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1 Introdução
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Geovani Leonardo Doratiotto da Silva, Advogado, Especialista em Filosofia e teoria do Direito-
PUC-Minas. Mestrando em “Estado, Governo e Políticas Públicas” pela FLACSO- Faculdade Latino-
americana de Ciências Sociais.
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Apesar do próprio filosofo alemão Karl Marx (1818-1883) não ter dedicado uma
obra específica e completa sobre suas considerações jusfilosóficas, de modo geral a
concepção do autor perpassa o Direito em vários pontos. Sua formação acadêmica
jurídica foi o ponto de partida para suas análises político-econômicas, utilizadas
posteriormente por outros autores que criaram horizontes referenciais próprios à
filosofia jurídica do marxismo, proporcionando inclusive o diálogo entre diversas
concepções filosóficas com as relações sociais, políticas e jurídicas concretas.
Nesse sentido:
E ainda, complementarmente:
[...] essa indistinção dos tempos passados não foi algo que aconteceu apenas
com o direito. Entre a moral e a religião também se deu o mesmo. O
Iluminismo, um movimento filosófico do século XVIII, demonstrou que seria
possível compreender a moral independentemente da religião. Para os
iluministas, poderia haver uma moral racional válida para todos os homens,
universal e superior, independente da religião de cada qual. Mas para os
povos do passado essa separação seria muito difícil. Moral e religião
estavam misturadas. Só os tempos modernos, devido a certas condições,
e estruturas sociais, como a organização capitalista, deram especificidade
à religião, à moral, à política, à economia e também ao direito.
(MASCARO, 2015, p.2, negrito nosso)
Com o advento da revolução de 1917 na União Soviética, houve espaço para que
as contribuições jurídicas fossem pautas do processo revolucionário. Entretanto, como
bem demonstrou NAVES (2009), a falta de referências teóricas levou muitos
intelectuais do Direito à utilização do aparato teórico sistematizado pelo direito burguês.
Assevera ele: “[...] não é de surpreender, portanto, que a grande influência no período
pós-revolucionário seja proveniente de um jurista burguês—Petrajitski—, mesmo que
lido na versão 'marxista' de Mikhail Reisner”. (NEVES, 2009, p. 17) Um lapso de
lucidez e inovação se dá na retomada do método marxiano realizado por Pachukanis.
Para o autor russo, o Direito surge como a legitimação que permite à mercadoria
cumprir o seu processo metabólico na troca capitalista. Emergindo das necessidades da
mercadoria, o Direito garante que essa circule, principalmente através da figura do
“sujeito de direitos”, uma abstração que determina todos os homens como iguais.
“Iguais” que aqui não deve ser lido sem o seu subtexto “iguais para trocar”, ou seja,
“iguais perante a lei”, o que evidência a desigualdade real ante a formal.
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Originalmente in: STUTCHKA, PiotrIvanovitch. Direito e Luta de Classes: teoria geral do
direito. São Paulo: Acadêmica, 1988. p. 16.
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As obras teóricas de Karl Marx e Friedrich Engels não guardam estreita relação
com a produção cientifica do Direito, senão de maneira lateral, entretanto, podemos
observar já nos escritos da juventude de Marx um interesse pelo fenômeno jurídico, bem
como sua correlação com o Estado (fenômeno político-estatal).
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Hegelianos de esquerda ou Jovens Hegelinianos: corrente idealista na filosofia alemã dos
anos 30-40 do século XIX, que procurava tirar conclusões radicais da filosofia de Hegel e
fundamentar a necessidade da transformação burguesa da Alemanha. O movimento dos jovens
hegelianos era representado por D. Strauss, B. Bauer e E. Bauer, M. Stirner e outros. Durante
certo tempo, também L. Feuerbach partilhou as suas ideias, bem como K. Marx e F. Engels na
sua juventude, os quais, rompendo posteriormente com os jovens hegelianos, submeteram à
crítica a sua natureza idealista e pequeno-burguesa em A Sagrada Família (1844) e em A
Ideologia Alemã (1845-1846). Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/h/hegelianos_esquerda.htm,>. Acesso
em: 10 Jun. 2016.
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Originalmente em “As lutas de classes na França”.
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Sobre a íntima relação entre Estado e Direito, Marx e Engels apresentam a tese
jurídica de que o Direito é como um reflexo dos diferentes modos de manifestação,
necessidades e interesses da classe social dominante, logo, resultado do
desenvolvimento das forças produtivas e do modo de produção. É o Direito, portanto,
como o exposto no preâmbulo da obra “Contribuição à crítica da economia política”,
parte da superestrutura. Afirma MARX:
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Trecho extraído originalmente do prefácio à “Contribuição à crítica da economia política” in Marx e
Friedrich Engels, Obras Escolhidas, v.1, op. Cit., p. 301.
