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Do Direito Constitucional:
Direito Constitucional – Origem, conceito, natureza, objeto, classificação
e fontes Segundo a doutrina dominante, o Direito Constitucional refere-se a um
direito público fundamental. A Constituição Federal, na visão de Kelsen, é a
norma fundamental e suprema do Estado, é vista como a norma que irá organizar
e estruturar todo o Estado. Todas as demais normas que existem no
ordenamento jurídico devem obediência à CF, que assume papel de destaque.
Cabe ao Direito Constitucional disciplinar e sistematizar os princípios
atinentes a essa estrutura fundamental da CF. Segundo alguns doutrinadores, o
Direito Constitucional assume, portanto, o papel de direito público fundamental
por excelência. Didaticamente, a doutrina divide o direito em:
• direito público;
• direito privado.
O direito público regula as relações de Estado; e o direito privado, as
relações entre particulares. Todos os ramos do direito público procuram
fundamento de validade no Direito Constitucional.
1. Origem
Segundo a doutrina, a origem do Direito Constitucional remonta às
revoluções liberais do século XVIII (americana em 1776 e francesa em 1789).
Dessas revoluções, resultaram as constituições escritas (americana em 1787 e
francesa em 1791) como forma de limitação de poder.
No dia 26 de setembro de 1791, a Assembleia Constituinte da França
determinou que as universidades francesas começassem a ministrar a disciplina
de Direito Constitucional.
A primeira cadeira de Direito Constitucional é reconhecida na Itália, em
1797, com o constitucionalista Pellegrino Rossi. No Brasil, torna-se cadeira
autônoma do curso de Direito apenas em 1940.
2. Conceito
O Direito Constitucional é chamado pela doutrina de direito público
fundamental, em virtude do seu conteúdo material, que trata da estruturação do
próprio Estado, da articulação de seus elementos (povo, território, governo
soberano e as suas finalidades).
O professor José Afonso da Silva defende que o Direito Constitucional é
o ramo do direito público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e as
normas fundamentais do Estado.
O professor Dirley da Cunha tem um conceito muito específico e analítico
e afirma que cabe ao Direito Constitucional investigar, estudar e sistematizar
normas e instituições que dispõem sobre as bases e elementos fundamentais do
Estado.
3. Natureza
Segundo o professor Konrad Hesse, o Direito Constitucional é um direito
público atípico porque é diferenciado em relação aos demais ramos do direito
público (penal, administrativo, processual) e possui uma hierarquia diferente em
relação aos outros ramos do direito, à classe das normas constitucionais e à sua
força normativa (impõe-se perante a realidade social).
Na Constituição Federal, encontram-se princípios de direito eleitoral,
administrativo, processual, ambiental, e cabe ao Direito Constitucional
sistematizar tudo isso.
4. Objeto
O objeto imediato do estudo do Direito Constitucional é a própria
Constituição política do Estado.
Segundo alguns doutrinadores, o Direito Constitucional é a ciência das
Constituições.
Numa visão mais ampla de alguns autores, o Direito Constitucional tanto
é a Constituição política do Estado quanto a teoria da Constituição.
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O Poder Constituinte:
Vimos no início da matéria que a CF fica no topo do ordenamento jurídico,
no topo da pirâmide. Onde ficaria então o Poder Constituinte? Ficaria ACIMA da
pirâmide, acima da própria Constituição.
Estando acima desta e da pirâmide, ele seria um poder de direito? Não,
seria um poder de fato ou político. Paulo Bonavides, Carls Schimitt (positivistas)
acreditam que como ele está fora do direitio, seria um poder de fato, poder
político.
Para os jusnaturalistas, visto que o PC está acima do direito positivo, o
direito positivo teria que observar os princípios do direito natural, o direito positivo
teria que observar os princípios do direito natural, entçao, a natureza do pc seria
de um de direito ou jurídico.
1. Originário.
O objetivo fundamental do PCO é criar um novo Estado, diverso do que
vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte precedente.
Não importa a rotulação que é dada ao ato constituinte, o que importará é
sua natureza. Se este ato rompe com a ordem jurídica anterior intencionalmente,
de forma a invalidar a ordem preexistente, há um novo Estado.
1.1.. ESPÉCIES DE PCO SEGUNDO O FENÔMENO CONSTITUCIONAL
Estudaremos aqui:
1) Poder Constituinte Originário Histórico;
2) Poder Constituinte Originário Revolucionário;
3) Poder Constituinte Originário Transicional.
1.1.1 Poder Constituinte Originário Histórico
É aquele responsável pela criação da primeira constituição de um
determinado estado. Constituição de 1824.
1.1.2. Poder Constituinte Originário Revolucionário
Vai fazer uma nova constituição, substituir uma constituição já existente.
Ela pode surgir de duas maneiras revolucionárias:
1) Golpe de estado: quando o governante usurpa o exercício do poder
constituinte dá um golpe de estado e faz outra constituição (como aconteceu na
CF de 37, feita por Getúlio Vargas)
2) Insurreição: quando alguém que não está no poder faz uma revolução, é
externo ao poder constituído, usurpa este e faz uma nova constituição. CF de
1891, 1934, 1937, 1967, 1969 2.2.3.
1.1.3. Poder Constituinte Originário Transicional
Transição constitucional (foi o que aconteceu na CF de 1988). A própria
constituição anterior (67/69 – que embora alguns digam que eram emendas à
CF, na verdade, eram mudanças tão profundas, que parte doutrina diz que era
uma nova constituição, a de 67 com modificações), através de uma emenda,
previu esta transição, através da convocação de uma assembleia constituinte.
1.2. ESPÉCIES DE PCO SEGUNDO O CRITÉRIO MATERIAL E FORMAL
Veremos neste ponto:
1) Poder Constituinte Originário segundo o critério MATERIAL;
2) Poder Constituinte Originário segundo o critério FORMAL.
1.2.1. Poder Constituinte Originário segundo o critério MATERIAL
Diz respeito ao conteúdo, escolhe a ideia de direito que irá prevalecer
nessa nova constituição, os valores a serem consagrados nessa nova
constituição. Povo.
2.3.2. Poder Constituinte Originário segundo o critério FORMAL
Responsável pela formalização do conteúdo escolhido, ele será
formalizado em normas constitucionais. Assembleia Nacional Constituinte.
OBS: Miguel Reale – teoria tridimensional do direito.
1) Valor – plano axiológico, valores originariamente morais, ex: liberdade...
2) Norma;
3) Fato;
O PCO material vai passar do plano do valor o que é importante para a
sociedade, vai escolher o que será a norma. Porém, quem transforma em norma
jurídica tais valores escolhidos, é o PCO Formal, e o FATO no caso seria o valor
+ norma no caso concreto.
Então, quem escolhe através do PCO Material é o POVO. O povo é o
titular, quem formaliza será a assembleia composta de representantes do povo
(PCO Formal).
Se a Assembleia Nacional Constituinte não utiliza o PCO Material (o que
o povo dá importância) temos um problema de legitimidade.
1.3. CARACTERÍSTICAS DO PCO
a. Inicial: não existe nenhum outro poder antes ou acima dele.
b. Autônomo: porque cabe a ele escolher a ideia de direito que irá prevalecer.
c. Incondicionado: porque ele não se sujeita a nenhuma condição, formal ou
material. Essa é uma visão positivista, que pode levar a legitimação de valores
absurdos (nazismo).
O PCO é um poder ilimitado, independente e soberano? Sim. Porque é
autônomo e incondicionado, sendo assim, ilimitado, independente e soberano.
Principal Teórico do poder constituinte: Sieyés (“O que é o terceiro
Estado?”). Era Jusnaturalista. Devido aos abusos do absolutismo, era uma
posição que à época, prevalecia entre os teóricos pelo ‘direito’ ser injusto.
Segundo este teórico, o poder constituinte teria três características: 1)
Poder Permanente: porque não se esgota no seu exercício. (Poder constituinte
permanece existindo, mesmo depois de elaborada a constituição, porque o titular
desse poder é o povo, a qualquer momento o povo pode elaborar nova
constituição, o povo não perde a titularidade do poder constituinte após fazer
uma constituição). 2) Inalienável: porque a titularidade deste poder não pode ser
transferida. 3) Incondicionado (pelo direito positivo): porém, deveriam ser
observados os limites do jusnaturalismo (Sayés era jusnaturalista), encontraria
limitações metajurídicas.
1.4. LIMITAÇÕES MATERIAIS DO PCO (JORGE MIRANDA)
a. Limites Transcendentes ao PCO
São impostos ao PCO MATERIAL, advindos de imperativos do direito
material, de valores éticos ou da consciência jurídica positiva.
1) Imperativos do direito natural.
2) Valores éticos e morais.
3) Consciência jurídica da coletividade.
4) Direitos fundamentais ligados diretamente a dignidade da pessoa humana,
devem ser observados pelo constituinte, correndo o risco de a constituição ser
considerada ilegítima.
Princípio da proibição do retrocesso: vedação ao PCO. Os direitos
fundamentais conquistados por uma sociedade, e que são objeto de um
consenso profundo, não poderão ser desprezados quando da elaboração de
uma nova constituição. Se eles forem desprezados, haverá um retrocesso, este
princípio serve para impedir isto. É um limite metajurídico, não está no direito.
Evolução constante da sociedade.
