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MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EVENTOS

EXTREMOS NA AMAZÔNIA: A ENCHENTE DE 2015 NO ACRE

Dr. Rubicleis Gomes da Silva


Professor de Economia Universidade Federal do Acre (UFAC) e Pesquisador Visitante da Escola
de Economia de São Paulo (EESP) – Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Dr. Ângelo Costa Gurgel


Professor de Economia EESP/FGV
e Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).

RESUMO: Os constantes desastres ambientais vivenciados no Estado do Acre estão se tornando


frequentes e com impactos crescentes. O estado vem sofrendo com enchentes e estiagens que a
cada dia tornam-se mais constantes e intensas. A enchente de 2015 trouxe impactos
socioeconômicos sem precedentes na história acreana. Este estudo buscou identificar os impactos
que a enchente de 2015 exerceu sobre a economia, bem como, identificar os setores mais atingidos.
Através de uma matriz insumo-produto inter-regional do Acre elaborada pelo Nereus (Núcleo de
Economia Regional e Urbana) e modificada para este trabalho, foi construído um modelo de
equilíbrio geral computável utilizando-se o Mathematical Programming System for General Equilibrium
Analysis (MPSGE) operando como subsistema do General Algebraic Modeling System (GAMS) para
alcançar os objetivos propostos. Os resultados indicaram um impacto negativo de
aproximadamente 16% do PIB estadual. Sendo a agricultura e pecuária os setores da economia que
mais foram prejudicados.

Palavras-Chaves: Desastres ambientais, enchentes, Acre, equilíbrio geral.

ABSTRACT: The constant environmental disasters experienced in the Acre are becoming
frequent and with increasing impacts. The state has been suffering from floods and droughts that
become more constant and intense each day. The flood of 2015 brought socioeconomic impacts
unprecedented in Acre's history. This study aimed to identify the impacts that the flood of 2015
exerted on the economy, as well as to identify the most affected sectors. Through an Acre
interregional input-output matrix developed by Nereus (Núcleo de Economia Regional e Urbana)
and modified for this work, a computable general equilibrium model was constructed using the
Mathematical Programming System for General Equilibrium Analysis (MPSGE) operating as a
subsystem of the General Algebraic Modeling System (GAMS) to achieve the proposed objectives.
The results indicated a negative impact of approximately 16% of the state GDP. Agriculture and
livestock are the sectors of the economy that suffered the most.

Key Words: Environmental disasters, floods, Acre, CGE and General Equilibrium Analysis
Project.

JEL: Q54, C68, D62.

1
1. INTRODUÇÃO

A região Amazônica está presente em nove países (Brasil, Peru, Bolívia, Equador,
Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa). A Amazônia brasileira representa
61% do território brasileiro e compreende uma área de 5.033.072 km2, é composta por dez estados:
Pará, Amazonas, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, Acre, Amapá, Tocantins, Rondônia e Roraima
(Brasil, 2017).
O Estado do Acre está situado no extremo sudoeste da Amazônia brasileira, entre as
latitudes de 07º07’S e 11º08’S e as longitudes de 66º30’W e 74ºWGr. Sua superfície territorial é de
164.123,7 km2, correspondendo a 3,9% do território amazônica brasileiro e a 1,8% do território
nacional, tendo como capital Rio Branco, cuja área é de 9.962 ,40 km 2. Atualmente a população do
Acre estimada é de 816.687 habitantes, perfazendo uma densidade populacional de
aproximadamente 5 hab/km2.
Os desastres econômicos ambientais em decorrência a variações climáticas estão se
tornando intensos e de grande impacto econômico social. O tsunami da Indonésia em 2004,
furacão Katrina, o terremoto da Caxemira e a seca da Amazônia em 2005; o ciclone Nargis em
Miamar em 2008 e o terremoto do Haiti em 2010 são catástrofes ambientais de dimensões
expressivas.
Em se tratando do Acre, observa-se impactos negativos em sua economia em função de
variações climáticas intensas, extremas e frequentes. No tocante às enchentes, o estado viveu em
3 anos duas grandes catástrofes em decorrência de um aumento expressivo das chuvas, sendo os
ápices as enchentes de 2012 e 2015.
Por sua vez, as queimadas que em grande parte são de origem da forte estiagem que atinge
o estado, tiveram suas maiores expressões nos anos de 2005, 2015 e 2016, que conforme o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2016), apresentaram respectivamente, as seguintes
quantidades de focos de calor: 29.081, 24.559 e 38.460 1.
Além de constantes e intensos, os impactos ambientas trazem à sociedade e à economia
inúmeros prejuízos, tornando sua mensuração uma tarefa extremamente difícil. O ápice das
catástrofes ambientais foi a enchente de 2015, que conforme Acre (2015) foi a mais intensa e de
maior impacto social em toda a história do estado. O rio Acre atingiu a cota de 18,40cm. Por sua
vez, a estiagem de 2016 foi sem precedente histórico, o rio Acre atingiu a cota de 1,30 cm isto
representou uma variação negativa de aproximadamente 93% na cota do rio.

1
Para contagem dos focos de calor, utilizou-se a opção de detecção por todos os satélites. Em relação ao ano de
2016, a quantidade de focos diz respeito ao período de 01/01/2016 até 25/09/2016.

2
Em relação à alagação de 2015, a mesma aconteceu nos rios Acre, Iaco e Tarauacá,
atingindo nove municípios: Rio Branco, Porto Acre, Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia, Assis Brasil,
Sena Madureira e Tarauacá. Os prejuízos difundiram-se entre o meio urbano e rural. As
externalidades negativas foram gigantescas e sem precedentes.
As enchentes de 2015 impactaram de forma severa a economia acreana. A agricultura e
pecuária concentram sua maior participação relativa nos municípios atingidos e estes apresentam
grande dinamismo na economia estadual. Além disso, os demais setores da economia encontram-
se presentes com maior intensidade nestes municípios.
Os municípios atingidos pela enchente de 2015 detiveram 76,75% do PIB2 estadual em
2014. Dentro deste cenário é possível observar a grandiosidade do impacto deste fenômeno natural
sobre a economia em função da área alagada.
No tocante aos aspectos ambientais, o início do século XXI trouxe ao Acre inúmeros
problemas. As queimadas, o desmatamento, as secas e enchentes constantes, trouxeram à realidade
acreana uma nova perspectiva. O meio ambiente e as externalidades negativas do processo
produtivo começaram a impactar de forma intensa sobre a economia e sociedade.
O relatório de avaliação de danos e prejuízos na área rural ilustra a dimensão do impacto
da enchente de 2015 sobre o Estado do Acre.

