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TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA

COORDENADORES
Ricardo Kobayashi
Marcus Vinicius Malheiros Luzo
Moisés Cohen

EDITORES
André Cicone Liggieri
André Wan Wen Tsai
Edilson Silva Machado
Frederico Barra de Moraes
Ibrahim Afrânio Willi Liu
José Eduardo Nogueira Forni
Márcio Fim

TRATADO DE DOR
MUSCULOESQUELÉTICA
COORDENADORES
Ricardo Kobayashi
Marcus Vinicius Malheiros Luzo
Moisés Cohen

TRATADO DE DOR
MUSCULOESQUELÉTICA
EDITORES
André Cicone Liggieri
André Wan Wen Tsai
Edilson Silva Machado
Frederico Barra de Moraes
Ibrahim Afrânio Willi Liu
José Eduardo Nogueira Forni
Márcio Fim

SÃO PAULO

EDITORA

2019
APRESENTAÇÃO

Tratado de Dor Musculoesquelética


Historicamente a dor sempre foi vista pelos médicos muito mais como um
Copyright 2019 – SBOT Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
sinal de alerta do que como uma síndrome a ser tratada. Nas últimas décadas,
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou sistema, sem prévio
porém, com o surgimento de diversas linhas de pesquisas a dor passou a ser
consentimento da editora, ficando os infratores sujeitos às penalidade previstas em lei.
considerada não mais como um sintoma natural de determinadas doenças
ou decorrente de quadros pós-cirúrgicos, mas como uma entidade de
Todos os direitos desta edição reservados a:
tratamento específico visando a qualidade de vida do paciente. Na ortopedia e
SBOT Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
traumatologia, muito embora nos deparemos diariamente com quadros de dor –
Al. Lorena, 427 - 14 andar - Jardim Paulista
sobretudo dor crônica – raramente nos preocupávamos em tratá-la, preferindo
CEP 01424-000 - São Paulo - SP
encaminhar nossos pacientes para outros especialistas. A falta de formação
Telefone: (11) 2137-5400
específica e, talvez, de informações sobre este importante campo da pesquisa
E-mail: dor@sbot.org.br
científica deixou-nos à margem de uma área de atuação das mais importantes.
Este quadro mudará em breve com a inclusão de questões relacionadas
Projeto gráfico e diagramação
à dor já nas próximas edições do Exame para Obtenção do TEOT (Título
Alexandre Figueira de Almeida
de Especialista em Ortopedia e Traumatologia). Ao assimilar o conceito de
Coordenação
tratamento holístico do paciente – que necessariamente inclui o tratamento da
Fernanda Sodré
dor musculoesquelética – a Ortopedia poderá desenvolver-se ainda mais como
Revisão
especialidade médica, formar melhor seus especialistas e ampliar naturalmente
Laura Arrienti
sua área de atuação.

Foi este desafio que nos moveu em direção à criação do Comitê de Dor
da SBOT que, em poucas semanas, recebeu adesão de centenas de colegas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
interessados em atuar neste campo. Tratado de Dor Musculoesquelética
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
é a primeira de uma série de iniciativas do Comitê de Dor da SBOT que
certamente levarão a nossa especialidade a um novo patamar. Reunimos os
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. melhores especialistas do Brasil para publicar, em um único volume, todas as
S678t Tratado de dor musculoesquelética / Sociedade Brasileira de Ortopedia e informações necessárias para a correta compreensão da dor e tratamento dos
Traumatologia; coordenadores Ricardo Kobayashi, Marcus Vinicius Malheiros nossos pacientes: epidemiologia e fisiopatologia da dor, classificações das
Luzo, Moisés Cohen. – São Paulo, SP: Alef, 2019. síndromes mais comuns, analgesia pós-operatória, fármacos de última geração,
568 p. : il. color. ; 22 x 29 cm medicina regenerativa e tratamento intervencionista, exames complementares e
estimulações elétricas, entre outras abordagens terapêuticas fundamentais.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-81077-01-3 É uma literatura absolutamente necessária e de leitura estimulante que
não pode ficar de fora de sua biblioteca. É fundamental sobretudo para os
1. Analgesia. 2. Dor – Tratamento. 3. Medicina (Ortopedia e Traumatologia). mais jovens – futuros profissionais que almejam destacar-se, tanto na carreira
I. Título. científica quanto no mercado de trabalho.
CDD 616.7
Agradecemos a dedicação e colaboração dos editores, revisores e autores,
bem como o inestimável apoio institucional dos nossos parceiros de primeira
hora - Aché, Cristália, Grünenthal e Mundipharma - sem os quais este projeto
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
não teria sido possível.

Moisés Cohen
Presidente SBOT 2019
PREFÁCIO

A dor aguda é uma resposta fisiológica normal a estímulos. No entanto, a


falha do controle adequado da dor aguda pode levar a sua cronificação.

A dor tem grande prevalência e impacto no cotidiano do ortopedista e


DIRETORIA 2019 de outros especialistas. Nos serviços de pronto atendimento dor é queixa na
maioria dos casos, além disso é a principal causa de readmissão hospitalar
após cirurgias e a dor aguda pós-operatória é considerada um problema de
Presidente
saúde pública.
Moisés Cohen (SP)
1 Vice-Presidente Atualmente, a dor crônica é considerada uma doença e impacta de
Glaydson Gomes Godinho (MG) forma marcante na qualidade de vida dos pacientes. No Brasil, a dor crônica
acomete mais de um terço da população. Cerca de dois terços dos brasileiros
2 Vice-Presidente
a consideram limitante para as atividades de lazer, relações sociais e familiares.
Adalberto Visco (BA)
Secretário-geral A dor é a principal causa de incapacidade física e funcional dos doentes
Ivan Chakkour (SP) afastados. Além disso, a lombalgia é a principal causa de absenteísmo no
trabalho no país, e isto impacta severamente na economia brasileira.
1 Secretário
Edilson Forlin (BA)
Estudo europeu com mais de 40 mil pacientes concluiu que a principal
2 Secretário causa da dor crônica é a falha de formação dos profissionais de saúde em dor.
Fabio Farina Dal Molin (RS) Segundo a pesquisa realizada pelo comitê de dor em 2019, cerca de 90% dos
Comitê de Dor SBOT membros da SBOT consideram que a formação em dor na residência médica
1 Tesoureiro
Gestão 2019-2020 ou especialização de Ortopedia foi insuficiente.
Alexandre Fogaça Cristante (SP)
2 Tesoureiro Presidente Devido à alta prevalência e ao impacto da dor na sociedade associada à
Robinson Esteves Santos Pires (MG) Ricardo Kobayashi falha de educação em dor dos profissionais, o Comitê de Dor da SBOT planejou
uma série de iniciativas para aprimorar a formação em dor na ortopedia
Diretor de Comunicação e Marketing Vice-presidente brasileira: eventos de dor customizados para ortopedistas em parceria com a
Jean Klay Santos Machado (PA) Frederico Barra de Moraes CEC / SBOT, treinamento dos preceptores de todos os serviços da SBOT para
Diretor de Regionais melhorar a formação de dor do residente, inédito módulo de dor no Congresso
Paulo Lobo Jr. (DF) 1 Secretário Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT) e esta obra literária.
André Wan Wen Tsai
Diretor de Comitês
Em parceria com grandes autores da Ortopedia e Dor, confeccionamos
Marcelo Costa de Oliveira Campos (RJ) 2 Secretário cuidadosamente este livro com o intuito de melhorar a formação em dor e
Márcio Fim melhorar o atendimento da população brasileira.

1 Tesoureiro Aos autores, editores e empresas patrocinadoras deste livro (Aché,


Ibrahim Afrânio Willi Liu Cristália, Grünenthal, Mundipharma) nossos sinceros agradecimentos por
viabilizar esta nova referência bibliográfica em dor para o ortopedista.
Secretaria Executiva 2 Tesoureiro
Al. Lorena, 427 - 14 andar - Jardim Paulista André Cicone Liggieri Por fim, desejamos boa leitura a todos.
CEP 01424-000 - São Paulo - SP
Telefone: (11) 2137-5400 Diretor Científico
E-mail: sbot@sbot.org.br Edilson Silva Machado Comitê de Dor SBOT
CORPO EDITORIAL

Alexandre Alberto Fontana Ferraz Antonio Sérgio Barata Cavalcanti Carolina Besser Cozac Kobayashi Esther Angélica Luiz Ferreira
Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Pós-Gradua- Médico Neurocirurgião. MD, FIPP, Neucirurgião Funcional do INERE, Médica Reumatologista com Área de Atuação em Dor. Pós-Gradua- PhD.Reumatologista Pediátrica pela Faculdade de Medicina de
ção em Dor pelo Instituto de Pesquisa Albert Einstein. Corresponsá- do Centro de Acupuntura do IOT - HC-FMUSP e da Santa Casa de ção em Dor pelo Centro de Dor do HC-FMUSP. Professora do Curso Botucatu - Unesp. Doutora em Anestesiologia pela Faculdade de
vel CET da Anestesiologia da PUC–SP Mogi Guaçu Interdisciplinar de Dor da USP Medicina de Botucatu - UNESP. Professora Adjunta do Departamento
de Medicina da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar.
Alexandre Fogaça Cristante Aritiane Ricardo Silva Chin An Lin
Médico Ortopedista. Professor Associado da Faculdade de Medicina da Nutricionista Clínica Funcional e Esportiva. Pós-Graduada em Bases Professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Fabiano Gonçalves da Cunha
USP. Professor Livre Docente do Departamento de Ortopedia e Trauma- Nutricionais da Atividade Física – Nutrição Esportiva pela Universida- Medicina da USP. Médico assistente do Centro de Acupuntura do IOT Médico Ortopedista. Sócio Diretor dos Serviços Instituto do Atleta e
tologia do HC-FMUSP. Chefe do Grupo de Coluna do IOT / HC-FMUSP de Gama Filho. Pós-Graduanda em Nutrição Clínica Funcional pela – HC-FMUSP. Vice-supervisor do Programa de Residência em Clínica Osteon. Membro Titular da SBOT, SBCJ, ICRS e OARSI
Universidade Cruzeiro do Sul – Centro Valéria Paschoal/ Divisão de Médica do HC-FMUSP. Coordenador dos Ambulatórios da Clínica
Alexandre Lopes Fabiola Peixoto Minson
Ensino e Pesquisa Geral HSFMUSP. Presidente do Comitê de Bioética do HC-FMUSP
Médico Anestesiologista. Doutorando do Programa de Pós-Gradua- Médica Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Médica do
ção em Anestesiologia, Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP Beatriz J. Jacob Milani Claudia Carneiro de Araújo Palmeira Corpo Clínico do Hospital Albert Einstein. Coordenadora do Curso de
Médica Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Pós-Graduação Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade Especialização em Dor da Faculdade Albert Einstein
Alexandre Mio Pos
em Dor pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês. de São Paulo. Coordenadora do Grupo de Controle da Dor do Insti-
Médico Anestesiologista e Preceptor da Residência do Hospital das Fabrício Dias Assis
Integrante do Centro de Terapia da Dor da Clínica Jalbut Jacob tuto Brasileiro de Controle do Câncer. Médica da Equipe de Controle
Clínicas da UFMG. Pós-Graduação em Dor pelo Instituto de Ensino Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Sócio Funda-
de Dor da Divisão de Anestesia do HC-FMUSP
e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês. Mestrado em Dor Oncológica Benno Ejnisman dor do Singular – Centro de Controle da Dor. Fellow of Interventional
pela FCM-MG. Presidente da SOMED– regional SBED (2018-2019) Médico Ortopedista. Professor adjunto e vice coordenador da pós- Daniel Ciampi Araújo de Andrade Pain Practice pelo WIP, FIPP. Chair Board of Sections WIP (2018-2019).
-graduação de medicina esportiva  do departamento de ortopedia e Médico Neurologista com Área de Atuação em Dor. Professor Livre Co-fundador da SOBRAMID e seu Primeiro Presidente
Alexandre Slullitel
traumatologia da UNIFESP Docente pela Faculdade de Medicina da USP. Coordenador da
Médico Anestesiologista e de Medicina Intensiva com Área de Fania Cristina Santos
Residência Médica em Neurologia do HC-FMUSP. Médico Assistente
Atuação em Dor. Mestrado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Bianca Figueiredo Barros Médica Geriatra com Área de Atuação em Dor. Mestrado e Doutora-
do ICESP e do HC-FMUSP
Preto, Doutorando em Anestesiologia pela USP. Responsável pelo Médica Geriatra com Área de Atuação em Dor. Secretária Científica do do pela UNIFESP. Professora e Chefe do Serviço de Dor e Doenças
Centro de Ensino e Treinamento do Hospital do Campo Limpo e “Comitê Nacional de Dor no Idoso” da SBED. Membro da “Comissão Danilo de Souza Ferronato Osteoarticulares da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da
afiliados. Anestesiologista do Hospital Santa Paula e do Hospital de Dor” da SBGG. Afiliada externa do Serviço de Dor e Doenças Os- Médico Ortopedista. Residente em Cirurgia da Coluna Vertebral do UNIFESP. Membro do “Comitê Nacional de Dor no Idoso” da SBED e
Santa Rita (Unidda) teoarticulares da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da UNIFESP IOT / HC-FMUSP da “Comissão de Dor” da SBGG
Amir Salomão Gebrin Bruno Jannarelli David Gonçalves Nordon Felipe Fernandes Gonzalez
Médico 0rtopedista, Cirurgião de Coluna. Mestre em Neurociências. Médico Ortopedista com Área de Atuação em Cirurgia do Quadril. Ortopedista Pediátrico pelo HC-FMUSP. Preceptor de ortopedia Residente em Ortopedia e Traumatologia (HFAG). Residente em
Membro Titular da SBOT, SBC. Fellow em Dor e Cirurgia Funcional Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia na UNIFESP. pediátrica da PUC-SP. Ortopedia e Traumatologia (HFAG). Mestrando em Diagnóstico por
pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual SP Coordenador do Grupo de Cirurgia do Quadril do Grupo Américas - Imagem (EPM/UNIFESP). Hipnoterapeuta (IMHEP)
Douglas Wilhelm
Hospital Alvorada São Paulo
Ana Laura Albertoni Giraldes Médico Ortopedista com Área de Atuação em Cirurgia do Quadril. Fernanda Dutra Santiago Bassora
Médica Anestesiologista com Área de Atuação em Clínica de Dor. Camila Cohen Kaleka Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia na UNESP. Biomédica. Mestrado em Ciências Básicas e Doutorado em Ciências
Doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Médica Ortopedista. Especialização em Cirurgia do Joelho na Santa Membro titular da SBQ. Cirurgião de Quadril da Equipe de Quadril Biomédicas. Pós-doutorado em Fisiopatologia Médica. Diretora de
Coordenadora do Ambulatório de Dor da Clínica de Dor da Disciplina Casa de São Paulo. Mestrado pela Santa Casa de São Paulo, Dou- do Hospital Alvorada (SP) Ciências Básicas do CERT
de Anestesiologia, Dor e Medicina Intensiva da UNIFESP- HSP toranda no Hospital Israelita Albert Einstein. Ortopedista no Instituto
Durval Campos Kraychete Fernando Herrero
Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte
André Cicone Liggieri Médico Anestesiologista. Professor Associado do Departamento de Médico Ortopedista, Cirurgião de Coluna. Doutorado pela Faculdade
Médico Ortopedista com Área de Atuação em Dor. Pós-Graduação em Carlos Castillo Anestesiologia e Cirurgia da Universidade Federal da Bahia de Medicina de Ribeirão Preto – USP/RP. Médico do Hospital das
Dor pelo Centro de Dor do HC-FMUSP. Professor do Curso Interdiscipli- Médico Ortopedista. Membro Titular da SBOT e da SBCOC. Instrutor Clínicas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Professor
Edilson Silva Machado
nar de Dor da USP. Diretor do Comitê de Dor da SBOT (2019-2020) da Residência Médica e do Serviço de Ombro e Cotovelo do HSVP- Doutor da Universidade de São Paulo
Médico Ortopedista com Área de Atuação em Dor. Mestrado em
-IOT / Passo Fundo (RS)
André Pedrinelli Diagnóstico Genético e Molecular. Doutorando da Faculdade Flavia Pereira Fleming
Médico Ortopedista. Professor Livre-Docente pela Faculdade de Carlos Dorilêo de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Supervisor da Médica Anestesiologista e Otorrinolaringologista. Membro da
Medicina da USP. Chefe do Grupo de Medicina do Esporte do IOT / Médico Ortopedista. Especialista em Medicina Esportiva pela SBMEE, Residência Médica em Dor do Hospital Nossa Senhora da Concei- Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Membro da American
HC-FMUSP. Vice Coordenador do Programa de Residência em Medi- Membro da SBRATE. Médico do Centro de Formação de Atletas da So- ção-GHC. Membro titular da SBOT, SBC, SBRET, SBED, IASP, SOGED Society of Anesthesiologists (ASA)
cina do Esporte do HC-FMUSP. Membro da CEC da SBOT ciedade Esportiva Palmeiras. Médico da Seleção Brasileira de Futsal (Presidente 2017/2018). Fellow of the American Academy and Board
Flávia Seullner Domingues
of Regenerative Medicine
André Wan Wen Tsai Carlos Marcelo de Barros Mestre em Anestesiologia, Departamento de Anestesiologia, Facul-
Médico Ortopedista e Acupunturista com Área de Atuação em Dor. Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Fellow of Eduardo Guilherme D’Alessandro dade de Medicina de Botucatu – UNESP
Vice-Supervisor do Programa de Residência Médica em Acupuntura Interventional Pain Practice pelo WIP (World Institute of Pain), FIPP. Médico especialista em Clínica Médica e Acupuntura com Área de
Francisco de Assis Bravim de Castro
do HC-FMUSP. Presidente do CMAeSP (2015-2018),(2018-2021). Diretor Clínico da Santa Casa de Alfenas. Fundador e Diretor Técnico Atuação em Dor. Residência em Clínica Médica (2005-06) com está-
Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Coordenador
Diretor tesoureiro da FILASMA (2017-2019). Presidente da Comissão da Clínica Plenus – Medicina da Dor. Professor de Anestesiologia da gio de pesquisa clínica no Center for Integrative Medicine - Univer-
da Clínica de Dor Orthopain da rede Mater Dei de Belo Horizonte
de Dor da SBOT (2015-2018) Faculdade de Medicina – Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL sity of Maryland School of Medicine (2005). Médico do Ambulatório
de Acupuntura do ICESP / HC-FMUSP Frederico Barra de Moraes
Angela Maria Sousa Carlos Vicente Andreoli
Médico Ortopedista com Área de Atuação em Dor. Professor Adjunto
Médica Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Pós-Gradua- Médico Ortopedista. Membro da SBOT, SBRATE e SBCOC. Pós-Dou- Érica Brandão de Moraes
de Ortopedia e Traumatologia da FM – UFG. Professor Adjunto de
ção, Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. torado pela UNIFESP. Chefe da Disciplina de Medicina Esportiva do Enfermeira Doutora pela Universidade de São Paulo. Professora do
Farmacologia Clínica da UNIFAN (GO). Diretor da SBOT-GO, ABDOR,
Médica do ICESP e do HC-FMUSP. Chefe do Serviço de Dor do ICESP Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP Curso de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense(UFF)
ABOOM (2015 – 2020). Diretor do Comitê de Dor da SBOT (2019-2020)
CORPO EDITORIAL

Gabriel Taricani Kubota Ivete Zoboli José Osvaldo Barbosa Neto Luciano Miller Reis Rodrigues
Médico Neurologista com Área de Atuação em Dor. Colaborador do Médica Pediatra da Unidade de Dor e Cuidados Paliativos do Institu- Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Doutor pela Médico Ortopedista. Doutorado em Ciências da Saúde, Pós-Dou-
Centro de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP to da Criança do Hospital das Clínicas –FMUSP, Área de Atuação em Universidade de São Paulo torado em Biologia Molecular pela UNIFESP. Médico Cirurgião de
Medicina da Dor, Membro do Departamento de Medicina da Dor e Coluna do Hospital Albert Einstein. Professor Adjunto da Faculdade
Guilherme Antonio Moreira de Barros José Oswaldo de Oliveira Júnior
Medicina Paliativa da Sociedade Brasileira de Pediatria de Medicina do ABC
Médico Anestesiologista. Professor Doutor, Departamento de Anes- Médico Neurocirurgião. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP.
tesiologia, Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP Jean Klay Santos Machado Presidente da Comissão de Dor da AMB, Vice-Presidente da SBENF. Lúcio César Hott Silva
Médico Ortopedista. Coordenador do Serviço de Ortopedia e Diretor Científico da SBED, Diretor e Titular da Central da Dor do AC Ca- Médico Neurocirurgião com Área de Atuação em Dor. Fellow of In-
Guilherme Augusto Stirma
Traumatologia dos Hospitais Porto Dias e Adventista de Belém. Coor- margo Câncer Center. Membro do Grupo Especializado em Dor e Neuro- terventional Pain Practice pelo WIP, FIPP. Certified Interventional Pain
Médico Ortopedista. Pós-graduando em medicina esportiva do
denador do Serviço de Residência em Ortopedia e Traumatologia do cirurgia Funcional do Hosp. dos Servidores do Estado de São Paulo Sonologist (WIP), CIPS. Chairman do Capítulo Brasil do WIP (2017-
departamento de ortopedia e traumatologia da UNIFESP
Hospital Porto Dias / UEPA 2019). Chairman do Capítulo América Latina da WAPMU (2018-2020).
Laís Kozminski da Costa Akcelrud Durão
Gustavo Constantino de Campos Presidente da Regional da SBED no Espírito Santo (2017-2018)
João Artur Bonadiman Biomédica, especialista em Saúde Pública e Neurociência. Chefe de
Médico Ortopedista. Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatolo- Divisão na Superintendência de Atenção à Saúde da Secretaria de Lucio Gusmão Rocha
da USP. Médico Contratado do Departamento de Ortopedia da UNI-
gia (SBOT). Fellow (R4) do Serviço de Cirurgia do Ombro e Cotovelo Saúde do Estado do Paraná Médico Ortopedista. Professor da Pós-graduação em Dor – APM/GO.
CAMP. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Trauma-
do Hospital São Vicente de Paulo, Instituto de Ortopedia e Traumato- Coordenador do Centro Avançado de Tratamento em dor – Orto-
tologia. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho Lauro Schledorn de Camargo
logia, Passo Fundo, RS trauma (DF). Coordenador da clínica de dor, Centro ortopédico de
Médico Ortopedista. Especialização em Cirurgia do Joelho pelo HC-
Gustavo Leporace Taguatinga (DF)
João Batista Santos Garcia -FMRP-USP. Diretor da SMBTOC (2015-2016),( 2017-2018), (2019-2020).
Mestre e Doutor em Engenharia Biomédica – COPPE/UFRJ. Coor-
Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor e Cuidados Representante de ESWT no Comitê de dor da SBOT (2019-2020) Luiz Ângelo Vieira
denador de Pesquisas do Instituto Brasil de Tecnologias de Saúde
Paliativos-AMB. Doutorado na Área de Dor pela Universidade Fede- Médico Ortopedista. Doutorado pela Faculdade de Medicina do ABC.
(IBTS) Lázaro Medeiros
ral de São Paulo. Professor Doutor da disciplina de Anestesiologia, Supervisor da Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia da
Nutricionista pela Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da UFRN.
Hazem Adel Ashmawi Dor e Cuidados Paliativos da UFMA. Responsável pelo Serviço de PUC-SP. Supervisor da Cirurgia da Mão da PUC-SP
Mestre em Bioquímica e Biologia Molecular pela UFRN - LBMG. Docen-
Médico Anestesiologista. Supervisor da Equipe de Controle de Dor Dor e Cuidados Paliativos da HU-UFMA e do Hospital de Câncer do
te de Nutrição Clínica UnP - Laureate International Universities. Diretor Maisa Vitória Gayoso
da Divisão de Anestesia do HC-FMUSP. Professor Livre-docente em Maranhão
Científico DNYou Genetics. Consultor em Genômica Nutricional Mestre em Anestesiologia, Departamento de Anestesiologia, Facul-
Anestesiologia pela Faculdade de Medicina da USP
João Valverde Filho dade de Medicina de Botucatu – UNESP
Leandro da Costa Lane Valiengo
Helena Hideko Seguchi Kaziyama Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Doutorado
Médico Psiquiatra. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Manoel Jacobsen Teixeira
Médica Fisiatra. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Coordenador do Centro de
Coordenador de Ambulatório de Psicogeriatria do LIM27 IPq HC-F- Médico Neurocirurgião. Professor Livre Docente da Neurocirurgia da
da USP. Médica Assistente do Grupo de Fisiatria do IOT / HC-FMUSP. Tratamento de Dor do Hospital Sírio Libanês - São Paulo. Coorde-
MUSP. Coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação Faculdade de Medicina da USP. Professor Titular da Neurocirurgia
Professora do Curso Interdisciplinar de Dor da USP nador da Pós-graduação Curso de Especialização em Dor Hospital
do HC-FMUSP do HC-FMUSP. Coordenador do Curso Interdisciplinar de Dor da USP
Sírio Libanês em São Paulo. Coordenador do Curso Continuado de
Hideki Hyodo Intervencionismo em Dor Hospital Sírio Libanês em São Paulo Leonardo Metsavaht Marcelo Bordalo
Médico Ortopedista e Acupunturista com Área de Atuação em Dor.
Médico Ortopedista e Fisiatra. Mestre em Medicina DOT/SOT/UFRJ. Médico Radiologista. Chefe do Setor de Musculoesquelético do
Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do HC-FMUSP. Colabora- José Eduardo Martinez
Diretor Científico do Instituto Brasil de InRad do HC-FMUSP. Diretor do Serviço de Radiologia do IOT do
dor do Grupo de Dor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Médico Reumatologista com Área de Atuação em Dor. Doutorado em
Tecnologias de Saúde (IBTS) HC-FMUSP. Coordenador do Grupo de Radiologia Musculoesqueléti-
Reumatologia pela UNIFESP. Professor da Reumatologia da PUC-SP.
Ibrahim Afrânio Willi Liu ca do Hospital Sírio-Libanês
Professor Titular do Departamento de Medicina da PUC-SP Leonardo Yukio Jorge Asano
Médico Ortopedista e Acupunturista com Área de Atuação em Dor.
Médico Ortopedista, Cirurgião de Coluna. Médico Assistente da Marcelo Marcucci Chakkour
Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do HC-FMUSP. Espe- José Eduardo Nogueira Forni
Faculdade de Medicina do ABC Médico Ortopedista. Membro da Associação Brasileira de Medicina
cialização Complementar em Dor Crônica Intervencionista pelo Médico Perito pela Sociedade Brasileira de Medicina Legal e Perícia
e Cirurgia do Tornozelo em Pé. Médico Assistente do Grupo do Pé e
HCRP-USP. Colaborador da Clínica de Dor do Hospital das Clínicas Médica. Médico Ortopedista membro da SBOT com título de especia- Lin Tchia Yeng
Tornozelo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
da UFMG. Diretor do Comitê de Dor da SBOT (2019-2020) lista em Cirurgia de Joelho. Mestrado em Ortopedia e Traumatologia Médica Fisiatra. Mestrado e Doutorado pela USP. Responsável pelo
USP-Ribeirão Preto. Doutorado em Neurociência USP-São Paulo. Grupo de Dor do HC-FMUSP. Coordenadora do Curso Interdisciplinar Marcelo Vaz Perez
Irimar de Paula Posso Professor Adjunto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de de Dor da USP Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Doutorado
Médico Anestesiologista. Professor Aposentado pela Faculdade Medicina de São Jose do Rio Preto- FAMERP. Professor Adjunto pela Faculdade de Medicina da USP. Médico da Santa Casa de São
de Medicina da USP e pela Universidade de Taubaté. Instrutor Departamento de Epidemiologia e Saúde Coletiva – FAMERP Lindomar Guimarães Oliveira
Paulo e da Unifesp. Professor da Santa Casa de Misericórdia de São
Corresponsável do Centro de Ensino e Treinamento em Anestesia da Médico Ortopedista. Fundador da ABOOM. Presidente da Academia
Paulo
Faculdade de Medicina do ABC José Eid Goiana de Medicina. Ex-presidente SBOT-GO e ABOOM
Médico Ortopedista. Ex-Presidente da SMBTOC (2001-2003), (2009- Marcia Carla Morete
Ivan Chakkour 2010). Ex-Presidente da ONLAT (2015-2017). Secretário Geral da Luci Mara França Correia
Enfermeira. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Coor-
Médico Ortopedista. Doutorado em Medicina. Chefe do Departamen- ISMST (2015-2018), (2018-2021) Cirurgiã-dentista, especialista em Ortopedia Funcional dos Maxila-
denadora da Pós-Graduação em Dor no Instituto de Pesquisa Albert
to de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de São Paulo res, Ortodontia e Acupuntura. Mestre em Disfunção Temporoman-
Einstein
José Luís Amim Zabeu dibular e Dor Orofacial. Coordenadora das Ligas Interdisciplinares
Ivan Dias da Rocha Médico Ortopedista com Áreas de Atuação em Reconstrução e para Estudo da Dor da SBED Márcio Fim
Médico Ortopedista, Cirurgião de Coluna. Mestrado em Cirurgia de Alongamento Ósseo, Cirurgia do Quadril e do Joelho. Mestrado em Médico Ortopedista. Especializado em Cirurgia do Ombro e Cotovelo
Coluna pela Faculdade de Medicina da USP. Médico Assistente do Ortopedia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Luciana de Oliveira Palombini
pelo IPSEMG. Especializado em Clínica de Dor pelo Instituto Israelita
Grupo de Coluna do IOT / HC-FMUSP São Paulo. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Chefe do Médica especialista em Medicina do Sono pela Academia Americana
Albert Einstein. Membro Titular da SBOT, SBCOC e ABETI
Serviço de Ortopedia do Hospital Vera Cruz de Campinas (SP) do Sono e AMB. Doutorado pela UNIFESP. Fellowship na Clínica de
Distúrbios do Sono da Faculdade de Stanford, Califórnia. Médica do
Instituto do Sono de São Paulo
CORPO EDITORIAL

Marcio Matsumoto Norma Regina Pereira Fleming Renato Luiz Bevilacqua de Castro Telma Regina Mariotto Zakka
Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Doutora- Médica Neurologista. Mestre em Neurologia pela UFF. Neurologista Médico Ortopedista com Área de Atuaçao em Cirurgia do Joelho Médica Ginecologista, Obstetra e Acupunturista com Área de
do pela Faculdade de Medicina da USP. Coordenador Centro de da Clínica da Dor do INTO. Membro Titular da ABN, SBED, IASP e Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Presidente da SBRET (Sociedade Atuação em Dor. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP.
Tratamento de Dor Hospital Sírio Libanês São Paulo. Coordenador Brasileira de Regeneração Tecidual). Presidente do CERT (Centro de Coordenadora do Núcleo de Estudos em Dor Pelve-Perineal do
Osvaldo Guilherme Nunes Pires
Pós-Graduação Curso de Especialização em Dor Hospital Sírio Liba- Estudos em Regeneração Tecidual) Centro de Dor do HC-FMUSP
Médico Ortopedista. Membro Titular da SBOT. Membro Titular da
nês em São Paulo. Coordenador Curso Continuado de
SBQ. Presidente da Comissão de Educação Continuada da SBQ. Ricardo Diaz Savoldelli Thiago Ramos Grigio
Intervencionismo em Dor Hospital Sírio Libanês em São Paulo
Presidente da Comissão de Preceptores da SBOT. Chefe do Departa- Médico Fisiatra. Membro da Sociedade Brasileira de Análise Clínica Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Pós-gradua-
Marco Antônio Pedroni mento de Ortopedia do Hospital Alvorada da Marcha e Movimento Humano. Membro da Associação Médica ção em Dor pela Santa Casa de São Paulo. Mestrado pela Santa
Médico Ortopedista com Área de Atuação em Cirurgia do Quadril. Brasileira de Medicina Física e Reabilitação Casa de São Paulo, Doutorando em Anestesiologia pela USP. Super-
Osvandré Lech
Mestre em Cirurgia pela PUC-PR. Professor da Escola de Medicina visor da Residência de Anestesiologia da Santa Casa de São Paulo.
Médico Ortopedista. Chefe do Serviço de Cirurgia do Ombro e Ricardo Fuller
da PUC-PR. Diretor Científico da SBQ Médico do ICESP e da Santa Casa de São Paulo
Cotovelo do HSVP-IOT / Passo Fundo (RS). Ex-Presidente da SBOT. Médico Reumatologista. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de
Marco Tulio Costa Presidente do International Board of Shoulder and Elbow Surgery Medicina da USP. Médico Assistente do Serviço de Reumatologia do Vania Assaly
Médico Ortopedista. Membro da Associação Brasileira de Medicina (IBSES) HC-FMUSP. Responsável pelas Unidades de Osteoartrite e Artropa- Médica com Especialização em Endocrinologia e Metabologia pela
e Cirurgia do Tornozelo e Pé. Médico Assistente do Grupo do Pé e tias Microcristalinas do Serviço de Reumatologia do HC-FMUSP FMUSP. Título de Especialista em Nutrologia pela AMB. Pós-gradua-
Paulo Facciola Kertzman
Tornozelo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ção em Medicina Integrativa – Instituto Israelita de Ensino e Pesqui-
Médico Ortopedista. Membro da Associação Brasileira de Medicina e Ricardo Kobayashi
sa Albert Einstein. Diretora Científica e Fundadora na LALMA – Latin
Marcos Masayuki Ishi Cirurgia do Tornozelo e Pé. Médico do Grupo de Trauma do Esporte Médico Ortopedista e Acupunturista com Área de Atuação em Dor.
American Lifestyle Medicine Association
Médico Ortopedista, Cirurgião de Coluna. Pós-Graduação em Dor da Santa Casa de São Paulo. Ex-Presidente da SMBTOC Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do HC-FMUSP. Dou-
pelo Centro de Dor do HC-FMUSP. Cursando MBA em Gestão de torado pela Faculdade de Medicina da USP. Professor do Curso Victor Cicone Liggieri
Paulo Piluski
Saúde. Médico e Sócio do Núcleo de Dor e Reabilitação Interdisciplinar de Dor da USP. Presidente do Comitê de Dor da SBOT Fisioterapeuta, Especialista em Neuropsicologia pelo CDN – UNIFESP.
Médico Ortopedista com Área de Atuação em Cirurgia do Ombro e
(2019-2020) Formação em Reeducação do Movimento e Cadeias Musculares e Ar-
Marcus Vinicius Malheiros Luzo Cotovelo. Membro da CEC da SBCOC. Instrutor da Residência Médi-
ticulares. Fisioterapeuta Coordenador do Centro de Dor do HC-FMUSP
Médico Ortopedista. Doutorado em Ortopedia e Traumatologia ca e Pós-Residência em Cirurgia do Ombro e Cotovelo do HSVP-IOT / Rioko Kimiko Sakata
e da Clínica CFDor. Professor do Curso Interdisciplinar de Dor da USP
pela UNIFESP. Professor Adjunto do Departamento de Ortopedia e Passo Fundo (RS) Médica Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Mestrado
Traumatologia da UNIFESP e Doutorado pela UNIFESP. Profa. Associada da Escola Paulista de Wu Tu Hsing
Paulo Renato Barreiros da Fonseca
Medicina - UNIFESP. Chefe do Setor de Dor da UNIFESP Docente da Disciplina de Telemedicina do Departamento de Pato-
Maria Teresa R. J. Jacob Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Fellow of
logia da FMUSP. Supervisor do Programa de Residência Médica em
Médica Anestesiologista e Acupunturista com Área de Atuação em Interventional Pain Practice pelo WIP, FIPP. Sócio Diretor – Médi- Roberto de Oliveira Rocha
Acupuntura do HC-FMUSP. Diretor do Centro de Acupuntura do IOT
Dor. Especialização em Dor na Clinique de la Toussaint, Strasbourg, co da Aliviar – Medicina da Dor (RJ). Coordenador do Serviço de Médico Anestesiologista. Médico Intervencionista em Dor pela World
HC-FMUSP
França. Responsável pelo Centro de Terapia da Dor da Clínica Jalbut Anestesiologia e Clínica de Dor Oncológica da Americas Oncologia Institute of Pain. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP.
Jacob – COI (RJ). Ex-Professor de Anestesiologia da Universidade Federal Centro de Dor - HC FMUSP Yussef Ali Abdouni
do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Ex-Presidente da SOBRAMID Médico Ortopedista. Doutorado em Medicina. Médico Assistente do
Mariana Bucci Sanches Rodrigo Campos Pace Lasmar
(2017-2019), Presidente da SBED (2020-2022) Grupo de Cirurgia da Mão da Santa Casa de São Paulo
Enfermeira, Enfermagem Especializada. Mestre pela Escola de Enfer- Médico Ortopedista. Mestre pela Faculdade de Medicina da USP.
magem da USP pelo Programa de Pós-Graduação de Enfermagem Paulo Roberto Dias dos Santos Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
em Saúde do Adulto. Serviço de Tratamento da Dor Hospital Sírio Médico Ortopedista. Doutor pelo Departamento de Ortopedia e Diretor Médico do Clube Atlético Mineiro, Chefe do Departamento
Libanês em São Paulo Traumatologia da UNIFESP. Membro do Advisory Board da ISMST Médico da Seleção Brasileira de Futebol
Mariana Camargo Palladini Plinio da Cunha Leal Rubens Correia Filho
Médica Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Médica Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor. Pós-doutora- Cirurgião-Dentista, especialista em Implantodontia. Coordenador da
Responsável do Centro Paulista de Dor. Adjunta do CET da Santa do em Ciências pela UNIFESP. Professor da Universidade Federal do Equipe Interdisciplinar para Tratamento da Dor no Koya Desenvolvi-
Casa de São Paulo. Docente da Pós-graduação de Dor do Hospital Maranhão. Presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado do mento Humano e Saúde. Analista Transacional Organizacional
Israelita Albert Einstein. Coordenadora do Comitê de Dor Neuropáti- Maranhão
Samuel Katsuyuki Shinjo
ca da SBED
Rafael Reis Di Tommaso Médico Reumatologista. Professor Doutor - Disciplina de Reumatolo-
Maryelle Alves Médico Anestesiologista. Pós-Graduando em Dor pela Santa Casa gia, FMUSP
Mestre em Enfermagem, Departamento de Enfermagem, Faculdade de São Paulo
Sandro da Silva Reginaldo
de Medicina de Botucatu – UNESP
Raquel Fernandes de Barros Médico Ortopedista. Chefe do Serviço de Ombro e Cotovelo do Hos-
Maurício da Camara Ferreira Médica com Residência em Clínica Médica pelo Hospital Arnaldo pital das Clínicas da UFG. Membro Titular da SBOT, SBCOC e SBRATE
Médico Ortopedista com Área de Atuação em Cirurgia do Quadril. Gavazza Filho. Residência na Área de Atuação em Dor pela UFMG
Sílvia Maria de Macedo Barbosa
Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital Porto Dias/
Raul de Omena Médica Pediatra, Doutora em Ciências da Saúde – FMUSP. Chefe da
Universidade do Estado do Pará (PA). Membro Titular da SBOT
Médico Radiologista do Grupo DASA. Médico Radiologista do Grupo Unidade de Dor e Cuidados Paliativos do Instituto da Criança – HC-
Moisés Cohen de Musculoesquelético do Hospital Sírio-Libanês FMUSP, Área de Atuação em Medicina da Dor e Medicina Paliativa.
Médico Ortopedista. Mestre, Doutor e Livre Docente pela UNIFESP. Secretária do Departamento de Medicina da Dor e Medicina Paliati-
Renata Fernandes
Ex-Presidente da ISAKOS (2011-2013). Presidente da SBOT (2019) va da Sociedade Brasileira de Pediatria
Médica Radiologista do Grupo Fleury. Médica Radiologista do Grupo
de Musculoesquelético do Hospital Sírio-Libanês
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - Epidemiologia e taxonomia da dor CAPÍTULO 18 - Dor em ombro


João Batista Santos Garcia, Érica Brandão de Moraes, José Osvaldo Barbosa Neto........................................................................... 15 Sandro da Silva Reginaldo, Márcio Fim........................................................................................................................................................ 213

CAPÍTULO 2 - Fisiopatologia da dor CAPÍTULO 19 - Dor em cotovelo


Manoel Jacobsen Teixeira, José Eduardo Nogueira Forni......................................................................................................................... 25 Benno Ejnisman, Guilherme Augusto Stirma, João Artur Bonadiman, Osvandré Lech.................................................................... 227

CAPÍTULO 3 - Dor nociceptiva, neuropática e nociplástica CAPÍTULO 20 - Dor em punho e mão


Gabriel Taricani Kubota, Manoel Jacobsen Teixeira, Daniel Ciampi Araújo de Andrade...................................................................... 37 Ivan Chakkour, Luiz Ângelo Vieira, Yussef Ali Abdouni............................................................................................................................. 241

CAPÍTULO 4 - Avaliação clínica e exame físico do paciente com dor CAPÍTULO 21 - Dor cervical
André Cicone Liggieri, Victor Cicone Liggieri.................................................................................................................................................45 Ivan Dias da Rocha, Alexandre Fogaça Cristante, Danilo de Souza Ferronato................................................................................. 253

CAPÍTULO 5 - Exames complementares de imagem em dor CAPÍTULO 22 - Dorsalgia


Renata Fernandes, Raul de Omena, Marcelo Bordalo................................................................................................................................. 57 Leonardo Yukio Jorge Asano, Luciano Miller Reis Rodrigues................................................................................................................265

CAPÍTULO 6 - Dor aguda CAPÍTULO 23 - Dor lombar


Guilherme Antonio Moreira de Barros, Alexandre Lopes, Flávia Seullner Domingues, Maisa Vitória Gayoso, Maryelle Alves......... 73 Ricardo Kobayashi, Fernando Herrero, Marcos Masayuki Ishi................................................................................................................ 271

CAPÍTULO 7 - Dor em trauma CAPÍTULO 24 - Dor em quadril


Jean Klay Santos Machado, José Luís Amim Zabeu.......................................................................................................................................81 Osvaldo Guilherme Nunes Pires, Bruno Jannarelli, Douglas Wilhelm, Marco Antônio Pedroni, Maurício da Camara Ferreira...... 281

CAPÍTULO 8 - Analgesia preemptiva e preventiva CAPÍTULO 25 - Dor em joelho


Claudia Carneiro de Araújo Palmeira, Hazem Adel Ashmawi...................................................................................................................... 91 Moisés Cohen, Camila Cohen Kaleka, Marcus Vinicius Malheiros Luzo, Ibrahim Afrânio Willi Liu.................................................. 301

CAPÍTULO 9 - Analgesia pós-operatória CAPÍTULO 26 - Dor em pé e tornozelo


Fabiola Peixoto Minson, Marcia Carla Morete, Alexandre Alberto Fontana Ferraz............................................................................... 97 Marco Tulio Costa, Marcelo Marcucci Chakkour, Paulo Kertzman............................................................................................................ 311

CAPÍTULO 10 - Dor crônica CAPÍTULO 27 - Síndrome dolorosa miofascial


Beatriz J. Jacob Milani, Maria Teresa R. J. Jacob.......................................................................................................................................109 Helena Hideko Seguchi Kaziyama, Lin Tchia Yeng, Manoel Jacobsen Teixeira................................................................................... 321

CAPÍTULO 11 - Osteoartrite CAPÍTULO 28 - Fibromialgia


Gustavo Constantino de Campos..................................................................................................................................................................... 119 José Eduardo Martinez................................................................................................................................................................................... 333

CAPÍTULO 12 - Dor em reumatologia CAPÍTULO 29 - Síndrome complexa de dor regional


Ricardo Fuller, Samuel Katsuyuki Shinjo, Carolina Besser Cozac Kobayashi....................................................................................... 129 Lin Tchia Yeng, Ricardo Kobayashi, Roberto de Oliveira Rocha, Manoel Jacobsen Teixeira...........................................................343

CAPÍTULO 13 - Dor óssea CAPÍTULO 30 - Dor em gestante


Frederico Barra de Moraes, Lindomar Guimarães Oliveira, Lucio Gusmão Rocha............................................................................... 141 Telma Regina Mariotto Zakka, Manoel Jacobsen Teixeira, Lin Tchia Yeng......................................................................................... 355

CAPÍTULO 14 - Dor oncológica CAPÍTULO 31 - Dor em criança


Angela Maria Sousa, Alexandre Slullitel....................................................................................................................................................... 155 David Gonçalves Nordon, Esther Angélica Luiz Ferreira, Ivete Zoboli, Sílvia Maria de Macedo Barbosa................................... 365

CAPÍTULO 15 - Dor orofacial CAPÍTULO 32 - Dor em atleta


Luci Mara França Correia, Laís Kozminski da Costa Akcelrud Durão, Rubens Correia Filho, Irimar de Paula Posso...................173 André Pedrinelli, Rodrigo Campos Pace Lasmar, Carlos Dorilêo........................................................................................................... 377

CAPÍTULO 16 - Cefaleia CAPÍTULO 33 - Dor em idoso


Norma Regina Pereira Fleming, Flavia Pereira Fleming........................................................................................................................... 183 Bianca Figueiredo Barros, Fania Cristina Santos..................................................................................................................................... 389

CAPÍTULO 17 - Síndromes compressivas e dolorosas do membro superior CAPÍTULO 34 - Anti-inflamatórios e relaxantes musculares
Osvandré Lech, João Artur Bonadiman, Paulo Piluski, Carlos Castillo.................................................................................................. 195 Marcelo Vaz Perez, Thiago Ramos Grigio, Hideki Hyodo, Rafael Reis Di Tommaso......................................................................... 399
TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 15

SUMÁRIO
CAPÍTULO 1

Epidemiologia e
CAPÍTULO 35 - Analgésicos simples e opioides
Rioko Kimiko Sakata, Ana Laura Albertoni Giraldes, Plinio da Cunha Leal.........................................................................................405

taxonomia da dor
CAPÍTULO 36 - Medicação adjuvante para o tratamento da dor
Mariana Camargo Palladini.............................................................................................................................................................................. 413

CAPÍTULO 37 - Uso da cannabis no tratamento da dor


Francisco de Assis Bravim de Castro, Raquel Fernandes de Barros, Alexandre Mio Pos............................................................... 423
João Batista Santos Garcia
CAPÍTULO 38 - Analgesia regional para o tratamento da dor Érica Brandão de Moraes
Hideki Hyodo, Thiago Ramos Grigio, Marcelo Vaz Perez, Rafael Reis Di Tommaso.......................................................................... 437
José Osvaldo Barbosa Neto
CAPÍTULO 39 - Infiltrações para o tratamento da dor
Fabiano Gonçalves da Cunha, Carlos Vicente Andreoli, Guilherme Augusto Stirma....................................................................... 449

CAPÍTULO 40 - Medicina regenerativa em dor


Renato Luiz Bevilacqua de Castro, Edilson Silva Machado, Fernanda Dutra Santiago Bassora.................................................... 459

CAPÍTULO 41 - Tratamentos intervencionistas para manejo da dor


Carlos Marcelo de Barros, Paulo Renato Barreiros da Fonseca, Fabrício Dias Assis, Lúcio César Hott Silva............................ 469

CAPÍTULO 42 - Estimulação elétrica do sistema nervoso central e periférico


Antonio Sérgio Barata Cavalcanti, Leandro da Costa Lane Valiengo.................................................................................................. 483

CAPÍTULO 43 - Tratamento por ondas de choque


Lauro Schledorn de Camargo, José Eid, Paulo Facciola Kertzman, Paulo Roberto Dias dos Santos........................................... 495

CAPÍTULO 44 - Acupuntura para o tratamento da dor


André Wan Wen Tsai, Chin An Lin, Eduardo Guilherme D’Alessandro, Wu Tu Hsing....................................................................... 505

CAPÍTULO 45 - Tratamento cirúrgico da dor


José Oswaldo de Oliveira Júnior, Amir Salomão Gebrin.......................................................................................................................... 515

CAPÍTULO 46 - Clínica de dor aguda


João Valverde Filho, Marcio Matsumoto, Mariana Bucci Sanches....................................................................................................... 533
Introdução
CAPÍTULO 47 - Clínica de dor crônica A dor é uma experiência presente na vida da de tais danos1. Este conceito de dor valoriza a ex-
Durval Campos Kraychete............................................................................................................................................................................. 539 maior parte dos seres humanos, pois constitui um periência de dor pelo paciente, mesmo na ausên-
mecanismo fisiológico de proteção que possibilita cia de uma lesão tecidual evidente, tanto através de
CAPÍTULO 48 - Medicina do estilo de vida e dor a detecção de estímulos físicos e químicos nocivos. sensações percebidas, em uma ou diversas partes
Vania Assaly, Luciana de Oliveira Palombini, Lázaro Medeiros, Aritiane Ricardo Silva................................................................... 549
O fenômeno doloroso é complexo e multifatorial, do corpo, quanto seu impacto emocional. A ausên-
CAPÍTULO 49 - Medicina física e reabilitação em dor envolvendo processos sensoriais periféricos e cen- cia de uma lesão precipitando a dor pode estar rela-
Leonardo Metsavaht, Ricardo Diaz Savoldelli, Gustavo Leporace, Felipe Fernandes Gonzalez..................................................... 561 trais, bem como a interação com elementos afeti- cionada a uma manifestação somática de um trans-
vos, cognitivo-comportamentais e socioculturais. torno psicológico, bem como ser consequência do
De acordo com a Associação Internacional para um processo de sensibilização central pela dor, em
o Estudo da Dor (IASP), dor é uma experiência sen- que a percepção de sensação dolorosa, inicialmen-
sorial e emocional desagradável associada a dano te desencadeada por uma lesão tecidual, passa a
tecidual real ou potencial, ou descrita em termos prescindir da mesma.
16 EPIDEMIOLOGIA E TAXONOMIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 17

Epidemiologia da dor
sentaram 10% dos pacientes com dor. Houve pre- de diversos Estados do Brasil registrou que 39% dos
dominância da dor em membros inferiores nessa entrevistados referiram quadro de dor com dura-
população (51%). Grande parte da população ainda ção superior a seis meses. As mulheres são mais
DOR AGUDA tão presentes em 7% a 8% da população geral, o que não sabia a causa da dor (50,89%). Os medicamen- afetadas, correspondendo a 56% dos pacientes com
Estudos epidemiológicos relacionados à dor corresponde a cerca de um terço da população com tos mais utilizados para o tratamento da dor crônica dor crônica15. Em um estudo subsequente que utili-
aguda são de difícil execução, uma vez que este DC9,10. Variações na prevalência estimada de dor crô- neste estudo foram analgésicos e AINEs. zou dados deste mesmo grupo de pacientes, a pre-
sintoma está presente em uma grande variedade de nica podem ser atribuídas às faltas de homogenei- Um estudo populacional, feito por meio de con- valência de fibromialgia no Brasil foi estimada em
situações clínicas. No entanto, algumas etiologias dade na sua definição, tipos de população estudada tato/telefônico, que incluiu 723 pessoas oriundos 2% da população geral16.
específicas têm sido estudadas com maior frequ- e forma metodológica da pesquisa11.
ência. A dor aguda pós-operatória continua apre- Em um estudo epidemiológico realizado em
sentando valores elevados de incidência em todo 2006, com a participação de 15 países, foram entre-
o mundo, e seu controle segue como uma meta vistados um total de 46.394 pessoas em toda Euro-

Impactos da dor crônica


crucial na melhora da qualidade da assistência nos pa. A prevalência média de DC para toda a Euro-
sistemas de saúde2. As cirurgias ortopédicas, em pa foi 19%, sendo mais alta na Noruega, Polônia e
particular, cursam com uma chance elevada do de- Itália, e menor na Espanha, Irlanda e Reino Unido.
senvolvimento de dor no período pós-operatório. Neste estudo, as mulheres referiram mais dor do Para pacientes com dor crônica, o sintoma da briram que a matéria cinzenta diminui em doentes
Metade dos pacientes submetidos a artroplastia to- que os homens. A dor foi mais prevalente entre 41- dor é apenas uma de muitas facetas de um quadro com dor crônica de acordo com a duração dos sin-
tal de joelho, por exemplo, evoluem com dor de for- 60 anos. Somente 12% dos respondentes sofriam de mais complexo. As alterações de humor e os distúr- tomas de dor, sugerindo que a dor prolongada pode
te intensidade imediatamente após a cirurgia4. Nos dor crônica a menos de 2 anos, quase 60% tinham bios cognitivos são comuns, e resultam em piora na contribuir para a redução da substância cinzenta.
Estados Unidos, foi descrito uma incidência supe- dor entre 2 a 15 anos e muitos reportaram dor com qualidade de vida e baixa taxa de resposta aos tra- Há também alguma evidência de que a magnitude
rior a 80% de dor aguda pós-cirúrgica, sendo que duração maior do que 20 anos (21%). Uma em cada tamentos empregados. Estudos de dor em modelos da disfunção cognitiva em pacientes com dor crô-
menos de 50% destes pacientes receberam trata- cinco pessoas tinha dor de cabeça e em membros de roedores demonstram ansiedade aumentada, nica se correlaciona com a redução da substância
mento adequado. A dor pélvica crônica que sucede inferiores. A dor foi intensa em 34% das pessoas, comportamentos de depressão e distúrbios cogni- cinzenta nos córtices frontal e cingulado, regiões
uma cirurgia abdominal ou do trato genital foi esti- sendo que 31% não toleravam mais a dor. Somente tivos atribuídos à dor crônica. E estes sintomas afe- importantes para a memória e atenção22.
mada em 20-40% das pacientes do sexo feminino3. 25% foram no especialista em dor. Em relação ao tivos são muitas vezes reduzidos pelo tratamento A dor crônica é uma das mais incapacitantes e
Outras doenças tem grande potencial para de- tipo de medicamento utilizado para o tratamento analgésico18. com maior custo da América do Norte, Europa e
senvolverem quadros de dor aguda de difícil tra- da dor a maioria utilizava anti-inflamatórios não Em 150 pacientes avaliados um centro de dor Austrália23. Estudos mostram que os fatores asso-
tamento, como a crise dolorosa de anemia falci- esteroides – AINEs (55%), 43% usavam analgésicos, multidisciplinar dinamarquês com dor crônica ciados com maior prevalência de dor crônica são
forme5, politraumatismo6 e a dor lombar aguda7. sendo que 13% eram opioides. Em relação à satis- não-oncológica, a qualidade de vida e humor foram o sexo feminino, aumento da idade, baixo nível
Dados americanos mostram que nos serviços de fação com o tratamento, 40% estavam insatisfeitos significativamente afetados em relação à população socioeconômico e baixa escolaridade11,12,24–26. Uma
emergência, a dor é motivo de 78% dos atendimen- com o tratamento recebido12. geral. Além disso, 58% dos pacientes apresentaram revisão de quinze estudos epidemiológicos sobre
tos8. O tratamento inadequado da dor aguda tem Apesar importância deste tema, no Brasil poucos escores indicando depressão ou ansiedade, que são a prevalência de DC na população adulta mostrou
como consequência aumento do tempo de inter- estudos foram realizados sobre a prevalência de dor transtornos que têm se mostrado comumente asso- que as regiões mais acometidas são cefálicas, lom-
nação, maior incidência de complicações respira- crônica13–16. A prevalência de dor crônica (DC) foi es- ciados à presença ou curso clínico de DC. Pesquisas bar e membros inferiores27.
tórias e cardiovasculares, limitação na reabilitação timada em 42% em um estudo realizado na cidade de anteriores mostraram que indivíduos com dor crô- Nos Estados Unidos, uma média de 5,2 horas
dos pacientes, desarranjos psíquicos (ansiedade, São Luís no Maranhão, valor maior que o encontra- nica na população geral são mais propensos a ter / semana de tempo produtivo foi perdida devido
medo da dor e depressão), bem como o aumento no do em estimativas mundiais descritas anteriormen- um transtorno psicológico ou psiquiátrico19,20. à dor musculoesquelética e indivíduos com dor
risco do desenvolvimento de dor crônica6. Apesar te. Dentre estes pacientes, 10% apresentaram dor Estudos de ressonância magnética estrutural no trabalho perderam 101,8 milhões de dias úteis
disso, pacientes com dor aguda permanecem não com características neuropática17, demonstrando (RME) em vários pacientes com diferentes tipos devido a dor nas costas. Um outro estudo revelou
recebendo avaliação e tratamento abrangente, in- um percentual maior que o descrito no Reino Unido DC mostram que os cérebros desses indivíduos que o impacto total estimado da dor crônica entre
tegrativo e baseado em evidência8. (8%)10 e na França (6,9%)9. O aumento da idade foi diferem daqueles sem dor. A anormalidade mais 2.459 funcionários foi de mais de quatro mil dóla-
um forte fator associado, observando-se que a preva- pronunciada observada em todos os estudos é a re- res por empregado por ano para cuidados relacio-
DOR CRÔNICA lência de DC aumentou nos indivíduos mais velhos. dução da substância cinzenta nos pacientes, mais nados com dor, incluindo os custos médicos e de
A dor crônica (DC) é um problema grave de saú- O tempo de duração da dor neste estudo variou de 6 consistentemente no córtex pré-frontal, na ínsula farmácia. Verificou-se que 234 indivíduos perde-
de pública com grandes implicações socioeconômi- meses e 4 anos, sendo descrita predominantemen- e nos córtices cingulados anterior e médio. Estas ram trabalho ou tarefas domésticas em pelo menos
cas para a sociedade. Estima-se que a prevalência na te como diária. A intensidade dolorosa e o tempo são regiões cerebrais implicadas no processamento um dia por ano devido à dor, e a duração média de
população geral de dor crônica varie de 12% a 80%9. de dor foram maiores nas pessoas que tinham dor e regulação da dor, regulação do humor e cogni- ausência do trabalho devido à dor foi de 9,6 dias.
Quadros de dor com características neuropáticas es- crônica com característica neuropática, que repre- ção21. Estudos que examinaram esta relação, desco- Além disso, 55 destes indivíduos estavam ausentes
18 EPIDEMIOLOGIA E TAXONOMIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 19

do seu trabalho por mais de uma semana. Quando dade de trabalho e o ônus de cuidar sobre as famí- Tabela 1. Descritores de dor 1.
se avalia a perda de oportunidades de trabalho, são lias. Assim, o aumento dos custos socioeconômicos
levados também em conta a diminuição da capaci- devido à DC provavelmente será muito maior28,29.
Dor que ocorre durante um estímulo que normalmente não provocaria dor. Allos significa “outro”
em grego e é um prefixo comum para condições médicas que divergem do esperado. Odynia é de-
rivada da palavra grega “odune” ou “odyne”, que é semelhante em significado à raiz utilizada para
ALODINIA derivar palavras com “algia” ou “algesia”.

Taxonomia da dor O estímulo leva a uma resposta inesperadamente dolorosa nesses indivíduos. É importante ressaltar
que a alodinia envolve uma mudança na qualidade de uma sensação, seja tátil, térmica ou de qual-
quer outro tipo, havendo perda de especificidade sensorial.
A IASP assumiu, como um de seus papeis, o descrever o fenômeno doloroso. Essas modifica-
desenvolvimento e disseminação de termos e defi- ções foram elaboradas e revisadas pelo Grupo de A hiperalgesia ocorre quando há um aumento da dor a um estímulo que normalmente provoca dor,
nições de síndromes dolorosas a serem utilizadas Especialistas em Taxonomia da IASP1, e os princi- HIPERALGESIA e pode ser observada após diferentes tipos de estimulação somatossensorial aplicada a diferentes
pela comunidade médica30. Em 2017 publicou a pais termos serão descritos na tabela 1. tecidos. É importante diferenciar hiperalgesia de alodinia. A hiperalgesia reflete dor aumentada a
última atualização das taxonomias utilizadas para um estímulo que causa dor, enquanto a alodinia reflete dor a estímulos que não causam dor.
Hiperestesia é um aumento da sensibilidade à estimulação, excluindo os sentidos especiais. O estímu-
lo e o local devem ser especificados. A hiperestesia pode referir-se a vários modos de sensibilidade
HIPERESTESIA
cutânea, incluindo sensação de toque e sensação térmica com e sem dor. A palavra é usada para

Dor aguda versus dor crônica indicar aumento de resposta a estímulos que são normalmente reconhecidos. Pode incluir sensações
de alodinia e hiperalgesia, mas os termos mais específicos devem ser utilizados concomitantes.

A dor aguda tem início recente e é mais comu- apresentam limar de excitação alto e são respon- HIPOALGESIA Hipoalgesia é a diminuição da dor em resposta a um estímulo normalmente doloroso.
mente associada a uma lesão específica. Indica que sáveis pela transdução do dano tecidual em impul- Diminuição da sensibilidade à estimulação, excluindo os sentidos especiais. O estímulo e local
o dano ou lesão já ocorreu. Consiste em uma res- sos nervosos que são transmitidos para a medula HIPOESTESIA
devem ser especificados.
posta fisiológica, normal e previsível aos estímu- espinal e para os centros supra-espinhais. É pro-
NEURALGIA Dor na distribuição de um nervo ou nervos.
los lesivos, sendo habitualmente um início súbito, duzida pela atividade neural normal em resposta a
com reversão total do fenômeno após a interrupção estímulos causadores de dano tecidual. A dor neu- Dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatosensitivo. A dor neuropática é
do estímulo, e que invoca um comportamento de ropática é causada por lesão ou doença que afeta o uma descrição clínica que requer uma confirmação de lesão ou uma doença que satisfaça critérios
autopreservação contra uma lesão atual ou poten- sistema somatossensitivo, podendo ser periférica diagnósticos neurológicos estabelecidos.
cial8. Constitui um sintoma que pode estar associa- ou central31. A dor neuropática tem difícil diagnós- Um novo sistema de classificação de dor neuropática foi criado com o objetivo de decidir sobre o
do a trauma, cirurgia ou alguma doença, e é consi- tico devido às condições clínicas associadas a uma nível de certeza com a qual a presença ou ausência de dor neuropática pode ser determinada em
derado um sinal de alerta para o indivíduo32. grande variedade de lesões nervosas centrais ou DOR NEUROPÁTICA um paciente e é mais empregada em pesquisas. Nesse caso se o indivíduo tiver dor de distribuição
Já a dor crônica é uma dor constante ou inter- periféricas9, e também diferentes formas de mani- neuroanatomicamente plausível com história clínica sugestiva de lesão ou doença, pode-se pensar
mitente que persiste por certo período de tempo e festação da dor38. A sensação dolorosa pode ocor- na hipótese de dor neuropática. Se além dessas informações, o indivíduo tiver sinais sensitivos
não pode ser atribuída a uma causa específica32. A rer após um estímulo não doloroso (alodinia) e limitados ao território da estrutura nervosa lesionada ou teste diagnóstico confirmando uma lesão
dor crônica não representa somente um sintoma, resposta inadequada (hiperalgesia)39. Grande par- ou doença que cause dor neuropática, provavelmente tem dor neuropática. Se tiver os dois últimos
mas caracteriza-se por um estado patológico bem te se torna crônica e incapacitante, e está entre as positivos tem se a confirmação do diagnóstico de dor neuropática31.
definido, isto é, uma alteração do sistema somatos- mais desafiadoras em relação ao tratamento9. Con-
Distúrbio da função ou alteração patológica em um nervo. A neurite é um caso especial de neuropa-
sensitivo que persiste além da solução do processo sequentemente, a dor neuropática está associada NEUROPATIA
tia reservada para processos inflamatórios que afetam os nervos.
etiológico da mesma32. Ainda não há um critério de- com uma baixa qualidade de vida, e até mesmo
finido para o tempo de início da dor crônica. Alguns doenças psiquiátricas. Recentemente, foi cunhado Dor que surge de danos reais ou ameaçados a tecido não-neurais e que ocorre devido a ativação
estudos utilizam como critério para dor crônica uma o termo nociplástica para os casos em que há uma DOR NOCICEPTIVA de nociceptores. O termo é usado para descrever dor que ocorre com um sistema nervoso somatos-
dor com duração acima de três meses24,33–35 e outros alteração da nocicepção percebida como dor, mes- sensorial de funcionamento normal.
definem a partir de 6 meses de duração12,36,37. mo na ausência de estimulação dos nociceptores Dor que se origina de alteração na nocicepção, à despeito da não existência clara de ameaça ou de
Do ponto de vista fisiopatológico, a dor crônica por lesão tecidual atual ou potencial, ou de doença DOR lesão tecidual efetiva que provoque a ativação de nociceptores, ou evidência de doença ou lesão
pode ser nociceptiva, neuropática ou nociplástica. que esteja afetando o sistema somatossensitivo. A NOCIPLÁSTICA do sistema somatossensitivo que cause dor. Os pacientes podem apresentar uma combinação de
A dor crônica por nocicepção ocorre pela ativação dor mista é causada por uma combinação de fato- dor nociceptiva e nociplástica.
de terminações nervosas livres de fibras a-delta res da dor nociceptiva e neuropática ou nocicepti-
PARESTESIA Uma sensação anormal que não é desagradável seja espontânea ou evocada.
e c, denominados nociceptores. Estes receptores va e nociplástica.
20 EPIDEMIOLOGIA E TAXONOMIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 21

Tabela 2. Definições de termos utilizados na CID-11 41.


Uma sensação anormal desagradável seja espontânea ou evocada. Alguns casos são acompa-
DISESTESIA nhados de hiperalgesia e alodinia. A disestesia é sempre descrita como desagradável e deve-se
A dor crônica é definida como dor em um ou mais localizações anatômicas, que persistem ou
especificar se a sensação ocorre de forma espontânea ou evocada. SÍNDROMES recorre por mais de três meses, que está associada a relevante aflição emocional ou limitação
DOLOROSAS CRÔNICAS
SENSIBILIZAÇÃO Aumento da responsividade de neurônios nociceptivos no sistema nervoso central aos estímulos funcional (interferência com atividades do dia-a-dia e participação em seu papel social), e que
PRIMÁRIAS
CENTRAL aferentes normais e sublimiares. não pode ser melhor explicada por outra síndrome dolorosa.
SENSIBILIZAÇÃO Responsividade aumentada e redução do limiar de neurônios nociceptivos na periferia para estimu- As síndromes dolorosas crônicas secundárias estão ligadas a outras doenças como causa
PERIFÉRICA lação de seus campos receptivos. subjacentes, para as quais a dor inicialmente poderia ser considerada um sintoma. Os códigos
Definido como uma intervenção terapêutica única, direcionada especificamente para um mecanis- SÍNDROMES para dor crônica secundária se tornam relevantes quando a dor passa a demandar tratamen-
TRATAMENTO
UNIMODAL mo ou diagnóstico de dor. DOLOROSAS CRÔNICAS to específico, como co-diagnósticos. Isto marca o estágio em que a dor crônica se torna um
SECUNDÁRIAS problema per si, uma vez que esta pode se perpetuar à despeito de sucesso no tratamento
TRATAMENTO Definido como uso concomitante de intervenções terapêuticas distintas, com diferentes mecanis- da causa de base. Nestes casos, o diagnostico de dor permanecerá, mesmo se o diagnostico
MULTIMODAL mos de ação, dentro de um único regime, destinados a diferentes mecanismos de dor inicial não for mais relevante. 
TRATAMENTO Dor crônica relacionada ao câncer é definida como a dor causada pelo próprio câncer (pelo
Definido como tratamento multimodal promovido por profissionais de diferentes especialidades. DOR CRÔNICA
MULTIDISCIPLINAR
RELACIONADA AO tumor primário ou suas metástases) ou pelo seu tratamento (cirurgia, quimioterapia e radiote-
TRATAMENTO Definido como tratamento multimodal por uma equipe multidisciplinar que colabora na avaliação e CÂNCER rapia).
INTERDISCIPLINA tratamento da dor, utilizando modelos e objetivos biopsicossociais compartilhados.
A marca temporal de 3 meses também se aplica à estas entidades, mantendo a consistência
DOR CRÔNICA PÓS- com o código parentar “dor crônica”, apesar de características de cronicidade poderem vir a
CIRÚRGICA OU PÓS-
TRAUMÁTICA ser detectadas antes deste intervalo de tempo. As subcategorias deste diagnóstico são dividi-
das conforme o evento causal, seja ele cirúrgico ou traumático.

DOR CRÔNICA Dor neuropática é definida como dor causada por lesão ou doença do sistema nervoso soma-

Classificação internacional de doenças (CID) NEUROPÁTICA

DOR CRÔNICA
tossensorial.
Cefaleia e dor orofacial crônicas são definidas como dor de cabeça ou orofacial que ocorre por
OROFACIAL mais de duas horas por dia em pelo menos 50% dos dias, durante 3 meses.
Desde junho de 2019, a Organização Mundial de importante novidade, que é a possibilidade de in-
OU CEFALEIA
Saúde (OMS) passou a adotar a 11ª versão da classi- serção de códigos de extensão, que permite que SECUNDÁRIAS
ficação internacional de doenças (CID-11), na qual, sejam especificadas características de temporali-
DOR CRÔNICA Dor crônica visceral é definida como dor persistente ou recorrente que se origina de órgãos
pela primeira vez, foram inseridos códigos diag- dade, gravidade da dor quanto a sua intensidade,
VISCERAL SECUNDÁRIA internos da cabeça/pescoço, e das cavidades torácica, abdominal e da pélvica.
nósticos para dor crônica. O novo sistema de clas- e a presença de agravante psicossociais. A tabela 2
sificação para dor crônica foi baseada em esforço apresenta as definições atualizadas pela força tare- Dor crônica musculoesquelética secundária é definida com odor persistente ou recorrente que
da força tarefa da IASP, utilizando dados coletados fa da IASP. DOR CRÔNICA se origina como parte de uma doença que afeta diretamente ossos, articulações, músculos ou
e extensa pesquisa realizada ao longo dos últimos As síndromes dolorosas primárias são subdivi- MUSCULOESQUELÉTICA partes moles relacionadas aos anteriores. Esta categoria é limitada à dor nociceptiva, e não
seis anos, e representa um importante marco para das em dor crônica generalizada, síndrome dolo- SECUNDÁRIA inclui a dor que possa ser referida no tecido musculoesquelético, porém não se origina deste,
o campo da dor40. Um dos objetivos desta nova clas- rosa regional complexa, cefaleia crônica primária, tais como a dor por neuropatia compressiva ou dor somática referida.
sificação é guiar a pesquisa em dor crônica para dor orofacial primária, dor crônica visceral primá-
o mesmo caminho das pesquisas em cefaleia, ao ria, e dor crônica musculoesquelética primária42.
promover critérios operacionalizados claros que
podem ser utilizados em ensaios clínicos e em epi- • Dor crônica generalizada: Dor musculoesque-
demiologia médica41. lética difusa, em pelo menos 4 das 5 regiões dor nociplástica (descrita anteriormente). A após trauma, e é desproporcional em magnitu-
“Dor Crônica” representa o código parental para do corpo, e em 3 ou mais quadrantes corpo- fibromialgia é a entidade mais comum dentro de ou duração em relação ao curso natural da
os sete grupos mais comuns e clinicamente rele- rais (definidos como lados superior-inferior/ desta classificação, apresentando os elemen- dor em um quadro de lesão tecidual semelhan-
vantes de dor crônica: dor crônica primária; dor esquerda-direita do corpo) e no esqueleto axial tos descritos acima, e associado a distúrbio te. A dor é espontânea, mas tipicamente pode
crônica relacionada ao câncer; dor crônica pós-ci- (pescoço, dorso, peito e abdômen), e que se en- do sono, da cognição e sintomas somáticos. ser também evocada. A presença de sinais de
rúrgica ou pós-traumática; dor crônica neuropáti- quadra na definição de dor crônica primária. inflamação ou manifestações autonômicas são
ca; dor crônica orofacial ou cefaleia secundárias; Este diagnóstico é apropriado se não houver • Síndrome dolorosa regional complexa: Esta frequentes e podem variar entre indivíduos e
dor crônica visceral secundária; dor crônica mus- processo nociceptivo atribuído à estas regiões, síndrome é caracterizada por dor cuja distribui- ao longo do tempo. Os sintomas e sinais mais
culoesquelética secundária41. E a CID-11 traz uma e se houver características compatíveis com ção se inicia distalmente, em uma extremidade, frequentes são hiperalgesia, alodinia, mudança
22 EPIDEMIOLOGIA E TAXONOMIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 23

de cor e temperatura da pele, sudorese, edema, tes moles relacionadas. Ela é definida como
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Introdução
“Dor” é experiência vivenciada por quase todos processo neurológico que codifica os estímulos
os seres humanos. É conceituada como “experiên- nociceptivos1; constitui alerta para a possibilidade
cia sensitiva e emocional desagradável decorrente de lesão tecidual instituída em vias de se instalar e
ou descrita em termos de lesões teciduais reais ou visa a proteger o indivíduo e a desencadear reações
potenciais”1. Apresenta dimensões sensitivas-dis- de defesa, de retirada e de aprendizado de atitudes
criminativas, afetivas-motivacionais e cognitivas- de evitação2.
-avaliativas de sua ocorrência2. “Nocicepção” é o

Fisiopatologia da nocicepção e da dor


O primeiro passo para a ocorrência de noci- sistema nervoso periférico (SNP)3. Os nociceptores
cepção é a transdução dos estímulos térmicos, são ativados por estímulos específicos ou variados
mecânicos ou químicos intensos em potenciais (nociceptores polimodais) ou são “silenciosos” e
de geração e de ação nos receptores nociceptivos ativados quando sensibilizados pelo processo in-
(nociceptores) presentes nas terminações nervosas flamatório desencadeado pelas moléculas produ-
livres das fibras amielínicas do tipo C ou III e ou zidas pelos agentes infecciosos ou parasitários ou
fibras mielinizadas finas do tipo A-delta ou IV do associadas ao perigo e à lesão, de natureza proteica
26 FISIOPATOLOGIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 27

oriundas das células mortas e da matriz extracelu- nociceptores há canais iônicos permeáveis ao Na+, sP, CGRP, neurocininas (NK) NKA e NKB, somatos- das raízes sensitivas de onde fibras emergentes
lar (fragmentos do ácido hialurônico) e não protei- Ca++ e ou K+ sensíveis aos radicais ácidos (ASICs), tatina e peptídeo vasoativo intestinal (PVI) que, dividem-se em ramos distais destinados aos teci-
ca (ATP, ácido úrico, sulfato de heparina, DNA)4. receptores de potenciais transitórios (TRPVs) e re- por sua vez, causam desganulação dos mastócitos dos periféricos e proximais destinados ao SNC. Os
Havendo lesão, os neutrófilos atraem monócitos ceptores acoplados à proteína G (GPCRs)5. O ATP (sP), vasodilação (sP e CGRP) gerando a “inflama- gânglios sensitivos contêm sP, NKA, octapeptídio-
que, por sua vez, diferenciam-se em macrófagos, liga-se ao receptor purinérgico P2X3; a BKN-2 sen- ção neurogênica”, que se soma à inflamação origi- -colecistocinina (CCK), somatostatina, CGRP, PVI,
enzimas são ativadas [ciclo-oxigenases (COX)], sibiliza e ativa o receptor BKN; a COX-2 sintetiza nal e acentua a nocicpção (Figura 1)2. dinorfinas, encefalinas, fator de liberação de corti-
ocorre vasodilatação e liberação tecidual de várias as prostaglandinas (PGE2) e as protaciclinas que A sensibilização dos nociceptores gera ‘’hiperal- cotrofina, arginina, vasopressina, oxitocina, peptí-
substâncias algiogenicas de origem intravascular se ligam aos receptores EP e PGI2; a endotelina gesia primária’’, ou seja, sensação de dor mais in- deo liberador de gastrina, bombesina, angiotensina
(peptídeos, lipídeos), que se somam às liberadas ET-1 é produzida no endotélio vascular e liga-se tensa do que a esperada com a aplicação de estímu- II, galanina, anandamida, 2-araquidonoil-glicerol
pelas células traumatizadas ou que infiltram a ao receptor ETA1; a histamina liga-se ao receptor los que habitualmente causam dor menos intensa, (2-AG), fator de crescimento de fibroblasto, ácidos
região lesada (leucócitos) ou que reparam os teci- H1; a 5-HT liga-se ao receptor 5-HT3; o NGF sensi- e “alodínia termo-mecânica primária“, ou seja, dor glutâmico e aspártico, 5-HT, noradrenalina (Nadr),
dos (plaquetas, células de Schwann, fibroblastos, biliza os nociceptores e desgranula os mastócitos, evocada por estímulos térmicos ou mecânicos com dopamina, tirosina, adenosina, etc, e células saté-
células endoteliais, fibras musculares lisas). Com- atrai e ativa os neutrófilos e liga-se aos receptores magnitude que normalmente não causa dor10. lites gliais13. Estas contêm receptores de citocinas,
põem “sopa inflamatória”: neurotrofinas [fator de de tirosina-cinase (trkA) que induzem a produção Dos nociceptores, os estímulos sensitivos são de ATP, de BKN, etc. Os neurônios liberam ATP que
crescimento nervoso (NGF)], fator ativador plaque- de receptores, canais iônicos (TRPV1, BKN, canais conduzidos ao sistema nervoso central (SNC) pelas ativam os receptores purinóides e liberam TNF-α
tário, radicais ácidos, íons K+, acetilcolina (Ach), de Na+) e neurotransmissores6 (sP, CGRP, BDNF) fibras aferentes periféricas11. Estas contêm canais que, por sua vez, libera IL-1β que, por sua vez, atua
bradicinina (BKN), histamina, óxido nítrico (NO), nos gânglios sensitivos e causam neuroplasticida- de Na+, de Ca++ e de K+12. Colaterais dos aferentes nas células gliais satélites. O TNF-α, a IL-1β e o ATP
serotonina (5-HT), substância P (sP), trifosfato e de. O NGF induz brotamento das fibras nervosas primários regulam a atividade dos gânglios neuro- liberados pelas células gliais causam neurossensibi-
monofosfato de adenosina, metabólitos do ácido e aumenta o conteúdo de seus neuropeptídos7. As vegetativos e a vasoatividade e geram as zonas refle- lização periférica e hiperexcitabilidade neuronial14.
araquidônico (prostaglandinas, prostaciclina, leu- fibras eferentes simpáticas participam do meca- xas, ou seja, hiperemia, edema e calor na superfície Os ramos proximais dos aferentes primários
cotrienos, tromboxanas), mediadores pró-inflama- nismo da “inflamação neurogênica”; a inflamação cutânea relacionada às estruturas musculoesquelé- penetram na medula espinal predominantemente,
tórios [interleucinas (IL-1β, IL-6, IL-8 e IL-10), fator sensibiliza os receptores noradrenérgicos alfa-2A ticas ou viscerais lesada12. mas não apenas, pelas raízes dorsais, entram na
inibidor da leucemia, fator de necrose tumoral-al- à ação das catecolaminas e ativa os nociceptores As vias nervosas primárias são pseudounipola- constituição do trato de Lissauer, dividem-se em ra-
fa], aminoácidos (glutamato), endotelina, etc. Nos polimodais8,9. Os nociceptores liberam nos tecidos, res e têm o corpo celular localizado nos gânglios mos rostrais e caudais e projetam-se nos neurônios

Figura 1: Representação artística do nociceptor onde se destacam os fenômenos mais relevantes do processo inflamatório Figura 2: Representação artística das projeções dos aferentes somáticos e viscerais nas lâminas I a VI e lâmina X do
primário, da informação norogênica, da neuroplasticidade (regulação ascendente de canais irônicos e receptores e corno dorsal da medula espinal e da origem dos tratos espinotalâmicos, espinorreticulares, espinho-amigdalianos e
brotamento neuronial). Ocorrendo estimulando mecânica, térmica e ou química {“sopa inflamatória” composto de espinomesencefálicos. As aferências nociceptivas oriundas do tegumento projetam-se preferencialmente nas lâminas I
moléculas liberadas pelos leucócitos, vasos sanguíneos, fibroblastos, plaquetas, fibras simpáticas, e pelo próprio nociceptor e II externa (IIe) assim como na lâmina V do CDME, enquanto que as do sistema músculoesquelético, preferentemente
(“inflamação neurogênica”)} intensas, os receptores e os canais irônicos deflagram potenciais de receptor e de ação. as lâminas I e Iie e V, enquanto as viceriais às lâminas I, Iie, V e X do CDME. A convergência, a somarão e a facilitação de
CRH
estímulos nos neurônios da lâmina V relacionam-se à ocorrência de dor referida visceral ou músculo-esquelética.
´Tecido lesado IL-1β
Parasitas
Bact[érias Faror de
crescimento
nervoso
Fator de ativação
plaquetário Leucócito

Queratinócitos
Glutamato
Adenosina sP, CGRP,
Cadeia simpática H+
BDNF
Plaquetas TRPV1, ASIC3 Tratos espinotalâmicos, espinorreticulares,
BR2, TrkA, espino-amigdalianos, espinomesencefálicos
p75
VIII
Bradicinina

Vaso sanguíneo
Noradrenalina PKA IX
Serotonina IL-1β VII
FCN/TrKA Sinalização
PKCε
PKC para SNC
Macrófago
PGE2
Ca++ X
Histamina
sP VI
CGRP
H+
Moléculas sensibilizadoras de receptores Moleculas inibidoras dos nociceptores
Bradicinina (BK) Acetil-colina (Acho)
Mastócito Prostaglandinas (PGI2, PGE1, PGE2, PGD2) Encefalinas (receptor )
Histamina (H) Ácido gama-aminobutírico (GABA) V
Substância P (sP) Somatostatina (SST)
Serotonina (5-HT) Canais de potássio ativados pela proteína G (GIRK)
Radicais ácidos (K+) Receptores e canais iônicos
Interleucinas: IL-1β e IL-6 Canal iônico sensível a ácidos (ASIC) IV
Óxido nítrico (NO) Nav1.8/1.9 = canais de Na+ dependentes de voltagem
Potássio (K+) e resistentes à tetrodotoxina.
Purinas (ATP)
Glutamato (Glu)
Purinorreceptor (P2X3) III
Prótons (H+) Receptores de bradicinina (BK1 e BK2)
Fator de crescimento nervoso (NGF) Receptor de 5-HT
Fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) Receptor ionotrópico de glutamado (iGlur)
Fibra nociceptiva A-δ
Iie e IIi
Tirosinocinase A (TrKA) Receptor metatrópico de glutamado (mGlur)
Endotelinas (End) Receptor catecolinérgico (A2) Fibra nociceptiva C I Fibras A-β oriunda dos mecanorreceptores
Creatinofosfocinase-A (PKA) Receptores de estímulos frios e de mentol (CMR-1) Fibra aferente visceral e dos folículos pilosos
Creatinofosfocinase C (PKC) Receptor muscarínico de acetil-colina (M2)
Substância P (sP) Receptor de prostaglandinas (EP) Fibra A-δ dos folículos pilosos
Peptídio relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) Receptor de tirosina cinase (TrkA)
Fator de crescimento nervosos (FCN) Receptor de somatostatina (SST2a)
Interleucinas (IL) Receptor de potenciais transitórios tipo vanilóide (TRPV1) Trato de Lissauer
Fosforilação de membrana intraneuronial (P) Trato pós-sináptico dos funículos posteriores

Figura 1. Representação artística do nociceptor onde se destacam os fenômenos mais relevantes do processo inflamatório primário, da inflamação neurogênica, da neuroplasticidade (regulação Figura 2. Representação artística das projeções dos aferentes somáticos e viscerais nas lâminas I a VI e lâmina X do corno dorsal da medula espinal e da origem dos tratos espinotalâmicos,
ascendente de canais iônicos e receptores e brotamento neuronial). Ocorrendo estimulação mecânica, térmica e ou química [“sopa inflamatória” composta de moléculas liberadas pelos leucócitos, vasos espinorreticulares, espino-amigdalianos e espinomesencefálicos.. As aferências nociceptivas oriundas do tegumento projetm-se preferencialmente nas lâminas I e II externa (IIe) assim como na
sanguíneos, fibroblastos, plaquetas, fibras simpáticas, e pelo próprio nociceptor (“inflamação neurogênica”)] intensas, os receptores e os canais iônicos deflagram potenciais de receptor e de ação. lâmina V do CDME, enquanto que as do sistema musculoesquelético, preferentemente à lâminas I e Iie e V, enquanto as viscerais às lâminas I, Iie, V e X do CDME. A convergência, a somação
; e a facilitação de estímulos nosneurônios da lâmina V relacionam-se à ocorrência de dor referida visceral ou músculo-esquelética.
28 FISIOPATOLOGIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 29

do corno dorsal da substância cinzenta da medula a NK-A e a NK-B, ligam-se aos receptores de NK1, Figura 3: Representação artística de um neurônio nociceptivo do corno dorsal da medula espinal que recebe projeção de um
espinal (CDME)10. A substância cinzenta da me- NK2 e NK3 e o CGRP liga-se a receptores acopla- aferente primário e de um interneurônio supressor. Os mecanismos sensibilizadores dos neurônios nocicepticos envolvem
dula espinal é dividida em 11 lâminas; o CDME é dos à proteína G2,20. Os receptores AMPA induzem a ativação e a regulação ascendente de canais irônicos e de receptores como o alfa-amino-3-hidróxi-5-metil-4-isoxasol-
composto das lâminas I, II externa (IIe), II interna o influxo de Na+, K+ e Ca++ nos neurônios e des- propriônico (AMPA), M-metil-d-aspartato (NMDA) e cainato, influxo e liberação dos depósitos intraneurais de Ca++ que, por
(IIi), III, IV, V e VI 7 localizadas dorsalmente ao ca- polarizam a membrana neuronial. O glutamato na sua vez, ativa sistemas enzimáticos, incluindo a ativação da proteinacinase C (PKC), da sintetase de óxido nítrico (NOS)
nal central da medula espinal (Figura 2)15. presença glicina desloca o Mg++ que bloqueia o re- e da ciclo-oxigenase-2 (COX-2) relacionadas respectivamente, à produção de NO que por sua vez, aumenta a liberação
A ativação dos canais de Ca++ das terminações ceptor NMDA e possibilita o influxo citoplasmático neuronial de neurotransmissores expiatórios e de PGs, que, por sua vez, autoexcitam as membranas neuroniais, apoptose
centrais dos aferentes primários induz a liberação de Ca++ e de Na+ e efluxo de K+; o Ca++ citoplas- de interneurônio inibitório, prontamente neuronial, reforço de sinapses e reorganização sináptica. Adicionalmente, aos
de sP, CGRP, CCK, ATP, somatostatina, PVI e glu- mático despolariza prolongadamente a membrana astrócitos e os microgliócitos produzem e liberam citocinas pró-inflamatórias (TNF-a, IL-1ß), fator trófico derivado do cérebro
tamato no CDME16,17,18,19,20. Não apenas as fibras neuronial. A estimulação dos CPCRs de glutamato (BDNF), ATP, metaloproteína de matriz-2 e bFGF que, por sua vez, sensibilizam os neorônios do CDME.
nervosas, mas também citocinas circulantes no gera 1,4,5-trifosfato de inositol (IP3) e diacilglicerol
sangue atuam como mensageiros das informações (DAG). O IP3 libera Ca++ do retículo endoplasmáti-
inflamatórias periféricas pois induzem a produção co e o DAG ativa a proteína-cinase-C. Os íons Ca++ Micrógliócito
Glutamato
sP
Interneurônio
Inibitório
Terminação
Astrócito
de PGs pelas células endoteliais e sensibilizam os extracelulares somados aos liberados no citoplas- PGs, NO
central da fibra
aferente primária
CGRP

neurônios do CDME 21. ma a partir das reservas intracelulares desenca- P

Os aferentes C e A-delta terminam nas lâminas deiam a síntese de AMP. A COX-2 gera PGs que li- NO NMDA P
AMPA
I e IIe. As lâminas IIi e III constituem a ‘’substân- beradas no interstício autoestimulam e excitam os Substância P P

cia gelatinosa’’ e contém interneurônios inibitó- neurônios, facilitam a liberação de neurotransmis- citrulina

AMPA Ca++
(+)
NOS
rios contendo GABA e neuropeptídeo Y (NPY) que sores excitatórios e reduzem a inibição bulboespi- (+) PKC
c-fos
c-jun
Krox-24 Neurônio das lâminas
jun-D

modulam segmentarmente a nocicepção; a lâmi- nal pré-sináptica. A ativação da sintetase de óxido EP1,
fos B I, II ou V do CDME

Na+
na III e a lâmina IV recebem aferências das fibras nítrico (NOS) gera NO, gás que se escoa através da
EP2,
EP4 PGE2
PGE2
Indução
mielinizadas grossas do SNP e aferências seroto- membrana neuronial e aumenta a liberação de da COX-2

ninérgicas oriundas dos núcleos da rafe bulbar neurotransmissores excitatórios,18,21,22.


e de interneurônios inibitórios contendo GABA e Os estímulos nociceptivos alteram a morfologia Figura 3. Representação artística de um neurônio nociceptivo do corno dorsal da medula espinal que recebe projeção de um aferente primário e de um interneurônio supressor. Os mecanismos sensibilizadores
dos neurônios nociceptivos envolvem a ativação e a regulação ascendente de canais iônicos e de receptores como o alfa-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxasol-propriônico (AMPA), N-metil-d-aspartato (NMDA) e
cainato, influxo e liberação dos depósitos intraneurais de Ca++ que, por sua vez, ativa sistemas enzimáticos, incluindo a ativação da proteinacinase C (PKC), da sintetase de óxido nítrico (NOS) e da ciclo-
NPY; os da lâmina V recebem aferências das fibras (hipertrofia, proliferação e modificações das redes resulta em isquemia muscular posturais e em ins- lâminas VII e VIII e projetam-se no núcleo gigan-
oxigenase-2 (COX-2) relacionadas respectivamente, à produção de NO que por sua vez, aumenta a liberação neuronial de neurotrasnsmisores excitatórios e de PGs, que, por sua vez, autoexcitam as membranas
neuroniais, apoptose de interneurônio inibitório, brotamento neuronial, reforço de sinapses e reorganização sináptica. Adicionalmente, aos astrócitos e os microgliócitos produzem e liberam citocinas pró-
inflamatórias (TNF-α, IL-1β), fator trófico derivado do cérebro (BDNF), ATP, metaloproteína de matriz-2 e bFGF que, por sua vez, sensibilizam os neurônios do CDME.
A-delta e de fibras mielinizadas grossas do SNP; os gliais) fosforilizam as vias de sinalização, induzem talação das síndromes dolorosas miofasciais4,10. tocelular, subcerúleos ventral e dorsal da rafe e
da lâmina VI recebem aferências de fibras gros- regulação ascendente de receptores de ATP, qui- O prolongamento da duração da dor, a inflama- tegmento pontino lateral, de onde se originam os
sas proprioceptivas e cutâneas do SNP e dos tratos miocinas e hemicanais, causam regulação descen- ção e a lesão dos aferentes primários onde modi- tratos destinados hipotálamo e núcleos intralami-
rostrocaudais17,20. dente dos transportadores de glutamato e aumen- ficam a densidade dos receptores e a quantidade nares e ventrais do tálamo; as fibras do trato espi-
O Wind-up consiste do aumento da intensidade tam síntese e a liberação de mediadores da glia dos neurotransmissores supressores e das enzimas nomesencefálico originam-se nas lâminas I e V e
da dor ao longo do tempo em decorrência da repe- (citocinas, quimiocinas, fatores tróficos e protea- (COX-2) e induzem apotose dos interneurônios ini- projetam-se na formação reticular e no teto me-
tição dos estímulos veiculados pelos aferentes peri- ses). A micróglia é ativada pelo ATP, quimiocinas bitórios e, consequentemente, alterações neuro- sencefálico, núcleo parabraquial e colículo supe-
féricos C que ativam o receptor NMDA e acarretam e CGRP liberados pelos aferentes primários, sofre plásticas nos neurônios do CDME27,28. rior; as fibras do trato espino-ponto-amigdaliano
aumento progressivo da reatividade dos neurônios fosforização e produz e libera citocinas pró-infla- A convergência das informações de várias ori- originam-se nas lâminas I e V, trafegam pelo funí-
do CDME. Constitui a fase inicial dos processos matórias (TNF-α, IL-1β, IL-18) e de fator trófico de- gens nos neurônios multimodais na lâmina V de culo dorsolateral da medula espinal e projetam-se
que geram a sensibilização central que, por sua rivado do cérebro (BDNF) que, por sua vez, sensi- CDME justifica o fenômeno da “dor referida”10. no núcleo parabraquial da ponte onde fazem si-
vez, resulta na ampliação dos campos receptivos bilizam os neurônios do CDME. Os astrócitos são A transferência das informações nociceptivas napse com neurônios que se projetam na amígdala
dos neurônios do CDME e da área onde ocorre dor, ativados por mediadores microgliais (TNF-α, IL-18) da medula espinal para o encéfalo é realizada do lobo temporal; as fibras do trato espinocervical
na “hiperalgesia secundária” (redução do limiar e astrocíticos, produzem ATP, liberam glutamato, mediante os tratos espinotalâmicos, espinorreti- originam-se nas lâminas I, III e IV e projetam-se,
frente aos estímulos nociceptivos mecânicos em sofrem fosforilação e produzem e liberam quimio- culares, espinomesencefálicos, pós-sinápticos do via quadrante lateral ipsilateral da medula espi-
áreas mais amplas do que as das lesões causais) e cinas e citocinas (IL-1β) (Figura 3)23,24,25,26. funículo posterior, espino-ponto-amigdalianos e nal, no núcleo cervical lateral, de onde emergem
na “alodínea mecânica secundária” (percepção da A ativação dos neurônios neurovegetativos sim- espinocervicais10,20. As fibras do trato espinotalâ- fibras que se projetam no complexo ventrobasal
sensação dolorosa deflagrada por estímulos que páticos da coluna intermediolateral da medula es- mico originam-se nas lâminas I, IV, V, VI e VIII do tálamo, formação reticular do tronco encefáli-
não apresentam magnitude para fazê-lo em áreas pinal resulta no aumento da resistência vascular do CDME e projetam-se contralateralmente na co e diencéfalo; as fibras do trato pós-sináptico do
ampliadas em relação à da lesão original)16. periférica, retenção urinária e alentecimento dos substância reticular dorsal, núcleos rostrais ven- funículo posterior originam-se nas lâminas IV, V e
O glutamato ativa os receptores alfa-amino- trânsitos intestinal, urinário e respiratório. A ativa- tromediais do bulbo, SPM e nos núcleos ventro- VI e X, projetam-se nos núcleos grácil e cuneifor-
-3-hidroxi-5-metil-4-isoxasol-propriônico (AMPA), ção dos neurônios da ponta anterior da substância basais, centrolaterais e intralaminares do tálamo; me e constituem importante via de transmissão da
N-metil-d-aspartato (NMDA), cainato e CPCRs. A sP, cinzenta da medula espinal causa hipertonia que as fibras do trato espinorreticular originam-se nas nocicepção visceral (Figura 4)29.
30 FISIOPATOLOGIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 31

Nocicepção da face e do crânio


Figura 4: Representação artística das vias de projeção rostral dos neurônios sensitivos nociceptivos presentes na substância
cinzenta do corno dorsal da medula espinal. (a) A maioria dos axônios cruza a linha média. As fibras do trato espinotalâmico
fazem sinapse nos núcleos talâmicos ventrais posteromedial, as do trato espinorreticular projetam-se no tronco encefálico (área
A1 / C1 / A5 do bulbo ventrolateral, áreas A6 / A7 da ponte dorsolateral, núcleo parabraquial, substância cinzenta periaquedutal O núcleo do trato espinal do nervo trigêmeo re- faríngeo e intermédio e das raízes cervicais (C) C2 a
mesencefálica) e onde originam-se fibras destinadas aos núcleos talâmicos centromediano, parafascicular e da lâmina da cebe aferências dos nervos trigêmeo vago, glosso- C4 e é responsável pela nocicepção facial38 .
linha média); as do trato espinomesencefálico projetam-se na formação reticular do tronco encefálico e no teto mesencefálico,
núcleo parabraquial e colículo superior; as do trato espino-ponto-amigdaliano projetam-se no núcleo parabraquial da ponte de
onde neurônios projetam-se na amígdala; as do trato espinocervical projetam-se no núcleo cervical lateral, de onde emergem
fibras que se projetam nos núcleos talâmicos ventrais posteromedial ou posterolateral, formação retícular do tronco encefálico
e diencéfalo; as do trato pós-sináptico do funículo posterior projetam-se nos núcleos grácil e cuneiforme. (b) Os estímulos

Mecanismos moduladores da dor


nociceptivos alcançam as neuromatrizes encefálicas primárias e secundárias da dor, ou seja, os córtices somatossensitivos S1,
S2 e insular, límbicos (córtices da ínsula e do cínguloanterior e amígdala) e associativos (córtex pré-frontal).
Córtex
somatossensitivo
A transferência das informações nociceptivas medula espinal e liberada na circulação sistêmica
Giro do cíngulo
do CDME para estruturas rostrais do SNC sofre in- junto com o ACTH; a neoendorfina localiza-se no
Área motora

Ínsula
suplementar
MI fluências excitatórias e inibitórias no SNP, CDME e neocórtex, hipocampo, tálamo, gânglios basais,
Tálamo
SI
encéfalo. Suprimem a nocicepção, os neurotrans- hipotálamo, SPM, bulbo rostral-ventromedial, lâ-
Cingulado
Cingulado
anterior
posterior
missores opioides (encefalinas, endorfinas, dinorfi- minas superficiais do CDME e núcleo caudal do
Amígdala Amígdala Ínsula nas A e B e neoendorfinas), o GABA, os endocanabi- trigêmeo. Há grande concentração de leucina e
SII

Córtex
pré-
frontal
Tálamo noides (anandamida, 2-AG), as monoaminas (5-HT, metionina-encefalina e dinorfina e de receptores
Gânglios Hipotálamo
da base
Nadr), a neurotensina, a somatostatina, a acetilco- µ nos neurônios da SPM e de beta-endorfina nas
SPM

lina, a glicina, etc39. terminações oriundas do hipotálamo. As encefa-


Amígdala

Núcleos Ponte
dorsolaterais

O sistema opioide endógeno consiste de 3 fa- linas atuam pressinapticamente nas terminações
Núcleo
da ponte parabraqial
Núcleo

mílias de peptídeos opioides (endorfinas, encefali- dos aferentes primários e pós-sinapticamente nos
magno
Núcleo da rafe
do trato

Nervo vago
Gânglios nodoso
e jugular
solitário
Bulbo nas e dinorfinas) e 3 famílias de receptores GPCRs neurônios do CDME que originam os tratos que se
Núcleos grácil
Trato espinorreticulotalâmico
(MOR ou µ, DOR ou δ, KOR ou κ e épsilon ou ε). projetam no encéfalo onde hiperpolarizam as ter-
Trato néo-espinotalâmico
e cuneiforme
Os opioides endógenos atuam pré-sinapticamente minações centrais das fibras C, inibem as corren-
Trato espinoamigdaliano
Medula espinal
(b) inibindo da liberação de neurotransmissores ao tes de Ca++ dependentes de voltagem e reduzem a
Fibras aferentes primárias (a) bloquearem os canais de Ca++, hiperpolarizam excitabilidade neuronial ao abrirem os canais de
Figura 4. Representação artística das vias de projeção rostral dos neurônios sensitivos nociceptivos presentes na substância cinzenta do corno dorsal da medula espinal. (a) A maioria dos axônios cruza a linha média. As fibras do,trato espinotalâmico fazem pós-sinapticamente e reduzem a excitabilidade K+ e, consequentemente, inibem a liberação de
sinapse nos núcleos talâmicos ventrais posteromedial ou posterolateral, as do trato espinorreticular projetam-se no tronco encefálico (áreas A1 / C1 / A5 do bulbo ventrolateral, áreas A6 / A7 da ponte dorsolateral, núcleo parabraquial, substância cinzenta
Os estímulos nociceptivos alcançam as neuro- doentes com lombalgia, síndrome fibromiálgica,
periaquedutal mesencefálica) e onde originam-se fibras destinadas aos núcleos talâmicos centromediano, parafascicular e da lâmina da linha média); as do trato espinomesencefálico projetam-se na formação reticular do tronco encefálico e no teto mesencefálico,
núcleo parabraquial e colículo superior; as do trato espino-ponto-amigdaliano projetam-se no núcleo parabraquial da ponte de onde neurônios projetam-se na amígdala; as do trato espinocervical projetam-se no núcleo cervical lateral, de onde emergem fibras que
neuronial. Os receptores opioides µ concentram- glutamato e de sP41,43.
se projetam nos núcleos talâmicos ventrais posteromedial ou posterolateral, formação reticular do tronco encefálico e diencéfalo; as do trato pós-sináptico do funículo posterior projetam-se nos núcleos grácil e cuneiforme.
matrizes encefálicas primárias e secundárias da dor viceral e dor neuropáticas crônicas . 37 (córtex pré-frontal).
(b) Os estímulos nociceptivos alcançam as neuromatrizes encefálicas primárias e secundárias da dor, ou seja, os córtices somatossensitivos S1, S2 e insular, límbicos (córtices da ínsula e do cíngulo anterior anterior e amígdala) e associativos -se nas vizinhanças da SPM, estriado, habênula, Os receptores GABAa e GABAb distribuem-se
dor, ou seja, os córtices somatossensitivos S1, S2 e O sistema neoespinotalâmico e os córtices sensi- tálamo, córtex cerebral, tronco encefálico, lâmi- nas terminações nervosas dos aferentes primários
insular, límbicos (córtices insular e cingulado an- tivos SI e SII relacionam-se às dimensões sensitivas- nas superficiais do CDME, hipotálamo, claustro e no CDME e em neurônios da SPM, núcleo magno
terior e amígdala) e associativos (córtex pré-fron- -discriminativas (localização, intensidade, natureza, SPM; os receptores δ estão presentes no córtex ce- da rafe e formação reticular gigantocelular. Atuan-
tal)29,30,31,33,34,35. Os núcleos talâmicos projetam-se duração) da nocicepção e à ativação precoce dos rebral, sistema olfatório, estriado, córtex límbico do no receptor GABAa e o GABA aumenta a con-
no córtex cerebral e amígdala lateral e basolateral. córtices SII e da ínsula; as regiões límbicas e para- e CDME; os receptores κ estão presentes no claus- centração intraneuronial de Cl- que, por sua vez,
Os neurônios ventrobasais do tálamo projetam-se límbicas (córtices do cíngulo anterior e de ínsula) tro, estriado, hipotálamo e medula espinal; e os re- hiperpolariza a membrana neuronial e inibe a libe-
no córtex SI e os dos núcleos centromediano, pa- relacionam-se ao processamento das dimensões ceptores ε estão presentes no encéfalo. Os opoides ração de transmissores excitatórios2,10,19. O receptor
rafascicular e intralaminares, no estriado e córtex emocionais e motivacionais da dor; o córtex da ín- endógenos, leucina e metionina-encefalina e seus CB1 distribui-se nos gânglios das raízes sensitivas,
pré-motor 2,36. A amígdala lateral recebe estímulos sula relaciona-se à dimensão sensitiva, às reações respectivos receptores concentram-se nas lâminas terminações nervosas pré-sinápticas do CDME, nú-
nociceptivos do tronco encefálico e da medula es- emocionais e afetivas (depressão), às funções da me- I, II, III e V do CDME e têm afinidade pelo recep- cleos da base e acumbens, cerebelo, hipocampo,
pinal e gera projeções para o córtex cerebral e para mória, à codificação dos estímulos térmicos e à ativi- tor δ; a dinorfina concentra-se nas lâminas I e V hipotálamo, amígdala, SPM e em diversas regiões
o tálamo, onde são integradas as atividades cog- dade neurovegetativa relacionados à dor; o circuito e tem afinidade pelo receptor κ; a beta-endorfina do córtex cerebral enquanto que os receptores CB2
nitivas e as percepções conscientes da dor. Além córtex fronto-orbitário-núcleo acumbens-tálamo re- é produzida no núcleo arqueado do hipotálamo e estão presentes nas células imunes e em alguns
das alterações neuroplásticas semelhante às que laciona-se à dimensão afetiva da dor, enquanto que o no núcleo do trato solitário e distribuída no sis- neurônios. A anandamida e o 2-AG são os princi-
ocorrem no CDME, a dor induz redução do volume córtex frontal modula a atividade das unidades noci- tema límbico, mesencéfalo, nucleus accumbens, pais endocanabinoides endógenos; acoplam-se ao
do córtex pré-frontal dorsolateral e do tálamo em ceptivas e limita a magnitude da sua expressão2,29,30,32. amígdala, SPM, área tegmentar ventral (VTA) e receptor CB1, inibem a adenil-ciclase e os canais
32 FISIOPATOLOGIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 33

de Ca++, ativam os canais de K+ e modulam a li- lâmina I e a galanina, inibe a transmissão sináptica Figura 5: Representação artística do sistema supressor de dor. As vias aferentes discriminativas da sensibilidade ativam as fibras
beração de neurotransmissores pelas terminações no CDME2,18,19. do sistema neo-espinotalâmico que, por sua vez, estimulam neurônios modulares segmentares, do tronco encefálico, núcleos
nervosas no CDME43. A neurotensina está presente No encéfalo, a nocicepção é modulada por ventrais postero-medial e lateral do tálamo e área cortical SI, MI e da ínsula e, diretamente ou indiretamente, os neurônios
em neurônios da formação reticular mesencefáli- neurônios presentes na SPM, bulbo rostral ventro- hipotalâmicos, da substância cinzenta periaquedutal mesencefálica, do locus ceruleus e dos núcleos rostrais mediais do
ca, hipotálamo, amígdala, núcleo accumbens, bul- medial, córtex cerebral, amígdala, hipotálamo e bulbo (núcleo magno da rafe). Via fascículo dorsolateral da medula espinal, fibras noradrenérgicas e serotoninérgicas inibem
bo rostral ventromedial e SPM2,10. tálamo41,42 (Figura 5). os neurônios nociceptivos do CDME. Neurônios oriundos do lobo frontal e temporal que se projetam na substância cinzenta
Nos nociceptores periféricos, a deflagração, A via rostrocaudal moduladora da dor envolve periaquedutal mesencefálica, justificam a interação entre a ocorrência ou magnitude da dor, a atenção, o humor e o afeto.
a transdução e a condução dos potenciais noci- o córtex frontal, a amígdala, a SPM, os neurônios
ceptivos são inibidos pelos receptores opioides, do bulbo rostral ventromedial (núcleo magno da
canabinoides, adrenérgicos-α-2, GABA-B, adenosi- rafe e formação presentes pré-frontais mediais, Lobo frontal

nérgicos-1, muscarínicos-2, somatostatinérgicos e límbico, cingulado anterior e insular nos neurô-


glutamatérgicos. Sob a ação da IL-1β e do hormônio nios da SPM que contêm neurotensina, glutama-
liberador de corticotrofina (CRH) oriundos do teci- to e aspartato e que mantêm conexões recíprocas Hipotálamo Amígdala

do inflamado as células inflamatórias (macrófagos, com o hipotálamo, amígdala, loco cerúleo, forma-
monócitos e linfócitos) liberam neurotransmisso- ção reticular pontobulbar, núcleos cuneiforme e Substância cinzenta
periaquedutal mesencefálica
res opioides; quando há lesão tecidual, a endoteli- parafascicular do tálamo, região A7 da ponte dor- (encefalinas, GABA)
na ET-1 é sintetizada nos queratinócitos, liga-se ao solateral e CDME e projeções no bulbo rostral ven-
receptor ETB e libera β-endorfina; a somatostatina, tromedial. Os neurônios do loco cerúleo contendo Núcleos noradrernérgicos pontinos (Nadr)

presente nas células imunes, fibroblastos e células sP e encefalina projetam-se bulbo rostral ventro-
neuroendócrinas, liga-se aos receptores GPCRs, medial e geram projeções inibitórias noradrenér-
Trato néo-espinotalâmico Bulbo rostral ventromedial (5-HT)
abre os canais de K+, inibe os canais de Ca++, exer- gicas alfa-2 para o CDME e neurônios rostrais ven- Fascículo dorso-lateral
ce atividades anti-inflamatórias e reduz a libera- tromediais do bulbo projetam-se na região A742,43.
ção de SP e de CGRP e a inflamação neurogênica; Os núcleos serotoninérgicos dorsais da rafe mo- Fibra aferente discriminativa táctil ou
os receptores muscarínicos M2 dessensibilizam os dulam a atividade do núcleo acumbens, da amíg- proprioceptiva (fibra A-δ grossa ou A-β)

nociceptores C aos estímulos mecânicos e térmicos dala e da habênula. Os neurônios do bulbo ros-
nocivos; a Nadr atua no receptor alfa-2-C, inibe o tral ventromedial (núcleo magno da rafe) contêm
influxo de Ca++ e modifica a atividade dos canais 5-HT, sP, encefalina e TRH e receptores de NK1 e Figura 5. Representação artística do sistema supressor de dor. As vias aferentes discriminativas da sensibilidade ativam as fibras do sistema neo-espinotalâmico que, por sua vez, estimulam neurônios
moduladores segmentarers, do tronco encefálico, núcleos ventrais póstero-medial e lateral do tálamo e érea cortical SI, MI e da ínsula e, diretamente ou indiretamente, os neurônios hipotalâmicos, da substância
de K+ e a sensibilização catecolinérgica dos noci- de sP, recebem projeções da região pré-óptica me- cinzenta periaquedutal mesencefálica, do locus ceruleus e dos núcleos rostrais mediais do bulbo (núcleo magno da rafe). Via fascículo dorsolateral da medula espinal, fibras noradrenérgicas e serotoninérgicas
inibem os neurônios nociceptvos do CDME. Neurônios oriundos do lobo frontal e temporal que se projetam na substância cinzenta periaquedutal mesencefálica, justificam a interação entre a ocorrência ou
ceptores40. dial do hipotálamo, dos córtices do cíngulo e do bem estar mental, contêm 5-HT, Nadr e sP, entram
magnitude da dor, a atenção, o humor e o afeto.
com os receptores 5-HT3 e excitam os neurônios
O CDME contém interneurônios excitatórios e pré-cíngulo, da ínsula anterior, do núcleo do loco na constiuição do fascículo dorsolateral que, via do CDME que originam os tratos espinotalâmicos.
inibitórios. Os aferentes nociceptivos fazem sinap- cerúleo, da área A7 e de fibras neurotensinérgicas quadrante dorsolateral da medula espinal e proje- Os neurônios “neutros” não reagem diante dos es-
se com interneurônios inibitórios das lâminas IIi e oriundas da SPM e projetam-se no CDME via fas- ta-se nas lâminas superficiais do CDME onde su- tímulos nociceptivos41
III do CDME que produzem GABA, glicina e ence- cículo dorsolateral. Este é constituído de fibras se- primem a atividade nociceptiva; os neurônios dos Colaterais do trato corticoespinal oriundos das
falinas. Os receptores opioides δ localizam-se nas rotoninérgicas oriundas do núcleo magno da rafe, núcleos A5 e A7 do bulbo originam projeções no- áreas SI e SII inibem os neurônios das lâminas IV
terminações dos aferentes primários e estes e os re- de neurônios dopaminérgicos oriundos da VTA e radrenérgicas para os núcleos da rafe e fibras que e V do CDME. A ativação do córtex da ínsula ante-
ceptores μ e κ nos neurônios que originam os tratos neurônios noradrenérgicos oriundos do loco ce- também entram na cosntituição do fascículo dor- rior induz analgesia via desinibição os neurônios
de projeção rostral presentes no CDME. A inibição rúleo que suprimem a atividade nociceptiva das solateral e alcançam as lâminas I, II e X do CDME do núcleo do loco cerúleo2,10,41,42,44.
pré-sináptica mediada pelos receptores GABAa e lâminas I, II, V e X da medula espinal 2,10,42,43. onde atuam nos receptores adrenérgicos alfa-2 e As projeções rostrocaudais oriundas da substân-
GABAb reduz a liberação de glutamato, SP, CGRP Três categorias de neurônios da região rostral mediante a liberação de GABA e glicina inibindo cia reticular dorsal são responsáveis pela atividade
e outros neurotransmissores excitatórios pelas ter- ventromedial do bulbo originam fibras rostro- a atividade nociceptiva; o trato rubroespinal inibe do “sistema analgésico intrínseco”. Este é ativado
minações dos aferentes primários. A sintetase de caudais inibitórias ou excitatórias destinadas aos os neurônios das lâminas V, VI e VII e os tratos ves- pela estimulação nociceptiva aplicada em qualquer
óxido nítrico (NOS) está presente em neurônios neurônios do CDME: os neurônios “OFF”, “ON” e tibuloespinais, os neurônios das lâminas V e VI. região do corpo, mesmo distante do campo de dis-
gabaérgicos e glicinérgicos das lâminas I a III. Os “neutros”. Os neurônios da SPM contendo encefa- Os neurônios “ON” são ativados imediatamente tribuição do neurônio nociceptivo, inibe os neurô-
receptores pré-sinápticos CB1 e Nadr-α-2 também lina inibem os neurônios “ON” e a atividade inibi- antes da aferência nociceptiva e pelo sofrimento nios das lâminas superficiais do CDME e atenua
modulam a liberação de transmissores. A somatos- tória GABAérgica nos neurônios “OFF”. Os neurô- mental e, sob a ação da CCK e nociceptina, am- temporariamente a dor, é bloqueado pela morfina,
tatina exerce atividades excitatória e inibitória nas nios ‘’OFF’’ presentes nos núcleos bulbares magno plificam a nocicepção via tratos serotoninérgicos depende da atuação dos neurônios do bulbo rostral
lâminas I, II e V; há neurônios colinérgicos nas lâ- da rafe e reticular paragigantocelular são natural- rostrocaudais que trafegam no quadrante lateral ventromedial e dos tratos do fascículo dorsolateral
minas III à VI; o NPY exerce atividade inibitória na mente ativados por estímulos discriminativos e da medula espinal e liberam 5-HT que interagem homolateral2,42.
34 FISIOPATOLOGIA DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 35

Dor fisiológica
• Dor nocidisplástica. Manifesta-se em doentes atípica, a dor decorrente da disfunção têmporo-
que se queixam de dor sem evidências da pre- -mandibular, as cefaleias primárias, etc.2,49.
sença ou de ameaça de lesão tecidual, de ativa- • Dor mista. Aplica-se a doentes que experien-
Os estímulos nociceptivos podem ou não ser cepção, e passam a ser percebidos e desencadeiam ção dos nociceptores ou de doenças ou lesões ciam dor gerada por vários mecanismos, como
percebidos. Em condições normais, as fibras afe- a fenomenologia dolorosa10,46. que acometem o sistema somatossensitivo. In- ocorre na maioria dos casos de dor osteoartrí-
rentes transferem estímulos nociceptivos sublimi- Mecanismos genéticos e epigenéticos determi- clui as síndromes fibromiálgia, do intestino e da tica, outras dores musculoesqueléticas, câncer,
nares e induzem reflexamente reações de adap- nam a maior ou menor excitabilidade dos recepto- bexiga irritáveis, a fadiga crônica, a dor facial visceropatias, neuropatias, etc.2,49.
tação que geralmente bloqueiam sua percepção. res e a ocorrência da dor47,48.
Quando os estímulos ultrapassam o limiar de per-

Conclusão
“Dor patológica” Nas unidades neuroniais e não neuroniais do resultar no comprometimento da conectividade si-
SNP e SNC há mecanismos que regulam a excita- náptica e no balanço entre os mecanismos excitató-
A dor é aguda quando persiste apenas durante trato solitário do bulbo. Os estímulos nocicpeti- bilidade e a neuroplasticidade do sistema nervo- rios e inibitórios que resultam na instalação da dor
o período razoável para resolução da sua condição vos oriundos das vísceras pélvicas e de parte das so nociceptivo. Do desbalanço entre a atividade neuropática. Em muitas situações há participação
causal; a dor é crônica quando se prolonga além do vísceras cervicais, torácicas e abdominais são supressora e facilitadora ocorre a dor. A lesão de de mecanismos nociceptivos e neuropáticos para a
período de resolução da condição causal ou quando conduzidos pelos aferentes que acompanham estruturas somatossensitivas do SNP ou SNC pode ocorrência da dor.
se manifesta em condições naturalmente crônicas as fibras do SNNS, penetram na medula espinal
como ocorre em doentes com doenças reumáticas, juntamente com as raízes dorsais  e projetam-
câncer, neuropatias dolorosas, etc49. A persistência -se nas lâminas I, II, V e X do CDME, de onde,
da dor é predeterminada por fatores neuroanatô- via tratos espinotalâmicos, espinorreticulares e
micos corticolímbicos50. pós-sinápticos do funículo posterior, alcançam a
Distinguem-se cinco categorias de dor “patoló- formação reticular do tronco encefálico, os nú- Referências bibliográficas
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38 DOR NOCICEPTIVA, NEUROPÁTICA E NOCIPLÁSTICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 39

patologia2. Em outras palavras, doentes com um canismos de dor (ou síndromes dolorosas) presen- Tabela 1: Fatores etiológicos associados com o desenvolvimento de Síndromes Dolorosas Miofasciais8
mesmo tipo de câncer, podem apresentar dor por tes no doente em questão, para a seleção da me-
mecanismos variados, e requerer estratégias tera- lhor estratégia terapêutica. Essa nova perspectiva
Escoliose
pêuticas distintas. Por outro lado, tanto na neuro- do tratamento da dor é denominada de avaliação
Assimetria de membros inferiores
patia pós-quimioterapia quanto na neuralgia pós- e tratamento translacional ou mecanística2. Ela tem
Espondilose
-herpética, pode existir um mecanismo comum de sido endossada pelas sociedades de especialistas
Osteoartrite
dor neuropática, que responda a um mesmo grupo em dor no mundo, e passou a permear a nova ver- FATORES MECÂNICOS
Artroplastia
de intervenções terapêuticas. são da Classificação Internacional das Doenças, o
Estresse mecânico postural relacionado ao trabalho
Portanto, a avaliação e tratamento atual da dor CID-113.
Lesão por esforço repetitivo
crônica têm como alicerce a identificação dos me-
Doenças do Espectro da Hipermobilidade

Deficiência de Vitamina D
Deficiência de Vitamina B12
FATORES METABÓLICOS E NUTRICIONAIS
Deficiência de Ferro

Dor nociceptiva
Hipotireoidismo

Radiculopatia
DENERVAÇÃO POR LESÃO DE NERVOS PERIFÉRICOS Encarceramento de nervos (sd. do túnel do carpo)
DEFINIÇÃO de sensibilização. Essas alterações tendem a ser po-
Polineuropatia
Conforme a definição da Associação Internacio- sitivas (ou seja, não deficitárias), e incluem: alodí-
nal para o Estudo da Dor (AIED), a dor nociceptiva nia (o estímulo sensitivo tipicamente não doloroso,
é aquela que resulta da ativação de nociceptores como o toque leve, pode evocar dor), hiperalgesia
(receptores de estímulos álgicos, presentes nas ter- (o estímulo habitualmente doloroso, como a picada
minações nervosas), mediante dano real ou poten- de um alfinete, provoca dor com intensidade maior da6,7. Ela é, por definição, circunscrita a uma região Figura 1: Fenômeno de dor referida miofascial devido a
cial de um tecido não neural4. Nesse caso não há do que o esperado) e hiperestesia (a percepção com do corpo e é provocada pela presença de pontos- ponto gatilho em músculo glúteo mínimo7
comprometimento estrutural ou funcional das vias intensidade aumentada, mas ainda assim não dolo- -gatilhos ativos. Esses pontos, por sua vez, são as
neurológicas somatossensitivas (responsáveis por rosa, de um estímulo habitualmente não doloroso). regiões mais dolorosas de uma banda de contração
transmitir informações relacionadas à sensibilida- Deve-se enfatizar que, quando presentes, essas al- muscular, tensa à palpação, encontrada no múscu-
de) periféricas ou centrais. terações raramente respeitam território de inerva- lo desses doentes6,7. Os pontos-gatilho podem ser
A dor nociceptiva é a síndrome dolorosa mais ção de uma estrutura nervosa específica. formados por diversas causas (Tabela 1).
comum e pode ocorrer em diversos contextos clí- A SDM compartilha das mesmas características
nicos, por exemplo: dor lombar mecânica, osteoar- ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA que outras dores nociceptivas. No entanto, o que
trite, insuficiência arterial e/ou venosa periféricas, De forma geral, o tratamento das dores nocicep- caracteriza essa síndrome clinicamente é que a
mestástases ósseas, tendinopatias, entre outros. tivas envolve o uso de analgésicos simples (como dor do doente pode ser reproduzida pela palpação
a dipirona e o paracetamol), anti-inflamatórios dos pontos-gatilho. Os pontos-gatilho que, quando
APRESENTAÇÃO CLÍNICA não esteroidais e, em circunstâncias selecionadas, palpados, provocam a dor do doente são conside-
A dor nociceptiva frequemente é descrita de corticosteroides. O uso de relaxantes musculares, rados ativos6,7. É importante ressaltar que, apesar
forma vaga pelo doente, que tende a descrevê-la antidepressivos tricíclicos e duais são alternativas de a SDM ser por definição regional e localizada, o
como em peso, pontada, aperto, latejamento e/ou úteis para serem associados ao tratamento. Em ca- ponto-gatilho responsável por ela pode ser encon-
queimação. Ela é frequentemente referida a planos sos refratários e selecionados, particularmente nos trado distante da região onde o doente refere a dor
profundos (o doente conta que sente a dor no mús- doentes com câncer, o uso de opioides pode ser (Figura 1). Esse fenômeno é conhecido como dor
culo ou no osso). A mobilização do membro ou re- considerado5. Procedimentos invasivos e terapia miofascial referida, e é produto de processos fisio-
gião do corpo acometida pode levar à piora da sua física podem ser considerados, a depender do con- patológicos complexos de sensibilização central
intensidade. texto clínico em questão. e periférica1,6,7. Outro fato importante é que além
Classicamente, o exame neurológico da sensi- da dor, a SDM pode levar a dificuldade de relaxa- Essa figura ilustra um exemplo de dor referida miofascial. O ponto gatilho
que provoca a dor está presente no músculo glúteo mínimo e é representado
bilidade da região acometida é descrito como nor- SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL mento do músculo acometido e aumento de sua pelas cruzes. A área vermelha na imagem a esquerda é a região onde o
mal. Porém, na prática clínica algumas alterações A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é um fatigabilidade6–8. doente percebe a dor provocada pela palpação dos pontos gatilhos em ques-
tão. Pontos-gatilhos no músculo glúteo mínimo frequentemente geral dor à
podem ser observadas no território acometido e tipo particular de dor nociceptiva, com caracterís- Diferentemente de outras síndromes dolorosas, a distância e, devido ao seu padrão de irradiação, podem ser confundidos com
nas suas imediações, devido a processos centrais ticas específicas e estratégia terapêutica diferencia- estratégia terapêutica para a SDM tem como primei- radiculopatia de raízes nervosas L5 e S1.
40 DOR NOCICEPTIVA, NEUROPÁTICA E NOCIPLÁSTICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 41

ra linha terapias físicas, fisioterapia e reabilitação. dados, por exemplo: espasticidade, posturas não Figura 2: Versão do questionário Doulour Neuropathique 4 questions – DN4 adaptado por Santos et al 10 para
Nesse sentido, os pontos-gatilho são desativados ergonômicas e rigidez muscular. A farmacoterapia a população brasileira
através de procedimentos físicos, como inativação com relaxantes musculares, antidepressivos tricícli-
manual, agulhamento seco e a injeção de anesté- cos e analgésicos simples pode ser um instrumento
sicos locais6,7. Concomitantemente, fatores perpe-
tuantes de ativação desses pontos devem ser abor-
adjuvante à avaliação e tratamento multidisciplinar
e terapia física, porém, não as substitui6–8.
Questionário para diagnóstico de Dor Neuropática - DN4
Por favor, nas quatro perguntas abaixo, complete o questionário marcando uma resposta para
cada número:

Dor neuropática
ENTREVISTA DO PACIENTE
Questão 1: A sua dor tem uma ou mais das seguintes características?

DEFINIÇÃO (ex.: Leeds Assessment of Neuropathic Symptoms Sim Não


Trata-se da dor provocada por uma lesão ou and Signs – LANSS, Neuropathic Pain Question- 1- Queimação
doença que compromete as vias neurológicas so- naire – NPQ, painDETECT, ID Pain). Dentre esses,
2- Sensação de frio dolorosa
matossensitivas (responsáveis pela transmissão e o Doulour Neuropathique 4 questions – DN4, desen-
processamento de informações sensitivas somes- volvido na França por Bouhassira D et al em 20059,
3- Choque elétrico
tésicas, como dor, calor, tato e pressão)4. É impor- e traduzido e validado para a população brasileira
tante enfatizar que nem toda dor provocada pela por Santos et al em 201110 (Figura 2). Escores maio- Questão 2: Há presença de um ou mais dos seguintes sintomas na mesma área da sua dor?
lesão de estruturas neurológicas é neuropática, res ou iguais a 4 indicam a presença de dor neuro-
mas apenas aquelas que prejudicam as vias soma- pática com sensibilidade de 100% e especificidade Sim Não
tossensitivas. Portanto, lesões das vias motoras, de 93,2%10. 4- Formigamento
que provocam dor por espasticidade ou por atrofia 5- Alfinetada e agulhada
muscular, não provocam dores neuropáticas, mas ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA 6- Adormecimento
sim nociceptivas. As medicações de primeira linha para o trata-
7- Coceira
mento da dor neuropática incluem fármacos an-
APRESENTAÇÃO CLÍNICA tiepilépticos ligantes da subunidade alfa-2-delta
A dor neuropática é relatada pelo doente fre- de canais de cálcio voltagem-dependentes, anti- EXAME DO PACIENTE
quentemente com descritores específicos: choque, depressivos tricíclicos e antidepressivos duais ini- Questão 3: A dor está localizada numa área onde o exame físico pode revelar uma ou mais das seguin-
queimação, alfinetada e/ou frio doloroso. Em opo- bidores da recaptação de serotonina e noradrena- tes características?
sição ao que ocorre com a dor nociceptiva, aqui o lina (Tabela 2)11–13. Medicações tópicas, opioides e
doente tende a perceber a dor a planos superficiais, toxina botulínica A são também alternativas tera- Sim Não
ou seja, na pele. Ela se distribui no território de pêuticas11–13. Além da terapia medicamentosa, há 8- Hipoestesia ao toque
inervação específico da estrutura nervosa compro- evidência de benefício também para terapia física, 9- Hipoestesia a picada de agulha
metida. Nesse território, sintomas associados como psicoterapia, reabilitação, e, para os casos mais re-
prurido, parestesias, e dormência podem ocorrer. fratários, neuromodulação invasiva e não invasiva,
O exame neurológico da sensibilidade eviden- infiltração anestésica de estruturas nervosas e infu-
Questão 4: Na área dolorosa a dor pode ser causada ou aumentada por:
cia nesses doentes alterações tanto positivas como são intratecal de medicamentos13. Sim Não
negativas. As alterações positivas incluem: hiperal- A – Recomendações baseadas no sistema de classi-
10- Escovação
gesia, alodínia, hiperestesia e disestesia (percepção ficação GRADE; B – NNT significa Número Necessário
anormal de um estímulo sensitivo, por exemplo, para Tratar e IC95% significa intervalo de confiança de
quando o doente relata perceber formigamento me- 95%; C – Análise combinada dos resultados dos estudos ESCORE
diante o toque de uma região da sua pele). Por outro incluídos; D – Aplicado em local de dor neuropática; 0 - Para cada item negativo / 1 - Para cada item positivo
lado, a perda das sensibilidades térmica, dolorosa e/ E – Os estudos incluídos analisaram principalmente a Dor Neuropática: Escore total a partir de 4/10.
ou tátil são exemplos de sintomas negativos. oxicodona em doses de 10 a 120mg/dia e morfina em
( ) Dor Nociceptiva ( ) Dor Neuropática
O uso de questionários específicos pode auxiliar doses de 90 a 240mg/dia; F – Uso recomendado para
na identificação da presença de dor neuropática especialistas.
42 DOR NOCICEPTIVA, NEUROPÁTICA E NOCIPLÁSTICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 43

Tabela 2: Principais fármacos utilizados no Brasil no tratamento da dor neuropática, seus respectivos Número Necessário clínico, no qual os casos mais leves manifestariam as estratégias terapêuticas são particulares a cada
para Tratar (NNT) e grau de recomendação, de acordo com a revisão sistemática de Finnerup et al (2015)12 uma dessas síndromes dolorosas, enquanto os mais uma delas. No entanto, o uso de medicamentos com
graves poderiam apresentar várias delas. múltiplos mecanismos de ação, como os antidepres-
sivos tricíclicos, tende a ser comumente utilizados
RECOMENDAÇÃOA FÁRMACO DOSE DIÁRIA NNT (IC95%)B
ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA na maioria dos casos. Também, a associação do tra-
Gabapentina 1200-3600mg 6,3 (5,0-8,3) Da mesma forma que a apresentação clínica de tamento medicamentoso com modalidades terapêu-
Pregabalina 300-600mg 7,7 (6,5-9,4) cada uma das entidades classificadas nesse meca- ticas não farmacológicas pode prover maiores bene-
nismo varia significativamente entre si, também fícios no alívio da dor e no ganho de funcionalidade.
1ª LINHA Antidepressivos Tricíclicos 25-150mg 3,6 (3,0-4,4)

Duloxetina 60-120mg
6,4 (5,2-8,4)C
Venlafaxina 150-225mg

Dor mista
1 a 3 adesivos por até 12h 1
Adesivo de Lidocaína 5% tópica Não descrito
2ª LINHA vez ao diaD

Tramadol 200-400mg 4,7 (3,6-6,7)


Na prática clínica, não é incomum que o doente múltiplos mecanismos possíveis: dor neuropática,
Opioides FortesE Titulação individual 4,3 (3,4-5,8) apresente mais de um mecanismo de dor sobrepos- dor nociceptiva por síndrome dolorosa miofascial
3ª LINHA to. Essa condição é denominada de dor mista, e, (relacionada a desnervação dos músculos da perna
50-200UI em subcutâneo a
Toxina Botulínica AF 1,9 (1,5-2,4) apesar de ser um termo utilizado na literatura há e pé), dor nociceptiva relacionada a osteoartrite de
cada 3 meses
mais de uma década, não há ainda um consenso tornozelo e joelhos (secundária a alterações bio-
quanto a sua definição. Em 2018, um grupo multi- mecânicas da marcha por perda da sensibilidade
disciplinar internacional independente propôs que protetora e propriocepção) e/ou dor nociceptiva is-
a dor mista seria uma sobreposição complexa de quêmica secundária a possível doença arterial pe-
diferentes tipos de dores conhecidas (nociceptiva, riférica comum no diabetes mellitus avançado. Em

Dor nociplástica
neuropática, nociplástica), em qualquer combina- um primeiro momento, pode-se considerar que o
ção, atuando simultaneamente e concomitante- componente neuropático pode ser o mais proemi-
mente para provocar dor em uma mesma área do nente, porém, após o tratamento direcionado para
DEFINIÇÃO todas as condições desse grupo, faz com que o seu corpo15. esse componente, os demais podem persistir e pas-
A dor nociplástica (ou nocidisplástica) é aquela diagnóstico seja realizado a partir da apresentação Do ponto de vista clínico, é importante conside- sar a ser mais importantes.
que surge da nocicepção alterada, sem preencher clínica, através de critérios diagnósticos específi- rar que apesar de múltiplos mecanismos poderem Dessa forma, ao elaborar-se a estratégia de tra-
critérios para os dois outros mecanismos de dor cos a cada entidade. justificar a dor do doente, um desses mecanismos tamento de um doente com dor mista, é impor-
descritos previamente4. Esse conjunto de condi- Apesar da heterogeneidade aparente ao pri- pode ser predominante. Por outro lado, ao longo tante reconhecer-se a presença de todos os me-
ções tem em comum a ausência de lesões teciduais meiro olhar, há alguns elementos comuns entre o tempo os mecanismos que justificam a dor do canismos de dor presentes, identificar o(s) mais
evidentes que expliquem a presença da dor, a qual as doenças desse grupo. Um desses elementos é a doente podem variar. Um exemplo é o doente com proeminente(s), além de reavaliar periodicamente
resulta da nocicepção alterada4. associação com sintomas relacionados a diversos dor em membros inferiores relacionada a polineu- a persistência e importância de cada um desses
A dor nociplástica inclui diversas doenças fre- sistemas. Assim, na enxaqueca, fenômenos neuro- ropatia diabética. A dor aqui pode ser resultado de mecanismos.
quentes na prática clínica, incluindo: enxaqueca e vegetativos, como náuseas e vômitos, são frequen-
outras cefaleias primárias, síndrome dolorosa com- tes e compõem parte dos critérios diagnósticos da
plexa regional tipo I, lombalgia crônica inespecífi- doença. Também na fibromialgia a constipação,
ca, transtorno de dor visceral funcionais (como a síndromes dispépticas, sintomas urinários, com-
síndrome do intestino irritável, a vulvodínea e a prometimento cognitivo (denominado de fibro fog)
síndrome da bexiga dolorosa)14. são comuns. Além do mais, não é incomum que
haja a sobreposição de entidades de dor nociplás-
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Introdução
A palavra avaliação tem origem na língua fran- de intervenção e também para avaliar a efetividade
cesa (évaluer) e traz inerente ao seu significado ori- das intervenções propostas. Avaliar e mensurar a
ginal a ideia de atribuir valor a algo. Quando nos dor são portanto entidades diferentes, não obstante
encontramos frente ao paciente com dor crônica, são largamente utilizados como sinônimo na litera-
muitas informações são trazidas de maneira verbal tura. Avaliar a dor significa compreender um pro-
e não verbal. Cabe ao profissional da saúde, inter- cesso complexo e multidimensional. Mensurar a
pretar e traduzir essas informações a fim de obter dor está relacionado à quantificação dos diferentes
dados suficientes e precisos para o diagnóstico da aspectos da experiência dolorosa, mais comumen-
dor e suas repercussões para que se estabeleça um te associada à dimensão intensidade de dor.1 Esse
prognóstico e uma terapêutica adequada. capítulo tem por objetivo elucidar o processo pelo
Medidas validadas e confiáveis de dor são neces- qual o raciocínio clínico é desenvolvido de maneira
sárias para identificar quais pacientes necessitarão clara e objetiva na clínica da dor.

Desafios da avaliação
A dor é compreendida, simbolizada e externali- consequências variadas para o indivíduo. Desde
zada de forma diferente em diversas culturas com os primórdios da humanidade a dor é um flagelo
46 AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 47

da experiência humana, sendo o sintoma mais co- ca de 9 médicos na grande maioria ortopedistas, dor instalada. A observação do padrão de linguagem terísticas de dor, porém, as discrepâncias culturais
mum de consultas médicas em todo o mundo.2 Ain- neurologistas e reumatologistas e não obtiveram do paciente, seu enfrentamento, aspectos psíquicos e sociais fazem com que métodos como este ainda
da muito pouco estudada e não oficializada como clareza do diagnóstico da dor gerando ansiedade, relacionados (ansiedade, stress, depressão), signifi- apresentem baixa especificidade11. Questionários
objeto de estudo das escolas médicas no pais, a dor expectativas, custos e frustrações ao doente. Em cado da dor em sua vida, ganhos secundários, etc. e inventários (tabelas) para avaliação dos aspectos
continua sendo um desafio em termos de diagnós- 2013, Minagawa et al.6  Encontraram uma prevalên- devem ser rastreados pela equipe interdisciplinar. biopsicossociais foram desenvolvidos para facilitar
tico e tratamento para todos os profissionais de cia de 22,11 % de ruptura completa assintomática Os aspectos sociais, desde a logística do transporte o rastreamento de depressão, ansiedade e catastro-
saúde. Segundo trabalho publicado na revista Lan- do manguito rotador e um crescimento da preva- do paciente até o ambulatório ou consultório, até fização. Os mais utilizados na prática clínica e em
cet 2017 a dor lombar é a primeira causa de pro- lência com a idade em indivíduos assintomáticos. a forma que o indivíduo descreve a dor (figuras de estudos científicos na área de dor são: inventário
cura médica em todo o mundo.3 Segundo a Asso- Na mesma linha Brinjikji et al.7 2015 demonstrou linguagem, verbos que expressam sofrimento, nível de ansiedade e depressão de Beck , PRSS, escala de
ciação Internacional para o Estudo da Dor (AIED) em sua revisão que 80% de indivíduos assintomá- sociocultural) podem também nos ajudar a esclare- avaliação de TAMPA para cinesiofobia12,13,14. Outros
a dor é definida como uma experiência sensitiva e ticos aos 50 anos apresentam sinal de degeneração cer o tipo de dor. A caracterização da dor é um item autores desenvolveram ferramentas para avaliar o
emocional desagradável decorrente ou descrita em discal e cerca de 60%  destes indivíduos apresen- de delicada avaliação e alguns autores propuseram risco de cronificação da dor, dentre elas  Start Back
termos de lesões teciduais reais ou potenciais. O tam hérnia discal sem nenhuma repercussão clíni- a elaboração de pictogramas que traduzissem carac- Screening Tool, já validado para língua portuguesa.15
caráter subjetivo da dor é justificado por aspectos ca. Em 2018, Halilaj et al.8 acompanharam 1243 joe-
sociais, físicos, biológicos, psicológicos e espiri- lhos de pacientes com dor crônica  e reforçaram o
tuais que cercam a história de vida do doente.4 A conceito de que piora radiológica não estava asso-
dor crônica pode ser classificada como a dor que ciada à piora da dor. A síndrome da cirurgia falida

Avaliação clínica da dor


permanece por mais de 3 meses ou aquela que se da coluna vertebral está presente em até 46% dos
mantêm após o período considerado normal de re- pacientes que foram submetidos a procedimentos
missão da patologia. Para efeito de estudo, alguns cirúrgicos na coluna (artodeses, lamnectomias e
autores consideram o período de 6 meses.(AIED) A dissectomias).9 Estes dados são de extrema impor- ANAMNESE difusas apresentam dor em diversas regiões do cor-
dor crônica aparentemente não possui  importân- tância e reforçam a necessidade de uma interpreta- A avaliação clínica do paciente com dor envol- po e que por vezes são esquecidas na anamnese, daí
cia biológica no ser humano, porém, traz consigo ção adequada das informações clínicas e radiológi- ve uma abordagem complexa, sendo importante a importância do uso dos diagramas de dor, onde
inúmeras repercussões sistêmicas. Diversos mo- cas obtidas durante a entrevista inicial do doente. ao término da avaliação tentarmos identificar os os pacientes pintam todas as regiões do corpo aco-
delos são estudados na tentativa de explicar o pro- É comum na clínica de dor a presença de pacientes diferentes componentes associados às dores do pa- metidas por dor. Cabe a nós, avaliadores, interpre-
cesso de cronificação da dor e a consolidação da que foram submetidos a procedimentos e inter- ciente: mecânicos, inflamatórios, neuropáticos e tarmos esse diagrama de maneira atenta para um
memória perceptiva no sistema nervoso central. A venções prévias e que não obtiveram melhora do funcionais da dor. Entender que patologias iguais diagnóstico mais preciso. Por vezes esses pacientes
teoria mais atual de Melzack permite a visualiza- quadro álgico e funcional. Assim como os achados podem se apresentar com mecanismos fisiopato- são chamados e estigmatizados de forma incorreta
ção  de um modelo neurológico da neuromatriz da dos estudos anteriores, os testes e as avaliações co- lógicos de dor diferentes, bem como, patologias como “fibromiálgicos” o que gera encaminhamen-
dor onde os aspectos genéticos, ambientais, psico- mumente utilizadas na pratica clínica do médico e diferentes podem ter uma apresentação clínica se- tos, custos e tratamentos infrutíferos. As dores neu-
lógicos interagem entre si para determinar a per- do fisioterapeuta devem ser constantemente atua- melhante do ponto de vista fisiopatológico (sensi- ropáticas se apresentam comumente como quei-
cepção de dor.5 O fato de haver um sistema com- lizadas e estudadas em termos de especificidade e bilização central, por exemplo), portanto, entender mação, sensação de frio doloroso, formigamento,
plexo para a percepção de dor no organismo faz efetividade na clínica de dor. Modelos de avaliação a fisiopatologia da doença, a fisiopatologia da dor coceira, alfinetada e agulhada. Ao passo que dor
com que relação lesão – sintoma ou ainda a relação integrados, no contexto de equipe interdisciplinar, e a maneira pela qual ela é percebida e expressada em peso, tensão e dolorimento sugerem caráter no-
nexo causal não seja sempre verdadeira. Segundo aparentemente contribuem de forma mais abran- pelo doente facilita a acurácia diagnóstica. Nesse ciceptivo de dor.
levantamento realizado pelo Centro de Dor do HC- gente para a clareza nas escolhas de intervenção contexto é de suma importância identificar se há Na prática clínica podemos nos valer de ferra-
-FMUSP o paciente com dor crônica já visitou cer- destes doentes.10 alguma patologia de base que justifique o quadro mentas já validadas para rastreio de dores neuro-
clínico do paciente, exemplo: diabetes causando páticas (DN4/LANSS), são de fácil aplicação e com
neuropatia, vasculopatia e disautonomia. Após boas sensibilidade e especifidade16,17. Trabalhos
uma investigação minuciosa e pormenorizada das recentes mostram que cerca de 40% dos pacientes
possíveis causas passamos a identificar outros fe- com osteoartrite de joelho apresentaram rastrea-

Dor e contexto biopsicossocial


nômenos associados, causadores e perpetuadores mento positivo para componente neuropático18. A
da dor crônica. As relações posturais (estática e di- maneira como a dor se instalou e a sequência de
nâmica), ergonômicas, a qualidade do sono, o per- aparecimento podem revelar dados importantes
É de extrema importância que o profissional que na primeira infância referências importantes, que fil nutricional, os hábitos de vida, atividade física e em relação às dores funcionais, especialmente,
avalia o doente com dor, esteja ciente do contexto juntamente com fatores genéticos moldam seus perfil psicológico fazem parte do rol de fenômenos quando analisados sob a óptica da biomecânica.
social e psicológico que o doente está inserido. O in- comportamentos em relação à dor e que desenca- a serem investigados, todos eles serão pormenori- Quando perguntado de maneira direta é comum
divíduo recebe ao longo dos anos e especialmente deiam uma série de respostas e atitudes uma vez a zados adiante. Muitas vezes pacientes com queixas ouvirmos que a dor é contínua, sem flutuação, daí
48 AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 49

a importância de entendermos não só os fatores gia. Sabemos que mesmo em artroplastias de joe- não acontece de maneira adequada, por exemplo vocada por estímulos não dolorosos) e hiperpatia
de melhora e de piora, mas também os períodos lho (cirurgia considerada de bom resultado para na manobra de pinça e rolê. Essas alterações nos (reação exacerbada a estímulos álgicos repetitivos).
de melhora e de piora e eventuais sazonalidades osteortrite primária) 35% dos pacientes permane- dão indícios de hipermobilidade tecidual e sensi- Para a sensibilidade superficial utilizamos agulhas
(diárias, semanais e mensais). Quando abordamos cem com dor após o procedimento.19 bilização dermatomérica central respectivamente. ou alfinetes. Na érmica utilizamos algodão com ál-
os fatores de melhora e de piora do paciente po- Outro aspecto importante de ser avaliado é o cool ou metal frio. A tátil com algodão, escova, ou
demos entender também a relação entre os gestos EXAME FÍSICO medo do paciente em relação ao próprio exame filetes de Von Frey. A sensibilidade profunda deve
mecânicos, as atividades realizadas e a dor. Cabe Quanto ao exame físico seguimos a rotina clás- físico, tanto por ser tocado quanto por ter que se ser testada com diapasão de 128Hz e a artrosens-
ainda neste momento avaliar as atividades diárias, sica da propedêutica com inspeção, palpação, per- movimentar. Por vezes os pacientes estão com bilizada (“propriocepção”) testada nos artelhos.Em
domésticas e laborais para eventual correção pos- cussão, ausculta e testes especiais. Todos os pa- inúmeras disfunções que o padrão de marcha fica relação à força muscular devemos testar o grupos
tural e de gestos. Essa avaliação deve ser realizada cientes devem ser despidos para que a avaliação completamente alterado e há ainda casos em que musculares de maneira individualizada e graduar
de maneira prática no consultório durante o exame seja realizada da melhor maneira possível. Em um o paciente simula determinado padrão de marcha segundo a escala de força muscular (0-5).Quanto
físico. Ainda na anamnese devemos avaliar todas as levantamento realizado recentemente, 1 a cada 7 em busca de um eventual ganho secundário. Para aos reflexos devemos examinar os superficiais e os
possíveis entidades que farão com que alguns trata- médicos havia realizado qualquer exame físico em que esses fatos fiquem elucidados de maneira con- profundos levando em conta o nível de acometi-
mentos não possam ser indicados ou ainda que haja pacientes com queixas há mais de 3 meses, isso clusiva ao examinador necessitamos de duas ferra- mento no sistema nervoso central.
preferência por alguns tratamentos em detrimento mostra a necessidade de revermos a maneira como mentas preciosas; o exame neurológico e o exame Outros testes neurológicos devem ser realizados
a outros, especialmente pelas contraindicações ao conduzimos as consultas médicas. A não realização funcional. de acordo com a história da doença e as possíveis
uso de determinados fármacos ou procedimentos. do exame físico gera falsos diagnósticos, custos e hipóteses diagnósticas. Ex: mielopatias, pares cra-
A avaliação detalhada de todos os tratamentos expectativas frustradas. EXAME NEUROLÓGICO nianos, síndromes extrapiramidais, síndrome do
a que o paciente já foi submetido, nutricional, me- Na clínica de dor nos atentamos especialmente No exame neurológico devemos nos comprome- neurônio motor superior, etc.
dicamentoso, físico, invasivo e alternativo deve ser à postura estática (tópico adiante), à marcha e às ter ao término da avaliação de concluir um diag- Os testes especiais de cada articulação podem
feita de maneira pormenorizada e atenta. O que amplitudes de movimento de cada articulação, tan- nóstico sindrômico, topográfico e possivelmente ser encontrados em qualquer livro texto de semio-
mais comumente encontramos na clínica de dor é to passiva quanto ativa. etiológico e para isso lançamos mão dos exames de logia ortopédica. Toda nossa bagagem de prope-
o paciente que realizou inúmeras sessões de fisiote- Em relação à palpação, avaliamos cuidadosa- motricidade, reflexos e sensibilidade (tátil, térmica dêutica deve ser empreendida nos pacientes com
rapia e algumas tentativas frustradas de bloqueios mente cada estrutura , desde a pele, tecido celular e dolorosa). Esse mínimo exame neurológico pode dor crônica para que possamos discernir as entida-
ou infiltrações, todas sem nenhum tipo de resulta- subcutâneo, fáscia, ligamentos, bursas e por fim ajudar a dirimir eventuais conflitos em pacientes des que os acometem de maneira clara, entender
do a longo prazo. Também comum aquele paciente os músculos. Nessa avaliação podemos detectar a com ganho secundário. Se o exame não for conclu- que o exame clínico é fundamental para a avaliação
que já utilizou um número muito grande de medi- presença de pontos gatilho miofasciais (85% dos sivo a avaliação funcional e os testes sob distração do doente e que na dor crônica a avaliação funcio-
camentos sem os devidos cuidados ou orientações pacientes em centro de dor apresentam síndro- podem ajudar a esclarecer a questão. nal faz toda a diferença na precisão diagnóstica e
adequadas e consequentemente sem obter resulta- me dolorosa miofascial)10. Esses pontos gatilhos, Em relação à sensibilidade podemos evidenciar consequentemente na abordagem terapêutica mais
dos satisfatórios. O relato do paciente em relação presentes na síndrome dolorosa miofascial são hiperestesia, hipoestesia, hiperalgesia (redução do adequada.
ás terapias também pode nos dar dicas das suas diferentes dos pontos que eram utilizados para limiar à estimulação dolorosa), alodinia (dor pro-
crenças em relação aos métodos que considera útil diagnóstico de fibromialgia, eles possuem uma
no seu tratamento , a sua crença em relação ao seu etiopatogenia e fisiopatologia diferentes e podem
prognóstico e a sua atitude passiva ou ativa peran- mimetizar sintomas oriundos de doenças neuro-
te as terapias já recebidas. É comum observarmos lógicas, tendíneas e articulares. O subdiagnóstico

Avaliação funcional da dor


que as abordagens de tratamento educativas  fo- dessa síndrome e o manejo inadequado dessa en-
ram pouco realizadas ainda no caso destes doentes tidade é um dos fatores perpetuantes de dor crô-
e normalmente utilizadas técnicas e ferramentas nica. Além da disfunção isolada de cada músculo
que prometem o alivio imediato dos sintomas o nessa síndrome o fato de um músculo não atuar de AVALIAÇÃO POSTURAL ticos. Compreender a relação entre a dor e posição
que frequentemente não acontece a médio e longo maneira harmoniosa gera um desbalanço e desar- A avaliação postural tem sido objeto de estudo estática é o objetivo da avaliação. Ida Rolf descreve
prazo, gerando frustrações dos profissionais e dos ranjo na ativação de músculos adjacentes levando da fisioterapia há muitos anos. Diversos autores o papel do tecido fascial e muscular no desenvolvi-
pacientes. Avaliar a qualidade das informações que à um encadeamento de atividades musculares dis- abordam a avaliação estática de diferentes manei- mento de posturas que considera inadequadas para
o paciente já recebeu em tratamentos anteriores funcionais, gerando fisiologia articular inadequada ras a fim de ser mais um instrumento de avaliação o gesto humano fisiológico. O estudo da fáscia vem
é importante para não manter crenças e compor- e portanto comprometimento maior de estruturas para estabelecer o diagnóstico funcional e criar a ganhando espaço na literatura atual através de tra-
tamentos errôneos no gerenciamento da própria nobres (raiz nervosa, cartilagem e tendões). relação causal e de perpetuação com a sintomato- balhos que demonstram a interrelação entre as es-
dor. Esclarecer todos os procedimentos cirúrgicos Em relação à pele podemos avaliar a presen- logia da dor do paciente. Ao analisar o paciente em truturas do sistema músculo esquelético. Antonio
já realizados pelo paciente, tanto para controle da ça de elasticidade aumentada do tegumento, bem posição estática, observamos diferentes padrões de Stecco , médico fisiatra e anatomista , descreve e
dor quanto para resolução de alguma outra patolo- como regiões onde o deslizamento cutâneo fascial postura nos indivíduos sintomáticos e assintomá- analisa este tecido de forma bem detalhada e pro-
50 AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 51

põe que os tecidos são conectados e interdependen- estática além de seu papel na dinâmica a fim de Além do plano sagital , a avaliação estática se- mento e a perpetuação em diferentes patologias:
tes fazendo com que um posicionamento de uma obter um diagnóstico mais preciso21. Interpretar gue nos plano frontal anterior, posterior e transver- Síndromes Patelo Femorais, impacto subacromial,
determinada articulação influencie diretamente as ações musculares dos achados posturais não so a fim de elaborar o mapa corporal do indivíduo. dor lombar e impacto femoroacetabular.
uma região adjacente determinando movimentos e apenas facilita a compreensão dos mecanismos Estes dados serão somados aos achados da avalia-
moldando a expressão do gesto do indivíduo. perpetuantes de atividade diária e específica do ção dinâmica.
Figura 4: Modelo resumido das conexões cerebrais
Phillippe Souchard, Godelieve Denys Struyf , paciente como também irá guiar a terapêutica
relacionadas ao movimento humano23
Leopold Busquet, Joseph Pilates são autores que escolhida para cada caso. Portanto, o avanço da ANÁLISE DO MOVIMENTO HUMANO
desenvolveram métodos de trabalho com grande tecnologia em quantificar os achados posturais e O movimento humano pode ser estudado e com-
influência na clínica dos fisioterapeutas brasileiros biomecânicos, ainda não substituem a interpre- preendido sobre diversos aspectos. Diversas áreas SISTEMA AUTÔNOMO: VISÃO
e também contribuíram para a análise das ações tação clínica dos conhecimentos de anatomia e do conhecimento humano estudam o tema sob o RESPOSTAS AUDIÇÃO
musculares e processos articulares geradoras de biomecânica na estática e na dinâmica. A análise seu prisma, portanto, aprendem e constroem con- ENDÓCRINAS TATO
patologias e dores. A avaliação postural e a tera- mais profunda dos achados posturais se faz neces- ceitos ligados a cultura inerente de cada atividade e E CINESTÉSICAS VESTÍBULO
pêutica proposta por estes autores obtiveram êxito sária para compreender e criar estratégias para a valorizam aspectos diferentes sobre o movimento.
em tratamento de diversas patologias e condições intervenção precisa nos quadros de dor crônica A avaliação do histórico cinestésico do paciente é
dolorosas porém, ainda com baixo índice de evi- onde os protocolos básicos de tratamento para as inicialmente o item considerado na avaliação fun-
dência e com métodos de estudo variados sem ho- patologias já foram aplicados sem resultado. cional. EMOÇÃO PERCEPÇÃO PENSAMENTO
mogeneidade de investigação científica. O controle do movimento humano exige uma
A análise postural que leva em consideração os interação complexa de eventos neurológicos cen-
Figura 1: Exemplos de
processos emocionais foi pouco estudada na área trais e periféricos em harmonia com o sistema
lombalgia crônica com
de dor. Observamos na prática clínica que os fatores músculo esquelético que faz do movimento algo
padrões biomecânicos
psicológicos, além de alimentarem o quadro álgico único, individual , que amadurece e se transforma
diferentes ÁREA DO PLANEJAMENTO DO
também influenciam diretamente na qualidade do de acordo com experiências vividas e aprendidas
movimento humano. O tônus muscular basal tam- ao longo dos anos desde a infância ate o envelhe- MOVIMENTO E DA POSTURA
bém sofre influências dos processos emocionais cimento.
e pode perpetuar as dores miofasciais e piorar as Em 2013, a Associação Americana de Fisiotera-
disfunções articulares. A avaliação do tônus mus- pia adotou o modelo do sistema disfuncional do
cular pode ser feita através de testes específicos na movimento levando em consideração que movi-
presença de patologias do sistema nervoso central mentos repetitivos e alinhamentos podem induzir
e periférico (Hipertonia, Espasticidade, Hipotonia, a mudanças estruturais teciduais e articulares que
etc.) e através da observação do comportamento, potencialmente produzem dor24. Neste modelo o
atitude, sintomas e na realização de tarefas cotidia- sistema músculo esquelético é o efetor do movi-
nas e manutenção de posturas estáticas. Estudos recentes do plano sagital também demos- mento, o sistema nervoso central é o regulador e
A relação entre as ações musculares e o po- traram relação positiva entre os ângulos pélvicos e os sistemas endócrino, pulmonar e cardiovascu-
sicionamento das diferentes partes do corpo no a localização da degeneração discal em pacientes lar fornecem suporte para os anteriores. Neste Observação: reflexos automáticos também participam do
espaço foi evidenciada através de diferentes es- com lombalgia.22 modelo existem sinais antes dos sintomas, a iden- sistema de organização da postura
tudos. A análise da atividade muscular do pé de- tificação de movimentos disfuncionais e dos desa-
mostrou a participação dos músculos intrínsecos linhamentos se torna primordial para elaborar a
Figura 2 e 3: Diferentes inclinações pélvicas levando a
e músculos extrínsecos na manutenção do arco proposta terapêutica que será focada na causa da
degenerações discais em níveis diferentes22 Figura 5: Valgo dinâmico
longitudinal e transverso20. Estas ações demons- lesão tecidual e não nos achados anatomopatoló-
do joelho e “drop”
tram que músculos podem modificar a presença e gicos dos tecidos envolvidos. A identificação das
pélvico contra lateral
atividade do apoio dos pés no chão influenciando disfunções é realizada através de múltiplos testes
o sistema podal e o padrão de movimento execu- que pioram a sintomatologia do paciente. Deter-
tado. O aparecimento do hálux valgo relacionado minar a disfunção, identificar fatores de predispo-
a insuficiência da musculatura intrínseca, assim sição, identificar os alinhamentos e movimentos
como o fortalecimento destes músculos reverten- para corrigir durante as atividades diárias , educar
do a posição e melhorando a sintomatologia da o paciente e determinar os exercícios corretivos
deformidade nos sugere a importância de estu- são fundamentais neste modelo. Há relatos da re-
dar e conhecer em detalhes a função muscular na lação do movimento disfuncional com o apareci-
52 AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 53

Figura 6: Ao agachar Adaptar e indicar as atividades mais saudáveis Figuras 11 e 12: Observamos os diferentes padrões de mento de lesões cônicas embora um estudo mais
e levantar também para cada indivíduo é um processo importante no postura na posição sentada que podem favorecer cargas recente com 80.000 soldados israelenses observou
podemos observar as tratamento do paciente com dor. Os fatores me- exageradas e em locais inadequados durante 3 anos um grupo de jovens de 18-21 anos
estratégias utilizadas tabólicos e neuromodulatórios da atividade física em funções administrativas e de direção profissio-
pelo paciente para colaboram para uma melhora mais efetiva do doen- nal. Encontraram piora do sintoma de dor lombar
realizar o gesto motor. te, diminuem o consumo de medicação e estão re- naqueles indivíduos que já apresentavam dor lom-
Estas podem ser lacionados a melhor qualidade de vida desde que bar anteriormente ao acompanhamento da pesqui-
fatores importantes de esta atividade e sua intensidade não sejam fontes sa e naqueles de função administrativa. 28 Outro
perpetuação da dor em geradoras de dor e lesão. Avaliar a atividade, os mo- dado importante é que pacientes com dor lombar
diversos pacientes vimentos pré-atividade (aquecimento, alongamen- crônica são menos resistentes a permanecer na
to) e pós-atividade (relaxamento, alongamento, posição sentada, utilizam estratégias motoras di-
etc.) são fundamentais para detalhar as orientações ferentes na postura estática quando comparados a
funcionais. No final da avaliação funcional vamos indivíduos saudáveis. Este comportamento motor
Figura 7: Além dos
definir o déficit motor entre os fatores internos: pode estar relacionado à deficiência das fibras es-
movimentos do cotidiano
Imagem corporal, percepção espacial, emoções e táticas da musculatura paravertebral29. A utilização
também podemos
cognição (planejamento, atenção, memória moto- A postura sentada já foi considerada um fator de de celulares em posturas “bizarras” também deve
pedir fotos e vídeos de
ra, decisão e estratégias) e fatores externos (múscu- sobrecarga importante nos discos intervertebrais ser incluso na avalição da dor músculo esquelética,
atividades específicas
los, articulações, tônus nervos e fáscia muscular) como no famoso estudo de Nachensom onde ele as consequências das diversas posturas adotadas
que o paciente adota no
para adequar a intervenção específica. aponta a postura sentada sendo responsável pela na realização desta tarefa cada vez mais comum
cotidiano
maior sobrecarga no disco intervertebral.27 Alguns foi analisada em uma revisão sistemática que en-
ERGONOMIA estudos também relatam uma maior incidência de controu alterações clínicas e subclínicas no siste-
A avaliação do ambiente, dos materiais e dos dor lombar, degeneração discal precoce e apareci- ma músculo esquelético. Aumento da ativação nos
equipamentos de vida diária e profissional do in- mento de hérnias de disco em indivíduos expostos músculos trapézio superior, eretores espinais, e ex-
divíduo é de fundamental importância no contexto à vibração de motores. Motoristas profissionais de tensores cervicais, além de alterações nos ângulos
da avaliação e do tratamento do paciente com dor carro, caminhão e ônibus que recebem vibrações cervicais, o que pode ter relação com disfunção e
crônica. O estilo de vida atual e o avanço tecnoló- na região lombar são mais favoráveis ao apareci- dor30.
gico promoveram mudanças no comportamen-
ATIVIDADE FÍSICA
to motor que facilitam a adoção de movimentos
A atividade física , muito divulgada frequente-
repetitivos, posturas inadequadas, stress físico e
mente pelos canais e profissionais de saúde como
emocional, somada a pouca experiência corporal
fonte de bem estar e encorajada por médicos de

Hipermobilidade articular 
e atividade física à muitos pacientes. O tempo de
diversas especialidades pode se tornar um fator
trabalho e manutenção de uma postura estática
importante na perpetuação e origem de dores crô-
(sentada ou em pé) podem resultar em aumento
nicas. É interessante conhecer e observar a técnica
de tônus muscular e sobrecarga articular. Um es- O diagnóstico, avaliação e compreensão da sín- mos que os mesmos não se sentem bem no próprio
e o padrão de movimento das atividades propostas
tudo bem elaborado em trabalhadores de escritó- drome da hipermobilidade articular é fundamen- corpo buscando posições e posturas de maior con-
e já realizadas pelos praticantes para determinar a
rio iranianos relacionou a manutenção da postura tal na clínica de dor para interpretar os sintomas, forto. Um estudo elaborado por Grahame de 9275
relação nexo causal específica. Podemos observar a
da cabeça, coluna cervical e torácica no trabalho orientar o paciente e a família e direcionar as estra- pacientes mostrou uma prevalência muito maior
seguir diferentes padrões de movimento e fatores
ao aparecimento da dor cervical e não ao desvio tégias de reabilitação adequadas para o doente. A em mulheres (85% da amostra). Além da dor, sin-
de perpetuação de lesão nos praticantes de ativida-
de postura estática de anteriorização cervical25. hipermobilidade articular pode ser definida como tomas como estalos, subluxações, parestesias, rigi-
de física.
Outro estudo de Fanavoll et al. 2016, demonstrou um amplitude de movimento articular supra fisio- dez, também podem estar presentes32.
o fator de percepção de stress no trabalho como o lógica. A síndrome de hipermobilidade articular é a Na avaliação postural podemos encontrar a pre-
elemento preditivo de dor nos ombros e cervical e associação desta característica com outros achados sença dos pés planos em 85% dos pacientes, hálux
o nível de atividade física e lazer não reduziu a cro- clínicos. Existem critérios diagnósticos para ajudar valgo, projeção posterior do tronco, postura lordó-
nificação da dor e os efeitos adversos do ambiente a guiar o médico na conclusão diagnóstica, porém, tica cifótica, hiperextensão dos joelhos e quadril,
estressante26. A avaliação da postura sentada nas o histórico do paciente nos revela um espectro da anteriorização pélvica. No teste de flexão anterior
Figuras 8, 9 e 10: Exemplos diferentes situações cotidianas são fundamentais doença muitas vezes não contemplado pelos crité- a mobilidade parece ser normal e não condiz com
de posturas ineficientes na para elaborar um relação mais precisa entre a dor e rios31. Na avaliação física do doente com hipermo- a sintomatologia e dor. Há hipermobilidade patelar
prática esportiva os hábitos diários. bilidade articular, além da dor é comum observar- em muitos doentes também.
54 AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 55

Figuras 13 e 14: Exemplos ção de travesseiros para a cabeça e para o corpo exige conhecimento técnico e deve ser estudado
de pacientes com assim como a qualidade do material influenciam em detalhe para avaliação correta ressaltando as
hipermobilidade a qualidade do sono. A avaliação dos materiais diferenças individuais (peso, altura).

Tempo de latência /
Horas dormidas Interrupções e causas
Despertar precoce

Posição de dormir Materiais para dormir Higiene do sono

Figura 15: Postura durante o sono

Nutrição
A relação entre alimentação e dor tem sido es- Em nossa prática é muito comum a presença de
tudada de maneira crescente nos últimos anos. uma dieta desequilibrada tanto em macro quanto
Alguns alimentos considerados pró-inflamatórios em micronutrientes, podendo esses serem fatores
podem contribuir na gênese da dor e alimentos perpetuantes da dor.
considerados anti-inflamatórios ajudam a aliviar Um exemplo bem frequente é o magnésio, que
esse sintoma. ajuda a combater cãimbras e dores musculares e
O consumo mundial de açúcar em países como frequentemente está ausente nas dietas. A avalia-
Brasil e Estados Unidos faz crescer o número de ção do hábito intestinal e da qualidade fecal tam-

Considerações finais
doenças inflamatórias e cardiovasculares, diminui bém se faz necessária a fim de detectar possível
a expectativa de vida e pode ter papel importante componente disbiótico intestinal, o que leva a in-
na perpetuação da dor e nas disfunções articula- flamação de baixo grau e mais uma vez perpetua-
res33. ção das dores musculares e articulares34. Enfim, A avaliação da dor é a etapa mais importante que o doente nos traz de informações verbais e não
A avaliação do diário alimentar é de suma im- uma avaliação inicial deve sempre ser realizada e do processo de raciocínio clínico estruturado, sem verbais, além da visão crítica dos achados físicos
portância afim de detectar a presença de um núme- havendo necessidade o encaminhamento para o ela não há precisão diagnóstica e grande chance de aqui apresentados, aumentam a assertividade em
ro maior ou menor de alimentos pró inflamatórios. profissional especializado. ineficiência terapêutica. Ouvir com atenção tudo o um contexto diagnóstico integrado.

Sono e dor Bibliografia bibliográficas


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matórias. O estímulo nociceptivo é transmitido ao funcionais nos diversos órgãos e tecidos do corpo e,
sistema nervoso central (SNC), que é responsável por permitirem a avaliação indireta dos danos teci-
pela experiência cognitiva e subjetiva da dor3,4. duais, possuem estreita correlação com as queixas
A queixa álgica relacionada ao sistema muscu- álgicas. Entretanto, tratam-se de métodos subsi-
loesquelético representa um dos principais moti- diários e devem sempre ser correlacionados com o
58 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 59

quadro clínico e exame físico. A radiografia simples das estruturas ósseas e de partes moles. Nos últi- 86,4% e especificidade: 95%), sendo superior a Rx para avaliação do edema ósseo subcondral15,16.
(Rx), a ultrassonografia e a tomografia computado- mos anos, a tomografia computadorizada de dupla e à TC convencional. (Figura 2) Entretanto, a DECT As possíveis etiologias álgicas relacionadas à
rizada (TC) representam métodos de grande impor- energia (DECT) vem se mostrando importante fer- não permite diferenciar a etiologia do edema, se LMO estão listadas na Tabela 1 e as principais se-
tância na avaliação das desordens musculoesque- ramenta diagnóstica complementar e alternativa à traumático ou não, além de ter baixa sensibilidade rão pormenorizadas a seguir.
léticas, entretanto a ressonância magnética (RM) RM para avaliação de alterações da medular óssea e
representa o método mais utilizado devido à sua da composição dos tecidos de partes moles.
alta resolução tecidual e anatômica para avaliação Figura 2: Edema da medular óssea na tomografia de dupla energia (DECT). Radiografia em perfil do calcâneo (A) sem
alterações realizada em paciente com dor plantar no retropé após corrida de meia maratona. Reconstruções sagital (B)
e coronal (C) da DECT demonstrando área de aumento da atenuação da medular óssea na porção medial e plantar do
calcâneo, compatível com edema e representada em verde no mapa de cores (setas)

Edema da medula óssea


(Lesão da medula óssea)
O uso crescente da RM na prática clínica levou ção atual de lesão medular óssea (LMO) torna-se
ao reconhecimento de uma nova entidade radioló- mais adequada6. Tal lesão, além de estar associada
gica, o edema da medula óssea, representado por a uma grande variedade de doenças inflamatórias e
áreas maldefinidas de alto sinal nas sequências não inflamatórias que acometem o sistema muscu-
de RM sensíveis a líquido, como as ponderadas loesquelético, vem sendo considerada como causa
em T2 ou densidade de prótons (DP) com satura- significativa de dor e como fator prognóstico do pa-
ção da gordura e STIR (Short Tau Inversion Reco- ciente em algumas dessas patologias7.
very), com ou sem hipossinal correspondente nas A dor associada à LMO é causada pelo aumento
sequências ponderadas em T1 (Figura 1). Apesar da pressão intraóssea (>20-30 mmHg) desencadeada Tabela 1: Etiologias da lesão da medula óssea
da adoção e popularização do termo edema da me- pelo acúmulo de líquido extracelular no trabecula-
dula óssea, estudos de correlação histopatológica do ósseo e pelo infiltrado celular inflamatório e de
1. TRAUMA 5. INFECCIOSA
demonstraram não haver necessariamente altera- turnover ósseo, que estimulam fibras nociceptivas
ção edematosa associada e, por isso, a denomina- subcondrais e periosteais8,9. A queixa álgica costu- Fraturas (agudas, insuficiência, estresse) Osteomielite
ma ter intensidade relativa, com relatos de piora à Sobrecarga mecânica Pé diabético e Charcot
mobilização mecânica e à palpação local. Diversos Contusões ósseas
Figura 1: Edema da medula óssea. RM de joelho com trabalhos demonstram a correlação positiva entre Lesões osteocondrais
sequências coronais ponderadas em T2 com saturação a identificação do sinal de edema da medular óssea
na RM e a presença de dor à avaliação clínica, po- 2. DEGENERATIVA 6. INFLAMATÓRIA
da gordura – T2Fs (A) e T1 (B) demonstrando edema
da medula óssea subjacente ao platô tibial lateral rém ainda não existem dados consistentes demons- Osteoartrite Artropatias inflamatórias e entesites (artrite reumatoide,
caracterizado por área de alto sinal de limites mal trando a correlação quantitativa entre o volume do artropatias soronegativas e reativas)
definidos em T2Fs (seta reta) com correspondente edema e a intensidade da queixa álgica10-14.
hipossinal na sequência T1 (seta curva) A DECT é uma ferramenta diagnóstica com o 3. ISQUÊMICA 7. METABÓLICA
potencial de analisar a composição e a densidade
Necrose avascular Deposição/migração de microcristais
dos tecidos através da aquisição das imagens em
Síndrome complexa de dor regional Gota
dois níveis de energia. As LMO cursam com modifi-
(atrofia de Sudeck ou algodistrofia)
cações na arquitetura e densidade óssea e, por isso,
Anemia falciforme
podem ser identificadas pela DECT, sendo uma al-
ternativa diagnóstica mais disponível, barata e com 4. ONCOLÓGICA 8. IATROGÊNICA
menor tempo de execução em relação à RM. Nos
Tumores malignos e benignos Radioterapia
últimos anos, a DECT vem se mostrando ferramen-
Cirurgia
ta com boa acurácia para pesquisa de fraturas ocul-
tas do trabeculado ósseo no trauma (sensibilidade: Adaptada de Eriksen, EF et al. Rheumatol Int 2012;32:575-584.
60 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 61

Trauma
diográficos na fase aguda dos sintomas, sendo a RM detecção das alterações iniciais. Na RM, as altera-
o método de escolha para sua detecção com sensi- ções relacionadas a fratura de estresse podem ser
bilidade em torno de 100%. À Rx, uma zona de des- identificadas um a dois dias após o início da queixa
A LMO é uma alteração frequentemente relacio- do ligamento cruzado anterior, com impactação do mineralização focal no local da contusão pode ser álgica, sendo o edema intramedular endosteal um
nada ao trauma e representa importante causa de côndilo femoral lateral na porção posterolateral do observada 6 a 12 semanas após o trauma, podendo dos primeiros sinais de remodelação óssea e, em ca-
queixa álgica nos consultórios ortopédicos, podendo platô tibial e contusões associadas à luxação lateral haver também esclerose e espessamento corticope- sos mais acentuados, pode ser identificado um traço
estar associada a eventos traumáticos agudos diretos da patela, com impactação na porção externa do riosteal, com sensibilidade em torno de 15% para linear hipointenso de fratura21-24. (Figura 5)
e indiretos ou a eventos subagudos por microtrau- côndilo femoral lateral8,20. (Figura 3) No tornozelo,
mas repetitivos relacionados a sobrecarga mecâni- os traumas em inversão são os mais prevalentes e
ca17,18. A LMO traumática é classificada em contusão estão associados a fraturas avulsivas, principalmen- Figura 4: Edema da medula óssea associado a entorse do tornozelo em inversão. RM de tornozelo com sequências axiais
óssea, impactação subcondral, lesão osteocondral e te relacionadas ao estiramento e sobrecarga do liga- T2Fs (A) e T1 (B) e sequência sagital T2Fs realizada em paciente com dor e edema no tornozelo após queda de patinete
fraturas por estresse e insuficiência17. Em todas es- mento talofibular anterior com avulsão da porção elétrico. Observa-se rotura do ligamento talofibular anterior (seta curva) com avulsão de fragmento ósseo da porção
sas situações, a perda da arquitetura óssea habitual é anteroinferior do maléolo lateral da fíbula e, contu- anteroinferior do maléolo lateral (seta reta). Há também impactação subcondral na porção posterior da área de carga do
fator desencadeante de hemorragias e edema inters- sões ósseas entre o maléolo medial da tíbia e a colu- domus talar com acentuado edema da medula óssea adjacente (ponta de seta).
ticial no trabeculado ósseo, além da liberação de fa- na medial do tálus19. (Figura 4) Nestas articulações
tores angiogênicos e de remodelamento ósseo, com também é frequente a presença de impactações sub-
estímulo à formação de tecido de granulação7, alte- condrais associadas à carga axial do trauma.
rações estas relacionados ao aumento do sinal nas A LMO por sobrecarga mecânica e as fraturas por
sequências de RM sensíveis a líquido. Estas lesões estresse são causas de queixa álgica intimamente li-
são tipicamente reversíveis e costumam se resolver gadas à prática esportiva e predominam nos mem-
em 2 a 4 meses após cessado o fator causal, mas po- bros inferiores devido à dinâmica de sustentação do
dendo haver alteração de sinal residual em exames peso corporal, sendo mais frequentes na tíbia, nos
de controle mais tardios (até 12 meses)6,19. metatarsos (segundo e terceiro, principalmente)
As articulações do joelho e tornozelo são os sítios e na fíbula. Acometem o esqueleto axial de forma
mais prevalentes de lesão traumática da medular menos frequente e localizam-se principalmente nas
óssea, podendo ser causadas por impacto direito, costelas, pars interarticularis e na pelve21,22.
compressão ou distração. No joelho, é frequente a Por definição, a contusão óssea e as fraturas por
presença de contusões ósseas associadas à rotura estresse não costumam ser visíveis nos estudos ra-

Figura 5: Fratura de estresse. RM de perna com sequências coronais T2Fs (A) e T1 (B) e sequência axial T2Fs (C) realizada
Figura 3: Edema da medula óssea associado à luxação patelar. RM do joelho com sequências T2Fs coronal (A) e axiais (B e em paciente com queixa de dor no joelho há 3 semanas com piora durante o treino de crossfit. Observa-se edema da
C) realizada em paciente com dor acentuada após entorse com luxação lateral da patela . Observam-se contusões ósseas medula óssea na face medial da região metadiafisária proximal da tíbia (seta reta e ponta de seta), mais acentuado
com edema na porção externa do côndilo femoral lateral (seta reta) e na borda medial da patela (seta curva), relacionados na região subcortical junto à inserção dos tendões da pata anserina e poplíteo, associado a espessamento e edema
à luxação, com lesão parcial do retináculo patelar medial (ponta de seta) corticoperiosteais (seta curva), compatível com lesão por sobrecarga mecânica / reação ao estresse.
62 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 63

Degenerativo (Osteoartrite) Osteonecrose


A dor articular é um dos principais sintomas aos pacientes assintomáticos, entretanto, não exis- A osteonecrose (ON) resulta da redução ou perda Figura 7: Osteonecrose. Radiografia do quadril em
na osteoartrite e a sua gravidade pode variar de tem evidências consistentes que demostrem a cor- completa do suprimento sanguíneo ósseo associa- AP com ampliação para análise da cabeça femoral
nenhuma ou quase imperceptível a imobilização e relação ente a extensão da LMO e a severidade da da a diversas condições patológicas como trauma, demonstrando o sinal do crescente caracterizado por uma
incapacitação funcional14, sendo a sua etiopatoge- dor. Outra causa álgica potencial em paciente com uso de corticosteroides e alcoolismo, porém, grande linha subcondral radiolucente (setas), que representa
nia ainda não completamente compreendida, uma osteoartrite é a distensão da cápsula articular por parte dos casos são considerados como de natureza impactação e falência da placa óssea subcondral
vez que a osteoartrite é caracterizada pela perda derrame ou sinovite10,26. Há também evidências da idiopática (37%). A ON idiopática é mais comum no
de cartilagem articular hialina e esse tecido não correlação entre a LMO e a progressão das altera- sexo masculino (razão 4-8:1). Os locais mais frequen-
possui fibras nociceptivas. As fibras da dor estão ções degenerativas, como a redução do espaço ar- temente acometidos são a cabeça femoral (doença
presentes em várias outras estruturas afetadas no ticular e perda de superfície condral, sendo ainda de Legg-Calvé-Perthes), o joelho (fêmur distal e tíbia
processo degenerativo, como a cápsula articular, um fator preditivo positivo para a progressão para proximal), as metáfises femoral e tibial, o escafoi-
ligamentos, o terço externo dos meniscos no joelho necessidade de artroplastia10,26-28. (Figura 6) de, o semilunar e o tálus. Os pacientes sintomáticos
e possivelmente a sinóvia, embora para este último Classicamente os scores de avaliação e da pro- geralmente apresentam queixa de dor e redução da
tecido, as evidências sejam conflitantes. Além dis- gressão da osteoartrite são baseados em estudos ra- amplitude de movimento. Inicialmente, a dor está
so, o osso subcondral e o periósteo são ricamente diográficos, entretanto o Rx é considerado um mé- relacionada ao aumento da pressão intramedular
inervados por fibras nociceptivas e representam todo subótimo para avaliação das alterações iniciais resultante do edema da medular óssea e a piora dos
fonte potencial de dor em pacientes com osteoar- da osteoatrite, pois detecta apenas de forma indireta sintomas está associada à progressão da doença29-31.
trite do joelho10,25. as alterações do espaço articular e tem baixa sensi- A avaliação radiológica da ON inicia-se com o
A LMO na OA está relacionada à sobrecarga bilidade para avaliação das alterações incipientes estudo radiográfico, que apesar de possuir baixa
mecânica e ao aumento do estresse subcondral e do osso subcondral e da medular óssea. Ao contrá- sensibilidade nas fases iniciais da doença, apre-
a sua identificação nos exames de RM tem sido as- rio do Rx, a RM oferece elevada sensibilidade para senta sinais típicos que, quando presentes, podem
sociado à presença de sintomas. Estima-se que pa- avaliação das alterações da cartilagem, meniscos, direcionar o diagnóstico diferencial. Inicialmente,
cientes que apresentam queixa álgica relacionada ligamentos, sinóvia e lesões da medula óssea. Além podem ser detectadas áreas de esclerose serpingi-
à osteoartrite tenham uma probabilidade cerca de disso, a RM é superior ao Rx na identificação de cis- forme associadas a áreas de osteopenia adjacente.
três vezes maior de apresentarem LMO em relação tos ósseos, osteófitos, derrame articular e atrito11,13,14. Com a persistência da injúria isquêmica, podem

Figura 6: Osteoartrite. RM de joelho com sequências coronais T1 (A) e T2Fs (B) e sagital T2Fs (C) em paciente com dor Figura 8: Osteonecrose. RM de quadril com sequências T2Fs coronal (A) e axial oblíqua (A) e sequência coronal T1 (C)
articular que piora à mobilização mecânica e limita as suas atividades diárias. Observa-se afilamento do revestimento realizada em paciente masculino de 10 anos com queixa de dor e claudicação no quadril direito. Observa-se alteração de
condral nos compartimentos femorotibiais, com focos e edema e cistos subcondrais na porção interna da área de carga sinal geográfica na área de carga da cabeça femoral, com halo de hipossinal externo em todas as sequências (setas retas)
do côndilo femoral medial (setas curvas). O paciente evoluiu com necessidade de artroplastia após 4 anos, devido à e linha interna de hipersinal nas sequências sensíveis a líquido (seta curva), caracterizando o sinal da “dupla linha”, típico
progressão dos sintomas e degeneração articular. Controle radiográfico pós-cirúrgico com incidência AP (D) da osteonecrose
64 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 65

surgir áreas lineares de lucência subcondral (si- do interna à margem esclerótica (tecido de granu- Em pacientes tratados com terapia intervencio- em até 69% dos casos com tratamento adequado.
nal do crescente) representando o colapso do osso lação reparativo na interface reativa), formando o nista de termocoagulação, a presença do edema A rápida melhora clínica da dor é considerada um
subcondral e a separação da cartilagem e da placa típico sinal da dupla linha. (Figura 8) Acredita-se medular ósseo nos exames de seguimento não deve dos principais fatores associados ao sucesso tera-
óssea subjacente (Figura 7). Além disso, existem que o mecanismo desencadeante do edema da me- ser utilizado como parâmetro para avaliação do su- pêutico35,38.
classificações radiográficas que correlacionam a dular óssea junto às áreas de necrose seja uma rea- cessoterapêutico, pois pode haver edema residual
progressão da doença com a presença da dor, como ção secundária às fraturas subcondrais decorren-
a classificação de Ficat e Arlet29. tes do estresse mecânico. Figura 9: Osteoma osteoide. Tomografia computadorizada da coxa em corte axial com janela óssea (A) e RM com
A RM é considerada a modalidade de imagem A extensão da LMO circunjacente ao foco de ne- sequências axiais T2Fs (B) e T1 (C) realizadas em paciente masculino de 15 anos com queixa de dor intensa na coxa
com maior sensibilidade e especificidade para ava- crose tem sido considerada como um dos principais esquerda, pior à noite. Observa-se lesão lítica intracortical (seta reta) associada a mineralização central e acentuado
liação da ON (97 a 100% de precisão), sendo o pa- fatores correlacionados à presença da dor. Estudos espessamento reacional do periósteo, compatível com osteoma osteoide. Nas imagens de RM o nídus é menos conspícuo,
drão de imagem mais comum a presença de uma que avaliaram a correlação clinico-radiológica em mas observa-se edema endosteal e medular adjacente à lesão (seta curva), bem como lâmina líquida junto ao periósteo
área geográfica de medular óssea amarela circun- pacientes com ON do quadril demonstram evidên- (ponta de seta)
dada por uma borda de baixo sinal em todas as se- cias consistentes da correlação positiva entre a dor,
quências de pulso (corresponde à área de esclerose a graduação da necrose e o volume do edema, sen-
na Rx), podendo haver em 65 a 85% dos casos uma do este último fator o de maior valor preditivo posi-
linha de alto sinal nas sequências sensíveis a líqui- tivo para a presença da queixa álgica12,32,33.

