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Índice:
1. Introdução......................................................................................................................1
5. Conclusão....................................................................................................................12
6. Bibliografia.................................................................................................................15
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1. Introdução
Não podemos esquecer que o contexto histórico do pós Segunda Guerra Mundial
desempenha um papel fundamental nesta empreitada. Se economicamente a Europa tinha
tomado consciência da necessidade de se unir para a reconstrução, politicamente era vital o
estímulo a uma reaproximação entre a França e a Alemanha, de modo a se evitar um
possível terceiro grande conflito armado.
Assim, junto às demais comunidades européias (CEE e Euratom), criadas pelo Tratado de
Roma de 1957, a CECA foi o embrião do gigante bloco, não apenas econômico, mas
também político, que hoje denominamos União Européia.
No entanto, essa grande força política não esteve sempre presente na União Européia. De
início, sua construção se operou através da idéia de construção funcional, ou seja, segundo
as próprias palavras de Robert Schuman: “A Europa não se fará de uma só vez, nem numa
construção de conjunto: far-se-à por meio de realizações concretas que criem em primeiro
lugar uma solidariedade de fato.1” Ou seja, a construção foi realizada através de pequenas
medidas concretas a fim de se atingir, em última instância, uma integração política. Logo, o
desenvolvimento econômico através da solidariedade terminaria por alavancar uma
integração política.
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Declaração Schuman de 9 de maio de 1950.
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O Ato Único de 1986 traria ainda diversas disposições relativas à cooperação em matéria
de política estrangeira, o que é considerado como um marco da integração política
européia. A partir deste instrumento foi instaurado um regime dual na Europa:
economicamente objetivava-se a contrução de um mercado único e politicamente foi
iniciada a busca por uma verdadeira e profunda coesão entre o Estados membros.
Assim sendo, de partida o mercado único servia à proteção dos direitos humanos na
medida em que se prestava, sobretudo, ao objetivo de evitar um outro conflito armado das
mesmas proporções da 2ª Guerra Mundial.
A proteção aos direitos humanos segundo a lógica jurídica européia tem sua origem
fundamentalmente na Convenção Européia de Direitos do Homem, popularmente chamada
CEDH. Esse documento não é parte do direito comunitário, uma vez que foi elaborada pelo
Conselho da Europa, que não é uma instituição da União Européia.
Contudo, com a CEDH ocorreu uma grande evolução na proteção aos direitos humanos
dentro da extinta Comunidade Européia e da União Européia, havendo, portanto, um
diálogo entre os dois direitos europeus vigentes. Além dessa complexa relação, a adoção da
CEDH pela União Européia através do Tratado de Lisboa embute um valor vinculante à
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Convenção, que passa a ser obrigatória na União Européia e oponível através das decisões
da Corte de Justiça da União Européia, antiga Corte de Justiça das Comunidades Européias
(CJCE).
A partir de sua adoção, a proteção internacional aos direitos humanos adquiriu um aspecto
relativamente concreto na Europa, seja pela criação de uma Corte de Justiça especializada
em violações à Convenção, a Corte Européia de Direitos Humanos, sediada em Strasburgo,
seja pela obrigatoriedade de sua observância por parte de um estado para sua entrada e
permanência no Conselho da Europa.
De partida, a adoção da CEDH teve dois efeitos primordiais: a proteção dos direitos
humanos de qualquer pessoa (física ou jurídica) qualquer que seja sua nacionalidade e a
exigência da existência de recursos efetivos dentro da ordem jurídica interna dos Estados
signatários a fim de se invocar as disposições da Convenção, de seus protocolos ou da
vasta jurisprudência produzida pelos órgãos de controle.
Desse modo, qualquer indivíduo, nacional de um Estado signatário da CEDH ou não, pode
se beneficiar das disposições previstas pela Convenção desde que em território que a
reconheça.
A Convenção protege direitos das mais diversas naturezas, mas sempre clássicos, não se
preocupando muito quanto aos direitos humanos de segunda e terceira geração. Assim, são
garantidos os direitos políticos e sociais, os direitos pessoais (divididos entre direitos
inalienáveis, direito a liberdade e segurança, o respeito da vida privada e familiar, liberdade
de pensamento, de opinião, de consciência e liberdade religiosa), garantias processuais,
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direito de propriedade, direito dos estrangeiros, bem como é proibido qualquer tipo de
discriminação.
