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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

PODEMOS, pessoa jurídica de direito privado, devidamente

inscrito no CNPJ sob o n° 01.248.362/0001-69, com sede no SRTVS – Quadra 701

– Edifício Assis Chateaubriand – Torre 01 – Sala n°422 – Asa Sul – Brasília-DF,

CEP 70340-906, neste ato representado por sua Presidente Nacional e

representante legal Renata Hellmeister de Abreu, brasileira, casada, Deputada

Federal, portadora do RG SSP-SP n° 24.486.052 e do CPF n° 183.729.88820,

CIDADANIA, pessoa jurídica de direito privado, devidamente inscrito no CNPJ

sob o nº 29.417.359/0001-40, com sede no SCS, Quadra 07, Bloco A, Ed. Executive

Tower, salas 826/828, Brasília/DF, neste ato representado por seu Presidente

Nacional e representante legal Roberto João Pereira Freire, brasileiro, casado,

OAB/PE 02852, vêm, respeitosamente, por seus advogados, com fundamento nos

artigos 102, I, “a” e “p1”, e 103,VIII2, da Constituição da República de 1988 e art.

2º, VIII3, da Lei n° 9.868/99, perante Vossas Excelências, propor a presente:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


(com pedido de medida cautelar)

contra os arts. 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3º-E e 3º-F (juiz das garantias) e o § 5º do art.

157, inseridos no Código de Processo Penal, por meio da Lei n° 13.964, de 24 de

dezembro de 2019.

1
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe
I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (...) p) o
pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade
2
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
(...) VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; (...)
3
Art. 2º Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade: (...) VIII - partido político com representação
no Congresso Nacional; (...).
Outrossim, cumpre informar que a presente ação tem por

fundamento principal os próprios estudos delineados em parecer conjunto

lavrado pela Advocacia-Geral da União e pelo Ministério da Justiça e Segurança

Pública, que minuciosamente detalhou a incoerência da norma impugnada com

a Constituição Federal.

I- DAS NORMAS IMPUGNADAS

Eis a redação dos dispositivos impugnados (juiz das garantias),

acrescidos ao Código de Processo Penal, em razão da sanção da Lei n° 13.964, de

24 de dezembro de 2019:

Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.’
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido
reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:
I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do
art. 5º da Constituição Federal;
II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão,
observado o disposto no art. 310 deste Código;
III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja
conduzido à sua presença, a qualquer tempo;
IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal;
V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar,
observado o disposto no § 1º deste artigo;
VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou
revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência
pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial pertinente;
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas
urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência
pública e oral;
VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista
das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste
artigo;
IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento
razoável para sua instauração ou prosseguimento;
X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o
andamento da investigação;
XI - decidir sobre os requerimentos de:
a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e
telemática ou de outras formas de comunicação;
b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;
c) busca e apreensão domiciliar;
d) acesso a informações sigilosas;
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do
investigado;
XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia;
XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental;
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste
Código;
XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao
investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas
produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne, estritamente,
às diligências em andamento;
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção
da perícia;
XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de
colaboração premiada, quando formalizados durante a investigação;
XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.
§ 1º (VETADO).
§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação
da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a
duração do inquérito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação
não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.
Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto
as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na
forma do art. 399 deste Código.
§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz
da instrução e julgamento.
§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e
julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a
necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias.
§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão
acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa,
e não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e
julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de
obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para
apensamento em apartado.
§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do
juízo das garantias.
Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas
competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo.
Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão
um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo.
Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização
judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos
a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal.
Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o
tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com
órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de
responsabilidade civil, administrativa e penal.
Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180
(cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e
a identidade do preso serão, de modo padronizado e respeitada a programação
normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a
efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa
submetida à prisão.
“Art. 157. ............................................................................................................................
.............................................................................................................................................
§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá
proferir a sentença ou acórdão.”
(grifos nossos)

II – DO VÍCIO DE INICIATIVA

A Constituição Federal sustenta, de maneira firme e coerente, que a

disciplina concernente à alteração da organização e da divisão judiciária se insere

na esfera de iniciativa exclusiva do Poder Judiciário (art. 96, II, ‘d”, da Carta

Magna).