A enchente de 2015 foi a mais rigorosa e de maior impacto social em toda


a história das cheias dos rios do Acre. A alagação aconteceu nos rios Acre,
Iaco e Tarauacá, atingindo nove municípios: Rio Branco, Porto Acre,
Xapuri, Epitaciolândia, Brasiléia, Assis Brasil, Sena Madureira e Tarauacá.
(...) as prefeituras de Rio Branco, Xapuri, Brasiléia e Tarauacá decretaram
Estado de Calamidade Pública todos homologados pelo governo estadual
e reconhecidos pelo Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional de
Defesa Civil do Ministério da Integração. O mesmo procedimento
ocorreu com os decretos de Situação de Estado de Emergência dos demais
municípios afetados pelas enchentes. Os danos estenderam-se aos espaços
urbano e rural. Mas as alagações nas planícies de inundação afetaram,
como nunca acontecera, as populações ribeirinhas. Os prejuízos foram
enormes, sem paralelo, na situação das comunidades que habitam as
margens dos rios. (Acre, 2015, p.08)

Em um contexto em que um desastre ambiental sem precedentes na história acreana causou


inúmeras externalidades negativas, esta pesquisa busca responder ao seguinte problema: quais
impactos a economia acreana incorreu em função das enchentes ocorridas no ano de 2015?

2
A economia do Estado do Acre apresentou no período de 2008 a 2012 uma participação no Produto Interno Bruto
Brasileiro (PIB) correspondente a 0,2%, ou seja, aproximadamente R$ 12,2 bilhões, o setor de serviços possui a
maior participação no PIB com 36,8%, a agropecuária detém 10,31% e a indústria 9,70%.

3
Informações quantitativas derivadas de modelos de simulação econômica são fundamentais
para a sociedade e aos gestores de políticas públicas, pois permitem realizar um mapeamento dos
setores econômicos mais impactados, bem como, identificar a magnitude econômica dos eventos.
Modelos de equilíbrio geral computável, em particular, permitem capturar os efeitos sistêmicos de
choques econômicos sobre variáveis microeconômicas e macroeconômicas, por considerarem as
transações entre agentes econômicos nos mercados de bens e serviços e de fatores de produção.
Este trabalho objetiva identificar a magnitude econômica do impacto da enchente em 2015
no Estado do Acre através de um modelo econômico de simulação. Especificamente, objetiva-se:
a) identificar os macroimpactos sobre a economia e b) identificar quais setores da economia
sofreram maior influência.
No tocante ao Brasil, Ribeiro et. al. (2014) investigaram o custo econômico da enchente
ocorrida em Santa Catarina entre os meses de novembro a dezembro de 2008. Os autores utilizaram
o método de controle sintético para identificar o impacto das chuvas na produção industrial do
estado. Concluíram que até o final de 2010, a produção industrial mensal foi 5,13% menor do que
seria caso a enchente não tivesse acontecido.
Especificamente, em se tratando de equilíbrio geral computável, Haddad e Teixeira (2015),
determinaram os custos associados aos alagamentos da cidade de São Paulo. Os pesquisadores
concluíram que as alagações contribuem para redução do PIB estadual e nacional em 0,021% e
0,0056% respectivamente. Destacaram também, que quanto maior o raio de abrangência das
enchentes urbanas, maior é o impacto econômico.
Seluck e Yeldan (2001) analisaram o impacto econômico do terremoto de 17 de agosto de
1999 na Turquia, através de modelos de equilíbrio geral computável. Os resultados das simulações
indicaram que o impacto inicial do terremoto variou entre -4,5% a 0,8% do PIB. Os autores
propuseram a utilização de subsídios para os setores mais afetados pelas catástrofes, objetivando
recuperar as perdas de capital.
Na próxima seção documenta-se o desastre ambiental da enchente do Rio Acre em 2015.
Na terceira, a metodologia utilizada é apresentada, em seguida apresenta-se os resultados e
discussões e por fim, as conclusões.

4
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ATINGINDA PELA ENCHENTE DE 2015

A enchente de 2015 atingiu o Estado do Acre através da bacia do Purus e do Juruá. A


Figura 1 fornece uma dimensão espacial das bacias, rios e municípios atingidos. A bacia do Purus
possui como sub-bacias a bacia do rio Acre e Iaco. Os municípios pertencentes a estas bacias e que
foram afetados pela cheia detém 73,84 % do PIB e 62,88% da população estadual. O rio Tarauacá
pertence à bacia do Juruá e corta os municípios de Tarauacá e Jordão. Contudo, apenas Tarauacá
foi atingida pela enchente. Este município detém 2,88% do PIB estadual e sua população representa
4,82% do estado.

Fonte: Elaborado pelos autores.


Figura 1. Dimensão espacial dos municípios e rios atingidos pela enchente em 2015 no Estado do
Acre – Amazônia - Brasil.