Todavia, a CEDH prevê diversos limites às garantias por ela estabelecidas. Se por um lado
os direitos de caráter humanitário são intangíveis, a maior parte dos direitos relacionados
na Convenção têm um caráter condicional, ou seja, podem sofrer limitações por parte dos
Estados signatários em casos de proteção à segurança, ordem ou saúde pública, desde que
sejam observadas a necessidade e a proporcionalidade das medidas restritivas.
A aplicação das disposições da Convenção Européia dos Direitos do Homem nos países
europeus se deu de modo gradual, tendo em vista que este instrumento, originalmente, não
faria parte do ordenamento jurídico comunitário.
Inicialmente, não era de competência da Corte tratar de direitos humanos. Contudo, havia
se desenvolvido uma prática comum entre os Estados Membros de invocar dispositivos
constitucionais internos de salvaguarda de direitos fundamentais para se isentarem de
obrigações assumidas perante a Comunidade Européia. Para subtrair esta prática, a CJCE,
aos poucos, começou a interpretar a Convenção e criar instrumentos para a preservação dos
direitos. A partir desse momento, tanto as Instituições européias quanto os Estados
Membros se tornaram vinculados às interpretações da Corte em matéria de direitos
humanos. A CJCE buscou como fonte de inspiração a CEDH, de modo a evitar as tradições
constitucionais internas comuns aos Estados Membros, cuja verificação da generalidade e
da aplicação comum se mostrava demasiadamente complexa.
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Em 1979 foi adotado na prática o princípio da adesão à CEDH pela Comunidade Européia,
sob o argumento de que se tratava de um modo de se impor a preservação dos direitos
humanos às Instituições Européias e aos Estados Membros e também um meio de se
expandir as garantias individuais sem a necessidade de se recorrer a um rol pré-definido de
direitos, que apenas aumentariam as possíveis contradições entre a CEDH e as
interpretações da CJCE em matéria de direitos humanos.
Por outro lado, a adesão da CE à CEDH traria uma inevitável necessidade de adaptação
técnico-procedimental do ponto de vista jurídico, dado que diversos dispositivos da CEDH
seriam inaplicáveis em nível comunitário, tais como o direito individual ilimitado de
recurso.
Desse modo, em uma decisão de 1995, a CJCE rejeitou o princípio da adesão à CEDH sob
o argumento de que a Comunidade mão estava apta a aderir à Convenção. Contudo o
motivo dessa decisão estava mais relacionado com a preocupação da Corte em preservar a
autonomia do direito comunitário e dela própria.
A Carta traz, em seu texto, referência à Convenção, de tal forma que a vigência da primeira
implica na vigência da última dentro do ordenamento jurídico da União Européia, por meio
do reenvio previsto no artigo 111 da Carta de Direitos Fundamentais da União Européia.
Neste contexto, foi realizado o Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em dezembro de
2009. A Carta, que antes constituía a parte II da Constituição deixou de constar no corpo
do novo tratado sobre o funcionamento da União Européia, devido às fortes polêmicas que
a matéria suscita. No entanto, nem por isso que a teria perdido seu caráter obrigatório, uma
vez que o artigo 6º do Tratado lhe confere valor jurídico equivalente ao de um tratado.
Concluindo, mesmo que a Carta não esteja presente no corpo do Tratado de Lisboa, ela é
vinculante a todos os países membro, com a exceção do Reino Unido e da Polônia, que
optaram por uma cláusula de “opting-out”. Como resultado, a CEDH é também obrigatória
dentro da ordem jurídica da União Européia, na medida em que a Carta lhe dá essa força
através de um dispositivo de duplo envio.
Assim sendo, existe na União Européia uma salvaguarda aos direitos humanos que muito
contribui para a persecução dos objetivos comunitários, mesmo os econômicos.
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Entre os objetivos econômicos, com certeza um dos pilares mais importantes é o Mercado
Único Europeu, que consiste em um espaço de tamanha liberdade no intercâmbio comercia
que as diferenças entre mercado nacional e mercado único foram suprimidas. De fato, a
criação de tal modelo está no centro do próprio projeto comunitário, tendo sido um dos
fundamentos da CEE.
Muitos não consideram importante a questão relativa à preservação dos direitos humanos
na implementação de tal modelo de mercado, mas este ponto de vista não encontra
respaldo na realidade.
