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“Existe uma crença generalizada segundo a qual o marxismo e o liberalismo são sistemas
contrários e mutuamente excludentes. Para que um deles exista, é necessário neutralizar os
axiomas básicos do outro. Assim se infere, por exemplo, das declarações do Foro de São Paulo
e do Fórum Social Mundial contra o neoliberalismo. Uma das surpresas que tive ao investigar
como funciona a economia foi descobrir a similitude filosófica que todavia existe entre ambas
as correntes, sobretudo por sua cosmovisão materialista. Tanto o marxismo quanto o
liberalismo negam a transcendência do homem, condenando o indivíduo à sua própria
existência finita. Nem para o marxismo nem para o liberalismo existem verdades universais,
tampouco uma concepção absoluta do bem e do mal; só existem valores relativos que
dependem das circunstâncias e das épocas. Outra descoberta foi constatar que o liberalismo
econômico abre passagem ao marxismo, embora o Papa Leão XIII já tivesse advertido sobre
isso em finais do século XIX.” [PEÑA ESCLUSA, 2006, p.39]
Causas do conflito
“Em todo o caso, estamos persuadidos, e todos concordam nisto, de que é necessário, com
medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que
eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida. O século
passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para
eles uma proteção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das
instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se
visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma
concorrência desenfreada. A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas
vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por
homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição. A tudo isto deve acrescentar-se o
monopólio do trabalho e dos papéis de crédito, que se tornaram o quinhão dum pequeno
número de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão
dos proletários.” (RN,2)
A solução socialista
“Os Socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que
possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que
os bens dum indivíduo qualquer devem ser comuns a todos, e que a sua administração deve
voltar para - os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e
esta igual repartição das riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre os
cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante
teoria, longe de ser capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em
prática. Pelo contrário, é sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários,
viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social.” (RN,3)
A propriedade Privada
“De fato, como é fácil compreender, a razão intrínseca do trabalho empreendido por quem
exerce uma arte lucrativa, o fim imediato visado pelo trabalhador, é conquistar um bem que
possuirá como próprio e como pertencendo-lhe; porque, se põe à disposição de outrem as
suas forças e a sua indústria, não é, evidentemente, por outro motivo senão para conseguir
com que possa prover à sua sustentação e às necessidades da vida, e espera do seu trabalho,
não só o direito ao salário, mas ainda um direito estrito e rigoroso para usar dele como
entender. Portanto, se, reduzindo as suas despesas, chegou a fazer algumas economias, e se,
para assegurar a sua conservação, as emprega, por exemplo, num campo, torna-se evidente
que esse campo não é outra coisa senão o salário transformado: o terreno assim adquirido
será propriedade do artista com o mesmo título que a remuneração do seu trabalho. Mas,
quem não vê que é precisamente nisso que consiste o direito da propriedade mobiliária e
imobiliária? Assim, esta conversão da propriedade particular em propriedade coletiva, tão
preconizada pelo socialismo, não teria outro efeito senão tornar a situação dos operários mais
precária, retirando-lhes a livre disposição do seu salário e roubando-lhes, por isso mesmo,
toda a esperança e toda a possibilidade de engrandecerem o seu património e melhorarem a
sua situação.” (RN,4)
O Papa João Paulo II em 1987, dois anos antes da queda do muro de Berlim, apresentou a
encíclica Sollicitudo Rei Socialis (sobre a preocupação social da Igreja) onde reitera o
pensamento de Leão XIII.
“O quadro que acaba de se ser traçado ficaria porém incompleto, se aos «índices económicos e
sociais» do subdesenvolvimento não se juntassem outros índices, igualmente negativos e até
mesmo mais preocupantes, a começar pelos do plano cultural. Tais são: o analfabetismo, a
dificuldade ou impossibilidade de ter acesso aos níveis superiores de instrução, a incapacidade
de participar na construção da própria Comunidade nacional, as diversas formas de exploração
e de opressão — económicas, sociais, políticas e também religiosas — da pessoa humana e
dos seus direitos, as discriminações de todos os tipos, especialmente aquela que é mais odiosa,
a fundada na diferença de raça. Se é para lamentar alguma destas pragas em áreas do Norte
mais desenvolvido, elas são sem dúvida mais frequentes, mais duradouras e mais difíceis de
eliminar nos países em vias de desenvolvimento e menos progredidos.”
