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O EXPERIMENTO
__ w
BiONS
Sobre a origem da vida
Wilhelm Reich
O EXPERIMENTO BIONS
Traduzido de:
Mary Higgins
Chester M. Raphael, M.D.
Nota do Curador
Prefácio...................................................................................... 02
1. A Fórmula Tensão-Carga.................................................... 14
7. A interpretação dialético-materialista................................. 94
8. Um erro na discussão da
“geração espontânea”.................................................... ...... 106
3
aproveitar essa oportunidade para agradecer particularmente a todos que
tornaram possível essa empreitada a despeito de todas as dificuldades.
Sobretudo, devo agradecer ao meu amigo Sigurd Hoel, cujos conselhos
freqüentemente evitaram que eu perdesse a fé em minha capacidade de
realizar o projeto. Agradeço também ao nosso amigo Dr. Odd
Havrevold, que organizou o laboratório em que conduzimos as experiências,
providenciou a assistência prática em geral e solicitou contribuições.
Acrescento ainda meus agradecimentos àqueles que me ajudaram a
conduzir os trabalhos bacteriológicos, cinefotomicrográficos e físico-
químicos e que, por sua iniciativa e impulso, ajudaram-me a superar muitos
obstáculos. Muito mais erros teriam sido cometidos sem o ativo apoio
material dado ao Instituto por meus colegas no campo de análise do
caráter, os quais me ajudaram a organizar e manter as operações: a Dra.
Lotte Liebeck; o Dr. Nie. Hoel; o Dr. Ola Raknes; o Dr. Tage Philipson; o Dr.
Leunbach, Ellen Siersted.
Entretanto, esses especialistas não puderam empregar grandes
somas em dinheiro e somente os seus esforços não teriam sido suficientes
(somente o equipamento para o laboratório biológico, custou
aproximadamente 60.000 coroas norueguesas. Atualmente, está custando
mais ou menos 2.000 coroas norueguesas por mês para operar o
laboratório). Meu trabalho foi substancialmente auxiliado pela grande
contribuição do Sr. Lars Christensen (Oslo), do Sr. Rolf Stenersen (Oslo), e
de Constance Tracey (Londres).
O projeto global foi grandemente assistido pelo corpo
administrativo e, em particular, por minha secretária Gertrud Brandt, que
eficiente e incansavelmente manteve a ordem em minha extensa lista de
atividades. O chefe de nossa editora, Herry Trõll supervisionou a produção
do livro com grande cuidado e diligência.
O Instituto foi fundado por noruegueses. A extraordinária
hospitalidade do povo norueguês propiciou um fértil pano de fundo e a base
para meu trabalho, responsabilidade integral pelo que é meu; Noruega é um
país que tem sido capaz, de um modo geral, de manter a indisposição
emocional do mundo em maus lençóis.
O microscópio
4
3750 como resultado dos tubos binoculares inclinados que aumentam a
ampliação normal em 50%. Quando uma lente apocromática Leitz especialj
de 150 vezes é usada em combinação com um compensador ocular (de 25
vezes) e o tubo binocular inclinado, é possível realizar uma ampliação de
até 4500 vezes, porém com muita dificuldade. Exames de campos escuros
são executados em aproximadamente 300 vezes para verificar o movimento
e em 1200 vezes para avaliar a estrutura áspera e o tipo de movimento.
Além disso, as observações foram conduzidas em aproximadamente 3000
vezes para determinar a estrutura fina do organismo e as vibrações no
interior de sua massa corpórea visível somente nessa ampliação: Para
avaliar os movimentos internos com segurança, um condensador de campo
escuro, fabricado pelo Reichert de Viena, também foi usado. Com esse
aparato é possível realizar observações em um campo escuro em
aproximadamente 3000 vezes.
Esta manipulação é muito complicada e requer exaustiva
preparação. Muitos processos característicos só podiam ser observados
usando o microscópio Reichert “Z". Este microscópio revelou fenômenos
que certamente não teriam sido visíveis usando um instrumento de tubo
reto único ou mesmo um com tubos binoculares não inclinados. Realmente,
não é possível verificar as descobertas, a não ser que se usem estes
mesmos aparelhos ópticos.
Aparato cinematográfico
5
aceleração 4 volts superior ao normal 4 imagens por segundo)
8 2 “ )
16 “ “ )
32 “ cada 2 e seg.)
48 “ cada 3 e seg.)
64 cada 4 e seg.)
80 “ cada 5 e seg.)
96 “ cada 6 e seg.)
6
sobre uma lâmina de projeção. Este aparelho estava ligado a um “pantostat"
fabricado pela Siemens (Berlim), permitindo mensurações exatas e
medições de correntes até 0,2 mA.
Mais tarde, todos os filmes foram feitos com o auxílio de um
adaptador óptico que permitia observações enquanto a filmagem estava
sendo realizada. A câmera podia ser montada tanto verticalmente sobre a
ocular quanto horizontalmente. No verão de 1937, tinha preparado um filme
completo da preparação 8 (desenvolvimento de protozoários) e outro 6
(experiência bions); e um outro filme estava quase concluído: preparações
1, 2 e 3 (estágios preliminares da vida representados pela inchação da
terra, carvão e limalha de ferro). O laboratório possuía também todos os
equipamentos necessários para desenvolver o filme.
O potencial elétrico era medido por um osciloscópio que era ligado
a um amplificador de corrente direta com tubo triplo. Tal aparelho fora
fabricado pela fábrica de Instrumento Universitário, em Lund (fig. 10 e 11).
Um laboratório completo com autoclaves (esterilização a 120°C) e
esterilização a seco (esterilização até 190°C) foi organizado para
investigações bacteriológicas.
Wilhelm Reich
Outubro 1937.
7
• O grande microscópio Reichert, para ampliação de até 4500X.
2. Aparelho para pesquisa microelétrica.
9
Ssa.
4. Os dois aparelhos reles para gravações a intervalos de tempo.
10
Relais
Termostato Leva di commutazione
per una o due immagini jn azionPeo ^'wolgimento
,1' Relaisottico
•• A (sotto lapiastra
'* ’ d i monta"io)
ISSÉlPiJ I /
Accensione
programmata
del motore
Tasto di disinnesto
Contatore
•Valvola
Nastro
d'allacciamento
Batteria 12 V
Contatto fro,
Alimentazione a
corrente continua Contatto
Accensione 25 sec Contatto posteriore accensione
; • j-
Batteria Accensione
Magnete
Coperchio delia cassa batteria Relais relais
12
11. Osciloscópio, aparelho para a rebobinação com eletrodo protegido não
polarizável.
13
1. A FÓRMULA TENSÄO-CARGA
14
da expansão, seguindo adiante com minha teoria, notei que a distância
entre partículas é aumentada pelo processo da inchação, processo que
deve estar intimamente relacionado com o aumento de potencial elétrico.
Na contração, a distância entre as partículas diminui como o resultado do
encolhimento; assim, os tecidos são mais resistentes e há uma queda no
potencial elétrico; i.e., ocorre uma descarga. Logicamente, seria possível
experimentar diretamente o potencial elétrico físico, na forma de uma
sensação vegetativa de excitação.
Além disso, cerca de três anos atrás, durante meu trabalho clínico
sobre neuróticos muscularmente hipertônicos, descobri o reflexo orgástico.
Depois que a hipertonicidade foi eliminada, as contrações vegetativas
isoladas, em várias partes do corpo, combinaram-se de modo a
proporcionar um único reflexo total que eu chamei “reflexo orgástico”. Este é
o mesmo fenômeno que a convulsão vegetativa automática que acontece
no clímax da gratificação sexual. Só pude concluir que o sistema nervoso
autônomo se expande e se dilata quando o prazer é experimentado e se
contrai no caso do medo. A unidade de função do organismo inteiro me
parecia decisiva aqui; i.e., a ameba continua existir no metazoário na forma
da capacidade de contração e expansão do aparelho vegetativo.
De acordo com essa visão, os nervos do organismo não mais
pareciam ser geradores dos impulsos, mas ao contrário, eram
simplesmente os caminhos de transmissão ordenada para os impulsos
vegetativos do corpo inteiro. Na literatura, descobri abundante evidência
para a .visão de que os gânglios do sistema nervoso vegetativo funcionam
como baterias armazenadoras e que os músculos atuam como aparelhos
descarregadores que produzem movimento. O fluído do corpo, que no caso
dos seres humanos atingem cerca de 80 por cento do peso total do corpo,
devem ser considerado como o mais importante meio de propagação das
excitações elétricas.
As funções básicas das criaturas vivas - quer dizer, expansão e
contração - dominam toda a vida, mas elas mesmas são compostas de uma
complicada combinação de funções físicas individuais. Mais adiante,
entrarei no detalhe sobre o fato revelado pela química coloidal. Nesse
ponto, desejo restringir-me a uma breve descrição de um sistema de
uniformidade integral, não apenas no domínio da vida orgânica, mas
também entre funções orgânicas e inorgânicas. Como já expus, essas
foram apenas estruturas que surgiram de uma ampla série de estudos
clínicos e experimentais.
A direção biológica em direção ao mundo" representada na
expansão, e a direção oposta “fuga do mundo” retirada para dentro de si
mesmo, representada na contração, pareciam-me ter um modelo primitivo
no ato mecânico da expansão de uma bexiga de porco. Se uma bexiga de
porco for enchida com ar se dilata mecanicamente. A superfície torna-se
tensa e esforça-se por retornar ao seu estado natural; o processo é similar
àquele de uma mola esticada. A pressão interna exercida pelo ar impede a
restauração do estado original. Há então três possibilidades:
15
a) A pressão interna é menor que a tensão da superfície, assim a
bexiga pode ser enchida ainda mais sem estourar.
b) A pressão e igual à tensão da superfície, assim a bexiga
assume uma forma esférica estável.
c) A pressão interna pode finalmente exceder a tensão da
superfície, de modo que as bexiga estoura.
16
A seguinte tabela é uma comparação que preparei há 4 anos:
17
2- BIONS COMO OS ESTÁGIOS PRELIMINARES DA VIDA
18
corrente plasmática como sendo o processo de tensão-carga que eu estava
procurando. À guisa de experiência, passei uma corrente de
aproximadamente 0,5 miliamperes através da cultura e vi, comGRhumbler e
Hartmann tinham descrito, que a corrente plasmática se acelerava quando
uma corrente fraca era aplicada. As amebas se moviam mais rapidamente e
o movimento do endòplasma granuloso dentro da célula, quando observado
a 1500x, tornava-se extremamente vigoroso. Por outro lado, as paramécias
pareciam tornar-se altamente desorganizadas. Sua movimentação rápida e
constante cessavam e elas começaram a vagar em círculos; era como se
cada aplicação de corrente tivesse um súbito efeito “traumatizante”. Após a
corrente ter sido aplicada ininterruptamente por mais ou menos três
minutos, todo o movimento cessava, com exceção das amebas. Quando eu
aumentava acorrente para cerca de 1,5mA, as amebas enrolavam-se como
bolas e também paravam de mover-se.
Estas observações pareciam-me importantes, mas eu era ainda
incapaz de estabelecer uma relação entre minha hipótese e a mudança na
corrente plasmática cansadas pela aplicação da corrente. No entanto, havia
uma outra maneira para conferir a fórmula de tensão-carga.
Era claro que o tecido orgânico vivo assimilava fluido e, como
inchava, as membranas eram mecanicamente esticadas. A chamada
turgidez dos tecidos - quer dizer, o superenchimento dos vasos sangüíneos
ou hiperemia - consiste, em princípio, de nada mais que aumento da
entrada de fluido (sangue, linfa, água). Por conseguinte, concentrei meus
estudos nas “mudanças verificadas ao longo das extremidades das fibras
vegetais".
As fibras verdes luminescentes perdiam sua cor no curso de um a
dois dias e o líquido continha um grande número de cloroplastos verdes.
Porém a medida que as fibras vegetais perdiam sua cor e se
decompunham, ocorriam estranhas transformações. A anteriormente
estriada estrutura das células ainda intacta dava lugar à configuração
vesicular. Ao mesmo tempo, as protuberâncias hemisféricas ou, as vezes,
faixas irregulares formavam-se em certos pontos ao longo das extremidades
das fibras.
As fibras, obviamente, retinham a água e intumesciam-se e os
cloroplastos desprendiam-se; do mesmo modo, a estrutura celular do tecido
começava a dividir-se em vesículas. A estrutura vesicular variava. Em
alguns lugares era irregular, sem um limite claro e, em outros, uma estrutura
completamente regular com uma borda que destacava-se claramente
quando o micrômetro do microscópio era girado. Onde havia bordas
claramente definidas, o objeto dava a impressão de ter sido “modelado”.
Quanto mais se cingia a borda, mais a estrutura parecia cheia e esticada.
As vesículas iam se destacando gradativamente das fibras e flutuavam no
anteriormente claro líquido. As fibras vegetais, então, pareciam galhos de
árvores despojados de suas folhas (Figs. 12,13 e 14). O líquido enchia-se
de pedaços móveis de vesículas sem qualquer limite definido. Sua estrutura
era idêntica à das vesículas em que as extremidades das fibras vegetais
tinham-se desintegrado.
19
Observei a transformação que se operou tanto na estrutura
vesicular auanto na formação de bordas em ,,umM objeto durante um período
de auatro horas Um objeto vesicdar de estrutura irregular, sem limites,
formou-se na extremidade de um fragmento de planta. O objeto foi inchando
aradativamente e desprendeu-se do pedaço de planta. Margens duplas
refratantes apareceram nas bordas. A estrutura vesicular tornou-se mais
regular e homogênea, e as vesículas refrataram a luz com grande contraste.
Em sua estrutura, o objeto quase não se distinguia mais de uma ameba
comum. Assumiu uma forma oval e alongada, tornando-se crescentemente
esticado, ao passo que a margem tornava-se mais completa e distinta. Em
seu interior, as vesículas estavam móveis, porém a “coisa” como um todo
tinha assumido uma "forma”. O objeto desapareceu quando acrescentei
água à preparação.
Uma ameba que se movia vagarosamente foi colhida próxima à
beira do campo, onde se secou e assumiu uma forma esférica. Quando isto
se deu, ela ficou indistingüível dos diversos agrupamentos de vesículas que
a circundavam.
Uma observação posterior apontou na mesma direção. Formações
que exibiam tanto a estrutura vesicular descrita acima quanto a margem
bem definida podiam ser vistas aderindo à fibra por meio de uma haste.
Ocasionalmente, tal objeto podia ser observado fazendo violentas tentativas
para soltar-se. Ele se agitava para fora do substrato, mas era puxado de
volta pela haste linear. E importante . notar aqui que pura e simplesmente
esta motilidade distingue-a das formas sem vida, enquanto o aspecto e a
estrutura parecem ser as mesmas. A maioria das formas vesiculosas que se
movem rapidamente, como se flutuassem, no campo de visão do
observador, surgem como sendo do mesmo tipo.
20
Creio que é melhor deixar minhas experiências e observações
posteriores falarem por si mesmas.
21
14. Fibra de capim após desprender-se da vesícula. Filme da cultura n° 8,
ampliação: 700x.
semi-escuro, 300x.
2. A Transformação do Tecido do Capim e do Musgo em Formas de
Vida Animal
23
tornado completamente esticado, a boca ficou totalmente aberta e as
vesículas independentes no fluído foram vistas movendo-se rapidamonte
em direção à boca aberta e, então, atravessando e entrando no objeto.
