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com Deficiência.
Brasília – DF.
Dezembro de 2019.
Centro Universitário de Brasília – UniCEUB
Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES
Curso de Psicologia
ii
com Deficiência.
Monografia apresentada à
Faculdade de Ciências da Educação
Saúde do Centro Universitário de
Brasília – UniCEUB como requisito
parcial para obtenção do grau de psicóloga.
Professora-orientadora: Dra. Júlia S. N. F.
Bucher-Maluschke.
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Dezembro de 2019.
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Folha de Avaliação
Banca Examinadora
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Agradecimentos
Agradeço ao Divino Criador pelo dom da Vida! Agradeço aos meus pais amados
Virgínia e Marciano por serem instrumentos de Deus para concretizar minha experiência na
Terra, a estes bravos guerreiros sou grata por me ensinarem os valores humanos e por me
eterna gratidão pelo carinho, apoio e compreensão quando lhe furtava o tempo para me
dedicar aos estudos. Minha filha amada, obrigada pelo colinho que sempre me deu quando as
coisas não iam bem. Filho querido, gratidão pelo socorro tantas vezes prestado nas minhas
Obrigada por acreditarem em mim, vocês são meu porto seguro, meu refúgio e meu
aconchego.
À minha família espiritual, sou grata por trilhar comigo a caminhada humana sobre a
conselhos e compreensão quando muitas vezes precisei tirar férias para concluir um semestre
mais difícil.
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Minha eterna gratidão aos amigos e amigas da Promotoria da Educação que muitas
vezes me deram apoio emocional e ombro amigo durante o meu percurso acadêmico e em
especial a minha amiga e irmã de coração Sanne Bontempo, por me incentivar e por acreditar
em mim. Sanne amiga querida, obrigada pelas palavras de encorajamento, pelo apoio e pela
seu carinho tornou minha caminhada mais leve e a vida mais alegre.
Aos professores e mestres queridos sou grata pelos ensinamentos e por me mostrarem
carinho e gratidão à minha orientadora Júlia Bucher, que com paciência e bondade me
conduziu à realização deste trabalho. Obrigada professora pelos ensinamentos e por acreditar
no meu potencial.
Não poderia jamais deixar de agradecer às famílias que aceitaram participar deste
trabalho. Família que disponibilizaram seu tempo, já tão escasso e tão corrido para me
vi
Sumário
1. Introdução …......................................................................................... 01
2. Referencial Teórico. …...........................................................................04
2.1 Pensamento Sistêmico e Visão Sistêmica de Família ..............04
2.2 Família: questões conceituais e transformações .......................06
2.3 Família e criança com deficiência ............................................11
3. Questão norteadora da pesquisa..................................................14
3.1 Objetivo Geral …......................................................................14
3.2 Objetivo Específico …..............................................................14
4. Metodologia de pesquisa.........................................................................15
4.1 A abordagem qualitativa...........................................................15
4.2 Estudo de caso.... …..................................................................17
4.3 Entrevista semiestruturada........................................................18
4.4 Participantes .............................................................................19
4.5 Local de investigação ...............................................................21
4.6 Etapas da coleta de dados .........................................................22
4.7 Procedimentos e Ética na Pesquisa...........................................23
5. O Software Iramuteq ..............................................................................26
5.1 Análises dos dados gerados pelo Software Iramuteq................29
5.1.1 Análise das Estatísticas Textuais................................29
5.1.2 Classificação Hierárquica Descendente (CHD).........30
6. Análises das classes e discussão..............................................................34
7. Considerações finais ...............................................................................45
8. Cronograma de atividades ......................................................................49
9. Referências bibliográficas ......................................................................50
Anexos........................................................................................................59
Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...............60
Anexo II – Roteiro de Entrevista ....................................................64
Anexo III – Degravação da entrevista realizada com a Família 1...67
Anexo IV – Degravação da entrevista realizada com a Família 2...81
Anexo V – Degravação da entrevista realizada com a Família 3.....86
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Resumo
1. Introdução
um filho com deficiência se deu a partir de atendimentos realizados pela autora deste
foram recebidos pais, que na sua maioria eram representados pelas mães, relatando as
seus sonhos para cuidarem da família e dos filhos. Estas questões foram o motor para a
realização deste estudo, visando analisar os impactos e buscando descrever como eles afetam
Diversos estudos que se ocuparam do estudo dos impactos causados na família com o
nascimento de um filho com deficiência apontam que para muitos casais a notícia da chegada
(Oliveira & Polleto, 2015; Oliveira, 2018; Silva & Ramos, 2014). Mesmo que esse filho não
tenha sido desejado ou planejado, ele já ocupa determinado lugar no imaginário familiar pois
representa a imortalidade dos pais ou mesmo a esperança de que esse novo ser possa realizar
tudo aquilo que os pais não realizaram. Existe uma expectativa social e familiar para que os
casais tenham ou planejem ter filhos. Os casais que sonham com isso, desde cedo fazem
planos e desejam o melhor para esse filho, da gestação ao nascimento sonham em vê-lo
chegar a casa, muitas vezes é uma espera ansiosa e apreensiva (Oliveira & Polleto, 2015;
Oliveira, 2018; Silva & Ramos, 2014; Oliveira, 2012; Bogo, Cagnini & Raduenz, 2014).
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Porém, quando os pais recebem a notícia de que seu filho tem alguma deficiência, há
vivência do luto do filho idealizado para que o filho real possa ser acolhido e aceito no seio
da família. Os sentimentos que emergem neste momento são diversos, como medo,
ansiedade, vergonha, culpa etc. (Oliveira & Polleto, 2015; Oliveira, 2018; Silva & Ramos,
A presente pesquisa tem como objetivo realizar a análise dos impactos causados no
sistema familiar com o nascimento de um filho com deficiência física e intelectual a partir da
com roteiro semiestruturado. Os dados serão submetidos ao processamento textual por meio
utilização de outros meios de análises, tendo em vista que a maioria dos estudos realizados no
tema se utilizaram de análise de conteúdo (Fiamenghi & Messa, 2010; Cerqueira-Silva &
Dessen, 2014; Bogo, Cagnini & Raduenz, 2014) ou de análise bibliográfica (Silva & Lima,
2018; Oliveira, 2018). Não se trata aqui de afirmar a superioridade de uma forma de análise
sobre a outra, ao contrário, acredita-se que a escolha pela diversificação das possibilidades de
realidade com a qual estas famílias se deparam. Assim, este estudo fundamentou-se na
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abordagem sistêmica familiar a qual tem um papel importante na compreensão dos aspectos
uma vez que a compreensão deste fenômeno poderá contribuir no preparo dos pais para
2. Referencial Teórico
diversas áreas do conhecimento, exigindo uma ampliação da visão linear para uma visão do
todo que interage com suas partes diferenciando-se assim da abordagem clássica ou
científica. Segundo Nichols e Schwartz (2007) a teoria dos sistemas surgiu na década de
engenharia, defendendo que coisas tão diversas como “máquinas simples, aviões a jato,
montagem organizada de partes que formam um todo complexo” (p. 104). Aplicada essa
pelas quais funcionam as famílias, visto que elas são vistas como unidades organizadas. Esta
ideia partiu do biólogo e filósofo austríaco, Ludwig von Bertalanffy, que ao criticar
sistêmico à biologia e postulou uma teoria universal dos sistemas vivos, vindo a se chamar
Teoria Geral dos Sistemas, a qual poderia ser aplicada da mente humana aos sistemas globais.
Derivada da Teoria Geral dos Sistemas, a abordagem sistêmica na sua origem foi
(2016), citando Bertalanffy disseram que o biólogo definia sistemas como “um conjunto
complexo de elementos em interação, que formam um todo unitário e organizado” (p. 02).
Além da Teoria Geral dos Sistemas, a perspectiva sistêmica conta com a contribuição
modelo mais utilizado para estudar a família, mostrando-se eficiente para diversas aplicações
no atendimento a grupos ou individual e na atuação com casais (Gomes, Bolze, Bueno &
Crepaldi, 2014).
Sabemos que o ser humano, desde o seu nascimento, está vinculado de alguma forma
ao seio familiar. Essa instituição é o primeiro locus de interação desse novo ser. Carter e
McGoldrick (2008), propõem uma visão sistêmica da família e defendem que “a família é
mais do que a soma de suas partes” (p. 08), o que quer dizer que ela deve ser vista como um
família como um todo. Assim, para estudar a família na sua complexidade é preciso adotar
uma visão sistêmica, pois somente de uma perspectiva sistêmica poderemos compreender o
emaranhado das relações que se estabelecem. Nas palavras de Silva (2011) a teoria sistêmica
é o modelo que predomina nos estudos de família, onde a família é definida como “um
ligados uns aos outros. Como todo fenômeno histórico, o conceito de família passou por
surgimento de diversos tipos de famílias (Soares & Ferreira, 2011; Fiamenghi Jr. & Messa,
2007). Buscáglia (2006,) ao definir família diz que “Sociologicamente, a família é definida
como um sistema social pequeno e interdependente, dentro do qual podem ser encontrados
79). O autor enfatiza a complexidade das relações que se estabelecem dentro da família, pois
quando ocorre uma mudança em um elemento do grupo familiar, todo sistema será afetado.
século XX, trouxeram alterações profundas na estrutura e dinâmica familiar, o que levou ao
Classificação de Kaslow que segundo os autores, é a mais utilizada nos estudos de Psicologia
a) família nuclear, incluindo duas gerações com filhos biológicos; Dentre todas as configurações, a
b) famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações; As famílias extensas são compostas pelo núcleo
c) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multirraciais; A possibilidade da adoção disposta no
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Código Civil Brasileiro, faz com que a composição da família adotiva se tornasse realidade.
d) casais; A família dita “casal” é aquela em que o homem e mulher se enlaçam via matrimônio, mas
e) famílias monoparentais, chefiadas por pai (masculina) ou mãe (feminina); Os lares monoparentais
são aqueles que vivem com um único progenitor, com os filhos que não são ainda adultos.
f) casais homoafetivos (homoparentais), com ou sem crianças; Apesar de ser um fenômeno antigo, a
homoparentalidade sempre existiu, pois sempre existiram gays e lésbicas com filhos.
g) famílias reconstituídas, após divórcio; A flexibilidade na legislação civil ainda permitiu uma nova
configuração: as famílias reconstituídas. O recasamento, fenômeno cada vez mais comum atualmente,
afeto.
h) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo (p. 65).
Como todos os outros sistemas vivos, a família também possui seu ciclo vital, pois
encerram seu ciclo, surgindo novos ciclos que repetirão essa mesma trajetória de vida. Para
Carter e McGoldrick (2008) “O ciclo de vida individual, acontece dentro do ciclo de vida
descrevem seis estágios do Ciclo de Vida Familiar “Saindo de casa: jovens solteiros; A união
de famílias no casamento. O novo casal; Famílias com filhos pequenos; Famílias com
(p. 17).
Porém, é importante salientar que esses estágios não são estáticos nem rígidos, visto
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que o sistema familiar é dinâmico e se apresenta por ciclos que se configuram e reconfiguram
membros pode afetar todo o sistema, pois a família é o principal núcleo de individualização e
negativos (Soares & Ferreira, 2011; Fiamenghi Jr. & Messa, 2007).
Como todo sistema a família também é formado por subsistemas que se influenciam
mutuamente. Dias (2011) aponta que “Na perspectiva sistêmica a família tem de ser vista
como um sistema que apoia uma estrutura hierárquica dos seus membros, constituída em
subsistemas, ou seja, um sistema dentro de outros sistemas e ala própria contendo outros
sistemas com regras que regulam o relacionamento entre os membros da família” (p. 148). A
por marido e mulher; o subsistema filial, que acontece com nascimento do primeiro filho
seguido dos demais; subsistema parental, cuja função é a educação, socialização e proteção
Messa e Fiamenghi Jr. (2010) definem a família como uma unidade significativa que
está inserida na sociedade de forma mais ampla e por isso influencia o comportamento
humano bem como a personalidade de seus membros. Para as autoras os membros que se
relacionam em uma família se influenciam uns aos outros e qualquer mudança ocorrida neste
todo” (p. 530). Embora outros sistemas contribuam para o desenvolvimento da criança, são as
criança tem sido amplamente estudada e já não é possível negar sua importância visto que é
no meio familiar que a criança vai se desenvolver (Soares & Ferreira, 2011; Fiamenghi Jr. &
Messa, 2007). Oliveira (2012) aponta que o processo de socialização inicia na família, onde
se fomenta a união, aceitação, respeito, valorização dos membros da família, bem como
defende que a família funciona como um campo de treinamento para seus membros, visto que
essas mudanças deram ao casal um certo poder de decisão de ter filhos, ou de escolher
quando tê-los. Destacamos “um certo poder”, porque ainda vigora na nossa sociedade a ideia
compreender os fatores que levam um casal a adiar o projeto de ter filhos, Bernardi, Féres-
Carneiro e Magalhães (2018), realizaram um estudo com cinco mulheres e cinco homens, que
estavam casados há mais de três anos, sem filhos e concluíram que “ainda hoje existe uma
pressão social muito grande para que todo adulto casado tenha filhos” (p. 170). O fato é que,
por mais que tenham ocorrido a ampliação dos espaços das mulheres na sociedade, surgidos
novas configurações familiares e novas formas de pensar a maternidade, ainda vigora a visão
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de que de que todo casal deseja ter filhos, embora seja possível verificar também, que há uma
mudança nesse pensamento, conforme aponta Miranda e Correio (2018), “Ao se referir, hoje,
à maternidade, esta surge como uma das possibilidades e não como destino natural” (p. 525).
