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Trabalho de Estética 1

Resenha do artigo Foucault’s aesthetic decisionism, de Richard Wolin

André Luis Lindquist Figueredo

Em seu artigo intitulado Foucault’s aesthetic decisionism, Richard Wolin


faz uma leitura crítica do pensamento do filósofo francês Michel Foucault, no que tange
a sua abordagem ética e política, contextualizando-o na tradição histórica em que se
situa. Mais especificamente, Wolin situa a política e a ética foucaultiana dentro das
visões do “esteticismo” e do “decisionismo”, que ganharam proeminência, nos últimos
dois séculos, entre correntes intelectuais anti-esclarecimento.
Wolin começa seu artigo definindo o esteticismo em linhas gerais. A
princípio, ele define o esteticismo como uma visão que sugere “a exclusiva primazia de
uma abordagem artística para com a vida, em oposição à ciência e à moralidade”1.
Contudo, mais precisamente, segundo Wolin, o termo possui dois sentidos possíveis,
tradicionalmente falando; o sentido usual, que se refere “ao caráter puro e sacrossanto
da esfera estética sobre e contra todas as outras práticas (e.g. o movimento l’art pour
l’art e o modernismo literário”2, e o sentido “pan-esteticista”, que se refere ao “esforço
imperioso pelo qual a estética transcende outros valores (como na “ética” nietzschiana
e no que Burger se referiu como a avant-garde “histórica”)”3. É neste último sentido,
do pan-esteticismo, que Wolin situa o trabalho de Foucault.
Depois, também segundo seu emprego na tradição filosófica, Wolin define o
decisionismo como a “culminação de uma linhagem da teoria política anti-clássica que
começa com a rejeição de Maquiavel do “deve” em favor de determinantes
pragmáticos contextuais”. Grosso modo, Maquiavel defende que importa mais o que é
feito do que o que deve (ought) ser feito.
Introduzidas as noções de esteticismo e decisionismo, Wolin passa a
relacioná-las ao pensamento de Foucault, por meio da evidente influência que sua
filosofia teve de Nietzsche e Heidegger, como admitido pelo próprio Foucault em sua

1
WOLIN, 1986, p. 71
2
Idem
3
Idem
“Última Entrevista”. Assim, segundo Wolin, como Nietzsche e Heidegger defenderam
visões esteticistas e decisionistas, e Foucault sofreu uma grande influência filosófica
dos dois, é possível que essa influência explique as tendências esteticistas e
decisionistas encontradas na teoria de Foucault. Essa evidente influência pode ser
observada pelo seguinte trecho do artigo, referente a “Última Entrevista” de Foucault:

E em resposta a subseqüente questão referente a possíveis mal entendidos de


seu trabalho, Foucault afirma abruptamente “Eu sou simplesmente
Nietzscheano”. Essas confissões reveladoras sugerem que as origens das
tendências esteticistas/decisionistas no próprio trabalho do Foucault residem
em Nietzsche e Heidegger. (WOLIN, 1986, p.72)

Evidenciada essa influência de Nietzsche e Heidegger nas obras de


Foucault, Wolin passa a explicitar o decisionismo e o esteticismo desses dois filósofos
(primeiro de Nietzsche e depois de Heidegger), com o objetivo de especificar essa
influência.
Segundo Wolin, Nietzsche “articulou as fundações teóricas de todas as
subseqüentes tendências decisionistas e esteticistas”4, dando origem ao sentimento de
anti-esclarecimento que perpassou a vida cultural européia sob diferentes roupagens no
século XVIII. Como visto anteriormente, o esteticisimo possui dois sentidos; o que é
representado pelo movimento l’art pour l’art, e o que é representado principalmente
pela “ética” nietzschiana; o sentido pan-esteticista. Esse primeiro sentido, que defende o
caráter puro da esfera estética frente as outras esferas da vida, foi criticado por
Nietzsche na medida em que considerava a arte como uma realidade separada das
outras; já que, para Nietzsche, “a arte era a única realidade”5.
Por influência de sua concepção epistemológica, de que as ilusões das
aparências são prioritárias em relação às afirmações que pretendem expressar verdades
objetivas, Nietzsche, segundo Wolin, parece ter desenvolvido este tipo mais ativo de
esteticismo (em relação ao esteticismo passivo/contemplativo do l’art por l’art), que
“impõe uma atitude estética em todas as esferas da vida”6. Como defendido por este
pan-esteticismo de Nietzsche, portanto, “a preocupação com a beleza, encontrada na
esfera estética, deve ser generalizada para toda vida”7; é necessário, assim, segundo

