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Reitor
Antonio Manoel dos Santos Silva
Vice-Reitor
Luis Roberto de Toledo Ramalho
PERSPECTIVAS
Revista de Ciências Sociais
ISSN 0101-3459
PRSVDY
Comissão Editorial
Fausto Saretta, Giovanni Alves, Marcelo S. Ridenti, Maria Teresa Miceli Kerbauy,
Milton Lahuerta, Tullo Vigevani
Conselho Consultivo
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Bibliotecária: Cristina Aurora B. Giollo Santos
Profª Leila Cury Rodrigues (língua inglesa)
Secretária Executiva: Eliane Aparecida Camara Haddad
CULTURA POLÍTICA
TEORIA SOCIAL
AMÉRICA LATINA
TRADUÇÕES /TRANSLATIONS
RESENHAS/REVIEWS ..........................................................................295
Aloísio RUSCHEINSKY1
2 Para obter uma explanação mais ampla sobre esta temática, consultar o texto do autor
(Ruscheinsky, 1996).
3 Com o transcurso de uma série de fatores sucessivos passa a ter os primeiros contornos a
terceira fase apontada, referindo-se ao caso paulista em particular. A gestão administrativa
Montoro/Covas deu vazão parcial à demanda por participação em diversos níveis. A mobilização
pelas eleições diretas à presidência da República, com seu auge em 1984, mexeu diretamente
com a questão das reais possibilidades de representação política, com a vigência das regras
democráticas sobre o processo eleitoral. O processo resultou na aliança política denominada
Nova República – com exclusão de parcela das forças que apostava tudo na volta das eleições
diretas e, ao mesmo tempo, sem que esta se visualizasse claramente como a expressão dos
anseios populares contidos nas mobilizações.
4 Por mais que aqui se insista no relacionamento entre movimentos sociais e partidos, por certo
as análises dos novos movimentos sociais revelam a crise existente no sistema político de repre-
sentação de interesses, ou seja, que a forma tradicional de organização partidária fica aquém de
problemas modernos encarados pelos novos movimentos sociais. Confira-se a propósito a com-
preensão de Touraine sobre a estranheza entre partidos de esquerda na Europa e seu relaciona-
mento com temas culturais, ecológicos, de gênero, entre outros.
5 Isto é, a afirmação necessita a cada momento ser qualificada em seus respectivos parâmetros e
na ambigüidade entre o velho e o novo, ou nas mudanças com a presença de aspectos inovado-
res. Neste sentido, por certo, qualifica-se a crise como positiva.
7 Por mais que a realidade não possa ser reduzida a nenhum dos pólos, a “participação é sempre
um ato de fé na potencialidade do outro. É acreditar que a comunidade não é destituída, mas
oprimida. É assumir que pode ser criativa e co-gerir seu destino” (Demo, 1988, p.60). De outro
lado, é necessário reconhecer que a ação política na periferia paulista possui um débito da
experiência de aplicação das orientações metodológicas de Paulo Freire, onde lideranças extraí-
ram referencial para tentar contornar a dualidade entre teoria e prática, objetivo e subjetivo,
condições de existência e ação dos agentes.
10 Questão discutida por Maria Ângela Souza in Nascimento & Barreira, 1993. Ocorre, por vezes,
que lideranças do movimento ficam desapontadas com a possibilidade da venda da casa após
longo empenho. Tanto sacrifício empreendido e por ausência de conscientização política vai por
água abaixo a luta pela melhoria de condições de vida. Esta análise parte de dois pontos de
vista: 1. como se o movimento representasse a meta de converter os membros para uma vida
asceta, onde a casa passa a ter maior dimensão ética do que comercial; 2. como se os indivíduos
de fato não continuassem no mercado. Parece que para compreender as contradições existentes
no discurso da importância da casa para o trabalhador – com a conseqüente luta árdua para
consegui-la e o fato de que número considerável quer desfazer-se dela – é necessário elucidar o
universo e a lógica que habita estas práticas. Ao conseguir um bem de consumo de maior valor
outras razões dependentes do mercado não desaparecem. Inúmeros fatores podem influenciar a
transferência nominal.
As contradições contidas no procedimento das ocupações de áreas para resolver o proble-
ma da moradia se pautam pelo seguinte: primeiro sobrepõem-se à tolerância legal, colocando-se
à margem da ordem jurídica, ou seja, contrapõem-se às regras vigentes que protegem os pro-
prietários dos ataques de invasores; segundo, na perspectiva da cidadania juntam-se forças,
num sentido inverso ao anterior, a fim de pressionar a ordem para integrar-se ao sistema de
reconhecimento da condição legal de proprietários de um imóvel urbano, ou, dito de outra for-
ma, resta o dilema de empenhar-se para auferir vantagens da mesma legislação violada. Tal fato
traz, portanto, os respectivos dilemas para os militantes partidários que tendem a acompanhar
as lutas populares e ao mesmo tempo atuam no campo da definição da legalidade.
3 As manifestações públicas
11 Deste ponto de vista “muitas vezes, é menos importante o impacto imediato nos locais em que
se realizam, que o fato de obrigar os meios de comunicação a informar sobre a ação de protesto,
rompendo o silêncio que busca impor o monopólio dominante sobre as comunicações” (Evers et
al., 1982, p.139).
