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O papel das artes e das instituições culturais no mundo contemporâneo

(...) O pensador brasileiro Paulo Freire, um dos mais reconhecidos no estudo


sobre a cultura como educação, descreveu muito bem em sua obra “A Pedagogia do
Oprimido” que a cultura popular ficou por muitos anos subjugada a uma
intelectualidade supostamente superior para garantir uma dominação de uma sobre
outra. Freire reconhece que não há como humanizar as culturas se não houver a
constatação lógica que as racionalidades são complexas e que nenhuma se prioriza
sobre outra.
Muitos artistas, pelo contrário, vinculavam a participação do público como
inerente à realização da obra, o que denota que não compactuavam com a noção de
regalia da arte sobre os saberes populares. Hélio Oiticica, nos anos 1960, famoso por
suas performances com a indumentária-obra intitulada “Parangolé”, apregoava a
“incorporação do corpo na obra e da obra no corpo”, fazendo com que obra de arte e
ser humano se fundissem simbioticamente para que um e outro se tornassem uma
coisa única com o mesmo valor ético, sem qualquer valor mercadológico.
Outra idéia difundida no século XX foi a da morte das artes na cultura
globalizada. Era recorrente ouvirmos alguns anunciarem: “A pintura morreu. O teatro
morreu. O cinema morreu. A música clássica morreu. A história morreu.” Enfim, o
século XX velou todo o sublime da arte que, no meu entender, tinha um propósito:
restabelecer um outro papel para a cultura e a arte no século XXI. Sim, o teatro, o
cinema, a música, as artes visuais e tudo o que foi construído no século XX poderiam
até ter morrido, mas estavam prestes a renascer com novas formas de pensamento em
um mundo muito mais complexo.
Portanto, durante todo esse processo que impunha um ponto fúnebre ao século
XX e à arte, foram muitos os artistas e os analistas culturais que criticaram a
interpretação dicotômica banal e equivocada de “cultura antropológica oposta à
cultura artística”.
A cultura hip hop balizou muito bem o campo da teoria embasada pela prática,
pois nos anos 1980, a periferia de São Paulo começou a questionar suas condições
urbanas de moradia e representação política. No Brasil, os movimentos sociais
suburbanos também se mesclam a um dos ritmos mais autênticos, o samba. Esses
gêneros musicais aparentemente tão distintos se uniram em prol de uma
transformação social por meio da arte.
A globalização no início dos anos 1990, ainda que ela seja uma das
responsáveis pelo grande altar erigido para a cultura de massa e o consumismo
descartável, também se abriu para o sincretismo, a transnacionalidade e a mobilidade
até chegarmos ao século XXI em que essas fronteiras são cada vez mais líquidas e
conceitos como comunicação e verdade se confundem, cultura de massa e textos
acadêmicos se misturam, tecnologia e memória se tornam dependentes, fazendo com
que desapareçam as bruscas definições entre fatos e ficções, arte e vida.
Se aprendermos com os gregos que episteme era o saber científico e puro e a
doxa um mero juízo pessoal, cada dia mais personalizamos esses juízos para que eles
se tornem garantia de sucesso e de autenticidade. Vide a ascendência e o mercado
criados no século XXI que fizeram nascer os youtubers, os bloggers, os chamados
“influenciadores digitais” ou mesmo um outro termo mais antigo, o de “formadores
de opinião”. A opinião, atualmente, talvez valha mais que uma garantia científica, por
isso, criar uma ficção e fazer dela um fato é algo rápido e transformar sua vida em
uma fantasia paralela é um hábito praticamente diário nas redes sociais.
Foi essencial, no entanto, o ganho que o século XXI teve com a portabilidade
com a forma em que a câmera móvel, a acessibilidade às informações rápidas e a
gravação e reprodução do som estão ao alcance das pessoas – principalmente nessa
segunda década de século. O conceito de lazer também foi diluído, tendo sido
essencial no pós-Guerra, mas hoje em dia não necessariamente está relacionado com
um lugar determinante para usufruí-lo. Ora, não é só num parque se desfruta do tempo
livre com alguma qualidade, mas, em um lugar prosaico é possível sacar o celular e
visitar alguma obra de algum museu, rever aquele trecho do filme favorito, escutar
uma música com certa individualidade.
Se digladiar contra a futilidade das redes sociais, portanto, não leva a nada.
Elas são somente o suporte para fatos e ficções que abastecem o universo cultural. Se
os conteúdos das redes são profundos ou rasos em demasia, esta é uma questão para a
cabeça educadora e o uso que se faz do suporte. Se o conteúdo é determinado por
alguém, natural que as instituições culturais e os artistas sejam adeptos das facilidades
tecnológicas e da realidade aumentada do mundo contemporâneo.
De agora em diante, portanto, precisamos acreditar que os centros culturais do
futuro próximo podem fornecer uma programação e uma força educativa tão
importante online quanto proporciona sob uma estrutura física. Aliás, só desta
maneira vamos supor que as idéias vão chegar mais rápido a comunidades e países
longínquos e que as culturas irão dialogar com mais eficácia. A autoria dessas idéias,
boas ou más, não é o que se questiona. A internet, as mídias de hoje formam uma rede
que se sustenta, se retroalimenta e descarta ou esgota o conceito em diferentes
instâncias de interpretação.
Se não conjeturarmos o futuro da cultura envolto em um sistema com digno
acesso, não romperemos barreiras dolorosas e perversas da sociedade como o
racismo, o sexismo, a xenofobia, o desprezo para com os refugiados, para citar
algumas mazelas que a cultura tem o poder para remediar (...)

Texto de autoria de Danilo Santos de Miranda - Diretor Regional do Sesc São


Paulo (Palais des Nations da ONU – Organização das Nações Unidas, Genebra,
Suíça - 21/10/16). Fonte: https://www.sescsp.org.br/pt/sobre-o-sesc/palavras-do-
diretor/191_O+PAPEL+DAS+ARTES+E+DAS+INSTITUICOES+CULTURAIS+N
O+MUNDO+CONTEMPORAN

Considerando o mundo globalizado e a mudança da percepção do espaço através


do uso de diversas interfaces físicas, o que você acha da “popularização” e
divulgação da arte e cultura em meios digitais?

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