Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Teologia Bíblica
• Fundadores:
Dom Benedito Beni dos Santos
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
• Diretor Responsável:
Pe. Joshua Alexander Sequeira, EP (ITTA)
• Conselho Editorial:
Dom Benedito Beni dos Santos (Bispo Diocesano de Lorena)
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP (ITTA)
Pe. Bruno Esposito, OP (Angelicum)
Prof. Carlos Alberto Serpa de Oliveira (Presidente da Academia Brasileira de Educação)
Côn. Carlos Antônio da Silva (PISDC-RJ)
Côn. José Adriano (ITTA)
Pe. José Francisco Hernández Medina, EP (Roma)
Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, EP (ITTA)
Pe. Arnóbio José Glavam, EP (IFAT)
Pe. Pedro Rafael Morazzani Arráiz, EP (ITTA)
Pe. Carlos Arboleda Mora (UPB)
Dr. Gonzalo Soto Posada (UPB)
Ir. Anna Cristina Andrade de Moraes, EP (IFAT)
• Publicada por:
Associação Colégio Arautos do Evangelho - CNPJ: 05.905.795/0001-09
• Secretário de Publicações:
Diác. José Manuel Victorino de Andrade, EP (IFAT)
• Correspondência e subscrições
REVISTA LUMEN VERITATIS
Caixa Postal 257
CEP 07600-000 - Mairiporã, SP
Fone/Fax: (11) 4419-2311
E-mail: lumenveritatis@arautos.com.br
Aceitamos permuta com revistas congêneres.
• Montagem:
Equipe de artes gráficas dos Arautos do Evangelho
• Preços:
Assinatura nacional: R$ 70 - Assinatura exterior: US$ 70 / € 48 (via aérea)
• Tiragem deste número:
2.000 exemplares
era a ‘seta eleita de Deus’, aquela flecha que os reis guerreiros guardavam na
sua aljava para matar no combate o monarca inimigo. O programa de vida é
muito parecido em todos os profetas: ‘romper e destruir, edificar e plantar’;
como bons viticultores do monte Carmelo que podam e queimam as cepas
velhas para tornar possível o fruto do outono. A história dos profetas é a
1) BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica Pós-Sinodal. Cidade do Vaticano: Libreria
Editrice Vaticana, 2010. p. 5. n. 2. (Doravante, VD).
2) CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum: Constituição dogmática sobre a divina revelação, 18 out.
1965. n. 7. (Doravante, DV).
tragédia daqueles homens que ‘não podem deixar de falar porque a Palavra
de Javé os queima ‘por dentro’. 3
Eis a alta vocação dos profetas, tão elevada que a Sagrada Escritura os
menciona frequentemente em paralelo com a própria Lei: “A lei e os profe-
tas duraram até João” (Lc 16, 16); “Encorajou-os citando a lei e os profetas”
(2 Mac 15, 9). Eles, ademais, sempre foram os guias do povo de Deus, indi-
cando-lhe sem falha os caminhos do Senhor. Entretanto, o termo profeta não
se refere somente ao que se entende nas línguas modernas como aquele que
anuncia o futuro, mas remete-nos para as Escrituras. É o homem “inspirado
por Deus que comunica aos homens o pensamento e o querer divinos”. 4
São Tomás de Aquino explica-nos que, em diversas épocas da história da
Igreja, nunca faltaram pessoas dotadas de espírito profético, não para reve-
lar novas doutrinas, mas para guiar a conduta dos homens. 5 Também hoje,
os batizados, partícipes no ministério profético de Cristo, estão chamados ao
testemunho da Verdade pelas suas palavras e ações, de modo a, fortalecidos
pela oração, aderirem indefectivelmente a sua doutrina, nela se aprofundarem
e anunciarem o que viram e ouviram da parte do Senhor. 6 Os que assim pro-
cedem, conforme o Catecismo da Igreja Católica, são aqueles que têm a Elias
por pai (cf. CEC 2582), pois à sua semelhança, procuram o Rosto de Deus, o
regresso do povo à Fé e a intercessão da Providência nos acontecimentos da
História (cf. CEC 2581-2584), em suma, consomem-se de “zelo pelo Senhor
Deus dos Exércitos” (cf. 1 Rs 19, 14).
Além disso, na sua infinita Sabedoria, Deus quis que os homens estives-
sem apoiados numa rocha inabalável. Ao operar a Redenção, o Divino Mes-
tre instituiu o Magistério da Igreja, para ensinar e interpretar o que oficial-
mente havia sido revelado. Se Deus, através do “Espírito da verdade”, 7 “falou
outrora aos nossos pais pelos Profetas, nestes dias, que são os últimos, falou-
-nos por meio do Filho” (Hb 1, 1-2), que por sua vez ordenou ao Apóstolos:
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as
nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a
3) LÓPEZ MELÚS, Rafael María. El profeta san Elías, padre espiritual del Carmelo. Onda-Castello:
Amarcar, 1986.
4) Loc. cit.
5) Cf. S. Th. II-II, q. 174, a. 6, ad 3.
6) Cf. Catecismo Igreja Católica, n. 783; 785; 2581-2584. (Doravante, CEC).
7) É o próprio Jesus, no Evangelho de São João, que se refere ao Espírito Santo como “Espírito da
verdade” (cf. Jo 14, 17; 15, 26; 16, 13).
observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o
fim do mundo” (Mt 28, 18-20).
A transmissão do Evangelho — necessária para que os homens conheçam a
verdade e alcancem a salvação — passou a fazer-se de duas maneiras: “Pelos
Apóstolos, que na pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram
aquelas coisas que, ou receberam das palavras, da convivência e das obras de
Cristo, ou aprenderam das sugestões do Espírito Santo”, e “também por aqueles
apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo,
puseram por escrito a mensagem da salvação” (DV 7). Ou seja, conforme ensi-
na o Papa Bento XVI na Verbum Domini, “não é possível uma compreensão
autêntica da revelação cristã fora da ação do Paráclito” (VD 15).
Por sua vez, os Apóstolos deixaram aos seus sucessores, os bispos, o encar-
go do Magistério, de modo que o Evangelho sempre se mantivesse inalterado
e vivo na Igreja, e se conservasse, por uma sucessão contínua, até à consuma-
ção dos tempos (cf. DV 8). Por isso afirma D. Isidro Gomá y Tomás:
A Sagrada Escritura é como uma carta de Deus dirigida aos homens; mas
estes não podem interpretá-la por si sós: precisam ser conduzidos pela Igre-
ja, que é a intérprete nata e autorizada das divinas Escrituras, e tem para
isso a luz e a assistência do Espírito Santo. Por isso, diz Lucas (24, 45), que
Jesus, antes de subir aos Céus, ‘abriu a inteligência de seus Apóstolos para
que compreendessem as Escrituras’. Não tenhamos, pois, a presunção de ler
estas deleitáveis cartas de Deus sem o sentido de Deus e sem a união com
os que têm a autoridade de Deus para interpretá-las. Seria condenar-nos à
ignorância, quiçá a erros grosseiros sobre seu conteúdo. Este é o segredo
das quedas daqueles que interpretam as Escrituras fora da Igreja Católica. 8
8) GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, Vol. IV, p. 442.
Artigos
Verbum Domini
Dom Benedito Beni dos Santos ............................................... 9
Traduções
Discurso Acadêmico sobre a Bíblia
Juan Donoso Cortés ........................................................... 111
Resenhas
Jesus de Nazaré: Da entrada
em Jerusalém até a Ressurreição ............................. 123
Resumo
Este artigo pretende oferecer uma visão sintética da Exortação Apostóli-
ca pós-sinodal Verbum Domini e, ao mesmo tempo, uma chave de leitu-
ra acompanhada de observações teológico-pastorais. A estrutura do artigo
está calcada na própria estrutura da Dei Verbum.
Abstract
This article aims at providing a synthetic vision of the post-synodal Apos-
tolic Exhortation Verbum Domini, and, at the same time, a reading key
accompanied by theological-pastoral observations. The structure of the
article is grounded in the very structure of Dei Verbum.
1) Sua Excelência é Bispo de Lorena (SP), Licenciado em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade
Gregoriana em Roma, mestre em Filosofia e Educação pela PUC-SP e doutor em Teologia Dogmática.
É Supervisor Geral da Formação dos Arautos do Evangelho, e co-fundador desta revista.
a) A própria criação (liber naturae). São Paulo mostra, nos dois primei-
ros capítulos da Carta aos Romanos, que a revelação de Deus através da
criação não é apenas um processo racional que nos conduz da contem-
plação das coisas criadas à existência do Criador, mas é uma verdadei-
ra comunicação de Deus, suficiente para despertar, nos seres humanos,
a religião (adoração de Deus) e a reta conduta moral.
-Sinodal, para reunir o seu povo, alimentá-lo com sua vida e recebê-lo na sua
comunhão.
A carta Pós-Sinodal, fazendo eco à voz do Sínodo, recorda a importância
do atual Lecionário. Este apresenta os textos mais importantes da Sagrada
Escritura. Existe uma correlação entre os textos do Antigo e Novo Testamen-
to, tendo, como eixo, Cristo e seu mistério pascal. Para se descobrir essa cor-
relação, é necessário considerar a unidade intrínseca de toda a Bíblia (cf. n.
57). O valor do atual Lecionário é reconhecido por diversas confissões cristãs
que o utilizam. O Lecionário tem, pois, um significado ecumênico (cf. n. 57).
Após a proclamação da Palavra, segue-se a homilia. Existem três modali-
dades de anúncio da Palavra: o querigma, a catequese e a homilia.
O querigma é o anúncio da Palavra feita àqueles que ainda não creem em
Cristo e que deve ser repetido sempre àqueles que creem. É semelhante à pro-
clamação da Boa-Nova feita pelo arauto. Foi o que fez Pedro no dia de Pente-
costes. Diz o livro dos Atos que Pedro “de pé”, isto é, em atitude de coragem,
tendo os Onze ao seu lado, ergueu a voz e disse: “Homens da Judeia e vós
todos habitantes de Jerusalém, ouvi o que vos tenho a dizer…” (At 2, 14). A
seguir anuncia, com convicção e coragem, a morte e a ressurreição de Cristo
pela nossa salvação. Proclama que, em nenhum outro nome, existe salvação.
O querigma não é, pois, um anúncio decorado e feito mecanicamente. É o
anúncio acompanhado do testemunho daquele que teve a sua vida transfor-
mada pelo evento que está anunciando.
A resposta ao querigma é a conversão, que consiste em renunciar ao peca-
do e entregar a própria vida a Cristo. Esta conversão é expressa publicamente
no Batismo, sacramento pelo qual a pessoa ingressa na Igreja — comunidade
dos discípulos de Cristo. Na Igreja, o discípulo prepara-se para tornar-se mis-
sionário. A finalidade do discipulado é a missão.
A segunda modalidade de anúncio da Palavra é a catequese: visão metódi-
ca da história da salvação e da doutrina da Igreja. O fundamento da cateque-
se é o querigma.
A terceira modalidade é a homilia. Esta tem dois pressupostos. O primei-
ro é a unidade interior de toda a Sagrada Escritura (exegese canônica). E o
segundo é a natureza da Palavra de Deus. A “dabar” é diferente da “logos”
grego, simples comunicação do pensamento. A “dabar” é uma palavra —
ação. Deus age pela sua Palavra. Salva pela sua Palavra. “Com efeito, na his-
tória da salvação, não há separação entre o que Deus diz e faz; a sua própria
Palavra apresenta-se como viva e eficaz (cf. Hb 4, 12), como, aliás, indica o
significado do termo hebraico dabar” (n. 53).
sas obras deveriam tornar quase supérflua a Bíblia, porque vós mesmos deve-
ríeis ser a própria Bíblia”.
A conclusão da Verbum Domini insiste na necessidade de familiaridade
com a Bíblia e apresenta um resumo das idéias principais do documento.
Introducción
1) O autor é sacerdote, membro dos Arautos do Evangelho, Conselheiro Geral da Sociedade Clerical
de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e Reitor da Casa de Formação Thabor (Seminário Menor dos
Arautos do Evangelho). É especialista em Teologia Tomista pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro
(UNIÍTALO), Mestre em Teologia com ênfase em Bíblica, pela Universidad Pontificia Bolivariana
(UPB, Medellín - Colômbia), e doutorando em Teologia pela mesma universidade. Também é licenciado
em Humanidades, pela Universidad Pontificia Madre y Maestra (PUCMM, República Dominicana).
A los trece años, el joven hebreo es considerado bar mitzva, “hijo del man-
damiento”, sometido a los preceptos de la Ley, uno de los cuales consiste en
subir a Jerusalén para las tres fiestas de peregrinación: Pascua, Pentecostés
y Tiendas (Ex 23, 14-17; 34, 18-23; Dt 16, 1-17), siendo habitual que el joven
israelita se anticipe un año a tal obligación 3 (traducción personal).
2) DE FIORES, Stefano. María, madre de Jesús: síntesis histórico-salvífica. Salamanca: Secretariado
Trinitario, 2002. p. 108.
3) MEYNET, Roland. Il Vangelo secondo Luca, Analisi retorica, 2a. ed. Bologna: Dehoniane Bologna,
2003. p. 130. “A tredici anni, il giovane ebreo diventa bar mitzva, “figlio del comandamento”,
sottomesso ai precetti della Legge, fra cui quello di salire a Gerusalemme per le tre feste di
pellegrinaggio, Pasqua, Pentecoste e Capanne (Es 23, 14-17; 34, 18-23; Dt 16, 1-17); è abituale che il
giovane israelita anticipi di un anno il comandamento”.
4) PAGOLA, José Antonio. Silencio y escucha frente a la cultura del ruido y la superficialidad. [En lí-
nea] <Disponible en: http://www.conocereisdeverdad.org/website/index.php?id=2522 [Consulta: 11
Jul., 2010].
5) Ibid.
6) Ibid.
7) MARTINI, Carlo Maria. Una libertad que se entrega. En Meditación con María. Santander: Sal Terrae,
1996. p. 120. Esta verdad de la espiritualidad católica, fue expuesta por Carlo Maria Martini, clausuran-
do un retiro espiritual dirigido a un numeroso grupo de pastores. El entonces Cardenal de Milán, así sin-
tetizó sus consideraciones exegéticas leyendo Lc 2, 19.51: “Por eso el obispo, en nombre de la Iglesia,
está llamado a ejercitarse, con María y como María, en la meditación; esta es parte de su ministerio, y a
ella debe consagrar tiempos largos y silenciosos, tiempos de oración y escucha”.
1. Crítica textual
8) JUAN PABLO II, Audiencia General. 4 de julio de 1990. In: Creo en el Espíritu Santo. 6a. ed. Madrid:
Palabra, 2006. p. 221-224.
9) ALAND, Barbara, et al. The Greek New Testament edited in cooperation with the Institute for New Tes-
tament Textual Research, Münster/Westphalia. 4th rev. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft: Unit-
ed Bible Societies, 1994. p. 202-204 y 205.