12 O abaixo-assinado no mais das vezes é dirigido a uma instância de poder do Estado, tendo em
vista a agilização de uma política pública. Enquanto tal, não tem sido consolidado como tática
de negociação em muitos casos, pois, reconhecido como recurso muito limitado, podendo even-
tualmente acompanhar outras formas de encaminhamento, tem uso efetivo e vigência em certos
momentos que ultrapassam o seu âmbito, como para apostar nas emendas populares e em
projeto de lei. Ao que parece, ações consideradas politicamente mais eficazes são priorizadas.
5 O saldo positivo
Introdução
1 Este artigo segue, em suas principais linhas, o capítulo IV da dissertação de Mestrado, intitulada
Pensamento social brasileiro, entre 1960 e 1980. Trajeto de um grupo de intelectuais marxistas
acadêmicos, defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia – UNESP – Araraquara,
em outubro de 1995. Na dissertação, analisamos o movimento de elaboração teórica de um
grupo de intelectuais, composto por Fernando Henrique Cardoso, Francisco Corrêa Weffort,
José Arthur Giannotti, Paul Singer e Octavio Ianni. Todos integrantes do antigo grupo d’O Ca-
pital (1958-1964) e, a partir de 1969, membros fundadores do Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (CEBRAP). Neste artigo, em razão do que nos propomos, restringimos a análise
em torno de Cardoso, Weffort e Ianni.
2 Departamento de Ciências Humanas – Faculdade de Arte, Arquitetura e Comunicação – UNESP –
17033-360 – Bauru – SP.
3 Para uma visão global das três hipóteses levantadas, remetemos o leitor para nossa dissertação.
4 Uma definição precisa desse conceito, que norteou as análise de Cardoso, Weffort e Ianni, entre
outros, encontra-se em uma citação do próprio Cardoso: “A ‘dependência estrutural’, tal como
a concebemos, se distingue do conceito de ‘dependência externa’ utilizado pelos economistas e
da idéia que existe um ‘setor estrangeiro’ nas economias subdesenvolvidas ... Entretanto, essa
diferenciação parece modificar-se quando a economia interna se internacionaliza, isto é, quan-
do passa a operar estruturalmente vinculada ao modo internacional de produção industrial-
capitalista, adotando suas técnicas produtivas e mantendo relações do controle acionário nacio-
nal e externo” (Cardoso, 1970, p.178). Na realidade, esse conceito, a partir dos anos 60, estava se
desenvolvendo no debate latino-americano, não sendo correto identificar apenas em um intelec-
tual o surgimento dessa discussão. Basicamente, a idéia de “dependência estrutural” contrapu-
nha-se às primeiras formulações cepalinas e às teses dos partidos comunistas.
eu penso o Estado como forma, como arena, como matriz de valores e last
but not least, como organização. Penso-o, pois, como objetivamente contra-
ditório, na medida em que ele sintetiza o interesse particular e a aspiração
geral e que nele se degladiam interesses não sempre hegemônicos. Entender
o modelo político do Brasil consiste, antes de mais nada, em explicitar a for-
ma estatal, a organização estatal, a ideologia do Estado, as políticas por ele
engendradas. Ao fazê-lo, explicitam-se os que mandam, os que são benefi-
ciados, os que são excluídos e os que participam. (Cardoso, 1975, p.196)
Cabe ressaltar que estava sendo proposta não apenas uma ação po-
lítica de denúncia ao regime militar, mas principalmente uma ação na
qual a centralidade política desenvolvia-se em torno da reivindicação
feita ao Estado, colocando “concretamente alternativas”. Há uma inflexão
do pensamento político, descartando-se de grandes temas e propondo
a recuperação de questões mais cotidianas.
A dificuldade das oposições estaria justamente em equacionar
essa contradição presente no capitalismo brasileiro, entre, de um lado,
o desequilíbrio regional, má distribuição de renda, pauperismo rural e
urbano e, de outro, bolsões de prosperiade urbano-industrial. As opo-
sições olhavam somente “um lado da moeda”, deduzindo “racional-
mente” toda uma estratégia e um conjunto de táticas que levaram ao
seu isolamento no conjunto da sociedade. Elas teriam partido da pre-
missa, segundo Cardoso, de que o capitalismo brasileiro não poderia
avançar e, por outro lado, dada a fraqueza da sociedade civil (dos gru-
pos sociais, dos sindicatos, das associações profissionais etc.), não
haveria chances – como houve nas outras sociedades industriais – para
que as massas urbanas se organizassem e atuassem politicamente.
como se os operários das fábricas, por viverem numa situação mais “adianta-
da” que a dos “camponeses” pobres ou dos favelados sem emprego (como se
as pesquisas não mostrassem todo o tempo que as favelas são também habi-
tadas por trabalhadores!) estivessem contaminados de antemão pela prospe-
ridade, como se os profissionais liberais não tivessem, até por razões pura-
mente ideológicas, como no caso dos magistrados, boas razões para não se
alinharem com o governo, como se os homens das novas profissões (os publi-
citários, os técnicos, os programadores de computador, os cientistas), só por
serem num dado momento parte do sistema, não pudessem, noutro momen-
to, voltar-se contra ele. (Cardoso, 1973b, p.8)
Considerações finais
Referências bibliográficas
Richard MISKOLCI 1
3 “Wer die Schönheit angeschaut mit Augen/ Ist dem Tode schon anheimgegeben.”
