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A Fé e a Razão

O concurso para a cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano, que disputou com


José Soriano de Souza, em 1867, e a leitura, durante a aprendizagem da língua
alemã, da História do Povo de Israel1, de Ewald, marcaram, sem dúvida, a evolução de
Tobias Barreto, desapegando-se das raízes religiosas herdadas no convívio de sua
terra, no contato com o Seminário da Bahia, onde era professor o frei Itaparica 2, e no
magistério de latim, na Província de Sergipe, que largou, com licença do Governo,
para estudar direito no Recife.
Tobias, na verdade, participa de dois concursos. O primeiro, em 1865, para a cadeira
de Latim do Curso Preparatório da Faculdade de Direito do Recife. Concorreu com seu
conterrâneo e parente padre Félix Barreto de Vasconcelos, e com Samuel Wallace
MacDowel, Francisco Jacinto de Sampaio e Joaquim José Henrique da Silva. As
provas foram realizadas no dia 4 de abril, e apresentaram um resultado que qualificava
em primeiro lugar o padre Félix, em segundo Tobias Barreto, e os demais em terceiro
lugar. A Comissão examinadora, formada pelo Diretor da Faculdade, o Visconde de
Camaragibe, José Nicácio, padre Joaquim Graciliano de Araújo e o dr. Pedro Autran
da Mata Albuquerque, respondia pela classificação, encaminhada ao Ministro do
Império com as seguintes observações: “O padre Félix é aqui professor particular de
latim, natural de Sergipe, e apresenta documentos de serviços prestados em diversas
províncias. O candidato Tobias Barreto de Menezes é estudante do segundo ano desta
Faculdade, moço aplicado e inteligente. V. Excia. resolverá o que lhe parecer
acertado”.
Leopoldino Antônio da Fonseca, por não ter sua inscrição aceita no Concurso,
representou Contra o Diretor da Faculdade junto ao Ministro do Império, e o concurso,
e em 13 de julho de 1865, “julgando não serem satisfatórias as provas que exibiram os
concorrentes”, foi anulado, mandando o Ministro que fosse feita nova prova. O novo
concurso foi realizado nos dias 27 e 28 de novembro) do mesmo ano, concorrendo
padre Félix, Tobias, Francisco Jacinto de Sampaio e Leopoldino Antônio da Fonseca.
Na Comissão examinadora estavam os padres Joaquim Graciano de Araújo e Inácio
Francisco dos Santos. Mais uma vez o julgamento beneficiou o padre em primeiro
lugar, com Tobias em segundo.3
O resultado do concurso não abateu o jovem poeta sergipano. Poeta de escola
própria, engajada. Seus versos, cheios de patriotismo, agitavam as massas recifenses,
com o mote da guerra do Brasil contra o Paraguai. Nas ruas da capital pernambucana,
Tobias era mais que um poeta condoreiro, era um orador do povo, inflamado,
devolvendo a coragem de lutar aos bravos nordestinos de Pernambuco que
guardavam, ainda, as amarguras das derrotas dos movimentos libertários de 1817,
1824, 1842 e 1848, vivos na memória da “cabocla civilizada.4 O mesmo não se poderá
dizer do concurso para a cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano. Contra José
Soriano de Souza é o estudante contra o mestre, é o jovem formando seu espírito, de
um lado, e um professor experiente, médico e doutor pela Universidade de Louvain, na
França, que exercia forte influência sobre professores e estudantes e jornalistas, do
outro. Do concurso o próprio Tobias trata, em carta a Carvalho Lima Júnior: “Não
obstante ir em primeiro lugar fui preterido por esse doutor, alegando-se como razão da
preferência o ele ser casado e eu solteiro”.5

1
História do Povo de Israel, Ein leitung in die Geschichte des Volkes Israels, por Heinrich Ewald, 8
volumes, 1864.
2
Tobias Barreto deve ter assistido ao Discurso proferido pelo padre Fr. Antonio da Virgem Maria Itaparica,
por ocasião da abertura da aula de Filosofia do Seminário da Bahia, em março de 1861. Nele o padre
exorta os alunos com versos de “um Sapientíssimo e Santo Bispo: “Quem não louva Deus, é um ingrato. /
Quem se opõe a que o louvem é realmente um monstro”. Em Diário da Bahia, 27 de março de 1861.
3
O padre Felix havia perdido, em 1863, concurso para a mesma cadeira de Latim, quando saiu vencedor
Joaquim José Henrique da Silva.
4
Verso do poema “À Vista do Recife”, de 1862, o primeiro dos grandes poemas patrióticos de Tobias
Barreto, publicado em Dias e Noites, edição de 1881 e seguintes.
5
Carta de 13 de setembro de 1880.
Tobias Barreto não iria esquecer a injustiça de não ter sido o nomeado, embora
guardasse um certo orgulho por ter defendido, naquele concurso, modernas idéias de
filosofia, contrariando os ensinamentos espiritualistas de Taparreli, Sanseverino e
Kleutgen, que seguramente balizavam a formação filosófica do Dr. José Soriano de
Souza.

