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UNIVERSIDADE PARANAENSE

CURSO DE PSICOLOGIA

RELACIONAMENTO AMOROSO, SEXUALIDADE E CONJUGALIDADE NA


SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
UM ESTUDO SOB A PERSPECTIVA DE HOMENS E MULHERES1

CASCAVEL/PR
NOVEMBRO/09

1
Este estudo fez parte do Programa de Iniciação Científica da Universidade Paranaense P
IC, sendo financiado pela referida
instituição
Camila Campos Clavisso
Edirlene Dias
Francielle Mayumi Sakamoto Claro
Graziela Picini
Janaina Mazutti dos Santos
Julia Schiessl
Juliana Albertina Klein
Jussara Teresinha Henn
Sarah Adaias de Souza Marçal
Viviane Moreti

Profª Diocleide Silva

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA


Relatório final de Pesquisa Institucional
apresentada a COPIC como relato das
atividades desenvolvidas no ano de 2009
no Programa de Iniciação Científica.
CASCAVEL/PR
NOVEMBRO/09
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................
...........................................4

1 HOMEM E MULHER HISTORICIDADE E TRANSFORMAÇÕES....................................6

2 AMOR VERSUS PAIXÃO: SERÁ POSSÍVEL DISTINGUI-LOS?....................................


12

3 NOVAS FORMAS DE AMOR, RELAÇÕES E CONJUGALIDADE..................................19

3.1 A SEXUALIDADE NAS RELAÇÕES AFETIVAS CONTEMPORÂNEAS.......................20


3.2 COMPREENDENDO A HOMOAFETIVIDADE.............................................
..................21
3.3 FICAR E NAMORO: NOVAS FORMAS DE VÍNCULO.........................................
.......23
3.4 CASAMENTO, SEPARAÇÃO E RECASAMENTO..............................................
..........24
3.5 COMPREENDENDO AS NOVAS DE RELACIONAMENTOS AMOROSOS.................25
3.5.1 União Estável e Coabitação........................................................
...........................25
3.5.2 Poliamor: Compreendendo Novas Formas De Relacionamentos Amorosos........26
3.5.3 Relacionamento Virtual....................................................
......................................27
4 DIANTE DISSO, ONDE FICA A FAMÍLIA?..............................................
..................29

5 METODOLOGIA...................................................................
............................................33

5.1 PARTICIPANTES DA PESQUISA...................................................


...............................33
5.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS .............................................
......................33
5.3 PROCEDIMENTOS...............................................................
.........................................33
5.4 ANÁLISE DOS DADOS.............................................................
.................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................
..................................35

REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS.........................................................
..........................38
INTRODUÇÃO
As relações sócio-emocionais entre homens e mulheres se delineiam conforme o
contexto histórico-cultural no qual estão inseridos. Nos últimos anos tem-se percebido
novas formas de relações amorosas, conjugalidade e sexualidade, as quais são
construídas, mantidas e rompidas permeadas por subjetividades que nascem e se
transformam juntamente com as modificações de nossa sociedade.
Papéis sociais antes bem delimitados e desempenhados por homens e mulheres se
descaracterizam como próprio de algum dos gêneros e modificam as noções identitárias do
que é ser homem ou ser mulher.
Identidades em transição por vezes são apontadas como um dos motivos que
modificam objetivos, funções e durabilidade das relações conjugais e amorosas, desta
forma, a família atual também se reestrutura. Temas como carreira,
maternidade/paternidade, união/separação são recorrentes em discussões nos diferentes
espaços sociais que vão desde o mundo acadêmico, passam pelas queixas de consultório
e estendem-se aos bares da vida.
É a partir desta perspectiva que o presente estudo pretende investigar perspectiva
s
comuns e possíveis divergências que culminam na difícil relação entre individualidade e
conjugalidade na perspectiva de homens e mulheres. Em pesquisas de iniciação científic
a
anteriores investigaram-se a temática identidade feminina e masculina na sociedade
atual,
seus resultados apontam que, ao passo que a mulher ampliou seus papéis e identific
a este
fato como conquistas e possíveis perdas, para os homens ainda há uma identidade em
transição que é trazida no discurso remanescente de provedor e pai no sentido de
estabelecimento da ordem bem como na percepção das mudanças na expressão de
sentimentos e no partilhar das responsabilidades no âmbito privado.
Diante de tais perspectivas e discussões, para tornar viável a proposta deste estudo
seus objetivos foram delineados. Assim, por objetivo geral, buscou-se Investigar
a
perspectiva das relações amorosas, sexualidade e conjugalidade entre homens e
mulheres; já os objetivos específicos buscaram estudar historicamente as relações de
conjugalidade entre os gêneros; conhecer as prioridades atuais atribuídas por homens
e
mulheres frente à questão do relacionamento amoroso; compreender as novas
perspectivas de conjugalidade, carreira profissional e filhos de homens e mulher
es;
comparar as expectativas de homens e mulheres frente a relações amorosas, sexualidad
e
e conjugalidade a partir das variáveis sócio-econômicas.
Visto que de forma recorrente a Psicologia e seus profissionais têm sido convidado
s
a discutir e posicionar-se sobre a crise das relações contemporâneas e seus efeitos para
a família e sociedade como todo, faz-se importante conhecer os sujeitos envolvidos
nesta
transição de forma a poder ampliar o contato empírico e teórico frente a esta temática.
Pesquisas na área têm sido desenvolvidas e, como em ciências sociais e humanas as
verdades são construídas continuamente, este estudo certamente trará contribuições para
uma leitura, compreensão e intervenção pautados numa realidade em transição.
Ao final deste estudo, houve uma melhor compreensão deste cenário social que traz
desafios aos atores que nele se apresentam, seja porque as relações atuais já não são
mais asseguradas pelos laços de dependência e sim pela autonomia e satisfação de seus
envolvidos, seja porque, em transição, enquanto sujeitos sociais, ainda estamos em b
usca
de novas formas de relação que não nos aprisionem, mas também que não nos deixe em
desamparo.
1 HOMEM E MULHER HISTORICIDADE E TRANSFORMAÇÕES
É sabido que homens e mulheres se constroem através de processos dinâmicos e
dialéticos com o meio cultural em que estão envolvidos e, ao mesmo tempo em que
produzem seu cotidiano, são também constituídos por este. No meio deste emaranhado de
conceitos, hábitos, verdades e mentiras é que os relacionamentos humanos vão se
formando e se transformando, podendo ser entendidos através do estudo de modelos
culturalmente atribuídos acerca do que é ser homem e mulher, e de como costuma ser u
m
relacionamento afetivo entre estes pares (BOURDIEU, 1999).
Neste âmbito, faz-se necessário entender o que é gênero, para que se possa tentar
compreender como o objeto de estudo deste trabalho permeia a consciência de homens
e
mulheres. De acordo com o Dicionário de Direitos Humanos
da ESMPU2, gênero é uma categoria relacional do feminino e do masculino. Considera a
s
diferenças biológicas entre os sexos, reconhece a desigualdade, mas não admite como
justificativa para a violência, para a exclusão e para a desigualdade de oportunidad
es no
trabalho, na educação e na política. É portanto, um modo de pensar que viabiliza a
mudança nas relações sociais e, por conseqüência, nas relações de poder. É um
instrumento para entender as relações sociais e, particularmente, as relações sociais en
tre
mulheres e homens. Assim, as relações de gênero podem ser estudadas a partir da
identidade feminina e masculina. Gênero significa relações entre homens e mulheres.
Strey (1998) frisa a diferença entre Sexo e Gênero, enquanto sexo diz respeito às
características fisiológicas relativas à procriação e à reprodução biológica as diferenças
Gênero são socialmente construídas, já que o sexo biológico não determina o
desenvolvimento do individuo com relação aos comportamentos, interesses, estilos de
vida, responsabilidades nem papeis a serem desempenhados, também não determina
características de personalidade, pois isso tudo é determinado pela socialização, portan
to
as diferenças de gênero são socialmente construídas. A construção cultural do gênero é
evidente quando se verifica que ser homem ou ser mulher nem sempre supõe o mesmo
em diferentes sociedades ou em diferentes épocas.
2
http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php
Dex e Kite (1987) salientam que ainda existem muitas crenças sobre diferenças de
gênero que persistem tanto no senso comum, como no campo cientifico, o que leva à
manutenção de estereótipos no senso comum e distorções no estudo cientifico .
No século XIX, foi fortalecida e disseminada a idéia de uma dicotomia entre os
gêneros. Para Strey (1998), as pesquisas transculturais apontam que os homens são
vistos como sendo mais ativos, com mais necessidade de realização, de domínio, de
autonomia, e agressividade. Enquanto as mulheres seriam vistas como mais fracas,
mais
preocupadas com suas necessidades afiliativas e de afeto.
Ainda dentro desta perspectiva, homem lembraria cérebro, inteligência, razão lúcida,
capacidade de decisão, enquanto que mulheres lembrariam coração, sensibilidade,
sentimentos. A organização da família era mantida por leis estabelecidas pelo Estado e
apoiadas pela Igreja. A relação de submissão e dominância estava na base da sociedade
patriarcal (DEL PRIORE, 1997).
Alambert (1983) destaca que estas diferenças nas relações entre homens e
mulheres, ao longo dos séculos, mantêm caráter excludente. São assimiladas de forma
bipolar, designando à mulher a condição de inferior, conceito este que tem sido
reproduzido pela maioria dos formadores de opinião e dos que ocupam as esferas de
poder na sociedade.
A exclusão social da mulher na opinião de Dupas (1999) é secular e diferenciada.
Compreender a condição bipolarizada do sexo possibilita classificar os indicadores d
a
exclusão social fundamentada na diferença. Sabe-se que a exclusão não é algo apenas do
universo feminino ou das relações de gênero, mas atinge os diferentes segmentos da
sociedade. Entende-se também, que a exclusão não é provocada unicamente pelo setor
econômico, apesar de este ser um dos principais pilares de sustentação desse fenômeno.
A exclusão é gerada, portanto, nos meandros do econômico, do político e do social, tendo
desdobramentos influenciando o desenrolar cultural, da educação, do trabalho, das
políticas sociais, e de vários outros setores.
É perceptível uma busca histórica na transformação das relações de gênero, em
especial pelas mulheres na busca de seu espaço público e conquista de autonomias e
emancipação. A entrada da mulher no mercado de trabalho inicia esse processo de
mudança. De acordo com Foucault (1983), a saída do espaço privado acontece pela via da
filantropia que é usada pela mulher da classe dominante como reação para sair do
isolamento do lar, havendo ainda, em números menores a sua iniciação no mercado de
trabalho no qual recebia uma remuneração por seus serviços, devido a uma necessidade
do capital de ampliar o seu consumo, ocorrendo de maneira desigual, pois não assum
e o
papel de trabalhadora igualmente aos trabalhadores homens, mas, como um ser marc
ado
e vitimizado pelas relações de desigualdade nas relações desumanas tanto na esfera do
trabalho público quanto privado.
A busca por um equilíbrio estável da sociedade capitalista, principalmente após a
Primeira e Segunda Guerra Mundial estabelece como exigência básica a reorganização do
papel das forças produtivas no ciclo de produção do capital, tanto na esfera da produção
como das relações sociais, a situação da mulher acaba por tomar visibilidade. Os
desempregos provocados pelo aumento das tecnologias de produção e mercado
conduzem cada vez mais a mulher a assumir o papel de trabalhadora e em muitos ca
sos
de chefe de família. Assim, o homem natural provedor da casa, cede lugar a mulher,
que
se torna responsável também por parte ou todo o rendimento econômico da casa. Todavia,
permanecem ganhando, em geral, menos do que o homem e sujeitam-se a horários e
