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Notas sobre o PMDB na Nova República: a atuação dos

peemedebistas entre os governos Sarney e Dilma (1985-2016)


CÁSSIO AUGUSTO GUILHERME*

Resumo
Este texto, diante do protagonismo do PMDB no processo de golpe parlamentar
contra a presidenta Dilma Rousseff, tem como objetivo apresentar seus
principais líderes, informações e análises introdutórias sobre a relação do
partido com os governos federais da Nova República (1985-2016). Ao ampliar
a temporalidade, esperamos contribuir na introdução ao melhor entendimento
dos fatos recentes. Para esta narrativa histórica, utilizamos parte da pouca
bibliografia pertinente ao tema, na perspectiva de auxiliar as novas pesquisas
sobre a História do Brasil atual.
Palavras-chave: PMDB; pemedebismo; Nova República.
Notes about the PMDB in the New Republic: an action of the peemedebistas
between the governments Sarney and Dilma (1985-2016).
Abstract
This text, in the face of the PMDB's role in the parliamentary coup process
against the President Dilma Rousseff, aims to present its main leaders,
information and introductory analyzes of the party's relationship with the
federal governments of the New Republic (1985-2016). By expanding
temporality, we hope to contribute to the introduction of better understanding
of recent events. For this historical narrative, we use part of the little
bibliography pertinent to the theme, in the perspective of helping the new
research in the History of the current Brazil.
Key words: PMDB; pemedebismo; New Republic.

*
CÁSSIO AUGUSTO GUILHERME é professor da Faculdade de História – FAHIST;
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA; doutorando em História pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM).

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Introdução imobiliza/veta as mudanças mais
O sistema eleitoral brasileiro, de estruturais e radicais da sociedade e do
representação proporcional e grande jogo político, ao mesmo tempo que
fragmentação partidária, torna quase permite a entrada de qualquer um que
impossível que o partido do presidente deseje “reivindicar e receber posições
no aparelho do Estado” (2013, p. 43).
eleito tenha maioria no Congresso.
Após o pleito, de um lado há o chefe do No período analisado, o PMDB foi o
Executivo em busca de apoio partido que mais esteve presente em
parlamentar para efetivar as promessas coalisões governistas. Exceção feita ao
de campanha; de outro, os partidos governo Fernando Collor e ao período
políticos em busca de cargos e recursos inicial do governo Lula (MACIEL,
públicos para políticas de seus 2014), nos 31 anos de Nova República
interesses nas bases eleitorais. A essa (1985-2016), o PMDB permaneceu por
barganha, que independe de posições 27 anos em coalisões governistas e o
ideológicas, dá-se o nome de PFL (atual DEM), 17 anos. Atualmente
“presidencialismo de coalisão”. o PMDB possui o maior número de
Conforme pesquisa de Natália Maciel, filiados, de prefeitos, vereadores,
ao longo de toda a Nova República, o deputados estaduais, governadores,
Partido do Movimento Democrático deputados federais e senadores. Durante
Brasileiro (PMDB) se tornou “peça o período, os peemedebistas foram
chave na formação de coalisões presença constate nos jornais,
vencedoras por conta de seu grande ministérios, discussões legislativas e
número de cadeiras. Assim, ele pode ser escândalos de corrupção. Apesar disso,
considerado o partido com maior poder ainda são poucos os trabalhos
de barganha no sistema político acadêmicos que se dedicam ao estudo
brasileiro” (2014, p.42). do partido.
Segundo Marcos Nobre, após o fim do No Palácio do Jaburu, residência oficial
bipartidarismo, o PMDB foi a base de do então vice-presidente Michel Temer,
um conjunto de práticas que se o PMDB fez valer seu protagonismo no
consolidou na cultura política brasileira: processo de chicanas parlamentares e
“sua característica mais geral e jurídicas tramadas contra a presidenta
marcante é estar no governo, seja qual Dilma Rousseff. As notas informativas
for o governo e seja qual for o partido a deste artigo contribuem nas pesquisas
que se pertença, como parte de um que se iniciam sobre o golpe de 20162.
condomínio de poder organizado sob Na perspectiva de auxiliar na introdução
forma de superbloco parlamentar” de novas pesquisas, nosso objetivo é
(2013, p. 42). A essa forma de atuação, apresentar uma visão ampla das
o filósofo conceitua como relações do PMDB com os governos da
“pemedebismo”1, um sistema que Nova República, em especial, a atuação

o nome utilizado para designar os políticos


1
Embora tal prática não esteja restrita apenas ao filiados ao PMDB.
2
PMDB, neste artigo é importante não confundir Ver GUILHERME, Cássio Augusto. De Dilma
“pemedebismo” com “peemedebista”. Aquele é a Temer: da crise do lulismo ao golpe do
um conceito filosófico para explicar uma pemedebismo. Anais do XXIX Simpósio
determinada forma de atuação parlamentar, Nacional de História – Anpuh 2017. Disponível
conforme texto de Marcos Nobre (2013). Esse é em: https://goo.gl/stBUCe.

