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UFPE – Centro de Artes e Comunicação

Programa de Pós Graduação em Design – PPG DESIGN - DOUTORADO


Disciplina: Seminários em Design.
Prof: Fábio Campos, Dr.
Aluno: Paulo Diniz
Julho de 2015

A pesquisa em design: metodologia e método científico.

Resumo​:
Este ensaio se propõe a analisar os diversos métodos aplicados ao design, través
da leitura de textos referentes ao debate sobre a pesquisa em design e sua relação ao
campo científico. Além desta análise sobre os métodos em design, buscou-se também
afinar o design com o debate sobre ciência e o método científico usando como exemplo as
discussões esses temas na década de 1960, entre Karl Popper e Theodor Adorno.
Palavras-chave: design, ciência, método científico,

Introdução
O método científico aplicado ao design e a formulação de uma metodologia que
agregue as diversas formas de teorizar sobre o design. Duas palavras estão ligadas ao
design quando se referencia sua aproximação com o saber científico: o produto ou o
processo. Este artigo debate sobre as visões do método científico aplicados ao
conhecimento do design e no constructo de um arcabouço teórico sobre o campo no qual o
design se insere dentro das ciências.
A metodologia aplicada para análise de tais visões parte da leitura de artigos
científicos que tentam aproximar o design do debate do método científico e de como este é
utilizado no design. Os principais artigos analisados propõe uma sistemática do método
científico dedutivo, indutivo e a abdução, bem como amplia o debate para outras
metodologias como o método “emergente” ou o método “explicativo”.
Essas tentativas de teorizar sobre o método científico recai em uma preocupação de
se definir a que campo do conhecimento o design, como conjunto de práticas e teorias, se
afina e se estrutura. Da mesma forma temos o binômio “produto ou processo” quando
teorizamos sobre o design, o mesmo acontece quando procura-se a definição do seu
campo de ação: arte ou engenharia. A falta de um corpus ligado a definição e conceituação
do design e suas áreas afins leva a essa busca e ao mesmo tempo falta de referência clara
sobre que campo de ação o design está.
Após a leitura dos textos, temos um levantamento sobre como está desenvolvendo o
debate sobre o aspecto científico do corpus acerca do design. Grosso modo, podemos
definir essa busca conceitual com seu único na definição de ciência, o que já é um debate
de longo processo e de infinitas discussões, mas sempre buscando uma orientação
metodológica para a área de ação. A partir da tentativa de definição de ciência temos a
proposição dos métodos científicos: o dedutivo e indutivo. Destes, praticamente derivou-se
os outros métodos, ou o uso combinado destes dois, como propõe um dos artigos
analisados. Ambos os métodos se fundamentam em utilização de pesquisas, informações e
data, para a elaboração dos juízos científicos que vão se diferenciar na forma de construção
das teorias e metodologias e o fechamento de tais juízos.
Entretanto, ambas fundamentam-se em alguns princípios que norteiam o saber
científico: formulação de juízos verdadeiros no conjunto das informações internas da própria
pesquisa, um conjunto de conceitos que possam ser aplicados em diversas situações de
pesquisa como ferramenta metodológica para o escopo científico.
Neste contexto do debate científico, o design se insere como aspirante à ciência ou
metodologia científica no processo de construção de artefatos industriais ou no próprio
artefato construído. Se a definição de ciência já traz várias controvérsias sobre método,
campo , área e fundamentos do saber científico, o debate em relação ao design nesta
perspectiva contribui para questionar e ampliar até onde vai este saber e se determinadas
atividades que geram conhecimento possam ser considerados ciência ou não
(independente da sua contribuição).
Além das análises de artigos sobre o método científico e design, este artigo tentará
atualizar o debate comparando-o com uma das grandes conferências sobre o que é ciência
e qual o papel desta na sociedade. Em 1961, houve o embate teórico entre Karl Popper e
Theodor Adorno, no qual tentava-se definir os campos entre as chamadas ciências exatas e
as ciências humanas, cujo cerne estava no método científico aplicado no conhecimento
acerca do mundo. Neste debate, conceitos como falseamento e falseabilidade científica
caros a Popper vão ser confrontados com o método dialético-histórico, que tirou o debate
sobre ciência do meio acadêmico e literalmente jogou-o às ruas e praças.

