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Resumo
Visando expor algumas considerações sobre o processo de reconhecimento de
diversas comunidades rurais como comunidades de ³remanescentes´ de quilombo, este
artigo busca articular 3 momentos: em um primeiro, busca expor o entendimento acerca
do conceito de território que norteia nossa análise. Um segundo se inicia com uma breve
história da presença negra na Amazônia. Em um terceiro, mostra a luta e as conquistas
empreendidas atualmente pelos quilombolas e as estratégias utilizadas para a titulação
de suas terras. Esta luta é produto da necessidade de garantir a permanência e o acesso à
terra e de seus recursos, que possibilitam a reprodução e recriação sócio-econômica e
cultural destes grupos.
Palavras-chave: Comunidades Negras Rurais - Território - Conflito.
Abstract
This article aims to expose some considerations about the process of recognition
of various rural communities as ³remaining´ of quilombos. In the first part we expose
our understanding of the concept of territory which will guide our analysis. The second
part begins with a brief history of the black people presence in Amazon. In the third
part, we expose the struggles and the achievements undertaken by the quilombolas and
the strategies used for the titling of their lands. This struggle is a product of the
necessity to guarantee the permanency and access to land and to its resources, which
enables the social, economical and cultural reproduction and recreation of these groups.
Introdução
O processo de reconhecimento de diversas comunidades rurais no nordeste do
Pará como comunidades de ³remanescentes´ de quilombo tem trazido uma série de
questões a serem discutidas. Questões como a forma e o tempo de ocupação de seus
territórios que legitimem esse reconhecimento, os diversos sistemas de uso comum que
garantem a permanência destes grupos na terra, o significado da regularização de suas
terras, etc. Para discutirmos um pouco mais sobre estas e outras questões, este artigo
está dividido em três momentos: o primeiro, Território e Identidade, trata da relação
entre esses dois conceitos na medida em que essa relação está muito presente nos
discursos das lideranças que defendem o território quilombola. O segundo, cujo título é
³De quilombos de ontem às comunidades negras rurais de hoje´, vai tratar sobre a
questão da presença negra na Amazônia colonial e mostrar como foram se constituindo
as que hoje são denominadas comunidades quilombolas. Em um terceiro, sob o título ³A
luta pelo território quilombola´, veremos algumas informações sobre a regularização
das terras quilombolas no estado do Pará e como estas comunidades quilombolas, mais
especificamente da microrregião de Tomé-Açu, estão se articulando em busca do
reconhecimento de suas terras, além dos conflitos advindos disso.
É por meio desta dimensão simbólica do poder e do território que podemos falar
de uma identidade territorial. Fazendo referência a Lévi-Strauss (1977), Haesbaert
(2007) salienta que não é possível dissociar por completo a natureza simbólica da
identidade de seus referentes mais ³objetivos´. ³As marcas da identidade não estão
inscritas no real (...) os elementos sobre os quais as representações de identidade são
construídas são dele selecionadas´ (PENNA, 1992, p. 167 apud HAESBAERT, 2007, p.
42). Para o autor, essa seleção está sempre associada a determinadas estratégias
sociopolíticas.
Para Woodward (2004, p. 10 apud HAESBAERT, 2007, p. 43) ³a construção da
identidade é tanto simbólica quanto social (...) está vinculada também a condições
sociais e materiais´. Sendo assim, para Haesbaert espaços geográficos mais amplos
podem se tornar referenciais simbólicos pelos quais os grupos se reconhecem e afirmam
suas identidades e podem dar mais consistência e eficácia ao poder simbólico na
construção de identidades. Bernard Poche (1982 apud HAESBAERT, 2007, p. 43)
denominou estes referenciais de ³espaços de referência identitária´.
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Foto´ Outdoor de divulgação da Empresa Biopalma,
município de Concórdia do Pará/PA.
Rosiete Santana, out/2008.
