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CURSO DE
TEOLOGIA
FUNDAMENTAL
Annus Domini
2013
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
I – PARTE: NOÇÃO BÍBLICA DE REVELAÇÃO
1) A REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.
2) A REVELAÇÃO EM O NOVO TESTAMENTO
II – PARTE: O TEMA DA REVELAÇÃO NOS STOS PADRES
1) PRIMEIRAS TESTEMUNHAS
2) SANTO IRINEU
3) TESTEMUNHAS DA IGREJA GREGA
4) TESTEMUNHAS DA IGREJA LATINA
III – PARTE: A NOÇÃO DE REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO TEOLÓGICA
1) A ESCOLÁSTICA DO SÉCULO XIII
2) ESCOLÁSTICOS PÓS –TRIDENTINOS
3) A RENOVAÇÃO ESCOLASTICA DO SÉCULO XIX
4) TEOLOGIA DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XX
5) O II CONCÍLIO DO VAT. E A CONSTITUIÇÃO “DEI VERBUM”
IV – PARTE: REFLEXÃO TEOLÓGICA
1) ENCARNAÇÃO E REVELAÇÃO
2) MILAGRE E REVELAÇÃO
3) FINALIDADE DA REVELAÇÃO
V – PARTE: SAGRADA ESCRITURA
1) TEXTO
2) INSPIRAÇÃO
3) CANONICIDADE
4) VERDADE BÍBLICA
5) INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
VI – PARTE: TRADIÇÃO
IX – PARTE: O ATO DE FÉ
3
INTRODUÇÃO
A revelação ou a palavra de Deus à humanidade é a primeira realidade cristã; o
primeiro fato, o primeiro mistério, a primeira categoria. A revelação é o mistério primordial,
o que nos comunica todos os outros.
A revelação é a primeira das categorias que fundamentam toda a pesquisa teológica.
Revelação, Inspiração, Tradição significam para a ciência teológica o mesmo que as noções
básicas para as ciências humanas. A revelação é o primeiro fato, primeiro mistério e a
primeira categoria do cristianismo.
A revelação observa “a realidade primária e fundamental” do cristianismo. Por isso, é
tanto mais de se admirar que a teologia católica não tenha quase examinado e desenvolvido
todas as variações desse tema. Em teologia tudo depende da revelação divina, tudo a ela
se refere, nada se explica a não ser mediante a sua luz.
Em teologia, contudo há um tratado sobre a revelação. Tratado que estuda o fato
revelação e o conjunto de sinais que nos permitam estabelecê-lo com certeza. Se
deixássemos de refletir sobre a intervenção de Deus na história e sobre os sinais dessa
intervenção, se exporia afinal ao perigo do fideísmo1.
É estabelecido que Deus falou, e que a aparição do Cristo na história é o ponto mais
denso dessa intervenção, já teríamos, sem dúvida, feito muito, mas não tudo. O conceito de
revelação é: “A intervenção primeira de Deus que sai do seu mistério, dirigindo-se a
humanidade e comunicando-lhe seu desígnio salvífico”.
Assim, a Teologia Fundamental é o tratado que estuda o fato da revelação e o
conjunto de sinais que nos permitam estabelecê-lo com certeza. A teologia fundamental tem
as seguintes funções: Teologia apologética e Teologia dogmática.
Também outro conceito muito importante dentro deste tratado teológico é o de Fé como
a resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo
uma luz superabundante ao homem em busca do sentido ultimo de sua vida (CIC no 26).
3
“Alusão à figura de três homens junto a Abraão” (Gn 18.1.)
4
Libertação do povo de Deus do Egito se deu por volta do ano 1300 a.C.
5
Como prova de submissão total de um povo a Deus, feito pela libertação do Egito. Faz-se então um pacto, uma aliança entre o
Povo e Deus (Deus que liberta o povo e este que lhe promete ser fiel, por meio do decálogo) - Ex 20,22-23.
6
Legalista: expressão mor do sacerdócio – o cumprimento da lei.
Profético: tem o sentido de ser fiel à lei.
5
1.5 A literatura histórica
A palavra de Deus faz a história e se torna compreensível.
É a teologia da história. Pois, conta à realidade da história da salvação e uma teologia da
história. A aliança concluída por Iahweh e as condições impostas por Ele supõem, que o
curso dos acontecimentos é regulado pela vontade divina, levando em conta as atitudes do
povo eleito. Em última análise, é a palavra de Deus que faz a história e a torna
compreensível. O importante nessa literatura histórica é o texto da profecia de Natan que dá
a aliança conexões com a realeza e inicia o messianismo real. Com essa profecia a dinastia
de Davi tornar-se para sempre a aliada direta de Iahweh, ponto central da história da
Salvação.
1.6 Profetismo no exílio7
Sem deixar de ser uma palavra viva se torna uma palavra escrita.
Ezequiel é o ministro de uma palavra irrevogável, que anuncia os acontecimentos dando-
lhes um desenrolar infalível. Uma das primeiras profecias de Ezequiel é o número e
amplitudes das visões. Há palavras que comentam essas visões por si mesmas, são
ensinamentos. Uma segunda característica é o tom pastoral da palavra de Ezequiel.
Ezequiel começa a formar o novo Israel, como faria um diretor espiritual. Deutero-Isaias,
que devemos ler no contexto do exílio, considerar o dabar divino em seu dinamismo a uma
só vez cósmica e histórica. Manifesta-se a transcendência de Iahweh primeiramente em
natureza.
1.7 Literatura sapiencial:
Deus usou da experiência humana para dar o homem a conhecer-se a si mesmo.
É testemunha de uma tradição muito antiga de Israel. O mesmo Deus que ilumina os
profetas usou a experiência humana para dar o homem conhecer-se a si mesmo.
Inicialmente, a sabedoria do livro dos Provérbios, é a simples reflexão, positiva e realista,
sobre o homem e seu comportamento, para ajudá-lo a se orientar na vida com prudência e
descrição. Assim diz o provérbio: ”Sábio é quem cumpre a lei de Deus, pois toda a
sabedoria provém de Deus. Somente Ele a possui plenamente; manifesta-se em suas obras
e comunica aos que o amam”.
1.8 O saltério
Resposta do homem à revelação; realização da revelação.
Escrito por Davi e Salomão e assim nasceu a fé de Israel de forma rezada. Este livro foi
formado aos poucos, ao longo de toda uma história, é principalmente uma resposta a
revelação; mas também revelação, pois a oração dos homens, pelos sentimentos que
manifesta, dá a revelação toda a sua dimensão. A grande, a majestade, a potência, a
fidelidade, a santidade de Iahweh revelada pelos profetas, refletem-se nas atitudes do
crente e na intensidade de sua oração (lex orandi, lex credenti). Em resumo: para os
salmistas a palavra de Deus é ao mesmo tempo promessa e potência que se exerce em a
natureza e na história8.
1.9 O papel da escritura na história da salvação;
Após o exílio somente é que se constituíram essas grandes compilações, redigidas em
camadas sucessivas, com dados muito antigos, chamadas código deutero-canônico e
código sacerdotal. Fixando-se, corre o risco de perder um tanto do dinamismo que tivera nos
profetas; será preciso atualizá-la sempre, aplicando-a as novas situações históricas, numa
releitura constante que por si mesma será um aprofundamento.
7
O exílio do povo de Israel se deu por volta do ano 587 até 538.
8
Características dos salmos sob o ponto de vista da revelação: 1) Preceito; 2) Revelação – a lei; 3) Compromisso; 4) A
veracidade e a fidelidade de Iahweh; 5) O valor de uma promessa; 6) A palavra criadora.
6
9
Os profetas afirmam que Deus lhes falou e que sua palavra chegou até eles. Devemos notar também que o termo palavra de
Deus não se verifica sempre do mesmo modo, nem com a mesma intensidade. Na vida dos profetas há momentos privilegiados,
quando a palavra de Deus se apodera deles de forma mais intensa. O momento mais importante é o de sua vocação.
10
Resumo: O Deus do antigo testamento é um Deus de intervenções e o profeta as interpreta, percebe e proclama o seu valor
salutar.
7
Conclusão: “Conseqüentemente, Deus, seus atributos, seus desígnios, se revelam, não
abstrata, mas concretamente na história e pela história. A mensagem de revelação está
incorporada na história. Há progresso no conhecimento de Deus, mas através dos
acontecimentos que a palavra de Deus anuncia, realiza, interpreta”.
V - Objeto da Revelação
O objeto da revelação é a revelação do próprio Iahweh e revelação do seu desígnio de
salvação. O Deus do AT revela-se inicialmente como um Deus vivo e pessoal, como Aquele
que é, em oposição aos ídolos mudos e mortos. Os profetas aos poucos vão educando
Israel para uma compreensão sempre mais profunda dos atributos divinos: Amós põe em
evidência sua justiça; Oséias, seu amor terno e ciumento. Isaias, sua grandeza e
transcendência; Jeremias ensina uma religião mais interior; Ezequiel lembra as exigências
da santidade de Deus; Deutero-Isaias, leva para uma religião mais universalista.
