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Filosofia Geral - Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN

Aula
03

MEDIEVAL E
CONTEMPORÂNEA

Depois de estudarmos na primeira aula o início da Filosofia,


percebemos a importância da construção da Filosofia para os
filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles (estudados na segunda aula).
Na nossa terceira aula, estudaremos três pontos fundamentais:

• Filosofia Medieval
• Filosofia Contemporânea
• Filósofos Contemporâneos

Sempre é bom voltar às aulas anteriores para fazer um


Memorandum, (um exercício de memorização), isso nos ajuda a
entender passo a passo essa bela História: a Filosofia.

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• atuar inter e multiprofissionalmente, sempre que a compreensão


dos processos e fenômenos envolvidos assim o recomendar;
• relacionar-se com o outro de modo a propiciar o desenvolvimento
de vínculos interpessoais requeridos na sua atuação profissional;
• apresentar trabalhos e discutir ideias em públicos.

Seções de estudo

 SEÇÃO 1 - Estudo Sobre a Filosofia Medieval

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1.1 Santo Agostinho


1.2 Santo Anselmo
1.3 São Tomás de Aquino
1.3.1 O Pensamento: a Gnosiologia
1.3.2 A Metafísica
1.3.3 A Moral
1.3.4 O Mal

 SEÇÃO 2 - Estudo Sobre a Filosofia Contemporânea


2.1 O Fim da Filosofia

 SEÇÃO 3 - Estudo Sobre os Filósofos Contemporâneos


3.1 Auguste Comte
3.1.1 Os Três Temas Básicos
3.1.2 O Progresso do Espírito
3.2 Georg Wilhelm Friedrich Hegel
3.2.1 Pensamento
3.3 Heidegger
3.3.1O Conhecimento
3.4 Kierkegaard
3.4.1 A Verdade
3.5 Sartre

SEÇÃO 1 - Estudo sobre a Filosofia Medieval

Com a dissolução do Império romano, as invasões


bárbaras e o desaparecimento das instituições, os centros de
difusão cultural também se desagregaram. Os chamados "pais
da igreja" foram os primeiro filósofos a defender a fé cristã nos
primeiros séculos, até aproximadamente o século 8.
Imagem disponível em:
Os padres da igreja foram os filósofos que, nesse <http://educacao.uol.
com.br/filosofia>
período, tentaram conciliar a herança clássica greco-romana, com
o pensamento cristão. Essa corrente filosófica é conhecida como patrística. A filosofia
patrística começa com as epístolas de São Paulo e o evangelho de São João. Essa doutrina
tinha também um propósito evangelizador: converter os pagãos à nova religião cristã.
Surgiram ideias e conceitos novos, como os de criação do mundo,
pecado original, trindade de Deus, juízo final e ressurreição dos mortos.
As questões teológicas, relativas às relações entre fé e razão, ocuparam as
reflexões dos principais pensadores da filosofia cristã.

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O desenvolvimento do conhecimento 12 durante a Idade Média conta com


particularidades diversas que se afastam daquela errônea perspectiva que a define
como a “idade das trevas”. Contudo, a predominância dos valores religiosos e as
demais condições específicas fazem do período medieval apenas singular em relação
aos demais períodos históricos. Nesse sentido, o expressivo monopólio intelectual
exercido pela Igreja vai estabelecer uma cultura de traço fortemente teocêntrico.
Não por acaso, os mais proeminentes filósofos que surgem nessa época tiveram
grande preocupação em discutir assuntos diretamente ligados ao desenvolvimento e
a compreensão das doutrinas cristãs. Já durante o século III, Tertuliano apontava que
o conhecimento não poderia ser válido se não estivesse atrelado aos valores cristãos.
Logo em seguida, outros clérigos defenderiam que as verdades do pensamento
dogmático cristão não poderiam estar subordinadas à razão.
Em contrapartida, existiam outros pensadores medievais que não
advogavam a favor dessa completa oposição entre a fé e a razão. Um dos mais
expressivos representantes dessa conciliação foi Santo Agostinho, que entre os
séculos IV e V defenderia a busca de explicações racionais que justificassem as
crenças. Em suas obras “Confissões” e “Cidade de Deus”, inspiradas em Platão,
aponta para o valor onipresente da ação divina. Para ele, o homem não teria
autonomia para alcançar a própria salvação espiritual.
A ideia de subordinação do homem em relação a Deus e da razão à
fé acabou tendo grande predominância durante vários séculos no pensamento
filosófico medieval. Mais do que refletir interesses que legitimavam o poder
religioso da época, o negativismo impregnado no ideário de Santo Agostinho deve
ser visto como uma consequência próxima às conturbações, guerras e invasões
que viriam a marcar a formação do mundo medieval.
Contudo, as transformações experimentadas com a Baixa Idade Média viriam
a promover uma interessante revisão da teologia agostiniana. A chamada filosofia
escolástica apareceria com o intuito de promover a harmonização entre os campos da
fé e da razão. Entre seus principais representantes estava São Tomas de Aquino, que
durante o século XIII lecionou na universidade de Paris e publicou “Suma Teológica”,
obra onde dialoga com diversos pontos do pensamento aristotélico.