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de figuras-chave do atual momento deputados combativos do MDB,
político nacional, como Michel Temer e forçaram a Ditadura Civil-Militar ceder
seu grupo mais próximo formado por às propostas de abertura política, ainda
Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu que de forma “lenta, gradual e segura”,
Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira apesar da reação de militares da linha-
Franco, Edison Lobão, Eunício dura. Outra interpretação sustenta que
Oliveira, José Sarney e Eduardo Cunha, os próprios militares conduziram o
dentre outros3. processo de abertura no ritmo por eles
planejado e que tais pressões pouco
PMDB e Pemedebismo na Nova
influenciaram nisso. Fato é que em
República
1979 foi promulgada a Lei da Anistia e
A imagem popular que se tem do a Reforma Partidária que pôs fim ao
PMDB é de um partido que bipartidarismo.
institucionaliza todos os males da
política brasileira. Composto por A volta ao pluripartidarismo,
políticos clientelistas, aproximam-se de especialmente pela criação de novas
qualquer governo no objetivo de siglas como PT, PDT, PTB e PP,
facilitar seu acesso a cargos e verbas representou um grande desafio tanto à
estatais. Como dito acima, e melhor Arena quanto ao MDB. A Arena,
explicado abaixo, a presença partido da ditadura possuía 231
peemedebista é uma constante nos deputados, sendo que 196 migraram
governos federais da Nova República, para o PDS, 3 para o PTB e 32
independentemente da matriz ideológica preferiram mudar de lado e filiaram-se
do governante, o que dá ao PMDB a ao PMDB. Já dos 189 deputados que o
imagem de um partido sem ideologia e MDB dispunha, 136 permaneceram no
programa próprio. Para Natália Maciel, PMDB4, 28 mudaram de lado e
as características do partido são a ingressaram no PDS, 11 no PTB, 9 no
heterogeneidade dos seus membros, PDT e 5 no PT. Aponta Natália Maciel
força das lideranças locais e o constante que “a saída de membros mais à
sucesso eleitoral. Assim, a centralidade esquerda do partido e a entrada de
ideológica e o peso representado pelo membros da ARENA e do PP acabou
grande número de filiados e políticos por tornar o PMDB (...) um partido com
eleitos torna o partido “um ator político características de centro-direita” (2014,
inquestionavelmente importante” (2014, p. 64).
p. 21). Ao longo da década de 1980, o PMDB
As pressões de parte da sociedade civil teve papel ativo na política nacional. O
organizada, em especial de sindicatos, retorno das eleições diretas para
prefeituras de capitais e governos
estudantes, setores da imprensa e de
estaduais em 1982 trouxe grandes
vitórias para as oposições e o PMDB
3
Na recentemente vazada delação premiada de elegeu nove governadores, que
um executivo da empreiteira Odebrecht, os
passaram a ocupar posição de destaque
citados nesse texto, todos receberam da empresa
um codinome: Michel Temer é o “MT”; Renan nas disputas internas do partido. O
Calheiros é o “Justiça”, Romero Jucá é o
4
“Cajú”, Eliseu Padilha é o “Primo”, Geddel As correntes internas comunistas, que usavam
Vieira Lima o “Bebel”, Moreira Franco o “Gato a legenda do MDB para concorrer às eleições no
Angorá”, Eunício Oliveira é o “Índio” e bipartidarismo, preferiram manter-se mais um
Eduardo Cunha o “Caranguejo”. tempo no PMDB.

90
deputado Dante de Oliveira (PMDB- vencedor da eleição, que só não elegeu
MT) apresentou a proposta de emenda o governador de Sergipe (PFL)5. Fez 38
constitucional “Diretas Já” que, apesar dos 49 senadores e 261 dos 487
da mobilização da sociedade civil, deputados federais. O bloco PMDB-
acabou rejeitada pelo Congresso ainda PFL somou 561 parlamentares na
dominado pela “opinião conservadora e Constituinte (REIS, 2014)6. “O
as oposições moderadas” (REIS, 2014, principal saldo político das eleições foi
p. 140). a ampliação da inserção do campo
conservador” (MACIEL, 2012, p.198).
Após a derrota da emenda “Diretas Já”, Sarney, já filiado ao PMDB, buscaria
começaram as articulações no entendimento direto com os
Congresso para a eleição indireta. governadores do partido, pois o
Lideranças civis, que haviam apoiado a presidente vivia às turras com a cúpula
Ditadura, como José Sarney, Marco partidária comandada por Ulysses
Maciel e Antônio Carlos Magalhães, Guimarães e a “ala esquerda” na câmara
saíram do PDS para formarem o Partido e senado.
da Frente Liberal (PFL) e aliarem-se a
Tancredo Neves (PMDB) na vitória do O relacionamento de Sarney com o
Colégio Eleitoral em janeiro de 1985. partido, no decorrer da Constituinte, foi
Segundo David Maciel, Tancredo, ao se complicado. O emblema dominante do
comprometer em limitar as mudanças à pemedebismo nesse período foi o
institucionalidade do Estado, revela a chamado “centrão”, criado por políticos
“debilidade da tática política da e partidos conservadores para limitar os
oposição burguesa, representada pelo avanços sociais em debate na
PMDB”, bem como a “legitimidade Assembleia Constituinte, da qual
obtida com a ‘solução negociada’ que Michel Temer fez parte. A adesão de
pôs fim à Ditadura” (2012, p. 60). As peemedebistas e a articulação junto ao
mudanças definitivas seriam adiadas presidente, resultaram em
para uma futura Constituinte. Do total descontentamentos internos. Em março
de 33 cargos de primeiro escalão, no de 1989, quando o presidente Sarney
futuro governo Tancredo Neves, 27 gozava de baixíssima popularidade e a
eram ocupados por políticos hiperinflação estava descontrola, o
conservadores, muitos dos quais
egressos dos quadros da Ditadura. Além 5
Na mesma esteira o PMDB elegeu em Alagoas
disso, a aliança PMDB-PFL contava o jovem Fernando Collor de Mello, ex-prefeito
com ampla maioria no Congresso. de Maceió e deputado federal pelo PDS,
inclusive tendo votado em Paulo Maluf no
Ao ver, com a morte de Tancredo Colégio Eleitoral.
6
Neves, o governo cair no colo de José O PFL saiu como a segunda maior agremiação
Sarney, político de histórica e íntima partidária (116 deputados e 7 senadores),
seguido pelo PDS em declínio (2 senadores e 32
ligação com a Ditadura, o PMDB deputados). Dos partidos autodeclarados de
“iniciou um processo de crise de centro, o PL elegeu 6 deputados; o PDC, 7; o
identidade tendo em vista suas PTB, 13 e 1 senador; o PSC, 1 deputado e o
dificuldades em elaborar um projeto PMB 1 senador. Entre os partidos de esquerda,
político nacional que fosse consensual” o PDT manteve o crescimento, elegendo 1
senador e 25 deputados federais; o PCB e o
(MACIEL, 2014, p.66). A eleição de PCdoB, 3 deputados cada e o PT triplicou sua
1986, sob a popularidade do Plano participação na Câmara, saltando para 16
Cruzado, fez o PMDB o grande deputados (MACIEL, 2012).

