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Liberdade x Graça.
I. INTRODUÇÃO
No presente artigo, nosso objetivo maior foi tecer considerações acerca de Pelágio,
1. Contexto Histórico
3. Pelagianismo
É preciso levar em conta, no presente trabalho, nossa limitação – acesso direto aos
escritos de Pelágio. Evidentemente que a limitação não desqualifica o trabalho. Muito pelo
Necessário se faz lembrar: nosso trabalho não traz dados (vida, obra, etc.) sobre Santo
sobre Pelágio não existe quase nada em Português, por isso, julgamos, na medida do possível,
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Professor de Filosofia e Cultura Religiosa – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais / Serro e
Guanhães.
1
O final do século IV e o início do século V, para o Império Romano, não foi muito
(378), por exemplo, para alguns historiadores, a porta de entrada para os bárbaros:
saqueou Roma.
regência e a partilha territorial entre os seus filhos Honório e Arcádio (395) um ponto crucial
São dados importantes, que, sem dúvida, merecem uma pesquisa mais aprofundada –
que não é o interesse de nosso trabalho. O nosso trabalho, neste capítulo, quer na medida do
possível, ressaltar a conseqüência, ou seja, a mudança radical, se assim podemos dizer, dos
Toda esta mudança era um sinal claro de uma tempestade apocalíptica. Muitos
2
GRESHAKE, F. Einfuhrung in die Gnadenlehre, p. 45
2
Não é sem razão que, neste ambiente histórico muitos cristãos sérios, como Pelágio e
seus discípulos, entoem o mesmo apelo, que poderíamos definir como da não confirmação do
final do mundo, mas de esperança de solução para aquela situação tão caótica.
A Igreja não deveria ser entendida, todavia, como muitos gostariam que fosse, como
uma força poderosa que tem a capacidade de salvar as pessoas, uma espécie de magia. O
Pelágio manifesta uma crença muito grande ao homem, quase, diríamos, um estímulo
para uma época de caos. Não é sem razão que Pelágio desenvolve sua doutrina, sua tese –
tudo se desenvolve a partir de apelo real, concreto, tudo está permeado de uma exigência
histórica, humana. Daí, talvez, podemos entender melhor a sua obra, a sua vida.
2.2.1. Vida
“É praticamente impossível ter dados corretos sobre a vida de Pelágio, por exemplo,
nascimento, juventude, etc. Quase todas as informações que nós temos são oriundas de seus
opositores: Santo Agostinho, São Jerônimo, Orósio e Mário Mercartos.”4 (Tradução livre de
2.2.1.1. Histórico
3
GRESHAKE, F. Einfuhrung in die Gnadenlehre, p. 45-6.
4
Cf. GRAM ENCICLOPÉDIA RIALP. Pelágio y Pelagianismo, p. 190.
3
2.2.1.2. Personalidade
2.2.1.3. Ideais
2.2.1.4. Amigos
São Paulino de Nola, Marcela, Pamaquio, Melania, Proba, Juliana, Albina, Detríades.
2.2.1.5. Discípulos
2.2.2. Escritos
crítica atual considera e divide em cinco grupos a sua produção literária.”54 (Tradução livre de
• Epistula ad Demetriadem
• Epistula ad Constantium
• Epistula ad viduam
5
Cf. GRAM ENCICLOPÉDIA RIALP. Pelágio y Pelagianismo, p. 190.
4
• De Trinitate
• De libero arbítrio
• De natura
• Epistula ad Augustinum.
Pelágio).
• De vita Christiana
• De divitilis
• De castitate
• Qualiter religionis
• De divina lege
• De virginitate
• De opprobiis ad Ocaeanum
• Epistula ad Mercellam
• Epistula ad Caelantiam
• Epistula exhortatria
• Exhortatio ad paenitetiam
• Ad virginem devotam
• Ad virginem in exilium
2.2.3. Sistema
2.3. Pelagianismo
elevado número de adeptos. Isso, provavelmente, em virtude da importância que era dado, no
Pelagianismo, à vontade humana: nos locais onde sobrevivia o estoicismo (que estimulava a
Necessário se faz lembrar que o Pelagianismo, na época de então, era uma proposta
contrária, uma forte reação contra os gnósticos-maniqueus. Pois, em conformidade com a sua
tese, Pelágio não atribuía a salvação no Espírito Santo. A tese de Pelágio é o oposto: o homem
a um grande talento de atrair as pessoas foram decisivas para a difusão de sua doutrina.7
6
Cf. CRISTIANI, M. Breve História das Heresias p. 32.
7
JEDIN, H. Nanual de História de 1ª Iglesia, p. 215.
