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1. INTRODUÇÃO
O negócio jurídico é toda ação humana combinada como o ordenamento jurídico, voltada a criar, modificar ou
extinguir relações ou situações jurídicas, cujos efeitos vêm mais da vontade do que da Lei. Diante dessa vontade são
criados os contratos, qualquer que seja, um testamento e outras formas de negócios jurídicos.
A vontade, condicionada à satisfação de necessidades, é a principal fonte de efeitos e o negócio jurídico é o principal
instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses.
Mas para ter validade é necessário que o negócio jurídico atenda aos requisitos do art. 104 do CC (agente capaz;
objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei), deixando de ter um
desses requisitos o negócio jurídico é inválido.
Diante disso, inválido é o negócio jurídico que não produz efeitos, ou que, pelo menos, pode não os produzir. É
aquele negócio que contém defeito, em virtude do qual será nulo, anulável ou ineficaz.
O Capítulo V da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 em seus s artigos 166 a 184, que é o Código Civil, trata da
invalidade do negócio jurídico.
O objetivo do trabalho é mostrar através da análise dos respectivos artigos quando o negócio jurídico é nulo, anulável
ou inexistente, através dos defeitos graves e leves e casos de inexistência de um negócio jurídico; quem pode alegar
os vícios no negócio jurídico; o prazo para reclamar judicialmente de um negócio jurídico com defeitos; e, os efeitos
da invalidade do negócio jurídico quando reconhecidos ou declarados.
Por fim, também a intenção do trabalho é apresentar uma abordagem dos artigos um a um, explanado de forma
didática, com exemplos e casos judiciais concretos de forma a mostrar o conhecimento adquirido dessa equipe.
O artigo acima descreve os casos de defeitos graves em que ocorre a nulidade absoluta de um negócio
jurídico.
O defeito é todo vício que macula do negócio jurídico, tornando-o passível de anulação, podendo ser graves ou
leves. Os defeitos graves são aqueles que atingem os próprios requisitos de validade dos negócios jurídicos. Assim,
são graves os previstos no art. 166, bem como a simulação.
É a sanção imposta pela norma jurídica, que determina a privação dos efeitos jurídicos do ato negocial praticado
em desobediência ao que prescreve.
Na simulação não há um vício de consentimento, porque o querer do agente tem em mira, efetivamente, o resultado
que a declaração procura realizar ou consentir. Há um defeito no negócio jurídico que a doutrina chama de simulação
como vícios sociais que é um desacordo intencional entre a vontade interna declarada para criar, aparentemente, um
ato negocial que inexiste ou para ocultar, sob determinada aparência o negócio querido, enganando terceiro,
acarretando a nulidade do negócio. Têm-se a simulação absoluta e a simulação relativa.
3.1 A simulação absoluta.
Ocorre quando a declaração enganosa da vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral, não havendo a
intenção de realizar ato negocial algum. Como exemplo o marido, antes da separação judicial, emite um título de
crédito que na verdade não representa qualquer negócio, mas tem por fim prejudicar a mulher na partilha (RT
307/376, 317/155, 441/276) ou como esclarece certo acórdão assim ementado: "Ocorre vício de negócio jurídico na
iminência de processo de separação, ou de fazer desaparecer o patrimônio do casal, para que não tenha de entregar,
assim, a meação da esposa" (RT 574/87)
3.2 A simulação relativa
É a que resulta no intencional desacordo entre a vontade interna e a declarada. Ocorrerá sempre que alguém, sob a
aparência de um negócio fictício, realizar outro que é o verdadeiro, diverso, no todo ou em parte, do primeiro, com o
escopo de prejudicar terceiro. Apresentam-se dois contratos: um real e outro aparente. Os contratantes visam ocultar
de terceiros o contrato real, que é o querido por eles. A simulação relativa está relacionada nos incisos I, II e III do art.
167, CC.
É uma simulação relativa subjetiva, pois a parte contratante não tira proveito do negocio, por ser sujeito aparente.
O homem casado, que pretendendo doar um imóvel à concubina, simula a venda a um amigo, o qual, por sua vez e
mais tarde, transfere o bem a ela. (RT 556/203)
O que sucede na venda realizada a um terceiro para que ele transmita a coisa a um descendente do alienante, a
quem se tem a intenção de transferi-la desde o inicio, burlando o disposto no art. 496 do CC, mas tal simulação só se
efetivará quando se completar com a transmissão dos bens ao real adquirente. (Súmulas do STF 152 e 494)
É uma simulação relativa objetiva, porque respeita à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um de seus
elementos contratuais.
Como exemplo, é o que ocorre em que as partes na escritura de compra e venda declaram preço inferior ao
convencionado com a intenção de burlar o fisco, pagando menos imposto. Neste caso, se aplica a 2ª parte do caput
do art. 167, CC, sendo nulo apenas a declaração de preço inferior, mantendo-se válido a compra e venda (a
substância e a forma).
Outro exemplo mais freqüente é quando o marido, às portas da separação judicial, emite nota promissória de alto
valor a favor de um amigo, simulando a existência de dívida, visando lesar a mulher na partilha dos bens do casal.
(RT 619/129)
A nulidade absoluta poderá ser argüida por qualquer interessado, pelo Ministério Público, quando lhe caiba intervir,
e pelo órgão judicante de ofício, quando conhecer do ato ou de seus efeitos e a encontrar provada.
4.1.1 Qualquer interessado.
Interessado não é qualquer pessoa, mas aquela que tenha proveito e legitimidade para apontar a nulidade. No
despejo, por exemplo, parte interessada (legítima ativa) é o dono do imóvel e a outra parte interessada (legítima
passiva), é apenas o inquilino, e não qualquer outra pessoa.
Segundo o art. 1º da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) "o
Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis."