1.1 - Santo Agostinho (354-430)


O cristianismo13 estava consolidado nessa época:
embora tivesse apenas quatrocentos anos, era considerado
a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho, que
nasceu no norte da África, numa cidade chamada Tagarte,
nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na Imagem disponível
em: http://tulacampos.
cidade natal, e com a ajuda de um amigo foi para Cartago, blogspot.com.br/2011/09/
santo-agostinho.html

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aos dezesseis anos, completou os estudos superiores. Não foi um bom aluno.
Na juventude, detestava estudar grego. Interessa-se por Filosofia ao ler uma
obra de Cícero. Quando criança era cristão, mas depois interessou-se por
outras religiões, como a dos maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o
mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Com o seu espírito
o homem pode transcender a matéria, para os maniqueístas.
O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, onde bem e mal
são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu
essa doutrina, que foi criada por Manes. De início, ele recusava a ler a Bíblia,
por considerá-la vulgar.
Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento
de duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois se mudou para
Roma. Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da
viagem. De Roma foi para Milão, onde foi novamente professor de retórica. Foi
influenciado pelos estóicos, por Platão e o neoplatonismo, também estava entre
os adeptos do ceticismo. Abandonou o maniqueísmo, que criticava. Converteu-
se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e batizou-se
aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor. Voltou a Tagaste
onde funda uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente
a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que sem a fé, a razão não é
capaz de levar para a felicidade. A razão, para Agostinho, serve de auxiliar da
fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos.
Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos e expôs a teoria de
que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das
sensações e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer
ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito.
Agostinho ficou conhecido por "cristianizar" Platão fazendo vários
paralelos entre a parte espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente)
e as sagradas escrituras. Faz a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo
e a alma, que é atemporal, com a qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus
ter criado o mundo a partir do nada, as ideias eternas já existiam na sua mente.
Deus é bondade pura. Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela
viver. Assim, apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado
original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso depende do uso
que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de
acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre da Divina Providência
enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão e de opção.

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Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia


interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera
e perguntava a mim mesmo se não faltara algum dever, se
ninguém Ɵvera moƟvo para de mim se queixar. Santo AgosƟnho
Para
RefleƟr

1.2 - Santo Anselmo (1033-1109) 14


Nasceu em Aosta, na Itália, filho de um nobre
Gondolfo, e de uma mãe rica, Ermenberga. Seguiu a carreira
religiosa, fez estudos clássicos e escreveu sempre em latim. Foi
eleito prior, em 1063, porque tinha muita inteligência e piedade.
Sua biografia nos é contada pelo seu discípulo, Eadmero. Era
comum na Idade Média os religiosos buscarem o apoio da fé
Imagem disponível
na razão. Anselmo escreveu uma obra sobre esse assunto. É em: http://www.
cot.org.br/igreja/
considerado um dos iniciadores da tradição escolástica. Buscava revelacao-do-inferno-
por-santo-anselmo.
um argumento para provar a existência de Deus e sua bondade php

suprema. Fala que a crença e a fé correspondem à verdade, e


que existe verdadeiramente um ser do qual não é possível pensar nada maior. Ele
não existe apenas na inteligência, mas também na realidade.
Anselmo desenvolveu uma linha de pensamento sobre essas bases,
chamados de argumento ontológico, que foi retomada por Descartes e criticada
por Kant, e ela estava numa obra chamada Proslógio. Parte do fato de que o
homem encontra no mundo muitas coisas, algumas boas, que procedem de um
bem absoluto, que é necessariamente existente. Todas as coisas têm uma causa,
menos o ser não criado, que é a causa de si mesmo e fundamenta todos os outros
seres. Esse ser é Deus. Seus argumentos não foram totalmente aceitos.
Anselmo chegou a arcebispo da Cantuária em 1093. Escreveu outras obras
importantes, Da Gramática e A Verdade, em latim. Recebeu doações de terras para
a igreja, mas brigou com Guilherme, o ruivo, rei da Inglaterra, pois não queria fazer
comércio com os bens da Igreja. Isso foi considerado um desrespeito ao poder real;
Guilherme impediu Anselmo de viajar para Roma, desafiando o poder da Igreja.
Num dos seus primeiros livros, Monológico, em que apresenta sua visão
de Deus, Anselmo fala que a essência suprema existe em todas as coisas e tudo
depende dela. Reconhece nela onipotência, onipresença, máxima sabedoria e
bondade suprema. Ela criou tudo a partir do nada. Anselmo procurava desenvolver
um raciocínio evolutivo sobre o que considerava ser a verdade, que estava contida
na Bíblia. Para Anselmo, o pensamento tem algo de divino, e Deus tem uma razão.

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O pensamento de Santo Anselmo consƟtui um marco na


história da filosofia medieval, sendo revisitado e debaƟdo pelos
principais representantes da filosofia EscolásƟca: Abelardo, São
CURIOSIDADE Bernardo, São Boaventura, Duns Scot, entre outros.

Sua palavra é sua essência; ela é pura essência infinita, sem começo nem
fim, pois nada existiu antes da essência divina e nada existirá depois. Para a essência
o presente, o passado e o futuro são juntos ao nosso tempo, é uma coisa só. A essência
é imutável, uma substância, embora seja diferente da substância das outras criaturas.
Existe de uma maneira simples e não pode ser comparado com a consciência das
criaturas, pois é perfeito e maravilhoso e tem todas as qualidades já citadas.