Referência bibliográfica
Bibliografia consultada
Renato FRANCO1
Censura e modernização
O romance da repressão
Era isso: a revolta crescia porque o homem não queria admitir que fosse
torturado pelo próprio homem – a revolta maior estava neste fato. E os ho-
mens não seriam tão cruéis e dramáticos se seu inimigo fosse apenas um
animal qualquer... (p.57)
e também
ou ainda:
O pequeno rato poderia ser o seu relógio – poderia por ele marcar as
etapas daquele confinamento, e então a sua orientação seria melhor para or-
ganizar os pensamentos e saber. (p.65)
E também:
E teve medo agora, após a pacífica descoberta dos entes que tinha ama-
do, de um passado ainda de peças soltas – e teve medo que seu ódio estives-
se crescendo, tomando a forma de uma revolta mais violenta. Não, não por
este caminho.
Não por este caminho – a sua revolta era apenas resistir, sobreviver,
como sobreviveria o pequenino rato em sua vida adversa... (p.68-9)
■ ABSTRACT: This essay analizes, at one hand, the meanings of the use of
the censorship during the military dictatorship – specially between 1968 and
1975. In a (presumably) pioneer approach, it intends to establish relationships
between the use of the censorship, the modernization of culture and the
inclination to the globalization (or “americanization”?) of the cultural life. At
the other hand, it intends to clear the issue of how the novel reacted to the
censorship.
■ KEYWORDS: Brazil: military era; Brazil: the seventies; history and literature;
brazilian literature: seventies; censorship and culture; novel and politics.
Referências bibliográficas
Raimundo SANTOS1
2 “A mudança social mais impressionante e de mais longo alcance da segunda metade deste
século e que nos isola para sempre do mundo do passado é a morte do campesinato” (Hobsbawm,
1995, p.284).
3 Na interpretação de Carlos Nelson Coutinho, no primeiro texto Caio Prado Jr. teria coincidido
com Gramsci ao descrever traços de revolução “pelo alto” e de “revolução passiva” na moderni-
zação brasileira da segunda metade do século passado (Coutinho, 1990).
4 A revista Cadernos do Nosso Tempo do Ibesp (depois Iseb) publicou no seu n.2, de jan./jun. de
1954, uma resenha daquele debate “Três etapas do comunismo brasileiro”, sem autoria, in
Schwartzman, 1982.
5 Para Luiz Carlos Bresser Pereira, a resistência provinha do uso da categoria de circulação como
critério definidor do capitalismo na fase “ainda juvenil”. Valendo-se disso o historiador pecebista
não conseguiria entender o processo de constituição da ordem burguesa-industrial e nunca
mais se afastaria da imagem sombria de Brasil (Bresser Pereira, 1993). A proposição precisaria
ser matizada porquanto, como se sabe, na produção contemporânea Caio Prado Jr. aceita sem
reservas a ontologia econômica marxista-leninista.
discussão (PCB, 1958; Carone, 1982). Daí em diante, a imagem de Brasil do PCB iria mudar
progressivamente à medida que ele reconhecesse o industrialismo, a subordinação da lógica da
formação social à chamada contradição antiimperialista e conferisse importância às liberdades
públicas que vinham se afirmando desde o 24 de Agosto.
9 Esse texto chama a atenção para duas passagens. Primeiro, a posição a favor da tese das refor-
mas de estrutura com democracia como via alternativa a 1917, como vinha propondo o PCI
desde o XX Congresso. O autor concorda com essa nova política de renovação democrática (sic),
igualmente aprovada pela declaração conjunta dos comunistas franceses e italianos, de 27 de
dezembro de 1958, chegando a citar Enrico Berlinguer para explicá-la: “A palavra de ordem de
desenvolvimento econômico e político democrático e de reformas de estrutura nada têm em
comum, pois, com uma política reformista que se propõe apenas introduzir, pela cúpula no
sistema capitalista, determinadas correções de caráter paternalista. Para nós uma política de
desenvolvimento democrático e de reformas de estrutura significa que, sobre a base do avanço
do movimento de massas, podem ser levadas a efeito radicais transformações na esfera da pro-
dução, que constituam outros golpes contra as grandes concentrações da propriedade e do
Poder”. Em outra passagem, Marco Antonio Coelho observa que o novo caminho pressupunha
“um clima de democracia, quando haja respeito pelos direitos inscritos na Constituição. Sendo
assim a tática das soluções positivas determina que se trave a defesa das liberdades e o comba-
te pelo aperfeiçoamento do regime democrático” (Coelho, 1960).
10 Desde antes já se registram fatos sintomáticos dessa compulsão, como, por exemplo, a disputa
durante a discussão de 1956/1957, quando alguns comunistas renovadores procuraram levá-la para
temas substantivos em vez do debate doutrinário. Imediatamente depois, a criação das revistas
Novos Tempos (de curta duração) e sobremaneira Estudos Sociais, bem diferente da publicação
oficial dos PCs Problemas/Revista Internacional/Problemas da Paz e do Socialismo, que ocupava a
quase totalidade de suas páginas para reproduzir material de formação ideológica e traduções.