A atuação do Ministério Público na área cível dar-se-á como agente ou como interveniente. Como agente, nos casos
expressos em lei, o MP é titular da ação civil pública (art. 81 do Código de Processo Civil), como, por exemplo, na
ação de nulidade de casamento em virtude de bigamia, na ação de extinção de fundação ou na ação de reparação de
danos ecológicos. Como órgão interveniente funciona o Ministério Público na qualidade de fiscal da lei. Intervem nas
causas em que há interesses de incapazes, nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela,
curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposição de última vontade, bem como todas as demais
causas em que há interesse público, evidenciado pela natureza da lide (causa) ou qualidade da parte interessada.
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
6.
ART. 170 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que
visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
7.2.1 Praticados por pessoa relativamente incapaz (CC, art. 4º) sem a devida assistência de seus legítimos
representantes legais (CC, art. 1.634, V).
Como exemplo, um contrato de compra e venda de imóvel ou locação com menor de 17 anos, deve ser assistido
pelos pais. Casamento entre menores de 17 anos deve haver o consentimento dos pais, se não houver é anulável.
7.2.2 viciados por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Estes defeitos anuláveis estão previstos no Código Civil nos arts. 138 a 165.
Pode se considerar o erro como um falso conhecimento ou noção equivocada sobre um fato ou características
referentes ao objeto, pessoa, cláusula ou sobre o próprio ato negocial como um todo.
Erro, entretanto, só é considerado como causa de anulabilidade do negócio se for essencial, escusável e prejudicar
real e efetivamente o declarante da vontade.
a) Erro de Fato, é aquele que recai sobre uma situação fática referente ao negócio realizado, subdivide-se em erro
essencial e erro acidental.
b) Erro essencial ou substancial: É aquele que, de acordo com o direito positivo é capaz de viciar o consentimento
do agente, tornando o negócio por ele praticado anulável. São quatro as modalidades de erro substancial, a saber:
b.1) Error in negotio: Este tipo de erro diz respeito à natureza própria do ato, ou seja, incide sobre a própria essência
ou substância do negócio. Por ex., algum que pensa estar vendendo um objeto quando na verdade estar realizando
uma doação.
b.2) Error in corpore: É aquele que recai sobre a identidade do objeto principal da relação jurídica negocial. Por ex.,
um indivíduo que acredita estar comprando uma motocicleta, mas na realidade adquire uma bicicleta.
b.3) Error in substantia: Incide sobre as características essenciais do objeto da declaração da vontade. Por ex.,
alguém que, sem saber, adquire uma casa de dois pavimentos, mas acreditava estar comprando uma de três.
b.4) Error in persona: Induz a uma falsa idéia sobre a própria pessoa que figura como a outra parte da relação
negocial. É o caso, por ex., se penso estar outorgando procuração a B, quando, na verdade, trata-se de A, estarei
agindo com erro.
b.5) Erro acidental: Em tese, não é capaz de viciar o consentimento do sujeito, pois recai apenas sobre qualidades
acessórias do objeto da relação (error in qualitate), bem como sobre sua medida, peso ou quantidade (error in
quantitate), desde que não importe em prejuízo real ao individuo. Por ex., uma pessoa que compra um automóvel e
posteriormente descobre que o porta-malas é 5 cm2 menor do que pensava.
c) Já o erro de direito ou error juris é aquele que diz respeito à norma jurídica disciplinadora do negócio. Não se
confunde, contudo, com a ignorantia legis, uma vez que esta é o desconhecimento completo da existência da lei,
sendo o erro de direito seu conhecimento equivocado, apesar do Código Civil equiparar essas duas noções.
Exemplos:
"Qualquer que seja a natureza do erro, o declarante não poderá invocá-lo se foi devido a culpa sua que o ato se
realizou" (ac. un. – STF, in Rev. dos Tribs., vol. 119, pág. 829).
"Erro escusável é o que afeta a natureza do ato, o objeto principal da declaração ou alguma das qualidades
essenciais a ele"(4ª Câm. – do TJ – São Paulo, in Rev. dos Tribs., vol. 138, pág. 126).
7.2.2.2 Dolo (Ar. 145 a 150 do CC)
A noção que é visto aqui de dolo é diversa daquela empregada pelo direito penal, pois este o
restringe apenas à vontade livre e consciente de praticar um crime. Dolo civil é todo ato malicioso
ou fraudulento empregado por uma das partes ou por terceiro com o objetivo de ludibriar o outro
contratante para que este manifeste seu consentimento de maneira prejudicial a sua vontade livre
ou ao seu patrimônio, pois este consentimento seria declarado de forma diferente ou sequer teria
existido caso não fosse utilizado tal artifício astucioso.
a) Dolo Principal ou Essencial: É a causa eficaz de um ato, sendo sua única razão, pois em sua
ausência o ato não seria praticado, como consta no artigo 92 do atual código civil " os atos jurídicos
são anuláveis por dolo quando este for sua causa.". Esta espécie de dolo têm como características
essenciais: intenção de induzir, gravidade dos artifícios, causa determinante da declaração de
vontade, origem no outro contratante ou , com conhecimento deste, se provier de terceiros. Neste
caso, o ato jurídico manifestado é passível de anulação.
b) Dolo Acidental: De acordo como o artigo 93 do atual código civil, " dolo acidental só obriga a
satisfação das perdas e danos. É acidental o dolo, quando a seu despeito o ato se teria praticado,
embora de outro modo." Assim, a vítima realiza o ato em condições mais onerosas ou menos
vantajosas, pois não afeta sua declaração de vontade, apenas causa desvios , portanto, não constitui
vício de consentimento, pois não influi de maneira direta no negócio celebrado, que teria se
configurado independentemente do emprego de sagacidade para enganar. Contudo, não causa
anulabilidade, mas implica em perdas e danos ou redução da prestação convencionada.
