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ARTIGOS DE REVISÃO

A EDUCAÇÃO FÍSICA PERANTE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: REFLEXÕES


CONCEPTUAIS E METODOLÓGICAS

PHYSICAL EDUCATION IN RELATION TO THE INCLUSIVE EDUCATION: CONCEPTUAL AND


METHODOLOGICAL REFLECTIONS

David Rodrigues∗

RESUMO
A Educação Inclusiva é uma orientação dominante na maioria dos países que subscreveram a Declaração de Salamanca em
1994. Ao se definir a Educação Inclusiva (EI) como "para todos e para cada um", procura-se desenvolver e construir modelos
educativos que rejeitem a exclusão e promovam uma aprendizagem livre de barreiras. A Educação Física (EF), enquanto parte
integrante e inalienável do currículo, tem-se mantido à margem deste movimento inclusivo. Se por um lado as aparências
indicariam uma menor dificuldade na inclusão de alunos com dificuldades nas aulas curriculares de EF, a realidade nos indica,
no entanto, que o professor de EF se encontra menos apetrechado para responder aos desafios da Inclusão. Existe na EF uma
"dupla genealogia de Exclusão", que implica uma maior dificuldade em responder à diversidade. É sugerido que sejam
melhorados os modelos de formação e apoio para possibilitar uma resposta mais adequada do professor de Educação Física.
Palavras-chave: Educação física. Inclusão. Escola.

A ESCOLA E A DIFERENÇA ter acesso, a escola pública tradicional


desenvolveu práticas e valores que
O desenvolvimento, no século XIX, na progressivamente contribuíram para acentuar as
Europa, da escola ‘universal, laica e obrigatória’ diferenças entre os alunos e colocaram
é uma movimento internacional que, pelo menos precocemente fora da corrida da aquisição de
ao nível das suas intenções, procurou dar à competência largos estratos da população escolar.
totalidade da população uma base comum de Assim, o insucesso escolar, o abandono da escola,
instrumentos de cultura que permitisse aplanar as os problemas de disciplina, a rigidez dos
grandes diferenças socioculturais dos alunos. A currículos, etc. levaram a escola, a quem
escola universal seria assim uma espécie de incumbiria integrar e acolher a todos, a ser, ela
elemento compensatório, que, dando a todos os própria, um instrumento de selecção que, em
alunos um conjunto de conhecimentos comuns, muitos casos, acentuava as diferenças culturais e
lhes permitiria com mais equidade o acesso à de características e capacidades pessoais de que
competição, de onde sobressairiam os melhores. os alunos eram portadores (RODRIGUES,
O certo é que, pensada para ser solução de um 2001)
problema, a escola - que hoje designaríamos por
escola pública - foi-se tornando parte do problema
que tinha por objectivo resolver. Criada para dar
a todos a educação básica a que todos deveriam

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Os valores das ‘escolas especiais’ estão especiais condições em tudo semelhantes às


embebidos dos valores da escola tradicional. São daquelas que não têm esse tipo de
duas faces de uma mesma moeda. A escola necessidades;


Departamento de Educação Especial e Reabilitação, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa.

tradicional constitui-se, como dissemos, com o e) o conceito e modelo de apoio subjacente de


