/L, Cl- 93 mEq/L, ureia 11 mg/
Arritmias cardíacas, parestesias faciais e periféri- dL, creatinina 0,4 mg/ dL, lactato 1,5 mmol/L,
cas, cãibras, confusão mental, síncope e crises convulsi- glicemia 85 mg/dL. Urina: Cl- 10 mEq/L, Na+ 8
vas (por vasoconstrição cerebral). mEq/L, pH 5.
1. Diagnóstico do distúrbio acidobásico:
Tratamento [H+] = (24/44) x 85 = 46 nmol/L
Deve-se diminuir a hiperventilação, pelo uso de ↓ pH, ↑ [H+] e ↑ PaCO2, com história de doen-
sedativos se necessário e tratar a causa básica. ça pulmonar crônica: Acidose respiratória
crônica.
↑ PaCO2 = 45 mmHg, ↑ [HCO3–] = 19 mEq/L (>
Casos comentados 3 mEq/L para cada 10 mmHg de aumento na
„„ Caso I: Criança de 5 anos de idade, com tumor PaCO2) e ↑ [H+] = 6 nmol/L (< 0,3 nmol/L por
do sistema nervoso central operado e sepse mmHg ↑ PaCO2): Acidose respiratória crôni-
por infecção da corrente sanguínea relaciona- ca e alcalose metabólica.
da a cateter venoso central, apresenta os se- 2. Causas: acidose respiratória crônica secundária
guintes exames laboratoriais: a displasia broncopulmonar e agravada pela
Sangue arterial: pH 7,52, PO2 123 mmHg, PCO2 pneumonia e alcalose metabólica secundária
24 mmHg, HCO3- 19 mEq/L, BE -2, Na+ 135 mE- ao uso prolongado de diuréticos (com contra-
q/L, K+ 3,2 mEq/L, Cl- 106 mEq/L, ureia 10 mg/ ção do volume extracelular, evidenciada pelas
dL, creatinina 0,7 mg/ dL, lactato 1,24 mmol/L, baixas concentrações de sódio e cloro na urina).

Fluxograma 12.4: Abordagem diagnóstica do paciente com alcalose respiratória. (Adaptado de Halperin & Goldstein, 1998.)

91
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

3. Tratamento: melhorar a ventilação, se necessá- mmHg, PCO2 45 mmHg, HCO3- 32 mEq/L, BE


rio instituir ventilação pulmonar mecânica, hi- 7, Na+ 130 mEq/L, K+ 2,5 mEq/L, Cl- 90 mEq/L.
dratação cuidadosa do paciente e reposição do Urina: Cl- 0, Na+ 50 mEq/L, pH 8. Qual é o dis-
déficit de potássio pela administração de KCl. túrbio acidobásico e qual sua causa?
a. Alcalose metabólica, vômitos de início
recente.
Questões b. Alcalose metabólica, uso prolongado de
1. Criança de 6 anos de idade, com síndrome ne- diurético.
frótica idiopática, é internada na Enfermaria de c. Alcalose metabólica e acidose respiratória,
Pediatria para tratamento de pneumonia lo- doença pulmonar crônica.
bar. Apresenta dispneia leve e edema generali- d. Alcalose metabólica e alcalose respiratória.
zado. No segundo dia de internação queixa-se Resposta correta: a.
de dor torácica e há piora do padrão respirató-
4. Escolar previamente hígido apresenta diarreia
rio. Os exames laboratoriais revelam: pH 7,40,
e fraqueza muscular há 1 dia. Os exames labo-
PaO2 50 mmHg, PaCO2 25 mmHg, HCO3- 15
ratoriais revelaram: pH 7,20, PaO2 55 mmHg,
mEq/L, BE -9.
PaCO2 40 mmHg, HCO3- 15 mEq/L, BE -9. Na+
Qual é o diagnóstico do distúrbio acidobásico? 134 mEq/L, K+ 2,2 mEq/L, Cl- 107 mEq/L. Qual é
a. Alcalose respiratória aguda e acidose o diagnóstico do distúrbio acidobásico?
metabólica. a. Acidose metabólica.
b. Alcalose respiratória crônica. b. Acidose metabólica e acidose respiratória
c. Acidose metabólica compensada. aguda.
d. Alcalose respiratória aguda compensada. c. Acidose respiratória aguda.
Resposta correta: a. d. Acidose respiratória aguda e alcalose
2. Qual é a provável causa do distúrbio acidobá- metabólica
sico acima? Resposta correta: b.
a. Insuficiência renal aguda. 5. Qual é a causa mais provável do distúrbio
b. Tromboembolismo pulmonar. acima?
c. Hiperventilação psicogênica. a. Perda de bicarbonato pelas fezes.
d. Perda de bicarbonato pela urina. b. Perda de bicarbonato pelas fezes e hipoven-
tilação secundária à hipocalemia.
Resposta correta: b.
c. Acidose lática por hipóxia.
3. Adolescente de 14 anos, sexo feminino, é le-
vada ao serviço de saúde porque se encon- d. Hipoventilação secundária à hipocalemia e
tra apática há 1 dia. Os exames laboratoriais perda de Cl- pelo trato gastrintestinal.
mostraram: Sangue arterial: pH 7,48, PO2 120 Resposta correta: b.

Bibliografia
1. Gerstler JG. Acidose e alcalose respiratória. In: Matsumoto T, Carvalho WB, Hirschheimer M. Terapia intensiva
pediátrica. 2ed. São Paulo: Atheneu, 1997.
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3. Halperin ML & Goldstein MB. Fluid, Electrolyte, and Acid-base Physiology. A problem-based approach. 3rd ed.
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4. Halperin ML. The Acid Truth and Basic Facts with a Sweet Touch, an Enlytenment. 5th ed. Montreal: RossMark Medical
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2000. pp. 209-44.