1.3 - São Tomás de Aquino (1227-1274)


Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como
Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos 15. E como
Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será
o maior vulto da filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-
se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Agostinho, pela
profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo,
fundiu em si mesmo o caráter especulativo da patrística grega
com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas Imagem disponível
em: http://
que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas claudioarantespompeu.
blogspot.com.
práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação. br/2011/03/sao-tomas-
Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da de-aquino-avaliacao-
segundo.html
Numídia, de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano
354. Seu pai, Patrício, era pagão, recebido o batismo pouco antes de morrer; sua
mãe, Mônica, pelo contrário, era uma cristã fervorosa, e exercia sobre o filho
uma notável influência religiosa. Indo para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus
estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente. Caiu em uma profunda
sensualidade, que, segundo ele, é uma das maiores consequências do pecado
original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que
aderisse ao maniqueísmo, que atribuía realidade substancial tanto ao bem como
ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal
e, por conseqüência, uma justificação da sua vida. Tendo terminado os estudos,
abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Milão.
Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por razões
de saúde e, mais ainda, por razões de ordem espiritual.
Entrementes - depois de maduro exame crítico - abandonara o
maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatônica que lhe ensinou a espiritualidade

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de Deus e a negatividade do mal. Destarte chegara a uma concepção cristã da vida


- no começo do ano 386. Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões
de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração do céu, sobreveio a conversão
moral e absoluta, no mês de setembro do ano 386. Agostinho renuncia inteiramente
ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a
solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do filho e de alguns discípulos,
perto de Milão. Aí escreveu seus diálogos filosóficos, e, na Páscoa do ano 387,
juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo em Milão
das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e eloquência muito contribuíram para
a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade.
Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em
Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro
entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas.
Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona
até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos vândalos, a 28 de agosto
do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade.
Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da
Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm
lugar de destaque as filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse
filosófico são, sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os acadêmicos, Da vida beata,
Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o
mestre, Sobre a música. Interessam também à filosofia os escritos contra os maniqueus:
Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem.
Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia
andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras
teológicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religião, As Confissões, A
Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira.

1.3.1 - O Pensamento: a Gnosiologia


Agostinho considera a filosofia platonicamente como solucionadora do problema
da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução integral. Todo o seu interesse
central está, portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais
importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida.
O problema gnosiológico é profundamente sentido por Agostinho, que
o resolve, superando o ceticismo acadêmico mediante o iluminismo platônico.
Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual;
daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade
particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em
relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como

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o intelecto, são fontes de conhecimento. E como para a visão sensível além do


olho e da coisa, é necessária a luz física, do mesmo modo, para o conhecimento
intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta vem de Deus, é a Verdade
de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as ideias platônicas. No
Verbo de Deus existem as verdades eternas, as ideias, as espécies, os princípios
formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades
eternas e as ideias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada
pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência
platônica, em sentido teísta e cristão. Permanece, porém, a característica
fundamental, que distingue a gnosiologia platônica da aristotélica e tomista, pois,
segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não bastam, para que se realize o
conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister
uma particular e direta iluminação de Deus.

1.3.2 - A Metafísica
Em relação com essa gnosiologia, e dependente dela, a existência de
Deus é provada, fundamentalmente, a priori, enquanto no espírito humano
haveria uma presença particular de Deus. Ao lado dessa prova a priori, não nega
Agostinho as provas a posteriori da existência de Deus, em especial a que se
afirma sobre a mudança e a imperfeição de todas as coisas. Quanto à natureza
de Deus, Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é poder
racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que
era excluído pelo platonismo. Deus é ainda ser, saber, amor. Quanto, enfim, às
relações com o mundo, Deus é concebido exatamente como livre criador. No
pensamento clássico grego, tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento
cristão - agostiniano - temos ainda um dualismo, porém moral, pelo pecado dos
espíritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo
o mundo a Deus. No cristianismo, o mal é, metafisicamente, negação, privação;
moralmente, porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante de Deus. O
problema que Agostinho tratou, em especial, é o das relações entre Deus e o
tempo. Deus não é no tempo, o qual é uma criatura de Deus: o tempo começa
com a criação. Antes da criação não há tempo, dependendo o tempo da existência
de coisas que vem-a-ser e são, portanto, criadas.
Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo
cristão. Por certo, o corpo não é mau por natureza, porquanto a matéria não pode
ser essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas
a união do corpo com a alma é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e
corpo não formam aquela unidade metafísica, substancial, como na concepção
aristotélico-tomista, em virtude da doutrina da forma e da matéria. A alma nasce

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com o indivíduo humano e, absolutamente, é uma específica criatura divina,


como todas as demais. Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo
e o traducionismo, isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da
alma dos pais. Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho,
pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas
afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina
em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade. No
homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego apetite.
Quanto à cosmologia, pouco temos a dizer. Como mais acima já se
salientou, a natureza não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, preso
pelos problemas éticos, religiosos, Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa
doutrina dos germes específicos dos seres - rationes seminales. Deus, a princípio,
criou alguns seres já completamente realizados; de outros criou as causas que,
mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem às existências dos seres específicos.
Esta concepção nada tem que ver com o moderno evolucionismo, como alguns
erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das
espécies, negada pelo moderno evolucionismo.

