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Competência e sujeitos na

recuperação e na falência
Competência
O artigo 3º da Lei de Recuperação de Empresas – LRE prevê que “é
competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a
recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do
Brasil”. Com isso, 03 (três) observações se fazem necessárias sobre
competência disciplinada na LRE:
a) juízo local: está disciplinando o legislador que a competência será da
Justiça do Estado em que estiver estabelecida a empresa, cabendo verificar
na organização judiciária de cada Estado, a existência ou não de varas
especializadas. Caso exista, a competência será da vara especializada e
não existindo, a competência será da vara cível (que é a vara comum para
matérias que não existam varas especializadas na comarca). No caso
específico do Estado de São Paulo, por força da Resolução nº 200/2005,
publicada no Diário Oficial do Estado de 31 de março de 2005, as varas
cíveis de nº 48, 49 e 50 do Fórum Central da Comarca foram convertidas
respectivamente em 1ª, 2ª e 3ª Varas de Falências e Recuperações
Judiciais;
b) empresa nacional: o legislador disciplinou a competência pelo local do
principal estabelecimento, porém, de forma a melhor interpretá-lo, cabe a
aplicação da primeira parte do disposto no inciso IV do artigo 75 do Código
Civil – “das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, (...)”. No mesmo sentido assevera
Waldo Fazzio Júnior: 2005, p. 67, ao proclamar que “competente para
recuperação e, bem assim, para a decretação e o processamento da falência
é o juiz do local onde o devedor tem o seu principal estabelecimento.
Logicamente, é absolutamente incompetente para a recuperação ou a
falência o juízo do foro onde se situa estabelecimento subsidiário”. A ideia
do legislador aqui foi a de romper com o critério de “sede”, que normalmente
era distorcido no instrumento de constituição da empresa (contrato ou
estatuto social), visando-se exclusivamente, sua utilização para fins de
planejamento tributário;
c) empresa estrangeira: talvez tenha faltado ao legislador à harmonização
dos dispositivos da LRE com o Código Civil, haja vista que alguns termos
utilizados não correspondem à realidade jurídica prevista em nosso
ordenamento civilista. Quando o legislador se refere a “filial de empresa
estrangeira”, certamente estava se referindo a empresa nacional constituída
com capital estrangeiro, já que no Brasil a pessoa jurídica para ter sua
existência legalmente reconhecida deve respeitar o disposto no artigo 45 do
Código Civil – “começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito
privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo”. Logo, do “ponto de vista jurídico”, todas as empresas
legalmente constituídas no Brasil são nacionais. Apenas do “ponto de vista
econômico” é que poderão ser classificadas como empresas estrangeiras na
medida em que tenham sido constituídas com capital de outro país.
2. Juízo universal
Como os institutos da falência e da recuperação de empresas possuem essa
característica própria de direito concursal, o juízo que primeiro apreciar o
pedido de falência ou de recuperação (dentro das regras de competência do
artigo 3º da LRE) se torna universal para apreciar qualquer pedido relativo à
insolvência do empresário, exceto os de natureza trabalhista, fiscal, e os que
a União for parte ou o das ações em curso antes da distribuição do pedido
falimentar ou de recuperação, por força do disposto no § 8º do artigo 6º da
LRE – “a distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial
previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou
de falência, relativo ao mesmo devedor” complementado pelo artigo 52,
inciso III – “ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o
devedor, na forma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos
no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos parágrafos
1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma
dos parágrafos 3º e 4º do art. 49 desta Lei” e pelo artigo 76 – “o juízo da
falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre
bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas,
fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor
ou litisconsorte ativo”.
O objetivo do legislador ao disciplinar um único juízo para as questões
econômicas que envolvam a empresa, se justifica em função do regime de
responsabilidade patrimonial adotado pelo direito brasileiro no Código de
Processo Civil, em seu artigo 789, assim verificado: “O devedor responde,
para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes
e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Logo, se os bens da
empresa serão utilizados para o cumprimento de suas obrigações, seri a um
verdadeiro “caos jurídico” permitir que mais de um juiz pudesse dar a devida
destinação a esses bens.
3. Sujeitos do regime
O artigo 1º da LRE determina que esta norma se aplica ao empresário de
que trata o artigo 966 do Código Civil – “considera-se empresário quem
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção
ou a circulação de bens ou de serviços” e a Sociedade Empresária prevista
no artigo 982 do mesmo diploma – “salvo as exceções expressas, considera-
se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade
própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”.
Assim sendo, podemos afirmar que são sujeitos do regime concursal o
empresário individual, a empresa individual de responsabilidade limitada –
EIRELI e as sociedades empresárias (sociedade em nome coletivo,
sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade em
comandita por ações e sociedade anônima).
É claro que a partir de tal previsão já poderíamos identificar os sujeito s do
regime sem maiores dificuldades, entretanto, entre eles (sociedades
empresárias), alguns foram excluídos taxativamente pelo legislador como
veremos a seguir.
4. Excluídos do regime
Excluídos da aplicação da Lei nº 11.101/05 estão às pessoas previstas em
seu artigo 2º “empresa pública e sociedade de economia mista; instituição
financeira pública ou privada; cooperativa de crédito; consórcio; entidade de
previdência privada; operadora de plano de assistência à saúde; sociedade
seguradora e sociedade de capitalização”.
Aqui cabe uma explicação técnica, pois as empresas públicas e sociedades
de economia mistas, também denominadas de “estatais”, são empresas que
possuem a participação do Estado na composição do capital social, de forma
que só podem ser criadas, modificadas ou extintas por força de lei.
Já as cooperativas de crédito, consórcios, entidades de previdência privada,
operadoras de planos de saúde, sociedades seguradoras e sociedades de
capitalização, são entidades que por se submeterem a regulação das
denominadas “agências reguladoras” possuem regimes próprios, ficando
excluídas do regime.
Na hipótese anterior, denota-se um erro técnico de redação da Lei nº
11.101/05, haja vista que “cooperativa de crédito” não está inserida no rol
das entidades incluídas pelo artigo 1º do citado diploma, razão pela qual não
precisava ser excluída. Tal situação nos obriga a verificar então, outras
possibilidades de exclusão.
De forma a se permitir uma melhor compreensão, também devemos
observar a partir de um exercício de hermenêutica jurídica, outras exclusões
devem ser observadas:
a) profissionais liberais: por força do previsto no § único do artigo 966 do
Código Civil – “não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso
de auxiliares ou colaboradores; salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa”. Assim sendo, como esses profissionais se
submetem a regime imposto pelos respectivos órgãos profissionais de
classe (exemplo: OAB; CREA; CRP; CRM; CRO; etc), ficam excluídos do
regime concursal;
b) produtor rural: por força do disposto no artigo 971 do Código Civil – “o
empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os
efeitos, ao empresário sujeito a registro”. Logo, “produtor rural” será aquele
não inscrito na Junta Comercial, não se submetendo, portanto, ao regime
concursal. Uma vez inscrito na Junta Comercial, passa a denominar-se
“empresário rural” e está automaticamente inserido nas hipóteses do artigo
1º da Lei nº 11.101/05;
c) sociedade simples: tal sociedade foi acomodada no livro de Direito de
Empresa do Código Civil para permitir o exercício coletivo de atividade
econômica própria para profissionais liberais que viessem se unir na prática
de tal atividade. O artigo 982 do Código Civil assim dispõe: “salvo as
exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por
objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais”. Portanto, por não serem consideradas
sociedades empresárias, estão excluídas do regime concursal. Muita
divergência existe na doutrina a respeito de tal exclusão, com as quais
concordados, mas fato é que por mera interpretação legal já é possível se
verificar a exclusão;
d) cooperativas: por aplicação do §único do artigo 982 do Código Civil
– “independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade
por ações; e, simples, a cooperativa”. Mais uma vez por não se tratar de
hipótese de sociedade empresária, encontra-se excluída do regime.
Com tal análise temos a delimitação final dos sujeitos do regime concursal.
5. Regularidade empresarial
É importante observarmos que a Lei nº 11.101/05 apresenta um instituto que
concede um benefício legal e judicial ao empresário (recuperação) e outro
que aplica uma sanção (falência). Então teremos a aplicação dos institutos
assim verificada:
a. falência: se submete a falência qualquer empresário, regular ou
irregular, exercendo a atividade individualmente ou em sociedade.
A diferença é que exercendo irregularmente a atividade, a falência
será requerida em nome pessoal de seu exercente;
b. recuperação: por tratar-se de benefício legal e judicial, deve ser
concedido somente para quem exerça a atividade regularmente e
que não esteja excluído dos efeitos da citada lei, além da
necessidade de preencher outros requisitos específicos que serão
estudados detidamente na sequência das aulas.

6. Credores na falência e recuperação de


empresas
Os credores na falência e recuperação de empresas são classificados por
espécies ou classes, sendo que o tratamento será disciplinado em cada
instituto específico (falência ou recuperação), porém, são as seguintes
classes de créditos e credores: antecipação de créditos, créditos
extraconcursais, créditos concursais e créditos não oponíveis.
a. antecipação de créditos: são créditos que poderão ser pagos
antecipadamente, ou seja, antes da fase de liquidação do processo
falimentar. Isso é possível porque em virtude da aplicação do
Princípio da Celeridade Processual, o juiz poderá autorizar a venda
antecipada de bens para o pagamento dos créditos a saber:
a.1) créditos alimentares: créditos alimentares são os trabalhistas de
natureza estritamente salarial vencidos nos 03 (três) meses anteriores à
decretação da falência e que poderão ser pagos na forma antecipada até o
limite de 05 (cinco) salários mínimos por trabalhador (artigo 151, LRE).
a.2) crédito de restituição: são créditos relativos a pedido de restituição de
bem ou mercadoria deferidos judicialmente em que não se localize mais a
coisa, restando portanto, a devolução em dinheiro vinculada ao valor do bem
(artigo 86, LRE).
b) créditos extraconcursais: são os créditos decorrentes do próprio
processo judicial de falência ou de recuperação, e se sobrepõe a todos os
demais para o recebimento. Podem ser relativos a custas judiciais, despesas
processuais, honorários de peritos e avaliadores, honorários sucumbenciais
e outros de mesma natureza.
c) créditos concursais: os créditos concursais são aqueles que serão
pagos na época da liquidação da falência por classe de credores. Da mesma
forma, tais classes servem de parâmetro para o cálculo dos percentuais
mínimos necessários para a concessão ou não do benefício da recuperação.
Tais créditos são classificados da seguinte forma:
c.1) natureza alimentar: nos créditos de natureza alimentar são inseridos
os decorrentes de acidente do trabalho e os trabalhistas limitados a 150
(cento e cinquenta) salários mínimos, o excedente ao referido limite será
considerado crédito quirografário (artigo 83, I, LRE).
c.2) garantia real: são aqueles créditos protegidos por bem ofertado como
garantia de pagamento, no entanto, ocorrendo à superação do valor devido
em relação ao valor do bem, o privilégio limita-se apenas ao valor do bem,
sendo que o saldo será considerado crédito quirografário (artigo 83, II, LRE).
c.3) tributários: considera-se nesta espécie as obrigações tributárias
federais, estaduais e municipais, nesta ordem, sem considerar, contudo, as
multas tributárias que serão classificadas como créditos decorrentes de
sanções (artigo 83, III, LRE).
c.4) privilégio especial: são os previstos no artigo 964 do Código Civil;
aqueles garantidos por direito de retenção sobre a coisa dada em garantia e
outros que venham a ser criados por leis especiais (artigo 83, IV, LRE). Além
deles, por força de alteração na Lei nº 11.101/05, incluísse nessa classe
também os credores que são micro e pequenos empresários.
c.5) privilégio geral: são os previstos no artigo 965 do Código Civil e
créditos de fornecedores que continuaram a fornecer a empresa em regime
de recuperação judicial, além de outros que venham a ser criados por leis
especiais (artigo 83, V, LRE).
c.6) quirografários: quirografários são os créditos sem nenhum tipo de
privilégio anteriormente mencionados e que não sejam créditos classificados
em outras espécies, ou ainda os excedentes trabalhistas e com garantia real
(artigo 83, VI, LRE).
c.7) sanções: multas decorrentes de sanções pecuniárias contratuais ou
legais (artigo 83, VII, LRE).
c.8) subordinados: serão subordinados os créditos assim previstos por lei
ou contrato e os créditos dos sócios ou administradores não empregados
(artigo 83, VIII, LRE).
d) créditos não oponíveis: por último, teremos ainda os créditos não
oponíveis, ou seja, àqueles que não podem ser objeto de habilitação para
recebimento, haja vista tratar-se dos créditos dos sócios em relação ao
capital integralizado nas respectivas sociedades por ocasião da aquisição
de quotas e ações (artigo 83, §2º, LRE).
7. Comitê de credores
O comitê é o órgão representativo dos credores e se forma através de
eleição realizada em assembleia-geral com a seguinte composição: 01 (um)
representante dos credores trabalhistas, com 02 (dois) suplentes; 01 (um)
representante dos credores micro e pequenos empresários, com 02 (dois)
suplentes; 01 (um) representante dos credores com garantia real, com 02
(dois) suplentes; 01 (um) representante dos credores quirografários, com 02
(dois) suplentes. Poderá ainda o comitê ser composto por outros membros
representativos das demais classes, desde que requeiram o direito.
A definição da presidência do comitê ficará a critério do próprio colegiado
(artigo 26, LRE) e terá como função, fiscalizar o administrador; zelar pelo
andamento do processo; zelar pelo cumprimento da lei; emitir pareceres;
convocar assembleia-geral; fiscalizar as atividades do devedor; fiscalizar a
execução do plano de recuperação entre outras.
Na hipótese de não formação do referido comitê, caberá ao administrador
judicial substituí-lo, ou na incompatibilidade, ao próprio juiz do feito (artigo
27, LRE). O comitê de credores não será remunerado, tendo apenas o
reembolso de eventuais despesas necessárias (artigo 29, LRE).
O comitê de credores é um dos institutos criados pelo legislador para garantir
uma participação ativa dos credores no processo judicial e nas fases
burocráticas, de forma a permitir que se garanta e proteja o interesse dos
principais envolvidos no sistema.
8. Assembleia de credores
A assembleia-geral de credores será composta pelos credores do devedor,
tendo como atribuição: aprovar, rejeitar ou modificar plano de recuperação;
constituir comitê de credores; analisar e deliberar sobre pedido de
desistência do devedor em relação a plano de recuperação; decidir matérias
de interesse dos credores (artigo 35, LRE).
A realização de assembleia-geral será feita por edital com antecedência
mínima de 15 (quinze) dias para a primeira convocação e 05 (cinco) dias
para a segunda convocação, sendo que a sua presidência competirá ao
administrador judicial.
9. Habilitação de créditos
Tanto na falência como na recuperação judicial os créditos poderão ser
habilitados por iniciativa do próprio administrador judicial ou a requerimento
dos credores (artigo 7º, LRE).
10. Impugnação de créditos
Uma vez publicada a relação de credores, no prazo de 10 (dez) dias podem
impugnar os créditos o comitê de credores, qualquer credor, o devedor ou
seus sócios e o Ministério Público. Uma vez ofertada a impugnação ela será
autuada em apenso a falência ou a recuperação (artigo 8º, LRE). Autuada a
impugnação será intimado o credor impugnado para contestar no prazo de
05 (cinco) dias (artigo 11, LRE) e em seguida são convocados para se
manifestar o devedor e o Comitê de Credores e intimado o administrador
judicial para emitir parecer (artigo 12, LRE). Transcorrido o prazo para
manifestações o juiz verificará a necessidade de instrução processual e
posteriormente realizará o respectivo julgamento (artigo 15, LRE), cabendo
de tal decisão recurso de agravo (artigo 17, LRE).
11. Exclusão de crédito
Além da possibilidade de exclusão de crédito por julgamento procedente em
impugnação de crédito, podem ainda, o administrador judicial, o comitê de
credores, qualquer credor ou o Ministério Público, antes do encerramento da
falência ou da recuperação, pedir a exclusão de crédito em que se tenha
descoberto falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou documento
que viabilizassem impugnação através de ação autônoma que tramitará pelo
rito ordinário previsto no Código de Processo Civil a ser proposta no juízo
universal ou no juízo que eventualmente tenha reconhecido o crédito.
Assim sendo, o pagamento do crédito de credor cuja exclusão tenha sido
requerida ficará obstado até decisão final ou só será liberado mediante
prestação de caução no mesmo valor do crédito questionado (artigo 19,
LRE).