A Juventude e a Religião

A Faculdade de Direito do Recife, que fora fundada em Olinda, no Mosteiro de São


Bento, quando dirigida por Pedro Autran da Mata Albuquerque, era um santuário da
Catequese dos moços nordestinos, oriundos de várias províncias da região. Desde
1856 que havia sido ereta, na igreja de São Francisco, a Confraria Acadêmica Nossa
Senhora do Bom Conselho, sob os aplausos dos professores, como se pode
testemunhar com a leitura deste texto da Memória Histórica Acadêmica, de 1857:6 “A
instalação da Irmandade Religiosa, no Convento dos Franciscanos, sob a invocação
de Nossa Senhora do Bom Conselho, foi uma prova de convicção de que só a religião
oferece uma verdadeira e real garantia à ordem e tranqüilidade pública de que só ela
pode sancionar de uma maneira positiva e dogmática a moral social, e prevenir e
acautelar crimes cuja alçada e investigação escapam às leis humanas.”
Pelo seu valor como documento de época, como mostruário das idéias dominantes na
Faculdade de Direito e no ambiente em que vivia a juventude no Recife, vale trazer a
público algumas outras manifestações de professores daquela Casa.
Diz um texto da Memória Histórica Acadêmica de 1862: “Muito faz esta juventude, que,
dotada geralmente de fervor religioso, sustenta, por meio de algumas associações e
escritos pela imprensa, as eternas verdades do Cristianismo e pugna pela difusão das
boas doutrinas”.7
Em 1863,8 começam a surgir sintomas de que nem todos estavam de acordo com a
catequese e com o controle religioso do conhecimento. Eis o que diz o autor da
Memória: “O indiferentismo de poucos estudantes – sectários do sistema da razão livre
ou do puro Racionalismo (sinônimo de Protestantismo), felizmente não pode ainda
influir nos louváveis atos de quase totalidade, que por aqueles é qualificada de
ascética”. Mais adiante, dizia o professor: “Sem a fecunda aliança da ciência com a
religião, e da liberdade com a ordem, dissolvidos estão, sem dúvida, os vínculos
sociais”.
O ambiente da Faculdade era reproduzido na rua, na medida em que os mestres do
direito continuavam com suas pregações destinadas a conter o crescimento das que
reagiam ao controle. O professor Antônio Vasconcelos Menezes de Drummond, ao
discursar em 7 de agosto de 1867, analisando a Constituição brasileira, afirma
categórico: “A religião cristã, obra da Sabedoria Divina em prol do bem da humanidade
(assim como o Protestantismo é a obra da fraqueza humana e para sua destruição),
sendo a única capaz de fazer a felicidade nesta vida, e também a única capaz de fazer
a felicidade na vida futura, foi pela Constituição preferida, sob cuja sombra já havia
prosperado a abençoada terra da Santa Cruz, há trezentos anos”.
O Curso Preparatório da Faculdade, criado em 1832, no Seminário de Olinda, como
Colégio das Artes, seguia a mesma tradição catequética, e seu corpo docente era
repleto de padres. A situação era idêntica no Ginásio Pernambucano, fundado em
1855, pelo desdobramento do Liceu, abrigando padres, como Inácio Francisco dos
Santos e Joaquim Graciano de Araújo, que ensinavam, respectivamente, latim e
geografia, retórica e filosofia.9 Era, portanto, muito forte a influência religiosa no ensino
pernambucano, aumentada ainda mais a partir de 1867, quando é fundado o Colégio
6
Memória Histórica Acadêmica, 1857, pelo professor José Antonio de Figueiredo.
7
Memória Histórica Acadêmica, 1861, pelo professor João Capistrano Bandeira de Melo Filho. Recife,
1862.
8
Memória Histórica Acadêmica, 1863, pelo professor Antonio Vasconcelos Menezes de Drummond.
Recife, 1864.
São Francisco Xavier, confiado aos jesuítas. Abre-se um novo capítulo na questão do
controle do ensino e da cultura em Pernambuco, dando consistência ao movimento
que entre os professores era liderado pelo Conselheiro Pedro Autran da Mata
Alhuquerque e pelos irmãos Braz Florentino, Tarquínio Bráulio e José Soriano de
Souza.
Os jesuítas chegaram a Pernambuco “como operários da educação da mocidade” a
partir de 12 de fevereiro de 1866. Os primeiros que chegaram foram os padres Bento
Shembri, logo designado Padre Espiritual dos Seminaristas, Márcio Arcionni, lente de
Moral, e Tomé Vitale, lente de Teologia Dogmática. Em princípios de 1867 chegaram
os padres Candiami e Clemente Maria Negri. Os jesuítas, mais que os outros padres e
que os professores das diversas escolas e da Faculdade de Direito, atraíram a afeição
da mocidade. Eles haviam sido convidados pelo Bispo de Olinda, Dom Manoel do
Rego Medeiros, e estavam destinados ao auxilio da educação nos Estados de
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas.
Em homenagem a Santo Inácio, no dia 31 de julho, fundam o Colégio de São
Francisco Xavier, com finalidade primeira da “educação religiosa da mocidade”, que
não consistia apenas no ensino do catecismo, “mas também em formar o coração dos
alunos para bem cumprirem com os seus deveres, esclarecendo-lhes a inteligência
nas verdades e preceitos da religião cristã com progressivas instruções”. Ao lado das
intenções educacionais, o Colégio fixava uma rígida disciplina para os seus alunos,
que eram proibidos de saírem para visitas, nem nas férias, bem assim de mandar para
fora do Colégio cartas, bilhetes e recados, senão por intermédio do Diretor ou Vice-
Diretor.
Os jesuítas do São Francisco Xavier estavam realizando, em limites menores e em
universos restritos, os planos do anfitrião Bispo de Olinda, que dentre os seus planos
para a educação em Pernambuco incluía a criação de um “Curso de Ciências
Eclesiásticas”, com as seguintes matérias: Direito Natural e das Gentes, Direito
Público Civil, Direito Civil Pátrio, Direito Público Eclesiástico, in si e em suas relações
com o Direito Civil Brasileiro, História Eclesiástica Geral e Peculiar do Brasil, Escritura
Sagrada, ou Exegética, ou Explanação dos Fundamentos da Autenticidade,
Canonicidade e Integridade dos Livros Bíblicos, Teologia Dogmática, fundamental e
polêmica.10
O que dominava, com rotunda, a ação dos jesuítas em Pernambuco era o que
chegava ao Recife, através da Revista contemporânea de Paris, porta-voz do
Neotomismo que contagiava o grupo chefiado por José Soriano de Souza, reforçando
o binômio educação-confessionário, espécie de estandarte dominante nas casas de
ensino recifenses. A visão religiosa daquele tempo não tardaria em freqüentar as
publicações especializadas que circulavam no Recife, como a Revista Mensal de
Instrução Pública de Pernambuco.

A Religião e a imprensa

Diversos jornais e revistas começaram a circular com objetivos definidos de


propagação da fé religiosa. Alguns deles alcançaram repercussão maior, e causaram
efeitos também maiores no convívio com o corpo social. Entre os jornais e revistas que
circularam tendo em seu grupo redacional estudantes da Faculdade de Direito,
professores e sacerdotes estão: O Santa Cruz, 1860; A Verdade, 1861; O
Constitucional, 1861; O Lidador Acadêmico, dirigido por Tarquínio Bráulio, 1861; A
Religião, 1862; A Situação, redigido por alunos do 4º ano da Faculdade de Direito,
tinha no cabeçalho o seguinte: “Religião, Autoridade Forte, Monarquia Prestigiada, Lei,
Conservação e Progresso”, 1862; O Íris da Verdade, 1864; O Oito de Dezembro, 1864;
9
O nome do padre Joaquim Graciano de Araújo é também grafado, por alguns autores, como Joaquim
Graciano de Araújo.
10
Ver Ensino, Jornalismo e Missões Jesuíticas em Pernambuco, por padre Ferdinand Azevedo, FASA,
Recife, 1983.
A Esperança, redigido por José Soriano de Souza, 1865; O Vinte e Cinco de Março, do
padre Joaquim Pinto de Campos, 1865; O Oriente, 1866; O Democrata Federativo,
1868; A União Democrática, 1869; O Católico, dirigido inicialmente por Pedro Autran
da Mata Albuquerque e depois, em 1872, por José Soriano de Souza, 1869; A Santa
Cruz, 1871; A União, dirigido por José Soriano de Souza, 1872; O Verdadeiro Católico,
1873; Cáritas, Caridade, 1874; e O Estudante Católico, dirigido por Albino Meira, 1875.
Ninguém conseguia escapar dessa participação compulsória na propaganda religiosa
pela imprensa. Num jornalzinho de 1863 – A Primavera – estão reunidos Antônio
Joaquim de Passos, Castro Alves e Franklin Távora. Estava lá, no artigo de fundo de
seu número único, de 17 de maio, o perfil. “Filho de uma idéia grande e generosa, vai
de professar e ensinar a verdade da ciência e o conhecimento de Deus e da
humanidade, derramando a educação no seio das famílias por meio de teorias
sublimes, como a religião dos mártires”. E acrescentava: “A religião é a sua profissão
de fé e basta para recomendar a cada cabeça um sinal de respeito e proteção ao
nosso filho das letras, que vem agora à luz da imprensa”.
Ainda que fossem de vida efêmera, os jornais e revistas estavam destinados ao
cumprimento de uma missão, e cada órgão novo que circulava era um ânimo novo em
defesa das mesmas teses, continuamente alimentando o fogo inquisitorial da
propaganda, como freio antes que surgissem e proliferassem as idéias novas, que
também procuravam abrigo nas páginas dos jornais recifenses.
As publicações religiosas tomavam a dianteira na vigilância do conhecimento,
insistindo com as velhas teses conservadas pelos ultramontanos que estavam, com os
jesuítas, na retaguarda da pregação pela imprensa. Para ilustrar o pensamento
comum no meio dos mentores da mocidade acadêmica e estudantil em geral, basta
citar a teoria da Revista Contemporânea de Paris, repetida pela Revista Mensal da
Instrução Pública de Pernambuco, que, sem rodeios, ensinava que: “O progresso das
ciências, das artes e da indústria parece favorecer o desenvolvimento dos instintos
menos nobres da nossa natureza”.
Num discurso que pronunciou numa festa do Colégio São Francisco Xavier, sobre “O
Estudo da Filosofia Natural e Racional”, o padre jesuíta Francisco Rodina alerta que “a
ciência sem a virtude é tão fatal ao indivíduo como à sociedade”. Outro jesuíta,
Clemente Negri, em carta publicada pela mesma Revista,11 afirma categoricamente
que “a liberdade de ensinar, dada a todos é essencialmente imoral, e por conseguinte
ilícita, visto que franqueará o ensino ao incrédulo, ao racionalista, ao protestante, etc.”.
O ambiente fazia da escola e da imprensa instrumentos do mais direto e claro uso
catequético, controlando de forma ampla e quase total não apenas o conhecimento,
mas e principalmente as reações e insurgências que pudessem aparecer entre os
jovens nordestinos residentes no Recife. Alguns jornais não escondiam suas
pretensões, como A Esperança, cuja finalidade era “operar pela palavra, pela imprensa
e pelos exemplos uma saudável reação religiosa, se se quer salvar o País do abismo
para que caminha a olhos vistos”.
Mais do que o mostruário de intenções, das escolas e dos jornais, havia uma idéia
básica, sedimentada, alicerçando o edifício do pensamento dominante. Numa vertente,
ela está no interior da Faculdade de Direito, incrustada na cátedra de Direito Natural,
como deixara o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos, em 1851, abrindo o
curso do ano. Dizia ele que: “O Cristianismo, senhores, a que a humanidade deve
tantos benefícios, foi que despertou no ânimo do homem o sublime conceito do direito
da natureza, conceito cuja verdadeira origem, por conseqüência, é toda celeste, toda
evangélica”.
Mais do que o conselheiro Autran, José Soriano de Souza era um exemplo de um
escudeiro, fiel e leal seguidor de trilhas antigas, que ampliava com sua diligente
participação na vida cultural pernambucana. Em 1871 publica, em Paris, o livro Lições
de Filosofia Elementar, Racional e Moral, distribuído em Pernambuco pela Livraria

