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Fraseologia Latina

Juntamente com o Latim (idioma que falava o povo do Lácio,


antiga região da Itália), a civilização romana herdou-nos as noções
fundamentais do Direito. Nessa língua, mercê de sua concisão e
majestade, correm os aforismos ou brocardos jurídicos. Nela foi também
que Marco Túlio Cícero, o mais eloquente advogado que o mundo
nunca viu, pronunciou suas belíssimas e imortais orações(1). Não é
muito, pois, que os artífices do Direito, ao elaborar suas petições,
escritos e arrazoados, continuem a servir-se da voz latina, sempre que
lhes caia a propósito, “cum caute et judicio”.

I – Palavras e Locuções de uso frequente no Foro

1. Ad hoc – Para isto, para este caso. Ex.: “Se o promotor, invadindo as
atribuições da defesa, solicitar a absolvição do réu, cumpre ao juiz
presidente do tribunal declarar vaga a cadeira da acusação e nomear um
promotor ad hoc que a desempenhe” (Inocêncio Borges da Rosa,
Processo Penal Brasileiro, 1942, vol. III, p. 116).
2. Ad perpetuam rei memoriam – Para a perpétua memória do fato.
Ex.: “As vistorias, arbitramentos e inquirições ad perpetuam rei
memoriam serão determinados mediante prévia ciência dos interessados
(…)” (art. 684, parágrafo único, do Código de Processo Civil de 1939).
3. Alea jacta est – A sorte está lançada. Célebres palavras que, no
ano 49 a.C., pronunciou Júlio César, um dos maiores vultos da
História, ao atravessar o Rubicão, pequeno rio que separava a
Itália da Gália Cisalpina. Emprega-se quando alguém, após certa
hesitação, toma decisão importante, ousada e irrevogável.
4. Alibi – Em outro lugar, alhures, longe do local do crime.
Pronúncia: álibi. “Em Direito: ausência do acusado no lugar do crime,
provada por sua presença noutro lugar. Já considerada palavra vernácula
(álibi) por muitos dicionaristas” (Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim,
1980, p. 23; Editora Nova Fronteira). Está no caso o lexicógrafo
Antônio Houaiss, que registrou o vocábulo, aportuguesando-o:
“Álibi – Defesa que o réu apresenta quando pretende provar que não
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poderia ter cometido o crime por, p.ex., encontrar-se em local diverso