Princípios aplicáveis a
recuperação e a falência
A doutrina em geral trava grande discussão sobre o conceito e a função dos
princípios para o Direito e, em especial, sobre os princípios constitucionais.
É certo que o sistema jurídico é composto de regras e princípios, restando
aqui a necessidade de diferenciá-los e identificar a respectiva função, para
aprofundar-se no tema central proposto.

Prefere-se tratar o termo princípio de forma isolada dos demais elementos


do sistema normativo, haja vista a relevância específica desse elemento,
que é capaz de influenciar todos os demais, seja na aplicação, seja na
interpretação.

As regras são elementos do sistema jurídico de menor importância em


termos estruturais, já que se referem apenas ao conjunto de comandos
estabelecidos dentro dos vários instrumentos normativos existentes.

O termo princípio, em geral, parece designar o começo ou início de alguma


coisa, porém, em termos jurídicos, é muito mais amplo; o princípio quer na
verdade alicerçar uma estrutura, garantir a sua existência e a sua
aplicabilidade. Na doutrina jurídica, variados são os conceitos de princípio,
inúmeras são as classificações que lhes são atribuídas e, por fim, também
não existe um consenso sobre sua função. Ademais, mais difícil ainda se
torna a compreensão do tema, haja vista que muitas vezes se confunde
conceito, classificação e função.

A doutrina em geral atribui várias funções distintas para os princípios, porém,


de forma uníssona, se releva a importância de tal elemento do sistema
normativo. Alguns diriam que os princípios permitem a correta interpretação
do sistema jurídico; outros diriam, são fontes jurígenas (criam direitos);
outros atribuem à qualidade de mecanismo de integração das várias partes
do sistema, e assim segue a doutrina. No entanto, observar-se-á mais
detidamente cada uma dessas funções, a partir de sua importância.

2. Princípios do Direito Concursal

A insolvência empresarial é regida dentro do novo regime concursal pelos


princípios da preservação da empresa, da viabilidade da empresa e da
publicidade.

a) princípio da preservação da empresa: por ser a empresa um dos


principais fatores de desenvolvimento econômico no regime capitalista, do
ponto de vista jurídico, social e econômico, é interessante a manutenção da
empresa, razão pela qual será considerado como regra a sua preservação,
como prevê o legislador na Lei de Recuperação de empresas:

“Artigo 47 – A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação


da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estimulo à atividade econômica”
b) princípio da viabilidade econômica da empresa: analisada a situação
econômica da empresa e vislumbrando a possibilidade de sua recuperação,
ou seja, constatada a sua saúde empresarial, é o caso de aplicação do
princípio anterior através dos institutos da recuperação da empresa
(recuperação extrajudicial e judicial), porém, se o contrário se verificar, ou
seja, se a crise não puder ser superada, é caso para aplicação do instituto
falimentar, pois o que determina o interesse ou não na manutenção da fonte
produtora é justamente a sua saúde econômica, de forma que assim previu
o legislador na Lei de Recuperação:

“Artigo 56, §4º - Rejeitado o plano de recuperação pela assembleia geral de


credores, o juiz decretará a falência do devedor”

c) princípio da publicidade: tanto a situação de recuperação como a de


falência, por sua natureza econômica, acabam por afetar todo o mercado, e
assim sendo, será dada a máxima publicidade sobre empresas que se
encontrem nessa situação, consoante determina o artigo 196 da Lei nº
11.101/05: “os Registros Públicos de Empresas manterão banco de dados
público e gratuito, disponível na rede mundial de computadores, contendo a
relação de todos os devedores falidos ou em recuperação judicial. Parágrafo
único – os Registros Públicos de Empresas deverão promover a integração
de seus bancos de dados em âmbito nacional”.

Da análise de tais princípios, é possível se concluir que o legislador pretende


a recuperação da empresa, mas não é o instituto uma forma de premiação
de maus pagadores, e sim um mecanismo de solução para a crise, que se
verificando inviável a sua superação, a sanção da falência é aplicada de
forma que não se maximize os prejuízos dos credores e da própria sociedade
como um todo.

3. Princípios no processo de falência


Ainda em termos principiológicos, para garantir uma revitalização do instituto
da falência, que no regime anterior demorava mais de 10 (dez) anos para se
solucionar judicialmente com grande prejuízo aos credores dada a
desvalorização do ativo falimentar, tratou o legislador de nomear princípios
que pudessem garantir uma agilidade processual maior, permitindo -se
assim, uma redução no tempo de demanda.

O legislador estabeleceu para a falência a aplicação dos princípios da


celeridade e da economia processual:

a) princípio da celeridade processual: a celeridade visa à realização do


ativo em tempo que não onere ainda mais os credores do que já foram
onerados com a própria inadimplência. Assim, com a adoção de tal princípio,
os atos procedimentais de falência podem ser realizados de forma
concomitante, reduzindo-se assim o tempo de demanda;

b) princípio da economia processual: a economia processual visa dar


garantias à celeridade processual, permitindo ao juiz a redução dos ato s
processuais de forma a permitir a solução rápida do cumprimento parcial das
obrigações. Assim sendo, hoje é outorgado ao juiz a possibilidade de
suprimir atos processuais que entenda desnecessário de forma a garantir
uma agilidade maior no andamento processual.

A recuperação extrajudicial de
empresas
Recuperação de empresas

O conceito de recuperação encontra-se estabelecido na própria LRE em seu


artigo 47 – “a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica”, traduzindo-se em
mecanismos que tem por finalidade viabilizar a superação da situação de
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
empresa.

2. Mecanismos de recuperação

De forma a viabilizar a recuperação econômica da empresa, prevê a Lei nº


11.101/05 a utilização dos seguintes mecanismos: concessão de prazos e
condições especiais para pagamento das obrigações vencidas e vincendas;
cisão, incorporação, fusão ou transformação da sociedade, constituição de
subsidiária integral, ou cessão de quotas ou ações; alteração do controle
societário; substituição total ou parcial dos administradores ou modificação
dos órgãos administrativos; concessão aos credores de direito de eleiçã o
em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias
que o plano especificar; aumento de capital social; trespasse ou
arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos
próprios empregados; redução salarial, compensação de horários e redução
de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; dação em pagamento
ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia
própria ou de terceiro; constituição de sociedade de credores; venda parcial
dos bens; equalização de encargos financeiros relativos a débitos de
qualquer natureza, tendo como termo inicial à data de distribuição do pedido
de recuperação, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem
prejuízo do disposto em legislação específica; usufruto da empresa;
administração compartilhada; emissão de valores mobiliários; constituição
de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor (artigo 50, LRE).

Para os mecanismos que houver regulação específica em legislação


especial, a sua utilização estará condicionada ao cumprimento das
exigências legais específicas (Exemplo: para redução do salário dos
empregados ou redução da jornada de trabalho é necessário aprovação
através de acordo ou convenção coletiva de trabalho). Estes mecanismos
apresentados pelo legislador estão configurados em conjunto meramente
exemplificativo, cabendo a utilização de qualquer outro com a mesma
finalidade, desde que respeite os requisitos do negócio jurídico (artigo 104
do Código Civil).

3. Espécies de recuperação

O legislador criou 03 (três) institutos específicos de recuperação de


empresas: - recuperação extrajudicial (artigo 161, LRE); - recuperação
judicial (artigo 48, LRE) e, – recuperação judicial especial para micro e
pequeno empresário (artigo 70, LRE).

4. Recuperação extrajudicial

É o mecanismo de recuperação de empresas que tem por finalidade


estabelecer previamente um acordo entre credores e empresário-devedor
para, se for o caso, posteriormente submetê-lo a homologação do Poder
Judiciário, daí a terminologia extrajudicial. Tem a mesma finalidade da
recuperação judicial (artigo 47 da LRE) e faz uso dos mesmos mecanismos
(artigo 50 da LRE). Comparado ao Direito Civil, a recuperação extrajudicia l
se assemelha ao instituto da novação como veremos adiante.

A recuperação extrajudicial pode ser requerida pelo empresário individual,


pela sociedade empresária, pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do
empresário, inventariante ou sócio remanescente, desde que preenchidos
os requisitos legais. A recuperação extrajudicial não atinge os créditos de
natureza tributária, trabalhistas, provenientes de acidente do trabalho,
fiduciários, arrendamento mercantil, alienação de imóveis com cláusula de
irrevogabilidade e irretratabilidade ou reserva de domínio, e contratação de
câmbio para exportação, situação em que permaneceram na forma
originalmente contratados (artigo 161, §1º, LRE).

5. Requisitos da recuperação

Como vimos anteriormente, a recuperação extrajudicial é realizada através


de acordo privado entre o empresário e seus credores, dessa forma,
entendemos que possui natureza contratual, porém, como esse acordo
requer a homologação judicial para produzir os efeitos de novação, terá
necessariamente a natureza jurídica de ação, exigindo para o seu
deferimento o cumprimento dos requisitos gerais previstos no artigo 282 do
Código de Processo Civil no que couber, além dos requisitos específicos que
veremos a seguir.

Por se tratar de negócio jurídico, além dos requisitos gerais previstos no


artigo 104 do Código Civil – “a validade do negócio jurídico requer: I – agente
capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma
prescrita ou não defesa em lei”, por força do artigo 161 da LRE – “o devedor
que preencher os requisitos do artigo 48 desta Lei poderá propor e negociar
com credores plano de recuperação extrajudicial”, deve respeitar,
cumulativamente os requisitos específicos da LRE:

a) empresário regular: estar exercendo regularmente a atividade


empresarial (artigo 967 do Código Civil) há mais de 02 (dois) anos (artigo
48, LRE);

b) falência: o empresário para se beneficiar da recuperação extrajudicial


não pode ser falido e se foi, deve estar devidamente reabilitado através da
extinção das obrigações falimentares na forma do artigo 158, LRE (artigo 48,
I, LRE);

c) recuperação: nesse caso específico, deixa de se observar o requisito do


incisos II e III do artigo 48 da LRE, para aplicação do requisito específico
previsto no artigo 161, § 3º da LRE, disciplinando que não poderá se
beneficiar de nova recuperação o devedor que tiver pendente pedido de
recuperação judicial, ou se houver obtido outra recuperação judicial ou
extrajudicial há menos de 02 (dois) anos;

d) crime falimentar: o empresário ou o seu administrador não podem ter


sido condenados por crime falimentar em processo anterior (artigo 48, IV,
LRE).

Ademais, ao pleitear a homologação judicial de seu pedido que deve estar


acompanhado do plano contendo as condições da recuperação extrajudicial
com todos os seus termos e devidamente assinados pelos credores que a
ele aderiram, deve o empresário expor sua justificativa econômica (artigo
162, LRE).

Além disso, a disciplina jurídica específica da recuperação extrajudicial exige


a observação das seguintes regras:

a) antecipação de pagamentos: o artigo 161, § 2º da LRE disciplina que


não pode haver antecipação de pagamentos;

b) tratamento desfavorável: pelo mesmo dispositivo anteriormente citado,


o plano de recuperação não pode prever tratamento desfavorável a credor
que a ele não esteja sujeito;

c) procedimentos judiciais: o artigo 161, § 4º da LRE prevê que o plano


de recuperação extrajudicial não suspende eventuais ações judiciais em
curso, nem tampouco impede a distribuição de pedido de falência por
credores que não estejam sujeitos ao plano;

d) desistência: a desistência a adesão ao plano de recuperação só será


possível com a anuência dos demais signatários (credores e devedor)
conforme inteligência do artigo 161, § 5º da LRE.
6. Documentos

Além de documentos que comprovem os requisitos específicos


anteriormente citados, deve ainda o empresário apresentar exposição de
sua situação patrimonial; demonstração contábil relativa ao último exercício
social; demonstração contábil especial relativa ao exercício social em curso;
demonstração contábil composta de balanço patrimonial, demonstração de
resultados acumulados, resultado do último exercício social e relatório
gerencial de fluxo de caixa, bem como de sua projeção; instrumento de
procuração de todos os credores que anuíram ao plano com poderes
especiais para novar e transigir; e relação nominal completa de credores
individualizando-os e especificando os respectivos créditos,
independentemente da anuência ao plano.

Assim sendo, terá o empresário que instruir o pedido com a certidão da Junta
Comercial para comprovar a regularidade no exercício da atividade; certidão
de distribuidor cível para que se verifique a eventual existência de outro
pedido de recuperação e falência; certidão de objeto e pé que será
necessária no caso de existência de falência anterior de forma a se
comprovar a extinção das obrigações; atestado de antecedentes criminais
para se verificar a existência ou não de condenação por crime falimentar;
relatório circunstancial com a demonstração contábil do último exercício;
balanço patrimonial (ativo e passivo) e de resultados (lucros e perdas);
relatório de fluxo de caixa com demonstração do movimento financeiro da
empresa; relatório de projeção futura de caixa e procuração com poderes
especiais de todos os credores (artigo 163, §6º, LRE).

7. Plano de recuperação

A recuperação extrajudicial poderá ser parcial ou total. Será parcial quando


afetarem somente os credores que aderirem ao plano, conforme previsto no
artigo 162 da LRE – “o devedor poderá requerer a homologação em juízo do
plano de recuperação extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento
que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores
que a ele aderiram”.

Será total quando houver anuência de pelo menos 3/5 (três quintos) dos
créditos de cada espécie por ele abrangidos, situação em que obrigará a
todos os credores, conforme determina o artigo 163 da LRE – “o devedor
poderá, também, requerer a homologação de plano de recuperação
extrajudicial que obriga a todos os credores por eles abrangidos, desde que
assinado por credores que representem mais de 3/5 (três quintos) de todos
os créditos de cada espécie por ele abrangidos”. Para fins de cálculo da
fração determinada anteriormente, os créditos em moeda estrangeira serão
convertidos para o câmbio do dia imediatamente anterior ao de assinatura
do plano (artigo 163, I, LRE). Os créditos decorrentes de obrigações com
sócios, sociedades coligadas ou controladoras, serão excluídos para o
cálculo (artigo 163, III, LRE).

Estão sujeitos ao plano de recuperação os credores previstos nas seguintes


categorias:

- garantia real (artigo 83, II, LRE);

- privilégio especial (artigo 83, IV, LRE);

- privilégio geral (artigo 83, V, LRE);

- quirografários (artigo 83, VI, LRE), e

- subordinados (artigo 83, VIII, LRE).

Não se submetendo a recuperação extrajudicial os créditos decorrentes das


seguintes categorias (artigo 161, §1º, LRE):

- natureza alimentar (artigo 83, I, LRE);


- tributários (artigo 83, III, LRE);

- sanções (artigo 83, VII, LRE).

Os créditos futuros, ou seja, os decorrentes de obrigações posteriores à


distribuição do pedido de homologação judicial, não estão sujeitos aos
efeitos do plano.

No tocante aos mecanismos, cabe aos credores em conjunto com o devedor,


o estabelecimento de todas as condições necessárias para garantir a
recuperação da empresa e o cumprimento das obrigações.

A homologação da recuperação
extrajudicial
Homologação da recuperação extrajudicial

Quando falamos de processamento de uma ação judicial, seja ela qual for,
necessário se faz verificar o procedimento para sabermos exatamente quais
os requisitos devemos cumprir para o seu regular processamento. De forma
geral, dada a natureza jurídica de ação do pedido de homologação da
recuperação extrajudicial, devemos respeitar, no que couber, os requisitos
do artigo 319 do CPC, depois disso precisamos observar os requisitos
específicos.