5
A bacia do rio Acre assume grande relevância, pois concentra os municípios que
apresentam maior nível de desenvolvimento estadual. Esta bacia nasce no Peru, atravessa o estado
no sentido Sul\Norte e deságua no Rio Purus, no município de Boca do Acre, Estado do
Amazonas, percorrendo um trajeto de aproximadamente 1.190 quilômetros. No Acre, banha os
municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri, Capixaba, Rio Branco e Porto Acre.
O processo de desenvolvimento acreano possui como núcleo central a região da bacia do
Rio Acre. Esta bacia é uma importante fonte de grande dimensão de fornecimento de água potável
para a população e para as atividades econômicas. Assim, verifica-se com bastante ênfase, que esta
bacia apresenta grande relevância no processo de crescimento e desenvolvimento econômico
estadual.
Durante o processo de desenvolvimento histórico, social e econômico do estado a
preocupação ambiental com este ativo e seus serviços não esteve em sintonia com sua importância.
A falta de políticas públicas específicas em conjunto com a ocupação desordenada das áreas
alagáveis potencializa os efeitos das enchentes.

2.2. Desastres ambientais e o Estado do Acre

Desastres ambientais no Estado do Acre tornaram-se uma rotina. A poluição do ar em


função de queimadas incontroláveis praticadas no Acre, Rondônia, Mato Grosso, Peru e Bolívia,
ano após ano, impõe à sociedade severos impactos negativos durante o verão amazônico. Silva et.
al. (2006) identificaram existência de diferença de médias entre a quantidade de doenças
respiratórias no período de queimadas e não queimadas. Além disso, encontraram evidências de
externalidades espaciais negativas entre focos de queimadas e doenças respiratórias.
Especificamente, em relação as enchentes, observa-se que estão adquirindo grande
relevância no contexto estadual e nacional. O Acre (2015) destacou que nas últimas décadas, o
estado vem vivenciando enchentes nos seus rios social e economicamente mais relevantes: o rio
Acre, o Purus, o Juruá, o Tarauacá, e o Iaco. A natureza dá sinais de mudanças profundas. Mudou
o regime dos rios tornando o comportamento das cheias imprevisível. Como forma de ilustrar o
Acre (2015, p. 08) salienta que:

Em Rio Branco, a cota de transbordamento do Rio Acre é 14,0 metros.


Em 1988, atingiu 17,12 m, em 1997, alcançou 17,66 m, em 2006, 16,72 m
e em 2012, 17,64 metros. Neste ano de 2015, a enchente atingiu a incrível
cota de 18,40 metros. As três primeiras enchentes citadas ocorreram

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num ciclo de 9 anos. A de 2012, seis anos e a que estamos vivendo,
neste ano de 2015, aconteceu apenas três anos depois.
A causa imediata das enchentes está no regime de chuvas que resulta do
aumento de temperatura na atmosfera. Então o procedimento
fundamental para reduzir as chuvas e as enchentes é a contenção do efeito
estufa e o resultante controle da queda do aquecimento o que demanda
largo, muito largo, tempo. Sem embargo, as práticas que conduzem a esse
resultado devem ser instituídas, sistemáticas, persistentes e efetivas.

Para ter-se a dimensão das chuvas que ocasionaram a enchente de 2015 é interessante
destacar o ocorrido em Assis Brasil, no dia 18 e 19 de fevereiro e nos dias seguintes ao longo dos
municípios atingidos, Buffon et. al. (2015) destacaram que:

...uma chuva de mais de 236mm, quase igual ao total mensal, em apenas


14 horas, dando início a elevação dos níveis do rio na região. (...). Após as
chuvas registradas nos dias 18 e 19 de fevereiro, o nível do rio Acre
em Assis Brasil elevou mais de 9 metros em 24h, atingindo
rapidamente a cota de transbordamento. No dia seguinte, a onda de cheia
se propagou até Brasiléia e Epitaciolândia, provocando também o
transbordamento do rio no local.
No dia 21/02 o nível do rio Acre em Xapuri atingiu a cota de
transbordamento e no dia 22/02 atingiu a cota de transbordamento em
Rio Branco.
...
No dia 24/02 o rio Acre atingiu o pico da cheia em Brasiléia,
alcançando um valor histórico de 1555cm, sendo este valor superior
em mais de 1 metro ao máximo já registrado anteriormente
(1426cm), que ocorreu em 2012, resultando em mais de 4 metros
acima da cota de transbordamento (1140cm).
No dia 27/02 o rio Acre atingiu o pico da cheia em Xapuri,
alcançando um valor histórico de 1830cm. Tal cota encontra-se
mais de 2,5 metros acima do máximo histórico registrado
anteriormente (1571cm), que ocorreu em 1978, e quase 5 metros
acima da cota de transbordamento (1340cm).
No dia 04/03 o nível do rio Acre em Rio Branco atingiu a cota de
1841cm, máximo histórico registrado. Mais que 70 centímetros
acima do máximo já registrado anteriormente (1766cm), que
ocorreu em 1997, e mais 4 metros acima da cota de transbordamento
(1400cm).
Em Rio Branco, após o dia 04/03, a vazante do rio Acre foi extremamente
lenta em comparação com os registros anteriores. Estima-se que foi
devido as constantes chuvas intensas que ocorreram e provocaram
repiquetes nas estações de montante, além de uma possível influência do
represamento provocado pelos altos níveis também no rio Purus onde o
rio Acre deságua.

7
A Figura 2 indica a diferença percentual de precipitações pluviométricas (mm) em 2015
comparada com a média3 histórica mensal. Observe que os meses de março, abril e maio de 2015
apresentaram variação crescente e extrema em relação à média histórica. Especificamente, o mês
de junho de 2015 apresentou uma variação do índice pluviométrico de 147,44% em relação à média
de 103,7 mm.

200,00

150,00

100,00

50,00

0,00

-50,00

-100,00
Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Variação % 3,58 -10,66 33,63 114,56 147,44 -4,91 -73,24 -4,03 -11,61 -39,91 40,51 -71,39

Fonte: Elaborado a partir de Buffon et. al. (2015) e PMRB (2016)


Figura 2. Variação percentual no nível pluviométrico (mm) do rio Acre mensal de 2015 em relação
à média histórica.

Os prejuízos setoriais com a destruição de capital na agricultura e pecuária4 são descritos


na tabela 2. Rio Branco foi o município que sofreu os maiores danos. Estas estimativas são
conservadoras retratando somente o impacto da perda de capital no momento do evento extremo.
É negligenciada a perda de produtividade da terra, do trabalho, do capital e os impactos negativo
sobre a produtividade futura.

