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David Rodrigues∗
RESUMO
A Educação Inclusiva é uma orientação dominante na maioria dos países que subscreveram a Declaração de Salamanca em
1994. Ao se definir a Educação Inclusiva (EI) como "para todos e para cada um", procura-se desenvolver e construir modelos
educativos que rejeitem a exclusão e promovam uma aprendizagem livre de barreiras. A Educação Física (EF), enquanto parte
integrante e inalienável do currículo, tem-se mantido à margem deste movimento inclusivo. Se por um lado as aparências
indicariam uma menor dificuldade na inclusão de alunos com dificuldades nas aulas curriculares de EF, a realidade nos indica,
no entanto, que o professor de EF se encontra menos apetrechado para responder aos desafios da Inclusão. Existe na EF uma
"dupla genealogia de Exclusão", que implica uma maior dificuldade em responder à diversidade. É sugerido que sejam
melhorados os modelos de formação e apoio para possibilitar uma resposta mais adequada do professor de Educação Física.
Palavras-chave: Educação física. Inclusão. Escola.
∗
Departamento de Educação Especial e Reabilitação, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa.
Assim, a escola integrativa, apesar de ter que ela seja legitimada por um parecer médico-
proporcionado a entrada na escola tradicional de psicológico, ou seja, desde que essa diferença seja
alunos com necessidades especiais, fica uma deficiência. A escola inclusiva procura
francamente aquém do objectivo de responder, de forma apropriada e com alta
universalidade, conseguindo, quando muito, qualidade, não só à deficiência, mas a todas as
resultados na integração de alunos com alguns formas de diferença dos alunos (culturais, étnicas,
tipos de deficiência. Talvez uma das causas mais etc.). Desta forma, a educação inclusiva recusa a
determinantes desta insuficiência seja a escola segregação e pretende que a escola não seja só
integrativa ter-se preocupado exaustivamente universal no acesso, mas também no sucesso.
com o apoio ao aluno e não ter cuidado a
intervenção no professor e no todo da escola.
A proclamação da ‘Declaração de A EDUCAÇÃO FÍSICA PERANTE A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Salamanca’ (UNESCO, 1994) é uma verdadeira
‘magna carta’ da mudança de paradigma da
A Educação Física (EF), como disciplina
escola integrativa para a educação inclusiva. Toda
curricular, não pode ficar indiferente ou neutra em
a declaração aponta para um novo entendimento
face deste movimento de educação inclusiva.
do papel da escola regular na educação de alunos
Fazendo parte do currículo oferecido pela escola,
com NEE. Seleccionaríamos, a título de exemplo,
esta disciplina pode-se constituir como um
esta passagem do ponto 2:
adjuvante ou um obstáculo adicional a que a
As escolas regulares seguindo esta escola seja (ou se torne) mais inclusiva. O tema
orientação inclusiva, constituem os da educação inclusiva em EF tem sido
meios mais capazes para combater as insuficientemente tratado no nosso país, talvez
atitudes discriminatórias, criando devido ao facto de se considerar que a EF não é
comunidades abertas e solidárias essencial para o processo de inclusão social ou
construindo uma sociedade inclusiva e escolar. Este assunto, quando abordado, é
atingindo a educação para todos [...] considerado em vista de um conjunto de idéias
(UNESCO, 1994) feitas e de lugares-comuns que não correspondem
aos verdadeiros problemas sentidos. É como se
Educação inclusiva pode ser definida como houvesse uma dimensão de aparências e uma
o desenvolvimento de uma educação dimensão de constatações.
apropriada e de alta qualidade para
As aparências
alunos com necessidades especiais na
escola regular (HEGARTY, 1994). Existem várias razões pelas quais a EF tem
possibilidades de ser um adjuvante para a
Este conceito é simultaneamente muito construção da educação inclusiva.
simples e muito radical. A sua radicalidade situa- Em primeiro lugar, em EF os conteúdos
se na ‘educação apropriada e de alta qualidade’ e ministrados apresentam um grau de determinação
nos alunos com ‘necessidades educativas e rigidez menor do que em outras disciplinas. O
especiais’. Assim a educação, no seguimento dos professor de EF dispõe de uma maior liberdade
movimentos que conduziram à sua para organizar os conteúdos que pretende sejam
obrigatoriedade e universalidade, não é já só para vivenciados ou aprendidos pelos alunos nas suas
alunos com condições de deficiência encontradas aulas. Este menor determinismo conteudístico é
numa lógica médico-psicológica, mas para alunos comumente julgado como positivo em face de
com qualquer necessidade especial, conceito que alunos que têm dificuldade em corresponder a
engloba, desde o relatório de Warnock, todos os solicitações muito estritas e das quais os
tipos e graus de dificuldades que se verificam em professores têm dificuldade em abdicar, devido a
seguir o currículo escolar. eles próprios se sentirem constrangidos pelos
Em síntese, a questão coloca-se na forma ditames dos programas. Assim, aparentemente a
como a Escola interage com a diferença. Na EF seria uma área curricular mais facilmente
escola tradicional, a diferença é proscrita e inclusiva, devido à flexibilidade inerente aos seus
remetida para as ‘escolas especiais’. A escola
integrativa procura responder à diferença desde
R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 14, n. 1, p. 67-73, 1. sem. 2003
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conteúdos, o que conduziria a uma maior 1983). Estas atitudes dependem do tipo de
facilidade de diferenciação curricular. deficiência que o aluno apresente (suscitando os
Em segundo lugar, os professores de EF são alunos com deficiências físicas atitudes menos
vistos como profissionais que desenvolvem positivas) (ALOIA et al., 1980) e do nível de
atitudes mais positivas perante os alunos que os ensino em que o aluno com dificuldades se
restantes professores. Talvez devido aos aspectos encontre (encontrando-se atitudes mais positivas
fortemente expressivos da disciplina, os diante de alunos que frequentam níveos mais
professores são conotados como profissionais que básicos de escolaridade) (RIZZO, 1984). Por
apresentam atitudes mais favoráveis à inclusão e, último as atitudes positivas sobre a inclusão dos
conseqüentemente, levantam menos problemas e PEFs encontram-se positivamente
com maior facilidade encontram soluções para correlacionadas com o número de anos de ensino
casos difíceis. Esta imagem positiva e dinâmica a alunos com deficiência e - o que é curioso -
dos professores de EF é um elemento importante negativamente relacionadas com o número de
da sua identidade profissional, sendo eles por isso anos de ensino, sugerindo que para a construção
freqüentemente solicitados a participar em de atitudes positivas é mais importante uma
projectos de inovação na escola. experiência específica do que um simples
Em terceiro lugar, a EF é julgada uma área acumular de anos de serviço (RIZZO; VISPOEL,
importante de inclusão, dado que permite uma 1991).