VI - Resposta do homem à revelação
Se Deus fala, o homem deve escutar. Escutar indica a primeira atitude do homem ante a
revelação: não de modo material e passivo, mas em disponibilidade totalmente ativa. A
palavra ouvida deve ser assimilada pela fé e pela submissão, numa entrega de todo o ser,
como fez Abraão.
Revelação e fé são correlativas: a fé do antigo testamento, com efeito, corresponde
exatamente ao tipo de revelação que lhe foi feita. No AT a revelação era essencialmente lei
e promessa de salvação; a fé, principalmente, obediência e confiança 11.
VII - Traços característicos da Revelação
1) A revelação é essencialmente interpessoal: Antes que manifestação de alguma coisa é
manifestação de alguém com alguém. Iahweh o Deus vivo, estabelece com o homem relação
de pessoa a pessoa.
2) A revelação bíblica é uma iniciativa Divina: não é o homem que descobre a Deus; é
Iahweh que antes, se manifesta, quando quer, a quem ele quer.
3) É a palavra que dá unidade a economia da revelação: a religião do AT é a religião da
palavra ouvida. Deus revela e se revela pela palavra. Os profetas comunicam “a palavra de
Deus”, seus desígnios e as vontades de Deus, o homem é convidado à obediência da fé.
4) Pela revelação o homem é posto em confronto com a palavra, uma palavra que exige
fé e execução: a sorte do homem dependerá da opção decisiva a favor ou contra a palavra.
O objetivo, porém, da revelação é a vida e a salvação do homem, sua comunhão com Deus.
5) A revelação é toda orientada para a esperança de uma salvação que há de vir : cada
revelação profética marca uma realização da palavra, mas deixa, ao mesmo tempo, lugar
para a esperança de uma realização ainda mais decisiva.
VIII - Conclusão
A noção de revelação é a intervenção gratuita e livre do Deus Santo e oculto que,
progressivamente, se manifesta e torna-se conhecido seu desígnio salvífico de estabelecer
uma aliança com Israel, e depois com todos os povos, para, afinal, realizar na pessoa de
seu Ungido a promessa feita a Abraão, abençoando em sua posteridade todos os povos da
terra.
11
Para um hebreu, acreditar é obedecer e confiar; é reconhecer Iahweh, como o único Deus salvador de Israel, o que lhe deu a lei
e prometeu a salvação; e aceitar a sua vontade e confiar-se em suas promessas.
8
16
Cf: At 1,8
10
Os Atos descrevem a atividade apostólica como em uma continuação da obra de Cristo. Os
apóstolos ouviram-no falar, pregar, ensinar, revelar. Recebeu D’ele a missão de
testemunhar, sendo seu depoimento constituinte da nossa fé. Essa fé é a resposta do
homem a pregação, esta por sua vez é obra divina, despertada pelo Espírito Santo que
interiormente fecunda a palavra extenuada e ouvida.
2.4 - São Paulo
São Paulo para penetrar no âmago da idéia de revelação usa as categorias de “mistério e
de Evangelho”.
2.4.1 - Os termos
A simples justaposição dos vocábulos usados já indica o movimento de seu pensamento
sobre a revelação. Deus revela, torna manifesto, dá a conhecer, ilumina. Os apóstolos
falam, ensinam, pregam, anunciam a Boa Nova.
2.4.2 - O mistério Paulino
A teologia paulina é uma soteriologia, 17 cuja intuição fundamental se exprime com o conceito
de mistério. Principalmente nas epístolas do cativeiro é que o termo aparece em toda a sua
plenitude: indica então, o plano divino da salvação manifestado e realizado em Cristo. 18
Reunindo todos esses elementos de diversos textos, podemos dizer que o mistério, de que
fala Paulo, é o plano divino da salvação, oculto desde toda eternidade e agora revelado,
pelo qual Deus estabeleceu a Cristo como centro da nova economia, constituindo-o, pela
sua morte e ressurreição, único princípio de salvação tanto para os gentios como para os
judeus, cabeça de todos os seres, anjos e homens.
2.4.3 - Etapas da revelação do mistério
Pode-se considerar o mistério em diversos planos:
a. No plano da intenção (mistério de Deus); na fase inicial o mistério de Deus está oculto:
segredo de infinita sabedoria.
b. No plano da realização, no Cristo e pelo Cristo (o mistério de Cristo); Mas agora o
mistério que outrora estava oculto está manifesto, revelado. Pela vida, morte e ressurreição
de Jesus o mistério entrou em fase de realização; em Jesus Cristo cumpre-se e ao mesmo
tempo revela-se o desígnio salvífico de Deus. O mistério inicialmente é comunicado a
testemunhas privilegiadas: os apóstolos e os profetas. São eles os mediadores e os arautos
do mistério.
c. No plano do encontro pessoal (mistério do evangelho, da palavra e da fé); revelado a
testemunhas escolhidas, o mistério é dado a conhecer a todos os chamados a Igreja. São
Paulo estabeleceu uma equivalência “concreta” entre o evangelho e mistério. Em ambos os
casos temos a mesma realidade, isto é: o plano da salvação considerado porém, sob
ângulos diversos. Sob um aspecto, é um “segredo”, desvendado, revelado, manifestado,
transmitido ou comunicado; sob outro, é a boa nova, uma mensagem proclamada
anunciada. Evangelho e mistério têm o mesmo conteúdo e objeto. Objeto duplo:
soteriológico, isto é: a economia da salvação pelo Cristo, e escatológico, ou seja, a
promessa da glória com todos os bens destinados aos escolhidos, frutos da cruz e da morte
de Cristo.
d. No plano da sua extensão a humanidade (o mistério da Igreja).
2.4.4 - Resposta do homem
É pela fé que se tem acesso ao mistério, ao evangelho, a palavra. Fé que é a resposta
especifica do homem a palavra do Evangelho. É pela fé na mensagem que os cristãos se
abrem para a salvação. A palavra exige ser escutada, acolhida e guardada. A adesão e
submissão à mensagem evangélica que não seria possível de forma meramente natural. É
preciso um dom da graça: a “iluminação” que venha de Deus como a criação da luz no
primeiro dia. Uma unção divina que desperta a fé nos corações dos que ouvem a palavra de
17
sobre as realidades referente a salvação.
18
Cf: Rom 16, 25-27. Col 1, 25-28. Ef 3, 6 e 1, 10.
11
Deus. A palavra de Deus não é um simplesmente um enunciado de verdades; é
principalmente uma apresentação da pessoa de Cristo, Senhor e Salvador, e do que Ele
significa para todo o homem.
2.4.5 - Aprofundamento do mistério
O conhecimento do mistério e do evangelho é um conhecimento dinâmico, sempre em
crescimento. Progresso que se prende a sabedoria do desígnio divino, medir-lhe a
profundidade, é preciso que tenha uma alma transformada pelo Espírito: exige uma verta
maturidade religiosa.
2.4.6 - Revelação histórica e revelação escatológica
A revelação escatológica será plena manifestação e visão. Essa tensão entre a história e a
escatologia, entre a economia da palavra e a da visão, da humildade e da glória, é
característica de São Paulo.
2.4.7 - Finalidade do mistério
A finalidade imediata da revelação do mistério e da pregação do Evangelho é levar os
homens a obediência da fé. 19 “Tornar todos os homens perfeitos em Cristo”. “Edificar um
templo santo do Senhor”. Por fim tem a finalidade “o louvor a glória e a graça” de Deus.
2.4.8 - Conclusão
Segundo são Paulo podemos definir a revelação como: “A ação livre e gratuita de Deus que,
no Cristo e pelo Cristo, manifesta ao mundo, a economia da salvação, isto é, seu eterno
desígnio de reunir tudo no Cristo, Salvador e cabeça da nova criação”. A comunicação
desse desígnio se faz pela pregação do Evangelho, confiada aos apóstolos e profetas do
novo testamento. A obediência da fé é a resposta do homem a pregação evangélica, sob a
iluminação do Espírito Santo; sendo uma adesão amorosa ao plano de sua infinita sabedoria
e caridade. A fé dá o começo a um processo de crescimento contínuo no conhecimento do
mistério que atingirá seu termo na revelação de visão.
2.5 - Epístola aos Hebreus
Dirige-se aos judeus cristãos a epístolas aos hebreus. Demonstra a excelência de Cristo
como mediador e a superioridade de seu sacerdócio sobre o da antiga aliança. Faz o
paralelo entre a revelação da antiga aliança e a da nova aliança. Para a história da noção de
revelação a epístola aos hebreus traz duas novidades; comparação entre a revelação da
nova aliança e da antiga aliança, grandeza e exigência da palavra de Deus.
2.5.1 - Revelação da antiga e da nova aliança
O paralelo entre a revelação em ambas às alianças apresentam-se desde o primeiro
versículo: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais, nos profetas;
nestes últimos tempos, falou a nos no seu Filho, a quem conferiu o domínio de todas as
coisas”.( Hb 1, 1-2). Entre ambas as economias há relação de continuidade (Deus falou),
diferença (tempo, modo, mediadores, destinatários), e excelência (superioridade da nova
economia). Entre a revelação da antiga e da nova aliança e a da nova Aliança existe uma
continuidade e semelhança, mas há também diferença e separação. Primeira diferença: de
época. Segunda diferença: quanto ao modo. Terceira diferença: quanto aos destinatários.