Porém, quando os pais decidem ter um filho, eles devem estar preparados para as grandes
completamente diferente.
parentalidade, onde se constitui agora como pai e mãe. Esse novo estado traz consigo
partir dos anos 60, a qual marca “a dimensão de processo e de construção no exercício da
relação dos pais com os filhos” (p. 454). Messa e Fiamenghi Jr. (2010) definem parentalidade
como “uma união de singularidades, em que o casal apresenta ao mundo o produto de sua
união” (p. 238). As autoras apontam que para Maccoby (2002), a parentalidade não é apenas
uma influência dos pais sobre os filhos, mas se constituiu num conjunto de processos
(2006) enfatiza que é papel da família estável propiciar “treinamento seguro onde as crianças
possam aprender a ser humanas, a amar, a formar sua personalidade única, a desenvolver sua
auto-imagem e a relacionar-se com a sociedade mais ampla e mutável da qual e para qual
nascem” (p. 84). Ao tratar do nascimento de uma criança com deficiência, o autor diz que
para maior parte das famílias é um momento de alegria, de orgulho, de reunião das pessoas
momento de lágrimas, desespero, confusão e medo, pois trará uma mudança radical no estilo
de vida de todos os envolvidos, cheia de mistérios e problemas especiais (p. 32). Porém, em
casos em que os pais recebem o diagnóstico da deficiência do filho, esse sonho acaba sendo
diferente do idealizado e poderão surgir dificuldades para lidarem com o filho real, diante da
famílias nas quais existem crianças com deficiência, neste trabalho os autores discutem a
grupo no qual o indivíduo está inserido (p. 237). Destacam que os indivíduos são afetados
pelas relações, especialmente no grupo familiar, para eles “A influência das relações
familiares é clara em famílias com filhos deficientes, pois se trata de uma experiência
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inesperada, de mudança de planos e expectativas dos pais” (p. 238). Oliveira (2012) em sua
filhos com deficiência e também aponta o contexto familiar como o local onde tem início o
importância das redes de suporte social na assistência e apoio à família, bem como na
sentimentos dos pais diante da notícia da deficiência do filho e a falta de preparo dos
nascimento de uma criança com deficiência produz mudanças na estrutura familiar e estas
econômicos” (p. 16). Por isso, acreditam que a maneira como a notícia é dada aos pais poderá
ter grande influência nas reações destes, pois muitas vezes o diagnóstico se apresenta de
estes são fatores que podem influenciar na aceitação desta criança pela família bem como a
formação de vínculo.
Nesta mesma linha de pesquisa, temos o trabalho desenvolvido por Bogo, Cagnini e
sentimento de abandono vivenciado pelos pais pode ser diminuído se forem empregados
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atitudes mais adequadas no momento de informar o diagnóstico da criança a seus pais” (p.
05). Por fim, o estudo destaca o papel das redes de apoio familiar e dos profissionais no
suas vidas.
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3. 1 Objetivo Geral
3. 2 Objetivo Específico
4. Metodologia de pesquisa
4. 1 A abordagem qualitativa
O estudo de um tema como o aqui proposto requer a adoção de uma abordagem que
possibilite uma melhor compreensão de como esses fenômenos são vivenciados pela família.
Para esse fim, adotou-se neste estudo a abordagem qualitativa. A qual surgiu em oposição ao
las e fazer generalizações. Com uma nova proposta de visão de mundo e de homem, a
pesquisa qualitativa vem ganhando terreno no meio acadêmico. A este respeito Silva (2010)
sociedade com história, valores, significados e intensões que constroem a subjetividade dos
existe uma relação dinâmica entre o sujeito e o mundo, entre o mundo objetivo e as
pesquisa qualitativa. Creswell (2010) define a pesquisa qualitativa como “um meio para
problema social ou humano” (p. 27). Assim, o pesquisador deve valorizar aquilo que é
– Podem emergir muitos aspectos até então desconhecidos o que pode requerer
– Trata-se de uma pesquisa interpretativa, visto que cabe ao pesquisador fazer uma
– Possui uma visão holística dos fenômenos sociais, o que dá ao pesquisador uma
visão ampliada da realidade etc. (p.186). Vale ressaltar que na pesquisa qualitativa o
pesquisador tem papel central, o que não ocorre com as pesquisas quantitativas, onde ele deve
Quanto aos objetivos, esta é uma pesquisa de caráter descritivo e exploratório, pois
comunidades mais complexas” (p. 66). É também exploratória, visto que visa tornar o
existentes entre elas. Franco e Dantas (2019) dizem que o objetivo da pesquisa exploratória é
estudo. Constitui a primeira etapa de um estudo mais amplo, e é muito utilizada em pesquisas
cujo tema foi pouco explorado, podendo ser aplicada em estudos iniciais para se obter uma
visão geral acerca de determinados fatos (p. 14846). Esse tipo de pesquisa também permite ao
pesquisador escolher as técnicas mais adequadas para sua pesquisa e decidir sobre as
4. 2 Estudo de caso
fato, uma situação ou um problema e para isto o estudo de caso se apresenta como uma
define estudos de caso como “uma estratégia de investigação em que o pesquisador explora
indivíduos” (p. 38). Nesta pesquisa optou-se pelo estudo de caso, visto que ele se propõe
analisar o tema da deficiência na vida dos participantes e compreender como este fenômeno
4. 3 Entrevista semiestruturada
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista com roteiro semiestruturado, a
qual se apresenta como um instrumento mais espontâneo do que a entrevista estruturada, pois
mesmo que as questões sejam pré-definidas elas não ditam como a entrevista irá acontecer,
podendo o pesquisador ter a liberdade de incluir outras questões que emerjam no momento da
entrevista:
b) Fornece uma amostragem muito melhor da população geral: o entrevistado não precisa saber ler ou
escrever.
d) Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser observado
e) Dá oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que sejam
relevantes e significativos.
discordâncias.
g) Permite que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamentos estatísticos (p. 181).
veladas ou explícitas, que o pesquisador pode exercer sobre o entrevistado, pois mesmo que o
pesquisador não perceba, suas atitudes, ideias e opiniões podem levar o entrevistado a mudar
suas respostas. Além disso, elas ainda apontam com desvantagem o limitado controle que o
O roteiro da entrevista utilizado neste estudo é composto por duas partes. A primeira
parte é constituída por questões fechadas, que buscavam o perfil socioeconômico dos
entrevistados e a segunda parte é composta por questões abertas que abordaram o histórico da
4.4 Participantes
ou da faixa etária. Famílias com lar constituído e que residentes no Distrito Federal. Por
consequência, foram excluídas pessoas com deficiência que não tivessem contato com a
entrevistadas três famílias, duas das quais participaram o pai e a mãe e a terceira somente a
mãe esteve presente na hora da entrevista, não houve participação de outro membro das
Emas, é composta pelo pai, a mãe, o filho com deficiência física, de 16 anos e uma filha de
13 anos. A mãe tem 46 anos, está no seu primeiro casamento, ocupa-se exclusivamente com
Serviço Militar, tem 57 anos, está no seu segundo casamento, e tem duas filhas do primeiro
quinto mês de gestação. Esta deficiência ocorre devido a uma malformação embrionária do
sistema nervoso central, este problema pode ocorrer nas quatro primeiras semanas da
gestação devido a falha no fechamento do tubo neural, causando diversos graus de alteração
mãe, o pai, cinco filhos; três homens e duas mulheres. O filho com deficiência é o quinto e
último da família, está com 24 anos e possui deficência física e intelectual. O diagnóstico da
paralisia cerebral somente foi revelado dois meses após o nascimento, até então a mãe
acreditava que seu filho não tinha nenhuma deficiência, pois na sua constituição física não
havia nada de anormal. Segundo o Ministério da Saúde (2014, p. 08), a paralisia cerebral se
tem como causa um distúrbio não progressivo presente no desenvolvimento do cérebro fetal
nascimento do filho, a mãe saiu do trabalho e passou a viver exclusivamente para os cuidados
com os filhos.
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A terceira família (F. 3) reside no Guará e é composta por pai, mãe e a filha de 04
criança. A mãe tem 43 anos, é servidora pública federal, está no primeiro casamento. Quanto
ao pai, este é proprietário de um bar na cidade onde reside, tem 47 anos e já está no seu
terceiro casamento dos quais tem quatro filhos, uma filha do primeiro casamento, dois filhos
uma condição causada por uma alteração cromossômica (cromossomopatia), esse tipo de
da filha, a mãe reduziu o horário de trabalho e passou a levar a filha a diversas terapias.
4. 5 Local da investigação
A pesquisa foi realizada no Distrito Federal que está situado no Centro-oeste do país e
com as famílias foram: Recanto das Emas, fundada em 1993, formada por 59 quadras
residenciais, com uma população estimada de 145.304 habitantes. O Paranoá que foi um dos
número de habitantes é de 46.527, segundo dados estatísticos de 2010; e o Guará que teve o
agora com a denominação oficial de Guará. Estas R.A. são servidas por saneamento básico,
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amplo comércio e são disponibilizados serviços gratuito de atendimento à saúde, como postos
4. 6 Coleta de dados
2019, por meio de entrevistas com roteiro semiestruturado, realizadas com as três famílias
iniciais, atendendo a questões éticas, foram prestadas informações dos objetivos da pesquisa,
bem como a possibilidade que eles teriam de desistir em qualquer fase da pesquisa. Em
preenchimento da primeira parte do roteiro de entrevista, para então dar início às questões
abertas do instrumento, neste momento, foi solicitada autorização para gravar a entrevista, o
que foi consentido pelas famílias. Embora houvesse um roteiro prévio, foi permitido às
famílias responderem as questões da forma como lhe conviesse, somente quando uma
questão não era abordada, o pesquisador introduzia a pergunta para melhor compreensão dos
corpus textual que foi submetido ao processamento realizado pelo Software Iramuteq.
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fratria”, encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos do
que trata de ética em pesquisa com seres humanos conforme constou no Termo de
reflexão crítica acerca do fenômeno estudado, constituindo assim em uma fase de grande
responsabilidade. Por tratar-se de uma pesquisa na qual estão envolvidas questões relacionais
No intuito de oferecer maior confiabilidade aos resultados dos dados coletados, optou-
se pela análise estatística sobre o corpus textual com a utilização do Software Iramuteq e
como uma alternativa a mais para compreensão do objeto deste estudo. As entrevistas foram
(variáveis) escolhidas pelo pesquisador a partir do que ele considera importante para o
estudo. Optou-se pela separação monotemática, onde a cada linha de comando segue um
texto sem haver separações, pois acredita-se que este tipo de análise nos proporciona uma
processamento dos dados o Software definiu cinco classes de palavras as quais foram
categorizadas pelo pesquisador e realizou-se as análises textuais. Para este estudo serão
Antes, porém, faz-se necessário uma breve explicação da ferramenta utilizada para o
5. O Software Iramuteq
Context d’um Ensemble de Segments de Texte), criado por M. Reinert na década de 1990,
sociais. Porém, o Iramuteq permitiu maior sofisticação nas análises textuais do que o
os dicionários nas línguas inglesas e italianas. (Camargo & Justo, 2013; Santos et. al., 2017).
(Santos et. al., 2017; Moimaz, Amaral, Miotto, Costa & Gabrin, 2016; Carvalho, 2018;
Pereira, 2016), porém, hoje está sendo amplamente utilizado em diversas áreas do
conhecimento tais como na Administração (Pinto, Mazieri & Vils, 2013), Educação
(Negreiros, Silva, Sousa & Santos, 2017; Bueno, 2018) e Psicologia (Camargo & Justo, 2013;
Silva & Enumo, 2017; Figueira, Castro, Córdova & Fernandes, 2018) entre outras.
O Software Iramuteq apresenta rigor estatístico e permite aos pesquisadores utilizarem diferentes
recursos técnicos de análise lexical. Além disso, sua interface é simples e facilmente compreensível, e,
sobretudo seu acesso é gratuito e é do tipo open source. Por estas características acredita-se que o
mesmo possa trazer muitas contribuições ao campo de estudo das ciências humanas e sociais, em
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apontaram algumas limitações (Camargo & Justo, 2013; Souza, Wall, Thuler, Lowen, &
Peres, 2017; Silva & Enumo, 2017). Uma advertência que estes autores fazem é o perigo de o
pesquisador, deslumbrado pela facilidade que o instrumento proporciona, acabe por descuidar
do seu importante papel na correta condução das análises dos dados textuais. A este respeito
Camargo e Justos (2013) dizem que pode acontecer um “certo esvaziamento das relações do
material textual com o contexto, além de descrições mecânicas do conteúdo estudado” (p.