Em caso análogo, o Supremo Tribunal Federal ratificou o texto

constitucional, considerando que a elaboração de normas atinentes à modificação

da estrutura do Judiciário é de iniciativa privativa das Cortes Superiores e dos

Tribunais de Justiça, sob pena de usurpação de competência do Poder

Legiferante:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
– TRIBUNAL DE JUSTIÇA – INSTAURAÇÃO DE
PROCESSO LEGISLATIVO VERSANDO TEMA
PERTINENTE À ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO
ESTADO – INICIATIVA DO RESPECTIVO PROJETO DE LEI
SUJEITA À CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DE RESERVA
(CF, ART. 96, II, “D”, E ART. 125, § 1º, “in fine”) –
OFERECIMENTO E APROVAÇÃO, NO CURSO DO
PROCESSO LEGISLATIVO, DE EMENDAS
PARLAMENTARES – AUSÊNCIA DE PERTINÊNCIA
MATERIAL COM O OBJETO DA PROPOSIÇÃO
LEGISLATIVA – DESCARACTERIZAÇÃO DE REFERIDO
PROJETO DE LEI MOTIVADA PELA ALTERAÇÃO
SUBSTANCIAL DA COMPETÊNCIA MATERIAL E DOS
LIMITES TERRITORIAIS DE DIVERSAS VARAS
JUDICIAIS – A QUESTÃO DAS EMENDAS
PARLAMENTARES A PROJETOS DE INICIATIVA
RESERVADA A OUTROS PODERES DO ESTADO –
POSSIBILIDADE – LIMITAÇÕES QUE INCIDEM SOBRE O
PODER DE EMENDAR PROPOSIÇÕES LEGISLATIVAS –
DOUTRINA – PRECEDENTES – REAFIRMAÇÃO DE
CONSOLIDADA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O TEMA – PARECER DA
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI
COMPLEMENTAR MATO-GROSSENSE Nº 313/2008 – AÇÃO
DIRETA JULGADA PROCEDENTE. LIMITAÇÕES
CONSTITUCIONAIS AO EXERCÍCIO DO PODER DE
EMENDA PELOS MEMBROS DO LEGISLATIVO – O poder
de emendar projetos de lei – que se reveste de natureza
eminentemente constitucional – qualifica-se como
prerrogativa de ordem político-jurídica inerente ao exercício da
atividade legislativa. Essa prerrogativa institucional,
precisamente por não traduzir corolário do poder de iniciar o
processo de formação das leis (RTJ 36/382, 385 – RTJ 37/113 –
RDA 102/261), pode ser legitimamente exercida pelos membros
do Legislativo, ainda que se cuide de proposições
constitucionalmente sujeitas à cláusula de reserva de
iniciativa, desde que – respeitadas as limitações estabelecidas
na Constituição da República – as emendas parlamentares (a)
não importem em aumento da despesa prevista no projeto de
lei e (b) guardem afinidade lógica com a proposição original
(vínculo de pertinência). Doutrina. Jurisprudência. –
Inobservância, no caso, pelos Deputados Estaduais, no
oferecimento das emendas parlamentares, de tais restrições.
Consequente declaração de inconstitucionalidade formal do
diploma legislativo impugnado nesta sede de fiscalização
normativa abstrata. A SANÇÃO DO PROJETO DE LEI NÃO
CONVALIDA O VÍCIO DE INCONSTITUCIONALIDADE
RESULTANTE DO DESRESPEITO, PELOS
PARLAMENTARES, DOS LIMITES QUE INCIDEM SOBRE
O PODER DE EMENDA QUE LHES É INERENTE – A
aquiescência do Chefe do Poder Executivo mediante sanção,
expressa ou tácita, do projeto de lei, sendo dele, ou não, a
prerrogativa usurpada, não tem o condão de sanar o vício de
inconstitucionalidade que afeta, juridicamente, a proposição
legislativa aprovada. Insubsistência da Súmula nº 5/STF
(formulada sob a égide da Constituição de 1946), em virtude da
superveniente promulgação da Constituição Federal de 1988.
Doutrina. Precedentes. ATUAÇÃO DO ADVOGADO-GERAL
DA UNIÃO NO PROCESSO DE FISCALIZAÇÃO
CONCENTRADA DE CONSTITUCIONALIDADE – O
Advogado-Geral da União – que, em princípio, atua como
curador da presunção de constitucionalidade do ato
impugnado (RTJ 131/470 – RTJ 131/958 – RTJ 170/801-802, v.g.)
– não está obrigado a defender o diploma estatal, se este
veicular conteúdo normativo já declarado incompatível com a
Constituição da República pelo Supremo Tribunal Federal em
julgamentos proferidos no exercício de sua jurisdição
constitucional. Precedentes. ( STF, ADI 4138, Relator: Min.
Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 17/10/2018.)