tarefas em situação não satisfatória adequando-se à flexibilização do trabalho defendida
pelo projeto do capitalismo (DUQUE, 2000).
As mulheres, em seus novos papéis buscaram mudanças devido às suas
insatisfações pessoais. Mas, estas mudanças atravessam o universo particular feminino
e
recaem também sobre o universo masculino. Pois, o homem que participa nas atividad
es
domésticas e no cuidado dos filhos, é até certo ponto, resultado de um sistema que o t
ira
do seu local historicamente herdado, e que faz com que este homem se sinta infer
iorizado
ao ver a mulher como provedora do sustento do lar. Esta ação é desencadeada pela
posição da mulher na sociedade, pois ao entrar no mundo do trabalho esta se sente
valorizada, principalmente a partir dos princípios feministas. Todavia, os homens
ao se
colocarem em terreno doméstico não se sentem orgulhosos ou assim são percebidos pela
sociedade, se enquadrando mais como algo pejorativo do que benéfico para si, enqua
nto
homens e para a relação (ROCHA-COUTINHO, 2000).
As transformações que sublinham novas nuances nos relacionamentos desde a
sociedade tradicional aos dias atuais, surgiram de mudanças profundas, principalme
nte
nos âmbitos econômico, sociocultural, religioso e também no contexto psicológico. No
âmbito econômico, surgem os eletrodomésticos, os congelados, creches e outros,
modificando a dinâmica familiar e principalmente inserindo a mulher no mercado de
trabalho. O avanço da ciência possibilita à mulher, o domínio da sua própria sexualidade,
e
permite a ela prevenir-se contra uma possível gravidez, através do uso de
anticoncepcionais (ALBUQUERQUE, 1996).
Nesse contexto outro movimento de destaque é o Feminismo, na década de 60,
questionando as desigualdades e os papeis pré-estabelecidos pela sociedade
tradicionalista. E o casamento deixa de ser o único meio de buscar auto-realização
pessoal, sexual e profissional para esta mulher moderna. (ALBUQUERQUE, 1996).
Coutinho (2000) destaca que, apesar de importantes transformações no papel de
mulheres e homens em nossa sociedade tenham ocorrido nos últimos anos, é preciso não
superestimar a profundidade dessas mudanças (p. 67). Persistem ainda portando
inúmeras desigualdades entre os sexos. As mulheres adaptaram-se aos padrões
fornecidos pela sociedade antes da Revolução Feminista de 1960 e da sociedade
moderna. E sabe-se que os conceitos não mudam nem completa, nem rapidamente,
portanto, essa mulher carrega os papéis de antes e os papéis da atualidade. Ela deve
continuar sendo: mãe, mulher, cuidar da casa, do supermercado, do estudo e da educ
ação
dos filhos, mas, também, deve estudar e disputar o mercado de trabalho com os home
ns,
entre outros.
Outro grande influenciador das lentes com as quais se olha e analisa o mundo é o
tempo histórico em que se está inserido, sabendo que cada ser interpreta o mundo de
acordo com as experiências que soma em sua vida, transformando fatos em fenômenos
subjetivos. Todo ser humano ao se apropriar de uma gama de significados, constrói
sentidos singulares para os valores e crenças com os quais ira realizar suas escol
has e
julgamentos. E partindo destas concepções é que se pretende investigar a perspectiva d
as
relações amorosas, de gênero, sexualidade e conjugalidade entre homens e mulheres.
Pois este homem e esta mulher são sobretudo, agentes históricos e esta construção de
relacionamentos se dá através da dinâmica das relações sociais. Pois, os seres humanos
só se constroem em relação com os outros (SAFFIOTI ,1992).
Uma destas relações sociais é a instancia do casamento fator que coincide com a
formação de uma família. Para Leite (1994), os principais questionamentos sobre a famíli
a
e o casamento iniciaram-se também, após a Segunda Guerra Mundial. A mudança no
papel da mulher e a crescente mobilidade na cultura ocidental, associadas com os
dramáticos efeitos contraceptivos e da possibilidade de aborto, levaram a alterações
significativas na vida pública e privada. Nos dias de hoje, família e casamento poss
uem
diferentes significados em relação à antiguidade quando estes estavam relacionados com
a função reprodutora biológica e ideológica da sociedade.
De uma perspectiva tradicional, o casamento era visto como a forma permitida
socialmente para perpetuar a família e garantir a manutenção da propriedade. Nele, a
religião tinha influência sobre a distribuição do poder dentro da família, legando ao home
m
(pai) o papel centralizador e caracterizando o regime patriarcal. A disposição dos p
apéis
entre homens e mulheres na família garantiria a reprodução de uma assimetria do trabal
ho
entre os sexos, cabendo ao homem prover o sustento econômico e á mulher, os serviços
domésticos e os cuidados com os filhos; as funções que cabem a cada gênero são tão
diferentes nesse modelo relacional que se pensa em termos de casamento dele e de
la
(LEITE, 1994).
Satir (1995) afirma que essa determinação de papéis entre homem e mulher sempre
foi muito severa e quaisquer variações eram sempre consideradas patológicas: o normal
e
esperado pela família e pela sociedade era que a mulher criasse os filhos e cuidas
se do
lar, ao passo que ao homem caberia o sustento material do lar do espaço público.
Com o advento da pílula, o direito da mulher de exercer atividade sexual
desvinculada da procriação foi evidenciado. Esse aspecto possibilitou, então, para a
mulher a separação entre sexo e casamento. As relações amorosas ficaram parcialmente
desvinculadas do casamento (SIQUEIRA, 1995).
Nestas condições, há de se afirmar que as mudanças ocorridas na relação entre os
gêneros influenciaram muito para um novo cenário, isto porque até a década de 50 e 60 o
papel da mulher era ser uma mãe dedicada e atenta a seus filhos. Para as mulheres
deste
período o casamento significava finalmente a conquista da independência, já que a mulh
er
passava do julgo do pai e do irmão mais velho para o do marido, no entanto assumia
o
papel de controle junto a casa e aos filhos (DEL PRIORE, 1997).
Fernandes (1994) considera que, na atualidade, os estudos têm mostrado que o
matrimônio passa a existir para proporcionar uma felicidade individualizada, sendo
legitimo
somente àquele que consagre a autonomia de cada um, no qual os direitos subjetivos
tendem a prevalecer sobre as obrigações inerentes ao par conjugal ou ao grupo famili
ar,
reformulando sua dinâmica.
Como conseqüências, constituíram-se distintas formas de conjugalidade a partir do
momento em que o matrimônio deixou de ser o meio social para a procriação e deu-se
autonomia à sexualidade, logo, o casamento não é mais necessário como condição para o
sexo. O trabalho feminino como já analisado anteriormente, também influenciou esse
panorama de forma marcante, desde que entrou em conflito com o estatuto sexual d
e
dominação masculina. A possibilidade das mulheres terem maior patrimônio educacional e
profissional permite uma maior liberdade quanto à possibilidade de fundar ou não uma
família.
Diante de tais mudanças e assumindo novas formas de conjugalidade o casamento
seria muito mais um modelo adulto de intimidade onde haveria uma relação peculiar na
qual os cônjuges tomaram a decisão de viver juntos e de se apoiar reciprocamente na
vida
do quê algo instituído e imposto socialmente (Whitaker, 1995).
Relvas (1996) considera que, o amor é a causa primeira do casamento desde que
deixou de ser feito através de combinações entre os pais ou famílias do casal, em funções
das razões políticas, étnicas ou religiosas.
Já na visão de Whitaker (1995), o motor do casamento seria a incompletude do
individuo. O casamento visa o preenchimento dessa lacuna e é tão importante que
geralmente é visto como a solução de problemas como a solidão. Todos desejam que
algo se resolva com o casamento.
Apesar de várias expectativas que são conservadas ao conservar um ideal
romântico de casamento Willi (1995) sustenta que, mesmo diante de todos os sentime
ntos
amorosos dos casais, nunca há uma satisfação completa com outro numa relação. O fator
determinante para a continuidade do casal seria a capacidade de negociar os esti
los de
vida e conciliar o mundo de cada cônjuge.
É fato que na atualidade mulheres são mais livres, podem decidir se querem ou não
ter filhos, casar ou não casar, investir ou não em uma carreira profissional, tomar
ou não
iniciativa nos relacionamentos amorosos. Elas tanto podem escolher repetir os ant
igos
comportamentos esperados das mulheres como optar por atitudes mais modernas
(ROCHA-COUTINHO, 2000).
Segundo Lins (1999), o principal conceito que não se modificou no decorrer dos
séculos é a crença de que o amor verdadeiro deve ser uma relação mútua. Porém,
segundo Souza (1994), existe diferenças entre a atualidade e os antepassados no qu
e se
refere ao sentimento de amor verdadeiro, pois a elevação deste à categoria de condição e
critério do sucesso do casamento é um acontecimento recente.
2 AMOR VERSUS PAIXÃO: SERÁ POSSÍVEL DISTINGUI-LOS?
Nossa condição humana requer que estejamos em constante integração seja com o
meio, seja com outras pessoas. Estabelecer contato com outras pessoas é inevitável. É
impossível não nos relacionarmos, bom como dificilmente encontraremos pessoas que
não tenham estabelecido vínculos ou se relacionado com outros durante sua vida, isto
porque a nossa condição de existência e continuidade perpassa pela condição de
integração social.
Diante disso, somos, portanto, dependentes de outras pessoas para crescer,
aprender, nos realizar, nos conhecer, etc. Nossas relações são construídas de acordo com

o empenho dado a esta, pelo interesse na convivência e no compartilhar experiências.