11
Revista Mensal de Instrução Pública de Pernambuco. Recife, 1872.
Acadêmica de João Walfredo de Medeiros. É a melhor referência para servir de
contraponto do pensamento dominante em relação à reação esboçada em fins dos
anos 60 e por diante por Tobias Barreto e outros desbravadores da nova cultura,
animada pelas luzes da ciência que despontava na Europa alemã.

As Lições de Soriano

O livro do dr. José Soriano de Souza termina com uma nota de sujeição, nos seguintes
termos: “Sujeito estas Lições de Filosofia ao juízo indefectível da Santa Igreja
Romana, isto é, à correção do Soberano Pontífice, Pai e Mestre infalível de todos os
cristãos; e com ele digo, e tenho como verdade que é obrigação rigorosa, quer do
filósofo, que deseja ser filho da Igreja, quer da mesma filosofia, não dizer nada contra
o que a Igreja ensina, e retratar-se desde que ela o adverte; e bem assim que
inteiramente errônea e soberanamente injuriosa à Fé e à Igreja e à sua autoridade a
doutrina que ensina o contrário disto”.12
Retirados do corpo do livro, eis alguns ensinamentos do dr. Soriano, característicos
como produto de uma mentalidade largamente respeitada entre os católicos, como
destaca o jornal O Católico, na sua edição de 20 de setembro de 1871: “Certamente
percorrendo-a, com satisfação temos notado sólida robustez de argumentos, clareza
de exposição, exatidão de definições, propriedade de linguagem científica, e o que
mais vale, bom critério na escolha das opiniões mais recebidas entre os autores
católicos (S. Agostinho, S. Tomás, Audísio, Taparelli, etc.)”. O jornal cita longo trecho
do livro que, pela sua importância como justificativa teórica para a prática catequética,
merece transcrição. Diz o autor das Lições, sobre a Igreja: “A Igreja é uma sociedade
perfeita, absolutamente independente da sociedade civil em seu fim, meios e origem.
Com efeito, chama-se perfeita aquela sociedade que é completa em sua natureza, e
tem em si mesma todos os meios necessários e suficientes para atingir ao seu fim;
ora, neste caso está a Igreja de Jesus Cristo, logo é uma sociedade perfeita. A menor
deste argumento provamos logo: o fim próprio da Igreja é a salvação eterna dos
homens, o culto divino, o ensino da doutrina de Jesus Cristo: ofícios estes que não lhe
foram atribuídos por nenhuma outra sociedade, senão pelo mesmo Jesus Cristo, como
foi dito; ao passo que o fim da sociedade civil é em substância a segurança e a
felicidade temporal, e o que a ela se refere, de tal sorte porém que se não oponha ao
fim último do homem. E porque este fim último, como tal que é, há de dominar os fins
intermédios ou temporais, segue-se que longe do fim da Igreja ser subordinado ao do
Estado, é ao contrário o fim deste que é sujeito ao daquela, como exige a razão, por
ser a matéria naturalmente sujeita ao espírito”. O Católico faz o comentário: “Deste
modo vê-se que o claro autor segue nas suas Lições de Filosofia Elementar os sãos
princípios, que são como a chave, para refutar os sofismas miseráveis da moderna
incredulidade. Haveria pois estudo filosófico mais sério e mais útil para a mocidade
católica do Brasil?”. A pergunta fica realçando a preocupação afirmativa dos
tradicionalistas que tinham no professor José Soriano de Souza um autêntico e
aplicado porta-voz.
Ninguém melhor que ele, que afirmava a subordinação da Filosofia à Teologia, para
consolidar teorias destinadas a recrutar adeptos entre os jovens estudantes, na defesa
de uma sociedade cujo poder político só poderia vir de Deus, sendo inadmissível se
originar de um dos seus membros. Uma sociedade composta pela “desigualdade de
méritos individuais, proveniente de ter a natureza dotado desigualmente aos homens,
que consiste a verdadeira igualdade perante a lei social e não em que todos têm igual
direito de pretender tudo, como propalam os ultrademocratas, porque essa igualdade
material destrói o valor pessoal, a liberdade, e a mesma sociedade, que não pode
existir sem ordem, e por conseguinte sem hierarquia social.”