c) Dolo Positivo: Corresponde ao artifício astucioso dotado de ação dolosa. É o dolo por
comissão, onde a outra parte que figura o negócio jurídico é induzida a contratar, por força de
artifícios positivos, baseados em informações falsas sobre a qualidade do produto.
d) Dolo Negativo: Equivale a ação astuciosa, constituída através de uma omissão dolosa ou
reticente, onde uma das partes oculta algo que o co-contratante deveria saber e como de posse
destes dados não celebraria o negócio jurídico. ( Art. 94 CC). Esta espécie de dolo tem como
requisitos: bilateralidade do negócio celebrado, intenção de induzir, silêncio sobre circunstância
relevante, relação de causalidade entre omissão dolosa e declaração de vontade e omissão do outro
contratante ( não de terceiro).
e) Dolus bonus: É aquele freqüentemente empregado no comércio informal e até mesmo no
formal. Consiste em exageros nas vantagens e boas qualidades da mercadoria oferecida pelo
comerciante. por ex., o camelô que vende relógios afirmando que são todos provenientes da Suíça.
f) Dolus malus: É o dolo que prejudica efetivamente a vítima, capaz de viciar sua vontade,
tornando o negócio anulável. E um artifício fraudulento que consegue enganar até mesmo as
pessoas mais cautelosas e instruídas.
g) Dolo de Terceiro: Consta no dispositivo do Art. 95 do atual código civil : " Pode também ser
anulado a ato por dolo de terceiro, se uma das partes o soube". Assim, para que haja anulação do
negócio jurídico celebrado, requer o conhecimento de uma das partes; se não for o beneficiado,
acarretará em indenização, por parte da vítima contra o terceiro autor do dano provocado de forma
intencional.
O terceiro defeito é a coação que representa toda ameaça ou pressão exercida sobre a pessoa para
obrigá-la, contra sua vontade, a praticar ato ou realizar negócio jurídico. Há a coação física (vis
absoluta) e a coação psicológica (vis compulsiva) que diferem não só pelo meio empregado, mas
sobretudo, por seus efeitos.
Se observa que a coação é o mais grave dos defeitos dos negócios jurídicos e especialmente na
coação física temos na verdade a inexistência do negócio jurídico, pois não há manifestação de
vontade livre, espontânea e de boa fé. Não há vontade jurígena.
Exigem-se certos requisitos para tipificação da coação (art. 153 do C.C.) e para ser considerada
como defeito: deve ser determinante do negócio; deve ser grave e injusta; deve dizer respeito ao
dano atual ou iminente e deve ameaçar a pessoa, bens da vítima ou pessoas de sua família (essa
tomada na acepção alto sensu , art. 151 C.C.).
É possível que a coação seja exercida por terceiro sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou
devesse ter conhecimento, mas nessa hipótese prevista no art. 155 do C.C., o negócio subsistirá não
sendo anulado. Não se considera coação a simples ameaça, o exercício normal de direito e nem
temor reverencial.
7.2.2.3.1 Os tipos de coação: Física e moral.
a) Coação física ou vis absoluta: Corresponde a ação direta sobre o corpo da vítima. É o caso,
por ex., de alguém que é intencionalmente entorpecido por outrem para que manifeste seu
consentimento de maneira que não seria declarado caso a vítima estivesse em estado normal. A
doutrina entende que este tipo de coação anula completamente a presença da vontade, tornando o
negócio nulo e não anulável.
b) Coação moral ou vis compulsiva: É aquela que incute na vítima um temor constante ,
fazendo com que ela manifeste seu consentimento a fim que a ameaça seja sanada. Tal ameaça
pode referir-se tanto à honra e boa fama quanto à vida ou integridade física da vítima ou seus
familiares. Torna-se, portanto, o ato praticado pela vítima anulável, por estar presente um
consentimento desviado dos seus reais interesses.
Inovação do ordenamento civilista, tal vício caracteriza-se pela necessidade iminente que uma das
partes tem de salvar-se, ou salvar pessoa de sua família de grave dano (art. 156). Em uma situação
tão delicada e perigosa, a vontade da pessoa obviamente não se manifestará de maneira livre,
desembaraçada. A busca pela integridade física, supera em muito qualquer raciocínio consciente e
coerente da parte que paga além do que poderia normalmente oferecer.
Visando igualar o estado das partes neste tipo de situação o Código Civil reputa anulável o negócio
celebrado nestas condições. É omisso o legislador no que se refere ao justo pagamento pelos
serviços prestados pelo 'salvador'. Pela equidade e até pela analogia com o § 2º do art. 157,
analisado no próximo tópico, o Juiz deve fixar valor devido pelo serviço.
Outro exemplo, de alguém que, para pagar uma cirurgia urgente de pessoa da família, vende seu
carro ou sua casa por preço vil. Essa venda pode ser anulada porque foi celebrada quando o
vendedor encontrava-se em "estado de perigo".
Último vício do consentimento tratado pelo Novo Código, o chamado 'dolo de aproveitamento' já
havia sido previsto no CDC (Lei 8078 de 11 de Setembro de 1990, art. 6°, V 1ª parte) e se aproxima
muito do Estado de Perigo, afinal, em ambos há desproporção entre o cobrado e o justo valor do
serviço.
No vício do art.156, entretanto, uma das partes está em situação de perigo de dano à sua pessoa ou
pessoa próxima, enquanto na lesão há uma necessidade premente ou inexperiência de um dos
contratantes ao celebrar o negócio, aproveitando-se a outra parte desta situação, para fixar valor
muito superior ao que normalmente o faria. O § 2º do art. 157 dispõe que o negócio será mantido
caso a parte favorecida concorde com a redução de seu proveito.
O exemplo clássico é o do aflito agricultor que – ciente da praga que toma conta dos arredores de
seu sítio – procura o único vizinho que dispõe do inseticida capaz de solucionar o problema. Este,
por sua vez, cobra valor inúmeras vezes acima do mercado. Lícito seria ao prejudicado buscar a
anulação do negócio com base na lesão sofrida.