fim de homogeneizar o capital cultural de todos ‘necessidades educativas especiais’, avançado
os alunos para, desta forma, cumprir o seu pelo relatório Warnock (Reino Unido) em
desiderato de igualdade de oportunidades. Porém, 1978, que situa no currículo e não na
não era previsto que alunos com qualquer colocação especializada a ênfase na educação
necessidade especial de educação, originada, por de alunos com deficiências.
exemplo, de uma deficiência, fossem integrados O modelo da escola integrativa
nela, porquanto a escola procurava a desenvolveu-se rapidamente em Portugal, não
homogeneidade não só nos conteúdos, mas tendo sido estranhas a este rápido
também nos alunos. É neste contexto que surgem desenvolvimento as condições de inovação e
as escolas especiais, organizadas reestruturação que se verificaram a seguir à
majoritariamente por categorias de deficiência, revolução de 25 de Abril de 1974. A título
com a convicção de que, agrupando os alunos da indicativo, no fim de 1997, 75% dos alunos com
mesma categoria e das mesmas características, se dificuldades recebiam a sua educação na escola
poderia aspirar a desenvolver um ensino regular, o que significava 38.486 alunos apoiados
homogéneo, segundo o modelo da escola por cerca de 6200 professores
tradicional. Por isso, a concepção da escola (COSTA; RODRIGUES, 1998). As percentagens
tradicional e homogénea remete para a criação de alunos com NEE educados nas escolas
das escolas especiais: elas são, como dissemos, regulares no final de 2001, de acordo com dados
dois aspectos do mesmo tipo de valores. fornecidos pelo Ministério da Educação, apontam
Várias correntes de opinião sobre a educação para 93%.
de alunos com necessidades educativas especiais O modelo da escola integrativa contém, não
influenciaram a disseminação do modelo de obstante, algumas contradições, que se foram
integração escolar. De entre estas correntes de tornando mais evidentes ao longo da sua
opinião, actualmente com um valor meramente implantação. Criaram-se notoriamente dois tipos
histórico, salientaríamos: de alunos nas escolas públicas: os alunos com
a) ‘educação no meio menos restritivo possível’, necessidades educativas ‘normais’ e os alunos
inicialmente esboçada nos Estados Unidos por com necessidades educativas ‘especiais’. Ora,
Lilly (1970), ao defender que a educação de este entendimento dicotómico da diferença criava
alunos com deficiências deveria ser realizado situações de desigualdade ostensiva: os alunos
na escola regular, através da criação de que tinham uma deficiência identificada tinham
‘envolvimentos diferenciados na sala de aula’; direito a um atendimento personalizado e
condições especiais de acesso ao currículo e ao
b) a Lei Pública 94-142 dos Estados Unidos,
sucesso escolar; pelo contrário, os alunos sem
obrigando à educação de todas as crianças no
uma deficiência identificada (mesmo que com
‘meio menos restritivo possível’;
dificuldades específicas de aprendizagem,
c) a perspectiva ‘não-categorial’ enunciada por problemas de comportamento, insucesso escolar,
Smith e Neisworth (1975), ao desvalorizar as oriundos de minorias étnicas, etc.) não
categorias como pressuposto educacional; encontravam apoio, permanecendo esquecidos e
d) o conceito de ‘normalização’ desenvolvido muitas vezes marginalizados (RODRIGUES,
por Nirjke (1978), indicando o desiderato de 2000).
proporcionar às pessoas com necessidades