12
Trata-se da Declaração do Autor, no livro Lições de Filosofia Elementar, Racional e Moral. Paris, 1871.
Tobias e a Religião

Enquanto a figura de José Soriano de Souza era, para Tobias Barreto, a encarnação
das velhas doutrinas, que “ao que parece, crê-se destinado a uma grave missão. É
fabricar no Recife o melhor contraveneno das idéias perigosas”,13 o livro de Ewald era
uma imensa porta por onde o sergipano iria penetrar nas questões religiosas mais
profundas. A um tempo, Tobias aprendia, sozinho, o alemão, que conhecia de contatos
baianos, quando passara algum tempo junto a Francisco Muniz Barreto de Aragão,14 e
tomava conhecimento histórico do povo de Israel, sendo levado a discutir, pelos jornais
recifenses, aquilo que de novo aprendia em suas leituras.
Com tal leitura, Tobias faz passagem pelos autores franceses, entre eles os
positivistas, com quem Tobias Barreto parecia ter intimidade, pondo uns contra outros,
no jogo dialético do confronto que permitia adotar a evolução das idéias. Discute, com
esse seu método de raciocínio crítico, a questão da religião e da ciência, opondo
Vacherot ao padre Gatry, para quem “a ciência é coisa de fantasia”, como assinalara
Tobias em Sobre a Religião Natural de Jules Simon, em agosto de 1869, pouco depois
que escreveu A Luta de Gigantes.15 Em Moisés e Laplace opõe a cosmogonia à
concepção bíblica da origem do mundo. Surgem os nomes até então ignorados, ou
pronunciados com reserva pelos escritores católicos e autores de compêndios e
manuais de filosofia.
Em “Notas de Crítica Religiosa”, “Os Livros Mosaicos, ou Assim Considerados” e “Uma
Excursão de Diletante pelo Domínio da Ciência Bíblica”, Tobias se vale de Ewald para
fixar seus novos horizontes na interpretação dos textos religiosos. Ewald é a porta
para os demais autores alemães que Tobias incorpora aos seus estudos, muitos deles
a partir da Revista de Teologia de Strasburgo, onde segundo o pensador sergipano
“acharam eco todas as grandes questões bíblicas levantadas durante os últimos 50
anos”.16
A ação intelectual de Tobias Barreto, nos últimos dois anos como estudante e logo
depois de formado, concorre para alterar o seu perfil. O poeta das ruas e das récitas
teatrais, agitando o povo ou disputando o amor das belas mulheres e artistas, cede
lugar ao teórico da organização política brasileira, de feição liberal, como atestam seus
artigos em O Liberal17 e O Americano,18 e ao crítico da religião, intuindo a busca de
respostas filosóficas para as questões que desejava solucionar, como intérprete da
evolução do conhecimento humano. Um compromisso que levou até o final da vida,
enfrentando os dias ásperos e cruéis de sua jornada existencial.
Tobias Barreto casara, em 11 de fevereiro de 1869, com Grata Mafalda dos Santos, no
Oratório do Engenho Riqueza, do seu sogro João Félix dos Santos, no município de
Escada. Em princípios de 1871 Tobias fez a opção por fixar residência em Escada,
13
Sobre o livro de Soriano, Tobias escreveu três artigos, sob o título de “O Atraso da Filosofia entre Nós”,
publicados no Jornal do Recife, nos dias 30 de julho, 3 de setembro e 18 de novembro de 1872.
14
Francisco Muniz Barreto de Aragão, parente de Tobias, era diplomado em Direito e em Filosofia pela
Universidade de Heidelderg, e foi grande propagandista da cultura alemã, através dos jornais O Monitor,
Diário da Bahia, Gazeta da Bahia, Diário de Notícias e Jornal de Notícias, com artigos sobre filosofia,
crítica política, finanças, economia política e literatura, além de publicar Das Verfassungs – Wesen in
Brasilien. Francisco Muniz Barreto de Aragão era pai do poeta Egas Muniz, o Petion de Vilar, professor de
alemão do Ginásio da Bahia, redator da Revista do Grêmio Literário e considerado por Arno Philipp,
redator-chefe da Deustsche Zeitung, como “o único escritor brasileiro que hoje (1903) estuda com
perseverança e entusiasmo o germanismo e continua a obra de Tobias Barreto”.
15
Este artigo foi publicado em 1869 e é dos mais antigos trabalhos de Tobias Barreto. Por muito tempo
figurou nas edições de Tobias como de 1871.
16
A Faculdade de Direito do Recife está reunindo, em estantes separadas, as obras de autores alemães
que pertenceram à biblioteca Pessoal de Tobias Barreto. São mais de 200 volumes, muitos dos quais
foram citados por Vamireh Chacon em Da Escola do Recife ao Código Civil. Organização Simões, Rio de
Janeiro, 1969, e em artigo do mesmo autor, na Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife,
LXVII, 1971.
17
Os Homens e os Princípios, 1870.
18
Política Brasileira, artigos de fundo, 1870
ainda Termo da Comarca de Santo Antão. Advogado, Curador de Órfãos e de
Escravos, Juiz Municipal Substituto, editor, em tipografia própria, de diversos jornais,
incluindo o Deutscher Kaempfer, inteiramente redigido em língua alemã, Tobias
Barreto molda, definitivamente, com a publicação de Ensaios e Estudos de Filosofia e
Crítica, seu perfil de pensador e de crítico, filiando-se completamente ao germanismo.
O germanismo de Tobias Barreto leva a que compreenda, de forma desapaixonada, o
alcance, a extensão da reforma luterana do século XVI. Tobias passa a entender a
reforma como uma nova teoria da fé, e, qualificando Martinho Lutero como “o mais
valente orador alemão”, duvida se seria possível Kant sem Lutero. Para ele os feitos
do pensamento alemão após a reforma levantam um novo princípio de moralidade, o
qual, em oposição à Renascença, corresponde essencialmente ao espírito alemão,
repousando sobre o lar e a família.
Estava claro, para Tobias, que as transformações operadas pela reforma fixavam uma
nova ciência e uma nova cultura, que dificilmente vicejariam no húmus do Catolicismo
tradicional. Impressiona, no entanto, que a visão esclarecida e singular de Tobias não
o leve a participar das questões mais ruidosas do seu tempo de crítico de religião: a
polêmica do general Abreu e Lima, assinando-se Cristão Velho, com o padre Joaquim
Pinto de Campos e com outros católicos, que resultou, anos mais tarde, na posição
radical da administração eclesiástica de negar sepultura ao general de Bolívar,
finalmente enterrado no cemitério dos ingleses, e a chamada Questão Religiosa,
envolvendo os maçons e o bispo Dom Vital.
Tobias estava nas páginas dos seus jornais, como a Razão e a Regeneração, O
Americano, e de outros que se abriam para a crítica religiosa no Recife, principalmente
a partir de 1869, como a Consciência Livre, que precedeu ao Americano, Correio
Pernambucano, O Liberal e o Jornal do Recife, o mais antigo deles. Era a imprensa
aberta às contribuições mais novas, combatendo aquele outro grupo de jornais
católicos, todos com disposição férrea para a propaganda religiosa tradicionalista.
A única das questões de evidência que atrai Tobias é a discussão sobre a infalibilidade
papal, antes e depois do Concílio de 1870. Entre os católicos havia o temor contra a
Igreja. É o bispo Cardozo Ayres, em texto de 29 de setembro de 1869, publicado em O
Católico de 17 de outubro do mesmo ano, que diz ser “notório o incremento que vão
tomando em algumas folhas públicas desta diocese as idéias anti-religiosas, e sendo
de esperar que esse espírito de iniqüidade se exacerbe, durante os trabalhos do
sagrado Concílio”.
Ao ser concluído, com a afirmação do dogma, o Concílio foi entusiasticamente
saudado pelo O Católico, que desabafa: “A definição da infalibilidade pontifícia foi o ato
mais brilhante do Concílio Vaticano, a suprema idéia para que Deus o quis reunir. De
feito, donde, a não ser deste dogma, dependeria o triunfo do Catolicismo sobre o
Racionalismo, e a firmeza do reino de Jesus Cristo sobre a terra? Portanto, definir a
infalibilidade pontifícia importava tanto quanto importa a duração do reino de Jesus
Cristo sobre a terra: especialmente nesta nossa época, quando o alvo da atual guerra
satânica é destronizar a Jesus Cristo, e despedaçar-lhe o cetro. Não pedia pois o
Concílio Vaticano prestar ao século XIX serviço mais relevante que proclamar a
infalibilidade do Pontífice Romano”.19
A Igreja não estava disposta a ceder nada em sua forma de ver e de compreender o
mundo e firmava, cada vez de forma mais radical, a sua postura, tomando como
inimigos a todos os que questionavam ou queriam respostas para questões antigas,
que antes sequer eram discutidas. A Maçonaria, animada pela discussão dos jornais
contra o jesuitismo, fortalecia suas lojas, festejava o gesto de Pombal, um século
antes, e atraía grande número de adeptos. Jornais e jornalistas tinham ligações com
as lojas Regeneração, Restauração Pernambucana, Seis de Março, Segredo e Amor
da Ordem, as que funcionavam legalmente no começo da década 70. Como os