O método científico no design: a busca de um método para o design


Este artigo baseia-se numa análise comparativa de vários métodos postulados em
artigos que tratavam sobre a ciência e o design. Para nortear a argumentação coloca-se
alguns questionamentos que a certa medida responde-se utilizando os artigos
referenciados. Um primeiro ponto seria a dupla conceituação do design, ora como processo
construtivo ora como o produto elaborado.
Visto como processo o design se utiliza como atividade construtiva de modelos e
padrões que são definidos pela maneira na qual deve se desenvolver a atividade de
elaboração de artefatos. Neste sentido o processo prescindindo de um modelo indutivo de
criação de etapas que articulam informações [datas] e pensamentos [thougts], criando uma
relação causal a posteriori do processo pronto (Kell; Oliver, 2003). Num claro jogo de
processo gerando idéias e se retro-alimentando, o método científico apareceria na relação
evidência e hipótese.
No artigo da Kell e Oliver (2003) não propõe um método alusivo ao design, mas
discute-se quanto ao método indutivo ou método dedutivo, na relação hipótese e saber
científico, e como esta hipótese está amparada por um conjunto de informações que quanto
maior ampliam a possibilidade de construir-se evidências que serão o esteio das hipóteses.
Entretanto, o fato de se ter um quantidade grande de informação/medições [datas] não
implica que o saber científico gerado tenha seu valor de ciência se tais informações não
gerem hipóteses válidas, gerando seu oposto que seriam hipóteses dirigidas que atendiam
a justificação dos fatos, e não o contrário.
Sem gerar e testar hipóteses não há saber científico para Kell e Oliver, este princípio
científico de testar a hipótese está acompanhando pela coleta de medidas [measures/datas]
e os juízos sobre essas informações [thoughts], a ordem entre informações e pensamentos
é que define o tipo de método, seja indutivo seja dedutivo.
No método indutivo, as idéias são geradas pela análise das medições ou conjunto
dessas, gerando hipóteses a posteriori, e sempre se retro-alimentando, em um movimento
contínuo, para a checagem das informações processadas. No método dedutivo, seria o
inverso do anterior, a hipótese seria a priori justificada por uma relação de causa e efeito, na
qual a idéia a ser provada direcionaria as medidas/informações coletadas. Neste caso a
aplicação de modelos já pré-definidos seriam aplicado na causalidade predefinidas entre as
partes que compõem o escopo teórico[ideas/thoughts].
No caso do método indutivo o teste da hipótese advém do processo de medição ou
de coleta de informações que poderíamos associar ao processo de elaboração de artefatos
no design. O levantamento de modelos e padrões não seriam predefinidos, mas construídos
através de vária medições, num processo de criação baseando-se nestas medições e de
como elas seriam aplicadas. Não é um modelo único, mas o que está se ressaltando é o
processo de elaboração como um dos princípios do design.
O método dedutivo, criaria-se uma protótipo, um objeto pré-definido que seria o
modelo ideal a ser atingido, construído por essas pré-definições hipotéticas imprescindíveis
para um artefato que, neste sentido que está se afirmando, abarcaria valores e padrões
imputados ao objeto final.
No artigo de Kell e Oliver (2003) não há esta menção ao design, muito menos uma
discussão do design como ciência, seu modelo teórico é voltado para biologia e as
assertivas sobre a ciência pós-genoma, que reformulou paradigmas científicos pela
problematização da pesquisa que se deparava com variáveis que surgiam e ao mesmo
tempo a necessidade de criação de padrões que mantivessem continuidade. Como se
justificar um modelo científico que teria que levar em consideração este dois pólos na
formulação de uma teoria científica.
Como referência à solução dessa dicotomia os autores propõem uma ciência
holísticas que que tenta abarcar as várias nuances dos métodos científicos, numa tentativa
de ter a visão do todo, ou pelo menos ampliar mais a visão científica sobre um determinado
objeto.
Outra reflexão sobre o uso de informações/medidas e geração de hipóteses/idéias,
mas sem entrar no debate do design como ciência é o artigo de Eisenck (1993) quando
sugere uma meta-análise dos dados coletados. A meta-análise é apontada como mais um
método científico, que tenta se afastar da subjetividade na elaboração de juízos científicos,
quando se dispõe de uma quantidade maior de informação [dados] para tornar a pesquisa
mais consistente e melhor.
Neste caso quanto maior a quantidade de informação maior a possibilidade de se
chegar a uma síntese das evidências e dar suporte a elaboração de hipóteses, e solucionar
contradições entre os dados apresentados. Nesses termos, podemos correlacionar as
contradições da meta-análise com o axioma data x hipótese de Kell e Oliver (2003)
ressaltando que não há nestes uma relação direta entre quantidade de dados e uma
hipótese com mais solidez argumentativa.
Os três próximos artigos analisados são direcionados ao debate de ciência e design.