Verifica-se também que cada diferente conceito de liberdade vai depender de uma série de
garantias para poder vigorar. Podemos exemplificar esse nexo pelo o respeito à vida
familiar, direito fundamental protegido pela CEDH que é essencial para que ocorra a plena
liberdade de circulação e de permanência de trabalhadores. Ainda, sabe-se que, em geral,
garantir uma mínima harmonização no campo dos direitos da pessoa é essencial para o
bom funcionamento da livre circulação de trabalhadores. Um trabalhador apresentará
maior relutância em deixar seu país para se estabelecer em outro cujo nível de proteção aos
direitos fundamentais seja menor, o que poderia, em situações extremas, provocar um
desequilíbrio no espaço comum, uma vez que o fluxo migratório ocorreria em um sentido
único: dos países menos garantistas para os mais.
de diferença.2 Esse princípio também é garantido na CEDH, mas tem uma dupla
importância capital para o mercado comum, na medida em que permite a liberdade de
circulação ao mesmo tempo em que desempenha indiretamente a função de elemento de
harmonização do direito dos Estados Membros. Assim, medidas tomadas em seu nome,
como a adoção do princípio da confiança no direito dos demais Estados Membros 3, por
exemplo, compatibilizam os direitos nacionais ao mesmo tempo em que viabilizam a livre
circulação.
Finalmente, o último princípio base para o mercado comum europeu, a solidariedade, deve
ser entendido de três diferentes formas: entre os povos, entre os Estados Membros e na
relação entre Estados Membros e povos. A solidariedade entre os Estados Membros pode
ser entendida como o dever de cooperar lealmente para a construção européia, bem como o
dever de execução do direito comunitário na ordem interna. Nos demais níveis, mesmo que
prevista pelo Tratado de Maastricht em seu artigo 3º, ainda é muito fluída. Por essa razão,
atualmente se discute se a solidariedade dever ser entendida como um princípio ou como
um conjunto de políticas, tais como a preferência comunitária (Estados Membros devem
dar preferência a intercâmbios comerciais realizados intra-União Européia aos realizados
com países terceiros), o sacrifício dos interesses nacionais em prol dos comunitários e o
sacrifício dos interesses individuais a favor dos interesses gerais.
Mas, de modo geral, diversos direitos de personalidade servem de base para os princípios
do direito econômico europeu e, conseqüentemente, são vitais para a existência de um
mercado comum.
2
Jurisprudência « Arrêt » Reino Unido contra Comissão de 1998
3
Jurisprudência « Arrêt » Cassis de Dijon
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A Carta não apenas traz todas as garantias já listadas pela CEDH, mas amplia a gama de
direitos preservados, incluindo diversos direitos sociais, não tratados pela CEDH, salvo
algumas exceções, como o direito de associação e liberdade de reunião.
Até o Tratado de Lisboa a Carta não tinha força vinculante, e a maior parte dos
instrumentos jurídicos comunitários anteriores dependiam de transposição para o direito
nacional para produzir qualquer efeito. Isto significava que um Estado poderia se abster de
fazê-lo por muito tempo, até sofrer as conseqüências, geralmente não muito graves, pelo
desrespeito a um compromisso assumido perante a Comunidade. Outro problema da
necessidade de transposição era a variação que as diferentes regras nacionais podiam
assumir, dependendo da margem de discricionariedade dos Estados ao realizarem as
transposições.
Com a adoção de uma Carta trazendo uma lista de direitos sociais a serem preservado
houve uma evolução na medida em que existe, ao menos, um instrumento uniformizando a
matéria. Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, em dezembro de 2009, a Carta
passa a ter efeito vinculante e, assim, órgãos de justiça da União Européia podem aplicá-la
diretamente aos casos concretos. Como resultado, os direitos sociais ganham um nível
ainda maior de proteção e a União Européia caminha ao menos para uma harmonização na
matéria. Assim, alguns Estados podem ainda ser mais garantistas, mas existe, factualmente,
um nível mínimo de salvaguarda, o que tende a diminuir as desigualdades no campo da
preservação, sobretudo no campo dos direitos trabalhistas.
mercadorias, podemos concluir que a uniformização dos direitos sociais chega mesmo a
tornar a competitividade dos preços dentro do mercado interno mais honesta, evitando
distorções.
Atualmente o meio ambiente é considerado por muitos como um bem difuso, cuja proteção
deve ser realizada a nível internacional, tendo em vista que os impactos de atos realizados
em um país podem atravessar todo o globo. Por essa razão, muitos falam na importância de
um direito ambiental internacional, em como são realizadas diversas rodadas de
negociações multilaterais para criação de instrumentos de salvaguarda do meio ambiente
que ultrapassem as fronteiras internacionais.