ampla participação, mesmo de alunos que Verificamos assim que as atitudes mais ou
evidenciem dificuldades. Este facto pode ser menos positivas não podem ser relacionadas com
ilustrado com a omnipresença da EF em planos a disciplina de EF, mas sim, com diversos tipos
curriculares parciais elaborados para alunos com de variáveis que é necessário levar em conta.
necessidades especiais. Mesmo tendo-se Em segundo lugar, os aspectos da formação
consciência das diferentes aptidões específicas de dos professores de EF em Necessidades
cada um, entende-se que a EF é capaz de suscitar Educativas Especiais deixam, em Portugal,
uma participação e um grau de satisfação muito a desejar.
elevados de alunos com níveis de desempenho Enviamos recentemente a todas as
muito diferentes. instituições de formação de professores de EF
privadas e públicas de Portugal um questionário
As constatações (integrado nas actividades do programa europeu
As constatações sobre a efectiva contribuição Rede Temática de Actividade Física Adaptada
da EF para a inclusão de alunos com dificuldades, (THENAPA – ‘Thematic Network in Adapted
no entanto, quando analisadas com mais detalhe, Physical Activity’). O objectivo deste
são mais problemáticas. Também por várias questionário é identificar quem é responsável pela
razões. formação em NEEs em cursos de EF,
Antes de mais, no que respeita às atitudes caracterização das disciplinas ministradas e dados
mais ou menos positivas dos professores de de opinião sobre aspectos positivos e menos
Educação Física (PEF) em face da inclusão de positivos desta formação.
alunos com dificuldades, não encontramos a Recebemos seis respostas de escolas de
homogeneidade que as aparências sugerem. Os formação, juntamente com os programas que
estudos feitos sobre esta matéria indiciam eram leccionados.
importantes diferenças nestas atitudes, as quais Sem prejuízo de um tratamento mais
dependem de vários factores, entre os quais especializado e aprofundado dos dados recebidos,
realçaríamos os seguintes: o gênero do professor que ficará para um artigo a publicar futuramente,
(as mulheres evidenciaram atitudes mais positivas podemos chegar desde já a algumas pistas
que os homens), a experiência anterior descritivas:
(os professores com mais experiência f) a maioria dos cursos existentes em Portugal
demonstraram atitudes mais positivas) não proporciona qualquer formação neste
(JANSMA; SCHULTZ, 1982), o conhecimento âmbito das NEEs aos seus futuros licenciados
da deficiência do aluno (os professores que (realçaríamos a este propósito que o exemplo
conheciam melhor a deficiência evidenciavam da negativa foi dado durante muitos anos pela
atitudes mais positivas) (MARSTON; LESLIE, Faculdade de Motricidade
R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 14, n. 1, p. 67-73, 1. sem. 2003
A educação física perante a educação inclusiva 71
SÍNTESE
k) A disciplina curricular de EF pode, com rigor RODRIGUES, D. A caminho de uma educação inclusiva:
e com investimento, ser efectivamente uma uma agenda possível.Rev. Inclusão, v. 1, n. 1, p. 1-12, 2000.
áreachave para tornar a educação mais
inclusiva, e pode mesmo ser um campo RODRIGUES, D. A educação e a diferença. In:
privilegiado de experimentação, de inovação e RODRIGUES, D. (Org. ). Educação e diferença. Porto :
Editora Porto, 2001.
de melhoria da qualidade pedagógica na
RIZZO. Attitudes of physical educators toward teaching
escola. handicapped pupils. Adapted Physical Activity Quarterly,
ABSTRACT
Inclusive Education is a main educational orientation in most countries which signed the Salamanca Declaration in 1994. By
defining the Inclusive Education (IE) as being “for everybody and each individual”, we aim at creating na educative model that
rejects exclusion and promotes learning without barriers. Physical Education (PE) is part of the inclusive curriculum.
Apparently, PE seems to be more receptive to Inclusion, but in fact PE teachers seem to have more difficulties to deal with the
inclusion challenges. In PE there is a “double exclusion genealogy” that implies a greater difficulty to answer to diversity. In
this article some strategies to improve teacher’s education and support are suggested, in order to make the inclusive quality of
PE better.
Key words: Physical education. Inclusion. School.
Endereço para correspondência: David Rodrigues, Faculdade de Motricidade Humana, Estrada da Costa, 1495-
688, Cruz Quebrada-Dafundo, Lisboa-Portugal. E-mail: drodrigues@fmh.utl.pt