12 Durante os debates de 1956/1957, Agildo Barata já mostrara esse descompasso como um dado
a sugerir que o “processo revolucionário” da época devia ser compreendido como uma fase
inicial de acumulação de forças, o que implicava, por sua vez, dar maior atenção ao problema da
formação de uma ampla frente única. Ainda segundo ele, só o surgimento de um governo nacio-
nalista e democrático, que introduzisse democratismo na vida política, poderia criar condições
para uma mobilização da população em grande escala (Barata, 1957).
13 Aliás, sem participar diretamente da controvérsia (no seu livro de 1962 apenas registra numa
nota a discordância de Caio Prado Jr. com a tese da feudalidade), Nelson Werneck Sodré apre-
senta uma pequena dissertação sobre o que ele chama de fenômeno da “regressão feudal” de
vastas áreas escravistas para um regime de servidão e semi-servidão. Eis o argumento: dada a
inexistência de uma estrutura econômica adequada e a disponibilidade de terras, à hora da
constituição do mercado de trabalho livre, aquele fenômeno regressivo consistira numa “inva-
são formigueira” de milhares e milhares de pequenos produtores e pequenos criadores que
estabeleceram suas roças nos grandes vazios. Além disso, esses “camponeses” carregaram
todas as conseqüências culturais da longa vigência do escravismo, configurando um “quadro
inequivocadamente feudal”, como ele diz, quando se apóia em Mariátegui; ou um mundo cons-
tituído “ao modo prussiano” (sic), quando se refere a Lenin de O programa agrário da social-
democracia russa (Sodré, 1962; Santos, 1996b).
14 Referimo-nos aqui ao ensaio de Luiz Werneck Vianna (1988a) “Vantagens do moderno, vanta-
gens do atraso”. E ainda Questão nacional e democracia: o Ocidente incompleto do PCB (1988b)
em que este autor faz uma leitura da trajetória comunista contemporânea sob a chave Oriente/
Ocidente.
15 Esse tema da impossibilidade de 1917 nunca aparece problematizado por completo, embora às
vezes fique bem sugerido nas “construções teóricas” que permeiam vários documentos pecebistas,
como desenvolvimento econômico, tendência permanente à democratização, gradualismo e
democracia política, sucessão de governos reformistas, via pacífica, soluções positivas etc., a
esboçar o que poderia ser uma espécie de “via política ao socialismo”, como no caso dos comu-
nistas italianos.
16 Fragmon Borges registra à época essa mudança: “A partir de 1960, principalmente em conse-
qüência de uma avaliação falsa do nível de consciência das massas camponesas e da sua orga-
nização e de apreciação incorreta da experiência da Revolução Cubana, o deputado Francisco
Julião passou a adotar posições que o levariam, num processo, a se isolar do movimento campo-
nês e a perder a sua liderança efetiva”. Fragmon Borges considerava decisiva a contribuição de
Julião mas lamentava que ele tivesse se desligado “materialmente das origens e bases de sua
liderança”. Sua avaliação das Ligas era a de que elas constituíam um movimento bastante
incipiente (Borges, 1962; Santos, 1996b).
17 Uma pista para averiguar o ponto seria consultar o jornal comunista pernambucano Folha do
Povo, depois substituído por A Hora. Ademais, seria interessantíssimo encontrar e confrontar a
conjectura com o folheto de Julião Cartilha do camponês (redigido um pouco antes desse mo-
mento e publicado em 1959) e também com o seu romance Irmão Joazeiro, escrito “de uma só
pancada”, como se soube na época, como narrativa dramática da luta de um grupo de eiteiros
contra o latifúndio (Julião, 1960).
18 Isto está escrito num texto de 1994, no qual Julião procura retirar do termo “radical” do lema da
reforma agrária o que ele reclama ser uma distorção atributiva de sectarismo, conferindo-lhe o
sentido histórico radicalmente antilatifundiário. Não deixa, porém, de registrar: “Houve, não
podemos negar, passos mais acelerados na marcha pela consumação de uma reforma agrária
radical, mas nunca deixamos de assumir essa responsabilidade convencidos de que a história
não é obra somente dos acertos, senão também dos erros cometidos por um povo no seu afã de
conquistar mais liberdade e independência” (Julião, 1994).
19 Luiz Flávio de Carvalho Costa (1996) mostra que há indícios sugerindo que os comunistas se
enraizaram, muito mais do que se pensa, entre os não-assalariados. A razão disso estaria no fato de
que a proletarização, já avançada no pré-1964, ainda não tinha repercutido fortemente no compor-
tamento político-organizacional de alguns atores sociais. A tensão era muito maior nos grupos
envolvidos na questão da terra (idem), sendo possível supor que os arrendatários e os posseiros
configurassem um cenário camponês posto à frente dos atores públicos (Santos & Carvalho Costa,
1997). Como ponto alusivo a uma tendência, quem sabe, mais relevante, poder-se-ia lembrar que
alguns sindicatos criados em estados de capitalismo agrário sumamente débil às vezes recebiam
dos prórpios “camponeses” o nome de “Ligas Camponesas”, aqui registrado o caso do Piauí
entre 1962 e 1963 em Rascunho memorialista (Santos, 1967).