10) ALAND, Kurt. Synopsis Quattuor Evangeliorum. Locis parallelis evangeliorum apocryphorum et pa-
trum adhibitis edidit. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1985. p. 18.
11) THE CODEX Sinaiticus Project. [En línea] <Disponible en: http://www.codexsinaiticus.org/en/>
[Consulta: 3 Sept., 2009].
1.1.2. Versículo 42
kai. o[te evge,neto evtw/n dw,deka( avnabaino,ntwn auvtw/n kata. to. e;qoj th/j e`orth/j
Y cuando tuvo doce año, habiendo subido ellos según la costumbre de la
fiesta.
En este versículo, SQE acusa que los códices (A) Alexandrinus (S. IX),
(C) Ephraemi Syri rescriptus (S. V) — cuya lectura es la más probable pues
se hace imposible su verificación —, el (Θ) Coridethianus (S. IX), el (Y)
Athous Laurensis (S. VIII/IX), las familias de minúsculos (f.) 1 (S. XII) y
13 (S. XIII), los minúsculos 33 (S. IX), 892 (S. IX), 1006 (S. XI), 1342 (S.
XIII/XIV), 1506 (año 1320), el texto mayoritario (S. IV), la Vulgata y algunos
de la Vetus Latina, la traducción Siríaca Heracleana (Año 616) y el Códice
Boháirico — con una ligera diferencia — (S. III en adelante), acrecientan
la expresión: eij VIeroso,luma (a Jerusalén) después de avnabaino,ntwn auvtw/n
(habiendo subido ellos).
En sentido contrario, se citan los testigos que hablan en favor de la versión
aprobada. Se trata de los códices ( a ) Sinaiticus (S. IV), (B) Vaticanus
(S.IV), (D) Bezae Cantabrigiensis (S.V), (L) Paris – conocido como Regius
– (S.VIII), (W) Washington (S.IV/V) (Freerianus), el minúsculo 579 ubicado
en Paris: Bibliothèque Nationale (S. XIII); pocos manuscritos, aparte de
aquellos explícitamente mencionados para la lectura que difieren del texto
mayoritario; las versiones antiguas en latín: manuscrito b (S. VII) ubicado
en St. Paul (Kärten); los antiguos siríacos tales como el codex Sinaiticus
Syriacus (S.III/IV); el Peshitta (1ª mitad S. V) y todas las versiones coptas
(S. III en adelante).
1.1.3. Versículo 43
kai. teleiwsa,ntwn ta.j h`me,raj( evn tw/| u`postre,fein auvtou.j u`pe,meinen VIhsou/j
o` pai/j evn VIerousalh,m( kai. ouvk e;gnwsan oi` gonei/j auvtou
Y habiendo acabado los días, al volver ellos, se quedó el niño Jesús en Jeru-
salén, sin que lo supiesen los padres.
14) BOVON, François. El Evangelio según san Lucas. Salamanca: Sígueme, 2005. p. 226. Tomo I.
2, 41-52 “no por su valor textual que es nulo, sino por la intención subyacente,
son las que afectan a la paternidad de José con respecto a Jesús”. 15
1.1.4. Versículo 51
Finalmente, una variante valiosa para efectos del presente trabajo es la que
figura en el v. 51:
kai. kate,bh metV auvtw/n kai. h=lqen eivj Nazare,q kai. h=n u`potasso,menoj auvtoi/jÅ
kai. h` mh,thr auvtou/ dieth,rei pa,nta ta. r`h,mata evn th/| kardi,a| auvth/j
Y bajó junto a ellos y fue a Nazaret, y vivía sometido a ellos. Y su madre
guardaba todas las palabras en su corazón.
En el v. 51b la oración: kai. h` mh,thr auvtou/ dieth,rei pa,nta ta. r`h,mata evn
th/| kardi,a| auvth/j (Y su madre guardaba todas las palabras en su corazón).
El aparato crítico de (SQE) muestra que la lección pa,nta ta. r`h,mata (todas
las palabras), aprobada en su edición, es testimoniada por los unciales ( a )
Sinaiticus (S. IV), en su versión de primera mano, (B) Vaticanus (S. IV) y
(W) (S. IV/V) (Freerianus), el minúsculo 205 (S. XV), pocos códices de los
evangelios, el códice Sinaítico Siríaco (S. III/IV) y la versión Peshitta (1era
mitad del S. V)
Con base en estos testimonios se puede concluir que los miembros del
comité y autores de Synopsis Quattuor Evangeliorum y The Greek New
Testament han dado preferencia, en materia de crítica externa, a los facto-
res de antigüedad y confiabilidad de los manuscritos. En efecto, se está ante
los códices ( a y B) que pertenecen a la familia alejandrina, “cuya bondad
no puede negarse, como base de la comparación con los demás textos”. 16 Y
(W) que si bien es mixto, en sus pasajes lucanos aquí analizados, hace par-
te de la misma familia mencionada. Además, el factor de la independencia
geográfica – importante para el establecimiento del texto original – que-
da asegurado por el minúsculo 205 de influencia bizantina y los dos siría-
cos (Códice Sinaítico y la versión Peshitta), empero, sean mucho más nume-
rosos los textos que adicionan a pa,nta ta. r`h,mata el adjetivo demostrativo
neutro plural tau/ta (estas).
15) MUÑOZ IGLESIAS, Salvador. Los Evangelios de la Infancia. Madrid: Biblioteca de Autores Cristia-
nos, 1987. p. 217. Tomo III.
16) BOVER, José María y O’CALLAGHAN, José. Nuevo Testamento Trilingüe. Madrid: Biblioteca de
Autores Cristianos, 2005. p. XLVII.
17) THE CODEX Sinaiticus Project. [En línea] <Disponible en: http://www.codexsinaiticus.org/en/ma-
nuscript.aspx?=Submit%20Query&book=35&chapter=2&lid=en&side=r&verse=44&zoomSlider=0>
[Consulta: 15 Oct., 2009].
18) EGGER, Wilhelm. Lecturas del Nuevo Testamento. Estella: Verbo Divino, 1990. p. 79. “El valor de
una traducción de equivalencia dinámica consiste en estar intensamente orientada al lector y a la recep-
ción”.
19) Texto aprobado por The Greek New Testament y Synopsis Quattuor Evangeliorum.
20) NOLLI, Gianfranco. Evangelo secondo Luca. Città del Vaticano: Editrice Vaticana, 1993. p. 121. Ex-
plica que se trata de una negación objetiva que niega el hecho.
21) FRIBERG, Barbara y FRIBERG, Timothy. O Novo Testamento. Grego Analítico. Brasil: Vida Nova,
2007. p. 181. PABON DE URBINA, José Maria. Diccionario manual griego. Barcelona: Vox, 2000. p.
174. Verbo en indicativo, pluscuamperfecto, activo, segunda persona singular de la forma oi’/da: saber.
22) PABON DE URBINA, Op. Cit., p. 437. Conjunción coordinante: que. En estilo directo no se traduce
pues equivale a dos puntos.
23) NOLLI, Op. Cit., p. 122. Una de las diecisiete preposiciones propias del Nuevo Testamento, siendo la
más frecuente de todas (2713 veces) que, en dativo, siempre mantiene el significado fundamental “en”.
24) FRIBERG y FRIBERG, Op. Cit., p. 181. Corresponde al artículo definido, neutro, dativo, plural.
25) Ibid., p. 181. Corresponde al artículo definido, masculino, genitivo, singular.
26) PABON DE URBINA, Op. Cit., p. 462. Corresponde al sustantivo, masculino, genitivo singular de
path,r ¿patro,’j o.À cuyo significado es padre.
27) NOLLI, Op. Cit., p. 122. Pronombre genitivo de la primera persona singular de e`gw.
28) Ibid., p. 122. Verbo en indicativo presente activo, tercera persona singular. Es el tiempo de la realidad
y describe una acción que se está desenvolviendo, ahora, en este momento, con tendencia a durar ha-
cia un futuro inmediato.
29) Ibid., p. 122. Verbo en infinitivo, presente activo de ei.mi,.
30) FRIBERG y FRIBERG, Op. Cit., p. 181. Pronombre acusativo, primera persona singular.
35) Ibid., p. 257. Expone un detallado y erudito análisis de las diversas vertientes y sus respectivos segui-
dores.
36) BOVON, Op. Cit., p. 222.
37) Ibid., p. 72.
38) LAURENTIN, René. Structure et Théologie de Luc I-II. Paris : Lecofre J. Gabalda et Cie Éditeurs,
1964. p. 23.
Los exegetas son unánimes en destacar cómo “la composición de los ele-
mentos está perfectamente estructurada a base de escenas paralelas” 39 entre
los “anuncios” y los “nacimientos” de Jesús y de Juan Bautista. Este procedi-
miento literario – el paralelismo – según explica Perrot, estaba muy en boga
en el mundo helénico que rodeaba a Lucas y además había penetrado con
fuerza en la Palestina del siglo I. 40
Por otra parte, desde el punto de vista doctrinal, estamos ante textos
que incorporan importantes aspectos teológicos con una marcada nota de
síntesis:
Un auténtico “evangelio en miniatura” según observa Fabris. 41 O, “como
si fuera la obertura de toda la composición evangélica, el relato expone los
temas principales de la obra, que la orquesta se encargará de desarrollar a lo
largo de todo el evangelio y del libro de los hechos”. 42 En otras palabras, se
está ante una notable obra teológico-literaria, caracterizada por la unidad y
coherencia temática de comienzo a fin. Perrot los sintetiza en dos palabras:
“prólogo cristológico”. 43 Efectivamente, los evangelios de la infancia, según
este autor, “forman parte del conjunto de la obra”, agregando que “en Lucas
sólo hay un evangelio y no dos; no es posible separar del conjunto un ‘evan-
gelio de la infancia’. En toda la obra nos encontramos con la misma mano, el
mismo estilo y los mismos temas”. 44
No obstante estemos ante un “prólogo cristológico”, una “magistral ober-
tura” o un “evangelio en miniatura”, ciertos autores negaron la pertenencia de
estos dos capítulos a la obra lucana. Es el caso de Hans Conzelmann (1915-
1989), quien en función de su teoría trifásica histórico-salvífica, opina que los
temas y la teología de Lc 1-2 no tendrían relación alguna con el conjunto de la
obra. Para este autor, la historia, entendida como una historia de la salvación,
comprende dos límites extremos: la creación y la parusía. Así, la historia tras-
curriría en un proceso dividido en tres épocas claves: tiempo de Israel, tiem-
39) FITZMYER, Joseph. El Evangelio según Lucas T. I. Madrid: Cristiandad, 1986. p. 271.
40) PERROT, Charles. Los relatos de la infancia de Jesús. Mt 1-2 –Lc 1-2. Estella: Verbo Divino, 1997.
p. 38.
41) FABRIS, Rinaldo. Os Evangelhos II. São Paulo: Loyola, 2006. p. 13. ”Fiel ao seu programa de ofere-
cer ao leitor uma narração exaustiva e ordenada dos fatos sucedidos a Jesus remontando até as longín-
quas origens, Lucas antepõe ao evangelho público um evangelho em miniatura”.
42) Ibid., p. 272.
43) PERROT, Op. Cit., p. 34.
44) FABRIS, Op. Cit., p. 36.
45) CONZELMANN, Hans. El centro del tiempo: la teología de Lucas. Madrid: Fax, 1974. p. 32.
46) Ibid., p. 32. Este tiempo se verificaría en perícopas tales como Lc 4, 16-21 y Hch 10,38 caracterizados
por la actuación de Jesús, el anuncio de la palabra y las curaciones.
47) BROWN, Raymond E. El nacimiento del Mesías: comentario a los relatos de la infancia. Madrid:
Cristiandad, 1982. p. 246.
48) Ibid., p. 246.
49) BROWN, Op. Cit., p. 246.
50) Ibid., p. 246-247.
54) MUÑOZ IGLESIAS, Op. Cit., p. 218-228. Un elenco de las diversas opiniones desde fines del siglo
XIX hasta la década de los ochenta es proporcionada por este autor.
55) FITZMYER, Op Cit., p. 271. T. II
56) Ibid., p. 271.
57) LAURENTIN, Op. Cit., p. 32-33.
58) BOVON, Op. Cit., p. 73. Se basa en W. Wink quien se inspira en Laurentin y M. Dibelius.
59) Al presentar su estructura afirma: “La que yo propongo (…) está influida por M. Dibelius y, en parte,
también por S. Lyonnet y R. Laurentin”. FITZMYER, Op. Cit., p. 57. Tomo II.
EnEnloloque
que dice respecto
dice respecto a losados
losepisodios
dos episodios denominados
denominados con
con el título de: el título de:
“complementarios”
“complementarios”
(visitación de María a Isabel(visitación de María
y pérdida-hallazgo a Isabel
de Jesús y pérdida-hallazgo
en el templo), Fitzmyer destacade Jesús
que ambos
en autónomos
son el templo), porFitzmyer destaca
la temática que ambos
que abordan, son que
afirmando autónomos
“sólo el por la temática
primero tiene una que
cierta
abordan,con
vinculación afirmando que precedentes,
los dos pasajes “sólo el primero
mientrastiene
que el una cierta
segundo vinculación
carece concon
de toda relación losel
dos pasajes
contexto”. 60 precedentes, mientras que el segundo carece de toda relación con
el contexto”. 60
Frente a esta dificultad que se plantea para los mencionados autores, otros exegetas prefieren
pensar en una división ternaria. Es la postura de Perrot que propone unir a los dos dípticos de las
anunciaciones y los nacimientos, las dos visitas de Jesús al templo, es decir, presentación y hallazgo.
Un esquema análogo presenta Burrows, citado por Muñoz Iglesias61 según el cuadro que sigue:
60
FITZMYER,
36 Op. Cit., p. 59. Tomo
LumenII.Veritatis - Nº 15 - Abril-Junho - 2011
61
MUÑOZ IGLESIAS, Op.Cit., p. 222. Se trata de E. Burrows. The Gospel of the Infancy and other biblical
Essays (The Bellarmine Series, VI) (London 1940).
Pe. Santiago Ignacio Morazzani Arráiz, EP
Frente a esta dificultad que se plantea para los mencionados autores, otros
exegetas prefieren pensar en una división ternaria. Es la postura de Perrot que
propone unir a los dos dípticos de las anunciaciones y los nacimientos, las
dos visitas de Jesús al templo, es decir, presentación y hallazgo. Un esquema
análogo presenta Burrows, citado por Muñoz Iglesias 61 según el cuadro que
sigue:
1, 38 Dijo María: “Yo soy la esclava del Señor, hágase en mí tal como has dicho.” Después
la dejó
el ángel. Lumen Veritatis - Nº 15 - Abril-Junho - 2011 37
María, un corazón dócil ante la palabra de Dios
65) Lc 2,42.
relato lucano – “en el área del templo (i`ero,n y no nao,j, [en] el ‘santuario’)”. 66
Con este marco sacral queda patentizada la gran trascendencia del aconteci-
miento.
