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WILHELM REICH

O EXPERIMENTO
__ w
BiONS
Sobre a origem da vida
Wilhelm Reich

O EXPERIMENTO BIONS

Traduzido de:

Esperimenti Bionici, sull’origine della vita,


SugarCo Edizioni, Milano, Italia.
NOTA DO CURADOR

As Experiências Bions é o relato detalhado que faz Wilhelm Reich


sobre suas investigações de laboratório acerca da origem da vida.
Publicado originalmente em Oslo no ano de 1938, provocou violentas ondas
de indignação e controvérsia que culminaram um feroz ataque por parte de
um jornal que tornou impossível sua permanência na Noruega e causou a
demissão de seu colaborador, o professor Roger du Teil, da posição que
ocupava em uma universidade na França.
O protesto que acolheu essas descobertas experimentais e sua
própria divulgação, foram logo encobertos pela Segunda Guerra Mundial, e
conquanto Reich tenha resumido os resultados de suas experiências em um
trabalho posterior, “A biopatia do câncer”, informações completas não se
encontram disponíveis.
Ao preparar esta nova edição, tivemos que nos dividir entre nosso
desejo de desenvolver instruções escritas por Reich em 1947, a partir da
melhor visão de seus conhecimentos dez anos após a conclusão desta
divulgação, e nosso interesse pela exatidão histórica. Reich escreveu: “O
artigo filosófico de du Teil deveria ser deixado fora da reedição do Die
Bione. Será necessário acrescentar um prefácio à publicação do Die Bione
que assinalasse o progresso feito na pesquisa orgônica desde sua primeira
publicação e, o mais importante de tudo, substituir o termo “materialismo
dialético” por “funcionalismo energético” que é o seu verdadeiro e real
sentido. Não posso mais me dar ao luxo de ter, como há dez anòs atrás, *
meu método de pensamento e pesquisa designado por materialismo
dialético, uma vez que (1) os partidos comunista e socialista estão sempre
usando o termo sem lhe dar qualquer significado; (2) Não quero mais ser
confundido com os partidos políticos Marxistas; e (3) o funcionalismo
energético de hoje tem tanto a ver com o materialismo dialético quanto um
projeto de radar eletrônico moderno com o tubo elétrico de gás de 1905”.
O artigo de du Teil foi omitido, mas descobrimos ser impossível
substituir a expressão "materialismo dialético” sem criar uma séria confusão
e sem prejudicar a integridade do trabalho. Por esta razão, ela continua
exatamente como Reich a usou neste período de seu desenvolvimento
científico. Devemos, entretanto, lembrar ao leitor de que a contínua
exploração de Reich da trilha aberta por esses incipientes experimentos
bion levou à sua descoberta da energia biológica, do orgone, e possibilitou-
o a desenvolver sua formulação do materialismo dialético derivado de
Engels dentro do funcionalismo energético i.e. orgonômico.

Mary Higgins
Chester M. Raphael, M.D.

Forest Hills, N.Y., 1978


ÍNDICE

Nota do Curador

Prefácio...................................................................................... 02
1. A Fórmula Tensão-Carga.................................................... 14

2. Bions como os estágios preliminares da vida................. 18

3. A culturabilidade dos Bions (preparo 6)........................... 50

4. O início das experiências de controle................................ 66

5. Experiências de culturabilidade usando terra,


carvão e fuligem.................................................................... 76

6. Testes de controle e instruções para verificar


as experiências bion (sumário)............................................ 90

7. A interpretação dialético-materialista................................. 94

8. Um erro na discussão da
“geração espontânea”.................................................... ...... 106

9. O método dialético-materialista do pensamento


e investigação.......................................................................110

10. Apêndice................................................................................ 134


PREFÁCIO

É com alguma ansiedade que torno públicas estas descobertas


experimentais sobre a origem da vida vegetativa. Não que esteja
preocupado com a exatidão dos pormenores fornecidos, mesmo que aqui
ou ali um erro insignificante ou uma frase desajeitada possam ter-se
introduzido. Todas as descobertas descritas neste relatório compreensível,
ainda que não definitivo, foram confirmadas centenas de vezes. Omiti
quaisquer observações que não foram verificadas e alonguei-me ao
descrever o método, tão precisamente quanto possível, de modo que ele
pudesse ser testado por outros. Se as instruções forem seguidas com
algum rigor, será impossível deixar de alcançar os fenômenos básicos tais
como a desintegração vesicular da matéria após a inchação ou a
possibilidade de fazer cultura dos bions. Sei perfeitamente bem que as
mesmas descobertas estão abertas a outras interpretações que não as
minhas, por isso separei cuidadosamente na primeira parte os relatórios
baseados em fatos, e na segunda parte as interpretações.
Fico um pouco inquieto porque sei que posso ser censurado e
taxado dp imodesto por apresentar as conclusões a que cheguei com esses
experimentos. Permaneci dentro dos limites estabelecidos por dezoito anos
de trabalho clínico sobre o organismo funcionalmente enfermo e dez anos
de estudos intensivos da relevante literatura biológica e fisiológica. As
seções sobre os coloides e sobre o método dialético-materialista de
pesquisa foram concluídas há muitos anos, mas permaneceram
impublicadas em minha gaveta. Elas representavam as tentativas de ligar
minha experiência prática como psicoterapeuta com meus estudos
biológicos em geral. Eu me tornei diretamente consciente desta conexão
com o conhecimento psicanalítico, na base da minha teoria do orgasmo,
quando em 1926 fui solicitado a revisão um livro de Fr. Kraus sobre a
patologiá da personalidade (Syzygiologie) para uma revista científica.
Sequer suspeitava de que dez anos mais tarde me seria dada a
oportunidade de verificar desta maneira as suposições filosóficas naturais e
o método dialético-materialista, ainda que eu soubesse, é claro, que a teoria
orgástica tocava no “problema da vida”. O que eu exponho aqui não é uma
descoberta fortuita, mas um desenvolvimento atingido após anos de
atividade sobre o problema da função autônoma. Passo a passo, os
fundamentos de uma teoria da biogênese, cuidadosamente
experimentados, foram-se revelando. Devo admitir que os fatos que
descobri pareciam incríveis à primeira vista. Entretanto, um após outro, os
fatos se foram tornando claros e a cada um deles confirmou o quadro que
eu tinha já formado a partir dos estudos clínicos da função vital e de seus
distúrbios. Na época em que publiquei “Experimentelle Ergebnisse über die
eletrische Funktion von Sexualität und Angst”, 1937 os resultados dos
experimentos da cultura bions já eram acessíveis. Agora, que decidi
publicá-los, tenho à minha disposição dados adicionais em área correlata
que confirmam e representam uma continuação para esses experimentos.
As técnicas que utilizei nas experiências não diferem das que se
aplicam comumente à esterilização bacteriológica. No entanto, a
classificação das experiências, bem como os métodos de interpretação e as
conclusões tiradas diferem consideravelmente da norma. Todas as
experiências foram baseadas na fórmula fundamental que descobri ao
longo de minha pesquisa no campo da sexualidade. O método analítico
segue as leis do materialismo dialético. Marx acrescentou o elemento
materialismo à dialética Hegeliana, porém o método, num contexto científico
natural, foi utilizado primeiro por Engels; descobre-se então uma aplicação
nova em psicologia e no processo da sexualidade. Os princípios do método
tornaram-se mais refinados e revelaram-se novos caminhos para a
conquista do conhecimento, como por exemplo, na “lei do desenvolvimento
dialético-materialista". Adotei a equação hipotética dos impulsos vitais e
sexuais de Freud. Uma vez que conseguira refutar sua teoria do instinto de
morte e desenvolver minha teoria orgástica, estava apto a seguir até a
biologia experimental. A prova experimental da identidade do processo da
energia sexual e do processo da energia vital é, nesse caso, uma
confirmação simultânea da hipótese de Freud.
Nesse ponto gostaria de expressar meus calorosos
agradecimentos ao Prof. Roger du Teil pela inigualável amizade que me
tem manifestado ao longo de nosso trabalho. Qualquer que seja o efeito
que seus esforços em atrair a atenção de biólogos e bacteriologistas para
este trabalho possam surtir, sua participação ativa nas experiências tornou-
se parte orgânica da totalidade das etapas dos estudos. Isto fica claro no
texto que segue.
, Também estou consciente de que a solução experimental da
questão da geração espontânea satisfaz a muitas necessidades em todo o
mundo científico. Do mesmo modo, sei que terei de enfrentar alguma
oposição bem aguda. Entretanto, recuos e avanços de argumento e contra-
argumento constituem a verdadeira essência da atividade científica. Além
do mais, toda objeção conduz ao progresso se o problema fundamental foi
convenientemente equacionado.
Meu trabalho Der dialektische Materialismus in der Lebens-for-
schung ("Zeitschr. f. pol. Psych. u. Sexök.”, 3, vol. IV, 1937)
apresenta uma análise histórica do desenvolvimento do problema e assinala
as conexões que existem entre problema e as questões sociológicas. Deixei
para uma publicação futura os detalhes de muitos estudos, bem como a
análise de problemas correlatos.
Agradeço particularmente ao professor Harald Schjelderup por
tornar possível e por me haver assistido tão ativamente na condução das
primeiras experiências elétricas fisiológicas no Instituto Psicológico de sua
universidade. Sem a sua assistência, mesmo em assuntos gerais, eu teria
tido muito mais problemas para superar. Encontrei dificuldades materiais
extraordinárias para organizar as operações de laboratório. A Fundação
Rockfeller em Paris negou seu apoio. Não teria sido possível conduzir as
experiências num estabelecimento oficial engajado em outro trabalho, e eu
jamais teria sido capaz de realizar sozinho. Por conseguinte, quero

3
aproveitar essa oportunidade para agradecer particularmente a todos que
tornaram possível essa empreitada a despeito de todas as dificuldades.
Sobretudo, devo agradecer ao meu amigo Sigurd Hoel, cujos conselhos
freqüentemente evitaram que eu perdesse a fé em minha capacidade de
realizar o projeto. Agradeço também ao nosso amigo Dr. Odd
Havrevold, que organizou o laboratório em que conduzimos as experiências,
providenciou a assistência prática em geral e solicitou contribuições.
Acrescento ainda meus agradecimentos àqueles que me ajudaram a
conduzir os trabalhos bacteriológicos, cinefotomicrográficos e físico-
químicos e que, por sua iniciativa e impulso, ajudaram-me a superar muitos
obstáculos. Muito mais erros teriam sido cometidos sem o ativo apoio
material dado ao Instituto por meus colegas no campo de análise do
caráter, os quais me ajudaram a organizar e manter as operações: a Dra.
Lotte Liebeck; o Dr. Nie. Hoel; o Dr. Ola Raknes; o Dr. Tage Philipson; o Dr.
Leunbach, Ellen Siersted.
Entretanto, esses especialistas não puderam empregar grandes
somas em dinheiro e somente os seus esforços não teriam sido suficientes
(somente o equipamento para o laboratório biológico, custou
aproximadamente 60.000 coroas norueguesas. Atualmente, está custando
mais ou menos 2.000 coroas norueguesas por mês para operar o
laboratório). Meu trabalho foi substancialmente auxiliado pela grande
contribuição do Sr. Lars Christensen (Oslo), do Sr. Rolf Stenersen (Oslo), e
de Constance Tracey (Londres).
O projeto global foi grandemente assistido pelo corpo
administrativo e, em particular, por minha secretária Gertrud Brandt, que
eficiente e incansavelmente manteve a ordem em minha extensa lista de
atividades. O chefe de nossa editora, Herry Trõll supervisionou a produção
do livro com grande cuidado e diligência.
O Instituto foi fundado por noruegueses. A extraordinária
hospitalidade do povo norueguês propiciou um fértil pano de fundo e a base
para meu trabalho, responsabilidade integral pelo que é meu; Noruega é um
país que tem sido capaz, de um modo geral, de manter a indisposição
emocional do mundo em maus lençóis.

A APARELHAGEM FUNDAMENTAL DO LABORATÓRIO (Figura 1-11)

As complicadas experiências projetadas para determinar as


propriedades microbiológicas e elétricas das substâncias, bem como dos
vários tipos de bions, exigiam um equipamento que fosse adaptado para
esse propósito específico ou, em alguns casos, que fosse especialmente
criado.

O microscópio

R • h r+^a,mente 0 nosso instituto possui três grandes microscópios


Keicnert Z e de um microscópio de pesquisa da marca Leitz. Com o
icroscópio Reichert se pôde facilmente obter uma ampliação por volta de

4
3750 como resultado dos tubos binoculares inclinados que aumentam a
ampliação normal em 50%. Quando uma lente apocromática Leitz especialj
de 150 vezes é usada em combinação com um compensador ocular (de 25
vezes) e o tubo binocular inclinado, é possível realizar uma ampliação de
até 4500 vezes, porém com muita dificuldade. Exames de campos escuros
são executados em aproximadamente 300 vezes para verificar o movimento
e em 1200 vezes para avaliar a estrutura áspera e o tipo de movimento.
Além disso, as observações foram conduzidas em aproximadamente 3000
vezes para determinar a estrutura fina do organismo e as vibrações no
interior de sua massa corpórea visível somente nessa ampliação: Para
avaliar os movimentos internos com segurança, um condensador de campo
escuro, fabricado pelo Reichert de Viena, também foi usado. Com esse
aparato é possível realizar observações em um campo escuro em
aproximadamente 3000 vezes.
Esta manipulação é muito complicada e requer exaustiva
preparação. Muitos processos característicos só podiam ser observados
usando o microscópio Reichert “Z". Este microscópio revelou fenômenos
que certamente não teriam sido visíveis usando um instrumento de tubo
reto único ou mesmo um com tubos binoculares não inclinados. Realmente,
não é possível verificar as descobertas, a não ser que se usem estes
mesmos aparelhos ópticos.

Aparato cinematográfico

Cada novo processo observado, se provasse ser típico, era filmado


imediatamente. Usaram-se dois tipos de câmeras. Tínhamos uma câmera
CK Pan Film, Kodak (Fl, 9), que permitia uma velocidade de oito quadros
por segundo, isto é, o movimento foi acelerado para duas vezes a
velocidade normal. Em geral, a filmagem era feita entre ampliações de 300
vezes e 1500 vezes, usando um microscópio de tubo único e fixando a lente
da câmera diretamente sobre a ocular do microscópio. Por meio de um
dispositivo especial, foi possível filmar estruturas cujo movimento mal se
podia perceber; neste caso, um microscópio com tubos binoculares
inclinados era usado em 2300 vezes e a câmera era montada sobre um dos
oculares.
A grande câmera Cine Kodak (Fig. 9), usada para fotografar a
duração do processo de desenvolvimento, permite fazer exposições
isoladas; também a intensidade de luz e a velocidade da exposição
podem ser ajustadas com extrema precisão.
O período do processo foi registrado com o uso de dois aparelhos.
Um era um controlador elétrico de disparo, para a Cine Kodak Spécial,
fabricado pela Eastman Kodak Company. O movimento podia ser
acelerado, pelo acionamento de vários comutadores, na seguinte ordem de
magnitudes:

5
aceleração 4 volts superior ao normal 4 imagens por segundo)
8 2 “ )
16 “ “ )
32 “ cada 2 e seg.)
48 “ cada 3 e seg.)
64 cada 4 e seg.)
80 “ cada 5 e seg.)
96 “ cada 6 e seg.)

Para apressar o movimento noventa e seis vezes, um metro de


filme era gasto em treze minutos e doze segundos. Este aparelho era usado
para filmar os processos de desenvolvimento e as formas de movimento
que ainda podiam ser vistos em grandes ampliações, ainda que com algum
esforço. Para filmar os processos de desenvolvimento e movimento
indiretamente observáveis, usava-se um aparelho de medir espaço de
tempo fabricado pela Askania (Berlim). Ö sistema de comutadores de relays
permitia selecionar as seguintes velocidades:

Uma imagem a cada:


15 segundos (aumento 240 volts sup. ao norm.)
20 segundos (aumento 320 volts sup. ao norm.)
30 segundos (aumento 480 volts sup. ao norm.)
40 segundos (aumento 640 volts sup. ao norm.)
minuto (aumento 960 volts sup. ao norm.)
5 minutos (aumento 4800 volts sup. ao norm.)
10 minutos (aumento 9600 volts sup. ao norm.)
16 minutos (aumento 14400 volts sup. ao norm.)
20 minutos (aumento 19200 volts sup. ao norm.)
30 minutos (aumento 28800 volts sup. ao norm.)
40 minutos (aumento 38400 volts sup. ao norm.)
hora (aumento 57600 volts sup. ao norm.)
2 horas (aumento 115200 volts sup. ao norm.)
5.horas (aumento 288000 volts sup. ao norm.)
10 horas (aumento 576000 volts sup. ao norm.)

No último ajustamento de tempo da tabela acima, um metro de


filme era gasto em cinqüenta e cinco dias e noites. As exposições do
período de desenvolvimento eram feitas em ampliações entre mais ou
menos 300 a 1200 vezes.
Um aparelho construído com exclusividade (ver fig. 2) foi usado
para os estudos micro-elétricos. Uma sólida barra esférica foi montada
verticalmente sobre uma sólida base imóvel; fixando-se uma barra
transversal presa a vertical de modo que pudesse ser movida. À essa barra
transversal foram presos dois tubos de vidro que podiam ser movidos em
duas direções e através dos quais foi passado um fio de cobre. Em uma
ponta; protuberava um fio delgado de platina. O fio de platina era ligado a
ilhóses fixados nos lados opostos de um receptáculo de forma côncava

6
sobre uma lâmina de projeção. Este aparelho estava ligado a um “pantostat"
fabricado pela Siemens (Berlim), permitindo mensurações exatas e
medições de correntes até 0,2 mA.
Mais tarde, todos os filmes foram feitos com o auxílio de um
adaptador óptico que permitia observações enquanto a filmagem estava
sendo realizada. A câmera podia ser montada tanto verticalmente sobre a
ocular quanto horizontalmente. No verão de 1937, tinha preparado um filme
completo da preparação 8 (desenvolvimento de protozoários) e outro 6
(experiência bions); e um outro filme estava quase concluído: preparações
1, 2 e 3 (estágios preliminares da vida representados pela inchação da
terra, carvão e limalha de ferro). O laboratório possuía também todos os
equipamentos necessários para desenvolver o filme.
O potencial elétrico era medido por um osciloscópio que era ligado
a um amplificador de corrente direta com tubo triplo. Tal aparelho fora
fabricado pela fábrica de Instrumento Universitário, em Lund (fig. 10 e 11).
Um laboratório completo com autoclaves (esterilização a 120°C) e
esterilização a seco (esterilização até 190°C) foi organizado para
investigações bacteriológicas.
Wilhelm Reich
Outubro 1937.

7
• O grande microscópio Reichert, para ampliação de até 4500X.
2. Aparelho para pesquisa microelétrica.

3. Aparelho cinematográfico (para gravações com intervalo de tempo longo e curto)

9
Ssa.
4. Os dois aparelhos reles para gravações a intervalos de tempo.

5 tf^relh° cmemat°9ráfico com motor para gravações a intervalos de

10
Relais
Termostato Leva di commutazione
per una o due immagini jn azionPeo ^'wolgimento

,1' Relaisottico
•• A (sotto lapiastra
'* ’ d i monta"io)

ISSÉlPiJ I /
Accensione
programmata
del motore

Velocitâ del motore

Tasto di disinnesto

Contatore

•Valvola

Nastro
d'allacciamento

Batteria \ Luce (corrente alternata)


Azionamento motore Contatto accensione

6. Aparelho para gravações com longo intervalo de tempo.

7. Timer para programar a ignição a intervalos de tempo.


Fascia di raccordo
sulla scatola dei relais
. Timer per.__U r-cz
oooo
oooo O 0 0 o ò ó Interruttore
Azionamento
accensione
delia ri presa

Batteria 12 V

8, Circuito do aparelho para gravações a longos intervalos de tempo.

Contatto fro,
Alimentazione a
corrente continua Contatto
Accensione 25 sec Contatto posteriore accensione

; • j-

Batteria Accensione
Magnete
Coperchio delia cassa batteria Relais relais

9. Aparelho para as gravações a curtos intervalos de tempo.

12
11. Osciloscópio, aparelho para a rebobinação com eletrodo protegido não
polarizável.

13
1. A FÓRMULA TENSÄO-CARGA

Neste trabalho, descreverei as observações que fiz durante as


experiências em que matéria inanimada foi transformada em organismos
bacteriais. Começarei descrevendo rapidamente as bases teóricas para .as
experiências. ....................
No curso de aproximadamente quinze anos de serviço clmico, vim
a reconhecer a fórmula para a função do orgasmo, que foi confirmada em
experiências posteriores. Na vida vegetativa há um processo, através do
qual 0 enchimento mecânico, ou tensão, conduz a um desenvolvimento da
carga elétrica; esta é seguida pela descarga elétrica, que, em contrapartida,
culmina em relaxamento mecânico. Este fenômeno ocasiona duas
perguntas:

1. Esta fórmula se aplica apenas à função do orgasmo, ou é válida para


todas as funções vegetativas?
2. Dèsde que o orgasmo é um fenômeno elementar da vida, a fórmula que
o expressa deveria ser também demonstrável nas funções biológicas
mais primitivas; por exemplo, as funções vitais do protozoário. A
suposição básica, por conseguinte, era de que a fórmula orgásmica é
semelhante à formula da vida. Inicialmente, não estava muito otimista de
encontrar prova desta suposição a curto prazo. Foi praticamente por
acaso: que consegui resolver a principal parte do problema, de modo
relativamente rápido e com boa certeza.

Em conseqüência, minha experiência clínica e experimental


suscitou uma série de questões que orientaram as investigações biológicas.
Nos experimentos elétricos sobre as zonas sexuais, foi descoberto que as
excitações vegetativas são funcionalmente idênticas às correspondentes
direções^do fluxo da corrente elétrica. As excitações vegetativas provaram
ser funcionalmente idênticas aos movimentos vegetativos primários que
podiam ser divididos basicamente em dois grupos: a sensação de estender
para fora e bem-est;ar i.e. expansão-correspondente à real dilatação, assim
ilustrada pela ereção do pênis. Por outro lado a ansiedade e um sentimento
de desconforto são idênticos à "retirada para dentro do seif, i.e. à contração
do organismo^biológico. Nos moluscos marinhos que observei, a alternância
entre expansão e contração ficou surpreendentemente clara. A descarga de
energia elétrica durante as contrações do peixe-elétrico confirmou minha
suposição de que a contração repentina é funcionalmente idêntica à
descarga elétrica. Desse modo, senti que podia permitir-me um salto mental
para concluir que a carga elétrica na periferia é funcionalmente idêntica à
expansão e a um sentimento de bem estar, enquanto que a descarga
e etrica na periferia é idêntica à contração, e medo ou ansiedade. No caso

M9T7^e^n/sse über die elektrische Funktion von Sexualität und Angst


SexpolA/eriag Osk^^ ^ vegetativen Lebens (1934); ambos publicados pela

14
da expansão, seguindo adiante com minha teoria, notei que a distância
entre partículas é aumentada pelo processo da inchação, processo que
deve estar intimamente relacionado com o aumento de potencial elétrico.
Na contração, a distância entre as partículas diminui como o resultado do
encolhimento; assim, os tecidos são mais resistentes e há uma queda no
potencial elétrico; i.e., ocorre uma descarga. Logicamente, seria possível
experimentar diretamente o potencial elétrico físico, na forma de uma
sensação vegetativa de excitação.
Além disso, cerca de três anos atrás, durante meu trabalho clínico
sobre neuróticos muscularmente hipertônicos, descobri o reflexo orgástico.
Depois que a hipertonicidade foi eliminada, as contrações vegetativas
isoladas, em várias partes do corpo, combinaram-se de modo a
proporcionar um único reflexo total que eu chamei “reflexo orgástico”. Este é
o mesmo fenômeno que a convulsão vegetativa automática que acontece
no clímax da gratificação sexual. Só pude concluir que o sistema nervoso
autônomo se expande e se dilata quando o prazer é experimentado e se
contrai no caso do medo. A unidade de função do organismo inteiro me
parecia decisiva aqui; i.e., a ameba continua existir no metazoário na forma
da capacidade de contração e expansão do aparelho vegetativo.
De acordo com essa visão, os nervos do organismo não mais
pareciam ser geradores dos impulsos, mas ao contrário, eram
simplesmente os caminhos de transmissão ordenada para os impulsos
vegetativos do corpo inteiro. Na literatura, descobri abundante evidência
para a .visão de que os gânglios do sistema nervoso vegetativo funcionam
como baterias armazenadoras e que os músculos atuam como aparelhos
descarregadores que produzem movimento. O fluído do corpo, que no caso
dos seres humanos atingem cerca de 80 por cento do peso total do corpo,
devem ser considerado como o mais importante meio de propagação das
excitações elétricas.
As funções básicas das criaturas vivas - quer dizer, expansão e
contração - dominam toda a vida, mas elas mesmas são compostas de uma
complicada combinação de funções físicas individuais. Mais adiante,
entrarei no detalhe sobre o fato revelado pela química coloidal. Nesse
ponto, desejo restringir-me a uma breve descrição de um sistema de
uniformidade integral, não apenas no domínio da vida orgânica, mas
também entre funções orgânicas e inorgânicas. Como já expus, essas
foram apenas estruturas que surgiram de uma ampla série de estudos
clínicos e experimentais.
A direção biológica em direção ao mundo" representada na
expansão, e a direção oposta “fuga do mundo” retirada para dentro de si
mesmo, representada na contração, pareciam-me ter um modelo primitivo
no ato mecânico da expansão de uma bexiga de porco. Se uma bexiga de
porco for enchida com ar se dilata mecanicamente. A superfície torna-se
tensa e esforça-se por retornar ao seu estado natural; o processo é similar
àquele de uma mola esticada. A pressão interna exercida pelo ar impede a
restauração do estado original. Há então três possibilidades:

15
a) A pressão interna é menor que a tensão da superfície, assim a
bexiga pode ser enchida ainda mais sem estourar.
b) A pressão e igual à tensão da superfície, assim a bexiga
assume uma forma esférica estável.
c) A pressão interna pode finalmente exceder a tensão da
superfície, de modo que as bexiga estoura.

No reino vivo, um aumento na pressão interna conduz a uma


contração, como na bexiga urinária, ou à-constrição e divisão, como em
uma célula.
Na eletricidade, fui surpreendido pela antítese da carga e
descarga. Na esfera inorgânica, a tensão mecânica e o relaxamento, a
carga e descarga elétricas são funções independentes. A esfera viva, ou
orgânica, no entanto, é governada pela combinação específica das duas
funções físicas: tensão-carga-descarga-relaxamento. Esta é a fórmula para
o funcionamento biológico.
Na química, há certas substâncias que têm um efeito de inchação
(isto é, tensionamento) e de encolhimento (isto é, relaxamento). Quando o
cloreto de potássio^a lecitina atuam nos tecidos, a tensão da superfície
aumenta como resultado da inchação, isto é, expansivo. Quando o cálcio e
a colesterina atuam nos tecidos, a tensão da superfície é reduzida como
resultado do encolhimento, isto é, efeito contrátil.
Para a compreensão do funcionamento orgânico, é obviamente
significativo que a tensão e o relaxamento, inchação e encolhimento,
expansão e recolhimento, carga e descarga, etc., sejam todos combinados
juntamente em um sistema nas funções do parassimpático e do simpático.
Em um estudo especial intitulado “Antíteses Básicas da Vida Vegetativa”,
1934* descrevi essa situação, baseando-me nos resultados das
experiências realizadas por outros autores. O potássio tem o mesmo efeito
que a lecitina, a lecitina que o vago (parassimpático), e o vago, finalmente,
como a excitação prazeirosa, inchação, turgidez, aumentou a tensão
superficial, e, como mostrado há pouco, aumentou a carga elétrica. Em
conträstß, o cálcio, o colesterina, o sistema nervoso simpático e o desprazer
ou ansiedade formam uma unidade funcional caracterizada pelo
encolhimento/contração, descarga, e redução na tensão superficial.

16
A seguinte tabela é uma comparação que preparei há 4 anos:

Grupo Efeito geral sobre Efeito Efeito


Vegetativo os tecidos centrai Periférico
Simpático Redução da tensão Sístole da Vasoconstrição
Cálcio superficial Musculatura do
coração é
estimulada
(grupo) Desidratação Musculatura
Adrenalina transversal: relaxada. Peristalse
Colesterina Diminuição da intestinal
íons OH excitabilidade elétrica em aumento
Aumento do consumo de
oxigênio Aumento da
pressão sangüínea
Vago Potássio Aumento da tensão Diástole da Vasodilataçáo
(grupo) superficial Hidratação musculatura do
Músculos: crescimento da coração é
Colina tonicidade Aumento da relaxada Aumento da
Lecitina Excitabilidade Elétrica peristalse
lons OH Diminuição do consumo intestinal
de oxigênio Diminuição da
pressão sangüínea

Aquilo a que os biólogos e, em particular, biólogos metafísicos têm


se referido como “propósito organizador”, “inteligência etc., parecia-me
estar contido no salto das funções físicas individuais para a “combinação”
dessas funções que governa o processo da vida. Assim, foi possível
substituir as interpretações dos biólogos metafísicos pela formulação
dialética-materialista do processo da vida (Cap.8-2aparte).
A uniformidade do funcionamento orgânico é regulada pelo
processo de tensão-carga, tanto nos órgãos individuais quanto no
organismo total. A uniformidade entre os processos orgânicos e inorgânicos
está contida nas funções de expansão-contração e carga-descarga. A
diferença entre orgânico e inorgânico surge da combinação específica das
funções no orgânico, que, por outro lado, ocorre individualmente nas
substâncias inorgânicas.
Partindo dessas premissas, prossegui com os experimentos
biológicos descritos nos capítulos seguintes.

17
2- BIONS COMO OS ESTÁGIOS PRELIMINARES DA VIDA

As correntes veoetativas que encontrei no curso de meu trabalho


de análise do caráter e minhas experiências elétricas sobre a sexualidade
revelaram-se a mim tão importantes que resolvi estudá-las
microscopicamente nos protozoários. O Instituto Botânico de Oslo forneceu-
me uma preparação de protozoários para este fim. Uma vez que pretendi
preparar por mim mesmo esta amostra, tive que averiguar como essas
culturas podiam ser desenvolvidas; não queria contar com meus próprios
conhecimentos dos processos biológicos adquiridos há mais de 20 anos e
há muito tempo já mais ou menos esquecidos. Conquanto eu estivesse
familiarizado com os infusórios de Leeuwenhoek, fiquei muito surpreso de
ver que necessitava apenas de uma infusão de água e feno - isto é, capim
semi-seco - para produzi-los. Também descobri que as amebas são muito
facilmente encontradas em folhas que tenham permanecido por longo
tempo em poção de água estagnada. Tive vergonha das lacunas nos meus
conhecimentos de biologia, quando indaguei ingenuamente como os
animais penetravam na infusão em primeiro lugar e recebi a surpreendente
resposta de que há “germes de vida” por toda a parte a partir dos quais os
protozoários se desenvolvem. Obviamente eu tinha deliberadamente
“esquecido”, embora inconscientemente, a “teoria dos germes”. Queria
realizar um estudo especial das culturas das amebas para familiarizar-me
com as correntes plasmáticas ou correntes descritas por Hartmann e
Rhumbler que eram tão importantes para minha teoria do funcionamento
vegetativo. No entanto, a infusão que me foi fornecida continha muito
poucas amebas; de fato, não era fácil preparar culturas frescas de amebas.
O assistente de laboratório do Instituto orientou-me na minha dificuldade
para fazer minhas próprias infusões de feno e examiná-las “após dez ou
quatorze dias”. Então eu encontraria, certamente, algumas amebas.
Meu próprio conhecimento da protozoologia revelou-se tristemente
inadequado. Não obstante, confiando no conhecimento teórico básico de
biologia e contando com a experiência que adquiria ao fim de alguns anos
na investigação terapêutica e experimental da função orgástica, assumi o
risco de aventurar-me naquele novo território.
Para começar, evitei deliberadamente fazer um novo estudo da
literatura biológica especializada, de modo que pudesse prosseguir nas
minhas observações livre de qualquer idéia pré-concebida. Um dos itiqus
assistentes é que compilou uma revisão da literatura.

1. Formação de Vesícula na Folha de Capim em Intumescência

, .No preparo podia-se observar facilmente paramécios, amebas de


vprma espec*es e» entre outras coisas, objetos ondulados em forma de
imiaHiä* P°d,am ser facilmente observados na cultura. Percebi
mnv/imíf T8nte a c?rrente plasmática vegetativa e foi fácil identificar os dois
ntos. movimentos vagarosos progredindo em câmara lenta; e

18
corrente plasmática como sendo o processo de tensão-carga que eu estava
procurando. À guisa de experiência, passei uma corrente de
aproximadamente 0,5 miliamperes através da cultura e vi, comGRhumbler e
Hartmann tinham descrito, que a corrente plasmática se acelerava quando
uma corrente fraca era aplicada. As amebas se moviam mais rapidamente e
o movimento do endòplasma granuloso dentro da célula, quando observado
a 1500x, tornava-se extremamente vigoroso. Por outro lado, as paramécias
pareciam tornar-se altamente desorganizadas. Sua movimentação rápida e
constante cessavam e elas começaram a vagar em círculos; era como se
cada aplicação de corrente tivesse um súbito efeito “traumatizante”. Após a
corrente ter sido aplicada ininterruptamente por mais ou menos três
minutos, todo o movimento cessava, com exceção das amebas. Quando eu
aumentava acorrente para cerca de 1,5mA, as amebas enrolavam-se como
bolas e também paravam de mover-se.
Estas observações pareciam-me importantes, mas eu era ainda
incapaz de estabelecer uma relação entre minha hipótese e a mudança na
corrente plasmática cansadas pela aplicação da corrente. No entanto, havia
uma outra maneira para conferir a fórmula de tensão-carga.
Era claro que o tecido orgânico vivo assimilava fluido e, como
inchava, as membranas eram mecanicamente esticadas. A chamada
turgidez dos tecidos - quer dizer, o superenchimento dos vasos sangüíneos
ou hiperemia - consiste, em princípio, de nada mais que aumento da
entrada de fluido (sangue, linfa, água). Por conseguinte, concentrei meus
estudos nas “mudanças verificadas ao longo das extremidades das fibras
vegetais".
As fibras verdes luminescentes perdiam sua cor no curso de um a
dois dias e o líquido continha um grande número de cloroplastos verdes.
Porém a medida que as fibras vegetais perdiam sua cor e se
decompunham, ocorriam estranhas transformações. A anteriormente
estriada estrutura das células ainda intacta dava lugar à configuração
vesicular. Ao mesmo tempo, as protuberâncias hemisféricas ou, as vezes,
faixas irregulares formavam-se em certos pontos ao longo das extremidades
das fibras.
As fibras, obviamente, retinham a água e intumesciam-se e os
cloroplastos desprendiam-se; do mesmo modo, a estrutura celular do tecido
começava a dividir-se em vesículas. A estrutura vesicular variava. Em
alguns lugares era irregular, sem um limite claro e, em outros, uma estrutura
completamente regular com uma borda que destacava-se claramente
quando o micrômetro do microscópio era girado. Onde havia bordas
claramente definidas, o objeto dava a impressão de ter sido “modelado”.
Quanto mais se cingia a borda, mais a estrutura parecia cheia e esticada.
As vesículas iam se destacando gradativamente das fibras e flutuavam no
anteriormente claro líquido. As fibras vegetais, então, pareciam galhos de
árvores despojados de suas folhas (Figs. 12,13 e 14). O líquido enchia-se
de pedaços móveis de vesículas sem qualquer limite definido. Sua estrutura
era idêntica à das vesículas em que as extremidades das fibras vegetais
tinham-se desintegrado.

19
Observei a transformação que se operou tanto na estrutura
vesicular auanto na formação de bordas em ,,umM objeto durante um período
de auatro horas Um objeto vesicdar de estrutura irregular, sem limites,
formou-se na extremidade de um fragmento de planta. O objeto foi inchando
aradativamente e desprendeu-se do pedaço de planta. Margens duplas
refratantes apareceram nas bordas. A estrutura vesicular tornou-se mais
regular e homogênea, e as vesículas refrataram a luz com grande contraste.
Em sua estrutura, o objeto quase não se distinguia mais de uma ameba
comum. Assumiu uma forma oval e alongada, tornando-se crescentemente
esticado, ao passo que a margem tornava-se mais completa e distinta. Em
seu interior, as vesículas estavam móveis, porém a “coisa” como um todo
tinha assumido uma "forma”. O objeto desapareceu quando acrescentei
água à preparação.
Uma ameba que se movia vagarosamente foi colhida próxima à
beira do campo, onde se secou e assumiu uma forma esférica. Quando isto
se deu, ela ficou indistingüível dos diversos agrupamentos de vesículas que
a circundavam.
Uma observação posterior apontou na mesma direção. Formações
que exibiam tanto a estrutura vesicular descrita acima quanto a margem
bem definida podiam ser vistas aderindo à fibra por meio de uma haste.
Ocasionalmente, tal objeto podia ser observado fazendo violentas tentativas
para soltar-se. Ele se agitava para fora do substrato, mas era puxado de
volta pela haste linear. E importante . notar aqui que pura e simplesmente
esta motilidade distingue-a das formas sem vida, enquanto o aspecto e a
estrutura parecem ser as mesmas. A maioria das formas vesiculosas que se
movem rapidamente, como se flutuassem, no campo de visão do
observador, surgem como sendo do mesmo tipo.

Resumamos agora as observações:

1. As fibras intumescidas das plantas desintegram-se em vesículas.


2. Amebas completamente secas têm uma estrutura vesicular igual aos
agrupamentos de vesículas. •
3. Formações vesiculares com bordas definidas desprendem-se da planta
desintegrada.
4. O limite distinto que se forma dá no bloco de vesículas uma forma e
uma integração definidas.
5. Algumas células que se movimentam rapidamente têm uma borda
claramente definida e uma estrutura vesicular uniforme.

V‘“mf forÇado a concluir, não importa quão surpreendente possa

intimoüf ? P,asma vesicular vivo (“favo de mel”) da ameba deve estar


desint^rfr rf r®,ac;ionado com a estrutura vesicular .das plantas
uma »cfr.,+ aS‘ .'a P°ss'vel 9ue uma ameba ou outro protozoário com
vesírniac ur? .ve^,cular semelhante não seja mais que um agrupamento de
vesículas enfe.xado e modelado por uma membrana?