20 Caio Prado Jr. dirige a sua crítica tanto ao documento “Sugestões iniciais para um programa de
governo que faça as reformas de base”, enviado a Santiago Dantas em 19.1.1964, pela Frente de
mobilização Popular, CGT, UNE, Ubes, Liga Feminina e AP, quanto ao texto do PCB “Posição
dos comunistas”, publicado em Novos Rumos de 20 a 30 de janeiro de 1964 (Prado Jr., 1964).
21 Carlos Nelson Coutinho observa que a argumentação do historiador paulista não só tem outras
raízes, como a aproximação com os setores radicalizados foi meramente ocasional (Coutinho,
1990)
■ ABSTRACT: The article describes both the debates within the Brazilian
Communist Party and between the Communist Party and Francisco Julião
in the 60’s seen as the most important political discussion on the Brazilian
agrarian problem. The author uses Caio Prado’s arguments against the feu-
dal theory of the Communist Party as a way to describe two kinds of agrarism:
the agrarian trade-unionism blended with peasant unionism of the
communists and Julião’s peasant agrarism. Through out the text explores
the question: what type of agrarian reform? Only farmer or farmer combined
with a renovation process of the capitalist agrarian economy?
Referências bibliográficas
3 Tomo de empréstimo de Delma Pessanha Neves (1995) o termo, recomendando sua análise das
relações entre Estado e reforma agrária.
Esse encontro está vedado às mulheres. Sem ser titulares, não po-
dem sequer pleitear o crédito. Mesmo quando são titulares – em sua
maioria em virtude de uma impossibilidade legal do marido – acabam
não tomando nenhuma decisão no tocante à organização da produção
e reprodução social: as operações idealizadas e atribuídas ao futuro
agricultor excluem as mulheres. Somente passam pelo crivo legal do
cadastro em situações de exceção, ou seja, no caso das viúvas com fi-
lhos, ou quando for comprovada a impossibilidade do marido, que con-
tinua o “chefe da casa”, apesar de a mulher ser a titular do benefício.
Se o assentado, no plano formal e prático “está reduzido ao silên-
cio, porque excluído do debate que o torna personagem social e polí-
tico” (Neves, 1995, p.194), a mulher nem entra na concepção estatal
como sujeito virtual dos projetos de assentamento. Mais uma vez, pro-
cura-se excluir experiências anteriores, referentes à participação das
mulheres no movimento de luta pela terra.
O autoritarismo das regras se revela igualmente no processo de
seleção, problemático, decidido independentemente de uma discus-
são – com lideranças dos movimentos da luta pela terra – sobre o perfil
dos ocupantes ou candidatos a uma área de terra. A presença das
mulheres é pontuada na seleção, que privilegia o fato de o candidato
a beneficiário ser casado, o que implica reconhecimento ou relativização
do tratamento discriminado dispensado às mulheres. Tais práticas
autoritárias desdobram-se na imposição das formas de organização da
Concluindo...
■ ABSTRACT: This paper deals with the building of experience in the rural
settlements in relation to the conflict between the demands of the state project
and the attempt of creating a new way of life by the settled workers. The
tensions created in such a conflict are due to develop acts of violence in the
routine of every day and also in the relations of family and gender and of
production (or in the family, gender and production relations). There is also
on the part of women some episodes of refusal and resistence to what is
imposed on them.
Referências bibliográficas
Bibliografia consultada
Jesus J. RANIERI1
2 Seguimos aqui a expressão usada pelo próprio Marx na “Introdução” aos Grundrisse: “die
wissenschaftlich richtige Methode”.
3 O texto do professor Müller foi de extrema utilidade na elaboração deste trabalho, pois contri-
buiu para dirimir dúvidas, assim como na direção escolhida para o desenvolvimento de nosso
argumento, o que inclui alguns pontos de contato no que respeita à formulação dos conceitos de
exposição e crítica, além da concordância com algumas de suas conclusões.
Quanto mais um objeto é concreto, tanto mais lados tem, que lhe per-
tencem e podem servir de medius terminus. Qual dentre esses lados seja mais
essencial que o outro, isso depende, por sua vez, de um tal silogizar que se
atém a uma determinidade singular e pode para ela encontrar também facil-
mente um lado e um ponto de vista, segundo o qual ela se faz valer como
importante e necessária. (Hegel, 1995, p.319)
4 Também para Hegel o concreto só se apresenta como unidade sintética. O concreto é a própria
resolução da suprassunção (Aufhebung): “Esse racional ... embora seja algo pensado – também
abstrato –, é ao mesmo tempo algo concreto, porque não é unidade simples, formal, mas unidade
de determinações diferentes. Por isso a filosofia em geral nada tem a ver, absolutamente, com
simples abstrações ou pensamentos formais, mas somente com pensamentos concretos” (Hegel,
1995, p.167). E também: “Na singularidade concreta, de tal maneira que a determinidade sim-
ples na definição é apreendida como uma relação, o objeto é uma relação sintética de determi-
nações” (Hegel, 1995, p.361).