El término que revela la mencionada manifestación de sabiduría es pre-
sentado en el v. 47a con el sustantivo sune,sij (entendimiento, inteligencia,
comprensión). 67 De este modo, Lucas traza la capacidad de Jesús para cap-
tar y relacionar los más altos temas del espíritu que conciernen a Dios. Capa-
cidad manifestada por el impacto provocado en todos los circunstantes que
escuchan sus preguntas y respuestas llenas de sabiduría. El evangelista, en
el v. 47a utiliza el verbo evxi,sthmi (dejar atónito) 68 conjugado en indicativo
imperfecto, voz media, en 3ª Pers. Pl. evxi,stanto. La obra de Bovon tradu-
ce por “se extasiaban”, 69 Fitzmyer por “estaban asombrados” 70 y Schmid “se
quedaban maravillados”. 71 Lucas recurrirá a este verbo sólo dos veces más en
su Evangelio. En 8, 56, para ilustrar la reacción de Jairo y su esposa ante la
resurrección de su hija a una palabra de Jesús, y en 24, 22 cuando los discípu-
los de Emaús narran a Jesús, sin percibir su identidad, las repercusiones que
causaron las noticias de “unas mujeres” que afirmaban haber visto ángeles y
que su Maestro estaba vivo.
Esta pericopa, sin duda, describe grandes impactos psicológicos. En el v.
48b Lucas utiliza el verbo evkplh,ssomai (quedar asombrado, quedar atónito,
de temor o admiración) 72 conjugado en el modo indicativo, aoristo pasivo,
66) BOVON, Op.Cit., p. 227. “El lugar reservado a la enseñanza era entonces la stoa, el pórtico. Lucas
piensa sin duda en el pórtico de Salomón (Hech 3, 11; 5, 12.21.25) y en la sabiduría bien conocida de
aquel rey (Lc 11,31)”.
67) BALZ, H. In: BALZ, Horst y SCHNEIDER, Gerhard. Diccionario exegético del Nuevo Testamento (l
– w) Volumen II) Salamanca: Sígueme, 2002. Col. 1591. Sobre este concepto afirma: En el NT el térmi-
no aparece 7 veces; es frecuente en la LXX, especialmente en los escritos sapienciales, Cf. Sal 110, 10
LXX; Prov 2,1ss; Eclo 5,10;34,11; casi siempre se trata de la inteligencia (que Dios proporciona) para
comprender los actos y la voluntad de Dios”.
68) LAMBRECHT, J. In: BALZ, Horst y SCHNEIDER, Gerhard. Diccionario exegético del Nuevo Testa-
mento (a – k - Volumen I) Salamanca: Sígueme, 2005. Col.1439. Comenta: “el significado que aparece
con más frecuencia es el del uso intransitivo con sentido atenuado: un estado psíquico en el que se está
desconcertado o en el que se queda uno atónito de asombro o temor. (…) En Lucas 2,47 el asombro es
consecuencia de la actuación maravillosa del Jesús adolescente en el templo”.
69) Ibid., p. 220.
70) FITZMYER, Op. Cit., p. 270. Tomo II.
71) SCHMID, Josef. El evangelio según san Lucas. Barcelona: Herder, 1968. p. 115.
72) BALZ - SCHNEIDER, Op. Cit., Col. 1282, Vol. I. Comentan: “En el NT (como en los LXX) el verbo
se usa únicamente en pasiva, y se refiere de ordinario a la reacción de los circunstantes, que se sienten
asombrados o atónitos ante las palabras o los actos de Jesús (excepciones en Lc 2,48; Hech 13,12, pero
aun en estos casos el verbo significa ‘maravillarse’”.
do María se dirige a Jesús (vv. 48-49). Diálogo que, una vez construido por el
evangelista, “comprende elementos quiásticos y elementos paralelos”. 82
2.4.3.1. Subida.
Todos los años sus padres (v. 41) evporeu,onto (iban) eivj VIerousalh.m (a Jerusalén) para
2.4.3.1. Subida.
celebrar la Pascua.
Todos los años sus padres (v. 41) evporeu,onto (iban) eivj VIerousalh.m (a Jeru-
salén)Jesús,
para José y María
celebrar la(v. 42b) avnabaino,ntwn (habiendo subido) auvtw/n kata. to. e;qoj
Pascua.
th/jJesús,
e`orth/jJosé y María
… (ellos (v.costumbre
según la 42b) avnabaino, ntwn (habiendo subido) auvtw/n kata. to.
de la fiesta…).
e;qoj th/j e`orth/j… (ellos según la costumbre de la fiesta…).
En En
estos
estosdosdosversículos Lucas
versículos Lucas narra
narra la subida
la subida a Jerusalén
a Jerusalén y específicamen-
y específicamente al templo que
te al templo que está situado en el “monte Santo” del Señor (Sal 2, 6) para
está situado en el “monte Santo” del Señor (Sal 2, 6) para celebrar la pascua.
celebrar la pascua.
2.4.3.2. Revelación
Será (v. 46a) evn tw/| i`erw/| (en el templo) — en diálogo con los doctores de ley — donde
2.4.3.2. Revelación
Será (v. 46a) evn tw/| i`erw/| (en el templo) — en diálogo con los doctores de
ley — donde Jesús se revela dejando a todos (v. 47a) evxi,stanto (estupefactos)
(v. 47a) evpi. th/| sune,sei kai. tai/j avpokri,sesin auvtou (por su inteligencia y sus
respuestas).
Luego, al responder a sus padres terrenos que lo inquieren, proclama su
filiación divina (v. 49c) evn toi/j tou/ patro,j mou dei/ ei=nai, me (en las cosas de
mi Padre es necesario que yo esté).
2.4.3.3. Bajada
Jesús en (v. 51a) kate,bh (bajó) metV auvtw/n (junto a ellos [sus padres]); (v.
51b) kai. h=lqen eivj Nazare,q (y fue a Nazaret). El verbo conjugado en indi-
cativo, aoristo, activo kate,bh indica el fin del relato. Los verbos conjugados
en indicativo, imperfecto activo (v. 51c) h=n ([Jesús] estaba); (v. 51d) dieth,rei
([Maria] conservaba) y (v. 52a) proe,kopten ([Jesús] crecía) son indicativos de
una acción que continúa en Nazaret.
84) MUÑOZ IGLESIAS, Op. Cit., p. 236 y BOVON, Op. Cit., p. 221.
En este sentido, Perrot es categórico cuando afirma que los dos primeros
capítulos del evangelio de Lucas, como ya fue referido, corresponden a un
“prólogo cristológico”, a “una confesión de fe cuya fundamentación y fuerza
se encuentra en el acontecimiento pascual que proyecta a los comienzos de la
vida de Jesús la luz total de su misterio”. 88
En otros términos, Lucas quiere dar cohesión a las enseñanzas recibidas:
“Tal como nos las han transmitido los que desde el principio fueron testigos
oculares y servidores de la Palabra” (1, 2) y de este modo llevar a sus lecto-
res, a las raíces de las cuales surge el mensaje salvífico de Cristo 89 y demos-
trar que todo lo que ha acontecido en relación a Jesús corresponde a un plano
establecido por Dios desde toda la eternidad.
Efectivamente, ya los dos primeros capítulos lucanos muestran todos los
títulos mesiánicos de Jesús. Él es el Hijo de David (1, 27.32.69; 2, 4); el Sal-
vador (2, 11); el Cristo Señor (2, 11; 1, 43); el Santo, el grande; Hijo del altísi-
mo e Hijo de Dios (1, 32.35) (títulos estos últimos dados por el ángel Gabriel).
Además, son los virtuosos Isabel y Zacarías, llenos del espíritu (1, 41-43.67s),
y los profetas Simeón y Ana (2, 22-38) los que señalan su misión. 90 En sínte-
sis, para Perrot, “tanto en los relatos de la infancia como en el de la resurrec-
ción, quien puede revelar finalmente quién es su Cristo es solamente Dios.
El hombre, dejado a sus propias fuerzas, no puede hacerlo; sólo Dios puede
manifestárselo”. 91
87) FITZMYER, Op. Cit., p. 31. Tomo I. Cita a E. Haenchen. Acts. p. 103.
88) PERROT, Op. Cit., p. 36.
89) FITZMYER, Op. Cit., p. 36. Tomo I. Sostiene que: “La obra lucana es una auténtica proclamación del
acontecimiento Cristo, dirigida a unos lectores en los que intenta provocar una reacción de fe y de acep-
tación cristiana. Tal vez la presentación del kerigma que nos da Lucas no esté formulada en términos
de ‘evangelio’ o de ‘potencia’, como la dynamis de Rom 1,16, pero no por eso renuncia a sus preten-
siones de ser un verdadero proceso de interpelación o un auténtico testimonio sobre Jesús resucitado”.
90) Ibid., p. 36.
91) Ibid., p. 36.
miento Cristo y del reino de Dios y que exige a los destinatarios una res-
puesta de fe y un compromiso cristiano tan radical como el del Evange-
lio según Marcos o como los escritos paulinos; aunque, eso sí, de un modo
bien distinto. 94
3. Uso de fuentes
3.1. Las fuentes exclusivas de Lucas
99) BROWN, Op. Cit., p. 249. Junto a los autores que tiene esta perícopa como añadido, se debe incluir su
opinión. “Dentro del mismo cap. 2, el relato de 2, 41-51 es perfectamente separable del resto. No sólo
trata de una fase distinta de la vida de Jesús, sino que su énfasis en que los padres no entendían (2, 48-
50) choca con las revelaciones que se les hicieron en líneas anteriores. Se podría objetar que 2, 40 era la
conclusión original a la que se le añadió un relato de procedencia distinta que exigió una segunda con-
clusión (2, 52)”.
100) FITZMYER, Op. Cit., p. 239. Tomo I.
101) PERROT, Op. Cit., p. 9.
102) * Probablemente huellas de una tradición común, forjada de voz en voz en las primeras comunidades,
a saber: el nacimiento de Jesús de una virgen llamada María (Mt 1, 18-20 y Lc 1, 26-38) la cual estaba
desposada con un hombre llamado José (Mt 1, 18-20 y Lc 1, 27) perteneciente a la estirpe de David (Mt
1, 16-20 y Lc 1, 27. 2, 4). Del mismo modo, la concepción de Jesús fue por obra del Espíritu Santo (Mt
1, 18 y Lc 1, 27) cuyo nombre fue dado por un ángel (Mt 1, 21 y Lc 1, 31) y nació en Belén de Judá, la
ciudad de David (Mt 1, 1 y Lc 1, 32).
103) SCHMID, Op. Cit., p. 127-129.
104) FITZMYER, Op. Cit., p. 136. Tomo I. “Si Lucas depende de Mateo, ¿Cómo es que omite invariable-
mente ciertos elementos del primer evangelio en los episodios comunes, que no tienen paralelos en el
pensado que existió un original hebreo de Lc 1-2 traducido por el evangelista. La hipótesis no acaba de
convencer: los ‘lucanismos’ (expresiones propias de Lucas) son abundantes y si el lenguaje es arcaico
intencionadamente, el texto actual no da la impresión de ser una traducción”.
116) FITZMYER, Op. Cit., p. 55. T. II.
117) SCHIMD, Op. Cit., p. 129.
118) BOVON, Op. Cit., p. 38.
Este último aspecto es lo que observa Bovon: “A pesar de todas las fija-
ciones por escrito, el manantial de la tradición oral no se secó de pronto, de
manera que Lucas tuvo la posibilidad de corregir o completar en algún que
otro sitio sus fuentes escritas recurriendo a la tradición oral”. 119
¿Pero a fin de cuentas, cuáles serían esas fuentes orales? Al intentar dar
una respuesta, una vez más, se constata que los estudiosos no consiguen
salir de una maraña de probabilidades. En efecto, la temática plantea aspec-
tos conflictivos, pues las opiniones a propósito del origen o del substrato de
las fuentes orales de estos relatos lucanos, no encuentra consenso entre los
autores.
En este sentido, Fitzmyer, al dar inicio a su trabajo, aquí tantas veces
citado, presenta a sus lectores una visión retrospectiva sobre el estado de
la investigación de esta obra. 120 Su análisis, que principalmente abarca un
período desde la segunda mitad del siglo XX hasta fines de los años ochen-
ta, proporciona un elenco de diversos autores. En él, no deja de indicar la
línea más radical de interpretación crítica a la obra lucana, formada por “el
iniciador indiscutible de este tipo de análisis”, 121 Martin Dibelius, seguido
por otros tres exegetas alemanes: Philipp Vielhauer, 122 Ernst Haenchen 123 y
el ya citado Hans Conzelmann. 124 Representantes de esta corriente fueron
también R. Bultmann, E. Dinkler, E. Grasser, E. Käsemann, G. Klein, S.
Schulz y otros.
Según Fitzmyer:
Los resultados de este enfoque han conducido no sólo a una actitud escépti-
ca con respecto al valor histórico de los escritos lucanos, sino también a un
juicio negativo sobre lo que se considera como «teología» de Lucas, y que
En vista de este arrière-fond que suscita la obra lucana, aquí apenas serán
citados algunos autores que opinan a propósito de una de las hipotéticas fuen-
tes orales del evangelio de la infancia. En consecuencia, nos situamos en la
órbita de quien observa, pondera y conjetura.
¿Hay que suponer que el relato de Lucas tiene como punto de partida una
confidencia de María? En él aparecen ciertamente dos alusiones a los
recuerdos que María conservaba en su corazón (2, 19.51). Pero nada nos
indica que el evangelista haya estado en contacto directo con María. Se
necesitaría, pues, al menos un intermediario, pero ¿quién? En este campo
sólo contamos con suposiciones, nunca con certezas probadas. 128
128) GRELOT. Pierre. Los evangelios y la historia. Barcelona: Herder, 1987. p. 206.
129) LAURENTIN, Op. Cit., p. 19. “Tenons-nous en donc à une constatation modeste, bien mise en re-
lief par Gächter : Marie est (directement ou indirectement) la source première de l’essentiel du récit [Lc
1-2]. Cela ressort notamment de la nature de la scène de l’Annonciation dont elle fut seul témoin, et de
la mention explicite de ses souvenirs”.
130) Ibid., p. 97. “L’évangile de l’enfance se réfère directement à des témoins oculaires: au premier plan,
Marie, dont les souvenirs sont deux fois évoques (2, 19 et 51). Ces mentions rappellent la manière dont
l’Évangile de Jean invoque le témoignage du disciple en Jean (13, 23 ; 18, 15 ; 19, 26). Cf. aussi (1, 14
et 1Jn 1, 1-4)”.
131) DANIÉLOU, Jean. Les Évangiles de l’ Enfance. Paris: Du Seuil, 1967. p. 129. Traducción personal
del texto original: “La source de notre récit est donc le témoignage de Marie. Mais ce témoignage, Luc
ne l’a sans doute pas reçu de Marie elle-même”.
132) Ibid., p. 155.