92
Sedação, Analgesia e 13
Bloqueadores
Neuromusculares Vera Regina Fernandes
Nilzete Liberato Bresoli

Introdução causa dessa agitação. A presença dos pais e palavras de


conforto podem minimizar uma parte dessa ansiedade,
A necessidade de ventilação mecânica (VM) é porém, na grande maioria dos casos, será necessário o
uma das principais razões para um paciente ser admi- uso de sedativos e analgésicos.
tido na unidade de terapia intensiva (UTI). Manter um Os benzodiazepínicos são os sedativos mais utili-
conforto adequado é imperativo para que a VM atin- zados em unidades de terapia intensiva.
ja seus objetivos de assegurar uma via aérea, ventilar
adequadamente e melhorar a oxigenação. Sedação e
analgesia são, portanto, prioridade no planejamento
Benzodiazepínicos
terapêutico desses pacientes.1 Agem como ansiolíticos, anticonvulsivantes, hip-
A absorção, biodisponibilidade, ligação com re- nóticos e relaxantes musculares. Não proporcionam
ceptores, metabolismo e permeabilidade das drogas alívio da dor. Causam amnésia anterógrada, isto é, im-
aos diversos órgãos são fatores que sofrem grandes mo- pedem a aquisição e a codificação de novas informa-
dificações desde a infância até a idade adulta. Quando ções, o que diminui os traumas psicológicos inerentes
comparados com adultos, por exemplo, os neonatos ao estresse ao qual o paciente é submetido em uma
têm, proporcionalmente, maior quantidade de água UTI. Têm pouco ou nenhum efeito sobre a retenção ou
corporal total, maior volume extracelular, maior vole- a busca de informações previamente armazenadas, não
mia e maior débito cardíaco, com uma taxa de gordura proporcionando, portanto, amnésia retrógrada.2 Sua
significativamente menor, o que faz com que tenham ação central faz-se por meio da facilitação inibitória do
uma resposta diferente quando lhes é administrada ácido gama-aminobutírico (GABA).2
uma droga sedativa e/ou analgésica. A taxa de citocro- Possuem pequena ação sobre o sistema car-
mo P-450 é maior em crianças, levando a uma maior de- diovascular, mas atuam de maneira importante sobre
puração de muitos medicamentos. A eliminação renal o sistema respiratório, podendo provocar depressão
de muitas drogas está notadamente reduzida nos neo- respiratória. O metabolismo é hepático e sua excreção
natos, pois o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração é renal, portanto, nas insuficiências renal ou hepática,
glomerular são menores. A filtração glomerular e a fun- as doses devem ser reajustadas. Têm efeitos sinérgicos
ção tubular semelhante ao adulto só serão adquiridas quando utilizados associados aos opioides, permitindo
por volta dos 6 meses de idade. doses menores de ambas as drogas.1 Os principais ben-
zodiazepínicos utilizados em UTIP são: midazolam, dia-
zepam e lorazepam, e os seus efeitos sedativos podem
Sedação ser revertidos pelo flumazenil.
Sedativos são usados de maneira rotineira em
unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIP) como Diazepam
adjuvantes no tratamento da ansiedade e da agitação Tem sido cada vez menos utilizado, pois possui
psicomotora. A ansiedade e a agitação dificultam a ma- uma meia-vida longa, de 20 a 50 horas, e um metabólito
nutenção de uma VM sincronizada, provocam aumento hipnoticamente ativo, o n-desmetil-diazepam, produ-
do consumo de oxigênio e ocasionam remoção inad- zindo uma sedação prolongada, principalmente quan-
vertida de sondas e cateteres. do utilizado em doses repetidas.2 É pouco hidrossolúvel
As causas de ansiedade e agitação nas crianças e tem metabolismo hepático. A dose varia de 0,1 a 0,5
em VM são múltiplas: ruído excessivo do ambiente, mg/kg a cada 4 a 6 horas e pode ser administrado por
ruptura do ciclo dormir-despertar, privação de sono, VO, EV ou VR. Deve-se evitar a administração intramus-
presença de pessoas e equipamentos não familiares, cular, por apresentar uma absorção imprevisível. O pico
tubo endotraqueal, impossibilidade de comunicação, de ação, quando da administração intravenosa, ocorre
dor, hipoxemia, hipertensão arterial e síndrome de abs- em 3-4 minutos. A aplicação endovenosa rápida pode
tinência, entre outras. Deve-se identificar e remover a causar depressão respiratória e hipotensão.3
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