Àdós dois ou três segundos, a boca fechou-se, o organismo contraiu-se,
reassumindo a forma esférica e as vesículas em seu interior começaram a
mover-se vigorosamente; porém eu não consegui observar este movimento
detalhadamente. O objeto alongado não nadou em direção à vesícula no
líquido, mas, ao contrário, permaneceu estacionado e as vesículas
independentes fluíram para dentro de sua “boca”. Este pode ter sido um
fenômeno elétrico; os animálculos e também as vesículas provaram ser
negativamente carregados. As fotografias aqui ilustram vários estágios do
desenvolvimento desses organismos talvez identificáveis. Formas esféricas
ou alongadas podem ser observadas. Do mesmo modo, vemos os mesmos
objetos pendurados pelos talos nas fibras vegetais. Algumas dessas fibras
vegetais desfizeram-se claramente em uma estrutura granular e vesicular
(Figs. 17 e 25)
Considerei particularmente a mudança rítmica da forma esférica
para alongada. Sem hesitação, pode-se interpretar o estiramento como
resultado da inchação, durante a qual, a superfície se torna carregada. Esta
é a direção “Para fora de si, em direção no mundo”. A assimilação de fluido
e vesículas através da boca aberta provavelmente coloca em ação um
processo que conduz de volta à. forma esférica por meio de contração. Tal
contração pode, provavelmente, ser considerada como um processo de
descarga, do mesmo modo que os músculos se contraem quando
estimulados eletricamente. Se uma corrente fraca é passada através da
cultura, a contração se dá prematuramente, antes que o alongamento seja
completado.
Ainda que a relação detalhada não esteja tão clara, pode-se dizer
que: Para que se pudesse seguir adiante, foi necessário assumir que o que
eu estava observando diretamente era o processo
24
17. Estruturas marginais vesiculares. Filme da cultura n° 8,
ampliação: 1200x
27
24. Org-animálculo em forma 25. O mesmo organismo, esticado.
ovóide, 1500x.
29
27. Musgo desintegrado em vesícula, campo escuro, cerca de 800 x.
32
4. Cristais de Terra e Bions de Terra Vesiculares com Motilidade
33
33. Gristal nos estágios preliminares da estruturação vesicular. Cultura 1
com seis semanas de idade. 1000x.
35
Queria fazer as vesículas, formadas durante a desintegração das
várias substâncias, aglutinarem-se artificialmente usando algum agente
adequado. Por conseguinte, acrescentei um pouco de gelatina vermelha
bem diluída aos preparados de capim e terra que se encontravam em
adiantado estágio de decomposição. “Estruturas amebóides, que
anteriormente não apareciam e que não se tinham formado nos preparados
sem gelatina”, foram observados nos vários preparados após apenas
algumas horas; estavam essas estruturas completamente desenvolvidas
após um ou dois dias. Estas estruturas, a que chamei de “pseudo-amebas”,
rastejaram-se em “várias” direções nas culturas com movimentos
espasmódicos”. Elas formavam grupamento de vesículas, com ocasionais
hastes isoladas que se salientavam de suas beiradas como espinhos
móveis. Os movimentos espasmódicos não eram tão organicamente
fluentes como as correntes plasmáticas nas genuínas amebas que fluem. A
uma ampliação de 2000x, não apenas a locomoção, mas também o
movimento interno das estruturas e os movimentos de encurvar-se e
estender-se podiam ser observados. “Completamente de acordo com minha
suposição, a gelatina tinha, dessa maneira, combinado várias vesículas e
aglutinado-as em uma “colônia”. Esta colônia de vesículas agora movia-se
como um “todo coeso". O problema seguinte consistia em estabelecer a
origem de tais movimentos. A corrente plasmática, observada em muitas
amebas, não era vista nessas cultura (Fig. 35).
A figura 34 mostra um cristal vesicular completamente estruturado,
ligado por uma haste a um segundo cristal, do qual somente a margem
esquerda encontrava-se estruturada. Quando a microfotografia foi tirada,
este cristal estava rastejando bem vagarosamente na direção da seta e
estava arrastando o cristal incompletamente estruturado atrás de si.
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Parecia lógico objetar que as pseudo-amebas descritas não eram
na verdade o resultado de uma aglutinação artificial, mas o resultado de
“germes de organismos” que se tinham infiltrado na cultura não esterilizada
e descoberta. Com o propósito de testar a exatidão desta objeção, adotei a
prática de esterilizar as culturas por fervuras de quinze a trinta minutos em
recipientes de vidro fechados.
Tal experiência revelou um resultado completamente inesperado:
“as culturas fervidas imediatamente exibiram formas de vida mais ricas e
ativas do que as culturas não fervidas após dias de inchação.
Nas culturas não fervidas, as vesículas livres estavam espalhadas
e a maioria dos cristais estavam desestruturados. A estruturação vesicular
dos cristais processou-se vagarosamente durante um período de várias
semanas. Em contraste, “imediatamente após a fervura”, as culturas
exibiam inumeráveis vesículas, de forma redonda ou irregular em constante
movimento, que se agrupavam estreitamente. O líquido das culturas não
fervidas normalmente permanecia claro e com alguns resíduos
acomodados. O líquido das culturas fervidas tornava-se imediatamente
“coloidalmente opaco”. Exames das características elétricas das culturas
fervidas mostraram que as vesículas eram também partículas
“positivamente carregadas”, as quais migravam para o cátodo quando se
passava uma corrente de 0,5 a 1mA. através delas. Posteriormente, quando
se acrescentou gelatina estéril-diluída, o resultado obtido foi o mesmo que o
descrito anteriormente para a terra não esterilizada: "as vesículas
granulares individuais se combinavam para formar estruturas amebóides
móveis”. O mesmo resultado foi atingindo fervendo uma mistura de terra,
cloreto de potássio e gelatina.
Entretanto, a presença de formas móveis numa cultura bem selada
imediatamente após a fervura criava um problema maior. A possibilidade de
que as culturas fervidas pudessem conter muito mais vida do que as não
fervidas, não estéreis e descobertas, parecia ir contra todas as leis da
esterilização. Seis dias após ferver, uma cultura vedada mostrou que, à
uma ampliação de 1500x , a grande maioria das estruturas exibiam os
movimentos familiares. A cultura também continha algumas projeções e
formações plasmáticas, isto é, áreas que se destacavam brilhantemente e
possuíam três ou quatro projeções em forma de linha ou hastes.
A maioria dos cristais tinham uma estrutura vesicular por toda
parte. Controles exercidos sobre as culturas e terra-água frescas e não
fervidas sempre conduziram ao mesmo resultado: a ausência de estrutura
vesicular e menos vesículas anucleadas. Ao fazer tais observações tive que
aprender a distinguir entre o movimento espontâneo dos torrões de terra
que tinham passado por inchação e o movimento passivo dos torrões de
terra causado pelos objetos móveis que colidiam com eles. Não existia
mais qualquer dúvida de que as culturas fervidas continham formas de vida
muito mais ativas. Da mesma forma, não havia dúvidas de que as culturas
fervidas continham maior número de formas tubulares contráteis e
entumescimentos marginais.
37
Quando usava fortes lentes submergíveis à uma ampliação de
2300 a 3000x, podia observar claramente a “pulsação” em pontos distintos
nas formações contráteis. Objetos sólidos e cristalinos com limites
organizados, aparentemente ligados uns aos outros por uma massa
gelatinosa tentavam “libertar-se”. Em algumas formas, embora somente
com ampliações muito elevadas, fiquei surpreso de notar que havia
estruturas verdes, parecendo brilhantes, movendo-se vigorosamente no
interior da massa gelatinosa. Estas estruturas eram idênticas em todos os
aspectos às hastes verdes, de núcleo brilhante, que flutuavam livremeVite
pelo líquido. Vi-me forçado a concluir que os torrões de terra tinham inchado
e que as “partes individuais” se tinham transformado em vesículas e hastes.
Se essas unidades intumescidas permanecem ou não no interior dos
cristais ou se libertam deles e se movem desimpedidos pelo líquido,
depende de vários fatores ainda desconhecidos. Quando passei a corrente
0,5-1 mA através dessas culturas, observei novamente a formação de
protuberâncias vesiculares, palpitações intensificadas das vesículas,
migrações para o cátodo, etc.
Assim tornou-se crescentemente claro para mim que “quanto mais
vesicular a estrutura de tal cristal, mais ela é móvel”. A fim de prosseguir
meu trabalho, era necessário concluir que as partículas vesiculares eram
unidas de matéria intumescida, altamente carregada eletricamente e
mantidas unidas por uma substância geligorme. Tais partículas moviam-se
por dentro das estruturas amebóides assim como se moveriam
individualmente como vesículas anucleadas em um espaço livre e irrestrito.
Repetidas experiências de controle com terra fervida sempre
conduziam aos mesmos fenômenos, isto é, vesículas móveis, formações
nucleadas e anucleadas, pseudo-amebas e divisões. A fim de apurar se
esses fenômenos não eram talvez atribuíveis a erros de cultura, fiz culturas
de controle de terra não fervida, folhas de árvores e tulipas, etc., deixei-as
“sem lacre”. Uma vez mais “as culturas não-estéreis exibiam muito menos
vesículas que as fervidas e era muito mais difícil para as vesículas móveis
se formarem ou para os marginais desfazerem-se em vesículas do que no
caso das culturas fervidas.
A questão, então, formou-se: se essas formações eram realmente
matérias vivas, exibiriam alguma outras propriedades conhecidas, tais como
divisão celular, em acréscimo à motilidade, contração e expansão?
Comecei a estudar as culturas de terra-cloreto-de-potássio-gelatina
detalhadamente, com esta pergunta na cabeça. Após observar o
mesmíssimo campo e a mesmíssima estrutura sob o microscópio por horas,
logo pudç detectar “divisões das pseudo-amebas”.
Quando me tornei mais familiarizado com as culturas, tornei-me
cada vez mais convencido de que essas eram provavelmente formas vivas
que estavam, por assim dizer, incompletas: por exemplo, os movimentos
das pseudo-amebas eram abruptos, vagarosos, trêmulos e sem qualquer
luxo interior, isto é, “mecânico”. Os objetos deviam, por conseguinte, estar
nos estágios preliminares da vida”. Por minha própria conveniência, chamei
38
os “bions". Seriam os organismos vivos completos capazes de se
desenvolverem a partir de bions?
Fiquei contente de observar que, em adição à divisão, eles
também exibiam a função de “comer”. Espreitei uma colônia de vesículas
pseudo-amebóides do tipo descrito quando ingeria livremente vesículas
individuais que nadavam. Tive que desfazer-me do preconceito que é
erradamente associado à palavra “comer”. Certamente que é um erro usar
expressões antropomórficas quando se descreve formações protozoárias.
Quando falamos de “comer”, automaticamente pensamos na criatura viva
racional “ingerindo” alimento de seu ambiente para manter-se vivo”. Tive
que livrar-me deste conceito falso antes de poder incluir o fenômeno de
“comer” ao lado de outras observações de um modo que fizesse sentido.
Parecia irrefutável que “as células que eu estava observando eram
compostas de vesículas e haste”, do mesmo modo que um corpo de um
organismo multicelular é composto de células individuais. Este conceito
chocava-se com a visão de que as células são as unidades elementares da
matéria viva, pois significaria que não as células, mas as vesículas são as
unidades biológicas e que as células são estruturas já complexas. Como
mostrou a reação elétrica, essas vesículas e hastes eram estruturas
altamente carregadas e tensamente distendidas. Parecia lógico concluir que
uma colônia de vesículas “come” atraindo para si as vesículas individuais
que nadam livremente eletricamente carregadas, acrescentando-se à
“colônia em desenvolvimento". Isto é exatamente como protozoários
contráteis se comportam.
39
Esta foi uma suposição que se apresentou a si mesma. Eu estaria
igualmente pronto a aceitar qualquer outra suposição plausível. A este
estágio do trabalho, era. dq maior importância refinar e controlar ás
experiências. “Eu estava continuamente diante da questão de copio era
possível para substâncias fervidas conterem mais vida do que as não-
fervidas e não estéreis”. Originalmente, pensei que o movimento de
palpitação rápido das vesículas fervidas fosse um fenômeno de calor,
porém várias experiências em que uma corrente elétrica era aplicada
demonstraram que este movimento era elétrico em seu caráter, porque a
palpitação aumentava quando a corrente era aplicada. A esta altura, eu não
queria considerar o problema de se estas eram bactérias verdadeiras ou se
outros tipos de estruturas “se tinham formado no processo de fervura”. Se
tivesse sido possível criar pseudo-amebàs de terra fervida, gelatina e
cloreto de potássio fervidos, seria também possível conduzir uma
experiência de controle posterior com outras substâncias. Eu sentia que
devia haver substâncias que eliminariam o caráter “inacabado” das
formações.
Mais tarde, mudei para autoclavagem da terra em cloreto de
potássio a 120°C, com um resultado muito melhor que o alcançado com
carvão a 180°C. A autoclavagem forneceu apenas uns poucos cristais
móveis e colônias de vesículas. Voltarei a isto quando descrever as
experiências com culturas.
As observações até aqui descritas confirmam fartamente, a meu
ver, a exatidão biológica da fórmula tensão-carga. “A inchação vesicular
representava a tensão mecânica, enquanto que o comportamento elétrico
positivo ou negativo das vesículas individuais representava a carga”.
Entretanto, vastas áreas do problema ainda estavam obscuras.
40
Ilustração do “ato de comer”; desenhado a partir de observação de
substância viva.
.oß
.06
41
O movimento relacionado com este crescimento e ramificação era
fundamentalmente diferente daquele das pseudo-amebas.
“Então, acrescentei clara de ovo ao preparado de terra-lecitina”. O
resultado superou todas as expectativas. Após alguns minutos, células
redondas, que possuíam um núcleo escuro e que se subdividiam em rápida
proliferação, formavam-se nos preparados não fervidos. As células se
dividiam tanto pela constrição no meio, no curso da qual os núcleos
também se dividiam, quanto pelo brotar de uma célula menor que a seguir
se separava da maior. Também se observavam claramente movimentos
separatíveis em certos pontos. O que estou tentando descrever
sucintamente aqui, foi na verdade revelado após longos períodos de
exaustiva observação. Da mesma maneira como aprendi a observar e
acompanhar os fenômenos, eles adquiriam um padrão e ganhei confiança
para identificá-los. Quando acrescentava clara de ovo, formavam-se
células. “Não se formavam células quando não se acrescentavam lecitina e
colesterina. Neste caso, o preparado continha apenas aglomerado de clara
floculosa tal como se observa quando se coloca clara de ovo sem ferver sob
o microscópio. Também a lecitina, apenas acrescida de água, deixava de
produzir quaisquer células móbeis”.
Também esses preparados de clara de ovo misturado mostram
que os preparados não fervidos formavam substâncias móveis mais
vagarosamente e eram menos ricamente variados que os preparados
fervidos. Os preparados não fervidos eram muito menos túrgidos e
continham mais sedimento. As partículas coloidais que se formavam após
ferver ficavam, nesse caso, em suspensão devido á sua carga elétrica,
segundo todos os conhecimentos anteriores. Depois de deixar os
preparados repousarem por várias semanas, notei um enorme crescimento
no número de formações individuais. Após seis ou oito semanas, o líquido
começou novamente a clarear e as partículas afundavam, formando uma
camada grossa e esbranquiçada. Os exames ao microscópio revelaram
que, quando o colóide saía da suspensão, a motilidade e a reação elétrica
também cessavam. As estruturas estavam “mortas”. Deixe-me recapitular
sucintamente:
“A lecitina com o cloreto de potássio sozinho não produz células,
mas apenas tubos de forma regular de vários tipos. Também não há
movimento orgânico, mas simplesmente um crescimento e uma
ramificação, aparentemente causados pela absorção de fluido. Clara de ovo
a que somente KCL é acrescentado não resulta em qualquer formação
celular. Entretanto, clara de ovo mais lecitina mais KCL mais colesterina dá
origem a formação celular”.
Tornei a experiência ainda mais complexa acrescentando gelatina.