20
Creio que é melhor deixar minhas experiências e observações
posteriores falarem por si mesmas.

12. Folha de capim vesicularmente desintegrada. Filme da cultura n°8,


ampliação: 700x.

13. Vesículas no interior de uma folha de capim, 1500x

21
14. Fibra de capim após desprender-se da vesícula. Filme da cultura n° 8,
ampliação: 700x.

15. Borda rigorosamente definida de I6. Capim vesicularmen e


uma folha de capim vista desintegrado, campo escuro,
no filme da cultura n° 8, campo 100x*

semi-escuro, 300x.
2. A Transformação do Tecido do Capim e do Musgo em Formas de
Vida Animal

Quando um certo tipo de capim é ir.erso em água, uma espécime


de protista se forma a partir da decomposição das fibras vegetais após
passar por uma série de “estágios preliminares”. Imediatamente após a
imersão, a folha de capim exibe um contorno claramente definido provido de
ganchos em torno de garras (Fig. 15). Ao fim de um período dé vinte e
quatro a quarenta e oito horas, estas se desfazem em vesículas, conforme
está descrito (Fig. 16). Ao terceiro dia, podia observar, a intervalos
irregulares, as sáculas de forma esférica para oval, ao longo da
extremidade da folha de capim. Estas formas continham granulações e
vesículas de vários tamanhos (Figs. 17, 18 e 19). As pequenas vesículas
dentro de cada grande sácula encerrada por membranas não se distinguiam
das inclusões vesiculares na beirada da planta. Os grandes objetos
redondos eram presos a beirada por uma haste. Alguns deles mantinham
essa forma inalterada; outros, entretanto, comportavam-se estranhamente.
O agrupamento esférico defrontando-se a uma certa distância da
extremidade da planta tornava-se gradativamente alongada e durante ó
processo, uma abertura circundada por cílios muito finos formava-se na
parte da frente. A estrutura permanecia esticada de um a três segundos, em
seguida “contraía-se" e subitamente reassumia sua forma esférica. Estes
objetos assemelhavam-se a maçãs arredondadas ou a azeitonas meio
alongadas, que se moviam como penduradas num galho. Simultaneamente,
ou logo em seguida, eles nadavam em círculos livremente no líquido, às
vezes ainda presos por um talo a fragmentos arrancados à fibra vegetal. O
movimento descrito é o mesmo. O alongamento seguido pela contração até
a forma esférica, perdura por horas. Ocasionalmente, um objeto destes era
observado afastando-se do pedaço de planta durante o alongamento,
esticando o talo encurvado. Ao contraírem-se, algumas dessas formações
tendem a soltar contra a planta. Por acaso já será esta formação um
“animal”, ou será ainda apenas um “pedaço de vegetal"? A pergunta está
expressa incorretamente. O objeto é uma “forma transitória" porque dois
dias mais tarde a mesma cultura continha as mesmas criaturas, “separadas
da extremidade da planta” e “nadando” livremente no líquido. Porém desta
vez algumas pareciam diferentes; estavam em todos os estágios de
desenvolvimento concebíveis. Havia ainda algumas estruturas esféricas
vesiculares ligadas à fibra vegetal, expandindo-se e contraindo-se. Outras,
no mesmo estágio, já se haviam desligado do substrato vegetal. Um terceiro
grupo era particularmente impressionante: ao invés de contrair-se,
reassumindo sua forma esférica, eles permaneceram na forma “alongada”;
a "boca" ficou completamente aberta e ficaram semelhantes a paramécias.
De fato, moviam-se como tal, “nadando” rapidamente em todas as direções.
Continham um vacúolo pulsante na extremidade dianteira e vesículas que
se moviam tremulamente em círculos. Aqueles que ainda reassumiam a
forma esférica faziam movimento^ particularmente idênticos ao de “comer”
cada vez que assumiam a forma alongada. Uma vez que o objeto se tinha

23
tornado completamente esticado, a boca ficou totalmente aberta e as
vesículas independentes no fluído foram vistas movendo-se rapidamonte
em direção à boca aberta e, então, atravessando e entrando no objeto.
Àdós dois ou três segundos, a boca fechou-se, o organismo contraiu-se,
reassumindo a forma esférica e as vesículas em seu interior começaram a
mover-se vigorosamente; porém eu não consegui observar este movimento
detalhadamente. O objeto alongado não nadou em direção à vesícula no
líquido, mas, ao contrário, permaneceu estacionado e as vesículas
independentes fluíram para dentro de sua “boca”. Este pode ter sido um
fenômeno elétrico; os animálculos e também as vesículas provaram ser
negativamente carregados. As fotografias aqui ilustram vários estágios do
desenvolvimento desses organismos talvez identificáveis. Formas esféricas
ou alongadas podem ser observadas. Do mesmo modo, vemos os mesmos
objetos pendurados pelos talos nas fibras vegetais. Algumas dessas fibras
vegetais desfizeram-se claramente em uma estrutura granular e vesicular
(Figs. 17 e 25)
Considerei particularmente a mudança rítmica da forma esférica
para alongada. Sem hesitação, pode-se interpretar o estiramento como
resultado da inchação, durante a qual, a superfície se torna carregada. Esta
é a direção “Para fora de si, em direção no mundo”. A assimilação de fluido
e vesículas através da boca aberta provavelmente coloca em ação um
processo que conduz de volta à. forma esférica por meio de contração. Tal
contração pode, provavelmente, ser considerada como um processo de
descarga, do mesmo modo que os músculos se contraem quando
estimulados eletricamente. Se uma corrente fraca é passada através da
cultura, a contração se dá prematuramente, antes que o alongamento seja
completado.
Ainda que a relação detalhada não esteja tão clara, pode-se dizer
que: Para que se pudesse seguir adiante, foi necessário assumir que o que
eu estava observando diretamente era o processo

tensão-carga-descarga-relaxamento. Naturalmente algumas questões


continuavam sem resposta; por exemplo, o que capacitava este organismo
para reter sua forma alongada e o que o fazia perder sua habilidade para
retornar á forma esférica. Entretanto, tal observação demonstra que “pelo
menos este tipo de protozoário se forma pela transformação do tecido
vegetal após passar por várias fases de desenvolvimento”. Não seria
proveitoso tentar classificar tais protozoários nesse estágio. Foi feito um
i me da cultura estudada (cultura 8). Deu-se o nome de “Org-Tierchen” aos
objetos contraídos (derivado de contração “orgástica”).

24
17. Estruturas marginais vesiculares. Filme da cultura n° 8,
ampliação: 1200x

18. Estrutura marginal (periférica) 19. Grupamento organizado de


organizada. Filme da vesículas oval, movei.Filme
cultura n° 8, ampliação 700x da cultura n° 8, ampliação 1500x
20 e 21. Org-animálculos na folha de capim. Dois estágios de formação.
22. Org-animálculos. Referindo-se como org-protozoário em publicações
posteriores.

23, Grupamento vesicular completamente organizado ligado à


folha de capim. Filme da cultura n° 8.

27
24. Org-animálculo em forma 25. O mesmo organismo, esticado.
ovóide, 1500x.

3. Confirmação do Caráter Vesicular das Amebas que Fluem

A suposição inicial de que as amebas que fluem são aglomerados


de vesículas ocorreu-me cerca de dois anos atrás. No entanto, o estudo dos
bions de terra, em primeiro lugar, afastaram-se do problema da ameba, e tal
suposição não pode ser confirmada; nenhuma observação microscópica
sistemática havia sido realizada. Portanto, eu depositei toda a minha
esperança em fotografia de espaço e tempo para desvendar o processo
através do filme. Entretanto, algumas dificuldades técnicas protelaram
solução do problema por mais um ano. A filmagem em espaço de tempo do
processo requer uma cultura absolutamente parada, sem fluxo de qualquer
natureza no líquido. Logo se descobriu que culturas de capim embebidas
em parafina perecem devido à falta de uma membrana e o subsequente
desenvolvimento das amebas podia ser uma das principais provas da minha
teoria. O problema técnico foi solucionado da seguinte maneira:
Dois ou três pedaços de musgo ou capim, cuidadosamente
separados, foram colocados sobre uma lâmina côncava)-acrescentou-se o
líquido para a cultura. Pegou-se uma cobertura de vidro que foi provida de
quatro pés de cera, um em cada canto, e colocada sobre a lâmina côncava
dß modo a impedir a formação de bolhas de ar. Os dois lados compridos da
lamina côncava foram selados com parafina. Deve-se notar que
aproximadamente um quarto da concavidade da lâmina côncava foi coberta
pelo vidro. Foi colocada água ao longo dos dois lados que não foram
selados de modo a formar reservatórios que poderiam substituir
completamente o líquido que evaporasse. Esses dois reservatórios de água
tinham que ser preenchidos mais ou menos a cada duas horas. Assim, o
problema técnico foi solucionado e a filmagem do período da cultura pode
ser executada durante vários dias. Não obstante, tinha-se que tomar
cuidado para quedos reservatórios de água fossem preenchidos a tempo e
HUe \ cu*tura nao se secasse. Usando esses métodos técnicos, foi
escoberto que, sob condições ainda não completamente compreendidas, o
musgo seco quando colocado em água produz amebas além de outros
protozoários. Finos pedaços de capim inchados pelo cozimento se partem
em vesículas muito finas. Estas crescem em tamanho e são circundadas
por uma membrana bem definida. Uma vez que atingem um determinado
tamanho, uma ou outra porção da membrana começa a se avolumar
(formar uma bolha) embora a estrutura como um todo permaneça sem
movimento. Um pequeno círculo se forma no centro. Então forma-se uma
camada solta em torno das grandes vesículas circunscritas limitando-as;
elas têm uma pequena vesícula quase como um ponto no centro. Esta
margem mais tarde se torna ectoplasma, enquanto as vesículas no centro
da grande sácula redonda transformam-se na estrutura grosseiramente
vesicular do endoplasma.
Após diversas horas, o objeto separa-se da fibra e arrasta-se para
longe como uma ameba. Um movimento de fluxo dentro da porção
protuberante da membranas não se inicia na última fase do processo. A
separação acontece gradativamente. Uma^ue a formação se liberta do
fragmento vegetal, pode-se já observar as massas salientes do plasma em
vários pontos do organismo. As amebas, desta maneira, vão se formando
continuamente, às vezes, duas ou três se formam simultaneamente em um
outro período de tempo; outras vezes, formam-se uma após outra a
intervalos reguläres. As amebas, uma vez separadas se subdividem. Elas
podem ser agrupadas em colônias, são difíceis de distinguir das margens
das fibras de musgo que sofreram inchação. As observações diretas
provaram que as amebas se formam a partir das fibras intumescidas de
musgo (veja as microfotos do filme n° 8 do espaço de tempo: Figs. 26-31).

26. Musgo no início do processo de inchamento, 300x.

29
27. Musgo desintegrado em vesícula, campo escuro, cerca de 800 x.

ve™3 , no desenvolvimento das amebas que fluem. As


siculas no topo direito são musgo inchado e cada um se desenvolverá
form a~me^a‘ No canto inferior esquerdo, outros protozoários em
29. Uma fase mais madura do desenvolvimento das amebas na mesm
cultura. As vesículas à esquerda estão no ponto de fluir.

30. Amebas completas, movimentando-se. No alto, à direita,


vesículas fluindo. 800x.
31. Estrutura vesicular de uma ameba, 1500x.

32. Cristais de terra não estuturados, preparo filmado nn. 1, 2 e 3, 800x,

32
4. Cristais de Terra e Bions de Terra Vesiculares com Motilidade

Minhas observações e a hipótese resultante colidiram


violentamente com a ‘teoria do germe”. Deliberadamente evitei considerar a
visão contemporânea sobre “a origem da vida a partir dos germes da vida",
Seguindo essas observações iniciais, foi mais do que nunca necessário
abordar e interpretar meu trabalho de maneira não tendenciosa. A título de
comparação, fiz diversas culturas em água não-estéril com uma folha de
tulipa, uma pétala de rosa, capim e terra comum simples. Após três dias, a
folha de tulipa e a pétala de rosa não haviam apresentado qualquer
desenvolvimento de protozoários. A infusão de capim, por outro lado,
estava cheia de pastão com motilidade, vesículas e vários protozoários. A
cultura de terra e água (cultura 1a) continha algumas surpresas maiores. As
observações microscópicas da infusão imediatamente após sua preparação
mostraram cristais completamente imóveis, rigorosamente definidos e
desestruturados (Fig. 32), Havia também as formações vesiculares
ocasionais palpitando entre os cristais e alguns pastões alongados, verde
luminescente, anucleados, movendo-se vagarosamente. No tèrceiro dia, a
mesma cultura, que permanecera descoberta, parecia diferente. Estava
cheia de estruturas angulares com motilidade que se moviam exatamente
da mesma maneira que os bastões das vesículas. Fiquei impressionado
com a maneira pela qual as pequenas formações vesiculares se prendiam à
superfície dos bastões ou dos objetos maiores. As formações tinham uma
aparência esticada, semelhantes à vesículas e muitas delas haviam
modificado sua estrutura. “Dentro, estrias eram encontradas, as quais se
tinham rompido aqui e ali em vesículas”. As inclusões vesiculares nos
cristais estraturados não podiam ser distinguidas das formações vesiculares
que flutuavam livres e palpitantes no líquido.
No sétimo dia, tanto a desintegração em vesículas quanto a
estruturação tinham atingido um estágio muito avançado. Mesmo à uma
ampliação de 700x era possível observar protuberâncias claramente
definidas nos limites dos torrões de terra angulares, irregulares e
amarronzados. Tais protuberâncias assemelham-se a “tubos
vesicularmente estruturados”, que se expandiam e se contraíam de modo
alternado; também se podia observar movimentos de se encurvar. À uma
ampliação de 1625x, vi um torrão de terra amarronzado com protuberâncias
vesiculares em vários pontos ao redor de suas beiradas. Ele se ligava a
outro torrão de terra por uma massa vesicular estriada. “No ponto de
conexão, o torrão de terra estava se curvando e esticando”. Primeiramente,
pensei que estivesse enganado, porém uma observação posterior mais
cuidadosa não deixou mais dúvidas: “O torrão se movia como se estivesse
articulado; estendia-se e contraía-se”. Ao fim de outros sete dias, o
processo de desintegração em vesículas, a formação de estrutura estriada
e a ruptura das beiradas dos cristais em vesículas, tinha progredido
consideravelmente. As protuberâncias ao longo das beiras do cristal
movimentam-se de três maneiras diferentes: (1) em rotação ao redor de
seus eixos; (2) estendendo-se e contraindo-se; e (3) encurvando-se.

33
33. Gristal nos estágios preliminares da estruturação vesicular. Cultura 1
com seis semanas de idade. 1000x.

Cristais em movimento, estrutura vesicular.


Batizei estas novas formações nos cristais de “plasmóides” (Figs.
36 e 37).
Fiz passar uma corrente de 1mA através da cultura, aumentando a
força muito gradativamente para 2mA. As palpitações das vesículas
aceleraram-se e o estender-se e curvar-se tornaram-se mais pronunciados.
Quando a corrente foi aplicada, as vesículas se movimentaram em direção
ao “cátodo". Elas eram, por conseguinte, “partículas positivamente
carregadas”. Interromper a corrente causou subitamente a parada do
movimento, como súbito era no início. Quando acorrente foi invertida, a
direção do movimento das formações independentes mudou rapidamente.
Se a corrente era aplicada por um tubo longo, as estruturas tubulares
intumescidas nas beiradas dos cristais sacudtoíSfe, como se estivessem
tentando libertar-se. Quando a corrente era interrompida, esses movimentos
de libertação continuavam ocasionalmente por certo tempo. As estruturas
tubulares freqüentemente se alongavam até duas vezes seu tamanho
original. Repetindo-se o exame da reação elétrica sempre se obsèrvava o
mesmo resultado: "a passagem da corrente tinha como que uma influêncja
ainda não definida sobre o movimento espontâneo, particularmente sobre p
esticamento.
Voltarei às reações que acabei de descrever, porém agora
abordarei outros fenômenos que observei posteriormente no meu trabalho.
Recordemos que até agora testemunhamos dois fenômenos
provavelmente radicalmente diferentes:

1- “A desintegração vesicular das fibras vegetais intumescidas; isto é, do


tecido orgânico".
2. “A estruturação vesicular de cristais de terra, isto é, da matéria
inorgânica", seguida da “formação de estruturas tubulares móveis e
outras partículas igualmente móveis”.

A partir daí tentei repetidamente reproduzir experimentalmente os


dois fenômenos e varrer as condições experimentais ao acaso. Meu
principal interesse era que minha hipótese estivesse correta, quer dizer, que
as vesículas formadas a partir de substâncias intumescidas fossem de fato
idênticas às formações vesiculares no interior das amebas.
Substituí à água nos preparados por cloreto de potássio
normal, a fim de testar “o efeito de entumescimento do potássio”. Descobri
que a terra tratada com cloreto de potássio inchava mais rapidamente e que
os fenômenos descritos eram mais distintos. Observei a mesma coisa em
preparos de capim seco, ou semi-seco que tinham sido tratados com cloreto
de potássio. No caso dos preparos de capim, era possível produzir
popularmente os grupamentos imóveis das vesículas. Cada vez mais
freqüentemente, observei vesículas independentes fluírem para dentro e
para fora. Do mesmo modo o progressivo rebentar em vesículas podia ser
reproduzido inúmeras vezes nos preparados de terra tratada com a solução
de cloreto de potássio.

35
Queria fazer as vesículas, formadas durante a desintegração das
várias substâncias, aglutinarem-se artificialmente usando algum agente
adequado. Por conseguinte, acrescentei um pouco de gelatina vermelha
bem diluída aos preparados de capim e terra que se encontravam em
adiantado estágio de decomposição. “Estruturas amebóides, que
anteriormente não apareciam e que não se tinham formado nos preparados
sem gelatina”, foram observados nos vários preparados após apenas
algumas horas; estavam essas estruturas completamente desenvolvidas
após um ou dois dias. Estas estruturas, a que chamei de “pseudo-amebas”,
rastejaram-se em “várias” direções nas culturas com movimentos
espasmódicos”. Elas formavam grupamento de vesículas, com ocasionais
hastes isoladas que se salientavam de suas beiradas como espinhos
móveis. Os movimentos espasmódicos não eram tão organicamente
fluentes como as correntes plasmáticas nas genuínas amebas que fluem. A
uma ampliação de 2000x, não apenas a locomoção, mas também o
movimento interno das estruturas e os movimentos de encurvar-se e
estender-se podiam ser observados. “Completamente de acordo com minha
suposição, a gelatina tinha, dessa maneira, combinado várias vesículas e
aglutinado-as em uma “colônia”. Esta colônia de vesículas agora movia-se
como um “todo coeso". O problema seguinte consistia em estabelecer a
origem de tais movimentos. A corrente plasmática, observada em muitas
amebas, não era vista nessas cultura (Fig. 35).
A figura 34 mostra um cristal vesicular completamente estruturado,
ligado por uma haste a um segundo cristal, do qual somente a margem
esquerda encontrava-se estruturada. Quando a microfotografia foi tirada,
este cristal estava rastejando bem vagarosamente na direção da seta e
estava arrastando o cristal incompletamente estruturado atrás de si.

35- Pseudo-ameba móbil. Bions de terra estéril aglutinados pela gelatina.

36
Parecia lógico objetar que as pseudo-amebas descritas não eram
na verdade o resultado de uma aglutinação artificial, mas o resultado de
“germes de organismos” que se tinham infiltrado na cultura não esterilizada
e descoberta. Com o propósito de testar a exatidão desta objeção, adotei a
prática de esterilizar as culturas por fervuras de quinze a trinta minutos em
recipientes de vidro fechados.
Tal experiência revelou um resultado completamente inesperado:
“as culturas fervidas imediatamente exibiram formas de vida mais ricas e
ativas do que as culturas não fervidas após dias de inchação.
Nas culturas não fervidas, as vesículas livres estavam espalhadas
e a maioria dos cristais estavam desestruturados. A estruturação vesicular
dos cristais processou-se vagarosamente durante um período de várias
semanas. Em contraste, “imediatamente após a fervura”, as culturas
exibiam inumeráveis vesículas, de forma redonda ou irregular em constante
movimento, que se agrupavam estreitamente. O líquido das culturas não
fervidas normalmente permanecia claro e com alguns resíduos
acomodados. O líquido das culturas fervidas tornava-se imediatamente
“coloidalmente opaco”. Exames das características elétricas das culturas
fervidas mostraram que as vesículas eram também partículas
“positivamente carregadas”, as quais migravam para o cátodo quando se
passava uma corrente de 0,5 a 1mA. através delas. Posteriormente, quando
se acrescentou gelatina estéril-diluída, o resultado obtido foi o mesmo que o
descrito anteriormente para a terra não esterilizada: "as vesículas
granulares individuais se combinavam para formar estruturas amebóides
móveis”. O mesmo resultado foi atingindo fervendo uma mistura de terra,
cloreto de potássio e gelatina.
Entretanto, a presença de formas móveis numa cultura bem selada
imediatamente após a fervura criava um problema maior. A possibilidade de
que as culturas fervidas pudessem conter muito mais vida do que as não
fervidas, não estéreis e descobertas, parecia ir contra todas as leis da
esterilização. Seis dias após ferver, uma cultura vedada mostrou que, à
uma ampliação de 1500x , a grande maioria das estruturas exibiam os
movimentos familiares. A cultura também continha algumas projeções e
formações plasmáticas, isto é, áreas que se destacavam brilhantemente e
possuíam três ou quatro projeções em forma de linha ou hastes.
A maioria dos cristais tinham uma estrutura vesicular por toda
parte. Controles exercidos sobre as culturas e terra-água frescas e não
fervidas sempre conduziram ao mesmo resultado: a ausência de estrutura
vesicular e menos vesículas anucleadas. Ao fazer tais observações tive que
aprender a distinguir entre o movimento espontâneo dos torrões de terra
que tinham passado por inchação e o movimento passivo dos torrões de
terra causado pelos objetos móveis que colidiam com eles. Não existia
mais qualquer dúvida de que as culturas fervidas continham formas de vida
muito mais ativas. Da mesma forma, não havia dúvidas de que as culturas
fervidas continham maior número de formas tubulares contráteis e
entumescimentos marginais.

37
Quando usava fortes lentes submergíveis à uma ampliação de
2300 a 3000x, podia observar claramente a “pulsação” em pontos distintos
nas formações contráteis. Objetos sólidos e cristalinos com limites
organizados, aparentemente ligados uns aos outros por uma massa
gelatinosa tentavam “libertar-se”. Em algumas formas, embora somente
com ampliações muito elevadas, fiquei surpreso de notar que havia
estruturas verdes, parecendo brilhantes, movendo-se vigorosamente no
interior da massa gelatinosa. Estas estruturas eram idênticas em todos os
aspectos às hastes verdes, de núcleo brilhante, que flutuavam livremeVite
pelo líquido. Vi-me forçado a concluir que os torrões de terra tinham inchado
e que as “partes individuais” se tinham transformado em vesículas e hastes.
Se essas unidades intumescidas permanecem ou não no interior dos
cristais ou se libertam deles e se movem desimpedidos pelo líquido,
depende de vários fatores ainda desconhecidos. Quando passei a corrente
0,5-1 mA através dessas culturas, observei novamente a formação de
protuberâncias vesiculares, palpitações intensificadas das vesículas,
migrações para o cátodo, etc.
Assim tornou-se crescentemente claro para mim que “quanto mais
vesicular a estrutura de tal cristal, mais ela é móvel”. A fim de prosseguir
meu trabalho, era necessário concluir que as partículas vesiculares eram
unidas de matéria intumescida, altamente carregada eletricamente e
mantidas unidas por uma substância geligorme. Tais partículas moviam-se
por dentro das estruturas amebóides assim como se moveriam
individualmente como vesículas anucleadas em um espaço livre e irrestrito.
Repetidas experiências de controle com terra fervida sempre
conduziam aos mesmos fenômenos, isto é, vesículas móveis, formações
nucleadas e anucleadas, pseudo-amebas e divisões. A fim de apurar se
esses fenômenos não eram talvez atribuíveis a erros de cultura, fiz culturas
de controle de terra não fervida, folhas de árvores e tulipas, etc., deixei-as
“sem lacre”. Uma vez mais “as culturas não-estéreis exibiam muito menos
vesículas que as fervidas e era muito mais difícil para as vesículas móveis
se formarem ou para os marginais desfazerem-se em vesículas do que no
caso das culturas fervidas.
A questão, então, formou-se: se essas formações eram realmente
matérias vivas, exibiriam alguma outras propriedades conhecidas, tais como
divisão celular, em acréscimo à motilidade, contração e expansão?
Comecei a estudar as culturas de terra-cloreto-de-potássio-gelatina
detalhadamente, com esta pergunta na cabeça. Após observar o
mesmíssimo campo e a mesmíssima estrutura sob o microscópio por horas,
logo pudç detectar “divisões das pseudo-amebas”.
Quando me tornei mais familiarizado com as culturas, tornei-me
cada vez mais convencido de que essas eram provavelmente formas vivas
que estavam, por assim dizer, incompletas: por exemplo, os movimentos
das pseudo-amebas eram abruptos, vagarosos, trêmulos e sem qualquer
luxo interior, isto é, “mecânico”. Os objetos deviam, por conseguinte, estar
nos estágios preliminares da vida”. Por minha própria conveniência, chamei

38
os “bions". Seriam os organismos vivos completos capazes de se
desenvolverem a partir de bions?
Fiquei contente de observar que, em adição à divisão, eles
também exibiam a função de “comer”. Espreitei uma colônia de vesículas
pseudo-amebóides do tipo descrito quando ingeria livremente vesículas
individuais que nadavam. Tive que desfazer-me do preconceito que é
erradamente associado à palavra “comer”. Certamente que é um erro usar
expressões antropomórficas quando se descreve formações protozoárias.
Quando falamos de “comer”, automaticamente pensamos na criatura viva
racional “ingerindo” alimento de seu ambiente para manter-se vivo”. Tive
que livrar-me deste conceito falso antes de poder incluir o fenômeno de
“comer” ao lado de outras observações de um modo que fizesse sentido.
Parecia irrefutável que “as células que eu estava observando eram
compostas de vesículas e haste”, do mesmo modo que um corpo de um
organismo multicelular é composto de células individuais. Este conceito
chocava-se com a visão de que as células são as unidades elementares da
matéria viva, pois significaria que não as células, mas as vesículas são as
unidades biológicas e que as células são estruturas já complexas. Como
mostrou a reação elétrica, essas vesículas e hastes eram estruturas
altamente carregadas e tensamente distendidas. Parecia lógico concluir que
uma colônia de vesículas “come” atraindo para si as vesículas individuais
que nadam livremente eletricamente carregadas, acrescentando-se à
“colônia em desenvolvimento". Isto é exatamente como protozoários
contráteis se comportam.

36. Cristal plasmoidal de terra, margens móbeis. 1650x.

39
Esta foi uma suposição que se apresentou a si mesma. Eu estaria
igualmente pronto a aceitar qualquer outra suposição plausível. A este
estágio do trabalho, era. dq maior importância refinar e controlar ás
experiências. “Eu estava continuamente diante da questão de copio era
possível para substâncias fervidas conterem mais vida do que as não-
fervidas e não estéreis”. Originalmente, pensei que o movimento de
palpitação rápido das vesículas fervidas fosse um fenômeno de calor,
porém várias experiências em que uma corrente elétrica era aplicada
demonstraram que este movimento era elétrico em seu caráter, porque a
palpitação aumentava quando a corrente era aplicada. A esta altura, eu não
queria considerar o problema de se estas eram bactérias verdadeiras ou se
outros tipos de estruturas “se tinham formado no processo de fervura”. Se
tivesse sido possível criar pseudo-amebàs de terra fervida, gelatina e
cloreto de potássio fervidos, seria também possível conduzir uma
experiência de controle posterior com outras substâncias. Eu sentia que
devia haver substâncias que eliminariam o caráter “inacabado” das
formações.
Mais tarde, mudei para autoclavagem da terra em cloreto de
potássio a 120°C, com um resultado muito melhor que o alcançado com
carvão a 180°C. A autoclavagem forneceu apenas uns poucos cristais
móveis e colônias de vesículas. Voltarei a isto quando descrever as
experiências com culturas.
As observações até aqui descritas confirmam fartamente, a meu
ver, a exatidão biológica da fórmula tensão-carga. “A inchação vesicular
representava a tensão mecânica, enquanto que o comportamento elétrico
positivo ou negativo das vesículas individuais representava a carga”.
Entretanto, vastas áreas do problema ainda estavam obscuras.

37* Cristal de terra plasmoidal móbil. 2300x.

40
Ilustração do “ato de comer”; desenhado a partir de observação de
substância viva.

.oß

.06

Ameba A não se moveu em direção aos bions B. Ao invés, os


bions, uma vez que se tinham aproximado até certa distância do curso,
moveram-se rapidamente em direção à ameba e desapareceram no seu
interior, (veja a direção das setas).

5. Preparados com Clara e Ovo

De acordo com a fórmula da tensão-carga, completar o


desenvolvimento da função nas estruturas requeria certas substâncias que
tivessem a propriedade de inchar. As experiências realizadas em outros
lugares mostram que a lecitina atua como o potássio, e a colesterina atua
como o cálcio, os dois primeiros tendo um efeito de “inchação”, os dois
últimos um efeito de “encolhimento”. Por conseguinte, adotei a prática de
adicionar lecitina e colesterina aos preparados de terra. Além dos
fenômenos já descritos, ocorreram outros que não vira anteriormente. Em
primeiro lugar fiquei impressionado com o fato de que os preparados
estivessem cheios de estruturas semelhantes a tubos f regularmente
formada^5estruturas as quais vagarosamente mudavam de forma. (Figs.
38,39 e 40).
As experiências de controle, nas quais cada substância recebia
separadamente o mesmo tratamento, logo mostraram que essas estruturas
eram criadas pela lecitina. Elas exibiam as seguintes características: as
estruturas semelhantes a tubos, com freqüência ligadas frouxamente,
tornavam-se mais compridas e mais grossas, encurvadas, mudavam de
posição e, em particular, exibiam brotações. Em certos pontos do tubo,
formava-se outro tubo que, por sua vez, ramificava-se em outro, e assim por
diante. Se eu acrescentasse KCL à lecitina, conseguia exatamente as
mesmas formações. "Elas não apresentavam qualquer movimento
orgânico”. Supus que o “crescimento” e a ramificação que observar
pudessem ser atribuídos à abosrção do líquido , como que um saco. Este
processo cessava após aproximadamente quarenta e oito horas. No
entanto, “não havia dúvida de que a lecitina era capaz de criar estruturas”.

41
O movimento relacionado com este crescimento e ramificação era
fundamentalmente diferente daquele das pseudo-amebas.
“Então, acrescentei clara de ovo ao preparado de terra-lecitina”. O
resultado superou todas as expectativas. Após alguns minutos, células
redondas, que possuíam um núcleo escuro e que se subdividiam em rápida
proliferação, formavam-se nos preparados não fervidos. As células se
dividiam tanto pela constrição no meio, no curso da qual os núcleos
também se dividiam, quanto pelo brotar de uma célula menor que a seguir
se separava da maior. Também se observavam claramente movimentos
separatíveis em certos pontos. O que estou tentando descrever
sucintamente aqui, foi na verdade revelado após longos períodos de
exaustiva observação. Da mesma maneira como aprendi a observar e
acompanhar os fenômenos, eles adquiriam um padrão e ganhei confiança
para identificá-los. Quando acrescentava clara de ovo, formavam-se
células. “Não se formavam células quando não se acrescentavam lecitina e
colesterina. Neste caso, o preparado continha apenas aglomerado de clara
floculosa tal como se observa quando se coloca clara de ovo sem ferver sob
o microscópio. Também a lecitina, apenas acrescida de água, deixava de
produzir quaisquer células móbeis”.
Também esses preparados de clara de ovo misturado mostram
que os preparados não fervidos formavam substâncias móveis mais
vagarosamente e eram menos ricamente variados que os preparados
fervidos. Os preparados não fervidos eram muito menos túrgidos e
continham mais sedimento. As partículas coloidais que se formavam após
ferver ficavam, nesse caso, em suspensão devido á sua carga elétrica,
segundo todos os conhecimentos anteriores. Depois de deixar os
preparados repousarem por várias semanas, notei um enorme crescimento
no número de formações individuais. Após seis ou oito semanas, o líquido
começou novamente a clarear e as partículas afundavam, formando uma
camada grossa e esbranquiçada. Os exames ao microscópio revelaram
que, quando o colóide saía da suspensão, a motilidade e a reação elétrica
também cessavam. As estruturas estavam “mortas”. Deixe-me recapitular
sucintamente:
“A lecitina com o cloreto de potássio sozinho não produz células,
mas apenas tubos de forma regular de vários tipos. Também não há
movimento orgânico, mas simplesmente um crescimento e uma
ramificação, aparentemente causados pela absorção de fluido. Clara de ovo
a que somente KCL é acrescentado não resulta em qualquer formação
celular. Entretanto, clara de ovo mais lecitina mais KCL mais colesterina dá
origem a formação celular”.
Tornei a experiência ainda mais complexa acrescentando gelatina.
Assirri, obtive uma mistura de clara de ovo, terra, lecitina, colesterina,
gelatina e cloreto de potássio. Quando a gelatina era acrescentada,
estruturas vesiculares plasmoidais que se moviam vigorosamente, erám
visíveis imediatamente após a fervura. Em contraste com as pseudo-
amebas do preparado de terra descrito anteriormente, tais objetos tinham
ma estrutura muito mais fina” e exibiam “movimento muito mais rítmico”,

42
não mais espasmódico e mecânico, porém suave e orgânico (Fig. 41). As
formas amebóides que obtive desse modo tornaram-se mais complexas
quanto maior o tempo de fervura. Elas eram dotadas de muito mais funções
do que os preparados de terra fervida. Enquanto que as pseudo-amebas no
preparado de terra eram capazes de movimentos, as partículas internas das
estruturas apresentavam um pouco ou nenhum movimento, e apenas rara e
fracamente mostravam fluxo, curvatura e distensão. As formas amebóides
nos preparados mistos de clara exibiam um movimento interno de corrente,
encurvamento, estiramento e locomoção. Em ambos estavam presentes as
funções de divisão e "comer” (Figs. 42 e 43).
As formas amebóides nos preparados mistos de clara de ovo
tinham uma estrutura vesicular muito mais fina. Além disso, após alguns
dias era possível observar formações que possuíam um plasma homogêneo
e um movimento de fluir pseudopodal. “Eram também visíveis: contração,
expansão, divisão, brotação, comer e locomoção”. As questões do
“metabolismo, da culturabilidade, do tingimènto e das características
bacteriológicas” das estruturas que tinham surgido permaneciam ainda sem
resposta.
A natureza, estrutura e atividade biológicas das formas móveis
podem ser alteradas pelo uso de substâncias diferentes ou pelo acréscimo
ou omissão de uma ou outra substância. Este fato deve ser considerado
como uma prova importante da possibilidade de vida se formar a partir de
matéria inanimada. As substâncias não precisam ser misturadas em
proporções exatas. É como se as estruturas se formassem em consonância
com alguma lei ainda desconhecida. Como se o relacionamento das
substâncias que formam estruturas móveis vivas -estivesse determinado por
um “princípio de auto-governo". Entretanto, nada se sabe sobre isso tudo.
Em minhas investigações posteriores, acrescentei caldo de carne,
leite e gema de ovo como substâncias nutrientes à mistura bion. também
acrescentei carbono em várias formas: isto é, pulverizado finamente, carvão
esterilizado a seco, pó de carvão autoclavado em KCL, pó dé carvão
aquecido até a incandescência, seco ou com caldo de carne; finalmente
fuligem esterilizada a seco ou fuligem aquecida a incandescênpia. Os
melhores resultados foram obtidos acrescentando fuligem: formaram-se
objetos amebóides extremamente móveis e finamente estruturados.

43
38. Lecitina, esfregada até secar sobre 39. Cristais de colesterina.
vidro de cobertura. 400x. 400x.

A mistura de Bion n° 6 agora é preparada dos seguintes modos:

6 a . Mistura não-estéril. 6 ab e 6 ac. A mistura não-estéril é fervida (100°C,


Vz hora) ou autoclavada (120°C, de 1/4 a 1 hora). 6 c. As substâncias são
pré- esterilizadas. 6 cb. A mistura é preparada sob condições estéreis e
em seguida é fervida. 6 cc. A mistura estéril é novamente autoclavada.
6 ccc. A mistura estéril é autoclavada 2 vezes.

A mistura 6cc produz os melhores resultados da cultura. As


primeiras inoculações são realizadas somente depois de três ou quatro
dias.
Será possível aqui falar de “criação de vida artificial”? Por vgidade,
eu diria que sim; raciocinando corretamente, eu devo dizer que não. Se, em
tejmos metafísicos, a vida fosse um campo completamente separado da
não-vida, eu teria o direito de dizer que estava criando “vida artificial”.
porém, minhas experiências demonstraram que havia “estágios de

desenvolvimento” na progressão da não-vida e da imobilidade para a vida e


que, na natureza, a vida está surgindo da matéria inorgânica provavelmente
em cada hora e em cada minuto. Neste caso, não se pode realmente falar
d® vida artificial. “Eu simplesmente tive sucesso em revelar,
experimentalmente, o processo de desenvolvimento da vida”. Era possível
que uma nova forma de organismo fosse gerada artificialmente nesse
Processo.

44
No dia 8 de janeiro de 1937, enviei ao Prof. Du Teil o seguinte
relatório:
Antes de lhe dar um relatório detalhado de minhas experiências,
gostaria primeiro de falar-lhe sobre uma experiência de aquecimento
baseada na fórmula da tensão-carga. Apenas mencionarei o procedimento
experimental e o resultado. Está sendo feito um filme, no Instituto, para
Pesquisa da Economia-Sexual, que mostrará claramente o que se
desenrola. Ao mesmo tempo, amostras do preparado coloidal também
serão remetidas.
A fim de estabelecer os fundamentos para experiências
posteriores, e á luz do grande número de descobertas já disponíveis, foi
necessário considerar a fórmula de "tensão mecânica -4 carga elétrica
descarga elétrica relaxamento mecânico () como sendo idêntica à
fórmula do funcionamento vegetativo em geral”. A experiência seguinte
deveria ser realizada para providenciar a prova da fórmula:
Neste ponto das minhas experiências, começo preparando uma
mistura estéril de 100cc de solução de Ringer e 100cc 0,1 N de solução de
cloreto de potássio. Acrescenta-se uma solução de “gelatina vermelha” até
que esta se torne rosa pálido. Acrescenta-se uma pequena quantidade de
“pó de carvão” colhido com uma pinça e uma quantidade igual de cristais de
colesterina. Toda a experiência se baseia no princípio de reunir, numa certa
seqüência, aquelas substâncias necessárias à síntese celular.

