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CULTURA / LIVROS Seguir

Judith Butler. O livro que


mudou o sexo e o género já
se lê em português
Já tem tradução portuguesa o livro de Judith
Butler que há quase trinta anos mudou o
feminismo e as minorias sexuais. “Gender
Trouble” intitula-se agora “Problemas de
Género". Será ainda atual?

22 set 2017, 15:34 6

A filósofa americana esteve em Lisboa pela primeira


vez há dois anos
i
ALÍPIO PADILHA

Bruno Horta
Texto

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A sala encheu-se por completo quando Judith


Butler veio a Lisboa pela primeira vez, para dar
uma conferência no Teatro Maria Matos. Os
organizadores fizeram, até, uma transmissão
direta em vídeo, na internet e num ecrã da
cafetaria do teatro, para que mais pessoas
Rádio Observador em direto ×
pudessem ver a convidada. Foi em junho de
2015. Judith Butler leu um texto sobre a
austeridade financeira à luz das teorias queer e
deixou muita gente a perguntar-se como
conseguia uma académica tamanho magnetismo.

Parte da resposta estava na obra que a tinha


trazido a Lisboa, Gender Trouble, de 1990,
um dos livros “mais importantes da teoria
feminista, dos estudos de género e da
teoria queer”.

A classificação é do investigador português João


Manuel de Oliveira, autor da introdução e
revisor científico da versão portuguesa do livro,
agora publicada pela editora Orfeu Negro. É a
primeira vez nos 27 anos de existência de
Gender Trouble que a respetiva tradução se faz
em Portugal (no Brasil existe desde 2003).

Problemas de Género, assim intitulado, ganha


foros de acontecimento. A apresentação
pública está marcada para sábado, às
16h00, no Cinema São Jorge, com a
presença de João Manuel de Oliveira; Pablo
Pérez Navarro, especialista em Judith Butler; e a
coreógrafa portuguesa Vera Mantero. Uma
iniciativa incluída na programação do festival de
cinema Queer Lisboa 2017, que decorre por estes
dias.

É uma das obras mais conhecidas do


pensamento pós-estruturalista e mantém-se
como referência, tanto mais atual quanto bem
vivos estão os debates sobre feminismos e
sexualidades.

Em conversa com o Observador, João Manuel de


Oliveira, doutorado em Psicologia Social e
investigador no Centro de Investigação e
Intervenção Social do Instituto Universitário de
Rádio ObservadorLisboa
em direto
(ISCTE), sublinha que o livro foi ×
“completamente inovador e rasgou muitas
fronteiras”, ao apresentar uma visão nova
sobre feminismo, sexo e género. Parece ter
aberto caminho a algumas das atuais políticas de
“igualdade de género”, mas também ajudou a
criar o que muitos contestam como sendo a
“ideologia do género” – expressão adotada por
setores da igreja católica e utilizada no ano
passado pelo papa Francisco na exortação
apostólica “Alegria do Amor” (“Amoris
Laetitia”).

“Problemas de Género”, de Judith Butler. Edição Orfeu Negro; 320


páginas; 18€

Na passagem por Lisboa, em 2015, Judith Butler


recordou a época em que escreveu o livro. Vivia
em Washington D.C., era professora assistente
de filosofia, na Universidade George
Rádio ObservadorWashington,
em direto e militava em grupos ativistas de ×
minorias sexuais. A epidemia da sida estava no
auge, com cerca de 90 mil mortes contabilizadas
nos EUA, e os anos de conservadorismo do
presidente Reagan aproximavam-se do fim.

“ “Andava muito zangada porque o feminismo


continuava a apresentar a ideia romântica
de uma diferença sexual entre homens e
mulheres, assumindo que todas as mulheres
seriam heterossexuais e que a maternidade
era a identidade primária das mulheres”,
disse Judith Butler em Lisboa. “Sentia que a
minha existência, e a de muitas pessoas que
conhecia, era apagada por estas ideias. Ao
mesmo tempo, frequentava grandes
manifestações pelo combate à sida, com
muitos ativistas que acrescentavam uma
dimensão teatral e performativa à
resistência. Eu estava lá apenas a registar e a
observar. Lembro-me de ter ido de férias
para uma praia do Atlântico [Rehoboth
Beach] onde encontrei homens gay
lindíssimos. Impressionava-me muito eles
serem capazes de viver certos aspetos da
feminilidade muito melhor do que eu. E
pensei: ‘Ainda vou escrever sobre isto’.”