Assirri, obtive uma mistura de clara de ovo, terra, lecitina, colesterina,
gelatina e cloreto de potássio. Quando a gelatina era acrescentada,
estruturas vesiculares plasmoidais que se moviam vigorosamente, erám
visíveis imediatamente após a fervura. Em contraste com as pseudo-
amebas do preparado de terra descrito anteriormente, tais objetos tinham
ma estrutura muito mais fina” e exibiam “movimento muito mais rítmico”,
42
não mais espasmódico e mecânico, porém suave e orgânico (Fig. 41). As
formas amebóides que obtive desse modo tornaram-se mais complexas
quanto maior o tempo de fervura. Elas eram dotadas de muito mais funções
do que os preparados de terra fervida. Enquanto que as pseudo-amebas no
preparado de terra eram capazes de movimentos, as partículas internas das
estruturas apresentavam um pouco ou nenhum movimento, e apenas rara e
fracamente mostravam fluxo, curvatura e distensão. As formas amebóides
nos preparados mistos de clara exibiam um movimento interno de corrente,
encurvamento, estiramento e locomoção. Em ambos estavam presentes as
funções de divisão e "comer” (Figs. 42 e 43).
As formas amebóides nos preparados mistos de clara de ovo
tinham uma estrutura vesicular muito mais fina. Além disso, após alguns
dias era possível observar formações que possuíam um plasma homogêneo
e um movimento de fluir pseudopodal. “Eram também visíveis: contração,
expansão, divisão, brotação, comer e locomoção”. As questões do
“metabolismo, da culturabilidade, do tingimènto e das características
bacteriológicas” das estruturas que tinham surgido permaneciam ainda sem
resposta.
A natureza, estrutura e atividade biológicas das formas móveis
podem ser alteradas pelo uso de substâncias diferentes ou pelo acréscimo
ou omissão de uma ou outra substância. Este fato deve ser considerado
como uma prova importante da possibilidade de vida se formar a partir de
matéria inanimada. As substâncias não precisam ser misturadas em
proporções exatas. É como se as estruturas se formassem em consonância
com alguma lei ainda desconhecida. Como se o relacionamento das
substâncias que formam estruturas móveis vivas -estivesse determinado por
um “princípio de auto-governo". Entretanto, nada se sabe sobre isso tudo.
Em minhas investigações posteriores, acrescentei caldo de carne,
leite e gema de ovo como substâncias nutrientes à mistura bion. também
acrescentei carbono em várias formas: isto é, pulverizado finamente, carvão
esterilizado a seco, pó de carvão autoclavado em KCL, pó dé carvão
aquecido até a incandescência, seco ou com caldo de carne; finalmente
fuligem esterilizada a seco ou fuligem aquecida a incandescênpia. Os
melhores resultados foram obtidos acrescentando fuligem: formaram-se
objetos amebóides extremamente móveis e finamente estruturados.
43
38. Lecitina, esfregada até secar sobre 39. Cristais de colesterina.
vidro de cobertura. 400x. 400x.
44
No dia 8 de janeiro de 1937, enviei ao Prof. Du Teil o seguinte
relatório:
Antes de lhe dar um relatório detalhado de minhas experiências,
gostaria primeiro de falar-lhe sobre uma experiência de aquecimento
baseada na fórmula da tensão-carga. Apenas mencionarei o procedimento
experimental e o resultado. Está sendo feito um filme, no Instituto, para
Pesquisa da Economia-Sexual, que mostrará claramente o que se
desenrola. Ao mesmo tempo, amostras do preparado coloidal também
serão remetidas.
A fim de estabelecer os fundamentos para experiências
posteriores, e á luz do grande número de descobertas já disponíveis, foi
necessário considerar a fórmula de "tensão mecânica -4 carga elétrica
descarga elétrica relaxamento mecânico () como sendo idêntica à
fórmula do funcionamento vegetativo em geral”. A experiência seguinte
deveria ser realizada para providenciar a prova da fórmula:
Neste ponto das minhas experiências, começo preparando uma
mistura estéril de 100cc de solução de Ringer e 100cc 0,1 N de solução de
cloreto de potássio. Acrescenta-se uma solução de “gelatina vermelha” até
que esta se torne rosa pálido. Acrescenta-se uma pequena quantidade de
“pó de carvão” colhido com uma pinça e uma quantidade igual de cristais de
colesterina. Toda a experiência se baseia no princípio de reunir, numa certa
seqüência, aquelas substâncias necessárias à síntese celular.
45
Agora, dissolvemos uma colher de chá de clara de ovo fresca e
límpida em mais ou menos 50cc de solução de cloreto de potássio estéril e
acrescentamos tudo à mistura anterior. A clara se dissolve após ser mexida
por alguns momentos. Sob o microscópio, não é possível detectar qualquer
surgimento de formas, nem há qualquer sinal de movimento ou de
estruturas plasmáticas. Mesmo a alta ampliação (1000x) só é possível
observar os típicos cristais imóveis do carvão e da colesterina.
Então adicionamos de 1 a 2cc de leite e um pouquinho de gema de
ovo. Isto torna opaco a mistura anteriormente clara.
Em seguida,, fazemos uma “segunda solução”: “trituramos lecitina
na forma de fuligem em solução de KCL”. A uma ampliação de 500~900x
vemos estranhos objetos desenvolverem-se e crescerem; quer dizer,
“tubos" que incham, brotam e encurvam. Não há estrutura discernível dentro
dos tubos, embora ocasionalmente haja colônias de vesículas de forma
definida. Não ocorrem 'qualquer movimento orgânico. Há somente
fenômenos de inchação puramente física baseados nas mudanças na
proporção da pressão interna e tensão da superfície.
Se acrescentarmos então à solução de lecitina à primeira mistura,
esta se torna “imediata e progressivamente" de um cinza-amarelado opaco.
Sob o microscópio é surpreendente observar as formas vivas móbeis:
“movimentos palpitantes de um lado para outro, brotações, divisões de
formações celulares, movimentos de rastejar que se iniciam espasmódicos
e se tornam fluentes”. O caráter orgânico do movimento só pode ser
observado a ampliações superiores a 1500x, “sendo mais claramente visível
a 2300-3000x, usando um microscópio binocular”. Se uma formação for
observada continuamente a + ou - 3000x, notam-se objetos vesiculares
nucleados, cintilantes, que mudam de forma. É possível distinguir quatro
grupos de estruturas com movimentos vigorosos: “vesículas” redondas
semelhantes a núcleos; “hastes”; formas nucleadas redondas de aparência
celular que se movimentam, mas que não exibem qualquer moção interno;
e, finalmente, “estruturas amebóides”. Estas últimas são particularmente
interessantes porque, a ampliações de 3000-3500x, revelam movimentos de
contração e expansão. A apenas 2000x já se pode vê-las rastejando.
As estruturas assim formadas são, pelo menos, segundo as
experiências conduzidas até aqui, “corpos negativamente carregados"; eles
migram para o ânodo. Se a mistura coloidal é posta a repousar por seis ou
oito semanas, forma-se um grosso sedimento, e o líquido se torna
crescentemente claro. Quando o sedimento é examinado às ampliações
mencionadas acima descobre-se que a motilidade descrita se perdeu e que
os objetos estão agora “mortos”. Apresentaremos mais tarde um relatório
que contenha a descrição detalhada sobre as experiências de controle que
foram realizadas. No momento, o metabolismo e o tingimento estão sendo
estudados. Tem-se verificado que "as estruturas são cultiváveis”. Se, de
!at0; a mistura for fervida até não conter mais qualquer líquido e o resíduo
for inoculado com mistura coloidal estéril, produzem-se crescimentos que
a 8 a9ora têm sido cultivados até a quinta geração.
46
As estruturas, desde que sejam mantidas estéreis, provaram ser
inócuas em experiências com animais quando injetadas subcutaneamente
em camundongos e porquinhos da índia.
A questão de se estas são formas vivas completas só pode ser
definitivamente respondida em conexão com outras experiência$, as quais
serão relatadas posteriormente, e somente após tcdos os experimentos e
controles terem sido realizados. A experiência descrita foi registrada em
filme.
As estruturas artificiais, semelhantes à vida, receberam o nome de
“bions”.
47
42. Bions estéreis frescos no preparado bion 6b. Filme preparado 6.
2000x.
XX
48
x tubo em processo de alongamento.
xx vesícula esverdeada trêmula, expandindo-se e contraindo-se.
Quando uma corrente é passada através dela, a vesícula se estende em
direção ao ânodo.
(5)
Formação nucleóide no tubo. Estrutura semelhante a uma célula.
O' O Q
Ly^\
J i:/v )
Brotação.
49
3. A CULTURABILIDADE DOS BIONS
(PREPARO 6)
50
, embora com dificuldade, “todos os quatro tipos” que se observavam na
mistura de bions: cocci vesiculares redondos; “hastes” curtas e longas;
células redondas nucleadas; e, finalmente, "formações amebóides
rastejantes”, contrateis e expansíveis. As “formações cultivadas” surgiram
ma*s movediças e vigorosas do que a mistura de bions originalmente
fervida. Os registros desses ensaios mostram que essa linhagem era
propagada com grande sucesso, conquanto variasse o preparado do meio
cultural estéril, até 9 de fevereiro, isto é, até à nona geração. A propagação
só foi interrompida uma vez, em 9 de janeiro de 1937, porque o meio
cultural em questão estava seco demais. A terceira geração, que se
desenvolveu em 9 de janeiro dè 1937, foi transportada para o meio cultural
(b) em 14 de janeiro. O meio cultural (b) foi obtido sem secar
completamente pela fervura a substância remanescente. Aparte esta única
interrupção, as experiências de proliferação transcorreram sem
perturbação.
Dentro de vinte e quatro a quarenta e oito horas, o meio nutriente
anteriormente seco decompunha-se regularmente em um líquido branco-
acinzentado O líquido ficava pululando com estruturas movediças
semelhantes a bions. Com exceção do meio nutriente (d), os meios de
controle não-inoculados “não apresentaram quaisquer sinais de
decomposição”. Se o meio nutriente não era suficientemente fervido, de
modo que sobrasse algum líquido, às vezes ocorria “auto-inoculação", como
eu chamei. Apesar do longo período de fervura, alguns bions obviamente,
remanesciam e causavam a decomposição do meio nutriente. Esta “auto”-
inoculação ou autólise do meio nutriente, sem inoculação, era uma ruptura
indesejável que prejudicava a boa seqüência dos testes culturais. Não
obstante, a auto-inoculação não devia ser considerada como um sinal
negativo; se os bions não podiam ser destruídos cozinhando-os, e se os
mais leves traços de umidade na mistura podiam produzir formas
movediças de vida, então era concebível que “o meio nutriente em si
estivesse vivo”. Tornou-se essencial não apenas eliminar a auto-inoculação,
mas também descobrir um meio nutriente que não possuísse a propriedade
da auto-inoculação.
Muitas semanas consumi tentando laboriosamente proliferar os
bions na solução de Ringer, sem lograr qualquer resultado claro, antes de
ter a idéia de ferver a mistura do meio cultural até secar e usar o resíduo
como meio nutriente. Por outro lado, o teste seguinte foi uma surpresa
completa: Uma cultura preparada da sétima geração da primeira “família” do
preparado estéril 6b foi aquecida por quinze minutos no esterilizador. A
cultura aquecida foi inoculada em 8 de fevereiro em uma nova variação (e)
do velho meio nutriente bion. Ao mesmo tempo, à sétima geração da cultura
foi inoculada, uma amostra aquecida e outra não, em um caldo de carne
com agar-agar (2). Apenas vinte e quatro horas mais tarde, para minha
máxima surpresa, notei que as culturas aquecidas, assim como as não
aquecidas da sétima geração, tinham formado densas colônias no meio de
agar-agar e de clara de ovo. O meio de agar não se tinha rompido. O
crescimento das culturas aquecidas era macroscopicamente idêntico ao das
culturas não aquecidas. Embora este resultado pudesse à primeira vista,
parecer surpreendente, ele é lógico, pois se no final deveria ocorrer que os
51
bions são formações vivas que não podem ser destruídas pelo
aquecimento, então seria apenas natural que as culturas produzissem
outras culturas após o aquecimentc. Os resultados dessa experiência já
foram confirmados.
Em 9 de janeiro de 1937, uma segunda família de bions frescos,
de dois dias de idade e estéreis, foi inoculada no meio nutriente (e). Em 11
de janeiro, o meio nutriente em único tubo de ensaio tinha decomposto
como no caso da família I. O meio de controle não se tinha desintegrado,
porém um segundo meio inoculado não se desintegrou também.
Àquele estágio de minhas investigações, uma primeira geração de
família bion freqüentemente não se desenvolvia no meio nutriente. Em 22
de janeiro, após testes de cultura fracassados nos meios nutrientes (a) e
(b), “a família que pegou foi inoculada com grande sucesso nos meios
nutrientes (e)”. Havia também clara evidência de desintegração em dois
tubos de ensaio. Alguns desta segunda geração de cultura da família II foi
inoculada no mesmo meio nutriente (e), o que resultou no “mesmo tipo” de
crescimento em 4 de fevereiro. “O teste de cultura aquecida foi, desta
maneira, bem sucedido no caso da família II, exatamente como no caso da
família I”. Continuamos a desenvolver as culturas não-aquecidas até 9 de
fevereiro, sempre com resultados positivos, como indicado na tabela.
Entrementes, a geração de cultura aquecida II b/2 tinha sido reinoculada no
meio de cultura (e) em 8 de fevereiro. Em 24 horas, detectou-se um
crescimento em forma de uma desintegração aquosa, branco-acinzentada e
turva do meio nutriente (II b/3).
Sucesso similar foi alcançado com uma “terceira família (III) de
bions” inoculada no meio cultural (d), em 21 de janeiro de 1937.
*
Gostaria agora de descrever alguns dos fenômenos básicos que
devem ser observados atentamente quando se avaliam culturas bem ou mal
sucedidas.
1. Após quarenta e oito horas, mas às vezes após muito mais, forma-se
uma camada úmida, brilhante e uniforme sobre o meio nutriente, no
caso de uma cultura bem sucedida. Quando o meio nutriente de controle
- é examinado com cuidado, com o auxílio de uma lente de aumento, os
montículos e a aparência muito brilhante da camada superficial não são
encontrados.
2. Quando não se dá desintegração, a superfície do meio de controle
; permanece lisa. Do contrário, formam-se protuberâncias branco-
acinzentadas normalmente arredondadas, porém ocasionalmente
alongadas, sobre o meio inoculado.
3- O meio cultural (d) claramente libera condensação. A condensação do
meio nutriente de controle geralmente seca na incubadora; ao passo
que rio caso do meio inoculado o líquido evolado torna o meio turvo e
causá formações de profundas fendas.
Ocasionalmente, um crescimento avermelhado, que não foi ainda
explicado, era observado.
52
O fato de que as últimas gerações dão origem a novos crescimentos
muito( mais facilmente do que as misturas inteiramente frescas é muito
importante. As últimas gerações também demonstram movimentos mais
vigorosos e têm uma estrutura mais complicada quando observaoas a
3700x sob um microscópio binocular. Pode-se dizer que elas parecem mais
“acabadas”. As quatro formas básicas (vesículas redondas, hastes
compridas e movediças, células nucleadas e formas amebóides rastejantes)
surgem em todos os lugares. Porém quando são observadas atentamente,
durante longo tempo, a 3000-4000x, eles próprios não são uniformes, mas
parecem estar subdivididos em subespécies. Relatarei mais
detalhadamente sobre isto em outra ocasião.
Após muitos testes de cultura bem sucedidos, embora não
inteiramente sem ambigüidade, em meios nutrientes de clara-gema de ovo,
eu já era capaz de fazer cultura de bions em caldo de carne e agar, da
seguinte maneira. A mistura bion 6 foi aquecida durante meia hora, em
tubos de ensaios, no esterilizador seco, regulado a 160°C. A mistura
aquecida foi armazenada sob condições estéreis durante dois a quatro dias
e em seguida inoculada em meios nutrientes de caldo de carne e agar,
conforme segue: após a pipeta, bem como as bocas dos tubos de ensaio
terem sido passadas na chama , uma gota da mistura era transferida para
estes. As primeiras inoculações de caldo de carne, a partir de três
diferentes misturas bions, invariavelmente produziam uma turgidez pesada
após vinte e quatro horas.
