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Capítulo I
O princípio geral ao qual seria possível apelar para justificar a guerra sobre o plano
humano, é o “heroísmo”. A guerra, segundo este, oferece ao homem a ocasião de acordar
o herói adormecido em si. A guerra rompe a rotina da vida cómoda e, através das mais
duras provas, favorece um conhecimento transfigurante da vida em função da morte. O
instante no qual um individuo deve comportar-se como um herói, seja ele o último da sua
vida terrestre, pesa infinitamente mais na balança que toda a sua existência vivida
monotonamente, na agitação incessante das cidades. Isto é o que compensa, em termos
espirituais, os aspectos negativos e destrutivos da guerra que o materialismo pacifista põe
unilateral e tendenciosamente em destaque. A guerra, estabelecendo e realizando a
relatividade da vida humana, estabelece e realiza também o direito de um “mais do que a
vida” - tem sempre um valor anti-materialista e espiritual.
Para isso, é preciso recorrer a uma doutrina que não tenha uma estrutura de
construção filosófica particular e pessoal, mas que, à sua maneira, tenha uma referência
de facto positiva e objectiva.
Trata-se da doutrina da hierarquia quadripartida e da história actual como descida
involutiva, de uma para outra, dos quatro níveis hierárquicos. Em todas as civilizações
tradicionais, a quadripartição – não esquecer - dá origem a quatro castas diferentes:
servos, burgueses, aristocracia guerreira e detentores da autoridade espiritual. Não deve
entender-se por casta, como faz a maioria, uma divisão artificial e arbitrária, mas sim o
laço que une os indivíduos de uma mesma natureza, de um tipo de interesses, de uma
vocação idêntica, ou uma qualificação original idêntica. Normalmente, uma verdade e
uma função determinada definem cada casta e não o contrário. Não se trata pois de
privilégios e de formas de vida erigidas em monopólio e baseadas numa constituição
social mantida, mais ou menos, artificialmente. O verdadeiro princípio do qual precedem
estas instituições, segundo formas históricas mais ou menos perfeitas, é que não existe
um modo único e genérico de viver a sua própria vida, a não ser o modo espiritual, quer
dizer, como guerreiro, burguês, servo e, quando as funções e repartições sociais
correspondem verdadeiramente a esta articulação, segundo a expressão clássica, estamos
perante uma organização ”proveniente da verdade e da justiça”.
Isto é igualmente válido para a “guerra”. E é assim que vamos poder abordar
positivamente a tarefa que nos propusemos no início deste ensaio: especificar os diversos
significados que podem assumir o combate e a morte heróica. Conforme ela se manifesta
sob o signo de uma ou outra casta, a guerra adquire um aspecto diferente. Ou seja, dentro
do ciclo da primeira casta, a guerra justifica-se por motivos espirituais, considera-se como
uma via de realização sobrenatural e de imortalização para o herói (tema da Guerra Santa).
Nas aristocracias guerreiras, luta-se pela honra e por um princípio de lealdade, que se
associava ao prazer da guerra pela guerra. Com a passagem do poder para as mãos da
burguesia dá-se uma profunda transformação. O conceito de nação materializa-se e se
democratiza; cria-se uma concepção anti-aristocrática e natural da pátria e o guerreiro dá
lugar ao soldado e ao “cidadão”; que luta simplesmente para defender ou conquistar uma
terra; estando os guerreiros, em geral, fraudulentamente guiados por razões ou primazias
de ordem económica ou industrial.
Por fim, onde o ultimo estádio pode ser alcançado abertamente, é numa
organização nas mãos de servos, tal como expressou perfeitamente Lenine: “A guerra
entre nações é um jogo pueril, uma subserviência burguesa que não nos pertence. A
verdadeira guerra, a nossa guerra, é a revolução mundial para destruição da burguesia, e
o triunfo da classe proletária”.
Estabelecido isto, é evidente que o “herói” pode ser um denominador comum que
abranja os tipos e significados mais variados. Morrer, sacrificar a sua vida, pode ser válido
somente no plano técnico e colectivo, melhor dizendo, no plano que se chama hoje
brutalmente, “material humano”. É evidente que não é em tal plano que a guerra pode
reivindicar um autêntico valor espiritual para o indivíduo, quando este se apresenta não
como “material”, mas sim – à maneira romana – como personalidade. Isto não só se
realiza quando existe uma dupla relação entre meio e fim, mas também quando o
individuo é um meio em relação à guerra e aos seus fins materiais, mas simultaneamente,
quando a guerra, por sua vez, se transforma num meio em relação ao individuo,
oportunidade ou via cujo fim seja a sua realização espiritual, favorecida pela experiência
heróica. Então existe síntese, energia e máxima eficácia.