O
vínculo é o que une e liga uma pessoa a outra. Podemos no vincular com outra pessoa
pela aparência física, pelas qualidades, pelo sucesso profissional ou até mesmo pela
classe econômica (RICOTTA, 2002).
Nem sempre relações interpessoais são mediadas por sentimentos, ou seja, quando
nos relacionamos com outra pessoa não quer dizer que a amamos. Amor é diferente de
vínculo e até mesmo de paixão. Quando dispomos na busca de compreensão sobre os
sentimentos que mediam uma relação amorosa é comum usarmos como sinônimos os
afetos de amor e paixão.
A confusão que envolve esta diferenciação é muito grande, chegando a ser difícil
defini-los. Segundo May (1973 apud ANTON, 2000) o amor é um encantamento na
presença da pessoa amada. O amor envolve dois elementos, o valor e o bem da pessoa
amada e a nossa alegria e felicidade em relação a ela. Colassanti (1985 apud ANTON,
2000 p. 190) fala que o amor é basicamente psicológico, sentimento gerado por nossos
desejos, nossas necessidades afetivas, nossas projeções .
Ricotta (2002) ao discutir sobre a construção deste sentimento argumenta que o
verdadeiro amor só poderá existir quando uma pessoa passar a reconhecer o outro por
aquilo que ele realmente é como ser humano. O encontro com o sentimento do amor
envolve inúmeras mudanças em nossas atitudes. O verdadeiro amor nos possibilita
amadurecer, ter atitudes realísticas para com o outro. Ser capaz de amar verdadeir
amente
significa aceitar a responsabilidade pela nossa própria felicidade ou infelicidade,
e não
esperar que o outro nos faça feliz, nem culpá-lo por nosso mau humor ou por nossas
frustrações (p.45).
Falar de amor é algo que vem intrigando a humanidade há séculos, já que nos
parece impossível prender a idéia de amor dentro dos limites de um conceito, pois co
rre-se
o risco de exceder-se no cientificismo sobre um tema que todos têm conhecimento, d
esde
sempre, de forma em prosa e verso de forma muito mais agradável e sublime (BALLONE
,
1997).
Observa-se que o amor aparece nas diversas áreas do pensamento humano, mas
cada ser humano sabe exatamente como está sentindo seu amor ou ainda, lamentando a
falta dele. Assim, enfatiza-se que seja possível a única certeza a respeito desse se
ntimento
é que sobre é que sobre ele na há nenhum controle (BALLONE, 1997). Na visão
psicanalítica, Freud (1929) descreveu o instinto amoroso chamado Eros, a partir da
percepção de que uma histérica queria dizer algo ( que não conseguia dizer com palavras)
,
através de seu corpo. Entendido como tudo o que pode ser sintetizado como amor, Er
os
inclui: amor a si mesmo, aos pais, aos filhos, à humanidade, ao saber e aos objeto
s
abstratos. O conceito de amor para Freud, portanto, é uma ampliação do conceito de
sexualidade, definido como um conjunto de processos mentais internos que dirigem
a libido
do indivíduo para um objeto (parceiro) como o objetivo de obter satisfação.
Os apaixonados vivem com uma chama ardente no peito, como dizem os poetas, e
quando se ama percebe-se a outra pessoa como elemento fundamental na vida, apesa
r de
às vezes, a escolha da relação ter sido por razões tão casuais. O amor se torna cada vez
mais maduro com o passar do tempo. Quando se ama parece que a pessoa amada é
capaz de descobrir tudo o que se quer e deseja, valoriza aquilo que ninguém jamais
prestou atenção e até mesmo percebe a beleza quando há a percepção da ausência da
beleza. Assim, muitas vezes, os enamorados se privam de exigir do outro e coloca
r limites
em seus defeitos, devido ao medo de arriscar-se a perdê-lo (ALBERONI, 1988).
Enfim, como o amor-paixão em geral tem curta duração, o amor conjugal ligado a
ele também não dura, assim, o divórcio entra como uma possibilidade, sendo uma das
principais características do casamento moderno (ALBERONI, 1988).
2.1 CASAMENTO: TÉRMINO E RECONSTRUÇÃO
Na medida em que as pessoas mudam, muda com ela os interesses, objetivos,
sentimentos e por vezes a necessidade do vínculo amoroso, assim se faz e desfaz
paixões, amores e relações.
Segundo Maldonado (2000) a separação é uma decisão difícil para ambos os
conjugues, pois envolve sentimentos contraditórios de dúvida, certeza, alegria, tris
teza,
hesitação, medo, culpa etc. Nem sempre é fácil admitir que o casamento fracassou e que
agora precisa-se abrir mão do mesmo. Há casos que o pedido da separação é efeito
somente por uma das partes, e há outros em que a separação já é dada como caminho
definido e representa a vontade de ambos. Ricotta (2002) fala que mesmo sabendo
que os
efeitos serão diferentes de uma para a outra pessoa, essa decisão envolve característi
cas
e aspectos típicos do estado emotivo e psíquico próprio deste momento. A intensidade d
o
sofrimento que a separação causará na vida das pessoas, varia de pessoa para pessoa.
Cada pessoa reage a esse impacto da separação conforme seu grau de saúde,
maturidade emocional e conforme a resolução de seus próprios conflitos. Há pessoas que
demoram anos para superarem uma separação, outras demoram meses, outras ainda,
uma vida inteira. Isso é devido a dificuldade que muitos tem de se desfazer e dilu
ir tudo o
que foi projetado e lançado naquele casamento, naquele amor e esta pessoa sofrerá ai
nda
mais a separação ao se deparar com o fato de que está perdendo seu papel de
marido/esposa, e então, precisa renunciar completamente ou mudar esse papel ao qua
l
estava acostumada. Sendo assim, quando se separa a pessoa não está perdendo somente
o status de casado, mas também, sua auto-estima, sua segurança e amor próprio.
A decisão do rompimento da relação pode fazer parte de um jogo de ameaças e
dominaçã, no entanto, muitas pessoas não querem se separar apenas para dominar o
outro. Em muitos casos a separação é decidida por impulso, a pessoa não está disposta a
enfrentar as dificuldades ou tolerar as frustrações que envolvem um casamento. Isto
porque a convivência com o outro não é fácil, essa convivência envolve individualidades e
hábitos diferentes (MALDONADO, 2000).
Quando a relação inicia o processo de individualidades e o casal só percebe a si
mesmo, as brigas e conflitos começam e parecem não ser resolúveis. A pessoa que
escolhe-se para compartilhar uma vida amorosa precisa ser alguém que possa fazer a
pessoa feliz. Não se deve procurar alguém somente para preencher carências e faltas. O
outro precisa ser ele próprio. Quando se percebe isso, ou seja, que as diferenças ex
istem,
as pessoas se tornam mais capazes de lidar com as crises e intrigas (ANTON, 2000
).
As crises no casamento ou em um relacionamento são situações difíceis de se
lidar. A crise revela que a estrutura atual não está mais oferecendo o resultado que
precisaria dar conta, ou seja, a crise mostra que o relacionamento não está oferecen
do
gratificação, prazer, troca e entrega total para o casal. Muitas crises começam quando
um
companheiro se distancia do outro para fazer suas próprias coisas, para respirar s
em que o
outro esteja usufruindo do mesmo ar, ou quando a privacidade, um pouco de solidão é
requerida por um dos cônjuges para que ele possa guiar sua própria vida, desenvolver
seus projetos, seu trabalho etc; (RICOTTA, 2002). Em outras palavras, a crise su
rge
quando o casal não consegue conciliar seu espaço individual com o espaço comum,
aquele criado pelo casamento ou pela vida a dois (MALDONADO, 2000).
Toda dificuldade de ser casal reside no fato de o casal encerrar ao mesmo tempo
na sua dinâmica, duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, de o casal co
nter
duas identidades, dois desejos, duas percepções do mundo, duas histórias de vida, dois
projetos de vida, na relação amorosa, convivem com uma conjugalidade, um desejo
conjunto, uma história de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma identida
de
conjugal (CAILLÉ, 1991 apud FÉRES CARNEIRO, 1997).
Ainda sobre a questão da crise, segundo Ricotta (2002), estas fazem parte da vida
de todas as pessoas. Ela é um momento intermediário entre manter a situação do jeito que

está e aceitá-la ou modificar toda sua estrutura. Momentos de desentendimento, intri


