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A importância da

proteção dos direitos


humanos na
persecução dos
objetivos do
mercado único
europeu
Trabalho para vencedor da 2ª menção
honrosa no 2º Concurso de
Monografias da União Européia
promovido pela Delegação da
Comissão Européia no Brasil
Mariana de Araújo Mendes Lima
20 de março de 2010
2

Índice:

1. Introdução......................................................................................................................1

2. A proteção aos direitos humanos na Europa.................................................................2

2.1. . A Convenção Européia dos Direitos do Homem......................................................3

2.1.1. A aplicabilidade da CEDH nas Comunidades Européias........................................4

2.2. A Carta de Direitos Fundamentais da União Européia...............................................5

2.3. O Tratado de Lisboa ou Tratado sobre Funcionamento da União Européia..............6

3. A relação entre direitos humanos e os princípios que regem........................................6


o mercado comum europeu

4. Os efeitos do desenvolvimento da proteção aos direitos humanos...............................9


na persecução dos objetivos do mercado comum europeu

5. Conclusão....................................................................................................................12

6. Bibliografia.................................................................................................................15
3

1. Introdução

Em 1º de novembro de 1993 entrou em vigor o tratado sobre a União Européia, assinado


em Maastricht no ano anterior, que deu origem a uma nova ordem jurídica na Europa. No
entanto, a construção européia vem acontecendo desde muito tempo antes.

Presente no pensamento filosófico de diversos pensadores políticos há muitos séculos, a


integração da Europa segundo uma lógica de cooperação tornou-se tangível após a
Declaração Schuman de 9 de maio de 1950. Contudo, apenas com a criação da primeira
comunidade européia, a CECA (Comunidade Européia do Carvão e do Aço), em 18 de
abril de 1951 pelo Tratado de Paris, o mundo pôde ver a passagem para o plano concreto
das aspirações de uma Europa unida.

Não podemos esquecer que o contexto histórico do pós Segunda Guerra Mundial
desempenha um papel fundamental nesta empreitada. Se economicamente a Europa tinha
tomado consciência da necessidade de se unir para a reconstrução, politicamente era vital o
estímulo a uma reaproximação entre a França e a Alemanha, de modo a se evitar um
possível terceiro grande conflito armado.

Assim, junto às demais comunidades européias (CEE e Euratom), criadas pelo Tratado de
Roma de 1957, a CECA foi o embrião do gigante bloco, não apenas econômico, mas
também político, que hoje denominamos União Européia.

No entanto, essa grande força política não esteve sempre presente na União Européia. De
início, sua construção se operou através da idéia de construção funcional, ou seja, segundo
as próprias palavras de Robert Schuman: “A Europa não se fará de uma só vez, nem numa
construção de conjunto: far-se-à por meio de realizações concretas que criem em primeiro
lugar uma solidariedade de fato.1” Ou seja, a construção foi realizada através de pequenas
medidas concretas a fim de se atingir, em última instância, uma integração política. Logo, o
desenvolvimento econômico através da solidariedade terminaria por alavancar uma
integração política.

Nesse sentido, com as três comunidades européias foram dadas as diretrizes de um


mercado comum, que foi implantado progressivamente, buscando-se uma solidariedade

1
Declaração Schuman de 9 de maio de 1950.
4

política através da economia. Desse modo, a Europa aproximou-se economicamente até


1986, quando o Ato Único europeu estabeleceu o dia 31 de dezembro de 1992 como data
limite para a instituição do Mercado Único Europeu.

O Ato Único de 1986 traria ainda diversas disposições relativas à cooperação em matéria
de política estrangeira, o que é considerado como um marco da integração política
européia. A partir deste instrumento foi instaurado um regime dual na Europa:
economicamente objetivava-se a contrução de um mercado único e politicamente foi
iniciada a busca por uma verdadeira e profunda coesão entre o Estados membros.

