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UNISINOS
Mario H. Macagnan
A região interna, o núcleo, é a parte mais densa e quente. Sua temperatura varia de
15x106 K até 40x106 K e a densidade é 100 vezes a da água (100.000-150.000 kg/m3). Acima do
núcleo se encontra o interior, que contém praticamente toda a massa do Sol. Estas duas partes
funcionam como um reator nuclear e se constituem na fonte de quase toda a energia produzida.
Esta energia é transferida para a superfície e irradiada para o espaço através de sucessivos
processos de radiação e convecção com suas respectivas emissões, absorções e re-irradiações.
A superfície do Sol, chamada fotosfera, é a fonte da maior parte da radiação visível que
alcança a Terra. Está formada por gases não homogêneos de baixa densidade responsáveis pela
formação, entre outros fenômenos, das manchas solares.
Próximo à fotosfera se encontra a camada de reversão que se estende por centenas de
quilômetros. Esta camada contém vapor de quase todos os elementos familiares da crosta
terrestre. Acima desta camada, entendendo-se a uma distância de aproximadamente 2500 km está
a cromosfera a qual, juntamente com a camada de reversão, forma a atmosfera solar, composta
principalmente de hidrogênio e hélio.
A camada externa do Sol, corona, está composta por gases de densidade muito baixa e
alta temperatura.
2
Em função destes gradientes de temperatura e densidade se pode apreciar que o Sol não é,
de fato, um radiador de corpo negro a uma temperatura fixa.
A Terra gira ao redor do Sol descrevendo uma órbita elíptica na qual o Sol ocupa um dos
focos, tal como se vê na Figura 3.
Equinócio de outono
20/21 março
δ = 0°
Solstício de inverno
21/22 junho
δ = 23.45° 1 UA
≈ 0,983 UA
≈ 1,017 UA
1 UA
Solstício de verão
21/22
dezembro
O plano que contém esta órbita é chamado eclíptica e o tempo que a Terra tarda em
percorrê-la é um ano. A excentricidade desta órbita é tal que a distância entre o Sol e a Terra
varia 1,7%. Esta excentricidade pode ser calculada da seguinte maneira:
3
Eo = 1, 00011 + 0, 034221cos Γ + 0, 00128senΓ + 0, 000719 cos 2 Γ + 0, 000077 sen2 Γ (1)
Γ = 2π (d n − 1) / 365 (2)
onde dn é o número do dia do ano no calendário Juliano, variando de 1 (1° de janeiro) até 365
(31 de dezembro). Outra equação mais simples é dada da seguinte maneira:
[(
Eo = 1 + 0,033 cos 2πd n / 365 (3))]
e que pode ser utilizada na maioria das aplicações de engenharia.
A uma distância de uma unidade astronômica (UA), que é a distância média entre o Sol e
a Terra e que equivale a 1 UA = 1,496x108 km, o Sol subentende um ângulo de 32'.
A Terra, por sua vez, gira ao redor de um eixo central, chamado eixo polar, completando
uma volta por dia (sucessão dia-noite). Este eixo gira ao redor da normal ao plano da eclíptica
com um ângulo constante e igual a 23,45°, conforme pode ser observado na Figura 4.
Desta forma, e de acordo com a Figura 5, o ângulo formado entre o plano equatorial e a
linha que une os centros da Terra e do Sol muda continuamente (sucessão das estações do ano).
Este ângulo é conhecido como declinação solar, δ, e pode ser estimado pela seguinte equação,
com um êrro inferior a 3':
sendo δ dado em radianos. Este ângulo vale zero nos equinócios de primavera e outono, 23,45°
no solstício de inverno e -23,45° no solstício de verão.
Durante um dia (24h) a variação máxima da declinação (que acontece nos equinócios) é
menor que 0,5° podendo-se considerar, portanto, como constante ao longo do dia.
4
Figura 5. Esfera celeste mostrando o caminho aparente do Sol e o ângulo de declinação solar.
Esta expressão, da mesma forma que a equação (1) leva em conta que a velocidade
angular da Terra no seu passo sobre a eclíptica é, de acordo com a lei de Kepler, variável. Isto é,
os planetas percorrem áreas iguais em tempos iguais. Para a maioria das aplicações de
engenharia, a aproximação de que a Terra gira ao redor do Sol numa órbita circular e com
velocidade constante é suficiente. Desta forma, a declinação solar pode ser determinada pela
seguinte expressão (este mesmo raciocínio produziu a equação (3)):
360
δ = 23,45 sen
365
( d n + 284) , em graus (5)
onde TO é a hora oficial, Lst é a longitude padrão, Lloc é a longitude local e Et a equação do
tempo. Deve ser notado que a correção de longitude é positiva se a longitude local está à leste da
longitude padrão e negativa se está à oeste.
A equação do tempo, Et, é mostrada na Figura 6 e é calculada pela seguinte equação:
5
Et = (0,000075 + 0,001868 cos Γ − 0,032077 senΓ − 0,014615 cos 2Γ
(7)
− 0,04089sen2Γ)(229,18)
Uma forma de representação clássica do céu consiste em imaginar uma esfera com a
Terra fixa no seu centro, tal como se mostra na Figura 5.
Esta esfera é chamada esfera celeste e cada um de seus pontos representa uma direção do
céu vista desde a Terra. A intersecção desta esfera com o plano do equador terrestre define o
equador celeste e os pontos de intersecção com os eixos polares definem os pólos celestes.
O movimento da Terra ao redor do Sol pode ser descrito, desta maneira, como o
movimento do Sol ao redor da Terra seguindo o maior círculo que forma um ângulo de 23,45°
com o equador celeste (a eclíptica). Desta forma, o Sol descreve diariamente e ao redor da Terra,
um círculo cujo diâmetro varia dia a dia, sendo máximo nos equinócios e mínimos nos solstícios,
de acordo com a representação da Figura 7.
Figura 7. Caminho do Sol através do céu visto por um observador no ponto de intersecção dos
eixos.
6
Figura 8. Esfera celeste e coordenadas do Sol relativas a um observador na Terra, no ponto O.
Para calcular a radiação solar que atinge uma superfície horizontal na Terra, é necessário
estabelecer algumas relações geométricas entre a posição do Sol no céu e as coordenadas desta
superfície na Terra. Para isto, utilizaremos a Figura 8 como referência.
A vertical (normal) de um lugar (observador) na Terra intersecta a esfera celeste em dois
pontos, chamados zênite e nadir. O ângulo que forma esta reta com o plano do equador celeste é
chamado latitude geográfica, φ, sendo positiva ao norte e negativa ao sul deste plano.
O horizonte do observador é o círculo máximo na esfera celeste cujo plano passa através
do centro da Terra, normal a uma linha unindo o centro da Terra e o zênite. O ângulo de zênite,
referido como θz à partir de agora, é o ângulo entre o zênite local e a linha que une o observador
e o Sol. A altitude solar, α, (também chamada elevação solar) é a altura angular do Sol acima do
horizonte celeste do observador. Este ângulo nada mais é que o complemento do ângulo de
zênite.
O ângulo de azimute solar, γs, é o ângulo (no zênite local) entre o plano do meridiano do
observador e o plano do círculo máximo que passa através do zênite e o Sol. Este ângulo é
positivo à oeste e negativo à leste (sul igual a zero), variando assim entre 0° e ±180°.
O ângulo horário, ω, é o ângulo (medido no pólo celeste) entre o meridiano do
observador e o meridiano do Sol, valendo 0° ao meio-dia (TSV) e desde aí, muda 15° por hora.
Considera-se esse ângulo negativo pela manhã e positivo pela tarde.
Para uma dada posição geográfica e na ausência de uma atmosfera refrativa, as relações
geométricas entre o Sol e uma superfície horizontal são as seguintes:
Para encontrar ωs, o ângulo de nascimento do Sol, basta resolver a equação (8) para cos
θz = 0. Desta maneira:
2
Nd = cos−1 ( − tan φ tanδ ) (11)
15
8
Figura 10. Posição do Sol relativa a uma superfície inclinada.
Nesta figura também está representado θs, chamado ângulo de incidência, formado pela
normal à superfície e o vetor Sol-Terra. Este ângulo é calculado da seguinte maneira:
cos θ s = sin δ sin φ cos β − sin δ cos φ sin β cos γ + cos δ cos φ cos β cos ω
(12a)
+ cos δ sin φ sin β cos γ cos ω + cos δ sin β sin γ sin ω
ou
Para uma superfície orientada ao equador, a equação (12a) pode ser simplificada
utilizando-se a representação da Figura 11.
Para manter a convenção de sinais para o hemisfério sul, essa expressão é escrita como:
Da mesma forma que encontramos o ângulo de nascimento do Sol, ωs, para uma
superfície horizontal, podemos encontrar ωs', chamado ângulo de nascimento do sol para uma
superfície inclinada. Isto é obtido da equação (13) fazendo-se θs=90°. Para o hemisfério norte:
ω s' = π / 2
ii) durante o verão, δ<0, resultando em ωs > ωs'. Isto significa que o Sol surge antes para uma
superfície horizontal que para uma superfície inclinada.
iii) durante o inverno, δ>0, resultando, matematicamente, que o Sol surge para uma superfície
inclinada antes que para uma horizontal. Como isto não é possível fisicamente, estabelece-se
uma expressão geral para ωs'. Para o hemisfério norte:
{ }
ω s ' = min cos −1 (− tan δ tan φ ), cos −1 [− tan δ tan (φ − β )] (15a)
{ }
ω s ' = min cos −1 (− tan δ tan φ ), cos −1 [− tan δ tan (φ + β )] (15b)
10
- 2-
2. A constante solar e sua distribuição espectral
2.1. Introdução
A constante solar é a taxa da energia solar total, em todos os comprimentos de onda, fora
da atmosfera terrestre, incidente em uma superfície de área unitária em exposição normal aos
raios do Sol, a uma distância de 1 UA (distância média Terra-Sol). Sua determinação exata bem
como sua distribuição espectral são extremamente importantes não só para aplicações extra-
atmosféricas (satélites, naves espaciais, etc.) como para aplicações terrestres.
A determinação do valor da constante solar é estudada extensivamente desde o princípio
do século passado, primeiramente através de medidas ao nível do solo e posteriormente
extrapoladas para condições no topo da atmosfera, levando-se em consideração a atenuação dos
raios do Sol pelos diversos componentes constituintes da atmosfera e mais recentemente
utilizando satélites. O valor recomendado pela Organização Meteorológica Mundial foi obtido do
valor médio de oito medidas da constante solar, realizadas entre 1969 e 1980. Este valor é:
-2
Isc = 1367Wm
ou
Isc=4921 kJm-2h-1
11
i) Radiância, Wm-2sr-1: é a taxa de energia por unidade de área e por unidade de ângulo sólido
normal a esta área;
ii) Irradiância, Wm-2: taxa na qual a energia radiante incide em uma superfície, por unidade de
área desta superfície;
iii) Irradiação, Whm-2 ou Jm-2: energia incidente por unidade de área, numa superfície, obtido
por integração da irradiância em um tempo especificado (geralmente uma hora ou um dia).
iv) Radiação direta: radiação solar recebida do Sol sem nenhum tipo de dispersão pela atmosfera
terrestre.