gas
podem ser evitados ou superados com um empenho conjunto. A crise requer um novo
posicionamento pessoal e a descoberta de novos alcances e limites quando se trat
a de
relacionamento.
A autora citada acima, fala também que uma das queixas mais freqüentes que
atingem um casal é a desigualdade de um em relação ao outro companheiro, podendo
acontecer quando um dos cônjuges desenvolve-se mais do que o outro, pela diminuição
dos papéis conjugais, quando um dos parceiros tem muitos papéis desenvolvidos e o ou
tro
não, exemplo disso é a mulher ser unicamente mãe, enquanto o marido cada vez mais se
desenvolve. Quando os papéis de um casal não se correspondem mais, o vínculo vai
atrofiando para uma não-relação, pessoas sem nenhum elo, após as tentativas de
reorganização do vínculo terem se esgotado, resta o caminho da separação.
Neste período o cônjuge estará com um alto nível de angústia e ansiedade, não
conseguindo pensar, agir adequadamente, levando a uma desestruturação emocional e
social, com a crise há um choque da realidade, não aceitando o outro tal como ele é
(RICOTTA, 2002).
Segundo a mesma autora citada acima, com o tempo essas diferenças vão ficando
mais evidentes e relevantes, levando o agravamento da crise. Antes não vinham à tona
porque não incomodava tanto, porque estavam investindo nas semelhanças ou porque a
relação estava compensada de alguma maneira e essas diferenças não precisavam surgir.
As críticas surgem quanto maior for a convivência e quanto maior a ocorrência de
divergências. Aquilo que atrai também distancia, sendo que, na falta de projetos com
uns
entre os cônjuges, que proporciona a satisfação e realização de metas, nas divergências
freqüentes de opinião, na rotina do casamento, onde a baixa espontaneidade e a pouca
criatividade imperam, e também na falta de diálogo, ou seja, dificuldade em comunica
r-se,
cria-se não só um distanciamento entre o casal, mas uma oposição de escolhas que levam
a caminhos opostos e que irrompem com a relação.
Ter clareza dos motivos que levam a uma crise no vínculo amoroso é algo difícil de
ser alcançado, e a possibilidade de separação muitas vezes surge como uma das saídas
para a solução do intenso mal-estar caracterizado por uma convivência que apresenta
sinais de falência. O que não quer dizer, que toda crise leve a separação.
Outro fator que pode levar a desestabilização de uma união é a exacerbação das
expectativas que um cônjuge coloca no outro. Sobre isso, Ricotta (2002) fala o alt
o grau de
expectativa que as pessoas criam baseadas em suas crenças pessoas, pode levar um r
ico
relacionamento ao fracasso. Essas expectativas quando frustradas, podem gerar
incertezas quanto a continuação de uma ligação amorosa, devido ao grau nível de
idealização que um parceiro colocou sobre o outro.
As dificuldades amorosas não aparecem de repente; porém, na maioria das vezes,
toma-se consciência do resultado de atitudes muito tempo depois, ou seja, quando o
relacionamento já se encontra totalmente desgastado e vazio. Não se percebe que as
dificuldades e os desentendimentos vão se acumulando, porque não os são resolvidos
como deveria. Habilidades como cuidar, compreender, confiar, compartilhar e part
ilhar são
fundamentais no repertório de um casal e, em geral, podem ajudar bastante na resol
ução
das dificuldades surgidas na vida conjugal (MORAES e RODRIGUES 2001). Sendo assi
m,
anteriormente à decisão do rompimento conjugal, muitas vezes foi ocorrendo um
distanciamento, devido a crises, intrigas, expectativas não alcançadas etc.
A vivência da separação é de luto. Por mais alívio que um rompimento possa
causar, principalmente quando a convivência está insustentável, ainda assim é uma
experiência pessoal de perda e de novo arranjo para sua vida. Esse luto é acompanhad
o
por sofrimento intenso que é agravado quando o motivo maior da separação é a traição.
Além da situação da perda que envolve a separação, tem-se que lidar com a estima e o
orgulho abalados. Ser enganado é uma sensação humilhante, dolorosa e extremamente
traumatizante. Sobre essa incorrência da traição na separação Ricotta (2002 p.45) ainda
fala que:
O que é interessante é que a traição em si, nem sempre tem a ver com
o que o parceiro representa. Tem a ver com a própria pessoa que
buscou este tipo de relacionamento compensatório para suprir outras
demandas que por certo não vinha conseguindo realizar no vínculo
conjugal. Não necessariamente tenha que se culpabilizar numa história
que é de duas pessoas. O casamento onde um dos parceiros
estabelece algum tipo de relacionamento extraconjugal está relacionado
com necessidades pessoais que não conseguem ser supridas no
casamento ou não podem ser realizadas. Isso não quer dizer que o
parceiro não responde às suas necessidades, ou melhor dizendo, não
está relacionado com a pessoa que se é.
Neste sentido, os casos amorosos extraconjugais são estratégias para não aceitar a
existência do tempo que vem marcando o casamento e a própria pessoa. Quando casais
se sentem insatisfeitos, entediado, acomodados diante de um casamento monótono e
desgastado, a única saída para essa situação é abrir espaço para outros relacionamentos.
Por outro lado, o fato de se sentir atraído por alguém fora do casamento, sinaliza o
que lhe
está faltando, seja na sua vida particular ou no funcionamento do casal (MALDONADO
,
2000).
Segundo Andolfi (2002), o sentimento causado por essa traição parece produzir
sobre a personalidade de cada indivíduo um impacto muito mais significativo do que
os
danos eventualmente provocados pelo parceiro pela sua falta de respeito ou pela
sua
falsidade.
Porém, mesmo com tantos sofrimentos decorrentes de uma separação, é preciso
recomeçar, refazer a vida. A reconstrução da vida após a separação é inevitável. Esse
momento traz consigo a construção de uma nova identidade pessoal, já que a identidade
de casada (o) não existe mais. Este momento de transição gera tensão devido a constante
revisão de valores e metas. E é no recomeçar que a experiência da dor começa a ter seu
lado positivo, devido a grande descoberta pessoal que se chega nessa fase. Ocorr
e uma
mudança externa e interna (MALDONADO, 2000).
Conforme Ricotta (2002) a reconstrução da identidade é um processo longo e
profundo, que envolve a necessidade da pessoa se concentrar em si mesma por um
tempo, até poder estar com os outros, encontrar novas referências, saber o que quer
e o
que pretende buscar dali para frente. É preciso aprender a desvencilhar-se dos
estereótipos e moldes pré-fabricados ao construir a vida de um jeito próprio. Corrobor
ando
com isto, Maldonado (2000) fala que é preciso que a pessoa construa seu novo mundo
aos
seus olhos e não mais aos olhos da família.
Há também casos em que casais separados se encontram para transar. Vários são
os caminhos da sexualidade de um casal antes, durante e após o casamento. Na pós-
separação, o reencontro pode trazer o desejo a tona, seja pela relação ter se tornado
oficiosa ou pela maneira diferente de se tratarem. Isso pode ser uma das razões pa
ra o
recasamento (RICOTTA, 2002). Neste sentido, para Maldonado (2000) a vivencia do
rompimento pode provocar mudanças que antes com o desgastante da crise não se
estabelecia, e daí surge um novo equilíbrio capaz de propiciar o recasar com o ex-cônj
uge.
Para muitas pessoas voltar a se relacionar com o ex serve como um teste, uma
confirmação da separação e até mesmo a possibilidade de reconstrução do vínculo
amoroso. Muitas pessoas precisam dessa prova para definirem seus caminhos ou até
mesmo para constatar que a separação foi o melhor a ter feito.
Quando essa tentativa de voltar com o ex-cônjuge fracassa é preciso encontrar
outro amor ou muitas vezes ficar sozinho. Viver sozinho por um tempo é muito impor
tante e
até mesmo necessário para muitas pessoas após a separação. Viver sozinho é uma
oportunidade para desenvolver autonomia, tomar conta de si mesmo, dedicar-se mai
s a si
mesmo e a seus projeto e conhecer novas pessoas, fazer novas amizades. Em alguns
casos a pessoa encontra alguém para amar, em outros não há disponibilidade imediata
para um novo amor. Passar um tempo sozinho pode ser uma forma encontrada pela
pessoa de se fortalecer antes de correr o risco de machucar-se num novo relacion
amento.
Para outros, viver sozinho é impensável. Há quem não consiga viver sozinho, dessa forma,
dividem a casa com amigos ou voltam para a casa dos pais (MALDONADO, 2000).
A mesma autora citada acima, diz que o medo de se envolver amorosamente pode
estar ligado também ao medo de ferir o outro, de ficar sufocada, sem espaço, sem
privacidade. Quando um está interessado, o outro com medo, se desinteressa e pede
para
dar um tempo . Mas quando o amor bate de verdade, remexe fundo, toca em muitas
coisas, em culpas, sensações de seu uma pessoa em medos, desconfiança etc. Essas
coisas surgem misturadas ao prazer, ao encantamento do novo encontro amoroso e
perante a nova promessa de felicidade. Não é fácil construir uma nova relação amorosa,
para isto, é necessário que a pessoa faça uma revisão de si mesmo, de sua história e dos
amores do passado.
3 NOVAS FORMAS DE AMOR, RELAÇÕES E CONJUGALIDADE