517). Outras observações das autoras dizem respeito ao fato de que estes Softwares estão
sendo utilizados como se fossem uma técnica de análise de dados ou como método de
pelo Software, considerando inclusive aqueles dados que não foram diretamente expressos
qual as autoras realizaram uma intervenção psicológica com bailarinos, foi ressaltado a
detectar e corrigir qualquer erro de codificação no processamento dos dados (p. 591).
estatísticas de dados sobre corpus textuais e sobre tabelas indivíduos/palavras, partindo das
análises mais simples até análises multivariadas, o que possibilita imprimir um viés
quantitativo para dados qualitativos. Na análise simples, temos a lexicografia básica a qual
abarca a lematização (redução das palavras baseada em suas raízes) e o cálculo de frequência
(Camargo & Justo, 2018; Souza et al., 2017; Silva & Enumo, 2017). Camargo e Justo (2018)
No IraMuTeQ essas análises podem ser realizadas tanto a partir de um grupo de textos a respeito de
uma determinada temática (corpus textual) reunidos em um único arquivo de texto; como a partir de
matrizes com indivíduos em linha e palavras em coluna, organizadas em planilhas, como é o caso dos
Alguns conceitos importantes utilizados pelo programa são: “Texto” que é a unidade
definida pelo pesquisador, a depender da natureza da pesquisa, pode ser entrevista, matéria de
revista ou jornal; “Corpus”, definido como um conjunto de textos escolhido pelo pesquisador
para ser objeto de análise; “Segmentos de textos”, são recortes de texto, normalmente tem o
tamanho de três linhas, essa dimensão quem dá é o Software com base no tamanho do
corpus; “Hápax”, que representa as palavras que aparecem apenas uma vez em um corpus; e
“Lematização”, definido como o processo pelo qual as palavras são deflexionadas para
O corpus geral foi constituído por 3 textos, separados em 369 recortes de segmentos
de texto (ST), com aproveitamento de 314 STs (85.09%) do total de segmentos de texto.
Emergiram 13108 ocorrências (palavras, formas ou vocábulos), sendo 2099 palavras distintas
e 573 (Hápax) palavras com uma única ocorrência, (4.37 % das ocorrências). O conteúdo
analisado foi categorizado em 5 Classes: Classe 1 com, 90 ST, (28.66%); Classe 2 com, 59
com, 64 ST (20.38%).
Ativas
Entrevistas
famílias
Quadro 1. Classificação dos ST: quantidade de segmentos de textos que foram aproveitados pelo Software.
Legenda:
Nº ST: número de segmentos textuais fragmentos pelo Software com base no número
de textos.
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denominada classificação hierárquica descendente (Camargo & Justo, 2018; Bedante, 2018).
Estas classes são apresentadas pelo Software graficamente por um Dendograma (Figura 1),
participam de alguns fatores comuns” (Almeida, 2016, p. 45, apud Tutorial Iramuteq).
Por meio das classes o pesquisador poderá inferir o conteúdo do corpus, nomear as
classes a partir de sua compreensão teórica aliada ao conteúdo de palavras que emergiram.
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composto pela Classe 3 referente a Nascimento e Luto e pela Classe 2 denominada Gravidez
a Classe 5 a qual refere-se à Rotina e Sobrecarga e a outra se biparte na Classe 4, que trata da
Espiritualidade e Futuro, Classe 1 que traz questões relativas à Relação Intrafamiliar. Para
atingir melhor visualização das classes, elaborou-se um organograma com a lista de palavras
de cada classe gerada a partir do teste qui-quadrado (x² de associação da palavra com a
classe) e o EFF Total (F), que é o número de segmentos de texto no corpus que contém, ao
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menos uma vez a palavra citada. Nele emerge as evocações que apresentam vocabulário
Figura 2 - Organograma representativo das divisões em classes, porcentagens, frequência das palavras e grau de
significância das entrevistas das famílias com relação aos impactos causados com o diagnóstico e o nascimento
do filho com deficiência.
que nos leva a inferir que são momentos de maior impacto nas famílias, momentos em que as
reações são mais intensas. Justamente nestas duas classes, aparecem relatos das famílias de
infere-se que estão relacionadas às vivências das famílias pós nascimento dos filhos.
Cabe ressaltar, que embora estas palavras não tenham apresentado uma frequência alta
de ocorrência nas falas das famílias, como as outras palavras destacadas para análises deste
estudo, estas palavras refletem o impacto emocional que a situação causou nas famílias
estudadas, portanto, é preciso ter em mente que nem sempre as palavras que o programa
famílias.
destas classes criadas pelo programa, as quais foram categorizadas pelo pesquisador, a partir
Cabe ressaltar que a leitura do Dendograma é feita da esquerda para direita, assim,
ST) do corpus total analisado. Constituída por palavras e radicais no intervalo entre x² = 5.31
(perder) e x² = 94.83 (bebê). Essa classe é composta por palavras como: bebê (f = 22; x² >
94.83); médico (f = 23 x² > 37.3); cabeça (f = 6; x² > 32.3); problema (f = 10; x² > 30.3);
corpo (f = 5; x² > 26.83), entre outras. Houve um predomínio das evocações da Família 3
sobre as outras famílias (23 ST; x² = 5.22). Esta classe é a base para formação das outras
classes, emerge como foco principal para iniciar a apresentação das narrativas das famílias
sobre os impactos causados pelo diagnóstico da deficiência. Seu conteúdo sugere um foco na
criança representada pela palavra “bebê” e representa a expectativa que a família têm com o
bem-estar do filho.
já traz diversas mudanças, porém quando se trata de um filho com deficiência, estas
mudanças são ainda mais drásticas, o que vai requerer da família mais dispêndio de tempo e
esforços para reequilibrar o sistema. A literatura existente aponta esse momento como muito
importante na vida dos pais, pois eles esperam um filho que foi sonhado, idealizado, mas
quando recebem a notícia de que o filho tem alguma deficiência, costumam surgir reações
como dúvidas, incertezas e principalmente o medo de não saber lidar com essa nova realidade
Nesta hora, a família precisa contar com rede de apoio que ofereça o suporte
psicológico para atenuar o impacto negativo que vivenciam. A segunda palavra que apareceu
com mais força, foi “médico”, o que chama a atenção para a importância da figura desse
família e nas orientações quanto aos cuidados necessários para lidarem com o filho deficiente
(Bogo, Cagnini & Raduenz, 2014). Os segmentos de textos que captaram trechos foram:
“Quando recebi essa notícia fiquei muito assustado, muito triste. Acho que o médico
não soube falar, não soube passar para a gente o problema” (F.1).
“O médico falou: Seu filho não vai mais andar ele nasceu com a microcefalia, a
“Os médicos nos deixaram apreensivos como se fosse algo pior do que é, eles
Sabemos que esse é um período muito delicado para os pais e também para o médico
que terá que dar a notícia, por isso se faz necessário mais preparação dos profissionais de
saúde para que possam lidar com cuidado na hora de comunicar a deficiência à família,
bebê.
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corpus total analisado. Constituída por palavras e radicais no intervalo entre x² = 4.20 (fazer)
e x² = 60.21 (gravidez). Essa classe é composta por palavras como: gravidez (f = 21; x² >
60.21); parto (f = 9; x² > 40.05); mês (f = 14; x² > 33.81); enjoo (f = 7; x² > 30.94); hospital (f
= 12; x² > 23.77), entre outras. Não houve predomínio de evocações de uma família sobre as
outras.
Esta Classe trata das dificuldades das mães durante o período da gravidez, pois
emergem conteúdos relativos ao estado de saúde, podemos ver a palavra “enjoo”, “quilo” e
“Eu engordei bastante, no final da gravidez tive que entrar em dieta porque engordei
22 quilos. Quando eu descobri minha gravidez já estava com 03 meses e meio não sentia
“Eu sentia muita dor, muita contração e trabalhava muito em casa de família
trabalhava o dia todo. Fiz o acompanhamento do pré-natal no Posto de Saúde, sentia muita
“A gravidez foi muito complicada porque eu tive muito enjoo, tudo que comia eu
vomitava, perdi muito peso a minha gestação era dupla ficamos sabendo quando passei
mal”. (F.3).
A gravidez é um período na vida da mulher que exige cuidados extras, neste momento
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a mãe carrega em seu ventre outro ser que requer nutrição e cuidados. Sabemos que a
nutrição pode influenciar na saúde do bebê, por isso é essencial que a mãe priorize os
cuidados com a saúde em geral e com a alimentação em específico. Estas orientações devem
serem passadas pela equipe de saúde, que para isso devem desenvolver para com a família
corpus total analisado. Constituída por palavras e radicais no intervalo entre x² = 4.0 (desejar)
e x² = 32.07 (tênis). Essa classe é composta por palavras como: tênis (f = 8; x² > 32.07);
terapia (f = 8; x² > 32.07); consulta (f = 10 x² > 26.72); fisioterapia (f = 5; x² > 26.2); passado
(f = 6; x² > 23.89), entre outras. Não houve predomínio de evocações de uma família sobre as
outras.
atividades que as famílias realizam para proporcionar a inserção social de seus filhos bem
como os cuidados necessários para com as pessoas com deficiência. Como consequência,
principalmente das mães, com a rotina exaustiva de cuidados com os filhos. Os seguimentos
“Não sobra tempo de cuidar de mim, isso me deixa muito cansada, sobrecarregada
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“Era o dia todo fora, saia de manhã e chegava à noite. Os médicos marcavam muitas
consultas, exames de vista e ainda precisava cuidar dos filhos pequenos, ir às reuniões da
escola era tantas coisas que marcavam que eu vivia cansada” (F. 2).
constantemente sobrecarregada de mil coisas para fazer, meu esposo não me ajuda muito
Embora as mães tenham relatado a ajuda dos pais, verificou-se que a maior parte das
tarefas ficam na atribuição das mães o que acabam por sobrecarrega-las. Em um estudo sobre
Cerqueira-Silva (2011) constatou que “tanto na divisão das tarefas domésticas quanto no
cuidado com os filhos, a mãe detém a maior responsabilidade enquanto que o pai se mantém
mais em um papel coadjuvante, mesmo tendo uma participação bastante colaborativa com as
atividades domésticas” (p.155). Embora seja possível verificar mudanças no que tange à
cooperação dos pais nas tarefas do lar, as mães continuam a arcar com a maior parte das
tarefas e cuidados como se fossem as únicas responsáveis por estes cuidados. Diante da
demanda exaustiva, estas mães acabam por se isolarem da sociedade e tendo o seu ciclo de
convivência restrito ao âmbito familiar. As mães deste estudo relataram que procuram
filho com deficiência pratica tênis sobre cadeira de rodas. A mãe da F. 3 continuou
Diversos estudos têm se dedicado aos impactos físicos e psicológicos que têm
atingido estas mães e por isso, apontaram a necessidade de uma rede de apoio às famílias de
pessoas com deficiência (Cerqueira-Silva & Dessen, 2011/2018; Caiola, 2017; Oliveira,
2012) tanto da rede informal que incluí os familiares, os amigos, os vizinhos, os colegas e os
grupos sociais, quanto a rede formal de suporte que engloba os profissionais e instituições de
educação, saúde, lazer etc. Cerqueira-Silva, (2018) entende que “Prover uma rede de serviços
às famílias de crianças com deficiência, e que passam a ter também necessidades especiais
governamentais” (p. 05). Assim como a autora, acreditamos que seja fundamental a criação
às mães, visto que a maioria dos serviços públicos de atendimento gira em torno do cuidado
com a criança.
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ST) do corpus total analisado. Constituída por palavras e radicais no intervalo entre x² = 4.28
(filho) e x² = 91.67 (deus). Essa classe é composta por palavras como: deus (f = 21; x² >
91.67); pessoa (f = 17; x² > 74.23); independente (f = 5 x² > 26.2); graça (f = 5; x² > 26.2);
limitação (f = 4; x² > 20.89), entre outras. Houve um predomínio das evocações da Família 1
sobre as outras famílias (32 ST; x² = 2.86). Nesta classe emergiram as palavras “deus” com
maior presença, ligada a esta palavra também vemos a palavra “graça” o que nos leva a
inferir que o tema da espiritualidade pode surgir como uma estratégia de aceitação e
superação nos momentos difíceis pelos quais uma família passa. Espiritualidade é aqui
“Deus sabe de todas as coisas. Naquela época Deus já queria me preparar para isso
que eu ia viver hoje, então eu aceitei. Claro que foi um choque, mas eu tentei aceitar da
“O médico falou que eu ia ter trabalho para o resto da minha vida. Falou: Enquanto
você viver e ele viver, vai ter trabalho. Vai viver para ele. Eu pensava assim: Deus é grande,
“Ninguém é escolhida por Deus para ter um filho deficiente, as pessoas tentam te dar
um conforto falando isso, mas não acredito nisso não” (F. 3).
