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Logo que me formei e comecei meus primeiros plantões uma coisa foi muito
óbvia para mim: a faculdade não me preparou para estar aqui.
Não estou discutindo a qualidade do ensino mas sim de todo um sistema de
educação que nos distancia muito da prática médica. A princípio me revoltei quan-
do percebi que sabia que AVC hemorrágico era mais comum na quinta e sexta
década de vida, mas não sabia como fazer a prescrição. Sabia que o infarto agudo
do miocárdio mata em 14% das vezes mas não dominava a posologia do trata-
mento.
E é assim em todas as faculdades. Nas aulas e provas somos forçados a sa-
ber de informações que têm sua importância, admito, mas acabam nos desviando
do foco de saber como se trata o paciente. Falta aquela aula com um tom de: te-
mos um paciente infartando, e ai? Vamos tratar!
E é com essa missão que existe o @saladeparada. Aproximar você da prática
e mostrar como são as coisas lá na beira do leito. Certamente você já teve dúvi-
das sobre a posologia de uma certa droga. O professor disse que para uma hiper-
calemia “faz gluconato”. Mas como se prescreve? Como é a apresentação? Devo
diluir? infundir rápido?
Este é um material que responde estas questões. Espero que sirva para
melhorar e facilitar ainda mais seu dia-a-dia. Quando estiver lendo esse mate-
rial, poste no seu instagram e marca a gente lá, combinado?! :) Boa leitura!
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A hipercalemia é uma situação que acontece comumente. Embora o diagnós-
tico só seja firmado após os exames laboratoriais, existe alguns indícios que nos
fazem atentar para esta possibilidade.
Devemos ficar atentos principalmente aos pacientes com doença renal crôni-
ca e os que fazem uso de diuréticos poupadores de potássio.
Alterações eletrocardiograficas como onda P achatada, QRS alargado e onda
T apiculada nos chama a atenção mais rapidamente para esta possibilidade. Outra
coisa comum é bradicardia.
Para a prescrição, vamos imaginar uma paciente que é cardiopata e faz uso
de várias medicações. Dentre elas Espironolactona e vem ao serviço com queixa
de mal estar geral, dispneia e astenia. À monitorização é visto frequência cardíaca
de 40 batimentos por minuto. Solicitamos os exames e o potássio é de 7,2. Vamos
ver a prescrição:
1. Dieta hipocalêmica
Medidas emergenciais:
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Medidas para shift de potássio. Estas medidas não causam depleção de po-
tássio, elas apenas jogam para o intracelular. São medidas rápidas para controle
mas que não devem ser usadas isoladamente. Sempre teremos que instituir medi-
das que depletem o potássio do organismo. Caso contrário, o potássio sérico vol-
ta a subir após algumas horas:
Medidas para depleção de potássio. Estas são as medidas que de fato redu-
zem o pool total de potássio do organismo:
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8. Monitorização cardíaca contínua e ECG a cada 1 hora até normalização do
potássio.
8.1. O potássio deve ser seriado até que atinja a normalidade.
8.2. Ficar atento a alterações eletrocardiograficas e a necessidade de re-
petir o gluconato de cálcio.
9. Oximetria de pulso.
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2.3. Alguns especialistas recomendam que você, ao usar o beta-bloquea-
dor, não se atenha a frequência cardíaca em si, mas ao nível de consciência. Você
deve usar até que o paciente comece a ficar sonolento, mas cuidado para não re-
baixar muito o nível de consciência.
5. Oximetria de pulso.
Esta prescrição tem a base do tratamento. Além disso, existem outras reco-
mendações. Vamos às dicas:
• 1. Alguns pacientes terão associado derrame pericárdico. Jamais puncione o
derrame associado a dissecção.
• 2. Alguns paciente não terão hipertensão, podendo apresentar-se inclusive
chocados. Nestes pacientes, reverta normalmente o choque com infusão de cris-
talóides e/ou noradrenalina.
• 3. Não use inotrópicos, como Dobutamina, por exemplo. Como citado na
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fisiopatologia, ela aumentará a frequência cardíaca e, consequentemente, pode
aumentar a lesão.
Você recebe uma paciente de 30 anos que está em seu quinto dia de pós
operatório de uma cesariana. Vinha sem queixas mas hoje começou a ter dispneia
e edema com dor em perna esquerda.
Pensando em TEP você aplica o escore de Genebra que dá média probabili-
dade (sua frequência cardíaca usada foi de 90 bpm.
Então, sendo média probabilidade você pede o d-dímero que vem positivo e a
angiotomografia feita a seguir confirma o TEP. Sua prescrição seria:
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7. Dipirona 1 g, uma ampola EV se necessário.
8. Controle glicêmico.
13. Ativador do plasminogênio tecidual (tPA) 50 mg, fazer dois frascos (100
mg) EV contínuo em duas horas.
Paciente de 50 anos, tabagista de longa data, deu entrada com queixa de tos-
se produtiva (referia que sempre tossia mas que agora houve piora e mudança na
característica do escarro que ficou mais amarelado).
Faz uso rotineiro de um beta-dois agonista de longa duração e corticóide,
mas ainda assim vem tendo muitas crises.
Fica claro o diagnóstico de DPOC exacerbado. Após solicitar os exames labo-
ratoriais e radiografia de tórax, vamos à prescrição.