Exemplo: pena de morte. Não poderia uma nova CF, caso existisse, criar
a pena de morte para os crimes hediondos, por exemplo. Nem com a vontade
da maioria. Isto porque a Constituição não é a vontade das maiorias
momentâneas e sim garantia de direitos.
b. Limites Imanentes ao PCO
São impostos ao PCO FORMAL e relacionados à configuração do Estado
à luz do PCO material ou da própria identidade do estado. Assim, o conteúdo
escolhido pelo PCO Material deve ser observado pelo PCO Formal.
EX: não poderia uma nova constituição acabar ou reduzir a autonomia dos
estados federados americanos (EUA), os quais detém grande autonomia. É
intrínseco. Desde a formação do país há tal autonomia, não poderia
simplesmente vir outra constituição e acabar com esta identidade do estado.
c. Limites Heterônomos ao PCO
São provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos. O
PCO deve respeitar limites do DIREITO INTERNACIONAL. É a relativização do
direito de soberania do estado.
Exemplo: Tratados de Direitos Humanos com status constitucional, assim
como os TDH aprovados com quórum de leis ordinárias tem status supralegal.
1.5. TITULARIDADE E EXERCÍCIO DO PCO:
1.5.1. LEGITIMIDADE
a. Legitimidade Objetiva
Para ser legítimo, deve observar os LIMITES acima tratados.
b. Legitimidade Subjetiva
Está ligada a TITULARIDADE, que é detida pelo povo.
Titular do PCO é, segundo a doutrina, a maioria do povo que detém a
titularidade legítima do poder constituinte. O exercício não significa,
necessariamente, à titularidade, o exercício está ligado à elaboração da
constituição. Distinguem-se titularidade de exercício de poder. O exercício do
PC, em particular, está reservado a ente diverso do povo.
Para ser legítimo, o exercício deve corresponder à titularidade, se o
exercício for usurpado, por exemplo, não será legítimo o PCO.
Esta legitimidade seria subjetiva: é em relação ao sujeito. E pode-se dizer
também que quando observa os limites (acima colocados, limites materiais)
quanto ao conteúdo, seria uma legitimidade objetiva.
Sieyès: o titular do poder constituinte é a NAÇÃO, que não deve ser
confundida com o conjunto de pessoas que a compõem, num determinado
momento histórico. Na verdade, a nação encarna a permanência de uma
comunidade compreendendo os interesses permanentes dela. (Panfleto: “Que é
o terceiro estado”?)
Para as provas, adotar o posicionamento de que a titularidade do PC
pertence ao povo, sabendo do conceito clássico exposto por Sieyès.
2. Derivado.
O PCD abrange:
1) Poder Constituinte Derivado Decorrente (PCDD);
2) Poder Constituinte Derivado Reformador (PCDR);
3) Poder Constituinte Derivado Revisor (PCDREV);
2.1. PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE (PCDD)
2.1.1. CONCEITO DE PCDD
Responsável pela elaboração da constituição dos estados-membros. No
art. 25 da CF e art. 11 da ADCT consta que cada estado se organiza e cria sua
constituição própria, através do poder constituinte decorrente:
CF Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas
Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição.
CF ADCT Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes
constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um
ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos
os princípios desta. Parágrafo único. Promulgada a Constituição do
Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar
a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação,
respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição
Estadual.
Destes dois dispositivos, decorre o princípio da SIMETRIA. A constituição
estadual deve seguir o modelo da CF. Assim, como a lei orgânica municipal deve
observar a simetria da CE e da CF. Entretanto, a lei orgânica não é manifestação
do Poder Constituinte Decorrente.
A recepção não ocorre da mesma forma do que as leis ordinárias em
relação a CE, quando a CF entra, todas CEs devem ser reescritas, tem um prazo
para isso, na de 88 tiveram um prazo de 01 ano.
2.1.2. LIMITES AO PCDD (“NORMAS DE OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA”) –
JOSÉ AFONSO DA SILVA
Estudaremos os seguintes limites ao PCDD:
1) Princípios Constitucionais Sensíveis;
2) Princípios Constitucionais Extensíveis:
2.1) Princípios Constitucionais Extensíveis Expressos;
2.2) Princípios Constitucionais Extensíveis Implícitos;
3) Princípios Constitucionais Estabelecidos (organizatórios):
3.1) Princípios Constitucionais Estabelecidos Expressos:
3.1.1) Princípios Constitucionais Estabelecidos Expressos Mandatórios;
3.1.2) Princípios Constitucionais Estabelecidos Expressos Vedatórios;
3.2) Princípios Constitucionais Estabelecidos Implícitos (tácitos);
3.3) Princípios Constitucionais Estabelecidos Decorrentes;
2.1.3. Princípios Constitucionais SENSÍVEIS
São princípios que tratam da essência da organização da federação
brasileira. Alguns dizem que eles têm sensibilidade, se forem afrontados, não
respeitados, gerarão uma reação. Art. 34, VII.
Se os Estados não observarem, poderá haver uma intervenção federal nos
estados.
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos
estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção
e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
Para haver a intervenção federal nos estados (que só pode ser decretada
pelo Presidente da República), deve ser observado:
1) O PGR proporá a Representação Interventiva (ADI INTERVENTIVA).
2) O STF deve dar provimento a essa ADI (se não der acaba aqui).
3) Então o Presidente deverá decretar a intervenção. Existe na doutrina
divergência.
Peculiaridades em relação a essa ação:
1) Se só o STF pode julgar, é uma ação de controle CONCENTRADO.
2) Como surge a partir de um caso concreto, é um controle CONCRETO –
violação concreta de um dispositivo constitucional.
3) A pretensão é deduzida em juízo através de um processo constitucional
SUBJETIVO. E não através de um controle objetivo, como nas ações de controle
constitucional abstrato, aqui há partes autor (união), réu (estado).
4) O PGR nessa ação atua como um substituto processual. O PGR atua
defendendo um interesse da coletividade. É obrigado a ajuizar a ADI
interventiva? Art. 127, §1º - Princípio da Independência Funcional, ele tem
discricionariedade para decidir se no caso cabe ou não a ação, não é obrigado.
5) Natureza do Provimento dado pelo STF: segundo o mesmo, a natureza é
POLÍTICOADMINISTRATIVA.
6) Ao ver de NOVELINO, o ato do Presidente da República, seria um ato
vinculado e não apenas discricionário, visto que a natureza da decisão do STF
é políticoadministrativa (não caberia ao Presidente fazer a mesma análise),
inclusive o art. 12.3 da lei 1070/50, diz que é crime de responsabilidade do
Presidente da República o não atendimento da requisição do STF, quando este
dá o provimento à ação de intervenção.
7) Em 2011, houve edição de lei regulamentando essa ação. Vejamos o gráfico
esquematizado abaixo (fonte Dizer o Direito).
2.1.4. Princípios Constitucionais EXTENSÍVEIS
São normas de auto-organização da União que se estendem aos estados.
Podem ser:
1) Princípios Constitucionais Extensíveis EXPRESSOS
Exemplo: Art. 27, §1º, 28 e 75 CF.
Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá
ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e,
atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem
os Deputados Federais acima de doze. § 1º - Será de quatro anos o
mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sêlhes as regras desta
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades,
remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação
às Forças Armadas.
2) Princípios Constitucionais Extensíveis IMPLÍCITOS
Exemplo: CPI, art. 58 §3º. Os modelos da CF devem ser obedecidos.
Princípios básicos do processo legislativo, art. 55 e 59. STF: diz que mesmo não
estando expressos, devem ser observados.
CF Art. 58 § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão
poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de
outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,
para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas
conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
OBS: como são limitações ao PCD, quando se for estudar federação, os limites
da auto-organização dos estados membros serão estes vistos aqui.
3.1.3) Princípios Constitucionais Estabelecidos IMPLÍCITOS (TÁCITOS)
Vedam qualquer possibilidade de invasão de competência por parte dos
Estados-membros.
União: art. 22 CF Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
[...]
3) Princípios Constitucionais Estabelecidos DECORRENTES
São aqueles que definem o sistema constitucional adotado. Decorrem de
disposições expressas. José Afonso Da Silva: exemplo – do Princípio Federativo
da Constituição, decorre a exigência de respeito recíproco entre os estados. Ou
seja, não está explícito, porém é decorrente do sistema federativo adotado.
Outros exemplos: Princípio Republicano (Art. 1º Caput), Dignidade da
Pessoa Humana (Art. 1ºiii), da Igualdade (Art. 5º Caput), da Legalidade (Art. 5º
II), da Moralidade (Art. 37), do Combate das Desigualdades Regionais (Art. 47).
2.2. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR (PCDR)
2.2.1. CONCEITO
Trata-se do poder que vai fazer a reforma da constituição, consagrado no
art. 60.
Reforma é a via ordinária de alteração da constituição.
2.2.2. LIMITAÇÕES AO PCDR (ART.60)
Previsão
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.
§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos
dos votos dos respectivos membros.
§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
3) Considerações
Sessão Legislativa Ordinária – art. 57 CF – começa 02/02 e termina
dia 17/07 quando há recesso, ela reinicia dia 01/08 e vai até dia 22/12.
d) Limitações MATERIAIS
1) Conceito e finalidades
Tratam-se das Cláusulas Pétreas, elas servem para evitar que as
maiorias momentâneas não alterem, não desviem as metas a longo
prazo.
