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QUATRO ASPECTOS
QUATRO ASPECTOS
ÉTICA nO SERVIÇO PÚBLICO, COnTRATOS,
FInAnCIAmEnTO ELEITORAL E COnTROLE
Belo Horizonte
2014
© 2014 Editora Fórum Ltda.
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www.editoraforum.com.br – editoraforum@editoraforum.com.br
348 p.
ISBn 978-85-7700-927-5
CDD: 341.3
CDU: 342.9
PREFÁCIO
ALGUnAS REFLExIOnES SOBRE CORRUPCIÓn Y ÉTICA DEL
BIEn COmÚn
Prof. Dr. D. Pedro Tomás Nevado-Batalla Moreno......................................... 21
CAPíTULO I
InTRODUÇÃO ................................................................................................... 31
1.1 Contextualização do problema ............................................................ 31
1.2 Objetivos gerais ...................................................................................... 32
............................................................................. 33
1.4 Abordagem geral ................................................................................... 33
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO ...................................................................................................... 39
2.1 Corrupção nos dicionários ................................................................... 42
2.2 Ciências sociais e a corrupção .............................................................. 44
2.3 Corrupção e as leis penais .................................................................... 47
2.3.1 O direito penal internacional ............................................................... 52
2.4 Corrupção na perspectiva internacional ............................................ 54
2.4.1 Cooperação internacional para combater a corrupção .................... 55
2.4.2 Organização dos Estados Americanos (OEA) ................................... 57
2.4.3 União Europeia e a corrupção .............................................................
2.4.4 OCDE e as recomendações aos setores público e privado ..............
2.4.5 A Convenção da OnU ..........................................................................
2.5 A economia e a corrupção ....................................................................
2.5.1 Causas econômicas da corrupção........................................................
2.5.2 Consequências da corrupção na economia ........................................
...........................................................
......................................................... 70
................................................. 71
2.7 Corrupção na opinião popular ............................................................
2.7.1 Opinião pública...................................................................................... 77
2.7.2 A cor da corrupção na visão popular.................................................. 78
2.8 Corrupção pública ................................................................................. 81
2.8.1 Corrupção política ................................................................................. 84
2.8.1.1 Caso Collor ............................................................................................. 85
2.8.1.2 CPI do orçamento ..................................................................................
2.8.1.3 núcleos de poder e esquemas descobertos........................................ 87
2.8.1.4 Esquema das empreiteiras.................................................................... 90
2.8.1.5 Subvenções sociais ................................................................................. 91
................................................................................ 92
..................................................................... 93
.......................................... 93
........................... 94
...................................................................... 95
..............................................................
........................................................... 97
2.8.2 Corrupção administrativa e improbidade ......................................... 98
2.8.2.1 Sanções por improbidade ................................................................... 109
2.8.2.2 Improbidade e crimes dos Prefeitos ................................................. 109
........................................................................................ 110
2.8.2.4 Crimes e infrações na Lei de Licitações ............................................ 112
2.8.3 Corrupção eleitoral .............................................................................. 114
2.8.3.1 A Lei da Ficha Limpa .......................................................................... 119
2.8.3.2 Fraudes em eleições............................................................................. 122
.............................. 123
2.8.3.4 Conferência nacional dos Bispos do Brasil ..................................... 124
2.8.3.5 movimentos regionais ........................................................................ 125
CAPíTULO III
ÉTICA ................................................................................................................... 185
......................................................................
3.2 Ética aristotélica ...................................................................................
3.3 Ética em Kant ....................................................................................... 187
....................................................................... 187
3.5 A invenção e o renascimento da ética ............................................... 188
....................................................................................... 189
3.7 Ética e a economia ............................................................................... 189
3.8 Exclusão e justiça social ...................................................................... 190
3.9 Ética e o meio ambiente ...................................................................... 190
3.10 Ética, Administração e política .......................................................... 191
.................................................................................. 195
3.11.1 Ética dos médicos ................................................................................ 195
3.11.2 Ética dos advogados ............................................................................ 197
3.11.3 Ética dos jornalistas ............................................................................. 198
3.11.4 Ética no serviço público ...................................................................... 200
3.11.4.1 Conduta da Alta Administração........................................................ 207
3.12 Ética no plano internacional............................................................... 209
3.12.1 Código de Ética da InTOSAI ............................................................. 212
3.13 Ética nos negócios privados ............................................................... 213
3.13.1 Código Olivencia e Informe Aldama ................................................
3.13.2 Boa governança no Brasil ................................................................... 217
CAPíTULO IV
DEmOCRACIA, ELEIÇõES E CORRUPÇÃO ........................................ 221
4.1 Democracia ........................................................................................... 222
4.2 Financiamento dos partidos políticos ............................................... 223
4.3 Financiamento nas Américas Central e do Sul ................................ 225
4.4 Financiamento público........................................................................ 228
4.4.1 Fundo Partidário .................................................................................. 234
4.5 Financiamento privado ....................................................................... 235
............................................................ 237
4.7 Campanhas eleitorais e limites .......................................................... 238
4.8 Os custos indiretos das eleições......................................................... 239
CAPíTULO V
COmPRAS GOVERnAmEnTAIS E COnTRATOS ............................. 243
5.1 Os contratos na Administração Pública ........................................... 245
5.2 Conceitos do contrato administrativo .............................................. 247
5.3 O ciclo da contratação pública ........................................................... 249
5.4 Atos iniciais .......................................................................................... 251
5.5 O edital de licitação ............................................................................. 252
...................................................................... 253
5.7 Tipos de licitação .................................................................................
5.8 Defeitos e impropriedades do edital................................................. 258
5.9 Controle dos contratos .......................................................................
5.10 Caminhos da corrupção nos contratos ............................................
5.10.1 Contrato de obras e serviços ..............................................................
5.10.2 Uma pesquisa pioneira na Alemanha...............................................
.......................................................................................
5.11 Preparação da licitação .......................................................................
CAPíTULO VI
COnTROLE........................................................................................................ 271
............................................................................... 272
............................................................... 277
................................................. 278
............................................................ 279
........................................................................ 279
a posteriori ............................................................................. 280
..... 281
............................. 282
....................................................................... 283
.............................................. 283
...................................................................
............................. 287
................................. 290
........................................................ 291
............................................................. 293
............................................................................
.......................................................................... 298
........................................................... 299
............................................................... 300
.......................................................................... 301
.......................................................... 302
.................................................... 303
................................................................. 304
...................................................................................... 307
CAPíTULO VII
COnSIDERAÇõES FInAIS .......................................................................... 313
7.1 O que é a corrupção? ........................................................................... 313
7.2 Como e onde existe? ............................................................................ 317
7.3 Quais as causas?................................................................................... 319
7.4 Consequências...................................................................................... 321
7.5 Pode ser medida? ................................................................................. 323
Dinheiro
FCPA Foreign Corrupt Practices Act
FECOmÉRCIO-RJ Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro
FIA-USP Fundação Instituto de Administração da Universidade de
São Paulo
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FIFA Federação Internacional de Futebol
FmI Fundo monetário Internacional
FnA Federação nacional dos Arquitetos e Urbanistas
FUnDASP Fundação São Paulo
GAECO Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado
GD Grupo Deliberativo
GRECO Grupo dos Estados contra Corrupção
GT Grupo Técnico
IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
ICC Indicador Agregado de Controle da Corrupção
IDH índice de Desenvolvimento Humano
IPC índice de Percepção da Corrupção
IRB Instituto Rui Barbosa
LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias
LOA Lei Orçamentária Anual
LRF Lei de Responsabilidade Fiscal
PF Polícia Federal
PIB Produto Interno Bruto
PL Partido Liberal
PmDB Partido do movimento Democrático do Brasil
Pmn Partido da mobilização nacional
PP Partido Progressista
PPA Plano Plurianual
PPC Produto Per Capita
PR Partido da República
PRE Procuradoria Regional Eleitoral
PROmOEx Programa de modernização dos Órgãos de Controle Externo
PSC Partido Social Cristão
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dos Trabalhadores
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
clientelismo “
burocracia política llega a ejercer frente a quienes desarrollan funciones
vinculadas a la contratación pública.