As diversas mudanças que permeiam a sociedade contemporânea a saber: inserção


da mulher no mercado de trabalho, a pílula anticoncepcional, liberação sexual, legitim
ação
do divórcio e de uniões extramatrimoniais, urbanização, consumismo, técnicas de
fertilização e reprodução, entre outros, tem modificado valores e regras sociais, cultur
ais e
econômicas. Para acompanhar tais transformações, cada vez mais imprevisíveis e
efêmeras, novas formas de conjugalidade, de significação da sexualidade estão sendo
criados (BRANDÃO, 2003).
Anthony Giddens em A transformação da Intimidade (1993) expõe que essas
novas formas de relacionamento pautam-se na igualdade e nos ideais democráticos e
sua
compreensão pode ser facilitada, considerando três grupos básicos: o amor confluente,
a
sexualidade plástica e o relacionamento puro.
O amor confluente é descrito como sendo menos utópico que o amor romântico,
pois não se utiliza de identificações projetivas e fantasias de satisfação plena; baseia-s
e na
equidade do envolvimento emocional e afetividade, assim, o prazer sexual mútuo tor
na-se
relevante para a continuidade ou não do relacionamento; e não é exclusivamente
monogâmico, nem heterossexual (GIDDENS, 1993).
A sexualidade plástica , por sua vez, emergiu em meio ao desenvolvimento de
diferentes tecnologias de reprodução e contracepção, desvinculando o sexo das
necessidades de procriação, o que permitiu sua manifestação de forma diversificada e
impulsionou a ampliação do relacionamento puro , através do qual a mulher, por exemplo,
reivindica o direito ao prazer sexual. Essa forma de relação pauta-se no comprometim
ento,
confiança, intimidade e segurança de que a mesma seja mantida por um determinado
tempo, que tenha a possibilidade de ser duradoura, mesmo que flexível ao desejo de
dissolução dos envolvidos. A continuidade da relação, portanto, está relacionada ao grau
de satisfação de ambos os envolvidos (BRANDÃO, 2003).
Autores como Bauman (2003 apud FÉRES-CARNEIRO, 2007), entretanto,
destacam que alguns relacionamentos contemporâneos são frágeis e superficiais, dada a
insegurança e ambivalência que emerge desse contexto em transformação. Cabe ressaltar
que, independente do posicionamento adotado, e frente expressão de diferentes form
as de
conjugalidade: homoafetividade, relacionamentos abertos e virtuais, coabitação, poli
amor,
dentre outras, é necessário uma maior flexibilidade da sociedade, conhecimento e
desconstrução de certos estigmas e mitos para maior compreensão dessas configurações
(GALINDO, 1998).
3.1 A SEXUALIDADE NAS RELAÇÕES AFETIVAS CONTEMPORÂNEAS
A experiência sexual da modernidade é descrita por Foucault (1988), como
contemplando uma série de fenômenos que perpassam os processos biológicos da
reprodução, as particularidades individuais e sociais do comportamento, regras e nor
mas instituídas
pela igreja, leis judiciárias, medicina e o significado que cada indivíduo atribui
a suas atitudes, deveres sentimentos sonhos, desejos. A sexualidade é, assim, uma
construção social, que ao decorrer na história foi passiva ao controle de sua expressão,
com base nas preocupações com a moralidade (BRANDÃO, 2003).
Traçando um delineamento das concepções da sexualidade, nota-se que a partir do
desenvolvimento da burguesia, do capitalismo e industrialização, séc. XVII, a sociedad
e
deu início a um período de repressão da sexualidade por meio da persuasão dos
discursos. Até o século XVIII a desvinculação do sexo às relações matrimoniais, a
homoafetividade, sexualidade infantil, dentre outras práticas consideradas desvian
tes,
eram punidas moral e judicialmente e muitas vezes relacionadas à doença mental,
desequilíbrio psicológico, etc. (FOUCAULT, 1995).
No século XIX, mas precisamente, observou-se uma supremacia da medicina
quanto à regulação da sexualidade, justificada através de patologias orgânicas, funcionais
ou mentais; não havia uma proibição direta dessas práticas, mas apostaram na valorização
do discurso como um meio disciplinador; no final do século XX, porém, já se observava
uma maior flexibilidade e quebra de tabus em relação às diversas manifestações da
sexualidade (FOUCAULT, 1995).
Na sociedade contemporânea, ainda segundo o mesmo autor, a sexualidade tem
sido menos reprimida e mais suscitada, tal posição segue as mudanças relativas à
formação dos saberes que a ela se destina, os sistemas reguladores de suas práticas e
as
formas pelas quais os indivíduos se reconhecem como sujeitos dessa sexualidade.
O pluralismo sexual, por exemplo, emerge em oposição às concepções
mecanicistas, padronização de normal/anormalidade, de modo a ampliar a aceitação da
alteridade e a compreensão de que cada indivíduo possui sua própria história, se insere
em determinado contexto sócio-cultural, e assim, apresenta necessidades diferentes
(HIGHWATER, 1992 apud GALINDO, 1998).
Dessa forma, percebe-se que atualmente o sexo se desprendeu das obrigações do
casamento e da reprodução, o que permitiu uma revisão da paternidade social e
paternidade biológica (ROUDINESCO, 2000 apud BRANDÃO, 2003).
Bauman (2003 apud BRANDÃO, 2003) também aponta para o que seria a segunda
revolução sexual (fundamentada na crise da modernidade e que tem se tornado cada vez
mais freqüente), na qual as práticas sexuais se distanciam da família por não vislumbrar
em
nenhum compromisso, se não com a própria relação sexual e seus prazeres
correspondentes. O sexo seria, portanto, uma ferramenta em prol da privatização e
mercantilização e destituído de quaisquer direitos ou deveres. É diante deste cenário que
surgem novas formas de relação e envolvimentos afetivos as quais serão contempladas a
seguir.
3.2 COMPREENDENDO A HOMOAFETIVIDADE
A palavra homossexual é etimologicamente derivada dos vocábulos homo e sexu.
Homo, do grego hómos semelhante -e sexual, do latim sexu, relativo ou pertencente
ao
sexo, ou seja, diz respeito à atração entre pessoas do mesmo gênero (JENCZAK, 2008).
Essa terminologia data o século XIX, anteriormente as práticas sexuais entre pessoas
do
mesmo gênero eram denominadas de sodomia e classificada como um comportamento
vergonhoso (FOUCAULT, 1995).
De acordo com a OMS (2000 apud NUNES E RAMOS, 2008) a homoafetividade
pode ser concebida pela interação de fatores biológicos, psicológicos, socioeconômicos,
culturais, éticos e religiosos ou espirituais; dessa forma, a homossexualidade em
si não
seria uma opção, enquanto manter relacionamentos homossexuais remeteria a uma
escolha de vida e aceitação.
É sabido que a homoafetividade sempre existiu, várias civilizações antigas
contemplavam essa prática -romanos, egípcios, gregos e assírios atribuindo conotações
diferenciadas que ora a relacionava a práticas aceitas socialmente, ligadas a
intelectualidade; ora a relacionava a doença mental, promiscuidade, perversão,
anormalidade (MASCHIO, 2002).
Contudo, foi somente a partir da década de 90 que houve uma maior manifestação
do mesmo o que instigou, mesmo frente a censuras sociais, uma maior compreensão
sobre a sexualidade e apropriação das possibilidades de sentir e relacionar-se difer
ente do
heterossexual (GIDDENS, 1993)
Desde então, diversos movimentos visam a defesa dos direitos humanos e não
discriminação desses indivíduos quanto a sua orientação sexual; A despenalização e a
desmedicalização foram algumas conquistas em prol da liberdade dessa forma de amor,
contudo, ainda restritas a esfera privada, ou seja, a tolerância social da prática a
fetivosexual
se dá na mediada em que essa não seja visualizada publicamente, para não
colocar em risco a família nuclear e a heterossexualidade (GALINDO, 1998).
No que se refere à estruturação da família homoafetiva, cabe pontuar que esta
expressa uma nova forma de conjugalidade que ressignifica as questões de gênero e
divisão de tarefas: no grupo homossexual masculino, a liberação sexual, a atração física e
o erotismo são enaltecidos; enquanto que no grupo homossexual feminino, o amor, e
amizade e manifestações de carinho e companheirismo são consideradas mais relevantes.
Já os atributos valorizados socialmente e característicos de parceiros potenciais, c
omo
competência profissional, ascensão econômica, são mais visados por mulheres
heterossexuais e homens homossexuais e não por homens heterossexuais nem para as
mulheres homossexuais (FÉRES-CARNEIRO, 2005).
Um estudo realizado na década de 90 com 240 homens e mulheres heterossexuais,
e com 180 homens e mulheres homossexuais, de diferentes faixas etárias, dos segmen
tos
médios da população do Rio de Janeiro apontou que o relacionamento sexual é
considerado importante para grupos homo e heterossexuais, contudo, apenas para o
s
homossexuais masculinos a freqüência de tais relações é um fator significativo. A
fidelidade é destacada em ambos os grupos, mas entre os homossexuais foi mencionad
a a
possibilidade do sexo fora da relação, como forma de estímulo ou mesmo como
característica do próprio relacionamento estabelecido (FÉRES-CARNEIRO, 2007)
No que tange a parentalidade, alvo de muitas discussões e oposições, mas que
gradativamente começa a receber legitimidade social, o desejo maior de ter filhos
a recaí
mais sobre as mulheres homossexuais, do que os homens do mesmo grupo. Souza (200
5)
assinala que a não existência de laços sanguíneos ou legais é um dos aspectos
característicos das famílias monoparentais o que de certa forma facilita uma maior d
ivisão
de responsabilidades, até mesmo por não haver papéis de gêneros estipulados
Vale lembrar que o apoio social e familiar afeta o relacionamento homoafetivo,
fortalecendo-o ou tronando-o mais frágil. Contudo, considerando a não existência de
modelos culturais, rituais para essa modalidade de conjugalidade, cabe a esses c
asais a
criação de seus próprios rituais de pertencimento (FÉRES-CARNEIRO, 2007).
3.3 FICAR E NAMORO: NOVAS FORMAS DE VÍNCULO
O Ficar é uma forma de relacionamento popular, principalmente entre os jovens,
com o qual se busca alcançar prazer sem compromisso formal com os parceiros, e o nív
el
de envolvimento pode variar de uma simples troca de beijos e carícias até uma relação
sexual. Nele há um misto de proximidade e afastamento, pautado na necessidade de a
uto-
satisfação e simultaneamente na esquiva de uma possível frustração oriunda de um
envolvimento afetivo mais duradouro (CHAVES, 2001 apud FÉRES-CARNEIRO, 2007).
Apesar de ser concebido como uma prática da contemporaneidade, analisando
historicamente as formas de relacionamentos, pode-se associá-lo às relações
estabelecidas entre os adolescentes e as prostitutas, com as quais se iniciava
sexualmente, a diferença é que atualmente tal relação tornou-se lícita e mais freqüente
(JUSTO, 2005).
A naturalização do ficar -caracterizado pela fugacidade e troca constante de
parceiros -deu-se na de 90 e está vinculada às transformações sociais contemporâneas,
que cada vez mais enfatizam o consumismo, o individualismo, competitividade,
acarretando a coisificação do outro (JESUS, 2005)
Desse modo, o ficar pode ser entendido como uma experimentação, descarga, sem
que haja necessariamente uma preocupação com o outro. Observa-se uma negação da
diferença, enaltecimento do individualismo, autonomia, diversidade, no qual o parc
eiro
torna-se substituível caso não supra as expectativas criadas (FÉRES-CARNEIRO, 2007).
Em contrapartida, um estudo realizado por Matos, Féres-Carneiro e Jablonski (apud
FÉRES-CARNEIRO, 2005) com adolescentes também assinala que por mais que o ficar
seja inicialmente uma relação sem compromisso, ela pode assumir a condição de teste,
para que se conheça previamente uma pessoa, verificando a compatibilidade e assim
assumir um namoro.
O namoro, por sua vez, refere-se a uma relação afetivo-sexual mais consistente,
que engloba uma série de fatores pessoais desenvolvimento fisiológico e psicológico fa
miliares
e social (TIBA, 1986). Ele é concebido como uma relação consistente,
duradoura, que visa o bem-estar de ambos os enamorados e segue determinados
princípios tradicionais: relação monogâmica, supressão da promiscuidade, estabelecimento
de papéis conjugais que direcionam ao noivado (FÉRES-CARNEIRO).
Entretanto, cabe ressaltar que atualmente esses padrões estão se tornando um
pouco mais flexíveis; o namoro passou a abarcar a vivência afetiva e também sexual,
deixando de ser apenas um estágio preparatório para a conjugalidade (HEILBORN, et. a
l.,
2006)
3.4 CASAMENTO, SEPARAÇÃO E RECASAMENTO
O casamento contemporâneo apresenta uma maior valorização da intimidade e
envolvimento afetivo; anteriormente, a união pautava-se mais na necessidade de har
monia
concedida pela divisão sexual do trabalho do que pela satisfação sexual. O prazer e a
paixão amorosa, em geral, só eram vivenciados em relações de adultério (ARAÚJO, 2002).
Todavia, Jablonski (2005 apud, FÉRES-CARNEIRO, 2007) aponta fatores que tem
contribuído para a crise dessa relação: modernização da sociedade, ampliação do
individualismo, o aumento da longevidade e o valor cultural atribuído ao amor e
sexualidade.
O modelo do casamento tradicional ainda continua presente nas atuais formas de
relações conjugais, porém há uma maior liberdade e igualdade entre homens e mulheres
que permite com mais facilidade a escolha de seus pares e o desligamento dos mes
mos
quando as expectativas não são supridas (CARNEIRO, 2007).
E os homens hoje o que preferem? Segunda Cowan e Kinder (1991) uma mulher
que seja mais adulta e menos desamparada. O que a princípio lhe permitia sentir-se
mais
seguro e valorizado, causa agora, contrariedade e ressentimento. No entanto perc
ebe-se
que nas novas saídas para a realização pessoal masculina há uma necessidade maior de
dependência do homem, ele que também quer sentir-se acalentado, protegido, ou seja,
aquela idéia de repente querer abandonar tudo e ligar-se a um homem que ofereça
segurança econômica, e poder fantasiar outras projeções de vida, está muito próximo do
homem hoje, que também gostaria de fazer a mesma coisa, e buscar na mulher além da
efetividade experienciada pelas mães, o conforto e segurança econômica.
Portanto no momento em que o relacionamento se aprofunda hoje, as inseguranças
e insatisfações devem ser discutidas de forma saudável num dar-e-receber constante ent
re
homens e mulheres, e quando se percebe que há domínio nestes sentimentos, auto-
suficiência individual observar-se-á o modelo essencial para relacionamentos bem-
sucedidos.
Berger e Kellner (1970 apud FÉRES-CARNEIRO, 2007) propõe que o casamento
continua sendo uma das áreas mais relevantes a auto-realização e que a importância dada
ao mesmo é tão elevada que os cônjuges não toleraram uma união fragilizada. Tal postura
reflete nos crescentes números de separações e recasamento. Pesquisas constataram
que, em geral, a mulher compreende o casamento como uma relação amorosa , enquanto
os homens a concebem como uma constituição de família , dessa forma, mediante uma
relação não satisfatória, a separação para a mulher tende a ser mais inevitável.
O casamento por amor torna-se, então, regra e permite-se uma maior expressão da
sexualidade; entretanto, esse ideal de amor exige dos indivíduos uma freqüente avali
ação
de suas conquistas e realizações que colocam a prova a duração do casamento. Dessa
forma, em muitos contextos, o divórcio vira uma constante (ÁRIES, 1987 apud ARAÚJO,
2002).
Com base nessas transformações surgem diferentes estruturas familiares, nas quais
a autoridade é mais compartilhada, os limites mais permeáveis, como as famílias
recompostas, por exemplo, nas quais os filhos coabitam e são educados simultaneame
nte
por dois pais, duas mães ou mesmo outros parentes, em outras palavras, a constituição
da
relação passa a ser mais complexa e flexível, exigindo mais criatividade na interação
(BRANDÃO, 2003).
3.5 COMPREENDENDO AS NOVAS DE RELACIONAMENTOS AMOROSOS
3.5.1 UNIÃO ESTÁVEL E COABITAÇÃO
A coabitação caracteriza-se como uma nova conjugalidade moderna, é comum em
grandes cidades e é vista como uma alternativa mais liberada do que o casamento. E
sta
modalidade de relacionamento é muito bem aceita por jovens e por pessoas que não estão
incluídas em círculos religiosos, o que permite uma maior liberdade e autonomia
(CARNEIRO, 2007).
Para muitas pessoas a coabitação serve como um teste para saber como vai ser o
casamento, um test drive da vida de casados, e que permitirá a preparação para o rito
matrimonial em si (MENEZES e LOPES, 2007). Pode-se então considerar a coabitação
como um pré requisito para a união estável, porém esta não precisa necessariamente
precisa ter coabitação (ENNES, 2006).
26