Assim como toda a estrutura do Novo Código, o Capítulo que versa sobre os Defeitos do Negócio
possui ares de sintonia social e justiça, impossibilitando que situações aflitivas e desesperadoras
tornem-se fonte de desmedido lucro para almas gananciosas e astutas.
No estado de perigo a pessoa é compelida a efetivar depósito ou prestar garantia (caução) sob
forma de emissão de cheques ou notas promissórias (ou outros títulos cambiais) para, por
exemplo, prover atendimento clínico-hospitalar emergencial ou ainda para obter internação de
paciente que corre grave perigo de vida.
Nem sempre a extrema necessidade produz negócios anuláveis, pois temos outros exemplos como
a passagem forçada, a gestão de negócios, o casamento nuncupativo, o depósito necessário (do
hóspede de sua bagagem nos hotéis) e o pedido de alimentos.
Mas, se essa extrema necessidade é conduzida por outrem, para provocar a chamada usura real,
temos aí, outro tipo de defeito de negócio jurídico, a lesão.
A fraude contra credores é vício social e corresponde a todo ato suscetível de diminuir ou onerar
seu patrimônio, reduzindo ou eliminando a garantia que este representa para o pagamento de suas
dívidas, é praticada pelo devedor insolvente ou por este ato reduzido à insolvência.
Por exemplo, um devedor que, para livrar-se da obrigação de pagar suas dívidas, aliena todo o seu
patrimônio a um parente a preços irrisórios, cabendo ao credor mover uma ação pauliana com o
objetivo de anular o negócio e reincorporar os bens ao acervo patrimonial do devedor, para que
este possa ser devidamente executado.
Há a tipificação de fraudes aos credores também quando ocorre a remissão de dívidas (perdão) ou
a concessão fraudulenta de garantias tais como penhor, hipoteca e anticrese.
(art. 1563 do C.C.) ou pagamento antecipado de dívidas.
8.
ART. 172 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.
8.1 Efeito ex tunc de confirmação: A confirmação retroage à data do ato; logo seu efeito é ex
tunc: tornando válido o negócio desde sua formação, resguardados os direitos, já constituídos, de
terceiros. Para tanto será necessário que o confirmante conceda a confirmação no momento em
que haja cessado o vício que maculava o negócio e que o ato confirmativo não incorra em vício de
nulidade.Ex. contrato de locação de imóvel com menor de idade (17 anos) sem a assistência dos
pais.
Efeito ex tunc significa dizer que é retroativo, ou seja, no caso de uma sentença com efeitos ex
tunc, diz-se que ela incide desde o ato declarado nulo, anulado ou revisado.
Já o efeito ex nunc significa dizer que no caso de uma sentença, ela não retroage ao passado, mas
somente gera efeitos desde sua prolação, ou da citação no processo de conhecimento.
9.
ART. 173 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade
expressa de mantê-lo.
O ato de confirmação deverá observar a mesma forma prescrita para o contrato que se quer
confirmar. Assim, se se for confirmar uma doação de imóvel, o ao de confirmação deverá constar
de escritura pública, por ser esta da substância do ato.
10.
ART. 174 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo
devedor, ciente do vício que o inquinava.
A confirmação tácita dar-se-á quando a obrigação já tiver sido parcialmente cumprida pelo
devedor conhecedor do vício que a maculava, tornando-a anulável. A vontade de confirmar está
ínsita, pois, mesmo sabendo do vício, o confirmador não se importou com ele, e teve a intenção de
confirmá-lo e de reparar a mácula.
10.2 Requisitos.
Para que se configure a confirmação tácita será mister que aja: a) voluntária execução parcial da
obrigação; b) conhecimento do vício que a torna anulável; e, c) intenção de confirmá-la.
10.3 Prova
11.
ART. 175 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos
arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o
devedor.
Com a ratificação não mais será possível anular o ao negocial viciado, pois a nulidade deixou de
existir, ante a irrevogabilidade do ato ratificatório, que validou a obrigação em definitivo.
12.
ART. 176 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado
se este a der posteriormente.
Se a nulidade relativa do ato negocial ocorrer por fala de autorização de terceiro, passará a ter
validade se, posteriomente, a anuência se der.
13.
ART. 177 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de
ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o
caso de solidariedade ou indivisibilidade.
A declaração judicial de ineficácia do ato negocial opera ex nunc, de modo que o negócio produz
efeitos até esse momento, respeitando-se as conseqüências geradas anteriormente. A ocorre
porque a anulabilidade prende-se-á uma desconformidade que a norma considera menos grave,
uma vez que o negócio anulável viola preceito concernente a interesses meramente individuais,
acarretando uma reação menos extrema.
A anulabilidade só pode ser alegada pelos prejudicados com o negócio ou por seus representantes
legítimos, não podendo ser decretada ex officio pelo juiz.
13.3 Efeitos da anulabilidade.
14.
ART. 178 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,
contado:
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o
negócio jurídico;
14. 1 Decadência
É a perda de um direito pelo decurso do prazo (tempo) fixado para exercício, sem que o tiular o
tivesse exercido (inércia). Enquanto a prescrição extingue diretamente as ações e indiretamente o
direito, a decadência extingue diretamente o direito. Possui o mesmo efeito da prescrição, pois
qualquer caso haverá a extinção de um direito. A decadência não se sujeita à suspensão ou
interrupção, apenas impedimento do art. 198, I (vide 207 e 208); o prazo decadencial pode ser
fixado pela lei ou pelas partes (211), já a prescrição é legal (192); decadência fixada pela lei deve ser
reconhecida de ofício pelo juiz (210), a prescrição não (194); a decadência não pode ser renunciada
(209), já a prescrição pode (191); a decadência tem efeito contra todos, já a prescrição não produz
efeitos para as pessoas do ar. 197 do CC.