daquele em que o crime de que o acusam foi praticado (um vizinho
proporcionou-lhe o á. de que precisava)” (Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa, 1a. ed.; v. álibi). Diz-se também “negativa loci”: O álibi
(ou “negativa loci”) constitui exceção de defesa e, pois, cabe ao réu
o ônus da prova, aliás não se eximirá da tacha de réu confesso
(art. 156 do Cód. Proc. Penal). Isto de álibi, “quem alega deve prová-lo,
sob pena de confissão”, adverte Damásio E. de Jesus (Código de
Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 159).
5. Animus necandi – Intenção de matar; intuito homicida. O
mesmo que animus occidendi. Ex.: “Não se pode deduzir o animus
necandi da natureza dos meios empregados (…)” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1981, vol. V, p. 73).
6. Communis opinio doctorum – A comum opinião (sentir ou
entendimento) dos doutores. Ex.: “É o ensinamento geral dos
juristas, a communis opinio doctorum, e menção expressa de alguns
Códigos Civis” (Orosimbo Nonato, A Coação como Defeito do Ato
Jurídico, 1957, p. 275; Editora Forense).
7. Cum grano salis – “Com um grão de sal, isto é, com um pouco de
brincadeira, não inteiramente a sério” (cf. Pequeno Dicionário Brasileiro
da Língua Portuguesa, 11a. ed., Apêndice). Ex.: “Trata-se, porém, de um
raciocínio imperfeito ou que deve ser aceito cum grano salis: (…)”
(Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p.
187); “Mas a distinção precisa ser entendida cum grano salis” (Costa e
Silva, Comentários ao Código Penal, 1967, p. 100).
8. De cujus – Primeiras palavras da expressão tradicional de cujus
successione agitur. Aquele de cuja sucessão se trata. É o autor da
herança, o falecido. Se mulher, será também de cujus: a de cujus. É
para evitar o que praticou aquele bisonho advogado, em petição
de inventário: O de cujus deixou uma “de cuja” e dois “de cujinhos”
(…).
9. Ex adverso – Do lado contrário; do adversário. Termo da língua
forense que designa o advogado da parte contrária. Não diga ex
adversus. Ex é preposição latina que rege o caso ablativo;
portanto: ex adverso. Exemplo: o Código de Ética manda tratar com
urbanidade o advogado ex adverso, ou da parte contrária (art. 44).
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10. Flatus vocis – Sopro de voz. Ex.: “(…) se reduziria a um flatus vocis, a
uma expressão vazia de sentido, a um preceito falecido de eficácia”
(Orosimbo Nonato, in Revista Forense, vol. 91, p. 98).
11. Fumus boni juris – Fumaça do bom direito (ou justa causa). “Sem o
fumus boni juris, a providência cautelar se torna inviável” (José
Frederico Marques, Elementos de Direito Processual Penal, 1965, vol.
IV, p. 15).
12. Lato sensu – Em sentido amplo. Antônimo: stricto sensu (em
sentido estrito). Aqui vem a ponto o reparo de Eliasar Rosa:
“Para guardar essas grafias corretas, e não escrever, ou dizer, strictu senso
e lato senso, há um meio mnemônico. Basta lembrar que, no alfabeto, a
letra o vem antes da letra u” (Os Erros mais Comuns nas Petições, 9a. ed.,
p. 240).
13. Non liquet – Não está claro; não convence; estou em dúvida; a
coisa não está bem esclarecida. Abreviadamente: N.L. No
processo criminal romano, por ocasião da votação no
julgamento de um acusado, entregava-se a cada jurado uma
tabuinha de madeira revestida de cera, na qual, sem se
comunicar com o seu colega, inscrevia a letra A. (absolvo), ou a
letra C. (condemno) ou as letras N.L. (non liquet): não está
esclarecido (cf. V. César Silveira, Dicionário de Direito Romano,
1957, vol. II, p. 456). “Quando a hipótese de inocência não está
subordinada a suposições totalmente gratuitas ou despropositadas, ao
arrepio do curso normal dos acontecimentos, terá de ser pronunciado o
non liquet e absolvido o acusado” (Nélson Hungria, in Revista Forense,
vol. 138, p. 339).
14. Prima facie – “Ao primeiro aspecto” (Saraiva, Dicionário Latino-
Português, 9a. ed., p. 469); à primeira vista; à prima vista; à
primeira face; ao primeiro lanço; ao primeiro olhar; ao
primeiro súbito de vista; à primeira visada; ao primeiro lancear
de olhos, ictu oculi, etc. Exemplos: “Bom êxito é o que, ao primeiro
aspecto, se diria expressar ali o termo sucesso” (Rui, Réplica, nº 453);
“Essas duas opiniões (…), posto que à primeira vista pareçam
repugnantes, vêm a dizer o mesmo” (Heitor Pinto, Imagem da Vida
Cristã, 1940, vol. II, p. 200); “Grande dificuldade de à prima vista negar
a procedência etimológica de tal ou qual vocábulo” (Ernesto Carneiro
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Ribeiro, Estudos Gramaticais e Filológicos, 1957, p. 92); “Todos estes


termos estão à prima face mostrando que Deus (…)” (Manuel
Bernardes, 1726, t. IV, p. 151); “Esta razão não é tão judiciosa como
parece ao primeiro lanço” (Camilo, Aventuras de Basílio Fernandes
Enxertado, 1907, p. 8); “(…) podia parecer, ao primeiro súbito de vista,
que só a sentença lhes serve de causa, àquelas nulidades” (Orosimbo
Nonato, Da Coação como Defeito do Ato Jurídico, 1957, p. 277);
“Onde encontrar apoio para reconhecimento de direito líquido e certo,
perceptível à primeira visada (…)” (Revista Trimestral de Jurisprudência,
vol. 41, p. 487); “Agora, veja Mário Barreto se este trecho do eminente
prelado não está, ainda que o não pareça ao primeiro lancear de olhos, no
mesmo caso dos apontados como defeituosos” (Melo Carvalho, in
Revista de Língua Portuguesa, nº 12, p. 136); “Não existe o crimen falsi
quando a mutatio veri é reconhecível ictu oculi ou prima facie” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 216).
15. Quandoque bonus dormitat Homerus – Às vezes até o bom Homero
toscaneja. Também os sábios erram. Todos conjugamos o verbo
errar. Emprega-se no sentido figurado este verso de Horácio
(Arte Poética, v. 359) para significar que ainda nas obras dos
homens de gênio há fraquezas e imperfeições. É o tributo à
“eterna falibilidade humana, cujos estigmas ninguém evita neste mundo”
(Rui, Réplica, nº 10).
16. Vexata quaestio – Questão muito controvertida. Ex.: “(…) a síntese
enunciada merece repetida como tomada de posição na perdifficilis ac
vexata quaestio” (Orosimbo Nonato, Da Coação como Defeito do Ato
Jurídico, 1957, p. 74). Pron.: vekçata qüéstio.