3
A cotação de dezembro de 2015 está considerando apenas os primeiros 15 dias do ano.
4
O relatório de danos apresenta a destruição de capital apenas da agricultura e pecuária. Não foram elaboradas
estimativas dos demais setores da economia.

8
Tabela 1. Prejuízos ocasionados pela enchente de 2015 na agropecuária dos municípios acreanos.
Municípios Agricultura % Pecuária % Total %
Rio Branco 62,276,232 47.79 9,240,146 58.98 71,516,378 48.99
Tarauacá 19,441,721 14.92 1,708,119 10.90 21,149,839 14.49
Porto Acre 11,681,937 8.96 652,597 4.17 12,334,533 8.45
Sena Madureira 6,226,809 4.78 1,838,426 11.74 8,065,235 5.53
Capixaba 5,872,390 4.51 239,256 1.53 6,111,646 4.19
Xapuri 6,315,513 4.85 858,074 5.48 7,173,586 4.91
Brasileia 3,343,343 2.57 449,300 2.87 3,792,643 2.60
Epitaciolândia 4,431,705 3.40 455,658 2.91 4,887,363 3.35
Assis Brasil 10,718,676 8.23 224,293 1.43 10,942,969 7.50
Total 130,308,324 100.00 15,665,869 100 145,974,193 100.00
Fonte: Acre (2015).

A Prefeitura Municipal de Rio Branco (2016) estimou que as enchentes de 1988, 1997, 2006,
2012, 2013 e 2014 impuseram ao município impactos econômicos de R$ 549 milhões. Nestes anos,
51 mil famílias foram desabrigadas e em 2015, 25 mil ou aproximadamente 35% da população
municipal. Estas estimativas são conservadoras e negligenciam impactos sobre outros municípios,
perdas de produtividade dos fatores de produção e outros impactos correlatos.

3. METODOLOGIA
3.1. Modelo estático de equilíbrio geral

Conforme destacaram Sadoulet e de Janvry (1995) modelos de equilíbrio geral computável


(MEGC) são baseados na estrutura socioeconômica de uma matriz de contabilidade social (MCS)
ou de insumo produto (MIP), com a sua desagregação multisetorial e multiclasse. São modelos
multimercado em que as decisões dos agentes são sensíveis aos preços e os mercados harmonizam
as decisões da oferta e demanda. Os MEGC abrangem um conjunto de variáveis macroeconômicas,
como o investimento e poupança, balança de pagamentos, e orçamento do governo. Estes modelos
são comumente utilizados para identificar:
a. Choques externos, tais como mudanças adversas nas condições de comércio;
b. Mudanças nas políticas econômicas; e,
c. Mudanças na estrutura econômica e social nacional.
No entanto, a crescente relevância da questão ambiental, conduziu os MEGC a uma nova
fronteira. Neste sentido, pode-se destacar ao menos duas novas linhas de aplicação, que são:

a. Avaliações econômicas de mudanças climáticas sobre setores da economia; e,


b. Avaliações econômicas de desastres ambientais.

9
No tocante à estrutura dos MEGC os mesmos podem ser delineados através da
especificação dos agentes econômicos e suas preferências, as regras que conduzem diferentes
mercados ao equilíbrio e as suas caraterísticas macroeconômicas.
Rutherford e Paltsev (1999) salientaram que um modelo estático de equilíbrio geral
(MEEG) mostra a produção e distribuição de bens e serviços na economia em um período
definido.
Em um MEEG, o número de consumidores é determinado, cada um possui uma dotação
inicial com N commodities, um conjunto de preferências é definida ex-ante resultando em funções de
demanda para cada commodity, os agentes são racionais e a demanda de mercado é a agregação das
demandas individuais. Frequentemente, um agente representativo é utilizado objetivando descrever
a demanda de mercado e dotações dos fatores. Por sua vez, a demandas por commodities dependem
do vetor de preços. As firmas são representadas por uma tecnologia de produção que transforma
fatores em produtos e são maximizadoras de lucros.
As funções de demanda utilizadas são homogenias de grau zero, possibilitando assim a
maximização da utilidade dos consumidores. Por sua vez, é considerada homogeneidade linear dos
lucros em relação aos preços e o nível de preço absoluto não tem impacto no resultado de
equilíbrio, afastando assim a hipótese de ilusão monetária.
O equilíbrio ocorre em função do ajustamento automático do vetor de preços e níveis de
produção setorial, de forma a igualar a oferta a demanda para todas as commodities. Os produtores
maximizam lucros e sua função de produção apresenta retornos constantes à escala.
No modelo desenvolvido neste trabalho, cada setor i e j de produção (Y), produz três tipos
de commodities: produtos domésticos (D), exportáveis para o exterior (E) e exportáveis para outros
estados brasileiros (RE). Assumiu-se a hipótese de substituibilidade imperfeita entre os bens
produzidos e a elasticidade de transformação é constante. A função de produção setorial é dada
por:

𝑌𝑖 = 𝑔(𝐷𝑖 , 𝐸𝑖 , 𝑅𝐸𝑖 ) = f(𝐾𝑖 , 𝐿𝑖 , 𝐴𝑗𝑖 ) (01)

Na expressão (01), g representa a função de transformação do produto e f é a função de


transformação dos fatores. As variáveis K, L e A corresponde respectivamente ao capital, trabalho
e bens intermediários.
A combinação entre insumos intermediários e o valor adicionado (agregado de K e L) é
representada por uma função Leontief (LF) e o valor adicionado combina K e L através de uma
função Cobb-Douglas.

