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STARTUPS

Breve notas sobre o financiamento das startups e sua regulação

1. O que é uma startup e o seu financiamento?

Apesar de nem todas as PMEs (pequenas e médias empresas) configurarem startups, a verdade
é que estes dois conceitos encontram extensas áreas de sobreposição.

Embora seja possível encontrar algumas definições legais de startup para enquadrar o seu regime
jurídico, não há propriamente uma definição consagrada.

As startups podem ser definidas como empresas com um histórico operacional limitado. Estas
empresas correspondem geralmente a entidades de criação recente que se encontram numa fase
de desenvolvimento e pesquisa de mercado.

Características de uma startup (European Startup Monitor):

a) Uma sociedade em início de atividade há menos de dez anos;


b) Que procura a execução de modelo de negócio e/ou utilização de tecnologias altamente
inovadoras;
c) Que tenha ou ambicione ter um crescimento acentuado em matéria de número de
colaboradores e/ou vendas.

Então, startup é uma sociedade em fase inicial das suas operações que procura desenvolver um
modelo de negócio inovador, e estruturado para permitir à sociedade um crescimento exponencial.

Ademais, quando falamos de financiamento, temos em vista a mobilização dos fundos


necessários aos investimentos associados ao objeto/atividade da sociedade. Pode ser feito com
capital próprio (os próprios sócios financiam – associação do financiamento com a participação
societária. Nesta modalidade, o financiamento resulta da aplicação do capital social e que será
remunerado pela distribuição de dividendos e pelo saldo de liquidação) ou com capital alheio
(terceiros não-sócios. Aqui o financiador empresta determinada quantia em dinheiro e será
remunerado pela restituição das quantias mutuadas e pagamento dos juros convencionados,
pelo que a remuneração das entidades financiadoras e o calendário de reembolso dos fundos
estão pré-fixados, não dependendo do desempenho da sociedade).

O financiamento via empréstimo bancário é exceção para uma startup.

2. O ciclo de financiamento de startups


Uma primeira fase do ciclo de financiamento de startups é designada de fase de investimento
semente (seed capital). É uma fase de investimento embrionária ou de prova de conceito. Nesta
fase, o investimento vai ser realizado para possibilitar estabelecer a direção e objetivos da
atividade da sociedade, entre os quais a criação de uma equipe, criação de um produto e a
definição de uma orientação no mercado. Uma vez iniciada a atividade comercial da sociedade,
é ainda nesta fase que, desejavelmente, as receitas correntes serão suficientes para cobrir as
despesas correntes, atingindo-se o breakeven.

À fase semente segue-se o investimento de série A, que tem em vista otimizar a entrada no
mercado e o alargamento de uma rede de distribuição. A ideia será desenvolver o modelo de
negócio utilizado, de tal forma que esta série é designada de série de desenvolvimento. AS
empresas que atingem o breakeven raramente recorrem ao investimento de série A. No
investimento série B, além dos objetivos comuns a todas as rondas de financiamento, como a
expansão de equipe e a globalização da oferta da empresa, inicia-se um plano de fusões e
aquisições. No investimento série C, procura-se obter a escalabilidade do negócio, ou seja, o
crescimento da sociedade de forma ampla e rápida, antecipando para os investidores das rondas
iniciais um momento de saída e de rentabilização do investimento em mercado secundário. Pode
acontecer na B.

A cada uma das fases corresponde um diferente perfil de risco de investimento. Enquanto o
investimento na fase semente tem um risco máximo, a maioria das startups nem sai do papel,
morrendo no que se designa de valley of death, esse risco vai diminuindo progressivamente à
medida que se atingem diferentes rondas de investimento. Inversamente proporcional é o
retorno do investimento realizado: quanto mais cedo realizado esse investimento maiores são as
taxas de retorno de um projeto bem sucedido.

3. As formas tradicionais de financiamento

As startups, pelas suas características próprias, deparam-se frequentemente com uma séria
dificuldade no acesso aos meios de financiamento tradicionais com recurso a capitais alheios,
como crédito bancário. Essa dificuldade decorre da incipiência dos seus balanços, inexistência de
históricos e, muitas vezes, inexistência de um projeto em execução que assegure fluxos
financeiros que permitam corresponder ao serviço da dívida.

Dessa forma, as startups buscam financiamento por parte de investidores profissionais, como
business angels ou sociedades e fundos de capital de risco, os principais operadores no mercado
de financiamento privado das sociedades com recurso a capitais próprios (private equity).