O primeiro problema que pode-se trabalhar quando ciência e design estão num mesmo
axioma é a definição de um e de outro. Certamente este não é o espaço, nem o formato ,
para se atingir uma proposição, mas é para deixar claro que o debate não se restringe às
visões analisadas nos artigos, e o debate sobre tais proposições estão em outras áreas do
conhecimento em estágio diferente daquele que se encontra no design. O próprio conceito
de design quando utilizamos sua terminologia inglesa para definir o ramo de conhecimento
sobre processo s e produtos de artefatos da era industrial gera controvérsias e perguntas
mais profundas daquelas que só intentam em traduzir o termo para a língua portuguesa.
O design é um termo que se difundiu a partir da expansão industrial estadunidense a
partir da década de 1950 e se consolidou no Brasil a partir dos anos 1990, quando havia
seus correlatos Desenho Industrial e suas subáreas Programação de produto e
Programação Visual. Para efeitos de burocracia científica dos órgão gestores de
financiamento e fomento à pesquisa a definição do termo e sua área de ação tem uma
relevância na definição da área de conhecimento na qual se insere determinada atividade
científica. Isto recai na importância de se debater e colocar limites na área de ação do
design, suas teorias e a teorização sobre seus elementos e campos de atuação.
Para a definição de design, que já posto não é objeto deste artigo nem caberia nele,
destaca-se a pesquisa em design como ciência, a tentativa de construir um método
científico não só aplicado mas também inerente ao design. Neste sentido Gregory e
Muntermann (2011) elaboram um apanhado de propostas de teorização sobre design,
descrevendo os métodos de pesquisas e suas principais características.
Segundo Gregory e Muntermann a primeira etapa a ser definida é uma clara
distinção entre teoria e teorização, que a primeira vista pode parecer apenas uma questão
de uso de termo, mas que traz em si uma profunda diferença entre o que é conceitual e o
que processual na metodologia do design. Focando no termo theorizing (teorização) os
autores definem esta como as estratégias e procedimentos para elaboração de modelos
teóricos, indutivo, dedutivo e dedutivo-hipotético. Neste aspecto a teorização sobre a
metodologia do design estaria mais próxima daquelas aplicadas às ciências sociais.
Na descrição dos métodos sobre o design, dispõe-se o modelo de design como
produto/artefato e o de design como processo. Esta dicotomia é colocada por Wallis (1992),
na sua conceituação da metodologia IS Theory of design (Gregor; Mantermann, 2011).
Este primeiro modelo, o design como artefato, está alocado na área de sistemas de
informação [a sigla IS em inglês para information systems], e como produto o design se
fundamenta em metadados que requerem a aplicação de objetivos direcionados à teoria,
que por sua vez se formalizam em um objeto/artefato hipotético [um padrão ou molde
universal]. O objeto/artefato seria explicado ou confrontado com cerne da teoria, que pode
ser um conceito ou um modelo-universal. O produto seria explicado por sua definição em si,
uma conceituação que abarcaria todos as suas conjecturas como um modelo-universal.
O design como processo, para Wallis (1992) está mais associado ao método em si,
procedimentos de elaboração de artefatos e a teorização sobre estes processos. A teoria
principal não está focada em um conceito generalista, mas na aplicação do processo para
elaboração de artefatos que foram testados durante os procedimentos metodológicos e
aparecem como produto final.
Grosso modo, teríamos uma metodologia que partiria de um objeto hipotético para
analisar o contexto e as características inerentes a ele e os conceitos que dele advém. A
outra fundamenta-se nas etapas e procedimentos que produziriam o objeto, e este seria a
etapa final.
Gregori e Muntermann já no subtítulo do artigo coloca claro a alternância entre os
métodos dedutivo e indutivo na abordagem metodológica para o design. Isto fica mais claro
quando se coloca o segundo modelo analisado no artigo, o de Gregor and Jones (2007) IS
design Theory, que utilizam da terminologia aristotélica-indutiva da teoria das causas [final,
material, formal e eficiente] na elaboração de objetos/artefatos.
Entretanto, Gregor e Jones, formulam dois grupos de componentes da elaboração e
produção dos objetos, nos quais as causas estão incluídas: as três primeiras estão nos
componentes básicos (Core) relativos ao pensar e transformação do objeto [material e
forma], e a última está no componente suplementar (​Addictional)​ que seria causa eficiente,
o ato transformador, as etapas processuais e técnicas do produto. Em outro contexto a
teorização de Gregor e Jones, processo e produto estariam dentro de uma cadeia única de
atividades do design, no qual a teorização está como princípio norteador e inicial da
metodologia de elaboração de artefatos.
Um parêntesis necessário sobre a teoria causal aristotélica é a presença de uma
divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, no pensamento aristotélico há uma