133) FEUILLET, A. Jésus et sa Mère. Paris: Gabalda, 1974. p. 83. “Nous sommes dès lors invités à
conclure que, loin d’être une libre construction théologique de l’évangéliste, les récits de Lc 1-2 remon-
tent en définitive à des souvenirs conservés et médités para les cercles baptistes et par la Vierge Marie;
en particulier ils nous livrent quelque chose de la contemplation faite par la Mère de Jésus du mystère
de l’Incarnation, mystère lié indissolublement à sa propre existence et à événements vécus par elle”.
134) MC HUGH, John. La Mère de Jésus. Dans le Noveau Testament. Paris: Les Éditions du Cerf, 1977.
s.p.
135) MC HUGH, Op. Cit., p. 55-56. En ambos prólogos — a diferencia de Mateo y Marcos — se mencio-
na a Juan Bautista (Lc 1, 15-16.76-77; Jn 1, 6-8.15). Jesús era la luz del mundo (Jn 1, 8-12) y luz para
revelación a los gentiles (Lc 2, 32; 1, 8-12) Ambos abordan la gloria de Jesús ( Lc 2, 32; Jn 1, 14 Lc 2,
9.14). Lucas y Juan apuntan para la gracia de Dios (Lc 2, 40.52; Jn 1, 14.16.17).
136) Ibid., p. 56. “Il est difficile répétons-le, de croire que ces parallèles entre Luc et Jean soient l’effet
d’une pure coïncidence, d’autant plus qu’ils impliquent le type même de ces notions doctrinales sur les-
quelles se concentra l’attention de l’Eglise chrétienne durant la seconde moitié du premier siècle. Leur
présence dans deux de nos évangiles semble indiquer que leurs auteurs ne se contentent pas d’ exprimer
ici un jugement purement personnel sur la personne de Jésus, mais se font en réalité l’écho, au moins
dans une certaine mesure, de croyances qui avaient cours dans l’Eglise primitive”.
137) Ibid., p. 189. “Mais même si nous faisons abstraction pour le moment de la réalité historique de la
conception virginale, nous devons reconnaître que Luc nous raconte cette histoire comme s’il la voyait
à travers les yeux de Marie”. (Traducción nuestra).
138) BROWN, Op. Cit., p. 242: “(…) no tiene ningún interés la tesis que recurre a toda una serie de conje-
turas sin peso para establecer una relación entre Lucas y Juan y explicar así el origen del relato de la in-
fancia: el discípulo amado era Juan, Hijo del Zebedeo (problemático); la escena de Jn 19, 27, altamente
simbólica, es histórica, y María vivió en casa de Juan cierto número de años (muy problemático); Ma-
ría contó a Juan los acontecimientos que rodearon el nacimiento de Jesús (pura conjetura); y Lucas ob-
tuvo esa información de sus contactos con la tradición joánica, contactos que se demuestran por los pa-
ralelismo mencionados antes”. El autor alude a los paralelismos que se invocan apuntando a la referen-
cia de la figura de Juan Bautista en el prólogo del cuarto evangelio (1, 6-8.15) y en Lc 1. Para Brown,
“no se parecen en nada”.
* En nota al pie de página Brown opina: “En Jerusalén o en Éfeso (según leyendas nada fidedignas que
cuentan la historia posterior de Juan). Se piensa que Lucas, incluido en el “nosotros” de Hechos, tuvo
contacto con Juan y María en alguno de esos sitios (Hch 20, 17; 21, 15)”.
2, 19 h` de. Maria.m pa,nta suneth,rei ta. r`h,mata tau/ta sumba,llousa evn th/|
kardi,a| auvth/j
María conservaba todas estas palabras meditándolas en su corazón.
2, 51b kai. h` mh,thr auvtou/ dieth,rei pa,nta ta. r`h,mata evn th/| kardi,a| auvth/j
Y su madre conservaba todas las palabras en su corazón.
ritual que María adopta frente a: ta. r`h,mata tau/ta (2, 19); pa,nta ta. r`h,mata
(2, 51) “todas estas ‘palabras’ o ‘acontecimientos’ que a ella le ha correspon-
dido vivir. 145
En 2, 19 indica que María suneth,rei (indicativo, imperfecto activo 3ª
Pers. Sing) del verbo sunthre,w (conservaba, custodiaba detenidamente o con
detalle) 146 todas las palabras-sucesos. Este verbo es usado sólo dos veces más
en el Nuevo Testamento, una por Marcos y otra por Mateo, 147 y no figura en
la versión de los LXX.
En 2, 51, por la conjugación dieth,rei (indicativo, imperfecto activo 3ª Pers.
Sing) del verbo diathre,w se afirma que María custodiaba con atención o cui-
dadosamente 148 todas sus experiencias que ha vivido. Este verbo es una par-
ticularidad de Lucas pues aparece solamente una vez más en el Nuevo Testa-
mento (Hch 15, 29), pero en el sentido de “evitar, mantenerse lejos, o guardar-
se de algo”. 149
La conceptualización de un “guardar” o “retener” en la mente, referida a
María, tiene un paralelo en la versión de los LXX. En Gn 37, 11b, a propósito
del relato del enigmático y profético sueño de José, se dice que:
(37, 11b) 150 o` de. path.r auvtou/ dieth,rhsen to. r`h/ma
(su padre guardó el acontecimiento).
rb'D'h;-ta, rm;v' wybia'w> (37, 11b) 151
145) RADL, W. In: BALZ–SCHNEIDER, Op. Cit., Col. 1310. Vol. II. Sobre la expresión ta. r`h,mata tau/
ta, presente en Lc 1, 65; Hech 13, 42 como objeto directo de (dia-) lale,w “podrían referirse a las pa-
labras pronunciadas; pero el contexto sugiere que se piensa en sucesos o cosas, y que r`h/ma especial-
mente en Hech 13, 42, y también en Lc 2, 15.19.51, no se refiere tan sólo a lo que se ha ‘dicho’ inmedi-
atamente antes (acerca de lale,w con acusativo de cosa cf. Hech 2, 11)”.
146) Keep or preserve closely. LIDDELL, Henry George y SCOTT, Robert. A Greek – English Lexicon.
New York: Oxford University Press, 1996. p. 1727.
BALZ y SCHNEIDER, Op. Cit., Col. 1607. Vol. II. Sostienen que significa, “preservar, conservar, prote-
ger, conservar en la memoria (…) según Lc 2, 19 María conservaba en la memoria las palabras angéli-
cas que le habían transmitido los pastores pa,nta suneth,rei ta. r`h,mata tau/ta”.
147) Mc 6, 20 lo utiliza para describir la “protección” de Herodes hacia el Bautista pues sabía que era un
hombre santo. En Mt 9, 17 en el sentido de “conservar” los odres de vino.
148) “Watch closely, observe”. LIDDELL y SCOTT, Op. Cit., p. 415. BALZ - SCHNEIDER, Op. Cit.,
Col. 949-950. Vol. I. Comentan: “Lc 2,51: ‘su madre conservaba pa,nta ta. r`h,mata en su corazón’. No
se hace referencia probablemente a ‘todas las palabras’ que ‘se conservan en la memoria’ (así Bauer,
Wörterbuch, s.v.), sino a ‘todos los sucesos’; cf. 2, 19”.
149) RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2005. p. 128.
150) RAHFS, Alfred et HANHART, Robert. (ed). Septuaginta: id est Vetus Testamentum Graece iuxta
LXX interpretes. 2a. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 2006. s.p.
151) ELLIGER, K et RUDOLPH, W. Biblia hebraica Stuttgartensia. 5a. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelge-
sellschaft, [1967/1977], 1997. s.p.
152) ALONSO SCHÖKEL, Luis. Diccionario bíblico hebreo-español. Madrid: Trotta, 1994. p. 777. Tam-
bién almacenar, depositar, encerrar, custodiar, observar, cumplir.
SAUER, G. In JENNI, Ernest y WESTERMANN, Claus. Diccionario teológico manual del Antiguo Tes-
tamento. Madrid: Cristiandad, 1985. Col. 1232-1233. Tomo II. Comenta que este verbo rm;v' está atesti-
guado 468 veces en el AT. “Tiene la misma amplitud semántica en las afirmaciones religiosas. El san-
tuario ha de ser custodiado y vigilado (1 Sm 7, 1, el arca; en época posterior es, sin duda, una función
independiente). En sentido traslaticio, los piadosos guardan y observan la alianza (Gn 17, 9s y passim),
el derecho (Is 56, 1), el amor y el derecho (Os 12, 7) y, sobre todo, los mandamientos, preceptos e ins-
trucciones de Dios (Gn 26, 5 y passim)”.
153) ALONSO SCHÖKEL, Op. Cit., p. 170. “Significa primero la palabra: sea el acto de hablar, el enun-
ciado o su contenido (tomar la palabra, pronunciar unas palabras, comprender las palabras). De ahí pa-
sa a significar el tema o el asunto. Significa además la acción y el modo de hacerla o ponerla en prácti-
ca, conducta; y su contenido o la tarea, faena. También hecho, suceso; y su causa: ocasión condición”.
GERLEMAN, G. In JENNI, Ernest y WESTERMANN, Claus. Diccionario teológico manual del Antiguo
Testamento. Madrid: Cristiandad, 1978. Col. 620-621. Tomo I. Sobre este sustantivo observa: “Aun-
que se asigne un doble sentido a dābār (es decir, ‘palabra’ - ‘cosa’), no se debe explicar esta duplici-
dad semántica refiriéndose a la antigua concepción del mundo que no distinguía estrechamente entre lo
espiritual y lo material. dābār no significa ‘objeto’ en sentido material, como opuesto a ‘persona o co-
mo designación de objetos propios de alguien (por ejemplo ‘objeto, aparato’), sino que es, por su mis-
mo carácter, una abstracción. En dābār queda siempre algo propio de la actividad del verbo: designa al-
go que puede dar o ser ocasión de alguna reflexión o alguna acción, es decir, ‘ocasión’, ‘suceso’, ‘acon-
tecimiento’”.
154) TAMEZ, Elsa. Diccionario conciso Griego-Español del Nuevo Testamento. Nördlingen: Socieda-
des Bíblicas Unidas, 1978. p. 168. Según RUSCONI, Carlo. Op. Cit., p. 432. entre sus acepciones es-
tá: “Reflexionar, meditar, concatenar, coordinar Lc 2, 19”. Este verbo también tiene otros significados
próximos. En intransitivo puede ser, encontrarse con; enfrentarse con; discutir con; consultar con; deli-
berar con; en uso medio, ayudar, socorrer (Hch. 18, 27).
155) S HOFIUS, O. In BALZ y SCHNEIDER, Op. Cit., Col. 1532-1533. Vol. II. “Ofrece dificultades la
comprensión de sumba,llw en la frase de Lc 2, 19, que debe atribuirse a la redacción lucana. Contra la
traducción, muy difundida, de ‘meditar/reflexionar’ habla el hecho de que este significado no se hal-
la atestiguado en ninguna otra parte; tampoco en los pasajes ajenos al NT, aducidos por Bauer; Wörter-
buch, s.v. Es discutible que pueda presentarse como prueba el texto de Herodoto VII, 24 (¡en voz me-
dia!). Como en el contexto del v. 19 se habla de acontecimientos extraordinarios y misteriosos, el ver-
bo podría significar: captar el verdadero sentido, dar con el significado correcto (como Eurípides, Med
seis veces que aparece en el Nuevo Testamento, cuatro son en Hechos (4, 15;
17, 18; 18, 27; 20, 14) y dos en su Evangelio (2, 19; 14, 31).
Todo este “movimiento dinámico y progresivo” 156 de diálogo sobrena-
tural en que María ha reunido (2, 19) con cuidado (2, 51) los impactan-
tes sucesos que ha vivido en relación a su Hijo, tienen por sede un concep-
to de alto valor antropológico para el mundo hebreo: el corazón ble lêb / bb'le
lêbab.
4.3. Corazón
En la mentalidad del pueblo elegido, el “corazón” desde el punto de vis-
ta físico, es el más noble de los órganos del cuerpo. Al mismo tiempo, como
observa Wolff, “es el término más importante del vocabulario antropológico
del antiguo testamento (…) en su forma más corriente (lêb) la que se presen-
ta en el Antiguo Testamento hebreo 598 veces y lêbab 258. Se debe agregar
el arameo de Daniel: lêb, una vez y lêbab siete. En total son 858 veces y en
consecuencia se trata del concepto antropológico más frecuente. En síntesis,
‘corazón’ a diferencia de otros términos, también fundamentales, dice rela-
ción casi exclusivamente, al hombre”. 157
El “corazón”, como también los conceptos “espíritu” h;Wr rūah y “alma”
vp,g< nefeš conforman un campo semántico, en el que con frecuencia son
apuntados como sitiales de la esfera de los sentimientos y los deseos. Es así
como en algunos pasajes de las escrituras se aprecian ciertos paralelismos: 158
Mirad que mis siervos cantarán con corazón dichoso, mas vosotros grita-
réis con corazón triste, y con espíritu quebrantado gemiréis. (Is 65, 14)
El corazón alegre mejora la salud; el espíritu abatido seca los huesos.
(Prov 17, 22)
675; Iph Taur 55; Josefo, Ant II, 72; Bel lII, 352; Filóstrato, Vit Ap IV, 43; cf. además Wettstein, NT I,
633s, así como en cuestiones de detalle van Unnik). A diferencia de los pa,ntej, del v. 18, que simple-
mente se ‘maravillan’ de lo que refieren los pastores (v. 17), María conoce el verdadero significado ‘de
todas esas cosas’ (pa,nta ta. r`h,mata tau/ta). Ella reconoce en la milagrosa aparición de los ángeles y en
el mensaje angélico (vv. 9-14) la confirmación de la promesa que ella misma había escuchado de labi-
os del ángel (1, 26ss)”)
156) GARCÍA PAREDES, José. Mariología. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1995. p. 94.
157) WOLFF, Hans Walter. Antropología del Antiguo Testamento. Salamanca: Sígueme, 1975. p. 63.
158) Jos 2, 11; 5, 1; Ez 21, 12; Sal 34, 19; 51, 19; Prov 15, 13. ALBERTZ, R y WESTERMANN, C. In
JENNI y WESTERMANN, Op. Cit., Col. 929-930. Tomo II.
Cuando Oseas quiere caracterizar la torpe política del reino del Norte, dice
que Efraín no tiene corazón, o sea, que no tiene inteligencia; y si Jeremías
se propone anatematizar los sacrificios infantiles israelitas como algo total-
mente contrario a la voluntad de Yahvé, dirá que él no ha mandado nada
de eso, ni tuvo nunca cabida en su corazón. Esto demuestra dónde reside el
verdadero énfasis, incluso cuando lêb se utiliza de forma complexiva para
designar la persona entera, su vida interior, su carácter: hay una referen-
cia clara a la actividad espiritual voluntaria y consciente, de un yo huma-
159) EICHRODT, Walther. Teología del Antiguo Testamento II. Dios y mundo-Dios y hombre. Madrid:
Cristiandad, 1975. p. 149.
160) ALBERTZ, R y WESTERMANN, C. In: JENNI y WESTERMANN, Op. Cit. Col. 930. Tomo II.