Seed stage: Os meios de financiamento que lhe correspondem, se excluirmos fontes públicas de
apoio ao empreendedorismo que não estão no âmbito de estudo, são essencialmente os que
integram os capitais dos FFF (fundadores, familiares ou amigos). Posteriormente, pode ocorrer
uma primeira aparição de financiamento com recurso a capitais provenientes de investidores
profissionais que financiam com recurso a capitais próprios: os business angels ou fundos de
capital de risco especialmente vocacionados para investimento na fase semente.

Em fases mais adiantadas do seu ciclo de financiamento (série A a C, tipicamente pós breakeven)
aparecem, então, com maior regularidade e viabilidade, os fundos e as sociedades de capital de
risco.

4. Os riscos no financiamento de startups e a sua regulação contratual

O investimento numa startup implica riscos elevados. Primeiro pelo risco do negócio em si. Por
outro lado, os riscos são acrescidos pelo fato de, à exceção do mercado secundário promovido
por empresas como a Seedrs, na fase startup, inexistir um mercado organizado para a transação
de participações sociais que garanta liquidez à participação. As regras do controle centralizado e
da maioria, implicadas no regime jurídico das sociedades comerciais de capitais, quando
combinadas com a ausência de mercado para a transação das participações sociais colocam os
sócios numa posição particularmente vulnerável perante o poder de controle da sociedade que
permanece com os fundadores.

Como é uma sociedade fechada, os investidores não têm qualquer garantia de desinvestimento.
Uma vez que a maioria da sociedade permanece tipicamente sob o controle dos fundadores, os
investidores ficarão facilmente sujeito a situações de opressão, de que a não distribuição de
dividendos ou a diluição em caso de serem aprovadas novas rondas de financiamento são apenas
dois exemplos possíveis. Deve sublinhar-se, ainda, que há frequentemente uma enorme
dependência do modelo de negócio da sociedade dos conhecimentos específicos dos fundadores
em matéria de tecnologia ou algoritmos utilizados, ou seja do capital humano da sociedade, o
que implica uma desvalorização acentuada pela alteração de controle. Além disso, não tem tanta
burocracia e formalidades com balanços e etc, o que pode gerar um risco de compliance.

Por todos estes motivos, o investimento em sociedades em fase inicial de desenvolvimento,


quando feito por profissionais do mercado de capitais privados, é enquadrado por contratos
extensamente negociados, em especial acordos parassociais.

Temos vários tipos de cláusulas.

Cláusulas de governo societário: procuram traçar regras sobre a gestão da sociedade, os processos
decisórios e os direitos das partes interessadas. Essas cláusulas têm limitações com relação a
gestão da sociedade. Ainda que se entenda que a fixação de objetivos genéricos de atuação
societária possa ser contratualizada pelos sócios, qualquer interferência mais direta sobre a
gestão societária estará proibida, sob pena de nulidade da cláusula.
Cláusulas de permanência: procuram assegurar a vinculação dos sócios fundadores ao projeto
que está na base do investimento. Procuram evitar, por um lado, o afastamento dos fundadores
pela transmissão da sua participação social; por outro lado, podem procurar evitar o seu
afastamento das funções de gestão ou operacionais (aqui torna-se um problema de ordem
pública pela liberdade do trabalho). A presença dos fundadores no projeto societário pode ser
determinante para o seu sucesso. O investidor desejará assegurar contratualmente uma
proibição de transmissão da participação social, assim evitando uma alteração no controle, pelo
menos sem o seu acordo. Alternativamente, admite-se que o investidor possa consentir na
transmissão desde que, nesse enquadramento, possa exercer um direito de preferência ou um
direito de venda conjunta da sua própria parte.

Cláusulas de preservação do valor do investimento: visa proteger a posição do investidor em


futuras rondas, dentre outras coisas.

Cláusulas de exclusão dos fundadores: O afastamento do fundador ocorre por via da consagração
a favor do investidor de uma opção de compra, que confere ao investidor um direito irrevogável
e potestativo de determinar a transmissão de participação do fundador para o investidor,
verificado determinado evento contratualmente previsto que genericamente será de
incumprimento ou de manifesta incapacidade para gerir a sociedade, a exercer se o investidor
tiver uma parceria alternativa.