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fonte de superação na figura de Deus, como forma de compreender a situação. Como vimos
na fala da Família 1 que vê a deficiência do filho como uma missão de um ser superior para o
qual ela teria que se conformar e aceitar. Fazendo referência ao trabalho de Buscáglia (2006)
sobre as reações dos pais diante do diagnóstico da deficiência do filho, Oliveira e Poletto
(2015) dizem que “Outros podem buscar na espiritualidade o entendimento de castigo, cura,
da condição de deficiência” (p. 104). Porém, nem sempre a espiritualidade é vista como fonte
de apoio, pois como vimos a Família 3 não atribui a nenhum ser superior o fato da deficiência
da filha, acredita antes, que “ninguém é escolhido por Deus para ter um filho deficiente”,
conforme foi visto no segmento de texto acima. Portanto, nem sempre a deficiência do filho é
considerada pelos pais como uma dádiva, um presente de Deus, embora outros estudos
demonstrem que as crenças em um ser superior apareceram com fatores que deram sentido e
forças para o enfrentamento do problema (Oliveira & Poleto, 2015; Weiss, 2015).
Com relação às expectativas de futuro das famílias com relação aos seus filhos com
preocupação que estes pais têm com ao futuro, quando um dia não puderem estar ao lado do
filho, seja por doença ou por morte. Os segmentos de texto que refletem isto foram:
“Eu penso que como ele é muito independente, eu tenho mais confiança no futuro
dele acredito que ele tem que estar preparado nós não estaremos sempre aqui para proteger
“Sobre o futuro eu desejo o melhor para meus filhos para todos eles” (F. 2).
“Hoje eu olho para minha filha e sei que ela tem capacidade de aprender a ler e
escrever, sei que ela pode ficar independente. Eu sonho para ela o que eu sonhava pelo filho
Percebe-se neste estudo, que um recurso utilizado pelos pais para minimizar o
independência funcional do filho. São escassos os estudos que abordam as expectativas dos
pais com relação ao futuro dos filhos. O trabalho de Vitritti, Marcheti e Giuliani (2018) vem
de certa forma, preencher esta lacuna. As autoras realizaram uma pesquisa no tema e
apontaram que “A esperança de que o filho pode ter um futuro com melhores condições
impulsiona o pai a oportunizá-lo o que está ao seu alcance a fim de que ele se desenvolva da
melhor maneira possível e assim ter chances de um futuro que inclua estudos, trabalho e
ST) do corpus total analisado. Constituída por palavras e radicais no intervalo entre x² = 4.25
(imaginar) e x² = 33.87 (pai). Essa classe é composta por palavras como: pai (f = 16; x² >
33.87); mãe (f = 24; x² > 32.78); filho (f = 47; x² > 26.89); menino (f = 10; x² > 15.45);
pequeno (f = 6; x² > 11.4) entre outras. Houve um predomínio das evocações da Família 2
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sobre as demais famílias (19 ST; x² = 2.54). As palavras destacadas apresentam evocações
que nos remetem as relações ocorridas no sistema intrafamiliar, ou seja, entre os subsistemas
familiares com um membro com deficiência. Como já foi dito anteriormente, a chegada de
uma pessoa com deficiência na família afeta todo o sistema. Os segmentos de textos mais
“Brigavam muito, hoje já melhorou muito, mas quando eram pequenos eles brigavam
bastante. Por qualquer motivo brigavam, ele era mais implicante mais ciumento tinha muito
“Ela tem ciúmes, quando eu estou com meu esposo ela tem ciúmes. Ela é do contra,
se eu pentear o cabelo dela, ela dá uma birra e quer o pai, mas se for o pai ela quer a mãe”
(F. 3).
Estes segmentos nos mostra os conflitos que podem surgir no subsistema fraterno,
com brigas e ciúmes tantos dos irmãos quanto dos pais. Em outros trechos as famílias se
referem ao apoio que recebiam dos outros filhos e de pessoas não vinculada diretamente à
“Uma vizinha me ajudava, ela era muito boa, mas faleceu. Ela levava meus meninos
para escola, trazia, ajudava muito. Meus outros filhos quando eram pequenos levavam ele
“Minha filha ficou preocupada. Ficou muito preocupada sempre nos deu ajuda e
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com a nascimento de uma pessoa com deficiência, demandando dedicação dos pais,
colaboração dos demais membros da família. Nesta classe, fica patente a importância das
redes de suportes informais, as quais embora não estejam diretamente ligadas à família,
podem ser fonte de auxílio, como no caso da Família 2, em que relata que a vizinha a
auxiliava com os demais filhos pequenos. A necessidade de redes de apoio às famílias com
filhos deficientes foi objeto de estudo de autores como Cerqueira-Silva & Dessen,
(2011/2018); Caiola, (2017) e Oliveira, (2012), o que ressalta a importância dos vínculos
famílias.
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7 - Considerações finais
estudos neste tema. Os dados colhidos por meio das entrevistas foram processados utilizando-
se o Software Iramuteq, o qual permitiu gerar cinco classes de palavras que foram
categorizadas e descritas pela pesquisadora. Cabe ressaltar, que na literatura consultada não
se encontrou nenhum outro estudo que tenha proposto estudar a temática com a utilização
textual dos impactos que o nascimento de uma pessoa com deficiência causa no sistema
familiar.
Os resultados encontrados revelam o quanto este momento pode ser difícil para as
famílias, nesta hora é preciso vivenciar o luto do filho ideal superando a frustração para
permitir que o filho real seja acolhimento e aceito na família. Enfatizou-se o papel do médico
na hora do diagnóstico, pois a forma como a notícia é dada à família pode diminuir a angústia
e o medo que a família sentem diante da nova situação que trará muitas transformações no
sistema familiar, principalmente para a pessoa que ficará diretamente ligada aos cuidados
com a criança. Mesmo que os estudos tenham mostrado a maior participação dos pais nos
cuidados em casa, ainda se atribui às mães o maior volume de tarefas. Nesse sentido, sugere-
tarefas que passam a realizar com os cuidados e o bom desenvolvimento da pessoa com
deficiência. Ressaltou-se que, mesmo com o aumento do número de pais que contribuem com
as tarefas de casa, são as mães que desempenham o papel principal nesses cuidados. Neste
caso, é importante a ampliação dos serviços prestados às famílias para que sejam
minimizados os impactos e que os cuidadores possam contar com uma rede de apoio, que
fonte de apoio e consolação, onde a deficiência do filho era compreendida como uma missão
de um ser supremo, nomeadas por elas como “Deus”. A família 3, porém, disse não acreditar
que a deficiência possa ser um desígnio divino ou predestinação. Esse é um tema que é
particular de cada indivíduo, pois cada uma dá sentido à deficiência conforme suas crenças.
Foi mencionada a falta de estudos que tratem das expectativas dos pais com relação ao futuro
do filho com deficiência, essa lacuna nos alerta para a necessidade de uma compreensão
global das questões que afetam estas família visando minimizar os impactos causados e a
deficiência nem sempre é sinônimo de incapacidade, muitas vezes, a pessoa pode realizar
atividades educacionais, esportivas e artísticas, desde que os pais possam contar com redes de
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como todo.
extrafamiliares de qualidade para o auxílio nos cuidados com a pessoa com deficiência, visto
que novas demandas de atenção são acrescidas à rotina dos pais, em particular das mães.
Assim, sugere-se a formação e fortalecimento de uma rede de apoio às famílias que passam
por esta situação, visando diminuir a sobrecarga daqueles que estão diretamente ligados aos
Diante da proposta deste estudo, considera-se que o objetivo foi atingido, visto que
cada vez mais cresce no número de famílias com pessoas com deficiência, é importante a
realização de estudos com variadas formas de análises de dados para produzir maior
compreensão desta realidade vivenciada por estas famílias. É importante aqui expor algumas
limitações deste estudo, os quais se referem a forma como o programa agrupa as palavras em
classes, pois cabe ao pesquisador dar significado às classes geradas, o que vai requerer o
estudo aprofundado do tema para conseguir enquadrar as falas dos segmentos de texto em
uma categoria que represente adequadamente a ideia do que foi dito pelos entrevistados.
Além disso, exige um trabalho minucioso na construção do corpus pois, como já foi
mencionado, o texto necessita seguir algumas recomendações para que possa ser analisado
pelo Software, pois qualquer erro na linha de comando inviabiliza o processamento do texto.
Vai exigir também, treinamento do pesquisador levando a uma demanda maior de tempo para
o domínio da ferramenta.
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Cabe ressaltar ainda, que o Software Iramuteq é apenas uma ferramenta que auxilia o
pesquisador no processamento dos dados, não pode ser confundido com um método de
pesquisa, neste sentido, as análises dos dados é tarefa exclusiva do pesquisador. Apesar das
para este estudo, pois permitiu lançar um novo olhar para o tema proposto, apresentando
Considera-se que esta pesquisa, além das contribuições elencadas acima, trouxe
importantes contribuições aos estudos que envolvam dados textuais e sugere-se novos
estudos que utilizem outros tipos de análises oferecidas pelo Software Iramuteq, tais como:
Palavras, uma vez que este estudo se propôs a apresentar apenas a Análise das Estatísticas
impactos causados no sistema familiar com o nascimento de uma pessoa com deficiência,
8. Cronograma de Atividades
Atividades/período Fev Mar Abr Mai Jun Ago Set Out Nov Dez
Definição de tema X
Elaboração do X
Projeto de Pesquisa
Revisão bibliográfica X X
Submissão do Projeto X
de Pesquisa
Coleta de Dados X X
Tratamento e análise X
dos dados
Redação e Relatório X
Final
Revisão e impressão X
Entrega do trabalho X
Defesa X
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ANEXOS
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assiná-lo e receberá uma cópia do mesmo.
Antes de assinar, faça perguntas sobre tudo o que não tiver entendido bem. A equipe deste
estudo responderá às suas perguntas a qualquer momento (antes, durante e após o estudo).
Procedimentos do estudo
Sua participação consiste em responder a questionários e entrevistas semi-
estruturadas.
O/os procedimento (s) é/são entrevistas individuais e/ou grupais com o registro das
respostas escritas e/ou videogravadas.
Não haverá nenhuma outra forma de envolvimento ou comprometimento neste
estudo.
A pesquisa será realizada na sua residência ou outros locais que forem necessários.
Riscos e benefícios
Este estudo possui riscos mínimos, tais como uma pequena alteração do
quadro emocional relacionada aos conteúdos das narrativas explicitadas.
Medidas preventivas de suporte psicológico serão tomadas durante a participação
nas entrevistas para minimizar qualquer risco ou incômodo.
Caso esse procedimento possa gerar algum tipo de constrangimento, você não precisa
realizá-lo.
Com sua participação nesta pesquisa você poderá contribuir para maior
conhecimento sobre a realidade vivenciada pelas famílias nesse contexto.
Confidencialidade
Seus dados serão manuseados somente pelos pesquisadores e não será permitido o
acesso a outras pessoas.
Os dados e instrumentos utilizados com o registro das respostas em questionários e
fitas audiogravadas ficarão guardados sob a responsabilidade da coordenara com a
garantia de manutenção do sigilo e confidencialidade, e arquivados por um período
de 5 anos; após esse tempo serão destruídos.
Os resultados deste trabalho poderão ser apresentados em encontros ou revistas
científicas. Entretanto, ele mostrará apenas os resultados obtidos como um todo,
sem revelar seu nome, instituição a qual pertence ou qualquer informação que esteja
relacionada com sua privacidade.
Se houver alguma consideração ou dúvida referente aos aspectos éticos da pesquisa, entre em
contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Brasília –
CEP/UniCEUB, que aprovou esta pesquisa, pelo telefone 3966.1511 ou pelo e-mail
cep.uniceub@uniceub.br. Também entre em contato para informar ocorrências irregulares ou
danosas durante a sua participação no estudo.
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Participante
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Júlia S. N. F. Bucher-Maluschke, celular (61)981969913/telefone institucional (61)3966-
1475
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
Rosilda Alves de Oliveira, t e l e f o n e / celular 6198139-4246
I – IDENTIFICAÇÃO
1. Aplicador: __________________________________________
Data:__________________
Início: ____hs______min. Término: ____hs______min
1. Entrevista nº________
2. Diagnóstico:_________________________________________
3. Renda familiar: _______________________________________
4. Questionário respondido por: () Pai () mãe () Filho () Outro
5. Nº de pessoas que moram na casa: ________
6. Quem faz parte da sua família? (identificar outros casos de deficiência na família)
12. O que acha que vai acontecer com a família se algum (ou os dois pais) não
estiverem mais presentes (ou faltarem)?
- Relação de cuidado entre os irmãos
- Condições financeiras
- Funcionamento da família e da casa
- Conflitos
acontecer nos aproximou mais ainda. E aí logo a gente foi morar junto e depois nos casamos.
Casamos no civil em 2012.
Pesquisadora: O que mudou depois de saber que seu filho tinha deficiência?
F. 1 - Primeiro foi um choque, porque eu não queria, mas já que veio porque não é para eu ir
embora. Tem algum outro objetivo nisso aí. E ele já vinha de um casamento, já tinha duas
filhas do outro relacionamento. Pra mim foi assim, eu falei: “Gente, vou ser mãe, como vai
ser?” Porque eu era muito vaidosa, era muito bonita quando era mais jovem, há 18 anos
atrás, era muito bonita, era bonita mesmo. Era muito vaidosa, mas nunca fui de farra, sempre
fui muito reservada, muito séria e aí aconteceu e a gente foi morar juntos. E aí, logo nessa
primeira ecografia já apresentava o bebezinho tudo, tudo legal e com cinco meses eu fui fazer
a “morfológica” para saber qual era o sexo e nesse momento fiquei sabendo que ele tinha
uma anomalia chamada a mielomenigoceles e a hidrocefalia, que é a abertura na coluna.
