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Pedro Paulo Filho:

Advogado e Escritor Notável

Os que um dia conheceram os negros abismos nos quais pode


precipitar-se a alma humana, esses juram ser pior o esquecimento que
o desprezo. Chamavam os antigos região do esquecimento à própria
morte, porque o mesmo era morrer que ser esquecido.
E quão facilmente deitamos ao olvido até aqueles ilustres varões
dignos de eterna memória!
De todas as profissões é a Advocacia Criminal, sem contradição,
a que mais padece os efeitos desse cruel estigma; ninguém mais
esquecido que o criminalista, a começar pelo cliente. O dia do
benefício é já a véspera da ingratidão!
Houve alguém, contudo (Deus louvado!), que, no intuito de pôr
cobro às injúrias do tempo, tomou sobre si o árduo e grave encargo de
registrar para a posteridade, com arte e talento, os nomes daqueles
vultos singulares que a classe dos advogados tem entre os seus maiores
tesouros: Rui Barbosa, Antônio Covello, Brasílio Machado, Evaristo de
Morais, Sobral Pinto, Dante Delmanto, Américo Marco Antônio,
Evandro Lins e Silva, Raimundo Pascoal Barbosa, Paulo José da Costa
Jr., Waldir Troncoso Peres e muitos outros, os quais, graças ao
advogado e insigne escritor Pedro Paulo Filho, foram “libertos da lei da
morte”(1).
Grandes Advogados, Grandes Julgamentos é livro que não apenas
acrescenta a glória de seu autor, enriquece também a literatura jurídica
nacional.
Minucioso inventário de causas célebres e vasta notícia de seus
patronos, encerra boa doutrina, sempre viva na tradição cultural dos
povos, que manda educar e instruir as gerações à luz do exemplo
daquelas grandes figuras do passado, porque protagonistas e artífices
da História, que é, na opinião de Cícero, “a testemunha dos tempos, a luz
da verdade, a vida da memória, a mestra da vida, a mensageira da
antiguidade”(2).
2

Mas, donde vem que, sendo em princípio tão copiosos os livros


que trataram o mesmo assunto(3), conquistasse para logo o de Pedro
Paulo Filho número extraordinário de leitores!?
A primeira razão é que as tragédias humanas, quando
submetidas ao veredicto da Justiça, adquirem sempre relevo e
espertam geral interesse. Quer saber o vulgo, por direito seu natural,
se o autor do fato que se debateu nas barras criminais saiu justificado
ou recebeu castigo, “pois cada um deve ter o que merece”(4).
A Humanidade vela sempre pela vitória do bem contra o mal!
Outro motivo, por que se recomenda à leitura o livro Grandes
Advogados, Grandes Julgamentos, é que, precioso repositório de casos do
júri, traz igualmente o resumo dos argumentos jurídicos da Acusação
e da Defesa na discussão do processo no plenário, fonte inexaurível de
ideias e ensinamentos para quem deseja ascender um dia à tribuna do
júri.
Vem a ponto notar que, distintíssimo advogado do júri, Pedro
Paulo Filho deu à sua obra também o valor inestimável de cátedra, na
qual, em atraentes preleções, professou o Direito Penal, o Direito
Processual Penal e a Arte Oratória.
A boa fortuna com que soube escolher e reproduzir, em
primorosas narrativas, os “grandes julgamentos” constitui atributo
excelente do livro. Coisa difícil, em verdade, era selecionar entre
milhares de casos forenses, aqueles em que, para gáudio e proveito do
leitor, a celebridade do fato e das pessoas que nele foram parte pudesse
concorrer com a alta reputação dos “grandes advogados”. E isto não
apenas hoje e entre nós, mas em todos os tempos e lugares.
E seria mesmo invencível a dificuldade(5), não nos deparasse a
Providência quem a quisesse afrontar: e esse foi Pedro Paulo Filho, que
aos raros predicados de inteligência e consumada literatura aliou a
paixão do estudo e da arte, o ideal de bem servir e, sobretudo, o amor
imenso à Advocacia.
Ao demais — grande mérito do livro! —, foi escrito em
linguagem polida e estilo elegante, o que lhe torna a leitura em
extremo agradável e lisonjeira.
3

De seu autor e da obra não se pudera dizer menos do que o


profundo Antônio Vieira na aprovação do livro clássico de Luís de
Sousa: “O estilo é claro com brevidade, discreto sem afetação, copioso sem
redundância, e tão corrente, fácil e notável que, enriquecendo a memória e
afeiçoando a vontade, não cansa o entendimento”(6).
Os que, por ônus do ofício, amor do estudo ou salutar hábito de
boa leitura, tiverem ocasião de ler Grandes Advogados, Grandes
Julgamentos serão alcançados em grande dívida para com o seu
benemérito autor — o exímio advogado Pedro Paulo Filho —, que lhes
tirou a público livro que não somente deleita o ânimo, senão ainda
ilustra e aprimora os cabedais do espírito.

Pedro Paulo Filho


(Tribuno do Júri e elegante escritor)
4

Notas

(1) Camões, Os Lusíadas, I, 15.


(2) “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra
vitae, nuntia vetustatis” (De Oratore, lib. II, cap. IX, 36).
(3) Os “Casos do Júri” constituem gênero literário de que se
ocuparam notáveis e laureados publicistas: Henri Robert, Os
Grandes Processos da História, 1943; Alberto de Carvalho, Causas
Célebres Brasileiras, 1898; Carlos de Araújo Lima, Os Grandes
Processos do Júri, 1955; Sousa Costa, Grandes Dramas Judiciários,
1944; Alcântara Silveira, Grandes Julgamentos da História, 1968;
Paulo José da Costa Jr., Crimes Famosos, 2003, etc.
(4) “A pena traduz, primacialmente, um princípio humano por excelência,
que é o da justa recompensa: cada um deve ter o que merece” (Nélson
Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais. p. 131).
(5) “Não há matéria no mundo mais perigosa que medir sangues e pesar
talentos”, escreveu o discreto Francisco Manuel de Melo (Apólogos
Dialogais, 1920, p. 315).
(6) Cf. Luís de Sousa, História de S. Domingos, 1767, 3a. parte, p. VI.

Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp

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