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RESUMO:
As funções exercidas pelas áreas centrais da cidade disputam para a
configuração de diversos processos que frequentemente incentivam a realização da
reorganização de tais áreas através de intervenções urbanas. Diante disso, esse artigo
tem o objetivo de analisar as intervenções efetivadas na orla do Porto de Cuiabá, MT a
partir da sua revitalização, inaugurada em dezembro de 2016.
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1 INTRODUÇÃO
Os processos de (re)Produção do espaço urbano passam por ações que buscam
valorizar determinadas áreas da cidade, por atrair população e investimentos a ela
através de ações de City Marketing. Nesse contexto de intervenções, as áreas centrais,
ganham destaque, pois apresenta recursos e significado para a cidade, visto que o
Centro é o espaço da diversidade, podendo ser compreendido como metonímia da
cidade. (TOURINHO, 2006, p, 227) .
Diante das propostas de intervenção urbana, por meio de ações de city
marketing, é importante analisarmos a revitalização realizada no bairro do Porto, e
Cuiabá, MT. O Projeto lançado em agosto de 2013, com estimativa de custo de 28
milhões de reais, planejava intervenções numa área de 1,3 km da Avenida Beira Rio, no
trecho entre o cruzamento com a Rua Barão de Melgaço, na rotatória da Ponte Nova, até
a Praça Luiz de Albuquerque, e a Ponte Júlio Mueller. O projeto, que fazia parte das
obras previstas para o mundial de futebol do ano de 2014 não ficou pronto a tempo do
evento sendo inaugurado em 22 de dezembro de 2016, dois anos e meio após o Mundial
de Futebol.
Financiada pela autoridade governamental, e sob o discurso de: “Promover a
revalorização e a apropriação daquele espaço pela população local, através da
valorização do patrimônio histórico e cultural presentes na região, e da promoção do
convívio social por meio da prática do esporte e lazer” (PREFEITURA DE CUIABÁ,
2013), o projeto visa transformar o Bairro do Porto no principal centro de
entretenimento do município de Cuiabá.
Diante dos horizontes propostos pelo projeto de revitalização, objetivou-se nesse
artigo, analisar as intervenções efetivadas na revitalização e compará-las com o que
estava previsto em projeto. Além disso, apontaremos os desafios configurados na
realização de intervenções urbanas.
Para alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma investigação profunda
em documentos e in loco, revisão bibliográfica e análise do projeto que resultaram na
comparação entre o discurso referente ao projeto e o que foi realizado na pratica. Bem
como entravistas com os freqüentadores, habitantes e comerciantes locais. A
investigação foi pautada na aplicação e verificação das categorias de análise espacial:
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forma, estrutura, função e processo. E a pesquisa resultou em um diagnóstico analítico
sobre os desafios das operações de intervenção urbana.
2 –DISCUÇÃO TEORICO-CONCEITUAL
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Muitas das inovações e investimentos feitos no planejamento estratégico para
tornar as cidades atraentes, rapidamente foram imitadas em outros lugares. Centros de
convenções, estádios de esportes, Disneylândia, Portos revitalizados, e shoppings
centers modernos inundam as cidades ao redor do mundo em uma tentativa de produzir
um city marketing tão bem sucedido como os casos de Baltimore, nos Estados Unidos
da América e de Barcelona, na Espanha.
Porém a lógica do marketing urbano nos apresenta uma dualidade. Conforme
nos mostra Harvey (1996) se por um lado as iniciativas de empresariamento urbano tem
o poder de consolidar lugares urbanos, gerando emprego e renda, do outro lado elas
encorajam o aumento da pobreza e as disparidades de riqueza e renda, visto que muitos
dos empregos gerados são em funções de baixa remuneração, e a valorização dos
espaços eleva o valor das propriedades ao redor e a carga tributaria, contribuindo com o
processo de gentrificação.
