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QUESTÕES OBJETIVAS
epitáfios”:
CURSINHO DA FFLCH-USP
Área de Língua Portuguesa – Literatura.
Profs. Ariel e Hélio – extensivo – turma B
Conteúdos: realismo e naturalismo brasileiros
08. (FUVEST) O texto evidencia, com clareza, Texto para as questões 10, 11 e 12.
pelo menos uma das características principais de
Machado de Assis: CAPÍTULO LXXI
a) pessimismo ingênuo dos escritores realistas e O senão do livro
naturalistas do século XIX. Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse;
b) a linguagem rebuscada, de tal modo ambígua, que eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
quase prejudica a compreensão do sentido. capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um
c) um pessimismo irônico, disfarçado sob a pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
aparência de conformidade indiferente. sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás
d) gosto pela frase lapidar, carregada de expressões ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu
inusitadas. tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
e) a capacidade de sintetizar, em apenas um narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
parágrafo, todo o enredo do romance. livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
09. (FUVEST) Em quatro das alternativas ameaçam o céu, escorregam e caem…
abaixo, registram-se alguns dos aspectos que, E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair,
para bem caracterizar o gênero e o estilo das como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse
Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J.
olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande
G. Merquior pôs em relevo nessa obra de
Machado de Assis. A única alternativa que, vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também
invertendo, aliás, o juízo do mencionado crítico, não deixa olhos para chorar… Heis de cair.
aponta uma característica que não se aplica à Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas
obra em questão é:
a) ausência praticamente completa de
10. (FUVEST) No contexto, a locução “Heis de
distanciamento enobrecedor na figuração das
personagens e de suas ações. cair”, na última linha do texto, exprime:
b) mistura do sério e do cômico, de que resulta uma a) resignação ante um fato presente.
abordagem humorística das questões mais b) suposição de que um fato pode vir a ocorrer.
cruciais.
c) certeza de que uma dada ação irá se realizar.
c) ampla liberdade do texto em relação aos ditames
da verossimilhança. d) ação intermitente e duradoura.
d) emprego de uma linguagem que evita chamar a e) desejo de que algo venha a acontecer.
atenção sobre si mesma, apagando-se, assim, por
detrás da coisa narrada.
e) uso frequente de gêneros intercalados – por
exemplo, cartas ou bilhetes, historietas etc. –
embutidos no conjunto da obra global.
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a) representa as transformações urbanas do Rio de 22. (FUVEST) São características dos narradores
Janeiro no período posterior à abolição da Brás Cubas e Helena, respectivamente,
escravidão e o difícil convívio entre ex-escravos, a) malícia e ingenuidade.
imigrantes e poder público. b) solidariedade e egoísmo.
b) defende a monarquia recém-derrubada e c) apatia e determinação.
demonstra a dificuldade da República brasileira d) rebeldia e conformismo.
de manter a tranquilidade e a harmonia social e) otimismo e pessimismo.
após as lutas pela consolidação do novo regime.
c) denuncia a falta de policiamento na então capital 23. (FUVEST) Nos dois textos, obtém-se ênfase
brasileira e atribui os problemas sociais existentes por meio do emprego de um mesmo recurso
ao desprezo da elite paulista cafeicultora em expressivo, como se pode verificar nos seguintes
relação ao Rio de Janeiro. trechos:
d) valoriza as lutas sociais que se travavam nos a) “Este último capítulo é todo de negativas” / “Eu
morros e na periferia da então capital federal e as não penso assim”.
considera um exemplo para os demais setores b) “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui
explorados da população brasileira. ministro, não fui califa, não conheci o casamento”
e) apresenta a imigração como a principal origem / “Não sei por que até hoje todo o mundo diz que
dos males sociais por que o país passava, pois os tinha pena dos escravos”.
novos empregados assalariados tiraram o trabalho c) “Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube me
a boa fortuna de não comprar o pão com o suor
Texto para as questões 22 e 23. do meu rosto” / “Ser obrigada a ficar à toa é que
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a seria castigo para mim”.
celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não d) “qualquer pessoa imaginará que não houve
conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, míngua nem sobra” / “Mamãe às vezes diz que
coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do ela até deseja que eu fique preguiçosa”.
meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a e) “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura
semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e o legado da nossa miséria” / “Acho que se fosse
outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria
nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E
infeliz”.
imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do
mistério, achei me com um pequeno saldo, que é a
derradeira negativa deste capítulo de negativas: Não tive
Texto para as questões 24 e 25.
filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa
miséria. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes
dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o
Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena cortiço. Começavam a fazer compras na venda;
dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse ensarilhavam-se* discussões e rezingas**; ouviam-se
obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se.
obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim. Mamãe Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula
às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés
minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer
fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e animal de existir, a triunfante satisfação de respirar
meus irmãos, sem uma empregada em casa”. sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cortiço
Helena Morley, Minha vida de menina.
iam e vinham como formigas; fazendo compras. Duas
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QUESTÕES DISSERTATIVAS
26. (FUVEST) No capítulo CXIX das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador declara: “Quero
deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas* das muitas que escrevi por esse tempo.” Nos itens (a) e
(b) encontram-se reproduzidas duas dessas máximas. Considerando-se no contexto da obra a que
pertencem, responda ao que se pede.
* “Máxima”: fórmula breve que enuncia uma observação de valor geral; provérbio.
a) “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.” Pode-se relacionar essa máxima à maneira de viver do próprio
Brás Cubas? Justifique sucintamente.
b) “Suporta-se com paciência a cólica do próximo.” A atitude diante do sofrimento alheio, expressa nessa
máxima, pode ser associada a algum aspecto da filosofia do “Humanitismo”, formulada pela personagem
Quincas Borba? Justifique sua resposta.
27. (FUVEST) Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede.
“(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da
mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu
lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a
volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde
seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes.”
a) Qual é a relação entre o “sistema de filosofia” do “Humanitismo”, tal como figurado nas Memórias póstumas
de Brás Cubas, de Machado de Assis, e as correntes de pensamento filosófico e científico presentes no
contexto histórico-cultural em que essa obra foi escrita? Explique resumidamente.
b) De que maneira, em O cortiço, de Aluísio Azevedo, são encaradas as correntes de pensamento filosófico e
científico de grande prestígio na época em que o romance foi escrito? Explique sucintamente.
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29. (FUVEST) No breve “Prólogo da 3ª. edição” das Memórias póstumas de Brás Cubas, assinado pelo
autor, Machado de Assis, constava o seguinte trecho:
Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava: “As Memórias póstumas de Brás Cubas são um romance?”
Macedo Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava amigamente as Viagens na minha terra. Ao primeiro
respondia já o defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo dele que vai adiante) que sim e que não, que era ro
mance para uns e não o era para outros. Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: “Trata-se de uma obra difusa, na qual
eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de
pessimismo”. Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na terra dos outros. De
Brás Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida. O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama
“rabugens de pessimismo”. Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está
longe de vir dos seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho.
Machado de Assis
Considerando esse trecho no contexto da obra à qual se incorpora, atenda ao que se pede.
a) Identifique um aspecto das Memórias póstumas de Brás Cubas capaz de ter suscitado a dúvida expressa por
Capistrano de Abreu. Explique resumidamente.
b) Em que consistem os “lavores de igual escola”, a que se refere o autor, no final do trecho? Explique
sucintamente.
É de crer que D. Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: Aqui
estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: Chamamos-te para queimar
os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina,
adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã
resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi
para isso que te chamamos, num momento de simpatia.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
a) Pode-se afirmar que, neste excerto, além de resumir a existência de D. Plácida, o narrador expressa uma
certa concepção de trabalho? Justifique.
b) De que maneira o ritmo textual, que caracteriza a possível resposta dos sacristãos, colabora para a
caracterização de D. Plácida?
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Gabarito: 1. E; 2. A; 3. D; 4. A; 5. C; 6. B; 7. D; 8. C; 9. D; 10. C; 11. B; 12. D; 13. E; 14. C; 15. D; 16. B; 17. C; 18. E; 19. A; 20. C; 21.
A; 22. C; 23. C; 24. A; 25. E.