Ver Der Urgegensatz des vegetative Lebens (1934) e Experimentelle Ergebnisse


über die elektrische Funktion von Sexualität und Angst (1937), ambos publicados pela
Sexpol-Verlag, Oslo.

45
Agora, dissolvemos uma colher de chá de clara de ovo fresca e
límpida em mais ou menos 50cc de solução de cloreto de potássio estéril e
acrescentamos tudo à mistura anterior. A clara se dissolve após ser mexida
por alguns momentos. Sob o microscópio, não é possível detectar qualquer
surgimento de formas, nem há qualquer sinal de movimento ou de
estruturas plasmáticas. Mesmo a alta ampliação (1000x) só é possível
observar os típicos cristais imóveis do carvão e da colesterina.
Então adicionamos de 1 a 2cc de leite e um pouquinho de gema de
ovo. Isto torna opaco a mistura anteriormente clara.
Em seguida,, fazemos uma “segunda solução”: “trituramos lecitina
na forma de fuligem em solução de KCL”. A uma ampliação de 500~900x
vemos estranhos objetos desenvolverem-se e crescerem; quer dizer,
“tubos" que incham, brotam e encurvam. Não há estrutura discernível dentro
dos tubos, embora ocasionalmente haja colônias de vesículas de forma
definida. Não ocorrem 'qualquer movimento orgânico. Há somente
fenômenos de inchação puramente física baseados nas mudanças na
proporção da pressão interna e tensão da superfície.
Se acrescentarmos então à solução de lecitina à primeira mistura,
esta se torna “imediata e progressivamente" de um cinza-amarelado opaco.
Sob o microscópio é surpreendente observar as formas vivas móbeis:
“movimentos palpitantes de um lado para outro, brotações, divisões de
formações celulares, movimentos de rastejar que se iniciam espasmódicos
e se tornam fluentes”. O caráter orgânico do movimento só pode ser
observado a ampliações superiores a 1500x, “sendo mais claramente visível
a 2300-3000x, usando um microscópio binocular”. Se uma formação for
observada continuamente a + ou - 3000x, notam-se objetos vesiculares
nucleados, cintilantes, que mudam de forma. É possível distinguir quatro
grupos de estruturas com movimentos vigorosos: “vesículas” redondas
semelhantes a núcleos; “hastes”; formas nucleadas redondas de aparência
celular que se movimentam, mas que não exibem qualquer moção interno;
e, finalmente, “estruturas amebóides”. Estas últimas são particularmente
interessantes porque, a ampliações de 3000-3500x, revelam movimentos de
contração e expansão. A apenas 2000x já se pode vê-las rastejando.
As estruturas assim formadas são, pelo menos, segundo as
experiências conduzidas até aqui, “corpos negativamente carregados"; eles
migram para o ânodo. Se a mistura coloidal é posta a repousar por seis ou
oito semanas, forma-se um grosso sedimento, e o líquido se torna
crescentemente claro. Quando o sedimento é examinado às ampliações
mencionadas acima descobre-se que a motilidade descrita se perdeu e que
os objetos estão agora “mortos”. Apresentaremos mais tarde um relatório
que contenha a descrição detalhada sobre as experiências de controle que
foram realizadas. No momento, o metabolismo e o tingimento estão sendo
estudados. Tem-se verificado que "as estruturas são cultiváveis”. Se, de
!at0; a mistura for fervida até não conter mais qualquer líquido e o resíduo
for inoculado com mistura coloidal estéril, produzem-se crescimentos que
a 8 a9ora têm sido cultivados até a quinta geração.

46
As estruturas, desde que sejam mantidas estéreis, provaram ser
inócuas em experiências com animais quando injetadas subcutaneamente
em camundongos e porquinhos da índia.
A questão de se estas são formas vivas completas só pode ser
definitivamente respondida em conexão com outras experiência$, as quais
serão relatadas posteriormente, e somente após tcdos os experimentos e
controles terem sido realizados. A experiência descrita foi registrada em
filme.
As estruturas artificiais, semelhantes à vida, receberam o nome de
“bions”.

41. Bions imediatamente após a preparação. + = estruturas formadas


através do acréscimo de carvão. Preparado bion 6b. 1000x.

47
42. Bions estéreis frescos no preparado bion 6b. Filme preparado 6.
2000x.

Estruturas de lecitina (desenhadas).

XX

48
x tubo em processo de alongamento.
xx vesícula esverdeada trêmula, expandindo-se e contraindo-se.
Quando uma corrente é passada através dela, a vesícula se estende em
direção ao ânodo.

(5)
Formação nucleóide no tubo. Estrutura semelhante a uma célula.

Estruturas semelhantes as células formadas após adição de clara de ovo.

O' O Q

Transformações nas células.

Ly^\

J i:/v )

Brotação.

49
3. A CULTURABILIDADE DOS BIONS
(PREPARO 6)

“Os Bions são estágios preliminares da vida; são formas


transitórias do estado inorgânico e não móvel para o estado orgânico, o
móvel e culturável”. A fim de reproduzir os bions, quer de terra, carvão,
tecido animal, musgo ou misturas dessas substâncias, são necessárias
observações muito cuidadosas para identificar as condiçõessob as quais
os bions se tornam culturáveis. O fato de que os bionssão estágios
preliminares e não formas “completadas” de vida foi posteriormente
evidenciado pelos problemas encontrados quando se tentou fazer culturas
deles. Os fatores decisivos determinantes da culturabilidade são1 a
composição material dos bions e os nutrientes contidos nos meios de
cultura
A partir do outono de 1936, preparados de bions frescos (6)
passaram a ser feitos a uma média de duas ou três vezes por semana em
meu laboratório. Em 1o de janeiro de 1937, uma mistura de bions frescos,
que fora fervida por uma hora, foi inoculada em um meio nutriente. O meio
nutriente (a) consistia do resíduo seco que ficara após a substância de
bions ter sido completamente evaporada. Em 3 de janeiro quarenta e oito
horas depois, uma umidade branco-acinzentada que continuou a crescer,
tinha; se formado no meio nutriente. “O meio estava se desintegrando".
Tanto o meio nutriente quanto os bions tinham-se tornado absolutamente
estéreis devido às horas de fervura. O meio nutriente em questão (a) tinha
permanecido por semanas em uma incubadora de temperatura constante
sem apresentar quaisquer sinais de decomposição. A cultura da primeira
geração parecia ter tido sucesso. Sob o microscópio, era possível distinguir

()Meio nutriente c: misturam-se solução de ringer e KCL; então acrescentou-se


gelatina vermelha até o líquido tornar-se ligeiramente rosado. A seguir,
acrescentaram-se carvão, colesterina, % da clara de um ovo, algumas gotas de leite
e uma minúscula quantidade de gema. Finalmente, adicionaram-se lecitina e um ovo
inteiro na mistura completa. Tal mistura foi então dividida em tubos de ensaio e
secada a 80-100° C por uma hora em posição horizontal de modo que o meio
nutriente se forma-se como um depósito plano. Uma pequena gota de condensação
permaneceu de reserva. O substrato nutriente era amarelo.
Meio nutriente d: o mesmo tratamento e composição que para o meio nutriente c.
Ocorreu crescimento em alguns tubos de ensaio, embora não se tenha realizado
inoculaçãç (“Auto-inoculação”).
Meio nutriente e: umà quantidade muito pequena de solução de ringer e KCL foram
misturadas. Também foram acrescentadas umas poucas gotas de gelatina vermelha
dissolvida em KCL; carvão aquecido em KCL. Do mesmo modo, trituraram-se uma
colher de sopa de leite e um ovo inteiro mais lecitina em KCL, que foram adicionados
â mistura. Tal mistura é então dividida em tubos de ensaio por duas horas a 80-100°
c em posição horizontal. Isto foi feito por dois dias sucessivos”. Nenhuma altólise
processou-se nos tubos de ensiao. Isto foi verificado colocando os tubos para
descansar por cinco dias a 37° C sem qualquer crescimento detectável.
Meio nutriente f: meio nutriente usual de caldo de carne e agar.
(Agar = também agar-agar, geléia feita de plantas que vivem no mar, usada em sopar
no estudo de bactéria. N.T.)

50
, embora com dificuldade, “todos os quatro tipos” que se observavam na
mistura de bions: cocci vesiculares redondos; “hastes” curtas e longas;
células redondas nucleadas; e, finalmente, "formações amebóides
rastejantes”, contrateis e expansíveis. As “formações cultivadas” surgiram
ma*s movediças e vigorosas do que a mistura de bions originalmente
fervida. Os registros desses ensaios mostram que essa linhagem era
propagada com grande sucesso, conquanto variasse o preparado do meio
cultural estéril, até 9 de fevereiro, isto é, até à nona geração. A propagação
só foi interrompida uma vez, em 9 de janeiro de 1937, porque o meio
cultural em questão estava seco demais. A terceira geração, que se
desenvolveu em 9 de janeiro dè 1937, foi transportada para o meio cultural
(b) em 14 de janeiro. O meio cultural (b) foi obtido sem secar
completamente pela fervura a substância remanescente. Aparte esta única
interrupção, as experiências de proliferação transcorreram sem
perturbação.
Dentro de vinte e quatro a quarenta e oito horas, o meio nutriente
anteriormente seco decompunha-se regularmente em um líquido branco-
acinzentado O líquido ficava pululando com estruturas movediças
semelhantes a bions. Com exceção do meio nutriente (d), os meios de
controle não-inoculados “não apresentaram quaisquer sinais de
decomposição”. Se o meio nutriente não era suficientemente fervido, de
modo que sobrasse algum líquido, às vezes ocorria “auto-inoculação", como
eu chamei. Apesar do longo período de fervura, alguns bions obviamente,
remanesciam e causavam a decomposição do meio nutriente. Esta “auto”-
inoculação ou autólise do meio nutriente, sem inoculação, era uma ruptura
indesejável que prejudicava a boa seqüência dos testes culturais. Não
obstante, a auto-inoculação não devia ser considerada como um sinal
negativo; se os bions não podiam ser destruídos cozinhando-os, e se os
mais leves traços de umidade na mistura podiam produzir formas
movediças de vida, então era concebível que “o meio nutriente em si
estivesse vivo”. Tornou-se essencial não apenas eliminar a auto-inoculação,
mas também descobrir um meio nutriente que não possuísse a propriedade
da auto-inoculação.
Muitas semanas consumi tentando laboriosamente proliferar os
bions na solução de Ringer, sem lograr qualquer resultado claro, antes de
ter a idéia de ferver a mistura do meio cultural até secar e usar o resíduo
como meio nutriente. Por outro lado, o teste seguinte foi uma surpresa
completa: Uma cultura preparada da sétima geração da primeira “família” do
preparado estéril 6b foi aquecida por quinze minutos no esterilizador. A
cultura aquecida foi inoculada em 8 de fevereiro em uma nova variação (e)
do velho meio nutriente bion. Ao mesmo tempo, à sétima geração da cultura
foi inoculada, uma amostra aquecida e outra não, em um caldo de carne
com agar-agar (2). Apenas vinte e quatro horas mais tarde, para minha
máxima surpresa, notei que as culturas aquecidas, assim como as não
aquecidas da sétima geração, tinham formado densas colônias no meio de
agar-agar e de clara de ovo. O meio de agar não se tinha rompido. O
crescimento das culturas aquecidas era macroscopicamente idêntico ao das
culturas não aquecidas. Embora este resultado pudesse à primeira vista,
parecer surpreendente, ele é lógico, pois se no final deveria ocorrer que os
51
bions são formações vivas que não podem ser destruídas pelo
aquecimento, então seria apenas natural que as culturas produzissem
outras culturas após o aquecimentc. Os resultados dessa experiência já
foram confirmados.
Em 9 de janeiro de 1937, uma segunda família de bions frescos,
de dois dias de idade e estéreis, foi inoculada no meio nutriente (e). Em 11
de janeiro, o meio nutriente em único tubo de ensaio tinha decomposto
como no caso da família I. O meio de controle não se tinha desintegrado,
porém um segundo meio inoculado não se desintegrou também.
Àquele estágio de minhas investigações, uma primeira geração de
família bion freqüentemente não se desenvolvia no meio nutriente. Em 22
de janeiro, após testes de cultura fracassados nos meios nutrientes (a) e
(b), “a família que pegou foi inoculada com grande sucesso nos meios
nutrientes (e)”. Havia também clara evidência de desintegração em dois
tubos de ensaio. Alguns desta segunda geração de cultura da família II foi
inoculada no mesmo meio nutriente (e), o que resultou no “mesmo tipo” de
crescimento em 4 de fevereiro. “O teste de cultura aquecida foi, desta
maneira, bem sucedido no caso da família II, exatamente como no caso da
família I”. Continuamos a desenvolver as culturas não-aquecidas até 9 de
fevereiro, sempre com resultados positivos, como indicado na tabela.
Entrementes, a geração de cultura aquecida II b/2 tinha sido reinoculada no
meio de cultura (e) em 8 de fevereiro. Em 24 horas, detectou-se um
crescimento em forma de uma desintegração aquosa, branco-acinzentada e
turva do meio nutriente (II b/3).
Sucesso similar foi alcançado com uma “terceira família (III) de
bions” inoculada no meio cultural (d), em 21 de janeiro de 1937.
*
Gostaria agora de descrever alguns dos fenômenos básicos que
devem ser observados atentamente quando se avaliam culturas bem ou mal
sucedidas.

1. Após quarenta e oito horas, mas às vezes após muito mais, forma-se
uma camada úmida, brilhante e uniforme sobre o meio nutriente, no
caso de uma cultura bem sucedida. Quando o meio nutriente de controle
- é examinado com cuidado, com o auxílio de uma lente de aumento, os
montículos e a aparência muito brilhante da camada superficial não são
encontrados.
2. Quando não se dá desintegração, a superfície do meio de controle
; permanece lisa. Do contrário, formam-se protuberâncias branco-
acinzentadas normalmente arredondadas, porém ocasionalmente
alongadas, sobre o meio inoculado.
3- O meio cultural (d) claramente libera condensação. A condensação do
meio nutriente de controle geralmente seca na incubadora; ao passo
que rio caso do meio inoculado o líquido evolado torna o meio turvo e
causá formações de profundas fendas.
Ocasionalmente, um crescimento avermelhado, que não foi ainda
explicado, era observado.

52
O fato de que as últimas gerações dão origem a novos crescimentos
muito( mais facilmente do que as misturas inteiramente frescas é muito
importante. As últimas gerações também demonstram movimentos mais
vigorosos e têm uma estrutura mais complicada quando observaoas a
3700x sob um microscópio binocular. Pode-se dizer que elas parecem mais
“acabadas”. As quatro formas básicas (vesículas redondas, hastes
compridas e movediças, células nucleadas e formas amebóides rastejantes)
surgem em todos os lugares. Porém quando são observadas atentamente,
durante longo tempo, a 3000-4000x, eles próprios não são uniformes, mas
parecem estar subdivididos em subespécies. Relatarei mais
detalhadamente sobre isto em outra ocasião.
Após muitos testes de cultura bem sucedidos, embora não
inteiramente sem ambigüidade, em meios nutrientes de clara-gema de ovo,
eu já era capaz de fazer cultura de bions em caldo de carne e agar, da
seguinte maneira. A mistura bion 6 foi aquecida durante meia hora, em
tubos de ensaios, no esterilizador seco, regulado a 160°C. A mistura
aquecida foi armazenada sob condições estéreis durante dois a quatro dias
e em seguida inoculada em meios nutrientes de caldo de carne e agar,
conforme segue: após a pipeta, bem como as bocas dos tubos de ensaio
terem sido passadas na chama , uma gota da mistura era transferida para
estes. As primeiras inoculações de caldo de carne, a partir de três
diferentes misturas bions, invariavelmente produziam uma turgidez pesada
após vinte e quatro horas.

43. Amebas vibrantes movendo-se de um lado para outro


Preparado Bion 6. 2300x
53
44. Cultura bion 6 manchada com azul de metileno. Filme do preparado 6.
1650x

45. “Aglomerados de amebas”. Cultura 6cl dos primeiros bions 6 passados


em autoclave. Filme do preparado 6. 2000x
54
46. “Aglomerado de amebas", 47. Cultura bion 6cblll,
cultura 6cl, tintura gram. 1000x tintura gram. 1000x

Os traços que se seguem eram detectáveis macroscopicamente


nas culturas de caldo de carne: uma turgidez nebulosa, flocos e uma fina
nuvem ascendente de partículas semelhantes ,a fios, que aumentava a
turgidez quando os tubos de ensaio eram sacudidos.
Os crescimentos nos meios de agar, macroscopicamente, eram
menos claros. Às vezes um denso crescimento, branco-amarelado,
formava-se após apenas vinte e quatro horas, porém, na maioria dos casos,
apenas aparecia um crescimento protuberante muito fino, da mesma cor
que a sua vizinhança, que se tornava um pouco mais denso depois de
alguns dias.
Sob o microscópio, todas as culturas de caldo de carne exibiam
hastes de vários tipos, que se moviam rapidamente, também cocci, mas
muito poucas formas amebóides. O denso crescimento do agar consistia,
grandemente, de cocci que se moviam muito vigorosamente de um lado
para outro. Ao contrário, o crescimento fraco do agar exibia muito menos
movimento quando examinado ao microscópio. Se, no entanto, o fraco
crescimento da segunda geração agar fosse posto a germinar no caldo de
carne, obtinham-se as mesmas formações e a cultura de caldo de carne
assumia a mesma aparência macroscópica, como no caso da inoculação
direta do caldo de carne. O meio nutriente, assim, tem um efeito sobre o
tipo de cultura. Se uma inoculação fosse realizada a partir da cultura de
caldo de carne para a de agar, ocorria regularmente um crescimento denso
dentro de 24 horas. Estranhamente, quando a inoculação era feita do caldo
de carne para o agar, predominavam os cocci no crescimento de agar; no
entanto, quando a inoculação era feita de volta para o caldo de carne,
subitamente as hastes e as formas amebóides voltavam a predominar.

55
A fim de tornar as experiências de cultura completamente claras,
passei a cultivar as culturas bion “passadas em autoclave”(6ac). A seguinte
experiência foi realizada: A mistura bion foi preparada como é descrito no
primeiro relato, sendo a única diferença o fato de que o carvão foi primeiro
pulverizado finamente, em seguida cozido em KCL, e depois acrescentado
à primeira mistura. Dois tubos de ensaio foram enchidos com a solução e
colocados em autoclave. O autoclave foi regulado à 120°C e os tubos de
ensaio permaneceram nele por meia hora. Depois de 24 horas, foram feitas
as inocülações de um dos tubos para um meio de caldo de carne e outro de
agar. Ambos resultaram em crescimento que uma vez mais era muito mais
forte no caldo de carne do que no agar. A primeira geração da cultura de
caldo de carne da mistura bion passada em autoclave foi continuada em
caldo de carne e agar, também em meio de gema de ovo e de agar de
sangue. Cada caso resultou em forte crescimento que continha hastes
móveis, cocci, e formas amebóides. Ao mesmo tempo, material oriundo da
primeira geração de caldo foi inoculado em meio nutriente de agar. Após
apenas 24 horas, surgiu um grosso crescimento amarelo no meio de agar
que, para minha surpresa, quando visto ao microscópio, revelava ser uma
pura cultura de formas amebóides. A 3700x, as partículas no interior das
amebas vibravam vigorosamente e as amebas moviam-se vagarosamente,
enquanto simultaneamente expandiam-se e contraíam-se. A segunda
geração que se obteve desta forma foi posteriormente inoculada em agar, o
que resultou em crescimento denso de aparência micro e macroscópia
similar. A estruturação pronunciada das formas amebóides era muito
extraordinária e, do meu ponto de vista, um traço positivo. Durante um longo
período de observação, esses objetos eram vistos subdividindo-se
repetidamente. Isto era mais claramente visto a mais ou menos 3000x.
Uma vez que se tinha estabelecido a culturabilidade da mistura
bion aquecida por meia hora, e uma vez que a primeira cultura da mistura
bion 6cl autoclavada tivera sucesso, meu assistente assumiu a
responsabilidade pela tarefa de preparar as misturas bion e também de
realizar as experiências de cultura. No laboratório ela conseguiu obter
culturas de tipos semelhantes a partir de oito misturas de bion 6cb. Ao
mesmo tempo as misturas bion 6cblX, 6cbX e 6cbXI foram enviadas ao
Prof. du Teil , em Nice, para inocülações de controle. Não conseguimos
cultivar o preparado 6cblX, porém os preparados 6cbX e 6cbXI produziram
crescimentos tão prontamente quanto os 6 preparados anteriores. Quando
os preparados foram enviados ao Prof. du Teil, escrevi que o IX
provavelmente não produziria crescimento, porque tinha uma aparência
macroscópica pobre. Esta suposição foi confirmada pelo fato de que não
conseguimos cultivar este preparado. O Prof. du Teil me informou que,
enquanto os preparados 6cbX e 6cbXI tinham prontamente formado
crescimento, o IX não o fizera. As misturas seguintes tinham sido
preparadas exatamente como antes, no entanto agora não havia cultura
alguma, em contraste com a série anterior de culturas. Após pensar muito,
decidimos checar as propriedades elétricas dos preparados, o que não foi
feito durante longo tempo. Constatei que todas as misturas bion que tinham
Produzido culturas eram “negativamente'carregadas”, ao passo que “as
misturas não produziram culturas eram eletricamente neutras”. O preparado
56
6cblX era da série de misturas bion de que se esperava produzir culturas,
mas que não o fizera; em contraste com a 6cbXI e 6cbX, ele mostrara não
possuir qualquer carga elétrica. Depois disto, as misturas bion que não
exibiam carga elétrica não eram mais inoculadas, para não prejudicar
desnecessariamente as estatísticas. Entretanto, da série de misturas bion
que tinham falhado, uma após outra, em produzir culturas bion, houve uma
que produziu uma cultura Ao contrário das outras que eram eletricamente
neutras, esta possuía uma carga elétrica negativa. Isto me pareceu ser a
prova final de que “a carga elétrica da mistura é,um pré requisito essencial
para a culturabilidade”.
Enquanto que as novas misturas de bion migravam para o ânodo,
ou eram neutras, o exame elétrico da segunda geração, no agar (“pacotes
de amebas") revelaram uma tendência muito clara dos objetos de migrarem
para o cátodo. A natureza e a origem dessas formas não foram até o
presente claramente determinadas.
Até a presente data, cinqüenta e três gerações de amebas
amarelas * (família 6acl) foram proliferadas em agar. Quando elas
começaram a perder sua forma e sua cor amarelada, foram inoculadas em
meio nutriente de agar de sangue e ovo, o que resultou sua forma e cor
originais. Não temos visto esta forma aparecer novamente em qualquer
experiência de mistura do tipo-6 (Fig. 45). (Os relatórios escritos ao Prof. du
Teil colocam algumas informações sobre problemas particulares do cultivo).
Com o passar do tempo, tornei-me mais experiente em matéria de
cultura bion. Muitas medidas de segurança foram tomadas para assegurar
que a cultura “tivesse sucesso” sob condições de completa esterilidade:

1, As substâncias são passadas no autoclave individualmente ou


esterilizadas a sêco, e inoculadas separadamente no caldo. As
inoculações individuais não devem apresentar qualquer crescimento.
Este é o controle de esterilidade.
2, As substâncias são misturadas conforme explicamos. Após cada adição
um caldo é inoculado. Este controle não deve exibir qualquer
crescimento.
3. A mistura terminada é examinada eletricamente. Ela deve ser “muito
altamente” carregada.
4. A mistura é posta a descansar três ou quatro dias na incubadora. Ela
tem que ser uniformemente coloidal” e exibir “movimentos vigorosos” ao
microscópio.
5, As inoculações são realizadas de um tubo de ensaio para:
2 caldos
2 gemas de ovo (e)
2 agars e agares de sangue
6. As inoculações são feitas de culturas de caldo bem sucedidas para meio
de agar e ovo (e).

* Segundo os pontos de vista atuais a expressão “amebas" não é bem correta.


Justifica-se aqui desde que seja assumido que as amebas verdadeiras (limax, etc)
não são mais do que aglomerados de vesículas.
57
Desta maneira, encontram-se muitas condições para culturas bem
sucedidas.

Experimentos elétrhos

Os detalhados estudos que se seguem foram conduzidos por um


assistente no Instituto. Os preparados em questão foram produzidos no
laboratório pelos próprios assistentes. O relatório cobre somente dezenove
preparados bion do tipo n° 6.
Até agora, as experiências não produziram qualquer resposta que
explique por que a mistura não possui carga elétrica? A única certeza é que
os bions têm de ser eletricamente carregados para serem culturáveis.

Aparelho experimental

A corrente é fornecida por um retificador com um transformador


embutido, uma tela e unvresistor. Isto torna possível usar qualquer força
desejada de corrente entre 0-5mA e 0-50mA. Um reversor de corrente
permite inverter os polos, a fim de checar mais acuradamente a direção
migratória.
Um curto cilindro de vidro de 1,5cm de diâmetro interno e aberto
dos lados foi ligado com bálsamo canadense à lâminas usuais utilizadas
nesses testes. O bálsamo é aplicado quente em um estado finamente
viscoso. Após secar, o excesso é removido com xilol.
Dois eletrodos de platina descobertos passam através do bálsamo
Canadá e cada um projeta 0,2mm para dentro do recipiente assim criado. A
corrente é fornecida do retificador via fios de platina da base de um
eletrodo; os fios correm dentro de tubos de vidro.
Um exame microscópico do campo escuro é realizado a 400x.
Usa-se um microscópio binocular (com tubo inclinado) fabricado pela
Reichert (“Z”-Microskop).

Arranjo Experimental Geral

Salvo outra disposição, a amperagem utilizada era 2mA em todos


os casos. O objeto a ser estudado é suspenso em solução salina fisiológica.
Algumas gotas desta suspensão são introduzidas na lâmina especial já
descrita, de modo que o fundo seja niveladamente coberto.
Cada vez, antes da corrente ser ligada, é necessário checar
cuidadosamente se há movimentos fluentes no preparado que possam ser
causados por eventos térmicos ou mecânicos. Deve-se evitar colocar
líquido demais no recipiente, porque pode também causar movimento muito
desruptivo no fluido.
Se não houver sinal de movimento direcional (correntes) ao
microscópio quando a corrente é desligada, ela é religada e verifica-se se e
Para qual polo as partículas migram.
Quando a corrente é interrompida, uma outra verificação é
balizada para ver se pode ser observado movimento direcional.

58
Finalmente, a corrente é passada através do preparado na direção
oposta e é verificado se as partículas agora invertem sua direção migratória,
isto é, se se movem de volta para o mesmo polo, como no princípio,
indicando que a migração é provocada pela corrente. Se a freqüente
repetição dessa experiência produzir resultados constantes, enião o caráter
cataforético da migração será considerado confirmado.
É de muita importância considerar que não constitui o alvo desses
estudos fazer demonstrações quantitativas, mas apenas determinar a
direção migratória das estruturas examinadas.

/. Experiências elétricas em substâncias individuais

1. Uma pequena gota de clara de ovo em aproximadamente 10cc de uma


mistura de partes iguais de N/10KCL e solução de Ringer, foi passada
em autoclave por meia hora a 120°C (a 2 Vi atmosferas de pressão) , em
seguida mantida na incubadora por 48 horas a 37°C. A análise elétrica
revelou nenhuma migração cataforética. Observaram-se apenas uns
movimentos de contração bem fracos nesse preparado. Assim, clara de
ovo tratada desta maneira não exibe cataforese. Os testes de inoculação
foram negativos; não havia culturas.

2. Por outro lado, “Lecitina”, tratada e estudada conforme descrito no Item 1


acima, reagiu, ainda que fracamente, à passagem da corrente. As formas
típicas da lecitina e as vesículas formadas no autoclave migravam
vagarosamente “em direção ao ânodo”. As inoculações feitas deste
preparado de lecitina para o caldo e o agar produziram uma cultura que
tinha a mesma reação elétrica: migração para o ânodo.

3. ^Colesterina foi triturada em um almofariz de porcelana junto com KCL e


solução de Ringer e em seguida tratada como nos itens 1 e 2. Não se
observou alteração na estrutura após o autoclave: as partículas não se
moviam num gradiente de potencial; os testes de cultura foram
negativos.

4 e 5. O grande número de glóbulos de gordura, em “leite de vaca” não


diluído, passado em autoclave nas mesmas condições e mantido por
24-48 horas na incubadora, e em leite de vaca diluído com solução de
Ringer e KCL, moviam-se bem vigorosamente em direção ao ânodo.
Algumas experiências de cultura foram positivas. As formações nas
culturas também migravam “em direção ao ânodo”.

6. “Gelatina vermelha”, dissolvida em KCL e solução de Ringer, passada


em autoclave e mantida por 48 horas na incubadora, comportou-se
como no item 1 (clara de ovo): movimentos de contração no preparado,
nenhuma cataforese, nenhuma cultura.

59
“Anotações sobre as Experiências 1-6. Somente as substâncias
que exibiam cataforese após o tratamento descrito resultavam,
ocasionalmente, em cultura, quando inoculadas.
As substâncias com carga forte (as maiores velocidades de
migração) produziam os mais rápidos, mais fortes e também os
crescimentos mais claramente detectáveis, macroscopicamente. As
culturas oriundas dos preparados com reação elétrica mais fraca,
produziam crescimento mais fraco e mais vagaroso.

//. "Exames de substâncias compostas”

7. “Terra de jardim”. Após passar em autoclave, a maioria dos cristais de


terra perdia sua estrutura típica e desintegravam-se em vesículas muito
pequenas. Quando a corrente estava desligada, alguma dessas
vesículas moviam-se a uma velocidade bem alta, porém errática,
atravessando o campo de visão. Uma vez que se ligava a corrente, elas
se moviam quase que em fila indiana, vagarosamente, “em direção ao
cátodo”. Quando a corrente era invertida, sua direção migratória também
mudava.
As partículas de terra não passadas em autoclave não migravam
naquele estágio de desintegração.
|A corrente era aplicada continuamente por uma hora, a uma força
de 5mÀ. Depois de realizada esta galvanização, descobriu-se que as
partículas agora moviam-se numa direção diferente, principalmente “em
direção ao ânodo”.
Uma observação ininterrupta de meia hora, com a mesma força e
direção da corrente, mostrou que as partículas continuavam migrando para
o ânodo,
Todas as repetições dessa experiência produziram os mesmos
resultados. As vesículas formadas a partir da terra de jardim passada em
autoclave mudam o rumo do movimento depois de longa exposição a uma
corrente galvânica de 5mA: “primeiro elas viajam para o cátodo, mais tarde
para o ânodo”. A terra dç jardim proveniente da Dinamarca comportou-se
da mesma maneira em experiências similares.
Obtiveram-se culturas de ambos os tipos de terra após este
tratamento.

Ö. “Terra de jardim”, esterilizada a seco por duas horas e meia a 180°C, em


seguida aquecida em KCL, migravam para o cátodo. As partículas
moviam-se a diferentes velocidades, porém, no todo, uniforme e
consistentemente. Este preparado também foi galvanizado por um hora,
mas a 10mA; novamente se obteve migração para o ânodo.
Esta experiência foi repetida muitas vezes e “somente uma vez”
registrou-se um resultado diferente: as partículas moveram-se
imediatamente em direção ao ânodo, sem serem galvanizadas. Desde que
s© tratou de um caso isolado, não foi possível dizer o que causou o desvio.

9' “Coque” comumente usado para gás ou mesmo cinzas, foi pulverizado,
misturado com KCL e solução de Ringer, passado em autoclave e
60
mantido por 48 horas a 37°C na incubadora. O resultado de tal
tratamento foi o coque partir-se, embora em extensão menor, em
pequenas vesículas que tinham as mesmas propriedades que as
desenvolvidas a partir de terra.

10. “Carvão em brasa”: o coque pulverizado foi aquecido em uma espátula


até incandescer, e em seguida foi colocado em KCL estéril. Os mesmos
fenômenos de movimento independente e cataforético como o
observado na mistura de carvão passado em autoclave, KCL e solução
de Ringer, foram vistos também nas gotas estéreis de amostra desta
mistura.
Quando uma corrente foi passada pelos dois preparados de
carrvão, houve uma importante mudança na migração, de catódica para
anódica, como tinha acontecido no preparado de terra.
Todos esses preparados (8,9 e 10) produziram culturas em caldo e
em agar.
“Anotações sobre as experiências 7-10”. Abandonaram-se as
observações microscópicas durante a galvanização, devido à formação de
bolhas de gás a amperagem usada (5 a 10mA). A observação relatada em
7 foi feita em amostras que eram retiradas continuamente do preparado
galvanizado e através das quais era passada uma corrente de 2mA,
enquanto se encontravam sob o microscópio. As substâncias não-
homogêneas aqui estudadas, mais uma vez revelaram a mesma relação
entre carga elétrica, cataforese, e culturabilidade, como em 1-6. Nas
ocasiões em que não ocorria migração isto acontecia de algum modo mais
freqüentemente no caso das partículas de pó, as quais são particularmente
não-homogêneas - os testes de cultura eram também negativos.

Estudo sobre o preparado 6

A revisão seguinte dos resultados, mostrou uma vez mais a


correlação entre as propriedades elétricas e a culturabilidade:

11. 6cl. Este preparado (passado em autoclave) exiba migração anódica.


Ela foi inoculada em um meio nutriente que consistia de substâncias
contidas no preparado que haviam sido agitadas para formar uma
massa firme após adição de clara de ovo. Este meio nutriente foi
primeiro esterilizado e depois mantido na incubadora, como controle, por
48 horas.
O teste de culturação foi bem sucedido: formaram-se “dois tipos de
crescimento”, um mole e viscoso, o outro consistente. Cada tipo de cultura
foi então separadamente, e com sucesso, transferido para agar. A
observação microscópica da cultura mole e viscosa revelou “amebas em
pacote” típicas. A cultura dura consistia exclusivamente de vesículas.
Quando uma corrente elétrica foi passada por elas, as amebas em
pacote migraram para o cátodo, isto é, tinham uma carga positiva.
Galvanizando-as, era possível inverter sua direção migratória.

61
Por outro lado, as vesículas, assicn como os pequenos corpos no
preparado, migravam, a uma velocidade, para o ânodo.
“Nota”: A migração cataforética uniforme é mais claramente
observável nas culturas do que no preparado original. Desde que somente
preparados cataforeticamente reagentes produziam culturas, é lógico
concluir que as formações nas culturas derivam daquelas do preparado que
migram durante uma aplicação de gradiente elétrico. A cataforese então,
deve ser mais extensa e, conseqüentemente, deve ser muito mais
claramente visível nas culturas.

12. 6cll. O preparado também continha as formações bion (vesículas). Elas


moviam-se em direção ao ânodo. A cultura era bastante dura, como
nenhum crescimento mole e comportando-se de maneira cataforética
semelhante.

13 e 14. 6clll, 6 c IV. Exibiam as mesmas características.

15. Nota: A partir daqui, foi utilizado o seguinte procedimento. Carvão


finamente pulverizado foi esterilizado a seco a 180°C; passaram-se
lecitina, colesterina, gelatina, clara e gema de ovo, assim como KCL e
solução de Ringer, pelo autoclave. A mistura estéril-preparada dessas
substâncias foi então aquecida no esterilizador a 180° até tornar-se
bastante túrgida.

6cbV. Uma amostra, tirada do preparado túrbido imediatamente após o


aquecimento, exibiu logo, ao microscópio, o modelo bion.
O recipiente em que estava armazenando foi aberto algumas
vezes quando as inoculações foram retiradas desse preparado. Mais tarde,
quando se fez o exame elétrico, o preparado revelou estar muito impuro. À
parte dás vesículas, havia colônias de vesículas que se pareciam
fortemente com culturas de fermentação, embora não fosse possível afirmar
que elas ocorressem em associação com os fenômenos da fermentação.
Além disso, o preparado continha uma quantidade de bactérias
filamentosas que pareciam ser completamente sem vida. À parte das
vesículas e das colônias de vesículas, um principal componente do
preparado eram as hastes de vários tamanhos que se moviam vagarosa e
indolentémente.
; A maioria das estruturas neste preparado migravam para o ânodo.
Entretanto, algumas hastes eram vistas movendo-se claramente em direção
ao cátodo. Após curtos instantes, tais hastes pareciam inverter sua carga:
estremeciam violentamente por um momento e moviam-se para o ânodo;
em seguida, tornavam-se de repente positivamente carregadas e migravam
uma vez mais para o cátodo. As bactérias filamentosas, compridas e,
obviamente, sem vida, não se moviam absolutamente. A cultura preparada
a partir do preparado ainda não contaminado, imediatamente após ele ter
sido removido da incubadora, consistiu dos mesmos microorganismos,

como as culturas anteriores que eram preparadas a partir de misturas das


lesmas substâncias; exibiam os mesmos fenômenos cataforéticos.

62
16. 6cbVI. Apresentou um belo padrão de vesículas e de colônias de
vesículas. Todas as vesículas migravam a velocidade uniforme para o
ânodo, bem como as pequenas colônias de vesículas, embora mais
vagarosamente. As grandes colônias de vesículas, a essa amperagem,
não se moviam absolutamente. A inoculação produziu uma cultura pura
que consistia de vesículas e colônias de vesículas que se moviam forte
e claramente em direção ao ânodo.

17 e 18. 6cbVII e VIII. Apresentaram o mesmo padrão, tanto no preparado,


quanto na cultura.

19. 6cblX. Exibiu as mesmas formações que os preparados precedentes,


porém causou uma impressão de vida muito menor, e não houve sinais
de migração em qualquer das inúmeras experiências elétricas
conduzidas. Quando a corrente era aplicada, às vezes ocorriam
movimentos de contração bem fortes, mas não havia cataforese, como
já exposto. Os testes de cultivação foram negativos: não houve
crescimento, mesmo após seis semanas.

20. 6cbX. O preparado era de aparência idêntica aos precedentes. Os


movimentos migratórios eram menos claros do que em 17-19. Enquanto
que a direção migratória geral era para o ânodo, algumas partículas
individuais moviam-se perpendicularmente para a direção da corrente. A
cultivação foi bem sucedida, e as culturas tinham as mesmas
propriedades que as observadas em 17-19.

