AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO NOVO RJ-SCIE O PONTO DE VISTA DO PROJECTISTA
João Lopes Porto
Lisboa, 19 de Outubro de 2010
ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final INTRODUÇÃO São fundamentalmente três os vectores que no novo RJ-SCIE afectam a actividade do projectista, no sentido de dele se obter uma melhoria da qualidade da sua participação: Uma mais clara responsabilização legal Uma maior exigência no conteúdo do seu trabalho que, na maior parte dos casos, passou a consistir num projecto de especialidade de SCIE Uma maior exigência na formação dos pro- jectistas, sobretudo para a elaboração de projectos das 3.ª e 4.ª categorias de risco ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final RESPONSABILIDADE GENERALIDADES No plano da deontologia profissional, não parece haver alteração na responsabilidade do projectista de SCIE (pois a sua função social já a impunha) Mas no plano legal, ela sai muito reforçada, designadamente através de: Explicitação mais clara dessa responsabilidade (incluindo um termo de responsabilidade) Sistema sancionatório relativamente pesado Vejamos o que sobre isto diz o RJ-SCIE RESPONSABILIDADE DEFINIÇÃO Em fase de projecto e construção de edifícios e recintos, são responsáveis pela aplicação e pela verificação das condições de SCIE: Os autores de projectos e os coordenado- res dos projectos de operações urbanísti- cas, no que respeita à sua elaboração, bem como às intervenções acessórias ou complementares a que estejam obrigados, no decurso da execução da obra A empresa responsável pela execução da obra O director de obra e o director de fiscalização de obra, quanto à conformidade da execução da obra com o projecto aprovado RESPONSABILIDADE TERMO DE RESPONSABILIDADE Os autores dos projectos, os coordenadores dos projectos, o director de obra e o director de fiscalização de obra subscrevem termos de responsabilidade, de que conste, respectivamente, que na elaboração do projecto e na execução e verificação da obra em conformidade com o projecto aprovado, foram cumpridas as disposições de SCIE RESPONSABILIDADE UTILIZAÇÃO DOS EDIFÍCIOS O pedido de autorização de utilização de edifícios ou suas fracções autónomas e recintos, referido no Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação (RJ-EU), deve ser instruído com termo de responsabilidade subscrito pelos autores de projecto de obra e do director de fiscalização de obra, no qual devem declarar que se encontram cumpridas as condições de SCIE RESPONSABILIDADE CONTRA-ORDENAÇÕES E COIMAS O RJ-SCIE inclui uma longa lista de situações de contra-ordenação (sem prejuízo da responsabilidade civil, criminal ou disciplinar que também possa existir); e estabelece os limites das respectivas coimas Embora nem todas se reportem à actividade dos projectistas (pois a lista diz respeito à totalidade dos intervenientes no processo), algumas das contra-ordenações também lhes são aplicáveis RESPONSABILIDADE CONTRA-ORDENAÇÕES E COIMAS Na totalidade, são definidas 33 contra- ordenações, puníveis com coimas graduadas do seguinte modo (€): Pessoa singular P. Colectiva N.º de contra- Mínimo Máximo Máximo ordenações 370 3 700 44 000 10 275 2 750 27 500 17 180 1 800 11 000 6
A tentativa e a negligência são puníveis,
sendo os limites acima referidos reduzidos para metade RESPONSABILIDADE CONTRA-ORDENAÇÕES E COIMAS O pagamento das coimas não dispensa a observância das disposições legais e regulamentares cuja violação determinou a sua aplicação A decisão condenatória é comunicada às associações públicas profissionais e a outras entidades com inscrição obrigatória, a que os arguidos pertençam Fica ressalvada a punição prevista em qualquer outra legislação, que sancione com coima mais grave ou preveja a aplicação de sanção acessória mais grave, qualquer dos ilícitos previstos no RJ-SCIE RESPONSABILIDADE SANÇÕES ACESSÓRIAS Em função da gravidade da infracção e da culpa do agente, simultaneamente com a coima podem ser aplicadas as seguintes sanções acessórias: Interdição do uso do edifício, recinto, ou de suas partes, por obras ou alteração de uso não aprovado, ou por não funcionamento dos sistemas