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Assim, a escola integrativa, apesar de ter que ela seja legitimada por um parecer médico-
proporcionado a entrada na escola tradicional de psicológico, ou seja, desde que essa diferença seja
alunos com necessidades especiais, fica uma deficiência. A escola inclusiva procura
francamente aquém do objectivo de responder, de forma apropriada e com alta
universalidade, conseguindo, quando muito, qualidade, não só à deficiência, mas a todas as
resultados na integração de alunos com alguns formas de diferença dos alunos (culturais, étnicas,
tipos de deficiência. Talvez uma das causas mais etc.). Desta forma, a educação inclusiva recusa a
determinantes desta insuficiência seja a escola segregação e pretende que a escola não seja só
integrativa ter-se preocupado exaustivamente universal no acesso, mas também no sucesso.
com o apoio ao aluno e não ter cuidado a
intervenção no professor e no todo da escola.
A proclamação da ‘Declaração de A EDUCAÇÃO FÍSICA PERANTE A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Salamanca’ (UNESCO, 1994) é uma verdadeira
‘magna carta’ da mudança de paradigma da
A Educação Física (EF), como disciplina
escola integrativa para a educação inclusiva. Toda
curricular, não pode ficar indiferente ou neutra em
a declaração aponta para um novo entendimento
face deste movimento de educação inclusiva.
do papel da escola regular na educação de alunos
Fazendo parte do currículo oferecido pela escola,
com NEE. Seleccionaríamos, a título de exemplo,
esta disciplina pode-se constituir como um
esta passagem do ponto 2:
adjuvante ou um obstáculo adicional a que a
As escolas regulares seguindo esta escola seja (ou se torne) mais inclusiva. O tema
orientação inclusiva, constituem os da educação inclusiva em EF tem sido
meios mais capazes para combater as insuficientemente tratado no nosso país, talvez
atitudes discriminatórias, criando devido ao facto de se considerar que a EF não é
comunidades abertas e solidárias essencial para o processo de inclusão social ou
construindo uma sociedade inclusiva e escolar. Este assunto, quando abordado, é
atingindo a educação para todos [...] considerado em vista de um conjunto de idéias
(UNESCO, 1994) feitas e de lugares-comuns que não correspondem
aos verdadeiros problemas sentidos. É como se
Educação inclusiva pode ser definida como houvesse uma dimensão de aparências e uma
o desenvolvimento de uma educação dimensão de constatações.
apropriada e de alta qualidade para
As aparências
alunos com necessidades especiais na
escola regular (HEGARTY, 1994). Existem várias razões pelas quais a EF tem
possibilidades de ser um adjuvante para a
Este conceito é simultaneamente muito construção da educação inclusiva.
simples e muito radical. A sua radicalidade situa- Em primeiro lugar, em EF os conteúdos
se na ‘educação apropriada e de alta qualidade’ e ministrados apresentam um grau de determinação
nos alunos com ‘necessidades educativas e rigidez menor do que em outras disciplinas. O
especiais’. Assim a educação, no seguimento dos professor de EF dispõe de uma maior liberdade
movimentos que conduziram à sua para organizar os conteúdos que pretende sejam
obrigatoriedade e universalidade, não é já só para vivenciados ou aprendidos pelos alunos nas suas
alunos com condições de deficiência encontradas aulas. Este menor determinismo conteudístico é
numa lógica médico-psicológica, mas para alunos comumente julgado como positivo em face de
com qualquer necessidade especial, conceito que alunos que têm dificuldade em corresponder a
engloba, desde o relatório de Warnock, todos os solicitações muito estritas e das quais os
tipos e graus de dificuldades que se verificam em professores têm dificuldade em abdicar, devido a
seguir o currículo escolar. eles próprios se sentirem constrangidos pelos
Em síntese, a questão coloca-se na forma ditames dos programas. Assim, aparentemente a
como a Escola interage com a diferença. Na EF seria uma área curricular mais facilmente
escola tradicional, a diferença é proscrita e inclusiva, devido à flexibilidade inerente aos seus
remetida para as ‘escolas especiais’. A escola
integrativa procura responder à diferença desde
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conteúdos, o que conduziria a uma maior 1983). Estas atitudes dependem do tipo de
facilidade de diferenciação curricular. deficiência que o aluno apresente (suscitando os
Em segundo lugar, os professores de EF são alunos com deficiências físicas atitudes menos
vistos como profissionais que desenvolvem positivas) (ALOIA et al., 1980) e do nível de
atitudes mais positivas perante os alunos que os ensino em que o aluno com dificuldades se
restantes professores. Talvez devido aos aspectos encontre (encontrando-se atitudes mais positivas
fortemente expressivos da disciplina, os diante de alunos que frequentam níveos mais
professores são conotados como profissionais que básicos de escolaridade) (RIZZO, 1984). Por
apresentam atitudes mais favoráveis à inclusão e, último as atitudes positivas sobre a inclusão dos
conseqüentemente, levantam menos problemas e PEFs encontram-se positivamente
com maior facilidade encontram soluções para correlacionadas com o número de anos de ensino
casos difíceis. Esta imagem positiva e dinâmica a alunos com deficiência e - o que é curioso -
dos professores de EF é um elemento importante negativamente relacionadas com o número de
da sua identidade profissional, sendo eles por isso anos de ensino, sugerindo que para a construção
freqüentemente solicitados a participar em de atitudes positivas é mais importante uma
projectos de inovação na escola. experiência específica do que um simples
Em terceiro lugar, a EF é julgada uma área acumular de anos de serviço (RIZZO; VISPOEL,
importante de inclusão, dado que permite uma 1991).
ampla participação, mesmo de alunos que Verificamos assim que as atitudes mais ou
evidenciem dificuldades. Este facto pode ser menos positivas não podem ser relacionadas com
ilustrado com a omnipresença da EF em planos a disciplina de EF, mas sim, com diversos tipos
curriculares parciais elaborados para alunos com de variáveis que é necessário levar em conta.
necessidades especiais. Mesmo tendo-se Em segundo lugar, os aspectos da formação
consciência das diferentes aptidões específicas de dos professores de EF em Necessidades
cada um, entende-se que a EF é capaz de suscitar Educativas Especiais deixam, em Portugal,
uma participação e um grau de satisfação muito a desejar.
elevados de alunos com níveis de desempenho Enviamos recentemente a todas as
muito diferentes. instituições de formação de professores de EF
privadas e públicas de Portugal um questionário
As constatações (integrado nas actividades do programa europeu
As constatações sobre a efectiva contribuição Rede Temática de Actividade Física Adaptada
da EF para a inclusão de alunos com dificuldades, (THENAPA – ‘Thematic Network in Adapted
no entanto, quando analisadas com mais detalhe, Physical Activity’). O objectivo deste
são mais problemáticas. Também por várias questionário é identificar quem é responsável pela
razões. formação em NEEs em cursos de EF,
Antes de mais, no que respeita às atitudes caracterização das disciplinas ministradas e dados
mais ou menos positivas dos professores de de opinião sobre aspectos positivos e menos
Educação Física (PEF) em face da inclusão de positivos desta formação.
alunos com dificuldades, não encontramos a Recebemos seis respostas de escolas de
homogeneidade que as aparências sugerem. Os formação, juntamente com os programas que
estudos feitos sobre esta matéria indiciam eram leccionados.
importantes diferenças nestas atitudes, as quais Sem prejuízo de um tratamento mais
dependem de vários factores, entre os quais especializado e aprofundado dos dados recebidos,
realçaríamos os seguintes: o gênero do professor que ficará para um artigo a publicar futuramente,
(as mulheres evidenciaram atitudes mais positivas podemos chegar desde já a algumas pistas
que os homens), a experiência anterior descritivas:
(os professores com mais experiência f) a maioria dos cursos existentes em Portugal
demonstraram atitudes mais positivas) não proporciona qualquer formação neste
(JANSMA; SCHULTZ, 1982), o conhecimento âmbito das NEEs aos seus futuros licenciados
da deficiência do aluno (os professores que (realçaríamos a este propósito que o exemplo
conheciam melhor a deficiência evidenciavam da negativa foi dado durante muitos anos pela
atitudes mais positivas) (MARSTON; LESLIE, Faculdade de Motricidade
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Humana, apesar de dispor de um influenciada por esta cultura escolar, segue e