III
Do ponto de vista da apreensão científica da especificidade do
diverso, isto quer dizer que a simples exposição da particularidade
5 “Porque a idéia absoluta não tem nela nenhum passar, nenhum pressupor e, de modo geral,
nenhuma determinidade que não seja fluida e translúcida, a idéia absoluta é para si a forma pura
do conceito, que intui seu conteúdo como a si mesma. É, para si, conteúdo, enquanto é o seu
diferenciar ideal entre si e si mesma, e um dos termos diferenciados é a identidade consigo, mas
na qual a totalidade da forma está contida como o sistema das determinações-do-conteúdo. O
conteúdo é o sistema do lógico. Como forma, nada resta aqui à idéia senão o método desse
conteúdo: o saber determinado do valor de seus momentos” (Hegel, 1995, p.367).
6 Ética cuja ação está configurada na atividade prática da idéia, ou seja, no bem: “A verdade do
bem é posta ... como a unidade da idéia teórica e da idéia prática, [de modo] que o bem é
alcançado em si e para si – o mundo objetivo é, assim, em si e para si, a idéia, tal como ao
mesmo tempo ela eternamente se põe como fim, e mediante atividade produz sua efetividade”
(Hegel, 1995, p.366, colchetes da tradução utilizada).
IV
Como conclusão, devemos sumariar: o recurso à abstração é a
forma que Marx encontra para consolidar o método, do ponto de vista
daquilo que ele chama de “cientificamente correto”. É esse recurso –
pois o ser racional da abstração o é por encontrar na aparente igualda-
de a imanência e o valor da diferença – que garante a percepção e a
compreensão da relativa autonomia histórica do objeto. O sentido da
abstração está no seu papel de emprestar à especificidade do ser a
cadência própria do método, o permitir revelar como verdadeiro so-
mente o que em si já pode ser tomado como resultado; precisamente,
revelar o movimento particular das determinações no processo de com-
posição da singularidade.
A relação existente entre as chamadas abstrações racionais e a
expressão resultante do método expositivo-crítico de Marx, na sua di-
ferenciação para com o de Hegel, está localizada no arcabouço que as
referidas abstrações concedem à averiguação ontológica propriamen-
te dita. Os elementos componentes da forma já completada da relação
social capital só tiveram sua roupagem definida e desvelada no mo-
mento em que o próprio capital se pôs como base histórica da socia-
bilidade contemporânea, na sua diferenciação com as sociabilidades
anteriores. Nesse sentido, o caráter em si racional da abstração está
no trato dispensado à individualidade como forma de apropriação ideal
(lógico-causal) dos objetos.
7 Neste momento da “Introdução” aos Grundrisse, aparece um outro aspecto da absorção marxiana
de Hegel, notadamente a compreensão de Marx do conceito de efetividade: este autor defende
que o efetivo enquanto produto efetivo só o é quando consumido, e exemplifica argumentando
que uma casa desabitada não é uma casa efetiva (o conceito efetivo de casa). Portanto, o produ-
to só se torna efetivamente produto (o conceito de produto) no consumo. Em Hegel, por seu
turno, o efetivo está para além do que é real porque entre aquilo que é suprassumido (aufgehoben)
e o ser-aí (Dasein) do objeto, sua existência, coloca-se a condição para a efetividade, que é
resultado. O real, em si, não é racional do ponto de vista hegeliano. Somente a realidade tornada
sintética, suprassumida, é que se põe como o efetivo verdadeiro. O efetivo é reconhecido como
tal pelo fato de colocar-se acima do que é contigente, daquilo que, apesar de expressar possibi-
lidade de existência, pode não ser. Nossa impressão é que Marx procurou reter este rigor con-
ceitual preconizado por Hegel, ainda que não o fizesse segundo a perspectiva mistificadora do
idealismo.
■ ABSTRACT: This article aims to clarify which the existents relations between
some Hegel’s metodological reflexions and its Marx’s incorporation in the
Grundrisse.
Referências bibliográficas
■ RESUMO: Este artigo discute a temática das relações entre ética e socieda-
de na teoria sociológica de Durkheim, enquanto expressão de uma nova forma
de produção da vida material dos homens em sociedade: o capitalismo.
1 Introdução
3 Durkheim:
Durkheim: uma apr o ximação prel
prel iminar
3.6 Do socialismo
4.1 Da ética
4.2 Da sociedade
Referências bibliográficas
Bibliografia consultada
A lógica do intervencionismo
2 CIA – Relatório de Pesquisa: “Por que a Revolução Cubana de 1958 levou à aliança de Cuba com
a URSS”.
3 Para uma análise da intervenção dos Estados Unidos na Guatemala, ver Ayerbe, 1992.
Agricultura 37 70 70
Indústria 85 95 100
Construção 80 98 100
Transporte 92 95 100
Comércio 52 75 100
Comércio no atacado 100 100 100
Comércio exterior 100 100 100
Sistema bancário 100 100 100
Educação 100 100 100
5 Conceito que mede o produto bruto de acordo com os parâmetros de uma economia centralmen-
te planejada.