12
v) Radiação difusa: radiação solar recebida do Sol após sua direção ter sido alterada devido à
dispersão pela atmosfera. Também chama radiação do céu.
vi) Radiação global ou total: soma da radiação direta mais a difusa recebida por uma superfície.
A. Radiação horária
Pela observação da Figura 13, a irradiância pode ser determinada da seguinte relação:
dI o = I sc Eo cos θ z dt (18)
onde dt está em horas e Isc, a constante solar, em unidades de energia. O tempo, em horas, pode
ser convertido em ângulo horário da seguinte maneira:
2π dω
Ω = velocidade de rotação da Terra = =
24 h dt
em tôrno ao seu eixo
resultando em
12
dt = dω
π
12
dI o = I sc Eo ( sinδsinφ + cosδ cos φ cosω ) dω (20)
π
Desta forma, a radiação para um período de uma hora pode ser obtida. Integrando a
equação (20) para um período definido pelos ângulos horários ω1 e ω2, que definem a hora,
teremos:
12 ω2
Io = I sc E o ∫ω ( sinδsinφ + cos δ cos φ cos ω )dω (21)
π 1
cujo resultado é:
12
Io =
π
[ ]
I sc Eo cosδ cos φ ( sinω2 − sinω1 ) + (ω2 − ω1 ) sinδsinφ (22)
12 ωi +π / 24
Io = I sc Eo ∫ω −π / 24 ( sinδsinφ + cosδ cos φ cosω )dω (23)
π i
ou
24 π
I o = I sc Eo sinδsinφ + sin cosδ cos φ cosωi (24)
π 24
mas como
24 24
sen = 0,9972 ≈ 1
π π
Ho = ∫n I o dt (26)
ps
Ho = 2 ∫0 I o dt (27)
ps
14
Assumindo Eo e δ constantes ao longo do dia e convertendo o tempo dt em ângulo
horário, obtemos:
24
I sc Eo ∫o ( sinδsinφ + cosδ cos φ cosω )dω (28)
ps
Ho =
π
ou
Ho =
24
π
[( 180)ws (senδsenφ ) + (cos δ cos φsenws )] (29)
I sc Eo π
sendo ws dado em graus.
Na Tabela 2 se pode encontrar os valores de Ho para os doze meses do ano e para
algumas latitudes (hemisfério sul). Esta tabela foi construída utilizando-se dias médios de cada
mês, de acordo com a Tabela 3. O dia médio é aquele que apresenta valores de Ho idênticos ao
valor médio mensal, Ho.
Figura 14.Variação diurna da irradiação extraterrestre horária em uma superfície horizontal para
(a) Porto Alegre - RS e (b) São Luis - MA. Os valores estão em Whm-2.
B. Radiação diária
Da mesma forma que para uma superfície horizontal, serão derivadas expressões para o
cálculo da irradiação extraterrestre em superfícies inclinadas.
A. Irradiação horária
15
Tabela 2. Variação da irradiação extraterrestre diária em uma superfície horizontal, Ho (MJm-2).
Latitude (Sul)
Mês 0° 15° 30° 45° 60° 90°
Jan 36,32 40,87 43,04 42,89 41,05 43,32
Fev 37,53 39,83 39,57 36,84 32,07 27,06
Mar 37,90 37,14 33,85 28,28 20,83 5,49
Abr 36,75 32,99 27,08 19,45 10,75 0,00
Mai 34,78 28,92 21,42 12,91 4,47 0,00
Jun 33,50 26,76 18,68 10,02 2,15 0,00
Jul 33,89 27,57 19,76 11,19 3,07 0,00
Ago 35,56 30,89 24,29 16,28 7,66 0,00
Set 37,07 35,03 30,62 24,16 16,09 0,69
Out 37,34 38,42 36,95 33,07 27,16 17,86
Nov 36,47 40,28 41,66 40,66 37,83 37,96
Dez 35,74 40,91 43,80 44,44 43,61 47,66
Media 36,07 34,97 31,73 26,68 20,56 15,00
12
I sc Eo ∫ω [ sinδsin( φ − β ) + cosδ cos( φ − β ) cosω ]dω (31)
ω2
I oβ =
π 1
Para uma hora completa, sendo ωi o ângulo horário na metade desta hora, temos:
16
Figura 15. Irradiação em uma superfície inclinada voltada ao equador.
B. Irradiação diária
Integrando-se a equação (31) entre ωns e ωps obtém-se a irradiação extraterrestre diária,
Hoβ :
24
[ sinδsin( φ − β ) + cosδ cos( φ − β ) cosω ]dω (34)
ω =ω s ,ω s '
Hoβ = I sc Eo ∫0
π
O limite de integração, tal como foi comentado anteriormente, deve ser o valor mínimo
entre ωs e ωs'. Desta forma:
24
Hoβ = I sc Eo [ωs ' sinδsin( φ − β ) + cosδ cos( φ − β ) sinωs ' ] (35)
π
onde
ωs ' = min{ωs ,cos−1 [ − tanδ tan( φ − β )] } (36)
A. Irradiação horária
B. Irradiação diária
17
12 ω ps
H oβγ = I sc E o ∫ω cos θdω (37)
π ns
Através das expressões para ωns e ωps vistas anteriormente, se pode calcular Hoβγ como:
12
H oβγ = I sc Eo cos(P1 − P2 + P3 + P4 + P5 ) (38)
π
onde
P1 = cos βsenδsenφ ω ns − ω ps π
180
( )
I&oβ cos θ s
r&b = & = (41)
Io cos θ z
ii) Da mesma forma, rb é a relação entre a radiação horária em uma superfície inclinada em
relação àquela numa superfície horizontal, na ausência da atmosfera terrestre. Esta relação é
escrita como:
18
ωi + π / 24
I oβ I sc E o ∫ω −π / 24 cos θ s dω
rb = = (42)
i
ωi + π / 24
Io I sc E o ∫ω −π / 24 cos θ z dω
i
Como já foi comentado anteriormente, uma boa aproximação para as integrais acima
pode ser obtida estimando-se cos θs e cos θz para o intervalo médio da hora.. Assim:
I oβ cos θ s
rb = ≈ (43)
Io cos θ z
Deve tomar-se cuidado para as horas perto do nascer ou do pôr-do-sol, quando o valor de
rb muda rapidamente, aproximando-se de zero ou infinito, porque tanto o numerador quanto o
denominador da equação acima são números muito pequenos.
iii) A relação entre a radiação horária média mensal em uma superfície inclinada em relação a
incidente em uma superfície horizontal, na ausência da atmosfera terrestre é chamada de rb . Esta
definição é análoga à (ii) exceto que δ é estimado em δc (a declinação para um dia médio do mês
- Tabela 3).
iv) A relação entre a radiação diária em uma superfície inclinada e aquela em uma superfície
horizontal, também na ausência da atmosfera terrestre é chama Rb. e é dada pela seguinte relação:
H oβ
Rb = (44)
Ho
cos( φ − β )
r&b = rb = Rb = (45)
cos φ
19
-3-
Radiação solar disponível na superfície terrestre
3.1 Introdução
Este instrumento quando provido de um disco ou anel de sombra pode medir a radiação
difusa (dentro de um ângulo sólido de 2π sr) excetuando o ângulo sólido donde está o Sol.
Naturalmente, quando utiliza um anel de sombra, este dispositivo oculta, além do Sol, uma
fração do hemisfério do céu. Esta fração da radiação difusa ocultada dever ser somada à leitura
deste instrumento.
i) o calor é retirado por um fluído em circulação e sua variação de entalpia é medida. Esta
variação de entalpia é a indicação do fluxo solar incidente.
20
ii) o calor origina uma variação de entalpia do metal absorvedor (sensor) e da mesma forma que
o método anterior, esta variação de entalpia pode ser facilmente medida.
Estes sensores atuam pelo princípio termomecânico, onde o fluxo de energia é medido
através da curvatura de uma lâmina bimetálica. Neste sistema, duas lâminas metálicas com
distintas propriedades de dilatação térmica são rigidamente mantidas unidas. Uma extremidade
desta união de lâminas está fixa enquanto a outra é livre. Uma lâmina está recoberta com uma
tinta preta de alta absortância e a outra recoberta com uma tinta branca de alta refletância. A
lâmina negra é exposta à radiação solar e a outra é mantida na sombra. Estas duas lâminas estão
isoladas uma da outra para impedir o fluxo de calor entre elas. Devido à diferença de temperatura
entre elas e aos diferentes coeficientes de dilatação, estas lâminas se curvam. Esta distorção é
transmitida ótica ou mecanicamente à um indicador.
Estes sensores consistem de dois fios metálicos diferentes com suas extremidades
conectadas. Quando estas duas extremidades se encontram à temperaturas diferentes (uma
exposta à radiação solar e a outra sombreada) acontece a geração de uma força eletromotriz
(fem), de acordo com a representação da Figura 16a. A fem gerada é proporcional à diferença de
temperatura e depende do tipo de material de cada fio. Para baixas temperaturas costuma-se
utilizar um par de cobre-constantan.
Como a fem de um único par é muito baixa, se conectam um grande número de junções
termopares em série, tal como se mostra na Figura 16b. Este arranjo é chamado termopilha.
Nestas termopilhas, as juntas quentes são pintadas de preto e as juntas frias de branco.
Para manter condições estáveis é necessário que as junções frias estejam à temperatura constante.
Isto foi obtido fazendo-se com que as junções frias estejam unidas termicamente, mas
21
eletricamente isoladas em uma placa de latão (ver Figura 16d). A inércia térmica desta placa
absorve as variações de temperatura de curto período provocadas pelas correntes de ar. Este
dispositivo é chamado termopilha de Moll. Utiliza termopares de manganês-constantan
conectados a pinos de cobre. Estes pinos estão em contato térmico com a placa de latão mas
isolados eletricamente.
Figura 17. Sensor fotovoltaico: (a) curvas características de uma célula de silício, (b) célula solar
com uma resistência.
22
Figura 18. Detalhe de um pirheliômetro (a) e o sistema de seguimento (b).
Neste caso, o campo de visão é 2 zo. Os valores de ângulos recomendados pela World
Meteorological Organization (WMO) são: zo=2,5° (5x10-3 sr) e zp= 1°.
Do exposto, fica óbvio que este aparelho necessita utilizar um dispositivo preciso para o
seguimento do Sol.
23
Tabela 4. Classificação dos pirheliômetros, segundo a WMO (1983).
Os pirheliômetros absolutos atualmente aceitos pela WMO são todos do tipo cavidade.
São auto-calibráveis eletricamente e a irradiância pode ser determinada em unidades absolutas de
calor. Sua calibração depende somente das dimensões, arranjo dos componentes e da medida
elétrica. Estes aparelhos apresentam uma exatidão melhor que ± 0,3%.