6
doutrina Pelagiana.8
Juliano de Eclano, bispo de Apulia (Itália), era filho do bispo Ménor, casado com a
filha do bispo de Benevento Juliano é considerado o arquiteto do sistema pelagiano.9
Ao que tudo indica: “Tudo se opunha em Pelágio e Agostinho”10. Todavia, aqui, não
temos a pretensão de mostrar tão aprofundado sobre Santo Agostinho (que nos daria margem
Agostinho e Pelágio (Pelagianos), isto é, a questão da graça. Para isso, nós percorremos
fazendo uma síntese do caminho desenvolvido por Pelágio, ou seja, as suas proposições, suas
8
“Celéstio (advogado, esperto, ambicioso, muito expansivo) é considerado o orientador do Pelagianismo. Em
Éfeso foi ordenado sacerdote.Aurélio, bispo de Cartago, convocou um sínodo em 411, e condenou Celéstio. Este
porém, reclamou ao Papa, e fugiu para Éfeso fez-se ordenar sacerdote. Entretanto, Pelágio ganhava algum
terreno em Jerusalém, até que Orósio levou a São Jerônimo e a João, patriarca, avisos mandados por Santo
Agostinho. O concílio de Jerusalém, convocado por João, não o quis condenar (pois Pelágio sobe expor tudo
com prudência e calma). Preferiram pedir ao Papa Inocêncio I que examinasse Pelágio. Ao mesmo tempo o
concílio de Lida o declarava ortodoxo. Mas, quando Orósio levou à África a declaração deste concílio, os Bispos
em Cartago, a enviaram a Roma uma carta sinodal em que rejeitavam a doutrina de Pelágio Zózimo (sucessor de
Inocêncio I) mandou que Pelágio e Celéstio comparecessem ao concílio de Roma e, como não o fizessem, foram
excomungados. Partiram os dois para Constantinopla, onde encontraram o apoio de Nestório (...) Celéstio voltou
ainda uma vez à Itália, mas Celéstio voltou ainda uma vez à Itália, mas Celéstio I não o acolheu. A doutrina de
Pelágio teve pouca vaga porque faltou o apoio dos imperadores.”
9
Ao abraçar o pelagianismo, Juliano procurou suavizar notavelmente a natureza rigorista e aspereza ascética
desta doutrina.
O jovem bispo tentou desvalorizar as palavras de São Jerônimo, caracterizando seu trabalho exegético como
pueril e sem originalidade, dizia sarcasticamente que frente a ele era difícil conter o riso. Quanto a Agostinho,
lembrando sua vida anterior, chamou-o de maniqueo não convertido ou mesmo de “Patronos Asinorum”.
Em sua luta contra o ‘doutor da Graça’ recorreu inclusive a sentimentos nacionalistas romanos afirmando que
um perigoso grupo de africanos queria impor dogmas estranhos à Igreja da Itália.
Agostinho reagiu aos ataques de Juliano. Juliano por sua vez fustigou a doutrina de Agostinho sobre pecado
original qualificando de maniqueísmo. Com a decadência do movimento pelagiano, entre 420 e 430, Juliano
tentou sua readmissão pelagiano, mas fracassou. Viveu itinerante o resto de seus dias e morreu depois de 450 na
Sicília.
10
V.V.A.A. Nova História da Igreja – Dos Primórdios a São Gregório Magno, p. 442.
7
2.4.1. Proposições
Para Pelágio (Pelagianismo) o pecado original não tem tanta importância para o resto
da humanidade, diríamos, não tem nenhum poder hereditário. O pecado de Adão foi só seu; a
humanidade não tem que pagar por isto. É impossível, para Pelágio, a alma trazer consigo
algo que não é culpa sua, pagar por algo que não cometeu. Deus não faria isso com os
homens, criar uma alma imediatamente manchada. O que nós herdamos de Adão foi somente
Adão foi criado como qualquer outro homem, com vontade (concupiscência), mortal,
sujeito às dores, males. Adão foi criado livre. Portanto, a morte não é castigo do pecado, pois
Adão e todos os seus descendentes morreriam, mesmo que ele não tivesse pecado. Morrer faz
Santo Agostinho define pecado como: “O que é dito ou feito ou desejado contra lei
eterna.”11 O pecado original, isto é, o pecado de Adão é hereditário. Adão foi criado à imagem
e semelhança de Deus. Mas, pelo fato de Adão ter pecado, Deus lhe tirou os dons
sobrenaturais (Adão passa a ser um mortal) e os seus perfeitos dons naturais foram ferido, por
isso: “Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado,
a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram...” (Rom. 5,12)
2.4.2. Batismo
11
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA. Pecado, p. 176
8
Segundo Pelágio, o batismo não tem necessidade, pois o homem não nasce com o
pecado original. O batismo para criança, diríamos, hoje, para crianças que ainda não fazem o
uso da razão, é desnecessário. Ela vai para o céu do mesmo jeito que as crianças batizadas.