Finalidades:
1) Preservar a identidade material da CF. (CF/69, apesar de ter sido
feita por emendas, é considerada uma nova CF, pois alterou a identidade
da CF/67);
2) Preservar institutos, direitos e valores essenciais;
3) Permitem a continuidade do processo democrático (sociedade
protegendo-se de suas próprias fraquezas). Não são antidemocráticas, ao
contrário permitem a continuidade da democracia. Art. 60, §4º
3) Observações
“Tendente a abolir” como interpretar essa expressão?
Não significa que não possam ser alteradas, desde que estas não
sejam tendentes a abolir seu NÚCLEO ESSENCIAL.
STF: o que as cláusulas pétreas protegem não é a intangibilidade
literal do dispositivo, mas sim o seu núcleo essencial.
CF Art. 60 § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda
tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
4) Tipos de Cláusulas Pétreas
TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
3. RETROATIVIDADE E RECEPÇÃO
Ao ser criada uma nova Constituição, como já explicitado, existe a quebra
da normatividade jurídica maior dentro de um Estado Soberano, a Constituição
Federal é o delimitar de todo o ordenamento jurídico, sendo esta a lei mais
importante do país.
Posto a importância da Constituição, quando está é superada por outra,
podem surgir daí diversos problemas decorrentes da sua aplicação na forma
retroativa a fatos anteriores. Logo, é de suma importância deleitar-se sobre a
problemática da receptividade da nova Constituição quanto a fatos e normas
anteriores à sua vigência.
Na doutrina existem 3 (três) formas de retroatividade: a retroatividade
máxima, média e mínima.
a) Retroatividade máxima, é caracterizada pela forma em que as partes
eram restituídas ao status quo ante, porque se manifesta sobre os fatos já
consumados, da mesma forma da coisa julgada;
b) Retroatividade média, age sobre os efeitos pendentes de atos
jurídicos produzidos antes da nova Constituição. Exemplo: um contrato pactuado
em 20 prestações alguns meses antes da promulgação da nova Constituição,
tendo por base o salário mínimo estabelecido na Constituição anterior, as
prestações vencidas anteriores ao novo texto constitucional restariam nulas.
c) Retroatividade mínima, preleciona que o novo texto constitucional
alcança apenas os efeitos futuros dos atos jurídicos. Esta não retroage para
eliminar um contrato feito sob a normatividade constitucional anterior, mas
alcança os efeitos que serão sentidos após a promulgação do novo texto. Este
tipo de retroatividade foi o recepcionado pela Constituição de 1988.
RECEPÇÃO
O fenômeno da recepção é aquele que trata sobre a adequação das
normas infraconstitucionais anteriores ao novo texto constitucional. À partir da
edição de uma nova Constituição, a anterior é revogada, todavia, não
obrigatoriamente todas as normas perdem a sua validade. Desta forma, as que
forem compatíveis com o novo texto devem ser aproveitadas e ratificadas sob
nova validade. Esta é a chamada recepção. A legislação anterior que se adeque
ao novo texto jurídico constitucional é recepcionada com as devidas alterações
que possam ser necessárias.
As normas que não se adequem à nova ótica constitucional devem ser
revogadas, posto que não passem pelo crivo material e formal do seu conteúdo.
REPRISTINAÇÃO
É o fenômeno em que a lei que foi revogada e perdeu a sua vigência, volte
a ganhar vigência, pelo fato da norma que à revogou ter sido revogada. É, de
forma literal, a revalidação de uma norma anteriormente revogada, em que
apresenta compatibilidade com a Constituição vigente.
Esse fenômeno é possível mediante a previsão expressa em que admite
a norma Constitucional ser revalidada.
_______________________________________________________________
Da Constituição:
As constituições nacionais se classificam de diferentes formas. Já esteve
vigente no Brasil sete constituições, atualmente estamos sob a égide da "
constituição cidadã de 1988" que é classificada da seguinte maneira:
1. Quanto ao conteúdo:
Formal: concebida de forma escrita, por meio de um documento solene
redigido e estabelecido pelo poder constituinte originário.
2. Quanto à forma:
Escrita: redigida em um único documento para ser lei máxima de um
Estado.
4. Quanto à origem:
Promulgada: estabelecida por meio de processo democrático, fruto de
uma assembléia compostas por representantes do povo.
5. Quanto à estabilidade:
Rígida: constituições escritas que poderão ser alteradas por um processo
legislativo mais complexo que outras normas do ordenamento jurídico.
6. Quanto à extensão:
Analítica: estabelece e regulamenta todos os assuntos que o constituinte
julgar relevante.
1. Conceito.
Podemos conceituar Constituição como sendo a lei fundamental e
suprema que rege o Estado. São diversas as concepções tais como
sociológica, política, material, jurídica, culturalista, aberta, pluralista e outras.
2. Objeto e conteúdo.
O objeto da Constituição é reger a vida em social do Estado e a sua
classificação ou tipologia pode ser classificada quanto à origem e a distinção
entre Constituição e Carta; quanto à forma, à extensão, ao conteúdo, ao modo
de elaboração, à alterabilidade, à sistemática (critério sistemático), quanto à
dogmática, à correspondência com a realidade (critério ontológico - essência),
quanto ao sistema, à função, à origem de sua decretação: heterônomas
(heteroconstituições) x autônomas ("autoconstituições" ou
"homoconstituições"), Constituições garantia, balanço e dirigente (Manoel
Gonçalves Ferreira Filho), Constituições liberais (negativas) e sociais
(dirigentes) - conteúdo ideológico das Constituições (André Ramos Tavar1es),
Raul Machado Horta (Constituições expansivas), como percebemos são várias
classificações para a Constituição.
O objeto das Constituições é basicamente os direitos e deveres do
Estado e dos cidadão, prevendo mecanismos de exercício e controle do poder,
direitos e garantias fundamentais, defesa da Constituição, do Estado e das
Instituições Democráticas e os fins socioecônomicos do Estado.
A supremacia constitucional advém dos conceitos de superioridade do
Poder Constituinte sobre as instituições jurídicas vigente1s e a distinção entr1e
Constituições rígidas e flexíveis. Nesse sentido a supremacia prega que as
normas constitucionais representam o paradigma máximo de validade do
ordenamento jurídico, de modo que todas as demais normas são
hierarquicamente inferiore1s a ela, referência a pirâmide normativa de Hans
Kelsen quando a Constituição está no àpice e as demais normas estão abaixo
dela (relação de compatibilidade vertical).
Princípio da eficácia imediata das normas constitucionais prevê que são
normas que trazem todo o conteúdo necessário para a sua materialização
prática, não necessitam de lei infraconstitucional. Exemplo: Brasília é a Capital
Federal (ART. 18, § 1º, da CF).
O Princípio da Recepção consiste no fenômeno em que normas
pertencentes a uma ordem jurídica anterior são recebidas e consideradas
válidas por uma nova ordem constitucional, porque seus conteúdos são
materialmente compatíveis.
Claúsulas pétreas tem como significado último prevenir a erosão
da Constituição Federal, inibindo a tentativa de abolir o projeto constitucional
do constituinte, estão previstas no art. 60 , § 4 º, da CF: forma federativa de
Estado, voto direto, secreto, universal e periódico, separação dos Poderes e os
direitos e garantias individuais.
Conceitos de Constituição
1. Sentido sociológico de Constituição (Ferdinan Lasale – o que é
Constituição):
Constituição não é uma folha de papel. Constituição é a soma dos
fatores reais de poder que emanam da população.
Fatores reais de poder? Toda sociedade tem relações de poder.
Toda sociedade tem, portanto, um grupo que se subordina a outro grupo.
Isso, para ele, é Constituição.
Se a Constituição escrita não refletir a Constituição real terá pouca
eficácia, não passando de uma mera folha de papel.
Para uma Constituição escrita ser efetiva tem que refletir essas
relações reais de poder.
Para ele, Constituição não é uma lei.
Introdução
Espécies de Inconstitucionalidade
Objeto
Competência
Legitimados
a) o Presidente da República;
f) o Procurador-Geral da República;
Procedimento
a) Se o juiz não tinha decidido: não decidirá mais, irá se reportar ao que o STF
já decidiu, julgando a ação improcedente.
Medida Cautelar
Efeitos da Decisão
Partes
Tramitação
A petição inicial deve conter cópia da lei ou do ato normativo que está
sendo questionado. Ela deve ser fundamentada, caso contrário pode ser
impugnada de imediato pelo relator. O relator deve pedir informações às
autoridades de quem emanou a lei, tais como Presidente da República,
Congresso Nacional, para estabelecer o contraditório. Considerando a
relevância da matéria e a representatividade dos requerentes, o relator poderá
ouvir outros órgãos ou entidades. Caso haja necessidade de esclarecimento da
matéria, podem ser designados peritos para emitir pareceres sobre a questão ou
chamadas pessoas com experiência e autoridade no assunto para opinar.
Fundamentos legais
b) direitos sociais;
c) direitos de nacionalidade;
d) direitos políticos;
e) partidos políticos.
Partes Legitimadas
Procedimento
Indeferimento
O Ministério Público, nas argüições que não houver formulado, terá vista
do processo, por cinco dias, após o decurso do prazo para informações.