(Lc 1, 66 [en voz media]; 21,14; Hech 5, 4 [en voz media] y ti,qhmai eivj ta. w=ta, ‘escuchar a /grabarse
en la memoria’ (Lc 9, 44). Cf. también Hech 1, 7; 19, 21”. SCHRAMM, T., voz ti,qhmi.
181) KITTEL, Gerhard y FRIEDRICH, Gerhard. Translated by BROMILEY, Geoffrey. Theological dic-
tionary of the New Testament. United States of America: William B. Eerdmans Publishing Company,
2003. p. 416. Vol. I.
182) Ibid., p. 416.
183) BALZ y SCHNEIDER, Op. Cit., Col. 1436. Vol. II.
184) LEON-DUFOUR, Op. Cit., p. 144.
185) ROSSÉ, Gérard. Il vangelo di Luca: commento esegetico e teologico. Roma: Città Nuova, 1992. p.
106. “La densità teologica é tale che illumina di luce nuova retrospettivamente tutti i titoli finora attri-
buiti al Messia, e fa da sfondo a tutto l’insegnamento e comportamento nel ministero pubblico dove una
tale dichiarazione non apparirà quasi più. Diventa chiaro perché Luca ha tenuto a incorporare questo te-
sto come conclusione ai racconti dell’infanzia, e come ouverture al vangelo vero e proprio”.
Esta hipótesis también es seguida por LAURENTIN, René. Jésus au Temple. Paris: Gabalda, 1966. p. 161s.
y LEGRAND, L. L’annonce à Marie. Une apocalypse aux origenes de l’Évangile. Lectio Divina, 106.
Paris: Du Cerf, 1981. Autor que va más allá pues Lc 2, 41-52 sería quizá la conclusión de todo el evan-
gelio lucano. Ver MUÑOZ IGLESIAS, Op. Cit., p. 236.
186) * Ver numeral 3.4.1.
sas piezas de los acontecimientos vividos en cotejo con las profecías mesiá-
nicas que todo judío piadoso, fuera hombre o mujer, conocía a la perfección.
Igual ejercicio piadoso María ya lo había realizado en 2, 19 — luego de oír
el relato de los pastores, que maravillados referían las palabras del ángel y la
visión de la cohorte celestial.
Se debe agregar a todo esto, que no faltan autores que sostienen que
Lucas, al presentar a María y José, “no comprendiendo” las palabras
que Jesús le dirige en respuesta a su desaparición por tres días, tendría
una clara intención catequética: el destinatario debería leerlos en la cla-
ve Pascual de la Resurrección. Efectivamente, María se presenta tam-
bién como la madre sufriente que experimenta la angustia de perder a su
hijo, sin saber si la “espada que le atravesará un día su corazón” (Lc 2,
34-35), profetizada por Simeón, doce años antes, no estaría a tiempo de
cumplirse.
Ese “no comprender” que es guardado y rumiado en su corazón, solamen-
te sería dilucidado veintiún años después, y al tercer día, al resucitar su hijo
glorioso de entre los muertos, luego de abrazar – en cumplimiento a la volun-
tad del Padre – una muerte ignominiosa de cruz. 187* En síntesis, la escena que
describe la pérdida y hallazgo en el templo podría ser un acontecimiento pre-
monitorio, no obstante algunos autores disientan. 188
En otros términos, como explica De Fiores, el evangelista Lucas:
187) * De hecho, Jesús durante su predicación, dentro del relato lucano, en tres oportunidades anunciará
que sufrirá, morirá y resucitará al tercer día (Lc 9, 22.43-44; 18, 31-33; 24, 6-7.26-27.44-46).
188) Discrepa de esta interpretación Muñoz Iglesias que no la considera probable. MUÑOZ IGLESIAS,
Op. Cit., p. 236. El mencionado autor, (Ibid. p. 248) cita como seguidores de esta hipótesis a LAUREN-
TIN, René. Jésus au temple. Mystère de Pâques et foi de Marie en Luc 2, 48-50. Paris: Gabalda, 1996.
p. 101-115; DUPONT, Jacques. L’ Evangile de la Fête de S. Famille (Lc 2, 41-52) y Jésus à douce ans.
AssSeign 14 (1961) 24-43. ELLIOT, J.K. Does Luke 2, 41-52 anticipate the Resurrection? ExpTim 83
(1971-72) 87-89, y LEGRAND, Lucien. L’Annonce à Marie (Lc 1, 26-38). Une apocalypse aux ori-
genes de l’Évangile. Lectio Divina, 106. Paris: du Cerf, 1981.
189) DE FIORES, Op. Cit., p. 105. Citando a Shürmann. Il vangelo di Luca, p. 269.
¿Por qué Nuestra Señora y San José no entendieron? Dios no les dio luces
para eso en aquel momento, a fin de que pidiesen tener mayor mérito, com-
prendiendo sólo más tarde las razones del comportamiento del Niño Jesús.
María no entendió las palabras de su hijo, pero (…) conservaba en su cora-
zón “todas esas cosas” con amor, sabiendo que había una lección por detrás
de ese episodio. 192
190) LEÓN MARTÍN, Trinidad. María. In: FLORISTÁN, Casiano. Nuevo diccionario de Pastoral. Ma-
drid: San Pablo, 2002. p. 867.
191) GARCÍA-VIANA, Luís Fernando. Evangelio según San Lucas. In: Comentario al Nuevo Testamen-
to, 6a. ed. Estella: Verbo Divino, 2000. p. 198.
192) CLÁ DIAS, João Scognamiglio. ¿Cómo encontrar a Jesús en la aridez? In: Revista Heraldos del
Evangelio. Madrid. No. 77 (Dic., 2009), p. 15.
6. Conclusiones
193) SERRA, Aristide. María en el Antiguo Testamento. In: ROSSANO, Pietro, RAVASI, Gianfranco,
GHIRLANDA, Antonio. Nuevo Diccionario de Teología Bíblica, 2.ed., Madrid: San Pablo, 1990, p.
1129.
194) Ibid., p. 1129.
Hoy, primer día del año nuevo, en el umbral de un nuevo año, de este nue-
vo milenio, la Iglesia recuerda esa experiencia interior de la Madre de Dios.
Lo hace no sólo volviendo a reflexionar en los acontecimientos de Belén,
Nazaret y Jerusalén, es decir, en las diversas etapas de la existencia terrena
del Redentor, sino también considerando todo lo que su vida, su muerte y su
resurrección han suscitado en la historia del hombre.
196) PAGOLA, José Antonio. Silencio y escucha frente a la cultura del ruido y la superficialidad. [En lí-
nea] <Disponible en: http://www.conocereisdeverdad.org/website/index.php?id=2522 [Consulta: 11
Jul., 2010].
197) CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Retornarei, 2002. p. 21.
198) JUAN PABLO II. Homilía en la apertura de la puerta santa de la basílica de santa María la Mayor, 1 de
enero de 2000. In: Alabanza a la Trinidad, el hombre y su encuentro con Cristo, catequesis del gran ju-
bileo. Madrid: Palabra, 2002. p. 186-187.
1. Contextualização histórica:
análise pragmática e aspectos circunstanciais
1) O autor é Arauto do Evangelho, especialista em teologia tomista pelo Centro Universitário Ítalo-
Brasileiro (UNIÍTALO), mestre em teologia com ênfase em bíblica pela Universidade Pontifícia Boli-
variana (UPB, Medellín — Colômbia), e doutorando em teologia pela mesma universidade. Atualmente
faz parte do Corpo editorial da Revista Arautos do Evangelho.
2) DENZINGER-HÜNERMANN, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e
moral. Trad. José Marino e Johan Konings. São Paulo: Paulinas — Loyola, 2007. p. 1467 (n. 3562). Se-
gundo a Resposta da Comissão Bíblica a 19 de junho de 1911 (Pergunta 2), o Evangelho de Mateus es-
crito em língua pátria, precede aos demais Evangelhos na data de redação. No entanto, o documento da
PCB expedido a 15 de abril de 1993, diz que esta hipótese acerca da fonte “Q” e Marcos é a mais acei-
ta na exegese científica atualmente.
3) CASCIARO, José Maria. Nuevo Testamento. Pamplona: Eunsa, 2004. p. 41. “Alguns propõem que o
Evangelho de Mateus na língua dos hebreus de que fala Papias [Cf. Eusébio de Cesareia, História Ecle-
siástica 6, 14, 4], e do que só nos restou essa menção, seria em realidade este documento Q, que mais
tarde, traduzido ao grego, e confrontado com o Evangelho de Marcos, deu lugar ao Evangelho de Ma-
teus canônico”.
4) LOPEZ, Luíz José Castellanos. Evangelio de San Mateo. Bogotá: Paulinas, 1981. p. 7.
As Conselhos Sermão
Sermão da instruções O ensino em sobre a sobre a
Montanha sobre a parábolas vida da plenitude
missão comunidade dos tempos
Mt 5-7 Mt 10 Mt 13 Mt 18 Mt 24-25
5) POITTEVIN, P. Le e CHARPENTIER, E. El evangelio según san Mateo. Navarra: Verbo Divino, 1976.
p. 17. Entre os escritos do Novo Testamento, o Evangelho de Mateus pode ser considerado como a lite-
ratura cristã mais influente até as últimas décadas do século II. O cristianismo se estabeleceu sobre seu
Evangelho, tornando-se norma de vida cristã. Por isso, foi denominado como o Evangelho “eclesial”.
MASSAUX, E. Influence de l’évangile de saint Matthieu sur la littérature chrétienne avant saint Irénée.
Louvain, 1950. p. 651 e 654.
6) LEVORATTI, Armando J.; TAMEZ; Elza y RICHARD, Pablo. Comentario bíblico latinoamericano:
Nuevo Testamento. Estella, Navarra: Verbo Divino, 2003. p. 275.
7) HENAO MESA, Jairo Alberto; MONTOYA MEJÍA, Francisco. El Evangelio según San Mateo: el
evangelio de la iglesia discípula. Bogotá: Instituto San Pablo Apóstol, 2007. p. 27.
8) JEREMIAS, Joachim. Estudos no Novo Testamento. Trad. Itamir Neves de Souza — João Rezende
Costa. São Paulo: Academia Cristã, 2006. p. 91; HENAO MESA e MONTOYA, Op. Cit., p. 26.
9) BENTO XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta Brasil, 2007. p. 74. Trad. de Jo-
sé Jacinto Ferreira de Ferreira, SCJ. “Deveria ter-se tornado claro que o Sermão da Montanha é a no-
va Torá que Jesus traz”.
dizer que a versão em aramaico do Evangelho de Mateus (da qual fala Papias),
data entre os anos de cinquenta a setenta; e a versão grega, que é a canônica,
uns vinte anos depois. 17
A Igreja, através de seu Magistério, diz que se deve admitir uma unida-
de substancial entre o texto grego e o texto aramaico, 18 uma vez que no texto
grego se manteve a estrutura semítica. 19
A comunidade mateana era composta em sua estrutura de judeus converti-
dos, mas nesta comunidade eclesial havia um vínculo com o judaísmo; chega-
ria um momento onde estes judeus deveriam tomar sua posição ante o judaís-
mo oficial. Em seu Evangelho, Mateus sem deixar o Primeiro Testamento vai
indicando uma descontinuidade com o judaísmo oficial, pois foi Jesus quem
deu sequência ao Testamento.
No que diz respeito às características teológicas e literárias do Evangelho
Mateano, tem-se em primeiro plano um Evangelho didático: há uma unidade
no texto, onde o evangelista deixa claro uma intenção de transmitir certo con-
teúdo. 20 Por outro lado, este Evangelho também se caracteriza pelos discursos
do Senhor, cinco em geral, pois há outros menores: como aos fariseus e aos
escribas (motivo de controvérsias entre eles e Jesus). 21
Por fim, este Evangelho possui a característica do cumprimento. Mateus
se esmera por mostrar como em Jesus se cumpriu o Antigo Testamento. Para
Mateus, Jesus de Nazaré é o verdadeiro Messias de Israel, que realiza as pro-
messas do Antigo Testamento; é Filho de Deus que atua na terra (também por
meio de seus discípulos).
Estes pressupostos permitem fazer um quadro demonstrativo-comparativo
da relação do Sermão da Montanha dentro do Evangelho de Mateus:
Evangelho de
Mateus
Destinatários:
judeus convertidos ao cristianismo
Características
Teológicas e Literárias
Evangelho
Didático
Cinco discursos
de Jesus
Sermão da
montanha
Evangelho do
Cumprimento
Por meio deste esquema se percebe uma relação interna neste discurso:
em primeiro lugar, uma relação para com Deus (o centro máximo do discur-
so); também há uma relação com o próximo, cuja consequência será a relação
com as coisas. A narração de Mateus é organizada e com um objetivo deter-
minado.
Há uma situação inicial que coincide com a final; o tema geral versa acerca
do Reino de Deus. A Lei é o meio para atingir a meta, Jesus será o verdadei-
ro intérprete desta Lei; é com a luz de Jesus que o Antigo Testamento se torna
compreensível. 23 O caminho proposto por Mateus pretende criar uma tríplice
relação: Deus-próximo-coisas.
Acerca deste discurso pode-se dizer que houve três grandes interpre-
tações no intuito de descobrir seu verdadeiro sentido. O primeiro deles
24) JEREMIAS, Joachim. Estudos no Novo Testamento. Tradução de Itamir Neves de Souza – João Re-
zende Costa. São Paulo: Academia Cristã, 2006. p. 79-90.
25) JEREMIAS, Op. Cit., p. 90. “As três tentativas de solução que acabamos de discutir apresentam, não
obstante sua diversidade, um caráter comum: consideram o Sermão da Montanha como uma Lei. Ora,
que esta Lei seja, mais precisamente, perfeccionismo, pedagogia da salvação ou moral de emergência,
afinal pouco importa. Pois toda interpretação legalista situa Jesus na esfera do judaísmo tardio. A pri-
meira teoria faz dele um doutor da Lei; a segunda, um arauto da penitência; a terceira, um apocalípti-
co”.
26) LÉON-DUFOUR, Xavier. L’évangile selon saint Matthieu, p. 92. Apud POITTEVIN e CHARPEN-
TIER, Op. Cit. p. 34. Assim exprime esta interioridade da Lei: “No coração de cada ação, a intenção re-
ligiosa. No coração de toda ação religiosa, o amor. No coração de todo ato de amor, o absoluto”.
27) DUFOUR, Xavier Leon S. J. Vocabulário de teologia Bíblica. Petrópolis: Vozes, 1972. p. 611. Trad. de
Frei Simão Voigt O.F.M.
28) CARDONA RAMÍREZ, Hernán y OÑORO CONSUEGRA, Fidel. Jesús de Nazareth en el Evangelio
de San Mateo: comentarios bíblicos al ciclo litúrgico A. Medellín: UPB, 2007. p. 183.
29) FERREIRA, Francisco Albertini. As Bem-aventuranças de Jesus no Evangelho de Mateus. Aparecida:
Santuário, 1999. p. 16. Diferentemente de Moisés que sobe sozinho o Sinai, Jesus leva consigo seus dis-
cípulos. Mostra com isso, que uniu a distância que separava seus seguidores do Reino de Deus.