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PMDB rompeu oficialmente com o de Ulysses Guimarães (PMDB)10,
governo, embora manteve-se nos reconhecido conciliador de grandes
ministérios (MACIEL,2014). Um ano articulações e importante figura no
antes, o racha no PMDB levou um processo de redemocratização.
grupo de parlamentares a criar o Partido Governadores do PMDB não o queriam
da Social Democracia Brasileira candidato do partido, pois avaliavam
(PSDB), atraindo principalmente os que o desgaste do governo Sarney havia
setores moderados do partido e alguns atingido a popularidade de Ulysses.
conservadores, além de poucos políticos Arquitetou-se, nos bastidores do
de outras agremiações7. partido, a candidatura do governador
Ao longo do governo José Sarney, os paulista Orestes Quércia, com apoio da
peemedebistas ocuparam postos Fiesp, mas Ulysses não abriu mão por
importantes: Jader Barbalho foi considerar-se “candidato natural” e
Ministro da Previdência e depois da venceu as convenções11.
Reforma Agrária, Renan Calheiros e Os péssimos resultados econômicos e
Michel Temer atuaram na Assembleia sociais do governo Sarney e a
Constituinte8 e Romero Jucá foi expectativa do eleitorado em votar pela
presidente da Funai, apontado pelo mudança levou a candidatura
relatório da Comissão Nacional da peemedebista à baixa votação. No final
Verdade como responsável pelo da campanha, várias lideranças do
genocídio dos índios Yanomami. partido já haviam embarcado em outras
Posteriormente, ele foi nomeado pelo candidaturas. No segundo turno o
presidente como governador do então PMDB indicou voto em Lula, porém os
território de Roraima. políticos mais conservadores do partido
A eleição de 19899 foi das mais
acirradas da história brasileira. Ao 10
“Havia poucas dúvidas de que, naquele pleito,
centro do espectro político, a o PMDB jogasse um papel importante, de
candidatura de mais envergadura era a protagonista – jamais de figurante. Majoritário
na própria Constituinte, dono de 22 das 23 sedes
de governos estaduais, o grupo de políticos que
fundou e assumiu o poder na Nova República
tinha tudo para dar todas as cartas do jogo”
7
Originalmente, ingressaram no PSDB 7 (NÊUMANNE, 1989, p. 35).
11
senadores do PMDB e 1 do PFL, 34 deputados O episódio da convenção nacional do PMDB
federais do PMDB, 3 do PFL, 1 do PTB, 1 do foi dos mais controversos nessa eleição. Quatro
PSB e 1 do PDT. São números inferiores à pré-candidatos se apresentaram: Ulysses
chamada “ala esquerda” do PMDB, estimada Guimarães, Álvaro Dias, Íris Resende e Waldir
em 120 parlamentares, historicamente Pires. Os governadores do partido queriam
(MACIEL, 2012, p. 312). Quércia, mas não podiam simplesmente impor
8
Embora suplente, Michel Temer assumiu uma uma candidatura contra o “Dr. Ulysses”.
cadeira na Assembleia Constituinte e foi um dos Quércia dizia não ser candidato a candidato,
articuladores da criação do “centrão”, tendo mas nos bastidores articulava por uma
recebido do Diap a baixa nota 2,25 pela sua aclamação peemedebista ao seu nome. Tanto
atuação. Quase deixou o PMDB para ingressar disse publicamente que não era candidato que
no PSDB. muitos dos seus apoiadores até acreditaram. Ao
9
Sobre a eleição de 1989, ver o artigo: “A fim, Quércia disse: “Vocês não entenderam
eleição de 1989: direita x esquerda” de Cássio nada. Eu fui candidato o tempo inteiro. Só
Augusto Guilherme, publicado na Revista dependia de um gesto de vocês, de uma atitude.
Urutágua nº 34 de 11/2016. No link: Agora, infelizmente, não dá mais”
https://goo.gl/p4iwHU. (NÊUMANNE, 1989, p. 29).

