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Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

Sociologia Política

Institucionalização da Ciência Política

O Estudo da Política: Tradições Analíticas e Mudanças de Paradigma. Como surge uma


disciplina para o estudo específico dos fenómenos políticos, e com uma identidade própria no
seio das ciências sociais?

-Embora já existissem contributos anteriores importantes para a disciplina da ciência científica


– como as obras de Marx e Tocqueville – a Ciência política apenas surge no século XIX como
ciência institucionalizada, ainda que apenas se vá consolidar no pós-segunda guerra mundial.
Em Portugal, a disciplina apenas vai ser incluída nos planos de estudo no período Pós-Estado
Novo, tendo surgido primeiramente na Universidade de Coimbra.

-Ou seja, durante o último quartel do século XIX, ocorre um processo de autonomização da
Ciência Política (uma vez que esta era assumida como um dos ramos do Direito Constitucional).
-Autonomia – isto é, a criação de uma comunidade de especialistas que determina o
objeto próprio da sua atividade de investigação. Este objeto tem que ser limitado com
rigor e ter indiscutível visibilidade – de modo a que se crie uma identidade disciplinar. O
Objeto da Ciência Política é o Estado.
-Definição de objeto pode ser desvantajoso, uma vez que é redutor da vida política.
-Institucionalização envolve a integração da disciplina nas instituições legitimas,
comunidades científicas, universidades, etc.

Fatores e causas da Institucionalização da Ciência Política no século XIX


Visão de Pierre Favre:

A. Fatores de Ordem Geral – científico:

a) Conjunto de transformações sociais, económicas, urbanas, cognitivas que levam à


transformação dos mapas mentais da população – Advento da Modernidade.

b) Especialização do trabalho intelectual – quer na complexificação das formas de


governo e administração de governo que exigem aparelhos mais robustos para lidar
com problemas e desafios que antes não existiam; quer no aumento da
escolarização que permita a divisão e especialização intelectual.

B. Fatores de Ordem Específica:

a) Acumulação do saber político, abrindo caminho para um novo campo disciplinar –


a autonomia da CP face ao Direito Constitucional.

b) Complexificação da estrutura burocrática com a sedimentação do Estado


Moderno - aumento do poder institucional do mesmo, herança burocrática
weberiana (competência de bons funcionários para o bom funcionamento das
instituições).

c) Desenvolvimento do Estado Nacional, Democratização e Laicização – assuntos


políticos tornam-se mais complexos e alvos de maior escrutínio. Desenvolvimento
do Estado Nacional, das suas estruturas e Sistemas, exige um maior conhecimento
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dos desenhos administrativos – qual seria o mais produtivo. Necessário


compreender a democratização da sociedade e os novos órgãos políticos.
-Algumas alterações político institucionais do século XIX prendem-se com o
aparecimento de partidos, a complexificação dos sistemas eleitorais (contraste
de sistemas), a exigência de sistemas de comunicação para uma política de
massas – tais como, os manuais de cidadania em Portugal.

-Século XIX – legitimação social para o estudo da Ciência Política.

O Objeto da Ciência Política


-Ciência Política como o estudo das instituições do Estado (complexo de estruturas e regras
estandardizados) - marca genérica da disciplina. Esta paradigma inicial e unificador, constituí a
Ciência Política como Staatswissenschaft (ciência do Estado).
-Identificação do Estado como cerne da vida política facilita o consenso entre os especialistas –
ou seja, tem um papel unificador e de criação de uma identidade própria para a Ciência
Política. Contudo, essa definição pode trazer algumas limitações:

a) Visão redutora da realidade política – a ordem política não se confina ao Estado e à


sua ordem institucional e formal, há instituições informais e práticas importantes
para a vida política que se manifestação exteriormente e que a perspetiva clássica
negligência.
b) Inibe o método comparativo – uma vez que existem sociedades sem Estado e que
não é por isso que não existe vida política.

-A revisão crítica e a rejeição das premissas do velho institucionalmente conduziram a novos


paradigmas, ancorados na amplificação do objeto político – evolução da disciplina acompanha
a própria evolução da sociedade e da organização.

-Giovanni Sartori sintetiza as três fases a evolução do objeto do Estado da Ciência Política –
amplificação do objeto político:

1) Ciência Política Tradicional – Estado como objeto de estudo.


-Tradição Analítica define a ciência política como a ciência do Estado. Esta escolha deve-se
à visibilidade do Estado, ou seja, à sua fácil identificação e análise – além disso, tinha um
teor prático. O estudo do Estudo levaria a uma melhor governação política.
-Tradicionalmente os fenómenos políticos não se inseriam e contextualizavam numa
determinada sociedade – política era tratada como uma variável independente, sem
interferência exterior da sociedade. Separação da esfera social e esfera política.
-Esta crítica de descontextualização social da Política pela tradição analítica leva aquilo que
Sartori diz ser a Sociologia Política – vê a política como algo simultaneamente influenciado
pela sociedade, e influenciador da sociedade.
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2) Sociologia da Política – Poder como objeto de estudo (ciência do poder – conceito mais
amplo e inclusivo).
-Surge com a sedimentação da crítica à tradição analítica, torna-se necessário analisar tanto
as formas políticas como as forças políticas (Ostrognski). Evolução do objeto de Estado para
Poder – cariz mais inclusivo e permite uma contextualização social. Harold Lasswel – Ciência
política é a ciência do Poder e da Destirbuição - Who gets what, when and how?
-Poder também é um conceito ambíguo e redutor – ou seja, pode cair no erro de tornar o
objeto política em algo dependente da sociedade e tratar a visa social como causa e o
político como efeito – variantes sociais sobrepunham-se aos aspetos políticos.

3) Sociologia política /Ciência Política contemporânea – Sistemas Políticos como objeto de


Estudo.
-Visão mais aberta, sistema com fronteiras abertas – tem em consideração tanto fatores
externos como fatores internos, tomando o papel tanto de variável dependente como de
independente. Sistemas Políticos como a distribuição de decisões investidas de autoridade.
-Sartori – Teoria Sistémica (Sistema Político é o campo político). Estes Sistemas Políticos
englobam instituições, identidades e relações sociais do campo político. Permite identificar
um domínio e uma identidade própria do político, sem a fechar a um campo fechado – há
um campo político e fatores externos que vão canalizar e influenciar nesse campo – fatores
externos como impactantes na política.
-Ou seja, é vantajoso uma teoria sistémica entender o campo político com o auxílio a
relações sociais e relações de poder que ocorrem no seu exterior.