Tumor
O edema da medula óssea pode estar associado O osteoma osteóide é um tumor benigno intra-
a uma ampla gama de lesões ósseas focais, incluin- cortical classicamente relacionado a queixa de dor
do causas malignas, benignas e não neoplásicas. À noturna, com alívio ao uso de anti-inflamatórios
medida que o volume do edema da medula óssea não esteroidais, como a aspirina. O achado de ima-
aumenta em relação ao tamanho da lesão subja- gem típico é a identificação de um nídus lucente

Infecção
cente, a probabilidade de benignidade aumenta. (menor que 2cm) associado a um halo de esclerose
Potencialmente, todas as lesões ósseas focais po- reativa, podendo haver uma região de mineraliza-
dem causar dor em alguma fase da sua evolução ção central. A TC é o método mais acurado para
devido à proliferação celular, estímulo ao remo- localização e caracterização do nídus, entretanto A infecção óssea primária ou secundária é im- tôs vertebrais apostos associados ou não a coleções
delamento ósseo, aumento da vascularização lo- a RM permite a avaliação da presença de derrame portante causa de LMO devido ao aumento da fluidas no espaço discal. Após administração en-
cal e consequente aumento da pressão intraóssea. articular e da LMO, que pode se estender aos pla- vascularização e celularidade tecidual que acom- dovenosa de meio de contraste paramagnético (ga-
Lesões inicialmente indolores podem evoluir para nos de partes moles adjacente. (Figura 9) O grau panham a inflamação, podendo ser causada por dolínio), observa-se realce difuso nas áreas de LMO
quadros dolorosos quando associadas a roturas da do edema da medular óssea costuma ser mais in- disseminação hematogênica, inoculação direta e realce mais heterogêneo do disco intervertebral
cortical, invasão de estruturas de partes moles, fra- tenso nos pacientes jovens (< 15 anos) e estar re- (cirurgia, trauma penetrante) ou por contiguida- e/ou das partes moles paraespinhais7,39.
turas ou sangramentos intralesonais. Entretanto, lacionado à presença de dor, porém, não existe de com foco de infecção de partes moles. Pacien- A espondilite tuberculosa acomete principalmen-
algumas lesões estão tipicamente relacionas à dor, correlação entre o grau do edema e a duração do tes com infecção espinhal geralmente apresentam te o segmento torácico e pode ser de difícil diferencia-
como as metástases e alguns tumores benignos, sintoma álgico35,37. dor insidiosa, de padrão não mecânico, constante e ção clínica e radiológica da espondilite piogênica. A
como o osteoma osteoide e osteoblastoma34-36. Os oteoblastomas são lesões histologicamente sem melhora ao repouso. RM é uma ferramenta importante para o diagnóstico
A vascularização aumentada, especialmente semelhantes aos osteomas osteoides, porém, além Na coluna vertebral, a espondilodiscite piogêni- diferencial. Abscessos com paredes finas, dissemina-
na periferia das metástases esqueléticas, leva in- de possuírem potencial maligno, clinicamente são ca acomete principalmente o segmento lombar e é ção subligamentar a três ou mais níveis vertebrais,
variavelmente à LMO, que pode ser diferenciada menos dolorosos e não costumam ter boa resposta caracterizada pelo envolvimento de duas vértebras acometimento de corpos vertebrais não contíguos e
das causas benignas devido à extensão do edema ao uso de salicilatos. A diferenciação radiológica apostas e do disco intervertebral a elas interposto. de toda a altura do corpo vertebral são achados su-
na lesão maligna, que cruza todas as barreiras ana- baseia-se na avaliação do tamanho do nídus (tipi- Na RM, observa-se sinal de edema da medular ós- gestivos de espondilite tuberculosa. A RM é menos
tômicas e pode estar associada a componentes de camente maior que 2cm) e na presença de menor sea (acentuado hipossinal em T1 e hipersinal em sensível que a Rx ou TC para identificar calcificações
partes moles. esclerose reativa ao redor do tumor37. T2) nas placas terminais, com indefinição dos pla- paravertebrais, típicos da tuberculose espinhal.
66 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 67

Síndrome complexa de dor regional (SCDR) Discopatias degenerativas


Também conhecida como algodistrofia, distro- diferencial com outras condições dolorosas bem A dor lombar é uma das principais queixas clíni- • Tipo III ou transversas: envolvem a inserção das
fia simpático-reflexa ou atrofia de Sudeck, a síndro- definidas. À Rx, alterações como osteopenia não cas nos consultórios ortopédicos, sendo frequente- fibras de Sharpey na periferia do platô vertebral.
me da dor complexa regional é a disfunção de uma homogênea e desmineralização subcondral po- mente associada a causas discogênicas. As discopa-
região corporal, usualmente na porção distal dos dem ser identificadas 6 a 12 semanas após o iní- tias associadas à compressão radicular são causas A fissura radial é considerada a de maior signifi-
membros, caracterizada por dor contínua, edema, cio do quadro. Na RM, o achado característico na bem estabelecidas de dor em pacientes com queixa cância clínica, havendo importante correlação com
limitação do movimento instabilidade vasomotora, fase aguda da síndrome é o sinal de LMO nos dois de lombalgia com irradiação para o membro infe- dor lombar, inclusive com resposta positiva em es-
alterações cutâneas e desmineralização óssea não lados da articulação acometida acompanhado por rior em um determinado dermátomo. Entretanto, tudos de discografia provocativa, com correspon-
homogênea, com início após trauma ou cirurgia. edema e realce difuso dos planos musculares e a dor lombar localizada ou com irradiação inespe- dência entre o nível discal e o sintoma induzido. As
A dor regional (sem território ou dermátomo neu- pericapsulares, podendo haver derrame articular cífica pode estar relacionada às alterações dege- fibras mais externas do ânulo fibroso e o ligamen-
ral específico) é o marco desta condição clínica e de grau variável (Figura 10). Nas fases crônicas da nerativas intrínsecas dos discos intervertebrais e to longitudinal posterior são inervadas pelo nervo
costuma ser desproporcional ao curso de qualquer síndrome, a LMO é menos evidente ou ausente e dos platôs vertebrais apostos, por serem sítios de meníngeo recorrente, componente do sistema ner-
lesão ou evento traumático conhecido. A etiopato- há atrofia ou hipotrofia muscular com lipossubsti- conhecida inervação nociceptiva. A RM representa voso simpático42,43.
genia desta síndrome ainda não é completamente tuição e possível fibrose. Acredita-se que a presen- um excelente método para avaliação das alterações
compreendida, mas parece estar relacionada a mi- ça do sinal do LMO esteja associado ao sintoma degenerativas dos platôs vertebrais e da morfologia ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS
croangiopatia e/ou anormalidades do sistema sim- clínico da dor, porém o seu mecanismo ainda não dos discos intervertebrais, além de predizer de for- DOS PLATÔS VERTEBRAIS (MODIC)
pático causando isquemia das áreas afetadas6,40. é totalmente compreendido, uma vez que a queixa ma indireta o seu estado bioquímico, uma vez que a O processo degenerativo dos discos interverte-
Apesar de não comporem os critérios diag- dolorosa é persistente na fase crônica da doença, redução da altura discal e da hidratação do núcleo brais pode induzir alterações na medular óssea e no
nósticos da síndrome, os exames de imagem têm quando o edema ósseo costuma não ser mais evi- pulposo refletem a diminuição da concentração de osso subcortical dos platôs vertebrais apostos, cuja
papel relevante na sua avaliação e diagnóstico dente8,40. proteoglicanos no disco degenerado41,42. fisiopatologia ainda não é completamente estabe-
lecida, mas acredita que o trauma discal repetitivo
FISSURAS DO ÂNULO FIBROSO resulte na produção de mediadores inflamatórios
Figura 10: Algodistrofia. RM de tornozelo com sequências sagital (A) e axial T2Fs e axial T1 realizada em paciente com A degeneração discal, mais frequente nos níveis no núcleo pulposo, que atingem a medular óssea
dor intensa e incapacitante na região distal do membro inferior há 6 meses, após fratura por estresse no 2° metatarso. lombares inferiores (L4-L5 e L5-S1), é caracterizada dos corpos vertebrais através de fendas ósseas e de
Observa-se acentuado edema da medular óssea nos componentes ósseos do retropé, com remodelamento das inicialmente pela redução da hidratação do núcleo mecanismos de difusão induzidos por hipervascu-
superfícies articulares do domus tálus (seta reta) e da articulação subtalar posterior (seta curva). Há também leve edema pulposo nas sequências ponderadas em T2, com larização44.
dos planos de partes moles adjacentes (ponta de seta), porém sem alteração do trofismo muscular perda da diferenciação de sinal com o anel fibroso, As alterações degenerativas nos platôs verte-
podendo evoluir com perda progressiva da altura brais são caracterizadas por faixas de alteração
discal até o colapso em estágios mais avançados. de sinal focais ou difusas no osso subcortical e na
Estas alterações não parecem ter correlação signi- medular óssea do platô vertebral. Foram descritas
ficativa com a presença de sintomas, pois estudos e classificadas por Modic et al de acordo com as ca-
demonstram grande prevalência em pacientes jo- racterísticas de sinal nas sequências de RM:
vens e assintomáticos, principalmente nos estágios • Modic tipo I: baixo sinal em T1 e alto sinal em T2
mais iniciais da degeneração41. e T2 com saturação da gordura (T2Fs) compara-
As fissuras ou roturas do ânulo fibroso podem dos a medular óssea normal - associado a edema
ocorrer desde o estágio mais inicial da discopatia e e formação de tecido de granulação reacional.
parecem ter correlação positiva com a queixa álgi- • Modic tipo II: alto sinal em T1 e em T2 e baixo
ca, com valor preditivo positivo de até 86%. Entre- sinal em T2Fs - associado à conversão de medu-
tanto, sua relação causal com a dor deve ser avalia- la vermelha em amarela, atribuível a isquemia
da com cautela, pois podem ser assintomáticas em medular.
até 25% dos casos. São classificadas em: (Figura 11) • Modic tipo III: baixo sinal em T1, em T2 e T2Fs -
• Tipo I ou concêntricas: causadas pela delamina- associado a esclerose óssea por injúria crônica.
ção das fibras longitudinais. Também podem ser observados em um mesmo
• Tipo II ou radiais: causadas por rotura que en- corpo vertebral os tipos mistos de Modic I/II e II/III,
volve todas as camadas do ânulo desde o núcleo corroborando a teoria da progressão das alterações
pulposo até a sua periferia. (I em II e II em III) dentro do espectro patológico.
68 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 69

Figura 11: Fissura do anel fibroso. RM da coluna lombar com imagens axiais T2 (A e B) e sagital T2Fs (C) demonstrando os do em alguns casos considerados a primeira moda- padrões de imagens são de suma importância para
tipos de fissuras anulares: concêntrica (seta reta), radial (seta curva) e transversa (ponta de seta) lidade diagnóstica, como na avaliação dos túneis do os profissionais envolvidos no manejo da dor.
carpo e cubital. É um método de fácil acesso, onde Os nervos periféricos normais na RMN demons-
se é possível avaliar em tempo real a anatomia neu- tram contornos regulares, acompanhado de vasos,
ral em um longo segmento e com correlação sim- exibindo nas imagens axiais aspecto fasciculado e
ples com o lado contralateral, e com equipamentos com intensidade de sinal semelhante à musculatu-
que cada vez fornecem melhores resoluções anatô- ra nas imagens ponderadas em T1 e discretamente
micas, através de transdutores de alta frequência, elevado nas imagens ponderadas em T2. À US, os
de até 24 MHz51. (Figura 12) nervos exibem aspecto ovoide e contendo múlti-
Dentre as principais causas de neuropatias peri- plos pontos hipoecoico representando os fascícu-
féricas estão as de natureza traumática e compres- los, aspecto denominado “favos de mel”, envolto
siva. As de origem traumática estão associadas a por um tecido hiperecoico representando o epineu-
estiramento, lesões penetrantes ou esmagamento e ro e a gordura perineural51. (Figura 13)
são graduadas de acordo com a classificação de Se- Na avaliação por imagens dos nervos perifé-
ddon. As causas compressivas são de etiologias va- ricos são consideradas basicamente as seguintes
riadas, entretanto tendo em comum o dano axonal características: intensidade de sinal, ecogenici-
devido a isquemia que se inicia no endoneuro até a dade, contorno, continuidade, espessura e realce.
perda da mielina. Outras causas menos comuns in- (Figura 14) Ressalta-se a importância da avaliação
As alterações de Modic têm sido consideradas sivelmente por estarem relacionadas à fase mais cluem natureza inflamatória, actínica, neoplásica do aspecto de imagem do nervo contralateral e de
como um indicador da discopatia sintomática em aguda de LMO. Tais alterações podem ser confun- e idiopáticas52. Os nervos periféricos têm uma ar- outros ramos adjacentes durante a análise do estu-
estudos de correlação entre a RM e a discografia, didas com uma discite infecciosa, pois o padrão de quitetura uniforme, porém complexa, composta do do, quando disponíveis. Baseado na combinação
com VPP de cerca de 88%. Quando consideradas edema da medular óssea e o realce pós-contraste são axônio envolto por camadas de tecido conjuntivo, dos achados de imagens, a RMN é capaz de inferir
apenas alterações do tipo I e II de grau moderado comuns às duas situações. A presença de acúmulos o endoneuro, perineuro e epineuro. Estes compo- o processo fisiopatológico relacionado, como por
e severo (extensão entre 25-50% da altura do corpo líquidos intradiscais, destruição ou erosões discais e nentes são organizados de uma maneira compacta exemplo nas neuropatias compressivas subagudas
vertebral na imagem sagital e > 50% da altura do nos platôs vertebrais e a presença de coleções espi- em fascículos, associado a uma quantidade variá- onde encontram-se hipersinal em T2 / STIR (ede-
corpo vertebral, respectivamente), tem-se um VPP nhais e paraespinhais associadas a sintomas consti- vel de vasos e tecido adiposo de permeio, que ten- ma), espessamento, perda do padrão fascicular e
de até 100%. As alterações de Modic tipo I parecem tucionais e alterações laboratoriais compatíveis su- dem a aumentar com a idade53. por vezes realce pós-contraste, enquanto nas neu-
ter maior correlação com os sintomas clínicos, pos- gerem a possibilidade de uma etiologia infecciosa45. O reconhecimento das patologias envolvendo os ropatias compressivas crônicas se observam hipos-
nervos periféricos, assim como das ferramentas de sinal (relacionado ao processo de fibrose), afila-
imagens atuais para seu diagnóstico e os principais mento e ausência de realce pós-contraste50,52.

Neuropatias
Figura 12: Lesão de nervo periférico ao US. Imagem Figura 13: Nervo periférico normal ao US. Ultrassonografia
longitudinal de US do nervo sural com transdutor de alta do nervo mediano com imagem transversal no plano
frequência (24MHz) demonstrando lesão completa do proximal ao túnel do carpo demonstrando nervo com
A dor neuropática é definida como uma dor ticos relativamente recente. Nos últimos anos, a nervo associado a afilamento distal (seta) após tenorrafia espessura preservada e múltiplos fascículos hipoecoicos
desencadeada por uma lesão ou disfunção primá- RM vem se estabelecendo como uma importante do calcâneo em seu interior (aspecto de ”favo de mel”)
ria do SNC ou periférico e usualmente resulta em ferramenta no estudo das neuropatias periféricas,
sintomas prolongados ou incapacitantes46,47. Pode especialmente com o desenvolvimento de proto-
ser classificada de acordo com sua origem em cen- colos dedicados, denominados como neurografia
tral e periférica, pela sua duração em aguda ou por ressonância magnética (RMN)49,50, que per-
crônica e ainda de acordo com sua etiologia em mitem a obtenção de imagens volumétricas com
traumática, compressiva, inflamatória, actínica, ótima resolução espacial e contraste tecidual dos
tumoral e idiopática48. A avaliação da dor neuro- nervos periféricos, possibilitando o diagnóstico
pática permanece um desafio na prática clínica de alterações precoces, antes do desenvolvimento
e por muitos anos foi abordada apenas através das alterações musculares tardias.
de avaliações clínicas e eletrofisiológicas, sendo A US também é uma importante ferramenta na
o uso dos estudos de imagens com fins diagnós- avaliação por imagem dos nervos periféricos, sen-
70 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 71

Figura 14: Neurografia por RM. Neurografia do plexo A RMN também auxilia na avaliação de altera-
lombossacro com sequência coronal STIR pós-contraste ções musculares relacionados à neuropatia como Referências bibliográficas
realizada em paciente de 26 anos com tetraparesia edema muscular que ocorrer de 24 a 48 horas após
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72 EXAMES COMPLEMENTARES DE IMAGEM EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 73

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rsna.org/doi/10.1148/rg.303095120 52. Chhabra A, Ahlawat S, Belzberg A, Andreseik G. te tem uma relação temporal e causal facilmente atendimento é uma queixa frequente, em mais de
38. Vanderschueren GM, Taminiau AHM, Obermann WR, Peripheral nerve injury grading simplified on MR neu- identificada com uma lesão ou doença”¹. Tempo- 60% dos casos. Além disso, é a principal causa de
Berg-Huysmans AA, Bloem JL, Erkel AR. The healing rography: as referenced to Seddon and Sunderland ralmente caracteriza-se por ter duração menor que readmissão hospitalar após procedimentos cirúrgi-
pattern of osteoid osteomas on computed tomogra- classifications. Indian J Radiol Imaging. 2014;24(3):217. três meses. Este capítulo não abordará a dor aguda cos. Segundo o Comitê de Dor da Sociedade Brasi-
phy and magnetic resonance imaging after thermo- 53. Filler AG, Maravilla KR, Tsuruda JS. MR neurography
pós-operatória, tendo em vista que terá um capítu- leira de Ortopedia e Traumatologia, a prevalência
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39. Hwan Hong S, Ja-Young Choi B, Joon Woo Lee B, ders affecting the peripheral nerves and musculature. lo específico para esta finalidade. de pacientes portadores de dor atendidos por orto-
Na Ra Kim B, Jung-Ah Choi B, Heung Sik Kang B. MR Vol. 22, Neurologic Clinics. 2004. p. 643-82. No entanto, sabe-se que a dor aguda quando não pedistas é de 74% para a dor aguda, e de 69% para
imaging assessment of the spine: infection or an imi- 54. Du R, Auguste KI, Chin CT, Engstrom JW, Weinstein PR. tratada adequadamente pode se cronificar. A expe- a dor crônica. Deve-se destacar a importância da
tation? RadioGraphics [Internet]. 2009;599. Available Magnetic resonance neurography for the evaluation riência dolorosa aguda é resultado da interação de abordagem multidisciplinar integrada para o trata-
from: http://pubs.rsna.org/doi/pdf/10.1148/rg.292085137 of peripheral nerve, brachial plexus, and nerve root fatores biológicos, psicológicos, ambientais e so- mento, que também considera preferências e expe-
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ciais. Este tipo de dor primordialmente nocicepti- riência prévias vividas pelo paciente.
Skeletal muscle MRI in complex regional pain syndro- 55. Martín Noguerol T, Barousse R, Gómez Cabrera M,
va caracteriza-se por ser autolimitada, facilmente De forma simplificada, o mecanismo de gênese
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Discogenic lumbar pain: Association with MR imaging trauma and postsurgical assessment. RadioGraphics. duz como sinal de alerta de um dano iminente ou transmissão e modulação de sinais neurais gerados
and CT discography. Eur J Radiol. 2005;54(3):431-7. 2019;39(2):427-46. existente2. em resposta a um estímulo nocivo, a saber4:
74 DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 75

• Transdução: é a decodificação de sensações tipo de dor, a Associação Internacional para o Estu- escalas criadas para avaliar a experiência dolorosa, Figura 2: Escalas unidimensionais de avaliação de dor
mecânica, térmica e química em impulsos elé- do da Dor introduziu o termo dor neuropática, defi- a Escala Visual Numérica (EVN) e a Escala Visual
tricos por terminais nervosos especializados de- nida como “dor iniciada ou causada por uma lesão Analógica (EVA), e a Escala de Faces Wong-Baker AVALIAÇÃO DA DOR
nominados nociceptores. primária ou disfunção no sistema nervoso”5. são as mais utilizadas. Escala Visual Analógica (EVA)
• Transmissão: transmissão dos impulsos origi- Este tipo de dor é decorrente de uma lesão to- A EVN consiste em uma linha reta numerada Sem Dor
Dor
Insuportável
nados nos nociceptores até a medula espinhal tal ou parcial de qualquer parte do sistema nervoso de zero a dez, em que maiores pontuações indicam
até atingirem o corno dorsal (substância cin- periférico (nervo, plexo ou raiz) ou do sistema ner- uma maior intensidade da dor9. A EVA compõe-se Escala Numérica
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
zenta), onde fazem sinapse com neurônios de voso central (medula ou encéfalo), se irradiando em uma linha reta sem numeração, em que em suas
Escala Qualitativa
projeção (carreiam os estímulo às porções su- pelo território do nervo lesado. Suas manifestações extremidades são marcadas com as frases “Sem 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

periores do SNC) e/ou com interneurônios (ação clínicas podem ser superficiais ou profundas, e são dor” e “Máxima dor”, onde o indivíduo assinala seu
moduladora). descritas por sintomas de dor contínua (ex.: dor em grau álgico na linha10. E na Escala de Faces Wong- Sem Dor Dor ligeira Dor moderada Dor intensa Dor máxima

• Modulação: uma vez que o estímulo doloroso queimação) ou intermitente (ex.: em pontada, em -Baker imagens de faces com diferentes expressões
Escala de faces
atinge a medula, este pode ser transmitido ou choque, ou em agulhada)6. são expostas, para que o paciente escolha a expres-
suprimido na região do corno dorsal da medula. O tratamento da dor neuropática é diferente do são que melhor condiz com sua dor, sendo muito
0 1 2 3 4 5
Os neurônios de projeção transmitem o estímulo que ocorre na dor nociceptiva, a melhora com anal- utilizada para a avaliação álgica em crianças11. Sem Dor Dor máxima

doloroso do corno dorsal da medula aos centros gésicos comuns é deficiente, e os melhores resul-
superiores, sendo, por fim, percebido como dor. tados no tratamento correspondem às medicações
coadjuvantes, como os antidepressivos e os anti-
convulsivantes. O alívio com morfina é geralmente
Figura 1: Mecanismo de gênese da dor aguda
Alguns exemplos de dor aguda na ortopedia
menor do que com tramadol, metadona, oxicodona
ou buprenorfina. Por apresentar uma duração de
meses ou até anos, seu tratamento sempre é um de-
Percepção da DOR
safio para os profissionais da saúde7. SÍNDROME DOLOROSA localização da dor e suas peculiaridades quanto ao
Apesar de apresentar mecanismos universais, a MUSCULAR MIOFASCIAL padrão, à intensidade, aos fatores desencadeantes,
dor é uma experiência única para cada indivíduo, A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é uma aos fatores de melhora ou piora são elementos im-
Projeções
Tálamocorticais MODULAÇÃO não dependendo apenas da natureza e da intensi- das causas mais comuns de dor músculo esque- portantes para caracterizar a SDM12.
TRANSMISSÃO dade do estímulo sofrido, sendo influenciada por lética. Ela acomete músculos, tecido conectivo e O diagnóstico é realizado através da história
fatores psicossociais e neurosensitivos. Sofre uma fáscias, principalmente na região cervical, cintura detalhada sobre a condição clínica, ocorrência de
modulação no sistema nervoso central, e da intera- escapular e região lombar. A SDM é uma condi- sobrecarga muscular, histórico familiar, afecções
ção entre os estímulos nociceptivos e fatores modu- ção dolorosa muscular regional caracterizada pela traumáticas, inflamatórias ou musculoesqueléti-
TRANSDUÇÃO
ladores é que resulta a experiência neurosensitiva ocorrência de bandas musculares tensas palpáveis, cas, além do exame físico geral e a pesquisa por
Aferentes da dor. A qualidade e a quantidade da dor depen- nas quais se identificam pontos intensamente dolo- palpação dos PGs12.
Primários
ESTÍMULO
dem do entendimento da situação geradora da dor, rosos, os chamados pontos-gatilhos (PGs)12. Os PGs O diagnóstico dos chamados PGs é feito pela ex-
NOCICEPOTIVO experiências anteriores pessoais com o ativador ál- são localizados em uma área dolorosa de uma faixa ploração física, que deve levar em conta os sinais
gico, cultura, crenças, ansiedade e capacidade da muscular e podem ser ativos ou latentes. PGs ativos físicos demostrados: presença de tensão palpável
pessoa em se abstrair das sensações nóxicas e dos são dolorosos com ou sem movimentos, enquanto em uma zona musculoesquelética, a presença de
A dor também pode surgir por atividade gerada sentimentos de controle da dor. São os componen- os PGs latentes só são dolorosos à palpação13. As nódulos doloridos hipersensíveis na zona de tensão
no sistema nervoso sem a estimulação adequada de tes emocionais da dor que influenciarão na quali- causas mais comuns de SDM são traumatismos, so- muscular e contração visível ou palpável13. Muitas
suas terminações sensoriais periféricas. Para este dade do resultado do tratamento8. brecargas agudas ou microtraumatismos repetiti- vezes a palpação desses PGs mimetiza a dor rela-
vos de estruturas musculoesqueléticos, resultando tada pelos pacientes, inclusive à distância do local
em fadiga ou sobrecarga muscular12. examinado.
Os pacientes com SDM geralmente queixam-se O diagnóstico diferencial é realizado através
de dor mal localizada em queimação ou em peso e, da exclusão de afecções funcionais, inflamatórias,

Instrumentos de avaliação da dor


muitas vezes em pontada em um segmento corpó- infecciosas, degenerativas ou metabólicas pois po-
reo. Alguns doentes queixam-se de parestesias ou dem simular SDM. São elas: espasmo muscular,
de adormecimentos regionais. A dor ocorre geral- fibromialgia, disfunções articulares degenerativas,
Com o intuido de compreender melhor a sin- dimensionais foram desenvolvidas e adotadas na mente quando há estimulação dos PGs durante a radiculopatias, tendinopatias, miopatias e distro-
tomatologia dos pacientes, algumas escalas uni- clínica por sua praticidade de aplicação. Dentre as execução de atividades de contração muscular. A fias musculares, entre outras12.
76 DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 77

Os exames laboratoriais e de imagem dispo­níveis acompanhada por outros sinais articulares como A inflamação ou irritação do tendão é conhecida de traumas e através do exame físico geral (avalia-
para identificação de doenças inflamatórias, infec- crepitação, instabilidade articular, diminuição da como tendinites. Dependendo dos locais de incidên- ção dos movimentos e palpação local)16.
ciosas e metabólicas são normais em portadores de amplitude dos movimentos ou até perda da função cia podem ser classificadas como: entesites, tenossi- O diagnóstico diferencial é realizado através da
SDM. A eletroneuromiografia e a ultrassonografia de acordo com a evolução da doença. A dor ostear- novites e peritendinites. A inflamação se caracteriza exclusão de outras afecções. Dependendo do local
podem ser utilizados como exames complementa- ticular aguda é considera em termos cronológicos pela presença de dor e inchaço do tendão podendo de incidência da tendinite (ombro, cotovelo, punho
res nesses casos. Esses exames demostraram que aquela que tem duração de até 12 semanas desde a acontecer em qualquer parte do corpo, sendo mais joelho e tornozelo) deve-se excluir outras afecções
as fibras musculares com PGs apresentam menor sua origem12. comuns no ombro, cotovelo, punho, joelho e torno- inflamatórias, infecciosas, degenerativas, metabó-
capacidade de gerar contração muscular do que as A queixa clínica geralmente é de dor, edema e zelo. As tendinites geralmente são ocasionadas por licas ou neoplásicas, assim como as osteoartrites
fibras musculares normais12. limitação dos movimentos da articulação acometi- traumas locais e por traumas de repetição15. pós-traumáticas, lesão ligamentar, osteocondrites
O tratamento da SDM deve abranger a comple- da. Observa-se também a presença de aumento do Sua etiologia é desconhecida, porém, fatores e corpos livres intra-articulares16.
xidade de cada caso. Analgésicos e anti-inflamató- volume das articulações, derrame intra-articular, extrínsecos como o ambiente, alongamentos inade- Podem ser solicitados outros exames, como la-
rios devem ser utilizados como primeira atitude calor e, eventualmente rubor14. quados e ação muscular assíncrona podem afetar boratoriais, radiológicos, ultrassonografia, além da
terapêutica. Eles são eficazes no controle da dor O diagnóstico é realizado através da história sua prevalência. Fatores intrínsecos como idade e ressonância magnética para complementação do
aguda. Além disso, na fase aguda SDM também clínica detalhada, histórico familiar, presença de gênero podem contribuir para sua manifestação12. diagnóstico e melhor seguimento da doença15.
está indicado o tratamento com procedimento de trauma, exames laboratoriais, e de imagem (radio- O quadro agudo das tendinites é caracterizado O tratamento das tendinopatias agudas deve ser
agulhamento e infiltração com anestésico local grafia convencional) além do exame físico geral e a por dor local, aumento do volume, limitação do sintomático através do uso de anti-inflamatórios e
dos PGs. A atividade física e o exercício muscular avaliação da amplitude de movimento12. movimento e crepitações durante a mobilidade. A analgésicos para controle da dor, além de reabili-
são medidas complementares e de extrema impor- O diagnóstico diferencial é realizado através dor na região geralmente é com irradiação e com tação e fisioterapia analgésica em alguns casos4. A
tância para o tratamento da dor. Eles diminuem a da exclusão de outras afecções inflamatórias, in- piora aos esforços, podendo causar restrições, per- infiltração local com corticoide está indicada nos
sensibilidade da dor e reduzem o número e a in- fecciosas, degenerativas ou metabólicas como as da de força ou até limitação da mobilidade15. casos em que, não há melhora da dor, impossibili-
tensidade dos PGs ocasionando um equilíbrio das infecções virais, as espondiloartrites, as doenças O diagnóstico é realizado basicamente através tando que o paciente inicie os exercícios de reabi-
cadeias musculares e consequentemente ajudan- reumáticas sistêmicas, as doenças neoplásicas, da história clínica do paciente, relato ou histórico litação16.
do na melhora dos sintomas12. traumáticas, entre outras14.
Os exames de ultrassonografia e ressonância
DOENÇAS ARTICULARES AGUDAS magnética podem ser utilizados como exames
As artropatias inflamatórias correspondem às complementares nesses casos, além de serem uti-

Princípio dos tratamentos farmacológicos


doenças do complexo articular, sejam axiais (colu- lizados no seguimento com relação à progressão da
na vertebral) ou periféricos (articulações diartro- doença12.

e complementares da dor aguda


diais). As dores articulares são de natureza infla- A dor basicamente é secundária aos processos
matória tanto com mediadores imunológicos como degradativos e inflamatórios e tem resposta com o
infecciosos12. uso de anti-inflamatórios não hormonais na fase
As causas mais comuns são de etiologia dege- de agudização. Em algumas situações, como na si- O tratamento da dor aguda requer estratégias e Para a escolha analgésica no tratamento da dor
nerativas, infecciosas, inflamatórias, autoimunes, novite aguda, indica-se a infiltração intra-articular condutas que visam sua segurança e eficácia, con- aguda deverá ser considerado além da intensidade,
traumáticas, endócrinas/metabólicas e posturais. A com corticoides. O uso de analgésico é variado, e tudo, a educação por parte dos profissionais de a topografia e a sua origem, já que seu adequado
inflamação e a dor articular podem ser reflexo de vão desde analgésicos simples até os opioides, de- saúde sobre o tema se faz importante, assim como controle se faz de forma distinta em casos de dor no-
um processo localizado ou sistêmico. Esses conhe- pendendo da intensidade dor, especialmente em as diretrizes organizacionais para a prescrição de cicepectiva, de dor neuropática e quando há envolvi-
cimentos são muito importantes, tanto para o diag- curtos períodos. Recomenda-se também o uso de medicamentos17. mento significativo de aspectos psicossociais18. Nes-
nóstico, como para a orientação terapêutica da dor corticoides sistêmicos em alguns casos. É funda- A dor aguda é uma das principais causas dos se sentido, busca-se a resolução pela modificação da
articular. O objetivo deve ser caracterizar a sua ori- mental no tratamento as orientações ao paciente, atendimentos nas instituições de saúde, princi- fonte da dor, alteração da percepção central da dor e
gem (osteoartrite, artrite reumatoide, gota, reuma- como a adoção de medidas de reabilitação e exer- palmente as de emergência. Além da alta deman- bloqueio da transmissão da dor para o SNC19.
tismo de partes moles doença difusa ao tecido con- cícios físicos com o objetivo de diminuir a carga da e diversidade de casos admitidos, os profis- A Organização Mundial de Saúde – OMS suge-
juntivo, infecção, etc.) visando o melhor tratamento, articular12. sionais de saúde envolvidos no tratamento estão re padronização do tratamento analgésico da dor
tanto sintomático como da doença causadora12. sujeitos na maioria dos casos, ao modelo de anal- crônica oncológica com a proposta de uma escada
A dor pode ser mono ou poliarticular, simétri- DOENÇAS TENDINOSAS AGUDAS gesia disponível nesses estabelecimentos. Sendo analgésica, levando em consideração a intensida-
ca ou assimétrica. A dor articular nas doenças in- Os tendões têm como função transmitir a for- assim, a escolha analgésica realizada pelo profis- de19. Por analogia, a escada analgésica proposta
flamatórias é geralmente difusa, tendo um com- ça tênsil dos músculos para a região óssea. Quan- sional pode ser ineficaz ou não adequada, ocasio- pode ser empregada como diretriz na escolha do
ponente inflamatório agudo, como deposição de do acometidos por alguma lesão, desenvolvem um nando o subtratamento da dor ou complicações adequado tratamento da dor aguda, respeito à in-
micro cristais intra-articulares. A dor articular é processo inflamatório denominado tendinopatias12. posteriores18. tensidade de dor experimentada pelo paciente20.
78 DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 79

Figura 3: Escada Analgésica da dor Os medicamentos adjuvantes são aqueles que 3. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. tretament in tendinopathy: a systematic review.
aumentam o poder de analgesia das condutas esco- Comitê de Dor [internet]. 2019. [citado em 2019 Jun]. Acta ortop.bras, 2015;23(1):47-49. doi: http://dx.doi.
lhidas, mas não atuam de forma isolada no contexto Disponível em: https://sbot.org.br/comite-de-dor/ org/10.1590/1413-78522015230100513.
4. Osterweis M, Kleinman A, Mechanic D, editores. Pain 16. Cohen Márcio, Motta Filho Geraldo da Rocha. Epicon-
da dor. Podem ser antidepressivos, anticonvulsivan-
and Disability: Clinical, Behavioral, and Public Policy dilite lateral do cotovelo. Rev. Bras. Ortop. São Paulo,
tes, corticoides, anestésicos locais, antiespasmódi-
Perspectives. The Anatomy and Physiology of Pain. 2012; 47(4): p.414-420. doi: http://dx.doi.org/10.1590/
cos, relaxante muscular, dentre outros19. Washington. National Academies Press (US); 1987 S0102-36162012000400002.
Os opioides são considerados o melhor recur- 5. Treede R D, Jensen TS, Campbell JN, Cruccu 17. Hogans BB, Watt-Watson J, Wilkinson P, Carr ECJ,
so farmacológico para o tratamento da dor aguda G, Dostrovsky JO, Griffin J W, Hansson P, Hughes Gordon DB. Perspective: update on pain educa-
moderada e intensa, pois se ligam a receptores lo- R, Nurmikko T, Serra J. Neuropathic pain. Neu- tion. PAIN. 2018;159(9):1681-1682. doi: 10.1097/j.
calizados no SNC e periféricos. Além disso, podem rology. 2008;70(18)1630-635. doi:10.1212/01. pain.0000000000001297
wnl.0000282763.29778.59 18. Cisewisk DH, Motov SM. Essential pharmacologic
ser administrados por via sistêmica ou por vias es-
6. Barros GAM; Colhado OCG, Giublin ML. Quadro clíni- options for acute pain management in the emergency
pinhais20.
co e diagnóstico da dor neuropática. Rev. dor [online]. setting. Turkish Journal of Emergency Medicine. 2019;
Opioides fracos, como a codeína e tramadol 2016;17(1):15-19. doi: 10.5935/1806-0013.20160040. 7 19(1):1-11. doi.org/10.1016/j.tjem.2018.11.003
são utilizados para dor moderada, quer sejam no- 7. Schestatsky P. Definição, diagnóstico e tratamento da 19. WHO [Internet]. Guidelines for the pharmacological and
Considerando-se a dor leve, inicia-se o primeiro ciceptivas ou neuropáticas. Devido a variação da dor neuropática. Rev HCPA. 2008;28(3):177-187. radiotherapeutic management of cancer pain in adults
passo da analgesia com analgésicos não opioides, metabolização destes fármacos, que são interindi- 8. Marquez, JO. A dor e os seus aspectos multidimen- and adolescents. Geneva: World Heath Organization;
onde o profissional avalia a necessidade da inclusão viduais, podem ocorrer diferentes níveis de analge- sionais. Cienc. Cult. [online]. 2011;63(2):28-32. doi: 2018. Licence CCBY-NC-AS 3.0 IGO. [citado em 2019
10.21800/S0009-67252011000200010. mai.]. Disponível em: https://www.who.int/ncds/manage-
de adjuvantes. Respeitando-se os intervalos de tem- sia. Nesse sentido, quando um opioide não atinge a
9. Ritter PL, González VM, Laurent DD, Lorig KR. Mea- ment/palliative-care/cancer-pain-guidelines/en/
po e picos de ação, caso a dor não seja controlada, analgesia esperada, considera-se a indicação de um surement of pain using the visual numeric scale. J 20. Blondell RD, Azadfard M, Wisniewski AM [Internet].
passa-se para o segundo passo, com a introdução de opioide alternativo18,23. Rheumatol. 2006;33(3):574-80. Pharmacologic therapy for acute pain. American
opioides fracos, podendo-se associar medicamentos Opioides fortes como a morfina, oxicodona, 10. Hawker GA, Mian S, Kendzerska T, French M. Family Physician. June 1, 2013;87(11):766-772. [citado
do passo anterior. Caso não ocorra o alívio total da metadona, fentanila e buprenorfina são indicados Measures of Adult Pain. Arthritis Care & Research. em 2019 mai.]. Disponível em: https://www.aafp.org/
dor, sugere-se a substituição desses por opioides for- para dor intensa, quando os métodos anteriores 2011;63(11):S240 –S252. doi: 10.1002/acr.20543 afp/2013/0601/p766.html
tes19,21. A ordem da escada muda em casos de anal- falharam. Podem ser utilizados em casos de dor 11. Oliveira AM, Batalha LMC, Fernandes AM; Gonçalves 21. Azzam AAH, McDonald J, Lambert DG. Hot topics
JC; Viegas RG. Uma análise funcional da Wong-Baker in opioid pharmacology: mixed and biased opioids.
gesia pós-operatória ou na hospitalização quando nociceptiva aguda e crônica agudizada, além da
Faces Pain Rating Scale: linearidade, discriminabilida- British Journal of Anaesthesia, 2019;112(6):136-145. doi.
começa de cima para baixo na escolha analgésica20. dor neuropática18,21. Na dor aguda é comum a ad- de e amplitude. Revista de Enfermagem Referência. org/10.1016/j.bja.2019.03.006
Os fármacos mais utilizados para dor aguda leve ministração desses analgésicos por vias parente- 2014;4(3):121-130. doi: 10.12707/RIV14018 22. Arrais PSD, Fernandes MEP, Dal Pizzol TS, Ramos
ou moderada são os inibidores seletivos de COX, rais devido a rápida analgesia, no entanto, deve- 12. Alves Neto O, Costa CMC, Siqueira JTT, Teixeira MJ, et LR, Mengue SS, Luiza VL et al. Prevalence of sel-
sendo mais comuns os AINEs e o Paracetamol e, -se ter cuidado para a via intravenosa (IV), pois o al. Dor: Princípios e Práticas. Artmed Editora S.A, Porto f-medication in Brazil and associated factors. Rev
na nossa realidade, a Dipirona22. O emprego des- indivíduo pode apresentar picos de concentração Alegre, Out 2010; v.1. Saúde Pública 2016;50(2):13. doi:10.1590/S1518-
13. Batista JS, Borges AM, Wibelinger LM. Psysical 8787.2016050006117
tes analgésicos resulta em baixos índices de efeitos plasmática.
therapy to treat miofacial pain syndrome and fibrom- 23. Dowell D, Haegerich TM, Chou R. CDC guidelines
adversos e bom perfil de tolerância. São indicados Alternativas não farmacológicas são utilizadas
yalgia. Rev.dor. 2012;13(2):170-174. doi: http://dx.doi. for prescribing opioids for chronic pain – United
em casos de dor associadas a lesão ou a inflamação como estratégia suplementar para a redução da org/10.1590/S1806-00132012000200014 States, 2016. JAMA. 2016;315(15):1624-45. doi:10.1001/
de tecidos, músculos e ossos. Essas substâncias, dor. Essas alternativas visam reforçar o tratamen- 14. Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Rezen- jama.2016.1464
quando necessário, podem ser utilizadas em con- to principal da causa da dor ou em alguns casos, de-Fronza LS, Bertolo MB, et al. Diretrizes para o 24. Qaseem A, Wilt TJ, McLean RM, Forciea MA. Nonin-
comitância com opioides21. Cuidado deve ser dado são escolhidas quando insucesso do emprego far- diagnóstico da artrite reumatoide. Revista Brasileira vasive treatments for acute, subacute, and chronic
quando do emprego do paracetamol pela sua reco- macológico. Alguns exemplos como fisioterapia, de Reumatologia. 2013; 53(2):141-157. doi: http://dx.doi. low back pain: A clinical practice guideline from the
org/10.1590/S0482-50042013000200003 American College of Physicians. Ann Intern Med.
nhecida hepatotoxicidade, assim como do uso de acupuntura, massagem e exercícios físicos são os
15. Cavalcanti NJA, Moura JMJ. The effects of laser 2017;166:514-530. doi: 10.7326/M16-2367
anti-inflamatórios pelos riscos inerentes a eles20. mais habituais24.

Referências bibliográficas
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Rio de Janeiro: Revinter; 1995. Dor pós-operatória no pacientes com dor crônica: quando, como e por que
adulto; cap.3,p.21-5. encaminhar?. Rev. Dor 15(1):51-4
80 DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 81

CAPÍTULO 7

Dor em trauma
Jean Klay Santos Machado
José Luís Amim Zabeu

Introdução
No mundo todo ocorrem cerca de 500 milhões de dor) pode atingir até 30% dos pacientes, por um
de traumatismos anualmente, sendo que em 25% período de 6 meses após o trauma ou a cirurgia
dos casos existe algum dano ortopédico. O trauma inicial4.
ortopédico é frequentemente associado a dor ex- A avaliação e tratamento da dor aguda relacio-
trema; estima-se que 15 das 20 cirurgias que mais nada ao trauma ortopédico necessita ser cada mais
geram dor são relacionadas aos procedimentos or- valorizada devido aos impactos negativos que uma
topédicos eletivos ou ao trauma ortopédico1,2. abordagem inadequada traz, tanto quanto ao risco
A qualidade da analgesia na sala de emergência de desequilíbrios fisiológicos agudos decorrentes
costuma ser deficiente. Estudo prospectivo ame- da dor intensa, pela possibilidade de desenvolvi-
ricano publicado em 2007 citou que em pacientes mento de dores crônicas e também por se tratar de
com dor intensa (8/10 na escala visual numérica de um direito humano reconhecido, ou seja, que todo
dor, que vai de 0 a 10), apenas 60% dos casos rece- homem ou mulher tenha sua dor adequadamente
beu analgesia adequada nos primeiros 90 minutos controlada por quem lhe atende5.
a partir do atendimento inicial. E em 41% dos casos Do ponto de vista econômico e social, a dor tra-
a dor se manteve (34%) ou aumentou (7%) durante tada de modo inadequado, seja pela falta ou por
a permanência no pronto-socorro3. excesso de medicamentos, pode levar ao aumento
Mesmo após a alta, a incidência de dor signifi- do tempo de permanência do paciente internado,
cativa (mais de cinco pontos na escala numérica a complicações pelos efeitos adversos destes me-
82 DOR EM TRAUMA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 83

dicamentos e à ocorrência de eventuais reinter- receio de não se identificar diagnósticos pelo mas- terço dos pacientes contam um episódio de dor in- incidência aumentada de depressão, drogadição e
nações, com consequente aumento dos custos do caramento dos sintomas, à falta de prática no uso tensa quando do início dos seus sintomas, seja por síndrome de estresse pós-traumático. Também o
tratamento e do afastamento do paciente de seu destes medicamentos pelo profissional de saúde ou trauma ou por dor no pós-operatório10. risco de dependência crescente a opioides deve ser
convívio social6. ainda o receio dos efeitos adversos do uso de opioi- Outras consequências da dor aguda não trata- ressaltado.
Os motivos que levam ao tratamento inadequa- des fortes, além da possibilidade de adição diante da são aquelas ligadas às questões psicológicas. Há
do da dor no trauma agudo são relacionados ao da administração destas drogas.

Avaliação inicial da dor


Fisiopatologia da dor no trauma
O desafio no tratamento da dor aguda está no incluindo questionários de qualidade de vida e
A dor no trauma e na cirurgia ortopédica se ini- Após o estímulo inicial de dor, mesmo com a fato de existirem múltiplas variáveis a serem con- análise das dimensões psicológicas e sociais da dor.
cia pela ruptura mecânica de tecidos, o que gera estabilização das estruturas lesadas, ocorre dor do sideradas para se conseguir o controle adequado São denominadas análises multidimensionais,
estímulos nociceptivos que vão persistir até que a tipo inflamatório, devido à liberação de substâncias dos sintomas álgicos. Entre elas citamos o tipo e a que exigem maior tempo e treinamento para seu
estrutura lesada esteja estabilizada, seja óssea ou pelos tecidos lesados e pelas células atraídas pela intensidade da dor, as interações e a resposta indi- preenchimento, e, consequentemente, raramente
de partes moles. O osso é intensamente inervado lesão inicial. Esta dor é do tipo latejante, decorren- vidual aos medicamentos, o perfil do paciente e o são usadas nos serviços de emergência12.
por fibras sensitivas, tanto no periósteo como no te da diminuição do limiar de excitabilidade dos risco de efeitos adversos. No atendimento de emer-
osso mineralizado e na medula óssea, em geral nociceptores pela presença de mediadores como gência, obter um controle eficiente da dor é neces- EVA (Escala Visual Analógica)
acompanhando vasos sanguíneos. Estas fibras são cininas, aminas, prostanoides, fatores de cresci- sário tanto pelo caráter humano desta ação, como Linha de 10 cm (100 mm) sem numeração, onde
responsáveis pelo envio do estímulo nociceptivo mento e citocinas. A este processo se soma a sen- pelo impacto na redução do número de pacientes em um extremo se registra a situação de “ausência
vindo do tecido ósseo no momento de uma fratu- sação de queimação ou dormência decorrente dos que evoluirão para um quadro de dor crônica. As- de dor” e no outro extremo “a pior dor imaginada
ra. No periósteo, estas fibras nervosas fazem uma danos nas estruturas nervosas, caracterizando dor sim de forma didática, definiremos alguns concei- pelo paciente”. Exatamente para se evitar o viés nu-
rede que detectam precocemente qualquer tipo de tipo neuropática. Todos estes estímulos vão sensi- tos para atingir esta meta. mérico, deve-se apenas marcar um ponto na linha
distorção mecânica por trauma direto ou indireto, bilizar, em menor ou maior grau, os neurônios da que será a representação da dor. (Figura 1)
gerando dor7. medula espinal e do córtex cerebral7,8. AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE DA DOR
A mensuração da dor é um dado necessário Figura 1: Escala Visual Analógica
para tomada de conduta e no acompanhamento
evolutivo do paciente, sendo importante não só
quantificar sua dor antes, mas depois destas con-

Complicações pelo tratamento


dutas. Geralmente é baseada no autorrelato do
paciente, considerando a definição primária da

inadequado da dor aguda


dor, que é de uma “sensação e experiência emocio-
nal desagradável associada à lesão tecidual, real ou EVN (Escala Visual Numérica)
potencial, ou descrita em termos desta lesão”. Pode O paciente procura dar um valor numérico à sua
As alterações fisiológicas da dor, denominadas Do ponto de vista ortopédico, a dor intensa não ser também baseada na impressão do profissio- dor, partindo de zero (ausência de dor) até 10 (máxi-
como resposta neuroendócrina de estresse, podem tratada pode levar a maior rigidez articular e hipo- nal de saúde ao interpretar a expressão facial do mo de dor já sentida pelo paciente). (Figura 2)
incluir dispneia, taquicardia, hipertensão arterial, trofia muscular no pós-operatório, pela inadequa- paciente, ou ainda suas reações fisiológicas, no
diminuição do peristaltismo intestinal, hipercoa- da reabilitação. O “medo da dor” inibe a fisioterapia caso de inconsciência ou incapacidade de ex- Figura 2: Escala Visual Numérica
gulabilidade, diminuição da resposta imunológica e pode adiar a alta hospitalar. pressão11.
do organismo, e balanço nitrogenado negativo. Na Um dos maiores riscos da dor aguda não tratada Para tantos existem vários métodos, sendo os
pessoa predisposta, estas alterações podem desen- é sua cronificação. A sensibilização central ocorre mais usados no trauma agudo, por sua rapidez e
cadear um infarto agudo do miocárdio, acidente por uma amplificação dos sinais da dor ao nível da praticidade, são a Escala Visual Analógica (EVA), a
vascular cerebral, ílio paralítico, trombose venosa medula espinal, após a repetição prolongada dos Escala Visual Numérica (EVN), a Escala de Descri-
profunda, embolia pulmonar. Se há algum grau de estímulos em uma pessoa com predisposição, de- ção Verbal e a Escala de Faces. São escalas deno- EDV (Escala de Descrição Verbal)
demência prévia, geralmente a confusão mental sencadeando alterações plásticas no sistema ner- minadas unidimensionais. Vários outros tipos de A pessoa procura descrever sua dor, que pode
piora diante da dor não controlada9. voso. Nos estudos sobre dor crônica, cerca de um mensuração são possíveis no diagnóstico da dor, ter as seguintes gradações:
84 DOR EM TRAUMA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 85

• ausência de dor de queixas como formigamento, ardência, choque Existe um exame que pode auxiliar na tarefa de • Elevação do membro e mobilização das extre-
• dor discreta ou dormência. identificar quais pacientes têm maior probabilida- midades (tipóia para membros superiores, co-
• dor leve de de desenvolver dor crônica após uma cirurgia: o xim de aproximadamente 10cm para membros
• dor moderada Dor nociplástica Teste da Sensibilidade ao Frio. Mede-se o tempo que inferiores)
• dor severa A partir de uma modulação disfuncional da dor o paciente consegue permanecer com a mão dentro
• dor muito severa e mesmo na inexistência de uma lesão estrutural de um balde com água gelada, na temperatura de TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
• a dor mais intensa imaginada evidente que explique esta dor, ocorre ativação dos aproximadamente 4 graus celsius. Valores inferiores Os princípios farmacológicos do tratamento da
nociceptores. É caracterizada por dor desproporcio- a 45 segundos revelaram maior relação com dor in- dor propostos pela Organização Mundial da Saúde
EFD (Escala de Faces de Dor) nal, dor difusa, hiperalgesia e alodínia. Pode estar tensa e quadros de dor crônica pós-operatória16. (OMS) seguem a Escada Analgésica da dor, de 1986,
Para o paciente incapaz de se comunicar, por presente no paciente antes do evento traumático. desenvolvida como protocolo para o tratamento da
inconsciência ou falta de capacidade cognitiva. Le- PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO DA DOR dor oncológica. Esta propõe, em seus diferentes de-
va-se em conta a expressão de dor interpretada por Dor mista AGUDA NO TRAUMA graus:17
quem está fazendo a avaliação, podendo ser usada Decorrente da combinação dos diversos meca- O tratamento da dor aguda deve se iniciar pelo • Primeiro degrau, para dores leves: medica-
em qualquer idade. Pode ainda ser ampliada levan- nismos de dor (nociceptivo, neuropático, nociplás- diagnóstico correto. Portanto uma anamnese e exa- mentos não-opioides (analgésicos simples,
do-se em consideração a movimentação e postura tico), podendo ter originado do trauma agudo ou me físico minuciosos são essenciais. É fundamen- como dipirona e paracetamol, e anti-inflamató-
dos membros superiores e as reações diante de previamente. tal termos certeza que a origem da dor é muscu- rios não esteroidais (AINEs)
uma eventual ventilação mecânica13,14. É ainda a Deve ser lembrado que muitos pacientes por- loesquelética. sendo necessário descartar doenças • Segundo degrau, para dores moderadas:
escala a ser escolhida em pediatria (crianças meno- tadores de dores crônicas, como aquelas relacio- que mimetizem esta dor, mas que sejam de origem acrescenta-se um opioide fraco, como codeína
res de 4 anos) ou idosos com demência avançada. nadas a neuropatias periféricas, fibromialgia e visceral, neurológica ou isquêmica. Atenção espe- ou tramadol
(Figura 3) associadas a neoplasias, podem ter episódios de cial deve ser dada aos politraumatizados, aos pa- • Terceiro degrau, para dores intensas: associa-
exacerbação decorrentes de quadros agudos e tor- cientes que apresentam dores atípicas, sem relação -se um opioide forte, retirando o opioide fraco
Figura 3: Escala de Faces de Dor narem a interpretação do tipo e intensidade de direta com o trauma, recidivantes e não responsi- ministrado até então (somente um opioide de
dor mais complexos. vas a tratamentos convencionais, sobretudo locali- cada categoria - fraco ou forte - deve ser prescri-
zados na região do tronco (dorsal, lombar, torácica to). São considerados opioides fortes a morfina,
HISTÓRICO E PERFIL DO PACIENTE anterior e abdominal), pelve e naquelas referidas hidromorfona, metadona, fentanil e oxicodona,
Um dos fatores que impactam na dor, tanto na para o membro superior esquerdo, pela possibili- entre outros.
intensidade, quanto na resposta às medicações é o dade de serem relacionadas a doenças cardíacas.
histórico do paciente, sendo fundamental investi- Nestes casos a investigação deve ser ampliada com Outros medicamentos adjuvantes podem ser
garmos a existência de: a solicitação de exames complementares, seguido associados em situações específicas, como rela-
• Quadros álgicos prévios ou crônicos decorrentes da avaliação das especialidades clínicas e cirúrgi- xantes musculares, antidepressivos, anticonvul-
TIPOS DE DOR de dor miofascial, fibromialgia, lombalgia crôni- cas correlatas disponíveis na emergência. sivantes e neurolépticos, porém todos requerem
É fundamental a caracterização e classificação ca, osteoartrite, cefaleias primárias, entre outros. Definido a origem musculoesquelética da dor, acompanhamento contínuo e seguimento ambu-
da dor envolvida no trauma para planejar a abor- • Condições clínicas prévias e comorbidades, precisamos identificar se estamos diante de uma latorial posterior.
dagem a ser instituída, sobretudo na definição das em especial hipertensão arterial, cardiopatias, emergência ortopédica com necessidade interven- No trauma ortopédico, onde a dor na chegada
classes de drogas que devem ser usadas15. diabetes mellitus, hipotiroidismo, alergias, ne- ção imediata, como síndrome compartimental, lu- do paciente pode ser intensa, deve ser considerado
fropatias, hepatopatias, doenças intestinais crô- xações, fraturas expostas, lesões neurovasculares o uso da Escada Analgésica da OMS de modo inver-
Dor nociceptiva nicas, coagulopatias, antecedente de trombose entre outras causas traumáticas. tido, de modo que se inicia com um opioide forte
Relacionada ao dano tecidual, com sensações venosa profunda e tromboembolismo pulmo- até o controle da dor intensa, e depois diminui-se a
de pontada, facada, latejamento, agulhada. Em se nar, tabagismo e etilismo. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO quantidade e frequência de sua administração con-
tratando de trauma, podemos considerar que este • Uso prévio de medicamentos, em especial os As medidas simples devem sempre ser prescri- forme se obtenha o controle da dor referida pelo
tipo estará presente em 100% dos casos, visto que opioides. tas, lembrando que podem ser tão eficazes quanto paciente ou identificada pelo profissional de saú-
traduz a lesão tecidual em si. É o tipo mais clássi- • Pacientes com tendência a catastrofização, com o uso de medicamentos que eventualmente pos- de18. (Tabela 1)
co, com presença de edema, equimose, hematoma, histórico de ansiedade, depressão, transtornos sam ser administradas.
dor à mobilização. de humor, que fazem uso de ansiolíticos, anti- • Imobilização do membro (talas, tipoias, enfai- Estratégias de administração de medicamentos
depressivos, benzodiazepínicos e anticonvulsi- xamentos) na urgência e emergência ortopédica
Dor neuropática vantes. Apresentam risco maior de cronificação • Crioterapia, sobretudo nos quadros agudos Na dor aguda, é recomendada a infusão rápida
É consequência da lesão direta no tecido nervo- da dor, com a presença de componentes neuro- • Repouso, com retirada da carga nos membros de analgésicos potentes por via endovenosa em
so central ou periférico. É caracterizada pelo relato páticos e nociplásticos. inferiores baixas doses e intervalos frequentes, até que seja
86 DOR EM TRAUMA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 87

Tabela 1: Escada analgésica da OMS utilizada no trauma Sobre o uso de opioides passar quatro gramas, pelo risco de lesão hepática,
Pela preocupação cada vez maior com o uso podendo ser administrado de 6/6 horas. No Brasil,
abusivo dos opioides, a adição pelo paciente e os não há a apresentação endovenosa existente em
AVALIAÇÃO DA DOR MÉTODO RESULTADO AÇÃO
efeitos adversos relatados em especial nos Estados outros países.
Unidos, país no qual ocorre a maior taxa de utiliza- A dipirona tem mecanismo de ação semelhan-
Dor leve EVN (0 a 10) 1a3 AINEs, analgésicos comuns, crioterapia
ção deste tipo de medicamento, a própria Escada te ao do paracetamol, sendo que apresenta ainda
Analgésica da OMS tem sido questionada e está em ação direta no sistema nervoso central. Não tem o
Dor moderada EVN (0 a 10) 4a6 Acrescentar tramadol ou codeína reanálise. Deve ser considerado, no entanto, que risco de hepatotoxicidade do paracetamol, e, ape-
em outros países, como o Brasil, o uso de opioides sar de proibido em diversos países, como nos Es-
Dor intensa EVN (0 a 10) / EFD 7 a 10 / dor extrema Morfina, metadona na urgência é considerado insuficiente, e muitos tados Unidos, tem seu maior risco conhecido, de
pacientes sofrem de dores tratáveis pelo desconhe- agranulocitose, com incidência da ordem de 1 caso
Checagem de 5 em 5 minutos visando alívio de dor e a detecção
Reavaliação cimento dos tipos, doses e modos de emprego des- por milhão de pessoas ao ano, o que o torna extre-
de efeitos adversos dos medicamentos empregados
tes analgésicos21. mamente seguro para uso. Pode ser usado na dose
No uso dos opioides na urgência, deve-se con- de até 4g ao dia, divididas em quatro tomadas (6/6
siderar que a dose correta é aquela que leva ao horas).
obtido o alívio dos sintomas. Uma vez que a dor es- “resgate”, no caso de episódios de agudização da alívio da dor com o mínimo de efeitos adversos.
teja sob controle, inicia-se a administração de me- dor, o que é mais comum no usuário frequente de Portanto, a dose deve ser individualizada, e a titula- Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
dicamentos de longa duração e outras medidas de opioides. As doses de resgate geralmente corres- ção precisa ser realizada em todo paciente com dor É a classe de drogas mais prescrita pelos mé-
terapia multimodal de dor, como a Analgesia Con- pondem entre 10 e 30% da dose total estabelecida importante. Deve ser ressaltado que os opioides dicos ortopedistas e costuma ter uma boa ação
trolada pelo Paciente (PCA), bloqueios nervosos após o nível sérico estável obtido com o opioide ini- fracos (codeína e tramadol), assim como os AINEs, analgésica nos pacientes vítimas de trauma. No
periféricos e medidas físicas como imobilizações e cialmente instituído. tem o chamado efeito-teto, ou seja, existe uma dose entanto deve sempre se avaliar o risco de compli-
repouso do membro afetado. máxima diária recomendada para os mesmos, aci- cações gastrointestinais, cardiovasculares e renais
Tratamento multimodal ma da qual não há efeito analgésico adicional, mas em seu uso.
Via de administração Um conceito já estabelecido no tratamento da apenas os efeitos adversos. A decisão sobre qual medicamento, sua dose e
Acredita-se que dores com intensidade a partir dor crônica é o do uso de diversas medidas farma- tempo de tratamento dependerá de fatores como
de 4 (moderada) na escala de dor sejam indicação cológicas e não medicamentosa de modo concomi- Sobre o risco de complicações cardiovasculares, condição clínica do paciente, com especial atenção
para utilizarmos drogas de ação rápida pela via en- tante. O tratamento multimodal tem sido preferido gastrointestinais (hemorragia, perfurações) e ao idoso, no qual a lesão renal pode ocorrer mesmo
dovenosa. Esta via pode agregar riscos ao paciente, à monoterapia, devendo ser aplicado também nos renais (insuficiência renal) no uso de AINEs nas doses iniciais desta classe de medicamentos. É
como infecções no local de aplicação e trombose quadros agudos, sobretudo nos casos de dores mais É importante avaliar os riscos e benefícios no relevante que, na piora da função renal ocasionada
da veia usada. Sendo assim, a via oral deve sempre intensas e nos pacientes portadores de dor crônica uso dos AINEs, verificando sobretudo sua seguran- pelos AINEs, existe o potencial de exacerbação dos
ser priorizada após o controle inicial da dor pela via agudizada. Nesta modalidade podemos usar doses ça nos pacientes idosos. efeitos adversos dos opioides administrados em
endovenosa. A via intramuscular deve ser evitada menores de cada medicamento, o que diminui o O risco de lesão renal é maior em homens, conjunto.
por ser em geral dolorosa, de absorção errática e risco de efeitos adversos. Ocorre um mecanismo de maiores de 65 anos de idade, diabéticos e uso pro- Os AINEs são classificados por base em suas
ter complicações diversas, como lesões de nervos sinergismo e potenciação entre as drogas com me- longado de AINEs. Através de aplicativos, pode- propriedades químicas e farmacológicas, e por sua
e necrose cutânea por embolização de vasos termi- lhor controle da dor. mos estimar a taxa de filtração glomerular e de- seletividade à enzima ciclo-oxigenase (COX)22. Os
nais (síndrome de Nicolau), em especial quando do Na dor aguda por trauma ortopédico, após o terminar a função renal. Assim, deve ser evitado o inibidores seletivos da COX-2 apresentam menor
uso de AINEs19. controle inicial de sua intensidade, princípios uso de AINEs em pacientes com valores inferiores toxidade gástrica, no entanto, são mais propensos
usados nas cirurgias eletivas, como a analgesia a 60ml/min, bem como aqueles com doença renal aos eventos cardiovasculares. Dentre os AINEs não
Intervalos fixos preventiva, devem ser instituídos no momento de já conhecida, incluindo nefrectomia unilateral seletivos, o naproxeno apresenta melhor seguran-
Os analgésicos na dor aguda devem ser forneci- novas intervenções, como uma osteossíntese pro- prévia. ça cardiovascular. Parecoxbe, tenoxicam e ceto-
dos ao paciente em intervalos regulares, evitando- gramada para os dias seguintes ao trauma original. profeno tem apresentações endovenosas. A partir
-se o efeito “pico-vale”, onde existe o aumento da Dentre as medidas possíveis estão a administração MEDICAMENTOS SUGERIDOS PARA DOR AGUDA deste conhecimento e da experiência individual,
dor pela diminuição da concentração sérica do me- de AINEs e anticonvulsivantes como a gabapentina NO TRAUMA ORTOPÉDICO o ortopedista faz sua escolha de qual anti-infla-
dicamento. Uma vez atingido o controle da dor, os e pregabalina nas horas que antecedem a cirurgia matório utilizar. A dipirona e o paracetamol são
medicamentos seguem sendo fornecidos em horá- definitiva (analgesia preemptiva), assim como blo- Analgésicos simples incluídos nesta classificação, embora seu efeito an-
rios definidos e regulares, evitando-se a prescrição queios de nervos periféricos e infiltração com anes- O paracetamol tem ação central agindo sobre a ti-inflamatório seja praticamente nulo e os efeitos
“se necessário” ou “a critério médico”. tésico local nas bordas da ferida operatória, para se ciclooxigenase 3 (COX-3) e atividade anti-inflama- adversos relacionados à função renal e cardiovas-
Deve ser mantida uma droga opcional como evitar a dor intensa no pós-operatório imediato20. tória periférica fraca. A dose diária não deve ultra- cular possam ser desconsiderados.
88 DOR EM TRAUMA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 89

Conclusão
Opioides fracos: tramadol e codeína ambulatorial para titulação da droga. O tramadol
O tramadol é um agonista que se liga ao recep- tem início rápido de ação, ligando aos receptores
tor μ-opioide, além de inibir a recaptação de no- opioides e atuando como inibidor da recaptação de
radrenalina e serotonina, promovendo analgesia. serotonina e noradrenalina. A metadona tem van- A abordagem da dor no trauma ortopédico me- todo o tratamento instituído até que se resolva a
Tem como efeito adverso mais comum náuseas e tagem de bloquear receptores de N-metil-D-aspar- rece a atenção do ortopedista que atua na urgência. lesão que provocou a dor inicial. No entanto, o or-
vômitos. Possui apresentação oral e venosa. tato (NMDA), apresentando início rápido de ação, A rápida identificação de um paciente com dor in- topedista precisa conhecer em quem está fazendo
Já a codeína é uma pré-droga que, uma vez me- mas tempo de meia-vida longa, necessitando expe- tensa necessita gerar uma ação para medicá-lo de a analgesia, e saber lidar com os efeitos adversos
tabolizada, é convertida em morfina. Tem como riência no manejo. A opção por um bloqueio ner- forma consciente com um opioide forte, na dose e que possam surgir. O paciente precisa e merece ter
efeito adverso mais comum a constipação. Possui voso regional deve ser considerada nestes casos25. frequência necessárias para o controle da dor. Em sua dor tratada de modo suficiente e competente,
apresentação oral. Cerca de 10% da população tem seguida, seguindo os conceitos da analgesia mul- evitando assim complicações na fase aguda e a cro-
inativa a enzima que transforma a codeína em mor- REAVALIAÇÃO timodal, a dor deve se manter controlada durante nificação de sua dor ao longo do tempo.
fina (CYP 2D6) e, deste modo não sentem qualquer A constante reavaliação da dor é fundamental
analgesia pelo seu uso23. para avaliarmos a eficácia das medidas tomadas
e desta forma evitar que o paciente seja interna-
Opioides fortes mais utilizados no trauma: do ou receba alta ainda com intensidade forte de
morfina dor. Além de gerar grande desconforto ao pacien-
A morfina é um potente μ-agonista, que age a te, aumenta sobremaneira o risco da cronificação Referências bibliográficas
partir do seu metabólito morfina-6-glucuronida da dor. Sendo assim, orienta-se uma avaliação
(M6G). É a primeira opção na dor severa nocicep- frequente do paciente com dor, tendo como meta 1. GBD 2017 Disease and injury incidence and preva- 9. Desborough JP. The stress response to trauma and
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90 DOR EM TRAUMA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 91

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Introdução
Segundo a definição da International Association neurônios do sistema nervoso periférico e central
for the Study of Pain (IASP) dor é uma sensação e relacionados à dor. A sensibilização periférica e a
experiência emocional desagradável associada à sensibilização central são fatores que resultam na
lesão tecidual, real ou potencial, ou descritas em neuroplasticidade neuronal, com aumento da ex-
termos desta lesão1. A dor é sempre subjetiva, cada pressão de neurotransmissores e neuropeptídeos
indivíduo aprende a aplicação do termo através de excitatórios em áreas importantes do processa-
experiências relacionadas às lesões prévias1,2. mento da informação dolorosa, sendo participando
A dor pós-operatória é a dor presente no pa- das dores pós-operatória aguda e crônica3,4.
ciente cirúrgico após este ter sido submetido à ci- No mundo, acredita-se que ocorram mais de
rurgia, esta dor poderá ser resultante do trauma 240 milhões de cirurgias. Em 1995, foram realiza-
cirúrgico ou de complicações relacionadas ao pro- das 2.374.785 cirurgias não cardíacas no Brasil, em
cedimento3. 2007, foram realizadas 2.859.801 cirurgias não car-
Estudos de pesquisa básica demonstraram em díacas no Brasil, e desde então esse número só tem
níveis celular e molecular, os mecanismos res- crescido, estes dados fazem do controle adequado
ponsáveis pela hiperssensibilização neuronal que da dor pós-operatória, com ênfase na analgesia
ocorre durante o período de dor pós-operatória nos preventiva, uma questão de extrema relevância5.
92 ANALGESIA PREEMPTIVA E PREVENTIVA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 93

ANALGESIA PREEMPTIVA E PREVENTIVA - Analgesia preventiva


DEFINIÇÃO DE CONCEITOS A analgesia preventiva refere-se à intervenção que Dor pós-operatória
se inicia antes do procedimento cirúrgico, é mantida
Analgesia preemptiva durante o procedimento cirúrgico e após o mesmo. A dor pós-operatória é a dor presente no pa- • Dor em repouso
A analgesia preemptiva refere-se à analgesia Tem o mesmo intuito da analgesia preemptiva, de se ciente cirúrgico após este ter sido submetido à • Dor moderada
que se inicia antes da cirurgia, com a intenção de reduzir ou eliminar a dor no período pós-operatório cirurgia, geralmente é descrita pelos pacientes • EVA= 4-6
bloquear o impulso nociceptivo aferente e evitar a imediato, porém, diferente desta, pode-se estender como uma dor em queimação ou ardor, contínua, • Duração entre 2 a 3 dias após a
sensibilização periférica e central. Esta analgesia até o período pós-operatório mais tardio. na área da região operada, podendo se irradiar cirurgia
deve ser mantida durante todo período intraope- A intervenção analgésica é feita com o mesmo para a área adjacente ao sítio da ferida, com a in- • Resolução na primeira semana de
ratório e, também no período pós-operatório ime- objetivo de se bloquear o impulso nociceptivo e evi- tensidade da dor se relacionando com a extensão período pós-operatório
diato3,4,6. tar a sensibilização periférica e central, e evitar a do procedimento cirúrgico ou em função dos te-
cronificação da dor pós-operatória4,6,7,8,9. cidos lesados durante a cirurgia. Deve ser trata- • Dor ao movimento
da quando em intensidade moderada ou forte, de • Dor relacionada à deambulação, tosse, troca
acordo com a escala verbal numérica (EVN) ou de curativo, fisioterapia entre outros eventos.
de descritores verbais3. É de início recente e de • Dor forte
provável duração limitada, há correlação causal e • EVA= 7-8
• Pior durante os primeiros 2 a 3 dias
Fatores preditivos de dor pós-operatória
temporal com a incisão e tende a ser mais intensa
no início. • Pode ser moderada ou forte por
Dois tipos de dor ocorrem na dor pós-operatória períodos de dias a semanas
Existem fatores preditivos para dor pós-opera- • Medo do paciente em relação ao resultado da ci- e que devem ser avaliados, a dor em repouso e a dor • A capacidade funcional está limitada
tória, que variam entre os pacientes e que acabam rurgia. Pacientes com traço de catastrofismo e em movimento. durante este período
levando à necessidade de diferentes tipos de anal- muita angústia quanto aos resultados do proce-
gesia preventiva. Estes fatores devem ser levados dimento têm mais dor comparado aos que não
em consideração quando da elaboração da analge- apresentam esses traços.
sia pós-operatória3,10,11,12. • Hipervigilância e muita ansiedade do paciente
Nos pacientes que serão submetidos a procedi- e da equipe cirúrgica. A vigilância excessiva da

Princípios da analgesia preventiva


mento cirúrgicos, alguns fatores devem ser avaliados: equipe cirúrgica e do paciente e familiares so-
• Presença de dor pré-operatória relacionada ao bre o procedimento e seu resultado têm signifi-
procedimento cirúrgico. cado importante sobre a dor pós-operatória.
• Presença de dor crônica, relacionada ou não ao • Estado depressivo prévio ao procedimento, pa- Os objetivos de alcançarmos uma analgesia efi- ciente, com repercussão sobre o sistema cardiovas-
procedimento cirúrgico. cientes com depressão são mais predisponentes caz são: cular, respiratório, hematológico, bem como a cro-
• Idade do paciente, pacientes jovens geralmente a pior evolução quanto à dor e analgesia no pe- nificação da dor, além de todo o sofrimento físico e
evoluem com dor mais intensa no período pós- ríodo pós-operatório imediato e tardio. • Reduzir o risco de efeitos colaterais decorrentes emocional que causa ao paciente3,8,12,13.
-operatório. • A experiência da equipe cirúrgica é inversamen- da dor. Atualmente considera-se como ideal, a avaliação
• Sexo do paciente, o sexo feminino é fator predi- te proporcional à intensidade da dor pós-ope- • Minimizar ou eliminar o sofrimento causado pré-operatória do paciente no intuito de se planejar
tivo importante de dor moderada a forte no pe- ratória. Pacientes operados por equipes mais pela dor. a analgesia no período intra e também no pós-ope-
ríodo pós-operatório por ação pró-nociceptiva experientes têm risco menor de apresentar dor • Facilitar o processo de recuperação. ratório. O planejamento da analgesia deve sempre
dos hormônios gonadais femininos. pós-operatória de maior intensidade. • Diminuir morbidades associadas à dor. levar em conta fatores preditivos de dor como tam-
• Estado físico do paciente antes da cirurgia. Pa- • Evitar a cronificação da dor. bém o tipo de cirurgia, as condições clínicas do pa-
cientes graves têm maior risco de apresentarem • Manter a capacidade funcional e qualidade de ciente, o risco-benefício de determinadas técnicas
dor moderada a intensa comparado aos pacien- vida, bem como o bem-estar físico e psicológico e as preferências do paciente e cirurgião7,8,13.
tes menos graves. do paciente no período pós-operatório imediato
• Expectativas do paciente e equipe cirúrgica e tardio.
sobre a intensidade da dor após a cirurgia, pa- • Tornar o tratamento economicamente compen-
cientes com muita expectativa positiva ou nega- sador para os provedores de saúde.
tiva sobre o seu prognóstico com relação à dor, A não prevenção ou o tratamento inadequado
geralmente evoluem com mais dor no período da dor aguda no período pós-operatório imediato
pós-operatório. pode trazer complicações importantes para o pa-
94 ANALGESIA PREEMPTIVA E PREVENTIVA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 95

• Antidepressivos
Princípios do tratamento
dendo ser mantida no período pós-operatório, com
Entre os antidepressivos utilizados em dores cuidados adicionais no seu uso no pós-operatório

da dor aguda pós-operatória


crônicas, apenas a duloxetina apresentou efeito por conta dos seus efeitos adversos.
de diminuição da dor e do consumo de opioides, • Lidocaína por via venosa
quando utilizada em poucas dose (duas doses), em Também pode ser iniciada antes do procedi-
As diretrizes atuais determinam que a avaliação ANALGESIA REGIONAL cirurgias de artroplastia total de joelho e artrodese mento anestésico-cirúrgico, feita em dose única ou
quanto à analgesia seja parte da avaliação pré-ope- Entre as opções da analgesia regional, como de coluna. infusão contínua durante a anestesia e/ou manti-
ratória tanto pelo anestesiologista, como também bloqueio do neuroeixo com opioide e anestésico • Quetamina da no período pós-operatório pelo anestesiologista
pela equipe cirúrgica3,8,12. local, bloqueios de nervos periféricos e plexos ner- Tem ação analgésica bloqueando o receptor do com experiência no tratamento da dor, devendo-se
Deve ser considerado em todos os pacientes o vosos com anestésico local, e também podem ser canal N-metil D-aspartato (NMDA), sítio de ação do estar atento às suas complicações.
adequado tratamento da dor pré-operatória, se pos- usados em infiltrações intra-articulares e de inci- Glutamato, um neurotransmissor excitatório, em • Sulfato de magnésio
sível ou, pelo menos, parcial nos pacientes que já são cirúrgica3,12,19. áreas do processamento da dor. Pode ser usado durante a anestesia em dose úni-
apresentam dores crônicas, pois isto irá facilitar o É utilizada antes do início da cirurgia, mantida ca ou infusão contínua como complemento à anal-
controle álgico no pós-operatório, também é man- ANALGESIA SISTÊMICA durante o procedimento anestésico-cirúrgico, po- gesia, devendo-se ter atenção às suas complicações.
datório o apropriado ajuste de analgésicos já em Grupos farmacológicos utilizados em analgesia
uso pelo paciente, e manutenção destes analgési- pós-operatória:
cos para se evitar síndrome de abstinência e con-
trole da ansiedade nos pacientes que já fazem uso Opioides3,14
• Opioides fracos – tramadol e codeína
Conclusão
crônico de analgésicos e adjuvantes, fatores estes
de grande relevância para o controle da dor no pós- • Opioides fortes – morfina, oxicodona e me-
-operatório imediato e tardio3,12,13. tadona. Os opioides também podem ser usa-
De fundamental importância é a orientação ao dos na forma de Analgesia Controlada pelo A analgesia preventiva é iniciada antes da agres- gésicas no período pós-operatório imediato e tar-
paciente para minimizar eventuais temores em re- Paciente, onde o paciente tem a oportunida- são cirúrgica, deve ser mantida durante a anestesia dio. Devem-se evitar prescrições que dificultem o
lação ao uso de determinados analgésicos e adju- de de individualizar o consumo de opioides. e no no início do período pós-operatório, quando a alívio imediato da dor do paciente como as inje-
vantes, que, na maioria das vezes são a melhor op- dor pós-operatória é mais intensa. O adequado da ções intramusculares, as prescrições na forma “se
ção para o alívio da dor, como, por exemplo, medo É importante estar atento aos casos de doença dor no peri-operatório é difícil e desafiador. Infeliz- necessário” ou “a critério médico”, sendo mandató-
do opioide ou de gabapentinoide, ou de antidepres- renal e hepática, pela metabolização e eliminação mente, mesmo com os avanços clínicos e científicos rias as prescrições de horários determinados, com
sivo 3,12,14,15,16. destes fármacos. nesta área, os pacientes continuam a ter controle ál- a possibilidade de obtenção de resgates em casos
gico inadequado e inconsistente boa parte das vezes. de escape álgico, e que obedeçam ao protocolo do
O controle da dor no período intra e no pós-ope- Anti-inflamatórios não esteroidais3,15 É essencial que os médicos e a equipe de en- tratamento da dor aguda.
ratório inclui as seguintes opções: Os anti-inflamatórios fazem parte do arsenal do fermagem envolvidos no tratamento do paciente É também de extrema importância a avaliação
tratamento da dor pós-operatória. Normalmente é estejam familiarizados com métodos de avaliação de pacientes críticos e que tenham dificuldade de
• Analgesia multimodal iniciado ao final da anestesia e mantido no período da dor, como a escala verbal numérica, e, através se comunicarem como os pacientes idosos com dis-
• Central regional (neuroaxial) pós-operatório como parte da analgesia preventiva. desta avaliação, definam as melhores opções anal- função cognitiva.
• Bloqueios de nervos periféricos Seu uso tem efeito poupador de opioides, deve ser
• Infiltração local da incisão cirúrgica utilizado sempre que possível, levando-se em con-
• Analgesia controlada pelo paciente com opioi- sideração as condições clínicas do paciente para o
des sistêmicos, ou a associação opioides e anes- seu uso.
tésico local quando regional Referências bibliográficas
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com o intuito de minimizar os efeitos adversos dos lhora sobre o escore de dor à EVN em repouso e ao te Postoperative Pain to Chronic Pain: An Inte- for the prevention of chronic post-surgical pain. Drugs.
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Milhões de cirurgias ortopédicas são realizadas Existe uma necessidade urgente para melhorar
no Brasil a cada ano, e estas podem variar desde o tratamento da dor pós-operatória, incluindo as-
pequenos procedimentos em consultórios até ci- pectos de organização de Serviços de Dor Aguda,
rurgias extensas em pacientes fragilizados. A dor conhecimento da Fisiopatologia da Nocicepção e
aguda pós-operatória é autolimitada, com relação da Farmacologia. O desenvolvimento de técnicas
temporal e causal com uma lesão tecidual. Ela é cirúrgicas minimamente invasivas e o tratamento
um conjunto de diversas experiências sensoriais de reabilitação multimodal, incluindo analgesia,
e emocionais desagradáveis, associada a respos- podem otimizar a recuperação pós-operatória mu-
tas inflamatórias, autonômicas, endócrino, meta- dando a situação de tratamento intra-hospitalar
bólicas e comportamentais1. Apesar dos avanços para um adequado autocuidado domiciliar1,2.
substanciais nas pesquisas em dor, diversos estu- A dor crônica pós-operatória (DCPO) de for-
dos mostram que menos da metade dos pacientes te intensidade ocorre em 2,2 % dos pacientes em
com dor pós-operatória recebem alívio adequado pós-operatórios em até 1 ano após o procedimen-
da dor. Uma dor aguda mal manejada aumenta o to3. O tipo de cirurgia influencia tanto a incidên-
risco de desenvolvimento de dor crônica2. As prin- cia de DCPO (exemplos: 20% após artroplastia de
cipais consequências a curto e longo prazo da dor joelho e 10% após artroplastia de quadril) quanto
não aliviada são listadas na Tabela 1. a intensidade da dor referida pelos pacientes1,2,3.
98 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 99

Tabela 1: Consequências da Dor não aliviada Figura 1 : Fluxograma da Avaliação da Dor e Escala verbal Numérica

A CURTO PRAZO: AVALIAÇÃO DA DOR EM PACIENTES ADULTOS


– Cria sofrimento desnecessário (medo, ansiedade, alteração do sono) VENTILAÇÃO
PACIENTE CONSIDERE A ESCALA
– Aumenta a morbimortalidade perioperatória. ALFABETIZADO? MECÂNICA COMP0RTAMENTAL BPS
– Resposta metabólica sustentada devido a trauma com elevação de catecolaminas, cortisol e catabolismo
– Limitação da mobilidade, aumento do risco de trombose
– Atraso na cicatrização de feridas por aumento do tônus simpático ou baixa oxigenação
SIM NÃO
– Aumento do risco de insuficiência de anastomoses
– Aumento do risco de morbidades cardiopulmonares
– Aumenta o tempo de internação e os custos de atendimento ( altos índices de complicações) Registre no prontuário Registre no prontuário
A LONGO PRAZO: USE A ESCALA VISUAL ANALÓGICA
USE A ESCALA VERBAL NUMÉRICA (EVA) OU DESCRITORES DE DOR
– A dor aguda cirúrgica é seguida de dor crônica em 10-50% dos pacientes que se
submeteram a procedimentos cirúrgicos comuns
– Dor crônica de forte intensidade ocorre em 2-10% destes pacientes. Registre no prontuário Registre no prontuário

Adaptado do Fact Sheet do Ano Mundial contra a Dor Aguda, IASP 2010 Explore as informações: Explore as informações:
• Local da dor • Local da dor
• Características da dor: latejante, queimação, • Características da dor: latejante, queimação,
pontada, choque e etc... pontada, choque e etc...
Nas artroplastias, a dor é mais forte nas escalas de Diferentes procedimentos causam diferentes ti- • Fatores de melhora e piora • Fatores de melhora e piora
• Frequência da dor • Frequência da dor
mensuração da dor do que nas cirurgias gerais, gi- pos de dor, alguns tem mais mecanismos e caracte-
necológicas ou viscerais, podendo ocasionar mais rísticas de dores inflamatórias, outros de dores mus-
IMPORTANTE O ENFERMEIRO CONSIDERAR OS INSTRUMENTOS MULTIDIMENSIONAIS PARA AVALIAR A COR CRÔNICA
casos graves de DCPO. O tratamento pós-operató- culoesqueléticas ou neuropáticas. Para que possamos
rio da fase aguda em cirurgias ortopédicas deve ser traçar um plano de tratamento adequado para cada Fonte: Gerenciamento da Dor e a Enfermagem, autora Marcia Morete
instituído precocemente e de forma individualiza- paciente submetido a cirurgias ortopédicas, é neces-
da, para prevenir as complicações na fase aguda e sário que a dor aguda seja avaliada com responsabili-
também o desenvolvimento da DCPO1,3. dade, de forma minuciosa, sistemática e regular. Figura 2: Escala Visual ou Verbal Numérica (EVN) para Avaliação da Dor Aguda

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Avaliação da dor aguda pós-operatória ausência


da DOR
DOR
leve
DOR
moderada
DOR
forte
DOR
insuportável

A dor aguda requer intervenção imediata e a pode ajudar a identificar a etiologia da dor. Im- Fonte: Gerenciamento da Dor e a Enfermagem, autora Marcia Morete
avaliação deve ser proativa, assim como todos os portante considerar de que forma essa dor se
sinais vitais. Os órgãos de Acreditação Hospitalar apresenta: latejante, pontada, queimação, peso
já sugerem desde o ano 2000 que a avaliação da ou dormência, explorando detalhes da dor.
dor seja executada como o Quinto Sinal Vital. Ao • Avalie a intensidade da dor: existem diversos

Tratamento da dor aguda pós-operatória


ser detectada a presença dela, uma intervenção e a tipos de instrumentos de avaliação da dor aguda
efetividade do seu resultado devem ser sistematica- para adultos e para crianças. Vale ressaltar que
mente anotados. identificar a intensidade da dor através de esca-
• Obtenha uma história detalhada: recomenda- las é o ponto inicial para que seja instituída a A analgesia pós-operatória em Ortopedia deve apropriados e estratégias conforme as necessida-
mos avaliar o local, questionar sobre as caracte- melhor opção terapêutica. se iniciar na fase pré-incisional, com o planeja- des de cada paciente e cada tipo de cirurgia1,4. As
rísticas da dor, assim como fatores de melhora, O fluxograma para a avaliação da dor pós-ope- mento das ações que serão executadas no pré, intra opções de tratamentos farmacológicos e não far-
de piora do quadro doloroso, irradiação, se ela ratória e a escala de mensuração da intensidade de e pós-operatório. Existe evidência científica ampla macológicos que podem ser combinados entre sí
é contínua ou intermitente. Utilizar descritores dor mais utilizada estão nas Figuras 1 e 2. acumulada para guiar a seleção dos medicamentos estão listados na Tabela 2.
100 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 101

Tabela 2: Intervenções para a prevenção e alívio da de moderada a forte intensidade, o seu uso como cos desta classe, que é o número de pacientes que tes. Os opioides fracos correspondem ao segundo
dor aguda única entidade terapêutica causa problemas signi- devem receber a medicação ativa para alcançarem degrau da escada analgésica e são representados
ficantes como sedação, náuseas e vômitos, e atraso pelo menos 50% de alívio da dor em um paciente pela codeína e tramadol. O uso de opioides fortes
da recuperação da função intestinal e vesical6,7. num período de entre 4 a 6 horas1. corresponde ao terceiro degrau e são representados
Informação e capacitação do paciente
Protocolos baseados em evidência atualmen- Em relação aos analgésicos simples, uma dose pela morfina, oxicodona, fentanil e outros deriva-
Técnicas minimamente invasivas te recomendam o uso de combinações de dois ou única de paracetamol (600 a 1.000mg) proporciona dos. Recomenda-se utilizar analgésicos opioides
mais medicamentos ou técnicas analgésicas com analgesia eficaz para aproximadamente a metade agonistas puros como opção terapêutica para anal-
Bloqueio anestésico regional antes da incisão cirúrgica
diferentes locais ou mecanismos de ação (“multi- dos pacientes com dor aguda leve no pós-operató- gesia pós-operatória.
Bloqueio de neuroeixo modal” ou “balanceado”). Vantagens de analgesia rio ortopédico, por um curto período1. A dipirona é A Escada analgésica da Organização Mundial de
Anestésicos locais em local da incisão multimodal incluem melhor eficácia e redução dos eficaz na analgesia pós-operatória de cirurgias or- Saúde deve ser usada em perfil descendente para o
efeitos adversos de cada classe de medicamentos. topédicas e a dose recomendada varia de 1,5g a 2g controle da dor aguda. No primeiro dia de pós ope-
Analgésicos comuns (Dipirona, Paracetamol)
Analgesicos não opioides e anti-inflamatórios: a cada seis horas. Paracetamol e Dipirona são efeti- ratórios de cirurgias de grande porte se inicia por
Anti-inflamatórios não esteroides ou Inibidores da Cox 2 este grupo de analgésicos é representado pelo para- vos para a dor aguda com menores efeitos adversos exemplo no terceiro degrau da escada analgésica
cetamol, dipirona, antiinflamatórios não esteroidais que os AINES8. em princípio de analgesia multimodal e com o pas-
Opioides
(AINES) e Inibidores Seletivos de Cox-2. Possuem sar dos dias, recomenda-se descer a escada, retirar
Analgesia controlada pelo paciente como vantagens um mecanismo de ação e toxici- OPIOIDES: o opioide e deixar apenas os analgésicos comuns
Cetamina dade diferente dos opioides e, portanto, podem ser Analgésicos opioides são analgésicos potentes do primeiro degrau com esquema regular até com-
associados aos mesmos1. Os anti-inflamatórios são e atuam principalmente em receptores mu, delta pleta suspensão dos fármacos (Figura 3). A escada
Medicamentos alpha-adrenérgicos (clonidina, medicamentos muito utilizados para o controle da e kapa no sistema nervoso central1,9. Podem ser de três degraus indica classes de medicamentos e
dexmedetomidina) dor perioperatória em ortopedia. Para uma seleção subdivididos segundo sua potência em fracos e for- não fármacos específicos, proporcionando ao clíni-
Gabapentina, Pregabalina adequada dos pacientes, principalmente aqueles
com idade inferior a 60 anos. Os efeitos dos antii-
Técnicas não farmacológicas (acupuntura, fisioterapia)
nflamatorios decorrem principalmente da inibição Figura 3: Escada analgésica descendente para dor aguda
Adaptado do Fact Sheet do Ano Mundial contra a DorPós Operatória, das prostaglandinas em tecidos periféricos, Sistema
IASP 2017
Nervoso Central e periférico. São indicados como
poupadores de opioides em esquema analgésico
multimodal, porem são inefetivos quando usados
Existem três componentes estratégicos para to- isoladamente para dor de moderada ou forte inten-
dos os tipos de cirurgias ortopédicas: sidade1. Os efeitos adversos são frequentes com o
uso crônico e incluem, alterações na função renal,
• Analgesia multimodal na função plaquetária, efeitos pró-trombóticos, al-
• Analgesia específica para cada procedimento terações gastrointestinais e broncoespasmo em pa-
• Reabilitação precoce depois da cirurgia cientes com fatores de risco. Os riscos podem ser
acentuados em função de distúrbios hemodinâmi-
ANALGESIA MULTIMODAL: cos e da idade do paciente. O que se preconiza é a
As técnicas multimodais de analgesia são defen- utilização do anti-inflamatório na menor dose, mais
didas há muitos anos. Um dos primeiros expoen- efetiva possível, pelo menor tempo necessário8. Esta
tes à propagar este conceito foi Henrik que em um recomendação, inclusive, faz parte das diretrizes
artigo de revisão de 1993, expunha os múltiplos das agências regulatórias de vários países, incluin-
benefícios da técnica5. A teoria por trás da técni- do o Food and Drug Administration (FDA) nos Esta-
ca multimodal é a de que agentes com diferentes dos Unidos. Os anti-inflamatórios não esteroidais
mecanismos de ação possam compartilhar efeitos tradicionais (AINEs) e os inibidores da Cox-2 são
sinérgicos, ou ao menos aditivos, na prevenção ou analgésicos com eficácia similar para a dor aguda.
tratamento da dor aguda, quando usados em con- A administração dos AINEs (incluindo os inibidores
junto1,4. Historicamente, dor pós-operatória era seletivos COX-2) por via parenteral ou retal é mais
manejada com uso de opioides, como a morfina5. eficaz que a administração por via oral. Para a es-
Apesar dos opioides ainda serem um componen- colha do AINES deve se consultar o Número Neces-
te importante do manejo de dor pós-operatória sário para Tratamento (NNT) dos principais fárma- Adaptada da Escada Analgésica da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1986.
102 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 103

co a flexibilidade e possibilidade de adaptação de combinação de outros fármacos em analgesia mul- Bloqueio do Plexo Braquial Via Supraclavicu- são o femural e o obturador, este bloqueio em dose
acordo com as particularidades de seu paciente. A timodal minimiza estes efeitos adversos. lar – Aparentemente é o bloqueio com maior dis- única ou contínuo, provê adequada analgesia pós-
Escada Analgésica da OMS é um método simples, Analgesia Controlada Pelo Paciente (ACP) persão céfalo-caudal após dose única, devido a ser -operatória para qualquer procedimento envolven-
relativamente barato e eficaz. Consiste em um método de analgesia onde o pa- uma região de maior compactação do plexo. Este é do essa articulação. Em comparação com a anes-
Os opioides são medicamentos de escolha para ciente pode se auto administrar pequenas doses de realizado ao nível dos troncos e fascículos do plexo tesia peridural, proporcionam menores níveis de
cirurgias de médio e grande porte, que causam do- analgésicos de acordo com sua demanda. O méto- braquial, porém, ao contrário da via interescalêni- bloqueio motor, menos hipotensão, deambulação
res de intensidade moderada e forte, e devem ser do é seguro, pois se programa a dose teto desejada, ca, não contempla raízes cervicais. Eventualmente mais precoce e menores complicações no âmbito
prescritos já no primeiro dia de pós-operatório com e é eficaz promovendo maior satisfação do paciente não é suficiente para cirurgias de ombro, porém geral. Também fornece analgesia adequada para
doses a serem tituladas individualmente, porém quando comparado a doses intermitentes1. Tem in- adequado para braço e antebraço. Eventualmente a maioria dos procedimentos invasivos do joelho.
por um curto período e nunca como monoterapia. dicação para pós-operatório de cirurgias ortopédi- necessite de complementação para cirurgias de co- Matheny e colaboradores encontraram 89% menos
Um opioide não se mostra superior ao outro em do- cas de grande porte11. Existem opções variáveis de tovelo (N. Intercostobraquial). requerimento de opioides após reparação de liga-
ses equianalgésicas1. programação por via sistêmica, peridural ou regio- Bloqueio do Plexo Braquial Via Infraclavicu- mento cruzado anterior artroscópico, em indiví-
A via oral é preferida, pois é simples, não invasi- nal, com opções de soluções de opioides e/ou ou- lar - Também bloqueia o plexo na região de maior duos recebendo bloqueio lombar contínuo, quando
va, eficaz e mostra boa adesão pelos pacientes que tros fármacos. A vantagem do PCA é que ele atende compactação e pode ser usado em procedimentos comparado à PCA endovenoso16.
não apresentam vômitos ou outras alterações do às necessidades de analgesia do paciente de uma de cotovelo, antebraço e mão. Especialmente útil Bloqueio do Nervo Femural – É relativamen-
trânsito gastrointestinal. forma individualizada e segura. em pacientes que possuem dificuldades na abertu- te pouco invasivo, seguro e tecnicamente simples
Os analgésicos devem ser prescritos em doses ra dos braços para o acesso às axilas. É o mais se- de ser realizado. Pode ser em dose única ou con-
regulares e não da forma “se necessário” ou “a cri- ANESTESIA E ANALGESIA REGIONAL: guro para a inserção de cateteres de uso contínuo, tínuo e é um dos bloqueios mais realizados para a
tério médico”. A dor aguda é dinâmica e as doses Os anestésicos locais sempre foram usados na entre todos os bloqueios do plexo braquial. extremidade inferior. Semelhante ao lombar, este
devem ser tituladas individualmente. anestesia regional e analgesia. Ao bloquear os ca- Bloqueio do Plexo Braquial via Axilar – Técni- bloqueio fornece analgesia adequada para todos
A titulação para dores de forte intensidade pode nais de sódio na membrana do nervo, esses agentes ca mais distal ao ainda compacto plexo braquial, os procedimentos invasivos do joelho. Preserva a
ser realizada com administração de Morfina endo- interrompem a condução do estímulo nociceptivo ao nível dos fascículos terminais, e no entorno da adução do quadril e flexão mediada pelo psoas. A
venosa em bolus. A dose sugerida para pós-opera- do local da lesão para o sistema nervoso central e artéria axilar. É o mais realizado devido à facilidade associação com o bloqueio ciático geralmente é
tório é de 2 mg a cada 5 a 10 minutos, observando a impedem o início de sua cascata de sensibilização. e baixo índice de complicações. Melhor qualidade necessária em procedimentos como artroplastia
Escala de Sedação do paciente. Não existem doses Com incorporação crescente do uso do ultrassom dos bloqueios distais ao cotovelo, porém requer total de joelho, além do fato de estudos relatarem
padronizadas para os opioides9,10. A dose correta é no ambiente cirúrgico, técnicas de bloqueios de complementação para o torniquete. maior duração da analgesia de maneira significa-
a que causa alívio da dor com o mínimo de efeitos nervos periféricos já praticadas, ganharam maior Estudos retrospectivos e prospectivos mostram tiva17.
colaterais. Os opioides fracos têm, na prática clíni- acurácia e segurança, propiciando diminuição nas uniformemente que pacientes submetidos a blo- Bloqueio do Nervo Ciático – O nervo ciático
ca, um limite de dose. doses dos anestésicos locais, melhor qualidade da queios de nervo periférico possuem uma melhora possui três compartimentos; o femural posterior
A Morfina é o padrão ouro para analgesia pós- analgesia e menores índices de complicações. Além dramática na qualidade do pós-operatório imedia- cutâneo, tibial e o fibular comum. É o maior nervo
-operatória e deve ser utilizado a cada 4 horas. A disso, a possibilidade de fixação de cateteres, favo- to quando comparado à anestesia geral. A utilidade da porção posterior da perna e o maior componen-
Oxicodona é duas vezes mais potente que a Mor- rece a terapia continuada em hospital ou domicílio, da instilação de anestésicos locais intra-articulares te sensitivo e motor da extremidade inferior abaixo
fina e tem biodisponibilidade oral excelente, com prolongando ainda mais a analgesia oferecida. As e na ferida cirúrgica após procedimentos artroscó- do joelho, incluindo o tornozelo e o pé. Pode ser
excreção renal, rápido início de ação e longa du- técnicas de bloqueios regionais citadas a seguir são picos simples do ombro foi documentada, porém, acessado por várias técnicas como a glútea, subglú-
ração. A Buprenorfina por sua via transdérmica poupadoras de opioides e favorecem a analgesia não se mostrou efetiva em procedimentos mais in- tea e anterior. Distalmente pode ser bloqueado na
que está disponível no Brasil não está recomen- multimodal em ortopedia12: vasivos ou cirurgias abertas13,14. fossa poplítea. Usado como complemento em cirur-
dada para analgesia pós-operatória na fase aguda, Bloqueios das extremidades superiores – Os Bloqueio dos membros inferiores - O supri- gias do quadril e joelho, e produz intensa analgesia
porém mostra-se com excelente perfil para adesão bloqueios nervosos da extremidade superior podem mento nervoso dos membros inferiores são ad- de pé e tornozelo principalmente quando acessado
em pacientes ortopédicos para dores osteomuscu- ser executados em vários níveis ao longo do curso vindos de dois plexos nervosos derivados do ramo via fossa poplítea, preservando os isquiotibiais e fa-
lares crônicas. O Fentanil, que tem a potência de do plexo braquial, ao nível de nervos individuais, ou ventral das raízes espinhais da medula espinhal in- cilitando a deambulação18.
100 vezes maior que a Morfina, pode ser utilizado como bloqueio regional endovenoso13 (Bier). ferior: o Plexo Lombar (L1-L4)- que dá origem prin- Injeções intra-articulares – Ganhou popula-
de forma endovenosa no intra-operatório, ou no Bloqueio do Plexo Braquial via interescalêni- cipalmente aos nervos femural, obturador e cutâ- ridade em cirurgias ambulatoriais devido à fácil
pós-operatório via Analgesia Controlada pelo Pa- ca – Técnica mais proximal utilizada ao nível das neo lateral da coxa; e o Plexo Sacral (L4-S3) , que dá execução, eficácia no controle da dor e ausência
ciente (ACP), porém as formulações transdérmicas raízes nervosas. Provê boa analgesia para o tronco origem principalmente ao nervo ciático bem como de efeitos sistêmicos. Eficácia questionada devido
são contraindicadas para analgesia pós-operatória. superior (C5-C6) e médio C7, porém, eventualmen- ramos que suprem a musculatura do quadril e da à duração limitada da analgesia. Somando-se a isso
Os principais efeitos adversos dos opioides são: te falha em C8-T1. Boa estratégia para cirurgia de pelve15. a detecção de casos de condrólise associada à in-
sedação, prurido, náuseas, vômitos, retenção uri- ombro e braço, porém, não indicado como técnica Bloqueio do Plexo Lombar – Como a maioria jeções intra articulares elevou o debate a cerca da
nária, constipação e depressão respiratória1,9,10. A única para antebraço e mão. dos nervos que suprem a articulação do quadril sua utilização19.
104 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 105

Infiltração local – A infiltração local de pele e Agonistas alfa 2 adrenérgicos – Clonidina e mentos com grande estímulo nociceptivo (coluna, Figura 4: Recomendação baseada em Evidências para
tecido celular subcutâneo antes da incisão é um dexmedetomidina: Em adição ao sistema opioide, artroplastia e amputações)29. Estudos que mostram Artroplastia de Joelho
método simples, seguro, de fácil aplicação, com a ativação do sistema alfa 2 adrenérgico representa benefício preconizam o uso entre 24 e 2 horas antes
poucos efeitos adversos e baixo risco de toxicida- um sistema de controle endógeno da dor. Recepto- da cirurgia e o mantém por até 14 dias30. Foi relatada
de. Suas propriedades de inibição do processo in- res alfa 2 são abundantes na substância gelatinosa menor incidência de náuseas e vômitos no pós-ope- PRÉ E INTRA OPERATÓRIO
flamatório local, juntamente com o bloqueio de fi- do corno dorsal da medula e parece ser o princi- ratório, porém um grande aumento da sonolência
bras nociceptivas propriamente dito, contribuem pal local onde esses receptores exercem suas ações principalmente nas primeiras 6 horas31.
para a redução da sensibilização neuronal(20). analgésicas. Os efeitos sedativos e de inibição sim- Os dados são conflitantes e contraditórios ne-
Apesar de alguns autores terem evidenciado que a pática limitam o uso dessas drogas como adjuvan- cessitando de mais estudos randomizados para se Anestesia Geral + Anestesia espinhal
administração de anestésico local antes da incisão tes aos analgésicos. A clonidina tem sido usada de estabelecer recomendação rotineira do uso da ga- Anestesia Regional (não como primeira
reduz o consumo e aumenta o tempo para requi- inúmeras maneiras na redução da dor pós-opera- bapentina e pregabalina para a redução do uso de (Bloqueio Femural) escolha)
sição de analgésicos, outros não encontraram di- tória: oral, intravenosa, intra-articular, peridural e opioides no ambiente da dor aguda pós-operatória.
ferenças entre os que fizeram a infiltração no fim subaracnóidea. Os melhores resultados aparecem
da cirurgia. quando associada aos anestésicos locais no neu- ANALGESIA ESPECÍFICA
Além dos bloqueios de nervos periféricos, di- roeixo e em bloqueios periféricos, prolongando a DE CADA PROCEDIMENTO: PÓS-OPERATÓRIO
versas classes de medicamentos têm sido usadas, ação destes em 30 a 50%26,27. A dexmedetomidina Diversos autores reconheceram a necessidade
com bons resultados, durante as anestesias, com o é um agonista alfa 2 adrenérgico altamente sele- de criar algoritmos e recomendações baseadas em
intuito de promover melhora da analgesia pós-ope- tivo, vem sendo bastante utilizado na sedação de evidência e específicas para diferentes tipos cirúrgi-
ratória e exercerem efeito poupador de opioide. As pacientes em terapia intensiva e centro cirúrgico cos. Os estudos de meta-análise foram compilados e
mais em voga são os bloqueadores dos receptores e como adjuvante poupador de opioides durante criaram o PROSPECT (PROcedure-SPECific postopera- Analgesia Multimodal Avaliar
NMDA (Cetamina), os bloqueadores alfa-2 adre- as anestesias gerais e pós-operatórios28. A hipnose tive pain managemen)32. O protocolo de artroplastia regular sistematicamente a dor
nérgicos (Clonidina e Dexmedetomidina) e os Ga- resulta de seu efeito no Locus ceruleus, já o efeito de joelho pode ser consultado pelo website http:// • Dipirona/Paracetamol através das escalas:
bapentinóides (Gabapentina e Pregabalina). analgésico resulta de sua ação no corno dorsal da www.postoppain.org e pelas Figura 4. • AINES ou Inibidores Se EVN maior que
Antagonistas dos receptores NMDA – Cetami- medula. Geralmente usada com dose inicial de 0,5 Cox 2 (com cautela) 4, manter analgesia
na é um enantiômero anestésico derivado da fen- a 1mcg/kg em 10 a 15 minutos, seguida da infusão REABILITAÇÃO PRECOCE • Opioides fortes anterior
ciclidina, que promove anestesia dissociativa entre contínua de 0,2 a 0,7 mcg/kg/h. O paciente pode be- DEPOIS DA CIRURGIA Se EVN menor que 4,
o tálamo e o córtex, além de possuir capacidade neficiar-se do despertar e transição para o ambien- A boa analgesia pós-operatória sozinha é insu- pode substituir opioide
analgésica bastante efetiva, mesmo em baixas do- te pós-operatório com ansiólise e analgesia além do ficiente para melhorar o desfecho e a recuperação forte por opioide fraco
ses. Pode ser usada em bolus ou infusão contínua baixo potencial de depressão respiratória. pós-operatória. Contudo, protocolos multimodais Reabilitação precoce
para analgesia ou sedação. Inúmeros mecanismos Gabapentinoides – Gabapentina e Pregabali- para melhorar a recuperação após uma cirurgia
de ação vem sendo atribuídos a ela cujo mais im- na: São fármacos antiepiléticos com significativa têm sido desenvolvidos e facilitam a adesão na fi-
portante é ser antagonista dos receptores NMDA eficácia no tratamento da dor neuropática e possi- sioterapia e a mobilização precoce33. Fonte: adaptado de Prospect (www.postoppain.org)
(principal receptor relacionado à propagação do velmente, na dor pós-operatória. Exercem efeito
estímulo álgico), agonista de receptores opioides, anti-nociceptivo pela ligação à unidade alfa-2 delta
receptores glutamatérgicos não NMDA, receptores dos canais de cálcio voltagem dependentes. Além
colinérgicos muscarínicos, ação anti inflamatória e do efeito antialodínico central, os gabapentinoides

Conclusão
anestésica local21,22,23,24. Em dose única, até 0,25 mg também inibem a transmissão de dor. A biodisponi-
/Kg, foi considerada segura e com baixo potencial bilidade varia intensamente em relação à dose e ao
de alterações neuropsicodislépticas; em infusão indivíduo, devendo ser individualizada para atingir
contínua, deve ser iniciada na dose de 0,1 mg/kg/h os objetivos clínicos. Poucos estudos clínicos ran- Atualmente, na abordagem para Dor Pós-Opera- que podem necessitar de atenção especial no
com incrementos a cada 4 a 6 horas de 0,1 mg/kg, domizados abordam a eficácia da administração tória1: controle da Dor Pós-Operatória, devido a dor
até o efeito desejado21,22. Vários estudos demons- desses fármacos no período perioperatório para o • Pressupõe-se que todas as dores agudas po- crônica que apresenta antes da cirurgia, ansie-
tram que uma única dose endovenosa seguida de controle da dor aguda em ortopedia, e os resultados dem e devem ser controladas para otimizar dade, tratamento prévio com opioides ou altera-
infusão contínua por 24 horas diminui o consumo são conflitantes. Um trabalho realizado por Eipe e as funções físicas e emocionais, dos pacientes, ções comportamentais como catastrofização ou
de morfina em pacientes submetidos a artroplas- colaboradores concluiu que a pregabalina diminui reduzindo desta forma a morbimortalidade pe- uso indevido de substâncias.
tia de quadril. O mais interessante é que pacientes o consumo de analgésicos após vários tipos de ci- rioperatória, tempo de internação e custos para • Organiza-se o controle de dor, desde o pré-
recebendo cetamina possuem menor incidência de rurgia, porém, com pequeno efeito na melhora do o sistema de saúde. -operatório até o pós-operatório, para que haja
cronificação de dor25. controle da dor; efeito este observado em procedi- • Devemos identificar previamente pacientes melhorias de eficácia, qualidade e segurança.
106 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 107

• Preconiza se a combinação de diferentes tipos • Avalia-se de forma contínua os pacientes que 19. FredricksonMJ, Krishnam S, Chen CY. Postoperati- 26. Silva RF, Rezende DC, Ribeiro JM, Gomes TH, Oliveira
de medicamentos, como analgésicos comuns, tiveram alta hospitalar para reconhecimento e ve analgesia for shoulder surgery; a critical aprai- BAMF, Pereira FMR, Almeida IAA, Carvalho AERC-As-
anti-inflamatórios e opioides e, quando possí- tratamento precoces de dor persistente e ou- sal and review of current techniques. Anaesthe- sociação de clonidina e ropivacaína no bloqueio de
sia.2010;65:608-624 plexo braquial para artroscopia de ombro.Rev Bras de
vel, anestesia local, como estratégia de analge- tras consequências indesejáveis das cirurgias.
20. Kraychete DC, Sakata RK, Lannes LOC, Bandeira ID, Anestesiol.2016; 66(4):335-340
sia multimodal ou balanceada para reduzir a • Todos os profissionais de saúde envolvidos no Sadatsune EJ. Dor crônica persistente pós-operatória: 27. Menezes MS, Schiavo CL, Silva VB, Schimidt AC, Rose
necessidade de um único fármaco ou modo de peri-operatório do paciente devem colaborar o que sabemos sobre prevenção, fatores de risco e GL, Simões A- Efeitos da adição de clonidina à mistura
tratamento, minimizando efeitos adversos de para prevenir e tratar a dor pós-operatória, com tratamento? Rev. Bras. Anestesiol. 2016, 66 de bupivacaína hiperbárica e morfina na analgesia
cada um. o objetivo de melhorar o resultado clínico do pa- 21. Bell JD; In Vogue: Ketamine for neuroprotection pós-operatória, em pacientes submetidas à cesariana,
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108 ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 109

CAPÍTULO 10

Dor crônica
Beatriz J. Jacob Milani
Maria Teresa R. J. Jacob

Introdução
O reconhecimento da dor crônica (DC) como tica. Apesar da definição da DC ser temporal, para
doença foi, durante anos, debatido e negligencia- a maioria dos pacientes o maior problema não é o
do, apesar do impacto socioeconômico tanto nos tempo de duração da dor, e sim as perdas associa-
serviços de saúde como na população mundial. Sua das a ela: perda de função, de identidade, da saúde
importância como doença é demonstrada em estu- mental (ansiedade, depressão), no relacionamento
dos epidemiológicos, uma vez que causa prejuízos familiar, da qualidade de sono, na vida profissional
na qualidade de vida e também representa fator de e consequentemente o enorme comprometimen-
risco independente de mortalidade1,2. Trata-se de to da qualidade de vida5. As estimativas sugerem
uma patologia frequente, na maioria das vezes não que o impacto sócioeconômico da DC é tão grande
tratada adequadamente apesar do tratamento da quanto, ou até maior que o de patologias cardíacas
dor ser direito humano fundamental3. e doenças oncológicas6. A American Society of Anes-
A dor crônica representa um peso para o indi- thesiologists (ASA) considera como DC a dor episódi-
víduo, os familiares, o empregador, os sistemas ca ou persistente com duração ou intensidade que
de saúde e para a sociedade de um modo geral4. comprometa a qualidade de vida do paciente, re-
A dor representa a principal causa de procura por lacionada a todas as causas não oncológicas7. Esta
atendimento médico, bem como a principal quei- definição evidencia tanto a ausência de função da
xa no pronto atendimento e na prática farmacêu- DC como sinal de alerta como sua influência nega-
110 DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 111

tiva no emocional. A noção de cronicidade varia de versão do Código Internacional de Doenças (CID- cientes pertencentes a estes grupos, pode evitar a Entretanto, em grupos de risco, o controle rigoroso
acordo com diferentes autores, mas geralmente é 11)10. Felizmente, após 6 anos de exaustivos esfor- cronificação da dor aguda15. da dor durante semanas após a cirurgia é mais im-
considerada crônica quando persiste por mais de 3 ços por parte da International Association for the A dor crônica pós-operatória é uma das quei- portante ainda24.25.
a 6 meses8. A Organização Mundial da Saúde (OMS) Study of Pain (IASP), pela primeira vez o CID inclui xas mais comuns em clínicas de dor22. O risco de Em pesquisa realizada no Brasil observou-se
considera dor crônica a dor contínua ou recorrente códigos para dores crônicas. Com a inclusão de có- dor pós-operatória é de aproximadamente 10% e uma prevalência de DC de 39%, com idade média
por mais de 6 meses9. A dor também é considera- digos específicos para os diferentes tipos de DC no este risco aumenta se o paciente tiver 2 ou mais dos de 41 anos e predominância no gênero feminino
da crônica quando persiste além do tempo normal CID-11 haverá melhor abordagem multidisciplinar fatores de risco23. Acredita-se que analgesia eficaz (56%). A insatisfação com o tratamento foi reporta-
para resolução do agente causador. Em 25 de maio da dor e facilitação para os estudos sobre a preva- no pós-operatório diminui o risco de cronificação. da por cerca de metade dos participantes26.
do ano de 2019 a OMS adotou a décima primeira lência e o impacto da dor crônica11.

Impacto da dor crônica


Epidemiologia
EM RELAÇÃO AO PACIENTE que nos de dor aguda ou os que não apresentam dor;
É difícil precisar a incidência da DC. Os pa- ram alteração do sono, sendo que 9% não dormiam e quanto mais intensa a dor, pior o escore.28
cientes com frequência não se lembram quando mais. Um quarto dos participantes relataram a in- Função física e atividades diárias
os sintomas começaram e procuram atendimento fluência da dor em sua vida profissional e os que A dor interfere em diversas funções orgânicas, No sono
médico quando a dor está presente há algum tem- continuavam trabalhando apresentavam absenteís- levando ao sofrimento pelo aumento gradativo das Alterações do sono são frequentes em porta-
po12. Pesquisa telefônica realizada em 15 países da mo de 7 a 8 dias nos últimos 6 meses. É importante incapacidades físicas27. Diversos estudos relacio- dores de DC. Essas alterações podem aumentar o
Europa e em Israel no ano de 2006 revelou que 20% ressaltar que menos de 2% dos portadores de DC nam a DC com diminuição da atividade física. A in- nível de stress, além de prejudicar a parte cogni-
das pessoas sofrem de DC com duração igual ou su- haviam consultado um especialista. Em um estudo tensidade, duração e localização da dor têm papel tiva afetando atividades no trabalho e em casa. Os
perior a 6 meses, com pelo menos 2 episódios por longitudinal com duração de 1 ano e questionários decisivo na atividade física, levando à sua diminui- estudos demonstram que uma noite maldormida
semana e intensidade maior ou igual a 5 em uma seriados a cada 3 meses, Landmark et al observa- ção e determinando limitações físicas que afetam a é seguida de um dia com dor mais intensa assim
escala de 1 a 101. ram uma prevalência de dor moderada a severa de vida diária. Os pacientes portadores de DC frequen- como um dia de dor mais intensa é seguido de um
Localizações mais frequentes: 31%13. temente não têm consciência do seu nível de ativi- sono de pior qualidade. Estes achados mostram a
1. Região lombar 18%. Em relação ao sexo, a prevalência da DC é maior dade física, uma vez que os parâmetros objetivos e importância do diagnóstico do distúrbio do sono e
2. Cabeça 15%. no sexo feminino14. subjetivos diferem. Se o paciente superestimar seu do tratamento adequado28.
3. Joelhos 14%. Deve-se salientar que alguns fatores de risco au- nível de atividade, ele pode considerá-la suficien-
4. Membros inferiores 14%. mentam a chance do desenvolvimento de DC após te e, portanto, não ter intenção nem motivação de Nas atividades laborais
5. Seguidas pelos ombros 9%; coluna cervical e qua- um episódio de dor aguda: mudar seu comportamento. Como a intenção e a Estudos realizados em diferentes países mos-
dril 8%; mão 6%; coluna dorsal 5%. A duração da 1. Idade mais avançada, gênero feminino, predis- motivação de mudar são os pontos principais para a tram que a dor é responsável por grande aumento
dor foi de 2 a 15 anos em 60% dos participantes. posições genéticas15. mudança comportamental de acordo com modelos do absenteísmo, necessidade da mudança de função
Etiologias: 2. Baixo nível socioeconômico e tipo de trabalho. 16 teóricos, é importante conscientizar os pacientes e desemprego. Na Espanha, 24,4% dos indivíduos
1. Osteoartrite 34%. 3. Background geográfico e cultural15. do seu comportamento para que eles adotem um com DC pediram licença medica no ano anterior, e
2. Compressões radiculares 15%. 4. Antecedentes de stress psicológico15. estilo de vida mais saudável, tornando-se mais ati- 12% saíram ou foram dispensados de seu emprego.
3. Traumatismo 12%. 5. Lesão tecidual cirúrgica17. vos e diminuindo as limitações causadas pela dor28. Os trabalhadores que mantiveram a atividade de tra-
4. Poliartrite 8%. 6. Depressão, tendência a ansiedade e preocupa- balho apesar da dor apresentaram redução na pro-
5. Cefaleias e migrâneas7%. ção exagerada18. Na qualidade de vida dutividade de 21,5% na dor leve, 26% nos casos de
6. Fraturas e degeneração da coluna vertebral 6%. 7. Estilo de vida: sedentarismo, dieta inapropriada A qualidade de vida, tanto mental como física, é dor moderada e 42,9% na dor severa (e neste caso
7. Lesão de nervo ou cartilagem 4%. e obesidade15. outra consequência negativa da dor. Diferentes estu- as porcentagens foram progressivamente maiores).
8. Síndrome do chicote 4%. 8. Portadores de outra patologia crônica19.20. dos mostram que portadores de fibromialgia, artrite Outros estudos demonstram que absenteísmo, pre-
9. Cirurgias 3%. 9. Hiperalgesia induzida por opioides e endocrino- reumatóide ou dor lombar baixa apresentam impor- senteísmo, aposentadoria precoce e incapacidade
12% dos entrevistados desconheciam a causa de patias21. tante comprometimento na qualidade de vida de representam um fardo tão grande quanto outras
sua dor. Os fatores de risco não podem ser alterados. Po- acordo com o questionário Qualidade de Vida Rela- condições que convencionalmente são priorizadas
A pesquisa também mostrou a importância da rém, uma abordagem ideal no tratamento de um cionada à Saúde (HRQoL). O escore total do HRQoL em saúde pública. Entre as patologias responsá-
DC na qualidade de vida: 56% das pessoas referi- episódio doloroso agudo, principalmente em pa- é bem mais baixo em pacientes portadores de DC do veis pelo maior número de atestados médicos, em
112 DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 113

primeiro lugar está a dor lombar seguida de dores rebrais que fazem parte da matriz dolorosa estejam DOR CRÔNICA ONCOLÓGICA CEFALEIA CRÔNICA E DOR OROFACIAL
reumáticas. A Dor Neuropática e a Fibromialgia implicadas neste processo (amígdala, ínsula e córtex A dor frequentemente está associada à patologia Somente as cefaleias crônicas mais frequentes e
(FM) também afetam consideravelmente a atividade cingulado anterior)28. oncológica e até então não era considerada no CID. dores faciais crônicas, sendo a mais comum a dis-
no trabalho e aumentam o absenteísmo. Um estudo Ela foi listada separadamente na nova classificação função temporo-mandibular, foram incluídas nesta
recente realizado na Espanha demonstrou que me- CUSTOS RELACIONADOS À DOR CRÔNICA porque existem guidelines específicos de tratamen- classificação. A cefaleia e a dor orofacial são consi-
tade dos portadores de FM perdeu a capacidade de Entre os custos relacionados à DC temos que to. A dor oncológica compreende a dor causada deradas crônicas quando ocorrem em pelo menos
trabalho, 23% receberam pensão por incapacidade e considerar os custos diretos e os indiretos. Os cus- pela própria patologia e a dor decorrente do trata- 50% dos dias durante 3 meses34.
somente 30% obtiveram readaptação no trabalho29. tos diretos incluem hospitalização, acompanha- mento34.
Apesar da relevância destes fatos, este assunto tem mento ambulatorial e equipamentos para melhora DOR CRÔNICA VISCERAL
merecido pouca atenção na literatura. das atividades diárias. Entre os custos indiretos DOR CRÔNICA PÓS-CIRÚRGICA É a DC que se origina de órgãos internos da
estão os benefícios sociais, benefícios por afasta- OU PÓS-TRAUMÁTICA cabeça, região cervical, torácica, abdominal, e
Na vida social e familiar mento do trabalho, diminuição da produtividade, Esta entidade foi criada porque a dor persistente cavidade pélvica38,39.Esta seção é subdividida de
Além dos aspectos citados anteriormente, a DC absenteísmo e aposentadoria prematura por in- pós-cirurgia e pós-trauma é frequente. Esta é uma acordo com os principais mecanismos envolvi-
afeta a vida social e as atividades de lazer do indi- capacidade28,29. Na Irlanda, o custo por ano foi de definição de exclusão uma vez que outras causas de dos. Isto é: inflamação persistente, mecanismos
víduo. Metade dos pacientes refere ausência em 34 bilhões de euros 52% em custos diretos e 48% dor não são consideradas (infecção e dor decorren- vasculares (isquemia, trombose), obstrução ou
atividades de laser, eventos sociais e familiares. Es- em indiretos, correspondente a 3% do produto in- te de um problema pré-existente)34. distensão, tração ou compressão, combinação de
tudos em portadores de FM e Osteoartrite (OA) de- terno bruto (PIB).30 Resultados semelhantes foram diferentes mecanismos e dor referida de outra lo-
monstraram que tanto a dor como problemas físicos observados na Suíça e nos Estados Unidos.31,32 Nos DOR CRÔNICA NEUROPÁTICA calização34.
e emocionais tiveram impacto significante na vida Estados Unidos, esta taxa superou os custos com DC neuropática é a dor causada por lesão ou
social. As emoções negativas, a irritabilidade e a rai- doenças cardíacas, câncer e diabetes32. disfunção do sistema somato-sensitivo.36 Para ser DOR CRÔNICA MUSCULOESQUELÉTICA
va apresentam um impacto negativo nas relações in- considerada dor neuropática é necessária a con- Neste grupo estão dores músculoesqueléticas
terpessoais e no stress familiar. A vida profissional, SIMULAÇÃO E LITÍGIO firmação da lesão ou doença envolvendo o sistema decorrentes de inflamação persistente, infecção,
social e diária dos familiares também acaba sendo A simulação pode ocorrer em diferentes contex- nervoso (por imagem, biópsia, ENMG ou testes la- doenças autoimunes ou metabólicas como artrite
afetada. Em estudo recente observou-se que grande tos clínicos. O processo de detecção de simulação boratoriais, além de sinais negativos ou positivos reumatoide, e alterações estruturais que afetem
porcentagem de familiares apresenta ansiedade e de dor não é uma tarefa fácil. De acordo com Greve compatíveis com o território de inervação do nervo ossos, articulações, tendões ou músculos (como a
tristeza, deixando também de participar de ativida- e colaboradores (2009), a prevalência de simulação lesado)36.37. osteoartrite sintomática)34.
des sociais. Vários estudos comprovam que 60 a 70% em pacientes com dor crônica com incentivo finan-
dos familiares que são cuidadores apresentam uma ceiro está entre 20 e 50%. Os autores ressaltam que
ou mais patologias relacionadas ao fato. Do ponto de nem todo excesso de dor relacionada à incapacida-
vista neurobiológico, existe uma correlação entre o de é resultado de simulação. Portanto, o conheci-
paciente e o impacto no ambiente especialmente da mento do profissional sobre DC é extremamente

Fisiopatologia da dor crônica


família e parentes, provavelmente por um fenôme- necessário para verificar a associação entre o relato
no de empatia. Admite-se que algumas regiões ce- e o sintoma33.

Atualmente, acredita-se que a DC ocorre por SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA


um processo patológico de reorganização do sis- Após a lesão tecidual, as células liberam diver-
tema nervoso.40 Diversos fatores estão implicados sas substâncias inflamatórias (prostaglandinas,

Classificação da dor crônica35


nesta gênese, entre eles a predisposição genética ATP/ADP, serotonina, bradicinina, fator de cres-
41-43
e os mecanismos de sensibilização central e cimento neuronal, entre outras) que constituem
periférica44. Fenômenos de sensibilização perifé- a chamada “sopa inflamatória”. Estas substâncias
DOR CRÔNICA PRIMÁRIA logia e fisiopatologia não completamente esclare- rica e central são a base da fisiopatologia da DC. estimulam os nociceptores das fibras C e A delta
DC primária é definida como dor em uma ou cidas34. Algumas patologias presentes neste grupo O conhecimento da fisiopatologia, dos conceitos que transformam este estímulo em potencial elé-
mais regiões anatômicas que persiste ou é re- são: dor lombar não identificada como muscular de sensibilização central e periférica, bem como trico. Esta “sopa” induz a modificação de diferentes
corrente por mais de 3 meses, associada a stress ou neuropática, dor crônica difusa, fibromialgia, da modulação da dor são essenciais para a com- nociceptores. O influxo elétrico segue em direção
emocional significativo e/ou importante compro- disfunção temporo-mandibular, síndrome com- preensão, avaliação e o tratamento da DC. Por ser ao sistema nervoso central (SNC), mas também
metimento funcional que não pode ser explicada plexa de dor regional, síndrome do intestino irri- uma doença multifatorial, estes conhecimentos retorna para a periferia (refluxo axônio antidrômi-
por outra condição crônica. Esta nova definição tável35. são necessários para uma abordagem terapêutica co) liberando substância P e o Peptídeo Ligado ao
foi criada porque DCs primárias apresentam etio- multidimensional45. Gene da Calcitonina (CGRP) que são responsáveis
114 DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 115

pela inflamação neurogênica. A lesão tecidual in- dos níveis iônicos a que ficam expostos. O concei- pacientes. As mais utilizadas são a Escala Ana- Pain DETECT - baseado na anamnese; LANSS
duz alterações gênicas e também a nível do gânglio to de perda da inibição central constitui um alvo lógica Visual (EAV), Escala Numérica (EN) e Es- (Leeds Assessement of Neuropathic Symptons
espinal, que a longo prazo modificam a resposta às terapêutico interessante, como veremos poste- cala Verbal (EV) and Signs) e o DN4 (Dor Neuropática em Qua-
fibras aferentes (nociplasticidade). A expressão dos riormente. Paralelamente a estas alterações, ocor- 2. Questionários Multidimensionais: Os validados tro Questões) ambos baseados em anamnese e
canais de sódio é aumentada e dos canais de potás- re também a ativação dos astrócitos da micróglia, no Brasil são o Questionário de Dor de McGill exame clínico
sio diminuída. Os canais de sódio próximos à lesão que correspondem aos monócitos e macrófagos nas versões original e curta e o Inventario Breve É importante uma cartografia detalhada das re-
participam da excitabilidade periférica. Já a ativi- no SNC. Lesões nervosas, mesmo que periféricas, de Dor (BPI- Brief Pain Inventory) giões dolorosas e a caracterização da dor (periodi-
dade ectópica nos nervos lesados e nos íntegros ad- levam a alterações morfológicas da micróglia e 3. Escalas para Avaliação de Dor Neuropática: cidade, intensidade, etc.).
jacentes contribui para a sensibilização central45. também das suas propriedades e expressão gêni-
ca. As células modificadas secretam mediadores
SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL inflamatórios (fator neurotrófico derivado do cé-
Com a manutenção do estímulo nociceptivo, rebro) que transformam os neurônios gabaérgicos

Tratamento da dor crônica


os receptores N-Metil D-Aspartato (NMDA), que inibitórios em excitatórios. A sensibilização cen-
normalmente estão bloqueados pelo íon magné- tral é responsável pelo aumento da excitabilidade
sio, são ativados e então permitem a entrada de da sinapse, o que se traduz na prática clínica pela
cálcio no neurônio pós-sináptico. Outros neu- alodínea e hiperalgesia45. (Figura 1) O objetivo do tratamento é melhorar o sofrimen- mento doloroso tanto do ponto de vista compor-
rotransmissores e fatores tróficos são liberados, to, a qualidade de vida e fazer uma profilaxia das tamental como fisiológico. A memória também
mantendo uma resposta mais intensa e mais pro- Figura 1: Sensibilização central (Cervero F, Laird JM. complicações através de uma abordagem multidis- tem papel importante na percepção dolorosa,
longada. Ocorre também aumento do número de Mechanisms of allodynia: interactions between sensitive ciplinar. A multidisciplinaridade inclui tratamento assim como no desenvolvimento e manutenção
receptores. Em seguida, inicia-se a expressão de mechanoreceptors and nociceptors. Neuro report. 1996 farmacológico e não farmacológico. das patologias dolorosas crônicas54.
novos genes que atuam tanto no nível pré como Jan 31;7(2):526-8.) Algumas patologias são incuráveis, como a 2. Terapia Psicológica: Inclui esclarecimento (in-
pós-sináptico. As primeiras alterações ocorrem osteoartrose (AO). Nesses casos, os objetivos tera- certezas, relaxamento, controle da atenção,
em segundos e duram alguns minutos. As reações Intensidade da dor pêuticos geralmente se concentram em maximizar autocontrole, reforço do bem estar), hipnose
para o estímulo X: resposta de dor
que se seguem podem aparecer após alguns dias a função e a qualidade de vida do paciente, man- (controle da atenção, comportamento), e relaxa-
INTENSIDADE DA DOR

resposta de dor sensibilizada sensibilizada


e persistir por longo período. A irreversibilidade tendo a dor sob controle e minimizando os efeitos mento muscular. 
de alguns mecanismos de sensibilização se deve a resposta de dor adversos derivados do uso de medicamentos47,48. 3. Biofeedback.
morte neuronal (apoptose) dos neurônios inibitó-
Intensidade da dor
normal
Os anti-inflamatórios não esteroidais podem ser 4. Medicina Física: Acupuntura, Termoterapia,
rios do corno posterior da medula espinal, facili- para o estímulo X:
lesão benéficos nos estágios iniciais, mas com o tempo Eletroterapia, Cinesioterapia, RPG, Spray/Strech,
resposta de dor normal
tando a transmissão do sinal nociceptivo. De modo eles se tornam ineficientes, e a administração de Terapia de pontos gatilho.
menos definitivo, os interneurônios inibidores ga- outros medicamentos como antidepressivos ou 5. Identificação e correção de fatores perpetuantes.
baérgicos ou glicinérgicos podem ser modulados, gabapentinoides é mais aconselhável. Esse fenô-
exercendo um efeito menos evidente, podendo até meno pode estar relacionado ao fato de que a dor TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
desenvolver uma ação excitatória em decorrência INTENSIDADE DO ESTÍMULO crônica em pessoas com OA está mais relacionada A escolha da terapia medicamentosa adequada
a alterações neuroplásticas no sistema nervoso do deve se basear na eficácia comprovada por estudos
que a uma condição inflamatória da articulação.49 clínicos, tolerabilidade, perfil do paciente (efei-
Atualmente, a sensibilização periférica e especial- tos colaterais que podem ser desencadeados em
mente a sensibilização central têm sido propos- populações especiais), segurança (interações me-

Avaliação da dor e exames complementares


tas como dois dos mecanismos subjacentes à dor dicamentosas em pacientes sob politerapia) e em
tanto na AO, como em outras condições de dor esquema posológico que permita maior adesão55.
musculoesquelética crônica50,51. De fato, há um A terapia farmacológica é recomendada como pri-
É importante compreender a multidimensio- DC. A avaliação inclui anamnese detalhada, exame número crescente de pesquisas envolvendo meca- meira linha de tratamento para dor crônica e se-
nalidade da dor e avaliar seus aspectos sensitivos clínico e exames complementares de acordo com nismos de dor na OA como mecanismos centrais gue a orientação da OMS (1986) segundo a Escada
discriminativos, bem como afetivos motivacionais. as diferentes situações (exames laboratoriais, exa- da dor, uma questão discutida em várias revisões Analgésica. É um método simples, de custo relati-
A avaliação psicológica é importante uma vez que mes de imagem, eletroneuromiografia). Diversos recentes52.53. vamente baixo e eficaz em 70 a 90% dos casos. Ela
a dor crônica pode levar a transtornos psiquiátri- instrumentos podem ser utilizados para avaliar a se baseia em 3 princípios básicos:
cos, sendo o inverso igualmente possível. O aspec- percepção da dor e a evolução do tratamento:46 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Com horário;
to psicológico está frequentemente incluído nos 1. Escalas unidimensionais: são de fácil aplicação, 1. Abordagem psicossomática: As funções cogniti- • De acordo com a escada analgésica;
questionários de avaliação multidimensional da confiáveis e facilmente compreendidas pelos vas são determinantes essenciais do comporta- • Via oral (sempre que possível)56.
116 DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 117

Os fármacos devem ser constantemente adap- lização de fármacos de classes medicamentosas di-
tados de acordo com as queixas dos pacientes, in-
tensidade e características da dor. Os analgésicos
ferentes promove efeito sinérgico com aumento da
eficácia e diminuição da incidência de efeitos ad-
Conclusão
devem ser administrados de acordo com a farma- versos58. O tratamento farmacológico ideal é mul- A dor é uma experiência multidimensional, que periférico são responsáveis pela cronificação desse
cocinética para manutenção de uma analgesia efi- timodal e baseado nos mecanismos responsáveis pode se transformar de processo adaptativo em processo. Devido à complexa fisiopatologia, o trata-
caz, com controle adequado dos picos álgicos e de pelo processo doloroso crônico58. (Figura 3) doença. Alterações no sistema nervoso central e/ou mento da dor deve ser multidisciplinar.
acordo com a intensidade da dor57. (Figura 2) A uti-

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120 OSTEOARTRITE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 121

Epidemiologia
osteófitos e deformidades, as mudanças ósseas imaginava anteriormente.
ocorrem cedo no curso da doença. Em estudos ra- Todas essas alterações morfológicas e infla-
diográficos, aumento do “turnover” do osso sub- matórias causam dor de caráter nociceptivo. É
A mais recente atualização do Global Burden de 23,9% entre as mulheres e 18,3% entre os ho- condral ocorreu até cinco anos antes do apareci- fundamental, no entanto, ter em mente que a os-
of Disease estima que 242 milhões de pessoas no mens acima de 60 anos10. Considerando apenas os mento de alterações radiográficas. teoartrite, como toda doença crônica, pode cursar
mundo vivem com sintomas e limitações devido à indivíduos com mais de 80 anos, a prevalência foi Sinovite ocorre mesmo nos estágios iniciais da com sensibilização central da dor. Isto significa que
osteoartrite dos joelhos ou quadris8. No Brasil, esti- de 31%. OA e pode ser subclínica. Estudos artroscópicos além de entender a fisiopatologia mecânica e infla-
ma-se que um terço da população acima de 25 anos Um levantamento nacional norte-americano demonstram alterações na sinóvia de até 50% dos matória da doença, não podemos perder de vista a
possa apresentar algum grau de osteoartrite9. A encontrou uma prevalência de 37,4% de OA radio- pacientes com OA, muitos dos quais não apresen- fisiopatologia da dor, pois a partir do momento em
prevalência da OA como um todo é marcantemen- lógica nos indivíduos acima dos 60 anos11. Portanto, tavam sinais clínicos de sinovite. Técnicas mais que surge dano nas vias da dor, não adiantará mais
te correlacionada com a idade. Independente de o problema é grave e, pior, de gravidade crescente. novas utilizando RM de 3 Teslas têm demonstrado tratar apenas a articulação.
como ela é definida, é incomum em adultos abai- Por ser uma doença relacionada a fatores como que a inflamação sinovial é mais comum do que se
xo de 40 anos e extremamente prevalente acima de idade e obesidade, sua prevalência tende apenas a
60 anos, principalmente entre as mulheres. Estudo aumentar em países como o Brasil em que a popu-
alemão encontrou uma prevalência de OA clínica lação está envelhecendo e engordando.

Diagnóstico
Fisiopatologia
Em 1957, Kellgren e Lawrence propuseram uma Quadro 1: Classificação de Ahlback modificada por Keyes
classificação radiológica da OA baseados nas se-
guintes características radiológicas, consideradas
GRAU 1 Redução do espaço articular
O conceito de que a osteoartrite é uma conse- volvimento de comorbidades e distúrbios mentais evidência da doença:
quência inevitável do envelhecimento, um desgaste relacionados ao envelhecimento. O próprio insulto 1. Formação de osteófitos nas margens da articula-
articular devido ao uso (“wear and tear”), há mui- mecânico, seja traumático, por um desvio de eixo, ção, ou, no caso dos joelhos, nas espinhas tibiais. GRAU 2 Obliteração do espaço articular
tos anos ficou para trás. Até mesmo a escolha dos ou pela perda da função meniscal, gera uma res- 2. Ossículos periarticulares.
termos osteoartrose, artrose ou osteoartrite gera posta inflamatória. O que se pode afirmar é que, 3. Estreitamento da cartilagem articular em asso- AP - desgaste do platô tibial <5mm
GRAU 3
polêmica, uma vez que os dois primeiros denotam entre todos os tecidos articulares acometidos na ciação com esclerose do osso subcondral. P - parte posterior do platô intacta
um fator causal degenerativo/mecânico, enquanto osteoartrite, a cartilagem, o osso submcondral e a 4. Pequenas áreas pseudocísticas com paredes es- AP - desgaste do patô tibial entre 5 e 10mm
o último implica a presença da inflamação como sinóvia são os três principais atingidos pelos meca- cleróticas geralmente situadas no osso subcon- GRAU 4
P - desgaste da margem porterior
fator primordial gerador da doença, o que o torna nismos patológicos da OA. dral.
AP - grave subluxação da tíbia
mais adequado. Em vista do conhecimento atual, Eventos-chave que ocorrem na cartilagem in- 5. Forma alterada das margens ósseas. GRAU 5
P - subluxação anterior da tíbia
observamos dois grandes conjuntos de fatores que cluem o desbalanço metabólico e o surgimento de Os autores, então, classificaram a OA em cinco
parecem exercer papel fundamental no desenvol- sinalizadores de degradação, estimulados por cas- graus: Grau 0: Nenhuma; Grau 1: Duvidosa; Grau 2:
vimento da OA: os mecânicos e os inflamatórios12. catas de citocinas, e a produção de mediadores in- Mínima; Grau 3: Moderada; Grau 4: Grave.
Não são, porém, os únicos. Além dos fatores me- flamatórios. Em pacientes com OA, os condrócitos, Portanto, o Grau 0 indica a ausência de altera- uma radiografia grave não necessariamente cursa
cânicos e inflamatórios, existem fatores genéticos, assim como as células sinoviais, produzem níveis ções radiográficas de OA, e o Grau 2 indica que a com grande sintomatologia.
metabólicos, psicológicos, e aqueles relacionados aumentados de citocinas inflamatórias, como a in- OA está definitivamente presente, com acometi- Em 1986, o Colégio Americano de Reumatologia
ao gênero e à idade, entre outros. E o que torna a terleucina 1β (IL-1β) e o fator de necrose tumoral mento mínimo. (ACR) estabeleceu uma lista de critérios diagnós-
fisiopatologia ainda mais complexa é que os fatores alfa (TNF-α), que, por sua vez, diminuem a síntese Em 1968, Ahlback elaborou uma classificação ticos para a OA dos joelhos (Quadro 2). Estes cri-
não atuam de forma independente, mas possuem de colágeno e aumentam mediadores catabólicos, radiológica posteriormente modificada por Keyes, térios são os mais usados atualmente para definir
uma intensa e complexa interação entre si. como metaloproteinases (MMPs) e outros media- conforme o Quadro 1: um paciente como portador de OA, e possuem boa
A idade, por exemplo, pode gerar inflamação dores inflamatórios como interleucina 8 (IL-8), in- É importante ressaltar que nos estudos que se reprodutibilidade.
pelo processo de “inflammaging”, que é a inflama- terleucina 6 (IL-6), prostaglandina E2 (PGE2) e óxi- baseiam em critérios radiológicos a prevalência de Na prática, devemos sistematizar nosso diag-
ção gerada pela senescência celular13, pode gerar do nítrico (NO). osteoartrite é substancialmente mais alta do que nóstico a fim de identificar o maior número de fa-
distúrbios mecânicos, pela perda de força muscular Vários estudos tem focado no papel do osso sub- se observa em estudos que se baseiam em critérios tores envolvidos na patogênese da osteoartrite do
e capacidade neuromotora, e pode também gerar condral na patogênese da OA. Apesar de grosseiras clínicos. Isto porque a correlação entre a alteração paciente que está em nosso consultório. Assim sen-
alterações metabólicas e psicológicas, pelo desen- nos estágios finais da doença, com a formação de radiográfica e a sintomatologia é pobre, ou seja, do, é interessante a divisão do diagnóstico em 3:
122 OSTEOARTRITE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 123

Quadro 2: Critérios diagnósticos do ACR para OA ou mesmo por um fisioterapeuta e inclui: a afe- Além da identificação de diversos pontos que
rição de medidas básicas de trofismo muscular e poderão ser endereçados em nossa estratégia de tra-
CLÍNICO E LABORATÓRIO CLÍNICO E RADIOGRÁFICO CLÍNICO arco de movimento; a aferição objetiva da dor por tamento, a avaliação funcional ainda tem 2 grandes
ferramentas como a escala visual analógica de funções: a primeira é a de dar números e parâme-
Dor no joelho e pelo menos Dor no joelho e pelo menos Dor no joelho e pelo menos
dor (EVA); a aplicação de questionários funcionais tros muito objetivos e que permitem assim uma cla-
5 dos 9: 1 dos 3: 3 dos 6:
como Western Ontario McMaster Osteoarthritis ra comparação entre momentos, para que possamos
- Idade >50 anos - Idade >50 anos - Idade >50 anos
Index (WOMAC) ou do índice de Lequesne; a apli- ter mais clareza sobre a evolução do caso; a segunda
- Rigidez menor que 30 minutos - Rigidez menor que 30 minutos - Rigidez menor que 30 minutos
cação de questionários de qualidade de vida como é possibilitar um fundamento mais sólido e objetivo
- Crepitação - Crepitação e osteófitos - Crepitação
o SF-36; a aferição da força muscular por um di- para a difícil e muitas vezes extremamente subjetiva
- Dolorimento ósseo - Dolorimento ósseo
namômetro (isocinético ou mesmo isométrico); e a decisão de se indicar o tratamento por artroplastia
- Alargamento ósseo - Alargamento ósseo
aplicação de testes de performance como a cami- total. Tambascia e colaboradores14 identificaram 12
- Discreto aumento de temperatura - Discreto aumento de temperatura
nhada dos 6 minutos (6MWT), teste “sente-levante” características funcionais quem correlacionam-se
- VHS <40mm/hora
ou ainda o “timed up and go” (TUG). A avaliação com o aumento da chance do paciente vir a precisar
- Fator Reumatoide <1:40
funcional pode ainda buscar por outros alvos tera- de uma artroplastia total do joelho. Este estudo trou-
- Líquido sinovial osteoartrítico
pêuticos através da aplicação de questionários de xe a possibilidade de melhorarmos a atual maneira
identificação de dor neuropática e de pensamentos pela qual indicamos uma artroplastia total de joelho
92% sensibilidade 91% sensibilidade 95% sensibilidade
catastróficos. com o uso de ferramentas menos subjetivas.
75% especificidade 86% especificidade 69% especificidade

DIAGNÓSTICO CLÍNICO/LABORATORIAL: damental importância a solicitação de um Raio-X

Tratamento
Este deverá ser obtido através de uma adequada panorâmico dos membros inferiores para adequa-
anamnese, que deverá detalhar a história dos sin- da avaliação do eixo dos membros inferiores.
tomas, presença e caracterização de comorbidades, A ressonância magnética pode ter seu uso limi-
uso de medicações e perfil psicológico. O índice de tado devido a seu alto custo, mas certamente tem Como já dito na introdução deste capítulo, esta- para indivíduos diversos, mesmo que pertençam a
massa corpórea deve ser calculado e qualquer alte- a capacidade de contribuir muito com a identifi- mos longe de um consenso sobre a melhor forma um mesmo subgrupo fenotípico. Não obstante, um
ração recente no peso investigada. A atividade físi- cação de fatores envolvidos na doença, especial- de tratamento devido à grande complexidade dos mesmo indivíduo pode ter características comuns
ca também deve ser detalhada. O exame físico bem mente nos casos mais iniciais. Muitos autores con- fatores envolvidos no desenvolvimento e progres- a vários fenótipos, como por exemplo um obeso
feito é fundamental e deve incluir avaliação do eixo sideram que já estamos atrasados demais quando são da OA. Isso tem levado a tentativas de agrupar (fenótipo metabólico) que foi submetido a uma me-
do paciente e também da marcha. As alterações de o paciente já apresenta alterações tão grosseiras a pacientes com características da doença em co- niscectomia no passado (fenótipo pós-traumático).
exame físico que mais indicam gravidade e evolu- ponto de serem visíveis ao raio-X. A RM é um exce- mum ou ainda semelhantes respostas ao tratamen- Assim, a classificação por fenótipos, apesar de um
ção da doença são: deformidade aparente, perda de lente instrumento para avaliar o osso subcondral. to, em subgrupos denominados de fenótipos da OA. avanço, também não é suficiente. É preciso ir além.
arco de movimento, presença de derrame articular, Um aumento de sinal na sequência T2 indica uma Vários autores propuseram diferentes fenótipos da Como os fenótipos nada mais são do que gru-
e, é claro, local e característica da dor. sobrecarga localizada ou até mesmo fraturas por OA baseando-se em características clínicas, labora- pos de pacientes que dividem características seme-
insuficiência naquela região óssea e pode orientar toriais ou ainda achados de exames de imagem15. lhantes, uma maneira mais prática e mais eficiente
DIAGNÓSTICO RADIOLÓGICO: nossa conduta. Também é excelente para avaliar Desta forma, tenta-se correlacionar estes diferen- de se manejar o paciente com OA é considerar e tra-
Todo paciente com queixa compatível com os- sinovite. Alterações em cartilagem e meniscos es- tes fenótipos a diferentes padrões de resposta ao tar cada uma das características, às quais podemos
teoartrite deve ser submetido à avaliação radioló- tarão presentes na quase totalidade dos casos e de- tratamento, criando, assim, a possibilidade de dar o nome de alvos. Assim, buscaremos tratar a
gica. As radiografias em 2 posições são recomenda- vem ser interpretadas com cautela. desenvolvimento de tratamentos específicos para obesidade, a inflamação, a dor crônica, o varismo,
das para a maioria das articulações e a classificação determinados grupos de pacientes, teoricamente e assim por diante, através de um tratamento ba-
de K&L pode ser utilizada globalmente. Especifica- DIAGNÓSTICO FUNCIONAL: permitindo melhor eficácia. seado em alvos.
mente para o joelho, o Raio-x na incidência antero- O diagnóstico funcional, ou seja, correta avalia- No entanto, na prática ainda encontramos res-
-posterior deve ser realizado com carga. Também ção e interpretação da função que nosso paciente postas e evoluções totalmente diferentes mesmo TRATAMENTOS “UNIVERSAIS”
recomenda-se radiografia com discreta flexão dos apresenta, é fundamental. Existem pacientes que, em indivíduos pertencentes a um mesmo fenótipo. O pacote básico de tratamento que deve ser ofe-
joelhos (como Rosemberg, por exemplo) para ava- apesar de possuírem imagens radiológicas idênti- Isto porque, apesar de agrupar pacientes com ca- recido a todos os pacientes com OA é o tripé edu-
liar a porção mais posterior dos côndilos femorais. cas, apresentam capacidades funcionais totalmen- racterísticas semelhantes, a grande variedade dos cação, atividade física e perda de peso, este último
As articulações femoropatelares também necessi- te diferentes, e isso alterará muito nossa conduta. fatores envolvidos na fisiopatologia de cada indiví- obviamente para aqueles pacientes com IMC eleva-
tam avaliação. Ainda quanto aos joelhos, é de fun- A avaliação funcional pode ser feita pelo médico duo torna difícil o sucesso do mesmo tratamento do. A educação consiste em dar informação ao pa-
124 OSTEOARTRITE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 125

ciente sobre seu problema, orientá-lo sobre atitudes analgésicos certamente cumprem essa função, po- interleucina (com destaque para a interleucina 1 particular, o corticosteroide regula para baixo a ex-
e estilo de vida adequados e estimulá-los a manter a rém existem outros alvos que podemos atacar com beta) e fator de necrose tumoral. Estas substâncias, pressão de moléculas de adesão e inibe receptores
aderência ao tratamento. A prescrição de atividade o uso de medicação oral, à seguir: por sua vez, podem diminuir a síntese de colágeno celulares de transcrição, diminuindo a produção
física deve ser personalizada, respeitando as carac- e aumentar mediadores catabólicos, como metalo- de citocinas inflamatórias como IL-1, IL-6 e TNF-
terísticas funcionais de cada paciente e identifican- Tratamento da dor aguda proteinases (MMPs) e outros mediadores inflama- -alfa. O principal benefício da IA de corticosteroide
do fatores facilitadores assim como fatores que pos- A dor aguda nociceptiva é aquela causada por tórios como interleucina 8 (IL-8), interleucina 6 (IL- é o alívio da dor. A literatura é robusta e homogê-
sam ser barreiras para a perseverança do paciente. uma lesão tecidual e consequente processo infla- 6), prostaglandina E2 (PGE2) e óxido nítrico. Drogas nea a respeito da grande eficácia e rapidez de ação
A obesidade é outro fator capital no desenvolvimen- matório, principalmente mediado por prostaglan- que diminuem a inflamação crônica agindo nestes desta modalidade de tratamento. O paciente com
to da OA, tanto pelo distúrbio mecânico que o ex- dinas. Esse tipo de dor responde muito bem aos alvos, como por exemplos algumas das chamadas osteoartrite que apresenta uma crise aguda de si-
cesso de peso leva aos membros inferiores, quanto anti-inflamatórios não hormonais (AINHs), medi- drogas de ação sintomática lenta (SYSADOA) po- novite e derrame articular é o candidato ideal para
pelo distúrbio inflamatório causado pela produção cação que apresenta a maior evidência de eficácia dem ser usadas para combater esse alvo. No Brasil esta modalidade de tratamento. Outra excelente in-
excessiva de citocinas inflamatórias (adipocinas). O contra dor para OA e recomendada por todos os são conhecidas como condroprotetores17. dicação de IA de hexacetonido de triancinolona é
alvo obesidade deve ser atacado sempre com dieta guidelines. A preferência sempre será pelo uso tó- Entre as drogas capazes de diminuir a inflama- no tratamento conservador de lesões degenerativas
associada a exercícios, e, em casos mais extremos, pico, mas geralmente o AINH oral é o mais utiliza- ção crônica de baixo, destacam-se: a diacereína, que meniscais no paciente de meia idade com artrose
até mesmo com cirurgia bariátrica. do. O problema é que os AINHs podem cursar com atua principalmente pela inibição dos efeitos da IL- mínima, já que a artroscopia há muitos anos não é
A identificação e controle de outras comorbi- efeitos adversos graves como gastrite, insuficiência 1; Os extratos insaponificáveis de soja e de abacate recomendada nestes casos.
dades como diabetes, hipertensão e dislipidemia renal e eventos cardiovasculares. Seu uso, portan- são comprovadamente inibidores de IL-1, IL-6, IL-8 A viscossuplementação é a injeção intra-arti-
(síndrome metabólica), assim como de disbiose, to, deve ser restrito à menor dose possível pelo me- e metaloproteases in vitro e estimuladores do con- cular de ácido hialurônico. O líquido sinovial é
também é importante. Essas condições promovem nor tempo possível. drócito in vitro; o harpagosídeo e os curcuminoides, basicamente um ultrafiltrado de sangue acrescido
um status de inflamação crônica de baixo grau que Os analgésicos comuns como paracetamol e di- capazes de exercer papel inibitório na COX-2 e re- de ácido hialurônico. O ácido hialurônico é um po-
tem o potencial de interferir negativamente na evo- pirona também tem papel no controle da dor aguda duzir a produção de óxido nítrico sintetase, radicais lissacarídeo naturalmente produzido pelas células
lução da osteoartrite. da OA pelo seu perfil de segurança. Os opioides es- livres, fator de necrose tumoral alpha, interleucina tipo B da membrana sinovial e suas moléculas de
tão indicados quando dor moderada a intensa, no 1 beta e diversas metaloproteinases; a Boswelia Ser- elevado peso molecular formam uma solução de
OUTROS TRATAMENTOS NÃO entanto, utilizando-os em curto período de duração ratia, com mecanismo anti-inflamatório pela via da alta viscosidade. A injeção intra-articular de ácido
MEDICAMENTOSOS a fim de evitarmos o risco de adição. lipoxigenase; e o Colágeno tipo 2 não desnaturado, hialurônico tem basicamente 3 objetivos princi-
Atividades consideradas como terapias de corpo que atua diminuindo a inflamação articular por me- pais: viscossuplementação propriamente dita, ou
e mente, como Yoga e Tai-chi também são úteis no Tratamento da dor crônica canismo imunológico de tolerância oral. seja, melhorar as propriedades reológicas do líqui-
tratamento da OA. Medidas físicas fisioterápicas e A artrose, por ser uma doença incurável, acaba Existem ainda os condroprotetores que promo- do sinovial, servindo tanto como um lubrificante
Acupuntura podem ser utilizadas principalmente causando dor por longos períodos de tempo. Isso vem menor efeito anti-inflamatório mas também quanto como um amortecedor de choques; anal-
em crises dolorosas. Na OA de joelho, o mau ali- pode levar a um quadro de sensibilização central, tem ação analgésica lenta e de estimulação ao con- gesia; melhorar a homeostase articular, diminuin-
nhamento (varo ou valgo) é um alvo importantíssi- com o desenvolvimento de dor com características drócito: a glicosamina, que participa da síntese do a inflamação e estimulando positivamente os
mo, pois joelhos mau-alinhados tem maior risco de neuropáticas. É fundamental, portanto, o correto das glicosaminoglicanas (GAGs), proteoglicanas e condrócitos. Tem, portanto, potencial de retardar a
apresentar OA e, consequentemente, maior risco diagnóstico do componente neuropático da dor, já hialuronato da cartilagem articular, com resultados evolução da doença osteoartrite18.
para a progressão da doença do que joelhos com que muitas vezes a dor da artrose é mista (nocicep- controversos dependendo da formulação utilizada; Estudo recente19 demonstrou grande benefício
alinhamento neutro. Joelhos com alinhamento em tiva e neuropática). O componente de dor crônica a condroitina, que apesar de bom perfil analgésico da associação das duas modalidades supracitadas,
varo têm um aumento em quatro vezes do risco deve ser tratado com medicação específica, como demonstrou pequena (porém significante) redução pois assim une-se o efeito potente porém, fugaz
de progressão da OA no compartimento medial, e antidepressivos tricíclicos, antidepressicos duais na diminuição da espaço articular; a associação de do corticoide ao benefício de longo prazo do ácido
aqueles com alinhamento em valgo têm aproxima- ou ainda alguns anticonvulsivantes, além, é claro, ambas, com benefícios demonstrados em pacien- hialurônico.
damente cinco vezes mais risco de progressão da de medidas não farmacológicas como movimenta- tes com dor moderada e grave; e o colágeno hidro-
OA lateral. A associação do mau alinhamento com ção/ativação articular e psicoterapia. As 3 medica- lisado, que tem evidência de alívio sintomático e TRATAMENTO CIRÚRGICO
o tamanho e a progressão das regiões com edema ções mais utilizadas para esse fim são a amitriptili- aumento na quantidade de GAGs na cartilagem. Existem diversas modalidade de tratamento ci-
ósseo assim como perda acelerada de cartilagem na, a duloxetina e a pregabalina. rúrgico que podem ser utilizadas no tratamento da
também foi demonstrada. Este alvo pode ser trata- TRATAMENTOS POR INFILTRAÇÃO osteoartrite. A seguir listamos as principais moda-
do através do uso de órteses ou palmilhas16. Tratamento da inflamação crônica O uso intra-articular de corticosteroides ofere- lidades cirúrgicas e suas indicações:
Na artrose, observamos crises de dor e inflama- ce alta concentração da droga no sítio primário da
TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS ção agudas, mediadas por prostaglandinas, mas patologia (o interior de articulação), onde o medi- Artroscopia
Quando se fala em tratamento medicamentoso existe um pano de fundo inflamatório crônico que camento irá interferir positivamente em diversos A indicação da artroscopia nos pacientes com
pensa-se logo em remédios para alívio da dor. Os é mediado por células e outras substâncias como aspectos inflamatórios e imunológicos locais. Em artrose vem ficando cada vez mais restrita, sendo
126 OSTEOARTRITE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 127

até mesmo considerada proscrita por alguns au- cada em indivíduos mais jovens com alta deman-
tores. Com o progressivo entendimento da doença da física. Referências bibliográficas
fica claro que procedimentos isolados em lesões
1. de Rezende, M.U., G.C. de Campos, and A.F. Pailo, the United States: arthritis data from the Third National
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rão benefício ao paciente, mas poderão trazer com- O tratamento de um quadro restrito a apenas 2013. 21(2): p. 120-2. Rheumatol, 2006. 33(11): p. 2271-9.
plicações, além dos custos envolvidos20. um compartimento também pode ser tratado atra- 2. Sacitharan, P.K., Ageing and Osteoarthritis. Subcell 12. Rezend, M.U.d. and G.C.d. Campos, Is osteoarthritis a
vés de uma prótese unicompartimental do joelho. Biochem, 2019. 91: p. 123-159. mechanical or inflammatory disease? Revista Brasileira
Osteotomias Atualmente, o paciente considerado ideal para a 3. Hochberg, M.C., et al., American College of Rheuma- de Ortopedia, 2013. 48(6): p. 471-474.
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nhamento pode ser tratada por um realinhamento joelho é aquele com idade superior a 55 anos com
thritis of the hand, hip, and knee. Arthritis Care Res 14-20.
ósseo através de uma osteotomia. O varo excessivo baixa demanda física, artrose unicompartimental,
(Hoboken), 2012. 64(4): p. 465-74. 14. Tambascia, R.A., et al., Pre-operative Functional Pa-
sobrecarrega o compartimento medial do joelho, bom alinhamento e bom arco de movimento da ar- 4. Jevsevar, D.S., et al., The American Academy of rameters of Patients Undergoing Total Knee Arthro-
sendo que a deformidade geralmente encontra-se ticulação22. Orthopaedic Surgeons evidence-based guideline on: plasty. Physiother Res Int, 2016. 21(2): p. 77-83.
na tíbia. Assim sendo, a correção pode ser feita treatment of osteoarthritis of the knee, 2nd edition. J 15. Dell’Isola, A., et al., Identification of clinical phenotypes
através de uma osteotomia tibial alta, que pode ser Artroplastia total do joelho Bone Joint Surg Am, 2013. 95(20): p. 1885-6. in knee osteoarthritis: a systematic review of the litera-
em cunha lateral de fechamento, ou em cunha de A prótese total de joelho é atualmente o pro- 5. Bruyere, O., et al., An algorithm recommendation for ture. BMC Musculoskelet Disord, 2016. 17(1): p. 425.
the management of knee osteoarthritis in Europe 16. Campos, G.C., et al., Lateral wedge insole for knee
abertura medial. A osteotomia tibial alta de cunha cedimento padrão ouro para o tratamento da os-
and internationally: a report from a task force of the osteoarthritis: randomized clinical trial. Sao Paulo Med
de abertura medial é a osteotomia de joelho mais teoartrite avançada do joelho nos casos em que o
European Society for Clinical and Economic Aspects J, 2014. 0: p. 0.
popular pela maior facilidade técnica e menor ín- controle sintomático não é mais possível através of Osteoporosis and Osteoarthritis (ESCEO). Semin 17. Campos, G.C.d., Chondroprotective agents: are we
dice de complicações21. das medidas conservadoras. O número desse pro- Arthritis Rheum, 2014. 44(3): p. 253-63. being too dogmatic? MedicalExpress, 2014. 1(4): p.
O valgo do joelho é mais comumente corrigido cedimento cirúrgico tem crescido, dado ao seu 6. McAlindon, T.E., et al., OARSI guidelines for the non- 211-213.
por uma osteotomia varizante realizada no femur. sucesso. Estima-se que nos Estados Unidos esse -surgical management of knee osteoarthritis. Osteoar- 18. Rezende, M.U.d. and G.C.d. Campos, Viscosuplemen-
Assim como na tíbia, é possível realizar a osteo- número chegue a 3.48 milhões no ano de 2030, thritis Cartilage, 2014. 22(3): p. 363-88. tation. Revista Brasileira de Ortopedia, 2012. 47(2): p.
7. Castaneda, S., et al., Osteoarthritis: a progressive 160-164.
tomia femoral por cunha de abertura lateral ou um aumento de 673%. Mundialmente a incidên-
disease with changing phenotypes. Rheumatology 19. Campos, G.C., et al., Adding triamcinolone to viscosu-
cunha de fechamento medial. É importante res- cia chega a 150-200 cirurgias em cada 100.000 in- (Oxford), 2014. 53(1): p. 1-3. pplementation: one year outcome of randomized trial.
saltar serem necessárias certas condições para a divíduos. É um procedimento altamente custo-e- 8. Global Burden of Disease Study, C., Global, regional, MedicalExpress, 2014. 1(5): p. 257-261.
correta indicação de uma osteotomia, como sin- fetivo, com uma estimativa recente de um custo and national incidence, prevalence, and years lived 20. Felson, D.T., Arthroscopy as a treatment for knee os-
tomas restritos ao compartimento a ser descarre- de 11.548 dólares por ano de vida ajustado pela with disability for 301 acute and chronic diseases teoarthritis. Best Pract Res Clin Rheumatol, 2010. 24(1):
gado, bom arco de movimento, estabilidade liga- qualidade de vida. Tem excelente sucesso a longo and injuries in 188 countries, 1990-2013: a systematic p. 47-50.
mentar e ausência de artrose secundária a doença prazo, com séries demonstrando sobrevivência de analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. 21. Passarelli, M.C., et al., Comparison of Puddu osteo-
Lancet, 2015. 386(9995): p. 743-800. tomy with or without autologous bone grafting: a
sistêmica. A osteotomia é tradicionalmente indi- 94,1% em15 anos23.
9. Coimbra, I.P., PG; Campos, GC, Osteoarthritis: Genera- prospective clinical trial. Rev Bras Ortop, 2017. 52(5): p.
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disease in Brazil. A Study through Delphi methodolo- 22. Dettoni, F., et al., High tibial osteotomy versus unicom-
gy. Clinics, in press. partmental knee arthroplasty for medial compartment
10. Postler, A., et al., Prevalence and treatment of hip and arthrosis of the knee: a review of the literature. Iowa
knee osteoarthritis in people aged 60 years or older Orthop J, 2010. 30: p. 131-40.
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claims data. Clin Interv Aging, 2018. 13: p. 2339-2349.
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11. Dillon, C.F., et al., Prevalence of knee osteoarthritis in Clin Orthop Relat Res, 1993(286): p. 94-102.
Em resumo, a osteoartrite não é doença única, sucesso. A artroplastia total pode ser considerada
mas um produto de uma interação complexa entre não como falha do tratamento, mas com a conti-
diversos fatores ou alvos. Assim sendo, considerar nuidade do tratamento para aqueles pacientes que
e tratar cada um destes alvos torna nosso manejo não respondem mais às medidas conservadoras.
mais individualizado e aumenta nossa chance de
128 OSTEOARTRITE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 129

CAPÍTULO 12

Dor em reumatologia
Ricardo Fuller
Samuel Katsuyuki Shinjo
Carolina Besser Cozac Kobayashi

Introdução
A dor é um dos sintomas mais frequentes rela- lhos, hábitos, uso de medicações, antecedentes pes-
tados no consultório, portanto, para a elaboração soais e antecedentes familiares são também muito
diagnóstica, é importante caracterizá-la quanto ao importantes na determinação das possíveis causas
sítio (articular ou extra-articular), duração, frequên- das dores em doenças reumatológicas1,2.
cia, tipo, intensidade, periodicidade, irradiação, A presença da dor pode estar relacionada a uma
sintomas associados (rigidez matinal, fenômeno de enorme variedade de doenças reumatológicas de
Raynaud, lesões cutâneas, alterações ungueais, alo- natureza osteodegenerativa, imunoinflamatória,
pécia, dispneia, etc.), fatores de melhora ou piora infecciosa, neoplásica, mecânico-traumática, en-
e fatores precipitantes (exemplo: medicações, in- tre outras. Assim sendo, é importante haver um
fecções, traumas, dieta, esforço físico, etc.). Além padrão de classificação para facilitar sua interpre-
disso, outros fatores devem ser levados em conta, tação, diagnóstico e tratamento corretos2.
como a susceptibilidade e o limiar individual à dor, Um passo inicial importante da dor é a definição
fatores sociais, ambientais e psicológicos, medica- da sua origem, isto é, articular ou extra-articular
mentos em uso atual ou prévio e sua resposta e/ou (bursas, tendões, enteses, nervos e/ou músculos).
efeitos colaterais. Não podemos esquecer que já na Na sequência, devem ser identificados o maior nú-
anamnese, os dados demográficos, história da mo- mero possível de características desse sintoma no
léstia atual, interrogatório sobre os diversos apare- sentido de propiciar um diagnóstico mais preciso2.
130 DOR EM REUMATOLOGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 131

Quadro clínico
Tabela 2: Dados da anamnese e diagnóstico diferencial: artralgia/artrite em doenças reumatológicas1,2

ANAMNESE POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS


ANAMNESE tende a ser produzida ou exacerbada com a mobi-
Dor de origem articular x extra-articular lidade da articulação afetada em todos os planos1,2. Febre reumática
Dor de origem articular Há uma recomendação do European League Against Artrite idiopática juvenil
Jovens
Inicialmente, as dores articulares devem ser ca- Rheumatism (EULAR) para investigação de artral- Espondiloartrites
racterizadas segundo a presença de inflamação1-3. gias sem artrite ou sem outro diagnóstico, que po- (exemplo: espondilite anquiosante)
A artralgia é definida como dor articular rela- dem ter risco de evoluir para artrite reumatoide Perfil etário Gota
tada pelos pacientes e no geral é pouco específica; (Tabela 1)3. Adultos
Artrite reumatoide

Tabela 1: Características definidas pelo EULAR para dor articular (artralgias) com risco de artrite reumatoide. Se ≥ 4 Osteoartrite
positivas (risco de 93,6% de evolução para artrite reumatoide) encaminhar para o reumatologista para investigação e Idosos Gota
tratamento precoce. Se ≥ 5 positivas (risco 100% de evolução para artrite reumatoide)3 Pseudogota
Gota
Estes parâmetros devem ser utilizados em pacientes com dor articular (artralgia) sem sinais clínicos de artrite e sem Masculino Espondiloartrites
outros diagnósticos ou explicação para a artralgia. (exemplo: espondilite anquiosante)
Sexo
HISTÓRICO Artrite reumatoide
Feminino Síndrome de Sjögren
- sintomas articulares de início recente (duração < 1 ano)
Lúpus eritematoso sistêmico
- sintomas localizados nas articulações metacarpofalangeanas (MCP)
Artrite séptica
- duração da rigidez matinal ≥ 60 minutos Sintomas constitucionais Neoplasia / síndrome paraneoplásica
- sintomas mais intensos presentes no início da manhã Artrite de doenças difusas do tecido conjuntivo

- presença de parente de primeiro grau com artrite reumatoide Glicocorticoides Osteonecrose asséptica
Medicamentos
EXAME FÍSICO Anticoagulantes Hemartrose

- dificuldade para ficar com o punho fechado


- “squeeze test” positivo das articulações metacarpofalangeanas (MCP)
femoral, tendão patelar proximal e distal, espa- a inferir que a dor pode ter uma causa reumatólógi-
ço costocondral (junto ao esterno), crista e espi- ca, por exemplo uma espondiloartrite (Tabela 4), já
nhas ilíacas e processo espinhoso de L52,7. que 73% dos pacientes com essa doença possuem
A artrite se caracteriza pela presença de um ou • Dactilite: também denominado “dedo em sal- • “Puffy hands” ou edema difuso de mãos, ocorre dor lombar inflamatória4,5.
mais dos seguintes sinais e/ou sintomas: dor, rubor/ sicha”, reflete a presença de inflamação de ten- comumente na doença mista do tecido conjun-
eritema, edema e calor, podendo haver eventual li- dões (flexores dos dedos comumente), articu- tivo, artrite microcristalina e RS3PE (Remitting Rigidez matinal
mitação da amplitude de movimento. A artrite apre- lações, óssea e/ou de partes moles adjacentes, Seronegative Symmetrical Synovitis with Pitting O conceito de rigidez matinal se estabelece
senta aspectos específicos para cada doença, alguns causando dedo difusamente edemaciado e in- Edema - síndrome associada a neoplasia), além quando há queixas de dificuldade e/ou lentidão ao
exemplos de artrite foram ilustrados na Tabela 21,2. tensamente doloroso. É um achado típico das de causas infecciosas1,7. movimento articular, principalmente ao acordar
espondiloartrites, mas pode ocorrer também da pela manhã e após períodos de inatividade2. É um
Dor de origem extra-articular sarcoidose, anemia falciforme ou doenças in- Tipo de dor sintoma que ajuda a diferenciar dor inflamatória,
Decorre do envolvimento das bursas, tendões, fecciosas (tuberculose, fungos, etc.)2. Dependendo das características dolorosas, a quando prolongada (> 1h) é indicativa de dor com
músculos, nervos e/ou ênteses. Pode estar presente • Entesite: é a inflamação da êntese, que é o ponto determinação subjetiva da diferença entre um pro- origem inflamatória; quando fugaz (< 1h) é indicati-
em uma ampla variedade de doenças reumatológi- de inserção tendíneo, muscular ou osteoligamen- cesso mecânico e inflamatório pode auxiliar no va de dor não inflamatória (exemplo: fibromialgia,
cas e não é uma manifestação específica ou patog- tar ao tecido ósseo. Pode ser desencadeada por diagnóstico clínico das estruturas anatômicas aco- osteoartrite, etc.)1,2.
nomônica2. trauma, excesso de uso ou caracteristicamente metidas, conforme mostradas na Tabela 31,2.
Doenças autoimunes por vezes apresentam aco- ocorre nas espondiloartrites. Os principais lo- Para lombalgia, o grupo Assesment of Spondiloar- Simetria e padrão de acometimento
metimento extra-articular típico de uma ou um cais de acometimento são a inserção do tendão thritis International Society (ASAS) determinou as ca- Dados relativos à localização da dor articular
grupo de doenças, descritos a seguir: calcâneo, fáscia plantar, tendão do quadríceps racterísticas de dor inflamatória que podem ajudar podem ser relevantes na definição diagnóstica. O
132 DOR EM REUMATOLOGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 133

Tabela 3: Características dos tipos de dor musculoesquelética1,2 Tabela 5: Número de articulações envolvidas, duração da doença articular e possíveis diagnósticos1,2

NÚMERO DE
CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO DURAÇÃO DIAGNÓSTICOS
ARTICULAÇÕES
Dor no início do movimento ou quando ele é executado Artropatias microcristalinas
Mecânica Presença de rigidez (principalmente matinal) de curta duração Aguda Artrites infecciosas
Exemplos: osteoartrite Pós-traumáticas
Presença de rigidez (principalmente matinal) prolongada (> 60 min) Monoarticular 1 Hemartrose
Melhora durante a atividade Artrites infecciosas (não-bacterianas)
Inflamatória Presença de sinais flogísticos Crônica Neoplasias articulares
Exemplos: gota, infecção articular, artrite reumatoide, espondiloartrites, síndrome de Sjögren, Osteoartrite
lúpus eritematoso sistêmico e outras doenças do tecido conjuntivo Osteonecrose asséptica
Artrites infecciosas (bacterianas - gonocócica)
Aguda Artrite reumatoide
Tabela 4: Critérios ASAS para dor lombar inflamatória. Duração e número de articulações envolvidas Febre reumática
Positivo quando apresenta ao menos 4 das 5 A dor articular pode ser classificada de acordo Oligoarticular 2a4 Espondiloartrites
características acima4 com sua duração e número de articulações envol-
Infecções virais
vidas (Tabela 5)1,2. Crônica
Osteoartrite
A artrite aguda é aquela cuja duração é de horas
(Para)neoplasias
CARACTERÍSTICAS a dias, enquanto que a crônica tem duração maior
que 4 a 6 semanas1,2. Artrite reumatoide
Início antes dos 40 anos
Quanto ao número de articulações, o envolvi- Aguda Doenças difusas do tecido conjuntivo
Início insidioso Infecções virais
mento pode ser monoarticular (uma articulação),
Dor que melhora com exercício oligoarticular (duas a quatro articulações) ou po- Artrite reumatoide
Poliarticular >4
Dor que não melhora com o repouso liarticular (cinco ou mais articulações)1,2. Doenças difusas do tecido conjuntivo
Crônica Infecções virais
Dor noturna que melhora quando levanta
Localização de acometimento articular Osteoartrite
As articulações envolvidas podem acometer um (Para)neoplasias
padrão preferencialmente axial ou apendicular/pe-
envolvimento simétrico pode ser encontrado na riférico.
osteoartrite, artrite reumatóide, espondiloartrites As articulações periféricas podem ser classifica- Também é importante avaliar deformidades e Ao se examinar uma articulação ativa e passiva-
(exemplo: espondilite anquilosante e artrite pso- das em: instabilidades articulares (exemplo: dedos “em pes- mente, dor à movimentação suave e passiva sugere
riásica), lúpus eritematoso sistêmico, gota (fase • Pequenas articulações: punhos, interfalângicas, coço de cisne”, geno varo/valgo, subluxações fixas origem articular; já dor relatada à movimentação
tardia), entre outras. Já o envolvimento assimétrico metacarpofalângicas, carpometacárpicas, entre ou redutíveis, nódulos de Heberden e Bouchard, ativa e contra resistência, sugere sintoma de ori-
pode acontecer nas espondiloartrites (exemplo: ar- outras; etc.) e lesões/alterações dermatológicas no entorno gem extra-articular. Perceber se há crepitação da
trite reativa, artrite enteropática, artrite psoriásica • Grandes articulações: ombros, cotovelos, coxo- (exemplo: púrpuras, ulcerações, eritema nodoso, articulação pode sugerir um processo degenerativo
(forma periférica assimétrica), gota (fase precoce), femorais, joelhos, tornozelos2. pústulas, varizes, fenômeno de Raynaud, atrofia de articular e/ou ósseo. Além disso, é importante exa-
entre outras2. fâneros, alterações de cor, espessamentos, cicatri- minar o paciente quanto à hipermobilidade articu-
O padrão de envolvimento pode sinalizar a evo- EXAME FÍSICO zes e retrações, alterações ungueais, etc.)1. lar, os critérios mais utilizados são os de Beighton1,2.
lução temporal do acometimento articular. O pa- No exame físico articular à procura de doenças
drão aditivo é aquele no qual o envolvimento de no- reumatológicas devemos observar se há sinovite, o
vas articulações se soma ao das demais já afetadas melhor indicador é a distensão da cápsula articu-

Exames complementares
(exemplo: artrite reumatóide). Já o padrão migra- lar, especialmente se acompanhado de calor local.
tório sinaliza uma sequência não cumulativa, no Ao se palpar uma articulação, a pressão exercida
qual o envolvimento de uma ou mais articulações a procura de sinovite é aquela em que idealmen-
ocorre após a melhora completa ou parcial de outra te deixa esbranquiçada a ponta do dedo, abaixo da Os exames complementares específicos mais gicas serão descritos abaixo.
(exemplo: febre reumática)2,5. unha (4 kg/cm2)1. frequentemente utilizados nas doenças reumatoló-
134 DOR EM REUMATOLOGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 135

VHS aparelho mitótico. Pode ser positivo em até 30% das ANTI-CCP ANÁLISE DE LÍQUIDO SINOVIAL
Medida da pilha de hemácias que se precipita pessoas sadias (padrão pontilhado fino denso), mu- (antipeptídeos cíclicos citrulinados) Nas artrites agudas mono ou oligoarticulares,
na primeira hora. Exame muito sensível, mas pou- lheres e idosos são os indivíduos sadios com maior Especificidade de 95% para diagnóstico de artri- deve-se considerar causas infecciosas ou micro-
co específico para medir alterações de reagentes de incidência de FAN positivo. A imunofluorescência te reumatóide (AR), com sensibilidade semelhante cristalinas, condições nas quais a punção e a aná-
fase aguda (fibrinogênio, haptoglobina, PCR, alfa- indireta vê padrão que pode corresponder a um au- ao fator reumatóide (67%). Deve ser solicitado na lise do líquido sinovial para pesquisa de cristais,
-1-antitripsina, etc.). Aumenta muito em vasculites to-anticorpo específico; título não se correlaciona suspeita de AR com fator reumatoide negativo ou celularidade e cultura, são importantes para o cor-
e polimialgia reumática, mas nem toda artrite tem com atividade de doença (positivo se > 1:80), e ou- AR precoce1. reto diagnóstico1.
seus níveis aumentados quando há atividade; além tras patologias como hepatites, linfoma, tuberculo-
disso, gestantes, idosos, obesos, usos de heparina e se, mononucleose, uso de hidralazina, metildopa, HLA-B27 MUCOPROTEÍNAS
situações em que há hipergamaglobulinemia, febre clorpromazina, carbamazepina entre outras, po- (antígeno leucocitário humano B27) Classes alfa-2-macroglobulina e alfa-1-glico-
ou anemia, também aumentam o VHS. Demora dem positivar o FAN1,5,6 (Tabela 6). Cerca de 80% da população mundial, há milha- proteína ácida, esta última tem seu valor na febre
para se elevar e tem queda lenta, com diminuição res de anos, tinham positivo, pois é um MHC clas- reumática, na qual a sua normalização constitui o
de 50% de seus níveis em uma semana1. FR (fator reumatóide) se I associado a defesa contra sífilis, toxoplasmo- melhor critério de alta1.
Autoanticorpo contra o fragmento Fc da IgG, po- se, HIV e malária. Hoje em dia, cerca de 0,5% da
PCR (quantitativo) dendo ser de qualquer tipo (mais comum é o IgM). população apresenta positividade para esse alelo. ASLO (anticorpos antiestreptolisina)
Tem função de ativar a via do complemento Encontrado em 80-85% dos paciente com artrite HLAB27 (+) aumenta em 100 vezes o risco de uma Aumentam após contato com streptococo-B-he-
em resposta a um agressão. Eleva-se após 4h da reumatóide, mas pode ser positivo em até 15% in- pessoa desenvolver uma espondiloartrite (EPA); a molítico grupo A (S. pyogenes) com pico 4-6 sema-
agressão tecidual com pico em 24-72h, e a queda divíduos saudáveis. Pacientes com altos títulos ten- chance de um filho ter HLAB27 positivo é 50% e a nas, após isso vai decaindo nos próximos 6 meses.
é rápida se não houver mais estímulo, ocorrendo dem a ter doença mais grave, com manifestações chance dessa pessoa ter EPA é 15-20%. No Brasil, Eleva-se em 80-85% das infecções estreptocócicas
em até 18h. Níveis elevados são encontrados em extra-articulares, mas o controle de doença não sig- até 90% dos pacientes com espondilite anquilo- e evidencia infecção pregressa ou atual, pode ser
artrite microcristalina, febre reumática, vasculi- nifica diminuição do título. Pode positivar também sante são HLAB27 positivos. HLA B27 subtipos *05 solicitado para ajudar no diagnóstico de febre reu-
tes sistêmicas, infecções bacterianas e câncer me- nas doenças difusas do tecido conjuntivo, silicose, (principal), *04, *02 e *07 se associam com EPA; já mática7.
tastático1. infarto agudo do miocárdio, fibrose pulmonar idio- os subtipos *06 (Taiwan) e *09 (Sardenha) não1,7.
pática, polimiosite, sarcoidose, endocardite infec-
FAN (fator antinuclear) ciosa subaguda, AIDS, mononucleose, neoplasias,
Mostra a presença de autoanticorpos contra pós-radioterapia, infecções virais crônicas, tuber-
componentes do núcleo, nucléolo, citoplasma e culose, hanseníase, etc1.