O procedimento para homologação de pedido de recuperação extrajudicial


deve seguir os seguintes atos previstos nos artigos 161 e seguintes da LRE:

a) distribuição: a distribuição do pedido se dará de acordo com o local onde


esteja a principal sede de administração da empresa;

b) processamento: recebido o pedido e satisfeitos os requisitos legais, o


juiz determinará o processamento do pedido;
c) convocação de credores: todos os credores serão convocados para
tomarem ciência do plano de recuperação e oferecerem eventual
impugnação através de duas formas concorrentes:

c.1) pelo juízo: o juízo fará a convocação por edital a ser publicado no
órgão oficial e em jornal de grande circulação na localidade onde esteja a
empresa (sede e filiais);

c.2) pelo empresário: o empresário deverá convocar todos os credores por


carta e comprovar em juízo a respectiva entrega, seja através de AR – aviso
de recebimento ou outro meio idôneo;

d) impugnação: as impugnações são defesas (mesmo sentido de


contestação no processo civil) apresentadas pelos credores que se
insurgirem contra a concessão do benefício e poderão ser ofertadas por
credores que comprovem seus respectivos créditos e serão apreciadas
dentro dos próprios autos da recuperação, cumprindo as seguintes regras:

d.1) prazo: os credores terão 30 (trinta) dias de prazo a contar da publicação


do edital para o oferecimento de impugnação por petição escrita através de
advogado regularmente constituído;

d.2) defesa: a matéria de defesa a ser apresentada pelo impugnante se


limita àquelas previstas no §3º do artigo 164 da LRE, quais sejam:

- não preenchimento do mínimo necessário para recuperação total;

- prática de atos de falência (artigo 94, III, LRE);

- prática de atos de conluio com terceiros para prejudicar credores (artigo


130, LRE);

- e por último, descumprimento de qualquer requisito específico para


obtenção da recuperação;
e) manifestação do empresário: havendo o oferecimento de impugnação
será aberto prazo de 05 (cinco) dias para manifestação do empresário-
devedor, o que teria sentido semelhante ao da réplica no processo civil;

f) julgamento: decidindo as impugnações, ou inexistindo-as, deve o juiz


sentenciar homologando ou indeferindo o pedido de recuperação
extrajudicial no prazo de 05 (cinco) dias. Lembramos que os prazos judiciais
são considerados prazos impróprios, de forma que a inobservância não gera
nulidade processual;

g) recurso: da sentença que homologar ou não o pedido de recuperação


extrajudicial cabe recurso de apelação, com efeito meramente devolutivo
(artigo 164, LRE).

2. Efeitos da sentença

Sendo homologado o pedido de recuperação extrajudicial, inicia -se o


cumprimento do plano de recuperação da empresa com as condições nele
estabelecidas, podendo os efeitos iniciarem a partir da homologação ou
anteriores a homologação nos moldes do que determina o §1º do artigo 165
da LRE – “é licito, contudo, que o plano estabeleça a produção de efeitos
anteriores à homologação, desde que exclusivamente em relação à
modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários” .

O artigo 161, §6º da LRE, prevê que a sentença que vier a homologar plano
de recuperação configura-se como título executivo judicial, o que significa
dizer que os credores de ora em diante possuem um título executivo
autônomo, o que lhes da o direito de intentar qualquer meio judicial na
hipótese de descumprimento.
Caso o plano estabeleça a alienação judicial de filiais ou unidades
produtivas, proceder-se-á através de leilão, proposta fechada ou pregão
(artigo 166, LRE).

Na hipótese de improcedência do pedido de homologação judicial,


estará o empresário obrigado em relação aos créditos na forma estabelecida
individualmente em cada obrigação anteriormente contratada, podendo,
superado o motivo do indeferimento, propor novo pedido de recuperação. De
qualquer forma, a recuperação não obsta a realização de outra modalidade
de acordo privado entre o empresário e seus credores.

Regras gerais da recuperação


judicial
Recuperação judicial

É o mecanismo de recuperação de empresas que tem por finalidade


estabelecer um acordo entre credores e empresário com a interveniência do
Poder Judiciário. É possível se estabelecer um comparativo da recuperação
judicial com a concordata preventiva que vigia no regime do Decreto -Lei nº
7.661/45, porém, dois fatores as distinguem, de um lado existe uma
ampliação nos mecanismos de recuperação, pois na concordata só havia a
repactuação da dívida, de outro, na concordata, o credor não tinha
participação, exceto para concordar ou discordar da concessão do benefício,
já a recuperação tem total participação do credor, inclusive no
estabelecimento do plano de recuperação.

A recuperação judicial pode ser requerida pelo empresário individual, pela


sociedade empresária, pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do empresário,
inventariante ou sócio remanescente, desde que preenchidos os requisitos
legais.
A recuperação judicial atinge todos os créditos vencidos ou não, exceto os
fiduciários, arrendamento mercantil, alienação de imóveis com cláusula de
irrevogabilidade e irretratabilidade ou reserva de domínio, e contratação de
câmbio para exportação, situação em que permaneceram na forma
originalmente contratados (artigo 49, LRE), além dos tributários que não
participam de nenhuma modalidade de recuperação.

Como na recuperação judicial o plano envolve inclusive os créditos de


natureza trabalhista, para créditos desta natureza que tiveram vencimento
nos últimos 03 (três) meses que antecederam ao pedido, não poderão ter
prazo de pagamento superior a 30 (trinta) dias até o limite de 05 (cinco)
salários mínimos por trabalhador.

2. Requisitos

Por se tratar de negócio jurídico, além dos requisitos previstos no artigo 104
do Código Civil, deve também respeitar os requisitos específicos
estabelecidos no artigo 48 da LRE: empresário regular, falência anterior,
outra participação em recuperação, crime falimentar e motivação econômica.

a) empresário regular - estar exercendo regularmente a atividade


empresarial (artigo 967 do Código Civil) há pelo menos 02 (dois) anos;

b) falência - caso tenha a falência decretada pelo exercício de outra


atividade, deverá estar com as obrigações decorrentes do processo anterior
devidamente extinta por sentença com trânsito em julgado;

c) outra recuperação - não poderá se beneficiar de nova recuperação o


empresário que tiver se beneficiado de outra recuperação judicial há menos
de 05 (cinco) anos ou 05 (cinco) anos em se tratando de recuperação judicial
especial para micro e pequeno empresário;
d) crime falimentar - o empresário não pode ter sido condenado por crime
falimentar em processo anterior;

e) motivação econômica - deve apresentar junto com pedido de


recuperação justificativa que permita a concessão do benefício, expondo sua
situação patrimonial e as razões da crise econômico-financeira.

3. Instrução do pedido

Além de documentos que comprovem os requisitos específicos


anteriormente citados, deve ainda o empresário apresentar demonstração
contábil relativa aos 03 (três) últimos exercícios sociais; demonstrações
contábeis do exercício atual levantados especificamente para instruir o
pedido, acrescentando balanço patrimonial, demonstração de resultados
acumulados, demonstração do resultado desde o último exercício social,
relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; relação nominal
completa de credores individualizando-os e especificando os respectivos
créditos, inclusive os trabalhistas; atas de nomeação de administradores;
declaração de bens do empresário, dos sócios e administradores; extratos
de contas correntes ou investimentos; certidões dos cartórios de protesto e
relação discriminada de ações judiciais em curso contra o empresário
individual ou a sociedade empresária.

4. Administração da recuperação judicial

A administração da recuperação fica a cargo do administrador judicial (artigo


21 da LRE) que substitui respectivamente o síndico e o comissário no regime
anterior (DL nº 7.661/45) anteriormente empregados na administração da
falência e da concordata. Veja que a existência do administrador judicial faz
pressupor que além das atividades judiciais que ficarão a cargo do juiz como
veremos na próxima aula, temos ainda atividades burocráticas (e xtra-
gabinete) que são de responsabilidade do administrador judicial (artigo 22
da LRE), portanto, figura essencial ao andamento do processo judicial na
recuperação judicial.

a) nomeação: o administrador judicial será nomeado pelo juízo e poderá ser


advogado, economista, administrador de empresas, contabilista ou pessoa
jurídica especializada. Sendo nomeado como administrador judicial pessoa
jurídica, caberá a declaração do profissional (pessoa natural) responsável
pela condução do referido processo (artigo 21, LRE).

b) função: ao administrador judicial, sob a fiscalização do juiz e do Comitê


de Credores, cabe: realizar convocação de credores; fornecer informações;
fornecer extratos; cobrar informações necessárias; elaborar relação de
credores; consolidar o quadro-geral de credores; requerer convocação de
assembleia-geral; presidir assembleia-geral; contratar e auxiliar
profissionais especializados que atuem na recuperação judicial; manifestar-
se quando for o caso; fiscalizar; apresentar relatórios; examinar
escrituração; receber e abrir correspondências do devedor; prestar contas,
e todas as outras necessárias ao correto cumprimento da lei (artigo 22,
LRE).

c) remuneração: o administrador judicial é considerado credor


extraconcursal e terá sua remuneração e forma de pagamento fixada pelo
juízo, não podendo exceder ao valor correspondente a 5% (cinco por cento)
dos créditos submetidos à recuperação.

Procedimento em juízo da
recuperação judicial
Processamento da recuperação judicial
Em razão da natureza jurídica de ação, existirão requisitos gerais e comuns
a qualquer ação (artigo 319 do Código de Processo Civil), além dos
requisitos específicos para o procedimento previsto na Lei nº 11.101/05.

O pedido deverá respeitar então os requisitos gerais do artigo 319 do Código


de Processo Civil, demais condições da ação, pressupostos processuais e
os requisitos específicos do artigo 48 da LRE, anteriormente tratados.

Uma vez observados os requisitos, o pedido segue para distribuição.


A distribuição se dará de acordo com o local onde estiver o principal
estabelecimento da empresa (artigo 3º da LRE).

O despacho de processamento, o que equivale ao despacho inicial no


processo civil, verificará os requisitos legais, determinando o processamento
da recuperação judicial, o que não significa a sua concessão, apenas o
cumprimento das determinações legais para apreciação do pedido, porém
no próprio despacho inicial o juiz determinará as seguintes providências:

a) suspensão de prescrição: suspendem-se os prazos prescricionais de


todas as ações relativas ao empresário, inclusive àquelas dos credores
particulares dos sócios;

b) suspensão de ações: além das prescrições, as ações líquidas e as


execuções contra o empresário serão suspensas pelo prazo improrrogável
de 180 (cento e oitenta) dias, exceto as ilíquidas, trabalhistas, fiscais,
fiduciárias, arrendamento mercantil, alienação de imóveis com cláusula de
irrevogabilidade e irretratabilidade ou reserva de domínio, e contratação de
câmbio para exportação;

c) nomeação de administrador judicial: no mesmo ato o juiz nomeará


administrador judicial com a finalidade e respeitando as condições
estabelecidas no artigo 21 da LRE;

d) certidões negativas: exceto para os casos de relação com o Poder


Público e as de natureza creditícia, determinará o juiz que o empresário
estará dispensado de apresentação de certidões negativas, para tanto,
encaminhará ofício a Junta Comercial determinando que se acrescente junto
ao seu nome empresarial a expressão “em recuperação judicial” (princípio
da publicidade);

e) prestação de contas: determinará por parte do empresário a prestação


mensal de contas durante todo o trâmite do processo de recuperação. Ess a
exigência serve para que os credores possam acompanhar a situação
econômico-financeira do empresário, de forma a subsidiar a decisão de
aprovar ou não o plano de recuperações e em que condições;

f) intimação do Ministério Público: o juiz determinará a ciência ao


Ministério Público, haja vista a sua participação como fiscal da lei (ação de
natureza coletiva) ou como parte podendo recorrer das decisões prolatadas
no processo;

g) convocação da Fazenda Pública: o juiz também convocará a Fazenda


Pública Federal, dos Estados e Municípios onde o empresário tiver sede ou
filial para tomar ciência do feito. Em princípio essa exigência parece
desnecessária, pois como vimos anteriormente, o crédito fiscal não participa
do processo de recuperação. Porém, se melhor analisarmos, pode ocorrer
em um processo de recuperação de se dar destinação a bens da empresa,
que por sua vez podem ter sido objeto de penhora em ações fiscais, sendo
que nesse caso o privilégio será da Fazenda;

h) publicação de edital: o juiz tornará pública a existência de


processamento de recuperação judicial do empresário através de edital que
conterá: resumo do pedido do devedor e do despacho de processamento;
relação nominal de credores extraída das informações prestadas pelo
próprio empresário; prazo de 15 (quinze) dias para habilitação dos créditos
que poderá ser efeito diretamente com o administrador judicial.

2. Plano de recuperação e suas intercorrências


O plano de recuperação deverá ser juntado pelo empresário no prazo de 60
(sessenta) dias a contar do processamento da recuperação judicial,
contendo: discriminação dos meios de recuperação, demonstração de sua
viabilidade econômica e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens
e ativos subscrito por profissional habilitado ou empresa especializada. O
não cumprimento de tal determinação acarretará na convolação do pedido
de recuperação judicial em falência.

a) comitê de credores: uma vez determinado o processamento da


recuperação judicial, poderão os credores se reunirem em assembleia para
constituição do comitê de credores.

b) impugnação de créditos: no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias após o


prazo de habilitação de créditos, o administrador judicial, por edital, dará
ciência da relação de credores de credores habilitados com o valor de seus
respectivos créditos, classe a que pertencem e fazendo referência ao
documento que legitima o crédito. A partir daí, no prazo de 10 (dez) dias a
partir da publicado do edital contendo a relação de credores, o comitê de
credores, o Ministério Público, qualquer credor, o devedor ou seus sócios,
poderão apresentar impugnação aos créditos habilitados, que será autuado
e julgado em apenso. Não havendo impugnação será fechado o quadro geral
de credores. Porém, verificando a sua ocorrência, o juiz determinará a
publicação do quadro geral de credores com os créditos não impugnados e
determinará a reserva de recursos para o eventual pagamento dos créditos
impugnados que serão, se necessário, instruídos para posterior julgamento.

c) objeção ao plano: a objeção poderá ser oferecida pelos credores no


prazo de 30 (trinta) dias a contar da publicação do quadro geral de credores
ou, caso o quadro geral de credores seja publicado antes da juntada do
plano de recuperação. Tal objeção possui o mesmo sentido da contestação
no processo civil, o citado prazo de 30 (trinta) dias começara fluir a partir do
edital de convocação específico a ser publicado pelo juiz dando ciência da
juntada do plano. Havendo objeção, o juiz convocará assembleia-geral de
credores para deliberar sobre o plano no prazo máximo de 150 (cento e
cinquenta) dias a contar do despacho de processamento do pedido.

3. Deliberação sobre o plano de recuperação

A assembleia-geral de credores, presidida pelo administrador judicial,


apreciará o plano podendo modificá-lo, aprová-lo, ou rejeitá-lo.

A modificação do plano apresentado pelo empresário, poderá ser modificado


pela assembleia desde que haja a concordância dele e não implique em
diminuição de direitos dos credores ausentes.

A aprovação poderá ser geral, bastando que a proposta seja aprovada por
maioria simples dos credores trabalhistas presentes a assembleia,
independentemente do valor dos créditos; por mais da metade dos créditos
com garantia real e quirografários presentes a assembleia, além da
necessidade de aprovação por maioria simples de credores presentes
também nas classes de garantia real e quirografários.

A aprovação parcial ocorrerá quando não se verificando o quórum


anteriormente exigido, se atinja no mínimo a aprovação cumulativa de mais
das metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia,
independentemente de classes, aprovação de duas classes com crédito
votante (trabalhistas, quirografários e com garantia real) ou uma quando
houver apenas duas classes presentes, e nas classes que rejeitaram o plano
o voto favorável de pelo menos 1/3 (um terço) dos credores.

A rejeição do plano se dará quando assim for deliberado pela assembleia ou


quando não se verificar um dos quóruns anteriormente citados, situação em
que o juiz decretará a falência da empresa.

4. Julgamento do plano de recuperação judicial


Caso não tenha ocorrido objeção ao plano, ou a assembleia tenha aprovado
o plano ainda que parcialmente na forma anteriormente indicada, o juiz
determinará que o devedor apresente certidão negativa de débitos fiscais e
julgará procedente o pedido. Na hipótese de rejeição do plano pela
assembleia o juiz julgará improcedente o pedido e decretará a falência do
empresário.

Em qualquer caso, por se tratar de mera decisão interlocutória, da decisão


proferida em recuperação judicial caberá recurso de agravo.

A sentença que conceder a recuperação, constitui título executivo judicial e


implica em novação das obrigações, sem prejuízo das garantias anteriores
em relação a terceiros. Mas tal título não possui autonomia, em razão da
aplicação do regime de recuperação que estudaremos na aula seguinte.