Quarta diferença: os mediadores da revelação.
É a pessoa do Filho que, em última análise, constitui a superioridade da revelação nova
sobre a antiga. É a revelação do antigo testamento, feita pelo intermédio dos anjos, e a
revelação do novo testamento, feita pelo Filho de Deus e suas testemunhas. A nova
revelação pelo contrário vem do céu, por um mediador celeste, Jesus, que inaugura o
caminho novo e vivo, através do véu de sua carne.
2.5.2 - Grandeza e exigência da palavra de Deus
O segundo tema que trata a epístola aos Hebreus e sobre a grandeza e as exigências da
palavra de Deus, sempre na perspectiva de comparação entre ambas às alianças. O Cristo
19
Cf: Rom 16, 26.
12
tem assim direito a uma fidelidade muito superior a merecida por Moises, como Filho
constituído sobre a casa. Os cristãos são convidados a entrar no repouso do Senhor,
contanto, porém, que ninguém caia no mesmo exemplo da infidelidade.
2.5.3 - Conclusão
Na epístola aos hebreus o termo mais usado para designar revelação é “palavra”. Numa
comparação entre as duas fases da economia da salvação, a epístola põe em evidência a
continuidade entre as revelações, ao mesmo tempo a excelência da nova revelação.
2.6 - São João
Nos sinóticos, atos dos apóstolos e nas epístolas de São Paulo, palavra de Deus é a
designação que se dá a mensagem evangélica. A grande novidade de São João é a
equação que ele estabelece entre o Cristo, Filho do Pai, e o Logos.
2.6.1 - Jesus Cristo, palavra de Deus e Filho de Deus.
O antigo testamento conhecia também a palavra criadora e reveladora, enviada a terra para
revelar os segredos de Deus, a Ele retornando uma vez cumprida sua missão. Mas o antigo
testamento não entendia (e dificilmente poderia, pelo seu monoteísmo radical) a Sabedoria
e a Palavra de Deus como uma pessoa realmente distinta. Jesus Cristo é a palavra eterna
do Pai, como criadora e reveladora, mas enquanto pessoa. Para João o Logos é uma
pessoa, que mantém com o Pai o mais íntimo comércio, dele distinta, Deus, no entanto,
como ele mesmo, verbo de Deus, palavra de Deus.
2.6.2 - A gesta do Logos
Apresenta-se o prólogo do Evangelho de São João como a gesta do Logos, um resumo da
história da manifestação de Deus por sua palavra. Podemos distinguir três etapas dessa
economia. A primeira manifestação de Deus é a criança. Tudo criou com a palavra, Deus
criou o mundo pela palavra.
Mas, de fato o homem permaneceu surdo a mensagem de Deus e foi um fracasso: “O
Logos estava no mundo, e o mundo por Ele foi feito, mas o mundo não o conheceu”. Por
isso Deus escolheu um povo e se lhe manifestou pela lei e pelos profetas; mas essa
revelação, como a primeira malogrou: “O Logos veio para sua casa e os seus não o
receberam”. Finalmente, depois de ter falado pelos profetas, falou-no Deus por seu Filho.
Jesus Cristo é a palavra substancial de Deu, o Filho único do Pai. Realiza-se a revelação
porque a Palavra se fez carne e assim se tornou mensagem divina, contando-nos em
termos e preposições humanas os segredos do Pai, principalmente o mistério de seu amor
por seus filhos. Três elementos fazem de Cristo o perfeito revelador do Pai: sua
preexistência como Logos do Deus. A encarnação do Logos. A intimidade da vida
permanente do Filho com o Pai, antes e depois da encarnação.
2.6.3 - A revelação no vocabulário Joanino
Para João o Cristo é a palavra de Deus. Os termos que traduzem a visão interior de João
prendem-se, em sua maioria a idéia de revelação: palavra testemunho, luz, verdade, glória,
sinal, conhecer, saber, ver manifestar etc. testemunhar é afirmar a realidade de um fato,
dando a afirmação toda a solenidade exigida pelas circunstâncias. Um processo, uma
contestação, forma o contexto natural do testemunho.
2.6.4 - O Cristo, testemunha do Pai
O Cristo fala como testemunha qualificada, pois é palavra de Deus. O essencial do seu
testemunho é que o Cristo é o Filho do Pai, o enviado do Pai. o Salvador do mundo e que,
pela fé nele depositado é que os homens poderão chegar a vida eterna.
Para bem situar a contribuição de Orígenes, seria preciso escrever, pelo menos brevemente,
uma história da função reveladora do Verbo encarnado antes de Orígenes. Os historiadores,
do dogma, absorvidos por outros problemas (Trindade, cristologia, soteriologia, teologia
sacramental etc), não chegaram a perceber suficientemente a grande importância do tema
da revelação na teologia dos três primeiros séculos.
É claro que nenhum dos santos padres puderam escrever um tratado sobre a revelação,
apesar de muitas vezes podemos encontrar dispersos em seus escritos quase todos os
elementos necessários para uma síntese doutrinal sobre o assunto.
CAP. I – PRIMEIRAS TESTEMUNHAS
1.1 - Os padres apostólicos:
1.1.1 - O autor da didaché recomenda que ninguém se separe dos “mandamentos do Senhor”,
mas que todos sigam “a regra do Evangelho”, conformando-lhes as ações.
1.1.2 - Clemente de Roma: atesta a fé recebida. Uma das características de sua epístola é a
fidelidade a herança que recebera dos apóstolos e que transmite integralmente. O Cristo
é apresentado como mestre cujo ensinamento leva a salvação, sendo os apóstolos
mensageiros da Boa Nova por ele anunciada.
1.1.3 - Policarpo (bispo de Esmirna) recomenda aos filipenses que marchem no caminho da
verdade traçado pelo Senhor, que sejam “dóceis a palavra da justiça”. Insiste sirvamos ao
Senhor “como ele mesmo nos mandou”, assim como os apóstolos que nos pregaram o
Evangelho e os profetas que nos anunciaram a vinda do Senhor.
1.1.4 - Pápias: estabelece oposição entre os “mandamentos estranhos” e os mandamentos
dados pelo Senhor, a fé nascidos a própria verdade.
1.1.5 - Inácio de Antioquia: está todo impregnado do novo testamento, principalmente de Paulo e
João. Vê em Cristo o conjunto de verdade e da vida, o mediador da revelação e da
salvação. Antes de se encarnar, manifestar-se o verbo pela criação do mundo; depois em
todo o antigo testamento: os profetas pelo Espírito eram seus discípulos, e o ouviam
como a seu mestre.
Os padres apostólicos vêem no Cristo o todo da revelação e o todo da salvação. Nele,
verdade e vida estão inseparavelmente unidas. Na encarnação do Filho termina e atinge o
seu ponto mais alto a economia da revelação. O Cristo é o conhecimento do Pai.
1.2 - Os Padres apologetas
Procuram nos sistemas filosóficos do século segundo todos os recursos que pensam poder
encontrar e apresentar o evangelho ao mundo helênico, definindo em categorias desse
mesmo mundo. Assim, pensam eles, o mistério cristão atingirá essas almas sem as
espantar. A teologia, pois, dos apologetas será elaborada a partir da teologia do Logos. Será
uma teologia da manifestação do Deus transcendente pelo Logos criador, revelador e
salvador.
1.2.1 - São Justino
No pensar de são Justino, o Pai, transcendente, incognoscível, invisível, age através do
Logos: por ele criou o mundo; por ele fez conhecer; por ele opera a salvação do mundo. O
Logos exerce também a função religiosa como revelador e salvador. Sua ação reveladora,
difundida na humanidade manifesta-se mais claramente entre os judeus e nos profetas e é
total somente em Jesus Cristo.
Segundo São Justino, toda verdade origina-se do Logos ou Verbo divino. Em cada homem
há uma semente, um “germe do Logos”, que lhe permite atingir parcialmente a verdade e
exprimi-la. Foi devido a essa participação e sementes do Logos que os filósofos pagãos
puderam perceber alguns raios da verdade merecendo assim o título de cristãos.
15
Os profetas são as testemunhas de Deus: “viram e anunciaram a verdade aos homens”. Para
falar não usaram demonstrações porque acima de qualquer demonstração era, eles as
dignas testemunhas da verdade.
A doutrina de Justino é doutrina de salvação: o Logos se fez homem, para trazer uma
doutrina que renovasse e regenerasse o gênero humano. Doutrina que, contida nas
memórias dos apóstolos, “que denominamos Evangelhos”. Somos convidados a receber na
fé, conformando-lhe nossa vida. Adesão que se realiza pela “graça” (pois ninguém pode ver
ou compreender se Deus e seu Cristo não lhe dão a compreender).
1.2.2 - Atenágoras
Atenágoras acentua que Deus é invisível e incompreensível: somente Deus nos pode ensinar
algo sobre Ele. Os preceitos cristãos não são preceitos humanos, foram proferidos e
ensinados por Deus. Atenágoras reconhece que o Deus invisível pode, por suas obras ser
conhecido pela razão. A ordem do universo manifesta o criador, artífice e arquiteto da beleza
e da harmonia invisíveis.