Midazolam Outros Sedativos Não


Agente hidrossolúvel, duas a quatro vezes mais Benzodiazepínicos
potente que o diazepam, com rápido início de ação e
meia-vida de eliminação curta. O pico de efeito ocorre Propofol
em torno de 3 a 5 minutos após a administração intrave- Anestésico endovenoso, de ação ultrarrápida.
nosa. Possui metabolismo hepático e eliminação renal. Está indicado para a sedação profunda durante proce-
Os efeitos sedativos podem ser prolongados por acú- dimentos em associação com os opioides ou como dro-
mulo de metabólitos em pacientes com insuficiências ga isolada. É altamente lipossolúvel, o que faz com que
atravesse rapidamente a barreira hematoencefálica.
hepática ou renal, em obesos ou com hipoalbumine-
Não tem ação analgésica. Pode elevar os triglicerídeos
mia. Administração concomitantemente com opioides
séricos. Tem rápido início de ação e meia-vida curta,
resulta em aumento do risco de parada respiratória. A
levando a um rápido despertar após suspensão de sua
depressão respiratória é dose-dependente.1 Hipotensão infusão. Proporciona hipnose, sedação e leve amnésia
é um efeito indesejável relativamente frequente e, nos anterógrada. Tem propriedades anticonvulsivas e dimi-
pacientes hipovolêmicos, pode ocorrer mesmo com nui a pressão intracraniana. Pode provocar hipotensão,
doses baixas. Cimetidina e eritromicina interagem au- bradicardia e dor no local da infusão. A depressão ven-
mentando o nível sérico do midazolam, e teofilina di- tilatória pode ser profunda, e, por esse motivo, só deve
minui seu efeito sedativo. Seu uso prolongado induz à ser usado em ambientes seguros e sob a supervisão de
tolerância, e a sua retirada abrupta leva à síndrome de anestesistas ou intensivistas.
abstinência. A dose individual varia de 0,1 a 0,3 mg/kg É pouco utilizado em infusão contínua em
EV. Em infusão contínua são preconizadas doses varian- Pediatria por haver relato de crianças que desenvolve-
do de 0,05 a 0,5 mg/kg/hora.3 ram a síndrome de infusão do propofol, que inclui aci-
dose metabólica, hiperlipidemia, insuficiência cardíaca,
Lorazepam arritmias e morte. Essa síndrome, que foi observada ini-
Pico de ação em 1 hora, com meia-vida de 4 a 8 cialmente em crianças, também tem sido descrita em
adultos.1 Mais recentemente o propofol tem sido adicio-
horas. Pode ser utilizado na retirada do midazolam em
nado à lista de agentes usados para a sedação e analge-
uso contínuo prolongado e também no tratamento da
sia de crianças durante VM por períodos de até 24 horas,
dependência e síndrome de abstinência aos opioides.
como um prolongamento do estado anestésico, em ca-
Hipotensão e depressão respiratória poderão ocorrer, sos selecionados. A experiência clínica do seu uso para
principalmente quando usado em associação com períodos prolongados ainda é limitada, especialmente
opioides. Efetivo por VO, IM ou EV, porém no Brasil só em crianças.4,5 A dose recomendada é de 0,5 a 4 mg/kg,
há a apresentação em comprimidos. A dose EV é de seguida por infusões de 25 a 250 µ/kg/min. Doses me-
0,03 a 0,10 mg/kg (máximo de 2 mg/dose), e a VO é nores de até 75 µ/kg/min minimizam a possibilidade de
de 0,05 a 0,2 mg/ kg (máximo de 4 mg/dose) a cada 4 ocorrência da síndrome de infusão do propofol. O uso
a 8 horas. prolongado pode levar a tolerância e abstinência.5,6

Flumazenil Cetamina
Antagonista puro, que atua competitivamente, É um anestésico dissociativo que produz sedação,
inibindo o complexo receptor GABA-benzodiazepínico amnésia e analgesia. Diminui o broncoespamo e a resis-
no sistema nervoso central. Reverte a depressão res- tência das vias aéreas em asmáticos, sendo considera-
piratória, a amnésia, os efeitos sedativos e também a da droga de escolha para a sedação desses pacientes.
reação excitatória paradoxal que ocorre em algumas Pode produzir alucinações, porém esse efeito é menos
incidente em crianças e pode ser reduzido com a admi-
crianças com o uso dos benzodiazepínicos. A meia-vida
nistração prévia e concomitante de benzodiazepínicos.
é geralmente mais curta que a dos benzodiazepínicos.
Pode ser usada como um suplemento em esquemas de
Será necessário observar o paciente por um período
sedação com opioides e benzodiazepínicos em crianças
prolongado para assegurar-se de que os efeitos inde- submetidas a VM. Tem metabolismo hepático. Embora
sejados dos sedativos não recorrerão. Dose inicial 0,01 tenha propriedades vasodilatadoras, preserva a esta-
a 0,02 mg/kg. Se a resposta for inadequada, pode ser bilidade hemodinâmica por seus efeitos simpáticos se-
repetido a cada 2 minutos até uma dose máxima de 1 cundários, com liberação de epinefrina e norepinefrina.
mg. Deve ser administrado com precaução em pacien- Ocasiona aumento da frequência cardíaca, da pressão
tes com história prévia de distúrbios convulsivos, pois arterial sistêmica, das secreções em vias aéreas e espas-
pode desencadear convulsões.4 mo laríngeo. Aumenta o consumo cerebral de oxigênio,