Regime de recuperação judicial


Efeitos da recuperação judicial

Uma vez concedida à recuperação judicial ao empresário-devedor, estará


ele submetido ao regime de recuperação que implica em vários efeitos a
seguir discriminados:

a) alienação de bens: caso tenha sido estabelecido no plano de


recuperação judicial a venda de estabelecimento ou filial, será a venda
realizada através de leilão, propostas fechadas ou pregão:

a.1) leilão: modalidade de venda pública em que os interessados


comparecem a reunião designada publicamente e oferecem oralmente o
lance correspondente ao bem ofertado, sendo vencedor o participante que
oferecer o maior lance;
a.2) proposta fechada: dentro do prazo estabelecido pelo anúncio, os
interessados em participar da venda pública apresentarão envelopes
lacrados contendo proposta de compra que serão abertas em juízo vencendo
a proposta de maior valor;

a.3) pregão: a modalidade de venda pública denominada de pregão consiste


na soma das duas etapas anteriores. Em um primeiro momento os
interessados encaminham ao juízo o envelope fechado contendo as
propostas, sendo que todas as propostas que contenham no mínimo o
equivalente a 90% (noventa por cento) do valor da maior proposta, estarão
habilitadas a participar do leilão final onde serão oferecidos os lances finais;

b) sucessão de obrigações: a arrematação de unidades produtivas do


devedor não implica em sucessão de obrigações, sendo mantidas as dívidas
a cargo do próprio devedor.

c) transparência: sendo deferida a recuperação, o empresário deverá


acrescer em todos os documentos firmados a expressão “em recuperação
judicial” na frente de seu nome empresarial, assim como, deverá o juízo
oficiar a Junta Comercial para que proceda a mesma gravação nos
assentamentos da empresa. Tal gravação deverá ser mantida pelo prazo de
02 (dois) anos a contar de sua concessão. Trata-se da aplicação do princípio
da publicidade.

d) intervenção do Estado: durante o período de 02 (dois) anos da


concessão da recuperação judicial, deverá o administrador judicial e o
comitê de credores procederem à fiscalização da administração da empresa.

e) convolação em falência: caso haja o descumprimento das obrigações


previstas no plano de recuperação judicial durante o prazo de 02 (dois) anos
após a sua concessão, havendo comunicação ao juízo, convolar-se-á a
recuperação concedida em imediata falência, com a habilitação automática
dos créditos constantes do quadro geral de credores na forma original.
2. Encerramento do regime de recuperação judicial

Transcorridos 02 (dois) anos da concessão da recuperação judicial, o juiz


por sentença decretará o encerramento do regime de recuperação nos
moldes do que preceitua o artigo 63 da LRE, com os seguintes efeitos:

a) despesas judiciais: com o encerramento o juiz determinará o pagamento


de saldo dos honorários do administrador judicial e de eventuais custas
judiciais pendentes no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de inscrição em
dívida ativa;

b) relatório do administrador judicial: deverá o administrador apresentar


relatório circunstanciado no prazo de 15 (quinze) dias versando sobre a
execução do plano de recuperação;

c) comitê de credores: o juízo determinará o encerramento do comitê de


credores e a exoneração do administrador judicial;

d) gravação da recuperação judicial: o juízo oficiará a Junta Comercial


comunicando o encerramento do regime de recuperação judicial do
empresário.

3. Descumprimento posterior

Caso haja o descumprimento da recuperação após 02 (dois) anos da sua


concessão, poderão os credores ingressar com ação de execução ou
requerer a falência do empresário. Isto ocorre, porque vencidas e cumpridas
as obrigações decorrentes da recuperação no prazo de 02 (dois) anos,
decretará o juiz por sentença o encerramento da recuperação judicial,
restando apenas o título executivo autônomo para resguardar o interesse
dos credores caso haja obrigação com vencimento posterior ao citado prazo.
Recuperação judicial de micro e
pequenas empresas
Conceito de micro e pequena empresa

É considerada micro e pequena empresa as empresas inseridas no conceito


estabelecido no artigo 3º da Lei Complementar nº 123/2006 que institui o
Estatuto da Micro e Pequena Empresa, que assim dispõe: “Para os efeitos
desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de
pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o
artigo 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil),
devidamente registrados no Registro Público de Empresas Mercantis (a
cargo da Junta Comercial) ou no Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, conforme o caso, desde que:

a) microempresa: “I – no caso da microempresa, aufira, em cada ano-


calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais); e”,

b) empresa de pequeno porte: “II – no caso da empresa de pequeno porte,


aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superiora R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três
milhões e seiscentos mil reais).

É importante esclarecer que micro e pequena empresa não são


espécies jurídicas de empresas, e sim apenas uma classificação econômica.
Então quando estamos falando de “empresa” juridicamente são organizadas
na forma de:

- Empresário individual;

- Empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI;


- Sociedade em nome coletivo;

- Sociedade em comandita simples;

- Sociedade limitada;

- Sociedade em comandita por ações;

- Sociedade Anônima.

Então as que possuem enquadramento econômico dentro dos limites legais


são, portanto, as empresas que podem se beneficiar do plano especial de
recuperação a que alude o artigo 70 da LRE:

“As pessoas de que trata o artigo 1º desta Lei e que se incluam nos conceitos
de microempresa ou empresa de pequeno porte, nos termos da legislação
vigente, sujeitam-se às normas deste Capítulo”.

Cumpre lembrar que os valores anteriormente citados são os de referência


atual (maio/2016) podendo sofrer alteração a qualquer tempo por decisão
legislativa. No entanto, não existe um critério ou uma periodicidade
estabelecidos para se determinar o reajuste de tais valores.

2. Recuperação judicial de micro e pequeno empresário

A recuperação judicial especial para micro e pequenas empresas é então


um regime simplificado de recuperação judicial para atender a peculiaridade
(econômicas) de determinadas atividades empresariais que não comportam
o regime anteriormente tratado.

Trata-se de um plano simplificado de recuperação, já que a forma para


recuperação é a estabelecida em lei, independendo, portanto, de
assembleia-geral de credores, ou seja, trata-se de um plano de benefícios
concedidos judicialmente sem que haja a possibilidade direta de intervenção
por parte dos credores, ao contrário do que se observava nas modalidades
anteriores (recuperação extrajudicial e recuperação judicial).

Cabe lembrar também, que tal regime é facultativo, não obstando que o
micro ou pequeno empresário faça uso de uma das modalidades
anteriormente estudadas (recuperação extrajudicial ou recuperação judicial),
por inteligência do que dispõe o parágrafo 1º do artigo 70 da LRE:

“As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em


lei, poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que
afirmem sua intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o artigo 51
desta Lei”.

Logo, podemos concluir que a micro e pequena empresa poderão


optar por qualquer modalidade de recuperação.

3. Plano de recuperação

Todos os credores se sujeitam, excetos os tributários e os decorrentes de


crédito público, excetuando-se também, os casos de contrato de alienação
fiduciária; arrendamento mercantil ou incorporação imobiliária com cláusula
de irrevogabilidade ou irretratabilidade; compra e venda com reserva de
domínio e adiantamento relativos a contrato de câmbio para operações de
exportação.

O plano especial de recuperação para micro e pequenas empresas comporta


apenas a repactuação da dívida através de seu reescalonamento em até 36
(trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas
monetariamente e acrescidas de juros de 12% (doze por cento) ao ano, com
início máximo de 180 (cento e oitenta) dias após a distribuição do pedido de
recuperação.
O plano especial deve respeitar as seguintes regras:

a) prescrição: não ocorre a suspensão do prazo prescricional como nas


modalidades anteriores, exceto para os créditos abrangidos pelo plano;

b) despesas: o aumento de despesas ou contratação de empregados fica


condicionado a autorização judicial que só será concedida após a
manifestação do Ministério Público e o Comitê de Credores;

c) demais regras: aplicam-se ao plano especial os procedimentos e as


demais regras compatíveis com a sua simplicidade, inclusive a de
convolação em falência.

Uma vez solicitada a recuperação especial em juízo, determinará o juiz seja


processado o pedido desde que presentes os requisitos legais (artigos 48 e
70 da LRE), determinando a citação dos credores por edital, nomeando
administrador judicial, convocando assembleia-geral, se for o caso, apenas
para constituição do comitê de credores, intimação do Ministério Público e
das Fazendas Federal, Estadual e Municipal.

O micro ou pequeno empresário terá prazo de 60 (sessenta) dias para


juntada do plano especial, o qual será submetido aos credores. Havendo
objeção por credores titulares de mais da metade dos créditos de qualquer
classe submetida, o juiz decretará a falência da empresa, caso contrário,
deferira o pedido concedendo a recuperação judicial especial.

Os recursos nos processos de


recuperação
Sistema recursal

O sistema recursal adotado pela Lei nº 11.101/05 é o mesmo previsto no


Código de Processo Civil, em especial na utilização de dois recursos
específicos: o agravo e a apelação que são os recursos adotados nos
processos de recuperação e falência, dada a natureza jurídica das decisões
neles proferidas.

Resta apenas analisarmos individualmente, de acordo com a modalidade de


recuperação, o recurso cabível. Ainda que genericamente, cabe lembrar que
todos os recursos interpostos das decisões proferidas em processos de
recuperação, serão sempre no efeito meramente devolutivo, ou seja, que
não suspendem os efeitos da decisão judicial prolatada.

2. Recuperação extrajudicial

Na recuperação extrajudicial tínhamos um plano de recuperação (acordo)


negociado pelo devedor junto aos seus credores antes de noticiar ao Poder
Judiciário a existência de tais tratativas.

Observamos nesta modalidade, que o pedido de homologação da


recuperação é facultativo (artigo 163 da LRE), porém, quando solicitado,
deverá obedecer aos procedimentos especiais previstos na LRE (artigos 164
e seguintes) quer desaguará em uma decisão judicial homologando ou não
o plano de recuperação.

Independentemente de qual seja a decisão, homologando ou não, o juiz


estará colocando fim ao processo naquela instância, portanto trata -se de
uma decisão terminativa de feito, ou seja, ele está “sentenciando”, razão
pela qual o recurso a ser interposto pela parte insatisfeita (credores ou
devedor) será o Recurso de Apelação (§7º do artigo 164 da LRE).

Tal recurso será recebido apenas em seu efeito devolutivo, ou seja, sem que
suspenda os efeitos da sentença. Entretanto, a decisão judicial proferida em
sede de processamento do pedido de homologação da recuperação
extrajudicial não impede a utilização de outros meios de recuperação (artigo
167 da LRE), o que pode tornar inócua a utilização do recurso.
3. Recuperação judicial

A importância de se analisar os recursos por modalidade de recuperação, é


justamente porque muda a natureza jurídica das decisões prolatadas.
Enquanto na recuperação extrajudicial a decisão prolatada tinha natureza
jurídica de sentença, cabendo o recurso de apelação, aqui na recuperação
judicial a decisão será meramente interlocutória, cabendo, portanto, recurso
de agravo.

a) decisão que indefere a recuperação judicial: caso seja indeferida a


recuperação judicial (artigo 53 e §4º do artigo 56 da LRE) o juiz decretará a
falência da empresa, tratando-se, portanto, de uma decisão interlocutória
passível de interposição de agravo (artigo 100 da LRE). Veja que nesse caso
o processo não será encerrado, ele prosseguirá com a fase falimentar, razão
pela qual se trata apenas de uma decisão interlocutória;

b) decisão que defere a recuperação judicial: quando da concessão da


recuperação judicial, a impressão que se tem em uma primeira ótica é que
estamos diante de uma sentença que está colocando fim ao processo, mas
é justamente dessa decisão que se verifica o regime de recuperação pelo
período de dois anos (intervenção do Estado) previsto no artigo 61 da LRE,
o que demonstra a natureza jurídica de decisão interlocutória, cabendo,
portanto, recurso de agravo (§2º do artigo 59 da LRE).

c) descumprimento de obrigação durante os dois primeiros anos de


concessão da recuperação: durante o regime de recuperação judicial
(artigo 61 da LRE) que se verifica nos dois primeiros anos de concessão do
benefício, na hipótese de descumprimento das obrigações haverá
convolação da recuperação em falência (§1º do artigo 61 da LRE) com a
possibilidade de interposição de agravo (artigo 100 da LRE).
d) descumprimento de obrigação após os dois primeiros anos de
concessão da recuperação: uma vez encerrado o regime de recuperação
(artigo 63 da LRE), o juiz, por sentença decretará o encerramento do
processo, cabendo assim a interposição de recurso de apelação.

4. Recuperação especial para micro e pequenas empresas

Como se verificou anteriormente, a recuperação especial é na realidade uma


recuperação judicial com peculiaridades apenas em razão da espécie de
“empresa” (classificação econômica) que se beneficia do instituto, mas não
de seu processamento judicial.

Cabe lembrar, que no tocante ao procedimento judicial, existe apenas uma


diferença no que pertine a não realização da assembleia de credores, que
não se justifica em razão da existência de apenas uma classe de credor que
são os credores quirografários. No mais, o procedimento é idêntico ao da
recuperação judicial.

Assim sendo, o sistema recursal que aqui se aplica é na mesma forma


tratada no item anterior para a recuperação judicial.

A falência e suas condições


gerais
Falência

A falência é o mecanismo que tem por finalidade retirar do mercado e


preservar o patrimônio de empresário-devedor como garantia das
obrigações contratadas. Trata-se na realidade da exceção aplicável nas
hipóteses de insolvência empresarial, já que as regras previstas na Lei nº
11.101/05 estabelecem que nas hipóteses de dificuldade financeira, poderá
a empresa se submeter a uma das modalidades de recuperação
(extrajudicial, judicial e judicial especial para micro e pequena empresa).

2. Princípios aplicáveis

O legislador estabeleceu para a falência a aplicação dos princípios da


celeridade e da economia processual:

a) a celeridade visa à realização do ativo em tempo que não onere ainda


mais os credores do que já foram onerados com a própria inadimplência do
empresário;

b) já a economia processual visa dar garantias à celeridade processual,


permitindo ao juiz a redução dos atos processuais de forma a permitir a
solução rápida do cumprimento parcial das obrigações.

Cabe ressaltar finalmente, que a falência pressupõe sempre uma


condição em que existirá um saldo devedor remanescente, haja vista que
uma empresa em estado falimentar, certamente terá um passivo maior que
seu ativo, caso contrário não se vislumbraria o estado falimentar.

3. Espécies de falência

Em princípios tratamento a falência como sendo única, mas na


realidade o legislador prevê três espécies falimentares distintas.

A falência pode ser dividida em 03 (três) espécies distintas: - falência por


insolvência (artigo 94, I LRE), - falência por execução frustrada (artigo 94,
II, LRE); e, - falência fraudulenta ou por presunção de atos falimentares
(artigo 94, III, LRE).
a) falência por insolvência decorre simplesmente da situação econômica
em que o empresário sem relevante razão de direito não paga dívida
constante de título executivo protestado cuja soma ultrapasse o equivalente
a 40 (quarenta) salários mínimos (artigo 94, I, LRE);

b) falência por execução frustrada se refere ao empresário que foi


executado por qualquer quantia, mas não pagou, não depositou, não
apresentou pedido de parcelamento e não nomeou bens a penhora (artigo
94, II, LRE);

c) a falência fraudulenta ou prática de atos falimentares implica na


prática de ato de má-fé por parte do empresário, cujo rol exemplificativo o
legislador oferece no inciso III do artigo 94 da citada lei, assim disposto:

- procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio


ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

- realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de tentar
retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação
de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

- transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o


consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para
solver seu passivo;

- simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo


de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

- dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem


ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

- ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos


suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta
ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal
estabelecimento;
- deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano
de recuperação judicial.

Existe uma quarta espécie de falência, a autofalência que pressupõe o


reconhecimento pelo próprio empresário da crise econômico-financeira não
recuperável (artigo 105, LRE), mas que por ser o único instrumento de
utilização do próprio devedor, trataremos em tópico específico, dada as suas
particularidades.

A falência visa o afastamento do devedor de suas atividades para


preservação e otimização dos bens, ativos e recursos produtivos da empresa
(artigo 75, LRE).

4. Regras gerais aplicáveis à falência

A falência, independentemente de qual espécie, possui regras


comuns que disciplinam o processamento do pedido orientando a
consecução dos objetivos estabelecidos pelo legislador. Para tanto se
observam as seguintes regras:

a) juízo universal: a falência gera o juízo universal ou indivisível que será


competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios
do falido, exceto as ações trabalhistas e fiscais que em sua fase de
conhecimento permanecerão no juízo original. Nos casos das ações movidas
pelo falido, de forma a se preservar a rápida solução, também permanecerão
no juízo original, devendo, porém, ocorrer à intimação do administrador
judicial para o acompanhamento, sob pena de nulidade do processo (artigo
76, LRE);

b) distribuição por dependência: as ações a serem propostas no juízo


falimentar estão sujeitas à distribuição por dependência (artigo 78, LRE);
c) preferência: os processos de falência e os seus incidentes preferem a
todos os outros feitos, em qualquer instância (artigo 79, LRE);

d) vencimento antecipado de dívidas: uma vez decretada a falência, e de


forma a se estabelecer o direito de igualdade e formar o concurso de
credores, todas as dívidas ainda não vencidas da empresa e dos sócios
ilimitadamente responsáveis terão vencimento antecipado, respeitando -se
para tanto, a regra do abatimento proporcional de juros (artigo 77, LRE);

e) habilitação de crédito: caso haja recuperação judicial em andamento, os


créditos subordinados a tal regime estarão automaticamente habilitados,
desde que constem do quadro geral de credores da recuperação (a rtigo 80,
LRE);

f) sócios falidos: considerar-se-á falida não só a empresa como também


todos os sócios ilimitadamente responsáveis, devendo assim, ocorrer à
citação destes últimos para exercerem o direito de defesa (artigo 81, LRE);

g) sócio retirante: na hipótese da sociedade ter sócio de responsabilidade


ilimitada que tenha se retirado da sociedade nos últimos 02 (dois) anos,
desde que as dívidas que originaram a falência tenham sido contraídas
durante a sua participação social, ensejarão também a sua falência (artigo
81, LRE);

h) sócios de responsabilidade limitada e administradores: os sócios de


responsabilidade limitada e os administradores terão sua responsabilidade
apuradas em autos próprios que tramitarão no próprio juízo falimentar,
desde que movidas até 02 (dois) anos contados do trânsito em julgado da
sentença de encerramento da falência (artigo 82, LRE).