Da Ciência Política à Sociologia Política


-Crítica da descontextualização social da Política pela tradição analista leva aquilo que Sartori
diz ser a Sociologia Política.
-Sociologia Política vê a Política como algo simultaneamente influenciado pela sociedade e como
algo influenciador da sociedade – exemplo: multiplicidade de visões dentro de uma sociedade
exige a existência de um sistema multipartidário.
-O conceito mais relevante subjacente à sociologia política é o conceito de Sistema Político e
Sistémico – o conceito de sistema política é vantajoso para a Ciência Política, uma vez que
permite identificar um objetivo preciso.

Três distintas conceptualizações do "político"


 «Os fenómenos políticos são os que se relacionam com a origem e o funcionamento do
Estado» (Léon Duguit).
 «O estudo da política trata da compreensão de todos os problemas relacionados com o
poder e com o uso que dele se faz em contextos sociais» (R. Dowse e J. Hughes)
 «A vida política é um sistema de atividades inter-relacionadas que influenciam o modo
como as decisões investidas de autoridade são formuladas e postas em prática numa
sociedade» (David Easton).
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Legitimidade Weberiana
Os Conceitos de Autoridade

-Conceito de poder em esquema de Boneca Russa – Poder (coerção) > Influência (manipulação)
> Autoridade (poder legítimo). A Autoridade é o corolário do poder. Enquanto que o poder
necessita do recurso à coerção, a Autoridade é o poder legitimo.

Poder de facto versus Poder Legítimo


-Para efetivar o poder é necessário que este seja legítimo – sem legitimação do poder, seria
necessária uma máquina de terror constante capaz de criar ordem na sociedade através da
violência – ou seja o poder seria um Poder de Facto. Um poder de facto não é sustentável,
mesmo economicamente, para a sociedade.
-Regime autoritário é aquele que transforma o poder de facto em poder legítimo. Rosseau –
Todos os Regimes necessitam de transformar a força em direito e a obediência em dever.

Legitimidade do Sistema
-A busca pela legitimidade é comum aos sistemas políticas, se um sistema não for legítimo este
não sobrevive – legitimidade garante a sua sobrevivência no tempo. Legitimidade representa o
direito de governar e apoiar aqueles que têm o direito de governar.
-Sociedades modernas a coerção incorpora uma obediência consentida. Há uma pluralidade de
padrões de legitimação, fontes e fundamentos para a legitimidade, potenciando o conflito entre
as diferentes formas.
-Para ser legítima a sociedade necessita que os cidadãos se revejam no quadro de valores desta
mesma sociedade – desta forma, a legitimidade tem quer construída nas sociedades (através da
socialização política e das instituições).

Max Weber – Fontes de Autoridade


-Max Weber elaboração de um método comparativo através de tipos-ideais (construções
abstratas). Assim distingue três fontes diferentes de autoridade, tipologias de autoridade, cada
uma relacionada com um modelo de organização:

a) Autoridade Tradicional – Autoridade do eterno hoje


-Princípio legitimador é a tradição.
-Crença na santidade e tradições milenares, que não podem ser violadas, uma vez que
renunciar à tradição é perder identidade – tradição como conjunto de símbolos que
passa de geração em geração, de origem nublosa. Contudo, a tradição pode ser
reinventada.
-Típico de sociedades ditas primitivas, tribos, sociedades tradicionais absolutistas do
século XVII – formas de governação regular – monarquias.
-Modelo de organização – burocracia patrimonial (contrapõe-se à burocracia
moderna):
a) Ausência de separação entre esfera pública e esfera privada – os funcionários
do Estado, nomeados de Servidores, podem exercer as suas funções num campo
privado, enquanto que na burocracia moderno é exercida exclusivamente em
espaço público.
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b) Sem separação entre funcionário e os meios de administração (atualmente


há uma separação clara – o cargo de funcionário deixa de ser dotado de certa
classe ou hereditário para a existência de concursos públicos). Marx diz-nos que
o ponto de viragem para a modernidade é exatamente a separação do produtor
do funcionário.

b) Autoridade Racional-Legal
-Princípio legitimador é a razão.
-Os governantes estão submetidos a regras claras e rígidas – implantação do Estado de
Direito.
-Modelo de Organização – Burocracia Moderna, racional, meritocrática.
-Burocracia é a tradução em termos legais da racionalidade de organização nas
sociedades modernas (sentido Weberiano).

c) Autoridade Carismática
-Princípio legitimador é o carisma (carácter excecional).
-Culto de personalidade – weber apresenta três tipos de líderes carismáticos: heróis
militares, o demagogo e o profeta. A autoridade não pode ser separada do líder – cria
um desafio de manutenção de legitimidade.
-Carisma é instável e necessita de ser alimentado ou incorre o risco de desaparecer –
desafio das autoridades carismáticas. Como ocorre a renovação de uma legitimidade?
-A partir de um transporte desse mesmo carisma para outra personalidade, por
norma filhos, e de um bom funcionamento de uma estrutura burocrática nova
e personalizada.
-Relacionada com o conceito de revolução e mudança. Por norma, associado a um
desenho de um novo modelo político legal.
-Modelo de Organização – administração institucionalizada e muito personalizada.

Limites e Efemeridade da Legitimidade


-Existem limites legais a nível das autoridades:
a) Autoridade Tradicional – limite de aplicação. O rei não pode alterar a tradição. O
sujeito tradicional não poderá exercer ação fora dos padrões da tradição.
b) Autoridade Legal – expressa nos direitos e deveres da constituição.
c) Autoridade Carismática – não se aplica. A Autoridade Carismática não tem limites á
sua ação, uma vez que os limites são estabelecidos por essa mesma autoridade (ou seja,
limites personalizadas e facilmente alteráveis).

-A legitimidade não é algo que se adquira de uma única vez – tem que ser frequentemente
renovado. Um sistema, sociedade, que queira perdurar não pode deixar de refrescar a sua
legitimidade. Para isso existem diferentes maneiras de renovação da legitimidade:
a) Dimensão Simbólica e Sociológica – através de símbolos nacionais, bandeiras, etc.
b) Desempenho das instituições – as instituições devem corresponder de a cordo com
as expectativas dos cidadãos. Caso contrário, criam um distanciamento face ao
Estado (situação que é facilmente aproveitada por candidatos populistas para efeito
de propagando política).
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Tipos de Autoridade de Weber – Sequência Evolutiva Histórica


-Sequência entra a Tradicional e Racional-Legal (mais estáveis e regulares):
-Sociedades modernas e democráticas – autoridade é eminentemente racional-legal.
Umas das principais características destas sociedades é exatamente a questão da
racionalidade.
-Sociedade tradicionais (primitivas, tribos, sociedades tradicionais absolutistas) – por
norma, seguem uma autoridade tradicional – monarquia.
-Autoridade carismática tem um cariz esporádico
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Métodos Comparativos

-Comparação é transversal a todos os estágios da ciência política e tem tremenda importância


no estudo político, quer pelo seu potencial heurístico, quer por ser um precioso instrumento
de controlo científico.