Estes radiômetros absorvem radiação em um receptor cônico e determinam o fluxo de
calor radiante por substituição elétrica. A vantagem de utilizar-se um cone em relação à uma
superfície plana pode ser compreendida através da Figura 20.
Figura 20. Absortância efetiva de (a) superfície plana e (b) superfície cônica.
Dependendo do ângulo de abertura do cone, a radiação que entra é refletida nas paredes
antes de escapar, ao contrário do que acontece numa superfície plana. Em cada incidência deste
raio uma fração αs será absorvida e pode ser provado que a cavidade terá uma absortância efetiva
αc, maior que αs. O valor de αc aumenta a medida que diminui a abertura do cone. Além disso,
uma pintura especular destas paredes aumentará a absortância em relação a uma pintura fosca.
Uma vista esquemática deste aparelho é apresentada na Figura 21.
Os dois cones invertidos (e opostos) contém as superfícies absorvedoras do radiômetro.
Os cones re-irradiam para o elemento sensitivo do detetor, uma termopilha ou termômetro de
resistência de platina.
As juntas frias de ambos absorvedores e as termopilhas de compensação estão em contato
com uma bacia de calor (A) e a cavidade de compensação é "vista"por um corpo-negro. O cone
absorvedor (posterior) e o cilindro são envolvidos por um aquecedor elétrico.
O receptor e a cavidade de compensação estão montados em um tubo colimador, o qual
limita o campo de visão do aparelho.
24
Em operação, o aquecedor do cone posterior é ajustado para produzir o mesmo sinal do
detector quando iluminado pelo Sol. A irradiância é calculada simplesmente como a potência por
unidade de área do absorvedor.
25
Em 1956, a Comissão Internacional de Radiação, reunida em Davos, Suiça, adotou uma
nova escala, conhecida como International Pyrheliometric Scale de 1956 (IPS 1956). Esta nova
escala mudou as duas anteriores da seguinte maneira:
i) as medias realizadas de acôrdo com a escala Ångström deveriam ser incrementadas em 1,5%,
ou seja:
ii) as medidas realizadas de acôrdo com a escala Smithsonian deveriam ser diminuidas em 2%
ou:
A nova escala estava baseada na hipótese que a diferença total entre as duas escalas era de
3,5%. A partir de 1959 (IPC I) foram realizadas, a cada cinco anos, em Davos, uma comparação
de instrumentos. Durante a IPC III (1970) foram introduzidos os primeiros pirheliômetros do tipo
cavidade elétrica e foi notado que a IPS 1956 estava aproximadamente 2% abaixo das medidas.
Desta comparação foi criada a World Radiometric Reference (WRR), 2,2% acima da IPS 1956,
isto é:
26
Figura 22. Foto de um piranômetro de um piranômetro.
O uso destes sensores para a medida da irradiância solar hemisférica está baseado na
suposição de que a distribuição da resposta espectral cobre aproximadamente 85% da energia
representada pela distribuição espectral da energia solar AM 1,5. Entretanto, a presença de
camadas de nuvens, neblina ou poluição, que afetam desproporcionalmente regiões da resposta
espectral das células solares (isto é, a região do infravermelho é menos sensível à tais condições
atmosféricas) resultará em erros de medida da irradiância global. Da mesma maneira, as células
solares não medem acuradamente a distribuição de energia rica de infravermelho e elevada massa
de ar (primeiras e últimas horas do dia). Por último, embora a resposta destas células não seja
afetada pela inclinação do sensor, variações na irradiância espectral em função da fração do
hemisfério do céu incluído pode resultar em erros de 5% ou mais (caso em que o sensor for
calibrado horizontalmente, em condições de céu claro, e que quando inclinado "veja"o Sol, um
céu nublado e a radiação refletida pelo solo).
Além desses dois tipos de piranômetros (termopilhas e fotovoltaicos) ainda se pode
encontrar operando em algumas estações meteorológicas, os piranômetros bimetálicos tipo
Robitzsch, também chamados actinógrafos.
A popularidade deste instrumento reside principalmente na sua simplicidade além de
possuir um registrador incorporado na sua estrutura, o que é particularmente útil para operação
em regiões remotas. Apesar das muitas modificações realizadas neste instrumento desde a data
do primeiro projeto (1932), ele não é recomendado para realizar qualquer medida com exceção
de totais diários e "com a reserva de que, mesmo com um fator de calibração variando de mes a
mes, estes totais diários terão uma incerteza nunca inferior a 5-10%".
Estes instrumentos funcionam com o principio bimetálico, descrito anteriormente.
Através de um mecanismo, a extremidade livre está conectada a uma pena que registra o valor da
radiação em uma tira de papel montada em um cilindro movido por um relógio, realizando uma
rotação em 24 horas ou em 7 dias.
Pelo próprio principio bimetálico, este sistema é extremamente sensível à temperatura.
Além disso, a constante de calibração varia muito com o ângulo de incidência, pois o sensor se
curva com a temperatura, deixando de ser plano. Desta forma a constante de calibração é função
dos ângulos de azimute e zênite. No modelo Robitzsch-Feuss, a calibração do instrumento pode
diminuir até 40% quando o ângulo de incidência aumenta de 10° a 70°, obrigando a adoção de
correções diárias.
Outro grave problema é a grande inércia térmica destes instrumentos, que possuem um
tempo de resposta (a 98%) extremamente lento, podendo chegar de 10-15 min, dependendo do
tipo.
27
Para finalizar, é necessário comentar que a integração do valor diário é realizada
manualmente, utilizando-se um planímetro, processo este que pode introduzir mais erro na
medida final.
Figura 23. Resposta coseno de um piranômetro medida em dois planos ortogonais, passando pelo
eixo do aparelho.
28
Geralmente se descreve a resposta coseno como o desvio da lei do coseno em dois planos
ortogonais, passando pelo eixo do piranômetro enquanto a resposta azimutal é descrita como o
desvio da lei de Lambert num dado ângulo de incidência, quando um piranômetro montado
horizontalmente é girado 360°. Estes dois efeitos são mostrados nas Figuras 23 e 24.
Para dois piranômetros típicos, as respostas coseno e azimutal são mostradas nas Figuras
25 e 26.
29
Figura 26. Resposta coseno de um piranômetro Eppley PSP.
Figura 27. Variação na resposta de um piranômetro Eppley PSP em função da inclinação com a
horizontal.
30
Figura 28. Dependência da temperatura na constante de calibração de um piranômetro Eppley
PSP.
e) Seletividade espectral: talvez sejam os erros mais difíceis de tratar. Em princípio, todos
os materiais conhecidos mudam suas características de refletividade ou espectrais após um
periodo de exposição ao Sol. Isto é o que acontece com as superfícies absorvedoras dos
pirheliômetros e piranômetros.
Também, a cor característica da luz usada na comparação/calibração de instrumentos
afetará suas leituras relativas mesmo para uma leve diferença da característica espectral.
31
Tabela 6. Características dos piranômetros.
Fabricante Modelo Resposta Sensibilidade a Resposta Tempo de Intervalo Linearidade Variação da Sensibilidad
coseno (70°) temp.(-20/+40°) inclinação, % resposta, espectral, nm até 1000 Wm-2 estabilidade e
1/e, s (%, por ano)
Eppley Labs 8-48 ±2a ±1,5 <0,5b 5 285-2800 0,99 11-12
Eppley Labs PSP 1c ±1 <0,5 1 285-2800 0,995 d
8-10
e f
Eppley Labs SCP 0 0 ≈1 <285->2800 >0,995 0,1-0,15
f f f
Kipp&Zonen CM6 -5 3 305-2800 0,985 11-12
f
Kipp&Zonen CM11 <3 ±1 <0,5 5 305-2800 0,995 5-6
Phillip Shenk T-8101 ±2 ≈2 1 20 300-3000 0,99 ≈3 15
f f f f
Swissteco SS-85 ≈1 5 280-2900 16
f f f f
Eko MS-42 ≈5 ≈3,5 1,5 7-8
f
LiCor 200SB ≈3 0 ≈0,1 400-1100 >0,99 ≈1 8×10-3µA
g
Hollis Obs. TR-201 1,5 ≈1,5 0 ≈0,1 400-1100 0,99 <2
32
3.5. Outras medidas de radiação solar
Além das medidas normais de radiação solar (global, difusa e direta), se dispõe de
instrumentos capazes de medir a intensidade da radiação em determinados comprimentos de
onda. Entre os mais utilizados se encontram os instrumentos para medida da intensidade da
radiação solar no infravermelho e no ultravioleta.
A duração da luz do Sol é definida como o intervalo de tempo no qual o disco solar não é
obstruído por nuvens. É, talvez, o tipo de medida de radiação mais antiga e inúmeros dispositivos
foram desenvolvidos nos últimos 160 anos para este fim. Estas medidas são importantes por duas
razões: a duração da luz solar, ou percentagem da luz solar possível, é um dos parâmetros
primários para a caracterização do clima em uma determinada região. A segunda é que este dado
pode ser utilizado para a estimativa do fluxo total de radiação solar numa superfície horizontal
para locais onde as medidas piranométricas não são efetuadas.
A popularidade destes instrumentos reside na sua simplicidade, conveniência e baixo
custo. A quantidade medida por estes registradores é o tempo, geralmente expresso em décimos
de hora (0,1 hora) na qual a intensidade da radiação solar direta é suficiente para ativar o
registrador.
Talvez o instrumento mais conhecido seja o registrador Campbell-Stokes, que consta
basicamente de uma esfera de vidro que atua como uma lente esférica para concentrar os raios de
sol em uma superfície côncava, o foco, onde se coloca uma tira de papel. Quando a intensidade
da radiação ultrapassa certo nível, o papel queima produzindo uma marca.
Estes instrumentos, entretanto, apresentam graves problemas de precisão. Um deles é que
não são suficientemente sensíveis para responder à baixas intensidades de radiação, como ocorre
nos primeiros minutos do amanhecer e nos últimos do entardecer. Outro problema é a dificuldade
para definir o limite inferior preciso do fluxo de irradiância direta que marcará legivelmente a tira
de papel. Em condições extremas de céu claro, atmosfera seca e uma tira de papel seca, este nível
estaria em torno de 70 Wm-2 enquanto numa situação oposta, o nível aumenta num fator de 4.
Um nível médio estaria em torno a 210 Wm-2.
Figura 29. Problemas associados com o monitoramento e modelamento da radiação solar baseada
em satélites.
34
Os primeiros trabalhos nesta área foram desenvolvidos na década de 70 e foram
realizados por Hanson3 e Vonder Haar4 . Estes pesquisadores utilizaram dados do satélite NOAA
(National Oceanic and Atmospheric Administration), de órbita polar, com uma única passagem
diária pela Terra.
Desta forma não foi incluido nestes modelos o efeito das variações diurnas da cobertura
de nuvens, que é o primeiro modulador da radiação solar que atinge a superfície da Terra. Esta
dificuldade foi contornada posteriormente por Tarpley5 que utilizou imagens de satélites
geoestacionários (por ex., GOES, LANDSAT, etc.). Estes dados possuem alta resolução
temporal (30 min) e espacial (≈ 2Km em uma latitude de 45°), permitindo, desta forma, a
avaliação das variações da cobertura de nuvens.