Dessa forma, para o regular processamento da falência, tais


regras deverão ser observadas.

5. Administração da falência e da recuperação judicial


A administração da falência e da recuperação ficam a cargo do
administrador judicial que substitui respectivamente o síndico e o
comissário, anteriormente empregados na administração da falência e da
concordata na vigência do Decreto nº 7.661/45.

A substituição do síndico e comissário pelo administrador judicial se


deu pela profissionalização da função pretendida pelo legislador.

a) nomeação: o administrador judicial será nomeado pelo juízo e poderá ser


advogado, economista, administrador de empresas, contabilista ou pessoa
jurídica especializada. Sendo nomeado como administrador judicial pessoa
jurídica, caberá a declaração do profissional (pessoa natural) responsável
pela condução do referido processo (artigo 21, LRE);

b) função: ao administrador judicial, sob a fiscalização do juiz e do Comitê


de Credores, cabe: realizar convocação de credores; fornecer informações;
fornecer extratos; cobrar informações necessárias; elaborar relação de
credores; consolidar o quadro-geral de credores; requerer convocação de
assembleia-geral; presidir assembleia-geral; contratar e auxiliar
profissionais especializados que atuem na falência ou na recuperação
judicial; manifestar-se quando for o caso; fiscalizar; apresentar relatórios;
examinar escrituração; receber e abrir correspondências do devedor;
arrecadar e avaliar bens; representar a massa falida; prestar contas, e todas
as outras necessárias ao correto cumprimento da lei (artigo 22, LRE);

c) remuneração: O administrador judicial é considerado credor


extraconcursal e terá sua remuneração e forma de pagamento fixada pelo
juízo, não podendo exceder ao valor correspondente a 5% (cinco por cento)
dos créditos submetidos à recuperação ou do valor de venda dos bens na
falência. Na falência os honorários serão pagos a proporção de até 60%
(sessenta por cento) antecipadamente e os outros 40% (quarenta por cento)
serão remunerados no encerramento do processo quando da prestação de
contas (artigo 24, LRE).
O tratamento do crédito e
credores na falência
Introdução
Quando falamos da falência estamos falando do instituto que coloca
fim a existência da empresa, portanto, o único lugar onde o credor pode
tentar recuperar seu crédito no todo ou em parte. Tal afirmação se faz
necessária, haja vista que como a falência parte do pressuposto de que o
falido possui mais obrigações do que patrimônio, natural que o processo seja
concluído com um saldo devedor, o que significa dizer que nem todos terão
o seu crédito satisfeito.
Créditos falimentares
Ao contrário do que ocorre na recuperação de empresa, todos os créditos se
submetem ao regime falimentar sem qualquer tipo de exceção, dividindo-se,
porém, em concursais e extraconcursais (artigo 83, LRE).
 a) créditos extraconcursais: os créditos extraconcursais são
créditos decorrentes dos processos judiciais de falência e de
recuperação e que serão pagos com precedência dos demais;
 b) créditos concursais: os créditos concursais se subdividem em
créditos com ou sem privilégio, e são respeitados na seguinte
ordem como se o legislador estivesse estabelecendo uma fila que
determinará em que momento cada credor concorrerá ao seu
crédito:
 b.1) créditos acidentários: decorrentes de acidentes de trabalho;
 b.2) créditos trabalhistas: decorrentes da relação de emprego,
que, porém só terão privilégio até o limite de 150 (cento e cinquenta)
salários mínimos, sendo o excedente desse saldo considerado
crédito quirografário;
 b.3) créditos com garantia real: o crédito com garantia real é
aquele que esteja garantido por bem gravado com a finalidade de
responder pela obrigação, porém, o privilégio se limita apenas ao
valor do bem, devendo o excedente ser considerado como crédito
quirografário;
 b.4) créditos tributários: os créditos tributários, excetuadas aqui
as multas tributárias que serão consideradas como sanções,
possuem privilégio respeitando-se inicialmente os interesses da
União, depois dos Estados e por último dos Municípios. Então é
correto se afirmar que a fila seria decomposta em: - crédito tributário
federal; - crédito tributário estadual, e - crédito tributário municipal.
 b.5) créditos com privilégios especiais: os créditos com
privilégios especiais são disciplinados pelo Código Civil em seu
artigo 964 e os que a lei garanta a ele o direito de retenção sobre a
coisa. Além desses inclui-se nessa categoria os créditos devidos
aos micro e pequenos empresários;
 b.6) créditos com privilégios gerais: os créditos com privilégios
gerais são os disciplinados no artigo 965 do Código Civil e os
créditos de fornecedores que continuaram a relação contratual
depois de concedida a recuperação judicial do empresário;
 b.7) créditos quirografários: todos os demais créditos concursais
que não possuam nenhum tipo de privilégio anteriormente
verificados, acrescidos dos trabalhistas que excederem a 150
(cento e cinquenta) salários mínimos e os créditos protegidos por
garantia real que excederem ao valor do bem, dado em garantia;
 b.8) sanções: são multas contratuais e tributárias;
 b.9) créditos subordinados: créditos dos sócios ou
administradores que não sejam empregados do falido;
 c) créditos não oponíveis: os créditos dos sócios relativos à
integralização do capital social não podem ser habilitados na
falência.

Pagamento
O pagamento dos credores respeita a ordem anteriormente estabelecida, o
que implica em afirmar que o pagamento é feito por classe de credores.
Porém, é possível se observar que o crédito arrecadado no processo não
será suficiente para o pagamento de todas as classes, logo, a metodologia
inicial é o de pagamento por classes enquanto o saldo arrecadado no
processo permitir o pagamento integral da classe, e por rateio quando for
insuficiente.
Assim é possível concluirmos que os pagamentos são realizados por
classes na medida em que haja disponibilidade de créditos e por rateio
quando os créditos forem insuficientes para o pagamento total da classe. Os
demais credores não contemplados pelo pagamento ficarão aguardando
uma oportunidade futura de localização de algum bem do falido para
eventual resgate da fila de pagamentos.
Pagamento antecipado
Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial, vencidos nos 03
(três) meses anteriores a decretação da falência, até o limite de 05 (cinco)
salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade
(artigo 151, LRE), ou seja, com antecipação.
Essa antecipação é prevista pelo legislador, haja vista a natureza alimentar
de parte dos créditos trabalhistas, utilizando-se aqui, o mesmo critério
utilizado pelo legislador no Código de Processo Civil para as execuções de
pensões alimentícias.
Pedido de restituição
Quando existir em poder do falido um bem que seja de propriedade de
terceiro, ou caso tenha ocorrido à venda de coisa a crédito nos 15 (quinze)
dias anteriores ao requerimento da falência, ensejará, por parte do terceiro,
pedido de restituição para reaver a coisa. No entanto, caso a coisa não mais
exista, a restituição será feita em dinheiro, observando-se, porém,
inicialmente os direitos relativos aos créditos trabalhistas anteriormente
mencionados (artigos 85 e 86, LRE). Havendo mais de uma restituição em
dinheiro e sendo o saldo disponível insuficiente para o pagamento de todos,
far-se-á mediante rateio proporcional.
Em qualquer caso, o pedido de restituição será processado nos seguintes
termos (artigo 87, LRE):
a) pedido: o pedido de restituição será feito por simples petição
devidamente fundamentada e preferencialmente com a prova documental da
propriedade, bem como deverá descrever a coisa reclamada. Havendo
pedido de restituição à coisa ficará indisponível até o trânsito em julgado do
referido pedido;
b) autos: o pedido de restituição será autuado em autos apartados;
c) defesa: serão intimados o falido, o comitê de credores e o administrador
judicial para, no prazo sucessivo de 05 (cinco) dias, se manifestarem sobre
o pedido de restituição, sendo que eventual oposição será considerada como
contestação. Não havendo contestação, o juiz determinará a entrega da
coisa em 48 (quarenta e oito) horas, deixando de condenar a massa falida
na sucumbência por ausência de resistência ao pedido;
d) julgamento: havendo apresentação de contestação, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento caso entenda necessário, ou, julgará de
plano na desnecessidade. Caso a decisão judicial reconheça o direito de
restituição, está será ordenada para cumprimento em 48 (quarenta e oito)
horas, além da condenação em honorários sucumbenciais. Sendo pela
negatória da restituição, a sentença deverá determinar a inclusão do
requerente no quadro-geral de credores da falência na classificação que lhe
couber;
e) recurso: da sentença que julgar o pedido de restituição caberá recurso
de apelação no efeito meramente devolutivo;
f) execução provisória: caso a sentença seja de procedência do pedido e
pretenda seu autor executá-la antes do trânsito em julgado, poderá fazê-lo
mediante a prestação de caução;
g) ressarcimento: caso a coisa tenha sido consertada e o pedido seja
procedente, deverá o autor restituir as despesas à massa ou a quem quer
que tenha suportado-as.

Os efeitos da decretação da
falência
Decretação da falência

Conforme observamos anteriormente, a decretação da falência


inaugura a segunda fase do processo de falência, qual seja, a fase
falimentar. Então é importante atentarmos que caso a decisão judicial seja
pela improcedência do pedido, estaremos encerrando o processo de
falência, porém, caso seja pela procedência e, portanto, decretação da
falência, inaugura-se a fase falimentar com a observação dos efeitos que
serão aqui tratados.

Com a decretação da falência o juiz coloca fim a existência formal


da empresa, restando apenas a apuração dos haveres, avaliação e
liquidação dos ativos para pagamento dos credores.

Estabelece o legislador, que na decisão que decretar a falência,


incorretamente denominado de “sentença” (artigo 99, LRE), que dentre
outras determinações:

a) síntese do pedido: deve identificar as razões que instruíram


o pedido de falência;
b) identificação do falido: além do nome empresarial da
empresa que teve a falência decretada, consta ainda na sentença o nome
dos sócios de responsabilidade ilimitada e de seus administradores;

c) termo legal da falência: trata-se da data oficial de


decretação da “quebra da empresa”, que pode ser atual ou pode retroagir
até 90 dias da data da decisão judicial;

d) relação de credores: o falido será intimado para apresentar


no prazo de 5 (cinco) dias a relação de credores, indicando a importância,
natureza e classificação dos créditos;

e) habilitação de crédito: será publicado edital convocando os


credores a habilitarem seus créditos no prazo de 15 (quinze) dias;

f) suspensão de ações: o juiz determinará a suspensão de


ações que tramitam contra a empresa falida, devendo os interessados se
habilitarem para receberem seus respectivos créditos. Poderão tramitar no
juízo de origem as ações que forem ilíquidas, até que se apure o valor devido
para habilitação nos autos da falência;

g) indisponibilidade de bens: o juiz decretará a


indisponibilidade de bens do falido, haja vista que qualquer ato de oneração
só poderá ocorrer com autorização judicial e pelos próprios meios de
oneração previstos para o processo;

h) diligências: o juiz pode determinar qualquer diligência que


entender necessária para salvaguardar o bom andamento do processo e o
interesse da massa falida, inclusive com a possibilidade de decretação da
prisão do falido e dos administradores da empresa, se entender necessário;

i) transparência: o juiz determinará remessa de ofício a Junta


Comercial para que conste nos registros da empresa, a informação - “falido”,
permitindo assim que qualquer interessado tenha acesso a informação,
considerando-se que o registro de empresas é público;
j) administrador judicial: nomeará administrador judicial
conforme já explicitado anteriormente (artigo 21, LRE);

k) localização de bens e direitos: o juiz determinará a


remessa de ofício aos órgãos de praxe para tentativa de localização de bens
e direitos existentes em nome do falido, para que componham o acervo da
massa falida;

l) atividade: o juiz analisará as circunstâncias e determinará a


continuidade provisória da atividade da empresa através do administrador
judicial ou determinará o encerramento imediato das atividades com a
lacração do estabelecimento;

m) comitê de credores: a partir da decretação da falência os


credores poderão realizar assembleia geral para instituir o comitê de
credores;

n) intimação do Ministério Público: o Ministério Público será


intimado para atuar como fiscal da lei e para atuar como parte nos atos em
que a lei o permitir;

o) convocação da Fazenda: as Fazendas Públicas da União,


Estados e Municípios onde a empresa mantinha atividade, serão
convocadas para analisar os autos e defender os interesses do Estado.

Uma vez prolatada a decisão, será publicado edital com a sua


íntegra, para que produza os efeitos que lhe são próprios.

2. Efeitos da falência

A decretação da falência gera ao falido os seguintes efeitos imediatos:


a) impedimento: com a decretação nasce o impedimento para o exercício
de atividade empresarial até que se extinguam as obrigações decorrentes
da falência (artigo 102, LRE);

b) indisponibilidade de bens: com a decisão judicial o falido perde a livre


administração e disposição de seus bens (artigo 103, LRE), não podendo
praticar nenhum ato de alienação ou oneração de bens.

Contudo, não são apenas deveres que a decisão estabelece, haja vista que
com a decretação da falência são direitos do falido:

a) fiscalização: fiscalizar a administração da falência;

b) requerimento: requerer providências necessárias para conservação de


seus direitos e bens arrecadados;

c) intervenção processual: intervir nos processos em que a massa falida


seja parte ou interessada;

d) conferir habilitações: examinar as habilitações de crédito;

e) parecer: examinar e dar parecer sobre as contas do administrador


judicial;

f) atuar como parte: requerer o que for de direito e interpor os recursos


cabíveis.

O falido tem como deveres as seguintes obrigações:

a) comparecimento: assinar o termo de comparecimento nos autos da


falência;

b) livros empresariais: depositar em cartório os livros obrigatórios;


c) não se ausentar: permanecer na comarca da falência e só se ausentar
com autorização judicial;

d) comparecimento: comparecer a todos os atos da falência;

e) fornecer documentos e bens: entregar ao administrador judicial todos


os bens, livros e documentos empresariais;

f) prestar informações e auxiliar: prestar quaisquer informações


solicitadas pelo administrador judicial ou pelo juiz e auxiliar o administrador
judicial;

g) acompanhar perito: assistir a perícia contábil.

O não cumprimento de suas obrigações implica em crime de desobediência


(artigo 104, LRE).

Sobre os bens do falido, a falência não permite que sejam explorados


por ninguém, exceto nas hipóteses legalmente previstas, suspendo -se de
imediato eventuais direitos de retenção.

No tocante aos contratos contraídos pelo falido, não serão resolvidos


por ocasião da falência desde que venham a reduzir ou evitar o aumento do
passivo da massa falida, ou se for necessário à manutenção da preservação
dos ativos, devendo ser cumpridos pelo administrador judicial mediante
autorização do comitê de credores.

Os contratos de gestão conferidos através de mandato estarão


automaticamente rescindidos por ocasião da falência, devendo o mandatário
prestar contas de sua gestão. Em se tratando de mandato judicial, só
perderá vigência quando de sua revogação expressa pelo administrador
judicial.