Tabela 6: Padrões de FAN5,6


Principais doenças reumatológicas
que causam dor
NUCLEARES Homogêneo Anti-DNA, anti-histona, antinucleossomo LES e LE induzido por drogas
Além da osteoartrite, fibromialgia, doenças ós- tras artropatias crônicas (exemplo: hemartroses,
LES, DMTC e esclerose sistê-
Pontilhado grosso Anti-Sm e Anti-RNP seas (Paget, osteoporose) e patologias extra-articu- artrite reumatoide, osteoartrite grave, artropatias
mica
lares (tendinopatias, bursopatias, etc.) que serão neuropáticas), diabetes mellitus, imunossupres-
Pontilhado fino Anti-RO, anti-LA e anti-SCL 70 Sadios e dermatite atópica descritas em capítulos específicos, abaixo estão são, uso de fármacos parenterais, drogas ilícitas
descritas as principais causas de dor nas doenças injetáveis e injeções intra-articulares (iatrogenia).
Pontilhado fino denso Anti-DFS70 Sadios e dermatite atópica da reumatologia. A doença gonocócica acomete mais jovens sexual-
mente ativos, e causa poliartralgia aditiva ou mi-
Centromérico Anticentrômero CREST
ARTRITE INFECCIOSA gratória na fase de bacteremia (em que há febre
Anti-SCL 70, anti-PM, anti-fibrilarina, É uma das poucas urgências reumatológicas. A e as lesões cutâneas indolores), além de tenossi-
NUCLEOLAR
anti-RNA polimerase artrite infecciosa bacteriana tem quadro agudo, é novites; após alguns dias pode haver monoartrite
LES, Lupus neonatal e Síndro- em 90% dos casos monoarticular, e cursa com si- séptica aguda ( joelhos, punhos e tornozelos são
CITOPLASMÁTICO Pontilhado fino denso nais flogísticos intensos (dor articular importante), os mais comumente acometidos) após dissemi-
me de Sjögren
por vezes com sinais/sintomas sistêmicos. Causa nação hematogênica do diplococo. Já infecções
Pontilhado reticulado Antimitocôndria Cirrose biliar primária comum é a infecção pelas bactérias Gram positi- articulares causadas por fungos ou micobactérias
vas (exemplo: Streptococcus aureus), e os fatores de (tuberculose, hanseníase) são incomuns, cursam
Pontilhado fino Anti-P LES
risco para sua instalação são: a presença de ou- com quadro de artrite de início mais insidioso e
136 DOR EM REUMATOLOGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 137

curso crônico, e têm como principal fator de risco te hidroxiapatita, consistem em depósitos intra-ar- preenche critérios para mais de um tipo acima. A Tabela 8: Critérios EULAR/ACR (American College of
à imunossupressão2,7. ticulares ou peri-articulares de cálcio (bursites, pe- forma oligoarticular é a mais comum, principal- Rheumatology) de 2010 para diagnóstico de
Doenças virais também podem causar sintomas riartrites, tendinites). Os depósitos intra-articulares mente acometendo joelho e tornozelo7. artrite reumatoide2,7
articulares: a hepatite C crônica é relacionada a um são mais comuns em indivíduos idosos. O mais fre-
quadro de artralgia de pequenas e grandes articu- quente e característico é o que ocorre nos ombros, Tabela 7: Critérios ILAR 2001 para artrite idiopática
ARTICULAÇÕES
lações e, mais raramente, um quadro de oligoar- determinando uma artropatia e envolvimento pe- juvenil5,7
trite ou poliartrite; já a infecção aguda por hepa- riarticular intensos, habitualmente com derrames 1 grande articulação 0
tite B e parvovírus B19 podem causar um quadro significativos, condição conhecida como doença de 2-10 grandes articulações 1
CRITÉRIOS
de poliartrite de pequenas e grandes articulações, Milwaukee. Os depósitos periarticulares acometem 1-3 pequenas articulações 2
assemelhando-se à artrite reumatoide, porém com preferencialmente adultos, mulheres e brancas. As 1. Idade de início inferior a 16 anos 4-10 pequenas articulações 3
duração mais curta. A endocardite bacteriana agu- doenças por CFBC frequentemente coexistem com >10 articulações (pelo menos uma pequena) 5
2. Artrite em uma ou mais articulações
da também pode acarretar um quadro de oligo ou a osteoartrite2,7. SOROLOGIA
poliartrite2,7. 3. Duração mínima da artrite em uma mesma articula-
FR negativo E anti-CCP negativo 0
FEBRE REUMÁTICA ção por seis semanas
FR baixos títulos OU anti-CCP baixos títulos 2
ARTRITE MICROCRISTALINA Ocorre em indivíduos susceptíveis genetica-
4. Tipo de início da doença nos primeiro seis meses de
São causadas pela formação de cristais em teci- mente, duas a seis semanas após uma infecção pelo FR altos títulos OU anti-CCP altos títulos 3
evaolução:
dos articulares e periarticulares. O exemplo clás- Streptococcus pyogenes na pele ou na via aérea supe- SINTOMAS
sico é a gota, mais comum em homens de 30 a 60 rior. Manifesta-se com poliartrite migratória e assi- a) Sistêmico < 6 semanas 0
anos, e ocorre devido a um intenso processo infla- métrica de grandes articulações, com duração de b) Oligoarticular: persistente e estendido > 6 semanas 1
matório, desencadeado pelo depósito de cristais de dias a poucas semanas, e com resolução espontâ- PROVAS DE FASE AGUDA
urato monossódico. Esse processo é estritamente nea e completa (autolimitada). A artrite ocorre em c) Poliarticular FR negativo
PCR e VHS normais 0
relacionado à hiperuricemia (ácido úrico sérico ≥ 75% dos casos, já a cardite ocorre em 50% dos ca- d) Poliarticular FR positivo
PCR ou VHS elevados 1
7,0 mg/dL). A elevação da uricemia sérica decor- sos e costuma se associar à artrite (a coreia, quan-
e) Artrite psoríasica DIAGNÓSTICO: ≥ 6
re basicamente de predisposição genética que de- do ocorre, é mais tardia). Acomete principalmente
termina uma redução na excreção renal de uratos crianças e adultos jovens (5 a 15 anos) de ambos os f) Artrite relacionada à entesite
(85% dos casos) ou uma elevação na sua produção. sexos. A classificação é feita pelos Critérios de Jo-
g) Outras artrites
Fatores como dieta rica em precursores de urato, nes modificados em 20157. DOENÇAS DIFUSAS
condições de aumento do metabolismo (cirurgias, DO TECIDO CONECTIVO
infecções), ingestão alcoólica ou uso de certos me- ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL
dicamentos podem desencadear uma crise de gota Grupo de doenças que se inicia em crianças me- ARTRITE REUMATOIDE Lúpus eritematoso sistêmico (LES)
aguda por supersaturação de urato nos tecidos nores de 16 anos que se manifesta principalmen- A artrite reumatoide afeta aproximadamente O LES acomete principalmente mulheres jo-
com formação e depósito dos cristais2,7. te por artrite que dura por seis semanas ou mais. 0,5% a 1% da população, sendo mais frequente vens, podendo levar ao acometimento articular e
Outro exemplo de artrite microcristalina são FAN e FR podem ser positivos. A classificação ILAR nas mulheres na faixa etária dos 30 aos 50 anos. periarticular, em geral menos agressivo e intenso
as doenças por depósito de pirofosfato de cálcio. (Liga International de Associações de Reumatolo- De um modo geral, a instalação do quadro de ar- que o verificado em outras artropatias crônicas in-
Seu depósito pode ser assintomático, causar artri- gia) de 2001 dividiu nos 7 subtipos (Tabela 7), que trite ocorre de uma forma aditiva e simétrica, aco- flamatórias e autoimunes. O mais comum é a po-
te aguda (pseudogota, com crises de monoartrite ajuda conduzir o tratamento e avaliar o prognóstico metendo pequenas e grandes articulações, com liartrite periférica não-deformante, que acomete
aguda), artropatia inflamatória crônica degene- da doença7. predileção pelos punhos, metacarpofalageanas mãos, punhos, cotovelos, joelhos e pés. Pode levar
rativa (semelhante à artrite reumatoide) ou cal- Na forma sistêmica (ou Doença de Still) há ar- e interfalangeanas proximais das mãos. Sem ne- à artropatia de Jaccoud em 5% dos casos, que é uma
cificação da fibrocartilagem (condrocalcinose). trite acompanhada ou precedida por febre diária nhuma intervenção medicamentosa, pode evoluir deformidade redutível das articulações principal-
Pode ter ocorrência esporádica, ser associada a e rash, linfoadenomegalia generalizada, hepa- para quadro irreversível de artrite erosiva e defor- mente das mãos, mas pode acometer joelhos, pés,
condições familiares ou relacionada às doenças toesplenomegalia e/ou serosites. Na artrite rela- mante. Laboratorialmente, o fator reumatoide e o etc. (e pode ocorrer também na febre reumática).
metabólicas (hemocromatose, hipofosfatasia, hi- cionada à entesite há artrite e/ou entesite com dor antipeptídeo citrulinado cíclico (anti-CCP) são au- Aliás, o LES se caracteriza muito mais pelo envolvi-
pomagnesemia, hiperparatireoidismo, entre ou- lombar inflamatória e/ou sacroileíte, pode haver toanticorpos presentes em, respectivamente, 60 e mento de outros órgãos e sistemas (muco-cutâneo,
tras) ou após trauma ou cirurgia articular. É mais HLAB27 positivo na criança ou parente de 1o grau 70% dos casos. Os critérios diagnósticos mais uti- cardíaco, respiratório, sistema nervoso, hematoló-
comum em idosos, igualmente distribuída em e/ou uveíte anterior. Artrite psoriásica se caracte- lizados são os critérios ACR/EULAR de 2010 (Tabe- gico, imunológico, renal, etc.) do que o articular,
ambos os sexos2,7. riza por artrite e psoríase cutânea ou ungueal na la 8), que detectam mais precocemente a doença, como vemos nos novos critérios ACR/EULAR 2019.
As doenças causadas por depósitos de cristais criança ou parente de 1º grau, podendo haver dac- já que o intuito é tratar antes de haver erosões e O FAN está positivo em 99% dos casos. Os autoan-
de fosfato básico de cálcio (CFBC), mais comumen- tilite. Indiferenciada: não preenche os critérios ou deformidades2,7. ticorpos mais sugestivos do lúpus eritematoso sis-
138 DOR EM REUMATOLOGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 139

têmico são o anti-DNA dupla hélice, o anti-Sm e o lateral e pode haver oligoartrite assimétrica. Arti- Tabela 9: Rastreio recomendado para pacientes com lombalgia crônica e encaminhamento ao reumatologista em
anti-P ribossomal2,7,8. culação coxofemoral e ombros são frequentemente pacientes possivelmente com EPAs10
acometidos, bilateral e simetricamente, sem ero-
Síndrome de Sjögren sões com perda uniforme de espaço e calcificação - DOR LOMBAR CRÔNICA (>3 MESES)
A Síndrome de Sjögren primária acontece pre- ligamentar. HLA-B27 pode ser positivo em até 95% - INÍCIO DOS SINTOMAS < 45 ANOS DE IDADE
dominantemente em mulheres entre 40 e 60 anos dos casos2,5,7,9.
de idade. O quadro clássico é caracterizado pela Até 42% dos pacientes com psoríase (cutânea e/
presença de síndrome sicca: xerostomia e xeroftal- ou ungueal) desenvolve APs. Há tipos de apresen-
mia, mas também pode haver secura cutânea, va- tação da doença: artrite-reumatóide-like (60% dos Dor Lombar Inflamatória Sacroileíte no Exame de Imagem HLA-B27 +
ginal e de traqueia, com autoanticorpos anti-Ro ou casos), oligoarticular assimétrica (20% dos casos), - 75% sensibilidade - Somente se disponível - 80-90% sensibilidade
anti-La positivos, e por vezes há parotidites. Além predominante interfalangeanas distais (5% dos ca- - 76% especificidade - Não é recomendado para - 90% especificidade
de causar polineuropatia ou neurites que podem sos) (diagnóstico diferencial com osteoartrite nodal - 20% tem EPA, se (+) screening - 33% tem EPA axial, se (+)
ter acometimento sensitivo, pode causar poliartrite e geralmente se associa com psoríase ungueal), ar- - Simples de aplicar - Simples de aplicar
periférica não erosiva semelhante ao lúpus7. trite mutilante (5% dos casos), e (axial 5% dos ca- - Baixo cisto - Custo moderado (somente uma vez)
sos), com sacroileíte assimétrica com sindesmófi-
Esclerose sistêmica tos grosseiros e assimétricos. HLAB27 positivo em
Doença autoimune com fibrose de tecidos e 60% dos pacientes e é comum dactilite2,5,7,9.
vasculopatia, segundo critérios diagnósticos ACR/ A artrite reativa, por sua vez, ocorre uma a qua-
EULAR 2013. Além do espessamento cutâneo e aco- tro semanas após infecção do trato gastrintestinal
ENCAMINHAR PARA O
metimento de trato gastrintestinal e pulmão carac- ou urinário, havendo oligoartrite assimétrica mi- REUMATOLOGISTA
terísticos, causa poliartrite não deformante (a dis- gratória com predomínio membros inferiores, com
função articular se dá pelo espessamento cutâneo rigidez matinal prolongada, entesites, dactilites e
intenso), é comum artralgia com rigidez matinal, sacroileite assimétrica. HLAB27 presente em até
pode haver miopatia e o fenômeno de Raynaud é 70% dos casos. A Síndrome de Reiter é um tipo de
intenso causando frequentemente úlceras digitais artrite reativa com conjuntivite, uretrite e artrite Na infância, a cartilagem das sacroilíacas é poliartrite simétrica de pequenas articulações
bem dolorosas por isquemia de extremidades7. assimétrica1,2,5,7,9. mais hialina (por isso ocorre forma mais entesíti- não-erosiva)7.
No caso de artrite enteropática, o quadro articu- ca) e após os 16 anos, há fibrocartilagem na porção
Doença mista do tecido conjuntivo lar periférico cursa com doença de Chron, retocoli- ântero-inferior das sacroilíacas (onde há mime- POLIMIALGIA REUMÁTICA
Contempla manifestações clínico-laboratoriais te ulcerativa, doença celíaca, pós bypass intestinal, tismo molecular com o HLAB27), sendo assim, a É uma síndrome inflamatória crônica que se
de lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmi- entre outras. Nesse caso, o acometimento articular RNM vai mostrar nesse local a osteíte caracterís- associa em 10% dos pacientes à Arterite de Célu-
ca e de dermato ou polimiosite. Pode haver mial- é mais comum que o axial, havendo oligoartrite tica das EPAs. Após 50 anos de idade, quando há las Gigantes. Pensar nesta hipótese em pacientes
gia, artralgia/artrite (80% dos casos), “puffy hands” migratória não erosiva com duração de um a dois sacroileíte, normalmente ocorre por impacto ou com mais de 50 anos com início recente de dor em
(edema de mãos) (60% dos casos) e fenômeno de meses que acompanha atividade de doença intesti- sobrecarga2,5,7,9. ombros e/ou quadris com VHS aumentado, pode
Raynaud (90% dos casos), além disso pode causar nal; já acometimento axial independe da atividade também causar dor cervical. A rigidez matinal é
úlceras digitais extremamente dolorosas7. intestinal1,2,5,7,9. MIOPATIAS AUTOIMUNES SISTÊMICAS intensa e prolongada, mialgia e outros sintomas
A ressonância magnética (RNM) é o melhor mé- Divididas em polimiosite (PM), dermatomiosite constitucionais são comuns, artrite leve e transitó-
ESPONDILOARTRITES todo diagnóstico para inflamação. Solicitar RNM de (DM), miosite por corpúsculos de inclusão (MCI), ria ocorre em 50% dos pacientes5,7.
As espondiloartrites (EPAs) são artropatias infla- sacroilíacas e coluna (onde há dor), cortes axiais e miopatia necrosante imunomediada, síndro-
matórias crônicas que cursam com envolvimento coronais, em T1 (avaliação de lesões antigas) e T2 me antissintetase, miopatias associadas a outras VASCULITES
do esqueleto axial, principalmente das articulações com saturação de gordura (avaliação de inflamação doenças autoimunes sistêmicas e a neoplasias, Caracterizadas por inflamação da parede do
sacroilíacas. Além disto, todas podem cursar com atual) e/ou STIR (avaliação de inflamação com me- e classificadas segundo os critérios ACR/EULAR vaso sanguíneo, são entidades heterogêneas. Cur-
quadro de acometimento ocular (uveíte) e é carac- nos definição). Solicitar com contraste só se houver 2017. Na PM, DM e MCI a dor muscular não é o sam frequentemente com sinais e sintomas sistê-
terística a presença de entesites. Esse grupo inclui derrame articular. Cintilografia óssea não é um bom sintoma mais proeminente e sim a fraqueza mus- micos, assim sendo, mialgia e artralgia são sinto-
a espondilite anquilosante, artrite psoriásica (APs), método para avaliar atividade de doença, já que nem cular, mas pode haver artralgia ou poliartrite si- mas frequentes em todas7.
artrite reativa, artrite enteropática e espondiloar- toda sacroileíte é causada pelas EPAs. Edema de sa- métrica de pequenas articulações não-erosiva nas As vasculites de vasos de grande calibre (Arterite
trites indiferenciadas2,5. croilíaca em pacientes com lombalgia crônica sem PM e DM. Na síndrome antissintetase 50% dos pa- de Takayasu e Arterite de Células Gigantes) podem
Na espondilite anquilosante há dorsalgia de EPA ocorre em 25% casos e pacientes sem sintomas cientes têm mialgia associada à fraqueza muscu- cursar com claudicação intermitente de membros
caráter inflamatório com sacroileíte simétrica bi- com sacroileíte existe em 10% das imagens2,5,7,9. lar, e 50% têm acometimento articular (também ou de musculatura mastigatória, carotidínea, dor
140 DOR EM REUMATOLOGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 141

torácica/angina e cefaleia importante. Na Poliarteri- giíte, vasculite crioglobulinêmica, entre outras) as


te Nodosa, uma vasculite de vasos de médio calibre, manifestações dolorosas podem ser neurites, orqui-
pode haver mononeurite múltipla ou neuropatias, te, episclerite, dor abdominal, as ulcerações cutâ- CAPÍTULO 13
angina mesentérica, orquite, úlceras cutâneas dolo- neas e poliartrite não-erosiva. Na Doença de Behçet,
rosas e necrose de extremidades. Na Doença de Ka- uma vasculite de vasos de calibres variáveis, tem
wasaki, uma vasculite necrosante sistêmica aguda caracteristicamente úlceras orais e genitais doloro-
principalmente de artérias coronarianas que aco- sas como sintoma mais comum; panuveíte, eritema
mete crianças, pode haver edema doloroso de extre-
midades e artrite. Nas vasculites de pequenos vasos
(poliangiíte microscópica, granulomatose com po-
nodoso, oligoartrite assimétrica de grandes arti-
culações (não-erosivo, que acompanha atividade
mucocutânea), mononeurite múltipla, tromboses
Dor óssea
liangiíte, granulomatose eosinofílica com polian- venosas e arteriais também podem ocorrer7.
Frederico Barra De Moraes
Lindomar Guimarães Oliveira
Lucio Gusmão Rocha

Conclusão
As doenças reumatológicas têm como sintoma sua classificação, e com isso, permitir diagnóstico
cardinal a artrite, sendo que a anamnese e exame correto e posterior tratamento.
físico fornecem instrumentos fundamentais para

Referências bibliográficas

Introdução
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Elsevier, 2015. Elsevier, 2015.
2. Shinjo SK, Azzolini RK, Fuller R. Dor em Reumatologia. 6. https://www.anapatterns.org
In: Teixeira MJ, Figueiró JB, Yeng LT, De Andrade DC. 7. Vasconcelos, JTS, Neto JFM, Shinjo SK, Radominski,
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Dor: manual para o clínico. 2ª edição, pp. 287-293. SC. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Atheneu, 2019. Barueri: Manole, 2019. mais comuns de dor crônica e deficiência física ção continua a aumentar e, associada à obesidade
3. Van Steenbergen HW, Aletaha D, Beaart-Van De Voor- 8. Aringer M, Costenbader K, Daikh D, Brinks R, Mosca no mundo. Causada por um grupo notavelmente e sedentarismo, reduz a saúde óssea contribuindo
de LJ, Brouwer E, Codreanu C, Combe B, et al. EULAR M, Ramsey-Goldman R, et al. 2019 European League diverso de condições incluindo fratura induzida para o aumento da dor óssea.
definition of arthralgia suspicious for progression to Against Rheumatism/American College of Rheumato- por trauma, osteoartrite, osteoporose, lombalgia, Estudos mostram que as fibras nervosas simpá-
rheumatoid arthritis. Ann Rheum Diseases. 2017. 76: logy Classification Criteria for Systemic Lupus Erithe- procedimentos ortopédicos, doença celíaca, doen- ticas nos ossos podem regular a destruição óssea,
491-496. matosus. Arthritis Rheumatol. 2019;0 (0):1-13.
ça falciforme e câncer ósseo. A principal razão pela formação óssea, vasodilatação, vasoconstrição, ma-
4. Seiper J, van der Heijde D, Landewé R, et al. New cri- 9. https://www.asas-group.org/education/asas-slide-li-
teria for inflammatory back pain in patients with chronic brary/
qual a dor óssea ocorre em um grupo tão diverso de crófagos infiltração e função das células progenito-
back pain: A real patient exercise by experts from the 10. Sieper J, Rudwaleit M. Early referral recommendations distúrbios é que o esqueleto é necessário para su- ras dos ossos. Como tal, eles podem desempenhar
Assessment of SpondyloArthritis International Society for ankylosing spondylitis (including pre-radiographic porte estrutural, movimento, proteção dos órgãos um papel significativo em saúde e progressão da
(ASAS). Ann Rheum Dis. 2009;68(6):784–788. and radiographic forms) in primary care. Ann Rheum internos, armazenamento e liberação de minerais e doença tanto na cartilagem (isto é, na artrite reu-
5. Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Dis 2005;64:659-63. fatores de crescimento, além do nascimento e ma- matoide) como no osso (i.e., osteoporose) e, assim,
turação de células sanguíneas. É importante res- através da modulação da progressão da doença,
saltar que se inadequadamente tratada, cursa com desempenham um papel na dor óssea. Também foi
efeitos secundários incluindo perda de massa óssea demonstrado que, após lesão do esqueleto, fibras
e muscular, função cardiovascular e saúde cogniti- nervosas simpáticas podem modular a função da
va, diminuindo o estado funcional e a qualidade de fibra nervosa sensorial e esta interação patológica
142 DOR ÓSSEA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 143

entre fibras sensoriais e simpáticas podem desem- que há um componente nociceptivo significativo Figura 1: Densitometria óssea demonstrando osteoporose secundária.
penhar um papel na osteoartrite (AO) e na síndro- na maioria das dores esqueléticas crônicas (OA,
Referência: L1-L4 Referência: L1-L4
me da dor complexa regional (SDCR). câncer ósseo, fratura óssea e falciforme), dados BMD (g/cm2) YA T-Score BMD (g/cm2) YA T-Score
A dor é o sintoma mais temido pelos pacientes recentes sugerem que também pode haver uma 1,54
Normal
3 1,54
Normal
3
e suas famílias. Apesar dos esforços internacionais neuropatia compondo muitos tipos de dor esque- 1,42 2 1,42 2
para melhorar o controle da dor, ainda há muito lética, levando a um quadro de dor mista. Estudos 1,30 1 1,30 1
1,18 0 1,18 0
a ser feito. A má administração da dor tem conse- em animais e humanos demonstraram que, após
1,06 -1 1,06 -1
quências devastadoras, afeta seriamente a qualida- lesões na pele, músculo e articulação, os neurônios
0,94 Osteopenia -2 0,94 Osteopenia -2
de de vida, diminui a funcionalidade e sobrecarre- responsáveis pelo processamento da dor na medula
0,82 -3 0,82 -3
ga emocionalmente os pacientes e seus familiares. espinhal e no cérebro também passam por sensibi-
0,70 -4 0,70 -4
Enquanto a maioria dos estudos pré-clínicos e lização (isto é, “sensibilização central”) que amplifi- Osteoporose
-5
Osteoporose
-5
0,58 0,58
clínicos que estudam a dor esquelética concordam ca a percepção e gravidade da dor. 20 30 40 50 60 70 80 90 100 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Idade (anos) Idade (anos)

às necessidades e desempenho individuais do pa- seas. Até 70% de todos os pacientes com câncer de
ciente status. mama ou próstata desenvolvem metástases esque-

Etiologia
Em primeiro lugar, as metástases ósseas são léticas em comparação com apenas 20% a 30% dos
comuns em muitos tumores sólidos, notadamente pacientes com câncer gastrointestinal7.
aqueles decorrentes da mama, da próstata e pul- O câncer comumente metastatiza para o osso
Os principais fatores que levam à dor esquelé- 400.000 pessoas nos Estados Unidos são diagnosti- mão, bem como mieloma múltiplo, e pode causar devido ao alto fluxo sanguíneo e à concentração de
tica aguda e crônica são uso excessivo, lesão, in- cadas com câncer ósseo metastático. O osso é o ter- grande morbidade, incluindo fraturas, dor intensa, fatores de crescimento celulares imobilizados que
flamação, doença ou envelhecimento do osso ou ceiro local mais comum de metástase, após pulmão compressão de nervos e hipercalcemia. Através de residem na medula vermelha. A doença metastáti-
cartilagem, na quais as fibras nervosas sensoriais e fígado. À medida que o rastreio e os tratamentos um tratamento multidisciplinar dos pacientes com ca mais comumente se deposita no esqueleto axial,
que inervam o esqueleto foram ativadas e / ou sen- de câncer melhoram e os doentes vivenciam expec- metástases ósseas, incluindo o uso de tratamentos coluna vertebral e pelve, ou nas porções medulares
sibilizadas por lesão mecânica direta ou a liberação tativas de vida mais longas, eles estão aumentando direcionados ao osso, como bifosfonatos potentes do esqueleto apendicular, tais como o fêmur pro-
de substâncias algogênicas do osso ou articulação. as chances de desenvolver metástases, que podem ou denosumabe, tem sido possível transformar o ximal8,9.
Abaixo, dissertamos sobre duas importantes enti- levar à dor crônica, fraturas patológicas e compres- curso do câncer avançado para muitos pacientes, As metástases ósseas são frequentemente as-
dades causadoras de dor óssea. são da medula espinhal. Aproximadamente 30% resultando em uma grande redução nas compli- sintomáticas e incidentalmente encontradas na
a 50% de todos os pacientes com câncer experi- cações esqueléticas, redução da dor e melhora da avaliação inicial do estadiamento. Para pacientes
DOR ÓSSEA OSTEOMETABÓLICA mentarão dor moderada a intensa, e daqueles com qualidade de vida. Em segundo lugar, muitos dos sintomáticos, a dor é a manifestação mais comum
Iniciar um tratamento para osteoporose sem doença avançada ou metastática, entre 75% a 95% tratamentos que usamos para tratar pacientes com e precoce de metástases ósseas.
investigar doenças subjacentes pode resultar em dos pacientes relatam dor intensa. câncer têm efeitos sobre os hormônios reproduti- A dor óssea metastática tem um início gradual
insucesso terapêutico. Perde-se a oportunidade Complicações da metástase óssea aparecem em vos, que são críticos para a manutenção da remo- que piora com o tempo e tipicamente aumenta de
de identificar causas tratáveis de perda óssea ou média sete meses após o primeiro relato de dor delação óssea normal. Esta perturbação endócrina intensidade à noite. A dor pode ser descrita como
mesmo doenças sistêmicas graves. Se o paciente óssea. Dor óssea induzida por câncer (CIBP) afeta resulta na perda óssea acelerada e um aumento somática (musculoesquelética) ou neuropática,
apresentar dor na osteoporose, pensar em causas negativamente a qualidade de vida do paciente, au- do risco de osteoporose e fraturas que podem ter mas comumente apresenta aspectos mistos. A in-
secundárias. Caso não seja secundária, pensar em menta morbidade do paciente e diminui o status um impacto negativo significativo sobre a vida do tensidade ou a natureza da dor não pode ser pre-
osteossarcopenia, fraturas primárias, síndrome funcional geral. O atual paradigma em administrar número crescente de sobreviventes de câncer em vista pelo tamanho, localização ou histologia do
íliocostal, doença de Paget. A biópsia óssea para a doença óssea metastática se concentra na pre- longo prazo. Finalmente, o microambiente da me- tumor, e a dor é geralmente desproporcional ao
histomorfometria deve ser realizada para fragilida- venção de CIBP, fraturas patológicas, e compressão dula óssea é também intimamente envolvido nos grau de envolvimento ósseo3. Conforme a doença
de óssea excessiva, dor óssea em jovens, fraturas medular, coletivamente conhecido como eventos processos metastáticos necessários para a dissemi- progride, os pacientes podem começar a experi-
por insuficiência em jovens, osteodistrofia renal, relacionados ao esqueleto (SREs). nação do câncer, e há dados emergentes mostrando mentar dor irruptiva. A dor irruptiva é um surto
osteomalácia (vitamina D resistente), doenças os- A metástase óssea é, na verdade, uma coleção que, pelo menos em algumas situações clínicas, o agudo e imprevisível de dor não controlada com
teometabólicas raras. (Figura 1) heterogênea de doenças composta de vários cân- uso de tratamentos com alvo ósseo pode reduzir a analgésicos de ação prolongada. Pode ocorrer
ceres primários que ocorrem em vários locais de metástase para osso e tem potencial impacto na so- espontaneamente ou ser reprodutível com movi-
DOR ÓSSEA METASTÁTICA (DOM) metástases a distância do tumor primário. Assim, brevida do paciente. mentos não-nocivos e/ou peso mecânico do osso
Uma das grandes causas de dor óssea são as le- a dor óssea metastática requer uma abordagem Cânceres de pulmão, mama e próstata causam envolvido. A dor irruptiva é frequentemente difí-
sões metastáticas. A cada ano, aproximadamente multidisciplinar para personalizar o tratamento aproximadamente 80% de todas as metástases ós- cil de gerir devido à sua rápida e impressionante
144 DOR ÓSSEA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 145

força que resulta no declínio do status funcional tam em recidiva muitos anos após o diagnóstico. zadas como osteolíticas, osteoblásticas ou mistas. A dor óssea, mais frequentemente nas costas
de um paciente. Uma vez dentro do microambiente ósseo, as cé- No entanto, ao invés de estritamente reabsorven- devido a fraturas vertebrais, é uma característica
lulas tumorais adquirem a capacidade de produzir do ou formando osso, o câncer metastático parece de apresentação em 75% dos pacientes com Mie-
Fisiopatologia da dor óssea na metástase uma ampla gama de citocinas e fatores de cresci- estimular a atividade osteoblástica e osteolíticas e loma Múltiplo (MM). Lesões líticas extensas são
A dor óssea metastática é causada por vários mento incluindo peptídeo relacionado com hormô- com isso aparecem as imagens metastáticas líticas frequentes e, tipicamente, não curam apesar do
mecanismos distintos e todos contribuem para a nio da paratireoide, prostaglandinas e interleucinas ou blásticas na sua aparência que conduzem fre- tratamento antineoplásico bem-sucedido. A osteo-
sensação de dor óssea. O processo de metástase que podem aumentar a produção de ativador do re- quentemente as complicações esqueléticas tipica- porose difusa também pode ser uma característica
do câncer inclui a semeadura de células tumorais, ceptor do ligante kappa B do fator nuclear (RANKL) mente referidas como SREs. SREs, refere-se a cinco presente no Mieloma90
dormência tumoral e subsequente crescimento por células da linhagem osteoblástica. Isso levará à principais complicações objetivas da doença óssea Sabendo que o câncer metastático parece esti-
metastático. O tumor primário libera células que ativação de osteoclastos e violação do equilíbrio de do tumor: fratura patológica, a necessidade de ra- mular a atividade osteoblástica e osteolítica, essa
passam pela matriz extracelular, penetram na nova formação de osso e reabsorção de osso. Como dioterapia para os ossos, a necessidade de cirurgia super-estimulação de ambos os processos leva à
membrana basal dos vasos angiolinfáticos e são en- a matriz óssea é quebrada, rica oferta de fatores de- para alteração óssea, compressão da medula espi- desorganização da unidade funcional com uma
tão transportados para órgãos distantes através da rivados de osso é liberada, o que pode levar a au- nhal e hipercalcemia, embora esse último é fre- predominância relativa de formação ou reabsor-
circulação sistêmica. Células do câncer de mama e mento do crescimento e proliferação da população quentemente de origem neoplásica, especialmente ção óssea excessiva. Como o câncer se deposita e
próstata circulantes têm uma afinidade particular de células tumorais. na ausência de metástases ósseas. prolifera no osso, o tumor e o estroma associadas
pelo osso. A maioria das células tumorais dissemi- Essas múltiplas interações entre células tumorais As complicações estão associadas à morbidade células expressam o receptor-ativador do fator nu-
nadas morrem, mas o microambiente da medula metastáticas e o microambiente ósseo pode contri- que altera a vida e podem reduzir a sobrevida glo- clear k-b (RANK) ligante (RANKL), mecanismos e
óssea pode atuar como um reservatório para cé- buir para o desenvolvimento de metástases tanto bal. Normalmente, os eventos esqueléticos estão adjuvantes da dor óssea se liga e ativa o receptor
lulas malignas. Mais especificamente, o nicho de dentro, como potencialmente, fora dos ossos. Abai- associados à perda de mobilidade, perda da vida RANK em precursores de osteoclastos20, causando
células-tronco hematopoiéticas parece ser o local xo descrevemos alguns fatores que interferem com o social, diminuição da qualidade de vida (QV) e um maturação e proliferação de osteoclastos. Os os-
para células tumorais dormentes que apenas resul- processo de formação e evolução da dor óssea. aumento substancial nos custos médicos84. Em to- teoclastos reabsorvem o osso saudável, formando
dos os tipos de tumor, os pacientes com câncer de microambientes inflamatórios altamente ácidos
Tabela 1: Causas de osteoporose secundária que podem levar a dor óssea mama têm maior incidência de complicações es- que reduzem o limiar de ativação de nocicepto-
queléticas. Na ausência de tratamentos com alvo res. O turnover ósseo prolongado e desorganizado
no osso, a taxa média de morbidade esquelética, e o eventualmente pode comprometer a integridade
número médio de SREs por ano, em pacientes com estrutural do osso, causando fraturas patológicas e
câncer de mama com metástases ósseas variaram alterações mecânicas e aprisionamento de nervos.
entre 2,2 e 4,085. Bisfosfonatos, que causam a morte de osteoclastos,
No câncer de próstata, estudos histomorfomé- e os antagonistas de RANKL que impedem a ativa-
tricos demonstraram à associação característica ção dos osteoclastos são, portanto, usados para tra-
da resposta osteoblástica à presença de células de tar DOM.
cancerígenas metastáticas, mas há um espectro de
respostas ósseas, muitas vezes visto dentro de um Papel das células tumorais e inflamação
mesmo indivíduo86. As taxas de reabsorção óssea, DOM também é causada por inflamação local
conforme determinado pela medição dos produ- dentro de um microambiente tumoral na interface
tos de degradação do colágeno, também são altas nociceptor-tumor. As lesões metastáticas são pre-
nos pacientes com câncer próstata87, e SREs, nota- dominantemente compostas de estroma e células
damente a dor que requer radioterapia, fraturas e inflamatórias, tais como macrófagos, neutrófilos
compressão da medula espinhal, são frequentes. mastócitos e linfócitos T28. As células cancerosas
Em pacientes com câncer de pulmão e metástases são apenas uma fração das células da lesão. Tan-
ósseas, o tempo médio de sobrevivência é de ape- to tumores como as células inflamatórias secretam
Células ósseas O osso saudável tem um processo altamente nas 6 a 12 meses. No entanto, na presença de me- fatores inflamatórios, como prótons, prostaglandi-
Os osteoclastos desempenham um papel im- regulado de renovação óssea constante, consistin- tástases ósseas, SREs ocorre em cerca de um quarto nas, bradicinina, endotelina, TNF-alfa e citocinas,
portante no desenvolvimento e na perpetuação da do de atividades osteoblástica e osteolítica simul- dos pacientes, enquanto 40% vão experimentar um que sensibilizam ou estimulam a neurônios aferen-
DOM. Os osteoclastos são células multinucleadas tâneas. A doença óssea metastática perturba esse SREs durante o acompanhamento88. Em carcinoma tes diminuindo seu limiar de excitação28-30.
diferenciadas derivadas da linhagem de monócitos sistema bem equilibrado, levando à destruição de células claras renais, a presença de metástase Os nociceptores sensibilizados ou estimulados
que regulam a reabsorção óssea na remodelação óssea e suas complicações subsequentes. Tradi- óssea é variável, mas significativamente associada por acidose inflamatória ou induzida por tumor são
óssea fisiológica. cionalmente, as metástases ósseas são caracteri- à má sobrevida89. uma causa importante da DOM. O microambiente
146 DOR ÓSSEA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 147

de um tumor é relativamente ácido comparado ao são da dor após níveis elevados de NGF foram cor- lidade óssea. O diagnóstico é muitas vezes simples, detecção de patologia esquelética, embora a espe-
tecido sadio próximo devido a vários mecanismos31. relacionados com o aumento de comportamentos mas ocasionalmente pode ser difícil de fazer, e a cificidade seja baixa.
Primeiro, seu hipermetabolismo leva à produção associados à dor em modelos iniciais de camun- confusão com patologia benigna é particularmen- Uma tomografia computadorizada (TC) produz
de metabólitos ácidos. Em segundo lugar, porque dongos39,40. Outros estudos em humanos descobri- te um problema para pacientes idosos, nos quais imagens na qual a destruição óssea e depósitos es-
os tumores residem em condições relativamente ram que a administração de NGF levou ao aumento doenças degenerativas e osteoporose são comuns. cleróticos são geralmente mostrados claramente e
hipóxicas, preferencialmente usando o metabolis- dos relatos de hiperalgesia e alodinia41,42. O NGF Radiografias simples são um teste insensível para qualquer extensão dos tecidos moles das metásta-
mo celular anaeróbico gerando subprodutos ácidos pode estimular diretamente nociceptores ligando- metástase. Para uma lesão destrutiva no osso tra- ses ósseas é facilmente visualizada. A TC também
significativos. A alta taxa de rotatividade e morte -se a TrkA e p75, o que altera a síntese e expressão becular ser reconhecida, deve ter mais de 1 cm de pode ajudar com o diagnóstico de metástases da
celular dentro de um tumor, em seguida, libera os de neurotransmissores indutores de dor, como a diâmetro com perda de mais ou menos 50% do con- coluna vertebral e é particularmente útil para loca-
produtos ácidos intracelulares no microambiente, substância P peptídeo relacionado ao gene da cal- teúdo mineral ósseo. lizar lesões para biópsia.
diminuindo ainda mais o pH local. As células infla- citonina43. Também pode sensibilizar os neurônios A varredura óssea do radionuclídeo fornece in- A ressonância magnética (RM) tem a vantagem
matórias infiltrantes também liberam prótons e fa- aferentes aumentando a expressão dos canais de formações sobre atividade osteoblástica e vascula- de fornecer imagens multiplanares que permitem
tores citotóxicos que propagam destruição tecidual sódio NaV1.8 e diminuindo sua ativação limite. rização esquelética, com captação de traçador em a visualização de todo o esqueleto no plano sagi-
adicional e acidose local. O aumento da concentra- Porque muitos cânceres primários superexpressam locais de formação óssea ativa que reflete a reação tal. Detecção de metástases ósseas por ressonância
ção de prótons ativa diretamente e sensibiliza nas ou são estimulados por NGF44-48, terapias anti-NGF metabólica do osso ao processo da doença, seja magnética depende de diferenças na intensidade
proximidades nociceptores. Grandes proporções de podem ser particularmente eficazes na dor óssea neoplásica, traumática ou inflamatória. Quando se do sinal da RM entre tecido do tumor e medula ós-
nervos expressam o canal iônico sensível ao ácido metastática. desenvolve metástases ósseas, geralmente há au- sea normal. O tumor metastático é, portanto, visua-
3 (ASIC3) e VR1, ambos estimulados pelo aumen- O tanezumabe é um anticorpo monoclonal hu- mento suficiente no fluxo sanguíneo e nova forma- lizado diretamente, em contraste com as mudanças
to da concentração de prótons32,33. A inibição do mano que se liga seletivamente ao NGF, impedindo ção óssea reativa para produzir um aumento focal indiretas observadas por radiografias ósseas com
receptor pode produzir controle da dor. Junto com sua função normal. Estudos clínicos demonstra- na captação do marcador, muitas vezes antes que radionuclídios. Como a TC, MR é útil para avaliar
a diminuição do pH local, tanto o câncer quanto ram melhora significativa da dor e do estado fun- a destruição óssea possa ser vista no Raio-X. Com pacientes com exames ósseos positivos e radiogra-
as células inflamatórias liberam prostaglandinas cional com o uso de tanezumabe em indivíduos exceção dos pacientes com MM, a cintilografia ós- fias normais e para elucidar a causa de uma lesão
que atuam diretamente nos receptores prostanoi- com osteoartrite e dor lombar crônica49. Pesquisas sea é mais sensível que radiografias simples para a vertebral.
des dos nociceptores para produzir dor30. As pros- atuais estão avaliando o papel da anti-NGF no cená-
taglandinas são metabólitos lipídicos da enzima rio de DOM.
cicloxigenase (COX). Enquanto a isoforma COX1
é constitucionalmente ativa nos tecidos, a COX2 é Plasticidade do sistema nervoso

Tratamentos
primariamente ativa no cenário de inflamação e Em resposta à estimulação sustentada, o siste-
lesão tecidual. COX2 está associada com angiogê- ma nervoso sofre alterações plásticas nos níveis do
nese, proliferação tumoral e inibição da apopto- sistema nervoso periférico e central, contribuindo
se35,36. AINEs, tais como aspirina e ibuprofeno ini- para a DOM. Em um processo chamado sensibili- GESTÃO MULTIDISCIPLINAR de medicina nuclear, mas também especialistas
bem, não seletivamente, as enzimas COX1 e COX2 zação periférica, os neurônios sensoriais aferentes DE METÁSTASES ÓSSEAS em medicina paliativa e uma equipe de controle
reduzindo os níveis de prostaglandina e atenuando primários expostos à estimulação crônica são alte- Em geral, o tratamento de metástases ósseas visa com alguma experiência em complicações ósseas
a dor. As doses de AINEs não seletivos, no entanto, rados para se tornarem mais sensíveis à excitação. à paliação dos sintomas, com cura apenas raramen- advindas do câncer. As decisões de tratamento
são limitadas pelo perfil de efeitos colaterais, que Na sensibilização periférica, os nociceptores alte- te um objetivo realista (por exemplo, em linfoma). dependem se a doença óssea é localizada ou ge-
inclui úlceras gástricas e / ou sangramento e nefro- ram a expressão de canais iônicos e / ou recepto- Os tratamentos variam dependendo da doença neralizada, a presença ou ausência de metástases
toxicidade. Inibidores seletivos da COX2, como o res, diminuindo o limiar de ativação65,66. Isso pode subjacente. Como exemplos temos: a radioterapia extraesqueléticas e a natureza da malignidade sub-
celecoxibe, foram desenvolvidos para minimizar a levar ao fenômeno em que estímulos leves podem por feixe, tratamentos endócrinos, quimioterapia, jacente.
efeitos colaterais, enquanto atuando preferencial- ser percebidos como dolorosos (hiperalgesia) ou terapias e radioisótopos são todos importantes. A radioterapia é relevante ao longo do curso
mente em locais de inflamação. Os inibidores de nos quais não são estímulos podem ser percebidos Além disso, a intervenção ortopédica pode ser ne- clínico da doença. Pode-se esperar que a resistên-
COX2 auxiliam no controle da dor mediada por in- como nocivos (alodínia). Semelhante ao sistema cessária para as complicações estruturais da des- cia a tratamentos sistêmicos pudesse se desen-
flamação e proporcionam um efeito sinérgico com periférico, a DOM crônica pode levar a alterações truição óssea ou compressão nervosa. Complemen- volver, necessitando de mudanças periódicas de
os opioides37. no sistema nervoso central em um processo deno- tando esses tratamentos tem-se o papel dos agentes terapia em um esforço para recuperar o controle
minado sensibilização central67. direcionados aos componentes ósseos. da doença.
Fator de Crescimento Nervoso (NGF) O manejo ideal requer uma equipe multidisci-
O NGF é um fator neurotrófico responsável pela Exames complementares plinar que inclui não apenas médicos oncologistas, RADIOTERAPIA PALIATIVA
manutenção e sobrevivência dos neurônios. Tam- O envolvimento metastático do esqueleto afeta mas sim, de outras áreas como: ortopedistas, cirur- A irradiação de feixe externo local é altamente
bém está associado com a sinalização e transmis- tipicamente múltiplos locais e causa dor e sensibi- giões, radiologistas (intervencionistas) e médicos eficaz para a dor óssea. No geral, as taxas de respos-
148 DOR ÓSSEA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 149

ta ao redor de 85% são relatadas, com alívio da dor Novas gerações de bisfosfonatos, como o zole- Recomenda-se iniciar o ácido zoledrônico persistente e MC. O uso de ácido zoledrônico ou
alcançado em metade dos pacientes. Alívio da dor dronato, são mais potentes, permitindo menor do- ou denosumabe em todos os pacientes com cân- denosumabe antecipa a melhora da lombalgia por
geralmente ocorre rapidamente, com mais de 50% sagem e potencialmente menos efeitos adversos24. cer de mama metastático e metástases ósseas, se converter mais rapidamente as formas de Modic.
de respondedores se beneficiam dentro de 1 a 2 se- Uma meta-análise avaliando 12 estudos e mais de são sintomáticos ou não. O ácido zoledrônico é
manas. Se a melhoria da dor não tiver ocorrido seis 1700 indivíduos com câncer de pulmão concluíram o único bisfosfonato a demonstrar uma redução Figura 2: Tipos de sinal de Modic na ressonância
semanas ou mais após o tratamento, é improvável que o zoledronato associado à quimioterapia dimi- significativa nas complicações esqueléticas de magnética da coluna lombar
que seja alcançado. nuiu significativamente as taxas de desenvolvimen- metástases ósseas em pacientes com câncer de
to de SREs e melhoraram o controle da dor quando próstata avançado. Eles são assim recomendados Modic 1 Modic 2 Modic 3
AGENTES DIRECIONADOS PARA OS OSSOS adicionado à quimioterapia ou radioterapia25. A em pacientes selecionados com câncer de pulmão
Os bifosfonatos foram originalmente desenvol- revisão Cochrane analisando 30 estudos randomi- avançado, câncer renal e outros tumores sólidos T1
vidos para prevenir SREs em pacientes com osteo- zados concordou que os bisfosfonatos fornecem al- com metástases ósseas34. Os pacientes devem ser
penia ou osteoporose. Os bisfosfonatos diminuem a gum alívio da dor para metástases ósseas, mas não selecionados se eles tiverem uma expectativa de
reabsorção óssea e aumentam a mineralização ini- encontrou evidências suficientes para recomendar vida de mais de 3 meses e são considerados com
bindo a atividade dos osteoclastos. Os bisfosfonatos bifosfonatos como terapia de primeira linha para o alto risco de SREs.
são endocitados por osteoclastos e, uma vez inter- controle imediato da dor26. O Grupo de Revisão do Mieloma Cochrane con- T2
nalizados, interrompem o metabolismo da adenosi- O denosumabe é um anticorpo monoclonal sin- cluiu que tanto o pamidronato quanto o clodronato
na trifosfato (ATP) (bifosfonatos não-nitrogenados) tético totalmente humano que se liga ao RANKL reduzem a incidência de hipercalcemia, o índice de
ou metabolismo do colesterol bifosfonatos), levan- com alta afinidade, impedindo sua interação com dor e o número de fraturas vertebrais em pacientes
do à morte celular21. Os osteoclastos concentram-se o RANK de forma semelhante ao inibidor endó- com mieloma69. O evento adverso mais importante TRATAMENTO COM INTERVENÇÃO
no esqueleto, principalmente em locais de remode- geno natural osteoprotegerina59. Os inibidores de associado à administração prolongada de inibido- CIRÚRGICA
lação ativa. Eles interrompem o “ciclo vicioso” da RANKL previnem a ativação dos osteoclastos e tra- res potentes da reabsorção óssea é osteonecrose de As intervenções cirúrgicas na doença óssea me-
osteólise mediada por tumor inibindo a atividade tam a CIBP inibindo a interação RANK-RANKL. A mandíbula. tastática são estritamente paliativas, aliviando a
de osteoclastos que reabsorvem osso induzindo sua osteoprotegerina (OPG), também conhecida como Modic (MC) são alterações da placa terminal e dor, restaurando a estabilidade mecânica e/ou me-
apoptose29. Ao inibir a atividade osteoclástica em fator inibitório de osteoclastogênese, é um receptor da medula óssea vertebral que são visíveis na res- lhorando o estado funcional do paciente.
pacientes que têm câncer, cada um deles impede solúvel de ocorrência natural que se liga ao RANKL, sonância magnética (MRI). Três tipos diferentes A intervenção é tipicamente reservada para
o desenvolvimento de SREs e eles diminuem DOM, impedindo a ativação dos osteoclastos. Denosumab descritos: MC tipo 1 (M1) apresenta substituição fi- aquelas lesões com fraturas patológicas instáveis​​
reduzindo a carga tumoral e diminuindo a inflama- é um anticorpo monoclonal de imunoglobulina hu- brovascular da medula óssea e é considerado o es- ou iminentes, particularmente nos ossos longos ou
ção associada resposta22,23. Existem duas classes de mana que imita a OPG por se ligar seletivamente tágio inicial do processo de evolução do MC, repre- na coluna vertebral, onde a instabilidade vertebral
bisfosfonatos, não contendo nitrogênio e contendo e sequestrar o RANKL, prevenindo consequente- sentando uma lesão inflamatória; Tipo 2 MC (M2) aumenta o risco de compressão medular metastá-
nitrogênio, com efeitos um pouco diferentes em os- mente a DOM e as SREs causadas pela superesti- mostram reposição gordurosa da medula óssea ver- tica. A dor é o sintoma mais comum do envolvi-
teoclastos. mulação de osteoclastos. melha; O tipo 3 MC (M3) está associado à esclerose mento dos ossos vertebrais ou longos. Até 29% dos
O etidronato, clodronato e tiludronato são bis- O denosumabe pode ser especialmente eficaz em óssea subcondral; Pensa-se que a identificação de pacientes com doença óssea metastática podem de-
fosfonatos não contendo nitrogênio, e os bisfosfo- pacientes que respondem mal à terapia com bisfos- tipos mistos (M1 / 2 e M2 / 3) indica diferentes fa- senvolver uma fratura patológica70.
natos contendo nitrogênio (inibidores de osteoclas- fonatos99. Nas duas últimas décadas, os bisfosfonatos ses do mesmo processo patológico, uma vez que os A localização mais comum de uma fratura pa-
tos mais potentes e as mais frequentemente usadas e o denosumabe se estabeleceram como uma abor- MC são capazes de converter de um tipo para outro tológica é dentro do fêmur devido à sua natureza
atualmente) incluem pamidronato, alendronato, dagem adicional valiosa para a gama de tratamentos (Figura 2). de suporte de peso71. Os sistemas formais de esta-
ibandronato, risedronato e ácido zoledrônico. Os atuais. Vários ensaios controlados randomizados de- De acordo com uma revisão sistemática, MC diamento fornecem diretrizes para determinar se
bisfosfonatos têm um efeito apoptótico direto so- monstraram claramente que são eficazes em reduzir são mais comuns entre os pacientes com dor lom- a cirurgia seguida de radiação ou radiação sozinha
bre os osteoclastos, ao inibir sua diferenciação e a morbidade esquelética do câncer metastático de bar (lombalgia) do que entre os voluntários assin- é necessária. Os Critérios de Mirel (Figura 3), pre-
maturação e, assim, agir como potentes inibidores mama99. Estudos randomizados controlados por pla- tomáticos. Muitos estudos observam que o M1 está vêem o risco de uma fratura iminente através da
da reabsorção óssea29. cebo de infusões de pamidronato por até dois anos, associado mais fortemente com a LBP do que com soma de 4 variáveis: o local da doença (extremidade
Embora a radioterapia seja o tratamento de além de quimio ou terapia hormonal em pacientes outros tipos de MC. Em um estudo finlandês, a con- superior, extremidade inferior ou peritrocantérica),
escolha para dor óssea, muitos pacientes têm dor com câncer de mama com pelo menos uma metásta- versão de M1 para M2 ao longo de dois anos foi as- a intensidade da dor (leve, moderada ou funcional),
generalizada, enquanto outros experimentam a se óssea demonstrou que os bisfosfonatos podem re- sociada à melhora da intensidade e incapacidade da o tipo de fratura. A lesão (blástica,misto ou lítico)
recorrência de dor óssea após radioterapia. Os duzir taxa de morbidade esquelética em mais de um dor. Resultados semelhantes também foram obtidos e o tamanho da lesão (< um terço, um terço, dois
bisfosfonatos fornecem uma abordagem de trata- terço, aumentar o tempo médio para a ocorrência do em um estudo dinamarquês, onde a presença de M1 terços ou > dois terços três terços). Uma pontuação
mento adicional para o alívio da dor óssea que é primeiro SREs em quase 50% e reduzir a proporção no início e no seguimento de 14 meses foi associa- de 8 ou maior indica que a cirurgia seguida de ra-
útil em uma gama de tipos de tumor98. de pacientes com qualquer SREs100,101. da a resultados ruins em pacientes com lombalgia diação pode ser um tratamento adequado72. Algo-
150 DOR ÓSSEA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 151

Figura 3: Ferramenta FRAX da OMS para cálculo do risco de fratura osteoporótica tumor53. Avaliar a resposta das metástases ósseas à ano para amadurecer. Uma revisão completa das
terapia é difícil; o evento em o processo de cura é radiografias ósseas desde o início do tratamento é
lento para evoluir e bastante sutil, com esclerose necessária para avaliar uma resposta ao tratamen-
das lesões líticas só começando a aparecer 3-6 me- to. A evidência de novas lesões constitui regressão
ses após o início da terapia e levando mais de um tumoral (uma resposta parcial).

Resumo
A dor óssea metastática é um processo comple- personalizar o tratamento para os pacientes e suas
xo e pouco compreendido. Ao avaliar a metástase doenças específicas, melhorando a sobrevida e oti-
óssea como um grupo de doenças heterogêneas, mizando a qualidade de vida.
uma abordagem multimodal pode ser usada para

ritmos usando imagens avançadas para determinar ser elegíveis para aumento vertebral com cifoplas-
a integridade estrutural do osso longo e o tipo de tia ou vertebroplastia, que permitem a injeção de
terapia recomendada estão sob estudo73. A cirurgia cimento formulação, mais comumente polimetil- Referências bibliográficas
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89. Beuselinck B, Oudard S, Rixe O et al. Negative impact 2038–2044.
of bone metastasis on outcome in clear-cell renal cell 101. Theriault RL, Lipton A, Hortobagyi GN et al. Pami- As neoplasias malignas constituem a segunda pacientes com tratamento antitumoral, 33% de pa-
carcinoma treated with sunitinib. Ann Oncol 2011; 22: dronate reduces skeletal morbidity in women with causa de morte no Brasil, perdendo apenas para as cientes após tratamento curativo). É uma experiên-
794–800. advanced breast cancer and lytic bone lesions: a doenças cardiovasculares. A prevalência do câncer cia sensitiva e subjetiva, influenciada pela cultura,
90. Melton LJ, III, Kyle RA, Achenbach SJ et al. Fracture randomized, placebo-controlled trial. Protocol 18 Are- está aumentando em todo o mundo, e estimativas genética, história pessoal, humor e expectativas
risk with multiple myeloma: a population-based study. dia Breast Cancer Study Group. J Clin Oncol 1999; 17: para 2020 sugerem que, de 17 milhões novos casos, em relação ao tratamento.
J Bone Miner Res 2005; 20: 487–493. 846–854.
66% sobreviverão por pelo menos 5 anos e 40% es- Estudo publicado em 20173, mostra que a dor é
tarão vivos após 10 anos do diagnóstico1. No Bra- muito prevalente em pacientes com câncer: 64%
sil, para o biênio 2018/2019, espera-se sejam diag- em pacientes com doença metastática ou doença
nosticados cerca de 600 mil casos novos de câncer em estágio avançado, 59% em pacientes em trata-
por ano. Os mais incidentes são próstata, pulmão, mento antineoplásico e 33% em pacientes após tra-
mama feminina e colorretal, mas ainda há uma tamento curativo. Mais que um terço dos pacientes
alta taxa de câncer de colo do útero, estômago e com dor nos artigos revisados classificaram sua dor
esôfago2. como moderada ou intensa.
Dor pode ser a primeira manifestação do câncer Um grande número de pacientes com câncer é
ou de sua recorrência e apresenta alta prevalência subtratado ou sofre tratamento inadequado (56% a
(64% de pacientes com doença metastática, 59% de 82,3% dos casos)3. Alguns tipos de tumores, como
156 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 157

tumor de pâncreas e tumores da cabeça e pescoço, também no momento do diagnóstico e durante a secretados no estroma pelas células do câncer ou ria dos nervos sensoriais que inervam o osso parece
induzem dor em fases bem precoces do diagnós- fase ativa do tratamento3. por outras células, incluindo os linfócitos4,5. ser apenas ativada por lesão ou dano ao osso (isto é,
tico (70%). Outros cânceres que cursam com alta São causas de dor crônica em pacientes que so- Além das alterações periféricas, o câncer induz nociceptores silenciosos)6,7.
prevalência de dor são os gastrintestinais (59%), brevivem ao câncer: neuropatia periférica induzi- a mudanças no sistema nervoso central, medula Um estudo sobre a fisiopatologia da dor óssea
pulmão (55%), mama (54%), urogenital (52%) e gi- da por quimioterapia, plexopatia braquial induzida espinhal e cérebro. Ocorre plasticidade do corno usando um modelo de dor de câncer de próstata,
necológico (60%) (Tabela 1). Linfoma ou leucemia, por radiação e dor pélvica crônica secundária a ra- dorsal, que inclui aumento da funcionalidade de os pesquisadores injetaram células de tumor pros-
ao contrário dos relatos mais antigos da literatura, dioterapia ou cirurgia. nociceptores e mediadores inflamatórios, aumen- tático GFP (+) canino intramedular do fêmur de
induzem dor não apenas na fase final da vida, mas to da atividade da glia e micróglia, e alterações camundongos, e estudaram os animais durante 26
eletrofisiológicas (maior amplitude de correntes dias. Análises radiográficas mostraram que as célu-
Tabela I: Prevalência de dor em seis tipos de câncer 7 iônicas, descargas neuronais evocadas, resposta las do câncer de próstata caninas induziram focos
aumentada de neurônios nociceptivos a estímulos tumorais formadores de osso, que aparecem como
TIPO DE CÂNCER % DOR (IC) NÚMERO DE PACIENTES térmicos e mecânicos. O aumento da concentração áreas escleróticas nodulares, arredondadas e ra-
de dinorfina no sistema nervoso central ativa re- zoavelmente bem circunscritas devido à produção
Cabeça e pescoço 70% (51% a 88%) 95 ceptores NMDA e induz pronocicepção5. A ativação de tecido ósseo. A análise das imagens evidenciou,
Gastrointestinal 59% (44% a 74%) 564 da facilitação descendente da parte rostroventral juntamente com a análise imuno-histoquímica, o
do tronco cerebral promove resposta nociceptiva desenvolvimento de pequenas colônias de células
Pulmão e brônquios 55% (44% a 67%) 1546
desencadeada por estímulos inócuos,5 mecanismo tumorais por toda a medula óssea, circundadas por
Mama 54% (44% a 64%) 420 mediado por serotonina. Em paralelo, ocorre au- novo tecido ósseo.
Urogenital 52% (40% a 60%) 336 mento da expressão de neurônios de ampla faixa O osso é inervado por uma subpopulação de
dinâmica (WDR) e proteínas ácidas fibrilares da neurônios sensitivos que expressam receptor va-
Ginecológico 60% (50% a 71%) 372
glia (GFAP), proteína esta associada à ativação de niloide-1 de potencial transitório (TRPV-1) e canais
astrócitos. A ativação da glia pode perpetuar a dor iônicos-3 sensíveis a ácido (ASIC-3). Tais canais iô-
devido à secreção de citocinas inflamatórias, tais nicos são de grande interesse, visto que ambos res-
como interleucinas (IL-1 e IL-6), TNFα e prostaglan- pondem à acidose produzida pelas células cancero-
dinas, promovendo um estado de retroalimentação sas. Estas possuem pH menor (6,8) que as células

Fisiopatologia da dor no câncer


positiva5 e, em consequência, dor de difícil contro- normais (7,4)7,8.
le. Inibidores da glia, como os fármacos anti-TNF, Com a finalidade de compreender os mecanis-
cetamina, minociclina e amitriptilina, são poten- mos da dor óssea, são realizados estudos em ani-
A apresentação clínica da dor do câncer de- dentro do microambiente do câncer. A interação ciais analgésicos. mais com câncer, nos quais células de adenocarci-
pende de três características: 1) o tipo histológico dessas células e substâncias é dinâmica e bastan- noma ou osteosarcoma são injetadas na tíbia, e os
do câncer; 2) a localização do tumor primário; e te complexa no microambiente do câncer (estro- DOR ÓSSEA ratos desenvolvem a doença8. Após alguns dias da
3) localização de metástases. Os elementos noci- ma). A carcinogênese envolve o recrutamento de A maioria dos pacientes com doença óssea me- injeção, as células tumorais substituem as células
ceptivos, neuropáticos, inflamatórios e isquêmi- neurônios, linfócitos, endoteliais e fibroblastos tastática experimenta dor moderada a intensa e dor hematopoiéticas na medula óssea e o osso normal
cos que induzem dor, são originados das células para o microambiente do câncer, que secretam óssea é um dos tipos mais comuns de dor nesses é destruído pelo tumor. Substâncias inflamatórias
neoplásicas, das células do estoma e dos pró- mediadores moduladores da dor. pacientes. Embora o osso não seja um órgão vital, (canabinoides, citocinas, fator de crescimento neu-
prios nociceptores4, e a sua interação com o mi- Algumas células constituintes do estroma, in- muitos tumores comuns (mama, próstata, tireoi- ronal (NGF), endotelinas) liberadas pelas células tu-
croambiente tumoral depende do tipo de célula cluindo linfócitos, mastócitos, macrófagos e fibro- de, rins e pulmão) têm uma forte predileção para morais e células do estroma ativam e sensibilizam
neoplásica. O crescimento tumoral, juntamente blastos, são recrutadas por substâncias quimiotá- metastizar simultaneamente para vários ossos1,6. os neurônios aferentes primários,7,8 causando dor.
com aumento da concentração de mediadores ticas ou mediadores liberados pelos tumores. Elas O osso adulto recebe uma inervação restrita e úni- A remodelação óssea, decorrente da prolifera-
inflamatórios no local da lesão (endotelinas, bra- também secretam mediadores que modulam a dor ca, pois é apenas inervado em grande parte pelas ção e hipertrofia dos osteoclastos na interface tu-
dicinina, citocinas, tais como fator de necrose do câncer, gerando retroalimentação positiva e fibras nervosas sensoriais TrkA + finamente mieli- mor/osso, promove significativa destruição do te-
tumoral e fator de crescimento neural), prótons aumentando a nocicepção. Por exemplo, os fibro- nizadas (A-delta) e fibras C TrkA +. Recebe pouca cido ósseo normal e gera mudança na arquitetura
e proteases, tais como a tripsina, estimulam e blastos encontrados em estroma de tumor de prós- ou nenhuma inervação por fibras mais mieliniza- óssea8. A reabsorção óssea excessiva pode conduzir
sensibilizam os neurônios aferentes primários re- tata são responsáveis por segregar o NGF (Neural das (A-beta). Tais disposições são decorrentes do à redução da estabilidade mecânica e facilitar a
sultando em dor. A hipótese predominante para a Growth Factor - Fator de Crescimento Neural). A fato de os ossos serem estruturas mais profundas ocorrência de fraturas no local do tumor, causando
dor do câncer é que os tumores produzem e secre- estimulação mecânica das células endoteliais in- localizadas abaixo da superfície da pele, pois a de- dor à movimentação8. Além disso, os osteoclastos
tam substâncias algogênicas4,5 que sensibilizam e duz a liberação de ATP; este efeito é sensibiliza- tecção de toque fino, pressão leve e escovação não reabsorvem o osso enquanto acidificam o meio, na
/ ou ativam os nociceptores aferentes primários do pela ET-1 (endotelina). Os opioides podem ser são necessárias para sua função. Portanto, a maio- interface osteoclasto/osso (pH entre 2 e 4), fato que
158 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 159

promove a ativação dos neurônios sensitivos esti- tratamento de dor decorrente de câncer de mama Tabela 2: Recomendações de manuseio adequado do paciente com dor
mulados por ácido7,8. e próstata7,8.
À medida que as células tumorais se multipli- As intensas modificações estruturais no arca-
Avaliar e reavaliar a dor:
cam e o tumor aumenta de volume, os pacientes bouço ósseo desencadeadas pelo remodelamento
Causas, início, local, tipo e características, irradiação, fatores de piora e melhora, duração, intensidade, padrão temporal,
expressam dor progressivamente mais intensa9. O ósseo permitem considerar a dor óssea como um
presença e características de dor tipo “breakthrough”, síndromes dolorosas, possível fisiopatologia, dor em repouso ou
estado funcional e a qualidade de vida dos doentes tipo de dor neuropática8-12. As células tumorais que
movimentação
são muito comprometidos, pois a dor piora mui- invadem o osso normal destroem os elementos
Uso de analgésicos, eficácia e tolerabilidade
to com a movimentação e os pacientes restringem distais das fibras sensitivas, e com o progredir da
suas atividades diárias. Estudos em humanos e doença tais fibras começam a apresentar aparên- Avaliar e reavaliar o paciente:
animais sugerem que os osteoclastos (as células cia descontinuada e fragmentada12. Ocorre inicial- Situação clínica por meio de exame clínico completo
que quebram osso) desempenham um papel signi- mente ativação do crescimento de fibras sensitivas, Investigações radiológicas ou bioquímicas
ficativo na perda óssea induzida por câncer e que que sofrem posteriormente destruição e necrose.
os osteoclastos contribuem para a etiologia da dor Esse processo gera dor contínua e dor relaciona- Interferência da dor nas atividades diárias, trabalho, vida social, sono, humor, atividade sexual, relacionamento com outras
do câncer ósseo9. Os osteoclastos são uma linha- da ao movimento. Outro mecanismo adicional é a pessoas
gem de células de monócitos terminais diferencia- reorganização patológica (nascimento de fibras) e Impacto da dor e doença nas atividades físicas, psicossociais e sociais
dos, multinucleados que reabsorvem o osso, man- a formação de neuromas pelas fibras nervosas sen-
tendo um microambiente extracelular de pH ácido sitivas e simpáticas. Esse fenômeno promove mu- Presença de cuidador, estado psicossocial, conhecimento da doença, ansiedade, depressão e ideação suicida, qualidade
(4,0–5.0) na interface osteoclastos-osso minera- dança de fenótipo das fibras e aumento da expres- de vida, meio social, necessidades espirituais, distúrbios de personalidade
lizado7. Tanto os tumores osteolíticos (destruição são de canais de sódio nas extremidades distais dos
óssea) e osteoblásticos (formadores de ossos) são neurônios lesados, gerando descargas ectópicas Presença e intensidade dos sinais, sintomas físicos e emocionais associados às síndromes de dor oncológica
caracterizados por proliferação e hipertrofia de os- que se refletem em dor de difícil controle8-12. Quase Presença de comorbidades
teoclastos10. Assim, a remodelação óssea mediada todas as fibras nervosas sensitivas que sofrem bro- Estado funcional
por osteoclastos resulta na produção robusta de tamento também co-expressam o receptor de tro- Presença de opiofobia ou erros de conceito acerca do tratamento da dor
prótons extracelulares11, que são conhecidos por pomiosina A quinase A (TrkA +).12 Esse brotamento Abuso de álcool ou substâncias
serem potentes ativadores de nociceptores. Isso ectópico ocorre em fibras nervosas sensitivas , pró-
Avaliar e reavaliar a sua capacidade de informar e se comunicar com o paciente e os familiares:
levanta a possibilidade de que o microambiente ximas às colônias de células do câncer de próstata,
Reserve tempo para conversar com o paciente e a família para entender suas necessidades
ácido produzido por osteoclastos contribui signi- células do estroma associadas aos tumores, e osso
ficativamente para dor associada ao câncer ósseo tecidual recém-formado, que juntas formam lesões Adaptada de Ripamonte e cols.13
através da ativação de nociceptores sensíveis ao escleróticas que espelham as lesões ósseas osteo-
ácido (ASIC) que inervam a medula, o osso mine- blásticas induzidas por tumores metastáticos em
ralizado e o periósteo. humanos. O tratamento preventivo com um anti- querda = sem dor, a extremidade direita=pior dor desconforto é alternativa para diagnosticar a dor.
Outro importante mecanismo de dor induzida corpo que sequestra o fator de crescimento neural imaginável) e a escala descritiva verbal (sem dor, A escala PAINAD e a escala comportamental po-
por metástases ósseas envolve o fator de crescimen- (NGF), bloqueia esse brotamento ectópico e atenua dor leve, dor moderada, dor intensa). dem ser utilizadas em pacientes com demência
to neural (NGF), essencial para desenvolvimento e a dor do câncer12. Quando o distúrbio cognitivo é intenso, a ob- avançada e pacientes sedados, respectivamente14,15
sobrevivência de fibras sensitivas e simpáticas. O servação de comportamentos sugestivos de dor e (Tabelas 3 e 4).
NGF desempenha papel importante na sensibiliza- TRATAMENTO DA DOR NO CÂNCER
ção de neurônios sensitivos tirosina-cinase positivo A avaliação se inicia pela obtenção de história e
(TrkA+), por induzir rápida fosforilação e sensibili- exame físico, pois é essencial realizar o diagnóstico
zação de TRPV-1. Além disso, o binômio NGF/TrkA sindrômico, topográfico e etiológico da dor. Além

Princípios do tratamento da dor no câncer


é transportado de modo retrógrado do terminal disso, é preciso afastar causas emergenciais e indi-
periférico para o corpo celular dos nociceptores, car o tratamento adequado. Ver tabela 2.
onde induz à síntese de substância P e peptídeo Avaliação da intensidade de dor: Em pacientes
relacionado ao gene da calcitonina (CGRP)11,12. Isso adultos, lúcidos e orientados, a melhor forma de A equipe de saúde, pacientes e familiares de- 1. Controle da dor durante a noite, para permitir o
leva ao aumento da expressão de receptores de bra- avaliação da dor é o autorrelato. As escalas mais vem ter objetivos comuns. Como proposta de tra- descanso e o sono;
dicinina e canais iônicos (P2X3, TRPV1, ASIC3 e ca- utilizadas para quantificar a dor em adultos lúcidos tamento, é possível dialogar com o paciente e esta- 2. Controle da dor em repouso durante o dia;
nais de sódio) no terminal aferente primário e no são a escala verbal numérica (0 a 10, onde 0= sem belecer “onde estamos e onde queremos chegar”. 3. Controle da dor com mobilidade reduzida;
corno dorsal da medula espinhal. Terapias que blo- dor e 10= pior dor imaginável), a escala analógica Podem ser definidos quatro níveis desejáveis para 4. Controle da dor com mobilidade completa.
queiam o NGF e seu receptor TrkA são usadas para visual (uma régua com 100 mg, a extremidade es- alívio da dor:
160 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 161

Tabela 3: Escala PAINAD, usada em pacientes com déficit de cognição TRATAMENTO MEDICAMENTOSO analgésico que anti-inflamatório e possui poucos
A OMS elaborou em 198616 um documento que estudos sobre eficácia21 e segurança22. Uso anedóti-
COMPORTAMENTO 0 1 2 SOMA propõe diretrizes para o tratamento da dor oncológi- co de doses que variam de 15 a 30 mg/kg por dose, a
ca usando medicações de fácil acesso, baixo custo e intervalos de 6 horas, mostra-se bastante eficaz em
Respiração independente Normal Dificuldade ocasional de Respiração ruidosa e com que se adaptem à intensidade de dor do doente. Essa dor aguda e crônica.
de vocalização respirar dificuldades escada foi revisada após 20 anos e ainda é conside- Farmacocinética: após administração oral, a
Curto período de Longo período de rada válida, apesar de pequenas adaptações17. É útil dipirona é rapidamente hidrolisada no suco gástri-
hiperventilação hiperventilação em 70% a 80% dos casos de dor, quando utilizada de co em seu principal metabólito, 4-metil-aminopi-
Respiração Cheyne Stokes forma adequada. ridina e é absorvida nessa forma. Tal metabólito é
Vocalização negativa Nenhuma Resmungos ou gemidos Chamados perturbadores Alguns autores acreditam que usar a escada convertido em uma série de metabólitos, incluin-
ocasionais repetitivos passo a passo seja insuficiente e ineficiente em do 4-amino-piridina e 4-formil-amino-antipirina.
Fala baixa ou com baixo Resmungos ou gemidos altos pacientes com dor intensa. Portanto, propõem um Após ingesta oral de 500 ou 1.000 mg, a concentra-
tom, de conteúdo choro esquema de tratamento mais agressivo, acelerado, ção plasmática dos metabólitos ativos ocorre após
desaprovador ou negativo que começa diretamente no terceiro degrau da es- 1,7 e 1,2 hora respectivamente. A meia-vida aparen-
cada18. te de eliminação dos metabólitos ativos é de 5,2 a
Expressão facial Sorrindo ou Triste, assustada, Careta
6,3 horas, dependendo do metabólito20.
inexpressiva franzida
Medicações do Primeiro Degrau da Escada Orientações para prescrição: a analgesia da di-
Linguagem corporal Relaxada Tensa Rígida Paracetamol pirona é dependente da dose e deve ser prescrita a
Andar angustiado/aflito de Punhos cerrados Farmacodinâmica: é um medicamento que cada 6 horas. A orientação do fabricante é que se-
um lado para o outro Joelhos encolhidos possui efeitos “in vivo” similares aos inibidores de jam usados 500 a 1.000 mg por dose.
Inquietação Puxar ou empurrar para longe ciclooxigenase-2 (COX-2). Ativa vias inibitórias des- Efeitos adversos: há relatos de alterações uriná-
Comportamento agressivo cendentes, mas o sítio primário de ação é a inibição rias com altas doses de dipirona. Agranulocitose é
Consolabilidade Sem necessidade Distraído ou tranquilizado Incapaz de ser consolado, de produção de prostaglandinas no sistema nervo- o efeito adverso mais temido relacionado ao uso da
de consolo por voz ou toque distraído ou tranquilizado so central19. medicação, embora revisão recente não tenha con-
Farmacocinética: possui 60% a 90% de bio- firmado esse risco22.
Pontuação 0-10. 1-3 = dor leve; 4 a 6 = dor moderada; 7-10 = dor intensa
disponibilidade oral. Início de ação em 15 a 30
minutos, pico plasmático após 40 a 60 minutos e Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
meia-vida de 2 a 4 horas. É extensamente meta- Farmacodinâmica: o mecanismo de ação dos
Tabela 4: Escala comportamental de dor, usada em pacientes sedados e em ventilação mecânica bolizado pelo fígado e cerca de 10% é convertido AINEs ocorre por inibição da enzima ciclooxige-
em metabólitos tóxicos inativados por glutationa. nase (COX), que converte ácido araquidônico em
Em situações de estoque reduzido de glutationa prostaglandinas e tromboxano. Os AINEs produ-
Expressão facial
ocorre hepatotoxicidade por paracetamol. Devido zem analgesia por reduzir a produção de prosta-
Relaxada – 1
ao risco de toxicidade, o paracetamol possui efeito glandinas23.
Parcialmente tensa – 2
teto. Farmacocinética: são, em geral, bem absorvi-
Totalmente tensa – 3
Orientações para prescrição: doses de 500 a dos por via oral, e o tempo para obtenção de pico
Fazendo careta – 4
1.000 mg via oral cada 4 a 6 horas, não excedendo plasmático após ingesta oral varia de 1 a 3 horas.
Movimentos dos membros superiores 4 g diários. Se houver doença hepática ou consumo São metabolizados pelo fígado, a meia-vida é va-
Relaxado – 1 excessivo de três ou mais doses diárias de bebida riável e possuem efeito teto para analgesia, mas os
Parcialmente flexionado – 2 alcoólica, essa dose deve ser reduzida. efeitos adversos são relacionados à dose25.
Totalmente flexionado – 3 Efeitos adversos: à exceção da hepatotoxicida- Orientações para prescrição: independente da
Totalmente contraído – 4 de, o paracetamol é bem tolerado, mas pode ocor- classe terapêutica, apresentam eficácia analgésica
Ventilação mecânica rer lesão renal com o uso prolongado. semelhante, embora possam ocorrer respostas in-
Tolerando movimentos – 1 dividuais diferentes.
Tossindo, mas tolera o ventilador na maior parte do tempo – 2 Dipirona
Lutando contra o ventilador – 3 Farmacodinâmica: promove bloqueio da hi- Efeitos adversos:
Impossibilidade de controle do ventilador – 4 pernocicepção por estimular a via arginina/óxido Efeitos gastrintestinais: inibidores de COX-1
nítrico/GMPc e ativar a abertura de canais de po- estão envolvidos na proteção gástrica, portanto
Pontuação > 6, o paciente pode estar com dor
tássio20 nos neurônios sensitivos. É mais potente a incidência de úlcera péptica e sangramento di-
162 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 163

gestivo é mais elevada com o uso dessa classe de atividade agonista opioide dez vezes menos po- da dos opioides hidrofílicos é de 4 horas, e os níveis intervalos adequados e de acordo a meia-vida (p.
medicamentos em relação aos inibidores seletivos tente que a morfina. Necessita de passagem he- plasmáticos atingem o equilíbrio após 4 a 5 meias- ex., 4 horas para morfina via oral). Os pacientes
de COX-2. Pode-se associar inibidores de bomba de pática para induzir analgesia quando administra- -vidas (16 a 20 horas)26. devem ser orientados a fazer uso de medicação de
prótons aos inibidores de COX-1 para a proteção do por via sistêmica. Possui disponibilidade oral Devido à meia-vida curta dos opioides hidrofíli- resgate, se necessário.
gástrica24,25. de 80%, que após múltiplas doses pode chegar cos, induzem efeito bolus: a concentração plasmá- O intervalo para se administrar o opioide de res-
Efeitos hematológicos: COX-1 é responsável a 100%26,27. O tempo para atingir concentração tica aumenta rapidamente e, quando atinge o pico gate é o tempo para se atingir a sua concentração
pela geração de tromboxano A2, envolvido na agre- plasmática é de cerca de 2h e possui meia-vida máximo, podem surgir efeitos colaterais. Após al- plasmática máxima. Exemplo: após administração
gação plaquetária e os AINEs não seletivos aumen- de 6 horas28. guns minutos, há recorrência de dor (analgesia em de morfina via oral, a concentração plasmática má-
tam risco de sangramento. Orientações para a prescrição: a dose usual de picos e vales). Nessa situação, a infusão contínua xima é atingida em 60 minutos, enquanto por via
Efeitos renais e hemodinâmicos: Os AINEs po- tramadol é de 50 a 100 mg a cada 4 a 6 horas, sendo por via EV ou formulações de longa duração por via venosa esse tempo é de 6 a 10 minutos32.
dem reduzir a filtração glomerular e piorar a função a dose máxima diária recomendada de 400 mg. A oral se fazem necessárias, facilitando a aderência Devem ser observados alguns parâmetros para
renal em condições de insuficiência renal e pré-re- dose de tramadol administrada por via oral é seme- do paciente ao tratamento24-29. a titulação de morfina: controle da dor (EVN ≤ 3),
nal, tais como depleção de volume, insuficiência lhante à dose endovenosa, e o tempo de analgesia é FR ≤ 10, sedação moderada (RASS= -1) ou náuseas
hepática e insuficiência cardíaca congestiva, pois de 30 a 45 minutos26,29. Opioides lipofílicos ou vômitos33.
a perfusão glomerular é dependente da vasodilata- São exemplos a metadona e o fentanil. Possuem Uma vez que a dor esteja controlada, mantém-
ção produzida pelas prostaglandinas. Pode ocorrer Medicamentos do terceiro degrau alta biodisponibilidade e atravessam rapidamente -se a prescrição horária do opioide, e a reavaliação
aumento do tônus vascular, aumento da pressão (opioides fortes) a barreira hematoencefálica. São metabolizados se faz após o estado de equilíbrio do medicamento
arterial e piora das condições de insuficiência car- Farmacodinâmica: opioides são agonistas de pelo fígado em metabólitos inativos26,29. Fentanil (2 a 3 meias-vidas). Se o paciente permanece com
díaca preexistentes25. Esses efeitos podem ocorrer receptores μ, localizados em áreas relacionadas à transdérmico e formulações de fentanil para uso dor leve a moderada, pode-se aumentar a dose diá-
com todos os AINEs. transmissão nociceptiva, como substância cinzen- transmucoso podem ser utilizados em pacientes ria em 25% a 50%; se persiste com dor intensa, esse
ta periaquedutal, núcleo da rafe e corno dorsal da ambulatoriais29. aumento pode ser de 50% a 100%.
Medicamentos do segundo degrau da escada medula espinhal26. A metadona, além do agonismo Via transdérmica: fentanil estabelece equilíbrio
(opioides fracos) de recepores μ opioides, bloqueia receptores de com o tecido subcutâneo e libera continuamente OBS.: Se a função renal está prejudicada, o opioide
Codeína glutamato do tipo N-Metil-D-Aspartato (NMDA) e a no organismo uma dosagem horária definida, de pode ser modificado para metadona ou fentanil
Farmacodinâmica: atua em receptores μ opioi- recaptação pré-sináptica de serotonina.26,30. acordo com a apresentação do adesivo transdérmi-
des localizados no sistema nervoso central e peri- Em doses iniciais a metadona é equivalente à co (12.5, 25, 50, 75 e 100 μg . h–1 de fentanil). Após
férico. morfina, mas, quanto maior a dose de morfina uti- instalação do adesivo, são necessárias 12 a 16 horas Quando a via oral não está mais disponível no
Farmacocinética: é um pró-fármaco que ao ser lizada pelo paciente, maior a relação de potência da para se atingir níveis significativos da substância. paciente crônico, algumas alternativas não invasi-
metabolizado pelo sistema de citocromos (CYP2D6) metadona e morfina30. Devem ser substituídos por novos adesivos a cada vas são o fentanil transdérmico e a morfina por via
origina morfina26. De 5% a 10% dos caucasianos são Farmacocinética: podem ser distribuídos em 72 horas26. retal. Observar equivalência de doses e biodisponi-
deficientes dessa enzima e portanto não apresen- dois tipos: hidrofílicos e lipofílicos. O fentanil, quando em contato com a mucosa bilidade do fármaco.
tam analgesia com o medicamento. Apresenta dis- bucal, inicia analgesia após 5 a 10 minutos. Deve
ponibilidade oral de 40% e atinge pico plasmático Opioides hidrofílicos ser titulado individualmente para cada paciente. Efeitos colaterais dos opioides
após 1 hora da ingesta, meia-vida de 2,5 a 3 horas26. São exemplos a morfina, oxicodona, hidrocodo- Aproximadamente metade da dose é absorvida pela Constipação intestinal: causada por relaxa-
Orientações para a prescrição: a dose usual de na, hidromorfona. mucosa oral e possui cinética de ação similar ao mento da musculatura lisa intestinal, é o efeito co-
codeína isoladamente é de 30 a 60 mg a cada 4 ho- Compartilham perfis farmacocinéticos seme- fentanil por via venosa. A outra metade é deglutida lateral mais prevalente em pacientes usuários crô-
ras, sendo a dose máxima recomendada de 360 mg lhantes26. Possuem biodisponibilidade que varia de e tem cinética de ação por via oral30. O pico sérico nicos dessa medicação30,32. A prescrição de opioides
por dia. 35% a 70%, extenso efeito de primeira passagem ocorre após 20 a 40 minutos, e o término do efeito deve ser acompanhada de prescrição concomitante
Tramadol: opioide atípico. hepática, necessitando de conversão de dose oral após 1 a 3 horas, sendo ótima escolha em dores in- de laxativos.
Farmacodinâmica: além da ação agonista em para parenteral da ordem de três vezes. A morfina cidentais e dor do tipo Breakthrough Pain (BTP)31. Náuseas e vômitos: ocorrem em 30% a 50% dos
receptores μ opioides, inibe a recaptação de nora- possui metabólito ativo (morfina-6-glicuronídeo, A metadona tem meia-vida longa e variável que pacientes que iniciam o uso de opioides. O meca-
drenalina e serotonina na fenda sináptica de modo M6G), o qual é mais potente que a morfina e pode pode atingir 8 a 72 horas. O estado de equilíbrio, nismo é a estimulação de áreas do sistema nervoso
semelhante aos antidepressivos tricíclicos. Possui se acumular em pacientes com redução da função portanto, é variável de 1 a 15 dias. Titulação cuida- central desencadeantes do reflexo do vômito e de
ação inibitória de correntes de sódio de modo se- renal26,29. dosa é necessária para evitar sobredose em longo mecanismos periféricos relacionados ao relaxa-
melhante aos anestésicos locais26. A concentração plasmática máxima após inges- prazo26. mento da musculatura lisa intestinal. O uso conti-
Farmacocinética: é um pró-fármaco que, ao ta oral ocorre após 60 minutos. Após administração Orientações para prescrição: o modo mais se- nuado leva à tolerância do efeito colateral, mas a
ser metabolizado pelo sistema de citocromos subcutânea, esse tempo é 30 minutos e por via ve- guro de iniciar terapêutica com opioides é a titula- prescrição de antieméticos profiláticos é necessá-
(CYP2D6), origina desmetil-tramadol, que possui nosa é de aproximadamente 6 minutos. A meia-vi- ção do fármaco. A prescrição dever ser realizada a ria no início do tratamento30.
164 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 165

Xerostomia: pode ocorrer com morfina, sobre- pressão, dor total), além de fatores relacionados ao Tabela 6: Abuso de substâncias
tudo se anticolinérgicos e antidepressivos estão abuso de fármacos.
sendo prescritos simultaneamente30. Dependência física é a adaptação fisiológica a
Sonolência: é autolimitada, pois a tolerância um medicamento que pode resultar em síndrome COMPORTAMENTO PADRÃO DOS PACIENTES QUE ABUSAM DE OPIOIDE
ocorre rapidamente. Em casos refratários, pode ser de abstinência quando a substância é interrompi- Uso sem controle
necessária a troca do opioide30. da bruscamente, reduzida a dose ou antagonizada.
Sabe da alteração que o opioide produz na sua qualidade de vida
Alteração da cognição: confusão, alucinações e É diagnosticada pelo surgimento de síndrome de
sonhos vívidos podem ocorrer27. abstinência34 (Tabela 5). Não se preocupa com os efeitos colaterais
Mioclonia: ocorre em pacientes usando doses Vício: desordem crônica caracterizada por uso Não segue plano de tratamento
altas de opioides. Usualmente vem acompanhada compulsivo de substâncias que resultam em dano
Sempre está sem medicação, “perde” as prescrições, tem sempre uma desculpa
de sedação e alteração cognitiva. Melhora com a re- físico, psicológico ou social ao usuário. É um me-
dução da dos27,30. canismo complexo, relacionado a comportamen-
Depressão respiratória: está relacionada à dose to de busca. Estudos mostram que as adaptações
e usualmente é precedida de sonolência. A monito- do centro de recompensa no cérebro (sistema 1. Prescrição inadequada de analgésicos para a in- Anticonvulsivantes
rização da frequência respiratória e graus de seda- mesocórtico límbico) e núcleo central noradre- tensidade da dor primária; Farmacodinâmica: são analgésicos efetivos em
ção previnem esta complicação27,30. nérgico resultam em estado de dependência em 2. Frequentes solicitações de analgésicos pelo pa- dor neuropática, possivelmente pelo efeito sobre a
Dependência e tolerância: tolerância é diag- que os desagradáveis sintomas físicos e psicoló- ciente, associadas a alterações comportamen- estabilização de condução neural. Gabapentina e
nosticada pela necessidade de aumento da dose do gicos levam à necessidade crescente de obtenção tais para convencer cuidadores e equipe médica pregabalina atuam em canais de cálcio voltagem-
opioide para obtenção do mesmo efeito analgésico. do opioide34. Os opioides causam alteração do e paramédica da intensidade da dor; -dependente importantes na manutenção de dor
No entanto, pacientes em uso crônico de opioide humor e efeitos ansiolíticos que podem induzir 3. Crise de desconfiança entre paciente e a equipe neuropática. Carbamazepina e oxcarbazepina ini-
que passam a necessitar de doses progressivamen- euforia, especialmente quando os níveis da me- de saúde, gerando sofrimento ao paciente e des- bem canais de sódio.
te mais elevadas do fármaco devem ser investi- dicação no plasma aumentam rapidamente (VIA conforto para a equipe. Farmacocinética: gabapentina tem absorção
gados em relação a outros fatores relacionados à ENDOVENOSA). variada que diminui à medida que se aumentam
piora da dor30. Em pacientes com câncer é muito Não confundir vício com pseudovício35. Esse Adjuvantes (podem ser introduzidos em as doses do fármaco. Exemplo: 300 mg via oral têm
frequente que a piora esteja relacionada à progres- é uma síndrome iatrogênica, desenvolvida como qualquer degrau da escada) 60% de biodisponibilidade, enquanto 1.200 mg têm
são da doença (acometimento neural, fraturas pa- consequência direta ou indireta do manejo inade- Antidepressivos apenas 33%. É eliminada pela urina em sua forma
tológicas), complicações do tratamento (quimio ou quado da dor. Podem ser visualizadas três fases ca- Farmacodinâmica: os antidepressivos tricícli- não metabolizada e deve ter sua dosagem reduzida
radioterapia), fatores psicológicos (ansiedade, de- racterísticas:35 cos foram os primeiros antidepressivos descritos em insuficiência renal36,37.
como eficazes na dor neuropática. A amitriptilina Orientações para prescrição: é bem tolerada,
Tabela 5: Sintomas e sinais de síndrome de abstinência bloqueia a recaptação de serotonina e noradrenali- não necessita ser monitorada a concentração plas-
na e pode também atuar em receptores NMDA. mática e possui poucas interações medicamento-
Farmacocinética: analgesia ocorre após uma sas. Deve ser iniciada em pequenas doses, sendo
SINAIS E SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA AO OPIOIDE
semana. Os tricíclicos e a duloxetina possuem que a dose mínima efetiva é 900 mg ao dia.
Anorexia Diarreia meia-vida longa e podem ser ingeridos uma vez ao Pregabalina tem características semelhantes à
Inquietação Cólica intestinal dia. A venlafaxina deve ser administrada 2 a 3 vezes gabapentina, é mais potente e possui melhor bio-
ao dia, mas após a instalação da analgesia a dura- disponibilidade. O tempo de titulação do efeito é
Disforia Fadiga
ção do efeito é prolongada e pode ser tomada uma de 1 semana, enquanto o da gabapentina é de até
Irritabilidade Lacrimejamento vez ao dia. 4 semanas. A dose inicial é de 75 mg via oral, pode
Orientações para a prescrição: iniciar a utiliza- ser titulada até 200 mg 3 vezes ao dia37.
Dor muscular Midríase
ção com baixas doses (amitriptlina e nortriptilina Efeitos colaterais: cefaleia, ataxia, náuseas,
Náusea/vômito Sudorese em doses de 10 a 25 mg ao dia)36. tontura e sonolência, sendo esses dois últimos sin-
Piloereção Insônia Efeitos colaterais: xerostomia, constipação tomas os mais comuns. Tais efeitos podem ser con-
intestinal, sedação e retenção urinária (ADT). Pa- trolados com a titulação cuidadosa da dose36,37.
Inquietação Rinorreia
cientes geriátricos e com problemas cardiovas- Carbamazepina pode causar secreção inapropria-
Bocejos Taquicardia culares: hipotensão ortostática, anormalidade da da do hormônio antidiurético (SIHAD), hepatite e su-
Ansiedade Hipertensão arterial condução cardíaca e confusão mental. São con- pressão da medula óssea. Monitorização laboratorial
traindicados em portadores de glaucoma de ângu- deve ser realizada com frequência. Oxcarbazepina é
Febre Tremores
lo estreito36. mais bem tolerada, mas pode causar hiponatremia37.
166 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 167

Bloqueadores de canais de sódio res crônicas cujo componente neuropático predo- ral. Meia-vida plasmática é curta e duração de ação Bisfosfonatos (BP)43: medicamentos análogos
Farmacodinâmica: lidocaína é o protótipo des- mina, em doses iniciais de 0,1 a 0,2 mg . kg-1, em longa, permitindo utilização de uma dose diária. do pirofosfato, que se ligam rapidamente à hidro-
se grupo. É efetivo em síndromes com dor neuro- bolus, e mantida infusão contínua durante período Orientações para prescrição: em pacientes xiapatita da superfície do osso mineralizado, é, em
pática, como neuropatia diabética e pós-herpética. prolongado. O aumento da dose pode levar ao apa- terminais, dexametasona é o corticoide de escolha seguida, internalizado pelos osteoclastos levando
Canais de sódio são identificados em nervos danifi- recimento de efeitos psicomiméticos que podem devido ao menor efeito mineralocorticoide. Como à sua apoptose. BPs podem ser usados em conco-
cados e gânglio da raiz dorsal após lesão38. Lidocaí- ser prevenidos por benzodiazepínicos. adjuvante de analgesia, doses de 4 a 20 mg dia são mitância com radioterapia, com a finalidade de re-
na sistêmica pode suprimir descargas ectópicas e Efeitos colaterais: metadona tem efeitos seme- utilizadas. Dexametasona pode ser administrada duzir dor e eventos adversos esqueléticos (fratura,
disparo neural espontâneo, que pode explicar, par- lhantes aos dos outros opioides. Cetamina pode por via oral, retal, endovenosa e subcutânea. Após compressão medular). O número necessário para
cialmente, a utilidade dos bloqueadores de canais causar disforia, alucinações, sonolência e tontura. 1 a 2 dias sem efeito benéfico, pode-se desconti- tratar (NNT) dos BPs após 4 semanas é 11 e após 12
de sódio na dor neuropática. nuar o corticoide. Em caso de eficácia, a dose pode semanas esse número é reduzido para 7. Os tipos
Farmacocinética: administrada por via paren- Alfa2-agonistas40 ser reduzida. de BP mais utilizados são: alendronato, risendrona-
teral ou tópica. Adesivos de lidocaína 5% não apre- Farmacodinâmica: clonidina e dexmedetomi- Efeitos colaterais: doses equivalentes a 20 mg/ to, ibandronato, pamidronato e ácido zoledrônico.
sentam absorção sistêmica significativa em aplica- dina são efetivas para dor neuropática e nocicep- dia de prednisona por mais de três semanas apre-
ções usuais. É metabolizada pelo fígado e possui tiva, com efeitos no sistema nervoso central e pe- sentam supressão do eixo hipotálamo-hipofisário. Procedimentos intervencionistas direcionados
meia-vida de 100 minutos. riférico. Alteram condutância ao cálcio e potássio, Hiperglicemia e psicose induzida por corticoide para o diagnóstico clínico e síndromes dolorosas44
Orientações para prescrição: lidocaína paren- diminuem a liberação pré-sináptica de neurotrans- podem ocorrer precocemente. Efeitos de longa du- Intervenções para dor da região da cabeça e
teral deve ser administrada sob vigilância cuidado- missores e promovem a hiperpolarização pós-si- ração incluem osteoporose, Síndrome de Cushing, pescoço: dor causada pelo próprio tumor ou pelo
sa pelos riscos de convulsões. Pode produzir alívio náptica. Possuem efeito simpatolítico. catarata, úlcera péptica e miopatia. tratamento do câncer. O tipo de dor varia desde
rápido em dores neuropáticas refratárias em doses Farmacocinética: clonidina é disponível por via disfagia até dor intensa na região cervical, orelha,
de 1 a 2 mg . kg-1, administradas durante 30 mi- oral e parenteral. Por via oral a biodisponibilidade Outras opções de tratamento farmacológico cavidade oral, face, hemicrânio e região do ombro.
nutos. Lidocaína 5% tópica, na forma de adesivo, é de 75% a 100%. Por via transdérmica a disponibi- Novas apresentações de fentanil: preparações Em 10% a 20% dos casos, o tratamento farmacoló-
pode ser usada para dor neuropática localizada. lidade é de 60%. bucal, nasal e sublingual são utilizadas para trata- gico é ineficaz.
Efeitos colaterais: lidocaína em doses terapêu- Orientações para prescrição: Clonidina é ini- mento de dor tipo “breakthrough” (BTP). O início Bloqueios de nervo: plexo simpático cervical
ticas é bem tolerada (2 a 5 mg . kg-1), mas pode ciada a 0,1 mg. dia por via oral e titulada pela eficá- da analgesia é rápido, ocorre após 10 a 15 minutos (gânglio estrelado), nervo trigêmeo, nervo glossofa-
haver tontura e sonolência. No entanto, a janela cia e efeitos adversos. Pode ser usada por via espi- na mucosa oral e eficaz em 75% dos pacientes com ríngeo, nervos occipitais, nervo vago, gânglio esfe-
terapêutica é muito estreita. Níveis plasmáticos > nhal associada a soluções de analgesia controlada BTP. nopalatino e plexo cervical.
8 mg . L-1 podem induzir mioclonia; níveis > 10 pelo paciente em doses de 0,1 a 0,3 mg diluídas em Tapentadol: analgésico de ação central, agonis- Intervenções para dor torácica: dor torácica é
mg . L-1 podem induzir crise convulsiva; níveis > 300 mL de solução. ta do receptor opioide µ e inibidor de recaptação de o sintoma mais comum em pacientes com invasão
25 mg . L–1 podem induzir colapso cardiovascular. Efeitos colaterais: hipotensão e bradicardia são noradrenalina. É efetivo na dor oncológica. óssea de parede torácica. Bloqueio de nervos inter-
Lidocaína tópica é bem tolerada. os efeitos mais comuns. Sonolência e xerostomia Capsaicina: ativa o receptor vaniloide de poten- costais (IC) com anestésico local45 antes de neuróli-
são efeitos relatados. cial transitório-1 (TRPV1), expresso nos neurônios se IC com fenol 5% a 10% pode ser empregada em
Antagonistas de receptores NMDA sensitivos, e modifica a atividade dos nocicepto- dores somáticas de difícil controle. Alívio é imedia-
Farmacodinâmica: os receptores de glutamato Corticosteroides res. Capsaicina tópica em altas concentrações (8%) to, porém, a duração do efeito é curta. 30% desen-
estão envolvidos no fenômeno de sensibilização Farmacodinâmica: são anti-inflamatórios po- pode ser eficaz em dor neuropática42. volve dor neuropática por deaferentação46.
central. Cetamina, metadona, memantina, aman- tentes. Incluem nesta classe a hidrocortisona, Lidocaína tópica: disponível como emplastro Dor torácica originada de pleura ou cavidade
tadina e dextrometorfano são inibidores NMDA e dexametasona, prednisona, metilprednisolona e contendo lidocaína 5%, é usada para tratamento de pleural pode ser aliviada com bloqueio de plexo
podem ser úteis para analgesia. Cetamina está dis- triamcinolona. Sua ação é via regulação transcrip- dor pós-herpética. Pode ser usada ainda para trata- simpático torácico46.
ponível apenas para uso hospitalar39. cional no núcleo celular, reduzindo a liberação de mento de dor neuropática localizada42. Em algumas situações de dor somática torácica
Farmacocinética: metadona tem meia-vida lon- citocinas inflamatórias e por esse mecanismo re- Inibidores de RANK/RANKL (receptor ativa- unilateral, cordotomia pode ser indicada para alí-
ga e necessita de titulação. Cetamina é disponível duzem a dor. Reduzem edema, aliviam compressão dor do fator nuclear kappa B/ligante do receptor vio da dor47.
por via parenteral, mas também pode ser usada por tumoral e reduzem disparo neuronal espontâneo do fator nuclear Kappa): Denosumab e Tanezumab Intervenções para dor visceral no abdome su-
via oral. Possui efeito de primeira passagem hepáti- por alterar fluxo de sódio em canais iônicos presen- são anticorpos monoclonais que interagem com perior:
ca quando usada por via oral e é metabolizada pelo tes em neuromas41. RANK, que é expresso nos pré-osteoclastos e induz Bloqueio dos nervos esplâncnicos ou plexo ce-
fígado em norcetamina, equipotente à cetamina Diferem quanto ao efeito mineralocorticoide sua maturação em osteoclastos44. O Denosumab me- líaco: os nervos esplâncnicos são fibras aferentes
em termos de analgesia. O início de ação após in- que afeta a retenção hídrica. A dexametasona tem lhora o desfecho de pacientes com câncer de pul- simpáticas pré-ganglionares que se originam da ca-
gesta oral é de 30 minutos. o menor efeito mineralocorticoide. mão metastático, por reduzir os eventos esqueléti- deia torácica, localizados no aspecto anterolateral
Orientações para prescrição: a cetamina pode Farmacocinética: alta biodisponibilidade por cos e melhora a dor. É melhor que ácido zoledrônico da 12a vértebra torácica como nervo esplâncnico
ser usada por via parenteral em pacientes com do- via oral e podem ser administrados por via parente- em relação ao aumento da sobrevida dos doentes43. maior (T5-T10), menor (T10-T11) e ínfimo (T12).Es-
168 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 169

ses nervos coalescem para formar o plexo celíaco são preferencialmente indicados para pacientes que a via sistêmica (85% e 71%, respectivamente)48. Mielotomia da linha média: indicada para dor
anteriormente à aorta, ao redor da origem do tron- com expectativa de vida maior que 3 meses, devido Potenciais complicações são infecção (2%), efeitos perineal e coccígea na linha média ou dor em am-
co celíaco44. ao maior custo dos dispositivos48. colaterais de fármacos, mau funcionamento do bos os membros inferiores50.
Intervenções para dor no andar inferior do A via peridural é utilizada para analgesia focal e sistema eletrônico, falha da bateria e problemas Hipofisectomia: indicada para dores difusas
abdome, pelve e períneo: expectativa de vida curta, enquanto a via subarac- relacionados ao cateter, como a fibrose em 5% dos causadas por câncer de mama e próstata50.
Bloqueio do plexo hipogástrico superior: as nóidea é preferível para pacientes com expectativa casos. O fármaco aprovado para uso em SIFI é a Vertebroplastia e cifoplastia: são interven-
fibras aferentes que inervam as vísceras pélvicas de vida mais longa (algumas semanas) que tenham morfina. ções recomendadas para pacientes com dor espi-
(bexiga, útero, vagina, próstata, testículo, uretra, dor mais difusa (Tabela 7). nhal decorrente de colapso vertebral secundário a
cólon descendente e reto) percorrem o mesmo Medicamentos administrados por via peridu- Procedimentos Cirúrgicos metástases ósseas, as quais não envolvem o canal
trajeto das fibras simpáticas e plexo hipogástrico ral: podem prover analgesia satisfatória em 76% a Cordotomia percutânea: consiste da inserção espinhal e seu conteúdo. Vetebroplastia envolve a
superior, sendo passíveis de serem acessadas com 100% dos pacientes. Cateteres podem ser tuneliza- de uma agulha no espaço cervical C1-C2 com auxí- estabilização de fraturas patológicas por injeção de
bloqueio do plexo. O alívio da dor ocorre em 70% dos no subcutâneo, conectados a sistemas de infu- lio de intensificador de imagem, e promoção de le- cimento polimetilmetacrilado intraósseo. Cifoplas-
dos pacientes44. são e mantidos por longos períodos. Se a expectati- são térmica no quadrante anterolateral da medula tia consiste de implante de balão intravertebral via
Bloqueio do Gânglio de Walter (gânglio ím- va de vida é maior que 3 meses, a opção por cateter espinhal por radiofrequência49. A melhor indicação percutânea, que posteriormente é insuflado para
par): É uma estrutura retroperitoneal localizada intratecal é preferível44. A taxa de complicação va- é dor unilateral, localizada em segmentos abaixo restaurar a altura da vértebra e reduzir a angulação
logo abaixo da junção sacrococcígea. Pode ser in- ria de 43% a 69% e inclui deslocamento do cateter, do ombro. O alívio da dor pela cordotomia pode cifótica antes da injeção de cimento51.
dicado o bloqueio do gânglio ímpar para tratamen- infecção, náusea, vômitos e fibrose peridural44. fazer surgir dor em espelho, contralateral à lesão. Neuromodulação: é a técnica de alteração da
to de dor pós-retite actínica, coccidínia e tenesmo Medicamentos administrados via intratecal: Embora a lesão seja permanente, a plasticidade do atividade do sistema nervoso por aplicação de cor-
retal44. infusão intratecal de fármacos pode ser realizada sistema nervoso central é tal que o alívio da dor rente elétrica52. O mais comum é a técnica de esti-
Neurólise das raízes sacrais (fenolização intra- via cateter, externalizado ou sistema de infusão to- não é maior que 6 a 18 meses. Deve, portanto, ser mulação da medula espinhal com eletrodos adja-
tecal): pode ser considerada em pacientes com dor talmente implantável44. indicada em pacientes com sobrevida menor que centes ao corno dorsal. Existem novas modalidades
somática na região perineal causada por câncer As medicações mais usadas nesses sistemas são 18 meses que apresentem dor intratável por outros com estímulo periférico, do córtex motor e estimu-
pélvico. morfina, fentanil, anestésicos locais e clonidina. métodos49. lação cerebral profunda.
Sistema de Infusão de Fármacos Intratecal
Técnicas de intervenção intraespinhal (SIFI)48: bombas implantáveis programáveis por
São técnicas que visam a administração de fár- telemetria e operadas por baterias foram introdu-
macos na proximidade de fibras aferentes nocicep- zidas no mercado em 1991. O SIFI consiste de um

Outras modalidades de tratamento


tivas e tratos ascendentes. Podem ser classificadas cateter intratecal tunelizado no subcutâneo, conec-
como peridural ou subaracnóidea, dependendo tado a uma pequena bomba eletrônica implantada
do sítio anatômico da medicação administrada. na parede abdominal, controlada por telemetria, a
O sistema de fornecimento de fármacos pode ser qual é alimentada por uma bateria de vida longa Radioterapia e quimioterapia paliativas: são da dor53. Quimioterapia paliativa é mais eficaz em
externo, parcialmente internalizado ou totalmente (até 7 anos). O fármaco de escolha para analgesia modalidades terapêuticas, frequentemente usadas linfomas, tumores de pequenas células de pulmão
implantável48. é a morfina, e a taxa de infusão pode ser controla- em vários tipos de câncer primário, com intenção e carcinoma de mama.
A escolha do método depende da expectativa de da externamente sempre que houver necessidade. de curar o câncer, ou de forma paliativa, para trata- Radiofármacos: são elementos radioativos usa-
vida do doente: sistemas totalmente implantáveis A taxa de sucesso com morfina intratecal é maior mento de sintomas.53 Radioterapia paliativa é usa- dos para tratar dor por metástases de câncer de
da para tratar dor de tumor cerebral e metástases próstata54. Os fármacos mais usados no Brasil são
Tabela 7: Indicações para técnicas de analgesia no neuroeixo ósseas. Resposta completa ocorre em 25% dos pa- Iodo-131 e Samario-153. Outros fármacos utilizados
cientes após 1 mês de tratamento, e outros 40% dos são estrôncio-89, Rênio 186 e rádio-223.
pacientes apresentam 50% de alívio na intensidade
Dor intensa intratável, apesar do manuseio convencional da dor com opioides oral/intravenoso/transdérmico
Efeitos colaterais intoleráveis, como náusea, vômitos, constipação, disfunção cognitiva, prurido com a terapêutica
convencional
Dor não tratável com outras técnicas intervencionistas, como bloqueios neurolíticos
Dor intratável em áreas localizadas e bem definidas Considerações finais
Dor envolvendo plexo nervoso, mais comumente plexo sacral
O conceito de dor total foi formulado por Cicely sociais, emocionais e espirituais na sua definição.
Metástases ósseas difusas Saunders55 e inclui elementos físicos, psicológicos, Pacientes em estágio terminal de uma doença fre-
170 DOR ONCOLÓGICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 171

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Dor orofacial
Luci Mara França Correia
Laís Kozminski da Costa Akcelrud Durão
Rubens Correia Filho
Irimar de Paula Posso

Introdução
Dor Orofacial é toda dor da cavidade oral e da As principais causas de dor orofacial são pro-
face que esteja associada a tecidos moles como blemas odontogênicos, cefaleias, doenças neuro-
pele, vasos sanguíneos, glândulas e músculos, e gênicas, musculoesqueléticas, câncer, infecções,
mineralizados como ossos e dentes. Trata-se de doenças autoimunes, trauma tecidual, vascular,
um amplo conjunto de sinais e sintomas que com- neurovascular e de origem psicogênica1,2.
preende múltiplas condições dolorosas, usual- Devido à incidência ascendente, abrangendo
mente referidas na região da cabeça e/ou pescoço, grupos etários cada vez mais precoces, associação
podendo estar associadas à cervicalgias, cefaleias possível com a saúde mental e implicações na qua-
primárias e doenças reumáticas como a fibromial- lidade de vida dos acometidos, a dor orofacial tem
gia e a artrite reumatoide1. merecido maior ênfase em saúde pública3.
174 DOR OROFACIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 175

Classificação da dor orofacial Epidemiologia da dor orofacial


Ainda não há consenso quanto à classificação As classificações existentes até o momento têm A mensuração epidemiológica da dor orofacial prevalência foi identificada na faixa mais jovem e
única de Dor Orofacial4. Diversos fatores contri- como objetivo a facilitação para clínicos e pesquisa- representa um grande desafio e ainda não existem a menor, na faixa de 56 a 65 anos. Apenas 46% das
buem para a complexidade dos esquemas de clas- dores. A maioria dos esquemas de classificação se dados precisos sobre a sua incidência na população pessoas que referiram dor, procuraram assistência
sificação já relatados na literatura, em particular, a baseia nas estruturas envolvidas ou nos sintomas. mundial. Apesar dessas dificuldades, inúmeros são médica e 17% precisaram de afastamento do traba-
complexidade anatômica da região de cabeça e pes- Algumas são baseadas em critérios diagnósticos, os estudos que investigaram a frequência da dor lho ou não foram capazes de realizar as atividades
coço, que envolve a distribuição sensitiva nervosa, sendo mais conhecidas a da Associação Internacio- orofacial em diferentes populações 10. normais por causa da dor13.
a musculatura, a disfunção de glândulas salivares nal para o Estudo da Dor (IASP)6, Critérios diagnós- Em 1993, um inquérito domiciliar incluiu 42.370 Em 2013, um estudo investigou a ocorrência
e o complexo mecanismo e inervação da articula- ticos para Disfunções Temporomandibulares (DC/ pessoas acima dos 18 anos de idade, da população de cefaleia e dor orofacial em brasileiros adultos
ção temporomandibular (ATM). Somando a esses TMD)7 e da Academia Americana de Dor Orofacial8. americana civil, e identificou que 9.072, ou seja, e idosos, considerando as características socioeco-
fatores, ainda há o potencial de desenvolvimento A tabela 1 apresenta uma classificação conve- 21,3% dos indivíduos relataram experiência de pelo nômicas, demográficas, prevalência, localização da
da dor neuropática em associação à hiperalgesia e niente da dor orofacial baseada em fatores etioló- menos um tipo de dor orofacial nos seis meses que dor e fatores associados, como a presença de co-
alodínia5. gicos. precederam o estudo. Em relação ao gênero, a pre- morbidades, qualidade de vida, satisfação com as
valência de todos os tipos de dor orofacial relatada atividades diárias e distúrbios do sono. O estudo
Tabela 1: Classificação da dor orofacial baseada em fatores etiológicos9 foi maior em mulheres11. evidenciou que 55,5% dos entrevistados relataram
Em 2002, uma pesquisa que incluiu 7.124 pes- a presença de algum tipo de dor orofacial, sendo
soas na Alemanha, verificou uma prevalência de a dor de cabeça a mais prevalente com 41,1%, se-
FATOR ETIOLÓGICO TIPO DE DOR OROFACIAL
16% de dor orofacial nos últimos 12 meses que guida da dor de dente com 10,2%, dor facial com
Doença da mucosa Transtornos ulcerativos/ erosivos, incluindo gengivite descamativa
antecederam a pesquisa e, de 7% nos últimos sete 7,7% e dor na língua com 0,7%. Nesse estudo foi
Osteonecrose
dias, sendo as mulheres mais atingidas que os ho- encontrada associação entre a prevalência de dor e
Musculoesquelético Disfunção temporomandibular mens12. a presença de distúrbios do sono e pior qualidade
Sinusite Maxilar, paranasal, etmoidal e/ou frontal Uma pesquisa realizada no Reino Unido ava- de vida, sendo que 48,6% dos adultos e 58,7% dos
liou 2.504 indivíduos de 18 a 65 anos de idade, por idosos apresentaram algum prejuízo das atividades
Dentoalveolar Dental - sensibilidade dentinária, dente trincado, pulpite
meio de questionário enviado via postal que, além diárias devido à dor14.
Periodontal - periodontite periapical, gengivite ulcerativa necrosante aguda
de perguntas sobre as condições álgicas, também A análise dos vários fatores relacionados ao im-
Gengivite / periodontite
investigou a incapacidade associada à presença da pacto da dor orofacial tem evidenciado que é bas-
Glândulas salivares Cálculos de ducto salivar causando obstrução
dor. Dos respondentes, 26% relataram a presença tante marcante e importante a perda de dias de tra-
Sialadenite infecciosa
de algum tipo de dor orofacial, sendo a frequência balho, os distúrbios do sono, os problemas sociais
Tumor da glândula saliva
dos sintomas maior em mulheres. A maior taxa de e psicológicos, entre outros.
Vascular Enxaqueca
Dor de cabeça tipo tensão
Arterite temporal
Cefaleia autonômica do trigêmeo

Aspectos psíquicos e sociais e seu impacto


Patologia óssea Osteíte alveolar
Osteomielite

Neuropática
Cisto dentário infectado
Neuralgia trigeminal
sobre a qualidade de vida
Neuralgia do glossofaríngeo
Descrita pela IASP como uma experiência de- reação - resultante das considerações que o indivi-
Dor neuropática do trigêmeo
sagradável, dependente de atributos sensoriais, duo faz sobre os estressores e sobre os recursos que
Neuralgia pós-herpética
motivacionais e cognitivos; associada a dano teci- possui para lidar com eles. Muitas vezes atrelada a
Síndrome de Ardência Bucal
dual real ou potencial, ou descrita em termos de sequelas emocionais, o entendimento da experiên-
Outras Dor facial idiopática crônica tal dano, a dor pode ser compreendida como um cia dolorosa requer a convergência dos saberes de
Odontalgia atípica processo dualístico, cujas variantes são: a percep- diferentes áreas da saúde, em diferentes níveis de
Câncer secundário ção – resultado de um processo neurofisiológico, conhecimento15.
Dor referida de olhos, ouvidos, intracraniana e coração por meio do qual a dor é recebida e transmitida - e a Os aspectos psicológicos das condições de dor
176 DOR OROFACIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 177

crônica representam componente chave da expe- humor e abstinência sexual. Entretanto, quando se 5% dos indivíduos com 1 ou mais sintomas de DTM entre os fatores etiológicos. Estressores psicosso-
riência da dor e as condições de dor orofacial não avalia o impacto das condições dolorosas deve-se procuram tratamento18. Porém, outro estudo evi- ciais tais como conflitos de relacionamento, pro-
é exceção. Os sintomas comuns relatados pelos pa- levar em conta o fato que, independentemente da denciou que 37,5% da população apresentavam ao blemas financeiros, sentimento de estar apressado
cientes com dor crônica orofacial incluem dores cronicidade da dor, os indivíduos expressam gran- menos um sintoma de DTM19. ou sobrecarregado, podem desempenhar papel in-
de cabeça, depressão, fadiga crônica, distúrbios do des diferenças no significado dado à experiência Um estudo de 2003 apresentou uma prevalên- direto23.
sono, diminuição da produtividade, sentimentos dolorosa e ao desconforto16. cia de 34,0% de DTM avaliando sinais e sintomas20. Parece haver interação de mecanismos nocicep-
de inadequação, baixa autoestima, distúrbios de Uma metanálise de 2015 demonstrou a prevalência tivos centrais e periféricos que contribuem para
de sinais clínicos de disfunção temporomandibular algumas manifestações da DTM, enquanto outros
e distúrbios articulares em crianças e adolescentes mecanismos refletem interações gene-ambiente,
de aproximadamente 16%. A prevalência de sons mas ainda são necessárias mais pesquisas para
da ATM de aproximadamente 14%. O sinal mais compreender esta relação. Entretanto, inúmeras

Diagnóstico
prevalente foi o clique, seguido pelo bloqueio da pesquisas têm apontado para o risco biopsicosso-
mandíbula21. cial para as DTMs23.
A DTM muscular é uma condição que pode ser
Na clínica diária, as dores orofaciais mais co- ATM procurarão tratamento. Entre estes, aproxi- Diagnóstico aguda ou crônica. Inclui a presença de dor regio-
muns são as de origem odontogênicas periodontal madamente 15% desenvolverão DTM crônica3. A avaliação da DTM deve ser individualizada nal associada a áreas sensíveis, chamadas pontos
e pulpar. As demais fontes de dor orofacial podem Embora ampla variedade de distúrbios possa para cada caso, levando em consideração as estru- gatilho (PG), que são expressas em bandas tensas
ser de origem inflamatória típica - como sinusites causar dor orofacial, clínicos e pesquisadores estão turas ósseas e de desenvolvimento, funcionais da dos músculos esqueléticos, tendões ou ligamentos.
e parotidites, dores neuropáticas intermitentes ou particularmente interessados nas DTMs, por ser musculatura e aspectos psicoemocionais envolvi- Embora ocorra mais frequentemente na região ao
continuas como nevralgias, dor mantida pelo sim- uma classe de dor frequentemente debilitante. As dos. O exame físico, constituído por palpação mus- longo do PG, a dor pode ser referida a áreas distan-
pático ou dor por desaferentação, disfunção tem- DTMs são a terceira condição de dor crônica mais cular e da ATM, mensuração da movimentação tes dos PG. Por exemplo: ponto gatilho em músculo
poromandibular e cefaleias11. comumente relatada no mundo, e dentre as dores mandibular ativa e análise de ruídos articulares, masseter pode causar dor referida no ouvido ou nos
O diagnóstico da dor orofacial preenche uma orofaciais, a DTM é a mais relacionada à ortopedia quando executado por profissionais treinados e dentes posteriores; ponto gatilho em esternocleido-
lacuna importante entre a odontologia e medici- orofacial. experientes, é instrumento de grande validade no mastoideo pode causar dor referida para cabeça,
na. Devido à etiologia e inter-relações complexas, diagnóstico e na formulação de propostas de tera- região frontal e olhos. No exame clínico a palpação
uma abordagem de equipe multidisciplinar tem DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR pia, assim como no acompanhamento da eficácia do PG e a reprodução da queixa de dor pelo pacien-
sido recomendada para reconhecer a apresenta- Definição dos tratamentos propostos19. te fecha o diagnóstico de dor miofascial24.
ção clínica da dor orofacial, melhorar os resulta- A DTM é definida pela Academia Americana de O critério diagnóstico mais usado dentre os
dos do tratamento e prevenir o impacto negativo Dor Orofacial como um conjunto de distúrbios que profissionais da área é o Critério Diagnóstico para Figura 1: Pontos – gatilho (PG) na dor miofascial associada
na qualidade de vida do paciente. A inter-relação envolvem os músculos mastigatórios, a articulação Disfunção Temporomandibular (DC-TMD), que a padrões locais ou distantes de referencia de dor na
entre os profissionais das diversas áreas é crucial temporomandibular (ATM) e estruturas associadas. abrange dois eixos de avaliação, sendo o eixo um a mandíbula, cabeça e pescoço, como indicado pelos
para o bom tratamento. Esta visão interdiscipli- Os sintomas mais relatados pelos pacientes são do- avaliação física, e o eixo dois a avaliação dos aspec- círculos brancos. (A) A fonte de dor é o PG em temporal
nar tem sido um avanço da medicina moderna res na face, ATM, dores nos músculos da mastiga- tos psicoemocionais22. anterior. Os locais de dor incluem frontal e retro- orbital,
onde as diversas áreas médicas se correlacionam, ção, dores de cabeça, dores na região da orelha, po- dores de cabeça e dor nos dentes anteriores superiores.
buscando um melhor entendimento das diversas dendo também haver zumbido, plenitude auricular Etiologia Esses músculos são ativados por apertamento, bruxismo
doenças17. e vertigem. Durante o exame clínico é comum en- A etiologia da DTM é muito variada, podendo e outros hábitos parafuncionais. (B) A fonte de dor é o
A causa mais comum de dor facial não dentá- contrar sinais como: limitação de abertura da boca, estar relacionada a hábitos parafuncionais, macro- PG em masseter profundo. Os locais de dor incluem pré
ria é um grupo de condições chamadas desordens incoordenação dos movimentos mandibulares, trauma direto ou indireto das atividades muscula- – auricular, ouvido e dentes posteriores. Estes músculos
temporomandibular da articulação e dos músculos ruídos articulares, dor à palpação nos músculos da res e de esforço repetitivo. Infecção local também também são ativados por apertamento, bruxismo e outros
(DTM). Esses distúrbios causam dor e disfunção re- mastigação e ATM10. pode causar miosite e levar à contratura muscular hábitos parafuncionais. (C) A fonte de dor é o PG em
correntes ou crônicas na articulação da mandíbu- se não for resolvida. Distúrbios do sono e hábitos masseter médio. Os locais de dor incluem dores de cabeça
la, nos músculos associados e tecidos de suporte. Epidemiologia noturnos podem contribuir para a dor miofascial. frontais, retro – orbitais e dor nos dentes superiores.
As DTMs são a segunda condição musculoesquelé- A prevalência geralmente é expressa em por- Os estudos mais recentes tem demonstrado que o Esses músculos também são ativados por apertamento,
tica de ocorrência mais comum, após dor lombar centagem de pessoas que têm sinais e sintomas. principal fator etiológico são os hábitos que pro- bruxismo e outros hábitos parafuncionais. (D) A fonte de
crônica, resultando em dor e incapacidade, afetan- Aproximadamente 60% a 70% da população geral duzem tensão muscular parafuncional oral, como dor é o PG do esplênio na área cervical posterior. Os locais
do aproximadamente 5 a 12% da população, com sofrem de pelo menos um sintoma de DTM, no apertamento dentário em vigília. Hábitos parafun- de dor incluem região cervical, dor de cabeça de vértice e
um custo anual estimado em US $ 4 bilhões. Cerca entanto, apenas 1 entre 4 desses indivíduos estão cionais com a língua, mordiscamento de bochecha dores de cabeça frontais. Esses músculos são ativados por
de metade a dois terços daqueles com distúrbios da cientes dos sinais e os relatam e aproximadamente e mau posicionamento de cabeça também estão apertamento e postura de cabeça.
178 DOR OROFACIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 179

são, devendo ser interrogado sobre a intensidade Tabela 2: Classificação taxonômica das disfunções temporomandibulares
da dor avaliada pela escala numérica verbal, de 0 a
10, sendo 0 a ausência de dor e 10 a dor mais inten- 1. Dor na articulação
sa que já experimentou. A. Artralgia
A amplitude normal de abertura da mandíbula B. Artrite
considerando a distância interincisal é de 42 a 47 2. Distúrbios articulares
mm para mulheres, homens ou mesmo crianças. A. Distúrbios do disco
Valores menores que 42 mm indicam limitação da I. Deslocamento de disco com redução
abertura bucal25. II. Deslocamento de disco sem redução com travamento intermitente
III Deslocamento de disco sem redução com abertura limitada
IV. Deslocamento de disco sem redução sem abertura limitada
Classificação da DTM B. Outros transtornos da hipomobilidade
Na classificação do DC-TMD as 12 DTM comuns I. Aderências / aderência
incluem a artralgia, mialgia, mialgia local, dor mio- II. Anquilose
fascial, dor miofascial com dor referida, distúrbios a. Fibroso
de deslocamento de disco, doença articular dege- b. Ósseo
nerativa, subluxação e cefaleia atribuída à DTM C. Transtornos da hipermobilidade
(Tabela 2). I. Deslocações
DISTÚRBIOS DA ARTICULAÇÃO
a. Subluxação
TEMPOROMANDIBULAR
b. Luxação
Tratamento 3. Doenças articulares
O tratamento das DTM musculares e articula- A. Doenças articulares degenerativas
res deve sempre respeitar o princípio da medicina I. Osteoartrose
baseada em evidência. São várias as possibilidades II. Osteoartrite
de tratamento das DTM musculares, desde placas B. Artrites Sistêmicas
oclusais, termoterapia, inativação dos pontos ga- C. Condilise/dessorção condilar idiopática
tilhos com técnicas de agulhamento seco, digito D. Osteocondrite dissecante
E. Ostronecrose
pressão, laser de baixa potência, toxina botulíni-
F. Neoplasia
ca ou bloqueio anestésico, bem como exercício de
G. Condromatose sinovial
alongamento muscular assistidos ou não. Devido 4. Fraturas
ao relacionamento íntimo dos músculos da masti- 5. Transtornos congênitos/do desenvolvimento
Avaliação clínica gação com os músculos cervicais é sempre indica- A. Aplasia
O exame clínico deve avaliar a localização da dor, do uma avalição da equipe de fisioterapia e libera- B. Hipoplasia
a amplitude e a presença de dor nos movimentos da ção das bandas tensas em região cervical durante a C. Hiperplasia
mandíbula, ruídos articulares e dor palpatória sobre terapia da DTM muscular26. 1. Dor muscular
os músculos temporais, masseter e sobre a ATM. A base do tratamento deve ser decidida sobre A. Mialgia
A avaliação clínica da ATM é feita pela palpa- um bom diagnóstico individualizado de cada caso Mialgia local
ção bilateral das articulações utilizando os dedos e o paciente deve compreender as formas de tra- Dor miofascial
indicadores posicionados na região pré-auricular, tamento e ser orientado das ações mais simples Dor miofascial com encaminhamento
solicitando ao paciente abrir e fechar a boca duran- incialmente podendo ser necessárias ações mais B. Tendinite
TRANSTORNOS DOS MÚSCULOS C. Miosite
te o exame, sendo avaliada movimentação, grau de complexas27.
MASTIGATÓRIOS D. Espasmo
abertura e possível irregularidade no movimento As modalidades terapêuticas estão divididas em
2. Contratura
de abertura e fechamento, deflexão do movimen- vários módulos como abaixo descritos. 3. Hipertrofia
to para direita ou para esquerda que pode ser ape- 4. Neoplasia
nas incoordenação da musculatura do masseter ou Informação e abordagem psicológica 5. Distúrbios do movimento
pterigoideo lateral quando leve, ou mesmo algum Orientação e biofeedback também fazem par- A. Discinesia Orofacial
problema intracapsular como um deslocamento te da rotina de tratamento, pois é importante que B. Distonia Oromandibular
do disco articular. Durante a avaliação o paciente é o paciente reconheça as posturas de tensões que CEFALEIA 1. Cefaleia atribuída à DTM
interrogado em relação à sintomatologia dolorosa, podem gerar as bandas tensas musculares como:
ESTRUTURAS ASSOCIADAS 1. hiperplasia coronoide
se somente a palpação ou também durante a excur- apertamento dentário, bruxismo, hábitos parafun-
180 DOR OROFACIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 181

cionais de mordiscamento de lábio, língua boche- dam a diminuir os estalidos articulares. São in- inflamatórios típicos como sinusites e parotidites, A revisão permitiu evidenciar associação entre
cha e manutenção do tônus muscular de masseter dicados em caso de assimetria nos movimentos as dores neuropáticas contínuas ou intermitentes idade, gênero, fatores psicológicos e dor orofacial,
quando em atividades de concentração ou tensão, de abertura e fechamento devido à atividade como as nevralgias, dor por desaferentação, dor e a necessidade de serem desenvolvidos estudos
é importante reconhecer estas ações e ser treinado muscular assimétrica26. mantida pelo simpático, a cefaleia e a disfunção epidemiológicos de qualidade na população geral,
para o relaxamento e controle do estresse. Terapia temporomandibular. para determinar a prevalência e a detecção de fato-
com biofeedback tem sido muito eficiente para ge- Tratamento farmacológico res associados.
rar uma autopercepção. O controle do estresse e de Analgésicos comuns, anti-inflamatórios não es-
características pessoais que geram tensão muscu- teroides e relaxantes musculares são indicados nos
lar também deve ser realizado. As terapias de re- casos agudos. Em casos de cronicidade é necessá-
laxamento, yoga e mindfulness tem ajudado nesta rio o uso de ansiolíticos ou antidepressivos para di-
fase do tratamento28. minuir a sensibilização central e a remodulação do
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50U por lado para masseter e 20U a 35U por lado tologia dolorosa em poucos meses de tratamento28. Craciofacial Research – Facial pain [acesso em 6 de of headache and orofacial pain in adults and elders in
para temporal, em um a três pontos em masseter e junho de 2019]. Disponível em: https://www.nidcr.nih. a Brazilian community: an epidemiological study. Gero-
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Tratamento fisioterápico a cirurgia pode ser indicada. O tratamento cirúrgi- Australian Dental Journal. 1998;43:403-409. The impact of chronic orofacial pain on daily life: the
• Alongamento: tem por finalidade diminuir o tô- co somente deve ser realizado se realmente hou- 6. Merskey H, Bogduk N, editors. Classification of chro- vulnerable patient and disruptive pain. Oral Surg Oral
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• Exercício de estabilização e coordenação: tem da sintomatologia e melhorar a qualidade de vida
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como objetivo fortalecer a musculatura dos do paciente26. A artroscopia e a artrocentese são as
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músculos da mastigação e proporcionar o pa- técnicas mais usadas atualmente. A cirurgia pode for temporomandibular disorders: review, criteria, exa- 2011;38;12:884-890.
ciente a percepção do posicionamento correto promover diminuição da intensidade da dor e au- minations and specifications, critique. J Craniomandib 19. Carrara SV, Conti PCR, Barbosa JS. Termo do 1º
de fisiológico de sua mandíbula e também aju- mento da abertura bucal em 80% dos casos26. Disord.1992;6:301–355. Consenso em Disfunção Temporomandibular e Dor
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Conclusões
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priada com a celeridade exigida. O profissional que das as causas de dor orofacial como a dor odon- lence and Distribution of Reported Orofacial Pain in the Research Applications: Recommendations of the
se dispuser a tratar esses pacientes deve conhecer o togênica, seja pulpar e periodontal, os processos United States. J Amer Dent Assoc. 1993;124:115–121. International RDC/TMD Consortium Network and Oro-
182 DOR OROFACIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 183

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Cefaleia
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Norma Regina Pereira Fleming
Flavia Pereira Fleming

Introdução
Cefaleia é uma das queixas mais prevalentes no gênero feminino, sendo as cefaleias primárias as
mundo e uma das maiores causas de incapacidade mais comuns. Apesar da cefaleia tipo-tensão ser a
na população adulta, com um fardo social e econô- mais prevalente, a migrânea é o tipo com maior im-
mico incrivelmente altos. A prevalência de cefaleia pacto socioeconômico e a que mais leva os pacien-
ao longo da vida é de 96%, com predominância no tes ao especialista1,2.

Avaliação inicial
A anamnese e o exame físico, em especial exame há perguntas essenciais que devemos fazer para
neurológico, são a chave do diagnóstico da cefaleia. caracterizar adequadamente a queixa e diferenciar
Dificilmente será necessário algum exame comple- cefaleia primária e secundária. Na história clínica
mentar. Na avaliação de um paciente com cefaleia, devemos nos atentar às seguintes informações:3
184 CEFALEIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 185

• Gênero: há cefaleias comuns a gêneros especí- des de vida diária • Gravidez/puerpério: pensar em trombose de medicamento: pensar em cefaleia por uso ex-
ficos. • Fatores de melhora da dor seio venoso cerebral, hipotireoidismo, anemia, cessivo de medicamento, incompatibilidade
• Idade: idade do paciente atual e no momento do • Frequência da dor em dias no mês (contar como diabetes, distúrbios associados à hipertensão medicamentosa.
início da cefaleia, caso esta seja crônica. crises individuais somente aquelas separadas arterial, desordens vasculares cranianas e cer- • Esses sinais podem direcionar a avaliação clíni-
• Início desta cefaleia: se é a primeira ou faz parte por um dia inteiro sem dor) vicais, cefaleia pós-punção de dura. ca para a necessidade de algum exame comple-
de uma história de vários episódios ao longo da • Sinais e sintomas que precedem a dor bem des- • Cefaleia iniciada após trauma: pensar em hema- mentar como exame de imagem ou outros testes
vida. critos em qualidade (alterações visuais ou no toma subdural e outras desordens vasculares. laboratoriais4.
• Localização da dor: unilateral ou bilateral, se há campo visual, alterações sensitivas, disfásicos • Uso excessivo de analgésicos ou início de novo
irradiação ou se é facial (dor abaixo da linha or- ou motoras), duração e se há ou não intervalo
bitomedial, acima do pescoço e anteriormente com a dor
aos pavilhões auriculares). • História familiar de cefaleia.
• Intensidade da dor:
Classificação
Algumas situações devem chamar nossa aten-
- fraca (não interfere com as atividades) ção na avaliação. Chamamos de sinais de alerta ou
- moderada (limitada, mas não impede as ativi- red flags:4
dades) • Cefaleia com sintomas sistêmicos (febre, rigidez As cefaleias são classificadas em primárias e se- grupos, resultando em cerca de 200 diagnósticos
- forte (impede as atividades). de nuca e rash cutâneo): pensar em meningite, cundárias. As cefaleias primárias por si só são a doen- possíveis (tabela 1)3.
• Qualidade da dor: encefalite, Doença de Lyme, infecção sistêmica, ça e não apenas um sintoma de uma outra afecção, As cefaleias primárias são as mais prevalentes
- pressão/aperto colagenoses ou doença vascular. exemplos: migrânea, cefaleia tipo-tensão e cefaleia dentre os diagnósticos da ICHD-3. Geralmente são
- pontada • Cefaleia nova em paciente com neoplasia ou em salvas. Já as cefaleias secundárias são sintoma de leves e infrequentes, porém, têm um alto impacto
- lancinante (dor de curta duração, como um HIV: pensar em metástase, abscesso cerebral alguma patologia, por exemplo infecções, doenças na vida social e na produtividade do paciente quan-
choque elétrico) (incluindo toxoplasmose) e meningite (crônica vasculares e trauma. Apenas 1% dos pacientes com do mais graves e/ou crônicas. O conhecimento das
- ao longo do trajeto de uma raiz ou nervo ou carcinomatosa). tumor cerebral terá a cefaleia como sintoma único.1 cefaleias primárias é essencial e a avaliação clíni-
- pulsátil ou latejante • Sintomas e sinais neurológicos focais (outros Em 1988 foi publicada a primeira Classificação ca inicial do paciente irá elucidar o diagnóstico na
- contínua e constante em intensidade ou contí- que não os de aura): pensar em tumor, malfor- Internacional das Cefaleias (ICHD), a qual já está grande maioria as vezes3.
nua com variação de intensidade ao longo do dia mação arteriovenosa (MAV), acidente vascular em sua terceira edição (ICHD-3). Essa classificação Neste capítulo, abordaremos as principais ce-
- queimação encefálico (AVE), doenças do colágeno, inclusive direciona a avaliação da queixa “dor de cabeça” e faleias primárias: migrânea, cefaleia tipo-tensão
- parestesia (sensação anormal não-desagradá- Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAF). possui diversos subitens derivados de 14 grandes (CTT) e cefaleia em salvas.
vel na presença ou ausência de estímulo) • Cefaleia de início súbito: pensar em hemorragia
- disestesia (sensação anormal e desagradável subaracnoide, apoplexia pituitária, sangramen- Tabela 1: Classificação Internacional das Cefaleias - 3a edição (ICHD-3)3
na presença ou ausência de estímulo) to intratumoral, MAV e tumor cerebral (princi-
- dolorimento (uma sensação de desconforto ou palmente de fossa posterior).
Parte 1: Cefaleias primárias
dor causada por uma pressão que normalmente • A primeira ou a pior cefaleia: pensar em hemor- 1. Migrânea
não seria suficiente para causar tais sensações. ragia subaracnoidea ou meningite.
2. Cefaleia tipo-tensão
• Sinais e sintomas que acompanham a dor: • Cefaleia iniciando após os 50 anos: pensar em 3. Cefaleia trigêmino-autonômica
- náuseas/vômitos arterite temporal ou tumor cerebral. 4. Outras cefaleias primárias
- fotofobia/fonofobia • Cefaleia subaguda no início e que foi tornando- Parte 2: Cefaleias secundárias:
- sinais autonômicos (hiperemia conjuntival, la- -se pior progressivamente, em dias ou semanas: 5. Cefaleia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical
crimejamento, congestão nasal, rinorreia, ede- pensar em tumor cerebral, hematoma subdu- 6. Cefaleia atribuída a doença vascular craniana ou cervical
ma palpebral, sudorese frontal e facial, miose ral, cefaléia por uso excessivo de medicaçã̃o. 7. Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não-vascular
e ptose ipsilaterais à dor) • Cefaleia posicional: pensar em alteração da 8. Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua retirada
• Fatores desencadeantes: movimentos com o pressão intracraniana. 9. Cefaleia atribuída a infecção
pescoço, alimentos (lacticínios, embutidos, fru- • Cefaleia desencadeada por esforço físico, tosse 10. Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase
tas cítricas, bebidas alcoólicas e outros), estres- ou atividade sexual: pensar em sangramento in- 11. Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou
se, mudanças de hábitos de vida, menstruação, tracraniano (aneurismas e patologias da caróti- outras estruturas faciais ou cranianas
ovulação, reposição hormonal, aumentar o in- da e vertebrobasilar) e malformação de Chiari 12. Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico
tervalo entre as refeições, dormir a mais ou a Tipo I. Parte 3: Neuropatias cranianas dolorosas, outras dores faciais e outras cefaleias
menos, mastigar, engolir, deitar e outros. • Edema de papila: pensar em tumor, pseudotu- 13. Neuropatias cranianas dolorosas e outras dores faciais
14. Outras cefaleias
• Fatores de piora da dor e se piora com as ativida- mor e meningite.
186 CEFALEIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 187

TRATAMENTO
Migrânea
quanto a dor é de intensidade leve ou modera-
Na migrânea é possível o controle da frequên- da10,11.
cia, duração e gravidade dos ataques. Os pilares As drogas profiláticas dividem-se em quatro
Migrânea, também chamada de enxaqueca, de O início da crise de migrânea está frequentemen- essenciais do controle da migrânea podem ser re- grupos: betabloqueadores, antidepressivos, blo-
acordo com a Global Burden of Disease Survey 2010 é a te associado a ampla variedade de gatilhos externos sumidos em educação do paciente, tratamento sin- queadores de canal de cálcio e anticonvulsivantes.
terceira desordem mais prevalente e a sétima causa e internos, tais como estresse, flutuação hormonal, tomático ou abortivo e tratamento profilático7,8. Recentemente, para fornecer uma atualização das
de incapacidade no mundo. É uma desordem neu- distúrbio do sono, não fazer uma refeição ou so- Durante a fase de educação é importante uma recomendações para o tratamento preventivo da
rovascular incapacitante cujo sintoma principal é a brecarga sensorial. A cefaleia pode ser antecedida explicação sobre os fatores que contribuem para migrânea de 2000, a Academia Americana de Neu-
cefaleia mas também apresenta diversos outros si- por pródromos, presente em até 60% dos pacientes. os sintomas, como dieta, sono e estilo de vida, fa- rologia e a Sociedade Americana de Cefaleia pro-
nais e sintomas característicos. A extensão e varie- Este pode preceder a cefaleia em horas ou até dias, cilitando o manejo de desencadeantes possíveis puseram o seguinte protocolo baseado em evidên-
dade de comemorativos nos mostra que a migrânea tendo apresentações variáveis como depressão, de serem evitados. Também poderemos avaliar a cias:12
é mais do que uma simples dor de cabeça, sendo hiperatividade, irritabilidade, euforia, alterações possibilidade ou não do tratamento não farmaco- • Nível A: divalproato de sódio, valproato de
vista como uma desordem neurológica complexa cognitivas, vontade mais frequente de urinar, dor/ lógico e nesses estão incluídos: técnicas de rela- sódio, topiramato, metropolol, propranolol e
que afeta múltiplas áreas corticais, subcorticais e rigidez cervical, fadiga e até desejos por alimentos xamento (em casos selecionados), terapia cogniti- timolol são efetivos para prevenção da migrâ-
de tronco cerebral. Pode começar na infância, par- específicos. Esses desejos podem enganar e serem va comportamental (útil quando há nível elevado nea.
ticularmente na puberdade, e afeta mais mulheres interpretados como gatilhos para a crise. de estresse associado à motivação do paciente), • Nível A: lamotrigina não é efetiva para a preven-
do que homens (3:1). É comum haver história fami- Entre o pródromo e a cefaleia podemos ter a dieta (indicada somente para desencadeantes ção de migrânea.
liar da doença, sendo considerada uma desordem aura, um sintoma do sistema nervoso central to- comprovados naquele paciente específico), psi- • Nível B: antidepressivos, betabloqueadores e
genética1,5. talmente reversível, geralmente visual ou sensiti- coterapia (em casos selecionados), acupuntura e triptanos são provavelmente efetivos.
vo. O quadro típico é uma aura que se desenvolve fisioterapia (recomendada em casos seleciona- É sempre importante termos em mente que,
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO gradualmente, regride e é seguida de uma cefaleia dos). A identificação de comorbidades também é cada paciente é único e que pode responder de
O principal sintoma da migrânea é a cefaleia, com características migranosas. Com menos fre- importante, uma vez que terão impacto no tipo de forma diferente às drogas. Pode ser necessário
em geral, pulsátil, unilateral, de intensidade mo- quência podemos ver aura com sintoma de fala/ terapia e mais especificamente dos medicamentos que um paciente teste várias drogas profiláticas
derada a grave, podendo estar associada a uma linguagem, motor, de tronco cerebral ou retiniano. selecionados para determinado paciente. O abuso até que se chegue à prescrição ideal. A comorbi-
série de sintomas neurológicos incluindo: hiper- A aura deve durar de cinco a sessenta minutos e re- de fármacos pelo paciente deve ser investigado e dade também deve ser considerada na escolha da
sensibilidade à luz, som e odor; náusea e vômitos; gredir completamente. Porém a aura também pode controlado com atenção, uma vez que as cefaleias droga mais apropriada, pois o tratamento de algu-
e uma variedade de distúrbios autonômicos, cog- ser precedida ou ocorrer concomitantemente com primárias pioram ou tornam-se crônicas com o ma dessas doenças pode ser facilitado pela droga
nitivos, emocionais e motores. Os principais sub- a cefaleia ou até mesmo ocorrer isoladamente, sem uso excessivo de analgésicos, como será visto utilizada na prevenção da migrânea (por exemplo:
tipos de migrânea são sem aura (mais comum) e a cefaleia. O diagnóstico é feito de acordo com os abaixo7,8,9. uso de antidepressivos em pacientes com depres-
com aura6. critérios da ICHD-3, mostrados na tabela 21,3. O tratamento da crise é realizado durante ou, são) ou pode ser contraindicado (por ex.: betablo-
de preferência, imediatamente antes da crise com queadores em asmáticos ou paciente com doença
Tabela 2: Migrânea sem aura3 o objetivo específico de aliviar os ataques, mas cardíaca congestiva). Devemos começar com uma
também, como auxílio a regimes profiláticos que dose mais baixa e titular até que se atinja o efei-
não controlam totalmente as dores de cabeça. O to terapêutico ou os efeitos colaterais se tornem
A - Pelo menos 5 crises preenchendo os critérios B - D
mais adequado é a intervenção prematura, quan- intoleráveis. Muitas vezes, o fato de explicarmos
B - Cefaleia com duração de 4 a 72 horas (sem tratamento ou com tratamento ineficaz) do a dor ainda é leve, o que pode encurtar o tem- para o paciente o que está acontecendo e poder-
po necessário para erradicação da dor. As drogas mos acolher seu sofrimento já melhoram e muito
C - Cefaleia preenchendo pelo menos duas das seguintes características:
utilizadas são geralmente divididas em duas ca- sua recuperação3.
1 – Localização unilateral
tegorias, inespecíficas e específicas. Como ines-
2 – Caráter pulsátil
pecíficas temos dipirona, paracetamol, anti-infla-
3 – Intensidade moderada ou forte
matórios não esteroidais (AINEs) e combinações
4 – Exacerbada por atividades físicas rotineiras ou levando o indivíduo a evitá-las (por
analgésicas (por exemplo: aspirina, paracetamol
exemplo, caminhar ou subir escadas)
e cafeína). Já as medicações específicas para a
D - Durante a cefaleia, pelo menos um dos seguintes: migrânea incluem tartarato de ergotamina, dihi-
1 – Náusea e/ou vômitos droergotamina (DHE) e os triptanos (almotripta-
2 – Fotofobia e fonofobia no, naratriptano, sumatriptano, zolmitriptano,
rizatriptano, etc.). Os triptanos são mais eficazes
E – Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3
quando tomados bem no início da cefaleias, en-
188 CEFALEIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 189

Cefaleia tipo-tensão (CTT)


nociceptivo central se constituiria no fator predo- papel importante para a sensibilização periférica e
minante no desencadeamento da CTT. Entretanto, central na CTTC, uma vez que provavelmente am-
cabe assinalar que esse consenso não afasta a pos- bos os mecanismos de sensibilização estão interco-
A CTT é a cefaleia mais prevalente nos estu- te o paciente ≥15 dias/mês, em média, por mais de sibilidade desses mecanismos resultarem de uma nectados ao mesmo tempo16.
dos epidemiológicos, geralmente apresentando-se 3 meses (≥180 dias por ano), contribuindo de forma sucessão de fenômenos, cujo início ocorreria, mui- Os PGs ativos na CTTC não negam a relevância de
como uma cefaleia leve que não limita as ativida- importante para incapacidade. Todos os três tipos ci- to provavelmente, ao nível periférico. Em decor- outros fatores perpetuantes ou promovedores, como
des diárias e não costuma levar o paciente ao médi- tados podem ser subdivididos em sem ou com dolo- rência dessas suposições, nessa última década hou- postura anteriorizada da cabeça, atrofia muscular,
co, menos ainda às clínicas especializadas. Porém, rimento pericraniano, caracterizado por dor à palpa- ve um marcado incremento dos estudos referentes padrão de recrutamento muscular alterado ou fa-
devido à alta prevalência, é uma importante causa ção manual, com pequenos movimentos giratórios aos mecanismos periféricos14,15. tores psicológicos na exacerbação desses processos
de incapacidade na população13. e pressão firme sobre os diversos músculos que po- A análise pormenorizada dos pontos gatilhos sensibilizantes. Por exemplo, o comportamento de
dem estar acometidos. Esses músculos são: frontal, miofasciais (PGs), presentes nos músculos pericra- evitação e o medo relacionado à dor na CTTC po-
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO temporal, masseter, esternocleidomastóideo (ECM), nianos, revelou particularidades de natureza histo- dem induzir o desuso muscular, daí a atrofia mus-
A CTT é uma cefaleia tipicamente em pressão esplênio da cabeça e trapézio. Vale ressaltar que do- lógica e bioquímica capazes de esclarecer o verda- cular dos músculos extensores cervicais profundos,
ou aperto, bilateral, com intensidade leve a mo- lorimento pericraniano também pode ser visto em deiro papel desempenhado por esses pontos e suas aumentando a coativação muscular dos músculos
derada e não piora com atividade física. Outra pacientes com migrânea crônica (ICHD-3)3. implicações no contexto geral das CTT. Assim, a cervicais superficiais. Isso poderia sobrecarregar a
característica importante é não estar associada a detecção e a avaliação de novos PGs nos tecidos pe- musculatura superficial, particularmente o trapé-
náuseas nem vômitos e apresentar somente um FATORES MIOFASCIAIS E OUTRAS ricranianos deverão merecer uma atenção especial zio superior e o ECM. Em consequência, ativaria os
desses sintomas: fotofobia ou fonofobia. Como IMPLICAÇÕES NO CONTEXTO DA CTT dos pesquisadores envolvidos nesse campo15. PGs, que poderiam sensibilizar os nociceptores peri-
podemos reparar, ela se diferencia substancial- Embora haja um consenso sobre o fato de que Fernández-de-las-Peñas e Schoenen (2009)16 for- féricos, contribuindo potencialmente e conduzindo
mente da migrânea3. ambas as sensibilizações (central e periférica) de- mularam uma atualização em um modelo de dor para a sensibilização central. Dessa forma, os meca-
O diagnóstico pode ser feito com o uso da ICHD-3 sempenhem papel relevante na indução da CTT, para CTTC envolvendo a sensibilização periférica nismos periféricos poderiam ser um fator perpetua-
(tabela 3), que divide a CTT em episódica (infrequen- ainda continua desconhecido qual dos mecanis- dos nociceptores dos PGs ativos localizados na mus- dor do processo de sensibilização central16.
te e frequente) e crônica (CTTC). O que diferencia mos, central ou periférico, seria o responsável di- culatura inervada pelos segmentos C1-C3 (trapézio
esses tipos é a quantidade de crises ao longo do tem- reto pela geração do “dolorimento” contínuo que superior, subocciptal, ECM) e pelo nervo trigêmeo TRATAMENTO
po. A CTT episódica infrequente ocorre não mais do caracteriza essa cefaleia14,15. (temporalis, masseter) e seriam responsáveis pelos O tratamento da CTT vai depender da frequên-
que um dia por mês, na média anual (<12 dias/ano). Além disso, admite-se que os mecanismos da inputs nociceptivos periféricos e, com isso, pro- cia das crises. Na CTTEi, o paciente pode utilizar
Já a CTT episódica frequente ocorre de 1-14 dias por dor de origem periférica estariam mais diretamen- duzir uma “barreira” aferente contínua dentro do analgésicos comuns ou anti-inflamatórios quando
mês, em média, por mais de 3 meses (≥12 e ≤180 dias te relacionados com as cefaleias episódicas, dos núcleo caudal do trigêmeo e sensibilizar o sistema em crise, se necessário. Já nas CTTEf e CTTC deve-
por ano), sendo mais impactante na qualidade de subtipos infrequentes e frequentes, enquanto a nervoso central na CTTC. Portanto, de acordo com mos focar no tratamento profilático, tanto medica-
vida do paciente acometido. A CTT crônica acome- redução da atividade moduladora do sistema anti- esse modelo de dor, o dolorimento muscular seria mentoso quanto no controle dos fatores desenca-
consequência, enquanto os PGs (dor referida) se- deantes. As drogas de escolha para essa profilaxia
Tabela 3: Cefaleia tipo-tensão episódica infrequente. riam uma das principais causas, mas não a única, são: antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nor-
da CTTC. Os próprios autores citam que, porém, triptilina) e relaxantes musculares (tizanidina, ca-
não há evidência científica para reivindicar um risoprodol)1.
A - Pelo menos 10 episódios de cefaleia ocorrendo, na média, <1 dia/mês (<12dias/ano) e preenchendo os
critérios B - D

B - Duração de 30 minutos a 7 dias

C - Cefaleia preenchendo pelo menos duas das seguintes características:


1 – Localização bilateral.
2 – Caráter em pressão ou aperto (não-pulsátil).
Cefaleia em salvas
3 – Intensidade leve ou moderada.
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO rais à dor: hiperemia conjuntival, lacrimejamento,
4 – Não é exacerbada por atividades físicas rotineiras (por exemplo, caminhar ou subir escadas).
São crises de dor forte, estritamente unilateral, congestão nasal, rinorreia, sudorese na fronte e na
D - Os dois seguintes: na região orbital, supraorbital, temporal ou em face, miose, ptose e/ou edema palpebral, e/ou com
1 – Sem náusea ou vômitos. qualquer combinação dessas áreas, durando de 15 inquietude ou agitação (tabela 4)3.
2 – Não mais do que um: fotofobia ou fonofobia. a 180 minutos e ocorrendo desde uma vez a cada O termo salva reconhece a periodicidade como
dois dias até oito vezes por dia. A dor associa-se a o principal achado clínico dessa cefaleia. A crise
E – Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3
um ou mais dos seguintes aspectos, todos ipsilate- significa uma resposta individual dentro do perío-
190 CEFALEIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 191

Tabela 4: Cefaleia em salvas3 pacientes do estudo multicêntrico de 1991. O meca- evidência para o tratamento farmacológico agudo e
nismo seria a possível interrupção do processo de preventivo para a salva, selecionaram os seguintes
base da salva. As contraindicações para o uso de medicamentos para a prevenção: verapamil 360 mg
A - Pelo menos 5 episódios preenchendo os critérios B - D
sumatriptano injetável são: infarto agudo do mio- (nível C), melatonina 10 mg (nível B), lítio 900 mg
B - Dor intensa ou muito intensa unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal durando 15-180 minutos (quando não cárdio, doença vascular periférica e hipertensão (nível C) e injeção suboccipital de esteroide (nível
tratada) arterial não controlada. Esta droga não pode ser B). Foram insuficientes as evidências para: valproa-
associada a ergotamínicos e deve ser utilizada com to de sódio 500 mg (nível B), capsaicina e predniso-
C - Um ou ambos:
cuidado na associação com metisergida20-22. na 20 mg em dias alternados (nível U). Já o oxigênio
1. Ao menos um dos seguintes sinais ou sintomas, ipsilaterais a cefaleia
No tratamento profilático da salva episódica po- hiperbárico 100% não foi aconselhável (nível C de
a) hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento
derão ser utilizados: prednisona, metisergida (não evidência)18,23,24.
b) congestão nasal e/ou rinorreia
há no Brasil), verapamil, ácido valpróico e topira- As evidências atuais nos levam a crer que a ce-
c) edema palpebral
mato. Já na salva crônica, além dessas medicações, faleia em salvas é uma doença de longa duração
d) sudorese facial e frontal
será incluído o lítio. Segundo Spierings, na salva e geralmente acompanha a vida do paciente na
e) miose e/ou ptose
episódica, 77% dos pacientes melhoram com pred- maioria dos casos. Entretanto, em uma substan-
2. Uma sensação de inquietude ou agitação
nisona (60-40 mg), 73% com verapamil (240 a 720 cial percentagem dos pacientes, a remissão com-
D - Ocorre com uma frequência entre 1 vez a cada dois dias e 8 vezes por dia mg em 3 tomadas) e 53% com metisergida e na crô- pleta ou o prolongamento das fases de remissão
nica 87% melhoram com lítio (600 a 2.000 mg), 60% pode ocorrer, enquanto em um terço dos pacien-
E – Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3
com verapamil, 40% com prednisona e 7% com tes a salva crônica poderá evoluir para o padrão
metisergida. Já Francis et al. (2010) em revisão de episódico24.

do de salva. Minicrise é um período de crise que e da crônica. Na crise, podem ser utilizados oxigê-
dura menos do que sete dias17. nio, sumatriptamo (injetável e spray nasal). A er-
Durante um período particular de salva, algu- gotamina ou a di-hidroergotamina seriam boas na

Cefaleia por uso excessivo de medicação (CEM)


mas crises podem ser mais graves do que outras e apresentação sublingual, pois agiriam mais rapida-
sua duração também pode variar. Principalmente mente, porém, essa apresentação não está disponí-
no início e no final da salva, a dor pode ser menos vel no Brasil18-24.
frequente. A idade de início da cefaleia é geralmen- Francis et al. (2010)18 publicaram uma revisão do Ocorre em 15 ou mais dias por mês, em con- Severity of Dependence Scale (SDS) é um preditor sig-
te dos 20 aos 40 anos. Por razões desconhecidas, tratamento da salva tanto da crise quanto do pro- sequência do uso excessivo regular de medicação nificativo de abuso de medicação nos doentes com
os homens são três vezes mais acometidos do que filático baseado em evidência. Para o tratamento aguda ou sintomática para a cefaleia (em 10 ou cefaleias3.
as mulheres. Há uma prevalência aproximada de agudo, o oxigênio a 100% foi nível A de evidência, mais, ou 15 ou mais dias por mês, dependendo da Em resumo, para haver a transformação de uma
0,05% a 2,4% na população geral. A cefaleia em sal- sumatriptano subcutâneo (SC) 6 mg nível A, suma- medicação) por mais de 3 meses (tabela 5). Habi- cefaleia episódica em crônica por uso excessivo de
vas pode ser autossômica dominante em cerca de triptano nasal nível B, zolmitriptano nasal nível A e tualmente, mas não invariavelmente, a cefaleia medicação é necessário o seguinte (item B do cri-
5% dos casos. Durante o período de salva, a crise oral nível B e lidocaína intranasal nível C18. desaparece após a parada do uso excessivo do me- tério):
pode ser desencadeada por álcool, histamina, hipo- O tratamento de escolha da crise é o oxigênio a dicamento3,12. • Cefaleia por uso excessivo de Ergotamina – in-
xemia (da altitude ou da apneia do sono)3,17,33. 100% logo no início. Kudrow estudou 52 pacientes A CEM é uma interação entre um agente tera- gestão regular em ≥10 dias por mês, de forma
Segundo a ICHD-3, a salva pode ser episódica utilizando oxigênio para a crise da salva e definiu pêutico utilizado de maneira excessiva e um pa- regular por > 3 meses.
(ICHD-3: 3.1.1) ou crônica (ICHD-3: 3.1.2). Na salva alguns critérios. A melhor resposta ocorre na salva ciente susceptível. Porém, o comportamento de • Cefaleia por uso excessivo de Triptanos – inges-
episódica, as crises ocorrem em pelo menos dois pe- episódica e em pacientes com menos de 50 anos. O alguns pacientes com CEM é similar ao verificado tão regular de um ou mais triptanos, em qualquer
ríodos que duram de sete dias a um ano (quando não alívio ocorreu após 7 minutos em 62% dos pacientes, com outras adições e fármacos e a pontuação na formulação, por ≥10 dias por mês, por >3 meses.
tratada), separado por períodos assintomáticos que entre 8 e 10 minutos em 31% e entre 11 e 15 minutos
duram três meses ou mais. Já na salva crônica, que em 7% dos pacientes. O oxigênio deve ser adminis- Tabela 5: Cefaleia por uso Excessivo de Medicamentos3
pode ocorrer em 10% a 15% dos pacientes, as crises trado em máscara e com o paciente sentado, com
ocorrem por pelo menos um ano, sem remissão ou alto nível de saturação (100%), a 7 litros por minuto
A - Cefaleias ocorrendo em ≥ 15 dias/mês em um paciente com uma cefaleia preexistente
com períodos de remissão de menos de três meses3. e por vários minutos (pelo menos 15 minutos). O alí-
vio seria justificado por haver uma dessaturação de B - Uso excessivo por mais de 3 meses de um ou mais fármacos que podem ser tomados para o tratamento agudo e/ou
TRATAMENTO DA SALVA oxigênio antes da crise, segundo o autor19. sintomático da cefaleia
O tratamento pode ser dividido em tratamento O sumatripano injetável 6 mg subcutâneo tem
C - Não melhor explicado por outro diagnóstico da ICHD-3
da crise e tratamento profilático da salva episódica ação rápida, em torno de 15 minutos em 76% de 49
192 CEFALEIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 193

• Cefaleia por uso excessivo de outro fármaco quer um dos fármacos isolados ou da classe far- headache: Behavioral and physical treatments, 2000. 16. Fernández-de-las Peñas C, Schoenen J. Chronic ten-
AINE – ingestão de um ou mais AINE, que não macológica. 8. Consenso da Sociedade Brasileira de Cefaleia- Comi- sion-type headache: what in new? Curr Opin Neurol.
seja ácido acetilsalicílico, em ≥15 dias por mês, • Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atri- tê AD Hoc da Sociedade Brasileira de Cefaleia - Reco- 2009; 22-9.
mendações para o tratamento profiláticoda migrânea, 17. Mathew NT. Cluster Headache and other Trigeminal
por > 3 meses. buída ao uso excessivo não comprovado de múlti-
Arquivos de Neuro-Psiquiatria. 2002; 60 (1): 159-69. Autonomic Cephalalgias.. In: Handbook of Headache,
• Cefaleia por uso excessivo de opioides – inges- plas classes farmacológicas – ambos os seguintes: 9. Calabresi P E Cupiniz LM. Medication-overuse heada- second edition, Ed: Randolph W Evansand Ninan
tão regular de um ou mais opioides, por ≥10 dias - ingestão regular de qualquer associação de er- che similarities with drug addiction.TRENDS Pharmacol Mathew, Ed Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia,
por mês, por >3 meses. gotamina, triptanos, analgésicos simples, AI- Sciences. 2005; 26 (2): 62-8. USA. 2005;Cap 7: 145 - 71.
• Cefaleia por uso excessivo de associações de NEs e/ou opioides por ≥10 dias por mês, por >3 10. Antonaci F, Dumitrache C, De Cillis I, Allena M. A 18. Francis GJ, Becker WJ, Pringsheim TM. Acute and pre-
analgésicos – ingestão regular de medicamen- meses sem uso excessivo de qualquer um dos review of current European treatment guidelines for ventive pharmacologic treatment of cluster headache.
tos com uma ou mais associações de analgési- fármacos isolados ou da classe farmacológica. migraine.J Headache Pain.2010; 11:13 – 9. Neurology.2010; 75: 463-73.
11. Silberstein SD, Saper JR, Freitag FG. DJ. Migraine: 19. Kudrow L. Response of cluster headache attacks to
cos (duas ou mais classes atuando como analgé- - identidade, a quantidade e/ou perfil de uso ou
Diagnosis, andTreatment In: Wolff’s Headache and oxygen inhalation. Headache.1981; 12: 1-4.
sicos ou adjuvantes) em qualquer formulação, uso excessivo dessas classes de fármacos não Other Head Pain, 7TH edition,Ed: SilbersteinSD, Lipton 20. Sumatriptano Cluster Headache Study Group. Treat-
por ≥10 dias por mês, por >3 meses. pode ser estabelecida com certeza. RB, Dalessio DJ, Ed Oxford University Press, New ment of acute cluster headache with sumatriptan. N
• Cefaleia por uso excessivo de medicamentos de • Cefaleia por uso excessivo de medicamentos York. 2001; Cap 9:121 – 237. Engl J Med. 1991; 325: 322 –6.
classes farmacológicas múltiplas, não havendo atribuída a outra medicação – uso excessivo re- 12. Silberstein SD, Holland S, Freitag F, Dodick DW, Argoff 21. Goadsby PJ, Edvinsson L. Human in vivo activation in
excesso de seu uso individual – ingestão regular gular, por ≥10 dias por mês, por >3 meses, de um C, Ashman E. Evidence-based guideline update: Phar- cluster headache:neuropeptide changes and effects
de ergotamina, triptanos, analgésicos simples, ou mais medicamentos para além dos descritos macologic treatment for episodic migraine prevention of acute attacks Therapies. Brain, 1994; 117:427 – 34.
in adults: Report of the Quality Standards Subcommittee 22. Fleming NRP. Tratamento agudo de cefaleia em sal-
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mês, por >3 meses sem uso excessivo de qual- ou sintomático da cefaleia. can neurology Society. Neurology.2012; 78: 1337 – 45. 23. Spierings E. Cluster headache. In: Headache. Ed
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10.1016/s1474-4422(08)70062-0. 24. Dodick DW, Campbell JK. Cluster Headache: Diagno-
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de population-based study of tension-type headache and Other Head Pain, 7TH edition,Ed:Silberstein SD,

Conclusão in Brazil. Headache. 2009; 49: 71-8.


15. Cady R., Schreiber C., Farmer K e Sheftell F. Primary
Lipton RB, Dalessio DJ, Ed Oxford University Press,
New York.2001; Cap 12: 283 – 309.
Headaches: A Convergency Hypothesis. Headache.
Apesar da grande prevalência e embora seja um individualizada seguindo as recomendações discu- 2002,42: 204-16.
grande fardo para a sociedade como um todo, as ce- tidas neste capítulo são essenciais para o sucesso
faleias ainda são subdiagnosticadas e subtratadas. terapêutico e a melhora da qualidade de vida dos
Por isso, classificar e tratar as cefaleias de forma pacientes1,2.

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194 CEFALEIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 195

CAPÍTULO 17

Síndromes compressivas
e dolorosas do membro
superior
Osvandré Lech
João Artur Bonadiman
Paulo Piluski
Carlos Castillo

Introdução
O cérebro é considerado órgão mentor, ao passo os tecidos sofrem durante o movimento repetitivo.
que os membros superiores e inferiores constituem Nesses casos, a resistência tecidual é vencida e a
os órgãos executores. Enquanto, para o primeiro, o instalação da lesão é mais rápida do que a capaci-
aumento de intensidade da atividade pode ser be- dade de regeneração do organismo. Os nervos do
néfico e ilimitado, desenvolvendo o intelecto, para membro superior são originados a partir do plexo
os últimos, esse aumento de atividade pode ser braquial e possuem o risco de serem comprimidos
responsável por dor, fadiga, parestesia, alterações em vários e bem determinados locais por onde
da coordenação motora e limitação funcional. As passam. Tais locais podem ser túneis e bandas os-
lesões por esforço repetitivo, em que se enquadram teofibrosos, septos musculares, músculos, dentre
especialmente as tendinites e as síndromes com- outros1.
pressivas “dinâmicas”, explicam bem essa situação, Abordaremos as principais síndromes com-
por meio dos microtraumatismos contínuos que pressivas do membro superior que geram dor e
196 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 197

limitações funcionais: Síndrome do Desfiladeiro Síndrome do Supinador, Síndrome do Túnel do calizada, em todo membro superior, ombro e até Figura 2: Manobra de Adson (De “Síndromes
Torácico, Síndrome do Nervo Supraescapular, Sín- Carpo e Síndrome do Canal de Guyon. tórax acompanhada de uma sensação de “peso”, Compressivas do Membro Superior, Caetano E., Lech, O.
drome do Túnel Cubital, Síndrome do Pronador, sendo pior depois de atividades. A veia subclávia DlLivros 2017, com permissão)
é comumente comprimida na junção costoclavi-
cular onde passa anteriormente ao escaleno an-
terior. Uma forma não comum de SDT venosa é
a Síndrome de Paget-Schroetter, causada por uma

Síndrome do Desfiladeiro Torácico (SDT)


trombose da veia subclávia por lesões repetitivas
em pacientes jovens e saudáveis. Essa síndrome
corresponde a aproximadamente 10-15% dos ca-
INTRODUÇÃO CLASSIFICAÇÃO sos de SDT venosa7.
Descrita inicialmente por Peet em 1956 como A Síndrome do Desfiladeiro Torácico pode ser A SDT arterial é rara, porém com potencial com
um conjunto de sinais e sintomas causados por dividida com base na sua etiologia em 3 subgrupos: consequências devastadoras, geralmente causada
uma compressão neurovascular no desfiladeiro neurogênico, venoso e arterial. Também podem ser por compressão da artéria subclávia. Apresenta-se
torácico. Compreende um amplo espectro de apre- subdivididos em relação ao fator causal, como con- com dor não radicular, dormência, frieza e palidez
sentações clínicas bem como diversas etiologias 2.  gênita, traumática ou funcionalmente adquirida5.  que pioram em temperaturas frias. 
O entendimento dessa doença vem aumentando,
porém o seu manejo permanece controverso. Seu ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DIAGNÓSTICO
diagnóstico é considerado desafiador, todavia o seu Com base em sua classificação, podemos enten- O exame físico precisa incluir a avaliação crite- porém também pode auscultar sopro que indica
tratamento adequado apresenta bons resultados der alguns fatores etiológicos dessa síndrome. A riosa com inspeção, palpação e manobras especiais compressão causada pelo músculo peitoral maior.
com alívio dos sintomas na maioria dos pacientes3. costela acessória ou alguma anomalia da primeira da coluna cervical, ombro e o membro superior. Teste de Healsted: hiperextensão e tração do
O desfiladeiro torácico corresponde a uma área costela são causas mais comuns da etiologia con- Também devemos dar atenção à postura que o pa- membro afetado para baixo, com desvio da cabeça
anatômica na parte inferior do pescoço definida gênita. Lesões em “chicote” e quedas são as causas ciente apresenta durante a consulta, como cifoses e para o lado contralateral, gerando sintomas pares-
por um grupo de três espaços entre a primeira cos- mais comuns das traumáticas. Esforços repetitivos posições de alívio dos sintomas. Também é impor- tésicos e/ou diminuição do pulso radial decorrente
tela e a clavícula, onde passam várias estruturas vigorosos (tanto no trabalho como em esportes) são tante avaliar sempre o lado contralateral, mesmo da compressão da artéria subclávia8.
neurovasculares importantes como o plexo bra- os principais agentes etiológicos nos casos de lesão se assintomático. Os testes especiais, chamados de Teste de Roos: O paciente fica 3 minutos com o
quial, artéria e veia subclávias4 (Figura 1). adquirida funcionalmente5. “provocativos”, são: membro superior elevado em abdução de 90° e rota-
Manobra de Adson: produz a elevação da pri- ção externa com os cotovelos fletidos a 90°, abrindo
Figura 1: Anatomia aplicada do Desfiladeiro Torácico, SINAIS E SINTOMAS meira costela e tensiona os escalenos, reduzindo o e fechando as mãos continuamente. O paciente co-
com destaque os músculos escaleno anterior  e escaleno A SDT neurogênica caracteriza-se por fraqueza espaço do triângulo intercostoescalênico. O teste meça a se queixar de fadiga, parestesia, entorpeci-
médio, clavícula, primeira costela torácica, artéria e veia muscular, dormência, parestesias e dor difusa, em  é considerado positivo se é observado a diminui- mento e até dificuldade em dar seguimento ao teste.
subclávia distribuição não radicular, ou seja, não correspon- ção do pulso radial do paciente, ao realizar inspi-
dendo à dermátomos específicos. O quadro clínico ração profunda estendendo o membro superior e EXAMES COMPLEMENTARES
pode estar presente tanto de dia quanto à noite. virando a cabeça para o lado afetado. Esse teste Exames de imagem do tórax e a coluna cervi-
Sanders identificou os sintomas mais comuns, sen- pode ser positivo em até 51% da população nor- cal podem evidenciar costela cervical acessória e
do parestesia da extremidade superior (98%), dor mal3,8 (Figura 2). processo transverso de C7 proeminente. Exames
cervical (88%), dor no trapézio (92%), dor no ombro Manobra de Wright:  manobra provocativa rea- de imagens como Ressonância Magnética e Tomo-
ou braço (88%), dor supraclavicular (76%), dor to- lizadas com o braço em abdução e rotação externa. grafia Computadorizada podem ajudar a identificar
rácica (72%), cefaleia occipital (76%) e parestesias Da mesma forma que a manobra de Adson, o pa- alguma anomalia congênita ou até mesmo alguma
em todos os cinco dedos (58%), apenas no quarto e ciente inspira profundamente, porém, gira a cabe- lesão compressiva que esteja causando a sintoma-
quinto dedos (26%), parestesia apenas no primeiro, ça para o lado contralateral. O teste é considerado tologia, como o Tumor de Pancoast ou metástases. 
segundo, e terceiro dedos (14%).6 Em 85 a 90% dos positivo se o pulso radial diminui ou até desapare- A ultrassonografia com Doppler auxilia na avalia-
pacientes é observado compressão do plexo bra- ce em função da compressão da artéria subclávia. ção da compressão arterial e venosa. Se a suspeita
quial inferior ou combinada, gerando sintomatolo- Esse teste pode ser positivo em até 7% da popula- é de um aneurisma, a arteriografia pode ser útil.
gia no território do nervo ulnar3. ção normal8,9. As análises neurofisiológicas podem úteis para
A SDT venosa caracteriza-se principalmente Manobra da Hiperabdução: eleva o membro identificar um caso de SDT neurogênico. Porém,
por um edema difuso no membro superior. Pode superior em 180° com rotação posterior do ombro, na maioria das vezes o exame só virá alterado se o
estar associada com uma dor profunda, mal lo- leve flexão do cotovelo. O pulso diminui ou some, dano nervoso for tardio e contínuo3,8,9. 
198 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 199

TRATAMENTO O tratamento cirúrgico é a opção nos casos A principal forma de acometimento nesse nervo cussão na topografia do nervo supraescapular pode
A estratégia do tratamento depende inicial- de SDT vascular ou neurogênico quando o tra- é a sua compressão no trajeto da incisura supraes- exacerbar os sintomas (Figura 4).
mente do grau da compressão e a sua causa. O tra- tamento conservador não obtém sucesso após 6 capular. Tal compressão pode ser ocasionada por
tamento conservador é preconizado inicialmente, meses ou quando a compressão é eminentemen- espessamento do ligamento transverso ou por com- Figura 4: Percussão na topografia do nervo
principalmente em casos brandos e nos quais a te causada por algum fator mecânico claro, como pressão extrínseca, como cisto gangliônico, trauma supraescapular. (De  “Síndromes Compressivas do
compressão é essencialmente nervosa. Analgési- a costela cervical acessória.   A cirurgia consis- direto ou por tração1,8,9. Membro Superior, Caetano E., Lech, O.  DiLivros 2017, com
cos, relaxantes musculares, crioterapia e medidas te na descompressão dos processos anatômicos permissão)
comportamentais (como evitar a hiperabdução, possíveis. Existem 3 tipos de abordagens cirúr- FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA
evitar carregar pesos e esforços repetitivos) po- gicas conhecidas: transaxilar, supraclavicular A compressão do nervo supraescapular é uma
dem ser medidas adjuvantes no tratamento. Tor- e posterior. A via transaxilar é historicamente a causa rara de dor e fraqueza no ombro. Correspon-
riani relatou 69% de melhora a curto prazo com o mais realizada. O acesso supraclavicular é o mais de a aproximadamente 1 a 2% dos diagnósticos
uso de ultrassom guiado e toxina botulínica10. O usado nos casos de costela cervical, avaliação de para dor no ombro . Pode ocorrer ao nível supraes-
tratamento fisiosioterápico é essencial e consiste anomalias vasculares e escalenectomia.  As com- capular, acometendo o músculo supraespinal e
principalmente no alongamento da musculatura plicações mais comuns do tratamento cirúrgico infraespinal ou na incisura espinoglenoidal, após
escalena. Nos casos de dores crônicas do tipo neu- são: pneumotórax, lesão da artéria e /ou veia sub- a sua bifurcação, acometendo apenas o múscu-
ropáticas, a pré-gabalina, gabalina, gabapentina, clávia, lesão do plexo braquial ou ducto torácico lo infraespinal. O acometimento do nervo ocorre
amitriptilina e duloxetina, quando administradas entre outros3,8. durante o seu curso através da incisura supraes-
de forma correta, causam remissão dos sintomas. capular sob o ligamento transverso ou na incisura
espinoglenoidal sob o ligamento espinoglenoidal.
A causa da compressão também pode ser por um
cisto paralabral, na região supraglenoidal11,12.