94
Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares

o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana, tiopental é um anestésico potente, com rápido início de
sendo contraindicada em pacientes com hipertensão ação. A dose anestésica de 2-5 mg/kg leva a depressão
intracraniana. Não deve ser utilizada em crianças me- respiratória, com necessidade de manutenção da via aé-
nores de 3 meses. A dose EV individual é de 1- 4 mg/ rea pérvia. Depressão miocárdica e hipotensão arterial
kg. Em infusão contínua, a dose inicial para pacientes dose-dependente são seus principais efeitos adversos
em VM é de 10 a 15 µ/kg/min, podendo ser aumenta- e, por isso, devem ser evitados em pacientes com insta-
da a até 60 µ/kg/min, de acordo com o efeito desejado. bilidade cardiocirculatória. Outros efeitos adversos são
A dose broncodilatadora oscila entre 20-40 µ /kg/min. depressão respiratória, tosse, laringoespasmo e anafila-
Analgesia pode ser obtida com doses tão baixas quanto xia. Em geral, os barbitúricos não devem ser adminis-
5 µ/kg/min. O pico de ação ocorre em 1 minuto, com trados a crianças com asma grave porque estimulam a
recuperação total do paciente em 1-2 horas. O uso pro- liberação de histamina.
longado pode induzir tolerância.5,6 Uma de suas indicações pode ser o manuseio
de crianças com estado de mal convulsivo refratário.
Clonidina Neste caso é administrado em infusão contínua de 1
Agonista central alfa-2 de adrenorreceptores a 5 mg/kg/h.
que resulta em diminuição dos níveis circulantes de O uso de infusão de tiopental pressupõe o uso
epinefrina e norepinefrina, e que previne muitos dos de vasopressores e suporte ventilatório. Em pacientes
sintomas da liberação excessiva de catecolaminas obesos ou com comprometimento hepático, e espe-
durante a retirada dos opioides. Induz hipotensão, cialmente após uso prolongado, pode-se observar um
analgesia e sedação. Pode provocar bradicardia. É ra- longo período de sedação, mesmo após a suspensão
pidamente absorvida por via oral e tem uma meia-vida da droga. O uso prolongado pode resultar em tolerân-
de 9 a 12 horas. Tem metabolismo hepático e renal. O cia e abstinência.2,6
uso de clonidina deve ser considerado quando o es-
quema padrão de sedativos analgésicos for insuficien-
te ou inadequado. Outras aplicações clínicas incluem Analgesia
o manejo das crises autonômicas após dano cerebral As crianças, principalmente as que estão em
grave ou síndrome de abstinência secundária à retira- VM, são frequentemente inábeis para comunicar ade-
da dos opioides e sedativos. A dose é de 1 a 2 µ/kg, via quadamente suas necessidades, incluindo o controle
oral, a cada 6 horas.2 da dor. O estresse provocado pela dor pode produzir
complicações pulmonares, gastrointestinais, cardio-
Hidrato de Cloral vasculares, hematológicas, psicológicas e metabólicas,
Sedativo e hipnótico, sem efeito analgésico, de agravando o quadro clínico. O paciente agitado que
uso oral ou retal. A dose hipnótica pode ser alcançada está “brigando” com o respirador pode estar sentindo
com 40 a 100 mg/kg com mínima possibilidade de de- uma dor significativa. A dor pode ocorrer por traumas,
pressão respiratória. Doses inferiors a 40 a 60 mg/kg/dia incisões cirúrgicas, procedimentos invasivos, infecções
são geralmente suficientes para o efeito sedativo. Sua localizadas, queimaduras, imobilização inadequada ou
metabolização é hepática, não devendo ser administra- mesmo pela simples presença do tubo endotraqueal e
do nos pacientes com insuficiência hepática. Pode cau- aspiração da via aérea. A analgesia adequada favorece
sar irritação gástrica. Seu uso em recém-nascidos deve o restabelecimento das funções vitais e a diminuição do
ser cauteloso, pela possibilidade de acúmulo de meta- tempo de VM.
bólitos ativos, podendo desenvolver acidose metabóli- A dor pode manifestar-se por aumento da fre-
ca e hiperbilirrubinemia indireta e/ou direta. Tem efeito quência cardíaca, aumento da pressão arterial, midría-
cumulativo, portanto, quando usado em doses intermi- se, lacrimejamento e agitação psicomotora. Muitas
tentes frequentes, pode induzir bradicardia, sedação intervenções não farmacológicas tais como: posição
profunda, depressão respiratória e cardíaca. Tem uso li- correta do paciente, redução e estabilização de fratu-
mitado nas UTIs, no entanto pode ser útil como indutor ras e eliminação de irritantes físicos podem evitar ou
do sono noturno ou como agente sedativo suplemen- diminuir a necessidade de analgesia. As terapias far-
tar na criança submetida a VM, especialmente quando macológicas fundamentam-se principalmente no uso
estas desenvolvem tolerância a outros sedativos.6 de opioides, porém analgésicos não opioides podem
ser utilizados como adjuvantes ou isoladamente, nas
Tiopental dores de menor intensidade.
Os barbituratos são agentes de segunda ou ter- Métodos para quantificar a dor deveriam ser
ceira escolha para uso em sedação prolongada na UTI, usados rotineiramente. Estudos de diferentes popula-
quando os opioides e benzodiazepínicos falham. O ções de pacientes indicam que médicos e enfermeiras