Verifica-se, assim, que o Pretório Excelso já se manifestou

contrariamente à iniciativa de proposições legislativas que usurpem a

competência estatuída na cláusula de reserva prevista no art. 96, cuja ocorrência

traduzir-se-ia em inquestionável vício de inconstitucionalidade formal.

No caso em comento, a figura do “juiz das garantias”, criada sem a

necessária participação direta do Judiciário, esvaziou deliberadamente a

legitimidade respeitante à organização e o funcionamento dos órgãos

jurisdicionais. E mais: analisando o projeto sob o prisma orçamentário, a aludida


norma sequer passou pelo crivo do imprescindível estudo dos impactos

financeiros, consoante se depreende do quanto disposto no art. 113 da ADCT.

O aspecto da inconstitucionalidade também deflui para a obrigação

de os tribunais criarem um sistema de rodízio de magistrados em comarcas que

possuam apenas um juiz. Ou seja: o dispositivo legal determina, de maneira

impositiva, a criação de um programa de rotatividade, sem ao menos estabelecer

a forma como ele será operacionalizado.

Compreende-se, portanto, que o projeto defrauda não apenas o

princípio da separação dos Poderes, como também, de maneira indubitável, a

cláusula de reserva referente à competência privativa de auto-organização do

Judiciário.

III - DA FALTA DE PREVISÃO DE IMPACTO ORÇAMENTÁRIO E DA

VIOLAÇÃO AO NOVO REGIME FISCAL

Diante da gravidade da crise fiscal brasileira nos últimos anos, foi

aprovada a Emenda Constitucional nº 95, que estabeleceu o chamado “teto dos

gastos públicos”. Instituiu-se, assim, aquilo que ficou conhecido como Novo

Regime Fiscal.

Entre tantas outras regras, tal emenda elevou ao patamar

constitucional determinação que inseriu no art. 113 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias, dizendo expressamente:


“a proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória
ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da estimativa
do seu impacto orçamentário e financeiro”

No entanto, malgrado a clareza solar do dispositivo e o fato óbvio

de que a lei aprovada altera (e altera gravemente) a despesa obrigatória com o

Poder Judiciário, não houve no curso do processo legislativo qualquer estudo


sobre os recursos necessários a viabilizar a implantação da medida,

contrariando, portanto, o teor do disposto no art. 113 do ADCT e a

responsabilidade fiscal.

Convém ressaltar que a proposta também não prevê nenhuma

regra de transição para o Judiciário se adaptar, de modo que o período de vacatio

legis é absolutamente insuficiente para os entes e correspondentes órgãos

judiciais se adequarem à referida norma.

Mais ainda: a medida teria impacto praticamente imediato,

afetando, portanto, a despesa do ano que está prestes a começar e para cujo

exercício já existem orçamentos aprovados, tanto no âmbito da União quanto

dos Estados, os quais, obviamente, não comportam de forma alguma despesa

nesse montante.

O Desembargador Geraldo Pinheiro Franco, nesse sentido, eleito

para comandar o Tribunal de Justiça de São Paulo, responsável por metade das

demandas judiciais de todo o país, declarou que implementação é custosa e que

pode vir a causar a extinção de comarcas.

Além disso, asseverou que “no Poder Judiciário de São Paulo não

há juízes suficientes e haverá aumento de custos no momento em que o Tribunal

não tem orçamento.”

IV - DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS INFORMADORES DO SISTEMA

JURÍDICO

Nesse sentido, portanto, a medida fere os três subprincípios

elementares da proporcionalidade: adequação, necessidade e proporcionalidade

em sentido estrito.
Em primeiro lugar, fere o da adequação, porque não é capaz de

atingir aquilo que dela se espera, que é um juiz absolutamente isento e imparcial

que em nada tenha participado do processo. Qualquer participação no processo

poderá macular, em uma visão exagerada, a decisão final, sendo o juiz perfeito

apenas aquele que não conhece o processo. Apenas para se notar uma grande

contradição nesse aspecto, observe-se que que o juiz sentenciante poderá relaxar

ou determinar prisão e praticará, portanto, muitos outros atos que em tese o

tornariam também, em tese, suspeito.