Assim sendo, de partida o mercado único servia à proteção dos direitos humanos na
medida em que se prestava, sobretudo, ao objetivo de evitar um outro conflito armado das
mesmas proporções da 2ª Guerra Mundial.

Por outro lado, já da criação do Mercado Comum, é flagrante a relação de mútua


implicação entre a integração econômica e o desenvolvimento dos direitos humanos, como
se observa mesmo no preâmbulo do Tratado instituinte do Mercado Comum, que garante a
proteção aos direitos sociais, bem como estabelece como meta para a comunidade o
melhoramento das condições de vida e de trabalho das populações dos Estados membros.

Conforme a integração econômica evoluiu, através do Mercado Único, depois a criação de


uma Moeda Única, que implica em políticas monetárias comuns, e, por fim, uma ampla
regulamentação em matéria de direito econômico, a proteção aos direitos do homem vem
se mostrado cada vez mais importante para a União Européia, mesmo na persecução de
seus objetivos econômicos.

2. A proteção aos direitos humanos na Europa

A proteção aos direitos humanos segundo a lógica jurídica européia tem sua origem
fundamentalmente na Convenção Européia de Direitos do Homem, popularmente chamada
CEDH. Esse documento não é parte do direito comunitário, uma vez que foi elaborada pelo
Conselho da Europa, que não é uma instituição da União Européia.

Contudo, com a CEDH ocorreu uma grande evolução na proteção aos direitos humanos
dentro da extinta Comunidade Européia e da União Européia, havendo, portanto, um
diálogo entre os dois direitos europeus vigentes. Além dessa complexa relação, a adoção da
CEDH pela União Européia através do Tratado de Lisboa embute um valor vinculante à
5

Convenção, que passa a ser obrigatória na União Européia e oponível através das decisões
da Corte de Justiça da União Européia, antiga Corte de Justiça das Comunidades Européias
(CJCE).

2.1. A Convenção Européia dos Direitos do Homem

Assinada em Roma em 4 de novembro de 1950 pelo Conselho da Europa, essa Convenção


trata da proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais na Europa. Trata-se
de uma resposta diante da dificuldade de se estabelecer normas e procedimentos para
salvaguarda dos direitos do homem no direito internacional, criando órgãos de controle e
tipificando condutas.

A partir de sua adoção, a proteção internacional aos direitos humanos adquiriu um aspecto
relativamente concreto na Europa, seja pela criação de uma Corte de Justiça especializada
em violações à Convenção, a Corte Européia de Direitos Humanos, sediada em Strasburgo,
seja pela obrigatoriedade de sua observância por parte de um estado para sua entrada e
permanência no Conselho da Europa.

De partida, a adoção da CEDH teve dois efeitos primordiais: a proteção dos direitos
humanos de qualquer pessoa (física ou jurídica) qualquer que seja sua nacionalidade e a
exigência da existência de recursos efetivos dentro da ordem jurídica interna dos Estados
signatários a fim de se invocar as disposições da Convenção, de seus protocolos ou da
vasta jurisprudência produzida pelos órgãos de controle.

Desse modo, qualquer indivíduo, nacional de um Estado signatário da CEDH ou não, pode
se beneficiar das disposições previstas pela Convenção desde que em território que a
reconheça.

E com a obrigatoriedade de existência de recursos jurídicos internos, é garantida ao


indivíduo uma proteção aos seus direitos em seu direito nacional, bem como uma voz de
recurso junto à Corte de Strasburgo em caso de esgotamento das vias recursais internas.

A Convenção protege direitos das mais diversas naturezas, mas sempre clássicos, não se
preocupando muito quanto aos direitos humanos de segunda e terceira geração. Assim, são
garantidos os direitos políticos e sociais, os direitos pessoais (divididos entre direitos
inalienáveis, direito a liberdade e segurança, o respeito da vida privada e familiar, liberdade
de pensamento, de opinião, de consciência e liberdade religiosa), garantias processuais,
6

direito de propriedade, direito dos estrangeiros, bem como é proibido qualquer tipo de
discriminação.