95
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

proporcionam alívio inadequado da dor. Estudos em so- utilizado com cautela quando sob a forma de infusão
breviventes de UTI indicam uma alta lembrança de dor.7 contínua ou em grandes doses. A taxa de metabolismo
é dependente do fluxo sanguíneo hepático, e sua elimi-
nação é mais rápida nas crianças do que nos adultos. A
Opioides tolerância se desenvolve rapidamente, necessitando de
As medicações opioides têm efeito sinérgico com aumento progressivo da dose. Doses cumulativas maio-
drogas sedativas, particularmente com os benzodia- res de 1,5 mg/kg e/ou uma duração de infusão superior
zepínicos. A combinação de analgésicos e sedativos fre- a 5 dias estão relacionadas a uma chance de indução de
quentemente resulta no uso de doses menores de cada tolerância de mais de 50%. Pode ocasionar rigidez da
um deles.,2,6 Em alguns pacientes o uso isolado de um parede torácica e/ou da glote, bradicardia e hipoten-
analgésico opioide poderá proporcionar alívio da dor e são arterial, principalmente quando utilizado em doses
tranquilidade. maiores de 5 µ/kg/hora ou quando administrado rapida-
Morfina e seus derivados são drogas que atuam mente, em doses individuais. A dose intermitente EV é
por meio da interação com receptores opioides, pro- de 1 a 5 µ/kg ou 1 a 10 µ/kg/hora em infusão contínua. A
porcionando analgesia e sedação, sem causar amné- rigidez de parede torácica pode ser revertida com o uso
sia, e por esse motivo são frequentemente utilizados de naloxona. Os bloqueadores neuromusculares tam-
em associação com benzodiazepínicos. Os opioides bém são úteis nessa situação, uma vez que o uso isolado
têm metabolização hepática e eliminação renal, com de naloxona pode não reverter rapidamente o quadro.2,6
possibilidade de sedação prolongada nos pacientes
com insuficiência renal. Podem desencadear depressão Meperidina
respiratória, o que aumenta a necessidade de monito- Opioide sintético com potência menor que a
rização sempre que forem utilizados. Podem induzir to- morfina. Pouco utilizada nas unidades de terapia in-
lerância após poucos dias de uso, e a redução da dose tensiva pediátricas, pois o seu uso frequente ou em
ou a suspensão abrupta pode levar aos sintomas de pacientes com insuficiência renal leva ao acúmulo do
abstinência. Na ocorrência de efeitos colaterais graves seu metabólito ativo, a normoperidina, resultando em
pode-se utilizar um antagonista opioide, sendo a nalo- efeito opioide prolongado bem como em neurotoxici-
xona o mais utilizado. dade, manifestada por delírios, tremores, mioclonias e
convulsões.1 É utilizada usualmente por via intravenosa,
Morfina e a dose recomendada é de 1-1,5 mg/kg/dose a cada
Pode induzir à liberação de histamina, causando 3-4 horas, com dose máxima de 100 mg/vez. Em altas
hipotensão, prurido, broncoespasmo e vermelhidão doses pode causar depressão miocárdica.
cutânea. Prurido, náuseas e retenção urinária são efei-
tos colaterais bastante comuns. Tem eliminação renal. O Metadona
início de ação é rápido, com pico em 20 minutos e dura- É muito utilizada na prevenção e no tratamento
ção aproximada de 60 minutos. Existe grande variação da abstinência e da dependência. Tem efeito cumula-
da resposta individual. Sua farmacocinética é influen- tive, que pode levar a uma sedação mais prolongada
ciada pela idade. Os recém-nascidos são mais suscetí- que a desejada. As doses e o regime de administração
veis à depressão respiratória provocada pela morfina devem ser individualizados. No entanto, usualmente se
do que as crianças maiores e os adultos. Doses elevadas inicia com doses de 0,05 a 0,2 mg/kg, VO ou EV, a cada
podem provocar bradicardia e depressão cardiovascu- 4 a 6 horas.
lar e respiratória. Hipotensão ortostática poderá ocorrer
mesmo em doses discretas. É útil para bloqueios locor- Tramadol
regionais. A dose para uso intermitente é de 0,05 - 0,2 Analgésico opioide sintético indicado no tra-
mg/kg/dose por via EV ou SC e em infusão contínua EV tamento da dor aguda de moderada intensidade. É
é de 0,025 - 2 mg/kg/hora.2,6 parcialmente antagonizado pela naloxona. Efeitos cola-
terais incluem: tontura, náuseas, boca seca, constipação,
Fentanil cefaleia, sudorese. Crises convulsivas podem ocorrer em
Opioide semissintético, com inicio de ação muito pacientes que usam inibidores da monoaminoxidase
rápido, o que facilita o seu uso para procedimentos inva- (IMAO). Tem menor possibilidade de causar depressão
sivos, na unidade de terapia intensiva. É cem vezes mais respiratória que outros opioides. Sintomas de tolerân-
potente que a morfina. Libera menos histamina que a cia, dependência e síndrome de abstinência poderão
morfina, proporcionando pouca instabilidade cardio- ocorrer com o uso prolongado. Vias de administração:
vascular, mesmo em doses elevadas, e por isso é muito oral, retal, subcutânea, intramuscular ou intravenosa.
utilizado nos pós-operatórios de cirurgias cardíacas. Por Possui restrições em Pediatria, porém tem sido utilizado
possuir uma meia-vida de eliminação prolongada (de em adolescentes em doses de 5 mg/kg/dia (máximo de
até 21 horas, após longo período de infusão), deve ser 400 mg/dia) ou de 50 a 100 mg a cada 4 a 6 horas.