O prazo de decadência para pleitear judicialmente nulidade relativa é de quatro anos a contar do
ato descrito no inciso I, II, III e IV do artigo em referência.
15.
ART. 179 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para
pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
15.1 Decadência nos casos de nulidade relativa determinada por lei, com omissão do
lapso temporal.
Se a lei prescrever anulabilidade de negócio, sem estabelecer prazo para pleiteá-la, esse será de
dois anos, contado da data da conclusão do ao negocial.
16.
ART. 180 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação,
invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de
obrigar-se, declarou-se maior.
O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não poderá invocar a proteção legal em favor de sua
capacidade para eximir-se da obrigação ou para anular um ato negocial que tenha praticado, sem a
devida assistência, se agiu dolosamente, escondendo sua idade, quando inquirido pela outra parte,
ou se espontaneamente se declarou maior. O menor não poderá, portanto, em tais circunstâncias,
alegar sua menoridade para escapar à obrigação contraída.
É muito simplista a legislação pátria dizendo serem nulos os atos praticados por absolutamente
incapazes e anuláveis os praticados por relativamente incapazes. Parece-nos que essa solução não é
acolhida pela realidade, necessitando de algumas reavaliações.
Se pretendêssemos realmente que fossem anulados todos os negócios jurídicos praticados por
incapazes estaríamos criando um verdadeiro caos nas relações jurídicas mais simples, e até mesmo
pânico em alguns setores de atividades, principalmente o comércio, que têm no menor, não
raramente, a outra parte da relação jurídica.
Quão simples nos parece que um menor possa sozinho, independentemente de representação ou
assistência, tomar um ônibus de circular, ir ao cinema, lanchonetes, sorveterias, adquirir roupas,
doces, livros... O cobrador do ônibus (e a própria empresa), bem como o comerciante jamais
tiveram a preocupação de exigir que o menor estivesse acompanhado de seu representante para o
exercício desses simples atos da vida civil. E se pensasse em exigi-lo, deixaria de vender grande
parte de seus produtos. Não se encontram nos fóruns ou tribunais, causas ajuizadas por
comerciantes, empresas de transporte, dentre outros, pretendendo anular os atos que praticou com
menores.
Esqueceu-se o legislador de emprestar validade a tais atos? Será que pretendeu mesmo que atos
tão simples fossem anulados? A falta de discernimento do menor é tão grave a esse ponto?
O Código Civil Português, adotou expressamente, em seu artigo 127, um sistema de excepções à
incapacidade dos menores, emprestando validade aos atos praticados pelos maiores de
dezesseis anos relativos à administração e disposição de bens adquiridos por seu trabalho, aos
negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor concernentes às despesas e disposições de
pequena importância, e àqueles negócios relativos à profissão, arte ou ofício, autorizados ao
menor.
Assim também poderia ter agido o legislador pátrio, assegurando a validade de pequenos atos
praticados pelos menores, necessários à sua vida cotidiana. Ressalte-se, porém, que na falta de
norma similar, é a própria sociedade que já vem emprestando força a esses negócios jurídicos,
permitindo, na prática, que o menor firme simples contratos, sem perquirir acerca de sua
capacidade ou sobre o sistema de nulidades vigente.
17.
ART. 181 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não
provar que reverteu em proveito dele a importância paga.
Se não houver malicia por parte do incapaz, ter-se-á a invalidação do seu ato, que será então nulo,
se sua incapacidade for absoluta, ou anulável, se relativa for, sendo que, neste último caso,
competirá ao incapaz, e não àquele que com ele contratou, pleitear a anulabilidade do negócio
efetivado. Se a incapacidade for absoluta, qualquer interessado poderá pedir a nulidade do ato
negocial, e até mesmo o magistrado poderá pronunciá-la de ofício.
O absoluta ou relativamente incapaz não terá o dever de restituir o que recebeu em razão do ato
negocial contraído e declarado inválido, a não ser que o outro contratante prove que o pagamento
feito reverteu em proveito do incapaz. A parte contrária, para obter a devolução do quantum pago
ao menor, deverá que o incapaz veio a se enriquecer com o pagamento que lhe foi feito em virtude
do ato negocial invalidado.
18.
ART. 182 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se
achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
18.1 "Statu quo ante"
Com a invalidação do ato negocial, ter-se-á a restituição das partes contratantes ao statu quo ante,
ou seja, ao estado em que se encontravam antes da efetivação do negócio. O pronunciamento da
nulidade absoluta ou relativa requer que as partes retornem ao estado anterior, como se o ato
nunca tivesse ocorrido. Por exemplo, com a nulidade de uma escritura de compra e venda, o
comprador devolve o imóvel, e o vendedor, o preço.
Se for impossível que os contratantes voltem ao estado em que se achavam antes da efetivação
negocial, por não mais existir a coisa ou por ser viável a reconstituição da situação jurídica, o
lesado será indenizado com o equivalente.
18.3 Exceções.
18.4 Exemplos.
Locação. Ação anulatória. Contrato celebrado por incapaz. Interdição não declarada por sentença,
em face de sua morte. Irrelevância. Nulidade dos atos praticados, não só após a interdição judicial,
como também os anteriores, estando a pessoa já incapaz. Provas periciais de demência mental à
época do contrato. Nulidade que independente da análise de suas condições. Procedência. (2º
TASP Apelação Cível 284.050 Rel. Juiz Gildo dos Santos)
Responsabilidade civil. Dano moral. Consumidor. Relação de consumo. Assinatura de revista
masculina feita por menor absolutamente incapaz. Negócio celebrado sem a autorização do
representante legal. Nulidade. Tratando-se de iniludível relação de consumo, a responsabilidade da
ré é objetiva. Verba fixada em R$ 2.000,00. CCB/2002, arts. 166, I e 186. CF/88, art. 37, § 6º.