È interessante analisar a questão relativa ao conceito de discriminação. Com efeito, este


não é previsto na Convenção, tendo sido desenvolvido pela Corte de Strasburgo. Desse
modo, a inobservância do dever de tratar igualmente os iguais e de tratar os diferentes
diferentemente e segundo o grau de diferença configura discriminação.

Do mesmo modo, diversos conceitos foram, posteriormente, desenvolvidos pela Corte de


Strasburgo, que numa interpretação cada vez mais evoluída da CEDH, chegou mesmo a
desenvolver noções e conceitos autônomos dos já existentes nos direitos nacionais de seus
diversos países signatários.

Todavia, a CEDH prevê diversos limites às garantias por ela estabelecidas. Se por um lado
os direitos de caráter humanitário são intangíveis, a maior parte dos direitos relacionados
na Convenção têm um caráter condicional, ou seja, podem sofrer limitações por parte dos
Estados signatários em casos de proteção à segurança, ordem ou saúde pública, desde que
sejam observadas a necessidade e a proporcionalidade das medidas restritivas.

2.1.1. A aplicabilidade da CEDH nas Comunidades Européias

A aplicação das disposições da Convenção Européia dos Direitos do Homem nos países
europeus se deu de modo gradual, tendo em vista que este instrumento, originalmente, não
faria parte do ordenamento jurídico comunitário.

Inicialmente, não era de competência da Corte tratar de direitos humanos. Contudo, havia
se desenvolvido uma prática comum entre os Estados Membros de invocar dispositivos
constitucionais internos de salvaguarda de direitos fundamentais para se isentarem de
obrigações assumidas perante a Comunidade Européia. Para subtrair esta prática, a CJCE,
aos poucos, começou a interpretar a Convenção e criar instrumentos para a preservação dos
direitos. A partir desse momento, tanto as Instituições européias quanto os Estados
Membros se tornaram vinculados às interpretações da Corte em matéria de direitos
humanos. A CJCE buscou como fonte de inspiração a CEDH, de modo a evitar as tradições
constitucionais internas comuns aos Estados Membros, cuja verificação da generalidade e
da aplicação comum se mostrava demasiadamente complexa.
7

Conseqüentemente, a aplicação da CEDH pela CJCE resultou em uma construção


pretoriana, na medida em que a Corte buscava compatibilizar a Convenção e o direito da
União européia, sem qualquer vinculação, ao menos formal, à jurisprudência de
Strasburgo. No entanto, restava ainda a questão relativa à adesão à CEDH pelas
Comunidades Européias.

Em 1979 foi adotado na prática o princípio da adesão à CEDH pela Comunidade Européia,
sob o argumento de que se tratava de um modo de se impor a preservação dos direitos
humanos às Instituições Européias e aos Estados Membros e também um meio de se
expandir as garantias individuais sem a necessidade de se recorrer a um rol pré-definido de
direitos, que apenas aumentariam as possíveis contradições entre a CEDH e as
interpretações da CJCE em matéria de direitos humanos.

Por outro lado, a adesão da CE à CEDH traria uma inevitável necessidade de adaptação
técnico-procedimental do ponto de vista jurídico, dado que diversos dispositivos da CEDH
seriam inaplicáveis em nível comunitário, tais como o direito individual ilimitado de
recurso.

Desse modo, em uma decisão de 1995, a CJCE rejeitou o princípio da adesão à CEDH sob
o argumento de que a Comunidade mão estava apta a aderir à Convenção. Contudo o
motivo dessa decisão estava mais relacionado com a preocupação da Corte em preservar a
autonomia do direito comunitário e dela própria.