* 1973
Fonte: Rodriguez,1980, Tabela 6.
Preço
internacional Preço pago a
Anos de mercado(a) Cuba pela URSS Diferença
6 Estimativas da Cepal com base em pesquisas na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México,
Peru e Venezuela. No caso de Cuba, os dados são elaboração dos próprios autores.
Cuba 18,8
Costa Rica -4,7
Guatemala -5,1
Honduras -2,7
Panamá 2,3
República Dominicana 10,6
Jamaica 7,4
Cuba Taiwan
7 A Emenda Torricelli amplia a proibição de as companhias dos Estados Unidos e suas subsidiá-
rias no exterior realizarem negócios com Cuba; proíbe aos barcos que passam pelos portos
cubanos de realizarem transações comerciais nos Estados Unidos e autoriza o presidente norte-
americano a aplicar sanções a governos que promovam assistência a Cuba. Para uma análise da
política de Clinton em relação a Cuba, ver Erisman (1995).
8 A lei Helms-Burton autoriza cidadãos dos Estados Unidos proprietários de bens expropriados pela
revolução cubana a processarem empresas estrangeiras que usufruam as propriedades e permite
que o governo norte-americano barre a entrada no país de empresários e executivos dessas empresas.
AYERBE, L. F. The external politics of the United States and the Cuban
development. Perspectivas (São Paulo), v.20/21, p.197-221, 1997/1998.
Referências bibliográficas
Españolísima por su idioma, por su sangre, por sus hogares, por su arte
y su literatura, y cristianísima, a la vez, por su fe tradicional, por el tesoro de
su Religión, Lima, la Lima de ayer y de hoy, la Lima de siempre, la Lima
inmortal, ostenta su donosura y su encanto, sostenidos por esa virtud acriso-
lada y esclarecida que transparenta la doctrina de Jesucristo. (Rivera, 1960,
p.19)
la miseria que envuelve a Lima es por las inmigraciones ... vienen de afuera
con sus complejos, traumas y qué sé yo. La mediocridad, la delincuencia, la
hauchafería, como existe en cualquier conurbanización mundial, provienen
de fuera... (Castro Bastos, 1976, p.75)
Para mí, Tradición es todo aquello que se fue con la Lima de Manuel
Atanasio Fuentes, “El Murciélago”, y Abelardo Gamarra “El Tunante”; con
esa Lima de don Ricardo Palma y aquella que despidió José Gálvez, tan peruana
y tan criolla como el buen pisco y la exquisita carapulca; en la que llamabamos
a nuestros padres “papá” y “mamá” y no como el ahora tan espantosamente
extranjerizante y huachafo “papi” y “mamy”. (Ayarza de M. Solar, 1958, p.16)
Lo que yo creo es que deberías irte del Perú cuanto antes, Joaquín. Aquí
te estás desperdiciando, hombre. Tienes que acceptar un hecho irreversible:
los blancos, los que éramos dueños de este país, estamos de salida, vivimos
encerrados y cada vez somos menos. Los cholos nos están botando poco a
poco. Es normal, pues, así tenía que ser. Los cholos son la mayoría. (Bayle,
1994, p.260)
Las furias y las melancolías de Vargas Llosa ante un país “bárbaro e irra-
cional”, los afanes de Bryce para librarse de Echenique, el rechazo de Martín
Adán a “ser feliz con permiso de la policía”, y hasta la provocación de Pablo
Macera diciendo que solamente los estúpidos pueden ser felices en este país;
todas esas voces tienen algo en común, revelan por debajo de disímiles sensi-
bilidades una forma de interioridad que es compartida. Revelan un mismo
desencuentro. (Del Castillo, 1994, p.54)
Hoy, más que forjarse una noción nueva de limeñidad, viene definiéndose
identidades distritales, centralmente en aquellos barrios, que producto de la
invasión, de la lucha épica librada en los arenales han definido personalida-
des colectivas aguerridas y modernas. Tal vez el habitante de Villa El Salva-
dor se sienta peruano y salvadoreño, más no limeño. Lima es sólo un pretex-
to, una contingencia, una causalidad que no lo marca. (Arroyo, 1994, p.85)
5 Existe o “Movimiento Negro Francisco Congo” (surgido nos anos 80 e atualmente dividido em
três grupos pequenos e enfraquecidos), animado por uns poucos intelectuais negros e apoiado
fundamentalmente pela classe média branca. Seu acolhimento entre brancos é maior porque a
própria população negra não se reconhece e desconfia das poses e discursos intelectuais de
seus líderes, alheios à imagem do negro que eles têm. Deve-se também a distância dos povoa-
dos negros de Lima que é o espaço onde se desenvolvem a organização e as atividades deste
movimento. Por estas razões, o “Primer Encuentro de Comunidades Negras del Perú”, organiza-
do por este movimento em 1991, conseguiu reunir apenas um pequeno grupo de limenhos e
alguns representantes dos povos negros do litoral peruano.