26. (a) A máxima de Brás Cubas intensifica o pessimismo e o ceticismo do “defunto-autor”, que avalia sua existência a partir da
perspectiva de ter vivido de forma vazia, sem realizar nada, conforme ele afirma no capítulo “Das negativas”. Pode-se, portanto, relacionar
a frase à maneira de vida de Brás Cubas, dedicada ao ócio endinheirado, que caracteriza a elite parasitária brasileira do século XIX. Há,
portanto, uma visão niilista a respeito da existência. (b) O Humanitismo, “sistema filosófico destinado a arruinar todos os demais sistemas”,
defende a ideia de que “vida é luta” e só os mais fortes seriam capazes de sobreviver. Quincas Borba, ao explicar sua filosofia a Brás
Cubas, no capítulo Os Cães, vale-se de uma alegoria, ao se deparar com uma briga de cachorros por um “simples osso nu”. Quincas Borba
considera como benefício do vencedor a desgraça do perdedor, a qual é suportada tranquilamente por quem não sofre. A atitude diante do
sofrimento alheio, nessa máxima, pode, portanto, ser associada a um aspecto de Humanitas ou Humanitismo, filosofia também explicada
no capítulo O Humanitismo, em que Quincas Borba afirma: “Assim, este frango, que almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão
de esforços e lutas com um único fim de dar mate ao meu apetite”.
27. (a) O trecho destaca o determinismo, segundo o quão o homem é fruto do meio, da raça e do momento histórico. Isso leva a uma
concepção racista e, no trecho, pressupõe uma incorporação, pela mestiça (Rita Baiana), dessa forma de ideologia. (b) “Cedendo às
imposições mesológicas” revela outro aspecto da estética naturalista, pela qual o homem cede às imposições do meio. Jerônimo abrasileira-
se, isto é, deixa-se levar pelo ambiente em que vive.
28. (a) O Humanitismo, sintetizado pela expressão “ao vencedor as batatas”, pode ser entendido como uma espécie de darwinismo social,
isto é, uma sociedade competitiva, em que só tem lugar os vencedores. Assim, estamos diante de uma leitura da sociedade de acordo com
parâmetros ideológico-filosóficos do final do século XIX, na qual são expressivos o racionalismo, o organicismo e o mecanicismo. O final
do século XIX, do ponto de vista filosófico e científico (darwinismo, positivismo, socialismo) notadamente racionalistas, ou seja, que
privilegiavam a razão como meio de conhecimento e explicação da realidade. Por sua vez, Machado de Assis incorpora e ao mesmo tempo
critica alguns valores de seu tempo. O Humanitismo, postulado por Quincas Borba, ao mesmo tempo encontra um meio de explicar a
sociedade e critica esta forma mecanicista e reducionista de se ver as relações sociais. (b) O Cortiço é um romance de tese experimental em
que se procura provar que as doutrinas filosóficas do século XIX são verdadeiras em relação à sociedade em que se vive: o homem é
produto da raça (genética), do momento (circunstância histórica) e do meio (ambienta) em que vive.
29. (a) O conceito tradicional de romance – ao qual Capistrano de Abreu parece ter-se apegado – é o de um texto em prosa no qual se
narram fatos que giram em torno de uma aventura. Memórias Póstumas de Brás Cubas, entretanto, livro que se caracteriza por um estilo
extremamente digressivo, desvia-se desse padrão. Além disso, a autobiografia de Brás Cubas resulta no relato de uma vida vazia, sem
acontecimentos suficientemente interessantes para uma narrativa convencional. (b) Machado de Assis chama “lavores de igual escola” as
técnicas narrativas que também se encontram em Laurence Sterne, Xavier de Maistre e Almeida Garrett, sobretudo o estilo digressivo, em
que não há compromisso com a linearidade narrativa, e o diálogo com o leitor, no qual o emissor assume um tom irônico, zombeteiro, às
vezes inferiorizando o seu receptor.
30. (a) Sim, o narrador não só resume a existência de D. Plácida, como também expressa uma certa concepção de trabalho. D. Plácida,
mulher livre e pobre, trabalha arduamente, exercendo várias funções, e acaba, posteriormente na narrativa, até mediando a relação adúltera
da patroa Virgília com Brás Cubas. Na trajetória existencial de Dona Plácida, percebe-se que o trabalho não enobrece e nem dá condição
decente ao homem na sociedade patriarcal e escravagista do Segundo Reinado. (b) O ritmo textual é obtido pela extensa enumeração de
breves orações reduzidas de infinitivo, com ideia de finalidade, e de gerúndio, com ideia de ação durativa. Em ambos os casos, esse
andamento colabora para mostrar que D. Plácida é submetida a uma vida subalterna e pobre, por imposição social. O ritmo e o sentido do
texto vão ao encontro da atarefada e dura vida de D. Plácida.