2.2. A Carta de Direitos Fundamentais da União Européia

Após a rejeição da Corte ao princípio da adesão à CEDH no parecer nº 2/94 e num


contexto que direcionava a União Européia à criação de uma constituição, foi elaborada a
Carta de Direitos Fundamentais da União Européia. Este instrumento traz diversos direitos
fundamentais reconhecidos pela CEDH e novos direitos, como direitos sociais,
anteriormente tratados em diretivas, mas que se adquiririam qualidade de direitos
amplamente invocáveis.

A Carta traz, em seu texto, referência à Convenção, de tal forma que a vigência da primeira
implica na vigência da última dentro do ordenamento jurídico da União Européia, por meio
do reenvio previsto no artigo 111 da Carta de Direitos Fundamentais da União Européia.

2.3. O Tratado de Lisboa ou Tratado sobre Funcionamento da União Européia


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O fracasso do Tratado estabelecendo uma Constituição Européia remete à questão da força


vinculante da Carta de Direitos Fundamentais da União Européia. Dada a necessidade de
uma profunda reestruturação da ordem jurídica comunitária, fazia-se urgente a criação e
ratificação de um novo Tratado por todos os países membros. Contudo, um Tratado que
implicasse em uma ampla proteção dos direitos humanos seria de mais difícil aceitação por
todos, tendo em vista o caráter politicamente estratégico da matéria.

Neste contexto, foi realizado o Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em dezembro de
2009. A Carta, que antes constituía a parte II da Constituição deixou de constar no corpo
do novo tratado sobre o funcionamento da União Européia, devido às fortes polêmicas que
a matéria suscita. No entanto, nem por isso que a teria perdido seu caráter obrigatório, uma
vez que o artigo 6º do Tratado lhe confere valor jurídico equivalente ao de um tratado.

Concluindo, mesmo que a Carta não esteja presente no corpo do Tratado de Lisboa, ela é
vinculante a todos os países membro, com a exceção do Reino Unido e da Polônia, que
optaram por uma cláusula de “opting-out”. Como resultado, a CEDH é também obrigatória
dentro da ordem jurídica da União Européia, na medida em que a Carta lhe dá essa força
através de um dispositivo de duplo envio.

Com o Tratado de Lisboa, portanto, não apenas os direitos fundamentais protegidos na


Carta de Direitos Fundamentais da União Européia, mas também os assegurados pela
CEDH são diretamente oponíveis pela Corte de Justiça da União Européia em qualquer
decisão. Como resultado, podemos verificar o surgimento de um novo modo de controle da
preservação dos direitos humanos na Europa.

3. A relação entre direitos humanos e os princípios que regem o mercado comum


europeu

Esclarecido o atual estágio de desenvolvimento da proteção dos direitos humanos na


Europa, fica evidente a existência de um sistema jurídico complexo, produto de uma
evolução cultural ímpar e com forte construção jurisprudencial. Contudo, essa ordem é
extremamente eficaz. Não podemos desconsiderar que ela implica numa forma de um
controle exercido além das fronteiras nacionais, mas capaz de subjugar mesmo disposições
constitucionais internas, emergentes, em última instância, da soberania nacional.

Assim sendo, existe na União Européia uma salvaguarda aos direitos humanos que muito
contribui para a persecução dos objetivos comunitários, mesmo os econômicos.
9

Entre os objetivos econômicos, com certeza um dos pilares mais importantes é o Mercado
Único Europeu, que consiste em um espaço de tamanha liberdade no intercâmbio comercia
que as diferenças entre mercado nacional e mercado único foram suprimidas. De fato, a
criação de tal modelo está no centro do próprio projeto comunitário, tendo sido um dos
fundamentos da CEE.

Muitos não consideram importante a questão relativa à preservação dos direitos humanos
na implementação de tal modelo de mercado, mas este ponto de vista não encontra
respaldo na realidade.

Inicialmente, consideramos que a liberdade é uma das bases para a implementação de um


mercado único, sendo, que, na prática ela está subdividida em diversas categorias, sendo a
mais notória a liberdade de circulação.