1.3.3 - A Moral
Evidentemente, a moral agostiniana é teísta e cristã e, logo, transcendente
e ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia
do prático, da ação - própria do pensamento latino - , contrariamente ao primado
do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é
determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante, Agostinho tem também
atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim último das
criaturas, é possuído por um ato de inteligência. A virtude não é uma ordem de
razão (hábito conforme a razão), como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor.
Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado,
podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-
se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto
o mal não tem realidade metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a
pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica
a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza.
A fórmula agostiniana em torno da liberdade em Adão - antes do pecado
original - é: poder não pecar; depois do pecado original é: não poder não pecar;
nos bem-aventurados será: não poder pecar. A vontade humana, portanto, já é
impotente sem a graça. O problema da graça - que tanto preocupa Agostinho -
tem, além de um interesse teológico, também um interesse filosófico, porquanto
se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem.

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Como é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo.
Quanto à família, Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato
superior ao matrimônio; se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-
se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Quanto à política, ele tem
uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens
fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade
seria de direito positivo, e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas
consequência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e
social. Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza
humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente,
mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.

1.3.4 - O Mal
Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal - de
que dá uma vasta e viva fenomenologia. Foi também longamente desviado pela
solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito
de Deus e da possibilidade da vida moral. A solução deste problema por ele achada
foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma
diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes
de tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de
ser, como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo
ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim
chamado mal metafísico, que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres
o lhes é devido por natureza. Quanto ao mal físico, que atinge também a perfeição
natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento,
digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do
conjunto. Mas é esta a parte menos afortunada da doutrina agostiniana do mal.
Quanto ao mal moral, finalmente existe realmente a má vontade que
livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal
não ser. Este não ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de
Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano
pelo pecado original e atual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento,
físico e moral, além de tê-lo sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. Como se
vê, o mal físico tem, desse modo, uma outra explicação mais profunda. Remediou
esse mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade
os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o
sofrimento, consequência do pecado, como meio de purificação e expiação.
E a explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas consequências
- estaria no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não

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permitir o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal


é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal
metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem
é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é estética
para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral (e físico).

SEÇÃO 2 - Estudo Sobre a Filosofia Contemporânea

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Entendemos por contemporânea ou pós-modernidade, ou seja, data atual,


quando dizemos atual não somente nos dias de hoje, e sim nos séculos XIX, XX
e XXI. Iremos estudar o pensamento da filosofia e os principais filósofos que
marcaram e marcam nossa época.
Consideramos como contemporânea (Cordón, 1983) 16 a filosofia que
se estende, dentro da imprecisão cronológica própria das produções culturais, ao
longo da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX. A
filosofia contemporânea, nas suas linhas mais fundamentais e características, só pode
ser adequadamente compreendida em relação com a obra de Hegel. Com efeito, a
filosofia contemporânea constitui em grande medida uma reação contra o sistema
hegeliano, ao mesmo tempo em que retoma poucas das suas análises e interrogações.
A mais notável e radical reação contra o sistema de Hegel é feita por Marx,
pelo marxismo. O marxismo, entroncado originalmente na esquerda hegeliana,
distingue e separa o sistema hegeliano (idealista) do método dialético. Aceitando
e transformando este último, a filosofia marxista "inverte" o sistema de Hegel,
propondo uma visão dialética-materialista da consciência, da sociedade e da história.
Outra reação contra o hegelianismo - reação estreitamente vinculada à situação
econômica, social e intelectual resultante da revolução industrial - é representada pelo
positivismo, especialmente o de Comte. Neste caso, reage-se contra o "racionalismo"
hegeliano naquilo que possa ter de menosprezo da experiência, com a pretensão de
instaurar um saber positivo, capaz de fundamentar uma organização político-social
nova. Como Marx, Comte conserva, no entanto, embora transformando, um momento
importante do hegelianismo: a ideia de "espírito objetivo".
O positivismo (tomado, em geral, como uma atitude renitente à especulação
filosófica e propenso a considerar a ciência como forma de conhecimento, não
só modelar, mas exclusiva) constitui, além disso, uma constante na história do
pensamento. Apesar das suas notáveis diferenças na maneira de pôr os problemas,
é possível reconhecer esta linha no empirismo do século XVIII, no positivismo do
século XIX e no positivismo lógico ou empirismo lógico do século XX. O empirismo

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Filosofia Geral - Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN

lógico ou positivismo lógico do séc. XX constitui um dos movimentos (juntamente


com o "atomismo lógico" e a filosofia analítica) integrantes da corrente analítica
dos nossos dias, cuja máxima originalidade consiste em haver transformado o
próprio conceito de filosofia: para a corrente analítica, a filosofia não tem por
objeto a realidade, mas a análise da linguagem acerca da realidade, quer se trate
da linguagem ordinária ou comum, ou da linguagem científica acerca da realidade.
Outras correntes da filosofia contemporânea tomaram como objeto
principal de consideração o fenômeno da história, da vida e da irredutibilidade
da existência pessoal: as filosofias historicistas, vitalistas, existencialistas e
personalistas. O existencialismo constitui, originalmente, uma reação contra
o hegelianismo e em favor da individualidade, colocando em primeiro plano
a categoria de singularidade, preferida pelo "sistema dialético" de Hegel
(Kierkegaard). No seu desenvolvimento no século XX (Heidegger, Sartre), a
par da reação anti-hegeliana já apontada, o existencialismo depende diretamente
da fenomenologia de Husserl, no tocante às suas análises da existência humana.
Quanto ao vitalismo de Nietzsche, representa uma reação não apenas contra
Hegel, mas contra toda a tradição intelectualista-religiosa que se opôs à vida e aos
valores vitais, desde que se verificou a aliança do platonismo com o cristianismo.
Mesmo quando as correntes filosóficas que mencionamos remetem
direta ou indiretamente para Hegel, seria errado deduzir dele, por oposição ou
continuação (ou por ambas as coisas), todo o pensamento contemporâneo. O
descrédito geral da especulação filosófica subsequente ao hegelianismo conduziu
a atitudes relativistas e cépticas contra as quais se levantou também a filosofia.
Esse enfrentamento com o relativismo e o cepticismo tornou-se patente a partir
de diferentes posições, tanto na fenomenologia de Husserl (intento de fazer da
filosofia uma ciência de rigor), como nas investigações acerca da vida e da história
levadas a cabo por Dilthey, Ortega e Gasset. Esses três filósofos pretendem
compreender a vida e a história com base em categorias específicas rigorosas.
Talvez a característica externa mais saliente da filosofia contemporânea
seja a disparidade de enfoques, sistemas e escolas, face ao desenvolvimento,
de certo modo mais uniforme e linear, da filosofia moderna (racionalismo,
empirismo, Kant, idealismo hegeliano). Para essa proliferação de pontos de vista e
de escolas, contribuíram, em grande medida, fatores socioculturais, como: a crise
contemporânea dos sistemas políticos, o avanço espetacular das ciências naturais
e lógico-formais e o desenvolvimento das ciências humanas, cujos métodos e
resultados tiveram repercussões e consequências de interesse no campo e nos
problemas da filosofia (psicanálise, estruturalismo).

2.1 - O Fim da Filosofia


Quando dizemos o fim da Filosofia, não estamos dizendo que a Filosofia
acabou ou vai acabar. Foi no século XIX que a Filosofia se deparou com a Ciência,

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ou seja, a Ciência “queria” acabar com a Filosofia, pois a Filosofia interrogava a


Ciência, seus inventos e desenvolvimentos. A Filosofia questiona e interroga, e a
Ciência deve explicar o como e o porquê... Vamos à aula.
No século XIX, o otimismo positivista ou cientificista levou a Filosofia
a supor que, no futuro, só haveria ciências, e que todos os conhecimentos e
todas as explicações seriam dados por elas. Assim, a própria Filosofia poderia
desaparecer, não tendo motivo para existir.
No entanto, no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as
ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para
as investigações, que os resultados podem ser duvidosos e precários, e que,
frequentemente, uma ciência desconhece até onde pode ir e quando está
entrando no campo de investigação de uma outra.
Os princípios, os métodos, os conceitos e os resultados de uma ciência
podem estar totalmente equivocados ou desprovidos de fundamento. Com isso,
a Filosofia voltou a afirmar seu papel de compreensão e interpretação crítica das
ciências, discutindo a validade de seus princípios, procedimentos de pesquisa,
resultados, de suas formas de exposição dos dados etc.
Foram preocupações com a falta de rigor das ciências que levaram o
filósofo alemão Husserl a propor que a Filosofia fosse o estudo e o conhecimento
rigoroso da possibilidade do próprio conhecimento científico, examinando
os fundamentos, os métodos e os resultados das ciências. Foram também
preocupações como essas que levaram filósofos como Bertrand Russel e Quine
a estudar a linguagem científica, a discutir os problemas lógicos das ciências e a
mostrar os paradoxos e os limites do conhecimento científico.

SEÇÃO 3 - Estudo Sobre os Filósofos Contemporâneos

Nesta seção, iremos estudar os principais filósofos, desejo que


vocês se empenhem, pois precisamos do pensamento deles para elaborar um
raciocínio lógico. Podemos conseguir ir muito mais além da
Filósofos
mesmice, basta desejar para que isso aconteça. Contemporâneos

3.1 - Auguste Comte (1798-1857)


Auguste Comte 17 nasceu em Montpellier, França, a
19 de janeiro de 1798, filho de um fiscal de impostos. Suas
relações com a família foram sempre tempestuosas e contêm Imagem disponível
elementos explicativos do desenvolvimento de sua vida e em: <http://
leilokasantos.
talvez até mesmo de certas orientações dadas às suas obras, wordpress.
com/2008/07>
sobretudo em seus últimos anos. Frequentemente, Comte Acesso em:
20/07/2010.

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acusava os familiares (à exceção de um irmão) de avareza, culpando-os por sua


precária situação econômica. O pai e a irmã, ambos de saúde muito frágil, viviam
reclamando maior participação de Auguste em seus problemas. A mãe apegou-se
a ele de forma extremada, solicitando sua atenção “da mesma maneira que um
mendigo implora um pedaço de pão” para sobreviver, como diz ela em carta ao
filho já adulto. Tão complexos laços familiares foram afinal rompidos por Comte,
mas deixaram-lhe marcas pro¬fundas.