21.6cbXI. A migração foi mais pronunciada. A cultura comportou-se da


mesma maneira que as anteriores.

22 e 23. 6cbXII e XIII. Neste caso, a clara de ovo foi substituída por carne
passada em autoclave. Grandes quantidades de fibras musculares
destruídas podiam ser vistas ao microscópio.
Não ocorreu cataforese, nem se puderam desenvolver culturas.

24-27. 6cb XIV, XV, XVI e XVII. Neste caso, usou-se clara de ovo
novamente e a carne foi omitida. Não houve migração, e os testes de
cultura foram negativos.

28 e 29. 6 cb XVIII e XIX. Fracos sinais de carga elétrica - fenômenos


cataforéticos débeis - indicaram um caráter mais anfotérico. Não se
puderam desenvolver culturas.

“Observações a respeito dos experimentos 12-29”. Quando o


preparado não exibia qualquer reação elétrica, não resultava cultura. Se a
cataforese era fortemente pronunciada, o crescimento usualmente ocorria
após 24 a 48 horas; se os fenômenos migratórios eram fracos, então o
crescimento usualmente não se desenvolvia antes de 8 a 10 dias. Os
63
fenômenos migratórios das culturas correspondiam àqueles que
predominavam nos preparados originais.
Os resultados dos testes de diferenciação ainda incompletos
(reações de tintura biológica de vários tipos, comparação com várias
espécies conhecidas de microorganismos, efeitos de interação, culturas de
bion galvanizado, aplicação de métodos bacteriológicos conhecidos às
culturas de bions, etc.) serão dados a conhecer num dos próximos
relatórios.

"Anotações considerando a produção de preparado 6 de bion”.

O número de culturas bion bem sucedidas produzidas a partir da


mistura de N° 6 aumenta consideravelmente se se modifica o procedimento
descrito no primeiro relatório de dezembro de 1936 conforme segue. (Esta
modificação foi sugerida, em parte, pelos testes de controle conduzidos
pelo Prof. Roger du Teil em Nice e, em parte também, pelas observações
posteriores feitas quando preparando os bions de carvão de sangue).

1. Não se acrescenta mais leite (descoberta de du Teil).


2. A solução de Ringer é substituída por alguns cc de “caldo de carne”.
3. Em vez de pó de carvão ou fuligem, foi usado “carvão de sangue”
aquecido até a incandescência.
4. A “primeira” inoculaçãoé feita em “caldo + KCL e caldo sozinho.
5. A “segunda” inoculação é feita do caldo túrbido para meio nutriente de
“ovo fresco”. Os montículos que ocorrem regularmente são espalhados .
6. O crescimento do meio de ovo é inoculado em agar de sangue. O
crescimento é de cor “azul-cinza claro”.
7. No experimento de cultura particularmente se revelam os seguintes
fatos: •

a) Qualquer experimento de cultivo com substância esterilizada a


120° C requer um experimento paralelo com a mesma
substância em condições absolutamente não estéril. Deste
modo pode-se estabelecer inequicovamente a diferença da
cultura.
b) No experimento de organização e de cultura precisa-se
considerar que não há o que fazer com estruturas
completamente organizadas que deveriam reproduzir-se na
cultura, mas com a matéria não organizada, que deve
proporcionar a organização, e neste ponto requer uma
condição do tipo muito diferente e complicado. A organização
da matéria não organizada depende essencialmente do tipo de
substância e da base nutriente.
c) A técnica de inoculação repetida é extremamente importante. A
primeira inoculação, como exemplo sobre agar, pode produzir
protuberância mínima, apenas visível, que não se pode ainda
diagnosticar com certeza como aumento. No brodo pode-se
verificar uma turgidez do qual não podemos ter certeza de que
64
provenha da primeira inoculação. Uma inoculação posterior
sobre outra base nutriente de ovo pode falhar, mas com
experimentos em série será possível descobrir a condição
máxima que permite o cultivo. Devemos promover a
organização somente após termos observado todas as normas
de esterilização e de morte da forma de vida existente.

8. O experimento em série, seja com substância simples ou combinada,


dão uma indicação clara sobre a validade da prova. Do mesmo modo se
produz cultura não esterilizada; como exemplo se pode estabelecer que
base nutriente de agar, permite descobrir, em poucos dias ou semanas
para produzir uma cultura visível.

65
4. o início das experiências de controle

Interromperei agora minhas descrições para incluir minhas


comunicações para o Prof Roger du Teil e também citar seus relatórios e
partes de nossa correspondência. Este material fornece informações sobre
detalhes importantes e sobre incertezas iniciais que surgiram em janeiro-
abril de 1937. Também me ajuda a manter minha apresentação tão simples
e bem elaborada quanto possível.

Relatório apresentado em 7 de março de 1937


pelo Prof. Roger du Teil
à Sociedade Filosófica Natural em Nice
sobre o trabalho realizado pelo Dr. Reich (Oslo)

Desde que se estabeleceu em Oslo, Noruega, o Dr. Reich, que,


como discípulo de Freud, primeiro especializou-se em psicanálise, dedicou-
se a estudos de laboratório no campo relacionado com seu objeto de
pesquisa especial. Seguindo sua descoberta da carga elétrica consistente
na superfície das zonas erógenas do corpo humano, ele observou as
mudanças em potencial que ocorreu nessas zonas durante certas
sensações e sentimentos, em particular durante a alegria, a tristeza e o
medo. Para este propósito, ele construiu um medidor de voltagem que
consiste essencialmente de um tubo elétron em um circuito que se ligava a
um oscilógrafo. Os traços gerados pelo raio de luz do oscilógrafo sobre um
filme reflete diretamente a direção e amplitude, bem como as oscilações
das respectivas sensações. Por exemplo, posso mostrar-lhes a curva das
sensações prazeirosas, tais como as produzidas por um suave coçar de
mãos (fenômeno das cócegas), a curva para o gosto do açúcar na língua,
esta curva descendente causada pelo subsequente gosto do sal, esta curva
refletindo a sensação agradável experimentada por duas pessoas quando
apertando calorosamente as mãos, esta curva obtida durante um beijo, e
aqui, seguindo o beijo de um casal feliz, a curva de um casal infeliz, em que
o parceiro feminino parece realmente não apreciar o sabor do beijo, em que
não se terá dificuldade em detectar a queda da curva.
Não quero me envolver em uma discussão do interesse prático - e
humorista (estamos na França, afinal de contas) sem dúvida diria o perigo -
de tal descoberta. Menciono tudo isso apenas para dar uma idéia do Dr.
Reich, que é um verdadeiro cientista com muita experiência no laboratório.
Ele tem conduzido experiências nos últimos 10 anos e, consequentemente,
é muito competente na aplicação de métodos experimentais com grande
precisão. Gostaria de mencionar um pouco dos trabalhos que o Dr. Reich
publicou: “Análise do Caráter”, “Materialismo Dialético e Psicanálise” e
“Contato Psíquico e Corrente Vegetativa”. Ele escreveu também outras
obras tratando da psicologia de massa e seu relacionamento com a
Psicanálise.
Meu ponto ao fazer estas observações preliminares tem como
m°tivo ter sido solicitado à examinar e avaliar - na medida que seja

Possível, baseando-me em informações fragmentárias tiradas .de

66
manuscritos - vários estudos que produziram o que deve, no mínimo, ser
descrito como resultados totalmente surpreendentes que parecem
contradizer os dogmas científicos mais solidamente enraizados. Um
julgamento deste tipo necessita, ou melhor, exigiria, objetividade absoluta.
Entretanto, como tal objetividade não se encontra facilmente neste mundo -
nem, na verdade, talvez em nenhum lugar do universo - é bem natural que
tomemos o exame de tal questão com certas emoções, que são ainda mais
intensas, desde que estas questões derrubam crenças que se têm tornado
parte de nós mesmos e que temos considerado como definitivas uma vez
que as adquirimos. Por conseguinte, a atmosfera que envolve a
apresentação de tais descobertas é de grande importância, não porque se
pretenda criar um viés favorável já do começo, mas porque o alvo é
compensar os pré-julgamentos estabelecidos. De fato, a vida e a obra de
Wilhelm Reich lhe garantem o direito de esperar nossa objetividade, nosso
desejo de rejeitar o mesmo tipo de preconceito e julgamento precipitado
que Descartes condenou, e exige de nós uma curiosidade simpática, isto é,
científica e intensamente crítica.
A premissa central da obra do Dr. Reich, que era evidente mesmo
em suas primeiras experiências, é a equação do elétrico processo tensão-
carga com o processo da vida vegetatiya. Com essa idéia central na mente,
ele tem conduzido pesquisas na origem da vida por vários anos, tomando o
processo tensão-carga como seu ponto de partida. Seu trabalho o levou
agora a conduzir experiências sobre a produção fie organismos unicelulares
artificiais (edifícios monocelulares) em que os fenômenos da vida vegetativa
são gerados por um processo exclusivamente eletroquímico. Naturalmente,
ele não introduz nenhuma força elétrica independente nos elementos que
combina. Em seu trabalho com colóides, os fenômenos da tensão
superficial e do movimento molecular combinados com a eletricidade
ocorrem espontaneamente, pelo menos a forma de movimento, o que é
considerado como uma característica da vida.
Assim, ele o tornou uma regra para conduzir suas experiências
apenas com substâncias estéreis, isto é, substâncias das quais tinham sido
eliminados todos os sinais vitais, no melhor de nossas habilidades e
conhecimentos presentes. Em outras palavras, enquanto se contava com a
radical pasteurização das substâncias, ele provou a não-existência da
pasteurização radical.
O Dr. Reich me visitou para falar de seu trabalho. Traduzi alguns
de seus escritos de modo que pudessem ser apreciados na França.
Entretanto, por um ano, não tive mais nenhuma notícia de sua detalhada
pesquisa, quando, de repente, em 8 de janeiro deste ano (1937),ele me
enviou uma carta e um breve relatório com duas ampolas lacradas e
esterilizadas que me pediu para examinar ao microscópio a mais ou menos
3000x. Fiz isso quase imediatamente e lerei para vocês o relatório que
escrevi logo em seguida ao exame. Para começar, no entanto, gostaria de
ler minha tradução do detalhado relatório que recebi do Dr. Reich. A
tradução foi feita às pressas e terei que pedir-lhes que desculpem o estilo,
pois não tive tempo de corrigi-la. Posso, entretanto, totalmente garantir sua
exatidão. A propósito, trouxe também os originais deste relatório e de todos
os documentos que lerei para vocês em tradução e qualquer um que
67
compreenda alemão e queira examinar os originais dos textos podem fazê-
lo à vontade.
Em 8 de janeiro de 1937, recebi um relatório preliminar sobre a
produção de formas semelhantes à vida em consonância com a fórmula
tensão-carga. Preparei o seguinte resumo:
Em carta datada de 8 de janeiro, o Dr. Wilhelm Reich, que vive em
Oslo, escreveu-me um relatório preliminar sobre a formação de estruturas
que têm as características da vida baseado na fórmula tensão-carga.
O relatório mostrava que, após muitos anos de pesquisa, o Dr.
Reich, através de meros processos físicos e químicos, havia obtido
estruturas que possuíam todas as características da vida. O relatório
descrevia, em certa quantidade de detalhes, o procedimento experimental,
isto é, os elementos constituintes das estruturas, assim como a seqüência
em que os elementos foram utilizados (tal seqüência, a propósito, pareceu
ao Dr. Reich ser a mais importante base das experiências).
Esses relatórios acompanhados de ampolas lacradas, cada uma
contendo aproximadamente 5cc de substâncias. Elas estavam classificadas
como segue: Bions 6b estéril, janeiro 12/37. Uma curta nota anexada às
ampolas estabelecidas. Observe a 2000-3000x sob um microscópio
binocular.
Na terça-feira, 26 de janeiro - isto é, doze dias após a data do
preparado constante das ampolas - eu estava pronto para conduzir uma
série de observações que preenchiam os requisitos estabelecidos pelo Dr.
Reich. Estas observações se tornaram possíveis graças à prestimosa
cooperação do Dr. Ronchese e do Dr. Saraille, que dirigem um laboratório
de análises muito equipado em Nice. Eu tinha, de fato, um microscópio
binocular à minha disposição que era capaz de ao menos 2500x e até
3000x. Apesar de problemas de iluminação, uma frutífera observação foi
ainda possível nessa última ampliação. Imediatamente após uma ampola
ter sido aberta, uma amostra foi tomada e colocada sobre um slide de prova
estéril. Um segundo slide foi colocado imediatamente em cima do primeiro e
lacrado com parafina para impedir qualquer evaporação que poderia
provocar que o fluido se acumulasse na periferia.
Minhas observações rapidamente e com muita precisão revelaram
0 que o Dr. Reich tinha descrito em seu relatório. Pude observar quatro
formas principais:
1 • Hastes que a 2500x tinham dimensões aparentes de1A a 1 cm.
Tais formas movem-se de duas maneiras diferentes: às vezes se movem
vigorosamente em uma direção longitudinal, então, param subitamente e
começam a se mover de novo de maneira ondulante e rastejante. Dão a
impressão de serem corpos frágeis que são largos e achatados e
assemelham-se à forma de certos tipos de peixes. Como nadam por
toda parte, são vistos ora de lado, ora de cima. Parecem impulsionarem-
se através do líquido ondulando seus corpos em todas as direções, justo
como peixes nadando em um aquário. Tais estruturas possuem um
núcleo que também se move e vibra. Além do mais, se subdividem e
comportam-se em todos os aspectos de maneira similar a organismos
unicelulares vivos. Observei vários deles dividirem-se e produzirem dois
corpos similares, passando por formas características familiares.
68
2. Objetos unicelulares, semelhantes a cogumelos, com um núcleo
luminescente, que treme constantemente.
3. Formas significativamente grandes que assemelhavam-se a micélium,
com esporos na extremidade de cada galho. Tais formas expandem-se e
contraem-se constantemente, embora muito devagar e pouco
perceptivelmente, enquanto permanecem estacionadas. Comparadas
com as estruturas anteriores, suas dimensões eram enormes, com um
comprimento aparente de vários centímetros a 3000x.
4. Células anucleadas não divididas, que moviam-se claramente de forma
muito mais mecânica, como se movida por uma força exterior.

Minha impressão global é que o preparado contém


microorganismos vivos, embora a priori pareçam estar em oposição ao fato
definitivamente estabelecido de que o preparado foi obtido pela fervura e,
deste modo, absolutamente estéril.
Não obstante, pareceu-nos que a experiência principal que
decidiria a questão, de se tais formas eram vivas ou não vivas, seria
desenvolver culturas delas. Somente a progressiva eliminação dos
primeiros elementos artificialmente formados e sua substituição por novas
estruturas, que se formassem através de seu próprio potencial, nos
permitiria dizer se estamos lidando aqui com organismos vivos dinâmicos
ou se o dinamismo é apenas simulado por processos químicos e elétricos.
Espero que os experimentos sejam continuados até que esta questão
fundamental tenha sido respondida. Em todo caso, o Dr. Reich merece
louvor por ter chegado até este ponto.

Roger du Teil
Nice, 3 de fevereiro de 1937

Devo acrescentar a este relatório que o Dr. Rochese, que


examinou as formações celulares comigo - na verdade, antes de mim -;leu o
relatório do Dr. Reich cuidadosamente e, embora tenha guardado
interpretação dos fenômenos observados, em momento algum duvidou da
exatidão da experiência que produziu os bions. Isto, opinião de um
bacteriologista, merece ser mencionado aqui, porque se reflete
favoravelmente na seriedade e precisão que tais experiências devam
possuir. Também gostaria de acrescentar que M. Deel, bacteriologista de
Cannes, também leu os vários relatórios e examinou as culturas e,
conquanto tenha também se reservado de julgar a interpretação dos
resultados - embora suas reservas sejam um pouco diferentes das do Dr.
Roqhese ele também possuía pouco ou nenhuma dúvida sobre o
surgimento de microorganismos na cultura que permanecera por duas
horas no esterilizador a 180°C. Ele também acrescentou que a cultura por
ele examinada parecia-se muito com uma cultura “pura", o que excluiria a
hipótese de que se tratasse dos assim chamados germes aéreos. Além do
mais, veremos que, nas experiências posteriores, foi dada particular
atenção á tentativa de eliminar essas várias objeções.

69
Em 8 de fevereiro, o Dr. Reich escreveu-me novamente,
Informando que tinha cultivado metodicamente os bions e que me manteria
jnformado dos resultados, porque compartilhava minha opinião de que o
sucesso dessas culturas eram de extrema importância para a interpretação
de sua descoberta.
Em 16 de-fevereiro, o Dr. Reich escreveu de novo para dar-me
como pedido, todos os dados necessários para iniciar uma cultura bion.
Longe de evitar controles, ele os estava pedindo. Isto é um sinal
encorajâdor suplementar de sua confiança em que não tinha cometido
quaisquer erros experimentais. Lerei aqui sua carta.

Oslo, 16 de fevereiro de 1937

Prezado Professor,
Gostaria de informá-ío hoje de alguns úteis e inequívocos
resultados obtidos em meus experimentos de cultura bion. Concordo
inteiramente com o senhor em que a questão da geração espontânea não
pode ser resolvida pelas descobertas microscópicas, mas principalmente
por meio da cultivação bem sucedida de misturas colóides estéreis, isto é,
cozidas. Fico feliz de poder relatar-lhe alguns dos resultados positivos. A
matéria é mais simples do que me pareceu em todos os meses de difícil
experimentação.
Ficaria extremamente grato se, como prometeu em sua carta, o
senhor repetisse e conferisse minhas experiências em um laboratório em
Nice. Estou convencido de que isto só me pode ajudar e fico, por
conseguinte, muito feliz de ir de encontro ao seu desejo de verificar meu
trabalho. Digo o mesmo quanto às culturas.
Na semana passada, tive sucesso em cultivar preparados frescos
de bion em meio nutriente agar e em caldo, e constatei a ocorrência de
todos os quatro tipos. Foi descoberto que misturas frescas de bion aquecido
desenvolvem-se muito mais vagarosamente e exibem muito menos
movimento na cultura do que os bions de dois a cinco dias de idade
aquecidos. Recomendaria que o senhor mesmo prepare a mistura bion
segundo as instruções contidas em minha primeira carta. O senhor deve
deixar a mistura pura aquecer por mais ou menos uma hora a 160°'C no
esterilizador seco e colocar as ampolas seladas com parafina para repousar
por 3 ou 4 dias. Mais ou menos duas gotinhas devem ser tiradas, em
condições estéreis, com uma pipeta de Pasteur, da ampola esterilizada, e a
superfície do meio nutriente de agar deve ser coberta com este líquido.
Após 24 à 48 horas, ocorre ou uma cobertura fina e encaroçada, da mesma
cor do meio nutriente, ou um denso crescimento branco-acinzentado. Eu
não fui capaz de determinar o que causa essa diferença. Os resultados da
cultivação em caldo são muito mais claros. Após apenas 24 horas, o líquido
do caldo se torna muito opaco, e se podem ver hastes que se movem

vigorosamente, cocci redondos, células nucleadas grandes e, finalmente,


formas amebóides exibindo movimento interno, ao microscópio. Ontem,
cozinhei uma cultura de caldo de bion por um quarto de hora no
esterilizador e, mesmo a 250x, foram retidos o movimento e a estrutura das
formações, no campo escuro. Eu não podia crer em meus próprios olhos,
70
mas repeti a experiência da cultura tantas vezes e de tantas maneira que
não pode haver mais qualquer dúvida. Estou-lhe enviando junto uma
amostra da cultura. Se o senhor chegar à conclusão de que minhas
afirmativas são corretas, poderia por favor relatá-las à Academia? Agora
completarei as experiências de controle, preparei um relatório detalhado e
enviá-lo-ei à Academia, com uma cópia para o senhor.
W.R.

19 de janeiro de 1937: Post Scriptum.

Esperei alguns dias antes de enviar esta carta, porque as


experiências de controle produziram alguns resultados muito incomuns e
revelaram alguns fatos marcantes. Entretanto, parece que levará muito
tempo para completar todas as experiências de controle e não quis fazê-lo
esperar desnecessariamente. As misturas de bion cozidas que tinha
descansado por 2 ou 3 dias na incubadora produzem regularmente um
crescimento muito forte no caldo. As misturas frescas dos bions recém
aquecidos parecem ser débeis, isto é, o crescimento no agar não é tão forte
quanto após 3 a 4 dias. Também está confirmado que as culturas de bion
aquecidas por quinze minutos continuam a produzir crescimento. Não
houve um único fracasso, em duas semanas de repetidas inoculações de
caldo. Devo pedir-lhe encarecidamente para ser paciente e esperar pelo
relatório detalhado sobre essas descobertas e sobre as experiências de
controle até que estas me possibilitem chegar a algum tipo de conclusão.
Por favor, escreva-me e diga-me se deseja que lhe envie preparados de
biom estéril para testes e cultura ou se prefere preparar e cultivar as
misturas o senhor mesmo. Até agora, consegui desenvolver quatro
“famílias" de diversas misturas de bion em caldo e, principalmente em agar
(família IV-VII). As famílias l-IV foram desenvolvidas em meio nutriente de
clara de ovo, porém este tipo de meio não foi continuado por causa de sua
não confiabilidade e da similaridade das substâncias. Seria por
conseguinte, muito grato se o senhor escrevesse e me fizesse saber dos
resultados de seus testes de controle. A julgar pela confiabilidade das
descobertas, nada há que contradiga a afirmativa de que os bions podem
ser cultivados em caldo. Até aqui, observei apenas que as formas de hastes
predominam no caldo, ao passo que, no agar, predominam principalmente
os cocci. Não sei o que isto significa. É possível que o meio nutriente exerçs
alguma influência na seleção dqs vários tipos. Encontro-me no processo de
descobrir do que está por trás deste fenômeno.
Em 22 de fevereiro, o Dr. Reich escreveu-me novamente
anunciando que enviava algumas culturas e detalhes precisos sobre come
conduzir as experiências.

71
Oslo, 22 de fevereiro de 1937

Caro Professor e Colega,

Permita-me incomodá-lo com um pequeno adendo à minha carta


de 20 de fevereiro. As experiências de controle posteriores produziram
resultados tão incomuns que sinto que devo acentuar uma vez mais que as
experiências envolvendo a esterilização e a cultivação dos bions foram
conduzidas conforme segue:
Os materiais básicos mencionados em meu primeiro relatório
sobre a composição dos bions foram aquecidos antes de serem misturados
e, após misturados, foram colocados em vasilhames de vidro em um
esterilizador seco a 160°C. Os líquidos foram aquecidos por meia hora à
uma hora num esterilizador a 100°C. As culturas foram aquecidas por um
quarto de hora à meia hora, do mesmo modo, com um esterilizador ajustado
a 160°C. Desde que se pode objetar que ferver por uma hora no
esterilizador seco não é suficiente para excluir a possibilidade de infecção
externa ou interna por organismos bacteriais, realizamos a seguinte
experiência:
As substâncias secas que formam os bions são esterilizados a
seco por duas horas a 180°C. Os líquidos necessários à produção dos
bions são esterilizados por meia hora a 120°C, no autoclave e em seguida
combinados com as substâncias secas. Esta mistura é armazenada sob
condições estéreis por 48 horas antes de ser inoculada no caldo. Como
segunda |experiência de controle, misturamos primeiro as substâncias e em
seguida passamos a mistura em autoclave a 120°C.
bs pontos adicionais que se seguem parecem-me importantes.
Estas experiências não têm por finalidade mostrar que os bions se movem
como organismos vivos, pois isto pode ser visto claramente no microscópio.
O único propósito dessas experiências é excluir a objeção de que os
resultados da cultivação se devem a infecção externa; isto é, pelos assim
chamados germes aéreos. Além do mais, a fim de testar a exatidão dessas
objeções, estou conduzindo simultaneamente várias experiências
envolvendo a inoculação de poeira de um aspirador de pó nos meios
nutrientes. Até agora, as culturas de poeira têm uma aparência
macroscópica e microscópica diferente das culturas de bion.
Estas são todas as orientações que lhe posso dar no momento.
Quero assegurar-lhe de que estamos agindo com o devido ceticismo, porém
também estamos completamente preparados para registrar o que
descobrimos e todo esforço possível está sendo feito para constatar que a
culturabilidade dos bions é um resultado “inequívoco”.
; O Dr. Reich me enviou um telegrama em 25 de fevereiro dizendo
que as culturas foram bem sucedidas e tinham sido remetidas.
Finalmente, em 27 de fevereiro, recebi, junto com as instruções, a
Primeira remessa de culturas, que seria seguida, dias mais tarde, por uma
Segunda. Junto com as culturas, recebi também a seguinte carta e um
Se9undo relatório sobre a culturabilidade dos bions, preparado 6 em caldo e
enf1 agar, junto com os resultados positivos do autoclave.

72
Oslo, 27 de fevereiro de 1937

Caro Professor e Colega,

Como ihe disse semana passada em meu telegrama, o


experimento com autoclave foram bem sucedidos. Em anexo, estou lhe
enviando algumas amostras das misturas de bions passadas em autoclave
e . um segundo relatório provisório sobre o resultado positivo. Também
seguem junto instruções sobre a inoculação; o relatório apresenta uma
descrição.
Queria pedir-lhe que remetesse algumas das culturas, deixo a seu
critério quais delas, à Academia em Paris e também que lhes entregasse a
segunda via do "relatório provisório”. Estou muito ansioso para saber se o
senhor teve sucesso em produzir e cultivar os bions de acordo com as
instruções contidas em minhas cartas. Particularmente, gostaria de chamar
sua atenção para as estranhas formas de amebas-agar que eu achei
surpreendentes.

Com sinceros agradecimentos


W. R.

Além disso, temos aqui as próprias culturas e podem examiná-las


ao menos microscopicamente. Deixem-me dizer-lhes que a cultura de agar,
que quase sempre assume esta forma ondulada, sofreu um
desenvolvimento muito estranho durante os poucos dias em que esteve em
meu poder e se desenvolveu como se pode observar. Quando se pensa
que os elementos constituinte foram esterilizados a 180°C, qualquer um se
surpreende e fica inclinado a duvidar da eficiência dos métodos de
esterilização corretamente empregados. Digo isto sem qualquer intenção de
ofender nossos caros membros do campo farmacêutico, nem qualquer de
nossos honrados membros médicos.
Isto me leva ao fim da lista objetiva dos fatos. Antes de entregar-
lhes sua discussão, entretanto, gostaria de acrescentar algum de meus
próprios pontos de vista.
Há duas maneiras de considerar essas experiências. Tanto
podemos nos ater aos fatos quanto à interpretação dos fatos.
Do mesmo modo, os fatos em si podem ser considerados a partir
de dois ângulos diferentes. De um lado, eles descrevem a formação de
estruturas organizadas a partir de material não-organizado, e, de outro lado,
indicam a resistência dessas estruturas à destruição por esterilização.
Vamos também notar algo que esses dois conjuntos de fatos têm em
comum: os elementos não-organizados usados nas experiências foram
esterilizados de antemão e processou-se á reesterilização a cada estágio
da experiência, de modo que a cada estágio fosse possível que o estado
não-organizado fosse restaurado. Além do mais, isto permitiu a realização
de um grande número de verificações; a cada nova fervura, realizou-se um
experimento completamente novo, determinando se havia ou não uma
transição do estado organizado para o não-organizado. De fato, quando
perguntei a especialistas sobre essa matéria - e peço aos especialistas aqui
73
hoje para confirmar ou desaprovar esta informação - disseram-me que, de
acordo com o atual estágio de conhecimento biológico, não se conhece
nenhum microrganismo que possa resistir a uma temperatura de 180°C. No
mínimo, a descoberta do Dr. Reich mostrou-nos que realmente existem
organismos que apresentam todas as características de vida e que podem
resistir a essas temperaturas. Agora, todos nós podemos confirmar esta
descoberta com o auxílio dos bions e das culturas bion que o Dr. Reich me
enviou.
Enquanto discutimos os fatos e sua interpretação, consideremos
um grande número de outros aspectos relativos à origem endógena ou
exógena dos microorganismos descobertos desta maneira.
Como vocês já ouviram, o Dr. Reich possui dois modos para
refutar a assertiva de que as bactérias são organismos oriundos do ar.
Primeiro, do mesmo modo como responde às outras objeções, ele esteriliza
o material a 180°C, a temperatura que nenhuma bactéria conhecida pode
suportar; segundo, ele toma poeira do aspirador de pó e a cultiva. A cultura
assim obtida nada tem em comum com as culturas que Mr. Deel descreveu
ontem como culturas obviamente “puras”.
A objeção de que o meio nutriente pudesse conter em si bactérias
pode ser rebatida, primeiro, apontando que as bactérias não se
desenvolveriam somente sobre a região inoculada; segundo argumento é
novamente a esterilização; e a terceira resposta é que tais bactérias seriam
polimorfas e não teriam a aparência de uma cultura “pura”. Tendo, assim
apresentado os fatos em um enfoque conveniente, passemos agora à sua
interpretação, que esperamos ver confirmada incondicionalmente em futuro
próximo. Duas objeções foram feitas à hipótese do Dr. Reich de que estes
são verdadeiramente organismos vivos, embora ele mesmo não tenha
ainda acentuado esse ponto.
A primeira objeção diz: O que temos aqui não são mais do que
processos elétricos e químicos que exibem movimento similar ao
movimento Browniano (esta é a objeção principal formulada pelo Dr.
Ronchese). A resposta de Reich é demonstrar a culturabilidade das
formações.
A segunda objeção, levantada pelo Sr. Deel, é que a lecitina é uma
substância viva. Na sua opinião, por conseguinte, o Dr. Reich não descobriu
o elo perdido na cadeia do desenvolvimento do inorgânico para o orgânico,
mas simplesmente teve sucesso em “organizar” uma substância viva, mas
ainda desorganizada. Em oposição a esta objeção está o fato de que a
lecitina na gema de ovo é apenas um nutriente, ao passo que a força da
vida está localizada provavelmente na célula germinativa do ovo. O
processó de obtenção da lecitina, agitando-a, dissolvendo-a em éter,
Purificando a solução com cloreto de zinco, o que forma um sal duplo
Praticamente insolúvel a partir do qual a lecitina é regenerada pelo sulfrido
hidrogênio, dá, certamente, a impressão de não ser mais do que um
Processo químico em que há sinais de dinamismo vital. Além do mais, a
Possibilidade da vida teria de ser excluída pela ação da esterilização, pelo
Wenos de acordo com o estágio atual de nosso conhecimento. Ainda se a

74
lecitina fosse alguma coisa mais que o material do qual se compõe a gema,
ela seria morta por essa esterilização.
Além do mais, se objetasse que esses fossem processos
eletroquímicos que imitam completa e perfeitamente todas as
manifestações que chamamos de vida, responderíamos sem qualquer
dúvida: se dois triângulos provam ser congruentes, qual deve ser
considerado como o primeiro e' qual o segundo? Qual seria a verdadeira
manifestação da vida e qual a falsa? Permitam-me concluir este relatório,
que contém já bastante material científico para discussão, com uma breve
excursão pelo campo da metafísica. Suponhamos que sejamos de fato
capazes, por meios eletroquímicos, de construir organismos unicelulares
que exibam todas as características da vida senso stricto como há temos
concebido até aqui. Talvez então deixaríamos de considerar a vida como
sendo manifestada pelos fenômenos materiais do movimento, alimentação
e divisão, e, ao invés, vê-a como uma progressão de um germe para a
organização de estruturas diferenciadas correspondendo a um tipo ou
genes. E não é o resultado dessas experiências, o que parecia fazer-nos
inclinados a priori a escolher uma solução materialista para a questão da
vida, pelo contrário, que nos obrigam a ver a vida como tendo uma
“intenção organizadora” e atribuí-la radicalmente ao campo do espírito?
Em termos práticos, creio que nosso envolvimento e o interesse
que demonstramos por esta descoberta não podem deixar de ser de grande
serventia à causa da ciência por capacitar o Dr. Reich a tornar sua
descoberta conhecida na França, na Académie des Sciences. Também
ajudaria se nós reconhecermos a exatidão de suas experiências e
chamarmos sua atenção para qualquer erro que pudermos encontrar
nessas experiências ou na sua interpretação. De qualquer maneira, ter-nos-
íamos tornado úteis.
Prosseguindo a discussão, gostaria, portanto, de exortá-los a
apontar vários membros para colaborarem comigo nas séries de
experiências de controle que pretendo realizar a fim de confirmar os
resultados do Dr. Reich.

Roger du Teil

Post-scriptum. Ao final da discussão, a Sociedade Filosófica, em


reconhecimento ao óbvio interesse gerado pelos estudos do Dr. Reich, sem
considerar a interpretação a ser posta sobre eles, apontpu os seguintes
membros para assistir o Prof. Roger du Teil em sua tarefa de verificar o
trabalho do Dr. Reich: Dr. Chartier; Dr. Perisson; Srta. Fernand, Professora
Associada em Ciência Natural; e Sr. Claude Saulnier, Químico
Farmacêutico. Além disso, é o desejo da sociedade que um grande
laboratório francês - em particular, o laboratório Lumiére em Lyon- seja
encarregado, tão logo seja possível, desse assunto.

Reunião ocorrida no Domingo, 7 de março de 1937.

75
5. EXPERIÊNCIAS DE CULTURABILIDADE USANDO TERRA,
CARVÃO E FULIGEM

1. Eliminação da objeção de que havia Esporos Pré-existentes

O propósito das experiências de controle, que têm sido conduzidas


paralelamente às experiências bion nos últimos dois anos, era responder a
duas questões fundamentais quanto à interpretação dos resultados:

1. Serão os bions e suas culturas talvez os produtos de uma infecção


transportada pelo ar?
2. Qual é a significação específica das substâncias individuais a partir das
quais os bions são criados pela fervura?
A primeira pergunta pode ser respondida facilmente pela citação
de certos fatos. Os bions não podem ser gerados por uma infecção
proveniente do ar durante sua preparação, porque:

1. Os cocci móveis, hastes, e estruturas amebóides estão presentes no


momento em que a primeira e a segunda mistura são combinadas
(conforme o primeiro relatório preliminar).
2. A infecção aérea é excluída pela aplicação correta e meticulosa dos
procedimentos de esterilização.
3. Os bions mantêm sua motilidade e culturabilidade, mesmo depois de
longas e repetidas fervuras e autoclavagem.
Os bions estéreis e as culturas bion oriundas da mistura 6 diferem
“macroscópica e microscopicamente” das bactérias putrefadas, mofo e
outras formações encontradas em preparados não-estéreis de tecido ou
capim; a forma, o movimento e a cor do crescimento macroscópico são
todos diferentes.
A segunda pergunta hão é respondida tão facilmente: Seria
possível que os bions não se originem de substâncias sem vida e não-
organizadas fervidas juntas, mas sim de “esporos" que poderiam estar
presentes em substâncias, tais como carvão e gelatina e que podem resistir
à fervura em 100 ou 120°C? Neste caso, nós não estaríamos tratando com
a organização de material sem vida em formas vivas, mas meramente com
o desenvolvimento de esporos até então desconhecidos.
No curso do meu trabalho com terra e carvão fervidos, minha
Opressão inicial de que essas substâncias exibem muito mais movimento
ou “vida” quando fervidas do que quando não fervidas confirmou-se
repetidas vezes. Porém a objeção de que a fervura libera esporos que já
existiam nas substâncias surgia freqüentemente: não foi apenas eu quem
Pensou assim; tal objeção 'foi também levantada por bacteriologistas.
Afirmou-se que o fenômeno observado nada tinha de especial, porque as
substâncias simplesmente continham esporos que eram liberados pelo
Processo de fervura. Obviamente, a simples observação do experimento
fervido e as comparações com substâncias não fervidas não seriam
suficientes para refutar de modo conclusivo a opinião de que esporos pré-
existentes estarem presentes. Não duvidei nem por um momento de que

76
existam esporos a partir dos quais se possam desenvolver organismos.
Entretanto, a assertiva, de que estes esporos estejam presentes
continuamente era contrária a todas as minhas observações. Como
poderiam os esporos entrar no coque destilado a temperaturas de milhares
de graus? Como poderiam os esporos aparecer em folhas de capim ou em
músculos estriados quando não podem ser observados em substâncias não
fervidas mesmo às mais altas ampliações? E como poderiam eles surgir
“repentinamente” quando a carne, o musgo, o capim, o carvão ou a terra
era fervido? E ainda, não importa quão poderosamente tal raciocínio
contrarie a teoria metafísica do esporo, a prova era ainda teórica e não
baseada em experiências. Estava agora diante da tarefa de inventar uma
série de experiências que aclarariam o assunto. A descrição apresentada
nas páginas seguintes podiam levar a crer que o trabalho transcorreu
suavemente, sem dificuldades, e sem quaisquer preocupações. De fato,
deu-se exatamente o oposto. Não se fizeram quaisquer progressos por
semanas e meses, e parecia que a experiência inteira havia chegado a um
impasse, até que uma idéia relativamente simples indicou a saída.
Nos anteriores experimentos de fervura, o ato da esterilização e da
inchação do material dera-se em “um único processo”. Agora, ocorreu-me
que a esterilização - isto é, a morte de quaisquer esporos presentes - e o
processo de inchamento gerador de vida podiam ser separados.
A terra e o carvão foram pulverizados separadamente , colocados
em pratos de Petri e em seguida postos no esterilizador seco ajustado a
180°C. O tempo padrão para a esterilização seca a 180°C era duas horas,
porém foram feitas também experiências durante frações desse tempo, ou
mais tempo que isso, com os mesmos resultados. Antes que as duas horas
se passassem, tubos de ensaio estéreis foram enchidos até a medida de %
com 0,1 N KCL passado em autoclave. Os tubos de ensaio foram
hermeticamente selados com lã de algodão hodrofóbico. Para uma certeza
ainda maior, também foi esterilizado cloreto de potássio autoclavado por
meia hora a 120°C. Em seguida, uma espátula de vidro ou de metal foi
aquecida vagarosamente até avermelhar, diversas vezes, em chama de
gás. Então, o esterilizador seco foi aberto e retirado o selo de um tubo de
ensaio contendo cloreto de potássio. Carvão pulverizado ou terra
pulverizada era então recolhida na ponta da espátula e transferido tão
rapidamente quanto possível para o tubo de ensaio que continha KCL, o
qual era imediatamente selado de novo e colocado no esterilizador. (Podia-
se também esterilizar a seco a terra ou o carvão nos tubos de ensaio e em
seguida acrescentar cloreto de potássio). Os tubos de ensaios eram
colocados inclinados, a fim de que apresentassem uma superfície maior de
líquido. A experiência demonstrou que isto facilita a desintegração da terra
e do carvão pulverizados. A mistura KCL-carvão ou KCL-terra era então
aquecidas. Não era importante quanto tempo as substâncias eram
aquecidas, apenas que “tanto a solução de terra quanto a de carvão
assumissem um caráter túrbido, denso e coloidal, como resultado do
processo de aquecimento”. Em alguns casos isto ocorria após apenas meia
hora enquanto que em outros leva uma hora ou hora e meia de
aquecimento, dependendo da quantidade ou do tamanho das partículas da

77
terra ou do carvão. O aspecto mais importante de todo o procedimento era
atingir mesmo que por um instante uma suspensão estável das partículas
de carvão ou terra no líquido. A experiência não dá resultado positivo se:

1. O tubo de ensaio for tirado do esterilizador seco e o carvão ou terra


estiverem no fundo do tubo e o líquido sobrenadante estiver claro.
2. As partículas suspensas de carvão ou terra assentarem vagarosamente
quando o tubo de ensaio for tirado do esterilizador seco.