Cabimento de Reclamação
Princípios Político-Constitucionais
Também conhecidos como Princípios Fundamentais ou Princípios
Estruturantes do Estado Constitucional, segundo os livros de Direito, são os
princípios que estabelecem a forma, estrutura e governo do Estado, etc. É
constituído pelas decisões políticas alicerçadas em normas do sistema
constitucional. Exemplo:
Princípios Jurídico-Constitucionais
São os princípios constitucionais gerais informadores da ordem jurídica
nacional. São emanados das normas constitucionais, o que gera alguns
desdobramentos como: o princípio da supremacia da Constituição Federal, o
princípio da legalidade, o princípio da isonomia, dentre outros. Assim, a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apresenta um conjunto
de regras e princípios básicos essenciais ao cidadão:
Princípio da Legalidade;
Princípio da Liberdade;
Princípio da Igualdade;
Princípio da Ampla Defesa;
Princípio da Isonomia;
Princípio do Contraditório;
Princípio da Simetria;
Princípio da Propocionalidade da Lei.
Além dos citados acima, existem uma série de outros princípios que fazem
parte das demais áreas do Direito.
_____
2.FUNÇÃO FUNDAMENTADORA
O princípio, enquanto "mandamento nuclear de um sistema" (CELSO
ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO[8]), exerce a importante função de
fundamentar a ordem jurídica em que se insere, fazendo com que todas as
relações jurídicas que adentram ao sistema busquem na principiologia
constitucional "o berço das estruturas e instituições jurídicas". Os princípios são,
por conseguinte, enquanto valores, "a pedra de toque ou o critério com que se
aferem os conteúdos constitucionais em sua dimensão normativa mais
elevada"[9].
Com efeito, "os princípios, até por definição, constituem a raiz de onde
deriva a validez intrínseca do conteúdo das normas jurídicas. Quando o
legislador se apresta a normatizar a realidade social, o faz, sempre, consciente
ou inconscientemente, a partir de algum princípio. Portanto, os princípios são
as idéias básicas que servem de fundamento ao direito positivo. Daí a
importância de seu conhecimento para a interpretação do direito e elemento
integrador das lacunas legais..."[10]
Vê-se, dessa forma, que os princípios embasam as decisões políticas
fundamentais tomadas pelo constituinte e expressam os valores superiores que
inspiram a criação ou reorganização de um dado Estado, ficando os alicerces e
traçando as linhas mestras das instituições, dando-lhes o impulso vital inicial[11],
de sorte que, ruindo o princípio, há a destruição de todo o "prédio normativo" que
por ele está embasado.
Ora, sendo a Constituição um sistema de regras e princípios que resulta
do ‘consenso social sobre os valores básicos’, e considerando mais que os
princípios, dada a sua qualidade normogenética, fundamentam as regras, parece
bastante fácil compreender que os princípios estão no ponto mais alto da
pirâmide normativa, são "norma normarum" ou "norma das normas", "fonte das
fontes".
Nas palavras de BONAVIDES, "são qualitativamente a viga mestra do
sistema, o esteio da legitimidade constitucional, o penhor da constitucionalidade
das regras de uma constituição"[12].
O Supremo Tribunal Federal, aos poucos, vem captando essa dimensão
funcional dos princípios, conforme se observa no voto do Min. Celso de Mello,
proferido na PET-1458/CE (DJ 04-03-98, Julgamento 26/02/1998):
"o respeito incondicional aos princípios constitucionais evidencia-se como
dever inderrogável do Poder Público. A ofensa do Estado a esses valores - que
desempenham, enquanto categorias fundamentais que são, um papel
subordinante na própria configuração dos direitos individuais ou coletivos -
introduz um perigoso fator de desequilíbrio sistêmico e rompe, por completo, a
harmonia que deve presidir as relações, sempre tão estruturalmente desiguais,
entre os indivíduos e o Poder".
Dessa forma, "as normas que se contraponham aos núcleos de
erradiação normativa assentados nos princípios constitucionais, perderão sua
validade (no caso da eficácia diretiva) e/ou sua vigência (na hipótese de eficácia
derrogatória), em face de contraste normativo com normas de estalão
constitucional"[13].
Na Constituição Cidadã, os quatro primeiros artigos tratam dos "princípios
fundamentais"[14], sendo estes, ao lado do preâmbulo, o embasamento (e telos)
de toda a ordem jurídica brasileira. Destaca-se o art. 3º, que é a diretriz política
adotada pelo Estado brasileiro:
"Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".
Interessa observar que, nesse ponto, os princípios constitucionais
possuem uma dimensão funcional de programa de ação (função dirigente e
impositiva), impondo, prospectivamente, tarefas e programas aos poderes
públicos, que devem, de qualquer forma, buscar a sua concretização, justamente
por essas tarefas serem imposições normativo-constitucionais, ou seja, serem o
núcleo fundamental da Constituição Dirigente (CANOTILHO).
É importante salientar que os princípios, enquanto fundamentos
vinculantes de conduta, pautam não somente a ação do legislador constituído,
mas de também do administrador, do juiz e de todos as pessoas (físicas e
jurídicas, públicas e privadas) que compõe a sociedade política.
5. PARA FINALIZAR
O mundo moderno impõe, amiúde, a busca de novas alternativas
condizentes com o turbulento e dinâmico macroambiente desta "aldeia global"
(Mcluhan), que tem no signo do efêmero sua qualificadora indissociável.
Realmente, o impacto revolucionário das novas tecnologias
- internet correio eletrônico, telefone celular, computadores portáteis, fax,
software - e dos mais modernos meios de comunicação - TV a cabo, via satélite,
videoconferência, etc - parece ser incompatível com a segurança jurídica, que é
a razão de ser do ordenamento e quiçá do próprio direito em sua essência.
E é nesse conturbado cenário que surge a importância maior dos
princípios constitucionais: servir justamente para dar o norte para onde o
hermeneuta deve seguir nessa difícil atividade de adaptação do direito posto às
novas situações jurídicas que vão surgindo num planeta globalizado
completamente diferente de tudo que já existiu.
De fato, os princípios, em relação às regras, têm uma grande vantagem:
a abertura. Ou seja, os princípios têm uma "substância política ativa", uma
"estrutura dialógica", capaz de captarem as mudanças da realidade e estarem
"afinados" às concepções cambiantes da "verdade" e da "justiça". Eles não são
- nem pretendem ser - verdades absolutas ou axiomas imutáveis; são, isto sim,
"poliformes" (Cármem Rocha). Na medida das transformações ocorridas no bojo
do seio social, as interpretações dos princípios vão-se adaptando, vão-se
moldando constantemente às vicissitudes do meio sócio-político em que atuam.
São fluidos, plásticos e manipuláveis e, por isso mesmo, não precisam esperar
as alterações textuais (legislativas) das regras para impor ou orientar as decisões
políticas dos membros da sociedade. Ou seja, eles transcendem a literalidade
da norma mesma em que estão inseridos, permitindo que se mude o sentido,
isto é, a interpretação dos textos, sem que se precise, com isso, alterar os seus
enunciados normativos[30].
Os princípios são, pois, neste momento de incertezas e transformações,
o estado da arte na interpretação evolutiva, a única capaz de dar vida ao direito.
E eles (os princípios) estão aí espalhados por todo o ordenamento jurídico. A
Constituição está cheia deles, já que é Lei Fundamental a "ambiência natural dos
princípios" (Willis Guerra Filho). Cabe a nós "descobri-los" e utilizá-los de forma
adequada e satisfatória. Parafraseando J. J. CALMON DE PASSOS, diríamos
que, assim como os mandamentos de Deus de nada valem para os que não têm
fé, de nada valem os princípios constitucionais para os que não têm a
consciência de sua potencialidade.
Relevância
Os princípios constitucionais são o ponto mais importante de todo o
sistema normativo, já que estes são os alicerces sobre os quais se constrói o
Ordenamento Jurídico. São os princípios constitucionais que dão estrutura e
coesão ao edifício jurídico, segundo NUNES (2002: 37).
O fundamento primeiro de todo o Estado brasileiro são os princípios,
porque muito além deles regularem as relações jurídicas, também coordenam
todo o sistema jurídico para a melhor desenvoltura em prol da humanidade, que
é a verdadeira razão ou finalidade do sistema: a sociedade.
Os princípios ainda são de suma importância porque orientam,
condicionam e iluminam a interpretação de todas as outras normas jurídicas em
geral, influenciando até mesmo na interpretação de outras normas magnas.
No caso de pluralidade de sentidos, segundo NUNES (2002: 37), a
interpretação deverá ser feita com vistas a fixar o sentido que possibilitar uma
sintonia com o principio que lhe for mais próximo.
Ainda cita que “se surgir uma aparente antinomia entre os textos
normativos da Constituição, ela será resolvida pela aplicação do princípio mais
relevante no contexto.”
Ora, tamanha sua abstração que soluciona antinomias até mesmo entre
princípios, relevando o má relevando o mrinctinomias ato.ociedade.da
humanidade, que aos princ uma soluçntratual incide e indo assim a
doutrinadores ximo possível um princípio no menor prejuízo do outro conflitante
para que haja um equilíbrio.
NUNES (2002: 37) descreve que o intérprete deve se ater aos princípios
como sendo norteadores de todo o sistema jurídico brasileiro, sob pena
invalidade lógico-jurídica: “Nenhuma interpretação será tida por jurídica se atritar
com um princípio constitucional”.