departamento e Educação Especial e participa nesta exclusão. Esta possibilidade de
Reabilitação) criar exclusão é, por vezes, usada por PEF até
g) a partir da análise dos programas verificamos mesmo para afirmar a importância curricular da
que a formação inicial proporcionada é de EF. Esta é uma primeira fonte de exclusão.
carácter geral e raramente relacionada com Por outro lado, a cultura desportiva e
aspectos concretos da inclusão em EF. competitiva, dominante nas propostas
Existem assim muitos itens programáticos curriculares da EF, cria um obstáculo adicional à
relacionados com a caracterização da inclusão de alunos que são à partida encarados
deficiência e com aspectos institucionais, mas como menos capazes para um bom desempenho
poucos relacionados com boas práticas e (por variadas razões) numa competição. Muitas
metodologias que facilitem a integração e das propostas de actividades em EF são feitas na
inclusão. Noutros casos são contemplados base de culturas competitivas, seriais e
conteúdos relacionados com modalidades de meritocráticas. A própria prática desportiva – em
desporto adaptado, conteúdos que só particular quando usada sem um perspectiva
remotamente poderão ter uma aplicação a pedagógica - é uma actividade que não favorece a
casos de inclusão. cooperação alargada, não valoriza a diferença e
gera igualmente sentimentos de satisfação e de
Verificamos assim que na formação inicial de frustração. Esta cultura competitiva constitui uma
PEFs os conteúdos de informação sobre NEE são segunda fonte de exclusão.
freqüentemente inexistentes ou então pouco A ‘dispensa’ das aulas é bem a expressão da
direccionados para a resolução de problemas dificuldade real que os PEFs têm de criar
concretos de planeamento, intervenção ou alternativas positivas e motivadoras para alunos
avaliação que o futuro profissional possa vir a com dificuldades. A dispensa surge, por regra,
encontrar. sem que o professor seja consultado, sem que
Em terceiro lugar, o apoio ‘de terreno’ sejam estudadas outras hipóteses e […]
proporcionado aos professores de EF é freqüentemente com algum alívio do professor
considerado insuficiente, no âmbito das respostas que se sente pouco capaz de dar resposta positiva
a este questionário. Existe um número muito ao caso, em face dos seus recursos e da
deficitário de professores de apoio com a informação e formação de que dispõe. Caberia
formação de EF, o que dificulta a existência de aqui lembrar que, quando um aluno tem
uma verdadeira retaguarda de competência para dificuldades, por exemplo, em Língua
os profissionais de terreno. O apoio educativo Portuguesa, a solução passa freqüentemente por
para a inclusão de alunos em aulas de EF, quando intensificar as suas oportunidades de
existe, é dado em termos genéricos, por docentes aprendizagem; porém, por mais dificuldades que
que não são da área disciplinar, criando evidencie, ele não pode ser dispensado desta
significativas dificuldades para que o professor de disciplina. Em se tratando de EF, por outro lado,
EF encontre uma mais-valia no diálogo com o se evidenciar dificuldades, ele pode ser
professor de apoio. É importante que sejam dispensado. Isto é, sem dúvida, monosprezo pela
criados para o PEF espaços de diálogo e de apoio EF.
que não se situem unicamente em termos
pedagógicos genéricos, mas que possam situarse
na discussão de questões e casos concretos. PISTAS DE DESENVOLVIMENTO
Em quarto e último lugar, encontramos na
EF uma dupla genealogia de razões que podem Vemos, a partir daí, que existe uma real
conduzir à exclusão. Por um lado a EF diferença entre o que é o ‘senso comum’ das
desenvolve-se numa escola cuja cultura representações sobre a disciplina de EF no que
possibilita a exclusão de todos os que não se respeita à inclusão e os efectivos problemas com
enquadrem nos padrões esperados. Esta os quais a disciplina se defronta em dar um
possibilidade de exclusão não é negligenciável, contributo para tornar a escola mais inclusiva.
sobretudo se atendermos às taxas de abandono e O problema é ainda mal conhecido no nosso
insucesso escolar. A EF, obviamente, é país devido, talvez, a que é mais cómodo