1
Pueden consultarse, entre otros, los trabajos “La corrupción en la España democrática” y
“El desgobierno de lo público”.
Salomão RibaS JUnioR
24 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
propio?
¿Qué razonamiento desarrollan un grupo de Diputados para
dejarse sobornar?
¿Por qué el Presidente de una Comunidad Autónoma o un Estado
federal con un currículo impecable tanto político como profesional
opta por descuidar sus obligaciones como garante del interés genera
en provecho propio?
Todos estos casos y otros cientos que podría mostrarnos el
mapa judicial que trazan las sentencias (generalmente penales y las
causas abiertas aún sub iudice) tienen además el denominador común
de mostrar una corrupción, llamémosla, grosera, de poca elaboración
(si es que se puede admitir algún desarrollo intelectual o técnico en la
materia, en todo caso, reprochable y de necesaria proscripción) que
incluso atenta la inteligencia o conocimientos medios de cualquier
ciudadano. Es, en muchas ocasiones, un proceder sin empacho de
simple saqueo de fondos, muy habitualmente públicos, tan burdo que,
2
mARTIn-RETORTILLO BAQUER, L.: “Crisis económica y transformaciones administra-
Salomão RibaS JUnioR
28 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
InTRODUÇÃO
número de pessoas.
A pesquisa envolveu consulta ao mais variado material dispo-
1
Programa de modernização dos Órgãos de Controle Externo do Brasil. Desenvolvido
pelos Tribunais de Contas (através de suas associações: ATRICOn, ABRACOn e IRB) com
2
Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo.
Salomão RibaS JUnioR
34 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
volvimento da obra.
É indispensável reconhecer o papel da imprensa brasileira e de
outros países no levantamento de dados e informações sobre fraudes em
geral, crimes contra a Administração Pública e a corrupção em especial.
Entre os documentos informativos e técnicos pesquisados
destacam-se os Relatórios de Auditorias dos Tribunais de Contas e os
de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) da Câmara e do Senado
do Senado Federal. na mesma linha as investigações sobre a corrupção
realizadas pelo ministério Público e pela Polícia Federal.
no âmbito do controle interno foram importantes para o trabalho
os documentos da CGU,3 bem como no âmbito do controle social o
trabalho de entidades não governamentais que atuam no combate
3
Controladoria Geral da União (Governo Federal do Brasil), órgão central dos sistemas de
controle interno e de transparência da gestão governamental.
CAPíTULO I
InTRODUÇÃO
35
privada.
Para esta pesquisa considera-se a corrupção pública como
gênero do qual são espécies: (i) a corrupção política; (ii) a corrupção
administrativa e (iii) a corrupção eleitoral. Poder-se-ia destacar outras
espécies, mas o objetivo desta obra é estudar o fenômeno sob quatro
aspectos concretos:
a) ética dos servidores públicos;
b) contratação pública;
d) controle da Administração.
O outro gênero do fenômeno é a corrupção privada cujos estudos
são mais recentes e inovadores. É onde avultam aspectos da ética nos
negócios, do lobby e governança corporativa.
Uma das subsecções cuida da corrupção quando atinge carac-
terísticas endêmicas. Isto é, quando há constância e a multiplicidade
crescente de setores onde há rompimento de regras legais ou de conduta
ética. Esta última também passa a ser pesquisada na medida em que
é invocada para prevenir e mesmo combater as condutas corruptas.
internacionais.
CAPíTULO I
InTRODUÇÃO
37
CORRUPÇÃO
Só parou porque foi advertido por seu orientador, o qual lhe mostrou
que, daquela forma, não concluiria nunca seu trabalho.
Ainda assim, não custa retomar os conceitos em tempos mais
remotos. Isto é importante não só por preciosismo histórico, mas porque
ajuda a compreender porque certas práticas antigas continuam sendo
democráticas consolidadas.
na antiguidade, a ideia de corrupção era vista como manifes-
tação nos corpos físicos, inclusive nos de origem animal. Falava-se de
“corrupção do cadáver”, com o início da putrefação.
mais tarde, com os primeiros pensadores, associou-se esse estágio
5
ALATAS. Corrupção: a sua natureza, causas e função, p. 90.
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
41
8
FERREIRA. Novo Aurélio século XXI
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
43
corrupción.
(Del lat. ).
1. f. Acción y efecto de corromper.
2. f. Alteración o vicio en un libro o escrito.
3. f. Vicio o abuso introducido en las cosas no materiales. Corrupción de
costumbres, de voces.
4. f. Der. En las organizaciones, especialmente en las públicas, práctica
consistente en la utilización de las funciones y medios de aquellas en
provecho, económico o de otra índole, de sus gestores.
corrupción
1 Acción y resultado de corromperse una sustancia o materia orgánica:
las altas temperaturas aceleraron la corrupción del cadáver.
2 Alteración, tergiversación: es una corrpción del guión original.
3 abuso, mal uso o exceso: se escandalizaron ante lo que consideraban una
corrupión de las costumbres.
4 Soborno, delito: varios miembros del parlamento fueron sospechosos de
corrupción.
5 Acción de incitar o forzar a una persona a realizar actos contrários a
la moral o a la ley: está acusado de la corrupción de un menor.
sobretudo, numa ênfase maior ou menor dada por cada um dos autores
a aspectos do fenômeno que nos outros não estão ausentes mas tem um
9
BEZERRA. Corrupção: um estudo sobre o Poder Público e relações pessoais no Brasil, p. 13.
10
BOBBIO; mATTEUCCI; PASQUInO. Dicionário de política, p. 291.
Salomão RibaS JUnioR
CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
11
Op. cit., p. 292.
12
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
47
13
BOBBIO; mATTEUCCI; PASQUInO. Dicionário de política, p. 292.
Salomão RibaS JUnioR
48 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
14
perversão s.f 1 ato ou efeito de perverter(-se) 2 condição de
corrupto, de devasso 3 mudança do estado normal <p. da audição> 4 PSICOP obsl.
termo que designa desvios do comportamento e das práticas sexuais normais ou assim
consideradas * ETIm ‘transposição ou inversão (da construção no estilo);
17
vantagem ilícita qualquer a um in que
outras.
caso de má gestão, mas caracterizado como infração penal. Diz o art. 315
17
ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a
oito anos, e multa (BRASIL, 2012c).
18
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
51
19
Está claro que não se está
art. 319 do Código Penal (BRASIL, 2012c) como sendo a ação de “retar-
dar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal”, caso muito comum quando se trata de atender ilegalmente
interesse de empreiteiras ou outros fornecedores do Estado.
(BRASIL, 2012c).
Salomão RibaS JUnioR
52 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
20
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transito-
riamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
21
Según un estudio publicado por la OCDE en mayo de 1977, amén de la Foreign Corrupt
legislación entonces vigente en ciertos Estados — Canadá, Corea del Sur, Grecia, Hungría,
méxico, nueva Zelandia, Reino Unido, Suecia, Turquia — podría servir para castigar,
siquiera parcialmente, la corrupción de funcionarios extranjeros, SALAZAR, Lorenzo:
italiana), Cassazione Penale, vol. xxxVIII (mayo 1998), p. 1529 (n. 1) y 1535 (24).