“E é forçoso aqui anotar que, no mundo de hoje, entre os outros direitos, é com frequência
sufocado o direito de iniciativa económica. E, no entanto, trata-se de um direito importante,
não só para os indivíduos singularmente, mas de igual modo para o bem comum. A experiência
demonstra-nos que a negação deste direito ou a sua limitação, em nome de uma pretensa
«igualdade» de todos na sociedade, é algo que reduz, se é que não chega mesmo a destruir de
facto, o espírito de iniciativa, isto é, a subjetividade criadora do cidadão. Como resultado
surge, deste jeito, não tanto uma verdadeira igualdade, quanto um «nivelamento para baixo».
Em lugar da iniciativa criadora prevalecem a passividade, a dependência e a submissão ao
aparato burocrático que, como único órgão «disponente» e «decisional» — se não mesmo
«possessor» — da totalidade dos bens e dos meios de produção, faz com que todos fiquem
numa posição de dependência quase absoluta, que é semelhante à tradicional dependência do
operário-proletário do capitalismo. Ora isto gera um sentimento de frustração ou desespero e
predispõe para o desinteresse pela vida nacional, impelindo muitas pessoas para a emigração
e favorecendo em todo o caso uma espécie de emigração «psicológica». Uma situação assim
tem as suas consequências também sob o ponto de vista dos «direitos das nações
singularmente». Com efeito, acontece com frequência que uma nação é privada da sua
subjetividade, ou seja, da «soberania» que lhe compete, no sentido económico e mesmo
político-social e, de certo modo, cultural, porque adstrita a uma comunidade nacional onde
todas estas dimensões da vida estão ligadas entre si.”
CAREY,Henry. La Unidad de la Ley. Traduzido por Peña Esclusa in “El Milagro Económico de
Henry Carey”. Revista Fuerza Productiva. 1999, Nº 3, p. 22.
“A criatividade não é um dom especial concedido a certos gênios, mas sim característica
essencial de todo ser humano. Assim como a ave foi feita para voar e o peixe para nadar, o
homem foi dotado de inteligência para poder criar. Simplesmente há que se lhe assegurar as
condições para que possa fazê-lo, dentre elas a alimentação, a moradia, a educação, a
liberdade e a estabilidade familiar e emocional, produto do carinho de seus entes queridos. A
criatividade não é fruto de alguma ocorrência ou inspiração rara; é antes o resultado de
décadas de esforço, sacrifício e disciplina. Para realizar uma contribuição às ciências ou às
artes, primeiro é necessário ter estudado a fundo a matéria que se deseja dominar, ter
conhecido em detalhes a obra dos predecessores nesse área em particular, o que exige anos
de dedicação. Uma vez dominando o tema, começa a investigação em si, até que – finalmente
– se produzem os primeiros resultados, que se enriquecem com o passar o tempo.” [PEÑA
ESCLUSA, 2006, p.64]
“Assim como alguns países decidem impulsionar o esporte, subsidiando os desportistas e lhes
oferecendo incentivos, e assim como outras nações promovem o turismo, oferecendo bons
serviços ao visitante, do mesmo modo também uma nação pode impulsionar o
desenvolvimento científico e tecnológico e, inclusive, fazer da criatividade humana um ato
consciente, voluntário e generalizado. Porém, para consegui-lo, há que ter em contas as
seguinte considerações: Primeira, o planejamento educacional do Estado deve estar
estreitamente vinculado às metas que se queira obter no setor de ciência e tecnologia.