19
O Católico, 20 de agosto de 1870.
liberais, e entre eles Tobias Barreto, os maçons tratavam com interesse da questão da
escravidão e em suas festas costumavam aIforriar alguns escravos.
O ambiente agitado do Recife não era ignorado por Tobias, que em seu refúgio de
Escada, zona da mata sul de Pernambuco, com 120 engenhos de açúcar, de senhores
conservadores e liberais, mas sempre senhores, continuava mergulhado na leitura dos
autores alemães, como se verá em 1874, ao editar o seu primeiro jornal, Um Signal
dos Tempos, trazendo à cena da cultura nomes como o de Strauss, por ocasião de
sua morte, e de Eduard von Hartmann, cuja obra, em sua edição alemã, Filosofia do
Inconsciente, é objeto de análise, três anos antes que apareça no Recife a edição
francesa.
É em Escada que Tobias Barreto aperfeiçoa o seu entendimento das diversas
correntes transformadoras, que desde o Positivismo influem na mente dos jovens
insubmissos ao controle da Igreja. Os autores alemães, em número cada vez maior,
ocupam Tobias. Não há como separar a crítica religiosa, a filosofia, o direito, a ciência
política, da influência germânica. Charles Darwin, Ernest Haeckel, Rudolf Von Jhering,
Hermann Post, Eduard von Hartmann passam a exercer sobre o sergipano uma
decisiva orientação, a partir da qual, em todos os campos em que atua, Tobias exporá
o conjunto das novas idéias. Assim faz nos jornais escadenses, no Clube Popular,
quando pronuncia “Um Discurso em Mangas de Camisa”, em 1877, como deputado à
Assembléia Provincial, e discute a questão da educação da mulher, quando publica a
“Jurisprudência da Vida Diária”, em 1878, quando mantém correspondência com
autores alemães e colabora com jornais germânicos editados no Rio de Janeiro, em
São Paulo e em Porto Alegre, ou em jornais da Alemanha, ou ainda quando concorre à
cadeira de Lente da Faculdade de Direito do Recife.
É evidente que a posição de Tobias Barreto gerara grandes incômodos. Em 1870,
quando ainda engatinhava em seus estudos alemães, Tobias enfrentou os católicos
tradicionalistas do jornal O Católico, sob a chefia do conselheiro Autran. Em 1875, ao
publicar seu livro de estudos filosóficos, mede forças com Albino Meira, do Culto às
Letras, e na Assembléia Provincial, como deputado e orador muito aplaudido, tem um
projeto rejeitado, sob a justificativa de teorias antigas, atrasadas, que predominaram. 20
Mas, ao anotar o seu “Um Discurso em Mangas de Camisa”, em 11 de fevereiro de
1879, revela sua opção filosófica irrevogável: “não sou judeu para crer no Messias,
nem tenho a ingenuidade dos primitivos cristãos para acreditar na parousia; mas sou
filósofo em confiar nas leis da história, que regulam os destinos dos povos, e essas
hão de também cumprir-se entre nós”.

Tobias e o Direito

Ao retornar ao Recife, carregando a dura experiência de uma convivência atribulada,


onde não faltaram ameaças e agressões, como no cerco feito à sua casa, a caça de
escravos que ele alforriara, por sua mulher, seu cunhado e outros herdeiros de João
Félix dos Santos, Tobias era, já, o pensador maduro, com a cabeça fértil para
desencadear o mais notável movimento intelectual do século XIX. Começa por
escrever Algumas Idéias Sobre o Chamado Fundamento do Direito de Punir, em 1881,
e Sobre uma Nova Intuição do Direito, 1881/1882. Neste último desabafa, numa nota
de pé de página, anunciando trabalho inédito – Die akademischen Lehrkraefte an der
juristischen Facultaet in Pernambuco; ein Beitrag zur Kunde des geistigen Lebens in
Brasilien, – irônico: “Assim Deus me ajude; não só o Deus da teologia, mas também o
20
Trata-se do projeto nº 129, criando o Partenogógio do Recife, escola superior, profissionalizante, para
moças. Em 1880, quando já não era deputado, o seu projeto mereceu defesa do Barão de Nazaré, que
enfrentou a reação do médico Ermírio Coutinho. No seu projeto Tobias abria alternativa para, enquanto
não houvesse prédio próprio, a escola – também chamada de Liceu para moças – funcionasse no Ginásio
Pernambucano. O dr. Ermírio Coutinho considerara que esta idéia concorria para a promiscuidade,
alegando condicionamentos climáticos que, no seu entender, fomentavam as paixões. Apesar da defesa
do Barão de Nazaré, o projeto foi esmagado pela reação e terminou arquivado na Comissão de Instrução
Pública.
Deus da ciência econômica, a substância spinosística do mundo, na qual... vivimus,
movemur et sumus”.
O germanismo que abrira os olhos de Tobias para o futuro encantava os moços da
Faculdade de Direito, pela voz do candidato a uma cadeira de professor de Direito. O
concurso de Tobias Barreto, em 1882, representa, na opinião unânime dos
historiadores das idéias do século passado, uma ruptura formal com o atraso, com o
domínio das velhas teorias mofadas nos compêndios, da lavra de professores que
bebiam no Catolicismo tradicional as “verdades” imutáveis que transmitiam aos jovens
acadêmicos nordestinos.
Demolindo, com o fogo das novas idéias, a construção antiga da filosofia e do direito,
Tobias Barreto causava grande impacto na sua geração e impunha uma derrota sem
precedentes aos ultramontanos que abanavam a fogueira velha da inquisição cultural.
A partir daquele momento de reação, O Brasil, como viria mais tarde a dizer Graça
Aranha,21 uma das testemunhas arrebatadas pela palavra do mestre. A vitória das
idéias novas, festejada nas ruas recifenses pelos moços da Faculdade, dava a Tobias
Barreto a certeza de que havia conquistado a adesão dos estudantes, retirando-os da
tutela intelectual a que estavam, historicamente, submetidos.
A Escola do Recife – assim ficou conhecido o movimento emancipador da cultura
brasileira, liderado por Tobias Barreto – produziu uma geração de abolicionistas, de
republicanos, de democratas, de socialistas, de agnósticos e materialistas que, de
volta aos seus Estados, seguiram com a demolição de todas as velhas estruturas.
A reação não tardara. Ao pronunciar discurso de paraninfia de colação de grau, Tobias
aprofundara sua visão do direito, dizendo: “É mister bater, bater cem vezes, e cem
vezes repetir: o direito não é um filho do céu, é simplesmente um fenômeno histórico,
um produto cultural da humanidade”. Adiante, na mesma oração, diz: “Tal é a
concepção que está de acordo com a intuição monística do mundo. Perante a
consciência moderna, o direito é o modus vivendi, é a pacificação do antagonismo das
forças sociais, da mesma forma que, perante o telescópio moderno, os sistemas
planetários são tratados de paz entre as estrelas”. Na mesma ordem de idéias, afirma
categoricamente: “...mas somos nós os primeiros a tratar de reformar-nos; somos os
primeiros que devemos munir-nos de abnegação e de coragem, tanto quanto havemos
mister de coragem e abnegação para despirmo-nos das nossas becas, mofadas de
teorias caducas, e tomarmos trajo novo. Releva dizer à ciência velha: retira-te; e à
ciência nova: entra moça. Darwinista ou Haeckcliana, pouco nos importa, o que
queremos é a verdade. As faculdades não são somente estabelecimentos de
instrução, mas ainda e principalmente, como diz Henrique von Sybel, verdadeiros
laboratórios, oficinas de ciência. É preciso também pensar por nossa conta. Eis aí
tudo”.22
O discurso propagou-se em todo o Nordeste e, ao ser publicado em O País, no
Maranhão, mereceu severas restrições do órgão oficial religioso Civilização, levando a
uma longa polêmica, que toma todo o segundo semestre de 1883. Mas, enquanto as
críticas, os insultos, as mesmas e velhas cantilenas tradicionalistas, que repercutem