e equipamentos de SCIE Interdição do exercício da actividade profissional, no âmbito da certificação de especialização Interdição do exercício das actividades, no âmbito da credenciação pela a ANPC As sanções têm a duração máxima de dois anos, contados a partir da decisão condenatória definitiva ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final ACTIVIDADE DE PROJECTO A SCIE NO PROJECTO História recente (últimas décadas): A SCIE, quando atendida, era integrada nos projectos de Arquitectura e das Especialidades (cada um com a sua parte) Tendo evoluido, há poucos anos, para o “Estudo de SCIE” Com o DL 220/2008 (RJ-SCIE) passou a ser: “Projecto de SCIE” O projecto de SCIE é hoje um caso particular dos projectos de Especialidade Com composição semelhante a qualquer outro, como se pode ver a seguir ACTIVIDADE DE PROJECTO PROJECTO DE ESPECIALIDADE O projecto de especialidade é o documento que define as características do edifício ou recinto no que se refere à especialidade de segurança contra incêndio, do qual devem constar as seguintes peças escritas e desenhadas: Memória descritiva e justificativa, na qual o autor do projecto deve definir de forma clara quais os objectivos pretendidos e as principais estratégias para os atingir e identificar as exigências de segurança contra incêndio que devem ser contempladas no projecto de arquitectura e das restantes especialidades a concretizar em obra ACTIVIDADE DE PROJECTO PROJECTO DE ESPECIALIDADE Peças projecto de especialidade (continuação): Peças desenhadas a escalas convenientes e outros elementos gráficos que explicitem a acessibilidade para veículos de socorro dos bombeiros, a disponi- bilidade de hidrantes exteriores e o posicionamen- to do edifício ou recinto relativamente aos edifícios ou recintos vizinhos, a planimetria e altimetria dos espaços em apreciação, a classificação dos locais de risco, os efectivos totais e parciais, as características de resistência ao fogo que devem possuir os elementos de construção, as vias de evacuação e as saídas e, finalmente, a posição em planta de todos os dispositivos, equipamentos e sistemas de segurança contra incêndio previstos para esses espaços ACTIVIDADE DE PROJECTO FICHAS DE SEGURANÇA Nas utilizações-tipo dos edifícios e recintos da 1.ª categoria de risco, (excepto UT IV e UT V) , o Projecto de Especialidade é dispensado, sendo substituído por Fichas de Segurança, elaboradas com base em modelos a definir exclusivamente pelos serviços centrais da ANPC As câmaras municipais devem ser notificadas, oportunamente, quer das versões iniciais quer das actualizações das fichas de segurança NOTA: Para já, o “site” da ANPC apresenta um modelo único, aplicável a todas as UT´s ACTIVIDADE DE PROJECTO EXIGÊNCIAS DO RT-SCIE A par duma elaboração mais pormenorizada do projecto, com o Regulamento Técnico (RT-SCIE, DL 220/2008) foram também aumentadas as exigências de SCIE Sobretudo no que se refere à protecção activa, com os sistemas e equipamentos de segurança e com a autoprotecção Que torna o projecto mais exigente do ponto de vista técnico e científico (além de mais trabalhoso) ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final FORMAÇÃO NECESSIDADE Com estas novas exigências, torna-se necessária uma mais sólida formação dos profissionais do projecto Acréscimo de formação que também é imposto pelo novo regime, como se verá a seguir Sem, no entanto, deixar de reconhecer as competências já existentes (e os direitos adquiridos, ao longo dos anos, na actividade profissional) FORMAÇÃO COMPETÊNCIAS A responsabilidade pela elaboração dos projectos de SCIE referentes a edifícios e recintos classificados nas 3.ª e 4.