A união estável, por sua vez, deriva-se do que anteriormente chamava-se vivência
em comum e/ou concubinato. Através do novo código civil houve a legalização desse tipo
de relacionamento, que há tempo muito já ocorria, proporcionando assim assistência e
inclusão social de quem vive este tipo de relacionamento (ENNES e SÁ, 2006).
Porém, concomitantemente, a união estável nos propõe algumas questões a serem
debatidas, como por exemplo, qual o limite que a difere de um namoro, as burocra
cias
envolvidas na delimitação dos direitos dos parceiros e até mesmo a partilha dos bens
(ENNES e SÁ, 2006).
3.5.2 POLIAMOR: COMPREENDENDO NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTOS
AMOROSOS
Segundo Carneiro (2007) o poliamor é considerado uma nova forma de
relacionamento, evidente há mais ou menos 20 anos, no qual o amor e afetividade são
os
pontos principais e o sexo assume papel secundário. Admite-se o envolvimento
amoroso/afetivo com vários parceiros, sem necessariamente envolver-se sexualmente.

É importante ressaltar que, de acordo com Danoso (2009) para se caracterizar uma
relação como poliamorosa os parceiros envolvidos devem saber da coexistência do(s)
outro(s). Dessa forma, essa modalidade de relacionamento é uma escolha e traz em s
i
desafios diferentes não é uma solução para um mau casamento ou outros problemas de
relacionamento (LINS, 2007)
Nestas relações é fundamental que haja a negociação e estabelecimento de normas
de funcionamento, para que seja possível uma convivência harmoniosa. Como exemplos
de assuntos a serem acordados entre as partes envolvidas estão: a fidelidade, a não
exclusividade, a amizade e a possibilidade ou não de envolvimento sexual (FÉRESCARNE
IRO,
2007)
Dessa forma, podem-se citar alguns princípios que motivam o poliamor: acreditam
que essa relação se embasa na realidade da natureza humana; que não há a necessidade
de corresponder a todas as necessidades do parceiro, apenas as que se relacionam
às
suas habilidades, às demais serão delegadas aos outros amantes ; compreendem o amor
como um recurso infinito e afirmam que da mesma forma que se pode amar mais de u
m
filho ou amigo, pode-se amar várias parceiros; dizem que o ciúme é aprendido, dessa
forma há possibilidades de superá-lo com êxito; e que crianças que nascem inseridas em
um contexto com várias referencias maternas e paternas tem menos probabilidade de
sentirem-se carentes, caso algum membro da família se distancie (DEREK e HALL, s/d
apud LINS, 2007)
3.5.3 RELACIONAMENTO VIRTUAL
Bauman (2003 apud GALINDO, 1998) assinala que nos indivíduos da sociedade
contemporânea as identidades estão em movimento, e esses se direcionam cada vez mais
para grupos de pertencimentos instáveis e de pouca duração. A elevação de salas de bate-
papo virtuais ilustra esse movimento, nelas esses sujeitos se permitem ser o que
desejam,
ou mesmo expressar-se como são de fato. Contudo, autores pontuam que esses grupos
virtuais estão longe de substituir os grupos presenciais e enfatizam que, frente às
novas
referências, há uma ambivalência entre manutenção da configuração fixa da identidade e a
desestabilização da mesma, o que pode gerar sofrimento psíquico (CARNEIRO, 2007)
Hall (1997 CIVILETTI E PEREIRA, 2002) descreve três concepções que permeiam a
identidade: 1) o sujeito cartesiano, também denominado sujeito do conhecimento ou
da
razão é proveniente de determinados movimentos como a Reforma, Renascença,
Protestantismo, Iluminismo e refere-se a um indivíduo unificado, individualista, c
om
características intrínsecas e cristalizadas; 2) o sujeito sociológico, ou moderno, que
é
decorrente da industrialização, urbanização e conseqüentemente, da necessidade de
aprimorar as interações sociais para acompanhar a complexidade de tal contexto, deix
ando
de ser o centro e passando a ser apenas parte da sociedade; e por fim, 3) o suje
ito pós-
moderno, que emerge de um ambiente tecnológico, e caracteriza-se pela efemeridade,
multiplicidade, como se editasse a identidade para adaptar-se ao meio.
Simmel (1993 apud GALINDO, 1998) assinala que, considerando a nova expressão
do sujeito contemporâneo, seus relacionamentos amorosos também se tornam
fragmentados, não singulares, e utilizam de mais de um objeto para sua satisfação,
podendo nunca satisfazer-se por apenas uma pessoa.
Já Mageste (1997 apud CIVILETTI E PEREIRA, 2002) menciona que o
relacionamento virtual torna-se negativo na medida em que mantêm a dificuldade de
algumas pessoas de interagir pessoalmente, de se expor em uma relação. Essa postura
está relacionada à necessidade de controle das emoções e impulsos exigidos na
contemporaneidade, que acarreta no isolamento e distanciamento do indivíduo e
sociedade
Corroborando com esta idéia, Vieira e Cohn (2008) afirmam que nas relações
virtuais não há a materialização desse afastamento, não é necessário o autocontrole e
negação da aproximação física, esta já está atrelada ao processo virtual, deixando assim
de ser responsabilidade do sujeito; tal meio de mediação passa a ser culpado pela
frustração proveniente dessa esquiva. Assim, como preconiza Elias (1993 apud VIEIRA
E
COHN, 2008) a sensação de isolamento é reduzida na esfera virtual.
Levando em consideração a ausência física há duas possibilidades de significação
da relação virtual: 1) permite o enaltecimento das idéias e conversas para sua continu
idade
do que a aparência, assim como a ausência da preocupação a cerca do controle dos
impulsos facilita uma maior exposição do sujeito, intimidade, e envolvimento, 2) ao
mesmo
tempo em que pode dificultar a comunicação, dado a limitação de expressões faciais,
timbre de voz, etc. (VIEIRA E COHN, 2008).
Faz-se importante ressaltar, no entanto, que com a mesma rapidez que as relações
amorosas e intimidade se estabelecem no Ciberespaço elas se desfazem. A virtualida
de
propiciaria então, apenas uma ilusão de intimidade. Outro ponto negativo seria a fug
a da
realidade real, a estimulação da fantasia, do sonho, no lugar da sinceridade (SILVA
2000
apud COLETA et. al. 2008).
Já Turkle (1997 apud CIVILETTI E PEREIRA, 2002) teoriza a respeito da
complementaridade do real e do virtual, e afirma que essa dialética propicia novas
vivências, como um laboratório de subjetividade. A internet nessa visão passa a ser
compreendida como uma ferramenta para identificações de grupos e pessoas.
Desse modo, as contradições e a incerteza características dos relacionamentos
virtuais refletem em sua pouca estabilidade e, simultaneamente, maior intensidad
e, já que
neles as emoções são mais enfatizadas. Assim, essas novas formas de relações devem
ser compreendidas dentro de um contexto, levando em consideração as características
pessoais e compartilhadas dos parceiros amorosos e sua possibilidade de transferên
cia
para uma relação presencial (GALINDO, 1998).
4 DIANTE DISSO, ONDE FICA A FAMÍLIA?
Nos dias atuais, ao nos propormos em falar e discutir questões inerentes a família
se faz necessário clarificar em que concepções toma-se partida para a discussão que se
segue.
Conceitualmente define-se o termo família por: conjunto de ascendentes,
descendentes, colaterais e afins de uma linhagem; pessoas do mesmo sangue, que v
ivem
ou não em comum; descendência, linhagem; o pai, a mãe e os filhos; sectários de um
sistema.
Champlin (2002) afirma que as instituições e a família está entre elas são
sistemas que padronizam e estabelecem comportamentos sociais pelos quais os
indivíduos satisfazem seus desejos e necessidades, buscando valores essenciais tai
s
como o bem estar e a sobrevivência do grupo em diferentes âmbitos da vida humana, de
uma forma cooperativa, regulada e previsível.
Já na visão da antropologia (MARCONI e PRESSOTO, 2001) a família pode ser
definida por um grupo de parentes e afins e seus descendentes que vivem juntos.
Diante da diversidade conceitual faz-se necessário compreender historicamente de
que forma a instituição família se formou ao longo dos anos chegando as variadas
concepções que hoje são vistas, bem como suas características e transformações.
De acordo com Linton (2000), a família evoluiu para um fenômeno social perdendo
sua característica antes determinada por um fenômeno biológico. Ou seja, muito embora
os fatores biológicos ainda influenciem nas características da mesma, é através de um
fenômeno social que se consegue enxergar mais facilmente os status e papéis que
realmente lhes são atribuídos.
Desta forma, o referido autor assegura que os membros de uma instituição têm
direitos e obrigações específicas em relação aos outros membros assim como uma série
de atitudes definidas por tal instituição.
Apesar de se encontrar toda forma de família em qualquer sociedade humana,
algumas delas atribuem maior importância ao sistema mais amplo de parentesco enqua
nto
outras reduzem tal importância (MARCONI PRESSOTO, 2001).
A família é a unidade social básica em todas as culturas, visto que até hoje
nenhuma sociedade foi descoberta sem um sistema familiar. Na sua constituição cultur
al
há pessoas unidas pelos laços de parentesco, pelo sangue ou por aliança. É uma
instituição universal e portanto, responsável por funções importantíssimas sem as quais
nenhuma sociedade sobreviveria.
Entre suas principais funções pode-se destacar a reprodução biológica de geração
para geração visando a perpetuação controlada da espécie dentro de uma sociedade;
manutenção das crianças com funções como treinamento (isto é, educação informal e
formal), ou socialização; e provisão de controles sexuais, de forma, muitas vezes, a e
vitar a
promiscuidade (CHAMPLIN, 2002).
Marconi e Pressoto (2001) discorre que há funções básicas encontradas em todos
os agrupamentos humanos estas se caracterizam pela função sexual, reprodução da
espécie, função econômica e educacional.
Em consonância a esta idéia, Linton (2000) afirma que toda sociedade atribui
funções a suas unidades familiais e que em quase todos os casos a principal destas
funções está relacionada ao aspecto biológico do grupo primitivo, ou seja, de reprodução
da espécie. Há também o fator de cuidado e criação dos filhos e ainda outras funções
determinadas por cada cultura.
Entretanto, Champlin (2002) diz que estas funções não são exclusivas da família,
havendo, por exemplo, concepções de filhos fora dela, a educação dispensada às crianças
serem mediadas por outras instituições, assim como a criação destas e a provisão de
controles sexuais, podendo ser desempenhados por outros agentes modeladores.
Todavia, é fato que a família assume maior importância no âmbito social e por isso,
estas funções são mais bem desempenhadas por ela, atribuindo assim à família o
instrumento básico pelo qual todas as atividades operam, sejam elas políticas, relig
iosas
ou econômicas.
Há de se destacar ainda que as estruturas familiares variam conforme a sociedade
em questão e por esse motivo torna-se de fundamental importância caracterizá-las em
seus principais aspectos.
Se nos é permitido julgar pelos primatas subumanos, as primeiras famílias
humanas provavelmente correspondiam aos núcleos das famílias atuais de
tipo conjugal. Não se reconhecia o parentesco consangüíneo entre
indivíduos adultos. O reconhecimento deste parentesco e seu uso como
base para atribuição de status sociais devem ter sido o primeiro passo na
evolução das famílias tais quais as conhecemos. Seria portanto justificável
considerar as sociedades que organizam suas famílias sobre uma base
consangüínea como representando, a este respeito, um ponto mais
elevado de evolução que as que se apegam à base conjugal (LINTON,
2000 p. 160).
Assim, tal autor assegura que as famílias organizadas por uma base conjugal se
constituem dos cônjuges e seus filhos circundados por seus parentes. Enquanto as
famílias de base consangüínea constituem-se da família como um núcleo de parentes
consangüíneos, cercadas por seus cônjuges.
Já para Champlin (2002) a mais comum das famílias é a nuclear que tem como
característica ser composta por marido, mulher e pelo menos uma criança. Nessa class
e,
há sociedades que aceitam a chamada poligamia, que se define pelo casamento de um
homem com duas ou mais mulheres. Há também outra forma de poligamia, definida por
poliandria e caracterizada pelo casamento de uma mulher com dois ou mais homens.