Método Comparativo – contribuições:

A. Durkheim – comparação utilizada para a generalização, através da análise de


padrões.
B. Stuart Mill – elaboração de diferentes métodos comparativos: Método da
concordância (fenómenos semelhantes que ocorrem em entidades diferentes,
permitindo generalizações); Método da diferença (explica porque determinados
casos ocorrem numa determina situações e não noutra).
-Exemplo: Porque não existiu Socialismo nos Estados Unidos? Pode-se
socorrer de uma análise através do Método da Diferença: qual foi o fator
diferencial que se deu nos EUA para este não ter movimentos socialistas,
enquanto que o Socialismo surgia um pouco por toda a Europa.

Qual o contributo da comparação – Porque se compara? Aspetos fundamentais que explicam


a comparação:

a) Carácter Heurístico (isto é, de revelação – revelar aquilo que está oculto). Ou seja,
através da comparação conseguimos identificar. Goethe (1970) – Compara-te aos
outros! Vê quem és! (conhece-te a ti próprio, ideia que o conhecimento individual
só é possível através da comparação com o outro). Ao comparar, ganhamos um nível
de compreensão superior.

b) Precioso método/instrumento de controlo científico – o método comparativo é nas


ciências sociais o substituto da experiencia das ciências exatas.

c) Previne duas falácias:


-Falso Universalismo (vício do etnocentrismo – comparação permite uma
generalização, mas não uma universalização – uma vez que não existe uma única
realidade universal).
-Falso Particularismo (a realidade não é um conjunto de fragmentos exclusivos.
As marcas culturais nacionais não são sempre exclusivas e únicas, podem ser
comuns. É possível identificar singularidades, contudo). Exemplo: palavra
saudades.

Várias estratégias comparativas – como comparamos?


-Nem tudo é comparável - não devemos confundir alhos com bogalhos. É necessários
instrumentos para a comparação e categorias semelhantes possíveis e úteis para o processo
comparativo.
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Gabriel Almond – As propriedades comuns dos Sistemas Políticos


-Universalidade das estruturas políticas – a estrutura política está sempre presente, o
que varia é o grau de institucionalização das mesmas. ´
-Universalidade das funções políticas – se há estruturas políticas, tem obrigatoriamente
de haver funções políticas exercidas pelas mesmas. Existem funções políticas referentes
aos inputs (expressão de interesse; comunicação política) e aos outputs (elaboração e
execução de normas; função judicial).
-Multifuncionalidade das estruturas políticas - não há nenhuma estrutura que não
assuma várias funções, não obstante de privilegiar alguma.
-Dualismo cultural existente – coesão entre elementos de modernidade e de tradição,
lógicas informais e lógias formais.
- Os teóricos clássicos da modernização consideravam imperativo romper com
todo o resquício da tradição para o estabelecimento de uma sociedade
totalmente moderna. Já os teóricos modernos consideram não só que tal não é
necessário, como ainda que algumas formas tradicionais são necessárias ao
estabelecimento de uma sociedade moderna.

Complexidade das sociedades – os elementos tradicionais e modernos nem sempre são


antagónicos e muitas vezes é necessária uma “fusão” dos mesmos para a estabilidade das
sociedades (dualidade de elementos modernos e tradicionais).
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Modernidade, Modernização Política e Democracia

-O processo de construção da modernidade é um processo contínuo e cada vez mais acelerado.


Para Weber a modernidade é o triunfo do princípio da racionalidade, expresso através da
Burocracia. Podemos datar a Modernidade do final do século XVIII / início do século XIX
(correspondendo à época que os historiadores apelidam de período contemporâneo). A
modernidade pode ser apontada como resultado de três acontecimentos chave:

a) Revolução Industrial (dimensão técnica) – lança as bases materiais necessárias à


modernidade.

b) Revolução Americana e Francesa (dimensão política) – lança as bases políticas para


os sistemas políticos modernos.

c) Experiência burocrática prussiana (dimensão orgânica) – lança as bases organizadoras


da burocracia moderna.

-Podemos destacar um género de Geografia da Modernidade – Inglaterra, Países Baixos, Zona


norte da Alemanha e França – contudo, uma das características da Modernidade é exatamente
a contaminação (as mudanças ocorrem e tendem a ser difundidas).

-A sociedade moderna vai introduzir aquilo que conhecemos como Cidadania – a ideia que
participar na vida política é um direito individual. Ainda que, se reconheça as eleições e
conselhos de representação como anteriores à modernidade, embora não abertos ao público
em geral. Por sua vez, os Partidos são fruto desta modernidade política.

Estrutura Orgânica da Modernidade - Eixos


-A modernidade e as sociedades modernas organizam-se, na sua natureza e orgânica, em torno
de três eixos ou áreas de reflexão:

1) Características da Sociedade Moderna – o que é ser moderno?


Existe um conjunto de características que podemos apontar para se ser moderno?
Existem propriedades genéricos de uma sociedade moderno, ainda que, admitindo
que existem múltiplas Modernidades.
-A partir do termo sociedades pós-industriais percebemos a industrialização pode
ser um ponto marcante para distinguir a sociedade moderna da tradicional.
Contudo, hoje sabemos que as sociedades mais avanças tendem a uma
desindustrialização. Ou seja, a modernidade tem uma plasticidade, as suas
características marcantes são mutuáveis. A Modernidade é líquida
(contrariamente, a uma Modernidade Sólida - Zygmunt Bauman)
-Ao reconhecermos a Modernidade, reconhecemos uma pré-Modernidade e uma
Pós-Modernidade.

2) Existem realmente Sociedade do tipo Moderno? Existem requisitos importantes


para a sociedade moderna? Em que circunstâncias uma sociedade se consegue
modernizar.
-Barrington Moore em As origens Sociais da Ditadura e da Democracia, diversas vias
para a Modernização, concluindo que existem vias alternativas de modernidade,
que variam consoante o próprio contexto histórico (veja-se o caso Indiano ou
Chinês). Existem múltiplas modernidades.
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3) Efeitos da Modernidade – quais as consequências da modernização? Qual o


balanço da experiência da modernidade? Positivo ou Negativo?
-Mais uma vez, esta balança depende da própria história de cada país. Países com
experiências autoritárias vão necessariamente ter um balanço, mais negativo do que
aqueles que não viveram experiências autoritárias.

Eixo 1 – O que caracteriza a Modernidade e Sociedade Moderna?