92
aderiram a Fernando Collor (PRN) que O governo Itamar Franco foi composto
venceu a disputa. por uma ampla coalisão de partidos
Collor se elegeu como o candidato do políticos (PSDB, PFL, PMDB, PTB e
anti-pemedebismo. Para além da PSB). Nele, o PMDB, embora com
corrupção e crise econômica, grande quantidade de parlamentares,
teve participação menor nos rumos do
politicamente, sua atuação “cesarista” e
a falta de sólida base parlamentar e governo. No final de 1992, a morte
partidária são fatores apontados como trágica de Ulysses Guimarães impactou
determinantes no processo de na organização interna, pois “a
heterogeneidade herdada do MDB é
impeachment. A partir de então, “a
ideologia da necessidade de uma uma constate na trajetória do PMDB e
supermaioria parlamentar é a figura do ela se acentua com a morte de seu ícone
pemedebismo tal como se espalhou pelo maior. A falta do agente conciliador
sistema político dos anos 1990 em acirrou as divergências internas”
diante” (NOBRE, 2013, p. 55). (MACIEL, 2014, p. 71).
Oficialmente, o PMDB não fez parte do A CPI dos “Anões do Orçamento”13 de
governo Collor, embora tenha votado a 1993 investigou a participação de 37
favor de muitas das matérias de parlamentares envolvidos em fraudes na
interesse do governo, como o Plano Comissão de Orçamento do Congresso
Collor, que confiscou as aplicações durante os anos anteriores. O escândalo
financeiras dos brasileiros. À época, atingiu em cheio o PMDB. Três
Renan Calheiros (PRN), foi deputados do partido foram cassados,
coordenador de campanha de Collor e com destaque para Ibsen Pinheiro14,
líder de seu governo na Câmara. então presidente da Câmara; outros três,
Rompeu com o presidente após não ser como Genebaldo Correia, líder do
apoiado por ele na disputa pelo governo PMDB na Câmara, renunciaram para
de Alagoas. não perder o mandato e dois foram
Na crise política e moral que resultou absolvidos pelo plenário da casa,
no impedimento de Fernando Collor12, embora o relatório da CPI pedisse suas
embora o PMDB tivesse a maior cassações, entre eles Geddel Vieira
bancada no Congresso, o protagonismo Lima15.
partidário pertenceu ao PT e demais
partidos de esquerda em consonância 13
O escândalo recebeu o nome de “anões”, pois
com os movimentos da sociedade civil a maioria dos envolvidos eram parlamentares de
organizada, em especial os estudantes. pouca expressão na política nacional.
14
Posteriormente, o STF arquivou o processo
Na CPMI instalada para elucidar as
contra Ibsen Pinheiro, que em 2006 elegeu-se
relações entre Collor e PC Farias, o para a Câmara dos Deputados.
relator foi o peemedebista Amir Lando 15
Foram cassados os mandatos de Carlos
que apresentou fundamentação política Benevides (PMDB), Fábio Reunhetti (PTB),
para a interrupção do mandato do então Feres Nades (PTB), Ibsen Pinheiro (PMDB),
José Geraldo (PMDB) e Raquel Cândido (PTB);
presidente.
renunciaram para não serem cassados: Cid
Carvalho (PMDB), Genebaldo Correia
(PMDB), João Alves de Almeida (PPR, atual
12
Sobre o processo de impeachment de PP) e Manoel Moreira (PMDB); foram
Fernando Collor de Mello, ver: “O absolvidos pelo Plenário da Câmara: Aníbal
Impeachment de Fernando Collor: sociologia de Teixeira (PTB), Daniel Silva (PPR), Ézio
uma crise” de Brasílio Sallum Jr. Ferreira (PFL), João de Deus Antunes (PPR),

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Exemplo de acirramento interno foi a argumentavam que o partido deveria ter
escolha de Orestes Quércia, em importante atuação na sustentação
detrimento de Roberto Requião, como política para que os governos
candidatura própria do partido à eleição implementassem suas propostas; os
de 1994. “Quércia era acusado de oposicionistas ou dissidentes, alegavam
diversas denúncias de corrupção que que o PMDB deveria manter-se
afetava negativamente não só a ele, mas independente e desenvolver propostas
também ao partido” (MACIEL, 2014, próprias de governo.
p.71). Membros do partido preferiam
Após duas humilhantes derrotas nas
aderir à favorita candidatura de
eleições presidenciais, foi a disputa pela
Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
presidência da Câmara e do Senado o
ex-peemedebista. Ao final, Orestes
fator que intensificou o conflito interno
Quércia repediu a baixa votação de
entre as duas alas no partido. Durante
Ulysses.
seu governo, o presidente FHC atuou a
O governo FHC teve como principal favor da ala governista. Na disputa pela
aliado o PFL16 (ex-PDS, ex-Arena e presidência do Senado, em 1995, o
atual DEM). Ele propôs uma série de tucano sinalizou a preferência pelo ex-
polêmicas reformas constitucionais presidente José Sarney, que foi eleito
neoliberais que necessitavam ampla contra as pretensões de Íris Resende e
maioria congressual. A popularidade do Pedro Simon.
Plano Real permitiu que o convite do
No ano seguinte, o governo FHC tinha a
presidente eleito fosse imediatamente
mudança na Previdência como uma de
aceito pelo PMDB, que passou a
suas mais importantes bandeiras. O
integrar a nova coalisão governista,
presidente escolheu o deputado Michel
muito parecida com a que sustentou o
Temer, peemedebista da ala governista
governo Sarney.
do partido, para ser o relator da matéria.
Nessa conjuntura, a cientista política Descontentes com a aproximação de
Natália Maciel (2014) argumenta que, Temer com o PSDB e os rumos que a
enquanto nos tempos de MDB a questão reforma tomava, visto que dificultava a
que dividia internamente o partido era o concessão de aposentadorias aos
grau de oposição frente à Ditadura trabalhadores, os partidos de oposição e
Civil-Militar, a partir da década de a ala dissidente do PMDB solicitaram o
1990, a questão central dos debates seu afastamento da relatoria:
peemedebistas era se o partido deveria
“Alegavam que Temer era
ou não fazer parte das coalisões eticamente impedido após a
governistas. Os adeptos do governismo, divulgação da denúncia de que o
de olho em ministérios e cargos, deputado havia solicitado
aposentadoria proporcional como
Flávio Derzi (PP), Paulo Portugal (PP), Ricardo procurador do Estado de São Paulo.
Fiúza (PFL, atual DEM), Ronaldo Aragão Além da série de irregularidades
(PMDB) e Geddel Vieira Lima (PMDB). Mais verificadas no pedido de
informações sobre o caso e Ibsen e Fiúza em “A
aposentadoria (...) os oposicionistas
honra da política” de Carla Costa Teixeira.
16
Durante o governo Fernando Henrique o PFL alegavam que, com seu pedido
cresceu de tamanho e influência no Congresso, antecipado de aposentadoria, Temer
fazendo o PMDB ser o segundo maior partido e, pretendia resguardar para si os
por consequência, ocupar papel secundário privilégios que seriam eliminados
mesmo na coalisão governista. com a sua proposta de reforma,