Para preparar uma guerra no plano material mas também no espiritual, é preciso
ver claramente e firmemente tudo isto, a fim de poder orientar almas e energias até à
solução mais elevada, a única que convém às ideias tradicionais.
Mostrar como esta possibilidade, mais elevada, mais espiritual, foi plenamente
vivida nas grandes civilizações que nos precederam, ilustrando assim o seu aspecto
constante e universal, é algo que não depende da simples erudição. È precisamente o que
nos propomos fazer a partir das tradições inerentes à romanidade antiga e medieval.
Capítulo II
No fundo, uma das origens da apoteose imperial, era o sentimento que debaixo da
aparência do Imperador se escondia um “numen” imortal, incontestavelmente derivado
da experiência guerreira: O “Imperatore”, originariamente era o chefe militar aclamado
sobre o campo de batalha, no momento da vitória, mas nesse instante aparecia também
como transfigurado por uma força vinda do alto, terrível e maravilhosa que dava a
impressão do “numen”. Esta concepção, por outro lado, não é exclusivamente romana,
encontra-se em toda a antiguidade clássico-mediterrânea e não se limitava aos generais
vencedores, estendia-se aos campeões olímpicos e aos sobreviventes dos combates
sangrentos do circo. Na Helade, o mito dos Heróis confunde-se com as doutrinas místicas,
como o orfismo, e identifica o guerreiro vencedor como o iniciado, vencedor da morte.
Testemunhos precisos sobre um heroísmo e um valor que emanavam, mais ou menos
conscientemente, das vias espirituais, abençoados não só pelas conquistas materiais e
gloriosas, mas também pelo seu aspecto de evocação ritual e de conquista espiritual.
Passemos a outros testemunhos desta tradição que, pela sua natureza, é metafísica
e, em consequência, o elemento “raça” não pode ter mais que uma parte secundária e
contingente. Dizemos isto, pois mais adiante, trataremos da “Guerra Santa” que foi
praticada no mundo guerreiro do Sacro Império Romano-Germânico. Esta civilização
apresentava-se como um ponto de confluência criadora de vários elementos: um romano,
um cristão e um nórdico.
Relativamente ao primeiro elemento, já fizemos alusão a ele no contexto que nos
interessa. O elemento cristão se manifestara sob os rasgos de um heroísmo cavalheiresco
supra nacional com as cruzadas. Resta o elemento nórdico. Com o objectivo de que
ninguém se alarme, assinalamos que se trata de um carácter essencialmente supra-racial,
portanto incapaz de valorizar ou denegrir um povo em relação a outro. Para fazer alusão
a um plano no qual nos auto excluímos, de momento nos limitaremos a dizer que nas
evocações nórdicas, mais ou menos frenéticas que se celebram hoje em dia “ad usum
delphini” na Alemanha nazi, por surpreendente que possa parecer, se assiste a uma
deformação e a uma depreciação das autênticas tradições nórdicas tal como foram
originariamente e tal como se perpetuaram nos Príncipes que tinham por grande honra o
poder de se denominarem “romanos” ainda que sendo de raça teutónica. Pelo contrário,
para numerosos escritores “racistas” de hoje, “nórdico” não significa mais que “anti-
romano” e “romano” teria mais ou menos um significado equivalente a “judeu”.
Segundo esta tradição, nenhum sacrifício, nenhum culto era tão grato a Deus, nem
mais rico em recompensa no outro mundo, como aquele realizado pelo guerreiro que
combate e morre lutando. Ainda há mais: o exército dos heróis mortos em combate deve
reforçar a falange dos “heróis celestes” que lutam contra o Ragna-rök, ou seja, contra o
destino do “obscurecimento do divino” que, segundo os ensinamentos, como no caso dos
clássicos gregos, (Hesiodo) pesa sobre o mundo desde as idades mais remotas.