Mostrar que a norma não é adequada bastaria para que nãos e

atendesse a proporcionalidade em geral, uma vez que o não atendimento a um

subprincípio anterior prejudica a análise dos outros. Mas continua-se a análise

apenas para demonstrar mais cabalmente o absurdo da norma.

No caso em apreço, a norma ora impugnada também não encontra

fundamento no subprincípio da necessidade. Ora, a legislação conta com um

aparato suficiente para coibir eventual parcialidade do juiz, não havendo

necessidade alguma da estruturação de um processo penal compartilhado entre

um juiz em fase investigativa e outro em fase instrutória.

Finalmente, em relação ao elemento da proporcionalidade em

sentido estrito, é preciso observar os custos que o Estado deverá empregar à

operacionalização do novo mecanismo. Evidentemente, uma vez que não há

estudos científicos e tampouco parâmetros internacionais que assegurem a

efetividade do “juiz das garantias”, sendo um expediente tipicamente casuístico,

não há como suplantar os exacerbados gastos financeiros que tal medida se

dispõe a fazer. Isto é: o novo ordenamento desrespeita frontalmente o princípio

da proporcionalidade, gerando novos custos ao erário.

E que não se diga que não há diminuição dos direitos fundamentais

naquilo que a norma propõe. Ao, como já se disse, impôr grave custo financeiro
em um cenário de violenta crise fiscal, estão em risco os direitos sociais de toda

a população brasileira e mesmo o funcionamento dos serviços públicos

básicos. Mas não apenas: há também grave detrimento do princípio da razoável

duração do processo e, ainda mais, da própria segurança pública, uma vez que a

persecução judicial penal será grandemente dificultada pela aplicação da norma.

Não se pode, pois, imaginar que a implantação da norma se daria apenas em

benefício das liberdades individuais, mas sim, e isso deve essa Excelsa Corte

sopesar na análise da proporcionalidade, a altíssimo custo dos direitos sociais, da

segurança pública e da efetivação da Justiça.

A ausência de recursos para a implementação das atividades do juiz

das garantias, a existência de outros meios para a análise da imparcialidade e a

adequação da norma sem a necessária participação do Judiciário acarretará a

inoperância do sistema. A esse respeito, o Conselho Nacional de Justiça se

manifestou:
[...]

8. O Projeto, preocupando-se com a consolidação de um modelo acusatório, institui a


figura do ‘juiz das garantias’, que será o responsável pelo exercício das funções
jurisdicionais alusivas à tutela imediata e direta das inviolabilidades pessoais, sob duas
preocupações básicas, segundo a exposição de motivos, a saber: a de otimizar a atuação
jurisdicional criminal e a de manter o distanciamento do juiz incumbido de julgar o
processo. Contudo, a consolidação dessa ideia, sob o aspecto operacional, mostra-se
incompatível com a atual estrutura das justiças estadual e federal. O levantamento
efetuado pela Corregedoria Nacional de Justiça no sistema Justiça Aberta revela que
40% das varas da Justiça Estadual no Brasil constituem-se de comarca única, com
apenas um magistrado encarregado da jurisdição. Assim, nesses locais, sempre que o
único magistrado da comarca atuar na fase do inquérito, ficará automaticamente
impedido de jurisdicionar no processo, impondo-se o deslocamento de outro
magistrado de comarca distinta. Logo, a adoção de tal regramento acarretará ônus ao já
minguado orçamento da maioria dos judiciários estaduais quanto ao aumento do
quadro de juízes e servidores, limitados que estão pela Lei de Responsabilidade Fiscal,
bem como no que tange ao gasto com deslocamentos e diárias dos magistrados que
deverão atender outras comarcas. Ademais, diante de tais dificuldades, com a eventual
implementação de tal medida haverá riscos ao atendimento do princípio da razoável
duração do processo, a par de um perigo iminente de prescrição de muitas ações penais.
Também é necessário anotar que há outros motivos de afastamentos dos magistrados
de suas unidades judiciais, como nos casos de licença, férias, convocações para Turmas
Recursais ou para composição de Tribunais.[5-A] (Grifou-se) (Nota Técnica nº. 10,
de 17/08/2010)

De fato, segundo dados de 2019 da “Justiça em Números”,

publicação do Conselho Nacional de Justiça, há na Justiça Estadual pouco mais

de 2.700 comarcas no país, havendo portanto menos de uma comarca para cada

dois municípios.