Nascida há 61 anos no Ohio, EUA, Judith


Butler é professora de Literatura
Comparada e Teoria Crítica na
Universidade da Califórnia em Berkley.
Judia, lésbica, mãe de um rapaz de 22 anos, fez
doutoramento em filosofia na Universidade de
Yale em 1984 e é hoje vista como a guru das
teorias queer. Bodies That Matter, de 1993, e
Undoing Gender, de 2004, são exemplos do
muito que tem vindo a escrever.

Até agora, em Portugal, apenas uma das suas


obras tinha tido tradução: “Quem Canta o
Rádio ObservadorEstado-Nação?”
em direto (2012), em coautoria com ×
Gayatri Spivak, especialista em estudos pós-
coloniais. Mas nenhum destes livros foi tão
relevante quanto Gender Trouble: Feminism
and the Subversion of Identity, de seu título
completo.

Claramente à esquerda, o pensamento de Butler,


levou-a nos últimos anos a apoiar e analisar o
problema político da Palestina, a criticar as
políticas de austeridade ou a teorizar sobre o
movimento de protesto Occupy Wall Street
(formado a seguir à crise financeira e económica
de 2008). O estudioso implicado nos temas que
analisa deixou de constituir um problema, sob o
ponto de vista científico, explica João Manuel de
Oliveira.

“ “Essa implicação só é problemática perante


as ideias tradicionais sobre o que é a ciência.
Nas ciências sociais e humanidades lidamos
com processos que são sempre políticos,
necessariamente. Há uma tradição iniciada
pelo próprio marxismo, e influenciada pela
teoria crítica das ciências sociais, segundo a
qual os estudiosos não devem fingir que não
estão envolvidos nos temas.”

A autora escreveu na primeira edição, em 1990,


que a obra resulta de bolsas de estudo que lhe
foram atribuídas entre 1987 e 1988. Na reedição
de 1999 acrescentou como fonte de
inspiração o convívio de 14 anos com
pessoas homossexuais na Costa Leste dos
EUA.

“ “Ela não é a filósofa habitual, a figura que


pensa o mundo retirada do mundo”, analisa
João Manuel de Oliveira. “A Butler é do
mundo e está metida no mundo. Não pensou
apenas a partir da academia, mas também
Rádio Observador em direto ×
dos movimentos sociais com que se
envolveu na década de 80. Isso marcou
muito a minha geração. Nós já não
concebemos a academia como uma esfera
fora da sociedade, mas, sim, completamente
envolvida com o mundo.”

“Problemas de Género” é, antes do mais, um


ensaio académico e não parece ter sido escrito a
pensar no grande público. Por um lado, Judith
Butler reconheceu no prefácio de 1999 que reviu
algumas posições assumidas e se escrevesse hoje
daria atenção à realidade das pessoas
transgénero e intersexuais (hermafroditas, por
exemplo).

Por outro, explicou que não é gratuita a


linguagem hermética pela qual muitas vezes a
criticam. A autora não quis conformar-se
às regras da “linguagem normalizada”
por entender que “nem a gramática nem o
estilo são politicamente neutros”, logo, “o
preço de não nos conformarmos é a perda da
própria inteligibilidade”.

A versão agora disponível faz parte de uma nova


série da Orfeu Negro dedicada ao estudos de
género e iniciada no ano passado com a tradução
de Teoria King Kong, de Virginie Despentes. A
edição não segue o acordo ortográfico de 1990.
Foi traduzida por Nuno Quintas, especialista em
edição de texto e em língua e literatura
portuguesa e inglesa.

Familiarizado com o livro, que leu há cerca de 12


anos, demorou seis meses a fazer a tradução,
entre janeiro e junho deste ano. “Fiz,
deliberadamente, duas interrupções neste
período, para poder burilar o texto com maior
distanciamento. Além disso, houve também um
período posterior à entrega da tradução, de
Rádio Observador em direto ×
debate ativo e fixação de termos, que durou
cerca de dois meses”, diz ao Observador, em
contacto por correio eletrónico. Com ele
trabalharam responsáveis da editora, além de
João Manuel de Oliveira e João Berhan, este
último como revisor linguístico.

Questionado sobre as principais


dificuldades que encontrou no processo,
Nuno Quintas fala da “fluidez semântica
de alguma terminologia em inglês e uma fluidez
terminológica ainda maior em português”.
Aponta também o “estilo da autora”.