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A combinação de fatores intermediários utilizados pelo setor i a partir de bens do setor j é
representado por uma agregação de Armington entre bens domésticos (D) e importados (M) dada
por:

𝐴𝑗𝑖 = 𝐶𝐸𝑆(𝐷𝑗 , 𝑀𝑗 ) (02)

Seguindo Rutherford e Paltsev (1999) a agregação de Armington entre bens domésticos e


importados foi utilizada para o consumo privado, governamental, investimentos e os fatores de
produção intermediários. O investimento e o consumo do governo foram representados por uma
função do tipo LF, ou seja, que combina os diferentes bens e serviços em proporções constantes.
O agente representativo possui dotação de capital e mão-de-obra. Utiliza sua renda para
financiar os investimentos (renda alocada para poupança), gasta com a compra de bens privados e
governamentais, e recebe a receita dos impostos aplicáveis. O investimento e a produção do setor
governamental são exógenos e a demanda privada é determinada pelo comportamento de
maximização da utilidade.
O modelo descrito segue a formulação de Arrow-Debreu e pode ser resolvido como um
problema de complementaridade mista (MCP), em que três condições de desigualdades devem ser
satisfeitas:
a. condição de lucro zero (custo unitário igual ao preço do produto);
b. condição de equilíbrio nos mercados (oferta igual a demanda) e,
c. condição de balanço da renda (despesas iguais às receitas).
A solução do MCP conduz a três variáveis não negativas: a. preços; b. quantidades e c.
níveis de renda. Para maiores detalhes, ver Gurgel (2009).
Na função de produção setorial considerou-se que os fatores de produção são específicos
a cada setor produtivo, logo, não há mobilidade desses fatores entre setores. Isso permite refletir
melhor a situação do choque que se deseja implementar, de evento extremo, em que não há
possibilidade de realocação de fatores entre setores econômicos por conta do imediatismo do
evento.
Optou-se por assumir, como fechamento macroeconômico do modelo, o equilíbrio entre
investimento e poupança e o pleno emprego dos fatores na economia. As remunerações dos
fatores, portanto, é variável. O fechamento neoclássico impede que variações no investimento
mitiguem os impactos das enchentes. Ainda, pelo lado da demanda agregada, assume-se que os
gastos públicos e os saldos das balanças de comércio inter-regional e internacional são exógenos,
o que impede mudanças no tamanho da atividade pública e mantém a taxa de câmbio flexível para
acomodar mudanças nos fluxos comerciais.

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3.2. Os choques no modelo

Modelos de equilíbrio geral necessitam de informações oriundas de levantamentos


governamentais ou privados, tanto para a construção do equilíbrio inicial representado na
economia, quanto para a formulação dos choques a serem aplicados no modelo. Especificamente,
neste caso, a determinação dos choques relacionados aos efeitos de enchentes deve partir das
informações provenientes de levantamentos governamentais. Deve se reconhecer que nem sempre
os levantamentos sobre catástrofes da natureza aqui estudada captam todos os danos no estoque
de capital e na produtividade atual e futura dos fatores de produção. Em função disso, elaborou-se
hipóteses simplificadoras da realidade, que permitem uma aproximação plausível dos danos
incorridos.
Dois choques simultâneos foram efetivados. O primeiro é denominado de destruição de
capital e utilizou dados disponíveis no Acre (2015). Este relatório quantificou o valor das perdas
de capital na agricultura e pecuária (instalações agropecuárias, estradas, residências, cercas rurais,
pastagens...).

O relatório apontou que aproximadamente 146 milhões de reais foram destruídos. Esse
nível de redução no estoque de capital foi aplicado no modelo como uma redução equivalente na
dotação do fator capital, em posse do agente representativo (famílias) do estado. Isso equivale a
uma perda na capacidade de uso de parte deste fator, equivalente ao apurado pelo Acre (2015). A
este montante foi adicionado as perdas5 de capital em decorrência da destruição dos bens das
famílias e de suas unidades habitacionais que foram estimados por Dorman (2016) e foram
implementados no MPSGE/GAMS da seguinte forma:

𝑑
𝑐𝑖 = 𝑘𝑖 , (01)
𝑖

em que:
ci é o coeficiente de choque i em 2015;
di é o valor da destruição de capital em R$ no setor i em 2015;
ki corresponde ao estoque de capital em R$ no setor i em 2015; e,
i representa atividade econômica que sofreu a perda de capital.

5
Neste trabalho foram estimados valores em intervalos. Para fins de impacto em nosso modelo utilizou-se o valor
médio da destruição dos bens e unidades habitacionais.

12
Vale ressaltar que esse choque é aplicado no modelo na forma de redução na dotação do
serviço de capital fornecido pelas famílias, ou seja, a destruição do capital diminui a disponibilidade
de serviços de capital a serem utilizados pela economia e, consequentemente, a renda oriunda do
mesmo que compõe a receita das famílias.
O segundo choque é denominado choque de produtividade e foi implementado através da
redução da produtividade trabalho. Para que o modelo capture essa perda de produtividade, o
coeficiente rid é multiplicado ao parâmetro de produtividade do fator em questão no setor em que
é usado. Isso representa um aumento na necessidade de uso daquele fator para se obter o mesmo
nível inicial de produção, o que na prática, significa uma perda de produtividade (ou aumento de
custo unitário) do fator. Esta redução foi estimada por:

(02)

em que:
ri,d é a perda da produtividade da dimensão d - capital ou trabalho no setor i em R$;
xi é o valor em R$ vinculado à dimensão d em análise do setor i;
ndu é a quantidade de dias úteis em que os municípios ficaram inundados;
n é a quantidade de dias úteis em 2015;
p é a participação relativa dos municípios atingidos pela enchente no PIB do Acre; e.
d é um índice que representa o fator avaliado, capital ou trabalho.

O choque na produtividade do trabalho representa uma redução da produtividade deste


fator na função de produção de cada setor da economia.
Os dois choques implementados neste trabalho seguem trabalhos similares. O choque na
produtividade do trabalho foi implementado por Haddad e Teixeira (2015) e o choque sobre a
redução do estoque de capital foi implementado por Seluck e Yeldan (2001). Uma última ressalva
sobre os choques é que a estratégia de implementação dos mesmos procura traduzir para o modelo
econômico da forma mais próxima possível os principais problemas oriundos do evento extremos
enchente, que são a destruição do capital (choque na dotação deste fator) e a perda de produtividade
do trabalho (choque na função de produção).