No direito comunitário, a liberdade de circulação se estende a todos os fatores de produção,


sejam eles mercadorias, capitais, serviços e pessoas. Desse modo, a livre circulação de
mercadorias pode ser entendida como a vedação a qualquer tipo de entrave, seja ele,
técnico, físico ou fiscal, da mesma maneira como a liberdade de circulação de
trabalhadores deve ser entendida como a possibilidade para qualquer trabalhador de deixar
seu país de origem, entrar e permanecer em outro, junto com seus familiares e ter acesso ao
mercado de trabalho do Estado de destino.

Verifica-se também que cada diferente conceito de liberdade vai depender de uma série de
garantias para poder vigorar. Podemos exemplificar esse nexo pelo o respeito à vida
familiar, direito fundamental protegido pela CEDH que é essencial para que ocorra a plena
liberdade de circulação e de permanência de trabalhadores. Ainda, sabe-se que, em geral,
garantir uma mínima harmonização no campo dos direitos da pessoa é essencial para o
bom funcionamento da livre circulação de trabalhadores. Um trabalhador apresentará
maior relutância em deixar seu país para se estabelecer em outro cujo nível de proteção aos
direitos fundamentais seja menor, o que poderia, em situações extremas, provocar um
desequilíbrio no espaço comum, uma vez que o fluxo migratório ocorreria em um sentido
único: dos países menos garantistas para os mais.

O princípio da igualdade, basilar no direito econômico comunitário, é entendido pela


jurisprudência européia como a igualdade de tratamento em conjunto com o princípio da
“não-discriminação”, ou seja, tratar igualmente os iguais e os desiguais segundo seu grau
10

de diferença.2 Esse princípio também é garantido na CEDH, mas tem uma dupla
importância capital para o mercado comum, na medida em que permite a liberdade de
circulação ao mesmo tempo em que desempenha indiretamente a função de elemento de
harmonização do direito dos Estados Membros. Assim, medidas tomadas em seu nome,
como a adoção do princípio da confiança no direito dos demais Estados Membros 3, por
exemplo, compatibilizam os direitos nacionais ao mesmo tempo em que viabilizam a livre
circulação.

Finalmente, o último princípio base para o mercado comum europeu, a solidariedade, deve
ser entendido de três diferentes formas: entre os povos, entre os Estados Membros e na
relação entre Estados Membros e povos. A solidariedade entre os Estados Membros pode
ser entendida como o dever de cooperar lealmente para a construção européia, bem como o
dever de execução do direito comunitário na ordem interna. Nos demais níveis, mesmo que
prevista pelo Tratado de Maastricht em seu artigo 3º, ainda é muito fluída. Por essa razão,
atualmente se discute se a solidariedade dever ser entendida como um princípio ou como
um conjunto de políticas, tais como a preferência comunitária (Estados Membros devem
dar preferência a intercâmbios comerciais realizados intra-União Européia aos realizados
com países terceiros), o sacrifício dos interesses nacionais em prol dos comunitários e o
sacrifício dos interesses individuais a favor dos interesses gerais.

Mas, de modo geral, diversos direitos de personalidade servem de base para os princípios
do direito econômico europeu e, conseqüentemente, são vitais para a existência de um
mercado comum.

4. Os efeitos do desenvolvimento da proteção aos direitos humanos na persecução dos


objetivos do mercado comum europeu

Evidenciada a importância da preservação de direitos humanos, sobretudo os direitos


pessoais no desenvolvimento de um mercado comum europeu, falta verificar as influências
que a expansão das garantias individuais teve sobre o crescimento na eficiência estrutural
do último.

Na realidade, até a realização da Carta de Direitos Fundamentais da União Européia, a


preservação dos direitos humanos na Europa não tinha passado por qualquer evolução

2
Jurisprudência « Arrêt » Reino Unido contra Comissão de 1998
3
Jurisprudência « Arrêt » Cassis de Dijon
11

significante desde a CEDH. No entanto, após a Carta, esta proteção passou a se


desenvolver em grandes saltos o que, evidentemente, trouxe efeitos para o plano
econômico.