30) CARDONA RAMÍREZ, Op. Cit. p. 184. “Os três planos do cenário (Jesus, os discípulos e a multidão)
lembram a Moisés quando sobe à montanha junto com os anciãos (Êx 24, 1), enquanto aos pés da mon-
tanha permanece o povo. Então começa o ensinamento”.
31) BENTO XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré. São Paulo: Editora Planeta Brasil, 2007. p. 72.
Trad. de José Jacinto Ferreira de Ferreira, SCJ.
32) BENTO XVI, Op. Cit. p. 101. “O Eu de Jesus avança para uma dignidade que nenhum doutor da Lei
podia permitir-se”.
discurso de Jesus. 33 Com isto, estabelece que todo aquele que escuta as pala-
vras de Jesus pode tornar-se discípulo. 34
O conteúdo do Sermão da Montanha é a relação Jesus-discípulo presen-
te no Evangelho, e portanto, um convite ao discipulado. A pregação de Jesus
é para todos, sem restrição; Deus fala a todos, pois há diversas formas (voca-
ções) de segui-lo. O quadro abaixo mostra a relação que Jesus estabelece por
meio de seu discurso:
JESUS
Discurso
Multidão Discípulos
Convite ao discipulado
Deus convida o homem a estabelecer uma relação com Ele. Isto é possível
através de seu Filho, Jesus Cristo, que é a revelação (o exemplo) do modo que
o homem deve viver:
33) THEISSEN, Op. Cit. p. 155. “Interpreta a Torá judia de tal modo que a aplica aos gentios e aos judeus
em todo o mundo”.
34) MATEOS, Juan e CAMACHO, Fernando. O Evangelho de Mateus. São Paulo: Paulinas, 1993. p. 61.
Em Jesus, Ele nos mostra o seu rosto; no Seu agir e na Sua vontade, conhe-
cemos os pensamentos e a vontade de Deus. 35
2. A perícope de Mt 5, 21-48
numa visão linguístico-sintática geral
grande proposta de Jesus: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”
(5, 48).
A fórmula adotada por Jesus nas seis antíteses que precedem o v. 48
— onde está descrita a plenitude do discipulado — será a de Ἠκούσατε
ὅτι ἐρρέθη τοῖς ἀρχαίοις (“Ouvistes que foi dito aos antigos”, v. 21a), 38
com suas variações nos versículos subsequentes: Ἠκούσατε ὅτι ἐρρέθη
(“Ouvistes que foi dito”, v. 27); Ἐρρέθη δέ (“Foi dito também”, v. 31);
Πάλιν ἠκούσατε ὅτι ἐρρέθη τοῖς ἀρχαίοις (“Ouvistes também que foi dito
aos antigos”, v. 33); Ἠκούσατε ὅτι ἐρρέθη (“Ouvistes que foi dito”, v. 38);
Ἠκούσατε ὅτι ἐρρέθη (“Ouvistes que foi dito”, v. 43). Em contraposição
com a tradição até então vigente, vem o acréscimo de Jesus por meio da
fórmula ἐγώ δὲ λέγω ὑμῖν (“Mas eu vos digo”, vv. 22.28.32.34.39.44); 39
aqui, porém, não há variação como na fórmula anterior, onde pode se res-
saltar que a nova doutrina ensinada por Jesus é una e dotada de potência,
sobretudo quando Mateus utiliza do pronome pessoal na primeira pessoa
do singular ἐγώ (“eu”).
A perícope de Mt 5, 21-48 apresentada num plano genérico, forne-
ce três momentos onde se desenvolvem as antíteses até chegar à sua defini-
ção (v. 48): momento de repetição (vv. 21.27.31.33.38.43); momento de antí-
tese (vv. 22.28.32.34a.39.44); momento parenético (vv. 23-26.29-30.34b-37.3
9b-42.45-48).
Na sexta antítese será revelado onde Mateus pretende conduzir seus leito-
res e o modo para se atingir este objetivo. Sua estrutura pode ser representa-
da da seguinte maneira: momento de repetição (v. 43); momento de antítese
(v. 44); momento parenético (vv. 45-47); desfecho das seis antíteses e propos-
ta paradigmática de como deve ser o discípulo (v. 48).
Por sua vez, o momento parenético indica algumas fases na relação entre
os elementos desta antítese: aproveitando o momento de antítese (v. 44),
Mateus inclui por meio da conjunção subordinada ὅπως (“para que”, v. 45a)
a condição para tornar-se υἱοι τοῦ πατρὸς ὑμῶν τοῦ ἐν οὐρανοῖς (“filhos do
vosso Pai que está nos céus”, v. 45a). Pode-se encontrar nos vv. 46-47 três
38) PIROT, Louis e CLAMER, Albert. La Sainte Bible. Paris: Letouzey et Ané, 1950. p. 62. Tome IX: “Esta
longa perícope se desenvolve segundo um plano uniforme: inicialmente o apelo da Lei mosaica, sempre
com a mesma fórmula: Vós ouvistes o que foi dito aos antigos (21, 23); ou o que foi dito (27); ou sim-
plesmente: foi dito (31). A seguir vem a interpretação pessoal de Jesus, rompida claramente pela antíte-
se: Mas Eu vos digo. Enfim uma exortação que segue estes vigorosos artigos do código”.
39) EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1994. p. 80. Trad. de Johan
Konings e Inês Borges. Evidencia que a frequência de alguns vocábulos pode fornecer a estrutura resi-
dente em determinada perícope.
* NOLLI, Gianfranco. Evangelo secondo Matteo. 2a ed. Città del Vaticano: Editrice Vaticana, 1996. p.
120. “Conjunção coordenada causal (1036 vezes): sempre dá uma explicação, esclarecimento, pode ter
uma grande variedade de nuances que derivam uma da outra: porque, na verdade”.
**
Particípio presente ativo: o que indica que está amando continuamente, ou seja, amar aquele que está me
amando continuamente não é um ato difícil; apenas se trata de uma reciprocidade natural.
Substantivo /
τελῶναι ἐθνικοὶ
adjetivo pronominal
Artigo definido τὸ τὸ
* NOLLI, Op. Cit., p. 120-121. “Partícula de negação reforçada (53 vezes) de modo algum, lat. minime”.
40) DEMOSS, Op. Cit., p. 141. “Tempo verbal presente que denota uma ação que é típica, costumeira, nor-
mal, contínua ou habitual. Usado de forma sinônima com o presente processual e habitual ou presen-
te geral”.
41) MACHEN, J. Gresham. Grego do Novo Testamento para Iniciantes. Revisão de Cláudio J.A. RODRI-
GUES. São Paulo: Hagnos, 2004. p. 83. Trad. de VICTORINO, Augusto. “O presente e o imperfeito,
em todas as três vozes, são formados com base no radical do presente ao qual se acrescentam as desi-
nências pessoais ligadas por uma vogal variável o/e. Porém, os futuros ativo e médio são formados com
base no radical do futuro, isto é, acrescentando-se s ao radical do verbo”.
42) Ibid., p. 183. “Não há nenhuma distinção temporal entre os tempos verbais do imperativo. O imperati-
vo aoristo refere-se à ação sem dizer qualquer coisa a respeito da sua duração ou repetição, enquanto o
imperativo presente dá a idéia de ação contínua ou repetida”.
43) FRIBERG, Op. Cit., p. 15. Indica esta mudança de função ocorrida no verbo.
44) NOLLI, Op. Cit., p. 121. “Med indic ft 2pl, εἰμί; ἔσομαι; ser, existir, na linguagem jurídica ft é utiliza-
do com valor imperativo categórico, mas também fora dessa linguagem para uma exortação insistente,
ou um dever a cumprir, o ft tem caráter imperativo, o verbo εἰμι ser exprime existência quando é predi-
cado; exprime qualidade quando é cópula: aqui é o segundo caso”.
45) DICCIONARIO Manual Griego. p. 578. “Terminado, acabado, realizado; completo, cumprido, irre-
vogável (ψῆφος decreto); perfeito, sem mancha, eminente; grave; maduro, crescido, feito (οἱ τέλειοι os
homens da idade), definitivo; último”.
Predicado Detentor do
Ação de ser:
nominal: predicado:
46) NOLLI, Op. Cit., p. 121. “Att indic pres 3sing, εἰμί; ἔσομαι; ser, existir. O presente é o tempo da rea-
lidade e descreve uma ação que se está desenvolvendo agora, neste momento, com tendência de durar
em direção a um imediato ft”.
47) BALZ, Horst e SCHNEIDER, Gerhard. Diccionario Exegético del nuevo testamento. 2a. ed. Salaman-
ca: Sígueme, 2002. p. 1707. Vol. II. Trad. de Constantino Ruiz-Garrido. “No NT os 20 testemunhos de
τέλειος se distribuem da seguinte maneira: 3 em Mateus, 1 em Romanos, 3 em 1 Coríntios, 1 em Efé-
sios, 1 em Filipenses, 2 em Colossenses, 2 em Hebreus, 5 em Tiago, 1 em 1 Pedro (usado como advér-
bio) e 1 em 1 João”.
48) EGGER, Op. Cit., p. 93. “A expressão ‘inventário’ deriva da linguagem comercial, onde indica o com-
plexo dos objetos e as suas subdivisões em grupos”.
49) MONLOUBOU, Louis e DU BUIT, F. M. Dicionário bíblico universal. 2a. ed. Petrópolis: Vozes,
2003. p. 730.
50) SÁNCHEZ, Tomás Parra. Dicionário da Bíblia. 3a. ed. Aparecida: Santuário, 1997. p. 193. Trad. Pe.
Francisco Costa, C.Ss.R.., e Pe. João Boaventura Leite, C.SS.R.
51) PEDRO, Aquilino de. Dicionário de termos religiosos e afins. 6a. ed. Aparecida: Santuário, 1994. p.
280. Trad. de Pe. Francisco Costa.
52) BORN, A. Van Der. Dicionário enciclopédico da Bíblia. 6a. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 1389-1393.
‟Os termos hebraicos qados (s.) e qodes (santidade) provavelmente vêm de qadad (cortar; em senti-
do cultual: ser afastado, separado do impuro, do profano (hol) e destinado para o serviço de Deus); cf.
o grego τέμνειν = cortar e o latim sanctus de sancire. Uma noção aparentada, mas não idêntica, é tahor
= puro (ritualmente, aos olhos de Deus) e por isso em condições para se tornar s. A noção bíblica de s.
apresenta três aspectos inseparavelmente ligados entre si; os dois últimos têm caráter relativo e só são
mencionados explicitamente quando tal relação se verifica. (1) A razão mais profunda da santidade (o
s. em sentido absoluto) consiste naquilo que a filosofia das religiões chama o “numinoso” na divinda-
de, a saber, a inacessibilidade e majestade incriada de Deus; é, portanto, quase sinônimo com a → gló-
ria de Deus. (2) Santa em sentido cultual, é a criatura, quando subtraída conscientemente ao uso profano
e consagrada a Deus. (3) Como qualidade moral e religiosa a santidade só compete a Deus, aos anjos e
aos homens, manifestando-se no caráter moralmente irrepreensível, imaculado (gr. ἁγνός) dos pensa-
mentos e ações. A terminologia dos LXX (e do Novo Testamento) é bem diferente da do mundo grego
e helenístico; pela estreita continuidade com o AT o termo ἱερος foi substituído pela palavra muito me-
nos freqüente ἅγιος”.
61) SÁNCHEZ, Op. Cit., p. 139. “A antropologia bíblica a expressa com o uso e as reações dos órgãos in-
ternos como as entranhas, o seio, ou regaço e o coração (Nm 14, 17-19; Is 54, 7-8; Lc 1, 54.72; Mt 5,
7). É também propriedade de Deus (Ex 33, 19; Lc 1, 50; Rm 9, 15-23) e meta da práxis cristã (Lc 6, 36;
10, 37; Mt 18, 23-35)”.
62) LÉON-DUFOUR, Op. Cit., p. 626-627.
63) MANZANARES, Op. Cit., p. 240.
64) BORN, Op. Cit., p. 994-995.
65) MANZANARES, Op. Cit., p. 240. “Deus é um Deus de misericórdia (Lc 1, 50) e essa virtude deve ser
encontrada também nos discípulos de Jesus (Mt 9, 13; 12, 7; 18, 23-35; Lc 6, 36; 10, 37)”.
66) BORN, Op. Cit., p. 994-995.
67) BROWN, Op. Cit., p. 181-182.
68) BORN, Op. Cit., p. 994-995.
69) LÉON-DUFOUR, Op. Cit., p. 631-632. “A ‘perfeição’ que Jesus exige de seus discípulos segundo Mt
5, 48, consiste no dever de ser misericordioso ‘como vosso Pai é misericordioso’ segundo Lc 6, 36. É
esta uma condição essencial para entrar no Reino dos Céus (Mt 5, 7), que Jesus retoma seguindo o pro-
feta Oséias (Mt 9, 13; 12, 7). Esta ternura deve me tornar próximo do miserável que eu encontro em
meu caminho, assim como fez o bom samaritano (Lc 10, 30, 37), cheio de piedade para com aquele que
me ofendeu (Mt 18, 23-35), pois Deus teve piedade de mim (18, 32s). Também nós seremos julgados
segundo a misericórdia que tivermos exercido, quiçá inconscientemente, face à pessoa de Jesus (Mt 25,
31-46)”.
acabado, de completo, etc., o que indica um ponto ao qual se chegou. Pode ser
entendido como contendor de todas as qualidades possíveis 70 ou como algo
que está dentro de todo o seu desenvolvimento. 71 Da mesma forma que o ter-
mo qados pode ser entendido como algo sem defeito, assim se diz de τέλειος
num sentido de ausência de algo (carência); portanto, se trata de uma ação ou
pessoa que possui sua plenitude. 72 Num sentido mais lato, 73 pode ser enten-
dido como algo perfeito em todos os pontos, como uma virtude perfeita, ou
como um homem perfeito. 74
No Novo Testamento, o termo τέλειος é utilizado de três formas distin-
tas: como adjetivo substantivado, indicando um sentido de “os perfeitos”
— sempre no plural; 75 em Col 4, 12, pode estar sendo usado em tom de
ironia ou para indicar que há pessoas menos perfeitas. Outra forma refe-
re-se a um adjetivo substantivado em sentido escatológico (1 Cor 13, 10)
ou como sentido ético (Rom 12, 2). Por fim, também se utiliza para indi-
car de maneira adjetiva uma qualidade em relação a determinados concei-
tos, como nos casos de Hb 9, 11 (“tabernáculo maior e mais perfeito”), Tg
1, 4.17.25 (“obra perfeita”; “dom perfeito”; “Lei perfeita da liberdade”), 1
Jo 4, 18 (“amor perfeito”). 76
O adjetivo τέλειος (“perfeito”) tem sua correspondência ao hebraico tamim
(“íntegros”, “completo”, “indiviso”, “sem defeito”, “são”). 77 Assim deveria ser
a relação de Israel com Deus, com uma sinceridade íntegra, uma adoração
indivisa (Dt 18, 13). Mais tarde, no judaísmo tardio, o termo tamim ficou rela-
cionado com o fiel cumprimento da Lei. Assim, a integridade absoluta dian-
70) CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa. 2a. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. (Perfeito).