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[...] Não se pode dizer que foi elaborada uma reflexão acabada acerca do
direito, seus vários ramos, suas formas de operacionalização, porque as
reflexões de Marx e Engels sobre a ideologia jurídica burguesa não foram
utilizadas por eles, para um estudo específico da superestrutura jurídica
(Pachukanis, 1977). O centro de suas atenções estava na afirmação da
concepção materialista da história, segundo a qual o que determina a
consciência é a existência e não contrário, como afirmava a maior parte
da filosofia idealista de sua época. Segundo esse ponto de vista, era mais
importante mostrar o direito como epifenômeno e não como elemento
determinante da realidade. (ALAPANIAN, 2008, p. 24, negrito nosso)
Para nosso autor, o principal problema nas perspectivas teóricas adotadas, para a
observação científica do fenômeno jurídico, residia na valorização excessiva do
intrafenômeno da coerção, como demonstra Pachukanis: Os marxistas que se
debruçavam sobre o tema entendiam “[...] o momento da regulamentação coativa social
(estadual) como a característica central, fundamental e a única típica dos fenômenos
jurídicos” (PACHUKANIS Apud ALAPANIAN, 2008, p. 31). Foi, portanto, nesse
diapasão teórico que o aspecto vinculante entre Sujeito de Direito e forma mercadoria,
segundo o método marxiano, foi negligenciado por estudiosos como Stutchka, aponta
ALAPANIAN:
método de analise dessa realidade, como resultado de combinações das abstrações mais
simples.
Assim, poderia parecer coerente e até mesmo natural, que Marx perpetra sua
análise da economia política a partir de uma determinada realidade total e concreta, por
exemplo, a delimitação de uma população em um dado espaço geográfico, que produz
em determinadas circunstâncias. Entretanto, o termo “população”, se ignorados os
componentes da luta de classes, e das classes sociais em si, é uma abstração vazia. Cada
classe nada significa caso não se compreenda o lucro, a renda etc, até que se cheguem às
categorias elementares como valor, preço e mercadoria. Por fim, Pachukanis questiona
se à teoria do Direito não caberiam às mesmas considerações, no sentido anteriormente
mencionado quanto à população, à sociedade e ao Estado: não devem ser o ponto básico
metodológico, senão resultado das diversas reflexões dialéticas possíveis.
Para Pachukanis:
[...] a possibilidade de adotar um ponto de vista jurídico corresponde ao fato
de, na sociedade de produção mercantil, as diferentes relações se decalcarem
sobre o tipo das relações de trocas comerciais e assumirem, por
consequência, a forma jurídica. [...] por mais racionalizada e irreal que possa
parecer esta ou aquela construção jurídica, ela assentará sobre uma base
sólida enquanto se mantiver dentro dos limites do direito privado,
principalmente do direito de propriedade. (PACHUKANIS apud
ALAPANIAN, 2008, p.37)
estabilidade à estrutura jurídica, mas não cria as premissas, as quais se enraízam nas
relações materiais, isto é, nas relações de produção”. (PACHUKANIS apud
ALAPANIAN, 2008, p.38).
do direito privado. A estrutura político-estatal garante que, qualquer que seja o modo de
governo adotado, Monarquismo ou Presidencialismo, Democracia ou algum tipo de
ditadura, o acúmulo do Capital jamais será afetado. Pelo contrário, a extinção de direitos
sociais durante períodos de crise demonstra invariavelmente que o determinante é a
manutenção do sistema econômico.
como “Os Direitos humanos”, o que nos condiciona a uma série de discussões a respeito
dessa correlação e suas decorrentes contradições. Diversas correntes teóricas também
identificam socialismo com democracia, ora como mantenedora do aparato burguês
universal, ora como uma ruptura completa com o mesmo. Para ambas as concepções,
permanecem invariavelmente a forma do Direito (forma jurídica) como
regulamentadora das regras políticas.
Nada garante, porém, que mesmo que um partido definido como “socialista” ou
dos “trabalhadores” , quando se apodere do aparato estatal, coloque em marcha um
processo revolucionário capaz de alterar o modo de produção, imprimindo
características “socialistas” ao Estado. Não há impedimento que as circunstâncias sejam
mais favoráveis a determinadas condições após a tomada do poder, mas a manutenção
do Estado, mesmo que socialista, mantém e acentua a separação entre poder político e
as massas, nas clássicas dicotomias: Sociedade civil e Estado, Direito público e Direito
privado.
4 Conclusão
As experiências dos “Conselhos” apontam uma direção pelo qual possa se dar
essa tarefa árdua, porém necessária, lembrando que no processo revolucionário de 1917
a palavra de ordem proferida às portas dessa nova experiência social era “todo poder ao
Soviet” (Espécie de Conselho Popular). A necessidade de mudança se apresenta, e cabe
a nós, como teóricos e práticos, estimular formas sociais diferentes das consolidadas
pelo capitalismo, como enuncia em título de uma de suas obras, o autor Istvan Mezáros:
“Socialismo ou barbárie”. São essas as opções que se nos apresentam nesse momento
histórico de sucessivas crises do modo de produção.
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5 Referências
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013.