Salomão RibaS JUnioR
54 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
más atractiva para el gran público, sino que debemos analizar los males
más graves y profundos que lo generan y retroalimentan, y las posibles
alternativas en cuanto a su erradicación. (GARCIA; CAPARRÓS, 2000,
p. 73)
oC
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
57
22
Accountability
sentativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados; respon-
sabilização (tradução livre).
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
Foreign
Corrupt Practices Act
esforços para que todos os países adotassem os princípios da lei
corrupção. Sob esse ângulo, deve-se anotar que a economia olha os fenô-
menos econômicos em geral sob a ótica macroeconômica e sob a ótica
microeconômica. no primeiro caso, observa-se a economia regional ou
nacional como um todo. Há de se lembrar de que os estudos sob essa
Tem-se que a
eleitorais.
política e econômica.
Salomão RibaS JUnioR
70 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Bobbio et al.
nepotismo como espécie de corrupção:
outras áreas;
o dinheiro;
13. Trocar o voto a favor do governo por um cargo para familiar ou
amigo. (IBOPE, 2012)
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
75
ter uma corrupção negra, cinza ou branca. Esses conceitos são extraídos
da maior ou menor sintonia entre o enunciado da norma e o sentimento
da pessoa ou da sociedade diante do mesmo fato. no primeiro caso, há
coincidência entre um e outro. no segundo, há coincidência parcial e,
Salomão RibaS JUnioR
CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
das pessoas comuns, das pessoas nas ruas. As pessoas têm no seu
sentir ou perceber uma clara noção do certo e do errado. Essa noção é
formada pela educação e pela formação moral e religiosa. A educação23
se processa no seio da família e na sociedade, por meio de uma clássica
instituição: a escola. Essa tal noção, contudo, não estabelece nítidas
distinções entre práticas, como faz o Código Penal. Quase todas as
fraudes e condutas de rompimento com regras de obediência gene-
ralizada são compreendidas como corrupção. É possível que, na ima-
ginação coletiva, a palavra corrupção tenha origem no termo latino
“rumpere” (TAnZI, 1998, p. 559), daí a generalização. Assim, esse
rompimento como indicador da corrupção na opinião comum está
sempre associado a juízos de valor de ordem moral. E, outras vezes, a
uma percepção de natureza ética do necessário equilíbrio para se viver
em sociedade. É corrupto o juiz que decide contra a lei, é corrupto o
árbitro de futebol que decide contrariamente ao clube de preferência.
A palavra usada é outra: ladrão,24 mas o sentimento é de que não
houve um simples erro ou tendência clubística. Parece, sim, que houve
23
Educação – Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da
tais atos.
Finalmente, há a corrupção cinza, quando uma parte da socie-
dade quer e a outra não. É o caso da prostituição, venda de bebidas
para menores de 18 anos e embriaguez ao volante.
Talvez para tornar menos repulsivas as práticas que desviam
recursos do patrimônio público para benefício privado é que, na
linguagem popular, há tantas expressões para designar o mesmo
fenômeno. E algumas delas até são simpáticas. na opinião pública, a
a) Legalidad.
b) Imparcialidad, orientado la actividade siempre hacia el interés
general.
c) Servicio y proximidad al ciudadano, informando cumplida y adecua-
damente sobre sus derechos.
d) Responsabilidad individual del servidor público.
da corrupção pública pela natureza dos seus agentes e por seu objeto.
A origem dos bens, vantagens ou dinheiro objeto de vista servem para
esclarecer mais de que se trata.
Corrupção, Estado Democrático
de Direito
Concussão
esse tipo de ato como corrupção. O que não impediu, como se viu em
capítulos anteriores, o alargamento do conceito e a sua abrangência.
Como delimitador, o conceito economicista: transferência ilícita de
25
John Emerich Edward Dalberg-Acton, historiador britânico, 1834-1902.
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
85
Para que o poder não seja único, e por isso mesmo tendente a
se tornar absoluto, há uma divisão formal do poder político, como é
do orçamento
nada mais é que a utilização espúria do que é natural existir nas insti-
tuições: o núcleo de poder. O emprego do poder por um certo número
de pessoas, que constituam um centro decisório legitimado pela estru-
I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais. [...] (BRASIL, 2012b).
Executivo.
do que 30,2% do total das verbas. Assim é que foi possível nascer a sua
imensa fortuna, atribuída por ele a muita sorte na Loteria Esportiva.
(RIBAS JR., 2000, p. 222)
[...]
Transferências Correntes [...]
distinguindo-se como:
I - subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou
o que todo mudo faz” — o que mostra que se todo mundo procede
assim, mesmo contra a lei e a ética, não há mal em proceder da mesma
maneira. E essa declaração fez parte de um triste episódio com um
pronunciamento feito em Paris e veiculado no Brasil (LAGO, 2012).
Os crimes em apreciação
Os acusados listados acima responderão pelos crimes de: For-
mação de Quadrilha (1 a 3 anos); Corrupção Ativa (2 a 12 anos); Cor-
rupção Passiva (2 a 12 anos); Peculato (2 a 12 anos); Evasão de Divisas
ados
O volume de recursos usado para a compra de apoio político
Arruda (DEm).
Em 24 ações de busca e apreensão foram apreendidos R$700
mil reais, US$30 mil dólares, EU$5 mil euros e mais documentos,
mídias e computadores. no primeiro momento, evidenciou-se que
os principais suspeitos de corrupção vinham do governo anterior
(Joaquim Roriz — Partido Social Cristão — PSC). Também nesse caso,
o levantamento do véu começou por um ato bizarro. O Secretário de
Relações Institucionais, Durval Barbosa (servidor dos governos Joaquim
Roriz e José Roberto Arruda), resolve colaborar com a Polícia Federal em
Salomão RibaS JUnioR
98 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
está falando.
Para meirelles (2007), o próprio conceito de administração não
as seguintes:
27
Adverte-se o leitor de que se escreve sempre a expressão Administração Pública, com
maiúsculas, quando há a referência a pessoas e órgãos administrativos, e com minúsculas
Salomão RibaS JUnioR
100 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Administração Pública.
Salomão RibaS JUnioR
102 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
estabelecendo que,
disciplinamento.
apud
ZILVETI; LOPES, 2004, p. 151)
Salomão RibaS JUnioR
104 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
genericamente, corrupção
como “um desvio de conduta aberrante em relação ao padrão moral
consagrado pela comunidade. não apenas um desvio, mas um desvio
pronunciado, grave, insuportável”, e, , como “a conduta
de autoridade que exerce o Poder de modo indevido, em benefício de
interesse privado, em rota de uma retribuição de ordem material”.
Assim, para que se evite o perigo de uma administração corrupta
nesse sentido:
resse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação
ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação
valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de
serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equi-
damente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao
patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço
inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou
serviço por preço superior ao de mercado;
Salomão RibaS JUnioR
108 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
por até 10 anos e perda da função pública (Constituição Federal, art. 12).
De outra parte, anota martins Junior (2002) que há uma varie-
dade expressiva de meios e modos de combater a corrupção, a imo-
ralidade administrativa e a improbidade administrativa. São medidas
preventivas e punitivas, todas importantes para assegurar a boa gestão
dos negócios públicos.
28
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de: [...]
V
Salomão RibaS JUnioR
110 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei: Pena - reclusão, de
1 (um) a 4 (quatro) anos (BRASIL, 2012c).
do mandato ou da legislatura:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (BRASIL, 2012c)
tenham sido criados por lei ou sem que estejam registrados em sistema
centralizado de liquidação e de custódia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (BRASIL, 2012c)
do Brasil.
um milhão de assinaturas.
que reza:
Abuso. [Do lat. abusu.] S.m. 1. mau uso, ou uso errado, excessivo ou
injusto; excesso, descomedimento, abusão. 2. exorbitância de atribuições
ou poderes. 3. aquilo que contraria as boas normas, os bons costumes
[...]. (FERREIRA, 1999, p. 17).
Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as se-
guintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre
candidatos nos pleitos eleitorais:
I - ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coli-
(BRASIL, 2012i)
I - [...]
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções
torais;
c) transformar repartições públicas em comitês de determinados
partidos ou candidato;
d) condicionar o atendimento de pleitos administrativos a com-
promisso eleitoral; e,
f) uso promocional em favor de partido ou candidato da distri-
buição de bens e serviços sociais custeados pelo Poder Público.
Outra forma de corrupção ocorre na manipulação da arrecadação,
aplicação e prestação de contas de recursos para campanha eleitoral.
CAPíTULO II
CORRUPÇÃO
121
eleitor recebeu 50 reais para mudar o título; outros 50 reais seriam pagos
depois da eleição, em outubro. A Justiça descobriu a fraude e cancelou
as transferências. (Veja, 2012)
Rose-Ackerman (apud
que a “corrupção reduz a transparência dos mercados, impede a com-
29
Estabelecimento industrial ou comercial.
Salomão RibaS JUnioR
130 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
e medidas disciplinadoras.
na Europa, como veremos em seguida, a corrupção privada é
combatida por medidas da OCDE e da EU.
Es por eso que cobra cada vez más fuerza y sentido el estudio de la
corrupción en el sector privado, fruto de comportamientos desviados
por parte de los centros de poder y decisión (administradores y cargos
directivos laborales, como los factores o gerentes) de las empresas
privadas, generalmente con pryección pública (entidas y establecimentos
Artigo 12
Setor Privado
1. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais
de sua legislação interna, adotará medidas para prevenir a corrupção
e melhorar as normas contábeis e de auditoria no setor privado, assim
como, quando proceder, prever sanções civis, administrativas ou penais
dessas medidas.
Art. 30. A aplicação das sanções previstas nesta lei não afeta os processos
de responsabilização e aplicação de penalidades de correntes de:
1992; e
II - atos ilícitos alcançadas pelas normas de licitações e contratos da
Administração Pública, inclusive no tocante ao Regime Diferenciado de
lei penal, acaba por ser prejudicada. De qualquer maneira, esse Projeto
terá de iniciar sua tramitação formal.
objetivo de ser ouvido pelo poder público para informá-lo e dele obter
medidas, decisões, atitudes”.
E mais adiante, o mesmo autor estabelece dois sentidos principais
para o lobby:
“grupo de interesses é qualquer grupo social que [...] leva adiante certas
reivindicações, em relação a outros grupos sociais; [nesse sentido, os
grupos de interesses] são elementos de continuidade num mundo em
mudança” (TRUmAn apud
lobby. As mu-
danças na legislação eleitoral, ampliando as possibilidades de contri-
se sabe. no geral é a ação do lobby brasileiro sem lei, sem critério, sem
limites e sem ética.
O médico Antônio Palocci, depois de uma passagem discreta
pela Câmara Federal, cumpriria papel destacado na campanha da Sra.
Câmara Federal.
Antes de se tecer mais considerações sobre esse projeto, é
oportuno registrar que a questão do lobby foi exaustivamente exa-
minada pela tese de doutorado de Luiz Carlos dos Santos que trata
da “Regulamentação das atividades de lobby e seu impacto sobre as
relações entre políticos, burocratas e grupos de interesse no ciclo de
políticas públicas – Análise comparativa dos Estados Unidos e Brasil”
(SAnTOS, 2007).
A sua leitura esclarece que tramitaram ou tramitam no Con-
gresso nacional 7 (sete) Projetos de Lei (todos de origem parlamentar) e
30
DEBATE – O lobby deve ser legal?. Opção
lobby
a inclusão de verbas para obras inacabadas ou com irregularidades
(superfaturamento) apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
A Comissão Especial concluiu que uma das razões, se não a principal,
era a falta de regulamentação do lobby.
dessa natureza.
nos regimentos internos da Câmara e do Senado também se
encontram regras que admitem o lobby, ao mesmo tempo em que
estabelecem determinadas regras para sua atuação. A palavra lobby não
é empregada, mas a preocupação com o mecanismo de abertura para
a defesa de interesses é evidente.
Salomão RibaS JUnioR
150 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
ruralista.
Luiz Alberto dos Santos, citando Vigna, enfatiza que:
de
civil é oportuno registrar que isso não ocorre somente no Brasil. São
poucos os países com legislação clara e objetiva em relação ao lobby.
mesmo nos EUA, país onde o lobby tem papel destacado na política, na
administração e no “marketing,” a atualização das leis sobre a matéria
qualquer que seja a sua natureza, que seja dirigida por indivíduo ou
grupo de indivíduos, subordinados ou não a instâncias colegiadas e
que tenham interesse na adoção de determinada decisão administrativa.
lobby ou pressão como
sendo:
o Projeto:
Corrupção servir tão-só para que a elite mantenha o poder e, além disso,
os corruptores forem elementos externos ao sistema político nacional,
como no caso do colonialismo e neocolonialismo, é provável que seu
uso em larga escala crie, por um lado, tensões no seio das elites e, por
outro, provoque reações nas massas, reações ativas como demonstrações,
ou passivas como apatia e alheamento. De um modo geral, portanto, a
Corrupção é fator de desagregação do sistema. Em um sistema jurídico
profundamente formalista e burocratizado, a Corrupção pode, todavia,
contribuir para melhorar o funcionamento do sistema e para o tornar
mais expedito ao desbloquear certas situações. momentaneamente fun-
cional, principalmente quando os obstáculos de ordem jurídico formal
impedem o desenvolvimento econômico, a Corrupção é apenas um
num valor total de pelo menos 21,5 milhões de francos suíços (cerca de
Geral durante boa parte da longa gestão do Sr. João Havelange. Impos-
sível não saber desses negócios, muitos dos quais foram registrados na
contabilidade do organismo.
Apesar dessa circunstância, foi poupado pela Justiça da Suíça.
Curiosamente, os advogados da FIFA insinuaram preconceituosamente
que:
em geral.
1) Transportes
De acordo com a mídia, o partido do ministro dos Transportes,
2) Agricultura
Um pagamento irregular de R$8 milhões provocou a demissão do
Presidente da Companhia nacional de Abastecimento (COnAB), Oscar
Jucá, irmão do Senador Romero Jucá. O demitido resolveu contar o que
sabia sobre o esquema de corrupção, que teve início quando o ministro
3) Trabalho
Outro que teve de deixar o governo foi o Sr. Carlos Lupi (Par-
tido Democrático Trabalhista – PDT), ministro do Trabalho. Um grupo
agia de duas maneiras. Em uma, extorquia Organizações não Gover-
namentais (OnGs) com irregularidades na prestação de contas. Em
4) Turismo
Denúncia do jornal Folha de S. Paulo revelou que o ministro Pedro
5) Cidades
neste ministério, as denúncias de irregularidades e compra de
apoio político surgiram dos próprios quadros do partido do ministro
1. Obras
1. Com a conivência de agentes públicos, empresas se unem e fraudam
licitações para escolher que vai executar uma determinada obra;
(ROCHA, 2012)
2. Eventos
4. Emendas parlamentares
1. Deputados e senadores incluem no Orçamento da União propostas
para direcionar gastos do governo federal;
2. Os parlamentares negociam com o Palácio do Planalto a liberação do
d
Salomão RibaS JUnioR
CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
5. ONGs
6. Contratos de publicidade
1. Os editais são direcionados para escolher determinadas empresas;
se os desvios.