55
A fim de tornar as experiências de cultura completamente claras,
passei a cultivar as culturas bion “passadas em autoclave”(6ac). A seguinte
experiência foi realizada: A mistura bion foi preparada como é descrito no
primeiro relato, sendo a única diferença o fato de que o carvão foi primeiro
pulverizado finamente, em seguida cozido em KCL, e depois acrescentado
à primeira mistura. Dois tubos de ensaio foram enchidos com a solução e
colocados em autoclave. O autoclave foi regulado à 120°C e os tubos de
ensaio permaneceram nele por meia hora. Depois de 24 horas, foram feitas
as inocülações de um dos tubos para um meio de caldo de carne e outro de
agar. Ambos resultaram em crescimento que uma vez mais era muito mais
forte no caldo de carne do que no agar. A primeira geração da cultura de
caldo de carne da mistura bion passada em autoclave foi continuada em
caldo de carne e agar, também em meio de gema de ovo e de agar de
sangue. Cada caso resultou em forte crescimento que continha hastes
móveis, cocci, e formas amebóides. Ao mesmo tempo, material oriundo da
primeira geração de caldo foi inoculado em meio nutriente de agar. Após
apenas 24 horas, surgiu um grosso crescimento amarelo no meio de agar
que, para minha surpresa, quando visto ao microscópio, revelava ser uma
pura cultura de formas amebóides. A 3700x, as partículas no interior das
amebas vibravam vigorosamente e as amebas moviam-se vagarosamente,
enquanto simultaneamente expandiam-se e contraíam-se. A segunda
geração que se obteve desta forma foi posteriormente inoculada em agar, o
que resultou em crescimento denso de aparência micro e macroscópia
similar. A estruturação pronunciada das formas amebóides era muito
extraordinária e, do meu ponto de vista, um traço positivo. Durante um longo
período de observação, esses objetos eram vistos subdividindo-se
repetidamente. Isto era mais claramente visto a mais ou menos 3000x.
Uma vez que se tinha estabelecido a culturabilidade da mistura
bion aquecida por meia hora, e uma vez que a primeira cultura da mistura
bion 6cl autoclavada tivera sucesso, meu assistente assumiu a
responsabilidade pela tarefa de preparar as misturas bion e também de
realizar as experiências de cultura. No laboratório ela conseguiu obter
culturas de tipos semelhantes a partir de oito misturas de bion 6cb. Ao
mesmo tempo as misturas bion 6cblX, 6cbX e 6cbXI foram enviadas ao
Prof. du Teil , em Nice, para inocülações de controle. Não conseguimos
cultivar o preparado 6cblX, porém os preparados 6cbX e 6cbXI produziram
crescimentos tão prontamente quanto os 6 preparados anteriores. Quando
os preparados foram enviados ao Prof. du Teil, escrevi que o IX
provavelmente não produziria crescimento, porque tinha uma aparência
macroscópica pobre. Esta suposição foi confirmada pelo fato de que não
conseguimos cultivar este preparado. O Prof. du Teil me informou que,
enquanto os preparados 6cbX e 6cbXI tinham prontamente formado
crescimento, o IX não o fizera. As misturas seguintes tinham sido
preparadas exatamente como antes, no entanto agora não havia cultura
alguma, em contraste com a série anterior de culturas. Após pensar muito,
decidimos checar as propriedades elétricas dos preparados, o que não foi
feito durante longo tempo. Constatei que todas as misturas bion que tinham
Produzido culturas eram “negativamente'carregadas”, ao passo que “as
misturas não produziram culturas eram eletricamente neutras”. O preparado
56
6cblX era da série de misturas bion de que se esperava produzir culturas,
mas que não o fizera; em contraste com a 6cbXI e 6cbX, ele mostrara não
possuir qualquer carga elétrica. Depois disto, as misturas bion que não
exibiam carga elétrica não eram mais inoculadas, para não prejudicar
desnecessariamente as estatísticas. Entretanto, da série de misturas bion
que tinham falhado, uma após outra, em produzir culturas bion, houve uma
que produziu uma cultura Ao contrário das outras que eram eletricamente
neutras, esta possuía uma carga elétrica negativa. Isto me pareceu ser a
prova final de que “a carga elétrica da mistura é,um pré requisito essencial
para a culturabilidade”.
Enquanto que as novas misturas de bion migravam para o ânodo,
ou eram neutras, o exame elétrico da segunda geração, no agar (“pacotes
de amebas") revelaram uma tendência muito clara dos objetos de migrarem
para o cátodo. A natureza e a origem dessas formas não foram até o
presente claramente determinadas.
Até a presente data, cinqüenta e três gerações de amebas
amarelas * (família 6acl) foram proliferadas em agar. Quando elas
começaram a perder sua forma e sua cor amarelada, foram inoculadas em
meio nutriente de agar de sangue e ovo, o que resultou sua forma e cor
originais. Não temos visto esta forma aparecer novamente em qualquer
experiência de mistura do tipo-6 (Fig. 45). (Os relatórios escritos ao Prof. du
Teil colocam algumas informações sobre problemas particulares do cultivo).
Com o passar do tempo, tornei-me mais experiente em matéria de
cultura bion. Muitas medidas de segurança foram tomadas para assegurar
que a cultura “tivesse sucesso” sob condições de completa esterilidade:
Experimentos elétrhos
Aparelho experimental
58
Finalmente, a corrente é passada através do preparado na direção
oposta e é verificado se as partículas agora invertem sua direção migratória,
isto é, se se movem de volta para o mesmo polo, como no princípio,
indicando que a migração é provocada pela corrente. Se a freqüente
repetição dessa experiência produzir resultados constantes, enião o caráter
cataforético da migração será considerado confirmado.
É de muita importância considerar que não constitui o alvo desses
estudos fazer demonstrações quantitativas, mas apenas determinar a
direção migratória das estruturas examinadas.
59
“Anotações sobre as Experiências 1-6. Somente as substâncias
que exibiam cataforese após o tratamento descrito resultavam,
ocasionalmente, em cultura, quando inoculadas.
As substâncias com carga forte (as maiores velocidades de
migração) produziam os mais rápidos, mais fortes e também os
crescimentos mais claramente detectáveis, macroscopicamente. As
culturas oriundas dos preparados com reação elétrica mais fraca,
produziam crescimento mais fraco e mais vagaroso.
9' “Coque” comumente usado para gás ou mesmo cinzas, foi pulverizado,
misturado com KCL e solução de Ringer, passado em autoclave e
60
mantido por 48 horas a 37°C na incubadora. O resultado de tal
tratamento foi o coque partir-se, embora em extensão menor, em
pequenas vesículas que tinham as mesmas propriedades que as
desenvolvidas a partir de terra.
61
Por outro lado, as vesículas, assicn como os pequenos corpos no
preparado, migravam, a uma velocidade, para o ânodo.
“Nota”: A migração cataforética uniforme é mais claramente
observável nas culturas do que no preparado original. Desde que somente
preparados cataforeticamente reagentes produziam culturas, é lógico
concluir que as formações nas culturas derivam daquelas do preparado que
migram durante uma aplicação de gradiente elétrico. A cataforese então,
deve ser mais extensa e, conseqüentemente, deve ser muito mais
claramente visível nas culturas.
62
16. 6cbVI. Apresentou um belo padrão de vesículas e de colônias de
vesículas. Todas as vesículas migravam a velocidade uniforme para o
ânodo, bem como as pequenas colônias de vesículas, embora mais
vagarosamente. As grandes colônias de vesículas, a essa amperagem,
não se moviam absolutamente. A inoculação produziu uma cultura pura
que consistia de vesículas e colônias de vesículas que se moviam forte
e claramente em direção ao ânodo.
22 e 23. 6cbXII e XIII. Neste caso, a clara de ovo foi substituída por carne
passada em autoclave. Grandes quantidades de fibras musculares
destruídas podiam ser vistas ao microscópio.
Não ocorreu cataforese, nem se puderam desenvolver culturas.
24-27. 6cb XIV, XV, XVI e XVII. Neste caso, usou-se clara de ovo
novamente e a carne foi omitida. Não houve migração, e os testes de
cultura foram negativos.
65
4. o início das experiências de controle
66
manuscritos - vários estudos que produziram o que deve, no mínimo, ser
descrito como resultados totalmente surpreendentes que parecem
contradizer os dogmas científicos mais solidamente enraizados. Um
julgamento deste tipo necessita, ou melhor, exigiria, objetividade absoluta.
Entretanto, como tal objetividade não se encontra facilmente neste mundo -
nem, na verdade, talvez em nenhum lugar do universo - é bem natural que
tomemos o exame de tal questão com certas emoções, que são ainda mais
intensas, desde que estas questões derrubam crenças que se têm tornado
parte de nós mesmos e que temos considerado como definitivas uma vez
que as adquirimos. Por conseguinte, a atmosfera que envolve a
apresentação de tais descobertas é de grande importância, não porque se
pretenda criar um viés favorável já do começo, mas porque o alvo é
compensar os pré-julgamentos estabelecidos. De fato, a vida e a obra de
Wilhelm Reich lhe garantem o direito de esperar nossa objetividade, nosso
desejo de rejeitar o mesmo tipo de preconceito e julgamento precipitado
que Descartes condenou, e exige de nós uma curiosidade simpática, isto é,
científica e intensamente crítica.
A premissa central da obra do Dr. Reich, que era evidente mesmo
em suas primeiras experiências, é a equação do elétrico processo tensão-
carga com o processo da vida vegetatiya. Com essa idéia central na mente,
ele tem conduzido pesquisas na origem da vida por vários anos, tomando o
processo tensão-carga como seu ponto de partida. Seu trabalho o levou
agora a conduzir experiências sobre a produção fie organismos unicelulares
artificiais (edifícios monocelulares) em que os fenômenos da vida vegetativa
são gerados por um processo exclusivamente eletroquímico. Naturalmente,
ele não introduz nenhuma força elétrica independente nos elementos que
combina. Em seu trabalho com colóides, os fenômenos da tensão
superficial e do movimento molecular combinados com a eletricidade
ocorrem espontaneamente, pelo menos a forma de movimento, o que é
considerado como uma característica da vida.
Assim, ele o tornou uma regra para conduzir suas experiências
apenas com substâncias estéreis, isto é, substâncias das quais tinham sido
eliminados todos os sinais vitais, no melhor de nossas habilidades e
conhecimentos presentes. Em outras palavras, enquanto se contava com a
radical pasteurização das substâncias, ele provou a não-existência da
pasteurização radical.
O Dr. Reich me visitou para falar de seu trabalho. Traduzi alguns
de seus escritos de modo que pudessem ser apreciados na França.
Entretanto, por um ano, não tive mais nenhuma notícia de sua detalhada
pesquisa, quando, de repente, em 8 de janeiro deste ano (1937),ele me
enviou uma carta e um breve relatório com duas ampolas lacradas e
esterilizadas que me pediu para examinar ao microscópio a mais ou menos
3000x. Fiz isso quase imediatamente e lerei para vocês o relatório que
escrevi logo em seguida ao exame. Para começar, no entanto, gostaria de
ler minha tradução do detalhado relatório que recebi do Dr. Reich. A
tradução foi feita às pressas e terei que pedir-lhes que desculpem o estilo,
pois não tive tempo de corrigi-la. Posso, entretanto, totalmente garantir sua
exatidão. A propósito, trouxe também os originais deste relatório e de todos
os documentos que lerei para vocês em tradução e qualquer um que
67
compreenda alemão e queira examinar os originais dos textos podem fazê-
lo à vontade.
Em 8 de janeiro de 1937, recebi um relatório preliminar sobre a
produção de formas semelhantes à vida em consonância com a fórmula
tensão-carga. Preparei o seguinte resumo:
Em carta datada de 8 de janeiro, o Dr. Wilhelm Reich, que vive em
Oslo, escreveu-me um relatório preliminar sobre a formação de estruturas
que têm as características da vida baseado na fórmula tensão-carga.
O relatório mostrava que, após muitos anos de pesquisa, o Dr.
Reich, através de meros processos físicos e químicos, havia obtido
estruturas que possuíam todas as características da vida. O relatório
descrevia, em certa quantidade de detalhes, o procedimento experimental,
isto é, os elementos constituintes das estruturas, assim como a seqüência
em que os elementos foram utilizados (tal seqüência, a propósito, pareceu
ao Dr. Reich ser a mais importante base das experiências).
Esses relatórios acompanhados de ampolas lacradas, cada uma
contendo aproximadamente 5cc de substâncias. Elas estavam classificadas
como segue: Bions 6b estéril, janeiro 12/37. Uma curta nota anexada às
ampolas estabelecidas. Observe a 2000-3000x sob um microscópio
binocular.
Na terça-feira, 26 de janeiro - isto é, doze dias após a data do
preparado constante das ampolas - eu estava pronto para conduzir uma
série de observações que preenchiam os requisitos estabelecidos pelo Dr.
Reich. Estas observações se tornaram possíveis graças à prestimosa
cooperação do Dr. Ronchese e do Dr. Saraille, que dirigem um laboratório
de análises muito equipado em Nice. Eu tinha, de fato, um microscópio
binocular à minha disposição que era capaz de ao menos 2500x e até
3000x. Apesar de problemas de iluminação, uma frutífera observação foi
ainda possível nessa última ampliação. Imediatamente após uma ampola
ter sido aberta, uma amostra foi tomada e colocada sobre um slide de prova
estéril. Um segundo slide foi colocado imediatamente em cima do primeiro e
lacrado com parafina para impedir qualquer evaporação que poderia
provocar que o fluido se acumulasse na periferia.
Minhas observações rapidamente e com muita precisão revelaram
0 que o Dr. Reich tinha descrito em seu relatório. Pude observar quatro
formas principais:
1 • Hastes que a 2500x tinham dimensões aparentes de1A a 1 cm.
Tais formas movem-se de duas maneiras diferentes: às vezes se movem
vigorosamente em uma direção longitudinal, então, param subitamente e
começam a se mover de novo de maneira ondulante e rastejante. Dão a
impressão de serem corpos frágeis que são largos e achatados e
assemelham-se à forma de certos tipos de peixes. Como nadam por
toda parte, são vistos ora de lado, ora de cima. Parecem impulsionarem-
se através do líquido ondulando seus corpos em todas as direções, justo
como peixes nadando em um aquário. Tais estruturas possuem um
núcleo que também se move e vibra. Além do mais, se subdividem e
comportam-se em todos os aspectos de maneira similar a organismos
unicelulares vivos. Observei vários deles dividirem-se e produzirem dois
corpos similares, passando por formas características familiares.
68
2. Objetos unicelulares, semelhantes a cogumelos, com um núcleo
luminescente, que treme constantemente.
3. Formas significativamente grandes que assemelhavam-se a micélium,
com esporos na extremidade de cada galho. Tais formas expandem-se e
contraem-se constantemente, embora muito devagar e pouco
perceptivelmente, enquanto permanecem estacionadas. Comparadas
com as estruturas anteriores, suas dimensões eram enormes, com um
comprimento aparente de vários centímetros a 3000x.
4. Células anucleadas não divididas, que moviam-se claramente de forma
muito mais mecânica, como se movida por uma força exterior.
Roger du Teil
Nice, 3 de fevereiro de 1937
69
Em 8 de fevereiro, o Dr. Reich escreveu-me novamente,
Informando que tinha cultivado metodicamente os bions e que me manteria
jnformado dos resultados, porque compartilhava minha opinião de que o
sucesso dessas culturas eram de extrema importância para a interpretação
de sua descoberta.
