Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
formas.
(...)Corresponde a um ponto de vista que considera o curso do mundo como uma série ilimitada
de fatos congelados em forma de coisas. (...) Essa concepção atribui pouca importância ao fato
de que devem não apenas sua existência como ainda sua transmissão a um esforço constante da
sociedade, esforço através do qual essas riquezas encontram-se, além do mais, estranhamente
alteradas. Nossa pesquisa procura mostrar como, em conseqüência dessa representação
coisificada da civilização, as formas de vida nova e as novas criações de base econômica e
técnica, que devemos ao século XX, entram no universo de uma fantasmagoria.
Uma vez que a burguesia, uma classe em organização, impulsionava um crescimento nos
números de pessoas alfabetizadas, crescia também o escopo de consumidores potenciais dos bens
simbólicos. Essa classe em constituição, a de consumidores, de caráter social cada vez mais
diversificada além de garantir uma independência econômica aos produtores também termina por
instituir um princípio de legitimação paralelo ao que antes era praticado, isto é, o conformar-se às
regras do clero e da aristocracia. Uma vez que uma classe de consumidores se organizava, criava-se a
necessidade de uma classe de produtores e empresários também mais organizada em busca de uma
maior profissionalização que faz com que passem a reconhecer apenas as regras desse próprio mercado
em desenvolvimento. Junto com a configuração da classe dos consumidores e dos produtores e
empresários de bens simbólicos surge uma proliferação de novas instâncias de consagração. Quando
o crivo do Papa ou do Rei não mais interessa, outras esferas de legitimação cultural, como os cafés e
os salões, exercem tal papel. Desta maneira o processo de autonomização da produção intelectual e
artística está intimamente ligado a verticalização da diferença entre consumidores, produtores e
empresários do campo da arte, todos interessados em levar em consideração as regras de sua própria
tradição – seja para reafirmá-las ou desconstruí-las–, isto é, cada vez mais livre das demandas estéticas
da igreja e de uma aristocracia política que desejava usar a arte como instrumento de propaganda para
a manutenção de seu poder.
Uma vez que libertos das amarras dos velhos poderes e o mercado da obra de arte vai se
fortalecendo e se especializando, os produtores necessitam submeter-se as novas regras desse mesmo
mercado, cujo objetivo é o de negociar essas obras. A arte converte-se, então, dentro desse no mercado,
em mercadoria. Contudo,
No momento em que se constitui um mercado da obra de arte, os escritores e artistas têm a
possibilidade de afirmar – por via de um paradoxo aparente – ao mesmo tempo, em suas
práticas, a irredutibilidade da obra de arte ao estatuto de simples mercadoria, e também, a
singularidade da condição intelectual do artista. (BOURDIEU, 2011)