-Podemos encontrar estas características na generalidade das sociedades modernas – numa
esfera política:

a) Diferenciação – diversificação e complexificação estrutural


-Maior diversificação e repartição na estrutura administrativa, assim como uma
especialização funcional e uma profissionalização dos papeis. Papeis sociais cada vez
mais específicos versus os papeis de uma sociedade tradicional de papeis difusos.
-Até ao advento da democracia não existia renumeração das atividades
políticas, o que limite a participação plural na mesma – ou seja, limitada a quem
tinha recursos para tal. Com a profissionalização e renumeração da atividade
política, como consequência desta diversificação e complexificação da estrutura
administrativa, existe uma maior justiça democrática.
-Dá origem a sociedades cada vez mais diferenciadas e complexas. DIMENSÃO POLÍTICA:
Potencia o conflito, devido aos cada vez maiores grupos de interesse.

b) Individualismo – Vínculos Adscritivos


-Indivíduos são desvinculados de grupos restritos e são valorizadas as suas
características individuais há uma solidariedade orgânica versus uma solidariedade
mecânica, em que os indivíduos podem traçar o seu caminho sem obstáculos.
-Deixa de existir uma lógica de hereditariedade, a favor da individualização – o que é
positivo para a expressão o libre arbitro.
-DIMENSÃO POLÍTICA: Traduz-se no conceito de cidadania, expresso através de uma
lógica de cada vez maior inclusão cívica (sufrágio universal).

c) Racionalismo – Triunfo da Autoridade Racional-Legal do tipo Weberiano


-Maior complexidade, exige maior organização. Há um predomínio da razão, da ciência,
da tecnologia, que invoca uma sociedade de autoconfiança.
-Mudança de paradigma de uma ordem divina para uma ordem de soberania popular
(DIMENSÃO POLÍTICA: processo de secularização e de limite governativo, por exemplo).

d) Expansão
-Contrariamente às sociedades tradicionais fechadas sobre si mesmas, as sociedades
modernas tendem a ser mais abertas (sociedade estática versus sociedade dinâmica).
-Há um efeito de contágio, um processo mimético, que leva as sociedades menos
modernos a reproduziram as sociedades mais avançadas. Este processo culmina com a
globalização.
-Expansão também tem uma função de difusão interna dentro da própria hierarquia da
sociedade.
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Eixo 2 – Existem realmente Sociedades do Tipo Moderno? Que requisitos importantes para a
sociedade Moderna? Em que condições uma sociedade se consegue modernizar?

A. Premissas Base do Paradigma Clássico da Modernidade

-Paradigma é uma operação intelectual de simplificação, que agrupa visões gerais com pontos
comuns, de modo a consolidar uma estrutura de organização do pensamento.
-As Teorias Clássicas da Modernização pretendem explicar as diferenças culturais e estruturais
entre as sociedades tradicionais e as sociedades modernas. Exemplos de paradigmas clássicos:
Marx, Dukheim, Weber e Zimmel (literatura do pós-segunda guerra mundial).
-Por exemplo, para Weber uma sociedade tradicional é regida por uma autoridade
tradicional, enquanto que uma sociedade moderna é regida por uma autoridade racional-
legal.

1. Prevalência dos esquemas analíticas dicotómicos – centrados na oposição entre


sociedade tradicional e modernidade (polaridades mutuamente exclusivas). Ou seja,
destacam aquilo que caracteriza a tradição, e que, automaticamente, não caracteriza a
sociedade moderna. Portanto, para os autores clássicos, a construção de uma sociedade
moderna implica uma rutura total com a sociedade tradicional, na medida em que são
antagónicas – para a modernização, tem que se romper com o paradigma clássico.
-NOTA: As dicotomias entre sociedade tradicional e sociedade moderna, são
características predominantes e não absolutas – não devem ser tomada como estruturas
rígidas mas como um indicador geral.

Sociedade Tradicional Sociedade Moderna


-Sociedade Estática – impulsos de -Sociedade Dinâmica – aceleração da história, impulsos
transformação são mais lentos. para a mudança são mais rápidos e mais poderosos.

-Sociedade Agrária, poucos -Sociedade Industrial.


industrializadas. -Industrialização decisiva para dissolver os valores
tradicionais e estabelecer a emergência dos valores
modernos.
-Imprescindível numa fase inicial da sociedade moderna.
-Sociedade Rural. -Sociedade Urbana.

-Crença no sagrado – prevalência da -Sociedade secular – processos de secularização e


autoridade carismática de origem laicização.
divina. -Secularização (separação igreja/estado) Práticas antes
asseguradas pela Igreja e pelos padres, como o registo de
nascimento e os casamentos, passam a ser da
responsabilidade do Estado Moderno. Veja-se a
introdução do registo civil obrigatório.
Laicização – forma mais especializada de secularização.

-Max Weber teoriza sobre isso – a fonte do poder deixa de


ter uma origina divina e passa a ter uma origem terrena.
-Tradição -Racional
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2. Talcott Parsons – Variáveis-Padrão, esquemas analíticos dicotómicos. Parsons


identifica cinco variáveis padrão que diferenciam as sociedades modernas das
sociedades tradicionais.

Sociedades Tradicionais Sociedades Modernas


-Status Adscritivo (condição ad aeternum, -Status por Mérito – sociedade onde a condição
atributos que são exteriores ao individuo – ou do individuo é medida consoante o seu mérito.
seja, aquilo que resulta do nascimento ou de -Tradução clara na questão da mobilidade entre
uma herança, independentemente da sua classes sociais – daí existir maior mobilidade na
vontade, e não do esforço ou iniciativa do sociedade moderna (solidariedade orgânica).
individuo). -Entenda-se mobilidade social através dos
-Exemplo: transmissão de funções por elevadores sociais e de um processo de
hereditariedade na câmara dos lordes no meritocracia.
parlamento britânico.

Papeis difusos – não existe uma Papeis específicos – especialização das


espacialização, o mesmo individuo tem atividades pressupõem papeis cada vez mais
diversos papeis na sociedade. específicos (questão da burocracia).
-Profissionalização.

Valores Particularistas – processos de Valores Universais – processos de identidade


identidade e lealdade são em função de mais complexos, restritos e abrangentes, que
processos mais restritos (ao senhor feudal conduzem à emergência de uma identidade
local, por exemplo). Não existe um nacional, que está na base da difusão do Estado-
sentimento de identidade nacional. Nação.
-A capacidade infraestrutural do Estado e de -Espartilhar de grupos de interesse particulares.
penetração no território era deficiente e -No campo político, partidos procuram
capacidade de gestão do território baixa, o orientações mais universalistas, por isso, maior
que conduz a uma elevada fragmentação e possibilidade de votos.
segmentação do Estado. -O próprio funcionalismo da burocracia
weberiana, com condições de igualdade de
acessos a meios administrativos pode ser
entendida universalmente.