Os filósofos “conseguiram conceber, mas não encontram o ser, pois não se dignaram a
aprender de Deus o que Deus se refere, mas de si mesmo o quiseram aprender. É por isso
que cada um apresentou opinião diferente sobre Deus, sobre a natureza,sobre as formas e o
mundo”.
1.2.3 - São Teófilo de Antioquia:
Também admite que a razão pode apresentar certa demonstração da existência de Deus.
Teófilo insiste na importância dos profetas na economia da revelação.e afirma que somente
os cristãos possuem de fato a verdade, porque foram instruídos pelo Espírito Santo, que
falando nos santos profetas, tudo predisse.
1.2.4 - Epístola a Diogneto:
Conforme o autor da epístola a Diogneto os cristãos são “defensores de uma doutrina
humana”, de origem terrestre: sua fé vem do próprio Deus que “entre os homens estabeleceu
a verdade, o Logos santo e incompreensível.”
Pela fé conhecemos a Deus de uma maneira eficaz. Se alguém se espanta de a revelação
ter vindo tão tarde, responder o autor que a revelação se realiza no tempo, ma realiza um
desígnio eterno do coração de Deus. A epístola insiste na continuidade entre a missão do
Logos e a missão da Igreja. O que o Verbo ensinou, e os apóstolos receberam, continua na
Igreja.
1.2.5 - Conclusão:
Mesmo reconhecendo a razão humana poder chegar a certo conhecimento de Deus e captar
elementos de verdade moral e religiosa, os apologetas concluem ser necessária a revelação
para chegarmos a um conhecimento autêntico do Deus incognoscível e transcendente.
CAP. II – SANTO IRINEU
A obra de santo Irineu insere-se num contexto de polêmicas antignósticas. Os sequazes de
Ptolomeu e Marcião fazem do Cristo o revelador de um Deus desconhecido no AT: teria o
Cristo revelado um Deus distinto do Deus da lei e dos profetas.
Santo Irineu diz que: é impossível conhecer a Deus sem Deus, o Verbo de Deus é que
ensina a humanidade a conhecê-lo. É no comentário a Mateus (11, 25-27) que Irineu
expressa o que pensa sobre a ação reveladora de Deus e sobre seus fundamentos trinitários
dessa ação. “ninguém, pode conhecer o Pai a não ser pelo Verbo de Deus, isto é, se o Filho
não o revela. Nem se pode conhecer o Filho se não ao bel prazer do Pai”. 20 Irineu admira a
maravilha unidade e progressão do plano da revelação. Com o Verbo encarnado culmina um
processo que se desenvolve desde a origem do mundo: inicialmente pela obra da criação,
depois pela lei e pelos profetas, finalmente pela encarnação.
20
Para santo Irineu realmente, a manifestação do Filho é conhecimento do Pai, pois tudo é manifestado pelo Verbo.
16
A correlação entre ambos os testamentos está situada também na perspectiva da economia
ou do plano salvífico concebido e realizado por Deus numa história culminada no Cristo.
Desde Abraão até o Cristo e os apóstolos, é o mesmo Deus que age, faz suas promessas e
as cumpre, seguindo um plano simultaneamente uno e multiforme.
A criação é a primeira etapa da revelação: “é o Filho que aparece, não o Pai: todas as visões
desse tipo indicam o Filho de Deus falando e conversando com os homens, pois não é o Pai
de todos e o criador do universo... que veio falar com Abraão nesse recanto de terra, mas o
Verbo de Deus sempre estava com o gênero humano e que de antemão anunciava os
acontecimentos futuros, ensinando aos homens as coisas de Deus”.
A revelação tem características que a distinguem de qualquer doutrina humana. Em primeiro
lugar, é essencialmente obra da graça. Em segundo lugar, a revelação é obra de salvação.
Para santo Irineu revelação é: “A epifania de Deus no Cristo e pelo Cristo; é a manifestação
do Pai pelo Filho e por todos os meios de expressão possibilitados pela encarnação”.
CAP. III – TESTEMUNHAS DA IGREJA GREGA
3.1 - Os alexandrinos
3.1.1 - Clemente de Alexandria
Clemente procura em primeiro lugar a revelação de Deus: “se, por alguma hipótese,
oferecesse aos gnósticos a escolha entre o conhecimento de Deus e a salvação eterna,
como se fossem realmente distintas, quando sabemos serem, ao contrário, idênticas, ele
não hesitaria um momento em escolher o conhecimento de Deus.” No centro da história
humana, como no centro de sua teologia, Clemente coloca o Logos encarnado, o Cristo,
fonte de todo o conhecimento e salvador dos homens.
Como Justino e Irineu, Clemente atribui ao Logos as teofanias. É o Logos quem fala com
Abraão, faz as promessas a Jacó, luta com ele. Ao revelar o Verbo tem um só fim: salvar a
humanidade: desvenda toda a verdade aos homens para mostrar-lhes a sublimidade da
salvação.
A teologia de Clemente situa a própria filosofia na órbita da economia da revelação.
Considera-a como um “dom de Deus aos gregos”. A filosofia foi dada aos gregos tendo-se
em vista a sua salvação “Antes da vinda do Senhor à filosofia era necessária aos gregos
para a justificação”.
3.1.2 - Orígenes
O sistema de Orígenes edifica-se a partir de Deus. “Quando se vê a imagem de alguém, vê-
se aquele de quem é a imagem: assim, pelo Verbo de Deus, sua imagem, veremos a Deus”.
Orígenes exprimiu-se quase com as mesmas palavras de Clemente. O Verbo procede do
Pai, do qual é o revelador nato enquanto sua imagem e palavra. O verbo está naturalmente
qualificado para sua missão de revelador, pois antes mesmo de ser enviado para o meio dos
homens, ele já é no seio da Trindade a imagem reveladora do Pai.
O Verbo fez-se carne e habitou entre nós, para levar-nos, a nós que éramos carne, a vê-lo tal
qual era antes de se fazer carne. A visão material não basta então para nos dá a conhecer o
Verbo de Deus.
Para Orígenes o próprio Cristo, em o Novo Testamento, não se manifestou senão
progressiva e parcialmente , pois se o Verbo tivesse manifestado toda a sua glória, o mundo
inteiro não poderia conter. A vinda de Cristo é uma promoção do todo o AT. “A luz contida na
lei de Moises, oculta sob um véu, brilhou quando da vinda de Jesus, que afastou o véu e fez
conhecer rapidamente os bens cuja sombra se continha na terra”. Contra aqueles que
queriam dividir os dois Testamentos Orígenes diz: “O Antigo e o Novo Testamento, devem
ser lidos do mesmo modo: para se ter o espírito das escrituras, que é o espírito de Cristo, é
preciso ter o Espírito de Cristo”.
Segundo Orígenes a função do teólogo é escrutar as escrituras, pois ali está contida toda
verdade. Quanto a revelação natural e a filosofia, Orígenes é muito mais moderado do que
Clemente.
17
3.1.3 - Santo Atanásio
Além do ensinamento de Cristo, Atanásio distingue duas fontes do conhecimento de Deus:
uma direta e interior; outra, pelo testemunho da criação. Atanásio fala sobre o
conhecimento de Deus por um caminho interior, sendo o homem a imagem e semelhança de
Deus, pode conhecer a imagem que é o Verbo de Deus, e nele pode conhecer o Pai,antes
mesmo que a imagem se manifeste pela encarnação: “Quando a alma se liberta de qualquer
mancha deixada pelo pecado, e não guarda a pureza total senão a semelhança da imagem,
por isso mesmo, quando essa imagem é iluminada, como num espelho, pode nela
contemplar o Verbo – imagem do Pai – nele contempla o Pai, cuja imagem é o Salvador”.
3.1.4 - São Cirilo de Alexandria
Seguindo a Escritura Cirilo repete que ninguém viu a Deus e que o conhecimento do Pai nos
vem pelo Filho. O Cristo, Verbo encarnado, é a porta e o caminho que conduz ao
conhecimento do Pai. Para designar a função reveladora do Cristo, Cirilo dá o título de luz.
3.2 - Os Capadócios
O problema da revelação não preocupa os Capadócios. Em seu horizonte o primeiro plano é
ocupado pela Trindade e pela Cristologia. Para eles, a partir do mundo visível, pode o
homem chegar a conhecer a Deus, sua existência e seus atributos, mas a essência mesma
de Deus continua sendo trevas que não se pode penetrar totalmente.
3.2.1 - São Basílio
São Basílio ensina que somente o Filho e o Espírito conhecem intimamente o Pai. A são
Basílio, porém, mais do o dom da doutrina revelada, interessa sua plena assimilação e
frutificação na alma por uma “iluminação da gnose”. A gnose é um elemento essencial na
assimilação progressiva a Deus, da divinização do cristão.
3.2.2 - São Gregório de Nissa
Insiste, contra Eunômio, na inacessibilidade da essência divina. Deve-se, contudo, distinguir
entre o conhecimento de Deus autor do mundo e o da sua essência.
Deus não apenas se deixa conhecer pela pregação silenciosa do universo, mas vem ao
encontro do homem estabelecendo com ele uma comunicação pessoal.
