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Nada sei: estou atordoado e preciso continuar a dormir, não pensar, não desejar, matéria fria
e impotente.”
(p.2)
As angustias e sofrimentos são de fato um fator incomodo para o personagem,
confuso não sabe como lidar com suas perturbações e em seus delírios
incomoda-se com supostas crianças, que parecem mais um de seus
devaneios, como ele estivesse preso ao sono da morte, nas trevas, ou seja, a
realidade e a ilusão se fundem.
“Entrarei nos cafés, conversarei sobre política. Uma, duas vezes por semana irei com minha mulher ao
cinema. De volta comentaremos a fita papaguearemos um minuto com os vizinhos na calçada.”
(p.55-56).
Observa-se nos contos, os personagens são pessoas afundadas em sua
solidão, fragmentadas do ser, pelo fato de transparecer uma inconsistência do
tempo cronológico ordenado, pelo afastamento da ação positiva com o espaço.
Paulo Honório decide escrever um livro para contar sua história, da ascensão
social, de certa forma abre mão da sua humanidade, devido as dificuldades do
meio que vive, torna-se rígido, bruto e violento. O romance se desenvolve de
forma central em planos diferentes: O Paulo Honório narrador e o Paulo
Honório personagem. Esses traços evidenciam através do tempo verbal usado
na narrativa: onde o Paulo Honório narrador é delimitado pelo tempo pretérito,
onde o narrador irá encurvar sobre seu passado, buscando o entendimento de
si mesmo, do mundo e confrontando- se com esse mundo exterior.
Antes o narrador demonstra no primeiro capitulo como ele planejava contar sua
história, pensa em delegar essas funções para pessoas que considerava mais
cultas. Como de praxe Paulo Honório percebe que esse método é falho, pelo
fato de ninguém falar de forma como ele queria escrito e não se via
representado ali. Então o próprio protagonista resolve tomar partido e ele
mesmo escreve suas próprias lembranças. Com processos metalinguísticos
expostos na escrita do livro, percebe-se uma discussão sobre o próprio ato de
escrever.
"Começo declarando que me chamo Paulo Honório, peso oitenta e nove quilos
e completei cinquenta anos pelo São Pedro. A idade, o peso, as sobrancelhas
cerradas e grisalhas, este rosto vermelho e cabeludo, têm-me rendido muita
consideração. Quando me faltavam estas qualidades, a consideração era
menor."
Desse modo podemos perceber uma inverossimilhança na obra, o
questionamento de como um homem rustico, que diz ser um semi- analfabeto
poderia escrever um livro bem escrito? Porém, essa questão da crítica ser
apropriada a linguagem utilizada é enxuta direta típica do estilo de Graciliano
Ramos, combinando com o estilo de Paulo Honório.
Por ser de origem humilde e desconhecida, Paulo Honório, não mediu forças
para conquistar sua posição social, valendo-se muitas vezes de meios sórdidos
como ameaças, assassinato e roubo. A visão de mundo que consiste o
personagem é centrada na relação de poder entre “opressor” e “oprimido”, pois
o que importava na verdade era “ter”. Todavia, essa visão de mundo entra em
conflito com a esposa Madalena, essa considerada na esfera do “ser”, não se
preocupando com bens materiais, mas com o capital humano.
A obra mergulha na alma humana profundamente no que ela pode ter de mais
umbroso, fragmentada de forma psicológica, Paulo Honório vai tentar buscar
quem ele é, o porque dos acontecimentos de tudo aquilo aconteceu. Desse
modo a obra apenas não trata das questões sociais, também existe um
aprofundamento nas discussões psicológicas. Além disso, também podemos
destacar que ao contrário de Vidas Seca, a narrativa parte do ponto de vista do
oprimido (Fabiano), enquanto em São Bernardo, é narrado do ponto de vista do
opressor (Paulo Honório). Pois a respeito da caracterização, observando Paulo
Honório, ele não fala quem é de forma direta, a descoberta é feita através da
narrativa. Ele não cita seus defeitos, mas com a relação com o mundo ao seu
redor pode-se deduzir como é Paulo Honório.
Para Faciolli, o argumento de P.H, foi a crise dele com Madalena, levando ao
abatimento, uma espécie de crise subjetiva devido a morte da mulher,
remetente ao capitulo 33 onde a crise já se instaura. Em consequência no
capitulo 35, a crise é objetiva independente da morte da Madalena devido a
nova revolução de 30. Resta a dúvida se a crise foi sobre a morte da mulher ou
a chegada da Nova República.