Nasce com aquela má formação, é uma má formação na coluna. Depois que eu descobri isso
que eu fui atrás pra descobrir o porquê. Se era falta de alguma coisa. Eu sempre tive uma
alimentação legal, muita verdura, uma alimentação saudável. Aí também não entendia porque
na minha família não conhecia nenhum caso. Quando eu fiquei sabendo levei um susto, que
ele teria esse problema. O susto porque? Porque era o primeiro filho, como vai ser cuidar de
uma criança... como é essa hidrocefalia? Apesar de eu prestar serviço no Ministério não tinha
nada a ver com aquilo que eu estava vivendo naquele momento. Então, eu falei e agora como
vai ser? E como vai ser depois? Vou saber cuidar dessa criança? Mas, no primeiro momento
foi um choque.
O médico foi logo falando, esse problema é muito grave, a criança pode vim a falecer
ao nascer, você que sabe se quer continuar a gravidez ou quer tirar. O médico tem que ser frio
pra dar essas notícias. O médico que deu o diagnóstico foi o que fez a ecografia, deu na hora.
Gravei, mas até não assisti essa fita, nunca tive vontade. Eu achei que ele foi muito seco.
Acho que a pessoa tem que ter uma forma mais maleável de abordar, de falar. Acho que ele
deveria ter sido mais suave. Não sei se porque era meu primeiro filho e eu fiquei bastante
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69
assuntada. Aí eu fiquei assim, parece que eu fiquei em estado de choque aí na hora liguei para
a obstetra. Eu já estava com a obstetra, já estava sendo acompanhada, já tinha feito todos os
exames, já estava acompanhando tudo. Logo que descobri que estava grávida continuei com a
ginecologista que eu já tinha. Liguei pra ela e fui no consultoria ela foi me explicar:
“Realmente, tem caso que a criança vem à óbito ao nascer, tem outros casos que não. Que a
criança vive normalmente. Falou como ele ia nascer, me explicou. Aí a partir deste momento
acabou minha vaidade, acabou tudo. Falei: “Vou viver pra isso, vou seguir em frente e vou
ver onde vai dar”. Ela falou: “Mãe, agora a opção é sua, você pode tirar a criança e você pode
levar sua gravidez até o final, sabendo que ao nono mês, assim que ele nascer, ele pode vim a
óbito, mas é uma decisão sua. E aí eu já falei com ela, “não eu não vou tirar”. Eu dei a
resposta pra ela sem ele (o pai) estar comigo. Eu falei não vou tirar, vou continuar com minha
gravidez, não quero tirar. Não é a minha vontade, nunca foi. Vou levar a gravidez até o final,
aconteça o que acontecer. E aí fui vivendo aquilo. Fui fazendo o pré-natal completo, ele foi se
desenvolvendo, mas sempre naquela angústia. Só que ele (o pai) já teve uma outra reação.
Quando eu comecei a fazer o enxoval ele nunca quis comprar nada pra criança, nunca.
Porque ele falava assim “a criança vem à óbito eu vou gastar com que? ” Só que ele tinha um
pensamento e eu tinha outro. Então eu acreditava que uma coisa boa pudesse acontecer, como
eu acho que aconteceu e ele não. Aí fomos vivendo aquilo e eu “tocando”, fazendo tudo
praticamente só. Aí eu continuei, fui fazendo meu enxovalzinho, confiando, confiante.
Fui nascida e criada em igreja católica, mas depois fui para igreja evangélica e fui
buscando na oração. O povo tem uma oração alí eu ia. Só não fui em centro de umbanda, não
fui. Eu falava assim, “se eu fui escolhida para ser mãe de um portador de necessidade
especial então eu quero ter essa oportunidade de ter aquilo que tenho dentro de mim para
oferecer pra ele. Eu quero essa oportunidade. E foi assim que eu fui tocando. A gravidez foi
certinha, com nove meses, no último mês tive que entrar de dieta porque engordei muito,
engordei 22 quilos, inchava muito as pernas, ele já estava bem gordinho, ele já estava com
quase quatro quilos. Nunca parei de trabalhar, trabalhei até o último dia. O dia que ele
nasceu, marquei a cesárea porque era uma gravidez considerada de alto risco. Marquei o
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parto para o dia 09 de maio, que era o dia das mães e quando foi 04 de maio ele se antecipou.
Tinha trabalhado o dia todo e quando foi meia-noite comecei a sentir cólica, mas tranquilo.
Liguei para minha médica e não consegui falar ela estava no HRAN fazendo parto. E eu era
acompanhada com um médico do HMIB ele queria me internar 15 dias antes de ele nascer e
eu achei mais seguro continuar pelo particular, achei mais seguro.
No HMIB era um especialista que cuidava e antes como eu tralhava no Ministério o
Serviço Social quis me ajudar, me levar para São Paulo para fazer aquela cirurgia
intrauterina, como estava iniciando, há quinze anos atrás, estava começando a fazer essa
cirurgia e só fazia em São Paulo na época. Eu falei assim: “Gente, vai que eu faça essa
cirurgia e ele vai falecer e o meu peso de consciência? ” Eu não quis. O risco, na época, teria
que tirar ele (o bebe), fazer a cirurgia na coluna dele e depois colocar ele de volta. Teria o
risco de contrair uma infecção, de ele não resistir, era um bando de risco. Então eu achei
melhor não fazer isso. Vou esperar pra ver. Fui confiando. E aí ele chegou o dia de ele nascer
e foi aquela novela, porque minha contração já estava muito rápida. Foi assim, vap..vupt, e
ele não podia nascer normal, teria que ser cesárea. E até a hora de conseguir falar com minha
médica no centro cirúrgico, ela tinha que autorizar outro médico para poder fazer meu parto.
Mas, enfim, deu tudo certo e ele nasceu com três quilos e quatrocentos e vinte e cinco
gramas. Com 51 centímetros, bem gordo, bem saudável. Tinha os pezinhos tortos? Tinha.
Tinha anomaliazinha dele? Tinha. Mas era um bebezão lindo. E ficamos muito felizes. Ficou
na incubadora, inicialmente, porque ia fazer a cirurgia da coluna no dia seguinte, para fechar
a bolha que nasce na coluna e para evitar infecção. Ele ficou três dias na incubadora e me
deram alta para ir pra casa. Deixei ele no hospital. Morrendo de chorar, esse aqui (marido)
achou que eu ia morrer porque já saí do hospital e fui pra rua, bater perna e com febrão. E
quase que, realmente, morro e o menino no hospital. E no da seguinte me ligaram me
chamando urgente no hospital e a gente já foi lá morrendo de medo, achando que tinha
acontecido alguma coisa e chegou lá, não, é porque o leite que eles davam pra ele não estava
fazendo ele calar a boca. Porque ele era grandão e queriam tentar ver se ele já pegava o peito.
Pegou na hora e pronto, já mandou eu ir pro quarto. Só porque ele estava bem, a cirurgia
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sequinha e o menino mamando e chorão tiraram ele do CTI porque não aguentaram. O
médico dizia, “mãe, não é menino de CTI porque era um bebezão”. Ele era um bebezão na
época, bem grande.
Inicialmente eu tinha medo de tocar nele, porque eu nunca gostei desses negócios de
ferida, de hospital, dessas coisas, sempre tive muito receio, mas pra mim foi muito fácil. Mas
tinha muito receio de como tocar. Depois de 20 dias colocou o cateterzinho, que usa aqui (no
pescoço), aí não podia deitar desse lado. Então tinha todo esse cuidado, mas com o tempo a
gente acostumou muito rápido a lidar com isso. Ele foi crescendo, com 20 dias colocou o
cateterzinho, com três dias já liberou porque cicatrizou muito rápido. E ele estava super bem,
mamando. E aí fomos pra casa. Na minha família todo mundo ficou triste, mas eu na
realidade nunca senti tristeza por ele ter vindo assim, não se é um preparo de Deus. Eu chorei
no primeiro momento, e depois eu parei e falei assim: “porque que é que eu estou chorando?
Se eu tive uma oportunidade de ter um filho especial e dar tudo aquilo que eu tenho pra ele.
Então eu acho que eu sempre fui muito forte com relação a isso. Nunca choro por causa do
problema dele, sempre tento superar. Quando ele me faz uma pergunta, “porque isso, porque
aquilo” eu sempre respondo diretamente. Eu sempre deixo consciente pra ele que todos nós
somos deficientes de alguma coisa. Então deixo isso claro pra ele. O fato de você andar não
quer dizer que você seja diferente de mim, da minha pessoa, do meu eu. Digo a ele, Tudo
bem que você não anda, mas você não vai deixar de viver por isso. Você acha que eu sou
perfeita? Não sou, eu também tenho alguma deficiência. Eu sempre falo isso com ele, se você
parar para me observar você vai achar um monte de deficiências na minha pessoa. Depois de
muito tempo a gente descobriu que a gente tinha incompatibilidade sanguínea, mas nisso a
gente já tinha A., depois que ela nasceu. A gente nunca fez esse teste para saber disso.
Mas foi só isso também, foi só na hora aquela coisa ruim. Aquela sensação muito
ruim. Mas depois que ele nasceu nós fomos nos acostumando, fomos lidando. Realmente é
diferente você lidar com uma pessoa com deficiência, mas nós fomos acostumando e hoje é
tudo tranquilo. Graças à Deus. Mas, no momento é triste. O sentimento era de medo de perde-
lo. Porque o médico disse que dificilmente ele iria sobreviver. Que ele poderia até nascer,
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mas logo, logo poderia vim à óbito, mas na hora que a gente recebe essa notícia. Acho que o
médico não soube falar, não soube passar pra gente o problema. Nós sofremos muito no dia
que soubemos, mas depois a agente foi lidando e acostumando.
preso em casa. Toda terça e quinta eu ia para a Asa Sul com ele pro treinamento de tênis e aí
o ano passado ele não foi. Inclusive o ano passado ele chegou a viajar sozinho pra disputar
campeonato. Ele foi três viagens sozinho e duas ele foi comigo. Nós fomos para Florianópolis
e para Uberlândia. Ele foi para Aracajú e duas vezes para São Paulo. Inclusive ele foi
campeão em 2017, nas Paraolimpíadas Escolares, ganho troféu de destaque e medalha de
destaque. Eu sou mais resistente para chorar, mas todas as vezes que ele vai falar de A. é
sempre assim, sempre chora. No primeiro momento eu chorei também, mas depois fiquei de
boa, e quando A. estava na incubadora ele (o pai) não podia entrar porque sempre chorava.
Até o doutor falava, ficava “pegando no pé” dele e eu sempre forte. Sempre fui muito forte e
até hoje eu sou assim. Eu não digo que não vivo aqueles momentos, mas sempre estou
tentando ser mais forte para passar isso pra ele. Ele também não gosta de ver o pai chorando,
ele fica incomodado: “Ah! Pai porque você está assim?” Ele não pode ver a gente brigando
ele diz: “Porque vocês estão brigando assim, tem que conversar”. E nós dizemos: “Nós não
estamos brigando, estamos conversando”. Ele sempre foi bem tranquilo, nunca foi chorão,
sempre foi bonzinho. A professora Júlia chama ele de pequeno guerreiro. Eu sempre fui
assim. Minha vó dizia que eu era muito durona comigo mesma, mas acho que um tem que ser
mais forte, se os dois forem assim. Eu lembro que eu falava com o cirurgião, “Dr. S. como é
que eu vou cuidar desse menino, como é que eu vou fazer esse curativo? ”. Ele dizia: “Deus
dá um jeito”. Era o primeiro médico que eu ouvia dizer a palavra Deus. E foi tão rápido. Pra
gente é tão natural. Para as pessoas que veem de fora não é natural ter um filho assim. Tanto
é que o Sara sempre chama a gente quando tem uma entrevista, pra passar para outros pais,
como é o nosso trato com A. Como a gente tem que tratar. Eu trato ele como trato a irmã
dele. Quando um vai pro castigo o outro vai também, é igual. Pra não achar que há diferença
de um pro outro. Na realidade ele só tem uma limitação de não poder andar, mas isso não
impede a pessoa. Eu falo pra ele que tudo ele pode, e que ele não tem que se colocar inferior.
Eu brigo muito com relação a isso quando eu vejo alguém olhando para uma pessoa que é
portador de necessidade especial, eu acho que há muito preconceito, mas não só com relação
à isso. Falar “tadinho ele é aleijado”. Aleijado não, ele tem uma limitação. Eu aprendi a lidar
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com isso depois que eu tive ele. Porque eu lembro que na minha infância minha mãe era uma
pessoa com o coração muito bom muito forte. Ela sofreu muito, mas era uma pessoa muito
forte. Ela ajudava uma senhora que se chamava Maria e ela tinha as mãozinhas tortas, e eu
não sabia o porquê que eu tinha muito ódio dessa mulher. Eu era criança, mas eu lembro
como se fosse hoje, que eu tinha muito ódio dessa mulher. Tinha raiva de ver minha mãe
cuidando dela e ficava questionando a minha mãe por isso. Eu sempre fui de questionar muito
as coisas e hoje eu falo: “Deus sabe de todas as coisas”. Naquela época Deus já queria me
mostrar alguma coisa, já queria me preparar pra isso que eu ia viver hoje. E aí eu aceitei.