Encontramos este tema sobre formas diferentes nas lendas medievais que
concernem à “última batalha” que livrará o Imperador jamais morto. Aqui, para perceber
o elemento universal, temos que trazer à luz a concordância de antigos conceitos nórdicos
(que, diga-se de passagem, Wagner desfigurou com o seu romantismo empolgado,
confuso e teutónico) com as antigas concepções iranianas e persas. Alguns se
surpreenderão ao saber que as famosas Walkirias não são quem escolhe as almas dos
guerreiros destinados ao Walhalla, mas sim a personificação da parte transcendente destes
guerreiros, cujo equivalente exacto são as fravashi que na tradição irano-persa estão
representadas como mulheres de luz e virgens arrebatadas das batalhas. Personificam
mais ou menos as forças sobrenaturais em que as forças humanas dos guerreiros ”fiéis ao
Deus da Luz” podem transfigurar-se e produzir um efeito terrível e turbulento nas acções
sangrentas. A tradição iraniana continha igualmente a concepção simbólica de uma figura
divina - Mithra, concebido como o “guerreiro sem sono” - que à frente das fravashi de
seus fiéis, combate contra os emissários do deus das trevas, até à aparição do Saoshyant,
senhor de um reino futuro, de “paz triunfal”.
Capítulo III
Examinemos de novo as formas da tradição heróica, que permitem à guerra
assumir o valor de um caminho de realização espiritual, no sentido mais rigoroso do
termo, e também de uma justificação e de finalidade transcendentais. Já falamos das
concepções que, deste ponto de vista, foram as do antigo mundo romano. Depois demos
uma olhada às tradições nórdicas e ao carácter imortal de toda a morte realmente heróica
sobre o campo de batalha. Referimo-nos necessariamente a estas concepções para chegar
ao mundo medieval, à Idade Média como civilização resultante da síntese de três
elementos: primeiro romano, seguido do nórdico e finalmente o cristão.
Por outro lado, o contexto das Cruzadas era rico em elementos susceptíveis de
lhes conferir um significado simbólico, espiritual e superior. Através das vias do
subconsciente, os mitos transcendentais refloresciam na alma da cavalaria ocidental: a
conquista da “Terra Santa” situada para “além dos mares” apresenta com efeito,
infinitamente mais referências reais que poderiam supor os historiadores com a antiga
saga segundo a qual “no longínquo oriente onde nasce o sol, se encontra a cidade sagrada
onde a morte não reina, mas onde os valorosos heróis que sabem esperá-la gozam de uma
celestial serenidade e de uma vida eterna”. Por outro lado, a luta contra o Islão revestiu,
por sua natureza, desde o princípio, o significado de uma prova ascética.“Não se trata de
combater pelos reinos da terra – escreveu Kluger, o célebre historiador das Cruzadas –
mas pelo reino dos céus; as Cruzadas não eram do domínio dos homens, mas sim de Deus
– por isso não as podemos considerar como os outros acontecimentos humanos”. A guerra
santa devia, segundo a expressão de um antigo cronista comparar-se “com o baptismo
semelhante ao fogo do purgatório antes da morte”.
Mas o desenrolar das Cruzadas, num contexto mais amplo e no plano ideológico
geral provocou uma purificação e uma interiorização do espírito de iniciativa. Segundo a
convicção inicial de que a guerra pela “verdadeira” fé não podia ter mais que uma saída
vitoriosa, os primeiros fracassos militares sofridos pelos exércitos cruzados foram um
foco de surpresas e assombro, mas à posteriori serviram, no entanto, para trazer à luz o
aspecto mais elevado da “guerra santa”. O resultado desastroso de uma Cruzada era
comparado pelos clérigos de Roma ao destino da virtude desgraçada que não é julgada
nem recompensada, a não ser em função da outra vida. E isto anunciava o reconhecimento
de algo superior tanto na vitória como na derrota, a colocação no primeiro plano do
aspecto próprio à acção heróica cumprida independentemente dos frutos visíveis e
materiais, quase como uma oferenda transformando o holocausto viril de toda a parte
humana em “glória absoluta” e imortal.
É evidente que desta maneira se devia acabar por atingir um plano, por assim
dizer, supra-tradicional, tomando a palavra “tradição” num sentido mais restrito, mais
histórico e religioso. A fé religiosa em particular, os fins imediatos, o espírito antagonista,
convertiam-se então em elementos tão contingentes como são a natureza variável de um
combustível destinado somente a produzir e a alimentar uma chama. O ponto central
continuava a ser o valor santo da guerra. Mas se prefigurava igualmente a possibilidade
de reconhecer, que aqueles que eram adversários no momento, pareciam atribuir a este
combate o mesmo significado tradicional.