71) DE LA LITTÉRATURE GRECQUE, Op. Cit., p. 985.
72) PEDRO, Op. Cit., p. 242.
73) Sempre na ideia de plenitude.
74) ALEXANDRE, PLANCHE et DEFAUCONPRET. Dictionnaire français-grec. Paris: Hachette, 1896.
p. 690.
75) 1Cor 2, 6; Hb 5, 14.
76) BALZ e SCHNEIDER, Op. Cit., p. 1708.
77) BONNARD, Pierre. Evangelio según san Mateo. Madrid: Cristiandad, 1976. p. 121. Trad. L. Alonso
Schökel y J. Mateos. “O tema da perfeição (tāmîm), nos escritos bíblicos, não expressa tanto a ideia de
pureza moral quanto de entrega total, de pertencer sem reserva a Deus no seio mesmo do pecado (cf. Dt
18, 13; Lv 19, 2; 1 Pe 1, 16; Mt 19, 21). Em seus atos de amor, de reconciliação, de fidelidade intrépida
à Lei de Cristo, seus discípulos farão aparecer neste mundo algo da perfeição do reino de Deus (cf. 25,
31-46). Lucas entendeu bem que a única perfeição que o Evangelho conhece é a da misericórdia (6, 36;
οἰχτίρμονες), mas isto não significa que seu texto seja mais arcaico que o de Mateus”.
78) LEVORATTI, Armando J.; TAMEZ, Elza y RICHARD, Pablo. Comentario bíblico latinoamericano:
Nuevo Testamento. Estella, Verbo Divino, 2003. p. 310. “Em Qumrán, o ‘caminho perfeito’ era um
conceito clave para a auto-definição da comunidade. Seus membros se chamavam a si mesmos ‘homens
da santidade perfeita’ (1QS 8,1). Em Mt o adjetivo téleios também implica a reta observância da Lei,
mas a diferença entre Qumrán e Mt está dada pelo contexto em que aparece este chamado à perfeição:
aqui não se trata, como em Qumrán, de uma observância rigorosa da Torá, mas de um cumprimento se-
gundo o espírito expressado nas seis antíteses. A perfeição que se exige dos discípulos se identifica com
a justiça de 5, 20, parafraseada com o mandamento do amor”.
79) ASTERIO DE AMASEA, Homiliae 13. Apud CASCIARO, José Maria. Nuevo Testamento. Pamplo-
na: Eunsa, 2004. p. 94. “Se quereis imitar a Deus, posto que fostes criados a sua imagem, imitai seu
exemplo. Vós, que sois cristãos, que com vosso mesmo nome estais proclamando a bondade, imitai a
caridade de Cristo”.
80) TEODORO DE HERACLEA, Fragmentos sobre el Ev. de Mateo, 38 / MKGK 67: Apud SIMONET-
TI, Manlio. La Bíblia comentada por los Padres de la Iglesia – Evangelio según San Mateo. Madrid:
Ciudad Nueva, 2004. p. 178.
81) CASCIARO, Op. Cit., p. 172.
82) BONNARD, Op. Cit., p. 119. “É provável que, como propôs Foerster [ThWbNT, art. ἐχθρός , II,
811ss], o inimigo não seja neste contexto nem o adversário pessoal no interior da comunidade religiosa
nem o inimigo da nação no sentido político e militar, senão o perseguidor da fé, o inimigo da comunida-
de messiânica formada pelos primeiros cristãos”.
83) DURAND, Alfred. Évangile selon Saint Matthieu. 3a. ed. Paris: Gabriel Beauchesne, 1929. p. 94-95.
nos, atitude que caracterizava seu explícito auxílio a uma nação gentílica, em
oposição aos cumpridores da Lei. 84
O ato de amar aos inimigos introduz uma mudança qualitativa na prática
da justiça 85 — da forma como entendiam os fariseus. Os discípulos de Jesus
devem procurar a perfeição 86 na correspondência com a generosidade do Pai
celeste, 87 que se estende a todos: bons e maus; também a luz do sol brilha para
todos, assim como a chuva é um dom do qual todos desfrutam. O imitar esta
ação misericordiosa de Deus não se torna requisito para o atuar divino, mas é
apenas a reciprocidade do dom gratuito. 88
A Lei que foi expressa através da escrita, a qual se concebia ter assumido
todo o espírito divino, agora é levada à perfeição pelo ensinamento de Jesus. 89
Por sua natureza a Lei é um conjunto de preceitos, que sempre pode ser pra-
ticada de forma mais perfeita. 90 A Lei de Moisés dada aos homens refere-se a
regras de conduta em seus deveres positivos, sociais e religiosos, mas para o
futuro estava reservada a proposta de Jesus, que em vez da obrigação, propõe
a caridade. Esta mesma caridade pode ser superada amanhã. 91
84) BENTO XVI. Os Apóstolos. Uma introdução às Origens da Fé Cristã. São Paulo: Pensamento, 2008.
p. 106-107. Trad. Euclides Luiz Calloni e Cleusa Margô Wosgrau.
85) DURAND, Op. Cit., p. 96. “Pagar o mal pelo bem é diabólico, pagar o bem pelo bem é humano, pa-
gar o bem pelo mal é divino. Ora, o cristão não poderia se contentar com uma perfeição puramente hu-
mana [...] Temos aqui um preceito ou um conselho? Um e outro, conforme o caso, que é preciso ana-
lisar conforme os costumes e as circunstâncias [...] O perdão cristão das injúrias não exige que o ofen-
dido renuncie ao seu direito, nem mesmo à reparação do erro que lhe foi feito, seja aos seus bens, se-
ja à sua honra”.
86) TUYA, Manuel de. O.P. Biblia comentada. 3a. ed. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1977. p.
87. “Esta palavra [perfeitos], no contexto de Mt, exige a perfeição do caso concreto a que se alude. Co-
mo a ‘perfeição’ que se pede aqui é a benevolência e o amor aos inimigos, pode ser traduzida no estilo
helenístico de Lc pelo sentido amplo da palavra ‘misericordiosos’ (οἰχτίρμονες)”.
87) HILARIO DE POITIERS, Sobre el Ev. de Mateo, 4, 27 / SC 254, 146-148. Apud SIMONETTI, Op.
Cit., p. 181. “Ele o terminou tudo na perfeição da bondade [...] Assim nos forma Ele à vida perfei-
ta com este laço de bondade para com todos, posto que temos no céu um Pai perfeito a quem imitar”.
88) LAVORATTI, Op. Cit., p. 309.
89) CROMACIO DE AQUILEYA, Comentario al Ev. de Mateo, 26, 2, 1 / CCL 9A, 320: BPa 58, 195-
196. Apud SIMONETTI, Op. Cit., p. 181. Ressalta que a lei comum do amor humano é superada pe-
lo amor evangélico.
90) SILVA, Duarte Leopoldo da. Concordância dos Santos Evangelhos. 7a. ed. São Paulo: LTr, 1998. p.
108. “O ideal da virtude não está na mera observância de um texto escrito; o vosso modelo, o original
divino que deveis imitar e ter continuamente sobre os olhos, é vosso Pai celeste. É certo que nunca che-
gareis à perfeição, mas podeis aproximar-vos da perfeição, procurando ser cada vez melhores”.
91) LAGRANGE. J. M. O.P. El Evangelio de Nuestro Señor Jesucristo. 2a. ed. Barcelona: Litúrgica Es-
pañola. p. 126-129. Trad. de R. P. Elías G. Fierro.
92) AGUSTÍN, Sermón del Señor en la Montaña, 1, 23, 78 / PL 34, 1268: BAC 121, 881-883. Apud SI-
MONETTI, Op. Cit., p. 180. Comenta que o ser filhos de Deus comporta uma regeneração espiritual,
a qual inclui ser adotados para o reino de Deus — não como estranhos — como criaturas e obra de su-
as mãos.
93) LOPEZ, Luíz José Castellanos. Evangelio de San Mateo. Bogotá: Paulinas, 1981. p. 66.
94) JUAN CRISÓSTOMO. Obras de San Juan Crisóstomo. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo.
2a. ed. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2007. p. 384. “Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai
celestial. O nome do céu está como semeado por todo seu discurso, e pelo lugar mesmo trata de levantar
os pensamentos de seus ouvintes. É que suas disposições, de imediato, eram muito débeis e grosseiras”.
95) FILLION. Sainte Bible. 8a. ed. Paris: Librairie Letouzey et Ané, 1924. p. 49. Tome VII.
96) DATTLER, Frederico SVD. Comentários bíblicos e homiléticos do novo lecionário – ano a. São Pau-
lo: Paulinas, 1971. p. 140-141.
97) ROQUETTE, J. – I. História sagrada do Antigo e Novo Testamento. 5a. ed. Paris, 1908. p. 331.
98) CASCIARO, Op. Cit., p. 94-95.
99) TUYA, Op. Cit., p. 87. “A grande lição que Cristo ensina é que o cristão, em seu obrar, tem que imitar,
no modo de conduzir-se, ao Pai celestial, norma cristã de toda perfeição”.
100) CASCIARO, Op. Cit., p. 174.
101) SILVA, José Pereira da. Vida e obra de Hans Urs von Balthasar: mistério e beleza. Em: Teologia em
Questão: Mística & Diálogo. Ano VI. Taubaté. (2007); p. 77.
102) BALTHASAR, Hans Urs von. Um resumo do meu pensamento. Em: Communio 15: International
Catholic Review. (1988; s.p.).
Sem dúvida esta é sua ideia principal, na qual mostra sua originalidade em
apresentar a teologia por meio de um olhar estético. Von Balthasar construiu
este pensamento não a partir de considerações abstratas do Ser, mas de uma
analogia concreta dos atributos transcendentais do Ser. E se o homem criado
possui a linguagem interpessoal, por que não falar com o Ser, criador desta
mesma linguagem?
Deste modo ele apresenta sua trilogia: Estética, Dramática e Lógica (ou
Glória, Teodramática e Teológica).
Teologia Estética: Deus aparece, se comunica através dos antigos patriar-
cas e profetas, atingindo seu auge em Jesus Cristo. Mas como diferenciá-lo
de tantos outros ídolos? E como diferenciar a Glória de Deus da glória do
mundo?
Teodramática: Travando aliança conosco, surge a questão de como a liber-
dade absoluta de Deus pode conformar-se com a liberdade finita do ser huma-
no. Haverá um choque com aquilo que se escolhe como bem?
Teológica: Na Encarnação, Deus mostra que é possível sua Palavra infini-
ta se tornar compreensível ao ser humano; por meio do Espírito Santo, Deus
permite ao espírito limitado do homem “apreender o sentido ilimitado” de
Sua Palavra. 104
Bento XVI comenta que von Balthasar procurou alcançar a genuína verda-
de, a verdadeira Vida; não fez sua mente prisioneira de si, mas buscou os ves-
tígios de Deus, abrindo a razão ao infinito. 105
Um ponto sobre o qual von Balthasar discorreu e que parece ter relação
com o chamamento de Deus e a resposta do ser humano encontrados em
Mateus, localiza-se em sua obra Glória, na qual distingue o tempo de Jesus, o
tempo da Igreja e o tempo do seguimento. O acontecimento de Jesus (crono-
lógico) deve ser analisado a partir da história da salvação. 106 A compreensão
do tempo de Jesus está na ordem estruturada do mundo criado, a qual se rela-
ciona com a perspectiva divina.
A Igreja é o sujeito receptivo da Revelação. O tempo da Igreja é o momen-
to de uma resposta livre a esta revelação; portanto, não se trata simplesmente
de pessoas concretas que ouviram a Jesus.
O tempo da Igreja está intimamente ligado ao tempo de Jesus. Segundo
von Balthasar, somente em Mateus se vê a tendência de juntar a realidade da
ressurreição e da parusia numa única perspectiva. 107 Esta nova perspectiva
deve ser vista pelo aspecto do amor, pois a justiça de Deus já não é a do Anti-
go Testamento (uma salvação terrena de Israel), mas uma salvação escatoló-
gica para todos.
O tempo do seguimento é a entrega incondicional à vocação. É a resposta
para o chamado de Deus, comprometendo-se com Jesus, na qual é assumida
a própria existência. 108 O seguimento inclui, por parte do discípulo, uma cola-
boração para o anúncio do reino (o apostolado).
Parece oportuno relembrar nesta pesquisa a relação entre teologia e exege-
se, pois como afirma Bento XVI:
106) BALTHASAR, Hans Urs von. Gloria una estética teológica. Madrid: Encuentro, 1998. p. 136-137.
Vol. VII.
107) Ibid., p. 147. “Nesta perspectiva, o tempo da igreja se situa objetivamente entra a ressurreição (como
síntese divina da vida terrena pela cruz) e a parusia, um tempo dentro deste parêntese, determinado por
ambos os lados: pela certeza de que em Jesus o fim foi alcançado e pela certeza de que se avança preci-
samente em direção a este fim (sua ‘volta’)”.
108) Ibid., p. 156. “Mas o peso do tempo de Jesus se imprime na vida dos que lhe seguem como peso da
chamada ao seguimento incondicional. Os quatro Evangelhos são explícitos em seus numerosos relatos
de vocação: para quem quer comprometer-se com Jesus, ou por quem Jesus mesmo se compromete, a
questão é ou tudo ou nada. O seguimento é algo indivisível que implica toda a existência que fica assim
marcada não em um, senão em todos seus pontos, com o estigma da possessão”.
toda a Escritura; [...] 2) além disso, há que recordar a tradição viva de toda a
Igreja e, finalmente; 3) é preciso observar a analogia da fé. 109
109) BENTO XVI. Exegese não só histórica mas teológica para o futuro da fé. L’Osservatore Romano:
Edição semanal em português, Vaticano, v. 39, 2.027 / 43, p.14, Outubro. 2008.
110) Ibid., p. 14.
111) BENTO XVI. Carta Encíclica Deus Caritas Est: São Paulo. Loyola; Paulus, 2006. p. 7. n. 1.
112) Ibid., p. 11. n. 4.
113) Ibid., p. 13. n. 6.
114) Ibid., p. 17. n. 9. “A história de amor de Deus com Israel consiste, em sua profundidade, no fato de que
Ele dá a Torah, isto é, abre os olhos a Israel sobre a verdadeira natureza do homem e indica-lhe a estrada
do verdadeiro humanismo. Por seu lado, o homem, vivendo na fidelidade ao único Deus, sente-se como
aquele que é amado por Deus e descobre a alegria na verdade, na justiça – a alegria em Deus que Se tor-
na sua felicidade essencial”.
115) Ibid., p. 24-25. n. 17.
116) Ibid., p. 26. n. 18.