Nesse diapasão, leciona ATALIBA (2001: 6-7):
[...] princípios são linhas mestras, os grandes nortes, as diretrizes magnas
do sistema jurídico, Apontam os rumos a serem seguidos por toda a sociedade
e obrigatoriamente a perseguidos pelos órgãos do governo (poderes
constituídos)”.
Eles expressam a substância última do querer popular, seus objetivos e
desígnios, as linhas mestras da legislação da administração e da jurisdição. Por
estas não podem ser contrariados: tem que ser prestigiados até as últimas
conseqüências.
Do Estado Brasileiro:
1. A República Federativa. Poder e divisão. O estado democrático de direito.
1. INTRODUÇÃO
A própria denominação conferida ao Brasil pelo constituinte originário de
1988 revela seu modelo de organização estatal, bem como a opção política de
sua forma de governo.
Por ser república, os contornos democráticos da Constituição devem ser
evidentes, especialmente no tocante à Separação de Poderes (ou funções) que,
evitando a sua concentração nas mãos de um ou alguns, impede um eventual
desvirtuamento do texto constitucional, já que como lembrado por Bobbio (2010,
p. 146) todo aquele que detém o Poder tende a dele abusar. Essa característica
denota uma “horizontalidade” no trato das funções republicanas, tanto que o
texto da nossa Lei Fundamental assevera serem os poderes independentes e
harmônicos entre si (art. 2º).
Seguindo o ideal republicano, a forma de escolha dos membros
integrantes dos Poderes do Estado deve restar em sintonia com os princípios
que regem uma democracia representativa (art. 14 e ss.), de modo a conferir
legitimidade a essa representação, além de haver o pleno respeito aos direitos
e garantias fundamentais de todas as pessoas (art. 5º).
Pelo viés federativo, vê-se que a organização do Poder do Estado além
de ser desconcentrada (característica própria de uma república, como se
percebe pela Separação dos Poderes), é também descentralizada, restando o
Poder distribuído em quatro esferas federativas diversas: a União, os Estados, o
Distrito Federal e os municípios. Sendo que em uma federação as competências
de cada unidade federada devem ser previstas Constitucionalmente[1].
Nesse sentido, nos tópicos abaixo serão abordadas algumas das
principais características do nosso federalismo, bem como da evolução
constitucional da Separação de Poderes como dado a evidenciar que nem
sempre fomos efetivamente uma república, para ao final tratarmos do Brasil
como um Estado democrático de direito.
2. FEDERALISMO
2.1 NOÇÕES PREAMBULARES SOBRE O FEDERALISMO NORTE
AMERICANO: MODELO QUE INSPIROU O BRASIL
A história da formação de um Estado norte americano foi marcada pelas
discussões acerca da necessidade ou não da união das 13 antigas colônias
britânicas na América sob uma única voz de comando. O fato é que para garantir
a independência conquistada pós 1776, as antigas colônias firmaram um tratado
entre si a fim de criar uma confederação com o objetivo básico de preservar suas
soberanias.
Nessa conformação muitos problemas de cunho político-administrativo e
de relacionamento interestatal surgiam, como bem destacado por Mendes,
Coelho e Branco (2008, p. 797):
Cada entidade componente da confederação retinha a sua soberania, o
que enfraquecia o pacto. As deliberações dos Estados Unidos em Congresso
nem sempre eram cumpridas, e havia dificuldades na obtenção de recursos
financeiros e humanos para as atividades comuns. Além disso, a confederação
não poderia legislar para os cidadãos, dispondo, apenas, para os Estados. Com
isso não podia impor tributos, ficando na dependência da intermediação dos
Estados confederados. As deliberações do Congresso, na prática, acabavam por
ter a eficácia de meras recomendações. Não havia, tampouco, um tribunal
supremo, que unificasse a interpretação do direito comum aos Estados ou que
resolvesse juridicamente diferenças entre eles.
A confederação estava debilitada e não atendia às necessidades de
governo eficiente comum do vasto território recém-libertado.
Diante desse quadro, nasce o movimento pela concepção de um Estado
federalizado, que pretendia afastar a idéia da formação de várias confederações
de Estados, no intuito de promover uma unificação de todos os 13 Estados
independentes sob um único governo central, preservada a autonomia de cada
um deles, sendo, contudo, reservada a soberania ao País que se formaria de
sua união: os Estados Unidos da América (HAMILTON, MADISON e JAY op. cit.,
p. 57).
Os federalistas, na defesa de suas idéias unificadoras, passaram a expor
as vantagens de um governo republicano uno, diminuindo, por conseqüência,
suas atuais (da época) imperfeições: a) a distribuição e divisão de poderes, com
a introdução da doutrina dos freios e contrapesos ao legislativo; b) a instituição
de tribunais com juízes inamovíveis; e c) o voto a proporcionar a representação
dos cidadãos nas legislaturas por meio de deputados por eles escolhidos.
(HAMILTON, MADISON e JAY op. cit., p. 54).
A par disso, sustentavam os federalistas que para se garantir a
perenidade da União que se propunha, seria necessária a existência de um
governo forte e enérgico, especialmente no tocante:
a) À atribuição das funções ao governo federal (HAMILTON, MADISON e
JAY op. cit., p. 142), a saber: a.1) defender todos os seus membros; a.2) proteger
a paz da república contra convulsões interiores e ataques externos; a.3) regular
o comércio interno e com as nações estrangeiras; e a.4) dirigir as relações
comerciais e políticas com as referidas nações; e
b) Ao grau de poder, eminentemente bélico, necessário à execução
dessas mesmas funções (HAMILTON, MADISON e JAY op. cit., p. 142-143): b.1)
levantar tropas; b.2) construir e equipar frotas; b.3) prescrever leis para governar
umas e outras; b.4) dirigir as suas operações; e b.5) prover a sua sustentação.
Noutro turno, os federalistas diziam que a Constituição proposta poderia
ser considerada sob duas perspectivas: a) a primeira levaria à reflexão acerca
da soma de poder que ela conferiria à União e retiraria dos Estados; e b) a
segunda quanto à distribuição desse mesmo poder entre os diferentes ramos
que comporiam o governo unificado[2].
No que toca ao primeiro questionamento, os autores federalistas,
HAMILTON, MADISON e JAY, aduziam que se desequilíbrio houvesse, a
balança penderia em favor dos Estados-membros e não da União. Nesse
sentido, assim argumentavam:
Para nos convencermos de que os governos dos Estados hão de levar
sempre a melhor do governo-geral, basta que os comparemos quanto à sua
dependência recíproca – quanto ao grau da sua influência pessoal, quanto aos
poderes que lhes são respectivamente confiados, quanto à predileção e apoio
provável da parte do povo e, finalmente, quanto à vontade e meios de resistir às
medidas da autoridade rival e de neutralizar-lhes o efeito.
Ao mesmo tempo em que os governos dos Estados podem ser
considerados como partes constituintes e necessárias do Governo Federal, não
pode este ser tido por essencial à organização ou à ação deles.
O presidente dos Estados Unidos não pode ser eleito sem o concurso das
legislaturas, que devem ter sempre grande parte na sua nomeação, e às vezes
tudo.
O Senado há de ser absoluta e exclusivamente eleito pelas legislaturas
dos Estados. Mesmo a Câmara dos representantes, ainda que imediatamente
tirada do povo, há de ser quase sempre escolhida debaixo da influência desta
classe de homens que o seu crédito faz nomear membros das legislaturas dos
Estados.
Assim, as duas partes principais do Governo Federal deveram mais ou
menos a sua existência ao favor dos governos dos Estados, e ficaram por este
motivo constituídas numa espécie de dependência, que mais facilmente as
disporá a um excesso de condescendência que à usurpação. Pelo contrário, os
membros dos governos dos Estados jamais deveram a sua nomeação à ação
direta do Governo Federal e raríssimas vezes à influência local dos seus
membros (HAMILTON, MADISON e JAY op. cit., p. 287-288).
Corroborando esse pensamento, Tocqueville[3] já dizia que o Governo
dos Estados-membros é a regra, é o direito comum, já o Governo Federal é a
exceção, na clara menção de que as competências da União não invadiriam as
destinadas aos Estados em razão da autonomia preconizada pela Federação
norte americana. Não obstante esse discurso federalista de preservação das
competências estaduais, o fato é que o federalismo dos EUA não escapou
ao processo de dilatação dos poderes federais e da consequente diminuição das
competências estaduais, sendo que nas palavras de Bernard Schwartz “os
Estados acabarão como simples relíquias de outrora florescente sistema
federativo.”[4]
Elemento importante do modelo federativo norte americano é a figura do
Senado. Sobre o tema o “autor federalista” destaca, dentre outros, os seguintes
pontos: a) as condições para que possa ter lugar a qualidade de Senador; b) a
nomeação dos senadores pelas legislaturas dos Estados; c) a igualdade de
representação no Senado; d) os poderes confiados ao Senado. Passemos a vê-
los:
a) As condições para que possa ter lugar a qualidade de Senador: o
Senador, diferentemente dos representantes da Câmara, devem ter no mínimo
30 anos de idade e 9 anos de cidadão. “Esta diferença funda-se na natureza das
funções dos senadores, que exigem mais instrução e mais estabilidade de
caráter. É necessário que quem as desempenhar tenha chegado à idade em que
aquelas duas qualidades se acham mais freqüentemente reunidas.”