Conclusão: Os capadócios,ao mesmo tempo em que se opõem a Eunômio, reconhecem
duplo caminho de acesso no conhecimento de Deus: pela criação visível e pelo ensinamento
da fé. Por Cristo nos vem o conhecimento dos mistérios divinos.
3.3 - São João Crisóstomo:
São João Crisóstomo escreve contra os anomeus: repete que Deus, mesmo depois da
revelação, continua o Deus oculto e incompreensível. Fala, porém, de forma mais pastoral.
Deus é o incompreensível, o inenarrável segundo Crisóstomo e que o perfeito conhecimento
de Deus é privilégio do Espírito Santo.
São João Crisóstomo, não proíbe aos cristãos de aprofundar na fé; recusa, porém, as
especulações. Se Deus fala, o homem deve conformar sua vida aos ensinamentos divinos.
Para Ele, só o Filho e o Espírito conhecem perfeitamente a Deus. O que dele sabemos, nos
vem pelos profetas e principalmente pelo Xto, o Filho do Pai que veio trazer aos homens o
conhcto da economia salvífica oculta aos anjos e as nações.
São João Crisóstomo não apresenta nada de sistemático sobre a revelação.
18
21
Os gnósticos, em certo sentido elevavam ao máximo o conceito de revelação, mas o deformou ao mesmo tempo.
19
22
A revelação para São Boaventura é mos se fosse iluminação. É importante salientar que Boaventura não distingue revelação e
profecias.
23
Este último é o mais alto e supõe sempre uma revelação e não se dá mesmo modo com os outros dois modos de revelação.
20
Para ele a revelação é a tradição ativa que faz ao homem da doutrina necessária ou útil para
a salvação. Doutrina comunicada aos profetas mediante imagens ou por uma ação direta de
Deus na inteligência: palavra interior de Deus, iluminação do profeta.
A ação reveladora do Xto e dos apóstolos é brevemente delineada: o Xto promulga e
transmite, os apóstolos promulgam e transmitem à Igreja.
Características comum do conhecimento dos profetas e dos apóstolos: a certeza inabalável
do seu conhecimento.
A doutrina da salvação está contida na Escritura e, complementariamente, na Tradição ou
costume universal da Igreja.
24
Para Santo Tomás, revelação significa a relação entre fé e verdade.
22
II. Francisco Suares
Insiste na Revelação mediata. Revela-se Deus à multidão, não, porém, imediatamente, mas
por seus legados.
Tendo Cristo instruído a Igreja apostólica, é pela Igreja que ele instrui cada fiel, “tanto que
uma definição da Igreja equivale a uma Revelação”. Logo, quem ouve a Igreja, ouve o
próprio Deus que lhe fala.
1. Revelação no sentido estrito
É a simples proposição suficiente do objeto revelado, acredite ou não aquele a quem se faz
essa Revelação, seja feita interna e imediatamente por Deus mesmo, ou por seus anjos, ou
que se faça externamente pela pregação humana. Considera a Revelação a partir do objeto
(que se deve crer sub divina auctoritate). Sendo necessário duas coisas para o conhecimento
da fé: primeiro a apreensão do que se deve crer; em segundo o assentimento ao que foi
proposto.
2. Iluminação ou revelação do objeto e da potência
A fé vem de Deus, tanto quanto ao objeto como quanto ao socorro ou à virtude sobrenatural
dada à potência. A doutrina é de Deus e a graça é de Deus. Sob ambos os aspectos
podemos devidamente chamá-la de iluminação. Assim, têm-se duas formas de iluminação
com uma importante diferença: enquanto a iluminação ex-parte objecti pode ser feita por
Deus ou por seus anjos, a iluminação ex parte potentiae faz-se sempre imediatamente por
Deus.
Os teólogos distinguem entre a Revelação necessária à fé e a infusão do hábito, entre a
Revelação propriamente dita (percebida pela inteligência) e o instinto divino (a infusão da fé
não é percebida pelo espírito, mas é operada invisivelmente pelo próprio Deus).
III. João de Lugo
1. A revelação como palavra
Tanto a Revelação mediata como a imediata são consignadas pela Escritura como PALAVRA
DE DEUS. Afirma que para se verificar o conceito de palavra não basta que apresentemos a
alguém um objeto; é preciso que também lhe manifestemos o que pensamos desse objeto. A
palavra de per si e imediatamente ordena-se a manifestar-se a alguém o pensamento de
quem fala. Na Revelação imediata (os profetas, por exemplo), Deus pode servir-se de sinais
sensíveis, como a palavra humana, e assim manifestar o seu pensamento; ou então, agindo
internamente, pode gerar imediatamente o conhecimento do objeto que deseja comunicar,
manifestando-o como sendo verdadeiramente o objeto de seu pensamento. O mesmo se diz
da palavra mediata pela qual Deus atualmente nos propõe o mistério da fé.
2. Revelação e hábito ou auxílio da fé
Deus não nos fala enquanto nos dá habitus da fé. Deus, dando-nos a inteligência e o habitus
da fé, dá-nos a faculdade que nos torna capazes de ouvir sua voz e de acreditar; não se diz
porém, que ele fala, pois a palavra é produção de verbos que exprimem o pensamento de
quem fala (a inteligência, ou o habitul da fé, não é verbo de Deus), por isso, a sua produção
não é de forma alguma palavra ou Revelação de Deus, portanto, o instinto interior não é nem
total nem parcialmente, palavra de Deus). Distingue claramente entre moção interior, que
dispõe e inclina ao assenso da fé e ao ensinamento
23
Entre os problemas em jogo, foi principalmente das relações entre a sagrada Escritura e
Tradição que prendeu a atenção. A partir do dia 20 de novembro de 62, o problema do
conteúdo material da Escritura e da Tradição continua sendo um problema aberto, que os
teólogos e exegetas poderão continuar aprofundando. O concílio, escolhendo outro caminho,
preocupo-se mais com marcar bem claramente a unidade orgânica entre a Escritura e a
Tradição, e o estreito relacionamento entre a Escritura, Tradição e Igreja. Durante a segunda
sessão, reinou o mais completo silêncio sobre o esquema da revelação. No seu conjunto, o
texto agradou aos padres, porque equilibrado, de sabor bíblico, cristocêntrico, com uma
longa exposição sobre a tradição e, finalmente, porque deixava aos teólogos liberdade
quanto às questões controvertidas.
A constituição dogmática “Dei Verbum”, votada capítulo por capítulo no dia 29 de outubro de
65, e aprovada por quase unanimidade, foi oficialmente promulgada por Paulo VI a 18 de
novembro de 65.
5.1 DEI VERBUM:
1) Deus, o Deus vivo, falou a humanidade. O termo” palavra de Deus” aplica-se em primeiro
lugar a revelação, a essa intervenção primeira pela qual Deus sai de seu mistério, dirigi-se a
humanidade para manifestar-lhes os segredos de sua vida divina e comunicar-lhes seu
desígnio de salvação.
2) A segunda frase indica a finalidade da constituição. O concílio quer expor a verdadeira
doutrina sobre a revelação e sobre sua transmissão.
29
CONCLUSÕES:
1) Autor a finalidade da revelação: A revelação é uma ação de toda a Trindade: o Pai, que tem
iniciativa; o Verbo que, por sua encarnação, é o mediador; o Espírito que torna a palavra de
Cristo assimilável para a alma, que move o coração do homem e volta-o para Deus. A
revelação é, pois, iniciativa gratuita da benevolência divina para com o homem, puro dom
do seu amor, do mesmo modo toda economia sobrenatural, encarnação, redenção,
eleição.
2) Natureza da revelação: Essa comunicação entre o Deus transcendente e sua criatura,
comunicação que chamamos revelação, a Igreja descreve-a, com os termos da própria
Escritura, como palavra de alguém a alguém: Deus falou a humanidade.
3) História da revelação: A atividade reveladora de Deus, iniciada na aurora da humanidade,
constitui uma longa série de intervenções das quais Cristo é o tema e o ponto dominante. O
30
Cristo é ao mesmo tempo o mediador e a plenitude da revelação. Nele conhecemos a verdade
de Deus, verdade que nos conduz a vida.
4) Objeto da revelação: O objeto material da revelação pode ser considerado de duas
maneiras. Em se mesma: Deus e o “mistério” de sua vontade, tal como nos foi manifestado no
Cristo e pelo Cristo; ou então, comparativamente com a capacidade natural da inteligência
criada.
5) A revelação e seus nomes: A revelação em sua forma plena pode ser chamada
equivalentemente: a palavra de Deus, a palavra divina, a palavra revelada, a palavra
pronunciada por Deus, a palavra testada, a revelação...
6) Revelação, Escritura, Tradição: A revelação chega até nós mediante a tradição e a
Escritura, ambas estreitamente unidas e interdependentes. Ambas derivam da mesma fonte
divina, exprimem o mesmo mistério e concorrem para o mesmo fim, a salvação da humanidade.
7) Revelação, Igreja, Magistério: O depósito da revelação formado pela Tradição e pela
Escritura, foi confiado a Igreja toda, isto é, ao povo cristão unido a seus sacerdotes, para que ela
viva desse depósito e entre todos os fiéis haja união na profissão e exercício da fé transmitida,
pertence, porém, unicamente ao Magistério a função de interpretar o depósito da fé.