SINAIS E SINTOMAS
Síndrome do Nervo Supraescapular O quadro clínico corresponde a enfraquecimen- Exames de imagem, como Raio-X, Tomografia
to e atrofia dos músculos supraespinal e infraes- Computadorizada e Ressonância Magnética são
INTRODUÇÃO superior. Observa-se que artéria suprascapular (b) passa pinal e dor na face posterior do ombro (piorando úteis na avaliação inicial para identificar principal-
O nervo supraescapular é  um nervo misto, acima do ligamento cervical transverso superior (c). (De à noite ou ao carregar peso). Eventualmente, ape- mente causas de compressão como cistos parala-
responsável pela inervação motora dos músculos “Síndromes Compressivas do Membro Superior, Caetano nas o infraespinal pode estar acometido no caso brais, variações anatômicas e fraturas. A ressonân-
supraespinal e infraespinal e sensitiva para a cáp- E., Lech, O. DiLivros 2017, com permissão) de compressão após a emissão do ramo para o su- cia  magnética é o melhor estudo para visualização
sula articular do ombro e articulação acromiocla- praespinal, na curvatura da espinha da escápula1,12 do trajeto do nervo e detecção de lesões compres-
vicular (Figura 3). Origina-se do tronco superior sivas, proporcionando excelente visualização do
do plexo braquial, oriundo das raizes de C5 e C6, DIANÓSTICO E EXAMES labrum, cistos associados, tendões do manguito
cruzando o triângulo posterior profundo do pes- COMPLEMENTARES rotador e qualidade muscular incluindo infiltração
coço, abaixo do músculo omo-hioideo e o trape- O diagnóstico da Síndrome do Nervo Supraes- gordurosa e atrofia8.
zio, entrando na incisura supraescapular abaixo capular pode ser difícil apenas com história e exa- O método padrão outro para o diagnóstico do
do ligamento transverso escapular superior, iner- me físico. O paciente tipicamente apresenta-se acometimento do nervo supraescapular é a ele-
vando os dois ramos motores do músculo supraes- com dor crônica e maldefinida na região superior troneuromiografia, que muitas vezes detecta a
pinal, em seguida, contornando a incisura espino- e póstero-lateral do ombro, irradiando-se frequen- neuropatia do supraescapular. O diagnóstico é
glenoidal, sob o ligamento transverso escapular temente para o pescoço ou região lateral do braço. confirmado se a velocidade de condução está di-
inferior, segue em direção à fossa infraespinal, na Um alto índice de suspeição deve ser considerado minuída em comparação ao lado contralateral e
qual fornece os ramos motores para o músculo in- em atletas sintomáticos que executem com movi- potenciais de fibrilação são anotados no supra ou
fraespinal. mentos repetitivos com o membro superior acima infraespinal. Em alguns casos, a eletroneuromio-
da cabeça, como natação, basquete, handebol e grafia pode evidenciar apenas comprometimento
Figura 3: Nesta peça, o m. supraespinhal foi seccionado, vôlei. leve8,11,12.
foi removida uma porção da espinha da escápula (d) e o m. O exame fisico é necessário uma minuciosa ava-
infraespinhal afastado. O n. suprascapular (a) origina-se liação da coluna cervical e do ombro contralateral, TRATAMENTO 
neste caso, da raiz C5 do plexo braquial (variação anatô- buscando assimetrias, cicatrizes prévias, equimo- O tratamento inicial para lesões do nervo su-
mica), e passa abaixo do ligamento cervical transverso ses e principalmente, atrofias musculares11. A per- praescapular isoladas, não associadas a uma lesão
200 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 201

compressiva ou ruptura do Manguito Rotador, é Tratamento artroscópico é geralmente indicado Figura 5: O nervo ulnar (a)  passa entre o olécrano (b) e hiperestesia na face medial do cotovelo, que é
modificação das atividades diárias, medicamentos nos casos que a compressão esteja associada a pre- e o epicôndilo medial do úmero (c);  a seguir, entre as agravado com a flexão do cotovelo, as atividades
anti-inflamatórios não esteroides e fisioterapia. sencia de cistos por lesão labral onde é necessária cabeças umeral e ulnar do músculo flexor ulnar do carpo que exigem força e a prono-supinação do ante-
Evitar atividades com braços acima dos ombros e a fixação da lesão para evitar o mecanismo valvu- (d). Esta  é a região onde ocorre com maior frequência a braço. Tais sintomas podem ser ainda maiores no
de um programa de fisioterapia com foco em ma- lar. A artroscopia também permite a visualização neuropatia compressiva do nervo ulnar. (De  “Síndromes período noturno, devido à postura de flexão do
nutenção da mobilidade do ombro e de fortaleci- da articulação e a oportunidade de desbridar lesões Compressivas do Membro Superior, Caetano E., Lech, O.  cotovelo. O apoio direto sobre a região medial do
mento muscular, incluindo estabilização escapu- labrais associadas. A maioria dessas lesões labrais DiLivros 2017, com permissão) cotovelo pode desencadear sintomas de dor e hi-
lar. O tempo de tratamento costuma a ser de 6 a posterossuperiores não é passível de reparo cirúr- poestesia1,16.
8 meses8.  gico. Também foram descritas abordagens artros- O comprometimento sensitivo ocorre mais pre-
Tratamento cirúrgico de entrada está indicado cópicas descompressivas no sulco supraescapular cocemente que o motor. Este por sua vez acomete
principalmente em pacientes com compressão do e incisura espinoglenoidal. Esses procedimentos predominantemente a musculatura intrínseca da
nervo supraescapular por presença de cistos ou exigem habilidades avançadas de artroscopia e é mão, sendo a musculatura extrínseca raramente
lipomas no espaço espinoglenoidal, geralmente necessário ter muito cuidado para não lesar estru- acometida8.
derivados de patologias intra-articulares como turas adjacentes8,14. A manobra semiológica de hiperflexão do
lesões do labrum, principalmente associado a le- cotovelo também produz sintomas de hipoeste-
sões SLAP1. PROGNÓSTICO sia no território do nervo ulnar e dor localizada,
A indicação da intervenção cirúrgica geral- Nos pacientes com neuropatia do supraescapu- principalmente na região do cotovelo. Essa pes-
mente é feita nos casos dos pacientes com le- lar, os resultados cirúrgicos considerados bons e quisa auxilia no diagnóstico diferencial com a
sões compressivas comprovadas por Ressonância excelentes são alcançados em relação à recupera- compressão do nervo ulnar no canal de Guyon8
Magnética ou no paciente com dor intratável e ção de função do supraespinal. A recuperação do (Figura 6).
neuropatia significativa evidenciada na eletro- infraespinal é mais variável. Os piores resultados A inspeção estática deve ser feita para que sejam
neuromiografia. A abordagem de acesso ao nervo estão associados ao casos de fraturas e traumas FISIOPATOLOGIA avaliadas possíveis deformidades em valgo ou varo
supraescapular pode ser por via anterior, poste- graves. As alterações do formato do túnel têm grande do cotovelo, áreas cicatriciais e diferentes graus de
rior ou superior. A abordagem superior direta é A descompressão cirúrgica leva a resultados sa- importância no desenvolvimento da patologia de deformidade em garra dos dedos anular e mínimo.
realizada pela divulsão do trapézio paralelamente tisfatórios relatados pelo paciente e com um bom compressão do nervo ulnar. Além disso, todos os Na avaliação dinâmica, recomenda-se verificar a
ao trajeto de suas fibras e tem sido a via de escolha índice de retorno ao esporte, com baixa taxa de fenômenos que causam alteração do formato do amplitude articular do cotovelo e suas possíveis
pela maioria dos autores3,8,11. complicações cirurgias1,11,14. túnel são também responsáveis pelo desencadea- instabilidades. O sinal de Tinel deve ser pesquisa-
mento dos sintomas, que são: artrites, gânglios, do no trajeto do nervo ulnar em comparação com o
tumores, cúbito valgo decorrente da consolidação cotovelo contralateral, para valorizar os achados do
viciosa de fraturas da infância, pseudoartrose e lu- lado acometido1,16.
xações traumáticas do cotovelo. Além disso, é pre-

Síndrome do Tunel Cubital


ciso lembrar que a hanseníase acomete preferen- Figura 6: Teste da flexão do cotovelo, para neuropatia do
cialmente esse nervo. ulnar (De  “Síndromes Compressivas do Membro Superior,
 A 45° de flexão, o epicôndilo medial afasta-se 5 Caetano E., Lech, O.  DiLivros 2017, com permissão)
INTRODUÇÃO • No cotovelo, o nervo ulnar pode ser comprimi- mm do olécrano, ocorrendo tensionamento do li-
É segunda neuropatia compressiva mais co- do em cinco áreas ou sítios diferentes8:  gamento colateral medial e do retináculo, tornando
mum do membro superior, após a Síndrome do Tú- • No septo intermuscular (arcada de Struthers, o canal mais achatado. Com a flexão do cotovelo,
nel do Carpo. O seu trajeto anatômico (Figura 5) é septo intermuscular medial e hipertrofia da ca- a pressão no canal cubital aumenta de 7 para 11 a
complexo, existindo uma relação entre as variações beça medial do tríceps) 34 mmHg. É importante considerar que a flexão do
anatômicas do ligamento retinacular cubital com a • No epicôndilo medial (compressões causadas cotovelo diminui a capacidade do canal cubital e
compressão nervosa15. por deformidade em valgo) que o deslocamento anterior do nervo ulnar ocorre
A sua prevalência é desconhecida, porém Eva- • No sulco epicondilar (compressão por lesões no em 14 a 16% da população normal. Para observar
noff e cols. em 2017 estimaram que em uma popu- interior do sulco, extrínsecas e subluxações ou tal deslocamento do nervo, basta palpá-lo durante
lação normal, a prevalência de pacientes com Sín- luxações do nervo) o movimento completo de flexão1,8,15.
drome do Túnel  Cubital seria de 5.9%16. • No túnel cubital (ligamento de Osborne)
Na maioria dos casos, a compressão ocorre no • Na aponeurose profunda dos flexores e prona- SINAIS E SINTOMAS
canal cubital, vulnerável à compressão extrínseca , dores O quadro clínico mais comum é o de pareste-
intrínseca ou idiopática. sia na face ulnar da mão (dedos mínimo e anular)
202 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 203

EXAMES COMPLEMENTARES
Síndrome do Pronador
com sintomas significativos de dor ou parestesias
Radiológico: importante na avaliação de ângulo no território do nervo ulnar ou fraqueza com atro-
de carregamento, osteófitos, sequelas de fraturas, fia da musculatura intrínseca da mão , decorrente
tumores ósseos e calcificações. da compressão nervosa, baseia-se na intervenção INTRODUÇÃO São quatro locais possíveis de compressão do
cirúrgica8. Descrita inicialmente por Henrik Seyffart em nervo mediano nessa síndrome:
Ultrasonografia e ressonância magnética: ava- Existem, basicamente, dois tipos de procedi- 1951, é caracterizada por sinais e sintomas ocasio- • Músculo Pronador Redondo - 60%
liação de alterações de partes moles. mentos: nados pelo comprometimento do nervo mediano • Arcada formada pelas inserções umeral e radial
na altura do cotovelo, ou seja, quando passa entre do músculo flexor superficial - 15%
Eletroneuromiografia dinâmica: detecta ano- • Descompressão in situ. Consiste na abertura de as duas porções do músculo pronador redondo e • Lacertus Fibrosus 15%
malias de condução. Porém, em casos iniciais, não estruturas extrínsecas ao nervo ulnar ao longo abaixo do arco fibroso do músculo flexor superfi- • Ligamento de Struthers 1%
tem valor. Eisen e Danon (1974) observou altera- do seu trajeto no cotovelo. Deve-se fazer a libe- cial dos dedos1,18 (Figura 7).
ções na velocidade de condução em somente 40% ração da arcada de Struthers, do ligamento reti- A Síndrome do Pronador redondo é uma das EPIDEMIOLOGIA
das lesões moderadas e graves. Portanto, o índice nacular cubital (Osborne), da fáscia do músculo três síndromes compressivas que afetam o nervo A Síndrome do Pronador redondo é uma síndrome
de falso-negativo é alto com a ENMG. Como sabido, flexor ulnar do carpo, mantendo o nervo ulnar mediano. As outras duas são a síndrome do interes- compressiva rara. É responsável por menos de 1% de
o exame clínico é soberano. junto ao seu leito no túnel cubital. Deve-se aten- so anterior e a mais comum de todas, síndrome do todos os transtornos compressivos do nervo mediano.
tar para a preservação dos ramos articulares e túnel do carpo8,18,19. Entretanto, estima-se que 5% dos diagnósticos da sín-
Classificação motores distais do nervo. Acredita-se que esse drome do túnel do carpo sejam na verdade síndrome
Dellon (1989) classificou a compressão do nervo tipo de indicação cirúrgica deve ser restrito a ca- Figura 7: Dissecção em cotovelo mostrando: nervo do pronador redondo. Alguns fatores de risco podem
ulnar em três tipos: sos de Grau 1 com sintomatologia intermitente, mediano (a); ramo para o pronador redondo (b); ramo estar relacionados com essa patologia. Indivíduos
• Leve. Sensitivo: parestesia intermitente, au- sem subluxação do nervo ulnar e sem alterações para o flexor radial do carpo (c); ramo para o palmar longo com atividades de esforço repetitivo e grande deman-
mento da sensibilidade vibratória. Motor: fra- do arcabouço ósseo. (d); ramo para o flexor superficial dos dedos (e); nervo da do cotovelo, punho e mãos, como cortar madeira
queza subjetiva, com perda da coordenação. interósseo anterior (f) com ramos para o flexor longo do esportes de arremesso e levantamento de peso, estão
Testes: Tinel ou provocativos podem ou não ser • Transposição anterior. Faz-se a descompressão polegar (g); flexor profundo dos dedos (h). (De “Síndromes propensos à compressão do nervo mediano na região
positivos. completa de todos os possíveis pontos de com- Compressivas do Membro Superior, Caetano E., Lech, O. do cotovelo.  Essa síndrome é quatro vezes mais co-
• Moderado. Sensitivo: parestesia intermitente, pressão do nervo ulnar no cotovelo, associada DiLivros 2017, com permissão) mum no sexo feminino, o que infere que as anorma-
sensibilidade vibratória normal ou diminuída. a sua transposição anterior, podendo colocá- lidades anatômicas também sejam fatores de risco
Motor: fraqueza da pinça ou preensão mensu- -lo em plano submuscular, intramuscular ou isolados. A prevalência é entre 40 e 50 anos e o lado
ráveis. Testes: de flexão do cotovelo e/ou Tinel subcutâneo. Para atingir esse objetivo, deve-se dominante costuma a ser o mais afetado, principal-
positivos. Dificuldade em cruzar os dedos. executar uma ampla dissecção do nervo, o que mente em indivíduos com grande massa muscular8.
• Grave. Sensitivo: parestesia persistente, sensibi- levará, impreterivelmente, à secção dos ramos
lidade vibratória diminuída, discriminação de nervosos para a articulação do cotovelo, além FISIOPATOLOGIA
dois pontos anormal. Motor: atrofia muscular de promover isquemia transitória do nervo ul- Pécina, Krmpotic-Nemasic e Markewitz (1997)
dos intrínsecos e fraqueza mensurável da pin- nar, fatores estes relacionados à morbidade do sistematizaram várias hipóteses sobre a compres-
ça e da preensão. Testes: Tinel e/ou de flexão do procedimento. A literatura, de forma geral, é são do nervo mediano na região do pronador, entre
cotovelo positivos. Não é possível cruzar os de- favorável a esse tipo de intervenção, já que seus elas: miosite, bandas fibrosas, traumas no ante-
dos1,8,15. resultados são mais previsíveis. Não há consen- braço, alterações anatômicas entre a musculatura
so sobre a melhor técnica de transposição ante- e os nervos, compressão mecânica secundária e
TRATAMENTO rior, mas se considera que: estenose dinâmica ou estática. Hartz e colabora-
Quando a sintomatologia é discreta, sem inca- – No plano subcutâneo: é mais simples, todavia dores (1981) demonstraram que, em 15 pacientes
pacidade motora, o tratamento indicado é sempre com índice mais elevado de recidiva tardia. De- explorados cirurgicamente, havia prolongamento
o conservador. É recomendado o uso de AINEs, ve-se confeccionar um pequeno retalho com aponeurótico (lacertus fibrosus) do músculo bíceps
analgésicos, vitamina B e fisioterapia para o trata- tecido adiposo e envolver o nervo transposto. braquial que causava compressão, enquanto, em 13
mento da neurite instalada. Alguns autores indi- – No plano intramuscular: relaciona-se a maior pacientes, a compressão sob o nervo mediano era
cam a imobilização com o cotovelo em flexão de índice de complicações. produzida pelo flexor superficial dos dedos1,8.
70% não-supinada. – No plano submuscular: mais complexo, porém
O tratamento cirúrgico é reservado aos casos com menor índice de recidiva tardia e maior SINAIS E SINTOMAS
mais graves ou no caso de falha do tratamento morbidade relacionada à inserção do grupo A história clínica ocupacional revela episódio de
conservador. O tratamento atual para pacientes muscular flexopronador15,17. esforço muscular intenso ou de utilização do ante-
204 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 205

Síndrome do Supinador
braço em supinação/pronação ou extensão/flexão. Ressonância Magnética e Ecografia também podem
Os pacientes apresentam dor difusa no antebraço, ser realizadas para descartar causas de compressão
principalmente na superfície volar proximal, que de tecidos moles18.
aumenta durante esforços estáticos ou movimento A eletroneuromiografia (ENMG) é o exame de INTRODUÇÃO Vários autores afirmam que, entre as princi-
repetitivo. Essa dor piora com o aumento de pres- escolha para confirmação diagnóstica. Deve ser di- É a síndrome compressiva mais comum do pais causas de compressão do nervo radial na
são sobre o nervo. Pode também ser acompanhada nâmica, com o paciente forçando a musculatura do nervo radial. É causada pela compressão do nervo altura do antebraço, está a ação do cotovelo e
de hipoestesia no território do nervo mediano (pal- antebraço durante o exame. Morris e Peters (1976) radial quando este passa pela borda aponeurótica os movimentos de prono-supinação forçados,
ma da mão, sendo confundido clinicamente com observaram redução da velocidade de condução do músculo supinador (arcada de Fröhse) (Figura atividades realizadas com posturas viciosas do
síndrome do túnel do carpo). A força de preensão e motora na porção proximal do antebraço, com la- 8). A síndrome também é chamada de síndrome antebraço, que exijam frequentes pronação/supi-
pinça está diminuída, e o paciente apresenta dificul- tência da porção normal. Porém, é possível encon- do nervo interósseo posterior, já que este é o nome nação e extensão/ flexão simultânea do membro
dade para escrever1,18.  trar ENMG normal, apesar da presença de sinais e que recebe o nervo radial após passar por entre as superior e tarefas que promovam compressão
Exame físico sintomas compatíveis com o quadro 1. duas porções do músculo supinador8,21. dinâmica de antebraço pela utilização de equi-
• Flexão do cotovelo contra resistência entre 120 pamentos ou instrumentos de trabalho. Kopell
e 160° TRATAMENTO Figura 8: Dissecção em cadáver fresco mostrando o nervo e Thompson (1963) sistematizaram as causas de
• Pronação do antebraço e flexão do punho contra É indicado quando os sintomas estão presentes radial passando anteriormente à articulação do cotovelo origem não-ocupacional para a Síndrome do Su-
resistência há menos de um ano de seu começo. Inicia com e originando o nervo interósseo posterior (a), que penetra pinador22:
• Percussão positiva na região do músculo prona- imobilização, AINEs, corticoide injetável em casos na arcada de Fröhse (b). N. cutâneo lateral do antebraço
dor redondo  selecionados e fisioterapia. A vitamina B6 é útil em (c) (De “Síndromes Compressivas do Membro Superior, • Trauma (subluxação radial, fratura do úmero
• Digitopercussão negativa no túnel do carpo alguns casos. Nas situações em que a origem ocu- Lech, O. Caetano, E. DiLivros, 2017, com permissão) distal, movimentos bruscos)
• Sinais de Phalen e Phalen invertido negativos pacional está estabelecida, é fundamental manter • Tumores (fibromas e linfomas)
o paciente em repouso ou afastado de suas ativida- • Inflamações (neuroma, bursite e artrite reumá-
DIAGNÓSTICO  des, além de ser realocado para outras tarefas no tica)
Em 1979, Johnson e Spinner sugeriram os se- retorno ao trabalho. A nova atividade não deve exi- • Alterações vasculares (trombose e anomalias
guintes critérios diagnósticos20:  gir movimentos bruscos de pronação e extensão de vasculares)
• Desconforto e apreensão ao palpar o músculo antebraço8,18. • Alterações anatômicas
pronador redondo; Quando o tratamento conservador não é sufi-
• Tinel positivo na borda proximal ou distal do ciente para proporcionar alívio duradouro, é indi- SINAIS E SINTOMAS
músculo pronador; cado o tratamento cirúrgico. Hartz e colaboradores Envolve dor profunda na face posterior do ante-
• Agravamento dos sintomas de parestesia do pri- (1981) analisaram 39 pacientes submetidos a des- braço, iniciando no terço proximal. Não há altera-
meiro, segundo e terceiro quirodáctilos com a compressão cirúrgica, sendo que 87% apresenta- ção de sensibilidade. Nos casos graves, existe com-
compressão do músculo pronador; ram resultados satisfatórios. A técnica cirúrgica prometimento motor (força diminuída ou ausente
• Diminuição da força dos músculos inervados clássica é a ampla incisão em ziguezague de até 10 dos extensores comum dos dedos e longo do pole-
pelo nervo mediano; cm, em que o lacertus fibrosus (extensão aponeu- gar). A dor aumenta com esforços e movimentos de
• Reprodução da parestesia com os testes provo- rótica da inserção do bíceps braquial que recobre FISIOPATOLOGIA flexão/extensão, pronação/supinação. Sensação de
cativos; o nervo mediano) é liberado, a porção superficial Existem cinco locais de compressão do nervo fadiga pode estar associada1,21.
• Defeito da condução ou eletroneuromiografia do pronador redondo é ressecada e a neurólise do radial nessa região1: No exame físico , observa-se palpação doloro-
anormal, com localização da lesão na região do mediano é realizada1,19. • Bandas fibrosas localizadas junto à cabeça do sa na região posterior do antebraço na porção do
pronador; rádio, na entrada do túnel. músculo supinador. Não existe déficit sensorial,
• Contraturas e espasmo muscular no antebraço • Conjunto arteriovenoso de Henry, que vascula- mas há diminuição de força de preensão e des-
com a realização de exercícios repetitivos; riza os músculos braquiorradial e extensor ra- conforto aos esforços. Também há diminuição da
• Ausência de sintomas noturnos; dial longo do carpo. força no teste de supinação contra a resistência
• Surgimento dos sintomas quando o manguito • Parte tendínea do músculo extensor radial cur- do examinador (Figura 9). O diagnóstico diferen-
for inflado acima da pressão arterial diastó- to do carpo, que comprime o nervo radial contra cial deve ser feito com a epicondilite lateral do
lica; o rádio ao se contrair. cotovelo8.
• Arcada de Fröhse na borda proximal do múscu-
EXAMES COMPLEMENTARES lo supinador. EXAMES COMPLEMENTARES
Radiografias são importantes na avaliação ini- • Banda fibrosa na borda distal do músculo supi- Os exames radiográficos serão importantes para
cial, para investigar causas de compressão óssea. nador. avaliar alterações ósseas que possam ser responsá-
206 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 207

Figura 9: Teste da supinação contra resistência (De mado pelo exame de eletroneuromiografia. A ele- 1. Precoce – os sintomas são somente noturnos. anos, sendo frequente no período da menopausa e
“Síndromes Compressivas do Membro Superior, Caetano troneuromiografia dinâmica é de difícil realização e Na forma idiopática, a mais frequente, são no período final da gravidez devido à retenção lí-
E., Lech, O. DiLivros 2017, com permissão) probabilidade de falso-negativos chega a 40%8. múltiplos os fatores que desencadeiam o au- quida ocasionada pela ação hormonal. O quadro é
mento de pressão intra-túnel: a) redistribui- bilateral na metade das vezes; a bilateralidade au-
TRATAMENTO ção dos fluidos às membranas superiores na menta com o tempo de evolução dos sintomas1,8.
O tratamento conservador deve ser a primeira posição supina (deitado); b) pelo sono, cessa STC secundário - podem ser relacionadas a
tentativa, porém não deve ultrapassar quatro me- o mecanismo de bomba muscular que contri- anomalias do continente (fratura distal do rádio ,
ses de sintomatologia, para evitar lesão irreversível bui para a drenagem dos fluidos intersticiais consolidação viciosa do rádio, material de osteos-
do nervo radial. O tratamento consiste em repouso, no túnel do carpo; c) durante o sono o punho síntese na face volar do rádio, luxação do carpo, ar-
orientações posturais, analgesia, AINEs, corticoi- mantém-se em flexão fisiológica, aumentando trose do punho, rizartrose, acromegalia) ou do con-
des injetáveis e fisioterapia. a pressão intratúnel; d) aumento da pressão ar- teúdo ( anomalia da distribuição dos fluidos como
O repouso e a prevenção de traumas repetitivos terial na segunda metade da noite; com o au- no trimestre final da gravidez e no hipotireoidismo,
são fundamentais para o tratamento desses pacien- mento de 50 mmHg, existe a interferência no hipertrofia da tenossinóvia como no processos reu-
tes. Também devem ser adotadas medidas ergonô- retorno venoso da microcirculação intraneural máticos, lúpus e infecção, tenossinovite metabóli-
micas para prevenção de recidivas e cronicidade. e consequente diminuição do aporte de oxigê- ca como na diabete melittus, amiloidose, gota, con-
O tratamento cirúrgico é indicado quando o tra- nio intraneural, além de estase venosa que de- drocalcinose, aumento de volume intratúnel como
tamento conservador não foi suficiente para o alí- termina edema endoneural. tumores, músculos anormais ou supranumerários,
vio prolongado. 2. Intermediário – Os sintomas são noturnos e hematomas por traumatismos, acidente anticoagu-
O procedimento cirúrgico é realizado por uma também diurnos. As anomalias da microcircu- lante, e hemofilia). Obesidade e tabagismo são tam-
ampla incisão na face posterolateral do antebraço, lação são permanentes, com edema intersticial bém fatores secundários.
veis pela compressão nervosa. Podem-se encontrar dissecção de planos musculares ate identificação e epineural e intrafascicular, que causa um au- STC dinâmica - frequentemente encontrada em
neoplasias ósseas e sequelas de fraturas. A Ecografia ressecção da arcada de Frohse e da porção superfi- mento de pressão dos fluidos endoneurais. Esse patologias laborais, onde as atividades manuais re-
e a Ressonância Magnética podem avaliar a presen- cial do músculo supinador. edema intersticial provoca um afluxo celular e petitivas e a exposição a vibrações e ao frio podem
ça de tumores de partes moles hematomas que po- Nos casos de paralisias mais antigas, com per- causa espessamento do epineuro. Há também ser consideradas fatores predisponentes, embora
dem ser responsáveis pelas compressões. O exame das funcionais irreversíveis, os danos podem ser uma destruição da bainha de mielina e dos no- sem a concordância de muitos autores. Não hou-
físico auxilia no diagnóstico, que pode ser confir- minimizados com transferências tendinosas1,8. dos de Ranvier, na base de condução saltatória ve aumento da prevalência da STC em digitadores
de influxo para superfície de fibras nervosas com 15 horas de trabalho por semana. Uma ten-
mielinizadas. Esta fase corresponde à neuro- dência ao aumento foi demonstrada para além de
praxia na classificação de Seddon. 20 horas por semana.
3. Avançado – há sintomas permanentes e, so-
Síndrome do Túnel do Carpo
STC agudo – nos casos de trauma grave do mem-
bretudo, sinais de déficit sensitivo ou motor bro superior, envolvendo fratura, compressão, in-
traduzidos pela interrupção de um número de fecção, injeção de alta pressão, queimadura. Mais
INTRODUÇÃO Figura 10: Anatomia do Túnel do Carpo (De “Síndromes axônios mais ou menos importantes. Esta fase raramente, em casos de hemorragia nas hemofilias
Descrita pela primeira vez por James Paget, na Compressivas do Membro Superior, Caetano E., Lech, O. corresponde à axoniotmese na classificação de e trombose da artéria do nervo mediano1,8.
Inglaterra, em 1853. A Síndrome do Túnel do Carpo DiLivros 2017, com permissão) Seddon. A degeneração walleriana existe no
(STC) consiste na compressão ou tração do nervo nível dos axônios interrompidos. Os envelopes SINAIS E SINTOMAS
mediano em um túnel inelástico existente na face conjuntivos são a sede de um espessamento fi- A característica principal é a dor e a parestesia
volar do punho, levando à combinação de sinais e broso reacional; esta hipertrofia da sinovial ao no território do nervo mediano (face volar do po-
sintomas característicos da compressão do nervo redor dos tendões flexores ocorre por causa de legar, indicador, principalmente do dedo médio e
mediano (Figura 10). A STC é a mais frequente das uma degeneração do tecido conjuntivo com es- também lado radial do anelar) que piora na posição
síndromes compressivas do membro superior, es- clerose vascular, edema e fragmentação do co- de flexão do punho. Retrogradamente o desconfor-
tando presente em até 3,8% da população em geral. lágeno, determinando aumento do conteúdo to pode irradiar até o cotovelo e braço. A dor tem
É mais frequente em mulheres e principalmen- dentro do túnel do carpo8. característica noturna que é aliviada pelo balançar
te acima de 40 anos8,22,24. das mãos, e por adotar posições diversas como dei-
FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA tar sobre a mão, tirá-la para fora da cama ou co-
CLASSIFICAÇÃO STC idiopático – a patologia é essencialmente locá-la entre as pernas. Nas fases mais avançadas
O O sueco Goran Lundborg classifica em 03 está- idiopática acometendo pacientes do sexo feminino ocorre fraqueza muscular dos músculos inervados
gios a patologia da STC: em 70-80% dos casos. A faixa etária é entre 40-60 pelo mediano (músculos tenares e intrínsecos do
208 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 209

indicador e médio), causando diminuição da força Figura 11: Teste de Phalen (De “Síndromes Compressivas clínicos não dependem do tempo de compres- ou infecção, o tratamento conservador deve ser ini-
de preensão e de pinça. Queixas frequentes são a do Membro Superior, Lech,O. Caetano, E,. 2017, com são e sim do grau de lesão ao nervo mediano. O ciado se a sintomatologia interfere nas atividades
dificuldade para dirigir, usar o telefone, e derrubar permissão) exame de condução nervosa revela lentificação diárias do(a) paciente. Várias são as condutas a se-
objetos com facilidade8,24. evidente do nervo mediano no carpo.  rem adotadas, dentre elas: 
3. Grave. Acentuada perda sensitiva, inclusive
DIAGNÓSTICO E EXAMES discriminação de dois pontos, com déficit fun- Melhorar a ergonomia
COMPLEMENTARES cional grave e acentuada atrofia tenar e de pele; 1. Uso de tala de velcro para dormir ou trabalhar,
O diagnóstico da STC é essencialmente clínico prognóstico mais reservado mesmo após trata- evitando assim a postura em flexão ou extensão
através de uma anamnese detalhada e exames clí- mento conservador ou cirúrgico25. do punho, já que foi demonstrado que a pressão
nicos realizados corretamente. A radiologia é dis- A Eletroneuromiografia (ENMG) permite estu- no túnel do carpo aumenta com a extensão e a
pensável para o diagnóstico mas deve ser realizada dar a condução nervosa sensitiva e motora do ner- flexão. Desta forma, a posição do punho com a
para descartar outras patologias associadas do rádio vo mediano e destaca o abrandamento eletivo na tala deve estar em estrita posição neutra para di-
distal e punho. É importante compreender que as passagem do túnel do carpo. Também permite  a minuir a pressão intracanalicular. O resultado
queixas são  mais importantes que o exame físico ou análise da amplitude e da duração das respostas desse tratamento é equivalente à injeção de cor-
exames complementares. Mesmo assim, é impor- motoras e sensitivas. A ENMG deve ser finalizada ticosteroides. Stutzmann e cols. encontraram
tante utilizar alguns dos testes e sinais provocativos: por uma medida da condução nervosa do nervo ul- alivio na STC moderada em 81% dos casos em
1. Sinal de Tinel: é positivo se o paciente refere nar homolateral e por comparação com o lado con- três anos. A duração do tratamento é de três se-
parestesia durante a percussão manual da face tralateral. O achado mais precoce e mais sensível manas a três meses. A órtese pode ser associada
palmar do punho no nível do nervo mediano. A é a diminuição da velocidade de condução sensi- com a infiltração.
sensibilidade é de 26% a 79% e a especificidade tiva (identificada pelo método centimétrico) entre 2. Evitar atividades que impliquem movimentos
é de 40% a 100%.  a palma da mão e os dedos e o punho. A velocida- de flexo-extensão do punho ou esforços repeti-
2. Sinal de Phalen: positivo se ao curso de uma de transtúnel do nervo mediano abaixo de 45 m/s tivos intensos na jornada de trabalho;
flexão ativa máxima do punho durante um mi- é considerada patológica (valor normal ≥  50  m/s).  3. Melhorar as condições ergonômicas no ambien-
nuto aparecer parestesia no território do nervo O exame é operador-dependente. A temperatura te de trabalho, como sentar-se corretamente e
mediano. A sensibilidade é de 67% a 83% e a es- cutânea e a idade influem nos resultados. A ENMG apoiar os braços e punhos quando usar o com-
pecificidade é de 47% a 100%. Teste de Phalen 1. Leve ou intermitente. Dor, dormência e for- pode ser positiva em 0% a 46% de sujeitos assinto- putador; se necessário, introduzir a rotação
invertido é a colocação do punho em extensão migamento na área de representação do nervo máticos e negativa em 16% a 24% de pacientes com de atividades para evitar o uso continuado do
máxima (Figura 11). mediano, predominantemente noturno, acor- diagnóstico clínico da STC. Serror encontrou uma membro superior27;
3. Teste de Durkan: uma pressão com dois dedos dando o(a) paciente várias vezes; sintomas diur- sensibilidade de 54% e especificidade de 97,5%. A Infiltração de corticoide no túnel do carpo - A
é efetuada sobre a região mediana do túnel do nos posicionais como dirigir, segurar objetos na ENMG não fornece evidências suplementares no infiltração de corticoide no túnel do carpo é efeti-
carpo, o punho flexionado a 60°, cotovelo esten- mesma posição ou fazer trabalhos manuais; o diagnóstico de STC em relação à avaliação clínica va por período curto de tempo e dever ser utilizada 
dido, antebraço em supinação. O teste é positi- retorno à normalidade é alcançado rapidamen- quando o diagnóstico clínico parece evidente;  em somente em pacientes sem contraindicações for-
vo se ocorrer parestesia no território do nervo te por mudança de postura ou movimentação outras palavras, este exame elétrico não é melhor mais, como hipertensão arterial, glaucoma e dia-
mediano e possui sensibilidade de 82% e uma das mãos; o exame neurológico está normal e que o diagnóstico clínico. As variações anatômicas betes. A infiltração pode ser repetida no máximo
especificidade de 99%. os testes de Tinel e Phalen podem estar positi- do tipo Martin-Gruber e Riche-Cannieu entre os 3 vezes com 4-6 semanas de intervalo entre cada
4. Teste de Discriminação de dois-pontos: pode vos. O exame de condução nervosa pode estar nervos mediano e ulnar podem alterar a interpre- uma. Deve-se ter cuidado para evitar a injeção in-
ser estático de Weber-Moberg ou dinâmico de normal (anormalidade isquêmica rapidamente tação da análise eletroneuromiográfica e de esti- traneural por ocasionar lesões graves no nervo me-
Dellon. Uma roda dentada (pinwheel) ou mo- reversível) ou revelar lentificação incipiente da mulodetecção26. diano. O alívio é observado após alguns dias a 2-3
nofilamento (teste de Semmes-Weinstein) pode condução do nervo mediano no túnel do carpo. semanas da aplicação. A injeção local de corticos-
ser usada para propósito semelhante. O teste é 2. Persistente. Déficit sensitivo e perda da habili- TRATAMENTO teroides tem uma eficácia significativamente me-
feito sempre em comparação com o lado con- dade manual (função de pinça entre o polegar O tratamento inicial é sempre conservador nos lhor do que a injeção de placebo em um mês e mais
tra-lateral. e indicador está prejudicada); dor tipo queima- casos leves e moderados. Cerca de 80% dos casos prolongada do que a corticoterapia via oral em dois
A parestesia noturna é o sintoma mais sensível ção, dormência mais acentuada, sensação de obtêm considerável melhora ao final de um ano de a três meses. Um alívio temporário após a injeção
(96%). O teste com melhor sensibilidade é a com- edema e congestão na mão; melhora muito mais tratamento. O tempo de tratamento conservador de corticoide local é um bom prognóstico para o
pressão direta de Dukan (89%), seguido pelo teste lenta mesmo com mudança de postura ou movi- não tem definição ainda na literatura e o que se es- tratamento cirúrgico. Existe 93% de melhoria clí-
de Phalen (83%). mentação das mãos; o exame neurológico revela pera é alívio dos sintomas1,24. nica e na ENMG em três meses, 79% em 16 meses,
Sob o ponto-de-vista diagnóstico, Dawson e col. déficit sensitivo e motor, Tinel e Phalen positi- Quando se trata de STC clássica, sem doença sis- com 50% de normalização da ENMG. Os critérios
divide os pacientes com STC em três grupos: vos e eventualmente atrofia tenar; os achados têmica, massa no punho, deformidade óssea maior de bom prognóstico motor ou sensorial.
210 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 211

Tratar os desequilíbrios hormonais associados lado radial.  A bibliografia é rica em exemplos de no túnel do carpo. Essa é a razão de a Síndrome do Figura 13: Sinal de Wartemberg (De “Síndromes
– para tal, uma história clínica pregressa é impor- complicações cirúrgicas, dentre elas: descompres- Canal de Guyon ser uma patologia tão rara. A com- Compressivas do Membro Superior, Caetano E., Lech, O.
tante. Hipotireoidismo, diabete mellitus e climaté- são inadequada, recorrência, lesão nervosa do tron- pressão pode ser causada por fraturas dos ossos que  DiLivros 2017, com permissão)
rio-menopausa podem estar associados de forma co do nervo mediano ou dos nervos metacarpais, compõem o canal como pisiforme, hamato e também
subclínica8. lesão tendínea, lesão do arco palmar arterial,  efeito o piramidal. Também pode ser resultante de traumas
arco de corda”, dor reflexa regional, cicatriz hiper- repetitivos na região hipotenar. Variações anatômi-
TRATAMENTO CIRÚRGICO trófica e/ou sensível, disestesias e infecção. cas, como músculos anômalos, podem comprimir o
O tratamento cirúrgico consiste na abertura do Com a descompressão cirúrgica, uma melhora nervo e provocar sintomas. Trombose ou aneurismas
túnel do carpo através da secção do ligamento trans- rápida dos sintomas ocorre por causa do restabe- da artéria ulnar, assim como a presença de cisto sino-
verso do carpo. O procedimento é realizado em am- lecimento da microcirculação intraneural.  Como vial ou outras formações tumorais dentro do canal,
biente hospitalar, com internação ambulatorial. A a recuperação completa depende da regeneração podem ser os causadores da sintomatologia8.
anestesia pode ser realizada somente local com ou nervosa, a bainha de mielina demanda semanas a
sem o emprego de vasoconstritor, associação de meses para o completo restabelecimento e causa SINAIS E SINTOMAS
anestesia local e sedação ou, mais raramente pela sintomas intermitentes e anomalias eletrofisiológi- Dependendo do local de acometimento, o pacien-
anestesia geral. A maioria dos cirurgiões prefere ex- cas persistentes no pós-operatório.   A importância te pode apresentar sintomas apenas sensitivos ou
sanguinar o membro a ser operado através do em- da recuperação dependerá do potencial de regene- apenas motores. Também pode apresentar sintoma-
prego de garrote pneumático ou banda de Esmarch.  ração axonal do paciente, principalmente por cau- tologia mista. A redução da força do músculo adu-
Existem diversas técnicas para a realização da sa da idade, da existência de uma polineuropatia e tor do polegar e do primeiro interósseo dorsal causa
cirurgia. Pode ser convencional ou aberta (clássi- da severidade da compressão.  enfraquecimento da pinça digital entre o polegar e o
ca ou mini-open) ou endoscópica não existindo na Se houver a necessidade de uso de fármacos indicador. A garra dos dedos anular e mínimo é mais
literatura atual uma diferença significativa nos re- no pós-operatório para o alívio de sintomas de dor evidente na compressão neurológica do punho em dade de condução nervosa são usadas para avaliar o
sultados a longo prazo. neuropática ou de dor reflexa regional, a Benfotia- comparação com as compressões mais proximais. As comprometimento dos nervos periféricos e localizar
Deve-se ter cuidado com as estruturas que acom- mina é uma opção de primeira linha como coadju- alterações sensitivas ocorrem na face volar do dedo o nível no qual o nervo é afetado (diferenciando de
panham o nervo mediano no túnel do carpo, além vante de outras medicações, tais como: pré-gaba- mínimo e na metade ulnar do dedo anular8,29. uma radiculopatia cervical e compressões altas)26,28.
do seu ramo motor para a loja tenar que tem origem lina, opioides, AINEs, corticoterapia, gabapentina, 
proximal ao túnel do carpo e o acompanha pelo seu dentre outros1,8,24. DIAGNÓSTICO E EXAMES TRATAMENTO
COMPLEMENTARES As medidas conservadoras, como orientação
O exame físico consiste em verificar a sensi- aos pacientes para evitar posturas e posições que
bilidade do quarto e quinto dedos, além de testes aumentem a pressão sobre o nervo, não costumam

Síndrome do Canal de Guyon


motores como o Teste de Egawa (incapacidade de ser eficientes. Portanto, o tratamento da maioria dos
abduzir radial e ulnarmente o dedo médio), Sinal casos de compressão no Canal de Guyon é cirúrgico.
de Wartemberg (incapacidade de realizar adução A abordagem deve ser feita através de incisão
INTRODUÇÃO Figura 12: Anatomia cirúrgica do Canal de Guyon do dedo mínimo para o dedo anular estendido) (Fi- cutânea cruzando a prega volar do punho em ângu-
A Síndrome do Sanal de Guyon é uma neuropa- gura 13) e o Sinal de Duchenne (deformidade em lo agudo, para evitar retrações cicatriciais.
tia ulnar periférica relativamente rara que envolve garra dos dedos anular e mínimo ocasionada pelo A cirurgia limita-se a liberação do nervo, fazendo
lesão na porção distal do nervo ulnar à medida que desequilíbrio muscular entre a musculatura intrín- a abertura do ligamento palmar do carpo proximal-
ela passa por um estreito corredor anatômico no seca e extrínseca dos dedos). O teste de Allen é útil mente e do músculo palmar curto distalmente. Na
punho. O nervo ulnar origina-se de C8-T1 e é um para avaliar a integridade da artéria ulnar. presença de anomalias anatômicas ou tumorações
ramo terminal do plexo braquial. Na parte superior A radiografia da mão ou a tomografia compu- no interior do canal, estas devem ser removidas.
do braço, o nervo ulnar percorre posterior e me- tadorizada podem ser usadas para avaliar fraturas Se após a cirurgia não ocorrer melhora dos sin-
dialmente à artéria braquial e se dirige para a face (especialmente fraturas por hamato). tomas, deve-se pensar na possibilidade de outra
posterior do cotovelo, perfurando o septo intermus- A ressonância magnética da mão pode mostrar causa etiológica ser a causadora da sintomatologia.
cular medial na arcada de Struthers28 (Figura 12). variações anatômicas dentro do Canal de Guyon e A persistência da atrofia da musculatura intrínseca
avaliar as estruturas responsáveis pela compressão pode ser consequente à liberação inadequada do
FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA mecânica do nervo ulnar (por exemplo, lipomas, ramo profundo do nervo ulnar no arco tendinoso
Pelo Canal de Guyon passam o nervo ulnar, a arté- cisto ganglionar, músculo aberrante). A ultrassono- ao redor do hâmulo do hamato, abaixo da muscu-
ria ulnar e suas veias concomitantes. Não há nenhum grafia com Doppler é usada para avaliar a trombose latura hipotênar, sendo então, indicado nova explo-
tecido sinovial no interior desse canal, como ocorre da artéria ulnar. A eletroneuromiografia e a veloci- ração cirúrgica8.
212 SÍNDROMES COMPRESSIVAS E DOLOROSAS DO MEMBRO SUPERIOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 213

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Tolan SJ, Lonergan KT, Hawkins RJ, Tokish JM. Clinical vens. Manifestações crônicas agudizadas são muito lação do ombro são primários, mas também podem
comuns na procura por atendimentos. Em geral ser causados por patologias musculares ao redor da
são pacientes com quadros arrastados de dor crôni- articulação ou por radiculopatias cervicais. Nessas
214 DOR EM OMBRO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 215

situações a localização do sintoma pode ser impre- (por exemplo, neuralgia pós-herpética); autoimune ma de 40 anos, identificamos esporões subacromial infiltração subacromial25. Taheri ao comparar infil-
cisa na queixa do paciente6. Dor tipo aguda ou quei- (por exemplo, esclerose múltipla); vascular (por e lesões tendíneas16. O estreitamento do espaço su- tração subacromial com cetorolaco versus corticoi-
mação mais frequentemente se relaciona à radicu- exemplo, acidente vascular cerebral); compressiva bacromial está relacionado à forma do acrômio. de não encontrou diferença significativa, sendo o
lopatia, enquanto padrão de dor mais aborrecida e (por exemplo, hérnia disco cervical, compressão do Bigliani classificou o acrômio em tipo I (plano), II cetorolaco uma opção nos casos de contraindica-
difusa pode indicar tendinopatias7. nervo supraescapular, neoplasia); traumática (por (curvo) e III (ganchoso). O tipo III determina redu- ção de uso de corticoides26. Penning relata em seu
Como em qualquer outra situação, o padrão da exemplo, lesão plexo braquial)10. ção do espaço causando o impacto17. artigo superioridade do uso da triancinolona quan-
dor envolvendo as doenças do ombro pode apre- Após todo um inquérito da anamnese, a próxima Na avaliação física é percebido dor local à pal- do comparado ao ácido hialurônico e solução sali-
sentar características de dor nociceptiva, neuro- etapa a seguir na investigação será o exame físico. pação com ou sem área eritematosa nos casos de na, no tratamento da síndrome impacto27. Dong em
pática ou mista. Aquela normalmente provem de A arte de examinar o ombro passa pelos vários está- bursopatias. Na manobra de elevação/abdução e sua metanálise, conclui que exercícios, cinesiote-
processos inflamatórios que promovem a ativação gios, desde a inspeção estática e dinâmica, passan- testes de impacto, testes de Neer, Hawkins e Yer- rapia e acupuntura, são ideais para tratamento na
dos nociceptores levando aos sinais clássicos de do por palpação, aferição arco de movimento ativo gason, observa-se manifestação do sintoma álgico, fase inicial da síndrome do impacto. Terapia com
eritema, rubor e dor8. Já a neuropática é definida e passivo, força muscular e conclui-se com inúme- tanto na síndrome do impacto quanto na bursite13. laser de baixa intensidade e infiltração com anti-
pela Associação Internacional para o Estudo da ros testes específicos baseados na queixa e achados. Os métodos de imagem ajudam principalmente -inflamatórios não esteroides não são recomenda-
Dor como: “dor que surge como consequência di- A adequada avaliação também não se esquivará de na avaliação de condições associadas ao processo dos. Pacientes com longo curso de doença devem
reta de uma lesão ou doença que afeta o sistema examinar articulações proximais e distais como inflamatório das bursites secundarias a SIS. Ultras- ter avaliados o tratamento cirúrgico. A técnica de
somatossensorial”9. O ombro pode sofrer com do- coluna cervical, escapulotoracica, esternoclavicu- som, ressonância magnética e raios-X são os mais bursectomia com descompressão subacromial por
res de origem neuropática por: neuropatia metabó- lar, cotovelo e punho ipsilateral, bem como utilizar indicados18. Usando avaliação ultrassonográfica, via artroscópica é o método preferido28.
lica (por exemplo, neuropatia diabética); infecciosa como comparativo o ombro contralateral11. observou-se que em pacientes assintomáticos a
espessura da bursa média é de 0,75 +/- 0,23 mm, PATOLOGIAS DO MANGUITO ROTADOR
enquanto nos casos sintomáticos encontrou-se 1,27 As enfermidades que acometem o manguito ro-
+/- 0,41 mm de espessura19. tador incluem as lesões parciais e totais, tendinites/
Os diagnósticos diferenciais são feitos com os tendinoses e a tendinite calcária. Habitualmente os

Etiologia
demais problemas comuns que envolvem o ombro, pacientes têm mais de 40 anos e apresentam queixa
como a síndrome do manguito rotador, capsulite de dor face lateral ombro com irradiação não além
adesiva, artrites e tendinite da cabeça longa do bí- do cotovelo. Achados de fraqueza, arco de movimen-
A seguir descreveremos os principais temas re- ral do ombro que piora com elevação o membro13. ceps. A bursite apresenta bom prognóstico sendo to doloroso, dor noturna e testes de impacto e man-
lacionados aos quadros álgicos envolvendo a cin- Comumente vemos associação de bursite com ou- um processo inflamatório autolimitado com recu- guito positivos são preditivos para o diagnóstico29.
tura escapular, com abordagem do controle, prin- tras alterações na articulação glenoumeral. E fusão peração sem necessidade de intervenções cirúrgi- A patogênese da lesão do manguito ainda não é
cipalmente clínico, dos sintomas, de acordo com a bursal é encontrada em 70,2% dos casos de artrite cas. Em pacientes idosos pode ocorrer uma evolu- clara, mas parece estar relacionada a fatores extrín-
literatura disponível. acromioclavicular, 67,8% das tendinites calcárias ção menos favorável20. secos como impacto subacromial, microtrauma,
do supraespinhal, 96,7% das lesões totais do man- O tratamento não operatório é o mais usual trauma agudo, teoria multifatorial e fatores intrín-
BURSITE E SÍNDROME DO IMPACTO guito e 72,7% das parciais e 94,7% dos casos de ar- para os quadros de bursite e SIS. As modalidades secos como a degeneração tendinosa que ocorre
SUBACROMIAL trite reumatoide14. incluem repouso, medicação anti-inflamatória, fi- normalmente com o envelhecimento, hipoperfu-
Bursa é um saco preenchido de líquido encon- Síndrome do Impacto Subacrominal (SIS) é a sioterapia e infiltração21. A terapia com ultrassom são, apoptose, fatores endócrinos e metabólicos e
trado em vários locais do corpo. Tem como função desordem mais comum do ombro, correspondendo tem sido utilizada na abordagem das buristes, em- falência da resposta de cura desses traumas30. Qua-
primordial lubrificar superfícies corporais expostas por 44 a 65% das queixas de dor no ombro15. A SIS bora não demonstre eficácia comprovada na litera- se 99% dos pacientes que procuram atendimento
a atrito. No ombro encontramos a presença da bur- tem sua fisiopatologia centrada no desequilíbrio da tura22. O tratamento cirúrgico fica restrito os casos com lesão do manguito se queixam de dor com ou
sa subacromial e subdeltoidea, a qual se encontra cinemática de funcionamento escápulo-umeral, na não responsivos às medicas clínicas. sem fraqueza no membro acometido31.
no espaço subacromial, que por sua vez tem uma qual, a cabeça umeral migra superiormente com- Dentre as abordagens mais utilizadas, as inje- Seguindo com a avaliação física, realiza-se ins-
altura média compreendida entre 10 e 15 mm12. primindo as estruturas aí presentes. Comumente ções de corticoides intramusculares proporcionam peção de toda a cintura escapular com os testes es-
O processo inflamatório da bursa pode ser cau- vemos a associação de síndrome do impacto com alivio máximo de quatro semanas da dor. As infil- pecíficos para identificação dos músculos envolvi-
sado por vários fatores como impacto subacromial, alterações bursais. Neer descreveu três estágios trações intra-articulares não são melhores que o dos. Na investigação complementar são utilizadas
uso do membro superior em atividades acima da para síndrome do impacto. No estágio 1, presente placebo, e infiltrações subacromiais proporcionam radiografias, ultrassonografia e ressonância mag-
cabeça, trauma direto, depósitos de cristais, infec- em pacientes com menos de 25 anos, encontramos apenas um mínimo alivio da dor23. As infiltrações nética. Além de fornecerem melhor detalhamento
ção e doenças autoimunes. Sua incidência é esti- edema e hemorragia, sendo reversível essa fase. No guiadas não trazem benefícios em comparação ao das lesões, também auxiliam nos diagnósticos dife-
mada em 0,4% das queixas totais de pacientes, aco- estágio 2 acomete pacientes entre 25 e 40 anos e en- método convencional às cegas24. Nenhuma diferen- renciais com síndrome do impacto, lesões labrais,
metendo os gêneros na mesma proporção. A queixa contramos fibrose e tendinite com quadros de dor ça em dor e incapacidade funcional foi encontrada calcificações, encurtamento de cápsula posterior e
mais comum é de dor referida na região anterolate- recorrente. No estágio 3, presente em pacientes aci- em quatro semanas com injeção sistêmica versus doenças do tendão da cabeça longa do bíceps32.
216 DOR EM OMBRO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 217

As dores crônicas causadas pelas patologias do Ao comparar tratamento cirúrgico versus conser- cação do ombro em três estágios. O estágio pré-calci- tratamento dos casos refratários de sintomas após
manguito rotador frequentemente são tratadas por vador, Ryösä et al advogam que há limitada evidên- ficado, o calcificado com suas fases de formação, re- o manejo clínico, apresentando resultados bem sig-
meios conservadores33. Os tratamentos iniciais en- cia que tratamento cirúrgico não é mais efetivo que pouso e reabsorção e o estágio de reparo42. Nas fases nificantes56, 57.
volvem terapias físicas, mudança nas atividades o conservador isolado, indicando que deve-se iniciar calcificadas encontra-se a maior parte do período A osteoartrite glenoumeral está entre as menos
diárias, drogas analgésicas e anti-inflamatórias. O pelas práticas não cirúrgicas no início. Eles não en- doloroso da doença43. Em relação às causas da TC, comuns causas de dor no ombro, mas com signifi-
objetivo é melhora de movimento, função e dor21. contraram ganho da cirurgia sobre reabilitação com não há conclusão uniforme, permanecendo obscura cante nível de limitação. O foco inicial é manuten-
Em seu trabalho, Tashjian apresenta um algorit- fisioterapia em um ano avaliando Constant escore sua origem. Teorias como a degenerativa44, trauma ção da função e controle de dor. Nesse ínterim do
mo de tratamento do manguito subdividindo-o em e dor. Sendo fisioterapia menos dispendiosa e mais repetido41, necrose de tenócitos45, reatividade46 e os- manejo inicial não operatório tem-se como opções
três grupos. O grupo 1 engloba lesões totais crôni- segura, o tratamento conservador é definido como a sificação endocondral47 já foram levantadas. os analgésicos e anti-inflamatórios, fisioterapia, in-
cas em pacientes acima de 60 anos e as lesões irre- modalidade inicial para as doenças do manguito38. Na fase inicial é instituído tratamento conserva- filtrações intra-articulares com corticoides ou vis-
paráveis, todas sendo conduzidas com tratamento O tratamento cirúrgico fica restrito aos pa- dor com uso de AINES, terapia física, termoterapia e cossuplementação58.
conservador inicial. No grupo 2 aparecem todas as cientes que têm sintomas persistentes e prejuízos repouso com resolução de mais de 50% dos casos em Terapias físicas podem ser benéficas no auxílio
lesões agudas com mais de 1 cm e as crônicas em funcionais após tratamento conservador inicial. até 6 meses48. Outra opção é a técnica de aspiração de controle de dor e melhora funcional nos qua-
pacientes com menos de 60 anos, sendo nesse caso Resultados melhores são obtidos em pacientes jo- guiada por ultrassom, na qual uma agulha é introdu- dros de artrite do ombro. Deve ser aplicada com
indicado tratamento cirúrgico precoce. Já o grupo vens com lesão traumática39. Abordagem cirúrgica zida dentro do depósito e feita sua aspiração49. cautela, pois pacientes com frequência apresentam
3 cita as tendinopatias, as lesões parciais e as com- artroscópica comparada à via aberta ou miniopen Terapia de ondas de choque (TOC) é utilizada na muita rigidez e incongruências articulares59. Uso
pletas com menos de 1 cm, optando-se pelo trata- ainda é controversa40. falha dos tratamentos clínicos. Pode ser utilizada de AINES chega a reduzir sintomas em 50 a 67%
mento conservador prolongado34. nos modos de baixa, média e alta energia. Várias dos pacientes60. Alguns estudos apontam a predni-
Oliva et al. em seu artigo de revisão apresenta ní- TENDINITE CALCÁRIA metanálises encontraram melhor resultado com o solona como boa opção61, enquanto os COX 2 não
vel de recomendação B utilizando o tratamento com Tendinite Calcificada (TC) do ombro é uma en- uso do modo alta energia, quando comparado aos se mostraram mais efetivos que os demais AINES62.
reabilitação para as lesões do manguito, e nível C tidade autolimitada, caracterizada pelo depósito de demais50. Mantendo sintomas de dor opta-se pela A literatura não suporta uso de glucosamina e colá-
para terapia com anti-inflamatórios não esteroides sais de cálcio nos músculos do manguito rotador41. abordagem cirúrgica da calcificação. genos para a osteoartrite do ombro. Em um estudo
(AINES). Não há terapia definida de drogas para le- (Figura 1) Hamada definiu a patogênese da calcifi- A via artroscópica é preferida por ser menos experimental de cultura de condrócitos de coelho
são do manguito, AINES reduzem dor, mas não me- mórbida e com recuperação mais rápida. Sua eficá- colhido de ombro e joelho, um metabolito da dia-
lhoram função e injeção de corticoide é similar aos Figura 1: Tendinite calcária do ombro. (Agradeço ao Dr. cia é mostrada em vários artigos51, 52. cereina (Rhein) mostrou-se capaz de efeitos prote-
AINES em curto prazo. Quanto ao uso de infiltrações, Daniel Andrade pela cortesia da imagem de seu arquivo tivos contra degradação da cartilagem via inibição
glicocorticoides, anestésicos locais, ácido hialurôni- pessoal) ARTRITES de metaloproteinases63.
co e plasma rico em plaquetas (PRP) melhoram dor Na cintura escapular encontramos a artrite acro- Merolla et al. comparou infiltração intra-arti-
e função nos casos de tendinopatia com nível de evi- mioclavicular (AC) e a glenoumeral. Os sintomas da cular de metilprednisolona com Hyllan G-F 20®.
dência B. Até o momento não há consenso sobre uso articulação AC geralmente são bem localizados na Ambos reduziram dor significantemente em 1 mês,
do PRP nas lesões completas e parciais30. face superior do ombro junto à extremidade lateral mas somente o Hylan® sustentou o alívio por mais
Goldberg et al realizou tratamento conservador da clavícula. Queixas de trauma, atividades braçais, de 6 meses64.
de lesão completa do manguito com educação do dor e sensibilidade centrada na AC, dor em adução O manejo clínico para a osteoartrite do ombro
paciente e programa de exercícios em casa com em pacientes normalmente acima de 40 anos são é sempre instituído inicialmente, com bons resul-
60% de bons resultados com segmento de um ano35. consistente com o diagnóstico. Achados de lises ou tados. Para os casos de falha desse método, fica
Kukkonem et al comparou três tipos de tratamento deformidades confirmam as suspeitas, bem como reservada a intervenção cirúrgica. Técnicas como
clínicos e cirúrgicos combinados em pacientes com ausência de dor e/ou sensibilidade ao nível da AC liberação artroscópica de partes moles, hemiartro-
mais de 55 anos e lesão completa não traumática do praticamente exclui as suspeitas53. plastia, artroplastia total convencional ou reversa e
supraespinhal. Os tratamentos foram terapia física A base do tratamento é o controle de dor. Modi- resurface são opções disponíveis.
isolada, acromioplastia com terapia física e combi- ficação de atividades causadoras, uso de AINES, pa-
nação de reparo da lesão com acromioplastia e te- racetamol ou corticoides e terapia física consistem NEUROPATIAS DO OMBRO
rapia física. Não houve diferença significativa entre no procedimento inicial. Infiltração com corticoide Dentre os diagnósticos diferenciais da queixa de
os grupos, sugerindo que o tratamento conservador fica restrita aos casos mais graves com alivio da dor dor no ombro encontramos em menor porcenta-
pode ser uma boa opção inicialmente36. Osti et al. por curto período de tempo54. Hossain em seu estu- gem as neuropatias da cintura escapular. Dentre as
em sua revisão sistemática afirma que injeção in- do relata alivio de dor em 25% com duração acima mais comuns observam-se a neuropatia do nervo
tra-articular com ácido hialurônico diminui dor e de 12 meses, com infiltração articular da AC com supraescapular, a Síndrome do Desfiladeiro Toráci-
melhora função sem efeitos adversos em pacientes corticosteroide55. Ressecção da extremidade lateral co (SDT), a Síndrome do Espaço Quadrangular e a
com lesão do manguito37. da clavícula se impõe como técnica cirúrgica para o síndrome de Parsonage-Turner.
218 DOR EM OMBRO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 219

A compressão do nervo supraescapular é uma das na região do desfiladeiro torácico. O desfiladeiro (US) terapêutico aparece em vários estudos, mas radiológicos na capsulite incluem espessamen-
causa incomum de dor no ombro. A compressão torácico compreende o espaço no qual o plexo bra- com resultados diversos. Em sua metanálise, Gam to ligamento coracoumeral, recesso inferior e do
normalmente acomete o nervo em sua passagem quial juntamente com os vasos subclávios transitam não encontrou efetividade no método, porém lite- intervalo rotador em adição com obliteração gor-
pelo nó espinoglenoidal, levando à perda de força até penetrarem no membro superior. Ela pode ser ratura disponível foi considerada de baixa qualida- dura subcoracoide101. Pode ser classificada como
do músculo infraespinhal ou pelo nó supraescapu- subdividida em neurológica, arterial e venosa de de92. Em outro estudo com uso de US foi constatada primária ou idiopática e secundária, quando asso-
lar, acometendo tanto o músculo supraespinhal acordo com a estrutura envolvida, sendo em 95% diminuição do nível basal de atividade elétrica dos ciada a fatores específicos como trauma, cirurgia,
quando o infraespinhal65. As causas da neuropatia dos casos o acometimento neurológico82. Apresenta PG e redução da sua sensibilidade93. Outros traba- medicamento, etc102. Diabetes melitus é o princi-
do nervo supraescapular envolvem as de origem etiologia variada, sendo mais comum em mulhe- lhos têm apresentado o uso do laser de baixa potên- pal fator predisponente para CA, sendo respon-
traumática como as fraturas da cintura escapular66, res na terceira e quarta décadas de vida. Sintomas cia como uma opção na abordagem da dor miofas- sável por 30% dos casos103. Outra classificação se
67
, lesões iatrogênicas durante procedimentos ci- relacionados à compressão neurológica perfazem cial, reduzindo níveis de dor significativamente94. baseia na fisiopatologia sendo dividida em 4 fases,
rúrgicos, trabalhos e esportes com sobrecarga de mais de 90% das queixas83. O tratamento clínico re- Lin encontrou redução de dor e disfunção cervical sendo elas, a de pré-congelamento, congelamen-
rotação externa do ombro, cistos gangliônicos para- presenta a abordagem inicial nos casos neurológi- com uso de patch lidocaína 5% quando comparado to, congelado e o descongelamento104.
labrais, tumores, processos reumatológicos68, 69,70 e cos, enquanto o acometimento vascular apresenta ao placebo para síndrome de dor miofascial do tra- Ao se instituir o tratamento conservador várias
lesão por tração exercida na medialização dos mús- evolução comumente cirúrgica. No tratamento con- pézio superior136. opções estão disponíveis. Uso de AINES e fisiotera-
culos na lesão do manguito rotador71. Inicialmente servador são empregadas medidas físicas, correção Várias classes de droga são usadas para o controle pia perfazem a primeira linha do tratamento. In-
o tratamento instituído é o não cirúrgico com me- postural e alongamentos84. Medidas farmacológicas da dor na SDM. Drogas como tizanidina, benzodia- jeção de corticoides intra-articular mostrou mais
didas de analgesia (uso de AINES)72, terapia física, envolvem uso de AINES e/ou opioides, anticonvul- zepínicos e tropisetrona parecem demonstrar algu- efetividade que fisioterapia isolada105. O uso do áci-
restrição de atividades com potencial de dano ao sivantes, antidepressivos (para controle da dor neu- ma evidência clínica. Diclofenaco e lidocaína tópica do hialurônico intra-articular apresentou resultado
nervo, aspiração percutânea de lesões císticas guia- ropática) e relaxantes musculares85. Terapia local em patches também podem ter eficácia limitada. não inferior aos corticoides106. Distensão hidráuli-
das por ultrassom. Pacientes com persistência de com injeções de corticoides, anestésicos e toxina Tiocolchicosideo se apresenta como promissor e AI- ca intra-articular apresenta bons resultados para
sintomas, atrofia muscular, massas compressivas e botulínica A nos casos com envolvimento muscular NES aliviam dor, com grande potencial de complica- alívio da dor em curto prazo, mas não sustentado
neuropatia por lesões do manguito apresentam me- dos escalenos, apresenta nível variado de sucesso86. ções em uso por longos períodos95. Anticonvulsivan- além de 3 meses, e resultado pobre em diabéticos107.
lhora significativa com descompressão cirúrgica do Em revisão sistemática, o emprego de toxina botu- tes, pregabalina e gabapentina, apresentam eficácia Pacientes incomodados com a rigidez, capsulite
nervo, tanto por via aberta quanto artroscópica73. línica não mostrou resultados significantes87. O tra- na síndrome fibromiálgica, mas não há evidência idiopática em fase de congelamento, diminuição
A compressão do nervo axilar, síndrome do es- tamento cirúrgico se aplica aos casos com falência que sustente seu uso na SDM96. Antidepressivos tri- da rotação externa em mais de 50%, duração míni-
paço quadrangular, é definida como sensibilidade da terapia clínica, quadros com causas removíveis cíclicos também têm boa indicação na fibromialgia, ma de sintomas de três meses e falha na infiltração
na face posterior do ombro com dor irradiada para (tumores, compressão por costela cervical, etc) e ca- dor neuropática e dor crônica, mas não há evidên- articular de corticoide são critérios para manipula-
o braço e parestesia em território do nervo axilar sos com envolvimento vascular arterial ou venoso. cia de efetividade demostrada na SDM97. Duloxetina ção sob anestesia108. Asheghan avaliou eficácia da
com fraqueza e atrofia dos músculos deltóide e re- tem apresentado boa eficácia no tratamento de de- acupuntura na capsulite, encontrando melhora de
dondo menor, secundária a compressão do nervo SÍNDROME DE DOR MIOFASCIAL (SDM) sordens dolorosas musculoesqueléticas98. dor e ADM, após três meses tratamento comparado
axilar ao transitar pelo espaço quadrangular74. É A SDM é definida como dor que se origina de Em revisão sistemática, comparando uso de ao grupo controle132. Lo comparou eletroacupuntu-
uma entidade rara e foi descrita por Cahill e Palmer pontos gatilho (PG) no músculo esquelético. Os PG agulhamento seco versus infiltração medicamen- ra com grupo controle em 18 sessões num período
em 1983, sendo seu tratamento eminentemente ci- são áreas hipersensíveis sobre uma banda muscular tosa, não houve ganho adicional com o uso dessa, de 6-9 semas e observou melhora de dor, ADM e es-
rúrgico75. Sua causa principal é formação de ban- tensa88. Os PG podem ser ativos ou latentes e contri- sendo o agulhamento menos desconfortável99. Em cores em ombros com ombro congelado133. Manejo
das fibrosas dentro do espaço quadrangular76. buem para dor no ombro. Pacientes com ombralgia revisão da Cochrane foi constatado efetividade da cirúrgico com liberação artroscópica de aderências
A Síndrome de Parsonage-Turner ou neurite bra- crônica têm prevalência aumentada de PG quando injeção da toxina botulínica para PG com diminui- e capsulotomia fica restrito aos fracassos do trata-
quial é uma entidade de dor aguda e inflamatória comparado a pessoas saudáveis. PG ativos são co- ção de escores de dor100. mento conservador.
que envolve normalmente os nervos torácico longo muns nos músculos infraespinhal e trapézio supe- Giannotti et al cita em seu artigo o conceito de
e/ou supraescapular77, 78. Tem sua etiologia desco- rior, enquanto PG latentes são encontrados mais CAPSULITE ADESIVA formas incompletas de algodistrofia, síndrome de
nhecida, acometendo mais o sexo masculino entre frequentemente no redondo menor e deltoide89. Capsulite adesiva (CA), ou ombro congelado, dor complexa regional (SDCR), estando nesse gru-
a terceira e sétima década de vida79. O tratamento da No tratamento clínico da SDM utilizamos proto- é uma entidade caracterizada por dor progressi- po doenças como ombro congelado e joelho dolo-
neurite braquial é clínico. Tsairis et al. descrevem colos não farmacológicos e farmacológicos. Dentre va e limitação de movimento da articulação gle- roso após artroplastia134. Considerando a capsulite
em seu artigo uso de corticoide oral e fisioterapia, os métodos não farmacológicos a técnica de agu- noumeral. Afeta usualmente mulheres de meia com aspectos similares à SDRC, terapias com an-
mas sem evidência de alteração curso da doença80. lhamento seco tem sido usada tradicionalmente idade, com indícios de associação com fatores tidepressivos, gabapentinóides, bloqueios simpá-
O prognóstico é bom para maioria dos casos, com para inativação de PG ativos com grande alivio de endócrinos, reumatológicos e autoimunes. Seu ticos, bifosfonatos, neuro-estimulação, vitamina
recuperação de mais de 90% ao final de três anos81. sintomas90. Outra possibilidade é a técnica de te- manejo tende a ser conservador, com resolução C, cetamina e imunomodulação apresentam-se
A SDT tem sua etiologia atrelada à compressão rapia manual para inativação de PG, também com espontânea em muitos casos, enquanto outros como alternativa para os casos refratários ao tra-
ou irritação das estruturas neurovasculares localiza- resultados consistentes91. A utilização do ultrassom evoluem para incapacidade permanente. Achados tamento padrão inicial135.
220 DOR EM OMBRO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 221

OUTRAS PATOLOGIAS técnica o desbridamento da lesão, tenotomia com MESOTERAPIA manas utilizando tratamento de mesoterapia com
O ombro também é acometido por outras enti- ou sem tenodese e a fixação in situ da lesão110. O uso de AINEs sistêmicos é de grande valia no EDTA de sódio128.
dades com capacidade de manifestação dolorosa. A tendinopatia do bíceps braquial em sua por- tratamento dos processos inflamatórios agudos,
Dentre as mais comuns temos as lesões labrais, as ção proximal é uma entidade muito comum que mas apresentam frequentes efeitos colaterais que RADIOFREQUÊNCIA
tenossinovite do tendão do cabo longo do bíceps normalmente se apresenta com dor, fraqueza e limitam a sua utilização a curtos períodos124. Infil- Como o efeito do bloqueio anestésico do ner-
(TCLB) e as instabilidades109. sensibilidade região anterior do ombro. Na maio- trações com corticoide são extremamente comuns vo supraescapular apresenta baixa longevidade122,
As lesões labrais tipo SLAP (superior labrum an- ria dos casos está associada a outras patologias no nosso meio, mas tem ampla literatura de efei- tem-se a opção da neuromodulação por radiofre-
terior to posterior tear) fazem parte dos diagnósticos do ombro e provém de processos generativos. Sua tos adversos descritos125. Tendo base esse contexto quência. Com uso da radiofrequência convencio-
diferenciais de dor crônica do ombro. É comum etiologia nem sempre é certa111. Os sintomas es- a mesoterapia consiste da injeção de uma mescla nal ou refrigerada obtêm-se uma analgesia por até
sua associação com outras doenças do ombro. Seu tão associados às lesões, aos processos inflama- variada de medicamentos, na camada intradérmica 18 meses. Além do mais, radiofrequência pulsada
diagnóstico se baseia na história clínica e exame tórios e às instabilidades112. Como regra geral, a da pele, extremamente próxima à afecção126. Na li- mostrou redução de dor, melhora de função e de-
físico rigoroso, associado a imagens complementa- abordagem inicial é clínica. Nas tenossinovites teratura há vários trabalhos contemplando melho- créscimo no uso de analgésicos, com rápido efeito
res como artroressonância magnética. A presença opta-se pelo uso dos AINES, modificação de ati- ra de sintomas musculoesquelético127. Cacchio et e boa durabilidade123.
de lesões assintomáticas é muito comum. vidades predisponentes, termoterapia e reabili- al relatam resolução de tendinite calcária em 4 se-
Na abordagem do tratamento, fatores intrínse- tação física113. Injeções de corticoides dentro da
cos ao paciente devem ser valorizados. O tratamen- bainha biciptal apresentam bom resultados, mas
to inicial deve ser o não cirúrgico. Na fase aguda com limitação de seu uso pela capacidade de le-
traumática uso de crioterapia e AINES deve ser são tendinosa114. Quando associado a patologias

Conclusões
instituído para controle de dor. Na fase seguinte e do manguito rotador, infiltração subacromial traz
nos casos crônicos, a reabilitação fisioterápica com bom alívio de sintomas. Na avaliação das falhas do
equilíbrio escápulo-torácica para estabilização arti- tratamento clínico das tendinopatias, das lesões e
cular acrescido de alongamento e fortalecimento é das instabilidades do TCLB, é avaliado o tratamen- O prognóstico nos casos de dor crônica envol- associados a um desfecho mais pobre e lento130.
imperativa. A abordagem cirúrgica fica resguarda- to cirúrgico, com as técnicas de desbridamento da vendo a articulação do ombro depende da doença Rotineiramente a velocidade de recuperação dos
da aos casos de fracasso do tratamento clínico com lesão ou tenotomia/tenodese. A mais utilizada é a subjacente, mas aparentemente responde bem ao sintomas crônicos envolvendo o ombro são lentos.
dor residual e impotência funcional do membro32. tenotomia com ou sem tenodese. Não há consen- tratamento conservador129. O tratamento não ci- Estudos prospectivos demonstram que pacientes
O tratamento cirúrgico dependerá do tipo de lesão so definido sobre as modalidades. Normalmente o rúrgico apresenta limitada literatura disponível, com dor crônica no ombro apresentam recupera-
diagnosticada, sendo realizado principalmente por desbridamento é utilizado nas lesões que acome- mas sintomas de início gradual, tempo prolon- ção em um mês em 23% dos casos e 18 meses em
via artroscópica. Na abordagem utiliza-se como tem até 25 ou 50% do TCLB115. gado, dor mais intensa no curso da doença estão 59%131.

Opções de tratamentos intervencionistas Referências bibliográficas


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Dor em cotovelo
Benno Ejnisman
Guilherme Augusto Stirma
João Artur Bonadiman
Osvandré Lech

Cotovelo rígido pós-traumático


INTRODUÇÃO sa à rigidez pela congruência articular e sinovial,
A rigidez de cotovelo pós-traumática é uma envelope ligamentar e muscular envolvidos, alta
das complicações do cotovelo que pode acarretar sensibilidade tecidual ao trauma, especialmente na
em uma elevada morbidade e, apesar dos avanços cápsula articular, reabilitação deficiente e imobili-
nos manejos das patologias do cotovelo, a perda de zação prolongada desnecessária3. Embora a ampli-
amplitude de movimento ainda persiste como uma tude de movimento funcional seja 30º-130º, outras
complicação frequente. atividades, principalmente as esportivas, requerem
A rigidez de cotovelo é mais prevalente na faixa um maior arco de movimento. Acredita-se que a
etária jovem pelas associações com traumas de alta redução de 50% da amplitude de movimento pode
energia. Originalmente a sua definição é pela perda impactar em até 80% de sua função4.
de amplitude de movimento com flexão < 120º, ex-
tensão > 30º e prono-supinação < 45º1,2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Uma variedade de situações clínicas e traumá- A etiologia pós-traumática pode ser pela con-
ticas pode ocasionar a perda do movimento do tratura intrínseca, extrínseca ou mista associada a
cotovelo. A articulação é particularmente propen- múltiplos fatores. A contratura intrínseca envolve
228 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 229

aderências intra-articulares como perda de cartila- dez intrínseca relacionada a processos articulares. EXAMES COMPLEMENTARES está utilizando a imobilização. Em contrapartida,
gem devido a alterações avasculares, artrose, dis- A contratura intrínseca frequentemente apresenta Nos casos de rigidez pós-traumática do cotove- na imobilização estática a angulação fixa impende
torção articular, redução inadequada ou falha na um componente extrínseco associado e, portanto, é lo, as radiografias simples em projeções anterior da mobilização da articulação e a troca seriada com
redução após correção cirúrgica. Causas extrínse- considerada contratura mista12. / posterior e lateral serão suficientes. A avaliação variações na amplitude são necessárias20.
cas incluem contração de tecidos moles e ossifica- Kay descreveu baseado nos mecanismos especí- pode ser mais completa e detalhada com o exame Lindenhovius e cols constataram que os dois ti-
ção heterotópica5. ficos envolvidos. No tipo I, haveria apenas contra- de tomografia computadorizada (TC) e ainda com pos de órteses eram igualmente eficazes. Aos 3 me-
Após o trauma, o sangramento e a liberação de turas isoladas de tecidos moles. No tipo II, haveria tomografias tridimensionais, particularmente ses, o ganho no arco de flexão foi de 29° no grupo
agentes inflamatórios envolvidos na cascata de ci- contratura dos tecidos moles associada à ossifica- quando o osso heterotópico, osteófitos e corpos li- uso de órtese dinâmica e 28° no grupo estático; aos
catrização e reparo induzirão à ativação de várias ção heterotópica. No tipo III, haveria contratura vres estiverem presentes. A ressonância magnética 6 meses, 40° no grupo dinâmico e de 39° no grupo
vias. Por razões desconhecidas, a resposta pode re- dos tecidos moles associada a fratura consolidada (RM) define os tecidos moles ao redor do cotove- estático; e aos 12 meses, 47° no grupo dinâmico e de
sultar na formação excessiva de tecido cicatricial, da articulação, sem luxação. No tipo IV, a contra- lo, contudo não é considerada muito útil, pois não 49° no grupo estático21. Veltman e cols compararam
contratura da cápsula articular ou formação de tura dos tecidos moles estaria associada à consoli- define a ossificação heterotópica e a anatomia da a órtese estática com a dinâmica para o tratamento
osso de maneira heterotópica6. dação viciosa da fratura articular. No tipo V, barras articulação15. A eletroneuromiografia é necessária conservador em uma revisão sistemática envolven-
A contratura dos tecidos moles diz-se respeito ósseas pós-traumáticas13. quando existe suspeita clínica de neuropatia do do 232 casos. Tanto a imobilização dinâmica quanto
principalmente à cápsula e aos ligamentos. Mo- nervo ulnar16. a estática progressiva demonstraram bons resulta-
delos animais demonstraram números elevados AVALIAÇÃO CLÍNICA dos, independentemente de sua etiologia. A órtese
de miofibroblastos que apresentam propriedades Os pacientes geralmente apresentam perda de TRATAMENTOS progressiva estática foi usada em 160 pacientes e
contráteis e aumento da proliferação de matriz amplitude de movimento após uma lesão, cirurgia A escolha do tratamento cirúrgico x conserva- melhorou a média de 72° em amplitude de movi-
extracelular na contratura induzida experimen- ou trauma. Na obtenção de uma história clínica, dor é guiada pelo tempo de apresentação, sintomas mento para 108° pós-imobilização. A imobilização
talmente de cápsulas de joelho e cotovelo5. Hil- é importante determinar os eventos no momento clínicos, expectativas, nível funcional, atividades dinâmica foi avaliada em 72 casos e melhorou em
debrand e cols. mostraram variação regional na da lesão, bem como qualquer manejo realizado, do paciente e causas da contratura (intrínseca, ex- média de 63° para 100° pós-imobilização. Concluí-
expressão de miofibroblastos com um aumento incluindo tratamento operatório ou conservador e trínseca ou combinada). Na ausência de impactos ram que a escolha da imobilização deveria ser ba-
maior na cápsula anterior em comparação com a qualquer período de imobilização. mecânicos articulares pela consolidação viciosa, seada na preferência de cirurgiões e pacientes22.
cápsula posterior do cotovelo. Assim, pode se ex- A flexão e extensão, bem como pronação e su- pseudoartrose, calcificação heterotópica, o trata-
plicar o porquê a extensão ao invés da perda de pinação devem ser examinados. O arco funcional mento conservador pode ser considerado. Dentro Manipulação sob anestesia
flexão ser mais frequentemente observada na prá- necessário para realizar as atividades diárias mais de 6 meses existe a preferência para o tratamen- O exame e a manipulação sob anestesia podem
tica clínica7,8. básicas é definido como flexão de 30 ° a 130 ° e um to conservador associado à manipulação seriada ser usados ​​em contraturas de cotovelo que se apre-
A ossificação heterotópica é a formação inade- arco de rotação do antebraço de 50 ° de pronação a sob anestesia. Em casos de longa data, o sucesso sentam em um estágio inicial. As manipulações
quada de osso lamelar em tecidos moles. O osso 50 ° de supinação. do tratamento conservador é frequentemente desa- devem ser utilizadas quando houver consolidação
heterotópico é formado quando células mesenqui- A presença de dor deve ser questionada e in- pontador e muitas vezes não é recomendado 17. A óssea pós-fratura, com extremo cuidado para evitar
mais pluripotentes se diferenciam em osteoblas- vestigada, pois rigidez pós-traumática do cotovelo recuperação do movimento articular é fundamen- fraturas iatrogênicas. A flexão do cotovelo é mais
tos e produzem osteoide que se mineralizam para geralmente é indolor. A dor no movimento é su- tal para o retorno à função, o controle dos custos de fácil obtenção em comparação com a extensão23.
originar osso. Todo o processo requer células pre- gestiva de um componente intrínseco à rigidez ou reabilitação e para evitar a necessidade de cirurgia Araghi e cols. relataram o resultado em 51 pacien-
cursoras osteogênicas, um agente indutivo (fator à presença de alterações degenerativas articulares adicional4. tes que tiveram mobilização sob anestesia realiza-
de crescimento) e um meio condutor para a osteo- e / ou disfunção do nervo ulnar. Dor presente nos Na fase inicial da rigidez de cotovelo pós-trau- da em uma média de 40 dias após uma liberação
gênese. Histologicamente esse osso heterotópico extremos do movimento pode ser devido ao pelo mática e pós-operatória a imobilização estática ou aberta anterior e acharam o procedimento de gran-
é idêntico ao osso nativo, mas é mais metabolica- impacto. A possibilidade de infecção associada dinâmica provaram ser métodos úteis18, 19. O trata- de valia24.
mente ativo e não tem periósteo9, 10,11. deve ser considerada e investigada, especialmente mento inclui fisioterapia, exercícios de amplitude
em cirurgias prévias. Quanto à avaliação neurológi- de movimento e mobilizações passivas. Abordagem cirúrgica
CLASSIFICAÇÃO ca, o nervo ulnar deve ser investigado14. Os nervos Caso o tratamento conservador falhar, o trata-
Dois principais sistemas de classificação são radial e mediano são menos acometidos, mas tam- Órteses mento cirúrgico pode ser considerado. A interven-
usados para descrever a rigidez do cotovelo. Mor- bém podem ser afetados pela formação cicatricial As órteses e talas de cotovelo são usadas para ção cirúrgica é altamente individualizada, e as ne-
rey e cols classificaram a rigidez articular em gru- após o trauma inicial e se sintomático também ne- melhorar o movimento e podem ser divididos em cessidades do paciente e a capacidade do cirurgião
pos principais com base na etiologia e localização cessitarão de liberação cirúrgica. dinâmicos ou estáticos. As talas dinâmicas têm de realizar essas expectativas devem ser conside-
anatômica (extrínseca, intrínseca ou mista). A Os complexos ligamentares colaterais e a cáp- uma mola ajustável que exerce um alongamento radas e estudadas, com uma avaliação mútua dos
rigidez extrínseca foi limitada a tecidos moles ou sula articular precisam ser examinados para deter- constante. Esse alongamento é configurado para riscos e benefícios da intervenção4. O tratamento
processos extra-articulares, cápsula articular ou li- minar sua competência e garantir a estabilidade do um nível de amplitude que não produza dor, assim cirúrgico para cotovelos rígidos pode ser realizado
gamentos colaterais, ossificação heterotópica. Rigi- cotovelo. o paciente é capaz de mover o cotovelo enquanto pelo procedimento aberto, técnica videoartroscó-
230 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 231

pica, artroplastias ou pelo uso de fixadores exter- zem o arsenal terapeutico invasivo na abordagem formado entre os músculos braquial, braquiorra- “tendinose” em substituição a “tendinite” ou “epi-
nos. A cirurgia aberta é preferível nos casos em que cruenta da falha do tratamento conservador da ri- dial e extensor radial longo do carpo, sobre o capi- condilite”. Essa terminologia é descritiva e reflete
existe um alto grau de retração de partes moles, gidez pós-trauma do cotovelo. tulo e a cabeça do rádio. Nesse nível, o nervo radial vascularização precária (infarto tecidual), seguida
pois a cirurgia artroscópica é tecnicamente difícil divide-se no ramo sensitivo superficial e no ramo de tecido em tendão de reparação imaturo (pre-
em casos que há indicação de ressecção de ossifica- REABILITAÇÃO motor profundo. O ramo motor profundo passa sob ponderância de fibroblastos), em degeneração por
ção heterotópica, reconstrução articular ou artro- Apesar do programa de reabilitação para cada uma banda fibrosa na borda proximal do músculo sobreuso. Em 1992, Nirschl sugeriu três categorias
plastia de interposição1. um dos procedimentos cirúrgicos tenham suas supinador, denominada arcada de Frohse, e pene- de alterações patológicas e sua correlação com o
A literatura ortopédica atual registra resultados características, o manejo pós-operatório deve ter tra entre as duas cabeças do supinador, em direção quadro clínico, conforme mostra a tabela1:
funcionais semelhantes em grupos submetidos à como objetivo reestabelecer o arco de movimento ao dorso do antebraço, no qual passa a se chamar Cohen, Uhthoff e Sarkar observaram ausência
liberação articular aberta e artroscópica, mas não funcional, recuperar a força muscular e reincorpo- de nervo interósseo posterior. Nesse local pode ser de processo inflamatório e alteração mesenquimal
há estudos comparativos entre as técnicas, prova- rar o membro em atividades funcionais26. comprimido e ocasionar dor, que se irradia até a acometendo o tendão na sua origem. Encontraram,
velmente pela dificuldade em identificar grupos A maioria dos cirurgiões inicia a mobilização região do epicôndilo, gerando muitas vezes o equi- ainda, alguma calcificação e formação óssea reati-
homogêneos que possibilitariam a realização desse dentro de 48 horas. O movimento passivo contínuo vocado diagnóstico de epicondilite. Não raro, pode va, o que seria uma tentativa de reparação da le-
tipo de técnica25. Nas contraturas, onde há um com- (MPC) pode melhorar o arco do cotovelo no pós- ocorrer associação entre as duas patologias10,12,13. são. Também demonstraram que há muitas termi-
ponente intrínseco com envolvimento articular, é -operatório. No entanto, o MPC não deve ser usado nações nervosas livres na origem do tendão e que
necessária na maior parte dos casos a artroplastia se a reconstrução ligamentar for realizada. Gates e Fisiopatologia estas poderiam sofrer com a lesão. A respeito da
na forma de artroplastia de interposição ou substi- cols; demonstraram valores de flexão superiores ao Vários estudos confirmam a teoria descrita por vascularização, acreditam que o aporte sanguíneo
tuição total ou parcial do cotovelo. grupo controle em liberações pós rigidez de coto- Nirschl e Pettrone em 1979 e caracteriza a condição para a origem do tendão é limitado e que diminui-
Vários protocolos envolvendo uso de fixador velo com o uso de MPC27. Além disso, órteses dinâ- patológica envolvendo a origem do extensor radial ria com a idade e com o sobreuso1,6. Masquelet e
externo, liberação de contraturas por via aberta micas ou estáticas podem ser usados ​​para auxiliar a curto do carpo e, em menor grau, a porção ântero- Schneeberger, por meio de estudo macroscópico da
ou artroscópica, artroplastia total ou parcial perfa- recuperação do movimento do cotovelo. -medial do extensor comum dos dedos2,3,14. A lesão vascularização mostraram que apesar de haver rica
ocorre pela aplicação de tração contínua por repe- vascularização na superfície externa, nenhuma foi
tição, resultando em microrrupturas da origem do encontrada na superfície interna do tendão, suge-
extensor radial curto do carpo seguidas de fibrose rindo possível zona hipovascular tecidual6.
e formação de tecido de granulação. Macroscopi- Nirschl definiu a histopatologia com detalhes
camente, o tecido apresenta-se com aspecto friá- precisos, utilizando microscopia eletrônica e aná-

Epicondilites
vel, brilhante e edematoso. A análise microscópica lise imunohistoquímica3. A origem do tendão
mostra interrupção do tendão normal com invasão extensor radial curto do carpo de nove pacientes
local de fibroblastos e tecido vascular anormal em submetidos à ressecção cirúrgica foi analisada e
INTRODUÇÃO Anatomia aplicada desenvolvimento, dando origem ao termo “hiper- comparada com tecido da mesma região anatômi-
A epicondilite é a causa mais comum de dor no O epicôndilo lateral é a parte óssea mais proe- plasia angiofibroblástica”. A anormalidade no ten- ca de cadáveres. Todos os tecidos ressecados cirur-
cotovelo. De acordo com Cohen, Nirschl e Baker, minente no aspecto lateral do cotovelo, sendo sí- dão é, portanto, degenerativa e não inflamatória. gicamente demonstraram alterações, o que não
a doença foi descrita pela primeira vez por Runge, tio de origem de vários músculos e do ligamento Por isso, esses autores recomendaram o termo foi observado nos espécimes de cadáveres. Esses
na literatura germânica, em 1873. Em 1882, segun- colateral lateral. A origem do extensor radial curto
do Jobe, Ciccoti e Burgess, uma condição dolorosa do carpo localiza-se no aspecto anterior do epicôn- Tabela 1: Epicondilite lateral do cotovelo - Categorias de alterações patológicas e correlação com o quadro clínico
observada em aparadores de grama foi relatada por dilo lateral, profundamente à origem do extensor
Morris, que a denominou de lawn tennis. Vários au- comum dos dedos e inferior à origem do extensor
CATEGORIA PATOLOGIA QUADRO CLÍNICO
tores atribuem a Major a associação, em 1883, entre radial longo do carpo. As origens do ligamento co-
epicondilite lateral e o jogo de tênis de grama, con- lateral lateral, do extensor radial curto do carpo, Quadro agudo inflamatório, reversível, sem
I Dor leve, especialmente após atividade
dição denominada e conhecida desde então como do extensor comum dos dedos e do supinador são invasão angiofibroblástica
tennis elbow (cotovelo de tenista)1,2,3,4,5,6. confluentes. O extensor comum dos dedos origina- Existe invasão angiofibroblástica parcial. A lesão Frequentemente existe dor intensa com a ativi-
-se numa ampla aponeurose no epicôndilo lateral é definitiva, mas uma resposta cicatricial pode dade e também em repouso. As atividades da
CLASSIFICAÇÃO e é contíguo com a extensão aponeurótica para a II
ocorrer, dependendo da maturação do processo vida diária podem ser realizadas sem dor após
As epicondilites podem ser classificadas de origem oblíqua do supinador. A origem do extensor biológico e da extensão do envolvimento repouso
acordo com sua localização anatômica em lateral radial longo do carpo e a do braquiorradial esten-
Déficit funcional significante que inclui dor em
e medial. de-se cefalicamente ao epicôndilo. Invasão angiofibroplástica extensa com ruptura
III repouso e à noite, tornando as atividades diárias
No aspecto neurológico é importante lembrar tendinosa parcial ou total
difíceis ou impossíveis
Epicondilite lateral que o nervo radial cruza o antebraço por um sulco
232 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 233

estudos definiram claramente áreas de ruptura do mo impedir a realização de atividades diárias co- Figura 1: Testes clínicos para epicondilite lateral: A) Teste Figura 2: Ultrassonografia do cotovelo. Na seta, observe
colágeno, presença de miofibroblastos e elementos muns, tais como abrir uma porta, escovar os den- de Cozen; B) Teste de Mill; C)Teste da cadeira; D) Teste da o tecido hipoecogênico e a microrruptura na origem do
vasculares anormais, sugerindo inadequado supri- tes, escrever ou fazer a barba9,10,13. “xícara de café” E) Teste de Maudsley tendão do extensor radial curto do carpo. ( Cortesia do
mento sanguíneo para a região. Esse estudo reforça Ao exame físico, a palpação se inicia pela iden- colega Dr. Túlio Ravelli, Maringá, PR )
as primeiras observações desses autores, sugerindo tificação dos epicôndilos lateral, medial e olécrano.
que a degeneração tecidual e a falha no processo de Na face lateral, palpa-se a origem da musculatura
reparação - e não um processo inflamatório - é res- extensora do punho e dedos, o complexo ligamen-
ponsável pela patologia. Em 2000, Nirschl definiu tar lateral e a cabeça do rádio. Dor localizada no
essa entidade como sendo “o infarto do cotovelo”, epicôndilo lateral e na origem da musculatura ex-
afirmando que a base fisiopatológica da hipovascu- tensora do punho é sugestiva de epicondilite lateral
larização tecidual é semelhante no miocárdio e no ou síndrome do túnel radial.
extensor radial curto do carpo5. Os testes clínicos para epicondilite lateral têm
o objetivo de reproduzir a dor experimentada
Epidemiologia pelo paciente. O Teste de Cozen é realizado com
Existem dois grupos distintos de pacientes com o cotovelo em 90˚ de flexão e com o antebraço
a afecção. Um grupo formado por pacientes jo- em pronação. Pede-se ao paciente que realize a
vens, atletas que praticam intensamente atividades extensão ativa do punho contra a resistência que
como tênis, squash, paddle e golfe, no qual o so- será imposta pelo examinador. O teste será posi-
breuso é o fator preponderante. Esse grupo corres- tivo se o paciente referir dor no epicôndilo late- gias e também pode influenciar na técnica cirúrgica
ponde a cerca de 5% dos pacientes. Destes, entre 10 ral, origem da musculatura extensora do punho a ser empregada para o tratamento desta tendinose.
e 50% apresentarão, em algum momento, o quadro e dedos (Figura 1A). O Teste de Mill é realizado No entanto, segundo estudo de Savnik e cols21. A
de epicondilite. O outro grupo corresponde a 95% com o paciente com a mão fechada, o punho em RNM não é útil como ferramenta de controle para
dos pacientes e é representado por pessoas entre dorsiflexão e o cotovelo em extensão. O examina- Exames complementares acompanhar a evolução do tratamento, pois as al-
35 e 55 anos, que coincide com o período de dege- dor então força o punho em flexão, e o paciente A avaliação radiográfica em ântero-posterior terações encontradas na origem dos extensores
neração músculoesquelética, nas quais o início dos é orientado a resistir ao movimento. O resultado (AP), em perfil e oblíqua, é, na maioria das ve- permanecem mesmo após o desaparecimento dos
sintomas é insidioso. Geralmente são trabalhado- será positivo, se houver dor no epicôndilo lateral. zes, normal, mas é útil para a exclusão de outras sintomas. Figura 3.
res que exercem atividades de repetição ou esfor- (Figura 1B). Testes alternativos são importantes anormalidades, tais como artrose, osteocondrite A eletroneuromiografia (EMG) dinâmica avalia
ços intensos isolados. Ocorre igualmente entre os para um diagnóstico correto. Gardner descreveu o dissecante e corpos livres intra-articulares. Pome- a possibilidade de compressão do nervo interósseo
sexos, sendo mais frequente em brancos6. “Teste da Cadeira”, no qual o paciente é instruído rance revisou 294 radiografias de pacientes com posterior, que dá sintomatologia na região do terço
Lee e cols mostraram que há uma correlação a erguer uma cadeira com uma mão e o antebraço diagnóstico de epicondilite lateral para determi- proximal do antebraço e pode, ainda, ocorrer em
entre pacientes com epicondilite lateral e índices em pronação e o punho em flexão palmar (Figura nar se os achados influenciariam no tratamento. associação com a epicondilite lateral. Sabe-se, no
elevados de colesterol (considerando maior que 240 1C). A presença de forte dor no epicôndilo lateral Alterações foram encontradas em 17%, sendo a entanto, que EMG normal não exclui o diagnósti-
mg/dL) em comparação com pacientes saudáveis8. indicaria epicondilite. Coonrad afirma que dor no calcificação o achado mais frequente em 7%. No co de compressão do nervo interósseo posterior11.
.Descatha em 2016, publicou em sua metanálise epicôndilo lateral ao levantar uma xícara de café entanto, em apenas dois casos os achados radio- Muitos cirurgiões preferem abordar ambos os lo-
com 6922 casos, a forte associação entre epicondi- cheia seria patognomônico de epicondilite lateral lógicos alteraram o tratamento inicial. O autor cais anatômicos – o epicôndilo lateral e a arcada
lite lateral e a exposição ao trabalho em pacientes (Figura 1D). Kay faz menção à dor que pode ser concluiu que as radiografias são dispensáveis na de Frohse - e tratar simultaneamente ambas as pa-
que utilizam o punho e cotovelo9. despertada pela extensão do dedo médio contra primeira consulta, quando o tratamento inicial tologias.
resistência (“Teste de Maudsley”) (Figura 1E). Em for conservador.
Semiologia recente estudo anatômico em cadáveres, Fairbank A ultrassonografia do cotovelo é um exame au- Diagnóstico diferencial
A anamnese detalhada é a base para o correto e Corelett demonstraram que o extensor comum xiliar simples e de grande eficácia para a avaliação Existem afecções que podem ocorrer de forma
diagnóstico da afecção. O paciente refere dor sobre dos dedos pode ser dividido em quatro partes dis- das partes moles, podendo demonstrar a presença independente ou associada à tendinose do cotove-
o epicôndilo lateral, que se irradia ao longo dos tintas junto à sua inserção. Uma parte, que corres- de fluido hipoecogênico subjacente ao tendão ex- lo, dentre elas:
músculos extensores, mas pode também se loca- ponde ao extensor do dedo médio, origina-se no tensor comum dos dedos, laceração e microrrup- • Síndrome do túnel radial – compressão do ramo
lizar posteriormente ao epicôndilo. No grupo de epicôndilo lateral e as outras, mais distalmente. turas do tendão e diminuição de ecogenicidade. motor do nervo radial, podendo apresentar sin-
atletas, a dor tem geralmente início repentino e de Os resultados sugerem que o extensor comum dos Figura 2. tomatologia similar à tendinose lateral do co-
rápida evolução. No outro grupo, inicia-se gradual- dedos, especificamente sua porção corresponden- A ressonância magnética pode ser utilizada nos tovelo. O diagnóstico é essencialmente clínico,
mente e se torna intensa e persistente. Agrava-se te ao dedo médio, está implicado na patologia da casos refratários ao tratamento incruento da epi- pois a eletroneuromiografia é frequentemente
por pequenos movimentos do cotovelo e pode mes- epicondilite lateral6. condilite, pois auxilia na exclusão de outras patolo- normal.
234 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 235

Figura.3: Ressonância Magnética do cotovelo, incidência Tratamento conservador Figura 4: Localização para infiltração de corticoide para a trou uma taxa mais alta de melhora em todos os pa-
antero-posterior, em T1. Na seta, observe o tecido O tratamento conservador inicial baseia-se no epicondilite lateral râmetros avaliados17 . Moya e cols. consideram a te-
hipoecogênico e a microrruptura na origem do tendão do alívio da dor e repouso, com restrição das ativida- rapia com ondas de choque extracorpórea segura e
extensor radial curto do carpo des repetitivas, seja no trabalho ou no esporte. Para efetiva para patologias musculoesqueléticas, como
o alívio da dor podem ser utilizados analgésicos. O as epicondilites, sendo indicadas quando ocorrer
uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) falha do tratamento convencional. As melhores
parece ser pouco benéfico, uma vez que não há evidências foram obtidas com níveis de energia de
processo inflamatório envolvido na afecção. Vários baixo a médio19.
tipos de imobilizações têm sido utilizados para di- Petrella avaliou 331 pacientes com epicondilite
minuir a força de tração na origem dos extensores. lateral e concluiu que o uso de ácido hialurônico
Walther et al, em estudo biomecânico, analisaram em duas aplicações (com o intervalo de uma se-
a eficiência de diferentes tipos de imobilizações mana) apresenta resultados satisfatórios com bom
quanto à amplitude de aceleração e aceleração in- retorno ao esporte e melhora da dor em relação ao
tegral. Aqueles colocados no antebraço e punho, de grupo controle18.
forma a impedir sua extensão, mostraram-se mais Edwards e Calandruccio propõem um novo mé-
eficientes6,10,15. todo de tratamento, baseado na infiltração de 2 ml
Smidt et al., em outro estudo, analisaram três de sangue autólogo na origem do extensor radial
grupos. Um grupo foi submetido a infiltrações com curto do carpo. Partem do princípio de que a ten-
corticoide, outro grupo foi tratado com fisioterapia dinose não é inflamação e sim uma degeneração
e o terceiro grupo não recebeu tratamento algum. por “infarto” do cotovelo. A injeção de sangue au-
Concluíram que, apesar dos bons resultados ini- doses é um método efetivo para o tratamento da tólogo poderá, então, trazer mediadores celulares
ciais com a infiltração de corticoide, estes não se epicondilite lateral crônica16. Rogoveanu e cols. para induzir a cascata de cicatrização. Foram sub-
mantêm em longo prazo, tendo maior probabili- compararam tratamento com ondas de choque (Fi- metidos a esse protocolo 27 pacientes refratários a
dade de recidiva. A fisioterapia mostrou resultados gura 5) versus uso de AINEs via oral e tópicos, as- diversas formas de tratamento conservador. O se-
pouco superiores aos do grupo não tratado, tendo sociados a ultrasom. Após 30 dias, ambos os grupos guimento médio foi de 10 meses e foram avaliados
quase o mesmo índice de melhora, porém, com obtiveram significativa melhora, porém o grupo segundo escala de dor (0-10) e critérios de Nirschl.
custo maior6. submetido com terapia por ondas de choque mos- Após essa técnica, 22 pacientes (79%) retornaram
A infiltração com corticoide pode ser indicada aos esforços intensos e permaneceram livres da
• Cervicobraquialgia – ocorre normalmente como nos casos em que, apesar do tratamento fisioterá- Figura 5: Terapia com ondas de choque extracorpórea sintomatologia6.
entidade isolada pico instituído, não houver melhora da dor, im- para epicondilite lateral do cotovelo. (Cortesia: Dra. Silvia
• Síndrome do túnel do carpo – presente em 10% possibilitando, desta forma que o paciente inicie Ramon, Barcelona, Espanha) Tratamento cirúrgico
dos casos de epicondilite os exercícios de reabilitação. A infiltração deve ser As indicações para o tratamento cirúrgico da
• Anormalidades intra-articulares e frouxidão li- realizada no extensor radial curto do carpo, em um epicondilite lateral incluem dor persistente e sem
gamentar – a utilização do membro superior na ponto anterior e discretamente distal ao epicôndilo resposta aos métodos conservadores após um pe-
prática esportiva pode desenvolver alterações lateral (Figura 4). Realizar duas ou mais infiltra- ríodo de seis a 12 meses. Outros parâmetros consi-
intra-articulares, tais como sinovite, corpos li- ções pode ser prejudicial devido aos efeitos adver- derados como indicativos de tratamento cirúrgico
vres e osteoartrite pós-traumática, ou ainda, le- sos relacionados às infiltrações peritendíneas com são: três ou mais infiltrações; calcificação lateral ao
são ligamentar7. corticoide: necrose, atrofia tecidual e consequente epicôndilo; calcificação na topografia da muscula-
• Quadros de mialgia e síndrome miofascial po- ruptura tendínea. Para evitar estas complicações, a tura extensora, que denuncia processo patológico
dem mimetizar os sintomas de epicondilite, infiltração não deve ser intratendinosa nem muito no local; alterações intra-articulares associadas,
mas a extensão da área de dor e desconforto superficial. tais como prega sinovial, condromalácia e corpos
costuma ser maior Pettrone e Mccall, em um estudo com 114 pa- livres; incapacidade de mudar seu nível de ativida-
cientes comparando ondas de choque extracorpó- de; doença como fator de limitação das atividades
Tratamentos reas e um grupo placebo, referiram uma melhora diárias.
O tratamento da epicondilite lateral permanece da dor em 61% dos 55 pacientes que utilizaram on- Altintas e cols. consideraram que a maioria dos
controverso, com uma variedade de modalidades das de choque (Figura 5) comparado com melhora casos de epicondilite lateral apresentam sucesso no
terapêuticas descritas, tanto conservadoras quanto de 29% dos 58 pacientes do grupo placebo. Concluí- tratamento conservador inicial. Para os casos refra-
cirúrgicas. ram que ondas de choque extracorpórea em baixas tários é indicada avaliação radiológica, e naqueles
236 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 237

que apresentem ruptura parcial ou completa da ori- com tenotomia percutânea e 65,5% dos pacientes ces de resultados satisfatórios variam entre 80% e Etiologia
gem dos extensores, então o tratamento cirúrgico com ondas de choque21. 90%. Dentre as causas de insucesso do tratamento As principais causas de epicondilite medial são
pode ser indicado20. A bibliografia apresenta uma Baker et al publicam os resultados de 42 casos operatório, estão: o erro diagnóstico, má técnica as atividades que exigem flexão do punho e prona-
enorme variedade de técnicas cirúrgicas e cada operados por técnica artroscópica. Os tendões ex- cirúrgica com manutenção de tecido angiofibro- ção do antebraço de forma repetitiva. Está associa-
qual é defendida pelo autor como sendo “a melhor”. tensores são desinseridos da sua origem e uma es- blástico e lesões ligamentares que geram instabi- da à prática do golfe, boliche, tênis, entre outros
Os procedimentos extra-articulares baseiam-se carificação é realizada no epicôndilo, com o uso de lidade e dor 3,5,10,21. esportes. Dentre as ocupações de natureza profis-
na liberação dos extensores, com ou sem escarifi- shaver. Com a técnica, 95% de resultados satisfató- sional, encontram-se os carpinteiros, bombeiros
cação do epicôndilo para estímulo da vasculariza- rios foram obtidos e o retorno ao trabalho ocorreu Epicondilite medial hidráulicos e açougueiros.
ção local; fasciotomias múltiplas; alongamento da em cerca de dois meses. Acreditam que o método O primeiro relato da literatura referindo-se a
origem dos extensores; excisão do tecido angiofi- proporciona menor agressão muscular e retor- epicondilite medial foi em 1882 por Henry Morris, Semiologia
broblástico, defendida por Nirschl, entre outras. no mais precoce às atividades2. A maior crítica ao mas foi somente na década de 1990 que a literatu- A queixa principal é a dor, de início insidioso,
Almquist et al, em 1998, apresentaram os resulta- método é que requer violação da articulação para ra estabeleceu parâmetros claros para a sua com- na região anterior ao epicôndilo medial, presente
dos da técnica de ampla ressecção da origem dos o tratamento de uma afecção extra-articular, com preensão e tratamento7,10,11. na palpação local e relacionada principalmente à
extensores com transferência do músculo ancôneo riscos de lesão neurológica e ligamentar. Ainda, re- atividade repetitiva e com o antebraço em prona-
para o epicôndilo. Segundo os autores, 94% dos pa- quer curva de aprendizado longa e o custo ainda é Anatomia aplicada ção. É mais frequente entre a terceira e quinta dé-
cientes estavam satisfeitos com o procedimento. elevado. A epicondilite medial envolve componentes cadas, em homens, tendo relação de 2:1 quanto ao
Recomendam a técnica para os casos de falha no Atualmente, a técnica aberta mais comumente músculo-tendinosos, neurais e ligamentares. A ori- gênero. Em 70% dos casos, inicia-se de forma insi-
tratamento conservador ou falha de cirurgias pré- utilizada e aceita como o método clássico de trata- gem dos ligamentos ocorre na margem ântero-in- diosa sem história de trauma7, 22.
vias de liberação dos extensores. mento é a descrita por Nirschl em 1979, com algu- ferior do epicôndilo, sendo que o nervo ulnar fica O exame físico revela dor ao longo da parte
Rayan, Coray et al publicaram estudo no qual mas modificações feitas pelo próprio autor. Uma intimamente relacionado com as fibras da banda medial do cotovelo, geralmente na topografia do
relatam a realização de osteotomia do epicôndilo pequena incisão é realizada passando imediata- anterior e medial do ligamento colateral, pois se pronador redondo e flexor radial do carpo, a cinco
e alongamento da origem do extensor comum dos mente anterior ao epicôndilo lateral; o intervalo localiza atrás do epicôndilo, no sulco do nervo ul- milímetros distal e anterior em relação a um ponto
dedos através de um retalho em V-Y em 23 pacien- entre o extensor radial longo do carpo e a aponeu- nar. As estruturas músculo-tendinosas superficiais central do epicôndilo medial.
tes. Após a cirurgia, 95% retornaram ao trabalho. rose do extensor comum é identificada e incisada; originadas do epicôndilo medial com função fle- O teste clínico para avaliação da epicondilite
Cerca de 32% dos pacientes relataram limitações o extensor radial curto do carpo é então identifica- xopronadora são, de proximal para distal: pronador medial tem a finalidade de reproduzir a dor ex-
em atividades de esforços intensos e 23% apresen- do e todo o tecido angiofibroblástico é ressecado redondo, flexor radial do carpo, palmar longo, fle- perimentada pelo paciente. O cotovelo é fletido, o
tavam certa intolerância ao frio. Todos, porém, es- (Figura 6). Em 35% dos casos o tecido angiofibro- xor superficial dos dedos, flexor ulnar do carpo. O antebraço mantido em supinação e o punho em
tavam satisfeitos com os resultados obtidos. blástico está presente também na porção anterior grupo profundo é composto pelos músculos: flexor extensão. A seguir, o cotovelo será estendido vaga-
Savoie apresenta seus resultados com a tenoto- do extensor comum, devendo ser igualmente res- profundo dos dedos, flexor longo do polegar e pro- rosamente e, se o paciente sentir dor no epicôndilo
mia percutânea do extensor radial curto do carpo secado. Uma decorticação do epicôndilo lateral é nador quadrado. Geralmente ocorre envolvimento medial, isto será sugestivo de epicondilite. Os sin-
na sua origem. A técnica foi empregada em 21 pa- então realizada e o extensor radial longo do carpo da origem do flexor radial do carpo e do pronador tomas também podem ser evidenciados por meio
cientes. Em apenas um caso houve falha no trata- é suturado na aponeurose do extensor. Com esse redondo, menos tipicamente, há envolvimento do da pronação do antebraço ou flexão do punho con-
mento, necessitando de nova abordagem. Todos método o autor apresenta 97% de resultados satis- flexor superficial dos dedos e do flexor ulnar do tra a resistência10, 11, 22.
os outros pacientes retornaram às suas atividades, fatórios. Com outros métodos descritos, os índi- carpo. Deve-se sempre avaliar o nervo ulnar. Este se
com um escore de Andrews-Carson de 198/200. O situa em um sulco formado entre o epicôndilo me-
procedimento pode ser realizado ambulatorial- Figura 6: Tratamento cirúrgico demostrando o tecido Epidemiologia dial e o processo olecraneano. O nervo é suave, fle-
mente e com custo muito baixo6. angiofibroblástico A epicondilite medial é semelhante à lateral, xível e cilíndrico à palpação; deve-se observar se é
Pannier e Masquelet realizaram fasciotomia embora muito menos comum e de tratamento mais possível deslocá-lo do seu sulco. Nesta localização,
profunda do extensor radial curto do carpo e do complexo. A epicondilite medial, “síndrome do o nervo poderá ser comprimido em consequência
extensor comum dos dedos em 16 pacientes. Dois sobreuso” da massa flexo-pronadora, também de- da proliferação de tecido cicatricial decorrente de
pacientes realizaram o procedimento bilateral. Ob- nominada de cotovelo do golfista, é a causa mais traumatismo, artrose ou sinovite. A expressão clíni-
tiveram bons e excelentes resultados em 14 pacien- comum de dor no lado medial do cotovelo, po- ca será alteração da sensibilidade no dedo mínimo
tes. Redução da força foi observada em 21,5% dos rém representa somente 15-20% dos casos quando e no bordo ulnar do anelar e, mais tardiamente, hi-
pacientes6. comparada a epicondilite lateral. Frequentemente potrofia dos músculos intrínsecos da mão. O teste
Radwan et al, avaliaram 57 pacientes com epi- ocorre em atletas que fazem movimentos acima da de Tinel também deverá ser pesquisado. O teste de
condilite lateral crônica comparando o uso de on- cabeça, por exemplo, os envolvidos em esportes de flexão do cotovelo para a neurite ulnar é realizado
das de choque e tenotomia percutânea e encontra- raquete e outros atletas participantes em atividades mantendo-se o cotovelo em flexão máxima, com o
ram resultado excelente em 74,1% dos pacientes que geram uma força em valgo no cotovelo. antebraço em pronação e o punho em extensão por
238 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 239

trinta segundos, podendo-se evidenciar dor na re- usados com cautela e por curto período de tem-
gião medial do cotovelo e alterações sensitivas nos po, especialmente se houver concomitância com Referências bibliográficas
dedos anelar e mínimo13. doenças como hipertensão arterial, diabete, glau-
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epicôndilo medial. A banda anterior mais impor- cas. Infiltrações periarticulares com corticoide e, 2. Evans PJ, Nandi S, Maschke S, Hoyen HA, lawtonjn. extremity: a comprehensive literature review. Hand
tante se insere na fossa sigmoide da ulna. Deve ser mais recentemente, de ácido hialurônico, podem Preventionandtreatmentofelbow stiffness. J Hand Surg (NY) 2012;7:10-17.
palpado com o cotovelo em 30˚ e 60˚ de flexão com ser indicadas de acordo com a evolução. Esta de- Am. 2009 Apr;34(4): 769-78. 19. Müller am, sadoghi P, lucas r, et al. Effectiveness of
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A avaliação radiográfica do cotovelo é geralmen- pouso dos flexores do punho; também pode ser Dec;32(10): 1605-23. lateral resurfacing elbow (LRE) arthroplasty in arthritis.
te normal, mas podem ser observados esporões de usado uma órtese com apoio na região ântero-me- 5. Lindenhovius A. L. C., Jupiter J. B. The posttrauma- SECEC–ESSSE, 2009, Madrid.
tração ulnar medial e calcificações no ligamento dial do terço proximal do antebraço, para limitar tic stiff elbow: a review of the literature. Journal of 21. Lindenhovius AL, Doornberg JN, Brouwer KM, Jupiter
colateral medial; tais achados podem estar asso- a excursão da musculatura flexopronadora10,22,23. Hand Surgery. 2007;32(10):1605–1623. Doi: 10.1016/j. JB, Mudgal CS, Ring D. A prospective randomized
jhsa.2007.09.015. controlled trial of dynamic versus static progressive el-
ciados a uma lesão crônica do ligamento colateral Ao final de 6-8 semanas, não existindo mais dor,
6. Jackson WM, aragon ab, Bulken-Hoover Jd, nesti lj, bow splinting for posttraumatic elbow stiffness. J Bone
ulnar. Ao contrário da epicondilite lateral, a calci- serão iniciados exercícios de alongamento e refor-
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ficação, nesse caso, ocorre em 10 a 25% dos casos, ço da musculatura flexopronadora. Atividades que cells derived from traumatized muscle. J Orthop Res 22. Veltman ES, Doornberg JN, Eygendaal D, et al: Static
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A ecografia e a ressonância magnética, apesar que se atinja a força muscular preexistente. Exis- 7. Germscheid NM, Hildebrand KA: Regional variation elbow stiffness: a systematic review of 232 patients.
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8. Hildebrand KA, Zhang M, van Snellenberg W, et al: prophylactic treatments to prevent post traumatic joint
na prática clínica, pois não interferem na decisão cotovelo por tempo prolongado, bem como dor-
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terapêutica. A ressonância magnética é útil na ava- mir sobre o braço. Imobilizador de uso noturno
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Diagnóstico diferencial são utilizadas na medial, tais como: ultrassom,
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O diagnóstico diferencial de dor na face medial iontoforese, laser, dentre outros. heterotopic ossification estricting motion after elbow -trau- matic conditions of the elbow joint. J Bone Joint
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ao cotovelo, tais como radiculopatia cervical e cau- Tratamento cirúrgico 11. Kaplan FS, Glaser DL, Hebela N, Shore EM. He- 27. Gates HS III, Sullivan FL, Urbaniak JR. Anterior
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Além das lesões associadas já discutidas, deve-se apresentarem resposta ao tratamento conservador 2004;12:116–125. treatment of post-traumatic flexion contracture of
considerar a neuropatia isolada do ulnar, lesão li- após um mínimo de 6-9 meses, principalmente 12. Morrey BF. The posttraumatic stiff elbow. Clin Orthop the elbow. A prospec- tive study. J Bone Joint Surg
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ou não de descompressão do túnel cubital e trans- of normal functional elbow motion. J Bone Joint Surg arthroscopic treatment of lateral epicondylitis. Am J
Tratamento conservador posição do nervo ulnar 7,15,22. A técnica artroscópica 63A:872–877, 1981. Sports Med. 36(2):254-60, 2008.
O tratamento deverá orientar o paciente para foi recentemente introduzida e necessita de maior 15. Viola RW, Hastings H II. Treatment of ectopic os- 30. 3. Nirschl R.P. Muscle and tendon trauma: tennis elbow
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sificam a dor, pois o seu controle é o principal ob- 16. King GJ, Faber KJ. Posttraumatic elbow stiffness. Or- 31. 4. Baker C.L. Jr. Arthroscopic versus open techniques
jetivo na primeira fase do tratamento. Analgésicos thop Clin North Am. 2000;31(1):129-43. for extensor tendinosis of the elbow. Tech Shoulder
devem ser administrados. Os AINEs devem ser 17. Mellema JJ, lindenhovius al, Jupiter JB. The posttrau- Elbow Surg 1: 184-191, 2000.
240 DOR EM COTOVELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 241

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Dor em punho e mão


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Introdução
A mão é a estrutura mais nobre do aparelho culos de Merkel, Meissner e Paccini, fazem dela o
locomotor, fruto de um aperfeiçoamento evoluti- principal órgão do tato1. Mas, por outro lado, tor-
vo capaz de prover desde funções que requeiram nam-na também bastante suscetível a processos
maior esforço físico, até atividades mais delicadas dolorosos.
e precisas. Quase a totalidade da população econo- O objetivo deste capítulo é discutir as principais
micamente ativa depende das mãos para a execu- patologias que levam à dor crônica na mão, uma
ção de suas tarefas. Lesões que afetem a mão levam vez que esta é bastante frequente e, muitas vezes,
a importante limitação das funções diárias do ser passa despercebida na prática clínica, quer seja
humano. por desconhecimento dos mecanismos fisiopatoló-
A mão é a porção mais lesada do corpo huma- gicos destas entidades, ou pela prioridade na cor-
no, pois participa da maioria das atividades. A reção das lesões que acometem a mão, deixando a
rica inervação sensitiva da mão, proveniente dos dor para segundo plano, considerando-a algo “nor-
nervos mediano, ulnar e radial, além dos corpús- mal” ou menos importante.
242 DOR EM PUNHO E MÃO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 243

Etiologia
porção de 10-15:1 em séries publicadas de recons- e melhoraram a pinça lateral em comparação com
truções articulares. os pacientes tratados com infiltração articular com
A dor é referida na base do polegar ou na emi- corticoide12. No entanto, outro estudo não mostrou
Para fins didáticos, dividiremos a etiologia da superfície metacarpal origina-se na margem pe- nência tenar e é exacerbada com atividades que diferenças nos escores do DASH, dor, força ou mo-
dor na mão em quatro grupos: riférica palmar adjacente ao ligamento oblíquo necessitem o uso da pinça de força. Os pacientes bilidade entre os pacientes tratados com duas in-
• Dores de origem osteoarticular palmar4. Isso ocorre porque a posição de flexão-a- frequentemente observam que a dor é episódica e jeções de hialuronato, corticoide ou solução salina
• Dores de origem músculo-tendínea dução (posição de beliscão) expõe a superfície ar- aliviada com repouso ou AINEs. Alguns pacientes na articulação do CMC do polegar13.
• Dores de origem neuropática ticular palmar às forças de compressão. Demons- relatam a incapacidade de realizar atividades como
• Dores de origem vascular trou-se que a força de compressão da articulação escrever ou girar uma chave. Os pacientes geral- Doença de Kienböck
nas superfícies trapeziometacarpais é 12 vezes mente são encaminhados para o diagnóstico de O semilunar tem um suprimento vascular pal-
DOR DE ORIGEM OSTEOARTICULAR maior que a força gerada nas pontas do polegar e Síndrome do Túnel do Carpo, Tenossinovite de De mar e dorsal em aproximadamente 74% dos casos.
A doença articular degenerativa, osteoartrite, do dedo indicador na pinça lateral5. Com o passar Quervain ou gatilho do polegar. Apenas 7% dos ossos semilunares têm uma única
está relacionada ao desequilíbrio entre a síntese e a do tempo, a região da degeneração articular pro- Os achados no exame clínico dependem do está- provisão de vasos; o restante pode ter um supri-
degradação da matriz cartilaginosa, decorrente de gride dorsalmente em direção ao centro da super- gio da doença. O polegar parecerá normal na doen- mento de 3 ou até 4 vasos. Esses ossos com supri-
alterações biomecânicas, bioquímicas e morfológi- fície articular do metacarpo. No trapézio, perda de ça inicial, mas a contratura em adução e a sublu- mento de vasos únicos apresentam risco aumenta-
cas. O aumento da atividade dos osteoclastos e das cartilagem articular aumenta concentricamente e xação dorsal da base do metacarpo do polegar é do de necrose14,15.
metaloproteinases está envolvido na gênese e evo- osteófitos são formados (Figura 1). Posteriormen- prontamente aparente na doença avançada8. O au- A etiologia exata da Doença de Kienböck ainda
lução da osteoartrite. Fatores como idade, frouxi- te, ocorre subluxação dorsorradial do primeiro mento de volume da articulação CMC é secundário é desconhecida, mas provavelmente é multifato-
dão ligamentar, trauma e esforços repetitivos tam- metacarpo. Uma contratura em adução pode ocor- à inflamação e formação de osteófitos. rial. Variância ulnar negativa16-20, variações na in-
bém atuam de forma determinante. rer através da força de adução do músculo adutor Todos os pacientes com diagnóstico de artrite clinação radial21,22 e na geometria do semilunar23,
do polegar e da força de subluxação da inserção CMC no polegar devem ser tratados inicialmente trauma24-26 e estase venosa27 tem sido descritos na
Osteoartrite no polegar (Rizartrose) do músculo abdutor longo do polegar na base do com cuidados conservadores. Os pacientes são en- literatura como possíveis fatores causais da necro-
O polegar é especialmente sucetível a alterações primeiro metacarpo. Nos estágios mais avançados corajados a modificar suas atividades habituais. A se avascular do semilunar.
degenerativas. A paciente típica que apresenta a da doença ocorre também degeneração da articu- utilização de órteses com a articulação IF do pole- A Doença de Kienböck é consistentemente mais
artrite na articulação carpometacarpal (CMC) do lação escafotrapezoidal6. gar livre está indicada. Inicialmente, os pacientes comum em homens entre 20 a 40 anos. São indivi-
polegar é uma mulher na pós-menopausa que se Evidências radiográficas de degeneração arti- são instruídos a usar a órtese quase que a tempo duos ativos que se queixam de um período de vários
queixa de dor na base do polegar e na borda radial cular acabarão por se desenvolver em aproxima- inteiro, até que os sintomas desapareçam (geral- meses de dor no punho dominante, inchaço, fra-
do punho sem início traumático, piorando progres- damente uma a cada quatro mulheres e um em 12 mente 3-4 semanas), e depois usá-la na exacerba- queza e diminuição da amplitude de movimento.
sivamente ao longo de alguns meses a alguns anos. homens7. As mulheres superam os homens na pro- ção dos mesmos. Imobilização combinada com Aproximadamente metade dos indivíduos afetados
O movimento na articulação CMC do polegar AINEs diminui a sinovite e o derrame articular. Se relata um histórico de trauma de baixa energia28.
ocorre através das superfícies articulares côncavas Figura 1: Redução do espaço articular trapézio- os sintomas persistirem, uma injeção de corticoide Raramente foi relatado envolvimento bilateral do
recíprocas, em forma de sela, do primeiro meta- metacarpiano, com esclerose e formação de osteófito na articulação CMC pode fornecer alívio transitó- punho29. Pacientes localizam sua dor mais comu-
carpiano e da superfície articular distal do trapé- lateral rio. As injeções de corticoides mostraram melhora mente no aspecto dorsal do punho, sobrejacente ao
zio. Essas superfícies não apresentam congruência dos escores de dor no primeiro mês após a injeção, semilunar, mais pronunciada na extensão. A ativi-
óssea na maioria das posições, incluindo a posição mas não mostraram diferença aos 3, 6 e 12 meses9. dade exacerba os sintomas, enquanto o repouso e a
de descanso e na posição do caroneiro; durante a Quando combinada com a imobilização, a injeção imobilização os aliviam.
oposição, no entanto, estas superfícies rotacionam de corticoide tem melhor eficácia em pacientes Estágios muito precoces da doença de Kienböck
juntas, permitindo força de preensao e pinça2. Por com doença no estágio I em comparação àqueles não são visíveis nas radiografias simples e requerem
causa da falta de congruência óssea, a estabilida- com estadiamento Eaton II, III ou IV10. avaliação adicional através da ressonância nuclear
de da articulação depende da restrição ligamentar. Injeção de ácido hialurônico está sendo deba- magnética (RNM) ou cintilografia óssea (Figura 2).
Três ligamentos são especialmente importantes na tida como uma opção de tratamento. Mandel et al Vários processos diferentes da doença de Kien-
estabilização da articulação CMC do polegar e, por demonstraram melhora nas deficiências dos es- böck podem ocorrer no semilunar e serem confun-
conseguinte, para a compreensão da condição pa- cores do braço, ombro e mão (DASH) 26 semanas didos ou imitar a necrose avascular. A síndrome de
tológica: o ligamento oblíquo palmar, o ligamento após a injeção de hialuronato para artrose mode- impactação ulnar causará alterações no semilunar
dorsorradial e a expansão dorsal do abdutor longo rada a grave11. Em um estudo prospectivo randomi- à RNM; entretanto, essas alterações são localizadas
do polegar3. zado, os pacientes tratados com injeção de ácido mais focalmente no aspecto ulnar e proximal. Fra-
Um padrão previsível de degeneração articu- hialurônico tiveram melhora constante nos escores turas e cistos intraósseos também podem mimeti-
lar ocorre na articulação CMC. A degeneração da de dor durante um período de tempo mais longo zar a necrose avascular.
244 DOR EM PUNHO E MÃO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 245

Figura 2: Comparação entre achados na radiografia O estadiamento da lunatomalacia é baseado em Pacientes assintomáticos ou minimamente sin- O tratamento ideal desta entidade ainda perma-
simples e na RNM na Doença de Kienböck achados radiográficos (Litchman). A RNM e outras tomáticos devem ser tratados de maneira conser- nece um pouco incerto. As modalidades incluíram
modalidades de imagem auxiliam com informa- vadora. Aqueles que são mais sintomáticos podem opções cirúrgicas e não cirúrgicas, imobilização,
ções de estadiamento mais precoces e mais especí- justificar um tratamento mais agressivo; no entan- descompressão, enxerto ósseo, osteotomia do colo
ficos21,30,31. Apesar de ser uma classificação baseada to, nenhum procedimento de sucesso reprodutível do metacarpo e desbridamento artroscópico são
em radiografia, existem implicações clínicas. Logo foi descrito. A preservação do escafoide através opções42,44. Alguns autores relataram melhores re-
no início do processo da doença, antes da mudan- de enxerto ósseo vascularizado tem sido descrita sultados com descompressão e enxerto ósseo em
ça notável na forma do semilunar, as tentativas de como resultando com desfechos variáveis34. A ex- comparação com a descompressão isoladamen-
salvamento podem trazer resultados melhores. No cisão do escafoide com fusão intercarpal ou car- te42,45.
entanto, à medida que mudanças mais progressivas pectomia proximal é uma alternativa no cenário de
são observadas, a maioria das opções de tratamen- alteração artrítica circundante, mais notadamente DOR DE ORIGEM MÚSCULO-TENDÍNEA
to envolve excisão para restaurar alguma função. A no estiloide radial. Nesta categoria estão incluídos os distúrbios
Doença de Kienböck não responde favoravelmente dos músculos, tendões, enteses, fáscias e membra-
ao tratamento não cirúrgico em estudos de segui- Necrose avascular do capitato nas sinoviais. Podem ser secundários a doenças
mento a longo prazo32, com a possível exceção de O capitato, semelhante ao escafoide, possui metabólicas, reumáticas, endócrinas, infecciosas,
pacientes pediátricos24. As modalidades cirúrgicas suprimento vascular retrógrado, tornando o pólo genéticas ou ainda associadas a disfunções biome-
tornaram-se o padrão de atendimento na grande proximal mais propenso à necrose avascular. O cânicas ou pós-traumáticas46,47.
maioria das situações clínicas. fluxo sanguíneo entra através dos vasos palmar e
dorsal em uma orientação variável35. Semelhante Tenossinovite de De Quervain
Doenca de Preiser à Doença de Kienböck, esteroides, exposição à vi- Principal causa de dor na face radial do punho,
Preiser descreveu a necrose avascular idiopáti- bração, frouxidão ligamentar e extensão repetiti- esta entidade clínica, descrita pela primeira vez
ca do escafoide em 1910. Atualmente, no entanto, va do punho são etiologias citadas. É importante pelo cirurgião suíço Fritz De Quervain, em 1895, ca-
a Doença de Preiser é usada para caracterizar o distinguir a necrose avascular da cabeça capitato racteriza-se por uma tenossinovite estenosante do
escafoide que progride através de uma sequência após uma fratura do colo do mesmo, frequente- 1º compartimento extensor do punho, que contém
de esclerose e fragmentação de etiologia idiopáti- mente associada a uma lesão do arco maior, da os tendões dos músculos abdutor longo e extensor
ca ou pós-traumática33 (Figura 3). Outras etiologias necrose avascular idiopática do capitato, o que é curto do polegar48. Acomete com maior frequência
relatadas incluem doenças do colágeno, lesão por bastante raro. Milliez et al descreveram 3 agru- o sexo feminino (10:1), principalmente entre a 5ª e
vibração contínua e uso de esteroides. Os pacientes pamentos para necrose avascular do capitato: o 6ª década de vida. Outro pico de incidência ocorre
geralmente apresentam dor e sensibilidade local e grupo I é o envolvimento proximal, o grupo II é o na gestação, mas, na maioria dos casos, o quadro
alguma variação das alterações radiográficas des- envolvimento distal ou corporal e o grupo III é o é autolimitado e regride espontaneamente até o 6º
critas anteriormente. envolvimento ósseo total36. mês após o parto.
O diagnóstico é eminentemente clínico e os tes-
Figura 3: Necrose avascular do escafoide Necrose avascular da cabeça do metacarpiano tes de Finkelstein e Eichoff são altamente sensíveis
(Doença de Dietrich) para a Tenossinovite de De Quervain. Edema e cre-
Em 1932, Dietrich descreveu pela primeira vez pitação no local também podem ser observados. A
a necrose avascular da cabeça do terceiro meta- ultrassonografia é o exame complementar de esco-
carpo37. Desde então, vários relatos de casos e sé- lha por ser mais simples e barato que a ressonância
ries têm sido relatados na literatura. A proporção magnética e também por ser eficaz para demons-
homem-mulher é de 3:2 e o terceiro metacarpo é trar o processo inflamatório e detectar eventuais
o mais comumente afetado enquanto no polegar alterações anatômicas (abdutor longo acessório,
é mais raro38. O desenvolvimento da necrose avas- septo intracompartimental49). Dentre os diagnósti-
cular no metacarpo está associado a fraturas da cos diferenciais, temos a rizartrose, artrose escafo-
cabeça e colo, além de trauma contuso39. Também -trapézio-trapezoide, fraturas ou pseudoartroses do
está relacionado ao lúpus eritematoso sistêmico, escafoide, Síndrome da Intersecção e Síndrome de
ao uso crônico de esteroides e ao transplante re- Wartenberg (neuropatia compressiva do ramo sen-
nal40-42. Clinicamente, a sintomatologia do pacien- sitivo radial).
te é variável, desde ausência de sintomas até dor, O tratamento é inicialmente conservador,
inchaço e rigidez43. com uso de anti-inflamatórios não esteroidais,
246 DOR EM PUNHO E MÃO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 247

órteses, fisioterapia / terapia ocupacional e, nos Síndrome da Intersecção Na falha do tratamento inicial, infiltração com cido conjuntivo, são mais suscetíveis à compressão.
casos refratários ou, ainda, nas gestantes, infil- É uma condição muito menos frequente que a corticoides pode ser bastante útil. Recomenda-se O nervo acometido pela síndrome compressiva
tração com corticoides. Em caso de insucesso do Tenossinovite de De Quervain, associada ao atrito que a infiltração seja guiada por ultrassonografia pode ser sensitivo, motor ou misto e o exame fí-
tratamento conservador, a cirurgia está indicada, dos tendões do 1º compartimento extensor com os para prevenir injeção intratendínea do corticoide. sico criterioso será capaz de identificar o grau de
com abertura do 1º compartimento e liberação tendões do 2º compartimento, no ponto que eles se acometimento. O Sinal de Tinel, descrito em 1915,
do septo intracompartimental, quando presen- cruzam 6 a 8 cm proximalmente ao tubérculo de Dedo em Gatilho ainda é mandatório no diagnóstico e seguimento
te50. Especial cuidado deve ser dedicado à iden- Lister (Figura 4). É conhecida também como pu- A tenossinovite estenosante dos flexores dos de- de uma lesão compressiva do nervo, podendo iden-
tificação e proteção do ramo sensitivo do nervo nho do esquiador ou do remador51,52. dos, também conhecida como dedo em gatilho, é tificar o sítio da compressão58.
radial, pois sua lesão pode levar à formação de O tratamento conservador com afastamento causada por um estreitamento relativo na região do Dentre os diagnósticos diferenciais, devemos
um neuroma, causa de dor crônica no pós-ope- temporário da atividade física, AINE, corticoides, túnel osteofibroso, próximo à articulação metacar- destacar as radiculopatias cervicais e a síndrome
ratório. gelo, órteses e fisioterapia geralmente é eficaz. po falangeana, levando a dor e, progressivamen- dolorosa miofascial. Exames complementares po-
te, à dificuldade de movimentar o dedo. Em casos dem contribuir para elucidação diagnóstica, sendo
Figura 4: Ponto da síndrome de intersecção (seta) – Netter FH. vol 8 (parte I) mais graves, há o bloqueio em flexão. Pode haver a que a eletroneuromiografia é ainda o “padrão ouro”,
formação de um nódulo tendíneo no local da este- mesmo com suas limitações, por ser extremamente
nose, decorrente do atrito do tendão ao tentar des- examinador dependente. Os estudos eletrofisioló-
lizar pelo túnel54. gicos apresentam alta sensibilidade para detectar
Os dedos mais acometidos são o 3º e 4º dedos, lesão nervosa, identificando o nervo acometido, o
seguidos pelo polegar, podendo haver o compro- sítio de compressão e sua gravidade. Os principais
metimento de mais de um dedo simultaneamente achados são a diminuição da velocidade de condu-
ou de ambas as mãos. Normalmente os sintomas ção nervosa e o aumento das latências sensitivas e/
são mais intensos pela manhã. ou motoras distais59.
Acomete mais frequentemente as mulheres en- Alguns sintomas são comuns à maioria das sín-
tre a 5ª e 6ª década de vida e pode estar relacionada dromes compressivas, como parestesia ou diseste-
a doenças sistêmicas como diabetes, hipotireoidis- sia no território de distribuição sensorial do nervo,
mo, artrite reumatoide, artrite psoriática, amiloi- sensação de desconforto ou fadiga ao esforço pro-
dose, sarcoidose e sinovite vilonodular. longado e piora noturna dos sintomas. Geralmente
O diagnóstico pode ser mais difícil nas fases as fibras sensitivas são mais suscetíveis e o compro-
iniciais (pré-gatilho). Nesses casos, o tratamento metimento motor surge em uma fase mais tardia
conservador, com órteses em extensão para uso da doença.
noturno e exercícios leves para manter a mobilida- A mais frequente das neuropatias compressivas
de, é indicado com bons resultados. Nos casos mais é a Síndrome do Túnel do Carpo, encontrada em
graves, infiltrações com corticoides ou a liberação cerca de 4% da população adulta. As considerações
cirúrgica da polia flexora podem ser necessários55. sobre o diagnóstico e o tratamento de cada uma das
síndromes compressivas serão detalhadas no capí-
DOR DE ORIGEM NEUROPÁTICA tulo específico sobre este tema60.

Síndromes compressivas Neuromas


Os nervos periféricos estão sob risco de com- O neuroma é formação bulbosa que surge em
pressão em sítios específicos no seu trajeto poden- um nervo lesionado, como resultado de uma ten-
Tenossinovite do Extensor Ulnar do Carpo (EUC) lar. A ressonância magnética torna-se, então, o exa- do, inclusive, serem comprimidos em mais de um tativa desorganizada de regeneração dos axônios
O tendão EUC tem trajeto pelo sexto compar- me adequado para o diagnóstico diferencial. ponto56. Sunderland sugere que a fisiopatologia após lesão parcial ou completa61. O neuroma tor-
timento extensor, que se estende do processo es- O tratamento conservador apresenta bons re- inicial na síndrome compressiva está relacionada na-se doloroso quando este tecido desorganizado,
tilóide da ulna ao osso piramidal, inserindo-se na sultados na grande maioria dos casos53, com uso à alteração da microcirculação vascular do ner- frequentemente envolvido por tecido fibrocicatri-
base do 5º metacarpiano. Esse túnel osteofibroso de AINEs, crioterapia e imobilização com o punho vo57. Uma compressão prolongada e/ou acentuada cial, é estimulado por pressão, tensão e/ou hipó-
atua também como um estabilizador da articulação em leve extensão e desvio ulnar por três semanas. sobre o nervo provoca edema interfascicular e um xia62. Muitas vezes pode evoluir com dor crônica
rádio ulnar distal. Sendo considerada a 2ª tenossi- Após o período de repouso, fisioterapia com forta- aumento secundário no gradiente de pressão, alte- no local, fato que tem grande impacto socioeco-
novite mais comum no punho53, é frequentemente lecimento isométrico auxilia a reabilitação para a rando a sua condutividade. Nervos mais calibrosos, nômico, pois a principal população prejudicada é
confundida com lesões da fibrocartilagem triangu- prática de atividades físicas. com maior quantidade de axônios em relação ao te- a economicamente ativa. Os neuromas são carac-
248 DOR EM PUNHO E MÃO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 249

teristicamente identificados no coto proximal do Em lesões fechadas e alguns ferimentos perfu- lação mecânica72-74. A cobertura do coto é utilizada viram de outros profissionais: “sua dor é exagerada”,
nervo63, formados pela proliferação das células de rantes geralmente não há secção do nervo, dando na tentativa de evitar a regeneração axonal. Vários “não é real”, “é da sua cabeça”. Assim, seu conheci-
Schwann, células inflamatórias, tecido conectivo e origem a um neuroma em continuidade. A decisão materiais, orgânicos ou não, foram utilizados para mento é importante para o tratamento adequado.
axônios que formam um bulbo endurecido. de ressecar ou não o neuroma em continuidade é revestir e proteger a extremidade do nervo: arté- Diversas causas podem levar à compressão, as
O principal e mais incomodo sintoma de um difícil, pois a avaliação macroscópica intraoperató- rias, veias, tubos de diversas procedências, cola congênitas como a presença de uma costela cervi-
neuroma é uma sensação de “choque” que ocor- ria não permite definir o grau de lesão das fibras de fibrina e epineuro. Embora alguns estudos te- cal ou a presença de bandas fibrosas ou musculares
re quando a parte traumatizada é tocada. Em pa- nervosas ou se já há fibras em regeneração que le- nham relatado bons resultados, comparáveis com na região80. Outra causa descrita é a flacidez da cin-
cientes mais sensíveis, o simples ato de balançar o varão ao reparo espontâneo, podendo fazer da res- o sepultamento muscular ou ósseo, diversos tra- tura escapular em decorrência da idade, postura e
membro pode desencadear a dor. Há uma associa- secção algo desnecessário ou iatrogênico. O ideal é balhos utilizando a técnica da cobertura do coto inatividade. Outras causas incluem o trauma cervi-
ção com área de “formigamento e dormência” em a realização de estimulação elétrica intraoperatória não mostraram resultados satisfatórios62,71,74-76. A cal, hipertrofia muscular por esportes ou trabalhos
determinados segmentos do dedo, mão ou punho; nos neuromas em continuidade e, observando-se a anastomose centro-central consiste na realização que envolvem hiperabdução do ombro.
a depender do local da lesão neurológica. O sinal passagem de estímulo, realiza-se apenas a neuróli- de conexões término-terminais com ou sem in- Os sinais e sintomas variam de acordo com a
de Tinel corresponde a uma manobra no qual o se externa ou interna67. Quando não é identificado terposição de enxertos entre grupos de fascículos estrutura mais acometida, nervo, artéria ou veia,
examinador percute sobre a área lesada ocasionan- o estímulo distalmente à lesão, deve-se proceder à do coto proximal77-79. A utilização desta técnica no podendo haver uma sobreposição dos sintomas. A
do “choque” no local e abaixo desta área. ressecção do neuroma e sutura epineural. A linha tratamento do neuroma tem como objetivo inter- compressão do plexo braquial é associada ao quadro
Alguns trabalhos experimentais mostraram que de reparo deve ser livre de tensão, pois a presen- romper ou reduzir a regeneração axonal. Apesar de dor, dormência, parestesia e fraqueza, podendo
ocorrem alterações morfológicas, fisiológicas e ça desta gera um processo inflamatório que cursa dos aparentes bons resultados com essa técnica, haver atrofia na musculatura da mão. Cefaleia, dor
neuroquímicas no corno posterior da medula espi- com isquemia e bloqueio do crescimento neuronal, estudos adicionais com número maior de pacien- no peito e escapular não são infrequentes. Carac-
nhal após lesão do nervo periférico, que incluem devendo-se optar, nesses casos, pela reconstrução tes devem ser realizados para que se obtenham teristicamente, a parestesia e dormência se distri-
atrofia do terminal aferente primário com perda de com enxertos análogos. A desvantagem de reparo conclusões definitivas com a utilização deste tipo buem no território do nervo ulnar (C8 – T1). As ativi-
vários peptídeos; alteração na despolarização do com enxerto é a presença de duas linhas de reparo de terapêutica62,70,77-79. dades com abdução do braço pioram os sintomas81.
aferente primário; inibição e expansão do territó- em vez de apenas uma no reparo direto, mas esta é Os sintomas arteriais incluem dor, fraqueza,
rio receptor periférico. Todas estas alterações fa- a técnica preconizada quando o intervalo entre os DOR DE ORIGEM VASCULAR frialdade e fadigabilidade do membro superior. O
zem com que os neurônios do corno posterior que cotos é maior ou igual a 2 cm. Muitas vezes, na nossa vida clínica, nos depara- pulso radial pode até estar ausente nas manobras
tenham perdido o input aferente normal comecem Quando considerados os neuromas de ampu- mos com pacientes queixando-se de dor, sem uma de hiperabdução. Quando a obstrução venosa está
a responder aos neurônios aferentes próximos, que tação, o tratamento proposto pode ser clínico ou característica precisa, neste momento devemos co- presente ocorre inchaço, cianose e edema, poden-
estão intactos64. cirúrgico. O tratamento clínico inclui a utilização nhecer a maior parte das possibilidades. As doen- do ser notada uma circulação colateral no ombro.
A incidência de dor após amputação varia de de analgésicos, nos casos onde a dor não é muito ças vasculares são incomuns na mão em compara- Como a alteração obstrutiva pode acontecer de
13% a 71%. Aparece geralmente nas primeiras se- intensa, e o bloqueio com a utilização de anestési- ção com outros segmentos, porém, é importante forma intermitente, sem obstrução total, os sinto-
manas a despeito de uma cicatriz com boa evolu- cos locais, este último com eficácia temporária na que saibamos reconhecer algumas afecções que mas podem ser parciais, comparados à sensação de
ção; em caráter de punhalada ou choque; desenca- resolução dos sintomas63,68. provocam dor e suas associações características peso e cansaço apresentada pelos pacientes com
deada facilmente por estimulação do coto através Dois princípios orientam o tratamento cirúrgi- para elaboração de um diagnóstico correto. Dentre insuficiência venosa nos membros inferiores.
de percussão ou pressão. Sua evolução é variável co: o coto proximal deve ser removido do tecido estas afecções duas são de maior relevância, prin- Para realizar o diagnóstico devemos, primeira-
e, segundo levantamentos de Jensen e Rosmussem fibrocicatricial adjacente e a regeneração axonal cipalmente pela multiplicidade de fatores etiológi- mente, saber ouvir o paciente, buscando os dados
persistem em 22% e 21% dos pacientes, 6 meses deve ser reduzida ou inibida. Dentre as modali- cos, são elas: Síndrome do Desfiladeiro Torácico e mais positivos. Uma queixa interessante é a dificul-
e 2 anos após, a amputação65. A abordagem tera- dades de tratamento cirúrgico propostas são ci- Fenômeno de Raynaud. dade de se manter em pé nos meios de transporte
pêutica da dor crônica pós-amputação é comple- tadas: a ligadura do coto, o sepultamento do coto coletivos com o auxílio das barras de sustentação,
xa, principalmente porque não são conhecidos no músculo ou no osso, a cobertura do coto e a Síndrome do Desfiladeiro Torácico com o membro elevado, o que leva à fadiga, dor e
os mecanismos fisiopatológicos e neuroquímicos anastomose centro-central. A ligadura simples ou Descrito por Rob e Standoven, em 1958, como dormência. No exame físico podemos encontrar
envolvidos, e também porque existem fatores in- com ressecção do coto é utilizada por vários auto- uma compressão do feixe vascular e nervoso, por um posicionamento dos ombros para frente e para
dividuais, emocionais e sociais, que interferem res, mas apresenta altas taxas de recorrência69-71. diferentes causas na região do ombro. Caracteri- baixo, alguns pontos álgicos na palpação e a dimi-
de forma definitiva na evolução desta dor e que O sepultamento do coto no músculo ou no osso za-se por sintomas de dor, cansaço, diminuição nuição ou abolição do pulso radial com manobra
são de difícil solução. Segundo levantamentos de é o tratamento cirúrgico utilizado com maior fre- da força e resistência no membro superior. Incide de abdução do ombro.
Sherman e Sherman (1985), apenas 20% dos pa- quência e apresenta bons resultados em relação à mais no sexo feminino na proporção 2:1, acome- Dentre os exames complementares, a ultrasso-
cientes com dor fantasma recebem algum tipo de dor (80 a 90%). Mesmo quando há recorrência da tendo o adulto jovem. nografia com doppler colorido associado à mano-
tratamento66. Dos pacientes tratados, raramente formação do neuroma após esse tipo de procedi- Embora não seja tão frequente, o fato é que, até a bra de abdução é o menos invasivo, sendo de elei-
obtemos uma taxa de sucesso acima da resposta mento, em geral não há retorno da dor, já que o realização do diagnóstico, vários pacientes são trata- ção para iniciar a investigação. Radiografia cervical
placebo que é de 30%. coto é posicionado em um local de difícil estimu- dos por diagnóstico equivocado e relatando que ou- também pode mostrar alterações como a presença
250 DOR EM PUNHO E MÃO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 251

de uma costela cervical. Os exames de imagem com • Primário: Caracterizado por uma crise de vaso 2004; 29A: 247–251. 28. Weiss AP, Weiland AJ, et al. Radial shortening for Kien-
contraste vascular devem ser guardados para casos espasmo simétrico, sem necrose ou ulceração, 11. Mandel LA, Hotchkiss RN, Adler R, Lyman S, Daluiski bock disease. J Bone Joint Surg Am 1991; 73: 384–391.
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eficaz no diagnóstico, principalmente por ser um xo dos trinta anos, com agente desencadeante
pilot trial. Curr Med Res Opin 2009; 25: 2103–2108. 30. Jensen CH, Thomsen K, et al. Radiographic staging of
quadro dinâmico, mas pode ser útil para um diag- bem marcado. Não é relacionado a nenhuma 12. Fuchs S, Monikes R, Wolhmeiner A, Heyse T. Intraar- Kienbock’s disease. Poor reproducibility of Stahl’s and
nóstico diferencial81. outra doença e possui, frequentemente, uma ticular hyaluronic acid compared with corticoid injec- Lichtman’s staging systems. Acta Orthop Scand 1996;
O tratamento varia de acordo com a gravidade do história familiar. Os exames laboratoriais como tions for the treatment of rhizarthrosis. Osteoarthritis 67: 274–276.
quadro. Nos casos mais leves, que são a grande maio- VHS, FAN e capilaridade ungueal não apresen- Cartilage 2006; 14: 82–88. 31. Quenzer DE, Linscheid RL, et al. Trispiral tomographic
ria, deve ser iniciado com fisioterapia, observando tam alterações. 13. Heyworth BE, Lee JH, Kim PD, Lipton CB, Strauch RJ, staging of Kienbock’s disease. A 1997; 22: 396–403.
principalmente a correção da postura, com adequa- • Secundário: Caracterizado por crise com dor Rosenwasser MP. Hylan versus corticosteroid versus 32. Keith PP, Nuttall D, et al. Long-term outcome of nonsur-
placebo for treatment of basal joint arthritis: a pros- gically managed Kienbock’s disease. J Hand Surg
do posicionamento dos ombros. Nos casos mais gra- intensa, assimétrica, associada a lesões isquê-
pective, randomized, double-blinded clinical trial. J 2004; 29A: 63–67.
ves, com atrofia muscular ou alterações isquêmicas, micas, concomitantes com sintomas sugestivos Hand Surg 2008; 33A: 40–48. 33. Allen PR. Idiopathic avascular necrosis of the sca-
está indicado o tratamento cirúrgico, que pode ser a de doença do tecido conectivo; acomete com 14. Gelberman RH, Bauman TD, et al. The vascularity of phoid. A report of two cases. J Bone Joint Surg Br
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as causas de maior relevância estão a dor mio- dade, as complicações e demais fatores associados.
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66. Sherman. R. A: Sherman C. J. 1985. A comparison of tol. 2012; 8(8):469 cal degenerativa, artrose facetária e estenose prevalentes e de maior relevância, e esclarecer os
phantom sensations among amputees whose amputa- cervical). Também não devem ser esquecidos os métodos de tratamentos atuais.
254 DOR CERVICAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 255

Fatores Etiológicos
A diversidade de estruturas que podem ser as Traumatismos recentes podem sugerir fraturas
causas primárias dos sintomas álgicos, e as alte- ou lesões ligamentares. As lesões traumáticas da
rações que podem ser encontradas em exames de coluna cervical estão presentes em 3,68% dos pa-
CERVICALGIA cal e cargas mecânicas diretas, que podem estimu- imagem mesmo em indivíduos assintomáticos, cientes vítimas de traumas17, e a coluna subaxial é
A dor cervical axial é definida como um sinto- lar os nociceptores locais pela presença de media- traduzem um desafio para o diagnóstico correto. o local mais comum dessas lesões18.
ma localizado na região do pescoço, em uma região dores bioquímicos (prostaglandina E, serotonina, Apesar das causas de cervicalgia não serem com- Dor também é o principal sintoma das infecções
delimitada superiormente pela linha nucal, lateral- histamina, bradicinina e potássio)9. A degeneração preendidas em sua totalidade3, as principais causas da coluna cervical. Raras, essas lesões são associa-
mente pelas margens do pescoço e inferiormente discal – principal causa de dor discogênica – foi de dor cervical crônica são as alterações degenera- das a 4% das infecções da coluna vertebral16. Sua
por uma linha imaginária transversa através do dividida em três estágios: 1 - Disfunção, estágio tivas. Entretanto, é importante estar atento a sinais etiologia mais comum é a tuberculose, e a região
processo espinhoso de T13. As estruturas anatômi- inicial, onde há lesões radiais no ânulo fibroso e e sintomas de gravidade e que possam correspon- cervical é responsável por 4,2% dos pacientes com
cas que podem originar cervicalgia são diversas. sinovite nas facetas articulares; 2 - Instabilidade, der a patologias mais incomuns. O sintoma mais Mal de Pott19.
Podemos destacar a musculatura cervical, os dis- quando há ruptura interna e reabsorção discal, as- comum apresentado por pacientes com tumores Rigidez matinal, acometimento de múltiplas
cos intervertebrais, as articulações zigoapofisárias, sociadas a frouxidão capsular e subluxação facetá- na coluna é a dor14. Eles são divididos entre me- articulações, associação a desordens gastrointes-
as articulações occipto-cervical e atlanto-axiais e ria; e 3 - Estabilização, estágio final, caracterizado tastáticos e primários, e os tumores metastáticos tinais e manifestações cutâneas simultaneamente
seus ligamentos (Figura 1), pois são estruturas com pela presença de osteófitos e hipertrofia facetária10. correspondem a cerca de 97% dos tumores da colu- podem representar alterações inflamatórias sis-
inervação sensitiva que, provocadas, podem causar Inervadas por ramificações do nervo dorsal me- na15. Apesar da gravidade relacionada aos tumores têmicas, entre as quais a mais comum é a artrite
estímulo doloroso4. dial cervical acima e abaixo de cada articulação, as da coluna, eles são relacionados a uma minoria dos reumatoide.
facetas articulares constituem importante fonte de casos de cervicalgia, sendo responsáveis por cerca Uma causa atual e cada vez mais frequente de
Figura 1: dor cervical11. A comprovação da dor cervical de de 0,4% dos casos3. Dor persistente noturna e per- dor cervical persistente é a dor causada pela postu-
origem facetária foi feita por diversos estudos que sistente ao repouso é típica de tumores da coluna15, ra durante o uso de smartphones20. Quanto maior o
realizaram a estimulação direta das articulações e sinais sistêmicos, como febre e perda ponderal, tempo de uso, mais intensos os sintomas apresen-
com reprodução do estímulo doloroso em pessoas podem estar presentes16. tados (Figura 3).
normais, e com a melhora da dor após bloqueio das
articulações em pacientes com dor prévia3. A dor Figura 3:
apresenta uma distribuição uniforme dependendo
da articulação estimulada, apresentada na Figura
2. As articulações atlanto-axiais também apresen-
tam inervação por fibras nervosas sensitivas, po-
dendo ser causa de dor cervical. Foi demonstrado
que os sintomas álgicos referentes a essas articula-
ções comumente se apresentam como cefaleia12, 13.

Figura 2:
A musculatura cervical apresenta participação
importante na dor cervical. Os músculos possuem
fibras nervosas, que podem ser ativadas por lesões
diretas na musculatura por distensões e contratu-
ras musculares. E podem apresentar ação indireta
na dor cervical pela inserção muscular, por cau-
sarem sobrecarga em estruturas que podem ser a
causa primária da dor, como a cápsula articular4-6. CERVICOBRAQUIALGIA responsável por cerca de 70 a 75% dos casos, e a
Os discos intervertebrais têm função primaria- A definição da radiculopatia cervical é dor e al- compressão direta por hérnia de disco cervical, que
mente mecânica. Sua inervação dorsal vem de ra- terações que seguem dermátomos específicos com representa 20 a 25% dos casos23,24 (Figura 4). Sua fi-
mos do plexo dos nervos sinovertebrais cervicais, diminuição de função motora, de sensibilidade siopatologia está associada à compressão direta da
lateralmente é proveniente dos nervos vertebrais7, e de reflexos21. A radiculopatia cervical apresen- estrutura nervosa, principalmente o gânglio sensi-
e a inervação ventral é realizada pelo plexo do tron- ta maior incidência dos 50 aos 54 anos22, e apre- tivo dorsal25, e também ao processo inflamatório ao
co simpático cervical8. Os estímulos dolorosos no senta prevalência de 3,5 a cada 1000 habitantes23. seu redor26.
disco podem ser provenientes de degeneração dis- Suas principais causas são a espondilose cervical,
256 DOR CERVICAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 257

Figura 4: MIELOPATIA CERVICAL terações neurológicas que podem ser encontradas o sinal de Babinsky e de Oppenheim, e também hi-
A compressão da medula espinal no canal ver- de acordo com a raiz acometida28. Na presença de perreflexia de reflexos miotendíneos, perda de con-
tebral, levando a alterações neurológicas, definem compressão medular, ainda podem ser encontra- trole esfincteriano, alterações de controle motor
a mielopatia cervical. Sua fisiopatologia é tanto de dos reflexos patológicos como o sinal de Hoffman, fino e alterações da marcha16, 28.
ordem mecânica quanto isquêmica16. As principais
causas são as alterações degenerativas, incluindo
espondilose cervical, ossificação do ligamento lon-
gitudinal posterior, calcificação do ligamento ama-

Exames complementares
relo e doença discal degenerativa27. Causas agudas,
como hérnia discal aguda e traumatismos, são pou-
co comuns16. Os sintomas incluem a perda de con-
trole motor fino das mãos, perda de equilíbrio du- Os exames complementares são indubitavel- principalmente quando a Ressonância Magnética
rante a marcha, e, em casos mais avançados, perda mente relevantes na investigação diagnóstica da estiver contraindicada. É indicada principalmen-
de controle esfincteriano. do cervical. No entanto, sua solicitação deve ser te para avaliação de compressões do saco dural,
direcionada para a hipótese diagnóstica e quando da medula espinal e das raízes nervosas. Outra
necessários. Assim, riscos desnecessários à saúde vantagem é a possibilidade de avaliação dinâmi-
do paciente são evitados, e o custo do sistema de ca e funcional da patência do espaço do líquido

Avaliação clínica
saúde diminui, aumentando sua efetividade31. cefalorraquidiano35. Pode ser indicada também
em pacientes com implantes na coluna vertebral,
RADIOGRAFIA que limitam a visualização em outros exames de
O exame físico do paciente com dor cervical de carga local . A dor discogênica piora com
29, 30
O exame inicial para a avaliação da cervicalgia imagem32.
deve iniciar com a inspeção estática. É preciso rotação e extensão cervical21. Na palpação cervi- deve ser a radiografia simples, nas incidências an-
observar possíveis vícios posturais e posições anô- cal, deve ser pesquisada a presença de contraturas teroposterior (AP) e perfil. Em AP é possível obser- RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
malas da coluna cervical, como a apresentada no musculares, dores a palpação do ligamento nucal var as articulações uncovertebrais, o alinhamento A Ressonância Magnética é o exame de imagem
torcicolo espasmódico. Importante também ficar (que pode apresentar lesão secundária a traumatis- coronal, e avaliar os pedículos. No perfil pode-se padrão ouro para avaliação das patologias da co-
atento a deformidades28, como apresentadas em mos), desalinhamento ou crepitação à palpação de avaliar as articulações zigoapofisárias, a distância luna cervical. Sua vantagem é poder identificar e
pacientes com Síndrome de Kippel-Feil. proeminências ósseas16, 28. entre os processos espinhosos, fraturas, alinha- diferenciar as estruturas potenciais causadoras de
A inspeção dinâmica deve avaliar a amplitude Quando o paciente apresenta queixas sugestivas mento sagital, diminuição do espaço discal suge- dor na coluna cervical, como as raízes nervosas,
de movimentos (ADM), procurando restrições na de radiculopatia, algumas manobras específicas rindo alterações degenerativas discais. A presença os discos intervertebrais36. Outra vantagem é a vi-
flexo-extensão, rotação e inclinações laterais28, 29. podem auxiliar o diagnóstico. Existem manobras de instabilidade pode ser avaliada pelas radiogra- sualização da raiz nervosa dentro do forame inter-
Esses movimentos podem apresentar restrição por provocativas, que reproduzem os sintomas da com- fias dinâmicas em flexão e extensão. As radiogra- vertebral, o que é difícil em outros exames mesmo
lesões traumáticas, deformidades ou mesmo por pressão radicular, como a Manobra de Spurling e o fias oblíquas auxiliam a visualização dos forames com uso de contraste32. Com a Ressonância Mag-
posicionamento antálgico. A osteoartrite pode re- teste da extensão da raiz, e as manobras de alívio, neurais32,16. A incidência transoral auxilia a avalia- nética também é possível avaliar malformações
duzir a ADM, como no caso da osteoartrite atlan- que diminuem a intensidade das queixas, como o ção do odontoide, das massas laterais do atlas e da fetais, alterações vasculares, isquemia medular,
to-axial, que bloqueia a rotação30. É necessário teste da distração e o teste do alívio em abdução do relação entre eles. mielopatia e lesões metastáticas37,38. É preciso, no
também avaliar a queixa do paciente durante a mo- ombro28. Na presença de cervicobraquialgia e mie- entanto, correlacionar a clínica do paciente às
vimentação. A cervicalgia axial tende a piorar com lopatia cervical deve ser sempre realizado o exame TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA alterações no exame, uma vez que alterações na
a flexão e com a compressão axial, pelo aumento neurológico do paciente. A tabela 1 apresenta as al- A tomografia computadorizada (TC) é útil para Ressonância Magnética são comuns em indivíduos
avaliação das alterações ósseas33, e apresenta boa assintomáticos39.
Tabela 1: visualização de estenose foraminal e de calcifi-
cações presentes nas alterações degenerativas. ELETRONEUROMIOGRAFIA
NIVEL MOTOR – MÚSCULO-CHAVE REFLEXOS SENSIBILIDADE Apresenta uma visualização limitada das partes É um exame útil para diferenciar as possíveis
C5 Flexores do cotovelo Bíceps Face lateral do braço moles34. causas da dor neuropática do paciente. Auxilia
C6 Extensores do punho Braquiorradial 1º quirodáctio principalmente na identificação de neuropatia pe-
C7 Extensor do cotovelo Tríceps 3º quirodáctio
MIELOGRAFIA riféricas, e de alterações difusas36.
O uso da mielografia vem sendo suplantado
C8 Flexor profundo do 3º quirodáctio – 5º quirodáctio
pela Ressonância Magnética. Continua útil quan-
T1 Adutor do 5º quirodáctio – Face medial do cotovelo do houver preferência do médico solicitante, mas
258 DOR CERVICAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 259

Tratamento
glaucoma ou alterações cardíacas. Outra classe me- rações radiológicas. Pacientes com radiculopatia e
dicamentosa utilizada no controle de dor neuropáti- mielopatia apresentam uma boa indicação do trata-
ca, com bons resultados do ponto de vista do contro- mento cirúrgico, e também quando houver outras
O tratamento da dor deve ser individualizado, e Figura 6: le álgico, são os neurolépticos ou gabapentinoides, patologias associadas, como artrite reumatoide, le-
levar em consideração aspectos como duração dos como a Gabapentina e a Pregabalina57. Os fármacos sões traumáticas, subluxação43.
sintomas, intensidade da dor, tratamentos prévios, Severa corticosteroides têm efeito anti-inflamatório. São Há diversas técnicas cirúrgicas descritas para o
sintomas associados, e as diferentes etiologias. A Opioides fortes indicados quando a causa presumida da dor é de tratamento de doenças discais cervicais. A discec-
dor pode ser classificada por diferentes instrumen- ± não-opiode origem inflamatória, em especial a irritação radi- tomia por via anterior com artrodese do segmento
Moderada ± adjuvantes
tos, como a Visual Analogue Scale (VAS), e a escala cular58. Os relaxantes musculares são importantes é a técnica padrão para pacientes com espondilose
Opioides fracos
de avaliação numérica, que pode ser interpretada Leve ± não-opiode
adjuvantes no tratamento da dor cervical, principal- e dor cervical persistente, com bons resultados clí-
de acordo com a numeração dada a intensidade da ± adjuvantes mente nos quadros agudos e associado a espasmos nicos quando bem indicada68-71.
dor: 0= sem dor; 1-3= dor leve; 4-6= dor moderada; Analgésico musculares59, 60. A infiltração direta de medicamen-
Não-opioide
7-10= dor intensa(Figura 5)40. O tratamento conser- ± adjuvantes tos corticosteroides na coluna cervical não apresen- Nucleoplastia
vador é indicado como tratamento inicial na maio- DOR Fonte: OMS
tou relação direta da melhora da dor cervical axial É um procedimento de ablação do núcleo pul-
ria dos casos, e geralmente é eficaz41. Ele envolve isolada, mas apresentou indícios de efeito benéfico poso de modo controlado, por meio de radiofre-
diferentes modalidades terapêuticas, incluindo a no tratamento da dor associada a radiculopatia67. quência pela inserção de dispositivo percutâneo72.
prescrição medicamentosa, imobilização, fisiotera- Ainda não há dados suficientes que comprovem
pia, manipulação e massagem42. mais utilizada para o tratamento das dores cervi- IMOBILIZAÇÃO sua eficácia, mas há indícios de associação com
cais41. Apresentam boa eficácia, sendo superiores A limitação da movimentação com colares cer- desfechos favoráveis72, 67.
Figura 5: ao placebo46. Ao prescrevê-los é importante levar vicais tem o efeito teórico de diminuir a inflamação
em consideração seus efeitos colaterais, como al- local articular e dos tecidos moles21. No entanto, Foraminotomia posterior
A
terações renais47. Os Analgésicos simples são os seus efeitos reais não foram comprovados, e sua Procedimento indicado geralmente para pacien-
no pain worst possible pain medicamentos iniciais na escada analgésica da utilização é controversa61, 62. tes com cervicalgia e radiculopatia por hérnia pós-
OMS. Seus principais exemplos são a Dipirona e o tero-lateral mole73 Não são indicadas para hérnias
B Paracetamol, as medicações analgésicas mais uti- FISIOTERAPIA centrais. A foraminotomia posterior evita a fusão
lizadas no Brasil47. Apresentam questionamentos A fisioterapia é uma modalidade terapêutica do segmento envolvido, preservando a amplitude
sobre riscos colaterais - agranulocitose no caso da muito popular no tratamento das dores cervicais41. de movimento local, o que teoricamente diminui
no pain worst possible pain Dipirona, e insuficiência hepática relacionada ao Exercícios de fortalecimento cervicais, dos ombros o risco de degeneração discal do nível adjacente74,
Paracetamol49-51. e escapulotorácicos apresentam evidência de me- 75
. Apresenta-se como uma boa alternativa para a
lhora da dor, enquanto há pouca evidência de eficá- abordagem anterior nos casos de radiculopatia67, 76.
O tratamento cirúrgico é indicado quando os Opioides: cia terapêutica para alongamentos isoladamente.
meios conservadores foram devidamente indica- Os opioides são fármacos que bloqueiam a con- Há evidências que as modalidades passivas - como Descompressão endoscópica
dos e não obtiveram sucesso terapêutico. É neces- dução do estímulo doloroso. São utilizados princi- TENS e ultrassom - não causam melhora significa- São procedimentos minimamente invasivos,
sário identificar a causa específica das queixas do palmente no tratamento da dor nociceptiva52. São tiva no tratamento da dor cervical.63, 64. Apesar de e podem ser realizados tanto pelo acesso anterior
paciente para obtenção de bons resultados e mini- divididos em fracos e fortes de acordo com sua existirem evidências que as terapias manuais pos- quanto pelo posterior. Apresentam como vanta-
mizar os possíveis riscos43. potência analgésica. Os principais exemplos de sam ter algum impacto positivo na diminuição da gens pouco trauma aos tecidos moles e não ter a
opioides fracos são a codeína e o tramadol; entre os dor cervical, não há dados conclusivos sobre seus necessidade de fusão. O acesso posterior é indicado
TRATAMENTO CONSERVADOR opioides fortes, podemos citar a morfina, a meta- reais efeitos64,65. É importante levar em considera- em herniações moles foraminais ou laterais à me-
dona, a oxicodona53. Apresentam boa eficácia anal- ção potenciais eventos adversos, em especial alte- dula, e contraindicado em casos de deformidade,
Tratamento medicamentoso gésica comprovada, e seus efeitos colaterais mais rações vasculares como acidentes vasculares cere- instabilidade ou herniação central77. O acesso an-
A escada analgésica da OMS44 é um instrumen- comuns são: náuseas, constipação, dependência brais e dissecção de carótida66. terior tem como indicações hérnias moles centrais;
to importante para o manejo farmacológico da física, tolerância e depressão respiratória54, 55. contraindicado em casos de instabilidade, calcifi-
dor (Figura 6). Para o manejo de dores agudas, foi TRATAMENTO CIRÚRGICO cação, migração e importante perda de altura pela
proposto o início da administração medicamento- Demais medicamentos (adjuvantes): O tratamento cirúrgico em pacientes com alte- degeneração discal78.
sa pelos degraus mais elevados, com diminuição A Amitriptilina é um antidepressivo tricíclico, e rações discais degenerativas é indicado em alguns
progressiva do uso de medicação com a diminui- tem eficácia comprovada no manejo da dor cervical casos quando houver falha do tratamento conser- Discectomia por via anterior e artrodese
ção dos sintomas45. Os Anti-inflamatórios não es- crônica e nas dores neuropáticas, com poucos efei- vador após extensa tentativa, e for observada cor- Indicada tanto em casos de herniação mole
teroidais (AINEs) são a modalidade farmacológica tos colaterais56. Deve ser evitada em pacientes com respondência entre a clínica do paciente e as alte- ou com calcificação, com localização central ou
260 DOR CERVICAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 261

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264 DOR CERVICAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 265

CAPÍTULO 22

Dorsalgia
Leonardo Yukio Jorge Asano
Luciano Miller Reis Rodrigues

Introdução
A dorsalgia é uma dor experimentada na região clínica, genética e epidemiológica, ainda que a dor
torácica posterior, entre os limites das vértebras experimentada na região dorsal seja igualmente in-
T1 a T12 e seu aspecto posterior do tronco. Essa capacitante, impondo encargos sobre o indivíduo,
localização é uma área comum para inflamação, comunidade2, e força de trabalho3.
degeneração, condições metabólicas, infecciosas
e neoplásicas. Além das estruturas da coluna ver- DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
tebral, várias fontes podem levar a dorsalgia in- Os pacientes com dor na região torácica devem
cluindo o tórax, sistema cardiovascular e gastroin- ser sempre examinados minuciosamente, pois
testinal. uma importante patologia subjacente pode ser a
A dor na coluna representa um impacto signifi- causa dos sintomas. Os cinco principais grupos
cante na qualidade de vida bem como um encargo de etiologias de dor torácica, por ordem decres-
financeiro para os empregadores1. Comparado com cente de prevalência, são: musculoesquelética,
a coluna lombar e cervical, a coluna torácica tem gastrointestinais, cardiovasculares, psiquiátricas
recebido menos atenção em termos de pesquisa e pulmonares. Algumas dessas causas são poten-
266 DORSALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 267

Etiologia
cialmente fatais, como dissecção aguda de aorta, outros locais a depender da extensão do hematoma
tromboembolismo pulmonar, pneumotórax hi- ao longo da aorta.
pertensivo, tamponamento cardíaco, perfuração A dor na região torácica pode estar presente em
esofagiana4. transtornos de origem psicogênica, como ansieda- A dorsalgia musculoesquelética consiste na musculares e palpar pontos-gatilho. Comumente, a
Doença do refluxo gastroesofágico, espasmo de, depressão, síndrome do pânico e hipocondria. principal causa de dor torácica. Entretanto, o diag- uma relação com sedentarismo e vícios posturais.
esofágico, esofagite são exemplos de patologias de Os pacientes geralmente apresentam-se com disp- nóstico definitivo costuma não ser detectado em
origem esofágica que poderiam gerar dor na região neia, hiperventilação, palpitação, tontura, insônia quase 80% dos casos (dor vertebral inespecífica). A DISCOPATIA
torácica. Na doença do refluxo gastroesofágico, a e alterações do desempenho sexual. dor pode ter origem de várias estruturas sensíveis à Hérnias de disco torácicas assintomáticas são
dor comumente irradia para a região epigástrica, A dor nas costas de origem pulmonar está rela- dor, como: fibras anulares do disco intervertebral, relativamente comuns; entretanto as hérnias de
piora na posição deitada, após refeições volumosas cionada com alterações dos vasos (tromboembolis- ligamentos longitudinais, articulações facetárias, disco torácicas que causam sintomas são raras,
e irritantes gástricos. mo pulmonar e hipertensão pulmonar), do parên- músculos paravertebrais, dura-máter, bainha das ocorrendo aproximadamente em cinco de cada
Entre as causas cardiovasculares, a dorsalgia quima pulmonar (pneumonia, câncer, sarcoidose, raízes neurais e nervos espinhais. 1000 hérnias discais sintomáticas7. Os discos her-
pode estar associada à isquemia miocárdica, dis- pneumotórax) ou do tecido pleural (doenças virais, A coluna torácica é um sítio relativamente co- niados geralmente estão associados a uma lesão em
secção aguda de aorta, doença valvular, inflamação drogas ou doença autoimune, como lúpus eritema- mum de condições inflamatórias, degenerativas, flexão somado a um levantamento de peso e torção.
do miocárdio ou pericárdio ou atividade adrenérgi- toso sistêmico e artrite reumatoide). metabólicas, infecciosa e neoplásica. As principais O exame físico detecta espasmo muscular paraver-
ca exacerbada. A dor decorrente do infarto agudo Lesões tumorais no tórax podem transcorre afecções musculoesqueléticas das dorsalgias são: tebral, e o paciente pode relatar um estalido no mo-
do miocárdio em geral é intensa em aperto ou com- com dorsalgia como os tumores mediastinais. O tu- síndrome miofascial, discopatia, osteoartrose, es- mento da lesão. Uma estenose do canal vertebral
pressão, associada de outros sintomas como náu- mor de Pancoast é um tumor localizado no ápice tenose do canal medular, fraturas, Doença de Pa- com comprometimento neurológico pode ocorrer
seas, mal-estar, diaforese. Os aneurismas de aorta pulmonar que pode causar dor nas costas, no tórax get, dorso curvo, osteoporose, tumores ósseos, os- na presença de uma hérnia de disco volumosa, e
são afecções que se apresentam como infarto agu- e nos ombros e comprimir a cadeia simpática cer- teomielite, discite, tuberculose óssea. pode exigir uma intervenção cirúrgica de emergên-
do do miocárdio, com dor intensa em mais de 70% vical e desenvolver a síndrome de Horner (miose, Durante a anamnese, exame físico e comple- cia para evitar uma lesão neurológica irreversível.
dos casos. A dor migra da região de sua origem para ptose palpebral e anidrose). mentar, é importante identificar os pacientes que A tomografia computadorizada ou a ressonância
apresentam “sinais de alarme” e estão sob risco de magnética confirmam o diagnóstico (Figura 1).
doenças graves e que necessitam de uma investiga-
ção mais detalhada6. Figura 1: Hérnia de disco torácica
“Sinais de alarme”:
• História de trauma
Epidemiologia da dorsalgia • História de câncer, abuso de drogas
• HIV, imunossupressão
Embora características epidemiológicas da lência de dor torácica em crianças e adolescentes, • Uso crônico de corticosteroides
dor cervical e lombar sejam relativamente bem e particularmente para mulheres. Dorsalgia foi • Sintomas constitucionais: febre, perda de peso
estabelecidas entre a população ativa, pouco é significativamente associado a: dor musculoes- inexplicável
conhecido sobre a epidemiologia da dorsalgia. A quelética concomitante, crescimento, estilo de • Dor refratária a tratamento por 2 a 4 semanas
limitada pesquisa sobre prevalência e fatores de vida e social, mochila, postura, psicológico e fa- • Associação com rigidez matinal (artrite reuma-
risco para dor torácica provavelmente reflete a tores ambientais. Os fatores de risco identificados toide, espondilite anquilosante)
crença de que a saúde clínica e pública da dor- para dorsalgia em adolescentes incluíram idade • Deformidade estrutural
salgia é menor em comparação com outros níveis (sendo pior nos mais velhos) e comprometimento • Déficit neurológico nos membros inferiores
vertebrais. Entretanto, a dorsalgia deveria ser da saúde mental3. • Dor não mecânica sem melhora com repouso
considerada como uma entidade clínica impor- A dorsalgia classifica-se quanto à duração dos ou modificações posturais
tante, independentemente da dor experimentada sintomas em aguda (menos de seis semanas), su-
em outras áreas da coluna vertebral, particular- baguda (entre seis e doze semanas) e crônica (sin- DOR MIOFASCIAL
mente nos jovens, onde a incidência de dor e in- tomas durando mais de doze semanas). As dores Corresponde à maioria das dores na região da
capacidade vem aumentando5. agudas e subagudas possuem melhor prognóstico, coluna torácica. Os principais músculos nessa re-
Atualmente a dorsalgia corresponde ao segun- com recuperação da função de 60% dentro de 1 gião são romboides, latíssimo do dorso, multífidos,
do motivo mais comum de visitas a atendimento mês e 90% em três meses, respectivamente. Já na serrátil posterior e superior e iliocostal. Os pacien- ESTENOSE DO CANAL VERTEBRAL
médico nos EUA. Uma revisão sistemática obser- dor crônica, há pouca tendência à regressão dos tes relatam sintomas de característica mecânica As alterações degenerativas nas articulações fa-
vou uma prevalência de dores nas costas variando sintomas. associada com limitação de movimentos. Geral- cetárias (hipertrofia, osteófitos), no disco interver-
de 4 a 72%. Estudos relataram uma maior preva- mente é possível observar espasmos ou contraturas tebral e no ligamentos (hipertrofia e calcificação)
268 DORSALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 269

podem diminuir as dimensões do canal espinhal dor à palpação, limitação dos movimentos também sulco glúteo. Desvio para direita ou esquerda deve NEUROLÓGICO
e causar compressão medular. Comumente pode são observadas no exame físico. Em alguns casos, ser mensurado em centímetros. O teste de incli- O exame neurológico consiste do teste de sen-
ocorrer em associação com doenças reumatológi- a artrite pode produzir um cisto sinovial, podendo nação de Adams consiste na inclinação do tronco sibilidade e reflexos. As raízes torácicas (exceto T1)
cas, metabólicas e ortopédicas, como: acondropla- ser responsável por uma compressão radicular ou para frente e deve ser conduzido para determinar inervam a musculatura intercostal, abdominal e
sia, Soença de Scheuermann, Doença de Paget e medular. se existe uma proeminência torácica ou lombar, paraespinhal. Não é possível localizar o nível radi-
acromegalia. Os pacientes usualmente apresentam implicando na rotação das vértebras do ápice da cular testando estes músculos.
claudicação neurogênica (dorsalgia, dor lombar TUMORES curvatura. A proeminência é mensurada pelo esco- Existe uma sobreposição significativa na inerva-
baixa, dor nas coxas e pernas que pioram quando Geralmente as tumorações na coluna vertebral liômetro, dando um valor angular, ou medindo a ção sensitiva da região torácica; qualquer área cutâ-
deambulam e melhoram na posição sentada). Pode torácica são metastáticas. Os tumores primários altura da proeminência em centímetros. nea é inervada por 3 diferentes nervos. Existem três
ou não haver alterações neurológicas (parestesia, são raros, representam 10% dos tumores ósseos. É importante ter em mente que o desalinha- locais que refletem o nível sensitivo: a linha areolar
diminuição de reflexos, alterações urinárias). A Causam dor, principalmente no período da noite, mento encontrado na região torácica pode ser re- representa o nível T5; a região umbilical associa-se
tomografia computadorizada (TC) e a ressonância espasmos musculares, dor radicular ou mielopatia sultado de uma contratura muscular (posição an- com T10 e a região inguinal com T12.
magnética (RM) confirmam o diagnóstico. Em ge- (dependendo do local da compressão ou presença tálgica) ou mesmo um mecanismo compensatório Sinal de Beevor ou reflexo abdominal: o abdô-
ral, intervenção cirúrgica é necessária. de cifose acentuada). Muitas vezes a percussão da de deformidades cervicais, lombares ou em outras men é dividido em quatro quadrantes através de
apófise espinhosa pode ser dolorosa. Dentre os regiões. uma linha vertical e outra horizontal passando pela
ARTROPATIA FACETÁRIA tumores benignos, destaca-se o osteoma osteoide região umbilical. A musculatura abdominal acima
As articulações facetárias são articulações diar- (mais comum na coluna lombar e em seguida na PALPAÇÃO da região umbilical é inervada pelos níveis T7-T10;
trodiais (cápsula e cartilagem articular) presente cervical), osteoblastoma, osteocondroma (raro na A palpação consiste na avaliação da temperatu- já a musculatura abaixo, pelos níveis T10-L1. O tes-
em pares, responsáveis pelo movimento da colu- coluna torácica), cisto ósseo aneurismático, gra- ra da superfície da pele (com o dorso da mão) e das te consiste do toque suave em cada quadrante. Nor-
na vertebral. Essas estruturas podem sofrer uma nuloma eosinofílico e tumor de células gigantes. estruturas ósseas. malmente o umbigo migra em direção ao quadran-
maior sobrecarga e inflamação e gerar uma dor Os tumores malignos são representados principal- Os processos espinhosos são facilmente palpa- te estimulado. Movimento diminuído pode indicar
crônica. Geralmente são dores inespecíficas sem mente pelo mieloma múltiplo e pelas metástases. dos na linha mediana das costas desde o nível T1, uma lesão do neurônio motor superior. Uma perda
alteração neurológica, que pioram à hiperexten- O osteossarcoma primário e o condrossarcoma principalmente com a flexão cervical. Anota qual- assimétrica do reflexo pode indicar uma lesão do
são e aliavam à flexão do tronco. A localização da são raros. quer alteração de alinhamento, curvatura, dor, tu- neurônio motor inferior. Em seguida, peça ao pa-
moração e edema. ciente exercer uma flexão abdominal. Se o umbigo
Com o paciente relaxado, palpa-se as articula- mover para cima, isso implica em uma lesão de T10
ções facetarias no sentido caudal, lateralmente aos ou abaixo. Se o umbigo mover para baixo, a lesão
processos espinhosos. Geralmente também é pos- potencial é em T10 ou acima. O movimento assimé-

Semiologia
sível palpar as costelas e as articulações costover- trico é o sinal de Beevor.
tebrais. Verificar se há nódulos intercostais e dor.
TRATAMENTO
O diagnóstico das dorsalgias deve ser funda- herpes zoster, uma infecção viral que comumente MOVIMENTAÇÃO Muitos casos de dor na coluna torácica inespe-
mentado na história clínica e no exame físico. O acomete no rosto e no tronco. A presença de man- Movimentação ativa: pede-se ao paciente para cífica são autolimitadas, e, portanto, resolvem sem
exame semiológico da coluna torácica difere da cha café com leite pode refletir uma neurofibroma- flexionar o tronco, procurando tocar os pés, com tratamento. Quando há uma causa específica, o tra-
região cervical e lombar; os nervos torácicos, com tose. O tufo piloso pode estar associado a presença os joelhos estendidos. Realiza-se o movimento tamento depende da patologia.
exceção de T1, não inervam musculatura da extre- ao disrafismo espinhal (diastematomielia, espinha com o paciente em pé e sentado. Em seguida, com Sem a presença dos “sinais de alerta”, o trata-
midade. Portanto, o exame consiste da inspeção, bífida). a palpação do processo transverso de T12 e L1, mento deve consistir no repouso por período curto
palpação, movimentação e neurológico. É importante ter atenção ao alinhamento e solicita-se para o paciente realizar hiperextensão e medicamentoso. Repouso prolongado pode pro-
curvatura da coluna no plano frontal e sagital (la- do tronco. Por último, solicita-se para o paciente porcionar em atrofia muscular e descondiciona-
INSPEÇÃO teral). A coluna torácica deve naturalmente ter repousar as mãos nos ombros opostos na posição mento físico, prejudicando o tratamento. A terapia
O exame inicia quando o paciente entra no con- um curvatura para frente, denominada cifose. No sentada, e realizar inclinações laterais e rotação medicamentosa auxilia na melhora precoce dos
sultório. Observa-se se o paciente é capaz de andar plano frontal, verifica-se a presença de alterações do tronco. Anote qualquer dor ou limitação do sintomas e na recuperação da atividade física. Um
e se há alguma alteração da marcha como inclinação lateral do tronco, assimetria dos movimento. programa de reabilitação é fundamental na recu-
Com o paciente despido, avalia a pele quanto à ombros, assimetria da cintura pélvica e curvatura Movimentação Passiva: os testes passivos são peração funcional do paciente. Dentre as classes de
presença de sinais de trauma, escoriação, cicatri- anormal lateral da coluna. aplicados quando não é possível exercer o arco de fármacos, as mais utilizadas são:
zes, hematoma, vermelhidão, mancha café com lei- A avaliação da escoliose deve ser iniciada pela movimento ativo. O movimento de flexão passivo • Analgésicos não opioides: dipirona, acetamino-
te, tufos de pelos e outras marcas. Vesículas na pele linha de prumo (Plumb line) que inicia pelo pro- não é realizado na possibilidade de agravar se uma feno
associado a dor intensa pode indicar a presença de cesso espinhoso de C7 e passa normalmente pelo protrusão discal existe. • Opioides: tramadol, codeína, morfina, oxicodo-
270 DORSALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 271

na, fentanil, metadona vada de três locais: do ramo medial do nervo es-
• Anti-inflamatórios não-estoides
CAPÍTULO 23
pinhal adjacente e dos ramos mediais localizados
• Glicocorticoides um nível acima e um nível abaixo. O procedimento
• Relaxantes musculares: baclofeno, benzodia- está contraindicado quando há recusa do paciente,
zepínicos, carisoprodol, ciclobenzaprina infecção sistêmica ou na pele do local da punção
• Agentes tópicos: adesivo de lidocaína, capsaici- e coagulopatia. Suas complicações são mínimas e
na geralmente resolvidas em poucos dias após o pro-
• Anticonvulsivantes: pregabalina, gabapentina,
carbamazepina, oxicarbazepina, topiramato
• Antidepressivos: antidepressivos tricíclicos, ini-
cedimento, incluem: dor local, lesão acidental da
raiz nervosa, infecção e hematoma. Dor lombar
bidores de receptação da serotonina, inibidores Figura 2: Bloqueio de ramo medial da articulação facetária
da receptação da serotonina-norepinefrina torácica Ricardo Kobayashi
Diversos procedimentos são utilizados como Fernando Herrero
ferramenta no diagnóstico e no tratamento da dor- Marcos Masayuki Ishi
salgia. O tratamento intervencionista é reservado
para os casos refratários. Para obter o melhor re-
sultado é essencial que haja seleção adequada dos
pacientes e diagnóstico correto do causador da dor.
A dor torácica proveniente de patologia da articula-
ção facetária pode responder com infiltração intra-
-articular guiada por imagem8.
O bloqueio do ramo medial na coluna vertebral
torácica está indicado na presença de dor paraver-
tebral e local sobre as articulações facetárias torá-
cicas, piora da dor em hiperextensão e rotação na
posição sentada, ausência de sinais neurológicos
e sinais radiológicos de osteoartrite facetária. Em
cada nível, a inervação da faceta articular é deri-

Introdução
A dor lombar ou lombalgia é definida como dor Figura 1: Definição anatômica da lombalgia em destaque,
Referências bibliográficas e desconforto localizado entre a margem costal e a abaixo da margem costal e acima da prega glútea inferior3
prega glútea inferior (Figura 1), com ou sem irra-
1. Dagenais S, Caro J, Haldemann S. A systematic re- 5. Niemelainen R, Videman T, Battie M. Prevalence and diação para a perna. A irradiação para o membro
view of low back pain cost of illness studies in the Uni- characteristics of upper or mid-back pain in Finnish inferior ocorre em cerca de 60% dos casos1,2,3.
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spine pain in the general population : Prevalence , racic intervertebral disc nucleoplasty: technical notes
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2.ed. Philadelphia; 1990. 959–1000 . Imaging Interv J. 2011;1:4.
272 DOR LOMBAR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 273

• dor neuropática pela compressão da raiz nervo-


Epidemiologia
músculos, tendões e fáscia como resposta à lesão
tecidual, inflamação ou estresse mecânico. Além sa: ocorre compressão mecânica da raiz nervo-
disso, diferentes mecanismos fisiopatológicos têm sa.
A dor lombar tem grande impacto socioeconô- mentou que mais de dois terços das mulheres grá- sido implicados como causadores da dor neuropá- • dor neuropática pela inflamação da raiz nervo-
mico, sendo responsável por grande parte das do- vidas apresentavam lombalgia1. tica da lombalgia crônica:6 sa: ocorre pelo efeito de mediadores inflamató-
res crônicas no mundo todo, além disso é a prin- A crença de longa data de que a dor lombar na • dor neuropática localizada: ocorre pela lesão de rios que provêm do disco degenerado resultan-
cipal causa de anos vividos com incapacidade em infância é rara foi dissipada durante a última déca- fibras nociceptivas dentro do disco degenerado. do em inflamação e lesão da raiz nervosa.
países em desenvolvimento e desenvolvidos. Outro da. Um estudo com mais de 400 mil adolescentes
fato importante: a lombalgia crônica é a grande documentou 37% de dor lombar mensalmente ou
responsável pela aposentadoria prematura dos tra- com frequência maior. A dor lombar é ligeiramen-
balhadores, estando acima das doenças cardíacas, te mais comum em meninas do que em meninos e

História natural
diabetes, hipertensão, neoplasia, doenças respira- a prevalência aumenta conforme a idade. A lom-
tórias e asma combinadas. Apesar disso, cerca de balgia na infância prediz seu aparecimento na vida
42% dos pacientes não procura atendimento1. adulta, estudo com 10 mil gêmeos dinamarqueses
A lombalgia é mais comum em indivíduos do relatou que aqueles que tinham dor lombar na ado- Muitos estudos consideram que a lombalgia bem maior, de 40 a 44%. Assim, o tratamento ade-
sexo feminino e em indivíduos com idade entre 40 lescência tinham duas vezes mais probabilidade de inespecífica aguda é autolimitada, com taxa de re- quado e o acompanhamento inicial da lombalgia
e 69 anos. Uma revisão da Cochrane (2007) docu- ter sintomas quando adultos1. cuperação de 90% no período de 4 a 7 semanas e aguda são de extrema importância para se evitar os
taxa de cronificação de 2 a 7%. No entanto, estudos casos crônicos2,7.
mais recentes demonstram taxa de cronificação

Classificação
TEMPO espondilite anquilosante variando entre 0,3 a 5%, Fatores de risco
A classificação temporal ilustrada na tabela 1 é hérnia de disco e estenose do canal vertebral entre
importante, visto que a dor aguda é um sintoma, 3-4%. Deve-se considerar também outras etiologias Os fatores de risco associados ao desenvolvi- do objeto e o número de vezes que é levantado) e ao
já a dor crônica pode ser considerada uma doença de dor na região lombar com origem em outros mento da lombalgia podem estar relacionados ao hábito de manter longos períodos na mesma posi-
crônica4. órgãos como a nefrolitíase, aneurisma de aorta, trabalho e ao estilo de vida. A atividade laborativa ção. Fatores que aumentam o risco de desenvolver
doenças metabólicas e pancreatite1,4,5. relacionada ao desenvolvimento da lombalgia en- lombalgia são o tabagismo, a obesidade e sintomas
Tabela 1: Classificação temporal da lombalgia4 volve o levantamento de peso durante o trabalho depressivos1.
PADRÃO DE DOR (sendo o risco diretamente relacionado com a carga
A dor lombar crônica cada vez mais é consi-
CLASSIFICAÇÃO DURAÇÃO
derada como dor mista, consistindo de dor noci-
Lombalgia aguda < 6 semanas ceptiva e dor neuropática, contudo o componente
Lombalgia subaguda Entre 6 e 12 semanas neuropático, principalmente na dor lombar sem

Avaliação clínica
irradiação, muitas vezes é subdiagnosticado e
Lombalgia crônica > 12 semanas
consequentemente subtratado. A diferenciação
entre dor nociceptiva e neuropática na lombalgia
crônica é de extrema importância, visto que cada ANAMNESE e câimbra podem sugerir dor muscular. Já queixas
ETIOLOGIA tipo de dor requer tratamento específico. Para o A semiologia básica da dor contempla a coleta de queimação, sensação de frio doloroso, choque,
A forma mais comum é a dor lombar inespe- diagnóstico do componente neuropático da lom- de dados que sugiram a característica mecânica, formigamento, amortecimento, coceira, alfinetada
cífica (90% dos casos), termo utilizado quando a balgia crônica, além da anamnese e do exame fí- inflamatória, neuropática ou funcional da dor. Nes- e agulhada sugerem dor neuropática. Deve-se lem-
origem da dor não tem uma causa específica. A sico os questionários de screening para dor neuro- se sentido, é imprescindível saber: início, periodi- brar ainda que a dor de etiologia mecânica agrava-
lombalgia de origem especifica pode estar associa- pática (DN4, LANSS, painDETECT) podem auxiliar cidade, intensidade, fatores de melhora/piora, lo- -se com o movimento e melhora com o repouso. Já
da a diferentes diagnósticos como por exemplo ao no diagnóstico6. calização da dor e descritores da dor como choque, a dor inflamatória melhora com o movimento e não
câncer presente em aproximadamente 0,7%, fratu- A dor nociceptiva resulta da ativação de noci- peso, pontada, queimação, etc.8. melhora durante o repouso, além de poder acordar
ras por insuficiência em 4%, infecções em 0,01%, ceptores que inervam os ligamentos, articulações, Assim, dor em queimação, pressão, peso, tensão o paciente8.
274 DOR LOMBAR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 275

O grupo Assessment of Spondyloarthritis Interna- lombalgia crônica inespecífica. Os músculos SINAIS DE ALERTA (RED FLAGS) infecções, tumores e a síndrome da cauda equina2.
tional Society (ASAS) sugere dor lombar inflamató- mais comumente acometidos na região lombar Os dados da anamnese e do exame físico devem Os sinais de alerta incluem a perda de peso sem
ria quando apresenta 4 dos 5 critérios: início antes e glútea são os paravertebrais, quadrado lombar, formular hipóteses diagnósticas, que, quando neces- explicação, história prévia de câncer, dor noturna,
dos 40 anos, início insidioso, dor que melhora com piriforme, iliopsoas, glúteos máximo, médio e sário, devem ser confirmadas com os exames com- mais de 50 anos de idade, trauma, febre, anestesia
exercício, dor que não melhora com o repouso, dor mínimo2,9,10,11. plementares. Os red flags são indicadores de investi- em sela, alterações urinárias, uso de drogas injetá-
noturna que melhora quando levanta9. gação por meio de exames de imagem e devem ser veis, alterações neurológicas progressivas e uso de
O diagnóstico preciso do padrão de dor é essen- Exame físico neurológico considerados para tentar excluir casos de fraturas, corticosteroide sistêmico12.
cial para se obter bom resultado terapêutico, visto O exame neurológico deve avaliar motricidade,
que o fármaco deve ser específico para cada tipo sensibilidade (tátil, dolorosa, térmica e vibratória)
de dor2. e reflexos tendíneos profundos no tendão patelar
(L4) e de Aquiles (S1). As manobras provocativas
EXAME FÍSICO
Exames complementares
mais utilizadas são o teste da elevação da perna es-
O exame físico deve incluir inspeção estática e tendida e o teste de Lasègue, que são considerados
dinâmica, marcha, manobras especiais provocati- positivos quando reproduzem os sintomas radicu-
vas, palpação (partes ósseas e partes moles), além lares em uma elevação entre 35º e 70º2. Atualmente os exames complementares têm sido assintomáticos, a conclusão foi que imagens de-
da avaliação de pontos-gatilho miofasciais (PGs)2. A dor neuropática é espontânea e pode ter algu- amplamente utilizados para justificar as dores dos generativas na coluna estão presentes em grande
mas características clínicas específicas, como:2 pacientes, no entanto, alterações nos exames nem parte dos indivíduos assintomáticos e a incidên-
Exame físico miofascial • Hiperalgesia: dor exagerada (desproporcional) a sempre têm relação com a etiologia da dor, já que cia aumenta com a progressão da idade, conforme
A síndrome dolorosa miofascial (SDM) está um estímulo habitualmente doloroso.
 alterações degenerativas são comuns mesmo em pa- ilustrado na tabela 3. Isto indica que muitas ima-
presente em 85% dos pacientes avaliados em • Hiperpatia: reação exagerada aos estímulos ál- cientes assintomáticos. Contudo, devem ser indica- gens degenerativas são parte do processo normal
centros de dor e é uma das principais causas de gicos intensos ou repetitivos aplicados em re- dos de acordo com a anamnese/exame físico e valo- de envelhecimento e não estão associadas com
dores crônicas. O diagnóstico da SDM é clínico giões hipoestésicas. rizados se forem compatíveis com o quadro clínico2. dor. A revisão concluiu que estes achados nos exa-
através da palpação dos PGs que reproduzem o • Alodínea: dor devido a um estímulo que nor- Brinjikji et al. (2015) realizaram uma revisão mes de imagem devem ser interpretados com cui-
padrão de dor referida pelo paciente. A não iden- malmente não provoca dor.
 sistemática da literatura sobre alterações nos exa- dado e apontam a importância da correlação com
tificação da SDM é responsável por numerosos Os trajetos de irradiação para o membro infe- mes de imagem em mais de três mil pacientes as queixas do paciente13.
diagnósticos errôneos e resultados terapêuticos rior das raízes lombares e dos PGs são muito pa-
insatisfatórios, que acarretam redução da produ- recidos (exemplo: raiz L5 e PG do glúteo mínimo).
tividade e aumento da incapacidade funcional Assim, a utilização de questionários para screening
dos doentes2,10,11. de dor neuropática podem auxiliar na identificação

Tratamento
De acordo com a revisão de Chiarotto et al. do tipo de dor. A tabela 2 demonstra a incidência
(2016), os PGs ativos e latentes podem estar pre- de 37 a 55% do componente neuropático na dor ir-
sentes em várias afecções da coluna vertebral radiada para o membro inferior, de acordo com es-
incluindo os doentes com cervicalgia ou lom- tudos utilizando os principais questionários (DN4, A lombalgia tem etiologia multifatorial, assim o cinética e farmacodinâmica de potência sinérgica
balgia inespecíficas. Segundo Iglesias-González LANSS, painDETECT). Assim, grande parte das tratamento multimodal é uma estratégia interessan- para beneficiar a qualidade de vida do paciente2.
et al. (2013) quanto maior o número dos PGs ati- dores irradiadas para o membro inferior não tem te. O tratamento multimodal consiste da combina-
vos maior a intensidade da dor (p < 0,001) e pior características neuropáticas, a maioria destes casos ção de procedimentos farmacológicos e não farma- Relaxante muscular
a qualidade do sono (p < 0,05) nos doentes com apresentam SDM e devem ser tratados como tal2. cológicos que regulam diferentes mecanismos da Atualmente, revisões sistemáticas, inclusive da
dor e é recomendado para o manejo das dores agu- Cochrane, demonstram evidência para o uso de
Tabela 2: Segundo estudos com os principais questionários para screening de dor neuropática (DN4, LANSS, painDETECT) das e crônicas com o objetivo de melhorar a eficácia relaxantes musculares esqueléticos para alívio em
a incidência de dor neuropática na dor irradiada para o membro inferior é de 37 a 55%2 e reduzir os efeitos adversos das medicações e das curto prazo da dor lombar aguda, entretanto não
intervenções, além de tratar as morbidades associa- há evidência para o uso de benzodiazepínicos. Para
das à dor como as alterações do sono e do humor10. dor lombar crônica a evidência é limitada, apesar
INCIDÊNCIA DE DOR
ESCORE POSITIVO PARA ESCORE MÁXIMO DO disso na prática clínica são muito utilizados14-17.
INSTRUMENTOS NEUROPÁTICA NA
DOR NEUROPÁTICA INSTRUMENTO
LOMBOCIATALGIA TRATAMENTO CONSERVADOR Os relaxantes musculares podem reduzir a dor e
melhorar a avaliação geral dos questionários, mas es-
DN-4 44% ≥4 10
Medicação tão associados a alguns efeitos adversos, incluindo so-
LANSS 55% ≥ 12 24
No tratamento multimodal medicamentoso é nolência e boca seca. Para manejar esses efeitos cola-
Pain DETECT 37% ≥9 38
indicado a associação de fármacos com farmaco- terais, pode-se lançar mão de algumas estratégias:18,19
276 DOR LOMBAR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 277

Tabela 3: Prevalência estimada de achados degenerativos nos exames de imagem de pacientes assintomáticos Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imi- neuropática os anticonvulsivantes gabapentinoi-
conforme a idade13 pramina, nortriptilina) des (gabapentina, pregabalina), os antidepressivos
Baseado no número necessário para tratar duais (duloxetina, venlafaxina), os antidepressivos
(NNT), a amitriptilina apresenta o melhor resulta- tricíclicos (amitriptilina, imipramina, nortriptili-
IDADE (ANOS)
ACHADO NA IMAGEM do para tratamento da dor neuropática. Somado a na) e o emplastro de lidocaína 5%. A tabela 4 ilustra
20 30 40 50 60 70 80 isso, pode melhorar a qualidade do sono. Contudo, a dose inicial, a posologia e a dose terapêutica re-
Degeneração discal 37% 52% 68% 80% 88% 93% 96% a eficácia dos tricíclicos para o tratamento da de- comendada de cada medicamento. Para dor neuro-
pressão e ansiedade ocorre em doses mais altas que pática a associação de anticonvulsivantes gabapen-
Abaulamento discal 30% 40% 50% 60% 69% 77% 84%
a usada para tratar a dor22. tinoides com antidepressivos tricíclicos ou duais
Protrusão discal 29% 31% 33% 36% 38% 40% 43% pode ser mais eficaz que o uso do tratamento com
Degeneração facetária 4% 9% 18% 32% 50% 69% 83% Antidepressivos duais (duloxetina e venla- uma classe de medicamentos isolada e isso permite
faxina) a redução da dose de cada molécula, diminuindo
Espondilolistese 3% 5% 8% 14% 23% 35% 50%
São efetivos no tratamento da ansiedade e depres- assim o risco dos efeitos colaterais que ocorreriam
são na dose utilizada para analgesia, mas também em doses maiores de cada medicamento2.
apresentam evidências positivas para o tratamento
• sonolência: tomar a medicação mais cedo (três Analgésico simples da dor na lombalgia crônica, osteoartrite, fibromial- Meios físicos
a quatro horas antes de dormir) pode melhorar Dipirona até 4g ou paracetamol até 3g podem gia, além de também serem considerada primeira Recomenda-se a inativação dos PGs, quando
a sonolência residual no outro dia. ser indicados em dores leves para melhorar a anal- linha para tratamento de dor neuropática2,22. outras modalidades de tratamento não se reve-
• boca seca: água com limão e produtos com xy- gesia e permitir a reabilitação10. larem eficazes ou a dor for intensa. O objetivo é
litol costumam melhorar a sensação de boca Emplastro de lidocaína 5% interromper o ciclo vicioso dor-espasmo-dor e
seca. Analgésico opioide Indicado para o tratamento da dor neuropática possibilitar a redução da dor. Esta técnica melho-
A classe dos antiespásticos (exemplo: baclo- Opiodes fracos (codeína até 360mg ou trama- localizada (dor neuropática em uma área menor do ra a microcirculação regional e a amplitude dos
feno, tizanidina) são indicados para melhorar a dol até 400mg) ou opioides fortes (buprenorfina, que uma folha tamanho A4), pode ser cortado e uti- movimentos, além de aumentar a tolerabilidade
hipertonicidade muscular, espasticidade e mo- metadona, morfina, oxicodona) podem ser indi- lizado na região de máxima dor. A recomendação é aos exercícios. Após a inativação dos PGs pode
vimentos involuntários - já a classe os anties- cados nas dores agudas ou nas dores crônicas se- utilizar no mínimo três semanas consecutivas para ocorrer alívio da dor durante poucas horas e até
pasmódicos (ciclobenzaprina, carisoprodol) são guindo o conceito da escada analgésica ascenden- se avaliar a real eficácia do tratamento22,25. alguns meses, na dependência da cronicidade e da
indicados para dores musculoesqueléticas16. A te da Organização Mundial da Saúde (OMS) para gravidade dos PGs10.
ciclobenzaprina é o relaxante muscular mais es- auxiliar a analgesia e permitir que o paciente faça Atualmente, os principais guidelines recomen- Dentre as modalidades de inativação dos PGs
tudado, e revisão sobre o uso de miorrelaxantes o programa de reabilitação proposto. Segundo a dam como adjuvantes para o tratamento para dor destaca-se o agulhamento seco, a infiltração com
para tratar a lombalgia aguda demonstrou que 10 recomendação da International Association for the
mg de ciclobenzaprina reduz os espasmos muscu- Study of Pain (IASP) sobre opioides de 2018, o uso Tabela 4: Principais medicamentos recomendados para o tratamento de dor neuropática em adultos, recomendados
lares independentemente da ocorrência da sono- de opioides para dor crônica deve ser recomenda- também pelo Comitê Olímpico Internacional para atletas26
lência. Outra revisão sistemática incluindo mais do em doses baixas e em médio prazo em pacien-
de três mil pacientes concluiu que a ciclobenza- tes cuidadosamente selecionados; entretanto, no DOSE INICIAL POSOLOGIA DOSE TERAPÊUTICA
prina é mais eficiente que o placebo no manejo da uso contínuo a longo prazo a tolerância, depen-
Anticonvulsivantes
lombalgia aguda, com melhora global ocorrendo dência e outras neuroadaptações podem compro-
em cerca de 10 dias.19-20 O carisoprodol, devido ao meter tanto a eficácia quanto a sua segurança. Na Gabapentina 300mg 8/8 h 1200 a 3600mg /dia
metabólito ativo meprobamato, e os benzodia- América Latina, enfrentamos a subutilização dos Pregabalina 50 a 75mg 12/12h 150 a 600 mg/dia
zepínicos (exemplo: clonazepam, diazepam, etc.) opioides e a incidência do temido abuso está em
Antidepressivos
devem ser prescritos com cuidado devido ao risco torno de 1%10,23,24.
de abuso16. 1x dia, 3 horas antes de
Amitriptilina 10 a 25mg 25 a 150mg / dia
Anticonvulsivantes gabapentinoides (gabapen- dormir
Anti-inflamatório tina e pregabalina) Duloxetina 30mg 1x dia pela manhã 60 a 120mg / dia
Indicado em dores lombares agudas, nas agu- Além de serem considerados como primeira li- Venlafaxina 37.5 a 75mg 1x dia pela manhã 150 a 225mg / dia
dizações de dores crônicas e dores inflamatórias nha para o tratamento da dor neuropática e fibro-
Tópicos
(exemplo: espondilite anquilosante). A recomenda- mialgia, são indicados para melhora da qualidade
ção é usar menor dose e tempo possíveis devido ao do sono e transtorno de ansiedade22. 12h com / 12h sem o
Emplastro de lidocaína 5% 1 a 3 emplastros 1 a 3 emplastros
risco de efeitos colaterais em longo prazo10. emplastro
278 DOR LOMBAR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 279

anestésicos e o tratamento por ondas de choque. cientes com o diagnóstico de dor lombar aguda pia de condrócitos são associados a melhora da dor nica, contudo esta revisão afirma que ainda faltam
Entretanto, a inativação isolada dos PGs propor- discogênica. Por outro lado, revisão sistemática da e incapacidade funcional em dor lombar discogê- mais estudos para documentar sua real eficácia39.
ciona redução apenas temporária dos sintomas, a literatura apontou a artrodese como uma opção de
correção dos fatores perpetuantes e os exercícios tratamento para pacientes portadores de dor lom-
de reabilitação são essenciais para reduzir a possi- bar crônica de origem discal. A artroplastia do dis-
bilidade de reativação dos PGs10. co intervertebral lombar não se mostrou superior à

Conclusão
reabilitação multidisciplinar em um estudo rando-
Intervenções mizado multicêntrico33-35.
O tratamento intervencionista em dor será
aprofundado em um capítulo específico deste livro. Artrose facetária A dor lombar tem etiologia multifatorial, por- tores desencadeantes e melhorar a dor para permi-
Dentre as diferentes técnicas destaca-se a infiltra- Não existe evidência ou protocolos disponíveis tanto a avaliação funcional pormenorizada do pa- tir que o paciente consiga fazer o programa de rea-
ção radicular para auxiliar no diagnóstico quando que suportem a artrodese no tratamento da artrose ciente é fundamental. Neste contexto, identificar bilitação composto de exercícios de alongamento e
há incerteza que a compressão radicular é a res- facetária, mesmo na falha do tratamento medica- os fatores perpetuantes e o tipo de dor (nociceptiva, fortalecimento gradativos associados aos exercícios
ponsável pelos sintomas, a duração do alívio pode mentoso ou tratamento intervencionista36. neuropática, nociplástica ou mista), tanto na região aeróbicos que melhoram a percepção da dor. Além
variar muito conforme o paciente27. lombar quanto na dor irradiada para o membro in- da analgesia, o tratamento também deve abranger
Espondilolistese ferior, são essenciais para a escolha do tratamento as morbidades associadas, como distúrbios de sono
Reabilitação Com base nos ensaios clínicos disponíveis, há específico para cada paciente2,6. e humor, com o objetivo final de melhorar a função
A ideia principal do tratamento através de me- evidências de que, em comparação com os cuida- O objetivo do tratamento deve ser corrigir os fa- e a qualidade de vida do doente2,8,10,11,40.
dicamentos e meios físicos é melhorar a dor para dos não cirúrgicos, o tratamento cirúrgico da es-
possibilitar a reabilitação do paciente. Os princí- pondilolistese sintomática oferece um benefício
pios da reabilitação serão abordados em um capí- clínico significativo na presença de déficits neuro-
tulo específico deste livro8,10,11. lógicos progressivos, síndrome da cauda equina,
instabilidade radiográfica com sintomas neurológi-
TRATAMENTO CIRÚRGICO cos, escorregamento maior que o grau II, graus II Referências b ibliográficas
Em muitas doenças a indicação do tratamento e III sintomáticos ou espondiloptose, além de dor
cirúrgico ocorre na falha do tratamento conserva- importante que afete a qualidade de vida37. 1. Maher C, Underwood M, Buchbinder R. Non-specific doente com dor crônica, in: Martins MA, Carrilho FJ,
dor, todavia deve-se ter cuidado com esta indicação low back pain. Lancet 2017;389:736–47.  Alves VAF, Castilho EA, Cerri GG. Clínica Médica do
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pecífica é muito limitado e seu uso excessivo tem complicações em pacientes submetidos ao trata- 4. van Tulder M, Becker A, Bekkering T, Breen A, del 10. Kobayashi R. Estudo prospectivo, comparativo, rando-
sido criticado. Os resultados de estudos que com- mento não cirúrgico. Esses achados sugerem que Real MT, Hutchinson A, et al. Chapter 3. European gui- mizado, duplamente coberto, controlado com placebo
pararam a reabilitação intensiva com a cirurgia de os cirurgiões devem ter muito cuidado ao informar delines for the management of acute nonspecific low sobre a eficácia das ondas de choque no tratamento
artrodese vertebral mostraram melhora clínica se- os pacientes sobre as possíveis opções de trata- back pain in primary care. Eur Spine 
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melhante para os tratamentos com seguimento de mento, especialmente considerando que as opções 2):S169-91. 
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5. Chou R, Qaseem A, Snow V, et al. Diagnosis and Paulo. 2018.
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treatment of low back pain: a joint clinical practice 11. Kobayashi R, Kobayashi CBC, Kobayashi SA. Síndrome
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A terapia celular tem sido alvo de diversos estu-
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Não há evidência científica que suporte o tra- mento da dor lombar. Revisão da literatura de 2018 8. Yeng LT, Kobayashi R, Kobayashi CBC, Rossi Junior 14. Shaheed C, Maher CG, Williams KA, McLachlan AJ.
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280 DOR LOMBAR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 281

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gery—the case for restraint. N Engl J Med 2004; 350: 57. em geral1, sendo que a dor no quadril é um quadro dril é composta pelo fêmur proximal e o acetábu-
722–26. 40. Tesarz J, Schuster AK, Hartmann M, Gerhardt A, Eich
comum, encontrada em aproximadamente 14% lo. A cabeça femoral tem formato de esfera, sendo
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non-surgical therapy for chronic low back pain. Ann sis. Pain. 2012;153:1253–1262. uma queixa tão frequente, a boa compreensão do hialina. O terço restante forma o colo femoral, que
Rheum Dis 2010; 69: 1643–48. quadro, assim como seu manejo é importante para une a cabeça a diáfise femoral, formando um an-
todo médico. gulo de 120° a 135° graus no corte coronal2,3,4. No
282 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 283

plano transverso, a cabeça femoral apresenta uma função na propriocepção e nocicepção do quadril, congênitas ou tratamentos na infância, alterações extra-articular. Essa separação é importante, uma
anteversão de 14 a 18° em relação aos côndilos fe- auxiliando no sincronismo entre as demais estru- recentes nas atividades diárias (mudou/inicou no- vez que queixas extra-articulares podem parecer
morais5. Já o acetábulo, tem um formato côncavo, turas6. A cartilagem que reveste a cabeça femoral vos exercícios físicos, trocou de emprego, mudou como sendo intra-articulares, mesmo não tendo
que permite o encaixe da cabeça femoral, caracte- geralmente é mais espessa na região anterosupe- para novo imóvel que necessite deambular mais comprometimento da região articular. Queixas in-
rizando essa articulação como esferoidal ou bola- rior até o centro, ao redor do ligamento redondo, ou subir mais escadas), lesões ou cirurgias muscu- tra-articulares tendem a apresentar dor localizada
-soquete, o que permite uma movimentação ampla localização que corresponde a zona de maior carga. loesqueléticas prévias, condições reumatológicas em região inguinal, geralmente relacionada com
nos 3 planos em relação ao corpo3. Para manter Qualquer alteração em uma das estruturas acima conhecidas e sintomas sistêmicos (febre, perda/ limitações/piora da dor durante movimentos rota-
essa relação entre a cabeça femoral e o acetábulo é pode desencadear dor, seja de origem intra-articu- ganho de peso, tratamento para outras patologias, cionais (rotação interna ou externa), após longos
necessário um complexo mecanismo estabilizador, lar ou extra-articular. (Tabela 1) Uma causa de dor quadros infecciosos). períodos na mesma posição (sentado, deitado ou
composto por diversos músculos e tendões, que geralmente não exclui a outra, de modo que elas po- Pedir para o paciente localizar com apenas 1 em pé) e com descarga de peso e em desníveis ou
também têm a função de movimentar o quadril, e dem estar relacionadas. Uma alteração pode causar dedo o local da dor, pode ser o início de uma ava- rampas, podendo estar associada a sintomas mecâ-
pela cápsula articular, reforçada pelos ligamentos o surgimento de outra, ou até mesmo surgirem de liação a fim de diferenciar a dor intra-articular da nicos, como estalidos ou bloqueios7.
iliofemoral e pubofemoral na sua região anterior, forma independente e se sobreporem. Neste capítu-
e pelo ligamento isquiofemoral na sua porção pos- lo vamos avaliar diversas causas de dor no quadril,
terior, além do lábio acetabular, com importante assim como o diagnóstico e tratamento delas.