“ “Foi um combate permanente: é tão fácil


ser-se prolixo [palavroso] em português, e o
meu estilo é o oposto. Poderia ter
simplificado o texto, mas seria trai-lo”,
explica o tradutor. “Escolhi o equilíbrio
difícil entre a prolixidade e a legibilidade”,
tendo adaptado passagens em que a
tradução “resultaria confusa, atabalhoada ou
simplesmente incompreensível”.

O Teatro Maria Matos encheu-se em junho de 2015 para ouvir a


palestra de Judith Butler

Uma das passagens célebres de


“Problemas de Género”
Rádio Observador em direto ×
A obra↓está dividida em três partes. A primeira é
Mostrar
sobre a linguagem e a desconstrução dos
conceitos sexo e género. A segunda parte
defende que a “heterossexualidade obrigatória”
foi reforçada por discursos científicos do século
XX. A terceira parte é a mais extensa.
Regressa à distinção entre sexo e género,
considerando-os performativos, e evoca
como exemplo o travestismo (palavra que na
versão portuguesa aparece como “drag”, igual ao
original, o que o tradutor justifica com o
entendimento de que o termo “drag” tem
“ressonâncias culturais distintas” das palavras
“travesti” e “travestismo”).

O texto “inscreve-se numa tradição de


pensamento e reflexão feminista”,
acrescenta o investigador português. Desde a
década de 70 que algumas das ideias de Judith
Butler eram discutidas, mas a filósofa revisitou-
as e aprofundou-as num só volume, no que terá
sido pioneira.

“Ela leva o feminismo muito a sério”, afirma


João Manuel de Oliveira, para quem
Problemas de Género” é a continuação,
noutro contexto, de “O Segundo Sexo”, de
Simone de Beauvoir, obra de referência do
feminismo, publicada em França em 1949. Não
por acaso, o livro de Butler cita e analisa uma
célebre frase de Beauvoir: “Ninguém nasce
mulher: torna-se mulher”, a qual estaria já a
apontar a tese de que sexo e género são
construções.

“ “Definir identidades tem um problema: as


identidades são pequenas demais para nos
descreverem e ao descreverem-nos estão a
produzir o sujeito que querem descrever”,
entende João Manuel de Oliveira.
“Descrever
Rádio Observador em direto é já produzir um determinado ×
sujeito. Quando se diz a uma menina que ela
é muito feminina, está-se a construir, e a
constranger, o que a menina vai ser. Não é
apenas este discurso que contribui para isso,
há outras estruturas sociais que o fazem. A
ideia de ‘gay’, para a maioria das pessoas,
incluindo muitos homossexuais, aponta para
uma certa pertença a uma classe social, uma
certa inserção racial, um certo capital
económico. Mas há muitos gays que não são
isso e, eventualmente, a palavra não esgota a
possibilidade de serem outras coisas ao
mesmo tempo. A Butler demonstra isso a
partir da categoria ‘mulher’. Ele desconstrói
a ideia de mulher, vem dizer que se trata de
uma construção do discurso. Discurso não
são apenas as palavras, são as instituições,
desde logo o Estado, que geram
representações.”

Por vezes mais citado que lido, dentro e fora da


academia, o livro esteve quase três décadas sem
ser vertida para o português europeu porque,
escreve João Manuel de Oliveira na introdução,
houve uma “enorme resistência das
ciências sociais portuguesas” em integrar
o pensamento pós-estruturalista – que, em
resumo, entende a realidade como uma
construção operada pelos sistemas social,
cultural e político.

João Manuel de Oliveira considera pouco


relevante falar em atraso. Defende que as ideias
de Butler já tinham sido introduzidas em
Portugal na tese de doutoramento da
investigadora Conceição Nogueira, apresentada
em 1997 na Universidade do Minho, e acrescenta
que foi na dança contemporânea – com os
coreógrafos Vera Mantero, Francisco Camacho,
Carlota Lagido, Miguel Pereira e João Fiadeiro –
Rádio Observadorque se “notaram
em direto os primeiros efeitos” de ×
“Problemas de Género” em Portugal, logo
a partir de 1991.

Para Nuno Quintas, a tradução “surge no


momento certo, quando os leitores, no nosso
país, estão mais abertos para refletir” sobre estas
temáticas. Dá como exemplo a recente
polémica sobre livros infantis da Porto
Editora, com exercícios diferentes para
rapazes e raparigas, a qual teve grande
repercussão no espaço público.

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