Orientação coletiva – lógica de cooperações e Orientação individualista – triunfo do


associações. individualismo e da autonomia.
-Indivíduos libertos de amarras, deixam de estar
condicionados pelo passado.
-Existência de lógicas de livre associação que
tende a valorizar os seus interesses – dinamiza as
sociedades civis.
Afetividade – expressa em favores a nível Neutralidade afetiva – imune a quais as
burocrático, etc. influências, naquilo que pode ser considerado
como o ‘’agir sem paixões’’.
-Triunfo da Racionalidade. A burocracia moderna
(patrimonial), pressupõem uma neutralidade
face ao assunto. Obrigada a uma atuação de
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

forma impessoal e não personalizada (que era a


única forma de garantir justiça).
-Aquele que atua com uma neutralidade afetiva,
sem ódio nem amor, sem injustiça, é o
funcionário da burocracia racional. Tipo ideal
Weberiano de funcionário público é aquele que
na sua ação é neutro.

B. Revisão Crítica do Paradigma Clássico


-Críticos do paradigma Clássico, afirmam que os atributos das sociedades tradicionais e
modernas não são obrigatoriamente antagónicos – ou seja, a relação tradição/modernidade é
entendida como dialética e não como dicotómica.
-Entendem que a presença de elementos tradicionais chega mesmo a ser necessária quando
existem mudanças no sentido modernizador – tendo em conta que estas mudanças são aliadas
de processos turbulentos (exemplo: importância de um passado histórico comum para a
identidade nacional).

Dicotomia tradição / modernidade


Paradigma Clássico Paradigma Crítico
↓ ↓
Tradição e Modernidade são antagónicas Tradição e Modernidade são
complementares

-Pontos de tensão entre o Paradigma Clássico e um Paradigma dito Crítico:

Paradigma Clássico Paradigma Crítico


Lógica Evolucionista Lógica das Múltiplas Modernidades
-Para os clássicos há uma predominância da -O Paradigma Crítico vem reivindicar uma
Lógica Evolucionista (ideia de
outra opção – por exemplo, aquela apresenta
estandardização das várias etapas que a por Eisenstadf, Múltiplas Modernidades –
sociedade vai percorrendo – corolário da que contrapõem necessariamente os
ideia é a existência de um fim comum das clássicos, que dizem apenas existir uma
sociedades, a hegemonia de um certo tipo de única modernidade, não há um só modelo
instituições e de valores – o fim da história).
de modernidade. Irreversibilidade da
Como tal, existe uma irreversibilidade da modernização e a lógica evolucionista é
modernização (uma vez entrando na cena da contestável, as sociedades podem evoluir de
modernização, todas as sociedades
diferentes formas.
acabariam por se modernizar. -Contudo, as múltiplas modernidades não
descartam elementos comuns.
Lógica Etnocêntrica Modernidade não exclusiva ocidental
-Experiência fundadora do mundo ocidental -Críticos consideram esta visão como um
pode ser tomada como experiencia única e falso universalismo.
exclusiva dos processos de modernização (ou
seja, o modelo ocidental como único modelo
de sociedade moderna).
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

Determinismo Económico Processo transversal a várias esferas


-Esfera catalisadora dos processos de -Não existe uma esfera exclusivamente
modernização é a económica, que depois se responsável pela modernização – é um
alarga às outras esferas da vida social. processo transversal a todas as esferas. Além
disso, os processos de modernização são
muitas vezes assincrónicos, ou seja, as
esferas não se manifestam todas ao mesmo
tempo.

Relevância dos Fatores Endógenos na Relevância dos fatores Exógenos na


Mudança mudança
Ideia que a Modernidade é Ideia que a Modernidade pode significar
determinadamente um Progresso (ideia mudança, mas que isso não significa
romantizada pelos pais fundadores de progresso.
modernidade enquanto força positiva)

Claramente tem contornos negativos, como
a questão ambiental.

Uma outra Teoria invocada na discussão da Modernidade pode ser aquela que é conhecida
como a Teoria da Convergência das Sociedades Industriais:

-Teoria da Convergência das sociedades -Emerge nos anos 50/60.


industriais Independentemente da configuração
ideológica das sociedades (isto é, sendo
capitalistas ou comunistas) iriam enfrentar os
mesmos desafios e dilemas – tendo que
acabar por optar pelo mesmo tipo de política.
-Fator comum das sociedades seria o da
industrialização, que dota a sociedade de
recursos e problemas comuns (fragilização do
Estado-Nação e emergência de novos
nacionalismos).

Eixo 3 – Efeitos da Modernidade? É possível um balanço da experiência da Modernidade?


-Revisão crítica afasta uma análise dicotómica da modernidade, defende a natureza dialética
entre elementos tradicionais e modernos. Ou seja, aponta a dicotomia como demasiado rígida.
-Mais uma vez, a balança dos efeitos da modernidade depende do próprio contexto e
background de determinado país – países com experiências autoritárias vão ter,
necessariamente, um balanço mais negativo do que aquelas que não viveram experiências
autoritárias.
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Sistemas Políticas Modernos – Principais Desafios e Características


-A Modernidade deve ser vista como Múltipla, sem que isso implique a negligencia de fatores
comuns que caracterizam a modernidade.

1. A predominância do contexto histórico tem especial relevância na resposta aos desafios da


modernidade – ideia que não podemos fazer tábua rasa do passa. Portanto, desafios
comuns da modernidade vão ter respostas diferentes, consagrando o background histórico
e o sistema de decisão das elites políticas.

2. Mudança como elemento essencial da Sociedade Moderna – desafios fundamentais


(interligados) das sociedades ao se modernizarem, dentro de uma esfera política:

a) Desafio da Legitimidade
-Modernização implica mudança e rutura com a ordem antes existente. Esta rutura
resulta numa mudança de instituições e de valores, que necessitam de uma legitimidade
e uma construção de confiança. É necessária uma nova relação de confiança entre
governo e governados (uma vez que a legitimidade já não é divina).
-Um mecanismo de legitimação é o processo eleitoral

b) Desafio da Identidade
-Modernização vai a par com o processo de criação da ideia de Estado Nacional,
prendendo-se com a criação de sentimentos de pertença que garantem a coesão e
lealdade de uma comunidade política (de grande importância em sociedades
fragmentadas e heterogenias, como Espanha).
-Para bom funcionamento da comunidade política é necessária lealdade por via da
pertença. Essa pertença ocorre pela língua, mitos, etc.

c) Desafio da Penetração
-Capacidade do Estado em penetrar o território e controlar a população. Esta
capacidade surge, coercivamente, com a nomeação de figuras de autoridade sob
identidades políticas pelo território.