Os sensores dos satélites (radiômetros de varredura no visível e no infra-vermelho)
detectam a radiancia que emerge do sistema terra-atmosfera.
Os modelos disponíveis atualmente (físicos ou estatísticos) ainda apresentam erros
significativos, entre 3 e 30%, dependendo da cobertura de nuvens. Só como exemplo, podemos
citar o modelo abaixo, dado pela seguinte equação:
K ↓ = I sc cos θ ( a − bSR )
35
Esta norma também discute problemas tais como condições do céu, comparação entre
instrumentos de diferentes aberturas e resposta espectral.
36
Apesar do largo uso deste método, existe considerável controvérsia sobre ele,
principalmente no que se refere a tempo de resposta. Na calibração, a tensão Vs da sequência
sombreada representa a irradiância difusa (com a componente direta removida), a tensão Vu da
sequência sem sombra menos Vs é equivalente a tensão da componente direta e a constante é
obtida como:
Vu − V s
k= (46)
I b cos θ z
Vt
k= (47)
I s + I b cos θ z
Os dados de radiação solar medidos pelas diversas redes de monitoramento podem ser
utilizados em uma infinidade de aplicações. Somente para ilustração, podemos citar:
40
Nestas estações, para a medida da radiação solar são utilizados os actinógrafos tipo
Robitzsch-Fuess e para as medidas de insolação heliógrafos tipo Campbell-Stokes.
Estes dados permitiram a construção de mapas solarimétricos mensais para o estado do
Rio Grande do Sul, tal como se vê na Fig. 32 para os meses de junho (inverno) e dezembro
(verão).
Nestes mapas, a irradiação diária média mensal é representada por isolinhas, traçadas
considerando-se, além dos valores de irradiação em cada uma das estações, as zonas climáticas e
o relevo do estado. Os valores da irradiação estão expressos em MJm-2dia-1 .
Figura 32. Mapas com isolinhas de radiação para o estado do Rio Grande do Sul.
41
- 4-
A atmosfera terrestre
A radiação originada do Sol é atenuada, antes de alcançar o solo, pela atmosfera terrestre,
que pode ser classificada em dois tipos bastante amplos: (i) atmosfera sem nuvens e (ii)
atmosfera com nuvens. Neste capítulo, os constituintes de uma atmosfera sem nuvens são
descritos.
A radiação máxima recebida pela Terra é em condições de atmosfera sem nuvens e céu
claro. A maioria dos equipamentos de conversão solar são projetados para operar nestas
condições ou quando o nível de radiação estiver acima de um determinado patamar. Como
valores altos de radiação também podem causar muitos problemas (agricultura, arquitetura, etc.)
a correta determinação destes níveis máximos é muito importante.
A estrutura vertical da atmosfera terrestre, como é representada esquematicamente na
Figura 33, é dividida em um número de esferas concêntricas: troposfera, estratosfera, mesosfera,
termosfera, etc. e é descrita por uma atmosfera padrão.
Existe uma acentuada variação de temperatura em cada uma destas esferas, tal como se vê
na Figura 34. Já a densidade e a pressão diminuem continuamente. Para efeitos práticos, os
valores ao nível do mar da pressão, temperatura e densidade são os seguintes:
A água existe na atmosfera em três estados: gás, líquido e sólido (gêlo). A água em estado
gasoso é chamada vapor d’água e sua quantidade pode ser definida de duas maneiras. A relação
de mistura, Mr e a água precipitável, w´. A relação de mistura é a relação entre a massa de vapor
d’água presente e a massa de ar sêco, em um volume unitário. A água precipitável é a quantidade
total de vapor d’água na direção zenital, entre a superfície da terra e o topo da atmosfera. Assim,
água precipitável pode ser escrita como:
1 ∞
w′ = ∫ M dz (48)
g 0 r
44
Tabela 9. Relação de mistura, Mr (ppm) e água precipitável, w´ (µm) (valores medios anuais).
Muitos países publicam mapas de contorno com médias mensais de água precipitável. Na
ausência destes mapas, podem-se utilizar correlações entre água precipitável e a pressão parcial
do vapor d’água, ou temperatura de orvalho ou ainda umidade relativa. Algumas destas
correlações são:
φ r ps
w = 0,493 (52)
T
45
onde w é a água precipitável reduzida, em centímetros, φr é a umidade relativa em frações de um,
T é a temperatura ambiente em graus K e ps é a pressão parcial do vapor d’água no ar saturado
que pode ser obtida por:
4.3. Aerossóis
46
∞
A massa ótica relativa, mr, é definida como a relação entre o caminho ótico numa
trajetória obliqua e o caminho ótico na direção vertical (direção zenital). Assim:
∫ ρds
0
mr = ∞ (56)
∫ ρdz
0
Como a atenuação é feita por diferentes moléculas, a equação acima deve ser resolvida
separadamente para cada um dos componentes atenuadores. Ignorando a curvatura da terra e
assumindo uma atmosfera não-refrativa e completamente homogênea, tal como se vê na Figura
36(a), a massa ótica relativa, aplicada para todos os constituintes da atmosfera, é dada por:
(a) (b)
Figura 36. Trajetória de um raio de sol através da atmosfera terrestre. (a) atmosfera plano-
paralela não-refrativa e (b) atmosfera refrativa esférica de densidade variável.
O erro nesta equação, devido à curvatura da terra e a refração da atmosfera real ter sidos
desprezados é 0,25% para θz =60° e aumenta para 10% para θz =85°.
Para resolver a Equação (56), a variação de densidade de uma atmosfera real é necessária.
Baseado em uma atmosfera padrão, Kasten7 apresentou uma tabela de massas de ar e a seguinte
equação, que aproximava sua tabela:
[
mr = = cos θ z + 0,50572( 96,07995 − θ z ) ]
−1, 6364 −1
(58)
47
com θz dado em graus. Esta fórmula tem uma exatidão superior a 0,1% para ângulos de zênite
menores que 86° e um erro máximo de 1,25% para θz =89,5°. Os valores de massa de ar para
alguns ângulos de zênite são dados na Tabela 10.
Massa de ar ótica
θz,, graus mr´=secθz mr (Kasten)
0 1,00 1,00
30 1,15 1,15
60 2,00 1,99
65 2,37 2,35
70 2,92 2,90
75 3,86 3,81
80 5,76 5,58
85 11,47 10,32
86 14,34 12,34
87 19,11 15,22
88 28,65 19,54
89 57,30 26,31
90 ∞ 36,51
A equação acima é aplicável para uma pressão padrão de 1013,25 mbares no nível do
mar; para outras pressões é comum modificá-la, seguindo a seguinte aproximação:
p
ma = mr (59)
1013,25
Em geral, a correção da pressão necessita ser aplicada para estações a 2000 m de altitude
ou mais ou quando a diferença entre a pressão padrão e a pressão local for maior que 20 mbares.
A pressão acima do nível do mar pode ser obtida através de:
p
= exp( −0,0001184z ) (60)
po
48
-5-
Estimativa da radiação solar média
5.1. Correlação entre irradiação global diária média mensal e insolação (horas de brilho de
sol)
É óbvio que, quanto maior for o número de horas de brilho de sol (insolação), maior será
a radiação incidente e vice-versa, existindo uma relação direta entre estes dois valores. A longo
prazo, a radiação global diária média mensal pode ser estimada através da insolação, dado este
medido em muitos lugares do mundo utilizando o registrador (Heliógrafo) Campbell-Stokes.
A equação original se deve a Ångstrom8 e relaciona a irradiação diária média mensal com
a irradiação de um dia claro para o local em questão e a fração de horas de sol possível. Assim:
H ) ) n
=a+b (61)
Hc Nd
onde H é a irradiação global horizontal diária média mensal, Hc é irradiação diária horizontal em
) )
um dia perfeitamente claro, a e b são constantes empíricas obtidas através de regressão, n é o
número medido de horas de sol e N d é o número teórico de horas de sol, calculado com a
Equação (11), para um dia médio do mês.
) )
Para Estocolmo, Ångstrom encontrou valores) de a e b de 0,25 e 0,75, respectivamente.
)
De acordo com a Equação (61), é óbvio que a + b =1, pois para dias muito claros, n / N d =1.
Entretanto, devido a problemas inerentes aos registradores Campbell-Stokes, n / N d nunca é igual
a 1. Consequentemente, para condição de céu claro e com este tipo de coeficiente, a radiação é
subestimada.
Do exposto acima, fica claro que a soma destes coeficientes deve ser diferente da
unidade. Além disso, este tipo de correlação sofre outro problema. A dificuldade em definir-se
um dia perfeitamente claro, Hc . Para solucionar este problema, este tipo de equação foi
modificada por Prescott9 , basendo-a na radiação extraterrestre, Ho, quantidade que pode ser
facilmente calculada. Assim:
H n
=a+b (62)
Ho Nd
Geralmente, os valores de a se encontram numa faixa entre 0,17 e 0,32 enquanto b varia
entre 0,37 e 0,69. Examinando vários valores publicados de a e b, Rietveld10 encontrou que a está
relacionado linearmente e b hiperbolicamente ao valor médio de n / N d , tal que:
49
n
a = 0,1 + 0,24 (63a)
Nd
e
N
b = 0,38 + 0,08 d (63b)
n
H n
= 0,18 + 0,62 (64)
Ho Nd
Esta equação pode ser aplicável em qualquer parte do mundo, porém volta-se a salientar
que estas correlações somente são aplicáveis para médias de longo prazo. Para o Rio Grande do
Sul, Berlato11, utilizando valores de irradiação global horizontal diária media mensal e insolação
medida por 17 estações pertencentes ao Serviço de Ecologia Agrícola da Secretaria de
Agricultura, no período de 1955-1965, encontrou valores de a e b iguais a 0,23 e 0,46,
respectivamente.
5.2. Correlação entre a irradiação global diária media mensal com a cobertura de nuvens
H
= a&& − bC
&& (65)
Ho
onde C é a fração média mensal do céu obstruído pela presença de nuvens (durante o período
diurno, obviamente). De acordo com Black12, a forma final da correlação é:
H
= 0,803 − 0,340C − 0,458C 2 , para C ≤ 0,8 (66)
Ho
∫
1h
Ib τ b (ω )I&sc E o cosθ z dω
= (67)
∫
1dia
Hb τ b (ω )I&sc E o cosθ z dω
onde
Ib
τb = (68)
Io
que nada mais é que a relação entre a Equação (24) e a Equação (29). Como na maioria das vezes
Hb não é conhecido, impedindo, portanto de determinar I b , mas que a sua vez possui variação
diurna semelhante a I , utiliza-se a relação I / H em substituição à relação I b / H b . A
discrepância existente entre esta aproximação teórica e os dados medidos é que a transmitância
não é constante ao longo do dia. Posteriormente, Collares-Pereira e Rabl14 desenvolveram uma
expressão matemática para a relação I / H , com a seguinte forma:
I π cos ω i − cos ω s
rh ( ω , ω s ) = = ( a + b&&& cos ω i )
&&& (70)
H 24 sen ω s − ω s cos ω s
onde
Id
rd ( ω , ω s ) = (72)
Hd
π cosωi − cosωs
rd ( ω , ωs ) = (73)
24 sen ωs − ωs cosωs
51
(a)
(b)
Figura 37. Variação diurna da irradiação global horária media mensal em Montreal (a) e variação
diurna da irradiação extraterrestre horária, também para Montreal (b).