Em 16 de-fevereiro, o Dr. Reich escreveu de novo para dar-me
como pedido, todos os dados necessários para iniciar uma cultura bion.
Longe de evitar controles, ele os estava pedindo. Isto é um sinal
encorajâdor suplementar de sua confiança em que não tinha cometido
quaisquer erros experimentais. Lerei aqui sua carta.
Prezado Professor,
Gostaria de informá-ío hoje de alguns úteis e inequívocos
resultados obtidos em meus experimentos de cultura bion. Concordo
inteiramente com o senhor em que a questão da geração espontânea não
pode ser resolvida pelas descobertas microscópicas, mas principalmente
por meio da cultivação bem sucedida de misturas colóides estéreis, isto é,
cozidas. Fico feliz de poder relatar-lhe alguns dos resultados positivos. A
matéria é mais simples do que me pareceu em todos os meses de difícil
experimentação.
Ficaria extremamente grato se, como prometeu em sua carta, o
senhor repetisse e conferisse minhas experiências em um laboratório em
Nice. Estou convencido de que isto só me pode ajudar e fico, por
conseguinte, muito feliz de ir de encontro ao seu desejo de verificar meu
trabalho. Digo o mesmo quanto às culturas.
Na semana passada, tive sucesso em cultivar preparados frescos
de bion em meio nutriente agar e em caldo, e constatei a ocorrência de
todos os quatro tipos. Foi descoberto que misturas frescas de bion aquecido
desenvolvem-se muito mais vagarosamente e exibem muito menos
movimento na cultura do que os bions de dois a cinco dias de idade
aquecidos. Recomendaria que o senhor mesmo prepare a mistura bion
segundo as instruções contidas em minha primeira carta. O senhor deve
deixar a mistura pura aquecer por mais ou menos uma hora a 160°'C no
esterilizador seco e colocar as ampolas seladas com parafina para repousar
por 3 ou 4 dias. Mais ou menos duas gotinhas devem ser tiradas, em
condições estéreis, com uma pipeta de Pasteur, da ampola esterilizada, e a
superfície do meio nutriente de agar deve ser coberta com este líquido.
Após 24 à 48 horas, ocorre ou uma cobertura fina e encaroçada, da mesma
cor do meio nutriente, ou um denso crescimento branco-acinzentado. Eu
não fui capaz de determinar o que causa essa diferença. Os resultados da
cultivação em caldo são muito mais claros. Após apenas 24 horas, o líquido
do caldo se torna muito opaco, e se podem ver hastes que se movem
71
Oslo, 22 de fevereiro de 1937
72
Oslo, 27 de fevereiro de 1937
74
lecitina fosse alguma coisa mais que o material do qual se compõe a gema,
ela seria morta por essa esterilização.
Além do mais, se objetasse que esses fossem processos
eletroquímicos que imitam completa e perfeitamente todas as
manifestações que chamamos de vida, responderíamos sem qualquer
dúvida: se dois triângulos provam ser congruentes, qual deve ser
considerado como o primeiro e' qual o segundo? Qual seria a verdadeira
manifestação da vida e qual a falsa? Permitam-me concluir este relatório,
que contém já bastante material científico para discussão, com uma breve
excursão pelo campo da metafísica. Suponhamos que sejamos de fato
capazes, por meios eletroquímicos, de construir organismos unicelulares
que exibam todas as características da vida senso stricto como há temos
concebido até aqui. Talvez então deixaríamos de considerar a vida como
sendo manifestada pelos fenômenos materiais do movimento, alimentação
e divisão, e, ao invés, vê-a como uma progressão de um germe para a
organização de estruturas diferenciadas correspondendo a um tipo ou
genes. E não é o resultado dessas experiências, o que parecia fazer-nos
inclinados a priori a escolher uma solução materialista para a questão da
vida, pelo contrário, que nos obrigam a ver a vida como tendo uma
“intenção organizadora” e atribuí-la radicalmente ao campo do espírito?
Em termos práticos, creio que nosso envolvimento e o interesse
que demonstramos por esta descoberta não podem deixar de ser de grande
serventia à causa da ciência por capacitar o Dr. Reich a tornar sua
descoberta conhecida na França, na Académie des Sciences. Também
ajudaria se nós reconhecermos a exatidão de suas experiências e
chamarmos sua atenção para qualquer erro que pudermos encontrar
nessas experiências ou na sua interpretação. De qualquer maneira, ter-nos-
íamos tornado úteis.
Prosseguindo a discussão, gostaria, portanto, de exortá-los a
apontar vários membros para colaborarem comigo nas séries de
experiências de controle que pretendo realizar a fim de confirmar os
resultados do Dr. Reich.
Roger du Teil
75
5. EXPERIÊNCIAS DE CULTURABILIDADE USANDO TERRA,
CARVÃO E FULIGEM
76
existam esporos a partir dos quais se possam desenvolver organismos.
Entretanto, a assertiva, de que estes esporos estejam presentes
continuamente era contrária a todas as minhas observações. Como
poderiam os esporos entrar no coque destilado a temperaturas de milhares
de graus? Como poderiam os esporos aparecer em folhas de capim ou em
músculos estriados quando não podem ser observados em substâncias não
fervidas mesmo às mais altas ampliações? E como poderiam eles surgir
“repentinamente” quando a carne, o musgo, o capim, o carvão ou a terra
era fervido? E ainda, não importa quão poderosamente tal raciocínio
contrarie a teoria metafísica do esporo, a prova era ainda teórica e não
baseada em experiências. Estava agora diante da tarefa de inventar uma
série de experiências que aclarariam o assunto. A descrição apresentada
nas páginas seguintes podiam levar a crer que o trabalho transcorreu
suavemente, sem dificuldades, e sem quaisquer preocupações. De fato,
deu-se exatamente o oposto. Não se fizeram quaisquer progressos por
semanas e meses, e parecia que a experiência inteira havia chegado a um
impasse, até que uma idéia relativamente simples indicou a saída.
Nos anteriores experimentos de fervura, o ato da esterilização e da
inchação do material dera-se em “um único processo”. Agora, ocorreu-me
que a esterilização - isto é, a morte de quaisquer esporos presentes - e o
processo de inchamento gerador de vida podiam ser separados.
A terra e o carvão foram pulverizados separadamente , colocados
em pratos de Petri e em seguida postos no esterilizador seco ajustado a
180°C. O tempo padrão para a esterilização seca a 180°C era duas horas,
porém foram feitas também experiências durante frações desse tempo, ou
mais tempo que isso, com os mesmos resultados. Antes que as duas horas
se passassem, tubos de ensaio estéreis foram enchidos até a medida de %
com 0,1 N KCL passado em autoclave. Os tubos de ensaio foram
hermeticamente selados com lã de algodão hodrofóbico. Para uma certeza
ainda maior, também foi esterilizado cloreto de potássio autoclavado por
meia hora a 120°C. Em seguida, uma espátula de vidro ou de metal foi
aquecida vagarosamente até avermelhar, diversas vezes, em chama de
gás. Então, o esterilizador seco foi aberto e retirado o selo de um tubo de
ensaio contendo cloreto de potássio. Carvão pulverizado ou terra
pulverizada era então recolhida na ponta da espátula e transferido tão
rapidamente quanto possível para o tubo de ensaio que continha KCL, o
qual era imediatamente selado de novo e colocado no esterilizador. (Podia-
se também esterilizar a seco a terra ou o carvão nos tubos de ensaio e em
seguida acrescentar cloreto de potássio). Os tubos de ensaios eram
colocados inclinados, a fim de que apresentassem uma superfície maior de
líquido. A experiência demonstrou que isto facilita a desintegração da terra
e do carvão pulverizados. A mistura KCL-carvão ou KCL-terra era então
aquecidas. Não era importante quanto tempo as substâncias eram
aquecidas, apenas que “tanto a solução de terra quanto a de carvão
assumissem um caráter túrbido, denso e coloidal, como resultado do
processo de aquecimento”. Em alguns casos isto ocorria após apenas meia
hora enquanto que em outros leva uma hora ou hora e meia de
aquecimento, dependendo da quantidade ou do tamanho das partículas da
77
terra ou do carvão. O aspecto mais importante de todo o procedimento era
atingir mesmo que por um instante uma suspensão estável das partículas
de carvão ou terra no líquido. A experiência não dá resultado positivo se:
78
que foram tiradas do preparado fervido no dia anterior, não estão mais
presentes. Ocasionalmente, vêem-se cristais não estruturados oriundos da
inoculação. Em seguida, sob condições estéreis, uma gota é retirada da
cultura de caldo e recoberta com um meio nutriente de agar. Um
crescimento granular amarelado forma-se após 24 horas e freqüentemente
mais cedo. Como controle desse crescimento, duas outras culturas são
preparadas:
79
49. Cultura daquela terra de jardim I db 16. 1000x. Tintura Gram.
^esmo resultado.
Uma parte do pó de carvão que permaneceu no esterilizador seco
a 180°C foi colocada em uma fina espátula de metal. Ela foi em seguida
82
aquecida até incandescer em uma chama de gás benzeno - isto é, a +/-
1500°c - até que todo o pó de carvão estivesse incandescente sem se
transformar completamente em cinza. Nesse meio tempo, minha assistente
em bacteriologia preparou uma mistura de caldo de carne, a qual ela
misturou em parte iguais com cloreto de potássio 0,1 N passado em
autoclave. Parti da concepção de que não apenas a substância nutriente,
mas também uma substância que se inche, deva estar presente. Nesta
experiência, o carvão incandescente foi imediatamente introduzido na
solução de cloreto de potássio - caldo de carne, Para nossa surpresa, em
todos os experimentos, a solução tornou-se imediatamente coloidalmente
opaca, de uma maneira que nunca tinha atingida tão bem após o simples
aquecimento.
Observou-se um outro fenômeno instrutivo e surpreendente. As
partículas de carvão inicialmente deram à solução uma cor meio preta,
porém após dez a vinte minutos essa coloração preta era substituída por
uma turgidez cinza-nebulosa. Esta solução foi examinada ao microscópio a
3000x, imediatamente, e também depois de 24, 48 e 72 horas.
“Imediatamente” após o preparado ter sido feito, eram evidentes formas de
vida muito vigorosas. Uma amostra seca de pó de carvão aquecido à
incandescência foi colocada em uma lâmina. Mesmo a 200x, era possível,
no campo escuro, ver as vesículas mais delicadas em que os cristais de
carvão se desintegravam. Quando o cloreto de potássio foi acrescentado,
manifestou-se a motilidade. Algumas vesículas, que se assemelhavam a
esporos, moviam-se ao acaso. As grandes partículas de carvão avidamente
encharcavam-se de líquido. Após um ou dois minutos, as grandes partículas
de carvão, cujas bordas se tinham tornado completamente vesiculada, eram
observadas atraindo para si as vesículas individuais no fluido. O movimento
das vesículas individuais em direção às grandes partículas de carvão
aumentava de velocidade à medida que a distância diminuía. Finalmente,
as vesículas individuais arremetiam para as partículas maiores de carvão e
aderiam as suas bordas. Não havia dúvida, tratava-se de fenômenos
eletromagnéticos.
A 3000x, não era possível distinguir as partículas de carvão
aquecidas à incandescência das formações vivas. As partículas rastejavam
pelo campo de visão, com movimento significativamente mais intenso no
meio e na parte superior do que no fundo. Após 24 horas, a solução de
cloreto de potássio estava cheia de cocci e hastes movediças, que se
descobriu terem uma “carga elétrica positiva”. A cor preto-azulada das
estruturas era uma indicação imediata de sua origem. Os cocci eram de
todos os tamanhos. As margens das formações maiores vibraram
fortemente mesmo depois que o preparado tinha primeiro sido resfriado.
Este movimento, portanto, não era um fenômeno do calor. O primeiro
preparado produziu uma turgidez densa no caldo após 24 horas. Não
ocorreu turgidez nos outros preparados, e a inoculação resultou em
somente algumas culturas. A fim de fornecer uma base sólida para meus
estudos posteriores, tive primeiro que descobrir uma explicação provisória
para o fenômeno observado.
Nos cristais de coque, que tinham já passado por destilação a alta
temperatura, as partículas individuais aderiam fortemente umas com as
83
outras. Após o aquecimento - particularmente após a incandescência - esta
coesão é rompida e uma energia elétrica e liberada. (De outro modo, as
partículas individuais não poderiam ser eletricamente carregadas, e as
espécimes grandes não são). Quando se acrescenta cloreto de potássio, as
partículas em que o carvão calcinado se desintegra são vista, a 2000x
absorvendo grandes quantidades de líquido. Essas partículas
transformaram-se em vesículas indistinguíveis, na sua forma, dos esporos.
Para mim, essa experiência refuta terminantemente a teoria do esporo
como ela existe atualmente, pois não se pode provar que os esporos podem
sobreviver às temperaturas geradas na calcinação. A essa, acrescenta-se
minhas demais descobertas: todas as substâncias examinadas assumiam
estrutura vesicular quando fervidas, passadas no autoclave, aquecidas até
à incandescência ou posta a inchar. E, como já disse, as vesículas são
idênticas na sua aparência, aos esporos. E não refuto a existência de
esporos no contexto da velha teoria; simplesmente afirmo que o caráter
vesicular e a desintegração da matéria não organizada intumescida, fervida
ou calcinada, em vesículas é o ponto central a partir do qual deve-se
proceder em exames posteriores da “formação" de esporos viáveis. “Assim,
os esporos também devem originar-se da matéria como resultado do
intumescimento”. Parece-me que é absolutamente essencial fazer esta
suposição.
De fato, a exatidão dessa suposição pode ser provada por meio
cinematográfico. O pó fino de carvão é primeiro esterilizado a seco por duas
horas a 180°C. Em seguida, alguns grânulos são colocados em uma lâmina
côncava e KCL passado no autoclave é então acrescentado. Uma tampa de
vidro é imediatamente colocada sobre o preparado e lacrada com parafina.
O microscópio é ajustado a 300-600x com iluminação de campo-escuro. Em
seguida, +/- 50cm de filme é rodado a uma velocidade normal. Então, o
mecanismo de contagem do tempo é regulado em um quadro cada duas ou
cinco horas. Para fotografar com contagem de tempo, o ideal é selecionar
um cristal “liso” que seja tão livre quanto possível e tenha uma borda
nitidamente definida
A câmera de contagem de temo opera sem interrupção por 6 a 10
semanas. A observação diária, a olho nu, revela a progressiva
desintegração vesicular dos cristais. Com o passar do tempo, aparecem
cada vez mais vesículas movediças no campo de visão. Quando o filme é
exibido, vê-se primeiro uma mancha escura, que vagarosa ou rapidamente
ganha luz, dependendo do ajuste do mecanismo de tempo.
85
temperatura ambiente; eventualmente ocorre o crescimento com
protuberâncias.
Os resultados da experiência de incandescência só são
surpreendentes se se considerar que as estruturas vivas observadas em
seguida ao intumescimento já estivessem presentes sob a forma de
esporos, porque é impossível explicar como os esporos podiam sobreviver
a tais temperaturas. Contudo essa opinião é incorreta. Os elementos
vesiculares - não vamos hesitar em chamá-los de ‘bions’- a partir dos quais
as estruturas bacteriformes se formam, não eram absolutamente pré-
existentes, mas formavam-se somente depois que as substâncias se tinham
desintegrado em seguida à incandescência e subsequente intumescimento.
Não pude deixar de pensar que todos os tipos conhecidos de esporos
devem ter-se formado quando a terra estava ainda incandescente. Eles
devem ter-se desenvolvido quando a matéria então incandescente entrou
em contato com a água e substâncias capazes de produzir intumescimento.