(TJRJ – AP. CIV. 58.210 Rel. Des. Nametala Jorge)
19.
ART. 183 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder
provar-se por outro meio.
Na nulidade, a inoperância do instrumento não implicará a do ato; se este se puder provar por
outros modos, o negócio continuará eficaz. Se, porém, o instrumento for essencial à constituição e
à prova do ato negocial, com a sua nulidade ter-se-á a do negócio. Por exemplo, se inválido for
instrumento que constituir uma hipoteca, inválida será esta, uma vez que não poderá subsistir sem
o referido instrumento, nem por outra maneira ser provada.
19.2 Exemplos.
Não há falar em nulidade de ajuste locacional pelo fato de não ter constado o nome do incapaz no
contrato, mas sim da curadora, que sempre agiu no interesse da pupila, nomeada depois por
decisão judicial para o exercício da curatela.(2º TACSP - Ap. s/ Rev. 528.019/4 - Itaquera - Rel.:
Juiz Renato Sartorelli - J. em 14/09/1998 - Boletim Informativo da Juruá 203/016233)
20.
ART. 184 DO CÓDIGO CIVIL
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o
prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das
obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.
A nulidade parcial de um ato negocial não o atingirá na parte válida, se esta puder subsistir
autonomamente, devido ao principio utile per inutile non vitiatur.
A nulidade da obrigação acessória não atingirá a obrigação principal, que permanecerá válida e
eficaz. Se numa locação for anulada a fiança, o pacto locatício subsistirá.
20.4. Exemplos.
"A "falta do registro a que se refere o art. 32 da Lei nº 4.591/64, por si só, ´não implica a nulidade
nem a anulabilidade do compromisso de compra e venda´, como assentado em precedente da
Corte" (3a Turma, Recurso Especial n.º 260.563/SP).
21. CONCLUSÃO
O presente estudo dos artigos sobre a invalidade do negócio jurídico levou a um raciocínio que
interpretar um ato jurídico é fazer dele a leitura mais adequada, de modo a encontrar a melhor
solução para o caso concreto que se estiver analisando.
Em um negócio jurídico se deve procurar a vontade das partes, pesquisar as circunstâncias em que
se praticou o ato, os elementos sociais e econômicos que o envolviam, os documentos e demais
papéis que sustentam o negócio. Deve-se avaliar se houve má-fé ou boa-fé. Se o caso foi de erro,
dolo ou coação.
Assim, a fixação dos elementos que comportam a invalidação de um negócio jurídico, através da
interpretação dos artigos. 166 a 182 do Código Civil desenvolveu à equipe o senso analítico dos
liames jurídicos de um negócio jurídico.
DINIZ, Maria Helena, curso de direito civil brasileiro, 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 18 ed., Rio de Janeiro: forense, 1996.
DIREITO NATURAL
Autor: José Robenildo/ Dufray dos Santos
Introdução
Este trabalho irá abordar o Direito Natural, tentando estabelecer uma cronologia do seu
surgimento até sua solidificação dentro do Direito Positivo. Estabelecerá características
fundamentais expostas nas diversas acepções ao longo da história. Por último demonstrará
através de tabelas diferenças clássicas entre o Direito Natural e o Direito Positivo. Perceber-se-á
ao longo deste, nossa preocupação dentro de um contexto filosófico a fim de solidificar o perfil
profissional procurado que estamos desenvolvendo na disciplina Filosofia do Direito.
Desenvolvimento
Segundo Miguel Reale a interpretação do homem do mundo em que vive começa com a
observação da natureza, refletindo em dúvidas crescentes têm-se o início do pensamento
filosófico:
"Aristóteles (384-322 a.C), repetindo ensinamento platônico, dizia que a Filosofia começou
com a perplexidade, ou melhor, com a atitude de assombro do homem perante a natureza,
em um crescendo de dúvidas, a começar pelas dificuldades mais aparentes.
O homem passou a filosofar no momento em que se viu cercado pelo problema e pelo
mistério, adquirindo consciência de sua dignidade pensante. Não é preciso, pois, sentir-se
tranqüilamente ancorado em algum sistema de Filosofia, nem ser capaz de dizer em que
ano escreveu Kant cada um de seus estudos, para se possuir atitude filosófica: esta é
própria de quem saiba captar e renovar os problemas universais sobre o cosmos e sobre a
vida, procurando satisfazer às exigências atuais, significantes por novo e por velhos
problemas situados em diversos ciclos histórico-culturais."
Afirma José Cretella Júnior que: "Na Grécia antiga, pela primeira vez, o direito é objeto de
profundas e específicas indagações filosóficas, deixando de ser privativo dos sacerdotes, dos
monarcas e dos moralistas, para ser cultivado por filósofos e juristas."
É evidente que antes de toda a especulação sobre Direito, até mesmo sobre Filosofia do Direito
ou Direito Natural, a história nos mostra, na formação das sociedades primitivas quando o homem
deixou de ser nômade, que este "cidadão" primitivo já se sentia detentor "de direitos", como por
exemplo, o da propriedade, rechaçando os invasores de seu território, bem como de "deveres" pra
com sua companheira e sua cria, como a proteção e o provimento de alimentos. Vê-se
claramente a relação que este tinha para com o meio e sua interpretação do que podia e não
podia obter. A força predominava como fator coercitivo para a delimitação dos possíveis direitos e
deveres. Perceba que esta noção de que uma lei só pode ser obedecida pela coerção à força
ainda é evidente em todas as sociedades modernas, não se diferenciando neste ponto de
homens primitivos, é claro que existe na sociedade moderna uma concepção deveras
diferenciada da utilização da força, porém ainda assim as leis só se tornam eficazes pela
aplicação de alguma forma coercitiva de força seja monetária ou outra forma qualquer.