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considerar as aparências como verdade em lugar e, conseqüentemente, desconstruir uma série de


de olhar para as constatações. idéias feitas, poderemos então identificar os
Por isso, ao falar de pistas de factores que podem conduzir o professsor de EF
desenvolvimento, a primeira que ocorre citar é, a ser um efectivo recurso da educação inclusiva.
antes de tudo o mais, que se faça um levantamento Enunciaríamos, pela positiva, algumas sugestões
rigoroso de como é que a disciplina de EF está que eventualmente permitirão avanços nesta
apetrechada para participar no esforço de matéria:
construir uma educação inclusiva. Este h) A educação motora proporcionada através da
levantamento tem de incluir dois aspectos disciplina curricular de EF é um direito. Não é
fundamentais: o campo da formação e o campo do uma opção descartável. Porque é um direito, o
apoio educativo e metodológico. nosso ponto de partida tem de ser que nenhum
No campo da formação importa conhecer a aluno pode ser dispensado dele.
situação da formação inicial dos PEFs e analisar
i) A formação inicial e contínua tem de seguir
os conteúdos ministrados. Conhecendo a
modelos isomórficos, isto é, o futuro
importância desses dois fatores para a formação
profissional tem de ser formado para conhecer
de atitudes positivas em face da inclusão e de
e aplicar conteúdos que estejam relacionados
experiências bem-sucedidas, devemo-nos
com o que se pretende que ele venha a ser
perguntar qual a utilidade da formação em NEE.
como profissional. Se os futuros profissionais
Ainda sobre a formação, deveríamos reflectir
forem formados para fomentar a competição,
sobre a utilidade de uma disciplina de NEE na
para procurar grupos homogéneos, para a
formação inicial que nos alerta para o valor da
exaltação do trabalho individual, como
diferença, enquanto todas as outras enaltecem o
poderemos esperar que este profissional
valor da homogeneidade e da excelência do
incentive nos seus alunos a cooperação, o
desempenho.
respeito e o valor da diferença e a
Para o campo do apoio educativo e solidariedade?
metodológico deve ser enfatizado que o sistema
de apoio educativo aos PEFs ‘de terreno’ deve ter j) O apoio dado aos professores de EF
competências específicas ao nível da EF. Há, sem (corporativismos à parte) deve ser dado por
dúvida, aspectos gerais da inclusão que podem ser quem possa constituir um “amigo crítico” que
apoiados por um docente generalista, mas se o ajude o professor a refletir e a encontrar
apoio se der exclusivamente por estes aspectos, soluções para os seus problemas. Em suma,
ficará certamente aquém de um apoio de deve ser um apoio especializado, que, quando
qualidade. Usando mais uma vez uma necessário, seja específico e capaz de analisar
comparação com outras áreas disciplinares, será com profundidade problemas complexos da
que um docente de apoio com formação em disciplina de EF.
Matemática poderá apoiar todos os aspectos de
diferenciação curricular inerentes à inclusão na
disciplina de Língua Portuguesa?
Feito este trabalho, será então, talvez,
possível conhecer melhor e intervir melhor, de
modo a que os professores de EF possam ser
efectivos agentes de inclusão.