hierarquia da causa final [o pensar o objeto, o intuito de tal objeto] para a causa eficiente, de
menor valor por ser apenas o “braço” que executa a tarefa (Chauí, 1991). O modelo foi
apenas adaptado pelos autores que, logicamente utilizaram apenas da terminologia
atualizando seus conceitos e definições.
Ainda no artigo de Gregor e Mantermann (2011), nos dois modelos teóricos
apresentados anteriormente há a aplicação do método indutivo e dedutivo, dependendo do
escopo conceitual que se queira construir.
Um terceiro método de construção de conhecimento foi levantado dentro da
fundamentação de uma teoria do método do design. A abdução, postulada por Charles
Pierce, era uma tentativa de ampliar o alcance do método indutivo através de um elemento
estranho à pesquisa que, de forma aleatória levaria a busca de novas pistas ou caminhos
para solucionar problemas detectados no levantamento indutivo. Embora não haja relação
clara entre o método de abdução com as novas teorias sobre o design, os modelos teóricos
emergente [na sigla em inglês EKP emergent knwonledge process] e o de design explicativo
[EDT sigla em inglês para explanatory design theory] partem de princípios mais genéricos e
holísticos numa tentativa de expandir as ferramentas metodológicas para um corpus teórico
do design.
Tanto o modelo EKP quanto o modelo EDT visam um espectro maior na relação dos
dados contidos na pesquisa do design e sua relação com a elaboração de artefatos. As
abordagens buscam uma aproximação com a fenomenologia, corrente teórico-filosófica que
busca centrar na relação entre o sujeito produtor e o objeto produzido, de maneira que um
esteja ligado ao outro. O artefato é fruto de um processo não apenas mecânico, mas de um
contextual histórico e social respaldado pela ação humana. O problema na metodologia
fenomenológica é que não há um método em si, a abdução peirciana é o que se mais se
aproxima da utilização de juízos e teorias sobre o processo e objeto produzido.
Segundo Baskerville e Pries-Heje (2010) a teoria explicativa do design parte de dois
elementos essenciais: requisitos e componentes. Os requisitos são as necessidades para
se resolver problemas intrínsecos à elaboração de produtos e artefatos, já os componentes
estão associados às soluções para tais necessidades. Neste modelo temos um axioma
entre o saber e saber fazer, no primeiro quais as necessidades para elaboração do artefato
e no segundo quais as ferramentas necessárias para esta elaboração. É um princípio
funcional, no qual um determinado conjunto de problemas-necessidades tem sua correlação
com outro conjunto de idéias-soluções. Em um quadro explicativo divide-se os termos em
general requirements [requisitos gerais] e general components [componentes gerais]
(Baskerville; Pries-Heje :2010), um em função do outro.
A descrição dos métodos acima mostra a necessidade de se encontrar uma
definição para o campo de atuação do design como conhecimento científico. Não se limita
só a busca por uma teroria, mas teorizar sobre a prática do design e dela extrair uma
metodologia de ação e conceituação. Alguns binômios está recorrentes na formulação de
teorias sobre o design, o primeiro recorrente seria produto-processo que praticamente
perpassa todos os modelos teórico relatados no artigo de Gregor e Mantermann (2011).
Partindo-se deste binômio monta-se uma estratégia de abordar os problema do
design, se o foco está no produto [ideal ou final] ou se está no processo de sua elaboração.
O método dedutivo que tem por fundamento a construção de um juízo universal que possa
ser aplicado no particular, considerando que o modelo-universal seja verdadeiro para todos
os dados levantados, seria um estudo que chamaríamos a priori, a formulação conceitual pe
o início da pesquisa sobre design. Naquilo que foi levantado, o método dedutivo seria mais
aplicado quando o foco está no artefato, e a partir dele faz-se os juízos necessários para
solucionar problemas.
O seu contraponto seria o método indutivo, fundamentado nas partes do processo ,
no levantamento de dados que leve a juízos pela correlação de dados ou metadados, para
algumas linhas de pesquisa quanto mais dados mais verdadeiro pode ser o juízo. Este
método por necessitar de levantamentos e catalogação de dados para fundamentar o juízo,
apareceu sempre associado à pesquisa sobre o processo e os procedimento na elaboração
de artefatos. Tanto o método indutivo quanto dedutivo estão na fundamentação teórica do
design como ciência. Não que estes sejam os únicos métodos apresentados. O método de
abdução conhecimento emergente também aparecem nesta teorização sobre o design.
Entretanto estes não trazem uma nova forma de estruturar os juízos científicos
fundamentais para uma epistemologia que conferisse ao design um caráter de ciência ou
campo científico.
Essa tentativa de cruzar os métodos do design com o método científico levaria a
criação de um programa comparativo de metodologias, que vai além da descrição do
método, mas como o método científico seria incorporado à teoria do design e como isso
levaria a uma teorização sobre a prática do design como ciência.