H
Kt = (74)
Ho
52
e
Hd
Kd = (75)
H
Figura 38. Distribuição fracional de tempo da irradiação global diária em função do índice de
claridade.
Assim, por esta figura, para um local com K t de 0,6, aproximadamente 19% dos dias
terão Kt igual ou menor que 0,40, por exemplo.
Uma equação analítica que ajusta bastante bem esta distribuição foi proposta por
Hollands e Huget16. A função densidade de probabilidade foi aproximada por uma distribuição
Gama modificada, na seguinte forma:
(K − Kt )
P( K t , K t ) = C exp( λK t ) (76)
tmax
K tmax
53
onde C e λ são funções de Ktmax e K t . Substituindo esta equação naquela que define o valor
esperado (media) de uma variável aleatória:
Ktmax
Kt = ∫ K P (K , K )dK
t t t t (77)
0
obtém-se:
λ2 K tmax
C= (78)
(e λKtmax
− 1 − λK tmax )
2
λ + K tmax (1 − e ) + 2K tmax e λKtmax
λKtmax
Kt = (79)
(e λKtmax
− 1 − λK tmax )
λ=
(2ϑ − 17,519 exp(− 1,3118ϑ ) − 1062 exp(− 5,0426ϑ )) (80)
K t max
onde
O valor fixado para Ktmax é aquele que permite um melhor ajuste com a curvas de Liu e
Jordan, e o valor proposto na literatura é igual a 0,864.
F ( Kt , Kt ) =
C
K tmax λγ 1
[ e (1 − γ K ) − 1] (83)
λKt
1 t
onde
λ
γ1 = (84)
(1 + λKtmax )
As curvas resultantes são apresentadas na Figura 39.
54
Figura 39. Distribuição da fração de tempo F(Kt, K t ).
Hd
Kd = (85)
H
e que fornece uma indicação da quantidade de radiação difusa. Desta forma, conhecido o valor de
Kd, seria possível estimar o valor de Hd, a irradiação difusa diaria. Esta estimativa pode ser
facilmente realizada através de correlações existentes entre Kt e Kd. Deve-se tomar cuidado, no
entanto, que os valores estimados não são para dias individuais mas sim para valores medios de
dias aleatoriamente escolhidos.
A seguir, e nas próximas seções, se mostrarão algumas correlações mais utilizadas. Para
valores diários de radiação, uma das correlações mais empregadas é a de Collares-Pereira e
Rabl14, que pode ser escrita como:
Outra correlação, que também apresenta bons resultados, é aquela proposta por Erbs e
outros17, que introduziram um efeito sazonal, com equações diferentes para o inverno e para o
resto do ano. As equações propostas são:
Pode-se notar desta figura que, sob condições muito nubladas (Kt →0), a radiação global
é composta principalmente de radiação difusa. Já para dias muito claros (Kt >0,7),
aproximadamente 20% da radiação diária é difusa.
Hd
= 1,39 − 4 ,027 K t + 5,531K t2 − 3,108K t3 , para 0,3 < K t < 0,7 (88)
H
Outra equação, desenvolvida por Page18, foi baseada em uma análise de regressão de
dados de 10 estações, localizadas entre latitudes de 40°N e 40°S, resultando a seguinte equação
linear:
Hd
= 1,00 − 1,13K t (89)
H
Hd
H
[ ] [ ]
= 0,775 + 0,347( π / 180) ( ω s − 90) − 0,505 + 0,261( π / 180) ( ω s − 90) cos 2( K t − 0,9) (90)
onde ωs é o ângulo de nascimento do sol, em graus, valendo 90° de fevereiro a abril e de agosto a
outubro, 80° de maio a julho e 100° de novembro a janeiro.
Estas equações estão representadas na Figura 42.
Figura 42. Relação entre a radiação difusa diária e a radiação global diária media mensal.
57
Hd n
= C − D (91)
H Nd
onde C e D são constantes, obtidas por análise de regressão com dados medidos. Como valores
aproximados, pode-se utilizar, para C e D, 0,791 e 0,635, respectivamente.
Todos os métodos anteriores necessitam para estimar o valor da componente difusa o
valor da radiação global, H . Se multiplicarmos a Equação 62 pela Equação 91 acima, poderemos
remover esta restrição. Assim:
2
Hd n n
= C1 + C 2 + C3 (92)
Ho Nd Nd
e de acordo com Iqbal19 , os coeficientes podem ser obtidos por análise de regressão, indicando
os valores de:
2
Hd n n
= 0,163 + 0,478 − 0,655 (93)
Ho Nd Nd
Todas as equações vistas até agora são dependentes do local, ou seja, elas são válidas
somente para o local ou região onde os parâmetros índice de claridade e número de horas de sol
foram medidos. Estes parâmetros não representam adequadamente todos os fatores
climatológicos envolvidos, necessitando-se também variáveis como propriedades óticas do céu e
da cobertura do terreno. Locais de maiores latitudes são geralmente caracterizados por maiores
massas de ar e albedo (ambos aumentam a fração da radiação difusa). Contudo é muito difícil
separar o efeito da latitude dos outros parâmetros. De qualquer forma, o clima local possui um
efeito dominante diante da latitude e que deve ser apropriadamente considerado.
58
Figura 43. Relação entre kd, e kt,.
Entretanto, pode-se notar a existência de uma grande dispersão dos valores de kd, em
torno de um mesmo valor de kt,. Por exemplo, para valores intermediários de kt,=0,5, os valores
da fração difusa variam desde 0,26 até 0,84. Isto, na verdade, leva a pensar-se na existência de
outras variáveis climáticas que afetam esta correlação. Entre as possíveis variáveis, a massa de ar
ou o ângulo de elevação solar parecem os mais evidentes.
A seguir, segue uma série de equações de correlação que visam determinar o valor da
fração difusa a partir, principalmente, do índice de claridade e da elevação solar.
A correlação de Orgill e Hollands20 é dada da seguinte forma:
A correlação de Reindl e outros21 consiste de um trabalho muito mais elaborado uma vez
que fizeram exaustivas comparações buscando encontrar as variáveis climatológicas que mais
influenciam a determinação da fração difusa e que diminuam o erro associado aos modelos do
tipo Liu e Jordan. Entre as muitas variáveis pesquisadas podemos citar: temperatura ambiente,
temperatura de bulbo úmido, umidade relativa, altitude solar, massa de ar, índice de claridade,
etc. As quatro variáveis climatológicas que resultaram mais interessantes foram, por ordem de
importância: o índice de claridade kt , o seno da altitude solar sen α, a temperatura ambiente Ta , e
59
a umidade relativa φr . Como nem a temperatura ambiente e nem a umidade relativa são dados
facilmente obtidos por nós, nos limitaremos a apenas duas correlações:
Para a equação (I) existe a restrição kd ≤ 1,0; para a equação (II) kd ≤ 0,97 e kd ≥ 0,1 e para
a equação (III) kd ≥ 0,1. As restrições impostas eliminam a possibilidade de resultados incorretos
que, de outra forma, podem aparecer através das diversas combinações das variáveis envolvidas.
Estes mesmos autores também propuseram um modelo mais simples, do tipo Liu e Jordan, dado
da seguinte forma:
e a única restrição imposta é na primeira equação, que deve obrigatoriamente ser < 1,0.
Por último, o modelo proposto por Maxwell22 que calcula na realidade a fração direta, kb ,
definida como a relação entre a irradiação direta normal e a irradiação extraterrestre, também
normal. Este modelo necessita como dados de entrada somente kt e m. É chamado “quase-físico”
porque considera o parâmetro físico kbc , isto é, valor máximo de kb , definido como o valor
máximo de kb para uma dada massa de ar. O modelo é dado da seguinte maneira:
Se kt ≤ 0,60
Se kt > 0,60
∆k b = a + b exp(cm) (99)
k b = k bc − ∆k b (100)
onde
60
e desta maneira, a irradiação direta (normal) pode ser calculada como:
I b = I o k b (102)
I d = I − I b cosθ z (103)
Id I cosθ z
= kd = 1 − b (104)
I I
61
-6-
Albedo
6.1. Introdução
Quando energia radiante incide em uma superfície, ela pode ser parcialmente absorvida,
refletida ou transmitida. As propriedades de uma superfície ou material associadas com estas três
funções são chamadas de absortividade, refletividade e transmissividade. As frações da energia
incidente total associada com estas propriedades são chamadas absortância, refletância e
transmitância. Quando a fonte de radiação incidente é o sol, o termo albedo é costumeiramente
usado em lugar de refletância.
A determinação do valor exato do albedo é muito importante para a determinação da
radiação total em uma edificação ou em um dispositivo de coleta de radiação solar e,
principalmente, em estudos que tratam do balanço térmico na atmosfera. Mas, apesar disto, sua
exata determinação ainda é matéria de estudo principalmente pela dificuldade em definir as
características de uma superfície que cobre uma grande área, possivelmente excetuando-se uma
área de água.
De uma maneira muito simples, o albedo ρ pode ser definido como:
Figura 44. Reflexão pelo solo: (a) reflexão difusa isotrópica e (b) reflexão difusa anisotrópica.
62
Quando a reflexão não é perfeitamente difusa, como é mostrado na Figura 44(b), id , a
intensidade anisotrópica refletida está relacionada com a radiação total refletida da seguinte
maneira:
onde dω é o ângulo sólido relacionado com a intensidade da radiação refletida e ⊗ indica que a
integração deve ser realizada em todo hemisfério.
Superfícies que são uniformes com respeito ao comprimento de onda da radiação
incidente são chamadas superfícies especulares e estão representadas na Figura 45.
Figura 45. Reflexão especular: (a) perfeitamente especular e (b) bi direcionalmente especular.
A radiação que chega está contida dentro de um ângulo sólido dωi e incide em um ângulo
Φi em relação a normal da superfície. Toda intensidade refletida está contida dentro de um
ângulo sólido dωr tal que:
dω i = dω r e Φi = Φr (108)
Além disso, as intensidades incidentes e refletidas estão no mesmo plano que contém a
normal à superfície.
Uma superfície que não é perfeitamente especular é ilustrada na Figura 45(b), onde
qualquer uma das seguintes condições pode acontecer:
dω i ≠ dω r , Φi ≠ Φr , ψ ≠ 0 (109)
63
Quanto à relação entre albedo espectral e altitude solar podemos ainda fazer algumas
considerações: para um solo descoberto (de vegetação), o albedo espectral aumenta com o
comprimento de onda e com o decréscimo da altitude solar até um valor de 10° e a partir daí, o
valor diminui. Para o caso de coberturas vegetais, especialmente para folhas muito verdes, o
albedo espectral exibe algumas características seletivas peculiares. O albedo é geralmente baixo
na região do visível e alta na região do infra-vermelho. A característica seletiva se deve à
presença da banda de absorção da clorofila, perto de λ=0,65µm, onde o albedo é mínimo.
