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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA E TEORIA LITERÁRIA
LET 3
SETOR DE TEORIA LITERÁRIA
Disciplina: Estudos Literários - LET 03004
Créditos: 04 Carga horária: 60 h Caráter: Obrigatório
Professora: Dra. Márcia Ivana de Lima e Silva Semestre: 2018/1
Aluna: Madelaine Santos Lopes (turma B)

Pausa

Aconteceu em novembro, ou fevereiro, a única coisa que me lembro era do calor


insuportável do centro de Porto Alegre, que despencava as pressões arteriais das dezenas
de pessoas suadas e fedorentas que iam desviando de mim. Acredito que tenham me
xingado, afinal de contas, não é todos os dias que, em plena rua dos Andradas, tem um
corpo atirado na calçada.

Estar no chão, naquele momento, era a única ação possível para mim, nada parecia
tão certo do que ficar ali parada, sendo pisoteada de quando em vez, vendo várias solas
de sapatos diferentes, com várias porcarias coladas embaixo. Tinha algo de nobre e de
coerente em ficar como um pedaço de merda de cachorro esparramada no chão.

Além das solas de sapatos diferentes, existia uma certa comoção estranha, uma
movimentação curiosa, como se existissem pessoas que realmente se preocupassem com
aquilo que estavam vendo, como se a minha queda e minha inércia estivessem
modificando a vida delas, mas acho que era somente incomodação, ou dó.

Chegaram os policiais a cavalo, ficaram me olhando e confabulando o que fariam


comigo, enquanto várias pessoas ainda pisavam em minhas mãos, em meus cabelos e em
meus pés. Existia um certo interesse sádico-preocupado em assistir meu estado deplorável
de bosta no chão com um olhar de pena estampado nos olhos. No fim, resolveram me
deixar ali, afinal, uma hora eu iria morrer de tanto pisarem em mim, e as pessoas que
estavam perdendo seu tempo em me olhar, iriam cansar e seguir suas vidas.
Felizmente não morri, mas fiquei, suponho, umas três semanas sendo pisoteada
como um tapete velho que nem os cachorros têm interesse em deitar mais. Depois desse
prazo, me levantei. Apesar de minhas pernas estarem finas como folhas de papel, devido
a tanto pisões, consegui, depois de um breve momento me esticando, descer a Rua da
Praia em direção ao ponto de ônibus.

Percebi que olhavam para mim, mas não mais com o olhar sádico-preocupado, e
sim com algo semelhante à compreensão, como se aqueles lojistas que me assistiram
tivessem entendido que eu somente precisava de um tempo. Acho que talvez não tenha
sido o melhor lugar para isso, mas foi feito, precisava ser feito.

MEMORIAL DE CRIAÇÃO:

Como não tinha feito a leitura do material sobre conto disponível no Moodle, resolvi
escrever primeiro e depois procurar embasamento teórico, uma vez que a proposta era
justamente soltar a imaginação. Escrevi três contos diferentes: o primeiro e maior de todos
ficou pela metade porque eu ainda não sabia exatamente o que queria narrar. O segundo,
de tamanho mediano, foi terminado, mas apresentava mais de uma temática, e as duas
não estavam se encaixando. O terceiro e definitivo foi cortado várias vezes até assumir
esse tamanho. Tinha sido escrito com mais dois ou três parágrafos, mas, assim como o
segundo, estava saindo fora da ideia principal: relatar a micro história de uma mulher
exausta que só precisava de um tempo.

O ambiente montado no conto é identificável, principalmente, para aqueles que


moram, ou que conhecem Porto Alegre, e por se tratar de um conto, não quis dar grandes
detalhes do cenário, apesar de contar que havia várias pessoas em uma rua, então,
movimentada do centro da cidade, o que torna o conhecimento das ruas, em si,
desnecessário para a compreensão do texto.

A personagem não é nomeada, justamente para poder ser qualquer uma, a ideia é
passar o sentimento de desolação que a faz não se importar com mais nada a não ser parar,
o que se reflete em um sentimento geral de inúmeras pessoas.

Com base no texto de teoria disponível no Moodle de André Jolles, que trata
especialmente da origem do conto e de como ele se instaurou no passado, pude fazer uma
breve análise de uma versão mais atualizada de conto do que aquela mostrada no texto.
Algumas características ainda são semelhantes ao que eu escrevi, como a falta de
compromisso do conto de provar para o leitor que aquilo que está sendo narrado é
verdade. Em momento nenhum se comprova que a personagem realmente foi pisada por
várias semanas, e é impossível que pernas fiquem finas como papéis e ainda sim
funcionem normalmente a ponto de poderem andar. Com isso, a característica de que o
universo pode ser aplicado ao conto, mas o conto não pode ser aplicado ao universo
também é mostrada.

De acordo com a característica da linguagem utilizada em contos, a que usei era


fluida, de fácil acesso, como se fosse escrita para “pessoas comuns”, e não para uma fina
camada da sociedade apreciadora de grandes poetas, como era a literatura de antes do
conto no passado.

Mesmo não sendo o tipo de conto da mesma linhagem dos irmãos Grimm, a minha
narrativa é incompreensível sem o entendimento de que há um elemento não realizável
no universo real. Em circunstância alguma uma pessoa seria deixada “em paz” para ser
pisoteada no centro de Porto Alegre, e depois levantaria como se nada tivesse ocorrido.

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