13
3.3. Fonte de dados

A Matriz de Insumo Produto (MIP) que foi utilizada para a construção do modelo de
equilíbrio geral, foi disponibilizada pelo Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade
de São Paulo (NEREUS/USP), possuindo uma dimensão de 26x26. A MIP construída pelo
NEREUS/USP foi estimada a partir dos dados preliminares das Contas Nacionais. As análises das
matrizes estimadas são igualmente válidas em relação às MIPs elaboradas pelo IBGE (Guilhoto e
Sesso Filho, 2005; 2010).
A matriz disponibilizada pelo NEREUS foi atualizada pelo deflator implícito do PIB para
o ano de 2014 e foi agregada em 10 setores: 01 -Agricultura, silvicultura, exploração florestal; 02 -
Pecuária e pesca; 03 – Construção; 04 – Comércio; 05 - Serviços privados; 06 - Serviços imobiliários
e aluguel; 07 - Educação mercantil e pública; 08 - Saúde mercantil e pública; 09 - Administração
pública e seguridade social e 10 – Demais setores da economia. Os nove primeiros setores
representaram em 2014, 82,50% do PIB.
No tocante às elasticidades de substituição entre bens domésticos e internacionais foram
utilizadas as constantes em Porsse (2008) em função do modelo construído pelo autor apresentar
características semelhantes a este.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados apresentados nas próximas subseções são uma primeira tentativa de captar
os impactos econômicos decorrentes de um evento extremo, através de um modelo estático que
captura a fotografia da economia da região em um dado ano. Dessa forma, consideram os danos
causados por esse evento no momento do mesmo, associados à destruição ou limitação no uso dos
fatores capital e trabalho. Nesse sentido, não consideram os investimentos necessários para
recuperação da normalidade das atividades econômicas, mas sim os prejuízos nessas atividades
decorrentes da interrupção ou limitação das mesmas. Os impactos sofridos pela economia serão
divididos em dois blocos, no primeiro será apresentado os macros efeitos sobre a economia com
ênfase às agregações macroeconômicas e a segunda seção fará uma exposição analisando os setores
da economia acreana.

14
4.1. Macroimpactos da enchente de 2015 sobre a economia acreana

Esta seção avalia os macroimpactos que a economia sofreu com a ocorrência da enchente
de 2015. A Tabela 2 mostra as principais variáveis macroeconômicas antes e pós enchente. A
variação equivalente6 corresponde a uma medida de bem-estar e indicou que houve uma redução
no consumo de 39,24%, o que representou em termos absolutos uma perda de aproximadamente,
R$ 2.2 bilhões.
A redução de bem-estar das famílias correspondeu a aproximadamente 16,60% do PIB
estadual. Um dos fatos que contribuiu para justificar este grande impacto reside no fato de que o
vetor de crescimento urbano das cidades atingidas pela enchente ocorre ao longo dos rios.
Tornando assim, vários municípios extremamente vulneráveis a enchentes, que acabam por
destruir ou tornarem inutilizável parte do capital privado e da infraestrutura pública localizada nas
regiões alagadas.
A produção total da economia é composta pela produção doméstica para exportação
internacional e regional. Houve uma redução de 10,52% na produção agregada, representando
perdas de R$ 1,66 bilhões. Estas perdas expressivas ocorreram em função dos municípios atingidos
deterem 76,72% do PIB estadual e, consequentemente, possuírem o maior número de indústrias,
instalações agropecuárias, comércios, estruturas públicas e bancárias. Além disso, houve redução
da produtividade do capital e trabalho e destruição de capital.
Optou-se por analisar o comércio inter-regional, pois o comércio internacional
representou menos que 1% do fluxo comercial do estado em 2014. Houve uma redução expressiva
do fluxo comercial inter-regional de aproximadamente R$ 620 milhões. O comércio inter-regional
é fundamental para o Acre, pois a indústria acreana não atende as necessidades estaduais e além
disso, os itens exportáveis das atividades pecuária e madeireira constituem o pilar das exportações
do estado.
As importações inter-regionais apresentaram redução de 16,20%. Este fato ocorreu, pois
a enchente gerou uma redução da renda dos agentes econômicos, provocando redução das
importações. Por sua vez, as exportações regionais tiveram redução em função do choque na oferta.

6
A variação equivalente foi calculada utilizando como proxy de bem-estar do consumo das famílias e das
instituições sem fins lucrativos.

15
Tabela 2. Variáveis macroeconômicas pré e pós enchente no Estado do Acre em 2015

R$
Variáveis Variação %
Base Simulação
Variação Equivalente 5,533.35 3,361.90 -39.24
Produção Total 15,770.13 14,111.10 -10.52
Exportações Regionais 2,299.49 2,064.15 -10.23
Importações Regionais 2,393.15 2,005.47 -16.20

Observação: Em milhões de reais.


Fonte: Resultado da Pesquisa.

A Tabela 3 mostra a variação de diversos índices de preços relativos da economia acreana.


O índice de preço doméstico (IPD) sofreu uma variação média de 87,25%, por conta da redução
mais acentuada da oferta interna do que da demanda. O índice de preço regional (IPR) apresentou
aumento de 67,80%, indicando que o comércio inter-regional pós-enchente tornou-se
relativamente mais caro. A redução mais acentuada das importações contribui para acentuar este
aumento dos preços relativos. O índice de preço internacional (IPI) seguiu o mesmo
comportamento. No entanto, o impacto do IPI sobre o bem-estar da sociedade é bem inferior ao
IPR, pois as transações representam pequena parcela das relações comerciais acreanas.