21
O Meu Próprio Romance, por Graça Aranha, 1931. Também em Obras Completas, INL, Rio de Janeiro,
1969.
22
Discurso proferido na cerimônia de colação de grau de doutor em direito. 10p., Recife, 1883. Incluído,
sob o título de Idéia do Direito, no volume Estudos de Direito - 1, das Obras Completas – Edição
Comemorativa. O termo Monismo, explicitado por Tobias no discurso, não foi convenientemente
compreendido. Mais do que a sua força – como sinônimo de materialismo científico, que importa sublinhar
para realçar a posição progressista de Tobias Barreto e dos integrantes da Escola do Recife que
adotaram o Monismo, – discutiu-se as diversas correntes monistas, e seus líderes, como principalmente
Ernest Hacckel e Ludwig Noiré, sublimando a essência doutrinária do conteúdo do termo. O Monismo não
era um eufemismo vazio, mas uma afirmação categórica dos que escapando das rédeas do controle
clerical abraçavam o materialismo científico, como o fez, com clareza, Tobias, seguido por Fausto
Cardoso. A concepção materialista explica, de algum modo, o fato de o fundador da Escola do Recife ter
passado ao largo das discussões sobre a Bíblia, de fundo protestante, e sobre a Questão Religiosa, de
fundo maçônico.
no Recife e são transcritas no Diário de Pernambuco, visam a atacar Tobias, ele
produz, mais e mais, artigos de interpretação da literatura, da Bíblia, sem esquecer de
fustigar aquele seu velho adversário, José Soriano de Souza, que parece estar
escondido, ao anonimato, na produção e na divulgação das críticas. Tobias Barreto
cresce na admiração e no respeito dos seus alunos, que incorporados assinam nota
de repúdio contra o médico Antônio de Siqueira Carneiro da Cunha, que usava o
pseudônimo de Hunger para atacar o autor do instigante discurso.
Em 1884, refeito da ruidosa polêmica e animado pela boa repercussão que obtivera o
seu livro Estudos Alemães, publica Menores e Loucos, onde revela a face, também
inovadora, do criminalista. E lá, com todas as letras, define-se: “Não faço mistério da
minha fé filosófica: eu sou um materialista, no bom sentido da palavra. Não me insurjo
nem mesmo contra a tentativa de fazer-se da chamada ciência da alma um
compartimento da meteorologia. ‘O homem é o que ele come’, disse o autor de Kraft
an Stoff, e não hesito em glosar: o homem é todo feito a imagem e semelhança, não
de Deus, porém da natureza, isto é, do céu que ele contempla, do ar que respira, da
terra em que pisa, do leito em que dorme, e até das flores que colhe, se não até dos
lábios que beija”.23

Tobias Diante da Morte

Doente, recolhido por longo período ao leito, com saídas esporádicas, e sofrendo as
mesquinhas perseguições do meio, Tobias Barreto produzia, mais e mais, com suas
leituras, uma vasta contribuição ao direito, à filosofia, aos estudos literários, à ciência
política, e ainda aceitava encomendas de trabalhos especiais, como a apresentação e
notas da Gramática de Castro Nunes,24 em 1883, saudada efusivamente pela crítica, e
a Gramática Latina do mesmo padre Félix, do Concurso de 1865, que fez prólogo e
notas, em 1889.25
Nos últimos meses de vida tentou uma viagem à Europa, ajudado por subscrições de
estudantes, alguns amigos da colônia alemã, algumas pessoas da Província de
Alagoas. Embarca com um dos seus filhos no paquete Alagoas, com destino inicial ao
Rio de Janeiro, no dia 18 de março de 1889. No dia seguinte, como piorara o seu
estado de saúde, desembarca em Maceió, permanecendo ali até o dia 26, quando
regressa ao Recife. Quando piorava, nem podia ler e nem escrever. Assim, alternando
ligeiras melhoras, com pioras cada vez mais irreversíveis, Tobias Barreto morreu na
noite de 26 de junho.
A sua morte comoveu o Recife e enlutou o Nordeste todo. Estava em silêncio aquele
que dera ao Brasil o direito de pensar por si, e de buscar construir um futuro para o
seu povo. A morte era o final triste de uma vida criadora. Sentida por muitos, mas
esperada e até mesmo antecipada, nos jornais, por outros, que não tendo como
refutar as idéias queriam a liquidação física do mestre. Esses mesmos, tomados de
estranha atitude, espalham pelas ruas e pelos jornais a reconciliação de Tobias, no
leito de morte, com a Igreja. Falam em confissão, e até mesmo um padre – João
Vaessen –, lazarista do Convento das Missões, em Fortaleza, Ceará, dissera anos
mais tarde que “confessou e ministrou a comunhão a Tobias Barreto”. Em junho de
1939, quando do Cinqüentenário da Morte de Tobias, seu filho João Barreto de
Menezes foi a Fortaleza e colheu do velho padre a informação de que houvera engano
de nomes no caso da confissão de Tobias Barreto, difundida pelos jornais brasileiros.
23
Menores e Loucos em Direito Criminal; estudo sobre o artigo 10 do Código Criminal Brasileiro. Rio de
Janeiro, Laermmert, 1884.
24
Compêndio Elementar de Gramática Nacional, por J. A. de Castro Nunes. Livraria Francesa, J. W.
Medeiros, Pernambuco, 1883. Nova edição reformada e muito melhorada pelo dr. Tobias Barreto de
Menezes.
25
Resumo de Gramática Latina ou arte explicatória das regras indispensáveis aos estudantes de latim,
pelo padre Félix Barreto de Vasconcelos obra póstuma, com um prólogo e notas do dr. Tobias Barreto de
Menezes, Livraria Francesa, Recife, 1889.
O padre esclareceu, em entrevista à Agência Meridional, que chegara ao Brasil,
procedente da Holanda, em 1897, oito anos após a morte de Tobias. É o próprio padre
quem diz: “faço questão de restabelecer a verdade. Em 1897, eu ainda era clérigo,
não podendo confessar”.
Dele fica, para a história, a coerência de uma vida de lutas, na síntese que o Diário de
Pernambuco, em 1939, traçou-lhe: “Entretanto, esse homem de poderosa
personalidade encheu uma época e quase foi todo o seu tempo. Na Faculdade de
Direito, pode-se dizer que o vulto enorme desse mestiço de talento tomava a casa
toda. Tobias era a academia. A sua ânsia de renovação e de reforma dos estudos de
Direito, a sua veia poética e o seu gênio oratório, tudo fazia dele um homem diferente
dos outros. No Recife, transcorreu a parte mais brilhante dessa existência romântica e
inquieta. Tobias foi um precursor e daqui fez jorrar pelo País inteiro um pensamento
novo. Esse é, aliás, o destino heróico do Recife: aqui brotou a primeira idéia da
República, aqui se venceu a batalha da Abolição, aqui se reformou a ciência do
Direito, aqui se deu ao Brasil o que ele nunca possuiu: a crítica filosófica. A glória de
Tobias é também a glória do Recife”.26