Exame físico do quadril


Tabela 1: Causas de dor no quadril

OUTRAS CAUSAS NÃO ORIGINADAS


INTRA-ARTICULAR EXTRA-ARTICULAR
NO QUADRIL O exame fisico do quadril doloroso deve ser fei- AVALIAÇÃO ORTOSTÁTICA (EM PÉ)
Osteoartrose Bursite trocantérica Pubalgia ta de forma rotineira e sistemática, a fim de definir Avaliar deformidades, comprimentos, alinha-
o motivo da dor e reduzir o número de hipóteses mentos, torções excessivas dos membros inferio-
Lesão labral Ressalto/tendinite iliotibial Hérnia inguinal
diagnósticas, permitindo um melhor direciona- res, Uma marcha antálgica com diminuição do
Impacto femoroacetabular Ressalto/tendinite do iliopsoas Radiculopatia lombar mento do manejo clínico e solicitações de exames tempo de apoio do membro, geralmente significa
Corpos livres articulares Síndrome do piriforme Dor abdominal/pélvica complementares. Inicia-se com inspeção do pa- dor em região do quadril, pelve ou coluna lom-
ciente, desde a sala de espera, analisando como bar9,10. A marcha em Trendelenburg, caracterizada
Lesões condrais Tendinite glútea Fratura por estresse o paciente se levanta da cadeira, até o consultó- pela fraqueza do sistema abdutor (glúteo médio e
Necrose avascular da cabeça femoral Impacto isquiofemoral rio, com avaliação da marcha, quando o paciente mínimo), é demonstrada pela queda da pelve con-
ainda não está preocupado com a observação do tralateral durante a fase de balanço da marcha. Ve-
Lesão do ligamento redondo Dor glútea profunda
médico. Observar possíveis claudicações, desni- rificar a presença de estalidos e ressaltos, audível
Fraturas Osteoporose transitória velamentos da pelve, deformidades grosseiras dos ou não, durante a marcha. Um ressalto (coxa sal-
Frouxidão capsular/ligamentar. membros inferiores, marcha em Trendelenburg. tans) pode indicar um atrito do tendão sobre algu-
Dentro do consultório, perceber como paciente se ma proeminência óssea.
Sinovites
assenta na cadeira, e em qual posição fica mais A avaliação estática da obliquidade pélvica é
confortável enquanto está em repouso. Esta sim- realizada colocando a mão sobre as espinhas ilía-
ples avaliação já auxilia no diagnostico, uma vez cas anterosuperior (EIAS) bilateral, de modo que as
que pacientes com quadros de sinovite ou derra- mãos devem ficar paralelas ao solo. Caso isso não
me articular com distensão capsular tendem a fi- ocorra, deve-se investigar possíveis alterações no

História da dor
car com o quadril parcialmente fletido, abduzido comprimento dos membros ou na coluna lombar,
e com pequena rotação externa, posição que apre- como escolioses. O comprimento dos membros
senta a maior capacidade volumétrica da cápsula deve ser mensurado utilizando as proeminências
A fim de direcionar nossa busca, elaborar hipó- ma, esforço), tipo, local e características da dor, re- articular. ósseas como referências (da EIAS até o maléolo
teses diagnósticas e indicar de forma consciente a produtibilidade do sintoma (se existe alguma ação O exame físico deve seguir uma sequência, medial ipsilateral). Deve ser observada a inclina-
realização de exames de imagem, a avaliação do ou movimento que cause o sintoma ou exacerbe a impedindo que se esqueça de alguma manobra e ção pélvica compensatória do paciente (tilt pélvi-
paciente com queixa de dor no quadril deve iniciar dor, sintomas mecânicos (como bloqueio articular, evitando que o paciente com quadro álgico precise co) para não gerar medidas erradas11,12. O teste de
com uma boa anamnese, avaliando e entendendo estalido, limitação de arco de movimento (ADM), mudar diversas vezes de posição. A avaliação con- Trendelenburg é uma forma rápida de avaliar a ca-
alguns pontos fundamentais: idade do paciente, etc), habilidade de suportar carga (paciente conse- siste em cinco posições: ortostática (em pé), senta- pacidade da musculatura glútea. Deve-se pedir que
tempo do sintoma, evento relacionado (como trau- gue deambular sem apoio?), histórico de alterações do, supino, lateral e pronada8. o paciente permaneça com a pelve estável estando
284 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 285

em apoio monopodálico. Primeiro testar o lado tante excluir patologias abdominais como causas ou, na presença de dor na região posterolateral, fascia lata, no trocanter maior, na bursa trocantéri-
sem queixas e compará-lo com o contralateral. de dores referidas para região do quadril, como pode significar impacto isquiotrocantérico14. Esses ca e na tuberosidade isquiática15.
hernias inguinais, contrações assimétricas da mus- testes podem ser positivos para dor em quadris ar- É possível testar nesta posição limitações mecâ-
AVALIAÇÃO SENTADA culatura abdominal, entre outras. trósicos ou na presença de qualquer outro motivo nicas do ADM e restrições musculares, como a con-
Quando o paciente estiver sentado, pode-se rea- Manobras provocativas específicas do quadril de dor intra-articular. tratura do trato iliotibial através do teste de Ober,
lizar a avaliação neurológica (Tabela 2), vascular e devem ser realizado para aprimorar a busca pela no qual, mantendo os joelhos e quadris estendidos,
cutânea. Testes neurológicos devem ser realizados causa específica da dor. A manobra de flexão-adu- AVALIAÇÃO EM DECÚBITO LATERAL em decúbito lateral, é realizada a abdução do qua-
buscando alterações que justifiquem perda de for- ção-rotação interna (FADURI) é tradicionalmente Em decúbito lateral é possível realizar a palpa- dril. O teste é positivo para contratura quando o
ça, incapacidade funcional ou origem de nevralgia realizada em posição supina, com o quadril fletido ção de pontos dolorosos, principalmente na mus- paciente apresenta resistência ao tentar realizar a
irradiada. a 90 graus, com adução e rotação interna passiva culatura glútea, na articulação sacroilíaca, no tra- adução para voltar para a posição inicial, manten-
do quadril. A presença de dor em região anterior jeto do nervo ciático e do piriforme, no tensor da do o membro abduzido10.
AVALIAÇÃO SUPINA ou ântero-medial, representa o impacto da região
anterior ou anterolateral do colo femoral contra
A avaliação supina inicia-se com inspeção do a parte anterosuperior da borda acetabular.13 Por
ADM do quadril. (Tabela 3) outro lado, a manobra de flexão-abdução-rotação

Causas extra-articulares
A palpação dolorosa de proeminências ósseas, externa (FABERE) pode representar impacto femo-
origens e inserções musculares pode significar a roacetabular na região superolateral e lateral do
presença de tendinopatias e entesopatias. É impor- acetábulo, irritação da cápsula articular anterior
DOR GLÚTEA PROFUNDA OU SÍNDROME semelhante, mas de início agudo. Em virtude do
Tabela 2: Testes motor e sensitivo dos nervos da extremidade inferior GLÚTEA PROFUNDA (SGP) grande volume muscular na região glútea, pode ha-
É a presença de dor na região glútea causada ver concomitantemente síndrome do esmagamen-
por acometimento não discogênico e extrapélvico to com alterações metabólicas severas. Os casos
NERVO MOTOR SENSITIVO
do nervo ciático dentro do espaço glúteo profundo, atraumáticos podem se iniciar após período prolon-
N. genitofemoral (L1-L2) – Região anteromedial da coxa que é a extensão posterior do espaço peritrocanté- gado de imobilização21.A lesão proximal dos isquio-
N. cutâneo femoral lateral (L2-L3) – Região lateral da coxa rico. Nesta região, três etiologias são comumente tibiais implica em diagnóstico diferencial da SGP.
descritas e eventualmente coexistentes, como a Da mesma forma, pode estar associada a própria
N. obturatório (L2-L4) Adução do quadril Região inferomedial da coxa
síndrome do piriforme, o impacto isquiofemoral etiologia da condição22. Um diagnóstico diferencial
N. glúteo superior (L5) Abdução do quadril – e a compressão do nervo pudendo em seu breve menos comum é a endometriose do nervo ciático.
curso após sua saída pelo forame isquiático maior Embora rara, pode simular a SGP e fazer com que
N. glúteo inferior (L5-S2) Extensão do quadril –
e a sua reentrada na pelve ao redor do ligamento pacientes sejam submetidos a procedimentos ci-
N. cutâneo femoral posterior (S1-S3) – Região posterior da coxa sacrotuberoso18. O trajeto do nervo ciático e as suas rúrgicos que eventualmente não vão gerar melhora
Região anteromedial da coxa e medial variações anatômicas estão envolvidos na geração dos sintomas. Geralmente estão associados à piora
N. femoral (L2-L4) Flexão do quadril e extensão do joelho dos sintomas apreciados na SGP19. Para os casos quando próximo ao ciclo menstrual23.
da perna e pé
em que há envolvimento da musculatura glútea O tratamento inicial para estes casos é eminen-
N. fibular profundo Dorsiflexão do tornozelo e hálux profunda na compressão do nervo ciático, como temente clínico com o uso de anti-inflamatórios
N. fibular superficial Eversão do retropé Região dorsolateral do pé o músculo piriforme e demais rotadores externos, não esteroidais (AINEs), relaxantes musculares,
pode-se utilizar a neurografia por Ressonância fisioterapia, exercícios de alongamento e fortale-
N. tibial (L4-S3) Flexão plantar do tornozelo Região plantar do pé
Magnética (RM) para o diagnóstico. A neurografia cimento, massagem, termoterapia, crioterapia, in-
é um exame importante, principalmente no que jeção periciática de corticoides e injeção de toxina
tange à identificação de variações anatômicas que botulínica guiada por tomografia computadorizada
Tabela 3: Arco de movimento do quadril geram efeitos compressivos sobre o nervo20. (TC)24.
Pacientes que apresentam hipermobilidade O tratamento cirúrgico por liberação endoscó-
também estão sujeitos a apresentar sintomas pa- pica do nervo ciático tem bons resultados e é um
FLEXÃO 0 - 120 graus
recidos com a SGP em virtude de seu amplo ADM procedimento seguro e efetivo para o tratamento
EXTENSÃO (TESTADO EM PRONAÇÃO) 0 - 30 graus conseguirem deflagrar o acotovelamento ou o apri- da dor glútea profunda. No entanto, pacientes com
ABDUÇÃO/ADUÇÃO 0 -50 graus / 0-30 graus sionamento do nervo ciático17. A síndrome compar- esta condição desenvolvida após trauma podem
timental da região glútea deve ser levada em con- não se beneficiar do tratamento endoscópico e ter
ROTAÇÃO INTERNA / EXTERNA (SUPINADA COM QUADRIL A 90 GRAUS) 0-40 graus / 0-50 graus
sideração para casos que se apresentam de modo piores resultados pós-cirúrgicos25,26.
286 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 287

TENDINITE GLÚTEA E BURSITES Geralmente quadros de bursites do quadril es- O tratamento cirúrgico pode ser realizado atra- O tratamento conservador inicia com repouso
DO QUADRIL tão intimamente relacionados com tendinites e vés de técnicas abertas ou artroscópicas, realizando por breves períodos, associado a uso de AINEs. In-
O quadro inflamatório dos glúteos médio e mí- peritendinites, uma vez que o contato direto destas a ressecção da bursa subglútea e liberação longitudi- filtração de corticoides ao redor do músculo piri-
nimo são patologias, assim como as bursites, que estruturas adjacentes tende a gerar processos infla- nal da banda iliotibial. Porém, tem espaço limitado, forme podem ajudar a aliviar os sintomas43. Há da-
frequentemente trazem pacientes ao consultó- matórios. As bursas são estruturas com função de sendo somente indicado em casos graves, que não dos conflitantes na literatura sobre o uso de toxina
rio. Clinicamente se apresenta como uma dor em reduzir o atrito e a pressão entre os componentes apresentam melhora ao tratamento conservador35. botulínica44. No entanto, uma meta-análise recente
região glútea, geralmente irradiada para região musculotendíneos das articulações. O quadro de favorece o uso deste tratamento guiado por US.45
posterolateral da coxa. Pode referir dor em região bursite pode ser causado por um processo infeccio- SÍNDROME DO PIRIFORME (SP) Outras alternativas de tratamento vem sendo estu-
acima do trocanter maior e glútea ao realizar o mo- so, apesar de raro, ou inflamatório. Nesses casos o É uma condição clínica em que ocorre a com- dadas, como o uso de manitol e vitamina B, que já
vimento para sentar, ou para se levantar da posição quadro pode ser desencadeado por sobrecarga me- pressão do nervo ciático no nível da tuberosidade apresenta embasamento para tratamento de outros
sentada. Piora com deambulação ou ortostatismo cânica, desbalanço muscular ou traumas na região. isquiática. O nervo ciático passa pelo espaço glú- tipos de neurite, como a do nervo óptico46.
prolongados, durante ou após atividades físicas27,28. No quadril, temos a bursite iliopectínea, isquiá- teo profundo, adjacente ao músculo piriforme, O tratamento cirúrgico é a última consideração
Pode se apresentar como uma patologia isolada, tica, do pequeno trocanter (rara) e trocantérica, que funciona como um rotador externo do quadril. quando o tratamento conservador apresentou fa-
porém, geralmente está associado a bursites tro- sendo a mais comum. Na bursite trocantérica, o Quando este músculo está tenso ou irritado, afeta o lha, incluindo o exercício físico. A cirurgia é feita
cantéricas ou até mesmo coxartrose. Durante o exa- paciente apresenta dor localizada na região do tro- nervo ciático, gerando dor. para a descompressão do nervo nos casos em que
me, a dor pode ser potencializada ao realizar abdu- canter maior, que piora durante a palpação, e fre- Enquanto há múltiplos fatores potencialmente ocorre “impingement” ou para a realização de li-
ção contra resistência e a palpação em região logo quentemente irradiada para face posterolateral da contribuindo para a SP, a apresentação clínica é ses de traves fibrosas. No entanto, a evolução não é
acima do trocanter maior e no trajeto dos tendões coxa. O paciente queixa-se de dor ao subir e descer consistente, com pacientes referindo dor na região passível de predição e os pacientes podem perma-
glúteos. Exames complementares como ultrasso- rampas ou escadas e ao deitar sobre o quadril aco- glútea, que pode ser em queimação ou pontada, necer com dor47.
nografia (US) e RM podem auxiliar no diagnóstico e metido. Ao exame físico, paciente apresenta piora e que irradia para a parte posterior da perna, se-
na classificação do grau de lesão, sendo que lesões da dor ao fletir e aduzir o quadril acometido32. O melhante à dor ciática. Consiste em um quarteto RESSALTO EXTERNO E INTERNO
isoladas do tendão do glúteo mínimo podem repre- diagnóstico geralmente é clínico, podendo ser au- de sintomas composto por dor glútea, que piora O quadril em ressalto (coxa saltans) é uma con-
sentar falso negativo em metade dos casos28,29. xiliado por US ou RM. Este último é considerado ao se sentar, localizada externamente próxima à dição caracterizada pela sensação audível ou palpá-
O tratamento conservador com medicamentos padrão-ouro para definição das bursites, demons- incisura isquiática maior e qualquer sinal de SP vel de estalido durante o movimento da articulação
e fisioterapia apresentam bons resultados na maio- trando geralmente distenção líquida e aumento de demonstrado por manobras que aumentam a ten- do quadril. Tem múltiplas etiologias e é classificado
ria dos casos. Inicia-se o tratamento com AINEs, seu volume33. (Figura 1) são deste músculo36. Não é incomum haver sensa- baseando-se na estrutura anatômica que é causa ou
fisioterapia analgésica, crioterapia e repouso. Após O tratamento conservador é realizado com AI- ção de formigamento ao longo da distribuição do fonte da sensação de estalido48.
a melhora do quadro clinico, a progressão do tra- NEs, fisioterapia, crioterapia, perda de peso, alon- nervo ciático37. Há limitação para a elevação do O ressalto interno ocorre mais comumente
tamento deve incluir alongamento da musculatura gamento do glúteo médio, trato iliotibial e tensor membro inferior com joelho em extensão (straight quando o tendão do iliopsoas corre sobre proe-
glútea, trato iliotibial e fáscia lata, bem como for- da fáscia lata, além da eliminação dos mecanismos leg raise - SLR). Em geral, é um diagnóstico de ex- minências ósseas subjacentes como a eminência
talecimento e estabilização muscular. Assim como causadores do processo inflamatório local34,35. Em clusão. Outras condições que podem simular estes iliopectínea ou o aspecto anterior da cabeça do
nas bursites, infiltrações local com corticoides e casos que não apresentem melhora com o tratamen- sintomas incluem estenoses de canal lombar, bem fêmur. Outras causas incluem cistos paralabrais
analgésicos podem ser consideradas para casos re- to acima, pode-se utilizar infiltração de corticoides e como as de origem pélvica,38 lesão de isquiotibiais, ou bifurcações parciais ou completas do tendão
fratários ao tratamento clínico anterior30,31. analgésicos, num máximo de 3 aplicações34. síndrome da dor discogênica ou da faceta lombos- do iliopsoas. A sensação de ressalto pode simular
sacral, radiculopatia lombossacra, espondiloliste- causas intra-articulares, visto que se originam da
Figura 1: Ressonância magnética demonstrando bursite trocantérica e radiografia com presença de se, espondilólise, lesão da articulação sacroilíaca, região anterior do quadril. Exame físico minucio-
calcificações na região do trocanter maior aneurisma ou pseudoaneurisma de artéria glútea so e exames de imagem direcionados auxiliam na
inferior, tumores, malformações arteriovenosas39. diferenciação dos dois. Aproximadamente 50% dos
Testes para diagnóstico são: Freiberg (rotação me- casos de ressalto em quadril interno se apresentam
dial da coxa em extensão),Pace (abdução e rotação com causas adicionais intra-articulares48.
lateral contra resistência), Beatty (reprodução de O ressalto externo é geralmente atribuído ao mo-
dor glútea profunda em permanecer com joelho vimento da banda iliotibial sobre o trocânter maior
afastado da mesa de exame em decúbito lateral), durante a flexão, extensão e rotações interna e ex-
FABERE (flexão, abdução, rotação externa) e FAIR terna. Outras causas incluem o resvalo do tendão
(flexão, abdução, rotação interna)40. Embora seja dos isquitibiais sobre a tuberosidade isquiática, a
rara, a SP pode se manifestar por causas infeccio- fáscia lata ou o aspecto anterior do glúteo máximo.
sas, bem como tendinite calcárea desta musculatu- É possível encontrar associação das causas tam-
ra em pacientes jovens atletas de alta demanda41,42. bém49. O ressalto é decorrente de uma síndrome de
288 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 289

“overuse”, mas pode ser causada por trauma, por achados clássicos como hipersinal em ponderações do positivo quando o paciente refere dor durante A presença de grandes deformidades pode ser
injeções intramusculares no glúteo máximo, bem T2, denotando edema por sobre o iliopsoas, além a manobra em neutro e/ou adução, mas não repro- tratado de forma cirúrgica por via aberta com res-
como após cirurgias em que parte do trato iliotibial de identificar um ângulo formado pelo contínuo do duz sintomas com a manobra em abdução57. secção do pequeno trocanter62 ou osteotomia do
é utilizado para reconstrução no joelho. Pode ser ventre e tendão. Quando superior a 140 graus, nos O diagnóstico de imagem apresenta diminuição pequeno trocanter e fixação levemente distal63 ou
visto em casos em que há coxa vara, quando há au- cortes sagitais, maior a chance de haver fenômenos do espaço entre o pequeno trocanter e o ísquio, por via endoscópica, através da ressecção do qua-
mento da distância entre os trocânteres maiores ou de ressalto interno, com sensibilidade de 70,8% e sendo que na RM é possível avaliar possíveis atro- drado femoral associado a osteoplastia do pequeno
em condições em que ocorre o aumento na tensão especificidade de 68,2%.53 fias, edemas ou sinais inflamatórios do músculo trochanter,57 liberação do músculo iliopsoas e do
da musculatura, como o glúteo máximo ou tensor A maioria dos pacientes pode ser tratada apro- quadrado femoral56,58,59. tendão do pequeno trocanter com bursectomia ou
da fáscia lata por exemplo50,51. priadamente com medidas conservadoras como O tratamento conservador consiste em analge- excisão do pequeno trocanter64. Em casos de ori-
O diagnóstico é fundamentalmente baseado modificação dos hábitos de vida diária, crioterapia, sia, fisioterapia para balanceamento muscular e gem iatrogênica, o tratamento consiste na correção
na região anatômica correspondente ao ressalto. uso de AINEs e alongamento. No entanto, se estas evitar atividades que causem o impacto. Em casos do problema através da revisão da ATQ ou correção
Em geral, o paciente consegue apontar o local do medidas não promoverem alívio adequado da dor, recorrentes, pode-se utilizar infiltração de corticoi- do excesso de valgismo resultado de osteotomias
ressalto e, inclusive, reproduzi-lo durante a ava- técnicas mais invasivas e procedimentos podem ser des guiada por US como parte do tratamento60,61. valgizantes.
liação. A área sobre o trocânter maior pode apre- necessários e a avaliação por um especialista seria
sentar-se dolorosa em virtude da inflamação da o apropriado49.
bursa trocantérica subjacente.48 No exame é pos- O tratamento cirúrgico é passível de ser realiza-
sível perceber fraqueza da musculatura abdutora. do em casos indicados, apresentando baixo risco

Causas intra-articulares
Atenção deve ser voltada ao paciente que anda de complicações, com mínima recorrência e uma
com marcha em rotação lateral do membro infe- grande chance de retorno ao nível de atividade
rior, podendo haver lesão capsular que resulta em prévia. Os que demandam release do trato iliotibial
instabilidade. O ADM deve ser avaliado e o teste têm mais chances de recidiva, embora ocorra de IMPACTO FEMOROACETABULAR (IFA) - Misto: presença de ambas deformidades cita-
de FADIR (flexão, adução, rotação interna) auxilia modo indolor e raramente necessita de cirurgia de E LESÕES LABRAIS das, sendo o tipo mais comum66.
na identificação de problemas intra-articulares. revisão. Não há, ainda, uma técnica cirúrgica con- O formato da articulação coxofemoral normal
Em posição supina, o teste partindo de flexão, siderada como padrão-ouro para o tratamento do permite a mobilização do membro inferior em Clinicamente é caracterizada por uma dor na
abdução e rotação externa e indo para extensão, quadril em ressalto no momento54. todos os 3 planos de movimento com um amplo região da virilha, que piora com atividade física,
adução e rotação interna geralmente reproduz o ADM. Porém, existem variações no formato e po- principalmente associadas a movimentos de rota-
ressalto do tendão do iliopsoas. O teste de Thomas IMPACTO ISQUIOFEMORAL sicionamento do acetábulo e fêmur proximal que ção e flexão. Comumente pode também se apre-
pode ser positivo. Em decúbito lateral, o pacien- Em 1977, Johnson descreveu um tipo de impac- causam um contato anormal e repetitivo entre o sentar como uma dor em “C” sobre a articulação
te pode ser avaliado pela manobra de Ober para to extra-articular causada, na ocasião, pelo posicio- colo femoral e a borda acetabular causando lesões do quadril, extendendo-se da região antero medial
identificação da tensão do trato iliotibial. Flexão namento inadequado dos implantes durante uma labrais com limitação da movimentação do qua- até a região póstero lateral do quadril72,73. Durante
ativa do quadril seguida de extensão passiva gera artroplastia total de quadril (ATQ)55. Neste quadro, dril65. O labrum acetabular é uma estrutura fibro- o exame fisico o paciente tende a apresentar piora
o ressalto por sobre o trocanter maior. Outra pos- existe o impacto entre o trocanter menor e o ísquio, cartilaginosa que age como uma continuação das da dor para movimentos combinados de flexão-a-
sibilidade de teste é realizar a circundução do causado pela diminuição da distância entre essas bordas acetabulares, aumentando a superfície de dução-rotação interna (FADIR), ou flexão-abdução-
quadril com o paciente em pé52. estruturas, que normalmente é de aproximada- contato e cobertura da cabeça femoral, promoven- -rotação externa (FABERE)74,75.
O ressalto externo clinicamente visível pode mente 2cm56. Por ser uma patologia extra-articular, do a vedação e manutenção da pressão negativa Os exames de imagem são essenciais para clas-
ser confirmado na RM ponderada em T1, em cor- não há lesão labral, apresentando o esmagamento intra-articular. É uma estrutura com grande quan- sificar o tipo e grau de IFA. Através de radiografias
te axial, com uma banda iliotibial espessada ou a da musculatura do quadrado femoral. Essa dimi- tidade de nociceptores que gera dor, como também de bacia em AP, perfil de Ducroquet, Lequesne e
parte anterior do glúteo máximo. Se o ressalto não nuição está presente não só em casos iatrogênicos, auxilia na propriocepção do quadril. Atualmente Dunn, é possível avaliar a presença do aumento de
é visível no exame físico, a US dinâmica pode ser como de malposicionamento de componentes du- lesões labrais vêm sendo identificada com grande cobertura acetabular/retroversão no tipo PINCER e
de grande valia para demonstrar o ressalto do tra- rante a ATQ ou após osteotomias valgizantes, mas fonte de dor no quadril e como possíveis precurso- presença de bump ósseo no colo femoral no tipo
to iliotibial por sobre o trocanter maior. A US pode também de forma fisiológica em colos femorais res do desenvolvimento de coxartrose66,67,68. CAME ou ambas alterações no tipo Misto. A TC
revelar lesões musculares, tendinite ou bursite do muito valgos. O IFA pode ser classificado em 3 tipos (Figura 2): permite melhor avaliação das alterações ósseas e
iliopsoas associadas. O ressalto interno pode ser Clinicamente, o paciente se queixa de dor glútea - CAME: quando existe uma proeminência óssea medições das angulações76,77. A RM avalia as par-
confirmado utilizando bursografia do iliopsoas que piora com passadas longas ou durante o teste (bump) na região do colo femoral causando o im- tes ósseas, além de visualização de lesões cartilagí-
combinada com fluoroscopia, US dinâmica, RM ou de impacto isquiofemoral. Consiste em deixar o pa- pacto contra a borda acetabular normal;69,70 neas, incluindo o labrum acetabular, sendo o exa-
artrorressonância. Esta última pode ser preferida ciente em decúbito lateral, com o lado a ser testado - PINCER: devido a um aumento da cobertura me padrão-ouro para avaliação de lesões labrais e
por detectar alterações intra-articulares que podem para cima, e realizar extensão passiva do quadril acetabular levando a um impacto com o colo de fê- IFA78. (Figura 3)
acompanhar o quadro48. O uso da RM pode detectar em neutro, adução e abdução. O teste é considera- mur normal;71
290 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 291

Figura 2: Impacto do tipo CAME, PINCER e Misto do osso esponjoso e consequentemente a fratura do pontos de densidade alterada na cabeça femoral
osso subcondral, com perda da sua esfericidade e em quadro iniciais, evoluindo para uma orla ova-
rápido desenvolvimento de coxartrose82,83. lada, bem delimitada por uma linha em sua borda,
A fisiopatologia da ON ainda não está totalmen- conhecida como “corda de varal”. Com a evolução
te definida. Existem diversas hipóteses, onde todas do quadro, nota-se uma radiolucência com forma-
culminam com a diminuição do aporte sanguíneo to de lua crescente na região subcondral (“sinal da
para a cabeça femoral. Alguns fatores de risco são crescente”), que é patognomônico da ON e repre-
conhecidos, como trauma (fratura do colo e da ca- senta a fratura da região subcondral86,87,88,89. Na se-
beça femoral), uso de corticoides, abuso de álcool quencia, existe a perda da esfericidade da cabeça
e drogas, imunossupressores, coagulopatias, ane- femoral, progredindo para um quadro de quadro
mia falciforme, fenômenos disbáricos (rápida des- de coxartrose secundária a ON.
compressão em mergulhadores), quimioterapias O tratamento da ON é variável e leva em consi-
ou radioterapias,doenças sistêmicas (AIDS, gota, deração o estágio, o tamanho da lesão, sua localiza-
diabetes mellitus, pancreatite, dislipidemia, entre ção, se envolve ou não a zona de carga, se há fratura
outras) e predisposição genética84,85,86. É importan- do osso subcondral ou se há perda da esfericidade
Figura 3: Artroressonância e ressonância apresentando lesão labral te lembrar que a presença de fatores isolados nem da cabeça femoral. Outros aspectos a serem con-
sempre está associada ao surgimento da ON, mos- sideradas são a dor e limitações do paciente, sua
trando o caráter multifatorial da patologia. idade e fatores de risco para a ON. O tratamento
Clinicamente, a ON se apresenta com dor pro- conservador tende a não alterar a evolução natural
gressiva, muitas vezes com irradiação para o joe- da doença. Quando possível, deve-se iniciar com a
lho, sem historia de trauma ou esforço. Geralmente retirada do fator de risco, por exemplo, a suspensão
a dor é localizada na virilha, podendo refletir tam- do uso de álcool, drogas ou corticoides em casos
bém em região lombar. que seja possível, analgesia e retirada de carga no
O diagnóstico é feito por exames de imagens a membro afetado90,91.
depender do grau de evolução e tamanho da lesão Para casos iniciais, com lesões pequenas, fora
na cabeça femoral. Em quadros iniciais, o exame de zona de carga e sem fratura do osso subcondral,
padrão-ouro é a RM, sendo cada vez mais utilizada podemos optar por tratamento cirúrgico com des-
para diagnostico precoce. (Figura 4) Neste exame compressão da cabeça femoral, realizada através
é possível visualizar imagens de baixa intensidade de uma perfuração na lateral do fémur e retirada
em T1, o que caracterizaria a presença de osso ne- do osso necrótico da cabeça femoral. Alguns tra-
crótico. Pode-se avaliar também a presença de ede- balhos recomendam o preenchimento do espaço
A indicação do tratamento conservador é ba- do impacto, podendo ser realizado de forma aber- ma ósseo ao redor da lesão. Nos casos apresentan- criado deixado pelo osso necrótico com métodos
seada em diversos fatores, dentre eles grau de ta ou artroscópica. O tratamento cirúrgico através do fratura subcondral, pode-se observar o sinal da adjuvantes (como enxerto homologo, concentrado
defomidade, idade do paciente, atividades físicas de artroscopia vem evoluindo de maneira signifi- dupla linha, característico da patologia. Na radio- de plaquetas, enxertos sintéticos, células-tronco,
diárias e grau de lesão condrolabral. Inicia-se com cativa nos últimos anos. O objetivo é realizar um grafia simples, podemos observar sinais diferentes entre outros).92,93. Existem outras opções cirúrgicas
uso de analgésicos associado à fisioterapia com procedimento menos invasivo, no qual seja possí- em cada um dos graus da patologia. É possível ver para quadros iniciais/moderados, porém, com a
balanceamento muscular79. Deve-se retirar as ati- vel corrigir as deformidades ósseas (retirar o bump
vidades que causem o impacto, como aquelas que femoral e cobertura excessiva do acetabulo), retirar Figura 4: Ressonância magnética
exijam grande ADM ou que realizem rotação ou fragmentos soltos intra-articulares e reinserir des- com área de edema ósseo em
flexão excessivas. tacamentos labrais80,81. cabeça e colo femoral causado
Uma vez que o IFA e as lesões labrais estão di- pela necrose avascular e linha
retamente relacionados com o surgimento de co- NECROSE AVASCULAR DA CABEÇA de fratura subcondral
xartrose, a intervenção cirúrgica pode ser indica- FEMORAL (NACF)
da em casos ainda com sintomatologia leve sem A NACF, conhecida também como necrose as-
lesões condrolabrais graves mas com uma grande séptica da cabeça femoral, ou osteonecrose (ON) da
deformidade ósseas, visando retardar a progressão cabeça femoral, é uma patologia caracterizada pela
do quadro. Dessa forma, o tratamento cirúrgico diminuição do fluxo sanguíneo para a cabeça do fê-
tem o intuito de retirar a deformidade causadora mur, levando a um processo de necrose progressiva
292 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 293

evolução das artroplastias, estão em desuso como evoluir nos casos mais avançados para atrito, des- O tratamento consiste em controle álgico com to ou o teste de Patrick podem ser feitos desde que
osteotomias femorais, visando alterar a zona de gaste e deformação das estruturas ósseas que com- medicamentos e fisioterapia, fortalecimento mus- o paciente tolere. Nesta, a dor anterior ipsilateral
carga na cabeça femoral,94,95 e enxerto ósseo através põem a articulação do quadril. Com o aumento cular, facilitando a distribuição de peso na articu- aponta para condição no lado testado116. A maioria
da técnica de alçapão, na qual é realizada a luxa- da expectativa de vida e nível de atividades físicas lação e poupando a cartilagem, utilização de con- dos casos pode ser seguramente tratada no depar-
ção controlada do quadril, seguida de abertura da (lazer e/ou laboral), a coxartrose vem se tornando droprotetores em casos iniciais, visando aumentar tamento de urgência sem grandes recursos para
cabeça femoral, retirada do osso necrótico e colo- cada vez mais frequente na população mundial. a durabilidade da cartilagem remanescente, perda maiores investigações ou encaminhamento para
cação de enxerto. Em casos onde a lesão se encon- Sua causa é variável e multifatorial. Diversos fato- de peso e retirada de atividade de impacto109,110. outras especialidades117. Eventualmente, doenças
tra em zona de carga, ocupa uma grande área ou res aumentam a probabilidade de surgimento de Em casos avançados, onde o controle álgico não reumatológicas podem se apresentar como sinovite
já apresente fratura do osso subcondral, perda da coxartrose, como: idade avançada104, alterações apresenta bons resultados com uma limitação im- do quadril, especialmente as bilaterais. Nestes ca-
esfericidade da cabeça ou coxartrose, o tratamento de formação ósseas (displasias, alterações da ver- portante das atividades da vida diária, é indicado sos é indicada a avaliação em conjunto com demais
indicado é a ATQ96,97,98. Nestes casos, a indicação da são femoral ou cobertura acetabular, sequelas de o tratamento cirúrgico com a ATQ, substituindo a especialidades, como a pediatria118.
cirurgia deve-se levar em conta, principalmente, a fraturas, impacto femoroacetabular), doenças sis- cartilagem e osso danificados por uma superfície Pacientes que apresentam dor aguda no quadril
dor e limitações do paciente para atividades diárias. têmicas (artrites reumáticas, artrite gotosa), pro- inorgânica111,112. devem ser investigados para diagnósticos alterna-
cessos infecciosos (pioartrite), processos inflama- tivos, especialmente aqueles que potencialmente
LESÃO DO LIGAMENTO REDONDO tórios, obesidade,105 fatores genéticos,106 etnia,107 SINOVITES podem deixar sequelas devastadoras se não diag-
O ligamento redondo se origina na incisura da realização de atividades de impacto de repetição,108 Sinovite Transitória do Quadril (STQ) nosticados rapidamente. Estas condições incluem
cavidade do acetábulo, inserindo-se no ápice da fó- entre outros103. É um processo infamatório agudo que afeta a osteomielite, artrite séptica, lesões metastáticas
vea da cabeça do fêmur. É um ligamento de grande O quadro clínico comumente apresenta dor que membrana sinovial da articulação e representa ou primárias, doença de Legg-Calvé-Perthes e epi-
importância na infância pois fornece aporte san- piora no início do movimento, geralmente locali- uma causa comum de dor no quadril da população fisiólise femoral proximal. Outras causas incluem
güíneo para cabeça femoral durante o desenvolvi- zada em região de virilha, podendo apresentar ir- pediátrica. Enquanto a condição é um processo be- Doença de Lyme, sacroileíte piogênica e artrite reu-
mento, perdendo essa função na vida adulta. Nos radiação para face anteromedial da coxa e joelho. nigno autolimitado, o ortopedista deve reconhecer matoide juvenil113, 117, 119.
últimos anos, o ligamento redondo vem ganhando Com o passar do tempo, o paciente tende a apre- a importância crítica de diferenciar a STQ de um
reconhecimento como um estabilizador intrínseco sentar restrição do ADM, associada à progressiva processo infeccioso agudo113. Sinovite Vilonodular Pigmentada
do quadril, evitando a subluxação do quadril, prin- limitação funcional. O diagnóstico é feito através A etiologia exata da STQ é desconhecida. A li- É um transtorno do tecido sinovial, benigno,
cipalmente nos extremos de flexão e rotação exter- do quadro clínico e exames de imagem, sendo a teratura contém múltiplas teorias relacionadas, porém com características agressivas. A prolife-
na ou extensão e rotação interna99,100,101. radiografia de bacia geralmente suficiente. Em al- mas nenhuma destas hipóteses postuladas foram ração ocorre gradativamente. É monoarticular e,
A lesão pode ocorrer abruptamente durante guns casos, pode-se utilizar exames mais avança- conclusivamente substanciadas. Fatores de riscos em 80% dos casos, é limitada à articulação do joe-
extremos de movimentos. Nesses casos, o quadro dos como TC ou RM para diagnóstico em quadros incluem, mas não estão limitado113 a infecção pré- lho. A etiologia não é clara, porém é caracterizada
pode causar dor e pequena instabilidade articular, iniciais, ou determinação de anormalidades ósseas via de vias aéreas superiores,114 infecção bacteriana pelo acúmulo de hemossiderina em uma forma
principalmente para praticas esportivas, e aumen- ou cartilagíneas que justifiquem a coxartrose. prévia (sinovite tóxica pós-estreptocócica)115 e trau- localizada ou difusa. Esta, por sua vez, se dá nas
to do ADM no plano abdução-adução, levando a ma precedente114. Os pacientes diagnosticados com grandes articulações, como o quadril120, 121. Even-
maior chance de lesões labrais, degeneração con- Figura 5: Lesão de ligamento redondo visualizada em STQ parecem estar mais associados com quadros tualmente, a denominação da condição é confli-
dral e coxartrose por causar uma movimentação tomografia computadorizada virais que precedem a dor no quadril, incluindo tante e inconsistente, o que acaba por determi-
atípica da articulação. Quadros de dor crônica no diarreia, vômitos ou sintomas relacionados ao res- nar atrasos na comunicação entre o ortopedista,
quadril, sem causa determinada, podem ser asso- friado comum114. Há teorias que associam a STQ à o radiologista e o paciente. Consequentemente,
ciadas à lesão do ligamento redondo. A lesão pode infecção por parvovírus e o vírus herpes simplex-6. pode haver demora no tratamento e, portanto, no
não ser visualizada em exames de imagem, sen- No entanto, estas teorias não foram confirmadas115. prognóstico122.
do descoberta posteriormente em artroscopias102. A fisiopatologia é relativamente inespecífica. As O tratamento é feito com a ressecção aberta ou
(Figura 5) mudanças patológicas propostas englobam in- endoscópica. No entanto, a ressecção endoscópica
O tratamento é realizado através de analgesia, flamação não específica cujo alvo acaba sendo a se mostra como uma alternativa menos invasiva e
fortalecimento e rebalanceamento da musculatura membrana sinovial, causando mudanças hipertró- com maior efetividade, visto que é possível melhor
do quadril e treino de propriocepção, visando redu- ficas. A fase inflamatória aguda manifesta-se como visualização da cápsula articular e do tecido sino-
zir a instabilidade e lesões decorrentes da mesma. dor que é autolimitada e tem remissão em 24 a 48 vial em toda a sua extensão123. A ressecção do teci-
horas. A história natural favorece a resolução com- do afetado diminui a reincidência e recidiva. Mas
OSTEOARTROSE DO QUADRIL pleta dos sintomas em 1 a 2 semanas, embora a re- parece não evitar o desenvolvimento da osteoartri-
(COXARTROSE) corrência possa ser alta (até 20%)113. te secundária124.
Patologia degenerativa articular que afeta pri- A STQ permanece sendo um diagnóstico de ex- Nos casos em que não há acometimento osteo-
mariamente a cartilagem intra-articular, podendo clusão. Manobras provocativas como a do rolamen- condral, resultados a longo prazo sem progressão
294 DOR EM QUADRIL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 295

pode ser conseguida com terapia preservadora da trando-se como método eficaz para o tratamento Figura 6: Resonância magnética com área de edema tensa da dor, o que geralmente significa o desloca-
articulação125. Quando há acometimento osteocon- da sequela causada pela sinovite vilonodular pig- ósseo em cabeça e colo femoral esquerdo causado pela mento da fratura150.
dral é optado pela ATQ com boa sobrevida das pró- mentada126,127. osteoporose transitória do quadril As radiografias são parte da avaliação inicial do
teses em longo período acompanhamentos, mos- paciente com suspeita de fratura por estresse, po-
rém, alterações neste exame ocorrem geralmen-
te de 6 a 8 semanas após os inícios dos sintomas.
Cerca de 2/3 dos paciente não apresentam altera-
ções nas radiografias151. Por esse motivo, a RM é

Outras causas
o exame padrão-ouro para diagnóstico da FECF,
se mostrando com quase 100% de sensibilidade e
especificidade152. A imagem apresenta-se com hi-
OSTEOPOROSE TRANSITÓRIA DO reduzindo o tempo da dor em alguns casos140. Por posinal em T1 e hipersinal em T2 com supressão
QUADRIL (OTQ) causar uma desmineralização óssea, as complica- de gordura. Quando já existe traço de fratura, o
É uma condição autolimitada, de etiologia ain- ções incluem possíveis fraturas. Por isso é impor- mesmo pode ser visualizado em todos os cortes da
da desconhecida, que afeta principalmente ho- tante manter o membro sem carga, através do uso RM151, 153. (Figura 7)
mens ou mulheres gestantes, normalmente após de muletas ou cadeira de rodas. O tratamento depende da localização, exten-
a terceira semana de gestação129,130. A gestação é o são do traço e deslocamento de fratura147,154. O
fator de risco mais associado com o surgimento de FRATURA POR ESTRESSE DO COLO tratamento conservador é indicado quando a fra-
OTQ, porém, outros fatores são relatados como : FEMORAL (FECF) tura é incompleta, acomentendo menor que 50%
traumas, alcoolismo, tabagismo, uso de corticoides Fraturas por estresse são causadas por impac- do colo femoral e afetando as linhas de compres-
ou drogas135,136. A idade média para o surgimento do tos de repetição, geralmente de baixa intensidade descreveram uma classificação baseada em RM, vi- são. Tende a demorar cerca de 6 a 8 semanas, po-
quadro é de 40 anos, porém, os relatos incluem des- em membros inferiores. Os primeiros relatos des- sando prever o resultado da evolução do quadro148. dendo ser necessário estendê-lo até 14 semanas
de 20 até 80 anos de idade. sa patologia foram descritos por médicos militares Clinicamente a FECF apresenta-se com uma em determinados casos. No início, mantem-se o
O quadro é composto por 3 fases, sendo que no alemães em 1905141 e 1936142. dor mal localizada em toda a região do quadril e paciente sem carga no membro afetado até que
primeiro estágio existe um edema ósseo na cabeça e As FECF correspondem a cerca de 3% de todas região inguinal, geralmente anteriormente147, pro- haja alivio total da dor, progredindo com toque ao
colo femoral de início súbito, associado à dor impor- as fraturas por estresse nos atletas e em sua maio- gressiva, que piora com atividade física e carga e solo. A reabilitação é realizada com a progressão
tante no quadril. Na RM, podemos notar uma área de ria está associada a corredores e maratonistas143. melhora com retirada da carga e repouso149. O exa- de carga, fortalecimento muscular e analgesia,
edema ósseo sem margens definidas, em região de Apesar de raras, são potenciamente nocivas ao in- me fisico geralmente é inespecífico, apresentando devendo haver controle clínico e radiológico até
cabeça femoral, colo femoral e região transtrocan- divíduo, uma vez que cerca de 50% dos atletas afe- dor para os extremos de movimentação, principal- que o paciente retorne às atividades normais e
terica, com baixo sinal em T1 e sinal hiperintenso tados não são capazes de retornar ao mesmo nível mente rotação interna. O teste de rolamento pode esportivas totalmente sem dor, o que geralmente
em T2 com supressão de gordura e STIR.139 (Figura de exercício após recuperação144. Dependendo da provocar dor intensa na região da virilha, porém, leva cerca de 12 semanas, mas pode chegar até a
6) Nesta fase, o paciente pode associar os sintomas gravidade e do tipo da fratura, o quadro pode evo- sendo um teste de baixa especificidade. Em al- 28 semanas155.
a traumas ou esforços, porém, estas situações não luir para NACF, em que tratamento pode vir a ser guns casos o paciente pode referir esses sintomas O tratamento cirúrgico é indicado nas fraturas
necessariamente estão relacionadas ao início do uma ATQ. Dessa forma, o diagnostico e tratamen- antecedendo um quadro de estalo ou falseio do incompletas afetando as linhas de tensão, comple-
quadro. No segundo estágio, observa-se na RM uma to precoce auxilia na recuperação total do pacien- quadril, durante atividade esportiva com piora in- tas sem desvio ou desviadas.
reabsorção e desmineralização do osso. Apesar das te, principalmente antes de apresentar desvio do
radiografias demonstrarem aspectos de osteoporose traço de fratura145. incidência varia de acordo com Figura: 7: Ressonância
no segundo estágio, o melhor método diagnostico é a idade, sexo e, principalmente, tipo e intensidade magnética com traço de
a RM, sendo possível visualizar alterações cerca de do exercício, sendo mais comum em mulheres de fratura por estresse em
48h após o surgimento dos sintomas137,138. No estágio 16 a 56 anos143. Alguns estudos relacionam a pre- colo do fêmur esquerdo e
final, além da melhora espontânea dos sintomas, é sença de coxa vara e IFA com aumento da incidên- radiografia apresentando
possível notar uma resolução radiológica do qua- cia,146 mas essa relação ainda não está totalmente fratura por estresse
dro131,132. O processo tende a durar em média 6 me- esclarecida. completa do colo do fêmur
ses, podendo variar de 2 a 12 meses no total. Existem diversas formas de classificar a FECF,
O tratamento conservador envolve a retirada sendo a mais utilizada a de Fullerton & Snowdy147,
de carga do membro afetado, analgesia, repouso, que subdivide em 3 tipos. O tipo I afeta as linhas de
fisioterapia analgésica133,134. A utilização de bifos- tensão, o tipo II, as linhas de compressão, e o tipo III
fonados é citada como adjuvante no tratamento, são fraturas completas com desvio. Arendt & Griffth
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302 DOR EM JOELHO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 303

ção primordial para sustentação do peso corporal sistente no joelho no período de um ano. A pre- Dentre as dores de causa não traumática, pode- articulações, principalmente nas mãos, nos casos
e marcha no dia a dia e altamente exigida durantes valência de OA em indivíduos acima de 55 anos mos citar as de etiologia inflamatória, como a artri- inflamatórios.
os esportes. é de 10% com perda de funcionalidade de um te reumatoide, artrite por de deposição de cristais Podemos classificar a OA do joelho como uma
Em um trabalho envolvendo indivíduos de 18 a quarto destes indivíduos10. A dor no joelho, prin- (gota e pseudogota), as de origem infecciosa, como progressão de muitas causas de dor intra-articular,
40 anos, observou-se a prevalência de dor em joe- cipalmente relacionada a OA, tende a aumentar artrite séptica, além daqueles de etiologia oncoló- incluindo o envelhecimento, quando as diversas le-
lho de 35,6% e de dor patelofemoral de 20,7% na com a idade e ser mais prevalente em mulheres, gica. A presença de febre, calafrios, sudorese no- sões estruturais do joelho se convergem nesta pato-
população geral6. A dor em joelho gera limitação afetando cerca de 25% dos indivíduos acima de turna, perda de peso sem explicação deve nos aten- logia. Cursa com dor difusa de evolução insidiosa,
das atividades diárias e absenteísmo com custos 65 anos10-13. Determina importante perda de fun- tar para este grupo. A dor é insidiosa e contínua e com períodos de inflamação e agudização, culmi-
sociais, médicos e econômicos significativos7. Afe- cionalidade e qualidade de vida, principalmente não tem relação com a sobrecarga mecânica. Pode nando com deformidade e levando à perda funcio-
ta rendimentos de atletas e praticantes de esportes. em idosos e mulheres11. A dor crônica do sistema existir rigidez matinal e acometimento de outras nal e incapacidade progressiva.
Foi observado em um estudo de 10 anos a preva- locomotor está associada à perda de mobilidade,
lência de lesão em joelho de 39,8% dos atletas, com fadiga e alterações de humor, gerando incapaci-
predominância nos homens8. Jogadores de futebol dade, sendo a queixa mais comum de dor crônica
profissional apresentaram um risco de duas a três em idosos14. Cerca de metade dos idosos relataram

Semiologia
vezes maior de desenvolver osteoartrite (OA) com- dor em estudo realizado em 2011, representando
parado à população geral possivelmente associado aproximadamente 19 milhões de americanos. Des-
a lesões esportivas9. tes, aproximadamente 30,4% relataram dor em co-
No Reino Unido, cerca de 25% dos indivíduos luna lombar, seguida do joelho, acometendo um A anamnese do indivíduo com dor no joelho nário DN4, um valor maior ou igual a 4, pode de-
acima de 55 anos tiveram um episódio de dor per- quarto desta população15. deve iniciar pela identificação do paciente, a ida- terminar um quadro de dor neuropática localizada
de, o sexo, a dominância, a atividade laboral e es- no joelho e auxiliar na estratégia de tratamento19.
portiva. No jovem do sexo masculino e esportista A intensidade da dor pode ser avaliada de forma
pode-se pensar em osteocondrite dissecante (OCD) rápida e simples com o uso da Escala Visual Ana-
e apofisite da tuberosidade tibial e no idoso, um lógico (EVA). Consiste em uma régua de 10cm com

Principais etiologias
quadro de OA. Algumas doenças no joelho são mais a extremidade inicial escrito “ausência de dor” e a
comuns no sexo feminino, como dor patelofemoral final, “dor insuportável”. Alternativamente existe a
e instabilidade patelar. É interessante verificar se a Escala de Avaliação Numérica, em que o paciente
Para determinar o diagnóstico da dor no joelho As lesões microtraumáticas por sobreuso po- atividade laboral ou esportiva foi um fator de causa vai dizer um número em uma escala de 0 a 10 qual
inicialmente devemos definir se ela apresenta uma dem se manifestar como uma dor insidiosa após, ou piora do quadro doloroso17,18. Determinar qual a sua dor, sendo 0, ausência de dor e 10, a pior dor
etiologia traumática, microtraumática por sobreu- no início ou durante a atividade física ou laboral, intensidade de treino ou trabalho, que tipo de es- que já sentiu20. Conhecer as atividades que melho-
so ou não traumática associada a sinais e sintomas levando à perda de performance até se apresentar porte ou movimento repetitivo realizado é primor- ram ou pioram a dor nos ajuda a definir que estru-
sistêmicos3. como uma dor agudizada contínua, acometendo a dial para a mudança ou adaptação do mesmo. As- tura pode estar lesada. A dor que piora para subir e
As afecções de causa traumática normalmente funcionalidade. Dependendo do local da dor e da sim como entender o mecanismo de trauma auxilia descer escada é comum na dor que acomete o apa-
aparecem no pronto-socorro ortopédico como uma estrutura envolvida, podemos definir vários diag- a definir possíveis lesões ocorridas2,17. relho extensor e compartimento patelofemoral. A
lesão aguda com significativa limitação funcional. nósticos. Na dor anterior do joelho podemos ter Com relação à dor é necessário perguntar sobre dor com o joelho fletido, conhecido como sinal do
Podem ser decorrentes de trauma direto, indireto diagnósticos como dor patelofemoral, tendinopa- seu início, duração e frequência, qualidade, inten- cinema, também está associado à síndrome pate-
ou politrauma. Apresentam-se com deformidade, tia patelar e do quadríceps, instabilidade patelar, sidade, fatores de alívio e piora. Precisamos deter- lofemoral. Na incapacidade de agachamento e da
edema, equimose, estalido, bloqueio ou derrame bursite pré-patelar e infrapatelar, apofisite da tu- minar se o início da dor em relação ao tempo foi marcha anserina podemos pensar em uma lesão do
articular associado a dor. Dependendo da estrutu- berosidade tibial (Osgood-Schlater). Lateralmente, agudo, quando menor que 6 semanas, subagudo, corno posterior do menisco.
ra lesada pode ser diagnosticado como contusão, podemos listar a síndrome da banda iliotibial, le- entre 6 a 12 semanas ou crônico, se maior que 12 Deve ser questionado se há associação com
fratura, entorse, ruptura ligamentar ou tendino- são meniscal lateral e tendinopatia do poplíteo e semanas. O modo de que começou a dor foi súbito falseio, estalido, bloqueio ou derrame articular. O
sa, luxação, lesão muscular, meniscal, condral ou do bíceps femoral. Medialmente, pode-se ter dor ou insidioso? Tem duração intermitente ou contí- falseio pode denotar uma instabilidade articular
osteocondral. Quanto maior o grau de energia do decorrente da lesão meniscal medial, tendinopatia nua? Qual frequência que sente dor? A causa foi por lesão ligamentar. O pinçamento articular por
trauma, mais danos estruturais ocorrerão. Estas le- dos flexores (pata de ganso). Podemos citar o cisto traumática ou não traumática? Ou foi piorando lesão meniscal ou presença de corpo livre pode
sões traumáticas podem persistir e gerar sequelas poplíteo (Baker) como causa de dor na região poste- com a exigência da articulação com o uso no dia causar tanto um falseio como um bloqueio do
como atrofias musculares, instabilidades crônicas, rior, tanto pelo efeito compressivo com sensação de a dia2. A qualidade da dor deve ser caracterizada joelho. O estalido pode estar presente no menisco
pseudoartroses, consolidações viciosas, infecções pressão durante a extensão do joelho ou quando há pelo próprio paciente. Pode ser em fincada, cãibra, discoide, normalmente indolor, ou na síndrome
crônicas, rigidez e degeneração articular precoce, rotura, simulando uma trombose venosa profunda fomigamento, dormente, queimação, choque, lan- da plica medial, com alívio da dor17. Enfim, além
caracterizando dores pós-traumáticas. com dor intensa e aguda.16 cinante, em peso ou cansada. Através do questio- dos sintomas dos pacientes, o exame físico é de
304 DOR EM JOELHO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 305

fundamental importância para o diagnóstico mais de movimento (ADM) do joelho e avalia-se o traje- de OA, radiografias de frente com carga permitem partes moles22. Em estudo retrospectivo, observou-
preciso. to e deslizamento patelar, verificando presença de avaliar desvios de eixo e estreitamento do espaço -se solicitação de RM em 22% dos pacientes com dor
É importante perguntar qual o tipo de tratamen- crepitação. Durante a marcha podemos observar articular. O perfil obtido em 30 graus de flexão de- no joelho, maiores que 40 anos, a maioria antes de se
to já realizado, como foi feito e se houve melhora, se há flambagem do joelho demonstrando uma termina, através de medidas específicas, a altura da obter uma radiografia com carga. Porém, mostrou-
mesmo que parcial. Isso ajudará a definir se deve- instabilidade posterolateral. A marcha em torção patela e a forma da tróclea. No axial podemos es- -se que cerca de metade destes exames seria desne-
mos persistir no mesmo tratamento, mudar ou as- externa tibial em um menino pode demonstrar o tudar a articulação patelofemoral, o sulco troclear cessário e não modificou o tratamento proposto24. É
sociar outra técnica. Antecedentes pessoais como sinal de Wilson da OCD. A avaliação de retração e e a inclinação patelar. A incidência do túnel pode importante dizer que pode haver em alguns grupos
outras doenças em tratamento atual, cirurgias pré- encurtamento muscular é feita com manobras es- ser solicitada para detectar uma OCD na presença dissociação entre sintomas clínicos de dor e gravida-
vias, acometimento de outras articulações associa- pecíficas, como a medição do ângulo poplíteo para de uma imagem radioluscente no côndilo femoral de radiológica da OA, demonstrando possível sensi-
do a rigidez matinal, sinais sistêmicos como febre, os músculos isquiotibiais, teste de Ober para o trato medial. A ultrassonografia (US) oferece vantagem bilização central, sendo necessária sempre correla-
perda de peso sem causa aparente, antecedentes iliotibial e teste de Ely para o reto femoral. Na sín- de uma avaliação dinâmica em tempo real e permite ção do exame clínico com os achados da imagem25.
familiares para determinar alguma associação ge- drome da banda iliotibial, frequente em corredo- guiar procedimentos de infiltração e bloqueio, obje- Nos quadros onde há presença de sinais flogís-
nética, permitem pensar em diagnósticos diferen- res, há um encurtamento desta estrutura, levando tivando mais precisão. Como desvantagem, depen- ticos e de derrame articular associado a sinais sis-
ciais, como os de etiologia inflamatória, infecciosa a um atrito com o côndilo femoral lateral. Na palpa- de do examinador e avalia apenas estruturas mais têmicos como febre, artrite de causa inflamatória
e oncológica17. Lembrar que a síndrome metabólica ção, pesquisa-se sintomas dolorosos em estruturas superficiais. A tomografia computadorizada (TC) ou infecciosa deve ser pesquisada. Solicitação de
está associada a OA21. ósseas, interlinha articular e partes moles, como pode ser solicitada nos casos de fratura do joelho exames de sangue como hemograma, PCR e VHS
Ao exame físico, iniciamos a sequência fazendo bursas, tendões, cistos e plicas, além de verificar para estudar melhor os fragmentos e planejar uma e uma artrocentese diagnóstica pode auxiliar a elu-
uma inspeção estática e dinâmica do joelho, seguido presença de derrame articular, denotando doença osteossíntese mais precisa. Na instabilidade patelar, cidar a etiologia e definir o tratamento específico.
de palpação das estruturas dolorosas, exame neu- intra-articular. O derrame de evolução rápida, den- a TC é interessante para avaliar a articulação patelo- O líquido sinovial deve ser analisado macroscopi-
rovascular do segmento e finalizando com os testes tro de 2 horas após o trauma, sugere hemartrose femoral em flexões inferiores a 30 graus e calcular o camente observando seu aspecto e coloração e ser
especiais. Após exposição adequada dos membros por fratura ou lesão do ligamento cruzado anterior valor do TAGT.22 A ressonância magnética (RM) é um enviado ao laboratório para citologia, citometria,
inferiores, é interessante avaliar o joelho doloroso (LCA). O derrame tardio, até 36 horas, sugere uma excelente exame para avaliar o joelho com boa defi- dosagem de glicose e proteína, pesquisa de cristais,
em comparação ao joelho contralateral. Na inspe- sinovite reacional por lesão meniscal ou entorse. nição de estruturas intra-articulares, medula óssea e bacterioscópico e cultura1,2.
ção estática, a avaliação em pé, de frente, de lado e Na avaliação da articulação patelofemoral, pode-
posterior, permite observar a presença de valgismo, mos palpar as facetas da patela e a plica medial, se
varismo, recurvato ou deformidade em flexo e me- presente, além de determinar o grau de mobilidade
dir o ângulo Q. O ângulo Q encontra-se aumentado patelar e tensionamento dos retináculos. Os testes

Diagnósticos diferenciais
nos indivíduos com instabilidade patelofemoral, por especiais para o joelho envolvem exames específi-
uma anteversão do colo femoral, torção femoral in- cos para testar a estabilidade articular ou simular a
terna e tibial externa aumentadas. A altura patelar dor do paciente, estressando as estruturas afetadas.
pode ser acessada com o paciente sentado. Para os ligamentos, testes como Lachmann, gaveta Pela irritação do nervo obturatório, uma lesão lesão do ramo infragenicular do nervo safeno du-
Comparar o trofismo muscular entre os mem- anterior e posterior, pivot-shift, Jerk, estresse varo no quadril pode se apresentar com uma dor referi- rante a cirurgia pode cursar com dor semelhante
bros inferior, demonstrando sinais de desuso, as- e valgo entre diversos, ajudam a determinar se há da medial ao joelho irradiada da região inguinal17. na região medial e infrapatelar do joelho26,27.
sim como detectar sinais flogísticos, presente nas algum ligamento lesado. Testes como Thessaly, A compressão das raízes de L4 ou L5 na coluna Um quadro de disautonomia com alteração de
artrites, bursites e infecções, deve ser feita nesta McMurray, Appley, Smilie entre outros provocam lombar podem causar com uma dor radicular do temperatura, volume, coloração e sudorese que
etapa. Na inspeção dinâmica, mede-se a amplitude dor na presença de lesão meniscal2,17,18. tipo neuropática em região anterior e medial do acomete o membro inferior, com presença de hipe-
joelho25. Compressão do nervo safeno na região ralgesia ou dor incompatível com a lesão e sinais de
do canal adutor na coxa pode cursar com uma dor desuso pode nos levar a pensar em um quadro de
neuropática na região medial do joelho e perna26. A síndrome de dor complexa regional28.

Exames complementares
Tratamento clínico
Após anamnese e exame físico, forma-se uma Radiografias na incidência anteroposterior as-
hipótese diagnóstica e segue-se com a solicitação sociado ao perfil e axial da patela fazem parte da
de exames complementares que permitam confir- avaliação inicial de imagem. Permitem avaliar ir-
mar o diagnóstico e traçar o planejamento tera- regularidades e lesões ósseas, presença de fraturas, Definir se a dor é de início agudo ou crônico ou tico ou misto auxilia a definir algumas estratégias
pêutico. calcificações e corpo livre articular. Na suspeita se apresenta um caráter mais nociceptivo, neuropá- farmacológicas. É importante lembrar que causas
306 DOR EM JOELHO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 307

crônicas podem determinar um caráter mais neu- nado por alvos. Estimular perda de peso com dieta rápico, numa tentativa de evitar uma abordagem so de 2016 da The Internacional Society for Medical
ropático da dor, necessitando o uso de adjuvantes e exercícios físicos aeróbicos e resistidos orienta- cirúrgica46,47. A onda de choque é um pulso sônico Shockwave Treatment (ISMST) com diversos níveis
para melhor controle. A intensidade da dor forne- dos36. Uso de palmilhas para correções de peque- de forte pressão que transmite energia cinética ao de evidência como pseudoartrose, fratura por es-
cida pelo paciente pode nos orientar, através da es- nos desvios de eixo e auxiliares de marcha para tecido doente. O efeito mecânico de compressão e tresse, necrose óssea e OCD sem afundamento arti-
cada analgésica da Organização Mundial de Saúde reduzir a descarga de peso. Prescrição racional da tensão gera um fenômeno denominado cavitação cular, tendinopatia anserina, edema ósseo, apofisi-
(OMS), qual medicação iniciar. Dores aguda são tra- medicação analgésica com associação de criterio- com formação e eclosão de microbolhas, acarre- te da tuberosidade da tibial e OA48.
tadas de forma mais agressiva com doses maiores sa de nutracêuticos e medicação modificadora de tando alterações estruturais do tecido doente e O uso da acupuntura para dor crônica no joelho
de analgésicos para interromper a sinalização da doença no tratamento farmacológico37,38. O uso tó- fragmentação da fibrose e de depósitos de cálcio, foi avaliado em metanálise de indivíduos com OA.
dor, procurando sempre descer a escada analgésica pico de medicação como AINEs, capsaicina entre estimulando a reabsorção pelo organismo. A libe- Foi verificada melhora da dor em curto prazo com
conforme a melhora sintomática. Nas dores crôni- outros pode diminuir efeitos colaterais sistêmicos. ração de substâncias analgésicas e anti-inflamató- ganho de função no curto e longo prazo. Apesar dos
cas utilizamos a menor dose em que o paciente não Para sensibilização central nos casos de dor crôni- rias associada à neovascularização tecidual com trabalhos heterogêneos e conflitantes e não sendo
sinta dor, associado aos adjuvantes, subindo a esca- ca, uma medicação adjuvante como a duloxetina produção de óxido nítrico e fatores de crescimento recomendado em vários guidelines, a acupuntura
da analgésica conforme a piora de dor. Utilizando as apresenta boa reposta na dor e função com segu- propicia a melhora da nutrição local com estimula- pode ser uma opção de tratamento, segura e sem
diversas classes de analgésicos e adjuvantes atuan- rança até 13 semanas, mas com efeitos colaterais ção do processo de regeneração destas lesões estru- efeitos colaterais, adjuvante no controle da dor49.
do sinergicamente, evitaremos efeitos colaterais como náusea, constipação e perda de apetite39,40. turais46. Algumas indicações são citadas no consen-
em doses maiores de cada uma delas isoladamente. A medicina intervencionista da dor é uma área
Dentre os analgésicos simples como paracetamol, da medicina da dor que utiliza de procedimentos
devemos ter cuidado com sua hepatotoxidade, e a guiados por imagem para infiltrações intra-articu-
dipirona, apesar do risco de agranulocitose, mos- lares ou de estruturas periarticulares e bloqueios

Tratamento cirúrgico
trou-se um medicamento seguro em que o bene- nervosos com o objetivo de analgesia e restaurar o
fício supera os riscos29,30. Anti-inflamatórios não microambiente local. A infiltração pode ser reali-
hormonais (AINEs) devem ser utilizados no menor zada com substâncias de evidências heterogêneas
tempo possível restritos à fase aguda da dor. Todos e resultados controversos, desde anestésico com O tratamento cirúrgico é indicado para os casos condições de reparo, como menisectomia parcial,
apresentam risco de sangramento gástrico e úlcera corticoide até ácido hialurônico de diversas ca- de joelho doloroso persistente e refratário ao trata- bursectomia, sinovectomia, tendinoplastia com
péptica, inclusive os inibidores de COX-2 em lon- racterísticas ou substâncias experimentais, como mento conservador, sempre prevenindo a progres- ressecção da área degenerada e osteófitos, retira-
go prazo, efeitos cardiovasculares e nefrotoxidade, plasma rico em plaquetas e células-tronco mesen- são de uma destruição articular nos mais jovens e da de corpo livre articular ou alongamentos tendí-
devendo ser evitado nos idosos. Naproxeno foi que quimais41,42. Propõem a diminuição da inflamação oferecendo melhor qualidade de vida aos mais ido- neos. Na presença de desvio do eixo mecânico de
o que apresentou menor efeito cardiovascular31. local e uso menor de analgésicos sistêmicos, res- sos. Deformidade assimétrica, desvio de eixo me- até 15 graus em varo e 20 graus em valgo, acome-
Os opioides são seguros quando prescritos de for- tauração da estrutura articular, melhora funcional cânico, grande sinovite com derrame articular de timento isolado do compartimento medial ou la-
ma racional, apesar do risco de tolerância com uso e retardo da substituição articular, com melhores repetição ou bloqueio mecânico são sinais de que teral, respectivamente, osteotomia valgizantes ou
contínuo, náuseas, constipação, depressão respi- resultados nos casos com dor sem alteração ra- um procedimento cirúrgico pode ser indicado. Po- varizantes podem ser indicados em pacientes mais
ratória e dependência. Assim, o tratamento da dor diográfica significativa. A infiltração repetida de demos dividir em dois tipos de procedimentos. O jovens, ativos, não obesos com boa ADM articular
deve ser multimodal e interdisciplinar abordando corticoide pode levar a perda do volume de carti- primeiro, a preservação ou reconstrução articular para retardar a progressão de um quadro inicial de
os aspectos multidimensional da dor32. lagem37. Os bloqueios nervosos podem ser obtidos e o segundo, a substituição articular. OA50-52. Liberação do retináculo, medialização da
Havendo melhora dos sintomas é importante por meios químicos com anestésicos e corticoides No primeiro grupo podemos englobar as cirur- tuberosidade tibial, correção da altura patelar ou
iniciar um tratamento de reabilitação para que a ou meios térmicos, com uso da radiofrequência gias para reparar ou reconstruir as estruturas. Nos reconstrução do ligamento patelofemoral medial
melhora da dor se torne sustentada e permita ga- (RF). No joelho, a ablação dos nervos geniculares casos traumáticos, é sempre necessário reconstruir são procedimentos indicados de acordo com a al-
nho progressivo de função32. O uso da fisioterapia, com uso de RF é apresentado como uma alterna- a anatomia prévia da lesão para recuperar a fun- teração anatômica encontrada na instabilidade pa-
com uso de meios físicos entre vários métodos de tiva ao tratamento de situações específicas de OA, cionalidade e evitar progressão para OA. Recons- telar.
analgesia, associado a cinesioterapia para balan- especialmente naqueles indivíduos sem condições trução ligamentar com uso de enxertos para tratar A substituição articular é necessária quando o
ceamento muscular e correção biomecânica entre clínicas para se submeterem a uma artroplastia to- instabilidades, osteossíntese articular com estabi- paciente com dor em joelho continua sintomático
outras modalidades de reabilitação, permite o re- tal de joelho ou aqueles que persistem com dores lidade absoluta para mobilização articular preco- mesmo após o tratamento conservador e cirúrgico
torno gradual para a atividade diária e esportiva. após uma artroplastia43,44. O alívio da dor é obtido cemente, suturas meniscais ou tendinosas e con- de preservação ou reconstrução articular. A artro-
É o objetivo principal no tratamento conservador. por pelo menos 6 meses com complicações míni- droplastias de diversas modalidades para os vários plastia parcial de joelho (AUJ) é indicada naqueles
O tratamento do OA é orientado por diversos mas44,45. tamanhos de lesão osteocondral são os principais maiores de 60 anos, não obesos, com OA isolada do
guidelines (ACR, OARSI, EULAR, AAOS) com algu- O tratamento por ondas de choque (ESWT) está procedimentos. compartimento medial, como nos casos de osteo-
mas recomendações divergentes33,34,35. Sendo assim reservado aos casos de tendinopatia patelar crôni- A ressecção ou desbridamento está reservado necrose do joelho, com deformidade em varo me-
é recomendável planejar um tratamento direcio- ca, refratários ao tratamento conservador fisiote- a estruturas que estão causando dor, porém, sem nor que 15 graus e boa ADM articular. A AUJ apre-
308 DOR EM JOELHO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 309

senta uma rápida recuperação com sobrevivência pacientes submetidos a ATJ56. Na dor pós-artro- 18. Queiroz AAB. Propedêutica geral do joelho. In: Leite from randomised trials. Lancet. 2013;382(9894):769-
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Introdução
O número de consultas devido a queixas de dor hálux valgo sintomático3–6. Os estados de depressão
no pé e tornozelo são muito frequentes no aten- e ansiedade, geralmente secundários à obesidade,
dimento primário, chegando até a 10% do total também interferem na percepção da dor, levando
das queixas musculoesqueléticas1,2. Podem estar à redução na qualidade de vida2,3,7,8. Pacientes com
relacionadas ao uso de calcados inadequados, in- dor crônica nos pés e tornozelos apresentam inci-
flamações, eventos traumáticos ou processos de- dência de ansiedade em 30% dos casos e depres-
generativos das articulações3. Pacientes do sexo são em 27%8. Dor neuropática (dor causada pela
feminino, obesos e com idade acima de 41 anos são irritação do nervo, sem causa mecânica) também é
os mais acometidos. Parece que há uma correlação causa de procura por atendimento médico devido a
direta entre o aumento das queixas de dor no pé sintomas no tornozelo e pé9. Pode ocorrer após pro-
e tornozelo e o avanço da idade1,2,4. O uso de cal- cedimentos cirúrgicos e tem como fatores de risco
çados inadequados também pode estar implicado a obesidade, tabagismo, cirurgias prévias e patolo-
no aparecimento de dor no tornozelo e pé, princi- gias ao nível do tornozelo ocorrendo em cerca de
palmente nas mulheres, onde o uso de calçados de 12,4% dos casos9.
salto alto e bico fino pode levar ao aparecimento Um estudo populacional2 com 233 participantes
de calosidades, deformidades dos dedos menores e investigou, dentre outros dados, as principais pres-
312 DOR EM PÉ E TORNOZELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 313

crições para o tratamento das dores do pé e torno- O uso de analgésicos orais, exercícios, órteses fase, mas ela pode ter papel no diagnóstico diferen- que geralmente leva cerca de 10 dias13,17–19. Pacientes
zelo. Encontrou que 123 (52,8%) dos participantes são, de fato, a primeira linha para o tratamento da cial13. Na tabela 1 estão alguns dos diagnósticos di- com entorse grave geralmente necessitam de maior
utilizavam paracetamol. Mudança no tipo de calça- dor, porém, a falha do tratamento conservador leva ferenciais da entorse aguda do tornozelo. tempo de imobilização. Fisioterapia e manipulação
do foi indicada em 46,8% dos casos. Anti-inflamató- ao referenciamento ao cirurgião de pé e tornoze- Nos casos crônicos, o diagnóstico é realizado articular, repouso e aplicação de gelo no local são
rios não hormonais (AINEs) por via oral em 45,5%, lo para avaliação e possível intervenção, seja ela com a história clínica e o exame físico. Há queixas estratégias importantes no alívio da dor e na reabi-
exercícios em 38,6%, órteses em 35,6% e AINEs conservadora ou cirúrgica2. O conhecimento das de instabilidade no tornozelo e durante o exame litação precoce11,13,16,17,19. Outras modalidades de tra-
tópico, 35.2%. Opioides também foram prescritos, principais doenças causadoras da dor e as princi- podemos encontrar limitação de dorsiflexão, flexão tamento, tais como ultrassom terapêutico, terapia a
em cerca de 26,6% dos casos, porém, há uma gran- pais ferramentas para o tratamento das mesmas plantar e inversão além do teste da gaveta anterior laser, eletroterapia e tratamento por ondas de cho-
de preocupação com o risco destas drogas levarem são fundamentais na prática diária do ortopedista. positivo. Não é incomum encontramos lesões as- que, não se demonstram efetivas no tratamento da
à adição, overdose e até ao óbito10. sociadas a lesão ligamentar crônica do tornozelo, dor, edema e reabilitação18. A prevenção da entorse
como lesão dos tendões fibulares, lesão osteocon- inicial ou de entorses de repetição pode ser realiza-
dral do tálus, entre outras. Exames complementa- do por meio de exercícios de propriocepção e uso de
res podem ser necessários para ajudar na identifi- brace ou esparadrapagem principalmente durante
cação destas lesões associadas, como também para atividades esportivas12,16. Nos casos de lesão crônica

Entorse de tornozelo
exclusão de diagnósticos diferenciais (Tabela 1)13,15. estudos demonstram boa resposta a fisioterapia e
manipulação, porém caso haja instabilidade grossei-
TRATAMENTO CONSERVADOR ra ou dor refratária o procedimento cirúrgico poderá
A entorse de tornozelo é definida como qual- SINAIS E SINTOMAS O tratamento conservador é o tratamento de ser instituído11,13,14,17.
quer lesão do complexo ligamentar do tornozelo Nos casos agudos, o paciente pode apresen- escolha para as lesões ligamentares laterais agu-
causada por um trauma torcional. O principal tipo tar-se com dor, edema, hematoma perimaleolar, das do tornozelo. Estudos demonstram que o tra- TRATAMENTO CIRÚRGICO
de entorse é o lateral, causado por um trauma tor- limitação do arco de movimento e dificuldade de tamento funcional, que imobiliza o tornozelo com O tratamento cirúrgico tem sua indicação nos
cional em inversão, flexão plantar e rotação interna descarga de peso no membro acometido, depen- órtese e permite mobilização precoce tem bons re- casos de lesão crônica, na falha no tratamento
levando à lesão do complexo ligamentar lateral11,12. dendo da gravidade da entorse12,13. Em alguns ca- sultados12,13,16–18. AINEs são a primeira linha de tra- conservador16. Outras indicações relativas são a
sos o paciente pode relatar crepitação ou estalido tamento medicamentoso da dor18. Em comparação evidência radiográfica (sob estresse) de instabili-
EPIDEMIOLOGIA audível no momento do trauma. Já nos casos com com analgésicos opioides, os AINEs apresentam dade grosseira com tilt talar maior que 10º ou 10
É considerada uma das lesões mais frequentes sintomatologia crônica, a dor residual e a queixa de menores efeitos colaterais e promovem semelhante mm de subluxação anterior ou diferença maior
na prática esportiva acometendo 2,15 a cada 1000 instabilidade do tornozelo se fazem presentes12–14. analgesia18. Em contrapartida o uso de AINEs pode que 5º ou 5mm em relação ao lado contralate-
pessoas/ano nos EUA, cerca de 10.000 entorses/dia levar a um atraso da cicatrização por interferir no ral11,12,16. A reparação cirúrgica mais comumente
no mundo11. É a causa mais comum de dor lateral DIAGNÓSTICO E EXAMES processo inflamatório cicatricial18. A imobilização utilizada é o procedimento descrito por Bröstrom
no tornozelo11. Apesar do resultado do tratamento COMPLEMENTARES inicial é recomendável para o tratamento da dor e do e modificado por Gould11,16. É importante estar
da lesão ligamentar lateral aguda do tornozelo ser Na fase aguda, a dor e edema na região do tor- edema, porém é consenso que a mesma deverá ser atento ao diagnóstico das possíveis lesões asso-
considerado bom, alguns estudos indicam que cerca nozelo ajudam a fazer o diagnóstico. O diagnóstico descontinuada assim que o paciente conseguir sus- ciadas, que devem ser tratadas juntamente com a
de 30% dos pacientes permanecem com algum tipo diferencial com fraturas, tanto do tornozelo como tentar o peso do corpo e houver a melhora da dor, o lesão ligamentar16.
de sintomatologia11,12. A dor crônica geralmente está dos ossos do pé, pode ser feito na maioria dos casos
correlacionada a instabilidade residual ou com a com auxílio da radiografia simples. A necessidade
presença de lesões associadas a lesão ligamentar11–13. da ressonância magnética (RM) é discutível nesta

Tendinopatias
Tabela 1: Diagnósticos diferenciais da entorse do tornozelo

Agudo Crônico
Os tendões são estruturas densas, de tecido con- primários por dor e incapacidade funcional. Geral-
- Fratura do processo lateral do tálus - Fratura por stress
juntivo, que realizam a transferência de força do mente resultam de uma carga excessiva ao tendão,
- Fratura do processo anterior do calcâneo - Pseudoartrose
músculo para o osso, resultando no movimento19. causando lesões estruturais que excedem a capaci-
- Fratura da base do 5º metatarso - Lesão osteocondral
São formados primariamente de fibras de colágeno dade de cicatrização do organismo, resultando em
- Lesão osteocondral aguda - Lesões dos tendões fibulares
do tipo 1 dispostas de forma paralela associada a inflamação19. Nos pacientes mais jovens, as tendi-
- Fratura maleolar - Síndrome do seio do tarso
proteoglicanos, glicosaminoglicanos e outros tipos nopatias geralmente são secundárias a doenças in-
- Luxação dos tendões fibulares - Coalisão tarsal
de colágeno em menor proporção. Lesões tendíneas flamatórias sistêmicas ou secundárias a um trauma
- Fratura por stress - Pinçamento anterolateral de partes moles ou óssea
crônicas são uma grande parte dos atendimentos ou atividades físicas intensas. Em contrapartida
314 DOR EM PÉ E TORNOZELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 315

nos idosos, podem ter sua origem no microtrauma da lateral do calcâneo, associada a sensibilidade novial e tendíneo21,22. Quando há lesão parcial do insercional a dor está localizada na inserção do ten-
por excesso de uso ou na degeneração tendíneas19. à palpação ao longo do trajeto tendíneo. Há dor tendão fibular curto acometendo de 30 a 50% do dão no calcâneo24,26.
O termo tendinite é utilizado quando há infla- durante eversão resistida, inversão forçada ou fle- diâmetro do tendão há a possibilidade de ressec-
mação própria do tendão, tenossinovite quando há xão plantar do 1º raio contra resistência20. O mo- ção da lesão e tubulização do tendão. Caso a lesão Exames complementares
inflamação do tendão e de sua bainha, e tendinose vimento de circundação ativa do tornozelo pode acometa >50% do tendão, a tenodese entre o fibu- Radiografias podem ser úteis para diagnosticar
quando há degeneração das suas bandas de colá- levar a subluxação ou luxação dos tendões fibula- lar longo e o curto com a excisão da área danifica- alterações ósseas concomitantes como por exem-
geno, porém, sem grande inflamação. A distinção res. Quando há luxação dos tendões, um estalido, da poderá ser realizada21. Nos casos de luxação dos plo, a presença de entesófito na inserção do tendão,
destas entidades é importante para que possamos pode ser audível na face posterior da extremidade fibulares, o procedimento aberto ou endoscópico consistente com a tendinopatia insercional, calcifi-
entender os diferentes tipos da lesão do tendão. distal da fíbula, durante movimento de eversão e para o reparo do retináculo dos fibulares com ou cações intratendíneas, ou presença de proeminên-
Tendões que apresentam mudança de direção no dorsiflexão forçada19,20. sem aprofundamento do sulco posterior da fíbula cia da tuberosidade posterior do calcâneo. O uso
seu trajeto ou que passam através de retináculos é descrito21,22. do US é o método primário mais usado. Caso ainda
ou túneis geralmente apresentam bainha como é Exames complementares haja dúvida, a RM poderá ser realizada, fornecendo
o caso dos tendões fibulares e do tibial posterior. Radiografias do pé e tornozelo com carga são TENDÃO DE AQUILES informação da extensão da lesão e das condições da
Tendões que têm seu trajeto linear geralmente não importantes na avaliação. Elas podem demons- A tendinite do tendão de Aquiles é uma doen- musculatura proximal23,25.
possuem bainha, como é o caso do tendão de Aqui- trar deformidades já observadas ao exame clínico, ça caracterizada por dor, limitação funcional e
les, que possui somente uma camada fina que o re- como o varo do retropé e auxiliar nos diagnósticos edema intra e peritendíneo. Pode ser dividida em Tratamento conservador
cobre chamada de paratendão19. diferenciais20. A ultrassonografia (US) é um exame tendinite insercional e não insercional, sendo esta O repouso associado à crioterapia, exercícios
de baixo custo que pode auxiliar no diagnóstico. subdividida em peritendinite e tendinose do terço de fortalecimento/alongamento são preconizados
TENDÕES FIBULARES A tomografia computadorizada estuda melhor a médio do tendão19,23,24. A tendinite não insercional como tratamento inicial para tendinite do Aquiles23.
A lesão dos tendões fibulares é uma das causas anatomia das estruturas ósseas tais como tubércu- do Aquiles é mais comum em atletas, cerca de 6% AINEs são comumente utilizados para o manejo da
de dor lateral no tornozelo. Podem ser divididas em lo dos fibulares hipertrofiado e esporões ósseos na a 17% de todas as lesões esportivas nos praticantes dor no tendão de Aquiles, porém, somente alguns
tendinopatia, luxação ou instabilidade, e lesões por região distal da fíbula. Mas o exame para melhor de corrida. Porém, também pode ser encontrada estudos comprovam um efeito moderado. O uso
estiramento ou rupturas20. O acometimento destes visibilização dos tendões fibulares é a RM9,20. em pacientes de meia idade, com sobrepeso e his- dos AINEs pode ser benéfico no controle das dores
tendões é frequente nos pacientes com instabili- tória de aumento da atividade física23,25. O excesso durante exercícios de alongamento do complexo
dade ligamentar lateral crônica, pés cavos varos20. Tratamento conservador na atividade física pode ser uma das causas. Pa- gastrosolear, porém, em contrapartida podem le-
Tipicamente tais lesões respondem ao tratamento O tratamento conservador é empregado com su- cientes mais idosos sabidamente apresentam al- var ao atraso ou má cicatrização do tendão23,24,27.
conservador com fisioterapia, AINEs e imobilização, cesso na maior parte dos casos. O uso de AINEs, terações na expressão de alguns genes, que agem Exercícios excêntricos promovem uma melhor ci-
porém quando não tratados de forma adequada po- compressas de gelo, fisioterapia e períodos de imo- na produção de diversas matrizes proteicas tendí- catrização facilitando o remodelamento tendíneo
dem levar a dor persistente e limitação funcional. bilização suropodálica podem trazer alívio da dor neas, levando assim a sua degeneração. O excesso Devido ao risco de ruptura espontânea do tendão,
Em alguns casos a cirurgia pode ser necessária20. e levar à cicatrização das lesões. Infiltrações com de carga é considerado o principal fator causal da a infiltração local com corticoide não é recomen-
corticosteroides também são descritas, porém, tendinite do Aquiles19,23,24. dada23,24. A infiltração do tendão com plasma rico
Etiologia levam a um alto índice de ruptura tendínea. Nos em plaquetas ou com outros agentes farmacológi-
A etiologia é multifatorial e inclui eventos trau- casos de pés cavos varos, a utilização de palmilhas Exame físico e diagnóstico cos guiada por US é controversa na literatura23,25.
máticos como entorses do tornozelo, sobrecarga com elevação da borda lateral do retropé pode levar O diagnóstico é realizado pela história clínica e Alguns estudos demonstram que o tratamento por
mecânica e alterações anatômicas que colocam o à melhora da queixa álgica19,20. exame físico. É importante saber que a dor pode ondas de choque pode ser útil, tanto na tendinopa-
tendão em risco19. As estruturas possivelmente cau- ser um sintoma tardio. Geralmente a doença causa tia não insercional como na insercional23–25,28.
sadoras são as que levam ao estreitamento ou mu- Tratamento cirúrgico rigidez, matinal ou após um período de inativida-
dança de direção do tendão, como a ponta da fíbula, O tratamento cirúrgico tem sua indicação na de. Nos atletas, a dor está presente no início e fim Tratamento cirúrgico
o tubérculo dos fibulares no calcâneo e os retinácu- falha do tratamento conservador ou persistência dos exercícios com um pequeno desconforto no in- Tem sua indicação após 6 meses de tratamento
los, que causam fricção e consequente lesão tendí- dos sintomas. Além de abordar os tendões fibula- tervalo e conforme a tendinite progride o paciente conservador sem resposta clínica. As opções são a
nea19. O posicionamento do retropé também pode res, a intervenção cirúrgica deverá ser direciona- pode queixar-se de dor no decorrer do exercício. tenotomia percutânea do tendão, ou a abordagem
ser fator determinante para a lesão. A deformidade da as lesões associadas e possíveis causas da lesão, Nos casos mais graves a dor está presente em re- cirúrgica aberta com desbridamento do tendão
em varo pode levar a sobrecarga mecânica e o valgo como instabilidade ligamentar lateral crônica, re- pouso. Na fase aguda nota-se o edema do tendão doente. Caso o acometimento do tendão for maior
excessivo ao encarceramento subfibular19,20. tropé varo, tubérculo dos fibulares proeminente, associado ao aumento da sensibilidade, que geral- de 50% do seu diâmetro, a transferência tendínea
presença de ventre muscular baixo (fibular curto), mente é localizada entre 2 a 6 cm da inserção ten- deve ser considerada23–25. Nos casos do tratamento
Sinais e sintomas tendão fibular quarto20. Lesões tendíneas puras dínea no calcâneo nos casos de tendinite não in- cirúrgico da tendinite insercional, além do desbri-
Ao exame físico é possível identificar edema podem ser abordadas por via aberta ou por tenos- sercional. Em casos crônicos pode-se palpar áreas damento do tendão, também é necessária a remoção
na borda posterior da fíbula ou ao longo da bor- copia, onde pode-se realizar o desbridamento si- nodulares intratendíneas25. Nos casos de tendinite do esporão ósseo, presente na maioria dos casos24.
316 DOR EM PÉ E TORNOZELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 317

ETIOLOGIA EXAMES COMPLEMENTARES


Talalgias – fascite plantar As causas da metatarsalgia são classicamente di- Radiografias com carga nas incidências em dor-
vididas em 3 grupos: primária, secundária e iatrogê- so-plantar e perfil do pé e antepé devem ser reali-
Talalgia é o termo utilizado para definir a sín- Ao exame, há dor a palpação plantar medial no cal- nica. A metatarsalgia primária é decorrente da ana- zadas, para análise da fórmula metatarsal (curva
drome dolorosa do calcanhar de diversas etiologias, canhar sobre a origem da fáscia plantar, que pode se tomia dos metatarsos em relação ao pé acometido, de Maestro) e a incidência de Saltzman (axial per-
como a Fascite Plantar, a Síndrome de Haglund, intensificar com a extensão dos dedos e do tornozelo, ocorrendo quando há uma desproporção no tama- na-pé), para avaliação de alguma deformidade do
Síndrome de Baxter e a Síndrome do Túnel do Tar- por aumentar a tensão na fáscia plantar29,30. O exame nho dos metatarsos (desarranjo da fórmula meta- retropé. A avaliação de diagnósticos diferenciais
so. A Fascite Plantar com certeza é a mais comum. físico ajuda muito no diagnóstico diferencial, prin- tarsal de Lelièvre), como por exemplo o 1º metatar- como Doença de Freiberg e fraturas por stress tam-
cipalmente com fratura por stress do calcâneo, sín- so curto ou o segundo e terceiro muito alongados. bém podem ser sugeridas no estudo radiográfico. A
FASCITE PLANTAR drome do túnel do tarso e atrofia do coxim plantar30. A deformidade em equino, pés cavos ou contratura US e a RM podem ajudar no diagnóstico do neuro-
Fascite Plantar é a causa mais comum de dor O diagnóstico é clínico e exames de imagem podem do gastrocnêmio ou do tríceps sural também são ma de Morton, sinovite e lesões da placa plantar31,34.
plantar no calcanhar. Estima-se que 1 a cada 10 auxiliar no diagnóstico diferencial. Radiografias sim- causas primárias de metatarsalgia31,32. O hálux val-
pessoas apresentarão queixas de dor plantar no ples podem demonstrar o esporão na face plantar do go pode levar a metatarsalgia de transferência por TRATAMENTO CONSERVADOR
calcanhar ao longo da vida29,30. calcâneo que parece não ter relação direta com a dor insuficiência do primeiro raio em absorver carga, O tratamento conservador da metatarsalgia é
Durante a fase de apoio da marcha, a fáscia plan- da fascite plantar29,30. Na RM e US podemos observar o que sobrecarrega as articulações metatarsofalan- eficaz no alívio das dores e se traduz em exercícios
tar é submetida a forças de compressão e de tração. o processo inflamatório e espessamento da fáscia30. gicas do 2º e 3º metatarsos. A secundária é decor- de alongamento do tríceps sural, mudança do cal-
Quando essas forças são aplicadas sucessivamente rente de fatores que causam um aumento da carga çado e palmilhas feitas sob medida. O desbrida-
com maior frequência e intensidade, podem levar Tratamento conservador sobre os metatarsos tais como a migração do coxim mento das calosidades plantares traz alívio e pode
à degeneração da fáscia plantar na sua origem, na Inicialmente é recomendada a redução do nível gorduroso do antepé causado pela sinovite crônica, ser realizado regularmente. Deve-se ter preferência
região medial da tuberosidade do calcâneo. O trau- de atividade física, crioterapia e o alongamento da atrites, gota ou psoríase. Alterações neurológicas, na utilização de calçados com solado firme e com
ma repetitivo pode levar a periostite e a microlesões, musculatura posterior da perna e da fáscia plan- como a Doença de Charcot-Marie-Tooth, pseudoar- formato de mata-borrão associado a palmilhas fei-
causando processo inflamatório e dor crônica29,30. tar. AINE podem ser empregados também. O uso trose ou sequela da Doença de Freiberg também po- tas sob medida para a correção da deformidade
Embora a sobrecarga mecânica esteja envolvida de palmilhas feitas sob medida com apoio do arco dem ser causadores de metatarsalgia. E por último, em valgo / varo do retropé, suporte do arco plantar
diretamente na origem do problema, a etiologia plantar medial tem como objetivo reduzir a pressão as causas iatrogênicas, geralmente ocorrem após medial e uso de piloto retrocapital proximal a ca-
pode ser multifatorial. Outros fatores que parecem causada pela carga. Nos casos de difícil tratamen- correção de hálux valgo com encurtamento excessi- beça dos metatarsos, aliviando a pressão sob esta
estar envolvidos são idade avançada, deformidade to o uso de imobilização suropodálica por 6 a 8 se- vo do 1º metatarso ou osteotomias metatarsais que região31. O neuroma de Morton, quando presente,
nos pés como pé cavo e pé plano, obesidade, uso manas pode trazer melhora dos sintomas. Órteses podem levar a deformidades e/ou sobrecarga31,33. pode ser tratado por meio das técnicas descritas
de calçados ruins, encurtamento da musculatura noturnas mantêm a fáscia esticada, evitando a con- anteriormente, porém está descrito a associação
posterior da perna30. O esporão na região plantar do tratura nos períodos de repouso, auxiliam no alívio SINAIS E SINTOMAS com infiltração de anestésicos, corticosteroides ou
calcâneo, que está presente em 50% dos pacientes da dor da primeira pisada pela manhã29,30. O uso de A principal queixa como já apontamos é a dor álcool, crioterapia, ablação por radiofrequência e
com dor no calcanhar, não é a causa da dor e sim tratamentopor ondas de choque, fisioterapia e in- sob as cabeças dos metatarsos. Devemos nos aten- tratamento por ondas de choque34.
a consequência da inflamação crônica, relacionada filtrações com corticoide também são descritas29,30. tar ao exame físico o quanto a dor que se acentua
à tração repetitiva na origem da fáscia plantar e do durante a marcha, nas fases de desprendimento TRATAMENTO CIRÚRGICO
flexor curto dos dedos29. Tratamento cirúrgico do calcâneo e desprendimento dos dedos (acelera- Quando há falha no tratamento conservador, o
Tem sua indicação na falha dos tratamentos ção)33, as deformidades presentes como pés cavos, tratamento cirúrgico é indicado tendo como objetivo
Sinais e sintomas conservadores e visam a liberação parcial da fás- hálux valgo e ao encurtamento da musculatura normalizar a distribuição da pressão plantar. Alon-
O paciente queixa-se de dor plantar no calcanhar cia plantar na sua porção medial, o que pode ser posterior da perna (avaliada pelo teste de Silvers- gamentos da musculatura posterior da perna podem
que piora no primeiro toque do pé no solo pela manhã realizado por via aberta ou endoscópica. O alonga- kiold). A presença de calosidades na região plantar corrigir a deformidade em equino diminuindo a so-
e melhora após alguns passos. Ao final do dia, a dor mento cirúrgico do tríceps sural também é opção do antepé correspondentes à topografia das cabe- brecarga no antepé. Os procedimentos de Strayer e
se encontra mais intensa e melhora com o repouso. no tratamento da fascite plantar29,30. ças metatarsais podem estar presentes. A queixa de Barouk são alternativas para tal correção. A correção
dor geralmente na topografia do 3º espaço interme- do hálux valgo reduz a transferência de forças para
tatarsal pode nos sugerir o diagnóstico diferencial os raios laterais, diminuindo assim os sintomas de
de neuroma de Morton. O teste de Mulder positivo sobrecarga. Osteotomias metatarsais visam à restau-

Metatarsalgia
associado a dor a percussão plantar, dor no espa- ração da fórmula metatarsal, levando ao equilíbrio
ço interdigital e parestesia são achados frequentes da distribuição de forças no antepé. Tais osteotomias
desta patologia34. A lesão da placa plantar com de- podem ser realizadas na porção proximal, diafisária
Metatarsalgia é definida como dor no antepé lo- São várias as causas desta síndrome, mas fatores bio- formidade do dedo também leva a dor na cabeça do ou distal do metatarso. Diversas técnicas são descri-
calizada abaixo de uma ou mais cabeças metatarsais. mecânicos quase sempre explicam a origem da dor31. metatarso correspondente. tas, sendo as mais utilizadas a osteotomia de Weil e o
318 DOR EM PÉ E TORNOZELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 319

método minimamente invasivo ou DMMO (osteoto- neurectomia, entretanto osteotomias para aumento rent Concepts in Management. J Bone Joint Surg Am. 2014;49(3):213–217.
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320 DOR EM PÉ E TORNOZELO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 321

CAPÍTULO 27

Síndrome dolorosa miofascial


Helena Hideko Seguchi Kaziyama
Lin Tchia Yeng
Manoel Jacobsen Teixeira

Introdução
A Síndrome de Dolorosa Miofascial (SDM) ca- cem, pois o diagnóstico depende exclusivamente
racteriza-se como dor regional originada de pon- da história clínica e dos achados do exame físico.
tos hiper-irritáveis denominados de pontos-ga- A não identificação da SDM é responsável por nu-
tilho miofasciais (PGMs) localizados em bandas merosos diagnósticos equivocados e maus resul-
tensas dos músculos1. Muitos doentes e muitos tados terapêuticos, perda da produtividade e au-
profissionais das áreas da saúde não a reconhe- mento das compensações2.

Epidemiologia
A prevalência da SDM na população é difícil que o profissional que entrevista o doente seja trei-
de ser determinada, pois os critérios diagnósticos nado para identificá-los. Ocorre em 21% a 93% dos
são clínicos e fundamentados na evidenciação dos indivíduos com queixa de dor regionalizada atendi-
PGMs e das bandas tensas. Portanto, é necessário dos em centros de dor, consultórios odontológicos
322 SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 323

e clínicas de especializadas3. A variação da preva- anos de idade. Com o progredir da idade, há redu- muscular contrátil aumenta a sinalização das es- Quadro 1: Critérios diagnósticos do ponto-gatilho
lência deve-se às diferenças entre as populações ção das atividades físicas e, consequentemente, da pécies reativas de oxigênio. No entanto, em con-
estudadas, aos conceitos de gravidade da dor, à au- frequência das SDMs e dos PGMs ativos, limitação dições patológicas, o excesso de sinalização pode
• Banda muscular tensa palpável
sência de critérios padronizados para o diagnóstico da amplitude dos movimentos articulares (ADMs) e contribuir para a disfunção contrátil e a instalação
• Ponto doloroso localizado na banda tensa
dos PGMs e à variação nas habilidades diagnósticas predomínio da presença dos PGMs latentes2. de miopatia7.
• Dor referida durante a pressão aplicada no ponto-gatilho
dos examinadores. Diagnosticou-se SDM em 85% As SDMs ocorrem em quase todos os doentes Os PGMs consistem de nódulos rígidos e doloro-
• Redução da amplitude do movimento decorrente da dor
dos doentes com dor crônica atendidos no Centro com cefaleia cervicogênica; em cerca de 95% dos sos à palpação no cerne dos dos músculos acome-
• Reação contráctil à palpação ou agulhamento do PGM
de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de doentes com distúrbios osteomusculares relacio- tidos. A rotura do retículo sarcoplasmático libera
Medicina da Universidade de São Paulo: em 61% nados ao trabalho (LER/DORT); em cerca de 80% Ca++ no sarcoplasma A “rigidez” muscular decor- Presença dos três critérios que reproduzem a dor
dos casos localizou-se na região lombar, em 10%, dos com dor abdominal não visceral; em cerca de re da hipercontração localizada do sarcômero. Os caracteriza o PGM ativo, caso contrário, o PGM latente
na região cervical e, em 14%, nas regiões cervical 55% dos com dor pelviperineal de origem não vis- PGMs caracterizam-se por redução do sarcômero,
e lombar; ocorre predomínio nos doentes do sexo ceral; em cerca de 60% dos com neuralgia pós-her- presença de proteínas de degradação e edema das
feminino na razão de 3/1 em relação ao sexo mas- pética; e em cerca de 35% dos com dor oncológica miofibrilas e das mitocôndrias decorrentes da hi- induzem lesão muscular e intersticial prolongada
culino4. O pico de ocorrência situa-se entre 31 e 50 em cerca de 30% dos com dor mielopática2,3,4,5. percontração muscular sustentada pela liberação de substâncias sensibilizadoras [íons K+, prótons
de Ca++ do retículo sarcoplasmático em decorrên- (íons H+), miocinas, citocinas (interleucina-1β),
cia da intensa ativação dos motoneurônios e da noradrenalina, bradicinina, serotonina, prosta-
geração dos potenciais musculares. Sob a depen- glandinas, trifosfato de adenosina (ATP), fatores
dência do ATP e do Ca++ sarcoplasmático, ocorre tróficos (fator de crescimento nervoso, TNF-α], etc.

Etiologia
a interação entre a actina e a miosina que resulta A tensão e o encurtamento muscular podem gerar
em encurtamento do sarcômero e em espasmo e inflamação no local da inserção dos tendões ou li-
hipertonia muscular localizados. Os miofilamen- gamentos nas articulações ou nas estruturas ósseas
As SDMs podem ter como fatores predisponen- latura antigravitária durante a execução das ativi- tos ativados são responsáveis pela banda muscular e ocasionar entesopatia1,6,7.
tes, a assimetria dos membros inferiores, malfor- dades laborais ou de lazer (esportes) ou microtrau- tensa e encurtada. A atividade contrátil sustentada A ativação e a sensibillização dos nociceptores
mações da pelve (hemipelve), adoção de posturas matismos musculoesqueléticos repetitivos durante não controlada aumenta o metabolismo muscular das fibras amielínicas (grupo IV) ou mielinizadas
inadequadas, imobilismo prolongado, anormali- a execução das atividades diárias ou do trabalho, regional e o estresse metabólico e colapsa localiza- finas (grupo III) (cerca de 2/3 das fibras nervosas
dades nutricionais, (deficiências vitamínicas ou de estresses psíquicos, dentre outras possibilidades, damente a microcirculação (compressão mecânica oriundas dos músculos é amielínica, sendo 25%
sais minerais, uso de dietas inadequadas), endócri- resultam em fadiga e em sobrecarga dos músculos dos capilares) reduzindo seu fluxo sanguíneo. O destas e 10% das mielinizadas, nociceptivas) libe-
nas (deficiência de estrógenos, hipotireoidismo), descondicionados (atletas de fim de semana), en- consumo energético aumentado sob condições de ram substância P e peptídeo relacionado ao gene da
reumatológicas (artrites, artralgias), infecções vi- quanto que os acidentes, a síndrome do chicote e a isquemia gera depleção localizada do ATP que re- calcitonina (PRGC) que, por sua vez, desencadeiam
rais ou bacterianas crônicas, infestações parasitá- exposição prolongada ao frio ou à umidade sensi- sulta no comprometimento da recaptura do Ca++ o fenômeno da “inflamação neurogênica”, ou seja,
rias, etc. Macrotraumatismos, sobrecargas agudas bilizam as terminações nervosas periféricas6. pela bomba de Ca++ do retículo sarcoplasmático. A liberação de mediadores inflamatórios, edema loca-
de segmentos musculares isolados ou da muscu- hiperatividade neurovegetativa simpática aumenta lizado, vasodilatação, e aumento da permeabilidade
a liberação de acetilcolina na região da placa moto- vascular. O PRGC também inibe a acetilcolinestera-
ra que, por sua vez, aumenta a tensão muscular e se, resultando no aumento da quantidade de recep-
induz o desenvolvimento da banda miofascial ten- tores de acetilcolina e, associadamente à redução
sa e, adicionalmente restringe o fluxo sanguíneo do pH e aos estresses psicológicos, na liberação e na

Fisiopatologia
muscular e causa hipoperfusão, hipóxia localizada elevação da concentração de acetilcolina liberada
e acidificação tecidual que, por sua vez, ativam os pelos motoneurônios e dos potenciais da placa mo-
canais iônicos de detecção de ácido. Distonia loca- tora, fenômenos que agravam a contração muscular
A lesão, a sobrecarga, os estresses repetidos das da fibra muscular. A transmissão do potencial de lizada pode também contribuir para a instalação e e contribuem para a instalação da dor e manuten-
fibras musculares e a contração muscular exagera- ação na fibra muscular através do retículo sarco- manutenção dos PGMs (Quadro 1)1. A manutenção ção dos PGMs.  Os eventos dolorosos sensibilizam o
da prolongadamente geram isquemia localizada e plasmático ativa os canais de Ca++ gerando meca- destas anormalidades gera o círculo vicioso autos- Sistema Nervoso Periférico (SNP) e central (SNC). A
anormalidades no ambiente extracelular das mio- nismos que induzem a ligação actina-miosina, me- sustentado de contração-muscular-isquemia-con- sensibilização dos neurônios segmentares do Corno
fibrilas7. canismos que dependem da disponibilização do tração muscular; a contração autossustentada, a Dorsal da Medula Espinal (CDME) que recebem afe-
O potencial de ação dos motoneurônios defla- ATP. O músculo estriado produz espécies reativas isquemia, a hipoxia a redução da oxigenação mus- rências cutâneas e viscerais e de outros músculos,
gra a liberação da acetilcolina das terminações de oxigênio (superóxidos) que atuam na absorção cular, o comprometimento do metabolismo ener- justifica o fato de os PGMs gerarem dor localizada
pré-sinápticas da junção neuromuscular, esta ativa da glicose, na expressão genética, na sinalização gético mitocondrial, as anormalidades metabóli- e referida. Adicionalmente, dor gera reflexamente
os receptores nicotínicos e gera a despolarização do Ca++ e na contratilidade muscular. A atividade cas, a redução do ATP e o estresse celular induzem espasmo muscular e o espasmo agrava a condição
324 SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 325

original, inibindo a atividade de outros músculos e fadiga dos músculos sobrecarregados, o que suge- Quadro 2: Características clínicas das síndromes dolorosas miofasciais
aumentando a reação contráctil muscular7. re a existência se disfunções motoras nos múscu-
Os PGMs podem ser ativos ou latentes. Os ati- los contendo PGMs. A aferência nociceptiva mus-
• Dor em um músculo ou grupo de músculos sem padrão radicular ou neuropático
vos localizam-se nos locais onde há dor muscular cular inibe o sistema g e compromete a atividade
• Dor regionalizada em peso, queimor, ou latejamento, referida à distância e associada ou não a parestesias sem
localizada espontânea e constituem os focos de do fuso muscular, implicando na necessidade de
distribuição neuropática
hiperirritabilidade dolorosa situados nas bandas acionamento de mais fibras nervosas para desem-
• Banda muscular tensa palpável contendo PGs
musculares tensas contraturadas ou enduradas no penhar a motricidade com eficácia. Este meca-
• Reprodução das queixas durante a compressão dos PGs
músculo e de dor referida. Os latentes apresentam nismo relaciona-se à sensação subjetiva de redu-
• Desencadeamento do reflexo contráctil localizado com a inserção da agulha ou palpação transversal do ponto
características similares aos ativos, mas são assin- ção da força muscular nos doentes com SDMs. A
hipersensível da banda de tensão muscular
tomáticos, não causam dor durante a execução das reação contráctil localizada representa um reflexo
• Alívio da dor após o estiramento do músculo ou infiltração
atividades físicas habituais, são menos dolorosos à de estiramento muscular em miniatura confina-
• Limitação da amplitude dos movimentos
palpação e geram menos disfunção, mas diante de do a pequena região do músculo. As miofibrilas
• Encurtamento muscular frente ao estiramento passivo
estressores físicos exógenos, endógenos ou emo- intrafusais são ajustadas para padrões de ativida-
• Possível redução da força muscular evidenciada com o teste de contrarresistência
cionais, podem tornar-se ativos e gerar síndromes de mais elevadas, fenômeno que contribui para a
dolorosas e ou incapacidades funcionais1,6. sensação de tensão muscular e para o aumento do
O alentecimento do relaxamento muscular reflexo de estiramento (reação contrátil localizada)
após a execução de exercícios repetitivos acelera a observados em doentes com SDM1,6,7. PGMs decorrem de sobrecargas dinâmicas (trau- tos ou nódulos musculares dolorosos, os PGMs,
matismos, excesso de atividade) ou estáticas (so- que ao sofrerem palpação digital ou punção com
brecargas posturais) ocorridas durante a execução agulha reproduzem a dor localizada e referida em
das atividades de vida diária ou ocupacionais ou regiões padronizadas à distância e reprodutíveis
durante momentos de tensão emocional. Sedenta- para cada músculo e desencadeiam do reflexo

DIAGNÓSTICO
rismo, frequência com que são realizadas ativida- contráctil localizado. Os PGMs ativos são frequen-
des físicas (atletas de finais de semana), atividades temente identificados nos músculos posturais da
que podem sobrecarregar o sistema musculoesque- região cervical, cinturas escapular e pélvica, tra-
O diagnóstico das SDMs é baseado nas queixas ção das atividades físicas, limitação das ADMs da lético (aeróbicas, musculação), assimetrias das so- pézio superior, escaleno, esternocleidomastóideo,
e no exame físico, pois não há exames complemen- região acometida, alterações tróficas e da destreza. brecargas físicas (tênis, beisebol), posturas durante elevador da escápula, quadrado lombar e masti-
tares específicos que as configurem. Os históricos O padrão da dor localizada e referida, das zonas a execução das tarefas no lar, no trabalho, na escola gatórios8. Os PGMs ativos e os satélites tornam-se
das queixas devem considerar cronologicamente reflexas e dos fenômenos associados é constante e e no lazer (hábitos, características dos ambientes) mais doloridos quando os músculos que os alber-
os eventos relacionados à dor, à saúde, às ativida- similar para cada músculo e não segue os padrões são muito importantes para esclarecer a origem e gam são encurtados prolongadamente e quando os
des, aos hábitos e ao uso de medicamentos e trata- dermatoméricos ou radiculares (Quadro 2)1,6. a manutenção das SDMs. Trabalhadores que pra- doentes adotam posturas inadequadas durante a
mentos passados e presentes6. Deve-se enfatizar a história prévia sobre afec- ticam diariamente exercícios ativos resistidos são execução das atividades de vida prática ou diária
Os doentes com PGMs ativos queixam-se de dor ções traumáticas, inflamatórias, metabólicas, menos propensos ao desenvolvimento dos PGMs (AVDs) e de trabalho e durante o sono. As bandas
muscular em queimor, peso e ou pontada espontâ- onco­lógicas, viscerais, neuropáticas e musculoes- ativos do que os sedentários ao se submeterem a tensas, caracterizam-se como contrações muscula-
neas e mal-localizadas nos músculos que albergam queléticas, atividades passadas e presentes, modo atividades físicas vigorosas1,2,6. res visíveis e palpáveis localizadas onde se desen-
a SDM e referida à distância. Pode ser contínua ou de dormir e características do sono, do humor Os exames físicos, geral, ortopédico e neuro- cadeiam os reflexos contrácteis localizados (RCLs)
episódica e manifestar-se durante a movimenta- e do afeto, uso de drogas lícitas e ilícitas, hábitos lógico devem atribuir atenção especial para com ou twitch response, quando se realiza a palpação
ção. Podem também ocorrer pontos dolorosos ou alimentares e antecedentes familiares pois estes a inspeção das atitudes, posturas, conformação e ou a punção ou dos PGMs nela presentes. Os mús-
PGMs adicionais ou satélites nas áreas de referên- podem identificar fatores que contribuem para a padrão de movimentos e para a pesquisa e palpa- culos responsáveis pela limitação dos movimentos
cia dos PGMs originais ou principais. A dor pode instalação, agravamento e manutenção das SDMs. ção dos PGMs e das bandas tensas. Deve caracteri- devem ser palpados, pois podem apresentar PGMs.
ser desencadeada durante a execução da contração O hábito de ingerir bebidas alcoólicas pode preci- zar o padrão da marcha, a ocorrência de posturas A dor pode acompanhar-se do comprometimento
muscular voluntária ou sobrecargas aparentemen- pitar a miopatia alcoólica aguda e a mioglobinúria; anormais ou de deformidades (cifose, escoliose) dos músculos ipsilaterais distais aos onde a dor se
te insignificantes, pode alterar o perfil do sono e ge- a deficiência da vitamina B associa-se à osteoma- e as assimetrias corporais que possam indicar lo- localiza primariamente. Pode ocorrer edema mus-
rar sensação de fraqueza, fadiga e intolerância aos lácia que, por sua vez, resulta em dores ósseas ou calização da causa da SDM ou das sobrecargas. Os cular e implicar no diagnóstico diferencial com
exercícios. Outros sintomas associados são repre- musculares; a execução de exercícios prolongados desenhos ou gráficos do corpo humano são úteis polimiosite, dermatomiosite, miofosforilase, defi-
sentados pelas sensações de parestesias ou ador- após o jejum e a ingestão de dieta rica em gordu- para documentar a distribuição das localizações e ciência de fosfofrutocinase, miopatia tóxica (taxa-
mecimento regionais, sensação de fadiga, fraqueza ra e pobre em carboidratos pode causar mialgia. A os padrões da dor. O diagnóstico da SDM funda- nos, pacilitaxil) ou alcóolica, etc1,2,6.
(pseudoparalisia), enrijecimento e tensão muscu- análise dos eventos geradores dos sintomas auxilia menta-se na identificação das bandas musculares As disfunções neurovegetativas ocasionadas
lares principalmente um a dois dias após a execu- a identificar os músculos que apresentam SDM; os tensas palpáveis, nas quais se identificam pon- pelos PGMs incluem a sudorese, o edema intersti-
326 SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 327

cial, a piloerecção e as alterações regionais da tem- para a execução dos movimentos. A sensação de condições que aumentam a ocorrência dos PGMs e generativas ou inflamatórias também constituem
peratura e da cor tegumentar. Quando os PGMs se fraqueza e a redução da capacidade de contração a ativação dos PGMs latentes12. diagnóstico diferencial das SDMs. Frequente-
localizam nas regiões cervical e craniana podem são frequentemente interpretadas como necessida- A deficiência muscular caracteriza-se como mente, as lesões ligamentares e inflamatórias dos
ocorrer lacrimejamento, coriza, sialorreia, zumbi- de de se aumentar a atividade muscular; se estas fraqueza e comprometimento da flexibilidade dos tendões induzem à organização dos PGMs e dos
do, tonturas, etc. As alterações motoras incluem o forem executadas sem inativação dos PGMs, pode músculos e déficit da movimentação em decorrên- pontos dolorosos nos músculos adjacentes. Lesões
espasmo, a fraqueza, a incoordenação motora, o ocorrer agravamento da dor, piora da fraqueza e do cia da inatividade desencadeada por lesões, micro- musculares inflamatórias (poliomiosite, dermato-
tremor e a redução da tolerabilidade dos músculos descondicionamento muscular6. traumatismos, imobilizações ou vida sedentária2,6. miosite) ou medicamentosas podem causar dor
A síndrome fibromiálgica caracteriza-se como geralmente localizada na musculatura proximal
dor difusa, acima e abaixo da cintura, à direita e à dos membros, associadamente à elevação da con-
esquerda do corpo e com duração superior a 3 me- centração das enzimas musculares séricas (CPK,
ses em doentes que a sentem quando da palpação LDH) e positividade das provas de atividade infla-

EXAMES COMPLEMENTARES
de várias regiões do corpo (pontos dolorosos). As- matória14.
socia-se à fadiga, sono não reparador, síndrome do As mialgias podem ser desencadeadas pela ati-
intestino ou bexiga irritáveis, cefaleia, parestesias, vidade física, aumento da viscosidade sanguínea
Os exames complementares séricos, do li- reação aos estímulos elétricos e alentecimento do inquietude nos membros e síndrome depressiva, (macroglobulinemia de Waldenström), anemia,
quido cefalorraquidiano, eletrofisiológicos e de relaxamento do que as fibras musculares normais, dentre outros sintomas13,14,15. deficiência de miofosforilase, anormalidades das
imagem (radiográficos, ultrassonológicos, cin- fenômenos que em conjunto, reduzem sua capaci- A dor oriunda dos tendões, ligamentos, ossos citolisinas, deficiência da fosfofrutocinase, palmi-
tilográficos, de ressonância nuclear magnética) dade funcional2,9. e articulações e suas cápsulas de doentes com til-transferase ou carnitina ou miopatias mitocon-
são normais ou compatíveis com as alterações O exame ultrassonográfico de alta resolução disfunções vertebrais mínimas ou articulares de- driais2,6.
causais das SDMs2. pode demonstrar às bandas tensão nas regiões com
O exame eletroneuromiográfico dos PGMs pode PGMs e, durante a inserção da agulha no seu cerne,
revelar ruído espontâneo durante a inserção da o fenômeno de reação contrátil2,10.
agulha na placa motora e espículas com voltagem A termografia com infravermelho revela que o

TRATAMENTO
elevada. As espículas observadas no traçado eletro- tegumento que cobre a região dos PGMs e onde se
neuromiográfico sugerem a presença dos PGMs. localiza a zona reflexa torna-se hipertérmica. Este
A eletromiografia de superfície demonstra que as exame pode possibilitar diferenciar as anormalida-
fibras musculares contendo PGMs ativos são mais des radiculares, as sinovites e as bursites das SDMs. O tratamento da SDM inclui a inativação dos muito importantes para satisfazer a eficácia dos
facilmente fadigáveis e apresentam menor capa- A ativação dos PGMs pode minorar a dor e causar PGMs e a interrupção do mecanismo de dor. Deve projetos terapêuticos visando a analgesia, a reabi-
cidade de gerar contração muscular, aumento da hipotermia reflexa2,11. abranger a complexidade de cada doente, pois fre- litação e a reintegração dos doentes. O tabagismo
quentemente a dor recorre após a execução de tra- causa alterações microcirculatórias que podem
tamentos mal-idealizados e executados. Medidas agravar a dor de várias origens2,6.
simples podem proporcionar resultados satisfató- Os analgésicos anti-inflamatórios não hormo-
rios quando a SDM é localizada, desde que os com- nais (AAINHs) pelas vias sistêmica ou tópica podem

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
ponentes psicossociais e comportamentais sejam controlar a dor aguda e a crônica acutizada e tornar
mínimos. Doentes com anormalidades psicosso- mais confortável a execução dos procedimentos de
ciais e fatores perpetuantes devem ser tratados medicina física e reabilitação, os autocuidados e as
Afecções funcionais, inflamatórias, infecciosas, A hipertonia muscular, a hiperreflexia e a es- por equipes multidisciplinares para estabelecer- atividades em geral. A aplicação dos AAINHs tam-
degenerativas ou metabólicas das vísceras, sistema paticidade decorrentes das lesões do SNC podem -se etiologia e a gravidade do comprometimento bém é útil nestas circunstâncias2,15,16.
nervosos ou estruturas músculo-esqueléticas podem causar liberação dos reflexos profundos e hiperto- músculo-esquelético e psicossocial. O controle da A ciclobenzaprina é relaxante muscular de ação
simular as SDMs. O exame clínico, os exames de la- nia muscular com a consequente geração de mial- dor e da incapacidade consiste do uso de medica- central que pode contribuir para a melhora da dor.
boratório, de imagem e eletrofisiológicos auxiliam o gia. Em doentes com comprometimento da função mentos e da aplicação de medidas de reabilitação A tizanadina, relaxante muscular agonista do re-
estabelecimento dos diagnósticos diferenciais2. muscular em decorrência de neuropatias periféri- física, psíquica e social que satisfaçam as reali- ceptor adrenérgico a-2 na medula espinal e no en-
O espasmo muscular, definido como contração cas (radiculopatia, síndromes compressivas, me- dades, contemplem todas as dimensões da dor e céfalo, é considerada agente de primeira linha no
muscular sustentada, involuntária e usualmente tabólicas, infecciosas, oncológicas ou traumáticas reformulem as atividades dos doentes quanto aos tratamento das SDMs. O tiocolquicosídeo, antago-
dolorosa não aliviada voluntariamente, causa dor dos troncos nervosos periféricos), instalam-se fra- aspectos ergonômicos, emocionais e psicosso- nista competitivo do receptor GABA-A, agonista da
decorrente da isquemia e da acidose musculares queza muscular, sobrecarga dos grupamentos mus- ciais2,15. glicina, anti-inflamatório, analgésico e relaxante
e da liberação de substâncias algiogênicas e pode culares que os desaferentados e hipersensibilidade A dieta saudável e o sono restaurador, além dos muscular também revelou-se eficaz por via tópica
acarretar o desenvolvimento dos PGMs2,6. por desnervação dos neurônios da medula espinal, exercícios e da atividade física programada, são ou sistêmica no tratamento das SDMs15,16.
328 SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 329

Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, clo- do músculo tratado para reestabelecer-se as ADMs, contribuem não apenas para a melhora física, mas cais para romper e cessar a atividade disfuncional
rimipramina, nortriptilina) e os inibidores específi- pois a inativação isolada dos PGMs melhora apenas proporcionam benefícios psicológicos e bem estar, dos PGMs, relaxar a musculatura, estimular o sis-
cos de recaptura de serotonina e de noradrenalina temporariamente os sintomas20. além de eliminar a fobia em relação aos exercícios. tema supressor de dor, melhorar o sono, a ansieda-
(venfalaxina, duloxetina) atuam como analgésicos, O programa de medicina física e reabilitação Os exercícios ativos induzem melhora do enfren- de, a dor, a microcirculação e a tolerabilidade aos
melhoram o sono e miorrelaxantes em doentes baseia-se na inativação dos PGMs, na reabilitação tamento da dor crônica e os exercícios em grupo exercícios21,22,23.
com dor crônica, mas os estudos sobre seu uso em muscular, na cinesioterapia, nas orientações pos- reduzem os estresses psicológicos e facilitam a so- O papel do doente, do significado da dor, dos
doentes SDMs são incoclusivos10,15,16. turais e na remoção de fatores desencadeantes e cialização dos doentes21. estressores psicossociais e dos tratamentos prévios
O sumatriptano, agonista do receptor de 5-HT perpetuantes da dor. O movimento harmônico e Massoterapia, calor superficial (bolsas térmi- têm muito valor, pois muitas vezes, a qualidade da
periférico, é droga potencialmente útil no trata- eficiente depende da integridade morfofuncional cas) ou profundo (ultrassom, ondas curtas, micro- avaliação e a precisão dos diagnósticos e das pos-
mento das SDMs.. As fenotiazinas (clorpromazi- do aparelho locomotor. O alinhamento ósteo-ar- -ondas), crioterapia (compressas de gelo, aerossóis síveis insatisfações com tratamentos anteriores é
na, levopromazina, propericiazina) proporcionam ticular, o deslizamento que ocorre entre as fibras congelantes), hidroterapia (turbilhão, tanque de que determinam o prognóstico dos programas de
analgesia, ansiólise e induzem o sono. Os benzo- musculares e os folhetos teciduais (do plano super- Hubbard, hidromassagem, terapia na piscina), reabilitação. O processo de reabilitação geralmente
diazepínicos deprimem liberação pré-sináptica de ficial ao profundo) e a correta integração neuros- eletroterapia (estimulação elétrica transcutânea, é prolongado e dependente da educação e da res-
serotonina, são agonistas GABAérgicos e atuam sensitivo-motora confere potencial biomecânico correntes farádicas, iontoforese com analgésicos e ponsabilidade dos doentes e do desenvolvimen-
como tranquilizantes e miorrelaxantes, muitas ve- suficiente para os gestos da comunicação e as ex- anti-inflamatórios), alongamento, agulhamento e to de parceria entre médico e doente baseada na
zes às custas de sedação, confusão mental, depen- pressões emocionais necessários para a execução injeções dos PGMs e laser a frio podem reduzir a confiança mútua. Em longo prazo, a conduta não
dência, tolerância, agravamento da sensibilidade à das atividades de vida diária e atividades laborais. tensão muscular e inativar os PGMs. Os meios físi- reside apenas no tratamento dos PGMs, mas sim
dor e da depressão15. O músculo relaxado e resistente produz força mais cos complementam a inativação dos PGMs e devem na identificação e modificação dos seus fatores
A gapapentina e a pregabalina estabilizam os eficiente com menor fadiga, transferindo menor integrar-se aos programas de exercícios posturais mantenedores, visto que estes se relacionam com
canais de Ca++ presentes nas terminações centrais carga às junções miotendíneas e ósteo-tendíneas. de reabilitação muscular. O ultrassom, associada- os aspectos biopsicossociais dos doentes. Os exer-
dos aferentes nociceptivos, reduzem a liberação de Atividade física deve considerar o trabalho de mente aos exercícios de alongamento, proporciona cícios de reabilitação reduzem a possibilidade da
neurotransmissores excitatórios no CDME e conse- conscientização corporal, a execução de movimen- resultados similares aos da injeção de anestésicos reativação dos PGMs e das sobrecargas que sobre-
quentemente a dor, melhoram a qualidade do sono, tos lentos suaves não aeróbicos, a propriocepção, a locais nos PGMs. A fonoforese com diclofenaco ou pujam a capacidade funcional dos doentes. A ree-
a ansiedade e proporcionam relaxamento muscu- redução dos estresses articulares e musculares e o hidrocortisona parece proporcionar melhora signi- ducação objetiva identificar e a controlar os fatores
lar, mas ainda, ainda não demonstraram eficácia equilíbrio das cadeias musculares. Os exercícios e ficativa da dor e da sensibilidade dos PGMs. O ca- desencadeantes, agravantes e perpetuantes da dor.
no tratamento das SDMs15,16. os programas regulares de atividade física, além de lor superficial e profundo contribui para relaxar a Os doentes devem ser esclarecidos sobre os fato-
Os opioides fracos são moderadamente eficazes melhorarem o condicionamento cardiovascular e muscular e facilita a atividade física. A crioterapia res ergonômicos, devem ser educados em relação
no tratamento das SDMs. Apesar de não haver estu- muscular, também reduzem a intensidade da dor e com vapor vaporizante com cloreto de etila associa- à adoção de posturas e adotadas tanto em repouso
dos sobre sua eficácia, o tramadol é frequentemen- o número dos PGMs. Devem ser iniciados gradual- damente à cinesioterapia e ao alongamento muscu- como durante a execução das atividades laborais,
te prescrito para tratar as SDMs pois é bem tolerado mente com manobras de mobilização e de alonga- lar após a inativação dos PGMs é eficaz. A estimula- recreacionais e no domicílio. A educação dos doen-
e apresenta pouco potencial de abuso15. mento suaves, respeitando-se a tolerabilidade dos ção nervosa elétrica transcutânea (TENS) pode ser tes é essencial para reabilitar os doentes com dor
A cetamina (anestésico dissociativo, analgésico, doentes e se evitar a intensificação da dor muscular usada como adjuvante. A contração elétrica intra- musculoesquelética que deve incluir a indução de
sedativo e antagonista não competitivo do receptor após a execução de atividades físicas; a eficácia vin- muscular e a estimulação magnética transcutânea atitudes ativas para manejar a dor e as disfunções,
NMDA), o L-triptofano (precursor da serotonina) e cula-se ao ganho das ADMs. A cinesioterapia visa podem reduzir significativamente a dor. A terapia reduzir o medo e eliminar crenças infundadas21.
a memantina (niniobidor NMDA) são também utili- a aprimorar e a otimizar a atividade muscular e a com laser pode promover redução temporária da Os doentes com dor crônica apresentam depres-
zados mas os resultados são incertos15. proporcionar analgesia e recuperação da expansi- dor. O massageamento dos músculos e fáscias, são resultante ou não do imobilismo ou a ele as-
A aplicação de emplastos de lidocaína a 5% nas bilidade tecidual, da força e da resistência à fadiga o estiramento com aplicação de aerossóis e calor sociada. A intervenção psicossocial visa a reduzir
zonas reflexas e a injeção de tropisetrona (antago- além de reestabelecer a cinestesia ao inibir os fa- superficial, a liberação miofascial com massagem o sentimento de desamparo e o comportamento
nista do receptor 5-HT3 e agonista do receptor ni- tores irritantes e fisiolimitadores. O procedimento transversa profunda, a massagem da zona reflexa, doloroso passivo ou mal-adaptativo. O tratamento
cotínico alfa-7) nos PGMs parecem ser eficazes no cinesioterápico deve reestabelecer a extensibili- o Shiatsu, o Rolfing, o método John Barnes e a te- psicossomático (procedimentos de relaxamento,
tratamento dos doentes com SDM17. dade e o comprimento isométrico dos músculos e rapia miofascial não se revelaram eficazes prolon- psicoterapia de apoio) deve ser indicado quando a
A injeção de toxina botulínica nos PGMs, dro- dos folhetos teciduais superficiais com a aplicação gadamente. Apesar de muitos métodos físicos não ansiedade, a depressão e os outros sintomas psico-
ga que inibe a liberação da acetilcolina pelas fibras das técnicas de alongamento passivo, ativo assisti- serem muito eficazes, são úteis para preparar os lógicos são importantes. O biofeedback pode auxiliar
motoras, inibe a contração muscular e exerce ati- do ou ativo e manobras de liberação ou inativação doentes para a execução das atividades físicas21. o planejamento ergonômico nos no trabalho e no
vidade analgésica ao reduzir a liberação da sP e miofascial (massagem da zona reflexa, massagens Quando não há melhora com uso dos meios lar. A hipnose, a auto-hipnose, a Yoga e a biodança
de glutamato no CDM, pode reduzir a duração e a transversas profundas) seguidas de contrações iso- físicos ou quando a intensidade de dor é intensa, são métodos auxiliares da reabilitação dos doentes
intensidade da dor gerada pelos PGMs. Após o tra- métricas para a manutenção e a recuperação do recomenda-se inativar os PGMs com agulhamento com SDMs. Estas técnicas implicam na necessida-
tamento deve-se realizar o estiramento progressivo trofismo muscular. As atividades físicas regulares seco, acupuntura e infiltração com anestésicos lo- de da participação ativa e da motivação dos doentes
330 SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 331

e devem ser praticadas reiteradamente para man- balanceada, o sono reparador, a atividade física cas de relaxamento, cinesioterapia, fortalecimento A maioria das intervenções proporciona resultados
ter a melhora2. regular, o relaxamento e a redução dos estressores muscular, terapias manuais, ultrassom, magne- limitados. A escassez de evidências, provavelmente
A reabilitação nutricional é indicada para doen- psíquicos são essenciais para prevenir a recorrên- toestimulação, terapia com laser, infiltração com deve-se à heterogeneidade das SDMs e às variadas
tes que se submetem a dietas não balanceadas para cia dos sintomas2,10. anestésicos locais, agulhamento seco e acupuntura metodologias aplicadas nos estudos2,6.
perder peso ou se submetem a cirurgias bariátricas No Quadro 3 apresentam-se as recomendações dos PGMs e programas de educação e orientação.
ou têm maus hábitos nutricionais. A alimentação dos tratamentos das SDMs1.

Quadro 3: Tratamento da Síndrome Dolorosa Miofascial

• Tratamento da lesão causal


– Identificação e correção dos fatores perpetuantes
Referências bibliográficas
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Conclusão
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332 SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 333

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CAPÍTULO 28
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Fibromialgia
José Eduardo Martinez

Introdução
A fibromialgia (FM) é uma síndrome caracteri- abaixo e acima da cintura, do lado direito e esquer-
zada por dor crônica generalizada por pelo menos do do corpo e pelo menos um segmento da coluna
3 meses associada à fadiga, distúrbios do sono e vertebral. A presença dessa dor é pré-requisito para
distúrbios cognitivos em vários graus de intensida- a hipótese de FM1.
de. Dor generalizada é aquela que envolve regiões

Epidemiologia
A prevalência de FM varia de 0,7% a 5% na popu- 25 e 65 anos e a idade média é de 49 anos. Ocorre
lação1-4. Considera-se que a FM seja o segundo diag- frequentemente em idosos mas, embora mais rara,
nóstico mais frequente nos consultórios de reuma- também pode acometer crianças1-5. Ocorre predomi-
tologia, após a osteoartrite5. Estudos populacionais nantemente em mulheres podendo chegar à propor-
brasileiros mostraram que a prevalência varia de 1,7 ção de até 13:1. No entanto, a modificação dos crité-
a 2,5%6,7. Os sintomas geralmente se iniciam entre rios de inclusão nos estudos epidemiológicos pode
334 FIBROMIALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 335

alterar essa proporção para menos3,8. A FM é uma econômico, não só individual, mas também para a O cansaço ou fadiga é comum, podendo envol- nadas como disfunções cognitivas. Essas também
doença relevante pelo impacto na qualidade de vida sociedade. Envolve custos diretos e indiretos, bem ver até 81% dos pacientes7. Ela contribui para a fazem parte do núcleo central da sintomatologia23.
e pela frequência. Sua prevalência implica impacto como repercussão na produção laboral8. piora da qualidade de vida levando a uma sensação A associação com outras síndromes de natureza
de exaustão e dificuldade para realização de tarefas funcional é referida por até 90% dos pacientes23. En-
laborais ou domesticas. Para alguns pacientes, a fa- tre elas são citadas a síndrome dolorosa miofascial,
diga é mais relevante que a própria dor1,16. síndrome da fadiga crônica, síndrome do intestino
O sono não reparador é outra queixa central irritável, cistite intersticial, dor pélvica crônica, en-

Histórico
descrita como acordar cansado, sono leve e muitos xaqueca, disfunção da articulação temporomandi-
despertares noturnos. Esse sintoma foi caracteriza- bular e a síndrome das pernas inquietas23.
do através da polissonografia por Moldofsky et al.24 Os distúrbios de humor como depressão e an-
A definição da FM é recente, mas a descrição dor, demonstrado na polissonografia como intru- como a “intrusão alfa” na fase 4 do sono não REM. siedade podem ser detectadas em 49% a 80%, de
de pacientes com quadro clínico que sugere essa são de ondas delta na fase 4 de sono profundo não Outra alteração do sono frequentemente descrita é acordo com a população estudada e com o método
síndrome está presente desde o século XIX. Dor REM15. O termo fibromialgia substituiu fibrosite a síndrome das pernas inquietas22. de rastreio. Esses distúrbios provocam exacerbação
descrita como de partes moles e sensibilidade mus- a partir de 1981, proposto por Yunus et al.16, pela Distúrbios de memória, concentração, análise dos sintomas e prejudicam as estratégias de enfren-
cular associada à fadiga e distúrbios psicológicos ausência de evidências da presença de inflamação logica e motivação são bastante descritas e denomi- tamento (coping)23.
foram citados por Balfour9 (1815), Valleix10 (1841), periférica ou sistêmica.
Froriep11 (1843), Beard12 (1889), Adler13 (1900) e Go- Em 1990, o American College of Rheumatology
wers14 (1904). (ACR) publicou seus critérios de classificação17. A
O conceito atual da FM, ainda denominado fi- combinação de dor crônica generalizada e pelo me-

Diagnósticos diferenciais
brosite, surgiu através de Smythe e Moldofsky em nos 11 de 18 pontos dolorosos previamente especi-
1977, quando descrevem pacientes com queixa de ficados, apresentou uma sensibilidade de 88,4% e
dor no corpo todo, fadiga, uma personalidade des- uma especificidade de 81,1%. Em virtude de críti-
crita como típica e áreas musculares específicas cas ao ACR 1990, o ACR publicou os Critérios Pre- O quadro de dor difusa também pode ocorrer dos diagnósticos diferenciais listados no quadro 1
com aumento de sensibilidade dolorosa à digito- liminares para Diagnóstico da Fibromialgia (ACR em outras doenças, portanto é importante lembrar antes de se confirmar o diagnóstico da FM18.
pressão (tender points). Os autores associam esse 2010), modificados pelos mesmos autores em 2011
quadro clínico a um distúrbio de sono não repara- e atualizados em 201618,19,20. Quadro 1: Principais diagnósticos diferenciais da FM que cursam com dor difusa18

• hipotireoidismo ou hipertireoidismo;
• insuficiência adrenal;
• hiperparatireoidismo;
• osteomalácia;
Quadro clínico • osteoporose;
• mieloma múltiplo;
Como já citado na introdução, os sintomas prin- moderada à intensa. Geralmente, o quadro doloroso é • doença de Paget;
• miopatias;
cipais da FM são dor crônica generalizada, fadiga, acompanhado de sensação de edema e parestesias1,16.
• hemocromatose;
distúrbios do sono e distúrbios cognitivos. Esses A maioria dos pacientes não consegue determinar
• doenças intestinais inflamatórias;
sintomas que definem a síndrome podem com fre- um momento para o início da dor. Os eventos desen-
• esclerose múltipla;
quência ser acompanhados por outras síndromes cadeantes referidos são estresse emocional, um trau- • miastenia gravis;
funcionais, também conhecidas como síndromes de ma físico ou psicológico, esforço ou ainda questões • doenças infeciosas (hepatites, Lyme, vírus da imunodeficiência humana (HIV), parvovírus, brucelose, endocardite);
hipersensibilidade central. Entre elas, pode-se citar ocupacionais1,2. Em relação à localização de início • artrite reumatoide;
a síndrome do intestino irritável, enxaqueca, síndro- tanto pode evoluir de dores localizadas ou regionais, • lúpus eritematoso sistêmico;
me da fadiga crônica, ansiedade, depressão, etc.1,16. mas também pode começar já generalizada1,16. • síndrome de Sjögren;
O sintoma central e pré-requisito para o reconhe- O exame físico é importante para se detectar os • espondiloartrites;
cimento da FM é a dor difusa e crônica. A localiza- fatores periféricos geradores de dor, ou seja, co- • polimialgia reumática;
ção muitas vezes é imprecisa. Artralgia faz parte do morbidades musculoesqueléticas. O achado clíni- • síndromes paraneoplásicas;
quadro clínico, mas não costuma ser proeminente. A co mais característico e que compôs o ACR 1990 é a • medicamentos (estatinas, álcool, corticosteroides);
piora com o frio, umidade, tensão emocional ou por palpação dolorosa de áreas musculares circunscri- • doença de Fabry;
• hipermobilidade articular.
esforço físico é frequente. A intensidade é variável de tas denominadas de “pontos dolorosos”17.
336 FIBROMIALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 337

Critérios diagnósticos
Tabela 3: Escala de gravidade de sintomas (EGS)18,19

MARQUE A INTENSIDADE DOS SINTOMAS, CONFORME VOCÊ ESTÁ SE SENTINDO NOS ÚLTIMOS 7 DIAS
Em 1990 foi publicado o ACR 1990, critérios que Em 2010, depois de muitas críticas ao ACR 1990, (0 = AUSENTE, 1 = LEVE, 2 = MODERADO, 3 = GRAVE)
definem a fibromialgia como dor em quatro qua- foi publicado os Critérios Preliminares para o Diag-
Fadiga (cansaço ao executar atividades) 0 1 2 3
drantes, além de envolver uma área axial (cervical, nóstico de Fibromialgia (ACR 2010) que foram poste-
Sono não reparador (acordar consado) 0 1 2 3
torácica, lombar), e de apresentar ao menos 11 de riormente modificados em 2011. Esses critérios são
18 pontos dolorosos (Figura 1). Sendo que nesses compostos pelo índice de dor generalizada (IDG) e Sintomas cognitivos (dificuldade de memória, concentração, etc.) 0 1 2 3
critérios de classificação, o objetivo foi uniformizar pela escala de gravidade dos sintomas (EGS). O diag-
a definição de casos em pesquisa clínica17. nóstico de FM é estabelecido quando o IDG for ≥ 7 MARQUE A INTENSIDADE DOS SINTOMAS, CONFORME VOCÊ ESTÁ SE SENTINDO NOS ÚLTIMOS 6 MESES
associado ao EGS > 5 ou alternativamente o IDG en- (0 = AUSENTE, 1 = PRESENTE)
Figura 1: Ilustração dos pontos dolorosos segundo tre 3 e 6 e o EGS ≥ 9 (tabelas 2 e 3, figura 2)18,19. Cefaleia 0 1
os critérios do ACR 1990, 11 de 18 pontos dolorosos à A partir de 2011, a soma do IDG e EGS compõe o
Dores ou cólicas abdominais 0 1
palpação eram considerados positivos para FM. Nos Índice Fibromiálgico (IF) que varia de 0 a 31 e pode-
Depressão 0 1
critérios ACR 2010 estes pontos foram substituídos ria ser utilizado para seguimento19. Em 2016, nova
pelo índice de dor generalizada. Imagens adaptadas e revisão dos critérios de 2010 é publicada e a dor ge-
autorizadas pelos autores do capítulo quadro clínico do neralizada volta a ser obrigatória20. Ainda, em 2019,
livro “Dores musculoesqueléticas localizadas e difusas” a American Pain Society publica seus critérios diag- Figura 2: Resumo dos critérios diagnósticos da FM do ACR 2010. IDG ≥ 7 associado ao EGS > 5 ou alternativamente
nósticos baseados em dimensões: sintomas cen- o IDG entre 3 e 6 e o EGS ≥ 918,19
trais, aspectos comuns, comorbidades, impactos e
fatores causais, de risco e protetivos24.
Em relação ao acompanhamento, pode-se usar
IDG for ≥ 7 e EGS > 5
as escalas analógicas visuais ou numéricas dos sin- Sintomas por mais de Sem outra justificativa
ou
tomas, o próprio IF e questionários de impacto na 3 meses para dor
IDG 3 a 6 e EGS ≥ 9
qualidade de vida como o Questionário de Impacto
da Fibromialgia revisado (FIQr)25.
Na prática clínica os critérios ACR 2010 são
complicados para serem utilizados de rotina, assim
é importante suspeitar da FM quando o paciente apresenta o quadro clínico de dor crônica difusa, concentração, etc.), além de vários outros sintomas
distúrbios do sono, fadiga, hipersensibilidade dolo- somáticos (parestesias, palpitação, tontura, zumbi-
rosa, dificuldade cognitiva (alteração de memória, do, etc.)18.
Tabela 2: Índice de dor generalizada (IDG)18,19

MARQUE COM UM X AS ÁREAS ONDE TEVE DOR NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Fisiopatologia
ÁREA SIM NÃO ÁREA SIM NÃO
Mandíbula esquerda Mandíbula direita
Ombro esquerdo Ombro direito
O aspecto mais conhecido da fisiopatologia da A nocicepção é composta por etapas aferentes
Braço esquerdo Braço direito
FM é a sensibilização central. Outros dois elemen- e modulação que ocorre localmente no corno dor-
Antebraço esquerdo Antebraço direito tos importantes são a hiperatividade do sistema sal da medula por interneurônios ou através do
Quadril esquerdo Quadril direito autônomo simpático e alterações hormonais na sistema inibitório descendente. Na dor crônica,
Coxa esquerda Coxa direita resposta ao estresse25. Algumas evidências sugerem ocorre um desequilíbrio entre a aferência e a mo-
Perna esquerda Perna direita que há uma predisposição genética evidenciada por dulação26. Este processo pode ser definido como
agregação familiar e polimorfismos de alguns genes sensibilização do sistema nervoso central que re-
Cervical Dorso
como o catecol-O metiltransferase (COMT), trans- sulta clinicamente em dor espontânea, hiperalge-
Tórax Lombar
portador de serotonina, receptores de dopamina ou sia e alodinia. Hiperalgesia é a dor mais intensa
Abdome Total de áreas dolorosas ainda de receptores adrenérgicos27,28. quando os pacientes são submetidos a estímulos
338 FIBROMIALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 339

dolorosos. Alodinia é a percepção de dor frente a tímulo pelo hormônio liberador de corticotrofina aceitação (TCA), terapia interpessoal breve, biofeed­ intestinal e perda da libido. Estes medicamen-
estímulos não dolorosos26. (CRH), há liberação de ACTH, mas com produção de back e terapia do espelho34. tos agem inibindo a recaptura das monoaminas
Alterações em neurotransmissores algogênicos cortisol rebaixada, sugerindo uma resposta adrenal e melhorando a performance da via inibitória
e moduladores tanto no sangue quanto no líquido reduzida. Alguns estudos demonstram uma resposta Terapia cognitivo comportamental descendente. Doses de 12,5 a 50 mg, ministradas
cefalorraquidiano tais como a substância P, fator diminuída do hormônio de crescimento com redu- A TCC combina intervenções psicológicas, re- normalmente 3 horas antes de deitar, demonstra-
de crescimento neural e o precursor da serotonina ção do fator de crescimento insulina-like 1 (IGF-1)30. laxamento muscular e biofeedback para ajudar os ram melhora na fadiga, no quadro doloroso e no
(5-hidroxi-triptofano) têm sido descritas29. Ainda é controverso o papel da neuropatia de fi- pacientes a reconhecer pensamentos distorcidos sono38.
Em relação às anormalidades do estresse, em in- bras finas. Essa patologia resulta disfunção e dege- melhorando o emocional e alterando padrões de A ciclobenzaprina, um composto tricíclico
glês chamadas “distress”, elas podem ser evidencia- neração das fibras do tipo C e A delta. O diagnóstico comportamento34. sem efeitos antidepressivos, é utilizada como
das por alterações do eixo hipotálamo hipofisiário. é realizado por biópsia de pele com imunohistoquí- miorrelaxante. As doses variam de 5 a 30 mg à
O padrão mais observado é cortisol basal normal ou mica, para a verificação da densidade das fibras Acupuntura noite. A eficácia e a tolerabilidade da amitriptili-
alto e a supressão no seu ritmo circadiano. Ao es- nervosas na epiderme31. A acupuntura, embora ainda com resultados na e da ciclobenzaprina no tratamento em curto
controversos tem apresentado resultados positivos prazo da fibromialgia podem ser consideradas se-
de curto prazo. A dificuldade de avaliar essa abor- melhantes39.
dagem se deve a especificidade do desenho dos es-
tudos que não permite um nível de evidência forte Antidepressivos duais

Tratamento
que subsidie sua recomendação. Na prática clínica Os antidepressivos duais inibidores da recap-
observam-se bons resultados. A acupuntura combi- tura de serotonina e noraepinefrina estão entre os
nada com fármacos e exercícios poderia aumentar medicamentos mais utilizados. A duloxetina em
O tratamento tem como objetivo aliviar os sinto- Exercícios o limiar da dor, mas há uma necessidade de pesqui- doses de 60 a 120 mg/dia demonstrou melhora da
mas, melhorar a função e promover uma melhora A prescrição de exercícios tem o respaldo de sas de melhor qualidade35. dor e da fadiga e tem sua indicação para FM em
na qualidade de vida. Deve ser planejado em con- várias revisões sistemáticas. Tanto os aeróbicos bula. A venlafaxina é outra opção que pertence à
junto com o paciente e envolver obrigatoriamente quanto os resistidos e de flexibilidade são eficien- Outras terapias classe dos antidepressivos duais, mas apresenta
medidas não medicamentosas e medicamentosas. tes e seguros para o alívio dos sintomas, propor- Uma grande quantidade de terapias tem sido menos evidências que a duloxetina no tratamento
Enfatizar a importância do tratamento não farma- cionam melhora do quadro depressivo, além da avaliada. Muitas apresentam resultados conflitan- da FM38.
cológico é essencial32-36. melhora funcional32. Deve-se lembrar que como tes e sem nível de evidência suficiente, mas que po-
toda intervenção terapêutica há a necessidade de dem beneficiar pacientes individualmente. Entre Antidepressivos seletivos da recaptura da
NÃO FARMACOLÓGICO uma prescrição estabelecendo-se o tipo de exer- elas citamos a balneoterapia, hipnose, estimulação serotonina
Entre as medidas não farmacológicas se desta- cício, frequência, duração e intensidade. Os pa- magnética transcraniana, mindfullness, entre ou- Os inibidores específicos da recaptura de sero-
cam a educação em saúde e exercícios físicos. Além cientes com FM têm uma tolerância menor ao es- tras36. tonina têm demonstrado eficácia analgésica insu-
disso, citaremos a terapia cognitivo comportamen- forço e necessitam de uma reabilitação gradativa ficiente, embora melhorarem o humor. Em doses
tal e a acupuntura. Outras terapias também são e individualizada. Entre os mecanismos de ação FARMACOLÓGICO mais altas que as habituais, a fluoxetina perde sua
citadas na literatura e nos casos mais refratários, propostos, destacam-se o aumento dos níveis de O uso de fármacos objetiva atuar na nocicep- especificidade e melhora a analgesia. Pode tam-
recentemente tem-se a opção da estimulação mag- serotonina, estimulação da produção de GH-IGF1 ção melhorando a modulação da dor e reduzindo o bém ser prescrita associada à amitriptilina ou ci-
nética transcraniana32-36. interferindo com dor e fadiga, regulação do eixo efeito da sensibilização central. Subsidiariamente clobenzaprina. Outros antidepressivos seletivos
hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) e sistema podem atuar no tratamento dos fatores periféricos para serotonina, como o citalopram, a paroxetina e
Educação em saúde nervoso autônomo33. geradores da dor, nas comorbidades clínicas e psi- a sertralina não são recomendados para FM38.
A educação individual ou em grupo tem sido reco- quiátricas bem como nas síndromes associadas, as-
nhecida como uma intervenção essencial. Informar Terapias psicológicas sim como no padrão de sono. Anticonvulsivantes gabapentinoides
sobre a FM e orientar visando uma vida saudável e o As terapias psicológicas atuam abordando pro- As classes farmacológicas mais utilizadas são: Outra classe bastante utilizada é a dos anticon-
desenvolvimento de estratégias de autogestão é parte blemas emocionais e outras comorbidades. Agem antidepressivos, anticonvulsivantes, relaxantes vulsivantes gabapentinoides. Eles atuam na subu-
integral de um planejamento terapêutico. Na prática na dor, otimizam as estratégias de enfrentamento e musculares e indutores de sono37. nidade alfa 2 delta dos canais de cálcio reduzindo a
vemos que esses pacientes sofrem muito passando adesão ao tratamento59-60. liberação sináptica de neurotransmissores algogê-
em diferentes médicos e fazendo diversos exames A Conferência Italiana sobre Consenso em Dor Antidepressivos tricíclicos nicos. Nessa classe citamos a pregabalina (aprova-
que não explicam porque sentem tanta dor, assim ex- e Neurorreabilitação recomenda as seguintes téc- As doses da amitriptilina usadas são menores da em bula) em doses de 150 a 450 mg divididas em
plicar que os sintomas do paciente fazer parte da FM nicas: terapia cognitivo-comportamental (TCC), do que as necessárias para controle de depressão duas tomadas e a gabapentina nas doses de 1200 a
é importante para justificar o que está acontecendo e intervenções de realidade virtual, técnicas de me- e podem causar efeitos adversos como boca seca, 2400 mg divididas em 2 a 3 tomadas. Além do efeito
facilitar a aderência ao tratamento proposto32. ditação, hipnose, terapia de comprometimento e ganho de peso, sonolência excessiva, obstipação analgésico, podem auxiliar no sono e na ansiedade.
340 FIBROMIALGIA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 341

Tem um perfil de eficácia e segurança semelhante Outros


aos antidepressivos40,41. Outros medicamentos e procedimentos tem
Referências bibliográficas
sido estudados, mas com resultados controversos
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Introdução
A síndrome complexa de dor regional (SCDR) é hipersensibilidade do segmento diante de estimu-
uma doença dolorosa caracterizada por incapaci- lação mecânica. Além disso, o movimento, ruídos
dade da região afetada e intensas alterações sensiti- ou emoções fortes poderiam desencadear a dor. As-
vas, autonômicas, motoras e tróficas, mas a dor é o sociada à dor, havia edema, manchas na pele e, em
sintoma principal1. alguns casos, a artrite aguda. Na maioria dos casos,
A primeira descrição oficial foi realizada por o membro estava frio e com sudorese aumentada2,3.
Mitchell, em 1864, na qual causalgia é designada Em 1900, Sudeck sugeriu a presença de quadro
como dor em queimação em soldados feridos por inflamatório significativo na região acometida, por
projéteis de arma de fogo. Os autores observaram causa dos sinais de hiperfluxo tecidual, como ca-
que cerca de 10% dos doentes com lesões traumá- lor, edema e alterações de sudorese, além da dor.
ticas parciais do nervo periférico apresentava uma Nos casos em que havia evolução insatisfatória e
síndrome clínica dramática que consistia em dor incapacitante significante, foi denominado atrofia
espontânea e intensa em queimação, podendo ter de Sudeck4.
344 SÍNDROME COMPLEXA DE DOR REGIONAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 345

Fisiopatologia
O termo distrofia simpática reflexa (DSR) foi como causalgia, atrofia de Sudeck e DSR. Contu-
utilizada por Evans, em 1946, por acreditar que do, Merskey e Bogduk (1994) publicaram os cri-
o Sistema Nervoso Neurovegetativo Simpático térios diagnósticos de SCDR em um livro organi-
(SNNVS) hiperativo seria responsável pelo fenô- zado pela International Association for the Study of Ainda não está totalmente esclarecido os me- rico (SNP), sensibilização do Sistema Nervoso Cen-
meno doloroso5. Pain (IASP), em que os termos SCDR tipo I e tipo canismos envolvidos na gênese e sustentação da tral (SNC) e periférico, catecolaminas circulantes,
Na literatura podem ser encontradas dife- II substituíram, respectivamente, os termos DSR síndrome, provavelmente diferentes eventos fisio- alteração do SNNVS, fatores genéticos, fatores psi-
rentes sinonímias para descrever esta condição, e causalgia6. patológicos ocorrem em locais distintos, simulta- cológicos, entre outros, se destacam na complexa
neamente ou sequencialmente1. fisiopatologia da SCDR. Porém não existe um mo-
Fatores inflamatórios, disfunção oxidativa, res- delo que explique todos os modos de apresentação
posta neuroautoimune, plasticidade encefálica, da doença1.

Classificação IASP
hipóxia, anormalidades do Sistema Nervoso Perifé-

• SCDR do tipo I (mais comum): lesão de nervo • SCDR do tipo II: lesão de nervo presente6.

Etiologia
ausente.

Os traumatismos ainda são um dos principais afecções do plexo braquial, doenças vasculares sis-

Epidemiologia
fatores etiológicos, dentre eles destacam-se os en- têmicas (periarterite nodosa, arterites, aterosclero-
torses, fraturas, lesões corto contusas, amputações se), afecções vasculares regionais (tromboflebite,
traumáticas e queimaduras14. As imobilizações que trombose), entre outras15.
As características mais frequentemente encon- Entretanto, os dados devem ser interpretados com inicialmente serviriam como tratamentos podem Nos últimos anos, as afecções musculoesquelé-
tradas na SCDR foram ilustradas na tabela 17-10. cautela, principalmente devido à falta de critérios também desencadear esta síndrome, além disso ticas relacionadas com o trabalho passaram a ser
Pode apresentar prevalência variada depen- uniformes de diagnóstico11-13. alguns procedimentos médicos (atos cirúrgicos, importantes razões para instalação da SCDR. Fre-
dendo da lesão, conforme ilustrado na tabela 2. injeções) podem ter seus resultados agravados pela quentemente, as alterações neurovegetativas, sen-
ocorrência de SCDR. Todavia, pode ocorrer de for- sitivas e/ou motoras não são muito significativas. O
Tabela 1: Características mais comuns dos casos de SCDR7-10 ma espontânea em 10-26% dos casos13. componente doloroso miofascial exerce, nestes ca-
A SCDR pode estar relacionada às afecções clí- sos, papel importante na geração e na manutenção
VARIÁVEL MAIOR ACOMETIMENTO nicas, doenças viscerais (infarto do miocárdio), da dor crônica16-19.
afecções torácicas ou pélvicas, doenças neurológi- Alguns medicamentos podem estar associados
Sexo Feminino (3:1 a 4:1)
cas (lesões encefálicas por acidentes vasculares), ao desencadeamento da SCDR, como a isoniazida,
Faixa etária 37 a 50 anos síndromes convulsivas, tumores, lesões da medula anti-hipertensivos inibidores da enzima converso-
Membros Superiores x Inferiores Superiores espinal, poliomielite, processos degenerativos, si- ra da angiotensina, os anticonvulsivantes como a
Unilateral x Bilateral Unilateral ringomielia, lesões dos nervos ou raízes espinais, carbamazepina e a hidantoína, entre outros2.