SÍNTESE

A discrepância entre as aparências e as


realidades sobre as atitudes, a formação e o apoio
que os professores de EF dispõem para a
educação inclusiva é a pedra basilar da reflexão
proposta neste artigo. Parece que, se for possível
avaliar com frontalidade as realidades existentes

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k) A disciplina curricular de EF pode, com rigor RODRIGUES, D. A caminho de uma educação inclusiva:
e com investimento, ser efectivamente uma uma agenda possível.Rev. Inclusão, v. 1, n. 1, p. 1-12, 2000.
áreachave para tornar a educação mais
inclusiva, e pode mesmo ser um campo RODRIGUES, D. A educação e a diferença. In:
privilegiado de experimentação, de inovação e RODRIGUES, D. (Org. ). Educação e diferença. Porto :
Editora Porto, 2001.
de melhoria da qualidade pedagógica na
RIZZO. Attitudes of physical educators toward teaching
escola. handicapped pupils. Adapted Physical Activity Quarterly,

PHYSICAL EDUCATION IN RELATION TO THE INCLUSIVE EDUCATION: CONCEPTUAL AND


METHODOLOGICAL REFLECTIONS

ABSTRACT
Inclusive Education is a main educational orientation in most countries which signed the Salamanca Declaration in 1994. By
defining the Inclusive Education (IE) as being “for everybody and each individual”, we aim at creating na educative model that
rejects exclusion and promotes learning without barriers. Physical Education (PE) is part of the inclusive curriculum.
Apparently, PE seems to be more receptive to Inclusion, but in fact PE teachers seem to have more difficulties to deal with the
inclusion challenges. In PE there is a “double exclusion genealogy” that implies a greater difficulty to answer to diversity. In
this article some strategies to improve teacher’s education and support are suggested, in order to make the inclusive quality of
PE better.
Key words: Physical education. Inclusion. School.

REFERÊNCIAS v. 1, p. 263-274, 1984.


RIZZO, T.L. ; VISPOEL, W. P. Physical educators’
ALOIA et al. Physical education teachers initial perceptions attributes and attitudes toward teaching students with
of handicapped children. Mental Retardation, v.18, no. 2, handicaps. Adapted Physical Activity Quarterly, v. 8,
p. 85-87, 1980 p. 4-11, 1991.
COSTA, A.M., RODRIGUES, D. Special education in UNESCO. Declaração de Salamanca e enquadramento
Portugal. European Journal of Special Needs Education, da acção na área das necessidades educativas especiais.
v. 14, no. 1, p. 70-89, 1999. Lisboa : IIE, 1994.
HEGARTY. Integration and the Teacher In: MEYER, C. J.
W. ; PIJL, S. J. ; HEGARTY, S. (Eds.). New perspectives
in special education: a six country study of integration.
London : Routledge, 1994.
JANSMA ; SHULTZ. Validation and use of a mainstream Recebido em 31/07/2003
attitude inventory with physical educators. American Revisado em 18/08/2003
Corrective Therapy Journal, v. 36, p. 150-158, 1982. Aceito em 15/09/2003
MARSTON, R. ; LESLIE, D. Teacher perceptions from
mainstreamed vs. nom-mainstreamed teaching
environments. The Physical Educator, v. 40, p. 8-15, 1983.

Endereço para correspondência: David Rodrigues, Faculdade de Motricidade Humana, Estrada da Costa, 1495-
688, Cruz Quebrada-Dafundo, Lisboa-Portugal. E-mail: drodrigues@fmh.utl.pt

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