Sobre estes sistemas, existem duas interpretações possíveis: uma que delineia
um quadro de desintegração dos sistemas de posse e de uso comum da terra frente à
expansão do capitalismo no campo. De acordo com Almeida (1989), as análises
econômicas consideram que se trata de formas atrasadas que desaparecerão, sendo
vistas como vestígios de um passado medieval que impede que essas terras fiquem
disponíveis no mercado livremente, um obstáculo à apropriação individual da terra, do
seu fracionamento.
Outra interpretação compreende que as terras de uso comum como as
denominadas terras de santo, terras de negro, terras de índio, fundos de pasto e pasto
comum representam o resultado de uma multiplicidade de soluções encontradas por
diversos grupos de camponeses para garantirem o seu acesso à terra, principalmente em
momentos de conflito. São formas que coexistem com o modo capitalista de produção,
dada a sua característica contraditória, desigual e combinada de desenvolvimento. São
formas que estão em constante processo de criação e recriação.
Hoje, a posse destas terras quilombolas está sendo reconhecida pelo Estado, por
meio de diversos processos de titulação. Mas uma questão a ser colocada é que é uma
titulação que impõe um padrão de organização territorial, práticas e tipo de propriedade,
no caso a coletiva, ainda não experimentadas por alguns destes grupos ou já perdidas no
tempo. Isto, à primeira vista, é um fato que vem gerando conflito entre eles. Segundo
Martins (1980), muitos lavradores 3 já se encontram subjugados pelo regime da pequena
propriedade privada, mas apesar disso, uma titulação coletiva altera o regime de
propriedade para impedir que ocorra a concentração da terra em mãos de poucos. Este é,
inclusive, um dos argumentos utilizados por alguns moradores das comunidades que
defendem a titulação coletiva da terra.
Para esse autor, há uma necessidade de se efetivar uma mudança drástica no
regime de propriedade fundiária também para que se reconheçam como legítimos os
regimes de propriedade alternativos que têm se defrontado com a expansão da
propriedade privada.
É importante ressaltar, segundo Martins (1980), que a luta do lavrador não é a
luta pela propriedade. É a luta pelo trabalho de sua família. Ele luta por uma terra de
trabalho, seja ela propriedade familiar, propriedade comunitária ou posse.
É importante termos clareza sobre a diferença entre estes tipos de propriedade e
a propriedade capitalista para termos clareza do significado do conflito que está
presente nestas comunidades estudadas.
3
Em seu livro ³Expropriação e Violência: a questão política no campo´ (1980), José de Souza Martins
utiliza o termo ³lavrador´, diferentemente de seus escritos após este período em que utiliza o termo
camponês.
Para Martins, o próprio capital impôs ao Brasil uma luta pela terra como uma
luta contra a propriedade capitalista da terra, possibilitando cada grupo, colonos, índios,
posseiros a construírem a sua própria concepção de propriedade anticapitalista, seja ela
camponesa, comunitária ou posse. Segundo ele,
Para o autor isto nos leva a uma certeza e a uma incerteza. A certeza do caráter
anticapitalista destas diversas modalidades de luta pela terra. A incerteza é o alcance da
preservação desses regimes e práticas de propriedade e de trabalho para a solução de
problemas que vão além das condições do lavrador e que atingem a sociedade inteira.
Referências
ACEVEDO MARIN, Rosa & CASTRO, Edna Ramos. Negros do Trombetas:
Guardiães de matas e rios. 2a ed. Revista e Ampliada. Belém: CEJUP/NAEA/UFPA,
1998.
______. No caminho de pedras de Abacatal: Experiência social de grupos negros no
Pará. 2a ed. Belém: NAEA/UFPA, 2004.
_____. Quilombolas do Pará. Belém: NAEA/UFPA, 2005. 1 CD-ROM.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terras de preto, terras de santo, terras de índio.
Uso comum e conflito. In: CASTRO, Edna & HÉBETTE, Jean (orgs). Na trilha dos
grandes projetos: modernização e conflito na Amazônia. Belém: NAEA/UFPA,1989.
p. 163-196. (Cadernos NAEA, nº 10).
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.
(Tradução de Maria Cecília França)