A mistura de marketing com a forte intervenção de um governo local bem
estruturado é o que faz o planejamento estratégico ser bem sucedido. Utilizando
concepções e ferramentas de publicidade e propaganda, oferece aos possíveis
compradores um produto superior, uma cidade inovadora, excitante, criativa e segura
para se viver, visitar e consumir, um lugar que satisfaz os desejos e as necessidades dos
compradores, garantindo por meio do consumo, rendimento econômico mais elevado
que em outras cidades. É formando o consenso entre os diversos agentes produtores do
espaço, de que as intervenções realizadas são necessárias para o desenvolvimento
econômico e uma posição privilegiada na competição entre cidades. (OLIVEIRA, 1999,
p. 158)
Assim, o city marketing apresenta uma lógica perversa, primeiramente
transformando a cidade em uma mercadoria e a partir do desenho urbano, ligado a
arquitetura pós-modernista, desmonta e recria as formas culturais e os estilos de vida da
população local, produzindo espaços homogêneos e a fragmentação urbana, permitindo
que as funções de comando permaneçam na cidade mas as custas do consumo coletivo
local. (HARVEY 1996, p. 58) É produzida uma “urbanização de grife”, seletiva e
excludente, cuja cidade não é produzida para o habitar e sim para o exibir.
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Nesse contexto, as áreas centrais da cidade ganham importância e se tornam os
principais alvos das ações de city marketing. Por terem localização privilegiada, melhor
infraestrutura e guardarem a memória histórica das cidades, os centros e portos passam
por umas das principais intervenções do gerenciamento urbano: as revitalizações.
A reestruturação produtiva, sobretudo na década de 1970, se reflete na produção
do espaço nas cidades. A cidade passa, a partir desse momento, por profundas
transformações em sua estrutura política, econômica e social. Tais mudanças se refletem
diretamente na maneira como o espaço urbano se estrutura. Esse processo fica evidente
na forma e no processo de urbanização das cidades. (GOTTDINIER, 1997)
As cidades assumem novos papéis, gerenciando e sendo também produto do
regime de acumulação flexível do capital. As mudanças físicas na estrutura urbana,
vindas da reestruturação, redefinem os usos do solo, a territorialidade, as hierarquias
urbanas, as formas urbanas, as relações entre tempo e espaço nas cidades e a lógica das
centralidades.
Do ponto de vista do capital, a produção do espaço destinado a comércio e
serviços está atrelada a uma hierarquia de lugares, os centros e subcentros, locais com
infraestrutura e matéria prima necessária e onde se desenvolve o capitalismo
monopolista. (CORRÊA, 1989) Assim, os lugares centrais, segundo Christaller (1966),
seriam aqueles com maior número de bens e serviços específicos, dessa forma, esses
lugares seriam mais elevados hierarquicamente.
Porém é necessário pensar no significado de centralidades para além da
hierarquia dos lugares e das especificidades espaciais, é preciso pensar em centralidades
como conteúdo e reprodução da vida nas cidades contemporâneas. (SERPA, 2014 p.99)
Assim a sociedade urbana cria centralidades, pois, como afirma Lefebvre (1999, p. 93.):
Tomemos a questão do centro e da centralidade. Não existe
cidade nem realidade urbana sem um centro. Mais do que
isso: o espaço urbano se define, já dissemos, pelo vetor nulo;
é um espaço onde cada ponto, virtualmente, pode atrair para
si tudo o que povoa as imediações: coisas, obras, pessoas.(...)
O centro só pode, pois, dispersar-se em centralidades parciais
e móveis (policentralidade), cujas relações concretas
determinam-se conjunturalmente..
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Dessa forma, a centralidade é a essência do fenômeno urbano. Ela precisa de um
conteúdo, que para Lefebvre, é um conteúdo ‘vulgar’, visto que a cidade não cria nada,
mas centraliza as criações, e contraditoriamente, cria tudo. (SERPA, 2014, p.100)
O Porto Geral que foi de extrema importância para a cidade de Cuiabá, vive em
decadência desde a década de 1960. O local que no passado foi a fonte de ligação de
Cuiabá com o restante do País hoje vive abandonado e deteriorado, visto que as
atividades de comercio, serviços e a população se mudaram para a periferia. Essa fuga
foi motivada pelo aumento da violência, pelo alto valor dos imóveis e pelas enchentes
que no passado assolaram a região do Porto.