d) Desafio da Participação
-Desafio da inclusão cívica – passagem do súbito a cidadão. A cidadania e a participação
política são uma invenção da sociedade moderna.
-As novas estruturas de participação, desde sindicatos, partidos, coletivos são
características da modernidade e pressupõem uma participação social. Esta
participação concretiza a Democratização.
-Nas sociedades mais desenvolvidos é comum um fenómeno de abstenção que expressa
essencialmente o descontentamento e a desconfiança nas instituições – articulação com
o primeiro desafio, o da legitimidade.

e) Desafio do Conflito da Distribuição


-Acesso a recursos e bem valiosos desigualmente distribuídos, era típico na sociedade
tradicional – as sociedades modernas tendem a reduzir o conflito da distribuição, isto é,
reduzir as desigualdades.
-Acesso mais igualitário a recursos, através de direitos cívico comuns (estado-
providência).
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

-Indicador importante do ponto de vista da modernização é a expansão da classe média


(que demonstra que as desigualdades não são assim tão acentuadas e que há fatores de
mobilidade social).
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

O Conflito

-Numa sociedade moderna, indivíduos cada vez mais diferenciados, alvos de uma lógica de
inclusão cívica cada vez maior – pode resultar num conflito.

Hobbes – conflito é um elemento inerente de qualquer sociedade.

-Contudo, contrariamente à lógica Hobbesiana, os autores modernos acreditam que o conflito


não é essencialmente maus (o conflito só é nocivo, quando é violento). O conflito pode ter
aspetos positivos – como potenciador de uma fonte de criatividade, ideia que da discussão nasce
a luz, ou pelo menos um consenso, por meio da negociação. Deste modo, o conflito tem um
papel importante de alavanca nas sociedades modernas, para o desenvolvimento de avanços
ou mudanças na sociedade.

Conflito → Criatividade → Impede que as sociedades fiquem estáticas = asseguram a


dinâmica

-Conflito não tem que ser negativo, contudo, é necessário garantir a regularidade do conflito,
assegurando que as divergências não se traduzam em violência. Recorde-se que para uma
estabilidade a nível da sociedade civil é necessário que as mudanças institucionais acompanhem
as próprias mudanças a nível de comportamento e pensamentos. Estabilidade pressupõem
compromisso sobre determinadas rotinas.


Como Regular o Conflito e fazer com que se desenrole pelas regras corretas?
Sociedade autoritárias (Teorias Monistas) / Sociedades Democráticas (Teorias Pluralistas)

Teorias Pluralistas Teorias Monistas


Valorizam o Conflito como legítimo Conflito como maligno para a Sociedade
-Conflito como inerente à condição humana – -Conflito é visto como algo maligno que
natural e legitimo nas sociedades. O necessita de ser reprimido. O conflito não
problema do conflito prende-se com a garante uma sociedade coesa.
regularização do conflito – esta regularização -Conflito é uma patologia da sociedade.
pode ser feita através das eleições (que -Olha para o conflito e consenso como
indicam um consenso). antagónico.
-Regularização do conflito – R. Dahrendorf ou
Instituicionalização – Simmel. Eleições
=
Eleições Formas de competição
=
Mecanismo de Regulação do Conflito -Sociedades Autoritárias.

-Consenso tem relação com a ordem e a


racionalidade, e com uma ideia de evolução.
-Olham para o conflito e consenso como um
círculo.
-Sociedades Democráticas.
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

No Intermédia das Sociedades Democráticas e Sociedades Autoritárias existem formas


hibridas.
The essence of a free government consists in a effectual control of rivalries – J. Adams

Conflito - por Eisenstadt

O conflito pode ser visto como um elemento construtor das sociedades modernas – “a
história da política moderna pode ser vista como a história da incorporação dos símbolos e
reivindicações dos movimentos de protesto”, sendo que esta incorporação pode ter sido feita
de forma pacífica ou de forma violenta.
No entanto, apesar desta tendência comum na formação das sociedades modernas, elas
divergem no que toca às “formas simbólicas e institucionais de gerir os problemas comuns às
sociedades modernas”, ou seja, à natureza dos conflitos e ao modo como foram construídos e
incorporados os movimentos de protesto (assim torna-se compreensível a resposta à celebre
pergunta “Porque é que não é socialismo nos E.U.A.?”).
O conflito é deste modo mais uma “prova” da existência de múltiplas modernidades,
pois as diferenças conflituais cunham, por sua vez, diferenças societais. Assim, os temas e
símbolos de protesto transformam-se em elementos básicos do simbolismo social e político das
sociedades, dando origem a padrões culturais e institucionais em permanente mutuação.

“A cena social não é, nem uma guerra de todos contra todos, nem um vazio utópico e sem
ficção onde a luta está definitivamente banida”
(Lewis Coser, 1956)

Deste modo, concluímos que os regimes democráticos são os que se baseiam na regulação do
conflito. Quais são as condições necessárias para uma sociedade diversificada regular o conflito?
Quais as condições para o estabelecimento de uma democracia?
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

A Democracia

1. Origem e Desenvolvimento Histórico da Democracia


-Ideia que o conceito pode viajar e variar no tempo: Existe uma distinção entre a Democracia
Clássica e a Democracia Moderna. O conceito de Democracia nem sempre significa o
mesmo. A conceção clássica grega de democracia é diferente da conceção contemporânea.
-Diferenças ocorrem no papel da mulher, por exemplo: na Grécia clássica não era
considerada como cidadão legal e parte cívica e política.

Modernidade

Democracia
(ainda que seja falacioso tirarmos a inflexão de um sinónimo entre Democracia e
Modernidade).

"The government of the people, by the people, and for the people" (A. Lincoln, Gettysburg
Address, 1863).

"An institutional arrangement for arriving at political decisions in which individuals [the
elites] acquire the power to decide by means of a competitive struggle for the people's
vote" (J. Schumpeter, Capitalism, Socialism and Democracy, 1943).

