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Biografia

José Miguel Wisnik (São Vicente, São Paulo, 1948). Ensaísta, compositor, pianista, cantor, professor
universitário. Estuda piano erudito no Conservatório Aymoré do Brasil de São Vicente com a pianista Maria
Cecília Brasil Mavrides e posteriormente se aperfeiçoa com o maestro Souza Lima. Em 1966, apresenta-se
como solista à frente da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. No ano seguinte, muda-se para a
capital paulista, para cursar letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo (FFLCH/USP). Dividido entre a música e a literatura, encontra na canção popular um espaço de
conjunção das duas atividades. Em 1968, participa do Festival Universitário da TV Tupi com a canção Outra
Viagem, interpretada por Alaíde Costa, e depois gravada por Ná Ozzetti, no disco Estopim, de 1999. A
promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), contudo, inviabiliza a continuidade dos festivais, que se
encerram em 1972. Isso interrompe, por longo período, sua atividade como compositor. Dedica-se então à
pesquisa acadêmica.

Em 1974, obtém pela FFLCH/USP o título de mestre em teoria literária com a orientação de Antonio
Candido, com a dissertação A música em torno da semana de arte moderna de 1922. O trabalho, publicado
em 1977 pela editora Duas Cidades e vencedor do Prêmio Jabuti, marca o início de suas pesquisas acerca das
relações entre música e literatura. Elas têm continuidade em sua tese de doutorado, Dança Dramática:
Poesia/Música Brasileira− na FFLCH/USP, em 1980, também orientada por Antonio Candido −, e em vários
ensaios posteriores, alguns reunidos no livro Sem Receita: Ensaios e Canções, editado pela Publifolha, 2004.

De 1976 a 1979, leciona teoria literária no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas
(Unicamp), e em 1980 torna-se professor de literatura brasileira da FFLCH/USP, onde atua até hoje. No fim
da década de 1980, retoma a carreira musical. Compõe trilhas para teatro, dança e cinema, destacando-se as
peças As Boas, de Jean Genet, em 1991, e Mistérios Gozosos, de Oswald de Andrade, em 1995, ambas com
direção de Zé Celso Martinez Corrêa; os balés Nazareth, 1993, e Parabelo, 1997 (em parceria com Tom Zé),
pelo Grupo Corpo; e os filmes Terra Estrangeira, 1994, de Walter Salles e Daniela Thomas, e Janela da
Alma, 2001, de João Jardim e Walter Carvalho. Tem canções gravadas por importantes intérpretes da MPB,
como Ná Ozzetti (O Tapete, Pérolas aos Poucos, Ultrapássaro), Maria Bethânia (Cacilda), Gal Costa (Baião
de Quatro Toques), Zizi Possi (Mundo Cruel). Em 1992, lança o primeiro disco, José Miguel Wisnik, com
participação de vários artistas, seguido de São Paulo Rio, 2000, e Pérolas aos Poucos, 2003. Como produtor,
dirige o disco Do Cóccix ao Pescoço, 2002, de Elza Soares, entre outros trabalhos.

Análise da Trajetória
O trabalho de José Miguel Wisnik como compositor tangencia, em vários momentos, suas reflexões sobre
música e literatura. Daí o uso constante de citações, em que dialoga com clássicos da canção popular
brasileira e do repertório erudito. É o caso de Se meu mundo cair (referência a Meu Mundo Caiu, de
Maysa), Assum Branco (comentário musical de Assum Preto, de Luiz Gonzaga), Para Elisa(parceria com
Luiz Tatit que satiriza o uso do tema de Für Elise, de Beethoven, como chamariz de caminhões de gás)
e Baião de Quatro Toques(baseada no tema da Quinta Sinfonia de Beethoven, também em parceria com Luiz
Tatit). Wisnik dialoga ainda com diversos poetas e musica textos de Fernando Pessoa (Tenho dó das
Estrelas), Gregório de Matos (Mortal Loucura), Carlos Drummond de Andrade (Anoitecer), Alice Ruiz (Sem
Receita e Vitual), Paulo Leminski (Polonaise e Subir Mais)e Antônio Cícero (Os Ilhéus).
O piano desempenha papel fundamental em muitas de suas canções. É o caso da já citada Anoitecer, que tem
como letra o sombrio poema homônimo escrito por Drummond na época da Segunda Guerra. O tempo
homogêneo e aflito expresso pelo poeta ("É a hora em que o sino toca, / mas aqui não há sinos") é
representado, no piano, pelo ostinato¹ do baixo, que lembra o ritmo monótono das badaladas. A melodia,
construída sobre uma escala pentatônica,² repete incessantemente intervalos de segunda maior e terça menor,
mimetizando o som das sirenes que tomam a cidade. Tudo isso envolvido pela harmonia estática e pelo ritmo
lânguido que lembram as Gymnopediesdo compositor francês Eric Satie. A formação pianística de Wisnik
transparece em outras canções, com suas sofisticadas harmonias e linhas melódicas, muitas delas inspiradas
no repertório clássico do instrumento. O arranjo de André Mehmari para a canção Pérolas aos Poucos,
gravado por ele e Ná Ozzetti no disco Piano e Voz, revela a riqueza da melodia criada por Wisnik, que nos
dedos do intérprete-arranjador se transforma em uma fuga ao estilo de Bach.

As reflexões acadêmicas de Wisnik também se refletem nas composições instrumentais. Em Nazareth, trilha
para espetáculo homônimo do Grupo Corpo, o compositor traduz, musicalmente, questões mais tarde
desenvolvidas no ensaio Machado Maxixe. Nesse texto, Wisnik traça um paralelo entre o compositor de
Odeon e o personagem Pestana, do conto Um Homem Célebre, de Machado de Assis. Ambos são músicos de
formação erudita cujas obras, contrariando suas ambições, contêm um balanço quase involuntário e logo se
transformam em sucessos populares. Pestana quer compor valsas e noturnos, mas ao sentar-se ao piano, só
saem "buliçosas polcas". Segundo Wisnik, o dilema do personagem, que seria também o de Nazareth,
representa a contradição primordial da nação, oscilante entre a aspiração à cultura europeia e a realidade das
tradições mestiças. Diversas passagens da trilha mostram como, por trás de tangos tão populares, há algo
erudito que quer aparecer, mas sem se realizar totalmente. Em sua aproximação com Ernesto Nazareth,
Wisnik escreve letra para Bambino(tango de 1910), registrada por Elza Soares em seu disco Do Cóccix até o
Pescoço, de 2002.

Embora o lirismo seja a marca principal de suas composições, Wisnik transita por vários estilos, como a
música pop (na canção Virtual, gravada por Jussara Silveira no álbum Rio−São Paulo), e, em outros
momentos, canto falado da vanguarda paulistana (presente, por exemplo, em Relp), movimento do qual se
aproxima nos anos 1980.

Desde 2005, em parceria com o também músico e professor universitário Arthur Nestrovski, ministra aulas-
show por todo o Brasil, em que explora a história e evolução da canção popular brasileira.

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