94
quais sejam, a aposentadoria por articularam junto aos parlamentares do
tempo de serviço, a aposentadoria PMDB os votos necessários à
proporcional, pensão acima do teto aprovação das duas propostas. Marcos
do funcionalismo, entre outros” Nobre apontou para o veto dos
(MACIEL, 2014, p. 75). governistas do partido à tentativa de
A proposta de mudança na Previdência Itamar Franco, José Sarney ou Roberto
foi aprovada e Michel Temer, com Requião concorrer à presidência em
ajuda do presidente Fernando Henrique, 1998, os convencionais decidiram que o
venceu a queda de braço interna do partido não apoiaria candidaturas,
PMDB contra o deputado Paes de embora na prática estivessem
Andrade, sendo eleito presidente da comprometidos com a chapa
Câmara dos Deputados em 1997. É na PSDB/PFL.
gestão de Temer que se aprova a Como consequência dessas disputas
emenda da reeleição a cargos do poder internas, Jader Barbalho17 foi eleito
Executivo, apesar das denúncias de presidente do partido e a ala governista
compra de votos de parlamentares em finalmente dominou o PMDB. No
benefício do governo FHC e da coalisão governo tucano, Eliseu Padilha foi
política que o PMDB participara, bem Ministro dos Transportes; o já senador
como a polêmica privatização da Renan Calheiros foi indicado por
Companhia Vale do Rio Doce. Ainda na Barbalho para ser Ministro da Justiça;
presidência da casa, Temer triplicou “a Romero Jucá era vice-líder do governo
verba de despesa de gabinetes, FHC no senado e Moreira Franco foi
beneficiando principalmente deputados assessor especial do presidente durante
com menor projeção política” todo o segundo mandato. Em suma, “o
(MACIEL, 2014, p. 75-76). Reeleito governo FHC teve a seu lado a maioria
presidente da Câmara em 1999, atuou dos parlamentares do PMDB durante
no encaminhamento das propostas de todo o período. Destaca-se aqui, sem
interesse do governo do PSDB além de dúvida, a figura de Michel Temer18,
ter rejeitado vários pedidos de abertura artífice dessa transição de poder dentro
de processo de impeachment contra da máquina partidária” (NOBRE 2013,
FHC. p. 84).

Esses acirrados conflitos peemedebistas A chegada da ala governista à


pelas presidências no Legislativo isolou presidência do PMDB mudou
o grupo de dissidentes/oposicionistas. definitivamente a atuação interna no
Com ajuda do PSDB, cresceu o partido: as Convenções Nacionais foram
prestígio de Michel Temer no partido a
17
ponto de torná-lo a principal liderança Jader Barbalho renunciou à presidência do
governista dentro do PMDB, seguido PMDB e ao cargo de senador em 2001 para
impedir sua cassação e consequente perda dos
pela maioria dos correligionários. Dois direitos políticos em meio ao escândalo da
exemplos emblemáticos: embora a Sudam e desvios do Banpará. Porém, em 2002
Convenção Nacional do partido, foi eleito deputado federal, o mais votado no
liderada por Paes de Andrade, Pará.
18
presidente, tenha indicado voto Michel Temer (PMDB) foi presidente da
Câmara dos Deputados por três vezes: 1997-
contrário à emenda da reeleição e à 1999, 1999-2001 e 2009-2010. Além disso, foi
privatização da estatal Vale do Rio inúmeras vezes presidente do PMDB no
Doce, Michel Temer e Jader Barbalho período.

95
restringidas e a Comissão Executiva recebeu a cúpula do PMDB por
passou a definir os rumos do partido. A volta das 2h. Mas Geddel alega que
reeleição de FHC fez o PMDB cobrar a única consulta que fizeram ao
mais espaço no segundo mandato. ministro foi como deveriam
Michel Temer foi reeleito presidente da proceder para recorrer da liminar”
(MACIEL, 2014, p. 83).
Câmara em 1999 e Jader Barbalho no
Senado em 2001, mesmo ano em que Com a vitória em 2002, Lula buscou
Temer assumiu a presidência do partido. governar apenas com a bancada dos
partidos aliados (PSB, PDT e PCdoB) e
Para a eleição de 2002, a Executiva do a realização de acordos fisiológicos com
partido, liderada por Temer, especulado outros partidos de pequeno e médio
como possível candidato a vice- porte, uma vez que os petistas vinham
presidente, aprovou a coligação com o de histórica trajetória na defesa da
PSDB em torno do candidato José “regeneração completa da política –
Serra, sendo a deputada Rita Camata cuja degradação sempre foi
(PMDB) indicada como vice. Roberto representada emblematicamente pelo
Requião, membro do antigo MDB e da PMDB” (NOBRE, 2013, p. 106).
ala oposicionista do partido, conseguiu
Embora Michel Temer e Eunício
liminar no TSE para suspender a
Oliveira tenham articulado internamente
Convenção que aprovou a coligação
pela adesão do PMDB ao governo do
com os tucanos. Às cinco horas da
presidente Lula antes mesmo da posse,
madrugada, o ministro do Nelson
o petista vetou o acordo costurado por
Jobim, do TSE, derrubou a decisão, o
José Dirceu para que peemedebistas
que foi visto como favorecimento à
integrassem o governo desde o início.
cúpula do partido, uma vez que Jobim
Mesmo não fazendo parte do governo
foi deputado federal pelo PMDB em
Lula, em março de 2003 a Executiva do
1994 e teria afinidades com o grupo
PMDB aprovou resolução que colocava
governista. Natália Maciel, em sua
o partido oficialmente na base
ótima tese de doutorado, reproduziu
parlamentar do governo. Após longo
reportagem do Jornal do Brasil de julho
casamento com o PSDB, Michel Temer
de 2002:
e o grupo governista no partido,
“Ontem, Jobim confirmou ter ofereceram-se ao PT.
recebido a cúpula do partido e Ao perceber que a não formação de uma
recomendado a entrega do base majoritária no Congresso
documento ao assessor jurídico
dificultaria a aprovação das medidas de
Alexandre Pereira. Disse que
telefonou ao assessor para que ele
interesse do governo, em janeiro de
recebesse o recurso do PMDB e que 2004 Lula convidou o PMDB a
preparasse o despacho (...) Geddel ingressar na coalisão por ocasião da
[Vieira Lima] confirmou que ele, primeira reforma ministerial. Amir
Temer e o ex-ministro Eliseu Lando assumiu a Previdência; e Eunício
Padilha foram à residência [de Oliveira, as Comunicações. A forma
Nelson Jobim]. (...) Eunício petista de conseguir apoio parlamentar19
[Oliveira] revelou que todos
ficaram esperando na casa de 19
Nos primeiros anos do governo Lula, os
Temer, enquanto um emissário partidos da base aliada receberam a filiação de
levava a petição até a casa de muitos deputados. O PMDB saltou de 69 para
Jobim. (...) Para Eunício, Jobim 77; o PTB de 41 para 55; o PP de 43 para 47 e o