ª categorias de risco, decorrentes da aplicação do RJ-SCIE e portarias complementares, tem de ser assumida exclusivamente por um arquitecto, reconhecido pela Ordem dos Arquitectos (OA) ou por um engenheiro, reconhecido pela Ordem dos Engenheiros (OE), ou por um engenheiro técnico, reconhecido pela Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos (ANET), com certificação de especialização declarada para o efeito FORMAÇÃO COMPETÊNCIAS A certificação de especialização é aceite nos seguintes termos: O reconhecimento directo dos associados das OA, OE e ANET, propostos pelas respectivas associações profissionais, desde que comprovadamente possuam um mínimo de cinco anos de experiência profissional em SCIE O reconhecimento dos associados das OA, OE e ANET, propostos pelas respectivas associações, que tenham concluído com aproveitamento as necessárias acções de formação na área específica de SCIE, cujo conteúdo programático, formadores e carga horária tenham sido objecto de protocolo entre a ANPC e cada uma daquelas associações profissionais FORMAÇÃO COMPETÊNCIAS A responsabilidade pela elaboração dos planos de segurança internos referentes a edifícios e recintos classificados na 3.ª e 4.ª categorias de risco, constituídos pelos planos de prevenção, pelos planos de emergência internos e pelos registos de segurança, tem de ser assumida exclusivamente por técnicos associados das OA, OE e ANET, propostos pelas respectivas associações profissionais A ANPC deve proceder ao registo actualizado dos autores de projectos e planos de SCIE (referidos nos pontos anteriores) e publicitar a listagem dos mesmos no sítio da ANPC FORMAÇÃO ACÇÕES EM CURSO O protocolo entre a ANPC e as associações profissionais, atrás citado, foi assinado no dia 10 de Fevereiro de 2010 Nos seus termos, é exigida a mesma certificação de especialização, tanto para os projectos como para os planos de SCIE Já estão em curso as formas previstas de reconhecimento dos membros das associações profissionais: o reconhecimento directo e as acções de formação ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final IMPACTO PREVISÍVEL Em face do exposto – e alterando um pouco a sequência anterior – parece claro que o primeiro impacto que o projectista de SCIE estará a sentir, face à nova regulamentação, é o da maior exigência técnica e científica Conjugando este facto com o maior desenvolvimento e minúcia que agora se impõe ao projecto, conclui-se que passou a ter uma actividade muito mais trabalhosa IMPACTO PREVISÍVEL Por outro lado, o acréscimo das responsabilidades legais obrigam o projectista de SCIE a um maior cuidado no exercício da profissão (visto que os riscos também aumentaram) Cuidado esse que só é susceptível de ser acautelado devidamente com um esforço contínuo de actualização e de aprofundamento da sua formação técnica e científica IMPACTO PREVISÍVEL É também previsível que surjam dificuldades de interpretação regulamentar, sobretudo nos primeiros tempos (até porque a legislação, infelizmente, saiu com bastantes erros) No entanto, o problema que parece mais grave diz respeito aos edifícios existentes, quando estão em causa obras de beneficiação Por motivo da rigidez do novo regime, contrariando tendências anteriores IMPACTO PREVISÍVEL Na verdade, só nos imóveis classificados o RJ-SCIE admite o não cumprimento das normas de SCIE, caso estas se revelem lesivas daqueles ou sejam de concretização manifestamente desproporcionada, podendo então ser adoptadas medidas de autoprotecção adequadas, após parecer da ANPC O princípio subjacente parece ser o de que, fora dos imóveis classificados, não existe património cultural a preservar IMPACTO PREVISÍVEL É uma situação grave, que tem levantado muitos problemas aos profissionais do sector, em obras de ampliação ou remodelação de edifícios existentes E tanto mais grave quanto contraria o esforço que nos últimos anos tem vindo a ser feito em Portugal no sentido da reabilitação do património construído (em vez da prática, que durante muitas dezenas de anos vigorou entre nós, do “deita abaixo e constrói de novo”) ESQUEMA Introdução Responsabilidade Actividade de projecto Formação Impacto previsível Nota final NOTA FINAL De todo o modo, o acréscimo de exigência tem de ser entendido como positivo E o projectista deve encará-lo como um incentivo a um desempenho com cada vez mais qualidade, bem como o reconhecimento da importância social do seu trabalho Sobre os aspectos negativos do RJ-SCIE, é de esperar que venham a ser corrigidos em prazo razoável (até porque está já em funcio- namento a Comissão de Acompanhamento da aplicação do novo regime, com representantes dos principais interessados) FIM