8) Característica da revelação.
a. A revelação é interpessoal: ao contrário da revelação natural pela qual Deus se manifesta
ao Espírito como objeto e se deixa antes deduzir como o princípio e fim de todas as coisas, a
revelação sobrenatural é palavra de Deus, diálogo e mensagem.
b. A revelação é gratuita: livre iniciativa da benevolência de Deus que se inclina para o
homem, iniciativa de seu amor salvífico.
c. A revelação é social: O homem criado por Deus não é apenas indivíduo, mas sociedade.
Assim também a revelação, que dissemos ser interpessoal é também social, destinada a toda
a humanidade.
d. A revelação é histórica: primeiro porque se apresenta como intervenção de Deus na
história, intervenções interligadas e tendo em vista um único desígnio de salvação. A
revelação é acontecimento da história e história.
e. A revelação é encarnada: recebida numa inteligência humana, deve acomodar-se as
condições da concepção humana. O objeto da revelação é o designo de Deus, mas é
humano e limitado o modo de concepção e expressão desse designo.
f. A revelação é doutrinal e realista: em sua forma plena, a revelação não é pura ação de
Deus que se oferece à amizade humana, puro contato do espírito conosco, pura inteligência
interna sem conteúdo e sem doutrina fixa. É uma mensagem promulgada pelo Cristo e
transmitida pelos Apóstolos.
g. A revelação é salvífica: é feita para a salvação, para a salvação de todos os homens. É um
conhecimento que tem por finalidade a vida. Não é sabedoria humana, invenção filosófica,
nem produto do subconsciente, e sim sabedoria divina, essencialmente ordenada para a
salvação.
Podemos ver a finalidade por duas perspectivas: 1) Teocêntrica (a revelação feita em vista da
glória de Deus); e 2) Antropocêntrica (é feita em vista da salvação do homem).
I. A revelação é para a salvação do homem
Do ponto de vista do homem, é a salvação do homem. Em termos mais positivos, é a visão,
participação na vida divina.
A revelação é uma obra essencialmente salvífica. Deus não se revela para satisfazer nossa
curiosidade ou para aumentar nossos conhecimentos, mas para tirar o homem da morte do
pecado e fazê-lo viver de uma vida eterna.
A salvação será um acontecimento da história, trazida aos homens pelo Ungido de Deus, que
salvará Israel e toda a humanidade mediante Israel (esperança do AT) e a Igreja (NT).
Se o homem pela fé, adere ao mistério que lhe é revelado e vive em comunhão com a
Trindade, ele realiza sua salvação e glorifica a Deus.
II. A revelação é para a glória de Deus
O fim último da revelação é a glória de Deus.
Para o Xto, dar testemunho ao Pai, manifestar o seu Nome, revelar o seu Nome, é o mesmo
que glorificá-lo.
No Xto e nos apóstolos a revelação atinge plenamente sua finalidade. Xto glorificou o Pai
pois manifestou aos homens o desígnio de graça do Pai, ele é perfeito glorificador do Pai.
A glória de Deus indica o próprio Deus, na perfeição de seu Ser e na irradiação de usa
perfeição.
O xtão glorifica a Deus qdo adere, pela fé, ao plano de salvação eleva uma vida condizente
com essa fé. O homem glorifica a Deus pela fé, comunhão de espírito com o Pensamento de
Deus e pela caridade, que insere no seu coração o próprio Amor de Deus. Assim, glorifica a
Deus e realiza sua salvação; pois vivendo plenamente a vida de filho, realiza sua salvação
que é também a glória de Deus.
38
V – PARTE: A SAGRADA ESCRITURA
O texto, inspiração, canonicidade, verdade bíblica e interpretação da bíblia.
1) TEXTO
A bíblia pode ser descrita como coleção de escritos, reconhecidos como inspirados. Ela
recebe uma variação no seu nome: Escritura Sagrada, Livros Sagrados, Testamento. Ela é,
comumente, considerada como uma grande obra – obra de um único autor -, mas, do ponto
de vista humano, constitui uma biblioteca.
Este livro é dividido em duas partes: Antigo e Novo Testamento 25; ambos testamentos falam
das alianças que Deus estabeleceu com a humanidade. Em meio a tantas infidelidades do
povo escolhido e da permanente fidelidade de Deus, o Antigo Testamento constitui uma
preparação para o ato definitivo do amor de Deus para com a humanidade.
a) Subdivisão dos livros nas duas Alianças
Os judeus fizeram a seguinte divisão para o Antigo Testamento: Lei – Pentateuco -, Profetas -
Anteriores, Posteriores e Menores – e Escritos. Mas desde o século XIII, os católicos o
dividem desse modo: Históricos, Didáticos e Proféticos.
O Novo Testamento é dividido com base no modelo do Antigo, ou seja: Históricos, Didáticos e
Profético.
b) A formação da bíblia
O Antigo Testamento foi formado a partir de um longo processo iniciado com Abraão (séc.
XIX a.C); as origens do A.T. remontam a ele. Mas foi Moisés (séc. XIII a.C) o líder material e
o legislador que iniciou o grande movimento religioso, o qual deu início a essa grande obra
literária.
O Pentateuco traz a marca de Moisés, mas a sua forma final só se deu no século VI a.C. Os
livros Proféticos tiveram o seu início no século VIII a.C. e a sua conclusão no século IV a.C.
O século VI constitui a fase áurea da literatura sapiencial, mas o seu início se reporta a
Salomão (séc. X a.C.). O livro da Sabedoria surgiu quando mal começava o século I da
nossa era. Muito da literatura do A.T. está baseado em tradições orais.
Como o Antigo Testamento, também o Novo relata a história de um povo; ele esboça a vida
dos primeiros cristãos: novo povo de Deus. Contrariamente ao Antigo, que precisou de quase
um milênio para ser composto, todo Novo Testamento foi escrito dentro de um só século (o I).
Vemos, desse modo, que ambas as Alianças são um resultado final de um coletivo esforço.
Os livros canônicos da bíblia foram escritos em três línguas: hebraico, aramaico e grego;
sendo que a maior parte do A.T. foi escrita em hebraico. Todo o Novo Testamento foi escrito
em grego. É bem verdade que não existe nenhum texto original dos escritos bíblicos, pois
desde o século III da era cristã tinham-se perdido. Isso se deu devido ao sensível material no
qual foram postos: papiro e pergaminho.
25
Esta palavra provém do grego e significa aliança.
39
2) INSPIRAÇÃO
Existe uma definição precisa sobre esse tema: a inspiração bíblica é o resultado mistérico
da ação carismática de Deus nos hagiógrafos enquanto membros da comunidade
crente, seja judaica seja cristã; os quais, usando de todas as suas faculdades e
talentos e agindo Deus neles e por meio deles, põem por escrito tudo e só o que Deus
quer em ordem à salvação da humanidade “...
De modo esquemático - A inspiração bíblica é o resultado mistérico (em quanto que a
letra visível desvela e vela ao mesmo tempo a revelação do invisível) da ação carismática
de Deus (causa principal, autor) nos hagiógrafos enquanto membros da comunidade
crente, seja judaica seja cristã; os quais ( causa instrumental, autor), usando de todas as
suas faculdades e talentos (modo humano) e agindo Deus neles e por meio deles (modo
divino), põem por escrito tudo e só o que Deus quer (efeito), em ordem à salvação da
humanidade (fim)”26.
Assim, o Concílio Vaticano II afirma que: “As coisas divinamente reveladas, que se encerram
por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do
Espírito Santo”27.
Não só nas manifestações do Magistério, mas também na mesma Sagrada Escritura nós
encontramos claramente uma consciência do fenômeno da inspiração; isto se dá em todas
as partes, desde o A.T. até o Novo. Jesus tem consciência de ser a plena revelação do Pai.
A Igreja, baseada na mesma revelação e querendo defender a sua integridade, depois uma
reflexão plurissecular, definiu como dogma o fenômeno da inspiração; essa definição foi
promulgada pelo Concílio Vaticano I na Constituição Dogmática Dei Filius.
3) CANONICIDADE
4) VERDADE BÍBLICA
28
O famoso caso Galileu; ele afirmava o movimento da terra sobre o sol; a mentalidade da época afirmava diversamente.
29
O darwinismo – com a teoria da evolução das espécies - deu origem ao Poligenismo.
30
Progresso da arqueologia e da historiografia.
31
DV, 11.
32
Essa diversidade pode ser constatada a partir do objeto formal – que se caracteriza pelo princípio de verificabilidade, o qual
determina a verdade e falsidade da ciência – de cada uma das ciências.
33
É a adequação existente em cada ciência entre o entendimento humano e a realidade que a ciência estuda segundo o seu objeto
formal e segundo seus princípios e métodos característicos. O elemento comum da verdade de toda ciência consiste em atuar
segundo a natureza própria da mesma (verdade ontológica). .
41
5) INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA
Para uma interpretação coerente da bíblia são necessários critérios. O primeiro deles
consiste em ter presente a base da interpretação, ou seja, a noção básica de hermenêutica.