Tabela 3. Índices de preços relativos antes e depois da enchente no Estado do Acre em 2015

Variáveis R$ Variação
Base Simulação %
Índice de Preços Domésticos - IPD 1.00 1.87 87,25
Índice de Preços Regional - IPR 1.00 1.68 67,80
Índice de Preços Internacional - IPI 1.00 1.42 42,30
Fonte: Resultado da pesquisa.

Um aspecto pouco explorado na análise de eventos extremos é a decomposição das perdas


em função da destruição de capital e redução da produtividade. Em um primeiro momento, a
destruição de capital é o aspecto que chama mais atenção dos atores sociais e das políticas públicas.
Contudo, a redução da produtividade dos fatores contribui de forma robusta para aumentar os
impactos negativos.
A tabela 4 mostra que a variação no bem-estar social (variação equivalente) foi fortemente
influenciada pela redução da produtividade, pois a mesma contribuiu com 64,91% da redução do
bem-estar. Em menor escala, este comportamento foi seguido pela produção total. No comércio
inter-regional, observou-se que a destruição de capital apresentou maior expressão. Isto ocorreu

16
em função da agricultura e pecuária serem os setores com maior participação relativa e absoluta
nas exportações e importações regionais.

Tabela 4. Decomposição das perdas econômicas em macrovariáveis selecionadas em função das


enchentes no Acre, 2015.
Perdas em R$
Variáveis Total
Destruição Produtividade
Variação Equivalente -761.97 -1,409.49 -2,171.45
% 35.09 64.91 100.00
Produto Total -784.24 -874.79 -1,659.03
% 47.27 52.73 100.00
Exportações Regionais -133.73 -101.61 -235.33
% 56.82 43.18 100.00
Importações Regionais -285.87 -101.82 -387.69
% 73.74 26.26 100.00
Fonte: Resultado da pesquisa.

4.2. Impactos setoriais sobre a economia

A Figura 3 indicou que a agricultura foi a atividade econômica que mais sofreu com as
enchentes. A redução da produção foi de aproximadamente 20,5%. Em termos absolutos, houve
uma redução de R$ 350 milhões. Dois motivos ajudam a compreender esta elevada perda. O
primeiro consiste na elevada destruição de capital, que na agricultura familiar (predominante no
Acre) assume importância singular. Além disso, a produtividade da mão-de-obra foi impactada de
forma intensa, e este fator é usado de forma intensiva em vários setores agropecuários da região.
A perda da pecuária foi de 14%, o que representou aproximadamente R$ 96,5 milhões, em
termos absolutos. Estas perdas foram inferiores as da agricultura, porém, expressiva visto que esta
atividade desempenha relevante papel na economia acreana em função das exportações regionais
de carne e fornecimento de insumos para a indústria de laticínio e frigoríficos locais.
O setor de comércio foi também atingido de maneira expressiva, pois teve uma redução no
valor de sua produção R$ 265,6 milhões, o que representa 13,9% do valor de produção setorial.
Em municípios como Brasileia o comércio foi integralmente destruído. A interdependência entre
as atividades econômicas intensifica os impactos negativos em períodos de ocorrência de eventos
extremos. A destruição de grande parte da produção agrícola e pecuária reforçou o impacto
negativo sobre o comércio.
Dois setores adicionais merecem especial atenção nesta análise. O primeiro é o setor de
saúde mercantil e pública (SMP). Este setor foi impactado de forma negativa com perdas de
aproximadamente 7%. Em períodos de ocorrência de eventos extremos, existe uma pressão natural

17
sobre este setor. Mas especificamente, neste caso, o impacto direto ocorreu em função da
destruição de hospitais e postos de saúde, principalmente em Brasileia e Xapuri, capturados no
choque aqui aplicado na forma de perda de produtividade no setor e redução na infraestrutura
(capital). A perda de produtividade do trabalho na saúde decorre da ausência do servidor, que não
consegue chegar ao seu local de trabalho. Esta perda assume maior relevância relativa nos
municípios que tiveram elevada proporção de área alagada.
A educação mercantil e pública (EMP) apresentou perda de 4,8%, o que reflete o fato de
que escolas foram destruídas, aulas foram suspensas e além disso, um conjunto de escolas foram
utilizadas como abrigos temporários. Em Rio Branco 21 escolas foram utilizadas e aos menos 30
foram alagadas. Em uma estimativa conservadora, mais de 50 escolas suspenderam suas atividades
acadêmicas.
Os serviços privados (SPR) apresentaram uma redução de aproximadamente R$ 154
milhões. Muito embora não seja um setor com grande expressão na economia do estado, este setor
sintetiza os impactos indiretos de outros setores, pois o dinamismo deste setor retrata o nível de
atividade econômica estadual. Um fator que contribuiu para mitigar o impacto negativo no setor
privado é seu alto nível de envolvimento com o setor público. E o setor público representa
aproximadamente 35% do PIB estadual.
Especificamente em relação à administração pública, observou-se que o impacto direto
correspondeu a aproximadamente 2,40% do valor da sua produção setorial, constituindo-se,
aparentemente o setor econômico com menor impacto. Contudo, não se pode confundir
administração pública com todas as atividades do setor público. Parte dos custos incorridos pelo
setor público estão internalizados nos setores de educação e saúde, setores estes que possuem o
setor público como principal protagonista.

18
3.500,00 25

3.000,00
20
2.500,00

2.000,00 15

1.500,00
10
1.000,00

500,00 5

-
0
(500,00)

(1.000,00) -5
AGR PEC CON COM SPR SIM EMP SMP APU DSE
Base 1.701,49 689,68 1.288,97 1.911,75 1.236,82 1.140,31 1.512,12 743,02 3.168,40 2.377,59
Simulação 1.351,59 593,06 1.240,03 1.646,09 1.082,73 977,45 1.439,49 691,32 3.092,73 1.996,61
Impacto R$ -349,89 -96,62 -48,94 -265,66 -154,08 -162,86 -72,63 -51,71 -75,66 -380,99
Impacto % 20,564 14,009 3,797 13,896 12,458 14,282 4,803 6,959 2,388 16,024

Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos resultados da pesquisa.