Pode ter uma opção de venda (desinvestimentos). Nessa opção os fundadores conferem ao
investidor um direito irrevogável e potestativo de determinar a transmissão da participação do
investidor para os fundadores verificado determinado evento contratualmente previsto, que
pode ser apenas o decurso de um prazo.

Será também um mecanismo de desinvestimento a opção de compra conferida ao fundador com


preço pré-determinado, que pode ser correspondente ao montante do investimento e uma taxa
de capitalização.

Sem prejuízo do referido, caberá sempre a aplicação das regras gerais quanto a vício na formação
da vontade e mesmo quanto à usura, sendo esse o caso, o que pode levar à invalidade das
cláusulas em causa nos termos gerais.

Cláusulas de liquidez: exemplo, venda forçada. Caso um terceiro apresente ao investidor uma
proposta com o valor global acima de certo patamar pré-definido, o investidor terá o direito de
incluir na venda a participação social do fundador.

Finalmente, temos, como mecanismo de desinvestimento, a venda conjunta (tag along). Nesta
cláusula prevê-se que o investidor possa fazer piggybacking no âmbito de uma proposta recebida
pelo fundador feita por terceiro. Caso o terceiro não pretenda adquirir toda a sociedade, a
alienação da participação do investidor pode ser feita com prioridade ou pode ser composto um
lote proporcional à participação de todos os sócios.

Os acordos parassociais estão no art. 17º do Código das Sociedades Comerciais.

Artigo 17.º
(Acordos parassociais)
1 - Os acordos parassociais celebrados entre todos ou entre alguns sócios pelos quais estes,
nessa qualidade, se obriguem a uma conduta não proibida por lei têm efeitos entre os
intervenientes, mas com base neles não podem ser impugnados actos da sociedade ou dos
sócios para com a sociedade.
2 - Os acordos referidos no número anterior podem respeitar ao exercício do direito de voto,
mas não à conduta de intervenientes ou de outras pessoas no exercício de funções de
administração ou de fiscalização.
3 - São nulos os acordos pelos quais um sócio se obriga a votar:
a) Seguindo sempre as instruções da sociedade ou de um dos seus órgãos;
b) Aprovando sempre as propostas feitas por estes;
c) Exercendo o direito de voto ou abstendo-se de o exercer em contrapartida de vantagens
especiais.

5. Os meios alternativos de financiamento online

O financiamento das startups tem sido marcado pelo surgimento de um conjunto de meios
alternativos de financiamento online, de que o crowdfunding ou financiamento colaborativo é o
mais representativo. Outro exemplo: ICOs.

Da noção mais vasta de financiamento colaborativo pode ser destacada uma noção restrita de
investimento colaborativo ou, na expressão inglesa, de crowdinvesting, que se traduz no
financiamento com recurso a uma plataforma de internet, mas que implica tipicamente a
subscrição de uma participação social, partilha de lucros ou dividendos, ou a remuneração de um
empréstimo que seja feito aos financiados. Trata-se, pois, de investimento, porque feito na
expectativa de retorno financeiro e é este que tem merecido a atenção da generalidade dos
ordenamentos jurídicos.

O crowdinvesting tem-se mostrado especialmente adequado para o financiamento de sociedades


em fase inicial de atividade, as startups, e de PMEs.

É bastante plausível que o crowdfunding tenha vindo ocupar falhas no mercado de private equity.
O crowdfunding não apenas possibilita uma solução para fases de necessidades de financiamento
que os operadores tradicionais não desejam satisfazer, e que não podem ser supridas com
recurso a bootstraup financing (quando o fundador investe em outra coisa e usa esse
investimento), mas apresenta ainda frequentemente a vantagem de uma melhor valorização da
empresa, menor custo do capital, e maior rapidez na conclusão do processo de financiamento.
Finalmente, evita os cursos de uma intermediação tradicional pois possibilita aceder diretamente
aos investidores.

O crowdfunding possibilita ainda para os promotores de projetos vantagens complementares, de


natureza não estritamente financeira, entre as quais se podem destacar as seguintes:

a) Apresenta uma métrica de aceitação de um produto antes mesmo da fase da sua


produção, realizando a demonstração da existência de procura;
b) Produz um efeito de marketing resultante da promoção na plataforma e das interações
nas redes sociais que ela pode possibilitar.

Em consequência, é também possível que o mérito de uma campanha de crowdfunding seja o


principal fator que vem desbloquear, para os promotores, o acesso aos meios tradicionais de
financiamento.