Triturei alguns seixos em fino pó, mantive o pó em chama de gás benzeno
até avermelhá-lo, e em seguida acrescentei cloreto de Potássio ao pó
incandescente. Mais uma vez vi a desintegração vesicular e vesículas
movediças, que viviam pouco tempo. Até aqui, não tinha sido possível
produzir culturas.
No debate sobre esse assunto, a opinião de que a vida é algo
completamente separado da não-vida contrastou com a opinião de que “em
última análise, tudo é vivo”. Não se pode fazer muito com tais
generalizações. Por enquanto, devemos dizer, que toda matéria organizada
provavelmente tem a habilidade de produzir vida, dependendo de sua
composição e meio ambiente. “A vida pode brotar em toda parte por um
período de tempo longo ou curto, dadas as condições certas”. Às vezes,
observam-se movimentos semelhantes à vida que duram somente alguns
segundos. Às vezes, os mesmos movimentos levam semanas ou meses
para se extinguirem. Se a vida incipiente sobrevive ou não provavelmente
vai depender de duas condições básicas:
86
53. Cultura de fuligem aquecida até a incandescência. Meio nutriente de
sangue-agar, fresco.
87
56. Bions oriundos de fuligem aquecida até a incandescência em caldo e
cloreto de potássio.
91
5. Todas as substâncias utilizadas para produzir bions são inoculadas,
completamente não esterilizadas, no agar ou no caldo. Esses
crescimentos do agar são completamente diferentes das formações que
se desenvolvem na mistura total após radical esterilização.
6. Após alguns dias, musgo e capim embebidos em água são inoculados,
totalmente não esterilizados, no agar. Do mesmo modo, água da bica
não esterilizada é inoculada. Em todos os casos, os crescimentos
diferem de todos os tipos de bions estéreis.
a Não-estéril
b Fervido por Vi hora a 100°C
c Passado em autoclave por a 1 hora a 120°C
d Esterilizado a seco de 1 a 2 horas a 180°C
e Aquecido até a incandescência de Vi a 1 minuto em chama de
gás benzeno
bb Fervido em dobro (duas vezes)
cc Passado em autoclave duas vezes
+ Movimento fraco, pouco movimento, reação ocasionalmente
positiva
++ Movimento forte, freqüentemente positivo, reação claramente
positiva
+++ Resultado muito vigoroso
Experiência animal sem qualquer efeito visível
93
Tabela Mostrando a Carga Elétrica dos Vários
Bions e suas Culturas
sterilizzazione
Movimento Coltura in
gonfiamento
Esperimenti
delia coltura
su animali
Tipo di
Tipo di
Reazione
Reazione
elettrica
elettrica
Matéria Annotazioni
imme- 2-6 2-6 3-10
diato settim. giorni settim.
b
KCI 4- + + + -♦- +4-+4-4-
+ 4- 4- 0
b
Terra
b
KCI + 4- ++ +++ ++ ? 4- 4- ?
coltivata c
Terra
normale
c
KCI 4-4-4-
+ + + + + ++ ? 4- 4-
Terra c
coltivata
d + h2o ?
" 0 O o O 0 O
•• d KCI 4-4-4’ + + + +4-4-
4-4- 4-4- -
c
II b
KCI 4-4- 4- + + + ? 4-
b
" d 0 0 0 ~ O õ o 0
•• d KCI + 4- 4- + + + + 4-4-4-4- -
c
" e
Brodo
-f KCI
4-4-4- + + + + ?
4-4-4- 4-4-4--
o O + + o O ? Colture miste
Fuliggine
+ ? o 0 non sterilizzate
d 0 o 0 o o o O ?
e KCI + + 4-4-
+ + + + + +4- + +? 4-4-4--
brodo
Tipi iii bioni ('iirtiii Coltnrj Carica Annottisioni
Mistura Ecce/.ionc
Preparato t di negativa si_ negativa 6cl - elettr.
bioni
Tessuto iinnra
nuiscohiro negiiUBi lug.mva
Bioni di 1 reperti
legato negativa si negativa ] 1 deila coltura
s richiedono altri
Bioni di controlli e
polmone negativa si negativa ) interpreta/ioni
Bioni di
tuorlo ti uovo negativa no
Bioni di
muschio negativa possihile negativa
Latte di possibile se
mucca negativa riscaldata negativa
con autoclave
a 120 “C
95
7. A INTERPRETAÇÃO DIALÉTICO-MATERIALISTA
1. 3.
C Carbono P Fósforo H2O Água
N Nitrogênio K Potássio
O Oxigênio Ca Cálcio
H Hidrogênio S Enxofre
Fe Ferro
Mg Magnésio
Também, nos animais:
Na (Sódio) e Cl (Cloro)
?ar9a / descarga
,r|tumescimento / relaxamento
^nabolismo / catabolismo
tensão / relaxamento
assimilação / desassimilação
96
crescimento / extinção (encolhimento, relaxamento, descarga)
98
organizada. Fizeram-se freqüentes tentativas, em experiências modelo,
para imitar o movimento orgânico - por exemplo, o fluxo plasmático das
amebas. Essas experiências modelo baseavam-se na suposição de que o
movimento orgânico era controlado pelas alterações na tensão superficial,
porém, esta explicação responde somente parte da questão. Ainda não está
compreendido como o impulso espontâneo para mover-se vem do “interior".
A mudança na tensão superficial é, certamente, um fenômeno fundamental
do movimento, porém não pode ser considerada como a causa. A essa
altura, um vitalista introduziria um princípio metafísico para preencher essa
lacuna em nosso conhecimento. Tendo em mente as observações e as
experiências que até aqui foram descritas, tentemos chegar a uma
explicação deste impulso interno.
Segundo nosso conhecimento presente, a energia elétrica no ferro,
por exemplo, é aglutinada por um certo arranjo das moléculas. Aplicando-se
uma força elétrica externa à peça de ferro, pode-se alterar a posição das
moléculas de modo que o ferro se torne magnetizado. É importante lembrar
aqui que a energia elétrica é distribuída “uniformemente” sobre as
moléculas e átomos, do mesmo modo que em uma solução cristalóide.
Como já estabelecido, a matéria organizada difere da matéria não-
organizada, primariamente, em que, a primeira, “não é homogênea”, isto é,
“de densidade não-uniforme". Os colóides orgânicos não são homogêneos,
como é demonstrado pela sua habilidade de refratar a luz. Essa diferença
entre a matéria organizada e a não-organizada é de fundamental
importância no que diz respeito à motilidade e à imotilidade.
99
A perda de movimento nas vesículas e “o movimento sem
deslocamento” são problemas a parte e não nos dizem respeito agora. As
experiências produzem a seguinte explicação plausível para os tipos de
movimento em 3 e 4. Esmo à ampliação máxima no campo escuro, os
cristais de terra não-aquecidos e não-intumecidos não exibem qualquer
movimento interno, nem se movem de um lado para outro. Por outro lado,
os cristais de terra vesicularmente desintegrados e intumescidos exibem
tanto moção interna quanto mudança de posição. Os cristais de terra que
não são aquecidos ou intumescidos são eletricamente neutros, as vesículas
dos cristais de ‘terra” e de “carvão” que*se separam da aglomeração de
vesículas têm uma carga elétrica positiva e movem-se vigorosamente. As
grandes unidades de cristais de terra e carvão vesicularmente desitegradas
são comumente eletricamente neutros. Qual a razão para isso?
No cristal, as partículas não são intumescidas e a energia elétrica
é aglutinada. O intumescimento ou o aquecimento até a incandescência
rompem a coesão mecânica das partículas na matéria, liberando a energia.
De outro modo, as vesículas que emergem do cristal não poderiam ter uma
carga elétrica. O relativo movimento das vesículas no seu próprio lugar
pode, assim, ser explicado como resultado dos campos elétricos de força
das vesículas individuais atuando uns sobre os outros. Se os preparados de
terra e carvão que foram cozidos ou aquecidos até a incandescência forem
observados longa e acuradamente, freqüentemente se vê que duas
vesículas dançam uma em volta da outra até que uma terceira se aproxime.
Uma vez que esta se aproximou até uma determinada distância, uma das
duas vesículas que se moviam afasta-se de sua parceira e começa a
dançar com a terceira vesícula recém-chegada, e assim por diante.
Se vesículas de qualquer espécie, eletricamente carregadas,
forem mantidas juntas com lecitina ou gelatina, então, de modo regular, em
vez de vesículas movendo-se livremente no espaço, relacionando-se umas
com as outras, a aglomeração “rasteja de modo coordenado” e também se
expande e se contrai como um sistema. Deve-se, por conseguinte,
considerar que a locomoção da “aglomeração” é causada pela interação
das vesículas individuais, eletricamente carregadas, “dentro” do limite
mecânico, por exemplo, da lecitina. As vesículas ficam comprimidas em um
espaço e continuam a se mover, relacionando-se umas com as outras,
dentro do mesmo espaço; porém, como resultado, a massa inteira adquiri
um movimento intrínseco. Há, no aglomerado de vesículas, um
relacionamento antitético, ou contradição, entre as vesículas que se
ricocheteiam dentro da colônia e, entre essas vesículas e o limite
circundante, isto é, a tensão da superfície. Se predominarem, num ponto da
Periferia de uma colônia de vesículas movediças, as forças de repulsão que
atuam sobre as vesículas individuais, então a pressão interna deve crescer.
Esta “pressão interna” pode até ser “maior” do que a resistência exercida
Pela periferia, em cujo caso ocorre um “distendimento”, porque a tensão da
SuPerfície exerce menos força do que a pressão interna. Mas a expansão
100
espiral esticada. Não é possível, no presente, dizer qual o efeito que esse
processo possui sobre as cargas elétricas dentro das colônias. Entretanto,
não há como duvidar do efeito antitético da tensão superficial e das forças
elétricas no interior da colônia como sendo a razão para o movimento.
Pauli demonstrou, experimentalmente, que as partículas colóides
da proteína entram em íntima relação com o solvente, a saber, a água. Ele
explica isso estabelecendo que a água penetra a proteína e produz um
intumescimento. Na opinião de Pauli, as partículas de proteína
eletricamente não-carregadas sempre incham menos que a proteína
eletricamente carregada. Quanto maior a capacidade de uma partícula de
proteína para intumescer, mais estável será ela na solução. As partículas de
proteína que têm pequeno ou nenhum intumescimento formam sistemas
coloidais muito instáveis, isto é, viram flocos com muita facilidade. Eu
preferiria virar ao contrário a explicação de Pauli e dizer: “Quanto mais uma
substância protéica pode inchar, mas prontamente ela pode formar uma
carga elétrica, e mais estável ela é na solução coloidal”. Quanto menos
prontamente uma substância protéica incha, menor será a carga elétrica, e
mais fácil será para a proteína precipitar-se. Há certas vantagens em virar
ao contrário a explicação de Pauli. Por exemplo, indica como se pode
resolver o difícil problema de por que o intumescimento de uma partícula
causa a formação de uma carga elétrica.
101
Forma de movimento visível
1. Vesículas imóveis
°o o °
O o O
2. Vesículas móveis na mesma direção
o
3. Vesículas móveis de um lado para outro
OO CK
S= Tensão da superfície
I = Pressão interna
105
satisfatória para a questão do que é a vida, eliminando o principio
metafísico do “além" como um meio para explicar o todo.
A fim de apreciar o milagre da vida e a maneira como ela funciona,
não necessitamos de qualquer explicação metafísica, não importa como é
exaltada. Parece-nos um milagre suficiente o fato de que podemos
estabelecer uma linha firme desde a excitação psíquica ou a gratificação,
vias impulsos antitéticos do prazer e da ansiedade até a antítese fisiológica
do parassimpático, via antítese química do potássio e do cálcio ( lecitina e
colesterina), até a antítese puramente fisiológica-mecânica da pressão
interna e da tensão da superfície, bem como de carga e descarga elétricas.
A continuidade desta tinha, desde a simples vesícula inorgânica até o
altamente complexo sistema de funções psíquicas nos seres humanos, não
é quebrada, de maneira alguma, pelo fato de que ela exibe características e
complexidades fundamentalmente diferente nos vários estágios de
desenvolvimento da função.
106
8. UM ERRO NA DISCUSSÃO DA “GERAÇÃO ESPONTÂNEA”
108
estavam repletas de todas as formas possíveis de vida, ao passo que nem
um traço de vida podia ser encontrado nas garrafas que tinham estado
expostas ao ar puro e livre de micróbios da geleira. “Este teste mostra -
escreveu Goldschimidt - que os animais só se podem desenvolver em tais
decocções no ar impuro”.
Uma resistência obviamente emocional à idéias de que a matéria
viva pudesse desenvolver-se de algo inanimado impediu que Goldschimidt
visse quão incorreto era tal argumento. O que fez o físico Tyndall? Ele
preparou decocções de substâncias e, após um certo tempo, descobriu -
“organismos vivos nas garrafas hermeticamente seladas”, exatamente como
ocorreu-me em minhas experiências. Ele tomou algumas das garrafas,
colocou-as expostas em uma geleira, e não encontrou organismos vivos
nelas. A partir disso, ele incorretamente concluiu que os organismos vivos
que tinha encontrado nas garrafas seladas tinham sido introduzidos pelo ar
impuro do exterior. “Tal conclusão era justificada”. A única conclusão
correta a ser tirada do efeito do ar glacial seria, talvez, que esses
organismos não podem sobreviver no ar glacial. A experiência no ar glacial
não fornece de forma alguma, uma explicação positiva para como
organismos vivos podem introduzir-se decocções em garrafas lacradas. É
muito mais provável que os organismos vivos formados pelas decocções e,
em seguida, “mortos no ar da geleira”. Ninguém pode rejeitar tão
prontamente a possibilidade de que os organismos vivos sejam formados
de substâncias não-vivas. Há uma lei estrita de que os resultados científicos
positivos devem ser sempre conferidos e verificados. Assim como se deve
tomar muito cuidado ao negar fatos. Não pode haver dúvida de que
organismos vivos são encontrados em decocções. Desde o começo, seria
virtualmente errôneo perguntar: “Como os organismos se introduziram na
garrafa selada? Desde que é sabido que nenhum organismo vivo pode
atravessar recipientes de vidro que estejam lacrados.
As experiências pioneiras de Pasteur pareciam fornecer um
suporte ulterior para os que rejeitavam a teoria da geração espontânea.
Pasteur provou que o ar completamente “livre de germe” jamais produz
coisas vivas quando posto em contacto com substâncias nutrientes.
Goldschimidt observou, nesta relação: “Para o mundo científico, isto
‘respondeu completamente’ a questão sobre se existe a geração
espontânea, e, posteriormente, mostrou que se ocorrem subitamente
organismos vivos onde anteriormente não havia nenhum, eles terão se
desenvolvido de germes contidos em toda parte no pó ou no ar”. Porém,
isto está longe de ser uma prova clara: “o chamado ar ‘livre de germe’ não
contém as finíssimas partículas de pó que, no intumescimento, produzem
organismos vivos”. Pasteur colheu pó do ar e descobriu que havia vários
micróbios que são capazes em condições favoráveis - a saber, “em meio
ambiente úmido” -, para “recriar” pequenos organismos. Tal assertiva já é
pre-conceituosa, porque a “natureza e a origem desses micróbios” ainda
permanecem inexplicadas. Os micróbios são tanto organismos que são, por
assim dizer, inativos e que se desenvolvem em outra forma de organismo -
isto é, bactérias ou protozoários (caso em que se gostaria de saber qual é
exatamente a natureza desses organismos imóveis que chamamos
109
“germes”, e, tanto quanto se sabe, tal conhecimento não se encontra
disponível atualmente) - quanto os germes são finíssimas substâncias não-
vivas que se convertem em organismos vivos em seguida no
intumescimento induzido pela umidade (caso em que tal processo de
transformação teria de ser provado por experiência científica). O fato de que
os organismos se desenvolvem do ar carregado de pó, enquanto que
nenhum se desenvolve de ar livre de pó, de modo algum indica que a vida
não se pode formar de matéria inanimada. As finas partículas de pó poderia
ser, de fato, os germes verdadeiros das substâncias sem vida, a partir das
quais os organismos vivos se desenvolvem, dependendo da definição do
termo “germe”.