O Legado de Tobias

A geração de seguidores de Tobias Barreto herdou a mesma força de luta e esteve na


vanguarda das grandes transformações das últimas décadas e da virada do século.
Em seus Estados fundaram jornais, revistas, associações, faculdades, assumiram
posturas críticas, públicas, como germanistas, agnósticos, anticlericais e, em muitos
casos, amargaram a reação desmedida da Igreja. O alemão Carl von Koseritz,
divulgador de textos em alemão de Tobias Barreto, em sua Koseritz Deutsche Zeitung,
em Porto Alegre, havia sido excomungado pelo bispo do Rio Grande do Sul, pela
publicação do livro Roma Perante o Século. Almáchio Diniz, na Bahia, sofrera igual
sanção, por causa de uma obra literária. Fausto Cardoso, um dos diletos discípulos de
Tobias, enfrentou, até com o sacrifício da vida, a oligarquia do padre Olímpio Campos,
escudada em figuras originárias da Faculdade de Direito do Recife, como Coelho e
Campos e Pelino Nobre, formados na escola do dr. Braz Florentino – o Ensaio
Filosófico Pernambucano.27
Está ainda por ser feito um inventário completo da seqüência de fatos culturais, a partir
da geração da Escola do Recife. Nelson Saldanha, 28 Dagoberto Carvalho Júnior,29
Aluízio Bezerra Coutinho,30 e Antônio Paim31 trataram, em suas obras, da influência de
Tobias Barreto sobre a geração que depois dele ocupou as cátedras, redigiu os
compêndios e os programas das Faculdades, assumiu cargos públicos, editou jornais
e revistas, levando o Brasil a sedimentar as suas referências e a fazer a interface com
a história dos outros povos.
Os seguidores de Tobias Barreto32 herdaram a razão científica, como troféu da
afirmação vitoriosa contra a espada afiada da fé, na luta mais que simbólica pela
26
Diário de Pernambuco, 8 de junho de 1939.
27
O Ensaio Filosófico Pernambucano era, ao mesmo tempo, nome de uma sociedade e de um periódico,
científico e literário, que no nº 6, de julho de 1860, publica artigo de Seve Navarro, A Fé e a Razão, que
começa dizendo: “Renegando o homem a fé para integrar-se livre, absoluta, e exclusivamente a sua
razão e reflexão privada, jamais poderá chegar à verdade duma maneira fácil, infalível e sem mancha de
erro; portanto ele tem necessidade para assenhorear-se da verdade, esta luz medianeira entre o espírito
e a coisa, de abraçar a fé naquilo que lhe for superior, e que a sua vista não puder atingir, a fim de que
coligando-se à crença e prestando-lhe um assentimento forte, inabalável e consciencioso, possa aportar
são e salvo ao porto da verdade”.
28
A Escola do Recife, Nelson Saldanha, 2ª edição, Editora Convívio/INL/Fundação Pró-Memória, 1985.
29
A Escola do Recife, Reflexos no Piauí, Dagoberto Carvalho Jr., Revista Presença, Ano IV, nº 9,
outubro/dezembro, 1983.
30
A Filosofia das Ciências Naturais na Escola do Recife, por Aluízio Bezerra Coutinho. Editora
Universitária da UFPE, Recife, 1988.
31
A Filosofia da Escola do Recife, Antônio Paim, Editora Convívio, São Paulo, 1981.
cultura, em seu múltiplo e infinito poder de transformar a natureza, em função da vida,
do bem e do belo.

32
Tobias Barreto e seus Seguidores, Luiz Antonio Barreto, série de 9 artigos, publicados na Gazeta de
Sergipe, de 4 a 22 de março de 1989. Vide, também, Nova Missão Tobiática no Recife, por Luiz Antonio
Barreto, série de 13 artigos, Gazeta de Sergipe.
Notas Complementares às Polêmicas sobre Religião

Polêmica com o Católico

Tobias Barreto participava, a partir de 1868, da agitação em torno de temas religiosos.


Cria e participa de redação de diversos jornais, como A Regeneração, O Vesúvio,
Correio Pernambucano, Jornal do Recife, O Liberal, A Crença, que juntamente com A
Consciência Livre, jornal que antecedeu a O Americano, abre uma verdadeira
campanha contra a Igreja Católica. Alguns assuntos dominam as sessões literárias, as
colaborações, as publicações solicitadas. Possivelmente a chegada dos jesuítas
“como operários da educação da mocidade”, a partir de 1866, dava nova conformação
às discussões religiosas. Mas é a partir de 1869, com o grande debate em torno da
negativa do bispo Cardozo Ayres de conceder sepultura ao general Abreu e Lima, que
as opiniões se dividem e os debates se tornam apaixonados. A autoridade eclesiástica
resolveu punir Abreu e Lima que, também pela imprensa, havia mantido uma polêmica
com alguns padres, entre eles o monsenhor Pinto de Campos, sobre as Bíblias falsas,
negando-lhe sepultura no Cemitério de Santo Amaro. Os ingleses permitiram o
sepultamento no cemitério que tinham no Recife, mas a questão mereceu longa
discussão pelo Jornal do Recife. Em 1870, repercute no Recife a noticia de que os
gabinetes europeus, entre os quais figuravam os da França, Itália, Inglaterra, Rússia e
Espanha, fizeram chegar ao Vaticano uma nota declarando ao Santo Padre que o
dogma da infalibilidade papal não seria admitido e que deixava com Pio IX toda a
responsabilidade pelo que produziria a promulgação do novo dogma. A Igreja, reunida
em Concílio, aprovou, na terceira sessão, em 24 de abril de 1870, pela vontade
unânime de 667 padres, a Constituição dogmática da fide catolica. Aparece no Jornal
do Recife, Chefas, assinando artigos intitulados “Resumo Histórico do
Desenvolvimento da Supremacia dos Papas”, para servir de introdução ao estudo da
questão da sua infalibilidade, ao lado de “O Jesuitismo Entre Nós”, do mesmo jornal.
O Americano, com os artigos de crítica religiosa de Tobias Barreto, participa desse
momento de agitação, que bem pode ser testemunhado pela carta enviada a Tobias
por Antônio dos Santos Pontual, datada do Engenho Cabeça de Negro, Escada, de 11
de agosto, que entre outras coisas diz: “Apesar de minha pouca capacidade para
apreciar o estilo útil de que usa o dito jornal, e que muito nos convém, para algum dia
sairmos deste estado de jesuitismo que nos acabrunha, com tudo declaro que é o
jornal de que mais tenho gostado”. Logo o jornal O Católico não tinha apenas O
Americano, e nem somente Tobias Barreto, para se preocupar. O Conselheiro Autran,
Diretor do Jornal, mantinha uma seção – “Crônica dos Disparates” – na qual refutava
as críticas dos diversos jornais. E mais uma vez se valeu desse espaço para combater
as idéias de Tobias Barreto. Os textos que vão aqui reproduzidos seguem a cronologia
e a ordem com que apareceram nos jornais, para melhor proveito dos leitores. As
notas de O Católico começam em 28 de agosto de 1870.