De fato, os municípios sede são apenas 48% do total. E quase 70%

(69,2%) das comarcas brasileiras são providas com apenas uma vara. Além disso,

a taxa de congestionamento das varas criminais e do júri são já de alarmantes

78% e 81%, respectivamente.

Enquanto isso, havia na Justiça Estadual Comum em todo o país

12.472 juízes, sendo 26,8% desse total já com acúmulo de funções.

Existem cerca de 7,5 milhões de casos criminais pendentes e entram

anualmente cerca de mais 2,5 milhões. Isso representa cerca de um em cada oito

dos casos no Judiciário brasileiro. Considerando que para cada um desses casos

serão necessários dois juízes, poderíamos estimar, ao menos nestes casos, uma

queda na produtividade de 40%, o que causaria um impacto na ordem de 5% nos

custos de todo o Judiciário Estadual. E, uma vez, que são dois juízes a conhecer

do processo, imaginar a produtividade cair em 40% é uma estimativa bastante

conservadora. Observe-se também que é razoável utilizar o juiz como uma

unidade de custos, já que trabalha com todo o aparato e estrutura físicos e

humanos necessários.

Isso resultaria em um impacto de cerca de R$ 2,6 bilhões, apenas,

para a Justiça Estadual. Novamente, repita-se, trata-se de um cálculo

extremamente simples e conservador, uma vez que não considera a maior

complexidade de que ordinariamente se revestem os casos criminais, o que


requer maiores custos no curso do processo, nem o já citado maior

congestionamento nessa área e nem sequer o fato de a competência criminal não

ser em geral isolada, o que causará uma necessidade de rodízio e substituição de

magistrados muito intensa com custos que não foram devidamente sondados no

correr da proposição legislativa. O mais provável é que o impacto real seja de

duas ou três vezes o apontado, cabendo apontar aqui esse número apenas como

homenagem ao comedimento e sobriedade.

Como asseverou Miguel Reale Júnior, em recente texto sobre o

assunto:
“Como, então, pensar-se, em um país com este quadro de magistrados,
na exigência de um juiz das garantias competente para despachar atos do inquérito
diferente do juiz do processo? Mais de 50% das Comarcas têm apenas um juiz, enquanto
número grande de comarcas possui dois juízes, sendo que a saída em férias ou doença
de um emperrará o processo, pois o que autorizou uma busca e apreensão não poderá
receber ou rejeitar a denúncia. A proposta de que na falta de juiz na comarca deve-se ir
à comarca vizinha é, sem dúvida, muito distante da realidade.A par dessa realidade -
marcada por flagrantes dificuldades operacionais, necessária se mostra, antes da adoção
de uma medida estrutural dessa magnitude, que haja um diálogo entre as instituições
envolvidas, de forma que a construção do melhor modelo seja realizada não a partir da
imposição de um Poder sobre o outro, mas sim por meio da cooperação entre os
protagonistas.”

O diálogo entre os três Poderes já foi adotado pela República em

várias ocasiões. Destaque-se, por exemplo, que o Supremo Federal desenvolveu

um debate sobre a crise do sistema carcerário brasileiro com outras instituições

que vivem o dia a dia dos presídios brasileiros.

Desse modo, absolutamente salutar o diálogo entre os Poderes

Executivo, Legislativo e Judiciário para a implementação de um sistema penal

adequado à realidade fenomênica brasileira e que assegure as diretrizes

preconizadas pela Constituição.


V - DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO

PROCESSO

Também há violação à razoável duração do processo, já

rapidamente invocada, em face, principalmente da dinamicidade propriamente

dita das investigações.

A divisão dos trabalhos pode acarretar consequências nefastas às

partes do processo. Em crimes de “colarinho branco”, por exemplo, o juiz

responsável pela instrução não acompanhará o desenvolvimento das

investigações, ficando totalmente alheio aos acontecimentos empreendidos pela

autoridade policial e pelo Ministério Público, o que poderá ocasionar um

julgamento mais tardio, tendo em vista que o magistrado precisará de mais

tempo para firmar sua convicção.