A Carta não apenas traz todas as garantias já listadas pela CEDH, mas amplia a gama de
direitos preservados, incluindo diversos direitos sociais, não tratados pela CEDH, salvo
algumas exceções, como o direito de associação e liberdade de reunião.

Antes tratados quase exclusivamente em diretivas e regulamentos, os direitos sociais


ganham uma importância muito maior na medida em que adquirem proteção pela Carta.

Até o Tratado de Lisboa a Carta não tinha força vinculante, e a maior parte dos
instrumentos jurídicos comunitários anteriores dependiam de transposição para o direito
nacional para produzir qualquer efeito. Isto significava que um Estado poderia se abster de
fazê-lo por muito tempo, até sofrer as conseqüências, geralmente não muito graves, pelo
desrespeito a um compromisso assumido perante a Comunidade. Outro problema da
necessidade de transposição era a variação que as diferentes regras nacionais podiam
assumir, dependendo da margem de discricionariedade dos Estados ao realizarem as
transposições.

Com a adoção de uma Carta trazendo uma lista de direitos sociais a serem preservado
houve uma evolução na medida em que existe, ao menos, um instrumento uniformizando a
matéria. Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, em dezembro de 2009, a Carta
passa a ter efeito vinculante e, assim, órgãos de justiça da União Européia podem aplicá-la
diretamente aos casos concretos. Como resultado, os direitos sociais ganham um nível
ainda maior de proteção e a União Européia caminha ao menos para uma harmonização na
matéria. Assim, alguns Estados podem ainda ser mais garantistas, mas existe, factualmente,
um nível mínimo de salvaguarda, o que tende a diminuir as desigualdades no campo da
preservação, sobretudo no campo dos direitos trabalhistas.

Isso pode produzir efeito tanto na livre circulação de trabalhadores quanto na de


mercadorias. Se por um lado os trabalhadores tenderão a se sentir mais tranqüilos para
deixarem seus países de origem em razão de trabalho, uma vez que sabem que seus direitos
serão preservados em qualquer lugar dentro da União Européia, por outro os custos
trabalhistas pagos pelos produtores serão ao menos equivalentes dentro do mercado
comum. Se considerarmos que muitas vezes esses custos são repassados para o preço das
12

mercadorias, podemos concluir que a uniformização dos direitos sociais chega mesmo a
tornar a competitividade dos preços dentro do mercado interno mais honesta, evitando
distorções.

Outra importante inovação da Carta de Direitos Fundamentais da União Européia é a


preocupação com as questões ambientais, explicitadas em seu artigo 97, título 4, segundo o
qual a União reconhece “o direito a um elevado nível de proteção ambiental e que seu
aperfeiçoamento deve ser integrado às políticas da União e assegurado segundo o princípio
do desenvolvimento sustentável”.4

Ainda, em seu preâmbulo, a Carta expressa que a União busca um desenvolvimento


equilibrado e sustentável, explicitando o respeito ao meio ambiente como princípio geral
do direito da União Européia.

Como conseqüência, podemos dizer que a proteção ao meio ambiente se tornou um


princípio geral do direito comunitário, que por um lado deve guiar as políticas públicas,
sejam elas da União ou dos Estados membros, mas por outro deve estar presente nas novas
decisões promulgadas pela Corte de Justiça da União Européia.

Atualmente o meio ambiente é considerado por muitos como um bem difuso, cuja proteção
deve ser realizada a nível internacional, tendo em vista que os impactos de atos realizados
em um país podem atravessar todo o globo. Por essa razão, muitos falam na importância de
um direito ambiental internacional, em como são realizadas diversas rodadas de
negociações multilaterais para criação de instrumentos de salvaguarda do meio ambiente
que ultrapassem as fronteiras internacionais.