Fumante x Não fumante Fumantes

Tabela 2: Porcentagem de casos de SCDR em diferentes situações11-13 Sinais e sintomas


PORCENTAGEM DE CASOS COM SCDR LESÃO O quadro clínico é composto por uma caracte- DOR
rística tríade de alterações neurológicas: autonômi- De acordo com os critérios diagnósticos, a dor
1 a 2% Fraturas nos membros
ca (distúrbios da temperatura da pele, cor, presen- apresenta necessariamente intensidade e duração
2 a 5% Lesões traumáticas de nervos periféricos ça de anormalidades da sudorese), sensorial (dor, desproporcionais aos eventos desencadeantes, ge-
5% Infarto agudo do miocárdio hiperalgesia, alodínea) e motora (tremor, paresia, ralmente é mais intensa na fase aguda. A área da dor
7% Fraturas de Colles distonia)9. Nestes doentes pode ser observado um pode ampliar-se no sentido proximal e apresentar
padrão de ciclo vicioso caracterizado por dor - imo- distribuição regional17. A dor tem padrão misto, ou
12% Lesões cerebrais
bilização - edema - desuso - dor2. seja, nociceptivo e neuropático (queimação, sensa-
346 SÍNDROME COMPLEXA DE DOR REGIONAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 347

Diagnóstico
ção de frio doloroso, choque elétrico, formigamento,
adormecimento, coceira). No segmento acometido, ALTERAÇÕES DA TEMPERATURA
a dor costuma piorar com a movimentação1. E DA COR DA PELE
A síndrome dolorosa miofascial frequentemen- As alterações na cor e temperatura da pele re- O diagnóstico da SCDR é clínico e a apresenta- CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
te contribui para a perpetuação dos sintomas, é fletem as anormalidades subjacentes do SNNVS. ção inicial pode ser similar a de outras doenças. Estudos de validação sugerem que os critérios
muito comum a presença de pontos-gatilho, espe- A pele pode ser quente, fria, pálida, hiperemiada, Portanto é essencial lembrar dos diagnósticos di- diagnósticos da IASP para SCDR são adequadamen-
cialmente nas regiões acometidas17,20. cianótica, mosqueada ou com lívido reticulado, em ferenciais como radiculopatias compressivas cervi- te sensíveis, contudo tem baixa especificidade6.
diferentes momentos. Estímulos táteis ou mecâni- cais, tumor de Pancoast, vasculites, artrite reuma- Os critérios de Budapeste (2005) foram elabora-
EDEMA cos, fatores emocionais e atividade física podem tóide, neuropatias periféricas, trombose venosa, dos, entre um grupo de especialistas da IASP, para
O edema geralmente é mole e de pequena mon- modificar subitamente o seu aspecto1,17. fístula arteriovenosa, esclerose sistêmica progres- tentar solucionar este problema. Para confirmar o
ta, entretanto, pode atingir proporções significati- siva, angioedema e atrofia devido ao imobilismo1,17. diagnóstico da SCDR deve atender os quatro itens
vas. Pode decorrer do processo inflamatório loca- ALTERAÇÕES DA SUDORESE do quadro 128.
lizado, da imobilidade ou dos vícios posturais17. A sudorese pode ser normal, exacerbada (hipe-
Alguns doentes apresentam sensação de edema ridrose) ou diminuída (hipohidrose) e alternar-se Quadro 1: Critérios de Budapeste (2005). Para o diagnóstico da SCDR deve haver positividade para os quatro itens28
sem alterações visíveis no exame clínico21. ao longo do tempo e até mesmo em um único dia1,17.
1. Dor contínua e desproporcional ao fator desencadeante
ALTERAÇÕES MOTORAS ALTERAÇÕES TRÓFICAS
Alterações motoras manifestam-se como tremor Podem acometer todos os tecidos, do tegumen- 2. Relato de pelo menos um sintoma em três das quatro categorias (a-d) abaixo:
fino, espasmos musculares, distonias, mioclonias to aos ossos. As alterações tróficas da pele e de
e déficit de força. É comum posturas antálgicas e anexos tendem a ocorrer mais tardiamente, as a) sensitiva c) sudorese/edema
protetoras, síndrome de desuso, perda do tônus, re- unhas podem tornar-se quebradiças ou atróficas, - hiperestesia - edema
dução da mobilidade articular, anquilose, contra- o crescimento do pelo e sua textura podem estar - alodínea - alterações da sudorese
turas e retrações músculo-tendíneo-ligamentares, alterados, a pele e o membro podem se tornar b) vasomotora - assimetria da sudorese
como também comprometimento da percepção distróficos ou atróficos. A amiotrofia é frequente - assimetria de temperatura d) motora / trofismo
corporal, ou seja, com os olhos fechados o paciente e quase sempre mascarada pelo edema, pode ser - alterações da cor da pele - relatos de diminuição da amplitude do movimento
tem a sensação que há diferença de tamanho entre percebida pela palpação, tônus ou fraqueza da - assimetria da cor da pele - disfunção motora (distonia, tremor, fraqueza)
os membros normal e o afetado. O membro acome- musculatura. Nos estágios mais avançados podem - alterações tróficas (pelos, unhas, pele)
tido comumente não é utilizado ou funciona como ocorrer retrações tendíneas e artropatias que po-
membro auxiliar1,17. dem limitar os movimentos. Nos ossos, pode ha- 3. Deve apresentar, no momento da avaliação, pelo menos um sinal em pelo menos duas das quatro categorias
ver cistos, erosões subcondrais e osteoporose di- (a-d) abaixo:
ALTERAÇÕES DE SENSIBILIDADE fusa1,17.
Alodínea (dor devido a um estímulo que nor- a) sensitiva c) sudorese/edema
malmente não provoca dor) é sinal de sensibi- ALTERAÇÕES DE HUMOR - hiperestesia - edema
lização central e está presente em um terço dos Estes doentes são submetidos a intensos estres- - alodínea - alterações da sudorese
doentes. Além da alodínea, pode estar presente na sores psicológicos, o que repercute em prevalência b) vasomotora - assimetria da sudorese
região comprometida a hiperalgesia (dor despro- elevada de ansiedade, depressão, transtorno de - assimetria de temperatura d) motora/trofismo
porcional a um estímulo habitualmente doloroso), estresse pós-traumático, anormalidades do sono - alterações da cor da pele - relatos de diminuição da amplitude do movimento
a hiperestesia (aumento da sensibilidade à esti- e pânico21. De acordo com Covington (1996), esses - assimetria da cor da pele - disfunção motora (distonia, tremor, fraqueza)
mulação) e a hiperpatia (reação exagerada aos es- transtornos são secundários à SCDR, pois não há - alterações tróficas (pelos, unhas, pele)
tímulos álgicos intensos ou repetitivos aplicados evidência de que a SCDR seja doença de natureza
em regiões hipoestésicas). A maioria dos doentes psicológica. A dor persistente seria a causadora dos 4. Ausência de outro diagnóstico que justifique melhor os sinais e sintomas
apresenta déficits sensitivos no membro, em geral problemas psiquiátricos e não o inverso26.
em luva e em bota, sem correlação com território A frequência de somatização em casos com
de inervação12,22-24. Estas alterações podem acome- SCDR é maior que a dos pacientes com lombalgia
ter os dermátomos próximos à área lesada ou todo ou a população geral. Cronicamente, pode compro- A presença das quatro categorias de sintomas de sensibilidade e 94% de especificidade. Por este
um hemicorpo (síndrome hemisensitiva), refletin- meter humor, sono, apetite, relações familiares e clínicos e duas das quatro categorias dos sinais físi- motivo para fins de pesquisas o diagnóstico da
do o grau de sensibilização e de disfunção do SNC profissionais, prejudicando muito a qualidade de cos da doença demonstram a melhor acurácia (80% SCDR deve ser feito desta maneira28.
e SNP17,25. vida do doente15. para SCDR e 90% para não SCDR), apresentado 70%
348 SÍNDROME COMPLEXA DE DOR REGIONAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 349

PROFILAXIA Opioides
Exames complementares A profilaxia da SCDR com 500 mg de vitamina C Opioides fracos (codeína e tramadol) auxiliam
via oral por dia, por um período de 50 dias a partir na analgesia. A analgesia depende da resposta in-
Apesar de não haver nenhum teste específico dos moles. A sensibilidade varia de 75% a 100% e a do trauma, é recomendada no American Academy of dividual, como também, da existência da enzima
para o diagnóstico de SCDR, alguns exames auxiliam especificidade de 6% a 87%29. Orthopaedic Surgeons Clinical Guideline. Esta profila- metabolizadora no fígado, lembrando que 20% da
no diagnóstico e excluem outras condições clínicas. xia demonstrou redução da prevalência de SCDR população caucasiana não possui enzima hepática
Estudos da função vascular servem para descartar CINTILOGRAFIA ÓSSEA após fraturas de punho independentemente do para transformar codeína em morfina. Opioides
etiologia vascular e estão indicados quando os sinais A cintilografia com Tc99m realizada na fase pre- tipo de tratamento realizado (conservador ou cirúr- fortes (buprenorfina, metadona, morfina e oxico-
e sintomas vasomotores são proeminentes. Estudos coce da doença demonstra diminuição da perfusão gico), além disso, também mostrou ser eficaz em dona) podem ajudar doentes com dores mais inten-
eletrodiagnósticos podem descartar condições neu- tecidual na área afetada imediatamente após a in- fraturas de pé e tornozelo. O efeito antioxidante da sas, controlando a dor e podem facilitar a reabilita-
ropáticas específicas, como neuropatia periférica, jeção do radiotraçador. Porém, da 6a a 26a semana vitamina C provavelmente seria responsável pelo ção. A prescrição associada de laxativos (lactulose,
neuropatias compressivas ou lesões nervosas1. demonstra aumento da captação de isótopo no lo- efeito protetor33-35. bisacodil, entre outros) é importante, tendo em vis-
Exames de sangue e de imagem são importantes cal envolvido e nas articulações próximas30. A sen- ta que os opioides lentificam o trânsito intestinal15.
para afastar doenças inflamatórias, metabólicas e sibilidade varia de 14% a 100% e a especificidade de TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
neoplásicas1. 60% a 100%. A cintilografia óssea, em relação aos Apesar de muitos tratamentos descritos e uti- Antidepressivos
demais métodos de imagem, apresentou maior va- lizados na prática clínica, atualmente não há Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina,
RADIOGRAFIAS SIMPLES lor preditivo negativo (média de 88%), revelou ser consenso sobre o melhor tratamento. Faltam evi- imipramina e nortriptilina) e os duais (duloxeti-
Pode revelar osteopenia e desmineralização ós- muito útil quando se quer demonstrar a ausência dências de alta qualidade que determinem a efe- na e venlafaxina) são efetivos no tratamento das
sea subcondral na região acometida. Com menor da doença1. tividade da maioria dos tratamentos para SCDR. dores crônica e considerados primeira linha para
frequência, alterações degenerativas, destruição Medicamentos utilizados no tratamento da dor tratamento de dor neuropática. Apesar de serem
das articulações e proliferações ósseas1,17. Os es- TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA neuropática são úteis em casos de SCDR. Dentre amplamente utilizados na prática clínica, ainda
tudos mostraram sensibilidade variando de 36% a É um método de imagem funcional que docu- eles, destacam-se os antidepressivos tricíclicos e faltam evidências consistentes para sua utilização
73% e especificidade de 57% a 94%29. menta a SCDR pela avaliação da termorregulação. duais, os anticonvulsivantes gabapentinoides (ga- na SCDR15.
A SCDR é caracterizada por uma instabilidade va- bapentina e pregabalina), os opioides e os corti-
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA somotora simpática que pode ser documentada costeroides1. Anticonvulsivantes
Apresenta sensibilidade e especificidade com- em fases bem iniciais pela termografia. Um dos Os anticonvulsivante gabapentinoides (ga-
paráveis às da radiografia simples e da cintilografia principais achados é a assimetria térmica “em Analgésicos simples bapentina e pregabalina) são indicados como pri-
óssea. Pode identificar alterações ósseas em aspec- luva” ou “em bota” das extremidades. O cold stress O paracetamol pode auxiliar na analgesia da meira linha de tratamento para dores neuropáticas
to de queijo suíço1. test permite documentar a integridade vasomoto- SCDR. Entretanto, não há estudos em que se pes- nos principais guidelines. Apesar de não ser medi-
ra ao estímulo frio, que é perdida nos pacientes quisam o uso do paracetamol ou dipirona como te- cação de primeira linha para dor neuropática, a
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA com SCDR, isto é, respondem com vasodilatação rapia isolada da SCDR do tipo I1. carbamazepina pode ser útil em casos de dor paro-
NUCLEAR (RMN) ao invés de vasoconstrição. A termografia com o xística, em choque ou pontadas. Contudo, não há
As imagens da RMN podem demonstrar altera- cold stress test tem sensibilidade de 93% e especifi- Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) evidência com qualidade sobre a eficácia dos anti-
ções em todos os tecidos, especialmente nos teci- cidade de 89%31,32. Os AINES podem auxiliar na dor, entretanto, convulsivantes em SCDR2.
com menor resposta nos casos com alodínea. Con-
tudo, não há evidência suficiente para o uso dos Calcitonina
AINEs na SCDR1. Existe evidência no uso via intranasal e subcutâ-
neo da calcitonina na SCDR, porém, os resultados
Anti-inflamatórios esteroidais
Tratamento
são conflitantes1.
Os corticosteroides podem ser úteis em fases
precoces da doença, quando há substancial com- Bifosfonados
A dor e a incapacidade funcional dos membros humor, assim como o suporte psicológico são fun- ponente inflamatório. Seu mecanismo de ação não Alendronato, clodronato, ibandronato e pami-
são os problemas clínicos mais importantes, assim, damentais para que haja evolução favorável. Uso de é completamente conhecido, pode ser devido à dronato demonstraram melhora da função, inten-
a reabilitação física e o controle adequado da dor são fármacos, fisioterapia, terapia ocupacional, acupun- diminuição das descargas neurais ectópicas e efei- sidade da dor, amplitude de movimento e edema
os principais objetivos. Em muitos casos, a simples tura, tratamentos psicológicos, bloqueios anestési- tos anti-inflamatórios. Porém, faltam estudos que nos casos de SCDR. Há evidência de melhora dos
movimentação ativa precoce pode prevenir a instala- cos e, quando necessário, procedimentos mais inva- avaliam duração e dosagem necessárias. Seu uso sinais inflamatórios nos casos de SCDR do tipo I,
ção dos mecanismos reflexos que induzem à SCDR. sivos como implante de eletrodo epidural medular, prolongado deve ser evitado, por não ser eficaz em mas ainda não se sabe a dosagem, frequência e du-
Tratamento de distúrbios do sono e alterações do são algumas das possiblidades terapêuticas2. dores crônicas e devido aos efeitos adversos15. ração de tratamento ideal1,36.
350 SÍNDROME COMPLEXA DE DOR REGIONAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 351

Medicamentos tópicos TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO demos citar: simpatectomia, baclofeno intratecal, la espinhal, estimulação magnética transcraniana
Emplastro de lidocaína a 5% é eficaz em do- Fisioterapia clonidina peridural, estimulação elétrica da medu- repetida do córtex motor 1.
res neuropáticas localizadas e pode ser indicado A fisioterapia é essencial para melhorar dor,
na região de máxima dor e em casos de alodínea movimento e incapacidade. Os artigos publicados
focal. Capsaicina em dose elevada (5-10%) demos- sobre SCDR frequentemente recomendam fisio-

Prognóstico
trou redução da dor em pacientes com SCDR do terapia como tratamento adjuvante, contudo, não
tipo I36. especificam exatamente o que deve ser feito. Tendo
em vista a melhora das incapacidades com as tera-
Lidocaína intravenosa pias físicas, recomenda-se o início em um estágio Apenas 25-30% dos doentes retornam às ativida- para recuperação funcional dos doentes1.
A lidocaína administrada por via intravenosa inicial, de preferência imediatamente após o diag- des habituais e a maioria mantém os sintomas após O alívio total da dor e a recuperação da incapaci-
apresenta evidência na melhora da dor e dos de- nóstico clínico36. 1º ano do início da SDCR. Yeng (1995)17 observou, dade funcional não é possível em grande parte dos
mais sinais e sintomas da SCDR, mas a eficácia de- após protocolo de tratamento de SCDR realizado casos, principalmente naqueles indivíduos com
monstrada nas alterações sensitivas foi superior às Fisioterapia com espelho no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina dor crônica e alterações já estruturadas. Portanto,
alterações motoras1. A terapia com espelho associada às outras mo- da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), que as o objetivo do tratamento não deve ser somente fo-
dalidades terapêuticas, auxilia na redução da dor e limitações funcionais foram mais frequentes quan- cado na analgesia, como também explorar ao máxi-
Outros das incapacidades36. do a duração da síndrome álgica foi de longa dura- mo a recuperação da função remanescente de cada
Outras opções de tratamento também são ci- ção. Assim, a instituição precoce de analgesia para indivíduo15.
tadas com alguma evidência, como a tadalafila, o Terapia ocupacional permitir o programa de reabilitação é fundamental
dimetilsulfóxido, os relaxantes musculares, a toxi- A terapia ocupacional demonstra evidência po-
na botulínica, o infliximab (antagonista TNF – α), a sitiva na limitação funcional e no nível de ativida-
talidomida e a imunoglobulina1. de do membro acometido44. Através de manobras

Conclusão
de dessensibilização e da realização de atividades
BLOQUEIOS específicas, pode auxiliar na analgesia e facilitar
Doentes com dor moderada a intensa que não a realização das atividades da vida diária. Devem
melhoram com o tratamento conservador são can- seguir escala ascendente quanto ao volume e tipo O conhecimento sobre a epidemiologia e os me- as diretrizes para o tratamento da SCDR recomen-
didatos aos bloqueios regionais anestésicos. O ob- de tarefas, e respeitar a melhora paulatina da fle- canismos da SCDR avançou significativamente nos dem uma abordagem interdisciplinar, associando
jetivo é a promoção de analgesia para possibilitar xibilidade e de força do membro acometido. Não últimos anos. Apesar disso, esses doentes apresen- estratégias farmacológicas e intervencionistas no
a reabilitação. Os dois principais tipos de técnicas havendo condições físicas de retorno às funções tam sofrimento e incapacidade funcionais signi- manejo da dor, juntamente com reabilitação, terapia
de bloqueios regionais são o bloqueio simpático e o originais, a readaptação para a execução de outras ficativos. Mais de 90% experimentam dificuldade psicológica e estratégias educacionais, determinar a
bloqueio somático1. atividades profissionais deve ser realizada. As órte- em realizar atividades usuais. A interferência nas abordagem ideal para o tratamento de cada doente
ses diurnas e noturnas podem auxiliar no posicio- atividades de vida diária, sono, trabalho e lazer é ainda permanece clinicamente desafiador. Contu-
Bloqueio simpático namento dos segmentos corporais, porém, devem comum e contribui para a diminuição da qualidade do, personalizar o tratamento de cada doente para
Rocha (2014) demonstrou que o bloqueio simpá- ser usadas com cuidado para não agravar a síndro- de vida37-39. conseguir analgesia adequada, possibilitando assim
tico torácico, associado ao tratamento farmacológi- me do desuso15. Não há cura, mas a intervenção precoce tende melhor aderência ao programa de reabilitação pare-
co e a fisioterapia, alivia a dor, melhora a qualidade melhorar significativamente os resultados. Embora ce ser essencial para a recuperação funcional37-39.
de vida e diminui a incidência de distúrbio de hu- Acupuntura
mor dos pacientes com SCDR crônica do membro, A acupuntura é um tratamento que proporciona
tanto a curto prazo (1 a 2 meses) como a longo pra- relaxamento muscular, além de estimular o siste-
zo (1 ano)1. ma supressor de dor que proporciona analgesia.
Quando realizada previamente à cinesioterapia, Referências bibliograficas
Bloqueios somáticos pode facilitar os exercícios. Como o segmento aco-
As opções são: bloqueio epidural, bloqueio dos metido pode ser bastante doloroso, uso de pontos a 1. Rocha, RO. Eficácia do bloqueio simpático torácico no 3. Mitchell SW, Morehouse GR, Keen WW. Gunshot
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354 SÍNDROME COMPLEXA DE DOR REGIONAL TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 355

CAPÍTULO 30

Dor em gestante
Telma Regina Mariotto Zakka
Manoel Jacobsen Teixeira
Lin Tchia Yeng

Introdução
As dores musculoesqueléticas durante o perío- planejamento adequado objetivando a analgesia
do gestacional geralmente são desencadeadas pe- com menor risco para a gestante, feto e recém-nas-
las mudanças anatômicas e funcionais inerentes à cido. Desta forma, sempre que possível, deve-se
gestação que, modificam ou agravam a expressão priorizar os métodos não farmacológicos e adequar
das afecções dolorosas1. as intervenções farmacológicas ou cirúrgicas às fa-
Escolher intervenções terapêuticas, para o alí- ses da gestação e lactação1.
vio da dor durante a gestação e lactação, exige um

Dores musculoesqueléticas mais


comuns na gestante
LOMBALGIA aproximadamente 80% das gestantes, sendo mais
Entre as dores musculoesqueléticas, certamen- incidente em mulheres com quadro de lombalgia
te a lombalgia é a mais frequente, representa um prévia, multíparas e gestantes idosas2,3.
sintoma de etiologia multifatorial, manifesta-se em
356 DOR EM GESTANTE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 357

Destacam-se como fatores predisponentes: as DOR SACROILÍACA ções nas atividades enzimáticas e no metabolismo bilidade, concentração plasmática materna, grau
alterações posturais determinadas pelo útero graví- Incide em 76,6% das mulheres, geralmente tem dos fármacos dificultam predizer sua eficácia e to- de ionização e capacidade de ligação às proteínas13.
dico, o relaxamento ligamentar nas articulações pél- seu início a partir da 18ª semana de gestação. Ca- xicidade durante a gestação10,11,12. Dessa forma, deve-se prescrever fármacos com bai-
vicas, o aumento do peso corpóreo e o deslocamento racteriza-se pela presença de dor intermitente, A exposição fetal aos fármacos antes da quar- xa lipossolubilidade e /ou hidrossolúveis para as
anterior do centro de gravidade que gera sobrecarga referida, uni ou bilateral, com sensação de peso ta semana de gestação pode determinar a perda lactantes pois corroboram para a lenta difusão para
na região lombar de magnitude suficiente para cau- referida para as regiões pélvica posterior (região sa- do concepto por lesão do blastócito ou nenhuma o leite materno9, além de considerar aspectos me-
sar dor2,3. croilíaca), glútea profunda, coxa e joelho. A inten- anormalidade ou malformação devido à totipoten- tabólicos e fisiológicos da lactante e do lactente13.
No primeiro trimestre, o relaxamento pélvi- sidade dos sintomas relaciona-se à idade gestacio- cialidade das células embrionárias10,11,12. A organo- Lactantes com diminuição da capacidade de meta-
co pode determinar dor lombar espontânea e ou nal e com a flexão em rotação passiva do quadril. O gênese, entre o 18° ao 55° dia após a concepção, é bolizar ou excretar os fármacos, podem aumentar
compressão das articulações sacroilíacas. No de- tratamento conservador compreende orientações o período fetal mais crítico à exposição aos fárma- a exposição do lactente, motivo de cautela na admi-
correr do período gestacional a dor lombar pode posturais, ergonômicas, exercícios de alongamento cos, com possibilidade de malformações irrepará- nistração dos fármacos para as lactantes e lactentes
tornar-se constante com irradiação para glúteos, e fortalecimento muscular, uso de analgésicos e de veis10,11,12. Tardiamente, a exposição aos fármacos com doença hepática ou renal14.
coxas e ou região distal do abdome2,3. A síndrome cinta pélvica2,3. pode influenciar o crescimento ou a função fisio- A composição do leite materno varia conforme
dolorosa miofascial (SDM) frequentemente se as- lógica fetal, determinar síndromes perinatais ou a fase da lactação (colostro versus leite maduro) e
socia às dores na região lombossacral e cervical SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO alterações neurocomportamentais10,11,12. durante uma mamada (leite anterior versus leite
das gestantes2,3. Geralmente bilateral, associa-se à parestesia, Ao escolher um fármaco durante a gestação é posterior), influenciando na transferência dos fár-
Para o alívio da dor lombar recomenda-se prio- queimação e dor noturna. É mais frequente no se- importante conhecer seu perfil de segurança nas di- macos do plasma para o leite e determinando va-
rizar as orientações sobre o estilo de vida, adequa- gundo e/ou terceiro trimestres principalmente nas versas fases da gestação, o grau de ligação proteica, riações na sua concentração no leite15. Nos primei-
ção das atividades físicas domiciliar e profissional, primigestas, com edema generalizado e ou com solubilidade lipídica, peso molecular e as caracte- ros dias de lactação a transferência de fármacos do
posturas durante o sono, trabalho e nas atividades doença hipertensiva específica da gestação. Pode rísticas metabólicas maternas que podem influen- plasma para o leite é maior, entretanto, é pequena
de lazer, fisioterapia e outras medidas físicas de reincidir em gestações subsequentes ou em outros ciar à transferência para o feto10,11,12. Com exceção a dose absoluta dos fármacos transferida para o re-
reabilitação1,2,3. O tratamento farmacológico inclui períodos da vida. Os sintomas geralmente melho- das moléculas polares grandes, a maioria dos fár- cém-nascido, devido ao pequeno volume de colos-
o uso dos analgésicos como o paracetamol e dipiro- ram 4 semanas após o parto, embora, habitual- macos atravessa a placenta e alcança o feto10,11,12. tro ingerido (50 a 60 ml/dia)13,16. A partir da segun-
na. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), mente, se prolonguem durante a lactação. O tra- da semana pós-parto a transferência dos fármacos
quando necessários podem ser prescritos até o sex- tamento conservador consiste em evitar situações DURANTE A LACTAÇÃO para o leite é menor devido à redução dos níveis de
to mês2,3. Evitar os anti-inflamatórios esteroidais no que deflagrem a dor, uso de órteses noturnas para Muitos fármacos são excretados no leite mater- progesterona, crescimento das células alveolares
primeiro trimestre pelo risco de malformações fe- evitar a flexão do punho, analgésicos, emplastro no e consistem uma fonte potencial de toxicidade e diminuição dos espaços intercelulares13. A segu-
tais2,3. Sempre que possível evitar os exames radio- de lidocaína 5% ou gel de lidocaína tópico, meios para o lactente. Os fármacos que apresentam uma rança no uso dos fármacos durante a lactação rela-
gráficos durante o primeiro trimestre da gestação e físicos e acupuntura. A intervenção cirúrgica rara- elevada taxa de ligação proteica são excretados em ciona-se com a idade do lactente sendo o risco mais
realizá-los somente quando necessário2,3. mente é necessária4. menores quantidades no leite e reduzem a exposi- elevado nos lactantes menores de dois meses (78%)
ção do lactante9. A transferência dos fármacos para e baixo risco nos lactentes acima de 6 meses (4%)
o leite materno depende do peso molecular, lipos- devido à maturidade hepática, a menor ingesta lác-
solubilidade, meia-vida de eliminação, biodisponi- tea e maior alimentação complementar13,17.

Fisiologia
DURANTE A GESTAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DOS FÁRMACOS
fármacos presentes na circulação materna, podem
Estima-se que 10% das malformações congê- alterar o fluxo sanguíneo placentário e causar da-
nitas são resultantes da exposição materna aos nos fetais por diminuição do aporte de oxigênio e
fármacos5. O ensaio genotípico materno parece nutrientes8,9. Portanto, ao prescrever um fármaco Para orientar a prescrição de fármaco na ges- rias da classificação proposta pelo FDA, conforme
ser preditivo sobre a farmacogenética das malfor- para a gestante considera-se a idade gestacional, a tação, Food and Drug Administration (FDA), nos o quadro 119.
mações congênitas, visto que variações individuas barreira placentária e o feto1. Estados Unidos da América, desenvolveu uma Esta classificação constitui uma orientação, no
decorrem da metabolização dos fármacos e das ex- Durante a gestação a farmacocinética e farma- classificação de risco baseada no potencial do momento da prescrição e considerá-la dinâmica,
posições ambientais tóxicas6. codinâmica se alteram devido às modificações na medicamento em causar malformações fetais18. em relação ao período gestacional é, sem dúvida,
A intensidade da exposição fetal aos fármacos absorção, distribuição, metabolismo e excreção (Quadro 1) importante para a segurança terapêutica. Na reali-
envolve o mecanismo de eliminação materno-fetal dos fármacos10,11,12. As alterações destes parâmetros Para simplificar a prescrição, Yankowitz e Nie- dade, o critério da escolha da prescrição deve pau-
e a permeabilidade placentária7. Desta forma, os fisiológicos, o genótipo materno e fetal, as varia- by (2001) reviram e enunciaram as cinco catego- tar o custo-benefício de cada situação clínica1.
358 DOR EM GESTANTE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 359

Quadro 1: Classificação do risco dos fármacos na gestação18-19 Quadro 3: Classificação dos anti-inflamatórios na gestação24,25

A Estudos controlados não demonstram risco fetal 0,7%


AINES RISCO
B Não há evidência de risco fetal no ser humano 19,0%
Diclofenaco sódico, ácido mefenâmico ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, meloxicam,
O risco fetal não pode ser afastado. Incluem-se os fármacos recentemente lançados no mercado B/D
C 66,0% piroxicam, nimesulida
e/ou ainda os não estudados
Tenoxican, celocoxibe, cetorolaco de trometamina, etoricoxibe C/D
D Há evidência positiva de risco fetal 7,0%
X Contraindicados durante ou antes da gestação 7,0%
opioides com fissuras orais, defeitos do septo ventri- Tramadol
A partir de 2015, o FDA, descontinuou as cate- rações clínicas e dados de base relevantes sobre cular / defeitos do septo interatrial e nos estudos de Há poucos estudos, não há relatos de depres-
gorias de risco de gravidez (ABCDX) usadas para o medicamento20. Outra classificação do uso de coorte, o pé torto foi a malformação mais relatada. são respiratória no RN, convulsões ou síndrome de
denotar a segurança dos fármacos durante a ges- fármacos durante a gestação é o Australian Drug Como a teratogenicidade dos opioides é incerta e in- privação27.
tação substituindo pela Regra de Rotulagem na Evaluation Committee (ADEC)21. Sem dúvida que conclusiva, recomenda-se a avaliação cuidadosa dos
Gestação e Lactação do FDA com texto narrativo associar as classificações constitui um excelente riscos e benefícios quando se considerar a prescrição Morfina
para descrever informações de risco, conside- parâmetro prescritivo1. de opioides para mulheres em idade reprodutiva26. Não há relatos de malformações congênitas,
Os analgésicos opioides fracos (tramadol e co- no último trimestre e durante o trabalho de parto,
deína) e fortes (metadona, morfina, oxicodona, bu- pode promover depressão respiratória e síndrome
prenorfina e fentanil) podem ser utilizados duran- de privação no RN27.

Tratamento farmacológico da dor na gestante


te a gestação, analisando-se o risco/benefício, nos
quadros dolorosos de moderada a forte intensida- Metadona
de. Deve-se evitar no terceiro trimestre e próximo Existem relatos de retardo do crescimento fetal
ANALGÉSICOS Quadro 2: Classificação dos analgésicos na gestação18,22,23 ao termo, pelo risco de hipoventilação e síndrome intrauterino e óbito fetal. A síndrome de privação
Acetoaminofeno (paracetamol) de privação no recém-nascido (RN) 27. do RN parece ser menos pronunciada27.
Acredita-se que para gestantes seja o medicamen- ANALGÉSICOS RISCO O Canadian Guideline for Safe and Effective Use of
to analgésico e antipirético mais seguro e utilizado
Dipirona N (não classificado pelo FDA)
Opioids for Chronic Non-Cancer Pain sugere a redu- Oxicodona
amplamente em todo o mundo. No entanto, relatou- ção gradual da dose dos opioides na fase precon- Evitar próximo ao termo e durante a amamen-
-se sua associação com asma, menor desempenho Paracetamol B cepção para, se possível, descontinua-los durante tação, pode promover depressão respiratória e sín-
do quociente de inteligência (QI), menor distância a gestação. Recomenda a retirada lenta e gradual, drome de privação no RN27.
anogenital no recém-nascido do sexo masculino durante a gestação, para não estimular as contratu-
(talvez baixo potencial reprodutivo), transtorno de traindicado (D) no terceiro trimestre pelo risco do ras uterinas e consequentemente, abortamentos ou Fentanil
espectro do autismo, alterações no desenvolvimento fechamento precoce do ducto arterioso com con- trabalho de parto prematuro. Orienta o tratamento Sem relatos de malformações, evitar próximo
neurológico (desenvolvimento motor grosso, comu- sequente hipertensão pulmonar e morte fetal. Ou- com metadona às gestantes com dor crônica não ao termo, devido o risco de depressão respirató-
nicação), déficit de atenção, transtorno de hiperati- tros efeitos adversos do uso dos AINEs durante a oncológica dependentes da prescrição de opioides ria. O fentanil atravessa rapidamente a placenta,
vidade e alterações comportamentais na infância. gestação são: sangramento materno-fetal, oligúria e não recomenda o uso de tramadol e fentanil du- portanto, a administração materna pode alterar a
Como as complicações são raras, mas sérias, reco- fetal, oligoâmnio, dismorfose facial e distúrbios na rante a gestação21. frequência cardíaca fetal e determinar hipoxemia
menda-se seu uso apenas quando necessário22,23. homeostase fetal 24. fetal27.
O uso a curto prazo de AINEs como analgésicos Codeína
Dipirona ou antipiréticos no 2º trimestre não parece represen- Utilizada na fase preconcepção pode associar-se Buprenorfina
Apesar do baixo risco e uso frequente, não é tar um risco substancial para efeitos adversos fetais. a defeitos cardíacos (defeito septal atrioventricular, Dados retrospectivos sugerem que os neonatos
classificada pelo FDA18. (Quadro 2) Entretanto, o uso prolongado no final do 2º trimes- hipoplasia cardíaca esquerda), estenose aórtica e com exposição intrauterina à buprenorfina apre-
tre, deve sempre ser monitorado25. (Quadro 3) espinha bífida28. Durante o primeiro trimestre pode sentam menor tempo de permanência hospitalar,
ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO associar-se a malformações fetais do aparelho res- menos dias de tratamento com morfina para sín-
ESTEROIDAIS (AINEs) ANALGÉSICOS OPIOIDES piratório, hipospadia, hérnias inguinal e umbilical, drome de abstinência neonatal e menor uso de fe-
Os AINEs podem prolongar o tempo de gestação Os estudos publicados entre 1946 a 2016 sobre a e estenose pilórica27-29. Próximo ao termo pode au- nobarbital do que os neonatos expostos à metado-
e o início do trabalho de parto, além de aumentar utilização de analgésicos opioides durante a gestação, mentar o risco de hipotonia e síndrome de privação na30. (Quadro 4)
o risco de hemorragia no pós-parto. Seu uso é con- os casos-controle, demonstraram associações entre no RN27-29.
360 DOR EM GESTANTE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 361

Quadro 4: Classificação dos opioides na gestação26-30 Evitar próximo ao termo pelo risco de hipoten- Venlafaxina e Duloxetina Gabapentina
são, letargia e dificuldade na sucção do neonato34. A exposição intrauterina no primeiro trimestre Não parece aumentar o risco de malformações
ANALGÉSICOS OPIOIDES RISCO (Quadro 6) à venlafaxina não se associa ao aumento do risco maiores. Observou-se na população investigada o
para malformações congênitas graves. Os dados aumento do risco de baixo peso ao nascer e parto
Tramadol C/D
Quadro 6: Classificação dos neurolépticos na gestação34 para a duloxetina é significativamente menor, mas prematuro o que exige uma investigação mais apro-
Codeína C/D não sugerem risco aumentado clinicamente impor- fundada39.
Morfina B/D tante37. (Quadro 8)
NEUROLÉPTICOS RISCO
Pregabalina
Metadona B/D
Clorpromazina C/D Quadro 8: Classificação dos antidepressivos na gestação
36,37 Os estudos sugerem que seu uso durante o pri-
Oxicodona B/D meiro trimestre da gestação não se associa com o
Levomepromazina C/D
Fentanil B/D ANTIDEPRESSIVOS RISCO risco significativamente aumentado de malforma-
ções congênitas, embora não se possa descartar um
Buprenorfina B/D Amitriptilina D
modesto aumento no risco40.
ANESTÉSICOS LOCAIS Nortriptilina D
Não há evidências que a lidocaína e a bupiva- Maprotilina B Lamotrigina
MIORRELAXANTES caína produzam alterações morfológicas no feto35. Não há estudos controlados na gestação41,42.
Imipramina D
Ciclobenzaprina (Quadro 7)
A utilização é compatível com a gestação. Con- Fluoxetina C Topiramato
traindica-se nos casos de hipertireoidismo, glauco- Quadro 7: Classificação dos anestésicos locais na gestação35
Duloxetina C Não há estudos controlados durante a gestação,
ma de ângulo fechado e retenção urinária31,32. provável associação com hipospadia em ratos41,42.
Venlafaxina C (Quadro 9)
Carisoprodol ANESTÉSICOS LOCAIS RISCO
Não possui estudos controlados durante a ges- Lidocaína B Quadro 9: Classificação dos anticonvulsivantes na gestação38-42
tação18. ANTICONVULSIVANTES
Bupivacaina B
Quando possível, deve-se descontinuar seu uso,
ANTICONVULSIVANTES RISCO
Baclofeno especialmente no primeiro trimestre e/ou suple-
Possui grande potencial de transferência pla- mentar o ácido fólico. A dosagem da alfafetoproteí- Carbamazepina D
centária. Não há dados humanos suficientes para ANTIDEPRESSIVOS na, auxilia na detecção das malformações no tubo
determinar o risco embrionário e fetal com o uso Amitriptilina neural38. Gabapentina C
do baclofeno durante a gestação. Desta forma, re- Em mais de um milhão de gestantes que utili- Pregabalina D
comenda-se evitar na gestação, salvo quando os ris- zaram a amitriptilina, no segundo e terceiro tri- Carbamazepina
cos fetais justifiquem o benefício materno. Admi- mestres, não houve relatos de anomalias fetais. Pode determinar, anomalias craniofaciais e Lamotrigina C
nistrar com cautela nas pacientes com disreflexia Entretanto, existem relatos de anomalias cardio- cardíacas, espinha bífida, retardo do crescimento
Topiramato C
autonômica33. (Quadro 5) vasculares e redução nos membros quando utiliza- intrauterino e sintomas de abstinência no período
da no primeiro trimestre da gestação36. neonatal38.
Quadro 5: Classificação dos miorrelaxantes na gestação18,31-33
Nortriptilina
Determinante potencial de malformações con-
MIORRELAXANTES RISCO
gênitas36.
Ciclobenzaprina B
Carisoprodol C/D Maprotilina Meios físicos e acupuntura
Seu uso é compatível na gestação e na lactação36.
Baclofeno C
Complementam o tratamento medicamentoso Praticamente destituídos de efeitos colaterais, são
Imipramina e muitas vezes são a primeira escolha no alívio e inócuos para o feto1.
Pode determinar síndrome de privação no RN36. controle das dores de origem musculoesqueléticas.
NEUROLÉPTICOS
Evitá-los durante a gestação, exceto a clorpro- Fluoxetina
mazina que possui mais estudos neste período34. Não há estudos controlados na gestação36.
362 DOR EM GESTANTE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 363

Conclusões
23. Bauer AZ, Kriebel D, Herbert MR, Bornehag CG, Swan e lactação: guia prático.São Paulo: Manole Editora.
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Muitas gestantes sofrem dores e desconfortos sões físicas e emocionais, assim como, sua cro-
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durante a gestação que resultam em sofrimento, nicidade. e lactação: guia prático.São Paulo: Manole Editora. 34. Teixeira MJ, Tavares VM. Neurolépticos. In: Fármacos
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loesqueléticas durante a gestação é fundamental dualmente as escolhas farmacológicas e as medi- second trimester exposure to non-steroidal anti- In: Fármacos para tratamento da dor. Sakata RK, Issy
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364 DOR EM GESTANTE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 365

CAPÍTULO 31

Dor em criança
David Gonçalves Nordon
Esther Angélica Luiz Ferreira
Ivete Zoboli
Sílvia Maria de Macedo Barbosa

Introdução
Há cerca de três décadas as pesquisas eviden- te dos familiares e profissionais de saúde de que
ciaram o manejo inadequado da dor em pediatria, algumas medicações analgésicas podem levar a
e, apesar dos avanços científicos e tecnológicos, complicações, tolerância e dependência1-3. Estudos
ainda hoje as crianças têm, na maioria das vezes, demonstram que, em departamentos de emergên-
seu diagnóstico e tratamento realizados de forma cia, um terço das crianças com fraturas desviadas e
insatisfatória. Como consequência deste fato, o a maioria das crianças com fraturas não desviadas
manuseio da dor não é realizado da melhor forma não são medicadas para dor4,5.
para a população pediátrica. Pode-se dizer que isto Antigamente entendia-se que recém-nascidos
se deve à existência de mitos sobre a dor na faixa não podiam sentir dor, pois se presumia que não
etária pediátrica, o que gera uma crença por par- haveria tal sofrimento na vida intrauterina e, ao
366 DOR EM CRIANÇA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 367

nascer, o sistema nervoso seria ainda imaturo e in- periência da dor infantil se assemelha à do adulto9. 4. Exame físico é normal; DORES NAS COSTAS
capaz de experimentar esse tipo de desconforto6. A abordagem da dor em crianças deve ser muito 5. Episódios são intermitentes, ocorrendo comu- Por muitos anos, o diagnóstico de dores nas cos-
Com o estudo do desenvolvimento e fisiopatologia, cuidadosa. Fazer um diagnóstico correto, assegu- mente de 2 a 3 vezes na semana; tas em crianças foi associado a infecções ou doen-
conclui-se que, com 26 semanas de idade gestacio- rar-se sobre a causa da dor, tratar adequadamente, 6. A dor é intensa e tem padrão muscular, chegan- ças graves. Entretanto, ele vem se tornando cada
nal, a criança já apresenta maturidade para trans- com medicações de horário e não por demanda, do a despertar o paciente. Pode durar entre 30 vez mais comum e precoce, principalmente em as-
missão aferente da dor, respondendo às lesões com além do uso de técnicas não farmacológicas, como a 120 minutos, com pico ao redor dos 15 a 20 sociação ao sedentarismo, à longa permanência na
comportamento específico, inclusive com sinais massagem e controle do ambiente, são essenciais . minutos, quando regride lentamente. mesma postura, tanto na escola, quanto em casa, e
metabólicos, hormonais e autonômicos7, não tra- Do ponto de vista fisiológico, a dor ativa uma ao uso de aparelhos eletrônicos.
zendo dúvidas quanto à sensibilidade aos estímu- função catabólica no organismo, comprometendo Em casos típicos, como descrito acima, não são É sempre importante, na anamnese, excluir os
los dolorosos nessas faixas etárias8. a recuperação tecidual - o que é danoso em qual- necessários exames laboratoriais ou radiológicos sinais de alarme para causas oncológicas ou infec-
Pesquisas atuais realizadas com ressonância quer doença, mas especialmente após procedimen- específicos. Se esses forem feitos, estarão normais. ciosas, como febre, perda de peso importante, dor
magnética funcional (fMRI) evidenciaram, nos re- tos cirúrgicos, pois pode colaborar para prolongar O tratamento é feito com orientações sobre a constante, progressiva e sem melhora. Felizmente
cém-nascidos, atividade cerebral significativa em a estadia hospitalar, aumentando, assim, o risco de natureza benigna e autolimitada da doença à famí- (ou não), porém, as dores estão evoluindo e se de-
18 das 20 regiões do cérebro também ativas no adul- complicações não cirúrgicas, como doenças respi- lia e ao paciente, massagens, calor local e outras monstrando cada vez mais crônicas e intermiten-
to durante o estímulo doloroso, sugerindo que a ex- ratórias10. técnicas não farmacológicas, além de não limitar a tes, com períodos de melhora e piora, associadas a
atividade física nessas crianças12,13. atividades (ou inatividade) físicas.
Não há ainda estudos que expliquem satisfato- O “Pescoço do Celular”, patologia “descoberta”
riamente a fisiopatologia da dor de crescimento. É em 2007, deve-se ao estresse causado à musculatu-
comum encontrar distúrbios emocionais, enxaque- ra cervical pelo uso excessivo de smartphones, que

Patologias mais frequentes


ca ou dor abdominal recorrente nos pacientes que pode levar a uma sobrecarga de até 5,5 vezes nas
sofrem desse problema12. vértebras cervicais.
O quadro 1 apresenta as principais causas de Ao mesmo tempo, dores lombares podem se as-
O objetivo deste capítulo não é se aprofundar metabolismo ósseo fazem com que o osso “amasse” dores nos membros inferiores na infância e os res- sociar ao uso de mochilas pesadas (sendo que estas
nos detalhes das patologias pediátricas mais fre- (fratura em tórus), entorte (deformidade plástica), pectivos exames para diagnóstico12. não deveriam ultrapassar 10% do peso da criança)
quentes da ortopedia, mas, sim, apresentar um pa- estilhace (fratura em galho verde) e, finalmente,
norama das causas dolorosas mais comuns nesta quebre. O tempo de recuperação é, também, bastan- Quadro 1: Patologias e exames diagnósticos.
faixa etária. te inferior ao de adultos: um recém-nascido começa
a mover o braço em apenas uma semana após uma CAUSAS EXAME DIAGNÓSTICO
FRATURAS fratura de clavícula, ao passo que um adulto pode
O trauma pediátrico é muito comum. No pe- levar 4 a 6 semanas para conseguir movê-lo sem dor. Tumorais:
ríodo compreendido entre o nascimento até os 16 Benignas: Osteoma osteoide, Cistos ósseos Radiografia simples
anos de idade, 27% das meninas e 42% dos meni- DOR DE CRESCIMENTO Malignas: Osteossarcoma, Sarcoma de Ewing Ressonância nuclear magnética
nos terão algum tipo de fratura11. A dor de crescimento é uma das causas mais co-
Infecciosas: Avaliação clínica
As fraturas mais comuns continuam sendo muns de dores nos membros na faixa etária pediá-
Osteomielite Radiografia simples
aquelas de baixa energia, localizadas nos membros trica. Importante relatar que o nome não tem rela-
Abscessos Provas inflamatórias (hemograma, VHS e PCR)
superiores, durante atividades esportivas ou lazer. ção com a fisiopatologia da doença, pois nunca se
Pioartrite Culturas
Entretanto, acidentes automobilísticos vêm se tor- provou qualquer relação entre as dores e estatura,
Celulite
nando cada vez mais comuns, aumentando a com- peso ou velocidade de crescimento. Sua idade de
plexidade do tratamento ortopédico nos casos de início varia entre os 4 e 10 anos, e 20% dos afetados Trauma Avaliação clínica
crianças afetadas nestes. têm relação com dor igual nos pais quando estes Radiografia simples
Com relação à incidência, 45% das fraturas são eram crianças12.
Doenças ortopédicas infantis:
de rádio; 18,4% são de úmero; 13,8% são de clavícu- A história típica engloba as seguintes caracterís-
Legg-Calvé-Perthes Avaliação clínica
la, perfazendo os membros superiores mais de 77% ticas12,13:
Epifisiolistese Radiografia simples
das fraturas em crianças. A fratura do rádio é dis- 1. Dor difusa, com localização vaga;
Hiperfrouxidão ligamentar
cretamente mais frequentemente do que a de mão 2. A queixa é geralmente bilateral e nos ossos lon-
Alterações do eixo mecânico da perna
(neste caso, dá-se destaque especial às falanges). gos;
Osteomalácia, raquitismo, outras doenças do Painel do metabolismo da vitamina D para suspeita de
É importante lembrar que o padrão de fratura 3. As dores ocorrem usualmente à noite, sendo
metabolismo ósseo raquitismo/osteomalácia
das crianças também é diferente. A estrutura e o que os sintomas desaparecem pela manhã;
368 DOR EM CRIANÇA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 369

e encurtamento musculotendíneo (por desuso, demonstrou que atinge aproximadamente 11% das em casos de dor mais inespecífica. Não é incomum Diversas escalas podem ser utilizadas, mas se re-
destreino ou por permanecer prolongadamente na crianças14 em determinado estudo e se relaciona a criança referir dor em lugares que não têm ab- comenda que, até os 3 anos de idade, os pacientes se-
mesma posição, até mesmo na própria escola). principalmente à incompatibilidade do compri- solutamente qualquer relação com a patologia em jam avaliados pela escala unidimensional e compor-
A inadequação da sala de aula é um problema mento da coxa e da profundidade da cadeira, ao pesquisa. Nestes casos, questionar avaliando mais tamental FLACC (Face, Legs, Activity, Cry, Consolation)
mundial. Em um estudo árabe14, os móveis escola- sexo masculino e a crianças de idades mais novas. de uma vez o mesmo lugar também contribui - ao (quadro 3), sendo que valores entre 1 e 3 significam
res se demonstraram inadequados em suas medi- Por outro lado, a atividade física se mostrou prote- longo da avaliação, elas não raramente “mudam pouco desconforto, 4 a 6, desconforto moderado e, a
das para 75 a 94% das crianças, conforme a medida tora neste caso. de ideia” sobre a dor em determinada estrutura e partir de 7, desconforto severo/ dor 19,20.
avaliada na pesquisa. Nos EUA, menos de 20% dos Contudo, embora haja evidências dos benefí- uma queixa que permanece constante fortalece o Entre 4 e 7 anos, já se pode utilizar a escala de
alunos da 6ª à 8ª série são compatíveis com os mó- cios da atividade física durante a infância na saúde diagnóstico. faces de Wong e Baker, adaptada para a idade. Por
veis do ambiente escolar15, e, no Chile, essa mesma cardiovascular da vida adulta, os achados ainda são A avaliação da intensidade da dor também é de- fim, a partir de 8 anos de idade já é possível aplicar
inadequação varia de 72% a 100%16. insuficientes para provar seu benefício na saúde safiadora. O conceito comparativo é bastante difícil alguma das variações da escala analógica de dor -
Lombalgia relacionada à longa permanência lombar na maioria dos estudos17,18. na faixa etária pediátrica e temos sempre de consi- com a ressalva de que a criança precisa conseguir
derar o caráter subjetivo da dor: muitas vezes, uma compreender os números e/ou intensidade e que
simples contusão do artelho mínimo pode ser, de a própria escala sem números pode ser difícil até
fato, a maior dor da vida desta criança. mesmo para alguns adultos21.

Avaliação clínica
Quadro 3: Escala comportamental FLACC (Face, Legs, Activity, Cry, Consolation) para avaliação da
intensidade da dor em crianças de zero até 3 anos de idade.

A avaliação da dor na criança pode ser um desa- Na abordagem ortopédica, buscando pelos lo- COMPORTAMENTO PONTUAÇÃO
fio. Embora seja essencial que se busquem as onze cais tanto de trauma, quanto de dor não traumáti-
CATEGORIA 0 1 2
características da dor (quadro 2) para uma adequa- ca, é uma boa estratégia ir do maior para o menor,
da definição de seu diagnóstico, isso pode ser bas- ou seja: começar avaliando qual membro dói; em Caretas ou sobrancelhas
Nenhuma expressão Tremor frequente do quei-
tante difícil em crianças, especialmente naquelas seguida, qual segmento deste membro (por exem- FACE franzidas de vez em quando,
especial ou sorriso xo, mandíbulas cerradas
em idade pré-escolar. plo, perna ou coxa?); depois, qual parte específica introversão, desinteresse
deste segmento (meio da perna? Próximo ao torno- PERNAS Normais ou relaxadas Inquietas, agitadas, tensas Chutando ou esticadas
Quadro 2: Onze características semiológicas da dor. zelo?) e, por fim, suas estruturas (ligamentos? Os-
Quieta, na posição Contorcendo-se, movendo-
sos? Tendões? Músculos?). Curvada, rígida ou com
ATIVIDADE normal, movendo-se -se para frente e para trás,
O questionamento pode ser auxiliado pela pal- movimentos bruscos
Localização facilmente tensa
pação delicada do membro acometido, começan-
Irradiação
do-se sempre pela parte com menor probabilidade Choro continuado, grito
Característica Sem choro (acordada ou Gemidos ou choramingos;
de dor e terminando o exame com a avaliação do CHORO ou soluço; queixa com
Intensidade dormindo) queixa ocasional
local acometido e provavelmente doloroso. Come- frequência
Duração
çar pelo local acometido irá invariavelmente inco- Tranquilizada por toques,
Evolução
modar a criança e provavelmente comprometer a Difícil de consolar ou
Periodicidade CONSOLO Satisfeita, relaxada abraços ou conversas oca-
avaliação. confortar
Fatores de melhora sionais; pode ser distraída
Especialmente em crianças menores, é uma boa
Fatores de piora
técnica solicitar que o paciente feche os olhos du-
Sintomas associados
rante a avaliação, para que sua ansiedade ou preo-
Relação com funções orgânicas
cupação com o local a ser examinado não façam

Exames complementares
com que tenha reações exageradas ou aponte para
uma área maior do que a realmente acometida; dis-
Em geral, a partir dos três anos, crianças já con- traí-la durante a avaliação também permite testar
seguem referir de forma relativamente confiável se a amplitude de movimentos passivamente e palpar Poucos exames são necessários na ortopedia Diagnósticos diferenciais encontrados ainda na
sentem dor efetivamente e a região afetada aproxi- todas as estruturas, sem que o componente psicoló- pediátrica para o diagnóstico da etiologia da dor ortopedia também podem ser feitos com exames
madamente. As informações dependem do desen- gico comprometa o diagnóstico. (Quadro 1). A maior parte das patologias é diag- laboratoriais comuns, como hemograma, VHS (Ve-
volvimento cognitivo e tornam-se progressivamen- Avaliar o membro contralateral e, muitas vezes, nosticada com radiografias simples do local aco- locidade de hemossedimentação), PCR (Proteína C
te mais confiáveis. outros membros, também auxilia, especialmente metido12. reativa) e culturas12.
370 DOR EM CRIANÇA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 371

Idealmente, devem-se evitar exames como to- nética, devido ao tempo de duração, muitas vezes Figura 1: Escada analgésica
mografias, pelo excesso de radiação, indicando necessitam de sedação em crianças e isso deve ser da dor para crianças.
apenas quando for realmente necessário. Exames levado em conta12.
mais complexos, como a ressonância nuclear mag-

Tratamento
EDUCAÇÃO SOBRE DOR zir a dor em 30 a 50%. Utilizando-se desta modali-
Os pais e os profissionais de saúde carregam ain- dade de tratamento, a necessidade de tratamento
da conceitos errados sobre dor. Ao mesmo tempo, farmacológico pode ser reduzida em muitos casos2.
as crianças se encontram relutantes a falar sobre
sua dor, na maior parte das vezes por desconfor- TÉCNICAS FARMACOLÓGICAS
to, vergonha ou até mesmo medo de ser necessária A escada da OMS para o tratamento de dor em
uma injeção para tratamento22. Ou seja, ameaçar crianças21 é diferente da utilizada para os adultos Figura 2: Efeito potencializador da combinação de técnicas para analgesia em crianças.
uma “injeção” se a criança não se “comportar” é um (figura 1). O primeiro degrau consiste basicamen-
conceito que apenas intensifica a cultura do medo te em analgésicos simples e anti-inflamatórios não
quando o assunto é o cuidado da dor. esteroidais (paracetamol e ibuprofeno, pelas restri-
É essencial que os preconceitos sobre o trata- ções do uso de dipirona em determinados países).
mento da dor de crianças sejam desmistificados Ao contrário dos adultos, em que há um degrau in-
para toda a família e equipe de saúde. O treinamen- termediário com opioides fracos a moderados, em
to da equipe hospitalar é extremamente importante, crianças há apenas o segundo degrau, no qual se
pois ela pode compartilhar exatamente as mesmas usam opioides fortes, como a morfina.
dúvidas que os pais, impedindo que a equipe evite a É essencial que a escada analgésica de dor seja
medicação por motivos infundados23. Por outro lado, seguida. Os medicamentos agem de forma sinérgi-
fora do ambiente hospitalar, a intervenção com me- ca, potencializando seus efeitos, quando combina-
lhores resultados é a orientação dos pais sobre horá- dos (figura 2).
rios definidos para o uso da medicação3. Os princípios básicos da escada permanecem.
Deve-se subir os degraus na dor crônica e descer
TÉCNICAS NÃO FARMACOLÓGICAS na dor aguda. Deve-se estimar a intensidade da dor
As técnicas não farmacológicas (tabela 1) são (fraca a moderada ou moderada a forte) para se de-
extremamente efetivas em crianças, podendo redu- finir em qual degrau iniciar a analgesia.

Tabela 1: Técnicas ambientais, comportamentais e estratégias no tratamento não farmacológico da dor.

AMBIENTE COMPORTAMENTAIS ESTRATÉGIAS PATERNAS


Ambiente calmo Distração Contato (abraçar, segurar, tocar)
Por exemplo: em uma criança submetida a hemie- É sempre interessante deixar uma dose de res-
Presença dos pais Soluções adocicadas em bebês Confortar
pifisiodese, ou a uma redução simples de fratura com gate de medicação, que servirá para avaliar, tam-
Permitir itens de conforto Contrairritação (frio, pressão, vibração) Ficar junto
imobilização ou fixação com haste flexível de titânio, bém, a necessidade de aumento da dose da medi-
Respiração profunda Auxílio com atividades diárias
geralmente analgesia simples e anti-inflamatórios cação de base (uso de resgate quatro ou mais vezes
Evitar reasseguramento, desculpas (o tratamen- Conforto do ambiente (temperatura,
não esteroidais é suficiente. Por outro lado, uma ci- por dia é um indicativo de que a medicação tem de
to é necessário para ele) ou criticismo (como: luz, barulho, objetos de conforto)
rurgia de maior porte, como uma placa de fêmur pro- ser revista) ou até mesmo de diminuição (não ser
“Pare de chorar!” ou “Criança grande não cho-
ximal ou uma osteotomia acetabular por displasia do usada a medicação de resgate é um indicativo de
ra!” ou ainda “Que feio, ficar chorando assim!” e
quadril, mesmo que imobilizado após, provavelmen- que talvez seja possível descer um degrau, ou dimi-
suas variações)
te necessitará de analgesia com opioide associado. nuir a dose do opioide).
372 DOR EM CRIANÇA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 373

Alguns medicamentos disponíveis e suas doses tipos de artrites. Podem ocorrer diversos efeitos co- aumento de dose deve ser feito paulatinamente e Pré-operatório:
são apresentados na tabela 2 12,21,24. laterais, como lesão renal e outros sintomas gástri- com acompanhamento adequado. Começa no agendamento da cirurgia. Explicar o
cos, mas, com monitorização e cuidado, são raros O opioide de primeira linha é morfina, não ha- que será feito, tanto para os adultos, quanto, prin-
Analgésicos simples: em crianças26,27. vendo dados que permitam indicar outro como de cipalmente, para a criança, é essencial para que
Dipirona e paracetamol. Há muita celeuma so- primeira escolha28. Entretanto, isso não significa todos tenham tranquilidade com o procedimento
bre o uso de dipirona em outros países, pelo risco de Opioides: que outro opioide liberado para uso pediátrico não que será realizado. A ansiedade do procedimento
agranulocitose (que tem uma incidência tão baixa Para faixa etária pediátrica recomenda-se o uso possa ser usado, a depender do que o médico en- se deve principalmente pela falta de conhecimen-
quanto um caso a cada meio milhão de pessoas)26, de opioides fortes em doses menores, ao invés do tende como melhor ao seu paciente. tos sobre este e se relaciona positivamente com a
algo que não se sustenta na população heterogênea uso de opioides como o tramadol e codeína. As con- Não é feita de rotina a troca de opioides, deven- dor pós-operatória30,31.
do Brasil. Dipirona apresenta uma analgesia, de fato, tra-indicações do uso dos opioides fracos ocorrem do ser feita somente quando os efeitos colaterais se Bonecos e imagens podem auxiliar a criança
superior a do paracetamol, que vem sendo cada vez devido ao risco relacionado ao metabolismo destes tornam problemáticos ou quando há sinais de tole- para que compreenda o que será feito; em deter-
menos indicado em patologias ortopédicas. fármacos, especialmente nos lactentes e pelo baixo rância ou hiperalgesia. minadas instituições, é possível que se reproduza a
conhecimento da farmacocinética e farmacodinâ- cirurgia em pequenos bonecos.
Anti-inflamatórios não esteroidais: mica nas diversas faixas etárias. A dose dos opioides Combinação de medicamentos: Intervenções ambulatoriais de hospital-dia,
Anti-inflamatórios são utilizados como poten- necessária para tratar a dor varia individualmente É preferível combinar medicamentos com efei- como tenotomia percutânea ou retirada de fios,
cializadores na analgesia e tratam determinados entre cada paciente. Em ambiente ambulatorial, o tos sinérgicos, potencializando a analgesia e dimi- podem se beneficiar de medicação analgésica uma
nuindo os efeitos colaterais. Um ótimo exemplo é a hora antes do procedimento.
Tabela 2: Medicamentos para analgesia em crianças. associação de dipirona e morfina, pois essas medi- A forma de entrar no centro cirúrgico também é
cações são sinérgicas se usadas em conjunto. importante. Ir acompanhada de um dos pais até a
MEDICAÇÃO DOSE OBSERVAÇÕES sedação traz muita tranquilidade à criança; ao mes-
Medicamentos adjuvantes: mo tempo, técnicas lúdicas, como ter o teto pinta-
Analgésicos
Medicamentos adjuvantes, como corticoides, an- do com figuras, ou o uso de carrinhos de controle
Dipirona 15 a 25 mg/kg, até 6/6h A partir de 3 meses de idade tidepressivos e anticonvulsivantes, para o tratamen- remoto, entre outros, ajudam a diminuir a ansieda-
Paracetamol Neonatos: 5-10 mg/Kg cada 6 ou 8 horas Liberado desde o nascimento. Até 4g to da dor são utilizados em casos específicos e de- de do procedimento.
30 dias- 3 meses: 10 mg/Kg cada 6 horas por dia vem ser avaliados por um profissional especializado
Intraoperatório:
3 meses-12 anos: 15mg/kg, até 6/6h quanto à sua necessidade. O uso dessas medicações
A combinação de bloqueios à medicação utili-
necessita ser bem indicado e com acompanhamento
Anti-inflamatórios não hormonais zada para anestesia é muito benéfica para crianças,
regular pelo médico que fez tal prescrição12,21.
Ibuprofeno 5-10 mg/kg, até 6/6h A partir de 3 meses de idade, pela reduzindo a necessidade de medicações para o pós-
Organização Mundial de Saúde (OMS) e -operatório imediato32,33.
No Pronto-Socorro
acima de 6 meses de idade no Brasil Ademais, a infiltração com anestésico local nas
Não se deve negligenciar o tratamento da dor no
incisões cirúrgicas também ajuda a diminuir a dor.
Cetoprofeno 0,5-1mg/kg, até 8/8h Após 6 meses departamento de emergência. Especialmente em
fraturas desviadas, que necessitarão de redução in- Pós-operatório:
Naproxeno 5 mg/kg/dia, dividido de 12/12hs Após 2 ano de idade
cruenta, é recomendada analgesia compatível com Como descrito anteriormente, a medicação
Opioides a dor da criança (o uso inclusive de opioides antes para o pós-operatório deve se adequar à dor espe-
Tramadol 1-2mg/kg, até de 6/6h. Dose inicial máxima de 50 mg por dose. da redução é indicado). Há controvérsias sobre a rada pelo procedimento. Alguns cuidados devem
Dose máxima: 400mg/dia eficácia da anestesia do foco de fratura, entretanto, ser tomados2,34,35.
Não usar para crianças menores de 12 uma meta-análise recente29 mostrou que a infiltra- Transportar a criança de volta para seu quarto
anos ção do foco promove um resultado analgésico efe- (o local seguro) o mais rápido possível.
tivo para a redução em fraturas do rádio distal em Iniciar a analgesia o mais breve possível (a ab-
Morfina Via Oral: A dose endovenosa é diferente da via
adultos e crianças. sorção no pós-operatório diminui consideravel-
Neonato: 25-50 mcg/Kg cada 6 horas oral. Cuidado em pacientes com
Tanto para suturas, quanto para infiltrações, é mente, levando até 5 vezes mais tempo para atingir
1 a 2 meses: 50 mcg/kg a cada 4 horas, insuficiência renal ou hepática
importante lembrar as doses seguras para o uso de a concentração adequada).
3-5 meses: 50-100 mcg/Kg cada 4 horas
anestésicos locais (tabela 3)4. Deixar medicação de horário e não sob demanda.
6-11 meses: 100-200 mcg/Kg a cada 4
Questionar frequentemente sobre a dor para a
horas
No Centro Cirúrgico criança, mesmo que ela não reclame, para evitar a
1 ano-11 anos:
O procedimento cirúrgico é composto por 3 es- submedicação (lembre que as crianças podem evi-
200-300 mcg/Kg a cada 4 horas
tágios passíveis de intervenção: tar falar por medo).
374 DOR EM CRIANÇA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 375

Preparando para a alta hospitalar No seguimento ambulatorial 8. Fitzgerald M, Koltzenburg M. The Functional Deve- 2003;7:203-11.
Na alta hospitalar, é essencial manter o mesmo No geral, para o tratamento ortopédico da dor, lopment Of Descending Inhibitory Pathways In The 23. Heinrich M, Mechea A, Hoffmann F. Improving Posto-
Dorsolateral Funiculus Of The Newborn Rat Spinal perative Pain Management In Children By Providing
regime de medicações que estava sendo feito no não é necessário utilizar medicamentos por muito
Cord. Brain Res 1986;389:261-70. Regular Training And An Updrated Pain Therapy Con-
hospital e nunca pular os degraus da OMS (é co- tempo. A imobilização garante uma grande e rá- 9. Goksan S, Hartley C, Emery F, Cockrill N, Poo- cept. Eur J Pain. 2016;20:586-93.
mum prescreverem, por exemplo, apenas tramadol pida analgesia, e a maioria dos pacientes não uti- run R, Moultrie F, et al. Fmri Reveals Neural Acti- 24. Archanjo C, Carlos DC, Zoboli I, Barbosa SMM. Bulário.
isoladamente, sem analgésico simples e anti-infla- liza analgésicos por mais do que dois a três dias. vity Overlap Between Adult And Infant Pain. Elife In: Barbosa SMM, Zoboli I, Iglesias SBO. Cuidados palia-
matório). Se estava sendo utilizado um opioide, de- Ao mesmo tempo, para o pós-operatório, o uso de 2015;4(E06356):1-13. tivos: na prática pediátrica. Rio de Janeio, Brasil: Athe-
ve-se prescrever um equivalente para uso em casa, medicação analgésica raramente ultrapassa uma 10. Joshi GP, Ogunnaike BO. Consequences Of Inade- neu; 2019. p.339-82. (Série Atualizações Pediátricas).
com um retorno precoce para adequar sua dose21. semana. quate Postoperative Pain Relief And Chronic Persis- 25. Mérida RL, Faus FV, Poveda GF, Garcia AJ. Agranulo-
tent Operative Pain. Anesthesiol Clin Noth America. cytosis From Metamizole: A Potential Problem For The
Ao mesmo tempo, deixar medicações de horário De qualquer forma, cuidados devem ser toma-
2005;23:21-36. British Propulation. Rev Clin Esp. 2009 Apr;209(4):176-9.
garante uma analgesia mais efetiva do que deixar dos com relação ao seguimento e ao controle de 11. Flynn JM, Skaggs DL, Waters PM (Ed). Rockwood And 26. Carbone C, Rende P, Comertiati P, Carnovale D, Mammi
medicações sob demanda para os pais (a criança medicações. Uso excessivo de medicação de resga- Wilkin’s Fractures In Children. 8th Ed. Wolters Kluwer M, Sarro G. The Safety Of Ketoprofen In Different Ages. J
demora mais para relatar dor e o tempo até o con- te chama a atenção para a necessidade de modifi- Health, Philadelphia, PA. 2015. 1787pp. Pharmacol Pharmacother. 2013 Dec;4(Suppl1):S99-S103.
trole desta é maior)21. cação das medicações de base. Ao mesmo tempo, 12. Cassidy JT, Petty RE, Laxer RM, Lindsley CB. Textbook 27. Kokki H, Tuovinen K, Hendolin H. The Effect Of
O controle da dor no pós-operatório imediato muitas vezes a própria família avisa que o opioide Of Pediatric Rheumatology, Sixth Edition. 2010: Saun- Intravenous Ketoprofen On Post-Operative Epidu-
ders Elsevier Publishing. ral Sulfentantil Analgesia In Children. Anesth Analg.
tem grande influência nos resultados a longo prazo não está sendo necessário ou que o analgésico sim-
13. Lehman PJ, Carl RL. Growing Pains. Sports Health. 1999;88(5):1036-41.
dos procedimentos. ples está sendo usado apenas uma vez por dia.
2017 Mar/Apr;9(2):132-8. 28. Kokki H, Tuovinen K, Hendolin H. Intravenous Keto-
14. Assiri A, Mahfouz AA, Awadalla NJ, Abolyazud AY,M profen And Epidural Sulfentanil Analgesia In Children
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The Most Effective Method Of Anesthesia In Reduc-
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O tratamento da dor ortopédica em crianças é e compreensão dos pais são essenciais para o tra- Health. 199 Apr;24(4):265-73. 30. Jaaniste T, Hayes B, Von Baeyer CL. Providing Chil-
multiprofissional e não se restringe unicamente tamento adequado. É essencial que a criança seja 16. Castellucci HI, Arezes PM, Viviani CA. Mismatch dren With Information About Forthcoming Procedures:
ao uso de medicações. Uma boa avaliação, o uso levada em conta, sendo orientada sobre tudo o que Between Classroom Furniture And Anthropometric A Review And Synthesis. Clinical Psychology: Science
de técnicas não farmacológicas e a participação está ocorrendo e ouvida durante o seu tratamento. Measures In Chilean Schools. Appl Ergon. 2010 And Practice. 2007;14:124-43.
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376 DOR EM CRIANÇA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 377

CAPÍTULO 32

Dor em atleta
André Pedrinelli
Rodrigo Campos Pace Lasmar
Carlos Dorilêo

Introdução
A dor aguda é uma experiência desagradável e te por mais do que 6 semanas uma investigação no
emocional sentida no corpo que nos motiva para que pode estar influenciando esse quadro clínico
fazer algo para que ela cesse1. Esse dispositivo de deve ser realizada em conjunto com todos da Co-
proteção, muito comum entre os(as) atletas de eli- missão Técnica, pois a causa da perpetuação da dor
te é frequentemente associada com lesões esporti- pode não ser decorrente exclusivamente da lesão,
vas2. A dor não deve ser considerada sinônimo de e sim associada a aspectos “extra-campo”, sociais,
lesão, pode ocorrer dor sem lesão, e lesão sem dor3. familiares ou psicológicos2.
A dor pode ser considerada aguda (até 6 sema- Em 1965, Melzack-Wall publicaram a teoria do
nas), subaguda (6 a 12 semanas) ou crônica (mais portão, mostrando que a informação aferente dos
que 3 meses). Quando a dor em um(a) atleta persis- estímulos dolorosos é modulada no corno dorsal da
378 DOR EM ATLETA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 379

medula e nos níveis supra-segmentais. Desta ma- A tolerância à dor dos(as) atletas é diferente, uma vez que Atleta paralímpico, Os principais exemplos de dor referida são:

acervo pessoal autores


neira, circuitos descendentes do Sistema Nervoso convivem frequentemente com várias situações, e muitas dor neuropática - 1. Dor radicular – é uma dor neuropática que apre-
Central são capazes de controlar os estímulos dolo- vezes são condicionados(as) a superá-las lesão neurológica senta-se em um dermátomo e é decorrente de
rosos4. Força mental, resiliência, comprometimen- traumática compressão ou irritação de uma raiz nervosa.

acervo pessoal autores


to, espírito guerreiro, diversas são as expressões 2. Dor somática – ocorre devido uma amplificação
utilizadas no meio esportivo para denominar a ca- (sensibilização central) dos estímulos nocicep-
pacidade, intuitiva ou desenvolvida por estratégias tivos que pode ocorrer em diferentes áreas do
biopsicossociais, que os(as) atletas possuem para sistema nervoso central - (Corno posterior da
modular e suportar a dor. medula espinhal, Tálamo ou Insula). Em atle-
tas, são as dores decorrentes de pontos gatilhos
(trigger points) miofasciais e das articulações1.

Uma das entidades que podem cursar com dor Figura 4: Pós-operatório lesão multiligamentar joelho
crônica é a Distrofia Simpático Reflexa (DSR) ou – Imobilização, lesão grave, cirurgia prolongada, longo
Síndrome Complexa de Dor Regional (SCDR). A tempo de recuperação, medo e ansiedade do atleta com
principal etiologia de dor crônica é o trauma es- relação ao seu Retorno ao Esporte – Fatores de risco para
portivo em si (entorses, fraturas), porém, o trata- dor crônica e SCDR
mento para essas lesões, tanto clínico (imobiliza-

acervo pessoal autores


Epidemiologia da dor
ção) como cirúrgico, também podem resultar em
dor crônica9.
A dor referida é a principal evidência que a dor
As queixas de dor só são superadas pelo res- sões musculares. A cada temporada, em média, um é criada e regulada no cérebro, e não nos tecidos,
friado comum entre os motivos pelos quais um(a) jogador apresentou 0.6 lesão muscular e é esperada pois a interpretação da dor pelo(a) paciente, não
paciente procura um(a) médico(a) de atendimento uma incidência de 15 lesões musculares por ano a coincide com o estímulo nociceptivo inicial1.
primário nos EUA4. No mundo, estima-se que 80% cada time de 25 jogadores7.
das consultas médicas ocorram devido à dor5. Um estudo epidemiológico envolvendo 1114
A dor muscular é uma das principais queixas atletas de elite realizado no departamento de Me-
clínicas e de afastamento do esporte6. No futebol dicina do Esporte da Universidade de Ruhr em
profissional europeu, a incidência de lesões mus- conjunto com a Confederação de Esportes Olímpi-

Semiologia
culares é de 31% dentre as causas de lesão. Em es- cos Alemã, foi evidenciado que a lombalgia é uma
tudo epidemiológico, ao longo de 8 anos, com 24 queixa comum nesses atletas, com prevalência ao
times da UEFA, Ekstrand et al. registraram 2908 le- longo da vida de 88,5%8.

O diagnóstico da dor nociceptiva é clinico, pois os

acervo pessoal autores


sinais decorrentes do processo inflamatório do trauma
esportivo (edema, equimose, derrame articular) podem ser

Principais etiologias
visualizados na inspeção e examinados com a palpação
durante o exame físico. É possível diagnosticar a causa da
dor decorrente do entorse de tornozelo, uma das lesões
A origem da dor no(a) atleta pode ou não es- Pós-operatório, mais prevalentes no esporte. Todo atleta com dor deve ser
acervo pessoal autores

tar relacionada com lesão. Tanto a dor como a le- cirurgia do joelho avaliado e monitorado com relação à escala de dor (0 a 10)
são interferem na performance dos(as) atletas2. A dor nociceptiva –
dor relacionada à lesão esportiva (originada pela lesão de menisco
destruição tecidual e/ou inflamação decorrente
do trauma esportivo) é a dor nociceptiva2. A dor
neuropática é a que ocorre por uma lesão primá-
ria, disfunção ou por doenças do sistema nervoso
somatossensitivo2.
380 DOR EM ATLETA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 381

Exames complementares
A dor neuropática no esporte pode ocorrer 3. Qual o perfil psicológico do(a) atleta? Sua auto-
como uma complicação de procedimento cirúrgico confiança e autoestima?;
ortopédico ou de traumas no nervo periférico, raí- 4. O nível de motivação do(a) atleta; contexto do
zes nervosas ou medula espinhal. O diagnóstico da time na temporada, do(a) atleta em relação ao Em situações nas quais a lesão não é identifica- que 70% das lesões de isquiotibiais identificadas
causa da dor neuropática demanda uma rigorosa time, tempo de contrato vigente; da clinicamente pela anamnese e exame físico, o(a) clinicamente em jogadores de futebol profissional
avaliação clínica, e é confirmado por exames com- 5. O grau de ansiedade e as expectivas do(a) atleta.9 médico(a) deve solicitar exames complementares não apresentaram ruptura tecidual na ressonância
plementares. Através de uma detalhada anamnese Os principais sinais e sintomas da SCDR são al- para diagnosticar lesões que possam propiciar a magnética.6 A dor muscular tardia ou relacionada
questionando a localização, intensidade, carac- terações do sistema nervoso autônomo (alterações dor. No entanto, em artigo publicado em 2016 no à fadiga também não é identificada nos exames de
terísticas, fatores de melhor e de piora, sintomas de cor e temperatura da pele, e anormalidades de Bristish Journal of Sports Medicine, foi constatado imagem.
associados e perfil temporal da dor é possível ela- sudorese); alterações sensoriais (dor, hiperalgesia
borar um algoritmo no qual é ou não diagnosticada e alodínea) e alterações motoras (tremor, paresia e

acervo pessoal autores


a dor neuropática3. distonia)9. Figura 5: Imagens de Lesão
A dor crônica é um desafio ao(à) médico(a) do O diagnóstico da SCDR é clínico (Critérios de Muscular de Isquiotibiais em
esporte, pois a manifestação clínica da dor pode Budapeste, 2005): Ressonância Magnética
ocorrer mesmo quando a lesão já está reabilitada. 1. Dor contínua e desproporcional ao fator desen-
No(a) atleta com hipersensibilidade à dor, em que cadeante
não é identificada lesão com destruição ou inflama- 2. Relato de pelo menos um sintoma em três das
ção tecidual, aumenta-se a suspeita clínica de uma quatro categorias (a-d) abaixo:
dor do tipo SCDR3. a. Sensitiva (hiperestesia/alodínea)
b. Vasomotora (assimetria de temperatura/al-
O trabalho em equipe da comissão técnica coesa é terações da cor da pele/assimetria da cor da
fundamental na avaliação dos aspectos psicológicos do(a) pele)
atleta, e na checagem das etapas da reabilitação, se os c. Sudorese/edema (edema/alterações da sudo-
critérios de retorno ao esporte foram preenchidos e se a rese/assimetria da sudorese)
lesão inicial está cicatrizada10 d. Motora/trofismo (relatos da diminuição da A dor neuropática é diagnosticada pela eletroneu- A biópsia do nervo pode confirmar a neuropatia, as-
amplitude de movimento/disfunção motora- romiografia, que identifica a lesão neural periférica, sim como o exame laboratorial de sangue diagnosti-
-distonia, tremor, fraqueza/alterações trófi- pela ressonância nuclear magnética que identifica ca o diabetes como causa de neuropatia11.
acervo pessoal autores

cas-pelos, unhas, pele) tanto a lesão no sistema nervoso central (isquemia A Termografia Infravermelha é um exame com
3. Deve apresentar, no momento da avaliação, pelo cerebral) como periférica (compressão neurológica). relevância crescente na medicina do esporte:
menos um sinal em pelo menos duas das quatro
categorias (a-d) abaixo:

colaboração Fisioterapeuta Kleber Barbão


a. Sensitiva (hiperestesia/alodínea)
b. Vasomotora (assimetria de temperatura/al-
terações da cor da pele/assimetria da cor da
pele)

acervo dos autores


c. Sudorese/edema (edema/alterações da sudo-
rese/assimetria da sudorese)
d. Motora/trofismo (relatos da diminuição da
amplitude de movimento/disfunção motora-
-distonia, tremor, fraqueza/alterações trófi-
A anamnese do(a) atleta com dor crônica deve cas-pelos, unhas, pele)
conter as seguintes informações: 4. Ausência de outro diagnóstico que justifique
1. Qual o nível de dor atual do(a) atleta (escala nu- melhor os sinais e sintomas
mérica); A presença das quatro categorias de sintomas É um exame feito com um dispositivo portátil, Demais exames complementares devem ser rea-
2. Histórico de lesões; existiu um evento nocicep- clínicos e duas das quatro categorias dos sinais físi- que pode ser feito na beira da quadra ou nas de- lizados na vigência de SCDR para descartar patolo-
tivo ou de imobilização? qual fase da carreira cos da doença demonstram a melhor acurácia (80% pendências do departamento médico, que mostra gias sistêmicas (neoplasias e doenças inflamatórias)
o(a) atleta se encontra (início, ápice, fim da car- para SCDR e 90% para não SCDR), apresentado 0,7 em tempo real a termorregulação do segmento cor- e vasculares quando os sinais e sintomas indicarem
reira)?; de sensibilidade e 0,94 de especificidade9. póreo avaliado9. tais diagnósticos diferenciais9. Exames de ima-
382 DOR EM ATLETA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 383

Tratamento clínico
gem (Radiografia, Tomografia Computadorizada e tido9. A cintilografia pode apresentar diminuição
Ressonância Magnética) não são específicos para ou aumento da perfusão tecidual no local afetado
o diagnóstico da SCDR, mas indicam alterações de acordo com o momento de evolução da doença,
teciduais como a osteopenia e desmineralização mostrando-se, portanto, um exame com boa indi- A terapia da dor no esporte deve englobar uma Apesar de muito utilizadas no meio esportivo,
óssea subcondral no segmento corpóreo acome- cação para indicar ausência desse tipo de dor9. avaliação cognitiva-comportamental para identi- (em pesquisa realizada nos jogos Olímpicos do
ficar o contexto do(a) atleta e os fatores externos, Rio de Janeiro, 75% dos médicos prescreveram as
associada com modalidades de terapia físicas, far- modalidades físicas no controle da dor, os estudos
macológicas e psicológicas4. mais recentes mostram que muitas modalidades da
A educação do(a) atleta a respeito do papel do fisioterapia não apresentam evidência científica de

Características do comportamento da dor


sistema nervoso central na manifestação clínica eficácia consistente na melhora da dor decorrente
da dor é essencial para a aderência às abordagens de lesão musculoesquelética2.

nesse perfil de pacientes


biopsicossociais do tratamento clínico2. A melhora 3. Exercícios e movimento – possuem evidência de
da dor é dependente do estado psicológico, e essa melhora da dor2.
informação deve ser passada de uma forma clara 4. Adequação do sono e nutrição – restrição de
Wilber Fordyce, na Universidade de Washing- na performance esportiva (um trauma no joelho aos(as) atletas. sono decresce o limiar de dor2.
ton, demonstrou que o estado psicológico e os fa- em um(a) jogador(a) de futebol preocupa muito Na busca de uma abordagem padronizada e 5. Cirurgia – indicada quando um distúrbio estru-
tores externos ao(a) paciente eram frequentemente mais que um trauma no ombro), titularidade (em baseada em evidências, o Comitê Olímpico Inter- tural é associado à dor2.
os responsáveis pela perpetuação dos comporta- esportes de equipe), possibilidade de exclusão do nacional (COI) reuniu em 2017 um grupo de espe-
mentos dolorosos crônicos.4 Para definirmos o com- time, situação social e contratual com a equipe e/ cialistas para realizar uma avaliação das evidências Figura 6: Cinesioterapia na terapia da dor - exercícios de
portamento da dor nos(as) atletas, faz-se necessário ou patrocinadores são alguns dos aspectos que científicas e práticas e gerar um consenso na abor- propriocepção e fortalecimento de membros inferiores.
definirmos os conceitos relacionados com a dor: podem perpetuar ou não um comportamento do- dagem da dor no esporte. As principais diretrizes O exercício pode liberar opioides endógenos, citocinas
Nocicepção – é a identificação, a transmissão e loroso. A relação do(a) atleta com a dor (medo da resultantes desse consenso foram: anti-inflamatórias e ativar vias de inibição de nocicepção.
o processamento de estímulos térmicos, químicos dor, de uma recidiva da lesão ou de não recuperar 1. A prescrição medicamentosa é uma das moda- Exercícios isométricos podem promover inibição de dor
ou mecânicos (lesão tissular). Essa identificação a performance esportiva pré-lesão) e a experiência lidades terapêuticas na manejo da dor crônica, intracortical2
ocorre nos nociceptores, é transmitida para o cor- individual em ficar afastado(a) dos treinos e com- a associação de medidas não farmacológicas
no dorsal, e é considerada um “rede de vigilância” petições também colaboram na manifestação clíni- adequadas limita a perda funcional e otimiza a

acervo pessoal autores


presente em todos os tecidos do corpo (menos no ca desse comportamento12. reabilitação2.
cérebro)1,4. A lombalgia apresenta um comportamento de 2. O uso de medicamentos deve ser feito pelo me-
Dor – é a manifestação clínica que ocorre no en- gráfico em forma de U com relação à atividade fí- nor período de tempo possível, sempre tendo os
céfalo e na medula espinhal geralmente em respos- sica: é mais prevalente nos(as) sedentários(as) e cuidados com relação aos efeitos colaterais, ao
ta à nocicepção. Esse quadro clínico pode ocorrer nos(as) atletas que exageram nos treinos e com- controle antidopagem e a lista de medicamen-
sem um estímulo nociceptivo. Os principais exem- petições e sofrem “overtraining”. Muitos estudos tos proibidos, especialmente no uso de analgé-
plos de dor sem estímulos nociceptivos são: Dor no evidenciam que tanto muita como pouca atividade sicos2.
membro fantasma, neuralgia do trigêmeo, nevral- física propiciam a dor lombar8. 3. Não se deve prescrever medicações para atletas
gia pós herpética e a síndrome complexa dolorosa Uma das lesões mais prevalentes no esporte, visando à prevenção de dor ou de lesões2.
regional4. entorse do tornozelo, é um exemplo de como os
Sofrimento – é uma resposta afetiva negativa estímulos aferentes da dor podem ser modulados As principais medidas não farmacológicas pre-
gerada no encéfalo por dor, medo, ansiedade, es- pelo sistema nervoso central. Na fase aguda, é de- conizadas no consenso para o controle de dor são:
tresse, perda de entes amados e por outros esta- sencadeada uma exuberante resposta inflamatória, 1. Terapia cognitivo-comportamental - Educação e
dos psicológicos.4 Não foi definido se essa resposta com edema, derrame articular e dor intensa (os es- orientação do(a) atleta a respeito dos mecanis- Exercícios físicos para correção
afetiva negativa à dor é originada no encéfalo após tímulos nociceptivos são amplificados pelo sistema mos de dor e da importância do Estado Psicoló- de padrão de movimento e de
receber uma aferência nociceptiva proveniente do nervoso central sinalizando o potencial de gravi- gico na modulação da dor, assim como estabele- biomecânica, fortalecimento e
corno dorsal da medula, ou se é originada por cir- dade da lesão). A evolução dessa lesão cursa com cer estratégias motivacionais de relaxamento e condicionamento
cuitos na própria medula e tronco cerebral4. uma melhora significativa da dor (nova modulação de estímulo no foco na recuperação visando seu
Comportamento doloroso – é resultante do so- pelo sistema nervoso central, agora inibindo e di- retorno ao esporte2.
frimento e influenciado por antecedentes e pelo minuindo a intensidade da dor) no período de 2 se- 2. Fisioterapia: Laser, Terapia manual (liberação
ambiente.4 Estado emocional do(a) paciente, idade, manas, ainda que não tenha ocorrido a cicatrização de pontos-gatilho miofasciais), Ultrasom, TENS,
lesões prévias, importância do segmento corpóreo das estruturas lesadas12. Crioterapia e Acupuntura.
384 DOR EM ATLETA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 385

A dor aguda decorrente de trauma esportivo I – Ice (gelo = crioterapia); preconizam a prescrição de medicações como an- nas medicações anticonvulsivantes, os efeitos
deve ser tratada inicialmente utilizando-se o proto- C – Compression (compressão para controle de ticonvulsivantes (Gabapentina e Pregabalina), anti- mais comuns são náuseas, sintomas relacionados
colo com a sigla em inglês POLICE: reação inflamatória, derrame articular e edema); depressivos - Inibidores da recaptação de Serotoni- ao Sistema nervoso central (sonolência, tontura e
P – Protection (proteção = imobilização); E – Elevation (elevação do membro para contro- na e Noradrenalina (Duloxetina e Venlafaxina) ou ataxia) e alterações hematológicas (sangramento
OL – Optimal Load (é a carga ideal – respeitando le de edema)13. Tricíclicos (Amitriptilina e Nortriptilina) e Analgé- anormal). Os efeitos colaterais das medicações an-
as restrições decorrentes da lesão, iniciar carga o sicos opioides (Tramadol)2,20. tidepressivas são: boca seca, sonolência, cefaleia,
mais cedo possível, sempre com a dor como limite); Qualquer medicação pode alterar a performan- sedação, arritmias, dificuldade de micção e cons-
ce esportiva em decorrência dos efeitos colaterais, tipação4.

Figura 1: Crioterapia tópica


com spray de gelo

colaboração Fisioterapeuta Kleber Barbão


Principais condições de dor que aparecem
Figura 2: Crioterapia
compressiva com dispositivo

durante o treino e durante a competição


Gameready (marca

acervo dos autores


registrada)

Um grande desafio ao(à) médico(a) do esporte é Distúrbio Muscular Funcional – queixa muito prevalente
a dor muscular, pois pode ser um sintoma relacio- no departamento médico das equipes esportivas e que
nado à lesão muscular, à fadiga ou uma resposta ao provoca perda de performance esportiva. A inclusão na
exercício intenso. Visando otimizar o diagnóstico classificação de lesões musculares desse tipo de lesão, que
O tratamento farmacológico da dor aguda no es- O uso de anti-inflamatórios não é preconizado e a conduta nas lesões musculares, em 2013, pes- não é diagnosticada nos exames de imagem, é fundamental
porte (leve a moderada), segundo as diretrizes do na terapia da dor de origem muscular, pois a ini- quisadores e médicos de seleções nacionais e times para o sucesso terapêutico do(a) atleta com dor muscular.21
consenso do COI deve ser: bição da inflamação, importante etapa da cicatri- profissionais de primeira divisão se reuniram e rea-
1. Analgésicos administrados por via oral (Parace- zação muscular, prejudica a regeneração muscu- lizaram o “Consenso de Munique”. Como resultado
tamol – dose de ataque de 2 gramas, seguida de lar18,19. desse encontro, foi criada uma nova classificação
325-1000 mg de 6/6 h). A escada analgésica de dor da Organização Mun- de lesão muscular21.
2. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) ad- dial de Saúde (OMS), lançada em 1986 para o trata- A grande mudança dessa classificação em rela-
ção à antiga foi a definição da terminologia “lesão

colaboração Fisioterapeuta Kleber Barbão


ministrados por via oral:Ibuprofeno - 400-800 mento de dor oncológica, preconiza o uso de AINES
mg 4-6 h; (na refeição) associados com analgésicos comuns (Dipirona ou muscular funcional”, ou distúrbio muscular funcio-
Naproxeno - 250-500 mg 12/12 h; (na refeição) Paracetamol) nos casos de dor leve (primeiro de- nal (Functional Muscle Disorders, em inglês), cate-
Cetorolaco - 100 mg 4-6 h; (na refeição) grau). Em dores leve a moderadas a OMS preconiza goria que enquadra na nova classificação os casos
Celecoxib - 200-400 mg 12/12 hs “subir um degrau na escada” e introduzir um opioi- nos quais o(a) atleta relata dor, clinicamente apre-

acervo dos autores


Etoricoxib - 90-120 mg 1x ao dia de fraco (Tramadol ou Codeína20. Por outro lado, o senta perda funcional no membro acometido, mas
3. Analgésicos tópicos (pomada e spray). consenso do COI afirma que “não existe evidência os exames de imagem (ultrassonografia e ressonân-
Em dores mais severas, é preconizado o uso de convincente mostrando que o uso de Tramadol e cia magnética) não identificam evidência macros-
anti-inflamatórios injetáveis: Cetorolaco - 15-30 mg Codeína promovam um alívio da dor superior aos cópica de lesão muscular (dano estrutural)21.
IM até 4x ao dia, ou em dose única 60 mg IM. anti-inflamatórios não esteroidais”2. Nos pacientes Já a dor muscular tardia, que se manifesta de 12
Duas medicações que na prática da medicina com doenças graves e dor refratária às medicações a 48 horas após o exercício, demanda uma maior
do esporte são muito utilizadas no Brasil e não utilizadas no segundo degrau, a OMS preconiza o abordagem terapêutica: tratamento medicamento- de Devries e a cascata inflamatória resultante das
constam no Consenso do COI são a Dipirona e a terceiro degrau: opioides fortes - Morfina, Metado- so com analgésicos e relaxantes musculares, correta lesões microscópicas de fibras musculares e tecidos
Ciclobenzaprina. A primeira não tem o seu uso re- na, Oxicodona, Hidromorfona, Fentanila trandér- hidratação, nutrição e as modalidades de ”recovery” conjuntivos adjacentes que ocorrem durante trei-
gularizado em diversos países devido ao risco de mica e a Buprenorfina transdérmica, substâncias ativo e passivo são responsáveis pela prevenção e nos mais intensos e nas competições22.
agranulocitose14,15. O relaxantes musculares apre- presentes na lista de medicamentos proibidos em tratamento desse tipo de dor. Por muito tempo, foi O aumento de volume e intensidade dos treinos,
sentam como efeito colateral sonolência, que pode competição – S7 - da Agência Mundial Antidoping creditado ao acúmulo de ácido lático intramuscular com movimentos repetitivos e sobrecarga mecânica
provocar perda de performance, e apresentam pou- (WADA, sigla em inglês)20. decorrente da prática esportiva como a causa da dor é um fator de risco para a lombalgia, existindo uma
cas evidências com estatística significante em di- Em pacientes com dor neuropática e com dor muscular tardia. Outras hipóteses de causas para correlação significante entre o volume semanal de
versos estudos comparados com placebo16,17. crônica, tanto a OMS como o consenso do COI a dor muscular tardia são a teoria da dor-espasmo horas de treino e a prevalência de lombalgia nos(as)
386 DOR EM ATLETA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 387

atletas8. Também é observada uma associação direta As modalidades de Recovery podem prevenir e também A educação continuada dos (as) atletas e fami- analítico acima de 30 ng/ml como analítico ad-
entre lesões musculares e o tempo das partidas nos auxiliar no tratamento desse tipo de dor: liares sobre a necessidade de sempre consultar o(a) verso para urina;
jogadores de futebol profissional da UEFA7. 1. Recuperação ativa médico(a) do time antes de utilizar qualquer me- 4. Qualquer valor encontrado e reportado como
2. Terapia manual dicação, suplemento, bebida ou alimento é funda- valor de excreção renal acima de 30 desde que o
A dor muscular que ocorre imediatamente após os treinos 3. Alongamento mental, e deve-se ter cuidado com a procedência e nível sérico de corticoide não ultrapasse 30 ng/
ou competições é decorrente da fadiga, da isquemia 4. Estimulação elétrica neuromuscular a qualidade desses produtos, pois são crescentes os ml para glicocorticoides será considerado um
muscular e do acúmulo de metabólicos resultante dos 5. Imersão em água relatos de contaminação cruzada com substâncias informe analítico adverso e será encaminhado
mecanismos de contração muscular. Esse tipo de dor 6. Compressão proibidas nas etapas de produção, principalmente para gestão de resultados na amostra sanguínea.
apresenta boa resposta com medidas simples, como uma 7. Crioterapia de medicamentos e suplementos manipulados24. 5. Na gestão de resultados, serão avaliados dados
correta periodização e o estabelecimento de um repouso 8. Sono Uma situação que pode fugir do controle do(a) do prontuário, exames, relatórios, dados analíti-
adequado ao(a) atleta22 9. Nutrição/suplementação23 médico(a) de equipe é atendimento do(a) atleta no cos da amostra, entre outros.
hospitalar. O(A) atleta e seu (sua) acompanhante 6. Depois, a denúncia pode ser arquivada ou ofere-
devem informar aos(às) médicos(as) assistentes do cida às entidades julgadoras.
hospital que o controle antidopagem é feito seguindo O uso de corticoide tópico em excessiva área
as regras da WADA e trata-se de um(a) paciente com cutânea (grandes tatuagens) pode incorrer em su-
restrições de prescrição de diversos medicamentos. perdosagem, aumento de absorção, resultando em
Deve existir a comunicação constante entre o(a) mé- uma concentração de metabólitos > 30 ng/ml e um
dico(a) de equipe e os(as) médicos(as) plantonistas Resultado Analítico Adverso24.
do hospital, principalmente se for necessária a so- Por isso, como determina o Código de Ética Mé-
licitação de Autorização de Uso Terapêutico (AUT). dica, todos os pacientes/atletas devem ter seu pron-
Medicações endovenosas como Morfina e Fentanil, tuário para que sirva como instrumento de verifi-
utilizadas em sala de emergência e centro cirúrgico cação e defesa do médico pela gestão de resultados
estão presentes está na lista de Substâncias e Mé- em caso analítico adverso24.
todos proibidos no Esporte da WADA no item 4.1.3 Rotineiramente, a cada controle antidopagem,
(Substâncias proibidas apenas em competição - S7 – o(a) atleta deve informar quais medicamentos fo-
Narcóticos)25. Os opioides fortes possuem um poten- ram ingeridos nos últimos 7 dias, fazendo-se im-
cial de graves riscos à saúde do(a) atleta, incluindo o portante à equipe médica e ao(a) atleta o controle e
seu uso em excesso durante a carreira esportiva, vi- notificação do uso desses medicamentos.
sando um retorno mais rápido ao esporte, e a adição
e seu uso recorrente mesmo após aposentar-se26,27. Medicamentos e suplementos nos exercícios e esporte
Medicações tópicas também devem ser utili- – Conselho Federal de Medicina – Câmara Técnica
zadas com muito cuidado. Cremes analgésicos de Medicina do Esporte – Dopagem e antidopagem,
e cicatrizantes utilizados para tatuagem podem orientações de responsabilidade profissional24
apresentar corticoide em sua composição. O uso
de corticoide também está na lista de Substâncias
e Métodos proibidos no Esporte da WADA no item
4.1.3: Substâncias proibidas apenas em competi-
ção: S9. Glicocorticoides: Todos os glicocorticoi-
des são proibidos quando administrados por via
oral, intravenosa, intramuscular ou retal.

Cuidados com relação ao doping 1. São proibidos em competição quando adminis-


trados por via oral, retal, endovenosa ou intra-
A lista de substâncias e métodos proibidos é di- controle antidopagem está disponível no site da muscular.
nâmica e atualizada anualmente. O(A) médico(a) WADA e da Associação Brasileira de Controle An- 2. Consequentemente, não são proibidos nas vias
que atua no esporte deve constantemente consul- tidopagem (ABCD): Site da WADA: www.wada-ama. de administração intra-articular, nasal, oftalmo-
tar a lista e orientar os(as) atletas a também fazê- org / Site da ABCD: www.abcd.org.br. lógica e cutânea. Fluxo de Autorização de Uso Terapêutico AUT
-lo. Todas as informações necessárias para um bom 3. Glicocorticoides adotam um valor considerado Analítico Adverso de Glicocorticoides
388 DOR EM ATLETA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 389

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outros aspectos relacionados à qualidade de vida, da dor2.
assim, se justifica a existência de formas específi- Nos idosos, a dor crônica é a mais comum e gera
cas de sua avaliação, mensuração e tratamento nes- inúmeras consequências graves e potencialmente
ses indivíduos1. debilitantes, aumenta a necessidade de gastos com
Enfatizando a importância da dor na aborda- os cuidados de saúde3. Assim, existe a real neces-
gem clínica dos pacientes, a Joint Comission on sidade de os profissionais de saúde adquirirem
Accreditation on Heathcare Organizations (JCAHO), conhecimentos sobre as particularidades da sua
ano 2000, classificou a dor como “quinto sinal vi- abordagem no envelhecimento.
390 DOR EM IDOSO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 391

Abordagem da dor no idoso


tram-se as escalas de descritores numéricos verbais Escala de Faces de Dor
ou visuais (quantificam a dimensão sensorial da Uma serie de faces que representam progressi-
dor), que possuem a vantagem de serem fáceis e de vamente os níveis de angustia que a dor representa
Entre os idosos, existe certa relutância em re- cluir: inspeção geral e pesquisas de posição an- rápida aplicação. Ainda, essas mostram-se fidedig- é mostrada e, então, escolhe-se a que melhor ex-
latar as dores por acharem muitas vezes que essas tálgica, deformidade, desalinhamento, atrofia, nas e viáveis para a mensuração da dor em idosos prime a dor. A escala de faces de Bieri e cols.18, foi
são inevitáveis e que são parte natural do envelhe- e distúrbio de marcha; palpação no local da dor saudáveis1,3. As melhores e preferidas escalas de me- adaptada e validada para idosos caucasianos19. E
cer. Assim, é imprescindível a busca ativa por sin- com a verificação de pontos de inflamação, es- didas unidimensionais pelos idosos são aquelas com também já foi a preferida pelos idosos afroameri-
tomas dolorosos nesses indivíduos, e ainda, neces- pasmos musculares e de gatilhos; identificação descritores verbais e com números11-15. No Brasil, um canos e asiáticos, contudo, sofrendo erros de inter-
sárias as avaliações da dor e dos seus impactos na de déficit sensorial, fraqueza, hiper ou hiporre- estudo com idosos longevos identificou que dentre pretação20.
qualidade de vida3. flexia; as várias medidas de dor unidimensionais, as esco-
A autoavaliação da dor é o “indicador mais con- • Compreender e tentar identificar o tipo de dor lhidas foram as escalas facial e a numérica verbal. Escala Numérica de Dor
fiável da sua existência e da sua intensidade”, con- presente: nociceptiva, neuropática, mista, noci- Descrever-se-á abaixo alguns instrumentos uni- Pode ser obtida verbalmente (escala numérica
tudo, Kamel e colaboradores ao estudar pacientes plastica. dimensionais de dor mais utilizados em idosos, e verbal) ou ser mostrada uma escala numérica de
idosos internados em enfermarias demonstraram serão apontas algumas de suas peculiaridades. 0-10 (escala numérica visual)17. Estima-se a dor de
que apenas a pergunta “Você sente dor? ”, não é su- AVALIAR MENSURANDO A DOR 0-10, com 0 representando “nenhuma dor” e 10 in-
ficiente na abordagem dos eventos dolorosos4. Ou É difícil manipular um problema clínico sem ter Escala Analógica Visual dicando “a pior dor imaginável”.
seja, o processo de obtenção de informações numa a medida sobre a qual basear o tratamento. Assim, É uma das mais usadas para mensurar a dor na
abordagem inicial da dor deveria ser mais amplo, em relação à dor, sugere-se, além da avaliação, a população em geral, sendo considerada sensível, Medidas multidimensionais
como por exemplo, precisando incluir as etapas ca- sua mensuração, tentando-se quantificar a expe- simples e reproduzível16. Consiste de uma linha Não avalia apenas a intensidade da dor, mas
racterizar e avaliar mensurando a dor. riência individual da sensação dolorosa8. Mensurar de 10 cm, com âncoras em ambas as extremidades também outros aspectos da experiência doloro-
a dor no início do tratamento, facilita a determina- onde são colocados os descritores verbais, “sem sa. Foram construídas para serem autoaplicadas,
CARACTERIZAÇÃO DA DOR ção da sua eficiência e a decisão de quando o mes- dor” e “dor insuportável”, onde se marca o ponto in- porém, um profissional poderá ajudar a sua com-
Envolve algumas estratégias, como:1,3,5-7 mo deve ser interrompido. dicando a magnitude da dor e uma régua de 0-100 preensão. No nosso meio, geralmente não são
• Observar a propedêutica da dor, como localiza- Um instrumento ideal para avaliar e mensurar a mm quantifica a mensuração. autoaplicadas por conta do nível educacional da
ção, início, irradiação ou distribuição, duração, dor deve atingir alguns critérios que, originalmen- população17. Os instrumentos multidimensionais
extensão, intensidade, qualidade, temporalida- te, foram propostos por Gracely e Dubner,9 e pos- Escala de Descritores Verbais ainda são poucos utilizados em idosos, apesar de
de, fatores desencadeantes, atenuantes ou agra- teriormente implementados por Price e Harkins:10 Normalmente usam de quatro a seis descritores especialmente importantes, pois podem permitir
vantes, e sintomas associados; ter propriedades de uma escala de razão; informar ou adjetivos indicando diferentes magnitudes da melhores definições de intensidade, qualidade e
• Questionar sobre as patologias pré-existentes sobre a acurácia e a fidedignidade do desempenho intensidade de dor percebida17. tipo de dor. Primeiramente, serão apresentados os
ou traumas prévios que possam estar vincula- sobre as respostas escalares geradas; ser relativa- principais instrumentos para uso em idosos hígi-
dos a dor ou a seu gerenciamento, assim como mente livre de vieses inerentes aos diferentes méto- Escala de 4 Pontos dos e sem dificuldades de comunicação.
sobre medicamentos utilizados; dos físicos; ser simples de usar tanto em pacientes 0 = NENHUMA 1 = LEVE
• Averiguar a interferência da dor nas atividades com dor e sem dor, quanto em contextos clínicos Questionário McGill de Dor (MPQ)
de vida básica e instrumental, no sono e na ali- ou de pesquisas; ser fidedigno e generalizável; e ser 2 = MODERADA 3 = SEVERA Avalia as dimensões sensoriais, afetivas e ava-
mentação; sensível às mudanças de intensidade. liativas da dor, baseando-se em palavras que o
• Analisar a dimensão psicoafetiva do paciente, Até o momento, não dispomos de um instru- Escala de Intensidade de Dor Presente (PPI) paciente seleciona para descrever sua dor20. In-
e por vezes, também, de seus familiares. A dor mento-padrão, único e exclusivo para o idoso, que 0 = NENHUMA 1 = LEVE clui um diagrama corporal para localização da
pode levar à expressão de tristeza, depressão, permita a avaliação global da dor, sendo livres de experiência dolorosa, uma escala de intensidade
2 = DESCONFORTANTE 3 = ESTRESSANTE
raiva ou ansiedade, sendo importante as rela- vieses e erros de medição, mas existem, e são esti- e 78 descritores de dor agrupados em 4 grandes
ções temporais com os quadros dolorosos; muladas, medidas para a sua avaliação e mensura- 4 = HORRÍVEL 5 = EXCRUCIANTE grupos e 20 subgrupos. Pimenta e col.21 traduzi-
• Interpretar comportamentos dos pacientes pe- ção. No Brasil, poucos instrumentos do gênero já ram e adaptaram-no para o Brasil, desenvolvendo
rante a dor, observando suas expectativas frente foram traduzidos, adaptados transculturalmente e Escala de 6 Pontos uma forma reduzida do questionário. O mesmo
ao evento doloroso e seu tratamento, e ainda, validados, considerando especificamente os indiví- já foi validado também para a população idosa,
0 = NENHUMA 1 = MUITO LEVE
detectar alterações comportamentais perante duos idosos. com boa confiabilidade entre os examinadores22.
os familiares e o meio em que vive. Em certas 2 = LEVE 3 = MODERADA Ferrel e col.23 encontraram que pacientes com
situações é comum notar-se, aqui, “ganhos se- Instrumentos unidimensionais 4 = SEVERA 5 = MUITO SEVERA problemas de comunicação como déficit auditivo
cundários”; São maneiras simples de avaliar a magnitude da e visual têm muitas dificuldades em completar o
6 = MAIS INTENSA DOR IMAGINÁVEL
• Realizar exame físico adequado, o qual deve in- intensidade dolorosa. Dentre essas medidas encon- MPQ.
392 DOR EM IDOSO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 393

Medida de Dor Geriátrica (“Geriatric Pain No estudo de Scherder e Bourna,28 foram utiliza- não traduzida e adaptada para o Brasil (já traduzida último país, é o mais utilizado por enfermeiros e,
Measure” - GPMp) das escalas análogas visuais para avaliar a dor em para o português de Portugal). ainda, considerado o mais promissor entre os ins-
Escala multidimensional desenvolvida espe- três grupos de idosos: sem demência, em estágios trumentos já propostos para a abordagem da dor
cialmente para uso em idosos. É de fácil aplica- iniciais e em estágios moderados de demência. A PATCOA (Pain Assessment Tool Confused Older na demência40. Enfermeiras que, rotineiramente,
ção e compreensão por esse grupo24. Avalia a dor escala com melhor compreensão foi a escala análo- Adults) utilizaram o PACSLAC também demonstraram um
e os seus impactos no humor, atividades de vida e, ga de cores, com 100% dos indivíduos não demen- Desenvolvido para avaliação da dor em idosos menor nível de estresse e burnout que outras que
principalmente, qualidade de vida, assim, permite tes e em estágios iniciais e 80% dos indivíduos em com confusão mental36. É de fácil compreensão e apenas preencheram checklists irrelevantes42. No
obter informações acerca dos impactos da dor na estágios intermediários da DA, conseguiram com- interpretação, sendo de aplicabilidade através de Brasil, já teve sua tradução, adaptação transcultu-
funcionalidade e na qualidade de vida. No Brasil, preendê-la. Seguida da escala de dor de faces, que observância de indicadores comportamentais. Foi ral e validação. Considerado muito importante na
já teve sua tradução, adaptação transcultural e va- foi compreendida por 100%, 60% e 30% dos indiví- traduzida e adaptada transculturalmente para a avaliação e gerenciamento da dor em idosos com
lidação24,25. duos, respectivamente. língua portuguesa brasileira, demonstrando ade- habilidade limitada de comunicação43,44.
quadas consistência interna e reprodutibilidade37.
AVALIAR MENSURANDO A DOR NO IDOSO Instrumentos multidimensionais “Analgésicos empíricos”
DEMENCIADO E/OU COM DIFICULDADE Em 2002, a American Geriatrics Society (AGS) es- PACSLAC (Pain Assessment Checklist for Seniors Estes podem auxiliar efetivamente nos casos
DE COMUNICAÇÃO tabeleceu diretrizes amplas para determinar os With Limited Ability to Communicate) duvidosos45,46. Os “ensaios analgésicos empíricos”
Frente aos idosos com dificuldades de comu- indicadores comportamentais de dor29. E esta mes- Checklist de avaliação de dor no idoso com são preconizados em caso de dúvida, e também,
nicação, a avaliação e mensuração da dor é tarefa ma sociedade também criou o “Nurses’ Pain Ma- habilidade limitada para a comunicação, criado podem ser utilizados para a confirmação de uma
complexa e que exige trabalho em conjunto17,26. nagement Task Force”,30-31 objetivando avaliar a dor especialmente para aperfeiçoar a avaliação e men- suspeita diagnóstica. Como exemplo, o estudo de
Aqui, é imperativo a revisão dos antecedentes de naqueles que não conseguem se comunicar, como suração da dor na demência avançada38,39. Original- Buffum et al47. que avaliou o impacto do paraceta-
condição dolorosa, as avaliações de comportamen- os dementes. A AGS recomenda nesses indivíduos mente validado na língua inglesa, já foi traduzido e mol como analgésico empírico, confirmando a uti-
tos sugestivos de dor e valorização dos relatos de abordagens abrangente e hierárquica, integrando validado, também, na França e Holanda40,41. Nesse lidades de tais ensaios.
familiares e cuidadores. autorrelatos e mudanças comportamentais. Abaixo
Nos pacientes com Demência de Alzheimer estarão os principais instrumentos para tais fins.
(DA), o componente sensório-discriminativo da
dor está preservado, mas o afetivo-emocional sofre PAINAD (The Pain Assessment in Advanced De-

Tratamento da dor
alterações significativas. Muitos desses indivíduos mentia Scale)
expressam a dor pelo isolamento social, confusão Originada a partir da adaptação da escala Dis-
ou apatia, ficando a cargo dos cuidadores e/ou fa- comfort Scale-Dementia of the Alzheimer’s Type (DS-
miliares tais identificações. -DAT) e da Face, Legs, Activity, Cry, Consolability A dor, por ter caráter multidimensional, deve • Educação em dor;
A demência pode afetar a habilidade de relatar (FLACC), sendo composta pelos indicadores: respi- ser tratada de forma “ampla”. No tratamento farma- • Fisioterapia com recursos eletrotermofototera-
a dor. Pacientes com alteração cognitiva leve a mo- ração, vocalização, expressão corporal e consolabi- cológico em idosos destaca-se a terapia multimo- peuticos (crioterapia, calor, TENS, ultrassom,
derada, podem autorrelatá-las, mas não está claro a lidade, cada um deles pontuando de 0 a 2 pontos, dal, a qual incide menos efeitos adversos. Deve-se radiofrequência)
partir de qual nível de comprometimento o autor- numa escala métrica de zero a dez pontos. Abrange proporcionar ao idoso a analgesia adequada para • Reabilitação;
relato é valido. apenas três dos seis indicadores comportamentais alivio do sofrimento, melhora funcional e da qua- • Tratamento por ondas de choque
de dor descritas pela Sociedade Geriátrica Ameri- lidade de vida. • Acupuntura;
Instrumentos unidimensionais cana. É de fácil aplicabilidade, requerendo menos O plano terapêutico deve ser individualizado de • Terapia cognitiva comportamental;
Um estudo realizado com idosos instituciona- de 5 minutos para seu preeenchimento32. A versão acordo com as características da dor e particulari- • Hipnose;
lizados mostrou que o uso de três escalas de ava- brasileira já teve as propriedades psicométricas de dades do idoso, anamnese geriátrica ampla desta- • Terapias de relaxamento;
liação (escala análoga visual, escala de faces e es- validade, confiabilidade e concordância interava- cando as Síndromes Geriátricas, utilizar a via de • “Autogerenciamento da dor crônica”
cala de descrição verbal) diagnosticou com maior liadores analisadas33. administração menos invasiva e a mínima dose efe-
frequência quadros de dor em comparação com a tiva para analgesia. Iniciar menor dose possível e TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
pergunta “Você sente dor?”. Já entre os portadores DOLOPLUS 2 (Douleur Chez Les Personnes Agé- ajustar uma medicação por vez, reavaliar após cada A OMS, em 1986, estabeleceu alguns princípios
de demência, houve menor relato de dor e frequên- es Non-communicantes) mudança no esquema terapêutico e monitorar efei- para o tratamento da dor oncológica, que são hoje
cia similar de diagnóstico com o uso das escalas e Consiste de 10 itens divididos em três dimensões tos adversos, interações medicamentosas e eficácia também utilizados na dor crônica de qualquer
a dicotômica pergunta “Você sente dor? ”4. Outro (reações somáticas, psicomotoras e psicossociais) da droga e associar terapias não farmacológicas48. etiologia:51 1. Por via oral ou transdérmica, se pos-
estudo mostra que metade ou pouco mais dos por- que podem potencialmente envolver dor. Esse não sível, o que permite maior grau de independência
tadores de demência são capazes de completar as representa a experiência dolorosa em um momen- TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO e conforto; 2. Pelo relógio, prescrição de doses fi-
escalas de faces e de descrição verbal26. to específico mas reflete a sua progressão34,35. Ainda Destacaremos alguns desses:49-50 xas que respeitem o tempo de ação de cada droga,
394 DOR EM IDOSO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 395

permitindo alívio constante da dor; 3. Pela inten- Viminol cada 5-7 dias, adequar para função renal e hepáti- Opioides fortes
sidade, guiando-se pela escada analgésica, porém, Tem ação analgésica parcialmente esclarecida, ca, reduzir ou suspender medicações com alta ação Morfina
atualmente com evidências para a possibilidade parece inibir os estímulos nociceptivos por ação anticolinérgicas e sempre iniciar uma medicação É uma droga eficiente e segura quando respeita-
de flexibilização da mesma; 4. Para o indivíduo, no Sistema Nervoso Central em nível subcortical, por vez48. das as recomendações para o seu uso. Não apresen-
considerando suas necessidades e permitindo atuando na inibição da percepção e elaboração Os opioides têm efeitos adversos previsíveis que ta teto posológico, sendo a dose ideal a que ofere-
controle adequado da dor com efeitos adversos mí- dos estímulos algogênicos. Induz analgesia, sem se não forem evitados ou minimizados podem di- ce o máximo de analgesia com o mínimo de efeito
nimos; 5. Com atenção aos detalhes, reavaliações interferência significativa no estado de consciên- ficultar a titulação da dose e a adesão do pacien- adverso. No idoso, iniciar com dose menor (2,5mg
frequentes, adequando o tratamento aos hábitos e cia, coordenação motora, respiratório ou cardíaco. te ao tratamento. Dentre os efeitos adversos mais a 5mg por dose) e/ou intervalo maior e ajustar até
rotinas do paciente e prevenindo efeitos colaterais Além de analgésico, tem efeito antitussígeno. frequentes em idosos, destacamos: constipação, 4 em 4 horas. Seus metabólitos são excretados no
previsíveis. sedação e sobredose, náuseas e vômitos, retenção rim, assim, dose e frequência de administração de-
A OMS, no mesmo ano, também preconizou Analgésicos anti-inflamatórios48,51-52 urinária, boca seca, sedação, tontura e tolerância. vem ser reduzidas na insuficiência renal48.
para o tratamento da dor uma “escada analgésica”, Estes são eficazes nas lesões e inflamações dos Dentre outros observam-se alterações cognitivas,
de acordo com a intensidade dolorosa:51 O primei- tecidos, em dores somáticas (linfadenomegalia, delirium, hiperalgesia, mioclonias e prurido, que- Metadona
ro degrau corresponde à dor de leve intensidade, metástase óssea ou lesão cutânea), viscerais (dis- das, alterações cardíacas, imunológicas, hormo- Droga sintética que além de agonista opioide
com pontuação 1 a 4 na Escala Numérica Verbal tensão da cápsula hepática) ou neuropáticas (com- nais, distúrbio do sono, euforia, prurido. Os mais é antagonista de receptores n-metil-D-aspartato
(EVN), onde estão os analgésicos não opioides ou pressão medular). Devem ser usados com muito temidos, como depressão respiratória e dependên- (NMDA), o que poderia justificar seu uso na dor
anti-inflamatórios; o segundo corresponde à dor critério devido à maior incidência de efeitos adver- cia são raros em idosos se prescritos adequadamen- neuropática. Menor desenvolvimento de tolerân-
moderada, com pontuação 5 a 7 na EVN, sendo sos (toxicidade cardíaca, lesão gastrointestinal, le- te. Há uma tolerância à maior parte dos efeitos ad- cia se comparado à morfina. Acumula-se no teci-
indicado os opioides fracos associados ou não aos são renal e hepática, delirium, discrasia sanguínea versos, após os primeiros dias, por isso é necessário do adiposo e tem excreção intestinal, assim é se-
medicamentos do primeiro degrau, flexibilizando dentre outros). Não são recomendados como anal- iniciar com doses menores ou intervalos maiores, guro na insuficiência hepática ou renal. Eficácia
o uso de opioides fortes em doses baixas na dor gésicos para tratamento de dor crônica em idosos redução ou suspensão de medicamentos que po- e perfil de efeitos colaterais similares à morfina,
oncológica moderada; o terceiro, dor de forte in- e se necessários, idealmente por um período cur- tencializem efeitos colaterais48, 51-53. porém, com meia vida longa (10 a 75 horas) e im-
tensidade, pontuação 8 a 10 na EVN, onde encon- to. Os anti-inflamatórios hormonais são indicados previsível. A concentração plasmática pode levar
tram-se os opioides fortes; e, mais recentemente, principalmente na analgesia em dor oncológica, Opioides fracos uma semana para estabilizar, assim, há risco de
o quarto, para a dor refratária ou eventos adversos especialmente quando presentes compressão de Codeína toxicidade gradual, iniciar dose baixa e /ou inter-
à farmacoterapia, no qual estão os procedimentos estruturas nervosas, compressão de medula espi- Derivada natural do ópio, sendo considerada valo maior54,56.
intervencionistas. Em qualquer degrau devem ser nhal e metástase óssea. Ter muita cautela no ido- pró-droga (metabolizada em morfina). Em idosos,
associados medicamentos adjuvantes. so devido a efeitos colaterais como hiperglicemia, iniciar com doses baixas, intervalo de 6 a 8 horas. Oxicodona
confusão mental, insônia, hipertensão arterial. Potente ação antitussígena. Os metabólitos são de Potência maior que a morfina cerca de 1,5 a 2
Analgésicos simples48,51-52 excreção renal, reduzir dose e/ou intervalos de ad- vezes, parece ter menor incidência de tolerância e
Paracetamol Analgésicos opioides ministração aumentados em pacientes com insufi- efeitos colaterais. Na dose de até 20mg/dia é con-
Apresenta ação analgésica e antipirética, sem São os pilares da dor moderada a forte intensi- ciência renal. Evitar naqueles com disfunção renal siderado um opioide fraco. Ajuste de dose em pa-
ação anti-inflamatória significativa. Tem mecanis- dade, podendo ser usados em todos os tipos de dor grave e insuficiência hepática moderada a grave. cientes com insuficiência renal e hepática48,53.
mo de ação pouco conhecido, porém, sugere-se (somática, visceral e neuropática), para dor aguda,
também ter ação central. É metabolizado pelo fí- crônica oncológica e não oncológica. Podem ser Tramadol Buprenorfina
gado e excretado pelos rins. Nos idosos, recomen- prescritos para compensação mais rápida do qua- Análogo sintético da codeína, com mecanismo Agonista parcial opioide, sendo utilizado por
da-se dose máxima de 2g/dia e cautela quando há dro álgico. Apresentam resposta bastante variável, de ação dual (age em receptor μ e inibe a recapta- via transdérmica (7-7 dias), assim apresenta menos
insuficiência hepática e renal. devendo sua dosagem ser cautelosamente titula- ção de serotonina e noradrenalina). Boa opção em efeitos adversos. Não precisa de ajuste de dose na
da para cada paciente. Considerar a equipotência dor neuropática. Iniciar doses baixas, intervalo de disfunção renal visto que seu metabolismo é he-
Dipirona analgésica quando houver necessidade de troca e 8 em 8 horas se de ação curta. Metabolizado pelo pático e sua excreção é biliar. Doses maiores de
Demonstra ação analgésica e antipirética, atua nunca suspender o uso  abruptamente pelo risco fígado e eliminado pelos rins, sendo necessário 40mg/d são ideais para dor crônica oncológica48,52.
no sistema nervoso central e perifericamente ini- de síndrome de abstinência. Não se deve associar reduzir sua dose e/ou prolongar seu intervalo de
bindo a cicloxigenase. Pode ser administrada por dois opioides, exceto na rotação de oral para trans- administração na insuficiência hepática ou renal Fentanil
via oral, retal, intramuscular, subcutânea e endo- dermico (fentanil e buprenorfina) ou em esquemas (paciente dialítica não ultrapassar 100mg/dia). Por Opioide sintético de ação semelhante à morfina,
venosa, sendo uma excelente opção devido à ver- de resgate com morfina se em uso de oxicodona. reduzir o limiar convulsivo, não se deve exceder a 100 vezes mais potente, opção para dor oncológi-
satilidade. Nos idosos, recomenda-se dose máxi- Para uma melhor segurança e tolerabilidade ao uso dose de 400mg em 24 horas e evitar seu uso em caso ca. Utilizado por via endovenosa e transdérmica.
ma de 4g/dia, devido principalmente à hipotensão de opioides em idosos, deve-se iniciá-los com do- de tumor cerebral ou quando presente predisposi- A absorção, em pacientes oncológicos, pode variar
transitória. ses baixas e/ou intervalos maiores, ajuste da dose a ção a crises epilépticas48, 51-53. bastante, a depender do status do paciente55. O ade-
396 DOR EM IDOSO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 397

sivo contém metal que pode ocasionar lesões por drenalina e serotonina (duloxetina 30 a 120 mg/dia 4. Kamel HK, Phalan M, Malekgoudarzi B, et al. Utilizing 21. Pimenta CAM, Teixeira MJ. Questionário de dor de Mc-
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Introdução
Os anti-inflamatórios não hormonais (AINH) pois oferecem maior segurança e tolerabilidade.
são medicações usadas rotineiramente pelos médi- Esses novos AINH foram introduzidos no mercado
cos em todo o mundo1. Classicamente, são utiliza- na década de 60. Primeiramente surgiram a indo-
dos para tratamento da dor e redução dos sinais de metacina e ibuprofeno. Os outros compostos foram
inflamação como edema, febre e hiperemia2,3. lançados com o intuito de melhorar sua segurança
O salicilato é o protótipo dos AINH e foi descri- e eficácia.
to no século XIX. Foi substituído por novos AINH
400 ANTI-INFLAMATÓRIOS E RELAXANTES MUSCULARES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 401

Mecanismo de ação Efeitos colaterais


Os AINH agem na inibição da síntese de pros- febre. COX3 é uma variação da COX1 porém ainda O uso terapêutico dos AINH está associado com filtração glomerular. Logo, pacientes que depen-
taglandinas (PG). As PG estão presentes em todo faltam estudos para comprovar sua ação4,5. efeitos adversos gastrointestinais, renais, respirató- dem da vasodilatação renal produzida pelas PG
o organismo e desempenham diversas funções. Há dois tipos de AINH: convencionais (não se- rios e cardiovasculares12. O índice de inibição das para manter o fluxo urinário podem apresentar
Dentre elas, são responsáveis por ativarem os re- letivos da COX) e inibidores seletivos de COX2. O COX1 e COX2 é diferente para cada AINH conven- falência renal. Esses pacientes incluem: pacientes
ceptores para dor e por participarem no processo mecanismo de ação dos AINH convencionais é ini- cional ou seletivo da COX2, e há um longo espectro com redução do volume sanguíneo circulante (hi-
inflamatório. Portanto, ao inibir a síntese de PG, os bição de ambas as COX1 e COX2 porém, de forma de seletividade de inibição dessas enzimas. (Figura povolemia, desidratação, hipotensão, sepse, etc.),
AINH agem como analgésicos, anti-inflamatórios e variável4,6. Já a outra classe inibe preferencialmente 1) Dessa forma, possuem graus variados de efeitos pacientes com insuficiência cardíaca ou pacientes
antipiréticos. No entanto, os AINH também inibem a COX27. colaterais5,6 .Os AINH devem ser evitados nos pa- com doença renal prévia.
PG fisiológicas, produzindo os conhecidos efeitos cientes idosos em decorrência da hipofunção fisio- Fatores de riscos gerais incluem:
adversos. Figura 1: Ação das COX-1 e COX-2 na produção de lógica e maior chance de efeitos adversos. Deve-se • história de sangramentos como epistaxe, equi-
As PG são formadas a partir do ácido araquidô- prostaglandinas sempre avaliar a introdução dos AINH para evitar mose
nico (ácido graxo que faz parte da membrana ce- eventos adversos digestivos, renais, vasculares, he- • alergias
lular) por meio de enzimas denominadas ciclooxi- matológicos, etc. • uso concomitante com anticoagulantes e outros
genase (COX). Há 3 formas de enzimas COX (COX1, A redução dos níveis de COX1 pode lesionar a AINH
COX2 e COX3). As enzimas COX1 encontradas em mucosa gastrointestinal, uma vez que reduz a pro- • insuficiência cardíaca grave descompensada
quase todas as células são produzidas de modo teção gástrica (produção de muco, fluxo sanguíneo Os AINH inibidores seletivos de COX2 possuem
constitutivo e responsáveis na produção de subs- e secreção gástrica). Os sinais e sintomas mais co- vantagem em relação aos AINH convencionais pois
tâncias que atuam em funções fisiológicas como muns são: dispepsia, dor, sangramento, úlcera e possuem menos efeitos gastrointestinais e não au-
na proteção gástrica, na agregação plaquetária e na perfuração13. Os fatores de risco para os efeitos gas- mentam o risco de sangramento, pois não alteram
regulação do fluxo sanguíneo renal. Já as enzimas trointestinais são: a função plaquetária1,4.
COX2 são expressas principalmente em estados in- • idade avançada (maior que 65 anos de idade) Em 2014 o Rofecoxib (inibidor seletivo COX2) foi
flamatórios e produzem PG que agem na sensibili- Legenda: COX-1: enzima ciclooxigenase 1; COX-2: enzima • história de úlcera gastrointestinal retirado do mercado pois houve relatos de aumento
zação de receptores para dor, na inflamação e na ciclooxigenase 2; AINH: anti-inflamatórios não hormonais. • tabagismo da incidência complicações tromboembólicas com
• uso concomitante de corticoides/ anticoagulan- uso por longo período. Na época, iníciou-se debate
tes de provável aumento de riscos cardiovasculares com
• história de sangramento gastrointestinal o uso de AINH seletivos de COX2. No entanto, sabe-
• uso de álcool
Uso clínico
-se que efeitos colaterais cardiovasculares são com-
• infecção por Helicobacter pylori plicações de forma variável de todos os AINH, e não
Portanto, para pacientes com fatores de riscos somente dos inibidores seletivos da COX25. Dessa
Segundo Organização Mundial de Saúde, os vos da COX1 e COX2) incluem: aspirina, ibuprofeno, gastrointestinais é recomendado uso de AINH se- forma, deve-se evitar o uso de todos os AINH em
AINH devem ser considerados no tratamento da naproxeno, diclofenaco, piroxicam. Já os inibido- letivos COX214. pacientes com infarto do miocárdio prévio, insufi-
dor leve, moderada e intensa8. Possuem vantagem res seletivos da COX2 são etoricoxibe, parecoxibe, Ambas as classes de AINH possuem efeitos re- ciência cardíaca/coronariana, insuficiência cerebro-
de serem poupadores de opioides. celecoxibe7. O desenvolvimento dos inibidores se- nais. Tanto a COX1 como COX2 ajudam manter a vascular, doença vascular periférica grave e angina.
Os AINH não causam dependência física, po- letivos da COX2 possibilitou redução dos efeitos co-
rém, possuem característica de efeito-teto. Esse laterais associados aos AINH convencionais.
efeito significa que acima da dose clínica reco- As doses recomendadas são:
mendada, não há analgesia suplementar, porém, 1. Diclofenaco sódico: 50mg a cada 8 ou 12 horas

Relaxantes musculares
há aumento dos efeitos colaterais. Há pouca van- 2. Naproxeno: 250mg/500mg a cada 8 ou 12 horas
tagem em relação à administração oral sobre a in- 3. Cetoprofeno: 100mg a cada 12 ou 24 horas
tramuscular9. 4. Tenoxicam: 20 a 40mg a cada 24 horas
Podem ser utilizados em diversas condições: os- 5. Ibuprofeno: 200/400mg a cada 4 ou 6 horas; Os relaxantes musculares fazem parte do gru- condições musculoesqueléticas periféricas. Essas
teoartrite, dor pós-operatória, artrite reumatoide, 600mg a cada 8horas po de medicações que tratam a dor relacionada a podem ser localizadas ou difusas. Os de ação cen-
dor lombar, artropatias inflamatórias, febre, dor 6. Celecoxib: até 200mg a cada 12 horas dois tipos diferentes de condições subjacentes: es- tral são usados para tratar a espasticidade associada
musculoesquelética7,10,11. 7. Parecoxibe sódico (endovenoso): 40mg a cada 24 pasticidade das síndromes dos neurônios motores às condições patológicas decorrentes de condições
Os AINH convencionais (inibidores não seleti- horas superiores e dores musculares ou espasmos das congênitas, paralisia cerebral, além de condições
402 ANTI-INFLAMATÓRIOS E RELAXANTES MUSCULARES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 403

adquiridas incluindo acidente vascular encefálico,


esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica e
GABA. São usados para tratamento de ansiedade,
insônia, epilepsia, sedação durante a anestesia,
Referências bibliográficas
lesões do Sistema Nervoso Central (SNC). Enquanto mas também possuem ação de relaxantes muscu-
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mialgia, cefaleias tensionais, síndrome da dor mio- Indicações: monoterapia ou associado em casos 2: p. 117-33. committee on Osteoarthritis Guidelines. Arthritis
fascial e lombalgia mecânica ou dor no pescoço15. de lesões na medula espinal. 2. Lanas, A., et al., Safe prescription recommendations Rheum.2000;43(9):1905-15.
Dentre eles, destacam-se: Dose: dependerá da droga escolhida. for non steroidal anti-inflammatory drugs: consensus 11. Practice guidelines for acute pain management in the
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Efeitos colaterais: sedação, vertigem, confusão
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Dose: quando administrado via oral, a dose va- Indicações: espasticidade decorrente de escle- CRC Press. mechanisms and perspectives. Basic Clin Pharmacol
ria de 40 a 80 mg por dia, e a dose total não deve rose múltipla, mielopatia e acidente vascular cere- 6. Brooks, P., et al., Interpreting the clinical signifi- Toxicol.2014;114(1):56-63.
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DANTROLENE É um relaxante muscular de ação central, agin-
tematic review. Acta Anaesthesiol Sci.2008;11(2):81s- blishing LLC.: Treasure Island (FL).
Age inicialmente a nível do Sistema Nervoso Pe- do no tronco encefálico e na medula espinal e re- -110s.
riférico em vez de central, por meio de um efeito di- duz o tono muscular, e apresenta ainda efeito seda-
reto na contração muscular decorrente da diminui- tivo e indutor do sono.
ção de Ca++ liberado do retículo sarcoplasmático. Indicações: dores musculoesqueléticas (lombal-
Indicações: espasticidade associada a acidentes gia, cervicalgia) e síndrome fibromiálgica.
cerebrovasculares, lesão na medula espinal, escle- Contra-indicações: hipertireoidismo, arritmias,
rose múltipla e paralisia cerebral. Além de ser a insuficiência cardíaca.
droga de escolha para tratar hipertermia maligna. Dose: inicialmente recomenda-se 5 mg via oral,
Dose: inicia-se com 25 mg diariamente pela via e titula-se lentamente. Dose máxima diária é 30mg.
oral ou endovenosa, e os benefícios são observados Efeitos colaterais mais comuns: sonolência,
dentro de 4 a 6 semanas. tontura, xerostomia e confusão mental18.
Efeitos colaterais: euforia, vertigem, sonolên-
cia, fadiga e hepatotoxicidade, devendo ser usado
com cautela em idosos.

BENZODIAZEPÍNICOS
São depressores do Sistema Nervoso Central,
agindo na potencialização da ação dos receptores
404 ANTI-INFLAMATÓRIOS E RELAXANTES MUSCULARES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 405

CAPÍTULO 35

Analgésicos simples e opioides


Rioko Kimiko Sakata
Ana Laura Albertoni Giraldes
Plinio da Cunha Leal

Paracetamol ou acetaminofeno
Dentre os analgésicos simples utilizados no Brasil ras, máximo de 5 doses/dia. Em recém-nascidos,
destaca-se o paracetamol1, derivado N-acetil-para-a- 10mg/kg por via oral ou retal a cada 4h ou 15mg/kg
minofenol2, com pouca ou nenhuma ação anti-infla- a cada 6 h (dose diária máxima de 60 mg/kg)8.
matória3. É dialisável e com extensa metabolização Em adultos pode ser administrado a cada 4-6 ho-
hepática, a maior parte em compostos inativos, e ras 5 até 3-4g/dia6.
apenas 2 a 5% excretados inalterados pelos rins. A O efeito adverso mais grave do paracetamol é
eliminação é mais lenta em RN e na cirrose a hepatotoxicidade, geralmente causado por over-
Os mecanismos de ação incluem: inibição da dose. Doses acima de 4g diárias estão associadas
COX periférica e central, ativação da via descen- à ocorrência de lesão hepática 9. A lesão hepática
dente serotoninérgica, via da L-arginina / óxido ní- ocorre pela depleção de glutationa, levando ao acú-
trico, e sistema canabinoide4-6. mulo de metabólitos tóxicos no hepatócito, e ne-
O paracetamol é seguro e recomendado para uso crose centrolobular9.
por longo período, para tratamento de dor leve e mo- Há relatos de nefrotoxicidade após administra-
derada na osteoartrite, dor muscular ou tendínea. ção de glutationa para o tratamento da hepatoto-
Além disso, é de escolha em pacientes com úlcera xicidade, pela formação de compostos nefrotóxi-
gástrica, hipersensibilidade à aspirina, deficiências cos10. O paracetamol é o analgésico de escolha em
na coagulação, grávidas, e na amamentação7. pacientes com função renal comprometida11. Em
A dose em pacientes pediátricos é 10-15 mg/kg doses terapêuticas, a toxicidade renal é rara12. Em
via oral e 15-20 mg/kg via retal retal a cada 4-6 ho- doses até 3 gramas diários, não há necessidade de
406 ANALGÉSICOS SIMPLES E OPIOIDES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 407

ajuste posológico do paracetamol para pacientes em pacientes com doença renal em fase terminal14. Dis. 2012;71(1):20-5. doi: 10.1136/ard.2011.200087. Epub androgenic endocrine disruptor. Toxicology Letters.
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408 ANALGÉSICOS SIMPLES E OPIOIDES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 409

Opioides Morfina
OPIOIDES VIA VENOSA
1-5mg (0,025-0,05mg/kg)
INFUSÃO VENOSA
2-5mg/h (0,005-0,01mg/kg/h)
Opiaceo é qualquer agente derivado do ópio MECANISMOS DE AÇÃO Tramadol 50-100mg (1mg/kg) 10-20mg/h (0,25mg/kg/h)
e opioide é toda substância endógena ou exóge- Os opioides agem por diferentes mecanismos:
Fentanil 50mg (0,5-5mg/kg) 15mg/h (0,5mg/kg/h)
na, natural ou sintética que se liga aos receptores redução da liberação de substância-P; ativação de
opioides. Os opioides podem ser: agonistas, agonis- vias descendentes inibitórias envolvendo noradre- Metadona 1mg (0,05mg/kg)
tas parciais, agonista-antagonistas e antagonistas. nalina e serotonina; inibição de canais de cálcio;
Os opioides agonistas, ao se ligarem aos recep- aumento da condutância ao potássio e hiperpolari-
tores, têm efeito farmacológico; os agonistas par- zação da membrana; e na reação emocional42. CONVERSÃO DE DOSES surgimento de sintomas de abstinência com sus-
ciais produzem menos que a resposta máxima, Não existem algorítimos ou guias precisos para pensão abrupta de opioide. Dependência psicológi-
tendo atividade intrínseca baixa. A ligação de anta- INDICAÇÕES DOS OPIOIDES conversão. É importante a avaliação clínica para ca ou vício é o uso compulsivo por seu efeito psíqui-
gonistas aos receptores não é seguida de atividade Os opioides estão entre os analgésicos mais uti- minimizar risco de prescrever dose inapropriada45. co. Os sinais e sintomas de abstinência são: dor no
farmacológica, enquanto os agonista-antagonistas lizados tanto para dor aguda quanto para a crôni- corpo, tremor, inquietação, febre, rinorreia, cólica
têm ação antagonista em receptores mu e agonista ca43. Esses fármacos são usados em pacientes com TABELAS DE CONVERSÃO DE OPIOIDES46-50 abdominal, insônia, lacrimejamento, taquicardia,
em kappa e sigma. dor aguda de várias causas tais como: pós-operató- ansiedade, midríase, e cãibra.
A lipossolubilidade é o fator que determina a ria, trauma, crise de falcização, infarto do miocár- OPIOIDE RELAÇÃO
velocidade e a extensão de acesso dos opioides aos dio, cólica renal, queimado, lombociatalgia, neuri-
Morfina VO: Codeína VO 1:10
USO DE OPIOIDES PARA DOR CRÔNICA
receptores. te herpética, e isquemia vascular. NÃO ONCOLÓGICA
Morfina VO: Tramadol VO 1: 7 Os opioides são eficazes para praticamente to-
RECEPTORES OPIOIDES VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Morfina VO: Oxicodona VO 2: 1 das as síndromes dolorosas crônicas não oncoló-
Os opioides agem por ligação com receptores m Os opioides podem ser administrados por di- gicas. São indicados quando outras técnicas foram
Morfina VO: Metadona VO 3: 1 a 20: 1
(m-1, m-2), d (d1, d2), e k (k-1a, k-1b, k2, k3, e k-4)39. ferentes vias: oral, venosa, subcutânea, peridural, ineficazes, monitorizando os pacientes cuidado-
Os receptores estão localizados em todo o siste- subaracnoidea, transdérmica, e intra-articular44. A Morfina VO: IV 3: 1 samente, não sendo recomendados como medica-
ma nervoso central e periférico, porém a concen- via espinal é indicada principalmente para trata- mentos de primeira linha devido à possibilidade de
Metadona VO: IV 3: 1
tração é maior na substância cinzenta peri-aque- mento de dor aguda. A relação entre a dose pela via vício54-56.
dutal, núcleo magno da rafe e tálamo medial40. Os subcutânea e outra parenteral é de cerca de 1:1. A Tramadol VO: IV 1: 1 Para redução dos riscos com opioides para dor
receptores são encontrados nas terminações nervo- morfina é usada na dose de 5-10mg/4-6h (0,025mg- Morfina IV: Nalbufina IV 1: 1 crônica não oncológica, princípios devem ser se-
sas aferentes pré-sinápticas, e também no neurô- 0,1mg/kg); o tramadol, de 50-100mg/4-6h (1-2mg/ guidos54-55:
Morfina VO: fentanil TD 150: 1
nio pós-sináptico medular. Na medula espinal a kg). O opioide por via espinal é indicado para dor Certificar a existência de origem real da dor per-
concentração de receptores é maior na substância aguda e para dor crônica do câncer, dor de lesado VO: via oral; SL: sublingual; IV: via venosa sistente, avaliação abrangente e documentação.
gelatinosa. Além disso, estão presentes no sistema medular, por infusão subaracnoidea de morfina, • Estabelecer um diagnóstico físico adequado e
simpático, monócitos, linfócitos e macrófagos. 0,1-0,5mg/d. um diagnóstico psicológico, descartando a pos-
EFEITOS ADVERSOS sibilidade de que a dor é provocada por doença
RECEPTORES E EFEITOS 41
DOSES DE OPIOIDES Os possíveis efeitos adversos dos opioides são: psiquiátrica
As doses habituais são: constipação, náusea, vômito, esvaziamento gástri- • Compreender e educar os pacientes sobre a efi-
analgesia espinal e analgesia supraespinal, miose, co lento, boca seca, sudorese, prurido, retenção cácia e consequências adversas
náusea, vômito, prurido, bradicardia, liberação de OPIOIDE VO DOSE (MG) urinária, disfunção sexual, diminuição da pressão • Usar em paciente que não obteve resultado com
m prolactina, inibição da mobilidade gastrointestinal, arterial, depressão respiratória, rigidez muscular, outras alternativas
euforia, sedação, depressão respiratória, Codeína 30-60 (0,5-1/kg) /4-6h imunossupressão, alteração hormonal, fadiga, au- • Opioide é tratamento complementar a outros
dependência Tramadol 50-100 (1-2/kg) /4-6h mento de peso, mioclonia, hiperalgesia, disforia, analgésicos e técnicas
analgesia espinal, euforia, efeito psicomimético, sedação, moleza, alterações cognitivas, agitação, • Rastrear e identificar abusadores de opioides
d Morfina 5-60 (0,25-0,6/kg) /4-6h alucinação, convulsão50-53. • História de abuso de drogas, e ambiente fami-
disforia
liar caótico são contraindicações relativas
analgesia espinal e supraespinal, inibição de Morfina LC 30-60/12h
k hormônio antidiurético, miose, disforia, dispneia,
DEPENDÊNCIA • Paciente deve colaborar no objetivo de alcançar
Oxicodona LC 10-60/12h (0,05/kg) A exposição crônica aos opioides pode provo- o alívio da dor e a restauração funcional
sedação, depressão respiratória
car dependência física e vício. Dependência física • Prescrição em um serviço, de preferência por
s disforia, alucinação, hipertonia Metadona 2,5-10/8-12h (0,05-0,2/kg)
pode ocorrer após 3 semanas e está associada ao único profissional
410 ANALGÉSICOS SIMPLES E OPIOIDES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 411

• Utilização de programas de monitoramento de fina). A morfina é bem tolerada na insuficiência tores m, de longa duração. É 50 vezes mais potente fina produz substância inativa. A excreção fecal é
medicamentos controlados hepática. A eliminação é principalmente na urina que a morfina63,64. Pode ser usada por via trans-dér- mais importante e que a urinária. Não deve ser usa-
• Iniciar a terapia com baixa dose, com opioide de (parte, biliar). Em pacientes com insuficiência re- mica65,66. Provoca depressão respiratória, náusea e da em associação com opioide agonista m, porque
curta duração, com monitoramento adequado. nal, a analgesia é prolongada, com sedação e de- sedação semelhantes aos agonistas; a constipação reverte o efeito do opioide agonista.
• Opioides de ação prolongada ou alta dose so- pressão respiratória. São disponíveis formulações é menos intensa que com outros opioides67,68. A naloxona é um opioide antagonista, usada
mente em circunstâncias específicas. de liberação rápida e controlada da morfina. Para A nalbufina é um agonista de receptores k e an- para reversão da depressão respiratória provocada
• Pode ser usado Consentimento informado e uso de morfina de liberação controlada, iniciar tagonista m. A metabolização hepática da nalbu- pelos opioides.
Contrato. Obtenha um contrato robusto com com morfina de liberação imediata, que será con-
opiáceos, que é seguido por todas as partes. vertida para controlada administrando-se metade
• A dose deve ser fixa, com contagem de compri- da dose de 24h a cada 12h. A morfina pode ser ad-
midos. ministrada por vias: oral, venosa, subcutânea, es-
• Avaliação constante quanto a: alívio da dor, pinal, e intra-articular.
efeitos colaterais, estado funcional, e compor- A codeína é um opioide fraco, metabolizada no Referências bibliográficas
tamento. fígado, formando norcodeína e morfina (10%), sen-
• Se não houver pelo menos alívio parcial, ques- do esta responsável pela ação analgésica. A codeína 39. Pathan H, Williams J. Basic opioid pharmacology: an 50. Trescot AM, Boswell MV, Atluri SL, Hansen HC, Deer
tionar o tratamento. é excretada pelos rins, quase totalmente na forma update.Br J Pain. 2012;6:11–16. TR, Abdi S, Jasper JF, Singh V, Jordan AE, John-
40. Pradhan AA, Befort K, Nozaki C, et al. The delta opioid son BW, Cicala RS, Dunbar EE, Helm S, Varley KG,
• Continuar se mantiver a dose estável, com anal- inativa. Não é recomendada para administração
receptor: an evolving target for the treatment of brain Suchdev PK, Swicegood JR, Calodney AK, Ogoke BA,
gesia, e sem abuso venosa. O efeito adverso mais frequente é a cons- disorders. Trends Pharmacol Sci. 2011;32(10):581–90. Minore WS, Manchikanti L. Opioid Guidelines in the
• Interromper opioides se não obtiver analgesia, tipação43,59,60. doi:10.1016/j.tips.2011.06.008 Management of Chronic Non-Cancer Pain. Pain Phys
melhora funcional, ou ocorrer abuso, e aumen- O tramadol consiste de dois enantiômeros, que 41. Trescot AM, Boswell MV, Atluri SL, Hansen HC, Deer 2006; 9:1-40.
to da dose, consequências adversas. contribuem para o efeito analgésico. É metaboli- TR, Abdi S, Jasper JF, Singh V, Jordan AE, John- 51. Jonsson T, Christrup LL, Højsted J, et al. Symptoms
zado no fígado, sendo 30% excretado inalterado, son BW, Cicala RS, Dunbar EE, Helm S, Varley KG, and side effects in chronic non-cancer pain: Patient
FATORES DE RISCO PARA VÍCIO quase totalmente pelos rins. Em pacientes com Suchdev PK, Swicegood JR, Calodney AK, Ogoke BA, report vs. systematic assessment. Acta Anaesthesiol
Minore WS, Manchikanti L. Opioid Guidelines in the Scand 2010; 55:69-74.
Os fatores de risco são42-57: sociodemográ- insuficiência hepática ou renal, a meia-vida de
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ficos, genético, meio ambiente, psicossociais, his- eliminação do tramadol e seus metabólitos é au- 2006; 9:1-40. tial Adverse Effects of Long-Term Opioid Therapy:
tória familiar, psicopatologia, uso de álcool, e de mentada. O tramadol causa pouca constipação. A 42. Ballantyne JC, Sullivan MD. Discovery of endogenous A Practitioner’s Guide. Prim Care Companion CNS
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SINAIS INDICATIVOS DE VÍCIO58: de noradrenalina e serotonina na sinapse medular, 2017;158:2290–300. 53. De Maddalena C, Bellini M, Berra M, Meriggiola MC,
• Uso compulsivo de opioide para solução de seus além de ser agonista de receptores m. Os efeitos ad- 43. Sakata RK, Issy AM. Fármacos para Tratamento da dor. Aloisi AM. Opioid-induced hypogonadism: why and
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conflitos e não para alívio da dor versos mais comuns são náusea e tontura5,21,22.
44. Radbruch L, Trottenberg P, Elsner F et al. Systematic 54. Manchikanti L, Abdi S, Atluri S, et al. American Society
• Aumenta a dose por conta própria A metadona é antagonista de receptores N-me- review of the role of alternative application routes for of Interventional Pain Physicians (ASIPP) Guidelines for
• Não aceita a prescrição ou pede mais medica- til-D-aspartato (NMDA), de duração prolongada. A opioid treatment for moderate to severe cancer pain: Responsible Opioid Prescribing in Chronic Non-Can-
mento metadona não produz metabólitos ativos e a excre- An EPCRC opioid guidelines project. Pall Med 2010; cer Pain: Part I – Evidence Assessment. Pain Phys.
• Solicita receita frequente de vários médicos ção é principalmente fecal, e em pequena parcela 25(5):578–596 ! DOI: 10.1177/0269216310383739 pmj. 2012a Jul;15(3 Suppl):S1-65.
• Não aceita mudança no tratamento pela via urinária. É indicado no paciente com insu- sagepub.com 55. Manchikanti L, Abdi S, Atluri S, et al. American Society
45. Gammaitoni AR, Fine P, alvarez N, McPherson ML, of Interventional Pain Physicians.American Society of
• Uso apesar dos efeitos adversos ficiência renal.
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• Incapaz de prestar atenção para responsabilida- A oxicodona é uma alternativa para a morfina61.
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des e obrigações É metabolizada no fígado, formando pouca oxi- 46. Brant JM. Opioid equianalgesic conversion: the right cer pain: Part 2-guidance. Pain Phys. 2012b Jul;15(3
• Visitas frequentes a serviços de emergência morforna (ativa), noroxicodona (atividade fraca), e dose. Clin J Oncol Nurs 2001; 5(4):163-5. Suppl):S67-116.
• Relata que não há alívio da dor eliminados por via renal. 47. Ginsberg B, sinatra RS, Adler LJ, Hord AH, Laurito CE, 56. Navani A, Malla Y, Grami V, et al. Responsible, Safe,
• Alterações de comportamento A fentanila é metabolizada, e excretada na bile Ashburn MA. Conversion to oral controlled-release and Effective Prescription of Opioids for Chronic Non-
e urina, e os metabólitos são inativos. É indicada oxycodone from intravenous opioid analgesic in pos- -Cancer Pain: American Society of Interventional. Pain
FÁRMACOS DISPONÍVEIS para infusão venosa e está associada à pouca altera-
toperative setting. Pain Med 2003; 4(1):31-8. Phys 2017; 20;S3-S92
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412 ANALGÉSICOS SIMPLES E OPIOIDES TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 413

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Introdução
O tratamento da dor adequado depende da es- de cada um deles, por consequência com menos
colha de medicamentos que atenda ao controle da efeito colateral, se beneficiando do sinergismo de
físiopatologia responsável pelo quadro álgico. Den- drogas para atingir o efeito analgésico ideal. Com
tre os objetivos do tratamento temos: melhora da essa ideia em mente, devemos escolher fármacos
qualidade de vida, redução de stress, e diminuição que agem nos diversos mecanismos implicados:
de alterações metabólicas e da neuroplasticidade desde a percepção da dor, transdução, transmissão,
que ocorrem durante a permanência da dor. modulação e percepção.
A dor deve ser tratada de forma multidisciplinar. Para entender a importância dos adjuvantes, é
Acupuntura, fisioterapia, realização de bloqueios necessário relembrar alguns mecanismos envolvi-
antálgicos, exercício físico adequado, apoio fami- dos no ciclo da dor e qual classificação farmaco-
liar, crença espiritual, entre outros, fazem parte do lógica beneficiará a modulação do estímulo álgico
arsenal que minimiza a necessidade de fármacos. em cada etapa.
O tratamento medicamentoso deve seguir o
conceito de analgesia multimodal que visa a uti- SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA
lizar fármacos que agem em diferentes receptores, A sensibilização dos nociceptores das fibra A
administrados em menor miligramagem possível delta e C polimodais deve ser modulada logo no iní-
414 MEDICAÇÃO ADJUVANTE PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 415

cio do estímulo doloroso, evitando que a resposta dolorosos (fenômeno de alodínea – exemplo: até sedativo ajudando no tratamento da insônia de al- Indicação: ansiedade, depressão, insônia, dor
inflamatória possa ocasionar a sensibilização pe- um golpe de vento gera dor). A hiperalgesia tam- guns pacientes. A amitriptilina também bloqueia crônica, dor neuropática.
riférica. Quando existe lesão celular são liberados bém acontece na sensibilização central que é um canais de sódio dando analgesia agindo como anes- Ação: bloquear receptação da norepinefrina,
substâncias como: bradicinina, prostaglandinas estímulo de baixa intensidade gerando uma dor tésico local. aumenta liberação do neurotransmissor norepi-
E2, citocinas, íons H+, ATP, leucotrienos, fator de lancinante. Outra alteração é a hiperpatia – manu- Início de ação: migrânia início de ação em 2 se- nefrina e com o aumento desse no córtex frontal
necrose tumoral (TNF alfa), interleucina -6 (IL-6), tenção da dor após o término do estímulo doloroso. manas ( melhora cerca de 50% do número de crises ocorre o aumento da dopamina nesta área. Em al-
fator de crescimento do nervo (NGF), entre outros. Para evitar a sensibilização central, inibidores dos e da intensidade das mesmas), e dor neuropática tas doses também podem aumentar a concentração
Quando ocorrem estímulos repetitivos gerando receptores NMDA, como cetamina, dextrometorfa- em 4 semanas ( reduz a intensidade dos sintomas de serotonina.
dor, esses fatores são liberados continuamente, no, metadona e gabapentina devem ser usados com mas normalmente não gera toda remissão do qua- Inicio de ação: seu efeito terapêutico na dor é ob-
aumentando a ativação de receptores, diminuindo o objetivo de diminuir a dor exagerada. A clonidina dro clínico). servado após a primeira semana de uso E continua
a inibição da dor, ampliando a sensação dolorosa e dexmedetomidina bloqueiam os impulsos prove- Efeitos colaterais: a maioria dos eventos adver- ser efetivo por muitos anos. O objetivo do tratamen-
pela ativação dos receptores N-Metil-D-Aspartato nientes das fibras a-delta e C modulando a inibição sos são causados pelo seu efeito anticolinérgico e to para dor neuropática crônica é reduzir os sinto-
(NMDA). Este é o conceito que justifica o uso da da dor. antihistamínico. O bloqueio do receptor alfa1 adre- mas desagradáveis o máximo possível, principal-
analgesia tópica, ou seja, inibir a sensibilização nérgico pode ser o motivo da hipotensão ortostáti- mente quando associado com outros tratamentos.
periférica com o uso de anestésicos locais tópicos, INIBIÇÃO DESCENDENTE DA DOR ca e sedação. Boca seca, visão borrada, aumento do Efeitos colaterais: sedação, boca seca, constipa-
analgésicos, capsaicina. O sistema nervoso central é capaz de inibir a apetite, náusea, diarreia, ganho de peso, retenção ção, visão borrada, ganho de peso, tontura, hipo-
dor para modular a sua intensidade. Isso ocorre urinária, disfunção sexual, sudorese, coceira, fadi- tensão e arritmia cardíaca.
SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL pela ativação da substância cinzenta periaque- ga, sedação, são alguns dos efeitos mais comuns. Dose: para dor crônica - começar com 10 a 25
As fibras A Delta e C percorrem o caminho até dutal (PAG) que aumenta a liberação de encefali- Dose: iniciar com doses mais baixas - 10 a 25 mg/ mg por dia ao deitar e aumentar a dose a cada 3 a 7
o corno posterior da medula (CPME) para que a in- nas, serotonina e dinorfinas em diversas áreas in- dia, aumentar a dose de acordo com a tolerância dias chegando a 50 a 150mg/dia.
formação prossiga até níveis superiores do sistema cluindo o corno posterior da medula espinhal. Os do paciente. Normalmente para o tratamento da Lembretes importantes:
nervoso central (SNC). No CPME ocorrem proces- neurotransmissores envolvidos nesta inibição são dor são necessárias doses bem menores daquelas Caso o paciente não obtenha melhora com a
sos de excitação ( glutamato, aspartato, substancia a serotonina, noradrenalina e dopamina que de- usadas para o tratamento da depressão. Até 150mg nortriptilina, considerar associar a um anticonvul-
P, prostaglandina, encefalina, etc.) e processos de pendendo de qual receptor atuam podem excitar pode ser usado e caso a dor não melhore deve-se sivante como a gabapentina.
inibição do estímulo doloroso. ou inibir o estímulo. A dipirona e o paracetamol pensar em trocar a estratégia. Cuidado com pacientes com alterações hepá-
Quando o corno posterior da medula é estimula- atuam nessa modulação inibitória central inibindo Lembretes importantes: tica, renal e cardíaca. Idosos são mais suscetíveis
do inúmeras vezes, ocorre o fenômeno de sensibi- prostaglandina sintase cerebral, opioides reduzin- Considerar parar se gestação ocorrer durante o aos eventos adversos como hipotensão ortostática e
lização central, estímulos que não seriam capazes do impulsos ascendente1. tratamento. sedação. Não recomendado para crianças menores
de provocar dor, como tato e a pressão passam a ser Em pacientes com remissão do quadro de ce- de 12 anos.
faleia por mais de seis meses considerar a parada Existem evidências do risco do uso durante gra-
deste medicamento reduzindo a dose paulatina- videz, passa pela placenta e também não deve ser
mente. utilizado em mulheres amamentando.

Dor neuropática
Cuidado com idosos devido à hipotensão or- Os antidepressivos tricíclicos são a primeira li-
tostática, possível alteração do ritmo cardíaco, au- nha de tratamento para dor crônica5,6.
mento da pressão intraocular.
Ocorre quando existe “ lesão ou doença do sis- ANTIDEPRESSIVOS Pode aumentar o risco de convulsões. Imipramina
tema somatossensorial”, normalmente por aumen- Amitriptilina Cuidado em pacientes com problemas renais, É um antidepressivo tricíclico; inibidor da re-
to de impulsos nervosos. Lesão de fibras nervosas É um antidepressivo tricíclico. hepáticos e em pacientes com história de altera- ceptação de serotonina e noradrenalina.
tanto por processo cirúrgico ou trauma resulta em Indicação: depressão, profilaxia da migrânia e ções cardíacas e hipotensão ortostática. Indicação: insônia, dor crônica, dor neuropáti-
degeneração da parte distal do nervo e proliferação cefaleia tencional, neuropatia por diabetes, por her- Caso não dê efeito esperado, aumentar a dose ca, ansiedade, enurese.
da parte proximal em contato com corpo celular, pes zoster, lombo ou cervicalgia, sd. do membro fan- até a dose máxima tolerada pelo paciente, e se mes- Ação: aumenta liberação de serotonina e no-
denominado neuroma, que pode ser responsável tasma, fibromialgia, insônia, enurese noturna. Ação mo assim não reduzir a dor considerar trocar por radrenalina, bloqueia receptação serotonina, blo-
por estímulos espontâneos. Também ocorre por comprovada em inúmeras patologias dolorosas. outro medicamento, podendo ser trocado pela nor- queia receptação de noradrenalina (aumentando
motivos sistêmicos ( como no diabetes mellitos, Ação: bloqueio da recaptação da serotonina e triptilina3,4. a neurotransmissão noradrenérgica), aumenta a
alcoolismo etc.), por uso de alguns medicamentos, noradrenalina, aumentando seus níveis séricos, neurotransmissão da dopamina no córtex frontal
como quimioterápicos, ou outras etiologias discu- porém, seu efeito analgésico ocorre em cerca de Nortriptilina de forma indireta. Propriedades anticolinérgicas.
tidas em outro capítulo. Seu tratamento é baseado uma semana. Também com efeito anticolinérgico Antidepressivo tricíclico, predominantemente Início de ação: 2 a 4 semanas para melhora da
no uso de adjuvantes descritos abaixo2. e antihistamínico contribuindo assim para efeito inibidor da receptação da noradrenalina dor, mas para sintomas da depressão pode demorar
416 MEDICAÇÃO ADJUVANTE PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 417

de 6 a 8 semanas. O objetivo é reduzir os sintomas Efeitos colaterais: constipação, boca seca, su- são ortostática e síncope durante a primeira sema- disponibilidade vai diminuindo com o aumento da
o quanto antes, principalmente se associado com dorese, visão borrada, perda de peso, hipertensão, na de uso, boca seca, constipação intestinal, diar- dose ( dose de 900mg 60% de biodisponibilidade e
outros adjuvantes. O paciente pode ter resposta tremor insônia, sonolência, ejaculação anormal, reia, fadiga, inibição do apetite, náusea, perda de 3600mg tem 27% de biodisponibilidade) = cinética
parcial C estiver utilizando junto litiun, buspirona alteração de orgasmo, coceira, sedação, irritabili- peso, hipertensão, dor de cabeça, tontura, insônia não linear.
ou hormônio tireoidiano. dade. ou sonolência. Efeitos colaterais que podem trazer Início de ação: em dias a semanas. Reduz a dor
Efeitos colaterais: aumento de peso, efeitos an- Dose: começar com 37,5 mg/d e aumentar a risco de vida são: hepatotoxicidade, ideias suicidas, e deve ser utilizado enquanto esta persiste.
ticolinérgicos ( sedação, boca seca, constipação, vi- cada semana conforme a tolerabilidade do pacien- síndrome serotominérgica, convulsões. Efeitos colaterais: sedação, tontura, fadiga, ata-
são borrada, tontura, hipotensão, arritmia), reten- te até 225 mg/d. Nas doses maiores é melhor tolera- Dose: 30 a 120 mg/dia. A dose deve ser titulada xia, ganho de peso, náusea, constipação, boca se-
ção urinária, diminuição dos níveis de magnésio e do quando tomada uma vez só no período noturno. iniciando com doses menores e ir aumentando a ca,visão borrada e edema periférico.
potássio. Lembretes importantes: dose após alguns dias, para diminuir efeitos colate- Dose: para dor neuropática: 300 a 1800mg/dia (
Dose: 50 a 150 mg/dia ( iniciar com 25 mg ao Cuidado em pacientes com insuficiência renal, rais como a náusea por exemplo. dose máxima 3600 mg/dia); começar com uma dose
deitar e aumentar 25 mg a cada 4 dias até atingir a hepática ou cardíaca. Lembretes importantes: de 300 mg à noite e incrementar 300 mg a cada 3
dose tolerada para o paciente). As doses podem ser Não recomendado para o uso em gestantes ou Não utilizar com pacientes em uso de IMAO, e dias, dependendo da tolerância dos pacientes.
divididas em manhã e noite se o paciente tolerar. mulheres amamentando8,9. cuidado com pacientes etilistas por aumentar risco Posologia de 12/12h deve ser mantida com doses
Lembretes importantes: de lesão hepática. mais baixa, pela melhor adesão ao tratamento, mas
Se o paciente tiver diabetes, ou estiver acima do Duloxetine Não indicados para pacientes com alteração da conforme utiliza-se miligramagens maior, pode-se
seu peso, colesterol aumentado, monitorizar com Age inibindo a recaptação de serotonina e nora- função renal e/ou hepática. optar em medicar 8/8h.
exames periódicos . drenalina. Em idosos iniciar com doses menores e even- Lembretes importantes:
Idosos podem ser mais suscetíveis à hipotensão Indicação: depressões maiores, ansiedade, fi- tualmente manter com a dose de 30 mg. Titular a dose lentamente aumenta a tolerabili-
e sedação, portanto, iniciar com doses menores e bromialgia, síndromes miofasciais crônicas, poli- Não deve ser usados em gestantes ou em mães dade e adesão ao tratamento.
aguardar mais tempo para aumentar as doses. neuropatias (como na diabética), profilaxia migrâ- amamentando por passar pelo leite materno.10,11,12. Titular mais cautelosamente se o paciente já uti-
Cuidado com pacientes com problemas cardio- nia crônica e cefaleia tensional, dor neuropática liza medicamento que deprime o SNC.
vasculares. oncológica. ANTICONVULSIVANTES Medicar com 2 horas de diferença em relação a
Pode ser usado para enurese noturna em crian- Ação: bloqueia a recaptação de serotonina e no- Gabapentina antiácidos.
ças acima de 6 anos, mas na dor está liberado para radrenalina aumentando seu nível sanguíneo em Anticonvulsivante que atua no canal de cálcio Seguro para ser usado por tempo prolongado, e
crianças acima de 12 anos. horas, porém, sua ação como antidepressivo demo- voltagem dependente, não bloqueia completamen- realizar desmame se desejar parar com o medica-
Não indicado para gestantes e lactantes. ra semanas para iniciar, provavelmente porque sua te o canal. mento.
Não utilizar concomitantemente com álcool. ação está relacionada com receptores de norepine- Indicação: síndromes dolorosas neuropáticas, Excreção renal (pacientes renais crônicos de-
Tricíclicos melhor resposta em homens e inibi- frina. Existe também uma ação frustra no bloqueio por exemplo: herpes zoster, neuropatia periférica vem usar menores doses – clearance de creatinina
dores da receptação da serotonina e noradrenalina da recaptação da dopamina. por diabetes, sintomas de alodínea e hiperalgesia, menor ou igual a 15ml/min. dar 100-300 mg/dia;
melhor resposta em mulher7. Início de ação: sua ação se inicia em 2 sema- fibromialgia (lembrar que esta é uma dor nociplás- 15-29 ml/min., 200 -700 mg/dia; 30 a 59 ml/minuto
nas na migrânia e fibromialgia, porém, devemos tica e não neuropática), dor pós-operatória, profi- 400 a 1400 mg/dia e dialíticos precisarão de au-
Venlafaxina insistir no tratamento da dor por pelo menos 4 a laxia de migrânea, queimados, dor oncológica, es- mento da dose) sem ter sido metabolizado. Meia-
Inibidor da recaptação da serotonina e noradre- 6 semanas para verificarmos a sua efetividade no pasticidade e dor da esclerose múltipla. -vida de 5-7h.
nalina. tratamento da neuropatia. Ação: reduz a liberação de neurotransmissores Sem problemas para cardíacos e hepatopatas.
Indicação: depressão, ansiedade generalizada, O objetivo é reduzir a intensidade da dor nos excitatórios e diminui o glutamato no SNC, aumen- Risco de teratogenicidade em fetos e não indicado
pânico, fobia social, migrania e cefaleia tencional, sintomas da fibromialgia melhorando a qualidade ta níveis de serotonina no plasma, inativa recepto- para puérperas amamentando.
polineuropatia periférica, dor oncológica neuropá- vida; reduzir a intensidade e a frequência das cri- res gaba e não afeta sua degradação. O objetivo é Equivalência: 300 mg gabapentina: 50 mg pre-
tica, fibromialgia, estresse pós-traumático, foga- ses de migrânia e cefaleia tensional em pelo me- controlar a dor e não curá-la. A dose deve ser au- gabalina (em doses maiores, devido à variabilida-
chos da menopausa. nos 50%, na neuropatia diabética nunca teremos mentada até a dose máxima se o paciente tolerar, de cinética da gabapentina, essa equivalência não
Ação: Inibidor da recaptação da serotonina e remissão do quadro, porém, teremos alívio da dor, porém, se a dor não melhorar o ideal é mudar a existe mais)13.
noradrenalina. Bloqueia a recaptação da dopami- e é fundamental manter a glicemia controlada. Se estratégia.
na em menor escala. o quadro clínico não melhorar, considerar aumen- Quando associado a antidepressivos tricíclicos Pregabalina
Início de ação: No tratamento da neuropatia o tar as doses até a mais alta tolerada pelo paciente (ADT) ou inibidores da receptação de serotonina Anticonvulsivante modulador do canal de cálcio
início de ação é observado após duas semanas do ou adicionar um anticonvulsivante associado, ou e noradrenalina (IRSN) e/ou opioides surte melhor Indicação: dor na neuropatia diabética, fibro-
uso deste medicamento. O objetivo do tratamento até mesmo trocar o antidepressivo. efeito. Tem efeito poupador de opioide. mialgia, dor facial, síndrome do pânico, profilaxia
com a venlafaxina é o mesmo encontrado com a Efeitos colaterais: Os efeitos são dose e tempo A analgesia proveniente da gabapentina é incre- de migrânia, transtorno de ansiedade generaliza-
duloxetina. de uso dependentes. Os mais comuns são hipoten- mentada conforme a dose aumenta, porém, a bio- da, adição ao álcool e benzodiazepínico.
418 MEDICAÇÃO ADJUVANTE PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 419

Ação: estrutura análoga ao GABA que atua no constipação. É raro porém, pode ocorrer síndrome mento esta dor pode retornar. Cuidado em pacientes com problemas renais e
receptor alfa-2-delta, reduzindo o influxo de cálcio, de Steve Johnson com falência de múltiplos órgãos. Efeitos colaterais: visão borrada, sedação (efeitos em idosos. Aumentar as doses gradativamente23,24.
reduz a liberação de neurotransmissores excitató- Cuidado em pacientes suicidas. anticolinérgicos), náusea, vômito, diarreia, leuco-
rios como glutamato, noradrenalina e substância Em caso de eventos adversos suspender o medi- penia benigna transitória. Pode em casos extremos ANESTÉSICO LOCAL TÓPICO
P. Inativa receptores gabaérgicos mas não age na camento e aguardar a melhora. Monitorar a função culminar em aplasia de medula, Steve-Johnson. Lidocaína 5%
captação ou degradação do GABA. hepática renal e hematológica esse necessário hos- Dose: iniciar com 100mg 2X/dia e aumentar a Anestésico local do tipo amida, estabiliza a
Início de ação: começa a melhorar a dor em pitalizado paciente. Medicar com antihistamínicos cada 3 dias, dose máxima 1200 mg/dia. membrana neuronal excitadas bloqueando o ca-
poucos dias. e/ou corticoides tópico. Lembretes importantes: nal de sódio, evitando assim impulsos exagerados.
Efeitos colaterais: sedação, tontura, fadiga, vi- Dosagem: Associar outros medicamentos como antide- Apesar de ser um anestésico local, sua função é
são borrada, mioclonias, ganho de peso, náuseas, Trigeminalmia: 100-400 mg/dia associado ou pressivos, se a dor não melhorar. analgesia. Funciona como tratamento da neuro-
edema periférico, prurido, disfunção erétil, dimi- não a carbamazepina Antes de iniciar tratamento verificar a função plasticidade periférica.
nuição da libido, euforia e confusão. Dor: 25-50 mg/dia nas primeiras duas semanas renal, hepática e renal, além de um hemograma Indicação: primeira linha de tratamento da dor
Dose: fibromialgia 300 a 450/dia; dor neuropáti- 100 mg/d na terceira semana dividido em duas completo. Solicitar exames a cada quatro semanas neuropática periférica localizada, podendo ser das
ca 100 a 600 mg/dia ( usualmente 300 mg/dia) ou três doses, e aumentar 100 mg por semana se nos primeiros meses e depois solicitar a cada seis mais variadas etiologias. Exemplos: pós-operató-
Lembretes importantes: necessário até no máximo de 400 mg/dia. meses. ria, polineuropatias diabética, pós herpes zoster,
Em dor neuropática pode ser associado a anti- Lembretes importantes: Podem ocorrer hiponatremia (realizar dosagem pós-radioterapia, radiculopatias com característica
depressivos ou opioides sendo que ele diminui as Titular as doses devagar para diminuir a inci- de sódio periodicamente). de dor neuropática.
doses destes quando usados em conjunto, efeito dência de rush. Se o paciente parar de usar esse Com as refeições para diminuir efeitos gastro Ação: Na concentração de 5% o patch de lidocaína
poupador de opioides. medicamento por cinco dias ou mais, retitular a intestinais20, 21,22. penetra na pele e tem ação local, bloqueia os canais
Iniciar com doses noturnas, passando a poso- dose. de sódio diminuindo a neuroplasticidade periférica,
logia de 12/12 horas após algumas semanas. Caso Lembrar que valproato inibe a metabolização Oxicarbamazepina age nas fibra A-delta e C da pele que estão ativadas
o paciente não tolere as doses do período diurno, da lamotrigina ( portanto titular mais devagar nes- Antagonista canal de sódio voltagem dependen- exageradamente na dor neuropática. Nessa concen-
prescrever em dose única noturna. se caso). te. tração não bloqueia as fibras A beta: com mielina e
O aumento das doses depende da tolerância do Gestação e anticoncepcionais podem diminuir Indicação: dor neuropática, etilismo, neuralgia responsável pela percepção do tato (mais rápidas).
paciente medicamento. os níveis de lamotrigina, assim ajustar as doses em do trigemio, distúrbio bipolar. Absorção sistêmica de 3%, não apresentando portan-
Sua absorção diminui quando tomado durante mulheres recebendo hormônios ou gestantes. Ação: antagonista canal de sódio voltagem de- to interações medicamentosas importantes, podendo
as refeições. Esse efeito como analgésico aumenta Pode ser usado por um longo período. Porém, pendente, diminuir a liberação do glutamato, mo- ser utilizado com segurança em pacientes polimedi-
proporcionalmente ao aumento da dose de prega- se for descontinuado, deve ser realizado paulati- dula canais de cálcio, condução de potássio, e age cados assim como em pacientes com idade avançada.
balina. namente. Meia vida de eliminação de 33 horas na receptores NMDA. Início de ação: 1 hora após a aplicação pelo efei-
Não existe necessidade de cautela em pacientes primeira dose. Metabolizado no fígado e excretado Início de ação: trigeminalmia e dor neuropática to mecânico e perdura por 12 horas enquanto a li-
com alteração hepática ou cardíaca.Se necessário no rim. resultado em dias a semanas. Reduz drasticamente docaína é liberada topicamente.
utilizar durante a gravidez suplementar à mãe com Pode ser removido por hemodiálise em pacien- a incidência das crises de dor do trigêmeo. Efeitos colaterais: sem efeitos colaterais sistê-
ácido fólico14,15,16. tes renais crônicos devem ter sua dose ajustada. A Efeitos colaterais: sedação, dor de cabeça, nis- mico devido à baixa absorção da lidocaína. Efeitos
dose deve ser reduzida em 50 A 75% em pacientes tagmo, confusão, náusea, vômito, diplopia, confu- tópicos podem ocorrer, como irritação local, rea-
Lamotrigina com insuficiência hepática. Cuidado em pacientes são. Raro leucopenia e trombocitopenia. ções alérgicas tópicas.
Anticonvulsivante que age como antagonista do cardíacos E idosos tolerar doses menores. Dose: neuralgia do trigêmeo começar com 150 a Dose: aplicar de 1 a 3 adesivos sobre a área do-
canal de sódio, também estabilizador de humor. Manter em gestantes se muito necessário E a 300 mg/dia avental a cada 5 dias a dose de 300 mg lorida, e manter por 12 horas com ele e deixar 12
Atua combatendo a dor neuropática ( diminuiu, droga passa pelo leite materno. Lembretes importantes: horas sem o adesivo, repetir a aplicação por no mí-
porém não elimina totalmente a dor) e crônica, Estudos mostra ser eficaz para dor neuropática Alguns pacientes podem não responder ou res- nimo três semanas para observar o efeito terapêuti-
profilaxia de migrânea ( melhora 50% entre intensi- por diabetes, HIV e migrânea com aurea17,18,19. ponder parcialmente ao tratamento com esse me- co na neuropatia periférica.
dade e e número de crises) e neuralgia do trigêmeo. dicamento, considerar o aumento da dose ou uso Lembretes importantes:
Nas dores de cabeça demora de semanas até meses Carbamazepina de outro coadjuvante associado em pacientes que Utilizar por no mínimo três semanas para ob-
para iniciar sua ação. Indicação: tratamento de convulsões, dor neu- respondem fracamente ao tratamento. servar a melhora da dor e a diminuição da área de
Caso o paciente tenha resposta parcial, aconse- ropática, neuralgia do trigêmeo, do glossofaríngeo Monitorar a dosagem de sódio sérico, hipona- neuropatia periférica.
lham a troca por gabapentinoide ou antidepressivos. Ação: Antagonista do canal de sódio voltagem tremia importante nos primeiros 3 meses de trata- Pode ser usado por um longo período de tempo,
Efeitos adversos: visão embaçada ou diplopia, dependente. Inibe a liberaçãoo de glutamato. mento. enquanto durar a alteração periférica.
tontura, ataxia, sonolência, tremor, insônia, fa- Inicio de ação: em semanas, pode haver remis- Na dor do trigêmeo pode-se associar baclofeno A maioria dos pacientes que usam de forma
diga. Náusea, vômito, dispepsia, dor abdominal, são do quadro álgico, porém, se parar o medica- para melhora da mesma. adequada o adesivo tem boa resposta, E excelente
420 MEDICAÇÃO ADJUVANTE PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 421

Conclusão
tolerabilidade. Não apresenta interações medica- Sem interações medicamentosas. Não deve ser
mentosas. colocado em áreas de solução de continuidade.
Não deve ser colocado o adesivo em áreas de so- Não estudado uso em crianças e gestantes.
lução de continuidade. Se for necessário for utilizar Cuidado ao manusear o patch e contato com O sucesso do controle álgico está diretamente tologia da dor a ser tratada. A analgesia multimodal
no pós-operatório, aplicar o adesivo com 1 cm de olhos ou mucosas29,30,31. relacionado com a introdução de medicamentos garante a ação em diversos receptores, diminuindo
distância da cicatriz cirúrgica, podendo ser utili- analgésicos associados às medicações adjuvantes, os efeitos colaterais e se beneficiando do sinergis-
zado neste caso 2 adesivos, onde está cada lado da ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NMDA sendo que para a escolha dos fármacos adjuvantes mo de drogas.
ferida cirúrgica. Envolvidos no mecanismo wind up na medula é necessário o completo entendimento da fisiopa-
Pelo conceito de analgesia multimodal, o trata- espinhal e envolvidos na geração da dor neuro-
mento com uma substância tópica é fundamental pática e tolerância a opioides. Quando receptores
para minimizar o uso de medicamentos via oral. NMDA são inibidos o efeito analgésico ocorre, ne-
Em pacientes com muitas comunidades o adesivo cessitando de menor uso de opioides.
de lidocaína a 5% pode ser usado como analgesia
única, já que tem pouca absorção sistêmica, sendo Metadona (por ser um opioide, será Referências bibliográficas
bem tolerado25,26,27,28. oportunamente discutido em outro capítulo.)
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provoca uma sensação de queimação no local onde Indicação: Existe na forma de cetamina S que 5. Riediger C, Schuster T, Barlinn K, Maier S, Weitz J, Sie- monotherapy in outpations with bipolar depression. J
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ricos. O uso do adesivo de capsaicina a 8% ( ainda tem somente 33% da potência analgésica da ceta- Pharmacology, The Prescriber`s Guide 2012;49: 226- 255.
não existente em nosso país) melhora 80 % da área mina. 231. 21. Wiffen PJ, Derry S, Moore RA, Kalso EA. Carbama-
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aplicação. dem ser aliviados com o uso de benzodiazepínicos
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Inicio de ação: 3 meses ( realizar ciclos de apli- associados), disforia, alucinação, sonolência e ton- 11. Karpa KD, Cavanaugh JE, Lakoski JM. Doloxetine 23. Wiffen PJ, Derry S, Moore RA, McQuay HJ. Carbama-
cação) tura. Hipertensão, depressão do SNC, apneia e de- pharmacology: profile of a dual monoamine modulator. zepine for acute and chronic pain in adults.  Cochrane
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local aplicado, Dose: 0,1 a 0,2 mg/kg/h EV ( 0,2 a 0,75 mg/kg) 12. Smith HS, Pappagallo M. Duloxetine. Essencial Pain 24. Gomez-Arguelles JM, Dorado R, Sepulveda JM,
Dose: número máximo de 4 adesivos (colocar a Lembretes importantes: Pharmacology, The Prescriber`s Guide 2012;34: 154-157. Herrera A, Arrojo FG, Aragón E, Huete CR, Terrón C,
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Deve ser colocado por médico, mantido por 60 amplo conhecimento de seus efeitos. 14. Smith HS, Pappagallo M. Gabapentine. Essencial Pain 25. Smith HS, Pappagallo M. Oxcarbamazepine. Essencial
minutos e depois retirado. Indicado repetir a apli- Titular a dose paulatinamente32. Pharmacology, The Prescriber`s Guide 2012;45: 201- Pain Pharmacology, The Prescriber`s Guide 2012;80:
caçãoo em 3 meses pelo reinervação. 204. 370-373.
422 MEDICAÇÃO ADJUVANTE PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 423

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G. Localized neuropathic pain: an expert consensus
on local treatments.  Drug Design, Development and
Therapy. 2017;11:2709-2718. Francisco de Assis Bravim de Castro
Raquel Fernandes de Barros
Alexandre Mio Pos

Introdução
A maconha é um derivado obtido de um arbusto O consumo médico de cannabis vem aumentan-
conhecido mais popularmente como “cânhamo da do e diminuindo devido às restrições legais, bem
índia” e cujo nome científico é cannabis sativa e é como a dificuldade em replicar os seus efeitos en-
ainda uma das mais antigas drogas documentadas tre os vários grupos de indivíduos. Assim, devido
na história. O extrato de folhas secas é conhecido às preocupações crescentes sobre seus efeitos psi-
como maconha, enquanto o haxixe é produzido a cotrópicos e sua associação com vários crimes, ela
partir de uma resina concentrada, resultando em acabou sendo removida em 1941 da farmacopeia
um efeito mais potente. Existem várias variedades dos EUA2. No entanto, desde a década de 1960, o
de cannabis, mas não há consenso sobre se Sativa, consumo de cannabis vem aumentando rapida-
Indica e Ruderalis são três espécies diferentes ou mente nos Estados Unidos e em 1976, o governo
apenas subespécies separadas de cannabis sativa. promulgou a lei do uso de substâncias controladas
A cannabis contém 545 compostos químicos, 104 e como a cannabis foi classificada como uma dro-
dos quais são canabinoides, sendo o restante flavo- ga com um elevado potencial de abuso, persistiu a
noides, terpenos e ácidos graxos, entre outros - to- proibição de comércio e o seu uso médico. A par-
dos com usos médicos potenciais1. tir de março de 2017, um movimento de liberação
424 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 425

culminou com 28 estados e o distrito de Columbia de possíveis indicações, incluindo o controle da dor crônicos9. Não obstante, os canabinoides podem do fumado, e uma biodisponibilidade oral muito
promulgando leis que permitiram a utilização mé- crônica, e ao fazê-lo abandonaram o processo de ficar isolados no tecido adiposo, o que estenderia mais baixa (aproximadamente 5%). O canabidiol é
dica da cannabis e em seguida, 8 Estados, além do “Due Diligence” necessário para garantir a eficácia sua meia-vida até aproximadamente uma semana metabolizado principalmente pelas isoenzimas he-
distrito de Columbia, legalizaram o uso recreativo e a segurança de novos fármacos5. Assim quanto e a eliminação completa de uma única dose pode páticas do citocromo P-450, 3A4 e 2C19, com uma
da cannabis3. A cannabis é a substância psicoativa maior for o número de estados a legalizarem a can- exigir até 30 dias. O metabolismo dos canabinoides meia-vida de eliminação após administração oral
ilegal mais comumente utilizada em todo o mundo nabis para usos medicinais, maior será o número de é hepático e origina mais de 20 metabólitos, a maio- crônica de dois a cinco dias O canabidiol é excreta-
e em 2015, um número estimado de 22,2 milhões pacientes que perguntará a seu médico se esse é um ria com propriedades psicoativas. Os efeitos da ma- do principalmente na urina e fezes12.
de americanos com idade de 12 anos ou mais eram tratamento eficaz para a sua condição. Portanto, conha sobre o sistema cardiovascular incluem um Além do componente THC, também foi extraído
usuários da cannabis, o que corresponde a 8,3% da mesmo que os médicos não recomendem o uso de aumento da depressão miocárdica e taquicardia, o principal fitocanabinoide não psicoativo presen-
população dos EUA. Em 2014 a cannabis foi utiliza- cannabis para os seus próprios pacientes, eles deve- portanto não é de se estranhar que seu uso possa te na cannabis, o canabidiol (CBD), que representa
da por cerca de 182 milhões de pessoas no mundo, riam ao menos ser educados sobre os extensos efei- potencializar o efeito depressor cardiovascular de cerca de 40% do extrato da planta. Este interesse
o que equivale a aproximadamente 3,8% da popula- tos da droga. Infelizmente, muitos pacientes usam drogas anestésicas. levou ao isolamento e síntese de muitos canabi-
ção global com idade entre 15 e 64 anos.4 atualmente a cannabis para tratar uma série de sin- A biodisponibilidade sistêmica do THC fumado noides adicionais e, eventualmente, à descoberta
Os estudos e a investigação sobre a cannabis tem tomas ou condições clínicas, sem entrar em contato é tipicamente de 15 a 30%, com variabilidade indi- dos endocanabinoides. Os endocanabinoides são
sido prejudicada há décadas por um debate sobre a com o seu médico. Os profissionais de saúde preci- vidual substancial, em parte devido a variações na produzidos endogenamente como derivados de
sua legalidade. O interesse público no uso de pro- sam estar preparados para responder as perguntas técnica de inalação. A biodisponibilidade baixa da fosfolipídios. Até o momento, cinco endocanabi-
dutos derivados da maconha para fins medicinais sobre o consumo consciente de cannabis e o seu cannabis oral ocorre devido a uma absorção mais noides foram identificados: a anandamida (AEA), o
na Europa foi acelerado pela advocacia na sua le- efeito potencial sobre o tratamento de cada pacien- lenta (tipicamente 5 a 10%), ao extenso metabo- 2-aracdonilglicerol (2-AG), a noladina, a virodami-
galização para uso médico e recreativo por organi- te. A Cannabis continua a ser uma questão politi- lismo de primeira passagem no fígado, e também na e o N-aracdonil dopamina, dos quais a AEA e o
zações leigas e partidos políticos. Alguns governos camente carregada, em meio a pesquisas ainda em por uma substancial variabilidade individual, com 2-AG são os mais estudados13. Estudos relatam que
europeus sancionaram e legalizaram a cannabis andamento sobre os seus benefícios medicinais e o concentrações máximas de THC no plasma de uma os endocanabinoides possuem um papel impor-
herbácea de uso medicinal para uma ampla gama persistente uso recreativo em toda a população. a quatro horas após a ingestão, resultando em efei- tante na modulação da neurotransmissão, princi-
tos tardios e menos intensos10. Isso pode se tradu- palmente agindo como transmissores retrógrados
zir em uma menor incidência de abuso, com base em um grande número de processos fisiológicos,
na experiência clínica com dronabinol oral (THC incluindo a dor, a cognição, a regulação do sistema
sintético), sendo que os usuários ingênuos, não endócrino, a função metabólica, a emotividade e

Farmacologia canabinoide
experimentando os efeitos imediatos de sua dose os processos motivacionais14. Os endocanabinoides
oral inicial, podem tomar doses adicionais dentro atuam “sob demanda”, ou seja, são acionados quan-
de um curto período de tempo, resultando em uma do necessário e não são armazenados em vesícu-
A cannabis é mais comumente consumida atra- rápida, com o tetrahidrocanabinol (THC) detec- overdose inadvertida à medida que a dose cumula- las, sendo imediatamente liberados após a ativação
vés do vapor fumado, inalado, e também por via tável no plasma em segundos e concentrações de tiva é absorvida11. pós-sináptica. Sua ação é terminada com a capta-
oral de administração. As formulações transdérmi- pico em 3 a 10 minutos. Isso resulta em rápido iní- O canabidiol tem uma biodisponibilidade sistê- ção nas terminações pré-sinápticas, seguida de seu
cas de cannabis (patch ou gel) são comercializadas cio de ação (dentro de um minuto) e efeitos subje- mica (entre 11 a 45%) semelhante ao do THC quan- metabolismo (Ver figura 1).
em alguns estados americanos, mas não há evidên- tivos intensos. O início rápido e o controle preciso
cias científicas de que eles atinjam níveis farma- da dose administrada permite a titulação parcial da
cologicamente ativos de canabinoides no corpo. A dosagem, apesar das variações na potência7.
cannabis em vaporização (“vaping”) aquece o ma- O THC tem uma grande influência sobre o cé-

Riscos associados ao uso de


terial sem queima (pirólise). Isso minimiza a inala- rebro, sendo essa influência complexa e dose de-
ção de gases quentes e potenciais carcinógenos em pendente. Este componente é responsável pela

cannabinoides (ver tabela 1)


comparação com o ato de fumar e produz uma me- indução de sintomas psicóticos, anormalidades
nor irritação respiratória. A administração sublin- perceptivas, disforia, alucinações, pensamento
gual é usada para algumas preparações médicas de anormal, despersonalização e sonolência em sujei-
cannabis como o nabiximol. Administração intra- tos vulneráveis, o que é compatível com o efeito de EFEITOS CARDIOVASCULARES veis, a taquicardia induzida começou no momento
venosa e supositório retal tem sido relatada na lite- aumentar o efluxo pré-sináptico de dopamina no Os efeitos cardiovasculares do uso da maconha da inalação e persistiu por pelo menos 90 minu-
ratura, mas parece ser extremamente rara6. córtex pré-frontal medial8. Devido à sua alta solubi- variam de benignos a preocupantes, com base na tos, com a frequência cardíaca máxima alcançada
A via de administração influencia substancial- lidade lipídica, a meia-vida de eliminação em usuá- linha do tempo de uso e da dosagem empregada. em uma média de 30 minutos. O estudo também
mente a farmacocinética dos canabinoides. A can- rios ocasionais é aproximadamente 56h, embora Em um estudo comparando os efeitos de altas e encontrou uma elevação significativa nas pressões
nabis fumada ou a vaporizada tem uma absorção possa ser de aproximadamente 28h em usuários baixas doses de THC em homens jovens e saudá- arteriais sistólica e diastólica, bem como a presen-
426 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 427

Figura 1: O sistema endocanabinoide: suas funções, distribuição e componentes (taxa 29% maior, IC 95% 0,81, 2,05).19 Na análise de quantidades similares de monóxido de carbono a
Mittleman et al. de mais de 3.800 casos de infar- partir da combustão incompleta dos compostos or-
to do miocárdio, 124 pacientes relataram o uso de gânicos encontrados em cada produto23. Enquanto
cannabis no último ano, dos quais 37 relataram o a temperatura mais alta de queima da cannabis é
uso dentro de 24 horas, com 9 relatando o uso den- uma possibilidade que pode justificar, a evidência
tro de uma hora do evento. O estudo encontrou um da irritação da maconha está bem documentada.
aumento estatisticamente significativo de 4,8 vezes Em um estudo de coorte com 40 pacientes saudá-
no infarto do miocárdio na primeira hora de uso veis, Roth et al. mostraram que os fumantes de ma-
de maconha (P <0,001). De fato, à medida que au- conha tiveram escores de índice de bronquite sig-
menta o teor de THC da maconha, há um número nificativamente aumentados com dano epitelial de
crescente de estudos clínicos demonstrando a asso- grandes vias aéreas, edema e eritema. Na biópsia da
ciação entre o uso de cannabis e eventos cardiovas- mucosa, a hiperplasia de células caliciformes com
culares adversos. Um desses estudos acompanhou subsequente aumento de secreções, perda de epité-
1913 adultos prospectivamente e demonstrou que lio ciliado e metaplasia escamosa também estavam
em pacientes com infarto do miocárdio prévio, o presentes em 97% dos fumantes. Eles concluíram
uso de maconha até uma vez por semana aumenta- que o uso de maconha está associado à inflamação
va o risco de morte 2,5 vezes, enquanto o uso mais das vias aéreas, semelhante à de um fumante de ta-
frequente gerava um risco quatro vezes maior de baco24.
morrer20.
Uma pesquisa nacional com pacientes hospita- DISTÚRBIOS DO HUMOR
lizados por AVC isquêmico agudo em usuários de O uso de cannabis causa psicose aguda transi-
maconha encontrou 17% de aumento na probabili- tória (psicose induzida por cannabis) em alguns
dade de AVC isquêmico agudo em comparação com usuários. Existem evidências substanciais de que
não usuários (Odds Ratio 1,17, IC 95% 1,15, 1,20)21. o uso crônico de cannabis, especialmente durante
Lawson relatou que o vasoespasmo induzido por a adolescência, está associado ao desenvolvimen-
drogas poderia ser uma explicação plausível para to posterior de esquizofrenia. Os mecanismos res-
o AVC isquêmico, mas com a ressalva de que devi- ponsáveis pela associação entre uso de cannabis
do às medicações confusas e/ou substâncias ilícitas e esquizofrenia permanecem incertos. Um estudo
usadas, nenhuma associação direta poderia ser de- identificou 1492 pacientes que receberam um diag-
terminada22. nóstico de psicose por cannabis no Registro da Cen-
Referência15: adaptado de Aizpurua-Olaizola O, Elezgarai I, Rico-Barrio I, Zarandona I, Etxebarria N, et al. Targeting the endocannabinoid system: future tral de Pesquisa Psiquiátrica Dinamarquesa entre
therapeutic strategies, Drug Discov Today 2017;22(1):105-110. EFEITOS PULMONARES 1994 e 2014, sendo que durante o acompanhamen-
Devido à natureza não filtrada do cigarro de ma- to foi identificada uma taxa de conversão de 41,2%
ça de contrações ventriculares prematuras em in- O consumo de cannabis pode estar associado ao conha comparado aos cigarros de tabaco comer- (IC95% 36,6-46,2) à esquizofrenia, com 50% dos ho-
divíduos que receberam as doses mais altas. Esses aumento do risco de infarto agudo do miocárdio, cialmente disponíveis, a quantidade de substâncias mens convertendo em 2,0 anos e 50% das mulhe-
experimentos mostraram uma correlação entre a mesmo em indivíduos sem história de angina ou cancerígenas e irritantes, como o alcatrão, que pe- res dentro de 4,4 anos25. Uma revisão sistemática
dose e as alterações hemodinâmicas16. Em doses hipertensão. Uma análise de caso-controle revelou netra nas vias aéreas superiores é aumentada, com de 35 estudos longitudinais encontrou um aumen-
baixas ou moderadas, a maconha aumenta a ati- um aumento do risco de infarto do miocárdio em um aumento de aproximadamente três vezes na to do risco de psicose para aqueles que já usaram
vidade simpática reduzindo os efeitos parassim- 4,8 vezes (IC 95% 2,4; 9,5) no período de 60 minutos inalação de alcatrão. Além disso, em comparação cannabis em comparação com aqueles que não o
páticos e produzindo uma elevação na frequência após o uso de cannabis, que se tornou não signi- com o tabaco, os usuários inalam dois terços a mais fizeram (razão de chances ajustada de 1,41, 95% CI
cardíaca, no débito cardíaco e na pressão sanguí- ficativo na segunda hora18. Após uma mediana de de volume, com um terço a mais de profundidade 1,20-1,65). Houve uma relação dose-resposta sig-
nea. No entanto, o oposto é verdadeiro à medida 3,8 anos de seguimento com 1913 indivíduos, os de inalação e quatro vezes mais tempo de retenção nificativa, com um duplo aumento no risco entre
que a dosagem aumenta. Em altas doses, o siste- consumidores semanais de cannabis tiveram um da respiração, todos os quais são práticas comuns aqueles que usaram cannabis com mais frequência
ma parassimpático assume o controle, levando à Odds Ratio de 4,2 (IC 95% 1,2-14,3) para mortali- para tentar maximizar a absorção de THC, que é (Odds Ratio 2.09, IC 95% 1.54-2.84). A revisão fez
bradicardia e hipotensão, com estudos em animais dade subsequente, em comparação com não usuá- em torno de 50% do teor nos cigarros. Essas prá- ajustes para vários fatores de confusão conhecidos
postulando que a inibição simpática ocorre devido rios. Depois de até 18 anos de seguimento de toda a ticas resultam em cinco vezes a quantidade de ní- e excluiu coortes de pacientes com doença mental
ao componente bioativo dos efeitos da cannabis coorte, não houve mais diferença na taxa de morta- veis de carboxihemoglobina em comparação com identificada ou problemas de uso de substância26.
nos receptores CBD17. lidade entre fumantes e não-fumantes de maconha o fumante típico de tabaco, apesar da presença de Um estudo longitudinal prospectivo de 6534 indi-
428 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 429

víduos nascidos no norte da Finlândia em 1986 e tórico do uso de drogas. Investigando o papel da Tabela 1: Efeitos colaterais mais importantes dos vs placebo inativo) na resposta de dor induzida por
reavaliados entre os 15 e 16 anos e novamente aos maconha como analgésico, Russo et al. encontrou canabinoides capsaicina intradérmica. Os resultados indicaram
30 anos encontrou um risco aumentado de psico- que, devido ao papel da cannabis em várias vias, uma diminuição significativa da dor com a dose
se para aqueles que usaram cannabis pelo menos a segurança e potenciais efeitos colaterais e bene- SISTEMA NERVOSO CENTRAL média de maconha e um aumento significativo da
cinco vezes entre os 15 e 16 anos, em comparação fícios mostrados nos ensaios clínicos, a maconha dor com a dose alta. Não foram observadas dife-
Euforia
com aqueles que nunca tinha usado (taxa de risco pode, agudamente, desempenhar um papel no con- renças com a dose baixa de maconha, e não hou-
ajustada 3,02, IC 95% 1,14-7,98). A análise ajustada trole da dor quando ele é combinado com opioides Ansiedade ve efeito sobre a área de hiperalgesia em qualquer
para vários fatores conhecidos de confusão (como porém, no uso crônico os requisitos peri-operató- Pânico dose. Os autores concluíram que provavelmente
por exemplo os sintomas de psicose prodrômica no rios de narcóticos para se obter analgesia apropria- existe uma pequena janela terapêutica de analgesia
início do estudo, psicose parental, uso de álcool e da foram significativamente aumentados30. Assim, Paranoia para a maconha fumada36.
fumo diário de tabaco) e indivíduos excluídos com os pacientes tinham uma maior probabilidade de Psicose Existem múltiplos estudos clínicos randomiza-
um diagnóstico de avaliação27. experimentar dor do que aqueles que não usavam dos e bem construídos sobre a eficácia da cannabis
Sedação
maconha31. Clinicamente, esse aumento se mate- na terapia da dor (Figura 2). Uma recente revisão
EFEITOS SOBRE ANESTÉSICOS rializou na forma de uma necessidade de opioides Tontura sistemática com metanálise de canabinoides exa-
Várias observações foram feitas na literatura duas vezes maior do que o paciente médio com a Sonolência minou 28 RCTs com 2454 portadores de dor crôni-
mostrando a tolerância cruzada entre a maconha e mesma altura e peso, a cada dia ao longo de dois ca revelou que, em comparação com placebo, eles
os barbitúricos, opioides, prostaglandinas, clorpro- dias de pós-operatório, demonstrando uma poten- Depressão eram associados a uma maior diminuição na sen-
mazina e o álcool. Além disso, estudos em animais cial interação entre a maconha e os opioides, que Ataxia sação de dor e uma maior redução média na Escala
mostraram efeitos aditivos entre todos eles, exce- devem ser levados em consideração quando consi- Numérica Visual (ENV). Os autores concluíram que
Distúrbios visuais / auditivos?
to para o álcool. Como resultado do sequestro da deramos as possíveis complicações pós-operatórias havia uma evidência moderada para apoiar o uso
gordura e com a subsequente eliminação lenta dos que podem surgir do aumento das doses32. Astenia de canabinoides para o tratamento da dor crônica.
tecidos, os canabinoides podem estar presentes Twardowski et al publicou uma comparação do Nesta revisão, a neuropatia era o diagnóstico mais
Possíveis efeitos cognitivos
para interagir com múltiplos agentes anestésicos. consumo de analgésicos e sedativos em uma popu- comumente citado como causa da dor crônica. A
Em um estudo prospectivo, randomizado, duplo- lação de usuários de cannabis (25 pacientes) e um SISTEMA CARDIOVASCULAR maioria dos estudos o extrato da planta como fon-
-cego com 60 pacientes, os usuários crônicos de grupo controle (225 pacientes) para a realização Taquicardia te dos canabinoides. Apenas 5 dos 28 estudos ava-
maconha necessitaram de doses significativamen- de procedimentos endoscópicos ambulatoriais. liou os efeitos da cannabis fumada ou vaporizada e
Hipotensão postural
te aumentadas de propofol para facilitar a inserção Ele encontrou que os usuários de cannabis usa- além disso, os canabinoides foram associados com
bem-sucedida da máscara laríngea e, assim, os au- ram doses 14% maiores de fentanil, 20% maiores Palpitações um risco aumentado de eventos adversos a curto
tores sugeriram que as doses elevadas, em usuários de midazolan e 220% maiores de propofol para a prazo, incluindo eventos adversos graves, em com-
Vasodilatação (rubor, olhos vermelhos)
crônicos de maconha, podem ser uma exigência realização dos procedimentos propostos33. Um es- paração com o placebo38. Mais recentemente, um
para uma perda de consciência apropriada, bem tudo de dor aguda com 42 jamaicanos usuários re- Aumento do risco de infarto do miocárdio dentro de uma RCT utilizando a cannabis vaporizada em 42 pa-
como relaxamento da mandíbula28. Dickerson em gulares de cannabis, comparado com 31 controles hora de uso cientes com dor neuropática central devido à lesão
uma revisão escrita no American Association of Nurse não usuários, demonstrou um maior consumo de RESPIRATÓRIO (SE FUMADO) medular, encontrou uma redução não dose-depen-
Anaesthetist Journal, relatou os efeitos sinérgicos da morfina e piores escores de dor pós-operatória. dente da ENV de dor. Estes autores concluíram que
cannabis com a potencialização de relaxantes mus- Curiosamente, dentro do grupo de usuários crô- Bronquite / doença pulmonar obstrutiva crônica / infecção pesquisas adicionais são necessárias para avaliar
culares não despolarizantes, a potencialização da nicos, o subgrupo das mulheres apresentou ainda pulmonar como as interações entre os sistemas canabinoides
norepinefrina, o aumento da sensibilidade a qual- pior comportamento álgico em comparação com os OUTROS SISTEMAS podem influenciar a resposta analgésica37.
quer droga que cause depressão respiratória ou homens (Tabela 1)34. No contexto da dor aguda, os agonistas dos re-
Boca seca
cardíaca, bem como uma resposta mais profunda ceptores de canabinoides podem aumentar os efei-
à sensibilização dos anestésicos inalatórios as cate- EVIDÊNCIAS DE EFICÁCIA EM DOR Dor de cabeça tos antinociceptivos de opioides em modelos pré-
colaminas e recomendou que a anestesia deve ser Os resultados dos estudos que avaliaram a far- -clínicos, sugerindo que os agonistas canabinoides
Dor abdominal / inchaço
evitada em qualquer paciente com uso de cannabis macoterapia para dor demonstraram as complexas são poupadores de opioides e podem impedir o
nas últimas 72 horas.29 Devido a essas possíveis interações da analgesia relacionada à cannabis. Síndrome da hiperemese canabinoide aparecimento do fenômeno de tolerância à morfi-
reações autonômicas, bem como às complicações Em relação aos estudos experimentais ou pré-clí- na. No contexto de tratamento da dor aguda, uma
psiquiátricas teóricas, como os efeitos de abstinên- nicos, dois artigos são antagônicos e merecem ser Referência35: Adaptado de Clark AJ, Lynch ME, Ware M, revisão sistemática recente com sete RCT’s em dor
cia e sua interferência na indução anestésica ou citados. Em um estudo randomizado e duplo-cego Beaulieu P, McGilveray IJ, Gourlay D. Guidelines for the use pós-operatória, incluindo 611 pacientes, encontrou
recuperação pós-operatória, tem sido enfatizada a com 15 voluntários sadios, foram testados os efeitos of cannabinoid compounds in chronic pain. Pain Res Manag que em cinco estudos, os canabinoides proporcio-
necessidade de questionar o paciente sobre o his- da cannabis fumada (baixa, média, ou altas doses 2005; 10 Suppl A: 44A-6A. naram uma analgesia equivalente ao placebo; em
430 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 431

Figura 2: Evidências para o uso de cannabis em medicina um único estudo a analgesia fornecida foi superior de dor não oncológica.41 Vinte e quatro RCTs com
ao placebo e em um estudo os canabinoides for- 1. 334 pacientes eram elegíveis para metanálise. A
neceram uma analgesia inferior àquela fornecido maioria dos estudos analisados incluiu pacientes
pelo placebo. Nenhum efeito analgésico aditivo ou com dor neuropática. Uma análise posterior sepa-
Convulsões intratáveis na Síndrome de Dravet e Lennox-Gastaut (CBD) sinérgico foi observado quando os canabinoides rando os estudos com dor não neuropática e não
foram utilizados em combinação com os opioides. oncológica não foi executado. A revisão incluiu
Melhora do sono na Fibromialgia, Síndrome da apneia do sono, Dor Em cinco dos sete estudos, alguns efeitos adversos também estudos experimentais e procurou por es-
crônica e Esclerose múltipla (canabinoides) foram mais frequentes no tratamento com canabi- tudos não publicados, portanto, a revisão superes-
noides do que com o placebo ou o comparador ati- timou a eficácia dos medicamentos à base de can-
Melhora dos sintomas na Síndrome de Tourette (cápsulas de THC) vo. Os autores concluíram os canabinoides não têm nabis para essa finalidade específica. Além disso,
nenhum papel no tratamento da dor aguda39. existem muitas síndromes de dor crônica neuropá-
Melhora dos sintomas de ansiedade na Síndrome de fobia social (Canabidiol) Em uma excelente análise da literatura publica- tica não oncológica para as quais não foi conduzi-
da em 2018, com uma síntese de 1085 artigos e 31 do nenhum RCT com base em cannabis até hoje,
Melhora dos sintomas na Síndrome de estresse pós traumático (Nabilona) revisões sistemáticas, foram identificados 23 arti- como a síndrome do intestino irritável, a síndrome
gos para dor, 5 para espasticidade, 6 para náuseas da bexiga dolorosa ou a síndrome de dor pélvica
Melhora na recuperação após TCE ou hemorragia cerebral (Canabinoides)
e vômitos e 12 para eventos adversos. A metanálise crônica. Não pode ser concluído, portanto, que os
para dor, com 15 RCT’s na qual houve uma redu- medicamentos à base de cannabis são eficazes para
Melhora da náusea e vômitos induzida pela quimioterapia (Canabinoide oral)
ção de pelo menos 30% na intensidade, encontrou todos os tipos de dor crônica não neuropática. Esta
Aumento do apetite e diminuição da perda de peso associada ao HIV/SIDA um NNT (número necessário para tratar) de 11 conclusão é apoiada pelo achado de uma recente
(Cannabis e Canabinoide oral) com uma relação de risco (RR) de 1,37. Na análi- revisão sistemática com 27 ensaios de dor crônica,
se de sensibilidade dos estudos foi encontrado que de que há evidência insuficiente de efetividade em
Melhora da espasticidade na Esclerose Múltipla (Canabinoide oral) o tamanho das mostras e a duração do tratamento populações com dor não neuropática42.
afetou as conclusões e, portanto, não foi encontra-
Dor crônica em adultos do nenhum benefício do uso. Uma metanálise de EVIDÊNCIAS EM DOR NO CÂNCER
4 RCT’s encontrou uma melhora global da espasti- Estudos realizados na década de 1980 sugeri-
KEY Conclusiva ou substancial cidade (RR = 1,45 com NNT = 7), porém, quando os ram um benefício do THC, entretanto os métodos
resultados foram positivos, para uma melhora de desses estudos não atendem aos padrões atuais de
Moderada Limitada
cerca de 30%, foi observado um NNT de 10. Uma um RCT. Apenas quatro estudos que atendem aos
metanálise de 7 RCT’s para controle de náuseas e padrões atuais de RCTs foram conduzidos nos últi-
EFEITOS ADVERSOS POTENCIAIS vômitos após a quimioterapia encontrou um RR de mos 10 anos. Eles compararam o uso do nabiximol
3,60 com um NNT de 3. Os efeitos adversos foram spray oral como terapia adjuvante a terapia medica-
1- Redução da memória de curto prazo, boca seca, perda da
CURTO PRAZO
a maior causa para encerrar o tratamento (número mentosa convencional versus placebo. Os estudos
percepção e habilidade motora.
necessário causar dano – NNH variou de 8 a 22). Os incluíram 1.130 pacientes e duraram entre duas e
2- Redução na habilidade de condução de veículos.
eventos adversos individuais foram muito comuns, nove semanas. Todos os estudos falharam em alcan-
3- Ataque de pânico, pensamentos paranoides e alucinações.
incluindo tonturas (NNH= 5), sedação (NNH= 5), çar o endpoint primário (superioridade estatistica-
confusão (NNH= 15) e dissociação (NNH= 20). O mente significativa sobre o placebo no alívio da dor
1- Esquizofrenia e outras psicoses.
“sentir-se alto” foi relatado em 35% a 70% dos usuá- de 30% ou mais ou redução média da intensidade da
2- Transtorno de ansiedade social.
rios. A evidência indica que os efeitos médicos dor), entretanto para alguns endpoints secundários
3- Tosse crônica com aumento na produção de fleuma.
mais consistentes dos canabinoides são os eventos (sono, qualidade de vida, análise de resposta contí-
LONGO PRAZO

4- Acidentes e traumas com overdose de cannabis na adolescência.


adversos e além disso é importante reconhecer que nua da dor diária média), o nabiximol spray oral foi
5- Baixo peso de nascimento se utilizada na gestação.
a taxa de eventos adversos é, provavelmente, sub- estatisticamente superior ao placebo43,44,45,46.
6- Deficiências acadêmicas na educação, emprego, salários,
notificada40.
funções sociais e relacionamentos.
7- Pensamentos suicidas.
EVIDÊNCIAS EM DOR CRÔNICA
8- Desenvolvimento de dependência no uso da droga.
EVIDÊNCIAS EM DOR CRÔNICA NEUROPÁTICA
NÃO NEUROPÁTICA Em uma revisão sistemática de cinco RCTs in-
Uma recente revisão sistemática demonstrou a cluindo 178 pacientes com neuropatia do HIV (dois
superioridade agrupada de todos os medicamen- estudos), dor pós-traumática (um estudo) e dor neu-
Referência38: Adaptado de Connelly D. A quick guide to medical cannabis. Pharmac j. july 2018;301: 7915 tos à base de cannabis para alívio de todos os tipos ropática periférica mista (dois estudos), o número
432 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 433

necessário para tratar (NNT) para o alívio da dor de Nugent et al. produziu em 2017 uma metaná- Cannabis herbácea, THC vegetal ou sintético (dro- tica crónica. Os potenciais benefícios dos medica-
30% ou mais, foi de 6 [IC95%: 3- 13] para a cannabis lise que incluiu 13 RCT’s com 735 pacientes com nabinol, nabilona) e o nabiximol spray oral) tivesse mentos à base de cannabis podem ser superados
medicinal. Os autores encontraram que a cannabis dor neuropática central ou periférica relacionada valor no tratamento de pessoas com dor neuropá- por seus efeitos deletérios potenciais50.
inalada pareceu fornecer alívio da dor a curto pra- a várias condições clínicas. Os estudos testaram a
zo para doenças neuropáticas crônicas. No entanto, cannabis fumada ou vaporizada, o nabiximol e o
a duração do estudo foi de um dia em dois estudos, THC spray oral. As durações dos estudos variaram

Discussão final
cinco dias em um estudo e duas semanas em dois entre um dia e 13 semanas. Nove RCT’s foram me-
estudos. Nenhum dado sobre a eficácia da canna- ta-analisados: a razão de risco para 30% ou mais de
bis em períodos intermediários (13– 26 semanas) alívio da dor foi 1,43 (IC 95%: 1,16-1,88). Os autores
está disponível. Além disso, até 90% dos pacientes concluíram que há evidências, ainda que de baixa Embora os efeitos farmacológicos da cannabis concluir que há moderada qualidade de evidência
nos estudos incluídos possuíam uma experiência intensidade, de que a cannabis pode a aliviar dor tenham sido explorados por quase 5.000 anos para para apoiar o uso de canabinoides para tratar dor
anterior com cannabis para uso recreativo47. neuropática em alguns pacientes49. uso medicinal, foi apenas durante as últimas déca- crônica, na qual a maioria dos estudos sugeriu que
A revisão sistemática produzida por Finnerup et Uma recente revisão da Cochrane incluiu os das que as descobertas científicas foram feitas so- houve alívio do sintoma associado ao uso do fárma-
al. em 2015 incluiu nove RCT’s com duração de 3 se- mesmos estudos de Petzke et al., 2016 e um RCT bre canabinoides. co. Estas associações, no entanto, não alcançaram
manas ou mais e 1110 pacientes (8 estudos com na- recém-publicado de 16 semanas com 234 pacien- Os custos associados à dor crônica são maiores significância estatística em todos os estudos para
bixinol spray oral um estudo com dronabinol oral). tes com dor neuropática central devido a esclero- do que aqueles destinados ao câncer, doenças car- o sintoma dor, mas é interessante notar que vários
Os diagnósticos foram de polineuropatia periférica se múltipla com dronabinol por via oral. Dezesseis díacas e HIV combinados e para muitos pacientes, ensaios também mostraram melhora de outros pa-
diabética (dois estudos), dor central na esclerose estudos com 1750 participantes foram incluídos as intervenções atuais de controle da dor, incluindo râmetros de resultado como sono, rigidez muscular
múltipla (três estudos), polineuropatias periféricas com duração média de 2 a 26 semanas e compa- os medicamentos, são insuficientes para propor- e espasticidade.
de diferentes origens (três estudos) e lesão medular raram nabiximol spray oral (10 estudos), nabilona cionar alívio adequado e estão associados a efeitos A cannabis, sem dúvida, desempenhará um pa-
(um estudo). O alívio da dor não foi estatisticamen- (dois estudos), cannabis herbácea inalada (dois es- adversos à saúde individual e à sociedade. Nesse pel importante na medicina da dor e cuidados pa-
te significante e o NNH (abandono devido a eventos tudos) e dronabinol (dois estudos) contra placebo contexto, muitos pacientes com dor crônica estão liativos nos próximos anos, mas ainda há obstáculos
adversos) foi de 12 (95% IC: 9-20). Os autores deram (15 estudos) e um analgésico (codeína; um estudo). se voltando para outras terapias, incluindo canabi- que impedem um sistema de acesso seguro para os
uma recomendação fraca contra o uso de drogas à A qualidade do estudo foi baixa em dois estudos, noides. Como resultado da falta de uma opção de pacientes. Um obstáculo notável reside no fato de
base de cannabis medicamentos para dor neuropá- moderada em 12 estudos e alta em dois estudos. tratamento e sem a educação adequada para tal, os que a cannabis ainda não é considerada um trata-
tica crônica48. Nove estudos estavam em alto risco de viés para o pacientes estão no momento sendo deixados sozi- mento aprovado para qualquer condição pelas ra-
A revisão sistemática de Petzke et al. (2016) in- tamanho do estudo. Medicamentos à base de can- nhos para decidir sobre qual produto usar, com que zões acima mencionadas. Ensaios clínicos de grande
cluiu 15 RCTs com duração de 2 semanas ou mais nabis (26% dos participantes) foram superior ao frequência e em que dose. As rápidas mudanças em escala, controlados e randomizados, ainda são con-
(até 15 semanas) com 1.519 participantes. Dez es- placebo (21% dos participantes) na impressão geral torno do uso medicinal da cannabis terá um impac- siderados como a primeira linha para provar a efi-
tudos usaram nabixinol spray oral, dois estudos de alteração do paciente (Patient Global Impression to considerável também nos profissionais de saúde, cácia médica de um fármaco, porém são em grande
utilizaram nabilona oral, dois estudos utilizaram of Change - PGIC) com um alto índice de resposta que atualmente recebem pouca ou nenhuma educa- parte inacessíveis a pesquisadores de cannabis por
cannabis medicinal inalada e um estudo drona- para melhora ou melhora acentuada e um NNT de ção sobre as questões relacionadas à cannabis medi- uma variedade de razões legítimas. Enquanto não
binol oral. Os diagnósticos foram polineuropatia 11. Medicamentos à base de cannabis (39%) foram cinal. É crucial que os profissionais de saúde obte- podemos confiar apenas em depoimentos de espe-
periférica diabética (três estudos), dor central na superiores ao placebo (33%) no alívio de 30% da nham formação adequada e que o estado monitorize cialistas e relatos de casos para tornar mais amplas
esclerose múltipla (três estudos), dor periférica e dor ou mais com um NNT de 11. Mais participantes a saúde do paciente quando a cannabis é prescrita. as alegações sobre os produtos recém-sintetizados,
central de diferentes etiologias (três estudos), poli- retiraram-se dos estudos devido a eventos adver- Muitos dos ensaios clínicos que investigam a historicamente o perfil segurança da planta canna-
neuropatias periféricas de diferentes origens (dois sos no grupo de medicamentos à base de cannabis eficácia do canabinoides para alívio da dor foram bis poderia ser utilizado para produzir dados a partir
estudos), lesão medular (um estudo), lesão de plexo (10% dos participantes) comparado com o placebo realizados durante a década passada. Com base de outros estudos clínicos mais admissíveis para for-
(um estudo), polineuropatia induzida por quimio- (5% dos participantes) com NNH de 25. Não hou- em revisões sistemáticas e metanálise podemos mular diretrizes de prática clínica confiáveis.
terapia (um estudo) e neuropatia por HIV (um estu- ve diferença estatisticamente significativa entre os
do). Treze estudos controlados por placebo estavam medicamentos à base de cannabis (7% dos partici-
disponíveis para metanálise. NNT para alívio da dor pantes) e o placebo (5% dos participantes) na fre-
de 30% ou mais foi de 10 (IC 95%: 6 a 33) e o NNT foi quência de eventos adversos graves. Transtornos
19 (13-37). A análise de subgrupos demonstrou que
para a análise conjunta de todas as síndromes de
psiquiátricos ocorreram em 17% dos participantes
usando medicamentos à base de cannabis e em
Referências bibliográficas
dor neuropática, o nabiximol foi superior ao place- 5% com placebo. Os autores concluíram que não 1. ElSohly MA, Gul W. Constituents of cannabis sativa. In: 2. Fankhauser M. Chapter 4: history of cannabis in Wes-
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de 12 (95% CI: 7-50)47. qualquer medicamento à base de cannabis (seja a Oxford University Press; 2014 . Cannabis and cannabinoids: pharmacology, toxicology
434 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 435

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436 USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 437

CAPÍTULO 38

Analgesia regional para o


tratamento da dor
Hideki Hyodo
Thiago Ramos Grigio
Marcelo Vaz Perez
Rafael Reis Di Tommaso

Introdução
O uso da escada analgésica proposta pela Or- • Dor lombar;
ganização Mundial de Saúde em 1986 e 1997 pode • Dor neuropática;
tratar a dor em até 90% dos pacientes1-3. Entretan- • Dor mediada pelo simpático;
to, às vezes é insuficiente para tratar a dor intensa • Dor de difícil controle;
ou condições específicas. A escada analgésica não • Bloqueios neurolíticos.
contempla medidas mais invasivas. Sendo assim,
diversos autores sugerem um 4º ou 5º degrau para Previamente, os bloqueios regionais eram reali-
o tratamento da dor: bloqueios intervencionistas2-8. zados somente guiado por localização anatômica.
Algumas indicações para anestesia regional in- Atualmente, o uso da ultrassonografia e radioscopia
cluem: permitiu bloqueios regionais com maior sucesso e
• Cefaleia cervicogênica; menos complicações. O ultrassom (US) tem como
• Dor muscular; vantagem não utilizar radiação ionizante. É portátil,
438 ANALGESIA REGIONAL PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 439

Bloqueios simpáticos
não necessitando ser realizada apenas em centro ci- centro cirúrgico com equipamento de grande porte.
rúrgico, podendo ser transportado em diversos seto- O uso do contraste pode ser utilizado para confir-
res do hospital. Além disso, é possível identificar va- mação do posicionamento correto da agulha, tendo
sos sanguíneos. A radioscopia deve ser realizada no como desvantagem a não visualização de vasos. Existem síndromes dolorosas (dor neuropáti- músculo longus colli, fáscia pré-vertebral e artéria
ca, dor vascular e dor visceral) que são mediadas carótida. A injeção do anestésico local deve ocorrer
em partes pelo sistema nervoso autônomo simpá- sob a fáscia pré-vertebral superficial ao músculo
tico. Dessa forma, o gânglio simpático é alvo dos longus colli. (Figura 1)
anestésicos locais para bloquear a transmissão Efeitos colaterais: Síndrome de Horner, lesão

Anestesia regional na sala de emergência


da dor mediada pelo simpático. Por exemplo, na do plexo braquial, nervo frênico, nervo laríngeo
síndrome complexa de dor regional (SCDR), a dor recorrente, perfuração da traqueia/esôfago, injeção
pode ser perpetuada por meio do sistema autonô- intravascular ou intratecal e pneumotórax10,11.
É essencial o correto manejo da dor aguda. Dor • Drenagem de tórax. mico simpático. Dessa forma, o bloqueio do sis-
aguda tratada incorretamente pode evoluir com tema simpático pode aliviar a dor do paciente. Se Figura 1: Imagem ultrassonográfica para realização
cronificação da dor. Por isso, a anestesia regional As vantagens dos bloqueios nesse setor hospita- a SCDR estiver localizada no membro superior, é do bloqueio do gânglio estrelado - Legenda (seta:
na sala de emergência é útil para o controle de dor lar incluem: possível realizar o bloqueio do gânglio estrelado local onde deve ser depositado o anestésico local;
aguda e redução da necessidade de opioides. Pode • Redução da necessidade de opioides; e se estiver localizada no membro inferior, o blo- TR: traquéia; TH: tireóide; VB: vértebra; SCM: músculo
ser realizada em diversos cenários: • Melhor qualidade no tratamento da dor; queio simpático lombar pode ser realizado10. esternocleidomastóideo; SAM: músculo escaleno anterior;
• Infiltração tecidual; • Bloqueio da transmissão da dor localmente (me- CA: artéria carótida; LCM: músculo longus colli)
• Fraturas; nos efeitos colaterais quando comparado com BLOQUEIO DO GÂNGLIO ESTRELADO
• Redução incruenta de fraturas; uso de medicações); O gânglio estrelado é responsável pela inervação
• Bloqueio de nervos periféricos; • Redução da necessidade de sedação do paciente; simpática da cabeça, região cervical e membros su-
periores. É formado pelo plexo simpático cervical
inferior e torácico superior em 80% das pessoas e
localiza-se entre a base do processo transverso da
7ª vértebra cervical e o colo primeira costela.