6 Em 1991, realizei um trabalho de campo nesta população. Pretendia descrever sua cultura que a
priori imaginava diferente. Grande foi minha surpresa quando não encontrei, após quase um ano
entre eles, nada diferente que pudesse justificar falar de uma “cultura negra”. Conservam algu-
mas músicas e danças, cultivadas principalmente nos dias festivos que se tornaram dias turísti-
cos. Desde 1956, ano em que se apresentou o primeiro espetáculo de folclore negro num teatro
de Lima (“Estampas de Pancho Fierro”), vem-se impondo uma nova dinâmica de relação entre
os espaços próprios e os compartidos que fez que a cultura que antes era “para dentro” passasse
a ser pública e seus elementos, gradualmente, deixassem de propiciar a idéia de ser cultural e
efetivamente diferentes. Desde então, crenças, festividades e muitas expressões musicais pró-
prias desapareceram (Vásquez, 1982; 1991). Nos dias de hoje, é a cultura urbana limenha a que
comanda a vida cotidiana, a fala achorada, a sociabilidade lúdica, a música salsa etc.
3 Heterogeneidade e complementaridade:
a nova identidade
No he podido decir, como tantos, como muchos, como los viejos, “mi
Lima”. Yo vivo en una ciudad en la cual la mayoría de sus nombres me dicen
poco: Ancieta, Santa Cruz, Bayóvar, Pampas de San Juan, Balconcillo,
Tawantinsuyo. (Sánchez Leon, 1993, p.13)
7 Canevacci salienta, neste sentido, que “O plural de eu já não é nós. Ou melhor, não pode ser
mais somente nós ... Isso significa que cachos de ‘eu’, entre si harmônicos ou em contraste,
podem conviver dentro do mesmo sujeito. Sem mais explosões patogênicas. Mas multiplicando,
justamente, o eu. Transformando-o em ‘eus’. Isso permite viver partes, pedaços de subjetivida-
de com uma relativa autonomia. E diversidade” (1996, p.99).
8 Grompone (1991) informa-nos que em Lima a maioria dos jovens de hoje trabalha em pequenas
empresas ou atividades de comércio do setor informal. Ao ser um trabalho temporário e
descontínuo, ele promove uma atitude flexível que leva estes jovens, incessantemente, a terem
e não terem dinheiro, e a saberem-se dependentes do “aparecimento” dos cachuelos (bicos).
Promove igualmente um distanciamento da política e das organizações tradicionais (tais como
10 Seguindo Bachtin, Canevacci salienta a importância de conhecer e dialogar com o Outro para
descobrir o Eu: “eu sujeito posso me tornar tal somente mediante uma troca dialógica radical
com uma diferença ... É ao me descobrir para o outro que me descubro” (1996, p.40-1).
11 Janice Theodoro salienta o contrário. Esta autora afirma que na América Latina a tática tem sido
“antropofágica”, isto é, “engoliram o Outro (conquistador) e a Outra cultura numa tentativa de
reprocessar o universo cultural dominante de forma que o resultado fosse fusão” (1996, p.11).
pensar e agir com graça e informação acima das linhas étnicas, cultu-
rais, lingüísticas. E o primeiro passo para tornar-se uma pessoa assim está
em reconhecer que não somos uma grande família mundial, nem temos pro-
babilidades de ser: que as diferenças entre raças, países, culturas e suas vá-
rias histórias são pelo menos tão profundas e duráveis quanto suas seme-
lhanças; que essas diferenças não são divagações da norma européia, mas
estruturas eminentemente dignas de ser reconhecidas por si mesmas. No
mundo futuro, quem não puder navegar através da diferença estará liquida-
do. (ibidem, p.84)
12 Na Amazônia peruana, desde o Congresso Amuesha reunido em 1969, encontramos quase uma
centena de organizações indígenas agrupadas na Aidesep (Asociación Inter-Etnica para el
Desarrollo de la Amazonía Peruana) e na Conap (Confederación de Nacionalidades de la Amazonía
Peruana). Esses movimentos criaram um discurso centrado na necessidade de defender um
vasto território multiétnico no qual poder-se-iam ver livres das transformações, explorações e
expropriações das quais são vítimas (especialmente por parte dos madeireiros, narcotraficantes,
fazendeiros, petroleiros, senderistas, emerretistas, colonos e soldados). Poder assim reger-se
segundo suas próprias normas, culturas, línguas e autoridades, sem por isso deixar de ser pe-
ruanos ou querer conformar outra nação. O problema é que a conexão, a conciliação e o con-
senso com o restante dos peruanos não aparecem nestes discursos. A pobreza de recursos
materiais, o narcotráfico e a violência política vêm limitando em muito o que poderia ter sido um
crescimento e enriquecimento do discurso e da prática desses diferentes movimentos
reivindicativos na Amazônia peruana (Montoya, 1996b).
13 O saldo desta violência é terrível: trinta mil mortos, três mil desaparecidos, meio milhão de
desplazados e centenas de recuperados (Montoya, 1997).
Referências bibliográficas
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Tradução: José Flávio BERTERO2
Ana Maria de Oliveira ROSA E SILVA3
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Tradução: Marcia Teixeira de SOUZA2
A redescoberta da eficácia
A política da eficácia
Os argumentos da exeqüibilidade
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Outras Transferências
Intergovernamentais 1993 1994 1995 Total
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