Agora, este é outro ponto que queremos aflorar. Aqueles que julgam as Cruzadas
superficialmente, as remetem a um dos episódios mais extravagantes da “obscura” Idade
Média, não supõem que o que definem como “fanatismo religioso” é a prova tangível da
presença e da eficácia de uma sensibilidade e de um tipo de decisão cuja ausência
caracterizava a barbárie autêntica. Já que o homem das Cruzadas sabia todavia afirmar-
se, combater e morrer por um motivo, que na sua essência, era supra político e supra
humano. Associava-se também a uma união baseada, não sobre o particular, mas sobre o
universal. E isto significa um valor, um ponto de referência inabalável.
Aqui, nós nos referimos às tradições deste género principalmente porque elas
colocam em evidência um conceito muito útil para esclarecer posteriormente a ordem de
ideias que nos propomos a expor. Trata-se dum conceito da grande guerra santa, distinto
da “pequena guerra”, mas, ao mesmo tempo ligada a esta última de acordo com uma
correspondência especial. A diferencia baseia-se num hadît (verso) do Profeta, que ao
retornar duma expedição guerreira declarou: - ” nós voltamos da pequena guerra santa
para a grande guerra santa”.
Mais à frente abordaremos uma outra tradição, onde esta situação é representada
por um símbolo muito característico: - um guerreiro e um ser divino impassível, que sem
combater, sustém e conduz o soldado, ao lado do qual ele se encontra, e estão no mesmo
carro de combate. È a personificação da dualidade dos princípios do verdadeiro herói,
cujas emanações têm sempre qualquer coisa de sagrado, e do qual ele é portador.
Na tradição islâmica, podemos ler num dos textos mais importantes: “ Combatei
no caminho de Deus (quer dizer na guerra santa), aquele que sacrifica o caminho terrestre
por aquele do além: pois aquele que combate no caminho de Deus e seja morto, ou
vencedor, nós daremos uma imensa recompensa”. A premissa metafísica segundo a qual
é dito: “combatei segundo a guerra santa aqueles que vos fazem a guerra””. “ Matai-os
onde quer que os encontreis e esmagai-os. Não vos mostreis fracos nem os convideis à
paz ” pois “ a vida terrestre é somente um jogo e um passatempo”, e “ quem se mostra
avarento, só é avarento consigo mesmo”. Este ultimo principio é evidentemente
relacionado com o fac-simile do evangelho: quem quer salvar sua própria vida a perderá,
e quem a perde, a vive realmente”, confirmado por esta outra passagem: “ E a vós que
credes, quando vos for dito: “vinde à batalha, pela guerra santa” vós ficastes imóveis?
Vós preferistes a vida deste mundo à vida futura”, porque “ vós esperais de nós uma coisa,
recompensa e não os dois supremos, vitória ou sacrifício?”.
Esta outra passagem é digna de atenção: “ a guerra vos foi ordenada, embora vos
desagrade. Mas, qualquer coisa que seja boa para vós pode vos desagradar, e agradar-vos
aquilo que é mau para vós: Deus, disse, então vós nada sabeis”, que é muito próximo de
“eles preferem ficar entre aqueles que sobram: uma marca é gravada em seus corações,
assim eles não o compreendem. Mas o apóstolo e aqueles que crêem com ele e combatem
com aquilo que têm e com a sua própria pessoa, a eles a recompensa – e serão eles que
prosperam – na grande felicidade.”
Aqui temos uma espécie de amor fati, uma intuição misteriosa, uma evocação e
cumprimento heróico do destino, dentro da intima certeza que, quando existe a “intenção
justa”, quando a inércia e a covardia são vencidas, o estimulo vai além da própria vida e
da vida dos outros, além da felicidade e da aflição, guiado no sentido de um destino
espiritual e duma sede de existência absoluta, dando então nascença a uma força que não
falhará o objectivo absoluto. A crise de uma morte trágica e heróica passa a contingência
sem interesse, e que, em termos religiosos é assim exprimida: “ Aqueles que forem mortos
no caminho de Deus (aqueles que morrem em combate na guerra santa), a sua realização
não será perdida. Deus os guiará e disporá de suas almas. Ele os fará entrar no paraíso
que lhes revelou.”