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resultou no escândalo do Mensalão20 e Plano Real. Nas palavras dele, “uma
para se sustentar na presidência, Lula orientação que permitiu, contando com
dobrou a participação do PMDB nos a mudança da conjuntura internacional,
Ministérios em junho de 2005. O a adoção de políticas para reduzir a
objetivo era trocar cargos na esfera pobreza (...) e para ativação do mercado
federal para preservar o presidente de interno, sem confronto com o capital”
eventual pedido de impeachment. Lula (2012, p.13) e que resultou em um
reformulou o governo, aderiu ao realinhamento eleitoral que levou a
pemedebismo, então ocupado à parcela do subproletariado a votar nos
esquerda, formou a maior base candidatos petistas à presidência.
parlamentar de um governo na Nova
República e se reelegeu presidente Porém, Marcos Nobre apontou que “foi
(NOBRE, 2013). Apesar disso, Marco apenas com a entrada definitiva do
Antônio Villa21 sustenta que o PT via o PMDB no governo, depois do
PMDB “como um parceiro em busca de mensalão, que a aliança com o
voo próprio” (2014, p. 72). empresariado nacional foi
progressivamente se firmando” (2013,
André Singer conceituou como lulismo p. 119). O filósofo argumenta que esta
as políticas desenvolvidas pelos adesão empresarial ao social-
governos do PT, cuja característica desenvolvimentismo do PT se deu pela
central foi promover o combate à conjunção do boom das commodities e a
miséria sem subverter as regras do adesão do PMDB ao governo e do
sistema capitalista, mantendo o tripé governo ao pemedebismo.
macroeconômico característico do
Em 2006, para a escolha dos rumos do
PL de 33 para 43. Os neo-governistas vinham partido na eleição presidencial, outra
dos partidos de oposição: o PSDB perdeu doze e guerra de liminares tomou conta do
o PFL perdeu oito deputados. (VILLA, 2014, p. PMDB. A Convenção Nacional tentou
49)
20 ser esvaziada por governistas como
O deputado federal Roberto Jefferson (PTB),
que havia sido líder do governo FHC e aliado de Renan Calheiros, José Sarney e
Fernando Collor, por não conseguir ajuda Henrique Eduardo Alves, porém,
governamental para barrar uma investigação liderados por Michel Temer, a ala
contra um aliado seu no Correios, concedeu oposicionista aprovou candidatura
entrevista denunciando o esquema de
própria do partido à eleição. Os
“mensalidade para parlamentares” votarem itens
de interesse do governo, atingindo duramente governistas utilizaram-se da
José Dirceu e José Genoíno, históricas proximidade de Sarney com Edson
lideranças petistas. O peemedebista José Borba, Vidigal, o presidente do STJ, e
envolvido no escândalo, com medo de ser conseguiram a suspensão da decisão, ao
cassado e perder seus direitos políticos,
que os pré-candidatos Anthony
renunciou.
21
É preciso fazer uma ressalva. O historiador Garotinho e Germano Rigotto e o
Marco Antônio Villa é notório adversário do PT presidente do PMDB Michel Temer,
e do ex-presidente Lula. Ligado ao PSDB, este conseguiram derrubar. A convenção foi
pesquisador não cansa de adjetivar Lula e os realizada e Garotinho foi escolhido
petistas com palavras de baixo calão em vídeo
candidato do partido.
nas redes sociais, que resultou até em queixa
crime. O livro citado é de, no mínimo, duvidosa
qualidade acadêmica devido ao descontrole na
Porém, por decisão do TSE, naquele
subjetividade do autor, porém traz informações ano valeria a verticalização das
relevantes sobre a relação PT-PMDB. coligações, ou seja, as coligações