Segunda, o investigador científico deve contar com recursos suficientes para poder suprir suas
necessidades básicas e assim se dedicar plenamente à sua atividade. [...] Terceira, a
capacidade criativa do ser humano está estreitamente vinculada à atividade cultural que ele
realiza. Por exemplo, o hedonismo e o materialismo prevalecentes na atualidade não são
compatíveis com o desenvolvimento da criatividade, porque a busca do prazer imediato e do
dinheiro fácil, assim como o alvoroço que isso proporciona, impede o cidadão de se concentrar
por longas horas no trabalho de investigação. [...] Quarta, a sociedade deve incentivar a
investigação, reconhecendo ao cientista o seu valor. Resulta revelador que – sem menosprezar
a importância da sétima arte, nem do esporte – as estrelas de cinema e as do futebol sejam
tão admiradas, enquanto os educadores e os pesquisadores científicos sejam relegados a um
plano inferior. Esse fenômeno não é percebido adequadamente nos países ibero-americanos,
pois as máquinas são geralmente importadas ou, no máximo, montadas nacionalmente”
[PEÑA ESCLUSA, 2006, p.64-65]
“Em finais do século XVIII, coincidindo com a Independência dos Estados Unidos (1776), houve
um importante debate entre duas concepções contrapostas do capitalismo: por um lado, a
escola britânica e, por outro, a escola americana. Lembrem-se de que, embora hoje os dois
países compartilhem o mesmo modelo liberal, há duzentos anos declaram guerra justamente
por defenderem esquemas políticos e econômicos contrários. O lado inglês tinha como
principal expoente Adam Smith (1723-1790), com seu livro A riqueza das nações (1776),
enquanto o lado americano tinha como seu guia Alexander Hamilton. Segundo Smith, a
riqueza provém da acumulação de bens materiais, ao passo que, para Hamilton, a principal
fonte de riqueza é o homem mesmo, por sua capacidade de transformar a matéria-prima em
bens úteis, usando seu principal recurso: a criatividade. ” [PEÑA ESCLUSA, 2006, p.47-48]
Alexander Hamilton (1757-1804) é um dos Pais Fundadores dos EUA. Foi um estadista, jurista,
comandante militar, banqueiro e economista. Sendo o fundador do Banco Nacional dos EUA,
do Partido Federalista, da Guarda Costeira dos Estados Unidos e do jornal New York Post.
Como primeiro Secretário do Tesouro nacional apresentou as ideias econômicas das políticas
econômicas do primeiro Presidente dos EUA, George Washington (1732- 1799). Os escritos
políticos de Hamilton são conhecidos pela obra conjunto com John Jay e James Madison, O
Federalista (1864). Mas os seus escritos econômicos são pouquíssimos conhecidos e nem
ensinado em faculdades de Economia entre esses escritos se destacam os escritos sobre
crédito (Janeiro de 1790), sobre banco nacional (dezembro de 1790) e sobre as manufaturas
(dezembro de 1791).
Os Estados Unidos eram um conjunto de Treze Colônias agrarias da América do Norte que
fizeram uma Guerra de Independência (1775-1783) contra a superpotência da época, o Reino
da Grã-Bretanha. E hoje os EUA são a superpotência mundial. Isso dependeu, em grande
parte, da obra de Hamilton. Hamilton apresentou um projeto que serviu para fomentar o
desenvolvimento.
“Hamilton levou a cabo seu plano baseado em três pontos: primeiro, a promoção e a proteção
da indústria nacional; segundo, a emissão de crédito interno para financiar a produção;
terceiro, e o mais importante, o impulso da ciência e da tecnologia. O modelo de Hamilton
serviu para converter um país agrário, produtor de matérias-primas, em um industrializado, o
que foi conseguido em relativo curto prazo.” [PEÑA ESCLUSA, 2006, p.48]
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Os teóricos do poderio cultural, da supremacia ideológico ou do soft power. Não podem deixar
de ter em mente o princípio da “velha” geopolítica de que a assimilação cultural ou ideológica
precede a posterior anexação territorial. O “espaço é vital” e nunca deixou de ser, não existe
poder sem espaço. O imperativo espacial da geopolítica, a ocupação territorial, é um princípio
do poder frequentemente negligenciado por ser arcaico, simples e evidente. A ocupação
territorial é o dado mais explícito de poder e não tem como negar, mas para amenizar o
impacto desse fato geralmente tal ocupação se travesti de missão cultural, auxílio militar com
instalação de bases militares ou tratado econômico. É por intermédio da ocupação econômica
e cultural, aparentemente fluidas e vagas, que vão paulatinamente anexando território. O
expansionismo econômico e cultural também chamado de “neocolonialismo”,
“neoimperialismo” e ainda erroneamente denominado de “hegemonia”. Apesar do problema
terminológico tal expansionismo econômico e cultural das potências do mundo – EUA, Rússia,
China etc – existe. O “imperialismo econômico e cultural” é reversível desde que ele não
conclua o processo de efetiva ocupação territorial. A legitimidade da ocupação territorial é
construída antes nas dimensão culturais e econômicas do que nas dimensão militares e
jurídicas.