Programa comparativo da pesquisa no design

Stacey et al (2002) colocam que o grande problema da pesquisa em design se


referia ao artefato produzido mais do que ciência. E este artefato colocaria o designer num
campo próximo à engenharia, mas também próximo ao trabalho artístico. Um programa
comparativo começa em definir o que é no artefato, engenharia e arte, mesmo que seja
numa proposição negativa, na qual chegue a conclusão do que não seria design,
engenharia ou arte. O primeiro momento essas três áreas estão imbricadas de tal forma que
limitar suas fronteiras seria limitar também o conhecimento sobre essas áreas. A
delimitação diminuiria o alcance do saber produzido nessas três áreas, e pior, haveria um
visão estanque sobre o conhecimento e contribuição metodológica que empobreceria o
debate científico sobre o campo de ação do design.
A criação de limites para se definir que áreas abarcaria o design começaria
necessariamente em o que seria ou não design, que já demanda uma tarefa gigantesca
visto da plasticidade que os conceitos vão se apropriando e ultrapassando as barreiras das
áreas do saber. A ciência demanda alguns procedimentos e métodos que tornam seu tipo
de conhecimentos específico, não apenas uma maneira de pensar sobre os fenômenos ao
nosso redor, mas também regras que regulem e especifiquem este tipo de conhecimento.
A criação dos limites dos saberes também leva ao conhecimento de ultrapassagem
destes próprios limites, por que os métodos não se fecham nem se reduzem a si. Métodos
de áreas científicas podem e são adaptados para outras áreas, levando a um cruzamento
de informação metodológicas, seja da detectação de padrões e repetições como na
variação destes padrões. Um dos elementos recorrentes no pensamento científico é a
recorrência de fenômenos ou a repetição de padrões que poderia ser levantados e
catalogadas, antes ou depois de se postular juízos dependendo do método utilizado.
Uma teorização sobre o campo de ação do design deve prescindir dessa ampliação
dos limites do método do design e suas correlações com os outros campos do saber, a
aplicação de procedimentos metodológicos diferentes mas que poderiam ser adaptados às
necessidades e processos do design em uma busca por uma metodologia mais sólida e
referencial à ciência e ao conhecimento.