(HAMILTON, MADISON e JAY, 2003, p. 374)
b) A nomeação dos senadores pelas legislaturas dos Estados: além de
favorecer a uma melhor escolha, confere, ao mesmo tempo, uma influência
maior aos Estados na formação do governo federal, que, diante da
independência política do Senado, procurará formar com os governos estaduais
um laço útil à consecução de seus projetos de governo. (HAMILTON, MADISON
e JAY, 2003, p. 375)
c) A igualdade de representação no Senado:
A igualdade de representação é o resultado evidente de uma transação
entre as pretensões encontradas dos grandes e pequenos Estados; e, por
conseqüência, pequena discussão pode exigir. Se é verdade que entre homens
reunidos em corpo de nação cada distrito deve ter parte no governo, em
proporção da sua grandeza, e que entre Estados soberanos e independentes,
unidos por uma simples liga, os diferentes membros que a compõem, ainda que
desiguais em grandeza, devem ter igual porção de influência nas assembléias
comuns, não foi sem razão que em uma república composta, que a alguns
respeitos se aproxima do governo federativo, apartando-se em outros das suas
máximas, se propôs seguir ao mesmo tempo, na composição da legislatura, os
princípios da igualdade, e os da proporcionalidade da representação.
(...)
Note-se que a igualdade de votos, concedida a cada Estado, é ao mesmo
tempo o reconhecimento constitucional da porção de soberania que se lhes deixa
e o meio de sustentá-la (...)
Outra vantagem que resulta da mesma disposição é ser ela um obstáculo
demais à admissão das más leis. Com efeito, sendo tal a organização da
legislatura, nenhuma lei pode passar: primeiro, sem a cooperação da maioria do
povo; segundo, sem a da maioria dos Estados. (grifos nossos) (HAMILTON,
MADISON e JAY, 2003, p. 375-376)
d) Os poderes confiados ao Senado: além de defender o povo dos erros
da Câmara dos representantes, o Senado teria o dever (e o poder) de defender
o “povo dos seus próprios erros e ilusões momentâneas.”[5] Além dessa função,
o Senado tem o poder de aconselhar e consentir, contando que se manifestem
nesse sentido pelo menos 2/3 dos seus senadores presentes, que o Presidente
dos Estados Unidos conclua tratados internacionais (HAMILTON, MADISON e
JAY, 2003, p. 388). Além disso, detém o Senado o poder de julgar o Presidente
em caso de impeachment (HAMILTON, MADISON e JAY, 2003, p. 394).
Por fim, ao tratar do Chefe máximo da federação, como dito
anteriormente, a Constituição dos EUA efetivamente criou a figura do Presidente
da República, em oposição à idéia de um monarca, tendo estabelecido sob um
viés eminentemente democrático (para a época) seu modo de escolha e a
duração do seu governo.
Com efeito, a regra que disciplina a escolha do presidente tem por
fundamento uma eleição indireta (por isso se disse “democrático para a época”):
no caso, o povo vota em um corpo de representantes/eleitores (extraídos da
sociedade civil) ad hoc que, por sua vez, sufragará o presidente dos Estados
Unidos.
Quanto às características inerentes ao cargo de Presidente dos Estados
Unidos, destacam-se: a) é eleito para um mandato de 04 anos, sendo reelegível
enquanto o povo o julgar digno de sua confiança[6]; b) está sujeito a acusação e
julgamento, podendo incorrer em perda do cargo, ou em outra penalidade
cominada pela lei nos casos de traição, malversação do dinheiro público ou outro
crime qualquer; c) a prerrogativa de vetar leis e atos normativos, votados e
discutidos nas duas casas do Congresso, não sendo, contudo, absoluta a
decisão presidencial, podendo o referido bill ser discutido pela segunda vez no
Congresso e adquirir força de lei se reunir 2/3 dos votos da legislatura; d) de
igual modo, o Presidente é comandante-chefe do exército e da marinha dos
Estados Unidos, assim como das guardas nacionais dos Estados, quando forem
chamadas ao serviço da União; e) tem também o direito de perdoar os crimes
cometidos contra o Estado, enquanto a acusação não estiver intentada; f) além
de ser encarregado da fiel execução das leis e da nomeação para os empregos
da administração pública (HAMILTON, MADISON e JAY op. cit., p. 413).
Sendo essas algumas das principais características da Federação norte
americana, voltemos nossa atenção ao modelo brasileiro, ainda que
sucintamente.
2.2 NOTAS SOBRE O FEDERALISMO BRASILEIRO
De início, é de se destacar que a principal diferença entre os movimentos
federalistas norte americano e brasileiro é o fato de que no primeiro criou-se um
governo central por meio da incorporação das “soberanias” e de parte das
competências das 13 antigas colônias, na época já independentes do domínio
inglês, perfazendo uma federação de modelo centrípeto ou contrípeto; já o
modelo brasileiro trilhou caminho inverso. Nossa federação centrifugou[7] as
competências do governo central – já que até a proclamação da república o
Brasil era um Estado (Império) unitário, subdivido em províncias, com o monarca
como seu chefe supremo[8] –, para os Estados-membros. De modo que se se
pudesse atribuir um defeito ao federalismo dos EUA, este seria um
desproporcional fortalecimento dos Estados membros no âmbito interno, ao
passo que no Brasil, o principal defeito seria o desproporcional enfraquecimento
dos Estados-membros se comparados com a União.
Não obstante o comentário acima, o fato é que a partir de 1891[9] até os
dias atuais o Brasil adotou a federação como forma de organização política
interna, sendo que o art. 60, § 4º, I[10] da atual CF/88 alça à condição de clausua
petrea[11] a forma federativa de Estado[12].
Assim, como já apontado, o art. 1º da nossa Lei Fundamental preceitua
ser o Brasil uma República Federativa, formada indissoluvelmente pela união
dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, sendo que as suas
competências[13] estão constitucional e expressamente previstas nos artigos
21, 22, 23, 24, 25, 30 e 32, § 1º, a fim de que não haja nem conflitos, nem
desperdício de esforços e recursos em face da existência de mais de uma ordem
jurídica incidente sobre o mesmo território e sobre as mesmas pessoas
(MENDES, COELHO, BRANCO, 2008, p. 799).
Relativamente às competências, pode-se dizer que o Brasil adotou um
modelo de repartição simultaneamente horizontalizado e verticalizado, isto é: há,
respectivamente, tanto competências exclusivas (horizontais) próprias a cada
um dos entes federativos quanto competências concorrentes (verticais), próprias
a alguns entes federativos concomitantemente, sendo que nesse último caso as
matérias legislativas de ordem geral são destinadas à União e as envolvendo
peculiaridades locais restam afetadas aos Estados, município e Distrito Federal.
Em que pese essa dupla orientação federativa adotada pela Constituição
de 1988, percebe-se facilmente uma hipertrofia das competências da União em
detrimento das competências dos demais entes federados, como dito no início
deste tópico. Exemplo claro desta afirmação são as competências legislativas da
União consignadas no art. 22 (incisos de I a XXIX)[14].
No tocante à tributação, ponto de fulcral relevância na busca de um
equilíbrio federativo, nossa Constituição em seu art. 24, I diz ser competência
concorrente da União, Estados e Distrito Federal legislar sobre direito tributário,
financeiro e econômico. Ocorre que a competência tributária fixada na
Constituição destina à União a maior gama da capacidade tributária ativa, como
se vê pela leitura dos artigos 148 (empréstimo compulsório), 149 (contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias
profissionais ou econômicas) e 153 (imposto de importação - II, imposto de
exportação - IE, imposto de renda - IR, imposto sobre produtos industrializados,
imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou
valore mobiliários - IOF, imposto sobre a propriedade territorial rural - ITR
e imposto sobre grandes fortunas -IGF), o que, por si só, não permite que se
alcance o mencionado equilíbrio federativo.
Em agravamento à situação, é de se destacar que o principal tributo de
competência dos Estados-membros (imposto sobre as operações relativas à
circulação de mercadorias e prestações de serviços de transporte interestadual
e intermunicipal e de comunicação – ICMS, art. 155, II), está quase que
exaustivamente disciplinado no próprio texto constitucional (art. 155, § 2ª e ss.),
extirpando-lhes de fato, por via reversa, a competência para tratar do tema.
Nada obstante as peculiaridades da nossa Federação, deve-se ter em
mente que as características geográficas e culturais do Estado brasileiro exigem,
bem ou mal, que nossa forma político-organizativa se funde no federalismo[15].
Sendo esse, em linhas gerais o nosso modelo.
4.2.ESTADO DE DIREITO
Abordemos, nesse segundo momento, o Estado de Direito: o Estado de
Direito surge para impor limites ao Poder exercido pelo governante,
especialmente o monarca absolutista, eis que não se usava observar as leis por
ele mesmo criadas[37]. Assim, o Estado de Direito pode ser caracterizado como
aquele no qual o Estado se encontra submetido ao direito por ele criado[38] e
conseqüentemente à lei[39], ambos entendidos como reflexo e expressão da
vontade geral.
Nesse sentido, García-Pelayo[40] informa que a lei a que se referiu acima
não é “qualquer lei”, mas aquela cujo conteúdo normativo se subsuma à idéia de
legitimidade, justiça, dos fins e valores aos quais deve servir o Direito, ou seja:
valores que expressem normas ou princípios que a lei não possa violar, sob pena
de não ser “lei conforme o Direito” e descaracterizar, por conseguinte, o Estado
sob essa adjetivação.