Encontra-se ainda mais agravada a situação pela regra disposta no

§ 5º do art. 157, ao criar como que nova hipótese de impedimento judicial,

afastando o juiz instrutor do processo. Além de se violar o princípio da

identidade física do juiz (em confronto direto com o disposto no próprio CPP,

art. 399, § 2º), a medida pode ter o condão de prejudicar o próprio jurisdicionado

réu em seu direito à ampla defesa, uma vez que o distanciamento entre a prova

e o magistrado sentenciante prejudica a formação de um quadro probatório coeso

e harmônico, colocando em xeque um dos escopos do processo penal, que é a

busca da verdade material. De fato, ao praticamente criar um juiz para a sentença,

distancia-se o julgador da concretude dos fatos, mantendo-se o seu contato

apenas restrito ao mundo do processo.

VI - DA VIOLAÇÃO AO PACTO FEDERATIVO


É evidente a ocorrência de uma gravíssima violação ao pacto

federativo, constitucionalmente protegido e prestigiado.

As alterações objeto da presente ação de controle concentrado

promovem mudanças que não se enquadram propriamente como processuais,

na medida em que revestida de caráter eminentemente estrutural,

comprometendo a organização judiciária em todos os entes federados.

Para que se preserve o equilíbrio na cooperação entre os diferentes

entes, faz-se necessária a atribuição de deveres e responsabilidades entre os

Poderes, procurando-se, também, zelar pela observância das competências

constitucionalmente fixadas, instrumentos por excelência do pacto federativo,

valor consagrado no país desde a primeira Constituição da República.

Não restam dúvidas acerca da necessidade de um poder central,

revestido de poderes que o habilitam a preservar a união e a coesão do próprio

País. Nessa esteira, a União procura preservar as salutares atribuições dos

Estados, o que não lhe autoriza, sob o fundamento de criar norma processual,

impor-lhes, através do Poder Judiciário, obrigações inarredáveis, com gravosas

consequências financeiras.

VII - DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO

Não fosse a já evidente inconstitucionalidade que fulmina todos os

dispositivos apontados, ainda assim seria necessário garantir uma interpretação

minimamente razoável a alguns dos dispositivos mais problemáticos da infeliz

norma, que, mais do que tentar desgraçadamente tisnar a Constituição Federal,

mal conseguem se sustentar em pé, tal sua incoerência intrínseca e falta de

adequação à própria realidade.


Quanto a esses dispositivos, portanto, ainda que fossem

considerados constitucionais, seria preciso reduzir-lhes o alcance, a fim de dar

uma interpretação minimamente razoável. Nesse sentido, temos em primeiro

lugar o art. 3º-A. O dispositivo apresenta redação obtusa, que pode ser vista no

sentido de comprometer o poder de instrução complementar do juízo. Ao

determinar de maneira ampla uma “estrutura acusatória” e vedar condutas

genéricas, corre-se o risco de criar nulidades inicialmente imprevistas no

processo. É preciso, pois, assegurar que esse dispositivo não seja interpretado

senão no sentido das demais disposições colocadas e não como princípio geral,

passível de gerar outras amarras à atuação do magistrado.

Em segundo lugar, e de gravidade mais ampla, temos o disposto no

§ 2º do art. 3º-B, que determina, sem mais, o imediato relaxamento da prisão se

não concluído o inquérito no prazo. Essa hipótese deve estar restrita a casos em

que não haja justificativa devida para o atraso ou para a manutenção da prisão.

Do contrário, está criada uma situação que, ou bem poderá levar a soltura de

figuras nefastas à ordem pública ou bem encerrará prematura e precipitadamente

o inquérito, dificultando sobremaneira a apuração de crimes complexos, de

elevada gravidade ou grande repercussão.

Em terceiro lugar, temos o § 3º do art. 3º-C, que determina o

acautelamento dos autos das matérias de competência do juiz de garantias. Em

tempos de processo eletrônico, não se pode compreender que se procure

esconder os autos e suas provas ao próprio juiz da instrução. Trata-se de

dispositivo que beira o risível, desvinculando ainda mais, de forma

completamente despropositada, os elementos de instrução do inquérito policial

do processo de instrução e julgamento. Na busca de um juiz imaculado e puro,

que por nada seja afetado, a lei vai na direção de esconder os autos do juiz.

Apenas para se demonstrar o absurdo da proposição, levado esse pensamento


absurdo ao máximo, o próximo passo da legislação deveria ser escolher uma

criança inocente, que nada saiba do processo, para julgar, pois só ela poderia dar

um julgamento imparcial. É preciso, pois, assegurar que a disposição não

signifique, ao menos, proibição ou dificultação de acesso aos autos.