O método científico e o design: referências ao debate entre Popper e Adorno

Na década de 1960 um debate pontuou a epistemologia e a definição de método


científico. Dois grandes teóricos do conhecimento travaram um debate público sobre ciência
e o que se definia por ciência. O debate conhecido pelos seus autores, Karl Popper versus
Theodor Adoro, tentava delimitar as áreas do conhecimento atingido e definido pelas
ciências.
Karl Popper, epstemólogo e matemático, definiria ciência não pelo campo de ação
mas pelo método de inferência sobre a realidade e aplicação de juízos. Embora seja um
reducionismo colocar sua teoria da ciência como “neopositivismo”, pela sua pétrea ligação
com o modelo cartesiano de método científico, base do seu sistema de conhecimento.
Dentro deste sistema ressaltava-se o conceito de falseamento, que seria a forma da ciência
dispor de ferramentas que questionassem o saber produzido segundo métodos e
parâmetros científicos. Tal conceito era a pedra angular da critica de Popper sobre áreas de
conhecimentos que ele definia como totalizantes, no sentido de inibir a crítica e a refutação
das idéias, que seria o marxismo e a psicanálise.
Sobre esses dois grandes sistemas de conhecimento, o marxismo e a psicanálise,
com seus conceitos e definições que eram aplicadas nas análises de sociedades no
primeiro e do indivíduo no segundo, Popper iria lançar suas severas críticas ao fundamentar
sua epistemologia calcada no método, quando se respeitado suas regras de identidade, não
contradição e sua orientação indutiva ou dedutiva. Popper colocava que isso seria
impossível em sistemas epistemológicos que partiam de premissas já universalistas e
totalizantes, para não dizer totalitárias, para serem aplicadas a objetos sociais. Não há
como desvincular a crítica de Popper de sua posição política do pós-2ª Grande Guerra, com
a ascensão científica e política da União Soviética. A crítica ao marxismo como ciência
recaía na justificativa de sistemas políticos como campo científico, que era corrente nos
círculos marxistas principalmente russos e franceses (Ganen; 2012).
A posição de Popper era clara sobre o método científico, voltando ao modelo
cartesiano e à razão iluminista kantiana, de ferramenta para o entendimento da natureza e
do mundo. O pensamento matemático era a grande referência nesta formulação de método
científico, um linguagem universal e juízos verdadeiros regulados por uma metodologia que
permitia a contestação e refutação pelos próprios meios que fundamentavam as propostas
a serem refutadas. Mesmo ampliando o pensamento metodológico às ciências sociais, ele
ainda está impregnado de um uni-direcionamento na formulação de juízos que privilegiam
as ciências ditas da natureza, reforçada pela visão de ciência do século 19, que
superlativizava o papel da experiência em laboratório que permitia a repetição e o controle
na criação de padrões que seriam registrados e permitiriam a refutação pela repetição
desses mesmos experimentos. Lógico que a ciência a qual Popper almejava se distanciara
desta visão dos mil-e-oitocentos, seu princípio da refutabilidade recaía também nesta
crença que a ciência podia tudo e dominaria todo o conhecimento.
O contraponto a Popper veio com um dos expoentes do Institut für Socialforschung
zur Frankfurt, genericamente chamada de Escola de Frankfurt, Theodor Adorno. De
formação marxista o pensamento frankfurtiano iria se pautar por três grandes críticas: à
ciência positivista, à razão instrumental e à indústria cultural. As duas primeiras críticas já
vão contra os postulados de Popper ao situar o panorama científico dentro da crise da razão
iluminista, que de modelo emancipador do ser humano frente ao mundo na realidade criou
novas formas de dominação, colocando a ciência como novo mito de salvação do mundo. O
que Adorno chama de razão iluminista, ou mais especificamente de razão instrumental, é o
modelo cartesiano de utilizar a razão como substituta para a compreensão dos fenômenos
em relação à religião ou explicações míticas, o chamado desencantamento do mundo, a
ciências resolveria todos os mistérios da natureza e da sociedade.
Contra o método dedutivo e indutivo postulado como principais meios de
falseamento, ou refutabilidade científica, Adorno propõe o método dialético, uma volta aos
postulados hegelianos das leis da mutabilidade das coisas, que chamou de teoria crítica,
oposto a lógica linear cartesiana. Este seria o limite metodológico entre o que comumente
se coloca como ciências da natureza e as ciências sociais, colocando a relação dialética do
sujeito e objeto na pesquisa científica como ponto de partida para a validade do método,
afastando-se da neutralidade científica pretendida por Popper (Freitag, 1994).
Adorno postula como método científico válido para as ciências sociais o dialético. Os
fundamentos da lógica dialética está em suas leis de transformação quantidade-qualidade,
conectabilidade e negação da negação [o movimento contínuo de tese, antítese e síntese].
A ciência cartesiana na qual Popper se fundamente perdeu um dos elementos que havia na
sua origem que seria a emancipação pela razão. Este elemento foi perdido a partir do
momento que a ciência foi substituindo o saber do mundo por uma saber restrito a regras e
fórmulas, tornando-se um fim em si mesmo. Na teoria crítica Adorno propõe a dialética
negativa, que seria a síntese como sua própria negação, evitando o que, com propriedade
Popper havia combatido no marxismo como doutrina política, a criação de sistemas
totalizantes e deterministas.
Finalizando o debate com Popper, a proposta de Adorno (1982) é a criação de
método estético, ou seja, ele traz para o campo das ciências algo caro ao universo artístico,
mas visto apenas no sentido do juízo da arte e seu campo de ação. A construção do
método estético por Adorno aparece quando ele, ao refutar o neopositivismo de Popper,
retoma o conceito e indústria cultural, que não se reduziria apenas aos meios de
comunicação de massa, mas como algo maior como está ressaltado no subtítulo do capítulo
livro Dialética do Esclarecimento (Adorno;Horkheimer, 1995), que introduz ao conceito:
Indústria Cultural, o Iluminismo como mistificação das massas [grifos meus].
O método estético ele é emancipatório, por que extrapola a visão de mundo
construído pela indústria, calcado na divisão do trabalho e alienação, e através da lógica
dialética constrói um modelo teórico que, mais do que ver as partes, tenta entendê-las e
relacioná-las com o todo social que a engloba. Longe de ser a busca de um modelo para
análise de obras artísticas, a Estética surge como ferramenta de análise, que se afasta do
primarismo dos sentidos aplicados à arte, e assume-se como método de análise do objeto
produzido pela sociedade em todas as suas nuances, do produtor ao sistema no qual o
objeto está inserido.