Em Portugal, o Regime Jurídico do Financiamento Colaborativo (RJFC) que tem por objetivo a
regulação do crowdfunding foi aprovado pela Lei nº 102/2015, de 24 de agosto.
O risco de crowdfunding é a falta de conhecimento e experiência na área de investimento
relevante para o tipo de investimento feito na plataforma de financiamento colaborativo. Além
disso, ainda tem conhecimento das ofertas por redes sociais e etc. O investidor de crowdfunding
também não realiza nenhuma diligência, confiando na avaliação que sobre o projeto tenha sido
feita pela entidade gestora da plataforma, ou na base de uma avaliação pessoal que faça sobre a
informação disponibilizada na plataforma.

Além disso, o investimento em sociedades em fase inicial de desenvolvimento, quando feito por
profissionais do mercado de capitais privados, é enquadrado por contratos extensamente
negociados, como tivemos a oportunidade de analisar. Ora, essa regulação contratual que é
indispensável para proceder a uma limitação de risco que confira ao investimento racionalidade
econômica não existe no caso de crowdfunding, pois as soluções contratuais decorrem de
formulações padronizadas disponibilizadas pelas plataformas.

Tem-se destacado ultimamente como forma de financiamento de startup o que se designou por
initial coin offerings (ICOs), que implica o financiamento pela subscrição de criptomoedas (tokens)
emitidas sobre a infraestrutura tecnológico de bitcoin, a blockchain, ou de Ether, a Etherum. Pode
considerar-se ser uma derivação do crowdfunding com recurso a instrumentos virtuais a que se
dá o nome de “moeda virtual”.

Em termos muito simples, uma sociedade financia-se vendendo na internet pelo público (em
troca de moeda com curso legal ou moedas virtuais de forte aceitação) determinada moeda
virtual por ela emitida, ou tokens. Essa distribuição de tokens ocorre no próprio site da empresa
emitente e nesse site é possível encontrar um documento com o modelo de negócio que será
desenvolvido pela sociedade emitente e com os direitos que, relativamente ao emitente, o token
habilita ao seu portador (whitepaper). O token é livremente programável pelo emitente e pode
habilitar ao portador as mais diversas vantagens: direitos de programar, criar ou desenvolver
aplicações; direitos de acesso ao sistema; direito de contribuir com trabalho; direito a utilizar os
serviços; direito de compra de bens; direito a dividendos; direito a pagamentos periódicos
relacionados com o aumento do valor do investimento; direito sobre o valor de ativos do projeto;
direito de gestão do projeto, entre outros. As ofertas não são lançadas numa plataforma
específica que funcione como marketplace, sendo a sua divulgação feita por e-mail ou nas redes
sociais.

Tem que regular esse financiamento online.

O papel das startups na Fintech e o ciclo de financiamento de startups

1. O papel das startups na FinTech: aspectos gerais

A “cultura startup” está no núcleo da FinTech. A cultura startup caracteriza-se por aquilo que já
se chamou de hacker way: hacker não no sentido pernicioso normalmente associado ao termo
(de entrar em um computador sem autorização) mas no sentido de construir depressa e testar
os limites do que pode ser feito (“andar depressa e partir coisas”). É uma inovação sem permissão.

A forma como se financia uma startup vai ser decisiva para o seu sucesso no futuro.

É um mercado em crescimento em Portugal, ainda que seja muito limitado.

O propósito é investigar:

- Por um lado, o papel das empresas de FinTech no preenchimento do funding gap que caracteriza
as startups, ou seja, na concessão de financiamento a empresas que, na fase em que se
encontram, não têm possibilidade de recorrer a outros meios de financiamento (é a constatação
informal de que “às vezes é mais fácil angariar 5 milhões do que 1 milhão”).

- Por outro lado, o papel das startups no desenvolvimento de soluções FinTech que criam para os
clientes dos bancos/intermediários financeiros/seguradores tradicionais uma “ecosfera” que
permite a partilha de dados bancários, estando na base do que se tem chamado de open banking
ou unbundling do banco.

- Por fim, resta analisar a forma como se financiam as próprias startups de FinTech.