96
Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares

Naloxona e corticosteroides simultaneamente devem ser inten-


É um antagonista opioide puro, isto é, que não samente monitorados no sentido de prevenção e/ou
apresenta nenhum efeito agonista. Pode prevenir ou detecção precoce de miopatia.10
reverter efeitos dos opioids, tais como: depressão res- Os BNM não despolarizantes, tais como o pan-
piratória, sedação e hipotensão. Pode também reverter curônio, o vecurônio e o rocurônio, agem bloqueando
parcialmente os efeitos analgésicos. As possíveis vias de os receptores pós-sinápticos da acetilcolina.
administração são EV, IM, SC e intratraqueal. O início de
ação é de 2 minutos, com duração de 20 a 60 minutos. Succinilcolina
Doses repetidas eventualmente podem ser necessárias É o único agente despolarizante usado em crian-
para reverter o efeito opioide. A eliminação é hepática ças, porém o seu uso clínico na UTIP praticamente se
e é mais prolongada nos recém-nascidos. Dose: 0,01-0,1 restringe à intubação endotraqueal e ao tratamento do
mg/kg (máximo de 2 mg/dose).6 laringoespasmo. Em doses de 1,0 a 2 mg/kg EV, levará a
depressão muscular em torno de 60 segundos. Crianças
com menos de 3 anos poderão necessitar de doses de
Analgésicos Não Opioides 3 mg/kg. Os efeitos colaterais incluem arritmias, hiper-
Os anti-inflamatórios não hormonais (AINH), bem calemia, mioglobinemia, fasciculações, hipertermia
como os analgésicos/antipiréticos tais como acetomi- maligna.
nofen (paracetamol) e dipirona, podem ser utilizados
para o tratamento da dor de intensidade fraca ou mode- Pancurônio
rada, isoladamente ou em associação com os opioides.
Relaxante muscular não despolarizante de longa
Os salicilatos atualmente têm uso restrito em ação. Início de ação em torno de 3 minutos. Induz ta-
Pediatria, devido ao risco aumentado para o desenvol- quicardia pelo seu efeito vagolítico. Não libera histami-
vimento da síndrome de Reye em crianças com varicela na. Como resultado a pressão arterial tende a aumentar
ou outras infecções virais. após o seu uso. Seus efeitos são aumentados por insufi-
ciência renal, hipotermia, acidose, anestésicos, voláteis,
succinilcolina, hipocalemia e aminoglicosídeos. Dose:
Bloqueadores Neuromusculares
0,08 a 0,1 mg/kg/hora EV em infusão contínua ou em
Os bloqueadores neuromusculares (BNM) estão doses intermitentes de 1 em 1 hora.
indicados para a intubação endotraqueal e durante a
VM para eliminar o assincronismo com o ventilador em
Vecurônio
crianças com insuficiência respiratória grave ou para re-
duzir o risco de extubação acidental em crianças com É um análogo monoquartenário do pancurônio,
via aérea instável. Para os pacientes com doença pulmo- não despolarizante, de ação intermediária (2 minutos).
nar ou cardíaca graves, os maiores benefícios com o seu A vantagem sobre o pancurônio é a não ocorrência de
uso são a redução no consumo de oxigênio sistêmico efeitos cardiovasculares. Não aumenta a pressão arterial.
e do gasto de energia, pela eliminação da contração A duração do efeito clínico e o tempo de recuperação são
muscular esquelética. É utilizado em torno de 30% das mais curtos em lactentes quando comparados com ou-
crianças em VM.8,9 tros grupos etários. É primariamente metabolizado pelo
fígado e excretado pela bile. Dose: 0,1 mg/kg/h.
As crianças em uso de BNM podem manifestar a
dor por aumento da frequência cardíaca, aumento da
Rocurônio
pressão arterial, variação no diâmetro pupilar e lacri-
mejamento.3 Devido à dificuldade de avaliar correta- Relaxante neuromuscular não despolarizante de
mente a dor nesses pacientes, é preferível mantê-los ação intermediária. Tem uma estrutura molecular muito
com níveis maiores de sedação e analgesia a expô-los similar à do vecurônio, com a mesma duração de ação,
ao desconforto e à dor. Um estimulador elétrico de porém com início de ação quase duas vezes mais rápi-
nervo periférico pode ser utilizado para realizar essa do. Dose: 0,6 mg/kg/hora.
monitorização. Fraqueza muscular após a interrupção
de infusão contínua por tempo prolongado pode ser
observada com o uso de todos os agentes não des- Tolerância, dependência,
polarizantes, porém é menos frequente em crianças adição e abstinência
do que em adultos. Alguns estudos têm atribuído a
ocorrência de miopatia em pacientes em UTI devido à
combinação de corticosteroides e BNM durante a VM. Tolerância
O fator predisponente seria a hipersensibilidade dos É a diminuição no efeito da droga com o passar do
músculos paralisados aos glicorticoides. Por esse moti- tempo ou a necessidade de aumentar a dose para obter
vo, pacientes usando bloqueadores neuromusculares o mesmo efeito.5 Refere-se a mudanças no receptor ou

97
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

distais a ele, geralmente em nível celular. Quando ocor- meia-vida curta, como o fentanil ou o propofol, ou dias
re a tolerância farmacodinâmica os níveis plasmáticos após se o agente ou seus metabólitos têm uma meia-
da droga permanecem os mesmos, mas com um menor -vida longa, como o diazepam, por exemplo. Pacientes
efeito sedativo e/ou analgésico.5 Tem sido sugerido que com disfunção renal ou hepática também podem ter
tolerância se desenvolve mais rapidamente com a infu- sinais e sintomas mais tardios de retirada. Os sinais e
são contínua do que com a intermitente.1,5 sintomas incluem:
„„ Ativação do sistema nervoso central: ansieda-
de, irritabilidade, cefaleia, insônia, tremores,
Dependência e Adição hiperatividade dos reflexos tendinosos profun-
A dependência física refere-se à necessidade do dos, dificuldade de concentração, mioclonias,
organismo em continuar a receber a droga para evitar espirros frequentes, delírios, hipertonicidade,
os sinais de abstinência.5 Dependência psicológica é a convulsões, alucinações visuais e auditivas,
necessidade de receber a substância devido aos seus choro forte, coreoatetose, parestesias.
efeitos eufóricos.5 Adição é um padrão complexo de „„ Distúrbios gastrointestinais: vômitos, diarreia,
comportamento caracterizado pelo uso repetitivo e dificuldade de sucção, salivação, persistência
compulsivo da substância, com comportamento antis- de resíduo gástrico, cólicas.
social ou ilegal para obter a droga e uma alta incidência
„„ Hiperatividade simpática: hipertensão arterial,
de reincidência após tratamento.
taquicardia, taquipneia, midríase, obstrução
Dependência psicológica e adição são extrema- nasal, rinorreia, lacrimejamento, febre, sudore-
mente raras após o uso de analgésicos e sedativos para se, piloereção.
alívio da dor e ansiedade nas UTIP. Essa rara possibilida-
de de ocorrência não deve limitar o uso desses agentes
na prevenção e no tratamento da dor e da ansiedade A incidência dos sintomas de retirada aumenta
em crianças e adolescentes. com o uso concomitante de BNM.1,5 Isso poderia ser
consequência da dificuldade em se prescrever uma
dose menor de sedativos e analgésicos, já que as esca-
Abstinência las de avaliação não podem ser aplicadas nos pacientes
É o aparecimento de sinais e sintomas quando a com BNM.
administração de sedativos ou analgésicos é desconti-
nuada em um paciente que é fisicamente tolerante. A Tratamento da Abstinência
sintomatologia varia de paciente para paciente e pode
ser afetada por fatores tais como: idade, agente envolvi- O primeiro passo para o tratamento da absti-
do, estado cognitivo e condição clínica. nência é a identificação dos pacientes em risco para
desenvolvê-la, utilizando estratégias para evitar a sua
A abstinência está relacionada principalmente ao ocorrência. A base da terapia para prevenir a abstinên-
uso prolongado e a doses altas, cumulativas. Os pacien- cia permanece a diminuição lenta da infusão. Isso pode
tes que desenvolvem tolerância apresentam um risco ser feito rapidamente, com reduções na dose de 10 a
aumentado para desenvolver abstinência quando da 15% a cada 6 a 8 horas, se o paciente estiver receben-
suspensão da medicação. Pacientes expostos a altas do- do analgésicos e sedativos por período menor do que
ses de opioides ou sedativos, por períodos superiores 5 dias. No entanto, após administração prolongada
a 5 dias, podem desenvolver dependência farmacológi- a suspensão total do medicamento poderá levar de 2
ca. A suspensão abrupta e intempestiva desses agentes a 4 semanas, com reduções diárias de até 10%. Se um
pode desencadear síndrome de abstinência. Estudos período de desmame mais prolongado é necessário, a
em Pediatria demonstram que a velocidade de retirada opção de trocar para um agente oral de longa duração
é o principal fator desencadeante. deve ser considerada. Isso pode incluir a metadona para
Embora menos comuns que os problemas rela- os opioides, o lorazepam para os benzodiazepínicos e o
cionados com os opioides, tolerância, abstinência e adi- fenobarbital para os barbituratos.5
ção podem ocorrer com os sedativos. Muitos dos sinais A clonidina, um agonista adrenérgico alfa-2 de
e sintomas de abstinência são semelhantes para os se- ação central, pode ser utilizada para controlar os sinto-
dativos e os analgésicos, com algumas sutis diferenças mas de abstinência. Devido ao seu efeito de ação pro-
dependendo do agente envolvido. O risco de abstinên- longada, pode ser usada uma a duas vezes ao dia, com
cia é de 50% com o uso de fentanil por mais de 5 dias doses iniciais de 3 a 5 µ/kg/dia.
ou numa dose cumulativa maior que 1,5 mg/kg. Para Como a tolerância se desenvolve em relação
o midazolam esse mesmo risco ocorre com uma dose à ocupação de receptores, teoricamente é possível
cumulativa superior a 60 mg/kg. atrasar ou evitar a sua ocorrência com um esquema
As manifestações podem ocorrer logo após a di- de rotatividade nos regimes de sedação, em interva-
minuição ou suspensão da droga, se o agente tem uma los específicos.5