Contudo, tratar do assunto de maneira universal tem se mostrado um grande desafio, tendo
em vista a pluralidade de interesses presentes em cada rodada de negociação. O tema é de
enorme complexidade e envolve pontos de vistas diametralmente opostos, envolvendo
grandes interesses e poder econômico, chegando, em alguns momentos, a se assemelhar a
uma guerra de lobbies.
Assim sendo, a Carta, a partir da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, ganha um caráter
muito interessante. A União Européia passa a ter um documento revestido de força
juridicamente vinculante com o objetivo garantir a preservação ambiental, ou seja, passam
a vigorar regras de direito ambiental que transcendem as fronteiras nacionais.
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Carta de Direitos Fundamentais da União Européia, artigo 97
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Por outro lado, a força vinculante dos órgãos judiciários da União Européia é bem maior do
que a dos órgãos de Strasburgo, na medida em que na primeira verifica-se a existência de
recursos capazes de fazer valer as decisões jurisdicionais de maneira muito mais efetiva
que na última. A obrigação do juiz nacional em questionar o juiz comunitário sempre que o
processo trouxer matéria de direito comunitário, bem como a de aplicar a interpretação por
este desenvolvida, sob pena de imputar responsabilidade a seu Estado de origem, fazem a
jurisprudência comunitária mais ativa. E a partir do momento em que o juiz comunitário se
torna competente para julgar questões de direito ambiental comunitário, estamos diante de
um sistema de proteção ambiental eficaz internacionalmente, mesmo que limitado à
jurisdição européia.
Como efeito das novas evoluções, a tendência futura é que os agentes econômicos passem
a guiar seu comportamento levando em consideração as garantias recentemente adotadas,
ou seja, tais agentes, apesar de terem objetivos econômicos, passem a se orientar de
maneira gradativamente mais política, principalmente nos campos do direito social e do
ambiental.
Por mais utópica que essa afirmação possa parecer, essa realidade pode, ao menos, se
tornar mais próxima, desde que exista uma cooperação por parte das jurisdições nacionais e
que a Corte de Justiça da União Européia saiba agir de maneira a se fortalecer,
aproveitando o contexto pós-Lisboa, crucial na redistribuição dos papéis institucionais
dentro da União.
No entanto, para eles o papel é um pouco mais delicado, tendo em vista que desempenham
um papel decisório muito mais ativo, responsáveis pela elaboração de políticas e diretrizes.
5. Conclusão
Se por um lado, a preservação dos direitos sociais é vital para evitar distorções num
universo onde opera a liberdade de circulação de trabalhadores, diversos direitos de
personalidade, ou mesmo princípios cardeais como o da igualdade e a não-discriminação,
são basilares para que o Mercado Único Europeu atinja seus objetivos através de um
mercado interior eficiente, onde não exista qualquer diferença prática entre o mercado
europeu e os diversos mercados nacionais.
Por outro lado, a interpenetração entre os planos político e econômico também é flagrante
na medida em que agentes econômicos tendem a guiar suas ações e os governos suas
políticas econômicas levando em conta possíveis reflexos no campo da política, de modo a
se evitar distorções e violações de diversos direitos humanos.
Finalmente, possíveis sanções a atos que degradem o meio ambiente, direcionando as ações
de diversos setores da sociedade a um nível comunitário podem vir a democratizar a
consciência a respeito da interdependência entre direitos humanos e mercado interior.
Concomitantemente, o possível sucesso de um modelo de preservação ambiental, que
transcende as fronteiras nacionais com um mínimo de eficácia poderá ser interpretado
como uma mensagem de esperança de combate às degradações ambientais eficazes a nível
transnacional.
Mesmo que nenhuma jurisprudência tenha sido produzida pela atual CJUE, desde a entrada
em vigor do Tratado de Lisboa, especula-se um grande avanço nos níveis de proteção aos
direitos humanos, principalmente se considerarmos a existência de meios relativamente
coercitivos na estrutura jurídica da União Européia para aplicação de decisões judiciais
emanadas das Cortes Européias, tais como os recursos em “Manquement”, absolutamente
ausentes na jurisdição de Strasburgo.
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6. Bibliografia
Livros:
Artigos:
Internet:
http://www.touteleurope.fr/fr/organisation/droit-communautaire.html
http://www.traitederome.fr/
http://www.curia.europa.eu
http://europa.eu/index_pt.htm