Claro que foi um choque, mas eu tentei aceitar da melhor forma possível. Nunca quis tirar
meu filho, nunca. Meu filho é minha vida, meu amor. Eu falo pra ele: “Que ele é muito meu
amigo”. Ele fala que até nossos sentimentos são bem parecidos. Quando ele sente alguma
coisa eu estou ali sentido, então é o meu xodó. Nós nunca conseguimos receber o passe dele,
agora estou pensando em colocar advogado porque o pai dele é militar aposentado, eu não
trabalho. E o benefício do pai dele acho que é 150,00 reais e por isso eu nunca consegui o
benefício dele. Que eu acho que é um direito dele. Mas é só no papel. Isso pra você ver os
entraves que a gente encontra, as dificuldades são muito grandes. Graças à Deus ele (o
marido) é militar, não ganha milhares, mas o que ganha Deus tem suprido todas as nossas
necessidades. Eu tenho minha irmã com meu cunhado que ajuda bastante a gente. Por que a
gente não teria condições de dar uma cadeira de roda que ele tem hoje. Que depois da escara
foi necessário. Uma almofada diferente, porque essa úlcera dele foi avaliada várias vezes e
nunca melhorava, nos indicaram essa cadeira e na época não tínhamos condições aí meu
cunhado deu a cadeira e minha irmã deu a almofada. Então é sempre assim. A única coisa
que ele faz é o CAT o cateterismo diário para tirar o xixi, porque o portador da mielo tem
uma bexiga menor, chamada bexiga neurogênica, como a água sobre pra cabeça que é a hidro
e não tem a força pra voltar então não estimula a bexiga, pra que ela encha, fique mais cheia e
expanda mais, então ele tem uma bexiga menor e o único medicamento que ele faz uso é
oxibutinina que relaxa a bexiga e cresce mais e cabe mais água. Mas ele tem que colocar a
sonda diária que ele tira o xixi pela sonda. Ele mesmo já faz isso. Primeiro eu fiz, depois o
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pai e o Sara ensinou para ele, faz uso de 4 em 4 horas da sondinha e é o único medicamento
que ele toma é esse. Agora nós conseguimos uma doação de uma colega e aí a gente não tem
comprado. Às vezes a gente vai no posto e nunca tem o medicamento, nunca tem a sonda a
gaze pra fazer a assepsia para não trazer infecções.
A prioridade aqui em casa é sempre ele. A gente não tem as porta largas, mas tem as
portas tudo raspadas, mas eu falo: “filho isso é de menos, o importante é a vida.” Agente não
leva nada da vida. Nós somos muito grudados, a gente vive pra eles. Ele joga tênis, faz
natação na Católica, já jogou BedMintou, já teve outros tipos de esporte, mas ele falou que
gosta do tênis de cadeira de rodas e é nisso que a gente está investindo. A minha menina já é
da Federação do Caratê e agora está no Vôlei da Vila Olímpica, já está no time “Futuro
Campeão” da Vila Olímpica, então a gente gosta de esporte, eu gosto, meu esposo é
esportista também e a gente incentiva. O esporte traz qualidade de vida, socializa e tem uma
infinidade de coisas, de conhecimento de pessoas e conhecer o mundo. Eu falo: “é isso que
vocês querem? Então é isso que nós vamos oferecer para amanhã não dizer eu não fui isso
porque minha mãe e meu pai não incentivaram. Aqui não tem isso, a gente sempre incentiva.
Querendo ou não é sempre primeiro ele, a gente sempre fica por último. Eu sempre fico por
último, quando eu penso em mim eu já vivi eles, até o esposo dez vezes, só na décima
primeira vez que eu estou. Então eu me coloco depois, primeiro sempre eles. Eu falo pra eles:
“Agora mamãe vai viver a vida da mamãe”. Porque eu não concluí meu curso superior, eu
priorizei eles.
Não tem nada adaptado porque requer recursos financeiros, como ele tem uma
locomoção do corpo. Só não anda. Ele é muito independente. Não depende da gente pra
passar de uma cadeira para cama. Ele faz tudo sozinho. Não tem corrimão para ele descer.
Mas com essa cadeira dele ele faz tudo. Nossa, essa cadeira dele!
Pai: Meu chefe era muito bacana ele dizia que eu era o único que não tinha que cumprir
horário, mas sempre que precisava de mim eu estava lá. O A. fazia fisioterapia no Lago, na
Fiplac e nós morávamos no Bandeirante, eu ia pegava ele ia para a fisioterapia, voltava e
deixava ele na casa da avó na Asa Norte e depois que ia trabalhar. Quando tinha que levar no
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hospital não tinha que levar atestado. Como eu por causa da idade não podia fazer mais curso
nem ser promovido eu falei “vou pra reserva porque vou ter mais tempo pra ele” e foi
providencial. Eu tinha mais tempo pra ele, não tinha que deixar ele em casa para ir pro
trabalho, e foi muito bom.
Mãe: eu só saí do trabalho porque fui dispensada senão estaria trabalhando até hoje. Eu tinha
receio de deixar ele porque ele não andava, mas contratei uma menina muito bacana que
cuidava bem dele. Era de confiança. Era um grude um xodó com ele. Ele foi para o ensino
precoce com um ano e meio, porque Sara cobrava o ensino precoce. Como ele falou muito
cedo, então o Sara ficava cobrando, “vamos levar ele pro ensino precoce”. Até hoje ele é
acompanhado pelo Sara desde que nasceu. Vinte dias que ele nasceu.
Quando eu saí do hospital que ele colocou o cateter eu fui direto pro Sara aí eles não
queriam deixar eu entrar, aí eu entrei falando que ia visitar uma pessoa, naquela época era
muito difícil, há quinze anos atrás conseguir qualquer coisa no Sara. Eu dei uma de paranoia,
eu falei “Eu quero que vocês marquem um atendimento para meu filho, só vou sair daqui
depois de marcar”, saí de lá marcado o primeiro atendimento pra ele daqui a 30 dias. Mas tive
que fazer isso. Até hoje ele é o xodó do Sara. ele passou 6 meses usando gesso nos dois
pezinhos. Tinha os pezinhos bem tronxinho, era piquituxinho com gesso no pé. Com três
meses que nasceu começou a usar o gesso. Colocava na segunda e tirava na sexta. Na
estimulação precoce saiu rápido porque ele aprendia as coisas mais rápido, muito rápido. As
professoras iam ensinar as coisas pra ele e ele não queria mais. Elas já falavam “mãe tem que
levar ele para uma escola particular, poque ele é muito. Sempre estudou numa sala normal,
com os alunos que não tinham nenhuma necessidades. Quando nós mudamos pra cá (Recanto
das Emas), nós colocamos ele numa escola particular, fez o primeiro ano lá. Fez muito bem.
O dono da escola tinha van escolar a gente pagava tanto a escola como pagava ele pra buscar
o A aqui e deixar e aí no segundo ano ele foi para o 101, estudou lá até o ano passado. Nunca
reprovou nem um ano, vai fazer 15 anos está no primeiro ano, já. No ano passado foi meio
complicado porque como ele não foi pra sala de aula aí tinha que fazer muito trabalho no
Sara. Quando ele esteve no Sara ele tinha professor, era acompanhado por uma professora lá
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aí depois que ele saiu nós colocamos ele com um professor particular, e fazendo os trabalhos
e a gente acompanhando. A gente pegava trabalhos no colégio e levava pro Sara, trazia pra
casa, era pesquisa, era trabalho. Tivemos que fazer isso porque não tinha, mas a gente pensou
de entrar, mas falaram na escola que quando viesse a sair já era o tempo dele de não estar
mais precisando e aí a gente fez isso, colocou um professor particular, ele está no primeiro
ano e não está sentindo tanto. A gente achou que ele ia sentir mais, mas não está sentindo
tanto. Pra ele estar tranquilo, eu fico mais preocupada com ele e ele “não mãe para, você é
exagerada!” Ele sempre fala que eu estou exagerando, mas é a preocupação de mãe né?
Porque não foi na escola no ano passado, foi só no começo e depois não foi mais. De manhã
ele vai pro colégio, quando ele tá bem de saúde, ele chegava do colégio, ia treinar tênis ou
então ia pra natação, mas agora como essa escaras atrapalhou ele só vai pro colégio e chega
aqui e fica dentro de casa, ali ele fica assistindo filme, atendendo telefone. Era pra recomeçar
amanhã o tênis, mas aí ele voltou pra natação, não sei se foi porque ele fez uma angioplastia
no Sara e a pele está muito fininha aí ele tinha, a uns quinze dias atrás, tentou voltar pra
natação, o doutor tinha pedido pra dar mais um tempo que a pele fica muito fininha. Eu não
sei se é o cloro, eu senti que ficou muito seca a pele, não sei se foi o cloro. Aí começou a
machucar, mas já está cicatrizando de novo, aí a gente vai dar um tempo pra voltar pra
natação e pro tênis amanhã. Ele ia voltar pro tênis amanhã.
Ele tinha um professor de tênis que foi embora para os Estados Unidos, era da
Fundação Educacional e era cedido pro Cetef na Enap, um professor muito bom e gosta
muito dele, não só dele como dos alunos dele tudo. Inclusive ele (A) estava cotado para
compor a seleção juvenil de tênis, só que aí houve esse negócio da escara e atrapalhou a vida
dele todinha, mas Deus sabe tudo, Deus sabe a hora de tudo. Ele não gosta de ler. A irmã
ajuda, muito, nossa! Teve uns dias aí que eu tive que sair porque e tava fazendo um curso, aí
ensinei pra ela como fazia, que foi logo que ele saiu do hospital Sara, nossa ela fez. Ajuda
muito. A parte dela é no lanche, se seu irmão precisar você ajuda. Ela faz numa preguiça.
Eles brincam, de vez em quando estudam juntos. As atividades dele, ela sempre ajuda. Então
dela ele sempre ajuda também. Estão sempre juntos! Sempre que a gente saí tem que sair com
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os dois. Só quando a irmã vai para o inglês ou pro karatê ele fica. Quando vamos pra casa de
uma irmã que mora no Riacho Fundo vai todo mundo. Fomos pra chácara nesse feriado, vai
todo mundo. É legal. A gente não se prende, assim “não vamos pra algum lugar por causa do
A., não. Mas, lá tem isso e isso, a gente dá um jeito, tem a cadeira, levamos. Eles têm amigos
em comum. Na escola todo mundo gosta dele. Ele mudou de escola nesse ano, pensamos que
ele ia ter problema, mas graças a Deus os meninos receberam muito bem. Eles brigavam
muito. Por tudo que é motivo. O A. era mais implicante. Ele é ciumento, então no começo se
eu encostava no pai, não pode, “larga mamãe”, tinha sempre ciúmes da mãe, nunca pode a
mãe está junto do pai. Primeiro foi ele (o pai), depois foi ela (a irmã). Quando ela veio ele
ainda mamava, mamou até grande. Ele ficou com muita raiva. Mandava eu ir embora “vai
embora mamãe! ”. “Quem vai cuidar de você bebe? ”. “Papai cuida, não gosto de você mais
não mamãe”. E com ela foi do mesmo jeito quando eu descobri a gravidez dela já estava de
três meses, fui fazer meus exames, fui fazer a ultrassonografia pra ver o colo de útero para
colocar o DIU, já estava com três meses grávida dela, aí começou o enjoo. E ele mamava, e aí
foi que a doutora falou que eu tinha um problema hormonal, que qualquer anticoncepcional
não ia dar certo pra mim. Eu quase tive trombose, inclusive por causa do anticoncepcional.
Nós ficamos com muito medo quando ela ficou grávida porque o médico tinha dito que
poderia ter uma probabilidade muito alta de ter o mesmo problema. Aí você veja bem a
cabeça da gente como ficou né? Com um especial já é difícil imagina dois. Só que a gente
não sabia que Deus estava reservando uma coisa maravilhosa pra gente e eu sempre acreditei
nisso, eu falei: “Se Deus permitiu é porque é uma coisa muito boa”. E você vê hoje como é
gostoso os dois juntos. Nossa, um fazendo a companhia para o outro é maravilhoso, então,
Deus sabe realmente de todas as coisas.
Ela sempre foi birrenta, diferente dele que sempre foi um menino doce, carinhoso,
tinha esse ciumezinho dele que é típico de taurino mesmo. Eu falo que ele é pirracento, quer
ganhar na pirraça e A. já é assim, ao mesmo tempo que é doce, carinhosa ela tem aquele lado
explosivo, de momento, mas é muito carinhosa, muito doce. O ciúme dela era assim “não
encosta no papai”, mas eu sempre achei que era por causa do mamar, depois que eu tive ela
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eu tinha muito leite, a pediatra mandou eu dar mamar pra ele também. Porque eu enchia uns
três vidros de leite por dia, e comia muito pouquinho aí eu comecei a passar mal. Uma vez eu
desmaiei e aí decidi que não ia mais doar leite. Ela mamou até quase três anos e ele também.
