NÚCLEO SAÚDE DA FAMÍLIA RESIDENTE: SARAH IANÊ CARVALHO BAHIANA
RESENHA CRÍTICA – BIOÉTICA
TEMA: PRIVACIDADE – NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA
O sigilo profissional é um dos pilares da ética que permeia as profissões
da saúde. Num universo em que as informações são compartilhadas em redes sociais, tal sigilo foi perpassado por diversas discussões sobre aparecimento de pacientes em fotos em redes, e divulgação de informações sobre casos clínicos. Em outro ponto de vista, existe uma exceção ao sigilo quando, por forma de legislações ou de justas causas, o profissional possui a obrigação de revelar informações sobre o caso. São exemplos: Comunicações de violência contra crianças, cônjuges, idosos; testemunhos em cortes judiciais; e doenças e agravos de notificação compulsória (GOLDIM, 2004). No Brasil, a Lei 1100/96 informa quais são as doenças de notificação compulsória em território nacional, sendo elas: “Cólera; Coqueluche; Dengue; Difteria; Doença meningocócica e outras meningites; Doença de Chagas (casos agudos); Febre amarela; Febre tifoide; Hanseníase; Leishmaniose tegumentar e visceral; Oncocercose; Peste; Poliomielite; Raiva humana; Rubéola e síndrome da rubéola congênita; Sarampo; Sífilis congênita; Síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS); Tétano; Tuberculose; Varíola; Hepatites virais.” E mais as de caráter obrigatório em algumas regiões do país: “Esquistossomose (exceto nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte); Filariose (exceto em Belém e Recife); Malária (exceto na região da Amazônia Legal).” (Lei 1100/96). Porém, em certos momentos, tal obrigatoriedade de notificação pode levar o profissional de saúde a conflitos no seu processo de trabalho e na relação com seu paciente; como em casos em que o portador do agravo é envolvido judicialmente em crimes e não deseja ter seu nome enviado junto à notificação. Este é um dos exemplos que pode, inclusive, levar a ameaças e colocar a vida do profissional em risco, sobretudo em áreas mais vulneráveis do país. Outros casos, como os de violência também intrigam os profissionais com os questionamentos de até onde se pode ir sem realizar a quebra do sigilo profissional. Segundo posicionamento do Conselho Federal de Psicologia, o profissional está protegido eticamente quando feita a notificação, porém as denúncias aos órgãos criminais são quebras de sigilo (Nota técnica Conselho Federal de Psicologia, 2016). Quanto ao código de ética odontológico o profissional está protegido quando a quebra de sigilo for feita para notificações compulsórias, testemunhos judiciais, casos de interesse à defesa do profissional e divulgação dos fatos ao responsável por um incapaz (Código de Ética Odontológica, 2012). Em se tratando do código de ética médico, o mais restrito, o médico pode somente realizar as notificações de caráter compulsório, sendo vedado seu depoimento como testemunha ou em casos de suspeita de crime em que o paciente possa ser exposto a processo legal (Código de Ética Médica, 2018). Recentemente, o presidente Bolsonaro vetou o projeto de lei que obrigava a notificação de casos de violência contra a mulher em hospitais públicos em até 24h. O caso dividiu opiniões, mas o veto é defendido por algumas entidades que acreditam que a notificação feriria o sigilo profissional e os direitos da mulher agredida. Em outro ponto de vista, a notificação em 24h serviria para reduzir os casos de subnotificação, ajudando a implementar políticas públicas contra a violência (Correio Brasiliense, 2019). Em conclusão, a notificação compulsória ainda gera dúvidas e questionamentos por parte das entidades profissionais, embora o profissional que a faça seja protegido por seus códigos de ética. Os limites legais entre notificações, denúncias e testemunhos jurídicos também são alvos de controvérsias. Ao que tudo indica, devem ser seguidas as orientações de cada código de ética conforme as especificidades de casos e bom senso do profissional. REFERÊNCIAS
1. Código de ética odontológica - Aprovado pela Resolução CFO-
118/2012; 2. Código de ética médica - Resolução CFM Nº22 17 DE 27/09/2018; 3. Nota técnica de orientação profissional em casos de violência contra a mulher: casos para a quebra do sigilo profissional - Conselho Federal de Psicologia, 2016; 4. Privacidade e Sigilo Profissional: Notificação compulsória. Goldim – UFRS; 5. BRASIL, Lei 1100/96; 6. Entenda a Discussão Sobre o Veto de Bolsonaro à Lei de Violência Doméstica. www.correiobrasiliense.com.br/app/noticia/politica/2019/10/19/interna _politica,798917/amp.htm acesso em 24 de outubro de 2019.