Só se alcança um resultado positivo se as partículas


permanecerem em suspensão por pelo menos cinco minutos. Mesmo em
preparados completamente aquecidos por longo tempo, as partículas
tendem a assentar mais cedo ou mais tarde.
Algumas gotas são tiradas da suspensão de carvão ou de terra
fervido, com uma pipeta de Pasteur esterilizado a seco e são examinadas
microscópica e eletricamente. Descobre-se duas coisas: No exame elétrico,
as partículas de carvão, bem como as de terra, movem-se em direção ao
cátodo quando uma corrente de 2mA é passada pelo preparado (ver em
outra parte a descrição da técnica). Se a corrente for invertida, a direção do
movimento também muda prontamente. Do mesmo modo, o movimento
para imediata e completamente quando a corrente é interrompida.
Se a corrente for passada durante um tempo longo, as partículas
adquirem uma carga elétrica “negativa”, como fazem, por exemplo, os
estafilococos.
O exame microscópico realiza-se de dois modos: Primeiro, os
objetos são observados em um campo escuro, usando-se uma objetiva de
10x e um ocular compensador de aproximadamente 16x com tubos
focalizadores binoculares em ângulo. Quando o campo escuro é focalizado
corretamente e se observa a camada mediana mais densa do preparado,
vêem-se vesículas e colônias de vesículas que se movem vigorosamente.
Quando a ampliação é aumentada para pelo menos 2000x, vemos diversos
cristais de carvão e de terra jazendo parado. A maioria dos cristais de
carvão e de terra são verdes e tinham começado a romper em vesículas,
particularmente nas beiradas. Podiam-se observar estruturas tubulares que
se moviam, expandiam, contraiam e encurvavam. As formações
vesicularmente estruturadas de carvão e de terra rastejavam pelo campo de
visão com movimentos convulsivos. Haste e cocci passam pelo campo,
movendo-se rapidamente com movimento palpitante. O movimento é típico
de organismos unicelulares. Se a suspensão fosse incompleta, as mesmas
formações ou mover-se-iam menos vigorosamente, ou não se moveriam
absolutamente. É óbvio que a suspensão a longo prazo das partículas no
líquido, a carga elétrica positiva e a motilidade vão todos juntos. Se o
Preparado exibir estes três parâmetros básicos, fazem-se inoculações da
solução coloidal fervida em caldo de carne, Após 24 horas, em muitos
casos a inoculação de terra, assim como a de carvão produzem uma densa
turgidez leitosa no caldo. O exame microscópico revela a presença de

°bjetos em forma principalmente de haste, que se movem rápida ou


Preguiçosamente. As formações carvão-amebóides ou terra-amebóides,

78
que foram tiradas do preparado fervido no dia anterior, não estão mais
presentes. Ocasionalmente, vêem-se cristais não estruturados oriundos da
inoculação. Em seguida, sob condições estéreis, uma gota é retirada da
cultura de caldo e recoberta com um meio nutriente de agar. Um
crescimento granular amarelado forma-se após 24 horas e freqüentemente
mais cedo. Como controle desse crescimento, duas outras culturas são
preparadas:

1. Um meio nutriente de agar com carvão não esterilizado e pulverizado e


uma com terra não esterilizada e pulverizada.
2. Um meio nutriente de agar com terra pulverizadas e esterilizada a seco
a 180°C, e um carvão pulverizado e esterilizado à seco na mesma
temperatura.

48. Terra de jardim, esterilizada a seco a 180°c. 1000x

79
49. Cultura daquela terra de jardim I db 16. 1000x. Tintura Gram.

50. Carvão esterilizado a seco a 180°C. 1000x


80
51. O mesmo carvão vesicularmente desintegrado após oito semanas em
cloreto de potássio. Foto do período de desenvolvimento do processo
extraída do filme dos preparados 1,2 e 3.

A primeira experiência de controle produz um crescimentode


forma irregular de várias cores; o segundo controle não produz qualquer
crescimento. O crescimento de agar esterilizado da mistura de terra ou
carvão que fora primeiro esterilizado e em seguida fervido difere
microscopicamente, em vários aspectos, do crescimento de agar não-
estéril. Quanto mais se segue fielmente os seguintes métodos de
tratamento, inferidos empiricamente, mais é possível garantir a
culturabilidade do carvão e da terra, seguindo-se imediatamente a fervura:

1. Os cristais de carvão ou de terra devem ser primeiro finamente


pulverizados por processo mecânico;
2. A solução de KCL que se evapora deve ser reposta sob condições
estéreis;
3. O líquido deve ser coloidalmente opaco de modo uniforme; as
partículas não devem assentar completamente;
4. Deve ser confirmado por exame microscópico que se acham presente,
principalmente, estruturas rastejantes;
5. É melhor inocular imediatamente a partir da solução fervida;
6. A primeira geração deve ser inoculada em caldo e a segunda em agar.
Para melhores resultados, inocular primeiro em meio de ovo e depois
em agar.
81
Deixe-me agora sumariar os erros que podem impedir o
crescimento de culturas de terra e carvão:

1. Se o carvão ou a terra for esterilizado por tempo demasiado, sem ser


aquecido por um período de tempo adequadamente longo, a desintegração
vesicular dos cristais permanece inadequada;
2. Se não se der atenção a verificar se as partículas assentam quando
retiradas do esterilizador, as culturas facilmente fracassam;
3. Se o tubo de ensaio for retirado do esterilizador sem o devido cuidado
ou, pior ainda, se ele for sacudido, a substância que faz no fundo é
mexida e apenas dá a impressão de estar em suspensão. O tubo de
ensaio, portanto, deve ser removido cuidadosamente e não deve ser
sacudido;
4. A menos que se examine o preparado imediatamente após aquecido,
não se pode saber se as estruturas apresentam movimentos
significativos.
O can/ão tratado desta maneira, bem como o carvão e o musgo
não tratados, produziram algumas culturas em caldo. Embora, no todo, os
resultados dessas culturas fossem incertos, o teste de cultura foi um dos
mais decisivos elementos em toda a série de estudos. Se uma cultura não
fosse bem sucedida, havia duas explicações possíveis: ou as substâncias,
que tinham sido completamente secadas pelo esterilizador seco, não foram
aquecidas tempo bastante para atingir a necessária ruptura e
intumescimento das partículas ou a substância nutriente não era complexa
bastante para alimentar e sustentar a vida incipiente. Por outro lado, as
descobertas microscópicas eram sempre as mesmas sempre que eu
conduzia o aquecimento até que a turgidez coloidal fosse alcançada. Se os
preparados d/b forem postos a descansar em ampolas lacradas por dois ou
três meses, torna-se sempre fácil produzir culturas. Até aqui, não se provou
ser possível explicar por que a cultura, em uma ocasião, é bem sucedida,
mas, em outra, falha.
A experiência contínua com os elementos de terra e carvão
mostrou que a confiabilidade da culturação aumenta quando se usam
“temperaturas mais altas e partículas menores”.

2. A Experiência de Carvão incandescente

Em 21 de maio de 1937, ocorreu-me que havia uma maneira


rouito simples de checar a teoria metafísica dos esporos. Podia-se pensar
em um experimento com carvão que eliminaria inteiramente qualquer

Possibilidade de que os esporos estivessem presentes. A experiência que


conduzi é muito simples. Todas as vezes que se usa um microscópio
binocular capaz de 2500-3000x com um sistema de lentes de imersão, os
fenômenos são inequívocos. Permitam-me mencionar, adiantadamente, que
e$ta experiência foi repetida dez vezes, em rápida sucessão, sempre com o

^esmo resultado.
Uma parte do pó de carvão que permaneceu no esterilizador seco
a 180°C foi colocada em uma fina espátula de metal. Ela foi em seguida

82
aquecida até incandescer em uma chama de gás benzeno - isto é, a +/-
1500°c - até que todo o pó de carvão estivesse incandescente sem se
transformar completamente em cinza. Nesse meio tempo, minha assistente
em bacteriologia preparou uma mistura de caldo de carne, a qual ela
misturou em parte iguais com cloreto de potássio 0,1 N passado em
autoclave. Parti da concepção de que não apenas a substância nutriente,
mas também uma substância que se inche, deva estar presente. Nesta
experiência, o carvão incandescente foi imediatamente introduzido na
solução de cloreto de potássio - caldo de carne, Para nossa surpresa, em
todos os experimentos, a solução tornou-se imediatamente coloidalmente
opaca, de uma maneira que nunca tinha atingida tão bem após o simples
aquecimento.
Observou-se um outro fenômeno instrutivo e surpreendente. As
partículas de carvão inicialmente deram à solução uma cor meio preta,
porém após dez a vinte minutos essa coloração preta era substituída por
uma turgidez cinza-nebulosa. Esta solução foi examinada ao microscópio a
3000x, imediatamente, e também depois de 24, 48 e 72 horas.
“Imediatamente” após o preparado ter sido feito, eram evidentes formas de
vida muito vigorosas. Uma amostra seca de pó de carvão aquecido à
incandescência foi colocada em uma lâmina. Mesmo a 200x, era possível,
no campo escuro, ver as vesículas mais delicadas em que os cristais de
carvão se desintegravam. Quando o cloreto de potássio foi acrescentado,
manifestou-se a motilidade. Algumas vesículas, que se assemelhavam a
esporos, moviam-se ao acaso. As grandes partículas de carvão avidamente
encharcavam-se de líquido. Após um ou dois minutos, as grandes partículas
de carvão, cujas bordas se tinham tornado completamente vesiculada, eram
observadas atraindo para si as vesículas individuais no fluido. O movimento
das vesículas individuais em direção às grandes partículas de carvão
aumentava de velocidade à medida que a distância diminuía. Finalmente,
as vesículas individuais arremetiam para as partículas maiores de carvão e
aderiam as suas bordas. Não havia dúvida, tratava-se de fenômenos
eletromagnéticos.
A 3000x, não era possível distinguir as partículas de carvão
aquecidas à incandescência das formações vivas. As partículas rastejavam
pelo campo de visão, com movimento significativamente mais intenso no
meio e na parte superior do que no fundo. Após 24 horas, a solução de
cloreto de potássio estava cheia de cocci e hastes movediças, que se
descobriu terem uma “carga elétrica positiva”. A cor preto-azulada das
estruturas era uma indicação imediata de sua origem. Os cocci eram de
todos os tamanhos. As margens das formações maiores vibraram
fortemente mesmo depois que o preparado tinha primeiro sido resfriado.
Este movimento, portanto, não era um fenômeno do calor. O primeiro
preparado produziu uma turgidez densa no caldo após 24 horas. Não
ocorreu turgidez nos outros preparados, e a inoculação resultou em
somente algumas culturas. A fim de fornecer uma base sólida para meus
estudos posteriores, tive primeiro que descobrir uma explicação provisória
para o fenômeno observado.
Nos cristais de coque, que tinham já passado por destilação a alta
temperatura, as partículas individuais aderiam fortemente umas com as
83
outras. Após o aquecimento - particularmente após a incandescência - esta
coesão é rompida e uma energia elétrica e liberada. (De outro modo, as
partículas individuais não poderiam ser eletricamente carregadas, e as
espécimes grandes não são). Quando se acrescenta cloreto de potássio, as
partículas em que o carvão calcinado se desintegra são vista, a 2000x
absorvendo grandes quantidades de líquido. Essas partículas
transformaram-se em vesículas indistinguíveis, na sua forma, dos esporos.
Para mim, essa experiência refuta terminantemente a teoria do esporo
como ela existe atualmente, pois não se pode provar que os esporos podem
sobreviver às temperaturas geradas na calcinação. A essa, acrescenta-se
minhas demais descobertas: todas as substâncias examinadas assumiam
estrutura vesicular quando fervidas, passadas no autoclave, aquecidas até
à incandescência ou posta a inchar. E, como já disse, as vesículas são
idênticas na sua aparência, aos esporos. E não refuto a existência de
esporos no contexto da velha teoria; simplesmente afirmo que o caráter
vesicular e a desintegração da matéria não organizada intumescida, fervida
ou calcinada, em vesículas é o ponto central a partir do qual deve-se
proceder em exames posteriores da “formação" de esporos viáveis. “Assim,
os esporos também devem originar-se da matéria como resultado do
intumescimento”. Parece-me que é absolutamente essencial fazer esta
suposição.
De fato, a exatidão dessa suposição pode ser provada por meio
cinematográfico. O pó fino de carvão é primeiro esterilizado a seco por duas
horas a 180°C. Em seguida, alguns grânulos são colocados em uma lâmina
côncava e KCL passado no autoclave é então acrescentado. Uma tampa de
vidro é imediatamente colocada sobre o preparado e lacrada com parafina.
O microscópio é ajustado a 300-600x com iluminação de campo-escuro. Em
seguida, +/- 50cm de filme é rodado a uma velocidade normal. Então, o
mecanismo de contagem do tempo é regulado em um quadro cada duas ou
cinco horas. Para fotografar com contagem de tempo, o ideal é selecionar
um cristal “liso” que seja tão livre quanto possível e tenha uma borda
nitidamente definida
A câmera de contagem de temo opera sem interrupção por 6 a 10
semanas. A observação diária, a olho nu, revela a progressiva
desintegração vesicular dos cristais. Com o passar do tempo, aparecem
cada vez mais vesículas movediças no campo de visão. Quando o filme é
exibido, vê-se primeiro uma mancha escura, que vagarosa ou rapidamente
ganha luz, dependendo do ajuste do mecanismo de tempo.

3. Culturas de Fuligem Aquecidas até a Incandescência.


A Interpretação Biológica do Movimento Browniano

Uma objeção típica para o fato de o movimento observado nas


°ulturas bion serem de natureza orgânica é que esse é um fenômeno físico
conhecido como movimento Browniano. O próprio Brown, supõe-se, teria
considerado o movimento, que observou em partículas de tinta nanquim,
como sendo um sinal de vida. Os físicos explicam o fenômeno em termos
da ação física do movimento molecular. Se o movimento Browniano estava
não envolvido somente podia ser resolvido experimentalmente: “Serão
84
ou não culturáveis as partículas que criam a impressão de movimento
orgânico na solução de tinta nanquim?"
Os testes iniciais para cultivar solução de tinta nanquim, passada
em autoclave, diretamente em agar não foram bem sucedidos. Por
conseguinte, após diversos fracassos, conduzi a seguinte experiência:
Primeiro, a fuligem foi esterilizada a seco por três horas a 180°C; o caldo de
carne foi colocado a repousar por 24 horas em tubos de ensaio na
incubadora, de modo a garantir a esterilidade do caldo. Diversos meios de
ágar-sangue e agar foram inoculados com fuligem esterilizada a seco a
180°C como controles. Se minha teoria estivesse correta, essa mistura não
deveria produzir qualquer crescimento. Os resultados foram os esperados:
a fuligem esterilizada a seco não produz crescimento em agar. A fuligem foi,
em seguida, aquecida até avermelhar por dois ou três minutos sobre uma
chama de gás benzeno e, depois, colocada imediatamente num dos tubos
de ensaio com caldo mencionados anteriormente. No espaço de mais ou
menos dez minutos, a densa turgidez enegrecida tornou-se cinzenta,
exatamente como no caso do carvão incandescente. Depois de 24 horas na
incubadora, a solução de caldo, que exibia uma densa turgidez branco-
amarelada, foi inoculada no meio nutriente de ovo. Um exame microscópico
da solução de caldo-fuligem revelou bions que se moviam vigorosamente
com as características dos bions de carvão. Pelo período de 24 a 48 horas,
ocorreu um crescimento composto de protuberâncias individuais de cor
uniforme. O caldo promovera o intumescimento das partículas de fuligem e
o meio de ovo suprira as partículas com os vários nutrientes. Em seguida,
fizeram-se inocülações retiradas da camada que cobria o meio de ovo, para
o agar de sangue e agar. Depois de apenas doze horas, apareceu um
crescimento cremoso, macio, branco-azulado. A 3000x, o microscópio
revelou formações diferentes das ocorridas no caldo; elas ainda mostravam
claramente os sinais de se terem desenvolvido das partículas preto-
azuladas de fuligem, porém seus movimentos eram vigorosos e uniformes.
As partículas de fuligem, assim, podem ser cultivadas sem perder qualquer
das condições necessárias para a vida. O movimento que Brown tinha visto
era o movimento dos bions de fuligem (negro-de-fumo) a partir dos quais a
vida se pode desenvolver. Creio estar plenamente justificado em considerar
a experiência acima como sendo uma refutação conveniente para a objeção
de que o movimento observado é de natureza física.
Do mesmo modo, eu era capaz de cultivar cinza a partir de uma
fornalha de aquecimento central e madeira carbonizada. No microscópio, as
formações cultivadas tinham as mesmas características que as culturas de
fuligem.
Das dezoito experiências consecutivas, em que a fuligem foi
aquecida até incandescer, somente cinco falharam, por razões que não fui
capaz de identificar. Mais tarde, descobriu-se que a inoculação em melo
nutriente de ovo pode produzir apenas uma ou duas pequenas elevações
redondas, semelhantes a cabeça de alfinete, “a qual deve ser espalhada
com um arame de platina esterilizado a fim de obter-se um crescimento
denso”. No caso de crescimento duvidoso do ovo, eu deixava o meicj
nutriente repousar por 8 a 14 dias, armazenado em posição horizontal, m

85
temperatura ambiente; eventualmente ocorre o crescimento com
protuberâncias.
Os resultados da experiência de incandescência só são
surpreendentes se se considerar que as estruturas vivas observadas em
seguida ao intumescimento já estivessem presentes sob a forma de
esporos, porque é impossível explicar como os esporos podiam sobreviver
a tais temperaturas. Contudo essa opinião é incorreta. Os elementos
vesiculares - não vamos hesitar em chamá-los de ‘bions’- a partir dos quais
as estruturas bacteriformes se formam, não eram absolutamente pré-
existentes, mas formavam-se somente depois que as substâncias se tinham
desintegrado em seguida à incandescência e subsequente intumescimento.
Não pude deixar de pensar que todos os tipos conhecidos de esporos
devem ter-se formado quando a terra estava ainda incandescente. Eles
devem ter-se desenvolvido quando a matéria então incandescente entrou
em contato com a água e substâncias capazes de produzir intumescimento.
Triturei alguns seixos em fino pó, mantive o pó em chama de gás benzeno
até avermelhá-lo, e em seguida acrescentei cloreto de Potássio ao pó
incandescente. Mais uma vez vi a desintegração vesicular e vesículas
movediças, que viviam pouco tempo. Até aqui, não tinha sido possível
produzir culturas.
No debate sobre esse assunto, a opinião de que a vida é algo
completamente separado da não-vida contrastou com a opinião de que “em
última análise, tudo é vivo”. Não se pode fazer muito com tais
generalizações. Por enquanto, devemos dizer, que toda matéria organizada
provavelmente tem a habilidade de produzir vida, dependendo de sua
composição e meio ambiente. “A vida pode brotar em toda parte por um
período de tempo longo ou curto, dadas as condições certas”. Às vezes,
observam-se movimentos semelhantes à vida que duram somente alguns
segundos. Às vezes, os mesmos movimentos levam semanas ou meses
para se extinguirem. Se a vida incipiente sobrevive ou não provavelmente
vai depender de duas condições básicas:

1. A composição química da matéria;


2. O meio ambiente - isto é, o meio de cultura - em que a fagulha de vida
se desenvolve.

52. Cultura de fuligem aquecida até a incandescência. Meio


nutriente de ovo. Quatorze dias de idade.

86
53. Cultura de fuligem aquecida até a incandescência. Meio nutriente de
sangue-agar, fresco.

54. Agar descoberto não estéril, dois meses de idade.

55. Agar descoberto não estéril, seis semanas de idade.

87
56. Bions oriundos de fuligem aquecida até a incandescência em caldo e
cloreto de potássio.

Cultura de Bions oriundos de fuligem aquecida até a incandescência.


Meio de agar de sangue.
6. TESTES DE CONTROLE E INSTRUÇÕES PARA VERIFICAR AS
EXPERIÊNCIAS BION (SUMÁRIO)

Para uma verificação acurada das experiências e procedimentos


aqui descritos, é necessário nãD apenas seguir as regras de esterilização
completa, mas também, criar todas as condições necessárias a permitir que
a matéria não organizada se torne organizada. A lista de requisitos que se
segue está longe e ser exaustiva:
1. É essencial que o microscópio seja binocular, com tubos inclinados, e
capaz de oferecer uma ampliação de 3000x. Os tubos binoculares
focalizadores, inclinados, são importantes porque essa disposição não
apenas dá uma ampliação 50 por cento maior do que os do tipo único,
direto, mas também oferece imagem mais tridimensional.
2. Além da filmagem em contagem de tempo do processo de
desenvolvimento, é essencial observar um ponto no preparado por
diversas horas a 2500-3000x. Deste modo, as mudanças vesiculares
• nos tecidos e cristais, bem como a transformação nas formas, podem
ser observadas diretamente.
3. A fim de avaliar o efeito “promotor da vida” da fervura a altas
temperaturas ou do aquecimento até a incandescência, deve-se
comparar continuamente as substâncias não aquecidas e não tratadas
quimicamente com as substâncias fervidas ou incandescentes. Esta é a
única maneira de estabelecer que as formações microbiais movediças
nas substâncias aquecidas não se desenvolvem de esporos, mas são
criadas pelo efeito desintegrante do aquecimento e do intumescimento.
4. A mesma substância deve ser examinada no estado “não movediço" tão
bem quanto no movediço. Isto invalidaria a assertiva de que os
movimentos observados por Brown são movimentos moleculares físicos
imutáveis, porque podem existir sob determinadas condições, mas não
sob outras.
5. O caráter orgânico de todo movimento observado sob o microscópio
deve ser verificado pela condução de um teste de cultura da substância
pertinente. Se o teste falhar, não significa necessariamente que a
substância em questão é incapaz de vida; primeiro, a substância, de
fato, pode não ser organizável; segundo, ela pode ser organizável,
porém as condições necessárias podem não ter sido ainda
completamente identificadas.
6. É essencial eliminar julgamentos que se baseiem em um único conjunto
de resultados; por exemplo, os obtidos a partir de observação
microscópica. Somente se chega a uma interpretação correta se se
considerar simultaneamente os resultados de “todos” os exames, isto é,
exame microscópico, testes elétricos, reação de cor, experiências de
culturas, etc., que tornam possível a cultivação. “Para se promover a
organização, é necessário, primeiro, seguir todas as regras de
esterilização e matar toda vida inexistente”.
Estudos em série com substâncias individuais e com substâncias
combinadas fornecem uma indicação a mais da validade das
experiências. Culturas não estéreis pode ser preparadas do mesmo
90
modo, porém descobrimos que levará dias, até semanas (por exemplo,
se os meios nutrientes de agar forem expostos) para formarem uma
cultura clara.
Naturalmente, a lista acima, está longe de esgotar a quantidade de
medidas necessárias, ainda para serem testadas.
De certo, é importante lembrar que há duas fontes de erro que
devem ser eliminadas nesses experimentos. Primeiro, os erros podem ser
provocados por esterilização insuficiente, levando a considerar as
formações na cultura ou na mistura bion como organismos organizados,
enquanto que elas, de fato, resultam de uma infecção. Mas o segundo erro
é exatamente o mais perigoso. Pode-se passar por cima ou fracassar ao
reproduzir as condições necessárias para que a matéria sem vida se torne
organizada, ou talvez não dar atenção devida a descobrir exatamente quais
as condições necessárias.
Qualquer discussão das experiências bion que não se baseiem em
um completo entendimento das condições seria infrutífera e deve ser
evitada. Por outro lado, pode-se esperar um bocado de informação
científica a partir dos controles conduzidos sobre as bases dessas
experiências, prescindindo, assim, temporariamente, dos conceitos
experimentais comuns e com isso ajudando a esclarecer muitas questões
ainda não respondidas.

“Sumário”. Permitam-me agora sumarizar as mais importantes experiências


de controle que conduzi paralelamente às experiências bion do preparado
6:
1. As substâncias individuais, a partir das quais se fez o preparado 6,
foram esterilizadas de uma maneira que dependia do tipo de substância
e inoculadas individualmente em caldo. Quando passadas em autoclave,
as substâncias individuais não produzem qualquer crescimento.
2. Após cada nova substância ser acrescentada, uma amostra é tirada da
solução estéril e inoculada em caldo. As misturas da substância a+b,
a+b+c, a+b+c+d, etc., não deveriam formar qualquer crescimento. A
falta de crescimento nessa experiência de controle é uma prova positiva
da esterilidade da mistura bion. Quando passada em autoclave, a
mistura “total” tem que produzir crescimento após três ou oito dias, se
todas as condições forem preenchidas. “Ela tem que possuir uma forte
carga elétrica”.
3. Quando aquecidos por meia hora, ou por uma hora inteira, em KCL, o
carvão e a terra freqüentemente produzem crescimento no caldo. O
carvão e a terra esterilizados a seco por uma hora a 100°C e inoculado
em agar não deveriam produzir qualquer crescimento. Isto prova que o
intumescimento das substâncias é um pré-requisito essencial para que a
vida vegetativa se desenvolva.
4. A fim de comparar as estruturas obtidas pela esterilização e pelas altas
temperaturas com os germes aéreos, o agar é deixado descoberto. As
formações são totalmente diferentes quer microscópica ou
macroscopicamente. Leva dias e, freqüentemente, semanas antes que
apareça um crescimento forte.

91
5. Todas as substâncias utilizadas para produzir bions são inoculadas,
completamente não esterilizadas, no agar ou no caldo. Esses
crescimentos do agar são completamente diferentes das formações que
se desenvolvem na mistura total após radical esterilização.
6. Após alguns dias, musgo e capim embebidos em água são inoculados,
totalmente não esterilizados, no agar. Do mesmo modo, água da bica
não esterilizada é inoculada. Em todos os casos, os crescimentos
diferem de todos os tipos de bions estéreis.

Possíveis Estudos Futuros

Neste primeiro relatório detalhado, contentar-me-ei em descrever


os resultados experimentais verificados. Entretanto, ao longo de meu
trabalho, muitos fenômenos surgiram que ou não podiam ser classificados,
ou, na verdade, eram confusos. Também, notei outras manifestações que
abriam novos campos de estudo.
Se toda substância desfaz-se em vesículas movediças quando
exposta à inchação ou a processos desintegrativos, é lógico supor que os
“gêneros alimentícios” que ingerimos em forma cozida estão sujeitos,
durante a digestão, a processos ainda desconhecidos que estão
intimamente relacionados com os bions. As experiências realizadas com
“pepsina” em vários víveres produziram de fato, os mesmos resultados
obtidos pelo aquecimento ou intumescimento: a pepsina desfaz as
substâncias, e a estrutura delas é destruída e substituída por uma “estrutura
vesicular". Vêem-se estruturas individuais destacadas e colônias de
vesículas que se movem ao léu. “Linfa" fresca examinada no “campo
escuro”, a uma ampliação suficientemente alta, assemelhasse a uma
cultura bacterial, a julgar pela profusão de movimento vital. Essas duas
observações sugerem fortemente que, “no organismo animal, a comida é
carregada no sangue e na circulação linfática na forma de unidades
vesiculares e colônias de vesículas eletricamente carregadas”. Eu
acentuaria que isso é uma suposição muito plausível, embora não tenha
ainda sido provada ou negada pela experiência. Se tal experiência tiver
sucesso, seria de estrema importância, indicando que o corpo obtém sua
energia na forma de ‘bions” pela via do processo digestivo, do mesmo modo
que nosso animaliculo-org ingere as vesículas individuais. É concebível que
as células do organismo incorporem essas vesículas como portadores de
energia elétrica. Seria sem sentido, nesse estágio, dizer qualquer coisa
mais sobre isso ou colocar qualquer outra teoria.
“Os bions e as culturas bion altamente estéreis têm um efeito
visível sobre vários tipos de bactérias e células”, e isto abre uma outra
Perspectiva para estudos posteriores. Não foi ainda estabelecido se a
atividade biológica ou se o tipo de carga elétrica é o fator efetivo. No
entanto, a partir dos fenômenos observados até agar, é evidente que todas
ps maneiras de combinações de testes podem ser executadas para
identificar o efeito.
Do mesmo modo, surge a idéia de que certos tipos de bactérias
entram nos organismos de dois modos diferentes; tanto pela infecção - isto
a invasão do corpo, do exterior, por um organismo que se propaga e
92
exerce um efeito destrutivo no corpo - quanto da ainda não bem explicada
“auto destruição interna do organismo", ao longo da qual formas
protozoárias se desenvolvem a partir dos tecidos. No caso da tuberculose, a
natureza endógena do bacilo de Koch já foi confirmada.
As experiências de terra-cloreto de potássio fornecem um novo
discernimento no bem conhecido processo de fertilização de potassa do
solo. É provável que a potassa promova grandemente um intumescimento e
uma liberação da energia elétrica no solo de modo que a energia vital seja
liberada. É possível que os bions resultantes do solo tenham um efeito
fertilizante. Esta é uma suposição difícil de descartar.
Desejo acrescentar, brevemente, que eu consegui produzir
estruturas culturáveis semelhantes a bion a partir do sangue humano. Darei
um relatório separado sobre isso logo. Junto com o conhecimento da
sexualidade, obtido em minha atividade clínica sobre as funções autônomas
do organismo humano, os métodos da pesquisa bion revelaram-se
particularmente útil para uma compreensão do câncer. Experiências
apropriadas foram iniciadas a dezoito meses atrás e estão produzindo
resultados promissores.
O trabalho, como um todo, foi prejudicado porque perguntas
“demais” foram levantadas simultaneamente, e porque eu não possuía os
meios adequados para seguir atrás delas. Apenas espero que não seja
difícil demais montar um laboratório suficientemente grande e bem
equipado, junto com uma equipe científica, para atacar as novas e
complexas questões. Em todo caso, meu trabalho não sofria de falta de
problemas e de soluções mas da dificuldade em limitar o fluxo das novas
descobertas.

Tabela mostrando a culturabilidade de terra corhum, terra cultivada, coque e


fuligem. As designações têm os seguintes significados:

a Não-estéril
b Fervido por Vi hora a 100°C
c Passado em autoclave por a 1 hora a 120°C
d Esterilizado a seco de 1 a 2 horas a 180°C
e Aquecido até a incandescência de Vi a 1 minuto em chama de
gás benzeno
bb Fervido em dobro (duas vezes)
cc Passado em autoclave duas vezes
+ Movimento fraco, pouco movimento, reação ocasionalmente
positiva
++ Movimento forte, freqüentemente positivo, reação claramente
positiva
+++ Resultado muito vigoroso
Experiência animal sem qualquer efeito visível

93
Tabela Mostrando a Carga Elétrica dos Vários
Bions e suas Culturas

sterilizzazione
Movimento Coltura in

gonfiamento

Esperimenti
delia coltura

su animali
Tipo di
Tipo di

Reazione

Reazione
elettrica

elettrica
Matéria Annotazioni
imme- 2-6 2-6 3-10
diato settim. giorni settim.

Terra H20 + Colture miste


a O O O O O ?
normale non sterilizzate
O

b
KCI 4- + + + -♦- +4-+4-4-
+ 4- 4- 0
b

Terra
b
KCI + 4- ++ +++ ++ ? 4- 4- ?
coltivata c

Terra
normale
c
KCI 4-4-4-
+ + + + + ++ ? 4- 4-
Terra c
coltivata

d + h2o ?
" 0 O o O 0 O
•• d KCI 4-4-4’ + + + +4-4-
4-4- 4-4- -
c

Coke o O o h2o + o o O ? Colture


polverizz. 0 non sterilizzate

II b
KCI 4-4- 4- + + + ? 4-
b

•• c KCI + 4-4-4- + + + + 4-4- -


c

" d 0 0 0 ~ O õ o 0
•• d KCI + 4- 4- + + + + 4-4-4-4- -
c

" e
Brodo
-f KCI
4-4-4- + + + + ?
4-4-4- 4-4-4--
o O + + o O ? Colture miste
Fuliggine
+ ? o 0 non sterilizzate

" c KCI 4-4-4-


+ + + + + +-»- +? 4-4- ?
c

d 0 o 0 o o o O ?

e KCI + + 4-4-
+ + + + + +4- + +? 4-4-4--
brodo
Tipi iii bioni ('iirtiii Coltnrj Carica Annottisioni

Mistura Ecce/.ionc
Preparato t di negativa si_ negativa 6cl - elettr.
bioni

Bioni di terra pmiiiva si positiva

Bioni cf* coke pi»iti\ a >i positiva

Bioni di poMiiva positiva


fuligginc gram -f

Tessuto iinnra
nuiscohiro negiiUBi lug.mva

Bioni di 1 reperti
legato negativa si negativa ] 1 deila coltura
s richiedono altri
Bioni di controlli e
polmone negativa si negativa ) interpreta/ioni

Bioni di
tuorlo ti uovo negativa no

Bioni di
muschio negativa possihile negativa

Bioni d'erba neggtiva p p

Latte di possibile se
mucca negativa riscaldata negativa
con autoclave
a 120 “C

95
7. A INTERPRETAÇÃO DIALÉTICO-MATERIALISTA

O Problema do Salto Mecano-Elétrico

Não há nenhuma possibilidade de que hoje, ou mesmo no futuro


próximo, venhamos a ser capazes de detectar todas as condições que
levam do enchimento mecânico à carga elétrica. A segunda metade da
fórmula de vida de quatro-pulsações, descarga elétrica-relaxamento
mecânico, só é mais facilmente compreendida por causa dos princípios
puramente físicos envolvidos e porque ela contém a primeira parte da
função biológica. Se uma carga elétrica estiver presente, dá origem à
função de descarga; se a carga estiver associada com o intumescimento,
então a descarga tem que ir junto com o relaxamento. Já somos capazes de
responder a algumas das qufestões recorrendo ao conhecimento científico
existente; porém o restante terá que esperar por uma explicação em data
futura. O que sabemos é que há substâncias capazes de inchar; onde elas
existem, a vida “pode-se” formar. Sabemos também, pela bioquímica, que
"é a carga elétrica das partículas" o que mantém o colóide orgânico em
suspensão.

1. Pré-condições Químicas Para o Processo Tensão-Carga

Afora os oitenta elementos inorgânicos, relativamente poucos são


específicos da vida. Segundo Hartmann, eles podem ser divididos em três
grupos principais:

1. 3.
C Carbono P Fósforo H2O Água
N Nitrogênio K Potássio
O Oxigênio Ca Cálcio
H Hidrogênio S Enxofre
Fe Ferro
Mg Magnésio
Também, nos animais:
Na (Sódio) e Cl (Cloro)

Devemos agora admitir que cada um desses grupos de


substâncias está relacionado de modo específico com o processo tensão-
carga e que esta relação determina que estas e não outras substâncias são
necessárias para estabelecer a função vital. Essas substâncias devem
conter, basicamente, a função de tensão e de carga de um modo particular.

Vamos sumariar, uma vez mais, a função vital de um outro ângulo,


•oda a vida é, fundamentalmente, governada por:

?ar9a / descarga
,r|tumescimento / relaxamento
^nabolismo / catabolismo
tensão / relaxamento
assimilação / desassimilação
96
crescimento / extinção (encolhimento, relaxamento, descarga)

Tentaremos agora descobrir as funções associadas com as


substâncias individuais. Assim procedendo, vamos nos apoiar inteiramente
com o reconhecimento até aqui atingido pela bioquímica.
Das substâncias que controlam a função dos organismos vivos, o
carbono e o nitrogênio são particularmente significativos, pois são
antitéticos. O carbono possui propriedade de formar compostos complexos
consigo mesmo e outras substâncias orgânicas para produzir,
particularmente, proteínas. Ele, assim, constrói e aglutina energia”. O
nitrogênio, por outro lado, tem a propriedade de formar compostos muito
instáveis e, conseqüentemente, de liberar energia. É, por conseguinte,
justificável admitir que as funções fundamentais dos organismos vivos - a
saber, tensão e relaxamento, ou acumulação e descarga de energia - têm
suas bases nessas propriedades antitéticas do carbono e do nitrogênio.