2. As FinTech e o funding gap: bridgefunding

É importante compreender o papel nuclear que as startups em P2P lending e crowdfunding


desempenham no preenchimento de um funding gap de milhões de pequenas empresas por todo
o mundo. Lidamos com empresas que obtiveram financiamento numa fase inicial e incipiente,
mas que não têm dimensão nem são ainda suficientemente atrativas para evoluir para outras
fontes de financiamento de que precisam. Os Fintech disruptors preenchem o vazio deixado pelos
bancos e investidores, fazendo aquilo a que já se tem chamado de bridgefunding. Cria-se um novo
mercado para suprir as falhas do mercado preexistente: o chamado mercado de cauda longa ou
long-tail Market. Ao contrário das formas tradicionais de financiamento em que poucos atores
mobilizam montantes elevados per capita, o crowdfunding envolve um número elevado de
sujeitos que realizam pequenas contribuições.

Pergunta-se como surge este vazio no financiamento onde funcionarão as soluções FinTech.
Apenas uma pequena percentagem de startups conseguem transitar do angel financing para o
venture financing: as restantes fracassam? Como é sabido, as startups concentram-se no
crescimento, não na lucratividade e dependem, por isso, da obtenção de financiamento externo
para sustentar esse crescimento ou mesmo para continuar a desenvolver as suas operações. A
startup visa o crescimento rápido e não propriamente uma expansão sustentada, como uma
empresa, sendo um investimento de capital muito interessante. Pequenas empresas se financiam
por crédito bancário e por investimento do proprietário, ao contrário das startups, que precisam
de montantes muito mais elevados para crescer. Simplesmente o mercado do financiamento das
startups tem uma lacuna que corresponde a uma falha de mercado precisamente, porque, até
determinado montante, o investimento por angel investors supre a necessidade de capitais e a
partir de montantes já mais elevados atua o financiamento pelos venture funds. Simplesmente,
no intermédio, as empresas já não conseguem financiar com recurso aos anjos nem são ainda
capazes de se financiar através do capital de risco (é a isto que se tem chamado o Series A Gap
ou Series A crunch, que nos EUA se situa nos montantes entre 1 e 5 milhões de dólares)

Este gap resultará de falha de liquidez mas também já se tem apontado que será em decorrência
de uma falha de mercado (surgem, por, os problemas do hold-out e free rider). A explicação para
este gap é dupla, de fato: por um lado, tem que ver com os custos de transação elevados (custos
com as due diligences, a negociação e a supervisão) que fazem com que por vezes os investidores
não invistam à espera que outro ou outros o façam (os chamados lead angels) pois isso é
indicativo de que aquele representa um bom investimento; por outro lado, pode verificar-se o
fenômeno oposto, típico do dilema de prisioneiro, que é o de, em virtude da falta de informação,
vários investidores assumirem os elevados custos de transação quando era possível baixar esses
custos se se organizassem, o que conduz a um resultado subótimo e coloca encargos grandes no
investimento. Por fim, a falta de liquidez do mercado tem a ver também com restrições
regulatórias aos sujeitos que podem realizar os investimentos: não é todo e qualquer sujeito que
pode participar no mercado mas apenas quem a lei permite; por exemplo, entre nós, o
investimento parece estar reservado aos Investidores de Capital de Risco, aos Fundos de Capital
de Risco e às Sociedades de Capital de Risco de acordo com o Regime Jurídico do Capital de Risco
(lei nº 18/2015). Uma pessoa singular, por exemplo, não poderia investir diretamente. Tudo isto
faz com que os sujeitos que atuam no mercado só invistam a partir do momento em que os
montantes envolvidos sejam suficientemente compensadores.

O ciclo do financiamento das startups divide-se em diversas fases:

- Seedfunding: através dos informalmente designados 3Fs (founders, Family and friends) e
investidores-anjos;

- Seed valley of death: fase em que precisam de elevadas injeções de capitais mas não têm ainda
ou praticamente não têm rendimentos.

Seguidamente, as startups começam a abandonar o “perigoso vale da morte” quando começam


a ter receitas para cobrir todos os custos mensais fixos e variáveis: aqui atingem o break even.

- Depois do break even, a empresa entra na fase de early stage, em que se torna um investimento
interessante para empresas de venture capital. Quando consegue o primeiro investimento de
capital de risco (o chamado investimento “série A”), abandona decisivamente o “seed valley of
death”. A partir daqui é normal o reinvestimento em série B, C, D etc., o que permite a empresa
investir no crescimento mesmo que isso implique que os lucros líquidos voltem a ser negativos.
Tem-se apontado que é normal as empresas de venture capital menores apenas fazerem
investimento de early stage, ao passo que as empresas de maior dimensão fazem investimentos
de later stage acompanhando todo o ciclo de financiamento da empresa até ao ponto em que a
startup deixa de ser startup.