Contudo, tratar do assunto de maneira universal tem se mostrado um grande desafio, tendo
em vista a pluralidade de interesses presentes em cada rodada de negociação. O tema é de
enorme complexidade e envolve pontos de vistas diametralmente opostos, envolvendo
grandes interesses e poder econômico, chegando, em alguns momentos, a se assemelhar a
uma guerra de lobbies.

Assim sendo, a Carta, a partir da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, ganha um caráter
muito interessante. A União Européia passa a ter um documento revestido de força
juridicamente vinculante com o objetivo garantir a preservação ambiental, ou seja, passam
a vigorar regras de direito ambiental que transcendem as fronteiras nacionais.
4
Carta de Direitos Fundamentais da União Européia, artigo 97
13

Por outro lado, a força vinculante dos órgãos judiciários da União Européia é bem maior do
que a dos órgãos de Strasburgo, na medida em que na primeira verifica-se a existência de
recursos capazes de fazer valer as decisões jurisdicionais de maneira muito mais efetiva
que na última. A obrigação do juiz nacional em questionar o juiz comunitário sempre que o
processo trouxer matéria de direito comunitário, bem como a de aplicar a interpretação por
este desenvolvida, sob pena de imputar responsabilidade a seu Estado de origem, fazem a
jurisprudência comunitária mais ativa. E a partir do momento em que o juiz comunitário se
torna competente para julgar questões de direito ambiental comunitário, estamos diante de
um sistema de proteção ambiental eficaz internacionalmente, mesmo que limitado à
jurisdição européia.

Como efeito das novas evoluções, a tendência futura é que os agentes econômicos passem
a guiar seu comportamento levando em consideração as garantias recentemente adotadas,
ou seja, tais agentes, apesar de terem objetivos econômicos, passem a se orientar de
maneira gradativamente mais política, principalmente nos campos do direito social e do
ambiental.

No futuro, sanções pelo descumprimento de obrigações comunitárias podem vir a


convencer algumas empresas de que certas posturas, como a de preservar o meio ambiente
e garantir os direitos trabalhistas podem ser economicamente interessantes, na medida em
que podem evitar a participação em longos e desgastantes processos judiciais, que
tramitam tanto na justiça nacional quanto nos órgãos jurisdicionais da União Européia.

Por mais utópica que essa afirmação possa parecer, essa realidade pode, ao menos, se
tornar mais próxima, desde que exista uma cooperação por parte das jurisdições nacionais e
que a Corte de Justiça da União Européia saiba agir de maneira a se fortalecer,
aproveitando o contexto pós-Lisboa, crucial na redistribuição dos papéis institucionais
dentro da União.

Numa situação extrema, verificaríamos mesmo uma interpenetração de campos, tendo em


vista que os agentes econômicos, guiados em última instância por objetivos econômicos,
acabam por buscar a realização de um fim político. Teríamos uma situação em que o
consenso político seria o fim imediato para a persecução do escopo mediato: o econômico,
numa verdadeira inversão histórica.
14

Nessa mesma direção estariam os governantes dos Estados-membros, obrigados a


sujeitarem suas escolhas no que tange a política econômica levando em consideração, em
primeiro lugar, a preservação dos direitos fundamentais expressos na Carta.

No entanto, para eles o papel é um pouco mais delicado, tendo em vista que desempenham
um papel decisório muito mais ativo, responsáveis pela elaboração de políticas e diretrizes.

5. Conclusão

A existência de um elo entre a proteção aos direitos humanos e o desenvolvimento


econômico na Europa é, há algum tempo, ponto incontroverso, pelo menos dentro da
comunidade acadêmica. Contudo, a partir do Ato Único, gradativamente um maior número
de cidadãos e governantes toma consciência dessa interdependência.

Se por um lado, a preservação dos direitos sociais é vital para evitar distorções num
universo onde opera a liberdade de circulação de trabalhadores, diversos direitos de
personalidade, ou mesmo princípios cardeais como o da igualdade e a não-discriminação,
são basilares para que o Mercado Único Europeu atinja seus objetivos através de um
mercado interior eficiente, onde não exista qualquer diferença prática entre o mercado
europeu e os diversos mercados nacionais.