7. Consultorias
1. Órgãos do governo usam o critério subjetivo da “notória especiali-
zação” para contratar empresas de consultoria sem fazer licitação;
2. A consultoria pertence a pessoas ligadas ao político;
3. O serviço nem é executado ou é feito sem nenhum rigor;
4. A empresa de consultoria recebe o pagamento e repassa o dinheiro
aos políticos ou agentes públicos envolvidos.
[...]
Para começar, serviços de consultoria somente deveriam ser contratados
para a execução de atividades que, comprovadamente, não possam ser
desempenhadas por servidores permanentes da administração pública.
mas não é bem isso o que se observa. Usa-se o critério de “notória
Como se pode ver, esses são os casos mais notórios, o que não
impede uma enorme variedade de áreas afetadas. Em seguida veremos
outros casos concretos que ilustram a questão da endemia.
Os setores de licenças e autorizações da Administração Pública
são muito vulneráveis. Contribuem para isso três fatores principais: (i)
excessiva e complexa burocracia; (ii) falta de transparência do processo;
(iii) abusos dos particulares no exercício da atividade licenciada ou
autorizada. É o que se extrai de dois casos no município de São Paulo.
8. Alvarás de construção
Antônio Zeppini cumpriu pena de cinco (5) anos de prisão (1998). Dez
anos mais tarde o ministério Público denunciou um novo esquema de
propinas para concessão de licenças na Prefeitura de São Paulo. Com
a participação de servidores, Secretários Regionais e Vereadores da
Câmara municipal de São Paulo, o esquema arrecadava recursos dos
vendedores ambulantes (camelôs). O pagamento de propinas ultra-
São elas:
1. não fornecer nota Fiscal;
2. não declarar Imposto de Renda;
3. Tentar subornar o guarda para evitar multas;
than US$1 trillion is paid in bribes each year and that countries that
tackle corruption, improve governance and the rule of law could
increase per capita incomes by a staggering 400 percent” (DREHER
et al., 2012, p. 2).
Essa estimativa tem sido repetida em vários papéis de trabalho
ou de estudos do Banco mundial, especialmente os assinados pela con-
ceituada doutrinadora Susan Rose-Ackerman (2001). Como é sabido,
e combate da corrupção.
sociais violentos.
Salomão RibaS JUnioR
CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Burocracia
Pública
1
3,70 7,53 6,98
1
Observações: Quando maior o índice, menor a corrupção percebida.
Salomão RibaS JUnioR
178 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Já a revista Veja
valendo-se dos seus dados e informações chegou a valores de perdas
com a corrupção bem mais altos. É oportuno registrar que essa revista
teve como matéria de capa o tema corrupção quase uma centena de
vezes nos últimos anos.
O dado é alarmante: R$720 bilhões de reais roubados nos últimos
10 anos. Desse total, 51% são de verbas federais, 30% dos governos esta-
duais e 19% dos municípios. Estima a publicação que foram descobertos
formalmente R$7 bilhões e efetivamente recuperados apenas R$500
milhões de reais. Os percentuais referem-se aos gastos, considerando-se
a estimativa que a corrupção segue a mesma proporção.
Assim, tem-se que a corrupção drena anualmente R$85 bilhões
de reais, o que equivale a 2,3% do PIB. O mesmo levantamento aponta
os ministérios do governo federal e o montante das irregularidades
apontadas:
de casos isolados.
Segundo uma pesquisa atribuída ao
Corruption Survey
que perderam negócios para concorrentes que agiram desonestamente.
STOURAITIS, 2012, p. 4)
net
gross
divided by the bribe payment), and the proportion of the rents received
do not
are able to capture the rents from large contracts in the form of larger
bribes. (CHEUnG; RAU; STOURAITIS, 2012, p. 5)
31
Código Penal – Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para
ÉTICA
corrupção.
Vive-se, na virada do milênio, uma espécie de reencontro com
a necessidade de valores para a vida em comum. Sobre esse momento
histórico, o político democrata-cristão brasileiro André Franco montoro
ética é inata no ser humano ou foi inventada por ele? O que a distingue
da moral? As respostas a essas perguntas podem ser longas, dema-
siadamente longas. Assim, para os objetivos deste texto, trata-se abre-
viadamente do assunto procurando responder o que se espera de uma
ética para o servidor público.
como felicidade. não é apenas o dever de ser moral, mas uma conduta
prática. Aristóteles ia mais longe discutindo o que é a felicidade, a cons-
trução do pensamento, um padrão de conduta dos seres humanos. Essa
(ARISTÓTELES apud
levar em conta o maior bem que se pode fazer ou o maior mal que se
que ele acredita ser boa”. Concluindo, ainda, que “essa concepção
que se pensa ser bom’ (ética) e ‘aquilo que se impõe como obrigatório’
(a moral)” (RICOUER, 1990 apud CORnU, 1998, p. 8).
Com essas resumidas premissas pode-se concluir que a invenção
da ética tem seguidores, mas há os que a consideram como um sentir
inato no ser humano. Isso leva a outra questão, pois se estaria assistindo
a um renascimento da ética.
Cornu observa que, mesmo abandonando a ideia do moral como
sinônimo de ética, deve-se conservar o objeto da moral. Depois, baseado
em Kant anota que:
pela tradição.
dos seus mandatos. Esta foi levada a efeito para evitar os respectivos
processos de cassação dos mandatos, que os inabilitaria por anos para
funções públicas (Constituição Federal, art. 15). Foram os senadores
Antonio Carlos magalhães e José Carlos Almeida (Bahia e Distrito
Federal), por quebra do sigilo do painel eletrônico de votação do Senado,
e o senador Jader Barbalho (Pará), por suspeita de irregularidades em
projetos na área da Superintendência do Desenvolvimento do nordeste
(SUDEnE).
na eleição imediatamente seguinte, os três se candidataram a
postos de congressistas e voltaram com extraordinárias votações ao
e indiretos.
Há alguns momentos da história brasileira em que houve notáveis
esforços para a superação do patrimonialismo. Isso aconteceu em 1930
com a chegada de Getúlio Dorneles Vargas ao Poder. Repetiu-se, ainda
no período Vargas, com a criação do Departamento Administrativo
do Serviço Público (DASP). no período do regime militar, entre os
Estado, garantido
de grande importância para todos e cada uma das pessoas que convivem
de vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo
de interesse.
social e coletivo.
código. [Do lat. códice, pelo gen. pl. codicum, poss.] s.m. 1. Coleção de
leis. 2. Conjunto metódico e sistemático de disposições legais relativas
a um assunto ou a um ramo do direito [...]. (FERREIRA, 1999, p. 495)
[...]
caput,
(BRASIL, 2012b).
A moralidade pública que se refere o texto constitucional deve
permear a legislação e todos os atos administrativos. A sua trans-
gressão é apenada severamente, em especial, pela Lei de Improbidade
ral. A lei do regime jurídico dos servidores diz que é dever destes
“manter conduta compatível com a moralidade administrativa” (Lei
Federal:
de interesses.
partidos políticos.
no plano interno, deixando de lado outros casos, teve-se o
notável processo de impeachment do Presidente Collor e a investigação
de emendas parlamentares na CPI do Orçamento. Em todos eles, há a
de cargo público;
I. PRInCIPIOS GEnERALES
interés público.
Por consiguiente, los titulares de cargos públicos serán ante todo leales
a los intereses públicos de su país tal como se expresen a través de las
instituciones democráticas de gobierno.
2. Los titulares de cargos públicos velarán por desempeñar sus obliga-
V. InFORmACIÓn COnFIDEnCIAL
de produzir com baixo custo e vender com apreciável lucro. Com mais
de julho).
O chamado bom governo corporativo é “un conjunto de meca-
proteger a los inversores del riesgo de abuso una vez pierden el control
apud
TCU, 1999).