É absurdo batizar crianças para “remissão dos pecados”. Para os adultos, o batismo
tem validade, mas só para pagar os pecados cometidos anteriormente. As culpas que o
nec omnino credenda, nisi apostólica esse traditio.”12 Se todo homem, depois do pecado de
Adão, traz dentro de si o pecado original, portanto, toda humanidade precisa ser purificada,
ser lavada.
Se, para Pelágio, o pecado original não tem tanta importância da graça é minimizada.
Para ele, a graça nos foi dada no ato criacional, é a própria natureza. Se o homem tiver força,
vontade, querer, ele pode ser salvo; basta praticar as virtudes, ser orientado pelo livre arbítrio
Jesus Cristo é apenas um bom exemplo que o homem deve seguir. Adão é o mau
exemplo, por isso o homem não deve tê-lo como exemplo. Por conseguinte, se existiu homens
que observaram (virtude, livre arbítrio, lei moral), antes mesmo de Jesus Cristo, existiram
homens sem pecado, homens santos. Se existiram os homens sem pecado, eles não precisam
ser batizados. O batismo, para Pelágio, só tem a função de nos unir em Jesus Cristo. Pelágio,
liberdade humana voltada para Deus. Ele propõe à alma alto ideal “de justiça”
Para Santo Agostinho, a humanidade é uma “massa danada”, pois toda ela pecou
com Adão e em Adão, portanto, nenhum homem, por seus próprios méritos, podem ser
12
ALTANER, B; STUIBER, A. Patrologia – Vida e Doutrina dos Padres da Igreja, p. 442
9
benevolência de Deus.
Alguns homens já foram predestinados à salvação (vida eterna), outros estão entregues
à perdição merecida, mesmo sem serem predestinados ao pecado. Entre a graça e a
predestinação existe unicamente esta diferença: que a predestinação é um preparação para a
graça.
Mas, como fica, então, as relações entre liberdade, vontade e graça em Santo
Agostinho?
Duas condições são exigidas para fazer o bem: um dom de Deus, que é a graça, e o
livre-arbítrio. Sem o livre arbítrio, não haveria problemas; sem a graça, o livre arbítrio (depois
do pecado original) não iria querer o bem ou, se o quisesse, não poderia realizá-lo. A graça,
portanto, não tem o efeito de suprimir a vontade, mas sim de torná-la boa, pois que se havia
marca da liberdade – e encontrar-se confirmado na graça a ponto de não poder mais fazer o
mal é o grau supremo da liberdade. Assim, o homem que está mais completamente dominado
pela graça de Cristo é também o mais livre: libertas vera est Christo Service.
Por conseguinte, a nossa salvação, nossa redenção tem por intermédio Jesus Cristo.
Com e em Adão todos os homens pecaram. Com e em Jesus Cristo todos os homens foram
redimidos. Portanto, nós precisamos de Jesus Cristo, nós precisamos ser batizados em nome
não podemos ser salvos, precisamos de Jesus Cristo. A redenção de Cristo é objetiva.
Nenhum homem, criança pode ser salvo, pura e simplesmente, por seus méritos, todo homem,
dependência para com a graça. Pelágio acentua a nossa liberdade. Poderíamos, dizer: Santo
moral, da lei, da capacidade do homem de fazer o bem (simplesmente por seus méritos),
herética, portanto, a partir de então, Pelágio e pelagianos não fariam mais parte da Igreja.
11
praticamente nada que fosse um pouco mais neutro, por isso ter uma conclusão mais pessoal
se torna possível. Nosso julgamento é feito a partir do ponto de vista de terceiros. Escritos
discípulos.
A doutrina pelagiana tem seus méritos, ela dá, por exemplo, mais responsabilidade ao
homem. O homem não deve ficar de braços cruzados, esperando tudo de Deus.
Podemos dizer que toda heresia tem sua vantagem, um pouco de verdade e, acima de
tudo, “É preciso que haja até mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CRISTIANI, M. Breve História das Heresias. São Paulo: Editora Flamboyant, 1962.
GOMES, C.J. Antropologia dos Santos Padres. 3ª ed. São Paulo: Editora Paulinas, 1985.
JEDIN, H. Nanual de História de 1ª Iglesia. Tomo II. Barcelona: Editora Herder, 1980.
V.V.A.A. Nova História da Igreja – Dos Primórdios a São Gregório Magno. Vol. 1.
Coleção Nova História da Igreja. Petrópolis: Editora Vozes, 1966.