Observação: em R$ 1.000.000,00
Legenda: AGR – Agricultura; PEC-Pecuária; COM – Construção; SPR- Serviços Privados; SIM – Serviços Imobiliário
e de Aluguéis; EMP – Educação Pública e Mercantil; SMP – Saúde Mercantil e Pública; APU – Administração Pública
e DSE – Demais Setores da Economia.

Figura 3. Impactos absolutos e relativos nos setores da economia em função da enchente de 2015
no Estado do Acre.

De forma geral, os efeitos de eventos extremos sobre a economia tornam subjacente a


análise dos impactos econômicos sobre o fluxo comercial inter-regional. Em relação ao Acre, o
comércio inter-regional assume relevância significativa e não pode ser negligenciado. A tabela 5
indicou que a agricultura em conjunto com a pecuária foi responsável por 95,65% da redução das
exportações estaduais.
Em relação às importações, observou-se que a contribuição das perdas da agricultura e
pecuária corresponderam conjuntamente por 32,76% do total dos prejuízos. A construção civil
apresentou aumento das importações, o que sugere que a economia local não poder atender à
demanda interna desta atividade, o que pode ser entendido que insumos da construção civil tiveram
de ser importados.
Em função do baixo nível de industrialização e especialização em sua economia, as perdas
vinculadas ao fluxo de comércio inter-regional impuseram ao Acre uma redução de
aproximadamente, R$ 622 milhões e a agropecuária foi o setor mais penalizado.

19
Os resultados indicaram que, em função da destruição de capital e perda de produtividade
na economia, ficou relativamente mais oneroso o comércio inter-regional, e o que seria uma taxa
de câmbio inter-regional (termos de troca relativo do Acre com o resto do país) apresentou uma
desvalorização de aproximadamente 68%, conforme indicou a variação do IPR.

Tabela 5. Composição das perdas econômicas em setores da economia selecionados no comércio


interregional em função das enchentes no Acre, 2015.
Exportações Importações Fluxo
Setores R$ % R$ % Comercial
Agricultura, silvic. expl. Florestal -183,981.78 78.18 -76,034.90 19.61 -260,016.69
Pecuária e pesca -41,123.81 17.47 -50,991.65 13.15 -92,115.46
Construção -23,639.86 10.05 52,334.77 -13.50 28,694.92
Comércio 21,714.85 -9.23 -47,756.19 12.32 -26,041.34
Serviços privados -3,033.82 1.29 -19,807.73 5.11 -22,841.55
Serviços imobiliários e aluguel 461.35 -0.20 -4,871.68 1.26 -4,410.33
Educação mercantil e pública -0.09 0.00 29,533.67 -7.62 29,533.58
Saúde mercantil e pública -0.23 0.00 1,794.83 -0.46 1,794.59
Administração pública e seg. social -1,296.13 0.55 -85,993.11 22.18 -87,289.24
Demais setores da economia -4,433.63 1.88 -185,893.92 47.95 -190,327.55
Total -235,333.14 100.00 -387,685.92 100.00 -623,019.06
Observação: em milhões e reais.

5. CONCLUSÕES

Ao longo dos últimos vinte anos o Estado do Acre vem sofrendo um conjunto de eventos
extremos, entre eles: enchentes, estiagens, queimadas e poluição do ar. Estes eventos prejudicam
de forma acentuada a economia.
Em 2015 ocorreu a maior enchente registrada no estado, nove municípios foram atingidos,
três rios em diferentes bacias hidrográficas transbordaram durante 32 dias, aproximadamente 25
mil famílias ficaram desabrigadas. Em alguns municípios como Brasileia a perda foi total.
Em um cenário em que um evento extremo atingiu os municípios com maior relevância
econômica do estado, este trabalhou levantou ao seguinte questionamento: qual o efeito da cheia
de 2015 sobre a economia do estado?
De forma geral buscou-se identificar os impactos de forma agregada e setorial da enchente
sobre o Estado do Acre. Para tal, introduziu-se em um modelo de equilíbrio geral computável,
construído para representar a economia acreana, choques em perda de produtividade dos fatores e
no estoque de capital, com base em estudos e informações públicas a respeito dessas perdas como
consequência do evento mencionado.

20
Os resultados indicaram que houve uma redução acentuada no bem-estar das famílias e da
produção total da economia e o PIB apresentou redução significativa. Em termos absolutos, a
agricultura, comércio, serviços imobiliários e serviços privados foram os setores que concentraram
a maior parcela de redução no valor da produção. As perdas destes correspondem a 56,41% da
perda do valor da produção estadual.
A economia acreana apresenta baixo nível de desenvolvimento industrial e
consequentemente apresenta alta dependência do comércio inter-regional. Neste sentido,
observou-se que no fluxo comercial inter-regional a agricultura e pecuárias foram os setores mais
atingidos. Principalmente, no concernente às exportações, pois estes setores concentraram quase a
totalidade das perdas.
O aumento da frequência de eventos extremos sobre a economia exige dos agentes públicos
e privados a criação de políticas que possibilitem a máxima mitigação dos efeitos sobre a sociedade
e economia. Em um estado em que a iniciativa privada assume papel secundário no crescimento
econômico, o investimento governamental assume preponderância para mitigação dos impactos
negativos.
O Acre apresenta significativa dependência de recursos federais. Em função da crise fiscal
da economia nacional, a implementação de investimentos públicos para recuperação da economia
fica extremamente prejudicada.
Por fim é necessário destacar que modelos de equilíbrio geral possibilitam um infinito
número de análises econômicas. No entanto, necessitam de informações para implementação dos
choques. Em se tratando de relatórios governamentais ou privados que avaliem os danos
econômicos destes eventos, observa-se uma grande limitação de fonte de dados. Futuros trabalhos
devem se concentrar na obtenção de dados e informações que possam ser usados para a definição
de choques em modelos econômicos de simulação, de forma a possibilitar informações sistêmicas
a respeito dos dados diretos e indiretos provocados por eventos extremos.

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