4
Idem, p. 72
5
Idem, p. 73
6
Idem
7
Idem
esse pan-esteticismo, que haja uma atitude estética que transgrida os limites da
“bolhinha” estética proposta pelo esteticismo da arte pela arte.
Já na ética nietzschiana, de acordo com a interpretação de Wolin, esse pan-
esteticismo é incorporado a um decisionismo que é reflexo de uma ética que aprecia
moralmente uma ação em virtude puramente da força de vontade (force of will), de
quem decidiu fazer essa ação, independentemente do quão boa ou má essa ação seja; a
abordagem de Nietzsche pretende ir além do bem e do mau. Assim, segundo Wolin, o
pan-esteticismo nietzschiano se alia ao decisionismo, na medida em que “a ação é vista
em termos estéticos, a ênfase é dada aos atos que são gloriosos, sensacionais ou
dramáticos”8. Ou seja, como não há diferença substancial nas ações boas ou nas más
(comparadas segundo algum fundamento racional), sendo elas distintas apenas
formalmente, pela força de vontade de quem decidiu agir bem ou mau, então, já que a
busca pela beleza deve ser generalizada para todas as esferas da vida (segundo a
concepção pan-esteticista de Nietzsche), inclusive a moral, as ações mais meritórias
deverão ser aquelas que são mais belas, i.e. mais apreciáveis esteticamente.
Este decisionismo esteticista de Nietzsche é criticado por Wolin por ser
elitista, já que são “somente os indivíduos excepcionais que tem a força de vontade
requerida para passar por cima das convenções por meio de tais sublimes ações de
bravata volitiva”9. Assim, como observa Wolin, as pessoas que não têm as condições,
materiais ou espirituais, para tal grandiosidade de vontade, servem como meios para o
espetáculo daqueles possuem tais condições.
Assim como no decisionismo estético de Nietzsche, Wolin também
considera o decisionismo estético de Heiddeger elitista e particularista. A importância
dada à categoria “determinação” (decisiveness), que diz respeito ao quão
decidido/determinado o sujeito está de agir de tal forma, evidencia, já que é na
determinação que o sujeito chega á verdade do Dasein que é mais primordial (por ser
mais autêntica), o quão elitista esse decionismo demonstra ser, pois é por esta
autenticidade dessa verdade que “os indivíduos autênticos estão separados, por um
abismo infinito, da decadência do eles (Das Man) que habitam o mundo profano da [...]
curiosidade, da ambuiguidade” 10 ; o mundo fica, assim, dividido entre líderes (os
indivíduos autênticos) e liderados (que não têm acesso a essa verdade mais primordial

8
Idem, p. 74
9
Idem
10
Idem
do Dasein). Esse decisionismo de Heiddeger pode ser compreendido pelo seguinte
trecho de Wolin:

Como no caso de todas as abordagens decisionistas na ética, a determinação


heideggeriana é desprovida de conteúdo material [...] Em última instância, a
determinação heideggeriana está na mesma liga que as doutrinas
declaradamente fascistas de Junger e Schimitt. O que une todas essas
doutrinas éticas é a convicção de que as questões normativas não podem ser
julgadas racionalmente. Como as questões práticas não são relacionadas à
verdade, elas estão totalmente fora da discussão racional. O que é importante
é que simplesmente se decida, já que as bases normativas da decisão só
podem ser arbitrárias. (WOLIN, 1986, p. 75)