Por outro lado, a interpenetração entre os planos político e econômico também é flagrante
na medida em que agentes econômicos tendem a guiar suas ações e os governos suas
políticas econômicas levando em conta possíveis reflexos no campo da política, de modo a
se evitar distorções e violações de diversos direitos humanos.

Ainda, além da preservação dos direitos humanos clássicos, a introdução de mecanismos


para proteção do meio ambiente ao direito humano, através da incorporação da CEDH ao
ordenamento jurídico da União Européia a partir do Tratado sobre o Funcionamento da
União Européia abriu um novo horizonte à preservação dos direitos humanos e a seus
reflexos no mercado comum, conferindo ao tema da proteção dos direitos humanos uma
importância econômica e política nunca vista.

A partir do momento em que a Corte de Justiça da União Européia se torna amplamente


competente também em matéria de direitos humanos, a tendência é de que se promulguem
novas decisões judiciais que ditarão as novas perspectivas da preservação do direito do
homem na UE. Tomando-se em consideração o fato de que até o Tratado de Lisboa, que
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entrou em vigor em dezembro do ano passado, cabia quase exclusivamente às Instituições


de Strasburgo decidir em casos envolvendo violações a direitos fundamentais, a
possibilidade de controle através das Cortes Européias (CJUE, os Tribunais de Primeira
Instância e os Tribunais da Função Pública) indica um grande avanço, dada a maior força
vinculante a estas Cortes que àquelas.

Finalmente, possíveis sanções a atos que degradem o meio ambiente, direcionando as ações
de diversos setores da sociedade a um nível comunitário podem vir a democratizar a
consciência a respeito da interdependência entre direitos humanos e mercado interior.
Concomitantemente, o possível sucesso de um modelo de preservação ambiental, que
transcende as fronteiras nacionais com um mínimo de eficácia poderá ser interpretado
como uma mensagem de esperança de combate às degradações ambientais eficazes a nível
transnacional.

Mesmo que nenhuma jurisprudência tenha sido produzida pela atual CJUE, desde a entrada
em vigor do Tratado de Lisboa, especula-se um grande avanço nos níveis de proteção aos
direitos humanos, principalmente se considerarmos a existência de meios relativamente
coercitivos na estrutura jurídica da União Européia para aplicação de decisões judiciais
emanadas das Cortes Européias, tais como os recursos em “Manquement”, absolutamente
ausentes na jurisdição de Strasburgo.
16

6. Bibliografia

Livros:

CASELLA, Paulo Borba União Européia: Instituições e ordenamento jurídico. São


Paulo: LTr, 2002

COMPARATO, Fábio Konder A afirmação histórica dos direitos humanos. 3ª ed.


São Paulo: Saraiva, 2003

DUBOUIS, Louis; BLUMANN, Claude Droit matériel de l’Union Européenne. 5ª ed.


Paris : Montchrestien- Lextenso, 2009

GAUTRON, Jean-Claude Droit européen. 13ª ed. Paris : Dalloz, 2009

LECLERC, Stéphane Droit de l’Union Européenne : Sources- Caractères-


Contentieux. Paris : Gualino- Lextenso, 2009

PRIOLLAUD, François-Xavier ; SIRITZKY, David Le Traité de Lisbonne : Texte et


commentaire article par article des nouveaux Traités européens (TUE- TFUE) Paris : La
Documentation Française, 2008

Artigos:

F. Kauff-Gazin, Les droits fondamentaux dans le traité de Lisbonne : un billan


contrasté. Europe. n. 7. p. 37-42 jul. 2008

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http://www.touteleurope.fr/fr/organisation/droit-communautaire.html

http://www.traitederome.fr/

http://www.curia.europa.eu

http://europa.eu/index_pt.htm

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