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do fluxo de consciência, deixa os curiosos em ler sua obra com um certo receio. Mas, por
minha própria experiência, posso afirmar que é muito válido encarar o desafio de ler
Virginia Woolf, pois, quando o fluxo de consciência é compreendido, o leitor saberá da
potência artística da autora. É realmente de uma beleza ímpar. Assim, para a sorte das
crianças e jovens leitores, Virginia Woolf também produziu contos e romances
utilizando as técnicas narrativas de uma forma mais comum, com ações mais ligadas à
vida externa que a interior, por meio de histórias lineares.
Hoje em dia, há uma versão do conto em ebook e, com um pouco de sorte, é possível
encontrar o conto em sebos. A versão comentada aqui é referente ao livro “Contos
Completos“, da extinta CosacNaify, com tradução de Leonardo Fróes.
Lembranças iniciais
O início do conto, me lembrou um pouco “A festa de Babbet”, de Karen Blixen, pois, da
mesma maneira, é o destino que lança sua primeira carta rumo à uma transformação na
vida, no cotidiano e também no oculto. A viúva, que vivia em condições muito simples,
descobre que o seu irmão (um homem avarento) morreu e lhe deixou uma pequena
fortuna. Com a chance de mudar de vida, a mulher vai até outra cidade para buscar o
seu dinheiro, porém, um balde de água fria é jogado em seu entusiasmo e, de repente,
ela percebe que apenas tem como herança o papagaio de seu irmão.
“Há mais sentido nos atos dessa criatura do que
nós humanos sabemos.”
A simplicidade
A beleza do conto mora na simplicidade da narrativa. De forma linear, Virginia Woolf vai
tecendo a história, mostrando traços da vida da viúva, os seus vizinhos, a paisagem
bucólica de Lewes (local de sua própria casa – Monk’s House) e a vida com suas
questões burocráticas.
Mrs. Gage, a viúva, percorre um pequeno caminho, porém, passa por situações um
pouco perigosas e divertidas. De repente, ela percebe que tem apenas o papagaio como
herança. Porém, após o incêndio de sua casa, é o próprio papagaio que a livra de sua
delicada situação e também demonstra carinho por ela, como um dia demonstrou ao
seu irmão.
Finais felizes não é uma prática constante na obra de Virginia Woolf, porém, nesta
história para jovens leitores, é possível perceber, além de seu domínio para construir a
história, a beleza dos contos que tanto encantam crianças por meio de lições de
coragem, fé e respeito aos animais.