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22/09/2017 Instituto Humanitas Unisinos - IHU - Ataques a religiões de matriz africana fazem parte da nova dinâmica do tráfico no rio

Ataques a religiões de matriz africana fazem parte da nova


dinâmica do tráfico no rio


21 Setembro 2017

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“Todo o mal tem que ser desfeito, em nome de Jesus”, diz um traficante, ordenando que uma yalorixá
destrua as imagens do seu terreiro em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, divulgado na quarta-feira
(13). Em outro vídeo que circula nas redes sociais, um homem “lembra” a um pai de santo que o chefe não
quer macumba no local: “É só um diálogo [segurando um taco de baseball escrito diálogo] que eu tô tendo
com vocês. Da próxima vez eu mato”, diz. As cenas absurdas são uma amostra de uma onda de ataques a
terreiros de umbanda e candomblé comandados por traficantes que seguem acontecendo no Rio de
Janeiro.

Até o momento, só em setembro, foram oito casos registrados apenas em Nova Iguaçu. O Disque 100,
serviço de denúncias de violações de direitos humanos do Governo Federal, recebeu, entre 2011 e 2016,
175 denúncias de intolerância religiosa no estado – 10% do total no país. Há relatos de ataques e
perseguições em toda a Região Metropolitana. No Rio, traficantes proíbem a prática das religiões e o uso
de roupas brancas, levando filhos de santos a deixarem as favelas. Na Cidade Alta, após a troca de
comando no morro em novembro do ano passado, imagens de santos foram retiradas de comércios locais.

Os casos mencionados aconteceram em lugares dominados pela mesma facção criminosa, o Terceiro
Comando Puro. As investigações correm em sigilo e parte dos envolvidos já foi identificada. Como
resposta ao crescente número de casos de intolerância, a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança
Pública acenam com a criação de uma delegacia especializada até o fim do ano.

A conversão religiosa dos “homens do tráfico” não é um fenômeno novo, e esse tipo de perseguição acontece
há mais de 10 anos nas favelas cariocas. Para ajudar a entender essa dinâmica em que traficantes que se
denominam evangélicos tentam combater outras religiões nos territórios que dominam, conversamos com a
professora de sociologia da UFF e autora do livro Oração de traficante: uma etnografia Christina Vital da
Cunha, que pesquisa o tema há 23 anos.

A entrevista é de Juliana Gonçalves, publicada por The Intercept Brasil, 20-09-2017.


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22/09/2017 Instituto Humanitas Unisinos - IHU - Ataques a religiões de matriz africana fazem parte da nova dinâmica do tráfico no rio

Eis a entrevista.
Por que é comum que traficantes busquem ajuda religiosa?

Tanto policiais quanto traficantes, sempre estão no limite. Então, buscam proteção na religião. O salmo 91
é usado por policiais e traficantes, por exemplo. Assim como São Jorge foi e ainda é. O que acontece com
essa proximidade mais recente dos traficantes com esse universo evangélico é que a igreja se apresenta como
uma rede que os auxilia em diferentes questões da vida, como a preparar a saída do tráfico. O que os
pastores chamam de libertação de traficantes.

Como aconteceu essa aproximação com os evangélicos?

A primeira coisa que a gente tem que pensar quando vai se analisar essa situação é que os traficantes são
formados em um caldo cultural que é comum hoje às pessoas de favelas e periferias. Eles sempre são
produto de um meio. A gente vem observando com o passar das décadas, sobretudo dos anos 1990, um
crescimento muito expressivo no número de templos religiosos evangélicos. Muitos deles são de famílias
evangélicas, então já foram educados com referencial religioso. Somado a isso, os pentecostais têm por
característica a realização de missões com grupos marginalizados, entre eles os traficantes, oferecendo rede
de proteção espiritual, psicológica e também material. Isso tem efetividade nessas localidades, assim como
no sistema prisional.

O pastor Marcos Pereira teve grande influência sobre a conversão de vários chefes do tráfico, a partir da
ação dele nos presídios. Mas não só ele, traficantes convertidos, a Universal do Reino de Deus e a
Assembleia de Deus também participam dessas ações em favelas e periferias.