2. A Carga Elétrica Como Característica dos Colóides

Se uma membrana de pergaminho cheia com uma solução aquosa


de amido e cloreto de sódio for suspensa em um recipiente que contenha
água destilada, o cloreto de sódio será encontrado, após curto tempo, na
água do vaso externo. O sal, assim, permeou através da membrana. Por
outro lado, o amido dissolvido não permeia. Na base dessa reação diferente
às membranas, faz-se uma distinção na química coloidal entre “cristalóides”
que se podem difundir facilmente através das membranas animais (p. ex.
sal) , e “colóides”, que não podem passar através de uma membrana (p.
ex., amido). Os colóides são os mais importantes constituintes da matéria
viva. Eles podem ser divididos em dóis tipos diferentes: liofóbico e liofílico.
Colóides liofólicos são aqueles que, quando dessecados sob temperatura
constante, não deixam para trás qualquer resíduo seco e que, quando
combinados com o solvente, não produzem, por si mesmos, uma solução
coloidal de novo (veja, por exemplo, as soluções coloidais metálicas). A
proteína, por outro lado, forma um colóide que, quando seco e combinado
com água, produz uma outra solução coloidal: colóide liofílico.
Esta propriedade dos colóides liofélicos é de importância decisiva
para a compreensão da “teoria do germe”. Se a proteína, o principal
componente da substância viva, pode ressecar-se e em seguida produzir
novamente um colóide orgânico quando está combinada com um fluído
específico, é altamente provável que organismos unicelulares possam
secar, tornarem-se sem vida e, então serem restaurados em um colóide
atuante, vivo, quando combinados com líquido; isto é, eles podem reemergir
do “estado de germe”.
Uma outra propriedade de um colóide que o distingue, por
exemplo, de uma solução de cloreto de sódio é sua perda de
homogeneidade. Na solução salina, as moléculas são uniformemente
distribuídas; no colóide, a densidade do arranjo molecular varia. Tal é
manifestado pelo que se conhece como efeito Tyndall, onde, se um facho
paralelo de luz passado através de uma solução, observa-se uma diferença
significativa entre as soluções cristalóides e coloidais. Se o facho passar
97
através de uma solução de proteína, a trilha do facho revela-se túrbida e
opaca, isto é, a luz incidente é difundida. Este fenômeno não é apresentado
pelas soluções cristalóides.
A bioquímica produziu um grande número de explicações para o
“comportamento elétrico das soluções coloidais” que sãc extremamente
importantes para a compreensão de nossos experimentos. Se um gradiente
de potencial elétrico for gerado em uma solução coloidal, as partículas do
colóide migram, isto é, elas próprias carregam uma carga elétrica. O sinal
da carga depende da natureza química do coloíde e da presença de um
eletrólito. Os bioquímicos não estão ainda seguros sobre o que causa a
carga elétrica das partículas coloidais muito finas. Considera-se que a carga
seja produzida pela formação de íons a partir do eletrólito na superfície das
partículas. Assim, um colóide que absorva íons de hidrogênio deve possuir
uma carga “positiva". Nossas experiências pareciam indicar que as próprias
partículas são, como as vesículas, eletricamente carregadas. É também
concebível que os átomo sejam vesiculares em seu caráter. Esta opinião é
reforçada pelas mais recentes pesquisas na estrutura dos átomos, que se
demonstrou serem formados de um núcleo e de elétrons que o cercam.
Poder-se-iam derivar conclusões de longo alcance, a partir disto, para a
formação das vesículas.
Uma outra descoberta bioquímica é extremamente importante: A
estabilidade das soluções coloidais depende de as partículas serem
eletricamente carregadas. “Se as menores partículas de uma solução
coloidal não forem eletricamente carregadas, a solução coloidal não será
mais estável, isto é, as partículas não são mantidas em suspensão e
submergem para o fundo". A explicação para isto é que há duas forças
opostas em cena. As forças de atração tendem a combinar as partículas,
isto é, precipitá-los. Por outro lado, as cargas elétricas do mesmo sinal dão
origem a forças elétricas repelentes. Assim, se as partículas forem
eletricamente carregadas, as‘partículas coloidais não se podem combinar, a
proteína não se pode precipitar, e a solução será estável.
Esta explicação me parece muito plausível. De fato, nas
experiências com bions originários de preparados aquecidos, a motilidade
amebóide e a locomoção dançante dos bions e das colônias de vesículas
duram somente enquanto as partículas são movidas por forças elétricas.
Após algumas semanas, o sedimento do preparado torna-se mais espesso,
a solução torna-se mais clara e o exame microscópico mostra que a
motilidade cataforética, bem como a geral, desapareceu.
Isto nos força a uma conclusão ulterior: o movimento tremulante,
dançante, e a mudança de posição dos bions está relacionado com os
efeitos de força dos campos elétricos.

A Carga Elétrica como Pré-requisito Para Movimento Vesicular

l' As substâncias inorgânicas, tais como metais, minérios, etc., são


,IT|óveis”, no sentido biológico; eles não se contraem nem se expandem

nem se movem de um lado para outro. Os hipoteticamente considerados


movimentos" moleculares e atômicos não pertencem a qualquer das três
características fundamentais estabelecidas da moção na matéria viva

98
organizada. Fizeram-se freqüentes tentativas, em experiências modelo,
para imitar o movimento orgânico - por exemplo, o fluxo plasmático das
amebas. Essas experiências modelo baseavam-se na suposição de que o
movimento orgânico era controlado pelas alterações na tensão superficial,
porém, esta explicação responde somente parte da questão. Ainda não está
compreendido como o impulso espontâneo para mover-se vem do “interior".
A mudança na tensão superficial é, certamente, um fenômeno fundamental
do movimento, porém não pode ser considerada como a causa. A essa
altura, um vitalista introduziria um princípio metafísico para preencher essa
lacuna em nosso conhecimento. Tendo em mente as observações e as
experiências que até aqui foram descritas, tentemos chegar a uma
explicação deste impulso interno.
Segundo nosso conhecimento presente, a energia elétrica no ferro,
por exemplo, é aglutinada por um certo arranjo das moléculas. Aplicando-se
uma força elétrica externa à peça de ferro, pode-se alterar a posição das
moléculas de modo que o ferro se torne magnetizado. É importante lembrar
aqui que a energia elétrica é distribuída “uniformemente” sobre as
moléculas e átomos, do mesmo modo que em uma solução cristalóide.
Como já estabelecido, a matéria organizada difere da matéria não-
organizada, primariamente, em que, a primeira, “não é homogênea”, isto é,
“de densidade não-uniforme". Os colóides orgânicos não são homogêneos,
como é demonstrado pela sua habilidade de refratar a luz. Essa diferença
entre a matéria organizada e a não-organizada é de fundamental
importância no que diz respeito à motilidade e à imotilidade.

Se examinarmos as vesículas de várias substâncias e diferentes estados,


podem ser discernidos quatro estados básicos pertencentes ao movimento:

1. As vesículas “não se movem” e por conseguinte, “não” muda sua


posição relativa a cada uma das outras ( vesículas em gelatina, pó,
fuligem não aquecida em água, carvão de sangue em cloreto de sódio,
etc.)
2. As vesículas “movem-se para trás e para frente no seu deslizar-se” de
maneira quase rítmica. Elas não se movem de um lado para outro, nem
influenciam umas às outras (exemplo, no leite não fervido).
3. Movimento de um lugar para outro, exemplo, no caso dos estreptococoS
e estafilococos. Nesse tipo de movimento, as várias vesículas exercemi
uma força, uma sobre as outras. Se uma corrente elétrica for aplicad^
aos estafilococos por tempo suficiente para dar-lhes uma carga negativá
e torná-las imóveis, elas também perdem, com o tempo, sua capacidadf
cetaforética. Assim, o movimento e a carga elétrica devem estar, dé
algum modo relacionadas.
4. “Movimento no interior do sistema orgânico” isto é, deslocament0
relativo das partes do organismo. Isto compreende, principalmente, a
forma de expansão e contração.

99
A perda de movimento nas vesículas e “o movimento sem
deslocamento” são problemas a parte e não nos dizem respeito agora. As
experiências produzem a seguinte explicação plausível para os tipos de
movimento em 3 e 4. Esmo à ampliação máxima no campo escuro, os
cristais de terra não-aquecidos e não-intumecidos não exibem qualquer
movimento interno, nem se movem de um lado para outro. Por outro lado,
os cristais de terra vesicularmente desintegrados e intumescidos exibem
tanto moção interna quanto mudança de posição. Os cristais de terra que
não são aquecidos ou intumescidos são eletricamente neutros, as vesículas
dos cristais de ‘terra” e de “carvão” que*se separam da aglomeração de
vesículas têm uma carga elétrica positiva e movem-se vigorosamente. As
grandes unidades de cristais de terra e carvão vesicularmente desitegradas
são comumente eletricamente neutros. Qual a razão para isso?
No cristal, as partículas não são intumescidas e a energia elétrica
é aglutinada. O intumescimento ou o aquecimento até a incandescência
rompem a coesão mecânica das partículas na matéria, liberando a energia.
De outro modo, as vesículas que emergem do cristal não poderiam ter uma
carga elétrica. O relativo movimento das vesículas no seu próprio lugar
pode, assim, ser explicado como resultado dos campos elétricos de força
das vesículas individuais atuando uns sobre os outros. Se os preparados de
terra e carvão que foram cozidos ou aquecidos até a incandescência forem
observados longa e acuradamente, freqüentemente se vê que duas
vesículas dançam uma em volta da outra até que uma terceira se aproxime.
Uma vez que esta se aproximou até uma determinada distância, uma das
duas vesículas que se moviam afasta-se de sua parceira e começa a
dançar com a terceira vesícula recém-chegada, e assim por diante.
Se vesículas de qualquer espécie, eletricamente carregadas,
forem mantidas juntas com lecitina ou gelatina, então, de modo regular, em
vez de vesículas movendo-se livremente no espaço, relacionando-se umas
com as outras, a aglomeração “rasteja de modo coordenado” e também se
expande e se contrai como um sistema. Deve-se, por conseguinte,
considerar que a locomoção da “aglomeração” é causada pela interação
das vesículas individuais, eletricamente carregadas, “dentro” do limite
mecânico, por exemplo, da lecitina. As vesículas ficam comprimidas em um
espaço e continuam a se mover, relacionando-se umas com as outras,
dentro do mesmo espaço; porém, como resultado, a massa inteira adquiri
um movimento intrínseco. Há, no aglomerado de vesículas, um
relacionamento antitético, ou contradição, entre as vesículas que se
ricocheteiam dentro da colônia e, entre essas vesículas e o limite
circundante, isto é, a tensão da superfície. Se predominarem, num ponto da
Periferia de uma colônia de vesículas movediças, as forças de repulsão que
atuam sobre as vesículas individuais, então a pressão interna deve crescer.
Esta “pressão interna” pode até ser “maior” do que a resistência exercida
Pela periferia, em cujo caso ocorre um “distendimento”, porque a tensão da
SuPerfície exerce menos força do que a pressão interna. Mas a expansão

conduz ao distendimento da -superfície, o que, em troca, faz com que a


superfície exerça uma nova contraforça.
Quanto mais a pressão interna distende a superfície, maior deve
ser a tendência da superfície para contrair-se novamente, como uma mola

100
espiral esticada. Não é possível, no presente, dizer qual o efeito que esse
processo possui sobre as cargas elétricas dentro das colônias. Entretanto,
não há como duvidar do efeito antitético da tensão superficial e das forças
elétricas no interior da colônia como sendo a razão para o movimento.
Pauli demonstrou, experimentalmente, que as partículas colóides
da proteína entram em íntima relação com o solvente, a saber, a água. Ele
explica isso estabelecendo que a água penetra a proteína e produz um
intumescimento. Na opinião de Pauli, as partículas de proteína
eletricamente não-carregadas sempre incham menos que a proteína
eletricamente carregada. Quanto maior a capacidade de uma partícula de
proteína para intumescer, mais estável será ela na solução. As partículas de
proteína que têm pequeno ou nenhum intumescimento formam sistemas
coloidais muito instáveis, isto é, viram flocos com muita facilidade. Eu
preferiria virar ao contrário a explicação de Pauli e dizer: “Quanto mais uma
substância protéica pode inchar, mas prontamente ela pode formar uma
carga elétrica, e mais estável ela é na solução coloidal”. Quanto menos
prontamente uma substância protéica incha, menor será a carga elétrica, e
mais fácil será para a proteína precipitar-se. Há certas vantagens em virar
ao contrário a explicação de Pauli. Por exemplo, indica como se pode
resolver o difícil problema de por que o intumescimento de uma partícula
causa a formação de uma carga elétrica.

5. A relação entre colóides e o gel é também muito importante. Se uma


gelatina seca for combinada com água, ocorre um intumescimento quando
a água é absorvida, formando uma massa gelatinosa chamada gel, distinta
do “sol” e da solução coloidal comum. Tal descoberta bioquímica é
confirmada por nossas experiências, que têm demonstrado que se
combinarmos uma substância protéica com água ou cloreto de potássio
sozinho, obtemos um resultado diferente do obtido ao acrescentar gelatina.
No primeiro caso, não se formam estruturas amebóides; no segundo, o
colóide protéico possui outras propriedades que são mais próximas das da
vida. Quando a lecitina e a colesterina são acrescentadas, são geradas
forças criadoras de estruturas que, junto com as forças primárias, criam
estruturas amebóides. O gel, assim, provavelmente incorpora
consideravelmente mais das funções da vida do que a simples geleia (sol).
A força pela qual o solvente é absorvido pelo gel é muito grande. Durante o
intumescimento, o volume das substâncias aumenta marcadamente. O
intumescimento ocorre em todos os colóides liofílicos, por exemplo, a
proteína. Se ocorre um intumescimento coloidal em um espaço fechado, O
que impede o aumento de volume, uma pressão muito forte é então
exercida. Isto é chamado “pressão do intumescimento”. A fim de espremer C|
solvente para fora do colóide. A pressão do intumescimento freqüentemente»
pode alcançar valores de diversas atmosferas.
Esses fatos explicam alguns dos importantes fenômenos e nossot
experimentos. Há outras substâncias capazes de formar colóides, tais com%
colóides metálicos, porém as substâncias que formam vida orgânicé
diferem dessas porque elas também exibem pressão de intumescimento.

101
Forma de movimento visível

1. Vesículas imóveis

°o o °
O o O
2. Vesículas móveis na mesma direção

o
3. Vesículas móveis de um lado para outro

OO CK

4. Massa vesicular amebóide móvel.


Com os sabidos fatos bioquímicos em mente, procedamos agora
ao próximo passo em nossa análise do problema do salto mecano-elétrico.
Para que as partículas se tornem eletricamente carregadas, é necessário,
primeiro, ocorrer o intumescimento, isto é, as partículas se separem. A
segunda exigência seria que a expansão da partículas coloidal seja limitada
pela formação de um limite circundante, a saber, uma membrana. Haveria
então uma antítese entre a pressão interna - isto é, a pressão atuando do
centro da partícula intumescida para a periferia - e a força oponente
exercida pela membrana em direção ao centro. A pressão do
intumescimento do colóide só pode tornar-se uma pressão interna se for
contraposta pela tensão superficial da membrana.
A oposição entre a pressão do intumescimento e a tensão da
superfície é de importância eminente para compreender a divisão das
células em objetos esféricos. Abordarei mais adiante esses relevantes
fatos.

S= Tensão da superfície
I = Pressão interna

4. Funções Individuais e Função Integral

Antes de tudo, é necessário tratar da objeção que pode ser


levantada por pesquisadores como Hartmann. As estruturas amebóides
formadas pelo aquecimento de certas substâncias exibem moção - acima
de tudo, expansão e contração - assim como locomoção. Alguém poderia
objetar dizendo que não são, na verdade, organismos vivos, mas meros
fenômenos de tensão da superfície de natureza puramente físico-química.
Vejamos o que Hartmann tem a dizer:
“Como é universalmente sabido, os sistemas vivos distinguem-se
dos sistemas inorgânicos pelo fato de que possuem compostos orgânicos
altamente complexos (sobretudo, proteínas espessas). Porém, se tentarmos
distinguir entre corpos vivos e não-vivos, na base de sua química,
descobrimos que as definições químicas não nos conduzem a nada,
porque, “como as coisas se apresentam atualmente, não há diferenças
químicas discerníveis entre organismos vivos e não-vivos”. E embora à
primeira vista pareça fácil distinguir de maneira confiável entre corpos
orgânicos vivos e não-vivos, e corpos inorgânicos, se considerarmos mais
cuidadosamente o problema, veremos que tal distinção é fundamentalmente
impossível. O químico, em seu laboratório, é capaz de sintetizar
substâncias químicas que sejam idênticas em todos os aspectos às
substâncias orgânicas importantes, tais como carboidratos e proteínas que
ocorram em células vivas, ainda que tais substâncias sintéticas não
mostrem nenhuma características de vida. Assim, dado o presente estado
da pesquisa, não é possível caracterizar e definir sistemas vivos à base
química. É ainda possível descobrir quaisquer diferenças físicas
fundamentais entre sistemas vivos e sistemas inorgânicos. Os sistemas
vivos são corpos coloidais e neste aspecto, suas propriedades são idênticas
103
às dos colóides não-vivos e inorgânicos; as pesquisas nas propriedades
coloidais da matéria, nos últimos dez a vinte anos, têm, de fato, fornecido
algumas explicações surpreendentes para muitas peculiaridades aparentes
dos sistemas vivos. Uma definição física e química apropriada da vida só
poderia realmente ser tentada se a biologia, ao invés de estar por embarcar
na pesquisa nomotética, tivesse já atingido seus objetivos, e se todos os
processns físicos e químicos interrelacionados do organismo vivo fossem
conhecidos.
A afirmação de Hartmann força-nos a encarar seriamente os
fenômenos que não pudemos deixar de observar quando as substâncias
não-vivas são aquecidas e, como resultado, assumem certas características
de vida. Por outro lado, uma linha por demais definida é traçada entre a
esfera da vida e a esfera inorgânica; quando se pensa na vida,
involuntariamente se pensa em algo completamente diferente da matéria
sem vida. Considerando que a vida é formada a partir da matéria não-viva,
esquecemos que deve haver estágios intermediários nos quais seja
impossível decidir se, por exemplo, o movimento é devido à “tensão
mecânica da superfície” ou à “vida espontânea”. Ainda que não haja dúvida
de que o movimento vivo e o pseudo movimento vivo de uma gota de óleo
preparada para estudo baseiam-se nas mesmas leis da tensão da
superfície e da pressão interna das substâncias coloidais. A diferença está
em que, em contraste com os objetos não-vivos, os quais se podem mover
como resultado da tensão da superfície, a vida, ao desabrochar, possui a
propriedade do “desenvolvimento”. Jamais será possível, baseado somente
nos processos químicos ou físicos, distinguir o “vivo” do “não-vivo”, porque
as funções físicas e químicas são comuns a ambos. A única maneira para
se fazer uma distinção bem sucedida entre os dois é não negar os aspectos
comuns, as descobrir as propriedades da vida que a “distinguem” da esfera
não-viva. As experiências dos bions mostraram que a diferença não se
constitui na “adição de algo novo” à matéria viva para torná-la viva. Ao
invés, a diferença reside em uma “combinação especial de funções” que
são encontradas individualmente também na matéria não-viva.
Recapitulemos: a tensão mecânica da superfície e a pressão interna
ocorrem tanto na matéria não-viva quanto na viva, exatamente como as
partículas podem ser também eletricamente carregadas em ambas. No
entanto, “a combinação específica da alternância rítmica de tensão, carga,
descarga, relaxamento, tensão renovada, carga, etc., é a característica
fundamental que distingue a vida”. É uma função nova, ainda que suas
Partes componentes não sejam diferentes das funções inorgânicas. A
combinação de funções inorgânicas em “um novo tipo” de função devia ser
suficiente para explicar as funções básicas específicas da vida, tais como
Metabolismo, divisão, reprodução, co-habitação, etc.
Hartmann tem o seguinte a dizer sobre as diferenças morfológicas:
Aqui temos uma tal diferença, concreta, fundamental, entre os
sistemas vivos e inorgânicos que tendemos a considerar que os sistemas
vivos podem, em princípio, ser fácil e confiavelménte identificados, na base
de suas peculiaridade morfológicas, isto é, sua forma. Um vertebrado, um
pe'xe, um inseto, um fanerógamo ou um fungo são objetos morfológicos

^ue possuem um tipo característico de tal modo distinto que, naturalmente,


104
parece fácil distinguir tais sistemas dos sistemas inorgânicos. Porém, nem
mesmo com as características morfológicas se pode contar inteiramente,
pois há animais, como a ameba, que são, morfologicamente, virtualmente
indistingüíveis de qualquer mistura coloidal líquida, e há plantas, como
bactérias pequenas que não se distinguem até mesmo das mais pequenas
gotículas ou grânulos nos sistemas dispersos ( colóides). Assim, qualquer
tentativa para caracterizar a vida, sobre bases morfológicas gerais, parecem
falhar.
A única esperança é encontrar a “função unitária” que possa, com
efeito, ser partida em funções individuais físicas e químicas que ocorram
também na matéria inorgânica, mas que não funcionem lá como um toda
integralizado. Até agora, não tinha sido descoberto que a “função unitária
não conflita, de modo algum, com a totalidade das funções individuais”. Ta|
foi colocado pelo vitalista (Driesh) com base para explicar o inexplicável errf
termos metafísicos. “A tarefa da ciência natural só pode ser de determinar a
função que combine as funções individuais físicas, químicas e mecânicas,
em uma função integral”. Por conseguinte, pode-se dizer que a matéria viva
não difere, de modo algum, da matéria não-viva quando se consideram as
funções físico-químicas individuais. O que é específico à vida é que as
funções individuais são aglutinadas numa função unitária governada pelas
duas tendências fundamentais de expansão ( ao mundo) e contração (volta
a si mesmo) - assim como pela alternância dialética das funções mecânica
e física. Portanto, não importa quanto eu concorde com afirmações óe
Hartmann, até este ponto, acho incorreta a seguinte conclusão. Ele escreve:
Se fosse possível, com os atuais métodos de pesquisas,
entender e analisar completamente os processos químicos-energéticos que
ocorrem durante os assim chamados fenômenos de estímulo, não seria
necessário usar um termo à parte para esse grupo de processos vitais, que
são agora mencionados como fenômenos de estímulo e que, em muitos
casos, desempenham também um papel psíquico das formas de vida mais
elevadas, porque simplesmente estaríamos lidando com flutuações
fisiológicas mais ou menos insignificantes nos processos estacionários, isto
é, no metabolismo geral.
Está claro, pelo que se leu, que nenhuma análise das funções
individuais, não importa quão detalhada, pode ter sucesso em explicar o
funcionamento do todo que caracteriza a vida. “O salto da soma das
funções individuais para o funcionamento unitário de todas essas funções
individuais deve ser inteiramente compreendido”. Assim, uma mistura
coloidal não pode ser definida como possuidora de vida se meramente
exibir as funções físicas e químicas características da vida; ao invés, ela só
pode ser definida como viva se essas funções forem combinadas em uma
unidade organismica em que todos os elementos de cada função individual
estejam incorporados na função unificada.
O idealismo metafísico, que trata os sistemas orgânicos como
entidades completas, tem, até aqui, contrastado com o materialismo
mecanicista, que analisa as funções individuais dos mesmos sistemas;
ambos são oponentes absolutos e irreconciliáveis. A reconciliação dialética
desse contraste entre a totalidade e o detalhe fornece uma solução

105
satisfatória para a questão do que é a vida, eliminando o principio
metafísico do “além" como um meio para explicar o todo.
A fim de apreciar o milagre da vida e a maneira como ela funciona,
não necessitamos de qualquer explicação metafísica, não importa como é
exaltada. Parece-nos um milagre suficiente o fato de que podemos
estabelecer uma linha firme desde a excitação psíquica ou a gratificação,
vias impulsos antitéticos do prazer e da ansiedade até a antítese fisiológica
do parassimpático, via antítese química do potássio e do cálcio ( lecitina e
colesterina), até a antítese puramente fisiológica-mecânica da pressão
interna e da tensão da superfície, bem como de carga e descarga elétricas.
A continuidade desta tinha, desde a simples vesícula inorgânica até o
altamente complexo sistema de funções psíquicas nos seres humanos, não
é quebrada, de maneira alguma, pelo fato de que ela exibe características e
complexidades fundamentalmente diferente nos vários estágios de
desenvolvimento da função.

106
8. UM ERRO NA DISCUSSÃO DA “GERAÇÃO ESPONTÂNEA”

Uma discussão completa e detalhada da teoria da geração


espontânea, sobre a qual o máximo de atenção seja focalizada por essas
experiências, ainda não é possível, porque precisamos saber muito mais
sobre o campo em questão. Entretanto, é necessário, já neste estágio,
apontar um erro que se tem introduzido desapercebidamente desde as
primeiras discussões sobre a questão de se a vida se forma a partir de
germes de vida ou se através da “geração espontânea”.
Em meados do século dezessete, o cientista holandês
Leeuwenhoek descobriu os infusórios. Despejando água sobre substâncias
como feno, pimenta, palha e todos os tipos de temperos, ele descobriu que
a água, de fato, tornava-se repleta de estranhos animalículos. Surgiu
naturalmente as questão de: como esses minúsculos organismos entraram
nas infusões? A primeira informação foi fornecida por Richard Goldschimidt,
num relatório em seu livro “Öie Urtiere”: “Os organismos eram tão pequenos
e pareciam possuir uma estrutura tão extraordiariamente simples que era
muito fácil acreditar que tivessem surgido subitamente, a partir de alguma
matéria não viva. Não existia qualquer organismo vivo nas substâncias
utilizadas para preparar a infusão - isto eqüivale a dizer no tempero e no
feno - mas, de repente, a vida estava presente, e ali parecia não haver outra
explicação possível além daquela de que os organismos, que tinham
aparecido tão repentinamente, se tinham formado dessas substâncias. A
matéria não-viva tinha, assim, gerado a matéria-viva, uma interpretação que
não encontrou a mínima objeção”.
Pela mesma época, durante uma pesquisa sobre vermes
intestinais e outros parasitas nos corpos animais, foi descoberto que certas
moscas desenvolviam-se de larvas. Isto pareceu desferir um severo golpe
sobre a teoria da “geração espontânea”, substituindo-a pela “teoria do
germe”, isto é, que toda vida se desenvolve de germes de vida e não de
matéria não-viva. Assim, a teoria do germe e a teoria da geração
espontânea estavam em direto confronto uma com a outra. A experiência
conduzida pelo médico inglês Tyndall foi considerada como uma refutação
presumivelmente perfeita da teoria da geração espontânea. Goldschimidt
escreve, então, que a experiência fora “particularmente esclarecedora".
Segundo o relatório de Goldschimidt, Tyndall tomou um punhado de
garrafas, encheu-as com decorações de cinqüenta e quatro substâncias
diferentes, como carne, etc., aqueceu-as acima de 100°C, temperatura em
que nenhum organismo vivo pode sobreviver por muito tempo. Em seguida,
lacrou no fogo as vasilhas e levou-as com ele para a Suíça. Durante a
v>agem, seis das garrafas quebraram, e quando ele examinou seus

conteúdos, descobriu algo muito estranho. Não obstante o tratamento de


calor, todas as decorações continham organismos vivos. Ele dividiu as
garrafas restantes em dois grupos iguais. Carregou um dos grupos para
uma geleira, onde quebrou os gargalos e deixou-as repousar por várias
Emanas ao ar puro. Levou as outras garrafas para o celeiro de uma casa,
°nde abriu-as. Pouco tempo mais tarde, examinou “todas” as garrafas. As
que tinham estado no celeiro, como as que tinham quebrado no caminho,

108
estavam repletas de todas as formas possíveis de vida, ao passo que nem
um traço de vida podia ser encontrado nas garrafas que tinham estado
expostas ao ar puro e livre de micróbios da geleira. “Este teste mostra -
escreveu Goldschimidt - que os animais só se podem desenvolver em tais
decocções no ar impuro”.
Uma resistência obviamente emocional à idéias de que a matéria
viva pudesse desenvolver-se de algo inanimado impediu que Goldschimidt
visse quão incorreto era tal argumento. O que fez o físico Tyndall? Ele
preparou decocções de substâncias e, após um certo tempo, descobriu -
“organismos vivos nas garrafas hermeticamente seladas”, exatamente como
ocorreu-me em minhas experiências. Ele tomou algumas das garrafas,
colocou-as expostas em uma geleira, e não encontrou organismos vivos
nelas. A partir disso, ele incorretamente concluiu que os organismos vivos
que tinha encontrado nas garrafas seladas tinham sido introduzidos pelo ar
impuro do exterior. “Tal conclusão era justificada”. A única conclusão
correta a ser tirada do efeito do ar glacial seria, talvez, que esses
organismos não podem sobreviver no ar glacial. A experiência no ar glacial
não fornece de forma alguma, uma explicação positiva para como
organismos vivos podem introduzir-se decocções em garrafas lacradas. É
muito mais provável que os organismos vivos formados pelas decocções e,
em seguida, “mortos no ar da geleira”. Ninguém pode rejeitar tão
prontamente a possibilidade de que os organismos vivos sejam formados
de substâncias não-vivas. Há uma lei estrita de que os resultados científicos
positivos devem ser sempre conferidos e verificados. Assim como se deve
tomar muito cuidado ao negar fatos. Não pode haver dúvida de que
organismos vivos são encontrados em decocções. Desde o começo, seria
virtualmente errôneo perguntar: “Como os organismos se introduziram na
garrafa selada? Desde que é sabido que nenhum organismo vivo pode
atravessar recipientes de vidro que estejam lacrados.
As experiências pioneiras de Pasteur pareciam fornecer um
suporte ulterior para os que rejeitavam a teoria da geração espontânea.
Pasteur provou que o ar completamente “livre de germe” jamais produz
coisas vivas quando posto em contacto com substâncias nutrientes.
Goldschimidt observou, nesta relação: “Para o mundo científico, isto
‘respondeu completamente’ a questão sobre se existe a geração
espontânea, e, posteriormente, mostrou que se ocorrem subitamente
organismos vivos onde anteriormente não havia nenhum, eles terão se
desenvolvido de germes contidos em toda parte no pó ou no ar”. Porém,
isto está longe de ser uma prova clara: “o chamado ar ‘livre de germe’ não
contém as finíssimas partículas de pó que, no intumescimento, produzem
organismos vivos”. Pasteur colheu pó do ar e descobriu que havia vários
micróbios que são capazes em condições favoráveis - a saber, “em meio
ambiente úmido” -, para “recriar” pequenos organismos. Tal assertiva já é
pre-conceituosa, porque a “natureza e a origem desses micróbios” ainda
permanecem inexplicadas. Os micróbios são tanto organismos que são, por
assim dizer, inativos e que se desenvolvem em outra forma de organismo -
isto é, bactérias ou protozoários (caso em que se gostaria de saber qual é
exatamente a natureza desses organismos imóveis que chamamos

109
“germes”, e, tanto quanto se sabe, tal conhecimento não se encontra
disponível atualmente) - quanto os germes são finíssimas substâncias não-
vivas que se convertem em organismos vivos em seguida no
intumescimento induzido pela umidade (caso em que tal processo de
transformação teria de ser provado por experiência científica). O fato de que
os organismos se desenvolvem do ar carregado de pó, enquanto que
nenhum se desenvolve de ar livre de pó, de modo algum indica que a vida
não se pode formar de matéria inanimada. As finas partículas de pó poderia
ser, de fato, os germes verdadeiros das substâncias sem vida, a partir das
quais os organismos vivos se desenvolvem, dependendo da definição do
termo “germe”.
Em estado seco, o pó pode ainda conter bactérias, que voltam à
vida quando colocadas em contato com a umidade. Serão tais bactérias
secas ainda organismos vivos ou meras “partículas de pó”? A teoria do
germe, assim, precisa divergir da teoria da geração espontânea se se aceita
simplesmente e premissa de que a matéria não-viva pode transformar-se
em matéria viva e vice-versa. Os defensores da teoria do germe, como foi
definida até aqui, têm ainda que responder a estas perguntas: O que
caracteriza os germes como organismos latentes? O que os distingue da
matéria não-viva? Como eles se desenvolvem em formas de vida
movediças? “A experiência de Pasteur, assim, não desmente a teoria da
geração espontânea, mas simplesmente desvenda o efeito das partículas
de pó no ar”. Se se observam as decocções após dez ou quatorze dias e
descobrem-se organismos vivos, é ainda concebível que os organismos
tenham entrado no exterior. Entretanto, uma decocção que é tirada
diretamente do esterilizador, colocada no microscópio e na qual se encontra
organismos vivos, pareceria excluir tal teoria. De outro modo, seria
completamente impossível esterilizar qualquer coisa; até mesmo germes
necessitam de um certo tempo para se desenvolverem. Em acréscimo, os
germes deviam ser completamente mortos por um período longo de
aquecimento a temperaturas superiores a .100°C. Essas contradições na
teoria do germe não precisariam existir se se deixasse de considerar os
germes como “organismos completos”.
Eu apontaria uma inexatidão no conceito da geração espontânea.
Ela pode ser tomada como significando que, em algum tempo no passado,
a vida se formou de matéria não-viva e foi capaz de reproduzir-se. A
geração espontânea, entretanto, pode significar também que agora,
“continuamente”, “a cada minuto e cada segundo, a vida está se
desenvolvendo de substâncias não-vivas”. Se isto puder ser provado fora
de quaisquer dúvidas, não contradirá, naturalmente, o desenvolvimento da
vida a partir de germes, pois a vida espontaneamente gerada poderia
manter-se por meio da reprodução.
Entretanto, por largas que as perspectivas de tal opinião possam
ser, nós devemos, por enquanto, restringir-nos a verificar precisamente o

Processo pelo qual a matéria inorgânica é convertida em orgânica. Nem as


•nfusões preparadas por Leeuwnhoer, nem as experiências de Tyndalls,
as de Pasteur mencionam esse processo de “transformação”, porque
tais pesquisadores não observavam “continuamente” seus preparados. Há
um grande número de “estágios de desenvolvimento” entre a partícula

110
inanimada de terra ou a fibra vegetal individual e as observações de
micróbios ou protozoários completamente organizados. Há "estágios
preliminares dos organismos completos” e há estágios em que é difícil
decidir se o torrão de terra ou a fibra vegetal está viva ou não.
Alguns dos tipos de organismos gerados experimentalmente
podem ser descritos como formas completas de vida. Essa expressão não
pode ser usada tão prontamente para descrever outros tipos a que se
devem referir como estágios preliminares ou estágios de desenvolvimento
da matéria viva, como no caso dos plasmóides que se tornam cristais.
O intumescimento de uma fibra vegetal decomposta ou de um
cristal de terra é ainda, definitivamente, um processo mecânico, não-vivo.
Quando uma vesícula esticada se separa da fibra vegetal é,
presumivelmente, já um processo vivo. Mas, por exemplo, a formação de
um utrículo a partir de uma partícula inchada de terra poderia ser
considerado tanto como um processo mecânico quanto um processo vivo,
dependendo, inteiramente, da definição do conceito de "vivo”. Por
conseguinte, parece importante para mim, ao verificar e reproduzir esses
fatos, traçar, em particular, os “detalhes” de como a matéria inorgânica é
transformada, isto é, o processo de intumescimento, desintegração
vesicular, a formação de vesículas, etc. Deve-se considerar que não há
limites entre o mundo vegetal e o mundo animal, entre matéria não-viva
inorgânica e matéria viva. Isto requer que abandonemos a maneira estática,
mecanicista, de pensar e tentemos compreender o processo e a dinâmica
das funções.

Sumário
1. A teoria da geração espontânea jamais foi definitivamente desmentida.
Os pesquisadores consideravam-na como uma conseqüência inevitável
do pensamento científico.
2. O objetivo dos opositores da teoria da geração espontânea sempre foi
provar que as formações em questão podem ser mortas a altas
temperaturas. “Os proponentes da teoria da geração espontânea jamais
foram capazes de fornecer uma prova exata do que realmente ocorrem
a geração espontânea”.
3. A decocção não era examinada imediatamente após ter sido preparada.
4. Não se fizeram tentativas para cultivar as estruturas produzidas pela
decocção.
5. Os estágios transitórios da não-vida para a vida nunca foram discutidos
junto com as experiências.
6. Não foi possível realizar observações a 2000-4000x.
7. Não se realizaram pesquisas em temperaturas superiores a 180°C,
porque cria-se que qualquer vida existente estivesse eliminada, de modo
que desapareceram completamente a possibilidade de uma nova vida
gerada a temperaturas superiores ao limite letal.