Roberth Dahl
-Dahl procura classificar em diferentes graus os níveis de democratização – farol de qualidade
das democracias - através de seis requisitos essenciais para a definição de Democracia, nas
sociedades industriais desenvolvidas.
-Para classificar os diferentes graus, utiliza um tipo ideal de Democracia – Poliarquia. Esta
comparação, com um tipo ideal inatingível, permite uma análise mais real dos graus de
democratização, assim como, a separação entre Democracia ideal e Democracia Real
(classificação pressupõe que a democratização é maior, quanto mais inclusão democrática
popular nas eleições existir).
-Destaca seis condições para se obter uma classificação do grau de Democratização, segundo
um tipo ideal de Democracia, que pode, inclusive, guiar os Estados no sentido de uma maior
Democratização – Poliarquia:

a) Dirigentes eleitos – governantes dos regimes tem que ser eleitos. Representação.
b) Existem eleições livres, justas e frequentes (free and fair elections). Acrescenta uma
ideia de frequentes (que evita abusos de poder).
c) Liberdade de expressão – qualquer expressão sem constrangimentos.
d) Fontes alternativas e independentes de informação sem estarem relacionadas com
um controlo do governo – relacionadas com a liberdade de expressão, que
impulsiona o comportamento cívico.
e) Autonomia de Associação – validade da sociedade civil, formação de partidos,
coletivos e grupos de interesse.
f) Cidadania Inclusiva – não pode ser negado a nenhum individuo que resida
permanentemente no país e que esteja sujeito às suas leis.
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-Contudo, ressalva-se que a realidade é muito mais completa – não existem apenas regimes
democráticos e autoritários, existem formas híbridas – formas autoritárias que apresentam
características democráticas; e formas democráticas que apresentam resistências aqueles que
poderá ser uma característica de democracia (caso indiano).

1) Processo e Modos no Mundo Contemporâneo de transição de regimes autoritários para


regimes democráticos. Quais as condições necessárias para o estabelecimento de uma
Democracia?

A. Seymour Lipset – o Homem Político - enumera características entendidas como


essenciais à sedimentação democrática.

1. Nível de Desenvolvimento Económico – correlação positiva entre desenvolvimento


económico (desenvolvimento sustenta a ideia de transformação das instituições) e
a institucionalização da Democracia.
-Se há desenvolvimento económico, então existe condições para um
desenvolvimento do bem-estar e das oportunidades sociais numa dimensão mais
alargada da sociedade – Democracia.
-Mais riqueza significa também mais instrumentos para responder aos desafios
democráticos, sugerindo mais possibilidades de negociação.
-Contudo, uma coisa não é sinónima da outra – regimes com desenvolvimento
económico podem não ser democracias, pelo contrário, regimes autoritários estão
mais aptos a desenvolverem-se economicamente, uma vez que não existem
obstáculos democráticos).

Desenvolvimento Económico → Democracia → Bem-Estar

2. Existência de um Sistema de Estratificação Social flexível e mais aberto – facilita o


estabelecimento da Democracia, uma vez que sugere uma maior capacidade de
mobilidade social (através da meritocracia e das aspirações individuais).
-Classe Média é um novo elemento desta estrutura.

3. Grau de Heterogeneidade Relativa – benéfico um grau baixo de heterogeneidade


-Existem dois tipos de clivagens nas sociedades: as horizontais (numa dimensão de
estratificação) e as verticais (que ultrapassam uma dimensão horizontal – e são
referentes à cultural, etnia, raça, língua – partidos e religião podem agregar
diferentes clivagens horizontais e unir verticalmente – exemplo: diversidade cultural
na bélgica). Estas clivagens são linhas de divisão na sociedade que se tendem a
congelar.
-Sociedades heterogéneas, com mais probabilidade de conflito, tem mais clivagens
internas, produzindo mais grupos com possibilidade de choque. Deste modo, a
Heterogeneidade de uma sociedade pode tornar mais difícil uma regulação do
conflito, dificultando a institucionalização da Democracia – ainda que não seja vista
como negativa.
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

4. Pressões cruzadas (Georg Simmel) - ocorrem quando as clivagens se cruzam e não


convergem, baixando o potencial de conflito. Lealdades cruzadas são benéficas à
Democracia, exatamente porque baixam o nível de conflito.
-Quando as clivagens vão convergir, então o potencial de conflito aumenta (divisões
agravam-se). Exemplo: Situação da Irlanda do Norte – patrões e operários,
tipicamente rivais, são aliados religiosos – dentro de uma clivagem católica.

5. Resolução Histórica de Conflitos – Capacidade histórica para a resolução de


conflitos
-Argumento de base temporal e histórica, consagrando a importância da resolução
histórica dos conflitos. O conflito é endémico a qualquer sociedade e inerente à
transformação das mesmas – ou seja, a transformação comporta conflito de
interesses e valores (Exemplo – a modernidade vem repensar a família tradicional).
-As sociedades que são capazes de resolver conflitos e os novos deságios (ou seja,
não acumulam) são aqueles que tem mais capacidade de regular novos conflitos e
institucionalizar a Democracia.
-Enquanto existirem conflitos para responder, as instituições democráticas
sobrevivem.

6. Sistemas Bipartidários favorecem a Democracia


-Ideia que um sistema bipartidário tem maior propensão para o funcionamento da
democracia, do que um sistema multipartidário.
-Relaciona-se com um ponto de heterogeneidade relativa – quando mais
homogénea, menos conflitual e por isso mais próspera à Democracia. Uma
sociedade bipartidária espelha uma sociedade pouco heterógena e
consequentemente com menos potencial para o conflito.
-Distancia ideológica maior em regimes multipartidários. Defendendo um sistema
Maioritário.

-REVISÃO CRÍTICA A SEYMOUR LIPSET:

1. Adam Przeworski -teste à hipótese da evidência empírica de Lipson – não há relação


de causalidade entre democracia e desenvolvimento económico. Ou seja, conclui
que para a sedimentação da Democracia é necessário um desenvolvimento
económico e institucional; mas que uma Democracia não necessita,
inevitavelmente, de apresentar resultados de desenvolvimento económico (difere
condições de transição das condições de consolidação.
-Países pobres não deixam de ser democráticos devido a um baixo desenvolvimento
económico.

2. Arend Lijphart – um dos fatores que enfatiza a explicação de Lipson das condições
favoráveis à Democracia é uma variável explicativa enviesada – sistemas
bipartidários. Estes surgem de um contexto pessoal do autor, de identificação e
associação ao sistema inglês.
-Lijparth defende as democracias consensuais, ou seja, proporcionais,
contrariamente às bipartidárias – o multipartidarismo não inibe a sociedade, pelo
contrário, desenvolve-a e leva a uma regulação do conflito.
-Recorre ainda à ideia de utilização de diversas variáveis – sociais, demográficas.
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

B. Robert Dahl – enumera as características que favorecem a instituição da democracia e que,


sem as quais, é improvável que um país desenvolva instituições democráticas:

a) Falhas nas Alternativas – falhas das alternativas não democráticas (como a


monarquia, aristocracia).
b) Não existência de Intervenção estrangeira – países que estejam sujeitos à
intervenção interna de outro país, são menos prováveis que desenvolvam
instituições democráticas. URSS.
c) Controlo dos Militares e da Política – improvável o desenvolvimento de instituições
democráticas que se desenvolvam, a menos que as forças militares estejam sobre o
controlo dos funcionários democraticamente eleitos – senão existirá sempre
ameaças internas (veja-se o caso Português ou Africano).