Com a evolução do homem nas mais diferenciadas áreas, culturais, sociais, mercantis,
religiosa e etc... a sua percepção do mundo a sua volta diferencia-se do passado, porém
inevitavelmente não perdendo o vínculo com este e ao mesmo tempo criando uma centelha da
visão do que poderá ser no futuro. O desenvolvimento de áreas notáveis como o da escrita e o da
matemática modifica profundamente este entendimento "natural" das relações a sua volta. O
surgimento do pensamento filosófico é marcado pela observação do mundo e suas relações.
Notadamente na primeira e mais famosa escola filosófica do mundo antigo ocidental, no primeiro
quarto do século VI (a.C. a 500-504 a.C, Magna Grécia/Sicília hoje): a escola Pitagórica ou Itálica
de Pitágora.
"Esta escola considerava um filósofo como o amigo do saber, reuniu grande número de
discípulos numa espécie de mosteiro, dedicando-se à especulação filosófica pura, adotando
dois caminhos principais: o da teoria matemática (da astronômica e da arte médica), e o da
doutrina metafísica, que foi denominada de doutrina dos números e exposta pela primeira
vez por Filolau, contemporâneo de Platão" . (Texto fotocopiado ministrado na aula de
Introdução ao Direito).
"A base e razão de ser de toda colocação pitagórica é o número, essência e princípio dos
seres. Para a filosofia do número, Deus, a grande Unidade, é o número perfeito, do qual
emanam todas as coisas do mundo, concebido e arquitetado na harmonia numérica, que
culmina na Santa Tetrárquis (1+2+3+4=10), suprema perfeição de tudo" . (CRETELLA
JÚNIOR, 1997, p. 255.)
Esta interpretação antiga abre caminhos dentro do mundo jurídico moldando novas relações ou
pelo menos a tentativa de solidificar ou contestar princípios com a intenção de desenvolver a
noção de Direitos, continuando o mesmo autor verifica que "Transportando para o campo jurídico,
o elemento número abriu novas perspectivas aos pensadores, levando-os à interpretação da
Justiça como relação aritmética, equação ou igualdade" .
Conclui então José Cretella Júnior que: "Justiça é aquilo que alguém experimenta por algo se
caracterizando pela relação aritmética de igualdade entre dois termos, dano e reparação,
prestação e contraprestação" .
"A igualdade é, assim, o elemento essencial da Justiça, como se vê mais tarde na raiz do
pensamento aristotélico, ao desenvolver a idéia pitagórica" .
Dentre os filósofos helênicos surgiu um grupo singular que sacudiu as bases do pensamento e
apesar das controvérsias fizeram florescer idéias fundamentais sobre a concepção do Direito.
Acrescenta ainda o autor: "Mais do que soluções ou respostas, os sofistas levantam dúvidas,
sacodem idéias adormecidas, problematizam, obrigam a pensar, do que resulta grande
florescimento de pensadores, culminando no advento da extraordinária corrente da filosofia
idealista" .
Esse desenvolvimento sobre o que é o direito e sua relativização influenciou e influencia toda a
comunidade jurídica.
Adiantando um pouco nossa cronologia escreve Milton Duarte Segurado, em seu livro Introdução
ao Direito a respeito de Del Vecchio:
"Temos que admitir desde que o Direito positivo varia de lugar para lugar e, no mesmo país,
varia no tempo, um critério absoluto, ideal, do Direito, independente de sua sanção positiva.
Conceber a idéia do Direito de modo absoluto corresponde à exigência da consciência
humana, pois de outro modo regeria o absurdo de que Cícero se deu conta ao perguntar se
o homicídio ou o furto passariam a ser justos desde o momento em que fossem declarados
como tais por qualquer legislador, tirano ou multidão" . (MILTON DUARTE SEGURADO,
1996, p. 293)
Temos ainda que Milton Duarte Segurado coloque como nota que os sofistas seriam filósofos
mercenários que tudo provavam por dinheiro (Protágoras, Górgias, Licofron, Protarco, Hípias,
Caron, Evenos, Polus, Trasímaco...). E nos traz alguns exemplos de sofismas:
Dentro desse raciocínio podemos fazer uma clara oposição entre direito positivo e natural
estabelecendo assim os primeiros conceitos do que seria então o direito natural. Segundo Milton
Duarte Segurado usando-se das palavras de Del Vecchio:
"Enquanto o positivo é produto da letra da lei, que pode ser criada e revogada a qualquer
momento, o natural não fica sob função de tempo e espaço no que se refere à sua
conceituação, eis que sua essência é a mesma através do tempo e independentemente do
local; reside na própria natureza humana, de tal sorte que Cícero já o chamara "non scripta
sed nata Lex". Lei não escrita, mas inscrita em nosso coração" . (MILTON DUARTE
SEGURADO, 1996, p. 293)
Ainda segundo Del Vecchio, "Direito Natural é o nome com que se designa, por tradição que
remonta aos romanos, o critério absoluto do Direito, assente na própria constituição das coisas e,
nunca, no mero capricho do legislador. Postulou-se uma justiça superior, o direito natural, que
sobreordena o Direito Positivo" .
Não seria então este Direito Natural um fundamento filosófico bem como um fundamento
Jurídico? Se este é irrevogável, perene, e sendo independente de local?
Veremos mais tarde como o Direito Natural aninhou-se dentro da normatividade das leis,
protegendo-se assim sobre a égide da lei e não mais ficando à margem Direito.
Durante esse período fértil de criação filosófica duas escolas merecem atenção de nosso
trabalho: a escola estóica e a escola epicurista.