Conclusão: Um método ou vários métodos para pesquisa em design.

Este artigo tentou analisar qual a área de conhecimento o design está inserido, a
partir da análise de vários artigos sobre metodologia do design e sobre o debate sobre
ciência e seus métodos. Logicamente que depois das leituras e análises dos textos e dos
métodos aplicados ao design alguns questionamentos surgiram nesta alocação do design
dentro de um campo científico.
O primeiro problema a ser atacado sobre a particularidade da pesquisa em design é
como ser abordado, se como processo ou como produto. Este é um dos pontos que mais se
destacaram em todas as análises metodológicas lidas, pois implica em qual método abordar
para tal análise do objeto do design: se o indutivo ou se o dedutivo. Ao se tocar no método
apropriado para a análise, amplia-se o debate para a questão metodológica-científica, que
também se mostra crítica na definição do campo de ação do design, se a campo da
engenharia ou das artes.
Se considerado engenharia, o design se apropria de um cabedal de conceitos e
procedimentos inerentes a esta área de conhecimento, e portanto uma visão que se
aproxima das ciências exatas ou da natureza, com seus métodos. Este é um problema que
é mais complicado do que se apresenta, pois não se trata apenas de definir uma área, pois
esta implica em que campo científico o design se encontra. Abre-se outra porta para a
discussão sobre o que é ciência e se o design está inserido em tão campo do
conhecimento, ou seja, se pode ser considerado ciência ou em que área do conhecimento
se está.
A discussão científica extrapola o método do design e suas implicações, é mais
ampla e demanda uma discussão que atinge o próprio conhecimento. Como exemplo deste
debate, resgatou-se um debate na década de 1960, Popper versus Adorno, mostrando a
dificuldade de se definir ciência e conhecimento científico, e ainda mais os métodos
científicos que são aplicados nas áreas do saber e sua aplicação no dia a dia.
Voltando às metodologias do design, estas tentam construir um arcabouço teórico
para delimitar a área de ação da prática do designer. Citou-se acima o design como
engenharia, mas há também o outro lado do design como arte, ou trabalho artístico, que
ainda é um ponto de atrito quando se fala em relação à ciência e sua relação com os
objetos artísticos. Mas se o design, e isso nem é ponto pacífico entre os que pretendem
criar uma terminologia para a área, também está no campo das arte não há uma
metodologia científica bem definida para a elaboração e criação de objetos para uso no dia
a dia.
Como objeto artístico, o artefato produzido possui uma funcionalidade que pode ou
não está ligado a seu projeto inicial, tipo um recipiente ou a ergonomia de uma ferramenta,
ou meramente um objeto para fruição, com uma funcionalidade simbólica e referencial.
Neste ponto da discussão se design é arte ou engenharia, talvez caiba aí uma sugestão
aprofundamento na metodologia estética proposta por Adorno. Ou ainda, o que foi proposto
nos artigos analisados sobre metodologia da ciência e do design, um cruzamento de
métodos e procedimentos de acordo com a necessidade da solução de problemas que
porventura vão aparecendo na prática do design.

Referências Bibliográficas

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