Sobre um Escrito de A. Herculano

A publicação deste ensaio no Liberal, a partir de 3 de julho de 1873, gerou uma ligeira
polêmica de Tobias com Franklin Távora, que, assinando Lessing, no Diário de
Pernambuco, investe contra o germanismo do sergipano, em artigo de 19 de julho,
recebendo resposta em 27 de julho, pelas paginas de O Liberal: Tobias ao dito Lessing
do Diário de 19 do corrente. Mais tarde, em 1879, o ensaio mereceu de Artur Leal, no
seu Impressões Acadêmicas – Ensaios Críticos (Tipografia do Correio da Noite,
Recife, 1879) o seguinte comentário, à pagina 20: “O distinto alemão Tobias Barreto,
envenenado pelo fel do seu pessimismo, qual D. Quixote de lança em riste, arremete
contra Portugal, apedreja sua literatura, corre os seus literatos, e por último põe fogo
no feudal castelo de um Alexandre Herculano”. É desta mesma época, da publicação
do ensaio, 1873, que datam os primeiros comentários críticos contra o germanismo de
Tobias. No Culto às Letras Albino Meira faz crítica, recebendo forte reprimenda de
Sílvio Romero, através de O Liberal, ainda quando assinava Sílvio da Silveira Ramos.
Sílvio, conterrâneo e discípulo, além de enaltecer Tobias aponta as ligações do
sergipano com os cultores do direito, da filosofia, da crítica religiosa, aí aparecendo o
autor da História do Povo de Israel.

Sobre David Strauss


(Um Fragmento Biográfico)

Artigo de maio de 1874, incluído no livro Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica,


edição de 1875. O primeiro livro de Tobias Barreto sofreu pesada crítica de Albino
Meira, escondido sob o pseudônimo de O Carvoeiro, na revista acadêmica Culto às
Letras. Apesar de tratar apenas de um dos artigos do livro – “Socialismo em Literatura”
–, o crítico investe contra Tobias, perguntando “com que direito um tribunal composto
de materialistas julgaria um autor espiritualista?” Não, em sua resposta, insinua que
Albino Meira estava a serviço de um “dr. filósofo que me odeia”, possivelmente
referindo a José Soriano de Souza. Convém anotar que Albino Meira, à época, era
Presidente da União da Mocidade Católica e redator do jornal O Estudante Católico.
Logo, havia razão ideológica para as críticas, pela Culto às Letras, respondidas por
Tobias em A Província, de 24 e 29 de agosto de 1875. Em compensação, Strauss, que
por muito foi lido e seguido por protestantes, terminou redescoberto pelos católicos,
especialmente depois da Encíclica Divino Afflante Spiritu, de 1943, de Pio XII. E Tobias
Barreto, que fez a síntese biográfica do autor de A Vida de Jesus, que teve tradução
francesa do positivista Littré, no ano de sua morte, está sendo lembrado no prefácio do
padre José Nogueira Machado ao livro Cristo Nasceu em Belém, do padre Victor
Notter, que vive em Taiwan, na China, justamente pela compreensão que teve e pela
divulgação que fez de Strauss.
O discurso pronunciado por Tobias Barreto, numa colação de grau, em abril de 1883,
levou a que o jornal religioso A Civilização, editado em São Luiz, Maranhão,
levantasse um escudo de proteção e de defesa do Catolicismo e de tudo o que dele
decorria em termos de controle da informação, da educação e da cultura. O discurso
de Tobias abrira mais uma clareira entre os jovens nordestinos que estudavam no
Recife e obteve, de imediato, grande repercussão, sendo publicado em jornais e
avulso. No Maranhão coube ao jornal O País, dirigido por Temístocles Aranha, pai de
Graça Aranha, então aluno de Tobias, divulgar o discurso no Maranhão, merecendo
pronta resposta da Civilização. Três pessoas – o padre Raimundo Alves da Fonseca, o
monsenhor João Tolentino Guedelha Mourão e o poeta Euclides Farias – comandaram
a reação a Tobias, produzindo textos que variaram da defesa de princípios até a
ofensa pessoal, eivada de preconceito racial, como está na série de Cartas a Pai
Tobias, em versos por Euclides Farias, sob o pseudônimo de Lourenço Gomes
Furtado. Os artigos da Civilização, que começaram a sair em 7 de julho de 1883,
foram reproduzidos no Diário de Pernambuco, palco da polêmica, a partir de 3 de
agosto. Antes, em 28 de julho, alguém, que poderia ser o próprio Tobias, sob o
pseudônimo de Baur, desagrava o fundador da Escola do Recife, com um longo artigo
intitulado O dr. Tobias Barreto de Menezes e a Civilização do Maranhão. No dia 8 de
agosto, Tobias comparece ao Diário de Pernambuco com o artigo “Os Teólogos da
Civilização”, e leva, até final de outubro, a polêmica com a civilização e com adeptos
pernambucanos, como Antônio de Siqueira Carneiro da Cunha, que se assinava
Hunger; produzindo, para resposta direta e indireta, os seguintes termos, publicados
no Diário de Pernambuco, na seguinte ordem: “Os Teólogos da Civilização” (8.8),
“Teoria do Peruísmo ou Filosofia do Peru” (11.8), “Ao Sacerdos Pernambucensis”
(14.8), “Ainda o Sacerdos Pernambucensis” (17.8), “O Doutor Hipnótico” (17.8), “O
Almocreve Padre Joaquim de Albuquerque” (7.9), “Uma Nova Contribuição à Filosofia
do Peru” (8.9), “Um Esclarecimento” (11.9), “Ensaio de Pré-história de Literatura
Clássica Alemã” – I (12.9), “Ensaio de Pré-história de Literatura Clássica Alemã – II
(15.9), “Ainda o Padre do Maranhão” (18.9), “Ensaio de Pré-história de Literatura
Clássica Alemã – III (21.9), “Os Decotes da Bíblia” (23.9), “Ensaio de Pré-história de
Literatura Clássica Alemã – IV (27.9), “Declaração” (2.10), “Ensaio de Pré-história de
Literatura Clássica Alemã – V (4.10), “Que Padre Danado” (5.10), “Ensaio de Pré-
História de Literatura Clássica Alemã – VI” (7.10), “Ensaio de Pré-História de Literatura
Clássica Alemã – VII” (9.10), “Ensaio de Pré-história de Literatura Clássica Alemã –
VIII” (10.10), “Ensaio de Pré-história de Literatura Clássica Alemã – IX final” (11.10), “É
Mentira” (13.10), “Um Capítulo da História da Renascença – Leão X” (13.10), “Um
Capítulo da História da Renascença – Leão X-II (14.10), “Uma Pequena Excursão no
Domínio da Teologia” (16.10), “Um Quadro da Igreja Romana – Vitória Accoramboni –
I” (21.10), Um Quadro da Igreja Romana – Vitória Accoramboni – II (23.10). Para
tornar mais compreensível o embate intelectual travado por Tobias Barreto contra os
padres e agregados do jornal civilização é que se reúne os textos, publicando-os pela
ordem de saída no Diário de Pernambuco. Não apenas os textos de Tobias, mas
também os textos dos seus opositores, republicados no mesmo Diário.

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