3.1.1 - Os Três Temas Básicos


O núcleo da filosofia de Comte radica na ideia de que a sociedade só pode
ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual
do homem. Com isso, distingue-se de outros filósofos de sua época como Saint-
Simon e Fourier, preocupados também com a reforma das instituições, mas que
prescreviam modos mais diretos para efetivá-la. Enquanto esses pensadores
pregavam a ação prática imediata, Comte achava que antes disso seria necessário
fornecer aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o esta¬do das
ciências de seu tempo. Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em
torno de três temas básicos. Em primeiro lugar, uma filosofia da história com o
objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada
por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens.
Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na
filosofia positiva. Finalmente, uma sociologia que, deter¬minando a estrutura
e os processos de modificação da sociedade permitisse a reforma prática das
instituições. A isso se deve acrescentar a forma religiosa assumida pelo plano de
renovação social, proposto por Comte nos seus últimos anos de vida.

3.1.2 - O Progresso do Espírito


A filosofia da história – primeiro tema da filosofia de Comte – pode ser sintetizada
na sua célebre lei dos três estados: todas as ciências e o espírito humano como um todo se
desenvolvem através de três fases distintas: a teológica, a metafísica e a positiva.
No estado teológico, pensa Comte, o número de observações dos
fenômenos reduz-se a poucos casos e, por isso, a imaginação desempenha papel
de primeiro plano. Diante da diversidade da natureza, o homem só consegue
explicá-la mediante a crença na intervenção de seres pessoais e sobrenaturais. O
mundo torna-se compreensível somente através das ideias de deuses e espíritos.
Segundo Comte, a mentalidade teológica visa a um tipo de compreensão
absoluta; o homem, nesse estágio de desenvolvimento, acredita ter posse
absoluta do conhecimento. Para além dos limites dos seres sobrenaturais, o
homem não coloca qualquer problema, sentindo-se satisfeito na medida em que

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a possibilidade de recorrer à intervenção das divindades fornece um quadro


para compreensão dos fenômenos que ocorrem ao seu redor.
Paralelamente às funções de explicação da natureza, a mentalidade teológica
desempenharia também relevante papel de coesão social, fundamentando a vida
social. Confiando em poderes imutáveis, fundados na autoridade, essa mentalidade
teria como forma política correspondente a monarquia aliada ao militarismo.
O estado teológico, para Comte, apresenta-se dividido em três períodos
sucessivos: o fetichismo, o politeísmo e o monoteísmo. No fetichismo, uma vida
espiritual, semelhante à do homem, é atribuída aos seres naturais. O politeísmo
esvazia os seres naturais de suas vidas anímicas - tal como concebidos no estágio
anterior - e atribui a animação desses seres não a si mesmos, mas a outros seres,
invisíveis e habitantes de um mundo superior. No monoteísmo, a distância entre
os seres e seus princípios explicativos aumenta ainda mais; o homem, nesse
estágio, reúne todas as divindades em uma só.
A fase teológica monoteísta representaria, no desenvolvimento do espírito
humano, uma etapa de transição para o estado metafísico. Este, inicialmente,
concebe “forças” para explicar ficar os diferentes grupos de fenômenos, em
substituição às divindades da fase teológica. Fala-se então de uma “força física”,
uma “força química”, uma “força vital”. Num segundo período, a mentalidade
metafísica reuniria todas essas forças numa só, a chamada “natureza”, unidade
que equivaleria ao deus único do monoteísmo.
O estado metafísico tem, segundo Comte, outros pontos de contato com
o teológico. Ambos tendem à procura de soluções absolutas para os problemas
do homem; a Metafísica, tanto quanto a Teologia, procura explicar a “natureza
íntima” das coisas, sua origem e destino últimos, bem como a maneira pela qual
são produzidas. A diferença reside no fato de a metafísica colocar o abstrato no
lugar do concreto e a argumentação no lugar da imaginação. Nessa perspectiva
comteana, o estado metafísico se caracterizaria fundamentalmente pela dissolução
do teológico. A argumentação, penetrando nos domínios das ideias teológicas,
traria à luz suas contradições inerentes e substituiria a vontade divina por "ideias"
ou "forças". Com isso, a metafísica destruiria a ideia teológica de subordinação
da natureza e do homem ao sobrenatural. Na esfera política, o espírito metafísico
corresponderia a uma substituição dos reis pelos juristas; supondo-se a sociedade
como originária de um contrato, tende-se a basear o Estado na soberania do povo.

3.2 - Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)


Georg Wilhelm Friedrich Hegel 18, o último filósofo clássico famoso,
autor de um esquema dialético no qual o que existe de lógico, natural, humano e
divino oscila perpetuamente de uma tese para uma antítese e de volta para uma
síntese mais rica. Hegel nasceu em Stuttgart, a 27 de agosto de 1770, e faleceu a
14 de novembro de 1831, em Berlim.

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Estudou gramática até os 18 anos. Quando estudante, fez uma vasta


coleção de extratos de autores clássicos, trechos de manuais e tratados usados na
época. Esse colossal fichário, ordenado alfabeticamente, lhe foi útil toda a vida.

3.2.1 - Pensamento
A filosofia de Hegel é a tentativa de considerar todo o universo como um
todo sistemático. O sistema é baseado na fé. Na religião cristã, Deus foi revelado
como verdade e como espírito. Como espírito, o homem pode receber essa revelação.
Na religião, a verdade está oculta na imagem, mas na Filosofia, o véu se rasga, de
modo que o homem pode conhecer o infinito e ver todas as coisas em Deus.
Na Filosofia da História, Hegel pressupôs que a história da humanidade é
um processo através do qual a humanidade tem feito progresso espiritual e moral
e avançado seu autoconhecimento. A história tem um propósito e cabe ao filósofo
descobrir qual é. Alguns historiadores encontraram sua chave na operação das
leis naturais de vários tipos. A atitude de Hegel, no entanto, apoiou-se na fé de
que a história é a representação do propósito de Deus e que o homem tinha agora
avançado longe o bastante para descobrir o que esse propósito era: ele é a gradual
realização da liberdade humana.