Relativamente aos aspectos fundamentais de um Estado de Direito,
temos na doutrina de Ernst Wolfgang Böckenförde, trazida por Mendes, Coelho
e Branco (2008, p.42), esclarecedora lição, qual seja: a) estar apartado de
“qualquer idéia ou objetivo transpessoal do Estado”, ou de qualquer outra
conceituação Divina no que concerne à sua origem. O Estado de Direito está a
serviço do interesse comum de todos os indivíduos que compõem uma
comunidade; b) ter como objetivo do Estado a garantia da liberdade, segurança
e propriedade das pessoas, propiciando, assim, o “autodesenvolvimento dos
indivíduos”; e c) “a organização do Estado e a regulação das suas atividades
obedecem a princípios racionais, do que decorre em primeiro lugar o
reconhecimento dos direitos básicos da cidadania”, tais como a liberdade,
igualdade, predominância da lei, existência de representação popular etc..
Ademais, Bobbio[41] acrescenta que o Estado de direito é o Estado dos
cidadãos, onde o indivíduo tem não só direitos privados, como ocorria no Estado
absolutista, mas direitos públicos, ou seja, direitos em face do próprio Estado.
Por outro lado, interessante destacar o entendimento de Paulo Bonavides
(1995, p. 190) para quem o Estado de Direito não é nem forma de Estado nem
forma de governo, mas sim um “statu quo” institucional que reflete a confiança
depositada nos governantes pelos cidadãos, como garantidores dos direitos e
liberdades fundamentais do homem e da sociedade.
Por derradeiro, e sem destoar das doutrinas anteriormente declinadas,
colacionamos o posicionamento de Burdeau (2005, p. 43-44), que ao reafirmar
a submissão do Poder do Estado ao Direito, já que este último legitima
juridicamente aquele Poder, sustenta que essa submissão não significa a
paralisação do governante, nem a inviabilização de sua independência e
iniciativa na execução do seu mister, mas que, ao contrário, resulta do fato de
os governantes não poderem ser contrários à idéia de direito válida no grupo
social que representam. Esse seria o significado do Estado de Direito.
5. CONCLUSÕES
Consoante consignado por Mendes, Coelho e Branco, as características
geográficas e culturais do Brasil mostram que nosso país necessita conformar-
se como uma federação de modo a desenvolver-se adequadamente, superando
as eventuais desigualdades regionais por meio da atuação de um governo local.
Acrescentam, por outro lado, ser o federalismo um componente de segurança
democrática, já que o poder na federação é exercido não somente
horizontalmente (Executivo, Legislativo e Judiciário), mas também verticalmente,
com competências exclusivas e concorrentes distribuídas entre os entes
federados, União, Estados (e Distrito Federal) e, no nosso modelo,
Municípios[42].
Mais a frente viu-se ser o modelo da separação de poderes (ou funções
do Estado) aquele responsável por evitar um desvirtuamento no caminhar
democrático de uma nação. É que a concentração dos poderes nas mãos um só
(ou de um único grupo) o torna autoritário, já que não há qualquer sorte de
controle que se possa exercer a fim de podar eventuais excessos ou abusos no
seu exercício.
Tal afirmação é facilmente constatável na história do Brasil, ao comparar-
se, especialmente, o período compreendido entre os anos de 1964 até 1984 e
os anos de 1985 em diante. É que durante o governo dos militares muitas
limitações ao exercício horizontalizado do poder foram impostas às instituições
republicanas. Os Poderes Legislativo e Judiciário estavam sob controle direto do
Poder Executivo que podia “fechar” o primeiro e impedir que seus atos fossem
analisados pelo segundo. Essa foi a realidade vivenciada mormente após a
edição do Ato Institucional nº 5, transcrito, em parte, na nota de rodapé n. 20.
Tal realidade foi ultrapassada com a redemocratização do país em 1988
e o efetivo retorno da repartição dos poderes, de fato e de direito: a limitação do
poder do Estado, repartido em três poderes, mas dividido quatro funções
(executiva, legislativa, judiciária e essencial à justiça), e a sua submissão ao
direito auxiliou a fixação do regime democrático em nossa sociedade.
O estudo aqui desenvolvido também nos autoriza a concluir que a
limitação do Poder por meio do direito dependerá, ao fim e ao cabo, da
concepção sobre as relações recíprocas entre governantes e governados:
o equilíbrio entre a liberdade do cidadão e autoridade do seu representante,
sem que isso implique, de modo algum, em sacrifício daquela em relação a esta,
em outras palavras será imprescindível para a real caracterização do Estado de
direito que haja a observância pelos governantes dos direitos dos governados e
a consciência destes últimos tanto dos seus direitos quanto dos seus deveres
perante o Estado e a sociedade[43].
De outra monta, e agora sob a ótica da democracia, procedendo rápida
análise de alguns dos dispositivos da Constituição brasileira de 1988, chega-se
à conclusão que tais normas se subsumem aos princípios relacionados por
Dallari (1995, p. 128): a) princípio da supremacia da vontade popular, b) princípio
da preservação da liberdade, e c) princípio da igualdade de direitos[44]– embora
se saiba que a prática democrática traduz-se num aprendizado diário e que não
bastam diretrizes legais, ainda que Constitucionais, para imbuir no espírito do
povo e do próprio Estado a força cogente de seus preceitos, mas sim o seu
efetivo exercício por parte dos seus destinatários, o que só se alcança com
anos/décadas de constante prática.
Assim, conjugando-se os dois adjetivos, “democrático” e de “direito”,
conclui-se que a profundidade significativa conferida ao Estado suplanta em
muito a que este possuiria se fosse exclusivamente democrático ou
exclusivamente de direito. Destarte, é-nos autorizado afirmar que o Estado
democrático de direito é aquele regido e submetido por normas jurídicas que
reflitam os ideais de justiça e os valores aos quais deve servir o Direito, buscando
conferir um equilíbrio entre a liberdade do cidadão e a autoridade do Estado,
sendo que a referida autoridade é conferida ao Estado por meio do sufrágio
universal e do voto direto e secreto para ser exercida em nome e em benefício
do seu verdadeiro titular, o povo.
POSIÇÃO DO STF
Ocorre que, o próprio STF vem mitigando essa última condição e
passando a admitir, em algumas hipóteses excepcionais, a utilização de prova
obtida mediante a interceptação telefônica em processos de natureza civil ou
administrativa.
Já no que se refere à gravação do telefonema por um dos interlocutores
(ou por alguém com sua autorização), sem a ciência do outro, o STF já
consagrou que tal conduta será considerada lícita quando houver investida
criminosa deste último. Para a Suprema Corte, seria desarrazoado (e feriria o
próprio senso comum) falar-se em violação do direito à privacidade quando, por
exemplo, o interlocutor grava diálogo com sequestradores, estelionatários ou
qualquer outro tipo de chantagista.
2.18. Direito de propriedade
O direito de propriedade foi assegurado constitucionalmente no art. 5º,
XXII, da CF. Porém, logo no inciso seguinte, a Constituição previu que essa
propriedade deverá atender a sua função social.
No inciso XXIV do art. 5º da CF, por seu turno, está consagrada uma das
mais clássicas formas de intervenção do Estado na propriedade privada, qual
seja a desapropriação.
Nos termos do dispositivo em comento, consagrou-se que a lei
estabelecerá o procedimento para a desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro.
Já no inciso XXV, a Constituição trouxe o instituto da requisição
administrativa. Por ele, no caso de iminente perigo público, a autoridade
competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário
indenização ulterior, se houve dano.
Também com o direito de propriedade, o constituinte optou por tutelar a
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, de modo que não será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento (CF, art. 5º, XXVI).
Ainda no catálogo específico dos direitos e garantias fundamentais,
impende pontuar que a CF tutelo direito de propriedade intelectual.
De saída, ela consagrou que aos autores pertence o direito exclusivo de
utilização, publicação e reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros
pelo tempo que a lei fixar. É a previsão do direito autoral na Carta de Outubro
(art. 5º, XVII).
Em seguida, foi assegurada aos autores, nos termos da lei, a proteção às
participações individuais em obras coletivas e à reprodução de imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas, bem como o direito de
fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem (este último direito também estendido aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas – art. 5º, XXVIII).
Finalmente, tutelando o direito à propriedade industrial, ainda determina a
Constituição que a lei assegurará aos autores de inventos industriais o privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos,
tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico
do país (art. 5º, XXIX).
Já no que se refere ao direito de herança, além da sua garantia (pela
primeira vez de modo autônomo em um texto constitucional) prevista no inciso
XXX do art. 5º, o inciso XXXI enuncia que a sucessão de bens do estrangeiro
situados no País, será regulada pela lei brasileiro em benefício do cônjuge ou
dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do
de cujus.
2.19. Direito de petição
Conforme já revelado quando do estudo da teoria geral dos direitos
fundamentais, em verdade, o direito de petição trata-se de uma garantia
fundamental e não de um direito propriamente dito.
Isso porque, conforme foi identificado, direitos são posições jurídicas
subjetivas de vantagens. Assim, caso essas posições sejam violadas, aí que se
faz presente a necessidade de utilização das garantias como instrumento de
tutela, é dizer, de proteção de tais direitos.
Nesse contexto é que está inserido o direito de petição. É que muito
embora se apresente sob a alcunha designativa direito, trata-se efetivamente de
uma garantia. Essa constatação pode ser extraída da própria leitura do art. 5º,
XXXIX, a, da CF.