Em estado seco, o pó pode ainda conter bactérias, que voltam à
vida quando colocadas em contato com a umidade. Serão tais bactérias
secas ainda organismos vivos ou meras “partículas de pó”? A teoria do
germe, assim, precisa divergir da teoria da geração espontânea se se aceita
simplesmente e premissa de que a matéria não-viva pode transformar-se
em matéria viva e vice-versa. Os defensores da teoria do germe, como foi
definida até aqui, têm ainda que responder a estas perguntas: O que
caracteriza os germes como organismos latentes? O que os distingue da
matéria não-viva? Como eles se desenvolvem em formas de vida
movediças? “A experiência de Pasteur, assim, não desmente a teoria da
geração espontânea, mas simplesmente desvenda o efeito das partículas
de pó no ar”. Se se observam as decocções após dez ou quatorze dias e
descobrem-se organismos vivos, é ainda concebível que os organismos
tenham entrado no exterior. Entretanto, uma decocção que é tirada
diretamente do esterilizador, colocada no microscópio e na qual se encontra
organismos vivos, pareceria excluir tal teoria. De outro modo, seria
completamente impossível esterilizar qualquer coisa; até mesmo germes
necessitam de um certo tempo para se desenvolverem. Em acréscimo, os
germes deviam ser completamente mortos por um período longo de
aquecimento a temperaturas superiores a .100°C. Essas contradições na
teoria do germe não precisariam existir se se deixasse de considerar os
germes como “organismos completos”.
Eu apontaria uma inexatidão no conceito da geração espontânea.
Ela pode ser tomada como significando que, em algum tempo no passado,
a vida se formou de matéria não-viva e foi capaz de reproduzir-se. A
geração espontânea, entretanto, pode significar também que agora,
“continuamente”, “a cada minuto e cada segundo, a vida está se
desenvolvendo de substâncias não-vivas”. Se isto puder ser provado fora
de quaisquer dúvidas, não contradirá, naturalmente, o desenvolvimento da
vida a partir de germes, pois a vida espontaneamente gerada poderia
manter-se por meio da reprodução.
Entretanto, por largas que as perspectivas de tal opinião possam
ser, nós devemos, por enquanto, restringir-nos a verificar precisamente o
110
inanimada de terra ou a fibra vegetal individual e as observações de
micróbios ou protozoários completamente organizados. Há "estágios
preliminares dos organismos completos” e há estágios em que é difícil
decidir se o torrão de terra ou a fibra vegetal está viva ou não.
Alguns dos tipos de organismos gerados experimentalmente
podem ser descritos como formas completas de vida. Essa expressão não
pode ser usada tão prontamente para descrever outros tipos a que se
devem referir como estágios preliminares ou estágios de desenvolvimento
da matéria viva, como no caso dos plasmóides que se tornam cristais.
O intumescimento de uma fibra vegetal decomposta ou de um
cristal de terra é ainda, definitivamente, um processo mecânico, não-vivo.
Quando uma vesícula esticada se separa da fibra vegetal é,
presumivelmente, já um processo vivo. Mas, por exemplo, a formação de
um utrículo a partir de uma partícula inchada de terra poderia ser
considerado tanto como um processo mecânico quanto um processo vivo,
dependendo, inteiramente, da definição do conceito de "vivo”. Por
conseguinte, parece importante para mim, ao verificar e reproduzir esses
fatos, traçar, em particular, os “detalhes” de como a matéria inorgânica é
transformada, isto é, o processo de intumescimento, desintegração
vesicular, a formação de vesículas, etc. Deve-se considerar que não há
limites entre o mundo vegetal e o mundo animal, entre matéria não-viva
inorgânica e matéria viva. Isto requer que abandonemos a maneira estática,
mecanicista, de pensar e tentemos compreender o processo e a dinâmica
das funções.
Sumário
1. A teoria da geração espontânea jamais foi definitivamente desmentida.
Os pesquisadores consideravam-na como uma conseqüência inevitável
do pensamento científico.
2. O objetivo dos opositores da teoria da geração espontânea sempre foi
provar que as formações em questão podem ser mortas a altas
temperaturas. “Os proponentes da teoria da geração espontânea jamais
foram capazes de fornecer uma prova exata do que realmente ocorrem
a geração espontânea”.
3. A decocção não era examinada imediatamente após ter sido preparada.
4. Não se fizeram tentativas para cultivar as estruturas produzidas pela
decocção.
5. Os estágios transitórios da não-vida para a vida nunca foram discutidos
junto com as experiências.
6. Não foi possível realizar observações a 2000-4000x.
7. Não se realizaram pesquisas em temperaturas superiores a 180°C,
porque cria-se que qualquer vida existente estivesse eliminada, de modo
que desapareceram completamente a possibilidade de uma nova vida
gerada a temperaturas superiores ao limite letal.
111
9. O MÉTODO DIALÉTICO-MATERIALISTA DO
PENSAMENTO E INVESTIGAÇÃO
112
estruturas e preserva-as para estudos contínuos. Em contraste direto
entretanto, estava um dos princípios de nosso trabalho, que nós $ó
estudamos matéria movediça viva, porque é a “mutabilidade”, 0
"funcionamento”, e não o elemento estático, não a estrutura, que são de
interesse primário.
Dado que se tenha um bom auto-controle crítico, pode-se arriscar
a dar saltos “não-científicos”, que seriam terminantemente proibidos no
trabalho científico comum. Por exemplo, era essencial, no início de meu
trabalho, mesmo se não intencionado, misturar as substâncias “sem
esterilizá-las”. Se eu tivesse começado com um alto grau de esterilização, a
distinção entre a natureza relativamente imóvel da matéria não-estéril e a
natureza móvel da matéria extremamente estéril imediatamente em seguida
à produção do preparado não se teria revelado. Nas primeiras experiências,
o intumescimento e, particularmente, a cultivação dos cristais de carvão
extremamente estéril pareciam mesmo, para mim, serem um pouco
“malucos”. Contudo fosse precisamente este salto para um procedimento
altamente não científico que tornou possível explicar a teoria do espório.
Tais saltos só são válidos se forem realizadas depois experiências de
controle. No entanto, a pesquisa científica é freqüentemente sufocada por
quantidades excessivas de tais controles.
Como exemplo desse problema, durante as experiências bio-
elétricas, meus primeiros colaboradores gastavam semanas e meses
estabelecendo os fenômenos que resultariam quando os arames que
conduziam ao oscilógrafo fossem mecanicamente agitados. As flutuações
resultantes eram da ordem de um ou no máximo cinco minivolts. Os
experimentadores ficavam tão absorvidos em realizar esse controle, que,
por exemplo, simplesmente não percebiam as flutuações de 20, 30, e 50
mV provocadas pela “excitação e toque" na palma da mão. Fiquei muito
surpreso quando um deles, ao examinar o primeiro traço de uma flutuação
de excitação, ficou entusiasmado com os visíveis picos cardíacos. Esses
eram de mais ou menos 1mm, ao passo que os picos das flutuações de
excitação eram de aproximadamente 2cm. Esse fenômeno perturbou-me
grandemente. Tentei explicá-lo, pensava eu corretamente, considerando
que mesmo o cientista mais consciencioso é tão tentado a entregar-se à
leviandade e à imprudência que ele deve proteger-se dessa fraqueza
apoiando-se por demais no equipamento e realizando excessivos controles;
ambas estas atividades podem ter efeitos nocivos. Alguns cientistas
recusam-se a considerar algum resultado, a menos que tenham uma
descrição extremamente acurada dos aparelhos usados. A meu ver, essa é
uma atitude exagerada. É com certeza extremamente importante, ao passar
uma corrente elétrica por um preparado, não diagnosticar imediatamente o
movimento observado no microscópio como cataforese. Antes de tudo, é
necessário possuir um aparelho com o qual se está completamente
familiarizado e que permita “em que a corrente seja invertida”. Assim, a
cataforese pode ser distinguida de uma corrente de fluido. Mas o aparelho
não deve ser mais importante do que o fenômeno que se deseja
compreender. Ao longo do presente trabalho, tive que aprender a manter
uma mente aberta sobre fenômenos muito questionáveis - na verdade,
muito improváveis - e, a princípio, sem realizar quaisquer
113
testes de controle, de modo a deixar que eles criassem sua própria
impressão em mim. Eu nunca deixei de me surpreender com os resultados
a que se pode chegar adotando conscientemente essa abordagem
altamente anticientífica, sempre providenciando para que os saltos
temerários fossem mais tarde verificados por controles restritos.
Mencionaria outra atitude extremamente lamentável: Um
pesquisador descobre um fenômeno - p. ex., movimento em tinta nanquim -
descreve-o, revela-o. O fenômeno ganha repercussão e é batizado
movimento Browniano. Brown acreditava ter descoberto um fenômeno vivo.
Os físicos, no entanto, explicam o fenômeno como sendo uma manifestação
puramente “física” provocada pela meção molecular e, ao contrário da
opinião do seu descobridor, o movimento Browniano é agora estabelecido
como um conceito pelo qual se “explica” “qualquer” movimento microscópio
que não esteja claro e obviamente associado com a matéria viva. Não é
agradável ouvir uma expressão usada constantemente quando se
demonstra a existência de outros fenômenos que não têm qualquer relação.
Um físico admitiu para mim que estava ensinando o movimento Browniano
para jovens ginasianos, embora ele mesmo jamais tivesse visto. O manual
de Romeis sobre bacteriologia nem mesmo menciona o movimento
Browniano, como se ele pertencesse, afinal de contas, ao reino da não-vida
e fosse permanecer aí para sempre. Devido à existência de tais atitudes,
estabeleci como princípio metodológico para meu trabalho “adotar qualquer
realização técnica da pesquisa científica e registrar acuradamente toda
observação experimental, mas, de modo a evitar confusão, ignorar todas as
interpretações teóricas por enquanto". Para eliminar problemas, pedi
explicitamente a meus colaboradores para que explicassem somente suas
habilidades e conhecimentos técnicos dos fatos, mas, ao longo de seu
trabalho e no trato comigo, esquecer quaisquer teorias ou interpretações
que tivessem aprendido. Isto tornou possível conduzir a experiência com
fuligem incandescente, permitindo-o inchar no caldo + KCL, e mesmo
cultivá-la. De fato, isto fez com que esse movimento dito físico (movimento
Browniano), que devia estar sempre presente, estivesse ausente quando as
condições eram modificadas. As partículas de carvão e fuligem ficam
quietas e só começam a se mover após um período de inchação. O
movimento continua por várias semanas e meses antes de cessar
finalmente.
Quando alguém irrompe dentro do que parece uma área
improvável, fica agudamente consciente do fenômeno do pensamento
preguiçoso nos redutos científicos. Assim, no segundo tipo de pesquisa
científica, tem que se fazer mais do que apenas atracar-se com fatos e
problemas e lutar contra ou refutar os pontos de vista tradicionais e não
raro, falsos. É absolutamente essencial acreditar que a opinião de alguém
seja acurada e correta, ainda que, ao mesmo tempo, tenha que sobrevir as
116
superioridade, para mostrar que se pode, de fato, descobrir e atingir mais
com este método do que com os métodos mecanicistas.
Vamos sumariar, brevemente, os princípios do método dialético-
materialista:
O materialismo mecanicista afirma que o desenvolvimento se dá
em uma “seqüência causai", isto é, que todos os fenômenos têm uma
causa, que esta mesma causa é o resultado de uma causa anterior, e assim
por diante. Entretanto, esse método realmente não explica como o fato B
deriva do fato A . Por conseguinte, têm-se que considerar um “princípio
desenvolvimentista”, que também precisa ser explicado. Afinal, por que
existem coisas como desenvolvimento? O método mecanicista só pode
responder tal pergunta valendo-se de outros meios, tais como uma “força”
inerente na matéria, que nada mais é que o “espírito” a que se referem os
metafísicos. Mas, de onde vem a força ou o espírito que exerce essa
influência? O materialismo dialético, por outro lado, estabelece que o
desenvolvimento vem da presença de opostos dentro da matéria que
causam uma contradição antagônica. Tal contradição não pode ser
resolvida dentro de determinada situação. Por conseguinte, os opostos
forçam uma “mudança” na situação, e forma-se algo “novo”. Esse “algo
novo”- formado pela resolução da contradição - desenvolve novas
contradições, que, por sua vez, forçam soluções ulteriores, e assim por
diante. Assim, tudo está em um constante estado de fluxo. Nada é separado
nem absoluto, tudo interatua.
Na visão mecanicista, os opostos são absolutos e irreconciliáveis.
No materialismo dialético, os opostos são vistos como idênticos e como
uma conseqüência que se pode desenvolver do outro. O ódio não é apenas
um oposto do amor, ele pode ser desenvolvido do amor; muito do amor
consciente é ódio inconsciente, e vice-versa.
A partir da era do esclarecimento, a ciência mecanicista elaborou o
conceito do desenvolvimento; as coisas não são apenas eternas, mas
estão também no processo de desenvolvimento. Mas a ciência mecanicista
ligada à Weltanschauung r epresenta o ponto de vista de que
o desenvolvimento é um processo gradual e “nada mais”. Não há
mudanças “súbitas”. A dialética materialista, por outro lado, reconhece que
o desenvolvimento gradual pode tornar-se um desenvolvimento brusco, que
a evolução prepara o caminho para a alteração súbita no desenvolvimento.
A pesquisa científica freqüentemente nega a filosofia mecanicista, p.e.,
quando ela reconhece corretamente as alterações súbitas no curso do
desenvolvimento.
Tanto a filosofia mecanicista quanto a idealista rejeitam que é
possível para a quantidade desenvolver-se da qualidade, e vice-versa. Em
contraste, o materialismo dialético afirma que não apenas a quantidade se
pode converter em qualidade, e vice-versa, mas que tal transformação é um
dos princípios fundamentais de qualquer processo natural.
O conhecimento científico avança muito mais devagar do que a
urgência de conhecimentos. As teorias filosóficas naturais brotam dos
esforços para se avançar no conhecimento adquirido, agrupando-o numa
visão sobretudo filosófica dos fatos naturais. Duas principais direções de
pensamento ficam estabelecidas: materialismo "mecanicista” e “vitalismo”.
117
Um pesquisador não chega a certas teorias gerais baseado meramente nas
descobertas suas e de outros. Geralmente se aborda as matérias,
consciente ou inconscientemente, com uma visão filosófica geral. As teorias
que ele desenvolve dependerão também de seu Weltanschauung. Não se
pode tentar analisar o limite entre a psico e o físico sem ter algum
conhecimento das teorias científicas básicas. Por conseguinte, farei um
breve sumário da diferença entre a Weltanschuauung mecânico-materialista
e o vitalista.
Os teóricos mecanicistas buscam entender o organismo como se
fosse uma máquina. Investigam os processos energéticos, a química e as
leis fisiológicas. Afirmam que as mesmas leis se aplicam tanto a matéria
orgânica quanto à inorgânica, sendo a única diferença que, na última, as
leis são fundamentalmente mais complexas e, portanto, mais difíceis de
serem compreendidas. Mas, em princípio, os mecanicistas crêem ser
suficiente conhecer os processos físicos, químicos e fisiológicos, a fim de
poderem entender a vida.
O vitalista começa por uma posição crítica muito mais vantajosa,
devido ao pobre estágio de conhecimento disponível. Ele sustenta que,
além da relação causai entre as partes na matéria orgânica, é também
necessário entender o propósito e a função do “todo”. O desenvolvimento
não é arbitrário, mas assumem certas formas que não podem ser
explicadas casualmente. O desenvolvimento das partes individuais no todo,
nas espécies, etc., é determinado por uma meta, “telos”. Tal meta é
orientada para a sobrevivência, para preservar e moldar o todo e propagar a
espécie.