111
9. O MÉTODO DIALÉTICO-MATERIALISTA DO
PENSAMENTO E INVESTIGAÇÃO

1. A Abordagem Metodológica Básica Para Nosso Trabalho


Experimental

Não teria sido possível realizar as experiências bion se, além do


emprego da abordagem dialético-materialista básica, o trabalho não tivesse
sido também inspirado por uma certa atitude que tendia para a pesquisa
científica. Deixem-me descrever as características principais dessa atitude.
Qualquer cientista que pense e examine os resultados deve também
considerar a atmosfera na qual o trabalho foi conduzido.
Há um mundo de diferenças entre o trabalho científico, pois se
refere a organizar, padronizar e detalhar os fatos já conhecidos, e, assim,
se restringe os campos já conhecidos, e a pesquisa, que, por enquanto,
deve passar em esta confortável segurança. A principal característica da
pesquisa é que o pesquisador fica inseguro e duvidando do que ele julga
estar vendo. Qualquer descoberta científica representa um avanço em
território desconhecido e geralmente entra em conflito mais ou menos direto
com as “teorias” bem conhecidas, com as interpretações subjetivas dos
fatos verificados. Assim, além de lutar com o desconhecido, o segundo tipo
de pesquisa também tem que engalfinhar-se com as opiniões
estabelecidas, refutá-las, confirmá-las em bases diferentes ou fazer uso
diferente delas.
É claro que a atividade científica conduzida, por exemplo, no
Instituto de Higiene Pública, que é organizado e segue um curso
determinado, usará outros meios para atingir seus objetivos que não o
trabalho que é conduzido em território ignorado. Tal trabalho de rotina
geralmente elimina automaticamente qualquer coisa que se desvie do curso
normal de procedimento. Isto impede que se use quaisquer técnicas que
não aquelas que provaram ser essenciais e confiáveis para realizar certa
tarefas. É talvez lamentável, ainda que inevitável, que os novos fatos
descobertos por qualquer avanço científico bloqueie, simultaneamente, o
caminho para outros avanços, porque os fatos recém descobertos têm
ainda que ser organizados. Por exemplo, a descoberta de Pasteur da
esterilização foi, certamente, o maior avanço científico do século passado e
colocou toda a medicina em nova posição. Porém, como du Teil já
comentou em suas palestras, esta descoberta interditou o caminho para os
processos de serem investigados “acima” do limite máximo conhecido de
esterilização. É, por conseguinte, inevitável que uma pesquisa pioneira seja
logo a princípio impopular e encontre obstáculos. Ela coloca o
conhecimento científico estabelecido em grande confusão. Pode-se dizer,
seguramente, que é preciso uma certa soma de temeridade e imprudência

Para conduzir uma pesquisa em novas áreas. Darei alguns exemplos


concretos:
Desde que a técnica bacteriológica envolveu o matar da vida, só é
natural que a pesquisa com micróbios devesse utilizar a prática de matar e

lanchar o material morto. R/lanchar os preparados revela claramente as

112
estruturas e preserva-as para estudos contínuos. Em contraste direto
entretanto, estava um dos princípios de nosso trabalho, que nós $ó
estudamos matéria movediça viva, porque é a “mutabilidade”, 0
"funcionamento”, e não o elemento estático, não a estrutura, que são de
interesse primário.
Dado que se tenha um bom auto-controle crítico, pode-se arriscar
a dar saltos “não-científicos”, que seriam terminantemente proibidos no
trabalho científico comum. Por exemplo, era essencial, no início de meu
trabalho, mesmo se não intencionado, misturar as substâncias “sem
esterilizá-las”. Se eu tivesse começado com um alto grau de esterilização, a
distinção entre a natureza relativamente imóvel da matéria não-estéril e a
natureza móvel da matéria extremamente estéril imediatamente em seguida
à produção do preparado não se teria revelado. Nas primeiras experiências,
o intumescimento e, particularmente, a cultivação dos cristais de carvão
extremamente estéril pareciam mesmo, para mim, serem um pouco
“malucos”. Contudo fosse precisamente este salto para um procedimento
altamente não científico que tornou possível explicar a teoria do espório.
Tais saltos só são válidos se forem realizadas depois experiências de
controle. No entanto, a pesquisa científica é freqüentemente sufocada por
quantidades excessivas de tais controles.
Como exemplo desse problema, durante as experiências bio-
elétricas, meus primeiros colaboradores gastavam semanas e meses
estabelecendo os fenômenos que resultariam quando os arames que
conduziam ao oscilógrafo fossem mecanicamente agitados. As flutuações
resultantes eram da ordem de um ou no máximo cinco minivolts. Os
experimentadores ficavam tão absorvidos em realizar esse controle, que,
por exemplo, simplesmente não percebiam as flutuações de 20, 30, e 50
mV provocadas pela “excitação e toque" na palma da mão. Fiquei muito
surpreso quando um deles, ao examinar o primeiro traço de uma flutuação
de excitação, ficou entusiasmado com os visíveis picos cardíacos. Esses
eram de mais ou menos 1mm, ao passo que os picos das flutuações de
excitação eram de aproximadamente 2cm. Esse fenômeno perturbou-me
grandemente. Tentei explicá-lo, pensava eu corretamente, considerando
que mesmo o cientista mais consciencioso é tão tentado a entregar-se à
leviandade e à imprudência que ele deve proteger-se dessa fraqueza
apoiando-se por demais no equipamento e realizando excessivos controles;
ambas estas atividades podem ter efeitos nocivos. Alguns cientistas
recusam-se a considerar algum resultado, a menos que tenham uma
descrição extremamente acurada dos aparelhos usados. A meu ver, essa é
uma atitude exagerada. É com certeza extremamente importante, ao passar
uma corrente elétrica por um preparado, não diagnosticar imediatamente o
movimento observado no microscópio como cataforese. Antes de tudo, é
necessário possuir um aparelho com o qual se está completamente
familiarizado e que permita “em que a corrente seja invertida”. Assim, a
cataforese pode ser distinguida de uma corrente de fluido. Mas o aparelho
não deve ser mais importante do que o fenômeno que se deseja
compreender. Ao longo do presente trabalho, tive que aprender a manter
uma mente aberta sobre fenômenos muito questionáveis - na verdade,
muito improváveis - e, a princípio, sem realizar quaisquer
113
testes de controle, de modo a deixar que eles criassem sua própria
impressão em mim. Eu nunca deixei de me surpreender com os resultados
a que se pode chegar adotando conscientemente essa abordagem
altamente anticientífica, sempre providenciando para que os saltos
temerários fossem mais tarde verificados por controles restritos.
Mencionaria outra atitude extremamente lamentável: Um
pesquisador descobre um fenômeno - p. ex., movimento em tinta nanquim -
descreve-o, revela-o. O fenômeno ganha repercussão e é batizado
movimento Browniano. Brown acreditava ter descoberto um fenômeno vivo.
Os físicos, no entanto, explicam o fenômeno como sendo uma manifestação
puramente “física” provocada pela meção molecular e, ao contrário da
opinião do seu descobridor, o movimento Browniano é agora estabelecido
como um conceito pelo qual se “explica” “qualquer” movimento microscópio
que não esteja claro e obviamente associado com a matéria viva. Não é
agradável ouvir uma expressão usada constantemente quando se
demonstra a existência de outros fenômenos que não têm qualquer relação.
Um físico admitiu para mim que estava ensinando o movimento Browniano
para jovens ginasianos, embora ele mesmo jamais tivesse visto. O manual
de Romeis sobre bacteriologia nem mesmo menciona o movimento
Browniano, como se ele pertencesse, afinal de contas, ao reino da não-vida
e fosse permanecer aí para sempre. Devido à existência de tais atitudes,
estabeleci como princípio metodológico para meu trabalho “adotar qualquer
realização técnica da pesquisa científica e registrar acuradamente toda
observação experimental, mas, de modo a evitar confusão, ignorar todas as
interpretações teóricas por enquanto". Para eliminar problemas, pedi
explicitamente a meus colaboradores para que explicassem somente suas
habilidades e conhecimentos técnicos dos fatos, mas, ao longo de seu
trabalho e no trato comigo, esquecer quaisquer teorias ou interpretações
que tivessem aprendido. Isto tornou possível conduzir a experiência com
fuligem incandescente, permitindo-o inchar no caldo + KCL, e mesmo
cultivá-la. De fato, isto fez com que esse movimento dito físico (movimento
Browniano), que devia estar sempre presente, estivesse ausente quando as
condições eram modificadas. As partículas de carvão e fuligem ficam
quietas e só começam a se mover após um período de inchação. O
movimento continua por várias semanas e meses antes de cessar
finalmente.
Quando alguém irrompe dentro do que parece uma área
improvável, fica agudamente consciente do fenômeno do pensamento
preguiçoso nos redutos científicos. Assim, no segundo tipo de pesquisa
científica, tem que se fazer mais do que apenas atracar-se com fatos e
problemas e lutar contra ou refutar os pontos de vista tradicionais e não
raro, falsos. É absolutamente essencial acreditar que a opinião de alguém
seja acurada e correta, ainda que, ao mesmo tempo, tenha que sobrevir as

dúvidas torturantes e inevitáveis sobre seu trabalho. Mesmo que essas


dúvidas sejam frutíferas, elas são, quase sempre, a razão pelo qual o
trabalho é abandonado em um estágio preliminar. Ouvi um professor
universitário dizer que tinha trabalhado ao longo das mesmas linhas, mas
tinha desistido por causa das dificuldades excessivas que foram colocadas
em seu caminho.
114
Chega de atitudes fundamentais que sejam essenciais para tal
trabalho. A regra principal é: não acredite automaticamente em nada;
convença-se de algo observando-o com seus próprios olhos, tendo
percebido um fato, não o perca de vista até que esteja completamente
explicado.
A metodologia do pensamento e do trabalho dialético-materialista,
que aplicamos conscientemente, é igualmente importante. Uma abordagem
fundamentalmente dialético-materialista requer que o organismo seja
examinado como ele é, o que eqüivale a dizer que a vida seja estudada no
estado vivo. Esta abordagem é diametralmente oposta à mecânica em que,
para fins de credibilidade, os objetos vivos são mortos a fim de que se
estude a vida no organismo morto, um procedimento que está fadado a
resultar em uma visão mecânica da vida. Além do mais, os objetos vivos
individuais, ou mesmo uma particularidade desse objeto, não deve ser
estudado como um fenômeno isolado. O princípio dinâmico básico da vida
governa a vida toda, isto é, o organismo como um todo e cada parte
individual do organismo. Se a pesquisa científica vier ser verdadeiramente
produtiva ela deve ser continuamente motivada e orientada pela
necessidade de visualizar o todo sem perder de vista o detalhe. Os
conceitos mecânicos da' vida têm necessariamente que ser
metodologicamente incompletos, eles confiam em que os movimentos
sintéticos das substâncias vivas se tornam mais complexos e talvez dêem
origem à vida. O importante sobre a vida, entretanto, não é a substância
complexa, mas a função complexa. Conceitos como biogênese, molécula,
energia, etc., são apenas adições praticas para o entendimento. Eles não
têm qualquer relação com nenhum fato. Eles tentam substituir a ação da
“substância” pela compreensão da função. Eles nos falam apenas do
processo mecânico, mas se tornam metafísicos quando chamados a
explicar a função. Desde que tais conceitos nada mais são do que
acréscimo à compreensão e não fatos reais, e desde que não abrangem
quaisquer funções, eles são mais um estorvo do que uma ajuda para a
pesquisa prática. Há somente um X novo, que se converte em Deus à
medida que a função em si mesma não é tangível nem reproduzível. A
infelicidade do conceito químico-mecânico da vida está em que se tenta
chegar ao todo, a partir da parte, “juntando detalhes, ao invés de buscar a
função do todo em cada parte individual”. Segundo nosso ponto de vista
metodológico, não há diferença entre a corrente plasmática de uma ameba,
que é visível, e a corrente vegetativa que qualquer um experimenta em
certos estados de excitação. A função de uma árvore não pode ser
explicada definindo-se a composição química da celulose. As folhas
crescem exatamente da mesma maneira que os ramos de uma árvore, os
ramos individuais da estrutura de suporte, e as veias da folha. A unidade
domina o todo.
Os fisiologistas, por exemplo, descrevem os caminhos e as
direções dos impulsos, acreditando que isto explica o próprio impulso.
Explicar os fenômenos observados em termos mecânico-materiais e dividir
o organismo inteiro em partes individuais impede-nos de captar a função
biológica ao toao. Os fisiologsstas separam também as emoções e o humor
das funções vegetativas, p.e., a alegria traz um rubor às faces” (uma visão
115
idealista-metafísica do fato), ou “o medo é acompanhado de transpiração”,
ou “a função de provavelmente todo órgão enervado pelo sistema nervoso
autônomo seria influenciada por algum tipo de humor”.
A função do organismo é visualizada em termos sociológicos. O
cérebro é a “agência central”, o “controlador dp organismo”, mais
precisamente como o governador de um país. Mas o cérebro é uma
estrutura filogeneticamente recente; há organismos que não possuem
cérebro. O “organismo vivo" é mais primitivo e mais velho que o cérebro e,
por conseguinte, constitui a origem e o centro no sentido funcional. A vida é
possível sem o cérebro, porém um cérebro não pode existir sem vida
vegetativa. Tais erros conceituais são causados pela projeção
intelectualística da própria percepção das funções sobre a realidade.
Durante décadas, prevaleceu a opinião de que os órgãos enervados não
transmitem sensação. Por outro lado, já é possível medir o estado do ego
como um reflexo das excitações vegetativas ativas em qualquer tempo.
Uma pessoa sente a contração do sistema nervoso simpático diretamente
quando está perto da beirada de um precipício. Experimentamos prazer
como expansão, como distensão, ampliação. Desde que a sensação do
órgão e a vida vegetativa são idênticas, segue-se necessariamente que um
verme deve ser consciente de si mesmo, porque a corrente vegetativa é
idêntica ao sentimento de prazer e desprazer.
Esses comentários foram necessários porque eles caracterizam de
um certo modo, minha abordagem fundamental. Reconhecidamente, as
experiências de medição e duplicação terão a última palavra na ciência.
Porém, quando vejo uma ameba estendendo-se e o protoplasma fluindo
nela, reajo a essa observação com todo meu organismo. A identidade da
sensação física vegetativa de meu corpo com o fluxo do plasma
objetivamente visível da ameba é diretamente evidente para mim. Sinto-o
como algo que não pode ser negado. Seria errado derivar a teoria científica
disto somente, mas é essencial, para pesquisas produtivas, que a confiança
e a força para trabalho experimental estrito sejam derivadas de tais atos
vegetativos de percepção involuntários.

2. A Lei Dialético-Materialista de Desenvolvimento

aj O conflito entre as visões Mecanicista e Vitalista e a biologia

Comparado com o materialismo mecanicista do tipo de Büchmer,


assim como com o não tão absoluto, porém dialético idealismo de Hegel, a
dialética materialista representa um meio infinitamente frutífero, e pouco
explorado, de enriquecer o pensamento científico. Certamente, não é
suficiente apenas gabar-se da dialética materialista como o melhor método
ou discuti-lo em debates filosóficos abstratos, isto é, segui-lo como se ele
fosse um “método em si mesmo”. Aqui, dois pontos são absolutamente
essenciais: o método dialético-materialista deverá ser testado em uma
situação concreta em problemas científicos e sociais reais; e deveria ser
utilizado de um modo novo para resolver tais problemas, para “provar” sua

116
superioridade, para mostrar que se pode, de fato, descobrir e atingir mais
com este método do que com os métodos mecanicistas.
Vamos sumariar, brevemente, os princípios do método dialético-
materialista:
O materialismo mecanicista afirma que o desenvolvimento se dá
em uma “seqüência causai", isto é, que todos os fenômenos têm uma
causa, que esta mesma causa é o resultado de uma causa anterior, e assim
por diante. Entretanto, esse método realmente não explica como o fato B
deriva do fato A . Por conseguinte, têm-se que considerar um “princípio
desenvolvimentista”, que também precisa ser explicado. Afinal, por que
existem coisas como desenvolvimento? O método mecanicista só pode
responder tal pergunta valendo-se de outros meios, tais como uma “força”
inerente na matéria, que nada mais é que o “espírito” a que se referem os
metafísicos. Mas, de onde vem a força ou o espírito que exerce essa
influência? O materialismo dialético, por outro lado, estabelece que o
desenvolvimento vem da presença de opostos dentro da matéria que
causam uma contradição antagônica. Tal contradição não pode ser
resolvida dentro de determinada situação. Por conseguinte, os opostos
forçam uma “mudança” na situação, e forma-se algo “novo”. Esse “algo
novo”- formado pela resolução da contradição - desenvolve novas
contradições, que, por sua vez, forçam soluções ulteriores, e assim por
diante. Assim, tudo está em um constante estado de fluxo. Nada é separado
nem absoluto, tudo interatua.
Na visão mecanicista, os opostos são absolutos e irreconciliáveis.
No materialismo dialético, os opostos são vistos como idênticos e como
uma conseqüência que se pode desenvolver do outro. O ódio não é apenas
um oposto do amor, ele pode ser desenvolvido do amor; muito do amor
consciente é ódio inconsciente, e vice-versa.
A partir da era do esclarecimento, a ciência mecanicista elaborou o
conceito do desenvolvimento; as coisas não são apenas eternas, mas
estão também no processo de desenvolvimento. Mas a ciência mecanicista
ligada à Weltanschauung r epresenta o ponto de vista de que
o desenvolvimento é um processo gradual e “nada mais”. Não há
mudanças “súbitas”. A dialética materialista, por outro lado, reconhece que
o desenvolvimento gradual pode tornar-se um desenvolvimento brusco, que
a evolução prepara o caminho para a alteração súbita no desenvolvimento.
A pesquisa científica freqüentemente nega a filosofia mecanicista, p.e.,
quando ela reconhece corretamente as alterações súbitas no curso do
desenvolvimento.
Tanto a filosofia mecanicista quanto a idealista rejeitam que é
possível para a quantidade desenvolver-se da qualidade, e vice-versa. Em
contraste, o materialismo dialético afirma que não apenas a quantidade se
pode converter em qualidade, e vice-versa, mas que tal transformação é um
dos princípios fundamentais de qualquer processo natural.
O conhecimento científico avança muito mais devagar do que a
urgência de conhecimentos. As teorias filosóficas naturais brotam dos
esforços para se avançar no conhecimento adquirido, agrupando-o numa
visão sobretudo filosófica dos fatos naturais. Duas principais direções de
pensamento ficam estabelecidas: materialismo "mecanicista” e “vitalismo”.
117
Um pesquisador não chega a certas teorias gerais baseado meramente nas
descobertas suas e de outros. Geralmente se aborda as matérias,
consciente ou inconscientemente, com uma visão filosófica geral. As teorias
que ele desenvolve dependerão também de seu Weltanschauung. Não se
pode tentar analisar o limite entre a psico e o físico sem ter algum
conhecimento das teorias científicas básicas. Por conseguinte, farei um
breve sumário da diferença entre a Weltanschuauung mecânico-materialista
e o vitalista.
Os teóricos mecanicistas buscam entender o organismo como se
fosse uma máquina. Investigam os processos energéticos, a química e as
leis fisiológicas. Afirmam que as mesmas leis se aplicam tanto a matéria
orgânica quanto à inorgânica, sendo a única diferença que, na última, as
leis são fundamentalmente mais complexas e, portanto, mais difíceis de
serem compreendidas. Mas, em princípio, os mecanicistas crêem ser
suficiente conhecer os processos físicos, químicos e fisiológicos, a fim de
poderem entender a vida.
O vitalista começa por uma posição crítica muito mais vantajosa,
devido ao pobre estágio de conhecimento disponível. Ele sustenta que,
além da relação causai entre as partes na matéria orgânica, é também
necessário entender o propósito e a função do “todo”. O desenvolvimento
não é arbitrário, mas assumem certas formas que não podem ser
explicadas casualmente. O desenvolvimento das partes individuais no todo,
nas espécies, etc., é determinado por uma meta, “telos”. Tal meta é
orientada para a sobrevivência, para preservar e moldar o todo e propagar a
espécie.
O mecanicista sustenta que não se podem estabelecer diferenças
essenciais entre o inorgânico e o orgânico quanto à relação das partes com
o todo. Nos cristais e nos compostos químicos, por exemplo, nenhuma
parte pode ser removida sem destruir o todo. A única diferença possível é
que, no orgânico, as relações das partes com o todo é mais simples de
analisar.
Os vitalistas contrapõem “que a soma das partes não produz um
organismo funcional”. O todo é dominado por um propósito, uma idéia.
Tanto como sabemos, essa é a mesma objeção com que as ciências
humanas constantemente pressionam a ciência, com que os axiologista
pressionam os materialistas.
O mecanicista, pode fazer referência as “formas físicas" de Kõhters
(physics Gestalsen), que prova a integridade dos sistemas inorgânicos.
Entretanto, o vitalista sabe como defender sua posição. Diz que a
existência de hidrogênio e oxigênio e também sua combinação em água
pode ser provada quimicamente. Porém, o H2O possui propriedades
completamente novas que não estavam presentes em H e nem em O . Tais
propriedades são “irracionais” e jamais podem ser entendidas em termos
Mecanicistas. As qualidades (“verde", “vermelho", “líquido", etc.) são,
especificamente, propriedades recém formadas e, portanto, não acessíveis
30 entendimento. (A forma e o tipo colocam problemas similares) . A física

dos processos conscientes pode mostrar vibrações, mas isto não explica a
cor “verde”.

118
Um mecanicista como Max Hartmann replicaria que a ciência não
está interessada em explicar o irracional, que a porção irracional da
existência jaz fora da esfera da ciência. O propósito não explica nada,
porque ele mesmo precisa ser explicado. O princípio do propósito é um guia
apenas para a pesquisa básica, permitindo sua penetração em áreas que
de outro modo seriam inexploradas.
Um vitalista como Driesch diria que o princípio do propósito é
necessário. Embora cada célula seja uma parte, ela pode se desenvolver
até o todo, indicando a “potência provável" da matéria orgânica. Nas
palavras de Driesch, um organismo é um ‘sistema equipotencial
harmonioso”. Certamente, isto não é verdade para uma máquina. Nenhuma
máquina pode ser produzida a partir de um único parafuso.
Um mecanicista oporia: Cada célula contém toda a química que
permita a diferenciação. É necessário conhecer a fina estrutura coloidal.
Embora haja certamente uma lacuna em nosso conhecimento, isto não
prova que seja impossível descobrir uma explicação.
O vitalista se refere à hereditariedade e à mitose ao explicar como
cada ovo pode produzir o organismo todo. Do ponto de vista mecanicista,
ter-se-ia que considerar o ovo como uma máquina tridimensional.
Entretanto, a divisão a partir de “uma” célula sexual primária exclui a
possibilidade de uma máquina, porque uma máquina se poderia dividir
tantas vezes e ainda continuar um todo.
O mecanicista aponta para a divisão cromossômica, para a igual
divisão de potências. O vitalista contrapõe que a divisão da célula não pode
ser explicada em termos mecanicistas.
Isto é bastante. Podíamos continuar o bate-boca ad infinitum e
ainda assim não resolver a questão. Mencionei os pontos principais
simplesmente para aclarar nossa abordagem metodológica
fundamental, que é diametralmente oposta quer à dos mecano-materialista,
quer à dos vitalistas.

b) Os Três Sistemas Dialéticos

O materialismo dialético nega a existência de um princípio


propositado na natureza; isto é, a existência de um alvo supernatural para
além do processo energético que, segundo a visão geral, determina o
desenvolvimento. Mas ele também nega a existência de um princípio causai
mecanicista. Se, de fato, considerarmos uma força material que controle o
desenvolvimento de qualquer processo, estamos, ao mesmo tempo,
reintroduzindo, inconscientemente, um princípio metafísico que atua além
da matéria e da energia. A ciência está, hoje em dia, dominada pelos dois
princípios de pensamento e interpretação acima mencionados; que são:
fatalismo metafísico e casuísmo mecanicista. Mas, rejeitando-os, o
materialismo dialético depara-se com a difícil tarefa de provar que pode
resolver contradições e fornecer explicações que não são possíveis com
outros métodos de raciocínio. Ele tem que se provar em uma “situação
prática”, resolvendo, “pela experiência”, em sua própria maneira especial,
problemas até aqui insolúveis. Não preciso dizer que o método de trabalho
adotado pelo materialismo dialético baseia-se, primordialmente, em seu
119
próprio princípio fundamental de que a teoria deve ser provada pela prática
e que a teoria e a prática devem ser “unidade”.
O mecanicista evolucionário e o teólogo dirão: “Ótimo. Então todo
desenvolvimento se processa em uma série de oposições e contradições.
Compreendemos que se uma força A entra em conflito com uma força B,
resulta algo novo, uma força C, na qual A e B, não obstante, ainda estão
presentes. C entra em contato com D e o processo continua da mesma
maneira. Mas, o que acontece no caso do “desenvolvimento orgânico”,
quando ocorre um desenvolvimento germinal sem que o germe entre em
contato com uma força externa? Está claro que, nesse caso, o
desenvolvimento se processa a partir de um princípio contido “dentro do
germe”. “Mas, o que dá origem a essa contradição interna”, que provoca o
desenvolvimento do centro da periferia? Então essa contradição interior
deve formar-se a si mesma em algum tempo!”
Essa questão crítica que colocam o mecanicista
desenvolvimentista e o teólogo é inteiramente justificada. Não é suficiente,
para o materialismo dialético, conceituar que uma nova terceira força surge
das duas forças conflitantes! É absolutamente essencial compreender muito
claramente como a “contradição interna acontece” e compreender sua
função. Uma revisão do arsenal científico do materialismo dialético nos
força a admitir que, até aqui, essa questão não tinha sido nem colocada
nem respondida. Até agora, tem sido difícil encontrar um lugar para o
desenvolvimento biológico no pensamento dialético-materialista.
É necessário distinguir entre três tipos de relações antitéticas na
natureza:

1. A “antítese dos sistemas” (antítese sistemática). Se um sistema


corpóreo A encontra um segundo sistema corpóreo B - p.e., esferas que se
unem - ambas, de algum modo, alteram sua direção. Uma “terceira” direção
é gerada. A razão das forças centrípedas e centrífugas dos corpos celestes
e o resultante, as órbitas dos planetas, é um resultado típico de uma
antítese dialética dos sistemas.
2. A “antítese dissociativa”. Se eu movo o polo positivo de um magneto na
direção de um pedaço neutro de ferro, o ferro e o magneto formarão uma
antítese “dos sistemas”. Tal tem um certo efeito sobre o ferro; suas
moléculas passam por uma reorganização “interna”. No lado voltado para o
magneto, o ferro indiferente se torna negativo, e no lado afastado do
magneto, ele se torna positivo. O efeito do magneto estabelece duas
direções opostas a peça uniforme de ferro. Se removermos o magneto, a
antítese é eliminada e o ferro retorna ao seu estado neutro. O “meio
ambiente”(o magneto) faz o ferro ser magnético em si mesmo, isto e, parte

do meio ambiente está “dentro do ferro”. Em outras palavras, podemos dizer


que uma contradição “externa”, ou antítese, tornou-se uma contradição
Eterna.

120
O modelo da antítese “dissociativa” é o seguinte:

1,0 ECC

dissociação união dissociação

Magnetismo, eletricidade, sal-base-ácido, etc.

Eis aqui outro exemplo: Eletricidade positivo e negativo, bem como


a dissociação química - e.g1, NaOH+HC1= NaCI+h^O - estão também
sujeitas à lei da antítese dissociativa. “No processo da dissociação, a
tensão da antítese surge do estado neutro, e esta tensão conduz à
eliminação da antítese, isto é, ao relaxamento”. A tensão e o relaxamento
não são, assim, apenas processos sucessivos independentes, “mas o
processo da tensão leva, inevitavelmente, ao relaxamento e, similarmente,
o relaxamento já contém todo o necessário para levar a uma tensão
renovada.
O sal Na2SC>4+2H20 dá 2Na+20H+2H+S04 durante a eletrólise. Se
eu agora combinar os compostos químicos antitéticos: soda cáustica e
ácido sulfúrico, o produto neutro urificado NA2SO4 (sulfato de sódio) e 2H2O
(água) será produzido. Ilustremos essa interação de tensão e relaxamento
considerando o exemplo de uma mola de aço. Se eu esticar uma mola de
aço, o “impulso" na mola para retornar ao estado relaxado de repouso
crescerá na proporção direta da quantidade do esticamento. Quando libero
a mola, ela retorna por si própria ao estado relaxado. A diferença entre a
vida orgânica e a mola sem vida, mecanicamente tensa, é que a “vida pode
gerar uma nova tensão por si mesma”.
3. A “antítese genética”. Até aqui, consideramos apenas a alternância entre
unificação e dissociação. Uma célula viva se desassocia antes de dividir-se,
primeiro internamente, pelo processo da mitose. A copulação das duas
células eternamente dissociadas significa a reunificação da antítese. Mas o
processo da divisão celular difere da simples dissociação em que “ela se
processa em uma progressão geométrica”. Uma célula se divide em duas,
essas se dividem em quatro, as quatro em oito, dezesseis, etc., no seguinte
modelo:

121
Mais tarde retornaremos ao problema de como um material geneticamente
diferenciado se torna, mais tarde, reunificado. Olhado mais adiante,
podemos dizer “que a diferenciação no crescimento de um organismo
biológico vai junto com uma constante combinação das unidades biológicas
diferenciadas em uma função uniforme do organismo inteiro”. Se
considerarmos agora as três formas fundamentais da função dialética na
natureza que citamos, descobrimos que:
A “antítese sistemática” aplica-se em todas as áreas da existência.
Não há área em que um corpo não esteja em oposição a algum outro corpo,
em uma ou outra função, quer seja na interação das moléculas ou na
relação entre os seres humanos, ou nos corpos celestes.
A “antítese dissociativa” na forma dos processos elétricos,
químicos e mecânicos, domina tanto a existência inorgânica quanto a
orgânica.
A “antítese genética está associada exclusivamente com a
existência orgânica”. A relação atitéticamente dois corpos no espaço pode
ser a causa de uma antítese dissociativa (ferro magnético), do mesmo
modo que a antítese dissociativa pode dar origem a uma antítese genética
(divisão celular). Todos os três tipos de antítese ocorrem no mundo dos
organismos vivos. “O orgânico e o inorgânico têm em comum a antítese
sistemática e a dissociativa, mas orgânico difere do inorgânico pela função
da antítese genética”. A copulação e a procriação correspondem à
unificação de duas antíteses em uma terceira nova entidade. A propagação
do indivíduo é, ao mesmo tempo, a dissociação da entidade única. A
simetria biológica dos organismos é uma expressão “direta” da função
dissociativa.
Consideremos os processos fundamentais da dissociação química
e do eletromagetismo: Cada dissociação ou divisão da entidade única em

opostos significa uma liberação de energia e, ao mesmo tempo, a criação


de uma tensão que procura a liberação. Qualquer unificação de antíteses
representa uma ligação de energia livre; em outras palavras um
122
relaxamento. O cloreto de sódio é neutro. Quando ele é dissociado em
cátions de sódio e aniuns de cloro o resultado é partículas antitéticas
positiva ou negativamente carregadas que lutam para a equalização, isto é,
para a purificação e neutralização. Do mesmo modo, o pedaço de ferro é
unificado neutramente “sem tensão”. Se o ferro se dissociar, sob a
influência de um magneto, em partículas positiva e negativamente
carregadas, a energia será liberada. Forma-se uma tensão antitética.
Reconhece-se isso pelo fato de que o pedaço de ferro anteriormente
indiferente agora é capaz de “realizar um trabalho”. Por exemplo, ele agora
pode mover um outro pedaço de ferro. Do mesmo modo, o eletrólito
dissociado é capaz de realizar um trabalho por meio da corrente iônica, mas
o sal neutro não pode.
Transfiramos agora esse conhecimento para os processos
fundamentais das funções biológicas.
Para começar, vemos que a célula do esperma e o óvulo são
sistemas antitéticos altamente tensionados energeticamente, que lutam
para a unificação, para a equalização das tensões, na fusão de óvulo e
célula de esperma. A relação antitética anteriormente externa dos dois, é
então substituída, em seguida à união, por uma antítese interna. A “divisão”
do óvulo fertilizado começa como expressão de um processo de
multiplicação dirigido pela energia. A antítese sistemática do óvulo e da
célula do esperma leva diretamente à função da dissociação genética do
desenvolvimento numa progressão geométrica. A partir do óvulo, formam-
se primeiro duas células, depois quatro, oito, dezesseis ...
É óbvio que toda vida deve possuir um “ritmo básico comum”, uma
“lei básica comum” que devia ser possível detectar em todos os detalhes da
vida. A divisão do processo vital em áreas biológicas, psíquicas,
ideológicas, culturais, etc., é - e não podemos jamais esquecê-lo - uma
classificação artificial feita para satisfazer nossas necessidades práticas.
Como acontece tal antítese interior de um sistema biológico que conduz á
diferenciação genética e ao desenvolvimento biológico, como o do
óvulo fertilizado? Tentemos responder essa questão tomando, em primeiro
lugar, um exemplo de uma área com que me tornei familiar pelo trabalho de
análise de caráter. Consideraremos como uma antítese externa é tornada
interna e como essa “internalização” se manifesta no curso do
desenvolvimento.
Sem considerar os fatores complicados, uma criança que brinca
inofensivamente com suas próprias fezes, por exemplo, no primeiro ou
segundo ano de vida, está - com referência à lembrança das fezes -
estruturada em uma maneira uniformemente de afirmação dos impulsos. A
tendência a brincar com as fezes entra em conflito com a insistência do
mundo exterior sobre o treinamento ao toilet. Temos aqui um exemplo
básico da “formação de uma antítese sistemática”. Tal antítese então
conduz a um conflito entre a criança e seu educador. Sob a constante
influência da educação restritiva, a antítese externa transforma-se em
interna. O primeiro resultado de tal transformação é que a criança passa a
ter medo do educador, e esse medo entra em conflito com o impulso para
brincar com seu excremento. Esse medo é o ponto de partida para a
formação de um conflito psíquico interno. A estrutura da criança se torna
123
progressivamente dividida em duas partes: o impulso para lambuzar-se com
as fezes continua, mas o medo impede a criança de fazê-lo. Algo na
criança, que chamamos ego, começa a defender-se contra o impulso e se
desenvolve um imperativomoral a partir do seu medo de punição. Quando,
antes, a criança diria a si mesma: “Tenho medo de brincar com isso”, ela
agora diz": “Não brincarei com isso porque é sujo". A antítese externa
tornou-se uma antítese interna. O impulso unificado tornou-se dissociado,
dividido. Esse conflito tornado interno torna-se uma fonte de
“desenvolvimento" em termos de uma antítese genética. A relação antitética
de “desejo-para-lambusar-se-de-fases” e "lutar-contra-o-ímpeto-de-fazê-lo"
leva ao ponto em que a criança agora começa a preferir desenhar ou pintar.
Fora do conflito interior, algo novo se formou, que se origina dos dois
elementos antitéticos. A coisa nova representa a unificação das antíteses.
Se a criança agora pinta ou desenha, isto unifica todas as demandas
existentes, tanto as de impulso quanto as de imperativo moral, porque, em
contraste com lambuzar-se de fases, desenhar é algo “limpo". Pintar e
desenhar são atividades culturais e socialmente importantes e
reconhecidas. Assim, vemos como produto da sublimação, “pintar”.
Tanto a velha antítese sistemática quanto o original conflito interno
entre o impulso e a moralidade tornaram-se unificados em algo novo. O
diagrama que se segue ilustra o processo. Deixemos de lado a interessante
questão de como tal unificação se torna novamente diferenciada. O que
deve ser notado é que o processo de dissociação e oposição, como está
retratado no diagrama, não é um processo estático, mas dinâmico, que
“governa" “todas as formas de existência” que passam por desenvolvimento.

Todo desenvolvimento contém dentro de si as seguintes funções


Unidas em “uma" função comum:

] • Antítese dos sistemas.


Relação antitética dissociativa ou divisão (por internalização da antítese
dos sistemas).
^ Oposição das forças divididas.
4- Reunificação das forças divididas, com progressiva ruptura, em série
geométrica (apenas na esfera orgânica).
124
Examinemos as afirmações precedentes em algumas áreas
fundamentais. A vida orgânica origina-se da matéria inorgânica. Ela contém
em si as funções mecânicas, químicas, elétricas específicas da inorgânica.
Entretanto, no processo de evoluir, ela desenvolve suas próprias leis, que a
retiram da inorgânica. A planta, por exemplo, contrasta com os fluídos na
terra em que se desenvolve; o org-animáliculo contrasta com o bion
formado da planta por sugar, “comer” esse bion; ou o homem, que é uma
parte da natureza, contrasta com a própria natureza.
Após ter-se tornado diferenciada da esfera inorgânica
(principalmente pela ação de comer) a vida vegetativa, orgânica, sofre
outras diferenciações com o desenvolvimento da consciência. Porém a vida
vegetativa e a vida consciente, que derivam de uma “raiz” única, também se
contrastam mutuamente (como, anteriormente, a vida vegetativa
contrastava com a esfera inorgânica) no desenvolvimento da auto-
percepção. A vida percebe a si mesma, através da função da consciência,
examinando sua própria origem. Na área da sociologia, o processo de
dissociação e oposição é evidente, por exemplo, em religião e sexualidade.
Elas são originariamente idênticas, porque a religião natural nada mais era
do que experiência orgástica coletiva. Com a invasão da empresa privada e
da moralidade sexual (compulsória), a experiência orgástica na sociedade
tornou-se diferenciada. A religião sexo-afirmativa tornou-se uma doutrina
supernatural, sexo-negativa, que agora investe contra sua própria origem.
A religião tornou-se a negação da sexualidade, sua antítese, não obstante
sua origem comum. Na nova ideologia que afirma a sexualidade natural,
um outro passo foi dado em seu desenvolvimento: a sexualidade confronta-
se e combina com a religião no reconhecimento da vida vegetativa.
Também no desenvolvimento científico, vemos que um nova teoria
pode emergir de uma antiga, como resultado da diferenciação, em seguida
a contradições internas e subsequente oposição. Porque a velha ciência da
psiquiatria não reconheceu a existência da psique, a psicanálise, incluindo-
a, rompeu com ela e colocou-se em contraste com a velha psiquiatria. A
psicologia analítica, por outro lado, continha em si uma contradição entre a
teoria clínica da repressão e a teoria da cultura. Daí surgiu (primeiro como
uma tentativa de solução dentro do sistema psicanalítico de pensamento) a
teoria da “unidade de impulso e cultura” na forma da “teoria científica do
orgasmo”. Uma contradição interna entre a teoria orgástica e a teoria da
cultura psicanalítica levou a uma diferenciação da psicanálise homogênea
na teoria da economia sexual do orgasmo de um lado, e a teoria do instinto
da morte de outro. No posterior curso do desenvolvimento, a economia
sexual formou uma “antítese” em relação a psicanálise. Ao mesmo tempo,
representou um novo conceito que foi capaz de resolver muitas
contradições anteriores entre, por exemplo, a sexualidade e o trabalho, o
impulso e a moralidade, a natureza e a cultura, etc.
Após essa digressão, voltemos a um assunto ma's próximo do
tópico sob discussão. Um dos mais surpreendentes exemplos é a antítese
da sexualidade e da ansiedade, ou do parassimpático (vago) e o simpáticô.
Eles têm uma origem comum; formam uma unidade; são uma função que
pertence ao mesmo sistema vegetativo, mas a “unidade” funcional
vegetativa divide-se em “duas funções e direções de correntes antitéticas”.
125
"A ansiedade se torna o oposto da excitação sexual; ela corresponde à
direção da função de energia elétrica e flui opostamente à da sexualidade”.
Similarmente, o vago e o simpático opõem-se um ao outro. O seguinte
diagrama ilustra isso:

A unidade e a antítese do
sistema nervoso autônomo

Vago = prazer;
Simpático= ansiedade

Nós não refletimos sobre a natureza em termos dialéticos. O


processo natural, em si, é dialético. Longe de serem meras conceituações a
diferenciação do todo homogêneo e a relação antitética podem ser vistos,
medidos e fotografados, na realidade. Através de seu aparelho vegetativo,
cada organismo vivo é parte do todo da natureza viva, o resultado da
explosão de uma vida vegetativa em bilhões de tipos de vida. E cada
organismo vivo, ao mesmo tempo, contrasta, quer com o resto do mundo
vegetativo, quer com todos os organismos vivos, tanto no intercurso sexual,
no ato de comer, quanto, essencialmente, no papel passivo do objeto
comido. O seguinte diagrama ilustra o processo da diferenciação vegetativa
e da antítese:
A diferenciação vegetativa e a antítese na vida orgânica
58 - Dissociação genética na estrutura de uma folhagem. O materialismo
dialético não é apenas um método filosófico, mas também reflete
verdadeiramente os processos que ocorrem na natureza.
A unidade das funções vivas:
127
A partir de Darwin, não há qualquer dúvida sobre a realidade desta
fragmentação do filo em diferentes espécies. A “Lei dialética do
desenvolvimento (fragmentação e oposição e unificação) é a lei básica de
todo desenvolvimento orgânico”. A ramificação do tronco de uma árvore em
galhos, em seguida em ramos, e finalmente em hastes de folha, dessa
haste de folha em folha, das folhas nas nervuras centrais das folhas, a partir
das quais novamente as finas veias se ramificam (primária, secundária,
terciária, etc., venação) é a dialética na realidade da natureza.
A figura seguinte (58) mostra a divisão e a oposição na estrutura
do arranjo da folha.
A ramificação do sistema nervoso e do sistema de vasos
sangüíneos no corpo segue a mesma lei. Como o centro do sistema
circulatório, o coração se divide em artérias e veias, e essas, por seu turno,
ramificam-se continuamente em um número infinitamente grande de
subdivisões, até, finalmente, os finíssimos capilares, que carregam sangue
em direções opostas se juntassem novamente. Em outras palavras, elas
contrastam-se mutuamente e em seguida se unem.
Essa idéia básica, não pode, no momento, ser aplicada com
absoluta certeza para o sistema nervoso, porque a relação funcional entre a
terminação do nervo e a fibra muscular não foi ainda completamente
explicada. Se Kraus estiver certo ao estabelecer que o sistema nervoso
representa um sincício, se o músculo e o nervo formarem uma unidade
funcional, então seria mais fácil aplicar a lei dialética do desenvolvimento
para o sistema nervoso também. Muitas disputas - tais como se o aparelho
estímulo-condutor do coração é um nervo ou um músculo - seriam assim
resolvidas.
O fator essencial para que se compreenda a função dialética da
vida é que essa cisão do todo não afeta sua homogeneidade, porque, não
importa quão fragmentado e antitético o sistema nevoso possa ser, ele
funciona, não obstante, como um todo “unitário indivisível".
Tentemos agora ligar esse princípio mas estritamente ao assunto
dessa discussão. A questão importante é qual função metazoária esta
relacionada com a protozoária? O metazoário - p.e., o corpo humano - era
imaginado como sendo construído de células individuais, com certos grupos
de células individuais desempenhando certas funções individuais como
secreção da bile, excreção de urina, formação de corpúsculos sangüíneos,
inervação, etc. Os corpos humanos e animais eram vistos como sendo
construídos seguindo as linhas de uma administração bem comportada. No
“topo" está o cérebro e o processo de secreção interna que dirige as
funções, enquanto os órgãos individuais recebem diversas “tarefas".
“Comer" e “procriação" eram imaginados como funções do organismo total,
mas sempre, no fundo, estava a idéia de que esse organismo continha algo
que queria preservar os indivíduos e as espécies - um princípio
completamente metafísico. As mesmas funções eram também atribuídas
aos protozoários. Sabemos, no entanto, que o organismo metazoário, como
um todo, funciona exatamente como o protozoário, isto é,
homogeneamente. Assim como a ameba, quando um metazoário se
estende, ele o faz exatamente como um organismo inteiro. Quando
assustado, ele contrai como um organismo inteiro da mesma maneira que a
128
ameba retrai todo o seu pseudópodo. Assim, todos os organismos vivos são
permeados por um fator comum básico que segue um dado sistema de leis,
indiferente de toda a diferenciação e das relações antitéticas.
No início, foi surpreendente, na verdade quase desconcertante,
notar que a antítese do prazer psíquico e da ansiedade é funcionalmente
idêntica às funções do fisiológico dos vagos e o simpático, que as funções
do vago e do simpático são idênticas às substâncias orgânicas lecitina e
colesterina, e que essas, por sua vez, são idênticas ao efeito das
substâncias inorgânicas como potássio e cálcio. Se invertermos a
seqüência e procedermos a partir do potássio ou cálcio, via lecitina otr
colesterina, para o vago ou simpático e finalmente ao prazer ou ansiedade*
veremos como uma função se desenvolve para as formas mais altas;
complicadas, diferenciadas. O caráter fundamental da vida governa todo
desenvolvimento e todos os produtos do desenvolvimento. Ele consiste óé
duas funções antitéticas de expansão e contração, tensão e relaxamento;
carga e descarga.