98
Sedação, Analgesia e Bloqueadores Neuromusculares

A interrupção diária da sedação e analgesia contí- As principais escalas em uso atualmente são:
nua até que o paciente dê sinais de que está acordando escala de sedação de Ramsay, desenvolvida em 1974,
diminui o tempo de VM, porém essa prática ainda não é escala de agitação e sedação de Richmond, escala de
totalmente aceita para os pacientes pediátricos, que po- COMFORT.
dem ficar agitados e inconsoláveis após a interrupção, A escala de avaliação mais usada em Pediatria é a
necessitando reiniciar com doses maiores de sedativos. COMFORT, uma ferramenta observacional desenvolvida
especificamente para crianças em VM.10 Embora o uso
dessa ferramenta pareça oferecer uma medida objetiva
Monitorização da Sedação e Analgesia do nível de dor e agitação da criança, muitas das variá-
A monitorização da dor e da ansiedade nas veis avaliadas são relativamente subjetivas, tais como
crianças em VM é um desafio para os intensivistas devi- avaliação do tônus muscular e facial.9
do às dificuldades para determinar o ponto ideal entre
O índice biespectral (BIS – bispectral index) é um
a agitação e o coma droga-induzido. A avaliação entre
valor numérico que varia de zero (sedação profunda)
esses dois extremos é frequentemente imprecisa. A
a 100 (acordado) e que deriva de uma complexa aná-
farmacocinética das drogas em crianças criticamente
lise matemática do eletroencefalograma (EEG). Um BIS
enfermas está frequentemente alterada por ligação às
de 45 a 60 tem mostrado correlacionar-se a uma baixa
proteínas, distribuição da droga nos órgãos e tecidos,
probabilidade de resposta a estímulo verbal. O possível
imaturidade hepática e renal. Algumas das novas es-
papel do BIS em minimizar as complicações da sedação
tratégias de VM, tais como hipercapnia permissiva e as
ainda não está totalmente delineado.
altas pressões expiratórias finais com volume corrente
baixo, podem ser desconfortáveis, requerendo doses
maiores de sedativos.
Conclusões
Várias escalas para avaliar o nível de sedação
têm sido desenvolvidas. Todas essas escalas objetivam A necessidade de sedação e analgesia adequa-
ajustar a dose de sedativos e analgésicos para se obter das durante o período de VM tem resultado em novos
o melhor efeito sem uma sedação excessiva. O proble- desafios para os intensivistas pediátricos, tais como a
ma inerente a todas essas escalas, porém, é a natureza tolerância, dependência física e abstinência. Estratégias
subjetiva dessas medidas. A utilização de algum tipo são necessárias para que esses problemas não limitem a
de escala facilita a comunicação entre os profissionais utilização de sedação e analgesia eficientes para os pa-
e ajuda na titulação da dose de sedativos e analgésicos cientes em VM. Uma avaliação contínua da dor deve ser
com melhoria do conforto do paciente e diminuição da rotina em todas as UTIP.
incidência de abstinência após a retirada dos sedativos Quando o paciente está sendo liberado da sua
e analgésicos. No entanto, a maioria dos sistemas de medicação sedativa, deve ser assegurada avaliação cui-
avaliação não identifica se a agitação é provocada pela dadosa de sinais e sintomas de retirada de opioides e
dor ou pela ansiedade. Os sistemas de avaliação são ain- benzodiazepínicos. Os cuidados pós-UTI de pacientes
da mais limitados em pacientes em uso de BNM, uma submetidos a VM devem envolver monitorização cuida-
vez que estes não se movimentam espontaneamente dosa para sinais de depressão, abuso de drogas e trans-
ou aos estímulos. torno de estresse pós-traumático.1