“Os dirigentes soviéticos são os primeiros a se convencerem – nada nos permite supor o
contrário – de que todo poder dividido é um poder ameaçado, tanto interna como
externamente. Por isso é que eles são frequentemente bem-sucedidos, em todos os lugares
em que penetram, na conquista do monopólio do poder e no disfarce deste mediante a ficção
jurídica de um Estado com aparência de soberano. [...] O dinheiro russo enviado a Cuba não é
uma ajuda econômica, é o soldo do mercenário, custo sem dúvida, mas que não exclui, muito
pelo contrário, a exploração: relação colonial à antiga, onde a colônia fornece a bucha para o
canhão, escravos vão trabalhar na União Soviética, e alguma matérias-primas em troca de
dinheiro que concede um nível de vida elevado à medíocre classe dos cônsules,, governadores,
administradores e policiais.” [REVEL, 1984, p.68]
A luta ideológica contra o comunismo.
Imperialismo
“Com efeito quanto mais o império é extenso, mais ele é ameaçado, e, consequentemente,
mais ele deve estender-se para deter as novas ameaças. [...]
“Sejamos lógicos: o único meio de conseguir que as fronteiras soviéticas não sejam ameadas,
que elas estejam em plena segurança, é fazer com que não haja absolutamente fronteiras
soviéticas; ou, se se prefere, que o território soviético coincida completamente com o do
planeta. Somente então serão garantidas à humanidade “a paz e a segurança”. [REVEL, 1984,
p.73]
Assim como no Congresso da União Soviética dizia Leonid Brejnev “o triunfo integral do
socialismo no mundo é inelutável” os lacaios do imperialismo neocon Yankee dizem “o triunfo
imperial dos EUA no mundo é inelutável para a democracia Ocidental.”
“As únicas coisas que o impelem a isso são um espírito de sacrifício e de imolação de si
próprio, uma edificante negação de seu desejo de viver, uma santa renúncia à liberdade e à
dignidade, combinados, concordo com um pouquinho de utilitarismo. Porque o interesse dita,
apesar de tudo, esta máxima de bom senso que diz: quando não temos outra escolha, mais
vale lisonjear o senhor do que irritá-lo.” [REVEL, 1984, p.87]
Tal postura política além de implicar uma servidão voluntário e idealismo, ela também implica
um isolacionismo diante das demais nações e um alinhamento automático com os EUA. Onde
tudo que os EUA fizerem será considerado uma ação em defesa do Ocidente.
A guerra ideológica
“A guerra ideológica baseia-se na arte de libertar para sujeitar, ou, mais exatamente,
pretender libertar para sujeitar melhor, pregar a libertação para impor a servidão. Essa
definição convém às ideologias políticas.” [REVEL, 1984, p.171]
Huntington acreditava que, embora a era das ideologias houvesse terminado, o mundo havia
simplesmente retornado a estado normal caracterizado pelos conflitos culturais. Em sua tese,
argumentava que os conflitos no futuro teriam como eixo principal critérios culturais e
religiosos. Postula, ainda, que o conceito de diferentes civilizações, como nível maior de
identidade cultural, se tornará cada vez mais útil para analisar o potencial de conflitos. No
artigo de 1993 na Foreign Affairs, Huntington descreve sua tese.