"Para a Escola Estóica que, em certo sentido, prepara o terreno para o cristianismo, o
primeiro princípio da ética é o que manda viver segundo a natureza. Acima das leis de cada
país existe uma lei natural, universalmente válida. O homem é livre quando vence as
paixões e delas se liberta e nisto não há diferença entre homens livres e escravos. Existe
uma sociedade do gênero humano que transcende os limites traçados pelo Estado".
(CRETELLA JÚNIOR, 1997, p. 258).
Com os conceitos estabelecidos sobre o Direito Natural Milton Duarte Segurado expõe:
[...]
"Há uma lei divina (Direito Natural) acima da lei humana (Direito Positivo), por tanto esta
deve se inspirar naquela. Com Heráclito teve início a crença em um direito natural. Diga-se
que "Direito Natural" é uma denominação imprópria, pois o Direito se refere à natureza
humana e não à Natureza. Na verdade, sendo mais amplo que o Direito Positivo,
ultrapassando os, limites de mera criação humana que existe para regular coercitivamente
as relações entre os homens, Direito Natural inspira e sobreordena o Direito Positivo, do
qual é modelo perfeito, ainda que imperfeitamente copiado. Para Platão, a única realidade é
a idéia."
[...]
"Os princípios do Direito Natural forma legados ao Positivo pelo idealismo platônico, através
dos romanos. Mais modernamente, o Direito Natural tem inspirado preceitos jurídicos como
os da boa fé e equidade." (MILTON DUARTE SEGURADO, 1996, p. 298)
Existe uma peça na Tragédia Grega que nos mostra claramente o conflito existente entre a Lei
Natural e a Lei Positivada, eis uma citação da Antígona de Sófocles:
São as que repugnam ao sentimento humano, as que proíbem uma filha de chorar por um
pai e uma irmã de amortalhar um irmão!
"A tragédia grega (Ésquilo, Sófocles, Eurípedes) cobre vasto campo do humano, Trata de
direito natural (Antígona), Justiça (Prometeu), hospitalidade (Alceste), destino (Édipo), fé
(Orestíada), amor (Orfeu), sacrifício (Ifigênia)" . (MILTON DUARTE SEGURADO, 1996, p.
298)
Da Suma Teológica abstrai-se a Lei Tomista que Milton Duarte exibe em seu livro :
"A lei deve, antes de tudo, prover ao bem comum, ou seja, o da coletividade. E que não se
ocupe de pessoas, senão enquanto contribuem para o bem estar comum."
"A autoridade competente para legislar é a Razão, obrigada a velar pelo bem comum como
se fosse próprio. Para que tenha força de obrigar é necessária a promulgação da lei. Quem
ignora a lei, por sua culpa, não está desobrigado a cumpri-la (presunção absoluta). Temos,
pois, obrigação grave de nos instruir nas leis que nos dizem respeito."
Estudos e discutidos por Tomás de Aquino na "Suma Teológica" o Decálogo (Os Dez
Mandamentos da lei de Deus). Êxodo, 20:1-17. É utilizado pra descrever a civilização em 10
princípios sublimes.
1. Não terás outros deuses distintos de mim. Dele não farás esculturas.
2. Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus.
3. Santificarás o dia do Senhor.
4. Honrarás pai e mãe.
5. Não matarás.
6. Não fornicarás.
7. Não furtarás.
8. Não testemunharás falso contra o teu próximo.
9. Não desejarás a mulher do próximo.
10. Não cobiçarás as coisas alheias.
"A observância do Decálogo é suficiente para o exercício das virtudes referentes aos
deveres essenciais para com Deus e o próximo; mas para adquirir a perfeição de todas as
virtudes, foi necessário que os explicassem e comentassem na Lei Antiga, os ensinos dos
Patriarcas e Profetas, e os mais amplos, acabados e perfeitos de Jesus, seus discípulos e
apóstolos, na Lei Nova." (MILTON DUARTE SEGURADO, 1996, p. 293)
Deus.
Natureza.
Natureza Humana.
Sentimento.
Consciência.
Ordem social.
História da humanidade.
Influência do Direito Natural.
O Direito Natural influenciou todos os ramos do Direito Positivo, mais, notadamente, o Direito
Internacional Público. Eis alguns exemplos de tal influência:
Código Napoleônico.
Liberdade contratual.
Pátrio poder.
Abolição da escravatura.
Restituição do devido.
Reparação do dano.
Legítima defesa.
Boa fé.
Crédito.
Reciprocidade.
"Não é só verdade que o direito antigo morreu; também o novo já está morto; porque a única
coisa imortal é aquela que não podemos chamar nem de antiga e nem de nova: a lei eterna de
Deus legislador do Universo". (MILTON DUARTE SEGURADO, 1996, p. 293).
Considerações Finais
Através do trabalho exposto podemos perceber o Direito Natural como fonte do Direito
positivado. Seu estudo ao longo do tempo deixa-nos claro que apesar de ser universal alguns dos
valores predominantes em algumas épocas não o são em outras. Então como formalizar o termo
Direito ou Justiça? Há como defini-las precisamente como fundamento filosófico para que não
haja ao longo do curso do tempo uma deturpação por governos tiranos? O Direito Natural nos
mostra que o senso de justiça é perene no espírito humano e que quanto mais os direitos
essências forem positivados e obterem a proteção sobre a égide dos textos normativos, entrando
assim em um rol de poucas leis que possuem legitimidade e validade, mais demonstrará o ser
humano, dentro de uma coletividade, a definição plena de Direito o que nos remeterá ao senso de
Justiça perene e imutável que todos os pensadores ao longo do tempo buscaram e ainda buscam
até hoje.
Bibliografia
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20. Ed. São Paulo: Saraiva 2002.
CRETELLA JÚNIOR, José. Primeiras lições de direito. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
SEGURADO, Milton Duarte. Introdução ao Direito. Campinas: E.V., 1996.
BOBBIO, Norberto. Livro: Teoria geral do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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• ▼ 2008 (2)
o ▼ Novembro (2)
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
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