É a partir deste sentido, de que “as bases normativas da decisão só podem


ser arbitrárias”, que Wolin identifica os decisionismos estéticos de Nietzsche e
Heidegger com o de Foucault. Apesar de ser somente com a História da Sexualidade
que o decisionismo estético de Foucault pode ser encontrado explicitamente, Wolin
observa que ele já se encontrava, de forma implícita, nos trabalhos anteriores de
Foucault. Mais especificamente, esse decisionismo estético pode ser encontrado
implícito na História da Loucura, onde Foucault defende que a divisão entre razão e
não-razão (representada pela loucura no mundo moderno; na idade da razão) é
historicamente constituída; “historicamente falando, o confinamento em asilos nem
sempre foi o destino dos loucos. Em outras culturas, o insano era venerado por seus
inexplicáveis e sobrenaturais poderes”11. Assim, Foucault parece apontar para o caráter
arbitrário (em oposição ao caráter objetivo de uma verdade objetiva) dessa divisão,
indicando então uma tendência decisionista em sua teoria.
Quanto à tendência esteticista; uma vez que, na idade da razão, os loucos
são normalizados por tecnologias médicas, Wolin diz que Foucault “valoriza a esfera
estética porque ela sozinha provê “outridades que desafiam o mundo”” 12 . Foucault
também valoriza a esfera estética, mais especificamente a expressão poética, na medida
em que ela “permite uma imediatez experencial indisponível para a mentalidade
racional”13. Assim, segundo Wolin, num espírito anti-esclarecimento, Foucault parece
reduzir a razão à posição de inimigo, e consequentemente a não-razão é elevada a uma
posição virtuosa, e em função de ganhar novamente sua prerrogativa para diferenciar

11
Idem, p. 76
12
Idem, p. 77
13
idem
(em oposição ao normalizar da razão), “tudo é permitido no lado da não-razão” 14 ,
como sugere a ambigüidade, entre o caos e o apocalipse, encontrada na obra Sono da
Razão, de Goya; interpretada por Foucault na conclusão da História da Loucura.
É na sua fase ética, no entanto, mais especificamente nos dois últimos
volumes da História da Sexualidade, que o decisionismo estético de Foucault se mostra
mais explicitamente, como apontado por Wolin. Nesses dois últimos volumes, Foucault
vai à antiguidade greco-romana, com o objetivo de investigar as “tecnologias de si
mesmo” envolvidas numa certa atitude para com a vida que indica uma certa “estética
da existência” . Essa atitude diz respeito ao sujeito fazer certas ações “que buscam
transformá-los, para modificá-los em seu ser singular, e para fazer de suas vidas uma
obra que carrega certos valores estéticos e cncontra certos critérios estilísticos”15, nas
palavras de Foucault. Wolin critica essa atitude, enaltecida por Foucault, por cair
também, a exemplo da consideração focaultiana de Baudelaire enquanto “dandi”, em
um particularismo e, consequentemente, num egoísmo; como pode ser evidenciado pelo
seguinte trecho do artigo de Wolin:

O que interessa Foucault em Baudelaire são os momentos em que os limites


entre arte e vida são obscurecidos, em que a arte passa para dentro da esfera
da vida. Foucault valoriza o pan-esteticisto de Baudelaire onde a arte não
ocupa mais seu lugar privado em meio a várias outras, mas onde ela pode dar
vida, diretamente, a formas de vida. (WOLIN, 1986, p.82)

Wolin conclui que esse pan-esteticismo de Foucault, inspirado pelo


dandismo de Baudelaire, acaba por se igualar ao esteticismo de Nietzsche e Heidegger
no que diz respeito a primazia da estética se traduzir para o campo normativo, onde “as
tendências decisionistas ganham vantagem”16.

14
Idem
15
Idem, p.81
16
Idem, p.84

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