Risco de complicações
Indicação: dor mediada pelo sistema nervoso
simpático em membro superior
O paciente deve ser posicionado em posição
As complicações incluem o risco de lesão nervo- sidade ao injetar o anestésico local é fator preditor supina com uma leve extensão e com a boca en-
sa, intoxicação por anestésicos locais e diagnóstico de que a injeção está ocorrendo dentro do nervo. treaberta (para relaxar a musculatura cervical). O
tardio de síndrome compartimental. Para reduzir Além disso, deve-se respeitar a dose tóxica de cada transdutor linear deve ser posicionado no nível da
o risco de lesões nervosas, sugere-se o uso de es- anestésico local, evitando intoxicação neurológica cartilagem cricoide, sendo visualizado as seguin-
timulador de nervos, US e dispositivo que afere e cardiovascular. tes estruturas: traqueia, tireoide, corpo vertebral,
pressão da injeção da solução. Dor de forte inten-

Bloqueios neurolíticos
Contra-indicação
O bloqueio neurolítico é a destruição dire- quência12 ou crioablação13, e de procedimentos
CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA CONTRAINDICAÇÃO RELATIVA cionada de um nervo, plexo nervoso, ou gânglio cirúrgicos.
• Recusa do paciente; • Bloqueios profundos em locais não compressí- autonômico simpático por meio da degeneração A administração neuroaxial de agentes quí-
• Infecção no local da punção. veis em pacientes com distúrbios de coagulação; walleriana do axônio do nervo distal a lesão. O micos foi amplamente utilizada no passado para
• Dano neurológico preexistente9. termo neuroablação é utilizado com frequência a neurólise no início do século XX. Nas décadas
para descrever a interrupção física da dor, seja de 80 e 90, houve a produção de vários trabalhos
por meios químicos, tais como bloqueios neuro- científicos e revisões sistemáticas que apoiavam o
líticos, térmicos, através da ablação por radiofre- uso de bloqueios neurolíticos com uso de agentes
440 ANALGESIA REGIONAL PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 441

químicos. Mas devido a seus efeitos colaterais, sobrevida e qualidade de vida. Os agentes químicos Figura 2: Posicionamento do transdutor do ultrassom Figura 3: Nervo mediano pode ser encontrado em todo o
atualmente está restrito para casos de dores ex- mais utilizados para esses procedimentos são o ál- para realização do bloqueio interescalênico e imagem trajeto no antebraço desde sua região proximal até distal e
cruciantes em oncologia ou nos casos de câncer cool e o fenol e os efeitos em geral duram de três a ultrassonográfica do plexo braquial - Legenda (setas: plexo imagem ultrassonográfica do nervo mediano - Legenda (N:
de pâncreas na fase inicial, pois leva a aumento de seis meses.14,15 braquial; MEA: músculo escaleno anterior; MEM: músculo nervo mediano)
escaleno médio; MECM: músculo esternocleidomastóideo)

Bloqueios de nervos periféricos


Os bloqueios de nervos periféricos são reali- Bloqueio interescalênico
zados para fornecer uma anestesia e/ou analgesia O bloqueio do plexo braquial na via interescalê-
para procedimentos cirúrgicos ou para os casos de nica é realizado na fenda natural entre os músculos
controle da dor aguda ou crônica. escaleno médio e anterior, no nível de suas raízes
A ultrassonografia é a primeira modalidade de e troncos. Consequentemente, muitas vezes não
diagnóstico por imagem a ser amplamente utilizada anestesia de forma satisfatória o tronco inferior,
na prática da anestesia regional e no tratamento da devido à sua posição mais profunda18.
dor aguda e crônica. A ultrassonografia fornece ima- Indicação: cirurgias de ombro e da porção pro-
gens em tempo real que ajudam a definir a anato- ximal dos membros superiores.
mia regional individual, orientar o avanço da agulha A identificação da região pode ser feita através
com precisão e garantir adequada distribuição do de neuroestimulação, US ou combinadas. Dentre
anestésico local, otimizando a eficácia e segurança os eventos adversos atribuídos a esse bloqueio, des-
dos bloqueios periféricos. Os nervos periféricos dos tacam-se a rouquidão transitória e a síndrome de
membros superiores e inferiores são particularmen- Horner, devido à proximidade da cadeia simpática
te passíveis de exame ultrassonográfico dada a sua cervical e do nervo laríngeo recorrente, além de pa-
localização superficial na grande maioria dos casos. ralisia do nervo frênico com consequente paralisia
As pequenas distâncias a partir da pele tornam pos- diafragmática ipsilateral nos bloqueios com volu- Bloqueio do nervo supraescapular
sível a visualização desses nervos com transdutores me superior a 20mL19. Indicação: permite analgesia para dores agudas
lineares de alta frequência (10-15 MHz), que propor- Para o bloqueio interescalênico guiado por US hiperecoica com aparência de favo de mel. Pode ser ou crônicas do ombro.
cionam imagens de alta resolução16. é necessário transdutor linear de alta frequência. visualizado em todo o seu trajeto até o punho. Des- Nesse bloqueio, o paciente é posicionado sen-
Com o paciente em decúbito dorsal e com cabeça sa forma, pode ser realizado o bloqueio em qual- tado. Solicita-se que o paciente segure o outro
BLOQUEIOS DO MEMBRO SUPERIOR rodada para o lado contralateral, coloca-se o probe quer região do antebraço21. (Figura 3) ombro com o cotovelo fletido. Posicionar o pro-
Para a realização dos bloqueios de membro su- no nível da cartilagem cricoide em um plano sagi- Volume do anestésico local: geralmente 2 a 5 mL be linear ao longo da borda superior da espinha
perior, é clinicamente importante o conhecimento tal oblíquo. Nesse corte, no nível de C6, os troncos é suficiente para banhar todo o nervo da escápula. O local da deposição do anestésico
do plexo braquial, pois irá determinar a inervação ou as raízes nervosas aparecem entre os músculos local deve ser na fossa supraescapular, abaixo do
motora e sensitiva da região cutânea a ser bloquea- escalenos anterior e médio como estruturas ovais Bloqueio do nervo radial ligamento transverso supraescapular. O nervo su-
da para determinado ato cirúrgico, bem como ser- hipoecoicas20. (Figura 2) O bloqueio pode ser realizado distal e lateral ao praescapular é dificilmente localizado nesta re-
virá de guia para uma suplementação anestésica, Volume do anestésico local: são necessários braço, próximo ao cotovelo. O nervo é identificado gião pois sua localização é profunda, dificultando
se necessária. Conhecer a inervação motora nos entre 10 a 15 mL como estrutura hiperecoica. a imagem pelo US. No entanto, localiza-se a ar-
bloqueios do plexo braquial guiado por neuroes- O transdutor deve ser colocado transversal- téria supraescapular que está próxima ao nervo.
timulação é importante para avaliar a eficácia do Bloqueio do nervo mediano mente na face anterolateral do braço distal, cerca (Figura 5) Depois de identificar a artéria supraes-
bloqueio17. Indicação: analgesia da região palmar do dedo de 5cm acima do sulco do cotovelo. Para visuali- capular, introduz-se a agulha em plano sagital. O
A abordagem para os bloqueios do plexo braquial indicador, dedo médio e parte do dedo anular. zar mais fácil o nervo, deslize o probe para cima estimulador de nervo pode ser utilizado em con-
é basicamente dividida em quatro pontos anatômi- O nervo mediano localiza-se medialmente à ar- e para baixo, procurando identificar a estrutura22. junto para identificar a resposta motora de rota-
cos: interescalênica, supraclavicular, infraclavicular téria braquial e corre em direção ao punho. Pode (Figura 4) ção externa do ombro23.
e axilar. Além disso, é possível realizar o bloqueio ser facilmente visualizado colocando o transdutor Volume do anestésico local: cerca de 5mL é o su- Volume do anestésico local: cerca de 10 mL ao
periférico de nervos do membro superior. do US no antebraço, identificando uma estrutura ficiente para banhar o nervo. redor da artéria.
442 ANALGESIA REGIONAL PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 443

Figura 4: Posicionamento do transdutor para realização do da divisão anterior do nervo femoral e do infrapa- fáscia lata, inferiormente o reto femoral (F). Lateral- Figura 7: Posicionamento do transdutor do ultrassom para
bloqueio do nervo radial e imagem ultrassonográfica do telar do nervo safeno, formando o plexo patelar. O mente ao músculo sartório localiza-se o NCLF. o bloqueio do nervo femoral e imagem ultrassonográfica
nervo radial - Legenda (N: nervo radial; U: úmero) ramo posterior supre a pele na face lateral do tro- Volume do anestésico local: cerca de 5mL. do nervo femoral - Legenda (FI: fáscia ilíaca, FL: fáscia lata,
canter maior até o 2/3 distal da coxa e ocasional- FN: nervo femoral, FA: artéria femoral, FV: veia femoral,
mente, a pele na região glútea. Pode acometer até a Bloqueio do nervo femoral PM: músculo pectíneo, Linha amarela: direcionamento/
região maleolar24. O NCFL tem um trajeto altamen- Indicação: analgesia para fratura de quadril, posicionamento da agulha)
te variável, portanto, a utilização do US para orien- fêmur, patela, tendão do quadríceps e cirurgia do
tação do bloqueio deste nervo leva a uma taxa de joelho
sucesso muito maior em comparação a abordagens O nervo femoral é essencialmente motor (cer-
guiadas pela localização anatômica. ca de 80%). Portanto é possível localizá-lo por meio
A visualização do NCFL pelo US está na figura 6. de estimulador de nervo periférico ou US. Como
O probe é posicionado abaixo e paralelo à linha in- método mnemônico para localização deste nervo
guinal, identifica-se a artéria femoral e desloca-se la- é usada a sigla NAV (nervo-artéria-veia), de lateral
teralmente sobre o músculo sartório (S) até o tensor para medial.
da fáscia lata (TFL), neste ponto identifica-se pele, O posicionamento do probe linear é ao longo
subcutâneo, fáscia lata, músculo sartório e tensor da da prega inguinal. O transdutor do US é então co-
locado para identificar a artéria femoral (pulsátil,
Figura 6: Posicionamento do transdutor do ultrassom para circular e não compressível com o probe) e deve ser
o bloqueio do nervo cutâneo lateral da coxa e imagem então deslocado lateralmente, mantendo a artéria
BLOQUEIOS DO MEMBRO INFERIOR ultrassonográfica do nervo cutâneo femoral lateral da coxa femoral visível no aspecto mediano da tela. Mui-
- Legenda (seta: nervo cutâneo femoral lateral da coxa, tas vezes é mais fácil identificar o nervo femoral
Bloqueio do nervo cutâneo lateral da coxa (ncfl) S: músculo sartório, TFL: tensor da fáscia lata, R: músculo quando visualizado mais proximalmente ao lado
Indicação: analgesia pós-operatória para cirur- reto femoral) da artéria femoral comum, em vez de mais distal a
gia de quadril, meralgia parestésica, biópsia mus- ramificação da artéria femoral profunda. O nervo
cular coxa proximal lateral. apresenta-se como uma estrutura hiperecoica oval
O NCFL é um nervo puramente sensitivo que, achatada visto lateral a artéria femoral25. (Figura 7)
emerge da borda lateral do músculo psoas maior e Volume do anestésico local: cerca de 10mL.
atravessa o músculo ilíaco, passando atrás ou atra-
vés do ligamento inguinal, variavelmente, medial à Bloqueio do nervo obturatório
espinha ilíaca anterosuperior (normalmente 1 cm) Indicação: alívio das contrações musculares
ou através do músculo sartório na coxa, dividindo- adutoras dolorosas, analgesia para cirurgia de joe-
-se em ramos anterior e posterior. O ramo anterior lho como reconstrução do ligamento cruzado an-
torna-se superficial e une-se com ramos cutâneos terior e adutor magno. O ramo anterior do nervo obtura-
Esta é uma abordagem considerado de nível tório encontra-se em uma camada fascial entre os
Figura 5: Posicionamento do transdutor do ultrassom técnico intermediário. Devido à profundidade e à músculos pectíneo, adutor longo e adutor breve.
para o bloqueio do nervo supraescapular e imagem pouca espessura do nervo, tornando sua visualiza- O ramo posterior situa-se entre os músculos adu-
ultrassonográfica do nervo supraescapular - Legenda ção e da agulha do bloqueio mais difícil que nos tor breve e adutor magno. Movendo o transdutor
(A: artéria supraescapular (no ultrassom a imagem será bloqueios superficiais, a combinação com a neu- lateralmente visualizam-se os músculos pectíneo
pulsátil), LTS: ligamento transverso supraescapular) roestimulação é muito útil para confirmar a iden- e, em seguida, os adutores. Em ambos os casos
tificação do nervo. (nos ramos anterior e posterior), o nervo obtura-
O transdutor linear é apropriado para a reali- tório é visto muitas vezes como uma estrutura hi-
zação deste bloqueio. A colocação de probe é rea- perecoica, embora, às vezes, só os planos fasciais
lizada diretamente abaixo do ligamento inguinal possam ser visualizados. (Figura 8) Quando os
para a visualização da artéria e veia femoral. O nervos não são visualizados nessa região, a solu-
transdutor deve então ser movido no sentido me- ção deve ser injetada entre os músculos, de forma
dial e ligeiramente caudal, mantendo sua posição que não ocorra injeção intramuscular mas sim,
horizontal. O nervo obturatório localiza-se entre intermuscular. Na ultrassonografia, confirma-se o
os músculos pectíneo, adutor longo, adutor breve local correto da solução quando os dois músculos
444 ANALGESIA REGIONAL PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 445

Figura 8: Posicionamento do transdutor do ultrassom pacientes obesos, ao contrário das referências ós- Um transdutor linear de alta frequência (7-12 visualização, mas sua relação com o músculo sar-
para o bloqueio do nervo obturatório e imagem seas utilizadas em outras técnicas mais proximais. MHz) é apropriado para este bloqueio. O nervo ciá- tório e com os vasos é relativamente constante. Na
ultrassonográfica do nervo obturatório - Legenda (seta O probe utilizado neste caso é o convexo devido a tico também pode ser encontrado acima da fossa face medial da coxa, o músculo sartório e a artéria
amarela: ramo anterior do nervo obturador (localizado profundidade da estrutura a ser visualizada. (Fi- poplítea, localizado profunda e medialmente ao femoral podem ser identificados. O nervo safeno e
entre os músculos adutor longo e curto); seta azul: gura 9) músculo bíceps femoral e o músculo semitendíneo a artéria femoral situam-se dentro de um triângu-
ramo posterior do nervo obturador (localizado entre os Volume do anestésico local: 10 a 15mL. e superficial à artéria poplítea. (Figura 10) lo imaginário formado entre os músculos sartório,
músculos adutor curto e magno)) Volume do anestésico local: 10 a 15mL. adutor magno e vasto medial. Deve-se então mo-
Bloqueio do nervo ciático na fossa poplítea ver a sonda do US no sentido caudal a partir deste
Indicação: cirurgia do pé e tornozelo e do ten- Bloqueio do canal adutor (nervo safeno) ponto ao longo do eixo longo da coxa até a altura
dão de Aquiles. Indicação: analgesia para cirurgia medial de pé, onde a artéria femoral “mergulha” para um plano
O bloqueio do nervo ciático realizado distal- tornozelo e joelho, em combinação com bloqueio mais profundo, em direção à face posterior da coxa
mente na fossa poplítea é preferível a subglútea do nervo ciático. onde se torna a artéria poplítea. Esta área é conhe-
devido ao fácil acesso e melhor visualização, tendo O nervo safeno é um ramo sensitivo do nervo cida como o hiato dos adutores. A partir desta área,
as mesmas indicações para analgesia e anestesia. femoral. Assim, o bloqueio do nervo safeno produz deve-se mover o transdutor de 2 a 3 cm no sentido
Geralmente entre 3 e 12 cm acima da prega poplí- anestesia e analgesia do aspecto anteromedial da proximal, para o canal adutor distal e realizar o blo-
tea, o nervo isquiático divide-se nos nervos tibial perna, tornozelo e pé, mas sem produzir qualquer queio do nervo neste nível. (Figura 11)
(medial) e fibular comum (lateral). O nervo tibial é tipo de fraqueza no músculo quadríceps. É um Volume de anestésico local: 5 a 10mL.
a maior das duas subdivisões do nervo ciático, des- bloqueio comumente utilizado juntamente ao blo-
cendo verticalmente através da fossa poplítea, onde queio do nervo ciático a fim de proporcionar anes- Bloqueio dos nervos geniculares
distalmente acompanha os vasos poplíteos. Seus tesia e analgesia completa da perna. Seu pequeno Indicação: osteoartrose de joelho
ramos terminais são os nervos plantares medial tamanho, além da falta de um componente motor, As artérias geniculares são referências para rea-
e lateral. O nervo fibular comum continua abaixo faz com que a sua localização fique comprometida
e desce ao longo da cabeça da fíbula. Seus ramos com técnicas convencionais de localização nervo- Figura 11: Posicionamento do transdutor do ultrassom para
superficiais são os nervos fibulares superficial e sas, assim a ultrassonografia aumenta exponencial- o bloqueio do canal adutor e imagem ultrassonográfica do
profundo. Dado que a maioria dos procedimen- mente a taxa de sucesso no bloqueio deste nervo. bloqueio do canal dos adutores - Legenda (Sart: músculo
tos realizados no pé e tornozelo envolvem ambos O nervo safeno pode ser bloqueado com segu- sartório; N: nervo safeno; FA: artéria femoral)
os componentes tibial e fibular comum do nervo rança no terço médio ao distal da coxa. Um trans-
ciático, é essencial assegurar a anestesia adequa- dutor linear de alta frequência (10–12 MHz) deve
da destes dois componentes nervosos. Portanto, o ser colocado transversalmente ao eixo longitudi-
bloqueio do nervo antes de sua divisão simplifica nal, e deve ser usado na varredura da face medial
a técnica. da coxa. O nervo safeno é frequentemente de difícil
se afastam e uma imagem anecóica arredondada
forma-se entre eles26. Figura 9: Imagem ultrassonográfica com transdutor Figura 10: Imagem ultrassonográfica do nervo ciático na
Volume do anestésico local: 10mL em cada pla- convexo do nervo ciático em região infraglúte - Legenda fossa poplítea - Nesta imagem, é possível a visualização
no intermuscular. (GM: músculo glúteo máximo, QF: músculo quadrado da bifurcação do nervo isquiático, superficial a artéria
femoral, IT: tuberosidade isquiática, GR: trocanter maior, poplítea
Bloqueio do nervo ciático na região infraglútea seta amarela: nervo isquiático)
Indicação: cirurgia do pé e tornozelo, amputa-
ção abaixo do joelho, analgesia após cirurgia no
joelho envolvendo o compartimento posterior.
As referências anatômicas para identificação
do nervo isquiático na região subglútea é dado
pelo sulco formado pela borda inferior do múscu-
lo glúteo máximo e borda lateral da cabeça longa
do músculo bíceps femoral, o qual cruza por cima
do nervo numa direção mediolateral, e pela borda
medial da cabeça curta do bíceps femoral. Essas
referências são de fácil identificação, mesmo em
446 ANALGESIA REGIONAL PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 447

Figura 12: Posicionamento do transdutor do ultrassom lização do bloqueio. O transdutor deve ser posicio- tion analgesic ladder? Cancer Control. 2000 Mar- 18. 18. Falyar CR, Shaffer KM, Perera RA. Localization of
para o bloqueio genicular superolateral, superomedial e nado, identificando as artérias geniculares supero- -Apr;7(2):149-56. the brachial plexus: sonography versus anatomic land-
inferomedial lateral, superomedial e inferomedial nas junções 6. 6. Gómez-Cortéz M, Rodríguez-Huertas F. Reevalua- marks. J Clin Ultrasound. 2016 Sep;44(7):411-5.
ción del segundo escalón de la escalera analgésica 19. 19. Cros Campoy J, Domingo Bosch O, Pomes J, Lee
epifisárias com os eixos do fêmur e da tíbia. (Figura
de la OMS. Rev Soc Esp Dolor. 2000;7(6):343-4. J, Fox B, Sala-Blanch X. Upper trunk block for shoul-
12) Os nervos geniculares localizam-se ao lado das 7. 7. Kursun YZ, Yildiz F, Kaymaz O, Onal SA. [Analgesic der analgesia with potential phrenic nerve sparing: a
artérias geniculares. Portanto, o anestésico local step ladder treatment in cancer patients with pain]. preliminary anatomical report. Reg Anesth Pain Med.
(cerca de 5mL) deve ser injetado periarterial. Para Agri. 2015;27(1):26-34. 2019 May 22. pii: rapm-2019-100404.
facilitar a localização das artérias geniculares, o US 8. 8. Raffa RB, Pergolizzi JV, Jr. A modern analgesics pain 20. 20. Cangiani LM, Nakashima ER, Gonçaslves TAM,
deve ser posicionado a fim de visualizar uma linha ‘pyramid’. J Clin Pharm Ther. 2014 Feb;39(1):4-6. Pires OC, Bagatini A. Atlas de técnicas de bloqueios
reta hiperecoica que corresponde ao osso (tíbia ou 9. 9. Manica J. Anestesiologia. 4. ed. Porto Alegre: Art- regionais. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de
med; 2018. 1616 p. Anestesiologia/SBA; 2013.
fêmur) e o probe deve ser deslocado em direção ao
10. 10. Menon R, Swanepoel A. Sympathetic blocks. BJA 21. 21. Sohoni A, Nagdev A, Takhar S, Stone M. Forearm
joelho. Quando essa linha reta se inclina, formando Education. 2010;10(3):88-92. ultrasound-guided nerve blocks vs landmark-based
uma “rampa”, a artéria genicular pode ser visualiza- 11. 11. Piraccini E, Chang KV. Stellate ganglion blocks. [Up- wrist blocks for hand anesthesia in healthy volunteers.
da bem próxima ao periósteo27. (Figura 13) Não deve dated 2019 Jun 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Am J Emerg Med. 2016 Apr;34(4):730-4.
ser realizado bloqueio do nervo genicular inferola- Island (FL): StatPearls Publishing; 2019 Jan-. Available 22. 22. Ince I, Aksoy M, Celik M. Can we perform distal
teral pois o mesmo se encontra próximo do nervo fi- from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK507798 nerve block instead of brachial plexus nerve block
bular, evitando bloqueio motor do membro inferior. 12. 12. Kroll HR, Kim D, Danic MJ, Sankey SS, Gariwala M, under ultrasound guidance for hand surgery? Eurasian
Brown M. A randomized, double-blind, prospective J Med. 2016 Oct;48(3):167-171.
Volume de anestésico local: cerca de 5mL em
study comparing the efficacy of continuous versus 23. 23. Laumonerie P, Blasco L, Tibbo ME, Panagiotis K,
cada ponto. pulsed radiofrequency in the treatment of lumbar facet Fernandes O, Lauwers F, et al. Ultrasound-guided
syndrome. J Clin Anesth. 2008 Nov;20(7):534-7. versus landmark-based approach to the distal supras-
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448 ANALGESIA REGIONAL PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 449

CAPÍTULO 39

Infiltrações para o
tratamento da dor
Fabiano Gonçalves da Cunha
Carlos Vicente Andreoli
Guilherme Augusto Stirma

Definição
Infiltração é o ato de injetar um produto (me- Uma sugestão é limpar a área e deixar coberta com
dicação ou não), com finalidade terapêutica, em gaze umedecida, enquanto prepara a infiltração1.
algum local do corpo, intra-articular, peri ou intra
tendíneo1. Na literatura, a infiltração pode ser reali- PRODUTOS/MEDICAÇÕES:
zada com diversas substâncias, sendo que mencio- Dexametasona (fosfato e acetato): corticoste-
naremos apenas aquelas permitidas pela legislação roide de baixo custo e melhora dos sintomas dolo-
e mais usadas na Ortopedia. Discorreremos sobre rosos e inflamatórios. Promove alívio por período
técnicas e indicações de infiltração para tratamen- 3-6 meses, mas pode formar depósitos e cristais na
to da dor. Separamos por local anatômico e afec- região, principalmente com uso crônico1. 

ção, com o diagnóstico já foi confirmado. Triancinolona: corticosteroide, opção muito
No preparo de infiltração sempre realizar uma potente, durabilidade dos efeitos 4-12 meses, mas
assepsia, com álcool 70% ou Riodex, em uma área com risco de atrofia do tecido e hipocromia de pele.
ampla ao redor da infiltração, permitindo contato Hialuronato de Sódio: usado em osteoartrites,
do antisséptico com a pele por no mínimo 45 se- tem ações antiálgica e anti-inflamatória (via receptor
gundos, a fim de permitir uma ação bactericida. CD44), lubrificante e de amortecimento mecânico2.
450 INFILTRAÇÕES PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 451

Muitos trabalhos mostram início lento, mas durabi- leucócitos, etc. Apesar de vários trabalhos mostra- cular e no caso do ácido hialurônico pode ocasio- recomendada e, se necessário, pode ser repetida.
lidade mais prolongada do que os corticoides. Cada rem alguma vantagem em lesões musculares e arti- nar dor e formação de granulomas no local de sua Injeções de corticosteroides têm início de ação rá-
vez mais trabalhos tem mostrado vantagens no seu culares, neste capítulo não iremos discutir seu uso. administração3,4. Quando não se utiliza a ultrasso- pido e durabilidade 3-6 meses11.
uso como alternativa para tratar casos moderados nografia e a radioscopia, os índices de erro técnico
de osteoartrite de joelho, como forma de melhorar PATOLOGIAS COM INDICAÇÃO DE alcançam de 40 a 80%. El attrache e cols em estudos Técnica de infiltração de ombro
a dor e postergar a realização de uma artroplastia2. INFILTRAÇÃO cadavéricos observaram 80% de acertos pela abor- Antes de começar o procedimento, o local a ser
No Brasil temos disponíveis concentrações de Na literatura há relatos de infiltração em todo dagem anterior sem auxílio de imagem e apenas infiltrado deverá ser marcado. A desinfeção cutâ-
10mg, 20mg ou 25 mg/mL. Não está claro se uma tipo de Bursite, Tendinite e Peritendinite. O impor- 50% de acertos via posterior5. nea é realizada com uma solução de iodo, álcool
concentração maior tem maior durabilidade, mas tante é realizar a infiltração com boa perícia técnica, Acromioclavicular - Indicado na osteoartrite (70%) ou clorexidina, com movimentos circulares,
pode melhorar os efeitos analgésicos em casos pois uma má aplicação pode gerar mais dor e efeitos acromioclavicular ou osteólise da região distal da do centro para a periferia.
mais graves. Podem ter origem aviária ou por bio- adversos do que a patologia em si. Para o profissio- clavícula. Apesar da localização superficial, a ana- Intra-articular: Portal Posterior: Cerca de 2 cm
fermentação (purificação por fermentação bacte- nal que inicia sua prática clínica é muito importan- tomia variável e alterações patológicas freqüente- inferior e medial da borda póstero-lateral, é intro-
riana). A diferença notada entre as duas classes é te pedir ajuda e treinamento, para evitar um mau mente confundem o procedimento. Bisbinas et al. duzido a agulha em direção ao coracoide. Anterior:
nos efeitos colaterais (biofermentado menos efei- resultado. Aplicações intratendíneas têm indicação relataram posicionamento incorreto em mais de Em rotação externa, a agulha é introduzida medial-
tos) e na durabilidade (parece favorecer os biofer- em tendões do membro superior que não passam 60% dos casos quando a orientação para a articula- mente à cabeça do úmero e lateral ao processo co-
mentadosc.), mas como isto também depende da em túnel ósseo, e devem ser evitadas em tendões do ção foi obtida apenas por palpação6,7. racóide, direcionada póstero-lateral.
disponibilidade do produto, nossa recomendação é membro inferior que recebem grande carga excên- Bloqueio do nervo supraescapular - O bloqueio Acromioclavicular: Palpação da articulação acro-
usar o melhor produto disponível2. trica, como Aquiles e tendão patelar, pois pode au- do nervo supraescapular é um método seguro no mioclavicular, bordo medial do bordo lateral da cla-
Arnica Montana: Muito usada na Europa (desde mentar a chance de uma ruptura, devendo, nestes tratamento da dor de patologias crônicas que en- vícula, e introdução da agulha perpendicularmente.
1963) tem função anti-inflamatória, via modulação casos, preferir a aplicação peritendínea. volvem o ombro, principalmente a capsulite adesi- Bloqueio do nervo supraescapular: Utilizado
na produção de citocinas pró-inflamatórias (IL1, va. Método que diminui a dor e consequentemente 4 a 8ml de cloridrato de bupivacaína 0,5% sem va-
IL6 e IL 8, diminuição do TNF-Alfa) e aumento cito- INFILTRAÇÃO GUIADA POR RADIOSCOPIA melhora a condição de colaboração do paciente e soconstritor. Identifica-se a borda posterior da Cla-
cinas anti-inflamatórias (IL10 e TGF). Tem grande E ULTRASSOM facilita sobremaneira a sequência do tratamento8. vícula, borda anterior da espinha da Escápula e o
vantagem como alternativa ao uso de corticoides A radioscopia ainda tem uso nos dias atuais, Bíceps (Cabo Longo do Bíceps) - As lesões do sulco formado entre os dos ossos. No sulco em for-
em pacientes diabéticos, hipertensos e como tera- principalmente para sacroileítes, bloqueios facetá- Cabo Longo do Bíceps (CLB) são comuns na prática mato de “V” a agulha foi introduzida para baixo e
pia multimodal, onde se associam classes diferen- rios de coluna e infiltração intra-articular de qua- clínica e podem ter origens degenerativa, inflamató- para trás, com inclinação medial, até atingir a fossa
tes de produtos para diminuir a dose de cada um e dril, mas o ultrassom deve substituir este último, ria, por instabilidade e traumáticas. Como método supra-espinhal. Ao tocar o nervo supraescaular, os
evitar efeitos colaterais. pela praticidade, baixo custo e ser feito em rotina de diagnóstico clínico, pode-se realizar o teste anes- pacientes pode apresentar sensação de parestesia8.
Zumabs (antirreumáticos): classe de produtos ambulatorial. O ultrassom tem se difundido mui- tésico, com infiltração de anestésico local no espaço Bíceps: A agulha é introduzida no sulco bicipital
antirreumáticos, que diminuem a produção de in- to ultimamente, aparelhos portáteis com função subacromial, que ocasiona alívio da dor em casos de do úmero, com inclinação cefálica de 30º. Próximo
terleucinas, ou TNFs, ainda não está clara sua eficá- doppler, aumentam a precisão do procedimento. síndrome do impacto e lesões do manguito rotador, da borda anterolateral do Acrômio. Para facilitar o
cia em osteoartrites, apenas em artrite reumatoide. Muitos ortopedistas já usam em sua rotina de con- mas não em casos de patologias do CLB. A infiltra- acesso a este sulco podemos realizar manobras de
Plasma rico em plaquetas: Concentrado de pla- sultório, em infiltrações de ombro, quadril e joelho ção no sulco intertubercular, preferencialmente rotação externa e interna com o dedo apoiado no
quetas, com níveis suprafisiológicos, que quando por exemplo. O treinamento do ortopedista no uso com a ultrassonografia, ocasiona melhora da dor9. sulco, você sentirá o relevo do bíceps movendo sob
ativado (com trombina, por exemplo) libera me- do ultrassom é uma necessidade atual. Com a re- Escápulo-torácica - Esta falsa articulação con- seu dedo. Deve-se ter cautela pelo risco de lesão da
diadores inflamatórios e fatores de crescimento, dução dos custos, muitos ortopedistas irão realizar siste em um espaço de deslizamento, dividido em artéria circunflexa anterior do úmero12.
podendo ter alguma ação na dor. Pode ter várias procedimentos guiados por ultrassom no consultó- duas áreas pelo músculo serrátil anterior. A in- Escápulo-torácica: A agulha é introduzida la-
classes e tipos, como rico em fibrina, com ou sem rios ou ambulatórios. flamação desta articulação ocorre em atletas que teralmente ao bordo medial da escápula, cerca de
usam o membro superior e atividades laborais sem 1 cm medial, em seu ângulo súperomedial, local da
ergonomia (odontologia, trabalhadores braçais). A origem da dor. Orientada para a sua concavidade
dor é ao longo da borda medial e inferior da escá- pelo risco de pneumotórax12.

Infiltração no membro superior


pula, além da crepitação palpável e audível10. Bursal: Pode ser realizado pelo portal lateral
Bursal (Tendinopatia do manguito rotador / ou posterior. Lateral: A agulha é inserida cerca
Síndrome do impacto) - Indicado na síndrome do de 1 cm abaixo na borda lateral do acrômio, com
OMBRO pêuticas não cirúrgicas capazes de obter melhoras impacto e tendinopatias, na presença do arco dolo- angulação de 45º. Posterior: 2 cm medial e infe-
Intra-articular (Capsulite Adesiva / Osteoar- na mobilidade articular e alívio dos sintomas para roso, considera-se que a bolsa subacromial está en- rior do ângulo póstero-lateral do acrômio, portal
trite glenoumeral) - A viscossuplementação e a algumas patologias intra-articulares. A medicação volvida na patologia. A infiltração com uma combi- idêntico à infiltração intra-articular, conduto é
infiltração com corticoesteroides são opções tera- perde sua eficácia ao ser administrada extra-arti- nação de corticosteroide e lidocaína é geralmente direcionado lateralmente para subacromial.
452 INFILTRAÇÕES PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 453

Infiltração em membro inferior


Antes da administração do produto, é necessá- Figura 1: Infiltração lateral do cotovelo, no extensor curto
rio aspirar para excluir a possível administração do carpo para epicondilite lateral
intravenosa ou arterial. Caso a presença de líquido
sinovial confirma a correta localização (infiltração Existem diversas afecções que podem ser tra- [2,51,53–57] e pode ser repetida nova aplicação em
intra-articular). Durante o procedimento não de- tadas por meio da infiltração no membro inferior. 15-20 dias. Muitos pacientes recebem uma única
verá existir resistência à introdução do fármaco4. Analgesia periférica no pós-operatório de membro infiltração, embora 33% precisem uma segunda
inferior, injeções intraarticulares de quadril, bursi- [64]. Alguns chegam a receber até cinco [65]. O tra-
COTOVELO tes e tendinopatias glúteas, dor sacroiliaca. tamento com ondas de choque extracorpórea tem
Epicondilite lateral - Apesar dos termos epicon- Infiltrações na região do joelho: Osteoartrite, bom resultado naqueles pacientes que não me-
dilite e tendinite sejam descritivos para o “cotovelo tendinopatias da pata de ganso, cisto poplíteo de lhoraram com a infiltração. Nas tendinopatias do
do tenista” e que se reconheça a existência do pro- Baker, trato íliotibial lateral. Tornozelo e pé: peri- glúteo médio a indicação da infiltração deve ser
cesso inflamatório nas fases iniciais e também uma tendinite de calcâneo, fáscia plantar, hálux rigidus, cuidadosa, pois pode provocar hematomas, afetar
resposta fibroblástica e vascular, conhecida como subtalar e flexor longo do hálux. as artérias glúteas e ter efeitos colaterais graves.
degeneração angiofibroblástica. A aplicação do áci- Se optar por esta modalidade sugiro fortemente o
do hialurônico periarticular (AH) e/ ou corticoide é QUADRIL uso do ultrassom como guia.
uma alternativa com efeitos clínicos positivos para Nas tendinopatias do trato íliotibial lateral os
a epicondilite lateral e transtornos periarticulares. Tendinopatias do grande trocanter, glúteo médio melhores resultados são nas infiltrações próximas
Os mecanismos de ação são efetivos e apropriados Figura 2: Infiltração para tenossinovite de De Quervain do e trato iliotibial lateral do joelho, onde o atrito da banda com o epicôndilo
para tendinoses. Propiciam redução da dor, dimi- punho Nestes casos a infiltração pode servir para aju- lateral do fêmur causa dor. A técnica é feita com
nuição da rigidez articular, satisfação das pacientes dar o diagnóstico e prova terapêutica. Imagine paciente em decúbito dorsal, joelho estendido.
além de sua segurança clínica12. um caso de dor no trajeto do glúteo médio, que Recomendo desenhar o trajeto do trato lateral e o
irradia pelo trocanter e lateral da coxa. Se reali- epicôndilo lateral. Então palpa-se o local da dor,
Técnica de infiltração zarmos um bloqueio anestésico sobre o grande que geralmente é anterior ao trato lateral. Assepsia
A técnica realizada consiste em antissepsia lo- trocanter que melhore a dor fica comprovado que realizada, a punção será em direção ao epicôndilo,
cal com clorexidina ou iodo tópico. Uma agulha uma das causas da dor é a bursite trocantérica. Se 90o com o solo até tocar o osso. Administre ½ da se-
calibre 27mm é direcionada ao epicôndilo lateral a não houver melhora, pode ser uma ciatalgia, ou ringa alí e movimente a seringa mais para posterior
procura do extensor curto do carpo, com o cotove- mesmo uma artrose do quadril com sintomas não (135o em relação ao solo), progredindo até tocar a
lo fletido 90º (Figura 1). O medicamento é injetado usuais. Sempre é importante realizar o diagnósti- parte posterior do epicôndilo e ali administrando
“em leque” com até 1 cm de raio. Após a aplicação co correto!! Muitas vezes faço este teste anestési- a outra ½ da seringa. Sugiro suspender atividades
são realizados cinco movimentos ativos de flexão co antes de solicitar uma ressonância magnética, de 3-7 dias.
/ extensão do cotovelo e pronação / supinação do pois assim podemos resolver o problema do pa-
antebraço e o paciente é orientado a evitar ativida- ciente de forma mais ágil, mas você deve analisar Infiltração intraarticular na osteoartrite
des físicas ou trabalhos repetitivos com o membro caso a caso. de quadril
superior em questão por 24 horas. Existe extensa literatura amparando o uso de
Figura 3: Infiltração dedo em gatilho da mão Técnica corticoides ou Hialuronato de sódio para alivio das
PUNHO E MÃO Posiciona-se o paciente em decúbito lateral, dores na OA de quadril. Ainda não se comprovou
As infiltrações na região do punho de dedos da membro a ser tratado extendido (para tensionar se algum destes tratamentos muda a evolução da
mão são realizadas principalmente com corticos- o trato lateral) e realizar assepsia conforme des- doença, mas permite prolongar a vida útil da arti-
teroides (dexametasona ou betametasona) para os crito acima. A punção deve ser realizada com agu- culação ou aliviar a dor daqueles pacientes que não
casos de rizartrose, artrose das inter-falangeanas, lha que atinja o grande trocanter, dependendo da tem condição cirúrgica. O uso de corticoides tem
artrites do punho (principalmente nas artrites reu- camada de tecido do paciente. O volume aplicado resultado comprovado em melhora da dor, com
matoides e sequelas de fraturas intraarticulares), vai depender da área inflamada e da medicação, maior durabilidade observada com a triancino-
nas afecções inflamatórias, principalmente na sín- mas em geral usaremos no máximo 4 mL do me- lona, em comparação com a dexametasona, atin-
drome de De Quervain (Figura 2). Outra indicação dicamento e mais 2-4 mL do anestésico de esco- gindo alivio na dor e movimento por 3-6 meses. O
de infiltração é nos casos de dedo em gatilho (Fi- lha. Pode realizar aplicação em leque, mas sem- Hialuronato de sódio também mostra bom resulta-
gura 3) para os flexores dos dedos da mão. O uso pre tocando o grande trocanter, permitindo tratar do em alguns estudos, mas com início dos efeitos
de ácido hialurônico para punho e dedos da mão, a bursite e a tendinite, em uma única aplicação. mais demorado (30 dias a 2 meses), mas com dura-
apresenta poucos estudos na literatura. A melhora das dores pode variar ao redor de 50% bilidade ao redor de 6 meses.
454 INFILTRAÇÕES PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 455

Técnica máximas de toxicidade de cada anestésico. Usan- e artroscopias do joelho, pela facilidade técnica da calcâneo, fáscia plantar, artrose do tornozelo, sub-
Lógico que existem profissionais capazes de do este protocolo temos notado menor memória de anatomia da virilha, mas causa uma fraqueza do talar e pé, hálux rigidus, neuromas de Morton, se-
realizar esta punção sem ultrassom, mas existe um dor e início de marcha precoce (48 horas). quadríceps, que atrapalha deambulação precoce. O samoidites e tendinopatias.
risco de errar o local em 90% das vezes para pro- bloqueio do canal dos adutores permite uma deam-
fissionais menos experientes, o que torna o uso do JOELHO bulação precoce (6 horas), mas necessita uso do es- Bloqueio periférico de tornozelo e pé no pós-
ultrassom altamente recomendado. Se a opção for timulador de nervos e desejavelmente o ultrassom operatório (pentabloqueio)
por radioscopia, o resultado será o mesmo, apenas Infiltração em perioperatório de artroscopias e para guiar a agulha. Realizado com ropivacaína(7,5%), 20 mL, no
mais trabalhoso. Após assepsia, prepare seu con- artroplastias de joelho trajeto dos nervos fibular superficial, profundo e
junto de anestesia, corticoide e Viscosuplemento Como já descrito acima para quadril, nossa pre- Infiltração para tendinite da pata de ganso tibial.
de forma estéril. Realize anestesia do trajeto com ferência de infiltração em joelho após artroscopias, Geralmente é secundária ao mal alinhamento do
6-9 mL de Xylocaina. Uma vez que atinja o local de- é com ropivacaína (7,5%) e morfina (2mg). A técni- membro ou sobrepeso. Em alguns casos há um ede- Infiltração para peritendinite
sejado (Figura 2), aplique mais 2 ml de anestésico, ca é realizada logo após o término da cirurgia, soli- ma persistente e doloroso, que prejudica atividades de tendão calcâneo
depois a cortisona e se for usar hialuronato de só- citando ao anestesista que se certifique de lembrar diárias e colabora para o sedentarismo. Nestes casos, Quando há o diagnóstico de uma peritendinite,
dio, por último. O volume total injetado não deve o cirurgião desta etapa, até que entre na rotina. uma infiltração com medicação antiinflamatória principalmente com aumento da vascularização
ultrapassar 10 mL, sob risco de provocar uma pa- A infiltração pode ser pelos portais ou por via su- (Arnica, Corticoide) pode trazer alívio e estimular o pelo doppler recomento uma infiltração retro e pe-
restesia ou dor na face interna da coxa, deixando o prapatelar lateral, que é nossa escolha, pois evita paciente a retomar suas atividades. Técnica: Pacien- ritentínea, com arnica ou corticoide para reduzir o
paciente com grande desconforto. Após a aplicação extravasar medicação pelo portal e garante dissipa- te em decúbito dorsal, assepsia local, palpar o local edema e desconforto.
recomendo repouso relativo por 3 dias, uso de ben- ção do produto por todo joelho (Figura 4). da insersão da pata de ganso (3-4 cm medial à tube-
gala ou muleta por 7 dias, depois iniciar reabilita- rosidade da tíbia. Realizar a infiltração com ângulo Infiltração em fáscia plantar
ção e treino muscular. Como já esclarecido acima, Figura 4: Infiltração pelo súperolateral do joelho de 90 graus com a tíbia (e não com o solo), tocando o Indicado para fascite plantar ou esporão com
pode haver demora para início do alívio das dores, osso. Ali pode realizar a aplicação em leque. Há uma falha de outros métodos. Técnica: Paciente em
em geral 15-20 dias. A durabilidade vai depender veia na parte superior da pata de ganso que pode decúbito dorsal, com joelho fletido e lateral do pé
da gravidade da doença, fatores associados (peso provocar um pequeno hematoma. Repouso relativo apoiado na mesa. Assim, você terá a fáscia 90 graus
corporal, uso da articulação) e medicações usadas. por 3 dias e depois pode retomar suas atividades. com a maca. Após assepsia vigorosa, a punção é
Na média pode trazer alívio por 3-12 meses. Se não realizada pela borda medial do calcâneo e não di-
houver resposta após 30 dias, aí considero falha do Infiltração para cisto poplíteo de baker retamente pela sola, com agulha 30x7mm, inserida
tratamento, mas sugiro aguardar 3 meses até artro- Geralmente um cisto poplíteo volumoso é se- profundamente até atravessar a fáscia plantar. A
plastia de quadril, para não ter risco de imunossu- cundário a uma osteoartrite, que deve ser tratada medicação será injetada de forma retrógrada, reti-
pressão local pelo corticoide. antes, com infiltrações descritas acima. O diagnós- rando lentamente a agulha.
tico pode ser clínico, mas é importante confirmar
Bloqueios em cirurgias de quadril se é puncionável com ultrassom ou ressonância. Infiltração para hallux rigidus
Os bloqueios periféricos e infiltrações em ar- As indicações para uma infiltração no cisto: Dor; Tem como objetivo permitir alívio da dor, até
troscopias e fraturas do quadril, também pode ser Cisto multilobulado e ou volumoso; restrição para se planejar o tratamento definitivo, seja por cirur-
realizado para alívio da dor, melhora da mobilida- flexionar o joelho; história de ruptura prévia do cis- gia ou correção de pisada. A durabilidade pode
de ou tempo de internação, mas não apresentam to. Técnica: Obrigatoriamente realizar a infiltração chegar a 6 meses. Técnica: Paciente em decúbito
resultados superiores quando comparados à ra- Em artroplastias de joelho: O uso de bloqueios guiada por ultrassom, pois além de ter o risco vas- dorsal, identifique a articulação, proximal ao in-
quianestesia. Se for adicionado morfina, os efeitos periféricos (BP) pós-operatórios melhoram a dor e cular, muitos cistos são multilobulados. Paciente terdígito e realize uma pequena tração para au-
analgésicos permanecem por 2 ou 3 dias, sendo o arco de movimento, facilitando uma reabilitação em decúbito ventral, assepsia, primeiro se realiza mentar o espaço articular. Realize uma anestesia
esta a nossa opção em mulheres (menor risco de precoce13-17. Isto permite realizar raquianestesia uma anestesia no trajeto, depois se aspira o conteú- prévia com agulha de insulina. Pode ser utilizado
retenção urinária e sondagem vesical tecnicamen- sem uso de morfina, causadora de efeitos adversos, do com jelco 16. Mantendo a imagem e o jelco na ácido hialurônico, até 1 mL em cada hallux, com
te mais fácil). Para homens, nossa experiência para como prurido e retenção urinária14. O efeito do BP maior porção do cisto deve-se então aplicar a me- agulha 30x7mm, mantendo a tração para disten-
artroscopia e fraturas do quadril é fazer a infiltra- fica evidente a partir de 24 horas após a cirurgia, dicação de escolha, seja arnica ou corticoide. Em der a articulação.
ção local com ropivacaína (20 mL) e morfina (2mg). quando a raquianestesia perde a potência analgé- cisto de Baker não recomendo hialuronico, pois o
Recomendo 5 mL intraarticular (no acetábulo), 5 sica e o paciente inicia sua reabilitação. Este efeito que se deseja é diminuir o volume do cisto. Aplicação em subtalar e flexor longo do halux
mL após reinserir o glúteo médio, 5mL após fechar se mantém por até 3-4 dias, dependendo do método Com poucas indicações, poucos casos e com
o trato lateral e mais 5 mL no subcutâneo. Há tra- de bloqueio, período de maior liberação dos media- TORNOZELO E PÉ resultado duvidoso. Geralmente afeta bailarinas o
balhos onde se usou até 50 mL de anestésico, sem dores de dor13-17. O bloqueio de nervo femoral é o Na região do tornozelo e pé as infiltrações po- saltadores, diagnóstico por ressonância.
efeitos adversos13, porém, deve se observar as doses método mais usado em artroplastia total de joelho dem ser realizadas nas peritendinites do tendão Técnica (sempre guiado por ultrassom):
456 INFILTRAÇÕES PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 457

1. Subtalar identifique a articulação com um pou- Hialuronico com agulha 30x7mm. Conferir pelo 12. Tosun, H. B., Gumustas, S., Agir, I., Uludag, A., Serbest, 17. Andersen KV, Bak M, Christensen BV, Harazuk J,
co de tração e movimentos de inversão e eversão ultrassom local corrto e aplicar lentamente. Cos- S., Pepele, D., & Ertem, K. (2015). Comparison of the ef- Pedersen NA, 
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do pé. A medicação a ser injetada depende da tuma causar rigidez leve a moderada por 2 dias. fects of sodium hyaluronate-chondroitin sulphate and trial comparing local infiltration analgesia with epidural
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para tratar a dor e com objetivo de modificar a his- tem grande promessa, mas necessita muita cautela 15. Choi PT, Bhandari M, Scott J, Douketis J. Epidu- 20.  Tsukada S, Wakui M, Hoshino A. Pain control after
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458 INFILTRAÇÕES PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 459

CAPÍTULO 40

Medicina regenerativa
em dor
Renato Luiz Bevilacqua de Castro
Edilson Silva Machado
Fernanda Dutra Santiago Bassora

Introdução
O avanço tecnológico trouxe um aumento da de maior porte, tem surgido como opção no arse-
expectativa de vida, e com ele as doenças crônico- nal médico. Isto tem sido possibilitado pelo avanço
-degenerativas têm ocupado um espaço cada vez tecnológico, especialmente nas áreas de genética e
maior no dia a dia do ortopedista. Alguns estudos biologia molecular.
têm sugerido inclusive um aumento das artropa- De acordo com o National Institutes of Health,
tias degenerativas, independente da faixa etária. agência do governo dos Estados Unidos responsável
Os procedimentos definitivos para tratar uma arti- pela regulação da pesquisa biomédica e de saúde
culação degenerada, baseados na substituição por pública, a “Medicina Regenerativa é o processo de criar
implantes metálicos e/ou plásticos (artroplastias e vida, tecidos funcionais para reparar ou substituir teci-
artrodeses) são associados a elevado custo e alta dos ou órgãos, e função perdida devido à idade, doença,
taxa de complicações. Terapias que controlem, re- dano ou doença congênita”1. A capacidade regenera-
tardem ou até mesmo revertam o processo degene- tiva do corpo humano intriga a humanidade desde
rativo, adiando assim os procedimentos cirúrgicos a antiguidade: na antiga mitologia grega, Prome-
460 MEDICINA REGENERATIVA EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 461

theus foi acorrentado a uma rocha como punição preencher defeitos articulares. A cultura pode ser da matriz extracelular da cartilagem e aumento da 2 a 5 vezes o basal, ainda não há padronização ou
por entregar o fogo aos humanos, e tinha o seu fíga- feita com células provenientes do próprio paciente produção de proteoglicanos. O aumento da pro- consenso sobre a concentração mínima e máxima
do devorado por uma águia durante o dia, mas este ou de banco de células. dução de AH endógeno é mediado pelo receptor para que haja o efeito regenerativo/reparador no te-
se regenerava à noite para que pudesse ser devo- CD 44. A ação antiálgica do AH é principalmente cido alvo.
rado novamente no dia seguinte2. Hipócrates (460- ÁCIDO HIALURÔNICO através da inibição da cascata do Ácido Aracdôni- As plaquetas se originam na medula óssea. São
370 a.C.) tratou articulações instáveis, perfurando O líquido viscoso produzido nas articulações si- co, como descrito por Tobetto et al.8; porém, outros fragmentos celulares anucleados, derivados dos
os ligamentos com hastes de metal incandescentes. noviais, a partir da camada visceral da membrana mecanismos são igualmente importantes, como a megacariócitos. Seu interior é repleto de fatores de
Com este procedimento rudimentar e experimen- sinovial é definido como líquido sinovial (LS), que diminuição da sensibilidade dos Canais de Cálcio, crescimento (FC), citocinas e interleucinas, conti-
tal, ele sugeriu que causar inflamação dos ligamen- possui em sua composição Lubricina, Albumina, diminuição da síntese de prostaglandina e bradi- dos principalmente nos α-grânulos: fator de cres-
tos lesionados levaria a autoreparação, introdu- Globulinas, eletrólitos e Ácido Hialurônico (AH). O cinina, e principalmente através da ação direta e cimento derivado das plaquetas (PDGF), fator de
zindo o conceito de que a irritação ou lesão pode AH tem sido considerado a molécula mais impor- indireta do AH nos efeitos da Substância P9. A dor crescimento transformador β (TGF-β1 e TGF-β2),
estimular a cicatrização. Este foi um dos primei- tante do LS, tanto na desaceleração da OA e prote- articular da OA que é comumente tratada com fator de crescimento endotelial vascular (VEGF),
ros passos para a utilização do mecanismo de cura ção articular, como na analgesia, além de proteger antinflamatórios, pode ter melhores resultados fator de crescimento fibroblástico (bFGF), fator
do corpo para reparar os tecidos conjuntivos3. Em a cartilagem contra os ataques de citocinas pró- com a injeção de AH intra-articular, conforme de- de crescimento epidérmico (EGF), fator de cresci-
meados do século XX, emerge a proloterapia, uma -inflamatórias e leucócitos. O AH é um polímero monstrou Altman10 em estudo clínico comparando mento insulin-like (IGF-1, IGF-2 e IGF-3), fator de 2
técnica para tratamento da dor musculoesqueléti- formado pelo Ácido Glucurônico e a N acetilglico- com uso crônico de Naproxeno. Adicionalmente, a crescimento do hepatócito (HGF), entre outros11.
ca, baseada na injeção de um irritante tecidual, a samina, sendo que a característica viscosa do LS orientação da American Academy of Orthopaedic Estes fatores serão responsáveis pela angiogêne-
Dextrose, para promover a cicatrização4. O avanço é atribuída ao AH. Esse Glicosaminoglicano (GAG) Surgeons indica o AH na prevenção da OA pós- se, cicatrização, inflamação, diferenciação celular,
na compreensão dos mecanismos de cicatrização e pode associar-se a proteínas e formar uma verda- -traumática do joelho, especialmente pós lesão do imunomodulação, síntese de proteínas da Matriz
de reparo tecidual, fez com que surgissem diversas deira rede de agregados moleculares; a concentra- Ligamento Cruzado Anterior. Após procedimentos Extra Celular, principalmente colágeno e proteogli-
propostas de terapias que controlem ou revertam o ção de AH é reduzida no LS com o envelhecimento, cirúrgicos por via artroscópica o AH também é canos12.
processo degenerativo. Na ortopedia, a doença de- em algumas condições patológicas como na OA e indicado, tanto para a redução da dor pós-opera- A terapia com PRP é um procedimento simples:
generativa discal e a doença degenerativa articular sinovites. Em condições fisiológicas, o AH é en- tória, quanto para a viscossuplementação e prote- através da centrifugação, o sangue do paciente é
(especialmente joelho e quadril), tem sido objeto contrado na concentração de 3 mg/ml e peso mo- ção condral, pois a lavagem da articulação retira a separado em 3 fases: uma mais pesada, composta
de diversos estudos. Se demonstrou em modelos in lecular de aproximadamente 5 milhões de Daltons camada protetora de AH original. Além dos clás- principalmente pelas hemáceas, outra mais leve, o
vitro e em modelos animais, o potencial de vários no LS. Na OA e sinovite, o peso molecular reduz sicos usos do AH na articulação do joelho, outras plasma, e entre estes, a região onde se concentram
agentes para promover o controle da inflamação e através da fragmentação causada pelo aumento da articulações também podem ser beneficiadas com as plaquetas e as células da série branca (buffy-coat).
o reparo tecidual. Interleucina 1 (IL-1) e do Fator de Necrose Tumoral o seu efeito analgésico, como o ombro e o tornoze- Altas concentrações de fatores de crescimento e ci-
Os produtos chamados de “Ortobiológicos” têm Alfa (TNF-α), e a concentração também é reduzida lo. Concluindo: o AH é a molécula-chave do LS na tocinas com seus efeitos terapêuticos são obtidos
demonstrado clinicamente seus efeitos protetores pela diminuição da produção. Em concentrações proteção da cartilagem e analgesia da articulação através da liberação do conteúdo dos Grânulos alfa,
no processo degenerativo. Tratamentos ortobioló- inferiores a 1 mg/ml de AH, os leucócitos que já es- sinovial, sua aplicação intra-articular produzirá Grânulos Densos e Exossomos13.
gicos são definidos como terapias que aproveitam o tão elevados no LS atingem a potencialidade de ati- aumento desta molécula endógena, além de anal- Estudos proteômicos demonstram que as pla-
potencial de reparo e regeneração presente nas cé- vação, migração e adesão semelhantes ao do san- gesia e condroproteção nas articulações sinoviais quetas contêm mais de 1.500 fatores bioativos, den-
lulas nativas do corpo, redirecionando seu uso para gue periférico, piorando a sinovite, a degradação mesmo no período pós-operatório. tre eles, hormônios peptídicos e quimiotáticos para
a cura acelerada em danos ou doenças ortopédicas da cartilagem e dos meniscos e consequentemente macrófagos, neutrófilos, células-tronco e ainda
degenerativas. O ácido hialurônico é considerado a piora na dor. Os efeitos do AH nos mediadores in- PLASMA RICO EM PLAQUETAS (PRP) várias centenas de outras proteínas, como fibrino-
como a primeira geração dos ortobiológicos, sendo flamatórios são bem conhecidos, em cultura de si- O relato de Ferrari, em 1987, sobre o uso de um gênio e fibrina. As plaquetas também armazenam
estudado desde a década de 19605,6. Os demais são: novócitos a adição de AH exógeno é capaz de dimi- gel feito à base de plaquetas como adjuvante em ci- proteínas com efeitos antibacterianos e fungici-
o Plasma Rico em Plaquetas (PRP), o Aspirado Con- nuir a concentração de interleucinas, leucotrienes, rurgias cardíacas, deu início à utilização do PRP na das, que influenciam a inflamação, aumentando a
centrado de Medula Óssea (BMAC, do inglês – Bone TNF-α, prostaglandinas e principalmente inibir a medicina. Uma maior compreensão da função das síntese de ILs e quimiocinas. Além de os grânulos
Marrow Aspirate Concentrate), e mais recentemente cascata da Ácido Aracdônico. Em células inflama- plaquetas no processo cicatricial, através da libera- densos liberam ADP - difosfato de adenosídio, ATP -
o Aspirado de Gordura, ou Fração Vascular Estro- tórias hematopéticas presentes no LS inflamatório, ção de dezenas de proteínas e fatores de crescimen- trifosfato de adenosídio, íons de cálcio, histamina,
mal. Estudos tem demonstrado a segurança e eficá- o AH reduz a mobilidade linfocitária, inibindo a to, estimulou seu uso na ortopedia, e atualmente serotonina e dopamina, que são ativos na homeos-
cia no controle da dor atribuída à osteoartrose (OA), proliferação e a estimulação do linfócito, além de é o principal ortobiológico utilizado ao redor do tase dos tecidos. Para que ocorra a liberação destes
lesões musculares, tendinopatia e também para a inibir a degranulação do neutrófilo e a fagocitose. mundo. A definição de PRP ou Concentrado de Pla- fatores, a plaqueta deve sofrer o processo de ativa-
melhora de resultados pós-operatórios7. Além das A administração de AH exógeno estimula a forma- quetas, é “todo preparo com níveis suprafisiológi- ção. A ativação plaquetária pode ocorrer através do
técnicas descritas acima, dentro das técnicas rege- ção de AH endógeno, e após 3 dias o efeito protetor cos de plaquetas. Embora alguns autores conside- contato com moléculas de cálcio, trombina, ADP,
nerativas, temos o uso de células cultivadas para já pode ser notado, com diminuição da degradação rem que deva existir uma concentração mínima de colágeno ou magnésio. Uma vez ativadas, a morfo-
462 MEDICINA REGENERATIVA EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 463

logia é alterada ocorrendo a liberação dos FCs pla- aumentar a proliferação de condrócitos, o PRP tem no estímulo da atividade celular e maior produção e degeneração discal. Em meta análise realizada
quetários e citocinas anti-inflamatórias, concen- demonstrado induzir a diferenciação condrogêni- de colágeno e de proteoglicanos. Levi e col, em um por Wang et al., 22 estudos com animais controla-
trando de 3 a 5 vezes em comparação à liberação ca e o desenvolvimento da matriz. Alguns estudos estudo prospectivo onde pacientes com dor lombar dos foram selecionados, e os resultados mostra-
fisiológica basal. demonstram que esse reparo mantém a caracterís- foram submetidos a injeção intradiscal de PRP, de- ram que as células-tronco transplantadas no disco
O PRP é um potencial candidato para induzir a tica fenotípica hialina e aumenta as propriedades monstrou melhora da dor na Escala Visual Analó- intervertebral diminuem ou controlam o processo
condrogênese e sustentar o fenótipo de condróci- mecânicas compressivas gerais do tecido - outros gica e no Índice de Incapacidade de Oswestry, em degenerativo, mostrando-se favoráveis à terapia27.
tos in vitro e in vivo. A liberação de TGF-β resulta do estudos descobriram que o PRP não induziu a for- seis meses de seguimento21. Ensaio clínico rando- Em uma coorte de pacientes com Dor Lombar Dis-
aumento da produção de matriz, proliferação ce- mação de cartilagem hialina, mas ainda foi capaz mizado em pacientes com dor lombar discogênica, cogênica, com indicação de tratamento cirúrgico,
lular, diferenciação osteocondrogênica. Ele é con- de induzir uma resposta reparativa17. Também se conduzido por Lutz e col. demonstrou segurança e submetidos a injeção intradiscal de BMAC, Pettine
siderado um promotor do anabolismo de condró- relata melhora da cicatrização tecidual, além da superioridade ao placebo na injeção intradiscal de conseguiu controle da dor e manejo conservador,
citos in vitro, e injeções intra-articulares ajudam capacidade das micropartículas plaquetárias com PRP22. Estudo prospectivo com pacientes com dor com seguimento de 3 anos, em 71% dos pacientes28.
a aumentar a formação óssea in vivo. A expressão propriedades imunomoduladoras e capazes de po- lombar discogênica e atrofia muscular do multifi- Resultados similares foram demonstrados pelos
do gene do colágeno tipo I (col-I) é reduzida, que larizar monócitos M1 em M2. dus demonstrou melhora clínica e de imagem após mesmos pesquisadores em um grupo de pacientes
simultaneamente aumenta a expressão gênica do A quantidade e a qualidade dos estudos com injeções seriadas de PRP intramuscular, com 12 e com doença discal cervical. Dispomos na literatu-
colágeno tipo II (col-II) e agrecano. O TGF-β contri- PRP em ortopedia têm crescido a cada ano. De 2009 24 meses de seguimento. O uso do PRP na dor de ra de diversas publicações sobre o uso de BMAC em
bui com o bFGF na indução da migração e suple- a 2019 foram publicados centenas de artigos, den- origem facetária também já demonstrou bons re- doenças osteoarticulares, sendo a maioria séries de
mentação de células do estroma da medula óssea tre eles ensaios clínicos de boa qualidade. Algumas sultados e superioridade em relação ao corticoide casos, sem padronização no preparo e obtenção29.
(BMSCs); estimula o homing celular, a proliferação revisões sistemáticas e meta-análises já estão dis- em ensaio clínico conduzido por Wu e col23. Os di- A realização de ensaios clínicos randomizados, de
e a diferenciação condrogênica. A liberação pro- poníveis, e demonstram, com bom Nível de Evi- versos estudos foram analisados em uma Revisão larga escala e multicêntricos e com protocolos pa-
longada de TGF-β é necessária em todo o proces- dência, a eficácia do PRP no controle de sintomas Sistemática que concluiu que os biológicos têm dronizados, poderá dar uma evidência mais robus-
so de proliferação e diferenciação da cartilagem. dos pacientes com artrose do joelho, tendinopatias efeito benéfico no controle da dor lombar24. Ba- ta para o uso do BMAC na prática diária do ortope-
Portanto, os componentes do PRP são efetivos em e dor lombar. Revisão feita por Dragoo e colegas, seada nesta literatura, a Associação Americana de dista.
mimetizar os processos naturais do ferimento dos comprova que há abundante evidência científica Médicos Intervencionistas da Dor (ASIPP) elaborou
tecidos moles, como um facilitador da formação de alta qualidade para suportar o uso de injeção de um guideline sobre o uso seguro e efetivo dos bioló- FRAÇÃO VASCULAR ESTROMAL
de fibrocartilagem. Alguns FCs liberados no PRP PRP para epicondilite lateral e para a osteoartrite gicos na dor lombar25. O recente conhecimento de que os pericitos - cé-
podem influenciar o fenótipo ou diferenciação dos do joelho18. lulas perivasculares presentes em diversos tecidos,
condrócitos. O TGF-β é um preservador de condró- Dentre as Doenças Degenerativas Ortopédicas, a BMAC inclusive no tecido celular subcutâneo, agem como
citos regulando inicialmente a sulfatação dos gli- degeneração da coluna vertebral é a que apresenta O conhecimento de que células mesenquimais células medicinais mesenquimais30, têm estimula-
cosaminoglicanos (GAGs), e associado ao aumento maior morbidade e maior impacto econômico. As multipotencias, presentes na medula óssea, teriam do estudos na área de regeneração com produtos
da massa óssea. Devido à hipertrofia dos condró- atuais opções cirúrgicas, além do alto custo, estão potencial regenerativo nas lesões osteoarticulares, obtidos a partir da aspiração do tecido adiposo sub-
citos articulares no processo de proliferação de- associadas a elevado índice de complicações e de estimulou os estudos com estas células. O Aspira- cutâneo. Este aspirado é conhecido genericamen-
sencadeado pelo TGF-β1, os níveis de proteínas reintervenções. A proposta de uma terapia regene- do Concentrado de Medula Óssea ou BMAC. (Bone te como Fração Vascular Estromal ou SVF (Stromal
marcadoras de cartilagem agrecan e col-II e desa- rativa, de baixo custo, com técnicas pouco invasi- Marrow Aspirate Concentrate) é uma técnica onde se Vascular Fraction). Estudos demonstraram a capaci-
pareceram gradualmente14. vas e menor índice de complicações, tem levado a produz um concentrado celular, sem manipulação dade de diferenciação condrogênica dos pericitos,
Estudos do uso do PRP in vivo relataram atra- diversos estudos com os ortobiológicos. Em mode- ou cultura, a partir da punção da medula óssea. o que estimulou seu uso no manejo das artropatias
vés de análise histológica um aumento significati- lo experimental de Degeneração Discal em coelhos, Esta técnica foi popularizada por Hernigou no tra- degenerativas31. Dentre as vantagens da SVF em
vo na qualidade do reparo da cartilagem15. Alguns Gui e col. demonstraram os efeitos inibitórios do tamento da necrose avascular da cabeça femural relação ao BMAC estão a facilidade de coleta e a
dos aspectos usados ​​para definir a qualidade do PRP sobre a lesão discal. O estudo foi randomizado (26). No BMAC se encontram não apenas células maior quantidade de células presentes no aspira-
reparo da cartilagem incluiu espessura condral, e as análises incluíram imagem de RX e Ressonân- mesenquimais, mas também plaquetas, fatores de do32. A presença de adipócitos no aspirado, com seu
integração tecidual, morfologia celular e regulari- cia Magnética e histologia. Concluiu-se que a in- crescimento e células da linha hematopoiética. A potencial inflamatório, é um problema a ser resol-
dade da superfície. Coletivamente, esses achados tervenção com PRP significativamente restaurou a presença do antagonista do receptor da Interleuci- vido, e diversos protocolos de obtenção e separação
sugerem que o PRP tem algum benefício para o altura e sinal discal, bem como a expressão de pro- na 1 (IL-1 RA) confere o efeito anti-inflamatório do estão sendo estudados.
crescimento global e diferenciação de condrócitos. teoglicanos e colágeno tipo II19. O efeito benéfico BMAC. Seu uso é corrente em vários países ao redor Em revisão sistemática sobre o uso de células
O PRP mostrou ter vários efeitos anti-inflamató- do PRP e Concentrado de Células da Medula Óssea, do mundo. Nos Estados Unidos já é regulamentado mesenquimais (BMAC e SVF) na artrose do joelho,
rios, que podem resultar em melhora dos sintomas foi demonstrado por Wang e colegas, em modelo pelo FDA. Kim e colegas demonstram que o efeito de melhora
clínicos. Porém, poucos estudos de ciência básica de degeneração discal de coelhos20. Akeda e col. Vários estudos pré-clínicos em modelos animais da dor embora a heterogeneidade e baixa qualida-
analisaram especificamente o uso de PRP em um estudaram o efeito do PRP no metabolismo de cé- foram realizados com o objetivo de avaliar a eficá- de dos estudos impeça conclusões mais robustas33.
modelo Osteoartrose16. Além de sua capacidade de lulas discais porcinas, e demonstraram seu efeito cia das células mesenquimais no manejo da artrose Duas meta-análises revelam resultados positivos
464 MEDICINA REGENERATIVA EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 465

com melhora clínica da dor e da função, mas a qua- para a casa dos milhões. O alto custo é um fator ções e até gangrena. O emprego da técnica correta O uso do US para intervenções é diferente do uso
lidade dos estudos sugere a realização de ensaios limitante para estas técnicas, mas espera-se que e com maior nível de tecnologia parece ser crucial no diagnóstico, existem dificuldades técnicas de
clínicos de larga escala, com maior padronização. com o avanço da tecnologia este custo caia e torne para evitar essas complicações e melhorar os resul- acordo com cada região a ser tratada, necessitando
o procedimento viável economicamente. tados35. Além disso, articulações como o Quadril, de especialização específica para cada tipo de pro-
CULTURA DE CÉLULAS Sacroilíaca, Facetas Articulares da Coluna Verte- cedimento. A Ultrassonografia tem sido utilizada
O cultivo de células em laboratório, visando sua ULTRASSONOGRAFIA NA MEDICINA bral, apresentam elevado índice de inacurácia para frequentemente para guiar procedimentos nos me-
multiplicação e posterior inserção no tecido defei- REGENERATIVA acessar o alvo desejado, chegando em alguns casos, lhores centros de excelência em Ortopedia, Reuma-
tuoso, tem sido objeto de diversos estudos. As cé- A orientação por imagem para realizar injeções e a mais de 40% de erro36. Nas lesões tendinosas, as tologia, Clínica de Dor e Medicina Regenerativa.
lulas podem ser já diferenciadas ou mesenquimais infiltrações articulares foi por muito tempo realiza- dificuldades são ainda maiores, pois a injeção in- Atualmente, a terapia com ortobiológicos (PRP,
multipotenciais (MSC), podem ser de origem do da através da tomografia computadorizada e da fluo- tralesional diminui a resistência mecânica do ten- BMAC e VSF) tem se mostrado promissora, como
próprio paciente (autólogas) ou de outros doado- roscopia. Porém, esses métodos mostram desvanta- dão podendo levar a complicações e até mesmo a terapia eficaz para tendinopatia crônica, artrose
res (alogênicas). A cultura de células já diferencia- gens importantes. Primeiro, a exposição tanto do ruptura total. As técnicas para injeções peritendi- e dor lombar, com estudos na literatura demons-
das tem larga comprovação clínica na eficácia de paciente quanto do operador à radiação ionizante. nosas são muito específicas e dependem de treina- trando bom nível de evidência (tabela 1). Embora
preenchimento de defeitos articulares e possui re- Além disso, o uso de material de contraste iodado, mento adequado, pois a janela de target terapêutico em alguns casos os exames de imagem não con-
gulamentação pelo FDA. O uso de células multipo- que é necessário para confirmação da localização é muitas vezes próxima de 1 mm. A necessidade da sigam demonstrar reparo das lesões, os pacientes
tenciais indiferenciadas, estimuladas para diferen- da droga intrarticular injetada, causa a diluição do injeção peritendinosa é habitual, pois a tendinopa- demonstram visível melhora clínica e funcional.
ciação em condrócito, tem sido objeto de diversos fármaco alterando a concentração necessária para a tia é uma fonte comum de dor e comprometimen- Lembramos que, independentemente do agente
estudos clínicos e in vitro. Embora mostre resulta- ação terapêutica. Adicionalmente, orientação fluo- to funcional, representando 30-50% das lesões por do tratamento na cavidade articular, tendões, me-
dos promissores, ainda não tem regulamentação roscópica não permite a visualização de estruturas uso excessivo relacionadas ao esporte e afetando niscos e ligamentos, o uso do US se mostra essen-
para uso na prática clínica. A origem destas células não ósseas (nervos, tendões) e a posição da agulha um grande número de trabalhadores que realizam cial, e diretamente relacionado ao sucesso da nova
pode ser do aspirado de medula óssea, do aspira- (por exemplo: região peritendão). Esta metodolo- movimentos repetitivos37. terapêutica. O desenvolvimento de habilidades na
do da gordura ou outras fontes menos comuns. As gia avalia adequadamente os componentes ósseos
condições para uma célula ser classificada como e não os tecidos moles, como a cápsula articular e Tabela 1: Estudos clínicos com nível I de evidência nos tratamentos de tendinopatias e artrose
Célula Tronco Mesenquimal, segundo a Sociedade tendão. Finalmente, os exames de fluoroscopia e to-
Internacional de Terapia Celular são: aderência ao mografia computadorizada envolvem custos relati- TIPO DE ESTUDO E COMPARAÇÃO E NÚMERO
REFERÊNCIA SEGUIMENTO RESULTADOS
plástico, expressão de de CD 105, CD 73 e CD 90, e vamente altos. Vale a pena recordar a diretiva Eura- POPULAÇÃO DE INDIVÍDUOS
não expressar CD 45, CD 34, CD 14 ou CD 11b, CD tom, segundo a qual as técnicas que não envolvem a Johal e colegas (38) Metanálise PRP (n=1755) vs CTL (n=1980) 12 meses PRP teve redução da dor
79 alfa ou CD 19, HLA-DR e ter capacidade de se radiação ionizante devem ser preferidas quando há
Corticosteroides oferecem alívio de
diferenciar em osteoblastos, adipócitos ou condro- igual eficácia34. Por esse motivo, nos últimos anos, o
Randomizado Controlado, curto prazo dos sintomas, mas o
blastos34. progressivo avanço tecnológico da Ultrassonografia Mahalias e colegas (39) P-PRP (n=17) Corticoide (n=16) 12 meses
Artrite Trapeziometacarpal PRP teve efeito de até 12 meses no
O uso de células cultivadas para preencher de- (US) aumentou o potencial terapêutico.
tratamento da artrite sintomática
feitos da cartilagem já vem sendo realizado desde Injeções articulares, musculares ou periten-
a década de 1990. Os condrócitos são responsáveis dinosas e bloqueios anestésicos guiados por ul- PRP (n=49) vs AH (n=40) vs
Duymus e colegas (40) Randomizado Controlado 12 meses Melhora na dor no grupo PRP
pela produção da matriz extracelular, especialmen- trassom têm sido utilizadas por vários segmentos Ozônio (n=39)
te colágeno tipo II e proteoglicanos. Em uma área médicos, com as suas indicações já bem sedimen- PRP (n=49) vs Ácido Hialurôni- Melhora no WOMAC e nas proprie-
doadora, normalmente uma região que não seja de tadas na literatura. Na ortopedia esta ferramenta Cole e colegas (41) Randomizado Controlado 12 meses
co (n=50) dade anti-inflamatórias do PRP
carga, pequena amostra da cartilagem é retirada. terapêutica ainda é relativamente recente. As in-
Metanálise PRP vs salina, AH, ozônio e PRP é mais eficaz no alívio da dor e
Os condrócitos são separados e enviados para cul- jeções por Landmarks Anatômicos ou às cegas, e Dai e colegas (42) 12 meses
AO joelho corticoide (n=1069). melhora da função
tura durante algumas semanas. Após expansão, com o uso de fluoroscopia já são realizadas há mui-
são inseridos no defeito articular, normalmente tas décadas, mas com taxas de inacurácia bastante Grupo PRP teve melhora clínica e
com algum tipo de membrana biológica ou scaf- elevadas em alguns segmentos. O joelho tem sido Randomizado Controlado, estrutural em grandes lesões do
P-PRP (n=52) vs Controle
fold32. Estudos com diferenciação de células mesen- a articulação mais frequentemente tratada, tanto Pandey e colegas (43) Artroscopia com completa 24 meses manguito e aumento na vascula-
(n=50)
quimais em condrócitos têm sido feitos, mas até o pela alta incidência de patologias, como pela “faci- retração rização no local de reparo na fase
momento da redação deste livro, não há liberação lidade” de acesso. Outras articulações também são inicial
ou regulamentação para seu uso na prática clínica. tratadas com injeções articulares com frequência, Revisão Sistemática
A vantagem da expansão através da cultura reside mas as dificuldades técnicas sem o uso do US po- Meheux e colegas (44) PRP vs AH (n=739) 12 meses Melhora no WOMAC no grupo PRP
OA joelho
na grande população celular, que vai dos milhares dem ser maiores e até oferecer alguns riscos aos
Smith e colegas (45) Randomizado Controlado Salina (n=15) vs PRP (n=15) 12 meses Melhora no WOMAC
(encontrados nos concentrados não expandidos) pacientes como as lesões de partes moles, infec-
466 MEDICINA REGENERATIVA EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 467

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81. TS, Andriolo G, Sun B, Zheng B, Zhang L, Norotte C,
nejo da dor ortopédica pode ser considerada um larga escala e multicêntricos poderá nos fornecer
21. Levi D, Horn S, Tyszko S, Levin J, Hecht-Leavitt C, Teng PN, Traas J, Schugar R, Deasy BM, Badylak S,
campo em evolução, e está baseada na avaliação mais respostas, sobre as melhores técnicas de pre-
Walko E. Intradiscal Platelet-Rich Plasma Injection for Buhring HJ, Giacobino JP, Lazzari L, Huard J, Péault
integral do paciente (o efeito da terapia depende da paro e suas indicações mais precisas (tipo e grau Chronic Discogenic Low Back Pain: Preliminary Results B. A perivascular origin for mesenchymal stem cells
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CAPÍTULO 41
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Paulo Renato Barreiros da Fonseca
Fabrício Dias Assis
Lúcio César Hott Silva

Definição
A Medicina Intervencionista da Dor proporcio- quência, além das terapias implantáveis como ele-
na um repertório enorme de possibilidades tera- trodos para neuromodulação medular e periférica,
pêuticas e propedêuticas para síndromes dolorosas implante de cateteres peridurais e bombas intrate-
de difícil controle. Os procedimentos envolvidos cais de infusão de fármacos. Mais recentemente a
são em sua maioria, minimamente invasivos e medicina regenerativa tem conquistado um espaço
guiados por radioscopia, ultrassonografia e em al- cada vez maior no tratamento das doenças relacio-
guns casos por tomografia. Entre os procedimentos nadas à dor. Os procedimentos intervencionistas,
mais comuns, destacam-se os bloqueios testes, blo- em sua grande maioria, são realizados em regime
queios terapêuticos e procedimentos por radiofre- ambulatorial.
470 TRATAMENTOS INTERVENCIONISTAS PARA MANEJO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 471

Tipos de procedimentos Figura 1: Confirmação com contraste


em AP (A) e perfil (B), do adequado

Arquivo pessoal Dr. Fabrício Dias de Assis


BLOQUEIO TESTE regional dos membros superiores ou inferiores, posicionamento da agulha no
Consiste na infusão de anestésicos locais ou neuralgia aguda ou pós-herpética, síndrome pós- bloqueio transforaminal lombar entre
opioides em uma região ou estrutura, conforme -laminectomia, espondilolistese, radiculopatia pós- L4-L5 e L5-S1
a abordagem. São usados para determinar o local -radiação e metástase em coluna espinhal. Como
exato da dor do paciente ou o prognóstico a longo contraindicações tem-se infecção, coagulopatia,
prazo de determinado tratamento. Ele se aplica no gravidez no primeiro trimestre e aracnoidite resul-
caso de neurólises químicas e por radiofrequência, tante de cirurgia lombar2-6.
implantação de bomba de infusão intratecal de fár- As principais técnicas para identificar o espa-
macos ou de sistema para neuromodulação onde ço epidural são a técnica da gota pendente, perda
o teste é feito para se avaliar o prognóstico a longo de resistência (Dogliotti) e dose teste de anestésico
prazo do implante definitivo destes dispositivos. local. A técnica da perda de resistência tem sido A abordagem transforaminal deve usar como superior delineia a orelha do cachorro, o processo
No primeiro caso se utiliza a injeção contínua ou muito utilizada nesse procedimento, sempre guia- guia a imagem fluoroscópica do “Scotty Dog”. Trata- transverso se projeta sobre o corpo vertebral for-
em bolus da medicação desejada por via espinhal e da por fluoroscopia e confirmada com a injeção -se de uma imagem oblíqua otimizada que organiza mando o nariz, o processo articular inferior serve
naqueles pacientes candidatos à neuromodulação de contraste. Além disso, as injeções realizadas no as várias fronteiras ósseas e pontos de referência como perna da frente, o pedículo sobrepõe a região
o teste é realizado com uma bateria externa por pe- espaço epidural devem ser realizadas lentamente. relevantes do forame vertebral em uma silhueta do olho e o processo espinhoso imita os pés2,3.
ríodo de 1 a 2 semanas1. Caso o paciente refira dor ou outros sintomas, a que imita um terrier escocês. O processo articular
seringa deve ser desconectada da agulha imedia-
BLOQUEIO TERAPÊUTICO COM tamente para permitir o retorno líquido injetado e Figura 2: Scotty dog (Cão escocês) e suas relações anatômicas (A: Imagem esquemática com relações anatômicas,
CORTICOIDES a descompressão do espaço epidural. Dentre os si- B: Imagem de tomografia e C: Imagem de Raio-X)
Consiste na infusão de corticosteroides em re- nais de alerta dessa abordagem podemos citar o ris-
giões afetadas por uma síndrome dolorosa. Seu co de punção dural, principalmente pela técnica de

Arquivo pessoal do Dr. Carlos Marcelo de Barros


principal local de utilização é na coluna vertebral, perda de resistência, visto que existem indivíduos
onde pode ser infundido no espaço epidural por com variações anatômicas que incluem a fusão in-
diversas técnicas (bloqueio interlaminar, transfo- completa do ligamento amarelo, principalmente
raminal e sacral) ou na articulação facetaria (blo- na região cervical2-5.
queio facetário). Também pode ser utilizado em

e do Dr. Fabrício Dias Assis


articulações como ombro, joelho e quadril. Bloqueio Epidural Transforaminal
É a via preferida na abordagem das dores lomba-
Bloqueio Epidural Interlaminar res, pois permite que o corticoide seja injetado dire-
Existem numerosos ensaios clínicos randomi- tamente no local afetado, o que aumenta sua efetivi-
zados de variada qualidade metodológica que mos- dade. O exame de alguns estudos observacionais e
tram uma resolução mais rápida da dor radicular de pequeno número de ensaios randomizados suge-
aguda associada à hérnia discal lombar após a inje- re que injeções peridurais transforaminais levam a
ção peridural de esteroides. Entretanto, o bloqueio uma redução significativa na dor em pacientes com Além disso, existem outras estruturas que po- dade de punção da Artéria de Adamkiewicz, que
interlaminar possui evidência e recomendação so- lombalgia aguda por dor radicular quando compara- dem ser utilizadas como guias no procedimento. pode estar em qualquer lugar entre T4 e L2, resul-
mente para redução do quadro doloroso em até 3 da com a observação isolada ou manejo conservador O “triângulo de segurança” refere-se a uma região tando em paraplegia. O triângulo de Kambin, por
meses e não a longo prazo2-5. sem terapia intervencionista2-5. inferior à margem inferior do pedículo, dorsal ao sua vez, descreve uma área sobrejacente ao disco
As peridurais interlaminares são muito utiliza- Dentre as indicações podemos citar hérnias de corpo vertebral e cefálica à raiz nervosa. Esta zona póstero-lateral que é limitada pelo corpo vertebral
das no tratamento das dores radiculares das colu- disco ou estenose espinhal, radiculopatia pós-ra- é considerada segura, e é a abordagem mais uti- inferior em sua base, pelo nervo espinhal como sua
nas cervical, torácica e lombossacral, sendo prefe- diação e metástase em coluna espinhal. Como con- lizada, uma vez que o posicionamento da agulha hipotenusa e a raiz desse nervo ou a dura como sua
rida nos dois primeiros devido à menor incidência traindicações temos infecção, coagulação alterada nesta região evita a raiz nervosa. Entretanto, existe vertical. O uso do triângulo de Kambin na aborda-
de complicações, quando comparada à abordagem e gravidez no primeiro trimestre3,6. grande proximidade entre a artéria radiculomedu- gem do bloqueio transforaminal é tão efetivo quan-
transforaminal. Dentre suas principais indica- As complicações incluem punção do saco du- lar anterior e o nervo espinhal, o que faz com que, to o uso do triângulo de segurança e deve ser pre-
ções podemos citar hérnia de disco ou estenose ral, perfuração da artéria vertebral, pneumotórax mesmo com o correto posicionamento da agulha ferido nos casos de abordagem ao nível de L2 ou
espinhal, dores axiais, síndrome da dor complexa e punção do nervo espinhal2. nos pontos-alvo recomendados, exista a possibili- acima por sua menor chance de complicações7-10.
472 TRATAMENTOS INTERVENCIONISTAS PARA MANEJO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 473

Figura 3: Adaptado de: Triângulo de Kambin. (Fonte: proximidade anatômica. Na presença de cicatrizes Radiofrequência na dor neuropática por bloqueio persistente
Van Boxem K, Rijsdijk M, Hans G, de Jong J, Kallewaard é necessária a utilização de um cateter para que o A radiofrequência (RF) refere-se ao forneci- da transmissão nociceptiva medular. Não está
JW, Vissers K, et al. Safe use of epidural corticosteroid fármaco alcance regiões superiores às afetadas2. mento de corrente elétrica de alta frequência descrito um tempo ideal de aplicação da RFP,
injections: recommendations of the WIP Benelux (aprox. 500 KHz) ao tecido do paciente através de embora a maioria dos autores utilize entre 3 e
Workgroup; 201811 Figura 4: Bloqueio epidural sacral A: Confirmação sob um eletrodo. Utilizada como método neuroabla- 8 minutos12,13.
visão AP B: Confirmação com contraste do posicionamento tivo para alívio da dor desde 196554 induz a uma
epidural caudal sob visão lateral do fluoroscópio destruição térmica dos nervos que transportam Indicações e contraindicações
os impulsos dolorosos. O eletrodo é colocado jun- Principais indicações:
to ao nervo alvo com a posição confirmada por

Arquivo pessoal Dr. Fabrício Dias de Assis


fluoroscopia ou ultrassonografia e a corrente de RF TÉRMICA RF PULSADA
radiofrequência é aplicada para aquecer e coa-
Dor facetária Gânglio da raiz dorsal
gular tecidos adjacentes, incluindo o nervo12,13. O
desenvolvimento da RF pulsada (RFP) por Sluijter, Dor sacroilíaca Nervos periféricos
em 1998, gera menor aumento de temperatura, Rf intradiscal Rf intradiscal
não resultando em lesão tecidual aparente55. Seu
Rf joelho, quadril, ombro Trigêmeo
efeito principal parece estar relacionado ao cam-
po eletromagnético formado. A RFP é considerada Simpatectomias Dor neuropática
um método neuromodulador e não neuroablativo. Trigêmeo
Tanto a RF convencional como a RFP são utiliza-
Bloqueio Epidural Caudal Complicações dos bloqueios das no tratamento de diversas síndromes doloro-
A utilização da via caudal permite uma boa dis- É importante que os passos que compõem o sas e possuem indicações específicas como vere-
persão da solução para o espaço peridural anterior checklist de cirurgia segura sejam realizados, uma mos abaixo. O eletrodo utilizado por ser mono ou A RF está indicada para a neurotomia de nervos
sendo uma excelente opção nos casos de dores rela- vez que eles tornam a equipe ciente de compli- bipolar estando o tamanho e intensidade da lesão pequenos ou não-mielinizados de facetas (ramo
cionadas às colunas sacral e lombar baixa, normal- cações evitáveis. O ambiente cirúrgico ou o am- relacionadas a essa polaridade. medial do ramo dorsal primário), gânglio da raiz
mente L4,L5 e S1. O uso de esteroides peridurais é biente escolhido para realização da intervenção dorsal (radiofrequência pulsada), periósteo, arti-
baseado principalmente na fisiopatologia inflama- também deve ser adequado para conter recursos Formato da onda / temperatura ajustada: culações, discos e sistema nervoso simpático. Exis-
tória da dor radicular, mas atualmente tem sido de- imediatos (drogas vasoativas, acesso central, ma- • RF Térmica (RFT): A temperatura sustentada te grande eficiência do método para o tratamento
monstrado que essa medicação reduziu também a terial para reanimação e intubação orotraqueal) do tecido excede 42°C. A corrente de RF é apli- doloroso da osteoartrose, da artrite reumatoide,
dor neuropática em alguns modelos laboratoriais. que possam ser utilizados em casos de complica- cada de forma contínua e as temperaturas teci- dor pós-traumática, dor pós-operatória persistente
Alguns estudos randomizados evidenciaram que o ções inesperadas. duais podem atingir até 90°C. O objetivo aqui é a após artroplastia total do joelho, capsulite adesiva
uso de corticoides na região sacral promoveu melho- Como complicações dos bloqueios com uso de ablação térmica do tecido nervoso. Isso permi- e dor oncológica. Além disso, pode ser utilizada na
ra do quadro doloroso agudo bem como 3-4 meses corticoide epidural podemos citar: hipotensão, in- te uma lesão controlada do alvo desejado. Esta falta de condição clínica do paciente para cirur-
após o procedimento, em comparação com o grupo jeção intratecal (pode evoluir com raquianestesia categoria inclui os métodos de “resfriamento”, gia, quando a idade é inadequada e quando a dor
controle. Um deles, inclusive, apresentou p<0,05.2-5 total, com risco de dificuldade respiratória e para- onde há um gotejamento de solução ionizada persiste mesmo após intervenção cirúrgica. Antes
O procedimento está indicado, em sua maioria, da cardiorrespiratória), injeção intravascular (com na ponta do eletrodo e cujo objetivo é ampliar a da realização do procedimento é necessário que
para síndromes radiculares lombossacrais. Dentre risco de embolização resultando em isquemia me- área de lesão12. bloqueios testes precisos sejam realizados, confir-
elas, hérnia de disco ou estenose espinhal, cica- dular e cerebral), lesão medular devido à loculação • RF Pulsada (RFP): A temperatura do tecido é mando assim o local de acometimento antes que
trização da raiz do nervo sacral, coccigodinia, dor de grandes volumes injetados, necrose avascular, mantida igual ou abaixo de 42°C em média. A lesão seja realizada. Ela também pode ser utilizada
retal, neuralgia do pudendo, fratura sacral, espon- disfunção da bexiga ou intestino, sangramento ou RF é fornecida em rajadas curtas, com duração no tratamento de afecções do nervo trigêmeo, com
dilolistese, escoliose com aprisionamento de raiz hematoma, desmineralização óssea por uso de cor- que varia de 5 a 20 milissegundos, de alta in- técnicas de lesões sucessivas visando diminuir a
nervosa, radiculopatia sacral pós-radiação e me- ticoides, infecção (meningite, osteomielite, absces- tensidade, cerca de 500.00 Hz, seguida de um formação de neuromas ou levar à denervação com-
tástase sacral. Como contraindicações temos infec- so epidural, discite, aracnoidite), complicações me- período de repouso, de modo que a intensi- pleta desse nervo12-19.
ção local ou sistêmica, coagulopatia, gravidez no tabólicas (hiperglicemia por supressão da insulina dade do campo elétrico é aumentada sem que A RF térmica está contraindicada para nervos
primeiro trimestre e cirurgia prévia na região com e do cortisol, Síndrome de Cushing, lipomatose e ocorra o aquecimento do tecido, uma vez que longos mielinizados, visto que a coagulação de pro-
aracnoidite2-6. proliferação gordurosa no espaço dural), complica- o período de repouso é suficiente para dissipa- teínas pode levar à disestesia e formação de neu-
Além da punção do saco dural, o procedimento ções vasculares (embolia aérea venosa, hematomas ção da energia acumulada. O objetivo clínico romas. A RF pulsada, por sua vez, aparentemente
apresenta o risco de perfuração do reto quando a intracranianos, hematoma epidural e isquemia), é a modificação neural por campos elétricos, não acomete a bainha de mielina, podendo ser
agulha não é adequadamente angulada, devido à além de complicações oculares6,11. sem lesão neuronal de fato. Atua diretamente utilizada com sucesso nesses nervos. Ela inclusive
474 TRATAMENTOS INTERVENCIONISTAS PARA MANEJO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 475

está indicada para dor neuropática, dor em nervos NEUROMODULAÇÃO ceptores opioides das estruturas do sistema nervo- ciadas à bomba. Das complicações associadas aos
periféricos e para tratamento de pontos-gatilho14-16. A neuromodulação consiste na aplicação de cor- so central e periférico, modulando a atividade no- cateteres a mais frequente é sua migração por fi-
A fim de assegurar os resultados desejados, é rente elétrica ou na infusão de substâncias químicas ciceptiva. O cateter é conectado a um reservatório xação ineficiente. Outra complicação é a obstrução
importante que o profissional estabeleça critérios junto ao sistema nervoso, a ponto de modificar suas que fica implantado no subcutâneo, normalmente do fluxo por dobra no cateter. Além disso, podemos
de inclusão e exclusão para os pacientes em con- funções. Dentre os efeitos clínicos, sem dúvida um na região abdominal. O reservatório é reabastecido citar o aparecimento de fístula liquórica, rotura
sideração para o tratamento com neurólise por ra- dos principais, é uma analgesia eficiente. As bombas através de uma pequena punção, em média, a cada do cateter ou perda da conexão entre dos compo-
diofrequência. Em termos de critérios de inclusão, de infusão espinhal de fármacos são muito utilizadas 2 a 6 meses, dependendo da quantidade de morfina nentes. Todas necessitam reabordagem com subs-
recomenda-se que a duração da dor seja de pelo em pacientes oncológicos mas também podem ser necessária para o paciente23-25. tituição ou reimplantação do dispositivo. As com-
menos 3 meses sem resposta às terapias conserva- utilizadas em alguns casos individualizados de dor Dentre as vantagens do uso da bomba de infusão plicações neurológicas são raras e, normalmente,
doras, que não haja indicação de intervenção cirur- não oncológica. Os neuroestimuladores possuem in- intratecal são citadas a dosagem menor de medica- secundárias a lesão direta do cateter ou a fibrose.
gica, que nenhuma lesão invasiva ou segmento es- dicação muito precisa em casos de dor radicular na mentos, com equianalgesia da morfina chegando à Pode haver a formação de granulomas na ponta do
pinhal instável esteja presente, que o bloqueio teste síndrome pós laminectomia e dor devido à polineu- proporção de 1:300 entre as vias intratecal e oral; catéter, mais comumente com o uso morfina, prin-
seja positivo e que o paciente esteja disposto a par- ropatia diabética. Novos alvos como a estimulação redução dos efeitos adversos, como sedação, cons- cipalmente em maiores concentrações. As com-
ticipar em serviços multidisciplinares de dor para de nervos periféricos ou do gânglio da raiz dorsal e tipação, náuseas, vômitos e depressão respiratória, plicações relacionadas à bomba são associadas ao
garantir uma melhor recuperação a longo prazo. novas formas de estimulação, tem aumentado muito já que a morfina por esta via tem sua farmacociné- próprio dispositivo (erros no preenchimento, pro-
Como critérios excludentes, tem-se pacientes com o escopo e melhorado os resultados deste método. tica facilitada para atingir nível terapêutico na bio- gramação e falência do dispositivo) ou a sua bolsa
alterações na coagulação e agreagação plaquetária A estimulação do gânglio da raiz dorsal já tem boa fase; liberação contínua e uniforme de morfina, e o (hematoma, seroma e infecção). Na presença de in-
devido ao uso de medicamentos, pacientes com evidência na síndrome de dor complexa regional20. alívio da dor antes intratável26. fecção em qualquer um dos componentes da bom-
psicopatologia grave, dependencia de medicação, Dentre as possíveis complicações desse trata- ba está indicada a extração do equipamento pelo
simulação e histórico de não adesão ao tratamen- Bomba intratecal de infusão de fármacos mento, existem as associadas ao cateter e as asso- alto risco de meningite27,28.
to e pacientes com septicemia em curso, síndrome Os dispositivos intratecais implantáveis, como a
neuropática ou deaferentação18. bomba, têm seu uso justificado na dor oncológica, Figura 5: Exemplo esquemático de local de implantação da bomba intratecal (A) e imagens radiográficas durante
Não é recomendado o uso de RF contínua e pul- e, menos comumente em pacientes com dor sem implante (B)27
sada em pacientes com psicopatologias sobrepostas história de câncer21,22.
e dor crônica generalizada. O tratamento contínuo O alívio da dor acompanhado da melhora na

Arquivo pessoal do Dr. Carlos Marcelo de Barros


com radiofrequência também é contraindicado em qualidade de vida do paciente é um dos principais
todos os nervos que transportam fibras motoras. A objetivos na escolha desse procedimento. Quando
terapia de RF pulsada parece ineficaz em algumas se trata de indivíduos com expectativa de vida nor-
doenças e seria contraindicada17-19. mal ou prolongada, existem preocupações acerca
da dependência ou tolerância aos opioides. Sendo
Complicações assim, uma avaliação aprofundada do paciente
A alta temperatura aplicada com RF contínua deve ser realizada antes da indicação da interven-
é neuro-destruidora e geralmente é caracterizada ção, e, além disso, um acompanhamento eficiente
por um período de desconforto, incluindo hipoes- deve ser realizado ao longo do tratamento. Além
tesia/anestesia e uma reação semelhante à neurite. disso, para pacientes não oncológicos (como idosos
Às vezes, a dor pode piorar devido à regeneração com queixa de dor incapacitante devido a múltiplas
do nervo e pode levar à formação de um neuroma. fraturas por osteoporose da coluna vertebral e que Neuroestimuladores Consiste na implantação de um ou mais ele-
Outras complicações, como hematoma, dormên- não tenham condições clínicas de operar) o uso do A neuromodulação mostra-se eficiente na me- trodos no espaço peridural posterior, conectados
cia, diplopia transitória, meningite, síndrome de material por período maior que 12 meses pode ter lhora da qualidade de vida e na função em qua- a um gerador de pulsos que fica implantado no
Horner e retenção urinária podem ocorrer. Es- menores custos, a depender da patologia, quando dros dolorosos como dor isquêmica em membros, subcutâneo (região glútea ou abdome). A bateria
tudos afirmam que há documentação de mais de comparamos os gastos relacionados à utilização SDCR, síndrome pós-laminectomia, angina refra- do equipamento dura entre 5 e 10 anos, quando
1200 pacientes que foram tratados com RF pulsada dos serviços de saúde, uso de medicação V.O e E.V, tária, dor oncológica, dentre outros. Sugere-se que não recarregável, mais de 10 anos quando re-
e nenhuma complicação neurológica foi relatada. dentre outras terapias21,22. pacientes com dores neuropáticas ou isquêmicas, carregável, e a intensidade do uso é a principal
Em um estudo clínico recente em pacientes com A bomba de infusão intratecal de morfina con- não responsivos ao tratamento conservador por até variável nesse tempo de duração. A troca do ge-
ejaculação precoce, a RF pulsada foi realizada siste num cateter implantado na região da coluna, 16 semanas, podem ser submetidos a um teste de rador deve ser feita em um novo procedimento.
para os nervos dorsais do pênis e nenhum distúr- que libera pequenas quantidades de morfina dire- estimulação medular. Trata-se de um método de O local de implante do estimulador medular obe-
bio funcional que indique uma lesão nervosa foi tamente no neuroeixo o que em tese coloca a droga baixa morbidade associada, de grande variável de dece à somatotopia relacionada aos dermátomos
determinada19. diretamente na biofase. A morfina liga-se aos re- indicações e com ótimo custo-benefício. e miótomos.
476 TRATAMENTOS INTERVENCIONISTAS PARA MANEJO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 477

A estimulação medular convencional, ou tôni- A neuroestimulação está contraindicada para de nervos adjacentes. É atribuída à presença de no- o bloqueio do GRD de L2 pode também funcionar
ca, utiliza frequências de até 130 Hz. As estimula- pacientes com doença psiquiátrica ativa não con- ciceptores no próprio disco. A dor geralmente é de como ferramenta diagnóstica para a dor disco-
ções de alta frequência10 kHz (HF10), em salvas trolada infecção sistêmica ou local persistente, al- caráter axial e piora em pé ou sentado. A ressonân- gênica lombar. Se o bloqueio de L2 trouxer alívio
(burst), ou em alta densidade (até 1.200 Hz) são no- terações na coagulação e agregação plaquetária e cia magnética (RM) pode auxiliar no diagnóstico temporário da dor, uma RF pulsada pode ser usa-
vas opções que têm demonstrado resultados iguais imunossupressão29-31. quando se tem a presença de uma “zona hiperin- da para o seu tratamento. Assis e col. estudaram 84
ou superiores à convencional em alguns estudos. O índice de complicações relacionadas ao esti- tensa” (HIZ), normalmente encontrada na periferia pacientes por 1 ano com grande melhora na dor e
Em geral, estes novos métodos não geram pares- mulador medular podem chegar a 40%. As mecâ- posterior do disco. A discografia provocativa com na incapacidade funcional destes pacientes56. A dor
tesia aos pacientes. A estimulação medular ativa o nicas representam fratura ou desconexão do ele- controle da pressão é o padrão ouro para o seu discogênica também pode ser tratada com as anu-
sistema descendente inibidor de dor lateral, atuan- trodo, falha no gerador e migração do eletrodo. As diagnóstico. As vias da dor para a dor discogênica loplastias, onde provocamos um aquecimento do
do no corno posterior da medula, tálamo e córtex. biológicas se referem à infecção, reação alérgica, ainda são muito controversas. Tradicionalmente, anel fibroso ou da interface nuclear / anular. O mé-
A técnica com o Burst ativa, além dessas estruturas, seroma de gerador, fibrose epidural, fistula liquó- pensava-se que os sinais de dor que se originam todo mais utilizado para isso é a radiofrequência
cíngulo anterior, ínsula anterior e amígdala, sendo rica e dor na região do implante do gerador. As re- nas raízes nervosas adjacentes ao disco se desloca- e dispositivos especiais como o IDET e o Transdis-
uma via capaz de modular os sintomas afetivos e lacionadas à técnica cirúrgica se relacionam à pun- vam daquela raiz para os correspondentes gânglios cal podem ser utilizados. A RF pulsada intradiscal
não só nociceptivos da dor32,33. ção dural, lesão radicular e compressão medular34. da raiz dorsal (GRD) e depois para a medula espi- também evidenciou bons resultados comparada ao
nhal. Entretanto, em pesquisas feitas por Nakamu- IDET58. Embora não haja regulamentação para seu
Figura 6: Posicionamento do neuroestimulador medular e seus eletrodos de acordo com o quadro doloroso (1) e exemplo ra e col., sugere-se que os sinais de dor dos discos uso em nosso país, estudos demonstram também
de imagens do dispositivo sendo implantado2 lombares inferiores são desviados para cima pelos bons resultados com injeção intradiscal de ozônio.
nervos simpáticos (ramus communicans cinza) e Pacientes com alterações de MODIC e dor lombar
NÍVEL DE IMPLANTE NA COLUNA E SUA para os GRD lombares superiores - especialmente também pode ter bons resultados com um longo

Arquivo pessoal Dr. Carlos Marcelo de Barros e Dr. Fabrício Dias Assis
RELAÇÃO COM A REGIÃO DOLORIDA no nível de L2. Clinicamente, então seria possível curso de antibióticos2,6.
Nível da coluna certebral Localização da dor que alguns pacientes com discopatias em L4 e L5
tivessem dor referida em L1 ou L2 (dor na virilha Dor facetária
C2 Face, pescoço
e na região anterior da coxa). Nakamura concluiu O nervo espinhal sai do forâmen e é dividido
C2-C4 Ombro até mãos que o GRD de L2 seria o principal responsável pela em ramos meníngeos, comunicante, ventral e dor-
C4-C7 Antebraço até mãos inervação dos discos lombares baixos e que seu blo- sal. O ramo dorsal subdivide-se, então, no ramo
queio poderia ser utilizado tanto como ferramenta lateral, responsável por inervar o tecido cutâneo,
C7-T1 Porção anterior do ombro
para diagnóstico de dor discogênica lombar quanto muscular e ligamentos laterais à faceta, e no ramo
T1-T2 Parede torácica
para o seu tratamento57. Ao exame de imagem, o medial, responsável pela inervação medial a faceta
T5-T6 Abdome grau de ruptura anular é importante principalmen- e do músculo multifidus. De acordo com os crité-
T7-T9 Lombar te no que se refere à provocação da dor durante a rios da IASP, as articulações facetarias têm sido re-
estimulação e, portanto, sua possível probabilidade lacionada a dores crônicas lombares entre 15-45%
T10-T12 Membros inferiores
de identificar um disco sintomático. A relação en- dos pacientes. Estudos demonstram a presença de
L1 Períneo, pés e perna
tre a morfologia do disco e a dor discogênica clini- terminações nervosas livres e encapsuladas, bem
camente significativa é, no entanto, controversa. A como nervos contendo substância P e um peptí-
frequência de anormalidades morfológicas revela- deo relacionado ao gene da calcitonina nessa re-
QUADROS DOLOROSOS MAIS COMUNS há uma causa determinada para a dor como um das pela RNM na população geral é alta e aumenta gião. Além disso, as cápsulas articulares facetarias
NA ORTOPEDIA tumor ou uma fratura vertebral, e não específicas, com a idade, e não tem relação direta com a dor, ou contêm um baixo limiar nos mecanorreceptores
naqueles casos em que não se consegue encontrar seja, a mesma imagem de uma determinada dege- e nociceptores. As articulações facetarias podem,
Dor lombar uma causa além de uma degeneração da coluna. As neração discal ou artrose facetária, pode provocar ainda, desenvolver rigidez na ausência de achados
A dor lombar representa uma das principais lombalgias não específicas correspondem a mais nenhuma dor, pouca dor ou mesmo uma dor seve- patológicos ou de imagem pela simples imobiliza-
causas de morbidade e incapacidade na sociedade de 90% de todos os casos. Aqui faremos uma breve ra incapacitante2,6. ção prolongada. Além das dores referidas podem
atual, levando a um alto índice de falta, afastamen- explicação das possíveis etiologias das lombalgias O tratamento para a dor discogênica começa existir dores irradiadas que respeitam o dermáto-
to e aposentadoria do trabalho. Estima-se que cer- não específicas e seus respectivos tratamentos in- com a terapia conservadora, incluindo fisioterapia mo nervoso causada pela compressão da raiz ner-
ca de dois terços das pessoas irão apresentar um tervencionistas36. e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Nos vosa no foramem devido à hipertrofia facetaria ou
episódio pelo menos uma vez ao longo da vida. A pacientes com dor prolongada ou incapacitante a cistos sinoviais. Dentre os possíveis tratamentos
dor lombar pode ser originária de múltiplas pato- Dor discogênica suspeita de dor discogênica, a discografia provo- para esse quadro doloroso tem-se as injeções intra-
logias, dentro ou até fora da coluna. Podemos clas- Trata-se de uma dor lombar vaga que emana do cativa pode ajudar a identificar o nível afetado e -articulares, os bloqueios nervosos do ramo medial
sificar as lombalgias crônicas em específicas, onde próprio disco e não está relacionada à compressão orientar a terapia direcionada. Como dito acima e a neurotomia dos nervos do ramo medial38-40.
478 TRATAMENTOS INTERVENCIONISTAS PARA MANEJO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 479

Os bloqueios nervosos, com anestésicos locais, Figura 8: Imagem de rizotomia de ramos médios de ser dividida em causas intra-articulares (infecção, Figura 10: Rizotomia de sacroilíaca com raio-x, técnica
como a ropivacaína e lidocaína, associados a um facetas lombares, em AP (A) e perfil (B) artrite, espondiloartropatias, malignidades) e cau- Simplicity, em AP (A) e perfil (B)
corticoide demonstram-se de grande eficiência sas extra-articulares (entesopatia, fraturas, lesões
nesse quadro doloroso. O procedimento pode ser ligamentares e miofasciais). Frequentemente, ne-
realizado com auxílio de ultrassonografia ou fluo- nhuma causa específica pode ser identificada. O
roscopia, conforme preferência e experiência do estresse por cisalhamento pélvico unidirecional,
intervencionista38,41. as forças torcionais repetitivas e a inflamação
podem causar dor. A dor da articulação SI é ge-
Figura 7: Bloqueio Facetário por fluoroscopia ralmente localizada na região do glúteo (94%). A
dor referida também pode ser percebida na região
lombar inferior (72%), virilha (14%), região lom-
bar superior (6%) ou abdome (2%). Dor referida ao
membro inferior ocorre em 28% dos pacientes; 12
% relatam dor no pé44,45.
Arquivo pessoal Dr. Fabrício Dias de Assis Os bloqueios com anestésico local e corticoste-
roides podem proporcionar alívio da dor, segundo
estudos, por até 1 ano. Acreditava-se que infiltra-
ções intra-articulares produziriam melhores re-
sultados que as infiltrações periarticulares. No en-
tanto, partindo-se do pressuposto de que a dor SI
advém de causas intra e extracapsulares, as infiltra-

Arquivo pessoal Dr. Fabrício Dias de Assis


Arquivo pessoal Dr. Fabrício Dias de Assis
ções periarticulares demonstraram proporcionar
um bom alívio da dor no segmento de curto prazo
em alguns estudos, reafirmando a importância do
caráter extra-articular da dor SI44.
A Radiofrequência Convencional é um método
para o tratamento dor facetaria, além de ser de sim- Figura 9: Bloqueio articulação sacroilíaca com raio-x em
ples de execução e não apresentar complicações re- oblíquo; contraste desenha a articulação
levantes. O uso da fluoroscopia é necessário para
visualizar o ponto alvo na ponta do processo arti-
cular superior sob a cápsula e verificar a profundi-
dade da cânula, que fica paralela a ele. O processo Dor sacroilíaca: Acredita-se que a maior par- Dor em joelho
articular superior é facilmente visível na fluorosco- te da inervação sensitiva posterior da articulação A articulação do joelho é inervada por ramos
pia e, neste ponto, a cápsula é abundante e solta, sacroilíaca seja transmitida dos ramos dorsais S1, sensoriais do tibial, nervos peroneais, femorais

Arquivo pessoal Dr. Fabrício Dias de Assis


formando uma bolsa que se projeta para cima em S2 e S3 pelos ramos laterais, assim como ramos e obturatórios comuns. Os ramos articulares sen-
direção à base do próximo processo transverso, fa- mediais dos ramos dorsais L4 e L5. Acredita-se sitivos desses nervos, encontrados ao redor da ar-
cilitando o acesso ao espaço subcapsular. Devido à também na participação do plexo lombossacro, ticulação do joelho, são conhecidos como nervos
complexa inervação multissegmentar das articu- dos nervos glúteos superiores e o nervo obturador geniculares. Eles fornecem inervação para a cáp-
lações facetárias, bloqueios radiológicos mediais na inervação dessa articulação. A dor da articu- sula da articulação do joelho, bem como para os
seletivos são necessários para confirmar o diagnós- lação sacroilíaca (SI) é definida como uma dor ligamentos intra-articular e extra-articular. A os-
tico clínico. A infiltração subcapsular de anestésico localizada na região articular, reprodutível por teoartrite do joelho é altamente prevalente com a
local com contraste deve ser realizada com cautela, testes de estresse e provocação da articulação, e idade e é mais comum em mulheres. Os fatores de
pois os anestésicos podem ser condrotóxicos. Es- aliviada pela infiltração seletiva com um anesté- risco incluem obesidade, lesões e cirurgias prévia
tudos referem que o alívio doloroso da RFP pode sico local. Dependendo dos critérios diagnósticos no joelho e flexão e elevação ocupacional. O curso
chegar a até 80% da dor inicial, além disso, a du- empregados (exame clínico, bloqueios intra-arti- A RF é uma opção de tratamento para pacientes da doença envolve a perda da cartilagem articular,
ração da analgesia é comprovada por pelo menos 3 culares, imagem), a prevalência relatada dessa pa- com dor SI refratária ao tratamento conservador. o remodelamento ósseo, com alongamento capsu-
meses, existindo estudos que chegam a um período tologia entre os pacientes com dor lombar axial Algumas meta-análises sugerem controle efetivo da lar e a fraqueza dos músculos periarticulares. Pode
de até 1 ano42,43. varia entre 16% e 30%. A dor articular na SI pode dor com alívio de cerca de 50%. existir, ainda, sinovite, frouxidão ligamentar e le-
480 TRATAMENTOS INTERVENCIONISTAS PARA MANEJO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 481

sões na medular óssea representando um trauma o risco cirúrgico. Nesses casos, a neurotomia por
local. As áreas de perda cartilagenosa acompanha- radiofrequência (RF) é um ótimo tratamento al- Referências bibliográficas
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tion for sacroiliac joint pain: a meta-analysis. PM&R, v. com- parison with intradiscal electrothermal therapy. medicamentos teriam menor resultado e o temor para tratar a dor, ou distúrbios do movimento ou
2, n. 9, p. 842-851, 2010. Korean J Pain. 2012; 25(3): 155-160. pelos efeitos colaterais de longo prazo é crescente, distúrbios psiquiátricos. Acredita-se que esta mu-
484 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 485

dança transitória no comportamento elétrico cau- colaterais e interações medicamentosas para cada de fluxo cerebral por horas, enquanto quando se que a ETCC é uma técnica bastante segura, sendo
sado pela modulação dos alvos possa transformar paciente. Pessoas com dores crônicas de mais di- repete isso por várias sessões durante dias seguidos o efeito colateral mais comum a presença de ver-
plasticamente o tecido neural influenciando em fícil e desafiador controle podem em tese automa- de EMTr, a área fica estimulada por até meses. E o melhidão na pele onde estava o eletrodo, com re-
seu funcionamento elétrico bioquímico, e suas co- ticamente serem eletivas para os métodos de neu- contrário acontece com EMTr de baixa-frequência, missão disso em poucos minutos após término da
nexões2,3. Assim vemos a neuromodulação como romodulação. E, invocando aqui o melhor cenário inibindo-se a área desejada conforme o maior tem- estimulação. Pode acontecer também de os pacien-
um dos paradigmas da neuroplasticidade, artifi- possível para um tratamento de excelência de re- po de estimulação. Os mecanismos celulares envol- tes apresentarem parestesia na região dos eletrodos
cialmente conduzida, para melhoria de funções sultados, que seria o multidisciplinar, estes trata- vidos são neuroplasticidade por pontecialização de nos primeiros minutos após ligar a máquina, que
específicas dentro do Sistema Nervoso. mentos têm seu lugar garantido. A própria escolha longo-prazo e depreciação a longo-prazo, respecti- desaparece em poucos segundos.
Os tratamentos por estimulação elétrica deve- da modalidade de intervenção implica na avaliação vamente, com várias demonstrações com EMT em
riam ser lembrados sempre que houver falha de neurológica, ortopédica, psicológica e social do pa- modelos animais6. O uso da EMTr é bastante usado Aplicações em dor e neuromodulação
tratamentos medicamentosos executados de for- ciente, com um olhar na reabilitação e qualidade para o tratamento clínico de várias condições em não invasiva
ma otimizada, e respeitando os limites de efeitos de vida. neurologia e psiquiatria. Hoje é um tratamento Estimulação Magnética Transcraniana (EMT)
aprovado para o tratamento clínico em vários paí- Como o procedimento de implante para esti-
ses pelo mundo e pelo Conselho Federal de Medi- mulação cortical no tratamento da dor neuropá-
cina no Brasil para: o transtorno depressivo maior, tica crônica usa a região M1, como alvo todos os
alucinações auditivas em esquizofrenia e a neuro- protocolos iniciais de EMT também tiveram como

Tipos e indicações
navegação. Como efeito colateral mais comum na alvo o M1. Uma revisão sistemática mostrou seis
EMT tem-se a cefaleia. Esta costuma ser de duração estudos em pacientes com dor crônica neuropáti-
limitada, ocorrendo mais nos primeiros três dias de ca, com um total de 138 pacientes, relatando con-
Síndromes de dor crônica difíceis de tratar são mentos que podem, para seu intento destruir parte EMTr e remitindo espontaneamente. Outros efeitos sistentemente a ausência de qualquer efeito anal-
sempre um desafio, em geral ligados à dor neuro- do tecido neural. Do ponto de vista da Neuromodu- menos comuns consistem de náuseas, e mais rara- gésico significativo da baixa-frequência em M1
pática, ou ainda dor mista, em que quase sempre lação, os procedimentos não ablativos, são os pro- mente crises epilépticas. entregue contralateral ao lado da dor, mostrando
a dor neuropática pode desencadear dores mio- cedimentos invasivos, na contrapartida da entrega A estimulação transcraniana por corrente conti- que a baixa-frequência não teria eficácia10. Em con-
fasciais ou deformidades dolorosas e sequelares, percutânea de eletricidade, ou, utilizando a quebra nua (ETCC) consiste na aplicação de uma corrente trapartida, nos pacientes que se submeteram a es-
e ainda as comorbidades psiquiátricas podem evo- da barreira da pele para introdução de sistemas de elétrica direta de baixa intensidade que flui entre timulação de alta-frequência em M1 contralateral
luir de tal forma a contribuir decisivamente para a entrega de eletricidade para o tecido neural. dois eletrodos (cátodo e ânodo). Esta corrente passa verificou-se que a EMT produziu efeitos significati-
incapacidade funcional do paciente. Assim surgem a partir da eletroestimulação os pelo crânio e chega ao córtex cerebral, modificando vos para o alívio da dor. Contudo, nesse mesmo es-
Assim pensar em estimulação elétrica tem como tratamentos não invasivos e os invasivos. o potencial de repouso da membrana neuronal,7,8 tudo 4 ensaios-clínicos não tiveram resposta clínica
objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacien- e, por conseguinte, modulando a taxa de disparo com esses mesmos parâmetros.
tes com o mínimo de danos, e com metodologias de TRATAMENTOS NÃO INVASIVOS neuronal. Outro aspecto importante da ETCC é que Uma meta-análise recente sugeriu que a EMTr
intensidade ajustável de efeitos e totalmente rever- A estimulação magnética transcraniana repetiti- seus efeitos são polaridade-dependentes, ou seja, pode ser mais eficaz no tratamento de condições
síveis4, alinhando as expectativas do médico, dos va (EMTr) consiste na aplicação de um campo mag- há aumento da atividade cortical com estimulação de dor neuropática (dor decorrente de uma lesão
pacientes e de seus cuidadores. nético sobre o couro cabeludo, ultrapassando as anódica e diminuição da atividade cortical com es- ou uma doença do sistema nervoso somatosenso-
Historicamente, o tratamento da dor rebelde estruturas cranianas até chegar ao córtex cerebral. timulação catódica,9 e que esta técnica de estimu- rial, como no diabetes, lesão nervosa traumática,
antes do expressivo avanço da farmacoterapia an- A EMT produz um potencial de ação nos neurônios lação aumenta a excitabilidade cortical sem indu- acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, epi-
tálgica após os anos 1940 era exercido pela neuroci- estimulados. Um único pulso pode ser usado para zir potencial de ação9. Essa técnica difere da EMT lepsia, lesão da medula espinal e câncer) com uma
rurgia que se encarregava de “desligar ou desconec- criar apenas um potencial de ação, enquanto mais pois, tanto o ânodo como o cátodo, não produzem origem central em comparação com a origem do
tar” a via da dor. Exemplo disso são cirurgias que de um pulso podem ser usados para fins de medidas um potencial de ação e apenas modificam minima- sistema nervoso periférico11. Outra meta-análise
existem até hoje como a cordotomia e rizotomia do neurofisiológicas e/ou de tratamento. A frequência mente o potencial de repouso da membrana neu- reuniu 21 estudos com 505 participantes, demons-
trigêmio por radiofrequência ou balão, ou mesen- de estímulos usada determinará as modificações ronal, não havendo risco de crise de convulsiva. trando que a EMT de alta frequência do córtex mo-
cefalotomia. Esses procedimentos são ablativos, que acontecem com a região estimulada. Durante Os mesmos efeitos a longo-prazo aqui também são tor teve uma medida de efeito de redução da dor
destruindo parte do tecido neural e muito em voga a EMTr o córtex atingido poderá sofrer modifica- encontrados, só que aqui o mecanismo de neuro- em comparação ao grupo placebo de 0,37 pontos
até a introdução de medicamentos mais seguros ções como ficar, mais, excitável ou mais inibido. A plasticidade celular envolvido é a depreciação a (-0,51 a 0,22, P <0,001), embora a heterogeneidade
e eficazes. Ocasião em que ficam em um segundo primeira situação acontece quando se usam altas longo-prazo. Assim, os efeitos da ETCC ocorrem fosse alta ( I2 = 67%, P <0,001)12. Isso equivale a uma
plano e restritos a um grupo menor de indicações. frequências (maiores do que 5 Hz); a inibição corti- tanto a curto-prazo, durante o período de estimula- redução de 0,77 (IC 95% 0,55-0,99) pontos, ou uma
Assim, do ponto de vista da Neurocirurgia, a cal ocorre quando são aplicadas baixas frequências ção, como a longo-prazo, esses últimos efeitos são alteração percentual de 12% (95% CI 9% a 16%) do
Neuromodulação Cirúrgica está no campo das ci- (1 Hz)5. Quando submetido a minutos de estimu- os desejados para o uso clínico, para tratamento de resultado do grupo controle. Dois estudos sugeri-
rurgias não ablativas, na contrapartida de procedi- lação, a área estimulada permanece com aumento doenças e transtornos mentais, da ETCC. Sabe-se ram que a alta-frequência da EMT em M1 poderia
486 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 487

prever o resultado da estimulação motora cortical, lesão medulares. Entretanto, em relação à lesão nais de transmissão da dor; implante de sistemas Mas para tornar o paciente eletivo para os pro-
podendo se tornar uma opção para predizer repos- nervosa periférica os resultados são conflitantes. de liberação de fármacos no sistema nervoso cen- cedimentos em tela devemos proceder à cuidado-
ta à cirurgia13 14. Uma revisão-sistemática confirma esses resulta- tral (subaracnoideo, em geral lombar ou dorsal, ou sa seleção dos mesmos e esta começa exatamente
Os efeitos analgésicos da EMT têm sido avalia- dos, contudo mostrou não haver eficácia em qua- intraventricular); e, ainda, o implante de eletrodos com o correto e apurado diagnóstico da causa da
dos em conexão com várias síndromes de dor de dros de dor devido à disfunção da articulação tem- em partes do sistema nervoso, como no cérebro ou queixa de dor, e, ainda o entendimento de sua cro-
origem não neuropática, como fibromialgia, enxa- poro-mandibular31. Uma meta-análise demonstrou medula, com o intuito de modular o sistema su- nicidade, e manutenção.
queca, síndrome de dor regional complexa (SDRC) um efeito da estimulação ativa para dor crônica pressor de dor, controlando a circuitaria sensorial Aplicamos os critérios de dor crônica desde a
do tipo I e dor visceral e pós-operatória. Vários en- (SMD -0,43, IC 95% -0,63 a -0,22, P <0,001), mas a nociceptiva que se encontra bioquimica e eletrica- história clínica passando pela aplicação do DN4 e
saios-clínicos randomizados com uso de EMT em heterogeneidade foi alta (I2 = 60%, P <0,001). Isso mente hiperativada37. outras ferramentas simples e de apoio ao diagnósti-
fibromialgia usando alta-frequência ou em M1 à equivale a uma redução de 0,82 (IC 95% 0,42 a 1,2) Embora em neuromodulação utilizemos o ter- co. O que deve chamar a atenção de pronto ao lado
esquerda ou em córtex dorsolateral pré-frontal à pontos, ou uma alteração percentual de 17% (95% mo invasivo, talvez fosse mais correto para estes da refratariedade aos tratamentos convencionais
esquerda. Todos demonstraram eficácia, contudo, CI 9% a 25%) do resultado do grupo controle, acima métodos neurocirúrgicos usar “invasivo - não des- pode ser o caráter e a distribuição da dor, que se-
o número de participantes variou de 10 a 30 pacien- do limiar recomendado para eficácia clinicamen- trutivo”, na contrapartida dos métodos invasivos gue o trajeto de um nervo, ou tronco nervoso ou
tes por estudo15-19. te efetiva. Já uma revisão sistemática avaliou a efi- e ablativos. E no contexto de métodos “não inva- raiz nervosa conhecida. Podendo haver ainda nexo
Em relação à SDRC do tipo I, dois estudos mos- cácia da EMT na enxaqueca. O número de sessões sivos” aqueles que mantêm a integridade da pele de causa para alguma lesão do tecido neural ou ati-
traram uma redução significativa da intensidade variou entre estudos, com alguns tendo tratamento (embora o tecido neural seja invadido por campos vação autonômica leve ou intensa. Estados mentais
da dor, iniciando quase imediatamente durante a diário para os outros administrando sessões três ve- elétricos e magnéticos). alterados como ansiedade e depressão são possí-
estimulação20,21. Em conjunto, esses dois estudos zes por semana para um total de 5 a 20 sessões. Po- Em neuromodulação invasiva, a invisibilidade veis de participar da ativação cortical preparando a
envolvem um total de 32 pacientes e relatam um sição catódica variou entre córtex primário visual, não implica destruição, e mínimos danos pode- matriz de dor para o cenário de ativação global que
possível efeito analgésico da EMT em M1 no SDRC área supraorbital contralateral, processo mastoide riam ser tolerados ao sistema nervoso central ou a dor vem a produzir, que é um estado de alerta, em
tipo I. ipsilateral, região do lado com maior dor, proces- periférico. O diferencial é a aplicação da terapia alguns pacientes, ou depressão em outros37.
Em relação à enxaqueca, uma meta-análise re- so espinhoso de C7 e queixo. Posição do ânodo foi elétrica muito próxima do alvo com otimização de A eficácia destes métodos é diretamente depen-
cente demonstrou que a localização da estimulação localizado no vértice, M1 esquerdo, córtex pré- perdas de energia nessa aplicação, além da óbvia dente da correta seleção dos pacientes e da correta
variou entre a região pré-frontal dorsolateral es- -frontal dorsolateral esquerdo, linha média e ao portabilidade do sistema implantável que está 24 técnica que visa à escolha e ajuste da eletroestimu-
querda córtex ou bilateral, córtex motor esquerdo lado oposto da maior dor. Aqui os estudos também horas por dia disponível sobre o alvo neural a ser lação, sobre um alvo conhecido.
(M1), córtex motor direito, córtex occipital e sobre demonstraram melhora em pelo menos algum dos modulado, e através de sofisticados softwares dis- E com o passar do tempo temos que o método
a área de dor percebida durante a crise. Todos os parâmetros: intensidade ou frequência da dor. Na poníveis controlar o quanto possível os principais se beneficia de miniaturização de componentes
estudos mostraram ou redução da frequência ou da fibromialgia, várias publicações relataram resul- parâmetros de modulação que são a frequência, a eletrônicos – melhora do “hardware” - e melhora
intensidade das crises22. Alguns estudos investiga- tados positivos em favor da ETCC anódica da M1 largura de pulso, e a intensidade da corrente, cujo dos modos de controlar – melhora do “software”, e
ram o uso de EMT de pulso único no tratamento da esquerda ou córtex pré-frontal dorsolateral esquer- detalhamento foge do escopo deste texto. Por últi- ainda a duração de baterias, agora recarregáveis,
enxaqueca, demonstrando que o uso de 1 a 2 pulsos do 25,32-36. No geral, esses estudos relataram uma re- mo citamos a reversibilidade da terapia, ou seja, com uma considerável redução da espessura do
entregues na região occipital logo após iniciar a dor dução média da intensidade da dor variando entre efeitos colaterais e falhas do método podem ser gerador, acelerômetros incorporados, que podem
ou a aura aboliram o início das crises de enxaque- 14% e 58% em relação ao valor basal no final do revertidos sem grande prejuízo funcional para o mudar automaticamente a energia a ser destinada
ca23,24. protocolo ETCC (5 a 10 sessões), que permaneceu paciente. ao eletrodo de acordo com a posição da pessoa, em
estatisticamente significativa até um ou dois meses A dor de origem neuropática é de longe o evento que a medula se aproxima ou se afasta do eletrodo,
Estimulação Transcraniana por Corrente Con- após o final do período. intervenção. O alívio da dor mais comum nas indicações dos tratamentos neu- e, além da telemetria, o controle à distância por on-
tínua (ETCC) foi associado a uma melhoria na qualidade de vida romodulatórios. Em geral, ficamos alertados para das de rádio, bluetooth e wi-fi. A recente compati-
Estudos clínicos concluíram que a ETCC era na maioria dos estudos de ETCC de pacientes com uma síndrome de dor neuropática quando a dor não bilidade dos geradores e cabos com a Ressonância
mais eficaz que a estimulação simulada na redução síndrome de fibromialgia. melhora com AINH, opioides fracos ou potentes e Magnética Nuclear permite adicional conforto para
da dor tanto na fibromialgia quanto na dor relacio- otimização farmacológica incluindo coadjuvantes. a indicação do método.
nada à lesão medular25-26. Em relação à dor neuro- TRATAMENTOS INVASIVOS DE Especialmente se melhora pouco ou parcialmente Veremos as principais modalidades de implante
pática crônica, a ETCC foi estudada principalmente ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA mediante o efetivo e comprovado controle de fenô- dos sistemas de neuromodulação. Como a estimu-
em grupos de pacientes com lesões medulares26-28 e Considerando o arsenal de tratamentos que menos inflamatórios, deformidades, ou controle lação epidural medular, que tem de longe o maior
lesão nervosa periférica29,30. Todos usaram 2mA de modernamente temos para o tratamento da dor miofascial. A persistência da dor ou sua mutação número de evidências científicas, seguido da esti-
corrente, estimulando região M1 à esquerda com o podemos citar os tratamentos medicamentosos, pode resultar da presença de dor neuropática que mulação do córtex motor, serão abordados em de-
ânodo e o cátodo em região supraorbital, variando físicos, psicológicos e neurocirúrgicos. Entre os não cede com tratamentos convencionais, sendo talhes. Os sistemas de implante cerebral profundo,
de 5 a 10 sessões no total. A grande maioria desses tratamentos neurocirúrgicos podemos incluir os então estas modalidades de terapia importantes al- no tálamo e mesencéfalo são pouco utilizados de-
estudos demonstrou alívio da dor após ETCC para ablativos, com a produção de lesões nas vias neuro- ternativas para os pacientes. vido aos riscos relativos, estimulação dos gânglios
488 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 489

da raiz dorsal está no início mas é técnica muito O neurônio aferente primário, cujo corpo neu- re das análises de exame físico e descrição da dor já Figura 3: Eletrodo em placa
promissora. ronal se encontra no gânglio da raiz dorsal é o relatados. O sistema evoca sensações de parestesias
portador do sinal nociceptivo que é entregue ao quando em funcionamento e por ideal esta sensa-
Estimulação medular epidural neurônio de projeção no corno posterior da medula ção deve corresponder ao segmento afetado.
Essa técnica consiste na inserção de eletrodos (CPME). Vários eventos periféricos, e centrais con- Os equipamentos utilizados são um gerador,
no espaço peridural posterior da coluna cervical ou correm para uma possível ativação deste neurônio. eletrodos, cilíndricos ou placa, extensões quando
torácica para alívio da dor, especialmente neuropá- Este é na verdade o primeiro ponto de passagem do necessário.Figura 1, Figura 2, Figura 3.
tica e lateralizada. estímulo nociceptivo ou corrente efática adquirida
Na seleção dos pacientes há necessidade de se e injetada no sistema. Ao apresentar este potencial Figura 1: Sistema montado
caracterizar a dor neuropática, e principalmente de ação para a sinapse do segundo neurônio o sis-
sua refratariedade aos tratamentos, acarretando tema se torna excitável devido entre outras coisas
incapacidade funcional por dor, ao paciente. Op- à descarga de neurotransmissores excitatórios, e
tando-se por eletroestimulação medular deve-se também à falha do sistema supressor de dor encar-
executar uma cuidadosa história clínica e exame regado da inibição segmentar.
neurológico somato-sensorial. Isto por si colabo- Sendo assim a idéia é de se estimular as colu-
ra decisivamente para a escolha do segmento de nas dorsais para se conseguir modular o sinal a ser
medula a ser estimulado, ou onde deveria ser im- produzido pelo neurônio de projeção ou Neurônio
plantado o eletrodo e seus contatos. A organização do CPME. Foi o que fez Shealy, em 1967, criando o
dermatomérica da pele, repete-se nos miótomos e método, não exatamente como é hoje, mas acredi- Duas técnicas podem ser usadas para instalar os
esclerótomos e por conseguinte nos vários segmen- tando na teoria da comporta e estimulando eletri- eletrodos. Inicialmente podem ser usados eletro-
tos medulares (e depois no tálamo e córtex cere- camente fibras grossas das colunas posteriores da dos de forma cilíndrica em que os contatos nada
bral), onde serão implantados os eletrodos. medula41. mais são do que aparentes “desencapes”, do fio, es-
Como funciona Como fazer trategicamente dispostos. Este cabo é de tal forma
O suporte teórico para explicarem-se os benefí- Há necessidade inicialmente de se localizar o Figura 2: Eletrodos percutâneos fino que pode passar pela luz de uma agulha Tuohy.
cios do método tem início com a teoria da compor- sistema de eletrodos em frente ao segmento medu- Figura 4. Sob anestesia local, uma punção peridu-
ta em 196538, como o local onde se dá a chegada do lar que corresponde ao dermátomo afetado. Este ral simples é realizada. Em seguida é introduzido o
sinal do neurônio aferente primário, e, onde se dá o será o alvo a ser tratado. A escolha deste alvo decor- eletrodo que sobe pelo espaço peridural e temos de
primeiro ajuste natural de modulação desse sinal é, “navegar” o eletrodo e os contatos até a posição pre-
segundo a teoria de Melzack e Wall, (da comporta, Tabela 1: Alvos para implantes medulares viamente planejada. Figuras 5 e 6. Com o paciente
ou “Gate Control”), o Corno Posterior da Medula Es- acordado estímulos são produzidos para que possa-
pinhal (CPME), onde fibras ditas de grosso calibre mos identificar para cada contato qual segmento e
LOCALIZAÇÃO DA DOR PONTA DO ELETRODO
ou fibras grossas teriam o poder de inibir as fibras grupo de neurônios ou ainda quais campos recep-
finas que transportam as informações nociceptivas, Pé T12 – L1 tivos estarão sendo modulados por aquele contato.
inibindo assim a entrada do estímulo no sistema. Perna e tornozelo T11 – T12
As fibras grossas vão compor o assim chamado cor- Coxa e joelho T9 – T10 Figura 4: Inserção das extensões no gerador (manual do
dão posterior da medula, ou colunas dorsais, feixe fabricante)
de fibras ascendentes que também retroagem, en- Lombar axial e perna T7 – T12
viam colaterais que atingem o CPME, favorecendo Lombar baixo T8 – T10
o GABA, e estimulando internerneurônios inibitó- C6 – T1
rios. Ao que parece esta teoria não responde por Pré-cordial (angina)
(um pouco à esquerda)
si só pela eficácia do método, sendo que estudos
apontam para o efeito inibitório e modulatório so- Membro superior C5 – T1
bre os neurotransmissores, e também ocorre que, a Pescoço e braço C1 – C2
ativação elétrica segmentar, do cordão posterior da C1
medula pode interferir em centros superiores me- Cabeça e face
(transição craniocervical)
sencefálicos e suprassegmentares com influência
positiva sobre o sistema supressor de dor descen- Dor visceral crônica –
T5 – T6
dente39,40. abdome
490 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 491

Figura 5: Eletrodo navegação, ponta em T11 mente do resultado e aceitação pelo paciente. Caso O sistema estará finalmente acoplado a um Estimulação do córtex motor
seja aprovado pelo médico e pelo paciente pode ser gerador de pulsos implantável, amplamente pro- A estimulação elétrica do córtex cerebral, dire-
deixado este eletrodo se lombar, ou retirado todo o gramável, com ajustes de frequência, largura de tamente pode produzir alívio de certas dores refra-
sistema e noutra oportunidade é instalado um ge- pulso, intensidade de corrente, para direcionar tárias aos tratamentos convencionais. Porém, ao
rador com passagem dos cabos pelo subcutâneo e os pulsos elétricos pelos segmentos de medula contrário do seria o senso comum, é a estimulação
conexão ao gerador também implantado em uma escolhidos, a fim de se obter o melhor resultado do córtex motor e não o sensitivo que produz alívio
bolsa realizada no subcutâneo da região lombar possível. da dor. Fatos experimentais a esse respeito foram
baixa ou região abdominal, flanco direito ou es- O ajuste topográfico sempre foi considerado evidenciados em experimentos com animais e de-
querdo. Figura 7 como pré-requisito para o efeito da estimulação da pois reproduzidos com sucesso por Tsubokawa em
medula espinhal, entretanto recentemente corren- humanos43.
Figura7: Gerador no subcutâneo tes híbridas de alta frequência com picos intermi- Como funciona
tentes, permitem respostas analgésicas desejáveis O córtex cerebral humano assume múltiplas
sem a necessidade da sensação parestésica (esti- funções conforme o local. Na região à frente do
mulação “Burst”). sulco central, o giro pré-central abriga as células
Os geradores contam com tecnologias mais piramidais que são as responsáveis pela saída do
avançadas no que diz respeito à durabilidade das estímulo motor do cérebro para a medula, onde vão
baterias, sendo que nominalmente algumas alcan- estimular e motoneurônio na medula e assim pro-
çam até 25 anos. Também a compatibilidade com duzir a contração muscular na periferia. As células
ressonância magnética nos anos recentes, o que piramidais são arranjadas de tal forma que seus
Figura 6: Eletrodo peridural em perfil permite maior versatilidade aos equipamentos. axônios assumem um aspecto descendente, quase
Resultados perpendicular. Em camadas mais superficiais exis-
Entre as principais indicações para esta tera- tem fibras e células transversais, que fazem dife-
pia encontram-se a síndrome pós-laminectomia, rentes conexões com o córtex motor.
síndrome do insucesso da cirurgia da coluna, ou Múltiplos efeitos decorrem da estimulação do
Failed Back Surgery Syndrome e Síndrome de Dor córtex motor primário (M1), sendo o mais óbvio a
Complexa Regional (SDCR) tipo I. ativação da via piramidal que se projeta diretamen-
Revisões sistemáticas concentraram-se em pa- te sobre os neurônios motores da ponta anterior da
Podem ser usados, por outro lado, eletrodos cientes com síndromes dolorosas pós-laminecto- medula. Porém, a depender de certas característi-
tipo placa através de um acesso posterior à colu- mia (Failed Back), com aproximadamente 62% de cas da estimulação elétrica, curiosamente uma cir-
na, aberto, ou seja, por via cirúrgica, através de bons resultados, e em SDCR, alcançando 67% de cuitaria horizontal passa a ser ativada. Estudos de
uma ressecção do ligamento amarelo, interlami- bons resultados. As revisões mostram nível de evi- PET, SPECT, e de Ressonância Magnética funcional
nar, na linha média de modo a acessar o espaço dência II nessas síndromes dolorosas favorecendo atestam que a ativação dessas vias transversais do
peridural “in situ”, e com delicado descolamento a técnica. Houve também melhora significativa na giro pré-central modula, e ativa regiões peculiares
dural fazer avançar o eletrodo –placa com os con- capacidade funcional e na qualidade de vida. Tam- do cérebro como giro do cíngulo anterior, áreas
tatos semelhantes aos do cilíndrico, porém, vol- bém há relatos e bons resultados em SDRC II, lesão mesencefálicas – região da PAG, a ínsula entre ou-
tados para a dura máter apenas. Os dois métodos do nervo periférico, neuropatia diabética, neural- tras, mas todas relacionadas com a matriz de dor.
provêm a mesma proximidade do alvo a podem gia pós-herpética, lesão do plexo braquial, amputa- Também foram encontradas evidências de produ-
ser submetidos os contatos às mesmas programa- ção (dor no coto e membro fantasma) e lesão par- ção aumentada de opioides endógenos sugerindo
Esta técnica percutânea, por ser realizada com ções de ajuste. Existem discussões sobre a prefe- cial da medula espinhal42. fortemente que essas fibras participam da modula-
anestesia local, com menor risco para o paciente e rência de cada profissional, ou sobre facilidade Os eventos indesejáveis foram principalmen- ção do corno posterior da medula atuando de cima
ser também rápida de execução, é a preferida para de cada paciente em suportar anestesia local, ou te mal funcionamento do dispositivo, migração para baixo43.
o implante teste. No teste, ou “trial”, o paciente tem ainda aspectos ligados à geometria possível dos (13,2%) ou quebra dos eletrodos (9,1%). As compli- Como é feito
instalado um eletrodo que é conectado a um dispo- polos e a possibilidade de migração dos mesmos cações clínicas foram raras e leves, em geral resol- O método de implante é por meio de uma peque-
sitivo externo através de um cabo extensor que será no pós-operatório. vidas pela remoção do dispositivo. A taxa geral de na craniotomia que expõe a dura-máter sobre o cór-
descartado depois do teste, e que sai por contra Na sequência deveremos fazer passar os cabos infecção foi de 3,4%. Uma boa resenha sobre este tex motor. O córtex motor pode ser localizado com
abertura, até ser conectado a um gerador externo dos eletrodos pelo subcutâneo sendo que a depen- tema para a dor lombar crônica decorrente de pós- recursos de neuronavegação, e eletrofisiologia em
provisório. Entre 5 e 7 dias decidimos pela conti- der da distância a ser percorrida podem-se usar de -operatório da cirurgia da coluna é o estudo PRO- que estímulos são aplicados e a resposta motora do-
nuidade ou não do método. Dependendo natural- extensões. CESS de onde se resumiram estes dados42. cumentada por eletromiografia, ou ainda por poten-
492 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 493

ciais evocados. Localizado o alvo, o eletrodo em pla- Complicações associadas ao ato cirúrgico in- 17. Baudic S, Attal N, Mhalla A, Ciampi de Andrade D, Per- direct-current stimulation in neuropathic pain due to
ca é atado à superfície da dura-máter, exatamente cluem de infecção a hemorragia intracraniana rot S, Bouhassira D. Unilateral repetitive transcranial radiculopathy: a randomized sham-controlled compa-
sobre a representação cortical do que se quer tratar. epidural ou subdural. Estas complicações são na magnetic stimulation of the motor cortex does not af- rative study. Pain 2016; 157(6): 1224-31.
fect cognition in patients with fibromyalgia. J Psychiatr 31. Lefaucheur JP, Antal A, Ayache SS, et al. Evidence-ba-
Sendo assim é mais fácil de se obter ativação di- verdade incomuns e a boa técnica neurocirúrgica
Res 2013; 47(1): 72-7. sed guidelines on the therapeutic use of transcranial
reta sobre o córtex da face e do membro superior pode ajudar a preveni-las com certo grau de segu-
18. Short EB, Borckardt JJ, Anderson BS, et al. Ten ses- direct current stimulation (tDCS). Clin Neurophysiol
que se localizam na convexidade do córtex e por rança a ponto de não afetar estatisticamente a utili- sions of adjunctive left prefrontal rTMS significantly 2017; 128(1): 56-92.
outro lado o membro inferior está localizado na fis- zação deste método no tratamento das dores refra- reduces fibromyalgia pain: a randomized, controlled 32. Roizenblatt S, Fregni F, Gimenez R, et al. Site-specific
sura inter-hemisférica, o que fica mais longe. tárias especialmente da face e membro superior e pilot study. Pain 2011; 152(11): 2477-84. effects of transcranial direct current stimulation on
Instalado o eletrodo em placa este pode ser li- também a dor talâmica pós AVC. 19. Lee SJ, Kim DY, Chun MH, Kim YG. The effect of repe- sleep and pain in fibromyalgia: a randomized, sham-
gado através de extensões a um sistema externo de Persistem controvérsias acerca de evidências titive transcranial magnetic stimulation on fibromyalgia: -controlled study. Pain Pract 2007; 7(4): 297-306.
a randomized sham-controlled trial with 1-mo follow- 33. Valle A, Roizenblatt S, Botte S, et al. Efficacy of anodal
teste da estimulação que então será ligado a um ge- para a estimulação do córtex motor. Enquanto es-
-up. Am J Phys Med Rehabil 2012; 91(12): 1077-85. transcranial direct current stimulation (tDCS) for the
rador externo, caso se decida realizar uma fase de tudos randomizados estão sendo preparados e rea- 20. Pleger B, Janssen F, Schwenkreis P, Völker B, Maier C, treatment of fibromyalgia: results of a randomized,
testes de eficácia e efeitos colaterais. lizados, esta ainda será uma boa alternativa para o Tegenthoff M. Repetitive transcranial magnetic stimula- sham-controlled longitudinal clinical trial. J Pain Manag
O sistema poderá ser então após teste de 5 a 7 sofrimento destes pacientes refratários a qualquer tion of the motor cortex attenuates pain perception in 2009; 2(3): 353-61.
dias ser internalizado semelhante ao eletrodo me- outra tentativa de alívio de suas dores e sem expec- complex regional pain syndrome type I. Neurosci Lett 34. Mendonca ME, Santana MB, Baptista AF, et al. Trans-
dular, no subcutâneo. tativa de melhora da qualidade de vida. 2004; 356(2): 87-90. cranial DC stimulation in fibromyalgia: optimized corti-
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as an add-on to pharmacological therapy in complex 35. Riberto M, Marcon Alfieri F, Monteiro de Benedetto
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titive transcranial magnetic stimulation and transcranial
494 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERIFÉRICO TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 495

CAPÍTULO 43

Tratamento por ondas


de choque
Lauro Schledorn de Camargo
José Eid
Paulo Facciola Kertzman
Paulo Roberto Dias dos Santos

Introdução
O tratamento por ondas de choque, conhecido dor relacionada a essas patologias. O objetivo deste
pela sigla ESWT (extracorporeal shockwave treatment) capítulo é apresentar os mecanismos e as respostas
é um método terapêutico que utiliza um estímulo biológicas envolvidas neste tipo de tratamento, e as
mecânico externo para reativar um processo de ci- indicações clínicas que já possuem evidência cien-
catrização dos tecidos conjuntivos, incluindo mús- tífica bem estabelecida.
culos, tendões e osso, além de atuar para alívio da
496 TRATAMENTO POR ONDAS DE CHOQUE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 497

Histórico
clatura é encontrada em diversos estudos. Porém, Figura 1: Representações das características físicas das
a literatura e a prática médica demonstram que ondas de choque focais (A) e radiais ou de pressão (B)
níveis de energia mais baixos (0,03 a 0,15 mj/mm2)
Os primeiros achados sobre os efeitos das on- rim de um doente e a litotripsia renal foi conside- são usados para promover analgesia e relaxamen- pressure / MPa
100
das de choque em seres humanos ocorreram na Se- rada um método não invasivo altamente eficaz para to muscular; ondas com energia intermediária são
gunda Guerra Mundial, quando foram encontrados a desintegração dos cálculos. Foi indicado em 1985 usadas para promover neoangiogênese e induzem
soldados mortos em batalhas marítimas sem lesões para a desintegração de cálculos biliares1,2,3. Além à regeneração tecidual; e ondas de com energia A
externas, porém, com lesões viscerais e pulmona- do efeito lítico nos cálculos ureterais, observou-se mais alta promovem ação osteogênica nas pseu-
res graves. Estas lesões foram atribuídas ao intenso presença de neovascularização no parênquima re- doartroses5,10,11,13.
impacto das ondas de choque produzidas pelas ex- nal e diminuição do processo inflamatório alguns O tratamento por este tipo de energia acústi-
plosões de bombas submarinas1. dias após o tratamento. Neste processo, estudos ex- ca pode ser diferenciado em duas tecnologias: as
Em 1966, a empresa alemã Dornier, fabrican- perimentais observaram reação periosteal na crista ondas de choque focais e ondas de pressão radiais
te de hidroaviões e satélites, criou um laboratório ilíaca quando as ondas de choque atingiam o tecido (RPW). As ondas focais são produzidas por gera- 0
-10
para a pesquisa da erosão das estruturas da fuse- ósseo4. dores eletrohidráulicos, eletromagnéticos ou pie-
0 0,2 3
lagem dos mesmos ocasionada por micrometeo- Assim, a possibilidade utilizar uma energia que zoelétricos (Figura 1A); já as ondas radiais são pro- time / µs

ritos. No período subsequente a interação entre trata falhas de consolidação ou tendinopatias crô- duzidas por geradores pneumáticos (Figura 1B) ou
ondas de choque e tecido humano foi investigada nicas, associadas ou não a calcificações, sem ne- magnéticos. As principais diferenças entre elas são pressure / MPa
em animais, com financiamento do Departamento cessidade de cirurgia aberta, geraram os primeiros as características das ondas, a intensidade do nível 5

de Defesa da Alemanha. A conclusão inicial foi que experimentos com ondas de choque na área mus- de energia e a profundidade alcançada3.
ondas de choque com alta energia causavam efeitos culoesquelética. Em 1991, Valchanou e Michailov5 As ondas focais têm velocidades supersônicas, B 0

à longa distância com mínimos efeitos adversos em escrevem o primeiro trabalho sobre os resultados que convergem em um ponto focal (chamado de
-5
tecidos moles. Além disto, percebeu-se que os me- do tratamento de pseudoartroses com ondas de F2) distante do aparelho, e por isso concentram a
0 3 10
lhores meios de transmissão das ondas de choque choque. Em 1993, Dahmen6 relatou bons resultados maior energia neste ponto (Figura 2A) na profun- time / µs

foram a água e a gelatina devido à similaridade de em casos de tendinopatia calcária do ombro. Nes- didade dos tecidos, que de acordo com o aparelho
impedância acústica com o tecido humano2. ta época, acreditava-se que havia apenas um efeito produtor da onda essa profundidade pode chegar
Na década de 70, estudos reportaram a desinte- mecânico das ondas de choque nos tecidos. de 3 a 8 cm. Os aparelhos focais são capazes de en-
gração de cálculos renais in vitro com ondas de cho- No final dos anos 90, foi introduzido o método tregar baixa ou alta energia conforme regulagem
que sem contato com o cálculo2. Em 1980, o ESWT de ondas de pressão radiais (RPW) que são ondas escolhida7.
foi aplicado via transcutânea pela primeira vez em subsônicas com características físicas distintas das As ondas radiais, também conhecidas como
medicina para destruir uma pedra localizada no ondas de choque supersônicas focais7,8. ondas de pressão, apresentam velocidades subsô- Figura 2: Representação esquemática da dispersão de
nicas, que chegam a um pico de pressão positiva uma onda de choque focal (A) e radial (B), a graduação
mais baixo que as focais, aplicando baixo nível de de tons de cinza demonstra a concentração de energia,
energia (em torno de 0,18mJ/mm²). A maior parte mostrando na onda focal a energia na profundidade e

Definição
da energia é depositada na transição entre o apa- na onda radial a energia concentrada na transição entre
relho e a pele, com evidências de que essa energia aparelho e pele
teria penetração de no máximo 3 cm, perdendo
As ondas de choque são tipos de ondas sonoras eclosão destas microbolhas promovem uma libe- energia no decorrer da profundidade (Figura 2B). A B
com características físicas muito particulares que ração de energia no tecido, que gera uma série de Porém, semelhantemente às ondas focais, produ-
as diferenciam de outros tipos de ondas, como por alterações biológicas em nível molecular, celular e zem cavitação14,15.
exemplo, o ultrassom terapêutico também utiliza- tecidual9. Este impacto varia conforme a intensida- Acredita-se que o modo de ação e o efeito das
do para o tratamento da dor. Do ponto de vista da de da energia das ondas ao atingir o tecido a ser ondas radiais e focais devem diferir uma vez que os
física, são impulsos acústicos de características de- tratado5,10,11,12. bioefeitos são relacionados à forma da onda. Porém,
finidas por alta intensidade de energia seguida por A força com que as ondas de choque são gera- até o momento estas diferenças não estão completa-
rápido decréscimo chegando a pressões negativas. das e atingem o ponto a ser tratado é medida em mente estabelecidas e ambas as tecnologias compar-
Este gradiente de pressão muito rápido medido em milijoules por milímetro quadrado (mJ/mm²), ha- tilham uma série de indicações clínicas e algumas
nano segundos e de alta intensidade, causa nos te- bitualmente atingindo de 0,03 a 0,50 mJ/mm². Não respostas biológicas. Em termos práticos, a indica-
cidos um fenômeno denominado cavitação no qual existe um valor exato que defina as ondas como ção de um ou outro método se apoia nas evidências
são geradas microbolhas. O impacto mecânico e a de baixa, média ou alta energia, mas essa nomen- clínicas e muitas vezes podem ser complementares3.
498 TRATAMENTO POR ONDAS DE CHOQUE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 499

Mecanismos de ação
utilizado para a reabilitação concomitante. A reabi- físicas é realizada após a função reestabelecida,
litação do segmento com disfunção é realizada gra- sendo que a ausência de dor não pode ser parâme-
dualmente, e a liberação para retorno às atividades tro único de liberação.
Os mecanismos de ação das ondas de choque dual aos tecidos fibróticos/inflamados6,11,12,13,19, au-
não são relacionados ao efeito mecânico direto, mentando assim a resposta regenerativa.
mas aos diferentes caminhos das reações bioló- Também se observa frequentemente na prática
gicas induzidas pelo estímulo acústico através da clínica resposta de analgesia após as aplicações,

Complicações
mecanotransdução. Então, o “modelo mecânico” atualmente atribui-se a melhora da dor relacionada
da litotripsia foi substituído por um “modelo bioló- ao ESWT a algumas teorias, como da hiperestimu-
gico”, também apoiado pelo conhecimento atual da lação de nociceptores e teoria de controle do por-
“mecanobiologia”16. tão da transmissão da dor20. Hausdorf et al.21,22 de- Complicações consideradas menores como dor ciados a eventos dias após as aplicações e não ao mo-
Células com características específicas de meca- monstraram que o ESWT reduz a dor nos tecidos do de moderada intensidade são relatadas no momen- mento da aplicação, não podendo ser relacionados
nosensibilidade transmitem os estímulos externos sistema músculoesquelético através da destruição to da aplicação e habitualmente é suportável para a diretamente ao tratamento. Não há relatos na litera-
para dentro da célula através de diversos mecano- seletiva de fibras C não mielinizadas. Outros auto- maioria dos pacientes. Podem ocorrer pequenos he- tura de agravamento persistente da dor ou qualquer
receptores (integrinas, canais iônicos, receptores de res mostraram que esse efeito se prolonga com a matomas no local sem necessidade de tratamento29. prejuízo para eventual tratamento cirúrgico indica-
ATP)17, alguns ligados ao citoesqueleto e algumas repetição do tratamento23, e é eficaz na redução do Complicações graves como rompimento de tendão do na falha do tratamento com ondas de choque30.
vias de sinalização celular, chegando o estímulo nível de substância P no tecido alvo e nos gânglios já foram relatadas no tratamento da lesão insercio- Desmaios, zumbido no ouvido, tosse intensa são re-
ao núcleo celular18. Apesar de não completamente da raiz dorsal reduzindo assim a inflamação neu- nal do tendão calcâneo, mas estes relatos são asso- latadas nas aplicações próximas à região cervical31.
elucidado, sabe-se que as ondas de choque são ca- rogênica que acontece nas patologias crônicas24.
pazes de regular positivamente a inflamação (prova- Portanto, a teoria do portão da transmissão da dor
velmente como imunomodulador), induzir neoan- associada à destruição seletiva de fibras tipo C, re-
giogênese, estimular a proliferação e diferenciação dução da produção de substância P e da inflamação

Indicações
celular e estimular a migração de células mesenqui- neurogênica, tem relação direta com a analgesia
mais. Estas reações celulares e teciduais explicam os observada após o ESWT.
efeitos desta modalidade terapêutica nas tendinopa- Considerando-se a complexidade das dores crô-
tias e em algumas patologias ósseas como pseudoar- nicas25, hoje muito se discute o uso do ESWT como Dado o potencial regenerativo e analgésico do INDICAÇÕES EM TECIDOS MOLES
trose e osteonecrose, nas quais o objetivo é induzir ferramenta de analgesia fazendo parte do trata- ESWT, há possibilidade do uso em diferentes pa-
o aumento do aporte sanguíneo e a reparação teci- mento multimodal26,27. tologias. O Quadro 1 lista patologias ortopédicas Fascite plantar
com indicações aprovadas pela International Society A fascite plantar crônica é a doença mais estu-
for Medical Shockwave Treatment (ISMST), exceto a dada em relação aos efeitos e resultados do ESWT,
Dor Miofascial, que tem sua indicação baseada na é causa frequente de dor crônica de difícil trata-
opinião e experiência clínica de especialistas (nível mento e muito prevalente tanto em praticantes de

Método de aplicação
de evidência IV). Essas patologias serão abordadas atividade física quanto em sedentários. No exame
individualmente neste capítulo26. de imagem a fáscia plantar apresenta espessamen-
to na região insercional com alterações como dela-
Antes da indicação do ESWT, todos os pacien- dos pacientes. Dependendo do equipamento utili- Quadro 1: Principais Indicações para uso da ESWT3 minações ou rupturas parciais da fáscia. O ESWT
tes devem passar por avaliação clínica detalhada, zado pode ser realizada uma única aplicação com é aprovado como tratamento para fascite plantar
devendo ser investigados os fatores desencadean- alta energia ou três aplicações com energia baixa Fascite plantar; pelo Food and Drug Administration (FDA) e pela
tes e perpetuadores dos sintomas. Devem ser ava- ou média com intervalo semanal. Habitualmente, Tendinopatia de Aquiles; Comunidade Europeia e possui mais de 150 traba-
liadas condições clínicas associadas que possam são aplicados 2000 a 3000 impulsos em cada ses- lhos publicados em periódicos indexados32,33, com
interferir no tratamento e possíveis situações que são e o tempo de aplicação é cerca de 20 minutos. Tendinopatia patelar; evidência tanto para aparelhos focais quanto para
contraindiquem o tratamento. É necessária a ava- Portanto os protocolos variam de acordo com apa- Dor peritrocantérica; aparelhos radiais.
liação e documentação das lesões com exames de relho, patologia e tamanho da área a ser tratada28. Rompe et al. publicaram uma metanálise con-
Epicondilite lateral;
imagem antes do início do tratamento e recomen- Os cuidados iniciais recomendados após a apli- cluindo que o ESWT é uma terapia válida no trata-
da-se preenchimento de termo de consentimento, cação de ondas de choque são: repouso, aplicação Tendinopatia calcária do ombro; mento da fascite plantar na falha dos tratamentos
como em qualquer procedimento médico4,19. de gelo no local e alongamentos suaves. A respos- Pontos-gatilho miofasciais; habituais34. Assim, a indicação clássica nesta pato-
A aplicação é realizada em regime ambulatorial ta total ao tratamento pode ser observada entre 4 logia é estabelecida após 3 meses de sintomas com
Pseudoartrose e Osteonecrose.
sem necessidade de anestesia na grande maioria e 12 semanas após as aplicações28, e este tempo é falha do tratamento conservador habitual.
500 TRATAMENTO POR ONDAS DE CHOQUE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 501

Tendinopatia de Aquiles Dor peritrocantérica por estarem em processo de reabsorção. A indicação e/ou referida à distância. A abordagem terapêutica
Existem 2 patologias diferentes classificadas Antigamente chamada de bursite trocanteriana, é realizada nos casos nos estágios I ou II, após falha para esta doença abrange uso de anestésicos tópi-
como tendinopatia de Aquiles: a tendinopatia in- entendemos hoje que a dor peritrocantérica é uma de tratamento conservador habitual (Figura 3)44. cos e locais, crioterapia, termoterapia, terapia de
sercional do calcâneo, associada ou não à presença síndrome que engloba tendinopatia de glúteos, Loew em 1993, publicou as primeiras experiên- alongamento, exercícios de estabilização, agulha-
de osteófito posterior (Haglund) e calcificação in- bursite trocanteriana, desordens da banda iliotibial cias no tratamento da tendinopatia calcárea do om- mento seco, entre outros7,26,55.
tratendinosa; e a tendinopatia não insercional com e um quadro de dor miofascial associado41. A indi- bro com as ondas de choque45. Os estudos indicam O uso do ESWT para dor miofascial baseia-se
comprometimento do corpo do tendão um pouco cação do ESWT para este quadro ainda é motivo de resultados superiores com uso de aparelho focal no intenso relaxamento das contraturas muscula-
acima do calcâneo. São patologias muito frequen- estudo, no entanto, a prática clínica tem demons- de média e alta energia46,47,48, e demonstram tam- res e na melhora da dor referida pelos pacientes
tes tanto em esportistas como em indivíduos se- trado resultados satisfatórios na maioria dos casos. bém pior prognóstico nas calcificações no estágio I logo após a aplicação. O efeito analgésico, como
dentários, com recuperação difícil e lenta35,38. Furia et al.42 publicaram resultados satisfatórios do com tamanho maior de 15mm e tempo de sintomas demonstrado no início do capítulo, é associado à
O ESWT foi comparado com outras modalida- ESWT comparado aos tratamentos habituais. maior que 11 meses49,50. O uso de equipamentos redução do espasmo muscular e a melhora da mi-
des terapêuticas conservadoras e se mostrou eficaz radiais no tratamento da tendinopatia calcárea do crocirculação promovida pelo ESWT. Revisão siste-
para as tendinopatias do calcâneo crônicas35,36. Es- Tendinopatia calcária de ombro ombro permanece controverso e necessita de maio- mática da ISMST56 considerou o ESWT como uma
tudo demonstrou que isoladamente a terapia com A tendinopatia calcária do ombro é uma pato- res estudos, no momento trabalhos de revisão siste- ferramenta eficaz para o tratamento da SDM, con-
exercícios excêntricos ou ESWT tiveram resultados logia caracterizada pela deposição de cálcio dentro mática demonstram evidência insuficiente4. tudo ainda faltam estudos para poder ser conside-
equivalentes37. Porém, as tendinopatias não inser- dos tendões e que pode afetar um ou mais tendões rado uma indicação aprovada pela ISMST7,26.
cionais têm melhor prognóstico comparadas às do ombro ou a bursa subacromial. Em 10 a 20% dos Epicondilite lateral do cotovelo A combinação da aplicação do ESWT nos pontos-
tendinopatias insercionais. Outro estudo que com- casos são bilaterais e as mulheres são mais afeta- A epicondilite lateral do cotovelo é uma afecção -gatilho associado à aplicação convencional nas ten-
parou o tratamento com exercícios excêntricos iso- das, na faixa etária dos 30 aos 50 anos, podendo degenerativa, que compromete os tendões extenso- dinopatias pode otimizar o resultado, sempre asso-
lados e associados ao ESWT concluiu que a associa- ser assintomática em 20% dos casos43. A história res originados no epicôndilo lateral. Ocorre inicial- ciado a um programa de reabilitação gradativa7,26,56,57.
ção das duas técnicas obteve melhores resultados38. da doença pode ser dividida em aguda, subaguda mente por microlesões na origem da musculatura
e crônica, com dor e limitação de movimentos, extensora do antebraço, sendo mais frequente o INDICAÇÕES EM TECIDOS ÓSSEOS
Tendinopatia patelar podendo em alguns casos evoluir para capsulite acometimento do tendão extensor radial curto do Os efeitos do ESWT no tecido ósseo apresen-
A tendinopatia patelar é uma doença muito pre- adesiva do ombro. A etiopatogenia desta doença antebraço51. A epicondilite lateral normalmente tam alta evidência de eficácia em diversos estudos
valente em atletas de salto e de corrida associada permanece desconhecida mas sabe-se que existem acarreta importante incapacidade funcional. realizados em animais e humanos. Os estudos de
a excesso de saltos, desequilíbrios musculares e, algumas fases na evolução da calcificação: a pré- Diversas modalidades de tratamento conserva- Haupt58 descreveram os efeitos de osteogênese au-
eventualmente, alterações no polo inferior da pa- -calcificação, seguida da fase de formação, repouso dor são indicadas como fisioterapia, acupuntura, mentada em ratos e os trabalhos de Wang59 priori-
tela com ossificação local. Trabalhos de revisão do e reabsorção e pós-calcificação, com períodos de órteses, entre outros, mas com resultados nem zando informações de efeitos histológicos e histo-
uso do ESWT para tendinopatia patelar têm evi- mais ou menos dor. Existe também uma classifica- sempre efetivos. O ESWT surgiu como uma opção químicos, promoveram um entendimento maior
denciado bons resultados do método a longo prazo ção radiológica de Gartner44 em estágios I, II e III de tratamento não invasivo, para os casos recalci- dos efeitos das ondas de choque no tecido ósseo.
para as lesões crônicas após falha dos tratamento (Estágio I – calcificação densa e homogênea, com trantes. Porém, não existe consenso quanto à me- Outros autores descreveram novos efeitos das on-
conservadores habituais; e os melhores prognóti- contornos nítidos; Estágio II – calcificação densa, lhor forma de tratar, em função dos diferentes tipos das de choque na proliferação e diferenciação dos
cos estão associados aos casos sem ossificações no translúcida e nublada; Estágio III – calcificação nu- de geradores de ondas de choque, com protocolos osteoblastos, além do aumento dos glicosaminogli-
polo inferior da patela e nos casos onde se conse- blada, translúcida e reabsortiva). variando em grau de densidade de energia, número canos na matriz óssea no processo de regeneração
gue afastar o paciente do movimento de salto du- Essa classificação é importante porque as calci- de impulsos e periodicidade das aplicações51,53. óssea60,61. Mas foi em 1991 que Valchanov e Mihay-
rante o tratamento39,40. ficações no estágio III não são eletivas para o ESWT, Em função desta variedade, os trabalhos publi- lov62 publicaram o primeiro relato de série de casos
cados até o momento apresentam tanto resultados de tratamento de pseudoartrose em humanos.
positivos quanto negativos52,53, mas a ISMST consi- As indicações clínicas do ESWT no tecido ósseo
Figura 3: RX de ombro dera a epicondilite lateral do cotovelo como indica- recomendadas pela ISMST são casos de retardo
antes (A) e após 10 ção aprovada para o método. de consolidação, pseudoartroses, osteonecrose da
semanas do tratamento cabeça femoral, fraturas de stress e osteocondrite
com ondas focais (B) Pontos-gatilho miofasciais dissecante sem comprometimento articular. Nos
A Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM) é um casos de pseudoartroses e retardo de consolidação
quadro de dor musculoesquelética caracterizada existem critérios que devem ser respeitados para se
por bandas tensas e pontos-gatilho, que quando es- obter maior probabilidade de sucesso: estabiliza-
timulados reproduzem os sintomas dos pacientes. ção do foco de fratura e com diástase entre os frag-
Seus principais sintomas incluem a formação de mentos de no máximo 5mm. Wang observou que
bandas tensas, fraqueza muscular, dor localizada em fraturas de fêmur com retardo de consolidação
502 TRATAMENTO POR ONDAS DE CHOQUE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 503

os maiores índices de consolidação foram obtidos consenso respaldado pela literatura para o trata- sopathien. Level 10 Buchverlag, Heilbronn, 135p–1st 23. Takahashi N, Ohtori S, Saisu T, Moriya H, Wada Y. Se-
nos casos em que o tratamento foi realizado até 1 mento de lesões ósseas com ESWT, contudo há ne- Edition October 2010. (in German) cond Application of Low-energy Shock Waves Has a
ano após a fratura; levantando uma possível rela- cessidade de se utilizar equipamentos com gerado- 9. Cheng JH, Wang CJ. Biological mechanism of shock- Cumulative Effect on Free Nerve Endings. Clin Orthop
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Contraindicações
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As contraindicações do tratamento variam de Quadro 2: Contraindicações para uso de ESWT3
cularization at the tendon-bone junction: a study in 26. Kobayashi R. Estudo prospectivo, comparativo, rando-
acordo com o tipo de onda e a energia utilizada. rabbits. J Orthop Res. 2003;21(6):984-9. mizado, duplamente coberto, controlado com placebo
Segundo a ISMST, as contraindicações para o tra- Contraindicações para ondas radiais e focais 13. Wang FS, Wang CJ, Sheen-Chen SM, Kuo YR, Chen sobre a eficácia das ondas de choque no tratamento
tamento com ondas radiais são: tratamento na re- Tratamento na área abdominal ou pélvica em gestantes RF, Yang KD. Superoxide mediates shock wave induc- da síndrome dolorosa miofascial das regiões lombar e
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ser utilizado como opção às terapias mais invasivas de tratamento para facilitar a tomada de decisão do VT, Maia Neto WL, de Faria LD, Alves JM, et al. Effect 92.
para o tratamento das tendinopatias e das pseudoar- médico e para a uniformização dos resultados. A of Low-Intensity Pulsed Ultrasound Stimulation, Extra- 31. Kertzman PF. “Is it always safe radial and focus
troses. Além disso, pode ser associado a outras técni- literatura médica, no entanto, já apresenta evidên- corporeal Shockwaves and Radial Pressure Waves ESWT?”. In: 20th International Congress of ISMST.
on Akt, BMP-2, ERK-2, FAK and TGF-β1 During Bone 2017. San Sebastian- Spain.
cas para otimizar o sucesso do tratamento3,28. cias de que com a seleção adequada do caso o ESWT
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Ainda são necessários maiores estudos para defi- contribui de forma inequívoca para o tratamento de
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504 TRATAMENTO POR ONDAS DE CHOQUE TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 505

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CAPÍTULO 44
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A Acupuntura é um ramo da Medicina Tradi- países, como Japão e Coreia, e posteriormente para
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48. Hsu CJ, Wang DY, Tseng KF, Fong YC, Hsu HC, Jim YF Epub 2015 Sep 30. pontos localizados no corpo para promover a saúde Frente à sua vasta indicação clínica e à necessi-
. Extracorporeal shock wave therapy for calcifying ten- 62. Valchanou VD, Michailov P. Military Medical Academy, ou prevenir certas doenças. Acredita-se que tal prá- dade de compreender e comprovar sua eficácia te-
dinitis of the shoulder. J Shoulder Elbow Surg. 2008 Sofia, Bulgaria. High energy shock waves in the treat- tica teria sido desenvolvida há mais de 3.500 anos rapêutica, estudos experimentais e clínicos foram
Jan-Feb;17(1):55-9. ment of delayed and nonunion of fractures. Int Orthop. na China, onde posteriormente foram também de- desenvolvidos aos longos dos anos, especialmente
49. Chou WY, Wang CJ, Wu KT, Yang YJ, Ko JY, Siu KK. 1991;15(3):181-4.
senvolvidos os conhecimentos sobre fitoterapia e após relato do jornalista do New York Times, James
Prognostic factors for the outcome of extracorporeal 63. Kuo SJ, Su IC, Wang CJ, Ko JY.Extracorporeal shockwave
shockwave therapy for calcific tendinitis of the shoul- therapy (ESWT) in the treatment of atrophic non-unions
moxabustão1,2. Reston, que recebeu analgesia por meio da Acu-
der.Bone Joint J. 2017 Dec;99-B(12):1643-1650. doi: of femoral shaft fractures. Int J Surg. 2015 Dec;24(Pt Desde então, a Acupuntura tem sido praticada puntura no pós-operatório de sua apendicectomia
10.1302/0301-620X.99B12.BJJ-2016-1178.R1. B):131-4. doi: 10.1016/j.ijsu.2015.06.075. Epub 2015 Jul 9. em toda a China e divulgada também para outros em 1971, quando integrava a comitiva do então pre-
506 ACUPUNTURA PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 507

sidente norte-americano Richard Nixon durante No Brasil, a Acupuntura tem crescido tanto no Figura2: Vista anterior dos Meridianos Yin e Yang basicamente refere à homeostasia entre
visita à China3. meio popular como no acadêmico, principalmente o Sistema Simpático e Parassimpático, garantindo
Em 1997, o National Institute of Health (NIH) dos nos últimos 50 anos, sendo reconhecida pelo Con- o bom funcionamento dos órgão internos, um bom
Estados Unidos divulgou um consenso sobre a Acu- selho Federal de Medicina como especialidade mé- funcionamento do circulação sistêmica e micro-
puntura, a qual se mostrou eficaz no tratamento de dica desde 1995, tendo como uma das principais in- -circulação, evitando assim a instalação de proces-
náuseas e vômitos em pacientes que recebem qui- dicações de seu uso, justamente no campo da dor, so inflamatórios crônicos5.
mioterapia ou após cirurgia, e para analgesia pós- especialmente na dor crônica4,5,6. Habitualmente utilizam-se agulhas metálicas
-procedimento odontológico em adultos4. para puncionar através da pele os pontos de Acu-
puntura (MA) a fim de produzir um fenômeno co-
nhecido como “De Qi”, traduzida como a “chegada
do Qi” no ponto agulhado. Ou seja, ao estimular o
ponto de Acupuntura procura-se obter uma sensa-

Princípios e mecanismo de ação da Acupuntura


ção de formigamento, parestesia, choque, aperto,
peso que pode irradiar proximal ou distalmente re-

Manual (MA) e Eletroacupuntura (EA)


sultando no efeito terapêutico desejado7,8.
Modelos experimentais demonstram que o pon-
to de Acupuntura possui baixa resistência elétri-
ACUPUNTURA CLÁSSICA Fotos 1 e 2: relógio de sol de frente e perfil tirada pelo ca, presença de terminações nervosas, ou que são
OU MANUAL (MA) autor na Cidade Proibida, Beijing locais de passagens de feixes vásculonervosos, e
O tratamento pela Acupuntura está inserido muitas vezes coincidem com ponto-gatilho mio-
dentro do contexto da Medicina Tradicional Chine- fascial7,8,9,10. Desta forma, quando o ponto de Acu-
sa (MTC) a qual tem como princípio a harmonia en- puntura é puncionado, vias aferentes nervosas são
tre duas naturezas opostas, porém, complementa- estimuladas, principalmente as fibras do tipo A del-
res chamadas de Yin e Yang (Figura 1). O equilíbrio Figura3: vista posterior dos Meridianos ta, levando as informações até o corno posterior da
entre Yin e Yang garante a circulação eficiente da medula espinhal9,11,12,13,14.
substância vital chamada Qi. Os antigos médicos Na medula espinhal ocorrem dois fenômenos:
chineses acreditavam que as funções fisiológicas primeiramente, os interneurônios inibitórios são
do organismo dependiam do livre fluxo de Qi por acionados e com a liberação de metencefalina blo-
caminhos chamados de Meridianos (Figura 2 e 3) e queiam as informações de dor trazidas preferencial-
que poderiam sofrer influência através dos pontos mente pelas fibras do tipo “C”; simultaneamente, as
de Acupuntura, levando ao alívio dos sintomas5,6. informações ascendem pelo funículo ânterolateral
Precisamos entender que a descrição acima si- da medula espinhal (trato espino-talâmico) até o
tuava num contexto na qual não tinha tanto conhe- córtex cerebral, onde a sensação de “De Qi” é inter-
cimento de anatomia e fisiologia, permeado numa pretada como sensação de peso, choque ou pares-
sociedade onde o Taoísmo era a filosofia vigente. tesia pelo Sistema Nervoso Central (SNC)6,13,14,15. No
Trazendo para o nosso contexto, o equilíbrio entre SNC, o sistema supressor da dor é ativado liberan-
do opioides endógenos (betaendorfina, dinorfina)
Figura 1: Tai Chi e neurotransmissores (serotonina, norepinefrina),
tanto ao nível central como nas vias eferentes, pro-
duzindo analgesia6,13,15,16.