Também, o albedo aumenta com o decréscimo da altitude solar e é mínimo no meio-dia.
Para o caso de superfícies aquáticas, o albedo é dependente do ângulo de incidência e do
índice de refração da água. Quando a altitude solar diminui, o albedo aumenta. Na Figura 46 se
apresenta alguns valores de albedo em função da altitude solar, de acordo com Paltridge e
Platt22.
Coberturas Albedo, ρ
Grama verde 0,26
Areia fina e clara 0,37
Floresta verde 0,03-0,10
Neve fresca 0,82-0,98
Asfalto 0,15
Cimento 0,25
Água x
64
- 7-
Fator de forma
Para o cálculo da irradiação refletida pelo solo (ou albedo) se utiliza a aproximação de
que a reflexão seja isotrópica. Na realidade, esta aproximação acontece ou quando a radiação
global é composta principalmente de radiação difusa ou quando o solo seja um refletor difuso
perfeito, tal como um piso de concreto. Além disso, também se considera que as refletâncias,
tanto da radiação difusa como da radiação direta, sejam iguais.
Para encontrar esta fração, utilizaremos o fator de forma entre um coletor plano inclinado
e o solo e entre um coletor plano inclinado e o céu, que nos será útil posteriormente, quando se
calculará a irradiação difusa recebida por uma superfície inclinada. Considere-se a Figura 47 que
mostra um coletor plano inclinado um ângulo β em relação à horizontal. O coletor se encontra no
centro de um hemisfério de raio unitário. A superfície deste hemisfério acima do solo é a porção
do domo do céu visto pelo coletor. A área sombreada na parte inferior desta figura é a projeção
do domo do céu vista pelo coletor na base deste hemisfério de raio unitário.
1 1 1
2
( πr 2 ) + ( π cos β )
2 2
π (1 + cos β ) 1
= = = (1 + cos β ) (111)
πr 2 π 2
65
O fator de forma entre a superfície do coletor e o solo, Fc→g , pode ser obtido ou pelo
método do hemisfério unitário ou através da seguinte relação:
Fc → s + Fc → g = 1 (112)
E, portanto:
1
Fc → g = (1 − cos β ) (113)
2
Desta forma, a irradiação refletida pelo solo é dada, utilizando-se a Equação 113, da
seguinte maneira:
1
Ir = Iρ (1 − cos β ) (114)
2
A Equação 111 é utilizada quando se calcula a irradiação difusa recebida por uma
superfície inclinada, considerando esta mesma radiação distribuída uniformemente no hemisfério
celeste, ou seja, a suposição de isotropia. Desta forma, a equação resultante é dada por:
1
I dβ = I ( 1 + cos β ) (115)
2 d
66
-8-
A natureza da radiação solar
67
E λ = E oλ exp( −τ λ m) (116)
τ z ,λ = ∫z B( λ, z )dz (117)
∞
B = Be + Ba (118)
e
τ = τ e + τ a (119)
32π 3 ( n − 1)
2
Bλ =
R
(120)
3λ4 N
68
8.1.2. Caso de uma atmosfera túrbida
As nuvens são fortes atenuadores da radiação direta, como é obvio, com exceção dos
cirros (nuvens altas) e os alto-estratos (nuvens medias) pouco espessos. Ainda que uma fração
significativa da luz solar incidente seja transmitida pelos cúmulos densos ou pelos estratos
nebulosos, a transmissão se realiza principalmente pela dispersão múltipla nas gotas de água, e
não por transmissão direta do raio original.
Com boa aproximação, as gotas d’água que constituem uma nuvem podem ser
consideradas como esferas transparentes e, neste caso, toda radiação do feixe original reaparece
como energia espalhada. Se for conhecida a distribuição de frequência do tamanho destas gotas e
o conteúdo de água líquida da nuvem, o coeficiente de atenuação da nuvem pode ser calculado
utilizando-se a teoria do espalhamento de Mie. Assim, para uma gota de raio r e de concentração
N, o coeficiente de atenuação Bc da nuvem é calculado como:
B c = Nr 2 f (λ / r ) (121)
onde f(λ/r) possui um valor aproximadamente constante e igual a 2 para a luz visível e raios
típicos de nuvens. Como exemplo, a Figura 49 mostra a transmissão da radiação solar direta em
função da espessura de diferentes tipos de nuvens.
Figura 49. Fração transmitida da radiação solar direta em função da espessura das nuvens.
69
8.2. A componente difusa
A energia que constitui a radiação difusa do céu é o resultado do espalhamento dos raios
solares incidentes em algum tipo de partícula, suspensa na atmosfera. Os tipos mais gerais de
espalhamento são aqueles produzidos por partículas de tamanho muito pequeno, comparado ao
comprimento de onda (Rayleigh) e os produzidos por partículas de tamanho comparável ou
maior que o comprimento de onda (Mie), tal como é representado na Figura 50. As moléculas
gasosas do ar, principalmente oxigênio e nitrogênio, são os maiores espalhadores de Rayleigh e
dominam a forma de espalhamento nos casos de atmosferas claras e livres de turbidância. Para
atmosferas túrbidas, as partículas de aerossóis espalham fortemente e o espalhamento de Mie
chega ser tão importante quanto o de Rayleigh em comprimentos de ondas no azul e no UV. No
visível longínquo e infra-vermeho, o processo de espalhamento em atmosferas turbidas está
dominado pelo espalhamento de Mie e para atmosferas fortemente contaminadas ou nubladas, o
espalhamento de Mie é o dominante em todos os comprimentos de onda.
70
Figura 51. Intensidade relativa da luz do céu, ao nível do mar, em uma atmosfera do tipo
Rayleigh para três comprimentos de ondas. O Sol está situado em um ângulo de zênite de 53,1°.
Figura 52. Intensidade relativa da luz do céu para uma atmosfera molecular (Rayleigh).
71
- 9-
Radiação solar incidente em superfícies inclinadas
9.1 Introdução
Desta forma, então, a radiação global em uma superfície inclinada será dada como:
I β = I bβ + I dβ + I rβ (121)
Figura 53. Radiação direta, difusa e de albedo incidentes em uma superfície inclinada.
72
Para um tratamento mais compreensível do problema, se utilizará primeiramente uma
escala de tempo horária. No final deste capítulo se inclui alguns comentários e formulações de
como abordar este problema em escalas de tempo diferentes da horária, tal como valores médios
mensais da radiação diária.
Para estes cálculos, é útil considerar que a irradiação ao longo de uma hora, dada em
kWhm-2 , coincide numericamente com a irradiância media durante esta hora, em kWm-2 e além
disso, supor que coincide com a irradiância no instante central desta hora.
Nas seguintes seções se desenvolve os procedimentos de cálculo de cada componente em
separado.
cos θ s
I bβ = I bh = I bh rb (122)
cos θ z
Como resultado da simplicidade e da falta de dados observados que sirvam como base
para aprimorar o algoritmo, a aproximação utilizada para calcular a radiação refletida por
superfícies dentro do campo de visão da superfície inclinada consiste na suposição de reflexão
isotrópica por uma superfície horizontal infinita em frente da superfície receptora inclinada.
Conforme foi visto nos capítulos 6 e 7, a reflexão pelo solo ou albedo, pode então ser
calculada pela seguinte relação:
1
Ir = Iρ (1 − cos β ) (123)
2
1 θ z
Ir = Iρ ( 1 − cos β ) 1 + sen 2 ( cos ∆ ) (124)
2 2
onde ∆=γ-γs . Contudo, os resultados apresentados por este algoritmo não foram muito
animadores. Para alguns tipos de superfícies refletoras, os erros produzidos são muito maiores
73
que aqueles produzidos pela simples suposição de isotropia, pelo que se desaconselha sua
utilização.
A radiação difusa representa uma fração apreciável da radiação total, variando desde 10-
15% em climas com céus predominantemente claros até 60% em climas com céus cobertos,
freqüentes em países com latitudes superiores a 40° ou em regiões muito úmidas, como nos
países equatoriais.
A irradiância difusa do céu recebida por uma superfície qualquer está fisicamente
relacionada com a distribuição da irradiância no céu. Considere, por exemplo, uma superfície
horizontal elementar dA, na base de um hemisfério imaginário representando a abóboda do céu,
tal como se representa na Figura 54.
Assumindo-se que o céu está composto de superfícies elementares, de tal forma que uma
superfície dS propague energia radiante (solar) difusa em direção à superfície horizontal. Seja id a
intensidade (radiância) da radiação difusa associada com esta superfície dS. A taxa de energia
radiante alcançando a superfície dA, a partir de dS é dada por:
I&d = πi d (126)
74
e devido a que I&d é disponível à partir de medidas ou estimado, id pode ser facilmente derivado e
o problema de calcular a radiação difusa do céu incidente em uma superfície inclinada pode ser
facilmente resolvido.
Sob condições de céus reais, a intensidade difusa não se distribui uniformemente e varia
com as condições do céu. Para uma determinação exata da radiação difusa do céu incidente em
um plano inclinado, é necessário que a distribuição de id no hemisfério do céu seja medida.
As primeiras publicações sobre medidas da distribuição espacial da radiação difusa e da
radiância no hemisfério celeste datam de 1922 e se devem a Kimball e Hand25 e posteriormente a
trabalhos de Moon e Spencer26, em 1942 e de Hopkinson27, em 1954.
A maioria destes estudos foi realizada utilizando-se medidas obtidas por radiômetros (ou
telescópios de varredura). Devido à constante de tempo destes radiômetros e o número de
medidas realizadas, uma varredura completa do hemisfério celeste pode durar muitos minutos,
durante os quais as condições do céu podem mudar rapidamente.
McArthur e Hay28 empregaram uma técnica fotográfica, utilizando lentes “olho-de-
peixe”. Em cima das fotos, realizaram avaliações densitométricas e construíram mapas de iso-
radiância, tal como se vê nas Figuras 55 e 56.
As figuras mostram que, para condições de céu claro, a intensidade de um elemento no
hemisfério do céu depende da posição deste elemento com respeito ao Sol e com respeito ao
zênite. As intensidades máximas ocorrem perto do Sol e no horizonte e as intensidades mínimas
à 90º do zênite solar.
A radiação vinda da região em torno ao disco solar é chamada radiação circunsolar ou
auréola solar e é causada pelo forte espalhamento frontal das partículas de aerossol. A extensão
desta região depende da turbidância atmosférica e do ângulo de zênite do Sol. De outro lado, o
aumento de intensidade perto do horizonte, chamado brilho do horizonte, é o resultado do
espalhamento devido a elevada massa de ar. Outra característica apresentada é a simetria da
intensidade da radiação difusa em relação à um plano que contém o Sol e o zênite do observador.
Estas observações são bastante evidentes observando-se a Figura 55.