Para recuperar o interesse da população cuiabana pelo Porto, foi realizada a
revitalização de parte do bairro. O Projeto de revitalização da orla do Porto de Cuiabá
realizou intervenções em três principais locais: O Museu do Rio, a Praça Luiz de
Albuquerque e a Avenida Beira Rio, locais com importância histórica e imaginética
para a cidade.
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2.2.1 MUSEU DO RIO
Figura 02: Mercado do Peixe e feira do Porto durante a enchente de 1995. Figura 03: Museu do Rio
após as reformas em 2010.
Fonte: IPDU, Setembro de 2010
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No mesmo ano, passou por uma reforma comandada pela prefeitura municipal
de Cuiabá que custou US$ 1,3 milhão. No ano do seu centenário, o antigo Mercado do
Peixe passa a ser o Museu do Rio Cuiabá “Hid Alfredo Scaff” homenagem a um
comerciante de renome do Bairro do Porto que tem sua história ligada a da comunidade
e da navegação do rio.
Figura 04: Praça Luís de Albuquerque na década de 1920. Figura 05: Vista da Praça Luís de
Albuquerque antes da revitalização
Fontes: Arquivo Público, Setembro de 2010 e Arquivo Pessoal, agosto de 2010
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construção, a avenida passou por uma revitalização e ganhou obras de recapeamento,
drenagem, urbanismo e paisagismo. O nome da avenida também foi mudado para
Avenida Manuel José de Arruda, em homenagem ao ex-prefeito de Cuiabá na década de
1950.
Figura 06: Avenida Beira Rio recém inaugurada. Ao fundo, ligação com a Avenida Miguel Sutil e
com a Rua Barão de Melgaço. Figura 07: Avenida Beira Rio antes das obras de revitalização.
Fontes: MISC, Setembro de 2010. Arquivo Pessoal, Setembro de 2010
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Inicialmente foi previsto: uma ciclovia, Calçadão, dois píeres, um pequeno teatro
de arena com arquibancada, espaços para exercícios físicos, banheiros públicos, bares e
quiosques. O local onde estão localizados o museu do rio e o aquário municipal seriam
transformados na ‘Praça das Águas’, espaço que abrigaria três grandes restaurantes,
fontes de água, Chafariz e a ampliação do museu do rio, com uma forma inspirada no
cubo d’água construído em Pequim para as olimpíadas de 2008.
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Figura 10 e 11: Praça Luiz de Albuquerque e Casarões tombados pelo patrimônio histórico
Fonte: OLIVEIRA, Jane Letícia. 30 de Dezembro/201
Podemos ver isso claramente em algumas ações referentes ao projeto. Para
viabiliza-lo, inicialmente estava prevista a recuperação do córrego Mané Pinto e o
tratamento do esgoto antes de ser lançado no Rio Cuiabá, exigências da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente, (SEMA) para a liberação de licença ambiental do projeto.
Porém, em 18 de setembro de 2013, o Consema, conselho estadual do meio ambiente,
ligado a SEMA, aprovou a dispensa de Estudo e Relatório de Impacto Ambiental
(EIA/Rima) do projeto por unanimidade.
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Figura 14 e 15: Casarões desapropriados e Vila Cuiabana
Fonte: OLIVEIRA, Jane Letícia. 30 de Dezembro/2016
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o setor privado o que resulta na produção de espaços homogêneos e na imposição da
dominação do Estado frente aos desejos e necessidades da população local.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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segregador. Para que essas ações possam ser eficientes, o empresariamento urnbano
deve pensar nos múltiplos usos e benefícios abióticos, bióticos e sócio-culturais
concretos e inovadores para o lugar, de modo a que venha a ter um alto desempenho e
baixo impacto na paisagem no longo prazo. Em outras palavras, uma intervenção urbana
deve prestar inúmeros benefícios além de lazer e recreação. o que nos leva a pensar até
que ponto as revitalizações e reurbanizações são medidas eficientes e benéficas para
toda a população, e que não se trata apenas de maquiagem urbana.
4 REFRÊNCIAS
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OLIVEIRA, F. L. A Metáfora Cidade-Empresa no Planejamento Estratégico de
Cidades. In Cadernos IPPUR. UFRJ, Rio de Janeiro, Janeiro/Julho 1999. Vol. VIII. Nº
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