Em quarto lugar, temos o caput e parágrafo único do art. 3º-D. Ao

instituir um misterioso sistema de rodízio em comarcas de um único magistrado.

De início, é evidente que o rodízio deve ser entre comarcas, uma vez que não se

pode rotacionar com um único elemento. Mas o mais grave aí é o perigo de

violação ao princípio do juiz natural e a possível nomeação de juízes

sentenciantes ad hoc. O Tribunal respectivo, ao organizar o rodízio, poderá ter o

poder de determinar quais juízes vão julgar quais casos. É preciso que se exija

um sistema orgânico e natural de rodízio, que tenha uma lógica intrínseca e

impessoal, sob pena de se escolherem os magistrados sentenciantes.

Finalmente, em relação ao art. 3B, XIV e 3º-C, é preciso estabelecer

o funcionamento dessa disposição em relação principalmente a processos de

competência originária dos tribunais e o funcionamento dos colegiados, de

forma a estabelecer de forma minimamente sensata a limitação em relação ao

recebimento da denúncia. Seria absurdo pensar na redistribuição da ação para

outro relator após o recebimento da denúncia, que é feita na verdade por órgão

colegiado.

Mais absurdo ainda, porém (e leitura possível de ser feita em uma

verve garantista) seria o impedimento da atuação de todo o colegiado, já que cabe

a ele o recebimento da denúncia. É preciso evitar essas interpretações esdrúxulas.

Nesses casos, pois, é preciso estabelecer que o próprio colegiado é garantia,

mantendo-se a competência tanto do relator quanto do órgão para julgamento do

feito.
Pede-se portanto, subsidiariamente, a interpretação das normas

segundo os pontos aqui colocados.

VIII - DA MEDIDA CAUTELAR

O fumus boni iuris é prontamente aferível por meio dos fundamentos supra

mencionados: a) vício de iniciativa em relação ao projeto; b) ausência de

estimativa de impacto orçamentário, violando-se o novo regime fiscal; c)

menoscabo de princípios informadores do sistema jurídico; d) afronta ao

princípio da razoável duração do processo; e) grave violação ao pacto federativo.

O periculum in mora, por sua vez, revela-se pelo fato de que a lei entrará

em vigor em prazo exíguo e, sendo patente a incapacidade estrutural do Poder

Judiciário dos Estados e da União para atender aos requisitos colocados, ameaça-

se gravemente gerar insegurança jurídica sobre as normas processuais a serem

utilizadas, a afetar de maneira desastrosa a entrega da prestação jurisdicional.

Ameaça-se haver toda a sorte de inquinação de nulidades em relação a

processos judiciais pendentes e vindouros.

IX – DOS PEDIDOS

Por tudo o que foi exposto, requer

a) inicialmente que este Excelso Pretório conceda, em MEDIDA

CAUTELAR, a suspensão da eficácia dos dispositivos impugnados, seguindo-se

as determinações de praxe do art. 10 da Lei nº 9.868/99;

b) sejam solicitadas informações à Presidência da República, à

Presidência do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, bem como seja

determinada a oitiva sucessiva do Advogado-Geral da União e do Procurador-


Geral da República, conforme arts. 6º e 8º da Lei nº 9.868/1999 e nos termos do

art. 103, § 3º, da Constituição Federal;

c) ao final, a procedência da ação, a fim de declarar a

inconstitucionalidade dos arts. 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3º-E e 3º-F (juiz das

garantias) e do § 5º do art. 157, inseridos no Código de Processo Penal por meio

da Lei n° 13.964, de 24 de dezembro de 2019;

d) subsidiariamente, a interpretação conforme dos dispositivos em

tela, de modo a conferir-lhes adequada aplicação, nos termos do tópico VIII.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para fins de alçada,

tendo em vista o pedido ser insuscetível de apreciação econômica.

Por fim, requer-se a intimação das publicações em nome dos

advogados que subscrevem a presente, sob pena de nulidade dos atos.

Nesses termos, pede deferimento.

Brasília/DF, 28 de dezembro de 2019.

GUILHERME RUIZ NETO LUIZ AUGUSTO FREIRE

OAB/SP 303.736 OAB/DF 52.540

CAIO CHAVES MORAU

OAB/SP 357.111

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