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regionais deveriam seguir a coligação foi anulada pelo STJ sob alegação de
nacional. “Para o PMDB a resolução vícios processuais.
significava que uma candidatura
presidencial e/ou uma coligação em Embora com negativas de Renan,
âmbito nacional limitaria os acordos das descobriu-se em 2007 que uma
lideranças regionais nas eleições construtora pagava as despesas de
estaduais” (MACIEL, 2014, p. 88). aluguel e a pensão mensal de uma filha
Assim, o PMDB desistiu da candidatura que o senador tivera com uma
própria em prol de seus interesses jornalista. Em votação secreta, o
regionais. Marco Villa aponta que à plenário do Senado votou contra a
época, especulou-se a substituição do cassação do senador, mas em meio a
vice de Lula por um nome do PMDB, outro escândalo, Renan renunciou a
que não se concretizou pelas presidência da casa em dezembro. No
divergências internas no partido ano de 2009, sob a presidência de
(VILLA, 2014, p. 134). Sarney, explodiria o escândalo dos “atos
A reeleição de Lula fortaleceu o grupo secretos”. A oposição e setores do PT
governista no PMDB22 e como pediam a renúncia de Sarney. O então
retribuição, os petistas não hesitaram senador Sérgio Cabral (PMDB)
em apoiar Renan Calheiros (PMDB) e arquivou no Conselho de Ética o
José Sarney (PMDB) quando, então processo por sonegação fiscal,
presidentes do senado (2007 e 2009 utilização indevida de funcionários do
respectivamente), foram duramente Senado e nepotismo enquanto surgiam
acusados de corrupção. Na presidência denúncia contra senadores do PSDB.
do Senado, tais peemedebistas atuaram Um acordão entre governistas e
contra abertura de CPIs que pudessem oposicionistas avaliou “que a
atingir o governo Lula. Também Michel manutenção do clima de guerra no
Temer não teve despudor em se Senado poderia jogar a imagem de
reaproximar e receber o apoio petista todos na lata do lixo” (VILLA, 2014, p.
para sua eleição à presidência da 196).
Câmara em 2009.
Durante a presidência de Michel Temer Peemedebistas também ocuparam
na Câmara, ele e Geddel Vieira Lima postos relevantes no governo Lula:
foram envolvidos no escândalo Romero Jucá foi líder do governo no
conhecido como “Farra das passagens”. senado e Ministro da Previdência por
Por determinação de Temer, a apenas dois meses, tendo sido
investigação foi arquivada na Câmara. exonerado após denúncias de corrupção;
No mesmo período, o nome de Michel Edison Lobão foi Ministro de Minas e
Temer apareceu 21 vezes na lista de Energia; apesar de ferrenho crítico do
propina da empreiteira Camargo Corrêa, primeiro mandato de Lula, Geddel
apreendida na Operação Castelo de Vieira Lima assumiu o Ministério da
Areia da Polícia Federal. A Operação Integração Nacional por longos três
anos, o que lhe rendeu uma série de
denúncias de irregularidades; Moreira
Franco foi líder do partido na Câmara e
22
Durante os governos Lula, o PMDB voltou a presidente da Fundação Ulysses
ocupar o lugar de maior bancada no Congresso
Guimarães, ligada ao PMDB.
e a ter papel de destaque na coalisão governista.

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Também no governo Dilma Rousseff Turismo indicado por José Sarney
(PT), além de Michel Temer ser o vice- também deixou o cargo em meio ao
presidente, vários desses peemedebistas escândalo do uso indevido de verbas de
ocuparam posições importantes: Helder gabinete para pagar um motel em São
Barbalho, filho de Jader, foi Ministro da Luís, no Maranhão. No ano seguinte, o
Pesca e depois dos Portos; Eliseu partido seguiu pressionando a
Padilha foi Ministro da Secretaria de presidenta Dilma Rousseff por mais
Aviação Civil; Edison Lobão manteve- espaço no governo. Com o aval de
se nas Minas e Energia; Geddel Vieira Michel Temer, presidente da legenda,
Lima era vice-presidente da Caixa deputados do PMDB redigiram um
Econômica Federal; Romero Jucá “manifesto contra a ‘hegemonia’ do PT.
seguiu liderando o governo no senado; O documento dizia que a relação entre
Moreira Franco foi Secretário de os dois partidos era ‘desigual e injusta’;
Assuntos Estratégicos e, e que o PT estaria se preparando para
posteriormente, Ministro da Aviação acabar com o ‘protagonismo
Civil e Eduardo Cunha, depois de líder municipalista’ do PMDB” (VILLA,
do PMDB na Casa, assumiu a 2014, p. 249).
presidência da Câmara dos Deputados.
Considerações finais
Eduardo Cunha foi tesoureiro da A partir dos anos 1980, em que abrigava
campanha de Fernando Collor no Rio de liberais, socialistas e revolucionários, o
Janeiro. Nomeado para a Telerj, foi PMDB passou por um longo processo
acusado de corrupção. Novamente de incorporação de políticos
nomeado pelo governador Anthony conservadores e direitistas que o
Garotinho para a Cehab, também, teve transformou em um típico partido de
que responder por irregularidades. centro sem “pretensões de produzir
Eleito para a Câmara dos Deputados em rupturas institucionais” e “apoiou a
2003, mudou do PPB (atual PP) para o transição pactuada” (MELO, 2013,
PMDB. Sua atuação na presidência da p.107). Herdeiro dos inúmeros
Câmara foi de oposição à presidenta diretórios municipais do MDB e
Dilma. Quando o PT votou a favor da partícipe nas coalisões governistas, o
abertura de processo de sua cassação partido potencializou seu desempenho
por quebra de decoro parlamentar na eleitoral durante a Nova República e se
Comissão de Ética da Câmara, como consolidou como o maior do país23.
represália, no mesmo dia, Cunha abriu
processo de impeachment contra a Diante da alta fragmentação partidária
presidenta, o que possibilitou que seu atual, o partido possui maior poder de
correligionário, Michel Temer, chegasse barganha junto ao governo e, em
à presidência. consequência, mais acesso a cargos e
recursos públicos. Resultados da
Em 2011, Wagner Rossi (PMDB), pesquisa de Natália Maciel indicam que
Ministro da Agricultura indicado por o eleitorado do PMDB está em
Michel Temer, teve de entregar o cargo. municípios pequenos, localizados no
Pesava contra ele fortes denúncias de
abrigar um lobista do partido dentro do 23
De maior partido do Congresso nos anos
Ministério, com sala, telefone e 1990, o PFL chegou ao final dos governos Lula
secretária a disposição. No mesmo ano, em constante queda no número de
Pedro Novais (PMDB), Ministro do parlamentares eleitos.