3.3 - Heidegger (1889-1976)


Filósofo alemão que escreveu sua filosofia em linguagem altamente cifrada.
Apesar de o considerarem de difícil compreensão é romanticamente cultuado por
um grande número de admiradores de fragmentos poéticos do seu pensamento
sobre o Ser. No entanto, ele próprio desistiu de suas ideias, preferindo não publicar
o segundo volume de sua obra principal, o "O Ser e o Tempo". Fervoroso adepto
do nazismo antes da derrota da Alemanha na segunda guerra mundial foi, para
muitos, um pensador original, um crítico da sociedade tecnológica do século XX.
De sua obra, ficou a designação de "Existencialismo" para a corrente de pensamento
antideterminista fundada por Kierkegaard e à qual se filiou. Era um escritor prolixo.
Calcula-se que reunindo todos os seus escritos daria uns 70 volumes

3.3.1 - O Conhecimento
Tradicionalmente o conhecimento implicava a dicotomia da relação
sujeito-objeto, em que o homem, como cognoscente, é algo dentro de um ambiente
que ele confronta. Para Heidegger, essa relação deve ser transposta. O Saber mais
profundo, ao contrário, é matéria do phainesthai (grego: "mostrar-se" ou "estar na
luz"), a palavra da qual fenomenologia, como um método, é derivada. Algo está
exatamente "lá" na luz. Assim, neste conhecimento profundo, a distinção entre o
sujeito e o objeto não é imediata, mas vem somente depois com a conceitualização,

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como nas ciências. Então, o homem existe segundo certos fenômenos, que são os
modos como ele está lá, na luz (Dasein, o "o ser" em alemão é, etimologicamente,
a palavra da, que significa "lá" com a palavra sein, que significa "estar").

3.4 - Kierkegaard (1813-1855)


Soren Aabye Kierkegaard 19, nasceu na capital dinamarquesa,
Copenhague, em 1813. Foi o último dos filhos do casamento precipitado que
Michael Pedersen Kierkegaard (viúvo e sem filhos) realizou com sua governanta
Anne Srensdatter (respectivamente 56 e 44 anos na época do nascimento de
Soren) uma vez que já era viúvo sem filhos. Kierkegaard teve um relacionamento
muito difícil com seu pai, pois sua personalidade ficou marcada como a do filho
da expiação. Vive com uma vocação de sacrifício e de mártir idealizada pelo pai.
Considerava-se pecador diante do olhar de Deus, apesar de sua educação
ter sido baseada no princípio do amor e temor de Deus, assim mesmo sentia
sobre si a responsabilidade dos pecados de seu pai. Vale mencionar que seu pai
blasfemou contra Deus na sua infância. Mais tarde, quando a família mudou-se
para Copenhague, seu pai enriqueceu tornando-se um comerciante de lã, apesar
da forte crise que assolava o país, deixando muitos dinamarqueses na miséria.
Dois outros fatores marcaram profundamente a vida do filósofo: a morte
de seus irmãos Mikael em 1819, e de sua irmã Maren Cristine em 1822. A
fatalidade aumentou a angústia de seu pai que já era um homem marcado por um
grande sentimento de culpa e deixou profundas cicatrizes em Kierkegaard.

3.4.1 - A Verdade
Se não há lógica na existência, mas a existência é verdadeira, então
a verdade também não tem lógica. Essa é a questão que Kierkegard aborda em
"Post-scriptum não científico". Assim, para ele, não encontramos a verdade como
uma coisa objetiva e lógica, destacada de nós, mas através de nosso modo único e
peculiar de apreender as coisas que é nossa paixão. A verdade é encontrada através
da subjetividade. Quanto maior o ardor com que se acredita, mais verdadeiro é o
objeto do conhecimento. Isso evidentemente equivale a fazer da verdade a expressão
da fé. É ao colocar maior ou menor fé em algo, que construímos nossa verdade.
A verdade, para Kierkegaard, não é uma "coisa", mas uma afirmação em
relação ao mundo, uma posição de vida. Quando ele diz "a verdade é subjetividade",
isto é somente enquanto o sujeito traz tanta paixão junto com seu pensamento que
a síntese será um fato verdadeiro. Aquilo que é incerteza, sustentado com o mais
apaixonado empenho, torna-se verdade, a mais alta verdade existente para alguém.
Assim, o que é subjetivo é verdade, enquanto a coisa objetiva, ao contrário, é incerta.