O mecanicista sustenta que não se podem estabelecer diferenças
essenciais entre o inorgânico e o orgânico quanto à relação das partes com
o todo. Nos cristais e nos compostos químicos, por exemplo, nenhuma
parte pode ser removida sem destruir o todo. A única diferença possível é
que, no orgânico, as relações das partes com o todo é mais simples de
analisar.
Os vitalistas contrapõem “que a soma das partes não produz um
organismo funcional”. O todo é dominado por um propósito, uma idéia.
Tanto como sabemos, essa é a mesma objeção com que as ciências
humanas constantemente pressionam a ciência, com que os axiologista
pressionam os materialistas.
O mecanicista, pode fazer referência as “formas físicas" de Kõhters
(physics Gestalsen), que prova a integridade dos sistemas inorgânicos.
Entretanto, o vitalista sabe como defender sua posição. Diz que a
existência de hidrogênio e oxigênio e também sua combinação em água
pode ser provada quimicamente. Porém, o H2O possui propriedades
completamente novas que não estavam presentes em H e nem em O . Tais
propriedades são “irracionais” e jamais podem ser entendidas em termos
Mecanicistas. As qualidades (“verde", “vermelho", “líquido", etc.) são,
especificamente, propriedades recém formadas e, portanto, não acessíveis
30 entendimento. (A forma e o tipo colocam problemas similares) . A física
dos processos conscientes pode mostrar vibrações, mas isto não explica a
cor “verde”.
118
Um mecanicista como Max Hartmann replicaria que a ciência não
está interessada em explicar o irracional, que a porção irracional da
existência jaz fora da esfera da ciência. O propósito não explica nada,
porque ele mesmo precisa ser explicado. O princípio do propósito é um guia
apenas para a pesquisa básica, permitindo sua penetração em áreas que
de outro modo seriam inexploradas.
Um vitalista como Driesch diria que o princípio do propósito é
necessário. Embora cada célula seja uma parte, ela pode se desenvolver
até o todo, indicando a “potência provável" da matéria orgânica. Nas
palavras de Driesch, um organismo é um ‘sistema equipotencial
harmonioso”. Certamente, isto não é verdade para uma máquina. Nenhuma
máquina pode ser produzida a partir de um único parafuso.
Um mecanicista oporia: Cada célula contém toda a química que
permita a diferenciação. É necessário conhecer a fina estrutura coloidal.
Embora haja certamente uma lacuna em nosso conhecimento, isto não
prova que seja impossível descobrir uma explicação.
O vitalista se refere à hereditariedade e à mitose ao explicar como
cada ovo pode produzir o organismo todo. Do ponto de vista mecanicista,
ter-se-ia que considerar o ovo como uma máquina tridimensional.
Entretanto, a divisão a partir de “uma” célula sexual primária exclui a
possibilidade de uma máquina, porque uma máquina se poderia dividir
tantas vezes e ainda continuar um todo.
O mecanicista aponta para a divisão cromossômica, para a igual
divisão de potências. O vitalista contrapõe que a divisão da célula não pode
ser explicada em termos mecanicistas.
Isto é bastante. Podíamos continuar o bate-boca ad infinitum e
ainda assim não resolver a questão. Mencionei os pontos principais
simplesmente para aclarar nossa abordagem metodológica
fundamental, que é diametralmente oposta quer à dos mecano-materialista,
quer à dos vitalistas.
120
O modelo da antítese “dissociativa” é o seguinte:
1,0 ECC
121
Mais tarde retornaremos ao problema de como um material geneticamente
diferenciado se torna, mais tarde, reunificado. Olhado mais adiante,
podemos dizer “que a diferenciação no crescimento de um organismo
biológico vai junto com uma constante combinação das unidades biológicas
diferenciadas em uma função uniforme do organismo inteiro”. Se
considerarmos agora as três formas fundamentais da função dialética na
natureza que citamos, descobrimos que:
A “antítese sistemática” aplica-se em todas as áreas da existência.
Não há área em que um corpo não esteja em oposição a algum outro corpo,
em uma ou outra função, quer seja na interação das moléculas ou na
relação entre os seres humanos, ou nos corpos celestes.
A “antítese dissociativa” na forma dos processos elétricos,
químicos e mecânicos, domina tanto a existência inorgânica quanto a
orgânica.
A “antítese genética está associada exclusivamente com a
existência orgânica”. A relação atitéticamente dois corpos no espaço pode
ser a causa de uma antítese dissociativa (ferro magnético), do mesmo
modo que a antítese dissociativa pode dar origem a uma antítese genética
(divisão celular). Todos os três tipos de antítese ocorrem no mundo dos
organismos vivos. “O orgânico e o inorgânico têm em comum a antítese
sistemática e a dissociativa, mas orgânico difere do inorgânico pela função
da antítese genética”. A copulação e a procriação correspondem à
unificação de duas antíteses em uma terceira nova entidade. A propagação
do indivíduo é, ao mesmo tempo, a dissociação da entidade única. A
simetria biológica dos organismos é uma expressão “direta” da função
dissociativa.
Consideremos os processos fundamentais da dissociação química
e do eletromagetismo: Cada dissociação ou divisão da entidade única em
A unidade e a antítese do
sistema nervoso autônomo
Vago = prazer;
Simpático= ansiedade
130
Esquema da unidade da matéria viva e não viva
Inoraamco
Potássio . •Gon‘.agente
■O
Calcio Dis’.e^scne
o
Carica — Scanca
©
Vita
Vago .Gonfiamento -----------►- Carica
©
Simpático ■ Scarica ----------- ►* Distensione
©
Compreendemos que as esferas orgânicas e inorgânica são
funcionalmente idênticas em termos mecânicos e elétricos. Até aqui, nossas
experiências produziram os seguintes resultados:
131
2. O processo da tensão -+ carga -*> descarga -► relaxamento não apenas
distingue a vida da matéria sem vida mas, se as afirmações precedentes
estiverem corretas, deve, em princípio, governar todas as funções vivas.
Por conseguinte, devia ser possível demonstrar que todas as funções
vegetativas seguem o ritmo de tensão carga descarga -*
relaxamento. Essa fórmula, que podemos chamar a “fórmula da vida”, foi
descoberta na função do orgasmo. Podia-se também, embora não tão
facilmente, ter determinado a fórmula no movimento automático do
intestino, do coração ou da divisão celular, etc.
3. A fórmula da vida (ou orgasmo) governa todo o funcionamento
vegetativo, não apenas no organismo biológico como um todo, mas em
cada uma de suas partes. Cada célula metazoária está sujeita à lei da
vida que sumariamos na fórmula tensão-carga, quer como uma parte
distinta quer como um componente do organismo total. Assim, devia ser
possível demonstrar a função tensão-carga tanto na função global
uniforme de qualquer organismo vivo quanto no funcionamento
detalhado de suas células individuais. Isso é verdadeiro desde que não
se examine os processos mecânicos separadamente dos processos
químico-elétricos, e vice-versa, mas, ao invés, sempre os considere em
relação com o ritmo vital. •
132
da matéria inorgânica sob condições extremamente “simples” e
“naturais”.
3. Tais condições simples e naturais estão presentes, “hoje", “em todos os
lugares”. A vida requer certas substâncias com certas propriedades a
saber: carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio. Tais substâncias
podem ser encontradas “em toda parte”. Para que produzam a vida,
certas condições têm que ser preenchidas para permitir o enchimento
mecânico (inchação, intumescimento) da carga elétrica. Estas
condições, quer o inchamento, quer os processos elétricos, existem em
qualquer lugar.
4. A vida pode ser gerada a qualquer tempo e em qualquer lugar onde
existam as substâncias e as condições necessárias. A natureza não
possui quaisquer escalas de medida ou instrumentos elétricos. Tem que
haver, por conseguinte, um princípio que determine a escolha da
qualidade e da quantidade das condições necessárias. Tal seria o
processo da “auto-regulação” na criação da vida. Assim, gera-se vida
nova em qualquer lugar a qualquer hora. Basta olhar em seu contexto
global.
5. Qualquer coisa que promova o intumescimento e a carga promove,
simultaneamente, a vida.
6. A vida que se origina continuamente tem que ser diferenciada. Aqui,
novamente, temos que distinguir entre as formas de vida que se
desenvolvem de organismos que se decompões e as formas que se
desenvolvem pela organização de matéria inorgânica. A vida não
apenas se origina, mas as formas originadas “se propagam e se
repropagam”.
7. Se a vida se forma de matéria sem vida e em seguida se torna sem vida
novamente, existe um ciclo tanto entre a matéria inorgânica e a viva,
quanto dentro da matéria viva. Quando ela morre, o organismo
multicelular desintegra-se em organismos unicelulares e em matéria
inorgânica. O organismo unicelular se forma novamente de ambas
fontes.
8. Em princípio, a morte pode ser vista como a cessação de uma função
em um dos três pontos principais no ritmo da vida:
a) Encolhimento, ou perda de substância intumescedoras
(principalmente água), torna impossível o primeiro ato do
funcionamento biológico, isto é, a tensão mecânica (morrer de sede).
b) A transição do intumescimento para a carga é perturbada. Isso
interrompe a seqüência automática da função vital (morte por ataque
do coração).
c) A transição da descarga para o relaxamento pode ser perturbada.
d) Finalmente, a transição do relaxamento para o novo intumescimento
pode ser perturbada.
133
Quando os camundongos experimentais anestesiados com éter
são observados morrendo, nota-se que há fases no processo da morte.
Primeiro, o camundongo se defende contra o veneno, aumentando sua
atividade motora. Depois ele sofre um colapso. A respiração, que no início é
muito rápida, torna-se irregular e finalmente para. Entretanto, ainda não
ocorreu a morte. Após cada cessação da respiração, todo o corpo tem
convulsões, devido a descargas da energia elétrica do corpo. Não ocorre
nova formação de carga, uma vez que a respiração - e conseqüentemente
a combustão - não funciona mais. Os movimentos convulsivos se extinguem
e, às vezes, o coração continua ainda a bater por um curto tempo. Assim,
uma após outra, as funções se apagam. Dependendo da importância de
cada função para o processo vital, pode ser possível ou não ressuscitar o
animal.
Algum dia, descobrir-se-ão os meios para restaurar as funções,
particularmente o intumescimento e a carga. Hoje, porém, tais esperanças
jazem no reino da ilusão científica. No entanto, por que não sonhar? O
sonho de hoje, é freqüentemente, a realidade de amanhã.
134
APÊNDICE
Primeira Experiência
137
recipiente de vidro (tubo de ensaio com caldo) forma uma outra parte do
aparelho, que pode assim ser um sistema fechado (veja ilustração 1).
O aparato consiste, essencialmente, de dois recipientes, um
colocado em cima do outro, que podem ser isolados um do outro por uma
válvula reguladora. Um tubo de bitola estreita une as duas seções
superiores de modo que o ar do recipiente de baixo possa passar para o
superior quando o líquido do de cia correr para o de baixo. Um escoadouro
capilar de duplo ângulo reto fica preso ao recipiente inferior, e a este está
conectado, por um tampão selado de borracha, o tubo de ensaio que
contém o caldo a ser inoculado. As duas misturas primitivas podem, assim,
ser colocadas separadamente, ainda que juntas, no autoclave, e com eles
também o caldo com o qual se pretende demonstrar se os organismos
obtidos estão vivos. Após a retirada do aparato do autoclave, as duas
soluções podem ser misturadas abrindo-se a válvula. Quanto ao tempo,
basta aquecer o recipiente de cia, de modo que o ar expandido leve
algumas gotas da mistura para serem testadas no tubo capilar conectado
com o caldo. Assim, uma vez que o aparelho tenha sido tirado do autoclave,
todo o processo se realiza em um sistema estritamente fechado.
139
59. Aparecimento Sy-Clos no preparo 6, du Teil.
Terceira experiência:
141
Os preparos microscópicos manchados de fucsina desse caldo
particularmente característico foram deixados de lado.
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§§ = .
=5
1
w
abcd
a. Mistura I
b. Mistura II 2.« TuboSy-Clos
c. Caldo a ser inoculado
d. Caldo de controle *
Segunda Série
Experiência de “carvão incandescente”
Primeira experiência
142
pulverizado aquecido até a incandescência. (O resto do sangue gelatinizado
ainda está hoje, 23 de setembro, completamente estéril).
Em 28 de agosto, um caldo foi inoculado com essa mistura. O
“resultado foi positivo”, atingiu-se uma turgidez uniforme.
Em 29 de agosto, realizou-se uma inoculação do caldo para a
gelatina. Atingiu-se “resultado positivo”. Obteve-se uma cultura cinzenta
similar à dos bions.
No mesmo dia, o tubo que continha a mistura básica foi fervido
duas vezes a 100° C, por meia hora cada vez, no ar ambiente. Fizeram-se
inoculações desses para o caldo. “Resultado Positivo".
Em 8 de setembro, o tubo que continha a solução básica foi na
autoclave por meia hora a 134° C. Faz-se uma inoculação no caldo,
obtendo-se um resultado positivo. Em 4 de setembro, fizeram-se
inoculações do caldo para a gelatina - com resultados positivos.
Em 5 de setembro, o tubo contendo a solução básica foi de novo
autoclavado por três quartos de hora, a 130° C, e fizeram-se inoculações
dele no caldo. A fim de evitar qualquer infecção, a inoculação foi realizada
da seguinte maneira: O líquido estéril foi colocado em um conta-gotas
estéril que foi disposto com uma tampa no tubo que continha o caldo a ser
inoculado. A real inoculação fez-se automaticamente como resultado do
aumento da pressão na autoclave. Ela não foi tocada de modo nenhum, o
ar foi excluído completamente e a temperatura ajustada a um nível que é
aceito como letal para todos os microorganismos.
Em 6 de setembro, processaram-se inoculações desse caldo para
gelatina. O resultado foi positivo.
Terceira Série
144
Essa experiência, que se realizou sob condições de esterilidade
inatacadas, coma relação às substâncias e ao aparato, produziu um
resultado positivo. A partir do segundo dia, o caldo no tubo vertical,
comparado com o de controle, exibia uma turgidez, admitidamente, muito
fraca, mas bem perceptível. Outras inoculações em gelatina, que foram
feitas no dia 14, produziram, nos primeiros dias, uma cultura inicialmente
muito fraca, que não possuía quaisquer propriedades cromogênicas, isto é,
era tão transparente quanto o meio nutriente. Entretanto, após mais alguns
dias, naqueles lugares em que as gotas de caldo foram colocadas, formou-
se uma cultura cinza, que parecia ser favoravelmente influenciada por uma
temperatura mais baixa do que a da incubadeira. Duas amostras
microscópicas, tiradas da porção fraca e cremosa da cultura, revelou que os
organismos desenvolvidos eram absolutamente idênticos. A tendência para
a formação de cadeias era mais evidente nos organismos posteriormente
desenvolvidos.
Em 9 de setembro, realizou-se uma experiência idêntica, com o
segundo tubo-H; e novamente houve resultado positivo. Enquanto que a
turgidez do caldo original era fracamente detectável, uma inoculação em
gelatina feita onze dias mais tarde, rapidamente produziu uma cultura
transparente similar à primeira, mas espessa e forte. Ao microscópico
também, continha os mesmos organismos.
Resta mencionar que várias experiências nos quais KCL, aquecido
à incandescência, foi acrescentado ao caldo, também produziram
resultados muito positivos. Por outro lado, uma experiência envolvendo KCL
que se tinha fundido durante o aquecimento, produziu apenas um resultado
dúbio.
Conclusões:
145
No experimento conduzido em Oslo (1936-
1937), Reich aplica ao mundo biologico microscópico
sua formula do orgasmo: tensão-carga-descarga-
relaxamento.
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