Esse Código (adotado em 1998 para as empresas espanholas),
propõe uma adequada composição e estrutura do Conselho de Admi-
2012)
[...] ofrecen hoy en dia más información sobre sus programas contra la
corrupción, pero todavia necessitan hacer mucho más para aumentar
la transparencia en la información sobre sus operaciones, según señala
un nuevo estudio de la organización de lucha contra la corrupción.
(TRAnSPAREnCY InTERnATIOnAL, 2012)
mesas com queima das cédulas. Ainda assim, durante toda a República
Velha (1889-1930) havia fraudes e corrupção em todo o processo, desde
a recepção, contagem dos votos e diploma dos eleitos. Com a Revolução
4.1 Democracia
O Brasil, a exemplo de outros países, é uma república democrá-
tica e representativa, onde os eleitores — todo cidadão ou cidadã no
pleno gozo dos seus direitos políticos — exercem o poder, por meio
dos seus representantes eleitos. Há algumas exceções nos termos da
ciamento das campanhas eleitorais com as dos EUA, sendo esta a maior
democracia da atualidade. Essas comparações devem ser vistas com
cautela, pois se está tratando de sociedades que só tem em comum o fato
de se localizaram no mundo ocidental. As diferenças entre a realidade
brasileira e a norte-americana vão muito além dos aspectos político
eleitorais. Quanto ao sistema, os EUA adotam, preferencialmente, o
sistema privado. Ainda assim, os norte-americanos têm procurado
32
Salomão RibaS JUnioR
224 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
2012)
ciamento público não poderia gastar mais de US$42 milhões nas prévias
(primárias e cáucus), e até US$84 milhões para as eleições. Optando pelo
Proibição de
Limitação do Proibição Proibição
aportes de
PAÍSES montante de de aportes de aportes
concessionários
aportes anônimos estrangeiros
do Estado
X X X X
X X X X
X X X -
- - - -
X X X -
Chile X X X X
- - - -
X X X X
- - - -
- X X X
México X X X X
- X - X
- X - -
X X X X
Peru X X X -
- - X -
- - - -
- X X X
detalhes.
33
RUBIO. Financiamento de partidos e campanhas: fundos públicos versus fundos privados.
.
CAPíTULO IV
DEmOCRACIA, ELEIÇõES E CORRUPÇÃO
227
Doações Limites de
Doações
de Doações
Financiamento provenientes Limites de Prestação
País pessoas (obrigação
Público do despesas de contas
jurídicas e de declarar)
estrangeiro
sindicatos (publicidade)
Bélgica US$125
Brasil Pouco
Inglaterra
República
Checa
França 34 35
US$15036 37
Itália
Espanha
Alemanha
Japão 38
US$475
Suécia
USA 39 US$250
34
dos partidos e das campanhas eleitorais, mediante um reembolso pelo Estado de 50%
conquistaram 5% dos votos. Em 1995, de acordo com tais regras, foi repassado um total de
com o desempenho nas eleições gerais para a Assembleia nacional e a segunda metade
della política e corruzione: il caso francese. In: LAnCHESTER. Finanziamento della política
e corruzione).
35
Desde 1995 e há exceções.
Cada candidato pode receber o valor máximo de 30.000 francos por doador e os partidos
podem receber o montante máximo de 50.000 francos por ano de cada contribuinte (La
France aux Urnes).
37
Para as eleições presidenciais: 120 milhões de francos e para as eleições legislativas 250.000
francos por candidato (cf. mÉDARD. Finanziamento della política e corruzione: il caso
francese. In: LAnCHESTER. Finanziamento della política e corruzione).
38
Desde 1994.
39
A legislação de alguns Estados permite (CAGGIAnO. Corrupção e Financiamento das
Campanhas Eleitorais. In: ZILVETI; LOPES. (Coord.). O regime democrático e a questão da
corrupção política, p. 141).
Salomão RibaS JUnioR
228 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
40
40
Financing Politics-Money Elections and Political Reform, p. 3.
CAPíTULO IV
DEmOCRACIA, ELEIÇõES E CORRUPÇÃO
229
41
seu criador, o então ministro da Justiça Armando Falcão. Esta lei determinava que, na
Salomão RibaS JUnioR
230 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
2002 1,38
2004 7,1
2006 3,22
2008 12,06
2010 5,74
Receitas de Receitas de
Situação Candidatos Votos Receitas totais
candidatos comitês
20
10
em 2010.
42
O Globo. País. Acesso em: 14 out. 2012.
43
Correio Brasiliense, 14 set. 2012.
CAPíTULO IV
DEmOCRACIA, ELEIÇõES E CORRUPÇÃO
235
caput
e o montante.
Há outra forma de doação que gera muitas dúvidas. É o caso
da doação de bens e serviços estimáveis em dinheiro. Ou a cessão de
prédios, equipamentos, carros, serviços de distribuição de propagan-
Ix - entidades esportivas;
x - organizações não-governamentais que recebam recursos públicos;
xI - organizações da sociedade civil de interesse público.
Parágrafo único. não se incluem nas vedações de que trata este artigo
as cooperativas cujos cooperados não sejam concessionários ou permis-
limite é o estabelecido por lei ou, na ausência, por seu partido político.
zação deve ser realizada por lei e, na ausência desta, cabe aos partidos
de candidatura;
j) produção de programas de rádio, televisão ou vídeo,
campanha eleitoral.
no caso dos recursos destinados aos partidos políticos, inde-
pendente de campanhas eleitorais aos quais podem ser feitas doações,
Salomão RibaS JUnioR
240 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
podem ser usados nas campanhas eleitorais, de acordo com o art. 39,
com gasto mensal de R$78 mil (verba de gabinete). Como são 513
deputados federais é fácil calcular esse custo para o Tesouro. Ao lado
desses, existem 22 mil cargos de livre nomeação no Governo Federal. Os
18 de novembro de 2011).
Apesar da imprecisão de períodos e dados, pode-se ter uma
custo indireto.
44
Disponível em: <www.excelencias.org.br>.
PÁGINA EM BRANCO
CAPíTULO V
COmPRAS GOVERnAmEnTAIS E
COnTRATOS
construa outra lista grande e variada de contratos que o Estado faz para
construí-los e mantê-los em funcionamento.
A quantidade de itens de consumo de uma unidade hospitalar
(remédios e outros) pode ser medida aos milhares, a cada período que
se escolha. Assim como as escolas mais modernas, muitos hospitais
administrativo.
na doutrina, tem-se em meirelles (2007) que:
solução;
integram o encargo;
Cada uma dessas etapas deve seguir um rito próprio. Esse rito
é previsto como prática administrativa — orientada pelo comando
2012b)
Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma licitação ou para um
conjunto de licitações simultâneas ou sucessivas for superior a 100 (cem)
vezes o limite previsto no art. 23, inciso I, alínea “c” desta Lei, o processo
licitatório será iniciado, obrigatoriamente, com uma audiência pública
concedida pela autoridade responsável com antecedência mínima de
15 (quinze) dias úteis da data prevista para a publicação do edital, e
divulgada, com a antecedência mínima de 10 (dez) dias úteis de sua
realização, pelos mesmos meios previstos para a publicidade da licitação,
V - leilão.
de seu objeto.
não é exagero dizer que a licitação é a regra geral que nasce com o
comando constitucional.
A dispensa por inviabilidade da competição ou a inexigência
são exceções. O valor estimado da contratação é um dos critérios para
o menor preço.