Como os líderes religiosos enxergam esses traficantes que se denominam evangélicos?


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Há muitos nessa comunidade moral que é a comunidade religiosa, que negam o pertencimento do traficante,
pois ele não pode dizer que é evangélico porque ele não tem uma conduta correta. Dizem que eles estão em
um processo. Tem muita gente séria que leva a palavra de Deus a essas pessoas, pois acreditam que elas
podem e devem se libertar. Mas também tem os que usam o dinheiro do tráfico. A coisa é complexa e tem de
tudo.

A figura de traficantes evangélicos é exclusiva do Terceiro Comando Puro - TCP?

Nos anos 2000, houve a conversão de um dos chefes do Terceiro Comando. Essa conversão atualiza
comportamentos no crime. Havia uma orientação que levava a menos confrontos, menos mortes e também
se referia às sucessões na hierarquia do tráfico baseada em uma visão que uma pessoa teve na igreja. A partir
daí, traficantes de lugares diferentes da hierarquia do crime passam a se vincular ao universo religioso e ter o
comportamento orientado por esse conjunto de valores evangélicos.

Agora, não podemos afirmar que todo traficante evangélico pertence a uma única facção. É verdade que os
casos midiatizados nos últimos dias são em localidades da mesma facção. Mas, por exemplo, no Complexo
da Maré [no Rio], na parte do território do Comando Vermelho é comum as pichações com salmos e
orações nas paredes. É algo que faz parte da cultura da periferia.

Em que momento as religiões de matriz africana passam a ser perseguidas?

Existem líderes religiosos que incentivam a partir dos seus discursos nas igrejas atos de combate a inimigos
espirituais e terrenos. Isso é uma prática que não acontecem só em igrejas de denominação única
[independentes] em favelas e periferias. Isso acontece também com lideranças que estão aparecendo na
mídia, e a gente vai encontrar isso em diferentes denominações e camadas sociais.

A partir da valorização de uma teologia do domínio, insuflam o combate ao inimigo, o combate das forças do
bem contra o mal. E o mal está localizado em determinados símbolos, signos, grupos, religiões e
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22/09/2017 Instituto Humanitas Unisinos - IHU - Ataques a religiões de matriz africana fazem parte da nova dinâmica do tráfico no rio
bem contra o mal. E o mal está localizado em determinados símbolos, signos, grupos, religiões e
comportamentos que devem ser combatidos com ações enérgicas em perspectivas violentas.

A gente vai acompanhando os efeitos negativos na sociedade em geral, como a menina Kaylane, que levou
uma pedrada em 2015. Agora a gente vê com mais frequência essa ação dos traficantes, mas já tem pelo
menos dez anos de perseguição e constrangimento em relação a religiões afrobrasileiras nas favelas.

Por que agora os ataques se tornaram constantes e são divulgados pelos próprios traficantes?

Isso começa a sair do controle dos líderes religiosos e passa a ser como um código entre os traficantes. Um
modo de comportamento que é divulgado como um modo de demonstrar força e domínio. E acaba
viralizando na facção, em parte tem a ver com o estímulo de liderança religiosa, mas, também, tem relação
com a própria dinâmica do tráfico. É uma demonstração de poder que se expressa no combate a esses
religiosos que representam o mal dentro da favela. Trata-se de mais uma modalidade de violência.

O que pode ser feito contra essa perseguição?

É muito importante que esses casos sejam midiatizados. A pessoas precisam procurar meios de falar sobre
isso. Campanhas que criem estigmas em relação aos intolerantes e ações do estado em diferentes frentes são
necessárias para que esse ataques parem.

Leia mais
Sementes ao vento: a diáspora das religiões brasileiras no mundo. Revista IHU On-Line, Nº. 424
Religiões e religiosidades, hoje. Significados e especificidades. Revista IHU On-Line, Nº. 407
Sabedoria, mística e tradição: religiões chinesas, indianas e africanas. Revista IHU On-Line, Nº. 309
Adeptos de umbanda e candomblé pedem inquérito contra Universal e ‘Gladiadores do Altar’
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 Christina Vital Cunha

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