Converso, falo que não podia brigar, tinha que fazer carinho, que era irmãozinho. Comecei a
falar que era “maninho” e “maninha” aí foi passando.
A gente tenta impor regras, mas é difícil. Com essa história do celular é complicado. Mas é
assim, quando eles têm tarefas pra fazer, chegam da escola e querem fazer logo. Ela por
exemplo, se na escola passa uma tarefa ela já começa a fazer na escola, chega em casa
prioriza aquilo, faz, e depois vai pro celular. Ele já é mais preguiçoso, mas faz. A gente fica
sempre em cima “primeiro você vai fazer as atividades”. Ou então ele chega da escola e quer
usar o celular “Você vai usar um pouquinho e depois você vai largar o celular e vai estudar,
fazer suas tarefas e depois você usa o celular”, assim vamos controlando. Mas a gente sempre
tá deixando claro pra eles: “O seu estudo, seu saber, vai servir só pra você, não vai servir nem
pro teu pai, nem pra tua mãe nem pra tua irmã, o seu vai servir só pra você”.
A escola fala assim que eu sou uma mãe muito exigente, que nós somos pais
exigentes. E eu falo assim que a gente tem que exigir o melhor pro filho, a gente exige porque
a gente sempre achou que ele tem uma limitação, a escola acha que ele não tem. Que é no
andar dele. As vezes tem alguma coisa assim que até hoje a gente fica meio apreensivo, né?
Mais aí, a gente tira de letra. Eu sempre falo o seguinte, o A. se ele fosse um menino normal,
acho que a gente ia ter que ficar atrás dele só em quadra, em campo. Porque ele adora
esporte. Acho que ele não estudava não. Porque eu ia ter problema muito pra leva-lo em
escolinha. Porque é só esporte o dia todo, ele ama esporte. E ele joga bem pra caramba.
Quando ele foi indicado pra esse profissional do CETEF foi uma professora daqui que viu ele
jogando e comentou com o professor. O professor veio buscar ele aqui. Veio aqui e disse: “Ó
pai, você leva ele pra mim lá no CETEF, tal dia”. Ela também adora esporte. Tudo ela quer.
Tanto é que a semana dela é cheia de segunda a sábado ela faz esporte. Essa semana é de
segunda a domingo. Ela vai ter competição no sábado de vôlei e no domingo lá na Ceilândia
de karatê.
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me chamavam, que marcavam pra mim, eu estava lá. Era aquela angústia e depois que eu
passei a ter contato com outras mães da escolinha... Porque depois de quatro meses ele foi pra
escolinha. Inclusive essa escolinha que eu fui quem fundou foi a G. Ela fundou essa escola,
porque ela teve uma filha assim.
estão perto, mas é um carinho com ele quando vê. Não recebo nenhum benefício por causa do
salário do pai. Como ele tem uma pessoa que cuida e tem um salário ele não tem direito. Eu
nunca consegui o benefício dele por causa disso. Porque ele é aposentado e tem o salário, tem
como sustentar o filho, você não consegue. É tipo uma bolsa escola e você tem dividir o
salário pra cada pessoa. Se passar 200 reais você não é aprovado. Você pra receber esse
salário aí dos deficientes você tem que ganhar nada, você tem que ser desempregado, não ter
nada, não ter ninguém para ajudar.
Eu queria mulher e já até tinha o nome, se for mulher vai chamar tal nome. Aí veio
homem né, porque naquele tempo não fazia ecografia. Eu achava que era mulher e aí veio
homem, mas eu recebi meu filho assim com muito amor. Eu já tinha dois homens e duas
mulheres. Eu dizia vai vim uma mulherzinha, aí veio homem, mas foi bem acolhido meu
filho. Graças à Deus, até hoje.
Pesquisadora: O que mudou depois de saber que seu filho tinha deficiência?
F. 2: Saí do emprego, meus filhos tudo pequeno. Foi muito sofrido na época, porque só meu
esposo trabalhava e ele ganhava muito pouco, e era muita coisa, era os remédios do W., era
passagem, porque na época não tinha essas carteirinhas, tinha que pagar passagem todo dia. E
só ele trabalhava e pra cuidar dos outros, nossa foi uma dificuldade. Com 4 meses foi para a
escolinha de especial a AMPARE que só cuida de crianças assim, né. Lá é fisioterapia, fono,
aquele que trabalha pra criança falar, pra criança sugar, é estimulação, natação. E tinha
outros exercícios lá que eu nem lembro mais o nome, eram muitos exercícios. Eu que sempre
cuidei dele, os meninos eram pequenos. Minhas vizinhas me ajudavam, tinha uma vizinha
que era muito boa, ela até faleceu. Ela que levava meus meninos pra escola, trazia pra mim,
sabe?
assim, agora já tenho 8 netos, você precisa ver a festa destes meninos. O W. fica com ciúmes,
fica bravo, reclama, reclama, reclama, fica bravo, fica tenso! Mais aí os meninos vão lá dão
beijo nele, abraça. Eu fico quietinha só olhando. Esses meninos são espertos! A gente pensa
que não. A audição dele é muito boa, ele não enxerga, ele só vê um vulto assim. Os médicos
já fez todos exames dele e disse que ele só vê um vulto assim. Mas, até hoje eu acho que ele
enxerga, esse negócio de mãe? Porque às vezes você dá luz e ele olha. Os médicos falam que
não, fala que é por causa do reflexo. Era birrento, reclamava, me mordia toda, eu dava
remédio. Ele toma controlado pra acalmar, até hoje toma, porque tinha dia que ele estava
bravo. Ele tomava mais pra não dar crise convulsiva. De vez em quando dava quando ele
estava nervoso e aí no outro dia ele tem crise. Meu esposo no começo não me acompanhava
pro médico, ele trabalhava no IBGE e ele fazia essas pesquisas tudim, então ele viajava.
Então ele não ficava muito tempo. Ele saia de manhã e chegava à noite pra trabalhar, mas o
tempo em que ele ficou me ajudou bastante. Me ajuda até hoje, agora que está me ajudando
mesmo que aposentou. Só está nós dois né? Ele nunca renegou o filho não.
O médico já falou lá do SARA, falou que chegou um tempo que ele... não tem como
ele soltar ele vai só atrofiando, por causa que ele cresceu e os ossos cresceu e vai só
atrofiando e atrofiou muito e ele fez tratamento desde de quatro meses. A médica disse que
não tem como atrofiar, porque na época eu chorava muito pra ela botar uma tala, uma coisa,
coisa de mãe né? E a médica fazia reunião comigo e todas elas no SARA, sentava e dizia:
mãe pergunta tudo. E eu perguntava, ela dizia: mãezinha não tem como por uma tala nos
braços do W., porque o problema do W. não é o braço, o problema do W. é a mente, pensa
bem se a sua mente não está boa corpo nenhum tá, não adianta por uma tala no braço dele.
Isso só vai machucar ele, quando for tirar vai voltar do mesmo jeito”. Então elas nunca
colocaram, mas ele trabalhou muito, fazia muita natação, fazia fisioterapia. Hoje em dia eu
faço em casa, não levei mais ele pra escola não. Depois de 25 anos ele não queria mais fazer,
ele chorava o tempo todim, não queria mais não. Desde quatro meses na escola, enjoou de lá.
A natação era pra ele ficar meia hora ele ficava 10 minutos, se era de ele dentro da água
relaxar ele ficava tenso, aí tinha que tirar ele e enrolar ele nas cobertas. Tinha que tirar, a
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professora falou assim: Mãe o W. não está querendo fazer mais nada. E não adianta forçar,
vai pra casa, vai passear com ele, vai pra igreja, anda, põe ele na cadeira vai pra rua, vai pras
pracinhas. A gente anda muito, passeia, até pra Bahia nós vamos. Ele agora não está
guentando mais não, ele está com escoliose, eu vou daqui em três horas em Goiânia e ele já
está chorando, não dá conta não.
enxoval eu não comprei tão rápido não, porque eu ia viajar para os Estados Unidos, aí eu
queria fazer esse enxoval lá, né? Aí então, eu não fui comprando. Essa viagem estava
marcada, a gente programou uma viagem para os Estados Unidos com antecedência e nesse
meio eu fiquei grávida e tudo, então assim, pensei quando eu for eu compro o enxoval dela. A
minha ficou muito feliz, como sabiam que eu queria muito ser mãe, nossa! Então foi assim, a
notícia do ano.
O parto foi assim, nesse período dos nove meses, eu perdi uns 9 quilos, nessa história,
de 7 a 9 quilos mais ou menos, na gravidez. Sendo que eu tinha que ganhar peso, né? A E.
nasceu com 3 quilos 301 gramas, bem gordinha. Então tudo ia pra ela. Só não sentia enjoo
quando estava dormindo, até quando estava no hospita, passei mal no dia de ganhar. O que eu
comia, eu vomitava. Então quando eu fui pro hospital no dia de ganhar eu vomitei no
hospital. Eu tive hipermerese gavítica, internei por causa disso, eu perdi o outro bebê
também, entendeu? Então assim, eu acho que teve muitas...E o atendimento médico era
muito, muito ruim, de emergência. Os médicos, eles, tipo assim, eles olham pra você grávida
e pensam que é como se eles achassem que você está com "frescura" e não era esse o meu
caso. Se fosse eu não tinha perdido tanto peso, eu não tinha perdido um bebê e tal. Mas,
assim...Eu achei o atendimento médico muito ruim, porque você sente muito, muito enjoo. Eu
fui pra um hospital no Sudoeste, ela me deu um "sorinho" lá assim e aí eu tomei o soro e o
remédio para o estômago, quando eu saí do hospital eu vomitei do lado de fora. Tipo assim,
ela tinha que ter me internado. Isso era numa sexta, quando foi na segunda feira eu fui para o
hospital e internei no Santa Helena, e eu já estava muito ruim. Aí eles tiveram que aquecer
meu corpo, minha temperatura caiu demais. O outro bebê não deu pra saber o sexo, porque
tinha oito semanas e quando eu vi o bebê já tinha parado de se desenvolver, então assim. O
seu próprio corpo absorve, ou então quando nasce ele saí. No meu caso ele absorveu, passa
tudo para outro bebê. Aí o médico falou assim pode ser que o bebê tinha má formação,
alguma coisa assim. Engraçado né? Eu nem sabia que era, se tinha Down, então ele falou pra
mim, nesse tempo que eu estava grávida: "Ah! A gente não sabe". Falou que a natureza era
perfeita, que podia ser que ele tinha má formação e aí o bebê que era mais saudável, acabou
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absorvendo todos os nutrientes e ele foi meio que expulso, assim. Porque ele não era perfeito.
É tipo assim, como se o meu corpo escolhesse o filho mais saudável, que tinha mais chance
de sobreviver, entendeu? Ele quis dizer que a E., ela tinha chance de nascer saudável, então o
outro foi e ela ficou, até pra eu não perder os dois. O parto foi cesáreo marcada, tudo. Foi
assim, a gente foi para o hospital esperando que tudo ia ser mil maravilhas, porque o
sofrimento já tinha sido tão grande. Porque assim, cada ultrasson era uma revelação. A gente
fez um ultrassom que era gêmeo, passou um tempo e a gente fez um ultrasson que tinha
perdido um dos bebês, aí depois a gente fez um ultrasson que o médico falou que o bebê não
tinha perna nem braços. Foi quando eu viajei para os Estados Unidos, pensando que, pra fazer
o enxoval. Fiquei uma semana lá, comprando roupa para um bebê que podia nascer sem
perna e sem braço. Eu olhava assim, e falava assim "eu vou comprar uma calça, uma blusa?"
Porque não dava pra ver no ultrasson, só via o corpo e a cabeça, só via o tronco e a cabeça,
entendeu? Foi muito difícil. Teve outro que o cordão umbilical estava muito fino e não
passava nutrientes, eu tive que ASS pra afinar o sangue, pra poder passar o sangue. O cordão
umbilical estava estreitinho não passava os nutrientes. Eu tomava ASS durante a gravidez pra
isso. E o atendimento na era muito ruim. A gente chegava cedo, né amor? Chegava cedo e
saia de noite de lá. Na clínica particular, pelo convênio. Eu achava que o atendimento deixava
muito a desejar, você ficava lá o dia inteirinho. Ele marcava seu horário, mas todo mundo
chegava junto e você ficava lá esperando. Passava quem pagava no dinheiro, quem era de
convênio ficava esperando.
Nesse tempo eu internei uma vez, dessa vez eu tive a hipermerese gravítica, tudo. Aí
saí do hospital. No parto, fui pensado que depois de tudo o que aconteceu não ia acontecer
mais nada de ruim. Agora só alegria! Parto cesáreo, eu consciente. Ele (o esposo) assistiu o
parto, né? Aí quando nasceu ela não chorou na hora, mas como eu nunca tive filho, não tinha
experiência, então pra mim. Ele tirou ela e me mostrou muito rápida, me mostrou e levou. Foi
tipo um flup... e foi embora. E aí daqui a pouco ela deu um "chorão", um grito bem grande.
Ficaram uns 5 minutos lá, tentando, vendo se ela estava bem. E aí estava no parto ainda e tal,
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e aí ele tirou foto e me mostrou a foto dela lá. Quando ele me mostrou a foto eu vi que ela
tinha Síndrome de Down, na mesa de cirurgia.