Para o caso de um céu nublado, tal como é mostrado na Figura 56(a), a intensidade não é
completamente isotrópica em todo o hemisfério celeste. Se pode notar a existência de um
máximo à aproximadamente 90º do zênite solar.
Para o caso de um céu parcialmente nublado, como é mostrado na Figura 56(b), a
distribuição da intensidade da radiância difusa é altamente complexa. Isto deve-se principalmente
às fortes reflexões nas bordas das nuvens e das proprias formações das nuvens. Também se pode
ver a existência de grandes variações da intensidade desde o zênite solar até o horizonte.
Destas observações fica claro que para uma determinação rigorosa da radiação incidente
em um plano inclinado necessita-se de informações detalhadas da distribuição da intensidade da
radiação difusa do céu. Entretanto, estas medidas são raras. Além disso, outros parâmetros que
influenciam esta distribuição, tais como características das nuvens, turbidância e albedo, não são
medidos simultaneamente, não permitindo desta forma a generalização e o desenvolvimento de
métodos para estimar a distribuição da intensidade da radiação difusa.
75
exceção do modelo isotrópico, o que fazem é estabelecer incrementos da radiância de
determinadas zonas do céu (circunsolar e horizonte). Os modelos direcionais, por sua vez, são
determinados através de medidas realizadas com instrumentos com campo de visão reduzido.
Estas medidas permitem mapear o hemisfério celeste para diferentes condições do céu e
diferentes posições do Sol.
Figura 55. Distribuições da radiância difusa (normalizada) para céus claros, com ângulos de
zênite solar, θz , no intervalo de 61º até 67,6º. As unidades são sr-1.
76
Figura 56. Distribuições da radiância difusa para (a) céu nublado e (b) céu parcialmente nublado.
A posição do Sol está indicada pelo ponto negro. As unidades são Wm-2sr-1.
77
9.5.2. Modelo de Temps e Coulson24
β
1 + sen 3
2
na equação base, para representar esta distribuição. O aumento do brilho do céu perto do Sol foi
aproximado pelo fator:
1 + cos 2 θ s sen 3 θ z
β
I dβ = 0,5I d ( 1 + cos β ) 1 + sen 3 (1 + cos 2 θ s sen 3 θ z ) (127)
2
78
onde Id é a irradiação difusa horizontal e I é a irradiação global, também horizontal. Desta forma,
a equação para a irradiação difusa incidente em uma superfície inclinada é dada por:
β
I dβ = 0,5I d ( 1 + cos β )1 + F sen 3 ( 1 + F cos 2 θ s sen 3 θ z ) (129)
2
Desta forma, busca um equilíbrio entre o modelo isotrópico que é válido para céu
nublado e o modelo de Temps e Coulson, que é válido para céu claro. A descrição esquemática
deste modelo é mostrada na Figura 59. Deve-se notar que para condições de céu nublado F=0 e a
equação se reduz ao modelo isotrópico enquanto que quando F→0, se reduz ao modelo de
Temps e Coulson.
Este modelo considera duas zonas no céu como fontes de radiação difusa: uma emitindo
isotropicamente e a outra, a parte circunsolar, emitindo direcionalmente, de acordo com o
esquema da Figura 60.
Este modelo assume que as componentes isotrópica e circunsolar são uma combinação
linear baseada na transmitância da radiação direta. Para isto, definem um índice de anisotropia,
κ, que nada mais é que um índice de transmissão da radiação direta:
79
I bn
κ= (130)
I on
onde Ibn é a irradiação direta normal e Ion é a irradiação extraterrestre, também normal.
Assim, a parte a ser tratada como isotrópica é dada por:
e a parte circunsolar,
cosθ s
I d×β = I d κ (132)
cosθ z
Desta maneira, a irradiação difusa incidente em uma superfície inclinada é dada por:
cosθ s
I dβ = I d κ + 0,5(1 − κ )(1 + cos β ) (133)
cosθ z
Este modelo utiliza uma descrição geométrica da distribuição da radiação difusa no céu
bastante simples, de acordo com a representação da Figura 61.
Assume uma radiância constante sobre todo o céu exceto em um disco em torno ao Sol e
uma banda no horizonte, onde os valores da radiância difusa são incrementados. A magnitude
deste incremento é considerada como uma função de três parâmetros que descrevem a condição
do céu em cada instante, que se relacionam com a radiação difusa, a relação entre a radiação
direta e a difusa e o ângulo de zênite solar. São assim definidos:
80
• ângulo de zênite solar, θz
• ∆=(Id m)/Ion
• ε=(Id+Ibn)/Id
onde Id é a irradiação difusa horizontal, m a massa de ar, Ibn a irradiação direta normal e Ion a
irradiação extraterrestre, também normal. A forma deste modelo é dada pela equação:
cosθ s
I dβ = I d 0,5(1 + cos β ) (1 − F1 ) + F1 + F2 sen β (134)
cosθ z
onde θz é em radianos. Os valores de Fij , i=1...3;j=1...3, podem ser encontrados na Tabela 12.
Similar à Equação 126, o total diário da irradiação difusa em um plano inclinado pode ser
escrita como:
dia β
H dβ = ∑ 0,5I d ( 1 + cos β )1 + F sen 3 ( 1 + F cos2 θ s sen 3 θ z ) (137)
2
81
9.6.3. Modelo de Hay e McKay
A expressão diária deste modelo pode ser desenvolvida à partir da Equação 133. Se pode
mostrar que:
H dβ = H d {[ ( H − H ) / H ] R
d o b [
+ 0,5( 1 + cos β ) 1 − ( H − H d ) / H o ] } (138)
9.6.4. Modelo de Perez
Para este modelo e da mesma forma que para o modelo de Klucher, não é possível
desenvolver uma expressão para o total diário. Desta maneira:
dia cosθ s
H dβ = ∑ I d 0,5( 1 + cos β ) ( 1 − F1 ) + F1 + F2 sen β (139)
cosθ z
82
- 10 -
Geração de dados de radiação solar
10.1. Introdução
Pelo que vimos até agora, os métodos para estimar a radiação solar global incidente em
uma superfície qualquer são trabalhosos mas, em geral, fáceis de utilizar e os resultados obtidos
estão dentro de uma incerteza na mesma ordem de grandeza das medidas de radiação solar. Isto é
verdadeiro, obviamente, desde que se disponham destes dados de radiação solar.
Seguindo este raciocínio, a situação mais crítica quando ao erro desta estimativa seria o
caso de se dispor de apenas 12 valores de radiação solar (diária media mensal), um para cada
mês, estimados por alguns dos métodos já vistos e a partir daí, calcular os valores horários
(também médios mensais). Os resultados destes cálculos seriam uma série de valores horários de
radiação global, idênticos nos 30/31 dias de cada mês e além disso, simétricos em torno ao meio-
dia.
Para o estudo de desempenho e de dimensionamento de sistemas solares à longo-prazo,
este procedimento poderia ser adequado unicamente se a fração de energia fornecida via energia
solar (ou seja, a relação entre a parte solar e a energia total requerida) fosse pequena. Caso
contrário, quando a fração solar aumenta (aproximando-se de 100%) e, principalmente, quando
os custos de armazenamento se tornam muito elevados, como acontece em instalações
fotovoltaicas, o projetista é obrigado a trabalhar em níveis críticos. Nestes casos, os efeitos da
distribuição da radiação solar e de sua persistência tornam-se extremamente importantes. Isto
acontece devido a que a unidade de armazenamento geralmente encontra-se completa ou quase
completa, diminuindo a capacidade de amortecer os efeitos das condições variáveis da relação
energia fornecida/consumo.
Neste caso, a solução seria trabalhar diretamente com as sequências de dados de radiação
solar, em base horária ou mesmo diária, disponíveis para o local de interesse e além disso,
contendo um número estatisticamente significativo de dados. Segundo Klein e Beckman33, o
desempenho médio de sistemas solares em períodos de 10 anos, tendo probabilidade de perda de
carga igual ou menor que 0,01 (≈ 3,6 falhas/ano) pode variar muito de um período a outro e,
portanto, os resultados de simulações realizadas com sequências com este período de tempo não
podem ser considerados como estimativas realistas de seus desempenhos, havendo necessidade
de trabalhar com sequências muito maiores.
Como também vimos anteriormente, a disponibilidade de tais sequências (20 anos ou
mais) está restrita à poucos lugares no mundo. Para contornar este problema, utilizam-se
sequências de dados de radiação solar geradas artificialmente, através de modelos estatísticos
adequados que visam conservar certas características apresentadas pelas séries verdadeiras, tais
como média, desvio padrão, função densidade de probabilidade, autocorrelação, etc.
Os algoritmos desenvolvidos são então introduzidos nos programas de simulação,
permitindo que se gere sinteticamente sequências de dados de radiação solar do tamanho
desejado, além de trazer outras facilidades, como por exemplo, eliminar a necessidade de grandes
arquivos de dados e poupar espaço de memória e principalmente, diminuir o tempo de execução
destes programas.
A seguir serão descritos alguns destes métodos e comparados os resultados para algumas
aplicações específicas.
83
10.2. Geração estocástica de valores diários de irradiação global - descrição do problema
Figura 62. Irradiação global diária horizontal , H, e irradiação extraterrestre diária horizontal, Ho,
em Porto Alegre, durante o ano de 1983.
O modelo ARMA (Auto Regressive Moving Average) é uma classe de modelo estatístico
estável desenvolvido por Box e Jenkins34. Este modelo estocástico linear está baseado na idéia de
que uma série de tempo onde os valores sucessivos são altamente dependentes pode ser
considerada como se fosse gerada de uma série de “choques” independentes ωt . Estes “choques”
são números aleatórios retirados de uma distribuição fixa, geralmente normal e tendo média zero
e variância σ2ω. Uma tal sequência de variáveis aleatórias ωt, ωt-1 , ωt-2 , ..., é chamada de
processo de ruído branco. Sua função de autocorrelação ρk tem a particularidade que:
1, k = 0
ρk =
0, k ≠ 0
~
zt = z t − µ (140)
~
zt = φ 1 ~
zt −1 + φ 2 ~
zt − 2 +...+ φ p ~
zt − p + ω t (141)
onde utiliza-se os símbolos φ1, φ2 , ..., φp para o conjunto finito de parâmetros ponderados. Este
modelo contém p+2 parâmetros desconhecidos (µ,φ1, φ2 , ..., φp e σ2ω) que necessitam ser
estimados através dos dados conhecidos.
No modelo da média móvel (MA), ~ zt é linearmente dependente de um número finito q de
valores prévios de ω.
~
zt = ω t − θ 1ω t −1 − θ 2 ω t − 2 −...−θ q ω t − q (142)
Este modelo contém q+2 parâmetros desconhecidos (µ,θ1, θ2 , ..., θp e σ2ω) que também
necessitam ser estimados através dos dados conhecidos.