A jurisprudência do TCU insiste que o que interessa é o melhor
ser processado com observância das disposições do art. 43, inciso IV, da
com os preços correntes de mercado. Ainda que se que admita que [...]
exista um setor responsável pela pesquisa de preços de bens e serviços
a serem contratados pela administração, a Comissão de Licitação, bem
como a autoridade que homologou o procedimento licitatório, não estão
será executado;
- Pelo detalhamento excessivo da descrição do objeto e de outras exi-
gências — que poderá mencionar itens que apenas alguns interessados
possam oferecer, afastando, de imediato, algum possível concorrente;
- ela exigência de quantitativos elevados em atestados de capacidade
tem crescido até mesmo em razão do aumento ou, como querem alguns,
da maior transparência e liberdade que o regime democrático permite.
i) manutenção;
j) transporte;
k) locação de bens;
l) publicidade;
m) seguro; e
Este artigo foi assinado pelo Sr. Udo muller, Presidente do Tribunal de
Contas de Hessen. no Seminário de Estudos Comparados da Atuação
dos Tribunais de Contas, os autores do artigo intitulado “A Função
dos Tribunais de Contas: as realidades no Brasil e na Alemanha,”
apresentaram a questão (SKIPIS 1995 apud
45
,
Salomão RibaS JUnioR
CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Como visto, a fase inicial que ocorre antes da entrega das pro-
postas é a que envolve o clima de trabalho, a falta de visão, consciência
de impunidade, entre outros. As fases seguintes são as que veremos.
A lembrar a intimidade dos altos dirigentes e os políticos ávidos de
recursos para as campanhas eleitorais. Tanto é que, tempos depois
de estudo, estourou o escândalo Helmut Kohl de corrupção política
o da obra ou serviço; e
superfaturamento.
É o caso da investigação do TCU sobre doações de projetos de
obras ao DnIT. Essas doações estão sendo feitas por associações em-
presariais, que tem executores (empreiteiras) desses projetos entre
seus membros. É mais rápido para o governo incluir essas obras no
orçamento. E o faz com os parâmetros de custos e quantidades do
projeto. O que pode gerar prejuízos, pois os projetos são feitos sem
acompanhamento de técnicos do DnIT. São quatro casos sob inves-
tigação do TCU nos Estados de Goiás, minas Gerais e Paraná. Análises
do Tribunal em três deles concluíram que os estudos tinham defeitos
parecidos e, se concluídos, poderiam causar superfaturamento total
superior a R$400 milhões, em obras estimadas em R$2 milhões.
As entidades informaram que contrataram os projetos como
contribuição ao desenvolvimento. O DnIT informou que cumprirá as
determinações do TCU (COSTA; AmORA; mELLO, 2012).
Essas revelações surgiram na CPI do Cachoeira, durante o
depoimento do Ex-Diretor do DnIT, Luiz Antônio Pagot. na mesma
oportunidade, o Ex-Diretor revelou ter arrecadado com empreiteiras
2012.
Salomão RibaS JUnioR
270 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
COnTROLE
francês
não faz isso em caráter exclusivo. A elaboração das leis passa por um
processo complexo que envolve a iniciativa, o exame das comissões
o controle pode ser tanto interno como externo. Como regra geral,
considera-se o controle administrativo tipicamente interno.
Como já visto anteriormente, ele é exercido no âmbito do próprio
a posteriori
Trata-se do controle que se efetiva após o ato. Pode corrigir,
Inquérito
O controle externo é sinônimo de controle legislativo. É a segunda
competência em importância na função legislativa. A primeira é legislar
são exercidos por meio: (i) dos pedidos de informação; (ii) Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPI); e (iii) controle externo com o auxílio
dos Tribunais de Contas.
no plano federal, Câmara e Senado têm suas próprias atribui-
que
“Comissões Parlamentares de Inquérito são organismos que desem-
e controle da administração”.
O requerimento válido para a criação de CPI deve conter três
requisitos: (i) assinatura de um terço dos membros de cada Casa; (ii)
apuração de fato determinado; e (iii) prazo certo de funcionamento.
Esses requisitos, contudo, não são tão rígidos. Fato determinado pode
se transformar em conjunto de fatos que se encadeiam. A rigor, acabam
sendo discutidos e investigados vários assuntos. Serve como exemplo
a Comissão Parlamentar mista de Inquérito (CPmI) dos Correios em
2005, que começou investigando o pagamento de propinas no âmbito
desse órgão e acabou desembocando no “mensalão”. Ou a CPmI do PC
Farias em 1992, que se destinava a investigar as atividades do tesoureiro
da campanha de Collor e acabou em ampla devassa de todo o governo.
As conclusões dessas CPIs podem apontar: (i) medidas admi-
nistrativas; (ii) medidas legislativas; e (iii) medidas judiciais por meio
de representação ao ministério Público.
As Comissões de Inquérito também podem ser mistas, com
integrantes das duas Casas Legislativas. Aí, exige-se para sua criação
Antiguidade.
Em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da
compe
da Constituição Federal (CF). não há que se falar, portanto, em
Salomão RibaS JUnioR
CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
micidade dos atos praticados pelo administrador. É por essa ótica que
se combate o desperdício e má gestão.
função corretiva
xI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos
apurados.
controle.
denominações têm-se:
a) Tribunal de Contas (Brasil, Argentina, Portugal, Uruguai,
Espanha, e Alemanha);
b) Corte de Contas (França);
c) National Audit (Inglaterra, e Canadá);
d) (EUA.);
e) Sindicatura (Espanha); e
f) Controladorias (Chile e a maioria dos demais países sul-
americanos).
A doutrina e a organização mundial de representação dos ór-
gãos de controle (InTOSAI) adotam duas formas de denominação:
(i) Entidades de Fiscalização Superior (EFS); e (ii) Órgão de Controle
Externo (OCEx). É o mais adequado diante da multiplicidade de deno-
minações. Assim, estão no mesmo patamar do Tribunal de Contas da
União (TCU), do Brasil, os órgãos que:
xa:
I. Geral
Seção 1. Propósito da auditoria
[...]
Seção 3. Auditoria interna e auditoria externa
1. Os serviços de auditoria interna são estabelecidos dentro dos órgãos e
instituições governamentais, enquanto os serviços de auditoria externa
não fazem parte da estrutura organizacional das instituições a serem
auditadas. As Entidades Fiscalizadoras Superiores prestam serviços de
auditoria externa.
2. Os serviços de auditoria interna são necessariamente subordinados
ao chefe do departamento no qual foram estabelecidos. no entanto,
eles são, na maior medida possível, funcional e organizacionalmente
independentes no âmbito de sua respectiva estrutura constitucional.
3. Como uma instituição de auditoria externa, a Entidade Fiscalizadora
Capítulo VI
ministério Público Junto ao Tribunal
Art. 80. O ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União,
ao qual se aplicam os princípios institucionais da unidade, da
indivisibilidade e da independência funcional, compõe-se de um
procurador-geral, três subprocuradores-gerais e quatro procuradores,
nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros, bacharéis
em direito.
merecimento.
Art. 81. Competem ao procurador-geral junto ao Tribunal de Contas da
cargo exercido.
Art. 83. O ministério Público contará com o apoio administrativo e de
pessoal da secretaria do Tribunal, conforme organização estabelecida
no Regimento Interno.
Art. 84. Aos membros do ministério Público junto ao Tribunal de Contas
da União aplicam-se, subsidiariamente, no que couber, as disposições
da Lei orgânica do ministério Público da União, pertinentes a direitos,
garantias, prerrogativas, vedações, regime disciplinar e forma de
investidura no cargo inicial da carreira. (BRASIL, 2012m)
Contas.