Quais são os aspectos considerados por ela? São: a) o texto literário; b) o receptor ou o
homem contemporâneo; c) o autor do texto; d) o tema e) e a linguagem.
Como podemos definir a interpretação bíblica ou hermenêutica? “É uma parte da ciência
bíblica, que tem por objeto a compreensão, explicação, interpretação dos textos bíblicos em
sua linguagem e conteúdo, estabelecendo uma mediação entre o texto antigo e o homem
contemporâneo, mediante o uso dos métodos científicos mais apropriados, com o fim de
fazer o texto vivo e atual para o homem”34.
Por que é necessária a interpretação bíblica? Os motivos são diversos: a- por causa
da natureza mesma do texto; ele continua a ser fonte de inspiração e de novidade para todos
os tempos; b- por causa da sua finalidade, pois ela é dirigida a todos os homens de todos os
tempos; c- por causa da dificuldade do texto em si mesmo, é um texto antigo que, à medida
que o tempo passa, se distancia sempre mais do presente, mas também porque nele está
contida uma série de passagens obscuras; d- porque sua interpretação é interminável, pois
em cada época surgem novas descobertas na filosofia, na exegese, na ciência e na técnica
que contribuem para a sua interpretação; e- sobretudo pelo fato da relação do homem com
Deus, pois não é indiferente ao homem conhecer Deus ou não, conhecê-Lo melhor ou não;
assim está em jogo a relação pessoal e comunitária do homem com Deus.
A hermenêutica bíblica tem uma história; ela atravessou milênios e séculos; suas fases
são: hermenêutica própria do A.T., do N.T., da época Patrística e Medieval, no qual se
destaca são Tomás, o período moderno, onde surgem teorias divergentes da interpretação
tradicional: influenciam o Renascimento humanista, a Reforma protestante, os novos
movimentos filosóficos: o iluminismo, positivismo e o romantismo. Esse encadeamento do
período moderno tem o seu ponto de partida no racionalismo cartesiano. Cada um desses
períodos traz a sua peculiaridade.
A hermenêutica católica entra num momento de decadência, mas ganha novo impulso
com a Providetissimus Deus (1893) até a Dei Verbum. Durante esse ínterim convém que
distingamos na história uma exegese católica e outra protestante.
Mas quais os princípios determinantes de uma interpretação católica da Bíblia? A Dei
Verbum e o documento da comissão bíblica determina o conjunto de critérios: leitura no
Espírito, a intenção do autor35, o conteúdo e a unidade de toda a Bíblia, a Tradição viva de
toda a Igreja e a analogia da fé36.
Sobre os métodos de interpretação são-nos bastante conhecidos o Diacrônico (ou
histórico-crítico), o que estuda o texto sagrado em seu processo de formação, e o Sincrônico,
que se ocupa do texto enquanto tal.
34
GARCÍA, Antonio Izquierdo. La Palabra viva: introducción a la Sagrada Escritura. México: Nueva Evangelización, 199.
p.132.
35
Fundem-se aqui a intenção do autor humano e do autor divino.
36
Define-se como a conexão coerente da fé objetiva da Igreja, o nexo interno dos mistérios entre si.
42
VI – PARTE: A TRADIÇÃO: objeto, sujeito e monumentos.
“Como as expressões da Tradição são múltiplas e variadas, a ponto de, muitas vezes, serem
quase identificadas com a vida toda da Igreja, é necessário que se apontem alguns critérios
que sirvam para reconhecimento da Tradição; com eles se procura identificar o que é próprio
da Tradição apostólica e o que pertence à tradição eclesiástica.
1°- Magistério: sua função já nos é conhecida: interpretar de tal modo a Palavra de Deus
que procura discernir o que o Espírito diz à Igreja hoje.
2º- Antigüidade: este critério tem seu fundamento em Trento; considera como tradições
somente aquelas que chegaram até nós, indicando assim sua universalidade e
verificando sua continuidade ao longo da história. (...) Com ele se quer expressar que
uma tradição que provenha da época apostólica e que continue até os nossos dias
demonstra sua autenticidade e vitalidade para a vida de fé e serve como critério para
aquisição de novas tradições.
3º- Sensus Fidei: o sentido de fé faz referência direta à comunhão da Igreja em todos os
seus membros e supõe a presença do Espírito Santo para que todos os fiéis reconheçam
a expressão clara da fé e tenham um sentido interior das realidades espirituais que
experimentam. Para discernir as tradições através do Sensus Fidei é necessário que se
examinem a fé e a prática da Igreja toda desde o Bispo até o último dos fiéis, levando-se
43
em conta, contudo, que o reconhecimento mesmo do sentido da fé supõe sempre uma
verificação através dos frutos visíveis do Espírito.
4º -Fidelidade: continuidade e renovação: a transmissão fiel da verdade salvífica não
significa imobilismo; significa que deve está ligada às suas origens, mas ao mesmo
tempo aberta a novas mudanças que permitam tornar mais visível a realidade salvífica,
de modo a responder aos anelos e às aspirações do homem atual (Portanto: inovação
que mantenha a identidade essencial da Igreja).
5º- A profissão de fé: entre os vários documentos do patrimônio eclesiástico, o ‘credo’
dos apóstolos, o Niceno e outras profissões de fé serviram como instrumentos para
verificar as tradições herdadas. Neles se faz uma síntese maravilhosa do que ensina a
Escritura e do que pregou a Igreja, de modo a nos apresentar o núcleo básico com o qual
se podem confrontar as novas formulações e a pregação atual.
6º-A Sagrada Escritura: ela é memória normativa da origem da fé; por conseguinte, toda
tradição na Igreja deve ser confrontada com ela como critério normativo e de existência
eclesial; ela é decisiva para a orientação da fé e da vida dos fiéis, tanto mais quanto é
formalmente Palavra de Deus.
7º- Cristo ressuscitado: o critério fundamental – para o qual todos os demais se voltam
– é Cristo, Palavra última e definitiva de Deus aos homens”.
38
IITm 1, 13ss; 2, 2; 4, 1ss.
39
A fé da Igreja, p. 146.
40
A partir dos documentos de Trento.
41
Segunda esta, as verdades estabelecidas pela Igreja, que não estão fundadas na Escritura, podem ser demonstradas pela
tradição não escrita.
45
pregação; resultando dessa atitude que a Igreja não tira as verdades reveladas apenas da
Sagrada Escritura, mas também da Tradição.
Escritura Sagrada e Sagrada Tradição constituem um mesmo e único Depósito. Fiel a
esse mesmo Depósito, todo povo santo, unido com seus pastores na doutrina dos apóstolos
e na comunhão, persevera constantemente na fração do pão e na oração, de modo que haja
uma colaboração especial de fiéis e prelados em guardar, exercer e professar a fé recebida;
mas só ao Magistério, unicamente a ele, foi confiada a função de interpretar a Palavra de
Deus, seja ela escrita ou transmitida; ele exerce sua autoridade em nome de Cristo e não se
coloca sobre o Depósito, mas a seu serviço; exerce a sua função ensinando unicamente o
que foi transmitido, escutando, guardando diligentemente e expondo com fidelidade. Deste
único Depósito de fé, o Magistério tira tudo o que propõe para se crer como verdade revelada
por Deus. Assim, pois, Sagrada Escritura, Tradição Sagrada e Magistério estão de tal modo
unidos entre si que não há consistência de um sem o outro; e juntos, cada um a seu modo,
sob a inspiração do Espírito de Deus, contribuem para a salvação dos homens.
Mesmo expondo definitivamente muitos pontos que desde os concílios tridentino e Vaticano I
eram objetos de reflexões, o Concílio Vaticano II deixou, intencionalmente, algumas questões
a serem estudas; entre ela destaca-se o fato de a Sagrada Escritura ser concebida como
uma sedimentação da pregação apostólica, por meio da qual é transmitida de modo
especial a Palavra de Deus.
A visão elaborada do Vaticano II remete a Tradição em sua dupla dimensão: regressiva que
vai até a pregação apostólica; e progressiva que se estende à pregação do Magistério
eclesiástico. Com relação a esta última, faz-se necessário estabelecer relação com a
sucessão apostólica, pois a Tradição também consiste em transmitir a Palavra de Deus aos
sucessores dos Apóstolos. Assim, vemos que a atividade transmissora não se conclui com a
criação do cânon – como na Tradição escrita -, mas se continua até o retorno de Cristo.
Todavia, os escritos reunidos no cânon constituem o instrumento da pregação eclesial. Desse
modo, a Sagrada Tradição ajuda a entender mais profundamente a Escritura e a acioná-la
mais eficazmente. Portanto, a atividade transmissora leva à interpretação e ao
desenvolvimento da Sagrada Escritura.
Existe o famoso problema da suficiência da Sagrada Escritura; o que dizer a este respeito?
Em primeiro lugar é mister entender o conceito suficiente, pois ele deixa a si dupla
interpretação: a) a Sagrada Escritura oferece a Palavra de Deus com plenitude suficiente
para a salvação; b) se esta palavra se refere à consecução da salvação, então não se deve
entender a partir da Sagrada Escritura, mas de Cristo, pois é Ele que produz a bem-
aventurança, é somente a fé em Cristo que opera através da Escritura, e não a fé na palavra
nela contida. A Sagrada Tradição ou Tradição não escrita não apresenta conteúdo revelado
que não esteja na Escritura, mas ela é apenas um desenvolvimento dela.