II – Brocardos Jurídicos

1. Ad impossibilia nemo tenetur. Ou: Ad impossibile nemo tenetur.


Máxima de jurisprudência. Tradução: Ninguém é obrigado ao
impossível; a cada um, segundo suas forças; quem faz tudo
quanto está em suas mãos (ou em suas posses) não pode ser
obrigado a mais.
2. Allegare nihil, et allegatum non probare paria sunt. Em vulgar tem
esta significação: Nada alegar, ou não provar o alegado, tudo é
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um. “Não esquecer a advertência de Maynz, de que o magistrado não


acredita em nada, tudo deve ser provado” (Washington de Barros
Monteiro, Curso de Direito Civil, 3a. ed., Parte Geral, p. 257).
3. Audiatur et altera pars. Seja também ouvida a parte contrária.
Famoso aforismo jurídico em que assenta o denominado
princípio do contraditório, que é a “ciência bilateral dos atos e termos
processuais e possibilidade de contrariá-los” (Joaquim Canuto Mendes
de Almeida, A Contrariedade na Instrução Criminal, 1937, p. 110).
Ver também Inaudita altera parte.
4. Cogitationis poenam nemo patitur – Aforismo jurídico. Ninguém
pode ser punido por pensar. Reproduziu-o elegantemente, num
lugar de sua estimada obra, o saudoso Prof. E. Magalhães
Noronha: “O que se passa no foro íntimo de uma pessoa não é dos
domínios do Direito Penal. Persiste ainda hoje a máxima de Ulpiano –
Cogitationis nemo poenam patitur. Ou como falam os italianos –
Pensiero non paga gabella (o pensamento não paga imposto ou direito).
Em intenção todos podem cometer crimes” (Direito Penal, 1963, vol. I,
p. 154).
5. Cui prodest? – A quem aproveita? Palavras extraídas do
conhecido verso de Sêneca: Cui prodest scelus, is fecit. Procurai a
quem aproveita o crime, e encontrareis o culpado (cf. Arthur
Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 1955, p. 188). Cassiano,
famoso jurisconsulto de Roma, “quando se devassava de algum
homicídio, costumava aconselhar e era acostumado a dizer: Que se
atendesse a quem a morte fora de utilidade, e a esse se atribuísse” (Cícero,
Orações, 1948, p. 15; trad. Pe. Antônio Joaquim).
6. De minimis non curat praetor – O pretor não se ocupa de questões
insignificantes. Não só o pretor, nome por que na Roma antiga
se conheciam os magistrados, também os membros do
Ministério Público e os advogados caem sob a jurisdição do
sobredito preceito. É de péssimo exemplo fazer caso e cabedal
de ninharia; não há dar peso à fumaça.
7. Inaudita altera parte. Sem ouvir a parte contrária. “Em ambos os
casos, porém, a tramitação procedimental se opera inaudita altera parte”
(José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual Penal, 2a.
ed., vol. IV, p. 62; Millennium Editora). Nota: Exemplo de sintaxe
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latina denominada ablativo absoluto, deve grafar-se a frase inaudita