Então o leitor se encontra envolvido por ideias expostas no mais alto e que são
baseadas nas tradições clássicas e nórdico-medievais, no que se refere a uma imortalidade
privilegiada e reservada aos heróis, os únicos que, segundo Hesiodo, habitam as ilhas
simbólicas e onde levam uma existência luminosa e inatingível, à semelhança daqueles
do Olímpio.
Capítulo V
Atingimos o fim deste rápido estudo, consagrado à guerra como valor espiritual,
referindo-nos a uma última tradição do ciclo heróico indo-europeu, aquela do Bhagavad-
Guitá, talvez o mais célebre texto, da antiga sabedoria hindu, essencialmente escrito pela
casta guerreira.
A sua escolha não é arbitrária nem deve nada ao exotismo. Como a tradição
islâmica nos permitirá formular, no universal a ideia de “grande guerra” interior,
contrapartida possível e alma duma guerra exterior, a tradição transmitida pelo texto
hindu nos permite enquadrar definitivamente nosso tema numa visão metafísica.
Num plano mais abrangente, esta referência ao Oriente hindu, ao grande Oriente
heróico e não àquele dos teólogos, dos panteístas humanitários e das velhas damas em
êxtase diante de Gandhi e os Rabindranath Tagore, parece-nos igualmente útil para
rectificar as opiniões e a compreensão supra tradicional que não são os mínimos
objectivos que nós procuramos. Ficamos tempo demais escravos das antíteses artificiais
Oriente/Ocidente: artificiais porque baseadas no ultimo Oriente modernista e materialista,
que afinal, tem pouco de comum com aquele que o precedeu, com a verdadeira e grande
civilização ocidental. O Ocidente moderno é tão oposto ao Oriente como o é ao antigo
Ocidente. Se recuarmos aos tempos antigos, encontramo-nos, efectivamente diante de um
património étnico e cultural largamente comum, e que corresponde logo a uma única
denominação “indo-europeia”.
Agora vamos abordar as tradições que nos dão um exemplo das afinidades de
concepções espirituais comuns, de combate, de acção e de morte heróica, contrariamente
à ideia preconcebida, que, sempre que falarmos da civilização hindu, só pensamos em
nirvana, faquires, evasão do mundo, negação dos valores “ocidentais”, da personalidade,
etc.
Para terminar esta digressão das formas de tradição heróica, tal como nos foi
apresentado por povos e épocas tão diversas, nós acrescentaremos ainda algumas palavras
em jeito de conclusão.
Esta excursão num mundo que pode parecer insólito a alguns e nada tendo a ver
com o nosso mundo, nós não o fizemos por curiosidade nem para exibir nossa erudição.
Nós o fizemos, pelo contrário, no intuito preciso de demonstrar o sagrado da guerra, pois
a possibilidade de justificar a guerra espiritualmente e a sua necessidade, constitui, no
senso mais alto do termo, uma tradição. È algo que sempre esteve e sempre se manifestou,
no ciclo ascendente de todas as grandes civilizações. Porquanto a neurose da guerra, as
propagandas humanitárias e pacifistas, as concessões feitas à guerra como “mal
necessário”, e fenómeno politico ou natural – tudo isto não corresponde a nenhuma
tradição, não é mais que uma invenção moderna, recente, a par da decomposição que
caracteriza a civilização democrática e materialista, contra a qual se afirmam novas forças
revolucionárias.
Neste sentido, tudo aquilo que recolhemos, de fontes tão diversas e com o cuidado
constante de separar o essencial do contingente, o espírito da palavra, possam servir a um
conforto interior, a uma confirmação, a uma certeza aumentada. Não somente o instinto
viril é justificado em termos superiores, mas também a possibilidade de discernir as
formas da experiência heróica que correspondem à nossa mais alta vocação, e se desvenda
bruscamente.
Mas também, devemos recordar que, quando dizemos que o ponto onde a vocação
guerreira atinja realmente um valor metafísico, reflectindo a plenitude universal, dentro
de uma raça, só pode tender a uma manifestação e a uma finalidade igualmente universais,
o que significa: só se pode predestinar esta raça a um império. Pois somente o império,
tal uma ordem superior onde reine a paz triumphalis, reflexo terrestre da soberania do
“supra-mundo”, pode ser comparável às forças, que dentro do domínio do espírito,
manifestam as mesmas características de pureza, de força, de transcendência em relação
a tudo que é pathos, paixão e limites humanos, e que se reflectem nas grandes e livres
energias da natureza.