Espécies de auditoria:
a) auditoria contábil
c) auditoria operacional
le
As leis básicas da Administração Pública são leis nacionais,
sistema de controle
Há quem use a denominação “sistema de controle externo”
para o conjunto dos órgãos de auxílio aos Poderes Legislativos. Esses
órgãos são os 34 Tribunais de Contas que existem no Brasil. De fato, há
semelhanças e mesmo algumas identidades entre eles. Contudo, isso
outras medidas. Assegura que essas normas são instituídas com amparo
no capítulo II do Título II da Constituição. Um campo vasto, sem dúvida.
dizer: sempre gastarão mais com pessoal do que com obras ou equi-
pamentos. O principal investimento dos TCs é em recursos humanos.
Em uma reunião do Instituto Rui Barbosa (IRB) em São Paulo
foram discutidos vários aspectos do projeto de lei em tramitação.
Participaram dessa reunião os dirigentes da Associação dos membros
dos Tribunais de Contas do Brasil (ATRICOn) e da Associação Brasileira
dos Tribunais de Contas dos municípios (ABRACOm). Havia, inclusive,
algumas minutas de emendas ao projeto, especialmente as preparadas
pelo Tribunal de Contas de Santa Catarina. Quando foi lembrado que
Há, ainda, muito a fazer nesse campo, como se verá nas conclusões
desta obra, porém, deve-se reconhecer o quanto melhorou a atividade
de controle exercida pelos Tribunais de Contas.
no Brasil existem 34 Tribunais de Contas. Um da União, um do
Distrito Federal, vinte e seis Estados. Com atuação no município há um
em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Quatro Estados (Bahia, Ceará,
Goiás e Pará) tem, além do TCE, um Tribunal de Contas dos municípios.
no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios aplicam-
se as regras da Constituição Federal, exercendo, no ambiente de suas
municipal).
LxxIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
COnSIDERAÇõES FInAIS
os legalistas.
Em sentido mais amplo nas ciências políticas, temos que a cor-
rupção é o ato do funcionário público que foge das regras que o limi-
tam e orientam para favorecer interesses particulares mediante uma
recompensa.
no campo das ciências econômicas, encontramos pesquisas que
maneira diligente para isso, nada mais justo que ser agraciado com
alguma vantagem.
na perspectiva sociológica também se considera a corrupção
como a ruptura de uma regra ou norma geralmente aceita. Atenua-se,
contudo, o ato de acordo com os usos e costumes, tradição, cultura local.
É por esse lado que o nepotismo, um dos tipos de corrupção de acordo
com autores respeitáveis, não é visto com o mesmo rigor. O nepotismo
em sentido estrito, como parentesco familiar direto, ainda sofre certa
censura, mas o compadrio, o companheirismo, o bairrismo não.
É nesse campo que encontramos terreno para os métodos mais
abertos para a conceituação do termo, mesmo que eles permitam a
regular do mercado.
do que em saber por que ou como ocorre, ela é uma realidade, existe.
e efeitos.
no plano do Direito, uma das causas resulta da condição hu-
mana. O ser humano é por natureza insaciável na satisfação de suas
necessidades ou dos seus desejos. Para contê-los são necessárias boas
leis disciplinando o convívio em sociedade e estabelecendo limites para
os apetites. Dessa forma, em presença da corrupção, suas causas podem
Salomão RibaS JUnioR
320 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
Cada uma dessas causas tem fatos e atos que as geram e também
podem ser apontadas como primárias. Em seguida vêm as causas
secundárias de ordem geral, que são as acima citadas.
Dessa forma, a anomia é fruto do desrespeito generalizado das
7.4 Consequências
De outro lado, as consequências da corrupção são políticas,
econômicas e sociais. no plano político perde-se a perspectiva do debate
de ideias pela utilidade da maioria ou minoria nos parlamentos, ou pela
nomeação de simpatizantes para funções-chave de governo. A discussão
Salomão RibaS JUnioR
322 CoRRUPÇão PÚbliCa E PRiVaDa – QUaTRo aSPECToS...
eleitoral?
Sem dúvida há nexo causal entre a maioria dos casos de cor-
rupção nos contratos administrativos celebrados entre particulares e
eleitorais.
As evidências desse nexo podem ser encontradas no volume de
recursos doados para campanhas eleitorais por empresas que mantêm
vultosos negócios com os governos. não é preciso esforço extraor-
dinário de imaginação para constatar que essas contribuições não são
partidos políticos que estão no governo são sempre os que recebem mais
recursos dos grandes contribuintes com interesses em fornecimento de
bens e a contratação de obras e serviços com o Poder Público. Como se
viu na pesquisa, os maiores doadores são empreiteiras de obras e ser-
viços para o governo. Em segundo vêm os bancos interessados diretos
nas políticas ditadas pelo governo. não é menor o interesse no setor
de registros de patentes e licenciamentos de vigilância sanitária do que
o da indústria produtora de medicamentos. Ela situa-se logo após os
bancos no volume de recursos doados em campanhas eleitorais.
Se não bastassem as constatações por essas evidências, há inú-
meras alegações formais de implicados em casos de corrupção de que o
dinheiro desviado se destinava ao pagamento de dívidas de campanha.
CAPíTULO VII
COnSIDERAÇõES FInAIS
325
adas,
comissões de ética, avaliação de condutas e controle, há mais proba-
bilidade de ocorrer improbidade administrativa. Ela leva ao abandono
dos valores éticos pela busca do aumento da renda mesmo que por
meios ilegais, como é o caso da corrupção.
Essa circunstância decorre do elevado grau de vulnerabilidade
que as ineficiências da burocracia apresentam. não havendo um
muitas maneiras.
e se
houver a cooperação entre os atores referidos: o Estado, o mercado e
a sociedade civil.
É fundamental a cooperação e interação entre os mecanismos
estatais, econômicos e sociais para enfrentar e conter a corrupção.
da LRF nesse particular deve ser exemplar por parte dos Tribunais de
dinheiro.
Além dessas medidas merecem destaque duas leis concebidas,
estimuladas e propostas ao Congresso nacional por atores do controle
47
CAPíTULO VII
COnSIDERAÇõES FInAIS
333
de Contas.
2) Medidas judiciais
a) efetivação da regra constitucional que determina razoável
duração do processo e celeridade de sua tramitação;
b) estabelecimento de regras objetivas para a prioridade de ações
que versem sobre crimes contra a Administração Pública
e em particular visem o ressarcimento ao erário de fundos
desviados;
c) decisão conclusiva a respeito do foro privilegiado para os atos
de improbidade administrativa;
d) cooperação entre os órgãos formais da Justiça Eleitoral e os
órgãos e movimentos da sociedade civil para combater a
corrupção eleitoral;
3) Medidas administrativas
a) operação e valorização do controle interno;
b) criação de Comissões de Ética em todos os níveis de governo
e órgãos;
c) sistemas de controle efetivo sobre contratos e convênios para
avaliar a correta execução e os resultados obtidos;
d) organização de um cadastro nacional de maus gestores e de
empresas inidôneas;
e) transparência de todos os atos e operação adequada dos
portais de informações ao público;
f) criação de mecanismos especiais de acompanhamento da exe-
cução dos orçamentos públicos, das emendas parlamentares
e liberação dos recursos públicos;
g) cadastro nacional para registro de organizações não governa-
mentais que recebem recursos públicos dando publicidade ao
montante recebido, origem e destinação dos recursos públicos;
h) celeridade na abertura e conclusão de processos de Tomada
de Contas ou outro instrumento para apurar danos ao erário
e responsabilidades.
4) Medidas do mercado
a) cooperação com os órgãos de controle públicos na contenção
dos atos de corrupção, fraudes e outros crimes contra o próprio
mercado e a Administração Pública;
b) disseminação das regras de boa governança corporativa entre
as empresas especialmente nas suas relações com o governo;
CAPíTULO VII
COnSIDERAÇõES FInAIS
335
6) Medidas socioeducativas
um ato complexo e jamais é neutro. Ele tem causas que podem ser
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