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3.5 - Sartre (1905-1980)


Jean-Paul Sartre 20 influenciou profundamente sua geração e a seguinte.
Foi um mestre do pensamento e seu exemplo foi seguido por boa parte da
juventude do pós-guerra, nas décadas de 1950 e 1960.
Sartre tentou ilustrar sua filosofia com ações traduzidas em diversos
engajamentos políticos e sociais. Mais que qualquer outro filósofo, é necessário
conhecer algo de sua biografia para captar o pensamento sartreano, um projeto
desenvolvido em três horizontes: a filosofia, a literatura e a política.
"O Ser e o Nada 21" tornou-se, como dito, a obra fundamental da teoria
existencialista. Nele está contida praticamente toda a filosofia de Jean-Paul Sartre,
cujos principais tópicos são comentados abaixo. Porém, Sartre apresentou o seu
existencialismo de uma forma muito mais clara e breve em O Existencialismo
é um Humanismo, uma conferência dada em Paris, em 1945. Seus seguidores,
no entanto, alegam que, nesse ensaio, sua abordagem do assunto é popular e
superficial, e não se pode confiar nela como uma exposição do seu pensamento.
Mas é importante lembrar que Sartre não é o fundador do existencialismo. O
pensador cristão dinamarquês Kierkegaard (1813-1855) é geralmente considerado
como o primeiro existencialista moderno.
Sartre foi, sem dúvida, essencialmente um filósofo moralista e um
psicólogo arguto, e contou com a simpatia de uma vasta imprensa esquerdista
em todo o mundo. Porém, pouco do que disse foi concepção original sua. Ele
tomou seu ponto de partida das filosofias de Husserl e Heidegger. Seu primeiro
trabalho, L'Imagination (1936) e L'Imaginaire: Psychologie phénoménologique de
l'imagination (1940), ficam completamente no contexto da análise da consciência
que fez Husserl. O pensamento de Heidegger aparece com clareza em A Náusea.
A definição do homem como um ser de possibilidades que encontra ou perde
a si mesmo nas escolhas que faz com respeito a si mesmo corresponde à definição de
Heidegger do que chamou Dasein como o ser que tem que se fazer, se materializar.
Segundo seus críticos, no L'Être et le néant (1943), um ensaio de ontologia
fenomenológica, está óbvio que Sartre copiou de Heidegger. Algumas passagens da
obra de Heidegger Was ist Metaphysik? (1929- "Que é a Metafísica?") na verdade
foram literalmente copiadas. O significado do "Nada", objeto da investigação de
Heidegger em suas aulas, foi a questão que guiou o pensamento de Sartre.

Retomando a Conversa Inicial

Muito bem, terminamos mais uma aula, com isso


precisamos relembrar alguns pontos principais...

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 SEÇÃO 1 – Estudo Sobre a Filosofia Medieval


Nesta seção estudamos a importância da Filosofia Medieval, onde foi
destacado sua importância para a sociedade da época e a atual. Nesse estudo
precisamos observar a necessidade de entendermos o porquê desta filosofia...
Vimos também os principais filósofos que marcaram a época e marcam até hoje...
São considerados pensadores que exercem influência na história.
 SEÇÃO 2 – Estudo Sobre a Filosofia Contemporânea
Depois de analisarmos a filosofia medieval e seus filósofos, nesta seção
estudamos a Filosofia Contemporânea, que nos dá uma base de estudo e reflexão.
Quando dizemos contemporânea, expressamos a filosofia atual.
 SEÇÃO 3 – Estudo Sobre os Filósofos Contemporâneos
São muitos filósofos contemporâneos, destaquei alguns para que vocês
tenham uma base de como pensam e como elaborar um raciocínio lógico e reflexivo.

Glossário

 Neoplatônicos: não acreditavam no mal e negavam que este pudesse


ter uma real existência no mundo. Isto era mais uma visão otimista do que dizer
que tudo era, em última estância, bom.
 Maniqueísmo: é uma forma de pensar simplista em que o mundo é
visto como que dividido em dois: o do Bem e o do Mal.
 Escolástica: tentam harmonizar ideais platônicos com fatores de
natureza espiritual, à luz do cristianismo vigente no Ocidente.
 Marxismo: se baseia no materialismo e socialismo científico,
constituindo ao mesmo tempo uma teoria geral e o programa dos movimentos
operários. Em razão disso, o marxismo forma uma base de ação para esses
movimentos, porque eles unem a teoria com a prática.

Sugestões de Filmes

Filmes

Joana D'arc de Luc Besson. O ano é 1429. A França está em convulsão política
e religiosa, com os membros da família real em luta pelo domínio do trono. Mas uma
camponesa de uma aldeia remota dá ao seu país o milagre que ele estava procurando.

Em Nome de Deus. 1988 – Inglaterra/Iugoslávia – Filme que se passa no


séc. XII e enfoca o romance de Abelardo e Heloisa. Retrata o clima das discussões
filosóficas e mostra o ambiente universitário na Universidade de Paris, entre

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1114-1118, época em que Abelardo lecionou nessa instituição e em que viveu o


célebre e dramático romance com Heloísa.

O Sétimo Selo. 1957 – Suécia – Filme que mostra um pouco da vida na


Europa do séc. XIII, assolada pela peste negra. Tem como personagem central
um soldado recém-chegado das Cruzadas, que joga xadrez com a morte e se
envolve com um grupo de atores mambembes que percorrem as cidades e vilas.
Através desses personagens e suas perambulações, o filme apresenta aspectos da
religiosidade medieval, sobretudo em relação à morte.

O Destino: 1997 – Egito/França – No século XII, em Córdoba, os escritos


do filósofo Averróis chocam os islâmicos. Para apaziguar a situação, o califa Al
Mansour ordena que todas as suas obras sejam queimadas. É quando os discípulos
do filósofo decidem fazer cópias manuscritas de suas obras, para levá-las para
além das fronteiras do Islã.

OBS: Não esqueçam! Em caso de dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou


“quadro de avisos”.

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