ELETROACUPUNTURA (EA)
A EA originou-se da vontade de gerar um es-
tímulo mais intenso e continuado do que aquele
Nota 1: a imagem conhecida como Tai Chi é o registro conseguido pela manipulação das agulhas (MA).
realizado pelo relógio de sol ao longo do ano, considerando Através do aparelho, consegue-se estímulos de va-
o solstício de inverso/verão e equinócio de outono/primavera, Imagens extraídas do livro: 经络图解(第三版) 福建科技 riadas frequências, diversificando o perfil de opioi-
sem nenhuma conotação esotérica 出版社 9787533528911 (isbn) des endógenos liberados.
508 ACUPUNTURA PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 509

Diferentes perfis foram inicialmente elucidados tolere mais ou menos intensidade conforme se Assim, neste tipo de estimulação, utiliza-se de utilizar este protocolo devemos sempre expli-
na década de 80 por experimentos de Han17 que de- define o pulso transmitido e provocam diferentes baixa frequência (2 a 50Hz) com pulsos de longa car a intenção e a sensação dolorosa esperada
monstrou a transferência de analgesia entre duas reações no distintos tecidos que recebem a estimu- duração (acima de 250ms) em intensidade que para que o paciente concorde e consiga tolerar a
cobaias através da transferência do liquor cefalor- lação elétrica. seja desconfortável por um breve período. Antes estimulação.
raquidiano (LCR) identificando aumento da con- Tradicionalmente existem quatro modos de es-
centração de diferentes opiáceos para diferentes timulação em eletroanalgesia: a estimulação senso-
freqüências de EA: rial, motora, breve e intensa, e em nível nocivo.
2Hz -> Liberação de betaendorfina A estimulação sensorial utiliza ondas de altas

Diagnóstico
15Hz -> Liberação de encefalina frequências (em torno de 100Hz) e curta duração
100Hz -> Liberação de dinorfina (50 a 150 milissegundos) com amplitude logo abai-
Esses opioides endógenos têm diferentes pesos xo do limite de produção de abalos motores geran-
moleculares sendo os de cadeia mais curta libera- do sensação de confortável parestesia no local de O diagnóstico, de acordo com as teorias da Acu- dor (queimação, em peso, pontada, formigamento,
dos de maneira mais imediata e relacionados a fre- estimulação com alívio temporário da dor. Este puntura, tem uma abordagem mais sistêmica e etc.), sua localização e padrão de irradiação, pois
quências de estímulo mais altas (100Hz), já as fre- modo de estimulação atua através de fibras grossas funcional, visando um aspecto mais geral do indi- desta forma podemos identificar quais meridianos
quências mais baixas (2Hz) ocasionam liberação de possivelmente através do mecanismo de portões víduo. Por exemplo, pacientes portadores de qua- estão mais afetados, guiando a abordagem terapêu-
moléculas de cadeias mais longas e por isso mais proposto por Melzack e Wall18 tendo uso adequado dros de lombalgia mecânica inespecífica, seja esta tica posterior.
lentas para aumentar em concentração, porém, durante exercícios e atividades laborais. aguda ou crônica, são classificados em síndromes De forma geral e simples, a maioria das condi-
mais resistentes à degradação ao longo do tempo. A estimulação em nível motor, também chama- diferentes conforme os outros sinais e sintomas ções ortopédicas e reumatológicas tratadas com
Além disso, seus receptores se localizam em dife- da de “baixa frequência”, utiliza pulsos de 2 a 4 Hz que apresentam, como insônia, distúrbio de humor Acupuntura são chamadas de Síndrome Bi, na qual
rentes níveis no sistema nervoso o que possibilitou com longa duração (100 a 200ms) e em amplitude ou de ansiedade, cólon irritável ou padrão de irra- a dor é consequência ou influenciada por fatores
a identificação de diferentes sítios de atuação: que gere contrações musculares. Atua através de diação, conferindo a este indivíduo um diagnóstico climáticos como o frio ( muito comum tais pacien-
A dinorfina -> ação na medula espinhal e no neurônios de fibras finas, porém, mielinizadas e sindrômico diferente, e consequentemente uma tes referirem piora de suas dores no inverno) e fato-
tronco cerebral. ocasiona a liberação de endorfinas e encefalinas prescrição de pontos diferenciado, embora todos res dietéticos ( hoje sabemos que existem alimentos
A betaendorfina -> “Substância Cinzenta Peria- com analgesia de longa duração apropriada para tenham o mesmo diagnóstico nosológico. mais pró-inflamatórios e outros mais anti-inflama-
quedutal” (SCPA) no mesencéfalo. quadros de dor crônica. O processo da realização do diagnóstico pela tórios), levando ao surgimento e/ou agravamento
A encefalina -> corno dorsal da medula espi- A estimulação breve e intensa utiliza parâ- Acupuntura passa também por uma boa anamne- da dor, rigidez articular e edema1,19.
nhal. metros que causam estimulação tanto sensorial se e exame físico1,19, dando ênfase no tipo de de
Com o aparelho de EA obtém-se uma padro- quanto motora em uma intensidade que seja a má-
nização do estímulo podendo-se ter um acompa- xima tolerada, assim, temos frequências altas (60
nhamento mais fidedigno da evolução do paciente a 200Hz) e pulsos de longa duração (150 a 500ms)
frente a sua tolerância à intensidade e resposta a capazes de gerar parestesia imediata e contrações

Tratamento da dor por meio da Acupuntura


diferentes frequências. musculares entorno dos eletrodos, sendo adequado
Atualmente, o aparelhos permitem definir o para uso durante procedimentos dolorosos como
formato de onda, continuidade ou não do estímu- mobilização de articulações ou mesmo debrida-
lo, podendo esse ser sempre na mesma frequência mento de feridas. O campo de atuação da Acupuntura é amplo. distúrbios craniomandibulares); cefaleias; hiper-
ou então com duas fases distintas (altas e baixas Estimulação em nível nocivo ou doloroso tam- Os relatos antigos do “Tratado de Medicina Interna tensão essencial; hipotensão primária; indução de
frequências alternadas), pode-se programar ainda bém chamada “hiperestimulação” busca ativar o do Imperador Amarelo” também conhecido como trabalho de parto; gonalgias; leucopenia; lombal-
para que a frequência vá num crescente até um sistema inibidor descendente, enquanto os parâ- “Huang Di Nei Jing” descrevem o uso da Acupuntu- gias; correção de má posição fetal; náuseas e vômi-
pico e então diminua até o basal ou fique em va- metros prévios são adequados para efeitos analgé- ra em patologias infecciosas, neurológicas, psiquiá- tos; hiperemese gravídica; cervicalgias; dor odon-
riação randômica de frequência. Todas essas va- sicos com agulhamento local ou próximo ao sítio tricas, digestivas, respiratórias, urinárias, pediátri- tológica (dor de dente e disfunções da articulação
riações tendem a evitar acomodação ao estímulo da dor, este se adequa à analgesia ocasionada pela cas e osteomusculares1,20. temporomandibular); periartralgia do ombro; dor
durante a sessão potencializando suas respostas punção de pontos distantes. Em 2003, após análise de ensaios clínicos con- pós-operatória; cólica renal; artrite reumatoide;
fisiológicas. O cérebro é capaz de inibir as chegada das afe- trolados e randomizados, a Organização Mundial ciatalgia; acidente vascular cerebral; epicondilite
Os aparelhos permitem também, que se defina rências dolorosas através da ativação da Substância da Saúde (OMS) relatou a eficácia da Acupuntura lateral20.
a largura de pulso, aumentando ou diminuindo a Cinzenta Periaquedutal (SCPA) do mesencéfalo no nas seguintes doenças ou sintomas: reações adver- As sessões de Acupuntura podem ser realizadas
quantidade total de carga transmitida a cada pulso. tronco encefálico, essa é a etapa inicial do chama- sas a radioterapia e/ou quimioterapia; rinite alérgi- de 1 a 3 vezes por semana com duração de 20 a 40
Esses parâmetros alteram a sensação experi- do Sistema Inibidor Descendente, ou seja a modu- ca; cólica biliar; depressão; epigastralgia aguda (úl- minutos cada sessão, dependendo da patologia tra-
mentada pelo paciente fazendo com que o mesmo lação central da dor. cera péptica, gastrites, espasmos); dor facial (inclui tada. Atualmente, os pontos de Acupuntura podem
510 ACUPUNTURA PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 511

ser estimulados com agulhas, ou simplesmente te na teoria dos Meridianos. De acordo com essa Muitos trabalhos têm confirmado a eficácia • pontos distantes: SI-3, GB-34, Ex-UE8 (Wai Lao
através de pressão digital, aplicação de laser, moxa teoria, o corpo humano possui diversos canais por da Acupuntura nas lombalgias agudas e crôni- Gong), BL-2, CV-19 em direção para CV-20;
ou ventosa, e até mesmo eletroestimulação trans- onde passa o “Qi” nutrindo todo o organismo, desde cas22,23,24,25,26, principalmente quando associado às • pontos locais: GB-20, GB-21, GV-14, BL-11.
cutânea (TENS). Algumas vezes, esses diferentes a sua superfície até porções mais internas, garan- técnicas convencionais e orientações posturais.
métodos de estímulo podem ser associados com o tindo assim o equilíbrio entre Yin e Yang. A tabela Portanto, as recomendações de emagrecimento, DOR NO OMBRO
objetivo de potencializar o efeito da Acupuntura. 1 mostra os 14 meridianos principais com sua res- fortalecimento da musculatura abdominal e para- O diagnóstico mais comum nas síndromes do-
Dentre as várias teorias que existem na MTC, o pectiva classificação internacional de acordo com a vertebral e a abordagem das questões ergonômicas lorosas do ombro é a lesão do manguito rotador,
tratamento pela Acupuntura baseia principalmen- OMS e representados nas figuras 2 e 3. não devem ser esquecidas. que inclui os diagnósticos de síndrome do impac-
Conforme o padrão de dor, podemos selecionar to, bursites e tendinites, devido à mesma fisiopa-
Tabela 1: Sistema de Meridianos – siglas e número de pontos de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) os seguintes de pontos para o alívio da dor: tologia31. Além do diagnóstico de Síndrome Bi, de
• patologia do meridiano da Bexiga: dor que piora acordo com a MTC, algumas vezes, a periartralgia
NÚMERO NÚMERO com a flexão e lateralização da coluna lombar. do ombro decorre de disfunções do aparelho diges-
SIGLA SIGLA
MERIDIANOS YIN DE MERIDIANOS YANG DE Pontos mais frequentemente utilizados: BL-2, tivo32, sendo interessante uma possível abordagem
OMS OMS
PONTOS PONTOS
BL-40, BL-60, Ex-EU 7 (Yao Tong Dian); investigativa e terapêutica de síndromes dispépti-
Pulmão Intestino Grosso • patologia do Du Mai: dor que piora com a exten- cas associadas.
LU 11 LI 20
(Lung) (Large Intestine) são da coluna lombar. Ponto utilizado: SI-3; O tratamento ortopédico visa ao controle da dor
• patologia do músculo quadrado lombar: CV-12; e o restabelecimento das funções normais da arti-
Pericárdio Triplo Aquecedor
PC 9 TE 23 • ciatalgias com contratura dos músculos glúteo culação e o seu arco de movimento. Portanto, a ci-
(Pericardium) (Triple Energizer)
médio e piriforme: SI-5 (contralateral). rurgia fica reservada nos casos de insucesso do tra-
Coração Intestino Delgado Outros pontos complementares: GB-30, GB-34, tamento conservador33. Nos casos de trauma agudo
HT 9 SI 19
(Heart) (Small Intestine) ST-36, BL-23, BL-25, Ex-B2 (Jia-Ji de segmentos cor- com ruptura parcial ou total de componentes do
Baço-pâncreas Estômago respondentes), Ex-B7 (Yaoyan). manguito rotador em atletas ou pacientes jovens, a
SP 21 ST 45 cirurgia é o tratamento mais adequado.
(Spleen) (Stomach)
CERVICALGIAS Como sugestão de pontos de Acupuntura, cita-
Fígado Vesícula Biliar A prevalência atual das cervicalgias na popu- mos:
LR 14 GB 44
(Liver) (Gallbladder) lação geral é estimada em 29% nos homens e 40% • pontos à distância: ST-38 transfixando para BL-
Rim Bexiga nas mulheres, sendo que estes índices podem ser 57, ST 36 (quando a dor é mais anterior), GB-34;
KI 27 BL 67
(Kidney) (Bladder) ainda maiores quando avaliamos populações se- • pontos locais: SI-11 + BL-11 + LI-11 (protocolo
lecionadas de acordo com atividades exercidas dos “três onzes”), TE-14, LI-15, ST-12, GB-21.
Vaso da Concepção Vaso Governador
CV 24 GV 28 no trabalho27. A grande maioria dos casos é de Concomitantemente ao tratamento com a Acu-
(Conception Vessel) (Governing Vessel)
tratamento conservador na qual a Acupuntura se puntura, assim que a dor permitir orientamos exer-
insere. Portanto, a avaliação clínica inicial deve cícios pendulares e de fortalecimento do manguito
sempre descartar condições potencialmente ci- rotador, a fim de reestabelecer a biomecâmica do
SÍNDROMES DOLOROSAS demos estender sua aplicação para os pacientes rúrgicas como, por exemplo, os quadros de mie- ombro.
DA REGIÃO LOMBAR crônicos. lopatia, presença de déficit neurológico e lesões Atualmente há vários trabalhos na literatura
As lombalgias e as lombociatalgias são quei- O diagnóstico clínico deve ser reconfirmado, bem traumáticas28. confirmando a eficácia da Acupuntura no trata-
xas muito frequentes no nosso ambulatório. Na como a necessidade de cirurgia ser sempre descar- Em revisão sistemática, Trinh e colaboradores29 mento sintomático da dor no ombro, sendo supe-
maioria das vezes são condições crônicas que não tada antes de iniciar o tratamento com Acupuntura. analisando 10 ensaios clínicos controlados e rando- rior ao tratamento Sham26, 32,34,35,36,37.
responderam de modo satisfatório aos métodos Com relação ao diagnóstico pela MTC podemos iden- mizados encontraram evidências de superioridade
convencionais existentes ou que possuem restri- tificar basicamente dois padrões mais frequentes: os da Acupuntura sobre o placebo em alguns estudos. DOR NO JOELHO
ção no uso de alguns medicamentos. Nos doentes casos agudos decorrentes de um movimento brusco Meta-análises recentes confirmam a eficácia da As condições mais comumente tratadas pela
portadores dessa condição clínica é muito impor- ou esforço físico inadequado normalmente apresen- Acupuntura nos casos de cervicalgia mecânica, es- Acupuntura são as do tipo não traumáticas, como as
tante afastar os sinais de alerta (“red flags”) que tam estagnação de Qi e/ou Xue (sangue) por causa pecialmente nas situações crônicas26,30. dores do compartimento anterior (Síndrome femo-
são: possibilidade de fraturas em casos de trauma do estiramento de fibras musculares ou ligamentos Na MTC é muito comum a estagnação de Qi e ro-patelar e condromalácia de patela) que acome-
(tanto de alta e de baixa energia); possibilidade (iliolombar, por exemplo); enquanto que os casos Xue causadas por vício de postura ou invasão do tem mais mulheres e adultos jovens, e as degenerati-
de infecção ou tumor; e a possibilidade de cauda mais crônicos, normalmente apresentam padrões de Vento-Frio19. vas (osteoartrite) que acometem mais os idosos.
equina21. Embora tais sinais de alerta foram des- desarmonia do Shen (Rim), e que muitas vezes acom- Podemos sugerir os seguintes pontos de Acu- Nesses casos sugerimos os seguintes pontos de
critos inicialmente para os quadros agudos, po- panham outras dores nas articulações de carga. puntura para o alívio da dor: Acupuntura para alívio dos sintomas de dor:
512 ACUPUNTURA PARA O TRATAMENTO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 513

• osteoartrite do joelho: LI-11, GB-34 + SP-9 + SP- Ensaios clínicos têm demonstrado o benefí- 6. Wang SM, Kain ZN, White P. Acupuncture Analgesia: Low Back Pain: A Clinical Practice Guideline From the
10 + ST-34 cio da Acupuntura em pacientes portadores de I. The Scientific Basis. Anesthesia & Analgesia 2008: American College of Physicians. Ann Intern Med. 2017
• síndrome femoro-patelar: LI-11, Ex-LE 2 (He- osteoartrite avançada que aguardam a artroplas- 602-610. Apr 4;166(7):514-530.
7. Li AH, Zhang JM, Xie YK. Human acupuncture points 25. Furlan AD, van Tulder MW, Cherkin D, Tsukayama
ding) + Ex-LE5 (XiYan). tia38,39. Embora o efeito da Acupuntura não seja du-
mapped in rats are associated with excitable muscle/ H, Lao L, Koes BW, Berman BM. Acupuncture and
Recomenda-se também o alongamento da mus- radouro (até 12 semanas)38 nesses casos cirúrgicos, skin-nerve complexes with enriched nerve endings. dry-needling for low back pain (Review). Cochrane Da-
culatura posterior da coxa, e o fortalecimento do consideramos uma grande vantagem da prática da Brain Res 2004: 154–9. tabase of Systematic Reviews 2005, Issue 1. Art. No.:
quadríceps femoral, principalmente seu compo- Acupuntura, pois muitos pacientes, pelo caráter 8. Wick F, Wick N, Wick MC. Morphological analysis of CD001351.DOI: 10.1002/14651858.CD001351.pub2.
nente vasto medial. crônico, apresentam restrição ao uso de medica- human acupuncture points through immunohistoche- 26. Vickers AJ, Vertosick EA, Lewith G, MacPherson H,
mentos como os anti-inflamatórios. mistry. Am J Phys Med Rehabil 2007: 7–11. Foster NE, Sherman KH, Irnich D, Witt CM, Linde K.
9. Wang KM, Yao SM, Xian YL, Hou Z. A study on the Acupuncture for Chronic Pain: Update of an Individual
receptive field of acupoints and the relationship bet- Patient Data Meta-Analysis. The Journal of Pain, Vol 19,
ween characteristics of needle sensation and groups No 5 (May), 2018: pp 455-474.
of afferent fibres. Scientia Sinica 1985: 963-971. 27. Bovim G, Schrader H, Stand T. Neck pain in general
10. Melzack R, Stillwell DM, Fox EJ. Trigger points and population. Spine 1994:1307-9.

Segurança e efeitos adversos


acupuncture points for pain: correlations and implica- 28. Kriss TC, Kriss VM. Neck pain. Primary care work-up
tions. Pain 1977: 3-23. of acute and chronic symptoms. Geriatrics 2000:47-8,
11. Chan SH. What is being stimulated in acupuncture: 51-4.
O tratamento pela Acupuntura gera poucas O pneumotórax é raro, porém, é uma complica- evaluation of the existence of a specific substrate. 29. Trinh K, Graham N, Gross A, Goldsmith C, Wang E,
Neurosci Biobehav Rev 1984: 25-33. Cameron I, Kay T. Acupuncture for Neck Disorders.
reações adversas. É uma técnica segura quando ção mais grave. Estudo retrospectivo realizado no
12. Kao MJ, Hsieh YL, Kuo FJ, Hong CZ. Electrophysiologi- Systematic reviews. Spine. 2007: 236-243.
realizada por profissionais qualificados e trei- Hospital das Clínicas entre 2001 a 2006 foram re- cal assessment of acupuncture points. Am J Phys Med 30. Trinh K, Graham N, Irnich D, Cameron ID, Forget M.
nados. A reação mais comum é a vaso-vagal, latados 5 casos de pneumotórax após tratamento Rehabil 2006: 443–448. Acupuncture for neck disorders. Cochrane Data-
que frequentemente está associada ao estado de com Acupuntura (40). A hipótese diagnóstica dessa 13. Cao X. Scientific bases of acupuncture analgesia. base of Systematic Reviews 2016, Issue 11. Art. No.:
ansiedade e/ou medo do agulhamento. Embora complicação deve ser feita na presença de dor ou Acupunct Electrother Res 2002: 1-14. CD004870. DOI 10.1002/14651858.CD004870.pub5.
ocorra muitas vezes nas primeiras sessões de um desconforto torácica após agulhamento em pontos 14. Chiang CY, Chang CT, Chu HL, Yang LF. Peripheral 31. Burbank KM. Stevenson JH. Czarnecki GR. Dorfman J.
afferent pathway for acupuncture analgesia. Scientia Chronic shoulder pain: part I. Evaluation and diagno-
paciente que nunca teve contato com tal trata- localizados na cintura escapular ou parede torácica
Sinica 1973: 210-217. sis. Review. American Family Physician 2008:453-60.
mento, pode acontecer em sessões subsequentes (anterior ou posterior).
15. Pomeranz B. Scientific research into acupuncture for 32. Sun KO, Chan KC, Lo SL, Fong DY. Acupuncture for
dependendo do ambiente ou da constituição fí- A lesão neurovascular, embora descrita, é ex- the relief of pain. J Alt Complement Med. 1996;2:53- frozen shoulder. Hong Kong Med J. 2001:381-91.
sica ou mental do paciente no momento daque- tremamente rara, pois as agulhas de acupuntura 60. 33. Burbank KM. Stevenson JH. Czarnecki GR. Dorfman
la sessão. Os principais sintomas são sudorese fabricadas em todo mundo possuem a ponta não 16. Mayer DJ, Price DD, Rafii. Antagonism of acupuncture J. Chronic shoulder pain: part II. Treatment. Review.
excessiva, sensação de mal estar epigástrico, es- cortante (romba) e são embaladas de forma estéril. analgesia in man by the narcotic antagonist naloxone. American Family Physician 2008:493-7.
curecimento da visão e náusea. Na presença de Portanto, utilizando agulhas descartáveis associada Brain Research 1977: 368-372 34. Green S, Buchbinder R, Hetrick S. Acupuncture for
17. Han, J., Xie, G., Zhou, Z., Folkesson, R. & Terenius, shoulder pain. Review. Cochrane Database of Syste-
uma reação vaso-vagal, recomenda-se a retira- à técnica adequada de antissepsia e evitando locais
L. Enkephalin and beta-endorphin as mediators of matic Reviews 2005 (2):CD005319.
da imediata de todas as agulhas, e se o paciente onde a pele está comprometida diminui acentuada-
electro-acupuncture analgesia in rabbits: an antiserum 35. Itoh K, Saito S, Sahara S, Naitoh Y, Imai K, Kitakoji H:
estiver sentado, deitá-lo elevando os membros mente o risco de infecção. microinjection study. Adv. Biochem. Psychopharmacol. Randomized trial of trigger point acupuncture treat-
inferiores. Pode-se estimular o ponto GV-26 ma- Em geral, a incidência das possíveis compli- 33, 369–377 (1982). ment for chronic shoulder pain: A preliminary study. J
nualmente ou massagear o esterno, em casos de cações com Acupuntura varia entre 1:10,000 e 18. Melzack, R. & Wall, P. D. Pain mechanisms: a new Acupunct Meridian Stud 7:59-64, 2014.
perda da consciência. 1:100,000, o que é considerada muito baixa pela li- theory. Science. 150, 971–979 (1965). 36. Ji L, Wang H, Cao Y, Yan P, Jin X, Nie P, Wang C, Li
teratura mundial41,42. 19. Liu Gong Wang. Tratado Contemporâneo de Acupun- R, Zhang C, Yang M, Yang J: Sharp-Hook Acupunc-
tura e Moxibustão; 1º ed. Ceimec, 2005. ture (Feng Gou Zhen) for patients with periarthritis of
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CAPÍTULO 45
40. Terra RM. Fernandez A. Bammann RH. Castro AC. Ishy 42. Adrian W. The Safety of Acupuncture Techniques. The
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clinical presentation and management. Revista Da 2007: 9-10.

Tratamento cirúrgico da dor


José Oswaldo de Oliveira Júnior
Amir Salomão Gebrin

Introdução
As condições musculoesqueléticas envolvidas macológicas (analgésicos, anti-inflamatórios não
com dor, especialmente as crônicas, representam esteroides -AINEs, injeções de corticosteroides).
um problema crescente de saúde pública em todo Aos doentes com sintomas refratários, interven-
o mundo1. A dor musculoesquelética não traumá- ções cirúrgicas podem ser consideradas. No entan-
tica é gerenciada por uma infinidade de opções de to, para o objetivo geral de reduzir a dor e melho-
tratamento, a maioria oferecida na atenção primá- rar a função, as recomendações são equívocas em
ria por clínicos de primeiro contato, como clínicos relação à eficácia de várias opções de tratamento
gerais, fisioterapeutas, quiropráticos e osteopatas. que são usadas em uma variedade de apresenta-
As dores traumáticas, no Brasil, são atendidas, em ções comuns de dor musculoesquelética. Da mes-
sua maioria por ortopedistas e cirurgiões gerais em ma forma, a eficácia e a segurança dos analgésicos
pronto-socorros. As opções iniciais incluem tra- simples e dos AINEs na redução dos sintomas asso-
tamentos não farmacológicos (aconselhamento e ciados à osteoartrite e à dor nas costas são incertos.
educação de autogestão, terapia de exercícios, tera- A fim de fornecer um cuidado ideal aos pacien-
pia manual e intervenções psicossociais), terapias tes com dor musculoesquelética e garantir o uso
complementares (acupuntura) e intervenções far- eficiente dos recursos de saúde, uma visão abran-
516 TRATAMENTO CIRÚRGICO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 517

gente das evidências disponíveis sobre as opções ta os indivíduos para a necessidade de assistência Convém investigar homens com fraturas vertebrais gração ou o extravasamento do cimento (risco do
de tratamento mais eficazes para as apresentações médica. A dor aguda, em todo o mundo, tem sido patológicas devido ao risco de mieloma múltiplo e procedimento) foi bastante diminuído com a cavi-
de dor musculoesquelética é essencial. Evidências subtratada desde há décadas. A solução não parece tumor metastático (próstata). tação óssea por balões (cifoplastia). (Figura 2)
de estudos e revisões sistemáticas indicam que a ser o desenvolvimento de novos fármacos ou tec- A vertebroplastia (injeção de cimento no corpo Bons resultados com uso de teriparatida (tera-
maioria dos tratamentos para dor musculoesquelé- nologias analgésicas, mas sim de uma organização vertebral) é originária da França (1986) para trata- pia osteoanabolizante) e colete no tratamento des-
tica fornece benefícios relativamente efêmeros, de apropriada que utilize os conhecimentos existen- mento de dor relacionada à fratura vertebral. A mi- tas fraturas tem sido obtidos no controle de dor.
curto a moderado prazos, com pouca evidência de tes. O papel das unidades de dor aguda na melhoria
eficácia persistente. Além disso, parece haver uma do tratamento da dor e do resultado final é consen- Figura 2: A. Fratura vertebral por insuficiência (platô - seta). B. Sem melhora após 12 semanas com colete optou-se pela
ampla heterogeneidade na resposta dos sintomas sual, mas a sua implementação constitui um desa- cimentação percutânea (vertebroplastia). C. Embolia pulmonar do cimento em exame de tomografia (seta)
do paciente aos tratamentos, sugerindo que alguns fio. As dores agudas dos traumatismos são de alta
doentes podem se beneficiar mais de alguns trata- prevalência, e no Brasil, em geral, de competência
mentos do que outros2. inicial do ortopedista e do cirurgião geral. Agravan-
Uma aparente falta de informação sobre a efi- do a situação fica a constatação da dor aguda mal
cácia comparativa das opções de tratamento dis- controlada aumentar a chance do desenvolvimento
poníveis reforça a necessidade de compilar as evi- futuro da dor crônica, mais difícil de tratar, asso-
dências atuais sobre os melhores tratamentos para ciada à deterioração da personalidade, com pior
apresentações de dor musculoesquelética. O pre- prognóstico quanto à resolução e sem valor na pro-
sente livro tem como um de seus objetivos emba- teção à integridade física de seu portador.
sar a escolha do melhor tratamento para o doente Alguns dos procedimentos ortopédicos podem,
atendido. Neste capítulo, em especial, o leitor terá eventualmente, debelar a dor através da resolução
A B C
a oportunidade de ter contato com as modalidades de sua causa. A ortopedia pode retirar ou reduzir
cirurgicas. massas neoplásicas, drenar abcessos ou empiemas,
A dor aguda, com raríssimas exceções, é de descomprimir estruturas nervosas, reduzir infla-
ocorrência universal e constitui sintoma que aler- mações neurogênicas ou não. INFARTOS EM MATRIZ ÓSSEA NORMAL aceita, ainda mais se tratando de parte do próprio
Causa de dor óssea no adulto. O infarto ósseo, corpo. Não só do ponto de vista estético, a ampu-
ou osteonecrose, ocorre por alcoolismo, disbaris- tação do membro (ou parte dele) tem repercussão
mo, traumatismos, medicações ou sem causa de- funcional. São causas de amputação malformações
finida. Pode ocorrer na cabeça femoral e umeral, congênitas, traumatismos, vasculopatias (em espe-

Tratamento etiológico
côndilos femorais, tíbia proximal e ossos navicular cial associadas à diabetes, principalmente em ido-
e escafoide3. O osso é um compartimento fechado sos), tumores e infecções crônicas. A preservação
não distensível. O aumento da pressão interna di- das articulações (principalmente joelho e cotovelo)
A cirurgia ortopédica pode oferecer alívio das Figura 1: minue o fluxo sanguíneo e resulta em colapso is- é essencial, pois deve ser considerado o aumento
dores ósseas na tentativa da resolução etiológica. A quêmico. Oligossintomático de início apresenta de esforço para caminhar no amputado, em média,
evolução da compreensão multidisciplinar da dor dores súbitas sem, contudo, alterar a amplitude 25% a mais na amputação abaixo de um joelho,
é cada vez maior e sua abrangência inclue as dores articular, diferencial de outras doenças osteoarti- 40% se bilateral abaixo de ambos os joelhos e maior
de origem óssea. A osteodinia resulta de situações culares. Radiografias simples somente revelam al- de 60% numa amputação acima do joelho.
variadas desde trauma, doenças hereditárias a cân- terações tardias: o melhor exame para diagnóstico Amputação bilateral acima dos joelhos em ido-
cer, podendo apresentar desde dores leves e mal e classificação precoce é a ressonância magnética. sos torna-os cadeirantes, pois para eles é muito di-
definidas a intensas e bem localizadas. Na infância, fícil o uso de duas próteses. Todo coto de amputa-
o osso imaturo pode ser fonte de dor por infecção AMPUTAÇÃO: QUANDO MENOS ção deve ter boa cobertura de pele e partes moles,
(artrites e osteomielite), tumores e problemas nas SIGNIFICA MAIS ausência de neuromas e boa mobilidade articular,
placas e núcleos de crescimento (epífises). Como regra geral a amputação não deve ser in- com equilíbrio entre agonistas e antagonistas. De-
A cifotização no idoso é decorrente de perda dicação de tratamento analgésico. Caso o doente sequilíbrios musculares resultam em deformida-
Acervo pessoal do autor

de massa muscular e fraturas vertebrais com en- curse com dor de difícil controle, é recomendado o des com áreas de hiperpressão dolorosas. Preser-
cunhamento. Aos 80 anos, por exemplo, metade tratamento prioritário e prévio da dor. Apenas após var articulações (principalmente joelho e cotovelo)
das mulheres apresenta fraturas vertebrais e cifo- o controle e desensibilização do sistema nervoso é é essencial.
se (Figura 1). A dor está associada a estas fraturas recomendada a amputação, sempre por outra razão Cirurgiões de trauma, ortopedistas e vascula-
e aos mecanismos de compensação do equilíbrio. que não a própria dor. Toda perda é difícil de ser res inevitavelmente se encontrarão em situações
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que requeiram amputação em função de isquemia comum é preservar o máximo de osso possível, em das, cobram, progressivamente, melhor qualidade qualidade de vida, especialmente naqueles com
(gangrena seca), infecção (gangrena úmida) ou geral, comprometendo o coxim. Um membro curto de vida, o que aumenta a responsabilidade dos ci- doença avançada e prognóstico reservado. A esco-
traumatismos. Sem o coxim normalmente existen- bem coberto de partes moles é mais eficiente que rurgiões5. lha da técnica neurocirúrgica a ser empregada deve
te em suas nádegas, para pessoas normais, o sim- um coto longo com pouca proteção. Amputação Os procedimentos neurocirúrgicos, assim sen- ser feita a partir do conhecimento da fisiopatologia
ples ato de se sentar poderia trazer dificuldades e abaixo do joelho tem melhor função que as acima do, continuam úteis em um número considerável e da topografia das estruturas neurais envolvidas
grande desconforto. A cirurgia de amputação não do joelho. As transtibiais médias e curtas são muito de casos refratários à farmacoterapia, tanto pela na dor do caso estudado. O tratamento neurocirúr-
consiste só na remoção da parte doente, mas em usadas e resultam em biodinâmica similar, melhor falta de resposta analgésica, como pelos efeitos ad- gico pela interrupção das vias nociceptivas deve
reconstrução. Retalho miofasciocutâneo deve co- que as distais com mais preservação de osso. versos e colaterais não suportados pelos doentes. ser realizado quando a dor é causada, predominan-
brir adequadamente o coto, sem tensão. Um erro A melhora do conhecimento sobre as síndromes temente, por excesso de estimulação nociceptiva.
dolorosas, a criação de novas técnicas e o aprimo- Trata-se de um método ablativo, e como tal, acar-
ramento das já existentes, bem como o refinamen- reta mudanças significativas no sistema nervoso
to de suas indicações, em muito contribuiu para a locorregional e a distância.
adequação e aumento de eficácia das cirurgias. Atualmente, dado um diagnóstico adequado da

Tratamento sintomático
A revisão do diagnóstico da síndrome ou doenças dor que aflige o doente, é possível selecionar, na
relacionadas à dor é fundamental antes da aplicação maioria dos casos, o melhor tratamento clínico ou
de uma técnica terapêutica, sobretudo cirúrgica. O cirúrgico com base em dados confiáveis de revisão,
O melhor tratamento de qualquer dor é aquele oferecer, e, o que esperam e cobram o doente, seus diagnóstico incorreto é causa frequente de refrata- ou seja, com base em evidências. O tratamento ci-
que debela sua causa4. A ideia de controlar a dor cuidadores e familiares. riedade ao tratamento. A história clínica, o exame rúrgico não necessariamente é indicado como úl-
resolvendo a causa responsável por ela permeia neurológico pormenorizado e os exames comple- tima alternativa depois de esgotadas as medidas
tanto o entendimento científico como leigo, e, in- NEUROCIRURGIAS ABLATIVAS mentares devem ser aplicados antes de cada propos- conservadoras de tratamento.
terfere na aceitação do tratamento exclusivamente E NÃO ABLATIVAS ta. Além do diagnóstico de cada síndrome dolorosa A interrupção neurocirúrgica das vias nocicep-
sintomático, principalmente quando o tratamento Os procedimentos cirúrgicos com fins analgési- envolvida na dor do doente, seja neuropática, não tivas pode ser feita em qualquer nível do sistema
proposto é invasivo. Um verdadeiro desafio é obter cos podem ser ablativos quando, fundamentalmen- neuropática, síndrome dolorosa específica (ex.: neu- nervoso central ou periférico. A cirurgia poderá ser
o consentimento do doente, após o esclarecimento te, não preservam o sistema nervoso (central e/ou ralgia trigeminal) ou a coexistência de várias delas; realizada a céu aberto ou por método percutâneo.
adequado, para sua submissão a uma cirurgia, cujo periférico); e, não ablativos quando preservam. a correta topografia da dor e possível acometimento Os procedimentos percutâneos são menos invasi-
objetivo não é curativo, e, sim estritamente sinto- As chamadas neurocirurgias analgésicas abla- do sistema nervoso central ou periférico, visceral ou vos, seguros e precisos, de baixo custo operacional,
mático. tivas são as que através de destruição de parte do somático, é crucial para a escolha adequada do pro- não se associam com as complicações inerentes
Como quaisquer outros procedimentos cirúrgi- sistema nervoso, periférico ou central, consegue- cedimento neurocirúrgico funcional6. aos convencionais. Contudo, por necessitarem da
cos, os exclusivamente analgésicos também pos- -se modificações de vias ou centros de modulação, Há várias modalidades de tratamento cirúrgico cooperação do doente durante o tempo parcial ou
suem riscos variados, na conformidade dos res- cujas resultantes são a analgesia pretendida. da dor que devem ser aplicadas conforme o diag- total de sua realização, às vezes, o traumatismo
pectivos portes ou graus de invasividade, com o As lesões podem ser mecânicas (maceramen- nóstico da síndrome dolorosa. Entre elas, medidas psicoafetivo da técnica percutânea e cooperante é
agravante de não prometerem modificação direta to físico, cortes com lâminas frias, esgarçamento, cirúrgicas reparadoras, como descompressões ner- trocado pelo traumatismo tissular do método a céu
no curso da doença oncológica. No gerenciamento tracionamento, compressão), neurolíticas (obtidas vosas; ablação, inativação ou bloqueios de pontos aberto e inconsciente. Para minimizar o sofrimen-
da dor oncológica outra dificuldade inclui a impos- com lesão por agentes químicos), térmicas (com específicos das vias de projeção ou centros nervosos to da lucidez durante as cirurgias percutâneas são
sibilidade de o neurocirurgião prometer com cer- dispositivos de criocoagulação, termocoagulação relacionados ao processamento da dor; administra- administrados fármacos que causam amnésia ante-
teza a obtenção da intensidade de dor ZERO, que ou radiofrequência), isquêmicas e ainda actínicas ção intratecal de fármacos por meio de implantes rógrada e retrógada. Cada vez mais se enriquecem
corresponde à expectativa fantasiosa bastante pre- com ou sem a combinação de métodos guiados por de sistemas de infusão; modulação dos sistemas os procedimentos com dados neurofisiológicos e
sente entre doentes, familiares e cuidadores. Com estereotaxia e de radioterapia seletiva multicolima- inibidores espinhais supraespinhais da dor por de neuroimagem de maneira a reduzir o tempo de
exceção das agudas, nas dores oncológicas crônicas da. As neurocirurgias analgésicas ablativas podem meio de implantes de sistemas neuromoduladores participação do doente. Estudos neurorradiológi-
o objetivo é a obtenção da melhora da qualidade de causar mudanças locais, regionais e a distância no com eletródios medulares ou encefálicos. cos desde radiografias simples, radioscopia tomo-
vida de quem dela sofre, e não o pleno desapare- sistema nervoso, acompanhadas por deficiências O tratamento da dor pode ser feito através de grafia computadorizada, e mais modernamente a
cimento da queixa. Na verdade, o objetivo estaria precoces sensitivas e/ou motoras adicionais. métodos neurocirúrgicos, dependendo da comple- ressonância magnética e imagens por ultra-som,
próximo quando o doente obtivesse redução da in- Além do efeito analgésico desejado, depois de xidade e da etiologia do quadro álgico. No doente podem ser usados no pré, trans e pós-operatórios
tensidade, períodos longos sem dor e um momen- períodos variáveis de tempo, podem deflagrar do- com câncer, a indicação para a realização de pro- destes procedimentos.
to, em que ele esquecesse de sua dor. Na prática res neuropáticas, as do tipo iatrogênico. As cirur- cedimentos mais invasivos destinados ao controle
clínica a tarefa didática se faz necessária, assim gias ablativas encontram sua melhor indicação no adequado de dores, incluindo as neuropáticas, não MÉTODOS ABLATIVOS
como também é fundamental a conciliação de ex- tratamento da dor secundária ao câncer, no entan- deve ser postergada, visto que a obtenção deste Os procedimentos ablativos visam interrom-
pectativas, isto é, entre o que a equipe médica pode to, as taxas de sobrevivência cada vez mais eleva- controle causa uma melhora significativa em sua per as vias da dor por lesão deliberada e seletiva
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de estruturas desde os nervos periféricos, raízes e faceta articular, seguindo-se de lesão por radiofre- siste na introdução percutânea de um eletródio na nervo trigêmeo, glossofaríngeo e intermediário é
gânglios nervosos, cordões medulares e vias ascen- quência destes nervos. É eficaz para o tratamento região perineal posterior seguida de estimulação e eficaz no tratamento da dor resultante de neural-
dentes e estruturas do encéfalo como núcleos do das dores secundárias à síndrome facetária, síndro- lesão por radiofrequência do tronco do nervo pu- gias essenciais64 e do câncer da face, faringe, loja
tálamo ou mesencéfalo. A lesão de estruturas do mes dolorosas miofasciais paravertebrais rebeldes dendo. Quando o procedimento é realizado bilate- amigdaliana, base da língua e orelha interna. As ri-
sistema límbico também atua na diminuição dos aos procedimentos fisiátricos e dores neuropáticas ralmente pode resultar em incontinência urinária. zotomias espinhais e do nervo trigêmeo e glossofa-
componentes cognitivos e emocionais associados apendiculares. No entanto, os melhores resultados Lesões químicas (em geral, com o uso de fenol) po- ríngeo a céu aberto raramente são indicadas atual-
à dor, que causam sofrimento ao indivíduo. A rea- são obtidos para dores nociceptivas do tipo axial. dem ser realizadas pela mesma via anterior utiliza- mente. A do nervo intermediário ainda é realizada
lização de neurocirurgia percutânea realizada sob As neurotomias periféricas possuem efeito anti-in- da na anestesia local em episiotomias. A neuroto- a céu aberto segundo técnica microcirúrgica. Os
sedação é mais segura que as cirurgias realizadas flamatório pela redução da inflamação neurogêni- mia do nervo genitofemoral está indicada em casos procedimentos percutâneos são os mais emprega-
a céu aberto, além de permitir o mapeamento fi- ca dependente da liberação de substâncias algio- de neuralgia do nervo genitofemoral enquanto a dos para tal finalidade.
siológico do alvo desejado e simular situação de gênicas na periferia. As dores radiculopáticas são do ilioinguinal para o tratamento de neuralgia ilio- A rizotomia do nervo trigêmeo consiste na in-
pós-operatório. O uso de substâncias neurolíticas aliviadas pela inibição da aferência medular. Essa -inguinal. São realizadas por acesso ao retroperitô- trodução de um eletródio à mão livre, por via ante-
envolve complicações (menos frequentes com as inibição diminui o recrutamento das unidades nio similar ao utilizado durante a simpatectomia rior, através do forame oval, no interior do gânglio
simpatectomias), sendo mais seguro o uso de meios neuronais de segunda ordem de convergência de lombar. A neurotomia do nervo cutaneofemoral é de Gasser, sob controle radiológico, radioscópico
físicos como o frio (criocoagulação) ou como o mais amplo e dinâmico espectro de resposta (neuronios indicada no tratamento da meralgia parestésica. O ou tomográfico. Após a punção, os doentes são
comumente utilizado pela maior disponibilidade, o WDR - do inglês wide dynamic range). Promovem nervo é acessado por incisão medial à espinha ilía- despertados e questionados sobre a localização
calor (radiofrequência) para a interrupção de vias e alívio da dor em 50% dos casos em 8 a 27 meses ca anterosuperior. A neurotomia do nervo ciático da sensação parestésica evocada pela estimulação
centros nervosos. de tratamento, com melhor resultado em pacientes menor está indicada nos casos de neuralgia desta das estruturas trigeminais. Baseando-se nestas in-
que não foram previamente submetidos a cirurgia estrutura. O nervo é acessado por incisão da região formações, o eletródio é mobilizado até que a sen-
SIMPATECTOMIAS de coluna. Raramente desenvolvem desconforto glútea e região proximal da face posterior da coxa, sação parestésica se localize no território da dor.
Suas indicações principais são para o tratamen- doloroso neuropático adicional ou em substituição após dissecação do músculo glúteo mínimo. Durante períodos de 60 segundos, lesões térmicas
to da dor visceral da cavidade abdominal, pélvica ao original. são repetidas com intensidades crescentes, até que
e torácica, e da dor isquêmica. Dores de predomí- A neurotomia ou neurectomia de ramos perifé- RIZOTOMIAS hipolgesia ou analgesia com preservação da sensi-
nio neuropático não são, classicamente incluídas ricos do nervo trigêmeo pode ser realizada de várias Rizotomias verdadeiras são raras. Os procedi- bilidade tátil segmentar seja obtida por geradores
dentre as indicações. Devem ser indicadas apenas formas. A avulsão, esmagamento, interposição de mentos, em sua grande maioria, são, na verdade, de radiofrequência. A monitorização da temperatu-
quando há melhora significativa e temporária da material orgânico entre os cotos seccionados, neu- neurotomias. Na coluna vertebral, são, em geral, ra quantifica o grau da lesão induzida. A denomina-
dor após bloqueios da cadeia simpática com anes- rólise mecânica e rebatimento retrógrado dos cotos neurotomias espinais, uma vez que o alvo é distal ção de rizotomia trigeminal, embora consagrada, é
tésicos locais. São contraindicadas nos casos de nervosos amputados podem proporcionar benefí- aos gânglios sensitivos, nos nervos mistos. São in- equivocada por partir da pressuposição errônea do
síndrome dolorosa regional complexa, dor no coto cio aos doentes, porém, apenas temporário devido dicadas no tratamento da dor decorrente de neu- alvo cirúrgico se tratar de raiz, quando na verdade
de amputação, dor mielopática, dor por lesão da ao fenômeno de regeneração nervosa. A neurecto- ralgias paroxísticas ou decorrentes de neoplasias são divisões do nervo craniano.
cauda equina, avulsão de raízes e neuralgia pós- mia de ramos periféricos do nervo trigêmeo possui em áreas restritas do corpo, especialmente as lo- As rizotomias percutâneas por radiofrequência
-herpética. indicação restrita à confirmação diagnóstica, ao calizadas na face, crânio, região cervical, torácica são realizadas sob anestesia geral ou sob sedação.
tratamento de doentes idosos debilitados ou com e perineal. São contraindicadas para dor no coto Medicação pré-anestésica (lorazepam, flunitraze-
NEUROTOMIAS PERIFÉRICAS neuralgia bilateral, quando há anestesia de uma de amputação, neuralgia pós-herpética, neuropa- pam) proporciona amnésia e agentes anestésicos
(NERVOS SOMÁTICOS) hemiface secundária à rizotomia contralateral. tia actínica, dor mielopática ou por lesão da cauda de curta duração (propofol) ou neuroleptoanal-
As neurotomias podem ser úteis para controle A neurotomia percutânea dos nervos occipitais eqüina, avulsão de raízes nervosas, dor facial atípi- gésicos (fentanila, droperidol) são recomendados
das dores neuropáticas. São indicadas para o tra- é um procedimento útil para casos de neuralgia ca e anestesia dolorosa da face. para a realização do procedimento. Nas últimas
tamento da neuralgia occipital, neuralgia genitofe- do nervo grande occipital. É realizado através da A rizotomia cervical, torácica e sacral é eficaz décadas, o uso de Alfa2-adrenérgicos como a dex-
moral, ilioinguinal, do nervo cutaneofemoral, ciá- punção percutânea dos nervos occipitais na base em casos selecionados de dor neuropática perifé- medetomidina pode proporcionar boa analgesia,
tico menor e pudendo. Não são eficazes na maioria da escama do osso occipital, junto à artéria occi- rica paroxística oligossegmentar restrita às regiões sedação, e, condições de cooperação. Quando o
dos doentes com dor por desaferentação, dor por pital. A neurólise química está em desuso, existin- superficiais do corpo e a poucos dermatômeros. doente suporta o desconforto, as lesões são realiza-
avulsão de raízes, dor no coto de amputação e da do preferência pela lesão por radiofrequência. No Nos membros, as rizotomias podem causar ataxia das sem anestesia geral. Caso contrário, doses adi-
neuralgia pós-herpética. A neurotomia dos ramos entanto, os resultados da neurotomia ficam aquêm sensitiva. A rizotomia sacral não deve envolver bi- cionais de agentes anestésicos são administradas.
recorrentes posteriores das raízes espinhais con- daqueles obtidos pelos bloqueios anestésicos (fal- lateralmente as segundas raízes sacrais em doen- Quando o déficit sensitivo induzido não se localiza
siste na lesão dos mesmos em sua emergência no sos-positivos). tes com integridade funcional da bexiga, devido ao no território adequado, o eletródio é reposicionado
forame de conjugação tanto a céu aberto quanto A neurotomia do nervo pudendo é indicada risco de o doente desenvolver bexiga neurogêni- e são produzidas novas lesões por radiofrequência.
por via percutânea, através da introdução de um para o tratamento da neuralgia do nervo pudendo e ca. A rizotomia intercostal pode beneficiar alguns Ocorre dormência facial em praticamente todos os
eletródio ao longo da borda externa e na base da da dor perineal (principalmente oncológica). Con- doentes com neuralgia intercostal. A rizotomia do casos. Parestesias são observadas em 8% a 10,9%
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dos doentes e, disestesias dolorosas, em 0,5% a 5% assim como as vias ascendentes que trafegam pelo em casos de avulsão devido à atrofia da medula es- taxia ao segmento cefálico, seguida da realização
dos casos. Há recidiva da dor em 5% dos doentes, quadrante pósterolateral da medula espinhal. Isso pinhal em consequência da cicatrização do tecido de estereotomografia e reconstrução de imagens da
em média, no primeiro ano, em 10%, no segundo e, permite modificar o balanço entre as vias excitató- traumatizado. Há maior possibilidade de compro- transição bulboespinal, com fusão das imagens ob-
progressivamente, em 5% dos casos a cada ano. A rias e inibitórias dos circuitos neuronais segmen- metimento da função neurológica quando a lesão é tidas com o atlas de estereotaxia. O alvo estereotác-
recidiva pode ser maior em neuralgias trigeminais tares desaferentados. A lesão do trato de Lissauer realizada nos segmentos torácicos da medula espi- tico é posicionado 4 mm a 6,5 mm lateralmente em
associadas a doença desmielinizante (esclerose e do CPME é mais eficaz e segura quando indicada nhal. Numerosas complicações neurológicas foram relação à linha mediana, de acordo com o território
múltipla) chegando até taxas de 40% em dois anos. no tratamento de doentes com áreas de desaferen- descritas após este procedimento indicado para o o acometimento da terceira ou primeira divisões
A rizotomia do nervo trigêmeo por compres- tação extensas, como em casos de avulsão de raízes tratamento da síndrome pós-laminectomia lombar, do nervo trigêmeo, respectivamente. Um eletródio
são com balão de embolectomia consiste em pun- do plexo braquial, neuropatia plexular actínica, dor incluindo-se, entre elas, a hipoestesia na região ge- é introduzido na transição occipitocervical e dirigi-
ção percutânea do gânglio de Gasser sob anestesia segmentar em doentes paraplégicos com mielopa- nital e nos membros inferiores, déficits motores, do, de baixo para cima e de fora para dentro, com
troncular ou sistêmica por via venosa, com ou sem tia ou com lesão de cauda equina e cone medular. incontinência esfincteriana e impotência sexual. inclinação de 20 graus em relação aos planos trans-
ventilação artificial. Após, procede-se à insuflação Para o procedimento espinhal, há necessida- Nos casos de avulsão de raízes nervosas foram versal e sagital. A localização é confirmada median-
do balão sobre o gânglio através de uma agulha que de de anestesia geral e de laminectomia visando verificados resultados imediatos excelentes e bons te estimulação monopolar. Quando a estimulação
conduz o cateter, com duração de 60 segundos e a exposição da zona de penetração das raízes cor- em 64,7% a 100% dos doentes e regulares em 8,3% elétrica causa desconforto no local da dor referida,
com o uso de 0,6 a 0,8 ml de agente de contraste respondentes à inervação das áreas onde a dor é a 24%. A dor recorrente após a cirurgia nestes ca- são realizadas lesões por radiofrequência de modo
iodado. A rizotomia do nervo glossofaríngeo é rea- referida, bem como dos dermatômeros rostrais e sos apresenta características diferentes da original a coagular o tecido neural, com o diâmetro de 2
lizada de modo similar e após punção do forame caudais vizinhos. A dura-máter é aberta na linha em 50% dos casos. O queimor original é substituído mm. Este procedimento é marcadamente eficaz no
rasgado. Bradicardia e hipotensão arterial podem mediana e a exposição da zona de entrada da raiz é por dolorimento, latejamento ou sensação de frio. tratamento da neuralgia pós-herpética trigeminal,
ocorrer durante a intervenção e indicam necessi- realizada com o emprego de microscópio cirúrgico. Em casos de dor fantasma, ocorre melhora imedia- de outras dores por desaferentação localizadas na
dade de interrupção da lesão. Sequelas sensitivas Em casos de avulsão de raízes do plexo braquial, ta em 50% a 100% dos doentes logo após o procedi- face e da dor por câncer orofacial.
e motoras compreendendo disfonia, disfasia e dis- a disposição das raízes contralaterais e a linha de mento e, em longo prazo, em 50% a 66,6%. O resul- A nucleotratotomia trigeminal pode ser realiza-
fagia são referidos em alguns casos. A recidiva da penetração das raízes ipsilaterais constituem os re- tado parece ser mais insatisfatório no tratamento da a céu aberto. O porte cirúrgico e anestésico são
dor é rara e a mortalidade ocorre em 5% dos casos. paros anatômicos para localização das áreas a se- da dor no coto de amputação. maiores e podem não ser adequados para doentes
rem lesadas na medula espinhal. A localização dos A cirurgia de lesão da zona de entrada das raí- idosos ou debilitados. No entanto, lesões vascula-
TRATOTOMIA DE LISSAUER E LESÃO dermatômeros é realizada mediante estimulação zes dorsais, ou a lesão do trato de Lissauer e do res podem ser eficientemente evitadas pela visua-
DO CORNO POSTERIOR DA MEDULA elétrica monopolar das raízes motoras (contralate- corno posterior da substância cinzenta da medula lização direta. A associação da microendoscopia e
ESPINHAL (CPME) OU LESÃO DA ZONA DE rais se necessário). Eletródios são implantados na espinal, conhecida pela sigla inglesa DREZ, não é da estereotaxia veio para aumentar as vantagens
ENTRADA DAS RAÍZES DORSAIS (DREZ OU medula espinhal e dirigidos com inclinação de 25 tão popular entre os neurocirurgiões. A curva de deste método em relação ao realizado a céu aber-
DREZOTOMIA) graus de fora para dentro e de trás para frente, no aprendizado é longa e há necessidade de materiais to3,6,18. Trabalho recente confirma a longa duração
Consiste na lise, por radiofrequência, do trato plano transversal, penetrando dois mm na profun- especiais como eletrodos próprios. Atualmente, (média de 4,3 anos) dos bons resultados obtidos em
de Lissauer e da substância cinzenta do corno pos- didade em cada segmento de referência da dor. Em muitas empresas que produziam eletrodos de ra- dor crônica atípica trigeminal, avulsão do plexo
terior da medula espinhal, onde há hiperatividade seqüência, realizam-se lesões térmicas por radio- diofrequência para DREZ com angulação apropria- braquial, neuralgia pós-herpética e dor do membro
neuronal em casos de dor por desaferentação ou freqüência a cada 2 mm. Em casos de mielopatia da para atingir as estruturas desejadas, cessaram a fantasma7.
espasticidade. É realizada para o tratamento da dor traumática, são realizadas na zona de entrada das produção pelo número baixo de unidades comer-
no membro fantasma, da dor resultante de neuro- três raízes situadas acima do segmento anatomica- cializadas. Alguns serviços de neurocirurgia estão NUCLEOTRATOTOMIA TRIGEMINAL
patias plexulares actínicas, oncológicas e traumá- mente anormal. A extensão e a intensidade do dé- utilizando eletrodos retos de cordotomia como PONTINA
ticas, neuralgia pós-herpética, dor mielopática e ficit sensitivo pré-operatório amplia-se sistematica- substitutos. É procedimento eficaz no tratamento da dor
por lesão da cauda equina e da espasticidade, dor mente, após a lesão do trato de Lissauer e do CPME. facial por desaferentação que não apresentou me-
por avulsão de raízes nervosas e neuralgia facial Déficit motor, geralmente discreto, ocorre em apro- NUCLEOTRATOTOMIA ESTEREOTÁCTICA lhora após a nucleotratotomia caudal. Proporciona
atípica. Não apresenta resultados satisfatórios em ximadamente em 10% dos doentes submetidos à DO TRATO ESPINHAL DO NERVO melhora em aproximadamente 60% dos doentes
síndrome dolorosa regional complexa e doentes lesão do trato de Lissauer e do CPME espinhal. TRIGÊMEO com dor facial atípica. A nucleotratotomia do trato
com dor associada a esclerose múltipla. O procedi- Síndrome cordonal posterior discreta e transi- Consiste na lesão estereotáctica da porção oval espinhal do nervo trigêmeo e a nucleotratotomia
mento reduz a hiperatividade das vias nociceptivas tória homolateral à lesão é observada inicialmen- do núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo. Está trigeminal pontina estereotáctica são eficazes para
dos tratos ascendentes da medula espinhal porque te em 2/3 dos casos, sendo permanente em 10% a indicada nos casos de dor facial por desaferentação o tratamento da dor facial por desaferentação (sín-
destrói os neurônios hiperexcitados das lâminas l, 30% deles. Parestesias na região dos dermatômeros que não melhoram após a nucleotratotomia caudal. drome de Wallemberg, dor por neuropatias trige-
II, III, IV, V e VI do CPME e o trato de Lissauer que vizinhos, hiperestesia na área de transição entre a A técnica é realizada com o doente em posição minais). Resultados imediatos excelentes nos casos
estão envolvidos nos mecanismos de facilitação e região normal e a comprometida são também ob- sentada ou decúbito lateral, sob anestesia local. de neuralgia pós-herpética no território do nervo
de inibição da atividade dos neurônios do CPME, servadas. Há maior risco de lesão dos tratos longos Consiste na fixação óssea do aparelho de estereo- trigêmeo foram observados em 57% a 100% dos
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doentes submetidos a tal procedimento. Durante o que um ano, que acomete unilateralmente seg- nectomia e da exposição do primeiro e segundo MIELOTOMIA EXTRALEMINISCAL
período de acompanhamento, durante 6 a 72 me- mentos distais aos cervicais rostrais. Deve ser evi- segmentos cervicais da medula espinhal cervical Consiste da interrupção das fibras espinorreticu-
ses, a dor mantém-se ausente em 25% a 50% dos tada em doentes com anormalidades ventilatórias. ou do segundo e terceiro segmentos da medula lotalâmicas que cruzam a linha mediana em direção
doentes e a melhora, em 31% a 50%. Os resultados Costuma controlar também as dores oncológicas espinhal torácica e da secção do quadrante ânte- aos quadrantes anterolaterais da medula espinhal
parecem ser menos satisfatórios quanto maior for o mistas (por aumento de nocicepção e neuropática). ro-lateral desta estrutura nervosa. Na faixa etária e se dirigem às estruturas suprasegmentares. Estão
número de divisões comprometidas. Há evidências Possui resultados insatisfatórios quando realizada pediátrica, o procedimento é feito, em geral, sob indicadas em casos de dor oncológica bilateral pel-
de que a dor paroxística seja mais facilmente con- em doentes com dor actínica, neuralgia pós-her- anestesia geral, e a céu aberto, no entanto, o uso viperineal ou nos membros inferiores em doentes
trolada que a dor em peso constante. Há melhora pética, avulsão de raízes nervosas, dor fantasma e da tomografia computadorizada pode oferecer con- em que a cordotomia cervical bilateral apresenta
da neuropatia trigeminal actínica na maioria dos no coto de amputação. A cordotomia percutânea dições seguras para o método percutâneo. Abaixo, risco. Resulta em analgesia suspensa bilateral. São
doentes tratados. Proporciona ainda melhora da (figura 3) é realizada na região cervical (entre C1 e na figura 4, veja detalhes sobre o procedimento a indicadas também para o tratamento da dor mielo-
sintomatologia em mais de 50% dos doentes com C2 ou C5 e C6 ou C6 e C7) sob anestesia local, com- céu aberto. pática, dor por avulsão de raízes do plexo braquial e
anestesia dolorosa da face. Os resultados são insa- plementada, quando necessário, por agentes veno- Nas raras situações em que há indicação de cor- neuralgia pós-herpética. A mielotomia longitudinal
tisfatórios nos doentes com dor em peso. sos para conforto do doente. Após procedimento dotomia bilateral, um intervalo de pelo menos três mediana, realizada dois a três segmentos acima do
Os portadores de neuralgia trigeminal e escle- perimielográfico ou estereotomomielográfico, para semanas é recomendado entre ambos os procedi- nível em que a lesão está presente em casos de dor
rose múltipla relataram 87,5% de bons resultados, delineação da medula espinhal e do ligamento den- mentos. Eventualmente, dor contralateral à origi- por lesões raquimedulares, pode aliviar temporaria-
no entanto, com taxas de recidiva maiores quando teado, efetua-se a introdução, por via lateral ou an- nal pode manifestar-se após a cirurgia unilateral, mente a dor radicular e no território de transição.
comparados com portadores de neuralgias típicas terior, de um eletródio no quadrante anterolateral sendo, muitas vezes, necessária a indicação do pro- O procedimento pode ser realizado a céu aber-
idiopáticas. da medula espinhal. cedimento contralateral. Déficits motores, esfinc- to após laminectomia torácica e lombar rostral,
Após avaliação da localização com estimulação terianos e sexuais ocorrem em menos de 10% dos seguida da divisão sagital da medula espinhal, ou,
CORDOTOMIA elétrica, realiza-se a lise do trato espinotalâmico casos. A cordotomia pode causar dor mielopática percutaneamente, segundo técnica estereotáctica.
Consiste na interrupção do trato espinotalâmico por radiofrequência. A utilização de instrumental em até 20% dos doentes acompanhados por longos A interrupção, por radiofreqüência, das vias espi-
no quadrante anterolateral da medula espinhal do endoscópico possibilita menor tempo cirúrgico, periodos. Síndrome de paralisia respiratória duran- notalâmicas extraleminiscais que se projetam na
lado contralateral àquele em que a dor é referida8. menor exposição radiológica, e, a realização em te o sono é rara. Manifesta-se após cordotomias bi- formação reticular do tronco encefálico, permite
A cordotomia anterolateral está indicada no tra- alérgicos a contrastes iodados9. laterais, especialmente quando a analgesia atinge alívio da dor com preservação da sensibilidade dis-
tamento da dor oncológica com sobrevida menor O procedimento a céu aberto consiste de lami- dermatômeros mais altos (braquiais). criminativa superficial.

Figura 3: Figura 4:
526 TRATAMENTO CIRÚRGICO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 527

MESENCEFALOTOMIA patias periféricas, mielopatias e encefalopatias) em Na experiência da Central da Dor e Estereota- Estimulação elétrica da medula espinhal (EEME):
Conhecida também como reticulotomia rostral 40% a 70% dos casos e a dor causada por câncer em xia do AC Camargo Câncer Center, tanto as lesões Esta técnica consiste na inserção de eletródios
mesencefálica, visa à interrupção das vias espinor- 90%. Os resultados, entretanto, frequentemente pituitárias pela crioablação ou pela radiofrequên- no espaço peridural posterior da coluna torácica
reticulotalâmicas que estão envolvidas na sensação são insatisfatórios a longo prazo. As complicações cia estão relacionadas com taxas maiores de fís- ou cervical ipsilateral à dor (se unilateral) no nível
parestésica e disestésica nos doentes com dor neu- ocorrem em 48% dos casos e geralmente são tem- tulas liquóricas e meningites quando comparadas da medula espinhal correspondente ao dermátomo
ropática tanto de origem benigna quanto malig- porárias, sendo representadas principalmente pela com outras formas. A maioria dos procedimentos acometido para evocar topograficamente sensa-
na. A mesencefalotomia pode proporcionar alívio sonolência e dissinergia da motricidade ocular. Em é feita com lesão química. A analgesia ocorre na ções de parestesia na mesma região. O ajuste topo-
também entre 50 e 70% dos doentes com anestesia 18% dos casos ocorrem complicações permanen- maioria dos doentes, com 30% deles ficando sem gráfico era considerado pré-requisito para o efeito
dolorosa da face, dos doentes com síndrome talâ- tes, especialmente após a talamotomia basal. Anor- analgésicos. A média da duração da analgesia fica da estimulação da medula espinhal; no entanto,
mica, dos com avulsão de raízes do plexo braquial, malidades cognitivas ocorreram em 36% dos casos em torno de 3 a 4 meses. Apenas nas primeiras recentemente, a utilização de correntes híbridas
em casos de dor fantasma e de dor no coto de am- e, anormalidades oculomotoras em 52%. Em 16% semanas de pós-operatório os doentes recebem de alta frequência com picos intermitentes permite
putação. dos casos, foram permanentes. reposição de corticoides em doses baixas, a repo- respostas analgésicas desejadas sem as sensações
O procedimento é realizado sob a anestesia sição de outros hormônios costuma não ser neces- parestésicas.
local, com um aparelho de estereotaxia fixado ao ALVOS NEUROCIRÚRGICOS PARA sária. Há duas técnicas fundamentais: eletródios ci-
segmento cefálico dos doentes, com lesões trmicas CONTROLE DE DOR E DE TRANSTORNOS A analgesia do estresse, a ablação hormonal, a líndricos inseridos por via percutânea em geral sob
por radiofrequência. A mortalidade fica em torno PSIQUIÁTRICOS privação do efeito neurotransmissor do hormônio anestesia local ou por meio eletródios em de placa
de 7 a 8%. As complicações mais comuns da me- As lesões de alvos neurocirúrgicos para contro- antidiurético nas unidades nociceptivas, a libe- por meio de acesso cirúrgico posterior a céu aberto
sencefalotomia são a sonolência e a dissinergia da le de transtornos psiquiátricos foram empregados ração da atividade do sistema nociceptivo tonica- (microflavectomia interlaminar).
motricidade ocular, geralmente temporários. Du- também para tratar a dor apenas no final da déca- mente inibido por algum fator hipofisário, a libe- Outro objeto de pesquisa é a compatibilidade
rante os primeiros dois ou três dias de pós-opera- da de 1940 e início da de 1950. Acreditavam que a ração de opioides armazenados, são algumas das dos elementos implantados na EME com resso-
tório o uso de estimulantes como o metilfenidato é redução dos aspectos emocionais da dor era mais justificativas aventadas para a melhora da dor após nância magnética. Eletrodos e neuroestimuladores
extremamente útil para redução da sonolência. A efetivo para aliviar a dor do que a redução da per- a hipofisectomia. O conhecimento sobre o modo de de nova geração já permitem o uso da RM nos pa-
complicação que pode se apresentar de forma per- cepção e da discriminação sensitiva. Desta forma, ação deste procedimento continua incompleto. cientes portadores desses implantes. A técnica foi
manente, em 30% dos doentes, é a paresia do olhar havia persistência da dor, mas esta perdia o caráter baseada inicialmente na teoria da comporta me-
conjugado para cima. Disestesias ocorrem em 4,3 a incomodativo. Os melhores resultados são obtidos MÉTODOS NÃO ABLATIVOS dular por proporcionar a estimulação preferencial
50% dos casos. em doentes com morbidade psiquiátrica associada. de fibras grossas e mielinizadas que teoricamente
A recidiva costuma ser uma constante após o Neuroestimulação invasiva inibiriam os aferentes nociceptivos na medula
TALAMOTOMIA quarto ano de pós-operatório de cingulotomia. A eletroneuromodulação ou a neuroestimula- espinhal. No entanto, pesquisas experimentais
Este procedimento consiste na lesão das unida- Reoperação com alvo situado anteriormente (4 a ção é um dos mais importantes métodos de obten- excluíram este mecanismo de ação analgésica na
des espinotalâmicas e paleoespinotalâmicas atra- 6mm à frente da lesão inicial) tende a recuperar ção de analgesia, não destrutiva, cujos eventuais estimulação da medula espinhal (EME) envolven-
vés da lesão dos núcleos talâmicos inespecíficos. a analgesia obtida no primeiro procedimento. Al- efeitos colaterais, podem ser abolidos por redução do efeito em neurotransmissores inibitórios e mo-
Está indicada nos casos de dor por nocicepção e guns autores advogam a realização, já na primeira ou suspensão da estimulação. Sua eficácia está di- dulatórios no corno posterior da medula espinhal
por desaferentação em amplas regiões do organis- abordagem, de três lesões em linha, separadas an- retamente relacionada com a seleção dos doentes, além de mobilização das vias ascendentes da colu-
mo, especialmente quando localizada no segmento teriormente por aproximadamente 5 mm. dos materiais empregados, e das técnicas adotadas. na posterior até os centros encefálicos inibidores
craniocervical e braquial e em doentes em que há O aparecimento dos sintomas dolorosos e psi- Neuroestimulação invasiva envolve a utilização de dor. Há também efeitos descritos de controle da
contraindicações para a realização de cordotomias. quiátricos costuma ser lento e progressivo, dando de pulsos elétricos controlados como método de alodínea, efeitos anti-isquêmicos por melhora da
As lesões envolvem as vias e as unidades pa- prazo para o agendamento da nova cingulotomia, interação com circuitos neuronais do sistema ner- perfusão tanto periféricos como cardíacos e efeitos
leoespinotalâmicas, são amplas e localizadas nos embora, relatos de suicídio ocorram a partir dos voso central ou periférico através de um sistema de em doenças que se relacionam ao sistema nervoso
núcleos centro-mediano, parafascicular, limitans e doze primeiros meses após a cirurgia. estimulação implantável. Este método é emprega- neurovegetativo com síndrome complexa regional.
intralaminares do tálamo (núcleos talâmicos ines- do para controlar a dor crônica intratável principal- Lesão de nervos periféricos com a consequente
pecíficos), relacionados ao componente disestésico HIPOFISECTOMIA OU NEUROADENÓLISE mente de origem neuropática. Oferece alternativa perda sensitiva distal não excluem seu efeito, mas
da dor. O procedimento consiste na fixação de um A hipofisectomia microcirúrgica por via trans- de tratamento importante para a cirurgia ablativa a integridade da coluna dorsal ascendente é prova-
aparelho de estereotaxia ao segmento cefálico e da frontal ou transesfenoidal microcirúrgica, estereo- ou o uso a longo prazo de medicamentos analgé- velmente necessário.
realização de exame estereotomográfico ou de es- táctica transnaso-esfenoidal por radiofrequência, sicos, incluindo opioides. A simplicidade e a atual O teste de estimulação temporária com eletró-
tereorressonância magnética para delineação espa- por criocoagulação, por agentes químicos ou por disponibilidade de aparelhos de tamanho reduzido dio implantado com a extremidade exteriorizada
cial das estruturas encefálicas e de fusão das ima- radiação é indicada para o tratamento da dor de- com controles diversificados e completos trouxe- é amplamente empregado e visa identificar os pa-
gens com as do atlas de estereotaxia. A talamotomia corrente de neoplasias hormônio-dependentes e ram conforto e eficácia aos métodos de neuroesti- cientes nos quais a dor persiste refratária apesar
alivia temporariamente a dor neuropática (neuro- não dependentes, bem como da dor neuropática10. mulação. da somatopia correta do estímulo evocado. Aqueles
528 TRATAMENTO CIRÚRGICO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 529

que mostram resultado satisfatório são encaminha- técnica da EME. Parte desta dificuldade é decor- Entre as complicações descritas, hemorragias que haviam tentado uma ou mais vezes o suicídio an-
dos para o implante definitivo. No entanto, este tes- rente da inexistência de uma padrão único, tanto intracranianas, infecção e déficits neurológicos tes de serem operados, quando o mesmo ocorre após
te não é uma garantia de sucesso a longo prazo na na indicação, quanto na técnica empregada no seu permanentes. A indução de crises convulsivas a cirurgia, a provável culpa recai sobre a cirurgia. O
dor crônica11. implante. também foi relatada dependendo da intensidade e argumento sobre a natureza não ablativa e o conceito
Atualmente, frente a novas formas de estimu- A estimulação medular implantável é o método frequência da estimulação. No entanto, não há em de reverssibilidade do método atenuam os protestos
lação que mostram resultados relativamente tar- de neuroestimulação mais estudado na atualida- geral progressão ou desenvolvimento de epilepsia. dos opositores, excepcionalmente, leigos.
dios, após várias semanas de tratamento, os riscos de, e que apresentam evidências mais relevantes Não há, até o momento, estudos prospectivos A ECP demonstrou seus melhores resultados no
de complicação infecciosa aumentam enquanto de ensaios clínicos comparativos na literatura. A que demonstrem conclusões definitivas sobre a tratamento de cefaleia em salva e síndromes noci-
a capacidade de previsão do resultado analgésico maior parte das síndromes estudadas demonstrou eficácia geral e específica da ECM. Há opiniões di- ceptivas, tais como dor lombar crônica. No trata-
fica reduzida. Doentes submetidos a diversos trata- resultados positivos com esta técnica. Recentemen- vergentes na literatura relativo à técnica cirúrgica, mento de síndromes de dor central encefálica pós
mentos cirúrgicos prévios sem sucesso colecionam te houve um importante avanço nos equipamentos programação de parâmetros de estimulação e sele- AVC, neuralgia pós-herpética e dor mielopática as
períodos de esperança seguidos por desilusões, e, implantáveis com aquisição de novas tecnologias ção dos doentes. No entanto, ECM parece ser um respostas não foram satisfatórias. A ECP apenas
podem não optar por mais dois procedimentos (um tanto nos eletródios quanto nos geradores de pul- procedimento neuromodulatório relativamente se- deve ser considerada após haver falha de tratamen-
teste e outro para retirada ou implante definitivo). sos. Apesar de não haver estudos definitivos utili- guro e eficaz para pacientes selecionados. tos conservadores, incluindo métodos de neuroes-
A maioria das revisões sistemáticas, bem como zando estas novas tecnologias, a sua disponibilida- timulação menos invasivos.
estudos com casuísticas próprias têm-se concen- de para médicos e pacientes apresenta um terreno Estimulação cerebral profunda
trado em pacientes com síndrome dolorosa pós- promissor que no futuro próximo teremos melho- A estimulação cerebral profunda (ECP ou do Estimulação elétrica intraforaminal do gânglio
-laminectomia (SDPL) com cerca de 62% de bons res resultados e menores índices de complicações inglês: deep brain stimulation - DBS) foi método sensitivo da raíz dorsal
resultados e em síndrome dolorosa complexa re- desta terapia. utilizado para identificação de estruturas intracra- Dores neuropáticas podem ser localizadas, ne-
gional (SDCR) atingindo 67% de bons resultados. nianas durante proedimentos neurocirúrgicos. So- cessitando estimulação concentrada nas estruturas
As revisões mostram grau II de evidência nestas Estimulação elétrica da zona de entrada das mente na década de 1950 apareceram os primeiros neurais relacionadas a inervação do território aco-
síndromes dolorosas em favor da técnica. Também raízes posteriores relatos relacionados com a obtenção de analgesia. metido. A localização dos polos sobre a região de-
observaram melhora significativa na capacidade Nas dores neuropáticas são associadas à hipe- Cerca de vinte anos depois houve o primeiro sejada necessita da preservação da consciência e da
funcional e medidas de qualidade de vida. Eventos ratividade dos neurônios medulares de segunda relato da primeira experiência do uso de estimula- colaboração do doente. A laminectomia feita com
indesejados foram principalmente disfunções dos ordem que possuem uma ampla e dinâmica faixa ção crônica nos núcleos sensoriais do tálamo para o doente desperto apresenta dificuldades técnicas,
aparelhos, migração (13,2%) ou quebra de eletró- de recepção e habilitação sináptica (do inglês: wide o tratamento de dor neuropática. As complicações e, nestas condições o uso de eletródios cilíndricos,
dios (9,1%). Complicações clínicas foram raras e dinamic range – WDR). Trabalho recentemente pu- da ECP incluem a hemorragia intracraniana como implantados por via percutânea era imperativo, po-
sem gravidade, geralmente resolvidas com remoção blicado estudou animais (ratos) submetidos ao mo- a mais significativa e potencialmente grave. Pode rém, com grande chance de migração e consequen-
do dispositivo. A taxa geral de infecção foi de 3,4%. delo experimental de dor neuropática (radiculopá- ocorrer no momento da inserção ou remoção do te perda da somatotopia ideal.
Evidências de casuísticas com resultados po- tica) baseado na ligadura da quinta raiz lombar e os eletródio. Os alvos utilizados para controle de dor As respostas analgésicas obtidas por estimula-
sitivos foram encontrados em CRPS II, lesão de comparou com um grupo controle (ratos submeti- e de transtornos psiquiátricos como o cíngulo ante- ção elétrica do tipo pulsada aplicada sobre o gânglio
nervos periféricos, neuropatia diabética, neural- dos a cirurgia, simulada/falsa sem ligação da raiz). rior ou a porção anterior da cápsula interna podem da raiz dorsal sugerem a possibilidade de analgesia
gia pós-herpética, lesões periféricas de plexo bra- Os dois grupos foram submetidos à estimulação ser locais para neuroestimulação cerebral profun- persistente da estimulação crônica dessa estrutura.
quial, a amputação (dor de coto e dor no membro elétrica na zona de entrada das raízes posteriores da13. Recentemente, a ECP da região dorso-anterior A passagem de cateteres epidurais sempre foi
fantasma) e lesão parcial da medula espinhal. (do inglês: dorsal root entry zone – DREZ). Houve do cíngulo foi reconhecido como alvo viável para o realizada por punções voltadas cranialmente para
No entanto, também foram relatadas evidências redução da hiperatividade celular induzida pela le- tratamento da dor neuropática crônica14. evitar o encaixe da ponta dos mesmos nas saídas
negativas para dor central de origem encefálica, são. A atenuação da atividade neuronal WDR obti- O maior óbice é a abstinência provocada pelo foraminais das raízes.
avulsão da raiz nervosas e transecção completa da da pela estimulação elétrica da DREZ apoia a ideia desligamento do gerador por erro de programação Utilizando punções avessas com a ponta da câ-
medula espinhal. No entanto, todos os relatórios da adoção do método e do respectivo alvo para o ou por redução de carga útil do mesmo, que poderia nula e do eletrodo voltados caudalmente fica viável
são de classe IV, impossibilitando assim conclu- tratamento da dor neuropática. aumentar o risco de suicídio. A neurocirurgia para a localização dos polos sobre o gânglio sensitivo da
sões definitivas. tratamento dos transtornos mentais ainda é matéria raiz dorsal com pouca chance de migração. O nú-
Tratar a dor por desaferentação sempre foi um Estimulação elétrica do córtex motor controversa nos meios leigos, embora menos nas mero de publicações ainda é escasso e não permite
grande desafio, especialmente pelo fato de que a A estimulação do córtex motor (ECM) tem se concepções neurocirúrgica e psiquiátrica atuais. O uma avaliação mais apurada, embora os resultados
restituição à integridade do tecido nervoso lesa- mostrado promissora em particular no tratamento movimento inicialmente italiano da década de 1960, preliminares sejam promissores.
do não pode ser obtido a despeito das inúmeras e da dor neuropática trigeminal e síndromes de dor conhecido como antipsiquiatria, continua, infeliz-
promissoras pesquisas a respeito do uso de células central pós acidente vascular cerebral, como sín- mente, vivo, trazendo para a berlinda os procedimen- Estimulação de nervos periféricos ou de campo
embrionárias. Também gera controvérsias o nível drome de dor talâmica, avulsão de plexo braquial tos neurocirúrgicos para alívio da dor que utilizam A neuroestimulação de nervos periféricos para o
de evidência a respeito dos resultados obtidos pela entre outras12. alvos de psicocirurgia. Assim, mesmo nos doentes alívio da dor se baseou na ideia derivada do conhe-
530 TRATAMENTO CIRÚRGICO DA DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 531

cimento popular de que a estimulação não doloro- peridural. A liberação peridural não é utilizada de As complicações mais frequentes da técnica sistema, escolha errada de programação, forma-
sa, como a fricção ou o massageamento, realizada rotina, embora segura quanto a infecções, tem des- operatória incluem infecção, fístula liquórica, des- ção de seroma, ulceração de pressão e granulo-
na proximidade da área dolorosa da pele, aliviava o vantagens como necessidade de maior dosagem de conexão do cateter, defeito de funcionamento do mas17,18,19.
desconforto basal, que, na década de 1960, recebeu fármaco, entupimentos frequentes, e deslocamen-
o alicerce teórico da Teoria Comporta enunciada tos do cateter frequentes.
por Melzack e Wall na década de 1960, e, depois o As indicações para utilização de infusão de fár-
refinamento da teoria da interação sensorial15. macos, intratecais ou intraventriculares, têm gran-

Conclusões
A aplicação de estímulos elétricos periféricos de utilidade no tratamento de pacientes refratários
para tratamento da dor tem sua aplicação em todo aos tratamentos conservadores que apresentam:
o mundo. dor crônica nociceptiva ou neuropática15, dor com-
A técnica mais conhecida é a neuroestimulação plexa regional, dor oncológica, síndrome pós-la- Os candidatos a receberem indicações de proce- o alívio obtido com o tratamento invasivo, em ge-
elétrica transcutânea (sigla proveniente do inglês: minectomia (falência das cirurgias de coluna ver- dimentos invasivos para controle de dores crônicas ral, não atinge taxas persistentes e elevadas. Nessa
TENS). Por meio de eletródios de superfície colo- tebral), dor mielopática, dor pélvica e neuropatia musculoesqueléticas traumáticas ou não, possuem situação tão adversa, resultados parciais de redu-
cados sobre o local acometido ou sobre o trajeto periféricas. A administração de opioides intratecais além do inerente à própria dor, sofrimento misto, ção da intensidade da dor original podem ser inter-
do nervo correspondente a região a estimulação é com associação às medicações adjuvantes promove que inclui a coleção de desilusões reiteradas a cada pretados como aceitáveis desde que o impacto na
realizada em alta frequência e baixa intensidade uma redução superior a 200% no montante da ad- insucesso de tratamento. Possuem prognóstico re- qualidade de vida final seja positivo.
(abaixo do limiar da dor), para produzir ativação de ministração oral ou medicação parenteral. servado no que tange a plena cura, e, infelizmente,
prioritariamente fibras de grosso calibre e densa- Os receptores alvos da via intratecal são virtual-
mente mielinizadas e provocar parestesias locais. mente os mesmos da via oral, sublingual, paren-
A resposta desta técnica é muito variável, com ses- teral ou transdérmicas, entretanto como o efeito
sões de estimulação com duração de 20 a 30 minu- colateral é drasticamente reduzido com a via intra-
tos e repetidas diariamente. O alívio da dor, quando
ocorre é imediato, mas de curta duração e por ve-
tecal e a titulação necessária para controle álgico
pode ser alcançada em horas ao invés de dias, dimi-
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João Valverde Filho


Marcio Matsumoto
Mariana Bucci Sanches

Introdução
O tratamento da dor é um desafio enfrentado Em diversos países, a Anestesiologista é o res-
pelas equipes de saúde como área de atuação es- ponsável pelo controle da dor aguda nos primeiros
pecializada. A capacitação técnica dos colabora- dias após os procedimentos cirúrgicos com dife-
dores multiprofissionais deve integrar o modelo rentes ferramentas baseadas em estruturas institu-
assistencial adotado pela instituição hospitalar e cionais e modelos assistenciais2. Os serviços com
ou ambulatorial, para atender as expectativas dos assistência, ensino e pesquisa são denominados
pacientes e familiares. Em termos organizacionais, Centros, diferentes de Clínicas, pois apresentam
a criação de centros especializados para o cuidado estruturas com maior número de competências,
ao paciente com dor propicia continuadamente a desfechos mensurados e áreas físicas específicas.
oportunidade de inovar e aprimorar a qualidade e As competências técnicas e não técnicas do tra-
segurança assistencial dos doentes com dores agu- tamento de dor são essenciais para identificar, criar
das de diferentes origens1. e administrar situações de emergência no contato
534 CLÍNICA DE DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 535

com pacientes/familiares, nos diferentes cenários dá a partir das abordagens interdisciplinares, con- Para a construção da Clínica de Dor Aguda, o evolução e intercorrências relevantes. Avalia resul-
de cuidado do paciente com dor aguda, e intervir dições essenciais para os tratamentos multimodais projeto deve conter ferramentas gerenciais para tados obtidos, e implementa mudanças necessárias
na direção da preservação da vida e da integridade decorrentes da anamnese e exame físico com a lo- construção de protocolos e diretrizes assistenciais no sentido de produzir o menor dano e de ampliar
física e mental dos doentes. Os esforços ao redor calização e as características da dor incluindo o iní- em parceria com a equipe médica e multiprofis- a eficácia e a qualidade da assistência prestada.
do mundo demonstram iniciativas e evidenciam a cio e progressão do quadro doloroso, a frequência e sional. Elabora e executa plano terapêutico, e esta- Promove espaços sistematizados de avaliação e a
importância do acesso à avaliação e tratamento da padrão da dor, a intensidade, os fatores de melhora belece prioridades em função do diagnóstico e da construção de um sistema para registro eletrônico
dor como Direitos Humanos Fundamentais3. e piora, a associação e a causalidade e as repercus- fisiopatologia da dor aguda. Contempla aspectos e acesso as informações produzidas. Avalia os re-
A construção de um vínculo de confiança entre sões na qualidade de vida do paciente e seus fami- de promoção, prevenção, tratamento e reabilita- sultados obtidos, analisa metas e indicadores, in-
o doente e a equipe médica e multiprofissional se liares4. ção10.11. cluindo a satisfação de pacientes, familiares e pro-
Registra o plano de cuidados, sua execução, fissionais de saúde envolvidos8.

Risco assistencial: manejo inadequado da dor


Gestões administrativas e assistenciais
A falta de informações sobre as consequências de unidades físicas específicas, permitem oferecer
e morbidades provocadas pela dor aguda provo- todas as opções para a continuidade do cuidado do CRIAÇÃO DE UMA EQUIPE Kits para procedimentos (bloqueios, recargas e
cam riscos assistenciais com impacto negativo na período pós-operatório em regimes ambulatoriais, MULTIDISCIPLINAR soluções analgésicas preparadas em ambiente as-
expectativa e reabilitação do paciente acarretando e evidenciam a importância do período periopera- Para assistência aos pacientes com dores agu- séptico pela Farmácia para infusão).
novas e recorrentes internações desnecessárias (Fi- torio que pode ser prolongado em uma parcela sig- das em ambiente hospitalar, ambulatorial, nas uni-
gura 1). Os eventos indesejáveis ocorrem mais fre- nificativa dos doentes7. dades próprias e cooperar com o hospital para as DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL
quentemente em populações psicovulneráveis (an- A sistematização da mensuração da dor enquan- melhores práticas assistenciais12.13. Os Médicos estarão empenhados no atendimen-
siedade, depressão, catastrofização e sintomas do to quinto sinal vital, e a busca incessante do con- to assistencial para o controle da dor e deverão en-
estresse) por subtratamentos e predispõe os doen- forto funcional do doente após a administração de COLABORAÇÃO COM OUTROS SERVIÇOS volver outros especialistas como Anestesiologistas,
tes às complicações pós-operatórias com elevados medidas terapêuticas farmacológicas ou não, são Considera a importância dos problemas médi- Ortopedistas, Neurologistas, Neurocirurgiões e Fi-
custos para o sistema de saúde. Pacientes jovens, as razões do relacionamento interdisciplinar como cos associados, jornada do paciente durante o seu siatras para garantir assistência global ao paciente
mulheres, obesos e as experiências da referidas de meio para alcançar resultados assistenciais do ali- atendimento, o custo-efetividade com recuperação com dor quando necessário12.13.
dor intensa vivida pelos doentes (dor pré-operató- vio adequado das dores decorrentes das melhores precoce e redução de efeitos adversos decorrentes Equipe multiprofissional: de acordo com o mo-
ria e aumento da sensibilidade à dor durante as in- práticas, da experiência do doente e das evidências dos fármacos administrados e técnicas emprega- delo adotado na instituição, o cuidado focado no
ternações hospitalares na presença ou não de pro- científicas8.9. das10.11.12.13. paciente, deverá integrar diferentes profissionais
cedimento cirúrgico) são lembranças frequentes O Tratamento da Dor é Multiprofissional e sua da equipe de saúde juntamente com a equipe médi-
e preditores importantes associados à dor crônica capacidade de atendimento assistencial será plena- SELEÇÃO DE TÉCNICAS DE ca (líder da equipe) para identificar a necessidade
persistente do período pós-operatório5.6. mente realizada graças à colaboração entre Médi- CONTROLE DA DOR do tratamento da dor e seus pontos-chave para con-
A presença de dor crônica persistente pós-ope- cos, Enfermeiros, Farmacêuticos, Fisioterapeutas, Baseada nas necessidades individuais do pa- cluir com programa de tratamento e abordagens
ratória é um desafio da medicina há mais de vinte Nutricionistas e outros serviços como por ex., a Ge- ciente e de acordo com patologia da dor, comor- para obtenção de resultados efetivo12.13.
anos, e ocorrem principalmente após procedimen- rência de Protocolos e Desfecho Clínico, garantin- bidades, protocolos validados para o português e Manager do projeto (Médico ou não): profissio-
tos cirúrgicos com relevância sobre os nervos pe- do a segurança e qualidade, bem como evidências protocolos institucionais das melhores práticas12.13. nal que compreende a missão e a visão do progra-
riféricos e abordagens anatômicas específicas. A para melhores práticas do controle da dor, alinha- ma com o qual poderá facilitar dinâmica positiva
presença de serviço estruturado de cuidados aos das com os valores institucionais8. EQUIPAMENTOS E INSUMOS entre todos os membros da equipe; estará em con-
pacientes com dores agudas tem a oportunidade Estas experiências são cumulativas e transmiti- Ultrassom para realização de bloqueios de nervos tato permanente com a liderança destacada para
de estratificar os doentes e não medir esforços para das por meio de reuniões clínicas, e outros veícu- periféricos e infiltrações articulares e musculares; o centro de tratamento de dor, organizando agen-
identificar os fatores de risco para esta condição los de discussão para todas as áreas assistenciais Infusão de fármacos pelas vias intratecal e pe- das para as reuniões, facilitar o envolvimento para
clínica de difícil controle7. da Instituição. Quando necessário, disponibilizará ridural; aproveitar melhores performances e facilitar a co-
O treinamento de Médicos e Multiprofissionais por meio de treinamentos específicos, a melhoria Dispositivo eletrônico ou elastomérico de infu- laboração interdisciplinar.
já é uma realidade no Brasil, com qualificações do treinamento dos cuidados para o alívio da dor, são de fármacos por cateteres e compartilhados Enfermeiro Especialista em Dor com formação
reconhecidas por Acreditadoras Internacionais, com consequente formação de novos membros e com áreas como ortopedia, reumatologia, reabili- específica e atuação regular trabalhando parte do
contudo a formação de especialistas e a construção estrutura técnica. tação, neurologia e pronto-atendimento. seu tempo com os pacientes e parte com a atenção
536 CLÍNICA DE DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 537

para o serviço estabelecendo condutas, educação a recuperação dos pacientes, acelerando o resultado d. Mapeamento dos Processos Assistenciais tabelecidos em conformidade ao modelo de assis-
do quadro total de Enfermeiros Assistenciais, e em do tratamento com controle de custos e benefícios. do Centro de Dor tência da Instituição Hospitalar, e com as práticas
consideração à sua importância neste processo de Os processos para a assistência clínica são es- médicas, qualidade e gestão de risco14. (Quadro 1)
atendimento, é imprescindível regime de exclusivi- PROVISÃO DE INFRAESTRUTURA
dade. O treinamento para a Equipe de Enfermagem a. Avaliação clínica no centro de tratamento
é conduzido por um supervisor (Médico Coordena- de dor (consultórios) e nas diferentes uni-
dor) e a Enfermeira Especialista envolvida com o dades de atendimento

Educação
Serviço de Dor. O programa inclui palestras, vídeos, O paciente recebe as primeiras avaliações clíni-
oficinas e demonstrações de técnicas de avaliação co-funcionais, orientações sobre técnicas de anal-
da dor, princípios de intervencionismos e analgesia gesia e quando necessário anestesia e ou sedação
regional12.13. para os diversos procedimentos12.13. A educação deverá ser continuada e baseada As aprendizagens da assistência técnica e não
Farmacêuticos com formação em cuidados ao b. Procedimentos cirúrgicos em competências para busca de novas informações técnica promove o benefício imediato demonstra-
paciente com dor para compreensão do uso regu- Seleção e início de prescrição da técnica do con- em bancos de dados e na literatura científica, ana- do no exercício da rotina do enfermeiro com redu-
lar de analgésicos e prover o centro de dor com as trole da dor previamente estabelecida em comum lisando-as criticamente. Os gestores serão o Médi- ção e racionalização do tempo dedicado para cada
soluções analgésicas necessárias para as diferentes acordo com o médico e o paciente. co e a Enfermeira-chefe, capazes de implementar paciente reflete em aumento da vigilância e segu-
técnicas e fixando a compatibilidade e estabilida- c. Assistência clínica e acompanhar a metodologia, comunicação e os rança com consequente melhor qualidade de vida
de dos fármacos empregados com armazenamento São realizadas avaliações em todos os doentes, recursos educacionais coerentes, respectivamente, e recuperação dos pacientes12.13.
qualificado12.13. da eficácia das medidas empregadas, da qualida- com a audiência e as necessidades identificadas, A escolha do Médico Anestesiologista como su-
de assistencial e dos efeitos colaterais decorrentes privilegiando processos ativos e corresponsáveis na pervisor e Diretor deste Serviço vem de encontro
PROTOCOLOS ASSISTENCIAIS das técnicas empregadas por check-list do programa socialização dos saberes12.13. com a definição de alívio da dor imediato, pois lhe
E TRATAMENTO proposto; resposta aos problemas e incidentes e Identificam as necessidades dos novos conheci- é familiar a farmacologia dos analgésicos e conhe-
Necessários para garantir a continuidade do implementação de técnicas necessárias para con- mentos, desenvolvem e/ou contribuem para a pro- ce as vias da dor e sua interrupção, assim como está
atendimento, revisões e controle de qualidade. trole da dor. A responsabilidade para a prescrição dução de pesquisas visando às melhorias dos cui- capacitado para determinar regras de aplicação de
de analgésicos é do Serviço de Dor até a completa dados aos pacientes com dor aguda. Sabem fazer diferentes técnicas de controle da dor. O corpo clí-
DISCUSSÕES DAS TÉCNICAS recuperação do paciente. O período completo de e receber críticas orientadas ao desenvolvimento nico necessita detalhes das vantagens potenciais de
E EVOLUÇÕES cobertura destes pacientes é de responsabilida- profissional, contribuindo e avaliando a formação um serviço e sua organização, as técnicas de anal-
São realizadas em ambiente próprio com a equi- de do Serviço de Dor. O tratamento geralmente é e/ou especialização dos novos profissionais12.13. gesia e seus efeitos adversos12.13.
pe multidisciplinar como provisão de infraestrutura descontinuado quando o paciente está confortável Serão os elementos chaves para estabelecer re- A Equipe de Enfermagem participa como mem-
para a assistência. Neste ambiente ocorrem as dis- com analgésico por via oral. O paciente é questio- lações bilaterais de ensino-aprendizagem com os bro chave deste processo de implantação e execu-
cussões regulares entre Médicos e a equipe multi- nado da sua satisfação com o tratamento por meio pacientes e os grupos de pessoas, e encaminham ção. Os Enfermeiros não somente dispensam longo
profissional para estabelecer diretrizes mínimas de de instrumentos especiais. O total dos fármacos ad- estes processos para a ampliação da qualidade de tempo nos cuidados com os pacientes, mas tam-
analgesia para cada grupo diferente de doença. Estes ministrados, o número de dias cumulativos e quais- vida, da autonomia e da autoestima, promovendo bém estão envolvidos em reconhecer a dor como
devem de maneira clara promover as relações técni- quer efeitos colaterais são anotados em formulário o autocuidado, sempre que possível e por eles de- “Sinal Vital” e compreender a importância do nível
cas entre os diferentes profissionais envolvidos com próprio12.13. sejado12.13. de conforto após as medidas de controle da dor12.13.

Quadro 1: Mapeamento dos processos assistenciais do centro de dor aguda

PROCESSOS ASSISTENCIAIS – ANALGESIA DO PACIENTE COM DOR AGUDA E PÓS-OPERATÓRIA


Análise de agenda dos procedimentos cirúrgicos – “forcast”
Avaliação clínica dos pacientes (Unidades de internação e/ou ambulatoriais)
Rotinas e cuidados
Passagem de plantão das soluções analgésicas da farmácia ROTINA • Avaliação da analgesia e modificação de condu-
ta mais apropriada
Realizar visitas diárias nos pacientes internados
Avaliação clínica • Avaliação de efeitos colaterais e eficácia do tra-
Avaliação da dor e da funcionalidade O médico responsável pelos pacientes que esti- tamento
Evolução diária do consumo de opioide verem sob a responsabilidade do Serviço de Dor • Inspecção de cateteres e trocas de curativos
Cada avaliação inclui: • Prescrição de novas condutas quando necessá-
Educar paciente, acompanhante e equipe multiprofissional
• Avaliação Clínico - Funcional rio
538 CLÍNICA DE DOR AGUDA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 539

• Documentar toda a evolução clínica do trata- Indicadores de qualidade


• Alívio da dor de acordo com nível de conforto
CAPÍTULO 47
mento de dor em formulário próprio
• Discutir quando necessário, as possíveis mu- funcional4
danças no tratamento com a Equipe Médica, • Prazo para administração de analgésicos4
com o Enfermeiro da unidade ou o Médico res- • Satisfação do Paciente4
ponsável • Registro da avaliação e reavaliação da dor (Con-
formidade)4
• Prazo de reavaliação da dor (Conformidade)4
Clínica de dor crônica
Durval Campos Kraychete

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Introdução
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7. JENSEN TS, STUBHAUG A, BREIVIK HARALD. Im- org/Education/Content.aspx?ItemNumber=1381
A dor é um fenômeno subjetivo e desagradável, O paciente com dor crônica, apesar de não apre-
portant developmente: Extended Acute Pain Service 14. 14. LAUWERS K, WHITEHURST S. Pain Management:
cujo conceito vem variando consideravelmente ao sentar as anormalidades neurovegetativas e as re-
for patients at high risk of chronic pain after surgery. a systems approach to improving quality and safety.
Scand J Pain.2016;12:58-9. EUA: JCR - Joint Commission Resources Mission. longo dos anos, desde a antiguidade até o mundo percussões funcionais e orgânicas típicas da dor
8. MEISSNER M, et al. Management of acute pain in the 2012:143. contemporâneo. A ideia de que a dor era provocada aguda, cursa, principalmente, com transtornos de
pela ira e castigo dos deuses ou pela penetração de ansiedade e de depressão e incapacidade física que
espíritos das trevas no corpo, foi substituída pela pode repercutir no desenvolvimento das atividades
hipótese da alteração dos mecanismos neurofisio- do cotidiano, gerando gastos surpreendentes para o
lógicos da percepção, envolvendo a atividade cog- estado e o sistema de saúde3. Há estimativa de que a
nitiva e a comportamental1. dor crônica seja o terceiro maior problema de saú-
A dor é definida como crônica se a duração for de no mundo4. Embora a Associação Internacional
maior que três meses; o sintoma persiste além do de Estudo da Dor (IASP) tenha definido a dor como
tempo habitual de cura da lesão tissular e pode ser uma sensação subjetiva relacionada a uma lesão tis-
classificada em três grandes grupos: - o neuropáti- sular, há evidência de que essa associação pode não
co (neurites, neuropatias e síndromes compressivas ocorrer de maneira clara. A dor de cabeça e a dor
dos nervos); o somático (alterações musculoesquelé- pélvica crônica, por exemplo, parecem existir sem
ticas) e o visceral (crescimento tumoral ou processos lesão tissular detectável pelos métodos diagnósticos
inflamatórios). O diagnóstico é baseado em critérios disponíveis na prática clínica atual, favorecendo a
clínicos e confirmado com exames laboratoriais2. hipótese de que pode haver alterações neurofun-
540 CLÍNICA DE DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 541

cionais restritas ao complexo âmbito biomolecular, clínico disponível; processo organizado para se- traduções. É necessário considerar a dor crônica Em relação aos aspectos emocionais e comporta-
cuja interação pouco conhecida entre neuromedia- leção de pacientes; como um paradigma sistêmico, segundo o qual mentais, a literatura é clara em relatar a associação
dores, neurotransmissores e tradutores de sinais, • Abordagem sistematizada de rotina; não se pode compreender as partes sem inseri-las entre os transtornos de ansiedade e de depressão
em uma rede de bilhões de sinapses, ainda dificulta • Desenvolvimento de atividades de extensão e no conhecimento holístico e de suas múltiplas e ou outros distúrbios psicológicos a dor crônica. A
a compreensão da etiologia da dor5. pesquisa; necessárias intermediações. Assim, o processo de prevalência de depressão nesses pacientes está em
A IASP classificou diversas modalidades de ser- • Programas de treinamento em serviço para mé- análise da queixa do paciente parece caminhar do torno de 40% a 70% e pode ser uma complicação do
viços para atendimento6: dicos e paramédicos; “eu penso”, “as palavras significam o que eu que- quadro álgico, agravando a intensidade do relato da
• Centro multidisciplinar de dor • Sistema ativo de interconsultas com diversas es- ro”, para uma direção mais ampla quando deve- dor12. De forma alternativa, a dor pode ser sintoma
• Clínica multidisciplinar de dor pecialidades; -se considerar a lógica marginal do inconsciente, da depressão. Em geral, no curso da dor crônica, a
• Clínica para tratamento de síndromes dolorosas • Terapias apropriadas para problemas físicos e lembrando que o desejo de comunicação entre os depressão parece acontecer seis a oito meses após
específicas psicossociais; sujeitos, nem sempre é claro e, muitas vezes, se o início da dor e provoca sentimentos de raiva, irri-
• Clínica especializada para um tipo de terapêu- • Sistema de registro de fichas. apresenta pelo sintoma. Portanto, na abordagem tabilidade, alterações do sono e sintomas neurove-
tica. O planejamento, implementação e avaliação de inicial de qualquer paciente que procura um ser- getativos, principalmente em indivíduos com histó-
Esse capítulo dará ênfase ao centro de referên- programas de atenção à dor, com intervenção mul- viço de dor crônica, o sintoma dor deve significar ria familiar prévia de depressão. Por outro lado, o
cia multidisciplinar de dor, cujos critérios para fun- tidisciplinar, requerem ações das mais diversas, dor física/dor psíquica como componentes de um transtorno de ansiedade acomete de 40% a 50% dos
cionamento são7: atingindo, se possível, quatro áreas de trabalho: único relato sintomático9. pacientes com dor crônica e é mais comum naqueles
• Espaço físico e leitos exclusivos; ensino, assistência, pesquisa e extensão, visando Apesar da importância desse tema, a maioria que apresentam depressão associada, podendo ser
• Funcionamento em tempo integral com médi- capacitar profissionais de diversas áreas. dos estudos epidemiológicos sobre a dor foi reali- decorrente ao temor de situações que poderiam cau-
cos de pelo menos duas especialidades; corpo zada em clínicas especializadas e não reflete o que sar ou aumentar a dor e é desproporcional à amea-
ocorre na população geral. Adicionalmente, a rele- ça reconhecível, ocasionando desconforto somático
vância de muitos estudos foi prejudicada porque subjetivo e alterações somáticas manifestas13.
a dor crônica não foi conceituada corretamente e O tratamento da dor crônica é multimodal e

Objetivos de um programa multidisciplinar8


não foi utilizado um instrumento adequado e es- envolve o uso de intervenções, psíquicas e físicas,
pecífico para avaliação multidimensional da dor, a utilização de bloqueios anestésicos regionais e
que incorpore elementos tais quais a localização, métodos intervencionistas14. Apesar disso, os re-
• Fornecer assistência multidisciplinar especiali- na literatura para alívio da dor aguda e crônica a intensidade, as características temporais, as afe- sultados do tratamento ainda não são satisfatórios.
zada aos pacientes com dor; que acarrete menor risco e maior benefício aos tivas e as de enfretamento do sintoma10. Esse fato Isso por conta da complexidade da fisiopatologia
• Promover o ensino e capacitação de profissio- pacientes; pode justificar uma grande variação nos resultados da dor e também porque o emprego das diversas
nais de saúde na área de dor nos cursos de gra- • Discutir a atuação interdisciplinar na interven- dos estudos de prevalência, que está entre de 2 e opções terapêuticas não é isento de riscos, custo
duação e de pós-graduação; ção do paciente com dor; 45%, sendo a média de 15%. Outro motivo que po- ou efeitos colaterais. Assim, a despeito dos avan-
• Desenvolver pesquisas clínicas e experimentais • Avaliar o conceito de cronicidade na evolução deria justificar esse achado seria a ausência de uma ços significativos na tecnologia médica, incluindo
nas diversas áreas de trabalho; da doença, assim como a eficácia das medidas uniformidade dos métodos de pesquisa (entrevista o desenvolvimento de métodos sofisticados para o
• Programar e implementar trabalhos de exten- intervencionistas farmacológicas ou não farma- direta ou por telefone, questionário por via postal, diagnóstico clínico, o estudo em torno do conceito
são sobre o tema dor na comunidade; cológicas. visitas domiciliares) e a hipótese de que a dor pode da dor, do diagnóstico, do tratamento e do impac-
• Incentivar a utilização de técnicas validadas variar de acordo com o local geográfico da realiza- to no cotidiano do paciente, é motivo de diversos
ção do estudo11. questionamentos.

Justificativas para um programa


Desenvolvimento do programa
A dor é um fenômeno caracterizado como uma nos psicológicos. Também, o comportamento, o so-
síndrome, ou seja, “a soma de sinais de qualquer frimento e os estados de dor estão relacionados às Serão abordando quatro áreas de atuação: ENSI- • Protocolos para atendimento das diversas sín-
estado mórbido”. Apesar de ter origem em causas experiências que o indivíduo vivenciou ao longo do NO, ASSISTÊNCIA, PESQUISA E EXTENSÃO. dromes dolorosas, incluindo técnicas diagnósti-
orgânicas de diferentes graus de complexidade, o tempo. Essa ideia enfatiza, essencialmente, que o cas e terapêuticas;
registro de todas as informações obtidas a partir da psíquico é também orgânico e os conteúdos mnê- ÁREA DE ASSISTÊNCIA • Assessoramento ao sistema de interconsultas;
transmissão neural, implica representação mental. micos auxiliam a reconstrução da história indivi- Estratégias para alívio da dor em pacientes in- • Assistência direta ao paciente ambulatorial;
Assim, não há dor sem a participação dos fenôme- dual, quando a dor parece ser recontada com novas ternados, ambulatoriais e em domicílio: • Apoio à família do paciente;
542 CLÍNICA DE DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 543

• Responsabilidade no parecer para aquisição e ÁREA DE PESQUISA Espaço físico com cinco a dez consultórios, to e fornecerá suporte ao médico assistente duran-
compra de analgésicos, e consequente padroni- Estratégias na área de pesquisa: onde serão atendidos os pacientes externos, ou te todo tempo necessário.
zação dos mesmos para os protocolos; • Desenvolvimento de pesquisas clínicas e experi- seja, o Ambulatório de Dor (AMB-DOR). c. Interconsultas
• Elaboração de programas assistenciais para alí- mentais no tema dor; Os pacientes serão encaminhados ao ambula- As consultas serão solicitadas pelo clínico de
vio da dor, em outros serviços; • Avaliação de projetos e anteprojetos de pesquisa; tório de dor, através de solicitação de consulta ou dor do AMB - DOR aos diversos especialistas quan-
• Avaliação do processo ético do paciente com dor; • Orientação de pesquisas em nível de graduação da triagem ao clínico de dor. Estas consultas serão do necessário.
• Elaboração de manual de procedimentos para e pós-graduação; mapeadas pela secretaria do AMB – DOR. O aten-
alívio da dor; • Fomentação de esforços para consecução de dimento ocorrerá durante a semana em horários Em nível de internação
• Avaliação e encaminhamento de pacientes para bolsistas para programas de pesquisa; pré-determinados. As solicitações de consulta para atendimento a pa-
procedimentos especializados. • Elaboração de programas de pesquisa conjun- O número de primeiras consultas e consultas cientes internados serão realizadas pelo médico assis-
tos com outros serviços. subsequentes deverá ser determinado previamente. tente da respectiva unidade de internação e serão en-
ÁREA DE ENSINO Bloqueios regionais guiados por ultrassonogra- caminhadas ao AMB DOR, para serem respondidas.
Estratégias na área de ensino: ÁREA DE EXTENSÃO fia, injeção de pontos-gatilho, infusões de lidocaína As solicitações serão respondidas pelo clínico de
• Treinamento em serviço para médicos e para- Estratégias na área de extensão: por via venosa e adjuvantes em nível ambulatorial dor após avaliação do paciente, em conjunto com o
médicos; • Assessoramento a programas assistenciais de deverão ser feitos por profissionais treinados e ha- médico assistente para as devidas orientações.
• Desenvolvimento de programas, disciplinas e outros serviços de saúde dentro e fora do Esta- bilitados no atendimento de emergência para res- O clínico de dor dará assessoria contínua aos
unidades no tema dor para discentes das esco- do; suscitação cardiovascular. protocolos de dor indicados ou utilizados.
las da área de saúde, da graduação e pós-gra- • Desenvolvimento de pequenos e grandes even- Serão realizadas consultas com o psicólogo,
duação; tos científicos; A dinâmica do atendimento assistente social e enfermeira, com propostas de
• Implementação de estágios curriculares e extra- • Estabelecimento de intercâmbio cultural com a. Primeira consulta acompanhamento.
curriculares, de assistência das unidades hospi- outros centros de dor e de propostas para requi- O paciente será atendido pelo clínico com Será feita a supervisão da terapêutica aos pa-
talares, ambulatório ou domicílio; sição de apoio financeiro; preenchimento de ficha protocolada e posterior- cientes internados.
• Programar cursos de atualização e reciclagem • Divulgação de trabalhos diversos sobre o tema mente, encaminhado para consulta em diversos Os atendimentos em unidade de internação se-
no tema dor; dor; setores, de acordo com a necessidade individual. rão individuais; o acompanhamento e discussão
• Publicação de periódicos e manuais de orienta- • Trabalho conjunto com outros grupos de assis- É necessária a avaliação do psicólogo e do enfer- dos casos se dará em equipe.
ção para alunos, pacientes e comunidade. tência e pesquisa em dor. meiro, com preenchimento de protocolo padrão. Os atendimentos nas unidades de internação
b. Consultas subsequentes também serão individuais, por membro da equipe
A partir do primeiro contato com o paciente e e interconsultas quando necessário se fizer.
sua família, serão marcadas consultas individuais
Sistemas de registro do atendimento
Atendimento ao cliente
nos seus setores específicos.
Os pacientes serão encaminhados pelo clínico ao paciente
de dor para exames técnicos invasivos e especiais. Os atendimentos serão registrados de maneira
Os objetivos da área de assistência: perpetuação do processo. Os pacientes serão assistidos diretamente atra- adequada e em fichas específicas que permitam o
• Tratar e reabilitar pacientes com dor; • Limitar a incapacidade - com apoio de psicó- vés de procedimentos indicados e realizados a de- diagnóstico correto. Recomenda-se o emprego de
• Servir à educação sanitária; logos, psiquiatras, fisioterapeutas e terapeutas pender do caso por especialistas do assunto. questionários validados pela literatura, no diag-
• Fomentar pesquisa e investigações científicas; ocupacionais. Amenizando a incapacidade físi- Diante da necessidade de internação pela sinto- nóstico de uma síndrome específica, assim como
• Treinar pessoal da área de saúde. ca e mental do indivíduo após doença com lesão matologia da dor, o clínico solicitará o internamen- na avaliação da recuperação funcional do paciente.
irreversível.
Os profissionais da equipe desenvolverão ações • Reabilitação - promovendo a readaptação do in-
de: divíduo com sequelas na sociedade.
• Promoção - com medidas adequadas para ali-
viar a dor e promover bem-estar físico e mental COMO SE PROCESSARÁ O ATENDIMENTO Atribuições e objetivos dos participantes
AO CLIENTE15
do programa
do paciente.
• Prevenção - com medidas específicas para im- A assistência ao cliente se desenvolverá em ní-
pedir o aparecimento da dor. vel ambulatorial, de internação e quando necessá-
• Diagnóstico e tratamento precoce - possibilitan- rio em nível domiciliar. CLÍNICO DE DOR16 • Buscar incondicionalmente o alívio da dor.
do a identificação precoce da fisiopatologia da • Controlar os sintomas do paciente em sua totali-
dor e adequar o tratamento de forma a evitar a Em nível ambulatorial Objetivos do atendimento dade através de trabalho em equipe.
544 CLÍNICA DE DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 545

Atribuições Atribuições Atribuições Atuar em conjunto com a equipe multidiscipli-


• Realizar anamnese detalhada do paciente. • Realizar anamnese do paciente incluindo inter- • Realizar atendimento psicológico em nível am- nar, desenvolvendo assistência globalizada, nos
• Avaliar a dor e realizar suspeita diagnóstica. rogatório com a família para esclarecimentos da bulatorial e de pacientes internados, com con- aspectos biopsiquícosocial, para promover a me-
• Instituir a prescrição de analgesia e procedi- posição social. sultas individuais ou em conjunto com outros lhoria da qualidade de vida do paciente através do
mentos adjuvantes. • Agilizar o internamento quando o paciente ne- profissionais da equipe de dor. estabelecimento de um modelo assistencial basea-
• Elaborar e padronizar protocolos para alívio da cessitar. • Entrevistar os familiares e estimular a participa- do nas necessidades prioritárias da clientela.
dor, acompanhar e avaliar o paciente internado. • Avaliar possibilidade junto à farmácia para for- ção desses na redução do estresse.
• Solicitar parecer de outros profissionais através necimento de medicamentos àqueles pacientes • Desenvolver terapias breves e focais. Específicos
de interconsulta. sem condições econômicas, desde que prescri- • Implementar técnicas de aconselhamento e • Proporcionar cuidados de enfermagem capazes
• Treinar profissionais médicos e paramédicos. tos pelo AMB – DOR. orientação. de minimizar a dor de pacientes ambulatoriais
• Desenvolver programas sobre o tema dor para • Acompanhar os pacientes, inclusive em domicí- • Promover o emprego de técnicas de relaxamen- e em domicílio.
estudantes da área de saúde. lio ou internado quando se fizer necessário, jun- to e visualização. • Elaborar protocolos de assistência de enferma-
• Acompanhar e avaliar estudantes em estágio no to com a família e registrar as ocorrências nas • Avaliar os fatores de impacto na psicogênese gem.
AMB – DOR. folhas de consultas subsequentes. da dor e as estratégias utilizadas para enfrenta- • Assessorar as ações de enfermagem junto às
• Desenvolver pesquisas em dor. mento do processo de dor. unidades onde o paciente estiver internado.
FISIOTERAPEUTA19 • Identificar e mobilizar mecanismos para ade- • Orientar pacientes, família, discentes e pessoal
PSIQUIATRA 17
rência ao tratamento. paramédico sobre procedimentos de enferma-
Objetivos do atendimento • Apoiar os profissionais que lidam com dor, esti- gem para alívio da dor.
Objetivos do atendimento • Desenvolver técnicas fisioterápicas em pacien- mulando a expressão de sentimentos relativos à • Ajudar os médicos nos procedimentos invasi-
• Detectar precocemente alterações psíquicas de- tes ambulatoriais ou internados. sua atuação. vos.
correntes do tratamento ou da própria doença. • Orientar o paciente e a família quanto a exercí- • Desenvolver pesquisas em dor. • Analisar o modelo assistencial proposto para os
• Promover melhoria dos aspectos psíquicos do cios que podem ser realizados a domicílio. • Treinar pessoal médico e paramédico e estu- ajustes de validação.
paciente através de terapêutica específica. dantes da área de saúde para assistirem o pa-
• Auxiliar o clínico de dor na prescrição e admi- Atribuições ciente com problemas psicológicos decorridos Atribuições
nistração de psicofármacos quando necessá- • Desenvolver e aplicar técnicas de possível eficá- do processo de dor. • Realizar a consulta de enfermagem dos pacien-
rio. cia clínica. tes ambulatoriais e internados.
• Implementar métodos complementares em fi- ANESTESISTA21 • Prescrever os cuidados de enfermagem.
Atribuições sioterapia. • Desenvolver procedimentos de enfermagem
• Atender e acompanhar pacientes em ambulató- • Avaliar condições físicas dos pacientes e plane- Objetivos do atendimento para alívio da dor.
rio ou internados quando solicitado pelo clínico jar programas direcionados a patologia. • Atuar nos casos em que há necessidade de pro- • Evoluir e reavaliar as alterações provenientes
de dor ou psicólogo do grupo. • Atuar, juntamente com outros profissionais da cedimentos anestésicos. das terapêuticas aplicadas a pacientes ambula-
• Realizar avaliação e acompanhamento de alte- equipe, nas terapêuticas mais agressivas de alí- • Realizar bloqueios nervosos regionais e técnicas toriais.
rações psíquicas. vio da dor. intervencionistas diagnósticas e terapêuticas. • Acompanhar pacientes internados, orientando
• Acompanhar pacientes que tenham comprome- • Desenvolver protocolos para treinamento de familiares.
timento do sistema nervoso central. profissionais, estudantes, pacientes, família e Atribuições • Fazer treinamento de pessoal de enfermagem
• Desenvolver pesquisas em dor. comunidade. • Atender ao paciente ambulatorial que necessita sobre procedimentos de alívio da dor.
• Implementar pesquisa em métodos de alívio da de procedimentos anestésicos quando solicita- • Promover estágios no AMB - DOR para alunos
ASSISTENTE SOCIAL 18
dor. do pelo clínico de dor. de enfermagem.
• Acompanhar pacientes internados em uso de • Assessorar cuidados de enfermagem junto às
Objetivos do atendimento PSICÓLOGO20 dispositivos ou procedimentos anestésicos con- enfermeiras das unidades de internação.
• Realizar contato com o paciente e família ins- tínuos ou intermitentes. • Realizar pesquisa em assistência de enferma-
crito no programa, avaliando e intervindo nas Objetivos do atendimento • Desenvolver pesquisa clínica em dor. gem pacientes com dor.
questões de ordem social. Investigar componentes psicológicos que inter- • Realizar supervisão com avaliação dos resulta-
• Levantar informações a respeito do paciente ferem na gênese e manutenção dos sintomas da ENFERMEIRA22 dos das terapêuticas.
em termos de situação sócio - econômica e cul- dor, bem como estabelecer procedimentos de in- • Promover cursos de reciclagem e atualização no
tural. tervenção junto ao paciente, à família e à equipe. Objetivos do atendimento tema dor para o pessoal de enfermagem.
• Viabilizar formas para o paciente continuar o • Promover eventos científicos.
tratamento no ambulatório de dor. Geral
546 CLÍNICA DE DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 547

ODONTÓLOGO23 • Incentivar a prescrição de fármacos de melhor 3. Chapman CR, Gavrin J. Suffering: The contributions of 15. Campos GWS. Subjetividade e administração de
relação custoefetividade. persistent pain. Lancet 1999 353: 2233-7. pessoal: considerações sobre modos de gerenciar o
Objetivos do atendimento 4. Latham J, Davis BD. The socioeconomic impact of trabalho de equipes de saúde. In: Merhy, EE; Onocko,
chronic pain. Disabil Rehabil 1994; 16: 39-44. R et al. Agir em saude: um desafio para o publico.
• Atuar nos casos em que há necessidade de ava- Atribuições
5. Aredo JV, Heyrana KJ, Karp BI, et al. Relating Chronic 1997; São Paulo: Hucitec.
liação de dor em cabeça, em se tratando de dis- • Atender ao paciente ambulatorial que necessita Pelvic Pain and Endometriosis to Signs of Sensitization 16. Lima MA, Trad LA. The medical perspective towards
túrbios odontológicos que implicam em perpe- de polifarmárcia e monitorar efeitos adversos. and Myofascial Pain and Dysfunction. Semin Reprod chronic pain: biomedical model and clinical practice].
tuação da doença. • Monitorar a prescrição e distribuição de fárma- Med. 2017;35(1):88-97. Cad Saude Publica. 2007;23(11):2672-80.
• Indicar procedimentos ortodônticos, blo- cos opioides potentes. 6. Loeser JD Desirable characteristics for pain treatment 17. Aguiar R, Branchtein LC. Avaliação psiquiátrica do
queios nervosos regionais diagnósticos e tera- • Acompanhar pacientes internados em uso de facilities: report of the IASP taskforce. In: Bond MR, paciente com dor crônica: relato e discussão de um
pêuticos. polifarmárcia por diversas vias. Charlton JE, Woolf CJ (Hrsg) Proceedings of the VIth caso clínico. Cadernos do IPUB 1997;(6):155-61.
World Congress on Pain. Elsevier, Amsterdam, 1991: 18. Bravo MIS, Matos MC. Reforma Sanitária e Projeto
• Desenvolver pesquisa clínica em dor.
S 411–415. Ético-Político do Serviço Social: elementos para o
Atribuições 7. Turk DC. Efficacy of multidisciplinary pain centers debate. In: Bravo, M. I. S. et al. (orgs). Saúde e Serviço
• Atender ao paciente ambulatorial que necessi- ACUPUNTURISTA25 in the treatment of chronic pain. In: Cohen MJM, Social. São Paulo: Cortez, 2004.
ta de procedimentos odontológicos solicitados Campbell JN, editors. Pain treatment centers at a 19. Araújo Neto MJ.; Ribeiro KSQS. A Fisioterapia na Aten-
pelo clínico de dor. Objetivos do atendimento crossroads: a practical and conceptual reappraisal, ção Básica a partir de uma experiência de Educação
• Acompanhar pacientes internados em uso de • Atuar nos casos que há necessidade de realiza- progress in pain research and management. Seattle: Popular. Fisioterapia em Movimento, 2004;.17(2): 51-58.
dispositivos ou procedimentos anestésicos con- ção de acupuntura ou eletroacupuntura como IASP Press. 1996; 257-73. 20. Siqueira JLD, Morete MC;. Avaliação psicológica de
8. Gatchel RJ, McGeary DD, McGeary CA, et al. Interdis- pacientes com dor crônica: quando, como e por que
tínuos ou intermitentes. técnica complementar no tratamento da dor.
ciplinary chronic pain management: past, present, and encaminhar?. Rev. dor,  2014; 15(1): 51-54.
• Desenvolver pesquisa clínica em dor. • Realizar acupuntura de microssistemas quando future. Am Psychol. 2014 ;69(2):119-30. 21. Timerbaev VKh, Genov PG. [ROLE OF ANESTHESIO-
se fizer necessário. 9. Doleys DM. Chronic Pain as a Hypothetical Construct: LOGIST IN CHRONIC PAIN MANAGEMENT]. Aneste-
FARMACÊUTICO24 A Practical and Philosophical Consideration. Front ziol Reanimatol. 2016;61(2):128-30.
Atribuições Psychol. 2017; 27;8:664. 22. Brasil. Decreto n. 94.406/87. Regulamenta a Lei n.
Objetivos do atendimento • Atender ao paciente ambulatorial que necessita 10. Foguel ES, Kraychete DC. Um “amalgáma sintomá- 7498, de 25 de junho de 1986. Que dispõe sobre o
• Atuar nos casos que há necessidade de inter- de acupuntura quando solicitado pelo clínico de tico”: Teoria psicanalítica e dor muscular de longa exercício da Enfermagem e dá outras providências. In:
duração. Rev Dor, 2001, 3 (1): 14 -18. Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) [Internet].
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11. Henschke N, Kamper SJ, Maher CG. The epidemio- Brasília; 1987 [citado 2012 maio 28]. Disponível em: h-
pacientes com dor crônica. • Acompanhar a evolução e adequação do pacien- logy and economic consequences of pain. Mayo Clin p://novo.portalcofen.gov. br/decreto-n-9440687_4173.
• Indicar e discutir junto ao clínico a prescrição te na técnica com agulhas. Proc. 2015;90(1):139-47. html.
que melhor se adeque ao paciente, a instituição • Desenvolver pesquisa clínica em dor e acupun- 12. Bair MJ, Robinson RL, Katon W, et al. Depression and 23. Lipton JA, Ship JA, Larach-Robinson D. Estimated
e a doença. tura. pain comorbidity: a literature review. Arch Intern Med. prevalence and distribution of reported orofacial pain
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13. Velly AM, Mohit S. Epidemiology of pain and relation 24. Lipton HL, Byrns PJ, Soumerai SB, Chrischilles EA.
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Biol Psychiatry. 2018;87(Pt B):159-167. rapy. Int J Technol Assess Health Care. 1995;11(3):485-

Conclusão 14. Cornett EM, Budish R, Latimer D, et al. Management of


Challenging Pharmacologic Issues in Chronic Pain and
508.
25. Foell J. Conventional and complementary approaches
Substance Abuse Disorders.Anesthesiol Clin. 2018 to chronic widespread pain and its comorbidities.
A clínica de dor crônica é necessária para comu- que irá atuar e a capacitação correta do profissio- ;36(4):615-626. Acupunct Med. 2013;31(3):309-14.
nidade visto a alta prevalência do sintoma. Impor- nal. Isso para que a clínica possa avançar cada vez
tante é a elaboração de uma estrutura física e ad- mais no atendimento do sujeito que sofre.
ministrativa contemplando as aspirações do grupo

Referências bibliográficas
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548 CLÍNICA DE DOR CRÔNICA TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 549

CAPÍTULO 48

Medicina do estilo
de vida e dor
Vania Assaly
Luciana de Oliveira Palombini
Lázaro Medeiros
Aritiane Ricardo Silva (Colaboradora)

Introdução
A manifestação da saúde é resultado do equi- cional, necessitando um olhar multidisciplinar
líbrio e harmonia entre qualidades dinâmicas na para amparo às diferentes doenças que trazem a
relação entre diferentes funções que o homem exe- dor como sintoma. Segundo o Dr. Manoel Jacobsen
cuta em seu ambiente. Teixeira a dor não é meramente consequência ime-
Ao longo da vida, podemos observar que cada diata e inevitável de uma lesão tecidual, mas pode
um tem uma forma de ser, viver, envelhecer e adoe- estar relacionada a fatores situacionais, emocio-
cer e haverá portanto, uma forma singular de cada nais, étnicos, etárias e familiares².
indivíduo manifestar a sua dor¹. O entendimento da dor tem sido objeto de estu-
Como um processo universal a dor gera sofri- do de diversas áreas da medicina, uma vez que dife-
mento e por vezes progressiva incapacidade fun- rentes fatores integram sua fisiopatologia. De dores
550 MEDICINA DO ESTILO DE VIDA E DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 551

agudas aos quadros mais exuberantes e crônicos, espiritual podem, em grande parte dos pacientes, A MEDICINA DO ESTILO DE VIDA PARA O Atuando como um regulador epigenético por
o tempo em sofrimento trará prejuízos, funcionais trazer a prevenção de doenças crônicas, ou trazer ENVELHECIMENTO BEM-SUCEDIDO sua abordagem em vetores que modificam a expres-
e psicológicos, expressando diagnósticos por vezes melhor qualidade de vida e alívio dos sintomas4. A prática da medicina do estilo de vida vis- são gênica, sua prática busca otimizar a capacidade
incertos, como sintoma de doenças neurológicas, A prática da medicina do estilo de vida busca lumbra um envelhecimento bem-sucedido esta- funcional do indivíduo pela correção e controle dos
músculo esqueléticas, viscerais, psiquiátricas, imu- atuar de forma preventiva e pró-ativa para a ma- belecendo sua atuação preventiva e pró-ativa no modelos bioquímicos que antecedem grande parte
nológicas e tumorais³. nutenção do patrimônio músculo esquelético, as- indivíduo e na sociedade. Os profissionais que das doenças crônicas13.
Como uma das faces de males crônicos, a dor sim como no controle da obesidade, sendo um dos atuam nesta prática buscam através de seus pila-
poderá ser tratada ou minimizada com algumas modelos centrais no controle de doenças crônicas, res centrais reduzir, tratar e até mesmo reverter
ferramentas da medicina do estilo de vida, uma vez nas alterações ortopédicas, morfofuncionais e na as principais doenças crônicas, criando maior
que o equilíbrio nutricional, a prática de exercício dificuldade de preservar saúde ao longo do enve- saldo de saúde ao longo da vida para extensão da
físicos, gerenciamento do estresse e apoio social e lhecimento5. capacidade funcional do indivíduo. Podemos di-
zer que a medicina do estilo de vida busca resga-
tar o a capacidade funcional e harmônica do ser
e na prevenção e apoio aos pacientes com dor,
deve ser lembrada como prescrição oficial, não

Histórico medicina do estilo de vida


apenas citada como um conselho que deveria ter
sido seguido12.

O termo “medicina do estilo de vida” é utilizado Como sabemos, o crescimento desordenado


desde a década de 90 e segundo suas diretrizes a no final do século XX, início do século XXI e do
sua prática busca a prevenção, redução, tratamento final da segunda guerra até os dias de hoje, re-

Envelhecimento e dor
e até mesmo a reversão das principais doenças crô- fletiu na grande epidemia de doenças crônicas,
nicas através de mudanças construtivas no estilo decorrente do modelo de estilo de vida disfun-
de vida, sendo estas instituídas no indivíduo e na cional regente nos grandes centro urbanos, favo-
sociedade6. recendo em escala exponencial o adoecimento No processo de envelhecimento, a presença dos vezes bem representada pela dor, como sintoma
Os profissionais que praticam esta área traba- prematuro8. mecanismos da dor estará acentuada por altera- de diferentes aspectos disfuncionais presentes nas
lham com sólidas evidências científicas para mu- O global burden of diseases reflete as mudanças ções motoras, musculosesqueléticas, articulares e doenças crônicas degenerativas15.
danças amplas na prática clínica engajados não epidemiológicas e o aumento progressivo na inci- pela degeneração progressiva que retrata o modelo Diferentes vias bioquímicas disfuncionais sur-
apenas em tratar doenças, mas para promover saú- dência de obesidade, câncer, doenças cardiovas- catabólico e inflamatório no horizonte clínico do gem na grande matriz informacional expressando
de e qualidade de vida7. culares ,psiquiátricas e neurodegenerativas con- envelhecimento de cada um14. alterações mitocondriais, desregulação inflama-
vidando os profissionais de saúde para cooperar A mitoptose, a organoptose e a fenoptose de- tória, glicação avançada, estresse oxidativo, assim
nas políticas públicas e órgãos governamentais, nunciam a força do envelhecimento metastático, como alterações de neurotransmissores e de cofa-
incentivando campanhas em escolas, áreas públi- acompanhado por perda da reserva funcional, ca- tores enzimáticos que interferem em neurocircui-
cas, orientando a sociedade para cuidados com a tabolismo estrutural, vulnerabilidade motora e psí- tos alterando a sensibilidade, percepção e memória
saúde9. quica, e perda da capacidade regenerativa, muitas da dor16.
No aspecto da dor, as principais mudanças
comportamentais como o sedentarismo,10 mudan-
ças do ritmo biológico e a sobrecarga de stress são
realçadas na moldagem fenotípica e no desequilí-

Estresse e medicina do estilo de vida


brio bioquímico da sobrecarga alostática (doenças
relacionadas ao estilo de vida, LRDs). Sintomas
se expressam como fibromialgia, cefaleia ,dores
articulares, musculoesqueléticas denunciando a O estresse agudo difere em grande parte do es- positiva em fatores de transcrição que trazem me-
sobrecarga de trabalho, horas sem movimento, tresse crônico, pois a extensão do tempo do estresse canismos anabólicos adaptativos já bem descritos
alterações posturais associadas a tecnologia em- irá trazer um reflexo catabólico, fruto dos aspectos na literatura e observados em modelos de exercício
pregada no dia a dia e no trabalho na civilização dinâmicos que ocorrem da sobrecarga alostática17. no cenário do anabolismo muscular pós-treino. Por
moderna11. O estresse agudo, ou eutresse, pode trazer be- outro lado, iremos encontrar no estresse crônico
nefícios fisiológicos, funcionais atuando de forma um percurso presente em grande parte dos indiví-
552 MEDICINA DO ESTILO DE VIDA E DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 553

duos em seu processo de desregulação por estresse integrando as redes de apoio para o equilíbrio men-
DIFERENÇAS ENTRE A ABORDAGEM TRADICIONAL / CONVENCIONAL E DA
físico ou psíquico, construindo as bases para o seu te-cérebro-corpo24. MEDICINA DO ESTILO DE VIDA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
adoecimento progressivo18.
A sobrecarga do estresse e sua cronicidade po- Medicina Tradicional / Convencional Medicina do Estilo de Vida
dem acentuar os mecanismos de expressão da dor Trata fatores de risco individuais Trata causas de estilo de vida
por perda dos mecanismos de adaptação do eixo
O paciente é um receptor passivo do cuidado O paciente é um parceiro ativo no cuidado
Hipotálamo-Hipófise-Adrenal, prevalecendo assim
o catabolismo sobre o anabolismo e a desregulação O paciente não é obrigado a fazer grandes mudanças O paciente é obrigado a fazer grandes mudanças
imunológica com acentuada expressão da cascata
O tratamento é muitas vezes a curto prazo O tratamento é sempre a longo prazo
inflamatória19.
Na medicina do estilo de vida, o equilíbrio e ge- A responsabilidade está no clínico A responsabilidade também está no paciente
renciamento do estresse crônico se darão por abor- Medicação pode ser necessária, mas a ênfase está na
dagens de integração social, equilíbrio do homem A medicação é muitas vezes o tratamento “final”
mudança de estilo de vida
em sua comunidade, e abordagens em psicologia
Enfatiza o diagnóstico e a prescrição Enfatiza a motivação e conformidade
positiva para gestão de problemas que possam tra-
zer sofrimento físico e mental. Através da prática O objetivo é o gerenciamento de doenças Objetivo é prevenção primária / secundária / terciária
de mindfullness, exercícios e nutrição inteligente
Menos consideração do meio ambiente Mais consideração do meio ambiente
podemos atuar no equilíbrio do sistema simpático /
parassimpático ,atuando em vias neurais, no siste- Os efeitos colaterais que afetam o estilo de vida exigem
Os efeitos colaterais são equilibrados pelos benefícios
ma nervoso central e periférico20. maior atenção
Na visão da medicina funcional, sabemos que Envolve outras especialidades médicas Envolve profissionais de saúde aliados
o ambiente molda a biologia e a fisiologia neuro
hormonal é lida em várias reações que surgem no Médico geralmente opera de forma independente, em uma
Médico faz parte de uma equipe de profissionais de saúde
endofenótipo e se traduzem em sintomas e no fe- base individual
nótipo de um indivíduo. As moléculas circulantes
na forma de citoquinas, adipocinas, neurotoxinas,
hormônios e neurotransmissores integram uma
matriz informacional que se traduz como saúde

Alimento é informação
ou doença21. Alterações mitocondriais também po-
dem ocorrer como aspectos decorrentes do stress
e as abordagens em mudanças em estilo de vida,
nutrientes e compostos químicos podem regular a Certamente a revolução industrial e a modifi- obesogênica poderá se basear na individualidade
expressão gênica22. cação da qualidade dos alimentos após os anos 80 bioquímica, com alvos terapêuticos que podem ser
Em seu livro “Moléculas de Emoção” Candace não são os únicos a colaborar para o aumento da identificados a partir de testes genéticos, atuando
Pert traz um olhar atento para o homem em sua obesidade e da epidemia de doenças crônicas. O na regulação de genes polimórficos, para assim
síndrome de desadaptação e na expressão da dor aumento da massa adiposa com seu potencial in- traçarmos melhores escolhas para redução da epi-
em pacientes oncológicos e crônicos, apontando o flamatório, conhecido como adiposopatia é apon- demia da obesidade e complicações secundárias,
valor das disfunções bioquímicas na manifestação tado como um dos grandes gestores do mecanismo inclusive, no apoio terapêutico às disfunções mús-
da dor. Desta forma podemos buscar entender e da dor crônica26. culo-esqueléticas e articulares28.
equacionar mudanças no estilo de vida para modu- As intervenções nos modelos de gerenciamento A nutrição e uma enorme riqueza de compos- No campo da inflamação crônica que acompa-
lar a cascata inflamatória que se revela de maneira de stress têm sido objeto de estudo por pesquisado- tos bioativos da dieta têm sido relatados como po- nha grande parte dos pacientes com dor crônica os
silenciosa, acelerando o envelhecimento e acor- res que através da prática de meditação e no min- tenciais agentes reguladores epigenéticos. O uso modelos pró-inflamatórios presentes na alimenta-
dando o modelo de adoecer de cada paciente23. dfulness descrito por pesquisadores como Kabat- personalizado de nutracêuticos podem otimizar o ção ocidentalizadas, com seu potencial efeito na
Os aspectos dinâmicos do eixo psiconeuro imu- -Zinn. Demostrando eficácia em pacientes com dor patrimônio de saúde, otimizando a flexibilidade regulação epigenética irá resultar em maior poten-
noendócrino são de extrema importância na fisiolo- e da redução do uso de drogas. Diversas estratégias fenotípica por atuar em modelos genéticos e epi- cial de produção moléculas de expressão inflama-
gia humana e as técnicas utilizadas para gerencia- mente-corpo, além da mindfulness também são genéticos27. tória causando uma cascata que acelera o envelhe-
mento do stress crônico atuam de forma benéfica benéficas no manejo da dor(biofeedback, yoga e Ativando a expressão gênica ou silenciando ge- cimento celular e como um todo acelera a idade
na regulação do eixo hipotálamo–hipófise–adrenal, exercícios)25. nes, a escolha de uma estratégia nutricional não epigenética29.
554 MEDICINA DO ESTILO DE VIDA E DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 555

Além dos processos inflamatórios e pró-oxidati- NUTRIÇÃO E NUTRIENTES


vos na presença da dor neuropática periférica e cen- Deficiências nutricionais específicas podem
tral a participação dos produtos de glicação avançada estar associadas a estados dolorosos e uma série
e disfunções mitocondriais, muitas vezes presentes de estudos apontam que pacientes que apresen-
na obesidade, síndrome metabólica e no diabetes tam níveis insuficientes de vitamina D necessi-
mellitus se acentuam com as alterações metabólicas tavam o dobro da quantidade de opioides pelo
decorrentes de um microbiota disbiótica. dobro de tempo relacionado a pacientes sem a
O desequilíbrio na síntese de neurotransmis- deficiência36.
sores decorrentes por dieta inadequada, dificul- Alguns estudos, baseados em ensaios clínicos
dades digestivas e absortivas presentes em gran- randomizados e controlados, mostraram efeito po-
de parte dos doentes crônicos e idosos, podem se sitivo da suplementação de vitamina D na gestão
acentuar e certamente na presença de uma micro- da dor. Uma revisão sistemática recente concluiu
biota disbiótica e múltiplas medicações, poderão que a suplementação de vitamina D leva a uma re-
exercer maior potencial endotóxico acentuando dução significativamente maior no escore de dor
os mecanismos de depressão e dor. A redução da em comparação ao placebo, em pacientes com dor
variabilidade de biontes e na sua qualidade geram crônica37.
uma assinatura metabólica que será traduzida por Deficiências de vitaminas do complexo B, B6,
uma ação obesogênica, pró-inflamatória, poten- B12 e folato podem estar associadas ao aumento
cialmente geradora de doenças autoimunes e cân- da dor e da dor neuropática. Sabemos que o idoso
Diversos pesquisadores têm relatado o valor de consumo de proteínas de fonte animal, já teremos cer e gerar alterações em vias de sinalização de e pacientes que usam medicações inibidores da
uma alimentação whole plant based food - WPBF, com uma redução significativa das principais DCNT equilíbrio neuronal trazendo maior risco de doen- bomba de prótons podem apresentar maior defi-
alimentos ricos em vegetais e integrais, com propor- (obesidade, câncer, diabetes, doenças neurológi- ças psiquiátricas, neurológicas e amplificando os ciência vitamínica e mineral, sendo que esta de-
ção correta de gorduras, fibras, vitaminas, minerais cas). Devemos levar em consideração sempre os modelos de dor crônica34. pleção poderá acentuar as vias de sinalização da
e compostos fitoquímicos, na prevenção da obesida- aspectos individuais, como carências nutricionais Sobre o papel da alimentação e das interações dor38.
de, diabetes e outras doenças inflamatórias. Segun- e déficit proteico presentes no envelhecimento32. genéticas epigenéticas e os efeitos na moldagem A deficiência do mineral magnésio com suas
do os modelos atuais as mudanças propostas pelo Desta forma, segundo a publicação que nos co- da microbiota hoje assistimos um homo sapiens dis- múltiplas funções está presente no paciente com
Eat Lancet Comission buscam conscientizar a po- loca de frente com as mudanças que são colocadas byoticus. O uso excessivo de alimentos processados Diabetes Mellitus, pela hiperglicemia, assim como
pulação para uma alimentação baseada fortemente na sociedade, temos hoje uma alimentação com: riscos em açúcar refinado e sódio, com gorduras pelo uso de medicamentos e acentuado pela dis-
em alimentos vegetais irá garantir saúde para o pa- A prática do jejum intermitente com um dos saturadas, baixa ingestão de fibras e água trazem biose39.
ciente e menor agressão ambiental31. modelos ancestrais respeitando o ritmo biológico mudança na microbiota, alterando os mecanismos A proporção correta de ácidos graxos muitas
Ao trabalharmos com um prato com 70% de ali- tem sido motivo de pesquisa no olhar preventivo no da dor. A composição da dieta com alterações na vezes não é alcançada na dieta ocidental e assim a
mentos vegetais, reduzindo a oferta de alimentos controle do envelhecimento por sua ação em silen- proporção de fibras e fitoquímicos com ação pre- suplementação de ácidos graxos da série ômega -3
industrializados e com atenção para a redução do ciamento de modelos bioquímicos e metabólicos 33. biótica podem alterar a permeabilidade intestinal e poderá trazer benefícios no cenário do equilíbrio
acentuar os gatilhos inflamatórios35. da dor e inflamação40.

Exercício físico
Atualmente temos o sedentarismo como um dos to e da possibilidade de encontrarmos indivíduos
principais gatilhos para o aparecimento de DCNT e com um índice de massa corpórea normal, porem,
na percepção de dor a falta do movimento tem sido com um quadro que chamamos de obesidade sar-
elencada como um dos modelos vigentes41. copênica42.
Em relação à adiposidade e às alterações de pro- Este quadro pode estar presente no envelhe-
porção corporal vale lembrar da perda progressiva cimento, mas tem sido relatado em adolescentes
de massa magra que acompanha o envelhecimen- sedentários, trazendo um prejuízo no patrimônio
556 MEDICINA DO ESTILO DE VIDA E DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 557

Alimentos funcionais, compostos bioativos e dor


músculo esquelético A criança e o adolescente são, com redução dos quadros de dor e fibromial-
sedentários, atualmente expostos ao uso abusivo gia49. Deste uma caminhada, cuidar do jardim, dan-
de computadores, podem modificar sua estrutura çar poderá ser uma forma de estar ativo e ter uma
morfo funcional, com menor gasto energético, ga- função na sociedade. Os compostos bioativos dos alimentos funcio- Os estudos apontam seus benefícios por exer-
nho precoce de peso, alterações metabólicas e au- Como sabemos, grande parte dos pacientes com nais oferecem diversos benefícios à saúde além cer atividade analgésica atribuída aos mecanismos
mento precoce de DCNT43. dor crônica terão dificuldades na execução de um do alto valor nutritivo inerente à sua composição. moduladores da dor e na capacidade de reduzir a
O estilo de vida que prioriza a comunicação programa de exercícios e a prescrição de forma in- Podendo desempenhar um papel potencialmente inflamação por meio da inibição de mediadores
virtual tem traçado mudanças que já se desenham dividualizada associada com suplementos nutricio- benéfico na redução do risco de doenças inflama- pró-inflamatórios: lipoxigenase, ciclooxigenase,
no cenário biopsicocomportamental, assim como nais e nutracêuticos podem beneficiar na redução ções crônicas e efeito antioxidante e imunomodu- leucotrienos, tromboxano, prostaglandinas, óxido
gerando precocidade do envelhecimento do esque- de medicamentos, reduzindo a fadiga e trazendo lador. Dentre os compostos bioativos, a cúrcuma nítrico, colagenase, elastase, hialuronidase, MCP-1,
leto, perda óssea e associada à falta de exposição benefício global ao paciente. longa é um rizoma, pertencente à família do gen- proteína indutível por interferon, TNF e IL-12, todos
solar, com o homem longe da natureza modifica- As práticas de alongamento exercícios na água, gibre. Componente chave da culinária indiana, é conhecidos componentes das vias de transmissão
ram seu esqueleto. Hoje colhemos mais osteopo- fisioterapia e modalidades integrativas para geren- utilizada há mais 2.500 anos no tratamento médi- da dor ou de atenuação da dor56.
rose, a presença precoce da obesidade e doenças ciamento de dor e estresse são um diferencial no co em países asiáticos53. Rica em curcumina, um Outros ativos como a Boswellia Serrata, uma re-
metabólicas. Temos assistido um maior volume de trabalho do paciente com doenças musculoesque- polifenol com inúmeros efeitos biológicos possui sina gomosa originária da Índia ,com ação anti-in-
ansiedade e depressão e a presença de dores que léticas, articulares, neurológicas e no portador de efeito anti-inflamatório e antioxidante54. Por exer- flamatória por ação diretamente à enzima 5-LOX,
têm como aspecto central as mudanças presentes doenças crônicas e câncer. cer propriedades antioxidante, anti-inflamatório, impedindo-a produção de leucotrienos pró-infla-
na civilização moderna44 45. Abordagens motivacionais com intervenções moduladora de fatores de transcrição que in- matórios, sendo assim um potente anti-inflamató-
A atividade física acopla os benefícios celulares multidisciplinares e com a psicologia positiva são cluem a MAO, iNOS e COX2, e fatores de cresci- rios reduzindo os processos associados a dor aguda
mitocondriais, aumentam os mecanismos de repa- uma das formas utilizadas pelos profissionais que mento BDNF, a curcumina pode ser benéfica no e crônica57.
ro e a capacidade antioxidante e por mecanismos trabalham com a Medicina de Estilo de vida. tratamento e prevenção de diversas doenças que Pratique medicina do estilo de vida como medi-
de anabolismo com resposta inflamatória e a capa- cursam com o perfil inflamatório e no apoio ao camento. Nunca é tarde para começar!
cidade de restauração anti-inflamatório em indiví- ENGAJAMENTO SOCIAL tratamento da dor55.
duos que têm uma prática frequente em seu dia a Sabemos que a conexão social é essencial para
dia46. nossa resiliência emocional e saúde em global. Es-
A manutenção da força muscular e a preven- tudos mostram que indivíduos com fortes conexões
ção da dinapenia do idoso irá trabalhar favoravel- sociais tendem a ser mais longevos e saudáveis,
mente a autonomia e sua sustentação funcional, porém, o isolamento e solidão são associados com
com potencial redução dos quadros de dor e fibro-
mialgia47.
maior chance de desenvolver doenças, aumentan-
do a depressão, percepção de dor e gerando mais
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Medicina física
e reabilitação em dor
Leonardo Metsavaht
Ricardo Diaz Savoldelli
Gustavo Leporace
Felipe Fernandes Gonzalez

Introdução
Com o acelerado avanço tecnológico que es- tocolos baseados em dados vagos ou subjetivos so-
tamos vivendo e usufruindo exames como resso- bre a funcionalidade do paciente em breve serão
nância magnética de alta resolução e tomografia do passado. Já existem tecnologias para exames
computadorizada com reconstrução 3D, os diag- biocinéticos 3D da funcionalidade de membros
nósticos e abordagens terapêuticas das lesões or- inferiores, superiores, coluna para permitir uma
topédicas estão ficando cada vez mais precisos e reabilitação física para problemas ortopédicos clí-
elaborados. Da mesma forma, está evoluindo a me- nicos ou pós-operatórios tão sofisticados quanto os
dicina de reabilitação. Casos comuns no consultó- que utilizamos para planejar nossas cirurgias. No
rio que há duas décadas encaminhávamos para a entanto, a dor continua sendo uma grande barrei-
reabilitação como sendo uma simples dor anterior ra a ser vencida. As inibições motoras, mediadas
do joelho (DAJ), hoje pode ter diversos diagnósticos pelo sistema nervoso, de partes moles ou articu-
e subclassificações e, por consequência diferentes lares, são fatores limitantes para a reabilitação de
abordagens terapêuticas e reabilitativas. O tempo qualquer segmento. Por maior que seja o esforço
das prescrições de condutas reabilitativas por pro- de um indivíduo para reabilitar adequadamente,
562 MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 563

com dor, muitas vezes, ele não consegue completar antagonistas e auxiliava muito a reabilitação dos de atrofia hialina dos tecidos infiltrados e circun- para grandes áreas e mais superficiais). Ainda não
o arco de movimento necessário, tampouco solici- pacientes3. Com a fisioterapeuta Margaret Knott jacentes5. está completamente elucidado o efeito das ondas
tar ou ativar a musculatura envolvida naquele seg- acabou desenvolvendo métodos reabilitativos que de choque nos tecidos e a resposta biológica a sua
mento. Grande mérito para a compreensão destas se mantêm efetivos ainda hoje4. MESOTERAPIA ação, porém, estudos mostram que diminuem o
limitações à reabilitação devemos a dois médicos Temos que ter em mente que a adequada rea- Bastante popular na Europa, principalmente processo inflamatório e podem estimular a angio-
brilhantes que atuaram no século passado. O Dr. Ja- bilitação física é baseada na recuperação da fun- para o tratamento de lesões em atletas, consiste em gênese tecidual.
mes Henri Cyriax, (Reino Unido, 1904-1985), que na cionalidade e que a dor é um mecanismo limitante infiltrar em uma profundidade de 4 a 6 mm na pele
década de 1920 foi o primeiro ortopedista a estudar e que deve ser enfrentada. Os medicamentos por (derme reticular) um pequeno volume (0,1 a 0,2 ml) FENOL
os efeitos da dor das partes moles na recuperação via oral ou sistêmicos são grandes aliados. Talvez de medicamentos anti-inflamatórios, vasodilatado- A injeção de fenol (que deve ser diluído à 2 ou
de problemas ortopédicos1. Criou e desenvolveu o maior desafio ao jovem ortopedista é compreen- res ou neurotróficos, para obter uma concentração 3%) produz axonotmese química no tecido nervoso
abordagens manuais que minimizavam a dor ao der que nem toda dor é inflamatória. A origem da regional e ação medicamentosa altas, com a vanta- através de suas propriedades solventes (membranas
movimento e permitiam melhor reabilitação orto- dor pode ser, por exemplo, de origem espasmódica gem de ter mínimo efeito sistêmico. Como não faz axonais e mielina). Porém não é seletivo, podendo
pédica2. Influenciados por seus conceitos, muitos (musculatura involuntária), por contratura (mus- uso de corticoides pode ser repetido inúmeras vezes, agir em nervos sensitivos e motores, gerando atro-
fisioterapeutas, principalmente das ex-colônias da culatura voluntária), isquêmica, neural periférica geralmente com intervalos semanais. Podem ser ne- fia muscular e necrose tecidual. Pode ser realizado
Reino Unido, desenvolveram métodos que acaba- ou central. Portanto devemos escolher as ‘ferra- cessárias numerosas pequenas injeções a cada ses- em nervos periféricos, no plexo celíaco e no plexo
ram popularizados mundo afora através de seus mentas’ corretas para abordar o problema. Do con- são e pode causar irritação temporária da pele6. simpático. Não é o tratamento de primeira escolha.
nomes, como os conceitos de Mulligan, Maitland trário poderemos supermedicar um paciente e ain- Sua eficácia pode ser temporária e o paciente pode
e McKenzie. Outro divisor de águas foi o Dr. Her- da termos um resultado frustrante (para o médico INFILTRAÇÃO DE PONTOS-GATILHO voltar a sentir dor.7,8 Seu uso vem sendo substituído
man Kabat (EUA, 1913- 1995), um neurologista nor- e para o paciente). Um fator limitante dos medica- O agulhamento à seco ou a infiltração com anes- por novas substâncias e métodos menos dolorosos
te-americano, que, também na década de 1940, se mentos sistêmicos é que o período de reabilitação tésicos de pontos-gatilho possuem um efeito consi- como a Toxina Botulínica.
dedicava ao estudo dos efeitos da neostigmina em pode ser prolongado e o risco de efeitos adversos derado de curta duração, mas são bastante eficazes
pacientes com miastenia grave e, principalmente ou indesejáveis aumenta significativamente. Por para o relaxamento da musculatura contraída com TOXINA BOTULÍNICA
à reabilitação de pacientes com poliomielite. Foi esta razão alternativas que promovam adequada efeito imediato. Considerada ótima opção nos ca- É uma neurotoxina produzida pelo Clostridium
quando percebeu que movimentos voluntários de analgesia por períodos prolongados devem sempre sos de dor crônica quando as fáscias e os músculos botulinum preparada para uso terapêutico pela in-
agonistas causavam relaxamento e analgesia dos ser consideradas. comprometidos já encontram-se endurecidos por dústria farmacêutica, que além de inibir a libera-
fadiga, acúmulo de elementos irritantes e, por isso, ção (alguns estudos mostram que inibem também
de baixa responsividade a relaxantes musculares a produção) de Acetilcolina para a fenda sináptica
sistêmicos6. da junção neuromuscular, diminuindo a espastici-
dade, tem ação nos nociceptores periféricos, pode
BLOQUEIOS DE NERVOS PERIFÉRICOS
Procedimentos ambulatoriais
inibir a liberação da Substância P nos neurônios de
Também uma terapia de curta duração, mas gânglios da raiz dorsal, reduzir o estímulo de libe-
considerada ótima abordagem para permitir a ma- ração do Peptídeo Relacionado ao Gene da Calcitoni-
Os procedimentos intervencionistas ambula- resumidamente algumas destas alternativas ambu- nipulação e/ou exploração do arco de movimento na (PRGC) nos gânglios dos neurônios da coluna
toriais localizados são boa alternativa e vêm sen- latoriais facilitadoras da reabilitação, que compar- em pacientes com restrições artrogênicas. Com o dorsal e do Glutamato ao nível medular. Todas es-
do cada vez mais popularizados na prática clínica tilham essas características mais frequentes ou re- advento de anestésicos modernos como a ropiva- sas alterações diminuem a sensibilização central.
dos ortopedistas e fisiatras para facilitar o proces- levantes à prática clínica, que serão abordadas com caína, que possui um tempo de ação mais prolon- Pesquisadores também estudam a ação da toxina
so reabilitativo. Ainda existe controvérsia quanto mais detalhe nos capítulos pertinentes deste livro. gado e cardiotoxicidade menor que os outros anes- no Tálamo, Formação Reticular e Mesencéfalo. Ou
a alguns métodos serem apenas analgésicos e não tésicos, é possível de obter analgesia segmentar seja, o papel da toxina vai muito além do “relaxa-
‘terapêuticos’. Realmente muitas intervenções am- INFILTRAÇÕES LOCAIS COM por até 24 horas com apenas uma infiltração. Boa mento muscular”, tendo mecanismos reconhecidos
bulatoriais carecem de evidências científicas que CORTICOIDES opção também para auxiliar o médico na dúvida de ação periférica (nociceptores e neurônios perifé-
promovam alguma ‘modificação’ ou ‘melhoria’ a Têm como objetivo inibir de maneira bastante diagnóstica de algumas patologias6. ricos) e centrais (medula e zonas corticais em estu-
nível estrutural ou mesmo tecidual local, mas tais eficaz o processo inflamatório localmente. Produ- do) para o controle da dor9.
controvérsias não se sobrepõem ao fato que é in- zem efeitos que podem durar por vários dias ou por TERAPIA POR ONDAS DE CHOQUE
questionável o papel do médico em promover con- várias semanas. É necessário ser preciso adequar a A onda de choque é uma onda acústica pulsa- ACUPUNTURA
forto suficiente ao paciente para permitir que a diluição do corticoide, geralmente em um anesté- da que provoca um súbito aumento de pressão, Técnica milenar chinesa que visa reequilibrar a
reabilitação seja efetiva. Portanto ambos, a melho- sico local, para garantir o efeito anti-inflamatório e seguido de uma pressão negativa e podem ser divi- energia do corpo (o Chi) que flui por caminhos pré-
ria estrutural e a analgesia, são objetivos básicos e evitar efeitos deletérios locais. Não são recomenda- didas em dois tipos: Focais (indicadas para peque- -determinados (os Meridianos) através da introdu-
inerentes ao tratamento médico. A seguir citamos das infiltrações repetidas ou superficiais pelo risco nas áreas e mais profundas) e Radiais (indicadas ção de agulhas específicas para este fim em pontos
564 MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 565

predeterminados. Apesar de antiga, vem crescendo ablação do ramo recorrente posterior do nervo es- tratamento, no entanto, apesar de ser uma das mo- online em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/arti-
o interesse do ocidente pelos seus efeitos. Seu uso pinhal que inerva as articulações zigoapofisárias, dalidades das eletroterapias mais populares, o ultras- cles/PMC3031347/23.
vem aumentando bastante (inclusive em atletas) e por calor gerado por uma corrente de alta fre- som (pulsado ou não) também possui repetidas me-
consequentemente os estudos científicos que com- quência. Utilizada em quadros de síndromes fa- ta-análises demonstrando baixa eficácia. Mesmo em TERAPIAS MANUAIS
provam sua eficácia e eficiência principalmente cetarias, dores de origem discal, radicular ou até estudos prospectivos, randomizados e cegados com- Desde que os médicos Cyriax e Kabat introdu-
para quadros de contraturas musculares, tendino- dor sacroilíaca refratária às outras terapêuticas. parando com placebo (ultrassom desligado) para o ziram a necessidade de abordagens manuais para
patias, lombalgias, cervicalgias, torcicolos, entre Alguns estudam comprovam uma redução da dor tratamento de patologia frequente, como o entorse uma reabilitação adequada quase infinitas técnicas
outras. Uma técnica derivada é a eletroacupuntura, em curto prazo, porém, não existem dados con- de tornozelo, o efeito é muito baixo ou nulo19. Não há têm sido desenvolvidas e divulgadas. Sejam por pe-
na qual é aplicada uma corrente elétrica nas agu- sistentes que comprovem sua eficácia em médio e evidências científicas para a redução da dor usando quenas diferenças na abordagem, na filosofia ou na
lhas, potencializando o seu efeito analgésico e de longo prazo11. ultrassom comparado com outras modalidades de vaidade, cada uma tem um nome diferente, mas,
liberação de substâncias mediadoras. tratamento como exercícios físicos20. de forma geral, se enquadram nos critérios reabi-
HIPNOSE litativos das Cinesioterapias, ou terapias baseadas
BLOQUEIO FACETÁRIO GUIADO Diferente do que se assiste em filmes, a hipno- ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEURAL na adequação dos movimentos. Frequentemente
O bloqueio facetário é um procedimento mini- se clínica ou hipnoterapia consiste na utilização de TRANSCUTÂNEA (TENS – o profissional da fisioterapia utiliza abordagens
mamente invasivo, no qual utiliza-se a fluoroscopia atenção focada, relaxamento e imaginação12 e pode TRANSCUTANEOUS ELECTRIC NERVE mistas, que julgue mais adequadas para o caso da-
ou tomografia para guiar a injeção de um medica- ter efeito na redução da intensidade da dor através STIMULATION) quele indivíduo em particular. Por isso existe uma
mento (corticoide ou anestésico local para teste da inclusão de sugestões diretas de alívio em popu- Diferente do ultrassom, a TENS demonstra re- variabilidade enorme dos efeitos e resultados. As
terapêutico) na articulação facetaria das vértebras lações com moderado ou alto nível de sugestiona- sultados bastante controversos, porém com diver- Terapias Miofasciais, Neurofasciais, os métodos de
lombares. Necessita infraestrutura de radiologia e bilidade13. Tais efeitos analgésicos possivelmente sos demonstrando efeitos positivos e mensuráveis Maitland, Mulligan, McKenzie e o PNF (Propriocep-
internação por algumas horas10. envolvem alterações de atividade no córtex cingu- no auxílio do controle da dor. Alguns autores su- tive Neuromuscular Facilitation) estão entre as mais
lado anterior, ínsula e áreas pré-frontais14.Com mí- gerem que tal controvérsia pode ser causada pela relevantes no Brasil. São abordagens de manipula-
RIZOTOMIA POR RADIOFREQUÊNCIA nimos efeitos adversos e contraindicações é uma facilidade de acesso aos equipamentos, inclusive ção/ e mobilização direta de tecidos moles (múscu-
Também necessita infraestrutura radiológica estratégia segura e custo-efetiva em casos selecio- por leigos, e a vasta possibilidade de diferentes re- los, tendões, fáscias e nervos) ou por manipulação
e de internação por algumas horas. Consiste na nados15,16,17. gulagens e instalação dos eletrodos na pele. Exis- de articulações, que procuram restaurar o tônus
tem evidências de que seu uso não traz benefício adequado e recuperar os arcos de movimento ne-
adicionais quando associado a outras estratégias cessários. O valor reside no fato de não buscarem
terapêuticas comprovadas, como medicamentos e recuperar a mobilidade articular com manobras
exercícios físicos21. forçosas, mas liberando gradativamente o movi-

Aplicação de meios físicos


mento e respeitando a artrocinemática. Paralela-
LASER mente ao ganho progressivo de arco de movimento
Alguns estudos com o laser de baixa potência devem ser instituídas condutas para estimular a
Adjuvante aos procedimentos ambulatoriais duz conforto em diversas condições dolorosas do demonstram efeitos analgésicos nas primeiras se- musculatura até que haja real e completa ‘ativação’
alguns meios físicos também podem ser eficazes aparelho musculoesquelético e podem ser bastante manas do tratamento, no entanto, tais efeitos não dos músculos e desenvolvimento de um controle
para promover analgesia e permitir uma aborda- úteis tanto antes como depois de um tratamento são medidos ou identificados quando associadas neuromuscular. Exercícios com carga para recupe-
gem fisioterapêutica mais eficiente. A busca por fisioterapêutico. Costuma-se preconizar o uso do outras abordagens como as terapias manuais ou ração de força ou massa muscular devem ser ins-
evidências cientificas que comprovem os efeitos frio nas condições agudas ou traumáticas e o ca- exercícios concomitantemente. Novamente, é uma tituídos, gradativamente, somente quando é verifi-
destas abordagens esbarra na dificuldade de se lor nas crônicas ou espasmódicas, mas não existe terapia que depende das diversas regulagens e mo- cada uma adequada sincronia entre movimento e
medir efeitos precisamente, a heterogeneidade nenhuma evidência de que um seja mais efetivo dos de utilização podendo causar a variabilidade de tônus muscular. Do contrário, com neuroativação
das amostras e reprodutibilidade dos protocolos, ou mais adequado em cada uma destas circunstân- efeitos, ou nenhum)22. muscular incompleta corre-se grande risco de so-
dificuldades mais facilmente superadas quando cias. Também não foram encontradas evidências Outros equipamentos considerados como ‘ele- brecarregar as articulações ao invés de reabilitá-las.
testamos um medicamento, por exemplo. Portanto de que um ou outro tenha efeitos anti-inflamató- troterapias’ como micro-ondas, ondas-curtas, for- Durante muito tempo a avaliação desta situação foi
o fato de não existir evidência científica não deve rio, mas apenas o analgésico superficial. Pode-se no de Bier há muitos anos não têm sido alvo de baseada em dados subjetivos sujeitos ao nível de
ser interpretado como ineficiência clínica. Citamos recomendar aquele que promover mais conforto ao estudos relevantes, portanto não dissertaremos aptidão técnica e/ou talento do observador ou tera-
aqui, brevemente, os mais utilizados no Brasil. paciente18. sobre estes. peuta, ou coragem/empenho do paciente, mas isto
Um manual completo sobre os cuidados neces- vem gradativamente sendo substituído por equipa-
TERMOTERAPIAS ULTRASSOM sários e as contraindicações para a utilização de mentos que promovem uma avaliação mensurável
Tanto o calor local como o frio, também cha- Há evidências de baixa qualidade que demons- meios físicos para fisioterapia foi desenvolvido pela e reprodutível do funcionamento do aparelho mus-
mado de crioterapia, possuem um efeito que pro- tram promover analgesia nas semanas iniciais do escola canadense de fisioterapia pode ser acessado culoesquelético, como vemos a seguir.
566 MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO EM DOR TRATADO DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA 567

TAKE HOME MESSAGES


Exames funcionais 3d para auxiliar a reabilitação
Figura 2: Gráfico da flexoextensão do joelho no
plano sagital de indivíduo masculino de 46 anos com • Existem diversas modalidades de reabilitação e
meniscectomia medial total há 2 anos, assintomático. O tratamento da dor. O médico e a equipe de rea-
Os exames de imagem vêm melhorando em Como exemplo, pode-se medir, com margens indivíduo permanece em semiflexão do joelho em toda a bilitação devem definir qual melhor opção para
qualidade, rapidez e resolução de forma impres- de erro inferiores a 1 mm ou 1º de movimento, fase da marcha como estratégia estabilizadora, porém, cada paciente;
sionante. São uma grande conquista para poder instabilidades do joelho em indivíduos com lesão às custas de um maior torque extensor do joelho na • Na reabilitação existem objetivos a curto, médio
preparar o paciente para uma cirurgia com um no canto pósterolateral, LCA e/ou meniscos no fase de apoio induzindo maior demanda do quadríceps. e longo prazo que devem ser mensuráveis, reais
planejamento sofisticado baseado em diagnósti- momento do funcionamento real da articulação (reproduzido com permissão de Biocinética Laboratório do e alcançáveis;
cos morfoestruturais precisos. No entanto, quando e não somente durante o exame físico passivo na Movimento Ltda) • Abordagens reabilitativas baseadas em critérios
tentamos diagnosticar alterações funcionais atra- maca, com goniômetros manuais ou com raios- vagos tendem a ter menor aderência do pacien-
vés de exames de imagem estática (p.e.: exames -x sob estresse (Figura 1). Estas medidas podem 70 te ao tratamento;
radiológicos pelo Protocolo de Lyon para instabili- auxiliar na decisão pelo tratamento conservador 60
• Não basta tratar a dor, temos que identificar e
dade patelar), estes apresentam alta especificida- com reabilitação física ou pela reconstrução ci- tratar sua causa;

Extensão (-) /Flexão (+) do Joelho


50
de, porém com apenas moderada sensibilidade. rúrgica25. • Os exames funcionais 3D auxiliam a decisão te-
Ou seja, quando positivos costumam ser de bom 40
rapêutica, incrementando a eficiência e otimi-
auxílio, mas quando negativos não excluem nem Figura 1: Imagem 3D de análise biocinética da marcha 30 zando a reabilitação.
ajudam a estabelecer um prognóstico ou conduta de um indivíduo masculino de 36 anos, com história de 20
terapêutica. Isto fica bem claro em um detalhado meniscectomia medial total há 8 meses, assintomático,
10
estudo publicado por Schueda e cols. no Journal of apresentando um varo acentuado na fase de resposta
0
Sports Medicine em 201524, quando estudaram 1842 à carga. As consequências no longo prazo podem ser a
quadris, joelhos e tornozelos de 921 pacientes com degeneração de todo compartimento medial. JD: joelho -10
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
joelhos sintomáticos através Tomografia Compu- direito JE: joelho esquerdo. (reproduzido com permissão Ciclo da Marcha (%)

tadorizada e realizando todas mensurações mais de Biocinética Laboratório do Movimento Ltda)


populares na literatura. Por estas razões a tendên-
cia mundial é a busca de exames que analisem o
‘funcionamento’ de um órgão ou um sistema. Uma
boa analogia é que atualmente é muito difícil in- Referências bibliográficas
dicar qualquer tipo de tratamento cardiológico
baseados somente no exame físico (ausculta car- Varo na fase de 1. CYRIAX J. How to examine a joint. Mag Camb Univ Medicina de Reabilitação. 4a ed. Rio de Janeiro: Gua-
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tação física foi norteada por critérios empíricos falhas da reabilitação. Em alguns casos, mesmo
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ria uma terapêutica otimizada que faria o paciente adotado após a lesão ou cirurgia26. Comparati- 5. Pace CS, Blanchet NP, Isaacs JE. Soft Tissue Atro- source/pt/lil-514874
ganhar tempo e sentir os efeitos terapêuticos mais vamente ao joelho contralateral, e em relação à phy Related to Corticosteroid Injection: Review of 10. Pain Management Injection Therapies for Low Back
claramente. Por isso os exames de imagem 3D do sujeitos hígidos, os pacientes podem continuar the Literature and Implications for Hand Surgeons. J Pain - PubMed - NCBI [Internet]. [cited 2019 Jul 17].
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diminuindo expressivamente o nível de estresse do da do quadríceps e desgaste articular precoce (Fi- 6. etsavaht, L. Metsavaht O. Mesoterapia nas afecções H, Malmivaara A, et al. Radiofrequency denervation
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