Esquema da unidade da função viva


3. Algumas Observações sobre a Biogênese

Agora que nos familiarizamos com os princípios gerais do


pensamento dialético-materiaMsta e funcional, podemos nos arriscar a testar
sua aplicação especial à evolução dos organismos vivos. As observações
seguintes apenas oferecem uma diretriz provisória.
As esferas orgânica e inorgânica não são duas áreas estritamente
distintas, totalmente desconectada, sem qualquer ponte entre elas. Desde
que, em princípio, a vida orgânica exibe os mesmos processos físico e
químico que a matéria inorgânica - particularmente, processos mecânico e
elétrico - a matéria orgânica e inorgânica são, por assim dizer,
funcionalmente idênticas. Nesse ponto, nossa visão metodológica coincide
com a do mecanicista materialista. Nossa visão difere deles, no entanto,
porque, além dessa identidade funcional, nós devemos considerar,
simultaneamente, uma antítese funcional. A questão não é considerar, em
termos epistemológicos abstratos, uma antítese funcional em acréscimo à
identidade funcional, mas, realmente, mostrar, de modo prático, que tal
relação antitética existe, e revelar a forma concreta que ela toma. Hartmann
escreve na seção sobre “Begriff und Umfang der allgencinen Biologie"em
seu principal trabalho Algenciner Biologie (3a ed.):
“Não é, de fato, possível, presentemente, determinar e definir a
vida como tendo uma estrutura química e material específica do mesmo
modo que se pode definir certos corpos inorgânicos naturais, como minerais
e cristais; ao invés, os organismos vivos incorporam adicionalmente eventos
e processos de um tipo especial que dão às relevantes estruturas e
sistemas a sua marca característica como organismos; e quando tais
processos e eventos não existem ou deixam de existir, não é mais possível
falar-se de vida”.
“Os corpos químicos, mineralógicos, etc., são sistemas num
estado constante de equilíbrio, um verdadeiro equilíbrio químico.
Admitidamente os sistemas vivos, são também corpos que dão a impressão
de serem mais ou menos duráveis. No entanto, a diferença existe! No último
caso, os equilíbrios são qualquer coisa menos estáveis, e ao invés, a
permanência do indivíduo é, do ponto de vista físico-químico, uma ilusão.
Ele só é atingido por um processo de mudança contínua, uma formação
constante e uma contínua ruptura das substâncias químicas contidas nos
sistemas, e uma contínua flutuação das forças energéticas; esses são, de
fato, apenas equilíbrios “dinâmicos". Ocorre um fluxo contínuo de material e
metabolismo energético nos sistemas vivos, o que os mantém em um
aparente estado de equilíbrio constante”.
Hartmann acentua que todos os processos que provaram ser
característicos da vida consistem de metabolismo, fenômenos de estímulo e
alterações na forma. O problema agora é decidir o que dá origem a essas
características fundamentais da matéria viva, em particular, os fenômenos
de estímulo e as alterações de forma. Se os considerarmos desde o
princípio como o princípio explanatório, a questão de sua natureza e
funcionamento mecânico, e como esses diferem da esfera inorgânica, ainda
continuam sem resposta.

130
Esquema da unidade da matéria viva e não viva

Inoraamco
Potássio . •Gon‘.agente
■O
Calcio Dis’.e^scne

o
Carica — Scanca

Lecitina Goní. ardente


©
Colesterina Diste^sione

©
Vita
Vago .Gonfiamento -----------►- Carica
©
Simpático ■ Scarica ----------- ►* Distensione

©
Compreendemos que as esferas orgânicas e inorgânica são
funcionalmente idênticas em termos mecânicos e elétricos. Até aqui, nossas
experiências produziram os seguintes resultados:

1. “Os fatores mecânicos e elétricos fundamentais que predominam na


matéria inorgânica vêm juntos nos organismos vivos em uma relação
funcional que é específica à vida”. Não há processo inorgânico em que o
enchimento mecânico (inchação) se transformaria em carga elétrica, em
seguida em descarga, e depois em relaxamento. A seqüência dada da$
funções mecânica e elétrica é específica da vida, e a diferencia da
esfera inorgânica.

131
2. O processo da tensão -+ carga -*> descarga -► relaxamento não apenas
distingue a vida da matéria sem vida mas, se as afirmações precedentes
estiverem corretas, deve, em princípio, governar todas as funções vivas.
Por conseguinte, devia ser possível demonstrar que todas as funções
vegetativas seguem o ritmo de tensão carga descarga -*
relaxamento. Essa fórmula, que podemos chamar a “fórmula da vida”, foi
descoberta na função do orgasmo. Podia-se também, embora não tão
facilmente, ter determinado a fórmula no movimento automático do
intestino, do coração ou da divisão celular, etc.
3. A fórmula da vida (ou orgasmo) governa todo o funcionamento
vegetativo, não apenas no organismo biológico como um todo, mas em
cada uma de suas partes. Cada célula metazoária está sujeita à lei da
vida que sumariamos na fórmula tensão-carga, quer como uma parte
distinta quer como um componente do organismo total. Assim, devia ser
possível demonstrar a função tensão-carga tanto na função global
uniforme de qualquer organismo vivo quanto no funcionamento
detalhado de suas células individuais. Isso é verdadeiro desde que não
se examine os processos mecânicos separadamente dos processos
químico-elétricos, e vice-versa, mas, ao invés, sempre os considere em
relação com o ritmo vital. •

A vida, como uma função fundamentalmente homogênea, emerge


do inorgânico. Mas, no reino da vida, a ação voluntária se desenvolve do
funcionamento vegetativo inconsciente. Isto se aplica ao produto mais
sofisticado do desenvolvimento “atual"; isto é, “ser consciente”, com todas
as suas funções. Estamos, realmente, muito distantes ainda do próprio
início do entendimento de todas as diferenças dentro da esfera da vida
vegetativa. Já temos uma visão geral de parte da comunalidade
fundamental, mas não sabemos ainda de todas as circunstâncias e
condições que, na esfera da vida, fazem com que uma nova função surja da
antiga.

Basta de fundamentos. As suposições seguintes podem ser


baseadas nas visões precedentes:

1. A vida não se pode ter formado como resultado da “geração


expontânea" no sentido de que em algum tempo, em um único lugar no
universo, de um modo ou de outro, a vida foi gerada e então difundiu-se
sem interrupção. A teoria da criação cósmica, de substâncias vivas que
descem do espaço para a superfície terrestre, não está provada, e
também é improvável, porque é complicada demais. Ter-se-ia, pelo
menos, que mostrar ser provável a possibilidade de tal transferência de
vida, do espaço para a terra. Os flocos ou esporos de proteína espaciais
teriam que ter sobrevivido a todos os obstáculos e perigos dessa
temerária viagem e ter aterrizado simultaneamente “em toda a extensão
do globo”.
2. As observações diretas dos processos vivos, particularmente da
vegetação, forçam-nos a considerar que a vida desenvolveu-se a partir

132
da matéria inorgânica sob condições extremamente “simples” e
“naturais”.
3. Tais condições simples e naturais estão presentes, “hoje", “em todos os
lugares”. A vida requer certas substâncias com certas propriedades a
saber: carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio. Tais substâncias
podem ser encontradas “em toda parte”. Para que produzam a vida,
certas condições têm que ser preenchidas para permitir o enchimento
mecânico (inchação, intumescimento) da carga elétrica. Estas
condições, quer o inchamento, quer os processos elétricos, existem em
qualquer lugar.
4. A vida pode ser gerada a qualquer tempo e em qualquer lugar onde
existam as substâncias e as condições necessárias. A natureza não
possui quaisquer escalas de medida ou instrumentos elétricos. Tem que
haver, por conseguinte, um princípio que determine a escolha da
qualidade e da quantidade das condições necessárias. Tal seria o
processo da “auto-regulação” na criação da vida. Assim, gera-se vida
nova em qualquer lugar a qualquer hora. Basta olhar em seu contexto
global.
5. Qualquer coisa que promova o intumescimento e a carga promove,
simultaneamente, a vida.
6. A vida que se origina continuamente tem que ser diferenciada. Aqui,
novamente, temos que distinguir entre as formas de vida que se
desenvolvem de organismos que se decompões e as formas que se
desenvolvem pela organização de matéria inorgânica. A vida não
apenas se origina, mas as formas originadas “se propagam e se
repropagam”.
7. Se a vida se forma de matéria sem vida e em seguida se torna sem vida
novamente, existe um ciclo tanto entre a matéria inorgânica e a viva,
quanto dentro da matéria viva. Quando ela morre, o organismo
multicelular desintegra-se em organismos unicelulares e em matéria
inorgânica. O organismo unicelular se forma novamente de ambas
fontes.
8. Em princípio, a morte pode ser vista como a cessação de uma função
em um dos três pontos principais no ritmo da vida:
a) Encolhimento, ou perda de substância intumescedoras
(principalmente água), torna impossível o primeiro ato do
funcionamento biológico, isto é, a tensão mecânica (morrer de sede).
b) A transição do intumescimento para a carga é perturbada. Isso
interrompe a seqüência automática da função vital (morte por ataque
do coração).
c) A transição da descarga para o relaxamento pode ser perturbada.
d) Finalmente, a transição do relaxamento para o novo intumescimento
pode ser perturbada.

133
Quando os camundongos experimentais anestesiados com éter
são observados morrendo, nota-se que há fases no processo da morte.
Primeiro, o camundongo se defende contra o veneno, aumentando sua
atividade motora. Depois ele sofre um colapso. A respiração, que no início é
muito rápida, torna-se irregular e finalmente para. Entretanto, ainda não
ocorreu a morte. Após cada cessação da respiração, todo o corpo tem
convulsões, devido a descargas da energia elétrica do corpo. Não ocorre
nova formação de carga, uma vez que a respiração - e conseqüentemente
a combustão - não funciona mais. Os movimentos convulsivos se extinguem
e, às vezes, o coração continua ainda a bater por um curto tempo. Assim,
uma após outra, as funções se apagam. Dependendo da importância de
cada função para o processo vital, pode ser possível ou não ressuscitar o
animal.
Algum dia, descobrir-se-ão os meios para restaurar as funções,
particularmente o intumescimento e a carga. Hoje, porém, tais esperanças
jazem no reino da ilusão científica. No entanto, por que não sonhar? O
sonho de hoje, é freqüentemente, a realidade de amanhã.

134
APÊNDICE

Produção de Bions a partir de Carvão


de Sangue Esterilizado

1. O carvão de sangue pulverizado é esterilizado por duas horas a 190°C,


em um pequeno prato, no esterilizador seco. Misturaram-se quantidades
iguais de caldo de carne e 0,1 N KCL e passa-se a mistura no autoclave
por meia hora, em dois tubos de ensaio, a 120°C. Trata-se, de modo
similar, dois tubos de ensaio contendo 0,1 N KCL puro.
2. Com uma espátula de metal, aquece-se uma pequena quantidade de
carvão de sangue esterilizado “até a incandescência”, na parte “mais
alta" de uma chama de gás benzeno. Essa substância é em seguida
inoculada “a seco" no agar de sangue como controle de esterilidade.
Não deve ocorrer crescimento.
3. De modo semelhante, aquece-se outra pitada de carvão de sangue na
ponta da espátula e divide-se entre os quatro tubos de ensaio, os quais
sacudidos de modo que o carvão de sangue seja uniformemente
distribuído no líquido. Em seguida, colocam-se todos na incubadora.
Logo a cor enegrecida do colóide dá lugar a uma aparência cinzenta,
levemente enevoada. Após 24-48 horas, surge uma turgidez fina, cinza
enevoada. Isso pode ser detectado sacudindo-se de leve o tubo de
ensaio.
4. Retira-se uma gota, sob condições estéreis, de cada preparado de KCL
e caldo + KCL e estuda-se a uma ampliação mínima de 3000x, em um
microscópio binocular (tubos de foco inclinados). Os bions têm que
exibir movimentos vigorosos e possuir um grande número de colônias
de vesículas movediças e contráteis. Um teste de suas características
elétricas deve revelar que são de carga fortemente positiva ( = migração
para o cátodo). Se assim for, inocula-se generosamente um "meio de
ovo fresco”, colocando “horizontalmente” na incubadora. Após 24-48
horas, a maioria dos meios nutrientes de ovo inoculados estarão
cobertos, mais ou menos densamente, com pequenas protuberâncias
redondas e cinzentas. Se as protuberâncias forem bastante numerosas,
devem ser espalhadas sobre o mesmo meio, usando-se um arame de
platina aquecido, e as culturas são novamente colocadas na incubadora.
5. Após mais 24 horas, ou um pouco mais, ocorre um crescimento denso e
coeso, cinza claro, de um “brilho azulado”. Transfere-se para um meio
nutriente ágar de sangue, claro e fresco. Dentro de 12 a 24 horas,
ocorre um crescimento azul-cinza, denso e cremoso. Visto ao
microscópio, nota-se que consiste de uma cultura pura de cocci
redondos e ovóides e de um grande número de colônias de vesículas
contráteis, que se movem vigorosa e rapidamente. Sua carga elétrica é
positiva.
6. Esses bions de “carvão de sangue” são injetados subcutaneamente nas
costas de camundongos. Eles não devem produzir qualquer reaçao
patológica.
7. As repetidas passagens das culturas ao autoclave produzem novas
culturas em meios nutrientes de ovo.
Três Séries de Experiências Baseadas no Princípio
de Tensão-Carga por Roger du Teil

As duas primeiras séries de experiências relatadas abaixa


correspondem em princípio, porém com modificações, ao procedimento
adotado pelo Dr. Wilhelm Reich, de Oslo, de acordo com sua teoria
biológica global.
A terceira série, projetada e conduzida por mim, segue o mesmo
modelo básico, porém o método, os resultados, e também as conclusões
que se podem tirar delas, desviam-se distintamente das outras
experiências. Essa última série confere, simplifica e concentra o método de
Reich.
Essencialmente, a teoria sintética do Dr. Reich consiste de equa
cionar as tendências psíquicas em “direção ao mundo” e “para dentro de si
mesmo, fugindo do mundo" e os concomitantes sentimentos de “prazer” e
“ansiedade”, com, de um lado, os sistemas nervosos “simpático” e
“parassimpático, que controlam as alterações nos fluídos do organismo que
acompanham tais sentimentos; e, do outro lado, com as proteínas e outras
substâncias químicas que promovem tais movimentos nos organismos mais
desenvolvidos e que nos organismos inferiores, substituem o sistema
nervoso dos metazoários. As tendências psíquicas são também
equacionadas com os processos elétricos de carga e descarga, que
acompanham as alterações nos fluídos e que, pela reciprocidade da
“expansão" e da “contração", enquanto mantém continuamente a antítese
fundamental entre "centro” e “periferia", constituem a própria vida.
Temos, assim, os pares de antagonistas, “lecitina-colesterina” de
um lado, e “potássio-cálcio” de outro. Quando introduzidos em um líquido
coloidal, onde o movimento surge e é aumentado pelo movimento
Browniano de finas partículas de carvão e onde se formam um grande
número de membranas limitadoras, estes antagonistas causam a aparição
de organismos no líquido, os quais têm todas as propriedades da vida e são
culturáveis.
As três séries de experiências descritas em seguida foram
conduzidas por mim, após meu retorno de Oslo. O Dr. Wilhelm Reich, cujo
trabalho estive seguido e verificando, a seu pedido, por vários anos,
explicou-me seus próprios procedimentos de controle, em seu laboratório
em Oslo, e convidou-me a verificar e compará-los com meus próprios
métodos. Os aparelhos que construí, e que são descritos aqui, foram
projetados com o fim de simplificar as experiências de controle e torná-las
mais fáceis e mais confiáveis.

1. Primeira Série - Experiência “Bion”

Primeira Experiência

Construiu-se um aparato seguindo as linhas abaixo: Doit


recipientes são ligados um no outro, de modo que a conecção entre ele|
possa ser selada e eles possam ser colocados no autoclave. Um terceiró

137
recipiente de vidro (tubo de ensaio com caldo) forma uma outra parte do
aparelho, que pode assim ser um sistema fechado (veja ilustração 1).
O aparato consiste, essencialmente, de dois recipientes, um
colocado em cima do outro, que podem ser isolados um do outro por uma
válvula reguladora. Um tubo de bitola estreita une as duas seções
superiores de modo que o ar do recipiente de baixo possa passar para o
superior quando o líquido do de cia correr para o de baixo. Um escoadouro
capilar de duplo ângulo reto fica preso ao recipiente inferior, e a este está
conectado, por um tampão selado de borracha, o tubo de ensaio que
contém o caldo a ser inoculado. As duas misturas primitivas podem, assim,
ser colocadas separadamente, ainda que juntas, no autoclave, e com eles
também o caldo com o qual se pretende demonstrar se os organismos
obtidos estão vivos. Após a retirada do aparato do autoclave, as duas
soluções podem ser misturadas abrindo-se a válvula. Quanto ao tempo,
basta aquecer o recipiente de cia, de modo que o ar expandido leve
algumas gotas da mistura para serem testadas no tubo capilar conectado
com o caldo. Assim, uma vez que o aparelho tenha sido tirado do autoclave,
todo o processo se realiza em um sistema estritamente fechado.

Esse aparato, que para facilidade de identificação chamaremos


“Sy-clos” (sistema fechado), exclui, dessa maneira, qualquer possível
objeção de que a mistura possa ser infectada acidentalmente por um germe
aéreo ou por um microorganismo introduzido em algum momento durante a
experiência. Além do mais, se for seguido o procedimento, original de Reich,
0 preparo 6 teria que ser colocado novamente na condição acertada na
autoclave, a fim de matar quaisquer micoorganismos que possam ter sido
introduzidos durante a experiência. Esse método de esterilização também
carrega o risco de que os bions, igualmente, possam ser mortos, ou, pelo
menos, que sua vitalidade possa ser enfraquecida, prejudicando sua
culturabilidade. No aparato da série Sy-Clos, não é possível qualquer
infecção exógena em seguida à esterilização anterior à mistura, portanto,
não é necessário uma reesterilização e os bions podem ser culturados
exatamente como se formam.
Deve ser notado que, nos casos em que não seja necessário
utilizar um aparato estritamente fechado para determinar a origem
puramente endógena dos bions, pode-se provar a presença dos bions na
mistura final conduzindo-se um exame microscópico de uma amostra tirada
"imediatamente” após a mistura ser preparada. Desse modo, a hipótese
afirmando que se desenvolveram esporos que já estavam presentes em
uma das substâncias utilizadas pode ser excluída.
Além disso, quando esse exame é realizado por tempo longo, na
concavidade da lâmina, o calor da lâmpada do microscópio faz com que os
microorganismos se multipliquem de tal modo, que o preparado se torna
densamente populoso e, em quinze minutos, não está mais adequado para
fins de observação.
No dia 3 de setembro de 1937, os dois recipientes foram enchidos,
um após outro, como se segue:

Recipiente inferior: partes iguais de 0,1 N KCL e solução Ringer; alguns


miligramas de gelatina vermelha dissolvida em 3cc de KCL, dois cristais de
colesterina, meio centigrama de carvão (coke) finamente pulverizado,
aquecido até a incandescência sobre uma espátula em uma flama de
Bunsen, algumas gotas de clara de ovo, algumas gotas de gema, algumas
gotas de leite, tudo tomado em condições estéreis. Em seguida, a válvula
foi fechada.
Recipiente superior: mais ou menos 10 miligramas de lecitina foi
pulverizada num almofariz e acrescentado a 1cc de 0,1 N KCL. Quando a
mistura estava túrgida e tinha assumido uma cor amarelada, foi despejada
no recipiente superior do aparato.
Colocou-se caldo estéril no tubo ligado ao lado do recipiente
inferior. Uma vez que o tampão superior tinha sido substituído por uma
bucha de lã de algodão, que permitia que o ar escapasse durante o
processo de esterilização, o aparelho inteiro foi colocado na autoclave.
A primeira esterilização foi realizada em 4 de setembro, por três
quartos de hora, a 134°C.
Uma segunda, em 5 de setembro, 24 horas mais tarde. Mesma
temperatura, uma hora de duração.
Uma terceira esterilização foi realizada em 6 de setembro, 24
horas após a segunda: 130° C, meia hora.
Após a autoclave, a bucha de lã de algodão foi imediatamente
substituída pelo tampão esterilizado, que foi lacrado no lugar com parafina.

139
59. Aparecimento Sy-Clos no preparo 6, du Teil.

Em seguida, abriu-se a válvula e a solução do recipiente superior foi


misturada com a do inferior. A válvula foi fechada e também lacrada assim
como o tampão, e todos se juntaram no tubo do caldo do lado do aparato.
Em 10 de setembro, quatro dias mais tarde, o recipiente superior
foi aquecido e algumas gotas inoculadas no caldo no tubo de ensaio.
Devido ao seu tamanho, o aparato não podia ser bem acomodado na
incubadeira. Vinte e quatro horas mais tarde, o caldo ainda não mostrava
sinais de turgidez. Fez-se nova inoculação com algumas gotas, aquecendo-
se o recipiente de cima e expandindo o ar. Vinte quatro horas mais tarde, 12
de setembro, o caldo exibia uma turgidez muito clara e fizeram-se novas
inoculações dele para o agar e o caldo.
A partir de 13 de setembro, esse último caldo exibiu uma turgidez
muito clara e houve uma cultura cremosa e cinzenta no agar, que
inicialmente consistia de pequenas colônias redondas, mas depois
espalhou-se rapidamente por toda a superfície.
Essas duas culturas, feitas em 12 de setembro foram inoculadas
novamente no caldo e em agar em 13 de setembro. Esses quatro tubos
produziram culturas do mesmo tipo. A partir de então, as inoculações e as
culturas prosseguiram normalmente.
O exame microscópico da primeira mistura, bem como das
culturas, revelou grande quantidade de organismos movediços, redondos
ou ovóides, que, à medida que se multiplicava, formava mais
freqüentemente cadeias do que colônias. Esses são os primeiros bions
produzidos e batizados pelo Dr. Reich, em Oslo.
Minhas próprias experiências demonstraram que os bions são
gram-positivos. Além disso, eu podia detectar uma sensitividade para certos
venenos. Eles podiam ser mortos - isto é, podiam ser roubados de sua
motilidade - por cloro (hipocloreto de potássio) em mais ou menos 15
minutos e por álcool em mais ou menos 1 minuto. O éter dissolve-os em
alguns minutos.
140
Segunda experiência:

Uma experiência similar foi conduzida em 15 de setembro.


Usaram-se o mesmo aparato e os mesmos procedimentos, “mas não se
acrescentou leite à mistura”. Os bions se formaram como na primeira
experiência. Nesse caso, entretanto, foram inoculados mais cedo, em 18 de
setembro. Uma vez mais, todo o processo ocorreu em um sistema fechado
e o caldo tornou-se muito túrgido imediatamente. Ao microscópio, a cultura
de caldo provou ser muito mais viva do que a do primeiro experimento,
embora os bions fossem em número menor.

Terceira experiência:

Nessa experiência, usou-se uma nova peça do aparato, construída


segundo as mesmas linhas do primeiro, porém de projeto mais simples.
Consistia de quatro tubos adjacentes, três deles dispostos em um plano, e o
quarto, colocado em ângulos retos em relação a eles. Ligavam-se de tai
modo que as duas misturas bion podiam ser combinadas e a inoculação em
caldo podia ser feita simplesmente inclinando o aparato. Finalmente, um
tubo servia de controle; o caldo contido nele era exposto aos mesmos
efeitos, mas não era inoculado. Tal aparelho chamou-se, por conveniência,
um tubo Sy-Clos. (ver ilustração 2).
Em 18 de setembro, uma pequeníssima quantidade de bions foram
produzidos no tubo Sy-Clos. Não se colocou leite na mistura. Uma vez que
a gejatina usada era incolor, acrescentou-se um traço de azul de metileno,
de modo que a mistura assumiu uma cor que indicava a presença da
gelatina. Todo o sistema foi na autoclave a 130° C por uma hora (o que
corresponde a três esterilizações sucessivas), e fez-se a mistura inclinando
o aparato. A mistura tomou uma coloração opalescente esverdeada,
lembrando o absinto. A inoculação foi feita dia 20. Dia 21, como nas
experiências anteriores, surgiu uma turgidez com um modelo ondulado e de
homogeneidade muito acentuada. Dia 22, aqueceu-se o aparato,
conduzindo algumas gotas através do tubo capilar e conseqüentemente
inoculando um meio nutriente de agar e uma gelatina - meio nutriente de
clara de ovo com o caldo. Ambas inoculações resultaram em culturas.
Ao microscópio, observaram-se tanto inúmeros bions ovóides
ligados em cadeia quanto alguns tubos de lecitina rígidos, dentro dos quais
os coques estavam em processo de formação. A presença dessa formação
alveolar de lecitina devia-se ao fato de que se inoculou grande número
desses tubos onde os organismos estavam entremeados.

141
Os preparos microscópicos manchados de fucsina desse caldo
particularmente característico foram deixados de lado.

■ nj ■


/
/
§§ = .

=5
1
w
abcd
a. Mistura I
b. Mistura II 2.« TuboSy-Clos
c. Caldo a ser inoculado
d. Caldo de controle *

* Instruções para usar o tubo Sy-Clos: Ponha a mistura de lecitina no tubo


a. Ponha a mistura KCL-Ringer-carvão, etc, no tubo b. (use quantidades
mínimas). Insira o tampão no tubo d, de modo que ele feche a conecção
com o tubo c, isso evita que inoculações prematuras ocorram durante a
autoclave ou durante as primeira manipulações. Todo o sistema vai na
autoclave.

Em seguida, o conteúdo de a e b são misturados em a ou b. (É melhor fazê-


lo em a). Para provocar a inoculação, introduz-se uma gota da mistura
pronta no tubo c, que até aqui ficou vazio, e retira-se suavemente o tampão
de d, de modo que ele descubra a abertura de conecção do tubo e permita
que o caldo se transfira de d para c. Uma pequena quantidade de caldo fica
para trás em d para fins de controle. Depois pode-se usar uma bucha de lã
de algodão em d para evitar a infecção do caldo de controle pelo ar nos
outros tubos.

Segunda Série
Experiência de “carvão incandescente”

Primeira experiência

Em 19 de agosto, preparou-se a seguinte mistura em um tubo de


ensaio: mais ou menos 10cc de 0,1 N KCL, uma gota de sangue
gelatinizado estéril, mais ou menos 1 centigrama de coque finamente

142
pulverizado aquecido até a incandescência. (O resto do sangue gelatinizado
ainda está hoje, 23 de setembro, completamente estéril).
Em 28 de agosto, um caldo foi inoculado com essa mistura. O
“resultado foi positivo”, atingiu-se uma turgidez uniforme.
Em 29 de agosto, realizou-se uma inoculação do caldo para a
gelatina. Atingiu-se “resultado positivo”. Obteve-se uma cultura cinzenta
similar à dos bions.
No mesmo dia, o tubo que continha a mistura básica foi fervido
duas vezes a 100° C, por meia hora cada vez, no ar ambiente. Fizeram-se
inoculações desses para o caldo. “Resultado Positivo".
Em 8 de setembro, o tubo que continha a solução básica foi na
autoclave por meia hora a 134° C. Faz-se uma inoculação no caldo,
obtendo-se um resultado positivo. Em 4 de setembro, fizeram-se
inoculações do caldo para a gelatina - com resultados positivos.
Em 5 de setembro, o tubo contendo a solução básica foi de novo
autoclavado por três quartos de hora, a 130° C, e fizeram-se inoculações
dele no caldo. A fim de evitar qualquer infecção, a inoculação foi realizada
da seguinte maneira: O líquido estéril foi colocado em um conta-gotas
estéril que foi disposto com uma tampa no tubo que continha o caldo a ser
inoculado. A real inoculação fez-se automaticamente como resultado do
aumento da pressão na autoclave. Ela não foi tocada de modo nenhum, o
ar foi excluído completamente e a temperatura ajustada a um nível que é
aceito como letal para todos os microorganismos.
Em 6 de setembro, processaram-se inoculações desse caldo para
gelatina. O resultado foi positivo.

Segunda e Terceira Experiências

Em 27 e 28 de setembro, repetiu-se a mesma experiência duas


vezes, dessa vez, no entanto, substituindo o sangue gelatinado por caldo
estéril, e variando as proporções de caldo de KCL cada vez.
Como a primeira, essas duas experiências também produziram
resultados positivos, apesar de todas as tentativas para esterilizar os tubos
que continham solução básica.

Terceira Série

Experiência com Cloreto de Potássio Puro (KCL)

Se a hipótese de Pasteur for correta, então das três substâncias


utilizadas nas séries de experiências precedentes, nem o carvão, que foi
aquecido até um vermelho vivo, a clara, nem o caldo, cuja esterilidade foi
assegurada pela clareza do caldo nos tubos de ensaio de controle, podem
estar sob suspeita de serem não estéreis. A única possibilidade que restava
era suspeitar do KCL, mas esse foi obtido de forma pura, em cristais, da
firma Poulenc, e foi dissolvido pela fervura contínua por hora e meia a 100°
C.
A terceira série de experiências foi realizada com o propósito de
clarificar o papel do KCL nas experiências precedentes.
143
Em 31 de agosto, um frasco contendo essa solução três vezes
fervida, foi passado na autoclave e esterilizado como de costume. Inoculou-
se imediatamente um caldo com a solução. Obteve-se resultado positivo.
Uma inoculação feita desse caldo, em 2 de setembro, em agar, produziu
uma cultura muito forte. Em 3 de setembro, o mesmo frasco de KCL (um
frasco conta-gotas que permite inoculação automática) foi na autoclave
novamente por um quarto de hora a 130° C. Fez-se inoculações, com
resultado positivo.
Em 5 de setembro, o mesmo frasco foi de novo na autoclave. Ao
mesmo tempo, o KCL do frasco foi posto em um conta-gotas esterilizado
colocado no topo do tubo de caldo. A inoculação foi provocada pela pressão
de vapor dentro da autoclave - isto é, o ar foi excluído - e a uma
temperatura de 130° C. Atingiu-se resultado positivo. Esse caldo foi
inoculado em agar em 8 de setembro e deu uma cultura cinza muito boa,
que admitidamente, levou mais tempo para desenvolver-se que as
anteriores.
Em 8 de setembro, o KCL do mesmo frasco foi de novo na
autoclave e inoculado diretamente no agar. Após 4 dias, atingiu-se um
resultado positivo, na forma de uma cultura cinza claro, quase branca.
Outras inoculações sobre outra gelatina, em 11 de setembro, novamente
produziu um resultado positivo; a saber, uma cultura cinza esbranquiçada
muito distinta. Depois disso, fiz dois “Tubos-H”, como o aparato foi
chamado, que consiste essencialmente de dois tubos de ensaio, a abertura
de um sendo fundida na parede do outro, mais ou menos no meio. A
metade inferior do tubo corre paralela ao tubo vertical. O aparato
assemelha-se a um “agá” minúsculo. A única abertura, que se situa na
seção superior, é selada com uma rolha de borracha, ou pode ser fundida
em fogo, ou ainda, pode ser lacrada hermeticamente. Um tubo fino,
protuberante, ligado ao lado do tubo vertical é fechado, e selado por meio
de fusão numa chama, que permite a posterior amostragem do líquido não
tocado (ver ilustração 3). Em 8 de setembro, o KCL foi tirado do frasco,
que tinha sido esterilizado pela quinta vez, e colocado na seção vertical do
aparato. Colocou-se caldo estéril na seção angular. O aparelho foi colocado
na autoclave a 130° C durante uma hora. Ao ser removido, foi simplesmente
inclinado, de modo que o caldo escorresse e entrasse em contato com a
pequena quantidade de KCL no fundo do outro tubo, o caldo foi assim
inoculado. Ao mesmo tempo, um pouco de caldo permaneceu no seu lugar
como controle, na seção angular do tubo.

a. Primeira fase: KCL


Segunda fase: KCL + brodo
b. Primeira fase: brodo
Segunda fase: brodo de controle

144
Essa experiência, que se realizou sob condições de esterilidade
inatacadas, coma relação às substâncias e ao aparato, produziu um
resultado positivo. A partir do segundo dia, o caldo no tubo vertical,
comparado com o de controle, exibia uma turgidez, admitidamente, muito
fraca, mas bem perceptível. Outras inoculações em gelatina, que foram
feitas no dia 14, produziram, nos primeiros dias, uma cultura inicialmente
muito fraca, que não possuía quaisquer propriedades cromogênicas, isto é,
era tão transparente quanto o meio nutriente. Entretanto, após mais alguns
dias, naqueles lugares em que as gotas de caldo foram colocadas, formou-
se uma cultura cinza, que parecia ser favoravelmente influenciada por uma
temperatura mais baixa do que a da incubadeira. Duas amostras
microscópicas, tiradas da porção fraca e cremosa da cultura, revelou que os
organismos desenvolvidos eram absolutamente idênticos. A tendência para
a formação de cadeias era mais evidente nos organismos posteriormente
desenvolvidos.
Em 9 de setembro, realizou-se uma experiência idêntica, com o
segundo tubo-H; e novamente houve resultado positivo. Enquanto que a
turgidez do caldo original era fracamente detectável, uma inoculação em
gelatina feita onze dias mais tarde, rapidamente produziu uma cultura
transparente similar à primeira, mas espessa e forte. Ao microscópico
também, continha os mesmos organismos.
Resta mencionar que várias experiências nos quais KCL, aquecido
à incandescência, foi acrescentado ao caldo, também produziram
resultados muito positivos. Por outro lado, uma experiência envolvendo KCL
que se tinha fundido durante o aquecimento, produziu apenas um resultado
dúbio.

Conclusões:

Essa última série de testes permite apenas duas interpretações:


“Interpretação segundo a opinião de PasteurKCL deve conter germes que
não podem ser mortos mesmo sob a aplicação repetida de meios
esterilizantes comuns. Restaria a ser explicado apenas como esses germes
podem ser invisíveis no KCL puro e aparecerem no preciso momento em
que o KCL é misturado. De qualquer jeito, a descoberta desses germes é
um assunto de algum interesse.
Interpretação segundo a teoria de Reich da síntese": O caldo contém todas
as substâncias que são usadas para as miçturas nas experiências bion, em
particular os antagonistas, lecitina-colesterina e potássio-cálcio. É assim
concebível que um excesso de potássio no caldo possa atingir diretamente
o mesmo efeito que foi observado na primeira mistura, seja porque isso
capacite as substâncias a se organizarem, ou porque a vitalidade que tais
substâncias perderam, como resultado da esterilização é restaurada nelas.
Desde que a esterilização do KCL só pode ser testada introduzindo-o no
caldo, não há como decidir qual dessas duas opiniões está correta.
Nice, 29 de setembro de 1947.

145
No experimento conduzido em Oslo (1936-
1937), Reich aplica ao mundo biologico microscópico
sua formula do orgasmo: tensão-carga-descarga-
relaxamento.

A passagem da matéria inorgânica para a


orgânica se mostra na 'ente do microscópio,
confirmando nos trabalhos por ele desenvolvidos a
direta relação entre físico e psíquico, mente e corpo.

Uma extraordinária ilustração do método de


pesquisa e uma fascinante aventura sobre o mistério da
vida, essa leitura a indispensável para a compreensão
das pesquisas reichianas sobre o câncer e a biofísica
da energia orgone.

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