Ainda, o referido autor coloca que diante da poligamia em determinadas sociedade


s,
reconhece-se outras formas mais extensas de laços de parentesco, que servem para l
igar
a menor unidade família nuclear à maior comunidade, ou seja, a tribo. São também
denominadas como formas compostas de parentesco. Uma das definições é a de
linhagem, que inclui somente pessoas ligadas biologicamente pela linha da mãe ou p
ai a
um ancestral em comum. Outro grupo é o unilateral, que pode ser definido como um
conjunto de várias linhagens, ou seja, a ligação está no pai ou na mãe, porém é muito mais
abrangente, pois esta ligação é tradicional, sendo determinada inclusive por um herói ou
fundador distante ou da mitologia da própria cultura.
Cita-se também o grupo bilateral, definido por ligações patrilineares ou
matrilineares, que são mais comumente encontradas nas culturas ocidentais e
caracterizam-se pelos seus membros geralmente estarem próximos e se relacionarem p
or
serem ligados tanto por sangue quanto por laços matrimoniais (CHAMPLIN, 2002).
Aqui, faz-se necessário um adendo para explicar que a característica fundamental
das ligações patrilineares se dá pelo sustento desta ser fundamentalmente pelos membro
s
masculinos enquanto nas ligações matrilineares a subsistência fica a cargo principalme
nte,
das mulheres (LINTON, 2000).
Outros tipos de famílias compostas e encontrada tanto no Oriente quanto no
Ocidente são as divididas e conjuntas. A principal característica da família dividida
está na
forma de divisão das poses, onde a herança é atribuída a algum dos membros pela regra
de primogenitura ou ultimogenitura e o chefe desta família é responsável por conseguir
bons casamentos para os filhos e boas situações financeiras. Já na família conjunta, a
herança é dividida entre todos apesar de ser administrada pelo pai ou filho mais vel
ho.
Assim este tipo de família inclui todas as outras iniciadas pelos irmãos e pelos fil
hos
destes.
Portanto, pode-se afirmar que as famílias compostas, pelo envolvimento social que
as acompanham, são mais duradouras e garantem maior proteção para seus membros
enquanto a família nuclear enquadra-se mais facilmente nos moldes das rápidas mudanças
sociais e a um sistema econômico tal qual é hoje, que demanda maior flexibilidade na
s
escolhas dos membros desse sistema.
Nesse sentido, faz-se necessário agora esclarecer outro aspecto ligado a família o
casamento e suas concepções na sociedade atual. É importante ressaltar que é o
casamento que estabelece os fundamentos legais da família, mas pode haver famílias s
em
casamento (MARCONI, 2001 p. 106).
5 METODOLOGIA
Este estudo consistiu na primeira etapa de uma pesquisa sobre a temática já
apresentada. Assim, sua parte metodológica é muito mais um meio de formulação de
um instrumento que permita a coleta de dados final quê uma finalidade em si. No
entanto, para que fosse coletados os dados parciais este projeto passou pela
apreciação e aprovação do Comitê de Ética envolvendo Seres Humanos da UNIPAR, o
qual foi devidamente certificado.
5.1 PARTICIPANTES
Participaram desta etapa do estudo 42 sujeitos com idade entre 18 e 50 anos.
Sendo destes 59,5% do sexo feminino e 40,5% do sexo masculino. Em relação a
escolaridade, a maioria das mulheres tinha o ensino superior incompleto (40%), já
a
maioria dos homens tinham o ensino superior completo (35,3%). Em relação ao estado
civil, entre as mulheres a maioria eram casadas (56%), já entre os homens a maior
parte eram solteiros (52,9%). Em relação a religião, tanto entre mulheres (64%) quando
entre homens (70,5%) havia uma predominância de católicos. Já na variável renda,
esta concentrou-se na faixa de 0 a 6 salários mínimos para ambos os sexos.
5.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Para mediar esta coleta de dados inicial utilizou-se seis palavras-estímulos que
tinham relação com o fenômeno estudado: casamento, profissão, família, filhos,
sexualidade, envolvimento afetivo. Tais respostas servirão de base para elaboração da
escala tipo Likert que será o instrumento final de coleta de dados do presente est
udo.
5.3 PROCEDIMENTOS
Inicialmente as pesquisadoras apresentaram-se, falaram do estudo e disseram o
interesse em conhecer opiniões gerais da população sobre cada um dos aspectos
acima citados. Ao se dispor a emitir tais opiniões os participantes respondiam o q
ue
lhes vinham livremente a mente sobre cada uma das palavras apresentadas. O
instrumento foi recolhido e agradecido a participação.
5.4 ANÁLISE DOS DADOS
Após a coleta prévia, fez-se uma leitura flutuante de todas as respostas e
posteriormente, as mesmas foram categorizadas e pela relevância de seu
aparecimento, tais frases comporão o instrumento final deste estudo que será uma
escala tipo Likert que medirá atitudes dos participantes (sejam positivas ou negat
ivas)
em relação ao casamento, profissão, família, filhos, sexualidade, envolvimento afetivo.
O estudo será continuado no ano de 2010 quando teremos resultados mais completos
com base nesta prévia e tendo o suporte do resultado final quantitativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que o amor atualmente tem sido vivido de diferentes maneiras por home
ns
e mulheres. Ainda observa-se o afirmar de que o amor é coisa de mulher uma característ
ica
fortemente feminina, portanto parece ter havido a feminização do amor e os comportam
entos
amorosos masculinos passaram a ser avaliados a partir de critérios femininos inclu
indo no
masculino a paixão sexual, ou seja, aspectos práticos que se constitui de proteção e cui
dados,
garantia de sobrevivência material e ajuda mútua, já a feminina se refere a compartilh
ar
sentimentos, à dependência emocional mútua, ao cuidado expresso pelo diálogo.
Há evidências, portanto que nas últimas décadas as diferenças vêm se estreitando: os
homens estão começando a expressar seus sentimentos, e por outro lado, a feminização do
amor como emoção, cuidado e intimidade, obscurece a competência para suas formas mais
ativas e instrumentais, pois a medida que mulheres entram do domínio público, reivin
dicando
igualdade de oportunidade e remuneração, e que homens começaram a aspirar a relações de
intimidade, pode-se abrir um caminho para a democratização, emergindo várias possibili
dades
de Masculino e Feminino , em relações idealmente flexíveis e plurais.
O amor nessa busca de igualdade de gêneros é fundamental para ligar as pessoas,
para ativar o respeito e a divisão de afazeres, mas talvez seja frágil para suportar
tantas
aspirações, principalmente senão houver o diálogo, o respeito ao tempo de cada um no faz
er
histórico. Amar e se apaixonar são duas necessidades humanas que nem sempre se integ
ram
no mesmo relacionamento. A paixão possui uma conotação mais subversiva, no sentido de
que tira o indivíduo de suas obrigações cotidianas, arrebatando-o. Entretanto, leva à
confrontação com a necessidade de separar-se do outro, reconhecendo-o como diferente
. A
desidealização pode levar ao término da relação ou à sua transformação em amor. A
discriminação do outro possibilita a afirmação de si como alguém que não depende do ser
amado para sobreviver, mas que estabelece com ele uma relação que acolhe as
necessidades de ser separado e de estar acompanhado e acolhido no processo de
desenvolvimento.
As desigualdades de gênero começam a ser revistas: homens e mulheres
desenvolvem a autonomia e o cuidado das relações, ambos ocupam os domínios público e
privado, as mulheres deixam de ser divididas em puras e impuras por assumir uma
sexualidade livre e completa. O novo Masculino compartilha desse Feminino, que s
e atualiza
e se apropria de vivências e espaços que lhes eram vetados. Questiona-se a feminização d
o
amor, ocorrida a partir do século XVIII, quando anteriormente esse sentimento era
prerrogativa das relações masculinas; a masculinização do sexo, ativo, conquistador,
dominador, também é posta em cheque. Homens e mulheres podem ter
experiências amorosas e sexuais dentro de um raio amplo de escolhas possíveis.
É necessário considerarmos os conflitos resultantes dessas novas possibilidades,
já que há mudanças na vivência pessoal e também no âmbito social. O amor é um sentimento
e uma narrativa social, tendo sido reinventado inúmeras vezes no decorrer da históri
a: assim
como pode perpetuar as desigualdades de gênero, pode também ser transformador, ou ag
ir
como uma força que permeia sentimentos, uma força que regenera em relação a significados
mais compactados do amor, aonde a mulher deixa de só idealizar, de agir apenas pel
os
sentimentos, e homem também deixa de envolver-se só pelo sexo, pelo domínio, mas
buscando relações concretas em seus anseios estabelecendo respeito e comprometimento
numa relação que permeia afetividade, o amor que se estabelece com estruturas firmes
, o
respeito as diferenças estabelecendo-se num enlace de compromisso entre os pares.
No entanto quando se refere a sexualidade e o prazer conquistados pela mulher
desarticularam valores e concepções do universo sexual masculino. Para Giddens (1991
), o
homem necessita aprender a narrar sua história emocional para conseguir negociar a
sua vida
pessoal, e ambos, homens e mulheres, poderão juntos construir o amor confluente, q
ue
presume a igualdade do envolvimento emocional, a realização do fazer erótico recíproco e
para que se instaure uma relação familiar igual e mais democratizada.
A questão da igualdade na situação famíliar vista sob o ângulo da intimidade,
analisada por Quinteiro (1993), constatou que no nível das representações, homens e
mulheres revelaram que a construção de uma união afetivo-sexual prazerosa e permanente
decorre do exercício do diálogo, da liberdade de manifestação afetiva e do respeito entr
e os
atores sociais. Aquela construção, pressupõe, portanto igualdade a ser partilhada
paritariamente por homens e mulheres.
É desde a infância, no âmbito familiar que as novas masculinidades e feminilidades
vão se construindo. Na situação familiar,quando a criança observa que o entendimento é
buscado por seus pais, não vê mais o pai mandando e a mãe, submissamente, obedecendo,
mas dois centros do poder que, apesar de diferentes, atuam com igual dignidade.
O menino
alia-se ao pai, mas não mais se identifica com um opressor, não tem mais medo mortal
de
expressar seu afeto para com os outros. As crianças crescerão com maior equilíbrio e t
erão
racionalidades e emoções mais integradas. Quando adultos, vão privilegiar a construção de
uma sociedade democrática e pluralista, onde é possível o consenso, as partilhas e as
solidariedades. Tenderão a rejeitar autoritarismos e opressões. Nestas dimensões as da
violência do autoritarismo e da negação da diferença (Muraro, 1992). Portanto, nas família
s
onde se verifica uma maior democratização entre cônjuges e destes com os filhos, obser
va-se
em geral, que há um valor dado a igualdade entre gêneros e continuada transformação na
direção mais simétrica da relação de gênero independentemente da região, pois as diferenças
de espaços estão cada vez mais tênues nessa questão (Costa, 1992 e Almeida, 1996).
È na constituição família, o contexto onde se pode analisar as experiências de homens
e mulheres voltadas para a construção da igualdade , digamos, qualitativa ou talvez par
itária,
pois contempla as diferenças de gênero. Por experiência, designo a interação entre o
pensamento e a ação. Isto é, entre teoria e o agir na direção das metas a serem alcançadas.
No entanto, a hipótese central desta discussão, é que as experiências de homens e de
mulheres na situação familiar, voltadas para uma nova igualdade deverá permear o ser bem
como sua diversidade e respeito, aonde o amor será o tema central, pois não há
possibilidades de um completar-se só na realização profissional, pessoal sem pensar no
campo afetivo, a relação com o outro voltados a uma nova representação social de direito
s.
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WHITAKER, C.L. As funções do casal. In: ANDOLFI, M. (Org). O casal em crise. São
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WILLI, J. A construção didática da realidade. In: ANDOLFI, M. (Org). O casal em crise.
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