d) Fraco Pluralismo Subcultura – pais culturalmente homogéneos, a instituição


democrática tem mais facilidade em vingar (vai de acordo a Lipsten e contra Lijpart),
do que num país com culturas difusas, fragmentadas e conflituosas. Está
relacionado com a perceção das reivindicações de um grupo cultural, não como algo
negociável, mas como uma questão de princípio que dita a sobrevivência de um
grupo – não se coloca a negociação).
-Deste modo, as diversas exigências de diversos grupos dificilmente permitiram
estabelecer uma solução conciliatória, o que se apresenta antagónico com uma das
principais caraterísticas da democracia – a solução pacifica de conflitos através da
negociação e do estabelecimento de acordos.
-Contudo, há exceções – índia (embora existam diversidades culturais, o país
apresenta restante condições favoráveis à democracia). Ou seja, há maneira de
combater e regular esta diversidade – através das seguintes estratégias:

a) Integração.
b) Decisão pelo consenso.
c) Sistemas eleitorais.
d) Separação (Suíça).

e) Convicções e Cultura democrática – perspetiva para uma democracia estável são


altas, quando existe uma crença a nível popular e da elite política nos seus valores
e ideias – democracia mais estável, onde existir uma cultural democrática na cultural
nacional.

f) Economia de Mercado – aquela na qual as empresas económicas sejam na sua


maioria propriedade privada e não do Estado. Condição importante para o
estabelecimento de regimes democráticos.
-Não obstante, existe uma constante tensão entre democracia e economia de
mercado capitalista, pois a economia de mercado vem aliada a vantagens e a
desvantagens sentidas no palco democrático.

-Porque é que o capitalismo de mercado favorece a democracia? Embora as economias de


mercado também existam em países não democráticos (ex.: Taiwan), uma coisa é certa: jamais
existiu um país com instituições democráticas que não tivesse uma economia de mercado. Isto
acontece porque numa economia de mercado o principal objetivo é a produção de lucro, e isto,
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

a longo prazo, acabou por resultar num forte desenvolvimento económico (que, por sua vez, é
favorável à democracia, tendo em conta que ajuda a reduzir os conflitos sociais e políticos, e
proporciona aos governos o excedente necessário para reinvestir na própria população). Além
disso, o capitalismo de mercado, ao descentralizar muitas das decisões económicas das mãos
do governo, evitam a necessidade de um governo central forte ou até mesmo autoritário
(economias de empresas nacionalizadas sempre estiveram fortemente associadas a regimes
autoritários). Deste modo, uma economia descentralizada que ajuda a criar uma nação de
cidadãos independentes é altamente favorável ao desenvolvimento e à sustentação das
instituições democráticas.

-Porque é que o capitalismo de mercado prejudica a democracia? Apesar das favoráveis


condições que o capitalismo de mercado trás à democracia, estes dois estão presos num conflito
permanente em que cada um modifica, limita, e afeta o outro. Assim, e apesar de ser verdade
que o capitalismo de mercado trouxe ganhos para uns, como sempre, também prejudicou
outros. O capitalismo de mercado sem intervenção e regulamentação do governo torna-se
impossível num país democráticos, essencialmente por duas razões:
1) As próprias instituições básicas do capitalismo de mercado exigem regulamentação
e intervenção governamental (ex.: mercados competitivos, contratos legais, proibição
de monopólios, proteção dos direitos de propriedade, etc.), pois estão dependentes de
legislações realizadas pelo Estado. Uma economia de mercado não é, nem pode ser
completamente autorregulada.
2) Quando as decisões são exclusivamente tomadas pela competição económica e sem
esta intervenção acaba de mencionar, uma economia de mercado inflige sérios danos
aos cidadãos. Neste contexto, somos capazes de afirmas que o capitalismo de mercado
gera desigualdades na distribuição dos recursos não só materiais, mas também políticos.

-Por sua vez, devido às desigualdades na distribuição de recursos políticos, alguns cidadãos
adquirem mais influencia do que outros nas decisões políticas e nas ações do governo - cidadãos
sem igualdade política são uma forte violação dos princípios democráticos.

-Qual o futuro das democracias modernas? O autor aponta que certos problemas que os países
democráticos enfrentam atualmente irão permanecer ou até mesmo agravar-se. A natureza e
caraterísticas de democracia no futuro dependem a larga escala da maneria como os cidadãos
e líderes políticos resolverem as seguintes dificuldades:
-Ordem económica – a coabitação entre capitalismo e democracia menciona
anteriormente certamente persistirá. Sejam quais forem os seus defeitos, uma
economia de mercado parece ser a única opção para os países democráticos no novo
século. Assim, o futuro será ditado pelas respostas que forem criadas no sentido de
preservar o potencial económico do capitalismo, paralelamente com o desenvolvimento
de um travão aos seus efeitos nefastos para a preservação da igualdade política.
-Internacionalização – a dificuldade imposta pela internacionalização é garantir que as
práticas democráticas não sejam perdidas quando as decisões passarem a ser tomadas
a nível internacional.
-Diversidade cultural – parece improvável que a diversidade cultural e dificuldades por
ela imposta diminuam no novo século, é bem mais provável que estas aumentem,
crescendo assim igualmente a necessidade de proteger os direitos e interesses de todos
os grupos sociais.
Sociologia Política | Raquel Lindner Costa

-Educação cívica – todos os cidadãos devem ter direitos às mesmas oportunidades de


aprender sobre as políticas postas em prática pelos seus governos. No entanto, no novo
século, esta educação cívica poderá vir a ser dificultada por alguns fatores:
1) devido à maior internacionalização, ações que afetam de modo considerável
a vida dos cidadãos abrangem áreas cada vez mais amplas e números cada vez
maiores de pessoas;
2) as questões parecem tornar-se cada vez mais complexas, e nenhuma pessoa
é capaz de ser especialista em todas as áreas. Além disso, a política é algo
fortemente ligado à incerteza, e que geralmente exige difíceis julgamentos
sobre as negociações.
3) a evolução das TIC está a aumentar fortemente a quantidade de informação
disponível, mas quantidade nem sempre e sinónimo de qualidade.

A relação capitalismo-democracia parece ser indissociável porque a competição é o princípio


estruturante tanto da democracia – competição política – como do capitalismo – competição
económica.

Os dois autores citados anteriormente apresentam-nos um conjunto de fatores externos que,


fruto da sua conjugação, tendem a acabar por originar regimes democráticos. No entanto, não
podemos cair no erro de acreditar que existem correlações diretas e imediatas – o que existem
são fatores mais ou menos influenciadores. Um outro fator, não referido pelos autores, é o papel
das elites políticas – um fator interno à própria sociedade, que tem um papel muito importante
na criação de confiança nas instituições.

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