altera parte (e não pars); os nomes e os adjetivos empregam-se no
caso ablativo (parte). Ver também Audiatur et altera pars.
8. In dubio pro reo – Na dúvida, em favor do réu. Somente a certeza
pode ensejar condenação; dúvida, em Direito, significa o
mesmo que ausência de prova. Daqui por que sabiamente
dispunha o art. 36 do Código Criminal do Império do Brasil:
“Nenhuma presunção, por mais veemente que seja, dará motivo para
imposição de pena”. Lição, a mais de um respeito notável, de João
Mendes Jr.: “A Defesa tem direitos superiores aos da Acusação, porque,
enquanto houver uma dúvida, por mínima que seja, ninguém pode
conscientemente condenar o seu semelhante” (Processo Criminal
Brasileiro, 4a. ed., p. 388).
9. Juris praecepta sunt haec – Honeste vivere; neminem laedere; jus suum
cuique tribuere. Os preceitos do Direito são estes: Viver
honestamente; não ofender a ninguém; dar a cada um o que é
seu. Aforismo extraído das Institutas do Imperador Justiniano
(liv. I, tít. I, § 3º).
10. Necessitas non habet legem – “Frase do famoso Santo Agostinho, autor
das Confissões, que se traduz por: A necessidade não conhece leis” (R.
Magalhães Jr., Dicionário de Provérbios e Curiosidades, 1960, p. 181).
“A necessidade exige do homem o que quer” (Públio Siro, Máximas,
1936, p. 89; trad. Remígio Fernandez). Forma variante:
Necessitas caret lege: A necessidade não se sujeita às leis. É causa
excludente de ilicitude jurídica (art. 23, nº I, do Cód. Penal).
11. Nemo tenetur se detegere. Ninguém é obrigado a acusar-se.
Fórmula variante: Accusare nemo se debet nisi coram Deo. Tradução:
Ninguém é obrigado a acusar a si próprio, salvo perante Deus.
Donde a exortação de Jacques Isorni: “Reservemos a confissão à
Justiça do Altíssimo e o silêncio à dos homens” (apud Eliasar Rosa,
Dicionário de Conceitos para o Advogado, 1974, p. 63).
12. Non bis in idem. Não duas vezes pela mesma razão. Variante: Ne
bis in idem. Apotegma de Jurisprudência pelo qual ninguém
pode ser duas vezes punido pelo mesmo crime. Lê-se em José
Frederico Marques: “Um dos efeitos de litispendência é o de impedir o
desenrolar e a existência de um segundo processo para o julgamento de
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idêntica acusação. Resulta, pois, da litispendência, o direito processual de


arguir o bis in idem, mediante exceptio litis pendentis” (Elementos de
Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. II, p. 264-265).
13. Onus probandi – “A obrigação de provar. O onus probandi compete a
quem afirma; cabe ao acusador e não ao acusado. Onus probandi ei qui
dicit – O ônus da prova compete a quem alega” (Arthur Rezende,
Frases e Curiosidades Latinas, 1955, p. 547). “A prova da alegação
incumbirá a quem a fizer”, reza o art. 156 do Código de Processo Penal.
14. Qui tacet, consentire videtur. Velha máxima que, em português,
responde assim: quem cala consente. Embora direito seu (cf. art.
5º, nº LXVIII, da Constituição Federal), vai mal-advertido o réu que,
dando de mão à primeira oportunidade de autodefesa, na
Polícia, prefere ficar calado (ou mudo como um peixe). É que a
própria razão natural o intima a defender-se com o vigor da
palavra, sobretudo se inocente. Ilustra-o que farte o soberbo
lugar de Vieira: “É cousa tão natural o responder, que até os penhascos
duros respondem, e para as vozes têm ecos. Pelo contrário, é tão grande
violência não responder, que aos que nasceram mudos fez a natureza
também surdos, porque se ouvissem, e não pudessem responder,
rebentariam de dor” (Cartas, 1971, t. III, p. 680; Imprensa Nacional;
Lisboa).
15. Quod abundat non nocet. O que é em abundância não prejudica. O
que abunda não dana. Famigerado aforismo jurídico, de curso
frequente nos pleitos judiciais, serve de alvitre aos que devem
desempenhar-se do ônus da prova, ou demonstrar uma
alegação. Melhor é que sobejem provas (ou argumentos), em
prol da causa, do que escasseiem. Há situações, contudo, em
que se mostra o brocardo contraproducente; prevalecerá então
o virtus in medio (a virtude é o meio termo). O que é em excesso
desvirtua. Até a mesma bondade morre do excesso. O muito é
muito, lembra o adágio português, Il tanto nuoce, recitam os
italianos, como se quisessem dizer: o muito prejudica. Ainda:
Ne quid nimis (Terêncio). Nada de mais; em nada o demasiado.
Todo o excesso é uma imperfeição. Tão mau é o sobejo, como o
minguado (cf. Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 5a.
ed., p. 459).
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16. Reformatio in pejus – Reforma para piorar (a sorte do réu). É a