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100
Desmame 14

É a retirada gradual da assistência ventilatória „„ volume minuto < 10 L/minuto;


mecânica. Deve ser iniciado quando o paciente apre- „„ ventilação voluntária máxima maior que o
senta condições cardiocirculatórias, neurológicas e me- dobro do volume minuto de repouso.
tabólicas estáveis.
A literatura é escassa em relação a índices pediá-
As condições básicas para que o desmame possa tricos. Os índices fisiológicos para predizer um desma-
ser feito com sucesso incluem: me bem-sucedido têm alto índice de falsos positivos e
a. troca gasosa pulmonar adequada; falsos negativos.
b. desempenho eficaz da musculatura respiratória;
c. fatores psicológicos favoráveis.
Métodos para suspender
ventilação mecânica
Parâmetros utilizados para
predizer desmame bem-sucedido Suspensão abrupta
Muitos pacientes que foram submetidos a pe-
Embora um médico experiente possa frequen-
ríodos curtos de suporte ventilatório podem reassumir
temente predizer o sucesso de um desmame, é dese-
a respiração espontânea com pouca dificuldade. Por
jável que se tenha medidas objetivas para identificar
exemplo, pacientes submetidos a cirurgia, sem com-
os pacientes com risco de falha da tentativa precoce de
prometimento respiratório, podem ser extubados após
desmame. Tais índices evitariam as tentativas precoces
algumas horas.
de desmame e o desenvolvimento da descompensação
cardiorrespiratória grave e/ou psicológica. Por outro
lado, esses índices permitem a identificação precoce Desmame gradual em tubo T
do momento em que o paciente é capaz de reassumir A abordagem do desmame gradual em tubo T
e manter a respiração espontânea, evitando um prolon- consiste em sessões de respiração espontânea de dura-
gamento desnecessário do período de suporte venti- ção crescente, intercalados por períodos de ventilação
latório. Além disso, devido a sua capacidade de avaliar mecânica. Após 30 minutos de respiração espontânea
diferentes funções fisiológicas, esses escores ajudam com uma gasometria arterial normal, pode ser realiza-
a racionalizar o motivo da dependência da ventilação da a extubação. Não é utilizado em crianças devido ao
mecânica num determinado paciente e sugerir altera- menor calibre do tubo, levando a um aumento da resis-
ções no seu manuseio. tência da via aérea, e também pelo aumento do espaço
Entre as variáveis utilizadas para predizer desma- morto em uma criança em respiração espontânea.
me, temos:
A. Troca gasosa
Ventilação mandatória intermitente –
„„ PaO2 > 60 mmHg com FiO2 < 0,35;
„„ Gradiente alveoloarterial de O2 (PAO2 – PaO2)
IMV ou SIMV
< 350 em FiO2 =100% O paciente recebendo IMV pode respirar es-
pontaneamente e, além disso, receber ventilação com
„„ relação PaO2/FiO2 > 200.
pressão positiva numa frequência determinada pelo
B. Bomba ventilatória (parâmetros avaliados em aparelho. A FR é reduzida gradualmente com medidas
adultos) de gasometria arterial.
„„ capacidade vital > 10 a 15 mL/ kg de peso; Nos ventiladores atuais, a IMV é utilizada como
„„ pressão inspiratória negativa máxima < -30 SIMV, isto é, sincronizada, utilizando uma tecnologia
cm H2O; com válvula de demanda. Uma redução na pressão de
Manual do Curso de Ventilação Mecânica em Pediatria

vias aéreas ou a geração de um fluxo gasoso faz com „„ Pinsp < 25 cmH2O;
que a válvula abra e permita que haja uma liberação de „„ PEEP < 5 cmH2O (quando há necessidade de
um fluxo de gás durante a inspiração espontânea. Foi extubação com pressão expiratória maior re-
demonstrado repetidamente que a redução excessi- comenda-se a manutenção de pressão na via
va da pressão nas vias aéreas necessária para ativar a aérea após extubação, com ventilação não
válvula de demanda combinada com a liberação inade- invasiva);
quada de um fluxo de gás instantâneo pode duplicar
„„ FR menor que 10 resp/minuto em lactentes
o trabalho respiratório e o consumo de oxigênio. Esse
e pré-escolares (não há necessidade de se
problema tem sido contrabalançado pela utilização do
manter o paciente em CPAP pré-extubação);
flow-by, que mantém a válvula de demanda parcialmen-
em crianças maiores e adolescentes, FR < 5
te aberta, reduzindo o trabalho necessário para abri-la e
resp/min;
reduzindo o tempo de resposta entre a percepção da
respiração espontânea e abertura da válvula. „„ Relação PaO2/FiO2 > 200;
„„ Pressão de suporte menor do que 10 (por
exemplo: 5 sobre PEEP de 5);
Pressão de suporte (PS)
Vários trabalhos mostram que a PS é capaz de Técnica
contrabalançar o trabalho respiratório imposto pela „„ Jejum por 6 horas ou aspiração do conteúdo
cânula endotraqueal e pelo circuito ventilatório em gástrico;
adultos. É uma modalidade que tem sido utilizada com
„„ A aspiração da traqueia e da orofaringe deve
sucesso no desmame de crianças, embora não haja
ser realizada imediatamente à pré-extubação;
comprovação científica de que seja superior à IMV.
„„ Colocar o paciente em um ambiente com FiO2
Na prática, quando há a possibilidade de utilizar
10% maior do que o utilizado pré-extubação.
pressão de suporte, passamos de pressão controlada
para SIMV + pressão de suporte, depois para pressão de
suporte, e então procedemos à extubação. Pode-se manter o paciente com CPAP nasal pós-
-extubação, principalmente recém-nascidos e lactentes
Extubação jovens, ou em crianças maiores por meio da ventilação
A extubação pode ser realizada se: não invasiva com máscara.
„„ FiO2 < 40%;

Bibliografia
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ventilation and T-piece during weaning from mechanical ventilation. Am Rev Respir Dis 1991;143:469.
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acute respiratory failure. Am J Med 1990; 88:268.
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State of Art 1991;12:373.

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Fomentar a pesquisa, formação, titulação e


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