Pesquisadora: O que mudou depois de saber que seu filho tinha deficiência?
F. 3: Eu sabia o que era Sindrome de Down de ver, com muita ignorância, sabia muito pouco.
Pra mim, na minha cabeça era uma coisa muito ruim, uma coisa horrível. Quando eu olhei eu
sentia uma sensação do tipo "não é minha filha, não é meu filho. Meu filho é perfeito". Minha
sensação foi de rejeição. Quem já tem filho com Down, chama de luto, que é a morte do filho
perfeito. E aí foi muito estranho. Eu tive aquela sensação de "Meu Deus, depois de tudo o que
eu vivi, vou viver isso agora?" Eu achava que não era minha filha, aí depois, lá no quarto
mesmo quando eles colocaram o bercinho do meu lado, colocou ela pra deitar no meu peito
aí, fui lá e o amor, você sente um amor tão grande, uma coisa assim tão boa. Aí foi passando.
Eu tive muito medo eu não sabia o que era aquilo, eu achava que era muito pior do que era.
Meu medo era assim... eu pensava que Síndrome de Down não aprendia nada, era muita
ignorância da minha parte. Nossa preocupação era de saber qual era o nível. A gente pensava
assim, que tinha grau. Então a gente ficou muito assim. Nossa! Eu só lembro de SD, porque
eu tenho uma irmã especial, minha irmã tem um atraso, uma deficiência mental. Ela ia para
APAE e falava mal dos meninos que SD, ela falava que eles batiam nela, entendeu? Então
minha visão de SD era estranha, eu achava que eles eram... que eles batiam, porque era a
memória que tinha.
Pai: e a minha visão era de grito, pensava que todo SD gritavam. Os que eu conhecia
gritavam, eu não tive convivência com SD como os meninos têm hoje, né? Os meus filhos já
estão estudando com meninos com SD, na minha época não tinha disso, então a gente via, os
da minha época, os caras tudo gritando, eles gritavam, gritavam. Comigo foi assim, quando o
médico tirou, eu bati o olho e cheguei pro médico "Síndrome de Down?". Quando tirou, M.
olhou pra mim, perguntou: "O que é que foi, está tudo bem?" E aí "Não tá tudo bem" Só falei
assim. Aí eu tinha perguntado pro médico "Síndrome de Down?", aí ele "Não pode... não é
assim não". Aí fui lá, quando cheguei fiquei olhando pra ela. O pediatra estava olhando aí
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falei: "Ela é SD, não é?" E ele "Não, tem que fazer um exame disso aqui". Porque eles não
falam, mas falei "É SD sim". E aí eles fazendo procedimentos, pediram para me afastar e ela
não tava chorando. Depois de uns 5 minutos ela começou a chorar e deu um choro, até o
pigar dela foi de um índice de quase 0 até 9. O pediatra até ficou mais tranquilo. Tirei a foto e
mostrei pra ela (esposa) e ela disse “É Down?” E o médico disse “Não é assim.
Mãe: Foi bem um gritão assim, na hora que gritou mesmo eu escutei de lá de onde eu
estava. Mas eu já sabia. Ele falou, mas nem perguntei pra ele.
Pai: E aí cheguei pra M. naquele momento e disse “Fica tranquila, tal... Esse é nosso
filho, a gente vai estar juntos, a gente vai cuidar dela, tal...” Na hora que vi que era SD senti
mais medo pela a M. de ela rejeitar. Comigo não, comigo eu acho que é pelo motivo de eu já
ter os outros filhos, acho que isso meio que amenizou a minha .... Não foi assim: “Eita!
Minha vida acabou porque minha filha é especial! ” Eu não tive esse sentimento, por eu ter
tido outros filhos. Minha preocupação foi justamente com a M. Depois a minha preocupação
maior não foi nem da criação, foi do coração dela, fiquei preocupado de ela sofrer.
Mãe: Porque assim, SD nasce muito com problema no coração. É 50%, inclusive ela
tem problema cardíaco, mas não é nada cirúrgico. Aí assim, quando ela nasceu a gente ficou
no quarto com ela, minhas irmãs lá, todo mundo esperando nascer a nenê perfeita e quando
veio, veio com SD e aí, no momento em que a gente estava no quarto a mãozinha dela ficou
roxa, os pezinhos, aí chamou os médicos e foram fazer os exames aí descobriu que ela tinha
problema no coração. Mas eles deixam a gente apreensivo como se fosse muito pior do que é.
Pai: Na hora não dá como saber. Na hora, quando ele ligou eu que atendi o telefone, a
Dra. Disse ela está aqui e provavelmente ela vai ter que operar, vamos só esperar o
“cardíaco” pra saber se vai operar ou não, isso foi a pediatra né? Ali pra mim foi o baque!! Eu
sofri mais pelo sofrimento da minha filha, não foi nem tanto por mim. Aí senti muito
sofrimento.
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Mãe: Aí foi a hora que ele chorou, eu chorei antes, eu não tive medo da cirurgia
cardíaca, talvez eu não tivesse muita noção, entendeu? Eu chorei quando soube que ela tinha
SD, chorei, chorei na hora que ela chegou e ficou do meu lado, chorei muito. Olhava pra ela.
Ela não mamou porque teve uma reação alérgica ao leite. Eu tinha que fazer uma dieta, mas
também estava desnutrida, então no final das contas eu nem amamentei. Eu ainda tentei fazer
dieta, mas ainda assim não estava resolvendo. Ela fazia cocô e vinha puro sangue, a gente
ficou 21 dias no hospital. Foi muitos dias com essa alergia, com esse cocô puro sangue. Até
que tirou o peito e acabou essa situação, mesmo que ela mamasse quase nada no meu peito,
só um pouquinho assim, já vinha com sangue. Aí tirou e deu certo.
Ela ficou 8 dias na UTI e o restante no quarto, a gente ficou mais por causa dessa
coisa da amamentação e da alergia, pra poder eles verem o que é. Ela deu uma hipertensão
pulmonar quando ela nasceu, essa hipertensão pulmonar que fez com que ela ficasse na Uti
esses dias todos, aí a gente ficou lá. A minha família ficou muito preocupada, né? Eu tenho
uma irmã especial, então assim, pra minha família não foi assim, né? Ela foi muito bem
acolhida entendeu? Eu tive muita atenção da minha família, tive problema nenhum. Pelo
contrário, tive muito apoio.
Pai: Minha filha ficou preocupada também, por ela, não por ela está com SD, eu acho
porque ela já fez uns trabalhos na Igreja não só com SD, mas com crianças especiais, que ela
é Evangélica. Ela ficou preocupada porque ela estava internada. Sempre trato ela bem, não
tem diferença, nenhum deles. E até a gente mesmo. Eu mesmo trato ela como os outros, pra
mim ela nem tem. Desde o início.
Mãe: no meu caso, eu convivo com outras mães, a gente tem um grupo no Watzapp
das mães das crianças com SD que se chama “Pequeninos” da idade dela pra menos. E assim,
a gente aprende muito com quem já tem experiência, porque tem gente que teve Down e tem
mais Down. Desmistifica muito, porque pra mim eu tinha uma visão que era muito diferente.
Hoje eu olho para Esther e sei que ela tem capacidade de aprender a ler e escrever. Que ela
pode ficar independente. Eu sonho pra ela o que eu sonhava pelo filho do luto. Hoje eu
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consigo ver isso. Depende muito de como a gente vai criar ela, né? É uma luta! Além da
família a gente tem o Cris Down, é no HRAN que tem um atendimento lá que é específico
pra pessoa com SD, lá começa com o acolhimento, eles começam falando o que é
SD. A Dra. Dá uma palestra e depois passa a gente para os psicólogos para contar as
experiências, a gente conta de como ela nasceu, né? E aí você vê o sofrimento dos outros,
você vê situações duras, você vê pai aceitando e mãe não aceitando. Tá na cara que é D e a
mãe diz “Não tem, minha filha não tem”. Negando que é SD. Ela diz: “Estou lá na Igreja e a
pastora está lá orando, não vai ser Down” e o querendo ir e ela nem estava querendo ir para o
acolhimento. Porque no HRAN você tem a Terapia Ocupacional, você tem a Fisioterapia, tem
Fono. A gente fez com Esther lá.
É muita ignorância por não saber o que é SD, eu acho, quando a gente sabe o que é
SD você consegue ver o lado positivo da coisa. A SD tem um lado positivo, assim, o abraço
que a minha filha me dá não é o mesmo abraço que eu vejo outra criança dar na mãe. São
muito afetivas é o amor, é um negócio assim, é a doçura dela apesar de uma agressividade
também, entendeu? Outra coisa que eu acho também é seguinte, as pessoas falam “A gente
cria o filho para o mundo”, aí já é o contrário, a gente está criando pra gente. Nosso objetivo
é criar para ser totalmente independente, mas é uma independência assistida, a gente sabe
disso. Mas, no máximo a gente vai tentar. Então é muito menos ruim do que a gente
imaginava. Se você imagina que é tão ruim assim você nega. A gente não gosta dessas
estereotipias de “mãe especial”, “que foi escolhida”, não tem nada a ver, ninguém é
escolhida. As pessoas tentam te dar um conforto. Pode até ser uma missão, não deixa de ser
um desafio, mas assim, eu não sou especial porque eu tenho uma filha especial. Eu sou como
qualquer outra mãe, minha luta pode ser uma luta especial. Eu não esperava, de jeito nenhum,
entendeu? Não quis aceitar, chorei, chorei muito. As pessoas dizem “Ah, você é especial”
essas coisas. Porque se fosse uma escolha, aí sim seria especial né? Porque se alguém
chegasse pra você e perguntasse: “Você quer sua filha com Down? ” Com certeza a resposta
é não, eu não queria se pudesse escolher. Não vou ser hipócrita!
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Muda muito, porque a pessoa com SD faz terapia, faz terapia ocupacional, faz fono,
faz estimulação precoce. E a minha mudança foi assim, muito grande. Eu trabalho no
Ministério, numa área de contabilidade, trabalho com meta de produção. Meu trabalho é
muito pesado. Eu tive que reduzir meu horário de trabalho pra eu poder acompanhar Esther
nas terapias. Eu tive estresse no trabalho porque você acaba tendo que diminuir sua meta,
você não tem condições de cumprir uma meta X se seu horário não é aquele mesmo horário.
Porque todo dia tinha que levar Esther na fono, fisio, todo dia. A terapia dela era de segunda
a sexta e teve época que ainda tinha no sábado. A gente fazia a fono na Uniplan. Nesses
tempos, mesmo com a terapia tem as consultas, várias consultas. Tem que consultar com
otorrino, cardiologista, tem o dentista. Meu estresse maior é porque assim, ele vai comigo,
mas eu que marco, eu que ligo, entendeu? Eu que me organizo mais pra ela fazer, ele não
acredita muito em terapia não.
Pai: É, não acredito mesmo não. É que eu vejo em Terapia Ocupacional a menina só
brincando lá, fico vendo lá. Se chamar a menina da vizinha vai brincar mais e aprender bem
mais, se for o caso.
Mãe: mas não tem a menina da vizinha, se tivesse até que eu achava bom. Até eu falo
pra ele, se o filho dele convivesse mais com Esther ajudaria bastante. A E. se desenvolveu
bastante foi na creche, até hoje. Hoje ela reconhece as vogais, canta a musiquinha do “Sapo
não lava o pé” e consegue colocar as vogais no final, sabe? A creche, até hoje, a creche é
muito boa. Assim que eu comecei a trabalhar ela foi pra creche, com 8 meses, de 7 e meio pra
8. Ela se adaptou muito bem. Era no meu trabalho eu sempre pegava ela no almoço. Hoje ela
tem muitos amiguinhos, gosta de ir, desenvolveu bastante. Mas o pior de tudo disso aí é
quando ela fica doente. Essa que a gente está mais preocupado. Às vezes, acha que uma gripe
e não é, é uma pneumonia. Se está quente, eles já são quentes, mas tem febre? Não tem febre?
A cabeça quente, a barriga quente, as mãos frias, você acha que tem febre, não tem febre.
Muitas coisas na SD são diferentes. No grupo tem muita criança, e assim, a gente vê muitos
morrem por causa de uma gripe evoluir pra uma pneumonia da noite pro dia. E ainda tem isso
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que a gente sofre. Eu estou no grupo e ele não está, eu passo pra ele. Meu sofrimento eu
compartilho com ele. Esse ano mesmo morreu criança com a idade da Esther com
gastroenterite, com pneumonia. E assim, uma pneumonia que a criança vai pro hospital ela
não tem chiado no peito, é porque eles não apresentam sintomas como outras crianças. A
evolução é muito rápida, ela não manifesta dor como as outras crianças, então assim, a gente
vive num medo, né? Aí eu vou no médico e ele fala não sei o que e eu falo “doutor faz um
raio x, minha filha tem SD”, eu falo mesmo! Morreu uma, esses dias, foi pro hospital, não
tinha chiado no peito, estava pulando. Eles ficam pulando e brincando porque está cheio de
energia e está com pneumonia num estágio forte.