Os contratos de conta corrente se encerram automaticamente com a


decretação da falência, verificando-se o respectivo saldo.
3. Efeitos da falência sobre as obrigações do falido

Além dos efeitos anteriormente mencionados, pendem ainda em


relação as obrigações dos falido, outros efeitos que interferem diretamente
no curso do processo de falência, nos seguintes termos:

a) vencimento antecipado: com a decretação da falência e o


estabelecimento de um concurso universal de credores, todas as obrigações
do falido, ainda que com vencimento futuro, passam a ser consideradas
vencidas, permitindo-se assim que os respectivos credores possam se
habilitar na falência (artigo 115, LRE);

b) suspensão do direito de retenção: se algum credor estava


exercendo direito legitimo de retenção de bens ou créditos do falido, terá a
suspensão imediata desse direito com a obrigação de restituição ao
administrador judicial (artigo 116, I, LRE);

c) indisponibilidade de quotas ou ações: com a decretação da


falência os sócios ou acionistas perdem direito a disponibilidade sobre
quotas do capital ou ações (artigo 116, II, LRE);

d) contratos: os contratos bilaterais em que o falido era parte serão


analisados pelo administrador judicial que decidirá pela resolução ou pela
continuidade (artigo 117, LRE);

e) mandatos: os mandatos eventualmente concedidos pelo devedor


anteriormente ao ato de falência terão revogação imediata (artigo 120, LRE);

f) conta corrente: as contas correntes existentes terão


encerramento imediato com a decretação da falência, e eventual saldo
disponibilizado no processo judicial;
g) juros: não são exigíveis juros da massa falida, devendo as
dividas ter sua correção conforme taxa prevista em contrato ou lei até o dia
anterior ao da decretação da falência.

A realização do ativo e o
pagamento dos credores
Fase falimentar

A fase falimentar é a fase de processamento da falência propriamente dita,


iniciando-se com a decisão judicial de decretação da falência e indo até o
pagamento dos credores. Portanto, trata-se da fase de realização do ativo.

A decisão que decreta a falência deve conter:

a) identificação do falido: identificação do falido e de seus respectivos


administradores;

b) termo legal da falência: a falência pode ter seu termo, ou seja, seu início
a partir da prolatação da sentença, ou poderá retroagir para o prazo máximo
de 90 (noventa) dias;

c) relação de créditos e credores: o juiz ordenará no termo que o falido


apresente em 5 (cinco) dias, relação de credores com seus respectivos
créditos;

d) prazo para habilitação de créditos: o prazo para habilitação de créditos


será de 15 (quinze) dias a contar da publicação do respectivo edital de
convocação de credores;

e) suspensão de ações: determinará a suspensão de todas as ações em


curso contra o falido, exceto àquelas que não possuem curso prejudicado
pelo andamento da falência, como é o caso das ações fiscais e trabalhistas;
f) atos empresariais: estipula a proibição da prática de atos empresariais,
exceto se for autorizada a continuação provisória da atividade em conjunto
com o administrador judicial;

g) diligências: cabe ao juiz estabelecer as diligências que entender


necessárias, inclusive à de lacração do estabelecimento; de decretação de
prisão preventiva do empresário ou dos administradores; de ofício a Junta
Comercial para gravação do termo “falido” no registro da empresa e no
cadastro nacional; determinará a expedição de ofícios aos órgãos públicos
responsáveis por registro para informarem sobre a existência de bens e
direitos do empresário;

h) administrador judicial: nomeação do administrador judicial;

i) comitê de credores: se entender necessário o juiz poderá determinar a


realização de assembleia-geral para constituição do referido comitê de
credores;

j) Ministério Público: intimará o Ministério Público;

k) Fazenda Pública: cientificará às fazendas públicas federal, estaduais e


municipais onde existam estabelecimentos da empresa;

l) edital: o juiz determinará a fixação de edital com a íntegra da decisão de


decretação da falência e a relação de credores fornecida pelo falido (artigo
99, LRE).

Caso a falência tenha sido requerida de má-fé e, portanto, julgada


improcedente, caberá na mesma decisão a condenação do requerente em
indenização por danos causados que serão apurados em liquidação de
sentença, podendo também, se for o caso, o pleito do prejudicado em ação
própria. Havendo mais de um autor, todos serão condenados solidariamente
(artigo 101, LRE).
2. Arrecadação, custódia e avaliação de bens

O administrador judicial, logo após a assinatura do termo de compromisso


fará a arrecadação de todos os bens penhoráveis e documentos do falido,
requerendo ao juiz as medidas necessárias. Os bens arrecadados ficarão
sob a guarda do administrador judicial, podendo permanecer em poder do
falido ou serem guardados em depósito, com a respectiva nomea ção do
depositário. Os bens que se encontrem em poder de terceiros ou que
venham ser localizados futuramente serão arrecadados em favor da massa.
Por precaução, o estabelecimento poderá ser lacrado durante a fase de
arrecadação de forma a permitir a preservação do acervo.

a) bens que não estão sujeitos a arrecadação: uma vez que só é


possível à arrecadação de bens penhoráveis, exclui-se da arrecadação os
bens assim instituídos por escritura pública ou testamento (artigo 1711,
Código Civil); os bens gravados com cláusula de inalienabilidade por ato de
mera liberalidade de seu proprietário (artigo 1911, Código Civil); as
provisões de alimentos e de combustível necessárias à manutenção do
devedor e de sua família; o anel nupcial e os retratos de família; os
vencimentos de funcionários públicos, os salários dos empregados e as
pensões recebidas de órgãos públicos ou previdência; seguro de vida; o
imóvel residencial do devedor (artigo 1º, L. 8009/90).

b) avaliação de bens: realizada a arrecadação de bens eles serão


avaliados individualmente ou em bloco, cujo trabalho será acompanhado
pelo falido. Os bens dados em garantia real serão avaliados separadamente,
ou se optado pela avaliação em bloco, também serão avaliados
individualmente para se estabelecer o limite de valor a ser habilitado com
privilégio de garantia real.

c) auto de arrecadação e avaliação: uma vez concluída a avaliação


dos bens, será lavrado auto de arrecadação e avaliação com o inventário de
todo acervo e o laudo de avaliação dos bens para ser assinado pelo
administrador judicial, pelo falido, pelas pessoas quer auxiliarem ou
presenciarem o ato. Pode ainda o laudo de avaliação ser objeto de
apresentação no prazo máximo de 30 (trinta) dias desde que devidamente
requerido pelo administrador judicial e autorizado pelo juízo.

3. Alienação antecipada de bens

Estabelecido o acervo de bens do falido com a respectiva avaliação,


caberá o início do processo de alienação de bens que poderá se dar de
forma provisória ou definitiva.

a) A alienação provisória se dará sempre que o administrador


judicial vislumbrar a possibilidade de locação ou exploração econômica do
bem por terceiro, mediante autorização do comitê de credores, com o
objetivo de produzir renda em favor da massa falida (artigo 114, LRE). O
crédito decorrente de alienação provisória será utilizado enquanto
necessário para o pagamento dos créditos sujeitos a antecipação e dos
extraconcursais. O contrato de alienação provisória do bem não gera direito
de preferência do terceiro para a sua compra, e caso ocorra a sua alienação
definitiva, será rescindido o contrato sem qualquer possibilidade de cobrança
de multa ou permanecerá em vigência caso haja a anuência do adquirente.

b) por outro lado, será possível a alienação definitiva para os bens


perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que
sejam de conservação arriscada ou dispendiosa, após ouvido o comitê de
credores e o falido no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.

A exemplo da alienação provisória, a disponibilidade desse crédito será


utilizada para pagamento dos créditos sujeitos a antecipação e dos
extraconcursais. Outra forma de alienação definitiva será através da
adjudicação de bens por parte dos credores, desde que respeitada a ordem
de credores legalmente estabelecida e ouvido o comitê. Durante esta fase,
mediante julgamento judicial serão atendidos os pedidos de restituição de
bens ou convertidos em indenização caso já tenham sido alienados de forma
definitiva.

4. Alienação final de bens

Arrecadados, avaliados e alienados antecipadamente os bens e


independentemente do estabelecimento do quadro-geral de credores,
iniciar-se-á a realização final do ativo por uma das seguintes formas
respeitando-se a ordem:

a) alienação da empresa em bloco: venda da empresa como unidade única


através da soma de todos os seus estabelecimentos;

b) alienação da empresa por unidades: venda de filiais ou unidades


produtivas isoladamente;

c) alienação dos bens em bloco: venda de todos os bens em um único


bloco;

d) alienação dos bens separadamente: venda isolada dos bens. Pode em


razão do interesse da massa, adotar-se mais de uma forma de alienação.

As vendas serão determinadas pelo juiz, ouvido o administrador judicial,


atendendo orientação do comitê de credores e intimado o Ministério Público,
ocorrerão através de uma das seguintes modalidades:

a) leilão: trata-se da venda realizada na forma pública em que os


interessados oferecem lances na forma oral, vencendo a melhor proposta;

b) proposta fechada: forma de venda pública em que os interessados,


respeitando as condições previstas em edital encaminham ao juízo proposta
lacrada que serão abertas em data determinada, vencendo a melhor
proposta;
c) pregão: trata-se da soma das duas modalidades anteriores que se
subdivide em duas fases. Na primeira o interessado encaminha proposta
fechada ao juízo que serão abertas em data determinada, sendo que todos
os candidatos que tenham ofertado o mínimo 90% (noventa por cento) do
valor da melhor proposta serão encaminhados para a realização de leilão
final, vencendo a melhor proposta. De qualquer forma, a alienação será
precedida de divulgação em jornais de grande circulação com prazo mínimo
de 15 (quinze) dias para bens móveis e de 30 (trinta) dias para bens imóveis
ou a venda da empresa. O valor mínimo aceitável em qualquer forma será o
vencedor, ainda que inferior ao de avaliação, exceto no caso de avaliação
por pregão em que o lance mínimo é o da maior proposta anteriormente
ofertada, que por sua vez, obrigará seu proponente. Excepcionalmente o juiz
poderá autorizar a venda por modalidade diversa das previstas
anteriormente, desde que solicitado e justificado pelo administrador judicial.
O devedor, os credores ou o Ministério Público poderão impugnar a
arrematação, desde que o façam em 48 (quarenta e oito) horas, hipótese em
que em 5 (cinco) dias será julgado anulando-se a alienação ou determinando
a entrega do bem ao arrematante. Uma vez arrematados os bens e pagos
os respectivos valores, serão eles levados à conta judicial em favor da
massa para o início do pagamento dos credores, excluídos eventuais
antecipações de créditos por pagamento ou adjudicação.

5. Pagamento de credores

Concluídos todos os incidentes processuais e realizado o ativo, iniciar-se-á


o pagamento dos credores respeitando-se a ordem legal e, na hipótese de
ausência de saldo suficiente para o pagamento de credores de uma mesma
categoria, proceder-se-á ao respectivo rateio dentro daquela categoria,
conforme explicitado anteriormente.
O encerramento da falência
Encerramento da falência

Após realizado o pagamento dos credores com a disponibilidade


econômica obtida através da venda de bens, chegará o processo em seu ato
final da fase falimentar.

Conforme reiteramos anteriormente, a falência parte sempre do


pressuposto de que realizada a venda de bens e efetuado o pagamento dos
credores, haverá um saldo devedor, haja vista que o valor dos bens são
sempre em montante inferior ao das dívidas contraídas pelo falido, pois do
contrário não existiria falência.

2. Prestação de contas

Concluído o pagamento dos credores, caberá ao administrador judicial no


prazo de 30 (trinta) dias, prestar constas ao juízo que as julgará, cabendo
da decisão recurso de apelação.

3. Relatório final

Julgadas as contas, caberá ao administrador judicial apresentar seu relatório


final no prazo de 10 (dez) dias, cabendo ao juiz encerrar a falência por
sentença que será publicada por edital, sujeitando-se a eventual recurso de
apelação e encerrando a fase falimentar.

Conforme observado anteriormente, o encerramento coloca fim a


fase falimentar do processo, mas não coloca fim as obrigações do falido,
haja vista que haverá um saldo devedor existente, o que da margem a
realização da última fase do processo denominada de fase pós-falimentar.

4. Fase pós-falimentar

A fase pós-falimentar tem início com o encerramento da falência e vai até a


extinção das obrigações do falido.

Pode, mediante requerimento do falido, ser declarada extinta a obrigação


falimentar com o pagamento integral de suas dívidas.

Além disso, mediante requerimento do falido, pode ser declarada extinta a


obrigação falimentar com o pagamento mínimo de 50% (cinquenta por cento)
do total das dívidas quirografárias após a realização do ativo.

Transcorridos 5 (cinco) anos após a sentença de encerramento da falência


poderá o falido requerer a extinção das obrigações por prescrição, porém,
caso tenha sido condenado pela prática de crime falimentar esse prazo será
de 10 (dez) anos.

Feito o pedido de encerramento o juiz determinará publicação editalícia para


que no prazo de 30 (trinta) dias qualquer credor se oponha ao pedido; findo
esse prazo o juiz julgará por sentença o pedido de extinção apreciando
eventuais oposições, cabendo da decisão recurso de apelação.

Os recursos no processo
falimentar
Considerações iniciais
Como já explanado anteriormente, quando da finalização do texto do
projeto de lei que originou a Lei de Recuperação e Falências, houve a sua
submissão a uma equipe de técnicos da área econômica do Poder Executivo,
dado os efeitos econômicos que tal lei possuía, sendo que após essa revisão
e os devidos esclarecimentos de alterações introduzidas, foi o projeto levado
a votação e aprovado por voto de lideranças, ou seja, sem um debate amplo
dos membros que compõe o Poder Legislativo.

De certa forma, esse procedimento agilizou a aprovação do diploma


concursal, porém, permitiu em seu texto algumas incorreções que podem
confundir os mais desavisados, razão de ser dessas considerações iniciais
a respeito dos recursos.

Mais especificamente no processo de falência, que é o que nos


interessa no presente momento, prevê o legislador que:

“Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações: (...)” (grifamos).

Veja do dispositivo legal transcrito, que o legislador se refere a


“sentença” que decreta a falência. Ora, considerando que sentença é a
decisão definitiva que coloca fim ao processo em determinada instância,
portanto, decisão terminativa de feito, sabe-se que neste momento do
processo de falência não teremos o seu encerramento, o que nos força a
concluir que a decisão que decreta a falência é mera decisão interlocutória,
indevidamente chamada de sentença no dispositivo transcrito.

Tal erro é perceptivo por mera interpretação literal, já que no


parágrafo único do mesmo dispositivo o legislador já substitui o termo
“sentença” por “decisão”, como se vê:

“Parágrafo único - O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra


da decisão que decreta a falência e a relação de credores.” (grifamos).
Em seguida, no artigo 100 que prevê os recursos aplicáveis, explicita
o legislador os instrumentos recursais e afirma o equívoco anteriormente
apontado:

“Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença


que julga a improcedência do pedido cabe apelação.” (grifamos).

Posto isto, sanado o equívoco fica melhor compreensível a previsão


do artigo 99 da LRE, nos permitindo a análise do sistema recursal, haja vista
não termos detectado outros erros da mesma natureza.

2. Procedimento falimentar com suas decisões

Considerando as três fases anteriormente mencionadas, é possível


se verificar em cada uma delas as principais decisões, disciplinando,
portanto, os recursos cabíveis:

a) procedência do pedido: havendo a procedência do pedido,


o processo irá prosseguir na mesma instância com sua fase falimentar, o
que afirma a condição de decisão interlocutória, cabendo a aplicação do
recurso de agravo (artigo 100, LRE);

b) improcedência do pedido: havendo a improcedência do


pedido, o juiz está esgotando a sua jurisdição naquele processo, o que
afirma a condição de decisão terminativa de feito, portanto, sentença,
cabendo a aplicação do recurso de apelação (artigo 100, LRE).

Na fase falimentar, sem prejuízo das várias decisões


interlocutórias que possa o juiz proferir em cada uma das etapas processuais
que ocorrerão, com a interposição do recurso de agravo, teremos o seu
encerramento culminando com uma única espécie de decisão que é a que
coloca fim a fase falimentar, assim disposto no artigo 156 da LRE:
“Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por
sentença.”
(...)
“Parágrafo único. A sentença de encerramento será publicada por edital e
dela caberá apelação.”

Uma vez que tal decisão é uma sentença, bem explicita o legislador
que o recurso aplicável é o de apelação.

A última fase do processo, denominada de fase pós-falimentar, é


uma etapa autônoma do processo de falência que nasce com o pedido de
extinção das obrigações, que, após instrução processual culminará com a
sentença extinguindo ou não as obrigações.

A extinção das obrigações se dá em uma das hipóteses do artigo


158 da LRE:

“Art. 158. Extingue as obrigações do falido:


I – o pagamento de todos os créditos;
II – o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50%
(cinquenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido
o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para
tanto não bastou a integral liquidação do ativo;
III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da
falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto
nesta Lei;
IV – o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da
falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta
Lei.”

Verificada, portanto, uma dessas hipóteses, pode o falido requerer a


extinção das obrigações que serão declaradas por sentença e, por via de
consequência, sujeitas ao recurso de apelação:
“Artigo 159. Configurada qualquer das hipóteses do artigo 158 desta Lei, o
falido poderá requerer ao juízo da falência que suas obrigações sejam
declaradas extintas por sentença.”