Segundo a previsão expressa desse dispositivo, são a todos
assegurados, independentemente do pagamento de taxas, o direito de petição
aos poderes públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de
poder.
Ora, se a petição se apresenta como uma ferramenta, um instrumento de
defesa de direitos, percebe-se, com facilidade, que esse delineamento a
enquadra, com segurança, no conceito de garantias fundamentais (mecanismos
que visam proteger, assegurar e efetivar os diversos direitos).
Posição do STF: por fim, interessante frisar que o STF já consolidou seu
posicionamento advertindo que eventual reclamação constitucional que tenha
por finalidade preservar não só a sua competência, como também a autoridade
das suas decisões, tem natureza jurídica de direito de petição.
2.20. Direito de certidão
Ao lado do direito de petição, na alínea b do inciso XXXIV do art. 5º, o
constituinte também assegurou a todos, independentemente do pagamento de
taxas, a obtenção de certidões em repartições públicas, para a defesa de direitos
e esclarecimento de situações de interesse pessoal.
Importante chamar a atenção dos candidatos, neste momento, para uma
das maiores pegadinhas colocadas pelas bancadas examinadoras envolvendo
o direito em comento. É que embora as certidões muitas vezes tragam
informações pessoais, a violação deste direito dá ensejo à impetração do
mandado de segurança, e não de habeas data, como poderia se imaginar.
2.21. Direito de acesso à justiça
O direito de acesso à justiça, também conhecido como garantia da
inafastabilidade da jurisdição, ou princípio da tutela jurisdicional está previsto no
art. 5º, XXXV, da CF, e prevê que a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário, lesão ou ameaça de lesão a direito.
Assim como o direito de petição, o acesso à justiça é, verdadeiramente,
um exemplo de garantia constitucional. Da mesma forma que ninguém peticiona
aos órgãos públicos simplesmente por peticionar, não se ajuíza uma ação
simplesmente por ajuizar.
O ajuizamento de uma ação, ao contrário, tem por objetivo levar ao Poder
Judiciário uma pretensão, que é a força propulsora de todo o direito. Assim,
dessa forma, a tutela jurídica tem por desiderato, por finalidade, a própria
segurança, proteção e efetivação de um direito, de uma posição de vantagem.
Sem prejuízo das considerações aqui expostas, importante não perder de
vista que, como mitigação à inafastabilidade, a Constituição da República, no art.
217, em seu §1º, prescreve que o Poder Judiciário somente admitirá ações
relativas à disciplina e às competições desportivas, após esgotarem-se as
instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
Já com o §2º do mesmo disposto, tem-se que a justiça desportiva terá o
prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para
proferir decisão final.
Posição do STJ: por último, ainda no que se refere às ações constitucionais, vale
citar a súmula nº 2 do STJ. Segundo esse enunciado, não cabe habeas data de
não houver recusa de informações por parte da autoridade administrativa.
2.22. Direito à segurança jurídica
A segurança jurídica na CF pode ser vislumbrada no caput do art. 5º, bem
como no inciso XXXVI do mesmo dispositivo.
A partir desta última previsão tem-se que a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Por direito adquirido entende-se aquele que, atendidas as condições
exigidas, já se incorporou em definitivo ao patrimônio jurídico do titular e que,
justamente por isso, poderá ser fruído a qualquer tempo, ainda que no futuro não
mais subsistam as mesmas condições normativas existentes quando da sua
consolidação.
Já o ato jurídico perfeito, por sua vez, seria aquele que, já efetivamente
exercido, produziu todos os seus efeitos ao tempo da lei anterior. Não se
confunde com o direito adquirido porque aqui, além da previsão legal, houve a
manifestação de vontade no sentido de implementar os efeitos oportunizados
pelo Direito.
Finalmente, coisa julgada nada mais é do que uma qualidade. É a
qualidade de que se reveste a sentença contra a qual não cabe mais recurso. É
esta garantia que torna não mais passível de recurso uma decisão judicial,
evitando, dessa forma, a perpetuação do conflito.
2.23. Direito ao devido processo legal
Esse princípio está previsto na CF no art. 5º, LIV, enunciando que
ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
Trata-se, efetivamente, de um texto antigo, por ser uma cláusula geral, ou seja,
é uma norma composta por termos vagos, cujo conteúdo normativo é
indeterminado.
Não há norma que se produza sem processo, por isso o devido processo
legal se aplica a cada uma dessas modalidades: devido processo legal
administrativo, civil, penal, legislativo, etc.
Insta salientar, ainda, que tal enunciado aplica-se, também, aos
processos privados. Nessa esteira, qualquer sanção privada só é admissível
havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito
de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
Finalizando, é digno de nota que o princípio do devido processo legal
possui duas dimensões, a saber: formal e material.
Dimensão formal (ou devido processo legal processual)
A partir da perspectiva formal, o devido processo legal é o princípio que
prima pelo respeito às garantias formais do processo (motivação, juiz natural,
proibição de prova ilícita, etc.).
Em frade de singela felicidade tem-se que é o direito de processar e ser
processado de acordo com as normas previamente estabelecidas para tanto.
Dimensão material (ou devido processo legal substancial)
Já sob a vertente material, a partir da constatação deste princípio é
preciso também que o processo resulte numa decisão justa, equilibrada,
razoável. E essa exigência de razoabilidade, proporcionalidade e equilíbrio nada
mais é do que o próprio devido processo legal substancial.
É dessa dimensão substancial (reconhecida, inclusive, pela Suprema
Corte) que se extrai o famoso princípio da proporcionalidade. É o devido
processo legal encarado em sua perspectiva substantiva. Segundo este
princípio, todo aquele que decide depois de um processo deve decidir de
maneira razoável e proporcional.
2.14. Direito ao contraditório e à ampla defesa
Tais princípios compõem, ao lado do devido processo legal, as duas
grandes estrelas do rol dos princípios da teoria geral do processo.
A previsão constitucional é a do art. 5º, LV, prescrevendo que aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.
Na via judicial, no estudo do direito processual, esses princípios já estão
sedimentados há muito tempo, o que não acontecia na vida administrativa.
Administrativamente, portanto, esses preceitos somente surgiram a partir da
Constituição Federal de 1988.
2.15. Direito a garantias penais e processuais penais
A CF, ainda no artigo 5º, consagra uma série de garantias dos indivíduos
que estão direta ou indiretamente relacionadas com as esferas do Direito Penal
e Processual Penal.
Apenas a título de identificação, aqui serão apontados aqueles direitos
que possuem uma mais incidência:
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem; (Regulamento)
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser,
nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
_______________________________________________________________
Da Organização Político-Administrativa. Da União. Dos Estados Federados.
Dos Municípios.
Há dois artigos extremamente importantes que tratam sobre este assunto:
art. 1º e art. 18.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Tanto o art. 1º quanto o art. 18 deixam claro que os entes federativos que
compõem o Estado brasileiro são: a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios. Assim, está expresso na CF que os Municípios são entes federativos
(1º argumento). Além disso, todos os entes são autônomos (organização,
legislação, governo e administração), portanto, não há como afirmar que os
Municípios não são entes federativos.
4.1. TERRITÓRIOS
Atualmente, não existem territórios no Brasil.
É uma autarquia territorial.
Caso sejam criados os territórios serão governados por um Governador,
nomeado pelo Presidente da República. Igualmente, por não serem entes
federativos, não elegem senadores, apenas deputados (quatro).
A União continua responsável pela organização de DF, caso se formem
territórios no Brasil.
4.2. DISTRITO FEDERAL
4.2.1. Natureza jurídica
ADI 3756 – Câmara Legislativa do DF, tendo em vista os gastos com as
despesas de pessoa, afirmava que o DF, como Município, precisava de 6% para
gastar com o pessoal, e não os 3% que são destinados aos Estados.
O DF não é Município nem Estado, mas uma Unidade Federada com
competência parcialmente tutelada pela União, a exemplo do Poder Judiciário,
do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
dos Territórios (mudança recente, a partir de agora a organização da DP é do
DF e não mais da competência da União), Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiro
Militar (art. 21, art. 28)
Sua estrutura se assemelha muito mais a um Estado do que a um
Município.
Elegem Governador, Senadores, Deputados Distritais e Deputados
Federais.
5. TIPOS DE FEDERALISMO
5.1. QUANTO AO SURGIMENTO
5.1.1. Federalismo por agregação:
Este tipo de federalismo surge quando Estados Soberanos abrem mão de
uma parcela de sua soberania para formar um ente único, passam a ser
autônomos. O Estado Federal passa ser soberano e os estados-membros
autônomos. É o que ocorreu com os EUA (13 colônias americanas).
Karl Loewnstein afirma que houve outras experiências de federalismo por
agregação antes dos EUA.
A federação norte-americana surgiu de um movimento centrípeto, o poder
foi dos estados periféricos para o centro.
Estados Federados
Capacidade de auto-organização
Capacidade de autogoverno
Capacidade de autoadministração
Capacidade legislativa
CF/88
Municípios
CF/88
Distrito Federal
CF/88
Territórios
Repartição Vertical
Sendo assim, a União por lei federal dispõe sobre normas gerais;
os Estados e o Distrito Federal podem suplementar essa legislação.
Inexistindo lei federal, os Estados podem legislar plenamente.