85
O modelos misto auto-regressivo de média móvel de ordem p,q ou ARMA(p,q) é a
aglutinação dos dois modelos anteriores e pode ser escrito da seguinte maneira:
~
zt = φ 1 ~
zt −1 + ...+φ p ~
zt − p + ω t − θ 1ω t −1 −...−θ q ω t − q (143)
Uma solução encontrada foi a de transformar Kt em uma nova variável com uma
distribuição gaussiana. No entanto, como a distribuição dos valores de Kt é uma função de seu
valor médio mensal K t , não é possível utilizar-se as técnicas convencionais de transformação
pois estas necessitariam que os parâmetros fossem determinados interativamente para cada mês e
para cada localidade, impossibilitando que se obtenha um modelo universal válido para qualquer
parte do mundo. Isto poderia ser conseguido incorporando-se a distribuição de Liu e Jordan, que
possibilitaria que um usuário, de qualquer parte, pudesse produzir as sequências de Kt
conhecendo somente os valores de K t .
Assim, as series produzidas teriam a variação mensal e a distribuição de probabilidades
corretas e também manteriam a relação entre os eventos diários.
86
A) O mapeamento gaussiano
f j ( K t ) = χ (144)
χ 1 χ 1 χ
u = ∫−∞ g (z )dz = ∫ 2
exp − z /2
dz = 1 + erf (146)
2π −∞ 2 2
e
v = ∫kt P( K t , K t ) dK t = F ( K t , K t ) (147)
kt max
min
1 χ
1 + erf = F ( K t , K t ) (148)
2 2
χ = 2erf −1
{2 F ( K , K ) − 1} = f
t t j ( K t ) (149)
onde n e n-t são números de dias, sendo que n-t equivale à t dias precedentes ao dia n. χ(n) é o
valor de χ no dia e ω(n) é o valor no dia n de um número aleatório retirado de um conjunto de
números com distribuição normal de média zero e variância σω2.
Os parâmetros φt (t=1,2,...,p) e θt (t=1,2,...,q) são chamados parâmetros autoregressivos e
de média-móvel, respectivamente. A construção do modelo segue o procedimento aconselhado
por Box e Jenkins.
Identificação:
onde N é o número de elementos da série, k é o intervalo entre as duas variáveis, zt e zt+k são os
valores das variáveis nos tempos t e t+k, respectivamente e z é o valor médio da série.
Esta equação, que estima o valor rk de ρk , o coeficiente de autocorrelação, mede a
direção e intensidade da relação estatística entre pares ordenados de observações de duas
variáveis aleatórias. É um número adimensional que toma valores entre -1 e +1. Um valor de -1
significa uma perfeita correlação negativa e um valor de +1 uma perfeita correlação positiva. Se
ρk=0, então não existe correlação.
A função autocorrelação parcial φ$kk , onde k é o intervalo de tempo considerado, é obtida
através da seguinte equação, onde rkk é o valor estimado de φ$kk :
k −1
rk − ∑ φ$k −1, j rk − j
j =1
φ$kk = k −1 (152)
1 − ∑ φ$k −1, j r jh
j =1
Esta função mede como zt e zt+k estão relacionados, mas considerando os efeitos dos z´s
intermediários.
Comparando estas funções para as séries da variável χ obtidas pela transformação das
séries de Kt observadas, com as funções teóricas, Grahan et alii35 mostraram que o modelo
ARMA(1,0) descreve perfeitamente o processo real.
88
Estimativa dos parâmetros
Checagem
Após a utilização do modelo escolhido, testam-se os resíduos ω$( n) para verificar sua
independência e normalidade, através das funções de autocorrelação e de autocorrelação parcial.
Se os resíduos são brancos (independentes), as autocorrelações estimadas terão um erro padrão
de 1 / N .
C) Validação do modelo
χ (n) = φ1 χ ( n − 1) + ω( n) (153)
A variância do ruído, σω2 , não é uma quantidade independente pois está relacionada com
a variância de χ:
σω2
σχ =
2
(154)
1 − φ 12
Como foi assumido que a distribuição gaussiana de χ tem uma média igual a zero e
variância unitária, tem-se:
σω2 = 1 − φ 12 (155)
89
1 1 φ 1 χ ( n − 1) + ω ( n)
F ( K t , K t ) = + erf (156)
2 2 2
onde a função erro é dada por:
x
2
erf (x ) =
π
∫e −t2
dt (157)
0
que pode ser avaliada utilizando-se a função Gama incompleta P(α,x), pois estão relacionadas da
seguinte forma:
1
erf (x ) = P , x 2 , x ≥ 0 (158)
2
Para uma melhor visualização do que é o processo em si, se utiliza o seguinte exemplo:
considere um lago com folhas de nenúfares, tal como é descrito na Figura 65 e analisamos o
comportamento de uma rã neste lago.
A rã necessita obrigatoriamente estar localizada em uma folha; ela nunca nada na água.
Ela tanto pode pular de uma folha a outra como permanecer no mesmo lugar.
Considera-se que o lago possua um número finito de folhas, N. Se n indica o número de
saltos realizados pela rã e s(n) o número da folha ocupada após o enésimo salto, a sequência:
especifica todo o itinerário da rã. Esta sequência é chamada de processo e o estado do processo é
o número da folha ocupada pela rã. Os saltos da rã de uma folha a outra representam um processo
de transição de estados. A quantidade s(n) representa o estado do processo após a enésima
transição.
90
A trajetória do processo, como se pode perceber, é aleatória. O comportamento estatístico
deste processo poderia ser descrito caso fosse conhecida a probabilidade condicional para todos
os valores de seus argumentos:
onde 1≤ (i,j,k,...,m) ≤ N.
Esta é a probabilidade de que cada estado será ocupado após a n+1 transição, fornecendo
a trajetória ou história de como são ocupados os estados no tempo n. Se esta probabilidade
condicional pudesse ser especificada arbitrariamente para todo valor de n, então o
comportamento do processo poderia ser extremamente complexo.
A) A suposição markoviana
Esta suposição diz que somente o último estado ocupado pelo processo é relevante na
determinação de seu comportamento. Com esta suposição a probabilidade condicional dada pela
Equação 159 torna-se:
B) Probabilidades de transição
Deve-se notar que as probabilidades do mesmo estado ser ocupado após uma transição,
isto é, as probabilidade pii , i=1,2,...,N não são necessariamente zero. Visto que o processo
precisa ocupar um dos N estados após uma transição:
91
N
∑p
j =1
ij = 1, para i = 1,2, ... , N (163)
pN 1 pN 2 ... p NN
O procedimento é o seguinte:
b) cada valor na sequência é colocado em seu estado e é obtida então uma sequência de estados
como, por exemplo, (4,7,3,6,5,...).
c) são formados pares ordenados, tais como (4,7), (7,3), (3,6), (6,5), etc. tomando-se todos os
pares contíguos de estados.
d) cada par é um evento que é adicionado a todos os outros eventos iguais em cada posição da
matriz, produzindo um histograma bidimensional, normalizado à unidade para cada linha,
dividindo-se pelo número de eventos na linha.
É útil observar que o estado estacionário de uma MTM (n×n) é um vetor cujos
componentes são n valores discretos da função distribuição correspondente ao período associado.
92
Outra observação básica é que a forma da função distribuição para um período tal como um mês
parece ser idêntica para todos os meses tendo o mesmo valor de K t . Visto que esta função
distribuição é o estado estacionário de uma MTM mensal, parece razoável esperar que para cada
valor de K t corresponde uma e somente uma MTM mensal.
Nas Tabela 13 a 22 se apresentam a biblioteca de matrizes de transição de 10×10 e na
Tabela 23 os valores de Ktmin e Ktmax associados a cada uma delas.
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Tabela 17. Matriz de Transição de Markov para 0,45 < K t ≤ 0,50.
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Tabela 21. Matriz de Transição de Markov para 0,65 < K t ≤ 0,70.
Tabela 23. Valores máximos e mínimos de Kt para cada uma das dez classes definidas.
Classe 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ktmin 0,031 0,058 0,051 0,052 0,028 0,053 0,044 0,085 0,010 0,319
Ktmax ,705 0,694 0,753 0,753 0,807 0,856 0,818 0,846 0,842 0,865
a) seleciona-se uma MTM em função do valor de K t , com seus valores associados de Ktmin e
Ktmax.
b) o estado i é escolhido tomando-se no começo de cada mês o valor de Kt do último dia do mês
anterior, Kt+, (exceto para o primeiro dia do primeiro mês, para o qual toma-se o valor médio do
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mês anterior) e portanto, uma linha da matriz. Este estado é obtido verificando-se em que
intervalo h = ( K tmax − K tmin ) / n se encontra o valor de Kt+ .
d) os elementos pi1, pi2, pi3, ..., pij são somados até que sua soma seja maior que R, determinando-
se j, o próximo estado de Kt, isto é, o estado no qual Kt estará no próximo dia. A maneira mais
simples de encontrar o novo valor de Kt consiste em atribuir-lhe o valor médio do intervalo
correspondente ao estado j. Uma outra maneira seria fazer uma interpolação linear dentro do
intervalo.
e) o segundo dia da sequência pertence, então, ao estado j. Repete-se os passos c) e d).
Como o valor médio de Kt de uma sequência gerada pode desviar-se um pouco do valor
médio mensal K t usado como entrada, devido principalmente ao pequeno tamanho da sequência,
pode-se gerar várias sequências mensais até que a média destas esteja tão próxima ao valor de K t
quanto se deseje, tipicamente dentro de um limite tal como K t ( observado ) − K t ( gerado ) ≤ 0,01.
k t (t ) − k tm (K t , t )
y (t ) = (165)
σ (K t , t )
onde ktm é a media horária, em função da hora do dia (1 a 24) e σ o desvio padrão de kt, em
função dos valores diários de Kt e da hora. Como kt, é normalmente distribuído, ktm e σ
caracterizam completamente sua distribuição.
À variável y pode então aplicar-se o modelo ARMA de primeira ordem:
y (t ) = φ 1 y( t − 1) + r (166)
onde
O desvio padrão σ foi ajustado aos valores calculados e é representado pela seguinte
equação:
onde
{
A = 0,14 exp −20( K t − 0,35)
2
} (171)
B = 3( K t − 0,45) + 16K t5
2
O valor da variável aleatória gaussiana r deverá possuir média zero e desvio padrão:
σ ′ = (1 − φ 12 )
0 ,5
(172)
[
r = σ ′ z 0,135 − (1 − z )
0 ,135
] / 0,1975 (173)
Do processo inverso à normalização obtém-se o novo valor de kt :
k t (t ) = ktm ( Kt , t ) + σ ( Kt , t ) y( t ) (174)
Para certificar-se que o valor encontrado de kt esteja dentro de limites físicos aceitáveis,
compara-se o valor encontrado com valor máximo permitido, dado por:
O processo de geração necessita então comparar, para cada valor gerado de kt, se kt >0 e
se kt < kcs . Uma vez encontrado todos os valores de kt para um determinado dia, compara-se o
valor diário encontrado Kt’ com o valor de partida, Kt , de tal forma que:
Kt′ − K t
< ε (176)
Kt
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onde ε é o máximo erro permitido. Caso isso não se satisfaça, reinicia-se o processo para aquele
dia.
Bibliografia consultada
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