117) BENTO XVI. A importância eclesial e social de propor novos modelos de santidade. Discurso aos
Postuladores da Congregação para as causas dos Santos. L’Osservatore Romano: Edição semanal em
português, Vaticano, 2007. p. 5. ANO XXXVIII, n. 51.
118) BENTO XVI. Os Apóstolos. Uma introdução às Origens da Fé Cristã. Trad. Euclides Luiz Calloni e
Cleusa Margô Wosgrau. São Paulo: Pensamento, 2008. p. 109. “Outra reflexão inspirada pela narrati-
va evangélica é que Mateus responde imediatamente ao chamado de Jesus: ‘ele se levantou e o seguiu’.
A brevidade da frase põe claramente em evidência a presteza de Mateus em responder ao chamado”.
Ainda hoje se faz sentir a ressonância deste chamado, por meio da Igreja.
Uma forma de “perfeição” atual seria responder com plenitude a este chama-
do que Jesus faz a todos, compreendendo a história particular do ser humano
como sendo parte integrante da história da salvação.
5. Conclusões
O presente trabalho procurou abordar certos temas acerca do Evangelho de
Mateus a fim de compreender com mais profundidade o significado do con-
ceito de “perfeição”. Entre estes elementos pode-se ressaltar que o Evangelho
escolhido tem uma estrutura didática formada intencionalmente. Em Mateus,
Jesus é o novo Moisés, é n’Ele que as promessas do Antigo Testamento se rea-
lizam.
As mensagens de Jesus distribuídas em cinco grandes discursos recordam
Moisés à frente do povo eleito, mas agora é Jesus que convoca um “novo
povo”; neste momento é a própria humanidade que é convidada a fazer parte
desta relação íntima com Deus, por meio do chamado de Jesus.
Como receptores imediatos da mensagem de Mateus encontram-se os
judeus convertidos ao cristianismo. Mateus necessita mostrar que o Antigo
Testamento tem sua continuidade com Jesus e que, através do anúncio do
Reino de Deus, todos os povos também devem receber a boa nova.
No discurso do Sermão da Montanha Jesus fala enquanto Mestre, des-
de sua cátedra (a montanha). Ele não aboliu a Lei, mas deu-lhe pleno cum-
primento (interiorizando-a), mostrando que pode ser cumprida com mais
radicalidade desde que se ame. O amor torna-se fundamental para a prá-
tica da Lei.
O Evangelho grego — canônico — de Mateus mostra que a perfeição não é
somente o cumprimento de certas regras exteriores, praticadas eventualmen-
te, mas propõe um programa de vida contínuo. Também evidencia que não
basta comparar-se aos não praticantes da Lei a fim de mostrar a integrida-
de de vida; é necessário olhar para Jesus que mostra qual o rumo a ser toma-
do (o Pai celeste).
Este ponto de encontro entre o humano e o divino se faz notar, sobretudo,
em três momentos da Bíblia: Mt 5, 48; Lv 19, 2; Lc 6, 36. Aqui se evidencia
que o ser humano está subordinado a Deus, e Ele mesmo quer que os homens
participem de suas qualidades. Através da santidade, mostra como os sacri-
fícios antigos purificavam exteriormente, mas com o oferecimento de Cris-
to veio a purificação interior. A misericórdia de Deus torna-se paradigma da
Senhores,
1) Discurso proferido por Juan Donoso Cortés a 16 de abril de 1848, ao tomar assento na Real Academia
de la Lengua. Tradução de excertos escolhidos do original em espanhol presente em OBRAS de D. Ju-
an Donoso Cortés. (Ord.) Gavino Tejado. Madrid: Imprenta de Tejado, 1854. Tomo III. p. 171-198, por
José Manuel Victorino de Andrade (IFAT).
2) Juan Donoso Cortés (1809-1853) filósofo, político e diplomata espanhol, autor de numerosos escritos
e discursos. “O seu estilo distingue-se por uma rara energia e um brilho que nenhum outro se crê que
iguale; mas não falta quem desaprove os frequentes neologismos e os giros singularmente atrevidos que
usa, em abono da abundância de ideias e da louçania da sua imaginação”. Ver DE OCHOA, Eugenio.
Apuntes para una biblioteca de escritores españoles contemporáneos: Colección de los mejores autores
españoles. París: Librería Europea, 1840. Tomo XXIII. p. 467-498.
1) Título original: Hic est liber mandatorum Dei. Traduzido do latim pelo Diác. Felipe de Azevedo Ramos,
EP a partir da edição: S. Thomae Aquinatis Opuscula Theologica, t. 1: Principium fratris Thomae de
commendatione et partitione Sacrae Scripturae. Ed. R. A. Verardo, Marietti, Taurini-Romae, 1954, p.
435-439 (hic: 435-436). O códice original, encontrado em Santa Maria Novella, Florença em 1912 (Bibl.
Cent. MS Conv. Soppr. G, 4, 36) está junto com o famoso discurso Rigans montes (cfr. Revista Lumen
Veritatis, 12, 2010, p. 111-126). No início do Hic est liber está escrito: Principium fratris Thomae de
Aquino quando incepit Parisiis ut baccalarius biblicus. Ou seja, seria uma aula inaugural ao começar o
magistério em Paris como Bacharel bíblico (cfr. Spiazzi, Raimondo. San Tommaso d’Aquino: biografia
documentata di un uomo buono, intelligente, veramente grande. Bologna: Ed. Studio Domenicano, 1995,
p. 75). Contudo, a esse respeito explica J.-P. TORRELL (Iniciação a Santo Tomás de Aquino, São Paulo:
Loyola, 2004, p. 63): “Seguindo sugestão de Mandonnet, até hoje todos viam nesse segundo texto a aula
inaugural de Tomás, ao iniciar seu ensino de bacharel bíblico em Paris, em 1252. Ora, conforme vimos,
ao que tudo indica Tomás jamais exerceu esse posto em Paris; portanto, não pôde ter pronunciado esse
discurso na referida ocasião. Daí a proposição de Weisheipl de ver nesse segundo discurso o que Tomás
teria pronunciado no dia de sua resumptio [primeiro dies legibilis seguinte a inceptio]. Esse texto revela-
se uma continuidade bastante clara do principium [Rigans montes] acima analisado, que ele completa
e prolonga, e podemos desse modo ter uma idéia mais precisa do que se passou em setembro de 1256,
por ocasião da entrada em regência de Tomás”. Weisheipl, por sua parte, nega que exista uma inceptio
para o cargo de Bacharel bíblico e confirma também a continuidade temática do Rigans montes com o
Hic est liber. O primeiro trata da sublimidade da Doutrina sagrada transmitida sabiamente do mestre
aos discípulos; já o segundo trata da autoridade, imutabilidade e utilidade da Sagrada Escritura. Por fim,
reitera que “estes dois discursos devem ser lidos em união de um com o outro e como parte integral
da cerimônia inaugural” (WEISHEIPL, J.A. Friar Thomas d’Aquino. His life, thought, and Work. New
York: Doubleday, 1974, p. 104 - trad. nossa). Por fim, este autor afirma que o Hic est liber teria sido
proferido em abril ou maio de 1256 em Paris (e não em 1252).
2) Original: Hic est liber mandatorum Dei, et lex quae est in aeternum: omnes qui tenent eam pervenient ad
vitam.
3) Original: Commendatione Sacrae Scripturae. Não traduziremos aqui a segunda parte do discurso
chamada Partitione Sacrae Scripturae.
4) De doctrina christiana, IV, c. 12 in Corpus scriptorum ecclesiasticorum latinorum (CSEL), vol. 80, ed.
W. M. Green, 1963, p. 185.
5) Inspirado em Cícero. Cfr. De oratore, I, 130. in Bibliotheca scriptorum graecorum et romanorum
Teubneriana (BT), vol. 3, ed. K. Kumaniecki, 1995, p. 50.
da Escritura contém plenissimamente estas três coisas. Pois ela ensina firme-
mente com sua verdade eterna: Eternamente, Senhor, permanece a tua pala-
vra (Sl 118 [119] 89-90). Deleita suavemente por sua utilidade: Quão doces
são vossas palavras para o meu paladar (Sl 118 [119], 103). E convence efi-
cazmente por sua autoridade: Não é minha palavra como fogo, diz o Senhor?
(Jr 23, 29).
Por esta razão, a Sagrada Escritura no texto proposto é louvada por três
motivos: primeiro, pela autoridade através da qual comove, dizendo: Este é
o livro dos mandamentos de Deus; segundo, pela verdade eterna com a qual
instrui, ao dizer: e a Lei que subsiste eternamente; terceiro, pela utilidade que
atrai, ao dizer: Todos os que a guardam alcançarão a vida.
6) Este trecho é retomado constantemente por S. Tomás em suas obras como princípio de sistematização
teológica e cristológica (cfr. BIFFI, I. I misteri di Cristo in Tommaso d’Aquino. Milão: Jaca Book, 1994,
p. 40).
7) Biffi (op. cit., p. 40) nota como S. Tomás fala indiferentemente de “Sagrada Escritura” (sacra Scriptura)
e de “Sagrada doutrina” (sacra doctrina).
8) Biffi (op. cit., p. 41) nota que a sucessão graça-justiça-glória se encontra também no prólogo de S.
Tomás a Lectura in Galatas (in Marietti, p. 563) onde se fala de “renovatio per novitatem gratiae, seu
Veritatis praesentiae Christi”, da “renovatio per novitatem iustitiae” e da “renovatio per novitatem
gloriae”.
O segundo volume do livro “Jesus do (cf. Dei Verbum, n. 12), sem descui-
de Nazaré”, do Papa Bento XVI, veio dar o auxílio da investigação histórica,
a lume recentemente, confirmando a semântica e arqueológica.
grande expectativa causada pelo anún- O estilo do livro é habitualmente
cio de sua iminente publicação. Foram já um reflexo da disposição de espírito do
vendidos cerca de um milhão de exem- autor. Assim, singeleza e sabedoria ins-
plares da obra, editada em sete línguas. piram a pena do Papa, sempre aberto ao
A versão em português do Brasil chegou diálogo crítico e construtivo com a exe-
às livrarias em maio de 2011, por meio gese histórica, mesmo quando se apre-
da editoria Planeta. senta impregnada de positivismo, mos-
O autor, com a fineza de pensamento e trando seus limites e explorando seus
o acurado rigor científico que o caracteri- contributos ao estudo das Escrituras.
zam, apresenta uma Cristologia viva, pro- O livro, com efeito, é convidativo e
funda e enriquecedora a partir dos mis- atraente. Lê-se com paixão e amenidade,
térios da vida de Jesus, desde “a entrada sendo difícil deter a leitura. Não se desti-
em Jerusalém até a Ressurreição”. A obra, na exclusivamente ao estudo de técnicos
porém, não adoece da frieza acadêmica de e especialistas. Nas suas páginas encon-
um estudo técnico e exaustivo. O propósi- tra-se uma mensagem acessível ao públi-
to de Bento XVI é claro: partindo da exe- co católico e cristão em geral. O Carde-
gese histórico-crítica e de seus resultados, al Marc Ouellet, por ocasião da apresen-
vai mais longe, de modo a chegar à inter- tação da obra na Sala Stampa do Vatica-
pretação teológica. Este passo é decisivo, no, em doze de março deste ano, definiu
pois, se a árvore da exegese não dá bons “Jesus de Nazaré” como “um testemunho
frutos na área da Cristologia, corre o risco comovente, fascinante, libertador”. 1
de tornar-se teologicamente estéril. Pelo prestígio do autor e sua capaci-
Trata-se, portanto, de procurar res- dade de comunicação, a obra pressagia
saltar o autêntico valor de uma exege- uma nova aurora na exegese bíblica, por
se verdadeiramente católica, inspirada
pelo sincero desejo de aprofundar à luz 1) Disponível em: <http://www.radiovaticana.org/
portuguese/noticiario/2011_03_11.html#gr1>.
da Fé a verdade contida no texto sagra-
Último acesso a 2 jun. 2011.
lho de João: “Não vos deixarei órfãos. tão esquecida nestes tempos de indivi-
Voltarei a vós” (Jo 14, 18). Ao subir ao dualismo imprevidente: “A sonolência
Céu, Jesus “foi”, mas ao mesmo tempo dos discípulos continua sendo uma oca-
“veio”, e sua presença fortalece os dis- sião propícia para o poder do mal”.
cípulos de maneira especial. Com isso, Reflexiona também sobre a surpreen-
esclarece-se o mistério a respeito da dente combinação entre a douta erudi-
cruz, da ressurreição e da ascensão. ção e a profunda ignorância dos estudio-
Após oferecer a síntese da mensa- sos apoiados sobre um saber que se pre-
gem nuclear e central da obra e em razão tende autossuficiente, incapaz de trans-
da impossibilidade de esgotar a sua formar o homem. Desta forma, inter-
riqueza, serão destacados outros temas pela o leitor com agudeza, indagando-o
importantes nela tratados. acerca da verdade e daquilo que muitas
Ratzinger oferece um contribu- vezes a ela se opõe: nós, o nosso saber, e
to à ética cristã definindo sua essência. a fuga à dolorosa verdade.
Para ele, a Lei de Moisés oferecia ao Desde o ângulo da exegese históri-
homem um caminho de verdadeira per- ca, a obra traz contributos muito interes-
feição, mas com a Encarnação do Filho, santes, como por exemplo, a datação da
na kenosis misericordiosa, manifesta- última ceia de Jesus. Os sinóticos afir-
-se o perfil do verdadeiro cristão. Amar mam que a última ceia foi a ceia de Pás-
como Cristo amou, eis a nota fundamen- coa; São João a situa na parasceve, vés-
tal da moral cristã. E só mediante a par- pera da Páscoa. Como resolver a aparen-
ticipação pessoal na vida de Jesus é-nos te contradição? Depois de um acurado
comunicada sua ardentíssima caridade. estudo, Ratzinger mostra a idoneidade
As reflexões teológicas da obra ilu- cronológica da narração joanina e apon-
minam de forma especial a vida espiri- ta para a concordância de fundo entre as
tual cristã. O verdadeiro teólogo deve duas tradições. Jesus no cenáculo não
ser um homem de Fé vivida e, em conse- teria celebrado a páscoa judaica, mas a
quência, pode oferecer reflexões de alto sua própria Páscoa.
teor espiritual. Ao estudar, por exemplo, Em síntese, o Santo Padre trata com
a figura de Judas, o traidor desesperado, maestria e par cœur daquilo que conhe-
incentiva a prática da virtude da Espe- ceu e amou na Pessoa de Jesus, com uma
rança na misericórdia do bom Mestre, ciência — como ele mesmo explica —
focalizando o arrependimento de São que cria comunhão com o conhecido. A
Pedro, o traidor arrependido. mensagem de seu trabalho é, sem dúvi-
Não menos oportunas são as refle- da, a mesma de Jesus: “Que Te conheçam
xões — a propósito da oração de Jesus a Ti, o único Deus verdadeiro, e Aquele
em Getsêmani e da sonolência dos dis- que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17, 3).
cípulos — sobre a virtude da vigilância, Pe. Carlos Werner Benjumea, EP
Teologia Bíblica