3. Efeito dos recursos

Os citados recursos, são todos recebidos dentro dos procedimentos


previstos no Código de Processo Civil, portanto são processados segundo o
regime processual geral e recebidos em seu efeito meramente devolutivo,
cabendo ao relator, entendo cabível, a aplicação do efeito suspensivo como
lhe faculta a lei processual civil.

Os crimes concursais
Direito concursal e crime falimentar

É de se considerar que o processo de falência e de recuperação,


portanto, o sistema concursal, vai além de uma relação privada entre
credores e devedor, haja vista que de seu trâmite é possível se constatar
irregulares capituladas pelo legislador, na própria LRE, como crime.

No regime do Decreto-Lei nº 7.661/45 a apuração de eventual crime


falimentar se fazia dentro dos próprios autos da falência, então tínhamos um
único processo judicial com seus possíveis desmembramentos.

Diferentemente do regime anterior, no regime atual (LRE) a apuração


de crime falimentar se faz de forma independente do processo falimentar.
Caso o Ministério Público verifique indícios da prática de crime falimentar,
poderá de imediato oferecer denúncia criminal, ou, não estando
suficientemente esclarecidos os fatos, poderá requerer a instauração de
inquérito policial para maiores apurações.
Além do Ministério Público, qualquer credor, entendendo presentes
elementos caracterizadores da prática de crime falimentar, poderá oferecer
queixa-crime, caso o Ministério Público ainda não tenha oferecido a
correspondente denúncia.

Tal situação se torna mais evidente em três hipóteses:

a) falência fraudulenta: sendo a falência requerida com base no


artigo 94, III, da LRE, ou seja, falência fundamenta na prática de atos
falimentares, é bom possível que na instrução da fase pré-falimentar do
processo, já se identifique elementos que possam permitir uma eventual
denúncia criminal por parte do Ministério Público ou apresentação de que ixa
crime por parte dos credores;

b) perícia contábil: em caso de perícia contábil na falência ou


recuperação, ou mesmo pela simples análise dos documentos contábeis,
podem surgir indícios que levem a instauração de inquérito policial com a
consequente denúncia criminal;

c) denúncia de terceiros: e a última situação que pode levar a


constatação seria a denúncia formulada por terceiro sobre eventual
conhecimento de atos fraudulentos.

2. Comportamentos criminais

De forma a melhor estruturar os comportamentos criminais do regime


concursal o legislador inseriu no texto da LRE as disposições penais
materializando os seguintes comportamentos praticados na falência ou
recuperação, tipificados como crimes:
a) manipulação contábil: a manipulação contábil de forma indevida
ou ilegal vem capitulada no artigo 168 da LRE “Praticar, antes ou depois da
sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou
homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou
possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar
vantagem indevida para si ou para outrem”. Tal situação fica mais clara ainda
quando verificamos as hipóteses de aumento da pena, assim previstas:
“§1o A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente: I –
elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos; II – omite, na
escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar,
ou altera escrituração ou balanço verdadeiros; III – destrói, apaga ou
corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou
sistema informatizado; IV – simula a composição do capital social; V –
destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de
escrituração contábil obrigatórios.”;

b) contabilidade paralela: popularmente conhecido como “caixa


dois”, a contabilidade paralela vem assim prevista no “§2 o A pena é
aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve ou
movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela
legislação”;

c) violação de sigilo empresarial: a violação é tipificada como


crime nos seguintes termos: “Artigo 169. Violar, explorar ou divulgar, sem
justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou
serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade
econômica ou financeira”;

d) divulgação de informações falsas: compreendida como “Artigo


170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre
devedor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter
vantagem”;

e) Indução a erro: induzir a erro significa “Artigo 171. Sonegar ou omitir


informações ou prestar informações falsas no processo de falência, de
recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a
erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia-geral de credores,
o Comitê ou o administrador judicial”;

f) Favorecimento de credores: o favorecimento de credores vem


tipificado como “Artigo 172. Praticar, antes ou depois da sentença que
decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar plano de
recuperação extrajudicial, ato de disposição ou oneração patrimonial ou
gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou mais credores em
prejuízo dos demais”;

g) conluio: o conluio é um desmembramento do favorecimento de


credores, assim disposto “Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o
credor que, em conluio, possa beneficiar-se de ato previsto no caput deste
artigo”;

h) Desvio, ocultação ou apropriação de bens: situação bem típica


nos casos de falência é configurada como “Artigo 173. Apropriar-se, desviar
ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob recuperação judicial ou à
massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta pessoa”;

i) Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens: vem


especificado como “Artigo 174. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que
sabe pertencer à massa falida ou influir para que terceiro, de boa-fé, o
adquira, receba ou use”;

j) Habilitação ilegal de crédito: também muito comum nos processos de


falência e recuperação, está previsto como “Artigo 175. Apresentar, em
falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial, relação de
créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsa, ou juntar a elas título
falso ou simulado”;

k) Exercício ilegal de atividade: trata-se de situação atípica


comparada as demais, haja vista que não guarda relação direta com a
prática de atos falimentares e sim com o exercício da atividade empresarial
em si, mas com o mesmo potencial de lesar direito de terceiros, assim
previsto “Artigo 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou
incapacitado por decisão judicial, nos termos desta Lei”;

l) Violação de impedimento: é um crime que mostra bem o contexto


do crime falimentar, pois além de envolver o devedor e o credor como nos
casos anteriores, envolvem também os que se beneficiarem de atos do
próprio processo, independentemente de quem seja, como prevê o
legislador “Artigo 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público,
o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o
oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de
massa falida ou de devedor em recuperação judicial, ou, em relação a estes,
entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham atuado nos
respectivos processos”;

m) Omissão dos documentos contábeis obrigatórios: essa


situação passa a ser muito mais uma imposição do dever ser do que
necessariamente de ato anteriormente planejado, como se vê “Artigo 178.
Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença
que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o
plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil
obrigatórios”.

Assim estruturados, esses são os tipos penais aplicáveis a falência


e a recuperação.

3. Regras gerais

De forma a normatizar a apuração dos atos falimentares que


eventualmente geram o indiciamento criminal, o legislador estabeleceu
algumas regras gerais importantes para melhor compreensão do tema, são
elas:
a) concurso: como a empresa é um complexo de bens e pessoas,
é possível que os atos tipificados como crimes praticados na constância do
exercício empresarial envolva a participação de mais de uma pessoa. Assim
sendo, assim dispõe o legislador “Artigo 179. Na falência, na recuperação
judicial e na recuperação extrajudicial de sociedades, os seus sócios,
diretores, gerentes, administradores e conselheiros, de fato ou de direito,
bem como o administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido para
todos os efeitos penais decorrentes desta Lei, na medida de sua
culpabilidade”;

b) título executivo: o legislador prevê que “Artigo 180. A sentença


que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a
recuperação extrajudicial de que trata o artigo 163 desta Lei é condição
objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei”;

c) efeitos: como os crimes falimentares são crimes complexos, ou


seja, não envolvem apenas o ato em si, mas também o exercício de uma
atividade que pode lesar coletivamente a sociedade, o legislador ampliou
seus efeitos que vão além dos meramente criminais, assim dispondo “Artigo
181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei:

I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;

II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de


administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei;

III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de


negócio.

§1 o Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos
após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela
reabilitação penal.
§2 o Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado o
Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para
impedir novo registro em nome dos inabilitados”;

d) prescrição: a prescrição dos crimes falimentares segue as regras


gerais previstas no Código Penal “Artigo 182. A prescrição dos crimes
previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da
decretação da falência, da concessão da recuperação judicial ou da
homologação do plano de recuperação extrajudicial. Parágrafo único. A
decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja contagem
tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a
homologação do plano de recuperação extrajudicial”.

e) competência: como dito anteriormente, com o desmembramento


dos dois processos, a competência passa a ser do juiz criminal da mesma
comarca onde esteja sendo apurada a falência ou a recuperação, como
observa o “Artigo 183. Compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha
sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou homologado
o plano de recuperação extrajudicial, conhecer da ação penal pelos crimes
previstos nesta Lei”;

f) legitimidade: inicialmente, por se tratar de ação penal pública por


expressa previsão legal, a legitimidade é do Ministério Público, mas
subsidiariamente também poderá o interessado propor a ação: “Artigo 184.
Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o artigo 187, §1 o, sem
que o representante do Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor
habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação penal privada
subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses”;

g) procedimento sumário: no tocante ao procedimento o legislador


remete ao procedimento sumário do Código de Processo Penal “Artigo 185.
Recebida a denúncia ou a queixa, observar-se-á o rito previsto nos artigos
531 a 540 do Decreto-Lei n o 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal”;

h) momento: no que pertine ao momento, o crime falimentar pode


ter seu surgimento a qualquer momento durante e depois do processo
concursal “Artigo 186. No relatório previsto na alínea e do inciso III
do caput do artigo 22 desta Lei, o administrador judicial apresentará ao juiz
da falência exposição circunstanciada, considerando as causas da falência,
o procedimento do devedor, antes e depois da sentença, e outras
informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e de outros
responsáveis, se houver, por atos que possam constituir crime relacionado
com a recuperação judicial ou com a falência, ou outro delito conexo a estes.
Parágrafo único. A exposição circunstanciada será instruída com laudo do
contador encarregado do exame da escrituração do devedor. Artigo 187.
Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação
judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime
previsto nesta Lei, promoverá imediatamente a competente ação penal ou,
se entender necessário, requisitará a abertura de inquérito policial. §1 o O
prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo artigo 46 do Decreto-
Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, salvo
se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a
apresentação da exposição circunstanciada de que trata o artigo 186 desta
Lei, devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias. §2 o Em
qualquer fase processual, surgindo indícios da prática dos crimes previstos
nesta Lei, o juiz da falência ou da recuperação judicial ou da recuperação
extrajudicial cientificará o Ministério Público”;

i) regras subsidiárias: apesar de se tratar de crimes previstos em


lei especial (LRE), subsidiariamente utilizam-se as regras do Código de
Processo Penal: “Artigo 188. Aplicam-se subsidiariamente as disposições do
Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei”.
Procedimento concursal para
instituições financeiras
Excluídos do regime concursal

Já observamos anteriormente que a Lei nº 11.101/05 em seu artigo


2º excluiu expressamente de sua abrangência as empresas públicas,
sociedades de economia mista, instituições financeiras públicas ou privadas,
cooperativas de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar,
sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade
seguradora e sociedade de capitalização. Assim expressamente previsto:

“Art. 2o Esta Lei não se aplica a:

I – empresa pública e sociedade de economia mista;

II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,


consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de
plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores”

Diante de tal previsão, resta a necessidade de se entender o porque


da exclusão de tais entidades, o que passamos a fazer detidamente, como
se observa a seguir:

a) empresas estatais: as empresas estatais, ou seja, as que


possuem a participação do Estado na composição de seu capital social, são
constituídas na forma de empresa pública, quando o Estado detenha 100%
(cem por cento) de seu capital social ou sociedade de economia mista
quando o Estado detenha a maior parte do capital com direito a
voto. Ocorre, que por possuírem a participação do Estado, só podem ser
criadas, modificadas ou extintas através de autorização legislativa, o que
impede, portanto, a aplicação do regime ordinário da LRE;
b) instituição financeira, cooperativa de crédito, consórcio e
sociedade de capitalização: exceto o caso da cooperativa de crédito que
foi inserida nesse contexto por um equívoco, já que não são empresas, as
demais empresas previstas nessa exceção são regulamentadas e
fiscalizadas pelo Banco Central que atua como agência reguladora,
possuindo sistema concursal próprio. As sociedades de capitalização
observam o regime previsto no Decreto nº 22.456/33 e subordinam -se ao
Banco Central, aplicando-se subsidiariamente os dispositivos da Lei nº
6.024/74. No caso das instituições financeiras trataremos no tópico seguinte
da sua regulamentação;

c) entidade de previdência e seguradora: a exemplo das


entidades anteriores, as entidades de previdência e as seguradoras
possuem submissão a SUSEP – Superintendência de Seguros Privados que
é a agência reguladora responsável pelo setor, dispondo também de sistema
concursal próprio. As sociedades seguradoras se submetem ao regime
estabelecido pelo Decreto-Lei nº 73/66 e pela Lei nº 10.190/02;

d) operadora de plano de saúde: as operadoras de plano de saúde


também possuem sistema concursal próprio, vinculado a ANS – Agência
Nacional de Saúde. As sociedades operadoras de planos de saúde se
submetem ao regime previsto na Lei nº 9.656/98 e subordinam-se a Agência
Nacional de Saúde.

Assim sendo, tais entidades terão sua liquidação regulada por regime
próprio, e no que couber, aplicam-se subsidiariamente as regras previstas
nos artigos 1102 a 1112 do Código Civil.

2. Instituições financeiras e similares


As instituições financeiras, as cooperativas de crédito e consórcios,
se sujeitam ao regime previsto na Lei nº 6.024/74 que prevê a possibilidade
de intervenção do Banco Central do Brasil para o saneamento da sociedade
ou cooperativa e, se for o caso determinar e processar a sua liquidação
extrajudicial.

A liquidação especial administrada pelo Banco Central prevê as


seguintes etapas:

a) intervenção: a intervenção ocorrerá sempre que se verificar uma


das seguintes hipóteses: a entidade sofrer prejuízo decorrente de má
administração, que sujeite a riscos os seus credores; forem verificadas
reiteradas infrações a dispositivos da legislação bancárias não regularizadas
após as determinações do Banco Central; quando da ocorrência de atos de
insolvência ou fraudulentos contra credores;

b) nomeação de interventor: a intervenção nasce de um pedido de seu


administrador caso haja expressa autorização do ato constitutivo ou de ofício
pelo próprio Banco Central, terá vigência de 06 (seis) meses prorrogáveis
por mais 06 (seis) meses se for necessário e será conduzida por interventor
nomeado com plenos poderes de gestão, exceto no que pertine em
alienação ou oneração de patrimônio da entidade sob intervenção e para
contratação ou demissão de funcionários, quando então exige prévia e
expressa autorização do Banco Central;

c) efeitos da intervenção: de forma a permitir a condução dos negócios,


uma vez decretada a intervenção, passam a operar de imediato os seguintes
efeitos: suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas; suspensão da
fluência dos prazos das obrigações vincendas anteriormente contraídas;
inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação;

d) regime de intervenção: o processo de intervenção se inicia com a sua


decretação e tem inicio efetivo com a investidura do interventor que deverá
arrecadar todos os livros e documentos econômicos e contábeis da entidade
e levantar seu balanço patrimonial e de resultados com o respectivo
inventário. Uma vez feita à arrecadação e análise dos documentos,
apresentará no prazo de 60 (sessenta) dias relatório circunstanciado de
exame da escrituração e indicação de atos comissivos ou omissos que
tenham provocado danos, bem como proposta justificada de medidas
adotadas que lhe pareçam convenientes. A partir daí pode o Banco Central:
determinar a cessação da intervenção; manter a instituição sob intervenção;
decretar a sua liquidação extrajudicial ou autorizar o interventor a requerer
sua falência;

e) extinção da intervenção: o regime de intervenção cessa quando os


interessados oferecem ao Banco Central garantias de pleno funcionamento,
quando a situação originária estiver normalizada ou quando for determinada
a liquidação extrajudicial da entidade;

f) liquidação extrajudicial: a liquidação extrajudicial é feita através


de processo administrativo que tem inicio com o decreto do Banco Central
em cujo ato será nomeado o liquidante para início efetivo dos trabalhos. O
liquidante terá amplos poderes de gestão e tomará todas as medidas que
julgar necessárias para a condução do processo. De imediato a decretação
de liquidação gerará os seguintes efeitos: suspensão das ações e execuções
patrimoniais; impedimento de propositura de ações patrimoniais; vencimento
antecipado de todas as obrigações da entidade liquidanda; extinção das
cláusulas penais em desfavor da liquidanda por ocasião de contratos
anteriormente firmados; não fluência de juros e correção monetária contra o
passivo; interrupção de prazos prescricionais de responsabilidade da
liquidanda. Iniciados os trabalhos o liquidante fará a arrecadação de bens,
direitos e documentos que compõe o acervo e levantará todos os credores
para composição do passivo. Os bens levantados serão avaliados e
vendidos para o cumprimento das obrigações seguido de prestação de
contas do liquidante;

g) fim da liquidação extrajudicial: a liquidação extrajudicial cessará a


qualquer momento se: os interessados mediante apresentação de garantia
considerada idônea pelo Banco Central retomarem a atividade; com a
aprovação das contas finais apresentadas pelo liquidante e a respectiva
prova de baixa do registro da entidade liquidanda ou com a decretação de
sua falência;

h) falência: uma controvérsia estabelecida com a Lei nº 11.101/05,


diz respeito exatamente a possibilidade ou não de falência pelas instituições
financeiras, haja vista que o artigo 2º da citada lei afastou expressamente
tais entidades de sua incidência, porém não revogou os artigos 1º e 19 da
Lei nº 6.024/74. Como a doutrina sobre o novo diploma falimentar ainda é
escassa, poucos posicionamentos temos a respeito do assunto, porém,
visão interessante expressa Gian Maria Tosetti (in Waldo Fazzio Junior:
2005, p. 55): “superada a fase de intervenção, aceita a liquidação
extrajudicial como fase do processo de eliminação da instituição do mercado
e, desaparecida as razões de interesse público motivadoras do
procedimento de liquidação extrajudicial, nada obsta, ao liquidante
devidamente autorizado, requerer a falência da instituição”.