Quais são os portadores da Tradição? O Concílio Vaticano II afirma ser todo o povo de
Deus, que tem um senso, um instinto de fé por meio do qual sabe julgar a conformidade e
não conformidade de uma proposição ou de um comportamento com o mistério de Cristo; é
uma espécie de sexto sentido. Contudo, a Igreja universal só pode atualizar a função de
transmitir a Tradição incorporando-a e subordinando-a ao Magistério eclesiástico.
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VIII – PARTE: O DOGMA42
O ponto de partida do dogma são o Querigma 43 e a catequese primitiva. Estes foram, à luz da
ressurreição, reinterpretados e postos por escrito, à luz do Espírito. A Igreja sente a
necessidade de comunicar a todo homem em todos os tempos o mesmo anúncio salvífico,
mas sempre conservando a integridade da revelação. Para tanto, o dogma parece ser uma
das formas mais típicas e oficiais do desenvolvimento do querigma e da interpretação da
Sagrada Escritura ao longo dos séculos no curso da Igreja, pois ele é o que torna presente
uma compreensão autêntica do Evangelho através de expressões doutrinais que atualizam a
formulação bíblica original, ou proveniente da Tradição em nome da autoridade do Magistério
da Igreja. Assim, o dogma aparece como atualização do querigma e do dado bíblico no
decurso da história. Mas, com o passar dos tempos, essa atualização recebeu um caráter
“definidor”, em sentido doutrinal. Das diversas definições, algumas constituem como que os
pilares de toda a Tradição, especialmente aqueles que permanecem fixas na confissão de fé
do credo da Igreja Católica.
O que significa a palavra “Dogma”? Os dogmas da Igreja contêm uma doutrina que não é
produto de simples descoberta da razão humana e, portanto, não são unicamente a
expressão de determinada escola teológica. A doutrina exposta no dogma tem caráter divino,
enquanto é a expressão e explicação de um conteúdo da revelação, sob a luz e a guia do
Espírito Santo.
O dogma, como regra de fé, portanto, é tudo o que é verdade revelada por Deus e definida
como tal pelo Magistério. Ele comporta duas realidades fundamentais:
a) o que se propõe no dogma pertence de fato à revelação divina, pública e oficial tal qual
nos é transmitida na Escritura e na Tradição;
b) a Igreja propõe explícita e definitivamente como pertencente à Revelação.
Daí podemos concluir que a Igreja não pode inventar dogmas, o que faz é explicitar
verdades contidas na Revelação; ele está a serviço da verdade revelada.
Existe uma imutabilidade e evolução nos dogmas, ou seja, um desenvolvimento
dogmático; este consiste no processo pelo qual a verdade revelada passou da pregação dos
Apóstolos ao ensinamento atual da Igreja. Esta tem a missão de transmitir a verdade
revelada, mas deve fazer um esforço para um entendimento crescente e atual da mesma
mensagem. Esse desenvolvimento crescente se transforma em processo dogmático quando
o melhor entendimento conseguido é proclamado infalivelmente pelo Magistério da Igreja
como verdade contida no Depósito da revelação, ou seja, dogma. O desenvolvimento
dogmático sempre se realizou através da imutabilidade e evolução do dogma.
A – Imutabilidade das definições de fé: O valor absoluto e imutável do dogma tem sido
reiteradamente sustentado pelo Magistério contra todas as formas de “relativismo dogmático”.
B – Evolução do dogma: os novos tempos exigem que os dogmas sejam explicados como
novos enunciados que esclareçam, completem e atualizem as definições anteriores; só desse
modo se podem evitar os erros futuros.
Fala-se, comumente, de alguns fatores do desenvolvimento dogmático; são:
Espírito Santo: Ele constitui o princípio ativo do desenvolvimento dogmático; a evolução dos
dogmas é de iniciativa divina; é o Espírito Santo quem guia a Igreja a uma compreensão
mais profunda.
A contemplação e o estudo: esta atividade intelectual própria do crente vai conseguindo
algum entendimento dos mistérios revelados na Escritura e na Tradição; essa busca por mais
compreensão é dever de todo fiel, mas de modo particular do teólogo.
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“As definições de fé, ou fórmulas dogmáticas do Magistério da Igreja, pretenderam sempre a ajudar a compreensão do dado
revelado, determinando com autoridade o que o crente deve obrigatoriamente aceitar na fé. E quando a Igreja faz novos
enunciados tema intenção de confirmar ou esclarecer as verdades já contidas de algum modo na Sagrada Escritura ou em
expressões precedentes da Tradição, mas, ao mesmo tempo, costuma pensar em resolver certas questões.
43
Anúncio do Senhor morto e ressuscitado.
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Sentido da fé: este é suscitado no povo crente pela garça e pelos dons do Espírito Santo;
esse sentido faz o povo descobrir na Palavra de Deus significados e valores autênticos que,
muitas vezes, são menos acessíveis até aos próprios teólogos.
Magistério eclesiástico: a intervenção do Magistério no desenvolvimento da compreensão
do dogma se realiza quando os bispos, em comunhão com o Papa, pregam com o carisma
da verdade. Apresentam aos fiéis o depósito da fé e dão sua Palavra autorizada pela qual se
indica o que deve ser crido e vivido pela comunidade. Além disso, o ensinamento geral e
constante constitui o horizonte no qual o progresso dogmático pode se realizar
autenticamente.
Diante do fenômeno da revelação o homem tem duas opções: aceitar ou recusar. O pólo
“aceitar” é o que interessa a nós. Responder positivamente à revelação e corresponder a
ela é o que chamamos de fé. Ela pode ser tanto “aceitação de certas verdades no sentido
de declarações conceituais, como confiança e obediência na aceitação da única ação
salvífica de Deus em Jesus”.
O modo pleno de responder a Deus só se dá com a vinda de Jesus. Os mistérios de sua
vida, morte e ressurreição foram acontecimentos decisivos sobre a salvação, pois
manifestaram-se, ao mesmo tempo, o portador da mensagem e a própria mensagem, o
revelador e a própria revelação.
Na história, desde o Antigo Testamento até o Novo – neste se compreende também até os
nossos dias -, a fé recebeu diversas matizes. Não nos é possível elencar as características
da fé em toda a história e em cada um dos seus momentos, mas queremos indicar ao menos
alguns aspectos, pois eles são determinantes para a compreensão do tema:
Paulo diz que a fé inclui em si mesma uma nova auto-inteligência do homem; a fé, para ele,
é o conhecimento de Deus, da Verdade; é obedecer a Deus e aprender a salvação em Cristo
e granjear a esperança do futuro absoluto;
João: fé é ir a Jesus, é unidade de vida com Ele; é passar da morte para a vida, mas
também compreende uma dimensão escatológica, no sentido de esperança do futuro.
Patrística: a fé recebe matiz preferentemente intelectual, é verdadeira gnose, filosofia;
Escolástica: esforçou-se para uma análise psicológica da fé. Tomás define a fé como
“participação pela graça no conhecimento do próprio Deus”;
Reforma: Lutero dá à fé uma conotação de confiança e entrega;
Período pós-tridentino: a partir de então podemos falar de duas concepções de fé: católica
– que desenvolve o aspecto objetivo do conteúdo – e a protestante – que dá maior atenção
ao aspecto da subjetividade;
Teologia atual: a fé é objeto de discussão tanto na filosofia quanto na teologia; pois o
problema surge quando se pergunta sobre a estrutura objetiva e pessoal da fé: ela consiste
em um “sim” a determinadas declarações ou a um Tu pessoal? Dessa discussão surge a
famosa pergunta; “cremos em algo ou alguém”? Afirma-se normalmente que essa
oposição entre o aspecto pessoal –bíblico – e o ontológico – grego - não tem sentido; pois
“se o homem crê deste modo em Jesus Cristo e nele baseia sua existência (...), realiza-se a
si mesmo da maneira requerida por seu núcleo pessoal. Surge a forma de existência descrita
por Paulo: ‘estar em Cristo’. Essa fé não só é expressão da estrutura pessoal do homem,
como sobretudo repercute nele. Aqui se realiza o que Agostinho opinava com as palavras:
creio ‘em’ ti. A fé cristã é fé ‘em’ Deus, e como Deus apareceu historicamente em Jesus
Cristo, a fé em Deus é também fé em Cristo. Inversamente a fé em Cristo, representante de
Deus na história humana, é fé em Deus. A estrutura da fé em Deus é dada pelo fato de se
chegar a Ele no ato de fé em Cristo. A fé em alguém tem o aspecto de fé em algo, enquanto
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expressa as declarações do Tu afirmado na fé”. Portanto ambas não se contradizem, mas se
complementam.
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BIBLIOGRAFIA
BIBLIA DE JERUSALÉM
BIBLIA DO PEREGRINO
COMPÊNDIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumem Gentium. São Paulo: Paulus,
2000.
CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Dei Verbum. São Paulo: Paulus, 2001.