“It is my hypothesis that the fundamental source of conflict in this new world will not be
primarily ideological or primarily economic. The great divisions among humankind and the
dominating source of conflict will be cultural. Nation states will remain the most powerful
actors in world affairs, but the principal conflicts of global politics will occur between nations
and groups of different civilizations. The clash of civilizations will dominate global politics. The
fault lines between civilizations will be the battle lines of the future. Conflict between
civilizations will be the latest phase in the evolution of conflict in the modern world.”
https://web.archive.org/web/20070629022856/http://www.foreignaffairs.org/19930601faess
ay5188/samuel-p-huntington/the-clash-of-civilizations.html
“Minha hipótese é de que a fonte fundamental de conflitos neste mundo novo não será
principalmente ideológica ou econômica. As grandes divisões da humanidade e a fonte
dominante de conflitos será cultural. Os Estados-nações continuarão a ser os atores mais
poderosos no cenário mundial, mas os principais conflitos da política global ocorrerão entre
países e grupos de diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global.
As linhas falhas entre civilizações serão as frentes de batalha do futuro. O conflito entre
civilizações será a última fase da evolução do conflito no mundo moderno.” [Tradução Livre]
Tal proposta ideológica somente adquire sentido prático na medida em que se compreende o
Brasil como parte, mesmo que qualificada, do mundo ocidental. Partir desse pressuposto
torna-se particularmente sensível num momento histórico em que, sobretudo no mainstream
intelectual anglo-saxão, tornou-se comum assumir a América Latina como parte de uma matriz
cultural diferente (HUNTINGTON, 1996)
No mapeamento feito por Huntington pós-1990, o mundo estaria dividido pelas seguintes
civilizações: Ocidental, Africana, Sínica, Hindu, Islâmica, Japonesa, Latino-americana, Ortodoxa
e outras menores.
A América Latina, em termos mais apropriados, a Ibero América é parte do Ocidente e não
uma “subcivilização” apartada. E o Brasil, em especial, é geograficamente e culturalmente
vinculado ao Ocidente. Os geopolíticos brasileiros, por exemplo: Marechal Mário Travassos
1891-1973, Marechal Juarez Távora (1898- 1975), General Golbery do Couto e Silva (1911-1987)
e o General Meira Mattos (1913-2007). Demonstraram que não existe um antagonismo entre a
busca do Brasil-potência e a defesa da civilização Ocidental. A nossa geopolítica, em parte
significativa, é uma síntese entre a defesa do Ocidente a partir da realização do destino manifesta
do nosso potencial geográfico e vice-versa. Não há antagonismo entre a luta contra as forças
inimigas do Ocidente e a segurança nacional. É no Brasil que fica os pilares da ponte estratégica
que une a América à massa continental afro-euro-asiática. Isso já basta para demonstra a
importância do Brasil dentro do Ocidente.
“O Ocidente é e continuará a ser por muitos anos a civilização mais poderosa. Contudo, seu
poder em relação ao de outras civilizações está declinando. A medida que o Ocidente tenta
impor seus valores e proteger seus interesses, as sociedades não-ocidentais se defrontam com
uma escolha. Algumas tentam emular o Ocidente e a ele se juntar ou “atrelar-se” a ele. Outras
sociedades confucianas e islâmicas tentam expandir seu próprio poder econômico e militar
para resistir e para “contrabalançar” o Ocidente. Desse modo, um eixo central da política
mundial pós-Guerra Fria é a interação do poder e da cultura ocidentais com o poder e a cultura
de civilizações não-ocidentais.” [HUNTINGTON, p.29]
As forças de integração no mundo são reais e são precisamente o que está gerando
forças contrárias de afirmação cultural e consciência civilizacional.
O mundo é, em certo sentido, duplo, mas a distinção fundamental se dá entre o
Ocidente, como a civilização até aqui dominante, e todas as demais, as quais,
entretanto, têm pouco ou nada em comum entre si. Em suma, o mundo está dividido
entre um ocidental e muitos não-ocidentais.
Os Estados-nações são e continuarão a ser os atores mais importantes nos assuntos
mundiais, porém seus interesses, associações e conflitos são cada vez mais moldados
por fatores culturais e civilizacionais.
O mundo é, de fato, anárquico, pleno de conflitos tribais e de nacionalidade, porém os
conflitos que representam os maiores perigos para a estabilidade são aqueles entre
Estados ou grupos de diferentes civilizações.
Desse modo, um enfoque civilizacional apresenta um mapa relativamente simples, mas não
demasiado simples, para se compreender o que está acontecendo no mundo.” [HUNTINGTON,
p.39]