Dessa forma, podemos concluir que uma vez verificada na fase de


liquidação extrajudicial qualquer tipo de fraude, poderá o liquidante requerer
a falência da instituição, pois saindo da esfera do procedimento
administrativo conduzido pelo Banco Central, poderá, agora perante o Poder
Judiciário, se apurar a insolvência empresarial e simultaneamente a eventual
conduta criminal.

A falência requerida pelo próprio


devedor
Insolvência empresarial

Como já afirmamos anteriormente, a insolvência empresarial é de


relevante importância para o cenário nacional, haja vista ser a atividade
empresarial um dos principais fatores de desenvolvimento econômico em
uma sociedade capitalista.
O legislador brasileiro ao contemplar os princípios da ordem
econômica na Constituição Brasileira (artigo 170), elegeu entre eles a livre
iniciativa como força motriz da economia, e não o fez por menos, pois quanto
mais forem as fontes produtoras, mais o regime econômico se torna
sustentável impulsionando a economia e o desenvolvimento do país.

Por outro lado, a insolvência empresarial é um tema que por muito


tempo foi tratado em nosso ordenamento como se avizinhasse com a má-fé,
e não apenas como possível contingência econômica.

Nos dias atuais, dado a compreensão da empresa no cenário


econômico-capitalista, a insolvência passou a ser vista não mais como ato
de má-fé, e sim como possibilidade real de um momento econômico.

Por conta de tal compreensão, é que a insolvência empresarial foi


revista no atual sistema concursal brasileiro, e a recuperação de empresas
tornou-se a regra do sistema e a falência foi guindada a condição de
exceção.

Já vimos também, que a garantia da falência como exceção passa


por limites econômicos, já que a divida para autorizar um pedido de falência
direta deva ser superior ao equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos
(artigo 94, I, LRE), além, é claro, da possibilidade do empresário-devedor
requerer, como meio de resposta, no curso de um processo de falência, sua
recuperação judicial (artigo 95, LRE).

Por outro lado, os negócios jurídicos possuem lastro no princípio da


boa-fé (artigo 422 do Código Civil), o que faz com que, o empresário também
se coloque em uma condição de analisar as consequências de seus atos
para com terceiros.

Imbuído do princípio da boa-fé, percebendo o empresário que não


reúne mais condições para saldar seus compromissos, seja com
disponibilidade econômica, seja com alienação patrimonial e, considerando
que a recuperação já não será mais suficiente para a recuperação de seu
negócio, não terá outro caminho senão o da autofalência, ou falência
requerida pelo próprio devedor como prefere o legislador (artigo 105, LRE).

2. Autofalência

Considerando a explanação anterior, consiste a autofalência em um


pedido falimentar realizado pelo próprio devedor, assim previsto pelo
legislador:

“Artigo 105 – O devedor em crise econômico-financeira que julgue não


atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer
ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de
prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes
documentos: (...)” (LRE).

Com isso, é possível deduzirmos duas situações próprias que podem


levar o empresário a requerer sua própria falência:

a) insolvência insanável: a primeira hipótese seria a de ausência


de condições econômicas que pudessem permitir ao empresário a
superação da crise econômica, ainda que através de eventual concessão de
recuperação judicial;

b) ausência de requisitos para a recuperação judicial: já vimos


anteriormente que para a concessão da recuperação judicial necessário se
faz o preenchimento dos requisitos do artigo 48 da LRE, quais sejam: -
empresário regular há mais de dois anos; - não ser falido e, se o foi, estejam
declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades dai decorrentes; - não ter se beneficiado da concessão de
outra recuperação judicial há menos de 5 (cinco) anos ou outra recuperação
especial para micro e pequenas empresas há menos de 8 (oito) anos; não
ter condenação por crime falimentar. Então, não tendo o empresário como
solver suas obrigações sem a concessão do benefício da recuperação
judicial, mas não dispondo de condições para comprovar os requisitos
legalmente exigidos, terá como única saída, em respeito ao princípio da boa -
fé, a autofalência.

3. Requisitos

O pedido de autofalência possui natureza jurídica de ação e deverá


contemplar os requisitos do artigo 319 do CPC, no que for pertinente. Além
disso, deverá ainda respeitar os requisitos específicos previstos no artigo
105 da LRE, a saber:

I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos


exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido,
confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicá vel e
compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de
resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último
exercício social; d) relatório do fluxo de caixa;

II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância,


natureza e classificação dos respectivos créditos;

III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva
estimativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade;

IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em


vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e
a relação de seus bens pessoais;

V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem


exigidos por lei;

VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com


os respectivos endereços, suas funções e participação societária.
No tocante a tais exigências temos uma análise crítica possível a se
tecer, haja vista que do ponto de vista burocrático, é de se observar que o
legislador apresente um rol de condições a serem cumpridas que são
burocráticas e até geram custos no seu cumprimento, o que poderia se tornar
incompatível com a situação de alguém que vai ao Poder Judiciário
confessar uma insolvência insanável. Esse nível de exigência nos coloca
uma questão: o juiz, diante da ausência de cumprimento de tais requisitos
e, considerando a confessa insolvência empresarial insanável, extinguiria a
ação? (artigo 106, LRE).

Analisando a questão sob o prisma da hermenêutica jurídica,


entendemos que seria o caso de aplicação da interpretação teleológica e
pensar que a intenção do legislador foi o de evitar que aquele empresário
possa aumentar o seu nível de endividamento prejudicando o mercado e a
si próprio. Pensando assim, somos forçados a entender que o juiz daria
prosseguimento ao pedido.

4. Processamento

O processamento do pedido de autofalência respeitará, no que


couber, o processamento da falência em qualquer uma de suas modalidades
(artigo 94, LRE).

Logo, analisamos o processamento dentro das fases anteriormente


previstas para o processamento da falência:

a) fase pré-falimentar: a fase pré-falimentar do pedido de


autofalência se resumiria a análise dos requisitos, eventual pedido de
emenda de vícios que pudessem ser sanados, seguido do julgamento em
decisão que contemple os requisitos previstos no artigo 99 da LRE;
b) fase falimentar: a fase falimentar contempla exatamente os
mesmos meios e procedimentos previstos para a falência (artigos 102 a 153,
LRE);

c) fase pós-falimentar: a exemplo do que ocorre na fase falimentar,


a fase pós-falimentar que declara a extinção das obrigações do falido
(artigos 154 a 160, LRE), respeita os mesmos trâmites e procedimentos da
falência.

Procedimentos falimentares
Procedimento falimentar

Os processos falimentares tramitam de acordo com o procedimento


especial previsto na Lei nº 11.101/05 – LRE.

O andamento do processo de falência terá uma variação de acordo com a


espécie de falência tratada (insolvência, fraudulenta, autofalência), no
entanto, em qualquer uma delas, observar-se-á 03 (três) fases distintas em
seu procedimento: - pré-falimentar; - falimentar, e, - pós–falimentar.

A fase pré-falimentar inicia-se com o pedido e vai até a decretação ou não


da falência (artigos 94 a 101, LRE).

A fase falimentar inicia-se com a decretação da falência e vai até o


pagamento dos credores (artigos 102 a 153, LRE).

E a fase pós-falimentar inicia-se após o pagamento dos credores e vai até


a extinção das obrigações do falido (artigos 154 a 160, LRE).

2. Fase pré-falimentar
O pedido da falência deverá ser dirigido ao juízo competente (artigo 3º, LRE),
respeitando os requisitos gerais do artigo 319 do CPC, demais condições da
ação e pressupostos processuais, devendo observar os requisitos
específicos de acordo com o fundamento da ação.

Caso o pedido seja formulado com fundamento na insolvência do devedor


(artigo 94, I, LRE), além dos requisitos anteriormente mencionados, deverá
ainda o credor instruir seu pedido com o original do título executivo vencido
ou cópia autenticada quando se tratar de título juntado em outro processo,
bem como o respectivo instrumento de protesto.

Lembramos que a falência por insolvência exige que a dívida tenha valor
superior ao equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos, podendo para
tanto, reunir-se mais de um título do mesmo credor ou formalizar o pedido
através de litisconsórcio ativo (artigo 94, §1º, LRE).

Tendo o credor intentado anteriormente ação de execução não satisfeita por


ausência de pagamento ou de nomeação de bens a penhora (artigo 94, II,
LRE), além dos requisitos anteriormente mencionados deverá juntar ainda
certidão de objeto e pé dos autos da execução.

Sendo a falência requerida pela prática de atos falimentares, ou seja, na


prática de fraude (artigo 94, III, LRE), deverá o credor além de observar os
requisitos anteriormente mencionados, instruir seu pedido com o
esclarecimento dos atos praticados pelo devedor juntando as respectivas
provas que houver, ou requerendo as necessárias para comprovação do
alegado.

Além do mais, deverá o credor ainda provar tal condição, juntando o


respectivo título de crédito, sem que para tanto precise estar vencido e
protestado.

Caso o pedido de falência seja intentado pelo próprio devedor (artigo 105,
LRE), deverá observar além dos requisitos anteriormente citados, a
necessidade de esclarecer a situação econômica que o levou à insolvência,
bem como a inviabilidade de se submeter ao regime de recuperação,
devendo ainda apresentar os seguintes documentos: demonstrações
contábeis dos últimos 03 (três) anos consubstanciada em balanço
patrimonial, demonstração de resultados acumulados, demonstração do
resultado desde o último exercício social e relatório do fluxo de caixa;
relação nominal dos credores; relação de bens e direitos devid amente
comprovados; prova da condição de empresário ou quando irregular a
indicação dos sócios e de bens pessoais; livros e documentos contábeis
obrigatórios; e, relação dos administradores nos últimos cinco anos.

3. Legitimidade

Possui legitimidade ativa para pleitear a falência com base no artigo 94 da


LRE, o cônjuge sobrevivente, o herdeiro, o inventariante, o sócio do devedor
ou qualquer credor. Na hipótese de credor empresário, deverá ele comprovar
através de certidão, a sua regularidade perante a Junta Comercial. Sendo o
credor não domiciliado no Brasil, deverá ele apresentar caução relativa a
custas e possível indenização. Caso o pedido seja pleiteado com
fundamento no artigo 105 da LRE, o legitimado será o próprio empresário -
devedor.

A legitimidade passiva do pedido de falência será sempre do empresário


individual ou da Sociedade Empresária, excluídos àqueles previstos no
artigo 2º da LRE.

4. Citação

A citação será feita nos moldes da lei processual civil, ou seja, observar -se-
á a forma de citação para as execuções cíveis (oficial de justiça) e concederá
prazo de 10 (dez) dias para a defesa do empresário-devedor. Caso o
empresário-devedor não seja localizado, poderá ser realizada a citação
editalícia.

A justificativa de se utilizar os meios de citação próprios para a


execução cível se compreende em razão da natureza jurídica dos 02 (dois)
instrumentos judiciais, haja vista que, tanto a execução quanto a falência
são institutos concursais de crédito.

Cumpre lembrar ainda, que uma vez realizada a citação válida, o


prazo de 10 (dez) dias próprio para defesa é utilizado para qualquer meio
cabível pelo falido, ou seja, interposição de pedido de recuperação judicial
ou a realização de depósito elisivo, além da própria contestação.

5. Defesa

Na defesa do empresário-devedor, poderá ser feito o depósito elisivo,


depósito elisivo com contestação, pedido de recuperação judicial,
contestação ampla ou restrita.

No prazo de defesa, ou seja, 10 (dez) dias, o empresário-devedor que tenha


a sua falência requerida por inadimplência (artigo 94, I e II, LRE) poderá
fazer o depósito elisivo consistente no valor da dívida, acrescido de juros,
correção monetária, honorários advocatícios e custas processuais, quando
então, não poderá ser decretada a sua falência, sendo extinto o processo
sem julgamento do mérito.

O depósito elisivo corresponde ao pagamento da dívida, razão pela qual se


justifica a extinção da ação sem julgamento do mérito. O mérito só seria
apreciado no caso de se verificar os argumentos contidos no pedido
falimentar, o que se afasta quando ocorre o pagamento do principal com
seus respectivos acréscimos.
Deve se considerar também, que o pagamento afasta a decretação da
falência requerida apenas por insolvência, prosseguindo-se o feito na
hipótese de falência requerida com base na prática de atos falimentares, ou
seja, fraudulenta.

Sendo a falência fundamentada ainda na inadimplência (artigo 94, I e II,


LRE), poderá o empresário-devedor concomitantemente apresentar
contestação garantida por depósito elisivo, situação em que sua falência não
poderá ser decretada, porém, o mérito deverá ser julgado. Sendo
improcedente o pedido, ou seja, não subsistindo os motivos apresentados
pelo credor, o empresário levantará a importância feita a título de depósito
elisivo e o processo será extinto com julgamento de mérito, porém, sendo
procedente o pedido, o valor será levantado pelo autor (artigo 98, §único,
LRE).

Ainda dentro do prazo de defesa, o empresário-devedor poderá formular em


separado pedido de recuperação judicial (artigo 95, LRE). Embora não haja
no dispositivo nenhuma ressalva, entendemos que neste caso cabe
aplicação analógica do disposto no §único do artigo 98, LRE, viabilizando o
pedido de recuperação tão somente aos pedidos de falência com
fundamento no artigo 94, I e II da LRE, sendo, portanto, incabível no caso
de falência fundada no artigo 94, III, LRE.

No tocante a contestação, poderá ser esta ampla ou restrita:

a) contestação restrita: quando o pedido formulado por inadimplemento


(artigo 94, I, LRE) o empresário-devedor poderá alegar falsidade do título;
prescrição; nulidade de obrigação ou do título; pagamento da dívida;
qualquer hipótese de extinção ou suspensão da obrigação; vício em protesto
ou em seu instrumento; pedido de recuperação judicial em andamento ou no
prazo da contestação; cessação formal das atividades empresariais por
período superior a 02 (dois) anos; morte de devedor de sociedade anônima
já liquidada ocorrida há mais de 01 (um) ano;
b) contestação ampla: quando a falência fundada nos incisos II e III do
artigo 94 da LRE, não há limite para os argumentos de defesa, considerada,
portanto, como de cognição ampla.

6. Decisão

Após análise do pedido e da contestação, caso não haja necessidade de


instrução processual, o juiz prolatará decisão decretando ou não a falência
do empresário-devedor.

Sendo declarada a improcedência extingue-se o feito com julgamento do


mérito. Caso haja a verificação de requerimento de falência por dolo, na
própria sentença o juiz condenará o autor por perdas e danos, liquidando -se
o valor em fase de liquidação de sentença (artigo 101, LRE).

A decisão que julgar procedente o pedido de falência decreta a quebra da


empresa e abrirá a fase falimentar do processo (artigo 99, LRE). Aqui cabe
uma crítica, haja vista que conforme se verifica do dispositivo mencionado,
o legislador se refere a “sentença”, no entanto, por se tratar de decisão não
terminativa de feito, pois não põe fim ao processo naquela instância, ao
contrário, inaugura a fase falimentar, possui natureza jurídica de decisão
interlocutória, motivo pelo qual inadequado é o uso do termo “sentença”.

Sendo a decisão procedente, conforme asseveramos anteriormente,


propiciará a sequência dos autos em sua fase falimentar e o recurso cabível
é o de agravo. No entanto, sendo improcedente o pedido, por se tratar de
decisão terminativa, caberá recurso de apelação (artigo 100, LRE).

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