“reforma empiorativa da sentença”, no dizer de Eliézer Rosa
(Dicionário de Processo Penal, 1975, p. 184). Sendo o acusado o que
unicamente recorreu, não pode a superior instância prover-lhe
o recurso para prejudicá-lo.
17. Res sacra reus – O réu é entidade sagrada. Por este princípio, ainda
o mais vil dos homens tem direito à proteção da lei.
18. Secundum id quod plerumque accidit. Segundo aquilo que
geralmente sucede. À luz da experiência comum; conforme a
observação material dos fatos; na conformidade da ciência
experimental; de acordo com a lição da experiência vulgar. Ex.:
“O homem normal deve ser entendido sob um ponto de vista estatístico,
isto é, tendo-se em conta id quod plerumque accidit” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. II, p. 188).
19. Summum jus, summa injuria – Justiça excessiva é injustiça. Esta
parêmia traz Cícero em seu Tratado dos Deveres (liv. I, cap. XI, p. 29;
trad. Miguel Antônio Ciera): “(…) donde teve origem o provérbio a
suma injustiça se converte em iniquidade”. Isto mesmo sentia
Salomão, “o mais sábio de todos os que nasceram” (Vieira, Sermões,
1959, t. IX, p. 256): Noli esse justus multum (Ecl 7,17). Não sejas por
demasiado justo.
20. Testis unus, testis nullus – Uma só testemunha, testemunha
nenhuma. Faz ao acaso a lição do Conselheiro Ramalho: “Uma
só testemunha regularmente não prova o fato; e daí resulta a regra –
dictum unius, dictum nullius, ainda que o depoente seja dotado de grande
autoridade e dignidade” (Praxe Brasileira, 1869, pp. 311-312).
21. Vim vi repellere licet – É lícito repelir a força com a força.
Argumento que se invoca para os casos de legítima defesa (art.
25 do Cód. Penal). Matar, para não morrer, não é crime! Ulpiano,
célebre jurisconsulto, deixou escrito para todo o sempre que a
razão natural permite ao indivíduo defender-se: Naturalis ratio
permittit se defendere (cf. José Eduardo Fonseca, Justiça Criminal,
1925, p. 10).
A legítima defesa, afirmou Cícero num rapto de eloquência, não
tem história, porque é uma lei sagrada, que nasceu com o
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homem, anterior à tradição e aos livros, gravada que está no


código imortal da natureza (cf. “Pro Milone”, cap. IV).
Todas as leis e todos os direitos permitem repelir a força pela força,
escreveu no bronze eterno o jurisconsulto Paulo: “Vim vi
defendere omnes leges omniaque jura permittunt” (Dig. 9,2).
Isto mesmo significou o elegante Manuel Bernardes: “A justiça
concede a todos repelir a força com a força” (Nova Floresta, 1726, t. IV, p.
207).
De igual sentir, o imenso Vieira: “Haveis de ferir necessariamente a
quem vos afrontou, porque a mancha de uma bofetada no rosto só com o
sangue de quem a deu se lava” (Sermões, 1959, t. XIII, p. 135).
Aquele, portanto, que for injustamente agredido (ou estiver na
iminência de sê-lo) poderá afastar seu agressor até com
violência, que o autoriza a lei. É a clara dicção do art. 23, nº II, do
Código Penal.
Oráculo do Direito Penal pátrio, escreveu Nélson Hungria:
“Tanto na legítima defesa, quanto no estado de necessidade, não há crime,
o que vale dizer: o fato é objetivamente lícito” (Comentários ao Código
Penal, 1981, vol. V, p. 92).
Todavia, quem invoca a descriminante da defesa própria, a esse
cabe demonstrá-la acima de dúvida, que a falta aqui de prova
equivale a confissão de crime.

Bibliografia
• Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas, 1955;
• F.R. dos Santos Saraiva, Novíssimo Dicionário Latino-Português, 9a.
ed.;
• Giuseppe Fumagalli, Chi l’ha detto?, 1995;
• Hildebrando de Lima e outros, Pequeno Dicionário Brasileiro da
Língua Portuguesa, 11a. ed.;
• Isidoro de Sevilha, Etimologias, 1983, 2 vols.;
• L. de-Mauri, Flores Sententiarum, 1926;
• Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões Vernáculas,
1981;
10

• Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 5a. ed.;


• Rafael Bluteau, Vocabulario Portuguez e Latino, 1712, 10 vols.;
• R. Magalhães Júnior, Dicionário de Provérbios e Curiosidades, 1960;
• V. César da Silveira, Dicionário de Direito Romano, 1957, 2 vols.

(1) Ao advogado criminalista muito aproveitará a leitura dos


discursos de defesa de Cícero, modelos acabados da arte de
argumentar e convencer. Dentre esses têm lugar conspícuo os
seguintes: Pro Milone(*), Pro Roscio Amerino, Pro Q. Ligario, Pro
Archia, etc. Tito Lívio “tributou à sua memória a maior homenagem,
declarando que, para elogiar Cícero, só o talento do próprio Cícero” (César
Zama, Três Grandes Oradores da Antiguidade, 1896, p. 585).
( )
* Pleito em favor do assassino de Clódio; este discurso é
considerado o mais belo de Cícero (Bernardo H. Harmsen,
Cícero, Antologia, 1959, p. 10).

Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp

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