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evolução para insuficiência respiratória grave e consequentemente ser intubado.
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11. Oximetria de pulso.
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correr em BIC iniciando em 5 ml/h e ajustar ACM.
4.1. É importante deixarmos a pressão sistólica < 160 mmHg para evitar
novos sangramentos.
4.2. A vazão deve ser aumentada em 5 ml/h a cada cinco minutos até
chegar ao alvo. Por exemplo, começamos com 5 ml/h, depois de cinco minutos
passamos a 10 ml/h, depois de mais cinco minutos passamos a 15 ml/h e assim
por diante.
O tratamento profilático com Fenitoína não deve ser realizado de rotina para
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todos os pacientes. Somente aqueles que apresentarem crises é que devem ser
medicadas. Para o tratamento agudo da crise usamos um benzodiazepínico. Op-
ções:
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Vamos ver agora um modelo de prescrição de um paciente com um infarto
agudo do miocárdio com elevação de segmento ST.
Imagine um paciente de 58 anos, 80 kg, pressão 160 x 100 mmHg, frequência
cardíaca de 100 bpm e função renal normal, com inicio da dor há duas horas. Nos-
so paciente passará por terapia fibrinolítica.
Lembrem-se que isso é uma sugestão. O infarto tem muitas particularidades
a depender do caso. Fique atento a possíveis mudanças a depender do paciente
que você esteja lidando.
6. Metoprolol 5 mg EV ACM.
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7. Atenolol 25 mg VO de 12/12 horas.
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Vivemos uma epidemia de depressão e vai ser cada vez mais comum rece-
bermos em nossos plantões pacientes com intoxicações exógenas intencionais.
Existe uma minoria de intoxicações acidentais, principalmente na população pedi-
átrica.
Vamos imaginar um paciente de 16 anos, de 60 kg, que deu entrada na emer-
gência com história de ter ingerido 20 comprimidos de Clonazepam e 20 compri-
midos de Carbamazepina. No momento ele está consciente e orientado, sem quei-
xas. Vamos ver como seria a prescrição e como abordar:
4. Carvão ativado, 50 gramas + 500 ml de água potável, via oral de 4/4 horas.
Obs.: Iniciar 4 horas após a dose de ataque e manter por 24 horas.
4.1. Existem um fenômeno que acontece com algumas drogas chamado
de circulação entero-hepática, onde a droga é absorvida, metabolizada, liberada
pela bile e novamente absorvida. Nas drogas que sofrem esse mecanismo é preci-
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so repetirmos a dose do carvão a cada 4 horas para quelar a droga neste segundo
momento.
4.2. As principais drogas que sofrem esta recirculação são: Aminofilina ou
Teofilina, Barbitúricos, Carbamazepina, Dapsona, Quinina e Digoxina.
5. Ondasentrona 4 mg, uma ampola + água destilada, EV, de 8/8 horas fixo.
5.1. Neste caso eu opto por deixar o antiemético fixo devido às doses
repetidas do carvão ativado que podem causar bastante náusea.
8. Oximetria de pulso.
Perceba que é uma prescrição bastante simples e talvez você esteja se per-
guntando sobre pontos como o Flumazenil, lavagem gástrica, indução de vômitos
e etc. Todas elas são proscritas neste caso e vamos esclarecer cada um deles.
Antes, quero alertar que na maioria das vezes o nosso tratamento será apenas su-
porte até que a droga seja eliminada.
- Flumazenil:
O Flumazenil é um reversor dos efeitos de benzodiazepínicos. Hoje em dia
usamos muito pouco devido a sua pouca eficiência em reduzir mortalidade. Que-
ro chamar a atenção para três situações que contraindicam o seu uso e são muito
comuns:
1. Intoxicações por mais de um agente. Como o nosso caso, que ingeriu
o Clonazepam e a Carbamazepina.
2. Uso crônico de benzodiazepínicos. Pacientes que fazem o uso rotineiro
de benzodiazepínicos podem ter abstinência desencadeada pelo Flumazenil.
3. Curiosidade diagnóstica. Caso você não tenha plena convicção que o
paciente fez uso exclusivo de benzodiazepínicos, não faz-se o uso do Flumazenil.
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- Indução de vômito:
Esta medida foi totalmente abandonada e não se usa em nenhuma situação.
- Lavagem gástrica:
Para explicar este ponto, vou deixar uma passagem ipsis litteris do Rosen:
“A lavagem gástrica, o processo de remoção direta de uma substância
ingerida do estômago usando uma sonda orogástrica de 30 Fr ou maior, também
tem poucos dados ou evidências que mostram sua eficácia e não deve ser realiza-
da rotineiramente para o tratamento de pacientes intoxicados. Devido aos riscos
de aspiração e trauma esofágico, a American Association of Poison Centers suge-
re que apenas seja realizada “dentro de uma hora após a ingestão de um agente
tóxico potencialmente ameaçador à vida que não se adsorve ao carvão ativado
ou para o qual não existe antídoto” e, mesmo assim, em um centro com “experi-
ência suficiente” para executar o procedimento com segurança. Raramente uma
intoxicação atenderá a todos esses critérios; portanto, apesar de seu uso antes
difundido, a lavagem gástrica é hoje praticamente apenas de interesse histórico.”
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