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interior dos estados, que possuem como se trata de uma agremiação de
população de baixa escolaridade: “O entendimento “complexo, de múltiplas
PMDB é o partido mais bem-sucedido facetas e possibilidades interpretativas”
em eleições municipais” (2014, p. 135). (2015, s/p). No mesmo sentido, Paulo
São em tais municípios, mais carentes Melo defende que a permanência do
de melhorias públicas e distantes dos PMDB como central no sistema político
grandes centros de discussão ideológica, brasileiro se dá pelo “fato de que possui
que os eleitores apresentam maiores uma ideologia híbrida, o que lhe
interesses em políticas paternalistas. permite participar de diversas frentes
Complementarmente, Paulo Melo indica eleitorais e manter-se em governos de
que a maior parte dos eleitores diferentes matizes ideológicos” (2013,
identificados com o partido possui mais p. 109). Mesmo indiscutivelmente
de 45 anos de idade, tem renda de até derrotado nas eleições presidenciais de
dois salários mínimos, confessa-se de 1989 e 1994 e desde então sem lançar
religião católica e se autodeclara, 61%, candidato a presidente, o PMDB foi o
de direita, ante 31% que diz ser de partido que mais elegeu governadores e
centro (2013). prefeitos desde 1990.
Os políticos peemedebistas seriam os Assim como aconteceu nos governos do
típicos caciques de redutos eleitorais PSDB, nos governos do PT, após uma
com interesse na lógica paroquialista, aliança inicial tímida, o PMDB sentiu-
pessoais e imediatas, acima dos se apto a pleitear a candidatura a vice-
interesses partidários. Para o cientista presidente. Um ano antes da eleição de
político Wanderley Guilherme dos 2010, o historiador Luiz Felipe de
Santos, o PMDB “não tem histórico de Alencastro já alertava que tal aliança
estadistas (...) mas de habilíssimos poderia “transformar a ocupante do
articuladores parlamentares” (2017, Alvorada em refém do morador do
p.7). As entrevistas feitas por Natália Palácio do Jaburu”, pois “a aliança PT-
Maciel com peemedebistas governistas PMDB pode se tornar desastrosa num
e oposicionistas permitem perceber que: governo em que Michel Temer venha a
“Enquanto o discurso do grupo ocupar o cargo de vice-presidente”
majoritário governista é que o papel (2016, p.21). Marco Villa diz que a
do PMDB na atual democracia indicação de Temer desagradou o
brasileira é o de fiador da presidente Lula (2014).
estabilidade institucional e da
O pacto político herdado por Dilma
governabilidade, o grupo
oposicionista denuncia que o real Rousseff (PT), em que todos os
objetivo da maioria governista é a políticos queriam aderir ao
busca por cargos e acesso a pemedebismo de distribuição de cargos
recursos centrados nas mãos do e verbas federais, não poderia ser
Executivo, dentre eles, a execução plenamente mantido numa conjuntura
das emendas de seus membros ao de crise econômica. Nesse ambiente de
orçamento” (MACIEL, 2014, p. excesso de adesão política, Dilma
160). travou uma queda de braço com o meio
Rafael Lameira e Paulo Peres sustentam político:
que “a justaposição de características é “Dilma se colocou como
um fator determinante para o sucesso representante do ‘povão’ dentro do
eleitoral e político do partido”, bem sistema político pemedebista. Ela

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conseguiu surgir, no início de seu limite das tipologias partidárias. Anais do 1°
governo, também como Seminário Internacional de Ciência Política –
representante do antipemedebismo UFRGS, 2015.
no coração do sistema político MACIEL, Natália. Velhas raposas, Novos
pemedebizado. (...) Dilma Governistas: o PMDB e a Democracia
mobilizou e canalizou a seu favor a Brasileira. Tese de Doutorado em Ciência
legítima ojeriza da sociedade à Política – Universidade do Estado do Rio de
desfaçatez do sistema político. Janeiro, 2014.
Como se ela própria não MELO, Paulo Victor Teixeira Pereira. O
dependesse do pemedebismo que PMDB e a sua manutenção no centro do jogo
combateria ‘de dentro’ para político: de catch all a carter. Dissertação de
governar. Com isso projetou Mestrado em Ciência Política – Universidade
primeiramente uma imagem de uma Federal de Minas Gerais, 2013.
presidente que ‘não se mistura à MIGUEL, Luis Felipe. A democracia na
baixaria’, que se mantém ‘a salvo encruzilhada. In: SINGER, André et al (org.).
da contaminação’. (NOBRE, 2013, Por que gritamos golpe?. São Paulo:
p.139) Boitempo, 2016.

Marcos Nobre ainda aponta que Dilma NÊUMANNE, José. Atrás do palanque:
bastidores da eleição de 1989. São Paulo:
buscou estender o conjunto de Siciliano, 1989.
ministérios que estariam preservados da
lógica pemedebista de coalizão, o que NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento:
da abertura democrática ao governo Dilma.
irritou o PMDB e demais partidos da São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
base aliada. Some-se a isso o fato de ter
REIS FILHO, Daniel Aarão. Ditadura e
enfrentado o mercado
democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar,
financeiro/bancário na redução da taxa 2014.
de juros e ampliação da atuação dos
SANTOS, Wanderley Guilherme dos. A
bancos públicos no mercado de créditos democracia impedida: o Brasil no século
(SINGER, 2015). Em 2013, Marcos XXI. Rio de Janeiro: FGV, 2017.
Nobre já alertava que “o pemedebismo
SINGER, André. Cutucando onças com varas
pode aceitar certo atraso ou mesmo um curtas: o ensaio desenvolvimentista no
parcelamento no pagamento de sua primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-
parte no butim. Mas nunca perdoa uma 2014). Revista Novos Estudos, 102, julho de
dívida” (2013, p.140). 2015.
SINGER, André. Os sentidos do Lulismo:
reforma gradual e pacto conservador. São
Referências Paulo: Companhia das Letras, 2012.
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Os riscos do VILLA, Marco Antônio. Década perdida: dez
vice-presidencialismo. In: MATTOS, Hebe et al anos de PT no poder. Rio de Janeiro: Record,
(org.). Historiadores pela democracia: o golpe 2014.
de 2016 e a força do passado. São Paulo:
Alameda, 2016.
Recebido em 2017-01-10
LAMEIRA, Rafael Fantinel e PERES, Paulo. O Publicado em 2017-10-05
lugar do PMDB na política brasileira: o

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