- O ciclo acaba bem quando a empresa é vendida a outra empresa a um valor rentável ou quando
abre o seu capital ao investimento público através da cotação em bolsa (go public). Esta é a forma
ideal de desinvestimento e de fim de ciclo de financiamento da startup.

O problema do ciclo de financiamento da startup é que muitas empresas que obtém seedfunding
já não consegue o financiamento de série A, sendo que o investimento por angels tem vindo a
aumentar ao passo que o investimento de capital de risco tem vindo a diminuir, aumentando o
gap referido no qual a FinTech pode ter (ou não) um papel a desempenhar, evitando que a
procura de financiamento neste funding gap seja correspondente à “procura de uma agulha num
palheiro”. Mesmo dentro do investimento de capital de risco, os negócios de seed stage têm
aumentado e os de série A mantém-se, no mínimo, estáveis, reforçando o gap.

A ideia de as soluções de FinTech poderem atuar para preencher este vazio no ciclo de
financiamento das startups depende naturalmente do enquadramento regulatório, que deve
permitir a atuação das soluções de crowdfunding nas fases em que as empresas já receberam
seed capital de anjos ou outros investidores e, portanto, em que já se passou à fase de early
stage. Nos EUA, a crítica que já se fez à regulação vigente é que contraria a capacidade desta
fonte de financiamento alternativa atuar para preencher o funding gap, fazendo com que surgisse
antes em concorrência com o investimento na fase de seed capital, onde é mais interessante o
recurso a investidores profissionalizados do que financiamento por massas heterogêneas de
sujeitos, não sofisticados e inexperientes. O investimento de capital de risco é um smart Money.
Por isso se fala por vezes no bridgefunding no sentido de assegurar condições regulatórias que
permitam o seu direcionamento para o early stage em vez de funcionar apenas ou
preferencialmente no seed stage. O crowdfunding tem potencial para a injeção de capital no
segundo período de investimento, “pós-seed capital” mas “pré-retorno” do investimento.

A FinTech não desempenha um papel apenas no financiamento das startups mas também no
financiamento em gerados das PMEs.

2. O papel das FinTech na abertura de modelos de financiamento alternativo através do


desenvolvimento de APIs

É importante notar que não é só através de instrumentos como o crowfunding ou o P2P Lending
que a FinTech condiciona o enquadramento financeiro das empresas, designadamente PMEs.

Outro papel importante situa-se na área do desenvolvimento de soluções que transformam a


utilização de serviços financeiros e que igualmente permitem a abertura a modelos de
financiamento alternativos. Aqui citamos designadamente o desenvolvimento das APIs públicas
(Application Programming Interface) que permitem a utilização de serviços alternativos aos
bancos sem que os clientes tenham de mudar as suas contas bancárias. O chamado A2A (acess
to account) é tornado obrigatório pela revisão da Diretiva dos Serviços de Pagamentos, que
entrou em vigor em janeiro de 2018. É uma abertura de acesso às contas bancárias que se exige
dos bancos. É assim que surge o fenômeno do open banking ou unbundling do banco, que
consiste na criação de uma rede de dados por via dos APIs: permite-se aos clientes partilhar de
forma segura os seus dados financeiros com outras instituições financeiras, facilitando a
transferências de fundos e a obtenção de melhores condições de empréstimos, nomeadamente
através do acesso que os novos operadores passam a ter a dados do cliente que são essenciais
para o apuramento do risco. Possibilita-se, no fundo, a desintermediação bancária, abrindo novas
oportunidades de financiamento, com a posterior reintermediação por outros atores.

3. Como se financiam as startups de FinTech

De que forma se financiam as próprias startups de FinTech? Aqui já não falamos do papel da
FinTech no financiamento de outras startups não tecnológicas mas sim da angariação de capitais
pelas próprias startups de FinTech, que têm obtido montantes de financiamento muitíssimos
elevados.

Não pode ser apenas o banco. E aí? Em geral a angariação de fundos por uma startup de FinTech
não é diferente das demais: as próprias soluções propiciadas pela FinTech, nomeadamente o
crowdfunding, servem para financiar empresas de FinTech. Mas o investimento é feito sobretudo
através de capital de risco. O Fintech Venture Funding tem, na verdade, uma importância
tremenda.

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